1 CIRURGIA PARAENDODÔNTICA: UM RELATO DE CASO APICAL SURGERY: A CASE REPORT Emanuel Guzzoni HAMMERSCHMIDT1 Felipe Gabardo ALVES1 Gisele Aihara HARAGUSHIKU2 Daiana IWANKO3 Denise Piotto LEONARDI4 Flávia Sens Fagundes TOMAZINHO5 Lucienne ULBRICH6 Endereço para correspondência: Universidade Positivo - Mestrado em Odontologia A/C Prof. Denise Piotto Leonardi Rua Prof. Pedro Viriato Parigot de Souza, 5.300 Campo Comprido CEP: 81280-330 - CURITIBA/PR Endereço eletrônico: [email protected] ______________________________________________________________________ 1 Graduandos em Odontologia da Universidade Positivo 2 Mestre em Endodontia, Professora dos Cursos de Graduação, Atualização e Especialização em Odontologia da Universidade Positivo 3 Especialista em Radiologia, Aluna do curso de Mestrado em Odontologia Clínica, Universidade Positivo 4 Especialista, Mestre e Doutora em Endodontia, Professora dos Cursos de Graduação, Atualização, Especialização e Mestrado em Odontologia Clínica da Universidade Positivo 5 Doutoranda em Endodontia, Professora das disciplinas de Endodontia e Clínica Integrada dos cursos de Aperfeiçoamento e Especialização em Endodontia da Universidade Positivo, Curitiba, PR, Brasil 6 Mestre em Cirurgia de Odontologia e do Positivo, Curitiba, PR, Brasil e Traumatologia Mestrado em Bucomaxilofacial, Professora Odontologia Clínica da do Curso Universidade 2 RESUMO A cirurgia paraendodôntica é uma alternativa para o paciente que já foi submetido, com insucesso a outros tipos de tratamento endodôntico. As principais indicações mais comuns para esse tipo de cirurgia são: estabelecimento de drenagem, alívio de dor, problemas iatrogênicos, falhas em tratamentos previamente realizados e necessidade de biopsia. Atualmente a cirurgia paraendodôntica vem sendo realizada com mais segurança, oferecendo dessa forma uma alternativa ao paciente que já foi submetido, com insucesso, pelo tratamento endodôntico convencional. O objetivo do presente trabalho foi relatar um caso clínico indicado para cirurgia paraendodôntica em dente com lesão periapical extensa, a qual seria dificilmente solucionada pelo tratamento endodontico convencional. Palavras-chave: cirurgia, cirurgia paraendodôntica, apicectomia. ABSTRACT The apical surgery is an alternative for the patient who has already been submited to other kinds of endodontic treatment without success. The most common indications for this type of surgery are: drainage stablishment, pain relief, iatrogenic problems, failure in previous treatments and the necessity of biopsy. Nowadays, the apical surgery has been performed more safely offering, this way, an alternative for the patient who has already been submited to the conventional endodontic treatment unsuccessfuly. The aim of this study was to report a clinic case indicated for apical surgery in tooth with periapical disease persistant to the conventional endodontic treatment. Key Words: surgery, apical surgery, apicoectomy 3 INTRODUÇÃO Com o avanço da ciência e da odontologia, as cirurgias paraendodônticas são cada vez mais importantes e seguras, oferecendo dessa forma uma alternativa ao paciente que já foi submetido, com insucesso, a outros tipos de tratamento endodôntico. Esse tipo de cirurgia tem papel fundamental na obtenção de resultados positivos no tratamento realizado em pacientes com lesões endodônticas, as quais não conseguiram ser solucionas pelo tratamento convencional1 assim como em situações nas quais o paciente apresente um dente com instrumento fraturado, ou uma perfuração que não foi possível corrigir com o tratamento endodôntico ou, então, que durante esse tratamento ocorreu extravasamento de material obturador ou desvio no preparo do canal.1 Também é utilizada no tratamento das patologias que acometem os tecidos periapicais.2 Ante o fracasso do tratamento endodôntico pode-se optar pelo retratamento, mas nos casos em que não é possível retratar o canal, a cirugia paraendodôntica é uma excelente alternativa.3-7 Diversas são as indicações para a cirurgia paraendodôntica, cabendo ao profissional eleger aquela que melhor se aplique ao caso em questão. Segundo Bramante e Berbert1, é importante lembrar que a cirurgia só deve ser instituída quando se esgotarem todas as tentativas de resolução por meio do tratamento endodôntico. As indicações mais comuns para esse tipo de cirurgia são: estabelecimento de drenagem, alívio de dor, complicações anatômicas, problemas iatrogênicos, traumatismos, falhas em tratamentos previamente realizados, problemas durante o tratamento, problemas periodontais e necessidade de biopsia.1-6 Berger et al.,4 afirmam que a obturação retrógrada é utilizada em casos onde os canais são inacessíveis por via coronária, em função da presença de núcleo metálico, fragmentos de instrumentos, calcificações, material obturador, más formações, 4 reabsorções internas ou defeitos de instrumentação, fatores que impedem o acesso ao canal radicular e comprometem desde as cirurgias mais simples, como a curetagem ou a apicectomia. Apesar da cirurgia paraendodôntica ser indicada apenas em ultimo caso, alguns autores como Lopes e Siqueira5 consideram que, a despeito de ser um procedimento invasivo, a terapêutica endodôntica cirúrgica hoje é considerada como tratamento conservador, pois é só através dela que o órgão dental será preservado. O objetivo desse trabalho foi relatar um caso de cirurgia paraendodôntica realizada no dente 22, o qual apresentava lesão periapical extensa e que dificilmente seria solucionada através do tratamento endodontico convencional. RELATO DE CASO Em 2009, I.L.B, 14 anos, gênero masculino, apresentou-se a Clínica Integrada da Universidade Positivo de Curitiba, Brasil, com queixa de dor no dente 22 e edema na região vestibular e palatina. Durante a anamnese o paciente relatou estar em tratamento ortodôntico e seus hábitos de higiene bucal eram satisfatórios. Além disso, disse que não fazia uso de nenhum medicamento e não apresentava nenhuma alergia a medicamentos ou alimentos. O paciente foi submetido ao atendimento de emergêcia, apresentando o diagnóstico de abscesso dento alveolar agudo em fase evoluída, portanto, um dente sem vitalidade pulpar. Neste atendimento, foi realizada a abertura endodôntica do dente 22, e colocação de medicação local com tricresol formalina (SSWHITE, Rio de Janeiro), além disso foi realizada a drenagem cirúrgica do conteúdo purulento presente na lesão (Figura 1). Por via sistêmica, foi prescrito Amoxicilina 500 mg, Tylex 30 mg, e Spidufen 400 mg. O paciente foi encaminhado ao serviço de 5 radiologia da Universidade Positivo para realização de radiografia panorâmica e periapical do dente 22, com o aparelho Rotograph Plus modelo MR05 85 (Dabi Atlante, Ribeirão Preto). Também foi solicitada tomografia computadorizada para fins de diagnóstico e planejamento cirúrgico. Toda a parte cirúrgica foi fotografada com a câmera Dental Eye (YASHICA) para fins de documentação. As imagens das radiografias e da tomografia mostraram uma lesão extensa, por volta de 3,5 cm no seu maior diâmetro, na região do periápice do dente 22, envolvendo a região periapical dos dentes vizinhos (Figuras 2, 3a e 3b). Desta forma, foi realizado o teste de vitalidade pulpar no dente 21 o qual não respondeu positivamente e também foi submetido ao tratamento endodôntico convencional. Ao exame clínico pré-cirúrgico, o paciente apresentava todos os dentes em boca, sem nenhuma anormalidade óssea ou de mucosa, conferindo assim todas as características normais. A etapa cirúrgica iniciou-se com anestesia infiltrativa subperióstica com 4 tubetes de articaína 4% e adrenalina 1: 100.000 (ARTICAINE, Rio de Janeiro). Realizou-se a biópsia aspirativa com duas agulhas de diâmetro 7mm e 16mm. Na agulha de menor diâmetro foi acoplada uma seringa de 10 mL, por onde aspirou-se um líquido citrino (Figura 4). Por não haver sangue, iniciou-se a incisão realizando o retalho de Neumann, ou seja, com as relaxantes no freio labial superior e distal do primeiro pré-molar superior esquerdo (Figura 5). O descolamento mucoperiostal foi realizado e em seguida, a ostectomia com broca 702 (KG SORENSEN, Barueri) acoplada a peça de mão reta, para acesso a lesão osteolítica (Figura 6). Seguiu-se a remoção da lesão por curetagem (Figuras 7 e 8) e apicectomia do incisivo central e lateral superiores esquerdos. Para tratamento da superfície apical, foi realizado 6 brunimento com broca multilaminada número 6 (KG SORENSEN, Barueri), e pontas diamantadas 1011 e 1013 (KG SORENSEN, Barueri) utilizadas no reverso do motor (em sentido anti-horário). A etapa final da sutura foi realizada com pontos simples e fio de seda preto 4.0 (SHALON, Goiânia) (Figura 9). Como medicação pós-operatória foi prescrito Amoxicilina 500mg, Tylex 30mg e Spidufen 400mg. O retorno pós-operatório foi aos 7 dias para remoção de sutura e inicio do acompanhamento dos resultados da cirurgia. Exames radiográficos e tomográficos foram solicitados para controle, sendo a primeira radiografia panorâmica realizada após 30 dias da cirurgia (Figura 10) e, em seguida após 06 meses (Figura 11). Com as tomografias o controle foi realizado após 12 meses (Figuras 12a e 12b). De acordo com os exames realizados, o paciente apresentou melhora significativa, com diminuição da cavidade e neoformação óssea na região. DISCUSSÃO É importante ressaltar que nenhuma cirurgia paraendodôntica resultará em sucesso se o canal não estiver bem obturado ou se não for possível por meio da cirurgia, melhorar suas condições de selamento. Desse modo antes de optar pela realização de uma cirurgia, todas as tentativas de tratamento devem ser feitas, com o objetivo de solucionar o problema por via endodôntica.1 A técnica cirúrgica adotada foi a de curetagem e apicectomia. A curetagem periapical é a remoção por via cirúrgica de tecido patológico existente em uma lesão ao nível apical de um dente, o qual não respondeu ao tratamento do canal radicular e ou a remoção de corpos estranhos que , acidentalmente, possam ter sido forçados para o periápice através do forame, durante um tratamento endodôntico.6 7 Segundo Leonardo6, a curetagem deve ser sempre acompanhada de um alisamento do ápice radicular, e esta conduta se faz necessária principalmente nos processos crônicos de longa duração onde existe uma lesão periapical, radiograficamente bem evidenciável. A obturação retrógrada não foi realizada durante a cirurgia pois o canal radicular já estava corretamente obturado e como relatou Leonardo6, uma das indicações da curetagem e apicectomia é para canais radiculares radiograficamente bem obturados cujas lesões periapicais não responderam ao tratamento endodôntico e persistem após proservação. Antes de inciar a incisão, foram introduzidas duas agulhas em direção a lesão, e foi acoplado uma seringa de 10mL na agulha de menor diâmetro para aspirar o liquido de dentro da cavidade a fim de diagnosticar e planejar se a lesão seria ou não removida. Como a aspiração nos revelou um liquido citrino, decidiu-se então realizar a cirurgia com remoção total da lesão. Foi realizada a incisão utilizando uma lamina de bisturi número 15, pois é mais delicada e permite uma incisão firme e continua. Depois do descolamento do retalho, foi realizado a ostectomia com a broca 702 por permitir uma superfície lisa e homogênea na margem do osso que foi submetido a broca. Ao chegar à lesão osteolítica, a curetagem foi realizada de maneira que toda a lesão foi removida otimizando assim as chances de não recidivas da lesão. O alisamento apical é realizado com o emprego de brocas tronco-cônicas de aço ou diamantadas com granulação bem fina, montadas na ponta reta do micromotor e sob constante irrigação com soro fisiológico, fazendo um cuidadoso alisamento e arredondamento de toda a porção apical das raízes.6 8 Os exames radiográficos e topográficos foram realizados com intervalos de 3 meses e 6 meses, respectivamente, pois são espaços de tempo em que podemos analisar bem a mudança do quadro do paciente bem como a esperada regressão da lesão com neoformação óssea onde havia a cavidade. CONSIDERAÇÕES FINAIS O planejamento do tratamento por diversas especialidades melhora o prognóstico e resulta em maior chance de sucesso. A TCCB foi fundamental no planejamento cirúrgico, pois forneceu informações mais precisas e confiáveis sobre as regiões anatômicas e extensão da lesão e para o controle pós operatório. Houve redução significativa da lesão e neoformação óssea no período de um ano. REFERÊNCIAS 1. BRAMANTE CM, BERBERT A. Cirurgia paraendodôntica. São Paulo: Santos; 2000. 2. BRINHOLE, M.C.P. et al. Cirurgia Periapical: relato de um caso. Rev. Inst Ciênc Saúde. 1999;17(1):61-65. 3. LEAL JM, BAMPA JU, POLISELI NETO A. Cirurgias paraendodônticas: indicações, contra-indicações, modalidades cirúrgicas. In: Leonardo MR. Endodontia – tratamento de canais radiculares: princípios técnicos e biológicos. São Paulo: Artes Médicas; 2005. p. 1.263-343. 9 4. BERGER, et al. Endodontia Clínica. Editora Pancast, 1998. 5. LOPES, H. P.; SIQUEIRA Jr., J. F. Endodontia: Biologia e Técnica. Rio de Janeiro : Medsi, 650p., 1999. 6. LEONARDO, M. R. Endodontia Tratamentos de Canais Radiculares Princípios Técnicos e Biológicos, vol.2, São Paulo; Artes Médicas, 2008; p. 1243-1270. 7. LEAL JM, BAMPA JU, POLISELI NETO A. Cirurgias paraendodônticas: indicações, contra-indicações, modalidades cirúrgicas. In: Leonardo MR. Endodontia – tratamento de canais radiculares: princípios técnicos e biológicos. São Paulo: Artes Médicas; 2005. p. 1.263-343. FIGURAS Figura 1 – Drenagem do conteúdo da lesão 10 Figura 2 – Radiografia Panorâmica inicial Figura 3a – Panorâmica tomográfica 11 Figura 3b – Tomografia computadorizada inicial 12 Figura 4 – Aspiracão do líquido citrino da lesão Figura 5 – Incisão por técnica de Neumann Figura 6 – Acesso à lesão osteolítica 13 Figura 7 – Remoção da lesão por curetagem Figura 8 – Aspecto da lesão removida Figura 9 – Sutura 14 Figura 10 – Radiografia Panorâmica de Proservação (30 dias após cirurgia) Figura 11 – Radiografia Panorâmica realizada 6 meses após a cirurgia 15 Figura 12a – Panorâmica tomográfica Figura 12b – Tomografia realizada 12 meses após a cirurgia 16 ANEXOS