O sacramento da Ordem
Desde os tempos apostólicos a Igreja
serviu-se de um rito que chamamos ordenação .
Esse rito a teologia católica considera como um
dos sete sacramentos. “Pela sagrada Ordenação,
alguns fiéis são instituídos em nome de Cristo e
recebem o dom do Espírito Santo, para
apascentar a Igreja” (RT 01).
O ministério Pastoral na História
1 - No Novo Testamento
Os escritos do NT mencionam uma grande variedade
de ministérios e funções no seio da comunidade cristãs.
Jesus instituiu doze para serem seus companheiros e para
envia-los a pregar (Mc 3,13-14);
A eleição dos doze mostra a vontade de Jesus de
prolongar sua missão e sua obra na Igreja através de seus
eleitos. A tradição considerou os apóstolos como raiz e
fonte de todo o ministério;
Além dos doze e dos setenta, aparece um primeiro
grupo formado por apóstolos, profetas e doutores (1Cor
12,28; Ef 2,20; 3,5; 4,11) juntamente com os evangelistas
(Ef 4,11; At 21,8; 2Tm 4,5), se ocupam em pregar o
Evangelho e estabelecer novas comunidades de crentes;
A Igreja apostólica deu-se os ministérios que julgou
necessários para o bom funcionamento das comunidades e
os concebeu como uma diaconia à comunidade;
Os escritos do NT guardam silêncio sobre a forma
segundo a qual eram designados ou investidos em seu
ofício a maioria dos ministros mencionados.
No NT há três passagens que descrevem
uma liturgia de Ordenação:
1) At 6,1-3 os sete que deveriam servir as mesas.
Eleição pela comunidade, imposição das mãos e oração
pelos apóstolos;
2) At 13,3-4 missão de Paulo e Barnabé. Jejum e
oração, imposição das mãos por profetas e doutores;
3) 1Tm 4,14e 2Tm 1,6 palavra profética e imposição
das mãos que confere o carisma de Deus de modo
duradouro.
2 – Na Igreja Antiga
a) Os ministérios nos séculos II e III
Entre o final dos tempos do NT e o começo do
século II, aconteceram dois fatos importantes:
1) A consolidação da trilogia de ministérios
estáveis (bispo, presbítero e diácono);
2) O aparecimento do episcopado monárquico.
b) O primeiro ritual : Traditio Apostólica de Hipólito;
Ordenação de bispo: Eleito por todo o povo. Ordenado
num domingo na presença de
toda a comunidade e de alguns
bispos vizinhos;
Ordenação de
presbíteros:
É uma ordenação ao sacerdócio.
Ouvido o parecer do clero e do
povo, juntamente com o bispo
impõem as mãos os presbíteros;
Ordenação
de diácono:
Não é ordenado para o sacerdócio,
mas para o serviço do bispo. Só o
bispo impõe as mãos.
c) Os ministérios nos séculos IV-VI
A atenção atinha-se sobre três funções ministeriais:
testemunho,
liturgia
e
serviço.
Harmonizavam
uma
consciência clara da unidade do ministério como missão
ao serviço do projeto divino de salvação. Apresentam os
ministros em vinculação estreita com a comunidade local.
Os escritos dos padres são abundantes em doutrina sobre
deveres e responsabilidades dos pastores.
Tal equilíbrio doutrinal seria logo perturbado por uma série
de fatores históricos:
1) A mudança no estatuto social resultando na
aliança entre a Igreja e o Estado;
2) Começam as transferências dos bispos e as
ordenações absolutas (sem vinculação com uma
comunidade concreta);
3) As diferentes ordens já não se concebem como
funções ou serviços, mas como graus ou promoções;
4) Já não é a comunidade que faz a designaçãoeleição dos seus ministros, mas os colegas do eleito;
5) O costume de ordenar monges para o presbiterato
sem nenhum cargo pastoral;
6) A generalização do celibato e da vida em comum
entre os clérigos.
d) As ordenações nos séculos IV-VI
Na ordenação do bispo apareceu um rito novo:
durante a oração consecratória os diáconos têm os
evangelhos abertos sobre a cabeça do ordenando;
Na ordenação do presbítero não se menciona a
imposição das mãos pelos presbíteros;
Na ordenação do diácono a oração evoca Santo
Estevão como paradigma do diácono. Pede para o
ordenando mansidão e amor aos órfãos e às viúvas.
3 – Na alta Idade Média
Contentaram-se em repetir as idéias que lhes
chegavam da época patrística. Ocuparam-se em propor
e resolver a questão da distinção dos ministérios entre
si em termos de poderes;
A atenção se foi concentrando nos poderes
cultuais dos ministros, mais concretamente no poder de
celebrar a eucaristia. Esse foi um passo fundamental no
processo se “sacerdotização” dos ministérios.
4 – Na baixa Idade Média
Durante o período escolástico, o pensamento sobre
os ministérios não avançou muito, devido a falta de uma
eclesiologia adequada. Na época predominava a
mentalidade jurídica;
A escolástica preocupou-se antes de tudo em
sintetizar a doutrina comum sobre os ministérios;
Contudo, ninguém considera a ordenação como um
ato puramente jurídico; ao tratar dos efeitos do
sacramento, não deixam de mencionar a graça do Espírito;
Não houve grandes inovações. Não fizeram mais do
que sobrecarregar o rito. O rito da consagração episcopal
mudou de contexto e se encontra agora junto com os
ritos de consagração de reis e imperadores.
5 – De Trento até o século XX
a) Os ministérios segundo a Reforma e segundo o Concílio
de Trento
Devido a então concepção exageradamente
sacramental do ministério, Lutero combateu a doutrina
católica dos ministérios. Principais pontos de sua crítica:
1) Na nova aliança não há outro sacerdote senão
Cristo;
2) Contudo, pelo batismo todos os membros de
Cristo são sacerdotes. Do ponto de vista do sacerdócio,
há igualdade de direitos e poderes na Igreja entre todos
os batizados. A distinção entre sacerdotes e leigos não é
de instituição divina; provém da ambição de algumas
pessoas;
3) A ordem não é sacramento, porque não tem
promessa de graça. É apenas um rito de origem
eclesiástica para habilitar certas pessoas para
determinados ministérios ou serviços;
4) O ministério é o ministério da palavra. A idéia de
um sacerdócio sacrificial é incompatível com a unicidade
do sacrifício e do sacerdócio de Cristo;
5) Deixa de ser ministro aquele que deixa de pregar
a palavra;
6) A Igreja se dá a si mesma os ministérios de que
necessita.
No Concílio de Trento, propôs-se condenar os
erros dos reformados em matéria de ministérios.
Contemplava os ministérios predominantemente a partir
da consideração do presbitarato e a partir do poder de
consagrar, oferecer e administrar o corpo e o sangue de
Cristo e de perdoar e reter os pecados.
O Concílio afirmou:
1) A ordenação é um sacramento verdadeiro e próprio,
instituído por Cristo;
2) O Espírito Santo imprime um caráter indelével;
3) Existe uma hierarquia divina que consta de bispos,
presbíteros e diáconos.
b) Os ministérios na teologia pós-tridentina
Depois de Trento, a teologia dos ministérios pouco
avança. Os teólogos continuaram apegados às questões
já debatidas na escolástica, especialmente sobre a
sacramentalidade das diferentes ordens. Sobre a matéria
e a forma de cada uma delas;
Desenvolve-se uma literatura mística sentimental,
que exaltava a dignidade e os poderes dos sacerdotes,
estabelecendo comparações entre estes e os anjos e até
a Virgem Maria.
6 – Em nossos dias
a) A renovação contemporânea
Depois da segunda guerra mundial, fortaleceu-se o
debate sobre a natureza do sacerdócio;
A relação ministério-comunidade articulou-se de
maneira diferente daquela estabelecida no passado.
Voltou-se à linguagem do NT e dos padres, que falavam
antes de serviço. A revalorização do sacerdócio comum
dos batizados. Resgatou-se o esquema tradicional:
testemunho, liturgia e serviço.
b) Os ministérios no Concílio Vaticano II
O Concílio falou dos ministérios no contexto do
ministério da Igreja, levando em conta a igualdade
radical de todos os batizados. Deu primazia ao
sacerdócio comum dos fiéis;
Para descrever as funções das diferentes ordens,
adotou-se o esquema da tríplice função: profética,
litúrgica e de governo.
c) O ritual de ordenação de Paulo VI
A reforma dos ritos de ordenação pretende
harmonizar o ritual com a teologia dos ministérios
expressa nos documentos conciliares;
O novo rito foi publicado no ano de 1968. Em
1972, foram supressos o subdiaconato e as ordens
menores; mantêm-se o leitorato e o acolitato como
categoria de ministérios. A tonsura como entrada no
estado clerical foi substituída por um simples rito de
admissão de candidatos ao diaconato e ao presbiterato;
Segundo o novo ritual, a ordenação do bispo, do
presbítero e do diácono tem lugar dentro da celebração
eucarística, depois da liturgia da palavra. Buscou-se
maior simplicidade, destacando o momento central.
Consta de três partes: ritos de introdução, rito central e
ritos explicativos.
1) Rito de preparação: Chamada e apresentação dos
candidatos ao bispo, sua
eleição, a alocução do bispo, o
diálogo entre este e os
candidatos, as ladainhas dos
santos;
2) O rito central:
É construído pela imposição das
mãos e a oração consecratória;
3) O trabalho de
esclarecimento:
Explicitação plasticamente das
riquezas contidas no núcleo
central.
d) A crise sacerdotal do pós-concílio
A dificuldade de assimilar a nova imagem do
ministério e a desorientação pela mudança de seu
estatuto social numa sociedade secularizada. Um
sintoma foi o elevado número de desistências
sacerdotais e a drástica diminuição do número de
ordenações.
Ficou difícil de mover-se com equilíbrio num
campo de tensões entre verdades paradoxais:
ontologismo estático ou empirismo funcional, missão
ou consagração, abertura ao mundo ou segregação, o
vertical ou o horizontal, dom do alto ou missão
recebida da comunidade, poder ou serviço, unidade de
ministério ou pluralidade de funções.
7 – Os símbolos da Ordenação
A igreja se serviu de muitos símbolos. Com eles
quis exprimir o rico significado que atribui à ordenação.
Entre todos sobressai a imposição das mãos: utilizada
desde as origens por todas as tradições litúrgicas.
Representa o rito essencial da ordenação.
1) Imposição das mãos: orienta para a idéia de
transmissão de um ofício e comunicação do espírito –
força, graça, poder. Sua origem provavelmente é judaica.
Moisés impõe as mãos sobre se sucessor Josué para
comunicar-lhe sua missão, sua autoridade e seu espírito.
Impõe-se as mãos a alguém para enviá-lo a uma missão
ou para confiar-lhe uma tarefa de direção na comunidade.
2) Imposição do livro dos evangelhos sobre a cabeça
do candidato: algumas vezes recorda as línguas de fogo
que pousaram sobre as cabeças dos apóstolos. Outras
vezes significa que ele está sujeito a uma autoridade;
3) Unções: No AT significava a superioridade do
sacerdócio. As autoridades eram ungidas. Era uma
consagração que conferia poder de abençoar e consagrar;
4) Símbolo correspondente a cada ordem ou poder: A
entrega do livro dos evangelhos aos bispos e aos diáconos
sublinha o ministério da palavra. A entrega do pão e do
vinho aos presbíteros enfatiza a presidência da eucaristia;
5) Imposição das vestes características: Apontam para
a função que lhes correspondem ao âmbito do culto;
6) Os quatro ritos peculiares com que se realiza a
ordenação de um bispo – imposição do anel e da mitra,
entrega do báculo e intronização na cátedra –
descrevem plasticamente a situação do bispo com
relação à sua igreja: como esposo, chefe, pastor e
doutor;
7) O beijo de paz que os ordenados recebem de
seus colegas da ordem: É uma expressão tradicional da
significação da ordenação como agregação a um corpo
ou colégio.
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