UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA
CENTRO DE EDUCAÇÃO FÍSICA E DESPORTOS
COMISSÃO DE REESTRUTURAÇÃO CURRICULAR
PROPOSTA DE REESTRUTURAÇÃO CURRICULAR PARA OS CURSOS DE
EDUCAÇÃO FÍSICA CEFD/UFSM – LICENCIATURA PLENA DE CARÁTER
AMPLIADO
.
SANTA MARIA, NOVEMBRO DE 2010.
CURSO DE GRADUAÇÃO LICENCIATURA EM EDUCAÇÃO FÍSICA
1- INTRODUÇÃO
O fato que vivemos em uma sociedade dividida em classes e que no livre
movimento do capital, a economia sofre crises cíclicas, e que em nome da superação
dessas crises, a sociedade como um todo, também entra em crise estrutural (BRAZ &
NETO, 2008: cap.7, pg. 156 a 156), chamamos a atenção para as inúmeras mudanças
que ocorre no mundo do trabalho. (MÉSZÁROS, 2008), salienta que as mudanças no
mundo do trabalho, atingem os mais diversos setores, inclusive a formação dos
profissionais que estarão aptos a enfrentar as problemáticas advindas das crises do atual
sistema.
O caso de um projeto de reestruturação curricular estar profundamente ligado ao
projeto de sociedade, já que o contexto de formação capacita os sujeitos para o âmbito
social e seu mundo do trabalho, entendemos que devemos ter claro o que almejamos e,
portanto, que sujeitos queremos formar e para que sociedade.
No sentido de acompanhar a relação formação e sociedade, a história da
Educação Física no Brasil, nas últimas décadas, tem sido alvo de inúmeras discussões e
questionamentos, no sentido de melhor compreender sua identidade, seu objeto de
estudo e seu papel social. Para tentar esclarecer esses aspectos, entre tantos outros,
visando, assim, possibilitar aos professores bases mais sólidas para a realização de seu
trabalho, tem-se visto estudos referentes a concepções de ensino, metodologias,
paradigmas e currículo. Para Silva (1997), especificamente no caso da Educação Física
e esporte, não há como negar que nos últimos vinte anos vêm ocorrendo importantes
mudanças que estão contribuindo para a construção de um perfil epistemológico novo
para esta área de conhecimento sendo que essas modificações são produtos e processos
de um contexto mais amplo, resultado de múltiplos determinantes histórico-sociais.
Acompanhando essas transformações, a grade curricular dos cursos de Educação
Física vem sofrendo alterações no que corresponde aos conhecimentos necessários que
atendam ao contexto prático, ou seja, a formulação dos currículos nos cursos de
formação de professores e a concretização da área de conhecimento da EF são questões
que se inter-relacionam e que se constroem e reconstroem por meio da história. A
história do processo de reestruturação curricular do CEFD demonstra esse processo
dinâmico, como nos é expresso no livro intitulado “História do Centro de Educação
Física e Desportos/ UFSM- 25 anos”, de autoria de Janice Zarpelon Mazo, que data do
ano de 1997.
O CEFD foi criado no início dos anos 70, período em que, segundo Mazo
(1997), apresentavam-se, no país, práticas de repressão, devido ao regime militar
implantado com o golpe de 1964. Primeiramente, o corpo docente do CEFD foi
composto por seis professores que foram selecionados em concurso público no ano de
1970. Com o crescimento do ensino superior no Brasil, o CEFD também foi se
ampliando e constituindo seu quadro de professores, que, originalmente, em sua
maioria, possuíam uma trajetória esportiva. Isso se deu porque os currículos das escolas
superiores de Educação Física eram compostos basicamente de disciplinas práticas e a
carga horária destinada aos esportes era bastante alta, com muita ênfase aos aspectos
técnicos, primando pela performance esportiva. O primeiro currículo do CEFD foi
sistematizado para duração de 3 a 5 anos, incluindo matérias de formação básica
(anatomia, fisiologia, higiene...), formação pedagógica (didática, estrutura e
funcionamento do 2º Grau, psicologia da educação...), disciplinas profissionalizantes
(ginástica rítmica, natação, atletismo, recreação, socorros urgentes) e disciplinas
complementares (treinamento esportivo, arbitragem, metodologia, esporte, estágio,
educação moral e cívica, organização). No ano de 1977, foi reunida uma comissão para
elaborar um anteprojeto de um novo currículo, porém esse esforço não resultou em
mudanças efetivas e o mesmo foi reformulado somente no ano de 1990.
Neste
currículo, estavam presentes disciplinas de formação geral, específicas e optativas
(ACG’s), com duração total de quatro anos.
Em 2004, o currículo do curso de Educação Física Licenciatura Plena foi
novamente reformulado e orientou-se na Lei de Diretrizes e Bases que vigora desde o
ano de 1996 e que aponta a necessidade da reestruturação curricular. Assim, o CEFD,
hoje, apresenta dois novos cursos de formação de professores em EF, o curso de
Licenciatura Plena com início no primeiro semestre de 2005 e o curso de Bacharelado
com início no primeiro semestre de 2006.
No decorrer do desenvolvimento dos cursos, alguns problemas foram
diagnosticados, o que levou a formação de comissões para analisar os currículos e
sistematizar propostas vindas dos departamentos didáticos, como a propósito de
exemplo, modificações de ementas de disciplinas e equivalências de disciplinas entre os
cursos de bacharelado e licenciatura.
Resultado deste trabalho, especificamente no que diz respeito ao processo de
equivalência de disciplinas dos cursos de graduação em bacharelado (total de 50
disciplinas obrigatórias, sem considerar estágios e DCGs) e licenciatura (total de 40
disciplinas obrigatórias, sem considerar estágios e DCGs), 26 disciplinas tornaram-se
equivalentes, o que demonstra que a formação do CEFD apresenta mais de 50% de
formação única.
Especificamente, durante os dias 21, 22 e 25 de maio de 2009, o Centro de
Educação Física da Universidade Federal de Santa Maria foi paralisado com suas aulas
e algumas atividades para que os três setores (professores, funcionários e estudantes)
discutissem e formulassem políticas quanto aos cursos de Educação Física Licenciatura
e Bacharelado que existem no mesmo.
No final das tarefas, em assembléia geral, os três segmentos apresentaram seus
encaminhamentos (constituídos em plenárias específicas de cada um deles) quanto ao
modelo de curso que o CEFD irá implementar.
A opção dos três segmentos constitui-se pela formulação de um curso só, no
caso a Licenciatura Plena de caráter ampliado, tendo o entendimento de que não é
acoplar os dois currículos vigentes (licenciatura e Bacharelado) e nem voltar ao curso de
Licenciatura dos anos 90, mas sim garantir uma formação ampliada que atenda as
demandas da área escolar e não escolar. Esta decisão foi encaminhada ao Conselho de
Centro do CEFD e aprovada com unanimidade pelos participantes conforme Ata 424º
aprovada no dia sete de agosto de 2009.
Referente a este encaminhamento, a assembléia indicou a formação de uma
comissão, com o fim de elaborar uma proposta para o curso. Essa comissão, nomeada
através da portaria n° 100/2009 do CEFD/UFSM constituiu-se por um professor de cada
departamento e seu substituto, um funcionário e um substituto, um representante das
coordenações e quatro estudantes e seus respectivos substitutos, a fim de apresentar
paridade na comissão.
Portanto, este documento, constitui-se na proposta de reestruturação curricular
do CEFD caracterizada enquanto Licenciatura Plena de caráter ampliado 1 elaborada
pela referida comissão.
1
A partir dessa citação quando nos referirmos ao termo graduação em licenciatura plena em educação
física estaremos retratando o curso de Licenciatura Plena de Caráter Ampliado.
2- JUSTIFICATIVA
Para justificar o desenvolvimento de um curso de formação em Educação Física
de caráter ampliado, no sentido de formar trabalhadores para a atuação no contexto
escolar e não escolar da prática pedagógica em Educação Física, faz-se, necessário,
primeiramente, contextualizar a referida área no que se refere aos eixos da Legalidade,
do Conhecimento e do Campo de Trabalho. Acreditamos que esses três eixos,
entendidos e apresentados indissociados e articulados, constituem-se em um ponto de
partida para a elaboração de um currículo em Educação Física que atenda às
necessidades concretas referentes a política de formação de professores em educação
física e em relação as políticas públicas de educação física, esporte e lazer da região em
que está inserido.
2.1- LEGALIDADE
Orientados no princípio constitucional de que lei menor não fere lei maior e isso
serve para resoluções, normas e diretrizes, hoje, o que orienta a organização dos
currículos dos cursos de Educação Física é a resolução 07/2004 da CES/CNE 2. Essa
resolução está no bojo das discussões da resolução CNE/CP3 01/2002 que institui
Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formação de Professores da Educação Básica,
em nível superior, curso de licenciatura, de graduação plena, promulgada sob a Lei nº
9.394/96 (atual LDB). Desde então, a Resolução CFE4 nº 03/1987, que fundamentava a
constituição dos cursos de formação em Educação Física, passa a ser revogada.
Referente à expressão graduado/graduação, a mesma diz respeito ao exposto
na LDB, que afirma, claramente, que todos os cursos superiores são de graduação,
podendo estes ser licenciaturas, bacharelados ou superiores técnicos. “A graduação
compreende: a) Bacharelados, b) Licenciatura, c) Cursos Superiores de Graduação
Tecnológica” (Art. 44, inciso II, da Lei nº 9.394/96). Também referente à expressão
Educação
Básica
presente
na
resolução
CNE/CP
01/2002,
refere-se
que,
obrigatoriamente, um curso em licenciatura deverá apresentar conhecimentos
específicos para tal, mas não necessariamente precisa se limitar a estes.
2
Câmara de Educação Superior/Conselho Nacional de Educação.
Conselho Nacional de Educação/Conselho Pleno.
4
Conselho Federal de Educação.
3
De acordo com a LDB, uma área de conhecimento/curso de formação, apresenta
autonomia para decidir a modalidade de graduação a ser oferecida, ou seja, curso de
graduação em licenciatura, ou/e bacharelado, ou/e graduação tecnológica, sendo que a
lei não obriga nenhuma área de conhecimento a oferecer mais de uma modalidade de
formação.
Portanto, a opção de um Centro de Educação Física em oferecer somente um
curso de graduação em Licenciatura da Educação Física, é amparada legalmente e no
que se refere ao perfil proposto por este, especificamente, se o ingresso terá formação de
conhecimento para atuar no contexto escolar e não escolar. Também apresenta amparo
legal, tal como sempre se apresentou no decorrer da história da Educação Física, pois as
resoluções e lei referendadas acima em nenhum momento apresentam algum conteúdo
que estabeleça que o licenciado em Educação Física não possa atuar fora do contexto da
escola.
Também podemos afirmar nossa autonomia para a construção de cursos de
graduação, a partir da Constituição Federal, que no art. 207 declara que: “As
universidades gozam de autonomia didático-científica, administrativa e de gestão
financeira e patrimonial, e obedecerão ao princípio de indissociabilidade entre ensino,
pesquisa e extensão”.
2.2- CONHECIMENTO
Concordamos com Dib (1994) quando diz que é preciso que o processo de
formação se dê através de “uma dinâmica constante de reflexões críticas sob as bases
teóricas, as metodologias e as experiências realizadas, buscando-se alternativas
concretas para os impasses educacionais” (p. 42).
Neste sentido, o desenvolvimento de um curso de graduação Licenciatura Plena
em educação física que atenda a relação entre teoria e prática no âmbito da Educação
Física escolar e não escolar, sob os aspectos de formação e prática pedagógica e
produção do conhecimento, justifica-se pelo fato de entendermos que a Educação Física
constitui-se em uma área de conhecimento que trata das diferentes manifestações da
cultura corporal construída a partir da práxis humana e que para isso, necessita da
contribuição das múltiplas disciplinas científicas, conduzindo este universo a diferentes
análises e entendimentos.
Concordamos com Sanches Gamboa (1994), de que a Educação Física, no
processo de conhecimento, deve ser tomada enquanto ponto de partida e de chegada e,
como instrumental explicativo, a contribuição teórica de outros campos científicos.
Isso implica na articulação de um campo interdisciplinar, que tem como eixo a
Educação Física e, em torno dela, articula a contribuição das várias teorias científicas,
elaborando compreensões e práticas mais ricas e complexas, na medida em que tece em
torno de fenômenos concretos (objetos de estudo e situações de ensino na escola e fora
dela), conhecimentos oriundos a partir das ciências humanas, sociais, da saúde, exatas e
da terra, da arte e da filosofia.
Sob esta mesma posição, Bracht (1999) defende que o teorizar específico da
Educação Física seria um teorizar sintetizador de conhecimentos à luz das necessidades
específicas da prática pedagógica imediata e diz que reconhecer a Educação Física
primeiro enquanto prática pedagógica é fundamental para o reconhecimento do tipo de
conhecimento, de saber necessário para orientá-la e para o reconhecimento do tipo de
relação possível/desejável entre Educação Física e o saber científico, ou as disciplinas
científicas.
Sendo a Educação Física uma prática de intervenção, para o referido autor, o que
a caracteriza é a intenção pedagógica com que trata um conteúdo que é configurado e
retirado do universo da cultura corporal.
Nós, da EF, estamos confrontados com a necessidade de
constantemente tomar decisões sobre como agir. Por exemplo:
decisões sobre o conteúdo dos meus planos de ensino; sobre a
quantidade e a intensidade de exercícios; sobre o método de
ensino a adotar para ensinar um esporte; sobre a forma de reagir
frente a uma atitude agressiva de um aluno, etc.(BRACHT,
1999, p.33).
Através do exposto, compreendemos que a constituição de um curso de
licenciatura em Educação Física, apresenta-se como possibilidade de garantir um
processo de formação ampliado e qualificado, à medida que tomamos os diferentes
saberes (fisiologia, biomecânica, desenvolvimento humano, pedagogia, etc) sob um
diálogo interdisciplinar que se materializará na prática pedagógica do contexto escolar e
não escolar.
Assim, o Curso de Licenciatura Plena de caráter Ampliado em Educação Física
do CEFD/UFSM, abrangerá uma orientação científica, integrando teoria e prática,
através das relações da cultura corporal, com a sociedade, a educação, o
desenvolvimento humano, saúde, treinamento corporal e esportivo, etc...
Isso
possibilitará uma formação abrangente para a competência profissional em contextos
histórico-sociais específicos, promovendo um contínuo diálogo entre as áreas de
conhecimento científico e a especificidade da Educação Física. Guiar-se-á, também,
pelo estudo das distintas manifestações clássicas e emergentes (Quanto às inovações,
deverão ser consideradas como avanços científicos e tecnológicos da cultura corporal),
identificadas com a tradição da Educação Física.
Nessa perspectiva, a organização curricular deverá relacionar: Conhecimentos
de Formação Ampliada, Conhecimento Identificador da Área e Conhecimento
Identificador do Aprofundamento de Estudos.
Os Conhecimentos de Formação Ampliada são aqueles que permitem uma
compreensão de conjunto, da totalidade comum a qualquer tipo de formação.
Compreendem os estudos acerca das relações do ser humano com a natureza, com os
demais seres humanos na sociedade, com o trabalho e com a educação, ou seja,
conhecimentos relacionados às bases biológicas, psicológicas, antropológicas,
sociológicas, históricas e filosóficas na perspectiva de compreensão da realidade social.
O Conhecimento Identificador da Área compreende o estudo na perspectiva
sócio-histórica dos elementos constitutivos da cultura corporal como, por exemplo, os
jogos, esportes, ginástica, dança, lutas, mímicas, entre outras, a partir da sua gênese até
a sua transposição didática no trabalho pedagógico com determinadas finalidades em
diferentes campos e locais de trabalho.
.
Os Conhecimentos Identificadores do Aprofundamento serão delimitados a
partir da capacidade de pesquisa do CEFD/UFSM, em relação ao trabalho nos Grupos
de Pesquisa, nas políticas departamentais e na Pós-Graduação (neste momento em nível
de especialização). Partirá, portanto, da capacidade de investigação, da instalação de
grupos de pesquisa, do programa de pós-graduação integrado com a graduação. Dessa
estrutura de organização e sistematização do conhecimento, o CEFD poderá propor um
ou mais campos de aprofundamento de estudos, de acordo com suas investigações,
grupos e linhas de estudos e pesquisas. A capacidade instalada atualmente aponta para
duas grandes áreas de aprofundamento: a Área das Ciências Sociais e Humanas e a área
das Ciências Naturais e Exatas.
2.3- CAMPO DE TRABALHO
Entendemos que repensar currículos de Educação Física é repensar sua própria
função sócio-pedagógica, que se materializa na prática dos futuros professores que
atuarão no contexto da Educação Física.
O campo de atuação profissional da Educação Física encontra-se hoje
amplamente difundido, estando presente em diversas áreas, como por exemplo, nos
projetos sociais, nas academias de clubes, PSFs, movimentos sociais, escolas, entre
outros. Essa crescente área de atuação do profissional de Educação Física vem atrelada
a significativas mudanças no mundo do trabalho. Do decorrer dos anos setenta para os
dias atuais, algumas mudanças foram essenciais para contribuir com esta modificação.
A menor intervenção do estado na economia, a formação de um novo tipo de
trabalhador – mais flexível, polivalente e que cada vez mais perde os seus direitos
trabalhistas –, coloca o trabalhador no campo da empregabilidade, ou seja, como nos
declara Antunes (1998), de um lado, diminui o operariado industrial tradicional e
aumenta o subproletariado, baseado no “trabalho parcial, temporário, precário,
subcontratado, terceirizado” (p.41). Segundo Freitas (2005) é fundamental que
compreendamos as crises, principalmente o seu atual ciclo, a partir dos anos setenta, o
que o significado que a crise tem para o capitalismo: um recurso para postergar
contradições, cooptar setores e ganhar sobrevida mudando o papel do estado,
desenvolvendo novos padrões de exploração da classe trabalhadora e alterando a própria
composição da classe trabalhadora. Frente a isto a Educação Física, diante dessas
transformações, também passa por um reordenamento. Historicamente, a Educação
Física se consolidou como uma prática a serviço dos projetos governamentais, como
podemos perceber nas fases higienista, militarista e esportivistas da Educação Física
(GUIRALDELLI, 1988).
Evidenciamos que a Educação Física, historicamente,
sempre esteve ligada a formação de um projeto de homem através do âmbito escolar,
ora na formação do homem que possuía hábitos higiênicos, ora na formação do homem
forte e vigoroso, necessário para contribuir com o período de industrialização do Brasil
no Estado-Novo, ora na formação de atletas, principalmente no período que vai desde o
pós-guerra até os últimos anos da ditadura militar. Porém, com a reestruturação do
trabalho, introduzida no país a partir do final a década de 1980, a Educação Física
escolar perde papel de formação do homem necessário ao período, sendo que se
desvaloriza, dando lugar às práticas corporais, ou à chamada Educação Física não
formal, fora do âmbito da escola, que se torna de âmbito superior à escolar por cumprir
um papel econômico importante para os setores conservadores da área (NOZAKI,
2004). Notando esta inserção da Educação Física no campo não escolar, passa a se
rediscutir a formação do profissional de Educação Física, e algumas mudanças ocorrem
principalmente a partir da resolução 03/87, que institui o curso de bacharelado em
Educação Física. Este novo curso teria o caráter de formar profissionais para o ambiente
não escolar, mas podemos notar que as IES não incorporam este novo tipo de formação,
principalmente até o final da década de noventa. É a partir da criação do conselho
profissional através da lei 9696/98 que regulamenta a profissão de educação física, que
começa a se estimular a inserção do curso de bacharelado nas IES. O CONFEF, então,
busca através da criação dos cursos de bacharelado se legitimar na área e ingerir
diretamente na regulamentação da categoria, já que o licenciado não necessita da
filiação ao CONFEF para trabalhar na escola porque é regulamentado pelo Conselho
Nacional da Educação.
Assim, ocorre uma fragmentação no processo de formação, como também,
diferenças entre bacharéis e licenciados, sendo aquele considerado profissional e este
professor. Esta questão demonstra um equívoco teórico/científico por parte do conselho
profissional, no momento em que o mesmo, desconsidera, inclusive, o que
historicamente foi determinado, tanto sob o aspecto da legalidade como da legitimidade,
que consiste no fato de que professor sempre foi e será categoria profissional.
Sob esse processo de separação, as conseqüências de atuação no campo de
trabalho consistem principalmente na precarização do trabalho, uma vez que, além de
ter uma visão fragmentada do campo de conhecimento em Educação Física, o graduado
também se depara com um campo de trabalho regido pelo subemprego que se expressa
na falta de direitos trabalhistas.
Observamos, também, que os cursos de graduação em Educação Física, sob esta
lógica da separação entre bacharel e licenciado, estão contribuindo com uma formação
especializada, impossibilitando o acesso à totalidade da Educação Física. Por
conseqüência se prendem na graduação em uma área do conhecimento, não
compreendendo a dimensão da Educação Física e, em decorrência, legitimando essa
fragmentação no contexto de atuação.
Portanto, entendemos que a graduação na Educação Física deve ocorrer no
marco da licenciatura ampliada, em que os alunos tenham acesso a totalidade dos
conhecimentos que a Educação Física proporciona, relacionando Conhecimentos de
Formação Ampliada, Conhecimentos da Área e Conhecimentos de Aprofundamentos.
Dessa forma, considerando que vivenciamos a crise estrutural do sistema
capitalista, caracterizada pela destruição das forças produtivas e por constantes
reestruturações no mundo do trabalho que tendem a subsumir a humanidade a lógica
perversa do capital, bem como os elementos supracitados acima nos três eixos de
justificativa compreendemos como necessária a realização de uma reestruturação
curricular que como afirma Mészáros (2005) não se limite a uma reforma educacional
às margens corretivas interesseiras do capital, mas situe a formação de professores de
educação física como elemento da realidade complexa e contraditória que vivenciamos
como forma de cumprir a função social da universidade no que diz respeito à articulação
do seu tripé básico ensino-pesquisa-extensão, alterando os parâmetros teóricometodológicos que nos possibilitam abordar a realidade no sentido de entendermos,
explicarmos e agirmos no enfrentamento dos problemas postos pela existência
(SANTOS JUNIOR in COLAVOLPE. Página 38; 2009).
Conforme nos aponta Florestan Fernandes:
“... a instituição é uma sociedade em miniatura. Possui
uma estrutura, pessoal e cultura próprias; e conta com padrões
organizativos específicos, que regulam sua capacidade de
atender aos fins e às necessidade sociais que dão sentido à sua
existência, continuidade e transformação.”(2004, pág. 275)
Sendo assim, a universidade compreendida como uma instituição social que
acompanha as transformações mais gerais da sociedade e vivencia em sua própria
organização os conflitos e contradições gerados por estas, sendo definida por sua
autonomia intelectual que a legitima a intervir e se posicionar perante o movimento
mais geral da sociedade tendo como função historicamente constituída a produção e
socialização
do
conhecimento,
fundadas
nas
exigências
epistemológicas
e
metodológicas (rigor científico), além de estar a serviço da sociedade historicamente
determinada.” (LACKS, SOLANGE. 2004)
É a partir dessa configuração, entendendo-a no cenário mais amplo das ações e
das relações sociais e definindo assim o papel social que a universidade possui em
superar as contradições impostas pela divisão social do trabalho e frente aos problemas
apontados acima referentes à formação de professores em educação física é que
julgamos necessário a partir desta reestruturação a construção de uma educação física
que seja comprometida socialmente com as demandas e reivindicações históricas dos
trabalhadores no campo da cultura corporal possibilitando que a produção do
conhecimento realizada no Centro de Educação Física e Desportos contribua para a
resolução dos problemas referentes à prática pedagógica da educação física e das
políticas públicas de educação física, esporte e lazer da região de Santa Maria e demais
localidades centrais do estado, visando a construção de uma identidade cultural própria
dos trabalhadores como forma de enfrentar o modo do capital de organizar a produção
da vida.
3- OBJETIVOS
3.1- GERAL
Possibilitar a formação ampliada em educação Física, no sentido de formar
trabalhadores para a atuação no contexto escolar e não escolar da prática pedagógica em
Educação Física.
3.2- ESPECÍFICOS
- Possibilitar a análise, interpretação e compreensão da realidade social complexa e
contraditória tendo em vista a sua transformação;
- Possibilitar o entendimento da Educação Física enquanto área de conhecimento que
trata das diferentes manifestações da cultura corporal;
- Proporcionar a relação entre teoria e prática no âmbito da Educação Física escolar e
não escolar,
- Proporcionar a articulação de um campo interdisciplinar de conhecimentos oriundos a
partir das ciências humanas, sociais, da saúde, exatas e da terra, da arte e da filosofia em
torno de fenômenos concretos da prática pedagógica em Educação Física;
- Possibilitar a compreensão das bases teórico-metodológicas para o desenvolvimento
da educação e da educação física comprometidas com a função social da universidade;
- Possibilitar a formação de professores que se constituam enquanto organizadores da
cultura brasileira em geral e da cultura corporal em específico;
- Proporcionar a partir dos conhecimentos científicos a construção de políticas públicas
de educação física, esporte e lazer de caráter emancipatório.
4. PERFIL DO EGRESSO
Vivenciamos hoje, como bem apontado acima a crise estrutural do sistema
capitalista devido ao apodrecimento das forças produtivas e ao aprofundamento, sob
outras bases, das formas de exploração do homem pelo homem, exploração da natureza
e sua paulatina e rápida destruição (FREITAS; 1995, p.123). Este apodrecimento
caracteriza-se pela formulação de políticas de terceira-via que tendem a tomar de
bancarrota as conquistas históricas da classe trabalhadora frente à saúde, trabalho, lazer,
educação, etc.
Estes artifícios para controle da classe trabalhadora manifestam-se também no
âmbito da formulação de políticas para formação de professores, conforme fica nos
explicitado a atual flexibilização e precarização imposta pelas tão defendidas
Pedagogias do Aprender a Aprender que possuem como postulado valorativo a
preparação dos indivíduos para acompanharem a sociedade em acelerado processo de
mudança (DUARTE, 2000). Estas pedagogias contribuem para a ilusão de que vivemos
em uma sociedade dita do conhecimento, em que os meios de comunicação
globalizados dão plenas condições para que os indivíduos não precisem mais de
mediações entre professor-aluno para que os conhecimentos já produzidos pela
humanidade sejam transmitidos de geração em geração.
A partir dessa lógica que visa explicitamente à manutenção da crise do
capitalismo e aprofundamento das políticas de subsunção do trabalho ao capital, parecenos necessário uma intervenção consciente no âmbito educacional como forma de
construirmos uma política de formação de professores que estejam comprometidos com
a superação das atuais bases de exploração do homem pelo homem visando intervir
conscientemente em todos os domínios e em todos os níveis da nossa existência
individual e social (MÉSZÁROS, 2005) e especificamente no âmbito da cultura
corporal.
Dessa forma, compreendendo que os homens se constroem de acordo com as
circunstâncias historicamente determinadas e não conforme os bem dizeres de sua
consciência definimos como necessário para a formação do egresso no curso de
Licenciatura de Caráter Ampliado uma formação generalista, humanista e crítica
pautada na perspectiva da omnilateralidade como forma de capacitar a análise,
interpretação e compreensão crítica da realidade social tendo em vista uma intervenção
acadêmico profissional qualificada por meio das diferentes manifestações e expressões
da cultura corporal.
Através de uma consistente base teórica que engloba os conhecimentos das
ciências humanas, sociais, da saúde, exatas e da terra, da arte e da filosofia, deverá
compreender a docência enquanto identidade profissional da educação física em três
eixos de domínio que necessitam estarem articulados e caracterizam-se segundo Santos
Junior (2005) pelo: domínio dos macro-conceitos da área (esporte, saúde, lazer,
ginástica, etc.); o domínio dos fundamentos para o trato com o conhecimento (teoria do
conhecimento X teoria da aprendizagem – como o conhecimento é construído e como o
ser humano aprende); e o domínio dos elementos específicos da docência (organização
do trabalho pedagógico/ teoria pedagógica X metodologias específicas).
O egresso poderá por meio da docência, atuar na realidade social não se
adaptando a ela, mas sim contextualizando sua intervenção baseada na relação dos
conhecimentos científicos construídos pela humanidade e apropriados historicamente
como instrumento para a formação continuada, a indissociabilidade teoria e prática e a
construção do conhecimento transformado em ação ética, moral, estética e em políticas
emancipatórias que elevem o nível de consciência dos envolvidos no processo ensino
aprendizagem.
Assim, sua intervenção deverá basear-se na crítica as condições historicamente
determinadas pela práxis social humana no campo da cultura corporal como forma de
demonstrar as relações existentes entre o real e o ideal buscando formas concretas para
superar os problemas sociais encontrados visando à construção de políticas públicas que
possibilitem a organização da realidade cultural brasileira tendo em vista a emancipação
humana. A partir disso, deverá compreender a pesquisa como princípio formativo e
epistemológico, eixo da organização e desenvolvimento do currículo construído a partir
da gestão democrática e do trabalho coletivo em contextos educativos escolares e nãoescolares.
Dessa forma, e em suma caberá ao egresso no curso de Licenciatura de Caráter
Ampliado do Centro de Educação Física e Desportos:
•
Compreender os processos educacionais e as diferentes manifestações da cultura
corporal de forma a possibilitar a construção de práticas pedagógicas que
articulem as necessidades imediatas, mediatas e históricas da classe trabalhadora
no âmbito da educação física, esporte e lazer;
•
Exercer a docência nos diferentes níveis de ensino, em espaços formais (escolas
da rede pública; na educação infantil, ensino fundamental, ensino médio e
educação para jovens e adultos) e informais de educação (clubes, academias,
PSF’s, movimentos sociais, associações comunitárias);
•
Comprometer-se com a educação e com o avanço das formulações teóricas da
área de conhecimento de que trata a educação física visando o comprometimento
desta com a transformação da realidade social a partir de bases cientificas;
•
Organizar ações de extensão entre a escola/universidade e a comunidade tendo o
trabalho como princípio educativo visando à produção do conhecimento e sua
socialização como forma de construir práticas de organização sociais
verdadeiramente democráticas;
Considerando dessa forma os interesses e as necessidades humanas e as
implicações sócio-culturais, econômicas, políticas e ambientais das diversas
manifestações da cultura corporal, o egresso deve ser capaz de ter autonomia para tomar
decisões e planejá-las, bem como defendê-las de acordo com a sua concepção de
homem e de mundo estando consciente e responsabilizando-se pelas ações feitas.
Desenvolverá assim, além de sua prática profissional sua identidade enquanto ser
humano, construído socialmente e carente de direitos e possibilidades, tornando-se
organizador da identidade cultural brasileira tendo em vista a superação das formas
alienantes de organização social construídas historicamente pelo capital.
5. COMPETÊNCIAS GLOBAIS E HUMANAS.
As competências globais e humanas podem ser caracterizadas conforme os
parâmetros teórico-metodológicos que segundo Santos Junior (2005) caracterizam-se
por um conjunto de elementos que, articulados, ampliam nossas possibilidades de
abordar a realidade no sentido de sua compreensão, da produção de conhecimentos, do
encaminhamento de ações, enfim, de entender, explicar e agir no enfrentamento dos
problemas postos pela existência.
O egresso do Curso de Educação Física de caráter ampliado que formará
professores para atuarem no contexto escolar e não escolar da prática pedagógica em
Educação Física, deverá construir uma qualificação que possibilite analisar criticamente
à realidade social, para nela intervir acadêmica e profissionalmente. A sustentação
teórico-metodológica possui como base a justificativa do caráter ampliado da formação
onde a área foi contextualizada em três eixos que devem ser entendidos de forma
indissociada e articulada: Legalidade, Conhecimento e Campo de Trabalho. Para tanto,
o egresso deverá apropriar-se de competências globais humanas e habilidades que estão
articuladas com a justificativa e orientação teórica do PPC como forma de sustentar e
construir a prática pedagógica do professor de Educação Física.
Consideramos que vivemos em um período de crise do sistema capitalista
caracterizado pela destruição das forças produtivas, com um crescente avanço do
desemprego e das desigualdades sociais e com um amplo desenvolvimento das políticas
de reestruturações produtivas. Isso traz conseqüências para a formação e qualificação
profissional, inicial e continuada, pois, conforme nos aponta Mészáros (2002) às
instituições de educação tiveram de ser adaptadas no decorrer do tempo, de acordo com
as determinações reprodutivas em manutenção do sistema do capital.
Assim, o capital utilizando-se da educação forma trabalhadores cada vez mais
acríticos, flexíveis e alienados, fragmentando o conhecimento como forma de
fundamentar a divisão social do trabalho. Em contrapartida devemos pautar nossa
reestruturação curricular de acordo com as demandas sociais que são reivindicações
humanas, cultas e subsumidas pela divisão da sociedade em classes sociais.
Tais demandas sociais no que diz respeito ao campo da educação, esporte e lazer
podem ser definidas pela necessidade histórica de locais, tempo e aparelhos necessários
para a realização das práticas corporais, entendidas enquanto indicadores da qualidade
de vida e da construção de práticas emancipatórias do sujeito e da sua subjetividade.
Com as demandas neoliberais, que tiram a responsabilidade do estado investir em
políticas públicas para a educação, esporte, lazer, saúde, etc. começa-se a criar ramos
privatistas dessas áreas, por isso vemos um grande aumento da área do fitness. E isto
influenciou na formação profissional para a inserção dos trabalhadores recém formados
nessas áreas do mercado de trabalho.
O Curso de Educação Física de caráter ampliado do CEFD tem o compromisso
de estabelecer inter-relação do conhecimento produzido e acumulado com as
comunidades próximas à Universidade Federal de Santa Maria RS. Como argumenta
Gamboa (2000), a conjuntura atual de crescente influência do fenômeno da globalização
e das políticas neoliberais, com conseqüente empobrecimento dos pequenos municípios,
coloca um desafio às Universidades, às pesquisas e aos pesquisadores de pensar as
tensões e os fluxos entre o global e o local, a fim de se comprometer com as
necessidades das regiões e das comunidades onde elas se inserem.
Santa Maria está localizada na Região Central do Estado do Rio Grande do Sul,
que segundo a divisão do Conselho Regional de Desenvolvimento COREDEs5 abrange
dezenove (19) municípios (Agudo, Dilermando de Aguiar, Dona Francisca, Faxinal do
Soturno, Formigueiro, Itaara, Ivorá, Jarí, Julio de Castilhos, Nova Palma, Pinhal
Grande, Quevedos, São João do Polêsine, Santa Maria, São Martinho da Serra, São
Pedro do Sul, Silveira Martins, Toropi, Tupanciretâ). O Atlas Socioeconômico do Rio
Grande do Sul evidencia o caráter rural do estado. Tradicionalmente o Rio Grande do
Sul destaca-se pelo investimento no setor agropecuário, sendo que dentre as
propriedades rurais existentes no estado, 85,71% possuem menos de 50 hectares de
terra, ou seja, há predominância de médias e pequenas propriedades distribuídas em
diferentes regiões. Cabe destacar que dos 496 municípios que compõem as 28 regiões
do Rio Grande do Sul, 333 possuem menos de 10 mil habitantes. A Região Central é
exemplar nesta característica rural, pois dos 19 municípios que a compõe apenas São
Pedro do Sul (16.859 hab.), Agudo (17.020 hab.), Júlio de Castilhos (19.978 hab.),
Tupanciretã (22.904 hab.) e Santa Maria (266.209 hab.) possuem mais de 10.000
habitantes, o que aponta para a necessidade do egresso apropriar-se de Competências
globais humanas e habilidades articuladas com as características rurais da região.
A formação profissional não deve ser baseada a partir de demandas mercantis,
mas sim nas reivindicações e demandas históricas dos trabalhadores frente às
necessidades e possibilidades humanas e seu desenvolvimento integral, na construção
de um novo modelo produtivo e de relações sociais a partir da cultura corporal
constituindo assim, uma política cultural para a formação humana na perspectiva da
omnilateralidade.
Temos hoje, como marca predominante nos currículos, inclusive nas próprias
diretrizes, a formação do futuro trabalhador sendo balizadas por competências e
habilidades o que se mostra claramente como a adaptação da educação ao sistema
econômico e reflete na formação de trabalhadores com uma formação meramente
técnica. Mais do que isso, são currículos para a formação de trabalhadores adaptados às
oscilações do mercado, que hora vão estar empregados, hora não, de acordo com as
demandas momentâneas de emprego. Logo, esse tipo de formação, baseada na
empregabilidade inculca no professor a idéia de que ele é o único responsável por estar
5
A divisão do COREDEs encontra-se em::http://www.scp.rs.gov.br/ATLAS/atlas.asp?menu=467. Acesso
realizado no dia 13/08/2010.
ou não empregado, e caso não consiga, isso deriva de sua incompetência, o que revela o
caráter adaptativo desse tipo de formação, que pode ser compreendida pela citação:
“O caráter adaptativo dessa pedagogia está bem evidente.
Trata-se de preparar aos indivíduos formando as competências
necessárias à condição de desempregado, deficiente, mãe
solteira etc. Aos educadores caberia conhecer a realidade social
não para fazer a crítica a essa realidade e construir uma
educação comprometida com as lutas por uma transformação
social radical, mas sim para saber melhor quais competências a
realidade social está exigindo dos indivíduos.” (DUARTE,
2001)
A proposta de formação que aqui se apresenta, é, portanto, uma contraposição
radical a esse modelo voltado exclusivamente para as demandas de mercado e que visa
adaptar o trabalhador às inconstâncias do mercado de trabalho. Trata-se de uma
proposta de formação que vise desenvolver habilidades globais humanas e
competências integrais, na perspectiva de uma formação emancipatória na perspectiva
da omnilateralidade, e que forme o sujeito que atenda tanto as demandas emergentes
quanto as tradicionais/históricas.
A formação deve abranger o entendimento do trabalho docente como base da
formação, logo, o professor deverá ter a competência de intervir nos demais campos de
atuação da área da educação física, tanto formais (escola), quanto não formais (clubes,
academias, etc.), sempre se reconhecendo enquanto professor em qualquer âmbito da
educação física, tendo o entendimento que o trabalho será o princípio educativo na
formação.
A indissociabilidade entre teoria e prática deve ser fundamental para a
construção do conhecimento, sendo assim pautada pela filosofia da práxis que pode ser
compreendida através de Sánchez Vázquez, pelo qual:
“a relação entre teoria e práxis é para Marx teórica e prática:
prática, na medida em que a teoria, como guia da ação, molda a
atividade
do
homem,
particularmente
a
atividade
revolucionária; teórica, na medida em que esta relação é
consciente” (SÁNCHEZ VÁZQUEZ, 2007, p.109).
Para isso deve entender a pesquisa e a extensão de modo que a possibilitar a
interação do currículo com a realidade concreta, dinâmica e contraditória que
vivenciamos. Logo deve ter a história da humanidade como matriz científica, o trabalho
como princípio pedagógico e a práxis social como elemento articulador do
conhecimento
Entender a Educação Física enquanto uma disciplina multidisciplinar, que
abrange ciências sociais, humanas, biológicas, exatas e da terra de modo a contribuir
para a formação humana e emancipatória na perspectiva da omnilateralidade
possibilitando que a cultura corporal seja compreendida e analisada através da
articulação das suas dimensões técnica, científica, política, pedagógica, moral e ética.
Logo deverá ter uma intervenção política com base nos ideais para a emancipação
humana e superação da sociedade de classes
Competência de atuação crítica nos meios organizacionais das instituições, com
meio de se superar as práticas deliberativas que se tem hoje para construção de práticas
verdadeiramente democráticas e que sejam pautadas na construção coletiva. Por isso
deve compreender as implicações políticas, sócio culturais, econômicas e ambientais do
campo da cultura corporal de forma a agir criticamente na sociedade e nas instituições
de ensino.
Reconhecer seu papel na estrutura social da luta de classes, ou seja, consciência
de classes. Para isso deve ter consistente base teórica para argumentar, justificar e
articular sua visão de mundo e sua prática profissional, afim de conseguir explicar e
intervir na realidade a partir de conhecimentos específicos e de áreas afins.
Para tal realidade, o egresso no curso de Educação Física de Licenciatura
Ampliada deve ter as seguintes competências globais e humanas
1) Sólida formação teórica e interdisciplinar sobre o fenômeno educacional e da
cultura corporal e seus fundamentos históricos, políticos e sociais.
2) Entendimento da docência enquanto identificador da formação de professores de
educação física, entendendo o trabalho enquanto princípio educativo.
3) Indissociabilidade entre teoria e prática, tendo a produção do conhecimento
como parte integrante da formação através do tripé ensino, pesquisa e extensão;
4) Ter conhecimentos de formação ampliada que abranjam as seguintes dimensões:
a. Relação ser humano – natureza
b. Relação ser humano - sociedade
c. Relação ser humano – trabalho
d. Relação ser humano – educação
5) Compreender as relações da formação específica nas seguintes dimensões:
a. Cultura corporal e natureza humana
b.
Cultura corporal e territorialidade
c.
Cultura corporal e trabalho
d.
Cultura corporal e política cultural
e.
Cultura corporal e educação
6) Articular conhecimentos específicos da área com conhecimentos de formação
ampliada e de aprofundamento, afim de conseguir apreender, explicar e intervir
na realidade;
7) Compromisso social, a partir de uma visão e atitude crítica, tendo em vista um
projeto histórico pautado na superação da atual organização da sociedade
pautada na exploração do homem pelo homem.
8) Competência para atuar tanto no campo, quanto na cidade, levando em
consideração a realidade de cada ambiente.
9) Formação com competências globais nas dimensões, científica, técnica,
pedagógica, moral, ética, estética e política.
10) Atuação crítica nos meios organizacionais das instituições, com meio de se
superar as práticas deliberativas que se tem hoje, para chegar a uma democracia
verdadeira dentro das mesmas, pautando a construção coletiva.
11) Entender a Educação Física como área interdisciplinar que se fundamenta em
conhecimentos das ciências humanas, sociais, da saúde, exatas e da terra, da arte
e da filosofia, e dessa forma compreender a educação física tanto no contexto
escolar quanto no não-escolar;
12) Capacidade de estabelecer nexos e relações entre as demandas históricas e
também emergentes e a partir dessa compreensão, conseguir analisar e formular
acerca das políticas públicas para esporte e lazer para a maioria da população,
reconhecendo, para isso, seu papel na estrutura social.
6. ÁREAS DE ATUAÇÃO DO EGRESSO DO CURSO DE EDUCAÇÃO FÍSICA
LICENCIATURA DO CEFD/UFSM:
O Egresso do curso de educação física licenciatura do CEFD/UFSM terá as
seguintes ares de atuação:
Educação Básica (pública e privada), em editoras, em órgãos públicos ou
privados que produzem materiais didáticos para a educação, secretarias, clubes,
academias, centros de treinamento, hotéis, clínicas, hospitais, parques, empresas que
demandem sua formação específica e em instituições que desenvolvem pesquisas
educacionais, atuar de forma autônoma, em empresa própria ou prestando consultoria.
Ou seja, em espaços formais e não formais que dizem respeito à área.
7. ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO PEDAGÓGICO
A organização do trabalho pedagógico atualmente nas instituições de ensino
calcadas na sociedade dividida em classes sociais encontra-se destinada a reproduzir os
valores necessários a manutenção da sociedade, bem como, a formação de quadros que
irão ou gerenciar as atividades laborativas, ou intervir manualmente nas mesmas. De
forma que a divisão social do trabalho se mantenha também dentro da organização da
própria instituição de ensino, conforme nos aponta Freitas (2005) a escola capitalista
encarna objetivos (funções sócias) que adquire do contorno da sociedade na qual está
inserida e encarregam os procedimentos de avaliação, em sentido amplo, de garantir o
controle da consecução de tais funções. Para Mészáros apud Freitas, (2005) a educação
tem duas funções principais numa sociedade capitalista: 1) a produção das qualificações
necessárias ao funcionamento da economia, e 2) a formação de quadros e a elaboração
dos métodos para um controle político. Destaca-se ainda a vocação elitista, pois a escola
capitalista não é para o todo. É uma escola de classe.
Neste sentido que em relação à organização do conteúdo/método da escola
temos acordo com Freitas (2005) quando o autor pontua três aspectos cruciais que hoje
distanciam a formação profissional de uma perspectiva de formação profissional ampla
e emancipatória, dos quais, ausência do trabalho material (socialmente útil), como
princípio educativo; a fragmentação do conhecimento na escola; e a gestão autoritária,
são segundo o autor, aspectos centrais para a manutenção de uma organização do
trabalho pedagógico a serviço do capital.
Sendo assim, é preciso discernir por trás das frases, das declarações e das
promessas morais, religiosas, políticas e sociais (LENIN, 2009), das teorias do
conhecimento e das tendências pedagógicas desenvolvidas no âmbito da educação e da
educação física qual o papel da universidade, da produção do conhecimento, da
educação e da educação física frente ao atual estágio da luta de classes e como a partir
das bases materiais constituídas hoje podemos a partir da construção de conhecimento
socialmente útil desenvolver formas diferenciadas de a humanidade produzir a sua
existência de acordo com suas necessidades e possibilidades.
Dessa forma, considerando que a escola sempre refletiu e esteve a serviço de um
regime social determinado (PISTRAK, 2005), considerando o atual estágio de
desenvolvimento das forças produtivas que apontam para o limite civilizatório colocado
a forma de o capital organizar a vida, definimos como necessário buscar a construção de
novos objetivos e métodos relativos ao trabalho pedagógico visando à formação de um
novo trabalhador que possa compreender a partir da soma dos conhecimentos científicos
sistematizados pela humanidade o movimento mais geral do sistema capitalista e suas
implicações no campo da cultura corporal.
Por isso entendemos que a organização do trabalho pedagógico no curso de
Licenciatura do CEFD tem que se dar nos marcos da práxis social, pautada no trabalho
como princípio educativo; na perspectiva de formação humana fundamentada na
omnilateralidade; e no princípio da gestão democrática, enraizada na construção
coletiva, envolvendo os distintos segmentos presentes na instituição, bem como a
participação da sociedade, na elaboração de políticas educacionais e de construção do
conhecimento respaldadas na superação dos problemas da realidade social, visando
assim à transformação da sociedade de classes enraizada na divisão manual e intelectual
do trabalho.
7.1 COMPLEXOS TEMÁTICOS
O Sistema de Complexos propõe a organização do conhecimento de forma a
possibilitar a compreensão da realidade pelos alunos. Consiste no estudo de fenômenos
ou temas articulados entre si e com nexos com a realidade mais geral. Além da
compreensão crítica real, tal sistema tem intenção de dar condições para uma verdadeira
intervenção ativa na sociedade e possibilitar a superação de problemas hoje vistos no
ensino como a dicotomia teoria/prática, a descontextualização dos conteúdos e a falta de
aplicabilidade do conhecimento em situações concretas. Além disso, o Sistema de
Complexos propõe a superação do trato linear com o conhecimento, característico do
modo de produção taylorista, do qual é reflexo um currículo estanque, linear, etapista e
extensivo.
Dessa forma, a organização dos conhecimentos pode ser caracterizada conforme
a seleção de temas fundamentais que possuam um valor real e que:
“possa ser associado sucessivamente aos temas de outros
complexos. O estudo de complexos só tem sentido na medida
em que eles representam uma série de elos numa corrente,
conduzindo à compreensão da realidade atual”. (PISTRAK, M.
2000, p. 14).
Assim, os conhecimentos do curso de Licenciatura de Caráter Ampliado do
Centro de Educação Física e Desportos se organizarão a partir dos conhecimentos de
Formação Ampliada, Identificadores da Área e Identificadores do Aprofundamento de
estudos.
7.2.1 CONHECIMENTO DE FORMAÇÃO AMPLIADA
SER HUMANO-NATUREZA
Estudar a relação entre sujeito e natureza, no sentido de compreender as
características do processo de constituição humana que se estabelecem entre os aspectos
biológicos sociais;
Compreender as relações do processo de apropriação da natureza pelo sujeito na
história e suas implicações decorrentes da satisfação das necessidades humanas.
Exemplos6: ANTROPOLOGIA DO MOVIMENTO; CRESCIMENTO E
DESENVOLVIMENETO MOTOR; SAÚDE E EDUCAÇAO; APRENDIZAGEM
MOTORA; METODOLOGIA DA PESQUISA; BASES CINESIOLÓGICAS E
BIOMECÂNICA DO MOVIMENTO HUMANO; FILOSOFIA DA CIÊNCIA; BASES
BIOFISIOLÓGICAS DO MOVIMENTO HUMANO; ANATOMIA; NUTRIÇAO
DESPORTIVA; MEDIDAS E AVALIAÇAO.
SER HUMANO-SOCIEDADE
Relacionar e caracterizar as várias formas de organização social no decorrer da
história; Entender o surgimento e o desenvolvimento do processo de produção de
conhecimento na relação do sujeito nas diferentes formas de organização social;
Compreender as fases atuais de desenvolvimento da cultura moderna, no que
tange ao seu desenvolvimento econômico, científico e educacional.
Exemplos: ANTROPOLOGIA DO MOVIMENTO; SOCIOLOGIA DO
ESPORTE; METODOLOGIA DA PESQUISA; FUNDAMENTOS HISTÓRICOS,
FILOSÓFICOS E SOCIOLÓGICOS DA EDUCAÇAO; FILOSOFIA DA CIÊNCIA;
HISTÓRIA DA EDUCAÇAO FÍSICA, ESPORTE E LAZER;
SER HUMANO-TRABALHO
Entender o trabalho como princípio de construção do homem como ser social e
humano; Entender a realidade histórica e atual do trabalho e sua produção tecnológica
frente aos desafios da ciência e da educação.
Exemplos: ANTROPOLOGIA DO MOVIMENTO; SOCIOLOGIA DO
ESPORTE; BASES CINESIOLÓGICAS E BIOMECÂNICA DO MOVIMENTO
HUMANO; BASES BIOFISIOLÓGICAS DO MOVIMENTO HUMANO; ESTUDOS
DO LAZER; MUNDO DO TRABALHO E ESPORTE.
SER HUMANO-EDUCAÇÃO
6
As disciplinas citadas servem de exemplos, podendo ser criadas novas disciplinas, como também,
excluídas.
Entender o processo de construção e apropriação do conhecimento pelo sujeito
na sua relação com a natureza;
Compreender os diferentes enfoques da educação na história na sua relação com
as ciências naturais e sociais;
Compreender os diferentes processos educativos na modernidade no que diz
respeito aos aspectos de ensino-aprendizagem (Objetivo-avaliação; conteúdo-método).
Exemplos: CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENETO MOTOR; SAÚDE E
EDUCAÇAO; APRENDIZAGEM MOTORA; FUNDAMENTOS HISTÓRICOS,
FILOSÓFICOS E SOCIOLÓGICOS DA EDUCAÇAO; METODOLOGIA DA
PESQUISA; DIDÁTICA DA EDUCAÇAO FÍSICA; CURRÍCULO EM EDUCAÇAO
FÍSICA; EDUCAÇAO FÍSICA E NECESSIDADES EDUCACIONAIS ESPECIAIS;
7.2.2 IDENTIFICADORES ESPECÍFICOS DA ÁREA
CULTURA CORPORAL-NATUREZA HUMANA
Entender a construção da cultura corporal como um processo de inter-relação
biológica e social;
Entender historicamente os vários aspectos biológicos e sociais envolvidos na
produção e apropriação da cultura corporal para os diversos grupos humanos (especiais
e de diferentes momentos de aprendizagem).
Exemplos: ANTROPOLOGIA DO MOVIMENTO; SOCIOLOGIA DO
ESPORTE; SAÚDE E EDUCAÇAO; APRENDIZAGEM MOTORA; BASES
CINESIOLÓGICAS E BIOMECÂNICA DO MOVIMENTO HUMANO; BASES
BIOFISIOLÓGICAS DO MOVIMENTO HUMANO; ANATOMIA; GINÁSTICA;
CAPOEIRA
NA
ESCOLA;
VOLEIBOL;
FUTEBOL;
HANDEBOL;
BASQUETEBOL; ATLETISMO I; ATIVIDADES RÍTMICAS; EDUCAÇAO FÍSICA
E NECESSIDADES EDUCACIONAIS ESPECIAIS; ATIVIDADES AQUÁTICAS;
HISTÓRIA DA EDUCAÇAO FÍSICA, ESPORTE E LAZER; NUTRIÇAO
DESPORTIVA;
CULTURA CORPORAL-TERRITORIALIDADE
Entender historicamente os vários contextos geográficos, políticos e sociais em
que os elementos da cultura corporal foram e são apropriados e produzidos;
Caracterizar as manifestações da cultura corporal na cultura nacional e local e
suas relações com o contexto social e político.
Exemplos: ESTUDOS DO LAZER; POLÍTICAS PÚBLICAS E GESTAO NA
EDUCAÇAO BÁSICA; ATIVIDADES AQUÁTICAS; HISTÓRIA DA EDUCAÇAO
FÍSICA, ESPORTE E LAZER;
CULTURA CORPORAL-TRABALHO
Entender a criação e desenvolvimento dos elementos da cultura corporal como
um processo de trabalho (apropriação-objetivação);
Compreender as possibilidades de organização dos conhecimentos e da
metodologia do trabalho educativo com a cultura corporal no contexto escolar e não
escolar ao longo da história e na atualidade;
Exemplos: ANTROPOLOGIA DO MOVIMENTO; ESTUDOS DO LAZER;
DIDÁTICA DA EDUCAÇAO FÍSICA; CURRÍCULO EM EDUCAÇAO FÍSICA;
HISTÓRIA DA EDUCAÇAO FÍSICA, ESPORTE E LAZER; MUNDO DO
TRABALHO E ESPORTE.
CULTURA CORPORAL- POLÍTICA CULTURAL
Entender as relações entre políticas culturais (públicas e privadas) para a
apropriação da cultura corporal;
Conhecer as políticas nacionais e locais enquanto direito de apropriação da
cultura corporal na história e na atualidade.
Exemplos: ESTUDOS DO LAZER; GINÁSTICA; CAPOEIRA NA ESCOLA;
VOLEIBOL; FUTEBOL; HANDEBOL; BASQUETEBOL; POLÍTICAS PÚBLICAS E
GESTAO NA EDUCAÇAO BÁSICA; ATLETISMO I; ATIVIDADES RÍTMICAS;
ATIVIDADES AQUÁTICAS; HISTÓRIA DA EDUCAÇAO FÍSICA, ESPORTE E
LAZER;
CULTURA CORPORAL- EDUCAÇÃO
Compreender as relações entre as teorias educacionais e as metodologias de
ensino da educação física visando a apropriação dos elementos da cultura corporal.
Exemplos: SAÚDE E EDUCAÇAO; METODOLOGIA DA PESQUISA;
FUNDAMENTOS
EDUCAÇAO;
HISTÓRICOS,
DIDÁTICA
DA
FILOSÓFICOS
EDUCAÇAO
E
SOCIOLÓGICOS
FÍSICA;
CURRÍCULO
DA
EM
EDUCAÇAO FÍSICA; GINÁSTICA; CAPOEIRA NA ESCOLA; VOLEIBOL;
FUTEBOL;
HANDEBOL;
RÍTMICAS;
ESTÁGIO
BASQUETEBOL;
ATLETISMO
SUPERVISIONADO;
I;
ATIVIDADES
EDUCAÇAO
FÍSICA
E
NECESSIDADES EDUCACIONAIS ESPECIAIS; ATIVIDADES AQUÁTICAS;
7.2.3 IDENTIFICADORES DO APROFUNDAMENTO DE ESTUDOS
Os conhecimentos identificadores do aprofundamento de estudos devem tratar
de singularidades e particularidades na elaboração, implantação, implementação e
avaliação das ações acadêmico-profissionais desenvolvendo condições para as ações
investigativas e de pesquisa. A capacidade instalada atualmente aponta para duas
grandes áreas de aprofundamento: a Área das Ciências Sociais e Humanas e a área das
Ciências Naturais e Exatas.
7.3. PRÁTICA PEDAGÓGICA, CIENTÍFICA
ARTICULADORA DO CONHECIMENTO
E
POLÍTICA
COMO
Pautando-se na legislação educacional vigente no país que define como
princípios básicos para as reformulações dos cursos de graduação do país:
•
Uma maior flexibilidade curricular que requer uma qualificação diversificada
nos níveis técnicos, científicos, artísticos;
•
Autonomia do sujeito em fase de formação como uma condição básica para a
construção de requisitos estruturais da práxis profissional e norteadores da
composição curricular;
•
Articulação direcionada à superação da fragmentação e dispersão dos conteúdos
ministrados, visando-se o diálogo interdisciplinar;
•
Atualização dos conteúdos e meios de ensino através de um adequado
planejamento pedagógico que contemple ajustes programáticos periódicos;
O curso de Licenciatura em Educação Física da Universidade Federal de Santa
Maria baseando-se na proposta de formação defendida pelo Movimento Estudantil de
Educação Física e por linhas e grupos de pesquisas em Educação Física nacionalmente
referenciados, terá a organização do trabalho pedagógico baseada no Sistema de
Complexos Temáticos, o qual se caracteriza por orientar o trabalho do aluno para
compreender a realidade atual estudando-a de forma dinâmica e não estática. Segundo
Pistrak, é necessário estudar:
“...a realidade atual pelo conhecimento dos fenômenos e dos
objetos em suas relações recíprocas, estudando-se cada objeto e
cada fenômeno de pontos de vista diferentes. O estudo deve
mostrar as relações recíprocas existentes entre os aspectos
diferentes das coisas, esclarecendo-se a transformação de certos
fenômenos em outros...” (PISTRAK, M. Página 134, 2006).
Dessa forma, visando articular os conhecimentos de caráter ampliado,
identificadores da área e de aprofundamento dos estudos pretende-se utilizar a prática
como elemento articulador destes conhecimentos, concebendo-a enquanto prática
pedagógica, cientifica e política. Nesse sentido, buscar-se-á fazer com que está seja
elemento necessário e obrigatório de todos os semestres do curso, possibilitando que os
egressos no curso de Licenciatura em Educação Física possam a partir da inserção na
realidade social, fundamentados com os conhecimentos acadêmico-científicos
adquiridos nas disciplinas ao longo dos semestres e do decorrer do curso possam
teorizar e formular conhecimentos inovadores que tenham como finalidade a produção
científica, a superação dos problemas evidenciados em relação à prática pedagógica e a
realidade social. O conhecimento científico por advir da atividade prática humana – o
trabalho- deve possibilitar que a partir do trabalho educativo vivenciado pelos alunos
em disciplinas como estágios, práticas educativas deve possibilitar que haja uma relação
dialética entre universidade e sociedade, evidenciando assim o papel social que a
universidade possui de produzir conhecimentos que possuam relevância social.
Compreendemos assim, segundo Taffarel que a ciência deve permitir:
“...aos seres humanos se compreender enquanto sujeitos
históricos na sua relação com a natureza e com os outros seres
humanos possibilitando a modificação das relações de produção
da
vida
com
outro
projeto
histórico
em
seu
horizonte.”(TAFFAREL,Et al, p. 2, 2005).
Visando essa produção científica emancipadora fundamentada no trabalho como
eixo fundante do ser social, propomos como mecanismos para que a prática ao longo do
currículo vise desenvolver a capacidade de cada estudante construir a sua prática
pedagógica fundamentada nos conhecimentos científicos e atingir os objetivos de
formação e capacitação acadêmico-profissional no que diz respeito aos professores de
educação física e a produção do conhecimento da área:
•
Disciplinas de Prática Educativa durante todo o semestre que possuam como
objetivo:
•

Articular os conhecimentos de formação ampliada,
identificadores da área e de aprofundamentos dos
estudos de um determinado semestre com os
conhecimentos mais gerais do curso e com demais
semestres a partir da inserção em áreas de atuação
escolares e não escolares (Lazer, Saúde, Educação
Básica, Ensino Superior);

Produção de artigos científicos a partir da inserção dos
estudantes nos locais de atuação visando sínteses
qualitativas dos processos vivenciados;

Relação dialética entre a comunidade e a universidade
como forma de fazer com que os conhecimentos
produzidos ao longo dos semestres possam balisar
políticas públicas referentes à saúde, educação, esporte
e lazer visando à transformação da realidade social;

Avaliação coletiva entre alunos e professores do
processo de ensino aprendizagem das disciplinas, da
produção cientifica e da prática pedagógica dos alunos
e professores de cada semestre e da organização do
curso;
Disciplinas de Estágio em Educação Básica e Ensino Profissionalizante a partir
do 5º Semestre do Curso que tenham como objetivo:

Articular os conhecimentos de formação ampliada,
identificadores da área e de aprofundamento dos estudos
dos semestres em que estes estágios serão realizados
como forma de levantar problemáticas em torno de temas
como prática pedagógica, organização do trabalho
pedagógico na escola e formação de professores;
•
Disciplinas
de

Desenvolvimento de atividades no ambiente escolar que
visem à formação continuada dos professores da escola
pública, possibilitando aos mesmos a produção acadêmica
orientada como forma de propor políticas públicas que
visem à transformação das práticas desenvolvidas na
educação básica;

Avaliação coletiva entre alunos e professores do Ensino
Superior e Básico do processo de ensino aprendizagem
das disciplinas, da produção cientifica e da prática
pedagógica dos alunos e professores envolvidos nos
estágios;

Avaliação das políticas educacionais colocadas em prática
atualmente no país e na região de Santa Maria, visando a
atuação política dos envolvidos nos estágios
profissionalizantes em educação básica;
Aprofundamento
caracterizadas
como
Disciplinas
Complementares de Graduação (DCGs) que visem:

Articular os conhecimentos de formação ampliada,
identificadores da área e de aprofundamento dos
estudos dos semestres em que estas disciplinas estão
inseridas como forma de levantar problemáticas em
torno da produção do conhecimento do CEFD e a sua
relação com os processos de ensino-aprendizagem
visando a avaliação do curso;

O direcionamento autônomo por parte dos acadêmicos
a partir dos conhecimentos de caráter obrigatório para
a definição dos conhecimentos referentes de
aprofundamento de acordo com produção cientifica do
CEFD que pode ser definida hoje por: atividade física
e saúde; formação de professores e educação física
escolar e visando a construção de um Trabalho de
Conclusão de Curso;

Articulação da formação e produção do conhecimento
do curso de graduação com os projetos de pósgraduação especialização em Atividade Física e Saúde;
Educação Física Escolar; Educação Física, Cultura e
Sociedade e do Mestrado que se tem em vista colocarse em prática no centro;

A produção acadêmico - cientifica baseada na
articulação entre os conhecimentos caracterizadores do
currículo visando uma relação maior com as áreas de
produção cientifica do CEFD e o direcionamento dos
graduandos para dar continuidade a sua formação;
Para tanto, é preciso que a organização do trabalho pedagógico no curso de
graduação em Educação Física da UFSM possua uma grade curricular flexível de
acordo com as demandas que a avaliação coletiva do curso aponte em torno dos
objetivos, um grupo de professores comprometido com a articulação dos conhecimentos
ao longo de todo o processo de formação e produção do conhecimento e uma estrutura
que seja baseada na rigorosidade cientifica e acadêmica.
8. AVALIAÇÃO
A avaliação desdobra-se em alguns pontos importantes de serem analisados em
sua especificidade, porém, o fundamental da avaliação encontra-se na sua relação com
os objetivos, especificamente neste projeto, com os objetivos do curso em Educação
Física, Licenciatura Plena de caráter ampliado.
A universidade deve ser o lugar do pensamento, da crítica e do debate, que
busque a elevação cultural da sociedade e que construa conhecimento coletivamente
útil. Também a universidade, por estar inserida em uma sociedade dividida
economicamente, representa, através dos seus modos de organização, nos mais diversos
espaços sociais, os interesses de grupos que lutam para manter ou romper com a
hegemonia consolidada.
A avaliação também está condicionada pelos determinantes de grupos. Sendo
assim, a avaliação geral do curso de Educação Física do CEFD estará comprometida
com os interesses da classe trabalhadora, levando sempre em conta a formação humana
crítica, emancipada, que possibilite ao aluno constatar, interpretar, compreender e
explicar a realidade.
Para isso a avaliação não deve tomar como base apenas métodos, técnicas e
mecanismos burocráticos, mas precisa assumir um sentido em relação aos objetivos do
curso, estes sim, direcionarão o método e a seleção de conteúdos. Para Coletivo de
Autores (1992), o sentido da avaliação é o de fazer com que ela sirva de referência para
a análise da aproximação ou distanciamento do eixo curricular que norteia o projeto
pedagógico.
Temos o entendimento de que a avaliação além de possibilitar a análise em
relação à aproximação ou distanciamento do eixo curricular que norteia o curso de
Educação Física deve estar relacionada com os objetivos do curso, no sentido de
verificar se a) A formação ampliada em Educação Física está formando trabalhadores
para a atuação no contexto escolar e não escolar com base na prática pedagógica; b)
Compreensão da Educação Física enquanto área de conhecimento que trata das
diferentes manifestações da cultura corporal; c) A relação estabelecida entre teoria e
prática dentro do curso de formação; d) A articulação interdisciplinar de conhecimentos
advindos das ciências humanas, sociais, da saúde, exatas e da terra, da arte e da
filosofia.
Quando salientamos que o processo de avaliação deve ter estreita ligação com os
objetivos do curso, pressupomos estabelecer uma relação dialética entre o que se tem e
o que se quer ter em que a nossa realidade de formação deverá ser construída pelos três
segmentos do CEFD: professores, alunos e estudantes. A construção deve ser coletiva,
tendo em vista que o CEFD representa uma unidade acadêmica.
O processo avaliativo também não será mero quantificador de índices, mas
gerador de um projeto de desenvolvimento da Educação Física, entendida enquanto
parte do conhecimento acumulado historicamente, e que vise auxiliar a população em
geral e regional na superação dos seus problemas.
A avaliação terá desdobramentos que pontuamos como:

Avaliação dos Estudantes;

Avaliação dos professores;

Avaliação técnico-funcional;

Avaliação de dirigentes;

Avaliação dos conteúdos e métodos das aulas, baseados nos objetivos das aulas
e do curso;

Avaliação da pesquisa e produção científica;

Avaliação da extensão e sua relevância para a comunidade;

Avaliação da Estrutura.
9. GRADE CURRICULAR
Compreendemos que após a definição da forma como será organizado o trabalho
pedagógico no curso de Licenciatura em Educação Física, baseado no Sistema de
Complexos torna-se necessário a construção do quadro de disciplinas de forma coletiva
e democrática com todos os professores do Centro de Educação Física e Desportos e
com a Comissão de Reestruturação Curricular criada pela portaria nº 100/09.
Esta construção deverá ter como ponto de partida os conhecimentos ampliados,
os conhecimentos identificadores da área e os conhecimentos identificadores do
aprofundamento de estudos visando sua articulação de forma a possibilitar a
compreensão do movimento da realidade e suas relações com os conhecimentos
específicos da educação física ao longo do curso.
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RESOLUÇÃO CFE nº 3/1987.
Lei nº 9.394/96;
Lei n° 9.696/1998;
PARECER CNE/CES Nº: 400/2005 e aprovado no CES em 24/11/2005;
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Proposta de Reestruturação Curricular CEFD UFSM