ESPACIALIDADE DOS TORCEDORES DE FUTEBOL NA
CIDADE DE PONTA GROSSA
Anderson Carlos das Neves
Fernando Michelis
Sidney Cacure Tavares
Taffarel Storerr Giovanetti
Resumo:
Neste artigo procura-se fazer uma análise de como os torcedores de futebol da
cidade de Ponta Grossa, Paraná, se manifestam em suas diversas relações
sócio-espaciais nas quais estão contidos o espaço de representação, a
sociabilidade e a simbologia.
Palavras Chave: Geografia, Antropologia, futebol, espaço de representação e
relações sociais.
INTRODUÇÃO
“O futebol além de ser um esporte, é uma manifestação cultural que
não pode ser apreendida apenas sob seu aspecto racional, mas
também, e fundamentalmente, sob sua dimensão de afeto, emotiva,
dionisíaca e do organismo. (MAFFESOLI, 2005)”.
Seu papel central na cultura nacional, global e local, sua capacidade de
promover relações (estabelecimento de grupos ou comunidades, tais como
torcidas); gerar e reproduzir símbolos faz com que o futebol permeie o
cotidiano dos brasileiros. Dessa maneira, diz muito a cerca do país (Estado,
cidade, bairros, etc...) de seus habitantes, sobre os costumes, sentimentos,
relações e idéias através de representações sociais. Logo, o futebol transcende
o papel de esporte coletivo para um elemento sócio-cultural nacional.
Semana de Geografia, 18., 2011. Geografias não mapeadas? Ponta Grossa: DEGEO/DAGLAS, 2011. ISSN 2176-6967
Então, através da investigação do contexto de bares onde são
transmitidas partidas de futebol televisionado, busca se interpretar as lógicas
relacionadas ao compartilhamento coletivo do acesso ao mesmo produto de
mídia, o jogo de futebol, sendo esse fenômeno uma combinação complexa
entre mídias, jogo, sociabilidade e desempenho: a sociabilidade estabelecida
em torno do consumo coletivo dos jogos de futebol e a tematização dos fatos
do jogo em interações sociais cotidianas, evidenciados em performances
ocorrentes nos locais pesquisados.
Assim sendo, para tratar dos torcedores com suas especificidades e
interações, nortear-se pelos locais e horários onde ocorrem as transmissões
dos jogos de futebol, tendo essencial importância nesse quesito a programação
das emissoras de televisão, os dias e horários da tele-transmissão dos jogos e
também acessos aos sites oficiais das empresas de televisão.
No tocante as indagações que impulsionam este projeto de pesquisa,
exploramos dentro do quadro urbano de Ponta Grossa – PR localizar e
identificar os estabelecimentos que se destinam a transmissão de jogos, os
conhecidos “bares que passam jogos”, com o intuito de identificar a
espacialidade dos torcedores.
Para alcançarmos nossos objetivos, fizemos uso efetivo de entrevistas
não elaboradas, observações em campo e uso de bibliografia compatível à
temática em questão.
Desenvolvimento
Pensar no conceito de espaço capaz de dar suporte a uma
“abordagem centrada na cultura e nas relações sócio-espaciais e que
integrem (e não subestime) as dimensões materiais e subjetivas
(ideais), ou seja, espaço de representação. (MOSSE; 1996,
LEFEVBRE; 1991, SOJA;1996, SHIELDS; 1999, GIL FILHO; 2003)”.
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Assim, espaço de representação é essencialmente simbólico, capaz de
ressemantizar o espaço material (cotidiano), construindo assim uma construção
simbólica realizada por um ou mais grupos da sociedade, envolvendo
ideologias, questões de poderes hierarquizados socialmente.
É através da identidade futebolística que torcedores se “aglutinam” social
e espacialmente em torno de um clube. O compartilhamento de representações
sociais gera um sentimento de pertence, formando-se, assim as torcidas, que
tem por característica a negação a outros clubes. Portanto, a identidade
futebolística não se resume apenas a se identificar com um clube, mas também
de negar os demais principalmente os rivais. Ela possui caráter mais ou menos
estável, devido ao fato de trocar de clube ser socialmente condenado.
As territorialidades das torcidas se manifestam dentro e fora dos
estádios. Fora dos estádios além das mesmas apoiar seus clubes com elevado
grau de paixão comparado aos cultos religiosos, a simbologia empregada
(como camisas do clube ou das torcidas organizadas) fazem com que tal grupo
domine certo espaço, demarcando-o; Assim, os torcedores possuem pontos de
encontros e disputam territórios na cidade com torcidas rivais.
Porém, referenciando os bares da cidade, verificam-se dois tipos de
aglutinação de torcedores: estabelecimentos mistos, nos quais transmitem
partidas de diversos times e, portanto, os torcedores são heterogêneos; e os
bares específicos de determinados clubes que a freqüência nos locais é de
torcedores homogêneos. Tais prerrogativas exercem papel importante na
relação comportamental dos indivíduos analisados.
Em relação à sociabilidade, verifica se interações em classes sociais e
gêneros. Assim, determinados bares como o Botequim, por exemplo, apresenta
em seus clientes elementos da classe media em sua maioria e proporções
equilibradas entre os gêneros masculinos e femininos, visto que o mesmo
possui diversos atrativos para atrair o público através da sua lanchonete e
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choperia. Já no Bar Thribus, verifica se elementos de classes mais baixas
comparada aos anteriores e predominância masculina, sendo que o público
geral que compareceu no local durante nossa observação, apresentou se mais
focado na partida que a espacialidade mencionada anteriormente.
Conclusão
Primeiramente, para a entrada dos pesquisadores na esfera de vivência
dos atores pesquisados (torcedores), não houve dificuldade de acesso, pois na
pesquisa
de
exploração
prévia,
buscaram-se
estes
elementos
nos
estabelecimentos comerciais (bares) onde se transmitem as partidas de
futebol. Tais eventos são públicos e de fácil acesso. Segundo, nossa equipe é
composta por pessoas iniciadas, ou seja, indivíduos que se incluem no
contexto analisado, facilitando nossa pesquisa. E, por fim, o elemento futebol
está presente em todas as esferas sócio-culturais brasileira, fazendo se
transcender para todas as classes sociais, construindo e modificando
comportamentos, sendo um dos elementos da identidade do povo brasileiro,
etc. Concluindo, sua influência só pode ser comparada a cultos religiosos,
tamanho o desprendimento de tempo e afetividade sobre a temática.
REFERÊNCIAS
CAMPOS, Fernando Rosseto Gallego; Geografia e Futebol: Espaço de
representação do futebol e rede sócio-espacial do futebol. Ponta Grossa:
Terra Plural, jul/dez 2008.
GASTALDO, Édison; Futebol, mídia e interações sociais entre torcedores
no Brasil: um estudo etnográfico. Primeira Revista Electronica en America
Latina Especializada em Comunicación. www.razonypalabra.org.mx (acessado
em jul/11).
DAMO, A. S.; Futebol e identidade social: uma leitura antropológica das
rivalidades entre torcedores e clubes. Porto Alegre: UFRGS, 2002.
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BANDEIRA, Gustavo Andrada; Um Currículo de masculinidades nos
estádios de futebol. Porto Alegre: UFRGS, 2010.
PIMENTA, Carlos Alberto Máximo. Violência entre torcidas organizadas de
futebol. São Paulo: Revista São Paulo em Perspectiva, 14 (2) 2000.
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