Ano V - Número 82 Informativo quinzenal da Pontifícia Universidade Católica de Campinas 16 a 29 de março/2009 www.puc-campinas.edu.br Fotos: Ricardo Lima Essa tal felicidade... A felicidade está na pauta das discussões de cientistas, psicólogos e filósofos. Até a Organização das Nações Unidas (ONU) reconhece como um medidor do progresso de um país o índice Felicidade Interna Bruta (FIB). A ciência já descobriu que a Genética interfere na felicidade de uma pes- soa; a Psicologia reconhece a influência do ambiente na condição de ‘ser feliz’ e diversas reflexões sobre o tema já foram feitas por diferentes filósofos, em momentos distintos. Mas em um ponto os pesquisadores são unânimes: cada um tem Páginas 04 e 05 sua base para a felicidade. Museu do Futebol Os alunos Ana Gabriela Pinesso Prado, da Faculdade de Jornalismo e Ademilson Ramos, da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) visitaram o novo Museu do Futebol, localizado no Estádio do Pacaembu, em São Paulo, com a equipe de reportagem do Jornal da PUC-Campinas. O local, que mescla a tecnologia e a interatividade, conta a história do futebol brasileiro, que faz parte da cultura do país. Página 08 MURAL PATATIVA DO ASSARÉ: 100 ANOS O maior poeta popular do Brasil e da América Latina, o cearense Patativa do Assaré, completaria cem anos se estivesse vivo. Cantado em verso e prosa, Patativa teve seus versos musicados por grandes nomes da música brasileira, como Luiz Gonzaga, Fagner, Chico Buarque e pelo grupo pernambucano Cordel do Fogo Página 07 Encantado. De 23 a 25 deste mês, uma Comissão Externa de Avaliação Institucional do MEC visitará a PUC-Campinas. Página 06 02 16 a 29 de março/2009 Jornal da PUC-Campinas Editorial Cultura autoritária alimenta a impunidade alar da impunidade é falar de um problema que vivenciamos no cotidiano. Não só porque parece “faltar” algo quando os meios de comunicação não nos mostram algum fato novo, mas, sobretudo, porque sentimos na carne a lentidão da justiça quando se trata de lidar com os pobres e na sua presteza em acudir os poderosos. Mais ainda: uma lentidão posta a serviço dos que têm meios de garantir indefinidamente a tramitação dos processos de que são vítimas. E, se condenados, as garantias de “prisão especial”, de habeas corpus, fatos tão corriqueiros que levam a um descrédito generalizado nas instituições, mais especificamente naquelas ligadas à justiça. Há também uma espécie de reação. A sociedade organizada consegue assegurar direitos antes inimagináveis. Os meios de comunicação vivem dos anunciantes – poderosos – mas, para assegurar a fidelidade do leitor, dão espaço à defesa do consumidor. Também faz parte da realidade uma reação surda presente em ditos populares, como aquele dito no Brasil que só vão presos os pobres, negros e prostitutas. E aqueles que dão de ombros quando injustiçados, pois sabem, de antemão, que perderão tempo, saúde com carimbos, atestados, documentos, provas. Resignar-se como tentativa de manter a sanidade. O que temos aqui é um dos retratos da sociedade de classes, suficiente para levar muitas pessoas a verem a Constituição Brasileira, que preconiza como fundamento a igualdade de todos perante a lei, como ideologia em estado puro. O risco dessa visão é ignorar que essa afirmação fundante é a garantia que, no mínimo, permite lutar por garantias e conquistas, ainda que pequenas. Uma longa tradição histórico-cultural, marcada por um viés autoritário, F constitui característica de nossa formação social. O fenômeno do coronelismo, a política da troca de favores, do apadrinhamento contribuíram para, de forma velada, ocultar o braço do forte que oprime o fraco. A opressão aparece sob a marca do favor. Marco de uma cultura autoritária. Torna os poderosos ciosos de sua dignidade e certos de sua impunidade. Não fora isso o que levaria a norte-americana Dorothy Stang, religiosa de 78 anos, desarmada, a caminho de seu trabalho com os pobres, a ser morta por pistoleiros? Uma visão moralista pode reduzir isso à crueldade e até mesmo a desvios comportamentais, explicáveis por uma psicologia de manual. E, anos depois, nenhum dos responsáveis estar preso? Costuma-se ver no Livro de Jó uma espécie de convite à aceitação da "impunibilidade", um elogio à paciência, mesmo quando a vida pessoal e social não justifica qualquer espécie de castigo. Antonio Negri, intelectual, ex-militante da luta armada na Itália nos anos 70, redescobre Jó. Um homem que não confunde existência e destino. Face à prova a que é submetido por Deus, Jó não se arrepende, não se retrata, não se justifica. Redescobre-se a si mesmo no momento em que se defronta com o infinito e o santo do qual é criatura: é colhido por sua finitude ao receber a revelação de um infinito. O poeta espanhol Rafael Alberti faz uma leitura política dos aparentemente impunes. Sua situação de impunidade assemelha-se à morte. Homenageando o poeta Pablo Neruda, diz dos ditadores: “No morireis, cuervos sangrientos de sangrientas uñas; no morireis porque estais muertos !” Padre Wilson Denadai Reitor da PUC-Campinas Notas Professor da PUC-Campinas recebe título de Pesquisador Sênior pelo CNPq Comissão Europeia quer atrair jovens brasileiros Agenda Fotos: Ricardo Lima O professor e assessor da Pró-Reitoria de Graduação da PUC-Campinas, Newton César Balzan, recebeu, no mês de fevereiro, do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), o título de Pesquisador Sênior, considerado o grau máximo da carreira de pesquisador. Recebem o título apenas os pesquisadores que tenham uma constante produção científica em sua área de atuação e mais de 10 anos de carreira como pesquisador na categoria 1A, considerado o mais alto nível de pesquisa do CNPq. Com a nova denominação, o professor terá seu título renovado a cada seis anos, além de continuar como avaliador de projetos e pedidos de bolsa. De acordo com o docente, o novo cargo é um reconhecimento do trabalho como pesquisador. “É um passo importante, porque a carreira como pesquisador exige muita dedicação”, afirmou o professor. A carreira de Balzan como pesquisador no CNPq começou em 1986, mas desde 1975 ele orienta teses, dissertações, trabalhos científicos e teve textos publicados em livros e revistas acadêmicas. Formado na área de Ciências Humanas (Geografia e História) pela Universidade de São Paulo (USP), ele fez seu doutorado em Educação na USP e UNESP e seu pós-doutorado na Universidade de Boston, nos Estados Unidos. Há 22 anos como professor da PUC-Campinas, Balzan sempre dedicou suas pesquisas a temas relacionados à avaliação de ensino superior, avaliação institucional e formação de professores. Além de ser professor titular da PUCCampinas, ele é docente aposentado pela Unicamp. Para o professor, títulos como o do CNPq são um incentivo para a pesquisa no país. “O Brasil precisa de pesquisa em muitas áreas básicas, com destaque à área educacional. As pesquisas dão vida ao ensino em salas de aulas e laboratórios, exigem muita reflexão, atualização permanente e dedicação por parte do pesquisador”, disse. Professor de Filosofia lança livro de elaboração de projetos e monografias O professor da Faculdade de Filosofia e Direito e coordenador do Núcleo de Pesquisa, do Centro de Ciências Humanas Sociais Aplicadas (CCHSA) da PUC-Campinas Samuel Mendonça lança este mês o livro ‘Projeto e Monografia Jurídica’, que, na sua 4ª edição, está totalmente atualizado. A publicação tem como objetivo orientar os estudantes de Direito e também os da área de Ciências Humanas na elaboração de projetos. Entre os temas abordados pelo livro estão normas técnicas da ABNT e discussões relativas à teoria do conhecimento. O livro já está à venda no site www.millenniumeditora.com.br e custa R$ 22,00. A Comissão Europeia escolheu o Brasil como foco do programa educacional “Study in Europe”, em 2009. O objetivo é atrair os jovens brasileiros às instituições de ensino superior de 32 países europeus, como Reino Unido, França, Portugal, Islândia, Lituânia e República Checa, entre outros. No ano passado, mais de 12 mil brasileiros estudaram em universidades europeias. Criado em 2007, o “Study in Europe” é um projeto destinado a jovens de todo o mundo, embora, neste momento, o foco da Comissão Europeia sejam os países que compõem o BRIC (Brasil, Rússia, Índia e China). A opção deve-se pelo fato de que essas nações apresentam potencial econômico e um grande número de estudantes. No ano passado, o alvo foi a Rússia e, em 2009, as atenções se voltam para o Brasil. O programa “Study in Europe” será oficialmente apresentado no Brasil durante a ExpoBelta, tradicional feira de educação, que ocorre de 27 a 29 de março, na capital paulista. Mais informações podem ser obtidas por meio do site www.study-in-europe.org. Nesse espaço, os interessados encontram, em português, dados sobre os países participantes, as universidades e o que é necessário para viver e estudar no exterior. Missa dos Universitários No próximo dia 29, às 19 horas, será realizada a Missa dos Universitários da Paróquia Divino Salvador, presidida pelo padre João Batista Cesário, da Pastoral Universitária da PUCCampinas. Na ocasião, serão homenageados os alunos que ganharam o concurso para criação do cartaz da Campanha da Fraternidade 2009 e os professores orientadores da Agência Experimental (Agex), da Faculdade de Publicidade e Propaganda, do Centro de Linguagem e Comunicação (CLC), da PUC-Campinas. A Igreja está localizada na Avenida Júlio de Mesquita, 126, Cambuí. 16 a 26/03 Período de inscrição para o Processo Seletivo do Crédito Educativo APLUB 17/03 Divulgação do cronograma das atividades de Monitoria para o 2º semestre de 2009 19/03 Reunião do CONSUN 23/03 Início das atividades de Iniciação à Extensão 27/03 Data-limite para pedido de trancamento de matrícula dos alunos dos cursos de Graduação e dos cursos dos Programas de Pós-Graduação stricto sensu Desenvolvimento regional é tema de palestra A Faculdade de Ciências Econômicas da PUC-Campinas realiza no dia 20 de março a palestra “A discussão sobre a importância do desenvolvimento regional no processo de desenvolvimento econômico nacional”. Ministrada pela diretora do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Liana Maria da Frota Carleial, a palestra tem como objetivo discutir a importância do desenvolvimento regional para a economia nacional. O evento será realizado no Auditório Dom Gilberto, no Campus I, às 19h30. Expediente Reitor- Padre Wilson Denadai; Vice-reitora - Angela de Mendonça Engelbrecht; Conselho Editorial - Wagner José de Mello, Rogério Bazi e Sílvia Regina Machado de Campos; Coordenador do Departamento de Comunicação - Wagner José de Mello; Editora - Ciça Toledo (MTb. 14.181); Repórteres - Adriana Furtado, Ana Paula Souza e Raquel Lima; Revisão - Marly Teresa G. de Paiva; Fotografia - Ricardo Lima; Tratamento de Fotos - Marcelo Adorno; Projeto Gráfico e Editoração Eletrônica - Neo Arte; Impressão - Grafcorp; Redação - Campus I da PUC-Campinas, Rodovia D. Pedro I, km 136, Parque das Universidades. Telefones: (19) 3343-7147 e 3343-7674. E-mail: [email protected] Jornal da PUC-Campinas 16 a 29 de março/2009 03 Opinião Um basta à impunidade Dalmo de Abreu Dallari o ponto de vista jurídico, a punição não é um ato de vingança ou um castigo, mas sim um ato de justiça. Para que se caracterize a punição e para que ela não se confunda com alguma forma de violência contra a pessoa humana, é indispensável que sejam atendidos vários pressupostos, como a existência de regras jurídicas previamente estabelecidas que deem a base legal para o exercício, com legitimidade do direito de punir. Mas é importante acrescentar que, observados os pressupostos legais, a punição, além de ser um direito, é uma obrigação, não uma faculdade da autoridade que tem competência legal para punir os faltosos. Não pode a autoridade pública, a seu arbítrio, conceder privilégios de qualquer espécie, criando uma categoria de criminosos privilegiados e deixando de cumprir sua obrigação de punir. Um ponto essencial que deve ser ressaltado para que se perceba que a impunidade prejudica direitos de todo o povo é que o direito de punir não decorre de alguma convicção política específica ou dos interesses de algum governo, mas está sempre ligado a um interesse social. Com efeito, aquele que pratica ato ilegal em prejuízo do interesse público causa um D Galeria “É tempo de se iniciar uma intensa campanha de âmbito nacional pela punição dos corruptos, envolvendo-se nessa campanha os mais diversos segmentos da população, órgãos da grande imprensa e também autoridades que prezem sua dignidade…” dano imediato a todo o povo, mas, além disso, causa também um prejuízo indireto pela desmoralização das instituições e pelo desvio ilegal de recursos que deveriam ser usados no atendimento de necessidades essenciais da população. Assim, pois, existe interesse social na punição dos faltosos, o que torna necessária a punição quando ocorrer uma hipótese em que ela é cabível. Cabe lembrar aqui a lição do grande jurista italiano Cesare Beccaria, quando, na sua obra clássi- ca sobre os delitos e as penas, observa que, mais do que a intensidade da pena, o que importa é a certeza da punição, que pode desencorajar a reincidência. Em sentido oposto, haverá incentivo à prática de novos crimes se o autor e outros que pretenderem seguir o mesmo caminho tiverem a certeza de que em relação a eles estará garantida a impunidade. Tudo isso merece especial atenção no Brasil de hoje pela ocorrência de práticas flagrantemente ilegais e obviamente antissociais, cujos autores, escudados no poder econômico ou encastelados em altos postos da vida pública e protegidos por autoridades e agremiações políticas coniventes, têm a convicção de gozarem do privilégio da mais absoluta impunidade. Essas ilegalidades manifestas ocorrem em contratações por órgãos públicos, assim como na distribuição de recursos públicos por critérios imorais e ilegais, visando, antes de tudo e sem qualquer consideração pelo interesse público, o favorecimento de amigos, parentes e sócios na distribuição dos recursos. Isso também ocorre na prática de fraudes financeiras, de contrabando e de sonegação fiscal. Muitas denúncias dessas ilegalidades, apesar de bem fundadas, são sufocadas pelos que têm o dever de punir os corruptos. E os autores, às vezes protegidos e auxiliados por agentes públicos da mais elevada posição hierárquica, estão absolutamente segu- ros de sua impunidade e, por isso, persistem nas práticas ilegais e altamente prejudiciais aos interesses do povo brasileiro. É tempo de se iniciar uma intensa campanha de âmbito nacional pela punição dos corruptos, envolvendose nessa campanha os mais diversos segmentos da população, órgãos da grande imprensa e também autoridades que prezem sua dignidade, tenham verdadeiro espírito público e não fiquem intimidadas pela força econômica ou política dos corruptos. Quem tem o direito de punir tem também o dever de impedir a impunidade dos que menosprezam o direito, os interesses e a dignidade do povo brasileiro. Arquivo pessoal Dalmo de Abreu Dallari é jurista e professor Emérito da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo O QUE VOCÊ ACHA QUE DEVE SER FEITO PARA ACABAR COM A IMPUNIDADE NO BRASIL? Fotos: Ricardo Lima “O que vale na hora de votar, para a maioria das pessoas, é a aparência do candidato. E se o político tiver uma boa apresentação e retórica, fica mais fácil manipular as pessoas. Nesse caso, é difícil conter a impunidade política, já que há muitos corruptos no governo.” Marcelo Magalhães - Aluno do 2º ano da Faculdade de Filosofia “Creio que poderia haver leis que acompanhassem de perto o trabalho dos parlamentares, para que fique mais difícil de se praticar a corrupção. Acredito que a população deveria ser mais participativa na escolha dos políticos.” Nayla Toretta – Aluna do 4º ano da Faculdade de Jornalismo “É difícil pensar em acabar com a impunidade, porque existe todo um sistema que impede. Mas acredito que as pessoas deveriam pesquisar mais sobre a vida dos candidatos, na época das eleições, para observar o caráter de quem estão votando.” Fabiano Facio – Aluno do 1º ano da Faculdade de Publicidade e Propaganda “Penso que faltam exemplos para os jovens, tanto por parte dos pais, quanto da parte política desse País. É necessário que os jovens tenham bons exemplos, para que nosso povo seja mais honesto.” Márcia Miranda – Assistente Administrativa do Comitê de Ética da PUC-Campinas “O Brasil deveria investir mais em cultura, para que a população tivesse mais conhecimento e, assim, mais argumentos e poder de palavra para exigir uma postura ética dos políticos.” Marcos Antônio Souza – Funcionário da PUC-Campinas e aluno de Engenharia Elétrica “A questão da impunidade refere-se a um modelo de estado ineficiente, que age com distinção de classes na hora de cobrar cumprimento de leis. Fazer com que todos sigam as leis igualitariamente é uma forma de combater a impunidade.” Geisa Mendes – Professora da Faculdade de Pedagogia “A partir do momento que se cumpram as leis existentes e os direitos e deveres de toda a população, de maneira justa e igualitária, já estaremos combatendo a impunidade. Acredito que a mídia tem um papel fundamental na fiscalização das atividades do poder público.” Paulo Lot Júnior – Professor da Faculdade de Administração “Acho que o primeiro passo é criar uma consciência política para que as pessoas descubram o que é ser cidadão e, assim, fiquem conscientes de seus direitos e deveres para com a comunidade que vivem.” Orlanda Dias Rodrigues – Aluna da Faculdade de Filosofia Imagem AULA MAGNA O senador da República Pedro Simon (PMDB-RS) esteve, no dia 9 de março, na PUC-Campinas para ministrar no Auditório Dom Gilberto, no Campus I, a Aula Magna 2009, que marca o início do ano letivo da Universidade. A aula teve como tema a Campanha da Fraternidade 2009, que é “A paz é fruto da justiça”. No mesmo dia, o senador visitou o Centro de Ciências da Vida (CCV) e o Hospital e Maternidade Celso Pierro da PUC-Campinas, no Campus II, acompanhado pela vice-reitora Angela de Mendonça Engelbrecht, pelo diretor da Faculdade de Medicina, José Espin Neto e outros diretores, professores e funcionários. Fotos: Ricardo Lima O critério “O DA IMPUNIDADE não É jurídico, é MORAL”. Juarez Tavares, doutor em Direito, é subprocurador-geral da República. 16 a 29 de março/2009 04 Jornal da PU polêmica Qual é a base da sua felicidade? “Acredito que conquistar os meus objetivos e alcançar o sucesso profissional é a base da minha felicidade.” Luis Torres – Aluno do 2º ano da Faculdade de Odontologia FELICIDADE est Tema é objeto de discussão da ciência, Psicologia e Filosofia. Até a Organização das Nações Unidas (ONU) reconhece o índice Felicidade Interna Bruta (FIB) como um medidor do progresso de um país Raquel Lima [email protected] “A minha felicidade é o meu jardim. Nos finais de semana, passo mais de três horas cuidando dele, faço isso há 20 anos.” Ângela de Campos Trentin – Diretora da Faculdade de Nutrição “Escutar os problemas das pessoas e ajudar da melhor maneira possível, na base da conversa.” Antonio Carlos Valota Francisco – Aluno do 1º ano da Faculdade de Psicologia “A minha felicidade está na religião cristã e para alcançá-la é preciso estar bem espiritualmente.” Andrius Sperque – Aluno do 2º ano da Faculdade de Engenharia de Computação “A minha felicidade está em ajudar os jovens e crianças a resgatar valores desgastados, como a família e amigos.” Adriana Angélica dos Santos - Funcionária do Departamento de Serviços Gerais Foi o ateniense Sócrates (470-399 a.C.) quem iniciou a discussão, há mais de dois mil anos. Mas hoje, em pleno século 21, a humanidade ainda busca respostas sobre a felicidade. O que é, onde e como encontrá-la? Será que todos podem ser felizes? É possível atingir a felicidade plena? A ciência já descobriu que a genética interfere, sim, na felicidade de uma pessoa. “Pesquisas já comprovaram que há genes que a favorecem. Esses genes, porém, não necessariamente trazem felicidade, mas oferecem o potencial para que a pessoa seja feliz”, explicou o professor da Faculdade de Biologia, do Centro de Ciências da Vida (CCV) da PUC-Campinas, Edmilson Ricardo Gonçalves. Por que isso ocorre? “Esses genes comandam a produção de determinados neurotransmissores, relacionados à sensação de bem-estar, como a endorfina, que é liberada, por exemplo, quando comemos chocolate ou praticamos exercícios físicos”, declarou. O que ainda falta, no entanto, é a identificação desses genes para o aprofundamento dos estudos. “Temos 26 mil genes e não sabemos a função da metade deles”, argumentou. A própria Psicologia se rendeu à felicidade. Há cerca de 20 anos os estudos sobre sentimentos negativos, como a tristeza, a angústia e a raiva, passaram a dividir espaço com a chamada ‘Psicologia Positiva’, que tem como objetivo analisar a relevância das emoções boas para o nosso equilíbrio físico e mental. “É de extrema importância que a Psicologia tenha a preocupação com tais aspectos, buscando descrever as contingências que controlam as emoções positivas, tais como a felicidade, pois, ao fazêlo, estará ajudando na promoção de uma vida mais feliz e bem-sucedida”, disse Sofia Helena Porto Di Nucci, professora da Faculdade de Psicologia, do CCV. É a partir da Psicologia que compreendemos a influência do ambiente em que vivemos no nosso grau de felicidade. “Com Skinner, psicólogo norte-americano, aprendemos que nossas emoções, tal como todos os comportamentos, são resultado de mecanismos que envolvem aspectos ontogenéticos e o ambiente. Portanto, ‘ser feliz’ é uma condição que aprendemos ao longo de nossa vida, com as pessoas com quem convivemos e com as condições que esse ambiente nos dispõe”, analisou. “A vivência da felicidade vem do aprendizado diário de conhecer e expressar os desejos e sentimentos, construindo os próprios projetos de vida e F Acima, o professor do Centro de Ciências da Vida (CCV) da PUC-Campinas Edmilson Ricardo Gonçalves; ao lado, o professor da Faculdade de Filosofia da PUC-Campinas Arlindo Ferreira Gonçalves Júnior e acima, à direita, a professora da Faculdade de Psicologia Sofia Helena Porto Di Nucci empenhando-se para realizá-los. À medida que o ambiente nos ensina a lidar desse modo com nossas emoções e nos gratifica pelas conquistas que geram tais emoções, este tem papel fundamental na construção da felicidade do ser humano”. Filosofia Diversas reflexões sobre o tema já foram feitas por diferentes filósofos, em momentos distintos. De acordo com Arlindo Ferreira Gonçalves Júnior, professor da Faculdade de Filosofia da PUC-Campinas, dentre algumas concepções de felicidade presentes na antiguidade, a noção desenvolvida por Aristóteles (384 a 322 a.C.) é a que merece destaque para a história da filosofia. “Aristóteles a faz reconhecer como sendo a própria realização de determinados bens, tais como a virtude e a sabedoria, e tende a identificá-la como uma atividade de rado, associando-a com plação”, explicou. O professor de Filo mação de Bertrand R várias noções filosófica feitas as necessidades vitais, de, para maioria dos hom trabalho e de suas relações No entanto, Gonça uma importante contri temporânea, principalm sua interpretação, está lógica, sobretudo ao co felicidade como finalid “Daí, podemos compre a satisfação de estar cu entre tantos, mas o dev os poros da existência” UC-Campinas 16 a 29 de março/2009 05 tá na pauta do dia e caráter racional e modem a faculdade de contem- osofia escolheu uma afirRussel para sintetizar as as atuais: “Uma vez satisa felicidade profunda depenmens, de duas coisas: de seu s com os outros”. alves Júnior ressaltou que ibuição da filosofia conmente pela atualidade de na corrente fenomenoompreender a noção de dade da vocação pessoal. eender a felicidade como umprindo não um dever ver que preenche todos ”, explicou. Qual é a base da sua felicidade? Fotos: Ricardo Lima “Moro longe da minha família, então, quando volto pra casa tento ao máximo aproveitar os momentos juntos.” Giullian de Castro – Aluna do 2º ano da Faculdade de Ciências Biológicas “Manter um bom relacionamento no trabalho e com a família e ter tempo para atividades como fotografia e cinema.” Lineu Fonseca – Professor da Faculdade de Medicina FIB, O ÍNDICE DE FELICIDADE A felicidade pode ajudar no desenvolvimento de uma cidade ou país? Para o índice de Felicidade Interna Bruta (FIB), sim. O conceito surgiu em 1972, no Butão, com o objetivo de permitir o desenvolvimento social e econômico do país. O FIB avalia questões como educação de qualidade, bem-estar psicológico, grau de felicidade, proteção ambiental, acesso à cultura, além dos Índices de Desenvolvimento Humano (IDH) conforme preconizado pela Organização das Nações Unidas. Para o diretor adjunto da Faculdade de Administração, Francisco Prisco Neto, o FIB permite um despertar da conscientização da sociedade. “As pessoas terão uma nova visão sobre desenvolvimento econômico e vão se dar conta dos danos que algumas atitudes podem causar para o país e para suas vidas”, explicou o professor. Na França, o presidente Nicolas Sarkozy instituiu uma comissão visando a proposição de um indicador que exprima também a felicidade e danos ambientais. Na Inglaterra está sendo desenvolvido um indicador que avalie a felicidade do planeta (Happy Planet); a China está desenvolvendo o PIB verde, pois descobriram que o PIB cresce em média 10 % ao ano, mas após os expurgos dos danos causados à natureza e sociedade esse número cai para "0". Finalmente no Canadá as autoridades estão estudando indicadores que demonstrem não só o desenvolvimento econômico, como o bem-estar das pessoas. Aqui, no Brasil, o FIB foi colocado em prática na cidade de Angatuba e no mês de outubro de 2008, a cidade de São Paulo sediou a 1º Conferência Nacional sobre FIB. De acordo com a professora Sofia, para a Psicologia não há uma definição sobre o que é felicidade, mas considerações sobre que condições produzem tal sentimento. Ela explicou que, de acordo com o norte-americano Martin Seligman (um dos expoentes da Psicologia Positiva) a felicidade é a soma de três coisas diferentes: prazer, engajamento e significado. Segundo ele, o prazer está relacionado a sensações positivas como, por exemplo, as que as pessoas costumam sentir no corpo quando estão dançando uma boa música. Já o engajamento, explicou ela, é caracterizado pela ênfase no envolvimento que a pessoa tem em relação à sua vida, é uma pessoa que tem uma participação muito ativa na vida. “O significado é nada mais do que a sensação de que nossa vida faz parte de algo que tem um significado maior. Segundo esse cientista, a busca da felicidade deve ser feita considerando esses três aspectos, não adianta se focar em apenas um, como por exemplo, o prazer sem se atentar para os outros dois.” “Assim, podemos nos sentir felizes diante de algumas situações gratificantes e prazerosas, mas trata-se de um estado ou uma condição momentânea”, completou. “Respeito é a base da minha felicidade. Assim que passarmos a respeitar mais as pessoas e o mundo à nossa volta seremos mais felizes.” Daniel Malhado – Aluno do 2º ano da Faculdade de Medicina “A felicidade começa dentro de casa. A partir disso, conquistamos outras coisas que nos fazem bem.” José Roberto Tessarollo – Funcionário do Departamento de Serviços Gerais “Impossível necessário” Na opinião do professor da Faculdade de Filosofia, não é possível atingirmos a felicidade plena. “Se eu considerar que a felicidade é aquilo pelo qual designo a realização da pretensão de minha biografia, e considerando que sou um ser projetivo, lançado sempre adiante, não posso considerar a ideia de felicidade plena, uma vez que me reinvento a cada instante e sou condenado a isso”, disse. “Creio que a essência da felicidade seja sua condição de ‘impossível necessário’.” “Está na convivência com os amigos, poder contar com eles para tudo, desde resolver problemas ou mesmo um simples bate-papo.” Mariana Kry – Aluna do 1º ano da Faculdade de Ciências Farmacêuticas 06 16 a 29 de março/2009 Jornal da PUC-Campinas In loco Universidade é avaliada pelo MEC Comissão de especialistas avalia as atividades da Universidade, bem como sua infraestrutura e responsabilidade social Ciça Toledo [email protected] De 23 a 25 deste mês, a PUC-Campinas receberá a visita da Comissão Externa de Avaliação Institucional, designada pelo Ministério da Educação (MEC). Essa é a primeira vez que a Universidade é avaliada institucionalmente por uma Comissão Externa. O objetivo da visita in loco dos especialistas é avaliar a qualidade das atividades de Ensino, Pesquisa e Extensão desenvolvidas pela Universidade. Assim, além das políticas que orientam as atividades-fim da PUC-Campinas, serão avaliadas outras dimensões da vida universitária, como, por exemplo, as relações com a sociedade, a responsabilidade social, a infraestrutura de laboratórios e bibliotecas, os recursos humanos docente e técnico-administrativo, bem como a gestão. Esse processo de avaliação foi instituído pela Lei nº 10.861/04, que criou o Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior - SINAES. A partir da publicação da Lei, foi constituída, naquele ano, a Comissão Própria de Avaliação - CPA da PUC-Campinas. A atribuição da CPA é coordenar todos os processos internos de avaliação das atividades de Ensino, Pesquisa, Extensão e gestão aca- dêmico-administrativa, organizar e encaminhar ao MEC-INEP relatórios com os resultados dos processos avaliativos realizados pelos diferentes setores, bem como divulgar dados e informações à comunidade interna e externa. Na PUC-Campinas, os trabalhos da CPA são apoiados pelo Núcleo Técnico de Avaliação - NTA, que também organiza Boletins periódicos para divulgação da Avaliação Institucional e já publicou cinco números do Cadernos de Avaliação, visando socializar os resultados dos projetos de autoavaliação, realizados no âmbito do Programa de Auto-avaliação Institucional - PROAVI. Segundo o coordenador da CPA, professor Pe. José Benedito de Almeida David, a Universidade tem longa tradição no que se refere à avaliação. Em 2004, a CPA resgatou, sistematizou e organizou os processos avaliativos já desenvolvidos pela Universidade, integrando-os às diretrizes do SINAES. O coordenador ressalta que essa trajetória de avaliação conta com a contribuição de muitos professores, funcionários e alunos. “Ela confirma a busca permanente da PUCCampinas para consolidar, com qualidade, sua identidade e missão enquanto universidade católica e comunitária”, explica. Ricardo Lima VOCÊ SABIA? A PUC-Campinas tem longa tradição no que se refere à autoavaliação. Em 1984, apresentou na III Conferência de Educação, realizada em Niterói (RJ), os resultados de uma pesquisa que fez parte do projeto “A participação do aluno como base para a re-estruturação da Universidade”. Esta pesquisa, pioneira no país à época, envolveu cerca de 10 mil alunos e contribuiu de forma significativa com indicadores importantes para a elaboração e aprimoramento do Projeto Pedagógico Institucional. Avaliação do ensino de graduação A Pró-Reitoria de Graduação (PROGRAD) desenvolve, desde 2006, o projeto Avaliação do Ensino, que tem como objetivo ouvir alunos e professores sobre a qualidade de ensino da graduação, visando seu constante aprimoramento. “Essa avaliação configura-se como um processo pedagógico de crescimento das pessoas e qualificação das práticas pedagógicas, tendo como foco principal a sala de aula”, explica o Pró-Reitor de Graduação, Germano Rigacci Junior. Com um Grupo de Trabalho coordenado pelo professor Arnaldo Lemos, a PROGRAD tem promovido, desde o início do processo, reuniões nos Centros e Faculdades, tanto para discussão dos instrumentos de avaliação, quanto para socialização e discussão dos resultados e encaminhamento de ações que possam superar dificuldades e avançar na qualificação das atividades de ensino. Em 2008, além da avaliação feita pelos alunos, também os professores puderam avaliar as condições de ensino, como salas de aula, bibliotecas, equipamentos e também aspectos do desenvolvimento curricular, como o Estágio e o Trabalho de Conclusão de Curso, entre outros. “Hoje contamos com uma série histórica na avaliação realizada pelos alunos, com uma média acima de 6.500 alunos que respondem voluntariamente à avaliação, a cada semestre, de forma que podemos constatar a importância dos resultados obtidos para o redirecionamento de muitas questões pedagógicas nas Faculdades e Centros, bem como uma importante contribuição para o Programa de Autoavaliação Institucional, o PROAVI”, explica. Reunião da Comissão Própria de Avaliação (CPA), da PUC-Campinas A PUC-Campinas participou voluntariamente, em 1994, do Programa de Avaliação Institucional das Universidades Brasileiras - PAIUB. A Universidade apresentou seu projeto de autoavaliação institucional, que foi aprovado pelo MEC. Esse projeto constituiu a base do Programa de Autoavaliação “Conhecer para Aprimorar”, que desde 1998 desenvolve, juntamente com todos os setores da Universidade, diferentes projetos de avaliação do Ensino, da Pesquisa, da Extensão e da gestão acadêmico-pedagógica. O SINAES avalia as instituições, os cursos e o desempenho dos estudantes por meio do Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes - Enade, do processo de autoavaliação, da avaliação externa e da avaliação dos cursos de graduação. Os resultados das avaliações permitem que seja traçado um verdadeiro raio X da realidade dos cursos e das instituições de educação superior do País, tendo em vista a melhoria de sua qualidade. Os processos avaliativos são coordenados e supervisionados pela Comissão Nacional de Avaliação da Educação Superior Conaes. A operacionalização é de responsabilidade do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira -Inep. Jornal da PUC-Campinas 07 16 a 29 de março/2009 MURAL Fotos:Reprodução Tenho na vida um tesôro Que vale mais de que ôro: O meu liforme de côro, Pernêra, chapéu, gibão. Sou vaquêro destemido, Dos fazendêro querido, O meu grito é conhecido Nos campo do meu sertão. (trecho do poema “O vaqueiro”) Seara do cordel do Ceará Ricardo Lima [email protected] O maior poeta popular do Brasil e da América Latina, Patativa do Assaré, se estivesse vivo completaria cem anos, nascido na longínqua Serra de Santana, a três léguas do município de Assaré, na região do Cariri cearense. Ficou conhecido por seus versos de cordel, marcados pela oralidade rara, propagando e preservando a consciência e o povo nordestino. Cantado em verso e prosa, Patativa (que é nome de um pássaro, de canto melacólico e triste) teve seus versos musicados por grandes nomes da música brasileiSetembro passou, com outubro e novembro ra, como Luiz Gonzaga, Fagner, Chico Buarque e Já tamo em dezembro. pelo grupo pernambucaMeu Deus, que é de nós? no Cordel do Fogo EnAssim fala o pobre do seco Nordeste, cantado. O trabalho do Com medo da peste, poeta ultrapassou as fronDa fome feroz. teiras do Brasil e foi estu(trecho do poema “A triste partida”, dado na cadeira de gravado por Luiz Gonzaga) Literatura Popular Universal, sob a regência do professor Raymond Cantel, na Universidade de Sorbonne, na França, além de ser homenageado pelo então presidente da República Fernando Henrique Cardoso, recebendo a medalha “José de Alencar”. Para a professora Teresa de Moraes, da Faculdade de Letras, especialista em literatura brasileira, Patativa do Assaré era um gênio da literatura, porque produ- Seu doutor me dê licença pra minha história contar. Hoje eu tô na terra estranha, é bem triste o meu penar Mas já fui muito feliz vivendo no meu lugar. Eu tinha cavalo bom e gostava de campear. E todo dia aboiava na porteira do curral. (trecho do poema “Vaca estrela e boi fubá”) zia versos clássicos, com padrão erudito. “Considero o Patativa do Assaré um gênio da literatura por ser uma pessoa que não teve muitas condições de estudo, mas adorava literatura e desde muito novo já proclamava trechos da obra de Camões em praças", avalia. No Ceará, uma das iniciativas para comemorar o centenário do poeta foi a criação de um Museu Temático na casa em que morava Patativa (de taipa, chão batido, coberta com telhas artesanais), onde os visitantes podem ter contato com o mundo retratado pelo poeta. Em São Paulo, a Casa das Rosas traz uma programação intensa com palestras, oficinas de literatura de cordel, xilogravura e apresentação de repentistas. Informações: www.poiesis.org.br/casadasrosas/ Poetas niversitário, Poetas de Cademia, De rico vocabularo Cheio de mitologia; Se a gente canta o que pensa, Eu quero pedir licença, Pois mesmo sem português Neste livrinho apresento O prazê e o sofrimento De um poeta camponês. (trecho do poema “Aos poetas clássicos) Festival de Quadrinhos >> No próximo dia 20, às 19h, a Fnac do Shopping Dom Pedro sediará o 1º Festival de Quadrinhos. O evento contará com a participação de caricaturistas, desenhistas, autores de histórias em quadrinhos e profissionais das diversas áreas dos cartuns. O Festival terá também a presença do ganhador do prêmio Salão Brasileiro, na categoria Mangá, realizado este ano. 16 a 29 de março/2009 08 Jornal da PUC-Campinas História Museu do Futebol imortaliza paixão nacional Fotos: Reprodução/Ricardo Lima Jornal da PUC-Campinas visita o local com uma aluna apaixonada pelo esporte e um estudante que não suporta ouvir falar de gol PONTO DE VISTA Garrincha e Mazzola vestem uniforme social da Seleção Brasileira de 1958 Pelé é aclamado no final da Copa de 70 Na foto de 1910, público com traje social assiste partida de futebol Fotos: Ricardo Lima Du Paulino [email protected] De todos os museus que já visitei, o Museu do Futebol foi único na questão tecnologia e interatividade. Uma das partes mais legais é onde se pode escolher um narrador ou uma jogada para assistir. Além do futebol, o Museu também mostra um pouco da história do Brasil e pequenas biografias de personagens importantes, como Di Cavalcanti, Sérgio Buarque de Holanda, entre outros. Mas a melhor parte é a das Copas do Mundo, que tem, além de fotos históricas de jogadores e técnicos, fotos de objetos e pessoas que faziam parte da cultura popular da época. Ana Gabriela Pinesso Prado, 3º ano de Jornalismo PONTO DE VISTA Eu, particularmente, não gosto de futebol, mas, mesmo assim, gostei muito do conteúdo que está disponível no Museu do Futebol, porque pude entrar em contato e relembrar de momentos que marcaram época e ficaram escondidos no subconsciente, como o sucesso imediato dos Mamonas Assassinas, a velocidade inalcançável de Ayrton Senna, além de conhecer fatos que aconteceram muito antes do meu próprio nascimento e poder traçar um paralelo com o que acontecia no mundo e no futebol.Também tomei ciência de quando uma jogada está impedida ou não – coisa que nunca consegui entender. Ainda continuo não gostando de futebol, mas a visita ao Museu foi algo novo, que, com certeza, valeu muito a pena. Ademilson Ramos, 2º ano de Arquitetura e Urbanismo A tensão é tanta que enrijece cada músculo. Um torpor pelo corpo denuncia o sangue fervendo nas veias. As mãos suam frio. A garganta seca. O coração dispara. Tundum! Tundum! Tundum! E tudo culmina num êxtase incontrolável que dá vontade de gritar, pular, abraçar o amigo ou mesmo o desconhecido que estiver mais próximo. Se você é um torcedor apaixonado de futebol, certamente já viveu essas emoções. A expectativa e a euforia da hora do gol. Ou a frustração do gol perdido. Pior, ainda: a decepção de perder o campeonato com o time jogando em casa. Euforia e decepção são sentimentos reproduzidos nas salas Exaltação e Rito de Passagem, situadas do Museu do Futebol, que fica no Estádio Municipal Paulo Machado de Carvalho, o Pacaembu, em São Paulo, e que o Jornal da PUC-Campinas visitou no último dia 10 de março. Além da nossa equipe de reportagem, embarcaram nessa viagem pela história do futebol brasileiro dois alunos da Universidade. Ana Gabriela Pinesso Prado, estudante do 3º ano da Faculdade de Jornalismo e Ademilson Ramos, que cursa o 2º ano da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU). Ana Gabriela é apaixonada por futebol e torcedora fanática do Palmeiras. “O esporte representa minha relação com meu pai, porque foi ele quem me ensinou a gostar do esporte e me incentivou a torcer pelo Palmeiras”, conta. Já Ramos não suporta ouvir falar do esporte. Culpa do irmão mais velho, um corintiano alucinado que assiste a todos os jogos exibidos na televisão. “É só passar qualquer jogo que ele monopoliza a tevê e ninguém pode assistir a mais nada”, reclama. Com 6.900 metros quadrados de área, dividida em quatro pavimentos, o Museu do Futebol foi inaugurado em outubro de 2008 e é o resultado de uma parceria entre a Fundação Roberto Marinho e os governos municipal e estadual de São Paulo. Desde então, cerca de 145 mil pessoas já conheceram a estrutura construída embaixo das arquibancadas do Pacaembu, em uma área até então obsoleta do estádio. Na entrada, a sala chamada de Grande Área rende homenagens ao torcedor com a exposição de cerca de 480 reproduções ampliadas de diversos objetos que materializam a paixão do brasileiro pelo esporte: flâmulas, bandeiras, cartazes, chaveiros e outros tantos apetrechos e adereços. Para recepcionar o público, ninguém menos que o Rei Pelé. O futebol que nasce nos pés descalços nas peladas jogadas nos campos de terra, de grama ou no asfalto é retratado na seção Pé na Bola, que A No alto, Ana Gabriela e Ademilson conhecem uma das exposições do local; acima, tecnologia e interatividade são atrações do Museu prepara o público para o que está por vir. Na sala Anjos Barrocos imagens em tamanho natural de 25 jogadores lendários, representando o nosso futebol-arte, revezam-se em telas transparentes que descem do teto e pairam sobre a cabeça dos visitantes. Jogadores do passado, como Pelé, Garrincha, Djalma Santos, só pra citar alguns, dividem o espaço com craques mais atuais como Romário, Ronaldinho Gaúcho e o badaladíssimo Ronaldo Fenômeno, cuja volta aos gramados é o maior destaque da imprensa de todo o mundo, no momento. Os grandes craques e suas jogadas geniais ainda vão encantar o visitante por vários espaços do Museu. Além dos ídolos que ajudaram a construir a nossa história futebolística, também entram em campo a tecnologia e a interatividade no Museu do Futebol. E a tabelinha entre as duas permite ao visitante escolher e assistir aos gols preferidos de alguns fãs famosos do esporte, além de ouvir jogadas memoráveis narradas por alguns dos principais locutores esportivos da história e relembrar dribles, defesas e gols, muitos gols. Também é possível fazer de conta que se é um craque e tentar balançar as redes, seja jogando em pimbolins que simulam os principais esquemas táticos usados no futebol ou em minicampos projetados no chão, dotados com sensores de infra- vermelho, onde a bola responde aos movimentos dos pés. Outra possibilidade de colocar a habilidade à prova é bater um pênalti em um dispositivo onde se chuta uma bola real em direção a uma trave virtual defendida, também, por um goleiro virtual. “A proposta do Museu é dar ao visitante a possibilidade de participar da história relatada no local, de poder tocar e interagir realmente, situação que o brasileiro não está acostumado”, analisa a coordenadora do Núcleo de Ação Educativa do Museu, Larissa Foronda. O futebol está arraigado não apenas na nossa cultura, mas também na história recente do país, seja nas paredes da sala que contam a trajetória do esporte, da sua vinda por Charles Miller ao Brasil, em 1895, até a década de 30, ou na sala que rende homenagem a todas as Copas do Mundo, a história está lá, presente. Representada pelos costumes da época em que o esporte era praticado pela alta sociedade e os negros não podiam praticá-lo, ou retratada nas mudanças sociais ocorridas no mundo enquanto o Brasil se tornava o único país a participar de todas as Copas, a história sempre marcou presente no Museu do Futebol. E foi justamente a história que mais chamou a atenção dos nossos convidados, na visita. Ana Gabriela gostou da história das Copas. “Porque todo brasileiro adora acompanhar Copa do Mundo”, justifica. E Ramos se interessou pelos aspectos históricos que relacionam o esporte e a sociedade. “Gostei de ver que o futebol serviu para reduzir os preconceitos raciais”, revela. Futebol é um esporte feito de números: gols, recordes, regras, pontos ou títulos. Você sabia, por exemplo, que a maior goleada em um jogo oficial foi aplicada pelo Botafogo no Mangueira, pelo Campeonato Carioca de 1909? Na ocasião, o time alvinegro fez 24 gols no adversário e não levou nenhum. Curiosidades que também podem ser encontradas no Museu Futebol.