ASSOCIATIVISMO NEGRO EM CAXIAS DO SUL
Fabrício Romani Gomes
Em Caxias do Sul1 - cidade com origem na política de colonização adotada pelo
governo imperial no final do século XIX - surgem na década de 1930 associações negras,
como: o Clube das Margaridas (1933) e o Sport Club Gaúcho (1934)2. Neste artigo, pretendo
analisar alguns fatores que contribuíram para a chegada e fixação dessa população na cidade,
assim como, fazer algumas considerações sobre as primeiras organizações negras surgidas.
No final do século XIX o governo brasileiro empenhou-se em atrair imigrantes
europeus para o país. Tentando resolver o problema da falta de mão-de-obra, principalmente
nos cafezais paulistas, e buscando a ocupação das terras devolutas3 da Região Nordeste do
Estado do Rio Grande do Sul, o Império investe na importação de gente branca para o Brasil.
A preferência pelo branco amenizava os medos da elite nacional, que temia ser tragada pelos
negros mal-nascidos e mal-pensantes.4 Segundo AZEVEDO,
era, sim, o negro, elemento considerado de raça inferior porque descende de africanos,
viciado, imoral, incapaz para o trabalho livre, criminoso em potencial, inimigo da
civilização e do progresso, que os discursos imigrantistas repudiavam abertamente, em
uma época que as teorias raciais ainda estavam, longe de cair em desuso.5
O desejo de branquear a população não foi só brasileiro. O racismo científico
conquistou adeptos entre as elites de toda América Latina, que enfrentavam o desafio de
1
A cidade passou a chamar-se Caxias do Sul a partir de 1950.
Existem indícios a respeito da criação de outras associações posteriormente, como o XV de Novembro e o
Pombal.
3
De acordo com o art. 3º, da Lei 601, de 28/10/1848, são terras devolutas: as que não se acharem ocupadas por
posse que, apesar de não se fundar em título legal, foram legitimadas por essa lei (MACHADO, 2001, p. 39).
4
AZEVEDO, 2004, p. 17.
5
AZEVEDO, 2004, p. 134.
2
transformar suas nações “atrasadas” e subdesenvolvidas em repúblicas modernas e
“civilizadas”. Essa transformação, concluíram elas, teria que ser mais do que apenas
política ou econômica; teria que ser também racial.6 Dessa forma, a vinda de imigrantes
europeus ao Rio Grande do Sul durante o século XIX obedeceu a uma política oficial de
povoamento cujos fundamentos ideológicos eram racistas, [...].7
O núcleo colonial que deu origem à cidade de Caxias do Sul começou a receber seus
primeiros habitantes em 1875. A maioria desses primeiros habitantes era originária da
península itálica. Segundo GIRON e BERGAMASCHI, em 1878, a sede Dante, área urbana da
Colônia Caxias, contava com 800 famílias, compostas de 3.880 pessoas, de diversas
nacionalidades: alemã, boêmia, polaca e francesa, e 2.315 eram italianas.8 Na Região de
Colonização Italiana do Rio Grande do Sul, foi implantado um modelo de colonização,
através do trabalho livre, do regime da pequena propriedade, da utilização da mão-de-obra
branca e familiar, [...].9 A presença negra nos núcleos coloniais era proibida legalmente. A
Lei provincial n. 183, de 18 de outubro de 1850, proíbe a introdução de escravos nos
territórios das colônias: Art. 1º. É proibida a introdução de escravos no território marcado
para as colônias existentes, e para as que para o futuro se formarem na Província.10
Posteriormente, o Decreto imperial n. 3.784, de 19 de janeiro de 1867, confirma a proibição:
Art. 40. Nas colônias, que de agora e diante se fundarem, é expressamente proibido, sob
qualquer pretexto, a residência de escravos. Igualmente não poderão nas existentes
estabelecer-se pessoas que levem escravos em sua companhia.11
Aqui não se pretende discutir a eficácia dessas leis, já que em colônias alemãs a
presença de escravos foi confirmada. Mas, nas colônias italianas a possibilidade da existência
de escravos é remota, pois os colonos não teriam a quantia necessária para a compra dos
mesmos imediatamente, e nem teriam conseguido acumular o capital necessário para explorar
essa mão-de-obra antes de 1888. Porém, essas leis podem indicar um desejo de que as
colônias formem núcleos populacionais brancos. A proibição do trabalho escravo, além de
objetivar a implantação do trabalho livre nessas colônias, pode ser entendida também como
uma tentativa de afastar o negro, considerado incapaz de promover a civilização na época,
desses núcleos. De uma certa forma essa tentativa obteve sucesso, se considerarmos que
6
ANDREWS, [prelo], p. 186.
BARCELLOS [et al.], 2004, p. 129.
8
GIRON; BERGAMASCHI, 2001, p. 58.
9
MACHADO, 2001, p. 37.
10
IOTTI, 2001, p. 603.
11
IOTTI, 2001, p. 302.
7
2
estados como Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul são imaginados com uma
população predominantemente branca.
Assim, a chegada e fixação de negros na Região Colonial Italiana do Rio Grande do
Sul pode ter sido dificultada, principalmente durante a fase colonial desses núcleos
populacionais. A fase colonial de Caxias do Sul vai de 1875 até 1884, depois, de 1884 até
1890 Caxias passa a ser distrito de São Sebastião do Caí, conquistando sua emancipação em
1890.12 Embora não duvide da presença de negros em Caxias do Sul desde os seus
primórdios, acredito que a região não seria atrativa nesse período para essa população, pois as
possibilidades de emprego eram escassas, já que se dava preferência à mão-de-obra familiar, o
que acabaria impedindo ou dificultando a fixação de uma população migrante. Dessa forma, a
cidade se tornaria mais atrativa a partir da década de 1910, quando se acelera o processo de
industrialização. Segundo GIRON e BERGAMASCHI,
entre 1900 e 1910 o município desenvolveu-se. Foi nesse ano que a vila de Caxias foi
elevada à condição de cidade, pelo Decreto Estadual 1.607, de 1º de junho de 1910, no
mesmo dia da inauguração da linha férrea que ligava Caxias e Porto Alegre. Grandes
foram as festividades que marcaram o evento e ainda maiores as transformações ocorridas
na região.13
A estrada de ferro facilitou o escoamento da produção colonial. O vinho produzido
na região, antes da chegada do trem, era transportado até Montenegro e São Sebastião do Caí
nos carroções puxados por animais e seguia pelo rio Caí até Porto Alegre, de onde era enviado
a São Paulo, que garantia um mercado consumidor importante para o produto.14 Além da
melhoria no transporte da produção, neste mesmo ano, chega a Caxias a energia elétrica. Isso
fez com que as indústrias locais passassem por uma reorganização técnica. Surgiram novos
estabelecimentos industriais e outros já existentes, como é o caso da Metalúrgica Abramo
Eberle, [que] em 1915 comprou um gerador de 8 HP e ampliou seu capital, participando do
esforço da Primeira Guerra Mundial (1914-1918).15
A Primeira Guerra Mundial impulsiona a industrialização da cidade. Com o
envolvimento das grandes potências industriais e econômicas do período no conflito, outras
economias do mundo puderam se desenvolver, produzindo para os mercados em guerra e para
aqueles que deixaram de ser atendidos por esses. Durante o período de guerra, as indústrias
tiveram um desenvolvimento importante para a região e seu número se elevou para mais de
12
GIRON, 1977, p. 69.
GIRON; BERGAMASCHI, 2001, p. 96.
14
MACHADO, 2000, p. 3.
15
GIRON; BERGAMASCHI, 2001, p. 97.
13
3
quarenta empresas diversas, [...].16 Assim, em 1915 os efeitos da nova organização da
economia se fizeram sentir. A cidade cresceu. Os novos empregos atraíram trabalhadores,
entre eles tecelões e tanoeiros.17 Como diz HERÉDIA, a cidade soube aproveitar os instantes
favoráveis e os impulsos do conflito mundial para instalar e solidificar uma série de
indústrias.18
Além disso, nesse período, o intendente Penna de Moraes, um dos defensores do
vinho sul-rio-grandense, buscou alternativas para melhorar a produção local e diminuir as
fraudes que vinham ocorrendo com o produto. Assim, por sua interferência, foi criada em
1921 a Estação Experimental de Caxias, operando como um laboratório químico e uma
adega experimental.19 A melhoria do modo de produção do vinho expandiu o setor, que
trouxe para a região uma significativa melhoria na economia, especialmente de Caxias do
Sul, onde se achavam as maiores empresas vinícolas.20
Na década de 1930, mesmo com os problemas gerados pela crise mundial de 1929,
Caxias consegue manter seu desenvolvimento econômico. Segundo GIRON e BERGAMASCHI,
a situação econômica de Caxias do Sul nesse período apresentava condições diferentes da
do estado. Em relação à estrutura econômica do estado, o município apresentava uma
indústria mais moderna, com a expansão da indústria metalúrgica, química e de
implementos agrícolas. Ao lado dessas indústrias modernas, mantinham-se as industrias
tradicionais como: a tritícola, a alimentícia, a vinícola e a madeireira.21
O apoio da política governamental de Getúlio Vargas as indústrias consideradas
“naturais”, que beneficiavam matéria-prima local, proporcionou um crescimento na produção
caxiense. Segundo MACHADO,
o período do governo de Getúlio Vargas (1930-1945) foi acompanhado pelo discurso que
enalteceu a indústria e o modelo de substituição de importações, especialmente no setor de
bens não-duráveis, como alimentos e tecidos, favorecendo bastante as empresas caxienses
que já vinham mantendo um bom ritmo de crescimento.22
A Segunda Guerra Mundial (1939-1945) também contribuiu para o crescimento
econômico da cidade, principalmente no setor industrial. Várias empresas de Caxias foram
declaradas de interesse militar e passaram a produzir para o exército nacional, utilizando toda
16
MACHADO, 2001, p. 207.
GIRON; BERGAMASCHI, 2001, p. 97.
18
HERÉDIA, 1997, p. 69.
19
MACHADO, 2001, p. 207.
20
MACHADO, 2001, p. 208.
21
GIRON; BERGAMASCHI, 2001, p. 145-146.
22
MACHADO, 2001, p. 267.
17
4
a sua capacidade produtiva, fazendo crescer a oferta de empregos.23 O crescimento econômico
e industrial faz aumentar a população urbana da cidade. Em 1930 Caxias tinha uma população
urbana de 9.975 habitantes. Em dez anos esse número dobra, e a cidade chega a uma
população de 20.123 habitantes em 1940. Mais dez anos e, novamente, há um grande
crescimento populacional na zona urbana. São 36.742 habitantes em 1950.24
Caxias. a partir de 1920. passa a ser uma cidade atrativa, ou, mais atrativa. O
crescimento econômico faz com que aumentem as oportunidades de emprego, e a cidade se
expande. Para MACHADO, a fisionomia da população muda bastante a partir da década de
1950: A sua fisionomia, que era constituída de “italianos” (descendentes), de rostos muito
brancos, olhos claros e cabelos loiros, sofreu uma transformação e passou a ter a pele
morena, cabelos e olhos escuros, indicando a chegada dos “brasileiros”.25 GIRON e
BERGAMASCHI apontam para essa transformação fisionômica e para o crescimento do espaço
urbano:
Algumas vilas já apontavam na zona urbana como a dos Municipários, situada atrás do
Cemitério Público Municipal; o Burgo situado no morro próximo da Cervejaria
Leonardelli. Nas vilas populares viviam migrantes dos Campos de Cima da Serra, que
procuravam trabalho na cidade, entre eles alguns negros que aumentam a população,
misturando-se ao núcleo inicial constituído por descendentes de imigrantes europeus.26
Dessa forma, acredito que a população negra começa a chegar à cidade de uma
forma mais intensa a partir das décadas de 1910 e 1920, atraídos pelas oportunidades de
emprego, já que no início da década de 1930 são fundadas associações para gente de cor em
Caxias. Outro fato que contribuiu para o aumento da população negra na cidade foi a
instalação do 9º Batalhão de Caçadores. Esta unidade militar chega em Caxias em 1927, pois,
apezar dos quarteis de Caxias do Sul terem sido concluidos no ano de 1923, sómente em
1927 é que foram ocupados pela 1ª Companhia do 9º Batalhão de Caçadores, isto a 24 de
janeiro, para a 9 de março, do mesmo ano vir a ser tomado por toda a tropa de que se
compunha aquela unidade, sob o comando do tenente-coronel Candido Oceas de Moraes.27 A
vinda do 9º Batalhão de Caçadores é importante, pois como declara Lavra Pinto: Com a vinda
do batalhão (e vieram muitos rapazes de cor, de Pelotas), além de decrescer o uso do
italiano, de entrar em sentimento nacional mais acentuado, melhorou a atitude para com os
23
MACHADO, 2001, p. 267.
MACHADO, 2001, p. 211.
25
MACHADO, 2001, p. 29.
26
GIRON; BERGAMASCHI, 2001, p. 154.
27
Optei por manter a grafia original da bibliografia consultada e das fontes utilizadas.. ANTUNES, 1957, p. 82.
24
5
de cor.28 E, além disso, como veremos, alguns dos fundadores do Sport Club Gaúcho são
militares.
Segundo Lavra Pinto, as atitudes para com os de cor, teriam melhorado com a vinda
de militares negros de Pelotas. Mas, em 28 de janeiro de 1956, Lary, primeiro secretário do
Sport Club Gaúcho, faz queixas a Thales de Azevedo a respeito da discriminação contra os
“morenos” em Caxias. Diz que a gente da terra raramente diz alguma coisa diretamente aos
“morenos”, mas estes sentem a pressão do ambiente.29 Já em 1984, quando foi entregue a
Medalha de Caxias ao Sport Club Gaúcho30, em homenagem aos seus cinqüenta anos de
existência, fez uso da palavra em nome do clube a senhorita Rosiane Medeiros, que segundo o
jornal Pioneiro, de 04 de julho de 1984,
destacou, numa análise profunda, a trajetória do negro no Rio Grande do Sul e
especialmente em Caxias, onde a raça se organizou através do clube Gaúcho. Enfatizou
que os negros, mesmo sendo discriminados na época em que surgiu o clube Gaúcho,
procuraram a partir daquele momento integrar todas as classes sociais. “Nós somos
minoria, se considerarmos a participação na região de colonização italiana, porém sempre
procuramos manter as portas do nosso clube abertas para os povos de cor branca”.31
É importante destacar as palavras de Rosiane Medeiros, quando ela diz que as portas
do clube estavam abertas aos povos de cor branca, já que, o contrário, nem sempre acontecia.
Isabel Quadros, em entrevista concedida no dia 22 de setembro de 2005 ao jornalista José
Emerson Santos de Souza, diz: quando eu era mocinha, os negros não podiam freqüentar
nenhum clube social. Eu chegava e o porteiro não me deixava passar. Só as minhas amigas
brancas entravam. Meus pais falavam que o mesmo acontecia com eles. Por isso eles só iam
ao Gaúcho.32 Os clubes recreativos e sociais, conforme AZEVEDO, são os setores de mais
difícil acesso às pessoas de cor mais escura. Em seu estudo sobre o negro na Bahia, diz que:
Há mesmo quem afirme que são muito fortes os obstáculos á entrada em tais organizações
por influência de preconceitos de côr e, simultaneamente, porque as mesmas são
dominadas por famílias tradicionais que resistem á admissão de sócios que não sejam do
seu grupo social e econômico.33
28
Lavra Pinto era funcionário da Coletoria Estadual, e foi um dos informantes de Thales de Azevedo, que
realizou pesquisas na cidade em 1955. Os cadernos de pesquisa produzidos por Thales nessa ocasião foram
publicados na íntegra em 1994. AZEVEDO, 1994, p. 93.
29
AZEVEDO, 1994, p. 203.
30
Neste momento o clube já se chamava, oficialmente, Sociedade Recreativa e Cultural Gaúcho.
31
Jornal PIONEIRO, 04/07/1984, p. 13. Acervo da Sociedade Recreativa e Cultural Gaúcho.
32
SOUZA, 2005, p. 34.
33
AZEVEDO, 1955, p. 166.
6
Percebe-se que a discriminação racial foi uma das motivações do grupo negro em
Caxias para a formação de associações. Dessa forma, em 12 de dezembro de 1933, algumas
mulheres negras da cidade se empenham na formação de uma associação, de um clube, o
Clube das Margaridas.34 As informações sobre este clube são escassas. Mas, clubes de
mulheres negras não foram raros. Como diz LONER, as mulheres negras, comparativamente
àquelas de outras etnias, ocupavam um papel mais destacado dentro do grupo negro.35 No
Rio de Janeiro, as chamadas tias, que chegaram na cidade no final do século XIX vindas da
Bahia eram as líderes da comunidade negra. Segundo SOIHET, elas
procuraram manter sua cultura em termos de religião, música, costumes etc. Em suas
casas, ocorriam festas em que se mesclavam o profano e o sagrado, tornando-as célebres
pelos sambas e candomblés que realizavam pelos ranchos que organizavam. Suas casas
eram também núcleos de sociabilidade, funcionando como pólos de contato para o grupo,
ajudando os recém-chegados a se integrarem na cidade grande.36
Em Porto Alegre, entre os anos 1870 e 1920, surgiram 14 associações de mulheres
negras.37 Esse expressivo número de associações, faz MÜLLER dizer que, parte do esforço
pela união de todos os negros ficou a cargo das mulheres. Transitando com a mesma
desenvoltura pelo diáfano mundo dos salões e pelos caminhos da caridade, elas estiveram à
testa de muitas iniciativas que procuraram desenvolver uma consciência crítica na
comunidade negra porto-alegrense.38 Fica evidente a importância das mulheres negras nas
organizações surgidas no pós-abolição e na estruturação familiar. Muitas mantiveram a
estabilidade financeira do lar atuando como trabalhadoras domésticas. Nesse período onde o
trabalhador livre e branco era valorizado, por não carregar a mácula da escravidão,
estabeleceu-se uma imagem do negro como trabalhador desqualificado. Isso ajudou a
consolidar a população negra, nas ocupações socialmente menos consideradas e, igualmente,
menor remuneradas: os trabalhos braçais de pouca procura (carroceiros, cangueiros,
pedreiros), os biscates em geral e a maioria dos serviços domésticos (cozinheiras, lavadeiras,
criadas, etc.).39 Segundo ANDREWS, em seu estudo sobre São Paulo, a capacidade das
mulheres negras para conseguir emprego era quase literalmente um salva-vidas para uma
34
ADAMI, 1966, p. 150.
LONER, 1999, p. 22.
36
SOIHET, 1998, p. 157.
37
MÜLLER, 1999, p. 136-137-138.
38
MÜLLER, 1999, p. 155.
39
KERSTING, 1998, p. 115.
35
7
comunidade à qual era negada a maioria dos outros meios de sustento.40 Ainda segundo o
autor:
As mulheres negras dessas décadas evidentemente merecem muito, se não a maior parte,
do crédito por terem sustentado a comunidade negra durante uma época em que as
oportunidades alternativas de emprego eram quase inexistentes. Mas os afro-brasileiros
nunca perderam de vista o fato de que o serviço doméstico e o ocasional trabalho por dia
eram os refugos de uma economia urbana em expansão.41
As mulheres negras em Caxias tomaram a iniciativa fundando o Clube das
Margaridas. Como já foi dito, ainda não foi encontrada documentação sobre o clube. Sei da
sua existência através da obra de João Spadari Adami, onde ele faz referência ao clube. Mas,
essa falta de vestígios pode ser um indício de que, com a fundação do Sport Club Gaúcho em
1934, o clube essencialmente feminino deixe de existir. Acredito que as integrantes do Clube
das Margaridas tenham se unido aos homens de cor, e com eles tenham fundado o Gaúcho,
que surge com os seguintes fins:
Art. 1º - O Sport Club Gaucho, fundado em 23 de Junho de 1934, nesta cidade de Caxias,
Estado do Rio Grande do Sul, Brasil, com séde provisoria a rua Pinheiro Machado nº 2369
é uma associação destinada a promover dentro da ordem e respeito as autoridades
constituidas do pais, o desenvolvimento fisico de seus associados por meios do Fot-Bal e
outras que se realizarão de acordo com as possibilidades do Club.
§ unico – Esta associação realizará no Club quermesses, bailes e outros divertimentos,
exclusivamente para os socios e suas exmas. famílias.42
O Gaúcho surge como um clube esportivo, tendo no futebol uma de suas principais
atividades. A fundação de times de futebol compostos por negros tem sido pesquisada em
diversas cidades brasileiras. Segundo GOMES, os times de futebol compostos só por negros e
mulatos surgem na capital paulista no início do século [XX]: Sul Africano, São Geraldo,
Cravos Vermelhos Club, entre outros.43 Alguns autores apontam a discriminação racial como
a razão para a criação de times de futebol negros. Segundo ANDREWS,
da mesma forma que os clubes sociais e as sociedades de dança, os clubes atléticos dos
brancos praticavam uma rigorosa exclusão dos pretos e dos pardos. E, mais uma vez, a
resposta dos afro-brasileiros a esta situação foi a criação de clubes dos negros, vários dos
40
ANDREWS, 1998, p. 116.
ANDREWS, 1998, p. 117.
42
Este estatuto foi elaborado por João Manoel Vianna e Paulino Dias Belíssimo, e foi aprovado em sessão de
assembléia geral em 06 de Janeiro de 1935. Estatuto do Sport Club Gaúcho, Acervo da Sociedade Recreativa e
Cultural Gaúcho.
43
GOMES, 2005, p. 40-41.
41
8
quais conseguiram considerável renome na cidade pela alta qualidade de seus times de
futebol.44
No Rio Grande do Sul, também são encontrados indícios que apontam para a
existência da discriminação racial no futebol. Sabe-se, por exemplo, da existência da Liga
Nacional de Futebol Porto Alegrense, conhecida também como Liga da Canela Preta. Essa
Liga era disputada por jogadores e times de negros que não eram aceitos em outras equipes.
Conforme JESUS,
aproximadamente entre 1915 e 1930, quando o futebol se populariza plenamente em
Porto Alegre, o projeto de modernidade e toda a ideologia racista estão em pleno vigor, de
forma que não resta ao negro outra alternativa para a prática do futebol senão a formação
de uma liga exclusivamente composta por elementos descendentes dos escravos
africanos.45
Em Pelotas e Rio Grande também são encontradas Ligas de futebol negras. Segundo
LONER,
a partir do início do século, assistiu-se a uma disseminação de clubes de futebol, que
encontraram respaldo entre os negros. Sozinhos ou em times mistos, negros e mulatos se
dedicaram com entusiasmo ao novo esporte, formando Ligas de futebol negras, a Liga
José do Patrocínio, fundada em 10/6/19 em Pelotas e a Liga Rio Branco de Rio Grande,
fundada em 4/8/1926.46
O problema do racismo no futebol brasileiro é destacado também por GIULIANOTTI.
Para este autor, a ubiqüidade do racismo no futebol é ilustrada de forma mais grave no
Brasil, onde as elites brancas [...] resistiram a uma dissipação organizada do esporte entre
as populações negras, sendo que, somente o pragmatismo gerencial persuadiu os principais
clubes a admitir jogadores negros.47 O autor aponta o Vasco da Gama, como o primeiro time
a colocar em campo jogadores não-brancos em 1923. No futebol sul-rio-grandense, segundo
DAMO, o Sport Club Internacional teria incorporado negros em seu time na década de 1930,
sendo que no Grêmio isso ocorreria do início da década de 1950.48 O fim da segregação em
Porto Alegre a partir da década de 1930, teria posto fim a Liga da Canela Preta.49
Para o caso de Caxias do Sul ainda não possuo as informações necessárias para
poder afirmar quando, exatamente, os atletas negros são incorporados aos times de futebol
44
ANDREWS, 1998, p. 221-222.
JESUS, 1999, p. 145.
46
LONER, 1999, p. 21.
47
GIULIANOTTI, 2002, p. 203.
48
DAMO, 2002, p. 100-101.
49
DAMO, 2002, p. 94.
45
9
profissionais da cidade, que são: o Esporte Clube Juventude, fundado em 1913, e a Sociedade
Esportiva e Recreativa Caxias do Sul (SER Caxias), fundada em 1935 com o nome de Grêmio
Esportivo Flamengo. No sítio da SER Caxias, existe a foto (Foto 1) do elenco que formou o
seu primeiro time em 1935. Entre os jogadores nenhum negro foi identificado. Mas, o
primeiro técnico do time foi Eloy Moreira Pitta, que era negro e participou de algumas
atividades na sede do Sport Club Gaúcho, como informa o jornal O Momento de 09/01/1936:
Por intermédio deste oficio, tenho a subita e elevada honra de vos comunicar que, a 31 do
mês p.p., no salão deste Sport, patrocinado pelo sr. sub-tenente Eloy Moreira Pita, depois
de haver tecido longas demonstrações elogiosas a esta sociedade, empossou sua nova
diretoria, que regerá os destintos deste, no decorrer do ano de 1936, (...).50
O Momento de 16/01/1939 indica, novamente a presença do Tenente em mais uma
atividade do clube:
Conforme determinação da diretoria dessa simpatica sociedade local, a 25 de dezembro
ultimo, na fachada de sua séde, foi hasteado solenemente o pavilhão nacional.
O ato que foi muito concorrido, teve o prestigioso concurso de um grupo de musicas da
Banda do 9.B.C. que executou o hino nacional.
O Tenente Eloi Moreira Pita hasteou a Bandeira da Patria, tendo feito o discurso oficial o
consocio Agenor da Silva.51
Foto 1: Na foto do primeiro time aparecem 13 jogadores e mais o treinador Eloy Moreira Pitta. Os 11 titulares
eram: Maguicha, Cypriano Torresini, Tibicho, Barulho, Assis Brasil de Freitas (Sizo), Antônio Bonollo,
Laureano Evangelista, Clodomiro Marques Batista (Filinho), Zezé, Tenente Antenor e Sargento Assis. Os
reservas que aparecem na foto são Nenê e Monteiro.52
50
Jornal O MOMENTO, 09/01/1936. Arquivo Histórico Municipal João Spadari Adami.
Jornal O MOMENTO, 16/01/1939. Arquivo Histórico Municipal João Spadari Adami.
52
http://www.sercaxiasdosul.com.br/clube.php
51
10
Durante a década de 1910 e de 1920 surgiram diversos times de futebol em Caxias.
O primeiro deles teria sido o Esporte Clube Ideal, de 1910. Esse time, em 1913, passaria a ser
a base do Esporte Clube Juventude. Surgiram ainda: o Esporte Clube Juvenil (1916); Esporte
Clube Guarany (1918); o Esporte Clube Lusitano, formado por portugueses e descendentes; o
Esporte Clube Rio Branco e o Esporte Clube Ruy Barbosa, que depois se unem para formar o
Grêmio Esportivo Flamengo (1935); o Grêmio Esportivo Botafogo; entre outros.53 É bom
lembrar que muitos desses, assim como o Sport Club Gaúcho, eram clubes e não somente
times de futebol.
A data de fundação do Grêmio Esportivo Botafogo é incerta. Provavelmente tenha
sido fundado em meados da década de 1920. É importante fazer um destaque a este time, pois,
alguns dos seus integrantes, posteriormente, serão nomes importantes do Sport Club Gaúcho,
como: Otávio Moreira, Carlitos Belíssimo e Valdomiro Dias.54
Percebe-se que a população negra, em diferentes regiões, procurou se organizar após
a Abolição. Uma das formas de organização se deu através do futebol, que segundo
GIULIANOTTI, intensifica os vínculos culturais e a integração social de diferentes indivíduos
dentro das sociedades modernas.55 E ainda, a formação de clubes de futebol, ajuda
a contrabalançar os sentimentos de atomização e de alienação que corrompem indivíduos
nas grandes e impessoais cidades. Os que participam do futebol integram-se em um
sistema social mais amplo, uma vez que se encontram a se interagem com os de outros
clubes. Portanto, os clubes ajudam a promover formas mais profundas de identidade
compartilhada ou de solidariedade nos níveis locais, municipais e nacionais.56
O Sport Club Gaúcho, além do time de futebol, mantinha uma associação de
senhoras e senhoritas. O vigésimo artigo, do estatuto do clube confirma: Esta sociedade
manterá uma associação de Senhoras e Senhoritas composta de uma presidente, uma
tezoureira, duas procuradoras, uma secretaria e uma oradora, sob orientação da diretoria.57
Sua função é determinada no artigo seguinte: A associação acima é creada com o fim unico
de zelar pela boa harmonia entre as familias dos associados e prestigiar com seu auxílio a
ornamentação da séde em dias de festa.58 A criação desta associação pelo clube, é um outro
indício da incorporação do Clube das Margaridas.
53
ADAMI, 1966, p. 43.
ADAMI, 1966, p. 68.
55
GIULIANOTTI, 2002, p. 31.
56
GIULIANOTTI, 2002, p. 31.
57
Estatuto do Sport Club Gaúcho, 1935. Acervo da Sociedade Recreativa e Cultural Gaúcho.
58
Estatuto do Sport Club Gaúcho, 1935. Acervo da Sociedade Recreativa e Cultural Gaúcho.
54
11
Na década de 1930 o jornal O Momento traz informações sobre o clube. São notícias
a respeito das atividades desenvolvidas no clube, e principalmente, o jornal se ocupa em
divulgar as alterações na sua diretoria. Em janeiro de 1936 o jornal informa sobre a posse da
diretoria, e traz informações sobre o baile realizado, que contou com a animação de um
excelente jáz-band, decorrendo a festa na maior alegria e cordialidade. A diretoria para o
ano ficou assim constituída:
Presidente, João Manoel Vianna; Vice, Saturnino Magdalena; fiscal administrativo, José
Francisco da Gama; tesoureiro, Theodoro Rosa; 2. dito, Antonio Rodrigues; 1. secretário,
Raymundo Pinto de Mesquita Jr.; 2. dito, Antonio P. da Silva; procurador, Herculano
Marques; 1. diretor de sala, Francelino dos Santos; 2. dito, Dorotéo Pereira; diretor
tecnico, Tulio de Souza; capitão geral, Acacio Moraes; guarda esporte, Hilario Francisco
da Silva; 1. orador oficial, Agenor da Silva; 2. dito, Battling Waittrs.
Senhoras: Presidenta, Eulalia Gama; Vice, Izidora Rodrigues; diretora geral, Luiza da
Luz; tesoureira, Rosalina da Silva e secretária, Jandyra da Cunha Junior.
Durante a solenidade, fizeram uso da palavra os srs. Agenor da Silva, Battling Waittrs, e
senhorita Dalva Antunes Vianna.59
Em janeiro de 1937, o jornal novamente, e pela última vez, informa a composição
completa da diretoria do Sport Club Gaúcho. Chama a atenção que, novamente, é indicada a
diretoria feminina do clube. Isso pode indicar a importância dessas mulheres para o clube,
como também, pode ser um indício da conquista de uma certa autonomia pelo grupo. LONER,
em seu estudo sobre as organizações negras em Pelotas, diz que as mulheres exerciam
variadas e importantes funções nas associações. Elas preocupavam-se
com a promoção de quermesses para levantamento de fundos para as festividades ligadas
às associações da etnia. Como resultado desse seu papel de maior importância, se
encontram sempre diretorias femininas, praticamente em todas as suas associações, que
funcionam paralelamente a diretoria masculina.60
Enfim, percebe-se que o fortalecimento econômico da cidade a partir da década de
1910, e a expansão industrial, contribuíram para a chegada e fixação de outras etnias na
cidade de Caxias do Sul. Além disso, a chegada de militares negros vindos de Pelotas parece
ter sido fundamental para a formação de associações negras em Caxias. Pois, dos dez sócios
considerados fundadores do Sport Club Gaúcho, dois são pintores (João Ribas e Paulino Dias
Belíssimo), três são militares (João Manoel Vianna, Herculano Marques e Olívio Moreira),
cinco são trabalhadores da indústria (Saturnino Madaleno, Argemiro Pereira, Marcelino
59
60
Jornal O MOMENTO, 09/01/1936. Arquivo Histórico Municipal João Spadari Adami.
LONER, 1999, p. 23.
12
Martins, Manoel Luiz Telles e Agenor da Silva).61 A importância das mulheres nessas
associações também é visível em Caxias do Sul, com a fundação do Clube das Margaridas e
com a presença da diretoria feminina no Gaúcho. Isso confirma o destaque dessas mulheres
no associativismo negro, o que já havia sido percebido em estudos sobre o Rio de Janeiro,
São Paulo, Porto Alegre e Pelotas. As associações proliferam no período posterior a Abolição
em diversas regiões e cidades do Brasil. Segregados e discriminados, os negros buscam o
fortalecimento do grupo, em diferentes contextos, através do associativismo. Times de
futebol, clubes dançantes e sociais, escolas de samba, e outras formas de organização, tornam
essa população identificável. Essas associações são fundamentais, no caso de Caxias, para que
se possa questionar a imagem de cidade branca e italiana que o município possui.
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Tipografia São Paulo, 1966.
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DAMO, Arlei Sander. Futebol e identidade social: uma leitura antropológica das rivalidades
entre torcedores e clubes. Porto Alegre: Ed. Universidade/UFRGS, 2002.
61
Estatuto do Sport Club Gaúcho, 1966. Acervo da Sociedade Recreativa e Cultural Gaúcho. Tem que se
destacar também a importância de José Francisco Gama, também militar, na história do clube.
13
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