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AZIMUTE
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Revista MILITAR DA INFANTARIA
EPI
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N.º 190 – Dezembro 2010
Tomada de Posse do Exmo. Cmdt da EPI.
Director:
Comandante da EPI
COR INF Jorge Manuel Barreiro Saramago
Coordenação e Redacção:
COR INF REF Nelson de Sousa Figueiredo
TCOR INF Francisco José Fonseca Rijo
TCOR INF Rui Manuel Mendes Dias
TCOR INF Álvaro Manuel Tavares de Carvalho Campeão
Relações Públicas:
TCOR INF Álvaro Manuel Tavares de Carvalho Campeão
Capa:
SCH INF Jorge Manuel Manecas Miranda
Fotografia:
1ºSAR INF Carlos Miguel Costa Cunha
Composição/Paginação:
SOLD RC Lino Filipe Marques da Rocha
Impressão:
Rolo & Filhos II, S.A. (Mafra)
Tel. 261 816 500
Propriedade:
O aprontamento de uma FND numa
Unidade de Formação Certificada.
30
EPI - Alameda da Escola Prática de Infantaria
2640 - 777 MAFRA
Tel. Civil - 261 81 21 05
Fax Civil - 261 81 16 01
Tel. Mil. (Central) - 420 400
Fax Mil. - 420 505
Tel. Relações Públicas - 420 456
Fax Relações Públicas - 420 455
www.exercito.pt
[email protected]
[email protected]
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Tiragem:
1000 Exemplares
Depósito Legal n.º 4510/84
82
Símbologia do Natal.
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Indíce
3Editorial
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Mensagem de Natal do Director-Honorário da Arma de Infantaria
5Tomada de Posse do novo Comandante da EPI
7
Novo Comandante da EPI
Ronda pelas Unidades
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Regimento de Infantaria 14 - Unidade com passado, voltada para o futuro
Temas Gerais
“Ainda o 14 de Agosto”
12
21Exposição 14 Agosto - “Guerras Peninsulares: o Engenho Militar e o Valor do Povo Português”
23
Patrulha D. Nuno Álvares Pereira 2010
24
Candidatura do Edifício Real de Mafra e Tapada a Património Mundial da UNESCO
Tema - Acreditação de um Sistema de Formação de Qualidade
26A Acreditação/Certificação da Qualidade da Formação
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O aprontamento de uma FND numa Unidade de Formação Certificada
O aprontamento da UnEng 9/FND/UNIFIL na Escola Prática de Infantaria
34
Tecnicamente Falando
38
Cultural Awareness da tomada de consciência à técnica.
41Expectativas de um Comandante de Batalhão sobre um Comandante de Companhia
47VBR PANDUR II Mortar Carrier
49
Reunião do “Nato Urban Operations Working Group”
51
Curso de Promoção a Capitão das Armas e Serviços, Serviços Técnicos e Serviço de Saúde 2010
53
Projecto MEP
55
Carta Aeronáutica ICAO de Portugal
59
Reabilitação das Infra-Estruturas de Apoio à Formação da EPI
62
Mini UAV nos Baixos Escalões Tácticos
64Taxonomia dos Objectivos Educacionais: a abordagem de Marzano
Actividades
68
69
70
72
73
Cooperação Técnico – Militar - Timor-Leste
Cooperação Técnico – Militar - Angola
Cooperação Técnico – Militar - República Democrática de São Tomé e Príncipe
Protocolo de cedência mútua de espaços entre o Exército e o Instituto de Museus e Conservação
Clube Militar de Oficiais de Mafra - 5º aniversário
Cultural
76Visitas e Notícias
80
Os Nossos Filhos Andam a Tomar Droga?
82Simbologia e Vivência do Natal
87
Poema - Das Invasões Francesas à Europa Unida
Os artigos assinados são da exclusiva responsabilidade dos seus autores,
e não vinculam as opiniões do Corpo Editorial.
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Editorial
É com orgulho, mas consciente das minhas responsabilidades,
que como Comandante da Casa-Mãe da Infantaria sinto o privilégio
de neste editorial poder saudar os Infantes, rendendo homenagem
a todos quantos nos legaram os valores e as boas tradições da
nossa Escola Prática, cuja riqueza e engrandecimento somos chamados a aprofundar e transmitir.
Manifesto determinação e total disponibilidade, para apoiar sem
reservas todas as acções relacionadas com a nossa Arma, seguro
de que poderemos continuar a contar com o contributo e saber de
todos os Infantes, para manter a nossa Escola Prática na senda da
excelência que a caracteriza.
Neste segundo semestre iniciou-se um novo ano lectivo e com
ele retomamos o desenvolvimento das nossas actividades orientando a nossa acção em termos institucionais, organizativos e doutrinários, simultaneamente, em quatro grandes áreas de esforço:
• Na reforma dos processos de trabalho, conscientes de que estes são a base de renovação e
eficiência interna no domínio do que temos chamado a Escola Regimental. O aprofundamento da
digitalização e automação de procedimentos rotineiros permitir-nos-á aumentar a produtividade e
racionalizar todo o tipo de recursos.
• Na Formação e no apoio ao Treino Operacional, mantendo e incrementando padrões de exigência cada vez mais elevados, que têm permitido o reconhecimento internacional do excelente
desempenho dos nossos militares e o reconhecimento da nossa Escola enquanto entidade formadora, através da consolidação dos processos de trabalho que têm permitido continuar a gerar as
evidências da qualidade da Formação ministrada na Casa Mãe da Infantaria.
• No domínio das tarefas onde é Entidade Técnica Responsável, através da introdução de novas
tecnologias, técnicas e métodos na Infantaria, de onde se salienta a curto prazo o reforço dos
instrumentos de formação do Curso de Promoção a Capitão 2011 Parte Comum (para todas
as Armas e Serviços do Exército) na modalidade de e-learning, mas também a realização pela
primeira vez do Curso de Apoio de Combate, destinado a complementar a formação dos jovens
Alferes de Infantaria.
• No âmbito dos valores e ligação à Sociedade, aprofundando as relações humanas e militares de
forma coerente e ajustada à missão da Casa Mãe da Infantaria, potenciando a nossa inserção na
comunidade nacional da qual fazemos parte.
Com o acompanhamento sempre presente do nosso Comando hierárquico e a exemplar dedicação e orgulho de bem servir dos Militares e Funcionários Civis da nossa Escola Prática, sinto total
confiança para poder afirmar que vamos continuar a dignificar o honroso legado que nos foi transmitido por todos aqueles que nos antecederam e deixaram a sua marca, que nos serve de inspiração
e de incentivo.
Nesta quadra festiva desejo à família da Escola Prática de Infantaria e a todos os Infantes um Feliz
Natal e um Ano de 2011 pleno de realização e sucessos, servindo o Exército e Portugal.
“AD UNUM”
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Mensagem de Natal
do
Director-Honorário da Arma de Infantaria
Eis-nos chegados ao final de mais um ano que a todos nós, militares do
Exército Português, exigiu esforço, dedicação, alma forte para poder vencer
os desafios.
Infelizmente, já está anunciado que o próximo será, desde logo, ainda
mais exigente, o que há-de significar dificuldades acrescidas não só em termos da Instituição mas para cada um de nós próprios, enquanto cidadãos.
Felizmente, estamos convencidos que o nosso ânimo de Infantes há-de
ser capaz de se sobrepor ao desalento. Esta convicção não quer dizer que
estejamos indiferentes às causas das dificuldades e aos processos para
as resolver. A nossa colaboração como cidadãos responsáveis a isso nos
obriga.
Mas a nossa condição de militares, prontos para servir em todas as circunstâncias, obriga-nos também a uma força interior que galvanize e que
constitua, em permanência, garantia de serenidade, responsabilidade, de
patriotismo.
Um Santo Natal para todos os Infantes e suas famílias.
Votos de que o Ano Novo possa constituir-se como o início de um novo
futuro mais próspero e com maior bem-estar.
O Director-Honorário da Arma de Infantaria
Mário de Oliveira Cardoso
Tenente-General
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Tomada de Posse do novo Comandante da EPI
O Coronel de Infantaria Jorge Manuel Barreiro
Saramago assumiu, em 30 de Agosto de 2010, o
comando da Escola Prática de Infantaria.
Por despacho de 23JUN2010, de SExa o GEN
CEME, foi nomeado,”por escolha”, para as funções
de Comandante da EPI, o Cor Inf Jorge Manuel
Barreiro Saramago, tendo decorrido em 30AGO10
a cerimónia de tomada de posse do comando da
EPI na parada Coronel Magalhães Osório. Pelas
10h30 desse dia o Exmo. Comandante entrou á
porta de armas e dirigiu-se para o gabinete do co-
mandante onde, tradicionalmente, lhe foi colocado
o crachá da unidade, tendo-se dirigido de seguida para a parada onde a formatura geral o aguardava. Depois das honras regulamentares o Exmo
Comandante passou revista ás tropas e proferiu o
seu discurso de tomada de posse que seguidamente se transcreve:
“Oficiais, Sargentos, Praças e Funcionários
Civis da Escola Prática de Infantaria,
Saúdo cada um de vós, rendendo homenagem
a todos os militares e civis que ao longo dos 123
anos de existência da Escola Prática de Infantaria,
contribuíram com o seu empenho, dedicação e saber, para a consolidação da actividade de instrução
e formação militar, de qualidade reconhecida e assim, para o prestígio que esta Escola desfruta, quer
no Exército, quer na Sociedade Portuguesa.
Assumo o Comando da Escola Prática de
Infantaria, com a consciência do elevado nível de
responsabilidades que me cabem, assim como o
alcance dos desafios que tenho de enfrentar.
Assumo essas responsabilidades, com a
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confiança de uma vida dedicada a esta Escola na
qual servi ao longo da minha carreira em todos os
postos, com excepção do de Major, mas também
com a certeza da nossa coesão, do nosso sentido
de missão e total disponibilidade para construirmos
o futuro. É uma missão a que dedicarei todo o meu
empenho, a minha determinação e o meu saber. É
com orgulho, com grande honra e sentido privilégio que sei poder contar convosco e assumir, neste
contexto, o comando da nossa Escola.
Oficiais, Sargentos, Praças e Funcionários
Civis da Escola Prática de Infantaria,
A era da informação e do conhecimento em que
vivemos obrigam a uma evolução de paradigma,
do “saber fazer como prescrito” para um “saber agir consciente”, em especial na casa Mãe
da Infantaria que tem a nobre missão de formar todos os Quadros da Arma, mas também os Oficiais,
Sargentos e Praças do Exército em áreas específicas do saber militar.
É necessário continuar a implementar na Escola
Prática de Infantaria uma cultura de missão, estimulando e fomentando a iniciativa e a autonomia
dos formandos através do ajustamento dos perfis
de formação dos cursos, mas também através da
renovação da cultura de serviço nos processos internos que devem ser norteados pela inequívoca
avaliação de resultados em função de metas ambiciosas do ponto de vista organizacional.
Nesse sentido, é necessário continuar a desenvolver a nossa acção, em termos institucionais,
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organizativos e doutrinários, simultaneamente, em
quatro grandes áreas de esforço:
• Na reforma dos processos de trabalho, colocando nela um verdadeiro espírito de serviço que se
constitua como a base de renovação e eficiência interna no domínio do que temos chamado a
Escola Regimental. É imperioso simplificar, autonomizar e partilhar tudo o que pode contribuir para
aumentar a produtividade e poupar tempo e recursos para outras tarefas que nos permitam atingir a
excelência em todas as áreas de actividade.
• Na Formação e no apoio ao Treino Operacional,
mantendo e incrementando padrões de exigência cada vez mais elevados, que têm permitido
o reconhecimento internacional do excelente desempenho dos nossos militares e o reconhecimento da Qualidade da EPI enquanto entidade
formadora, por parte da Agência Nacional para a
Qualificação. Temos necessidade de aprofundar
os processos de gestão da formação para nos
continuarmos a situar, neste domínio, ao nível do
que de mais moderno se faz no país e nas alianças de que fazemos parte.
• No domínio das tarefas onde é Entidade Técnica
Responsável, designadamente na Cooperação
Técnico-Militar, na Formação Geral Comum das
Praças, no Tiro das Armas da Infantaria, nas
Operações de Apoio à Paz, no Combate em Áreas
Edificadas, mas também as actividades de fortalecimento das tradições e do espírito de corpo da
Arma de Infantaria. Temos necessidade de liderar
os processos de transformação e inovação, e consequentemente de propor a introdução de novas
tecnologias, técnicas e métodos na Infantaria.
• No âmbito dos valores e ligação à Sociedade,
aprofundando as relações humanas e militares de
forma coerente e ajustada à missão da Casa Mãe
da Infantaria e potenciando a nossa inserção na
comunidade nacional da qual fazemos parte.
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Militares e Funcionários Civis da EPI
O futuro apresenta-nos vários desafios e também algumas dificuldades que, em alguns casos,
ultrapassam a esfera de acção interna da EPI requerendo por isso o entendimento e a convergência
de esforços com o Comando do Exército, na procura das soluções. A Escola Prática de Infantaria está
bem preparada para aproveitar todas as oportunidades de desenvolvimento e afirmação, partindo
para elas, com inequívoca vontade de as concretizar, pois temos a consciência que não podemos
ser excelentes apenas através das palavras, mas
antes, pela capacidade de afirmação através da realização de obras.
Conheço as vossas qualidades, a vossa vontade de bem servir, o excelente desempenho técnico
e a vossa postura ética. Conto com o empenho, a
motivação, a grande dedicação, a excelente preparação técnica e táctica dos quadros e a inabalável vontade de todos quantos servem na EPI para,
com realismo e confiança, enfrentar e ultrapassar
estes e outros desafios, cumprindo de forma impar
todas as tarefas da missão que nos foi atribuída.
Olharemos para o futuro com serenidade, com o
brilho nos olhos que nos caracteriza, com a necessária ousadia e ambição, saber e maturidade, para
continuar a afirmar a nossa Escola e a Infantaria.
O futuro da Escola Prática de Infantaria é uma
tarefa de todos nós, requerendo de todos a participação sem lamentações, justificações ou indiferença; afirmo-vos a minha determinação, o meu
empenho e total dedicação, na exacta medida em
que estou convicto e confiante no vosso, para a
plena afirmação da nossa Escola a nível interno
e externo. O valor da coesão e a visão institucional partilhada por todos, são indispensáveis para
responder com eficácia, aos desafios que se nos
colocarem, assim como para o reforço do reconhecimento e do seu prestígio.
Conto convosco desde o início e estarei convosco de corpo e alma até ao fim!
AD UNUM.”
Azimute
O Coronel Infª Jorge Manuel
Barreiro Saramago nasceu em
Martinchel – Abrantes, em 14 de
Janeiro de 1963, tendo sido promovido ao actual posto em 01
de Fevereiro de 2009.
Entrou para a Academia
Militar em 1981 e terminou o
Curso de Infantaria em 1986,
tendo ficado colocado na Escola
Prática de Infantaria durante
cerca de 10 anos. Tendo desempenhado funções como
Comandante do Pelotão de
Atiradores e Reconhecimento,
Instrutor dos Cursos Geral de
Milicianos, Curso de Oficiais
Milicianos e ainda Instrutor de
Táctica e Adjunto dos Directores
dos Tirocínios para Oficial do
Quadro Permanente durante
quatro anos.
Como Capitão foi Comandante de uma
Companhia de Instrução, Director do Tirocínio para
Oficial do Quadro Permanente, Instrutor de Táctica
e Técnica de Estado-Maior ao Curso de Promoção
a Capitão durante cinco anos e Director dos Cursos
de Informações e Operações de Infantaria e de
Promoção a Sargento-Ajudante. Durante três anos
foi Chefe da Secção de Estudos Técnicos onde,
entre outras actividades, foi o Chefe das Equipas
de Trabalho para a elaboração dos manuais técnicos dos novos equipamentos adquiridos para
a Infantaria no âmbito da 2ª Lei de Programação
Militar e simultaneamente o responsável pelas testagens dos mesmos.
Em 1988 e 1992 frequentou 2 cursos nos Estados
Unidos, respectivamente, o “Infantry Officer Basic
Course” e o “Infantry Officer Advanced Course”.
Como Major, após a frequência do Curso
de Estado-Maior 1996/98 exerceu as funções
de Adjunto da Repartição de Planeamento
Administração e Mobilização de Pessoal no EstadoMaior do Exército durante um ano.
Em 1999 foi colocado no Instituto de Altos
Estudos Militares, inicialmente como professor
de Estratégia durante dois anos, tendo em 2000
desempenhado funções de Assessor do Ministro
da Defesa Nacional em acumulação de funções
docentes no Instituto de Altos
Estudos Militares, aos diversos
Cursos de Promoção a Oficial
Superior, Curso de EstadoMaior e Curso Superior de
Comando e Direcção.
Regressado ao Instituto de
Altos Estudos Militares foi professor de Geopolítica e GeoEstratégia durante dois anos.
Já como Tenente-Coronel
foi nomeado, em 2003, para
o Quartel-General do NATO
Rapid Deployble Corps – Italy
(NRDC-IT) tendo assumido as
funções de Chefe da Repartição
de Planos e Projectos naquele
Corpo de Exército.
Ainda neste Quartel-General
no âmbito da missão da NATO
no Teatro de Operações do
Afeganistão, foi durante cerca de seis meses o 2º
Comandante da Repartição dos Planos do QuartelGeneral da ISAF VIII.
Em meados de 2006 regressou à Escola Prática
de Infantaria onde foi inicialmente Comandante do
Batalhão de Comando e Serviços e posteriormente
Director de Formação.
A partir de Agosto de 2007 desempenhou as
funções de 2º Comandante da Escola Prática de
Infantaria, durante um ano, ocasião em que foi escolhido como Adjunto do General Chefe do EstadoMaior do Exército, funções que desempenhou
até ser nomeado “por escolha” para comandar a
Escola Prática de Infantaria.
Da sua folha de serviços constam dez louvores, sendo um concedido pelo Ministro da Defesa
Nacional, dois pelo General Chefe do Estado-Maior
do Exército, cinco por Oficiais Generais e dois por
outras Entidades Militares.
É condecorado com a Medalha da Ordem
Militar de Avis com o grau de Comendador, duas
Medalhas de Serviços Distintos grau Prata, as
Medalhas de Mérito Militar de 2ª e 3ª classes, a
Medalha de Prata de Comportamento Exemplar, a
Medalha do Pacificador do Brasil, duas Medalhas
de Comissões Especiais em Itália e no Afeganistão
e uma medalha da NATO na missão ISAF no
Afeganistão.
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Novo Comandante da EPI
Jorge Manuel Barreiro Saramago
Coronel de Infantaria
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Regimento de Infantaria 14
Unidade com passado, voltada para o futuro
Síntese histórica
O Regimento de Infantaria 14 foi formalmente
criado com esta designação, com a reestruturação
de 1806, na sequência daquela humilhação histórica que foi a Guerra das Laranjas. Foi então criado,
apenas “no papel”, vindo a ser levantado em 1809
com base no Terço do Algarve, cujos registos conhecidos mais antigos remontam a 1657.
Integrando o Exército Anglo-Luso que combateu as invasões Napoleónicas, adopta a Batalha do
Buçaco ocorrida em 27 de Setembro de 1810 como
a acção militar onde obteve o seu baptismo de
fogo. No entanto, o 14 da Infantaria acompanhou
a perseguição aos franceses, participando activamente em vários combates da Guerra Peninsular,
até Toulouse, onde foi decidido o regresso dos portugueses ao solo pátrio.
Declarada a paz, viu-se o 14 envolvido nas lutas
liberais que dividiram o país e o povo, tendo uma
passagem fugaz por Viseu em 1841, onde, após a
vitória da facção liberal e a consequente extinção
de muitas ordens religiosas, o Regimento se fixa
definitivamente em Viseu, no antigo convento da
Ordem Terceira, sendo o Regimento da actualidade
que está fixo há mais tempo na mesma localidade.
Participou na I Guerra Mundial, ainda antes de
Portugal fazer parte dela, com a infeliz tragédia de
Naulila (Sul de Angola, 18 de Dezembro de 1914),
e posteriormente, integrando o CEP com o BI 14.
Teve destacamentos nas antigas possessões indianas e foi unidade mobilizadora e aprontadora de
contingentes para as antigas províncias africanas.
Mais recentemente, este Regimento tem sido
unidade aprontadora de diversos contingentes
que, nos mais variados Teatros de Operações, têm
cumprido Portugal no quadro dos compromissos
internacionais e no âmbito de diversas missões
humanitárias e de paz, designadamente, Bósnia
Herzegovina, Kosovo, Timor Lorosae e Afeganistão.
Acrescente-se que o 14 tem também enviado elementos isolados para outras missões, nomeadamente, no Iraque e diversos países africanos.
Missão e organização
A missão do Regimento de Infantaria 14 é
aprontar um Batalhão de Infantaria para integrar a
Brigada de Intervenção, a nova força blindada de
rodas do Exército Português
Apesar de ser esta a missão explícita e principal, na verdade, há todo um conjunto de tarefas
de âmbito territorial de tempo de paz atribuídas às
Unidades, as quais o 14 igualmente tem que cumprir: participação em cerimónias, ligação à sociedade civil, missões humanitárias e de interesse
público, apoio social à família militar e responsabilidades territoriais em termos de apoio a processos
de averiguações relacionados com antigos combatentes ou com o apoio a funerais.
Nestas tarefas, merece destaque pela visibilidade acrescida para o Exército e pelo sentimento de
gratidão e reconhecimento que tem despertado na
sociedade civil, a participação no âmbito dos planos LIRA e VULCANO, ambos no quadro da defesa
da floresta contra incêndios e relativamente à qual,
o RI 14 tem recebido os maiores encómios das entidades apoiadas.
Organigrama do Regimento de Infantaria 14
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Localização e Infra-estruturas
O actual quartel do Regimento de Infantaria 14,
inaugurado em 10 de Julho de 1951, encontra-se
localizado na zona poente de Viseu e é um dos
Vista aérea do Regimento de Infantaria 14
chamados “quartéis CANIFA” (Comissão para as
Novas Infra-estruturas das Forças Armadas, criada
em finais da década de 40, sucedendo à CANIE,
a Comissão para as Novas Infra-estruturas do
Exército, que teria iniciado os estudos para estes
quartéis).
Estas instalações, devido aos quase 60 anos de
idade que já contam, têm sido submetidas a diversas intervenções com vista a mantê-las em condições de utilização (na maior parte dos casos trata-se de pequenos trabalhos de reparação da rede
eléctrica, da rede de águas ou de reparação de coberturas), mas também para o aumento da eficiência térmica dos edifícios.
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Para o cumprimento desta missão, e para o desempenho destas tarefas, o RI 14 está organizado em Comando e Estado Maior, Companhia de
Comando e Serviços (CCS) Regimental e Batalhão
Operacional, o qual, constitui o 2ª Batalhão de
Infantaria da Brigada de Intervenção (2BI).
Nesta organização, cabe ao Comando e Estadomaior planear, conduzir e supervisar as tarefas que
derivam das responsabilidades territoriais de tempo de paz, sem prejuízo da capacidade de apoiar o
levantamento do Batalhão e a sustentação do seu
treino operacional.
O apoio de serviços e a manutenção da vida
da unidade constituem a missão principal da CCS
Regimental, cujos recursos humanos são sempre
escassos face à diversidade e volume de solicitações a que diariamente responde.
Finalmente, o 2BI, como encargo operacional
do Regimento de Infantaria 14, planeia e conduz o
seu treino operacional de acordo com as directivas
recebidas do Comando da Brigada e, dentro dos
seus meios e possibilidades (e sempre sem prejuízo do seu aprontamento), colabora igualmente
nas demais tarefas cometidas ao Regimento (como
por exemplo, na participação em cerimónias, exposições, demonstrações e exercícios de outras
unidades).
Ainda o Regimento, e quando determinado,
apoia o levantamento, concentração e aprontamento de forças e elementos destinados às forças
nacionais destacadas. Foi disso o exemplo mais recente, a preparação do contingente destacado para
o Teatro de Operações do Afeganistão que decorreu neste quartel entre Agosto e Setembro, e que
concluiu com a projecção de quase 180 militares
iniciada em 27 de Setembro de 2010.
Aspecto do primeiro parque para as viaturas Pandur, em
1º plano, uma mostra de material ao Curso de Estado Maior; em
2ª plano, algumas viaturas sob a protecção dos novos telheiros
Devido ao facto de este ter sido um dos
Regimentos escolhidos para beneficiar do programa de reequipamento do Exército (as primeiras viaturas blindadas Pandur foram recebidas em 31 de
Março de 2009), foi elaborado um plano director –
cuja execução já foi iniciada e se encontra em curso
– que contempla um conjunto de obras de modernização, adaptação e melhoramento dos edifícios
existentes e construção de algumas novas estruturas, com a dupla finalidade de as reabilitar para os
actuais padrões de habitabilidade e de criar
as condições adequadas à boa funcionalidade e preservação do encargo operacional e
do seu equipamento e viaturas.
Neste âmbito, foram já requalificadas as
oficinas de manutenção, construídas duas
das quatro rampas de lubrificação previstas,
colocado um separador de hidrocarbonetos e
foram construídos os primeiros telheiros para
parqueamento de viaturas.
O quartel dispõe ainda de um bom pavilhão polidesportivo com sala de musculação,
equipamento que regista uma intensa utilização, quer pelos militares “da casa”, quer por
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numerosas instituições e colectividades do meio civil em que o Regimento está inserido, contribuindo
de modo significativo para o bom relacionamento
com a sociedade local e, no âmbito do apoio ao
moral e bem estar, dispõe de uma piscina descoberta que faz as delícias dos militares e familiares
no período estival.
Actividades recentes, em curso e
projectadas
Além das actividades já referidas, o RI 14 tem
apoiado inúmeras instituições civis, nos mais diversos eventos e celebrações, e participado em cerimónias evocativas, não apenas de âmbito militar.
Merecem destaque a participação nas evocações dos 200 anos sobre as invasões francesas,
quer através da execução de guardas de honra,
quer através da participação do pelotão fardado à época, envergando réplicas do uniforme do
Regimento durante a Guerra Peninsular.
Exercício Sagitário 09 (Norte de Espanha)
Aspecto da formatura geral das forças empenhadas
Infantaria atribuído ao Battle Group para a União
Europeia, contribuindo com uma Companhia de
Atiradores, com todo o pessoal e material orgânico
principal. Esta força, ainda que aquartelada no RI
14 e continuando a integrar o 2BI, efectua todo o
seu treino operacional de acordo com as directivas
do Comandante do 1BI / BRIGINT e, sempre que
necessário, desloca-se à sua ordem para a realização dos exercícios de conjunto, que culminarão
com a certificação deste Batalhão quer a nível nacional quer internacional.
No futuro imediato, aguarda-se a definição sobre o aprontamento de mais uma força com destino
ao Teatro de Operações do Kosovo que será projectada (previsivelmente) em Setembro de 2011.
O 2º Batalhão de Infantaria da Brigada de
Intervenção
Pelotão com os Uniformes do RI 14 em 1810 desfila nas
cerimónias de evocação dos 200 anos da Batalha do Buçaco
O 14 tem igualmente contribuído para a divulgação da história, quer acolhendo grupos de estudantes em visitas de estudo – a quem é explicada
a história do Regimento que se encontra espelhada
na sua Colecção Visitável (vulgarmente designada
por Núcleo Museológico) – quer organizando palestras e conferências; no domínio da divulgação
da história deve ser igualmente referida a publicação do “O 14 de Infantaria”, livro que, partindo
de uma publicação do Capitão Balula Cid sobre a
história do Regimento até 1950, para além de ter
acrescentado o período até aos dias de hoje, complementou o já existente.
No domínio operacional, o Regimento, através
do 2BI, tem participado em diversos exercícios e
demonstrações, merecendo destaque a participação num exercício conjunto com forças do Exército
Espanhol, realizado no Norte de Espanha em
Novembro de 2009.
Actualmente, o encargo operacional do 14 participa activamente no aprontamento do Batalhão de
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Como encargo operacional do Regimento, e
nos termos da missão que lhe está atribuída, este
Batalhão é a razão de ser da própria Unidade.
O 2BI foi criado em 01 de Junho de 1992, atribuído inicialmente ao Regimento de Infantaria 3 (Beja).
Mais tarde, através da directiva 057/CEME/00, de
05 de Abril de 2000, o Encargo Operacional do
2BI da BLI foi transferido para o Regimento de
Infantaria Nº 14, em Viseu.
Coluna em deslocação para Penalva do Castelo,
naquele que foi o primeiro emprego operacional das Pandur ao
serviço do 2BI
A Viatura Blindada de Rodas 8x8 Pandur
Como parte do programa de reequipamento do
Exército inserido na Lei de Programação Militar, o
Viatura Blindada de Rodas 8x8 Pandur
Regimento de Infantaria 14 foi
das unidades escolhidas para
receber esta nova viatura, a qual
se destina a equipar o 2BI.
Esta é uma viatura blindada
de rodas de silhueta reduzida,
moderna e capaz de ombrear
com quaisquer outras congéneres conhecidas tendo sido
concebida para o transporte de
pessoal, com capacidade para
todo o terreno e ser aerotransportável.
Tem suspensão independente às 8 rodas
e através de um sistema de gestão interno, permite ligar/desligar automaticamente a transferência
e o bloquear/desbloquear dos diferenciais, como
também permite o ajuste da pressão dos pneus em
movimento.
Um dos grandes saltos qualitativos representados por esta viatura é a sua capacidade de protecção à guarnição em ambiente NBQ.
Em ordem de marcha, esta viatura tem uma autonomia em estrada que pode atingir os 600 km,
para um peso de 18,5 ton (a uma velocidade média
de 60km/h), podendo atingir os 105 km/h de velocidade máxima, em estrada pavimentada.
As primeiras unidades chegaram ao Regimento
em 31 de Março de 2009 e, à data da redacção
deste texto, o RI 14 detém já 36 das 69 previstas.
AZIMUTE
No âmbito da participação portuguesa além fronteiras, o 2BI
conta já com uma larga experiência, tendo aprontado e projectado diversos contingentes.
Assim, e desde o ano 2000, o
2BI cumpriu quatro missões integrando forças multinacionais das
NU (no TO de Timor-Leste), e da
OTAN (na Bósnia-Herzegovina
(BiH) e Kosovo). Entre Fevereiro
e Outubro de 2001, o 2BI cumpriu
a sua missão no TO de Timor-Leste, integrando a missão da Nações Unidas para
aquele território. Em Julho de 2002, o Batalhão
foi projectado para o TO da BiH, inicialmente como
Reserva Operacional da Força de Estabilização da
OTAN, tendo ficado aquartelado em Visoko. Este
Batalhão integrou um efectivo de 323 militares. Em
Dezembro, já perto do final da missão, foi transferido para Doboj, passando a assumir a responsabilidade por este Sector. Foi rendido por uma força
nacional do mesmo escalão em Janeiro de 2003.
Face à decisão de Portugal voltar a integrar a
missão da OTAN no Kosovo, a partir de Fevereiro
de 2005, o 2BI regressou de novo àquele território, integrando a KOSOVO FORCE (KFOR). Nessa
data, o Batalhão assumiu a missão de Reserva
Táctica da KFOR, com a possibilidade de ser empregue em qualquer das áreas de responsabilidade
das restantes forças multinacionais, missão que
repetiu entre Setembro de 2007 e Março de 2008.
Não estando (ainda) completo em pessoal,
e estando o seu reequipamento em curso, o 2BI
não deixa de ser um valor seguro para a Brigada
de Intervenção e para o Exército, quer pelo capital de experiência operacional internacional, quer,
e acima de tudo, pela qualidade do treino que tem
praticado e pela atitude e profissionalismo dos seus
quadros e tropas.
Conclusão
O Regimento de Infantaria 14 é uma unidade da
Infantaria portuguesa de cuja herança e tradições
os seus militares estão conscientes e orgulhosos
– ainda que isso aumente, sem dúvida, a responsabilidade de cada um para com o todo para níveis
muito elevados.
Às inúmeras solicitações de mais variada ordem, os militares e civis deste Regimento têm correspondido de forma muito positiva, o que tem feito
merecer os mais rasgados elogios de quantos lhe
podem apreciar o desempenho.
Cientes das dificuldades do futuro que se avizinha, nem por isso estes militares e civis esmorecem e é com entusiasmo e determinação que, honrando a terra a que pertencem e a unidade em que
servem, abraçam tais dificuldades na disposição de
as vencer.
São gentes das Beiras, temperadas no frio, desprezando o medo, ignorando a fome… fazendo jus
à sua divisa, elas e eles são aqueles
“Cuja fama, ninguém virá que dome”
Nº 190 DEZ10
11
AZIMUTE
“Ainda o 14 de Agosto”
TCor Inf Francisco Rijo
Em Janeiro do ano corrente, foi submetido á
consideração do Exmo. TGen DHAI o programa de
comemorações do dia da Arma de Infantaria e da
sua Escola Prática para 2010, ano em que continuam as celebrações do Bicentenário das Guerras
Peninsulares, do qual constavam as seguintes
actividades:
• Jornadas de Infantaria 2010 – “ As pequenas Unidades de Infantaria em Ambiente de
Contra-Subversão”
• Patrulhas Nuno Álvares Pereira
• Missa de acção de graças
• Cerimónia Militar do 14AGO2010
• Recriação Histórica grupo Magote de Sto
Antão sobre as Guerras Peninsulares
• Exposição no museu da Infantaria “Guerra
Peninsular - O Engenho Militar e a força de um
povo”
Sobre as duas primeiras actividades demos
conta no último número da Azimute e no numero
actual, damos conhecimento em artigo próprio, dos
desenvolvimentos da exposição que teve lugar no
Museu da Infantaria dividida em três temas, em
igual numero de espaços, OS Antecedentes; Os
Soldados; Os Fortes.
No que ás cerimónias do 14 de Agosto concerne, o dia começou com a missa de acção de graças na basílica , tendo sido celebrada pelo Capelão
Chefe do Exército Padre Teixeira emoldurado pelos
guiões das unidades de infantaria presentes nas
comemorações do dia da Infantaria. Estiveram presentes na cerimónia o Exmo DHAI, TGen Oliveira
Cardoso e esposa, TGen Vaz Antunes, MGen
Tavares Nunes, Gen Jasmim de Freitas en tre outras individualidades. Quando já as centenas de
convidados se acomodavam nas cadeiras colocadas no alto da escadaria da Basílica, as forças em
parada, sob o comando do Exmo. 2º Comandante
da EPI, Tenente-Coronel Francisco José Fonseca
Rijo, aguardavam formadas no terreiro D. João V
integrando as seguintes forças:
• Banda e Fanfarra do Exército
• Escolta de Honra ao estandarte Nacional pelos
Oficiais do Tirocínio para Oficial de Infantaria
2010:
• Bloco de Guiões representativos das unidades
de Infantaria,
• O Batalhão de Formação Militar Geral da EPI a
duas Companhias;
• Um batalhão formado por:
•Uma companhia da Brigada Mecanizada
•Uma companhia da Brigada de Intervenção
• Uma companhia da Brigada de Reacção
Rápida, com um grupo de Comandos, um
Pelotão de Operações Especiais e um Pelotão
de Pára-quedistas.
• Cerca das 11h00, S.Exª o Chefe do EstadoMaior do Exército, General Pinto Ramalho,
dava entrada na parada onde as forças prestaram as honras militares
regulamentares.
• Depois da integração do Estandarte
Nacional seguiu-se a cerimónia de
homenagem aos mortos que é um
dos momentos mais significativos
de qualquer cerimónia militar. Neste
contexto, foi acendida a lamparina
prostada em frente a D. Nuno Alvares
Pereira.
Seguiu-se a alocução do Exmo.
Comandante da EPI a qual se
transcreve:
12
Nº 190 DEZ10
Exmo. Senhor Presidente da
Câmara Municipal de Mafra
Na sua pessoa saúdo todos os autarcas particular o Exmo. Presidente da Câmara Municipal
de Sobral de Monte Agraço materializando a profícua ligação da Instituição Militar a sociedade as
forças-vivas e aos cidadãos com resultados mútuos de inegável eficácia corolário de uma leal e sã
cooperação.
Exmo. Senhor Tenente-General
Director‑Honorário da Arma de Infantaria.
Meu General
Muito nos apraz contar com o nosso
Director‑Honorário neste dia tão especial para a
Infantaria consubstanciando o apoio inequívoco
que sempre disponibilizou nos momentos de maior
significado e importância para a Arma. Na sua pessoa saúdo os antigos Directores da Arma os antigos Comandantes da Escola e Comandantes das
AZIMUTE
Exmo. Senhor General Chefe
do Estado-Maior do Exercito,
Excelência,
A presença do Comandante do
Exercito presidindo a este cerimonial
de grande importância e significado
para os infantes em particular para
todos quantos servem na Casa-mãe
e motivo de subida honra e orgulho
que interpretamos como um sinal de
confiança e um forte estimulo para
continuarmos a cumpri com excelência a exigente e relevante missão
de formação a responsabilidade da
Escola Pratica de Infantaria
Unidades de Infantaria e todos os Infantes que,
aquém e além-fronteiras têm dado um inestimável
contributo para o cumprimento dos superiores desígnios do País
Exmo. Senhor Tenente-General Comandante
do Pessoa
Exmo. Senhor Tenente-General 2°
Comandante da Guarda Nacional Republicana
Exmo. Senhor Tenente-General Inspector-Geral
do Exército
Exmo. Senhor Tenente-General Comandante
das Forças Terrestres
Registamos com apreço a distinção com que os
meus Generais nos quiseram honrar ao associarem-se a esta cerimonia que interpretamos não só pela importância
e transversalidade da formação
mas também pelo espírito aglutinador da Arma. Uma saudação
especial para todos os infantes
que prestam serviço na GNR congratulando-nos pela forma muito
activa e empenhada como participaram nas actividades comemorativas do Dia da Arma.
Exmo. Senhor
Tenente‑General Comandante
da Instrução e Doutrina do
Exército,
Meu Comandante,
Assinalamos com satisfação a
presença do nosso Comandante hierárquico, determinante na definição superior de orientações
e critérios de rigor e de sucesso, mas também o
garante dos recursos adequados ao cumprimento
das missões atribuídas, conferindo-nos a indispensável serenidade e confiança no futuro.
Nº 190 DEZ10
13
AZIMUTE
Exmo. Senhor Major-General Director de
Formação,
Meu General,
Expressamos o nosso muito apreço pela
sua presença, que simboliza o reconhecimento da importância que confere à formação, bem
como o apoio prestado pelo escalão superior em
prol do cumprimento da nossa missão permitindo
a adopção de um caminho formativo com elevados
níveis de qualidade.
Exmos. Srs. Oficiais-Generais,
Ilustres Autoridades e Entidades convidadas,
Minhas Senhoras e Meus Senhores,
Infantes,
Celebramos hoje o Dia da Arma de Infantaria
e da sua Escola Prática, marcado por uma das
mais brilhantes vitórias das forças militares
portuguesas sobre as castelhanas, há precisamente 625 anos em Aljubarrota, garantindo a
preservação da independência e a soberania do
Reino, permitindo a afirmação do Portugal que
hoje somos.
Comemoramos igualmente os 650 anos do
nascimento do Condestável, insigne e valoroso
Chefe Militar que, de forma inexcedível, conduziu os nossos soldados ao sucesso. Com todo
o mérito, é D. Nuno Álvares Pereira o Patrono
da nossa Arma, motivo de grande orgulho e
inspiração.
Criada no reinado de D. Luís 1, por Carta de
Lei de 22 de Agosto de 1887, a Escola Prática de
Infantaria, escola secular, de conhecimento e de
saber, de saber fazer, foi objecto de várias reorganizações e designações ao longo do seu historial,
14
Nº 190 DEZ10
mantendo a actual configuração desde 1926,tendo
como missão principal a formação de quadros e
tropas.
Neste contexto, presto justa homenagem a todos os meus antecessores, que trilharam o caminho para a afirmação de uma Escola vanguardista
do seu tempo, a d a p t a d a e a d a p t á v e l a o s s u cessivos processos de
t r a n s f o r m a ç ã o , e , simultaneamente, uma Escola
guardiã das suas idiossincrasias, das suas tradições e valores, conferindo às muitas gerações
de
infantes
as
competências técnicas e morais indispensáveis ao mais
eficaz desempenho das suas
funções.
Este ano, sob o lema
“Consolidação e Renovação”,
cumpriu-se mais um ciclo de
intensa actividade, de importantes desafios, aos quais a
Escola tão bem soube dar
resposta, numa demonstração inequívoca de “Saber
Fazer” em proveito da formação, da investigação e doutrina, do apoio
à política externa do Estado, da divulgação e
abertura ao exterior, das missões de interesse público, e das tradições da Arma de Infantaria.
No âmbito da formação, a Escola foi este ano
responsável por 46 acções de formação, de 15 tipos diferenciados, num total de cerca de 1400
formandos
Como elemento inovador, refira-se o novo modelo do Curso de Promoção a Capitão, em que os
próximos capitães das Armas e Serviços, Serviços
Técnicos e Serviço de Saúde do Exército, frequentaram a parte comum do curso na EPI pela
primeira vez, em conjunto, com uma geometria temporal variável, indo ao encontro das especificidades
de cada um.
Por outro lado, como corolário da implementação
do processo de Bolonha e da identificação de lições aprendidas nos tirocínios mais recentes,
foi proposto superiormente um novo curso de
apoio de combate conferindo aos subalternos de
Infantaria as competências necessárias ao desempenho proficiente das funções de Comandante dos
Pelotões de Reconhecimento, Anti-carro e Morteiros
Pesados. Como consequência, já se encontra em
processo de revisão o referencial do TPOI, por forma a reforçar a formação daqueles subalternos, nomeadamente em áreas como a contra-subversão, o
ção do primeiro manual de táctica para Unidades
equipadas com a Viatura Blindada de Rodas
PANDUR, de escalão Pelotão e Secção, projecto que contou com a preciosa colaboração da
Brigada de Intervenção, em particular do RI 13,RI
14 e RC 6,estando em curso os trabalhos relativos ao manual de Companhia sob a orientação
da Direcção de Doutrina do CID.
No que concerne ao combate em áreas edificadas, registe-se a elaboração de uma nova publicação táctica e de um projecto para a criação
de um Centro de Excelência de Combate em
Áreas Edificadas, potencializando as capacidades instaladas na Escola, tal como consignado na
“Directiva para o Biénio 2010/2011”.
No quadro do contributo do Exército para a
execução da política externa do Estado, destaque-se a sua participação na operação “EUTM
SOMÁLIA”, sob os auspícios da União Europeia,
tirando partido do nicho de conhecimento específico prevalecente na EPI, permitindo a afirmação
internacional de Portugal como Lead Nation do
módulo de formação de combate em áreas edificadas, a ministrar no Uganda a cerca de 2000
Oficiais, Sargentos e Praças somalis, ao longo de um
ano. À Escola foi atribuída a responsabilidade
pelo aprontamento do módulo de 13 formadores
militares, o qual se encontra presentemente no pleno
cumprimento da sua missão no teatro de operações,
num significativo contributo nacional para a paz, a
estabilidade e a segurança internacionais.
Salientem-se igualmente as acções executadas no âmbito da cooperação militar com países
de expressão portuguesa, contribuindo para o reforço mútuo dos laços históricos, culturais e afectivos, acções essas materializadas na frequência de
cursos ministrados na EPI, como o de Promoção
a Capitão, do Tirocínio para Oficial, e do Curso
Elementar de Combate em Áreas Edificadas por 10
oficiais oriundos de Cabo-Verde, Guiné,
S. Tomé e Príncipe e Timor-Leste.
Ainda neste âmbito, mencione-se a
participação activa de 31 militares da EPI
em missões internacionais, designadamente no Quartel-General da ISAF,
no Afeganistão no Quartel-General da
Operação da EUTM, em Bruxelas, num
Grupo de Trabalho da União Europeia e
em dois da NATO, num dos quais, o “Urban
Operations Working Group”, a Escola se
constituiu como anfitriã de uma reunião realizada em Abril deste ano, para além dos
projectos de cooperação técnico-militar em
que foram formados cerca de 1200 militares em Angola, Moçambique, S. Tomé e
Príncipe e Timor-Leste.
No que respeita às actividades de divulgação
e de abertura ao exterior, merecem realce as cerca de 11 000 pessoas que visitaram o património
histórico residente na Escola, das mais diversas
instituições e organizações, nacionais e estrangeiras, provenientes de 24 países. Igualmente
ilustrativo são os 3300 militares que utilizaram as
infra-estruturas de Tiro e de Combate em Áreas
Edificadas, dos estabelecimentos de ensino e
de unidades da força operacional do Exército,
da GNR, e do Corpo de Fuzileiros, entre muitas
outras entidades, de que são exemplo as delegações da Alemanha, Estados-Unidos, Holanda e
Reino Unido presentemente no quartel-general da
NATO, em Oeiras.
Reforçando a visibilidade e a imagem pública do Exército e da Infantaria, das muitas acções
conduzidas saliente-se a cerimónia do Juramento
de Bandeira mais uma vez realizado na Vila da
Ericeira, permitindo uma maior proximidade com
a população e uma presença mais efectiva da instituição militar junto da sociedade, constituindo-se,
inclusive, num factor potenciador da atracção de recursos humanos para as fileiras.
Por outro lado, num período em que se
Nº 190 DEZ10
AZIMUTE
C-IED, e o Direito Internacional Humanitário e dos
Conflitos Armados.
Sendo uma entidade certificada pela Agência
Nacional para a Qualificação, desde o ano de
2004,foi submetido à apreciação superior o dossier
de renovação da Acreditação da Escola, factor indutor de credibilidade e prestígio acrescidos pelo
reconhecimento da qualidade e da excelência
das metodologias e dos processos formativos
adoptados.
No que respeita à investigação, doutrina e
estudos técnicos, para além de uma publicação
doutrinária sobre Morteiros, sublinhe-se a elabora-
15
AZIMUTE
registam os 200 anos da Guerra Peninsular,
sublinhe-se a meritória acção do “Pelotão 1810”,
conferindo brilho e lustre a inúmeros eventos comemorativos promovidos pelo Exército e pela
Plataforma Intermunicipal para as Linhas de Torres,
a nível nacional e loca, designadamente na inauguração do Forte do Juncai o então reduto militar
n°77, localizado na Tapada Militar. Parte integrante
da 2a Linha de fortificações, este foi um projecto que
se inseriu numa perspectiva alargada de recuperação e de requalificação, de valorização e de divulgação do importante legado histórico militar cultural
subjacente às Linhas de Torres Vedras e que contou
com o inestimável apoio dos parceiros que integram
a Plataforma Municipal para estas Linhas.
Estas foram realizações de considerável projecção, que congregaram o esforço e as vontades
de diferentes entidades, e que espelham bem a
importância das relações entre a instituição militar
e a sociedade, sendo de realçar a estreita relação
de cooperação entre esta Unidade e a Câmara
Municipal de Mafra pugnando pela complementaridade colaborativa, por acções sinergéticas,
pragmáticas e empreendedoras em benefício da
população,
Esta é uma colaboração que se estende a muitos
outros domínios, como as missões de interesse público, que constituem um importante veículo de afirmação e de reconhecimento do Exército, tendo a Escola
vindo a desempenhar um papel activo e responsável,
realizando patrulhamentos motorizados diários, tendo em vista a mais eficaz prevenção dos incêndios
florestais, contribuindo para a preservação do bem
comum e da riqueza nacional.
Por fim, as actividades em prol da Arma promovidas pela “Casa- Mãe, de que se destacam o
presente cerimonial militar alusivo ao seu Dia comemorativo, as Patrulhas Nun’Álvares Pereira que este
ano contaram com a participação de mais de cem
militares, oriundos de 14 Unidades de Infantaria do
Exército, da GNR e do Corpo de Fuzileiros, e, por
último, mais uma edição das Jornadas de Infantaria,
promovendo a reflexão e o debate sobre a actuação das Pequenas Unidades de Infantaria em
ambiente de subversão e de contra- subversão, elemento incontornável da modernidade
operacional.
Deste modo procurámos honrar a história, as especificidades e as tradições da Arma, bem como
estimular o aprofundamento dos laços afectivos e a sã camaradagem entre todas as gerações de infantes.
Oficiais, Sargentos, Praças e Funcionários
Civis da Escola Prática de Infantaria,
16
Nº 190 DEZ10
Este foi um ano de intensa actividade mas
de inegáveis e visíveis resultados, em prol do
Exército e da Infantaria, muito se ficando a dever
ao valor, ao mérito, e à excelência dos Oficiais,
Sargentos, Praças e Funcionários Civis que servem na Escola Prática de Infantaria, seus pilares
perenes e estruturantes.
A todos reconhecidamente expresso o meu
agradecimento, pelo apoio incondicional dado à
Casa-Mãe durante o período em que tive o enorme
privilégio de a comandar, elevando e prestigiando
o seu lema “Saber Fazer”
Uma palavra de agradecimento muito especial
a todos os vossos familiares, pelo imprescindível
apoio de retaguarda, sem o qual não teria sido
possível tão elevados níveis de realização.
Exmo. Sr. General Chefe do Estado-Maior do
Exército, Excelência,
A Escola Prática de Infantaria tem vindo a
responder aos desafios da modernidade com a
excelência e o prestígio que, há longa data, lhe são
reconhecidos.
Pode o Comandante do Exército continuar a
contar com o extraordinário espírito de missão, a
atitude determinada e pró-activa de todos quantos
nela servem, garantes da continuidade na acção,
na busca permanente de novos paradigmas e de
elevados níveis de exigência e de qualidade, em
prol do Exército, cumprindo Portugal.
AD UNUM!
Seguiu-se
a
alocução
do
Exmo.
Director‑Honorário da Arma de Infantaria e ViceChefe do Estado-Maior do Exército, TGen Mário
de Oliveira Cardoso, tendo proferido a seguinte
alocução:
Exmo. Senhor General Chefe do Estado
Maior do Exército
Meu General Chefe
Exmo Senhor Deputado à Assembleia da
República
Cor Inf Marques Júnior
A sua habitual presença na nossa Escola e
neste particular dia festivo do 14 de Agosto é para
nós, sempre, um motivo de alegria por significar
que, passados que são já alguns anos, sobre a
vida activa de militar, o continua a mover o gosto
de estar entre nós e creio poder afirmar sem receio
de me enganar, é a forma que encontra discreta
mas afirmativa, para homenagear a grandeza desta Unidade demonstrada em tantas e tão variadas
situações.
Faz V. Ex.ª questão em presidir às celebrações
Exmas. Autoridades Civis e
Militares aqui presentes
A todos saudamos neste Dia da
Infantaria Portuguesa, o sempre renovado 14 de
Agosto, em que procuramos reafirmar o espírito
dos que em Aljubarrota, em 1385 lutaram para consolidar a existência de Portugal.
A razão de ser dos Soldados é a defesa das
suas gentes e da sua terra, dos interesses do seu
País.
A Autarquia é a expressão de autoridade democrática mais perto do povo.
A natureza do relacionamento entre os eleitos
locais e a Instituição Militar é sem dúvida um forte indicador da efectiva ligação do povo com as
suas Forças Armadas, tantas vezes posta à prova
na nossa história, passada e recente; tantas vezes
reconhecida como indispensável para prosseguir o
nosso destino colectivo.
Nós regozijamo-nos da excelência do nosso relacionamento com a edilidade de Mafra, por isso
damos conta de como gostamos de aqui estar e
de partilharmos os vossos anseios de progresso,
manifestando a nossa vontade em colaborar.
Por isso cumprimentamos o Exmo. Presidente
da Câmara Municipal de Mafra e demais entidades
autárquicas presentes.
Aos camaradas militares que nos honram com a
sua presença e a todos quantos representam, expressamos a nossa satisfação por se terem juntado
à Infantaria neste dia de grande significado para a
Arma.
Na simplicidade da sua génese a Infantaria tem
consciência de estar presente em todas as outras
componentes do Exército.
Não nos sentimos menos próprios de identidade
por isso nem muito menos vaidosos.
Sabemos que constituímos nos dias de hoje, a
base dos Exércitos, mas estamos perfeitamente
conscientes de que só uma actuação concertada
de todos os sistemas de armas permite alcançar os
objectivos que nos são marcados.
Daí que seja necessário que todos disponhamos deste espírito colectivo de servir,
AZIMUTE
dos dias das Escolas Práticas das Armas e dos
Serviços do nosso Exército, o que demonstra o seu
reconhecimento pelo muito labor que nelas se faz
e da sua importância na formação dos Quadros e
Praças do Exército.
A sua vinda hoje aqui a Mafra à Casa Mãe da
Infantaria, é então de facto uma repetição, mas em
substância ela é mais um estímulo aos Infantes
para que tenham alento na sua já longa e sempre
inacabada marcha.
Todos os Infantes se sentem orgulhosos de o ter entre nós neste dia e é
através de V. Ex.ª como Comandante
do Exército que queremos saudar as
outras Armas e Serviços e dar-lhes
conta de que sabemos que só com
um forte espírito de unidade e de coesão seremos capazes de ajudar o
Exército a cumprir as suas importantes
missões.
Tem V. Ex.ª a garantia de que a
Infantaria continuará a ser o que sempre foi, forte, disciplinada, disponível e
leal.
complementando-nos.
A Infantaria tudo fará para que os seus Quadros
e Soldados compreendam em todas as circunstâncias que são uma parte do Exército e que é daí
que resulta o seu orgulho em serem o que são ¾
Infantes.
Uma saudação muito especial é devida neste
dia a todos os Camaradas, Infantes ou não, que
servem fora de Portugal no cumprimento de missões tão importantes para a paz e estabilidade.
Fazemo-lo com um abraço de amizade e confiança de que, cumprindo como até aqui, estão a
honrar a nossa farda, o nosso Exército e o nosso
País.
Soldados
Sempre que entramos na nossa Escola Prática
passamos, na Alameda, ao lado de uma expressão
escultural do Soldado de Infantaria Português, da
autoria do Mestre João Cutileiro.
Retrata-se nessa magnífica obra de arte o
Infante de três épocas fundamentais para a existência do Portugal que somos.
- O Infante de Atoleiros, Trancoso, Aljubarrota,
que não só garantiu a independência de Portugal
como a afirmou em toda a sua plenitude na
Península Ibérica.
- O Infante da Guerra Peninsular de Almeida,
Buçaco, das Linhas de Torres, de Vitória, dos
Pirenéus, que numa Europa dilacerada pela guerra e pela tentativa de domínio pela força de um
Nº 190 DEZ10
17
AZIMUTE
Império soube sofrer, resistir, lutar de tal forma
que nunca o seu Rei se viu sujeito ao domínio do
Imperador invasor.
- O Infante das picadas de Angola, das chanas
de Moçambique, das bolanhas da Guiné que com
estoicismo, sacrifício, coragem deu tudo o que tinha e o que não tinha, como foi a liberdade democrática do 25 de Abril.
Em qualquer destes grandiosos momentos históricos encontramos razão para a nossa alma se engrandecer com o orgulho de sermos Portugueses,
Soldados e Infantes.
Todos os anos evocamos a figura do nosso
Patrono, D. Nuno Álvares Pereira, os seus feitos
mas também o seu legado de virtudes e coragem.
Fá-lo-emos outra vez noutra altura.
Assim como certamente o faremos acerca da
nossa história recente das guerras do Ultramar.
Assim como estou certo, teremos oportunidades
e sentiremos a necessidade de acrescentar a este
monumento a referência do Soldado da Bósnia, do
Kosovo, de Timor, do Afeganistão.
Mas demos ênfase hoje e porque se comemora
o bi-centenário da 3ª Invasão Francesa aos soldados da altura.
Particularmente aqui, em Mafra, perto do Forte
do Juncal, no meio da 2ª linha de fortificação de defesa de Lisboa, nas famosas e conhecidas Linhas
de Torres Vedras, onde Napoleão foi derrotado
sem ser necessário lutar ¾ o que representa a expressão mais eloquente da arte da guerra
As Invasões Francesas, ou Guerra Peninsular
como também são designadas e que conduziram
a sucessivas batalhas entre os anos de 1807 e
1814 são hoje vistas, para além de factos de natu-
reza histórica e objectivos, como um emaranhado
de intenções que nem sempre pareceram claras e
perceptíveis tendo originado comportamentos dispares e por vezes até contraditórios.
As Invasões Francesas puseram em causa:
18
Nº 190 DEZ10
- A integridade física de Portugal quando o seu
território de aqui e de além-mar foi proposto para
partilha entre a França e a Espanha.
As Invasões Francesas puseram em causa:
- A compreensão da estratégia real ao deixar o
seu País e a sua gente sós face ao invasor quando
afinal o Rei deste pequeno País mais a Oeste da
Europa foi o único soberano a não ser submetido à
autoridade do Imperador.
As Invasões Francesas puseram em causa:
- Os ideais de fraternidade, igualdade, liberdade,
anunciados como bandeiras do invasor e também
ambicionadas pelos portugueses, mas que cedo se
viu que nada tinham a ver com o comportamento
daqueles que as apregoavam.
As Invasões Francesas provocaram:
- A ruptura na confiança entre governantes e
governados.
- O desmembrar do único defensor institucional
do Reino, o seu Exército para que não pudesse
enquadrar qualquer resistência ou que se viu enviado para longe das suas fronteiras, o que fez a
designada Legião Portuguesa que às ordens de
Napoleão, e com valor, chegou até às longínquas
portas de Moscovo.
As Invasões Francesas provocaram o valor dos
compromissos assumidos:
- Aceitamos não cumprir alianças estabelecidas.
- Submetemo-nos a elas.
- Vimo-nos traídos por elas.
Lutamos contra invasores, aliados e nós
próprios.
Fomos bisonhos como nos chamavam mas fomos nós e só assim fomos capazes de sobreviver
como nação soberana.
Em
todas
elas,
Invasões
Francesas, é possível encontrar contudo um denominador comum:
- A existência de uma vontade
colectiva própria, diferenciada, que
soube afirmar a sua individualidade.
- O carácter de um povo, a sua
personalidade própria que veio ao
de cima quando se viu confrontado
com situações tão desafiadoras que
provocaram forte reacção quando, a
disparidade dos meios em confronto
poderiam ter aconselhado a passividade por incapacidade ou resignação, como aconteceu com muitos
outros povos da Europa.
- Não o fizemos sozinhos, é certo.
Na altura, como em muitas outras
situações da nossa história a defesa
do nosso país foi resultado de uma acção multinacional onde a Velha Aliança ango lusa desempenhou papel fundamental.
É a Beresford e a Wellington que se deve a reorganização do Exército que havia sido desmembrado
Daí que neste dia ao evocarmo-lo de outra forma estamos ainda a celebrar o testamento que
Aljubarrota e D. Nuno Álvares Pereira nos legou.
Daí que como todos os Portugueses os Infantes
se sintam orgulhosos daquilo que são.
E os Infantes são hoje parte activa de um
Exército moderno, ambicioso, sabedor da sua importância na segurança e defesa do País.
A história que hoje evocamos é mais um episódio do nosso já longo percurso como Nação.
É também a evidência de que só com a
existência de um Exército coeso, disciplinado,
treinado, equipado, eficiente e interprete de um
saudável sentido patriótico é possível vencer crises
ou ambições veladas de estranhos.
E é isso o que o nosso Exército é nos dias de
hoje!
A Infantaria é inequivocamente parte fundamental desse Exército.
Esta Escola é fiel intérprete da criação desse
espírito de servir, de honestidade, de honra, de luta
pelo bem comum e reafirma publicamente que é
esse o farol que orienta a sua acção.
Ao vitoriarmos hoje a Arma de Infantaria vitoriamos o nosso Exército e gritamos como sempre
o nosso lema de “Até ao Último” para que viva
Portugal.
O Exmo. MGen Rovisco Duarte Chefe de
Gabinete do GEN CEME leu, seguidamente, a
mensagem de Sua Ex.ª O Chefe do Estado-Maior
do Exército General José Luís Pinto Ramalho.
AZIMUTE
e desmobilizado; e é justo reconhecê-lo.
Mas é também à acção das guerrilhas, essas
bem genuínas, bem portuguesas, produto da raça
e da terra que cortando as comunicações, dificultavam o abastecimento do inimigo, isolavam-no
quando se concentrava, batendo-o em separado
mal se dispersava.
É à visão estratégica de Wellington que se deve
o desenho da defesa de Lisboa nesta famosa obra
de fortificação que constitui as Linhas de Torres.
Mas foi o esforço anónimo do povo português,
homens e mulheres, que permitiu, com sacrifícios
enormes e pouco conhecidos levantar em poucos
meses e em absoluto segredo o famoso sistema
defensivo que constitui as Linhas de Torres onde
o Império Francês foi detido, e a partir do qual
começou a desenhar-se a manobra ofensiva que,
de vez, varreu do solo da Península os exércitos
franceses de ocupação.
Foi este também o espírito de Aljubarrota;
Oficiais, Sargentos e Praças da Arma de
Infantaria
Militares e Funcionários Civis da Escola
Prática de Infantaria
É com satisfação que o Comandante do Exército
se associa às comemorações do Dia da Arma de
Infantaria e da sua Escola Prática, prestando justa
e devida homenagem a todos os
militares e civis que, com relevante
sentido do dever, brio e elevado
profissionalismo, servem, na Arma
de Infantaria, Portugal e o Exército.
A História de Portugal regista, de forma indelével, a nobre e
constante afirmação dos feitos
gloriosos do nosso Exército, onde
a sublime e valorosa actuação da
Infantaria tantas vezes se confunde com os próprios feitos. De entre eles, evocamos hoje a tarde de
14 de Agosto de 1385, e homenageamos, com sentido orgulho,
toda uma gesta de valorosos soldados que naquele dia reafirmaram Portugal, sob a liderança de
um dos maiores vultos da nossa
História Militar, D. Nuno Álvares Pereira, Patrono da
Arma de Infantaria.
Aos Infantes de hoje, reafirmo a minha total confiança, certo de que, honrando o passado, reconhecemos a vossa dedicação, competência e elevado
espírito de bem servir, garante do cabal cumprimento das missões cometidas à Infantaria e ao Exército.
Face aos desafios da conflitualidade actual e
às complexas e exigentes missões que, cada vez
mais, nos confrontamos, as Unidades de Infantaria
continuarão a afirmar-se como sólido pilar na edificação de um Exército mais moderno e flexível, com
padrões de exigência sempre mais elevados, transmitindo uma imagem de força credível e que responda eficazmente às solicitações que o país lhe
exige, e que a história o habituou a ver cumpridas.
Militares e Funcionários Civis da Escola
Prática de Infantaria
O valor do Infante repousa, em boa parte, na
Nº 190 DEZ10
19
AZIMUTE
20
sua Escola Prática. O elevado profissionalismo e
a competência com que têm sabido desenvolver a
vossa profícua acção em prol da formação e valorização dos quadros e tropas da Arma de Infantaria,
patentes não só no elevado desempenho individual
dos militares de infantaria, como, colectivamente,
no reconhecimento unânime e devido às Unidades
de Infantaria em geral, nomeadamente quando empregues em missões de apoio à política externa do
Estado, são o merecido tributo ao esforço e exemplar devoção de todos quantos servem nesta Casamãe da Infantaria.
Nesse sentido, o Comandante do Exército não
pode deixar de relevar todo o trabalho implementado no âmbito da qualificação e certificação da formação, constituindo a Escola Prática de Infantaria,
por mérito próprio, uma referência a nível nacional
e um exemplo das melhores práticas internacionais
nesta matéria, demonstrando inovação e inquestionável capacidade de adaptação à mudança.
No quadro da doutrina e estudos técnicos, dirijo uma palavra de reconhecimento e incentivo pelos trabalhos desenvolvidos no âmbito da doutrina
de emprego das pequenas unidades de Infantaria
equipadas com as novas viaturas PANDUR, e pela
execução do projecto para o Centro de Excelência
de Combate em Áreas Edificadas, marcos importantes de uma modernização que se afirma.
No âmbito das missões no exterior, o
Comandante do Exército regista a participação da
Escola Prática de Infantaria em diversos projectos
de Cooperação Técnico-Militar em Angola, S. Tomé
e Principe e Timor-Leste, contribuindo para o desenvolvimento, progresso e bem-estar destes países lusófonos, e sublinha a forma pronta e eficiente
como, muito recentemente, assumiram a responsabilidade pelo aprontamento do módulo de formação
de combate em áreas edificadas, já projectado para
o Uganda, o qual, durante o período de um ano,
irá ministrar formação a cerca de dois mil militares
da Somália, integrado na missão da União Europeia
“EUTM Somalia – European Union Training Mission
Somalia”.
Nesta oportunidade, dirijo uma palavra de particular apreço, estima e incentivo a todos os militares da Arma de Infantaria que, fora do território nacional e nos mais diversos Teatros de Operações,
cumprem com abnegada dedicação e assinalável
desempenho as exigentes missões que lhes estão
confiadas, contribuindo, de forma decisiva, para
o reconhecimento e prestigio internacionais do
Nº 190 DEZ10
Exército e de Portugal.
Oficiais, Sargentos e Praças da Arma de
Infantaria
Militares e Funcionários Civis da Escola
Prática de Infantaria
A inabalável firmeza, o forte sentido de missão
e espírito de bem servir que a todos anima, constituem fundamento bastante de uma sólida confiança
na nossa capacidade de afirmação, sabendo que,
comungando dos mesmo princípios, saberemos em
cada momento encontrar as soluções mais adequadas aos desafios da actual conjuntura.
O Comandante do Exército reconhece o esforço e a dedicação de quantos servem na Arma de
Infantaria e na sua Escola Prática, consciente da
sua capacidade, espírito de sacrifício, dinamismo e
criatividade, na procura permanente da excelência,
contributos essenciais para a construção de uma
força moderna e credível, pronta a actuar em todo
o espectro da conflitualidade actual, onde e quando determinado, na defesa dos superiores interesses nacionais, honrando o Exército ao serviço de
Portugal.
A culminar o cerimonial militar, uma equipa dos
Falcões Negros da ETAT fez uma demonstração de
saltos de pára-quedas sobre o terreiro D. João V
transportando as bandeiras de S. Jorge; da Arma
de Infantaria; do Exército e a Bandeira Nacional perante os inúmeros populares que assistiam ás cerimónias e que foram brindados ainda com a passagem em voo rasante da nova aeronave C- que tinha
acabado de largar os pára-quedistas. Terminada
esta demonstração os convidados deram entrada
no claustro sul do convento em direcção ao Museu
da Infantaria onde assistiram a uma recriação histórica a cargo do grupo de Sto António do Tojal envolvendo alguns militares da EPI e que retrataram
a actuação do povo português durante as invasões
francesas em especial as emboscadas que faziam
aos soldados de Napoleão.
As comemorações do Dia da Arma e da Sua
Escola Prática pela forma como decorreram, pelas
palavras de felicitações dos Infantes e ilustres convidados e participantes constituíram um sucesso,
para regozijo de todos os militares que preparam
e levaram a cabo as actividades referentes ás comemorações, constituindo para a dignificação da
Infantaria e do Exército. “ È dever da EPI saber
fazer”
Azimute
“Guerras Peninsulares: o Engenho Militar e o Valor do Povo
Português”
TCor Inf Francisco Rijo
Comemorando o Exército neste ano de 2010 o Bicentenário das
Guerras Peninsulares e tendo em
conta a contextualização da Vila
de Mafra e do seu Convento não
só no panorama geográfico mas
também no rol dos acontecimentos de então, não podia a Escola
Prática de Infantaria deixar de ficar tentada a desenvolver a exposição do dia da Arma de Infantaria
e da sua Escola em torno desta
temática, corolário também da intensa participação da EPI durante
o ano em vários eventos com o já
conhecido “Pelotão 1810”.
No âmbito da Plataforma
Intermunicipal para as Linhas de
Torres (PILT), cujos principais objectivos são a gestão integrada do
conjunto patrimonial das denominadas Linhas de Torres e da qual
a EPI é membro, têm sido várias
as iniciativas de recuperação do
património defensivo das Linhas
de Torres durante o corrente ano,
enaltecendo-se assim o valor
destas linhas como factor determinante no sucesso aliado contra
o invasor.
É assim lançado o mote para a
temática da exposição. Se por um
lado o valor intrínseco das linhas
merece todo destaque e relevo
pelos aspectos que se detêm com
a sua construção
e pela sua relação
custo-eficácia,
por outro lado há
que enaltecer o
valor, tenacidade
e determinação
do povo, que em
condições
precárias, fruto dos
tempos austeros
que então se impunham,
levou
a cabo tamanha
empresa. Surge então
um tema: “As Guerras
Peninsulares – O
Engenho Militar e
o Valor do Povo
Português”.
A
exposição
apoiou-se no acervo
documental/museológico de várias entidades tais como o
Instituto Geográfico
do Exército, a Direcção de Infraestruturas do Exército, Associação
N a p o l e ó n i c a
Portuguesa,
a
Câmara Municipal de
Mafra, tendo ainda
contado com a colecção miniaturizada
de militares e equipamentos da época do
Professor Rui Sousa,
da Escola Secundária
José Saramago.
AZIMUTE
Exposição 14 Agosto
A exposição foi articulada em
três espaços, cada espaço subordinado a um sub-tema, como
a seguir se indica:
“As Vésperas das Invasões”,
sita na Sala de Honra da
Infantaria. Esta sala continha
um vasto conjunto de roll-ups representativos da cartografia da
época e que se revelou crucial
para a construção das linhas defensivas, sendo a sua posse cobiçada pelos demais contendores. Esta sala continha ainda um
conjunto de informação, escrita
e videográfica, explicativa das
razões e contornos das Guerras
Peninsulares, em particular
Nº 190 DEZ10
21
AZIMUTE
da 3ª Invasão sobre Portugal,
em 1810, comandada pelo
General Massena. Ainda nesta
sala uma maqueta de Portugal
Continental, ocupando o centro,
esboçava iconograficamente o
percurso da dita invasão e os
principais incidentes que a marcaram. Esta sala foi organizada
pelo Sargento-Chefe Manecas
Miranda, da EPI.
“Os Soldados”, sita no
Corredor da Nacionalidade. Três
painéis, cada um deles dedicado
a cada uma das nações interve-
nientes na Campanha – Portugal,
Inglaterra e França. Manequins
envergando a rigor os uniformes
característicos de cada um dos
Exércitos beligerantes, armamento, equipamento, notas explicativas sobre detalhes diversos
respeitantes ao municiamento
das armas e vida em campanha,
entre muitos outros, encheram
os painéis num manancial de
informação, acessível e simples
mas elucidativa. Esta sala foi organizada pelo Major Ribeiro de
Faria, da EPI.
“As Fortificações”, sita na
Sala do Capítulo (vulgo Sala
Elíptica). Cinco maquetas das
fortificações de Forte do Cego
- Arruda dos Vinhos, Forte do
juncal - Tapada de Mafra, Forte
do Zambujal – Mafra, Forte do
Alqueidão - Sobral de Monte
22
Nº 190 DEZ10
Agraço e Forte da Sª do Socorro
com implantação do sistema de
comunicações, ladeavam a sala
tendo ao fundo, aos pés da estátua do Santo Condestável, a maqueta com a representação das
três linhas. No rol de maquetas
insere-se ainda um modelo miniaturizado do telégrafo, artigo
gentilmente cedido para a exposição pela Câmara Municipal de
Mafra. Ao centro, uma mesa de
grandes proporções contendo
as miniaturas do Professor Rui
Sousa, numa profusão multicolor
e preciosamente detalhadas. Esta sala
foi organizada pelo
Te n e n t e - C o r o n e l
Álvaro Campeão, da
EPI e Professor Rui
Sousa.
Contudo a inauguração da exposição não se cingiu ao
conteúdo
descrito
para cada uma das
salas. Contou ainda
a EPI com a prestimosa e artística colaboração de
duas outras entidades: o Grupo
Recreativo “O Magote”, de Sto.
António do Tojal, e o Grupo Coral
de Mafra. O grupo “O Magote”,
especializado em representações cénicas do período das Guerras
Peninsulares, abriu a
exposição com uma brilhante teatralização nos
Claustros Sul do Convento,
alusiva ao papel desempenhado pelo Povo Português
e às Milícias durante as
Invasões Francesas, no
que concerne à luta de
desgaste e guerrilha. À
entrada de Sua Exª o
Gen CEME na Sala do
Capítulo, O Grupo Coral
de Mafra, que ali se encontrava, entoou o Hino
da EPI seguido de mais duas
obras do seu repertório vocal,
emprestando assim ao evento
um ar mais galhardo e festivo.
É ainda de realçar que durante a inauguração da exposição estiveram presentes alguns
figurantes, todos eles militares
da EPI, juntamente com os membros d’ “O Magote” que fizeram
questão de se misturar com os
convidados, trazendo ainda mais
animação e colorido ao evento.
Nas várias salas foram tecidas
considerações e fornecidas explicações sobre o acervo exposto, sendo aqui de justiça realçar
a prestimosa colaboração do
Tenente-Coronel Berger da DIE,
Major Ribeiro de Faria da EPI e
do Professor Rui Sousa da Escola
Secundária José Saramago.
Esta exposição, inaugurada
no dia 14 de Agosto, foi patenteada ao público geral até 22 de
Agosto, tendo contado com um
total de 1186 visitantes, não
contabilizando as visitas
do dia da inauguração.
Azimute
Decorreram durante os dias 26, 27 e 28 de
Julho, na Tapada Militar de Mafra e seus arredores, as provas relativas à tradicional Patrulha Nuno
Álvares Pereira.
Organizada pela Escola Prática de Infantaria,
esta prova que teve como objectivo primordial o
estabelecimento de relações de camaradagem
entre as unidades de Infantaria que, naturalmente
comungam dos valores e virtudes testemunhados
pelo Patrono da Arma, procurou, através das várias
provas que a compuseram, reforçar a capacidade
de liderança, decisão e iniciativa ao nível de pequenas unidades de combate (das Forças Armadas ou
Forças de Segurança) e o desenvolvimento de aptidões psicofísicas em situações de grande desgaste
e adversidade física.
Competiram na prova deste ano patrulhas em
representação das seguintes unidades do Exercito,
da Marinha e das Forças de segurança:
• Escola Prática de Infantaria
• Escola De Tropas Pára-Quedistas
• Regimento De Infantaria 10
• Regimento De Infantaria 13
• Regimento De Infantaria 14
• Regimento De Infantaria 15
• Regimento De Infantaria 19
• Regimento De Guarnição 1
• Centro De Tropas Comando
• Centro De Tropas De Operações Especiais
• 1º Batalhão De Infantaria Mecanizado
• 2º Batalhão De Infantaria Mecanizado
• Corpo De Fuzileiros/Marinha
• Unidade De Intervenção/Guarda Nacional
Republicana
As actividades tiveram início na tarde de
26JUL10 com a cerimónia de Abertura, presidida
pelo Exmo. Comandante da EPI COR Inf João
Ormonde Mendes, precedida por uma brilhante
palestra, proferida pelo Exmo. COR Inf Américo
Henriques, alusiva à Batalha de Aljubarrota.
Na manhã de 27JUL10, teve lugar, dentro da
Tapada Militar a 1ª Prova que, realizada por estafeta a partir de um Ponto Central (Parada Leste), testou os Patrulheiros na execução das seguintes tarefas: Marcor, Pista Individual de Combate em Áreas
Edificadas no Centro de Formação e Treino de
Combate em Áreas Edificadas (CFTCAE) “Aldeia
de Camões”, Tiro com Espingarda Automática G3
com calibre reduzido, aos 25 m (Carreira de Tiro
N.º2), e Pista de Cordas (500m).
No dia seguinte, 18JUL10, as Patrulhas foram
testadas na execução de uma Prova Topográfica,
num percurso composto por treze pontos, com uma
distancia de cerca de 22000m, em que, para além
da orientação, as Patrulhas executaram provas de
identificação de material diverso, no âmbito de sapadores, nós e armamento, de avaliação de distâncias e de transporte de armamento (Metralhadora
Ligeira MG3).
No final da Prova, todas as Patrulhas tiveram
sucesso no cumprimento dos desafios que lhes
foram propostos demonstrando a elevada qualidade técnico-Profissional dos Oficiais, Sargentos e
Praças da Arma de Infantaria. No âmbito da classificação final, obtida através do somatório dos tempos obtidos nas duas fases da Prova, evidenciaram-se as Patrulhas que representaram a Escola
Prática de Infantaria, Unidade de Intervenção/
Guarda Nacional Republicana e Centro de Tropas
de Operações Especiais, 1º, 2º e 3º classificados,
respectivamente.
Ao final da tarde de 28JUL10, teve lugar no
Salão Nuno Álvares da EPI, a cerimónia de encerramento, presidida pelo Exmo. Comandante da EPI
Cor Inf João Ormonde Mendes, que fez a entrega
dos diplomas de Prova a todas as Patrulhas (os
prémios referentes aos primeiros 3 classificados,
será feita no âmbito das comemorações do dia da
Arma de Infantaria a 14AGO10)
No final do evento o Exmo. Comandante da EPI
COR Inf João Ormonde Mendes convidou todas as
Patrulhas a participar num jantar convívio na messe de Oficiais da EPI. Neste repasto ficou, uma vez
mais comprovado o sucesso da iniciativa, tendo as
Patrulhas aproveitado o momento para alicerçar
ainda mais os valores mais caros à infantaria, demonstrando ter desenvolvido entre si fortes laços
de camaradagem e espírito de corpo.
AZIMUTE
Patrulha D. Nuno Álvares Pereira 2010
Azimute
Nº 190 DEZ10
23
AZIMUTE
Candidatura do Edifício Real de Mafra e Tapada a
Património Mundial da UNESCO
Maj Inf Rocha e Silva
Generalidades
A 15 de Maio de 2010, as
várias entidades responsáveis
pela conservação do Convento
e Palácio de Mafra e Tapada assinaram um protocolo que criou
a unidade de missão com o objectivo de preparar a candidatura
daquele conjunto a património
mundial da UNESCO1.
O objectivo primordial desta
unidade de missão é valorizar
o conjunto Palácio, Basílica e
Tapada de modo a que seja possível convertê-lo em Património
mundial da Unesco contribuindo
deste modo para um incremento
da visibilidade externa da região
através do prestígio que aquela
classificação lhe confere.
Património Mundial da
UNESCO
1 Organização das Nações Unidas
para a Educação, Ciência e Cultura
(United Nations Educational, Scientific,
and Cultural Organization). Foi criada
em 1945, com a adopção do Acto
Constitutivo a 16 de Novembro. Tem
como principal objectivo contribuir para
a paz, desenvolvimento humano e
segurança no mundo, promovendo o
pluralismo, reconhecendo e conservando
a diversidade, promovendo a autonomia
e a participação na sociedade do
conhecimento.
24
Nº 190 DEZ10
A UNESCO considera na sua
Convenção para a Protecção
do
Património
Mundial,
2
Cultural e Natural como património cultural:
Os monumentos. – Obras arquitectónicas, de escultura ou de
pintura monumentais, elementos de estruturas de carácter arqueológico, inscrições, grutas e
grupos de elementos com valor
universal excepcional do ponto
de vista da história, da arte ou
da ciência;
Os conjuntos. – Grupos de
construções isoladas ou reunidos que, em virtude da sua arquitectura, unidade ou integração
na paisagem têm valor universal
excepcional do ponto de vista da
história, da arte ou da ciência;
Os locais de interesse. –
Obras do homem, ou obras
conjugadas do homem e da
natureza, e as zonas, incluindo
os locais de interesse arqueológico, com um valor universal
excepcional do ponto de vista
histórico, estético, etnológico ou
antropológico.
Na
mesma
convenção
são atribuídas aos estados
2 www.unesco.org
signatários um conjunto de responsabilidades no sentido assegurar a identificação, protecção, conservação, valorização e
transmissão às gerações futuras
do património cultural e natural
comprometendo-se a:
Adoptar uma política geral
que vise determinar uma função
ao património cultural e natural
na vida colectiva e integrar a
protecção do referido património
nos programas de planificação
geral;
Instituir no seu território, caso
não existam, um ou mais serviços de protecção, conservação e
valorização do património cultural e natural, com pessoal apropriado, e dispondo dos meios
que lhe permitam cumprir as tarefas que lhe sejam atribuídas;
Desenvolver os estudos e
as pesquisas científicas e técnica e aperfeiçoar os métodos de
intervenção que permitem a um
Estado enfrentar os perigos que
ameaçam o seu património cultural e natural;
Tomar as medidas jurídicas,
científicas, técnicas, administrativas e financeiras adequadas
para a identificação, protecção,
conservação, valorização e
A candidatura
O conjunto Palácio, Convento
e Tapada de Mafra são encarados como passíveis de ser
considerados como Património
mundial da UNESCO pelos seguintes motivos:
Representam uma Obraprima do génio criador humano;
Testemunham uma troca de
influências considerável durante
um dado período ou numa área
cultural determinada, sobre o
desenvolvimento da arquitectura, ou da tecnologia das artes
monumentais, da planificação
das cidades ou da criação de
paisagens.
Exemplo excepcional de um
tipo de construção ou de conjunto arquitectónico ou tecnológico
ou de paisagem ilustrando um
ou vários períodos significativos
da história humana.
Impacto para a Escola
O eventual reconhecimento
pela UNESCO do conjunto
Palácio, Convento e Tapada de
Mafra como Património Mundial
terá,
por
certo, um impacto
significativo
na
Escola Prática de
Infantaria,
uma
vez que a mesma utiliza parte
do conjunto que
Portugal apresenta como candidato.
No que respeita ao Convento,
sendo a Escola o
principal utilizador
da infra-estrutura
será de considerar que o mesmo, ao ser considerado como
património da humanidade deverá manter, tanto quanto possível a sua matriz original transformando-se assim como um
obstáculo a possíveis melhorias
das condições de trabalho e de
habitabilidade.
No que respeita à Tapada,
a utilização da mesma para
as actividades de cariz táctico
que hoje são levadas a cabo
na mesma não parecem colidir
com o reconhecimento da mesma como património Mundial na
medida em que nessas actividades estão previstas medidas que
contribuem para a preservação
da mesma. No entanto, no que
diz respeito à execução de actividades relativas à execução
AZIMUTE
restauro do referido património;
Favorecer a criação ou o desenvolvimento de centros nacionais ou regionais de formação
nos domínios da protecção, conservação e valorização do património cultural e natural e encorajar a pesquisa científica neste
domínio.
Escadas “La Lys”
de tiro e lançamento de granadas de mão será de prever a
adopção de medidas que vão
restringir a utilização daquelas
infra-estruturas.
Conclusões
Ao longo da já centenária
histria da nossa Escola muitas
foram as alterações das condições em que a mesma funcionou
tendo esta sempre conseguido
adaptar-se.
O eventual sucesso da candidatura trará, por certo, novos
desafios e novas regras que
a Escola saberá enfrentar de
modo a continuar a cumprir a
sua missão fazendo jus à sua divisa “Saber Fazer”.
Azimute
Palácio de Mafra
Nº 190 DEZ10
25
AZIMUTE
A Acreditação/Certificação da Qualidade da Formação
factor multiplicador da componente operacional
TCor Inf Mendes Dias
A Acreditação/Certificação consiste na validação e no reconhecimento formais da capacidade
de uma entidade para desenvolver actividades de
natureza formativa nos domínios e âmbitos de intervenção relativamente aos quais demonstre deter
competências, meios e recursos adequados - humanos, técnicos, instrumentais e ou materiais.
A Escola Prática de Infantaria (EPI), enquanto
entidade formadora Acreditada/Certificada, garante que os seus domínios de intervenção, ou seja
o conjunto das suas actividades, são articuladas
em torno de objectivos específicos ou parcelares,
associadas a cada uma das fases que constituem,
na sua globalidade, o processo formativo ou o ciclo de formação. Nestes objectivos estão envolvidos os diferentes e complementares subsistemas,
onde se agregam para fazer acontecer, a “escola
da formação” e a “escola regimental”.
Os domínios de intervenção/actividades
Fig.2 - Processo de Diagnóstico de necessidades de formação
Fig.1 – Processo Matricial do Referencial da Qualidade da Formação
26
Nº 190 DEZ10
AZIMUTE
desenvolvidos pelos diferentes subsistemas,
incluem:
• O diagnóstico de necessidades de formação
(Fig.2);
• O planeamento de intervenções ou actividades
formativas (Fig.3);
Fig.5 – Processo da execução/difusão das actividades
formativas
da actividade formativa ou facilitadoras do processo de socialização profissional;
• Planos de Intervenção, balanço de actividades
e planos de melhoria contínua obtidos através
da auto-avaliação (Fig.7);
Fig.3 – Processo de planeamento através da utilização de
bases de dados de pessoal, material e infra-estruturas
• A concepção de intervenções, programas, instrumentos e suportes formativos (Fig.4);
• A organização e a promoção das intervenções
ou actividades formativas;
Fig.4 – Processo da concepção de acções de formação
• O desenvolvimento (execução/difusão) de intervenções ou actividades formativas (Fig.5);
• O acompanhamento e a avaliação das intervenções ou actividades formativas (Fig.6);
• Outras formas de intervenção sócio-cultural ou
pedagógica, preparatórias ou complementares
A EPI, partir das capacidades instaladas, quer
no campo da Acreditação/Certificação da formação, onde combina processos e metodologias
para a obtenção das evidências qualitativas, quer
com o facto de possuir actualmente um Centro
de Formação e Treino de Combate em Áreas
Edificadas (CFTCAE), onde pretende consolidar
uma estrutura integrada de conhecimento, competências e infra-estruturas, que permitam desenvolver a doutrina, as técnicas, as tácticas e os procedimentos (TTP), aprontou a Força do Módulo
de CAE, no âmbito da participação do Exército
na European Union Training Mission
(EUTM) - Somália, no Uganda (Fig.8).
No “desenho” do Aprontamento foi
aplicado o modelo de formação designado de Abordagem Sistémica da
Formação (ASF), que possibilitou responder às exigências impostas pelos
requisitos/descritivos dos cargos, com
vista a garantir a qualidade da formação proporcionada através da combinação integrada de recursos (formandos,
formadores, materiais, equipamento e
instalações), técnicas e procedimentos
tendo em vista o desempenho eficiente
das funções requeridas (Fig.9).
Da análise do Mission Plan da EUTM Somália,
surgiu o diagnóstico das necessidades de formação, visando identificar necessidades de formação, fase essencial para que todo o ciclo formativo
acrescente valor. Com o diagnóstico consolidado,
Nº 190 DEZ10
27
AZIMUTE
da arte” da Força
em todas as fases.
Toda a concepção das intervenções,
programas
e suportes formativos tiveram presente quer, a especificidade técnica
e o enquadramento operacional da
Força no Teatro de
Operações
(TO),
quer a natureza
do
público-alvo
(Somalis) da formação a ser ministrada (Fig.10).
Fig.6 – Processo da Avaliação da formação.
com dados coerentes e bem fundamentados foi
possível desenvolver o plano de formação quer
para a Força do Módulo de CAE e quer para os formandos Somalis, indo de encontro às necessidades reais. Após o conhecimento das necessidades
foi possível mobilizar os recursos necessários, de
modo a dotar a Força com as ferramentas de treino
e formação necessárias.
A organização e
o desenvolvimento do treino orientado para a missão, tiveram presentes o ambiente multinacional da
missão, a tipologia das lideranças internas a aplicar e o estado comportamental desejado da Força,
face aos tempos de permanência em TO (Fig.11).
A avaliação/validação, acompanhamento e auto-avaliação contínua das capacidades da Força no decorrer do treino,
foram determinantes para atingir o
resultado final (FOC) antes da sua
projecção, tendo em vista o cumprimento da missão em TO.
Após a retracção da Força do TO,
e identificadas as lições decorrentes
dos ajustamentos e aprendizagens,
estas foram incorporadas no novo
Aprontamento em curso.
A abordagem tida pela EPI para a
execução do Aprontamento de uma
Força para projectar no exterior do
País, foi assim de potenciar as suas
capacidades como entidade formaFig.7 – Processo de Auto - Avaliação dos subsistemas
dora Acreditada/Certificada, aplicando metodologias e processos que
acrescentassem
valor à Força e esta concorrenPara o planeamento das intervenções e actemente, após o seu regresso incorpore valor nos
tividades de formação e treino, o levantamento
domínios de intervenção/actividades de formação
das Inicial Operational Capabilities (IOC) e Final
e treino da Escola, com reflexos na Infantaria e no
Operational Capabilities (FOC), foram determinanExército.
tes para objectivar capacidades e medir o “estado
Azimute
28
Nº 190 DEZ10
AZIMUTE
Fig.9 – Abordagem Sistémica da Formação
Fig.8 – Centro de Formação e Treino de Combate em Áreas
Edificadas
Fig.10 – Programas e suportes formativos /EUTM Somália
Fig.11 – Croqui do Centro de Formação em TO /EUTM Somália
Nº 190 DEZ10
29
AZIMUTE
O aprontamento de uma FND numa Unidade de
Formação Certificada
Cap Inf Rafael Lopes
Introdução
Conforme
artigos
apresentados em anteriores edições da nossa revista,
à Escola Prática de Infantaria
(EPI) foi confiada a missão de
conduzir a fase de aprontamento da Força Nacional Destacada
(FND), projectada no passado
mês de Julho para o Teatro de
Operações (TO) do Uganda.
Esta missão, que no que respeita à sua actividade operacional base, centrou-se e centrar-se-á1, na formação de uma
área da qual a EPI é a Entidade
Tecnicamente
Responsável
(ETR) – Combate em Áreas
Edificadas – constituindo-se
este facto como um estímulo
acrescido, não só por ser
a primeira vez que a nossa Escola se constituía
como unidade aprontadora, mas também porque sendo uma área
com especial importância na actual conflitualidade, esta força quando
projectada iria contribuir
para a estabilização de
uma região (Península
Somali) tradicionalmente devastada por quezílias internas e que mais
recentemente
tomou
repercussões
internacionais, não só através
das tão mediatizadas acções de
pirataria, mas também pelas características sociais e políticas
que criam “terreno fértil” à proliferação de células terroristas.
1 Ocorrerá no próximo mês de
Fevereiro a 2ª fase da missão.
30
Nº 190 DEZ10
“O teu saber pouco vale se ninguém
souber que tu sabes.”
Pérsio
O aprontamento desta força,
sendo uma fase de formação
orientada, e sendo concomitantemente a EPI uma unidade certificada pela Agência Nacional
para a Qualificação (ANQ), importava seguir de uma forma rigorosa as actividades formativas
tidas por convenientes, de acordo com as competências, recursos e meios disponíveis, sem
nunca descurar de uma forma
objectiva a preparação ajustada
De que forma uma unidade certificada poderá
contribuir para o sucesso
da fase de aprontamento de uma
FND? É esse desidrato que tentarei explanar neste artigo, sublinhando o contributo decisivo
que as metodologias, procedimentos e processos – que embora já enraizados nos militares
que servem na Escola – permitem ao agente de planeamento
ser perspicaz, quer na execução
cabal das acções correntes, prevendo com objectividade as acções futuras e garantindo a consolidação de um rasto histórico.
A Certificação
Fig 1 – Logo da FND
(que se veio a revelar fundamental durante a execução da missão) dos militares que integravam a força, tendo em conta o
enquadramento operacional.
A pergunta que imediatamente se coloca, é a seguinte:
A nossa Escola, acompanhando as tendências
da sociedade civil, garantiu a certificação da
sua área de responsabilidade principal – A
FORMAÇÃO. Todavia,
aquilo que hoje para
muitos significa o seu
trabalho natural, foi
outrora um labirinto difícil que não importava
ultrapassar. Foi um caminho exigente, rigoroso que uma vez mais a
nossa Escola soube trilhar, e que é hoje uma
realidade.
Uma entidade formadora certificada, significa
“uma entidade dotada de recursos e capacidade técnica e
organizativa para desenvolver
processos associados à formação, objecto de avaliação e reconhecimento oficiais de acordo
Nº 187 AGO09
30
AZIMUTE
Fig 2 – Actividade Operacional da FND
com o estabelecido na presente
portaria”2. Destas linhas de palavras, advém um conjunto de
requisitos necessários, que em
última análise pretendem beneficiar (não só em termos técnicos,
mas também de reconhecimento
da sua formação) o objecto do
nosso trabalho – O FORMANDO.
Assim, a certificação “assegura
que a entidade formadora satisfaz os requisitos do referencial
de qualidade no que respeita a:
a) estrutura e organização interna, b) processos no desenvolvimento da formação e c) resultados e melhoria contínua. “ Estes
requisitos do referencial de qualidade, brotam naturalmente fontes de verificação que permitem
a auditores externos confirmar a
conformidade da oferta formativa com os requisitos prévios de
acesso à certificação.
O Aprontamento/
Certificação
O aprontamento da força,
revelou-se uma fase de extrema
importância para a consolidação
da força não só em termos psíquicos, anímicos mas também
2 Portaria nº851/2010 de 06 de
Setembro.
técnicos, pois esta era constituída por militares com diferentes
valências técnicas que, quando
sincronizadas permitiam diminuir
eventuais vulnerabilidades.
Importa agora analisar, de
que forma foi conduzida a fase
de aprontamento e correlacionar
com o cumprimento dos requisitos do referencial de qualidade.
a. Estrutura e organização
interna
A EPI, seguindo as linhas
de orientação definidas superiormente, tendentes à reestruturação do Exército, e sendo já
à data da reestruturação, uma
unidade certificada na área da
formação foi impelida a reorganizar-se, mantendo no entanto
“nichos” com responsabilidades
consentâneas com a manutenção da certificação. Esta estrutura, assente especialmente na
Direcção de Formação (DF), conjuntura a existência de “recursos
humanos em número e com as
competências adequadas às actividades formativas”, bem como
a existência de espaços (salas
de formação e locais de treino) e
equipamentos. Do ponto de vista organizacional, este requisito,
abarca responsabilidades para
além da DF e que, naturalmente
envolvem a Escola num esforço
colectivo comum. Todavia, a estrutura organizacional da Escola
não podendo estar centrada
apenas na certificação (por motivos óbvios), as Subunidades e
Secções de Estado-Maior estão
alertadas para quais os procedimentos e processos para a manutenção da certificação.
Após a recepção da missão de aprontar a força EUTM
– Somália (European Union
Training Mission – Somália), a
EPI não se reorganizou, criou
sim condições de uma forma
flexível e dinâmica para que, à
força em aprontamento fossem
disponibilizadas todas as condições para conduzir as suas
actividades, actividades essas,
devidamente coordenadas com
as restantes acções formativas
em curso. Para alcançar este
desidrato, e face à escassez de
recursos humanos, existem na
Escola ferramentas que permitem economizar um bem precioso e decisivo em qualquer actividade – O TEMPO DISPONÍVEL.
Ferramentas como o portal colaborativo na intranet, os calendários no Outlook das diversas
Nº 190 DEZ10
31
AZIMUTE
Secções de Estado-Maior e
Sub-unidades e a aplicação para
a gestão de actividades constituíram-se como instrumentos
preponderantes e são hoje uma
realidade indissociável da estrutura organizacional da Escola e
em tudo o que esta executa.
O Módulo de Formação de
Combate em Áreas Edificadas 1
(MFCAE1)3, apesar de na dependência directa do Comandante
da EPI, teve na DF o grande pilar de apoio à sua preparação. A
sua actividade era acompanhada e supervisada pelas diversas
estruturas da DF, como sejam
o Gabinete de Programação
(Solicitações a unidades exteriores e reservas de infra-estruturas), Gabinete de Avaliação
(acompanhamento da actividade
formativa do MFCAE1, levantamento e análise de lições para
próximas actividades do género), Secção de Formação (contributos na execução do Plano
de Treino Nacional do MFCAE1
e condução de acções de formação).
Concomitantemente,
e como referido anteriormente,
outras Unidades e Secções de
Estado-Maior contribuíram naturalmente, e dentro da sua esfera
de acção para que o aprontamento decorresse sem prejuízos
para a força.
b. Processos no desenvolvimento da formação
O surgimento da missão (assunto abordado em artigos da
anterior edição da nossa revista), e face a todos os condicionantes decorrentes da missão
e do TO em causa, perspectivaram a constituição do MFCAE
como uma FND. Nesse sentido,
e pela inexistência de um histórico de preparação de forças com
3 Designação da força projectada
para o TO do Uganda. Esta força era
constituída por 3 Oficiais, 8 Sargentos
e 2 Praças.
32
Nº 190 DEZ10
um enquadramento operacional
Estrutura Operacional de Material
idêntico, foi requisito decisivo a
(EOM), Dotação Individual de
preparação de um Programa de
Fardamento e Equipamento
Treino Nacional. Para a produ(DIFE), Dotação Orgânica de
ção deste programa, era imporMunições (DOM) e efectuadas
tante a execução prévia de um
coordenações com entidades
estudo pormenorizado não só de
com responsabilidades de fordiversos documentos do escalão
mação na esfera de intervensuperior (União Europeia e
ção do Comando da Instrução e
Exército), mas também do amDoutrina e que contribuíram para
biente operacional específico
alicerçar valências que previacentrado obviamente na Área
mente tinham sido identificadas
Táctica de Interesse. Desta
como prioritárias.
análise e estudo decorreram
um conjunto de
evidências que
permitiram lançar aquilo que
se viria a constituir como os
requisitos
de
capacidade da
força, onde para
além da formação
necessária evidenciava
prioridades de
formação. Esta
análise, não é
mais do que um
Fig 3 – Logo de Entidade Formadora Certificada
dos processos
de uma entidaPor fim, e no que respeita
de formadora certificada, que
a processos é importante (tal
através de evidências (resultante
como foi executado na fase
da análise de relatórios, opiniões
de aprontamento) a criação de
de formandos e formadores),
pastas documentais (hard copy
conjuntura o levantamento de
e soft copy) – Dossier Técnicouma necessidade. Dessa necespedagógico4 – que permitam
sidade surge a oferta formativa,
manter para memória futura
da qual decorre um conjuntos de
aquilo que foi a fase de apronrequisitos tendentes ao desentamento, podendo-se constituir
volvimento da formação, como
desta forma como um referensejam: Programa de actividades,
cial de intervenção pedagógica,
objectivos a alcançar, recursos
importante não apenas para as
humanos e materiais a afectar
possíveis auditorias executadas
aos projectos e parcerias e proà entidade formadora certificada,
tocolos. Concomitantemente, e
após a aprovação do Programa
4 Termo técnico referido na Portaria
Nº851/2010 de 06 de Setembro.
de Treino Nacional (que incorpoEste documento, sendo um fonte de
ra programa de actividades de
verificação do processo de certificação
aprontamento e objectivos a alde uma entidade formadora, incorpora
um conjunto diversificado de informação
cançar), foram executadas as tadevidamente organizada, e que deverá
refas de levantamento de custos
estar disponível aquando da execução
associados à missão, proposta a
de auditorias externas.
AZIMUTE
e motivador para quem serve
no exterior, uma vez que sente apoio e acompanhamento
da sua unidade. Neste facto, e
uma vez mais a Escola, através
da DF e o CFT acompanharam
permanentemente a condução
da missão, através não só dos
Relatórios de Situação elaborados pelo Comandante da Força,
mas também através de contactos telefónicos e via email, regularmente efectuados.
Conclusões
Fig 4 – Equipa de inspectores da Inspecção-Geral do Exército
mas também para ser consultada como referência para outras
forças.
c. Resultados e melhoria
contínua
Este facto, não carecendo em
minha opinião de qualquer processo de certificação é um dos
paradigmas da actual conjuntura social e que de uma forma
objectiva e assertiva deverá ser
implementada em tudo quanto
fazemos. O conceito “Learn and
adapt”, é um foco permanente
que deve orientar o caminho,
no sentido último de tornar mais
eficiente o nosso trabalho e a
gestão de recursos humanos e
materiais. Assim, o conceito de
lições identificadas permite que
próximas forças a serem projectadas disponham de experiências e vivências que permitam
corrigir processos.
As
inspecções
conduzidas pela Inspecção-Geral do
Exército através da CREVAL
(Combat Readniess Evaluation),
realizada à força permitiram validar a fase de aprontamento e garantir que a força tinha atingido
as Full Operational Capabilities.
Por seu turno, a elaboração de
Brefingues de Final de Missão
nos diversos escalões de comando (Estado Maior General
das Forças Armadas e Comando
das Forças Terrestres) permitem
também contribuir para esse desidrato, alertando as entidades
com capacidade de decisão para
situações que sejam passíveis
de correcção e melhoramento.
Em consonância com esta
actividade, e tendente à avaliação de diagnóstico da intervenção formativa, importa confirmar
o grau de satisfação dos formandos/FND e formadores com
empenhamento na condução do
aprontamento. Neste parâmetro,
não tendo sido possível efectuar esta avaliação (apesar de a
Escola ter disponíveis plataformas tecnológicas que permitem
efectuar este procedimento),
esta é feita após a execução da
missão, onde naturalmente os
militares que integram a FND validam a objectividade de todo o
Programa de Treino Nacional.
O acompanhamento pós formação, ou pós aprontamento
da unidade formadora/aprontadora é também ele fundamental
O aprontamento de uma FND
não sendo uma acção de formação com o enquadramento
de um curso técnico, conjuntura
contudo, aspectos que poderão
e deverão ser monitorizados por
toda a estrutura de acompanhamento da certificação na Escola.
Este aspecto, sendo executado,
permite à FND responder de uma
forma assertiva não só aos requisitos operacionais que deverá
possuir, mas também respeitar
a conjuntura organizacional na
qual se insere. Por outro lado, é
na certeza mais uma forma (para
além dos Exercícios Finais de
Aprontamento e as Inspecções
realizadas) de garantir que todo
o Programa de Treino Nacional
se coaduna com as reais necessidades operacionais da força, e
em última análise que a força se
encontra devidamente preparada para execução da missão.
Importa referir contudo, que a
certificação tendo como “objectivos promover a credibilização
das entidades formadoras”, é na
prática um garante que a nossa formação é uma formação de
qualidade, orientada para o formando, actualizada e com claros
benefícios para todos os militares
que passam por esta Escola.
Azimute
Nº 190 DEZ10
33
AZIMUTE
O aprontamento da UnEng 9/FND/UNIFIL
na Escola Prática de Infantaria
ou a razão pela qual 2 + 2 podem mesmo ser 5
TCor Eng Fausto Couto
Cmdt UnEng 9
1. Introdução
A origem da United Nations
Interim Force in Lebanon
(UNIFIL) remonta a Março de
1978, tendo sido criada para
confirmar a retirada de forças
israelitas de território libanês. O
seu mandato viria entretanto a
ser ajustado em 19821 e 20002,
adaptando-se à evolução da situação no teatro.
Em 12 de Julho de 2006 o
Hezbollah3 atacou o Norte de
1 Em Junho de 1982, Israel voltou
a penetrar território libanês, tendo
alcançado e cercado Beirute.
2 Em Maio/Junho de 2000, as forças
israelitas retiraram de território libanês,
tendo o Secretário - Geral da ONU
confirmado o facto ao Conselho de
Segurança da organização.
3 O Hezbollah (ou Partido de Deus,
em árabe) é uma força importante
no panorama político-militar libanês.
De inspiração muçulmana xiita
surgiu inicialmente como resposta
ao ataque israelita de 1982. Apesar
de ser considerada uma organização
terrorista por alguns países (EUA,
Reino Unido, Israel, Canadá e Países
Israel, lançando vários rockets
e um raid subsequente sobre o
território do país, de que resultaram três soldados israelitas
mortos, dois feridos e dois prisioneiros. Israel retaliou, lançando
uma operação militar de grande
envergadura sobre território libanês, iniciando novo conflito com
o Hezbollah. A nova situação
alterou profundamente o contexto em que a UNIFIL operava. Em 11 de Agosto de 2006, o
Conselho de Segurança (CS) da
Organização das Nações Unidas
(ONU) aprovou a Resolução
1701 (2006), visando o fim das
hostilidades e o estabelecimento
de um cessar-fogo permanente,
assim como o aumento do efectivo da força de 2,000 para 15,000
Baixos), desenvolve uma acção
significativa na área do apoio social,
operando hospitais, escolas e outros
serviços, em apoio de milhares de
xiitas libaneses, sendo considerado
um movimento de resistência anti israelita legítimo pelo mundo árabe
e islâmico.
Treino Reacção Emboscadas
34
Nº 190 DEZ10
homens. De acordo com esta resolução, a UNIFIL está autorizada a tomar todas as medidas necessárias, podendo recorrer ao
uso da força, para implementar o
seu mandato, estabelecendo no
Sul do Líbano uma zona tampão
de onde o Hezbollah e o Exército
Israelita serão excluídos. As
forças das Nações Unidas têm
ainda como missão apoiar o
Exército Libanês na resolução
da crise e no seu deslocamento para o Sul do país (cerca de
15000 efectivos). O mandato da
UNIFIL não prevê o desarmamento do Hezbollah.
A primeira imposição da
Resolução 1701, através de um
cessar - fogo, efectivou-se em
14 de Agosto de 2006 às 08h00
(hora local). O mandato da
UNIFIL tem vindo a ser sucessivamente renovado por períodos
de um ano, tendo a última decisão a este respeito sido veiculada através da Resolução 1937
AZIMUTE
Sessão de tiro
do CS, que prolongou o mandato
da UNIFIL até 31 de Agosto de
2011.
Nos termos das Directivas
128/CEME/09 e 21/CFT/2010,
a Unidade de Engenharia
(UnEng) 9/FND/UNIFIL iniciou
o seu aprontamento em 07 de
Junho de 2010, para, a partir
de Dezembro de 2010, render a
UnEng 8 actualmente em teatro.
2. O primeiro desafio: planear o aprontamento
A responsabilidade
pelo
aprontamento da UnEng 9, com
um efectivo de 141 militares,
foi cometida ao Regimento de
Engenharia 1 (RE1), unidade
pertencente às Forças de Apoio
Geral do Exército, na dependência directa do seu Comando das
Forças Terrestres (CFT).
As Directivas CEME e CFT
anteriormente referidas, definem de forma clara dois aspectos fundamentais a considerar
para planeamento do treino a
realizar durante o período de
aprontamento:
a. Orientar o treino em função
das características da operação,
da missão a cumprir, da natureza
da Area of Responsibility (AOR)
da UNIFIL, das forças em presença, do tipo de ameaças mais
prováveis, bem como do tempo
disponível;
b. Dividir o treino em duas fases distintas:
1.1ª Fase, para conferir e treinar competências técnicas
exclusivas da Engenharia,
de acordo com os requisitos
que a força deve cumprir
nesta área;
2.2ª Fase, para conferir e treinar outras competências relacionadas com a protecção
da força, de acordo com os
requisitos para os quais as
forças deste tipo deve ser
preparadas;
3.Culminar o programa de
treino, com um exercício do
tipo LIVEX.
A divisão do treino em duas
fases distintas completamente
individualizadas, é útil do ponto
de vista do planeamento, mas
difícil de implementar, uma vez
que à sua 1ª fase corresponde
teoricamente um conjunto de trabalhos de engenharia a realizar,
que na prática acabam por ter
um tempo de execução que se
estende ao longo da totalidade
do aprontamento. Esta situação
não se verificou pela primeira
vez com a UnEng 9, pelo que,
não constituiu surpresa para
nós. Assim sendo, procurámos
logo desde o início, uma solução
que permitisse compatibilizar de
forma satisfatória as exigências
do treino das competências relacionadas com a protecção da
força, com a execução de trabalhos de engenharia em apoio
de várias entidades militares e
civis, durante os seis meses de
aprontamento.
3. A resposta ao desafio:
escola prática de infantaria
Foi na Escola Prática de
Infantaria (EPI), entidade formadora certificada, que a UnEng
9 encontrou a solução de equilíbrio que procurava. Desde o
início, foi estabelecida coordenação entre o Estado-Maior da
força e a Direcção de Formação
da EPI, tendo esta última definido um programa de instrução
tailor made, adaptado às exigências e características do Teatro
de Operações (TO) do Líbano.
A título de exemplo, citaremos o
treino da reacção a emboscadas
a colunas motorizadas, que para
a UnEng 9 assume particular
importância, uma vez que terá
Nº 190 DEZ10
35
AZIMUTE
que efectuar frequentes deslocamentos entre o seu aquartelamento e diversas frentes de
trabalho espalhadas pelo TO. A
instrução visando o comportamento a adoptar num ambiente
cultural e religioso diferente, é
outro exemplo a merecer referência, tal o interesse prático de
que se reveste para a vivência
diária da força, uma vez projectada. O programa de instrução
previu instrução específica prévia para os graduados da força,
que depois a ministraram nas
respectivas Subunidades aos
militares sob o seu comando, o
que se veio a revelar extremamente importante, do ponto de
vista da coesão da força.
O espaço e a liberdade de
movimentos oferecidos pela
Tapada Militar, onde foi possível
realizar uma semana de campo
com a “componente militar”
Como foi já referido, o principal desafio a que tivemos que
fazer face, do ponto de vista
do planeamento do aprontamento, foi a compatibilização
do treino da “componente técnica” com a “componente militar”. Relativamente ao primeiro,
foram atribuídos à UnEng 9 um
conjunto de trabalhos na área
das construções verticais e horizontais, cuja dimensão implicou
um prazo de execução correspondente à quase totalidade dos
seis meses de aprontamento.
Foram apoiadas várias entidades militares e civis, tendo sido
possível ajustar com relativa facilidade, a execução destes trabalhos ao programa de treino
da “componente militar” definido
com a EPI. Para tal, contámos
com a colaboração permanente
da sua Direcção de Formação e
do conjunto de instrutores que
nos apoiaram, para proceder a
pequenos ajustamentos horários
que se foram revelando necessários, de forma a cumprir na
sua totalidade o programa de
treino das duas componentes
(“técnica” e “militar”).
Uma das entidades militares
onde foram realizados trabalhos
correspondentes ao treino da
“componente técnica”, foi a própria EPI, cujas infra-estruturas
de apoio à instrução, sujeitas
a uso intensivo, necessitam de
manutenção quase permanente.
De acordo com uma definição
de prioridades apresentada pela
EPI, a UnEng 9 executou os seguintes trabalhos:
-- Reparação da Carreira de
Tiro nº1 e infra-estruturas
de apoio;
-- Reparação do Campo de
Lançamento de Granadas;
da
-- Ampliação
Aldeia
Camões (treino de combate
em áreas edificadas);
-- Construção de Pista de
Obstáculos (200 metros);
-- Demolição de antigos telheiros para instrução.
Estes trabalhos tiveram a
dupla vantagem de apoiar a
Escavadora giratória - CT Nº1
preparatória do exercício final
de aprontamento da força, a
par da possibilidade de utilização das infra-estruturas
existentes para a execução
de um programa de tiro relativamente extenso, foram também importantes vantagens
oferecidas pela EPI, que muito contribuíram para a obtenção dos objectivos a atingir.
4. A execução: compatibilização do treino da
“componente técnica”,
36
Nº 190 DEZ10
Escavadora giratória - CT Nº1 - II
AZIMUTE
Reparação dos edifícios de apoio CT Nº1
unidade, melhorando a sua oferta em termos de infra-estruturas
de apoio à instrução, permitindo
simultaneamente à UnEng 9 o
treino da “componente técnica”,
de forma a alcançar os padrões
necessários para responder de
forma satisfatória às solicitações
a que será sujeita no TO.
A UnEng 9 executou ainda
outros trabalhos em proveito de
várias entidades militares e civis,
conseguindo sempre, graças à
colaboração permanente da EPI,
compatibilizar a sua execução,
com o treino da “componente
militar”.
5. Conclusão
O aprontamento de uma força “tipo UnEng” apresenta um
desafio peculiar, que resulta da
necessidade de compatibilizar
a execução de trabalhos de engenharia (treino da “componente técnica”) que se prolongam
praticamente ao longo de todo o
período de aprontamento, com
o treino dos aspectos relativos
à protecção da força (treino da
“componente militar”);
No caso particular do aprontamento da UnEng 9, a EPI ofereceu uma solução que permitiu
o treino simultâneo das duas
componentes, através da execução de trabalhos de engenharia
em benefício das suas infra-estruturas de apoio à instrução,
complementado por um programa de treino da “componente
militar” concebido em função da
realidade do TO para onde a força será projectada. A adequação
deste programa às necessidades do “cliente” a que se destinou, demonstrou claramente a
qualidade do know how de que a
EPI dispõe, quer em termos doutrinários, quer em termos de formação certificada. Este facto foi
aliás confirmado, pela satisfação
manifestada pelos instruendos,
em questionário pós - instrução;
Do ponto de vista da UnEng
9, a solução oferecida pela EPI
permitiu retirar um excelente
rendimento dos recursos humanos, materiais, financeiros e de
tempo investidos na preparação
da força, permitindo alcançar
com grande eficiência e ao menor custo, os objectivos estabelecidos para o aprontamento.
Em simultâneo, foi possível beneficiar de forma oportuna um
conjunto de infra-estruturas de
apoio à instrução pertencentes
à unidade, sujeitas a utilização
intensiva, que teriam certamente aguardado mais algum tempo
pela reparação de que necessitavam, caso esta oportunidade
não se tivesse concretizado.
Queremos terminar este
texto, agradecendo à Escola
Prática de Infantaria a forma
muito profissional, mas também
muito calorosa como nos recebeu, fazendo-nos sentir sempre
em casa durante a nossa permanência em Mafra. Pensamos
que este aprontamento constituiu uma excelente oportunidade
para demonstrar que, mesmo
em ambiente de escassez de
recursos, é possível alcançar
bons resultados, desde que haja
vontade para tal e que sejam
estabelecidas as coordenações
necessárias. Afinal, 2 + 2 podem
mesmo ser 5 !
Azimute
Nº 190 DEZ10
37
AZIMUTE
CULTURAL AWARENESS1
da tomada de consciência à técnica.
Cap Pires Ferreira
Parte I.
1Salaam.2
Provavelmente,
aplicado a tudo o que fazemos,
nunca como nos dias de hoje o
famoso provérbio “em Roma sê
romano” teve tanto significado e lógica razão de
existir. Arrisco mesmo afirmar que este exemplo empírico de sabedoria popular, simples e trivial, mas,
ao mesmo tempo, permanente e actual, é a tomada
de consciência que faltava
à mentalização de todos
quantos, no cumprimento
do dever, são chamados a
cumprir missões no exterior, em países regulados
por culturas e costumes
díspares, a maior parte das
vezes susceptíveis de criarem barreiras à comunicação, quando não mesmo
problemas de repercussão
mais gravosa e de impacto
mediático negativo imediato.
Se ao nível das pequenas unidades de infantaria as tácticas,
técnicas e procedimentos têm
evoluído a um ritmo célere, num
acompanhamento óbvio dos ensinamentos provenientes dos
conflitos mais recentes, devem
essas mudanças ser geradoras
de reflexão à forma como se
1 “The ability to recognize and
understand the effects of culture on
people’s values and behaviors. In the
military context, cultural awareness
can be defined as the cognizance of
cultural terrain for military operations
and the connections between culture and
warfighting”. WUNDERLE, William D.
(Through the lens of Cultural Awareness:
A Primer for US Armed Forces deploying
to Arab and Middle Eastern Countries).
2 Olá, em Dari.
38
Nº 190 DEZ10
planeia e executa o treino nas
suas fases mais embrionárias,
sob pena de motivarem disfuncionalidades que mais tarde,
pela sua “complexidade”, pode-
rão ser difíceis de colmatar.
Sem surpresa, do ponto de
vista conceptual, a afirmação generalizada do conceito de “Cabo
Estratégico” surge precisamente
nesta óptica e linha de pensamento, derivando da capacidade
para tirar conclusões objectivas
e oportunas, tendo em conta
aquilo que nos é dado a observar
através da prática, fruto da evolução dos conflitos modernos.
Actualmente, em teatro, pode
considerar-se que a responsabilidade de contribuir para o sucesso é de todos e que, do todo,
não há quem possa alhear-se do
esforço comum, com o argumento vago de que não é peça fulcral
na matriz organizacional.
Assim, por vezes, o sucesso
pode fazer-se à conta dos pequenos detalhes, e na forma mais
ou menos rigorosa e interessada
com que olhamos para eles. Por
exemplo, no treino de uma
força, nada pode ser considerado secundário ou de
menor importância, e cair
nesse erro fatal, tantas vezes cometido, pode levar a
que, no final, se assinalem
infelicidades e não se comemorem sucessos.
A questão cultural pode
até não ser um aspecto
em que os planeadores
concentrem a sua maior
atenção. Porém, sendo a
sua importância inegável,
será inteligente aproveitar a sua transversalidade abrangente, para criar
um alargado leque de
possibilidades
capazes
de enriquecer a qualidade do treino. Mal, está a forma
comodista com que encaramos
determinados assuntos, e que o
aspecto da consciência cultural
é bom exemplo. Ou seja, dizer
que se faz uma palestra de uma
hora, ou até de duas horas, em
que se aborda a questão cultural
do país/região para onde a força
vai ser projectada é, por assim
dizer, estar a tapar o sol com a
peneira e é estar a ficar refém,
da pior forma, do conforto que é
ir cumprindo requisitos de uma
qualquer check-list de avaliação.
Mas é preferível a não ter nada?
É! Mas podemos fazer melhor.
Parte II.
De
uma
maneira
geral,
gostamos de ter algo para ensinar aos outros, pois isso faz-nos
sentir confortáveis, quanto mais
não seja porque falamos daquilo
que dominamos. A abordagem
mais ou menos social com que
encaramos as pessoas que nos
rodeiam, no nosso dia-a-dia,
pode querer dizer muito do que
somos e de como nos comportamos. Invariavelmente, ao longo
da vida, interagimos com pessoas, mas a pensarmos em termos
de proporção à escala mundial,
não tantas quanto isso. As rotinas e os hábitos são o nosso
pior adversário porque, de certa
forma, todos somos diferentes.
O segredo está em perceber
quem está do outro lado e a forma correcta como o devemos
fazer pois, em sentido contrário,
temos tendência a exigir o mesmo comportamento (Fig1-Estados
Consciência Cultural). Curioso é
que, do ponto de vista das operações militares, a interacção com
os outros, sejam eles de que tipo
de actores forem, não é necessariamente uma acção fácil e que
possa ser deixada ao livre arbítrio de cada um fazer como melhor lhe convier. Aliás, em operações, como de forma simples se
possa pensar, ser culturalmente
consciente não tem nada a ver
com simpatia e não se mede em
quantidade de sorrisos. Assumir
que o aspecto cultural é um pormenor técnico, e que como tal
deve ser tratado, é já um bom
ponto de partida para encarar
pode aumentar ou diminuir
drasticamente. Sistematizar e
interiorizar técnicas no âmbito
da consciencialização cultural é
cada vez mais essencial.
numa abordagem que não deixa
as coisas acontecerem por mero
acaso.
Do outro lado, acredito, não
nos exigirão a perfeição, mas
apenas o respeito mínimo da
consideração e do direito à
diferença. Em pequenos sinais,
a credibilidade de uma força
relevante, e cujo devido equilíbrio deve ser encontrado (Fig2Abordagem Cultural). Fora de
questão está, parece-me, a atitude de negação face a este tema.
Então, fazendo fé no que foi
escrito atrás, a fase de treino de
Parte III.
Numa tentativa de abordagem formal e técnica de resposta ao que deve ser o treino no
domínio da consciência cultural,
parece-me necessário, desde já,
a destruição de uma certa visão
minimalista do problema.
Nomeadamente, agora, com
a emersão e afirmação de novos
conceitos doutrinários, dos quais
se destaca o conceito de COIN3,
o conhecimento da vertente cultural será, em muitas situações,
de importância considerável. É
decorrente da necessidade de
aplicar técnicas de ambivalência
extrema, em que por um lado
pretende conquistar-se os corações e as mentes e, por outro,
não perder capacidades ao nível de protecção da força, que
um sustentado conhecimento
da componente cultural vai ser
AZIMUTE
tudo o que deve
ser equacionado como planeamento e não
como improviso.
Por
comparação directa, parece-me
uma
verdade
inegável
que,
como povo, nós
portugueses, temos uma grande vantagem relativamente a outros. Todavia isso, por si só, de
pouco nos valerá se, na prática,
não nos prepararmos de forma
conveniente para o desafio que
é estar em contacto com outras
culturas, com diferenças, muitas
das vezes, de cariz civilizacional.
Perguntar o que não se deve, tocar no que não se deve, apontar
para onde não se deve, e, em
oposição, perder a oportunidade
para esticar a mão no momento
certo, ou dar a palavra à pessoa
certa, ou saber dizer uma coisa
tão simples como olá, tudo isso
pode ser a qualidade que faltará
3 FM 3-24, COUNTERINSURGENCY,
US Army, EUA.
Nº 190 DEZ10
39
AZIMUTE
40
uma força deve contemplar fases
de sensibilização e tomada de
consciência cultural a todos os
níveis hierárquicos e, de maior
importância ainda, deve ser materializado em termos práticos,
em exercício. Aprender um conjunto de palavras-chave e frases
tipo (olá, bom dia, adeus, o meu
nome é, como está?, …) que fomentem a ligação é importante,
mas mais importante é não se
ficar pela ilusão que o conhecimento foi adquirido. Neste período, estas situações devem ser
forçadas e não deixadas à maior
ou menor curiosidade ou interesse de cada um. Se o que se está
a treinar é a condução de uma
reunião, os visados devem experimentar/treinar/aperfeiçoar o
uso de palavras no idioma local.
Existe uma forma correcta para
me sentar? Quem devo cumprimentar primeiro? Há alguém que
não deva cumprimentar? Há perguntas que não deva fazer? Há
temas que não deva abordar?,
ou seja, as perguntas são infindáveis e as repostas, à falta de
conhecimento, são complexas
de responder.
Os líderes devem potenciar
o seu conhecimento com literatura obrigatória e adequada,
não necessariamente apenas
livros técnicos mas, também,
material mais generalista, capaz de fomentar pontos de empatia e amarras culturais (Fig3Literatura) e, especialmente,
várias visões do mesmo problema. Conhecer a organização
Nº 190 DEZ10
política do teatro pode
ser importante e coisas
simples como reconhecer
os símbolos gráficos associados aos diferentes
postos militares é uma
preocupação a que poucos se darão. Demonstrar
que se sabe, são muitos
pontos positivos a nosso
favor. E haverá maneira
de saber se estamos a
cometer alguma falha cultural? Não sermos convidados a
beber chá, será um bom sinal?
Estaremos a ofender se pedirmos talheres? Enfim, é certo
que não saberemos responder a
tudo, mas podemos fazer a diferença em tudo aquilo que pode
ser considerado crítico.
Parte IV.
De forma não totalmente certa, a preocupação geral quanto
à tomada de consciência cultural
está sempre relacionada com a
questão religiosa e julga-se que,
entendendo isso, se resolvem
todos os problemas. Por experiência própria, refiro que o tema
da religião foi coisa a que nunca
tive grande necessidade de recorrer. Aliás, de uma forma ou de
outra, para salvaguarda própria,
sempre o tentei evitar e sempre
senti que, do outro lado, fizeram
o mesmo comigo. É que confinar
a consciência cultural ao âmbito
da religião é, no mínimo, redutor
e traz armadilhas associadas. Ter
consciência que do outro lado,
em termos médios, estão pessoas como nós, com
necessidades,
gostos, passatempos, família, experiências de vida,
interesses, etc, é
já um bom ponto de partida para
moldar as percepções e recolher
daí atitudes positivas. Devemos pois
estar preparados para essas bases de entendimento humano e
explorá-las a nosso favor.
Deveras importante, também,
é a flexibilidade e a capacidade de adaptação que se devem
ter em situações deste género.
Como em tudo, igualmente neste
aspecto haverá domínios a que
o treino não chegará nunca, algo
que exigirá maior aptidão para
ligar todas as peças apreendidas, e daí obter uma solução
que se encaixe na necessidade.
Inclusivamente, estar preparado
para ver a “outra parte” quebrar
as “regras” é importante, e saber
encarar isso de forma natural,
ajuda.
Então, o caminho só pode
passar por olhar para esta componente de tomada de consciência cultural como uma ferramenta fulcral na melhoria do treino.
Se assim for feito, o choque civilizacional começa por ser atenuado ainda em território nacional,
onde as falhas são permitidas.
É na aprendizagem e no treino
que devemos ficar alertas para
a importância que é perceber o
que vamos encontrar do outro
lado. Reformular a abordagem
ao tema é imperioso.
Sim, vamos manter as palestras, mas vamos também aumentar a componente prática.
Vai dar trabalho e, muitas vezes,
vai ser desconfortável, mas é
a única maneira de fazer bem.
Tashakor4.
Azimute
4 Obrigado, em Dari.
TCor Inf Mário Álvares
Em 2009, durante a frequência da parte comum
do Curso para Promoção a Capitão (CPC) realizado na Escola, período em que era Comandante
do Batalhão de Formação, fui convidado pelo seu
Director, camarada e amigo Rui Dias, para falar sobre as expectativas de um Comandante de Batalhão
relativamente aos Capitães das suas companhias.
Nessa lição, optei por seleccionar alguns atributos da liderança contemporânea que em parte
orientaram a minha vida militar e que sempre procurei partilhar com aqueles que mais directamente
trabalharam comigo.
Assim, neste pequeno ensaio, focalizado nos
desafios à liderança militar em tempo de paz, procurarei definir aqueles que são para mim os principais atributos da direcção e da chefia contemporânea, deixando pistas para uma liderança diferente
sustentada, essencialmente, no desenvolvimento
pessoal do chefe e das relações deste com os seus
seguidores.
O tempo de mudança e a suas implicações
na direcção e chefia contemporânea
Adaptando o pensamento original do professor e filósofo Sam Keen1 facilmente verificamos,
numa auto-análise, que terminamos a Academia
Militar ou um CPC com muito mais saber mas não
sabedoria. Verificamos que adquirimos ideias mas
perdemos sentimentos. Verificamos que apesar de
muito ricos em técnicas não estamos habilitados a
apreciar aptidões que pouco tempo tivemos para
cultivar.
Acima de tudo, verificamos que não estamos
preparados a explorar sentimentos que, adormecidos, nos permitiriam ser protagonistas efectivos
da transformação e fazer parte do aperfeiçoamento
nos diversos domínios das relações interpessoais
no seio das organizações modernas.
É que as mudanças organizacionais, nas mais
diversas áreas, são aceleradas, profundas, abrangentes e, mais importante, irreversíveis. Na verdade, a realidade do mundo organizacional, na
qual a organização militar com o seu quadro de
1 Filósofo Americano conhecido por explorar os problemas do
homem na sociedade contemporânea.
referências deontológicas faz parte, transporta-nos
para um paradigma de acção e decisão que colide
com a visão ordenada e cadenciada da direcção
e chefia em que o “Capitão” é, ou deverá ser, um
decisor racional, um programador sistemático e
um coordenador e supervisionador eficiente. Para
esse “Capitão”, objectivos, planos, programas, metas, resultados e prazos são os instrumentos de
trabalho. Esse “Capitão” faz reuniões para planear
e resolver problemas, comporta-se de forma formal
e contemplativa, e trabalha com profundidade num
número reduzido de tarefas. Em suma, orienta-se
para soluções.
Todavia, o lugar-comum é bem distinto. O
“Capitão” da nova realidade organizacional encontra sempre uma carga inesperada de tarefas
imprevistas com reuniões não calendarizadas, interrupções na acção, e trabalhos de carácter administrativo intensos, descontínuos e de natureza
variável. Toma decisões que podem representar
sucessos ou fracassos através de interacções diversas ou simplesmente através de acções isoladas e opiniões esparsas e nem sempre coerentes.
A sua atenção é constantemente desviada por chamadas diversas, fragmentando a acção e tornando
intermitente o seu envolvimento no processo decisório. Aproxima-se dos problemas à medida que
estes vão surgindo e procura soluções com base
em informações imperfeitas. Preocupa-se com os
problemas fora do horário normal de trabalho “levando para casa” aquilo que não conseguiu resolver, estudar e decidir ao longo de um período congestionado por reuniões e problemas avulsos. Lida,
diariamente, com a insatisfação e desmotivação
dos seus quadros face à dispersão e volume de tarefas que é obrigado a impor e reorientar. E exerce
a função com muita tensão e pressão na avidez de
encontrar soluções num curto prazo sabendo que
os resultados do seu trabalho serão sempre avaliados num espaço temporal muito mais alargado.
Em suma, é um “Capitão” que não supervisiona rotinas nem produz bens ou serviços. É um
“Capitão” que age para coordenar tarefas imprevistas, que decide sobre uma pressão superior intangível aos olhos dos seus subordinados, e que
Nº 190 DEZ10
AZIMUTE
Expectativas de um Comandante de Batalhão sobre um
Comandante de Companhia
41
AZIMUTE
resolve num mar de incertezas e dúvidas sabendo
que outros pensarão e dirão: no seu lugar faria.
Assim sendo, o crescimento e a dinâmica organizacional já não comportam o dirigismo em cuja
acção se baseia exclusivamente no bom senso
e em experiências passadas. Hoje exige-se um
“Capitão” que se concentre nos problemas urgentes e numa função “torpedeada” por reuniões e
contactos dispersos. Um “Capitão” que trabalhe em
objectivos e estratégias pressionadas por diversas
urgências. Um “Capitão” que trabalhe em propostas
de solução de questões variadas, pressionado por
superiores e subordinados. Um “Capitão” que saiba lidar com a frustração da pouca disponibilidade
para reflectir sobre o futuro, com a desatenção dos
seus superiores, e com a inabilidade dos seus subordinados em resolver questões rotineiras.
Quer isso então dizer que referências formativas
como a “A arte de ser Chefe” de Gaston Courtois2
ou “Napoleão e a Arte de Comandar” deverão ser
esquecidas? Não continuam a ser referências e
modelos para a liderança contemporânea?
Claro que sim. Os comportamentos de liderança mais comuns nos dirigentes de sucesso provêm
de habilidades de direcção e chefia padronizadas,
e por isso de fácil assimilação. É a sistematização
dessa atitude comportamental típica que leva à eficácia na direcção de pessoas. Existem, portanto,
“habilidades” que podem ser ensinadas e aprendidas por aqueles que têm na chefia, direcção ou
comando a sua profissão.
Mas o líder do futuro tem que balancear o treino,
a educação e a experiência. O treino desenvolve
competências e técnicas. Porém, ser Comandante,
ser “Capitão”, é também arte. A arte de pensar e de
decidir. A arte de fazer acontecer e de obter resultados que podem ser definidos, previstos, analisados
e avaliados, mas que têm de ser alcançados através das pessoas e numa interacção humana constante. Logo, aprender a comandar, não é aprender
para formar ou dar um produto. Aprender a comandar é abrir um caminho a novos valores e alternativas. Aprender a comandar é aprender sobre si próprio. É aprender sobre novas formas de interacção
humana e sobre novas formas de comunicação e
de exercício do poder e da autoridade.
Assim, sendo este o paradigma do novo desafio do Comandante, Director ou Chefe, o que recomendar para a eficiência no exercício do mando
contemporâneo?
As qualidades e atributos para o sucesso
O dinamismo e a complexidade da organização
2 Escritor francês (1897-1970)
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Nº 190 DEZ10
militar moderna carrega uma alta dose de contradições, paradoxos, desordens e irracionalidades.
Mas esse “caos aparente” não pode ser impedimento ao progresso. Nele devemos encontrar as
propriedades positivas para o sucesso.
Segundo Motta, Paulo Roberto, por ser inerente à vida organizacional, o irracional torna a eficácia do comando, direcção ou chefia um produto
do saber agir na desordem e no caos. Mesmo as
organizações estruturadas segundo modelos lógicos e racionais, recorrendo a dinâmicas e suportes
informáticos dos mais avançados do mundo, aparecem como uma manifestação da desordem. Mas,
nesse estádio, não anulamos a dimensão racional.
As dimensões racionais do processo administrativo
inerente à direcção, chefia ou comando são, como
no passado, indispensáveis por possibilitarem o conhecimento dos riscos e das incertezas na acção.
Dados, ordens de operações, directivas, gráficos,
comunicações de serviço e planos proporcionam o
conhecimento da realidade e facilitam as grandes
opções e decisões. No entanto, saber reinterpretar
esses dados e conferir-lhes um novo significado,
constituem as principais habilidades humanas no
acto de decidir (Motta, 2005).
Assim, para agir na complexidade e com a consciência das contradições inerentes à decisão organizacional, é necessário ao Comandante, Director
ou Chefe:
• encontrar-se como pessoa;
• ter uma visão dinâmica dos processos da
organização;
• promover a criatividade;
• conhecer e acreditar nos colaboradores;
• e não ter medo de errar;
Detalhemos, então, cada um desses vectores
orientadores.
Encontrar-se
como pessoa
Não existem dúvidas de que as respostas das diferentes organizações aos
constantes desafios
são largamente reflectidas no exercício da liderança dos
seus Comandantes,
Directores
ou
Chefes,
transformando-a (a lideranFonte:
http://lancerpublishers.com
ça) num processo de
influência social em
que uma pessoa é hábil em ajudar e suportar outras
Douglas Adams (1952-2001). Escritor britânico
na realização de uma tarefa comum.
Assim, liderança é persuasão e não dominação.
Liderança é, acima de tudo, o estabelecimento de
equipas ou grupos coesos para um objectivo comum e não pode ser separada da sua vertente
psicossocial.
Nessa óptica, há quatro suposições básicas
para o entendimento da liderança enquanto fenómeno do campo da psicossociologia. Primeiro, a liderança deve ser observada como um conjunto de
papéis comportamentais por parte de um indivíduo
(o líder) para influenciar e coordenar actividades
dos membros do grupo no sentido de alcançar um
objectivo comum. Segundo, a liderança é um fenómeno que envolve relações e, mais importante,
percepções dos seguidores relativamente ao líder.
Terceiro, a liderança implica exercer influência sobre os outros utilizando múltiplos factores. Quarto,
os indicadores de eficiência do líder devem ser
mensurados em função das atitudes e comportamentos que promove para realização dos objectivos, satisfação dos seguidores com a tarefa e com
o contexto da acção, e aceitação da sua influência
através do vínculo emocional dos seguidores à sua
pessoa (Silva, 2003).
Mas, para que tal aconteça, temos que em primeiro lugar nos encontrar enquanto pessoa. Temos
que ter o conhecimento do “eu”. Temos que ter coragem para desenvolver um dos processos analíticos mais importantes e desafiantes da vida de cada
um de nós.
É certo que é fascinante conhecer os outros. Mas
o autoconhecimento é tomar a consciência das próprias capacidades e limitações. Conhecendo-nos,
torna-se mais fácil superar ou minimizar os pontos
fracos e desenvolver os pontos fortes dando assim
um paço decisivo na auto-estima e na autoconfiança, atitudes comportamentais fundamentais para a
comunicação interpessoal.
Um bom funcionamento social é um factor fundamental para o ajustamento pessoal entre indivíduos. Compreender aquilo que somos emocionalmente e a sua regulação tem um papel importante
na nossa vida. O reconhecimento de um determinado estado emocional pode auxiliar-nos no auto-conhecimento. E, mais importante, orienta-nos
para o que é relevante, permite mobilizar a acção e
dá energia ao comportamento (Sá, 2002, pp.7 - 15).
Mas é essencial que a auto-análise não sirva
para, depois de interiorizada, assumir comportamentos de outros. “Gostaria de ser como A”,
“porque não sou como B”, são tendências que levam à comparação das nossas limitações com as
mais-valias de outros ou, pelo contrário, a complexos de superioridade perniciosos. O objectivo da
auto-análise é para que possa lidar melhor com o
“eu” sem superioridade, severidade ou benevolência. Assim, é muito útil tomar a iniciativa e solicitar
a opinião dos outros a nosso respeito. Basta só
pedir-lhes que falem. Mas cuidado! Haverá quem,
porque gosta de nós ou porque apenas nos deseja
agradar, somente referirá as capacidades omitindo
as limitações. E haverá, por outro lado, os que criticarão os nossos limites e ignorarão as nossas competências. A verdade está, em geral, no meio-termo
desta bipolarização.
Quanto mais um Comandante, Director ou Chefe
está seguro de si e acredita no que faz, maior será
o apreço e a adesão dos seus colaboradores. Muito
pelo contrário, quando a auto-estima é débil e o entusiasmo pouco visível, depressa os colaboradores
se interrogam e põem em dúvida a validade do que
fazem.
Em suma, um “Capitão” de hoje tem que compreender que o seu comportamento pode afectar
os outros e, assim, as estratégias interpessoais.
Por isso é importante que tenha:
• consciência do seu estado emocional, incluindo a possibilidade de gerir várias emoções
simultaneamente;
• capacidade de discernir as emoções dos
outros;
• capacidade para compreender que o estado
emocional interno não corresponde necessariamente à expressão externa, no próprio e nos
outros;
• capacidade para enfrentar de forma adaptativa
emoções negativas ou perturbadoras utilizando estratégias auto-reguladoras que aliviem
a intensidade ou duração desses estados
emocionais;
• consciência de que a natureza das relações
interpessoais é em parte definida pelo grau
em que a expressão das emoções é genuína
e verdadeira.
Aprender a gostar de si, acreditar nas suas potencialidades, congratular-se com os êxitos de hoje
e com as hipóteses de amanhã, assumir os erros,
ter coragem para enfrentar a crítica, exteriorizar o
entusiasmo pelo que faz, estar muito atento às opiniões dos outros, ser igual a si mesmo, nunca invocar as competências pessoais e não ter medo de
sonhar ideias que possam parecer desadequadas,
são muitas de muitas outras orientações de saber-fazer e saber-estar melhor na e para a vida.
Nº 190 DEZ10
AZIMUTE
“Tudo o que se vê, ouve ou experimenta é
específico. Cada pessoa cria o universo ao percebêlo, portanto tudo o que se percebe no universo é
específico de cada pessoa”
43
AZIMUTE
Ter uma visão dinâmica dos processos da
organização
ser “dispensável” em determinados períodos de
tempo. Deve criar um ambiente típico de uma verdadeira equipa em que todos têm oportunidades de obter a excelência no desempenho
e conquistar e influenciar um futuro no seio
organizacional.
Por outro lado, tem que ser capaz
de dispensar análises e cálculos racionais.
Tem que ser capaz de agir fora das práticas
comuns. Tem que acima de tudo entender
que os objectivos e os planos, bem como os
métodos e as estruturas para atingir propósitos, não são absolutos. O “Capitão” de hoje
tem que ser capaz de intuir e agir segundo
opções que, para a maioria, são pouco claras
e irracionais.
Promover a criatividade
Fonte: Leadership & Organization Development Journal
Nas organizações existem factos que não se enquadram em regras, esquemas ou normas, levando
a uma maior relatividade na análise dos problemas.
O nosso pensamento deve ser expandido ultrapassando, se for esse o caso, a óptica da realidade
organizacional. Ou seja, não podemos entender
a estrutura organizacional com algo estático pois
tal analogia leva a decidir em função da previsibilidade, em função daquilo que é o lugar-comum.
Nesse paradigma, para não sermos surpreendidos
com desvios e discrepâncias, introduzimos malhas
apertadíssimas de controlo com limitações na criatividade e, muitas vezes, da verdade dos factos.
Levamos, sem nos apercebermos, à burocratização excessiva e à frustração das pessoas gerando perdas de oportunidade, de crescimento e de
desenvolvimento.
Não quer isto dizer que a estrutura formal da organização deve ser obliterada. Ela é e continuará
a ser muito importante, principalmente nas grandes decisões. Mas saber flexibilizar a estrutura é
ter a consciência da sua temporalidade, agindo
segundo fronteiras menos rígidas de autoridade,
valorizando contactos informais e a delegação de
competências.
Ou seja, o “Capitão” contemporâneo deve incentivar e responsabilizar as suas equipas mais
pelos objectivos do que pelos meios. Deve incentivar seus subordinados a desenvolver métodos próprios de trabalho e apoiá-los nas decisões vendo
no inusitado e na variedade uma fonte de aprendizagem. Deve livrar-se do não essencial. Deve
44
Nº 190 DEZ10
Os actos criativos são, na sua essência,
actos de coragem. Em primeiro lugar, o criador
de uma inovação, técnica ou social, navega
num espaço desconhecido e muito provavelmente receberá comentários que lhe transmitirão confiança mas também inquietude. Mais tarde,
no longo percurso para o desconhecido, encontrará
oposição. Quando a ideia for apresentada encontrará hostilidade. Finalmente, porque a ideia pode
falhar, a sua carreira poderá estar ameaçada.
Mas a criatividade ocorre no contexto social e
depende de processos de pensamento que têm
as suas raizes alicerçadas em padrões culturais
profundos. Ou seja, as normas, as tradições, os
sistemas de incentivo, ou até mesmo as punições
afectam-na.
“O carácter não se revela no muito consumir, mas
no muito criar”
Will Durant (1885-1981).
Filósofo, historiador e escritor americano
Assim, estimular a criatividade envolve o estímulo do indivíduo, mas também afectar o seu
ambiente social e as pessoas que nele vivem. Se
aqueles que circundam o indivíduo não valorizam
a criativiadde, não oferecem o ambiente de apoio
necessário e não aceitam o trabalho criativo, é natural que o criativo se anule. Se o criativo considera
que pode ser criticado, ridicularizado ou até mesmo
punido, dificilmente continuará a expressar ideias
novas e a fazer uso das suas potencialidades em
prol das ambições da organização. E, mais grave,
afectará o seu ambiente de trabalho e o clima psicológico prevalente.
Mas importa que não confundamos criatividade
Conhecer e acreditar nos colaboradores
Quantas vezes, enquanto líderes, nos colocamos no papel dos nossos colaboradores e nos demos ao esforço de “ler” nos seus rostos as angústias
decorrentes do stress do momento, as frustrações
da descontinuidade dos projectos, ou a simples timidez em dar uma sugestão que aos seus olhos
poderá parecer ofensiva ou descontextualizada?
Para quem trabalha em organizações altamente
estruturadas e já com alguns anos de existência
este percepção poderá parecer absurda. Para alguns será mesmo um crime de “lesa-pátria”.
Pensar no que pensa o colaborador? Quantas
vezes, como Cadete, jovem Oficial, ou até mesmo
como Oficial Superior me disseram: Camarada!
Você não é pago para pensar! Simplesmente faça
“Há muitas razões para duvidar e uma só para crer”
Carlos Drummond de Andrade (1902-1987). Poeta
brasileiro
o que lhe mandam.
Para esses, o que
direi a seguir será
um erro de liderança
inconcebível, imperdoável, até mesmo
atentatório às mais
basilares regras da
disciplina castrense.
Mas o que se
pede não é anarquia
da decisão. O que
se pede não é hilaridade de um “porreirismo” que consubstancia a liderança
medíocre comum a muitas organizações em que o
produto operacional não é revertido em termos de
ganhos ou perdas financeiras. O que se pede é a
tomada da perspectiva social. O que se pede é que
sejamos capazes de fazer o exercício: e se fosse
eu naquela situação? O que se pede é que promovamos a empatia.
Empatia. A palavra grega PATHOS significa paixão, sofrimento ou excesso e foi utilizada na antiga
Grécia para designar tudo o que se faz ou acontece de novo. Outra palavra partilha a mesma raiz:
simpatia. Se falamos em EM+PATHOS (empatia)
significa que estamos a pensar o que o outro está a
sentir mas sem nunca perder o nosso ponto de vista. Estamos simplesmente EM o lugar do PATHOS
(outro). Todavia, se falarmos em SIM+PATHOS
(simpatia), estamos com ele, estamos com o seu
sofrimento.
E o que é pedido ao “Capitão” contemporâneo é
que seja um líder empático e não um chefe simpático. O simpático, mesmo não confiando nos seus
colaboradores, dirá: Sim, sim, vou tratar disso.
O empático coloca-se na perspectiva dos colaboradores. Acredita neles. Acredita que a capacidade de se relacionar é uma competência fundamental para fazer a diferença. É um líder que bane
expressões como: os problemas pessoais ficaram
onde devem ficar, em casa. É um líder que sabe que
o ser humano é único e integrado e que o que ele
sente no trabalho reflectirá em casa e vice-versa.
Em suma, o “Capitão” empático, desligando o
seu ruído interior, terá que ter a capacidade de perceber o sentimento alheio. Simplesmente, entender
e ouvir o que até ao momento não tinha ouvido.
AZIMUTE
com irresponsabilidade. Esse é o grande medo de
muitos “líderes” contemporâneos. Em certa medida
receiam o caos. Chamam tudo a si. Odeiam a mudança. Deseperam-se quando a sua mediocridade
os impede de ver mais além. Em suma, são o fiel
de uma balança e uma moeda em que a outra face
é a comunicação do modelo autoritário.
É que esses comportamentos simplesmente
mantêm a irresponsabilidade ao assumir a responsabilidade pelos outros. E, naturalmente, esses “líderes” são obedecidos mas nunca serão seguidos.
Esses “líderes” confundem liderança com chefia.
Nunca criarão contextos de trabalho que garantam
a inovação sustentada da organização. Terão obediência mas nunca motivação.
Afastados esses medos, vistos em alguns casos
como um sério desafio à liderança, importa referir
que o criativo é um sujeito independente por natureza. Não se prende a regras pré-estabelecidas. É
libertário no pensamento e na acção. Mas não é
irresponsável pois ao criar busca a melhoria.
Face ao papel decisivo da criatividade para o
exito das organizações no seu processo de lidar
com a mudança, incerteza, instabilidade, concorrência, e promover, de forma sistémica a inovação,
é necessário que os líderes se preocupem com as
condições no contexto de trabalho, no sentido de
eliminar barreiras à criatividade, maximizando as
oportunidades para a sua expressão.
Assim, num “Capitão” que procura promover a
criatividade, assumem-se e deixam-se assumir riscos, tolerando erros provenientes de um esforço
honestamente criativo. E formula-se uma visão que
enfatiza a importância da criatividade estabelecendo metas para alcançar produtos, encorajando-se a
discussão e a comunicação de ideias entre equipas
e indivíduos.
Não ter medo de errar
Em vez de pensar no que ainda não foi imaginado, de dizer o que ainda não foi pronunciado, de
experimentar o que ainda não foi ensaiado e de admirar o que ainda não foi sentido, preferimos, pelo
seguro, manter rotinas e os hábitos de trabalho
defendendo-nos assim de tudo do que possa fazer
perigar o nosso modo de pensar, agir e modo de
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AZIMUTE
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“Quem não tem permissão para errar, não tem
permissão para criar nem para fazer”
Robert Crema. Psicólogo brasileiro
estar-na-vida.
A história esta repleta de grandes homens e
mulheres que, durante as suas vidas, cometeram
erros. Mas a exaltação desmedida do sucesso e
a tentação para evidenciar, unicamente, os casos
bem sucedidos, leva, com frequência, a extrapolar
a divisões sociais: num lado os afortunados e, no
outro, os falhados.
Efectivamente, não se aprende sem tentar e, se
necessário, errando. É a chamada “aprendizagem
pela tentativa e erro” presente de forma intrínseca
e inequívoca no desenvolvimento humano. Quem
diz que nunca falhou ou que não tem dúvidas, ou
não é verdadeiro ou cristalizou e parou no tempo.
Não se pretende, contudo, defender o erro pelo
erro. Mas importa realçar a sua importância como
fonte esssencial da aprendizagem. Os fracassos,
quando aproveitados e analisados, permitem-nos
corrigir e mudar, se necessário, a nossa maneira
de pensar e agir.
Importa, por isso, contrariar a insegurança e a
dependência. Importa, por isso, agir.
Segundo Ferreira (1994): certas avaliações, impensadas e avulsas, muitas delas feitas pelos nossos pais e educadores e, mais tarde, pelos nossos
superiores, levam a sentimentos de insegurança e
de desilusão acentuando a desvalorização cujas
consequências negativas se farão sentir ao longo
da vida. Depois, menos confiantes nas capacidades, menos vontade sentimos para experimentar novos métodos e de nos lançarmos em novos
desafios.
Em casos extremos o exagero dos medos pode
dar lugar à ansiedade e torna-nos incapazes de actuar. Mas tentar libertar-nos dos medos unicamente
através de intenções e desejos é deixar-se vencer
por eles.
Depois, de um modo geral, procuramos sempre
“alguém” que nos aponte o caminho a seguir, tornamo-nos indecisos. Não se trata de desperdiçar
ou depreciar a ajuda de alguém. Muito pelo contrário. É a partir da relação com os outros, como
já referido, que aprofundamos o autoconhecimento
e encontramos respostas para muitos dos nossos
problemas e dificuldades. O perigo está quando
“consumimos” tudo que nos é proposto deixando
que alguém pense por nós e tome decisões que
só a nós dizem respeito, abafando a nossa autonomia e singularidade. É que o verdadeiro sucesso
está no ser-mais e não no ter-mais. E há tesouros
que só podem ser encontrados no interior de nós
próprios.
Um “capitão” sem medo de errar tem que
ter disponibilidade para perceber e interpretar
Nº 190 DEZ10
criticamente os seus sentimentos, aspirações e
modos de actuar. Tem que pôr em questão e sem
receios as suas certezas, posições e valores. Tem
que querer que o hoje seja diferente do ontem e o
amanhã desigual do hoje.
Conclusões
Para mim, enquanto líder, foram estes os padrões de liderança que escolhi.
E, ao longo da minha carreira, enquanto chefe
ou comandante, errei muito. Muitas vezes fui intolerante. Muitas vezes não envolvi os meus mais directos colaboradores nos objectivos que NOS eram
colocados. Nem sempre escutei as suas opiniões.
E nem sempre estive preocupado com aquilo que
eram enquanto seres humanos únicos e integrados.
Hoje, com outra maturidade, procuro corrigir-me. Defendo esses valores com uma determinação expontânea sabendo que quanto mais os aprofundar mais capaz serei de ouvir e sentir o outro
e ser, ao meu nível, “um vendedor de esperança”.
Não esqueçamos: a liderança será sempre um
processo de aperfeiçoamento contínuo. Incluirá a
auto-análise crítica e a disposição para assumir
riscos. E exigirá a interacção com outras pessoas
como a família, amigos e camaradas, único veículo
para a auto-reflexão e consequente auto e hetero
avaliação.
Para mim, enquanto líder, sei que só conseguirei sonhar se tiver um sonho. E é por esse sonho
que me debato, é por ele que avanço, é por ele que
construo, derrubando barreiras. Ele faz-me voar.
Apenas procuro, defendo e combino a paixão
de uma visão com a paixão por aquilo que sou enquanto homem e militar.
Apenas me sigo porque acredito naquilo que
vejo.
Sê também tu, ó “Capitão” , um sonhador.
Azimute
Bibliografia
Ferreira, P. T. (1994). Reinventar a criatividade.
Dirigentes em tempo de mudança. Lisboa: Editorial
Presença.
Motta, P. R. (2005). Construíndo o ilógico e o intuitivo
na decisão estratégica. Direcção e Liderança Estratégica,
(p. 60). Brasil.
Sá, I. e. (2002). Educação Emocional. Lisboa: Colibri Sociedade de Artes Gráficas.
Silva, J. A. (2003). Psicologia e comportamentos.
Ribeirão Preto, Brasil: Faculdade de Filosofia, Ciências e
Letras de Ribeirão Preto.
Alencar, Eunice M. L. Soriano de (1998). Promovendo
um ambiente favorável à criatividade nas organizações.
Brasil. RAV – Revista de Administração de Empresas.
Larsson, Gerry. Indirect leadership in a military context: a qualitative study on how to do it . Emerald Group
Publishing Limited
BernardoPorto. (2010). Obtido em 02 de NOVEMBRO
de 2010, de http://www.bernardoporto.com/2010/05/10-mandamentos-para-promover -a-inovacao/
Wikipedia. (2005). Obtido em 23 de ABRIL de
2009, de http://en.wikipedia.org/wiki/Main_Page: http://
en.wikipedia.org/wiki/Beni_Hasan
Cap Inf Araújo e Silva
Na continuação do plano de aquisições das Viaturas
Blindadas de Rodas (VBR)
PANDUR que se destinam a
equipar o nosso Exército, decorreu entre 27 de Junho e
das VBR PANDUR MC (Mortar
Carrier).
Estas viaturas destinam-se a
equipar os Pelotões de Morteiros
dos Batalhões da Brigada de
Intervenção.
viatura protótipo e tem como objectivo dar uma primeira aprovação para que esta viatura, com a
correcção dos erros detectados,
sirva de base para a construção
de todas as outras deste tipo.
AZIMUTE
VBR PANDUR II Mortar Carrier
Foram feitos testes estruturais, testes mecânicos, testes à
integração do sistema da arma
na estrutura da viatura, e foi ainda executada uma sessão de
fogo real com o morteiro, para
verificar a eficácia do tiro e a rapidez da sua execução, assim
como o comportamento da viatura durante a execução do tiro,
tudo isto para garantir que a viatura cumpra as especificações
definidas.
Após alteração dos problemas levantados, a empresa
propõe novamente a viatura a
testes, estes testes já foram executados cá em Portugal na empresa que as está a montar, a
Fabrequipa.
03 Julho de 2010, na fábrica
austríaca Steyr-Daimler Puch
Spezialfahrzeug Gmbh do grupo General Dynamics, na cidade
de Viena na Áustria, a FAT (First
Article Test) para a aquisição
A equipa que executou esta
FAT foi composta por 10 elementos que tinham como objectivo
executar um conjunto de testes
à viatura protótipo.
A FAT é feita assim a uma
Esta viatura para além de todas características e possibilidades das viaturas PANDUR, tem
como particularidade ser equipada com um morteiro pesado de
120mm CARDOM da SOLTAM
Systems, fabrico Israelita. Este
morteiro é usado em todo o
mundo com muitas provas dadas, é prova disso a sua utilização nas unidades Stryker do
Exército Americano, bem como
no Exército Israelita.
Este morteiro tem a capacidade de disparar qualquer granada 120mm NATO, bastando
para isso introduzir as tabelas de
tiro das diferentes granadas na
sua calculadora de tiro.
Nº 190 DEZ10
47
AZIMUTE
A viatura é equipada com
uma calculadora de tiro que possui a capacidade de lhe ser introduzida a cartografia do terreno
e, para além de outras possibilidades associadas a esse facto,
determina automaticamente a
localização da arma e de todas
as outras armas do pelotão, determina os elementos de tiro a
dar a cada uma das armas (caso
seja definida como “PCT”), coloca a arma para a posição para a
qual vai executar o tiro e envia
os elementos de tiro das outras
armas. Às guarnições dos morteiros, como já foram determinados os elementos de tiro, basta
apenas autorizar a sua execução, colocar as cargas nas granadas, referidas na calculadora
e introduzi-las no cano.
Em resumo, o sistema de
armas consegue determinar
instantaneamente a localização
das diferentes armas no Campo
de Batalha, a sua localização
em relação ao alvo, determinar
os elementos de tiro e colocar
os morteiros prontos para tiro,
em segundos, automaticamente e de seguida a permite à
guarnição, uma rápida saída de
posição sem grandes tarefas,
evitando assim a exposição aos
fogos de contra-bateria.
Estas novas características
das unidades de morteiros introduziram alterações ao nível da
Organização, pois para além do
48
Nº 190 DEZ10
número de armas ser diferente
(lembre-se
que um Pelotão
de
Morteiros
Pesados tem 4
armas e passam a ser a 8
armas), a guarnição é de 4 elementos na viatura (condutor,
chefe de viatura/
Cmdt Secção,
Municiador e Remuniciador), as
novas orgânicas para a Brigada
de Intervenção não prevêem
secções de morteiros médios
nas companhias, o que faz que a
forma de emprego deste pelotão
seja diferente.
Ao nível da Doutrina, poderão surgir novas alterações. As
calculadoras de tiro e os sistemas de Geolocalização que
equipam as viaturas dispensam
a existência quer de bases de
fogos, quer mesmo de PCT
para o controlo do tiro, possibilitando que as viaturas estejam
dispersas no Campo de Batalha
e mesmo assim respondam instantaneamente a pedidos de tiro
e comuniquem entre si os elementos de tiro a usar.
Os procedimentos de entrada e saída de posição também
poderão deixar de se aplicar devido a estas características.
Estes Meios referidos acima
no artigo, por serem modernos
e tecnologicamente complexos,
associados ainda às viaturas
por si só complexas, requerem,
quer novos conteúdos de Treino
para se conseguir tirar o maior
partido do sistema, quer mesmo novas competências para o
Pessoal que vai operar os mesmos sistemas.
Por último estes novos equipamentos requerem obrigatoriamente um elevado conjunto
de Infra-estruturas, sejam elas
apenas para armazenamento
dos equipamentos que necessitam de estar salvaguardados
das condições climatéricas no
seu dia-a-dia, sejam elas para
manutenção dos sistemas que
equipam a viatura sejam ainda
vocacionadas para o treino das
guarnições.
Bibliografia
http://www.soltam.com
http://defense-update.com
http://www.el-op.com
Intermediate design review
MC-120mm
Final design review
MC-120mm
Azimute
Cap Inf Albuquerque
Introdução
O NATO Urban Operations
Working Group (UOWG), após
a última reunião, realizada em
Abril de 2010 na nossa Escola
Prática de Infantaria, voltou a
encontrar-se para dar continuidade aos seus projectos.
A reunião decorreu entre 20SET10 e 24SET10, em
Helsínquia, na Finlândia, tendo
contado com a participação de
40 delegados em representação
de 20 países. A unidade responsável pela organização e conduta da reunião foi o Guard Jaeger
Regiment, entidade responsável pela Formação e Treino no
âmbito do Combate em Áreas
Edificadas.
O tema abordado, resultante da reunião realizada em
Mafra, recaiu sobre Intelligence,
Surveillance, Target Acquisition
and Reconnaissance (ISTAR)
em ambiente urbano.
O desenvolvimento da reunião seguiu a estrutura habitual,
começando com um conjunto
de apresentações relativas ao
tema, a que se seguiram as sessões de trabalho por grupos.
Apresentações
O Chairman do NATO
UOWG,
Tenente-Coronel
Henk Oerlemans, do Exército
Holandês, deu início aos trabalhos, apresentando um ponto
de situação relativamente ao
Army Sub-Group (ASG) da
NATO, ao qual o Grupo pertence. Nesta comunicação, foram
expostos alguns desafios que o
Grupo de Trabalho irá enfrentar
com o processo de reorganização que está em desenvolvimento na NATO.
Foi ainda abordado pelo
Chairman
a
possibilidade
de criação de um Centro de
Excelência de Operações em
Ambiente Urbano ao nível da
NATO. Este centro apoiar-se-ia numa infra-estrutura já existente (Reino Unido ou França,
eventualmente), e teria um núcleo permanente de formadores e investigadores.
As apresentações relativas
ao tema em discussão foram feitas por especialistas de vários
países, incluindo civis a trabalharem em organismos de investigação nos Estados Unidos. Na
sua maioria foram bastante pertinentes e contribuíram para a
discussão do tema nas sessões
AZIMUTE
Reunião do
“Nato Urban Operations Working Group”
de trabalho de grupo. De salientar, que tal como proposto pelo
Chairman na reunião realizada
em Abril, o Major de Infantaria
Paulo Rodrigues Dias, do Joint
Analysis
Lessons
Learned
Centre (JALLC) fez duas apresentações. Uma sobre a estrutura e missão do JALLC e outra
sobre Hybrid Threat. Esta última
tinha em vista a possibilidade da
criação de um novo capítulo no
manual táctico de operações em
ambiente urbano, que se encontra em desenvolvimento.
Nº 190 DEZ10
49
AZIMUTE
Sessões de Trabalho
Após as apresentações, os
participantes foram divididos
por vários grupos de trabalho,
com o objectivo de debater o
tema e apresentar como produto uma proposta de conteúdos
para o anexo, do NATO Urban
Operations Tactical Handbook,
sobre ISTAR.
As sessões de trabalho decorreram de forma bastante produtiva, servindo também, para
partilhar experiências profissionais sejam elas no âmbito operacional ou da formação.
No final cada grupo de trabalho apresentou os seus produtos,
sendo posteriormente integrados
para formarem o corpo do Anexo
ISTAR.
mas também noutras, que a colaboração e compreensão dos
cidadãos em relação às Forças
Armadas é total. Existem, inclusivamente, exercícios nos quais
a própria população toma parte
e que decorrem em edifícios empresariais ou centros comerciais.
Visitámos mais tarde o Guard
Jaeger Regiment onde assistimos a um treino da Companhia
médicos, executados com bastante realismo.
de Polícia do Exército (pertencente ao Regimento), unidade
com responsabilidades e valências na área do CAE. Esta actividade decorreu na área de treino de CAE do Regimento, onde
existem alguns edifícios, maioritariamente em madeira e zonas
específicas para destruições e
utilização de explosivos. De salientar que em todos os exercícios são treinados procedimentos
tado na forma de um questionário
onde se levantam determinadas
perguntas relevantes para o assunto em causa. Os membros
do grupo terão um prazo para
responder a este questionário e
enviar os seus contributos, tentando partilhar a perspectiva do
Exército do seu país relativamente aos pontos principais do tema.
A participação de um representante do Exército Português
no NATO UOWG, revelou-se,
uma vez mais, de particular relevância. Quer pela actualização
de conhecimentos, relativamente
a uma área que cada vez mais
assume uma importância fundamental no ambiente operacional
contemporâneo, mas também
pela forma como contribui para o
aperfeiçoamento do estudo, treino e formação no âmbito do CAE
na EPI e, consequentemente, no
Exército Português.
Conclusões
No último dia, foi apresentado
o tema - Combat Service Support
- a ser debatido na próxima reunião, que terá lugar em Istambul,
na Turquia de 3 a 8 de Abril de
2011. De acordo com a metodologia em vigor, o tema é apresen-
Visitas e demonstrações
Durante o período em que decorreu a reunião, tivemos ainda
a oportunidade de visitar unidades militares e assistir a demonstrações/treinos de Combate em
Áreas Edificadas (CAE).
Presenciámos, numa primeira
oportunidade, um treino de CAE
nocturno, do Curso de Formação
de Oficiais e Sargentos. Este
treino teve lugar numa escola abandonada, localizada num
bairro residencial de Helsínquia.
Esta é uma infra-estrutura com
imensas potencialidades e ficou
presente, não só nesta ocasião,
Azimute
50
Nº 190 DEZ10
Maj Inf Ribeiro de Faria
Lições identificadas num
modelo em evolução
Decorreu de 11JAN10 a
15JUL10 a primeira edição do
Curso de Promoção a Capitão
das Armas e Serviços, Serviços
Técnicos e Serviço de Saúde
na Escola Prática de Infantaria.
O curso desenrolou-se durante
15 semanas para o CPC A/S e
teve a duração de quatro e dez
semanas para o serviço de saúde e serviços técnicos, respecti-
à análise cuidada dos resultados
da validação interna efectuada
pelos formandos, dos contributos da equipa de coordenação e formativa que ministrou
o mesmo e dos resultados da
avaliação a que os alunos foram
submetidos. Com base nesta
análise, foi possível identificar
um número de lições que deram
origem a uma proposta de alteração do referencial, a mudanças no planeamento do curso e a
ambiente operacional onde os
futuros capitães actuarão no desempenho das missões operacionais que lhe serão cometidas.
A linha de força “Formar para
o que vai fazer” estabelece um
conceito em que é necessário
assentar a formação no que realmente tem impacto directo no
futuro dos novos capitães, em
detrimento de abordagens teóricas e conceptuais de discutível
aplicabilidade.
AZIMUTE
Curso de Promoção a Capitão das Armas e Serviços,
Serviços Técnicos e Serviço de Saúde 2010
Fig.1 – Calendarização geral do CPC A/S, ST e SS
vamente. Os cursos voltaram a
juntar-se, após as respectivas
partes específicas, para a execução do Exercício de Postos de
Comando (CPX/CAX) no Centro
de Simulação do Exército, sob a
responsabilidade da EPI.
Esta primeira edição teve por
base o já aprovado referencial do
CPC Armas e Serviços, ajustado
aos Serviços Técnicos e Serviço
de Saúde tendo em conta o tempo disponível e os objectivos específicos de cada curso. Após a
realização do curso procedeu-se
ajustamentos de procedimentos
no desenvolvimento do mesmo.
Os pontos de maior relevo resultantes da análise dos instrumentos acima descritos enquadram-se em três áreas: Perfil de
Formação, Perfil de Avaliação
e Formadores.
No que respeita ao Perfil de
Formação, o conceito adoptado
para ministrar o CPC 2010 passou por uma abordagem integrada a temas e áreas de actuação
que caracterizam a conflitualidade actual e que compõem o
Assim, foram introduzidos novos temas que contribuíram para
esta abordagem, tendo sido bem
recebidos pelos alunos, pois espelham uma realidade que hoje
se encontra nos teatros onde o
Exército desempenha a sua missão. Desses temas destacam-se:
• Tema
Didáctico
de
Operações de Apoio à Paz;
• Formação sobre o Direito
Internacional Humanitário;
• Palestra sobre Organizações Não-governamentais;
• Formação
sobre
C-IED
Nº 190 DEZ10
51
AZIMUTE
servirem numa unidade que recebe o encargo de nomeação
de formadores para o curso. Tais
O futuro passará por manrequisitos deveriam passar por
ter estes temas no Plano de
possuírem formação específica
Formação, introduzindo outros
e/ou experiência de desempenho
igualmente actuais e que contride funções na área a ministrar,
buam para o real desempenho
de forma a trazer mais-valias na
de funções dos futuros capitães
nos teatros de operações em
formação dos futuros capitães.
que o Exército
Não se pretenopera. A abordade um corpo
gem destes tede formadores
mas deve, igualque ministrem
mente e quando
as
sessões
possível,
ser
única e exclude âmbito prásivamente de
tico e facilitar
acordo
com
o
paralelismo
o manual da
entre a teoria e
cadeira, mas
a vida real do
antes que connosso Exército,
tribuam,
de
de modo a que
forma pragmáse
constitua
tica e esclauma verdadeirecida, com a
ra
mais-valia
sua experiênpara os futuros
cia na área,
Fig.1 – Calendarização geral do CPC A/S, ST e SS
capitães.
resultante do
Já sobre o
desempenho
onde estes poderiam aplicar os
Perfil de Avaliação, é de saliende funções e/ou formação esconhecimentos obtidos nas ditar a intensidade dos momentos
pecífica na mesma. Apenas asversas matérias na resolução
de avaliação, com especial resim se conseguirá implementar
de problemas reais de natureza
levo para o Serviço de Saúde,
o Conceito acima descrito, que
diversa.
que pouco contribui para a conprevê uma abordagem integrada
solidação da matéria ministrada.
Por fim, no que aos
das áreas de interesse para os
O recurso a testes rápidos, de
Formadores diz respeito, é de
futuros capitães, numa perspecescolha múltipla ou de verdasalientar o facto de alguns dos
tiva de “Formar para o que vai
deiro/falso, onde têm sucesso
formadores nomeados pelas difazer”, que lhes trará verdadeios alunos mais organizados e
ferentes Escolas Práticas e resras mais-valias para o seu futunão necessariamente os mais
tantes unidades, estabelecimenro próximo, principalmente nas
esclarecidos, enferma de um
tos ou órgãos do Exército para
unidades da Força Operacional
mal que é o não apelo à capacio CPC não terem competências
Permanente do Exército.
dade de aplicação de conceitos
específicas e/ou experiência na
(Counter
Improvised
Explosive Devices).
momentos de avaliação, com especial relevância para o Serviço
de Saúde, porventura concentrando os testes rápidos em menor número de provas de avaliação, o que permitiria combinar
tais matérias em testes de maior
duração, com uma situação táctica apresentada aos alunos,
aprendidos a novas situações,
limitando-se a solicitar ao aluno
um exercício de memorização
da matéria ministrada. Tal não
favorece o espírito criativo e
adaptabilidade que se querem
nos futuros capitães.
área para a qual foram nomeados, cumprindo a sua função de
ministrar a matéria respectiva,
mas trazendo poucas mais-valias ao curso.
Assim
sendo,
sobressai
a possibilidade de reduzir os
52
Nº 190 DEZ10
Assim, deverão ser definidos requisitos para nomeação
de formadores do CPC que vão
para além do simples facto de
Estas lições contribuirão para
o planeamento e conduta do
CPC 2011, na esperança e perspectiva de uma melhoria contínua, com vista à elevação dos
padrões de qualidade do Curso
de Promoção a Capitão de todas
as armas e serviços do Exército
Português.
Azimute
TCor Inf Mendes Dias
Os recentes desenvolvimentos tecnológicos no domínio dos
sistemas para o soldado do futuro têm revelado um problema interessante que requer soluções
a curto prazo.
A crescente variedade de
papéis desempenhados pelas
forças armadas (operações militares, controlo populacional e de
insurreições, suporte a resposta
a catástrofes/crises e situações
de emergência) e os desafios
colocados pelas operações militares do século 21 (conflitos
assimétricos e uso de tácticas e
equipamento não convencional)
geraram a necessidade de se
desenvolverem soluções tecnológicas capazes de sustentar
capacidades melhoradas (tais
como percepção situacional e
comando e controlo, protecção
contra ameaças biológicas, químicas e radiológicas mobilidade,
sustentabilidade, aquisição e
identificação de alvos, entre outros). O uso crescente de equipamento electrónico por parte
do soldado (por exemplo: rádios,
GPS, câmaras térmicas e IR,
computadores e variados sensores) e o protagonismo destes sistemas nos programas Europeus
de modernização do soldado
demonstraram a necessidade
de crescentes quantidades de
energia eléctrica de modo a extrair todo o potencial dos equipamentos propostos, o que resulta
no uso de mais baterias e consequentemente maior peso para
o soldado ou autonomia inferior
para os equipamentos e por conseguinte capacidades inferiores.
AZIMUTE
Projecto MEP
Módulos para “Energy harvesting” e geração de
energia Portáteis
Existem actualmente três estratégias para abordar as necessidades energéticas do soldado:
melhorar a densidade energética
das baterias, investigar novos
métodos de gestão e distribuição
de energia e desenvolver soluções de geração de energia
portáteis ou capazes de extrair/
re-aproveitar energia a partir do
ambiente ou das próprias pessoas (“Energy Harvesting”).
O Projecto MEP tem por
objectivo desenvolver dois
módulos portáteis de geração
de energia baseados precisamente nesta última estratégia.
O primeiro será baseado na
Nº 190 DEZ10
53
AZIMUTE
extracção de energia a partir de
vibrações e movimentos do soldado e o segundo em geração
de energia através de micro-motores. As actividades do projecto vão permitir a criação de dois
produtos inovadores baseados
em tecnologia de duplo-uso no
mercado da Defesa (com potencial aplicação no mercado civil),
proporcionar às Forças Armadas
mecânica, foi reunido um conjunto de entidades Nacionais
detentoras de considerável experiência nos domínios tecnológicos e científicos considerados,
que submeteram uma candidatura ao Sistema de Incentivos à
Investigação e Desenvolvimento
Tecnológico nas Empresas (SI
I&DT) do programa Quadro de
Referência Estratégico Nacional
requisitos, bem como na
validação funcional e operacional dos protótipos;
• O Instituto de Engenharia
Mecânica
e
Gestão
Industria (INEGI), na definição dos materiais para
encapsulamento e empacotamento das soluções baseadas em micro-motores
e em “harvesting” de vibrações e movimento.
•
A
Almadesign,
no design industrial para
o desenho e estudo er-
gonómico, em conjunto
com os restantes co-promotores, dos módulos de
energy harvesting e de
geração de energia através de micro-motores.
Portuguesas acesso em primeira mão a soluções inovadores a
nível Europeu, potenciando ao
mesmo tempo a entrada no mercado Europeu da Defesa.
Para fazer face a este conjunto de desafios levantados
em Áreas Tecnológicas que
vão da energia, à electrónica e
instrumentação e à engenharia
54
Nº 190 DEZ10
(QREN) 2007-2013, e que se
descriminam:
• A TEKEVER, na qualidade
de entidade coordenadora
e responsável pela apresentação das soluções e
deliverables;
• O Exército, através da
Escola Prática de Infantaria,
na definição e análise de
O Projecto com a duração de 2/3 anos irá de
forma metodológica apresentar
produtos/ deliverables no âmbito
dos objectivos parciais traçados.
Para operacionalizar este
projecto será assinado um protocolo colaborativo entre o
Exército, e a TEKEVER, em que
o Comandante da EPI foi nomeado como representante de Sua
Exa o GEN CEME, para a assinatura do referido contrato.
Azimute
TCor Inf Travanca Lopes
1. Introdução
A informação georreferenciada assume, hoje
em dia, uma importância vital para o desenvolvimento das sociedades, nas quais apresenta um
papel fundamental nos sistemas de informação geográfica, sendo estas ferramentas cada vez mais
divulgadas e ao dispor dos decisores. A informação
aeronáutica não é excepção, facto este que levou o
INAC (Instituto Nacional da Aviação Civil) a procurar um parceiro estratégico com conhecimento, arte
e experiência em cartografia, para a elaboração da
carta aeronáutica de Portugal.
O IGeoE (Instituto Geográfico do Exército),
instituição reconhecida no panorama cartográfico nacional e internacional, aceitou este desafio,
contribuindo uma vez mais para o cumprimento da
missão do estado português, vindo assim colmatar
uma lacuna na cartografia portuguesa e fornecendo aos utilizadores do espaço aéreo uma ferramenta imprescindível, para planeamento e navegação
aérea.
2. Características técnicas
Para cobrir todo o território nacional foram efectuadas 3 cartas, uma de Portugal continental à escala 1/500.000, uma do arquipélago da Madeira
também á escala 1/500.000 com janelas das respectivas ilhas á escala 1/250.000 e uma do arquipélago dos Açores à escala 1/1000.000 com janelas das ilhas à escala 1/500.000.
Para que os rumos medidos nas cartas sejam
os correspondentes geodésicos, não sofrendo
qualquer deformação, utilizou-se na projecção das
entidades para o plano, uma projecção cónica conforme, com as seguintes características:
• Projecção – Cónica Conforme Secante de
Lambert;
• Datum – WGS84;
• Elipsóide – WGS84;
• Datum Vertical – Nível médio das águas do
mar.
As cartas elaboradas contemplam, para melhor interpretação, uma legenda em Português e
respectiva tradução em Inglês, facilitando dessa
forma a leitura da mesma por utilizadores internacionais. A legenda é constituída por duas componentes, uma frontal e outra no verso da carta.
Nesta última, encontra-se ainda uma representação de todo o espaço aéreo, com a localização dos
parques naturais e uma carta da zona de Lisboa,
a uma escala 1/50.000, com as áreas proibidas de
sobrevoo definidas legalmente (por decreto-lei),
no caso da carta dos Açores tem representado na
sua retaguarda a FIR de Santa Maria e na carta da
Madeira a FIR da Madeira.
AZIMUTE
Carta Aeronáutica ICAO de Portugal
3. Altimetria e Hipsometria
A informação altimétrica está representada nestas cartas em pés e metros, para facilidade de leitura pelos utilizadores do espaço aéreo, uma vez
que os altímetros das aeronaves estão normalmente graduados em pés. Esta informação inclui curvas de nível com uma equidistância natural de 300
metros, pontos de cota, um modelo de sombras e
hipsometria, para uma mais rápida avaliação da altimetria e do relevo.
É utilizada a imagem hipsométrica em conjunto com o modelo de sombras, para nos dar uma
rápida percepção do relevo, permitindo dar ênfase
a algumas formas do terreno. Ambas as imagens
foram obtidas a partir do modelo digital do terreno.
A hipsometria foi gerada com base numa escala de
cores (escala hipsométrica), enquanto que o modelo de sombras foi conseguido assumindo a existência de uma fonte de luz numa posição azimutal de
315º e altura de 45º.
4. Informação aeronáutica
Para a aquisição da informação aeronáutica,
por ter em consideração as altitudes dos objectos
representados e ser de primordial importância para
a segurança de voo, houve que recorrer às entidades nacionais com autoridade para gerir o espaço aéreo em Portugal. A informação aeronáutica
representada nesta carta foi fornecida em formato
numérico a partir do AIP (Aeronautical Information
Publication) pelo INAC e NAV Portugal (Navegação
Aérea) e envolveram os seguintes temas:
Nº 190 DEZ10
55
AZIMUTE
• Obstáculos;
• Aeródromos;
• Ajudas rádio.
• Espaço aéreo controlado.
Com base nesta informação foi constituída uma
base de dados, a partir da qual foi possível projectar na carta estas entidades cartográficas e servir
de base para o SIG aeronáutico.
A actualização entre edições desta carta é feita
por: NOTAM’s (Notice to Airmen) da responsabilidade do INAC.
perigo potencial para as operações de aeronaves
e todas as áreas sobre as quais poderá, por diversos motivos, ser restrito temporária ou permanentemente o voo de aeronaves, são identificadas
pelos seus limites e por um envelope que contem
a identificação da área, o seu limite inferior/superior e eventualmente a sua classificação de espa-
Aeródromos e Heliportos
Os aeródromos, heliportos e heliportos em hospital, quer sejam militares ou civis, estão representados, nestas cartas independentemente do piso,
desde que certificados pelo INAC. Estão representados nesta carta aeródromos civis e militares, cuja
representação da pista principal se encontra na
Fig 2 – Área Restrita e respectiva classificação de espaço aéreo
Fig 1a – Vista de aproximação ao aeroporto de Lisboa, em
ambiente SIG
orientação correcta.
Ajudas à navegação
ço aéreo. Estas áreas são classificadas pela ICAO
(Organização de Aviação Civil Internacional) da seguinte forma:
-- Áreas Perigosas;
-- Áreas Restritas,
(ver fig.2);
-- Áreas Proibidas;
-- Reserva do
Espaço Aéreo
Temporária, (ver
fig.3).
Fig 3 – Área de Reserva
Temporária de Espaço Aéreo
Espaço Aéreo Controlado
As ajudas rádio que
Estão representadas, nestas cartas, as seapoiam a navegação aéguintes áreas:
rea e representadas nes-Áreas
de Controlo Terminal (TMA’s), ver fig 4.
tas Cartas são:
-Zonas
de Controlo (CTR’s).
-VOR [ VHF
5. Obstáculos
Omnidirectional Range];
à navegação
-TACAN [Tactical Air
aérea
Navigation Aid];
Qualquer es-DME [ Distance
trutura
(instalação)
Measuring Equipment];
Fig 1b – Representação cartográfica
de aeródromos, heliportos e
cultural
com uma
-VORTAC [Vor e
respectivas ajudas rádio
altura igual ou suTacan];
perior a 200 pés acima
-NDB [Non – Directional Beacon].
do terreno envolvente
são consideradas peEstas ajudas à navegação dão em cada instante
rigosas à navegação
a distância e/ou informação azimutal, conforme os
aérea, devendo como
casos, podendo ainda combinar-se entre si.
tal ser representadas
Espaço aéreo
bem como etiquetadas, Fig 4 – TMAs do Porto, Lisboa
e Faro, em ambiente SIG.
Todo o espaço aéreo em que possa existir um
com a indicação da sua
56
Nº 190 DEZ10
AZIMUTE
natureza (Antena, Chaminé, ... etc.)
Na representação dos obstáculos é colocado
junto ao símbolo as seguintes anotações (ver figs.
5 e 6):
- Linha superior: cota no topo do obstáculo (em
metros e pés).
- Linha inferior: altura do obstáculo acima do terreno (em metros e pés).
Fig 5 – Obstáculos à navegação aérea, Ponte 25 de Abril e
Cristo Rei, modelos 3D em ambiente SIG, sobrepostos ao MDT
e imagem de satélite
6. Controlo da qualidade
O controlo da qualidade
deste produto foi feito em duas
fases. Uma especificamente
aeronáutica, efectuada pelo
INAC e NAV Portugal contando ainda com a colaboração de
diversos pilotos e da FAP, utilizadores deste produto. Outra,
interna e de âmbito mais geral
abrangendo todos os temas
representados, tendo especial
atenção à legibilidade da carta
e à informação topográfica.
Fig 7b – SIG aeronáutico
Fig 6 – Obstáculos
á navegação aérea,
Parque eólico
Fig 7a – Carta aeronáutica dos Açores
Fig 7c – Carta aeronáutica da Madeira
Nº 190 DEZ10
57
AZIMUTE
7. Conclusão
Portugal já carecia
de um produto deste
tipo, sendo justamente
reclamado
pelos
utilizadores do espaço
aéreo, pois a ultima
edição
da
Portugal
refere-se
carta
de
Continental
a
1972
e
sendo mais antigas as
edições dos arquipélagos da Madeira e dos
Açores, além de que,
este tipo de carta sofre
uma grande desactualização em virtude dos
temas que representa.
A navegação por instrumentos e a navegação
à vista requerem que o
navegador tenha sempre à mão um meio que
o auxilie nessa tarefa.
Este tipo de informação
cartográfica é extremamente útil para diversas
actividades onde podemos incluir busca e
salvamento, operações
de combate a incêndios
e todas as actividades que incluam meios
aéreos.
O IGeoE abre assim
as portas aos navegadores aéreos para que
os dados possam entrar no cockpit da aero-
Fig 7d – Carta aeronáutica de Portugal Continental
nave em formato elec-
trónico de um SIG, assim como em formato papel
(ver fig.7), auxiliando o piloto e fornecendo-lhe a informação necessária para um melhor cumprimento
da sua tarefa. Este SIG permite ainda uma maior
abrangência, nomeadamente na gestão do espaço
aéreo, fornecendo a informação necessária aos decisores em tempo oportuno.
58
Nº 190 DEZ10
Azimute
Bibliografia
Lopes, J. e Valério M. 2004. 1501 A uma carta aeronáutica.
In: Actas da III Conferência Nacional de Cartografia e Geodesia,
Lidel, pp. 276-286.
Lopes, J. 2009. Carta aeronáutica ICAO de Portugal á escala 1/500.000. Revista do Comando da Logística Nº1, II série pp.
28-32, Comando da Logística, Deposito legal nº 4510/84.
Aeronautical Chart Manual, ICAO
Anexo 4, to the Convention on International Civil Aviation,
Aeronautical Charts, Tenth Edition, July 2001.
Maj Inf Lourenço Borges
1. Introdução
das suas infra-estruturas diversas Unidades, Estabelecimentos
e Órgãos do Exército, das
Forças Armadas, das Forças de
Segurança locais e nacionais,
delegações estrangeiras per-
do Combate em Áreas Edificada
(CAE), das Operações de Apoio
à Paz (OAP), visa apoiar o objectivo de dar cumprimento aos
planeamentos anuais das actividades inerentes aos Planos de
Formação Anuais do Exército,
onde se destacam na formação
inicial, os Tirocínios para Oficial
de Infantaria (TPOI), os Cursos
de Formação de Sargentos de
Infantaria (CFSI), os Cursos
de Formação para Oficiais e
Sargentos RV/RC (CFO/CFS),
os Cursos de Formação Geral
Comum de Praças do Exército,
assim como os de formação contínua de Tiro, de CAE, de OAP.
Também ao nível externo, a
EPI tem vindo a apoiar ao nível
tencentes ao Allied Joint Force
Command Lisbon e entidades
civis, na sua formação (inicial,
A capacidade instalada na
Escola Prática de Infantaria (EPI)
em infra-estruturas de apoio à
formação, treino e avaliação nas
áreas de competências do Tiro,
avançada), treino (de manutenção e operacional) no âmbito da
preparação/aprontamento para
missões de apoio à paz e estabilização e de interesse público.
Devido ao número de formandos e de cursos que necessitam
das supracitadas infra-estruturas, por forma fazer face ao
elevado desgaste das mesmas,
tornou-se necessário realizar um
conjunto de trabalhos de manutenção, com vista à consequente
melhoria da qualidade da formação e treino realizados.
Num esforço coordenado
com o Exército, esteve presente
na Escola, de Julho a Novembro,
uma unidade de Engenharia em
preparação/aprontamento para
a missão de paz no Líbano,
a Unidade de Engenharia 9
(UnEng9), que executou um conjunto de obras de construção e
reabilitação de infra-estruturas
que serviram não só de preparação técnica para os militares
que fazem parte da Força, como
Nº 190 DEZ10
AZIMUTE
Reabilitação das Infra-Estruturas de Apoio à Formação
da EPI
59
AZIMUTE
6.Limpeza geral de vegetação
da CT;
7.Remoção e reconstrução
dos taludes de protecção às
calhas de bastidores e aplicação de uma camada de
terra vegetal com cerca de
0,20m de espessura;
8.Construção da calha para
suporte das silhuetas tiro de
combate e tiro instintivo.
b. Carreira de Tiro Nº4
1.Alongamento do espaldão
lateral direito;
2.Limpeza das calhas de suporte dos bastidores.
também serviram para a melhoria das infra-estruturas de formação e treino da EPI. Aproveitouse desta forma a valência técnica
dos militares de Engenharia,
no seu treino/preparação para
a missão, para a execução de
trabalhos que servirão de apoio
a todas as UEO do Exército e
entidades externas que utilizam
estas infra-estruturas.
Destacam-se, dos trabalhos efectuados, os realizados
nas Infra-Estruturas de Tiro,
no Campo de Lançamento de
Granadas, na Pista de 200metros e no Centro de Formação
e Treino de Combate em Áreas
Edificadas.
2. Infra-Estruturas de Tiro
a. Carreira de Tiro Nº1
1.Expurgagem do espaldão
frontal e remoção dos afloramentos rochosos, recarga do mesmo com terra
peneirada isenta de inertes
e acabamento superior em
terra vegetal com cerca de
0,20m;
2.Melhoria dos sistemas de
escoamento de águas pluviais desde dos 300m até
ao espaldão final;
3.Colocação de terra vegetal
no leito da CT com 0,20m
60
Nº 190 DEZ10
de espessura;
4.Demolição das casas dos
100, 200 e 300m, reconstrução, pré instalação de
electricidade e pintura das
mesmas;
5.Reabilitação da casa dos
500m;
c. Campo de Lançamento
de Granadas (CLG)
1.Limpeza por parte da equipa EOD do CLG;
2.Alongamento do espaldão de protecção da Zona
Perigosa de Superfície;
Casa 500mt - CT1
3.Colocação de vidros de protecção balística.
3. Pista de 200 Metros
a.Fundações para a construção da Pista de Obstáculos
de 200m, estando nesta
fase concluídos os primeiros
6 obstáculos, nomeadamente paliçada, muro, barra, vala, rede de rastejar e
dupla barra;
b.De salientar que este projecto estava inicialmente
pensado para a “Aldeia
dos Macacos”, tendo sido
proposto pela Secção de
Educação Física a sua alteração, tendo em conta as
potencialidades do antigo
Campo de Futebol do Alto
da Vela sob o ponto de vista
do máximo aproveitamento
do espaço.
4. Centro de Formação
e Treino de Combate em
Áreas Edificadas
a.Construção de duas (2)
fachadas para treino em
Áreas Edificadas;
b.Escoamento de água nas
novas fachadas.
Fachadas do Centro de Formação
e Treino de Combate em Áreas
Edificadas
Conclusão
Como já referido, todos estes
AZIMUTE
trabalhos têm em vista a melhoria da qualidade da formação e
treino ministrados na EPI, e a
consequente modernização dos
espaços destinados à utilização
pelos nossos militares.
No entanto, é importante referir que a Escola tem de estar
preparada para aproveitar todas
as oportunidades de desenvolvimento e afirmação. Iniciada
que está a obra, cabe-nos agora continuar e melhorar, contribuindo sempre para a qualidade
da formação que é ministrada
na Escola, e que para muitos
é o exemplo de Excelência e
Certificação da Formação nas
diversas áreas de que a EPI é
responsável.
Utilizando as palavras do
Exmo. Cmdt da Escola Prática
de Infantaria, “não podemos ser
excelentes apenas através de
palavras, mas antes, pela capacidade de afirmação através
de realização de obras”1. Assim,
“temos necessidade de liderar os
processos de transformação e
inovação, e consequentemente
de propor a introdução de novas
tecnologias, técnicas e métodos
na Infantaria”2.
Para
finalizar
recordo:
“O nosso destino é FAZER
ACONTECER e talvez num
mundo palavroso, pudéssemos
acrescentar ao nosso SABER
FAZER um SABER FAZER
ACONTECER”3.
Azimute
Com a colaboração de:
Tenente de Infantaria Rui Alves
Alferes RC Ricardo Cardoso
1 Discurso de Tomada de Posse do
Exmo. Comandante da EPI, Coronel
Infantaria Jorge Manuel Barreiro
Saramago, de 30 de Agosto de 2010.
2 Idem.
3 Ibidem.
Nº 190 DEZ10
61
AZIMUTE
Mini UAV nos Baixos Escalões Tácticos
Maj Inf Lourenço Borges
“National Army transformational trends have shown a common direction on acquiring full knowledge of
the threat facing units down to squad level.”
NATO Force Proposals, 2008
1. Introdução
Decorrente da “BI-SC FORCE PROPOSAL
PACKAGES -2008 FORCE GOAL CYCLE”, no
que concerne à arquitectura e capacidades de
Intelligence, Surveillance, Target Aquisition and
Reconnaisance (ISTAR), os países membros da
NATO ficaram de até 2018, desenvolver capacidades independentes nesta área no escalão
Brigada e Batalhão. Iniciou-se assim um período
de planeamento, que se materializou no “Plano de
Desenvolvimento e Implementação da Capacidade
ISTAR no Exército (2009 – 2018)” e do qual resultou a criação uma Unidade ISTAR e a adequação
da composição e organização das Brigadas, nomeadamente das Unidades Escalão Batalhão (UEB) e
Esquadrões de Reconhecimento (ERec), aprovando novos Quadros Orgânicos em 2009.
2. Aparecimento dos UAV no Exército
Português
Fig 2. Estrutura Orgânica da Companhia de Apoio de Combate
Fig 1. Estrutura Orgânica do Batalhão ISTAR
de racionalização dos meios, gestão de qualificações e treino, os Mini UAV (12 sistemas) a atribuir
para emprego das 3 UEB (3 sistemas cada) e do
ERec (3 sistemas). Nos Batalhões de Infantaria os
Mini UAV são orgânicos da Companhia de Apoio de
Combate (CAC).
Quanto à tipologia de operações, o Exército pretende que as Forças UAV possam ser empenhadas
em todo o espectro de operações: Âmbito Artigo 5.º
- Defesa Colectiva (Guerra Convencional); Âmbito
não Artigo 5.º (CRO) – Operações de Resposta a
Crises, tal como em Tempo de Paz.
Quanto à prioridade das Missões a atribuir,
as Forças UAV terão emprego prioritário em
missões de Reconhecimento, Vigilância e de
Apoio ao Targeting – principalmente através da
Referenciação e Designação de Alvos e, no final
das acções de tiro, serão empregues no Controlo
de Danos (Battle Damage Assessement) sobre
A solução encontrada pelo nosso Exército para
as 3 Brigadas, foi a criação de um Batalhão ISTAR,
para atribuição a uma das Brigadas, que incorporará Veículos Aéreos Não Tripulados – Unmanned
Aerial Vehicles (UAV) através de um Pelotão de
UAV LAME (Low Altitude Medium Endurance).
Este Pelotão terá como equipamento principal 4
sistemas UAV LAME e concentrará, por uma lógica
62
Nº 190 DEZ10
entretanto
3. Mini UAV – características e exemplos
ALADIN da EMT e o
Britânico CASPER 250 da
Sonic Communications.
4. Conclusão
As Secções de Mini
Os Mini UAV são usaUAV como subunidade
dos nos baixos escalões
orgânica das CAC são,
tácticos,
nomeadamente
sem dúvida, um potenpor Unidades de Infantaria
ciador dos Batalhões de
e Reconhecimento, porInfantaria, permitindo aos
que podem ser facilmente
comandantes ter uma vitransportados e operados
Fig 3. SKYLARK I da Elbit Systems
são do Espaço de Batalha
em combate por esta tipoque
antes
não
conseguiriam
ter.
logia de unidades, devido às suas características:
Existem,
hoje,
empresas
portuguesas que se
pequenas
dimensões; querem associar ao Exército no desenvolvimento
robustez; re- de um Mini UAV que possa ir de encontro aos reduzido peso; quisitos técnico-tácticos que pretendemos.
Exemplo disso é a demonstração de Mini UAV,
pequeno alcance; trans- da empresa TEKEVER, promovida pela Divisão
p o r t á v e i s de Planeamento de Forças do Estado Maior do
por
milita- Exército, com o apoio da EPI, que teve lugar, em 29
res apeados de Julho de 2010, nas instalações da nossa Escola
em combate e à qual assistiram militares de diversas unidades
(dentro
de
uma mochila,
por
exemplo);
facilFig 4. Consola do operador do SKYLITE B
mente
lançada Rafael
dos à mão;
capazes de transportar equipamentos sofisticados
de transmissão de dados; capacidades de vídeo e
pouco ruidosos.
Há bastantes modelos de Mini UAV que estão
em uso por forças armadas de outros países, tendo
as empresas Israelitas a liderança neste domínio,
como são exemplo: SKYLARK I da Elbit Systems;
SKYLITE B da Rafael; BIRDEYE 400 – IAI/Malat
e LIGHTENER da ITL Optronics. Contudo, há outros modelos bastante utilizados nos recentes teatros de operações, Iraque e Afeganistão, como
os Americanos RQ-11 RAVEN da AeroVironment e
DESERT HAWK III da Lockheed Martin; o Alemão
AZIMUTE
os objectivos
batidos.
Fig 6. AR4 LIGHT RAY da Tekever
do encargo operacional do Exército, bem como de
Escolas Práticas e do Estado-Maior do Exército.
A demonstração iniciou-se com uma apresentação da TEKEVER Autonomous Systems, onde foi
feita a introdução à temática dos UAV e da sua utilização no contexto militar e civil, incluindo as principais linhas de produto. Seguidamente assistiu-se
à demonstração de Sistemas de mini UAV AR4
LIGHT RAY da Tekever.
Azimute
Fig 5. RQ-11 RAVEN da AeroVironment
Referências:
EME (2009). Plano de Desenvolvimento e
Implementação da Capacidade (PDIC) ISTAR. Aprovado
por despacho de Sua Exa. o GEN CEME de 18AGO09.
BI-SC FORCE PROPOSAL PACKAGES -2008
FORCE GOAL CYCLE
Apresentação “Visão Estratégica e o Conceito de
Operação de Unmanned Aerial Systems na perspectiva
do Exército”, MAJ Oliveira, IESM, 17Jun10
Sites da Internet
Nº 190 DEZ10
63
AZIMUTE
Taxonomia dos Objectivos Educacionais:
a abordagem de Marzano
TCor Inf Francisco Rijo
Em 1956, Benjamin Bloom e a sua equipa
(Bloom, Engelhart, Furst, Hill, Krathwohl) lançam a
publicação “Taxonomy of Educational Objectives,
The classification of Educational
Goals, Handbook I: Cognitive
Domain”, onde é divulgada a sobejamente conhecida Taxonomia
de Bloom para o Domínio
Cognitivo. A finalidade desse trabalho era conceber um modelo
que permitisse aos educadores
desenhar Objectivos Educacionais, de acordo com
uma organização hierarquizada.
Bloom preconizava então um conjunto hierarquizado de seis níveis de processos de raciocínio,
de grau de complexidade relativa crescente, sendo
do mais elementar para o mais complexo:
1- Conhecimento
2- Compreensão
3- Aplicação
4- Análise
5- Síntese
6- Avaliação
Mais tarde, em 1964, é lançada nova publicação, desta vez consignada ao Domínio Afectivo,
não tendo sido elaborado qualquer trabalho no
Domínio Psicomotor por parte de Bloom, por se
entender desnecessário no contexto educacional
de então. É Harrow quem em 1972 apresenta uma
taxonomia neste domínio. Portanto, Bloom considerava três domínios do conhecimento: Cognitivo,
Afectivo e Psicomotor, tendo apresentado modelos
para os dois primeiros, com particular ênfase no
Domínio Cognitivo.
Se de facto este modelo teve uma diminuta
influência no desenho curricular, já o mesmo não
poderá ser dito no que se refere ao impacte que
teve no domínio da avaliação, atingindo o seu apogeu em 1965 na avaliação de eficácia do ensino
elementar e secundário nos Estados Unidos, inserida no programa de luta contra a pobreza levado a
cabo pelo Presidente Lyndon Johnson.
Todavia o modelo de Bloom apresentava
64
Nº 190 DEZ10
problemas, que eram aliás reconhecidos pelo próprio autor. Como principais críticas ao modelo desenvolvido no âmbito do Domínio Cognitivo, salienta-se que:
• A hierarquia dos níveis é discutível. É duvidoso que a análise preceda a síntese ou vice-versa. De igual modo a Avaliação no topo da
complexidade é contestada por vários autores.
Num processo de resolução de problemas, a
Avaliação poderá constituir-se como o prelúdio
de outra fase mais complexa. Portanto, se os
três primeiros níveis estão bem desenvolvidos
e dissecados, já os três últimos se confundem
e misturam.
• O sistema proposto é heterogéneo no sentido
em que confunde e mistura na sua categorização a tipologia de conhecimentos com os processos mentais que o operam.
• Os vários níveis não se excluem mutuamente,
não sendo possível estabelecer uma fronteira
clara entre a análise e a compreensão, ou entre a análise e a Avaliação.
Não obstante o notável
contributo dos trabalhos de
Bloom para as teorias e práticas educativas, surge, sobretudo a partir de 1980, a
necessidade de revisitar o seu
modelo, devido à ênfase posta
no ensino de mais elevados níveis de raciocínio e as pesquisas a ele associadas. Desde
então, várias associações foram formadas com
esse propósito e em 1999 Lori Anderson publicou
um significativo trabalho de retrospectiva da utilização da taxonomia. Nesse mesmo ano, reúne-se um
grupo de especialistas, supervisionado por David
Krathwohl, que participou do desenvolvimento da
Taxonomia original no ano de 1956, e em 2001, o
relatório da revisão é publicado num livro intitulado
“A taxonomy for learning, teaching and assessing:
a revision of Bloom’s taxonomy for educational objectives” (Anderson et al., 2001). São sobretudo
os progressos no conhecimento sobre o funcionamento do cérebro, a natureza do conhecimento e
i.e. o primeiro nível é o Conhecimento (tipologia
do Saber) propriamente dito, enquanto os outros
níveis tratam de operações mentais. Ora o novo
modelo evita esta confusão, na medida em que a
Taxonomia compreende na sua disposição hierarquizada apenas os Sistemas de raciocínio, considerando o Conhecimento como o objecto dessas
operações.
O sucesso de uma aprendizagem depende
em grande medida da quantidade de informação
(Saber) disponível. Sem informação suficiente um
formando até poderá estar altamente motivado
para aprender (Sistema Interno), poderá até ter
estabelecido metas no processo de aprendizagem
(Sistema Metacognitivo) e até recorrer a um conjunto de perícias analíticas (Sistema Cognitivo).
Todavia a menos que esse formando possua a informação necessária de suporte à aprendizagem
em causa, o efeito desses processos de raciocínio será mínimo. Marzano identifica três domínios
do Saber: Informação, Procedimentos Mentais e
Procedimentos Psicomotores. Resume-se no quadro seguinte a articulação destes domínios, sendo
de referir que para cada domínio, as diferentes categorias articulam-se com um nível de complexidade crescente:
AZIMUTE
a interacção entre ambos, que permite lançar uma
nova reflexão e um novo olhar sobre estes modelos.
Em 2001 um modelo alternativo é proposto por
Robert Marzano. Esta nova Taxonomia identifica três Sistemas do Raciocínio e os domínios do
Saber. Se os
sistemas representam o modo
como o raciocínio se coloca
perante a possibilidade de uma
nova
aprendizagem, já o conhecimento representa o conjunto de conteúdos, objecto desse raciocínio.
Assim, este modelo descreve
como o ser Humano decide ou
não empenhar-se numa nova
aprendizagem e uma vez nela
empenhado, como a informação é processada.
Este modelo permite prever um fenómeno, isto
é, o modo como o raciocínio se posiciona e actua
perante a possibilidade de uma nova aprendizagem, o que o torna um modelo propriamente dito,
ao contrário da estrutura de Bloom, que descreve
seis diferentes categorias, hierarquizadas, de processamento de informação. Analisando o modelo
mais em detalhe, Marzano articula os três sistemas
em seis níveis de processamento de raciocínio, e o
Saber em três domínios, como a seguir se indica:
Note-se que os três domínios do Saber são
transversais aos seis níveis de processamento do
raciocínio, interagindo entre si. A hierarquia dos níveis de processamento do raciocínio é baseada no
fluxo de processamento do conhecimento e no grau
de tomada de consciência para realização de cada
nível, não correspondendo de forma alguma a um
crescente grau de complexidade, como era pressuposto na Taxonomia de Bloom.
Os Domínios do Conhecimento
Como acima referimos, uma das maiores críticas apontadas à Taxonomia de Bloom consiste
na mistura dos vários tipos de operações mentais
que actuam sobre o saber com o próprio saber,
Nº 190 DEZ10
65
AZIMUTE
Ainda no que se refere aos Procedimentos
Mentais, as categorias poderão articular-se em
dois grandes grupos: aquelas que com prática podem ser operacionalizadas de forma automática
ou que com baixo nível de consciência e aquelas
que requerem uma execução controlada. Regras
Simples, Algoritmos e Tácticas enquadram-se no
primeiro destes grupos, a que chamaremos de
Perícias, enquanto que os Macroprocedimentos se
encontram no segundo grupo a que chamaremos
de Processos.
No tocante aos Procedimentos Psicomotores,
há a assinalar que, ao contrário da Taxonomia de
Bloom, esta nova taxonomia opta pela sua inclusão já que considera que estes procedimentos
são guardados em memória à semelhança dos
Procedimentos Mentais, sendo que os processos
de aquisição são os mesmos.
Vistas que foram as diferenças entre os diferentes domínios do Saber, é agora importante reter que sobre eles agem os diferentes Sistemas,
que como foi já dito, constituem, o coração da Nova
Taxonomia, apresentando-se de forma hierarquizada em seis níveis.
Os Sistemas do Raciocínio
Antes de iniciarmos a descrição dos níveis de
processamento do raciocínio da Taxonomia de
Marzano, será importante fazer uma breve e ligeira
incursão pelo mecanismo segundo o qual se processa a memória, para um melhor entendimento
daqueles níveis.
A Memória
Segundo John Anderson (1995), podemos considerar três diferentes tipos de memória: Memória
Sensorial, Memória de Trabalho e Memória
Permanente. A Memória Sensorial produz o armazenamento temporário de dados captados pelos
sentidos, que poderá resultar ou não em gravação
permanente. A Memória Permanente contém todos
os dados, perícias e processos que compõem os
domínios do Saber. A Memória de Trabalho utiliza e
processa dados armazenados nos outros dois tipos
de memória (sensorial e permanente), não havendo
teoricamente um limite à sua capacidade e caracterizando-se por funcionar em estado de consciência.
A interacção entre os vários tipos de memória pode
representar-se pelo esquema seguinte:
Mundo
Exterior
66
Nº 190 DEZ10
Memória
Sensorial
Memória
Trabalho
Nível 1 – Recuperação da Informação
Consiste na activação e transferência de saberes (detalhes e ideias organizadas) da memória
permanente para a memória de trabalho, onde possam ser conscientemente processados.
Nível 2 – Compreensão
É o processo responsável pela tradução adequada do conhecimento armazenado na memória
permanente, ou seja, os dados depositados na
memória de trabalho, adquiridos por via da memória sensorial, não são guardados na memória
permanente tal como foram percepcionados. São
antes interpretados e onde há lacunas na informação, a mente tratará de produzir as inferências
necessárias tendo em vista definir um quadro lógico e completo da informação adquirida. Envolve
dois processos: Síntese e Representação. Através
da Síntese, o indivíduo identifica as características essenciais da informação, enquanto que pela
Representação são criados símbolos, semânticos,
imagens mentais ou sensações físicas, que representam a informação.
Nível 3 – Análise
Compreende cinco processos cognitivos que
processando uma nova informação levam o indivíduo a revisitar ciclicamente as suas aprendizagens, refinando-as ou alterando-as, e a criar
novas formas de utilizar as suas aprendizagens
face a novas situações. Esses processos cognitivos são a Comparação, Classificação, Análise de
Erros, Generalização e Especificação. Através da
Comparação são identificadas semelhanças e diferenças entre a nova informação e o saber previamente adquirido. Pela Classificação os novos
conhecimentos são organizados em categorias significativas, sendo hierarquizados. Com a Análise de
Erros é posto em prática o filtro da razoabilidade
como base para aceitação da informação. Seguese o processo de construção de novas generalizações (Generalização) a partir da informação previamente adquirida. Finalmente, pela Especificação
são geradas novas aplicações duma conhecida
generalização ou princípio.
É de notar que este nível da Taxonomia de
Marzano engloba pelo menos três níveis da
Taxonomia de Bloom: Análise, Síntese e Avaliação.
Nível 4 – Uso do Conhecimento
Compreende o conjunto de processos utilizados para o cumprimento de uma dada tareMemória
fa. Compreende quatro categorias: Tomada de
Permanente
Decisão, Resolução de Problemas, Pesquisa
Experimental e Investigação. Se pela Tomada
Nível 5 – Metacognição
Consiste na monitorização, avaliação e regulação
do funcionamento de todos os processos de raciocínio. Compreende quatro funções: Especificação
de Objectivos, Monitorização dos Processos,
Monitorização da Clareza e Monitorização da
Precisão. Através da Especificação de Objectivos
o indivíduo estabelece objectivos claros para uma
dada actividade sobre a qual ele decide envolve-se. Pela Monitorização dos Processos, o indivíduo monitoriza a eficácia de uma dada táctica, algoritmo ou processo usado na prossecução dum
objectivo. Finalmente a Monitorização da Clareza
e da Precisão consiste no modo como o indivíduo
monitoriza a sua predisposição para abordar o
conhecimento.
virtude deste modelo passará, entre outros aspectos além dos já referidos ao longo do texto, pela
integração de mecanismos tais como a motivação
e metacognição, que não se referindo directamente ao processamento do conhecimento têm todavia uma influência extraordinária no processo da
aprendizagem. O desafio ao formador e gestor de
formação passará por estabelecer objectivos também nesses domínios, visando eles sobretudo a
motivação, auto-crítica, actividade reflexiva e autonomização do formando face ao saber e à aprendizagem que afinal é um processo seu, unicamente
seu e constituindo-se como chave de sucesso no
desenvolvimento de competências.
AZIMUTE
de Decisão são ponderadas as opções alternativas,
pela Resolução de Problemas são ultrapassados
os obstáculos que se interpõem no cumprimento da
tarefa, pela Pesquisa Experimental são geradas e
testadas as hipóteses explicativas de um dado fenómeno e pela Investigação são formulados argumentos lógicos que sustentam as hipóteses.
Azimute
Referências
LANDSHEERE, Viviane de; LANDSHEERE, Gilbert
de. Definir Objectivos da Educação. 2ª ed. Lisboa: Moraes
editores, 1977.
MARZANO, Robert J. – Designing a New Taxonomy
of Educational Objectives. Thousand Oaks, CA, USA:
Corwin Press Inc, 2001. ISBN 0-8039-6836-1
Ferraz, Ana; Belhot, Renato (2010). Taxonomia de
Bloom: revisão teórica e apresentação das adequações
do instrumento para definição de objetivos instrucionais.
www.scielo.br/pdf/gp/ v17n2/a15v17n2.pdf
Oliveira, P. (2007). Criando projetos: estrutura de
raciocínio Taxonomia de Bloom: um novo olhar sobre
uma velha corrente. ftp://download.intel.com/education/
Common/br/resources/DEP/skills/ Bloom.pdf
Nível 6 – Sistema Interno
Consiste num sistema interdependente de atitudes, crenças e sentimentos que determinam a
motivação de um indivíduo para concluir
ESCOLA PRÁTICA DE INFANTARIA
uma tarefa. Há três factores relevanRevista «Azimute»
tes que contribuem para a motivação.
2640-492 MAFRA
261 81 21 05/261 81 12 24
Telef.
São eles o exame da Importância, da
[email protected]
Eficácia e da Resposta Emocional. Pelo
[email protected]
exame da Importância o indivíduo reconhece a importância do novo saber
Espaço publicitário Tabela de Preços:
CONDIÇÕES GERAIS:
para si próprio. Pelo exame da Eficácia
1. A reserva do espaço para inserção de
Verso Capa/Contra Capa: 300 €
publicidade deverá ser feita até um mês
o indivíduo determina a sua capacidade
(Aos valores indicados acresce
antes da data da saída da revista e os
o IVA à taxa legal em vigor)
fotolitos terão de ser entregues se pospara concluir a tarefa com êxito, isto é,
sível em suporte informático, em data a
avalia a sua crença de que é capaz, de
combinar posteriormente.
2. Os textos para os anúncios de comque possui recursos, capacidades e poposição devem ser fornecidos em suporte informático, com a indicação bem
der para adquirir uma nova competênlegível da dimensão.
3. As campanhas de publicidade beneficiacia. Finalmente o exame da Resposta
rão de um desconto de 10% quando
contemplarem um mínimo de 3 publiEmocional implica analisar as emocações.
ções individuais face a um dado saber
4. Qualquer erro, lapso ou omissão não
responsabiliza a “AZIMUTE”, para além
e o papel que estas emoções têm na
da repetição do anúncio.
5. À revista assiste o direito de adiar, não
motivação.
publicar ou suspender qualquer anún125 €
1 Página:
250 € 1/2 Página:
cio por razões técnicas ou que seja
considerada de alguma forma contrária
ao seu ideário.
6. As Notas de Débito têm que ser liquidadas até 30 dias após a saída da revista.
7. As selecções de cor, fotolitos e preparação dos anúncios serão debitados
ao cliente quando não forem por este
fornecidos.
8. Todos os assuntos poderão ser tratados via e-mail, através dos endereços
acima referidos.
Conclusão
Esta Nova Taxonomia não deve de
modo algum ser considerada um produto acabado. Antes pelo contrário, as investigações neste domínio, assim como
em qualquer outro no âmbito das tecnologias educativas, vão evoluindo e como
tal, os modelos vão-se adaptando. A
2 meias colunas: 75 € Meia coluna:
50 €
Nº 190 DEZ10
67
AZIMUTE
Cooperação Técnico – Militar
Timor-Leste
Maj Inf Luís Barreira
“De todas as sociedades, nenhuma é mais nobre, nenhuma é mais perdurável que a dos homens de bem
unidos pela conformidade de costumes e pela amizade.”
Cícero
Iniciado o caminho da auto-determinação e da liberdade,
não ausente de tropeços, passaram já 9 anos desde a chegada da primeira equipa de
Cooperação Técnico Militar ao
território de Timor-Leste. Mais
uma vez, aquando da visita de
Sua Excelência o Secretário de
Estado da Defesa e Assuntos do
Mar e Sua Excelência o General
CEME ao território, foi reconhecido o trabalho que tem sido
desenvolvido por todos aqueles
que rumaram, aproximadamente
16 000 Km para sudeste, a fim
de apoiarem a formação e consolidação das F-FDTL (garante
da independência e integridade
territorial de Timor-Leste).
No presente ano, foram ministrados uma acção de formação com vista a preparar os candidatos timorenses ao concurso
à Academia Militar que contou
com a participação de dois professores (um de português e outro de matemática), um Curso de
Promoção a Capitão antecedido
de um estágio de preparação,
num total de 740 horas de formação. Por último, sem esquecer
a necessidade e o interesse do
desenvolvimento da compreensão da língua portuguesa como
vector de desenvolvimento das
F-FDTL, foi ministrado um Curso
de Aperfeiçoamento da Língua
Portuguesa com o apoio de um
professor da língua portuguesa.
Olhando para o futuro
(Caderno Estratégico da Força
2020), as F-FDTL no próximo ano
vão incorporar 600 novos militares distribuídos pelos: Curso de
Formação de Oficiais, Curso de
Formação de Sargentos e Curso
de Formação de Praças.
Azimute
“As únicas nações que têm
futuro, as únicas que se podem
chamar de históricas, são aquelas
que sentem a importância e o
valor das suas instituições e que,
por conseguinte, lhes dão apreço”
Ao longo destes anos e até ao momento, foram ministrados em Timor-Leste, os cursos:
Quadro de Pessoal em CTM de 2001 até ao momento.
68
Nº 190 DEZ10
Tolstoi
Cor Inf Iglesias
O projecto Nº5 tem por missão a assessoria ao Centro de
Instrução de Operações de Paz
(CIOP) das Forças Armadas de
Angola (FAA).
Para o ano de 2010, o CIOP
tinha previsto, desde o inicio do
ano, a formação e assessoria do
treino, das unidades operacionais das FAA que em Junho participaram no exercício KWANZA
2010. Este exercício no âmbito da Comunidade Económica
de Estados da África Central
(CEEAC), revestiu-se de grande
importância para as FAA e para
o próprio país, dado o seu carácter multinacional, e contou com a
participação de aproximadamente 4000 militares, polícias e civis.
Este período de formação, foi
sucessivamente adiado e teve
inicio em Março, tendo decorrido
em CABO LEDO, de forma muito
intensa, quer para formadores,
quer para formandos.
Durante os meses de Março,
Abril e Maio, foram ministrados
pelo CIOP um Curso Avançado
de Operações de Apoio à
Paz, um Curso de Ligação e
Observador Militar e um Curso
Elementar de Operações de
Apoio á Paz, com 154 oficiais
sargentos formandos, tendo a
assessoria portuguesa, supervisado a sua execução e ministrado formação. Decorreu também
sob orientação técnica desta assessoria, a instrução destinada
às 700 praças que integraram o
Batalhão com que Angola participou no Exercício.
Este centro, levou a efeito,
no inicio do mês de Junho, um
Estágio de Operações de Apoio
á Paz, destinado aos profissionais da Comunicação Social que
fizeram a cobertura noticiosa do
exercício.
Esteve previsto o mesmo empenhamento, por parte do CIOP,
para o exercício FELINO 2011
que decorreria em Setembro e
Outubro, mas este exercício foi
adiado à última hora por dificuldades dos países participantes.
AZIMUTE
Cooperação Técnico – Militar
Angola
Azimute
Nº 190 DEZ10
69
AZIMUTE
70
Cooperação Técnico – Militar
República Democrática de São Tomé e Príncipe
Maj Inf Oliveira
O Projecto 2 da Cooperação
Técnico Militar com a Republica
Democrática de São Tomé
e Príncipe, do qual a Escola
Prática de Infantaria é a Entidade
Técnica Responsável, teve o seu
empenhamento de 09 de Julho a
01 de Outubro de 2010.
Desta vez a equipa contou
apenas com a presença de um
de Promoção a Cabo 2010.
Durante o período da assessoria, decorreram várias actividades de destaque, das quais
importa referir as seguintes:
De 7 a 16 de Julho 2010, a
Escola Preparatória de Quadros
(EPQ) para os Comandantes de
Pelotão de Instrução e Auxiliares
de Instrução do Curso de
Capitão, Capitão de Infantaria
Bruno Oliveira, assessor directo
do Comandante do Centro de
Instrução Militar para os Cursos
que neste Centro decorreram
durante este período, nomeadamente o Curso de Formação de
Praças 1º Turno/2010 e o Curso
Formação de Praças 1º Turno
2010 (CFP), com o início do
Curso a acontecer no dia 03 de
Agosto de 2010, com a incorporação de 349 jovens Recrutas.
Das matérias programadas para o CFP salientam-se o
Armamento e Tiro, a Educação
Nº 190 DEZ10
Física Militar, a Informação e
Contra-Informação, a Moral
Cívica e Militar, a Ordem Unida,
Sapadores, Higiene e Primeiros
Socorros, a técnica Individual
de Combate, Transmissões,
Topografia, Defesa Nuclear
Biológica e Química e as
Avaliações de Desempenho. De
salientar que, especialmente,
deste último ponto, a Avaliação
de Desempenho, foi possível
distinguir os melhores classificados do Curso, assim como pré-seleccionar os militares que integraram o Curso de Promoção
a Cabo 2010, que decorreu de
13 de Setembro a 01 de Outubro
de 2010.
De 26 a 28 de Agosto decorreu o Exercício Final de Campo
do CFP 1ºT/10. O Exercício
teve por finalidade confirmar os
conhecimentos adquiridos pelos Soldados Recrutas. No dia
01 de Setembro, realizou-se a
Cerimónia de Apresentação da
Bandeira Nacional aos Soldados
Recrutas do CFP 1ºT/10, presidida pelo Comandante das
FASTP, TCor Idalécio Pachire.
Esta cerimónia destinou-se a
dar a conhecer aos Soldados
Recrutas, o significado do mais
alto símbolo nacional, a Bandeira
Nacional.
No dia 06 de Setembro realizou-se a Cerimónia do Dia
Comemorativo das FASTP e
do Juramento de Bandeira dos
Soldados Recrutas do CFP
1ºT/10. Esta cerimónia foi presidida por S. Exa. o Presidente da
República Democrática de São
Tomé e Príncipe e Comandante
Supremo das Forças Armadas,
Sr. Fradique Bandeira Melo de
Menezes.
Esta cerimónia materializou
o Encerramento do Curso de
Formação de Praças 1º Turno /
2010. Neste dia 06 de Setembro,
juraram Bandeira 347 militares.
Com esta cerimónia, foi possível proporcionar aos Familiares
Soldados provenientes das diversas Unidades das FASTP.
Estes militares tiveram a
oportunidade de aprofundar os
conhecimentos adquiridos durante a instrução básica e ainda
adquirir novos conhecimentos da
responsabilidade de um comandante de esquadra.
No final era visível a satisfação patente nos rostos de quem
teve o privilégio de ao longo de
todo o período do Curso contribuir, das mais variadas formas,
com todo o apoio necessário ao
sucesso desejado; de quem teve
a responsabilidade de contribuir para a formação dos jovens
Militares agora formados; e igualmente nos rostos de quem pas-
AZIMUTE
e Amigos dos Militares que
juraram Bandeira e à população civil em geral, o contacto
com a Instituição Militar.
Durante o decorrer da cerimónia, foi possível assistir a
uma demonstração de actividades executada pelos novos
Soldados Prontos do CFP,
com a finalidade de dar a conhecer o que de mais saliente
se realiza durante um Curso
de Formação de Praças, o esforço, espírito de sacrifício e
abnegação que é exigido, não
só aos Soldados Recrutas
que o frequentam mas também ao corpo de instrutores
que o ministra. Inserida nesta fase da cerimónia foi também
possível
assistir a uma
Demonstração
de Capacidades
perante
uma
S i t u a ç ã o
Táctica, executada em conjunto por militares
do Exército e
Guarda Costeira
das FASTP e por
militares da Polícia Segurança
Pública.
De 13 de Setembro a 01 de
Outubro decorreu o Curso de
Promoção a Cabo 2010 (CPCb),
no CIM, constituído por 102
sou por um período exigente de
formação e agora pertence, orgulhosamente, às Forças Armadas
de São Tomé e Príncipe.
A todos, os mais sinceros
Parabéns!
Azimute
Nº 190 DEZ10
71
AZIMUTE
Protocolo de cedência mútua de espaços entre o
Exército e o Instituto de Museus e Conservação
TCor Inf Francisco Rijo
Em 09 de Setembro, pelas 11h30, teve lugar na Sala
Elíptica da Escola Prática de
Infantaria (EPI), a cerimónia da
assinatura do protocolo de cedência mútua de espaços entre o
Exército e o Instituto de Museus
e Conservação (IMC).
Este protocolo, que tem por
objecto regular a autorização de
uso de espaços entre o Exército
e o IMC, a título temporário e
precário e que são actualmente
parte integrante da EPI e Palácio
Nacional de Mafra (PNM), foi assinado pelo Exmo Comandante
da
Instrução
e
Doutrina,
Tenente-General Luís Morais
de Medeiros em representação SExa o GEN CEME e pelo
Prof. Dr. João Carlos Brigola,
Director do IMC, acompanhados
pelo Comandante da EPI, COR
Jorge Saramago e pelo Director
do Palácio Nacional de Mafra Dr.
Mário Pereira.
Este protocolo beneficiará
a EPI através da integração de
novos espaços ampliando o espaço
actualmente
ocupado pela
colecção
visitável,
permitindo ainda
o acesso à
mesma a partir do exterior.
A instalação
pelo IMC de
um centro de
conferências no espaço do antigo tribunal de Mafra, bem como
de todos os espaços que lhe são
afectos, a ser utilizado conjuntamente pelo Exército/EPI e pelo
IMC/PNM, constitui um outro benefício para a EPI, comprometendo-se ainda aquele Instituto
a reformar, entretanto, o actual
auditório da EPI numa perspectiva de complemento, temporário
e ad hoc, da capacidade desse
centro de conferências. Prevê
ainda o presente protocolo a
restauração/reparação das instalações sanitárias do actual
“Museu da Infantaria” e dos 3
(três) compartimentos contíguos à Sala Elíptica, para além
da instalação de um sistema de
video-vigilância no interior e no
exterior dos espaços referidos,
bem como em todo o perímetro
exterior das instalações militares
conventuais e das infra-estruturas militares do Alto da Vela.
Por seu turno, o Palácio
Nacional de Mafra beneficiará
pelo presente protocolo da possibilidade de finalmente estabelecer um percurso sequencial na
visita às suas instalações, fruto
das instalações a adquirir (caserna dos príncipes), para além
de proceder à instalação de serviços de acolhimento ao público
nas instalações a receber e que
actualmente fazem parte da enfermaria da EPI.
Assistiram á cerimónia alguns
antigos comandantes da EPI,
Militares da EPI, funcionários
do Palácio Nacional de Mafra,
estando também presentes elementos da Comunicação Social
Local.
Azimute
72
Nº 190 DEZ10
MGen (Ref) José Inácio Sousa
A concretização de um
desígnio
No Outono de 2005, diversos
oficiais, residentes em Mafra e
nas imediações, desenvolveram
inúmeros contactos entre si para
avaliar a possibilidade de constituir uma associação que tivesse
como fins, proporcionar a todos
os oficiais e às suas famílias, um
local de convívio onde pudessem cultivar e manter os laços
da amizade forjados ao longo de
décadas de serviço pelos quatro
cantos do mundo. A ideia ganhou
força e rapidamente o grupo dinamizador confirmou que seria
possível concretizar este desígnio. O projecto não era novo. Há
muito tempo que existia a ideia
de construir um clube de oficiais
em Mafra para apoiar as famílias,
num contexto muito difícil, face
às constantes mobilizações para
o ultramar que muitas vezes as
separavam por longos períodos.
Na época, os clubes de oficiais
existentes nas unidades, promoviam alguns convívios e constituíam local de encontro entre os
militares e as suas famílias. O
contexto social foi-se alterando
progressivamente e estes locais
deixaram de constituir um referencial permanente no convívio
da família militar.
Rapidamente foi constituída
uma comissão instaladora que
elaborou o projecto essencial à
constituição da associação: os
estatutos. Longamente discutidos e comparados com os estatutos de associações semelhantes: Clube de Oficiais de Setúbal,
Clube de Oficiais de Coimbra e
Clube Militar Naval, são discutido
numa primeira assembleia-geral
realizada no auditório da Escola
Prática de Infantaria. Constituiu
momento de grande debate que
se concluiu em 9 de Dezembro
de 2005, no mesmo local, com
a aprovação, por aclamação, do
projecto dos estatutos. A Escola
ficaria assim indelevelmente
associada à criação do Clube
Militar de Oficiais de Mafra.
A constituição da associação exigiu diversos actos administrativos importando apenas
salientar a realização da escritura de constituição no dia 3 de
Fevereiro de 2006, no cartório
Notarial de Mafra publicada no
Diário da Republica III Série – nº
81 em 26 de Abril de 2006. Em 9
de Março efectua-se a primeira
Assembleia Geral e são eleitos
os corpos sociais.
O Comando do Centro Militar
de Educação Física e Desportos,
proporcionou, desde o início,
AZIMUTE
Clube Militar de Oficiais de Mafra
5º aniversário
Visita ao campo de batalha da Roliça
Nº 190 DEZ10
73
AZIMUTE
uma pequena, mas confortável
e útil sala, como local de trabalho, circunstância que facilitou a
realização das inúmeras tarefas
administrativas inerentes ao levantamento da associação.
A primeira grande tarefa colocada à direcção eleita foi encontrar um local para a sede, objectivo que não se revelou fácil de
atingir. Após muito debate e procura foi solicitado ao Comando
do Exército a cedência do edifício Dª Maria, na Tapada de Mafra
que, em tempos, fora residência
associação se propunha concretizar.Com a compreensão e ajuda do Comando do Exército e o
apoio do Ministério da Defesa foi
possível realizar as obras na ala
Oeste e no jardim anexo. Viriam
a ser concluídas em Outubro de
2007. A direcção desenvolveu e
concretizou as iniciativas complementares para dotar o espaço
com os equipamentos e mobiliário que permitissem a sua utilização com conforto e dignidade. As
Chefias do Exército, da Marinha
e da Força Aérea, apoiaram,
sede onde se recebe com dignidade e se pode desenvolver a
vida associativa.
Desde a realização das obras
e equipamento do espaço, começou verdadeiramente a vida
do clube. Nos termos estatutários a Assembleia-geral reúne-se anualmente para a apreciação do Relatório e Contas da
Direcção e Parecer do Conselho
Fiscal, a Direcção reúne com
grande regularidade lavrando-se a respectiva acta e delibera
Jardim da sede do clube
de oficiais e que, entretanto, por
razões que desconhecemos,
deixou de ser utilizada para tais
fins. O Exército manteve o critério de apoio aos clubes militares,
a exemplo da cedência anteriormente feita aos clubes militares
de oficiais de Setúbal e Coimbra
a quem foram proporcionados
excelentes espaços no centro
histórico daquelas duas cidades.
Após a cedência da Ala Oeste
do edifício, pelo Estado-Maior do
Exército, em Setembro de 2006,
a título precário, temporário e
gratuito, foi tempo de diligenciar para recuperar o imóvel e
adequá-lo aos fins sociais que a
74
Nº 190 DEZ10
dentro das suas disponibilidades
e o Clube assumiu a responsabilidade de adquirir os artigos
considerados essenciais ao funcionamento da sede. Uma nota
relevante para os contributos
dos associados que cederam ao
clube, mobílias, aparelhagens
de alta-fidelidade, televisores,
conjuntos de maples, obras de
arte, quadros e inúmeros artigos que tornaram as salas mais
confortáveis e acolhedoras. Os
associados e as suas famílias
participaram, e participam, activamente na vida do clube. Sem
o seu contributo, desinteressado
e valioso, não teríamos hoje uma
sobre todos os assuntos para os
quais é competente. É elaborado
um plano anual de actividades
que globalmente tem sido sempre cumprido. O clube vive exclusivamente com os seus recursos, que provêm da jóia, quotas
e donativos, pagos pelos seus
associados.
Os Comandos da Escola
Prática de Infantaria e do Centro
Militar de Educação Física e
Desportos têm apoiado a direcção do clube, sempre que
são solicitados, tornando mais
fácil a realização de inúmeras
actividades.
Desde a criação do clube que
são concretizadas as actividades que pouco a pouco foram
dando corpo à vida associativa.
Em Dezembro de 2005 realiza-se a primeira ceia de Natal em
Mafra. Desde então, esta iniciativa realiza-se anualmente, com
cada vez maior adesão. Outras
foram instituídas com sucesso.
O convívio da família, em Maio,
as festas populares em Junho,
o convívio de verão em Julho,
este com propósitos lúdicos e de
benemerência. Comemora-se o
S: Martinho e celebra-se a passagem de ano. Adicionalmente
realizam-se convívios por iniciativa dos associados e as famílias
têm utilizado as instalações para
uso privado.
No campo cultural foi articulado um programa muito completo
para comemoração dos 200 anos
da guerra peninsular. A partir do
Outono de 2008 realizaram-se
colóquios, conferências e visitas
aos locais das batalhas. São organizados concertos em Mafra
e Torres Vedras, em escolas
secundárias As sessões são dinamizadas com a actuação das
Fanfarras do Exército (RAA1) e
da Brigada de Reacção Rápida
e ainda da banda Sinfónica da
Guarda Nacional Republicana.
Foi uma actividade intensa que
culminou com o levantamento
de monumento de homenagem
ao resistente Jacinto Correia no
jardim da Alameda em frente à
porta de armas da EPI. Esta iniciativa teve o apoio do Comando
da Escola Prática de Infantaria e
da Câmara Municipal de Mafra.
Visitámos fortes e redutos das
linhas de Torres, incluindo o
centro interpretativo da Serra do
Socorro onde pudemos observar
a inauguração de uma réplica do
poste de sinais existente na época das invasões. Na sede realizaram-se exposições de pintura,
tertúlias e outros encontros de
natureza cultural.
A componente lúdica desenvolve-se com regularidade,
realizando-se passeios que incluem visita a locais de interesse nas diferentes temáticas.
Faróis, na costa da península
de Lisboa, museus, exposições,
forte de Elvas, ponte da Sr.ª da
Ajuda sobre o rio Guadiana e
Olivença, fábrica do gelo e centro de Interpretação Ambiental
de Montejunto, passeios em
embarcações típicas do rio Tejo
acompanhando regatas, património histórico do oeste. Foram
cinco anos cheios de actividade,
com grande adesão dos associados, que permitiu confirmar a
utilidade da associação na vertente cultural.
As causas sociais também
têm lugar relevante na vida do
clube. Anualmente realiza-se um
convívio cujos lucros revestem
integralmente para uma instituição de solidariedade social.
Os associados contribuem com
trabalhos para leiloar ou disponibilizam as suas capacidades
artísticas para animar as extraordinárias noites de fados que, em
Julho de cada ano se realizam
na sede do clube.
Ao longo destes cinco anos a
sede tem sido valorizada e mantida em condições de grande
dignidade. Numa atitude de verdadeira cidadania os associados
empenharam-se pessoalmente
em melhorar as instalações proporcionando, com a sua dedicação e trabalho, melhores condições e mais conforto para o seu
usufruto. O resultado de todo
este esforço é a existência de
um espaço social digno e acolhedor que seguramente pode
ser ainda mais enriquecido.
E agora?
O clube tem planos para
continuar. Está em movimento o
processo de recuperação da ala
Este do Edifício Dª Maria. Esta
iniciativa, quando concluída, vai
alargar a área disponível, abrindo possibilidades para instalação de apoios sociais até aqui
inexistentes. A direcção do clube e a iniciativa dos associados
saberão aprofundar a actividade associativa e continuar a dar
corpo aos nobres desígnios que
orientaram sua criação.
O número de associados tem
vindo a aumentar, com regularidade, num processo de saudável
renovação. Há também perdas
pelos mais diversos motivos. O
clube está aberto à comunidade civil permitindo a sua adesão
como associados e partilhando
as actividades desenvolvidas.
Julgamos que os motivos que
conduziram à criação do clube
se mantêm. Queremos um clube
sempre a crescer, em harmonia
geracional, que entenda os tempos e saiba adequar-se às novas
realidades.
Atingimos cinco anos de vida!
Os tempos que vivemos não são
fáceis. As dificuldades são de
todas conhecidas. O quotidiano
encarrega-se de nos proporcionar cenários e circunstâncias
que aconselham reflexão e prudência mas que também nos
exigem coragem e visão! O futuro não pode ser para o nosso
clube um mar de interrogações!
Sabemos o que queremos e temos uma perfeita noção do que
podemos. A nossa continuidade
depende exclusivamente do empenho e vontade de existir. Não
há outro caminho que não seja
convocar as novas gerações,
partilhar com elas o nosso passado e encorajar a sua determinação em vencer as incertezas
que hoje pairam no horizonte.
Esta é a nossa ambição!
AZIMUTE
A vida associativa
Azimute
Nº 190 DEZ10
75
AZIMUTE
Visitas e Notícias
Início do 38.º CFSI
Teve início em 01 de Setembro de 2010, na
Escola Prática de Infantaria (EPI), o 38.º Curso
de Formação de Sargentos de Infantaria (38.º
CFSI) - 2010/2011, “General Eduardo Augusto
Rodrigues Galhardo”. O curso é constituído por
40 Sargentos-Alunos oriundos da Escola de Sargentos do Exército (ESE).
A Cerimónia de Abertura presidida pelo Exmo.
Comandante da EPI decorreu após a tradicional
Cerimónia de Homenagem aos Mortos, como
vem sendo habitual para as acções de formação
na Escola Prática de Infantaria no Salão D. Nuno
Alvares Pereira., à qual se seguiu a tradicional foto
de conjunto na porta de armas.
A Formação ministrada na EPI constitui o segundo ano do Curso de Formação de Sargentos,
ministrado na ESE, e decorrerá de 01SET10 a 30SET11, de acordo com o Plano de Formação Anual
e de Progressão na Carreira dos Sargentos do QP.
O CFSI tem por finalidade proporcionar aos alunos, através de uma formação caracterizada pela
prática, a consolidação dos conhecimentos teóricos adquiridos e também complementar a formação
militar, técnica, humanista, organizacional e de liderança indispensável a todos os futuros Sargentos
da Arma de Infantaria.
Curso de Apoio de Combate 2010
De 12 de Outubro a 11 de Novembro de 2010,
teve lugar na Escola Prática de Infantaria o Curso
de Apoio de Combate. Este Curso realizou-se pela
primeira vez este ano e contou com a participação
de 14 formandos (13 Alferes e 1 Tenente) todos eles
acabados de ingressar na Arma de Infantaria. Este
Curso teve a duração de cinco semanas e o seu ponto
alto foi aquando da realização do Tiro Real de Morteiro
107mm e 120mm no Campo Militar de Santa Margarida. Este Curso tem como público-alvo os Oficiais que
tenham terminado o TPOI após a implementação do
“Processo de Bolonha” e habilita os mesmos para o
Cargo de Formador/Comandante de Pelotão de Reconhecimento, Anti-Carro e Morteiros Pesados.
Início do TPOI
Teve início a 01 de Outubro de 2010 na Escola
Prática de Infantaria, o Tirocínio para Oficial de Infantaria com um efectivo de 22 Aspirantes Alunos.
O curso destina-se a habilitar os formandos com as
aptidões técnico-tácticas, perícias e atitudes exigidas
no desempenho das funções próprias da respectiva
categoria e posto. O Curso está a cargo da Direcção
de Formação. Terá uma duração total de 75 dias de
Instrução (15 semanas) e terminará a 28 de Janeiro
de 2011.
76
Nº 190 DEZ10
Teve inicio a 27 de Setembro de 2010 na Escola Prática de Infantaria o Curso de Formação de
Oficiais e o Curso de Formação de Sargentos em
Regime de Voluntariado e Regime de Contrato 2.º
Turno 2010 com um efectivo de 75 elementos (40
Aspirantes Graduados e 35 2ºFurriéis Graduados).
Este curso está incluído no Plano de Formação
Anual 2010/2011, sendo cometido à Companhia
de Formação do Batalhão de Formação – EPI a
responsabilidade da sua execução. Este decorrerá
em duas fases, uma primeira de módulos gerais
e uma segunda de especialidade sendo elas, Atiradores, Morteiros e Anti-Carro. O presente curso
destina-se a habilitar os formandos com as aptidões técnico-tácticas, perícias e atitudes exigidas aos
níveis de desempenho das funções próprios da categoria e posto.
AZIMUTE
CFO/CFS 2º Turno 2010
Juramento de Bandeira do 9º CFGCPE 2010
Em 151100NOV10, e de acordo com o Plano de
Formação Anual 2010, realizou-se na EPI a cerimónia de Juramento de Bandeira do 9º CFGCPE 2010,
com o efectivo total de cerca de 173 militares.
A Cerimónia foi presidida pelo Exmo MGen
Director de Doutrina do Comando de Instrução e
Doutrina do Exército, MGen Noé Pereira Agostinho.
“É dever da EPI,
Saber Fazer”
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77
AZIMUTE
17º CFPIF de 2010 no RC3
Realizou-se no Regimento de Cavalaria nº 3 Estremoz, entre 11 e 29 de
Outubro, o 17º CFPIF de 2010, teve na sua constituição 15 alunos, Oficiais e
Sargentos de variadas unidades do Exército. Este curso está incluído no
Plano de Formação Anual / 2010, pertenceu à Direcção de Formação - EPI
a responsabilidade da sua execução. O presente curso destina-se a habilitar
os formandos com as aptidões Técnicas para a formação de formadores, e
foi totalmente ministrado por formadores do RC3, sob coordenação de um
Oficial nomeado pela da EPI.
17º CFPIF de 2010 no RC3
Realizou-se na Escola Prática de Infantaria, Mafra, entre 08 e 19 de Novembro o
2ºCurso de Tiro de 2010. Teve na sua constituição 16 alunos, 11oficiais e 5 sargentos
das variadas U/E/O do Exército, onde todos
terminaram com sucesso. Este curso está incluído no Plano de Formação Anual de 2010,
pertenceu à Direcção de Formação - EPI a
responsabilidade da sua execução. O curso
destina-se a habilitar os formandos com as
aptidões Técnicas para o desempenho das
funções de Oficial ou Sargento de tiro das
U/E/O onde prestam serviço.
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Nº 190 DEZ10
Curso de Formação Pedagógica
Inicial de Formadores
De acordo com o Plano de Formação Anual
2010, iniciou-se a 30 de Agosto de 2010 o
7º, 8º, 9º, 10º, 11º, 12º, 13º e 14º Curso de
Formação Pedagógica Inicial de Formadores
que teve lugar Academia Militar, constituídos
por 115 militares distribuídos da seguinte forma: 5 Oficiais da AM, 1 Oficial PALOP/RGB,
1 Sargento da AM e 108 Cadetes – Alunos
provenientes das diferentes Armas e Serviços.
Durante 3 semanas, os formandos receberam as ferramentas necessárias ao incremento da qualidade de formação, através
da aquisição de competências – chave no
domínio pedagógico – didáctico.
Em 21OUT10 decorreu na parada Cor Magalhães Osório a Cerimónia de Recepção da EPI aos militares que integraram o 1 MCAEF da EUTM-SOMÁLIA. Enquadrados pela
formatura geral da EPI, os 13 Militares que integraram o 1
MCAEF terminaram a missão de seis meses de duração na
qual ministraram instrução a militares somalis no Uganda.
Durante a cerimónia o comandante da missão entregou
simbolicamente a imagem de D. Nun`Álvares Pereira que
acompanhou permanentemente a missão naquele país da
união Africana. O Exmo Comandante saudou os militares
enaltecendo o esforço, a atitude e o profissionalismo com que cumpriram a missão, reconhecida nacional e internacionalmente.
AZIMUTE
Cerimónia de Recepção do 1 MCAEF EUTM-SOMALIA
Visita do Exmo. DF/CID á Escola Prática de Infantaria
Em 18OUT10 visitou a EPI o novo Director da Formação do Comando de Instrução e Doutrina, o Exmo MGen
Santos de Carvalho. O programa da visita englobou a
apresentação aos Oficiais, Sargentos, delegação de Praças e Funcionários Civis no salão Nun`Álvares onde o
Exmo. Director da Formação manifestou a satisfação em
regressar “À sua Escola” onde serviu durante vários anos
em diferentes postos. Seguidamente o Comandante da
EPI fez o briefing acerca da situação da escola, na sala de
Honra de Infantaria a que se seguiu o almoço com todos
os militares no refereitório dos frades. A visita englobou ainda com uma passagem por actividades de
instrução da Direcção de Formação do Batalhão de Formação Militar Geral sendo concluída com a
assinatura do livro de Honra da EPI.
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AZIMUTE
Os Nossos Filhos Andam a Tomar Droga?
80
Saj SS/Med Luis Manuel
Esta é uma realidade! Por
muito que nos custe a acreditar,
sem que nos apercebamos este
mal pode estar a bater-nos à porta. A facilidade do acesso a uma
primeira toma de qualquer tipo de
droga, sintética ou natural, é efectiva, quer seja na rua, na escola
ou em ambientes de “amigos”. O
risco da primeira vez, o alcance
do proibido mesmo aqui ao lado
e à mão, o desafio lançado pelos
“amigos”, a promessa de novas
visões do mundo, levam a que
qualquer um menos preparado
se insira num mundo de poucos
retrocessos. Uma vez lá dentro,
tudo se passará a desenrolar em
função das drogas, quer para a
sua obtenção, quer devido ao seu
consumo.
Segundo CHARRO et all
(1995), nesta “revolução da droga”, os adultos foram os últimos a
ser informados. Os adolescentes,
esses já experimentaram ou consomem as drogas e pelo menos
conhecem os efeitos que produzem. Pouco a pouco, o clássico
conflito das gerações transforma-se num fosso entre as jovens gerações que criam os seus próprios
sistemas de valores, baseados
essencialmente na experiência
própria e os nossos valores baseados na experiência do passado
e considerados já não transmissíveis. As drogas são sobretudo um
sintoma e uma demonstração ao
mundo da existência desse fosso
e da sua causa.
Durante gerações, a sociedade ocidental edificou uma civilização apoiada na razão e no
triunfo da razão. Daqui decorre
toda uma visão do mundo, havia
um passado, há um presente e
haverá um futuro, e constrói-se a
pensar no futuro.
Nº 190 DEZ10
O que parece importante
compreender é que não se pode
de modo algum ter uma visão
corriqueira dos efeitos dos produtos utilizados pelas jovens gerações. Existem efeitos nocivos e
são dramaticamente maioritários;
existem efeitos benéficos e são
extraordinários quer no domínio
do prazer, quer no domínio do
belo. Seria vão negar que toda
uma corrente da fármaco-química vai tender para desenvolver
os efeitos benéficos e anular os
efeitos nocivos. Por exemplo, se
os principais produtos utilizados
fossem tornados lícitos, o problema da transgressão seria apenas
deslocado, pois o que está em
causa são as exigências muito
contraditórias e muito assustadas dos nossos filhos perante
uma sociedade que se movimenta a uma velocidade insana.
Exigências que não são ouvidas,
porque o divórcio se situa ao nível de todas as linguagens, falada, cantada, de indumentária ou
alimentar.
O pai também se sentia infeliz, mas esse bebia. O seu filho
descobre Deus por meio de uma
“pílula” (CHARRO et all 1995).
Existem, segundo uma abordagem psicossocial, 3 tipos de
consumidores:
a) Os que, por intermédio de
um grupo de situação, têm contacto com a substância, experimentam-na e ficam por aí;
b) Os que são consumidores
ocasionais, ou seja, em festas,
concertos musicais, etc, consumindo um tipo específico de
substância;
c) Os consumidores habituais
que, no caso de drogas pesadas
já deixaram de consumir por prazer como nos grupos anteriores.
Estes consumem por dependência física e psíquica, para evitar
a ressaca e todos os efeitos da
mesma.
As exigências dos nossos filhos não podem ser escutadas
porque as nossas vidas correm
atrás de algo que nos vai alienando dos mesmos. Os amigos
impõem exigências e lançam
ofertas, e aqui, temos a tradicional história da maçã podre no
seio da cesta com fruta sã, nos
tempos modernos, leva-me a
crer, que quem se afasta destas
“novas ordens” sociais é que está
a mais, não pertence ao grupo.
A tomada de consciência entre
o vazio do nosso dia-a-dia, com
falta de estímulos benéficos, e a
entrada no mundo do consumo
de substâncias que nos trazem
uma falsa felicidade é um grande
passo e é revelador da verdadeira consciência moral e familiar.
Será preciso recordar que
muitos jovens consumidores
de drogas provêm de famílias
não
seja
somente
destruidor.
A nós pais cabe-nos a
árdua tarefa de acompanhar e verdadeiramente
educar os nossos filhos.
Não é por mais uma
prenda e por dizermos
“ele(a) teve sempre tudo
o que quis, porque é que
se meteu naquilo?” que
iremos evitar o pior.
Os adultos encaram,
na maioria das vezes,
este assunto como tabu. A droga é um assunto que é abordado no dia-a-dia mas que, apesar de tudo, não é um assunto
dominado por todos. Assim, nos
dias de hoje ainda existem muitos pais que são incapazes de
falar com os filhos sobre esta
temática, quer seja por falta de
à vontade quer por total desconhecimento. Na nossa sociedade
uma das drogas mais baratas e
acessíveis, o álcool, é aceite e a
sua utilização é bem visto, independentemente dos seus efeitos
nocivos resultantes de um abusivo e continuado consumo. Os
seus malefícios neurológicos são
irreversíveis.
É importante que os pais se
preocupem em procurar informação adequada para poderem
estabelecer um diálogo com os
filhos, para que estes percebam
e se identifiquem com as ideias
dos pais e as entendam de forma
AZIMUTE
desunidas, ou divididas, ou demasiadamente preocupadas consigo mesmas? Que o factor económico já não é mais um factor
dissuasor da entrada no mundo
das drogas? Será preciso recordar que outros jovens reagem
contra aquilo a que chamamos
“conformismo” dos pais? E será
ainda preciso dizer que se considera lícito usar ou abusar de
tranquilizantes (desde que não
se conduza), mas escandaloso
fumar marijuana?
Embora tenha existido sempre transgressão ao nível da
adolescência, nunca tomou o
carácter de massa e ao mesmo
tempo de afastamento de todo
o mundo que apresenta actualmente. Quando um tal carácter
de massa se instala é porque
existe um facto novo na civilização, mesmo quando esse facto é
primeiramente anunciado por um
desvio doloroso e perigoso.
Tacteando, de uma fórmula
desajeitada, as jovens gerações
procuram um sistema de referência que as ajude a viver, a sobreviver, ainda que à custa da destruição das nossas civilizações.
Nós que sabemos que elas
não são perfeitas, mas que conhecemos também o preço que
dezenas de gerações tiveram de
pagar para chegarem simplesmente a “consumir”, devemos a
todo o custo instaurar o diálogo
para que este facto de civilização
a acharem que é o procedimento correcto. O diálogo aberto e
franco nos momentos certos e,
quando a ocasião e a idade o
permitirem, mostremos aos nossos filhos até onde o consumo de
drogas os pode levar. Não adianta esconder a realidade, os media o farão por nós e a “net” dará
as explicações científicas mas,
caber-nos-á a nós pais mostrar
o que está por detrás e explicar
o porquê, porque o que é aquilo
já os nossos filhos sabem e, por
vezes, até mais que nós.
Temos de aprender e assimilar novas culturas “subterrâneas”
(CHARRO et all 1995) criadas pelos nossos jovens, mas não devemos nem poderemos aceitar que
essas mesmas novas culturas
colidam com os princípios éticos,
conduta social e, acima de tudo
com os valores familiares, sem os
quais não há sociedade.
Azimute
CHARRO,
J.;
NUNES,
E.;
SANTOS, A.; SOUSA, A. – Droga
e Prisão – Estudo efectuado no
Estabelecimento
Prisional
do
Linhó; Escola do Serviço de Saúde
Militar; Lisboa, 1995, págs. 3-4.
http://www.a1b2c3.com/drugs/
gen001.htm, pesquisa efectuada
em 121100NOV07.
http://www.interpol.int/Public/
Drugs/synthetic/default.asp,
pesquisa
efectuada
em
12
1120NOV07.
1SAR SS/MED Luis Miguel Ferreira
Manuel
Com a colaboração de
ALF Psicóloga Regina Alexandra
Correia Gomes Fino
Nº 190 DEZ10
81
AZIMUTE
Simbologia e Vivência do Natal
Maj Capelão Pe. Rui Peralta
“Ao chegar a plenitude dos tempos, Deus enviou o Seu Filho Unigénito nascido de uma Mulher”
Gal. 4.4
Introdução
O Natal celebra a vinda de
Jesus, o Filho de Deus, e a sua
manifestação aos Homens. Mais
um Natal se aproxima. Todos somos convidados a contemplar e
a viver toda a simbologia deste
Tempo Santo. Um Menino nasceu para nós. Ele é a Luz e a
Paz.
Que cada Homem, cada português, e cada militar abra o seu
coração para que o Menino Deus
possa nascer em cada coração.
1. O porquê do Natal a 25 de
Dezembro
Não conhecemos a data do
nascimento de Jesus. Não é certo que Jesus tenha nascido a 25
de Dezembro. A Igreja primitiva
não se preocupou muito com
isso. O importante é saber que
Jesus nasceu para salvar todos
os Homens.
A data de 25 de Dezembro
para celebrar o nascimento de
Cristo deve ter sido estabelecida entre os anos 243 e 336.
Um calendário compilado em
354, o calendário filocalino ( de
Furius Philocalinus) coloca-o
em 336. Para a escolha do dia
25 de Dezembro apresentam-se
dois motivos: segundo a opinião
mais comum a escolha desta data obedeceu ao desejo de
dar sentido cristão a uma festa
pagã instituída pelo Imperador.
No ano de 274, o imperador
Aureliano oficializou o culto ao
“Sol Invictus”, mandou construir
um templo e fixou a sua festa a
25 de Dezembro que, segundo
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Nº 190 DEZ10
a astronomia do tempo era considerada a data do solstício de
Inverno. Ora, os cristãos passaram a festejar nessa mesma data
o nascimento de Jesus Sol de
Justiça e Luz do Mundo.
Monsenhor Duchesne dá uma
explicação simbólico-astronómica: o dia de nascimento de Jesus
ter-se-ia determinado a partir do
dia da Sua Concepção, e este
ter-se-ia fixado de acordo com o
dia presumido da Sua morte.
Foi o Papa Júlio I que estabeleceu o Natal a 25 de Dezembro
para cristianizar as grandes
festas pagãs realizadas pelos
Romanos neste dia. A Festa cristã do Natal veio, pois, substituir a
festa do deus Sol Invictus, sendo
que Jesus é o verdadeiro Sol.
Compreende-se, então, que
a maioria dos símbolos do Natal
esteja ligada a estes dois aspectos: a vida que resiste no Inverno,
simbolizada pelo Verde e pela
Luz. No fundo, trata-se da Festa
da Vida.
2. O Natal do Menino Deus
A palavra NATAL quer dizer
nascimento e é de origem latina.
O Natal aparece para designar
o aniversário do nascimento do
Menino Jesus.
A Festa de Natal, mais que o
facto histórico do nascimento de
Jesus Cristo, celebra o mistério
da vinda ao mundo do Verbo de
Deus feito Homem. Esta festa
é, também, designada por Festa
da Família e da partilha. Que o
Dia de Natal seja vivido todos os
dias.
3. Símbolos de Natal
3.1. O Presépio
Estamos, certamente, diante de um dos mais significativos
símbolos do Natal. O Presépio
foi popularizado, no séc. XIII, por
São Francisco de Assis.
Sabemos que São Francisco
cultivava uma terna devoção
às manifestações do amor de
Deus para com a Humanidade.
Descobriu este Amor, sobretudo, no Mistério da Encarnação
e “inventou” o Presépio. O
Povo cristão começou a venerar esse Mistério pela devoção
do”Angelus” (oração que lembra
a Anunciação e a Encarnação do
Salvador).
Três anos antes da Sua morte, São Francisco quis celebrar
solenemente o nascimento de
Jesus Cristo. Para isso, como
nos conta São Boaventura, pediu
licença ao Santo Padre. Tomás
de Celano, o primeiro biógrafo de
São Francisco, descreve o facto da seguinte maneira: “Havia
em Gréccio um homem chamado João, a quem São Francisco
tinha especial amizade porque,
sendo muito nobre e honrado na
sua terra, desprezava a nobreza
humana para viver a nobreza de
Espírito.
Uns quinze dias antes do
Natal, São Francisco mandou
chamar o Homem Bom e disse-lhe: se quiser que celebremos o
Natal em Gréccio tem de fixar o
que lhe vou dizer. Quero lembrar
o nascimento de Jesus em Belém
e recriar o ambiente e o local
em Belém, se não nascer no nosso coração?”
O costume de se representar
o nascimento de Jesus Cristo em
Belém foi-se tornando comum
entre os católicos. Hoje, praticamente, não há família católica
que não arme o Presépio durante
o tempo de Natal. Podemos afirmar que o Presépio é o símbolo
mais sublime de toda a época de
Natal.
As figuras principais do presépio são: a Sagrada Família, o boi
e o burro, o Anjo, os pastores, os
rebanhos, os magos e a estrela.
3.2. A Estrela de Belém
Segundo a tradição, a Estrela
de Belém guiou os Reis Magos,
durante vários dias, desde o
Oriente até ao local onde Jesus
nasceu, para que estes pudessem presenteá-lo com ouro, incenso e mirra.
No que se refere à veracidade ou não do aparecimento da
Estrela de Belém aquando do
nascimento de Cristo, só se pode
especular. Nenhuma teoria consegue fundamentar-se em provas 100% fiáveis.
Johannes Kepler, na noite de
17 de Dezembro de 1603, observou, em Praga, a conjunção do
planeta Júpiter
Com Saturno na constelação
de Peixes, formando uma só estrela. Pelo estudo de textos antigos, Kepler concluiu que essa
mesma conjunção teria ocorrido
no ano de 747 da era romana.
Com isto Kepler divulgou uma
nova data para o nascimento de
Cristo, 7 anos antes da calculada,
no séc. VI pelo Frade Dionísio, e
que serve de cronologia da era
cristã.
A Estrela de Belém, para além
de ser a guia dos Reis Magos,
simboliza Cristo, Luz do Mundo:
Eu sou a Luz do mundo” (Jo.8,
12). Hoje em dia, a Estrela é
colocada no topo da árvore de
Natal e no Presépio.
3.3. Os Reis Magos
Os Reis Magos são personagens que vieram do Oriente,
guiados por uma estrela, para
adorarem o Deus Menino, em
Belém (Mt.2,1-12).
Ignora-se a proveniência dos
Reis Magos. Este episódio foi
apenas relatado no Evangelho
de São Mateus e, mesmo assim,
de forma muito resumida e vaga.
Só com o passar do tempo, se
foram acrescentando detalhes,
para se sanarem algumas lacunas deixadas no Evangelho em
relação a esta história.
A designação de “Magos” era
dada, entre os orientais, à classe dos sábios ou eruditos; contudo esta palavra também
era usada para designar
os astrólogos. Isto fez com
que, inicialmente, se pensasse que estes magos
eram sábios astrólogos,
membros da classe
Sacerdotal de alguns
povos
orientais,
como os caldeus, os
persas e os medos.
Posteriormente,
a igreja atribuiu-lhes
o apelido de “Reis”,
em virtude da aplicação literal que
lhes fez o Salmo
71,10. Quanto ao
número e nomes
dos Reis Magos
são tudo suposições sem
base histórica,
aliás algumas
pinturas dos
primeiros séculos da Igreja
mostram três, quatro
Nº 190 DEZ10
AZIMUTE
onde Jesus nasceu. Ouvindo
isto, o Homem Bom e Fiel correu apressadamente e preparou,
com amor, o que o Santo lhe tinha pedido.
Aproximou-se o dia da alegria
e tanto esperado pelo Santo. De
muitos lugares foram chamados
os irmãos. Homens e mulheres
do Lugar, de acordo com as suas
posses, prepararam cheios de
alegria tochas e archotes para
iluminar a noite. Por fim, chegou
o Santo e, vendo tudo preparado, ficou muito feliz. Montaram o
primeiro Presépio… Trouxeram
palha, um boi e um burro, vieram os pastores com os seus
rebanhos… e o Presépio foi sendo constituído por todos os presentes. Era um Presépio vivo.
Géccio tornou-se na nova Belém,
honrando a simplicidade, louvando a pobreza e recomendando a
Humanidade.
A noite de Gréccio ficou iluminada como o dia. O Povo foi
chegando e exultou de alegria…
Os Frades cantavam os devidos
louvores ao Menino Deus. O
Santo parou diante do Presépio
e suspirou, cheio de piedade e de
alegria. A Missa do Galo foi celebrada ali mesmo no Presépio, e o
sacerdote que a celebrou sentiu
uma piedade que jamais experimentara até então.
São Francisco vestiu Dalmática, porque era Diácono, e
cantou com voz sonora o Santo
Evangelho. Depois pregou ao
povo presente o Mistério do nascimento do Salvador” (Vida I,
cap.30)
São Francisco de Assis, ao
longo da sua vida marcada profundamente pelo Amor a Deus
e ao Próximo, pela vivência do
Evangelho e pelo seguimento
de Jesus Cristo, fazia renascer o
Salvador no coração dos fiéis da
Igreja do seu tempo. É este o verdadeiro sentido do Natal. Como
diz um Padre da Igreja: “de que
adianta que Cristo tenha nascido
83
AZIMUTE
e até doze Reis Magos que adoram o Menino. Foi uma tradição
posterior aos Evangelhos que
lhes deu o nome de Baltazar,
Gaspar e Belchior, tendo-se também atribuído a cada um características próprias.
A Igreja celebra o dia de Reis
no dia da Epifania, festa da manifestação de Jesus Cristo a todos
os Povos da Terra.
3.4. As Velas de Natal
A Vela acesa, em formas artísticas mais diversas, está muito presente nas celebrações de
Natal. Está presente na árvore
de Natal, está presente sobre
a mesa da ceia de Natal e está
presente, de um modo particular,
na celebração da Missa do Galo.
Embora o uso da luz da vela fale
mais alto no ambiente das longas
noites de Inverno do hemisfério
Norte, também entre nós tem o
seu valor simbólico. Apesar disso, a linguagem da Luz tem a sua
força em todas as celebrações
de Natal. Na noite de Natal fugimos um pouco da luz artificial e
criamos uma atmosfera de intimidade e confraternização…
Cristo, Luz do Mundo, convida todos os homens a tornarem-se luz, alegria e felicidade para
os irmãos. Isso exige, a exemplo
de Cristo, à doação de si mesmo,
como Vela que se consome ao
iluminar.
3.5. O Pai Natal
O personagem Pai Natal foi
inspirado em São Nicolau, taumaturgo e Bispo de Mira na actual Finlândia, e que viveu no
séc. IV. São Nicolau costumava
ajudar, anonimamente, quem
estivesse em dificuldades financeiras. Colocava um saco com
moedas de ouro na chaminé da
pessoa necessitada.
Nicolau foi proclamado Santo
depois de muitos milagres lhe
serem atribuídos. A sua transformação em símbolo de Natal
84
Nº 190 DEZ10
aconteceu na Alemanha e daí
espalhou-se por todo o mundo.
Uma das muitas pessoas que
ajudaram a dar força à Lenda
do Pai Natal foi Clemente Clark
Moore, um professor de literatura
grega em Nova Iorque, que lançou o poema “Uma visita de São
Nicolau” em 1822, escrito para os
seus filhos. Nesse poema, Moore
divulgava a versão de que o Pai
Natal viajava num trenó puxado
por renas.
Resumindo: o Pai Natal é um
velhinho muito rico que, durante
a noite de Natal, distribui prendas
a todas as crianças que se portam bem.
3.6. A Árvore de Natal
A Árvore de Natal é um pinheiro ou abeto, enfeitado com
fios de prata e ouro, com bolas
de diversas cores e iluminado
na noite de Natal. A tradição da
Árvore de Natal tem raízes muito
mais longínquas do que o próprio
Natal.
Os romanos enfeitavam árvores em honra de Saturno, deus
da agricultura, mais ou menos na
mesma época em que hoje preparamos a Árvore de Natal.
Os egípcios traziam folhas
verdes de palmeiras para dentro
das suas casas no dia mais curto
do ano, como símbolo do triunfo
da vida sobre a morte.
Nas culturas célticas, os druidas tinham o costume de decorar
carvalhos com maçãs douradas
para as festividades do final do
ano.
Segundo a tradição, São
Bonifácio, no séc. VII, pregava
na Turíngia (uma região da actual
Alemanha) e decorava os abetos
(de forma triangular) com símbolos da Santíssima Trindade.
Assim, o carvalho (que era devastado) e até então considerado
como símbolo divino, foi substituído pelo abeto.
A primeira referência a uma
Árvore de Natal surgiu no séc.
XVI e foi nesta altura que ela se
vulgarizou na Europa Central. Há
notícias de Árvores de Natal na
Lituânia em 1510.
Diz-se que foi Martin Lutero
(1483-1546), autor da Reforma
Protestante, que após um passeio pela floresta numa noite de
luar de Inverno e com milhares de
estrelas brilhantes no firmamento, que trouxe essa imagem sob
a forma de Árvore de Natal, com
uma estrela brilhante no topo e
decorada com velas, isto porque
para ele o Céu devia ter estado
assim na noite do nascimento do
Salvador. O costume da Árvore
de Natal de Lutero começou a
enraizar-se. Na Alemanha, todas as famílias, ricas e pobres,
decoravam as suas árvores dos
jardins com frutos, doces e flores.
No início do séc. XVII, a GrãBretanha começou a importar da
Alemanha a tradição da Árvore
de Natal pelas mãos dos monarcas de Hannover.
A tradição da Árvore de Natal
espalhou-se por toda a Europa e
chegou aos Estados Unidos em
meados do séc. XIX. Em 1856,
a Casa Branca foi enfeitada com
uma enorme Árvore de Natal e a
tradição ainda hoje se mantém.
A Árvore de Natal tem origem
pagã, e vem dos países nórdicos e do mundo Anglo-Saxónico,
onde a religião predominante é o
Luteranismo… Nos países católicos, como Portugal, a tradição
da Árvore de Natal foi surgindo pouco a pouco ao lado dos
já tradicionais presépios. Em
Portugal a aceitação da Árvore é
muito recente. Assim, entre nós,
o Presépio foi durante muito tempo a única decoração de Natal.
É pena que se esteja a perder a
antiquíssima tradição de montar
o Presépio.
3.7. Os Presentes de Natal
Presentear é tão antigo quanto a própria Humanidade. Os
pagãos ofereciam presentes
3.8. O Bolo Rei
Não é possível falar-se da doçaria típica da época de Natal,
sem se falar do famoso Bolo Rei,
com a sua forma de coroa, as
suas frutas cristalizadas e frutos
secos, a fava e o brinde.
O Bolo Rei está carregado de
simbologia. Muito sinteticamente
pode dizer-se que este Bolo representa os presentes oferecidos pelos Reis Magos ao Menino
Jesus. A côdea simboliza o ouro,
os frutas secas e cristalizadas
representam a mirra, e o incenso
está representado no aroma do
Bolo.
O Bolo Rei tem origem francesa. A festa dos Reis começou
muito cedo a ser celebrada na
corte dos reis de França. Este
saboroso Bolo teria surgido no
reinado de Luís XIV para as festas de Ano Novo e dos Reis.
Tanto quanto se sabe, o primeira casa onde o Bolo Rei se
vendeu na cidade de Lisboa, foi
a Confeitaria Nacional, certamente depois de 1869. A pouco
e pouco, O bolo Rei generalizou-se por todo o mundo.
3.9. Os Cartões de Boas
Festas
Parece ter sido em Londres,
no Natal de 1843, que tiveram a
sua origem os Cartões de Boas
Festas. Henry Cole, o fundador do Museu Vitória, aflito com
tantos negócios, não conseguia
tempo para escrever as tradicionais cartas de Boas Festas.
Mas teve uma ideia luminosa: os
amigos receberiam apenas um
Cartão Impresso, mesmo porque
isso seria uma grande novidade.
Cole, chamou um pintor,
Horsley, encarregando-o de preparar originais e lindas vinhetas,
depois impressos na Old Bond
Street. A principio, porque os cartões eram em papel muito grosso
e sem referência às solenidades
natalícias, e também porque
obrigavam a maior franquia postal que as cartas comuns, não
agradavam a toda a gente.
Mas surgiram vinhetas coloridas e apropriadas, com palavras
de felicitações que conquistaram
a simpatia geral.
Em 1900 Sir Adolph Tuck promoveu um concurso de ideias
originais e fabricou variados
Cartões pois foram cinco mil
os concorrentes. Sir Tuck
movimentou artistas e poetas, escolheu figuras e textos, e deu origem ao que hoje
é a variada gama de Postais de
Boas Festas.
meia noite de 24 de Dezembro,
cada lavrador da província espanhola de Toledo matava um
Galo, em memória daquele que
cantou três vezes quando São
Pedro negou Jesus, por ocasião
da Sua Paixão. Depois a ave era
levada para a Igreja a fim de ser
oferecida aos pobres que, assim,
podiam ver melhorado o almoço
do dia de Natal.
Em certas aldeias de Portugal
e de Espanha era costume levar-se um Galo vivo para a Igreja
para que a ave cantasse durante a Missa da meia noite de 24
de Dezembro. Quando cantava
todos ficavam felizes, pois entendiam-no como um anúncio de um
ano próspero e rico de culturas.
Se ficava mudo entendiam o
contrário.
No princípio do cristianismo,
no dia de Natal celebrava-se
apenas uma Missa. No séc. V começou a celebrar-se em Roma,
na Igreja de Santa Maria Maior,
uma outra Missa ao romper da
aurora, e daí chamar-se-lhe
Missa do Galo. Esta Missa foi-se
depois antecipando até recuar
para a meia noite. È nesta Missa
que a Igreja começa a celebrar
as festividades do nascimento do
Salvador.
AZIMUTE
às divindades. Hoje todos nós
gostamos de dar e de receber
prendas, de um modo particular,
nos dias de aniversário, nos casamentos, na Natal e em muitas
outras ocasiões.
O Presente de Natal é uma
tradição que tem raízes cristãs,
inspiradas na visita dos Reis
Magos, que levaram Presentes
ao Menino Deus. Para muitas
pessoas, esta época de Natal,
é marcada pelo consumismo
desenfreado.
O costume de colocar presentes sob as árvores de Natal
começou, no séc. XVI, durante
o reinado da rainha Isabel I de
Inglaterra.
A Monarca promovia festas
de Natal onde lhe ofereciam muitos presentes. Como era praticamente impossível receber directamente todos os presentes,
criou-se o costume de os deixar
sob uma grande árvore de Natal,
montada nos jardins do palácio
real.
Deus deu-nos o maior e o
mais Belo de todos os Presentes:
Jesus Cristo, Seu amado Filho e
nosso Irmão. Sejamos, também,
nós um verdadeiro presente para
os nossos irmãos.
5. A Famosa Canção “ Noite
Feliz”
A mais famosa canção de
Natal, Noite Feliz, foi composta
nas vésperas do Natal de 1818,
numa aldeia dos Alpes, por um
4. A Missa do Galo
Pouco antes de baterem as doze badaladas da
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Sacerdote Católico de nome
Joseph Mohr, que fez os versos,
e por um mestre–escola chamado Frans Xavier-Gruber, que escreveu a música.
Noite Feliz, a canção do Céu,
como lhe chamou, é hoje cantada em todo o mundo. Para a língua portuguesa foi feita uma feliz
tradução por Frei Pedro Sinzig.
Esta canção foi criada na aldeia austríaca de Oberndorf, nas
montanhas do Tirol. Noite Feliz
nasceu para preencher uma
lacuna: nas Missas da meia-noite, ou do Galo, as pessoas
estavam acostumadas a ouvir a
melhor e a mais bela música de
Natal. Veio a descobrir-se, muito
próximo da noite de Natal, que o
Órgão de tubos da Igreja tinha
sido danificado pelos ratos e não
havia possibilidades de o reparar
a tempo. Surgiu então a ideia
de uma solução de emergência:
compor uma canção para que
o organista, exímio tocador de
violão, a apresentasse na Missa
do Galo.
A Canção foi cantada por um
coro de crianças acompanhado
por uma viola de doze cordas,
instrumento típico do Tirol. Foi
assim que nasceu uma das mais
belas canções de Natal.
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6. A Consoada
A Consoada
é celebrada, em
Portugal, na noite de
24 de Dezembro. Esta tradição
leva as famílias a reunirem-se à
volta da mesa na noite de Natal
para festejarem o nascimento do
Salvador. Por ser uma festa de
família, muitas pessoas percorrem longas distâncias para se
juntarem aos seus familiares.
Na tradição católica os
crentes participam, no final da
noite, na missa do Galo. Em
certas regiões de Portugal,
Beiras,
Trás-os-Montes,
Alentejo, homens e mulheres
antes e depois da Missa do Galo
celebram, na Adro da Igreja, o
nascimento do Salvador à volta
de grandes “madeiros” a arder
cantando ao Menino Deus.
Os
hábitos
religiosos
evoluíram desde os primeiros
séculos até aos nossos dias. Nos
primeiros séculos as vigílias que
celebram o nascimento de Jesus
eram dias de jejum. Os fiéis reuniam-se nas igrejas, rezando e
cantando toda a noite. O jejum
significa desprendimento, contemplação e sacrifício.
Com o passar dos séculos o jejum foi sendo abolido e
substituído pela refeição a que o
povo chama de Consoada. O termo “Consoada” só surgiu no séc.
XVII. Nessa altura a Consoada
consistia numa refeição de peixe.
A Consoada só se generalizou
quando as pessoas mais abastadas passaram a comer uma
refeição após terem participado
na Missa do Galo. Para os mais
pobres, sobretudo para as pessoas que viviam nos campos, a
noite de Natal era uma noite na
qual meditavam no nascimento
do Salvador.
A Consoada actual é assinala,
na grande maioria das famílias
portuguesas, pelo tradicional bacalhau cozido com a couve tronchuda, filhós e muitos e variados
doces. Para algumas regiões de
Portugal, também, o polvo é rei,
e para outras regiões o peru assado ocupa o lugar do bacalhau.
Segundo a tradição, para muitas famílias, a mesa da Consoada
não deve ser levantada e a louça
usada não deve ser retirada…
Manda a tradição que os restos
da comida devem ficar na mesa
durante toda a noite. Isto porque,
segundo a tradição, é por respeito para com os mortos da família,
e para que o Menino Jesus possa jantar. Em Portugal, depois da
Consoada faz-se a distribuição
das prendas de Natal.
Conclusão
A comemoração do nascimento do Salvador, a 25 de
Dezembro, parece reconduzir-nos à Gruta de Belém, para ali
aprendermos que é absolutamente necessário nascer e reformar-nos radicalmente, o que só
é possível quando nos unirmos
intima e vitalmente ao Verbo de
Deus, feito Homem, e, assim, somos participantes da Sua natureza Divina, à qual fomos elevados.
Para todos um Santo e Feliz
Natal!
Azimute
In memorium
Falecimento do General Hugo Manuel Rodrigues dos Santos
No dia 5 de Outubro de 2010, faleceu aos setenta e sete anos de idade, o General Hugo Manuel Rodrigues dos Santos. Nascido em Oliveira do Hospital, frequentou o Curso da Escola do Exército, Arma de Infantaria no período de 1952 a
1955. Com Comissões Militares em Cabo Verde, Angola e Guiné, o General Hugo
dos Santos comandou a Guarda Fiscal de Outubro de 1986 a Outubro de 1992,
tendo ainda desempenhado o cargo de Director da Arma de Infantaria, Presidente
do Conselho Superior de Disciplina e Inspector Geral do Exército.
Foram-lhe atribuídas as seguintes Condecorações: Grande Oficial da Ordem
Militar de Cristo, Grã-Cruz da Ordem Militar de Mérito Militar, Grã-Cruz da
Ordem Militar da Liberdade e quatro Medalhas de Serviços Distintos (1 de ouro
e 3 de prata)
Participante activo no Movimento das Forças Armadas, foi responsável pela
guarda da documentação mais sensível do Movimento, assessorando, após a Revolução, o General Costa Gomes.
Representou o Movimento nas conversações com o PAIGC, acompanhando o
Dr. Mário Soares e o Dr. Almeida Santos nas reuniões que conduziram à assinatura do Acordo em Argel, que também subscreveu.
Comandou a Escola Prática de Infantaria de 1978 a 1979.
A Casa-Mãe da Infantaria e todos os Oficiais, Sargentos, Praças e funcionários civis que nela servem, expressam o sentimento de profundo pesar e sentidas
condolências aos familiares e amigos do “Comandante da EPI”.
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AZIMUTE
Das Invasões Francesas à Europa Unida
Foram três as Invasões
Enviados por Napoleão
Mais de mil as privações
Deste Povo e da Nação
Dois séculos já passaram
A Corte foi para o Brasil
E os Portugueses criaram
A Terra de encantos mil
Hoje é Terra de desafios
Como era antigamente
Junot ficou a ver navios
E Portugal Independente
Vieram mais duas vezes
E Soult foi o segundo
Ajudaram-nos Ingleses
A defender o nosso Mundo
Na guerra ou vences ou morres
Na guerra a vida é pequena
E foi nas Linhas de Torres
Que se rendeu o Massena
E depois de tantos anos
Como passa depressa a vida
Paz e direitos humanos
Fizeram a Europa Unida!
José Custódio Madaleno Geraldo
Coronel de Infantaria
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