CANTÃO: O RENASCER DE UMA METRÓPOLE
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DELTA
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RIO DAS PÉROLAS
Cantão: O renascer de uma metrópole
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CANTÃO: O RENASCER DE UMA METRÓPOLE
Administração de Projecto
Mércia Maria Gonçalves
Coordenação
Gonçalo César de Sá
Louise do Rosário
Pesquisa e Textos
Thomas Chan
Louise do Rosário
CANTÃO: O RENASCER DE UMA METRÓPOLE
DELTA
DO
RIO DAS PÉROLAS
Tradução
Catarina Aleixo
Fernando Correia
Nuno Mendonça
Rita Vasconcelos Marques
Edição e Revisão
Cantão: O renascer de uma metrópole
Thomas Chan e Louise do Rosário
Maria João Janeiro
Fotografia
Eric Tam
Desenho gráfico
Soluções Criativas, Lda.
Impressão
Welfare Printing Company
Produção
Associação de Macau de Investigação do Delta do Rio das Pérolas
Avenida Infante D. Henrique, The Macau Square, Nos 43 - 53A, 10.o andar I, Macau
Publicações
Apoios
MacauLink
[email protected]
Abril de 2013
ISBN 978-99965-955-0-9
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CANTÃO: O RENASCER DE UMA METRÓPOLE
CANTÃO: O RENASCER DE UMA METRÓPOLE
CANTÃO:
O RENASCER DE UMA METRÓPOLE
Uma cidade com dois mil anos de história
A cidade de Cantão tem uma história de mais de dois mil anos. Os primeiros registos referem a conquista
da região pelos exércitos da dinastia Qin (221–207 AC). Chamava-se então Panyu, um nome composto
a partir da designação de duas montanhas próximas denominadas Pan e Yu. A cidade cresceu quando
se tornou a capital do reino Nanyue, em 206 AC, e o seu território incluía o que é hoje o Vietname.
Arqueólogos encontraram marfim africano e caixas de prata persas do período Nanyue, uma prova
do comércio do reino numa data tão recuada. Em 111 AC, a dinastia Han conquistou o reino Nanyue
e a cidade tornou-se a capital da província de Guang, de onde deriva o nome Guangzhou (Cantão, na
designação portuguesa). Permanece a capital da província de Guangdong desde então e Panyu é ainda
hoje o nome de um bairro do sul da cidade.
Mapa da prefeitura de Cantão (1685)
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Durante a dinastia Tang (618–907 DC), a China era a nação mais rica e tecnologicamente mais avançada
do planeta e o maior exportador de seda, produtos de laca e porcelana. Cantão era o centro da “rota
marítima da seda”, o equivalente por mar das rotas terrestres da Ásia Central, que transportava produtos
chineses para o Médio Oriente e Europa. Navios chineses e estrangeiros carregavam estes produtos para
o Sudeste e Sul asiáticos, Mesopotâmia, Médio Oriente, Península Arábica, Etiópia e Somália. Cantão
era residência para mais de 100 mil mercadores estrangeiros, incluindo persas, árabes, hindus indianos,
malaios, cingaleses, khmers, chams, judeus e cristãos nestorianos do Próximo Oriente.
Em 748, Jian Zhen, o monge chinês que levaria o Budismo para o Japão, descreveu Cantão como um
centro mercantil vibrante, com grandes navios do Bornéu, da Pérsia e de Java, “com especiarias, pérolas
e jade empilhadas tão alto como uma montanha”.
Um membro da tribo do profeta Maomé navegou da Etiópia para Cantão com uma cópia do Corão
e estabeleceu ali a primeira mesquita da China. A cidade tinha um vasto bairro estrangeiro, onde os
residentes tinham os seus próprios restaurantes, locais de reunião e de culto.
Desde o ano 2000 que a história se repete. A cidade é de novo lar para dezenas de milhares de
estrangeiros, incluindo asiáticos, árabes, africanos e europeus. Como os persas e malaios da dinastia
Tang, estes estrangeiros foram para Cantão porque esta é a “fábrica do mundo”. Muitos ganham a vida
comprando produtos feitos na província de Guangdong e em outras áreas do sul da China.
CANTÃO: O RENASCER DE UMA METRÓPOLE
A história deu à cidade de Cantão e à província de Guangdong, de que é capital, uma posição única
na China. Os seus cidadãos tiveram mais contacto com o mundo exterior do que os compatriotas do
resto do país. Tal facto fez com que muitos conhecessem a língua, cultura e costumes dos “narigudos”
(designação dos estrangeiros).
Mais do que quaisquer outros chineses, o povo de Cantão viajou, estudou e emigrou, aprendeu inglês,
francês e outras línguas estrangeiras, houve conversões ao Cristianismo, aperfeiçoou as técnicas do
comércio internacional e aceitou ideias inusitadas como democracia, liberdade e modernização.
Revolução e guerra civil
Foi por isso inevitável que Cantão se tornasse o berço da revolução chinesa contra a dinastia Qing. Os
cantoneses que tinham estudado no Japão e nos Estados Unidos, inspirados pelo que tinham visto,
regressaram a casa determinados a reformar um país que estava cada vez mais atrasado em relação
ao Ocidente.
O Dr. Sun Yat-sen, o pai da revolução, era natural de Zhongshan, estudou no Havai e em Hong Kong
e foi o primeiro médico chinês de medicina ocidental em Macau. Cantão era o principal centro do
movimento revolucionário dentro da China, onde activistas e reformistas trabalhavam para modernizar
e melhorar o seu país. Foi ainda o palco de vários levantamentos falhados contra a dinastia Qing.
Portugueses chegam em 1514
Os portugueses foram os primeiros europeus a chegar por mar, em 1514, e em 1517 tinham já montado
um monopólio do comércio estrangeiro. Mais tarde foram expulsos de Cantão e, em 1557, foi-lhes
concedido a utilização de Macau como local de comércio. Mas, o facto é que conseguiram manter um
quase monopólio do comércio estrangeiro na região até à chegada dos holandeses no início do século
XVII.
Em meados do século XVIII, Cantão tinha-se tornado de novo um dos grandes portos comerciais do
mundo. O governo imperial estabeleceu uma área da cidade denominada “as treze feitorias” para uso
das companhias estrangeiras, em especial da Europa, onde estas eram autorizadas a construir armazéns
e escritórios. Era o único local da China onde os estrangeiros eram autorizados a viver.
Cantão manteve este monopólio do comércio estrangeiro até à primeira Guerra do Ópio de 1839, que
resultou na abertura comercial de outras cidades da China. Uma delas, Xangai, ultrapassou Cantão e
tornou-se no porto e no centro industrial mais importante do país.
Dr. Sun Yat-sen
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Finalmente, depois do derrube da dinastia em 1911, Cantão tornou-se o centro do poder político nacional,
com diferentes partidos e senhores da guerra em luta pelo controlo do país. O partido nacionalista
estabeleceu na cidade a Academia Militar de Whampoa, onde treinou oficiais para o novo exército
nacional.
Em Julho de 1926, Chiang Kai-shek deu uma conferência na academia que marcou o início da Expedição
do Norte. Esta expedição conseguiu unir a maior parte da China e permitir ao partido nacionalista
estabelecer uma nova capital em Nanjing.
A partir desse momento, a importância política de Cantão entrou em declínio. Durante a Segunda
Guerra Mundial, foi ocupada pelo exército japonês, entre 1938 e 1945.
Guangdong foi poupada às piores lutas da guerra civil entre o governo nacionalista e os comunistas,
ocorridas no norte e centro da China. Em Abril de 1949, após a queda da capital Nanjing às mãos dos
comunistas, o ainda presidente Li Zongren deslocou a capital para Cantão, mas não conseguiu resistir às
forças comunistas que entraram na cidade a 14 de Outubro de 1949. Uma nova era tinha começado.
Cantão de hoje: próspera e cosmopolita
Cantão foi sempre ao longo da história umas das cidades mais prósperas e cosmopolitas da China.
Situa-se na foz do rio das Pérolas, que desagua no mar do Sul da China, e no centro da planície da
província de Guangdong, possuidora de um excelente sistema de canais e de chuva abundante.
A média anual de queda de água das chuvas, em Cantão, é de 2100 milímetros. São condições ideais
para a agricultura, com duas ou três colheitas por ano. Guangdong produz colheitas básicas como
arroz, batata, milho, sorgo, milhete, trigo, cana-de-açúcar, rebentos de soja e chá, bem como muitas
variedades de fruta como bananas, laranjas, lichias, ananases e longans.
Também produz borracha, óleo de palma, café e pimenta. Tem abundantes variedades de peixe e
mariscos, como ostras e abalone, e alguns depósitos minerais, como estanho, volfrâmio, antimónio,
chumbo e zinco.
Cantão sempre foi a capital comercial da província, onde estas matérias-primas são compradas e
vendidas nos mercados interno e internacional.
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Papel comercial enfraquecido depois de 1949
Depois de 1949, o novo governo comunista introduziu na China um sistema de planeamento central de
estilo soviético. Esta mudança alterou drasticamente a economia da província de Guangdong.
O comércio externo tornou-se um monopólio do governo central e foi estritamente regulado, em parte
devido à falta de moeda estrangeira.
A entrada da China na guerra da Coreia, ao lado das forças do Norte, resultou num embargo comercial
imposto pelos Estados Unidos e por outros países ocidentais. Estes dois factores diminuíram grandemente
o papel de Cantão como um centro de comércio.
Os produtos para exportação eram organizados através de um planeamento central para produção e
distribuição a nível nacional, com pouca consideração pela eficiência económica e pelo desenvolvimento
local. Cada localidade e província eram incentivadas a tornar-se auto-suficientes, com o comércio local
e entre províncias sujeitos a um modelo de redistribuição central baseado em quotas. Cantão tornou-se
no centro industrial e comercial da província e da região; cidades mais pequenas e áreas rurais na região
eram a sua zona de influência.
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Na era das reformas e da política de abertura, iniciada em 1978, a importância relativa da feira decresceu,
uma vez que os estrangeiros começaram a ter acesso directo aos fornecedores e a participar noutras
feiras chinesas. Mas o volume de negócios do certame de Cantão continuou a crescer e mantém-se
o evento de comércio mais importante do país, no que respeita a número de visitantes e variedade
de produtos expostos. A feira de Cantão foi sempre um barómetro da situação comercial do país, em
termos de produtos, compradores e origem dos mesmos.
A 111ª edição, que decorreu de 15 de Abril a 5 de Maio de 2012, teve um volume de negócios de 36,03
mil milhões de dólares americanos, uma queda de 4,8% e 2,8% respectivamente em relação aos dois
certames anteriores. Isto deve-se a uma diminuição das encomendas dos dois maiores mercados da
feira, a União Europeia e os Estados Unidos, comparada com a 110ª feira.
Encomendas de mercados como a Índia, Brasil, Rússia e África do Sul aumentaram e o volume de
encomendas para toda a África cresceu 13,5%; mas este número não conseguiu compensar o
decréscimo de vendas para a União Europeia e Estados Unidos.
A feira da Primavera de 2011 atraiu 200 mil compradores de 209 países e regiões, dos quais mais de
50% eram da Ásia. O número de compradores da Associação dos Países do Sudeste Asiático, Brasil,
Rússia e África do Sul aumentou mais de 20%.
A cidade foi capaz de desenvolver indústria pesada, incluindo ferro, aço e maquinaria, para o que não
dispunha de vantagens comparativas. A percentagem de indústrias pesadas no seu produto interno
bruto (PIB) cresceu de 10% em 1949 para 35% em 1981.
Ascensão e queda das feiras comerciais
Apesar de tudo, a cidade conseguiu organizar a Feira de Cantão, cuja primeira edição teve lugar em
1951 e foi dedicada ao comércio estrangeiro no Sul da China que se alargou, a partir de 1957, a todo
o país. Cantão voltou a ser o único porto na China de comércio com o exterior, apesar de este ser
estritamente controlado pelo governo central e de o comércio com a União Soviética e outros países
comunistas ser conduzido através de acordos bilaterais e não nas transacções de mercado aberto das
feiras de Cantão.
A Feira de Cantão tem tido lugar duas vezes por ano, na Primavera e no Outono desde essa data.
Nos 30 anos que se seguiram, tem sido a mais importante feira comercial da China e uma das raras
oportunidades para empresários e comerciantes estrangeiros entrarem no país e comprarem produtos
chineses.
Feira de Cantão
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Crescimento limitado antes das reformas
Nos anos 60 e 70, o governo chinês procurou aumentar as trocas comerciais com o estrangeiro e
encorajou o desenvolvimento em Cantão de indústrias ligeiras vocacionadas para a exportação, como
máquinas de costura, bicicletas, relógios, pilhas e têxteis, com grande procura nos mercados doméstico
e internacional.
O rendimento nacional de Cantão subiu de 478 milhões de yuans em 1952 para 3905 mil milhões em 1978.
O planeamento central divorciou a cidade das áreas rurais que a rodeavam; estas ficaram confinadas à
produção agrícola, produtos de subsistência na sua maioria, em vez de colheitas económicas de larga
escala. Com algumas excepções, as pessoas não eram autorizadas a deixar o lugar onde tinham nascido
e crescido; a migração laboral foi banida. A reforma económica e a política de abertura adoptada pelo
Partido Comunista chinês, nos finais de 1978, representaram uma mudança radical na estratégia e
na estrutura do desenvolvimento da China como um todo e a região do Delta do Rio da Pérolas, com
Cantão no seu epicentro, em particular.
O governo compreendeu que o modelo de planeamento central estalinista não era viável e precisava
de uma reforma urgente. Elegeu a província de Guangdong como o melhor lugar para começar estas
reformas, porque de todas as províncias chinesas era a que tinha laços mais próximos com Hong Kong
e com os chineses da diáspora, espalhados pelo Sudeste Asiático, América do Norte e Europa. O governo
precisava do investimento e das capacidades de gestão destes emigrantes, além de tecnologia para dar
um pontapé de saída na economia e lançar uma nova era. O governo chinês sabia que os naturais de
Guangdong tinham o espírito de negócios, financeiro e comercial necessário para a economia liberal
que dominava o mundo.
Zonas económicas especiais pioneiras do crescimento
O governo chinês estabeleceu quatro zonas económicas especiais (ZEE), inspiradas no modelo de porto
livre de Hong Kong, que ofereciam condições especiais a investidores em condições não disponíveis
no resto do país. Três dessas quatro zonas estavam na província de Guangdong: Shenzhen, Shantou e
Zhuhai.
A cidade de Cantão não foi seleccionada como zona económica especial, mas beneficiou muito como
a capital da província que se viria a tornar a mais dinâmica e com o crescimento mais rápido da China.
Era o centro do governo, do sistema de transportes e o mais importante centro financeiro, de negócios
e comercial.
Antes de 1978, as áreas rurais à volta da cidade tinham ficado restritas à produção agrícola. Depois
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de 1978, as autoridades municipais expandiram as suas economias, oferecendo concessões de terras,
reduções fiscais e isenções a investidores industriais. Quando as fábricas foram montadas, a entrada de
mão-de-obra migrante foi autorizada.
A paisagem de arrozais e árvores de fruto do Delta do Rio das Pérolas foi-se transformando em aldeias
fabris que se alastraram por toda a província. Muitos destes aglomerados preferiram especializar-se
num só produto e nas suas peças e componentes. Em apenas três décadas tornou-se a “oficina do
mundo”.
À medida que a força industrial de Guangdong se desenvolveu, muitas companhias, nacionais e
estrangeiras, abriram os seus escritórios e fábricas na cidade de Cantão. O seu número crescente mostra
o extraordinário desenvolvimento dos últimos 30 anos.
Crescimento explosivo de trabalhadores migrantes
A mão-de-obra de Cantão cresceu de 2,75 milhões em 1980 para 3,13 milhões em 1985, 3,41 milhões
em 1990, 4,07 milhões em 1995, 5,05 milhões em 2000, 5,74 milhões em 2005 e 7,15 milhões em
2008.
O seu produto interno bruto aumentou de 5,76 mil milhões de yuans em 1980 para 12,44 mil milhões
em 1985, 31,96 mil milhões em 1990, 124,31 mil milhões em 1995, 249,3 mil milhões em 2000, 515,4
mil milhões em 2005 e 1,06 biliões em 2010.
Este crescimento dramático na mão-de-obra e no produto interno bruto resultou de um fluxo de
migrantes para as cidades das zonas rurais da província de Guangdong e de outras regiões da China.
Este fenómeno originou um aumento da população e uma mudança na sua estrutura. Em termos
históricos, os falantes do cantonês constituíam a vasta maioria da população, mas agora, cerca de um
terço da mesma vinha de fora da província. A primeira língua destes últimos era o mandarim e muitos
não falavam cantonês.
No final de 2010, a população permanente da cidade de Cantão atingiu 12,7 milhões, numa área de
7434 quilómetros quadrados. Estes números não incluem os vários milhões de migrantes que não estão
registados como habitantes permanentes da cidade.
O rápido aumento da população colocou desafios enormes à gestão da cidade, no que respeita a
habitação, escolas, hospitais e outros serviços sociais para migrantes, bem como a construção de
estradas, metropolitano e outros sistemas de transporte e, ainda, a organização de forças policiais
suficientes e outras autoridades por forma a garantir a lei e a ordem.
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Reformas administrativas e industriais
Durante os primeiros 20 anos da reforma económica, Cantão cresceu fortemente, mas de uma forma
mais lenta do que outras cidades do Delta do Rio das Pérolas, em especial porque estas últimas ofereciam
terrenos em condições mais favoráveis, bem como políticas fiscais e laborais para investidores do
exterior.
Mas, desde 2000, Cantão tem vindo a retomar a sua posição de liderança. Tudo começou em Junho
desse ano quando, através de uma reorganização administrativa, absorveu as cidades de Panyu e
Huadu, tendo-as transformado em distritos urbanos. Esta medida aumentou substancialmente a área
urbana sobre o controlo directo do governo municipal.
Esta expansão levou a ambiciosos investimentos em infra-estruturas por parte das autoridades
municipais, que foram apoiados pela liderança provincial. Tudo isto resultou numa vasta rede regional
de comboios interurbanos e metropolitanos que foram mais tarde ligados ao ambicioso plano nacional
de desenvolvimento de comboios de alta velocidade dos últimos anos da década de 2000.
O governo municipal lançou-se igualmente na mudança da sua estrutura industrial. Foi bem-sucedido,
conseguindo fazer com que grandes fabricantes japoneses de automóveis construíssem em Cantão as
suas unidades de produção.
Nos últimos 10 anos, os três pilares industriais de Cantão – automóveis, petroquímica e tecnologias
de informação e telecomunicações – dominaram a economia local. A contribuição combinada das três
indústrias para o valor industrial da cidade cresceu de 28%, em 2000, para 42,8%, em 2010.
Em 2004, pela primeira vez na história da cidade, o valor da indústria pesada excedeu o da indústria
ligeira. Apesar da produção industrial total da cidade de Cantão ficar atrás da de outras cidades da
província, como Shenzhen e Foshan, tem uma estrutura claramente diferente da mão-de-obra
intensiva que caracteriza o processo industrial e as indústrias ligeiras de muitos locais no Delta do Rio
das Pérolas.
Menos afectada pela recessão global
A crise financeira global teve um impacto severo em algumas cidades da província de Guangdong,
como Shenzhen e Dongguan, que dependiam fortemente de mercados de exportação, especialmente
os Estados Unidos, a União Europeia e o Japão. Mas a cidade de Cantão foi menos afectada porque a
sua economia é mais diversificada.
As suas empresas vendem para mercados domésticos e de exportação e têm uma mais vasta gama de
produtos. Além disso, Cantão tem um forte sector de serviços, especialmente comércio a retalho, que
continuou a florescer apesar do abrandamento no Ocidente e no Japão.
A viragem para a indústria pesada foi acompanhada por uma mudança agressiva para a economia de
serviços na segunda metade da década de 2000. Em 2008, a percentagem do sector terciário no produto
interno bruto da cidade de Cantão era a segunda maior do país, depois de Pequim. Esta percentagem
tem crescido desde então.
Em termos de vendas a retalho, já ultrapassou Hong Kong, a cidade considerada por muitos a capital
do consumo no sul da China. Em 2011, as vendas a retalho de Hong Kong eram apenas 63% das feitas
em Cantão e 94% das realizadas em Shenzhen. Quase metade das vendas a retalho de Hong Kong tem
origem nos elevados gastos de 20 milhões de visitantes do continente, a maioria do Delta do Rio das
Pérolas e, em particular, das cidades de Cantão e de Shenzhen.
A mudança para a indústria pesada e o sector de serviços têm ajudado a redefinir o papel da cidade
como o centro do Delta do Rio das Pérolas. Esta política está também alinhada com uma mudança de
estratégia nacional de crescimento baseado nas exportações para crescimento doméstico.
O consumo doméstico em Cantão supera em 1,5 vezes o de Hong Kong e mais de quatro vezes o do
Delta do Rio das Pérolas. Hong Kong já não é capaz de competir com Cantão como o centro e cidade
líder do Delta do Rio das Pérolas ou como líder de serviços na região.
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Dois dígitos no crescimento do PIB
Em 2011, Cantão anunciou um produto interno bruto (PIB) de 1238 biliões de yuans, um crescimento de
11% em relação a 2010. O sector de serviços representa 60,5%, o sector industrial 39% e a agricultura
0,5%. A indústria foi o sector que mais cresceu, 11,6% em relação a 2010, e o sector terciário cresceu
11%.
Os três subsectores industriais mais importantes são o automóvel, o de produtos electrónicos e o
de petroquímicos. As vendas a retalho cresceram 16,5% para 522 mil milhões de yuans. Os hotéis e
restaurantes também cresceram rapidamente.
O turismo também foi um subsector importante, com 41 milhões de visitantes nos primeiros 11 meses
de 2011, um acréscimo de 2,6% em relação ao ano anterior. Esses turistas gastaram 148,2 mil milhões
de yuans, um aumento de 30,5%.
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turismo, alta tecnologia, nova tecnologia de informação, biotecnologia e saúde, novos materiais, moda
e criatividade. Queremos aumentar a nossa competitividade em todos estes sectores”.
O plano também visa aumentar o número de marcas produzidas na cidade, em vez de fabricar produtos
para outras empresas. No final de 2010, Cantão tinha montado 12 centros tecnológicos de engenharia
a nível nacional, para trabalhar em motores, automóveis, produtos electrónicos e circuitos integrados.
O alastramento da crise financeira internacional e o impacto de desastres naturais (especialmente o
terramoto e o maremoto no Japão, em Março de 2011) atingiram fortemente a economia de Cantão,
criando muitas dificuldades. Apesar de a economia ter vindo a desenvolver-se, os padrões dos diferentes
sectores mantêm-se baixos e os níveis de criatividade fracos.
O governo municipal pretende aumentar os padrões de desenvolvimento tecnológico das suas empresas
e a qualidade das suas exportações, para que os seus produtos além de “produzidos” e “criados” por
Cantão sejam também “Fabricados em Cantão”.
O salário médio per capita dos que vivem nas áreas urbanas cresceu, em 2011, para 34 300 yuans, um
aumento de 12%, enquanto o dos residentes nas áreas rurais cresceu 16%, para 14 700 yuans.
Planos ambiciosos para desenvolver os serviços
A cidade tem planos ambiciosos para o futuro e quer desenvolver-se em várias áreas, de acordo com um
relatório publicado pelo departamento estatístico do governo municipal em Outubro de 2011.
Um deles é desenvolver e melhorar o sector de serviços. O relatório refere que o sector, apesar de ter
dado grandes passos nos últimos cinco anos, ainda fica atrás dos de Hong Kong, Macau, Singapura e
de outros países na Ásia.
Em 2011, o sector de serviços representava 60,5% do produto interno bruto da cidade, comparado com
a média mundial de 69,4% em 2007 e de 72,7% em países desenvolvidos. Em Hong Kong, o mesmo
número era de 92,3% e em Singapura 74%, em 2007. No Japão o valor era de 69,3% e em França era
de 77,5%.
Cantão quer desenvolver outros sectores como finanças e seguros, logística, cultura e turismo, reuniões
e convenções.
O relatório acima citado refere que “para melhorar a qualidade deste sector, o governo municipal decidiu
desenvolver e apoiar as indústrias estratégicas”. O relatório prossegue afirmando que “em primeiro lugar
vêm as trocas comerciais e as exposições, depois as finanças e os seguros, logística moderna, cultura e
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Cinco desafios futuros
Num relatório publicado em 2010, o governo municipal estabeleceu os cinco principais desafios para
o futuro.
O primeiro prende-se com a necessidade de desenvolver as cadeias de valor industrial através do reforço
da competitividade da sua base industrial e das capacidades independentes de inovação. “Recursos
e terrenos disponíveis estão a diminuir, ao mesmo tempo que a protecção ambiental é um assunto
urgente. Assim, é imperativo melhorar o uso e a preservação de recursos. Num ambiente internacional
volátil e complexo, economias voltadas para a exportação estão constantemente a enfrentar novos
desafios. No quadro destas circunstâncias, Cantão não deve perder tempo a transformar o seu modelo
económico, de modo a fazê-lo dependente do consumo doméstico, estabelecendo um mecanismo
efectivo para expandir a procura doméstica”.
O segundo objectivo traçado consiste em aumentar a competição entre regiões e cidades. “A estratégia
nacional de desenvolvimento regional coordenado e uma série de políticas de apoio abrangentes
estão a ser executadas de forma mais profunda. Cidades chave e regiões da China estão a registar
um desenvolvimento imenso, o que resulta numa concorrência crescente por mercados, recursos,
qualificações e políticas de apoio. Cantão encontra-se num dilema entre pressionar o avanço ou ficar
para trás”.
O terceiro objectivo consiste na necessidade de Cantão melhorar o seu estatuto enquanto cidade a nível
nacional. “Cantão está ainda, em termos relativos, numa fase inicial de crescimento. O seu papel como
centro e sede para empresas e instituições financeiras está longe de ser utilizado em pleno e os seus
aeroportos e portos de mar precisam de ser mais internacionalizados”.
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Uma metrópole global em 2020
Até 2020, Cantão quer tornar-se numa metrópole dinâmica global, semelhante à Grande Tóquio ou à
Grande Paris. A cidade propõe-se atingir este objectivo através de uma densa rede ferroviária que a
ligará, pelo corredor oriental do rio das Pérolas, a Dongguan, Shenzhen e Hong Kong e, pelo corredor
ocidental, a Foshan, Zhongshan, Zhuhai e Macau. O plano prevê que todas estas cidades estejam a 60
minutos de viagem de Cantão.
Esta rede vai colocar a cidade no centro de uma metrópole gigante que se estende e abarca Hong
Kong e Macau. Da mesma forma que os residentes de Yokohama e Saitama trabalham em Tóquio, os
residentes das cidades servidas pela rede ferroviária serão capazes de ir para Cantão todas as manhãs
e regressarem à tarde.
Os projectos estão descritos em pormenor no Plano para Reforma e Desenvolvimento do Delta do Rio
das Pérolas (2008-2020), aprovado pelo governo central em 2008. Em 2010, três documentos políticos
suplementares foram publicados para o período de 2009 a 2020 sobre a integração entre a cidade e o
campo, integração industrial e infra-estruturas.
Este plano determina que Cantão seja o centro desta região, especialmente a sua infra-estrutura de
transportes, e incluem novos conceitos como inovação, partilha de recursos e protecção ambiental.
Aponta, ainda, que a prioridade deve ser dada à ecologia, o que na China é uma ideia comparativamente
nova, se pensarmos no Ocidente. “Um desenvolvimento verde e de baixo carbono será estabelecido
como uma política chave. Protecção ambiental e ecológica será reforçada com a promoção do uso
eficiente de recursos e energia. O mecanismo de tratamento abrangente do ambiente urbano será
completado com a perspectiva de construir uma cidade de poupança energética e amiga do ambiente
que possa ser sustentável”.
O quarto objectivo prende-se com a necessidade de uma reforma institucional. “A variedade de
barreiras sistemáticas e institucionais impede Cantão de se tornar numa cidade central a nível nacional.
Os seus recursos administrativos e fiscais ainda não atingiram os padrões de uma cidade central de
nível nacional. Reformas no seu sistema económico e na gestão social têm de ser aceleradas, enquanto
as barreiras políticas e institucionais que impedem o desenvolvimento de uma economia de serviços
devem ser quebradas”.
O quinto objectivo visa melhorar os serviços sociais e a gestão de uma população vasta e crescente. “A
concentração maciça dos cidadãos nas cidades resulta num drástico aumento da população. Os serviços
públicos urbanos ainda não conseguem responder às necessidades rápidas, crescentes e variadas das
pessoas. Com uma população envelhecida e uma estrutura social que está a mudar rapidamente, a
cidade de Cantão, à semelhança de outras grandes cidades, precisa urgentemente uma nova forma de
pensar e medidas para lidar com as dificuldades de gerir a cidade e a sua sociedade”.
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Círculos económicos e metas para 2015
Três grandes círculos económicos irão aparecer na região – Cantão, Foshan e Zhaoqing; Shenzhen,
Dongguan e Huizhou; por fim, Zhuhai, Zhongshan e Jiangmen.
Mas o plano não significa uma fusão de todas estas cidades. “A esquematização visa o aumento do
desenvolvimento económico e social, bem como da competitividade económica na região do delta”,
disse um porta-voz do governo provincial. “A província de Guangdong está a melhorar a integração
das infra-estruturas, indústrias, planeamento rural e urbano, protecção ambiental e serviços públicos
básicos na região”.
O plano prevê que o produto interno bruto de Cantão atinja 1,8 biliões de yuans em 2015, um crescimento
anual de cerca de 11%. Visa também criar mais de 500 000 novos empregos em cada ano, aumentando
a média anual dos salários rurais e dos urbanos em 10,4% e 12,4% respectivamente. Em 2015, o espaço
verde médio será de 16,5 metros quadrados por pessoa e a esperança média de vida vai aumentar para
80 anos. O objectivo é manter a taxa de desempregados registados abaixo de 3,5%.
Em 2010, o produto interno bruto da província de Cantão ultrapassou três dos quatro pequenos dragões
asiáticos – Hong Kong, Singapura e Taiwan. A ambição da província é ultrapassar o produto interno
bruto de outro pequeno dragão asiático, a Coreia do Sul.
CANTÃO: O RENASCER DE UMA METRÓPOLE
Rápida industrialização nos últimos dois séculos
Nos últimos 30 anos, Cantão tornou-se, com Pequim e Xangai, num dos três centros económicos da
China. É um grande produtor de veículos automóveis, de produtos electrónicos e de petroquímicos, bem
como de uma vasta gama de outros produtos industriais. O porto e o aeroporto de Cantão são dos mais
importantes do país, além de que é o centro de comércio a retalho do Sul da China.
Estes são desenvolvimentos da última metade do século passado. Historicamente, Cantão era uma
cidade de comércio e de indústria ligeira. Durante o último período da dinastia Qing e nos períodos
republicanos, a indústria pesada desenvolveu-se em Xangai, Tianjin e outras cidades portuárias do
norte e nas províncias do nordeste que estiveram sob ocupação japonesa de 1931 a 1945. As indústrias
ficavam localizadas junto de grandes portos e das explorações de carvão, minério de ferro e outras
matérias-primas necessárias à indústria pesada.
Cantão ficou com as indústrias ligeiras. Era famosa por uma marca de porcelana chamada Guangcai;
clientes estrangeiros podiam encomendar um determinado desenho – o brasão de família ou um símbolo
religioso – e a empresa produziria a encomenda, usando habitualmente porcelana de Jingdezhen, em
Jiangxi, a capital da porcelana da China. No século XIX, também tinha uma indústria artesanal que
transformava matérias-primas em artigos produzidos à mão. Depois da Guerra do Ópio de 1839-40, a
China foi forçada a abrir as suas fronteiras e portos ao comércio externo. Os estrangeiros começaram a
vender objectos manufacturados, que eram produzidos em massa nas fábricas europeias; os produtores
tradicionais de Cantão não tinham como competir. A indústria de produtos em ferro de Foshan, por
exemplo, incapaz de concorrer e afastada dos mercados domésticos e estrangeiros, fechou.
Na segunda metade do século XIX e no início do século XX, a cidade conheceu um período de
industrialização, principalmente suportado por naturais da província de Cantão que tinham emigrado
para o Sudeste Asiático, a América do Norte e o Japão. Estes transformaram indústrias locais tradicionais
como a seda, os têxteis, o chá e o açúcar em produção de massa. Houve uma mudança na composição
de importações e exportações durante este período. As exportações foram transferidas para produtos
feitos com matérias-primas locais, em particular seda crua e chá, enquanto as importações consistiam
maioritariamente em maquinaria, produtos industriais e bens de consumo.
A seda crua, por exemplo, era produzida em aldeias na região e transformada em fábricas de fiação na
cidade vizinha de Shunde. A seda crua processada era depois vendida no mercado de exportação de
Cantão dominado pelos comerciantes estrangeiros. Alguma era enviada para Hong Kong e Macau para
exportação. A ocupação japonesa, entre 1938 e 1945, e a guerra civil no final dos anos 40 pôs termo a
este processo de industrialização.
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25
CANTÃO: O RENASCER DE UMA METRÓPOLE
Sanções económicas conduziram ao declínio
Depois de 1949, o novo governo teve de enfrentar sanções económicas impostas pelos Estados
Unidos e seus aliados, incluindo o Reino Unido e a sua colónia britânica de Hong Kong. A China
respondeu com a nacionalização das indústrias de todo o país, dos sistemas financeiros e de
comércio e adoptou uma economia centralizada e planificada. Para cidades como Cantão significou
uma mudança de uma economia assente nos serviços para outra baseada na produção; o governo
lançou um investimento industrial em larga escala na maior parte das cidades chinesas, incluindo
Cantão. Nas décadas de 50 e 60, o governo construiu indústrias pesadas em Cantão como ferro
e aço, metais não ferrosos e indústrias extractivas como o carvão. Eram fábricas modernas e
integradas, resultantes habitualmente da fusão de pequenas e médias empresas que tinham sido
nacionalizadas.
A rede regional prévia de produção voltada para a exportação com a cidade de Cantão como centro
comercial e financeiro foi quebrada e o papel intermediário de Hong Kong e Macau foi eliminado.
Pela primeira vez desde o estabelecimento de Hong Kong como colónia britânica e um porto franco a
fronteira foi fechada; isto impediu a livre circulação de pessoas e bens entre Hong Kong e a região do
Delta do Rio das Pérolas, incluindo Cantão.
Durante os primeiros 30 anos depois de 1949, as exportações continuaram a crescer em Cantão, mas
passaram de matérias-primas para produtos manufacturados. Mas a importância da cidade no quadro
geral de exportações em toda a China declinou significativamente: nos primeiros anos da reforma
económica e da política de abertura, a sua percentagem nas exportações nacionais era apenas de 1,6%,
comparada com os 23,7% de Hong Kong.
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CANTÃO: O RENASCER DE UMA METRÓPOLE
Crescimento dramático a partir de 1978
Tudo mudou depois de 1978, com o início da política de reforma e de abertura. O governo central escolheu
Guangdong como província piloto, o que permitiu oferecer a investidores de Hong Kong, Macau, da
comunidade chinesa emigrada e a países estrangeiros, termos e condições não disponíveis no resto da China.
O governo central estabeleceu três das quatro Zonas Económicas Especiais (ZEE) na província de Guangdong.
Nas três décadas que se seguiram, a província passou de um lugar marginal para a China, para não dizer para
todo o mundo, para um dos mais importantes centros de produção da economia global.
Em 2011, a sua produção industrial diária era de 27,7 mil milhões de yuans e a produção de todo o ano
atingiu um recorde de 10,1 biliões de yuans, mais do dobro dos 359 mil milhões em 2005. Foi a primeira
vez que excedeu 10 biliões. Em 2011, a província produziu 42,1 milhões de toneladas de petroquímicos,
9,4% do total nacional, 1,67 milhões de automóveis, correspondente a 8,7% do total nacional, dos quais
1,31 milhões eram automóveis particulares, correspondentes a 12,5% do total nacional.
A produção mais forte de Guangdong são os aparelhos eléctricos. Em 2011, produziu 14,09 milhões
de frigoríficos, 16,2% do total nacional, 63,7 milhões de aparelhos de ar condicionado, 45,8% do total
nacional, 48,6 milhões de televisores a cores, 39,1% do total nacional, 593 milhões de telefones móveis,
51,9% do total nacional, 60 milhões de calculadoras, 17% do total nacional, 18,629 mil milhões de
circuitos integrados, 24,5% do total nacional.
Produtos de alta tecnologia, especialmente farmacêuticos e electrónicos, constituem 21,5% da produção
industrial, uma subida relativamente aos 21,3% de 2010. Houve um aumento acentuado de produtos
de novas indústrias, como as de veículos automóveis movidos a energias alternativas, lâmpadas LED e
baterias de energia solar.
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CANTÃO: O RENASCER DE UMA METRÓPOLE
Pilares da indústria: automóveis, petroquímica e produtos electrónicos
Em 2011, a produção industrial de Cantão foi de 1,575 biliões de yuans, um aumento de 12,5% em
relação a 2010. Dentro desta, os três pilares da indústria – automóveis, petroquímica e produtos
electrónicos – corresponderam a 753,6 mil milhões de yuans, um aumento de 10,7%. Dois deles foram
gravemente afectados pelo terramoto e maremoto no Japão, em Março de 2011. Devido à falta de peças
e componentes, a produção automóvel da cidade caiu durante quatro meses consecutivos, de Abril a
Junho. A de produtos electrónicos caiu durante dois meses, Julho e Agosto.
Estas estatísticas mostram como a produção da cidade está intimamente associada ao sistema de
fabrico japonês. As firmas japonesas têm por objectivo deter um mínimo de inventário para manter os
custos baixos. Assim, quando há uma quebra grande e inesperada no abastecimento, o efeito é sentido
nas suas fábricas nacionais e no estrangeiro. O valor da produção automóvel da cidade, em 2011, foi
de 304,3 mil milhões de yuans, um aumento de apenas 2,4% em relação a 2010. A exportação de bens
industriais foi de 322,9 mil milhões de yuans, um aumento de 15%.
CANTÃO: O RENASCER DE UMA METRÓPOLE
“O rendimento dos produtos de alta tecnologia será responsável por 45% do total da produção industrial.
O moderno serviço de indústria será responsável por mais de 68% de serviços de valor acrescentado. O
consumo de energia por unidade de produto interno bruto será inferior a 0,6 toneladas equivalentes de
carvão por 10 000 yuans. Cantão irá estabelecer um fundo de capital de risco de alta tecnologia”.
O plano propõe a criação de uma Zona Experimental de Indústrias Culturais, em conjunto com Hong Kong
e Macau: a “Base de Desenvolvimento Industrial Nacional de Cantão de Jogos e Animação Online”, a “Base
Industrial Optoelectrónica de Huadu”, a “Base Industrial LED de Nansha” e a “Base de Energia Nuclear”.
Outros projectos a concluir incluem uma base de construção naval (CSIC – China Shipbuilding Industry
Corporation), em Longxue, uma base de fabrico de equipamento pesado (Guangzhou Heavy-duty
Equipment Manufacturing), em Dagang, centros para a construção de locomotivas ferroviárias e outros
veículos de transporte e o projecto de industrialização de controlo numérico de Cantão.
Cantão tem uma vasta base industrial. Os seus três pilares são automóveis, produtos electrónicos e
petroquímica, mas a cidade produz ainda ferro e aço, equipamento eléctrico e maquinaria, carbonização
e processamento nuclear total, fundição e processamento de metais ferrosos, maquinaria diversa,
processamento de produtos agrícolas e bens alimentares, roupas, calçado e chapéus.
Desenvolvimento de zonas e parques industriais
A cidade alberga quatro zonas de desenvolvimento – o bairro de “Desenvolvimento Económico e
Tecnológico”, a zona de “Desenvolvimento Industrial de Alta Tecnologia”, a zona de “Processamento
de Exportação” e a zona de “Comércio Livre”. Cada uma delas está orientada para diferentes tipos de
investimento, incluindo optoelectrónicos, biofarmacêuticos, química fina, aço e automóveis.
Há ainda o “Parque Industrial de Baiyun”, especializado em peças para veículos automóveis,
processamento de alumínio e fabrico de papel e a “Zona de Desenvolvimento Económico de Huada”,
com produtos de madeira, roupas, vestuário e cerâmica. Há também o “Parque Industrial de Yunpu”,
com produtos electrónicos, química fina e novos materiais.
Todas estas zonas constam do “Plano Director para Construção de Cidade Nacional de Inovação (20112015)”. De acordo com este plano, em 2015, os gastos de pesquisa e desenvolvimento serão de 2,8% do
produto interno bruto da cidade, que irá construir 70 plataformas nacionais de inovação e que terá três
grandes indústrias estratégicas que valerão mais de 100 mil milhões de yuans. A cidade terá também
aprovado 1500 empresas industriais de alta tecnologia.
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CANTÃO: O RENASCER DE UMA METRÓPOLE
Investimentos estrangeiros estimulam o crescimento industrial
O investimento estrangeiro tem sido uma importante alavanca da indústria em Cantão. No final de
Março de 2012, a cidade tinha 10 317 empresas de capital estrangeiro, 6904 sucursais de firmas de
capital estrangeiro e 4686 escritórios permanentes de representação de empresas internacionais.
Cantão conta com muitas das maiores empresas mundiais, incluindo a ABB, Alcatel Lucent, Amway,
BASF, Bosch, Bristol-Meyers Squibb, Budwiser, Casio, DuPont, Nestlé, Nippon Steel, Shell, Siemens,
Unilever e a Yamaha.
O seu sector de serviços em expansão também atraiu muitos dos maiores líderes mundiais das finanças,
seguros, contabilidade, imobiliário, distribuição, retalho e logística. Estas áreas incluem empresas como
a Accenture, Deacons, Deloitte, Federal Express, HSBC, Pricewaterhouse Coopers e a UPS. Gigantes do
comércio a retalho incluem o Carrefour, Wal-Mart, Seven Eleven, Jusco, Makro, Starbucks e o Trust-Mart,
lado a lado com grandes redes hoteleiras como o Hyatt, o JW Marriott, o Ritz Carlton e o Shangri-La.
Em Fevereiro de 2011, o presidente da câmara de Cantão, Wan Qingliang, apresentou o plano para o
futuro industrial da cidade, no qual se propõe desenvolver as indústrias chave estratégicas e angariar
fundos para apoiar esse desenvolvimento. Assim, durante um período de cinco anos, irá consignar
20 mil milhões de yuans, 4 mil milhões por ano, dos cofres municipais e distritais, para apoiar o
desenvolvimento das indústrias estratégicas dominantes da cidade, incluindo finanças e seguros,
comércio, convenções e exposições, logística moderna, indústrias culturais criativas, informação,
automóveis, petroquímica, maquinaria pesada, biotecnologia e novos materiais. Com este apoio
procura-se melhorar a competitividade das indústrias e manter o seu ritmo de crescimento.
CANTÃO: O RENASCER DE UMA METRÓPOLE
Porta de saída e de entrada do sul da China
O presidente da câmara vê Cantão como uma cidade global. “O sistema de infra-estruturas modernas
irá ligar Cantão com o mundo e o seu papel como centro nacional de expedição será reforçado. Cantão
ficará mais integrado no mundo assumindo-se como um destino preferencial para profissionais
qualificados, logística, finanças e informação tanto para a China como para o mundo.”
A cidade pretende vir a ser a porta de saída e de entrada do sul da China, através da qual se efectuará
o intercâmbio político, económico e cultural com o exterior. Em 2015, as exportações e importações
cifrar-se-ão em 140 mil milhões de dólares. O movimento de passageiros no Aeroporto Internacional
Nuvem Branca atingirá 60 milhões de pessoas e o porto movimentará 500 milhões de toneladas de
carga e 18 milhões de contentores de 20 pés.
O presidente da câmara de Cantão vê também a cidade como um centro global de comércio e trocas.
Salienta que se encontra em fase final um sistema construído à volta de modernas indústrias de serviços,
com um ambiente de negócios à escala mundial, com convenções e exposições de comércio, logística
moderna, serviços financeiros e comércio de alta qualidade.
O objectivo é tornar Cantão numa cidade cultural global, com um sistema cultural público e uma
indústria entre as melhores da China. Para tal, irão ser melhorados os níveis de educação e de cultura
cívica. A promoção da cultura Lingnan1 e o intercâmbio cultural a nível internacional, bem como uma
crescente cooperação fazem igualmente parte dos objectivos propostos, para que uma cidade cultural,
aberta e diversificada comece a ganhar forma.
Cantão desenvolver-se-á como um centro nacional de inovação. Paralelamente, torna-se necessário
uma contínua melhoria dos serviços de emprego e segurança social e a administração urbana e
comunitária deverá concentrar-se na população, procurando-se, assim, uma maior harmonia social e
estabilidade, bem como o crescimento mais rápido dos rendimentos da população rural.
Quanto ao estabelecimento de uma plataforma estratégica de desenvolvimento nomeou os planos
de transformação das diversas áreas da cidade: a zona leste numa cintura de indústrias de alta
tecnologia, a zona sul numa cintura de indústrias de equipamento de alta qualidade, as áreas
centrais num moderno distrito financeiro e numa cintura de indústrias culturais e as áreas do norte
da cidade numa cintura de indústrias que respeitem o ambiente. Referiu, ainda, a necessidade de
concentrar esforços no desenvolvimento da Cidade do Conhecimento China – Singapura, na nova
zona de Nansha, nas três zonas de nível nacional, nas seis grandes zonas funcionais para indústrias
modernas de serviços, nas áreas da secção sul que serão o novo eixo central da cidade, na zona
económica do aeroporto, na Cidade Inteligente de Tianhe, na Cidade Internacional da Indústria da
Saúde de Baiyun e em outras plataformas estratégicas de desenvolvimento.
O capítulo mais notável na história industrial de Cantão dos últimos 12 anos tem sido o crescimento,
a partir quase do zero, do sector automóvel. Tornou-se uma das mais importantes bases de produção
para a indústria na China, que é o maior fabricante e mercado automóvel do mundo.
Cada bairro e distrito de Cantão terá também de construir duas ou três cinturas industriais importantes
que funcionarão como novos motores de crescimento económico.
1 A cultura Lingnan refere-se à cultura de Guangdong e demais províncias vizinhas no sudeste da China e nela coabitam as
culturas Cantonesa, Chaoshan e Hakka. Esta cultura contrasta com a Zhongyuan, a das planícies do norte da China.
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Crescimento notável do sector automóvel
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CANTÃO: O RENASCER DE UMA METRÓPOLE
CANTÃO: O RENASCER DE UMA METRÓPOLE
Quadro 1: Dados do Centro Nacional de Estatística da China respeitantes à
produção automóvel na província de Guangdong, centrada na cidade de Cantão
Produção Nacional
Produção Interna Bruta
Aumento anual
(10 6 )
(10 3 )
(%)
Percentagem do Total
2000
2,07
39,4
2001
2,34
56,7
44
2,4
2002
3,25
65,2
15
2,0
2003
4,44
188,9
190
4,3
2004
5,1
279,3
46
5,4
2005
5,7
413,5
50
7,2
2006
7,28
555,00
34
7,6
2007
8,89
789,00
42
8,9
2008
9,3
881,80
12
9,5
2009
13,8
1130
28
8,2
2010
18,3
1360
20
9,5
2011
18,4
1670
7
9,0
Nacional
(%)
1,9
Em 2000, a província de Guangdong produziu 39 400 veículos, menos de 2% do total nacional. Em
2011, produziu 1,67 milhões, 9% da produção nacional. Em apenas 12 anos, a província tornou-se num
dos maiores centros de fabrico de automóveis da China e continua a crescer a um ritmo acelerado,
apesar dos receios de um excedente nacional.
Uma parceria sino germânica, a First Auto Works-Volkswagen, investiu 13,3 mil milhões de yuans numa
nova fábrica perto da cidade de Foshan. A firma chinesa Chang An e a PSA Peugeot Citroen of France
investiram 8,4 mil milhões de yuans numa fábrica em Shenzhen que irá produzir 200 000 veículos por
ano.
Shenzhen é também a sede da companhia privada BYD Auto, que procura alcançar a liderança mundial
na produção de automóveis movidos a electricidade. Warren Buffett detém 10% da firma, o que lhe
custou 230 milhões de dólares em 2008.
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CANTÃO: O RENASCER DE UMA METRÓPOLE
Um centro global de produção automóvel
O governo provincial quer tornar Guangdong num centro de produção global para veículos automóveis e a sua
capital, Cantão, está a concorrer com Xangai e com Tianjin na corrida para se tornar na Detroit da China.
Durante nove anos, organizou uma exposição de automóveis, uma das três maiores da China, no
complexo da Feira de Cantão. O mais recente evento, que teve lugar em Novembro de 2011, atraiu
uma participação recorde de 800 fabricantes de automóveis e de componentes, incluindo as maiores
companhias estrangeiras que fabricam na China. O evento também revelou um número recorde de
novos modelos, mais de 30, incluindo um novo Porsche 911, um Ferrari 458 descapotável, um novo
BMW série M e um Mercedes Benz fabricado na China. A Volkswagen apresentou um novo conceito
automóvel, o Ciat IBL, com LED à frente e atrás e um motor híbrido movido a electricidade.
No decurso dos últimos dez anos, os chineses aderiram aos automóveis e à cultura automóvel com
extraordinário entusiasmo, o que fez com a produção tenha aumentado rapidamente e numa dimensão
tão elevada nunca antes observada em nenhum outro país. Foi em Guangdong, a província mais rica da
China, que o fenómeno se fez sentir com maior intensidade, com as classes média e alta a adquirirem
automóveis particulares.
CANTÃO: O RENASCER DE UMA METRÓPOLE
Em 1998, a Honda e a Guangzhou Auto Industry Group (GAIG) estabeleceram uma parceria, a
Guangzhou Honda Automobile Co, para produzir automóveis de passageiros Honda Accord na fábrica
da PSA. Outros fabricantes japoneses se seguiram – Isuzu, Toyota, Nissan e Hino. Depois, vieram as
companhias europeias – Fiat, Volkswagen e a PSA.
Os gigantes japoneses trouxeram com eles o sistema “keiretsu” – uma densa rede de fornecedores de
peças e componentes que montaram fábricas satélites perto da fábrica principal de modo a fornecer as
peças necessárias de forma rápida e eficiente.
As empresas estrangeiras ficaram satisfeitas com a ideia de ter fábricas na mais rica província da
China onde a posse de automóvel particular estava a crescer rapidamente. A produção automóvel de
Guangdong cresceu a um ritmo espantoso – 39 400 em 2000, 188 900 em 2003, 413 500 em 2005 e
1,13 milhões em 2009, representando 8,2 % da produção nacional. A rápida expansão foi o resultado
das ambições do governo provincial em ter uma participação numa indústria estratégica e também da
vontade do governo central em Pequim, a quem compete a aprovação de parcerias de grande dimensão,
como é o caso da indústria automóvel.
Em 2009, a China ultrapassou o Japão para tornar-se no maior produtor mundial de automóveis, bem
como o maior comprador dos mesmos. A produção nacional, em 2011, foi de 18,4 milhões de veículos,
comparada com menos de dois milhões em 2000.
Começos humildes
Historicamente, a indústria automóvel da China estava concentrada no nordeste, nomeadamente em
Xangai, Pequim, Tianjin e em Wuhan.
A primeira parceria automóvel de Cantão, em 1985, foi com a PSA Peugeot Citroën; fechou em 1997,
depois de produzir apenas 100 000 veículos, devido a disputas sobre a localização e o repatriamento dos
lucros. A decisão da PSA de abandonar a parceria é tida como uma das piores da história empresarial
da indústria automóvel. O governo de Cantão procurou imediatamente um sócio estrangeiro para
substituir a PSA e decidiu apostar na Honda Motor Company do Japão.
A China encontrava-se em negociações com a Organização Mundial do Comércio, com a qual se
comprometeu a reduzir drasticamente as tarifas sobre os automóveis importados. Ao mesmo tempo, os
fabricantes estrangeiros observavam a China como um dos mercados de crescimento mais rápido, bem
como uma base de produção para exportação.
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CANTÃO: O RENASCER DE UMA METRÓPOLE
CANTÃO: O RENASCER DE UMA METRÓPOLE
Empresas pioneiras na indústria automóvel
Na liderança deste processo estava a Guangqi Honda Automobile Company, estabelecida a 1 de Julho
de 1998, com uma participação de 50% para cada um dos dois sócios e um período de contrato de
30 anos. Foi a primeira companhia japonesa a produzir carros na China. Investiu 1000 milhões de
dólares americanos na fábrica de motores de Cantão que tinha sido anteriormente usada pela Peugeot
e começou aí a produzir Accord em Março de 1999.
A parceria tem duas fábricas que cobrem uma área de quase 200 hectares, emprega 7000 trabalhadores
e produz sete modelos. A 1 de Março de 2010, anunciou vendas acumuladas que excederam dois
milhões de unidades, sendo a quarta única companhia na China a conseguir tal feito. Em 2011, vendeu
362 000 unidades e pretende atingir 400 000 em 2012.
Uma das fábricas da Honda produz o compacto FIT para exportação, em especial para a Europa, onde
é vendido com o nome Jazz. Em Dezembro de 2011, exportou, pela primeira vez, o modelo para o
Canadá a partir da fábrica de Cantão, substituindo modelos que tinham sido fabricados anteriormente
no Japão. A principal razão prendia-se com o alto valor do iene, que deu um golpe nos lucros obtidos
no estrangeiro por todos os fabricantes japoneses.
A Guangqi Toyota foi fundada em Setembro de 2004, também uma parceria a 50% por um período de
30 anos, com um investimento registado de 363 milhões de dólares americanos. A fábrica, situada no
distrito de Nansha e com uma área total de 187 hectares, ficou pronta em 2007. Tem uma produção
anual de 360 000 veículos, incluindo o Camry, o Yaris e o Highlander e emprega 7000 trabalhadores,
com uma idade média de 24 anos, dos quais 25% têm formação em escolas técnicas ou superiores.
Criação de marcas próprias
localizadas nos outros países onde têm presença. Estas empresas temem que a China repita no sector
automóvel o seu sucesso global em televisores a cores, computadores pessoais e aparelhos de ar
condicionado.
O sector de serviços constitui uma grande e crescente parte da economia da cidade de Cantão e uma
área que o governo da cidade está apostado em desenvolver. Guangdong é a província mais rica e os
cidadãos de Cantão são dos mais ricos do país, com um salário médio, em 2011, de 34 300 yuans, um
aumento de 12 % comparado com o ano anterior.
Cantão é, actualmente, o maior centro de comércio a retalho do sul da China, tendo ultrapassado Hong
Kong. A despesa no comércio a retalho, em 2011, foi de 522 mil milhões de yuans, um aumento de
16,5% relativo ao ano anterior. A cidade é um centro para compradores não apenas de Cantão e áreas
circundantes, mas também de Hong Kong, de Macau, do Delta do Rio das Pérolas e de outras regiões da
China. A sua culinária é uma das suas maiores atracções e atrai anualmente milhares de visitantes.
O governo está a oferecer incentivos fiscais e políticos às empresas para que estas estabeleçam os seus
próprios programas de investigação e desenvolvimento, por forma a reduzirem a sua dependência de
projectos de design e de tecnologias estrangeiras e criarem as suas próprias marcas.
Nos primeiros 11 meses de 2011, a cidade atraiu 41 milhões de visitantes que ficaram pelo menos uma
noite, um aumento de 2,6% relativo ao mesmo período de 2010; estes gastaram 148,2 mil milhões de
yuans, um aumento de 30,5%.
A 1 de Março de 2012, a GAIG (Guangzhou Automobile Industry Group) deu a conhecer o primeiro SUV
de gama alta que desenhou na fábrica. O modelo foi oficialmente lançado na Feira de Automóveis de
Pequim um mês mais tarde, com um preço de venda entre 123 800 e 229 800 yuans.
Cantão é um dos maiores centros de comércio e convenções na China, que organiza a Feira de Cantão
duas vezes ao ano e possui outros grandes espaços reservados para eventos como o Centro Internacional
de Convenções e Exibições de Pazhou, com mais de 340 000 metros quadrados, o maior da Ásia e o
segundo maior do mundo.
Para as empresas estrangeiras que investiram em Cantão as ambições da China são uma espada de dois
gumes. Construíram fábricas para servir o mercado doméstico que está a crescer mais rapidamente
que qualquer outro no mundo e pretendem abastecer os mercados de exportação a partir de fábricas
36
No final de 2010, a cidade possuía um total de 1153 salas e espaços de todos os géneros, totalizando as
receitas das convenções e exposições 3552 milhões de yuans.
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CANTÃO: O RENASCER DE UMA METRÓPOLE
Áreas prioritárias: finanças e logística
Finanças e seguros são outros sectores que estão a crescer rapidamente. Desde o final de 2010, a cidade
tinha 371 instituições financeiras, empregando 86 928 pessoas, um aumento de 42,2% em relação a
2005. As receitas destas empresas, em 2010, foram de 76 mil milhões de yuans, um aumento de 190%
em relação a 2005.
A cidade está também a encorajar o sector cultural e criativo. No final de 2010, a cidade tinha 484 000
38
CANTÃO: O RENASCER DE UMA METRÓPOLE
pessoas a trabalhar neste sector, com 15 bibliotecas, 14 centros culturais e espaços de actuações e 76
jornais e revistas. Cantão criou também seis “parques criativos.”
A logística é outra área prioritária, já que beneficia a cidade que é o terminal sul da rede ferroviária
nacional e possui dos mais importantes aeroportos e portos de mar da China. O aeroporto Nuvem
Branca tem 105 destinos internacionais e 507 nacionais, com ligações a 183 cidades em todo o mundo.
Em 2011, recebeu 45 milhões de visitantes, um aumento de 9,8% em relação a 2010. O porto da cidade
recebeu 14 milhões de contentores, um aumento de 10,2 %.
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CANTÃO: O RENASCER DE UMA METRÓPOLE
Grandes investimentos em infra-estruturas
Uma razão para o rápido crescimento da cidade de Cantão nos últimos 15 anos tem sido a enorme
despesa com infra-estruturas – ferrovias, linhas de metropolitano, estradas, aeroportos e portos, bem
como os melhoramentos na rede de abastecimento de água e no sistema de telecomunicações.
Dois objectivos estão na origem destas despesas. O primeiro consiste em promover boas condições
para o crescimento económico, atrair investimento, doméstico e estrangeiro, fornecer transportes para
pessoas e mercadorias e facilitar o comércio. O outro prende-se com o rápido aumento da população da
cidade, cujo crescimento acelerado nos últimos 20 anos se deve à presença de milhões de trabalhadores
que aí se instalaram para aproveitar as oportunidades de emprego então criadas.
De acordo com números oficiais, desde Abril de 2012, a população atingiu 16 milhões, excedendo
num milhão o objectivo previsto para 2020. Mas, estimativas não oficiais dão conta de alguns milhões
mais, incluindo migrantes que trabalham nas fábricas da cidade, restaurantes, hotéis e estaleiros
de construção, mas que não estão registados nas autoridades locais e não aparecem por isso nas
estatísticas oficiais.
Este aumento da população coloca uma enorme pressão no abastecimento de água, gás, electricidade
e outras instalações. A construção de infra-estruturas está a ser planeada não só para lidar com as
necessidades actuais mas, também, com as necessidades de futuro.
CANTÃO: O RENASCER DE UMA METRÓPOLE
Política de infra-estruturas delineada pelo presidente da câmara
A política da cidade em infra-estruturas foi, na maior parte, delineada num relatório de trabalho
apresentado, em 21 de Fevereiro de 2011, pelo presidente da câmara Wan Qingliang ao 13º Congresso
do Povo da cidade de Cantão.
O relatório alerta para a necessidade de colocar todos os 10 distritos da cidade sob controlo, cujo
planeamento teve em conta medidas para melhorar a rede de transportes urbanos, proteger o ambiente
urbano e rural e acelerar a renovação urbana e a preservação da cidade antiga. Realça o desenvolvimento
de novas áreas, nomeadamente da “nova cidade” de Zhujiang, da “nova cidade” dos Jogos Asiáticos,
bem como as de Baiyun e Luogang. “Tudo isto resultou num espaço urbano com múltiplos centros e
componentes, formando uma rede completa que continua a tomar forma, o que valeu à cidade um
prémio internacional de melhores práticas”.
No que respeita ao desenvolvimento de infra-estruturas, durante o 11º período do plano quinquenal
(2006-2010), Cantão gastou 213,3 mil milhões de yuans no desenvolvimento de infra-estruturas de
transportes. A construção da segunda fase do aeroporto internacional de Baiyun e a segunda e terceira
fases da área portuária de Nansha foram aceleradas, a estação ferroviária do sul de Cantão ficou
terminada e entrou em serviço, bem como foram adicionados 77 quilómetros de linhas de metropolitano,
210 quilómetros de vias rápidas e 609 quilómetros de vias urbanas. Além disso, alguns edifícios de
referência, incluindo o Centro Internacional de Conferências de Baiyun, ficaram prontos e instalações
municipais para o fornecimento de energia, electricidade e gás têm sido constantemente melhoradas.
O produto interno bruto da província de Cantão já ultrapassou o de três dos quatro “pequenos dragões”
– Hong Kong, Singapura e Taiwan – e quer ultrapassar o da Coreia do Sul até 2020. Esta pretensão vai
exigir uma contínua e elevada despesa em infra-estruturas de modo a criar as condições necessárias
para atingir esse ambicioso objectivo.
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CANTÃO: O RENASCER DE UMA METRÓPOLE
Melhorar o ambiente
CANTÃO: O RENASCER DE UMA METRÓPOLE
Um centro de transportes
No que se refere ao ambiente, o relatório menciona a construção de 1094 quilómetros de canais de
esgoto, 38 novas estações de tratamento de resíduos e a expansão da capacidade de tratamento de
águas residuais em cerca de 2,4 milhões de toneladas. A média de tratamento de esgotos domésticos
subiu para 85% a nível metropolitano e para 90% no centro da cidade.
A pensar no futuro, o presidente da câmara afirmou que a cidade faria das infra-estruturas a prioridade.
“Isto inclui um centro internacional de aviação, um centro de portos marítimos, um centro ferroviário,
trânsito ferroviário interurbano, uma rede de transporte de metropolitano e outra de auto-estrada,
bem como um centro internacional de informação”.
Além disso, iniciou-se a limpeza total de 121 ribeiras e a construção de dois lagos artificiais em Baiyun
e Haizhu. A qualidade da água das principais ribeiras e do rio das Pérolas continua a melhorar. Acrescese que 227 ruas vulneráveis a inundações foram sujeitas a obras de renovação e o sistema urbano de
drenagem foi reforçado.
Entre as infra-estruturas prioritárias destacam-se a construção de uma terceira auto-estrada, de um
segundo terminal e de um centro intermodal de transferência no aeroporto internacional de Bayun, a
construção de um centro de logística aéreo multifuncional e de um centro de negócios no aeroporto.
Em 2010, a média da qualidade do ar subiu para 97,81%, mais 6,85% desde 2005. Foram renovadas e
melhoradas 177 estradas municipais num percurso total de 483,63 quilómetros. Em 160 comunidades
residenciais, foram levados a cabo trabalhos de drenagem das águas pluviais e separação das águas
residuais. Promoveu-se o espaço verde e o paisagismo, aumentando a média de cobertura verde das
zonas construídas para 40,15%.
Em 2010, o número de novas rotas de autocarros chegou a 165 e uma secção de 22,9 km do sistema
de autocarros de trânsito rápido ficou terminada e operacional, de modo a aliviar o congestionamento
do trânsito.
Para além destas medidas, propõe-se avançar com a construção da terceira fase do canal de navegação
exterior do porto de cidade de Cantão, cais de cereais e de mercadorias, em Nansha, a terceira fase do
terminal de contentores e ferrovias portuárias em Nansha e Huangpu.
Por último, salienta-se o apoio às autoridades nacionais e provinciais na construção das ligações do
comboio de alta velocidade entre as cidades de Cantão e Guizhou, Nanning, Shenzhen e Hong Kong.
Para tal, será reforçada a construção do segmento de Cantão e as ligações intercidades entre Cantão
e Dongguan, Shenzhen e Foshan. Propõe-se, igualmente, avançar com a construção das linhas de
metropolitano seis, sete e nove e do metropolitano ligeiro entre Cantão e Conghua, bem como com a
construção completa da via rápida entre Cantão e Heyuan e da via rápida à beira rio entre Cantão e
Shenzhen.
De seguida, analisam-se as principais infra-estruturas da cidade.
Expansão do aeroporto Nuvem Branca ou Bayun
Em 2011, foi o segundo aeroporto mais movimentado da China e o 19º aeroporto em termos mundiais
no que se refere a tráfego de passageiros, atendendo 45,04 milhões de pessoas, um aumento de 9,8%
em relação a 2010. Foi o terceiro aeroporto de mercadorias mais movimentado da China, a seguir a
Pequim e a Xangai, e o 21º em todo o mundo.
O aeroporto, que fica no distrito de Huadu, abriu a 5 de Agosto de 2004, substituindo outro aeroporto
com o mesmo nome que tinha aberto 72 anos antes. Construído com um custo de 19,8 mil milhões de
yuans, fica a uma distância de 28 quilómetros do centro da cidade. Constitui a plataforma central da
China Southern Airlines, uma das três principais companhias aéreas do país e um dos principais destinos
da Shenzhen Airlines e da Hainan Airlines. Está aberto 24 horas por dia e tem uma estação na linha três
do metropolitano da cidade.
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CANTÃO: O RENASCER DE UMA METRÓPOLE
CANTÃO: O RENASCER DE UMA METRÓPOLE
O aeroporto é um importante centro para carga e passageiros, com mais de 630 000 toneladas de
mercadorias em 2010. Possui nove linhas internacionais de transporte de carga, incluindo a Schenker
International e a BAX Global, ambas pertencentes à Deutsche Bahn AG. Em Julho de 2011, as duas
companhias assinaram um acordo com o aeroporto, que simplifica os procedimentos alfandegários,
permitindo-lhes operar 24 horas por dia e garantir a segurança das mercadorias.
“A Schenker International e a BAX Global vão trazer clientes internacionais para o aeroporto e promovêlo em todo o mundo”, disse Huang Yongzhong, o gestor principal da delegação de Cantão da BAX
Global. Referiu, ainda, a necessidade de proporcionar programas de formação aos trabalhadores do
aeroporto, de modo a melhorar as suas capacidades profissionais no manuseamento de mercadorias. A
assinatura do acordo foi feita com base num similar que teve lugar em Maio de 2011, com outra grande
empresa de logística, a U-Freight, dos Estados Unidos.
Em Agosto de 2008, a Comissão Nacional de Desenvolvimento e Reforma em Pequim aprovou o seu
plano de expansão, que está agora a ser executado com um custo de 14,036 mil milhões de yuans.
Este plano exige uma terceira auto-estrada, 400 metros a leste da existente. Irá ter 3800 metros de
comprimento e 60 metros de largura.
O vice-presidente da empresa que gere os aeroportos de Guangdong (Guangdong Airport Management
Corporation), Chen Xiaoning, afirmou que Bayun não era um rival do aeroporto internacional de Hong
Kong. “Ambos têm vantagens complementares. O mercado do Delta do Rio das Pérolas é enorme e ter
apenas o aeroporto de Baiyun ou o de Hong Kong não seria suficiente para a capacidade de resposta às
necessidades desta região. Os dois aeroportos têm, por isso, de cooperar em vez de competir”.
O plano inclui também um segundo terminal, com 531 000 metros quadrados, um parque automóvel
interior e exterior e uma nova estação de metropolitano para o segundo terminal. Quando todo o
projecto ficar concluído no final de 2015, o aeroporto será capaz de atender 75 milhões de passageiros
e mais 2,17 milhões de toneladas de mercadorias por ano.
Planos para melhorar o aeroporto
O governo da cidade tem planos para melhorar o aeroporto de modo a torná-lo num grande centro de
transportes até 2015, adicionando ligações ferroviárias interurbanas a Shezhen, Huizhou e Shantou. Os
planos incluem também a construção de ligações ferroviárias a estações de alta velocidade no norte e
sul da cidade de Cantão, permitindo uma ligação directa entre o transporte aéreo e a rede de comboios
de alta velocidade do país.
“Ao actual ritmo de crescimento, a China vai ultrapassar os Estados Unidos como o país com maior
tráfego aéreo em 2015”, afirmou Zhang Guohua, vice-presidente do Instituto de Transportes da Academia
de Planeamento e Design da China (Transportation Institute of the China Academy of Urban Planning
and Design), em Xangai, em Junho de 2012. “É uma necessidade para os aeroportos estabelecer ligações
com os comboios de alta velocidade, ligações interurbanas e comboios urbanos”.
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Modernização dos caminhos-de-ferro
A Estação Ferroviária Sul da cidade de Cantão é um dos maiores e mais espectaculares centros de
transporte na Ásia e um símbolo da determinação da cidade em se situar na vanguarda das viagens
de alta velocidade na China.
Construída com um custo de 1,8 mil milhões de dólares americanos, e desenhada pela TFP Farrels
de Londres, a estação abriu em Janeiro de 2012. É um edifício de quatro andares, três deles acima
do solo e um outro no subsolo. Este último, com uma área de 930 000 metros quadrados, possui
parques de estacionamento para 1808 veículos e acessos ao metropolitano.
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O primeiro andar destina-se ao transporte e movimento de passageiros dos comboios de alta velocidade
para e de Wuhan, Zhuhai e Shenzhen. Possui também estações de táxis e uma sala de inspecção.
O segundo andar é formado por salas de espera VIP, plataformas e pelo átrio principal da estação. O
terceiro andar é composto por uma área de espera com 71 722 metros quadrados, incluindo 14 700 de
espaço comercial. No exterior há um vasto espaço destinado a 152 autocarros e 60 lugares para táxis.
Os passageiros podem também usar o metropolitano da cidade através de uma estação local.
A estação ferroviária tem 28 plataformas e uma capacidade diária de 300 000 passageiros. Está situada
fora do centro da cidade no subúrbio sul de Panyu. A área circundante é composta por terrenos agrícolas
e há planos para transformá-la em 640 hectares de espaço utilizável.
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CANTÃO: O RENASCER DE UMA METRÓPOLE
CANTÃO: O RENASCER DE UMA METRÓPOLE
O serviço de comboios de alta velocidade começou em 2009
O novo sistema ferroviário de alta velocidade na China começou, nesta estação, no final de 2009, com
uma ligação ao centro da cidade de Wuhan, a uma velocidade média de 320 quilómetros por hora. Em
Janeiro de 2011, um segundo serviço de comboios de alta velocidade começou na cidade de Zhuhai,
vizinha de Macau.
A linha de Wuhan tem uma extensão de 1069 quilómetros e custou 116,6 mil milhões de yuans.
Percorre as províncias de Hubei, Hunan e Guangdong e tem estações em Yueyang, Changsha, Zhuzhou,
Hengyang e Shaoguan. Os trabalhos de construção começaram em Junho de 2005 e terminaram em
Dezembro de 2009. Tornou mais curto o tempo de viagem entre Cantão e Hubei de 10,5 horas para três
horas. Foi um enorme e complicado desafio de engenharia, já que muito do percurso atravessa pontes
e túneis.
Cantão Sul é a estação terminal para a linha de alta velocidade de Shenzhen que vai ser estendida,
em 2015, ao terminal de Kowloon oeste, em Hong Kong. No futuro, a rede de alta velocidade vai
ser alargada de Cantão a Nanning e a Guiyang, respectivamente capitais da região de Guangxi e da
província de Guizhou.
É uma das quatro estações ferroviárias da cidade. As outras são Cantão Norte, Cantão Leste e a estação
central de Cantão. A estação principal é o terminal das principais linhas ferroviárias, incluindo as de
Pequim, Shenzhen, Maoming e Shantou via Meizhou.
O comboio com destino a Hong Kong parte de Cantão Leste e demora menos de duas horas para
percorrer uma distância de 182 quilómetros. Oficiais da alfândega e da imigração têm instalações em
cada extremo da linha, para que os passageiros não tenham de desembarcar quando atravessam a
fronteira em Shenzhen, preenchendo os formulários oficiais quando entram e deixam o comboio.
Actualmente, onze linhas interurbanas, com uma extensão total de 326 quilómetros na cidade,
atravessam Cantão. Está em construção uma densa rede ferroviária que vai ligar Cantão a todas as
principais cidades do Delta do Rio das Pérolas no espaço de uma hora ou menos. O objectivo é tornar a
cidade o centro de uma vasta área metropolitana como a de Tóquio ou Paris.
No âmbito do 12º plano quinquenal (2011-2015), Cantão pretende construir mais de 4600 quilómetros
de vias ferroviárias e linhas de metropolitano. Em meados de 2010, já tinha construído pelo menos 2300
km de vias ferroviárias, isto em mais de meio século.
A rede ferroviária irá ligar nove cidades no Delta do Rio das Pérolas, criando um “círculo de uma hora”
em que o percurso efectuado entre duas cidades não levará mais do que uma hora.
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CANTÃO: O RENASCER DE UMA METRÓPOLE
Um dos consultores para os projectos de infra-estruturas de Hong Kong e do Delta do Rio das Pérolas,
Zheng Tianxiang, afirmou que esta rede irá gradualmente alterar o estilo de vida da população do delta.
“Significa que as pessoas podem trabalhar na cidade de Cantão e viverem em Foshan ou em qualquer
outra cidade do delta. Os investidores imobiliários de Hong Kong podem alargar a área de acção para
norte e oeste e encontrar novas propriedades em Zhongshan ou em Foshan”.
Zheng estima que o custo por quilómetro de ambos – comboios intercidades e de alta velocidade – será
cerca de 100 milhões de yuans, elevando o custo total para perto de 500 mil milhões de yuans durante
um período de cinco anos. “Muitos habitantes de Guangdong terão condições de pagar bilhetes para
os comboios intercidades e para os comboios de alta velocidade”, afirmou Zheng. “Mas, duvido que
haja passageiros suficientes em Guizhou (uma província subdesenvolvida no sudoeste). Se não houver,
penso que a construção de uma via-férrea entre Cantão e Guizhou deve ser adiada”.
Guangdong tem ficado atrás de outras províncias no que respeita à construção ferroviária. Em 2009,
tinha menos de dois centímetros de via per capita, o penúltimo lugar entre todas as províncias, regiões
e municípios da China. O novo e alargado sistema ferroviário é importante por muitas razões. Uma delas
prende-se com o transporte de passageiros de forma rápida e eficiente em toda a província, por forma
a contribuir para a distribuição da população e da riqueza. Tem em vista evitar a concentração de ambas
em algumas grandes cidades sobrepovoadas. A medida pretende também apoiar o sector imobiliário e
o de serviços em cidades secundárias.
Outra das razões para o alargamento do sistema ferroviário é o crescimento da indústria de logística
de Guangdong, na qual o governo da província está a fazer um grande investimento. Isto significa
grandes terminais de contentores em Shenzhen, Zhuhai e em outras cidades do Delta do Rio das Pérolas.
Estes terminais terão uma dimensão tal que o seu pleno funcionamento dependerá das mercadorias
produzidas em outras províncias que não apenas a de Guangdong. O sistema ferroviário tem de oferecer
garantias de transporte, de forma rápida e económica, dos bens de outras províncias.
Um extenso sistema de metropolitano
Nos últimos 20 anos, a cidade de Cantão construiu, a partir do nada, um extenso sistema de metropolitano
que, em 2011, transportava 1,64 mil milhões de pessoas, tornando-o no sexto mais movimentado do
mundo. Há duas novas linhas em construção, bem como uma extensão da linha que liga a cidade de
Cantão a Foshan, que deverão ficar concluídas antes do final de 2012. Espera-se que a capacidade
operacional total ultrapasse 600 quilómetros em 2020.
Foi em 1960 que o governo propôs a construção de um sistema de transporte subterrâneo rápido na
cidade de Cantão. Nos 20 anos seguintes, o projecto foi analisado cinco vezes, mas nunca foi executado
devido a problemas financeiros e técnicos.
Os trabalhos de preparação para a linha de metropolitano começaram no início dos anos 80, com a
construção da Linha 1 a partir de Dezembro de 1993. Abriu em 1997, com cinco estações. Era a maior
infra-estrutura projectada na história da cidade, com um orçamento de 12,75 mil milhões de yuans,
tudo conseguido pelo governo da cidade. Cerca de 100 000 residentes em 20 000 habitações ao longo
da linha foram realojados. Nesse tempo, Cantão era a quarta cidade da China continental a ter um
sistema de metropolitano, depois de Pequim, Tianjin e Xangai.
Desde então, a rede tem crescido rapidamente, com oito linhas que cobrem a maior parte da área
urbana, bem como os subúrbios de Huadu, Baiyun, Panyu e Nansha. Há também uma linha conhecida
como Guang-Fo, entre a cidade de Cantão e Foshan, a primeira linha de metropolitano intercidades na
China. Tem 32,2 quilómetros e 21 estações, todas subterrâneas.
Este sistema tem 144 estações, incluindo 14 estações intermodais e 236 quilómetros de linhas. Opera
entre as seis da manhã e a meia-noite e transporta uma média de cinco milhões de pessoas por dia.
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Sistema de autocarros expressos: um modelo nacional
CANTÃO: O RENASCER DE UMA METRÓPOLE
Portos movimentados
A cidade de Cantão foi pioneira no desenvolvimento de um sistema de autocarros expressos –
autocarros que percorrem faixas exclusivas. A primeira linha entrou em actividade em Fevereiro de
2010 e transporta uma média de um milhão de passageiros por dia, ficando apenas atrás do sistema
TransMilenio de Bogotá, a capital da Colômbia.
Cantão tem o maior porto no sul da China. Em 2010, movimentou 411 milhões de toneladas de carga,
classificando-se como o terceiro porto do país, e 12,5 milhões de contentores de 20 pés, situando-se
em quarto lugar neste domínio. Tem 50 cais, 14 bóias e 23 ancoradouros, o maior dos quais aceita
navios até 300 000 toneladas.
Tem 26 estações numa extensão de 22,5 quilómetros ao longo da Avenida Zhongshan, que liga o centro
da cidade à área de rápido crescimento no leste da cidade, aos 20 distritos urbanos mais pobres e a
áreas de negócios e residenciais. Dá resposta às necessidades de transporte de uma secção transversal
da população. Existe um autocarro em cada 10 segundos, ou 350 por hora, numa direcção única. Tem
por objectivo reduzir o congestionamento de tráfego e as emissões de dióxido de carbono, criar mais
espaços nas ruas, bem como espaços públicos para os residentes.
Tem rotas para mais de 300 portos em mais de 80 países e regiões. É o maior lugar de importação e
exportação, não apenas do Delta do Rio das Pérolas e da província de Guangdong, mas das províncias
vizinhas de Yunnan, Guizhou, Sichuan, Hunan, Hubei, Jiangxi e Guangxi.
O sistema foi primeiramente montado em Curitiba, no Brasil, e tem desde então sido usado em Bogotá,
na Cidade do México, Hanoi, Seoul, Istambul, Ahmedabad e Joanesburgo. O sistema aplicado em Cantão
inclui corredores de autocarros e melhoramentos das infra-estruturas que permitem uma rapidez de
mais 30%, nomeadamente: ligações à rede de metropolitano, um sistema de partilha de bicicletas,
bilhetes pré-comprados, portas largas e múltiplas plataformas para reduzir o tempo de embarque.
Cantão foi a primeira cidade na China a integrar bicicletas neste sistema – cerca de 5000.
Cantão foi também a primeira cidade na China a incluir parques de bicicletas nas suas estações e a
ligar os autocarros expressos ao metropolitano através de túneis, reduzindo o tempo de transbordo.
O sistema de autocarros expressos de Cantão é um modelo para outras cidades chinesas densamente
povoadas e, em todo o país, onze cidades já o adoptaram.
As instalações portuárias são exploradas pela Guangzhou Port Group Co, uma empresa estatal
estabelecida em 2004 a partir do antigo escritório do porto de Cantão, que se encontra localizada em
quatro lugares diferentes: na baixa da cidade, em Huangpu, Xinsha e Nansha.
Novos empreendimentos em Nansha
Um empreendimento importante é o porto localizado no distrito de Nansha. Possui uma área de 63
quilómetros quadrados, com um extenso terreno disponível ao longo do litoral e no interior.
O porto é formado por quatro ancoradouros de 50 000 toneladas em águas profundas, com uma linha
costeira de 1400 metros e uma área portuária de 182 hectares. O projecto começou em Abril de 2003
e as operações experimentais iniciaram-se em Setembro de 2004. Abriu rotas oceânicas para a Europa,
Américas, Japão, Singapura e Médio Oriente, bem como rotas em barcaças para Hong Kong e rotas
comerciais no interior da China continental. Em 2005, o porto embarcou 1084 milhões de cargas para
contentores de 20 pés, num total de 21 899 milhões de toneladas, um número que subiu para 2,41
milhões de cargas para contentores de 20 pés, em 2006.
Numa segunda fase, foram construídos mais seis ancoradouros para navios com 100 000 toneladas, com
uma capacidade anual de 4 milhões de carga para contentores de 20 pés. Envolveu um investimento
total de cinco mil milhões de yuans e ficou completo em Setembro de 2007. Além disso, construiu-se
um terminal para automóveis para dar apoio às operações da fábrica da Toyota nesse mesmo distrito.
Um segundo terminal foi construído para a Nissan, que também produz os seus veículos em Cantão.
Foram ainda construídos dois ancoradouros, cada um com capacidade de 70 000 toneladas para
produtos alimentares, num investimento total de 1,4 mil milhões de yuans, e outro para petróleo, com
uma capacidade de 300 000 toneladas.
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CANTÃO: O RENASCER DE UMA METRÓPOLE
Em 2011, o porto movimentou 4,925 milhões de contentores de 20 pés, mais 20,1% do que em 2010,
com 501 513 processados só em Dezembro, a primeira vez em que o número ultrapassou meio milhão.
A meta estabelecida para 2012 foi de 5,1 a 5,2 milhões de contentores.
Em Maio de 2011, o director do Comissão de Comunicações de Cantão, Xian Weixiong, anunciou a
construção de uma linha ferroviária de 80 quilómetros entre o porto e a rede ferroviária provincial,
que deverá estar concluída em 2013. Afirmou, então, que esta linha irá satisfazer as necessidades de
transporte de bens do interior e, simultaneamente, adaptar-se à transferência gradual de indústrias do
Delta do Rio das Pérolas para locais no interior, onde os custos de produção sejam menores. A linha
ferroviária vai ligar Nansha a Longxuedao e Wanqingsha, dispondo ainda de uma ligação à nova rede
ferroviária de Cantão a Zhuhai.
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Quadro 2: Comparação do volume de negócios dos portos de contentores de
Hong Kong, Shenzhen e Cantão de 2008-2010 (milhares de unidades de 20 pés)
Hong Kong
Shenzhen
Cantão
(a)
(b)
(c)
2008
24 494
21 416
2009
21 040
2010
23 699
b+c
b+c/a
11 001
32 417
132,35%
18 250
11 200
29 450
140,00%
23 510
12 550
36 060
152,16%
Fonte: Governo de Hong Kong
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CANTÃO: O RENASCER DE UMA METRÓPOLE
Investimento estrangeiro e comércio
Multinacionais prosperam
Em 1995, depois de três anos de construção, a Amway abriu uma fábrica em Cantão. O governo exigiu a
construção de uma fábrica na China como condição para a entrada no mercado. Em 2010, a empresa vendeu
produtos no valor de 22 mil milhões de yuans em 31 províncias e regiões da China. Era o maior mercado da
empresa em todo o mundo. O investimento na cidade de Cantão trouxe à Amway um lucro considerável.
Sendo uma empresa com sede nos Estados Unidos que vende medicamentos, produtos de beleza e artigos
para o lar através de vendas directas, a Amway é um dos muitos investidores estrangeiros em Cantão e
teve um papel fundamental no rápido crescimento económico da cidade nos últimos 30 anos.
De acordo com números oficiais, no final de Março de 2012, estavam registadas 21 928 empresas
estrangeiras em Cantão, incluindo 10 317 empresas de investimento estrangeiro, 6 904 sucursais de
empresas estrangeiras e 4 686 representantes com escritórios permanentes.
O relatório oficial “Investir em Cantão”
O relatório de 2011 da organização “Investir em Cantão”, o departamento oficial responsável pela gestão
do investimento estrangeiro na cidade, refere que, nesse ano, um total de 1134 empresas com capital
estrangeiro foram aceites e estabeleceram-se em Cantão, representando um aumento anual de 15,71%.
O volume de investimento contratado foi de 6,747 mil milhões de dólares americanos, um aumento
anual de 35,66%. O investimento realizado situou-se em 4,27 mil milhões de dólares americanos, um
aumento de 7,33%. Até ao final de 2011, investidores de 125 países e regiões tinham interesses em
Cantão, com um volume de capital realizado superior a 50 mil milhões de dólares americanos.
Em 2011, foram aprovados 197 projectos com um valor total de investimento superior a 10 milhões de
dólares americanos, um aumento anual de 20,86%. Estes projectos corresponderam a um investimento
contratado de 5,943 mil milhões de dólares americanos, um aumento anual de 43,99%, representando
88,07% do total do valor de investimento contratado em Cantão. Entre eles, 115 projectos representaram
um volume de investimento acima dos 30 milhões de dólares americanos (65 respeitantes a novos
projectos aprovados, enquanto 50 registaram um aumento do valor do investimento), com um valor
contratado acumulado de 5,157 mil milhões de dólares americanos, o que representa 76,43% do valor
de investimento contratado total da cidade.
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CANTÃO: O RENASCER DE UMA METRÓPOLE
Em 2011, empresas da Fortune 500 estabeleceram 15 novos projectos em Cantão, o que
representou um investimento contratado no valor de 163 milhões de dólares americanos. Dos
projectos de empresas da Fortune 500, 24 registaram um aumento do valor do investimento,
em 2011, no valor de 416 milhões de dólares americanos. No final de Dezembro de 2011, Cantão
tinha 598 projectos criados por 224 empresas da Fortune 500, com um volume de investimento
acumulado de 35 mil milhões de dólares americanos.
Um total de 960 projectos de investimentos relacionados com serviços foi aprovado e lançado
em 2011, representando um aumento anual de 22,76% correspondendo a um valor contratado
de 4174 mil milhões de dólares americanos (um aumento anual de 26,39%). O montante de
investimento realizado atingiu 2395 mil milhões, um aumento anual de 12,24% . O número
de projectos, o valor do investimento contratado e o capital investido no sector de serviços
significaram respectivamente 84,66% , 61,86% e 56,1% do total do volume nas respectivas
categorias.
Atrair indústrias estratégicas
O relatório da organização “Investir em Cantão” define os objectivos futuros para a cidade. Entre
esses objectivos destaca as actividades de promoção relativas ao projecto “Nova Cantão, Novas
Oportunidades de Negócios”, em grandes cidades do país e no estrangeiro, centralizando os
esforços na assinatura de projectos chave, na sua execução e nos seus resultados. Assim, será
dada importância ao desenvolvimento de 50 empresas da Fortune 500, bem como à promoção de
planos de investimentos adaptados às respectivas necessidades. Os esforços serão intensificados
para o investimento em indústrias estratégicas, com o objectivo prioritário de atrair um conjunto
de projectos chave que incluam nove indústrias de grande valor acrescentado e seis indústrias
estratégicas emergentes.
Outro objectivo prende-se com a necessidade de atrair instituições e centros de pesquisa e
desenvolvimento. Assim, procurar-se-á alargar as áreas e os meios de utilização de capital estrangeiro.
Para esse fim, será criado um catálogo de áreas chave e indústrias para o investimento estrangeiro,
enquanto as áreas de investimento estrangeiro serão ampliadas. A promoção do investimento bilateral
terá em vista as principais empresas promissoras e serão criadas condições para desenvolver instituições
intermediárias de promoção de investimento, para que estas actividades sejam conduzidas de acordo
com as regras do mercado.
O relatório enumera os sete pilares industriais: automóveis, petroquímica, informação electrónica,
biofármacos, actividades terciárias, finanças e logística. Estes são os sectores para os quais a cidade
quer atrair investimento estrangeiro.
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CANTÃO: O RENASCER DE UMA METRÓPOLE
Guangdong, a província pioneira da reforma
Após o início da reforma e da política de abertura, em 1978, o governo central escolheu Guangdong
como a província pioneira para aplicar novas políticas antes de as executar noutros locais da China.
Esta decisão prende-se com a proximidade a Hong Kong e Macau e com o facto de a província ser a
terra natal de milhões de chineses emigrados, que possuíam grandes potencialidades para aí investirem.
Foram, pois, estes chineses emigrados, bem como os de Hong Kong e de Macau, os primeiros investidores
do exterior, numa altura em que as empresas estrangeiras eram ainda bastante cautelosas em investir
num país que, durante trinta anos, tinha estado fechado ao mundo.
Das quatro zonas económicas especiais (ZEE), três situavam-se em Guangdong: Shenzhen, Shantou e Zhuhai.
Ofereciam incentivos fiscais e outros privilégios não existentes no resto da China. Embora Cantão não pudesse
competir com esses incentivos era, contudo, uma escolha atraente, como a capital administrativa e comercial
de Guangdong e uma porta aberta para a província e para os mercados do sul da China.
O investimento inicial recaiu em fábricas de bens de consumo e na indústria ligeira, que foram
transferidas de Hong Kong, Macau e de países do Sudeste Asiático. Esta mudança da localização das
fábricas não envolveu capital significativo e trouxe reduções substanciais nos custos de terrenos e de
mão-de-obra. A restante cadeia de abastecimento não mudou – as novas fábricas usavam as mesmas
matérias-primas utilizadas pelas fábricas que substituíram e passaram a exportar para os mesmos
mercados no Japão, Europa e América do Norte.
As multinacionais nesses países seguiram com atenção a sorte dos investidores iniciais, questionando-se
se deveriam seguir-lhes o exemplo. O sucesso de muitos destes recém-chegados e o rápido crescimento
da economia chinesa convenceram-nos a tomar a iniciativa e investir no país. De todas as províncias na
China, Guangdong foi a mais bem-sucedida na atracção de investimento estrangeiro.
Metade das empresas da Fortune 500 em Cantão
Actualmente, quase metade das empresas da Fortune 500 encontra-se em Cantão, incluindo a ABB,
Alcatel Lucent, BASF, Bosch, Casio, Colgate Palmolive, DuPont, Ericsson, IBM, LG-Philips, Marubeni,
Mitsui, Nestlé, Nippon Steel, Pfizer, Samsung, Sanyo, Shell, Siemens, Unilever e a Yamaha.
A cidade tem atraído milhares de milhões de dólares em investimento industrial, principalmente no
sector automóvel, com empresas como a Toyota, Nissan e Honda e as dezenas empresas que lhes
fornecem peças e componentes, tais como a JFE Steel e a Denso. A empresa Progressive Animation
Works, uma grande empresa japonesa de animação, investiu 860 milhões de dólares americanos para
construir um centro de formação no Parque Industrial de Animação de Conghua.
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CANTÃO: O RENASCER DE UMA METRÓPOLE
CANTÃO: O RENASCER DE UMA METRÓPOLE
A cidade criou quatro zonas económicas a nível estatal designadas para diferentes tipos de indústrias,
como as optoelectrónicas, biofarmacêuticas, química fina, automóveis e aço. Incluem o Parque
Industrial de Baiyun para componentes automóveis, processamento de alumínio e fabrico de papel,
a Zona de Desenvolvimento Económico de Huadu para produtos de madeira, roupas e cerâmica e o
Parque Industrial de Yunpu para electrónicos, química fina e novos materiais.
As empresas estrangeiras investiram milhões de dólares no sector imobiliário, impulsionadas pela
renovação maciça do centro da cidade e pelo desenvolvimento das novas comunidades residenciais nos
subúrbios. A construção da rede de metropolitano, das linhas ferroviárias, os estádios para os Jogos do
Leste Asiático e outros projectos de grande escala têm envolvido a demolição de milhares de edifícios
e o realojamento dos seus moradores em novas casas.
O investimento privado contribuiu em grande parte para este novo desenvolvimento. Além disso,
Cantão tem sido um destino favorito para cidadãos de Hong Kong, Macau e chineses emigrados para
aquisição de propriedades na China. Portanto, este investimento estrangeiro tem sido de investidores
e compradores de imobiliário.
Expansão do investimento aos serviços
O investimento estrangeiro concentrou-se, inicialmente, na produção industrial mas, desde então, tem-se
espalhado a todos os sectores da economia. Cantão é a capital de serviços da província de Guangdong e da
maior parte do sul da China. Tem atraído empresas estrangeiras nas áreas das finanças, seguros, serviços
profissionais, imobiliário, distribuição, comércio e logística. Estas empresas incluem a Accenture, Allianz,
Deacons, Deloitte, Dentsu, Young & Rubicam, Deutsche Bank, Federal Express, HSBC e a UPS. No comércio
retalhista incluem-se o Carrefour, Wal-mart, Circle K, Jusco, Makro, Seven Eleven, Starbucks e Trust-Mart.
Por último, no sector hoteleiro, destacam-se o Hyatt, JW Marriott, Ritz Carlton e o Shangri-La.
Os serviços representam uma parte cada vez mais importante do comércio externo da cidade. Em 2011,
de acordo com números oficiais, a sua balança internacional de pagamentos atingiu 23,959 mil milhões
de dólares, um aumento anual de 45,36% e que representa 20,62% do comércio de mercadorias.
As principais actividades foram o trânsito de mercadorias e comissões comerciais, serviços de locação
operacional, consultoria jurídica, contabilidade, consultoria de gestão e serviços de relações públicas
que representam 50,99% do volume total do comércio de serviços, mais 15 pontos percentuais em
relação a 2010.
Os serviços relacionados com os transportes representaram 16,77%, o turismo 12,37%, construção,
mobiliário e serviços de contratação de projectos 8,58%, pagamentos e direitos autorais e de propriedade
6,98% e serviços de computação e de informação 2,38%.
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CANTÃO: O RENASCER DE UMA METRÓPOLE
Um grande centro de terciarização
Cantão tornou-se num grande centro de terciarização com 625 empresas do sector registadas no
Ministério do Comércio, que empregam 220 000 pessoas. Em 2011, os contratos de serviços de
terciarização representaram 3,46 mil milhões de dólares americanos, um aumento de 88,5%. Entre
o valor dos contratos de offshore implementados em 2011, software e serviços de tecnologias de
informação representaram 29,75% e a terciarização de processos empresariais 31,59%. Estes incluem
serviços de banco de dados e serviços de gestão empresariais.
A terciarização do processo de conhecimento tem crescido rapidamente; o design industrial e os
serviços tecnológicos tornaram-se no novo motor de crescimento, representando 38,63% do total
de serviços de terciarização. Cerca de 80% dos contratos offshore executados envolveram mercados
europeus e asiáticos. Dos quatro mercados de terciarização, Hong Kong representou 50,7%, seguido do
Reino Unido com 11,44%, os Estados Unidos com 5,99% e o Japão com 4,89%. A cidade já estendeu a
terciarização a mercados emergentes na América Latina, África e Austrália.
Em 2010, Hong Kong foi o maior mercado de exportação destes serviços, com 49%, seguido dos
Estados Unidos com 13,3%, Japão com 4,6%, Coreia do Sul com 3% e a Grã-Bretanha com 2,8%. Em
termos de importação, Hong Kong representou 27,4%, Singapura 11,4% e o Canadá 4,1%. Os principais
sectores foram a transmissão de informação, serviços de computação e software, finanças, transporte,
armazenagem e serviços postais, arrendamento e serviços comerciais. Este é um indício de mudança de
uma economia assente na produção industrial para uma economia de serviços.
Forte presença de empresas de venda directa
A Amway revelou-se um dos investidores estrangeiros com mais sucesso. A empresa foi fundada
em Ada, no Michigan, em 1959, por dois amigos que formaram a American Way Association, cujo
acrónimo em inglês é Amway. Inicialmente, concentrou-se no mercado norte-americano e começou
a expandir-se no estrangeiro, pela Austrália, em 1971, depois a Europa, em 1973, o Japão, em 1979 e
a América Latina, em 1985. A sua estratégia assentava no fabrico dos produtos nos Estados Unidos
para depois vendê-los através de agentes em países estrangeiros. Mas Pequim insistiu que, para
vender na China, a Amway tinha de montar uma fábrica no país. A empresa escolheu Cantão para
se estabelecer, por ser Guangdong a província chinesa mais rica e os seus hábitos de consumo
semelhantes aos de Hong Kong. A fábrica abriu em 1995 e provou ser um excelente investimento.
Não só existia uma grande procura dos produtos da Amway na China, como existiam milhares de
indivíduos interessados em tornar-se agentes, especialmente mulheres com espírito empresarial e
um desejo de conseguir uma oportunidade para ganhar dinheiro que nunca tinham tido nas suas
vidas. As vendas aumentaram rapidamente.
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CANTÃO: O RENASCER DE UMA METRÓPOLE
Mas firmas chinesas pouco escrupulosas copiaram o modelo de venda directa e usaram esquemas
fraudulentos em pirâmide para enganar consumidores sem dinheiro, o que provocou grandes tumultos.
Em 1988, o governo baniu todas as vendas directas, incluindo a Amway. Em conjunto com a Avon, a
Mary Kay e outras marcas estabelecidas, a Amway negociou um acordo que lhe permitiu operar através
de uma rede de lojas promovidas por uma equipa de vendas independente.
Em 2003, investiu 120 milhões de dólares americanos adicionais na fábrica em Cantão, elevando o
investimento para 220 milhões de dólares americanos. Em Dezembro de 2005, a China introduziu novas
leis reguladoras da venda directa e, em 2006, a Amway era uma das primeiras empresas a receber a
licença para retomar as vendas directas. Nesse ano, tinha dois mil milhões de dólares americanos de
vendas na China com 140 lojas e 180 000 representantes de vendas. Em 2008, a China era o maior
mercado da empresa no mundo, com vendas a atingir 17,6 mil milhões de yuans. De acordo com
o Southern Metropolis Daily of Guangzhou, o valor das vendas da Amway, em 2011, alcançou 26,7
mil milhões de yuans, um aumento de 21% relativamente a 2010, classificando-se entre as primeiras
empresas de vendas directas na China. A China representa 9% deste tipo de vendas no mundo, a seguir
ao Japão com 17%.
Os grandes investidores de Cantão: Colgate e Siemens
A Colgate Palmolive é também um grande investidor em Cantão. Montou três empresas na China, com
um investimento total superior a 200 milhões de dólares americanos. Construiu uma fábrica na Zona de
Desenvolvimento Económico e Tecnológico de Huangpu, que é uma das maiores produtoras de pasta e
de escovas de dentes no mundo. Vende os produtos da fábrica a mais de 600 cidades em toda a China
com a marca Colgate.
Também o gigante industrial Siemens tem vindo a investir fortemente em Cantão. Em Junho de 2011,
anunciou a construção de uma nova fábrica para a produção de transformadores conversores de 800
quilovolts. A Siemens escolheu Cantão para analisar as necessidades futuras do mercado chinês e
da região Ásia Pacífico. “Com esta nova estrutura estamos a alargar a nossa rede global de fábricas
transformadoras de HVDC (corrente directa de alta voltagem) e a expandir a gama dos nossos produtos
na China,” afirmou Jurgen Vinkenflugel, director da unidade de negócios de transformadores da Siemens
Energia, acrescentando que “através da produção local de transformadores HVDC, estamos também a
expandir a nossa competitividade no campo de transmissão de HVDC na China”.
A fábrica fica localizada junto do rio das Pérolas e dos seus portos interiores, o que permite à empresa
despachar por barco os transformadores que pesam várias centenas de toneladas. De forma idêntica
à fábrica de Nuremberga, a unidade de Cantão constitui, também, parte da base global de produção
de componentes HVDC. A unidade fabril de Cantão, uma parceria da Siemens com o consórcio chinês
Guangzhou Electric Equipment Group, emprega 700 trabalhadores.
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CANTÃO: O RENASCER DE UMA METRÓPOLE
Negócios com todo o mundo
O comércio externo constitui um importante elemento da economia de Cantão. De acordo com números
oficiais, em 2011, o valor total do comércio externo atingiu 116,172 mil milhões de dólares americanos,
um aumento de 11,95%. Deste total, 56,473 mil milhões de dólares referem-se a exportações, registando
um aumento de 16,73% e as importações 59,689 mil milhões de dólares americanos. O défice foi de
3,225 mil milhões de dólares americanos.
O maior mercado foi o dos Estados Unidos, com exportações de 10 mil milhões de dólares americanos,
um aumento de 9,06%, seguido da União Europeia com 8,84 mil milhões de dólares americanos, um
aumento de 12,33%. O mais rápido crescimento das exportações foi, contudo, para outros mercados:
4,8 mil milhões de dólares americanos para os países do Sudeste Asiático, um aumento de 19,3%, 3,788
mil milhões de dólares para a América Latina, um aumento de 33,7% e 2,696 mil milhões de dólares
americanos para o Médio Oriente, um aumento de 36%.
A maquinaria e os produtos electrónicos representaram 52,38% do total das exportações, seguidos
dos produtos de alta tecnologia com 18,73%. A cidade é também um exportador de mão-de-obra,
registando, até ao final de 2011, a saída de 11 790 pessoas que foram trabalhar para o estrangeiro, ou
seja, um aumento de 31,44% relativamente ao ano anterior. O montante de novos contratos de trabalho
no estrangeiro, durante o ano, foi de 439 milhões de dólares, um aumento de 13,6%.
Estes projectos têm lugar em 35 países e regiões, incluindo Hong Kong e Macau. No final do ano, havia
23 na Ásia, 15 na América do Norte e 11 em África.
CANTÃO: O RENASCER DE UMA METRÓPOLE
Uma ambiciosa expansão no futuro
De acordo com um relatório oficial de Abril de 2012, o governo da cidade propõe-se expandir
o sector do comércio através da ajuda a empresas, reforçando prioritariamente a pesquisa e o
desenvolvimento de tecnologias de base, para que estas venham a criar as suas próprias marcas
internacionais. O relatório salienta a necessidade de incentivar as empresas a inovar, através da
introdução e absorção de tecnologias avançadas do estrangeiro, bem como a necessidade de
diversificação do mercado, melhorando os serviços de exposição, o comércio electrónico e os
serviços de informação.
Segundo o mesmo relatório, o governo propõe-se igualmente organizar a participação dessas empresas
em eventos no estrangeiro e melhorar as redes de contactos no estrangeiro que facilitem o comércio.
Por outro lado, propõe-se facilitar as importações através da eliminação de medidas e restrições pouco
razoáveis. As empresas nacionais serão incentivadas a expandir os seus canais de importação através da
Feira de Cantão, de exposições nacionais e internacionais e de actividades de aquisição.
O relatório refere também a decisão de implementar a estratégia do governo central que tem por objectivo
“tomar a via global”. Para tal, serão dadas orientações e apoios às empresas de Cantão que estejam
envolvidas em operações multinacionais, para que o seu desenvolvimento de proceda de forma ordenada.
Promover o investimento externo das empresas e incentivá-las a criar bases de produção no estrangeiro,
centros de pesquisa e desenvolvimento e redes de venda internacionais é outra medida referida.
Estão previstas iniciativas para melhorar as capacidades no estrangeiro, através da contratação de
projectos e de serviços laborais. As empresas que se especializem no comércio de serviços serão
incentivadas a explorar mercados estrangeiros, participando em exposições, nas redes de apoio ao
comércio de serviços e em plataformas de promoção. Será dada prioridade ao desenvolvimento de
determinados sectores, tais como as exportações culturais, biomedicina, tecnologias e software, com
o objectivo de desenvolver marcas de comércio e serviços reconhecidas internacionalmente. Serão
igualmente lançadas iniciativas para desenvolver novos sectores no terciário, tais como centros de
pesquisa e desenvolvimento de investimento estrangeiro, telecomunicações, pesquisa nas indústrias
automóvel e naval e design industrial.
Comerciantes estrangeiros do Leste e Oeste
O comércio é a razão pela qual dezenas de milhares de estrangeiros de todo o mundo escolheram
Cantão para local de residência. Capital da província de Guangdong, “a fábrica do mundo”, Cantão é
para esses estrangeiros o melhor local para seleccionarem os produtos que necessitam para os exportar
para os seus próprios países.
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CANTÃO: O RENASCER DE UMA METRÓPOLE
A história repete-se: durante a dinastia Tang, Cantão foi o lar de dezenas de milhares de estrangeiros,
do Médio Oriente e do Sudeste Asiático, que compravam produtos chineses, especialmente cerâmica,
seda e chá, que eram procurados em todo o mundo.
Desta vez, a diversidade de nacionalidades é ainda maior. Do Japão, da Europa e da América do Norte
vêm trabalhadores de grandes empresas que possuem fábricas, sucursais ou operações de venda em
Cantão. Dezenas de milhares de pessoas de África, Médio Oriente e do Sul e Sudeste Asiático são
comerciantes, trabalham por conta própria, em empresas familiares ou pequenas empresas, comprando
produtos que enviam para os seus países de origem. Para eles, Cantão é uma melhor escolha que Hong
Kong, Xangai ou Pequim, pois oferece um custo de vida mais baixo e está mais perto dos locais de
produção. Para facilitar estes negócios muitos chineses criaram empresas de serviços para o transporte
das mercadorias, por via aérea ou marítima, bem como serviços de apoio.
Africanos: homens de negócios e lojistas
Os africanos representam uma importante parcela do conjunto destes estrangeiros. De acordo com
números oficiais da Academia de Ciências Sociais de Cantão, há quase 20 000 residentes africanos, na
maioria do Gana, Nigéria, Guiné, Camarões, Mali e Quénia. Contudo, estimativas não oficiais colocam
o número de africanos na cidade, em qualquer momento, várias vezes superior a esse valor, incluindo
aqueles sem documentos ou com vistos caducados. A vasta maioria não pretende ficar por um longo
período, apenas o necessário para fazer comércio. Uma minoria casou com chineses e abriu os seus
próprios negócios, como restaurantes e barbearias.
CANTÃO: O RENASCER DE UMA METRÓPOLE
Uma comunidade muçulmana crescente
Os últimos dez anos viram também um crescimento dramático no número de residentes muçulmanos em
Cantão, fundamentalmente atraídos, à semelhança dos africanos, pela conveniência do comércio externo
que a cidade oferece. Estes muçulmanos vêm do Médio Oriente, África e Sul e Sudeste Asiático.
A Associação Islâmica da cidade conta com 30 000 muçulmanos estrangeiros, além dos 30 000
muçulmanos chineses. A comunidade é tão vasta que muitos restaurantes têm aberto para servir
alimentos preparados de acordo com os rituais islâmicos.
Um exemplo típico desta comunidade é Mohammed Ali Algerwi, de 39 anos, vindo do Iémen, que visitou
a China pela primeira vez em 1999. “Vivi quase sempre aqui desde então. Apaixonei-me pela cidade”,
afirmou. Montou uma empresa em Cantão que exporta cerâmica, pneus, acessórios de automóveis,
cosméticos e produtos electrónicos para diferentes países do mundo árabe.
“Há tantos produtos na China para satisfazer os meus compradores, com a vantagem de serem mais
baratos que os que são produzidos em qualquer outro país. Mesmo aqueles de alta qualidade são baratos”.
De três em três meses visita a sua família na Arábia Saudita e com ela permanece um mês. À semelhança
da maioria dos muçulmanos estrangeiros em Cantão, comprou um apartamento na cidade.
O futuro desta comunidade depende da evolução da competitividade dos produtos chineses no mercado
mundial. Se o yuan subir muito face ao dólar americano, os comerciantes irão procurar mercados
noutro local.
A maioria trabalha nos bairros de Guangyuanxi, Sanyuanli e Xiaobei, em mercados que fornecem o
mercado africano. Os locais designam estas áreas como a “cidade chocolate”. Grande parte dos produtos
que exportam para África são bens de consumo, como roupas, artigos desportivos, joalharia, perucas,
telefones móveis, calculadoras, computadores pessoais e outros artigos electrónicos.
Daiwara, natural do Mali, é um bom exemplo desta comunidade de africanos. A sua principal loja fica
na sua aldeia natal no Mali e mudou-se para Hong Kong para comprar artigos para fornecer a loja.
Quando descobriu que os preços eram mais baratos em Cantão, mudou-se para esta cidade. A cada
duas semanas, o seu primo no Mali diz-lhe quais os produtos necessários na loja e ele compra-os. “Os
produtos feitos na China são bem-vindos em África”. Daiwara considera ter tomado a decisão certa.
As relações entre os chineses e os seus vizinhos africanos não são contudo sempre fáceis. Em Junho de
2012, um nigeriano de 28 aos morreu depois de uma discussão com o condutor de um táxi. Em protesto,
cem africanos bloquearam então uma rua principal e movimentada no bairro de Yuexiu. Em Julho de
2009, um africano morreu na cidade depois de ter saltado de um edifício para escapar a um controle
de passaportes conduzido pela polícia.
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CANTÃO: O RENASCER DE UMA METRÓPOLE
CANTÃO: O RENASCER DE UMA METRÓPOLE
Dos tempos antigos à actualidade
Cantão é uma metrópole com um dos portos mais antigos do mundo e tem mesmo uma história muito
mais antiga do que Xangai. Esta cidade, que até à Segunda Guerra Mundial foi a maior metrópole com o
maior porto da Ásia, reconquistou a sua posição como o maior porto do mundo. A ascensão de Xangai
teve lugar nos últimos 200 anos, graças à abertura forçada do mercado chinês por potências europeias,
contribuindo para a queda do poder mercantil de Cantão.
Em épocas mais antigas, Cantão contava-se entre as maiores cidades do mundo, na mesma ordem de
grandeza de Pequim, na China, e de Londres, a capital do Império britânico em rápida expansão.
Um incidente histórico mostra como Cantão foi uma cidade cosmopolita em séculos recuados. Nos
últimos anos da dinastia Tang (618-907), a cidade foi invadida por rebeldes camponeses que causaram
a morte de 200 mil comerciantes estrangeiros, entre residentes e visitantes de lugares distantes, como
a Pérsia e a Arábia. A dimensão da comunidade mercantil estrangeira testemunha a grandeza de Cantão
e do seu porto, enquanto cidade mercantil, bem como a sua importância à escala mundial durante a
Idade Média.
A Rota da Seda: do Mar Vermelho ao Sul da China
O comércio da China com o mundo começou com a Rota da Seda há dois milénios, quando as duas
grandes potências mundiais eram o Império Han e o Império Romano. Contudo, o comércio terrestre de
longa distância será, provavelmente, muito mais antigo, como atesta o uso difundido de jade produzido
na China, na actual região de Xinjiang (Sinquião). A variante marítima da Rota da Seda ligava a China a
países no Oceano Índico, em particular do Sul da Ásia e mais distantes como a Pérsia e o Levante.
O colapso do Império Romano e as frequentes mudanças dinásticas na região euro-asiática, com a
substituição dos gregos (Império Romano do Oriente) pelos turcos, persas e, finalmente, a conquista
pelos árabes muçulmanos, interrompeu a rota da seda terrestre, mas deu um grande impulso à expansão
da rota da seda em águas meridionais. Constrangida por uma tecnologia atrasada, a maior parte do
comércio era, no início, conduzida junto à costa da China, deslocando-se de porto para porto, ao longo
de uma vasta costa desde o Mar Vermelho até ao Sul da China.
A cidade de Cantão, situada no delta do rio das Pérolas, passou a assegurar o comércio marítimo da seda,
ao estabelecer a ligação com as regiões produtoras do norte do país, através de rotas terrestres que
atravessavam as montanhas que separam a província de Guangdong de outras regiões que constituíam,
à época, o centro político e económico da China.
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CANTÃO: O RENASCER DE UMA METRÓPOLE
Durante a dinastia Tang, a rota marítima de Cantão desenvolveu-se a par dos avanços das tecnologias
de navegação e de construção naval, bem como da expansão dos comerciantes árabes que viajavam
para o Leste. Na Nova História de Tang2 este processo foi designado por “rota marítima de Cantão para
terras estrangeiras”, que se estendeu de Cantão à costa do actual Vietname, Singapura, Java, Samatra
e Sri Lanka. Depois, seguia ao longo da costa indiana até ao Golfo Pérsico e à foz do rio Eufrates. Esta
rota ter-se-ia estendido, por via terrestre, até Bagdade.
A viagem durava três meses e transportava bens mais pesados do que a rota da seda terrestre: produtos
de seda, porcelana e chá da China em troca de especiarias, marfim, pérolas e outros produtos exóticos.
Constituía igualmente a rota de peregrinação para muitos monges budistas chineses a caminho da
Índia, a terra natal de Buda. Entre a dinastia Han Oriental (25-220) e a dinastia do Norte e do Sul (317589) monges indianos visitaram com alguma frequência a China para difundirem o budismo.
A prosperidade deste comércio marítimo levou o governo imperial a criar uma alfândega em Cantão e a
melhorar a estrada que atravessava a montanha de Da Yue, a que se juntavam os cursos de água tanto
a Sul como a Norte da montanha, e que chegava por fim a Changan (actual Xian), a capital imperial.
As receitas alfandegárias de Cantão, resultantes do comércio com o estrangeiro, foram consideráveis e
importantes para o tesouro imperial.
Com tantos viajantes e comerciantes estrangeiros, Cantão tornou-se no centro de intercâmbio comercial
e intelectual entre o Leste e o Médio Oriente. Em contraste, na Europa viva-se a Idade das Trevas. Fora
das muralhas da cidade, num subúrbio a sudoeste entre a cidade e o rio das Pérolas, foi construído um
bairro para os estrangeiros, uma prática semelhante à de muitas outras cidades euro-asiáticas fora da
China com rotas de comércio de longa distância.
Nessa época, Cantão terá tido o maior bairro de estrangeiros do mundo. Possuía governo próprio, com
um líder nomeado pelo governo imperial que governava o bairro dos estrangeiros com leis estrangeiras.
Em 877, quando o exército camponês sob o comando Huang Chao3 veio do Norte e saqueou Cantão,
foi relatada a morte de duzentos mil comerciantes estrangeiros, entre muçulmanos, judeus, cristãos e
zoroastrianos.
2A
Nova História de Tang é uma obra clássica sobre a dinastia Tang editada por Ouyang Xiu e Song Qi em 1060, durante a
dinastia Song (960-1279).
3A
rebelião de Huang Chao ocorreu entre os anos de 874 e 884, período durante o qual o exército rebelde conquistou e
saqueou muitas cidades do império, como Cantão e Changan, então a capital da China. Esta rebelião é tida como uma das
principais razões da queda da dinastia Tang (618-907).
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CANTÃO: O RENASCER DE UMA METRÓPOLE
Quanzhou, a cidade rival de Cantão durante a Dinastia Song
Com o desenvolvimento económico no Sul da China, uma consequência da ocupação nómada do
Norte da China, o comércio costeiro prosperou ainda mais, com Quanzhou, em Fujian, a substituir
gradualmente Cantão como o maior porto da China.
A vantagem de Quanzhou sobre Cantão durante a Dinastia Song do Sul (1127-1279) resultou da sua
proximidade à capital imperial e ao centro económico de Hangzhou. Os progressos na navegação e
nas técnicas de construção naval permitiram a Quanzhou tornar-se num terminal para o comércio
com o estrangeiro em vez de um local de passagem entre Cantão e Yangzhou. A cidade de Cantão foi
devastada no final da dinastia Tang. A ascensão de Quanzhou (ou Zaitun, como era denominada pelos
árabes) ocorreu durante a dinastia Song (960-1279), especialmente na dinastia Song do Sul (11271279). Entretanto, o Japão tinha-se desenvolvido, após esforços conscientes de copiar a civilização
chinesa.
Durante a dinastia Song, os progressos nas técnicas de navegação e de construção naval, bem como
novas formas de gestão comercial, ajudaram igualmente o desenvolvimento do comércio a oriente
entre a China e os mercados emergentes da Coreia e do Japão.
O Japão produzia ouro e prata de que a China necessitava e, em troca, comprava à China produtos de seda,
porcelana, livros e moedas de cobre. Estas relações comerciais de dependência mútua mantiveram-se
por séculos. A importância deste comércio reflectia-se na generalizada pirataria japonesa e no comércio
privado com a China, desde o final da dinastia Yuan (1279-1368) até aos tempos modernos. Contudo,
no século XX, o Japão encontrava-se finalmente capaz de alterar os produtos chineses importados e
competir com a própria China no mercado mundial de seda.
A concorrência entre Cantão e Quanzhou foi decidida pelo governo imperial em benefício de Cantão,
em meados de 1070. Assim, toda a navegação marítima recebeu ordens para dirigir-se a Cantão, antes
e depois das viagens, o que fez com que na prática Cantão tenha passado a ser o único porto a
comerciar com o exterior. Apesar desta restrição ter sido aliviada uns anos mais tarde, permitiu a
Cantão apoderar-se da maior parte da crescente procura de produtos chineses pelas economias em
desenvolvimento do Japão e Sudeste Asiático.
Os produtos de porcelana chinesa tinham uma grande procura nos mercados estrangeiros, que
substituíam os de barro e de madeira devido à sua boa qualidade, funcionalidade e preços relativamente
baixos. A procura crescente pela porcelana chinesa estimulou o surgimento de um sector de exportação
destinado quase exclusivamente aos mercados estrangeiros. Esta porcelana era de qualidade inferior à
produzida principalmente para o governo imperial e para as elites do mercado doméstico.
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CANTÃO: O RENASCER DE UMA METRÓPOLE
Toda a porcelana produzida para os mercados estrangeiros era enviada, por terra ou por mar, para
Cantão e daí exportada. A procura pela porcelana chinesa estimulou a produção de produtos de
imitação, perto de Cantão e em outros lugares da província, como em Chaozhou, um porto abastecedor
de Cantão, bem como em localidades do interior perto dos portos de Fujian. Durante cerca de 100
anos, este tipo de produção de porcelana concentrou-se em Cantão e nas proximidades das cidades de
Foshan, Zhongshan e Nanhai, situadas ao longo do rio das Pérolas. Cantão era famosa e conhecida no
estrangeiro pelos seus produtos de Xicun, fabricados num subúrbio da cidade.
Foi a primeira vez que uma política de monopólio de estado do comércio externo ajudou o
desenvolvimento de Cantão e elevou o seu porto ao estatuto de base nacional de exportação. Desde
então, a evolução da cidade tem-se mantido ligada e em grande parte determinada pela política de
comércio externo do governo (imperial e nacional).
CANTÃO: O RENASCER DE UMA METRÓPOLE
Governantes Ming impõem limites ao comércio externo
Contudo, com a derrota do governo imperial Song e a mudança da capital para Hangzhou, a sul do rio
Iansequião, Cantão perdeu o apoio imperial para o seu monopólio do comércio com o exterior. O seu
declínio às mãos de Quanzhou também determinou o colapso da produção de porcelana em Cantão e
em outros lugares da província de Guangdong, enquanto a produção em Fujian crescia e expandia-se.
Durante a dinastia Song, Quanzhou fez concorrência a Cantão enquanto maior porto da China. No
entanto, apesar de ter sido um porto mundial por mais de 100 anos, desde a dinastia Song do Sul até
ao domínio mongol da China, Quanzhou entrou em declínio logo após os distúrbios raciais no final
da dinastia Yuan (1271-1368) e início da dinastia Ming (1368-1644) e, em particular, após a proibição
imperial de comércio externo ao longo da costa sudeste da China, devido às actividades de pirataria
conduzidas pelos japoneses e pelos seus colaboradores chineses de Fujian e Zhejiang.
Em 1474, a alfândega de Fujian, cujo encerramento datava do início da dinastia Ming, foi restabelecida
juntamente com os postos alfandegários situados em Zhejiang (Ningbo) e Guangdong (Cantão). Foi,
então, transferida para Fuzhou. Cada um dos postos alfandegários tinha responsabilidades próprias:
o de Zhejiang tratava do comércio com o Japão, o de Fujian com Ryukyu e o de Guangdong com os
restantes destinos.
Em 1522, o governo imperial Ming aboliu as alfândegas em dois dos principais portos, Ningbo e Fuzhou.
Cantão tornou-se o único porto com comércio oficial com o estrangeiro, com uma quota anual restritiva
para os navios comerciais do Oriente – Japão, Ryukyu e Luzon, que fica hoje em dias nas Filipinas – e do
Ocidente – Sudeste Asiático e outras destinos.
Com sanções oficiais, as quotas não eram suficientemente restritivas para impedir o comércio privado,
mas encorajavam e davam cobertura aos comerciantes privados dentro e fora da China. Além disso, o
comércio oficial era cobiçado por piratas e contrabandistas liderados por elementos de Ryukyu e pelos
recentemente chegados comerciantes portugueses, espanhóis e holandeses. Com o declínio do poder
imperial, a incapacidade do governo para controlar as actividades de pirataria e contrabando conduziram
o comércio com o estrangeiro na costa sudeste da China a uma actividade aberta e caótica.
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CANTÃO: O RENASCER DE UMA METRÓPOLE
A ligação entre Macau e Cantão
O estabelecimento dos portugueses em Macau, em 1557, ajudou a reforçar o monopólio de Cantão sobre
o comércio externo oficial e não oficial. Macau serviu como porto externo e o bairro dos estrangeiros
em Cantão foi consideravelmente ampliado. As rotas comerciais controladas pelos portugueses no
Sudeste Asiático e no Oceano Índico facilitaram não apenas o comércio triangular entre Macau/
Cantão, Nagasáqui e Manila – o núcleo para o comércio no Pacífico – como também o comércio com
as economias do Sudeste Asiático, Índia e para além do Oceano Índico até à Europa. Existiu, igualmente,
concorrência entre Cantão e Macau, provavelmente relacionada com direitos alfandegários para o
comércio doméstico e com o estrangeiro, de tal modo que, por volta de 1580, o governo da província
de Guangdong iniciou as feiras de Cantão.
Desde a dinastia Tang e até aos últimos anos da dinastia Ming, num espaço temporal de mil anos,
Cantão transformou-se na maior cidade portuária da China, da Ásia e se não mesmo do mundo. Dois
factores contribuíram para isso: o primeiro prende-se com a política consciente e intervencionista,
quer dos governos imperiais, quer dos governos locais, para promover o comércio com o estrangeiro,
de modo a aumentar as receitas imperiais; esta abordagem intervencionista foi responsável pelo facto
dos monopólios comerciais terem sido detidos, a maior parte do tempo, por Cantão e, apenas por algum
tempo, por outras cidades costeiras.
O segundo factor relaciona-se com o regime monetário especial de Cantão. Muito antes da introdução
generalizada da prata no sistema de tributação na China, a meio da dinastia Ming, já o ouro e a
prata eram usados como moeda local, em vez do cobre. Este facto contribuiu para facilitar as trocas
internacionais através de uma moeda única e estimulou, igualmente, a produção local e o comércio
inter-regional para exportação através de Cantão.
É difícil avaliar o impacto e a influência recíproca que o comércio externo teve no desenvolvimento
económico na China imperial. A economia dos principais produtos para exportação – seda, porcelana,
utensílios de ferro e outros – estimulou a transferência de tecnologias das principais regiões produtoras
do Norte e do interior da China para as regiões costeiras, centrando-se em Cantão e, em menor escala,
em Quanzhou. Também a escala das exportações facilitou a rápida transformação do sistema monetário
na China, com a prata e o ouro a serem preferidos à moeda de cobre, de qualidade instável, e ao papelmoeda emitido pelos governos imperiais.
Cantão (1800)
CANTÃO: O RENASCER DE UMA METRÓPOLE
A prata financia a expansão do comércio
Nas regiões costeiras da China assistiu-se à generalização do uso da prata como meio de pagamento.
Infelizmente, a China não produzia grandes quantidades daquele metal pelo que o governo central nunca
dispunha de prata em quantidades suficientes, não obstante o monopólio estatal das minas de prata. Esta
situação gerou uma reacção em cadeia que afectou as economias, tanto doméstica como externa.
A procura de prata para financiar o aumento da produção de mercadorias tanto para o mercado interno
como para exportação causou uma escassez de metal e alterou o câmbio da prata relativamente ao
ouro em favor da prata. A China necessitava de produzir e exportar mais em troca da prata de outros
países. O elevado câmbio da prata relativamente ao ouro fez com que alguns mercadores aproveitassem
as diferentes taxas de câmbio e adquirissem produtos chineses de alta qualidade sendo o pagamento
efectuado com prata adquirida a mais baixo preço. Esta situação, ocorrida na sua maior parte em
Cantão, fez com que a economia chinesa das dinastias Ming e Qing se globalizasse após 1368, o ano em
que os chineses derrubaram o império mongol.
No início da dinastia Ming, a utilização da prata enquanto moeda estava proibida mas, em 1567, o
governo imperial foi forçado a retirar essa proibição. Pouco tempo depois, na reforma do imposto
único, em 1581, decretava-se que todos os impostos e taxas fossem pagos em prata. A economia
chinesa tornou-se, desde então e até ao início do século XX, numa economia assente na prata.
Esta situação conduziu a duas mudanças estruturais. A primeira relaciona-se com o uso internacional
da prata como curso legal. A conversão do sistema chinês para a prata ajudou a China a integrar-se
na economia global, sobretudo no comércio, mas também no investimento, embora em menor escala.
Os mercadores de Cantão podiam usar a prata tanto no mercado interno como no mercado externo.
Juntamente com os mercadores de Fujian, podiam fazer comércio nos portos do Sudeste Asiático,
como por exemplo na Batávia holandesa, na Manila espanhola e na Goa portuguesa, bem como com
os comerciantes locais e europeus. Cantão tornou-se a cidade mais globalizada da China, antes da
ascensão de Xangai no final do século XIX.
A segunda prende-se com a dependência da prata importada, o que impedia o governo imperial
de cunhar moeda para criar inflação para fins fiscais. Ao mesmo tempo, a economia chinesa tinha
estado dependente da entrada constante de prata por via do comércio externo. Qualquer alteração na
cadeia de fornecimento de prata importada teria consequências tanto no comércio externo como na
economia nacional. A prata enquanto padrão monetário criou uma convertibilidade total associada a
vulnerabilidades económicas e monetárias.
Tem sido apresentado o argumento de que as dinastias Ming e Qing foram derrubadas por uma súbita
diminuição da oferta de prata. O império espanhol conheceu o mesmo destino, mas por um motivo diferente:
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CANTÃO: O RENASCER DE UMA METRÓPOLE
CANTÃO: O RENASCER DE UMA METRÓPOLE
a queda da produção de prata. Cantão e a China também sofreram menos com a Grande Depressão da
década de 1930 devido à utilização da prata como padrão monetário. Cantão tinha sido capaz de exercer
domínio sobre Macau e Hong Kong por utilizar a prata e as duas colónias eram forçadas a seguir o padrão
monetário de Cantão/China, em vez dos sistemas monetários dos seus países que tinham como padrão
monetário o ouro.
Uma considerável parte da prata importada passou por Cantão e outros portos das províncias de
Guangdong e Fujian, como Chaozhou, e manteve-se em circulação nas actividades comerciais
internacionais centradas em Cantão. A fundação de Macau como posto de trocas dos portugueses, em
1557, reforçou o monopólio do comércio externo de Cantão com a Europa e, através dos portugueses,
com o Japão, Manila e outras localidades.
Na dinastia Ming assistiu-se a um aumento significativo da produção de bens para exportação, não
obstante o governo imperial ter tentado por diversas vezes restringir ou mesmo proibir o comércio externo.
Contudo, a dinastia Ming viu-se confrontada com o chamado período das descobertas dos europeus.
No final da dinastia Ming (1368-1644) e no início da dinastia Qing (1644-1911), o comércio externo
de Cantão foi afectado por dois factores: o primeiro relaciona-se com guerras e conflitos que
desestabilizaram as economias costeiras e o seu comércio com o estrangeiro e que conduziram à
pirataria por parte de japoneses, chineses e, mais tarde, europeus que procuravam estabelecer negócios
na China, mas que foram recusados pelo governo imperial. O outro factor prende-se com a guerra
com o reino independente de Zheng Chenggong4 (ou Coxinga como era conhecido no Ocidente), em
Xiamen e Taiwan, que controlava um império comercial que se estendia de Nagasáqui, no Japão, até ao
Sudeste Asiático e que tentou invadir Nanjing, mas falhou.
Até à chegada dos europeus, o comércio externo da China concentrava-se na sua maior parte com
economias que tinham tido um desenvolvimento menor, caso do Japão e de outras nações do Sudeste
Asiático, a costa oriental de África e o Médio Oriente, tendo essa “idade de ouro” terminado com
a ocorrência das cruzadas. Estas, ao assumirem o controlo do Levante, puseram termo às ligações
comerciais entre o Médio Oriente a Europa.
A migração de chineses para o Sudeste Asiático tinha começado, embora a uma escala ainda
reduzida. A composição do comércio alterara-se para bens de consumo diário, mas o volume de bens
transaccionados aumentara, sendo bastante superior ao que a rota terrestre da seda alguma vez
transportara. Contudo, o baixo poder de compra destas populações asiáticas restringia a expansão das
importações provenientes da China.
Os Europeus chegam apesar das restrições comerciais
A chegada dos europeus colocou a China em contacto directo com uma Europa mais rica e em rápido
crescimento, que tinha beneficiado do seu comércio marítimo e da colonização de outros continentes
menos populosos. Os europeus deram origem e controlaram um comércio global através de oceanos
e continentes, facto que fez aumentar a procura de bens de qualidade da China e, simultaneamente,
contribuir para a integração de mercados nacionais e internacionais num sistema global. Através da
exploração de minas de prata na Nova Espanha, na América Central, bem como do comércio da prata
com o Japão, os europeus contribuíram também para a expansão da prata enquanto meio de troca num
sistema globalizado.
Este último conduziu à proibição do comércio externo, pelo governo Qing, ao longo da costa e à
retirada de todos os estabelecimentos para 50 a 80 milhas para o interior, destruindo assim todo o
comércio costeiro, bem como a produção em qualquer indústria orientada para exportação. O impacto
em Cantão foi menor porque o governo local permitiu e empreendeu negociações directamente
com Macau, que ainda se encontrava ligada ao comércio externo, embora em menor escala devido à
proibição imperial.
A reconquista de Taiwan pelo governo imperial Qing, em 1684, reabriu o comércio externo da China.
Quatro postos alfandegários entraram em funcionamento em Cantão, Xiamen, Ningbo e Xangai.
Contudo, entre 1717 e 1727 foi decretada a proibição de comerciar com o Sudeste Asiático; antes de
1759, o comércio estava rigidamente regulado a partir dos portos de Xiamen e Cantão de tal forma
que os armadores não conseguiam enviar os seus navios para os portos do Sudeste Asiático, muito
particularmente Batávia, controlado pelos holandeses, que tinha funcionado como o principal porto
para intercâmbio de mercadorias entre os comerciantes chineses e os seus congéneres asiáticos e
europeus. Em resultado da imposição desses regulamentos rígidos, os comerciantes europeus tiveram
de ir a Cantão e a outros portos do país para poderem comerciar com a China.
4 Zheng Chenggong (1624-1662), líder militar chinês das forças Ming contra os conquistadores Manchu, ficou conhecido por
derrotar os holandeses e estabelecer o controlo chinês sobre Taiwan.
Entre os anos de 1540 e de 1820, a quantidade de prata importada pela China terá atingido cerca de
600 milhões de taels (unidade de peso chinesa equivalente a 33,9 gramas), em que dois terços seriam
de origem americana e o restante do Japão. Em 1631, a importação de prata das Filipinas situou-se em
14 milhões de taels, o equivalente a 2,1 vezes o total da produção nacional entre 1403 e 1434, ou 3,8
vezes o total do tesouro público nos 48 anos do domínio Ming (1573-1620).
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Cantão (1805)
CANTÃO: O RENASCER DE UMA METRÓPOLE
O monopólio do comércio começa em 1684
O ano de 1684 marca o regresso do monopólio do comércio com o estrangeiro em Cantão. Mais do
que restringir esse comércio, o objectivo era colocar o comércio externo sob controlo centralizado para
uma melhor gestão e para promover o desenvolvimento económico de Cantão e das economias locais
ao longo das rotas terrestres de Cantão, vindas de outras regiões da China.
Todos os produtos para exportação, chá, seda e outros bens produzidos noutras regiões, incluindo Fujian,
Zhejiang e Jiangsu, que costumavam ser exportados directamente, passaram a ser transportados primeiro para
Cantão e daí embarcados para o exterior. Esta situação fez aumentar o custo dos produtos, mas beneficiou
largamente Cantão e outras cidades da província que ficavam ao longo da rota do comércio, em particular o
posto alfandegário em Nanxiong, na fronteira da província de Gaungdong com a província de Jiangxi.
Devido ao aumento do custo dos produtos enviados de outras regiões da China, a indústria de porcelana
de Guangdong foi capaz de criar um “substituto de importação” e, por essa razão, registou uma nova
onda de expansão e crescimento rápido, depois da primeira vaga de crescimento económico ocorrida
durante a dinastia Song (960-1279).
CANTÃO: O RENASCER DE UMA METRÓPOLE
principalmente em Zhangzhou, no sul da província de Fujian, que se tornou no principal porto de
contrabando na China, através do seu porto de Yuegang, e provavelmente ao longo da costa da
província de Guangdong, já que navios chineses e estrangeiros aportavam na cidade de Cantão.
A exportação deste tipo de porcelana manteve-se por cerca de cem anos. Concebida exclusivamente
para exportação, pouca desta porcelana circulava na China. Sendo uma imitação de qualidade inferior
à da porcelana feita em Jingdezhen, respondia, contudo, à procura europeia e asiática da época por
produtos mais baratos do que aqueles produzidos em fornos, oficiais ou privados, de Jingdezhen,
Dehua e outras localidades. A esta porcelana de exportação seguiram-se outras de estilo mais europeu,
produzidas por encomenda na área de Chaozhou e nos arredores de Cantão, na região do delta do rio
das Pérolas, especialmente depois de 1684.
No século XVIII, em resposta à mudança de gosto na procura europeia, por um lado, e ao desenvolvimento
de tecnologias na China, por outro, as porcelanas policromadas e esmaltadas tornaram-se populares
tanto para a porcelana armorial como para outras personalizadas.
A expansão do comércio da porcelana e da seda
Fornos da dinastia Qing (1644-1912) foram encontrados na maior parte das cidades e localidades
da província de Guangdong que dispunham de ligações fluviais até Cantão ou para os seus portos
de abastecimento. Foram também encontrados fornos em Taipo, Hong Kong. Além disso, surgiu
uma interessante divisão do trabalho entre localidades na produção de porcelana para exportação,
nomeadamente entre as cidades de Cantão e Jingdezhen na província de Jiangxi.
Desde muito cedo, já no reinado do monarca português D. Manuel I (1495-1521), que se produziam
utensílios de porcelana com o brasão do rei português, feitos especialmente por encomenda,
provavelmente durante a primeira fase do comércio directo entre a China e Portugal, ainda antes da
fundação de Macau em 1557. Esta porcelana armorial – ou porcelana armorial para exportação, uma
vez que era feita por encomenda exclusivamente para exportação – tornou-se um marco definidor na
exportação de porcelana chinesa no século XVIII para a Europa e que sobreviveu mais tarde, ao longo
do século XIX, com exportações para a América.
No século XVII e até ao início do século seguinte, as preferências dos europeus seguiam a dos países
do Sudeste Asiático, da Coreia e do Japão por porcelana azul e branca. Um dos tipos de porcelana
de exportação designava-se por Kraak 5 , que desde a segunda metade do século XVI e até cerca
de 1640, era produzida especificamente para exportação com padrões azul e branco. Era produzida
5 Porcelana chinesa de exportação produzida principalmente no reinado do imperador Wanli (1563-1620) até cerca de 1640.
Foi das primeiras porcelanas chinesas a chegar à Europa em grandes quantidades e acredita-se que o seu nome terá origem
nos navios mercantes portugueses – as carracas – nos quais era transportada. Embora esta seja geralmente aceite como a
raiz do nome “kraak”, outras foram sugeridas, tal como “kraken”, que em holandês que significa quebrar.
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A exportação de peças em porcelana era efectuada em grande escala. Por exemplo, no período
entre 1625 e 1650, a companhia holandesa das Índias Orientais transportou 16 milhões de peças
de porcelana chinesa nos seus navios mercantes. Entre 1695 e 1720, a companhia britânica das
Índias Orientais expediu nos seus navios mercantes 30 milhões de peças de porcelana chinesa
para os seus clientes europeus. O porto comercial utilizado era o de Cantão.
O esmalte vidrado foi introduzido na China no século XII. Mais tarde, este evoluiu para o doucai
(cores vivas ou contrastadas) e wucai (cinco cores) durante a dinastia Ming. No início da dinastia
Ming, foi introduzido um novo método de produção de esmalte que foi levado da Europa para a
China pelos jesuítas. Os artesãos chineses aperfeiçoaram-no, usando materiais importados para
a decoração da porcelana cozida uma segunda vez a baixa temperatura, o que contribuiu para
torná-la na famosa porcelana de esmalte vidrado ou policromada.
Em 1680, o governo imperial montou fornos para porcelana de esmalte no palácio de Pequim. Com o
desenvolvimento da tecnologia e, sobretudo, devido à procura europeia desta porcelana em particular,
foi criado outro centro de produção em Cantão. Os artesãos de Cantão seguiram o modelo da tecelagem
da seda para inventar o padrão de tecelagem da decoração com esmalte, que tornou os produtos de
Cantão únicos e famosos como a porcelana vidrada kwon. Esta tornou-se muito popular no século XVIII,
até ao início do período republicano no século XX. Também foram feitos vários serviços de porcelana
heráldica com moldes da porcelana vidrada kwon.
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CANTÃO: O RENASCER DE UMA METRÓPOLE
CANTÃO: O RENASCER DE UMA METRÓPOLE
A troca e transferência de tecnologia também envolveram artistas, comerciantes e produtores chineses
em Jingdezhen e Cantão e vários produtores de porcelana que emergiam na Europa. Os fornos e as
fábricas da porcelana vidrada kwon localizavam-se, sobretudo, na margem sul do rio das Pérolas em
frente ao centro da cidade de Cantão.
Foi encontrado um padrão semelhante na produção de seda para exportação. A grande procura no
estrangeiro por produtos de seda fez de Cantão o principal porto de exportação de seda. Existia
produção local de seda crua, mas a produzida localmente e no interior da província era de qualidade
inferior à produzida em Jiangsu e Zhejiang. A seda crua destas duas províncias era transportada para
Cantão. Parte dela era exportada directamente para a Europa e para as Américas de modo a abastecer
as indústrias locais, enquanto a restante ficava em Cantão e era aplicada em produtos acabados
executados em teares. Antes da liberalização do comércio, deve ter existido uma indústria da seda
bastante importante em Cantão e nas regiões vizinhas, já que, após a liberalização, na região do delta
do rio das Pérolas em redor de Cantão mais de 100 mil pessoas trabalhavam em oficinas de seda
localizadas quer em Cantão quer em grandes cidades como Nanhai, Shunde e Sanshui.
Fabrico de produtos
Da Dinastia Ming em diante, o crescente desenvolvimento da produção de artigos na China, sobretudo
no sul, apoiou a rápida expansão do mercado doméstico e de exportação, ambos auxiliados pelo uso
da prata como moeda doméstica e internacional. Com a chegada dos europeus a China integrou-se
no mercado global e a grande expansão dos mercados estrangeiros levou ao aparecimento de novas
indústrias dedicadas exclusivamente à exportação.
Possuindo semelhanças com a tradição da porcelana Kraak, o padrão e o estilo destas porcelanas
de exportação era sobretudo europeu e estas destinavam-se exclusivamente à exportação.
A produção da porcelana vidrada kwon era realizada numa cadeia de produção. Os projectos eram
apresentados em modelos de madeira na Europa e depois enviados para Cantão, por comerciantes
europeus, para um produtor local para este produzir uma encomenda específica. A porcelana branca,
com a forma pretendida, era feita em Jingdezhen, em Jiangxi, e enviada para Cantão, onde os desenhos
e a pintura eram realizados sobre o vidrado. Após a última cozedura, os produtos concluídos eram
enviados para o estrangeiro, para os clientes europeus.
Enquanto único centro de comércio externo na China, Cantão tornou-se num ponto de divulgação
para estilos e formas com origem em países diferentes da Europa e do Japão, que eram famosos
pela porcelana policromada. Os materiais para o esmalte eram importados de Cantão. Houve uma
partilha dinâmica de ideias e inovações em Cantão, com a participação activa de artistas europeus que
trabalharam em conjunto com artesãos de Cantão, naturais de Jingdezhen ou aprendizes dos artesãos
em Jingdezhen.
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Cantão, com o seu monopólio do comércio, tornou-se no centro de uma rede global de comércio e o
centro de novas indústrias emergentes criadas com base nas trocas e fusão de tecnologias europeias e
chinesas, ideias e preferências dos consumidores. As principais exportações de Cantão eram produtos
agrícolas como chá e cana de açúcar e transformados como a seda crua, tecidos de seda e de algodão,
porcelanas e objectos de ferro. Estes produtos representavam a agricultura e a indústria mais competitiva
e lucrativa da China naquela época.
Não era para admirar que a China fosse responsável pela maior parte do produto interno bruto mundial
até finais do século XVIII. Nos 130 anos que decorreram de 1700 e 1830, Cantão teve uma importação
líquida de prata de 400 milhões de taels, apesar da crescente taxa de importação de ópio aplicada
aos mercadores britânicos. No século XVIII, foram abertas rotas marítimas comerciais para os Estados
Unidos (desde 1784), para a Rússia (desde 1805) e para a Austrália (desde 1819). Os comerciantes de
todos estes países europeus e americanos montaram, as suas casas mercantis em Cantão, na zona das
Treze Feitorias situada num subúrbio a ocidente, fora da muralha da cidade.
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CANTÃO: O RENASCER DE UMA METRÓPOLE
Em 1770, um mercador chinês natural de Cheng Hai, em Chaozhou, criou uma nova dinastia no Sião6, o
que originou uma migração em massa de Chaozhou e Ainão7, na província de Guangdong, para o Sião
e promoveu fortemente as trocas comerciais entre Cantão e Chaozhou com o Sião. Os mercadores
imigrantes chineses dominavam o comércio local com a China.
CANTÃO: O RENASCER DE UMA METRÓPOLE
Contudo, Hong Kong só viria a desenvolver-se completamente como cidade em 1949, sem qualquer
tentativa racional dos britânicos para construir uma metrópole na base do entreposto comercial e
actividades financeiras transnacionais, para incluir a maioria dos residentes chineses sob a sua
governação; os residentes chineses locais eram mais trabalhadores migrantes e comerciantes com as
suas famílias, ainda com a sua base social em Cantão e noutras cidades na região do Delta do Rio das
Pérolas e da província de Guangdong.
O monopólio do comércio de Cantão termina após 1842
A Guerra do Ópio contribuiu para o fim do monopólio comercial de Cantão e marcou, também, o
declínio da prosperidade da China e de Cantão, que se encontravam no seu auge.
Foram abertos cinco portos8 para o comércio externo directo e Hong Kong estabeleceu-se como porto
franco sob o domínio colonial britânico. O seu regime de zona franca constituiu uma desafio directo à
posição de Cantão no comércio externo. Mais importante ainda foi a abertura do comércio em Xangai,
a norte de Guangdong, desviando o comércio de Cantão, por um lado devido aos custos mais reduzidos
e, por outro, por o seu porto ser mais acessível do que o de Cantão. A abertura do comércio externo
da China após 1842 espalhou-se a mais cidades costeiras e até a portos fluviais, construindo uma rede
nacional de portos abertos ao comércio externo e regiões do interior para o domínio de comerciantes
estrangeiros do comércio externo chinês.
A rede nacional desviou fluxos de mercadorias que anteriormente se concentravam em Cantão e definiu
Xangai e Hong Kong como os centros principais para o comércio e finanças; as duas cidades constituíam
uma parte integrante das redes mundiais de comércio dos países estrangeiros, em particular a rede
britânica que tinha substituído Batávia (actual Jacarta) como rota entre a Ásia Oriental e o Ocidente
pela recém-criada colónia de Singapura.
O caso seria diferente com Cantão. Era a maior e mais cosmopolita cidade no sul da China e estava no
segundo lugar, atrás de Xangai, como ligação do comércio exterior da China como um todo, apesar do
crescimento de vários portos abertos ao comércio externo como Tianjin, Nanquim, Qingdao, Hankou
e outros. Na região do delta do Rio das Pérolas, Jiangmen e Sanshui foram abertos juntamente com
Beihai, em Guangxi, e Shantou, em Guangdong, para fazer concorrência com Cantão. Estes portos
desviavam as mercadorias dessa região.
A substituição de Cantão por Xangai após 1842 foi quase total a nível do chá e da seda crua. Contudo,
antes de 1932, o comércio externo de Cantão continuou a crescer, sobretudo devido ao aumento das
importações, mais exactamente, arroz e gasolina. Saliente-se que Cantão registava um défice comercial
desde os anos 20. A sorte de Cantão como exportador da China e importador líquido de prata sofreu um
revés com a liberalização do comércio externo na China ao abrigo da política da canhoneira do Ocidente.
Cantão e a região do Delta do Rio das Pérolas caíram sob a ocupação do exército Japonês em Outubro
de 1938 até à rendição do Japão em Setembro de 1945.
Macau serviu como porto para o exterior de Cantão e contribuiu para o desenvolvimento do comércio
externo da cidade mesmo durante o período de proibição do comércio marítimo. Macau nunca desafiou
o monopólio do comércio de Cantão. Mas Hong Kong, com a rede nacional e internacional de portos
comerciais britânicos e estrangeiros, protegida por direitos extraterritoriais, desafiou directamente o
papel de Cantão como o porto principal do sul da China. O porto de Victoria, em Hong Kong, era um
porto de águas profundas superior ao de Huangpo, em Cantão, e ao porto de Macau. As mercadorias
provenientes de Cantão e que seguiam para outros portos chineses através de Hong Kong também
usufruíam de isenção de direitos de importação.
6 Dinastia Thonburi, como é conhecida na Tailândia.
7 Durante séculos a ilha de Ainão foi parte da província de Guangdong mas, em 1988, tornou-se parte da recém criada
província de Ainão.
8 Portos de Xangai, Cantão, Ningbo, Fuzhou e Amoy, que foram estabelecidos pelo Tratado de Nanquim, em 1842, depois da primeira Guerra do Ópio.
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CANTÃO: O RENASCER DE UMA METRÓPOLE
CANTÃO: O RENASCER DE UMA METRÓPOLE
A revolução anti-Manchu, que estabeleceu a República da China em 1911, também teve o seu ponto de
partida em Hong Kong e Cantão; o fundador, o Dr. Sun Yat-sen estudou medicina em Hong Kong e aí
formou a primeira organização revolucionária. A revolução militar mais importante em Cantão abanou
os alicerces do governo Imperial.
Na segunda revolução, Sun criou o Kuomintang, o partido nacionalista chinês, em 1919, e no ano
seguinte, em Cantão, formou um governo provisório de oposição ao governo nacional em Pequim.
Foi de Cantão que partiu a Expedição do Norte, liderada por uma força conjunta composta pelo
Kuomintang e pelo recém-criado Partido Comunista Chinês, em 1926-1928, que derrubou os senhores
da guerra que governavam o resto da China e unificou o país, antes de terem entrado na guerra contra
a invasão japonesa.
Nos cem anos que precederam a revolução comunista que criou a República Popular da China, em
1949, Cantão foi um terreno fértil para ideias revolucionárias e reformadoras. Por isso, não é de admirar
que, após um intervalo de diversas décadas, a China tenha começado a ser mais aberta. A região do
Delta do Rio das Pérolas tornou-se na janela da China para o mundo exterior e o terreno experimental
para reformas do mercado.
Cantão foi também a primeira cidade da China a começar, na década de 1920, com o planeamento
urbano e a construção de infra-estruturas urbanas modernas, com um estilo inovador de edifícios de
arcadas11 , que influenciou várias cidades na costa da China, incluindo Hong Kong.
Centro cultural e grandes intelectuais
Enquanto cidade mais cosmopolita e liberal da China durante um milénio, Cantão foi sempre o local
para a troca de ideias e cultura entre a China e o Ocidente. O budismo chegou à China, sobretudo
através do mar, via Cantão; o cristianismo europeu viajou primeiro para Macau e Cantão antes de
ter sido introduzido noutras regiões da China. A importação de novas ideias proporcionou o apoio
intelectual para os movimentos revolucionários na China. O movimento Taiping9 (1850-1864) teve a sua
origem intelectual em Cantão onde o seu fundador, Hong Xiuquan, encontrou o cristianismo.
No fim do século XIX, o movimento reformador mais importante do governo imperial da dinastia Qing
ou da Reforma dos Cem Dias10 (1898) foi liderado por intelectuais, representados por Kang Youwei,
de Nanhai, que vieram, a maior parte deles, da região de Cantão, onde há vários anos se encontravam
expostos às filosofias políticas estrangeiras. Apesar de a iniciativa ter falhado, esta teve grande impacto
no pensamento político e nos movimentos de reformas que se seguiram na China.
9 A rebelião Taiping foi um dos conflitos mais sangrentos da história do sul da China, entre as forças da China imperial e um grupo liderado por Hong Xiuquan, que se dizia cristão e irmão de Cristo.
10 A Reforma dos Cem Dias – 11 de Junho a 21 de Setembro de 1898 – foi um movimento de reformas nacionais realizado 11 Designados por Tong-Lau ou Kee-lau, são edifícios projectados para usos residenciais e comerciais, em que o andar térreo pelo jovem imperador Guangxu, no final da dinastia Qing. De curta duração – 104 dias – terminou com um golpe de estado liderado pela imperatriz Cixi.
é reservado ao comércio e os andares superiores para uso residencial. Construídos entre o final do século XIX e a década de 1960, encontram-se em várias cidades do sul da China – em Cantão, Hong Kong, Macau, entre outras – e em Taiwan.
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CANTÃO: O RENASCER DE UMA METRÓPOLE
Industrialização pós-1949
Desde 1949, o regime comunista apresentou em Cantão resultados impressionantes. A cidade viveu a
mesma agitação política e desastres económicos tal como as outras regiões do país durante o Grande
Salto em Frente, na década de 1950, e a Revolução Cultural dos anos 60. Enquanto uma das maiores
cidades da China, depois de Pequim, Xangai e Tianjin, não podia escapar às lutas políticas entre as
diferentes facções da liderança comunista e às suas consequências políticas. No geral, contudo, Cantão
desfrutou de uma estabilidade duradoura onde não existiram mais guerras civis, nem invasões japonesas
que antes tinham sido precedidas pelos Manchus e Mongóis, revoluções de camponeses ou a pirataria
generalizada que assolou o comércio externo durante as dinastias Ming e Qing.
Nos 30 anos que antecederam a reforma económica e a política de abertura, a população da cidade
mais do que duplicou de 2,69 milhões em 1949 para 5,49 milhões em 1980. A cidade e os seus distritos
adjacentes foram transformados numa economia industrial moderna a partir das lojas de artesãos e
fábricas rudimentares do século XIX e início do século XX. A preços constantes, a produção industrial da
cidade aumentou 40,3 vezes, 140 vezes para a indústria pesada e 29 vezes para a indústria ligeira.
CANTÃO: O RENASCER DE UMA METRÓPOLE
Pela primeira vez, desde 1842, Hong Kong e Cantão bem como Macau e Cantão cresceram separadamente.
A feira de Cantão ainda reclamou Hong Kong como o seu porto comercial internacional e as exportações
também tiveram de ser canalizadas de Guangdong e outras regiões da China por Cantão até Hong Kong
e outras regiões do mundo para satisfazer a procura de produtos chineses das dezenas de milhões de
chineses no estrangeiro. Muitos migraram de Guangdong no século XIX e início do século XX.
Hong Kong foi o maior mercado de exportação de mercadorias chinesas, apesar de ter experimentado
altos e baixos, durante os 30 anos que antecederam a reforma: de mais de 25% de total de exportações
da China a cerca de 10% em finais dos anos 50, mas voltou a aumentar para 25% quando a China
liberalizou e expandiu as suas exportações após os Estados Unidos terminarem as suas sanções.
As exportações da China para Hong Kong foram sempre canalizadas por Cantão, reafirmando
a sua importância tradicional como o maior porto comercial da China. Contudo, apesar da rápida
industrialização e crescimento de Hong Kong, Cantão sofreu poucas repercussões, com excepção das
remessas de mercadorias e das exportações de produtos alimentares de Cantão para a colónia. Foi
apenas quando a China escolheu a região do Delta do Rio das Pérolas para adoptar uma reforma e uma
política de abertura que as duas cidades começaram a desfrutar das vantagens da cooperação.
Da exportação de produtos de seda, porcelana, açúcar, chá e objectos em ferro nos séculos anterior, Cantão
emergiu como uma economia industrial moderna com base na indústria do ferro e aço, construção naval,
metalurgia, indústria petroquímica, electrónica e construção. Isto estava de acordo com o desenvolvimento
urbano do governo comunista – a cidade devia passar de centro de consumo para centro de produção.
Cantão sempre foi conhecida pelos seus bens de consumo, têxteis e roupas, baterias, máquinas de costura
e bicicletas e pelo domínio do mercado nacional juntamente com Xangai.
Esta experiência de construção de fábricas modernas na viragem do século XX criou uma capacidade
industrial, de conhecimento e de mão-de-obra. Foi um importante factor no crescimento das indústrias
de bens de consumo durante os 30 anos de “construção do socialismo”. Além disto, desde o início dos
anos 50, o governo recuperou as feiras comerciais bianuais de Cantão destinadas às exportações, o
que proporcionou incentivos ao mercado para a expansão e modernização das indústrias de bens de
consumo na cidade e seus arredores.
Corte de relações com Hong Kong
Depois de 1949, Cantão perdeu os seus laços de proximidade com Hong Kong e Macau, que permaneceram
colónias estrangeiras e estabeleceram oficialmente sanções económicas contra Cantão e a China após
a guerra da Coreia no início dos anos 50. Houve um grande fluxo de imigração de pessoas da região do
Delta do Rio das Pérolas, incluindo Cantão, para Hong Kong de forma legal e ilegal desde que foi criada
pela primeira vez a fronteira entre Hong Kong e o continente em 1949.
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CANTÃO: O RENASCER DE UMA METRÓPOLE
CANTÃO: O RENASCER DE UMA METRÓPOLE
Guangdong e Fujian: primeiras escolhas para efectuar experiências
Quadro 4: Comparação entre Cantão e Xangai (em %)
Quando o partido comunista começou a repensar o seu modelo socialista de desenvolvimento e a
adoptar a liberalização do mercado, as primeiras escolhas para efectuar experiências foram Guangdong
e Fujian, as duas províncias mais abertas e orientadas para o comércio durante o último milénio. A
decisão do governo de recuperar Hong Kong, em 1997, e Macau, em 1999, levou o governo a dar mais
relevo à região do Delta do Rio das Pérolas, que fazia fronteira com as duas colónias. Por isso, foram
criadas duas zonas económicas especiais (ZEE) em Shenzhen e Zhuhai; Shenzhen destinou-se a ajudar
a transição sem problemas de Hong Kong para a China e, enquanto nova cidade com uma economia
de mercado, foi a ponte entre Hong Kong e o continente. A política de zonas económicas especiais foi
ampliada para abranger a totalidade da região do Delta do Rio das Pérolas, com Cantão no centro.
Cantão devia ter-se modificado durante esta liberalização. Mas a cidade demorou a abraçar a reforma
de desenvolvimento que convidava a experiências ousadas. Cantão beneficiou das ligações a Hong
Kong e ao mundo através do IDE (Investimento Directo Estrangeiro), de um forte aumento no comércio
externo, trocas sociais e culturais e transferências de tecnologias.
Quota de Cantão em comparação com Xangai
Rendimento Nacional
Indústria
Comércio
1952
14,32
8,89
16,56
1957
15,98
11,70
16,37
1962
14,98
9,72
23,23
1965
15,55
11,44
20,37
1970
17,41
13,84
23,70
1975
18,22
14,23
19,07
1980
18,09
12,99
20,44
1985
25,75
18,72
29,44
1990
35,56
27,26
44,55
Fonte: Anuários estatísticos de Cantão e Xangai, várias edições.
Quadro 3: Quota de Cantão relativamente à província de Guangdong e ao país (em %)
Quota em Guangdong
Quota na China
Rendimento
Nacional
Indústria
Comércio
Rendimento
Nacional
Indústria
Comércio
1952
18,68
27,95
61,58
0,81
1,61
2,13
1957
19,90
36,32
42,52
1,12
1,76
2,27
1962
19,58
36,61
31,31
1,20
1,80
1,87
1965
21,18
39,31
27,98
1,16
1,80
1,44
1970
27,53
54,44
32,56
1,30
2,05
1,81
1975
27,12
45,17
22,93
1,35
1,86
1,94
1980
23,48
36,56
20,42
1,39
1,60
2,90
1985
22,55
32,75
27,43
1,50
1,77
2,63
1990
19,39
24,33
25,27
1,53
1,81
2,87
A importância de Cantão para a economia nacional aumentou de forma constante durante os anos
50; nos primeiros anos da reforma, nos anos 80, o ritmo do progresso acelerou. Contudo, houve um
desenvolvimento descentralizado em Guangdong, sobretudo na região do Delta do Rio das Pérolas,
com o investimento estrangeiro e as exportações a estimularem as novas indústrias nas vilas, cidades
e concelhos. A sua posição estratégica em Guangdong e na região do Delta do Rio das Pérolas ficou
desgastada pelo investimento estrangeiro descentralizado, pela industrialização orientada pelas
exportações com origem sobretudo em e através de Hong Kong.
Fonte: Anuários estatísticos de Cantão, Guangdong e China, várias edições.
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CANTÃO: O RENASCER DE UMA METRÓPOLE
CANTÃO: O RENASCER DE UMA METRÓPOLE
O desafio de Shenzhen
Quadro 5: Exportações e investimento estrangeiro directo em Cantão e Guangdong
(em milhões de US$)
1990
1985
1995
Exportações
IED
Exportações
IED
Exportações
IED
Cantão
1778
158
7069
267
21838
2253
Cota em
Guangdong
60,2%
30,7%
67,0%
18,3%
39,2%
22,1%
Cota no total
nacional
6,5%
9,78%
11,39%
7,7%
14,7%
6,0%
Fonte: Anuários estatísticos de Cantão, Guangdong e China, várias edições.
O quadro 5 mostra os valores das exportações que passaram pela alfândega de Cantão. Até princípios
de 1990, Cantão era a maior via de exportações da região e aumentou a sua quota de exportações
nacionais, embora a uma taxa inferior do que antes de 1949. Contudo, as exportações locais, que eram
produzidas e fabricadas na cidade, pareciam não conseguir acompanhar a ascensão de Shenzhen, a
nova zona económica especial; Shenzhen atraiu maior investimento directo estrangeiro e dependeu,
para as exportações, das operações industriais que tinham sido transferidas de Hong Kong.
Quadro 6: Exportações locais de Cantão em comparação com Shenzhen
(em milhões de US$)
1980
1985
1990
1995
Cantão
1778
7069
21838
21838
Shenzhen
60,2%
67,0%
39,2%
39,2%
A ascensão de Shenzhen desafiou directamente a posição central de Cantão na região do Delta do Rio das
Pérolas, com o desvio das exportações e do investimento directo estrangeiro de Cantão. Acima de tudo, a
transferência em grande escala das operações industriais de Hong Kong tornou necessária a construção
urgente de auto-estradas e telecomunicações entre Hong Kong, Shenzhen e Dongguan. O resultado foi
um novo modelo de transportes e comunicações na região do Delta do Rio das Pérolas, em particular na
zona oriental, que se concentrou em Hong Kong e se afastou de Cantão. O investimento de Hong Kong em
indústrias orientadas para a exportação criou um sistema de produção transfronteiriço que desvalorizou a
região oriental do Delta do Rio das Pérolas.
Shenzhen desenvolveu-se rapidamente e tem vindo a desafiar a posição de destaque de Cantão na região
no que respeita à indústria e à logística. Em 2010, Shenzhen tornou-se no 4º maior terminal de contentores e
no 14º maior porto do mundo. Cantão ainda conseguiu concorrer, respectivamente com um 7º e um 6º lugar
na classificação mundial. O desafio de Shenzhen é muito efectivo. Enquanto porto, Cantão ultrapassou Hong
Kong, que ficou classificado apenas no 9º lugar a nível mundial nesse ano.
No novo século, a nova cidade de Shenzhen alcançou rapidamente Cantão; o seu crescimento foi impulsionado
por um enorme volume anual de exportações e uma rápida expansão. A grande área metropolitana ao longo
da costa oriental do estuário do rio das Pérolas foi remodelada com Cantão e Hong Kong/Shenzhen de
cada lado, competindo mais do que cooperando. O lento crescimento e o quase estagnar de Hong Kong,
após 1997, foi mais do que compensado pelo rápido crescimento de Shenzhen como parte da metrópole
transfronteiriça. Cantão não teve uma expansão lenta; cresceu 184 vezes na dimensão económica total, 156
vezes em vendas a retalho e 117 vezes em exportações durante os últimos 30 anos.
Fonte: Anuários estatísticos de Guangdong, várias edições
Quadro 7: Comparação entre Cantão e Shenzhen
Shenzhen
Cantão
PIB
Vendas a retalho
Exportações
PIB
Vendas a retalho
Exportações
1980
2,70
1,96
0,11
57,55
28,71
2,43
1985
39,02
26,56
5,63
124,36
74,98
4,13
1990
171.67
66,76
81,52
319,60
147,78
14,43
1995
842,48
426,94
205,27
1 243,07
549,97
62,47
2000
2 187,45
735,02
345,63
2 493,74
1 121,13
117,91
2005
4 950,91
1 437,67
1 015,18
5 154,23
1 898,74
266,68
2010
9 510,91
3 000,76
2 041,84
10 604,48
4 476,38
483,80
Nota: PIB e vendas a retalho em 100 milhões de yuans; exportações em 100 milhões de dólares americanos
Fonte: Anuários estatísticos de Cantão e Shenzhen, várias edições.
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91
CANTÃO: O RENASCER DE UMA METRÓPOLE
Três estratégias para recuperar a liderança
Provavelmente devido à ameaça de Shenzhen, Cantão modificou o seu desenvolvimento, na viragem do
século, numa tentativa de acelerar o seu crescimento e recuperar a posição de destaque na região.
Adoptou três estratégias: expansão e integração da cidade para além das fronteiras tradicionais,
reestruturação da sua economia numa economia dominada por indústrias pesadas e, por último, na
construção de uma rede regional ferroviária centrada em Cantão, incluindo metropolitanos, comboios
intercidades e comboios de alta velocidade entre províncias.
A primeira estratégia adopta uma noção mais vasta da cidade de Cantão como região metropolitana. Esta
ultrapassou as fronteiras tradicionais e incorporou outros territórios sob a sua jurisdição administrativa.
A reorganização aconteceu em 2000. Panyu e Huadu tornaram-se distritos urbanos. Zhengchen e
Chongfa foram transformadas em cidades suburbanas. Uma parte de Panyu foi, mais tarde, isolada
para formar o distrito urbano de Nansha. Esta reorganização permitiu à cidade ter um planeamento
completo de toda a região metropolitana e corrigir o planeamento descentralizado e fragmentado do
passado. O actual planeamento irá integrar bastante melhor as funções urbanas e económicas das
diferentes localidades da região metropolitana.
A segunda estratégia é antiquada, mas compreensível, em comparação com o rápido crescimento de
Shenzhen e Dongguan que se concentraram em indústrias orientadas para a exportação. O objectivo é
distinguir-se destas cidades e alcançar Xangai que, desde 1990, modernizou as suas indústrias tradicionais
com significativo sucesso. Cantão desenvolveu indústrias pesadas semelhantes em diferentes áreas
industriais, como automóveis, aço, construção naval, maquinaria e petroquímica ao atrair investimento
estrangeiro directo e investimento doméstico de empresas estatais de grandes dimensões.
Existe um conflito básico entre o desenvolvimento urbano e a instalação de indústrias pesadas dentro
dos limites urbanos. Xangai enfrentou esse dilema bastante mais cedo do que Cantão. Cantão não foi
excepção, mas não conseguiu obter o apoio local para montar indústrias de aço e petroquímicas dentro
da área metropolitana. As fábricas de automóveis foram instaladas em Panyu e Huadu. Uma vez que a
sua montagem era simples e levava menos tempo a construir, não levantou obstáculos por parte dos
habitantes locais e dos planeadores urbanos. Este facto tornou Cantão num centro de montagem de
nível internacional, não só para a China mas para o mundo, e foi um grande adversário para o centro
de produção automóvel há muito estabelecido em Xangai. A localização da montagem de automóveis
originou a instalação de um grande número de pequenas fábricas para peças e componentes em Cantão
e na vizinha Dongguan, criando um novo estímulo para o investimento industrial e desenvolvimento na
região do Delta do Rio das Pérolas tendo por centro Cantão.
92
CANTÃO: O RENASCER DE UMA METRÓPOLE
Redes ferroviárias
Graças à sua área bastante extensa, Cantão foi capaz de planear e construir uma rede ferroviária
regional. Existem três redes: a primeira é composta por vários quilómetros de linhas de metropolitano
que cobrem os distritos urbanos e subúrbios. A quilometragem planeada é muito mais longa que a de
Hong Kong e pretende seguir os exemplos da Grande Paris e da Grande Tóquio. A segunda é composta
por 23 comboios intercidades que ligam o centro da cidade de Cantão às cidades vizinhas na região
do Delta do Rio das Pérolas. A terceira é parte da rede nacional de alta velocidade, criada pelo governo
central em meados do ano 2000. Cantão vai ser o terminal central para os comboios de alta velocidade,
oriundos de outras províncias, que se deslocam até Guangdong, incluindo aqueles que ligam Pequim ao
centro da China, Xangai ao longo da costa marítima oriental e dois que passam por Guizhou e Nanning
a partir das províncias ocidentais.
O sistema ferroviário pretende fornecer três níveis de integração: a zona metropolitana de Cantão, a
região do Delta do Rio das Pérolas e a integração de Cantão e da região do Delta do Rio das Pérolas no
sistema urbano nacional. Os comboios de alta velocidade viajam a uma velocidade entre 250 km a 350
km por hora. O esquema do sistema dos três escalões ficará concluído em 2013/2014 e irá criar uma
rede regional onde o terminal central será na nova estação de Cantão Sul, em Panyu.
O antigo centro urbano de Cantão irá assistir a uma concentração de metropolitanos e comboios
intercidades como os que existem em Paris e Tóquio, alterando o anterior padrão de auto-estradas, oriundo
de Shenzhen e Hong Kong, e oferecendo melhores acessibilidades à maior parte das localidades da região
do Delta do Rio das Pérolas, sobretudo à parte ocidental e aos limites da cidade. Cantão irá tirar partido da
sua posição central na rede, em detrimento de Shenzhen e Hong Kong e a melhoria nas acessibilidades na
região irá intensificar a concorrência entre Cantão e Shenzhen/Hong Kong. Cantão será, provavelmente, a
vencedora, graças à sua posição no centro da rede e ao seu vasto e amplo sector terciário.
Na década de 2000, assistiu-se a um aumento do desenvolvimento de Cantão ao abrigo destas três
novas estratégias. A cidade aproveitou-se da crise financeira que destruiu as zonas de processamento
industrial orientadas para a exportação de Shenzhen e Dongguan, mas que teve um fraco impacto em
Cantão. Afastou-se de Shenzhen, que estava a alcançá-la rapidamente em termos de PIB e vendas a
retalho. Em 2011, as vendas a retalho em Cantão atingiram um resultado anual de 564 mil milhões,
muito mais elevado do que o resultado de Shenzhen que se situou em 300 mil milhões, apesar da
população das duas cidades ser semelhante. Estes resultados, alcançados mesmo antes da conclusão da
rede ferroviária entre províncias e cidades, reflectem a força do sector de serviços de Cantão enquanto
centro, não apenas da região do Delta do Rio das Pérolas, mas também da província de Guangdong e
das províncias vizinhas.
93
CANTÃO: O RENASCER DE UMA METRÓPOLE
Plano director para os próximos 10 anos
Em 2012, Cantão aprovou um plano director para a cidade a ser aplicado entre 2011 e 2020. Tem por
objectivo tornar Cantão numa cidade com baixos níveis de carbono e com uma boa qualidade de vida
e, também, fortalecer a sua competitividade em todos os sectores. Prevê-se que a população aumente
para 18 milhões, acrescida de mais dois milhões. Cantão irá continuar a sua expansão do início do ano
2000 e desenvolver um centro metropolitano no distrito da antiga cidade, dois novos centros urbanos
em Nansha e na periferia oriental e três subcentros nas cidades suburbanas de Huadu, Chongfa e
Zhengchen. Toda a cidade irá ter um padrão unificado de serviços divididos pelas áreas urbanas e rurais,
que irá tornar-se numa enorme área metropolitana. Infelizmente, as autoridades têm-se concentrado em
indústrias dentro dos limites da cidade, com a região metropolitana especializada em serviços e rodeada
por três aglomerações industriais no norte, este e sul. O plano de director procura criar uma metrópole
multicêntrica com diferentes funções urbanas e económicas espalhadas por diferentes localidades.
Em comparação com planeamentos anteriores, o novo plano director dá maior ênfase à conservação
cultural e ecológica. No centro da cidade, uma área de 20,39 km2 é classificada como cidade histórica
com controlo rigoroso e protecção de edifícios históricos e ruas. A cidade também vai construir amplas
zonas verdes nas zonas urbanas e suburbanas e existem políticas para renovar os canais da região do
delta. Representa uma mudança radical no planeamento e na filosofia de desenvolvimento a qual, durante
as últimas décadas de industrialização, provocou uma forte poluição, sobretudo a nível local nas zonas
de processamento industrial orientadas para a exportação. O 12º Plano Quinquenal (2011-2015) de
Cantão segue o novo ênfase na abordagem científica ao desenvolvimento do governo central que foi
completamente incorporado no 12º Plano Quinquenal Nacional.
Uma leitura atenta à linha de conduta e debate da abordagem científica do governo chinês para o
desenvolvimento revela várias semelhanças e imitação de práticas e políticas da União Europeia e de
outros países. Este é um pensamento pós-moderno e contrasta de forma acentuada com a industrialização
moderna empreendida pelas autoridades da cidade na viragem do século. Irão existir conflitos entre estes
dois tipos de pensamento, como já se verificou em Xangai, motivados pela execução do plano director,
pela ênfase na preservação e conservação cultural e ecológica e pela concentração de serviços no centro
da cidade de Cantão, proporcionada pelos três níveis da rede ferroviária.
94
CANTÃO: O RENASCER DE UMA METRÓPOLE
Expandir a cidade
A expansão de Cantão não pára nos limites da cidade e houve já tentativas de integrar as nove
cidades do Delta do Rio das Pérolas. Em 2008, o “Plano de Reforma e Desenvolvimento da Região
do Delta do Rio das Pérolas” refere-se ao projecto de integração com a região dividida em três:
o centro liderado por Cantão, o este por Shenzhen e o oeste por Zhuhai. Cada uma destas subregiões irá integrar três cidades nos anos vindouros e, em 2020, será alcançada a integração
regional. Este processo, liderado por Cantão que começou a fundir-se com Foshan em 2011,
propõe-se implementar as políticas designadas de “mesma cidade”, eliminar as diferenças políticas
e institucionais e melhorar a acessibilidade de transportes. Foshan é a terceira maior cidade na
região do Delta do Rio das Pérolas. As franjas urbanas das duas cidades já se sobrepuseram.
Ao fundir-se com Foshan, Cantão desenvolveu-se e igualou Hong Kong em termos de PIB e as suas
vendas a retalho foram equivalentes ao total de Hong Kong e Shenzhen. As suas funções de cidade
central dentro da região serão bastante mais realçadas. Com Foshan dominada pelas aglomerações
industriais de pequenas e médias empresas que produzem sobretudo para o mercado doméstico, a
fusão vai criar uma forte sinergia em termos de desenvolvimento industrial. Espera-se que também
vá acelerar a disseminação das pequenas e médias empresas de Cantão para Foshan, deixando
mais funções de venda por grosso em mercados tradicionais no centro da cidade.
A fusão das cidades de Cantão e Foshan irá fortalecer ainda mais o esforço da metrópole de Cantão.
Vai dar início a um processo de urbanização a partir das recém-construídas redes ferroviárias,
locais e regionais, prolongando-se a Dongguan e a Zhongshan, as duas cidades mais próximas.
Zhuhai é demasiado fraca para conseguir resistir à atracção de Cantão. Dongguan e Shenzhen
estão em crise relativamente à sua transformação industrial. A maior cidade da região, Humen,
será um grande eixo das redes ferroviárias e será seguramente puxada para Cantão e não para
Shenzhen.
A Grande Cantão está a reavaliar a sua posição central histórica na região do Delta do Rio das
Pérolas e da nação no seu todo. O facto de mais de 200 mil comerciantes do Médio Oriente e
África lá residirem nos anos recentes é uma lembrança do grande cosmopolitismo da Cantão da
dinastia Tang. As vendas a retalho per capita são já maiores do que as de Xangai, mostrando que
fornece serviços às áreas vizinhas para lá da região do Delta do Rio das Pérolas. Com uma região
do Delta do Rio das Pérolas mais próspera, que deve incluir Hong Kong e Macau como suas áreas
metropolitanas, a zona da Grande Cantão da década de 2010 está a reemergir para desafiar Xangai
como a maior metrópole da Ásia. Desta vez, a ênfase não se encontra apenas no comércio e na
economia, mas também, na qualidade de vida e sustentabilidade.
95
CANTÃO: O RENASCER DE UMA METRÓPOLE
CANTÃO: O RENASCER DE UMA METRÓPOLE
Índice
Cantão: o renascer de uma metrópole
Uma cidade com dois mil anos de história
Papel comercial enfraquecido depois de 1949
12
Rápida industrialização nos últimos séculos 23
Grandes investimentos em infra-estruturas
38
Investimento estrangeiro e comércio
55
Dos tempos antigos à actualidade
67
7
* Guangzhou - Grafia de Cantão, de acordo com o sistema Pinyin de transliteração dos caracteres chineses para o alfabeto ocidental
96
97
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98
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99
CANTÃO: O RENASCER DE UMA METRÓPOLE
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