núcleo des estudos de população e sociedade neps boletim informativo Núcleo de Estudos de População e Sociedade|Instituto de Ciências Sociais|U.M.|Guimarães| II Série | Nº0 | Dezembro de 2006 sumário editorial EDITORIAL Isabel dos Guimarães Sá Directora do Neps _________ A E VOLUÇÃO D EMOGRÁFICA DE P ANGIM (NOVA GOA). ELEMENTOS PARA O SEU ESTUDO (1720-1830) Isabel dos Guimarães Sá Aparentemente, fez-se investigadores. Adquirimos pouco no Núcleo de Estudos de também material informático População e Sociedade no ano e fotográfico para apoio à que agora termina. No investigação e de uso entanto, se olharmos mais de colectivo. Paulo Teodoro de Matos _________ perto, alguma coisa mudou. A Além das melhorias partir de um depósito de conseguidas a nível das infra- E NTRE publicações de dimensão estruturas, foram adquiridos considerável, fez-se uma mais de duzentos livros a divisória, isolando o armazém serem integrados na Biblioteca de uma ampla sala. Nesta dos Serviços de Documentação última, instalaram-se quatro da Universidade do Minho no secretárias, uma generosa pólo de Azurém, em áreas doação da Presidência do pertinentes para as temáticas Instituto de Ciências Sociais do NEPS: História e Teoria, em tempos de mudança de Demografia Histórica, História instalações para o novo edifício da Europa e do Brasil, História no pólo de Gualtar. Com quatro Religiosa, entre outras. Para dos cinco novos computadores evitarmos o obstáculo das que chegaram em finais de línguas, a esmagadora 2005, ligados à respectiva maioria deles encontram-se impressora, e a uma máquina em castelhano e em português de digitalização de de Portugal e do Brasil. Entre microfilmes, ganhámos um as obras adquiridas, novo espaço para os nossos encontram-se algumas de A RCEBISPADO E O SENHORIO: AS RELAÇÕES DE D. DIOGO DE S OUSA COM A COROA O Olinda Alves _________ O PORTUNIDADE E D ISFARCE : ESTRUTURA SOCIOPROFISSIONAL DA COMUNIDADE CRISTÃ -NOVA DE V ILA N OVA DE F OZ C ÔA Aida Maria Oliveira Carvalho neps boletim informativo 0 Dezembro de 2006 1 editorial Isabel dos Guimarães Sá consulta imprescindível de um esforço que absorveu edições subsequentes. Neste cuja aquisição nos grande parte das “férias” dos primeiro número da segunda orgulhamos: as Memórias nossos membros, uma vez série, pretendeu-se publicar Paroquiais d e A n t ó n i o que, como sabem, Agosto foi alguns trabalhos que nos Carvalho da Costa, os o mês que muitos de nós foram chegando, mas ainda há Elementos para a História do tivemos livre para elaborar as muito a fazer no sentido de Município de Lisboa de Eduardo propostas respectivas. profissionalizar e certificar a Freire de Oliveira, e a série No próximo ano, de 25 revista. Para tal é necessário completa do Arquivo Histórico a 28 de Abril, organizamos e desenvolver um trabalho de Portuguez d e A n s e l m o recebemos o 2º Simpósio do edição colectivo, introduzir o Braamcamp Freire, em Projecto Europeu COST A34, recurso à arbitragem externa reedição fac-simile anotada subordinado ao tema “The e promover a publicação de pelo próprio autor. Transmission of Well-Being: artigos de autores Alguns dos membros do Marriage Strategies and estrangeiros. NEPS apresentaram projectos Inheritance Systems in Europe Fora isso, está tudo por a concurso à Fundação de (17th–20th Centuries”), que fazer: sem que os nossos Ciência e Tecnologia na inclui uma sub-secção membros vençam os desafios qualidade de coordenadores, destinada a doutorandos da internacionalização, o NEPS e fomos solicitados a colaborar europeus e extra-europeus da dificilmente adquirirá o em projectos de outras rede ESTER. Fora do país, reconhecimento que merece. unidades de investigação, nas estaremo s pr e s e n t e s e m Não bastam idas a colóquios áreas da bio-demografia, da diversos eventos científicos, de no estrangeiro: é preciso história das populações e da onde se destaca o VIII sobretudo publicar artigos em história social. Trata-se de Congresso da Associação de revistas internacionais com projectos diversificados Demografia Histórica, em arbitragem. Objectivo que não quanto a temáticas abordadas Minorca que se realiza de 31 será difícil de atingir já que os e aos seus objectivos, mas que de Maio a 2 de Junho de 2007. portugueses detêm o no entanto respeitam as linhas O boletim, de que agora instrumento fundamental: de investigação definidas pelo se edita uma nova versão, uma língua que é falada por Núcleo. Convocam também pretende ser transformado milhões de pessoas em todo o um elevado número de numa revista electrónica Mundo. E ainda, acesso fácil participantes, tanto internos aberta à comunidade aos meios académicos de como externos. Mais não resta científica, que, com o apoio de língua castelhana. É tempo que aguardar o resultado de todos, podemos melhorar em portanto de fazer opções… 2 neps boletim informativo 0 Dezembro de 2006 A Evolução Demográfica de Pangim (Nova Goa) Paulo Teodoro de Matos A evolução demográfica de Pangim (Nova Goa). Elementos para o seu estudo (1720-1830) 1 Desde inícios do século de Nossa Senhora da passava do que um simples XVIII a pequena vila piscatória Conceição – actualmente bairro da paróquia de São de Pangim começou a igreja matriz - ao que não terá Miguel (Taleigão) que, destacar-se no seio da sido estranho a sua localização juntamente com a de Santa província das Ilhas de Goa geográfica na margem do rio Inês, constituía a freguesia de (Velhas Conquistas) , u m Mandovi, e a importância Taleigão3. Em 1759 o então território de feição histórica do lugar durante governador do Estado da marcadamente rural desde a vários séculos2. É que aí se Índia, Conde da Ega transferiu decadência da imponente situava a antiga fortaleza do a sua residência para Pangim. Velha Cidade, ocorrida entre Idalcão, sede do poder de Adil De facto as sucessivas crises o século XVII e a primeira Shah, antes da conquista epidémicas verificadas desde metade Setecentista. portuguesa. o século XVII na capital - a Em 1541 os portugueses Até inícios do século XIX Velha Cidade - deixaram-na já aí haviam erguido a ermida esta localidade não mais praticamente despovoada, o que conduziu ao aumento demográfico dos lugares circunvizinhos como Pangim, Ribandar e Panelim. Neste contexto a vila de Pangim logrou algum dinamismo populacional na segunda metade Setecentista, ainda que modesto. Lembrese que fixação do governador desde 1759 não acarretou a transferência dos principais serviços administrativos do Estado que continuariam a laborar na capital. Só mais neps boletim informativo 0 Dezembro de 2006 3 A Evolução Demográfica de Pangim (Nova Goa) Paulo Teodoro de Matos tarde, em 1841, com a populacional, o que em grande estatísticas. Referimo-nos capitulação da Velha Cidade medida sucede visto residirem concretamente à elaboração enquanto cabeça do Estado da no mesmo espaço indivíduos de diversos mapas da Índia, Pangim ascendeu a étnica e religiosamente população decretados por cidade e nova sede do diferenciados. A população ordem régia, como os de 1718, território goês. cristã, por estar sujeita aos 1753 e de 1776 em diante4. A As fontes existentes nos preceitos quaresmais, era alvo este óbice junta-se a arquivos civis e eclesiásticos de contabilização nos róis de agregação dos efectivos de de Goa e as depositadas no confissão e comunhão, o que Pangim na freguesia de Arquivo Histórico Ultramarino, nos permite ajuizar da sua Taleigão, pelo que apenas permitem lançar alguma luz evolução ao longo dos podemos conhecer sobre como se terá processado tempos. Já a população hindu, diferenciadamente os dois a evolução demográfica desta apesar de não se encontrar segmentos da população – paróquia entre sensivelmente abrangida por esta norma era, cristãos e não cristãos - em 1720 e 1830. Interessa-nos, também, alvo de indagações 1720 e 1776-1779. por agora, ajuizar sobre os principais suportes heurísticos Quadro 1 – Extracto do numeramento de [1720] para tal investigação, bem assim como as principais características demográficas de uma sociedade com diversas especificidades, visto aí coexistirem cristãos naturais, hindus, muçulmanos e alguns portugueses. A principal adversidade para o estudioso desta temática radica na obtenção de dados fiáveis para a totalidade do efectivo 4 neps boletim informativo 0 Dezembro de 2006 A Evolução Demográfica de Pangim (Nova Goa) Paulo Teodoro de Matos Em 1720, aquando do De acordo com os «róis No que respeita aos não- primeiro numeramento da cristandade», a população cristãos escasseiam, como se suficientemente detalhado e cristã residente registou um referiu, referências. Em 1776- fidedigno do território de Goa, acréscimo moderado de 1773 1779, quando são conhecidos residiam em Pangim 1864 a 1825, ao que corresponde os únicos dados desagregados habitantes, entre 1394 cristãos uma T.C.A. de 0,42%. Numa respeitantes a Pangim, a sua naturais, 213 escravos, 129 primeira fase situada entre percentagem cifrava-se em hindus e apenas 106 1773 e 1784 esse incremento 22,4%, enquanto a média da portugueses 5. Só em 1776 foi menos acelerado (T.C.A.M. freguesia de Taleigão voltamos a ter informes sobre de 0,21%), seguindo-se um (Taleigão, Pangim e Sta Inês) o número de cristãos (2337) e rápido crescimento no último não excedia os 19%. É de de ‘gentios’ (629) totalizando- quinquénio da década de 1780 supor que esse quantitativo se 2966 habitantes nesta data. (T.C.A de 4,37%). Desde o tivesse aumentado, Entre 1720 e 1776 decénio de 1790 até ao final especialmente no século XIX; assistira-se a uma taxa de da observação processou-se em 1790 a percentagem global crescimento anual (T.C.A.) de um crescimento bem mais de Taleigão era de 14,3, 0,83%, mas desigual se exíguo, eventualmente enquanto em 1819 se situava diferenciados os grupos hesitante, com uma taxa nos 38%, muito acima dos religiosos. De facto neste anual próxima de zero. 23,5% da província das Ilhas pe r í od o o i n cremento de 3500 3000 da população «gentia» 2500 estarão, decerto, os efeitos da 2000 política Pombalina espelhada 1500 1825 1816 1811 1805 1799 1797 1795 1793 1791 1789 0 1787 enfraquecimento da acção 500 1785 c o n c o m i t a n t e 1783 n o 1000 1781 na forte tolerância religiosa e y = 24,303x + 2404,3 1779 deste impressionante aumento 1777 ascendia a 2,87%. Na base Gráfico 1 – Evolução da população cristã em Pangim (1773-1825) 1775 enquanto a minoria hindu 1773 cristãos pautou-se em 0,52%, de Goa. inquisitorial. neps boletim informativo 0 Dezembro de 2006 5 A Evolução Demográfica de Pangim (Nova Goa) Paulo Teodoro de Matos Com base nos registos natalidade. De facto numa Sensivelmente a partir da paroquiais de Pangim, os mais primeira fase, compreendida década de 1780 desenha-se sistemáticos do território de entre 1727 e 1780, cumpre uma nova realidade Goa localizados até ao destacar a proximidade global caracterizada pelo aumento presente, é possível lançar luz entre o volume de baptismos significativo de óbitos e, sobre os principais e óbitos, correspondendo a um inversamente, pela redução c o m p o r t a m e n t o s crescimento fisiológico da natalidade. Admitindo-se demográficos dos cristãos, negativo de 3,7 indivíduos por que ambas as séries se designadamente a natalidade ano. Para tal contribuiu aproximariam da realidade, no e mortalidade6. essencialmente a grave crise período situado entre 1780 e Segundo o gráfico 2, de mortalidade de 1739-1740, 1830 o saldo fisiológico aponta onde se disponibilizam as onde o número de óbitos para uma perda de 52 séries de baptismos, óbitos e suplantou três vezes o dos efectivos por ano o que, em matrimónios, vislumbra-se baptismos mas, também, a função do crescimento uma dos ligeira supremacia de mortes demográfico anteriormente comportamentos assaz em diversos anos desta descrito, é manifestamente irregular e com um predomínio observação. improvável. evolução claro da mortalidade sobre a De facto, pela análise das séries a partir de 1780 podem- Gráfico 2 – Baptismos, óbitos e casamentos na freguesia de Pangim (1718-1830). Médias móveis de 3 anos se aventar diversas hipóteses, como uma eventual subavaliação dos baptismos, já 200 que não é admissível um 180 crescimento natural negativo 160 140 durante um período tão 120 amplo. Neste sentido, ainda 100 80 que se possa contra- 60 X Baptismos 40 argumentar a existência de um 20 X Casamentos afluxo de indivíduos como 1814 1819 X Óbitos forma de compensar os 6 neps boletim informativo 33/34 Setembro/Novembro de 2003 1829 1824 1804 1809 1799 1789 1794 1784 1774 1779 1764 1769 1759 1749 1754 1744 1734 1739 1729 1719 1724 0 A Evolução Demográfica de Pangim (Nova Goa) Paulo Teodoro de Matos paróquias já sondadas da ilha de Goa, como Corlim, Santo Estêvão e São Brás, verificouse a existência de diversos livros paroquiais com idêntico âmbito cronológico. Este facto, talvez derivado da existência de vários curatos sufragâneos poderá, em alguns, casos perturbar a análise das variáveis demográficas. Esta interrogação em torno das fontes permanecerá sistemáticos crescimentos de uma parte apreciável dos sem resposta adequada até naturais negativos, não óbitos de Pangim provir de que a metodologia de pensamos que tal tenha indivíduos exteriores à cruzamento nominativo possa sucedido. paróquia pôr em evidência a qualidade Na realidade é sabido que ou, mais possivelmente, residentes mas das fontes paroquiais. Nessa não naturais. De facto, se nem altura poderá lograr-se um habitualmente se omitiam sempre a referência à conhecimento mais alguns nascimentos em virtude naturalidade constava dos aprofundado das variáveis das crianças baptizadas sub- assentos, por vezes detecta-se d e m o g r á f i c a s , conditione que não chegariam - ainda que numa análise designadamente as migrações a ser efectivamente registadas essencialmente empírica - um internas, que nos parece pelo pároco 7. Mas, mesmo significativo número de óbitos influenciar de sobremaneira a este cenário parece-nos pouco de forasteiros. evolução demográfica do n e s t a c r o n o l o g i a verosímil para justificar a Finalmente uma outra amplitude entre baptismos e justificação teórica poderia Ainda que persistam óbitos. radicar no sub-registo de algumas dúvidas acerca da baptismos em virtude da perda qualidade dos assentos de de livros de registo. Em outras baptismo, no período situado Pode, também, considerar-se a possibilidade território goês. neps boletim informativo 33/34 Setembro/Novembro de 2003 7 A Evolução Demográfica de Pangim (Nova Goa) Paulo Teodoro de Matos entre 1728 e 1832 cafres e a sua fácil período estudado. Esta contabilizam-se 8855 registos acessibilidade marítima realidade prende-se, decerto, dos quais 7,8% ocorridos fora co nstit u e m, s e m dú v ida, com a população europeia do matrimónio8 e factores potenciadores desta residente na freguesia, como provenientes do baptismos de realidade. Dos 115 ilegítimos, já tivemos ocasião de verificar. escravos, na sua maioria 36 (31%) foram dados como É que, ainda que sector provenientes de Moçambique. expostos, enquanto 31 (27%) produtivo goês não fosse, 6% Quadro 2 – Percentagem de baptismos fora de casamento e de escravos em Pangim (1730-1830) Década 1730 1740 1750 1760 1770 1780 1790 1800 1810 1820 Média Observ. Ileg. 12,9 6,6 9,8 5,9 7,3 6,7 5,7 12,7 7,9 8,8 7,8 149 Cafres 12,8 6,9 0,6 8,2 3,4 10,9 2,8 4,2 3,6 12,9 6,0 115 decerto, baseado numa economia de tipo esclavagista, o s n e g r o s e r a m maioritariamente detidos pela população branca, que os ocupava essencialmente no serviço doméstico. Segundo os dados disponíveis a reprodução no A percentagem de são provenientes de mulheres seio dos escravos ocorria ilegítimos com uma média de cafres, o que se explicará pelo e s s e n c i a l m e n t e f o r a d o 7,8%, oscilando entre 5,7 e apreciável quantitativo de casamento, já que quase um 12,9% em 1790 e 1730, negros e, quiçá, pela elevada t e r ç o d e s t e s b a p t i s m o s respectivamente, poderá tolerância com que os seus provinha de cafras africanas. considerar-se relativamente detentores manifestavam para A legitimação das uniões entre reduzida para um meio de com os baptismos fora do c a f r e s f i g u r a v a , a s s i m , características urbanas como matrimónio. reduzida como parecem Pangim. Na verdade a S e g u n d o a a m o s t r a atestar os escassos nove proximidade face a outros recolhida, o afluxo de escravos matrimónios registados na agregados de elevada ascendeu a 115, ou seja 6% do paróquia neste período. dimensão como Taleigão e total de baptismos, o que aponta Santa Inês, a elevada p a r a a e n t r a d a d e u m mortalidade da freguesia, presença de militares, de apreciável quantitativo no concretamente a taxa bruta de 8 neps boletim informativo 0 Dezembro de 2006 No que respeita à A Evolução Demográfica de Pangim (Nova Goa) Paulo Teodoro de Matos Gráfico 3 – Evolução da taxa bruta de mortalidade na freguesia de Pangim (1773-1825) parte dos óbitos poder não respeitar à população residente na freguesia. 100 80 A elevada mortalidade na 60 freguesia é visível, de modo 40 muito particular, no seio dos 20 indivíduos com idades 1821 1811 1800 1797 1794 1791 1788 1785 1782 1779 1776 1773 0 compreendidas entre os 0 e 4 anos. Ainda que se desconheça mortalidade (T.B.M.), apenas as Ilhas mas, também, de o efectivo da população cristã é possível quantificá-la para os diversas «febres»9. Contudo, por cristãos entre 1773 e 1825. de um modo geral as T.B.M. de consequência, as taxas de Neste período esta taxa Pangim parecem sobrepor-se mortalidade por grupos etários pautou-se por uma média de aos níveis registados nas Ilhas (mx), a repartição percentual 47,9%o, revelando um nível onde de 1776 a 1820 a média, de óbitos por idades indica uma de mortalidade extremamente já de si elevada no contexto do substancial incidência nas elevado, até em comparação território, se situava nos crianças com menos de 1 ano com outras populações 37%o. Assim, conforme se (23,6%), europeias neste âmbito referiu, urge aquilatar a praticamente um quarto do cronológico. qualidade destes registos, em total de mortes. No grupo 1-4 particular a possibilidade de essa percentagem é de 10,8, Consoante o gráfico 3, idades e, ou por seja, observa-se um período de que é compatível com as 30 descrições de violentas 25 70+ 65-69 60-64 55-59 50-54 45-49 40-44 35-39 30-34 % 0 25-29 5 20-24 acerca da cólera que fustigara 10 15-19 1777 existem diversos relatos HM 15 10-14 território. De facto em 1776- M 20 5-9 epidemias que grassaram no H 1-4 com uma taxa de 82,6%o , o Gráfico 4 – Percentagem dos óbitos por grupos etários (1795, 1815 e 1828) 0 elevada mortalidade em 1776, neps boletim informativo 0 Dezembro de 2006 9 A Evolução Demográfica de Pangim (Nova Goa) Paulo Teodoro de Matos embora o nível do sexo essencialmente, pela demográfica de Pangim com masculino se encontre maioritária proveniência de base no cruzamento claramente sub-avaliado noivos forasteiros, numa nominativo da população (4,8%) pelo pequeno universo sociedade pautada pela forte cristã. Desta feita será possível considerado, e por possíveis mobilidade geográfica. Por esta ensaiar, pela primeira vez, a deficiências da fonte. razão propomo-nos abordar metodologia de reconstituição A nupcialidade desta esta interessante temática de paróquias no antigo Estado paróquia figura como uma num futuro próximo aquando Português da Índia, com o variável assaz complexa, da reconstituição desta suporte das novas aplicações pelos seus elevados níveis, paróquia. informáticas entretanto afluência de reinóis e lusod e s c e n d e n t e s e , Esperamos, pois, a curto prazo aprofundar a análise desenvolvidas pelo NEPS/DI da Universidade do Minho. Notas: 1 Este texto insere-se no projecto «Goa do Antigo Regime ao Liberalismo: Demografia, Família e Herança (1718- 1830)» financiado pela Fundação para a Ciência e Tecnologia. 2 Cf. Anuário da Arquidiocese de Goa e Damão para 1955, coord. Pe Francisco Gomes Catalão, Bastorá, Tip. Rangel, p. 91 3 Cf. Cotineau de Kloguen, An Historical Sketch of Goa,New Delhi, Asian Educational Services, 2005, pp. 1-2 (ed. original de 1831). 4 Tratam-se de mapas estatísticos decretados pelo Marquês de Pombal segundo a ordem de 21.05.1776 (Arquivo Histórico Ultramarino, Monções do Reino, liv. 157A, fls. 167-168v.). Cremos que a informação relativa a hindus e mouros seria coligida pelos gãocares (líderes das comunidades de aldeia) e posteriormente veiculadas ao pároco, ou ao tanador-mor (funcionário régio administrador da província). 5 Historical Archives of Goa, Monções do Reino, liv. 86A, fls. 19-19v. Presumimos que a elaboração deste numeramento data de 1720. 6 Os livros mais antigos datam de 1719, relativos aos matrimónios, enquanto os baptismos e óbitos respeitam a 1728 e 1730, respectivamente. 7 A este propósito veja-se Louis Henry, Técnicas de Análise em Demografia Histórica, Lisboa, Gradiva, 1988 (trad. do francês), pp. 86-87 e 108-119. 8 Contabilizam-se, também, os enjeitados e expostos. 9 Cf. Fátima Gracias, Health and Hygiene in Colonial Goa 1510-1961, XCHR Studies Series nº 4, New Delhi, Concept Publishing Company, 1994, pp. 93-94. 10 neps boletim informativo 0 Dezembro de 2006 Entre o Arcebispado e o Senhorio... Olinda Alves Entre o Arcebispado e o senhorio: as relações de D. Diogo de Sousa com a Coroa A figura do arcebispo D. Diogo mantinha com a coroa D. Diogo de Sousa Diogo de Sousa foi já objecto e, mais concretamente, com nasceu provavelmente entre de vários trabalhos que focam os monarcas D. Manuel I e D. 1460 e Maio de 1461, em a acção do arcebispo sob João III; num segundo Évora ou Figueiró dos Vinhos, vários aspectos: como momento, estudámos a filho de D. João Rodrigues de mecenas da cultura e das artes articulação entre a prática do Vasconcelos, senhor de e (re)construtor da malha mecenato e o exercício do Figueiró e Pedrógão e de D. urbana de Braga, incluem-se poder local. Branca da Silva “fidalgos da as obras de Rui Maurício, Começaremos por melhor e mais conhecida Avelino de Jesus da Costa, traçar uma breve biografia de nobreza do Reino”3. Estudou Manuel de Aguiar Barreiros e D. Diogo de Sousa para retórica e gramática em Paula Bessa; como legislador, prosseguir com um Portugal e “as outras ciências os trabalhos de Isabel Marinho caracterização esquemática maiores, parece, aprendeu em Vaz Freitas e de Manuel das principais áreas de Salamanca e Paris [nesta Cadafaz de Matos.1 actuação do arcebispo; em última, Teologia], e sabio tão Pareceu-nos, contudo, seguida tentar-se-á analisar a consumado nellas, que que o ângulo das relações da actuação de D. Diogo passando depois a Roma, era figura histórica com o poder enquanto mecenas havido por um dos mais central e local ainda não estava procurando contextualizá-la; celebres letrados daquella suficientemente explorado finalmente, procurar-se-á, a Curia”. Enquanto aí pelo que resolvemos partir da análise das cartas permaneceu, por ordem de D. investigar sobre esse aspecto dirigidas aos monarcas, e da João II, trabalha com o articulando-o com a sua documentação respeitante ao embaixador D. Pedro da Silva. prática de mecenato. Dessa seu testamento, traçar um Quando regressou ao reino foi forma, o presente trabalho quadro das relações de poder sucessivamente nomeado pretendeu dar resposta a duas do arcebispo, quer em relação cónego de Évora e, depois, questões. Em primeiro lugar, à Coroa quer a nível local2. Deão da Capela Real, por D. procurámos discernir as relações de poder que D. Breve biografia de D. Diogo de Sousa João II, “com espectativa de mayores dignidades”4. neps boletim informativo 0 Dezembro de 2006 11 Entre o Arcebispado e o Senhorio... Olinda Alves Em 1493, integrado na proibição dos nobres não cardeal D. Jorge da Costa ao Embaixada de D. Fernando poderem ter casa ou arcebispado de Braga em seu Coutinho, Bispo de Lamego, e permanecerem na cidade do favor. Regressado a Portugal Álvaro da Cunha, capitão da Porto por mais de três dias. em Outubro, chegou a Braga Armada, deslocou-se a Roma É nomeado, por D. em 22 de Novembro do mesmo a fim de, em nome de D. João Manuel I, Capelão-mor da ano onde foi recebido pela II, prestar homenagem e Rainha D. Maria e a partir de população local “com festas obediência ao Papa Alexandre 1502, o monarca “cometialhe que foram faladas durante VI. Em Outubro de 1495 foi também os negócios maes muito tempo”10. Pouco tempo nomeado Bispo do Porto onde, graves do reyno, & folgava de depois, a 15 de Dezembro de segundo Avelino Jesus da seguir em tudo seu parecer”8. 1505, D. Diogo reuniu o Sínodo Costa “exerceu importante Em 1505, obedecendo a Diocesano para solicitar ao acção pastoral durante cerca ordens do monarca, voltou a clero um subsídio de doze mil de dez anos.5” Durante a sua Roma, integrado na ducados a fim de pagar dívidas permanência no Porto, a 24 de embaixada que ia prestar contraídas com as despesas Agosto de 1496, deliberou a homenagem e obediência ao geradas pela sua deslocação na realização de um Sínodo do Papa Júlio II. Aí permaneceu embaixada a Roma e por ter qual saíram as Constituições por vários meses aproveitando sido provido no arcebispado11. do Bispado6 e fez com que D. para visitar várias cidades A sua actuação Manuel pagasse toda a prata italianas, entre elas, Florença. enquanto arcebispo de Braga que D. João I tomara É nessa altura que D. Diogo se revelou-se prolífica e de emprestada da diocese do relaciona com grandes impacto duradoiro nas gentes Porto, ou seja 3.000 libras de humanistas, de entre eles de Braga que durante muito prata, e que até aí não tinha Henrique Caiado e Cataldo tempo o recordaram. Contudo, sido paga. De acordo com Áquila Sículo9. Durante a sua no entender de Avelino Jesus Cunha “toda ella [a prata ] permanência em Itália, a da Costa, a diocese não lhe empregou em riquissimas pedido de D. Manuel I, foi proporcionou enriquecimento peças pera sua Igreja.7” Por nomeado arcebispo de Braga pessoal pois aproveitou os seus outro lado, com a concordância pelo Papa, em 11 de Julho de consideráveis rendimentos da de D. Manuel, acabou com a 1505, devido a renúncia do diocese para realizar 12 neps boletim informativo 0 Dezembro de 2006 Entre o Arcebispado e o Senhorio... Olinda Alves melhoramentos de toda a relevo e vestida de vestes nas suas próprias palavras, fez ordem12. pontificais15. “de uma aldeia cidade”18 . Teve um filho, D. Pedro de Comprou campos, quintais e episcopado, Diogo de Sousa Sousa, cónego e chantre da Sé vinhas que existiam continuou a ser distinguido pela de Braga e este, por sua vez, espalhadas dentro e fora da Coroa. Concretamente, D. teve um filho, D. Diogo de cidade para mandar construir Manuel I, pouco antes de Sousa, que veio a ser de novo, restaurar velhos morrer, em 1521, nomeou-o Inquisidor de Lisboa, do edifícios, alargar ruas, rasgar seu testamenteiro juntamente Conselho Geral, Bispo de novas praças, abastecer de com D. Martinho de Castelo Miranda, tendo chegado a água muitas das zonas da Branco, conde de Vila Nova e Arcebispo de Évora16. cidade através da colocação de Durante o seu Portimão13; D. João III, por fontanários. Segundo Costa19 sua vez, nomeou-o capelão- A actuação de D. Diogo as obras de D. Diogo mor da rainha D. Catarina, sua como arcebispo de Braga permitiram “rejuvenescer e mulher, no ano seguinte. engrandecer a cidade, dando- Em 4 de Maio de 1530, A obra realizada por D. lhe espaço, ar e luz”20 levando preparando-se para a sua Diogo de Sousa no arcebispado o próprio arcebispo a afirmar morte, D. Diogo fez o seu de Braga encontra-se que dele se podia dizer “achey testamento ou disposição de abundantemente referenciada esta[Braga] de barro e sem ultima vontade onde nos diversos livros e artigos t e mplo s n e m ge mt e n em especificou que desejava que que sobre ele se redigiram17. edeficios e agora a tenho fecta os seus restos mortais fossem Limitar-nos-emos, por isso, de asy em edeficios pubricos como depositados na Capela da forma muito sucinta, a traçar p r i v a d o s Misericórdia, mandada fazer as grandes linhas da sua acrecemtamemto de muito por si, nos claustros da Sé actuação. povo e numero de mercadores c o m Catedral14. Morreu em Braga, D. Diogo de Sousa, mal e tracto e ofeciaees das a 19 de Junho de 1532, e foi chegou, evidenciou uma milhores cousas do Reyno” 21. sepultado na dita capela, num grande vontade e disposição Das inúmeras obras mausoléu de pedra que tem, de mudar a feição da cidade realizadas sob a sua em cima, a sua figura em de Braga. A nível urbanístico, supervisão merecem ser neps boletim informativo 0 Dezembro de 2006 13 Entre o Arcebispado e o Senhorio... Olinda Alves mencionadas, dada a sua A nível legislativo, a sua concluir que só uma parte importância: a restauração do preocupação com os erros que relativamente pequena desses Paço Episcopal; a construção considerava excessivamente rendimentos seria usada pela dos Paços do Concelho e da comuns quer entre leigos, quer misericórdia pois o arcebispo, Igreja de S. Jerónimo e a entre clérigos, levaram D. mais preocupado em Capela do Mosteiro de Vilar de Diogo a preocupar-se com a assegurar a salvação da sua Frades. Na Sé Catedral mandou redacção das Constituições e alma e dos monarcas que o realizar inúmeras obras, umas Estatutos para o Cabido que beneficiaram, transformava a de construção nova, outras de procuravam suprimir ou pelo maior parte das rendas em restauro. A sua actuação nesta menos diminuir a sua “bens de alma”. Estes bens área foi de tal forma marcante incidência23. eram usados em serviços que levou Rui Maurício a Mandou ainda construir a religiosos, evidenciando, desta atribuir-lhe o epíteto de Capela do Senhor Jesus da forma, um comportamento refundador da urbe Misericórdia onde se reunia a muito comum para a época.25 bracarense22. confraria da misericórdia, Do ponto de vista Por outro lado, tomou provavelmente também administrativo, podemos conta do Hospital de S. Marcos fundada por este arcebispo. considerar que D. Diogo mandando acabar as obras, Para o funcionamento da dita procurou defender o senhorio iniciadas pelo cónego Diogo capela, “Ordenamos, e e jurisdição episcopais, ao Gonçalves, e anexando-lhe queremos, [D. Diogo] que, mesmo tempo que contribuiu bens de outras instituições de tomada a conta como dito é para a ampliação dos limites be ne fi c ê nci a po r f o rma a dos 60 mil reis de tença, que da diocese. assegurar o seu funcionamento temos comprada para esta e manutenção. Levantou capela, e assim do que render p e r a n t e a s t e n t a t i v a s d e alfândegas, junto à Porta do a igreja de Arentim, cujos interferência de D. Manuel I e Souto e Porta Nova de Sousa, frutos, e rendas temos de D. João III, D. Diogo “a destinadas a albergar os incorporados para sempre a jurdição da cidade defendeu, & almocreves que vinham a esta capela pagos os custos”24. conservou sempre com grande Braga. A leitura atenta de todo o inteireza”26 e muita firmeza documento permite-nos e n f r e n t a n d o 14 neps boletim informativo 33/34 Setembro/Novembro de 2003 No primeiro caso, o s Entre o Arcebispado e o Senhorio... Olinda Alves monarcas27nestes termos “a esta situação de privilégio o Labruja. Em troca cedeu ao jurdição e senhorio, que tem Papa tinha nomeado juízes em referido Bispo os territórios de esta Igreja em Braga, não foi Castela para as esclarecer. Olivença, Campo Maior e por mercê, nem doação, que Perante tal resposta os Ouguela30. Posteriormente o nenhum Rei deste reino, lhe monarcas recuaram, como o rei D. Manuel e o Papa, em fizesse, mas antes que hi prova a Carta que D. Manuel I 1513, aprovaram este contrato ouvesse Reis de Portugal tinha envia a Jorge da Silveira 29. tendo o arcebispo tomado esta Igreja suprema jurdição, Contudo nada na resposta posse desses territórios em como os Reis de Castella tinhão indica que o rei pretendia Agosto de 1514. em seu Reino.(...) posto que desistir dessa linha de os Arcebispos fizessem actuação. Antes dá a ideia de contrato per duas vezes com ser uma ordem de suspensão os reis vossos antecessores temporária perante a forte Também nesta área a 7 sobre a jurdição, naõ o fizerão oposição de D. Diogo quando actuação de D. Diogo foi como sugeitos nesta parte à diz “até verdes outro nosso prolífica e variada. Se não coroa real, mas como livres, e mamdado em comtrairo”. vejamos: aproveitou a recente O mecenato de D. Diogo izentos, e por isso se tratou, e Quanto à ampliação dos invenção da imprensa para confirmou pello Papa, como limites da diocese D. Diogo patrocinar a publicação de jurdição sugeita a universal conseguiu expandir, a norte, as vários livros. Foi o caso do Igreja, e não a este reino pello suas fronteiras fazendo-as Breviário Bracarense, qual de seu consentimento e coincidir com o rio Minho. impresso em 1511, ou do supricação deo o Papa juizes Através de negociações e Missal datado de 1512, tendo em Castella, deputados às celebração de um contrato, em também encarregue “o P.e duvidas, que pudessem nascer 20 de Setembro de 1512, com Xisto Figueira de compor a Arte deste contrato(…)”28. D. Henrique, Bispo de Ceuta, de Rezar as Horas canónicas” Atente-se que D. Diogo conseguiu incorporar na que viria a ser publicado em invoca a “sujeição à universal diocese de Braga a Salamanca em 1521. É de crer Igreja” não admitindo administração de Valença (à que estas publicações se interferências e acrescentando época com 20 freguesias) e os inscrevessem numa intenção que se dúvidas houvesse sobre arcediagados de Cerveira e de de melhorar a preparação neps boletim informativo 33/34 Setembro/Novembro de 2003 15 Entre o Arcebispado e o Senhorio... Olinda Alves doutrinal do clero bracarense, região34. Começa também a trabalho sem gosto illas uma vez que também fundou ser melhor conhecida a sua nomeálo a todas, basta dizer o s Estudos Públicos e m acção com encomendador de em geral, que com a prata, & Braga 31. A preocupação de pintura retabular e mural para ornamentos, que elle so deu, Diogo de Sousa com a cultura algumas capelas e igrejas, se podia bem servir uma das escrita estendeu-se também recentemente estudada por maes graves, & ricas Sees de aos manuscritos, numa época Paula Bessa. Para esta autora, t o d a H e s p a n h a ” 36 . em que estes últimos ainda não todos estes apoios à cultura e afirmação é, talvez, um pouco tinham sido inteiramente às artes revelam um D. Diogo exagerada mas se tivessem substituídos pela livro cujo gosto oscila entre o gótico chegado até nós as peças de impresso: Avelino Jesus da final, o manuelino e o ourivesaria inventariadas em Costa afirma que “Para os renascimento, sem dúvida 1589 e doadas pelo serviços da Sé mandou fazer resultantes das suas viagens e arcebispo, teriam, um pontifical e mais um missal, permanências, por períodos de actualmente, um valor ambos de pergaminho, e 15 tempo razoáveis, em Itália35. elevadíssimo, não só pela livros litúrgicos, em 26 Mas foi também prolífico no quantidade e valor material volumes manuscritos, e mais equipamento litúrgico com que das peças, como também pelo 6 para a sua capela da dotou a Catedral de Braga e a valor artístico e histórico37. Misericórdia” 32. Encomendou sua Capela da Misericórdia, De acordo com o ai n da u m p oema so bre a cujo riquíssimo e numeroso referido inventário existiam, fundação de Braga a André de espólio em objectos de no Tesouro da Sé, 107 artigos Resende33. ourivesaria, alfaias e livros dedicados a peças doadas por O seu mecenato em litúrgicos procurámos D. Diogo. As de prata, num relação às artes visuais sumariar nos quadros 1 a 3 total de 48, pesavam 112 pautou-se por alguma (ver anexo): quilos e só para 29 delas é A influência da Antiguidade D. Rodrigo da Cunha indicado um valor de custo Clássica, um vez que reuniu no sublinhou a extrema total de 2.063.591 reais, Campo de Santa Ana os generosidade de D. Diogo ao soma elevadíssima para a marcos miliários e outros afirmar “No thesouro se não vê época. monumentos da época romana peça de preço, ou estima, que Uma observação e que estavam espalhados pela não fosse dadiva sua, seria atenta do conteúdo dos 16 neps boletim informativo 0 Dezembro de 2006 Entre o Arcebispado e o Senhorio... Olinda Alves quadros 1, 2 e 3 permite-nos valiosos, como o veludo, o Por outro lado porque, segundo constatar que D. Diogo fez cetim, a seda, o brocado, o Avelino Jesus da Costa, “…foi doações de objectos de damasco, todos eles preciso (…) um extraordinário ourivesaria, de alfaias adornados com franjas, tino administrativo [para a litúrgicas e de livros, quer ao bordados, fios de ouro e/ou gestão] dessa renda e o total Tesouro da Sé Catedral quer à prata, etc. desprendimento do Capela da Misericórdia. Mas a D. Diogo estava muito arcebispo”40 . sua generosidade e consciente do muito que tinha Os objectos doados por D. magnanimidade não doado, e de como isso tornava Diogo levavam, pelo menos ocorreram só em Braga. Com Braga diferente dos restantes uma parte significativa deles, efeito, segundo Avelino Jesus arcebispados, a ajuizar pelas as suas armas pelo que, pelo da Costa38, a Igreja Matriz de suas próprias palavras quando menos aparentemente, eram Valença, a colegiada dessa escreve a D. João III “quamto doações pessoais. Contudo, ao vila, S. Gonçalo de Amarante a esta See e edeficios dela e serem pagos com as rendas da e a Sé do Porto também asy prata e ornamentos que diocese era esta, de facto, que receberam doações deste tipo. nela fiz e pus sey que estaa estava a fazer a doação. Isto Entre os objectos de muy deferemçada de todalas aconteceu porque no início do ourivesaria doados figuram outras” 39. século XVI a separação entre cálices, custódias, cruzes, Dada a quantidade e natureza res publica e res privada ainda turíbulos, hostiárias, galhetas, das doações, que obviamente não se tinha feito.41 missais e castiçais, etc. de envolveram custos materiais Para além disso, a materiais nobres e valiosos elevados e, sabendo-se que enorme quantidade de doações como a prata, prata dourada e quando chegou a Braga, D. de objectos de ourivesaria, ouro com aplicações de Diogo, teve de solicitar ajuda bem como livros, alfaias esmaltes e/ou pedras pecuniária ao Sínodo litúrgicas, etc., parece ter preciosas. Por outro lado, a Diocesano para pagar dívidas subjacente os seguintes nível de paramentaria contraídas, estas práticas só aspectos. Em primeiro lugar, aparecem capas, túnicas, foram possíveis devido, por um D. Diogo partilhava da tunicelas, dalmáticas, mantos, lado, aos elevados obsessão heráldica do seu gremiais, frontais e pálios, rendimentos de que era tempo, ao insistir em também eles em materiais possuidora a diocese de Braga. identificar com as sua armas neps boletim informativo 0 Dezembro de 2006 17 Entre o Arcebispado e o Senhorio... Olinda Alves um grande número de peças las, ou seja, analisá-las em objectos usados na liturgia, que ofereceu e obras articulação com a mentalidade mais especialmente os que arquitectónicas que mandou religiosa da época e com o servem o altar-mor como é o fazer. Ao fazê-lo, não só significado simbólico que tais caso dos cálices, com suas pareceu querer sublinhar a práticas podiam assumir, tanto patenas, e das custódias, extensão da sua generosidade a nível religioso como a nível como símbolos da “grandeza com também sua acção social e político. o b s e r v á v e l d e D e u s ” 46 . enquanto mecenas, ao mesmo Quer os objectos de Objectos esplendorosos, como tempo que construía ourivesaria quer as alfaias o eram os que estão em activamente a sua litúrgicas são necessárias para análise, sumptuosos, posteridade42. a celebração do culto religioso. preciosos, em ouro, prata, Quando escreveu ao rei Mas precisavam de ser em tal dourada em especial, D. João III dizendo “asy lhe quantidade? Em materiais tão decorados com pedras juro que numqua tive desejo nobres e, por isso, tão preciosas, captavam os de ser rico nem lembramça valiosos? De tão elaborada, olhares e a admiração dos diso (…) abasta asaz pera mim cuidada e minuciosa crentes pela sua riqueza para a que me Deus deu em sua “construção”/decoração que além de dividirem entre si as Igreja” p a r e c e i n d i c a r implicaram, por isso, muito “capacidades ostentatórias do desprendimento pela riqueza trabalho e criatividade divino” 47 . Por seu lado os material e, até, alguma artística só os tornando mais ornamentos e vestes litúrgicas reprovação pela sua posse43. preciosos? também ganham destaque Para fundamentar esta Para responder a estas pela riqueza, cuidada selecção afirmação há que recordar que questões é indispensável de tecidos e cores em na legislação que promulgou recordar que, neste período, adequação com o calendário D. Diogo considerava o luxo e s t e s o b j e c t o s “ são religioso e distinguindo-se do um pecado mortal, pelo menos verdadeiros sinais e símbolos vestuário profano. entre os membros do clero.44 d o s o b r e n a t u r a l ” 45 . C o m Finalmente, todas estas Para se compreender as efeito, o ambiente e práticas mecenáticas, como já práticas mecenáticas de D. mentalidade religiosos do se referiu, exigiam muito Diogo é preciso contextualizá- século XVI encaram os dinheiro. Quem geria 18 neps boletim informativo 0 Dezembro de 2006 Entre o Arcebispado e o Senhorio... Olinda Alves quantidades assinaláveis, com a coroa, especialmente no contexto dos arcebispados neste período e local, era o com os monarcas D. João II, do país 49 permite-nos tirar arcebispo ao administrar as D. Manuel I e D. João III já ilações sobre o tipo de vida que rendas da diocese. Isso que o seu arcebispado levaria o arcebispo. De acordo conferia-lhe poder económico atravessou estes três com a citação apresentada era que se traduziu em prestígio e reinados. uma vida faustosa e com poder, quer político quer D. Rodrigo da Cunha, aparato, semelhante à da religioso, visíveis e ao comparar a vida publica família real. Se confrontarmos mensuráveis pela comunidade com a privada de D. Diogo, a esta informação com o quando se tornou num grande determinada altura diz que Testamento de D. Diogo 50 a mecenas. A nível simbólico D. este “Não foi menos cuidadoso partir do qual se elaboraram Diogo assumia-se, por isso, do asseo da propria pessoa, do os quadros 4 e 5 constatamos como a autoridade máxima, a lustre, & grandeza de sua casa, que tinha ao seu serviço, todos os níveis, numa época que dos edificios, & obras quando morreu, pelo menos em que o poder central, fosse materiaes, em que se mostrou 21 capelães, 10 escudeiros, 25 ele político ou religioso, era tão magnifico. Serviase com moços de câmara, 6 oficiais e algo abstracto e pouco fausto, & magestade, nem 16 moços d’estribeira, presente. depoes da real, avia familia perfazendo um total de 78 maes luzida, que a sua, os criados. Se considerarmos que capellaes eraõ muitos, & todos estes são os que receberam letrados, os pages, & doações no seu testamento, é As relações de poder escudeiros, todos gente nobre, provável que o número fosse são sempre complexas e & em graõ numero. Os ainda mais elevado, no caso podem desenvolver-se a Desembargadores de sua de alguns não terem sido vários níveis. No caso vertente Relação grandes letrados, o contemplados. Para além interessa-nos analisar as que que ali se definia, & assentava, disso deixou doações a 58 se estabeleceram, a nível local, eraõ decisoes pera os maes criados aposentados. Uma tal entre o arcebispo D. Diogo e tribunaes do Reyno” 48. quantidade de criados faz Relações de poder os seus conterrâneos, mas Com efeito sendo a lembrar uma corte que, neste também as que ele manteve diocese tão rica e importante caso, devia funcionar como a neps boletim informativo 0 Dezembro de 2006 19 Entre o Arcebispado e o Senhorio... Olinda Alves do rei. Embora fosse miudezas abrangiam, ainda económico e social. Na cidade arquiepiscopal, devia ter segundo D. Diogo, “vodos e e nos coutos que lhe semelhanças com a do dizimas das searas, pertenciam os poderes do monarca, no jogo de calendário, mandas, arcebispo abarcavam ainda influências, laços de morturas, cera, bragal, “toda a jurisdição cível e dependência, exercício de e s t r i g a s e c e n s s u r i a s ”, crime”54 dando-lhe um poder poder, etc. atingindo montantes acrescido, quase total, sobre avultados, quer em géneros a população do arcebispado. quer em dinheiro51. Só assim se compreende a É talvez sobreinterpretação procurar concluir algo a partir da diferença entre Com tais rendimentos a indignação de D. Diogo quando estes dois números. Mas não diocese e, portanto, D. Diogo, enfrentou a ameaça de resistimos a, pelo menos, dava emprego a muitas diminuição desses poderes levantar uma hipótese de pessoas e sustentava, por isso, perante as tentativas de in t e rp re ta çã o. Será esta directa e indirectamente interferência dos monarcas D. diferença devido ao aumento, muitas famílias que dele Manuel I e D. João III. ao longo dos anos, do número dependiam52. A par disso, de Tanta consciência tinha de criados que o serviam? Ou acordo com Costa, existiam 98 da importância da sua diocese a explicação é outra? autoridades e funcionários que que D. Diogo, perante um Seja como for estes serviam a cidade e a diocese convite de D. João III para que números reflectem a e que eram de nomeação do trocasse o arcebispado de importância económica e, arcebispo 53 . I s t o d a v a , Braga pelo de Lisboa, lhe portanto, social e política do certamente, lugar à existência responde, a determinada arcebispo. Ao comparar a sua de uma vasta rede altura, “avemdo respeito a diocese com a de Lisboa, D. hierarquizada de influências, esta cidade e coutos e maneira Diogo afirmava que “Braga lhe troca de favores e partilha de de sua jurdiçam e grandeza de dava mais rendimentos que poderes, a nível local, em que sua diocese e numero de Lisboa, porque, dizia, só as o arcebispo se assumia como beneficios, posto que os miudezas, que não entram na o topo da pirâmide. prelados do Reyno se posam renda, valem mais que a Mas os poderes de D. chamar prelados, os maior dignidade.” Estas Diogo não se limitavam aos arcebispos de Braga sam 20 neps boletim informativo 0 Dezembro de 2006 Entre o Arcebispado e o Senhorio... Olinda Alves prelados e senhores”55. Estava próprio mais do que por jogo Jorge da Costa e posterior tudo dito... de interesses de ordem nomeação de D. Diogo para familiar”.57 arcebispo de Braga, bem como Se passarmos em revista o percurso biográfico Para além do mérito, D. o convite de D. João III para de D. Diogo constatamos que Diogo tinha muito boas que D. Diogo trocasse Braga ele foi com frequência relações e conhecimentos na por Lisboa. A vitória dessa distinguido pelos monarcas ao C ú r i a r o m a n a 58 o q u e o política, pelo menos no que se ser nomeado por D. João II tornava um excelente peão na refere ao arcebispado de deão da Capela Real e depois política dos monarcas, iniciada Braga, viria a acontecer, após capelão–mor de duas rainhas, com D. Manuel I, de tentarem a morte de D. Diogo, com a D. Maria, mulher de D. Manuel ter acesso aos rendimentos e nomeação do Infante D. I, e D. Catarina, mulher de D. poder da Igreja através da Henrique, futuro Cardeal, para João III. Por outro lado, por colocação de membros da arcebispo de Braga, em 1533, duas vezes foi enviado pelos família real nos mais altos e de Évora, em 1540. reis D. João II e D. Manuel I postos da hierarquia religiosa Segundo Freitas D. em missões diplomáticas à portuguesa.59 Mas, ao mesmo Diogo detinha uma grande Cúria romana e, mais tarde, tempo, procurando não autonomia na jurisdição dos foi nomeado testamenteiro de desagradar ao Papa tentava coutos de Braga na medida em D. Manuel56. Tal preferência e diminuir a sua esfera de que, por serem pouco distinção por parte dos influência a no reino. D. Manuel povoados e de importância monarcas, entre tantos I, sem afrontar aberta e menor, não chamavam tanto candidatos a benesses e directamente o Papa, a atenção dos reis60. Apesar do cargos, evidenciam o prestígio pretendeu, com a sua corregedor do rei não poder aí e credibilidade de D. Diogo actuação, diminuir os poderes entrar sem autorização podia, junto da coroa. Segundo Rui e influência do Papa no no entanto, inquirir sobre a Maurício, tal se deveu à “sólida território português. jurisdição que o arcebispo nele formação intelectual de D. É neste contexto que se tinha, sem contudo interferir Diogo de Sousa [que ] lhe inscrevem e explicam, por um na justiça. garante a sua ascensão ao sólio lado, os atritos de D. Manuel Quando os monarcas D. primaz de Braga por mérito com o Cardeal Alpedrinha, D. Manuel I e D. João III, na linha neps boletim informativo 0 Dezembro de 2006 21 Entre o Arcebispado e o Senhorio... Olinda Alves de uma política de Diogo permutasse o que sendo o arcebispo D. centralização do poder régio, arcebispado de Braga pelo de Diogo muito poderoso, por tentaram interferir na Lisboa pode estar relacionado estar à frente do arcebispado jurisdição de Braga e seus com vários factores. Um deles mais importante e influente do coutos, enviando alçadas seria o do monarca pretender país, ora usando de régias, depararam-se com aproveitar os serviços e diplomacia64 ora fazendo valer uma oposição firme de D. experiência de um prelado tão velhos privilégios e regalias do Diogo que lembrou aos prestigiado e prudente62 e que, arcebispado, “extremando-se monarcas quer os seus bons ao mesmo tempo, lhe na defesa das prerrogativas e serviços, quer o contrato, permitisse alianças de direitos da (…) igreja de confirmado pelo Papa, por cooperação com certos Braga”65, logrou alcançar os “suplicação e agravo dos sectores do clero nacional por seus objectivos pois travou, reis”61, em que se estabelecia forma a enfrentar melhor a ainda que por pouco tempo, a a justiça e demais privilégios oposição do Papa às política centralizadora dos do arcebispo. crescentes limitações monarcas. Perante tal reacção os impostas à sua interferência reis recuaram ou porque não em assuntos eclesiásticos desejassem entrar em conflito nacionais. Outro factor pode com uma personalidade tão ter a ver com a crescente influente ou porque ainda não “clericalização dos governos” salientando ao longo do tinham poder suficiente para iniciada por D. João III trabalho o percurso de vida e vencer tal oposição. Apesar de tendentes a aliciarem certos de actuação do arcebispo D. tudo, como apontei mais atrás sectores do clero e, com isso, Diogo de Sousa foi neste trabalho, não abdicaram controlarem eventuais facções extremamente rico e revela- da política empreendida que discordantes no seu seio63. se fértil em hipóteses de estava a ser implementada, As relações de poder de D. interpretação. com avanços e recuos, mais Diogo com a coroa foram As relações que D. ou menos lentamente, por bastante complexas e com Diogo mantinha com a coroa, todo o país. nuances por vezes difíceis de e, mais concretamente, com Finalmente, o convite interpretar. O que se constata, os monarcas com quem lidou de D. João III para que D. da análise dos documentos, é - D. João II, D. Manuel I e D. 22 neps boletim informativo 0 Dezembro de 2006 Conclusões C o m o f o m o s Entre o Arcebispado e o Senhorio... Olinda Alves João III -, eram complexas e humildemente, comunicar a D. influentes, em que o eivadas de um sentimento de João III que, apesar da idade tratamento é “quase” de igual respeito e de deferência avançada, estando por isso no para igual pois o monarca, não mútua, a ajuizar pelo tom das fim da vida, e de se sentir bem é bem sucedido na sua cartas que analisámos. Por um em Braga estar disponível tentativa de limitar os direitos lado tratava-se de uma para o servir cumprindo os e privilégios de D. Diogo. relação entre soberano e seus desejos. Quanto às relações entre o súbdito em que este último, D. P o r o u t r o , mecenato de D. Diogo e o Diogo, compreendia muito principalmente quando exercício do poder a nível local, bem que do monarca vinham envolveu as questões da a actuação mecenática de D. as benesses e também podiam jurisdição, da solicitação de Diogo, devido à importância, vir as “desgraças”. É neste conselhos (caso de Henrique natureza e impacto que teve, contexto que D. Diogo se VIII de Inglaterra, por só lhe trouxe mais prestígio e, coloca à disposição de D. exemplo) ou mesmo de portanto, poder local que por Manuel I66 para o servir indo a contributos pecuniários para a sua vez teve repercussões Roma, em seu nome, prestar aquisição das Molucas há, positivas para o arcebispo fora obediência e homenagem ao parece-nos, uma relação entre dos limites da arquidiocese. Papa senhores, ambos poderosos e Júlio II ou, Notas: 1 Rui Maurício, O Mecenato de D. Diogo de Sousa Arcebispo de Braga (1505-1532). Urbanismo e Arquitectura ., 2 vols., Leiria: Magno Edições, 2000; P.e Avelino de Jesus da Costa, “D. Diogo de Sousa: novo fundador de Braga e grande mecenas da cultura”, Homenagem à Arquidiocese Primaz nos 900 anos da Dedicação da Catedral, 4-5 de Maio de 1990. Lisboa: Academia Portuguesa de História, 1993, p. 99-117; Paula Bessa, “D. Diogo de Sousa e a pintura mural na Capela-mor da Igreja de S. Salvador de Bravães”, Revista da Faculdade de Letras. Ciências e Técnicas do Património, 1ª Série, vol. 2, Porto, Universidade do Porto, 2003, pp. 7-25; Isabel Marinho Vaz Freitas et al. “D. Diogo de Sousa, legislador bracarense”, IX Centenário da Dedicação da Sé de Braga. Congresso Internacional, vol. 2, Braga, Universidade Católica Portuguesa/Cabido Metropolitano e Primacial de Braga, 1990, pp. 29-36; Manuel Cadafaz de Matos, “Prólogo - D. Diogo de Sousa, as Constituições Sinodais do Bispado do Porto (1497). Alguns aspectos relacionados com o impressor Rodrigo Álvares e características técnicas da sua obra”, V Centenário da Introdução da Imprensa no Porto, Lisboa, Edições Távola Redonda, 1997, pp. 9-15. 2 As cartas foram publicadas em apêndice documental por Avelino Jesus da Costa, op. cit., p. 99-117. As fontes relacionadas com o testamento e sua execução foram publicadas por Rui Maurício, op. cit., vol. 2, Leiria, Magno, 2000, pp. 305480. neps boletim informativo 0 Dezembro de 2006 23 Entre o Arcebispado e o Senhorio... Olinda Alves 3 Cf. Monsenhor J.A. Ferreira, Fastos Episcopais da Igreja Primacial de Braga.., t. II, Braga, Mitra Bracarense, 1931-34, p. 366. Ver ainda Avelino de Jesus da Costa, “Sousa, Diogo de (1461?- 1532)”, Serrão, Joel (dir), Dicionário de História de Portugal. vol. VI, Porto, Livraria Figueirinhas, 1981, p. 70; D. Rodrigo da Cunha, Da História Ecclesiastica dos Arcebispos de Braga, e dos Santos, e Varoes ilustres, que floresceram neste Arcebispado , Braga, Manuel Cardozo, 1634, p. 287-288. 4 Citações em Cunha, op. cit., pp. 288-289. 5 Costa, op. cit., p. 17. 6 Matos, op. cit., p. 13. 7 Cunha, op. cit. p. 290 8 Cunha, op. cit., p. 291. 9 Costa, op. cit., p.17. 10 Cunha, op. cit., p. 292 e Costa, op. cit., p. 18. 11 P.e Avelino de Jesus da Costa, “Sousa, Diogo de (1461 ?- 1532)”, in Serrão, Joel (dir.), Dicionário cit., p. 70; Cunha, op. cit., pp. 292-293. 12 Costa, op. cit., p. 72. 13 Damião de Góis, Crónica do Felicíssimo Rei D. Manuel, Coimbra, Por ordem da Universidade, 1973, Parte IV, p. 223. 14 Cunha, op. cit., pp. 304-305; Ferreira, op. cit. p. 400. Sobre a Capela da Misericórdia cf. Arquivo Distrital de Braga (doravante ADB), Registo Geral, nº 258.6, “Treslado da Instituição da Capela de Jesus da Misericórdia”. 15 Bernardino José de Senna Freitas, Memórias de Braga: contendo muitos e interessantes escriptos extrahidos e recopilados de differentes archivos, assim de obras raras como de manuscriptos ainda inéditos e descrição de pedras inscripcionaes, t. IV, Braga, Imprensa Católica, 1980, p. 233. 16 Cunha, op. cit.,p. 305. 17 Veja-se em especial “Memorial das obras que mandou fazer o arcebispo de Braga D. Diogo de Sousa”, editado por Ferreira, op. cit. pp. 485-508 a partir do “Memorial” transcrito no Livro 304 do Registo geral, fls. 316-334 do ADB. A partir desta reedição outros autores, mais ou menos desenvolvidamente, enumeram a obra do arcebispo. 18 Vide doc. 12 in Costa, op. cit., pp. 82-83. 19 Costa, op. cit., p. 83. 20 Costa, op. cit., p. 19. 21 Carta a D. João III, datada de 30 de Novembro de 1524, in Costa, op.cit., p. 71. 22 Para uma melhor caracterização da intervenção urbanística realizada no tempo do arcebispo vide Maurício, op. cit., vol. 1. Citação extraída da p. 33. 23 Para esta área de actuação do arcebispo cf.Isabel Freitas et al., op. cit., pp. 29-36. 24 ADB, Registo Geral, nº 258.6, Treslado da Instituição da Capela de Jesus da Misericórdia, § 15. 25 Isabel dos Guimarães Sá, “Assistência – II. Época Moderna e Contemporânea” in Carlos Moreira Azevedo (dir.), Dicionário de História Religiosa de Portugal, vol. A-C, Lisboa, Circulo de Leitores, 2000, p. 140. 26 Cunha, op. cit., p. 301. 24 neps boletim informativo 0 Dezembro de 2006 Entre o Arcebispado e o Senhorio... Olinda Alves 27 No caso de D. Manuel a tentativa ocorreu, segundo Cunha, op. cit., em Novembro de 1519 enquanto que a de D. João III ocorre em Março de 1528. 28 Carta de D. Diogo a D. João III in Costa, op. cit., p. 82 (sublinhado nosso). 29 Doc. 5 in Costa, op. cit., pp. 63-64, do qual apresentamos um excerto: “Aguora por allguuns respeitos que nos movem [Costa argumenta que se deve à carta que D. Diogo lhe enviou a 23 de Outubro de 1519] e por esta causa da jurdiçam dos ditos coutos (…) avemos por bem que essa allçada nom emtemda em coussa allguua dos ditos coutos, sem embargo do que vos temos scripto e mamdado que nelles façaes e tudo leixar estar no ponto e estado em que damtes estava até verdes outro nosso mamdado em comtrairo.“ 30 Cunha, op. cit., p. 302; Costa, P.º Avelino de Jesus da. “Sousa, Diogo de (1461 ?- 1532)” In Serrão, Joel (dir), Dicionário de História de Portugal. vol. VI. Porto, Livraria Figueirinhas,1981, p. 72. 31 Para mais detalhes desta fundação vide Costa, op. cit. , pp. 22-23. 32 Costa, op.cit., p. 24. 33 Cunha, op. cit., p. 298. 34 Costa, op. cit., p. 71. 35 Bessa, op. cit. 36 Cunha, op. cit., p. 295. 37 Inventário publicado por P.º Avelino de Jesus da Costa, A biblioteca e o tesouro da Sé de Braga nos séculos XV a XVIII, separata da revista “Theologica”, 1985, pp. 101-162. 38 “D. Diogo de Sousa: novo fundador de Braga e grande mecenas da cultura”, In Homenagem à Arquidiocese Primaz nos 900 anos da Dedicação da Catedral - 4-5 de maio de 1990. Lisboa: Academia Portuguesa de História, 1993, pp. 25-26. 39 Vide Doc. 10 do Apêndice Documental, Costa, op. cit., pp. 70-71. 40 Costa, op. cit., p. 28 41 Vide Marques, op. cit.; Mattoso, op. cit.; PERES, op. cit. 42 Bessa, op. cit. 43 Doc. 14 do Apêndice Documental de Costa, op. cit., pp. 85-86. 44 Freitas et al., op. cit., pp. 32-33 45 Jacinto Salvador Guerreiro, “Alfaias litúrgicas (glossário)” in Carlos Moreira Azevedo (dir.), Dicionário de História Religiosa de Portugal, vol. A-C, Lisboa, Circulo de Leitores, 2000, pp. 38-42. 46 Carlos Moreira Azevedo (dir.), História Religiosa de Portugal, vol. II, Lisboa, Circulo de Leitores, 2000, pp. 480-481. 47 Cunha, op. cit., p. 482. 48 Cunha, op. cit., p. 303. 49 Mattoso, op. cit., p. 168; Costa, op. cit., pp. 31-35. 50 In Rui Maurício, O Mecenato de D. Diogo de Sousa Arcebispo de Braga (1505-1532). Urbanismo e Arquitectura, vol. II, Leiria: Magno Edições, 2000, pp. 305-480. 51 Idem, op. cit., p. 34. neps boletim informativo 0 Dezembro de 2006 25 Entre o Arcebispado e o Senhorio... Olinda Alves 52 A leitura do testamento permite-nos concluir que D. Diogo devia manter muito boas relações com vários comerciantes e lojistas de Braga, a julgar pelo teor de algumas das doações. 53 Doc. 9 do Apêndice Documental, op. cit., pp. 68-70. 54 Mattoso, op. cit., p. 168. 55 Doc. 10 do Apêndice Documental, in Costa, op. cit., p. 71. 56 Cunha, op. cit., p. 29 apresenta a seguinte justificação para tal nomeação: “Tantas, & tão insignes obras com que o Arcebispo enriquecia sua Igreja, o fazião por todo o Reyno celebre, & famoso. Como a pessoa tão calificada, o escolheo, & nomeou elRey D. Manoel por testamenteiro seu, juntamente com o Conde de Villanova de Portimão D. Martinho de Castelo branco.” 57 Maurício, op. cit., vol. I, p. 29.“D. Diogo, assi pellos merecimentos de sua pessoa, como por ser grãde conhecido do nouo Sumo Pontifice” 59 Mattoso, op. cit., p. 148 diz o seguinte: “…três eixos de actuação nucleares.(…) a tentativa de obtenção de apoio papal na política expansionista ultramarina portuguesa através do ususfruto de rendas da Igreja para custear parte das despesas dessa empresa. Por outro, uma política de colocação de membros da família real em alguns dos lugares mais rentáveis da Igreja. Finalmente, a obtenção do direito de provimento de lugares da Igreja para, desse modo, melhor poder dominar o clero nacional e favorecer os seus validos”. 60 Freitas et al., op. cit., p.30. 61 Freitas et al.,op. cit., p. 30 62 Costa, op. cit., p. 30. 63 Mattoso, op. cit., p. 151. 64 Quando delicadamente dá a entender a D. João III que se lhe quer fazer mercês o deixe permanecer em Braga (Doc. 10 in Costa, op. cit., p. 70-72). 65 Matos, op. cit., p. 14. 66 Cunha, op. cit., p. 291. 26 neps boletim informativo 0 Dezembro de 2006 Oportunidade e Disfarce... Aida Carvalho Oportunidade e Disfarce: Estrutura Socioprofissional da Comunidade Cristã-Nova de Vila Nova de Foz Côa Vila Nova de Foz Côa consumo se fazia nas condenava por terem uma localiza-se em pleno coração diferentes feiras e nos ortodoxia diferente da oficial. do Alto-Douro. Ao longo dos mercados, sobretudo locais. séculos as actividades Para além da Face ao perigo iminente de prisão e de tudo o que ela económicas traduziram a sobrevivência económica estes representava, em termos de ruralidade inerente à distancia encontros propor-cionavam estigma e marginalização so- e isolamento face aos grandes oportunidades de convívio, cial, perda de mobilidade e centros urbanos. A população criando uma teia de confisco dos bens a cristã-nova não constituía cumplicidades e de comunidade cristã-nova de Vila excepção. Protagonizava em relacionamentos múltiplos, Nova de Foz Côa encontrou nas alguns sectores específicos, que englobava um núcleo de relações económicas formas nomeadamente no artesanato indivíduos judaízantes, onde os de fuga e resistência à e no sector mercantil. factores de ordem económica repressão de que era objecto. O predomínio do se cruzavam com outros Em tempos de perseguições artesanato e comércio entre a valores de natureza pessoal e religiosas aos crentes da Lei comunidade traduzia-se na colectiva. As feiras Velha, os cristãos-novos de Vila frequência das feiras locais e transformaram-se, assim, em Nova de Foz Côa podem ter nacionais, onde se cenários de estratégias encontrado, desta forma, transaccionavam os produtos culturais e religiosas, nos quais manter a sua antiga tradição. agrícolas e manufacturados. os percursos de afirmação so- Pela análise do quadro Parte dos produtos cial se manifestavam em tudo indica que laboralmente comercializados corres- diferentes situações. os cristãos-novos estavam pondiam à produção das A vida socio-económica inseridos na sociedade civil indústrias artesanais em que compunha-se de vivências possuindo uma vasto leque de se ocupavam. intensas e de um complexo de profissões, repartindo-se pelos Não se tratava portanto relacionamentos sociais diferentes níveis de de uma população abastada, organizados, alentos para hierarquização social então uma vez que a compra e venda vencer as dificuldades do existentes, desde o advogado de artigos de produção e de quotidiano que os vigiava e os e juiz de sisa ao sem-ofício. neps boletim informativo 0 Dezembro de 2006 27 Oportunidade e Disfarce... Aida Carvalho Quadro n.º 1 - Repartição socioprofissional dos cristãos-novos condenados e/ou apresentados no tribunal de Inquisição de 1541 a 1782 Nome Ricardo Luís Daniel Cardoso João Rodrigues Luís Lopes Manuel da Silva Manuel Lopes Pedro Ferreira António Henriques Jorge da Silva Manuel Ferreira da Fonseca Loureiro António da Silva Diogo Rodrigues Francisco de Matos João de Campos João de Morais Manuel Rodrigues Pinto Simão de Matos Simão Lopes António da Silva Henriques José da Silva Manuel Lopes João Fernandes Marmelo Simão Luís Ramalho António Pinto Manuel Ferreira Marcos Lopes Gabriel Henriques Francisco Giraldes António Nunes António Nunes Gabriel Alvares Pacheco Manoel Veloso Manuel Alvares Nome Manuel de Matos Manuel Dias Nunes Manuel Henriques Francisco da Silva Manuel Ferreira da Fonseca Francisco Rodrigues Lourenço Alvares Preto 28 neps boletim informativo 0 Dezembro de 2006 Profissão Advogado Almocreve “ “ “ “ “ Bacharel Boticário Caçador Curtidor “ “ “ “ “ “ “ Escrivão judicial Estudante de gramática Ferrador Gaiteiro Homem de negócios/ ajudante de ordenança Infante/ sapateiro Jornaleiro “ juiz de sisas Lavrador Mercador “ “ “ “ Profissão “ “ “ Mercador/ rendeiro moço de servir Rendeiro “ Oportunidade e Disfarce... Aida Carvalho Quadro n.º 1 - Repartição socioprofissional dos cristãos-novos condenados e/ou apresentados no tribunal de Inquisição de 1541 a 1782 (continuação) Nome Francisco de Morais Brás Fernandes Cristóvão Fernandes Diogo Rodrigues Francisco de Morais Francisco Fernandes Francisco Lopes Francisco Marques Francisco Rodrigues Castanhola Francisco Rodrigues Pinto Francisco Soares Jerónimo da Silva João de Campos Jorge Rodrigues José Mendes Luís de Campos Luís Francisco Manoel Morais Manuel de Morais Manuel de Morais Manuel de Morais Manuel de Morais Manuel Lopes de Morais Simão de Matos Gregório da Silva João de Campos Nome Diogo de Morais Manuel Henriques da Silva Francisco Nunes Tomé Nunes Cristóvão Fernandes Luís Francisco Manoel Fernandes António da Silva Gois Manuel da Henriques Silva António Cardoso Profissão Retalhador de sola Sapateiro “ “ “ “ “ “ “ “ “ “ “ “ “ “ “ “ “ “ “ “ “ “ Sem oficio Sem oficio Profissão Soldado Infante da companhia de Martim Soares da Cunha Solicitador de causas Tendeiro Tendeiro/ tratante de sabão Trabalhador “ “ Tratante “ Tratante de lã Fonte: Processos do Tribunal de Inquisição de pertencentes ao Núcleo da Inquisição de Lisboa e de Coimbra neps boletim informativo 0 Dezembro de 2006 29 Oportunidade e Disfarce... Aida Carvalho Inferimos ainda a meio rural. Pelos depoimentos distribuição dos produtos, daí existência de um número apercebemo-nos da que o número daqueles que considerável de indivíduos importância que a mulher acrescentavam à sua principal distribuídos pelos ofícios ocupava no lar, no desempenho actividade a de mercador/ artesanais, nomeadamente, e na transmissão oral das tendeiro, ou que a esta se sapateiros, curtidores, práticas cerimoniais, no dedicava em exclusivo fosse retalhadores de sola e ainda trabalho e na vida das relevante. tratantes de lã e/ou sabão. comunidades rurais, mas do Pelos testemunhos dos ponto de vista jurídico o Processos do Tribunal de administrativos estavam homem era o único Inquisição verificamos ainda também representados representante legal da família. que parte dos membros desta através do escrivão judicial, do Dessa forma, a ausência das comunidade estavam voltados juiz de sisas, do solicitador de mulheres no que concerne à para a produção do sumagre. causas e do ajudante de informação sobre as suas Esta planta rica em tanimos ordenança. Não faltavam actividades laborais deve-se era cultivada nos montes e nas ainda na comunidade não à sua importância ladeiras incultas oferecendo ao minoritária os militares, económica efectiva, mas ao seu proprietário um rendimento nomeadamente, os soldados. estatuto jurídico subalterno em complementar. Após a planta relação ao dos homens. atingir um determinado O s s e r v i ç o s Contudo esta análise às estruturas socioprofissionais Numa análise genérica desenvolvimento era-lhe fica, apesar da inquestionável e sumária foi-nos dado ver que, cortada as ramagens que importância da natureza das de um modo geral, os cristãos- depois de secas eram moídas fontes, largamente novos não se ocupavam de e reduzidas a pó para serem incompleta, pela inexistência uma única actividade empregues nas tinturarias e na e exclusão das categorias profissional. É comum vermos indústria dos curtumes, profissionais dos indivíduos do associadas as profissões de fomentando outras produções sexo feminino. Esta omissão rendeiro/ tendeiro e de paralelas artesanais na região não deixa de estar interligada sapateiro/ curtidor. Não lhes e noutros lugares. Era muito à condição da mulher no Antigo bastava somente produzir. procurada por sapateiros e Regime, em particular num Havia que assegurar a surradores, constituindo um 30 neps boletim informativo 0 Dezembro de 2006 Oportunidade e Disfarce... Aida Carvalho Gráfico n.º 1 – Estruturas Profissionais dos cristãosnovos naturais de Vila Nova de Foz Côa de 1541-1782 que “apenas tinha uma vinha no Vale”. Manoel de Morais 6 , Estruturas socioprofissionais Outros 8% Serviços 21% cristão-novo, casado com Serviços Comércio Indústria 46% Comércio 25% Isabel Rodrigues, sapateiro, Indústria filho de Francisco de Morais e Outros de Francisca Rodrigues, preso por judaizar no dia 01/03/1667, em Coimbra, confessou ter Fonte: Processos do Tribunal de Inquisição de Coimbra e Lisboa; Lista dos Autos-de-Fé do Arquivo Nacional da Torre do Tombo. Ver número do Processos no final do texto “uma vinha nova”. No sector secundário sublinhamos a indústria produto valioso que os Côa, lavrador, casado com doméstica, destacando-se as mercadores do Porto Brites Rodrigues, preso a 06/ profissões de sapateiro e exportavam para a Flandres e 08/ 1669 em Coimbra por cul- curtidor como as actividades para a Inglaterra. pas de judaísmo, confessou ter mais frequentes no panorama Estas produções “uma vinha no sítio da Veiga manufactureiro. agrícolas eram cultivadas em que parte de um lado com as Jorge Lopes 7 , de 20 diferentes tipos de vinhas do Padre Martim Afonso anos, cristão-novo, solteiro, propriedades sobretudo de Melo o qual foi ele que lha preso a 27/07/1725 por culpas pequenas dimensões, muito forou, bem como uma outra de judaísmo, nos cárceres do condicionadas pelo relevo leira de terra noutro local que Tribunal de Inquisição de acidentado, daí as designações não designou”. Coimbra, natural de Vila Nova de leira1, ¼ de vinha 2, meia M a r i a L u í s V e l o s o 5, de Foz Côa, filho de Simão eira3, que encontramos nos cristã-nova, casada com Lopes “era sapateiro e curtidor” inventários anexos aos Manoel Martins, o mouco/ natural da Vila de Muxagata e Processos do Tribunal de manco, por alcunha, filha de morador em Vila Nova de Foz Inquisição. Gaspar Veloso e de Maria Luís Côa. Francisco Giraldes 4 , Veloso, presa a 18/ 09/ 1725 A partir do século XIII/ natural de Vila Nova de Foz por culpas de judaísmo, disse XIV o comércio na Beira medi- neps boletim informativo 0 Dezembro de 2006 31 Oportunidade e Disfarce... Aida Carvalho eval era assegurado por eram também locais de gente11, como também…na numerosas feiras. Estas encontro entre os cristãos- praça ou largo do Tabolado, ocasiões de encontro velhos. Estes eventos aonde todos os dias há alteravam os dias das condicionavam mercado farto de quanto pequenas localidades. comportamentos judaízantes produzem as terras da “No século XV, o em locais públicos e em comarca, sendo contínuos os comércio manteve-se localidades pouco populosas carretões da pão, vinho, empolado pela minoria judaica onde todos se conheciam. castanhas, melões, cerejas, que participa activamente no Estes eram obrigados a uvas e outros fructos do tempo comércio interno, quer com guardar sigilo das suas práticas ...., concluindo que o que falta estabelecimentos fixos nas para minimizar algumas na cultura da terra excede no comunas e nos concelhos onde hostilidades com medo de comércio, em que são dextros habitam, quer como serem denunciados pela e aplicados os moradores de almocreves, vendendo aqui e adopção Vila Nova.”12 além as suas mercadorias, comportamento mais dúbio. de os algum Importa ainda referir quer como frequentadores e Não obstante de, a que, nas vilas circundantes de animadores das feiras “partir deste período as feiras comunidades cristãs-novas regionais”8. tenderem em entrar em judaízantes, em meados do Esta herança da decadência 9 , n a r e g i ã o século XVIII, as feiras e os participação na actividade transmontana devido à mercados eram frequentes. A mercantil local perpetuou-se dificuldade dos acessos e à vila de Almendra, contava com com os cristãos-novos, distância dos grandes centros, uma população de 250 fogos13, tornando os locais de comércio as feiras mantiveram o seu tinha uma feira franca em cada espaços de convivência, não papel preponderante”10. ano no dia de S. Mateus (21 de apenas entre cristãos-novos Em 1877, D. Joaquim de Setembro); a vila de Almeida servindo como meio de Azevedo referia a existência de possuía uma população mais transmissão de cultura e de duas feiras em Vila Nova de foz numerosa de 601 fogos 14 , difusão de conhecimentos, Côa “a feira de S. Miguel a 8 “havia hum mercado franco privilegiada pela transmissão de Maio e a 29 de Setembro … nos primeiros Domingos de oral. Todavia estes espaços sendo grande a multidão de cada mez, a que acode 32 neps boletim informativo 0 Dezembro de 2006 Oportunidade e Disfarce... Aida Carvalho quantidade de mercadorias de de Vila Nova de Foz Côa, Foz Côa com as comunidades coufas comeftiveis, assim defte entreposto privilegiado pela cristãs-novas vizinhas, Reyno, como do de Caftella. sua localização, devia-se, por Marialva, Castelo Rodrigo, San Além defte há mais huma feira um lado, ao carácter periódico Fellices dos Galegos, Freixo de franca de tres dias, que antes das feiras raianas, cuja posição Espada à Cinta, Trancoso, fe fazia em dia da Invenção da geográfica facilitava o Guarda, Almeida, firmada pela Santa Cruz em Mayo, e fe intercâmbio mercantil entre os harmonia profissional que lhes mudou em obfequio do Santo dois reinos Portugal-Espanha permitiu criar um bloco Chrifto da Barca para o fitio da e, por outro, à troca de homogéneo caracterizado por fua Capella, e dia da exaltação produtos essenciais para a relações de interdependência. da Cruz e quatorze de satisfação das necessidades Setembro, e nos seguintes d a q u e l e s dous dias”15; a vila de Figueira frequentavam. q u e a s A paridade e a homogeneidade entre os cristãos-novos judaízantes Castelo Rodrigo havia feira nos Pela distância dos levou à construção de um três primeiros Sábados do mês grandes centros urbanos processo social de identidade, de Março e nos dias da (Lisboa e Porto) a feira era, inseparável da história Anunciação e da Assunção da sem dúvida, um grande religiosa/cultural que lhes Senhora; a feira de Marialva é acontecimento local, na consentia produzir os mesmos também muito frequentada medida em que o agrupamento produtos e frequentar as por elementos da comunidade de pessoas vinha alterar a mesmas feiras locais. cristã-nova fozcoense pacatez quotidiana da Estes intercâmbios judaízante, sendo referenciada população autóctone e a constantes foram essenciais constantemente nos devidos estrutura económica e social. após o estabelecimento da processos pelo seu carácter Com efeito, a Inquisição nos dois reinos para mensal (dia 15 de cada mês). valorização das relações de São ainda referidas outras afinidade entre aqueles que A publicitação feiras, como a feira de S. judaizavam passava pela constante dos modelos Bartolomeu na vila de estreita relação económica considerados a norma vigente, Trancoso e a feira de Pinhel. que se estabeleceu entre os desejáveis do ponto de vista cristãos-novos de Vila Nova de da crença, “afiavam” O contexto estratégico fugir à sua acção. neps boletim informativo 0 Dezembro de 2006 33 Oportunidade e Disfarce... Aida Carvalho mecanismos de denúncia por iria fazer jejum porque era deram conta de como viviam parte da comunidade cristã- bom para a salvação da sua na lei de Moisés e nela velha ou mesmo dentro da alma”. A 11/ 10/ 1604 declarou esperavam salvar as suas comunidade cristã-nova por que 3 anos antes, “tinham ido almas”. motivos de rivalidades, a sua casa, no final da feira de Francisco da Silva, 17 pessoais ou económicas. Daí S. Miguel, as tendeiras Branca cristão-novo, natural de Vila que estes fluxos migratórios Dias, viúva de Hector Dias e Nova de Foz Côa e morador na moderavam os olhares atentos Filomena D i a s , v i ú v a d e vila de Torre de Moncorvo, aos comportamentos dos Manuel Rodrigues, moradoras casado com Guiomar protagonistas deste nosso na vila de Trancoso e estando Rodrigues, preso a 14/ 06/ estudo. todas sós lhe declararam que 1603, aos 55 anos, por práticas Francisca da Silva 16 , guardavam o Sábado por de judaísmo, disse ser cristã-nova, natural e observância da Lei de Moisés. mercador e rendeiro. moradora de Vila Nova de Foz Estiveram também em sua Côa, viúva de Manuel casa e na feira de S. Miguel, Henriques mercador/ rendeiro, Miguel Guterres, rendeiro, presa a 04/ 07/ 1604, aos 80 casado com Inês Veiga, anos, confessa a 13/ 09/ 1604 cristãos-novos, moradores na que “há 7/8 anos se encontrou cidade de Salamanca e se na feira de S. Miguel (mês de declararam por crentes e Maio) em Vila Nova de Foz observantes na Lei de Moisés. Côa, com Jacôme Rodrigues, Confessou ainda que há 2 anos tendeiro, cristão-novo, que foram a sua casa João vivia na Ponte da Aracada, e Fernandez, Clara Fernandez e com Brites Rodrigues, cristã- Isabel Rodrigues, todos nova, parenta da confidente, moradores na vila de Trancoso, mas não sabe em que grau, e os quais iam para Valadollid, estando todos sós no final da parentes de sua mãe, mas não tarde, Jacôme Rodrigues sabe em que grau e estando declarou que no dia seguinte todos 4 entre outras práticas 34 neps boletim informativo 0 Dezembro de 2006 Conclusão A comunidade cristãnova estava integrada na estrutura económica da Vila Nova de foz Côa, vocacionada para o pequeno comércio e a indústria, muito embora com carácter essencialmente artesanal. A localização geográfica de Vila Nova de foz Côa permitiu o estabelecimento de redes comerciais a pequena escala entre as localidades de Marialva, Castelo Rodrigo, Oportunidade e Disfarce... Aida Carvalho Almeida, Vila Flor. Também da Lei de Moisés. Todas as novos espaços para a eram frequentes as idas ao ocasiões eram aproveitadas observância das práticas Reino Vizinho até às povoações para acalentar teias de Mosaicas. A feira e os contactos que se poderiam encontros fortuitos eram revelar fundamentais em caso propícios à observância da Lei de fuga às malhas do Tribunal Velha, bem como à de Santo Oficio e quebrar o dogmatização daqueles que isolamento em que a por diversas razões se tinham comunidade cristã-nova de afastado. de S. Fellice dos Galegos e Salamanca. Estes locais funcionavam, além do pressuposto comercial, como locais de atracção para o convívio religioso. Proporcionavam contactos com comunidades judaízantes, permitindo aprender ou relembrar aspectos da essência e prática Vila Nova de Foz Côa estava, em princípio, voltada. Com o desaparecimento dos locais oficiais de culto, Esta pode ter sido uma forma, ainda que diferente, de continuar a tradição religiosa judaica. tornou-se necessário recriar Bibliografia Fontes Manuscritas Arquivo Diocesano de Lamego - Registos Paroquia de Vila Nova de Foz Côa - Livro de registo de Baptismos: 1654 – 1676; 1676 – 1691; 1691 – 1704; 1704 – 1718; 1718 – 1726; 1726 – 1729; 1729 – 1737; 1737 – 1744; 1744 – 1750; 1750 – 1756; 1756 – 1764 - L IVROS DE CASAMENTOS : 1658 – 1666; 1668 – 1708; 1708 – 1727; 1727 – 1745; 1745 – 1774 - LIVROS DE ÓBITOS : 1658 – 1676; 1676 – 1698; 1698 – 1715; 1715 – 1724; 1724 – 1735; 1735 – 1742; 1744 – 1759 - Livros Mistos: Casamentos – 1632 – 1654 Óbitos – 1634 – 1652 neps boletim informativo 0 Dezembro de 2006 35 Oportunidade e Disfarce... Aida Carvalho Arquivo Nacional da Torre do Tombo NÚCLEO DA INQUISIÇÃO DE LISBOA: - Processos do Tribunal de Inquisição de Lisboa nº 6; 2134; 11499. N ÚCLEO DA INQUISIÇÃO DE COIMBRA : - Processos do Tribunal de Inquisição de Coimbra nº. 5477; 9050; 9249; 5869; 6129; 6511; 9566; 9569; 9771; 9785; 288; 334; 350; 617; 8274; 1128; 1127; 1729; 1763; 8588; 8611; 2500; 2592; 2620; 3253; 8700; 3524; 3644; 4126; 4152; 5026; 9199; 2631; 7104; 1135; 7208; 8599; 1134; 3074; 8598; 1949; 8594; 1125; 6959; 7482; 532; 6162; 5950; 43; 2161; - LISTAS DOS AUTOS -DE -F É Lº 5 - Listas dos Autos-de-Fé de 1567 – 781 CONSELHO GERAL DO Lº 433 SANTO OFÍCIO - «Cartas del Rey, Portarias e Ordens do Governo» 1584 – 1632 - Formulários para interrogatórios séc. XVI Lº 88 Lº38 - Formulários para a organização de processos, interrogatórios, despachos, sentenças, tormentos, pareceres sobre proposições e casos particulares secs. XVI-XVII - Regimento do conselho Geral do Santo Ofício 1570 Lº 480 D ICIONARIO GEOGRAPHICO , PE . LUIZ CARDOSO ( 1748) PÁG . - MEMÓRIAS P AROQUIAIS DE 1758, VOL . 16, N º 325 FOLHAS Lº297 334 867-877 - Leitura Nova Além Douro Lº 1 § Biblioteca Pública Municipal do Porto - Descripção da província de Trás-os-Montes, suas comarcas e população, feita no anno de 1796. Mss. 186 e 486 (cópia), reservados. Fontes Impressas e Bibliografia AFONSO, Berta - Os poderes da inquisição e a marginalização feminina: o processo de Maria Brandoa (Mogadouro, 1652). Actas do Congresso Histórico 450 Anos da Fundação da Diocese de BragançaMiranda. Bragança: Outubro, 1996. AMORIM, Maria Norberta – Método de Exploração dos Registos Paroquiais. Cardanha e a sua População de 1573 a 1800. Lisboa: Centro de Estudos Demográficos do I.N.E., 1980. - Método de exploração dos livros de registos paroquiais e reconstituição de famílias. Guimarães: ed. Autor, 1982. 36 neps boletim informativo 0 Dezembro de 2006 Oportunidade e Disfarce... Aida Carvalho AZEVEDO, D. Joaquim de, - História Eclesiástica da cidade e Bispado de Lamego. Porto: Tip. do Jornal do Porto, 1877. AZEVEDO, J. Lúcio – Os processos da Inquisição como Documentos da História. Separata do «Boletim da Classe de Letras», Vol. XIII . Coimbra: 1921. BRAGA, Isabel M. R. Mendes Drumond; BRAGA, Paulo Drumond – Jerónimo de Sousa por terras de Trás-os-Montes, em 1583. Actas do Congresso Histórico 450 Anos da Fundação da Diocese de Bragança-Miranda. Bragança: Outubro, 1996. CARVALHO, Aida Maria Oliveira – A comunidade Cristã-Nova de Vila Nova de Foz Côa: Rupturas e Continuidades, século XVII-XVIII. Câmara Municipal De Vila Nova de Foz Côa, 2001. CASAR, Maria Fuencisla Garcia – El Pasado Judio de Salamanca. Salamanca: Diputación de Salamanca y la autora, 1987. CASTRO, António Pimenta de – Os Judeus na obra de Trindade Coelho. Mogadouro: Câmara Municipal de Mogadouro, 1998. 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Lisboa: editorial Presença, 1943, pp. 146-147. 10 Cf. MENDES, José Maria Amado, ob. Cit. p. 99. 11 AZEVEDO, D. Joaquim de, ob. cit., p.192. 12 AZEVEDO. D. Joaquim de, História Elesiástica da Cidade e Bispado de Lamego escrita por...e continuada por um cónego da Sé de Lamego. Porto: Tip. Do Jornal do Porto, 1877, p.191. 13 A.N.T.T.Cardoso, Pe. Luiz ( 1748) - Dicionario Geographico, pág. 334 14 Ibibem p. 336. 15 Idem, pág. 338. 16 A.N.T.T. Inq. de Coimbra, Proc. Nº 43. 17 A.N.T.T., Inquisição de Coimbra, Proc. Nº. 1382. 38 neps boletim informativo 0 Dezembro de 2006