Décimas de Inocêncio de Brito
José Rabaça Gaspar (coord.)
Cremilde Brito e José Fialho (família)
Manuel de Sousa Aleixo (memórias)
Com o apoio empenhado da Casa do Povo e da Junta de Freguesia de S. Matias, Beja,
Maio de 2006 – Revisto em Maio de 2010 (com certidões)
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GRITOS NA SOLIDÃO
Décimas de Inocêncio de Brito
Poeta Popular de S. Matias, Beja
Que terá falecido em 1938 com cerca de 85 anos
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Este livro sobre Inocêncio de Brito, poeta popular de S. Matias, Beja, que terá falecido
em 1938 com cerca de 85 anos, foi escrito e realizado especialmente para a família do
poeta, e editado com o apoio empenhado da Casa do Povo e da Junta de Freguesia de S.
Matias, Beja, e com a colaboração dos familiares, o neto Paulino de Brito e sua filha D.
Cremilde de Brito (bisneta); o Senhor Manuel de Sousa Aleixo (mais conhecido por Mestre Aleixo e mais familiar por Blezinho, em representação dos mias VELHOS da Aldeia e
ainda conviveu com Inocêncio de Brito, como o Senhor João da Torre e outros…), José
Fialho, bisneto, que terá herdado a veia poética do seu bisavô; os jovens e admiradores
que recolheram, reescreveram e dactilografaram as décimas de Inocêncio de Brito, que
muitos sabiam de cor, salientando aqui, em sua representação, os que mais me deram o
seu contributo: o Manuel Alexandre de Sousa Aleixo e Maria de Fátima da Vinha Borges, a minha companheira, natural de S. Matias.
Como surpresa final, após a publicação de 2006, entre Julho e Dezembro de 2008, esta
obra foi complementada com a preciosa contribuição do Dr José António Cabrita, (Sociólogo) que conseguiu as várias certidões referentes a Inocêncio de Brito e sua esposa,
Mariana Fialho, que também aparece como Maria Fialho. Aqui fica um agradecimento
especial pelo contributo deste competente investigador e as nossas desculpas pelo “comodismo” e descuido ou a “lei do menor esforço” que, em vez de investigar, nos levou a aceitar a voz corrente, que apontava para o desaparecimento dessas certidões.
Nota de JRG para a edição de Maio de 2010, através da BUBOK.
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Décimas de Inocêncio de Brito
José Rabaça Gaspar (coord.)
Cremilde Brito e José Fialho (família)
Manuel de Sousa Aleixo (memórias)
Com o apoio empenhado da Casa do Povo e da Junta de Freguesia de S. Matias, Beja,
Maio de 2006
S. Matias, Beja – 2006
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FICHA TÉCNICA
Uma evocação do Pastor na imensa solidão,
Capa com arranjo de Isabel Juvera, www.e-libro ; em 2010 reformulada pela equipa da
BUBOK
Baseada em foto de uma colecção de Rui Cunha
Autor/es
©2006 José Rabaça Gaspar (coord.), com recolha e digitalização de textos e dados, organização, comentários e esboço de um estudo (www.joraga.net )
– (http://www.joraga.net/iBrito/index.htm) .
O autor teve a colaboração dos Familiares, o neto Paulino de Brito e sua filha D. Cremilde de Brito; José Fialho, bisneto, que terá herdado a veia poética do seu bisavô (como
representantes da família ainda viva em 2006); o Senhor Manuel de Sousa Aleixo (mais
conhecido por Mestre Blezinho) (a representar as pessoas mais velhas, como o senhor
João da Torre, que conviveram com Inocêncio de Brito e guardam memórias de muitas
“pequenas estórias”…); os jovens e admiradores que, nos anos setenta e quatro, setenta
e oito recolheram, reescreveram e dactilografaram as Décimas de Inocêncio de Brito, que
muitos sabiam de cor, salientando aqui, em sua representação, os que mais me deram o
seu contributo: o Manuel Alexandre de Sousa Aleixo e Maria de Fátima da Vinha Borges, a minha companheira, natural de S. Matias, porventura a responsável deste trabalho ter acontecido.
O essencial deste trabalho foi publicado na Revista ARQUIVO DE BEJA, vol. XII, série
III, Dezembro de 1999.
Esta obra está publicada e disponível para os leitores da Américas, em:
©Edição virtual e em papel, www.e-libro.net
- http://www.e-libro.net/libros/libro.aspx?idlibro=2032
Buenos Aires, Junho de 2006
ISBN 1-4135 - 3624 - 7 – edição virtual - ISBN 1-4135 - 3625 - 5 – edição em papel
E em 2010:
ISBN 978-84-9916-782-4
DL: M-23888-2010
http://joraga.bubok.pt/
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DEDICATÓRIA
Ao Povo de S. Matias
através dos dirigentes da Casa do Povo e Autarcas da Junta de Freguesia
em Maio de 2006…
À Família de Inocêncio de Brito e todos os habitantes de S. Matias
que me diziam Décimas do Mestre
e/ou me facultaram as suas estórias e os seus manuscritos…
Às Escolas de Beja onde tive o privilégio de trabalhar com
muitos colegas e alunos nos anos 80 e 90 do século XX…
A todos os que têm alma de Poeta e, como eu, têm de gritar a sua Poesia
na Solidão, onde:
«Brado, Ninguém me responde,
Olho, não vejo Ninguém»
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APRESENTAÇÃO
Esta obra é dedicada à memória de Inocêncio de Brito, um Poeta Popular, por muitos
considerado um MESTRE nesta Arte Maior da Cultura Popular, admirado por muitos
conterrâneos que sabem e repetem os seus poemas de cor, às vezes, como é natural na
“Literatura Oral”, com algumas alterações e tentação de emendar palavras usadas e por
vezes criadas pelo autor…
Lamentavelmente, sempre que falámos deste Poeta Popular a vários “entendidos” da
cultura alentejana, vários, que em caso de necessidade posso nomear, afirmaram-me que
“Esse poeta nunca existiu”!!!
A recolha, coordenação e esboço de um estudo é da minha responsabilidade, José Rabaça
Gaspar que, após várias tentativas de tentar reescrever as Décimas deste Poeta, que
muitos consideram um Mestre, se defrontou com uma variedade de manuscritos e cópias
dactilografadas que apresentavam diferenças de vários níveis. Felizmente, através do
Senhor António de Sousa Aleixo, foi possível contactar, em 1996 um seu neto Paulino de
Brito, já com mais de noventa anos e que nos revelou uma pista quase milagrosa.
A sua filha, D. Cremilde Brito, bisneta do Poeta, era a fiel depositária de vários manuscritos, em papel azul, que nos forneceu fotocópias dos manuscritos. Mais tarde, com a
ajuda do Senhor Olímpio Carvoeiras, como guia, foi possível contactar outro bisneto, o
Senhor José Fialho, de Faro do Alentejo e morador em Aires, Palmela, que dedicou uma
Décima ao seu bisavô e conseguiu mais alguns originais.
Não podem ser esquecidos os jovens entusiastas da revolução dos Cravos que nos anos
setenta recolheram e transcreveram numerosas décimas de Inocêncio de Brito. Deixo
registados os nomes de Maria de Fátima da Vinha Borges, como já disse, que será, sem o
saber, a responsável maior deste trabalho e Manuel Alexandre de Sousa Aleixo, considerado seu “mano” e grande amigo, que não descansou enquanto não viu este trabalho
reconhecido e apreciado pelas entidades da Freguesia de S. Matias, Beja. Aqui ficam os
seus nomes, em representação do Grupo de jovens de Abril que seriam muito longo enumerar correndo o risco de omitir alguns. Como se verifica mais adiante, devo ao Senhor
Manuel de Sousa Aleixo, a paciência com que me contou numerosas e saborosas estórias
do Mestre Inocêncio e aqui fica em representação daqueles que guardam na memória
episódios da vida e dos versos que ecoam no presente e no futuro como GRITOS na imensa SOLIDÃO... afinal, posso quase arriscar, esta obra tem o contributo de Todo o Povo de
S. Matias...
Para conseguirmos algumas fotografias da época, como ilustração, recorremos a Fotografias da Família de Inocência de Brito, e as restantes são de A. Cunha, Rui Cunha, M. A.
S. Aleixo, JRG e Inge Wilkens, com arranjos de JRG e, quanto às históricas recorremos a
várias pesquisa na internet.
A todos, mesmo os que não foi possível identificar, devido às várias versões a que tivemos acesso e ao tempo decorrido entre as diversas redacções que tive de fazer, o maior
respeito pelo seu trabalho e autoria.
É o que peço também para este meu trabalho, que, necessariamente, também fica
incompleto e com muitos aspectos que poderão vir a ser emendados e melhorados pelas
gerações futuras.
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ÍNDICE
Plano de trabalho que levou ao produto final............................................13
I Dados Biográficos ..............................................................................................17
II Introdução..........................................................................................................23
Introdução por Cremilde de Brito.................................................................25
Homenagem a Inocêncio de Brito por José Fialho....................................26
Rua com o nome do Poeta Inocêncio de Brito.................................................28
III EPISÓDIOS DA VIDA DE INOCÊNCIO DE BRITO............................29
PEQUENAS HISTÓRIAS E VERSOS RECORDADOS ..........................31
Notas finais importantes neste ponto:.........................................................37
IV A organização que foi dada às DÉCIMAS,................................................39
DÉCIMAS de Inocêncio de Brito...............................................................41
Décimas mais biográficas ...............................................................................41
MINHA TERRA, MINHA TERRA - mn ..........................................................43
TRABALHO NÃO TENHO ACHADO - mn ...................................................45
NÊSTE LUGAR SOLITARIO - mn ..................................................................47
NO TEU GIRO SÓL BRILHANTE - mn.........................................................49
PARTI A TOLA À MARIA- mn??? dc..............................................................51
JÁ O BOM FÁTO VESTI - dc ............................................................................53
JÁ FUI SENHOR PROFESSOR - mn .............................................................55
NO LUGAR QUE DESEMPENHO - dc ..........................................................57
NO MONTE DA CASA BRANCA - dc .............................................................59
SORRI CUBA E SEJAS GRATA - mn.............................................................61
PEDRÓGÃO INDUSTRIAL - dc .......................................................................63
Décimas que comentam casos simbólicos ...................................................65
A INSTRUÇÃO É PRECIZA - mn ....................................................................67
RIQUEZA E VISTA PERFEITA - mn .............................................................69
VINHO CRUEL INIMIGO - mn .......................................................................71
NÃO CLAMES CONTRA O VINHO - mn ......................................................73
É COMO O CORPO SEM ALMA - dc ..............................................................75
OS OLHOS, ORGÃOS DA VISTA - mn ..........................................................77
DESCÓBRE-TE MILIONARIO - mn..............................................................79
Décimas sobre o REGICÍDIO ........................................................................81
O NOBRE TERREIRO DO PAÇO - dc ............................................................83
DONA AMELIA de ORLEÃNS - mn................................................................85
JOVEM PRÍNCIPE REAL - mn........................................................................87
ELREI D. MANUEL SEGUNDO - mn ............................................................89
Décimas a respeito da I Grande Guerra Mundial.....................................91
KAIZER DÉSPOTA ORGULHÔSO - mn........................................................93
A RAINHA DAS POTENCIAS - mn ................................................................95
11
Décimas relacionadas com a GUERRA e a MORTE ................................97
FORMA O HOMEM IDEALMENTE - mn .....................................................99
NO MUNDO PORQUE HAVERÁ - dc...........................................................101
FAZEM NAVIOS DE GUERRA - mn ............................................................103
Ó CYPRESTE, VERDE E TRISTE - mn .......................................................105
FUI A PROCURA DA PÁZ - mn .....................................................................107
NO VENTRE DA VIRGEM BÉLA - mn........................................................109
V Colaboração de outros poetas e autores... .................................................111
A INSTRUÇÃO (NÃO) É PRECISA...............................................................113
pelo Ti Belchiorinho da Estação de Ourique................................................113
Página para ANTÓNIO ALEIXO e o seu MILIONÁRIO......................115
MANUEL ANTÓNIO DE CASTRO da Cuba...........................................116
O ALFERES BORGES DOS REIS, ................................................................116
DÉCIMAS que falam da I GRANDE GUERRA 14/18 ...........................117
ANTÓNIO MIGUEL CARMO .....................................................................119
ADEUS, MINHA QUERIDA AMADA,..........................................................119
“DÉCIMAS” de D. Antónia Carvalho.........................................................120
CIENTISTA, PENSA BEM:.............................................................................120
OUTROs MOTEs com fundamento, ...........................................................120
Versos do Senhor António Lúcio .....................................................................120
Versos da D. Joana Garcia, ..............................................................................121
Versos do Senhor Joaquim Ruaz, ...............................................................122
Cena do Campo ...................................................................................................122
AS FLORES .........................................................................................................123
DÉCIMAS de Francisco Piriquito Junior, ................................................124
EU MAL APRENDI A LER..............................................................................124
SE TEVE A INFELICIDADE..........................................................................125
NÃO SOU ESPERTO, NEM BRUTO ............................................................126
PUS-ME A ESPREITAR O VENTO...............................................................127
PROSA POÉTICA de A.A.............................................................................129
MESTRE INOCÊNCIO DE BRITO de José Penedo ..................................131
O PÔTRA por Luís Alves..........................................................................133
UM BISPO PASTOR DE ALMAS por José Penedo ...................................134
- DIGA LÁ, SENHOR POETA - José Fialho ................................................135
- VOU INFORMAR O SENHOR - Augusto José.........................................137
VI - GRITOS NA SOLIDÃO – esboço de estudo.........................................139
VII - BIBLIOGRAFIA e outras informações sobre DÉCIMAS ................147
12
Plano de trabalho que levou ao produto final.
I
Dados Biográficos de Inocêncio de Brito, família, trabalho e zonas por onde andou... será
possível Foto? ou desenho reconstituído a partir das descrições feitas pela família??? e...
Nota: Os Livros Paroquiais, que poderiam ter o registo do nascimento, estarão entre o
número daqueles que arderam no incêndio da Câmara que teria ocorrido em 23 de Julho
de 1946 (Ver e confirmar esta nota pelos que sabem...)
II
Introdução feita por familiares, a Ex.ma Senhora D. Cremilde Brito, Professora na
reforma, bisneta de Inocêncio de Brito e o Senhor José Fialho, outro bisneto e algumas
pessoas mais que deram e podem dar contributos importantes sobre este tema.
III
Outras notas importantes: Qual foi o trabalho deste homem? Por onde andou? Porque
esteve separado da família e durante quanto tempo, para justificar as cartas ou cartas
em forma de Décimas, interpelações que envia ao “Sol brilhante”, para saber dos filhos e
do pai...
Pequenas histórias e versos recordados que mostram a sua veia de repentista...
- Um Pinheiro velho e seco à beira do caminho de ferro... Um Cipreste à beira do cemitério...
- Como ganhou, ou outros por ele, as popias enormes que eram sorteadas na Festa que
se fazia em Ervidel, pelo S. João e era colocada no cimo do mastro...
Estórias conseguidas com o contributo de muitas pessoas, mas, baseadas especialmente
nalgumas longas conversas com o Blezinho, o Senhor Manuel Sousa Aleixo…
IV
A organização a dar às DÉCIMAS, uma decisão subjectiva imposta pela necessidade de
não ter encontrado outra alternativa, desde as mais biográficas, que falam do poeta e da
família e das terras vizinhas; passando para as que comentam casos simbólicos e temas
de reflexão geral como os Olhos, a Mulher, o diálogo do Vinho...; seguindo para as que
comentam o Regicídio de 1908 em que invoca as personagens principais; mais duas contra a I Grande Guerra Mundial 14/18 e prenúncio da II, terminando com quatro décimas
mais simbólicas sobre o Homem IDEAL, o desconcerto e insensatez da guerra e a invocação da Morte e da Solidão para terminar com uma ODE à VIRGEM – no Ventre da
Virgem… o VERBO!!!
As DÉCIMAS de Inocêncio de Brito, que foi possível recolher, foi feita através dos
manuscritos do próprio (assinaladas com – mn), a grande maioria (21 a 22) e do
recurso a outros manuscritos de outras pessoas, alguns já dactilografados (assinaladas com - dc) e que nos foram garantidos pela família e outros testemunhos.
Décimas mais biográficas
1-mn - MINHA TERRA, MINHA TERRA
2-mn - TRABALHO, NÃO TENHO ACHADO
3-mn - NÊSTE LUGAR SOLITARIO (carta aos filhos)
4-mn - NO TEU GIRO, SÓL BRILHANTE (O sol como mensageiro...)
5-mn?- dc - PARTI A TOLA À MARIA
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6-dc - JÁ O BOM FÁTO VESTI
7-mn - JÁ FUI SENHOR PROFESSOR
8-dc - NO LUGAR QUE DESEMPENHO
9-dc - NO MONTE DA CASA BRANCA
10-mn - SORRI CUBA E SEJAS GRATA (As terras vizinhas de S. Matias)
11-dc - PEDRÓGÃO INDUSTRIAL, (As terras vizinhas de S. Matias)
Décimas que comentam casos simbólicos
ou tratam TEMAS de reflexão geral como:
12-mn - A INSTRUÇÃO É PRECISA (O caso defendido pelo Afonso Costa, no tribunal de Beja)
13-mn - RIQUEZA E VISTA PERFEITA (Parece referido a irmãos ou ???)
14-mn - VINHO, CRUEL INIMIGO
15-mn - NÃO CLAMES CONTRA O VINHO
16-dc - É COMO O CORPO SEM ALMA (O papel da MULHER numa casa)
17-mn - OS OLHOS, ORGÃOS DA VISTA
18-mn - DESCÓBRE-TE MILIONARIO (Ver se é caso pontual, conhecido...)
Décimas referentes ao REGICÍDIO em 1908
19-dc - O NOBRE TERREIRO DO PAÇO (Imprecação contra o regicídio)
20-mn - DONA AMELIA DE ORLEÃNS (Condolências à Rainha viúva...)
21-mn - JOVEM PRINCIPE REAL
22-mn - ELREI D. MANUEL SEGUNDO (Apelo ao jovem Rei...)
Décimas a respeito da I Grande Guerra Mundial, 1914 / 18
23-mn - KAIZER, DÉSPOTA ORGULHÔSO (Invectiva contra o Imperador Guilherme II)
24-mn - A RAINHA DAS POTENCIAS (Invectiva contra o orgulho da Alemanha)
Décimas relacionadas com a GUERRA e a MORTE (1938?) e Ode à Virgem Maria
25-mn - FORMA O HOMEM IDEALMENTE
26-dc - NO MUNDO, PRA QUE HAVERÁ (Sobre a insensatez da luta e da Guerra)
27-mn - FAZEM NAVIOS DE GUERRA (Desafio ao génio humano para descobrir
coisas úteis)
28-mn - Ó CYPRESTE, VERDE E TRISTE (Diálogo com o cipreste sobre a
MORTE)
29-mn - FUI A PROCURA DA PÁZ (O poeta descobre que só no cemitério, encontrará a PAZ.)
30-mn - NO VENTRE DA VIRGEM BÉLA
V
Colaboração de outros poetas e autores a finalizar com o esboço para um estudo
A DÉCIMA da INSTRUÇÃO glosada pelo Ti Belchior da Estação de Ourique...
Quadra de António Aleixo? do Milionário???
14
MANUEL ANTÓNIO DE CASTRO, o Manuel de Castro da Cuba, dedicou uma
DEIXA – DÉCIMA à MORTE DO ALFERES BORGES DOS REIS de S. Matias,
Beja.
DÉCIMAS que falam da I GRANDE GUERRA 14/18
ANTÓNIO MIGUEL CARMO pai da D. Antónia Carvalho, sobre a I Guerra Mundial
Outros poemas e mensagens de outros poetas, familiares, amigos e admiradores que quiseram colaborar nesta homenagem ao poeta que foi durante tempo esquecido. A família
que guardou religiosamente muitos dos seus manuscritos, nunca os quis divulgar, pelo
pouco interesse manifestado pelos agentes da Cultura em Portugal e na Região
Testemunhos de pessoas que o conheceram e/ou sabem os seus poemas e os recolheram e
falar da justiça e do dever que o Povo de S. Matias tem para com este Poeta seu conterrâneo, que continua a ser pouco conhecido, levando muitos, mesmo bem intencionados
(ou não?!) a atribuir as DÉCIMAS de sua autoria a outros poetas ou a eles próprios!
D. Antónia Carvalho
António Lúcio e D. Joana
Joaquim Ruaz
Francisco Piriquito Júnior
A. A.
José Penedo
O PÔTRA
VI - Esboço para um estudo por José Rabaça Gaspar
VII - Bibliografia e outras informações sobre Décimas
15
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I Dados Biográficos
Dados Biográficos de Inocêncio de Brito, família, trabalho e zonas por onde andou... será
possível Foto? ou desenho reconstituído a partir das descrições feitas pela família??? e...
Nota: Os Livros Paroquiais, que poderiam ter o registo do nascimento, estão entre o
número daqueles que arderam no incêndio da Câmara que teria ocorrido em 23 de Julho
de 1946 (Ver e confirmar esta nota pelos que sabem...)
Paulino de Brito, foto de 1985, o neto que segundo a família era o mais parecido com o
avô Inocêncio de Brito.
I
Os Dados Biográficos de Inocêncio de Brito, talvez ou apesar de ainda haver na aldeia
muitos familiares foram muito parcos mas os possíveis.
Os Dados sobre a família, trabalho e zonas por onde andou ficam como breves apontamentos... Uma foto, que muitos dizem dever existir, porque há sempre, em cada casa,
uma mesa com fotografias de familiares, não foi possível. Um desenho a partir das descrições feitas pela família também não foi possível.
Os Livros Paroquiais, que poderiam ter o registo do nascimento, estão certamente entre
o número daqueles que arderam no incêndio da Câmara que teria ocorrido em 23 de
Julho de 1946. Onde foi sepultado? E o registo do óbito? Ficam mais estes elementos
para verificar.
No lugar da foto ou desenho fica:
A assinatura de um dos manuscritos:
Uma nota incompleta feita aos 85 anos, provavelmente em 1938, segundo as memórias
da sua Bisneta, D. Cremilde de Brito, que teria 5 anos quando morreu o seu bisavô.
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Dados Biográficos (possíveis):
Nome completo: Inocêncio de Brito
Data de Nascimento: __/__/1853?; faleceu em __/__/1938?, com 85 anos.
Naturalidade: S. Matias, Beja
Filho de António do Monte de Brito
e de Paulina de Brito
Casado com Mariana Rosalina Fialho
Filhos:
Maria de Brito que teve 5 filhos
António Paulino de Brito que teve 2 filhos
Mariana Teresa de Brito que teve 5 filhos
Francisco José de Brito que teve 2 filhos
Leonor de Brito que teve 4 filhos
Manuel António de Brito que teve 1 filha
Paulina de Brito que teve 7 filhos
Dos netos (seriam 26) e bisnetos (?) conseguimos uma lista provisória de:
António Paulino de Brito, de 91 anos
(1998), e sua irmã Maria Clara de Brito
moradores em S. Matias, Beja e sua filha
Cremilde de Brito, moradora em Beja,
Inocêncio de Brito Ruaz
Mariana Fialho
João Paulino
José da Rosa Fialho
António José Fialho
Francisco
António
José
Mariana
Henrique
José (Pato)
Francisco
João
Manuel
Francisco António de Brito
José Fialho
Joana
Delmira
José
Maria
Manuel
Maria
António
18
Foto com A esposa de Sr. Paulino de Brito; o Sr. Paulino de Brito e D. Clara de Brito
netos de Inocêncio, no Natal de 1980
Contribuições dadas para este estudo:
A família é muito numerosa e está espalhada um pouco por todo o lado.
Eis alguns que foi possível contactar:
Nome
Idade em Pare Contacto
1998
ntesco
António
91 (1907) neto S. Matias
Paulino de
Beja, já falecido
Brito
em 2002.11.19
Maria Clara de Brito
neta
Notas
Conta numerosas histórias do seu avô e
guardou durante muitos anos originais
com a letra do seu avô que depois confiou à guarda da sua filha Cremilde...
Informou-nos por exemplo que: «O
padre que o terá ensinado a ler, ao ver
que o rapaz tinha queda para os estudos, foi um Senhor Padre José Maria
Carreira que tinha casa e família e bens
em S. Matias».
(o mesmo de
Vive com o irmão, Mestre Paulino e
mestre Paulino) ajuda-o a lembrar-se de muitas coisas...
e vai contando as que se lembra..
19
Professora 65 (1933) bisCremilde
neta
de Brito
Inocêncio
Brito Ruaz
José Martins Ruaz
Mariana
Paulino
José Fialho
J. Parreirinha
Mestre Leonel
Manuel António
Panasqueira Parrinha
neto
bisneta
Beja
Teria 5 anos quando faleceu o seu bisavô e tem dele a imagem de uma figura
franzina, de olhos azuis, lembrando-se
sobretudo da sua figura na essa, durante o velório; e foi professora em S.
Matias, Beja, tendo ensinado uma grande parte dos adultos que vivem agora
em S. Matias; está agora reformada e é
a fiel depositária dos originais que serviram para emendar praticamente
todas as recolhas feitas até 1998.
Monte do Calvá- Terá possivelmente, ainda, alguns
documentos e originais do seu avô e a
rio, S. Matias,
foto de família.
Beja
Vendas Novas
Filho de Inocêncio Brito Ruaz, é coronel
do exército.
Beja e depois
Foi professora de Língua e Literatura
Lisboa
Portuguesa, na Esc. Sec. Diogo de Gouveia, é funcionária das Finanças, formada em Direito, dá aulas na Universidade Moderna, em Beja, depois colocada
em Lisboa...
Mora em Faro do Alentejo e em Aires, Palmela. Sabe muitas coisas do Mestre Inocêncio de Brito e tem até alguns originais...
também faz poemas e quadras de sua autoria... É bisneto de I.B.
e terá sido o que herdou a queda do bisavô.
Filho de José Fialho, mora na Moita e, em 1994, fez uma recolha
das Décimas do pai e algumas do trisavô que intitulou
HERANÇAS.
Ferreiro, morador em S. Matias, Monte do Calvário, que é primo
irmão de José Fialho, morador em Faro do Alentejo
Morador em S. Matias, Beja, 62 anos (2006, nasc. em 1944),
coleccionou cerca de 29 das Décimas de I. Brito, dactilografadas
e numeradas, e que infelizmente deixou “levar” uma meia dúzia.
Colecção importante a ter em conta e depositário de Décimas de
outros poetas…para outros estudos a desenvolver.
No fundo, temos que admitir que, para a elaboração deste trabalho, foi decisiva a colaboração e compreensão de muita gente e muitas entidades. Cumpre nomear aqui, correndo
o risco de esquecer alguém, pelo que desde já apresento as mais sinceras desculpas:
A Escola Secundária D. Manuel I, especialmente ao seu Conselho Directivo e Conselho
Pedagógico (1998), pois sem a sua compreensão e tolerância, não teria sido possível, nem
o tempo nem a distanciação necessárias para um trabalho desta envergadura para o
qual, normalmente, as Escolas e o Ensino Oficial não têm tempo ou disponibilidade, ou
não há sensibilidade suficiente para lhes dar a devida atenção.
A Casa do Povo e S. Matias que sempre se prontificou a dar as informações e apoios que
foram solicitados e a contribuição do Grupo Coral e do Grupo de Teatro.
A Junta de Freguesia de S. Matias, especialmente na pessoa do seu Presidente que sempre se mostrou interessada em implementar um trabalho deste género.
20
O Povo de S. Matias que afinal colaborou directa ou indirectamente, através dos
que já foram nomeados e da colaboração que é mencionada a seguir, incluindo a colaboração dada nas conversas informais, que não tive oportunidade de referir.
Outras contribuições.
Nome
Domingos António
Espinho
Mariana Ramalho
Joaquim Ruaz, reformado, agricultor e
mestre-de-obras, nascido, criado e morador
em S. Matias, foi elemento da Junta de
Freguesia e da Casa
do Povo, bem como do
Grupo Coral.
Manuel de Sousa
Aleixo e Maria da
Conceição Sousa Aleixo, familiarmente
conhecidos pelo Mestre Blé ou Blezinho
(que são todos os
Manéis) e pela Bia
São (porque todas as
Marias são Bias)
Maria de Fátima da
Vinha Borges
Domingos Borges e
Beatriz da Vinha
Notas
Escriturário na Cuba, conhecido de José Fialho e Mestre Leonel, dactilografou muitas Décimas de I. Brito e outros.
Uma senhora que foi professora / regente em S. Matias, vivia,
em 1998, no asilo em Beja (lar para idosos), Mansão de S.
José... “Era a única que escrevia as décimas como ele (o Inocêncio de Brito) lhe pedia...” afirma o Mestre Paulino... os outros ou
se enganavam ou pretendiam emendar o que ele dizia...
Sabe de cor várias Décimas de Inocêncio de Brito, ajudando a
descobrir a palavra exacta ou o sentido para algumas transcrições. Afirma que o António Aleixo e Manuel de Castro, que por
vezes se encontravam nas Feiras da região, especialmente na de
Castro Verde, consideravam este pastor o seu Mestre e terão
glosado Quadras suas. Afirma ainda que algumas Décimas consideradas anónimas e atribuídas a outros, são de sua autoria, e
por isso, seria justo e oportuno dedicar-lhe um estudo que merece.
Pedreiro, agricultor, morador em S. Matias, sabe quadras
(décimas) inteiras de mestre Inocêncio e lembram-se de muitas
histórias. Ainda conviveu com ele no Monte Vale de Água, onde,
pelos anos 1935, para onde foi chamado pelos rendeiros que
eram da família Guiomar, um tal Pedro Nunes, para ser professor dos filhos que não podiam ir à escola e ali com ele, encarregado também de guardar as vinhas, podiam aprender a ler e a
escrever... “Quando ia com os animais para algum trabalho,
chegava a desmontar-se para apanhar algum papel que encontrava no chão ou restos de algum jornal para ler e aprender
palavras novas que depois aplicava nos versos...
Professora do Ensino Secundário que com um Grupo de Jovens,
entre 76 e 78, pesquisaram e recolheram versos do poeta... com
Mariana Paulino, Lucília Aleixo, o José Vargas Aleixo, Leonel
Sousa, Manuel Aleixo, Fátima Faneco, Jaime Curva, José Curva, António Manuel Curva, Ana das Dores, João Sardica... José
Silva, A. Ventura, com o apoio e orientação do professor Rui
Parreira da Escola Secundária N.º 1, de Beja, com alunos de
Beja como Joaquim Oliveira Caetano e outros...
O “Velho mais novo” de S. Matias que conhecia toda a gente e
toda a gente o conhecia em S. Matias e, como feitor, correu, com
a sua mulher Beatriz e as filhas, Fátima e Lourdes, todo o Alentejo desde Barrancos, Monte do Pintador em S. Amador, Beringel, Odivelas... Faleceu em Outubro de 1995... e ainda conheceu
e lidou com Inocêncio de Brito.
21
Manuel Alexandre
Souas Aleixo, contabilista, nascido, criado e
morador em S.
Matias.
Arisberta Costa Aleixo, professora no
Ensino Secundário
Jaime Curva (Emigrante em França e
nos anos noventa já
no Algarve),
Olímpio José Carvoeiras
Leonel de Jesus Rato
Sousa
José Galo
Manuel António
Modesto
Pedro António Nunes
José Maximino Silva
Isabel Horta Borges
Foi das primeiras pessoas que me forneceu por escrito algumas
Décimas e tentava estabelecer contactos e procurava conseguir
cópias junto de pessoas ou familiares que teriam uma recolha.
Fez parte dos grupos que em tempos se dedicaram à recolha da
obra de Inocêncio de Brito.
A viver com a família em S. Matias, mesmo sem ser alentejana
de nascimento, tem um contacto privilegiado com os poetas
populares e já é alentejana de coração...
Conseguiu guardar fotocópias de uma recolha realizada e depois
bateu à máquina, e serviu de base a grande número de Décimas
que constam deste trabalho...
O dinâmico presidente da Junta de Freguesia de S. Matias, nos
anos noventa, que sempre procurou conhecer e dar a conhecer
este Poeta, embora sempre absorvido com muitas responsabilidades.
Foi Presidente da Junta em dois mandatos nos anos oitenta e
tomou a iniciativa de dar o nome de pessoas importantes de S.
Matias às ruas da aldeia, por exemplo a Rua Inocêncio de Brito
e Alferes Borges dos Reis
Foi o primeiro Presidente da Junta de Freguesia democraticamente eleito e exerceu o mandato durante três anos.
Foi o Presidente da Comissão que presidiu à Junta de Freguesia após o 25 de Abril até às primeiras eleições.
Um antigo Presidente da Junta, antes do 25 de Abril, que muito
fez por S. Matias, a ponto de lhe ter sido atribuído o nome de
uma rua, a antiga Rua Longa.
Como representantes de alunos que frequentavam os Cursos
Complementares Nocturnos na Escola Secundária Nº1 de Beja
(Diogo de Gouveia) nos anos 1983/85 e me falaram dos Poetas
de S. Matias e da representação do Presépio no Natal.
Como representante dos alunos dos Cursos Complementares
Nocturnos, na Escola Secundária Nº2 de Beja (D. Manuel I) que
levavam para as aulas textos de Literatura Popular Tradicional
e além de trabalhar na Secretaria da Junta de Freguesia, é
animadora dos Grupos de Teatro e Presidente da Casa do Povo.
22
II Introdução
em representação da Família
Introdução por D. Cremilde de Brito
Homenagem a Inocêncio de Brito por José Fialho
D. Clara de Brito e Senhor Paulino de Brito, em representação da Família
(Foto da Família de Inocêncio de Brito)
23
24
Introdução por Cremilde de Brito
bisneta do Poeta que foi Professora em S. Matias e residente em Beja.
...o segredo do POETA
possivelmente naqueles OLHOS sedutores de azul-marinho, inesquecíveis...
«Que mistério se encerrava naqueles olhos azuis para se gravarem indelevelmente na
memória de uma criança de cinco anos?
Havia neles qualquer coisa de tão extraordinariamente invulgar que nunca mais
se esqueciam.
Aos oitenta e cinco anos o seu olhar tinha a cor e o brilho dos olhos de um jovem,
a pureza e a ternura duma criança, uma cor intensamente azul-marinho que eu nunca
antes vira e jamais esquecerei.
Não era a saudade da sua Terra e dos seus familiares que lhe transmitia aquela
ternura porque estava na casa duma filha rodeado pelos netos e não “num lugar solitário”.
Talvez sentisse a nostalgia dos longos e frios serões de boémia, da “vida reinadia”
com companheiros e amigos, dos imensos horizontes do Alentejo que lhe inspiraram as
rimas.
Era o fulgor da paixão pela liberdade (que mostrou ao recusar o lugar de escrivão
do juiz). Como poderia trocar pela pequenez dum escritório o rubro entardecer dos dias
de Verão, ou o pôr do Sol de uma tarde de Outono, a terna canção dos passarinhos numa
bela manhã de Primavera, a magnificência dos “raios purpurinos dourando o cume da
serra” ou “a luz divina as campinas prateando”?
A sua alma sensível que se indignou com o Regicídio e com a crueldade da guerra,
com o “desejo de mandar”, “a cegueira de conseguir”, a “ambição de possuir” reflectia-se
no seu rosto ainda “alegre e sedutor”.
Pensaria certamente na sua companheira falecida, a esposa que não cantou
enquanto ela viveu, mas que depois homenageou com um autêntico hino de exaltação ao
seu lugar incomparável no seio da família. Chamou-lhe “anjo”, “ser adorável”, “formosa e
bela”, lembrando que, sem a sua presença, a vida é “insuportável”, que a mulher é
insubstituível no lar e que, como Mãe, quando ela falta, a “sorte não sorri”, os filhos são
“como cegos”, porque onde ela não mantiver “amor, paz, santa união, é sempre uma
escuridão, dê-lhe o sol onde lhe der”. Nessa casa só há penas e amarguras e falta a luz
da esperança.
Não andava “à procura da paz” porque ele era um homem de paz, sensível e bom
e, na luz dos olhos que eu recordo estava a Paz de Deus, a pureza da sua Fé na “Virgem
Bela”.
É assim que eu vejo ainda aquele corpo franzino, aqueles olhos azuis e doces,
aqueles olhos de Poeta.»
Cremilde Brito
Beja, 14 de Junho de 1999
25
Homenagem a Inocêncio de Brito por José Fialho
Talvez o familiar que herdou os dotes do seu bisavô.
26
Foi por Deus predestinado
Sem pompas sem gabarito
Só agora homenageado
O Poeta Inocêncio de Brito
Foi um homem excepcional
Em toda a sua existência
Não pagou nada à ciência
Nem à cultura geral
Não foi um intelectual
Nem num colégio educado
Foi sim um privilegiado
Da divina providência
Perante tal evidência
Foi por Deus predestinado
Não foi à escola mas deu
Lições aos que precisavam
Dando aos que o rodeavam
Aquilo que ele aprendeu
Não estudou no liceu
Nem em qualquer outro lado
Sem honras de magistrado
Foi um mestre permanente
Porquê tão tardiamente
Só agora homenageado
Viveu tão humildemente
Tão simplesmente acabou
Foi por onde passou
Estimado por toda a gente
Delicado eloquente
Em oração, ou por escrito
Prestigiou o distrito
Com mérito nacional
Foi tudo isto afinal
Sem pompas sem gabarito
Prestigiar com dignidade
A história, a poesia
E tudo o que ele dizia
É pura realidade
Ninguém com a verdade
Lhe apontou qualquer delito
Foi um hábil perito
Dos seus puros ideais
Quem pode esquecer jamais
O Poeta Inocêncio de Brito
Palmela, 13 de Julho de 1999
José Fialho
Uma Décima, do bisneto de Inocêncio de Brito, o Senhor José Fialho Brito da Silva, que
nasceu em Vale de Vargo, em 19 de Março de 1929, mas viveu em Faro do Alentejo, e
desde muito jovem, veio morar em Aires, Palmela. Trabalhou em todos os ofícios até
aprender a profissão de barbeiro que ainda exerce aos setenta anos. Esta Décima foi
escrita e assinada para as Décimas de Inocêncio de Brito, em 13 de Julho de 1999, mas
foi feita em homenagem ao bisavô Inocêncio, quando finalmente soube que a Junta de
Freguesia de S. Matias, Beja, se tinha lembrado do seu Poeta e lhe dedicou o nome de
uma Rua - a Rua Inocêncio de Brito, uma rua Atrás dos Quintais que, até aos anos oitenta, teria só uma ou duas casas...
27
Rua com o nome do Poeta Inocêncio de Brito
28
III EPISÓDIOS DA VIDA DE INOCÊNCIO DE BRITO
Episódios da vida de I. Brito e alguns dados da época...
Outras notas importantes: Qual foi o trabalho deste homem? Por onde andou? Porque
esteve separado da família e durante quanto tempo, para justificar as cartas ou cartas
em forma de Décimas, interpelações que envia ao “Sol brilhante”, para saber dos filhos e
do pai...
Pequenas histórias e versos recordados que mostram a sua veia de repentista...
- Um Pinheiro velho e seco à beira do caminho de ferro... Um Cipreste à beira do cemitério...
- Como ganhou, ou outros por ele, as popias enormes que eram sorteadas na Festa que
se fazia em Ervidel, pelo S. João e era colocada no cimo do mastro...
Estórias conseguidas com o contributo de muitas pessoas, mas, baseadas especialmente
nalgumas longas conversas com o Blezinho, o Senhor Manuel Sousa Aleixo…
Foto do Senhor Manuel Aleixo e seus pais para situar a época em que viveu Inocêncio de
Brito
(Foto da Família de Manuel Aleixo)
29
Notas a partir de várias conversas com muitas pessoas, mas como foi dito, a partir dos
elementos transmitidos pelo Senhor Manuel de Sousa Aleixo.
Inocêncio de Brito nasceu na freguesia de S. Matias, Concelho e Distrito de Beja.
A família morava ao meio da Rua Nova que agora mudou o nome para Alferes Borges
dos Reis, como a antiga Rua de Beja se passou a chamar Rua Dr. António Covas Lima
em homenagem ao Médico que ainda hoje é considerado como um grande médico e benfeitor de todos os habitantes da freguesia. As casas já seriam da família ou foram doadas
em herança a Inocêncio de Brito?
Sempre trabalhou, como a família na agricultura e desde muito novo teria sido criado
com o tio José de Brito que era feitor da Quinta do Pimentel, homem de posses que teria
pensado em deixar-lhe alguns bens e casas em herança mas morreu sem deixar testamento e essa ideia não se terá realizado...
Quem ensinou a ler Inocêncio de Brito, a escola só terá aparecido em S. Matias, com a
República, e por achar o pequeno dotado para as letras, foi o padre José Maria Carreira,
que vivia com a família na freguesia e ali tinha casa e propriedades. Foi padrinho de
Inocêncio de Brito e ter-lhe-á deixado as casas onde ainda vivem alguns descendentes,
na Rua Borges dos Reis que então se chamava Rua Nova.
A última rua da freguesia, na direcção de Évora, tem agora o nome de Inocêncio de Brito
e fica ligada ao Monte do Calvário, na extrema da aldeia...
A rua principal, agora, Rua Dr. António Covas Lima, chamava-se Rua de Beja;
A rua, que agora é Rua 25 de Abril e vai direita à Apariça, era Rua da Apariça;
A Rua Pedro António Nunes (um presidente da Junta de Freguesia de antes do 25 de
Abril, que muito fez pela Freguesia e pela sua gente) era, antes, a Rua Longa.
A Rua Alferes Borges dos Reis era Rua Nova…
A zona Norte de S. Matias, na direcção da Cuba e Évora, ainda é conhecida por Calvário
e Monte da Morena, a dar-nos pistas para perceber a origem desta aldeia que nasceu nas
extremas das duas grandes herdades: Apariça e Monte da Morena...
A Rua Inocêncio de Brito, no Monte da Morena... (Chamava-se antes…?)
Para sabermos de mais lugares por onde andou e por onde terá andado a família, há
duas Décimas em que conseguimos ver a assinatura: NESTE LUGAR SOLITÁRIO, onde
também escreveu em notas ao lado do MOTE, explicando onde estava, Monte Corvesso
(?), e por onde andavam os filhos: um na vida militar, outro a guardar as Cabras da Apariça, lá para os lados de Moura, mas sem saber onde estava...; e outra NO TEU GIRO
SOL BRILHANTE.
Na Décima a INSTRUÇÃO É PRECISA, escreveu uma nota “É letra de 85 anos não posso”...
30
PEQUENAS HISTÓRIAS E VERSOS RECORDADOS
O que eu me lembro do Mestre Inocêncio, conta o Senhor M. Aleixo, é que, já bastante
idoso terá sido chamado pelos rendeiros do Monte Vale de Água, da família Guiomar, de
Ferreira do Alentejo, para guardar as vinhas e educar os filhos que estavam longe da
Escola. (Ver a Décima MINHA TERRA, MINHA TERRA) e, possivelmente a que deu origem ao MOTE:
Já fui senhor professor
A um pai eduquei filhas
Agora sou não sei quem
Na Ribeira de Campilhas
Montes por onde terá andado? Como trabalhador rural, andaria por onde era preciso
para o amanho das terras da família e por onde lhe arranjavam trabalho à jorna ou às
épocas ou até anos a fio...
Monte da Casa Branca é aquele a seguir ao cruzamento para Selmes, na direcção da
Vidigueira;
Monte da Morena, na extrema Norte de S. Matias, até ao cruzamento para Selmes;
Monte Vale de Água, em Ferreira do Alentejo (Ver “Minha Terra, minha Terra...”);
Ribeira de Campilhas (ver “Já fui senhor professor...”);
Monte Corvesso? – referido na nota de NESTE LUGAR SOLITÁRIO, não conheço.
Outros dados da época, relacionados com temas desenvolvidos nas décimas.
Afonso Costa: Político português, nasceu em Seia, Serra da Estrela, em 1871, morreu em
Paris em 1937. Foi professor de Direito nas Universidades de Coimbra e Lisboa. Foi
deputado republicano combatendo com violência as instituições monárquicas. Foi Ministro da justiça no 1º governo da República e ficou célebre pelo seu sectarismo antireligioso. Ver a Quadra “A instrução é precisa...”
Brito Camacho. Manuel de Brito Camacho, (1862-1934) nasceu em Aljustrel, foi médico,
muito absorvido pela política, confirmou os seus créditos de prosador regionalista com –
Nas Horas Calmas, 1920; Quadros Alentejanos, 1925, Gente Rústica, 1927, Gente Vária,
1928, Cenas da Vida, 1929. Foi amigo e correlegionário de homens como Afonso Costa,
António José de Almeida que se destacaram na propaganda e implantação da República
e de M. Teixeira Gomes que veio a ser eleito para a Presidência da República. Fundou,
foi director e redactor principal do jornal A Luta, desde 1906 até 1934 quando saiu o
último número e ano da sua morte.
Regicídio, de 1 de Fevereiro de 1908, e o
Rei D. Carlos: Nasceu a 28 de Setembro de 1863, morreu a 1 de Fevereiro de 1908. Foi
rei de Portugal desde 1889 a 1908 a quando do regicídio. Foi um estadista de uma
envergadura invulgar e muito fez para dignificar Portugal tanto na dimensão ultramarina como internamente. Foi cientista e desportista de mérito e pintor laureado internacionalmente.
31
Rainha D. Amélia – Foi a última rainha de Portugal. Nasceu em Twickenham, Inglaterra, em 1865 e morreu em Versalhes em 1951. Era filha dos Condes de Paris e casou com
o Rei D. Carlos de Portugal em 22.5.1886. Criou a Assistência Nacional aos Tuberculosos, em 1899, o Sanatório do Outão, em 1900 e vários dispensários e outros sanatórios.
Fundou o Museu dos Coches em 1905. Está sepultada no Panteão de S. Vicente, em Lisboa.
O Príncipe D. Luís Filipe – Príncipe herdeiro do trono, morreu no atentado contra a
família real, nasceu a 21.3.1887 e morreu em 1.2.1908...
D. Manuel II: Foi rei de Portugal após o duplo regicídio do seu pai, o rei D. Carlos e de
seu irmão mais velho, D. Luís Filipe, em 1908. Nasceu em Lisboa em 15.11.1888 e morreu em Twickenham, Inglaterra em 1932, onde viveu no exílio desde a implantação da
República em 1910.
João Franco – Nasceu em Alcaide, concelho do Fundão em 14 de Fevereiro de 1855 e
morreu em Lisboa a 4 de Abril de 1929. Formou-se em Coimbra aos 20 anos seguindo a
carreira administrativa entre 1877 e 1885. Em 1886 torna-se deputado pelo círculo de
Guimarães. Foi nomeado Ministro da Fazenda, pelo Partido Progressista, em 14 de
Janeiro de 1890. Foi também ministro das Obras Públicas e foi ministro do Reino depois
da I Revolta Republicana de 31 de Janeiro de 1891. Em 16 de Maio de 1903 funda o Partido Regenerador Liberal e coligado com os Progressistas assume o poder em 19 de Maio
de 1906. Com a sua política contraditória e violenta contribuiu de forma decisiva para o
regicídio de 1 de Fevereiro de 1908. Talvez por ironia do destino, uma trineta de Inocêncio de Brito veio a casar com um sobrinho neto de JOÃO FRANCO FRAZÃO, cuja família oriunda e residente na Beira Baixa, muito se orgulha deste seu antepassado. Detentora de abundante documentação deste seu familiar, sabem que se chegou a bater em
duelo contra adversários da Monarquia e em defesa da Rainha e não terá sido o “João
Franco malvado” que Mestre Inocêncio invectiva na Décima “NOBRE TERREIRO DO
PAÇO”. Em vez de a omitirmos, registamos a Décima como homenagem ao político e
família e ao poeta que assim procurava interpretar a ideia sobre aquele político que se
difundiu pelo povo naquele período agitado e de grandes convulsões políticas.
I Grande Guerra Mundial – 1914 – 1918 (Armistício assinado em 11/11/1918) (80 anos
em 1998)
Guerra Civil Espanhola – 1936 - 1939
II Grande Guerra Mundial – 1939 - 1945
Hitler – o Kaiser déspota orgulhoso? Não se refere a ele. – Adolfo Hitler, 1889 – 1945,
torna-se chefe de um pequeno Partido Alemão dos Trabalhadores, em 1921, que transforma em Partido Nacional Socialista. Torna-se chanceler em 1932 e em 1934 já é o chefe ditatorial da Alemanha. O seu sonho de domínio e expansão leva-o a desencadear a II
Guerra Mundial.
Guilherme Segundo - O Kaiser déspota orgulhoso, neste caso é o Guilherme Segundo,
Imperador alemão (1859-1941) subiu ao trono em 1888 e, com o seu espírito militarista e
expansionista veio a provocar a I Grande Guerra, 1914/18 e se exilou, nos Países Baixos,
desde 1918. (Ver Décima relacionada: Kaiser déspota orgulhoso).
32
Mestre Inocêncio, andarilho de Feiras e Poeta repentista.
Segundo informações do Senhor Manuel de Sousa Aleixo e afinal confirmada pelo Mestre
Paulino, nas festas de Ervidel, onde faziam um arraial pelo S. João, havia normalmente
uma grande POPIA que era ganha por aquele que lhe fizesse os melhores versos... Claro
que, quando estava o Mestre Inocêncio de Brito, era certo e sabido quem é que ganhava.
Como sabiam que ele era muito desprendido, nunca publicou nenhum dos seus versos
nem fez daquelas folhas que os poetas populares costumavam fazer para vender nas feiras..., um dia um dos miúdos foi pedir uns versos ao Ti Inocêncio... Primeiro ainda disse
que não, mas já que ele não queria concorrer, perante a insistência do rapaz, ele perguntou-lhe:
- Então de que é feita a POPIA meu menino, diz lá... E o moço lá disse que, com a farinha, a POPIA levava manteiga e mel e...
– Então presta bem atenção e leva lá esta que de certeza vais ganhar a POPIA...
Claro que o júri do qual fazia parte o professor lá da terra logo viu que a quadra não era
dele, mas perante a confissão de que era uma oferta do Mestre Inocêncio lá lhe deram o
prémio que ele foi repartir com o Mestre, os amigos e a família...
A Manteiga nutritiva
Junta ao mel saboroso
À face de Deus unida
Faz um manjar delicioso.
Doutra vez teria ganho com a quadra seguinte:
Que lindo Arco Celeste
Que Deus mostrou a Noé
Que linda, agradável vista
Que aquela POPIA é.
Nessa altura, havia também em Beja um poeta popular muito considerado, um tal Francisco Campos, que, ao que parece, se considerava o melhor...
Consta que lhe terá dedicado os seguintes versos:
Francisco Campos não penses
Que és sábio sem ter segundo
Mais tolo é quem se persuade (Tolo é considerar-se)?
Ser o único no mundo.
Mas também terão sido em sua defesa que fez estes:
Está muita gente enganada
Com respeito a Francisco Campos
Em motes ninguém lhe ganha
Só se forem alguns Santos.
Para o Manuel de Castro, poeta da Vila de Cuba, que seria um tanto mais novo do que
ele, e a quem, segundo dizem, ele tratava por Mestre, fez esta quadra que parece ter o
seu desenvolvimento em Décimas:
33
Vila de Cuba tu és
A terra com que eu engraço
Ao contemplar-te imagino
Ser passarinho e tu laço.
Consta que, sobretudo, nas Feiras de Castro Verde, o Mestre Inocêncio de Brito se juntaria com o Manuel de Castro que ia da Cuba e o António Aleixo que vinha do Algarve...
e, como não podia deixar de ser, tinha de haver um despique. Ainda nos anos 90 se têm
juntado, na taberna do João das Cabeças, os poetas populares que cantam o baldão, que
cantam ao despique acompanhados pela viola campaniça... Consta que haveria despiques de décimas ou décimas silvadas, que à semelhança do baldão, que joga com oitavas
espelhadas, obrigavam o que respondia a pegar no último verso com que o primeiro poeta terminava a sua décima...
Como podemos ver, pela recolha à frente, o Mestre Inocêncio de Brito glosou o mote que
normalmente é atribuído a António Aleixo, mais conhecido por ter livros publicados.
Seria dele o MOTE ou de Inocêncio de Brito que, segundo consta, pelo menos por ser
mais velho, considerava seu Mestre, como o Manuel de Castro?
Descobre-te, milionário
Vai um enterro a passar
É a filha de um operário
Que morreu a trabalhar.
Falando ainda de poetas populares que se teriam cruzado com Inocêncio de Brito, existe
uma grande disputa a respeito do MOTE que transcrevemos a seguir e muitos atribuem
a Ti Belchior da Estação. O certo é que os dois terão glosado o mesmo mote e como assinalamos na transcrição, teriam nascido de histórias diferentes.
A Décima do Ti Inocêncio terá nascido dum episódio em que o Afonso Costa vem a Beja,
como advogado, defender um cigano bastante abastado, famoso, naquela altura, por
aquelas redondezas. A caminho de uma feira, esse cigano que levava a sua caravana,
ter-se-ia cruzado no caminho com um moiral que levava o seu gado e os animais enlearam-se uns com os outros o que provocou uma grande confusão. No meio da discussão o
cigano puxou duma pistola e matou o outro lavrador. Quando a família meteu o processo
em tribunal, o outro, que tinha dinheiro, apresenta como seu advogado, nada mais nada
menos que o próprio Ministro da Justiça, o Afonso Costa. A jovem República que tinha
acabado com os males da Monarquia, para bem da Pátria, mostrava-se logo como defensora dos pobres e da justiça desinteressada!!!
A história do mesmo mote glosado pelo Ti Belchior da Estação, parece meter também
outro conhecido da Primeira República, o Brito Camacho, que teria contado a um grupo
de estudantes de Coimbra, esta habilidade de poetas “analfabetos” do Alentejo fazerem
décimas a partir de um mote e então, consta que o mote seria do próprio Brito Camacho...
A instrução (não) é precisa
A instrução não convém
A instrução embrutece
A quem muita instrução tem
Do Ti Belchiorinho da Estação seria também esta quadra relacionada com o tabaco, já
que o Mestre Inocêncio tinha umas sobre o vinho e parece que gostava bem dele...
34
Contou-nos o Senhor Manuel de Sousa Aleixo:
Este vício do tabaco
Dos pobres e figurões
Não é vício é um costume
Onde se gastam milhões.
Como consta que gostava de afogar as mágoas na bebida, e não era só ele, num meloal,
onde havia vários encarregados de olhar pelos “amigos do alheio”, às tantas, uma
CHOÇA que servia de abrigo ao pessoal, era já um depósito de garrafas, onde já não se
podia entrar... Então a quadra que saiu era assim:
Ai que belo meloal
Ai que choça que lá está
Não é choça é botica
Isso choça, espere lá!
Conta-se ainda que um dia o Mestre Inocêncio foi servir de testemunha num caso que foi
julgado em Ferreira do Alentejo. No final o Juiz, ou por já ter ouvido falar, ou impressionado com as falas do homem, no final da audiência, depois de mandar todos em paz, disse:
- Aquele senhor além fica aqui para falar comigo...
O Juiz teria falta de um escrivão e teria convidado o Ti Inocêncio para o ofício, mas ele
escusou-se, talvez a pensar no “Passarinho e no laço” que dedicou ao Manuel de Castro...
(Ver também a referência da bisneta D. Cremilde, na introdução).
Um dia um colega do trabalho, perdeu a “pataca” onde guardava o tabaco e andou à procura por todo o lado e a perguntar a toda a gente... Então o Ti Inocêncio, como não podia
deixar de ser, respondeu com uma quadra:
Eu não vi a sua pataca
Nem fechada nem aberta
Se achasse a sua pataca
O meu amigo tinha-a certa.
Já, possivelmente, nos últimos anos, quando trabalhava na “apanha da palha” para
fazer os grandes montes onde era guardada, desabafou com a seguinte quadra:
No Monte da Casa Branca,
Fizeram-me carregar palha!
Cá no chão, ‘inda lá vai,
A escada é que atrapalha!
Afinal, esta quadra que nos apareceu primeiro, isolada, deu origem a uma DÉCIMA que
reproduzimos no devido lugar.
35
Para mostrar o cuidado que este poeta tinha a escrever, uma vez que teve oportunidade
de aprender a ler e escrever com o Padre Carreira, registamos estes versos que o seu
neto António Paulino de Brito recorda com os seus 91 anos (em 1998) e que afinal são o
final de uma adaptação da terceira décima da Décima: MINHA TERRA, MINHA
TERRA:
Manitas que tão bem escrevem
Escrevam a Deus que é Pai Nosso
Visto que eu lá ir não posso
Os anjos do Céu me levem
Para finalizar estes dados iniciais, recordando ainda versos, que Mestre Paulino e a imã,
D. Clara (Maria Clara de Brito) recordam, acrescentamos ainda uns versos que teria feito o Mestre Inocêncio, ao sentir o fim dos seus dias:
O Tempo vai-se passando
E eu estou no fim com certeza
Tenho contas a ir dar
Ao autor da Natureza
A maneira como Inocêncio de Brito arquitectava as suas QUADRAS / DÉCIMAS é lembrada pelos netos António Paulino e Maria Clara de Brito: “Muitas vezes, dávamos com
ele a falar sozinho e quando lhe perguntávamos o que estava a dizer, muitas vezes não
respondia e pedia que o deixassem em paz, pois estava com certeza a engendrar os seus
poemas... Algumas vezes, quando já tinha na cabeça os versos completos, voltava-se para
nós e dizia:
- Querem ouvir? e ali desfiava as sua Décimas.
E ainda nos disse mais:
- “Não misturem os meus versos com os dos outros...” Mesmo neste trabalho não esquecemos este “recado”. Juntamos outros versos e textos, mas para os melhor entender na
sua época e para lhes dar o devido relevo que todos podem verificar.
Para mostrar a sua grande memória e o gosto que tinha em ler, conta-se ainda um episódio que se passou numa daquelas representações do PRESÉPIO, um teatro popular –
Auto de Natal - ciosamente guardado por algumas famílias de S. Matias e poderá e deverá ser objecto de estudo e futura publicação, embora haja algumas pessoas que considerem que pode haver inconvenientes em se fazer isso. A representação mais recente foi
levada ao palco no Natal de 1995 ou 1996 e a anterior tinha sido há cerca de 48 anos, em
1946 ou 1947. Conta-se que numa das representações anteriores, em que Inocêncio de
Brito estava presente mas num grupo com uns amigos numa sala anexa àquela em que
se representava o AUTO, a dada altura, o actor estava a declamar a genealogia do
Menino Jesus, enumerando todos os descendentes desde David a Jesus, (Vide S. Mateus,
I, 1 a 12), às tantas teve uma “branca”, uma perda de memória, atrapalhou-se, e ficou
mudo. Do seu lugar, Mestre Inocêncio que parecia alheio à representação, que se passava na sala ao lado, mas com a qual tinha ligação a sala em que se encontrava, calmamente, segue a citação da Genealogia de Jesus, sem falhar um nome. Todos se viraram
para trás, aplaudiram, e o AUTO seguiu a sua representação.
36
Notas finais importantes neste ponto:
Como é evidente, a ortografia dos versos que nos foram ditos oralmente foi feita segundo
as leis actuais da escrita.
Como também será fácil de perceber, de todos os restantes textos a que pudemos ter
acesso aos manuscritos escritos pelo próprio autor ou ditados por ele, procurámos manter a ortografia usada, apesar de poder haver alguns desvios mesmo às normas da época.
Inocêncio de Brito não terá frequentado a escola oficial, mas, como já foi dito noutras
notas, aprendeu a ler e escrever com o senhor padre José Maria Carreira e nota-se, pelas
fotocópias dos manuscritos a que tivemos acesso, que procurava esmerar-se na caligrafia
e ortografia. Além disso, como revelam certos testemunhos como o do mestre Paulino seu
neto, D. Cremilde, bisneta e até o senhor Manuel de Sousa Aleixo, o poeta só confiava
nas cópias escritas pela professora regente D. Mariana Ramalho:
– “Essa sim, é a única que escreve como eu digo” – pois muitos não ouviam o que ele
dizia ou procuravam e procuram emendar o que achavam que o “pobre poeta pouco
letrado” não podia saber! Do que acontecer de parecido neste trabalho, apresento desde
já as minhas desculpas.
É de considerar entretanto, apesar de estarem escritos, que o próprio autor, como é normal acontecer, quando se trata de textos onde domina a oralidade, usasse por vezes termos diferentes de acordo com a inspiração ou memória do momento, como acontece frequentemente, embora o rigor da estrutura e das rimas não permita grandes alterações e
divagações.
Voltamos a frisar que, na medida em que nos foi possível decifrar os manuscritos, procuramos manter a ortografia escrita ou ditada pelo autor.
Ver os casos do fizestes e quisestes para a segunda pessoa do singular tão comum no
Alentejo e já ouvi esta deformação a muita gente ilustrada por esse país fora, e depois no
plural, quando emprega o Vós, mesmo majestático é, por exemplo, fizesteis, quisesteis,
deis... Há certamente ainda muito que estudar sobre expressões e características do
“falare alentejano” que o estudo destes e outros poetas populares ajudariam a descobrir.
Como nunca nos passou pela cabeça conseguir obter todas as informações completas,
ficam aí as interrogações e reticências para cada leitor completar os dados que faltam e
alguém mais habilitado as consiga compilar e escrever numa próxima edição mais completa, mais elaborada e com maior divulgação.
José Rabaça Gaspar
S. Matias, Beja, Novembro de 1998
37
38
IV A organização que foi dada às DÉCIMAS,
A organização que dói dada à DÉCIMAS, desde as mais biográficas, que falam do poeta
e da família e das terras vizinhas;
passando para as que comentam casos simbólicos e temas de reflexão geral como os
Olhos, a Mulher, o diálogo do Vinho...;
seguindo para as que comentam o Regicídio de 1908 em que invoca as personagens principais; mais duas contra a I Grande Guerra Mundial 14/18;
terminando com décimas sobre o desconcerto e insensatez da guerra e a invocação da
Morte e da Solidão e No Ventre da Virgem Bela.
1 – DÉCIMAS mais BIOGRÁFICAS, relacionadas com a família, Lugares e Terras por
onde andou...
2 – DÉCIMAS que comentam casos simbólicos ou tratam temas de reflexão geral, desde
a Instrução..., ao Vinho..., Olhos... e Mulher...
3 – DÉCIMAS referentes ao REGICÍDIO, 1908...
4 – DÉCIMAS a respeito da I GRANDE GUERRA MUNDIAL, 1914/18...
5 – DÉCIMAS de reflexão (com fundamento) sobre a GUERRA e a MORTE... e a Virgem
Maria.
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Igreja de S. Matias e casas antigas
(Fotos de Manuel Alexandre Sousa Aleixo)
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DÉCIMAS de Inocêncio de Brito
Décimas mais biográficas
Minha Terra, Minha Terra
Trabalho não tenho achado
Nêste Lugar solitario
No teu giro sól brilhante
Parti a tola à Maria
Já o bom fáto vesti
Já fui senhor professor
No lugar que desempenho
No monte da casa branca
Sorri Cuba e sejas grata
Pedrógão industrial
Brasão da Junta de Freguesia e da Casa do Povo de S. Matias
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42
"Quando eu estava lá pro val dAgua"
MINHA TERRA, MINHA TERRA - mn
Minha terra, minha terra
Éla lá e eu aqui
Os anjos do Céo me levem
Prà terra onde eu nasci
Quasi no resto da vida
Intentei abandonar-te
Cruamente desprezar-te
Tornar-te como esquecida
Ao não vêr-te hoje patria querida
Só paixão em mim se encérra
Tua ausencia me fáz guerra
E tal saudade me obriga
Que a todo o momento diga
Minha terra, minha terra
Sem os menores embaraços
Sai dela para fóra
E no sítio onde habito agora
As pedras pra mim são laços
Mover para lá meos passos
Minhas pernas não se atrévem
Mãossinhas que tão bem escrevem
Escrevão a Deos que é pai nosso
Visto que eu lá ir não posso
Os anjos do Céo me levem
Foi éla onde nasceu
Este homem tão seu amante
Hoje tornou-se um viajante
Todo o amor lhe perdeu
Foi éla o berço aonde eu
Os infantis sonos dormi
Desde que os olhos abri
Ternamente nos amâmos
E hoje presentes nos achamos
Éla lá e eu aqui
Minha naturalidade
Patria dos meos ascendentes
Minha e dos meos descendentes
És tu na realidade
Deixar-te foi crueldade
Já meos erros conheci
E já contrito a Deos pedi
Pra que contes da minha morte
Por seu amór me transporte
Prà terra aonde eu nasci
Nota: Os acentos, por exemplo “Éla” e “Prà” foram conferidos pelos manuscritos, bem
como “Mãossinhas”… “Escrevão” e outras maneiras de escrever que podem parecer
menos correctas.
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TRABALHO NÃO TENHO ACHADO - mn
Trabalho não tenho achado
Peço esmola não me a dão
Se a fome a roubar me obriga
Serei prêso por ladrão
O incansavel trabalho
Me saceia a negra fome
Expulsa quem me consome
E ao corpo dá-me agasalho
Com ele maguas espalho
Ganho as medalhas de honrado
Sou rico, sou abastado
Quando a ele me dedico
E por tanto que o suplico
Trabalho não tenho achado
Quero o pão de cada dia
Ganhar com o suor do rosto
A trabalhar estou disposto
Não quero vida reinadia
Não quero por outra via
Que a má fama me persiga
Mas se não vale a fadiga
Do meu deligente braço
Aos Ceos pregunto o que faço
Se a fome a roubar me obriga
O ocio ameaça o perigo
Eu quero trabalhar com excesso
E por isso trabalho pesso
E encontra-lo não consigo
Eis como pobre mendigo
Estendo à caridade a mão
Pedi deram-me o perdão
Deos dos Ceos o que farei
Trabalho não encontrei
Peço esmola não me a dão
Se essa feia denegrida
Me invadir barbaramente
Perderei forçosamente
O amor à honra querida
Ah quantos há nesta vida
Malvados por condição
E eu se o for por precisão
Não há juis que me atenda
Não há lei que me defenda
Serei preso por ladrão
Nota: Ortografia conferida pelo manuscrito.
Na recolha de J. Parreirinha (filho de José Fialho) no 1º verso da 1ª Décima escreve “O
incessante trabalho / Me sacia a negra fome”.
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NÊSTE LUGAR SOLITARIO - mn
Nêste lugar solitario
Onde o acaso me tem
Brado ninguém me responde
Olho não vejo ninguém
Estou por cá bem felismente
Só me faz incomodar
Uma pendencia de olhar
Para a parte do nascente
Passo a vida tristemente
Neste continuo fadario.
Sinto-me louco ando vario
E o caso é está bem visto
Que não dou remedio a isto
Nêste lugar solitario
Que mais pra eu viver triste
Um cinge as armas de Elrei
E o mais novinho não sei
Ao mênos aonde existe
Pra que o pai o não aviste
A distancia me o esconde
Lançar a vista pra onde
Se o pobre pai nada vê
Estar-lhe bradando pra quê
Brado ninguem me responde
A côr que não desmerêce
É amôr de pai pra filhos
E se ausente dêsses caudilhos
Mais a côr resplandêce
É lembrança que não esquêce
E não pode esquecer a quem
Tem um aqui, outro álem
Onde a sórte os colocou
E eu por sórte tamem estou
Onde o acaso me tem
De dia mando o sentido
Levar novas e trazêr
Tanto dêles quero sabêr
Tão pouco conrespondido
À noite um sonho atrevido
Com illusões me entertem
Illude-me o querer bem
Que os estou vendo e ouvindo
E eu tão nescio acordo rindo
Olho não vêjo ninguem
Nota: Ortografia conferida pelo manuscrito.
Tem assinatura, cortada na fotocópia: Inocêncio de Brito
Por onde andou este homem enquanto um dos filhos fazia o serviço militar? Porque é
que não sabe do outro? Porque nunca fala da mulher, ou da mãe dos filhos?
É ele mesmo que responde, com NOTAS escritas pelo próprio ao lado do MOTE:
"Esta obra fis eu quando estive no monte Corvesso. E, os filhos estavão em diferentes pontos."
"Um era militar, e o mais moço estava com as cabras da Apariça ao pé de Moura. E eu não sabia onde êle estava."
Monte Corvesso? Ou Monte Corveiro? No original parece-nos poder ler Corvesso, mas as
pessoas contactadas não conhecem tal nome e este, como é em nota, ao lado da Décima,
não deve ser invenção. Há algum Monte, para os lados de Ferreira, com este nome ou
parecido?
Quanto ao reparo de não falar, quase nunca na esposa, responde a sua bisneta D. Cremilde: «Pensaria certamente na sua companheira falecida, a esposa que não cantou
enquanto ela viveu, mas que depois homenageou com um autêntico hino de exaltação ao
seu lugar incomparável no seio da família.»
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NO TEU GIRO SÓL BRILHANTE - mn
No teu giro sol brilhante
Teu explendor vai e vem
Trás-me nóvas dos meus filhos
Recomenda-me a meu pai
Quando tu sól aparéces
Dourando o cume da serra
Com teu giro em mar e terra
Consôlo restabeléces
Assim como os entristéces
Se deixas de ser constante
Sem tua luz radiante
Tão tristes que são os dias
E tudo alegras se alumias
No teu giro sól brilhânte
Luz Divina de ahi vêm
As campinas prateando
Saudosas nóvas dando
Dáme-as cá a mim tamêm
Dá-me notícias de quêm
Tenho afetos mas escondi-lhos
Em meos olhos não há brilhos
Os dias que os não avisto
E tu sol atendendo a isto
Trás-me nóvas dos meos filhos
Teus raios são consoladôres
São os mantos purpurinos
Que cóbrem os perigrinos
Mitigam-lhe as suas dôres
És o rei dos benfeitôres
Moderador de tanto ai
Quando o teu vigôr descai
Vão-se alegrias perdendo
Alegrando e entristecendo
Teu esplendôr vem e vai
E à tarde ao declinares
Fita a vista atencioso
Num ancião muito idoso
Mas nóta que me dê ares
É êsse sem duvidares
Quem me estima e não me envai!
Aqui ninguém me distraí
E tu sól se por mim te interéssas
Rei dos astros não te esquéças
Recomenda-me a meu pai
Nota: Ortografia conferida pelo manuscrito.
Tem assinatura: Inocêncio de Brito
Esta interpelação ao SOL como mensageiro das missivas que o Poeta na solidão precisava urgentemente de enviar para os familiares, será uma das PROSOPOPEIAS mais conseguidas do Poeta. Depois das apóstrofes em que elogia o SOL, o Poeta transforma-o em
seu interlocutor e parceiro para lhe trazer e levar as suas mensagens importantes!
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PARTI A TOLA À MARIA- mn??? dc
Parti a tola à Maria
E não lhe falo seis meses
Por causa de uma pulseira
Que ela comprou aos chineses
Maria lhe disse eu
Que queres Artur disse-me ela
Olha com raça amarela
Não vou nem mesmo pro Céo
A Maria estremeceu
Deu-lhe a tal neurastenia
Vai eu com diplomacia
Fui lá fora beber dois
Vim de lá e ao depois
Parti a tola à Maria
Nesta altura o meu cunhado
Por ver a mana a chorar
Tentou em mim se vingar
E eu vi-me muito empessado
Depois de um braço quebrado
Entendi que fis asneira
Mas no fim da brincadeira
Ao ver fiquei comovido
Em casa tudo envolvido
Por causa duma pulseira
Minha sogra que é uma fera
Por ver a filha a chorar
E para me castigar
??
Meu sogro José Pantera
Pereira e Cunha Menezes
Já me disse duas vezes
Se você se faz Matias
Suspendo-lhe as garantias
E não lhe falo seis mezes
Mas agora felismente
Pases com Maria fis
Já me sinto mais felis
Ando alegre e sorridente
Já não sou intransigente
Com Chinos ou Japoneses
Já findaram os meus revezes
E a minha Mariazinha
Já usa a tal argolinha
Que ela comprou aos Chinezes
Este deve ser um episódio, que com certeza foi muito comentado lá na terra, e é de imaginar o Ti Inocêncio,
na roda dos amigos, numa taberna, a contar o passado com o “Artur” a sogra e o sogro José Pantera. Pelos
nomes usados e pela pompa do nome do “sogro” trata-se de uns versos encomendados, ou uma pura ficção
para divertimento do poeta e do seu público.
A maneira como foi escrito no original, a aproveitar o espaço livre de outra Décima – “O nobre Terreiro do
Paço...”, dificultou imenso a leitura destes versos e o quarto verso da segunda décima não foi possível ler.
Podemos inventar? – Fez-me sentir o mais bera? Tornou-se muito severa?! Abriu-me um lenho na testa?
Deu-me uma tareia mestra? Fez-me da tola uma esfera! Atirou-me com uma esfera? Chamou-me de besta
bera! Fez-me o mesmo que eu fizera! Tirou-me a que antes me dera! Chamou-me aquilo que eu era! Disse
qu’era d’outra era! Fez-me partes (artes) de megera? Podíamos ficar para aqui a inventar muitas outras...
Claro que não é possível adivinhar a saída do Poeta... Talvez ainda alguém se lembre!...
Nota importante – Creio que posso afirmar que tive nas mãos o original manuscrito desta décima, muito
deteriorado e muito confuso por estar misturado com outra décima (a do Terreiro do “Passo”, como já disse
creio que escrito com dois ss!), e, numa visita à família, em Lisboa, para tirar dúvidas e confrontar com o
original, o certo é que, como não tinham ali os originais, e por isso não foi possível verificar, eu fiquei sem a
fotocópia! A família poderá emendar este lapso em qualquer altura, ou quando houver oportunidade de conseguir fotocópias de qualidade dos originais ainda existentes.
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JÁ O BOM FÁTO VESTI - dc
Já o bom fáto vesti
Bom fáto chapéu e calçado
Hoje a penas um barrete
Chinélo e fáto rasgado
Na flor da minha edade
Na verdura dos meus anos
Dos loucos prazêres mundanos
Saciei minha vontade
Tive alegre mocidade
Muito gosei muito ri
Bem -vestidinho me vi
Hoje porem só visto trapos
Mas se ando a pingar farrapos
Já o bom fato vesti
Fazenda azul ou preta
Trajáva conforme cria
Osava o que apetecia
Como quem usava xeta
Uzei a boa jaqueta
Boa calça bom colête
Um chapéu todo cadête
Preso com duas borlinhas
E para tapar as orelhinhas
Hoje apenas um barrête
Eu sempre tive lugar
Entre as pessoas decentes
E hoje tornam-se impacientes
Se eu delas me aproximar
Quando estou nisto a pensar
Vivo um tanto apaixonado
Morreu meu tempo passado
Morreu já para mim não vive
Morreu o tempo em que tive
Bom fáto chapéu e calçado
Em trajar bem eu fiz brio
E seguir os intentos meus
Com a ajuda de Deus
E dum homem que foi meu tio
Hoje porem já me desvio
Dum homem bem arranjádo
Tornei-me tão desbochado
Que de mim proprio eu abuso
E por meu desboche só uso
Chinélo e fato rasgádo
Cuba, 8 de Maio de l950, Domingos António Espinho,
(que era escriturário na Câmara de Cuba, passou à máquina alguns versos de Inocêncio
de Brito, que depois deu ao seu bisneto José Fialho)
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54
JÁ FUI SENHOR PROFESSOR - mn
Já fui senhor professor
A um pai eduquei filhas
Agora sou não sei quem
Da ribeira de campilhas
Ditoso homem que gosa
De profissões quantas quer
Diga o contrario quem disser
É pessôa venturosa
Entre élas a mais honrosa
Já eu fui merecedor
Por um meio seja quem fôr
Por meos dotes excelentes
De jovens minhas parentes
Já fui senhor professor
Elle então aos meos cuidados
As meninas entregou
Certamente confiou
Em meos modos delicados
Para os fins mencionados
Estavão de mim à mercê
Nesse tempo já se vê
Era o seu mestre estimado
Era délas respeitado
Agora sou não sei que
Fis excessos e bastantes
Pra que elas se aplicassem
Pra que lessem e estudassem
As coisas mais interessantes
Como as terras importantes
Do continente e das ilhas
Do mundo as maravilhas
Istoria passada e presente
De quanto sei finalmente
A um pai eduquei filhas
Agora sou maltezóte
E para as insígnias da malta
Hoje presente só me falta
A bordôa o tarro e o capote
No jogo do deite e bóte
Sou o az Mato as manilhas
E pra esgotar essas bilhas
Por aqui tudo me aclama
Pelo Sagorro da fama
Da ribeira de campilhas
Nota: Ortografia conferida pelo manuscrito. Neste manuscrito está riscado o mote de “A
instrução é preciza” e ainda escreveu oito versos da primeira décima. Este facto criou
uma dificuldade acrescida para se tentarem ler as décimas que ficaram mais apertadas.
Ao contrário do que costuma fazer, a 2ª décima está logo, muito apertada, ao lado do
primeira e não por baixo. No primeiro verso da 3ª escereveu: “Ele então aos meus” e logo
na linha seguinte: “Elle então aos meus cuidados”. (Ver fotocópia ou original).
Sagorro? Ver a expressão Sagorro que em certas zonas quer dizer “Um trabalhador de
determinado lugar”.
É tentar imaginar nesta DÉCIMA o desejo natural de ensinar a outros aquilo que
aprendeu. Naquela época em que não havia facilidades de frequentar a escola, talvez
este impulso natural tenha criado a vocação de alguns dos seus descendentes que vieram
a ser professores...
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56
NO LUGAR QUE DESEMPENHO - dc
No lugar que desempenho
De um infâme sensurado
Faço obras de misericórdia
Pratico um dever sagrado
Minha importante memória
Me faculta me franqueia
Profissão que me grangeia
Ilugios, louvores e glória
Eu dou gravuras à história
Que com o meu punho desenho
Dou com quem me entertenho
A luz do entendimento
Dou de mim bom docomento
No lugar que desempenho
O meu instruir civiliza
As maiores barbaridades
E desenvolvo faculdades
A quem instrução precisa
O meu educar moraliza
Introduz paz e concórdia
Com ele expulso a discórdia
Para os pontos mais distantes
Ensino os ignorantes
Faço obras de misericórdia
A tua tosca poesia
Que insulta a delicadeza
Com a máxima franqueza
Nem resposta merecia
Eu responder não devia
Mas não quero ficar calado
Porque quero ser respeitado
Como Roldão na peleja
Não quero que o meu nome seja
De um infâme sensurado
Onde estou sem permanência
Dou este mimo à infância
Arranco a ignorância
E planto a inteligência
Estou com respeito e decência
De um homem civilizado
Neste posto delicado
Quem por tal tudo isto crê
Dou a vista a quem não vê
Pratico um dever sagrado
I. de Brito
Copiado por J. Parreirinha, em Janeiro de 1994 para uma colectânea de versos de José
Fialho, onde incluiu alguns do seu bisavô. I. Brito seria trisavô deste senhor J. Parreirinha da Silva, filho de José Fialho e mora na Moita.
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58
NO MONTE DA CASA BRANCA - dc
No monte da casa branca
Me fizeram carregar palha
No chão ainda eu vou bem
A escada é que me atrapalha
Muito sofre um indigente
Que vive sem ter guarida
E muito sofre nesta vida
Um orfãsinho inocente
Muito sofre um padecente
Que maldita fera o espanca
Com palavra de honra e franca
Vou contar ao pôvo meu
Quanto tenho sofrido eu
No monte da casa branca
O primeiro giro foi no chão
Ali ao pé do caminho
Como aquilo era pertinho
Era quasi um valentão
Já sentia presunção
Já julgava ser alguem
Ainda não disse a ninguem
Agora aqui é que digo
Já dizia para comigo
No chão ainda eu vou bem
Ouvi dizer o palheiro
Precisa ser destapado
Fiquei atmorisado
Mas com fé sou cavalheiro
O deus da terra o dinheiro
Quem o quer ganhar trabalha
Esse que muito ramalha
Perde por dar à tramela
E eu com vontade ou sem ela
Me fizeram carregar palha
A escada trepei contente
Quasi que sem ter receio
Apenas ia no meio
Sim para tráz e não para a frente
Então disse tristemente
Eu não venso esta batalha
Nossa senhora me valha
Aí Jesus o lançol cai
No chão ainda lá vai
A escada e que me atrapalha
Cuba, 8 de Maio de l950, Domingos António Espinho,
(que era escriturário na Câmara de Cuba, passou à máquina alguns versos de Inocêncio
de Brito, que depois deu ao seu bisneto José Fialho).
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SORRI CUBA E SEJAS GRATA - mn
Sorri Cuba e sejas grata
Ao teu nobre habitante
Que intentou embelezar-te
Tornar-te mais importante
Óh mórta restituída
Não recues à Vidigueira
Tamem já tens uma feira
Luxuósa e concorrida
E se és disso reconhecida
Este facto relata
E com mil prazeres escreve a data
Pra ti de eterna memoria
E para o autor desta gloria
Sorri Cuba e sejas grata
A qualquer terra mesquinha
Tu fazias continencia
Hoje tens trato de Excelencia
Majestade de Rainha
E como de mim és visinha
Os meos parabens vou dar-te
Mas que foi vou demonstrar-te
Não sei se acerto se falho
O senhor Palma Borralho
Que intentou embelezar-te
Em escuras trevas do outróra
Vivestes que eu bem me lembro
Veio o primeiro de Setembro
Resurgirte a luz da aurora
Graças que já és agora
Mais pitorêsca e brilhante
Já és vila triunfante
A par de quem de ti ria
De quem tal primazia
Ao teu nobre habitante
Qualquer povinho o mais réles
Qualquer terrinha rural
Tinha uma feira anual
Trajando sêda e tu péles
É bem que agora reveles
Gratidão no semblante
Não esquecendo a cada instante
Quem de galas te vestiu
O senhor que conseguiu
Tornar-te mais importante
Nota: Ortografia conferida pelo manuscrito. Não se vê assinatura na fotocópia.
Seria importante saber de quando data a Feira de Setembro, em Cuba ou na Cuba e
quem foi este senhor Palma Borralho.
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62
PEDRÓGÃO INDUSTRIAL - dc
Pedrógão industrial
Enorme a tua riqueza
Neste velho Portugal
Vives na maior pobreza
Grandes explorações
De especiais granitos,
Polições, dos mais bonitos
Artigos com distinções
Para as grandes construções
Na cidade capital,
Forneces seu material
E tudo quanto precisou,
Mas, para ti, ninguém olhou,
Pedrógão industrial.
Tens exploração mineira
De rico magnetite
Tens cobre, Tens pirite
Fortunas à tua beira
Vives uma vida inteira
Dentro de um facto penal
Tens de uma forma geral,
Um passeio intransitável!
Rica vives miserável
Neste velho Portugal.
Tens areias aprovadas
Concedes toda a matéria
Forneces uma base aérea
Das obras mais ilustradas
Grandes pistas elevadas
Pavimentos com firmeza
Cantarias de nobreza
Nas zonas da região
E tu, sem compensação,
Enorme a tua riqueza.
Tens hortas tens olivais
Tens terras de semear
Tens indústria de pescar
Em águas fluviais
Tens condições naturais
De uma terra portuguesa
Olha-se e é uma tristeza:
Ruas inutilizadas
Com águas estagnadas,
Vives na maior pobreza.
Esta Décima não consta dos manuscritos guardados pela família.
Podem dar-se elementos sobre Pedrógão nesta época descrita por Inocêncio de Brito? E
agora? A cópia dactilografada é a conseguida por Jaime Curva.
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64
Décimas que comentam casos simbólicos
ou tratam TEMAS de reflexão geral
A Instrução
Riqueza e vista perfeita (saber ler)...
O Vinho em diálogo
O Milionário
A Mulher
Os Olhos
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66
A INSTRUÇÃO É PRECIZA - mn
A instrução é preciza
A instrução não convem
A instrução embrutece
A que a instrução tem
Base das habilidades
Importante educação
Sem a sua proteção
Não brilham dignidades
As maiores barbaridades
O seu poder civiliza
E se com ela se diviza
A lus do entendimento
Quase como o alimento,
A instrução é preciza.
Esse dóte essa riquêza
Esse dom essa excelencia
Faltando-lhe a consciencia
Não lhe pertence a nobrêza
Quem zéla pela defêza
De quem castigo meréce
Se um sagrado dever esquece
E pratica por ambição
Nada vale a instrução
A instrução embrutece
Ela meiga e carinhosa
Abre os olhos à infancia
Opôe à ignorancia
A sciencia vantajosa
Por tanto tem (quem) a gósa
Dispoder dela muito bem
Mas se com orgulho ou desdêm
A transforma inconsciente
Então verdadeiramente
A instrução não convem
Creio ser ela o principal
Adôrno da creatura
Que illustra quem a procura
Com um dom sem ter rival
Mas sem auxílio moral
Não pode illustrar ninguém
Com imoral se houver quem
Com imprópria instrução suba
Essa desfeia e derruba
A quem a instrução tem.
NOTA DO AUTOR no manuscrito: «É letra de 85 anos não posso »??? ...
Nota 1 - Esta décima terá ficado célebre em S. Matias e zona de Beja, pois o poeta, tê-laia feito, na ocasião em que o Ministro do Justiça do I Governo da República, Afonso Costa, teria ido ao tribunal de Beja como advogado. Foi o caso de um cigano que matou um
agricultor, mas como o cigano era rico, Afonso Costa veio defendê-lo e ganhou a causa. A
jovem República que se propunha acabar com os abusos, privilégios e desmandos da
Monarquia, logo no início, demonstrava assim a sua vocação para defender “os pobres e
os oprimidos”!!!
Assim a família do agricultor, foi prejudicada e roubada duas vezes: pelos ladrões e pela
justiça.
Nota 2 - Os parêntesis indicam modos diferentes como estas Décimas foram recolhidas.
São, evidentemente, casos normais neste tipo de poesia essencialmente oral, correndo o
risco de o próprio autor a ter dito de diversas maneiras, e consequentemente, aqueles
que a aprenderam e repetem de cor, umas vezes cedem à tentação de emendar ou complementar o que é de difícil intelecção, ou há mesmo palavras ou expressões que não se
entendiam. Sempre que tiver oportunidade, registarei as várias versões e tentaremos no
fim chegar a uma leitura corrente, com as notas em roda pé para não estragar a fluidez
da leitura.
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NOTA 3. Ver noutra parte, o mesmo MOTE glosado pelo Ti Belchior, já falecido, da
Estação de Ourique. Segundo o senhor Vítor Paquete, muito conhecedor do Alentejo,
esta glosa também tem uma história. Terá sido um Mote trazido de Coimbra por um
estudante de Aljustrel, o Brito Camacho, e teria sido dado pelos colegas que não acreditavam que houvesse poetas alentejanos, que, de uma Quadra - Mote, criassem as quatro
Décimas como desenvolvimento do tema.
Ou o MOTE já era de Inocêncio de Brito e o Brito o Camacho achou que seria o mais
indicado para o “consoante” que se pretendia?
Ou o MOTE é do Ti Belchior e o Inocêncio terá usado um Mote Alheio como era uso entre
os poetas populares, para melhor tratar o tema que pretendia? Mas o Ti Belchior seria
mais novo e assim é natural que tenha sido ele a usar um Mote Alheio. Há quem sugira
que o MOTE seria do Brito Camacho que era versado em letras e era escritor polémico e
conflituoso. Até prova em contrário, nós apostamos no Ti Inocêncio.
Nota 4: Na recolha de J. Parreirinha, é curioso notar que, talvez por influência do pai, o
2º verso foi registado com um SIM: “A instrução, sim, convém”.
68
RIQUEZA E VISTA PERFEITA - mn
Riqueza e vista perfeita
Num homem sem saber lêr
É ser rico andar a esmola
Ter boa vista e não vêr
Dois filhos dos mesmos pais
Vê-se um em oiro nadando
Outro com a fome lutando
Que heranças tão desiguais
Da mão de quem dá o mais
O pobre o menos aceita
E se uma cegueira o espreita
Mais a sorte e desditosa
Por tanto é feliz quem gósa
riqueza e vista perfeita
Basta não pode ufanar-se
De felis em todo o sentido
Pode ao pobre instruido
Suceder ter que humilhar-se
Té por não saber expresar-se
A sua pêta rebola
Já vê que não tem da escola
O bem que esta lhe concede
Não tem e por não ter pede
É ser rico andar a esmola
Mas se for analphabeto
Pode como ignorante
Sair-lhe um trato importante
Por um caminho indireto
E se em seu favor o discreto
Essa questão resolver
Do seu digno saber
Um bom documento dá
E essa vantagem não ha
Num homem sem saber ler
(“Num homem sem saber ler” repetido no
manuscrito)
Pede indispensavelmente
Por falta de educação
A vantajosa instrução
Para que por si represente
E pra êle surpreendente
Simples cousa pode ser
Olhar não comprehender
Se é por letras enganado
Eis pois como esta provado
Ter bôa vista e não ver
Saber se há alguém que possa conhecer um caso de dois irmãos, um rico e um pobre?....
ou algum caso que se tenha passado com ele, que terá valido a algum patrão rico, mas
que não sabia ler?....
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70
VINHO CRUEL INIMIGO - mn
Vinho cruel inimigo
Completo criminôso
Pra prova do teu delicto
Tu és reos eu sou queixôso
O teu espirito forte
Causa tal influencia
Que ao sabio usurpa a sciencia
Ao são adquire a morte
O marinheiro perde o norte
Quando navega contigo
Arriscado a todo o perigo
Vive aquêle que te quer bem
Felis não fazes ninguem
Vinho cruel inimigo
Noé por se embriagar
Logo por terra o deitastes
Em triste estado o deixastes
Se o filho o não vai tapar
Com por de seu pai sombar
Logo de Deos foi maldito
Segundo se acha escrito
Tu que aos homens desleixas
Té Noé de ti fes queixas
Pra prova do teu delito
Mesmo a si proprio se inflama
O que por ti se apaixona
Honra e credito abandona
A pessoa que te âma
Como a arvore perde a rama
Perde o homem o ser ditôso
Tu voltas ao venturôso
A cabeça para os péz
Ninguém duvide que ês
Completo criminôso
Causas a má união
Entre mulher e marido
Fazes do fraco atrevido
Derrubas o valentão
Tiras ao rôsto a feição
Seja embora o mais formoso
Tornas o manso teimôso
Causas toda a desavença
Em vista de tanta ofensa
Tu és réo e eu sou queixôso
Nota: Ortografia conferida pelo manuscrito. Não se lê a assinatura na fotocópia.
Esta DÉCIMA e a seguinte são um modelo de diálogo ou encadeamento que mostram
como, com as DÉCIMAS, se pode construir um DIÁLOGO ou até uma infindável
NOVELA ou uma peça de teatro...
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NÃO CLAMES CONTRA O VINHO - mn
Não clames contra o vinho
Que é uma queixa injustamente
Não manda a lei castigar
Quem esta da culpa inocente
O vinho não é culpado
Rudo é quem não percébe
A culpa tem quem o bebe
Em ponto demasiado
Tu vêz que o seu resultado
Que é turbulento e daninho
Se segues tão mao caminho
E clamas que te perdestes
Clama de ti que o bebestes
Não clames contra o vinho
Ninguem a diser se exponha
É sina que Deos me deu
Isso é lhe direi eu
A sua pouca vergonha
Quem, com seu contrario sônha
É até mesmo o vai provocar
Não tem nada a alegar
Não se tenha por queixôso
A quem não é criminôso
Não manda a lei castigar
A culpa toda é do homem
É de mim e é de ti
Que não retira de si
Os vícios que o consomem
Vícios são leões que comem
Bens e honra a muita gente
Quem vê a cousa patente
E não foge a vil desgraça
Queixas do vinho não fáça
Que é uma queixa injustamente
Seja homem ou mulher
Tem livre a sua vontade
Digo e juro ser verdade
Se é bêbado é por que quer
E tu dis a quem não souber
O vinho é impertinente
Esse homem no que dis mente
Eide eu então responder
Só á fim de defender
Quem está da culpa inocente
Ver o problema do advérbio “injustamente” servir de adjectivo. É de facto uma liberdade
poética notável. O problema da recensão, ou análise da crítica erudita, levanta por vezes
problemas. A pena é não termos o poeta para ouvirmos a sua forma de dizer. A solução é
ouvir ou ver as várias versões que for possível e discorrer, uma vez que se trata de uma
tradição essencialmente oral, que o autor poderia dizer, conforme as ocasiões, ora de
uma maneira, ora de outra, e então com os ouvintes, ou aqueles que costumam dizer
Décimas de outros, corre-se sempre o risco de interpretarem ou de terem ouvido, à sua
maneira.
Esta DÉCIMA foi conferida pelo manuscrito do próprio poeta e, tal como nas outras,
decidimos manter a ortografia usada, porque corresponde, em grande parte à ortografia
usada na época e apresenta uma razoável facilidade de interpretação, sobretudo para se
poder imaginar a tonalidade da cadência que é marcante neste tipo de poesia e, ainda
por cima, com o sotaque de um alentejano que aprendeu a ler e a escrever, o que acontecia a poucos no seu tempo...
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74
É COMO O CORPO SEM ALMA - dc
É como o corpo sem alma
A casa sem ter mulher
Não tem luz dentro de si
Dê-lhe o sol como lhe der.
Oh! mulher, louvado seja,
Quem ao mundo (te) a enviou,
Bendito quem (te) a dotou,
Maldito quem (te) a pragueja.
Lugar, onde ela não esteja,
Gela o frio, afronta a calma;
Aí, só, levantam palma,
Os incómodos da vida,
Que, a casa onde ele não lida,
É como o corpo sem alma
Se entre esposo e filhos queridos
A voz materna não soe (soa)
Parece, Deus me perdoe,
Uma casa de bandidos.
Se caminham, vão perdidos,
Uns por aqui, outros por ali.
A sorte não lhes sorri.
Se jogam, não fazem vaza.
Cegos, que a sua casa
Não tem luz dentro de si.
Esse anjo, esse (ser) adorável,
Que Deus fez formosa e bela,
Bendito(a) é, (pois) que sem ela,
Era a vida insuportável.
Seu ser é indispensável.
Tudo em geral (a) o requer
E eu, mal direi, se disser,
Que parece, meus senhores,
Um covil de malfeitores,
A casa sem ter mulher.
Não tem luz, está às escuras,
Não tem ordem, nem tem graça.
Tem aspectos que ameaça
Às mais cruéis desventuras.
Só penas, só amarguras
Há, onde mãe não houver,
Onde ela não mantiver
Amor, paz, santa união,
É sempre uma escuridão
Dê-lhe o sol como lhe der.
Nas últimas revisões não tivemos oportunidade de confrontar esta DÉCIMA com a fotocópia do
manuscrito. Depois de vários contactos com a família foi difícil verificar se existia de facto o
manuscrito para desfazer as dúvidas... É mais uma que fica para confrontar entre a Décima original e a leitura e a interpretação que fazem as pessoas que têm memória destes versos... Os parêntesis usados servem para indicar a confusão das várias cópias que foram usadas e para se escolher
a que melhor se adaptar a quem a disser.
Já em 2006, tivemos oportunidade de ouvir esta DÉCIMA dita pelo Mestre Ti Limpas, Manuel
Inácio Veladas, na Confraria do Pão em Terena e, dita como ele sabe, é difícil não perceber os
arrepios e as emoções que provocam uma interpretação como a deste Mestre! Há toda uma musicalidade que é preciso saber ouvir e poucos sabem “dizer” ou entoar!
Sem nunca se referir à sua mulher, não há dúvida de que este é dos hinos à mulher dos mais bem
conseguidos e exaltantes.
Sem platonismos ou romantismos exaltados, a figura omnipresente e omnipotente da mulher,
temos de concordar que é dum realismo e oportunidade flagrante.
É evidente que esta Décima podia estar muito bem enquadrado no primeiro grupo mais biográfico...
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76
OS OLHOS, ORGÃOS DA VISTA - mn
Os olhos orgãos da vista
Alegres são sedutores
Irados são agravantes
Humildes são defensôres
Os olhos são ornamentos
A graça, o brilho do rôsto
Em relação do seu gôsto
Seguimos nossos intentos
Não há a estes portentos
Um poder que lhe resista
Se intentão qualquer conquista
Dificilmente se rendem
Conseguem quanto pretendem
Os olhos orgãos da vista
Se pingas de agua chorosas
Brótão de olhos femininos
Felizes são seus destinos
Custam pouco e são rendosas
Convertem almas bondosas
Com seus ares suplicantes
Não há enlace de amantes
Sem sua prévia licença
Mas há nêles a diferença
Irados são agravantes
Obras humanas possiveis
As propias da naturêza
Artes que encerrão belêza
Por êles nos são visiveis
De caprichos invenciveis
São hábeis conquistadôres
São fieis embaixadôres
Das ordens do coração
E por um especial condao
Alegres são sedutôres
Os olhos tristes comóvem
Genios os mais indomáveis
E tornão mais favoráveis
Pênas de crimes que aprovem
E se deles lagrimas chovem
Muito mais são vencedôres
Tem então estes primôres
Progetos que não combinão
Se são soberbos criminão
Humildes são defensôres
Nota: Ortografia conferida pelo manuscrito. Possivelmente há uma assinatura no
manuscrito, mas cortado na fotocópia.
O poder e a magia do OLHAR, dos OLHOS, tratados por “mão de Mestre”...
A adjectivação e a adjectivação dupla é possivelmente o artifício literário mais evidente
neste Poema para realçar o papel dos olhos... e para descobrir ou verificar que, como
alguém disse: “Há muita filosofia escondida nos poemas de Mestre Inocêncio que não está
ao alcance de qualquer um!”...
É interessante verificar que na recolha de J. Parreirinha que com certeza escreveu as
Décimas do seu trisavô, a partir do que ouvia ao seu pai José Fialho Brito da Silva, o
MOTE leva “SE” nos três versos, menos no 1º. Ficaria: Os olhos órgãos da vista / Se alegres são sedutores /Se irados são agravantes /Se humildes são defensores”. Mas isto não
confere com o original consultado.
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DESCÓBRE-TE MILIONARIO - mn
Descobre-te milionario
Vai um enterro a passar
É o corpo de um operario
Que morreu a trabalhar
(Mote alheio, atribuído a A. Aleixo, ou mote próprio? O Aleixo diz: “Levanta-te...” ... e “É
a filha do operário que morreu a trabalhar... aplicando-a, possivelmente a outro episódio!?)
Aváro com pompa nascido
Com abundancia criado
Do que lhe tem sobejado
Nada ao pobre tens valido
Cru, e não compadecido
Sem um ser humanitario
Básta que como usurario
É duro teu coração
Por monstro sem compaixão
Descobre-te milionario
Quem prá campa vai seguindo
Sobre braços caridósos
Passou dias tormentósos
Dores e miseria sentindo
Fui um que nas mãos cuspindo
Cumpriu seu triste fadario
Um fiel depositario
Dum porte que amou com fé
Quem louvo sabes quem é
É o corpo de um operario
Soma a janela vem vêr
Onde a vida se reduz
Onde a morte nos conduz
Quem és e quem hás-de sêr
Se hoje em ti reina o prazêr
Na sala a solfa o dançar
Não esqueças vem contemplar
Frutos do mal e do bem
Aqui o gôso e alem
Vai um entêrro a passar
É quem com santa coragem
Foi no trabalho incessante
Têve a esse amor constante
Odiando a vadiagem
Não foi alta personagem
Nem pessôa titular
Mas foi homem exemplar
Com a honra condecorado
Um pai de família honrado
Que morreu a trabalhar
Nota: Ortografia conferida pelo manuscrito. Não se vê a assinatura na fotocópia.
Será possível saber, em concreto, a que episódio se refere?
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Décimas sobre o REGICÍDIO
O nobre Terreiro do paço (Passo)
D. Amélia de Oleãns
Jovem Principe Real
Elrei D. Manuel segundo
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O NOBRE TERREIRO DO PAÇO - dc
O nobre terreiro do paço
Teatro de horríveis cenas
O João Franco malvado
Causador de tentas penas
A infeliz realêza
No dia um regressada
Devia ser esperada
Por guarnição por defêza
Não da terrível surprêza
Não da morte o féro laço
No dia que menção faço
Que tão triste nova espalha
Fostes campo de Batalha
Ó nobre terreiro do paço
Tu fonte de maus intentos
Pensar pra fera gerado
Foi teu intento malvado
Causa de tantos lamentos
Devias bôns sentimentos
Teres ao teu Rei inspirado
E nunca nunca teres causado
Cruel morte ao teu Senhor
Fostes um ímpio um traidor
Ó João Franco malvado
Em ti levantem memória
Onde se vêja patente
Manchas dum sangue inocente
Enlutando a tua historia
Aonde indigna vitoria
Ganharam feras hiênas,
Pondo nodoas não pequenas
No portuguez reino honrado
De hoje em diante chamado
Teatro de horríveis scênas.
Judas por má condição
À morte Christo entregou
E como traidôr se enforcou
Em premio dessa traição
E tu com igual condição
Como ele te não condênas
E hoje donde estás nos acênas
Dizendo adeos povo mêo
Não culpem outro fui eu
Causador de tantas pênas
Nota: Ortografia conferida pelo manuscrito do qual já não tenho fotocópia como aconteceu com a o outro “Parti a tola à Maria. Possivelmente está escrito no verso da mesma
folha.
O Regicídio data de 1 de Fevereiro de 1908. Foi assassinado o Rei D. Carlos e o seu filho
e primeiro sucessor D. Luís Filipe. A Rainha D. Amélia e o seu filho D. Manuel, que
depois foi D. Manuel II, saíram ilesos do atentado.
Como já dissemos na introdução onde se dão elementos sobre as figuras da época e se
fornecem dados históricos, a figura de João Franco aparece aqui como “malvado”,
“Judas”, “traidor” e “causador de tantas penas”.
Em vez de omitirmos esta Décima, deixamo-la aqui como interpretação da ideia que circulou a respeito desta controversa figura política nesses tempos conturbados. A Família
de João Franco FRAZÃO garante que tem abundante documentação sobre este seu
antepassado que não se pode considerar responsável pelo regicídio. João Franco ter-se-á,
até, batido em duelo com adversários seus em defesa da Rainha. Esta Décima e a interpretação de Mestre Inocêncio servirão para testemunhar as confusões desses tempos
conturbados de grande agitação política. Mal sonhava o Poeta que uma sua descendente
viria a casar com um sobrinho neto de João Franco Frazão. Ironias do destino? Aqui fica
a nossa homenagem à Família.
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DONA AMELIA de ORLEÃNS - mn
Dona Amélia de Orleãns
Quem tem justas consciencias
Manda a Vª Magestade
As mais serias condolencias
Princêsa vinda de França
O vosso sangue real
Veio deixar, em portugal
Triste e eterna lembrança
Bradai à velha aliança
Às pessoas cortezãs
Disei que as ideias vãs
Dêsse partido homicida
Que já sepultou em vida
Dona Amelia de Orleãns.
Tivesteis desventurada
Pra brandir os agressôres
Na mão um ramo de flôres
Servindo de humilde espada
Infelis o desamparada
Da divina piedade
A tanta calamidade
Quem é firmemente opôsto
Sentir o vosso desgosto
Manda a V.ª Magestade
Clamai que vos mataram
Vosso espôso e Vosso filho
E o vosso esplendido brilho
Ao mais mesquinho o tornaram
Para êsse fim se empregaram
Tão inuteis diligências
Contra éssas imprudências
Vossos clamôres ao Ceo sobem
E os vossos soluços comovem
Quem tem justas consciencias
Para moderar vossos ais
Vossa animação suplico
Escelsa nisto me fico
Não tenho instruções pra mais
Sou filho de pobres pais
Rudes sem terem sciencias
Mas porem sem eloquencias
Que illustrem a mente minha
Vos mando Martir Rainha
As mais serias condolencias
Nota: Ortografia conferida pelo manuscrito. Não se lê a assinatura na fotocópia.
Ao ler esta DÉCIMA não é possível resistir a transcrever para aqui a prosa poética de
Miguel Torga, in Portugal, Coimbra, 1ª Edição 1950, e conferir na 5ª Edição 1986,
ALENTEJO, P. 119, e ler na p. 123:
“É preciso ter uma grande dignidade humana, uma certeza em si muito profunda, para
usar uma casaca de pele de ovelha com o garbo de um embaixador.” “Foi a terra alentejana que fez o homem alentejano, e eu quero-lhe por isso. Porque o não degradou, proibindo-o de falar com alguém de chapéu na mão.”
“Sim, pobre ganhão que seja, ele é um rei nos seus domínios. Não há outro português
mais rico de pão, agasalhado por tão quente manta de céu e dono de tantos palmos de
sepultura.” (p. 129).
Já imaginaram este nosso “Embaixador” a escrever esta carta de condolências à Rainha
e as outras a seguir, aos Príncipes, em nosso nome?
Conta-nos o seu bisneto José Fialho (Faro do Alentejo) que esta “missiva” terá chegado,
de facto, às mãos da Rainha que lhe terá enviado uma “tença”, provavelmente “não
pequena”, mas que ele nunca revelou. Quando lhe perguntavam: - “Então a “tença” da
Rainha?!... Ele respondia: - “Isso é cá comigo...” Deu com certeza para uns “petiscos” e
uns “copitos”...
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JOVEM PRÍNCIPE REAL - mn
Jovem Príncipe Real
Um inocente um bondôso
Qual erão vossos delitos
Pra um fim tão desditôso
Na vossa patria Lisbôa
Se viu o vil atentado
Crime horrível praticado
Na vossa reál pessôa
Vós herdeiro de scetro e corôa
Futuro rei de Portugal
Tudo encontrasteis fatal
Num barbaro sem consciencia
Que roubou vossa existencia
Jovem príncipe real
No meio dum quadro de horrôr
Causado por tal insulto
Sentiu a Baixa um tumulto
Que a tudo causou pavôr
O modêlo dum puro amôr
Como mãe soltando gritos
E vós os dois gemendo aflitos
Na mortal aflição
E para têres tal punição
Qual erão vossos delitos
A perda da vossa vida
A meio mundo eternéce
É feito que nunca esquece
À vossa patria querida
Vossa idade florida
Vosso viver preciôso
Nada tornou piedoso
Um assassino uma fera
Dando ao tumulo quem só era
Um inocente um bondôso
Se o vosso pai no seu porte
Tornou o povo inimigo
Não merecias vós castigo
Muito menos o de morte
Não merecia fatal sorte
Um segundo esperançôso
Tipo elegante formôso
Tão alto tão reduzido
Não devias ter nascido
Pra um fim tão desditôso
Nota: Ortografia conferida pelo manuscrito. Não se vê assinatura na fotocópia.
Nota: As palavras “fera” e “era” que terminam os 8º e 9º versos da segunda décima, na
fotocópia usada não se pode ver bem se estão ou não acentuadas, como acontece outras
vezes. Seria então “féra” – “éra”.
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ELREI D. MANUEL SEGUNDO - mn
Elrei D. Manuel segundo
Deos vos dei felis reinado
Mais felis que o vosso pai
Que morreu assassinado
Os écos de um crime atrós
Que horroriza o mundo inteiro
Constrangem o estrangeiro
Muito mais senhor a nós
Ai meu rei vistes vós
Vosso pai deixar o mundo
Hoje, em silêncio profundo
D. Carlos Primeiro jáz
E não por efeitos da páz
Elrei D. Manuel segundo
Que vos mova a rei clemente
Deos vos depare um ministro
Que evite um caso sinistro
Como o triste antecedente
Esse honrado presidente
Pra bem vos aconselhai
E Deos do Céo derramai
Sobre vós a sua graça
E como regente vos faça
Mais felis que o vosso pai
Deos vos dei vida futura
Mas com mais tranquilidade
Não troqueis na vossa idade
O Sol pela noite escura
Deos vos conceda a ventura
De um segundo afortunado
De ser bom chefe de Estado
Vos peço êsse privilegio
Empunhando o cetro regio
Deos vos dei feliz reinado
A arvore de quem sois fruto
Seu fim de negra tristeza
Deixa a historia portuguêza
Coberta de negro luto
E a vós vos deixa um produto
Duma instrução dum legado
Quando fôres convocado
A rubricar novas leis
Do vosso autor vos lembreis
Que morreu assassinado
Nota: Ortografia conferida pelo manuscrito. Não se vê a assinatura na fotocópia.
D. Manuel II, rei de Portugal (o último), nasceu em Lisboa em 1889 e morreu em Twickenham, Inglaterra, em 1932. Sobe ao trono em 1908 devido ao regicídio de seu pai D.
Carlos e seu irmão Luís. Desde 1910, com a implantação da República, exilou-se em
Inglaterra.
No 9º verso da última décima a palavra “lembreis” parece estar escrito “lembreies”, mas
tudo leva a crer que é dos erros normais em quem escreve à mão e com o cuidado e esforço que se nota, tendo em conta que são mãos que não estavam habituadas a tal tarefa
mas ao duro trabalho do campo. Será assim um “lapsus calami” tão semelhante ao “lapsus linguae”.
Seria importante poder fazer o “fac-simile” de todos os originais, para se poderem observar e estudar este caso e outros semelhantes e completar o estudo do que era a escrita
da época e os possíveis erros de uma pessoa que aprendeu a ler com o padre da freguesia
e não fazia da escrita a sua profissão.
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Décimas a respeito da I Grande Guerra Mundial
1914 / 18 ou prenúncio da II, 1938 – 1945?
Kaizer déspota orgulhoso
A rainha das potencias
Foto in HISTÓRIA COMPARADA, Dir. António Augusto Simões Rodrigues, Círculo de
Leitores 1996, Vol. II, p. 251, – Partida de um contingente militar português para a
Guerra, 1917
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«Um sobrano entre sobranos»
KAIZER DÉSPOTA ORGULHÔSO - mn
Kaizer déspota orgulhôso
Mau progéto concebêstes
Deos da terra ser quizestes
Jujlgastes subir decêstes
Dinheiro, munições e tropa
Deram-te um altivo porte
Que intentou teu braço fórte
Conquistar toda a Europa
Nunca envergastes a ópa
Dum cristão que é piedôso
Com lusbel ambicioso
Isso sim qu és comparado
E como êle és castigado
Kaizer déspota orgulhôso
Imitar o supremo Ente
Querias Guilherme segundo
E sêres adorado no mundo
Como um onipotente
Coitado pobre inocente
Baldado esfôrço fizestes
Um sonho ilusorio tivestes
Tão illudido sonhastes
Que quando louco acordastes
Deos da terra ser quizestes
Cego por uma ambição,
Vencido dum máo pensar
Tanto quizéste abarcar
Que não te coube na mão
Enganos da illusão!
Tão sabio e não percebestes
Ao contrario te convencêstes
Seres milagrôso seres santo
Quando avançastes a tanto
Máo progeto concebêstes
Um soberano entre os soberanos
Um distinto Imperador
Quis mais ser conquistador
Conquistou paixões e danos
Errados foram teos planos
Quando tanto pertendestes
Pensastes ganhar perdêstes
Saiute a sorte fatal
Meu Deus artificial
Julgastes subir decêstes
Nota: Ortografia conferida pelo manuscrito. Não se vê a ssinatura na fotocópia.
(Dedicada a: Kaiser, Oficial Alemão, na Guerra 1914/18) É uma nota que vem na cópia,
já escrita à máquina, pelo Senhor Jaime Curva e que me chegou às mãos através do
Senhor Manuel Aleixo. É evidente que no decorrer da Décima, Inocêncio de Brito se refere a Guilherme Segundo, Imperador alemão (1859-1941) que, com o seu espírito militarista e expansionista veio a provocar a I Grande Guerra, 1914/18 e se exilou, nos Países
Baixos, desde 1918.
Numa primeira leitura, para as pessoas que conhecem mais a Segunda Guerra Mundial
e o que com ela está relacionado, tudo nos levava a crer que se referia a Adolfo Hitler,
mas a II Grande Guerra só foi desencadeada em 1938, ano da morte de Inocêncio de Brito, embora a Guerra já estivesse como que desenhada e preparada desde há muito, como
aliás se pode ver bem neste poema.
A palavra “progéto”, com acento, no segundo verso do Mote e “progeto”, sem acento, no
final da segunda décima, deixámos como estava uma vez que não impede uma leitura
correcta.
93
94
A RAINHA DAS POTENCIAS - mn
A rainha das potencias
Morreulhe o óstentamento
A primeira a sciencias
Vestiu-se de sentimento
A excéta entre as nações
Jogou sem necessidade
Perdeu por fatalidade
Homens armas seus brazões
Das soberbas ambições
Provem-em as decadencias
Funestas consequencias
Suporta o muito exigente
Dá disto prova evidente
A rainha das potencias
Duma febre padeceu
Quatro anos meses e tal
Não apòs remédio ao mal
Com febre o delirio morreu!
Esta febre procedeu
Das erradas conferencias
Erradas experiencias
E por tanto erro talvêz
Errou a conta que fez
(«A rainha das potências» no mn.)
A primeira a ciências
Pena é que huma Rainha
Que entre as mais foi exaltada
Se veja agora tornada
A tão humilde e mesquinha
Morreu-lhe o brilho que tinha
Tudo quanto era opulento
A pátria do espavento
Soberba, rica orgulhósa
Com febre contagiosa
Morreu-lhe o ostentamento
Fez uma conta coitada
Pondo néla confiança
Sonhada foi sua esperança
A conta saiu-lhe errada
Éla então envergonhada
Por seu nulo atrevimento
Elevou seu pensamento
Pedindo perdão a Christo
E com vergonha e paixão disto
Vestiu-se de sentimento
Esta Décima parece referir-se directamente ao final da Grande Guerra...
excéta – Esta palavra que em princípio não existe, foi inventada por Mestre Inocêncio,
com certeza a partir de “excepto” que pode ser prep.: com sentido de “fora” “salvo”; adj.:
que quer dizer “excepcional”, “exceptuado”, “excluído”; e até s.m.: no sentido de “Aquele
contra quem se aduz excepção em justiça”.
Parece que podemos entender que este adjectivo poderá querer dar a ideia de “excepcional” ou excelsa ou que se tornou excluída ou mal vista entre as outras...
É de ter em conta este fenómeno de procurar criar palavras novas, a partir de uma palavra que se não conhece bem, para exprimir uma ideia e que sirva para resolver os problemas de métrica e em muitos casos, de rima...
Sobre esta décima, que terá sido feita depois de 1918 e do fim da Primeira Grande Guerra, não sabemos quando terá sido passada a escrito. Isto para perceber que o Poeta trocou a Primeira com a Segunda décima, na ordem que costuma dar e no final da terceira
décima escreveu o primeiro verso do mote a que nós escrevemos o terceiro
É uma das poucas alterações que, por evidente, nos atrevemos a fazer.
95
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Décimas relacionadas com a GUERRA e a MORTE
ou de reflexão sobre os grandes temas da humanidade que os entendidos chamam com
FUNDAMENTO
Forma o homem idealmente
No mundo, porque haverá
Fazem navios de guerra
Ó cypreste, verde e triste
Fui a procura da páz
No ventre da Virgem Béla
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98
FORMA O HOMEM IDEALMENTE - mn
Forma o homem idealmente
Adorna-o com perfeição
Põe-lhe na bôca eloquencia
Virtude no coração
Sabio senhor do talento
Tu que impossíveis consegues
Faz uma obra onde empregues
Teu profundo pensamento
Dá ao mundo um documento
De um feito surprehendente
Põe ao publico põe patente
Teu dom sobrenatural
E por meio de um dote ideal
Forma o homem idealmente
Põe-lhe no peito a firmeza
Nos péz e mãos energia
Consciente valentia
Piedosa naturêza
Põe-lhe pra suma belêza
O dom da inteligencia
Põe-lhe que indique a sciencia
Nos olhos a magestade
E pra mais preciosidade
Põe-lhe na boca eloquencia
Discórre como faráz
Esse ente maravilhôso
Por tanto no fabulôso
Metais não empregaráz
Esse fim conseguiráz
Por meio de imaginação
À semelhança de Adão
Forma o ente imaginado
E depois de o têres formado
Adorna-o com perfeição
Tem pois firmêza no peito
No cérebro um espírito vasto
Na boca espressões de casto
Eis tudo quanto há perfeito.
Mas por tanto a tal respeito
Tem em consideração
Que imperfeitas ficarão
Todas essas perfeições
Se nesse homem não pões
Virtude no coração
«Inocêncio de Brito
Foi escrita com o maior sacrifício»
(Tirada de um manuscrito fornecido pelo Sr. José Fialho, bisneto de Inocêncio e morador
em Aires, Palmela, em 13 de Julho de 1999. No verso desse Manuscrito vem outro
Manuscrito com a Décima “Ó Cypreste verde e triste”)
99
100
NO MUNDO PORQUE HAVERÁ - dc
No mundo porque haverá
Afronta guerra e vingança
Se o cemitério além está
Onde tudo em paz descansa
Para que luta a humanidade
Sem ter repouso um momento
Para que luta o pensamento
Com tanta adversidade
Se a crua realidade
Com a guerra findará
Porque a paz não reinará
Nos dias de existência
Causa guerra tal tendência
No mundo porque (pra que)haverá
O desejo de mandar
A cegueira de conseguir (possuir)
A ambição de possuir (conseguir)
Manda vencer e tomar
A (Mas a) morte manda largar
Chega e diz largue lá
Em chegando não há
Ambições a conce(d)ber
Para que é (quê) contares com viver
Se o cemitério além está
Pr’a que é a luta incessante
(Porquê o ódio incessante)
Nos dois momentos da vida
P’ra que é (Porquê) a luta renhida
Sem ter repouso um instante
Na guerra grita-se avante
Sem na vitória haver esperança
Em vez de uma ira mansa
Remediável e prudente
Só reina constantemente
Afronta guerra e vingança
Além está onde terás
A tua eterna morada
Onde há-de ser assinada
Santa União Santa Paz
Pensa quem és Quem serás
Que diferença que mudança
Aqui onde a guerra avança
Onde o descanso é nenhum
Além a vala comum
Onde tudo em paz descansa
Não conferida pelo manuscrito original. Os parêntesis indicam algumas das variantes
encontradas nas vária cópias.
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FAZEM NAVIOS DE GUERRA - mn
Fazem navios de guerra
Maquinas pra trabalhar
Não aparece um artista
Que faça chover e escampar
É pena que a sepultura
Oculte bens preciosos
Os feitos maravilhosos
Que illustrão a creatura
Devido à architetura
Que os primôres da arte encerra
Os architetos na terra
Fazem obras especiais
E os architetos navais
Fazem navios de guerra
Milhares de artistas têmos
Que maquinas fazem mover
E a carreira suspender
Muito bem o conhecêmos
Mas esta em que nós vivêmos
Aparente ou imprevista
Se a move o seu maquinista
Com raios, trovões, chuva ou vento
Que lhe impéssa o movimento
Não aparece um artista.
As grandes inteligencias
Os eminentes talentos
Elevão seus pensamentos
Ao alto grau das sciencias
As marítimas experiencias
Fazem vapôres pro mar
E pra na terra se tornar
A lide mais vantajosa
Faz a classe industriosa
Máquinas pra trabalhar
Um que explique a combustão
Com que a máquina se move
Com causa justa que aprove
Se é lenha gaz ou carvão
O summo poder na mão
Se o tem pode mostrar
Faça o tempo moderar
Nem muito frio nem muito quente
Um artista finalmente
Que faça chover e escampar
Nota: Ortografia conferida pelo manuscrito. Não se vê a assinatura na fotocópia.
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Ó CYPRESTE, VERDE E TRISTE - mn
Ó cypreste, verde e triste
Tristônho sombrio e forte
És o rei da solidão
És sentinela da morte
Cipreste se alguem te chama
Recreio dos passarinhos
Muitos ocultão seus ninhos
Na tua frondósa rama
Verdura, nobreza e fama
Tudo em ti por lei existe
Facilmente quem te aviste
Esta pergunta te fáz
Qual a razão porque estás
Ó cipreste, verde e triste
Tens por visinho o coveiro
Que gosa as graças diurnas
E tu das aves noturnas
És constante companheiro
Em ti o môcho agoureiro
Pia a lugubre canção
Nas trevas, na solidão
Velas o campo funéreo
E és guarda dum cemiterio
És o rei da solidão
Triste estás simbolizando
A nossa eterna morada
Tua fronte maguada
Estão fieis contemplando
E tu serio estás meditando
Da fatal tesoura o córte
Poderes do sul e norte
Te conferem dignidades
Que te dão trez faculdades
Tristonho sombrio e fórte
Sobre tua vigilancia
Estão mortos encarcerados
Estão esqueletos myrrados
Da velhice e da infancia
Juraste firme constancia
O posto que tens por sorte
Tu passas o passaporte
A quem vai não volta mais
E vigias pelos mortais
Es sentinela da morte
Nota: Ortografia conferida pelo manuscrito. Afinal por dois Manuscritos. Ver Cypreste e Cipreste, até no
mesmo manuscrito!…
O mais interessante é que no decorrer do trabalho de recolha e contactos havidos, conseguimos, oh! espanto!
encontrar na posse do Senhor José Fialho, um outro Manuscrito, por sinal o único manuscrito que nos foi
dado consultar (dos outros só vimos fotocópias) e que tem no verso a outra Décima “Forma o homem idealmente”.
O interessante é verificar, que mesmo na escrita, numerosas palavras são escritas de maneira diferente e
algumas alteradas. Isto levar-nos-ia muito longe no problema de autenticar a versão original e exclusiva do
autor, pois, tratando-se de una Arte predominantemente oral, com certeza que nas várias ocasiões o autor
sentir-se-ia no pleno direito de alterar ou criar no momento algo de diferente e que lhe soasse melhor...
Por exemplo: No Manuscrito que encontrámos depois da fotocópia do 1º encontramos logo no MOTE: Ó
cypréste... ; no 1º verso do 1ª décima escreveu “Cipréste que alguém te chama”... e no último: “Oh cypreste
verde e triste”. Na 2ª décima, 5º v. “Tu serio estás meditando / Da fatal thezoura o córte” e no último verso
escreve “Tristônho, sombrio e forte”. Na 3ª assinalamos “Têns” no 1º v. “agoreiro” no 5º v. “lúgrube” no 6º v.
“Vélas o campo funereo” no 8º “E és guarda do cemiterio” no 9º.Na 4ª fará mais sentido o 6º v. ser “Ao posto
que tens por sorte”; mas já escreveu “paçaporte” no 7º; e “És sentinela da morte”, no último, está claramente
acentuado!!!
É interessante ter isto em conta para possíveis discussões sobre várias versões da mesma Décima, mesmo do
mesmo autor e autenticada pelo mesmo punho.
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FUI A PROCURA DA PÁZ - mn
Fui a procura da páz
Só no cemitério a vi
Vi um letreiro dizendo
Á páz mas somente aqui
Mundo mundo em ti só há
No mar a tormenta o dâno
Na terra a guerra o engano
Que tão máo produto dá
Guerra terrível e má
Tudo máo consigo tráz
Estragos somente fáz
E eu seus maos efeitos vendo
A crua guerra temendo
Fui à procura da páz
Chiguei o cemitério santo
Onde os cadaveres repouzão
Onde irmãos nossos não ouzão
Dar ais gemer fazer pranto
Ajoeilheime por tanto
Minhas mãos ao Céo erguendo
Oração a Deus fazendo
Por todo que ali descança
E pra minha eterna lembrança
Vi um letreiro dizendo
Com a maior devoção
A santa páz procurei
Entre vivos encontrei
Guerra sim mas a páz não
Fasendo esforços em vão
De tal a esperança perdi
Tanto que me afligi
Tudo foi inutilmente
Repito a páz clemente
Só no cemiterio a vi
Que procurais caminhante
Dis o letreiro referido
Andas no mundo illudido
Vives cego ignorante
Não busques páz dhoje avante
Neste vale onde eu desci
Quando eu de cá subi
Já deixei o mundo em guerra
Sabei não há páz na terra
A páz mas somente aqui
Nota: Ortografia conferida pelo manuscrito. Não consta a assinatura na fotocópia.
Ver o “Á” no quarto verso do Mote e o “A” no final da quarta décima que com certeza são
ambos “Há”.
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NO VENTRE DA VIRGEM BÉLA - mn
No ventre da Virgem Béla
O Verbo encarnou por graça
Entrou e saiu por ela
Como o Sól pela vidraça
Maria filha de Ana
Em vosso ventre purissimo
Entrou por graça o Altissimo
E nele tomou carne humana
Quem isto crê não se engana
Crer que há virgindade néla
Supomos como da véla
No vidro penetra a luz
Assim concebeu Jesus
No ventre da Virgem Bela
Deu o seu consentimento
Seu filho néla encarnou
Em seu ventre se ocultou
Deus, e homem num momento
Misterioso portento
Conceber ficar donsela
Concebeu mas sem que déla
Sua pureza manchasse
Sem que o ventre macullasse
Entrou e saiu por éla
Quando a mãe do Redentor
Foi pelo Anjo anunciada
Respondeu mas perturbada
Humilde e toda em tremôr
A vontade de Senhôr
Consinto que em mim se faça
E como a luz o vidro passa
Entrou nela Deos poderôso
E por misterio tão portentôso
O Verbo encarnou por graça
Fez voto de castidade
Desde jovem creatura
Votando conservar pura
Sua exceta honestidade
Deus de infinita bondade
Que os filhos crentes abraça
Sem do pecado haver traça
Ao ventre humano se uniu
Entrou e dêle saiu
Como o Sol pela vidraça
Nota: Ortografia conferida pelo manuscrito. Não consta a assinatura na fotocópia.
Vemos, de novo, aqui a palavra “exceta” como aconteceu na Décima “A rainha das potências”
Apesar de, naquela décima, a palavra em questão estar numa página, que esteve dobrada muito tempo, parece claro que, ali, ele terá escrito “excéta” e aqui “exceta”.
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V Colaboração de outros poetas e autores...
A DÉCIMA da INSTRUÇÃO glosada pelo Ti Belchior da Estação de Ourique...
Décima de António Aleixo? do Milionário? Ou só o Mote?...
MANUEL ANTÓNIO DE CASTRO, o Manuel de Castro da Cuba, dedicou uma
DEIXA – DÉCIMA à MORTE DO ALFERES BORGES DOS REIS de S. Matias,
Beja.
DÉCIMAS que falam da I GRANDE GUERRA 14/18...
ANTÓNIO MIGUEL CARMO pai da D. Antónia Carvalho, sobre a I Guerra Mundial...
Outros poemas e mensagens de outros poetas, familiares, amigos e admiradores
que quiseram colaborar nesta homenagem ao poeta que foi durante tempo esquecido. A família que guardou religiosamente muitos dos seus manuscritos, nunca
os quis divulgar, pelo pouco interesse manifestado pelos agentes da Cultura em
Portugal e na Região
Testemunhos de pessoas que o conheceram e/ou sabem os seus poemas e os recolheram e falar da justiça e do dever que o Povo de S. Matias tem para com este
poeta seu conterrâneo, que continua a ser pouco conhecido, levando muitos, mesmo bem intencionados (ou não?!) a atribuir as DÉCIMAS de sua autoria a outros
poetas ou a eles próprios!
D. Antónia Carvalho
Outros Motes com fundamento
António Lúcio e D. Joana Garcia
Joaquim Ruaz
Francisco Piriquito Junior
A. A.
José Penedo
O “Pôtra”
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UMA DÉCIMA DO TI BELCHIORINHO da Estação de Ourique, com o MOTE da
INSTRUÇÃO, talvez anterior (?) à de Inocêncio de Brito...
(Glosando o mesmo mote mas com o 1º verso modificado(?), transcrevemos esta décima
atribuída ao “tio” Belchior, (falecido), Estação de Ourique, Castro Verde, in a espiga uma publicação Nº 1 de 1982, da Escola Preparatória de Beja, coordenada por Abílio,
Maria do Carmo, Maria da Conceição Teixeira e Maria Joaquina.
A INSTRUÇÃO (NÃO) É PRECISA
pelo Ti Belchiorinho da Estação de Ourique
A INSTRUÇÃO (NÃO) É PRECISA
A INSTRUÇÃO NÃO CONVÉM
QUE A INSTRUÇÃO EMBRUTECE
A QUEM MUITA INSTRUÇÃO TEM.
Duques, marqueses, morgados
Família de igual medida
É tudo gente instruída
Alguns em direito formados
Lentes e deputados
A morte os harmoniza
Sabe Deus quem autoriza
A conhecer o bem do mal
Para a base fundamental
A instrução não é precisa.
O rico por ter estudado
Não faz trabalhos de peso
Nem encargos de desprezo
Quem os faz é gente rude
O que não sabe faz tudo
É o que menos merece
É aquele que não conhece
De que serve ter aprendido
Há tanto homem instruído
Que a instrução embrutece
Se todos pudessem estudar
E todos pudessem saber
Quem havia exercer
Por aí tanto lugar
Ninguém queria trabalhar
Cuidar dos gados de alguém
O estudo para quem não tem
Não é útil o seu ensino
Para quem é pequenino
A instrução não convém.
Ver-se o pobre ignorante
Não causa admiração
Ele não recebeu instrução
Não vê os erros por diante
Admira é o estudante
Que vai a Coimbra e vem
Não é um são mais de cem
Se a gente os for a contar
Isso é que é para admirar
A quem muita instrução tem.
NOTA. Ver nas DÉCIMAS de I. Brito o mesmo MOTE (excepto o “NÃO é precisa” que
pode ser erro da transcrição) glosado por Inocêncio de Brito. As histórias que terão dado
origem aos respectivos desenvolvimentos, são completamente diferentes. Segundo Victor
Paquete, dizem uns amigos do Ti Belchiorinho da Estação, por exemplo o Chico Nobre
Carreira, de Casével, que terá sido feita, provocado pelo desgosto causado pelo filho que
foi estudar e na volta, nem sequer ligava ao pai. Mas segundo investigações do mesmo,
terá sido um Mote trazido de Coimbra por Brito Camacho, pelos colegas que não acreditavam que houvesse poetas alentejanos, que, de uma Quadra - Mote, criassem as quatro
Décimas como desenvolvimento do tema.
113
Afinal, quem será o autor do MOTE e qual é? Com NÃO ou sem NÃO? Ora este episódio
ter-se-á passado pelos anos 1880/90. O Ti Belchior morreu em 1917, vítima da pneumónica. Ora a vinda do Afonso Costa a Beja, que terá dado origem à DÉCIMA de Inocêncio
de Brito, ter-se-á passado, pelos anos 1912/13. Assim, será fácil recolher dados sobre
esse episódio, pelos registos do tribunal ou até junto de pessoas que ouviram contar...
114
Página para ANTÓNIO ALEIXO e o seu MILIONÁRIO
(António Aleixo – Poeta Cauteleiro – nasceu em Vila Real de S. António, em 18 de Fevereiro de 1899 e faleceu, em Loulé, em 16 de Novembro de 1949. A obra deste Poeta está
impressa em “Este livro que eu vos deixo...” publicado e 1975? e já foi publicado um
segundo volume...
«Levanta-te, ó milionário,
Vai um enterro a passar;
É o corpo de um operário
Que morreu a trabalhar.»
É esta a Quadra que pode ter servido de Mote a mestre Inocêncio de Brito.
Seria dele e usada também por António Aleixo?
Seria, de facto do Aleixo, como podemos ler in «António Aleixo – este livro que vos deixo...», Volume II, Editorial Notícias, Obras de António Aleixo, 8ª Edição, Julho de 1997
(1ª Edição, 1978).
Outras informações sobre António Aleixo.
ESTE LIVRO QUE EU VOS DEIXO, 1º Volume, tem a 1ª edição, Lisboa, 1969 e vai pelo
menos na 7ª Edição, e podem ser encontradas outras obras de António Aleixo como
«Quando começo a cantar»... que foi publicado em Faro em 1943.
Pena é que em todos os registos biográficos e comentários que temos lido sobre António
Aleixo não se encontre nenhuma referência a outros poetas com quem ela possa ter convivido.
115
MANUEL ANTÓNIO DE CASTRO da Cuba
(Cuba Alentejo, nasceu em ???? e morreu em 1972). O Manuel de Castro, da Cuba, dedicou uma DEIXA – DÉCIMA à MORTE DO ALFERES BORGES DOS REIS de S. Matias,
Beja.
In DEIXAS, de Manuel de Castro, Pesquisa e Comentários de Cristóvão Enguiça, recolha de familiares e população de Cuba, edição da Câmara Municipal de Cuba, Julho de
1987, p.48.
O ALFERES BORGES DOS REIS,
O ALFERES BORGES DOS REIS
NATURAL DE S. MATIAS,
NUM DESASTRE DE AVIÃO
ENCONTRA O FIM DOS SEUS DIAS.
Nascido na humildade
De simples filho do povo,
Deixa ver logo de novo
Robusta mentalidade.
Com poucos anos de idade,
Bem menos de dezasseis,
Já em Beja dava leis
De conceituado aluno,
Era o primeiro no seu turno
O Alferes Borges dos Reis.
Foi Alferes aviador
Este herói predestinado,
Por todos conceituado,
Piloto de alto valor;
O comando superior
Incumbiu-o de uma missão,
Alto treino de instrução
Que a rigor executava,
Sem se lembrar que findava
Num desastre de avião.
De assuntos colegiais
Ele entendia de tudo,
Ganhava bolsas de estudo
E ganhava ensinando os mais.
Era o ídolo dos seus pais
E aqui destas freguesias,
Tinha gerais simpatias
Numa grande circunferência,
Esta viva inteligência
Natural de S. Matias.
Sorraia, pequeno rio
Nos campos de Coruche corre,
Perto dele onde morre
Um herói de tanto brio,
Destino cruel e frio
Que tens tantas tiranias,
Tanto matas como crias,
Tragédias não te comovem
E um bravo, distinto jovem
Encontra o fim dos seus dias!
Embora não se refira directamente a Inocêncio de Brito, dadas as ligações que estes poetas tiveram entre si, e das Décimas dedicadas a Cuba que o poeta dedicou a Manuel de
Castro “Eu sou pássaro e tu laço”, achámos por bem incluir aqui esta DEIXA de Manuel
de Castro, por se referir a um filho de S. Matias, que dá nome a uma rua vizinha da que
foi dedicada a Inocêncio de Brito.
116
DÉCIMAS que falam da I GRANDE GUERRA 14/18
Por estarem relacionadas com temas que foram tratados por Inocêncio de Brito, e por
pessoalmente (JoRaGa) se referirem à minha pesquisa pessoal que me levaram a descobrir o que eram as Décimas, decidi incluir aqui, para, de certa maneira enriquecer este
trabalho e nos obrigar a reflectir sobre os caminhos, as leituras, as interpretações que ao
longo do tempo e em diversos lugares, podem ter estes textos da Literatura Oral Tradicional (Popular).
A pedido da professora de Educação Visual,
na Escola Secundária de Rio Maior, no ano
lectivo de 1976/77, para que os alunos trouxessem para as aulas Cantares Populares,
o aluno do 7º D, n.º 91 (150) Mário António
Carvalho dos Santos, escreveu na contra
capa do caderno e na primeira folha, tudo
seguido, o que ouviu cantar a Júlia Jejuína
da Cruz. Depois de várias tentativas para
decifrar, conseguimos descobrir que era
com certeza uma Décima que a senhora
tinha ouvido e decorado e adaptado à sua
maneira.
In Compact Disc Artes da Fala, Portel,
1996?, recolha em Santiago de Rio de Moinhos (Borba/Évora), informante: Lino do
Fado, cantado um texto aprendido, aparece
esta quadra de Décimas, recolhida por Paulo Lima da OFICINA DO PATRIMÓNIO,
Portel, Rua do Álamo, 36, Câmara Municipal de Portel, 7220 PORTEL, tel. 611334:
117
Ao te escrever estas linhas
Muito chora meu coração
Porque as palavras são minhas
Só as letras as não são.
Ao escrever-te destas linhas
Só chora o meu coração
Que estas palavras são minhas
Só as letras é que não.
São nove de Abril meu amor
triste dia em que ditei
tudo quanto por ti passei
ó minha adorada flor
pedaços da minha dor
fatalidades da vida
não sabes nem adivinhas
quanto padeço querida
estou entre a morte e a vida
ao te escrever estas linhas.
A nove de Abril meu amor
E triste dia em que ditei
E tanto que eu cá em ti pensei
Minha adorada flor
Pedaços de minha dor
Oh minha lembrança de Aninhas
Tu não pensas tu nem adivinhas
Oh minha adorada querida
Eu estou entre a morte e a vida
Ao escrever-te destas linhas.
numa horrorosa batalha
ao fim de tanto cansaço
estou ferido perdi um braço
numa chuva de metralha
adeus meu amor passa bem
que eu por ti fico chorando
pela amizade que te tenho
sempre amor me estás lembrando
todo o meu corpo está sangrando
muito chora meu coração.
Numa horrorosa batalha
E no fim de um grande cansaço
Olha já cá fui ferido e perdi um braço
Numa chuva de metralha
Vês tu enquanto a nossa esperança falha
Ou por acaso ou por maldição
Já nem sequer possui braço nem mão
Para depois te dar em casamento
Com horror e estremecimento
Só chora o meu coração.
olha leva à minha mãe
muitos beijos e carícias
diz-lhe que estou vivo estou bem
e que de mim tens notícias
depois desengana também
a minha pobre irmãzinha
que lá está coitadinha
e sente como tu sentes
porque és tu que não me mentes
porque as palavras são minhas.
Olha leva à minha mãe
Muitos beijos e carícias
E diz-lhe que tens de mim notícias
Que eu sou vivo e que estou bem
Depois enganas também
Minhas queridas irmãzinhas
Inocentes, coitadinhas
Que sentem como tu sentes
E diz-lhe que não és tu que mentes
Que estas palavras são minhas.
ó mãe da minha alma
pai do meu coração
por muitos anos que eu viva
não lhes pago a criação
o que em nome de deus começo
em nome de deus acabo
sem dizer seu nome em vão
nesta minha condição
porque as palavras são minhas
só as letras as não são.
Enquanto tudo esvaece
Trata aí doutro namorado
Porque um pobre inutilizado
Que condições é que oferece
Nosso amor desaparece
Fica comigo a paixão
Recebe ainda como recordação
Ainda mais esta cartinha
Junta às outras que aí tens minhas
Só as letras é que não.
118
ANTÓNIO MIGUEL CARMO
(S. Matias? Beja, nasceu em... e morreu em????)
ADEUS, MINHA QUERIDA AMADA,
ADEUS MINHA QUERIDA AMADA,
ESCUTA, DÁ-ME ATENÇÃO:
EU CÁ VOU JÁ DE ABALADA
COM PENAS NO CORAÇÃO
Cá levo uma saudade
Que não a posso deixar.
Não me deixas de lembrar,
Acredita que é verdade.
Não me percas a amizade,
Fica de mim bem lembrada.
Cá te levo retratada
Dentro do meu coração
E aceita um aperto de mão
Adeus, minha querida amada.
Se soubesses, meu amor,
A dor que o meu peito sente!
Tu hás-de-me lembrar sempre,
Ó minha branca flor.
Para mim tens todo o valor,
Ó minha doce adorada.
Sempre serás minha amada,
Se eu não chegar a morrer...
E agora é que tem de ser,
Eu cá vou já de abalada.
Vê lá, se tens sentimentos,
Ó minha rosa tão querida...
Vou-te dar a despedida.
Acaba-se o nosso bom tempo...
Cá vais no meu pensamento,
Ó minha rosa em botão,
Amor do meu coração...
Já te não posso falar.
Não faço senão chorar,
Escuta, dá-me atenção.
Com a esperança de não voltar
De ti me vou despedir,
Mas se ainda tornar a vir,
Eu lá te irei visitar...
Eu desejava falar
Contigo com atenção.
Levo uma grande paixão
Causada a teu respeito
E cá vai, meu leal peito,
Com penas no coração.
Esta DÉCIMA é de ANTÓNIO MIGUEL CARMO,
pai de D. Antónia Carvalho e dita por ela, em 6 de Abril de 1996.
Esteve 18 meses, nas linhas de fogo, da 1ª GRANDE GUERRA MUNDIAL, de 1914/18.
(?Ver ??) Nasceu em Junho de 1896 (faria 100 anos neste ano de 1996 ) e faleceu em 25
de Março de 1968.
Talvez tenha sido esta DÉCIMA e outros poemas que ela recorda, que deixaram à filha
esta inclinação ou vocação para a poesia.
119
OUTROS POETAS de S. MATIAS e...
“DÉCIMAS” de D. Antónia Carvalho
CIENTISTA, PENSA BEM:
CIENTISTA, PENSA BEM:
 POR QUEM O MUNDO FOI FEITO?
 FOI FEITO POR ESSE ALGUÉM
QUE TUDO O QUE FAZ É PERFEITO.
Fez a água a correr para o mar,
Fez a luz no sol para brilhar
E fez o que essa luz contém,
Que tudo ajuda a criar...
Tu tens muito que estudar,
Cientista, pensa bem.
Fez estrelas no céu a cintilar
Que, para acender ou apagar,
Esse poder ninguém tem.
Nada se pode mudar,
Tudo está no seu lugar,
Foi feito por esse alguém.
Tu estudas filosofia
Seja de noite ou de dia
E tudo guardas no teu peito...
Vou-te dizer a sorrir:
Não consegues descobrir
Por quem o Mundo foi feito.
Para a terra fez as flores
De mil feitios e mil cores
E plantou-as a seu jeito...
Com seu olhar fez uma ronda,
Fez o sol e a lua redonda...
Tudo o que faz é perfeito.
Este poema foi dito pela D. Antónia, em S. Matias, no dia 6 de Abril de 1996, como sendo
uma DÉCIMA, ou a maneira como ela entende que deve ser uma décima...
Logo a seguir, confrontando com a que recorda do pai, verificamos que ela procura simplificar, fazendo para cada verso do mote, uma sextilha. Assim cada sextilha, só ficará
DÉCIMA com os quatro versos do mote!
OUTROs MOTEs com fundamento,
Versos do Senhor António Lúcio,
Retiro dos Caçadores, S. Matias, Beja.
I
Homem de tanto talento,
Que tens um saber profundo,
Diz-me: de onde estava o vento,
No primeiro dia do Mundo?
II
Antes de a noite ser noite
E antes de o dia ser dia...
Antes de o Mundo ser Mundo,
Diz-me lá, o que existia?
120
Versos do Senhor António Lúcio
Retiro dos Caçadores, S. Matias, Beja
Quero ir ao Alentejo,
Passar lá uma semana,
Quero admirar e gozar
a paisagem alentejana.
A paisagem alentejana,
Isso é o que mais invejo;
Passar lá uma semana, tirana,
Quero ir ao Alentejo.
Versos da D. Joana Garcia,
Retiro dos Caçadores, S. Matias, Beja
Alentejo pequenino
Província de muito labor,
Além do meu marido e dos filhos
Tu és o segundo amor.
Tu dás azeite, pão e vinho,
Tu és riqueza sem fim;
Alentejo pequenino,
Tu és tudo para mim.
Na tua planície dourada
Coberta de girassol,
Das províncias portuguesas,
Alentejo és o maior.
Quando eu, de ti, me ausento
Levo logo uma saudade;
Estou desejando voltar
Para te poder abraçar,
Nisso eu tenho vaidade.
121
Versos do Senhor Joaquim Ruaz,
natural de S. Matias Nascido em 1934, , in POETAS POPULARES do Concelho de Beja,
Edição da Câmara Municipal de Beja, 1987.
Cena do Campo
I
Sai o rebanho p'ró prado
O pastor o vai guardando...
Atrás vai o cão de gado
Companheiro indispensável
Que é para ir ajudando.
III
Os pássaros dão alvorada
De manhã cedo a cantar...
Ainda de madrugada
Sai o pastor da malhada
Pr’ó seu rebanho guardar.
II
As ovelhas vão pastando
E andam de lado p’ra lado...
Encostado ao seu cajado
O pastor o vai guardando
Sai o rebanho p’ró prado.
IV
Se a ovelha vai andando
E o cordeiro fica atrasado...
Ouvem-se os lobos uivando
Enquanto o cão vai ladrando
Pr’ó pastor ser avisado.
OUTROS VERSOS do Senhor Joaquim Ruaz
I
IV
Se rico é ser alteza
Ser humilde e cumpridor
Ter saúde é ser abastado
Dos seus deveres naturais
Ter miséria é ser aleijado
É aproximar-se mais
E ser pobre por natureza
Da vida no seu valor
Foi destino que Deus deu
Não fugindo às regras normais
A quem sofre resignado...
Que o homem tem ao seu dispor.
- Ao imitar o tormento meu Fica livre de pecado
V
Já basta o que sofreu.
O valor aos principais
Há sempre uns ou outros que dão...
II
Não havendo menos, nem mais
Nos subúrbios da cidade
Não haveria distinção
Dormem sempre os rejeitados
Seríamos todos iguais.
De toda a sociedade...
Por agirem com maldade
VI
Ou por o destino levados
De mais e menos de tudo um pouco
Na tristeza ela solidão
O mundo está composto...
Todos esses seres são
Um é certo, outro é louco...
Vítimas da Humanidade.
Um tem gosto, outro desgosto...
Segundo as estatísticas
III
Quem tem estas características
Há quem fuja ao seu destino
Bem se conhece no rosto.
No caminho ela verdade...
Sem haver realidade
O adulto e o menino
Fica sendo um peregrino
Longe da eternidade.
122
Uma DÉCIMA do Senhor Joaquim Ruaz,
natural de S. Matias Nascido em 1934, publicada no Boletim Informativo da Junta de
Freguesia de S. Matias, Beja, Volume II, Junho de 1998.
AS FLORES
Até nas próprias flores
Há a diferença da sorte
Umas enfeitam amores
Outras enfeitam a morte
Quando o mundo se formou
Com distinta perfeição
Na sua vegetação
Tão completo ficou
Em plantas que germinou
Há nelas grandes primores
Demonstrando seus valores
Em algumas medicinais
Com efeitos tão desiguais
Até nas próprias flores
Santa Isabel um dia
Quando seu esposo encontrou
Em lindas rosas transformou
As esmolas que trazia
Do seu regaço caía
Rosas de diversas cores
Que enfeitaram seus andores
Por um especial condão
Nas mesmas rosas de então
Umas enfeitam amores
Elas mesmas é que são
O brilho da Natureza
Que encerram toda a beleza
Na sua composição
Divinos poderes na mão
Tem quem lhe deu este porte
Sendo o seu destino forte
No desempenho de uma função
Sobre a sua própria missão
Há a diferença da sorte
Em bouquês para namorados
Amor se transporta nelas
Conjugações das mais belas
São as que enfeitam noivados
Mas para os que forem sepultados
São símbolos de passaporte
Para aquele que transporte
O que da vida lhe resta
Flores enfeitam a festa
Outras enfeitam a morte
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DÉCIMAS de Francisco Piriquito Junior,
nascido em S. Matias, Beja, 05.12.1924, , in POETAS POPULARES DO Concelho de
Beja, Edição da Câmara Municipal de Beja, 1987..
EU MAL APRENDI A LER
EU MAL APRENDI A LER
NUMA ESCOLA PARTICULAR
QUANDO FIZ A QUARTA CLASSE
DEU-ME VONTADE DE CHORAR.
Comecei na incerteza
Na vida triste e sombria.
Na classe que pertencia
Ainda imperava a pobreza.
Foi com imensa tristeza
Que ao meu pai ouvi dizer:
Tens que ir ganhar para comer...
Tem paciência, Joaquim...
Nesse tempo a vida era assim
Eu mal aprendi a ler.
Já homenzinho ingressei
Num teatro de amadores
Imaginem, meus senhores,
Como contente fiquei!
Sempre com afinco estudei
O papel que me calhasse
Esperando que me deparasse
Alguma oportunidade...
Foi aos vinte e oito anos de idade
Quando fiz a quarta classe.
Era um garoto franzino
Com pouca saúde também
Os meus irmãos, com desdém,
Chamavam-me: - Menino fino.
Por malfadado destino
Tive que a escola deixar
Fui umas cabras guardar
Mas sempre num livrito li
Para não esquecer o que aprendi
Numa escola particular.
Surge o presépio sagrado
Auto de meditação e fé...
O papel de S. José
Foi por mim interpretado.
Depois de o ter terminado
Um padre me veio chamar
Para no palco me apresentar
Como verdadeiro artista...
Senti humedecer a vista...
Deu-me vontade de chorar.
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Outra (II) DÉCIMA de Francisco Piriquito Junior, S. Matias, Beja, , in POETAS
POPULARES DO Concelho de Beja, Edição da Câmara Municipal de Beja, 1987.
SE TEVE A INFELICIDADE
SE TEVE A INFELICIDADE
SE NÃO APRENDEU A LER
VÁ À ESCOLA COM ATENÇÃO
AINDA PODE APRENDER.
Não precisa ser chamado
Pode ir quando quiser,
Seja homem ou mulher,
Seja solteiro ou casado,
Não deve estar envergonhado,
Nem sentir inferioridade.
Não tem limite de idade
Para se valorizar...
Deve agora aproveitar
Se teve a infelicidade.
O que hoje se pode fazer
Para amanhã não se guarda.
A D. Maria Eduarda
Recebe-o com muito prazer.
Quanto mais gente aparecer
Com mais gosto ensina a lição.
Para ser um cidadão
Livre de obscurantismo
Liberte-se do analfabetismo
Vá à escola com atenção.
Porque é que não aceitamos
Aquilo que nos querem dar?
De quem nos quer ajudar
Porque não nos aproximamos?
Se indiferentes ficamos
Que lhe pode acontecer?
Pode mais tarde dizer:
Bastante pena eu tenho.
Em ir à escola faça empenho
Se não aprendeu a ler.
Ainda pode possuir
O que tanta falta lhe faz.
Não diga que não é capaz
De esse dom adquirir.
Se chegar a conseguir
Pode seus versos escrever.
Deve de comparecer
Na escola sem demora.
Aquilo que ignora
Ainda pode aprender.
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Outra (III) DÉCIMA, de Francisco Piriquito Junior, S. Matias Beja, in POETAS
POPULARES DO Concelho de Beja, Edição da Câmara Municipal de Beja, 1987.
NÃO SOU ESPERTO, NEM BRUTO
NÃO SOU ESPERTO NEM BRUTO
NEM BEM, NEM MAL EDUCADO
SOU APENAS O PRODUTO
DO MEIO EM QUE FUI CRIADO.
(Com MOTE de uma QUADRA de António Aleixo e em sua homenagem, – MOTE
ALHEIO)
Ao 1embrar o personagem
Que este mote escreveu
A oportunidade que me deu
Para lhe prestar homenagem
Com espírito de camaradagem
Defendo o meu reduto
Ao meu cérebro recruto
Talento e sabedoria
Para dizer como ele dizia:
Não sou esperto nem bruto.
Não posso rivalizar
Com poetas deste quilate.
Cometia um disparate
Se nisso fosse pensar.
Limito-me a valorizar
O meu saber diminuto
Para não ficar de luto
Nem sequer mal cultivado.
Do que tenho concretizado
Sou apenas o produto.
Não sigo suas pegadas
Nem o posso igualar.
Ao seu mote vou juntar
Estas minhas simples quadras
Humildemente rimadas
Com este significado
Para que não seja abandonado
O Património Cultural.
Sou um cidadão afinal
Nem bem, nem mal educado.
Falando de António Aleixo
Grande poeta algarvio
Quem me dera ter seu brio
Circular no mesmo eixo...
Quem não tem o apreteixo
Dum cérebro privilegiado
Como ele foi dotado...
Eu não tive esse condão
Vou mantendo a tradição
Do meio em que fui criado.
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Outra DÉCIMA (IV) de , Francisco Piriquito Junior, S. Matias Beja, in POETAS
POPULARES DO Concelho de Beja, Edição da Câmara Municipal de Beja, 1987.
PUS-ME A ESPREITAR O VENTO
PUS-ME A ESPREITAR O VENTO
AMENAMENTE SOPRANDO;
VI AS ÁRVORES EM MOVIMENTO
PARECIAM ESTAR DANÇANDO.
Vi em frente uma oliveira
Com bastante ramaria
Dançando também parecia
Uma enorme fogueira
Ao lado de uma laranjeira...
Um pessegueiro mais dolento
Veio-me logo ao pensamento...
Que quadro tão maravilhoso!
Como sou assim curioso
Pus-me a espreitar o vento.
Os ramos menos desenvolvidos
Imitam as mesmas danças…
Pareciam as crianças
Dançando entre os mais crescidos...
Pareciam tão divertidos
Nesse preciso momento
Quando eu estava atento
A ver o que se passava
Tudo isto se me afigurava
As árvores em movimento.
Como é linda a natureza
Como é sorridente e bela!
Não me canso de olhar para ela
Contemplar sua beleza
Com muita delicadeza
Seus mistérios vou desvendando,
Às vezes, de quando em quando
Como imperador me revelo...
Verifiquei qu’o vento é belo
Amenamente soprando.
Foi assim na solidão
Curiosamente a olhar
Tudo isto me faz lembrar
Aquela movimentação
Até me dava inspiração
Que os ramos se iam beijando
Fui isto descortinando
Dos raminhos engraçados
Como pares de namorados
Pareciam estar dançando.
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PROSA POÉTICA de A.A.
Remetendo para OS OLHOS tema glosado pelo mestre Inocêncio de Brito, uma filha
adoptiva de S. Matias que assina A.A. enviou-nos este poema:
NO OLHAR DOS VELHOS DA MINHA ALDEIA
No olhar dos velhos da minha aldeia, repousam memórias de tempos em que a seara era
mais dourada, o trigo era mais verde e a terra sigilata se contorcia em movimentos sensuais despertados pelas carícias do arado e recebia, qual mulher ardendo em paixão, a
semente lançada à terra.
No olhar dos velhos da minha aldeia, repousam imagens claras de raparigas junto ao
poço, descalças e de saias arregaçadas, matando o calor com a água que lhes molhava o
rosto e escorria por entre os seios, percorrendo lugares secretos dos corpos brancos que
eles tentavam adivinhar.
No olhar dos velhos da minha aldeia, repousam alegrias de conversas à mesa da taberna
em que um naco de pão e queijo e uma garrafa de vinho, alimentavam a esperança de
um amanhã sem fome, sem dor, e o cante fortalecia as almas unindo-as numa só, chegando mais alto, sentindo-se mais fortes...
No olhar dos velhos da minha aldeia, repousam ainda aqueles que já empreenderam a
viagem mas que continuam vivos no ondular do trigo, nas oliveiras grávidas de luz e nos
chaparros guardiães do sol.
No olhar dos velhos da minha aldeia, repousam, enfim, as almas antigas dos sábios, dos
simples, dos que choram de emoção ao ver a vida em cada planta recém-nascida, em
cada gota de água que a alimenta, e continuam crianças desvendando o milagre de cada
novo amanhecer.
A. A., S. Matias, Beja, Primavera de 1999.
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A INOCÊNCIO DE BRITO
Homenagem modesta de José Penedo
Aprendiz de fazedor de Décimas...
MESTRE INOCÊNCIO DE BRITO de José
Penedo
Mestre Inocêncio de Brito,
Que foi Mestre de Doutores,
Nas Quadras foi grande perito,
Viveu grandes dissabores.
Foi pastor, foi professor
Almocreve e tudo o mais;
Lidava com animais,
Cavava a vinha ao rigor;
Carregou palha ao calor...
Nas campinas, o seu grito
É um clamor infinito
Bradando, na solidão,
Como se fora um pregão:
Mestre Inocêncio de Brito.
Todo o tema lhe servia
À profunda inspiração:
Era o povo, era a nação,
Os olhos onde ele lia
A guerra que se acendia
A família? O pai? Um Grito
Duma ovelha ou dum cabrito...
Ou gritando as injustiças
Dos Costas ou dos Buiças,
Nas Quadras foi grande perito.
Pelas andanças da vida
Encontrou muitos poetas
Uns sábios, outros patetas...
Nas feiras foi conhecida
A sua fama subida
De despique aos cantadores
Glosando da vida as dores
Mostrando ao Castro, ao Aleixo,
Com fundamento e preceito
Que era Mestre de Doutores.
Enquanto os outros vendiam
Suas Quadras e talento
Lançando versos ao vento
Os seus gritos acendiam
Fogos e luzes que ardiam
Como ideias, como flores,
Cantando raivas, amores,
Os trabalhos que sofria,
As penas, as dores que via...
Viveu grandes dissabores.
Mestre Inocêncio de Brito
Natural de S. Matias
Foi um poeta esquecido
Foi rico, de mãos vazias.
Um mestre que foi pastor
Cavador, apanha fardos
Ensinou alguns doutores
Dá lições a alguns letrados.
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Evocando outra figura “esquecida” de S. Matias
O PÔTRA por Luís Alves
Uma célebre Décima (mesmo só dez versos) do PÔTRA
O senhor Luís Alves, natural de S. Matias, Beja, com cerca de sessenta anos em 1999,
(entretanto já falecido em 2001.07.24) autodidacta, senhor de uma cultura e de uma
memória fora do vulgar, pode passar um dia inteiro, dizendo por exemplo, factos episódios, datas de nascimento ou morte de grandes personalidades, começando no dia um de
Janeiro e seguindo por aí fora..., criando e resolvendo problemas complicadíssimos,
dizendo volumes e medidas de rios montanhas quedas de água...
A propósito deste fenómeno que foi Inocêncio de Brito, no final do século dezanove e primeiras décadas do século XX, lembrou-se de um outro PASTOR DE CABRAS, do tempo
de frei Manuel do Cenáculo (n. 1724, foi Bispo de Beja e arcebispo de Évora; em 1770
renovou a Diocese de Beja que tinha deixado de o ser durante uns tempo)...
Quando este sábio Pastor de Almas andava nas suas vistas e andanças pelo Alentejo,
alguns lavradores que sabiam do seu interesse pela literatura e pela poesia, falaram-lhe
de um pastor de cabras, o PÔTRA que era um poeta repentista... Cheio de curiosidade
quis um dia pôr à prova o famoso pastor com fama de repentista... Levado à sua presença, diz o bispo:
- Faz-me um poema, pastor!
- Dê-me, Senhor, o Mote!
E no entusiasmo e na galhofa o Bispo bateu as palmas...
E sai-se o pastor:
Senhor meu, bateu as palmas
Pois nós não somos iguais
Eu sou pastor de animais
E vós sois pastor das almas
Sofro frio e sofro calmas
Sofro do tempo os rigores
Vós brilhais entre os doutores
Servindo aos sábios de exemplo
Eu no prado e vós no templo
Nós ambos somos pastores.
133
Um atrevimento – A invenção de um possível MOTE e o seu desenvolvimento em 4
décimas para terminar com a que é atribuída ao Pôtra, por José Penedo:
UM BISPO PASTOR DE ALMAS por José
Penedo
Um Bispo Pastor de Almas,
Encara o POTRA, pastor...
O Senhor bateu as palmas:
- Nós ambos somos Pastores
Conta a estória, que, um dia,
O Frei Manuel do Cenáculo,
Governando com seu báculo
E grande sabedoria,
Quando os montes percorria
Sofrendo o rigor das calmas
Recebendo flores e palmas,
Encontra o POTRA, o pastor
Poeta de grande valor!
Ele, um Bispo Pastor de Almas!
- Creio que um analfabeto
Não pode versos fazer!...
Não sabes ler, escrever!...
Mas dizem que és esperto...
- Eles fazem do longe perto!...
Meu labor não são as almas,
Mas sofrer, do tempo, as calmas,
Da chuva e frio, o rigor...
Eu sou, de animais, pastor...
E o Senhor bateu as palmas...
Diz o bispo com ardor
- Tens fama de grande bardo!
Faz versos a nosso agrado
E terás o meu louvor
Pois muitos te dão valor...
- Pois se o ouviste(s), Senhor
E o pedis com tal calor
Venha o MOTE para o verso!...
E o Bispo de olhar travesso
Encara o Pôtra, pastor:
- Senhor meu bateu as palmas!!!
Pois nós não somos iguais...
Eu sou pastor de animais
E vós sois Pastor das almas!
Sofro frio e sofro as calmas
Sofro, do tempo, os rigores.
Vós brilhais entre os Doutores
Servindo, aos sábios de exemplo!
Eu, no prado e vós no Templo...
Nós, ambos, somos pastores!
Aí fica, como aprendiz de “fazedor de Décimas” esta DEIXA, com o meu pedido de desculpas aos Mestres mais entendidos, que cito neste trabalho e com os quais estarei sempre disposto a aprender.
* José Penedo é um dos deNómios (género de pseudónimo ou heterónimo) usado pelo
autor.
José Rabaça Gaspar
Corroios, Junho de 2004
134
A FINALIZAR, aqui ficam duas DÉCIMAS, que recebi como resposta a um desafio de
leigo que desconhecia esta Arte Maior: perguntar aos Artistas, se saberiam explicar aos
analfabetos e aos menos entendidos nestas artes, o que é uma DÉCIMA.
O primeiro aceitou o mote que elaborei.
O segundo criou ele o próprio mote.
Décima de José Fialho Brito da Silva
Palmela, 3 de Setembro de 1999
Mote proposto:
- DIGA LÁ, SENHOR POETA - José Fialho
- Diga lá, senhor Poeta
Perguntou-me um professor:
- Como se faz rima certa
Numa DÉCIMA ao rigor.
Com toda a sinceridade
Pergunto porque não sei
Como é que eu entenderei
O dom de tal faculdade
Se os versos são na verdade
Uma mensagem concreta
Uma lição completa
Cada qual no seu sentido
Eu quero ficar esclarecido
Diga lá, Senhor Poeta.
Não é fácil explicar
Parecendo simples questão
Se é um dom de propensão
Ninguém o pode negar
Muito menos ensinar
Nem dar-se como oferta
Se o dote é quem o desperta
Faculta a quem o herdou
Este tema explicou
Como se faz rima certa
Eu não me canso de ouvir
Uma décima bem rimada
Cada frase enquadrada
Unidas para construir
Pretendendo atingir
Com harmonia e primor
Em prol do seu autor
Que a construiu habilmente
Este tema pertinente
Perguntou-me um professor
Se o tema é facultativo
É mais fácil rimar
Podemos imaginar
Como em imagens de arquivo
Mas no acto decisivo
A razão tem que opor
O verso tem mais valor
Porque a justiça é suprema
Tem que usar este sistema
Numa décima a rigor
Palmela, 3 de Setembro, 1999
José Fialho Brito da Silva
135
136
Décima de Augusto José, mais conhecido por Augusto “o Grande”, de Almodôvar
Para um amigo:
- VOU INFORMAR O SENHOR – Augusto José
- Vou informar o senhor,
Preste bem lá atenção
Vou descobrir ao professor:
- O dote é de nação
Sou já velho e reformado
Mal tenho a 4ª.classe
Queria que explicasse
Eu não estou bem preparado
Procure o Zé Saramago
É poeta e escritor
Tem fama e é bom actor
Faz uns livros de poesias
É vendido nas livrarias
Vou informar o senhor
Em letras sou atrasado
Hó amigo José Rabaça
Na vida tudo se passa
Vou contar o meu passado
Sinto o corpo magoado
Fui um pobre trabalhador
Há gente que não dá valor
A quem trabalha para comer
Escrevo mal e pouco sei ler
Vou descobrir ao professor
Não tive meios de estudar
Quem não lê, não sabe história
Estou já fraco da memória
Não consigo explicar
Mesmo assim vou tentar
Dou o meu opinião
Quem não tem a vocação
Não consegue compreender
Vou tentar responder
Preste lá bem atenção.
Eu ficava satisfeito
Não o posso agradar
Às vezes fico a pensar
À noite quando eu me deito
É preciso é ter preceito
Ter um pouco de noção
Arranjar ocasião
Quando a cabeça está boa
Nasce logo com a pessoa
O dote é de nação
Autor:
Augusto José, Almodôvar, 2000?
137
138
VI - GRITOS NA SOLIDÃO – esboço de estudo
Esboço para um ESTUDO do HOMEM, do POETA e das suas DÉCIMAS...
S. MATIAS, uma terra de Poetas?!
José Rabaça Gaspar
139
O que dizer de ou sobre Inocêncio de Brito?
Já ouvi de tudo. Até ouvi dizer que ele não existia enquanto uma povoação inteira como
S. Matias, uma freguesia do concelho de Beja, sabe as suas Décimas de cor, conta imensas histórias da sua atribulada vida e lhe dedicou uma rua para não ser esquecido. Até
já ouviram na rádio e na televisão dizer Quadras dele como sendo de outros e Décimas
dele como se fossem de outros autores. Porquê?
Creio que foi um economista recém formado ou doutorado que mo explicou. O ar, como é
abundante e toda a gente precisa fundamentalmente dele, não tem valor, não tem preço.
Não está à venda.
De Inocêncio de Brito, depois de durante alguns anos ouvir falar das suas aventuras e
das suas Décimas apetece-me dizer que como o ar ou como a água das fontes, não tem
valor, não tem preço. Enquanto não conspurcaram a água que bebemos e não apareceu
um “Cintra” qualquer a meter a água numas garrafas de plástico e vendê-las pelo dobro
do preço da gasolina, a água não tinha valor. Não tinha preço.
Tal como, por vezes, a água, que corre nas veias do ventre da terra, brota em fontes e
rios, nos lugares mais inesperados, escondidos ou abertos...
Tal como a água dos rios corre sempre, sempre para o mar... para a mar… amar…
Tal como as árvores e as plantas, por vezes, abrem o ventre da terra, para darem a
conhecer as fecundas potencialidades que a Terra mãe guarda no seu seio...
Por vezes, e inesperadamente, sem licença dos ditos donos das letras, ou dos ditos donos
da cultura, surge, no deserto, uma Voz de Poeta que fala da vida, que fala da sua terra,
que fala da sua família, do pai, da mulher, dos filhos, dos problemas nacionais que
ecoam no mundo, dos problemas internacionais que abalaram o mundo, exalta uma figura de mulher de rara beleza e majestade, interpela o “Kaizer déspota orgulhoso” que
provocou a I Grande Guerra Mundial, interpela o Rei, escreve ao sucessor do Rei, geme
na sua solidão onde “Brado ninguém me responde / Olho não vejo ninguém”; foi ou “Já
fui senhor Professor”, “Agora sou não sei quê”, “Partiu a tola à Maria” e depois fizeram
as pazes, interpela o “Vinho cruel inimigo” e logo a seguir defende-o dos adversários “Tu
não clames contra o vinho”, afinal “Trabalho não tenho achado” e “se a fome a roubar me
obriga / Serei preso por ladrão”, escolhe o Sol como mensageiro “No teu giro Sol brilhante”, invectiva “A Rainha das potências” passa um diploma de mau comportamento a
ministros e doutores e denuncia a falta de instrução e o abuso que os instruídos fazem
dela “A instrução é precisa / A instrução não convém”; desafia os génios, os artistas e os
inventores a «Que faça chover, “escampar”», manda tirar o chapéu ao rico que se banqueteia e diverte “Descobre-te milionário / Vai um enterro a passar”, procura a Paz e só
a encontra no cemitério e canta a Virgem como um inspirado teólogo “No ventre da Virgem Bela / O Verbo encarnou por graça / Entrou e saiu por ela / Como o Sol pela vidraça”...
E, inesperadamente, este poeta que ninguém conhece, este poeta que não existe, nunca
ninguém ouviu falar dele,
inesperadamente, sessenta anos depois da sua morte (morreu em 1938?), podemos ter a
inesperada feliz surpresa de entrarmos num café da aldeia, pararmos na esquina duma
rua, sentarmo-nos em frente de uma mesa duma família diante de uma tigela de azeitonas pisadas, tirando um petisco e... inesperadamente ouvir um jovem neto de Inocêncio
de Brito com 91 anos, ou uma neta de oitenta, ou uma bisneta de sessenta e cinco, ou um
velho companheiro de lides dos trabalhos pelos montes, ou até alguns jovens que ainda
não tinham nascido quando o Ti Inocêncio morreu...
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inesperadamente, num lugar qualquer de S. Matias, basta puxar a conversa, e as histórias os ditos, as saídas repentistas, os Motes e as Quadras e as Décimas de Inocêncio de
Brito jorram em borbotões como se o estivessem a ver e a ouvir o poeta desconhecido e
ignorado, o poeta que para conhecedores do Alentejo, não existe, nunca existiu!!!
Deste Poeta, atrevo-me a dizer, na nossa (MRD) modesta, respeitável e discutível opinião – ensinaram-me há pouco, e já vou nos sessenta, que era assim que devia, por ser
politicamente correcto, emitir as minhas respeitáveis opiniões que bruscamente eu dizia
que eram, só, respeitáveis e discutíveis – de Inocêncio de Brito, repito, atrevo-me a dizer,
pelo que me foi dado ouvir e ver, pelo que tenho ouvisto, que é indubitavelmente um
poeta da Língua Portuguesa. Um poeta desconhecido? Um poeta menor? Um poeta de
que ninguém fala? Um poeta que nem os folhetos volantes da feira fazia, como os outros,
e nem os deixava fazer?
Creio poder dizer que Inocêncio de Brito é a prova viva de que um Poeta, na imensa solidão da planície alentejana, “Onde brado ninguém me responde / Olho não vejo ninguém”
longe de tudo e de todos, até da imprensa e dos meios de difusão, embora ele fosse dos
raros poetas “analfabetos” que naquele tempo sabia ler e escrever como uma letra cuidada, desenhada e esmerada como deixou nos seus manuscritos, Inocêncio de Brito é a prova viva de que, mesmo sessenta anos depois de morto e enterrado, esquecido e ignorado,
afinal ESTÁ VIVO, porque as pessoas da sua família, as pessoas da sua terra S. Matias,
Beja, sabem de cor os seus poemas, os discutem, os copiam à socapa, os deturpam, os
emendam como acontece com toda a literatura Oral e a sua poesia fala, canta, grita
temas e problemas que vão da Terra ao Sol, da Vida à Morte, dos problemas locais aos
Universais...
Merecia porventura o Prémio Nobel? Talvez.
Entretanto, graças a Deus e à minha modéstia, não preciso, nunca precisei da modesta,
respeitável e discutível opinião da Real Academia Sueca, nem do peso dos seus cento e
setenta mil contos, para emitir as minhas opiniões. Atenção. Neste ano da graça de
todas as graças como a Expo98 e do Prémio Nobel para o Saramago, eu não sou contra.
Antes pelo contrário. Na Expo não pus os pés. Do Saramago disse, alto e bom som, nas
aulas e no jardim público da cidade de Beja, rodeado de doutores, em 83/84, quando tive
oportunidade de ler “O Memorial” que me emprestaram porque não tinha dinheiro para
o comprar, que, pela sua estrutura, pela cadência da narrativa, pela fluidez do texto,
pelo visualismo do invisível, pelo simulacro de fundamento histórico, pela riqueza de
personagens “levantados” do imaginário, o livro de Saramago era melhor, muito melhor,
do que o badalado, na altura “Nome da Rosa” de Humberto Eco. Só que o Eco vendia aos
milhares nos Estados Unidos e o Saramago tinha o azar de ser português. Enganei-me
graças a Deus! Passados uns anos ele vendia milhares nos “States” e na Itália deu Ópera!!! Ainda me recordo dos olhares de comiseração e dos comentários venenosos dos
meus justamente indignados e ilustrados colegas sabedores, a dizerem – Pois é! É por
isso que os alunos de professores como este não sabem nada de português nem de literatura. É por isso que o ensino em Portugal está como está!!! Estou a vê-los, agora em
finais de 98, a correr às livrarias a comprar Saramago, e a correrem aos críticos para
saberem da originalidade, criatividade e riqueza estrutural e simbólica dos livros de
Saramago.
Que pode valer a minha opinião, enquanto não “falarem três doutores” ou enquanto não
se pronunciar a Real Academia Sueca?
141
O que é preciso para ser Poeta? O que é a Poesia? O reconhecimento da Academia? Ou a
Arte e o Génio, a capacidade de olhar e captar a realidade com olhos e ouvidos de Poeta
para nos levar a entrar noutra dimensão.
O que é a Inspiração? O que são as Musas? O que são as Tágides e as Ninfas do Mondego de Camões? E o simbolismo da Ilha dos Amores? E a intervenção dos Deuses do
Olimpo? E as minhas “azereides”?
Estou a lembrar-me da intervenção “aflita” e trémula do meu querido e saudoso amigo
Doutor Manuel Viegas Guerreiro, em 1996, em Portel, no colóquio Artes da Fala, talvez,
não sei, pressionado pelos “donos do Colóquio” a tentar contrariar as minhas heresias
sobre literatura e poesia, por ter intitulado o meu trabalho “AS DÉCIMAS – OU A
MAGIA DA POESIA POPULAR” para afirmar à douta assembleia que considerava esta
Arte de Poetas “Analfabetos” das lides literárias, tanto pela complexidade da sua estrutura, como na aparente facilidade da sua comunicação a que poucos se atrevem, como
uma peça de rara beleza e um “prodígio de arquitectura narrativa e de estrutura simbólica e significativa” semelhante a uma jóia ou um diamante, semelhante a um esmerado
trabalho de lapidador, que, para além da perfeição formal, deixa na obra uma carga de
simbolismo que poucos podem alcançar, sugerindo que a Décima, em que o Mote de quatro versos de redondilha maior se espraiam por quatro décimas que vão desaguar em
cada verso, criam, do quadrado do Mote e do quadrado das quatro décimas, uma espiral
de leitura em círculo que desafia os sábios que desde sempre procuram conseguir a quadratura do círculo, ou, melhor dizendo, “a circulatura do quadrado”. Pois é mesmo disso
que eu estou convencido.
Não é possível pedir, apesar de todos os defeitos de grande número de Décimas, apesar
das falhas de vocabulário e das rimas forçadas, considerando que é uma arte eminentemente oral e repentista, não é possível conceber, que uma arte que poucos eruditos conseguem, mesmo escrevendo e emendando, que sem uma INSPIRAÇÃO ESPECIAL, sem
uma ligação superior, sem uns “olhos” especiais, sem uns “ouvidos” que ouçam para
além dos ruídos comuns, sem uma “fé” que os leve a acreditar que a palavra dita é criadora e pode ser mais forte que a escrita, não é possível, dizia, acreditar que Poetas como
Inocêncio de Brito, dizerem o que dizem, e passados sessenta anos de morte e esquecimento sejam repetidos e ditos, comentados por novos, velhos e a mais “desvairada” Gentes...
Aliás não é a minha teoria, ou as minhas teorias que me preocupam. O que eu não percebo é o que é que é afinal a inspiração. É ou não é uma forma diferente do comum de
ver as coisas? É ou não é o resultado de uma capacidade invulgar de “captar” o mundo
que nos rodeia? E isso é privilégio só dos aprovados pelas altas sumidades ou dos bafejados pela sorte da publicação?
- Que não senhor, que dizer que os poetas poderão ter um dom especial e uma ligação a
outras dimensões, isso não é científico e literário!!!...
- Aconselho-o a que não se meta em coisas parecidas como ciências ocultas ou esoterismos porque por exemplo o Pessoa e o Camões, grandes poetas nunca se meteram nisso...
- As pessoas que não sabem o que estão a dizer deviam, no mínimo estar caladas!!! Isto
era a sentença de um puto iluminado que já sabe tudo só que tinha a vantagem de poder
escrever num jornal onde com certeza lhe pagavam e aos vintes e tantos anos já aprendeu tudo!!! Eu que ando nos sessenta ainda tenho algumas coisa para aprender e só
admiti que a sabedoria de muita gente do povo pode ir mais longe e ter outros meios de
informação e comunicação que os ditos eruditos não percebem nem lhes admitem... Isso
de ocultismos e esoterismos ou exoterismos deixo por conta dos que acham que percebem
dessas coisas!!!
142
Remeto os estudiosos para os trabalhos de Jorge de Sena sobre os Lusíadas e as possíveis implicações que a hermenêutica e a cabala podem fornecer para uma compreensão e
estudo de “Os Lusíadas” para conseguir articular a leitura dos seus Ciclos e Níveis com
as analepses e prolepses que isso implica; remeto para os trabalhos de Vitalina Leal de
Matos e de Vasco da Graça Moura sobre por exemplo as redondilhas de “Sobolos Rios”
que pode implicar a aplicação do teorema de Pitágoras ao comentário do Salmo 136, ou
será o 137, conforme a numeração das Bíblias, um exercício literário que era proibido
pela Santa Inquisição e que organizando os 365 versos em quintilhas ou em décimas nos
podem fornecer uma leitura e uma interpretação completamente diferente?!!!
Aliás, como diz Jorge de Sena, a respeito dos Lusíadas, essa obra ele considera-a
“como um prodígio de arte narrativa e como um prodígio de arquitectura significativa”
(Ver Jorge de Sena in “Estrutura de “Os Lusíadas” p. 67).
Sem querer comparar uma simples Décima com obra de tamanha dimensão, atrevo-me no entanto em insistir em comparar, como já fiz noutras tentativas de estudo, a
estrutura da construção de uma simples Décima a prodígios de arte em arquitectura,
tendo em conta as devidas proporções. Já em trabalhos anteriores sugeri que se olhasse
para o que dizem ter sido uma das maravilhas do mundo, o Templo de Diana, uma construção imensa que nascia de quatro grandiosos cubos vistos por fora, encimados por uma
majestosa abóbada circular e, de tal maneira construída que quem a via por dentro, ao
entrar nela, ficava com a ilusão-verdade de que estava imerso numa magnífica abóbada
como inserido no Universo ou no imenso Cosmos. Aventei ainda a semelhança ou paralelismo com a construção da Torre de Belém que, segundo dizem entendidos na matéria,
terá guardado, para quem os sabe ler, prodígios de simbolismos que passam despercebidos à maioria. Falei ainda duma pequena igreja de Terena, o Santuário de Nossa Senhora da Boa Nova, mandada edificar pela Formosíssima Maria, que “embora de proporções
miniaturais, tem imponência e o maior valor artístico e histórico”. Falei ainda da capela
de S. João, na entrada Norte de Beja, cuja forma rectangular é como que rodeada por dez
pequenos torreões que a adornam e completam a forma quadrada da fachada elegantemente aberta em arcos. Avanço neste trabalho, e para quem está habituado a olhar dos
vários ângulos a cidade de Beja quando nos aproximamos vindos da planície, encimada
com o seu imponente Castelo e Torre de Menagem. É ver bem o quadrado cimeiro a culminar as quatro paredes que se erguem esguias e altaneiras, como se as quatro décimas
que se erguem do mote, sustentassem por sua vez os quatro versos do mote e lhe dessem
outro brilho e outra visibilidade. É ver como os fundamentos seguem e obedecem às curvaturas do terreno, como acontece com as construções de muitos montes alentejanos que
enchem as paisagens do Alentejo, quando passamos por ele com olhos de ver.
Talvez não saibamos quem são nem o que sabiam os mestres construtores destas
obras. Quando o soubermos, talvez saibamos um pouco mais desta Arte Maior de fazer
Poesia “que não se aprende, nem se ensina”, mas que leva um simples “Analfabeto” ou
assim considerado, a erguer com pedras que são palavras, a arquitectura de uma Décima que é um desafio inglório para os “senhores” da Literatura que não lhe reconhecem o
valor, que não a percebem, que não a sabem construir, que a menosprezam como arte
menor própria só de gente menos culta, que a ignoram, que não a estudam e portanto a
não consideram nem promovem. Apesar de tudo, mesmo sem vir nos manuais das escolas, mesmo sem ser estudada nos “templos” do saber, ela aí está viva, essa Arte Maior de
fazer Poesia, e pronta a ser dita, para quem tiver ouvidos para ouvir, numa praça ou
numa rua de uma qualquer terra desconhecida, por poetas ignorados que carregam este
glorioso fardo de Saber Rimar como herança de séculos.
143
Aceito as críticas dos mestres. Devolvo os conselhos dos “iluminados” que, mal se
vêem com um qualquer “canudo”, já tiveram tempo para aprender tudo depois dos seus
“estudos longos e aprofundados”! Que fiquem com as suas “certezas” que eu não tenho
nem quero. Só me confunde a “curteza” de vistas dos que não admitem que os outros
possam ver um pouco mais do que eles, ou um pouco diferente!
Deixo-lhes a DEIXA do Mestre: “Francisco Campos não penses / Que és sábio sem
ter segundo / Mais tolo é quem se persuade / Ser o único no mundo.” “Lá do assento etéreo onde subiste”, ó mestre, nós que não somos divinos, não lhes perdoes porque eles
pensam que sabem o que fazem!!!
Experimentem ler os seus versos e imaginar o Ti Inocêncio numa roda de amigos sem
saberem ler nem escrever,
a pregar como um profeta contra guerras a invectivar imperadores e criminosos e doutores que usam a instrução como arma para praticar injustiças...
ou comovido a mandar “as suas condolências” à viúva do rei...
seja para ganhar a grande popia na Festa do S. João em Ervidel “Que lindo Arco Celeste...”, “A manteiga nutritiva”,
seja para se meter com o Manuel de Castro “Ser passarinho e tu laço”..
ou com o Francisco Campos “Tolo é quem se considera / Ser o único no Mundo”...
ou brincar com as personificações que se transformam em prosopopeias “No teu giro Sol
brilhante” para fazer do Sol o seu mensageiro junto da família... ou “Os anjos do céu me
levem”... “Trabalho não tenho achado / Peço esmola não ma dão” “Aos céus pergunto. – o
que faço?”...
“De dia mando o sentido / Levar novas e trazer”...”À noite um sonho atrevido”... “Que os
estou vendo e ouvindo”... “E tu, Sol... Traz-me novas dos meus filhos... Recomenda-me ao
meu pai”... e tu “Pedrógão... Enorme a tua riqueza... vives na maior pobreza”... não é a
síntese, a sinédoque ou a metonímia do retrato das terras do interior do país explorado
só para benefício de alguns com ou sem regionalização? ...
“... como o alimento / A instrução é precisa” “Mas se com orgulho ou desdém... / A instrução não convém” porque “Faltando-lhe a consciência... A instrução embrutece”... !!!
ou ouvindo “Descobre-te milionário” para mostrar o valor do “Que morreu a trabalhar” e
“Não foi alta personagem / Nem pessoa titular” aí estão todos os deserdados do Mundo...
ou “Ser rico e andar à esmola” ou “Ter boa vista e não ver” são antíteses e contradições
jogadas com uma justeza sibilina e mordaz “Num homem sem saber ler”...
e a mulher’ “Que a casa onde ela não lida / É como o corpo sem alma”!!! Já alguém exaltou desta maneira o trabalho desprezado da mulher que não faz nada em casa? Ou afinal basta a sua presença e “lida” para evitar que o frio gele, que a calma afronte, para
que a vida seja suportável, para que a “casa sem ter mulher” deixe de ser “Um covil de
malfeitores” para que haja luz... para que haja ordem e graça, para que se afastem “as
cruéis desventuras, as penas, as amarguras, para haver “Amor paz, santa união” para
fugir a escuridão! É ver o jogo de palavras os anaculutos e anástrofes, as ironias, as
negativas a enaltecerem a mulher pelas antíteses e contradições, figuras de estilo a
esmo e processos de enriquecimento literário que os literatos inventaram e este poeta
usa como quem respira...
Será possível ver tudo isto e muito mais, ou será que só os considerados bons poetas, já
consagrados é que usam as figuras de estilo?
E o poder d’ “Os olhos, órgãos da vista” e d’ “As pingas de água chorosas” que “Brotam de
olhos femininos”, não são perífrases? Não “Custam pouco e são rendosas”?... quantos
jogos de palavras, na poesia deste ignorado poeta popular “analfabeto”!!!
144
Até uma peça de teatro, como um auto, podemos encontrar no “Vinho cruel inimigo”...
“Tu és réu, eu sou queixoso”... “Ninguém duvida que és / Um completo criminoso”. Isto
ao longo de quarenta versos... para depois o sujeito da enunciação se transmudar em
destinatário Tu “Não clames contra o vinho”... “A culpa é toda do homem”... “A quem não
é criminoso / Não manda, a lei, castigar”... Podíamos experimentar?
Para ver a adjectivação abundante podemos pegar no “Nobre Terreiro do Paço... nas
cenas que são horríveis... no João Franco malvado... na infeliz realeza... a terrível surpresa... o fero laço... a triste nova... maus intentos... intento malvado... cruel morte...
ímpio... traidor... sangue inocente (ver a hipálage em que inocente é a pessoa e ele chama inocente ao sangue)... digna vitória... feras hienas... (além de fera a hiena é fera ou
os assassinos são ferozes com comparações e metáforas avassaladoras...)... Até nem falta
a dupla adjectivação com aliteração com a ênfase dos erres: no português reino honrado... teatro de horríveis cenas...
Ver, na carta a “Dona Amélia de Orleães, ver um EU “que “Não tenho instrução pra
mais” ... “Vos mando, mártir Rainha / As mais sérias condolências” e ficamos a ver
aquele alentejano do Torga que “Enverga o gibão como o manto de um rei, e o cajado
como um ceptro” cheio de dignidade e respeito por si para respeitar os outros! Isto é
qualquer coisa de magnífico. Mais do que sermos representados pelos nossos “eleitos” à
força de propaganda, eu sinto-me honrado por este Homem, este Poeta, ter mandado
esta carta à Rainha que nunca a leu nem soube da sua existência. Nem da carta, nem do
homem, nem do Poeta. E se o soubesse?
A tese de teologia de “No ventre da Virgem Bela” “Entrou por graça o Altíssimo” como
“No vidro penetra a luz”, “Como a luz o vidro passa” “Conceber, ficar donzela” e assim
exaltar a “Sua exceta honestidade”!!!, pronto, esta tese escuso-me a comentar. Não lhe
bastava entrar pelo campo das filosofias e nas reflexões de descobrir quem somos, donde
vimos e para onde vamos, entra ainda pelas teologias e, apesar de me terem dito que foi
o padre lá da terra que ensinou este homem a ler e escrever, duvido que o teólogo fosse
capaz de explicar deste modo a “Senhora da Conceição”!!!
Pronto. Por aqui me fico. Não quero desiludir os “doutores” que não vão ler patranhas
destas, ou dizer que isto não é análise nenhuma. “Eu sinto, tenho emoções, choro, rio,
tenho raivas... logo existo... logo penso.” Eu vou pelo “Erro de Descartes” do nosso António Damásio. Eles que continuem as análises e a educação pela razão, pelo “penso logo
existo” e depois continuem a acusar-me que os males da “imbecilidade diplomada” dos
“iluminados que nunca têm dúvidas e raramente se enganam” é toda por culpa destes
professores atrevidos sem cultura que até já estão para os lados da reforma e escrevem
coisas como “O Ensaio sobre a Cegueira” e até desprestigiam a cidade do “Convento”!!!
Na tua Inocência, perdoa-lhes Inocêncio de Brito.
Só agora, perante isto, é que percebi o comentário “maldoso” de um grupo de “ilustres
letrados” em Beja que comentavam um convívio de “poesia popular” ali numa aldeola em
que “havias de ver... aquilo era uma data de gente analfabeta que aprenderam uma
palavras difíceis e depois, sem saberem o que querem dizer metem-nas nuns versos, ainda por cima a rimar!!!” Lembrei-me de facto do porteiro do colégio onde estudei que, uma
vez que convivia todos os dias com estudantes e professores, a certa altura, em vez de
nos dar os “bons dias” ou “as boas tardes” metia os palavrões que nos apanhava nas conversas e brindava-nos com um “inopinadamente” com um “pertinente” um “inóspito” e
coisas no género, o que entre os estudantes era conhecido pelo “falar ao difícel” para nos
mostrar que, mesmo porteiro, e sem estudos, estava a aproveitar a escola mais do que
muitos de nós! Creio que esses “ilustres letrados”, meus amigos ainda por cima, nem
sequer agora sabem o que é uma Décima. E daí? E eu sei?
145
Têm-me chamado à atenção de que gasto muitas energias a bradar contra doutores e
autoridades e instituições e religiões e credos e seitas! É possível que tenham todos
razão mas o certo é que ou não brado o suficiente ou não adianta de facto porque não sou
ouvido. Aliás, como já expliquei e como todos os que me conhecem estão fartos de saber,
eu que pareço do contra como aquele “que llegava a um pueblo...” eu nem sequer contra
sou contra o Deus Único, sou contra os deuses únicos de cada religião ou cada seita ou
cada academia, sobretudo quando não estão ao serviço da ciência, ou da cultura, ou das
pessoas... nem sequer sou contra a autoridade; só contra a autoridade que é só autoridade e não sabe o que está a fazer!!! É por isso, talvez que imaginar este homem a bradar
ao vento, na solidão, me anima e limpa a alma!
Mestre Inocêncio, não te proponho para o Nobel, pois “Não tenho méritos para isso” não
tenho essas “eloquências”, mas do alto da minha pequenez de amante da Língua e da
Literatura Portuguesa, nela incluída a chamada Literatura Popular, eu proponho que
sejas tratado e lido e dito como Homem e como Poeta que prestigia uma Família, um
Povo, uma Região, um País...
Se em vez de uma Rua com o seu nome, ou para além disso, o seu nome e os seus versos
passarem para alguma Associação Cultural, forem integrados no cancioneiro do Grupo
Coral, se se promoverem convívios onde os seus versos e “sentenças” sejam lembrados,
se se promover uma publicação com os seus escritos juntamente com os outros poetas
desta terra, talvez estejamos a abrir caminhos para que esta terra de poetas e artistas
se desenvolva ainda mais.
Este é um trabalho sobre Inocêncio de Brito não tem a pretensão de ser pioneiro. Já
outros antes de mim tiveram a preocupação e o trabalho de recolher os seus versos e tentaram dar a conhecê-lo/s...
Sabemos também que não é um trabalho completo e acabado. Temos plena consciência
disso e daí as inúmeras reticências e interrogações ao longo de muitas páginas. Ficam
muitas pessoas por contactar e, muitos que guardam escritos deste poeta e guardam os
seus versos na memória, muito terão ainda que contar...
É esse exactamente o nosso desejo. Que apareçam e os dêem a conhecer.
José Rabaça Gaspar
11/11/1998
146
VII – BIBLIOGRAFIA e outras informações
sobre DÉCIMAS
Contactos de poetas e entidades relacionadas com as DÉCIMAS
COMUNICAÇÃO apresentada nas II JORNADAS DA REVISTA ARQUIVO DE BEJA,
subordinadas ao tema: O ALENTEJO E OS OUTROS MUNDOS - passado, presente e
futuro - Beja, NERBE, 2.3.4 e 5 de Abril de 1998.
O texto dessa Comunicação foi posteriormente publicado na Revista Arquivo de Beja –
Vols VII / VIII – Série III, com data de Agosto de 1998, com o título – DÉCIMAS – UMA
LINGUAGEM COMUM IBERO AMERICANA
Nome
ANTÓNIA CARVALHO
Morada
S. MATIAS
António Cartageno (Dr.
Padre)
BEJA
António Lourenço de C.
Raposo
(Poetas Populares Santiago
do Cacém)
ANTÓNIO RUAZ
CERCAL DO
ALENTEJO
Centro de Tradições Populares Portuguesas
FACULDADE DE
LETRAS
UNIVERSIDADE DE
LISBOA
FACULDADE DE
LETRAS
ALAMEDA DA
UNIVERSIDADE
Rua João de Deus
EDIÇÕES COLIBRI
Escola Secundária D.
Manuel I
S. MATIAS
Notas
Não escreve. Tem recolhas... e
faz Décimas curtas?
Hipótese de estudar a musicalidade e música para as
DÉCIMAS.
Pertence a uma Associação de
Poetas Populares em Santiago.
Faz poesia diversa no meio do
trabalho e ao sabor da inspiração.
Foi dirigida pelo Dr. Manuel
Viegas Guerreiro e publicavam
a Revista LUSITANA
Editam a Revista LUSITANA e
apoiam diversas iniciativas
Editor: Fernando Mão de Ferro
Escola onde estive colocado nos
anos 90 e mantém a minha
ligação a Beja e Alentejo.
Francisco Fanhais
ALVITO
Cantor e a formar-se em Música, ver com Dr. Cartageno...
Grupo Amador de Teatro Esc. Sec. João de Barros, Experiência de várias leituras
"QUINTA DA ÁGUA",
Corroios
de diversas Décimas...
Joaquim António Tareco
VIDIGUEIRA
Conhecido Decimista, participa
Curva (o Rei dos Queijinhos
em Programas da Rádio Vidida Vidigueira)
gueira, Cuba, Castro Verde...
JOAQUIM RUAZ
S. MATIAS
Faz Décimas e Sonetos e conhece a obra de Inocêncio de Brito
JOSÉ (MOLEIRO)
RIBEIRA DA AZENHA Contador de Histórias, faz e diz
MENDES CAMACHO
VILA NOVA DE MIL
Décimas...Esqueceu muitas...
FONTES
José Rabaça Gaspar
CORROIOS
Desde os anos 80 a coleccionar
e organizar estudo sobre as
Décimas e...
147
LUÍS ALVES
S. MATIAS
Manuel Aleixo e Arisberta
Costa
S. Matias
MÁRIO DA CONCEIÇÃO
SANTA CLARA DO
LOUREDO
OFICINA DE
PATRIMÓNIO
(Paulo Lima)
ROSA HELENA
CÂMARA MUNICIPAL
DE PORTEL
BERINGEL
SANTA MARIA (Eng.º)
BEJA, natural de
MOURA
José Manuel Pedrosa
Madrid
Escola Superior de Educação de Beja
Beja
148
Poeta e senhor de uma memória prodigiosa, cita datas e
eventos durante horas a fio...
Casal em S. Matias que faz contactos com poetas e pessoas de
S. Matias...
De Santa Clara do Louredo,
Boavista, tem um livro publicado, anos 90...
Os que organizaram o Encontro
Artes da Fala em Portel, em
Junho de 1996
Poeta de Beringel com 2 livros
publicados...
Autor de Crónicas "Memórias
de Manoel Loendreiro" que consegue pôr por escrito o “falar
alentejano"...
Professor Universitário, em
Madrid, ofereceu LA DÉCIMA
POPULAR en la TRADICION
HISPÁNICA
Foi lá uma das Comunicações
sobre o IAC/D e as Décimas...
Têm Curso de Música onde
estão A. Cartageno e Fanhais e
o Dr. José Orta e um Grupo de
Professores de várias áreas
estão a criar um Centro de
Estudos Regionais...
OBRAS e AUTORES de DÉCIMAS ou que tentaram tratar as DÉCIMAS.
Obras e autores que tratam AS DÉCIMAS e COLECTÂNEAS com numerosas
DÉCIMAS
n
º
AUTOR / coordenador
VASCONCELLO
S, José Leite de
GUERREIRO,
M. Viegas
GUERREIRO,
Manuel Viegas
TÍTULO
NOTAS
Cerca de 30 décimas completas,
versando 14
temas, algumas
incompletas,
outras são séries
de 10 versos,
Além de a maioria ser do Alentejo, há, pelo
menos 5 da
Figueira da
Foz?!, e da Estremadura, Leiria,
Lisboa, Bairrada
e Minde...
Uma décima
PARA A HISTÓRIA DA LITERATURA
como exemplo (de
POPULAR PORTUGUESA, ed. do Instituto de
Cultura Portuguesa, Ministério da Educação, 1ª Calafate) sobre o
pecado original...
ed. 1978, 2ª ed. 1983, Lisboa.
Desde uma introdução que procura discutir
Literatura ou não Literatura e a tese de que o
povo nada cria antes usa e deturpa o que lhe
vem da classe culta!, as origens, até è importância da literatura popular, o livro desenvolvese em VII capítulos, desde a época medieval à
actualidade. Os textos finais de literatura
Popular Contemporânea são transmitidos por
conhecidos autores!!!
POESIA POPULAR. CONCEITO, A
Informação obtiREDONDILHA, A DÉCIMA. DÉCIMAS EM
da in Revista
POETAS DO ALENTEJO E DO ALGARVE,
Lusitana (Nova
comunicação no COLÓQUIO LITERATURA
Série), 12 (1994).
POPULAR PORTUGUESA - TEORIA DA
pp. 83-94, uma
LITERATURA ORAL / TRADICIONAL /
Evocação AfectiPOPULAR, uma iniciativa de ACARTE na
va... de João
FUNDAÇÃO CALOUSTE GULBENKIAN, Lis- David Pintoboa, 1987, in ACTAS, pp. 191-237.
Correia
Ver ainda
LITERATURA
POPULAR DO
DISTRITO DE
BEJA...
CANCIONEIRO POPULAR PORTUGUÊS,
coordenado e com introdução de Maria Arminda Zaluar Nunes, Coimbra , Por ordem da Universidade, 3 volumes, 1975, 1979, 1983, vide
introdução I vol. pp. XIII e XXXVIII e II vol. pp.
441-485 (a nota).
(A maior parte das Décimas não está identificada, e, das identificadas, a maior parte tem o
nome da zona ou da terra...)
149
NUNES, Maria
Arminda Zaluar
O CANCIONEIRO POPULAR EM
PORTUGAL, Biblioteca Breve, volume 23, Instituto de Cultura Portuguesa, Lisboa, 1978.
(Ver José Leite de Vasconcelos)
DELGADO,
Manuel Joaquim
SUBSÍDIO PARA O CANCIONEIRO
POPULAR DO BAIXO ALENTEJO, Vol. II,
terceira parte, 2ª ed. do Instituto Nacional de
Investigação Científica, Lisboa, 1980, 1ª ed.
Lisboa 1955.
TEORIA DA LITERATURA, Livraria Almedina, Coimbra, 4ª Ed., 1º, vol. 1982
(Obra em constante renovação e actualização, e
fundamental pela abertura e exigências que
demonstra e exige!)
POETAS POPULARES, (1º volume, (1971?, v.
pref.) 1976, 2ª ed.); 2º volume - pref. Agosto de
1977, 2ª ed.; 3º volume - pref. Agosto de 1977, 4º
volume, pref. Nov. de 1977, 2ª ed.; Colecção
poesia, 3,4,5,6, sem editora, sem data, e deve
ser Setúbal?.
O 1º vol. tem poemas de um CAUTELEIRO ANTÓNIO ALEIXO, um CAVADOR MANUEL ALVES; um MECÂNICO - SILVA
PEIXE, um SERRALHEIRO - J. MARIA DA
SILVA.
O 2º vol. tem poemas de um BARBEIRO AUGUSTO PIRES; um CALAFETE ANTÓNIO MARIA EUSÉBIO, um
CARPINTEIRO - J. MOREIRA DA SILVA; um
CHOFER - J. FREDERICO DE BRITO; um
CONTÍNUO - A. VILAR DA COSTA.
O 3º vol., poemas de um ARDINA - CARLOS
DOS JORNAIS; um GANHÃO - J. DA MANTA
BRANCA; um GUARDA-FREIO - EDUARDO
FRANCISCO; um LAVRADOR - JOSÉ
FERNANDES BADAJOZ; um PEDREIRO JOSÉ CRISPIM.
O 4º vol., poemas de uma BORDADEIRA ISABEL MARIA V. LOPES; um CALCETEIRO
- JOÃO AUGUSTO MENDES; um
CORTICEIRO - JOSÉ VICENTE; um
CRIADOR DE CÃES - LUCIANO H.
MARQUES; um PESCADOR - MANUEL
PARDAL. Cada autor tem uma vasta e pormenorizada biografia e informações e referências
abundantes.
AGUIAR E
SILVA, Vítor
Manuel
CARDOSO, Fernando
150
Uma décima Trovas do Sal,
ouvida a um
velho, em Silves,
e na introdução
do Cancioneiro
de José Leite de
Vasconcellos.
Ver algumas
Décimas recolhidas e algumas
interligadas...
vt. Enc. Luso
brasileira. Não
trata deste tipo
de Décimas ...
Ver os diversos
prefácios e tentativas de teorização...
POETAS
POPULARES
ALENTEJANOS
, CENTRO
CULTURAL
POPULAR
BENTO JESUS
CARAÇA
HÁ TANTA IDEIA PERDIDA... (1) e (2), 1º e 2º
ENCONTRO POETAS POPULARES
ALENTEJANOS, 1º em 21, 22 e 23 de Agosto
de 1981; edição de Setembro de 1981, e o 2º, em
30 e 31 de Julho e 1 de Agosto de 82, Vila Viçosa. 1ª edição do 2º Encontro, em Outubro de
1982.
Estes livros apresentam o resultado da participação de 1º - 30 poetas, subordinado ao tema mote: EU TRABALHO NOITE E DIA/ HÁ
CHUVA E AO CALOR/HÁ TANTA IDEIA
PERDIDA / NÃO HÁ QUEM LHE DÊ VALOR,
em que além das décimas aparecem sextilhas e
quadras subordinadas a outros temas...; e 2º 60 poetas populares a quem tinham sido distribuídos “sete motes respeitantes a quatro temas:
Alentejo, Trabalho, Amor e Paz.”. São essencialmente Décimas e “a título de exemplo, um
dos despiques e duas das desgarradas...”. Mostra até a diferença entre DESPIQUE (obra
escolhida pelo poeta ou “dezedor” de entre as
que fez ou aprendeu; A DESGARRADA que
obriga a executar uma décima a partir do
mote... Tem a fotografia de muitos dos participantes.
151
Obras a ter em
conta para poder
entender as diferenças entre as
décimas normais,
até usadas para
DESPIQUE e
DESGARRADA e
as outras que
tratamos aqui...
RAPOSO, Abílio Perpétua,
Recolha da
Coordenação
Distrital de
Beja, MNE,
DGEA
NAVARRO,
Modesto
POETAS
POPULARES
ALENTEJANO
S
(Vila Viçosa)
LITERATURA POPULAR DO DISTRITO DE
BEJA, (340 p.), Coordenação distrital de Beja,
Ministério da Educação e Cultura, DirecçãoGeral da Educação de Adultos, 1986.
Esta recolha feita pela Coordenação Distrital
do Distrito de Beja, aparece esta como
AUTOR?!, tem também notas e coordenação
do texto de M. Viegas Guerreiro e António
Machado Guerreiro, e a nota prévia é de Abílio
Perpétua Raposo, coordenador Distrital de
Beja.
Tem 12 capítulos: Os CONTOS e as LENDAS
-(10 de v. localidades); As ANEDOTAS -(3/4
p.); AS ADIVINHAS. OS PROVÉRBIOS -(11
títulos); OS ROMANCES -(5?!); QUADRAS
(Umas 37 décimas); AS CANTIGAS. OS
VERSOS -(25 p.); POEMETOS -(30 p.); AS
MODAS (ca. 90 páginas e a maioria com a
música); O CANTE A DESPIQUE - (como funciona.); LENGALENGAS. TRAVA-LÍNGUAS.
JOGOS INFANTIS. -(10 p.); REZAS.
BENZEDURAS -(13 p. div. Localidades); e um
APÊNDICE com COSTUMES, CRENDICES,
MEDICINA POPULAR -(em 18 p.). O índice
por concelhos indica os 12 concelhos do Distrito de Beja
POETAS POPULARES DO ALENTEJO (?)
(anos 80?), um trabalho a partir da secretaria
de Estado da Cultura ? em finais dos anos 70
(?) em ligação com a Companhia de Teatro
Garcia de Resende de Évora..???, vide pp. 18 e
255 citando João Sarmento e o poeta popular
Gil Quintas.
HÁ TANTA IDEIA PERDIDA, 1º Encontro Poetas Populares Alentejanos, Vila Viçosa,
Agosto de 1981, 168p., Ed. do Centro Cultural
Bento de Jesus Caraça, com o apoio da Câmara Municipal de Vila Viçosa.
(32 poetas que participaram neste 1º Encontro, poemas diversos especialmente dedicados
a Vila Viçosa e depois ao mote do Encontro
“Eu trabalho dia a dia / À chuva e ao calor /
Há tanta ideia perdida / Não há quem lhe dê
valor” desenvolvida por todos ou quase. Há
pelo menos mais um II volume.)
152
Ver página 853
onde começam as
Décimas, aqui
chamadas
QUADRAS e pp.
85, 86 , onde se
lamenta o desprezo que é dado a
este tipo de poesia.
(Estas notas
devem ser de M.
Viegas Guerreiro
e A. Machado
Guerreiro.)
No prefácio, além
da estrutura formal, dá indicações
da entoação dos
diversos versos...
Uma iniciativa
que se realizou
várias vezes e
mais do que publicar os autores, era
um desafio à criatividade, dando
temas ou motes
obrigatórios...
GASPAR, José
Rabaça,
POETAS Populares do Concelho de Beja
PINHEIRO, J.
M. Monarca,
POETAS
POPULARES
DO
CONCELHO
DO
ALANDROAL
POETAS POPULARES DO CONCELHO DE
BEJA, 1987 (ed. 1989), Concelhia da DGAEE
(Direcção-Geral de Apoio e Extensão Educativa), Edição da Câmara Municipal de Beja,
1987 (só em 1989).
(Esta obra partiu de uma recolha que foi sendo
elaborada pelos professores encarregados e
empenhados na Alfabetização, neste concelho,
desde 1979, sob a coordenação do prof. Abílio
Teixeira. A organização, introdução e esboço
de estudos anexos foi confiada ao prof. José
Rabaça Gaspar. Ver a necessidade de um
estudo mais aprofundado da DÉCIMAS e da
urgente necessidade da criação de um
INSTITUTO ALENTEJANO DE CULTURA /
DESENVOLVIMENTO.)
CANTADORES DE ALEGRIAS MÁGOAS E
MANGAÇÕES, Ed. da CM Alandroal, 1993,
270p.
(Com introdução, selecção, correcção de textos
e notas de J.M. Monarca Pinheiro, Fotografia
da capa e dos poetas de José Manuel Rodrigues, Design e arranjo gráfico de António Carlos Couvinha e Desenho de Vítor Rosa, tem o
apoio da Delegação Regional do Alentejo da
Secretaria de Estado da Cultura, e abrange
poetas populares de Alandroal, Ferreira de
Capelins, Juromenha, Santiago Maior e Terena. Obra feita a partir do contacto directo com
os poetas contactados porta a porta por todo o
concelho de Alandroal de Casas Novas de
Mares a Juromenha, numa região onde há
Castelos (Alandroal, Juromenha e Terena), a
ribeira de Lucefecit (fez-se luz), os vestígios de
construções megalíticas, povoados castrejos,
restos do templo-santuário dedicado ao deus
luso-romano Endovélico, no alto do outeiro de
S. Miguel da Mota, Terena; e o santuário de
NªSª da Boa Nova de Terena, mandado construir pela “fermosíssima Maria, filha de D.
Afonso IV, pela vitória na Batalha do Salado???... na zona em que o Guadiana faz 60 km.
de fronteira com Espanha... uma região onde
os cultores da poesia oral-popular têm consciência da suas ligação telúrica a valores e
mensagens que de certo modo lhes escapam...)
153
Numa colectânea
de POESIA em
geral, pode verificar-se que, de 107
poemas, de 24
poetas, 52, são
DÉCIMAS, o que
mostra uma predominância notável, a chamar a
atenção para esta
forma quase desconhecida dos
estudiosos...
Numa colectânea
de 38 poetas populares e mais de
uma centena de
poemas (105) a
grande maioria
são DÉCIMAS...
Estamos pois
perante uma forma de fazer
POESIA que é
predominante,
característica e,
entre os poetas
consagrados, é
condição para se
ser considerado
POETA.
TRAPERO,
Maximiano,
UNIVERSIDA
D de las
PALMAS de
GRAN
CANARIA;
CABILDO
INSULAR de
GRAN
CANARIA
PINHEIRO, J.
M. Monarca,
Jornal Terras
do Cante
LIMA, Paulo,
Câmara Municipal de Portel
MIRA, Feliciano de
GASPAR, José
Rabaça
GASPAR, José
Rabaça
LA DÉCIMA POPULAR en la TRADICIÓN
HISPÁNICA - Actas del Simposio International sobre la Décima. Edición: Maximiano Trapero, Las Palmas de Gran Canaria, 1994.
EM CADA CASA UMA PORTA - EM CADA
PORTA UM POSTIGO, Antologia de Poesia
Tradicional do Alentejo,
(Com a coordenação, introdução e selecção de
J.M. Monarca Pinheiro), Edição, Associação
Terras Dentro, com apoio do Programa Leader
II, 1996; resultado de um concurso - "Os
melhores Poetas populares do Alentejo" organizado pelo Jornal Terras do Cante e outros
livros publicados pelos autores ou autarquias...
POETAS DE CÁ - breve panorama da poesia
em Portel, COM RECOLHA, ORGANIZAÇÃO
e INTRODUÇÃO de Paulo Lima, Edição da
Câmara Municipal de Portel, Fevereiro de
1994.(Lançado no Colóquio Artes da Fala,
Junho de 1996.)
FALAR DE PIAS - Recolha de Tradição Oral e
Literatura Popular (1990), Editorial Pendor,
Évora, 1995, apoio da Câmara Municipal de
Serpa.
DÉCIMAS – UMA LINGUAGEM COMUM
IBERO AMERICANA
In Revista Arquivo de Beja, Vols. VII / VIII –
Série III, de Agosto de 1998.
Introdução, selecção, anexos e esboço para um
estudo das DÉCIMAS in
POETAS POPULARES DO CONCELHO DE
BEJA, com recolha e coordenação de Abílio
Teixeira, da Concelhia da (DGAEE) DirecçãoGeral de Apoio e Extensão Educativa, Edição
da Câmara Municipal de Beja, 1987 (Publicado em 1989)
154
Ver abundante
informação,
exemplos, teorias,
autores especialistas e música...
Entre outras recolhas, algumas
Décimas...
Décimas, uma
teoria e uma prática... 10 Décimas
originais de José
Penedo.
A sublinhar a
urgente necessidade de se estudar este Tesouro
de Arte Poética
tão original e pouco conhecido.
FAZEDORES / CRIADORES e DEZEDORES de DÉCIMAS
CAMÕES, Luís Vaz
de1
obras de luís de Camões, Lello & Irmão
- Editores, Porto, 1970, pp. 743 - 754.
Brandão, Tomás Pinto2
PINTO RENASCIDO, pp. 72-73, vide
POETAS DO PERÍODO BARROCO,
col. TEXTOS LITERÁRIOS, Editorial
Comunicação, Lisboa, 1985, pp. 299300.
Aparece com 9 DÉCIMAS, sobre a
Guerra 14/18, in HISTÓRIA DE
PORTUGAL - DOS TEMPOS PRÉHISTÓRICOS AOS NOSSOS DIAS,
Volume XI, REPÚBLICA II, , 1995,
Direcção de João MEDINA, CLUBE
INTERNACIONAL DO LIVRO, Edição
e Comércio de Livros Ldª, 1995.
ANDRADE, Joaquim
dos Santos - poeta
algarvio, contemporâneo ou um pouco mais
velho que António
Aleixo? (Ver)
CASTRO, Manuel de
SANTINHOS, Manuel
José (poeta popular),
1
2
AS DEIXAS, Edição da Câmara Municipal de CUBA, 1987.
Um livro que tem pesquisa e comentários de Cristóvão Enguiça, com recolha
de familiares e população de Cuba, está
dividido em 6 capítulos: 1º - A MORTE
(3 poemas); 2º A JUVENTUDE (8); 3º A FOME (14); 4º - O MISTICISMO (8);
5º - A FILOSOFIA (7); 6º - A VIDA (5);
que é, evidentemente um critério do
organizador, vendo por exemplo a
NOVA CORTANTE ENXADA metida
no 4º tema a fome, que quanto a nós é
um poema à vida, à renovação, à morte
que gera a vida...
Contemporâneo que foi de ANTÓNIO
ALEIXO, e com encontros memoráveis
na FEIRA DE CASTRO, este e aquele
poeta precisavam de um estudo mais
desenvolvido e em conjunto, para saber
algo de despiques e desgarradas e baldões e das raízes e performances da
poesia popular portuguesa.
MEMÓRIA DAS GENTES DO LUGAR,
Trabalho de Campo e Tratamento paraeditorial de Vítor Manuel Bastos e
Maria Celeste Matias Rodrigues, Edi-
- 4 Décimas mais um exemplo. Século XVI
- 1 Décima. séc. XVII. Poeta do Período Barroco.
155
4 décimas versando vários temas...
e outras...
uma DÉCIMA, na
morte de uma
filha, Isabel, muito bonita.
Uma história diferente, com colaboração de não historiadores, muito
ilustrada, e que só
vi em promoção
em 16 de Maio de
1996. Se puder
levo cópias das 9
Décimas...
Ver por exemplo 2
décimas que considero magistrais:
Fui nova cortante
enxada... Em tudo
sinto poesia...
Era necessário
contactar o poeta
e os organizadores
para se saber
COELHO, António
Maria
ALEIXO, António
GALRITO, Francisco
Augusto
VILHENA, José Gil
ção da Câmara Municipal de Santiago
do Cacém, 1991.
(Além da originalidade deste poeta
popular que se exprime através de quadras, quintilhas, sextilhas e as já tradicionais DÉCIMAS ou QUADRAS DE
QUARENTA PONTOS, apresenta as
pouco conhecidas e difíceis QUADRAS
(sextilha) DE SESSENTA PONTOS!...
(15*4)
BIOGRAFIA E POESIA DO POETA
POPULAR ANTÓNIO MARIA
COELHO, Ed. de autor, Março de 1993,
Corte Vicente Anes, Aljustrel.
(96p. uma quase centenas de décimas
de um poeta que nasceu em 1937, trabalhou nas minas de Aljustrel desde os
18 aos 52 anos, reformado em 1972?
com mil escudos por mês!!!, a sua biografia é a memória do tempo e terras
que percorreu e poetas que conheceu e
dos problemas sociais que detecta e se
empenha em resolver, comprometendose... , as suas décimas e a vivacidade
com que as diz, são um caleidoscópio de
casos públicos e particulares... significativos.)
ESTE LIVRO QUE VOS DEIXO e
INÉDITOS de ANTÓNIO ALEIXO,
recolha e... de Joaquim MAGALHÃES e
Ezequiel FERREIRA....
A VERDADE DA POESIA , vol. I, Edição do autor, Castro Verde, 1993. (Já
publicou um II volume.).
Uma DÉCIMA sobre a sua comissão na
Guerra do Ultramar...
156
mais deste trabalho...
Participou, em 15
de Novembro de
1995, nas Jornadas de Cultura
tradicional, na
Escola Secundária
D. Manuel I,
Beja...
Ver os outros
livros...
256 pp. Nem tudo
são Décimas, mas
a maioria a retratar uma vida, uma
vivência...
Ilha do Pessegueiro, no Restaurante - Vista do Mar.
MOLEIRO, Tio Zé CAMACHO, José
Mendes
RUAZ, Joaquim3
BRITO, Inocêncio de
CARVALHO, Antónia
CONCEIÇÃO, Mário
da4
Poeta Popular, 1996
BERNARDINO, António Afonso (Bagacinha)
VENTURA, António
O Tio Zé Moleiro como é conhecido,
nasceu para os lados de Abela, Cercal e
mora desde há muito que reside na
Ribeira da Azenha, Vila Nova de Mil
Fontes, onde o pai foi moleiro e ele também, mas desde há muito que vive da
pesca... Além de fazer poesia e também
Décimas, sabe ou sabia muitas que
decorou de outros poetas populares e é
um exímio contador de histórias... nunca se sabendo quando está a contar um
facto que se passou com ele ou a dar
largas à sua fantástica fantasia...
Poeta de S. Matias. Admirador e conhecedor das Décimas de Inocêncio de Brito e empenhado na sua divulgação. ele
próprio faz Décimas e outros poemas.
Considera a Décima como Arte Maior
ou a forma de fazer Poesia por excelência.
Poeta de S. Matias, Beja, já falecido há
mais de 50 anos, muito falado e admirado na zona, que o Manuel de
CASTRO considerava o Mestre, e ainda
inédito por incúria e....
Poeta versátil, não sabe escrever. Pede
às pessoas e família que escrevam o
que ela dita. É entretanto, como
mulher, a única que vi tentar fazer
DÉCIMAS, uma arte que parece reservada aos homens, embora as que ouvi
sejam glosas de quintilhas ou sextilhas
a partir do Mote (quadra), tendo entretanto, como modelo, a que decorou de
seu pai.
MEMÓRIAS DA MINHA TERRA
2ª Edição, Montagem e impressão,
Associação de Municípios do Distrito de
Beja, 1996
Poeta Popular, natural de Santa Clara
do Louredo – Bosvista, Beja.
DESCALÇO - Poesia Popular, Aljustrel, 1995, com o apoio da Câmara
Municipal de Aljustrel, Edição do
autor, Abril de 1995.
NUNCA É TRADE - Livro de Versos e
3
Desde há cinco
seis anos que
tenho o rascunho
para aquilo que
chamei “O meu
livro do Tio Zé
Moleiro...”
É possivelmente o
poeta que pode
promover a publicação de Inocêncio
de Brito...
É preciso promover a recolha completa possível e a
publicação da obra
deste poeta
maior...
Em anexo, a
décima que decorou de seu pai e
uma das que ela
sabe fazer...
Possivelmente as
mais marcantes
Décimas são sobre
a História de Portugal e a Língua
Portuguesa...
- Que poderá apresentar Décimas de sua autoria e de Inocêncio de Brito e do que pensa e sabe sobre este assunto.
4
Que publicou um livro de Décimas. “Memórias da Minha Terra”, 1996, 2ª Edição, Beja.
157
Domingos
Poesias para jovens e Adultos, s/ data
(1996?)
O autor nasceu em Cabeça Gorda, concelho e distrito de Beja, a 1 de Janeiro
de 1924 e vive em Setúbal há 15 anos
(em 1996?)...começou a fazer versos aos
sessenta anos...
MOITA, Rosa Helena
ENTRE MARGAÇAS E URTIGAS,
Poesia, 1992, Edição da Câmara Municipal de Beja.
Poesia Popular, mas não faz Décimas....
Joaquim António
Tareco Curva (Rei dos
Queijinhos) Vidigueira.
Tem Décimas do quotidiano da sua
vida que vai dizendo enquanto ordenha
as ovelhas e vive ao fundo da rua dos
Bombeiros na Vidigueira. Tem sido
convidado pela Rádio Vidigueira e
outras, mas creio que não tem nada
publicado nem deixa interferir nos seus
direitos...
10 DÉCIMAS - (inéditas) - sobre poesia popular, 4 sobre a Arte de fazer
Décimas, 1 a Mariana do Alcoforado, 1
à Moura Salúquia, 1 ao tema Viagem e
1 a O MAR - A MAR - AMAR.
Organizadores: Jorge Freitas Branco e
Paulo Lima – Comunicações apresentadas no Colóquio «ARTES DA FALA»
que se realizou em Portel, dias 27, 28 e
29 de Junho de 1996.
POESIA NO ALENTEJO - Nª Sª das
Neves, Maio 2004 - «A pessoa que vai
ler / Este livro até ao fim / Nela fica a
conhecer / Um bocadinho de mim.»
PENEDO, José
ARTES DA FALA,
Celta Editora, Oeiras
1997
LUÍS, José Maria
AFONSO, Raimundo
Emídio
VELADAS, Manuel
Inácio – (TI LIMPAS)
Não faz Décimas
mas é considerada
colega de bons
Poetas Populares...
Tentativas de
criar décimas
através de um
laborioso trabalho
de escrita...
Estuda a oralidade ao sul do Tejo,
numa perspectiva
antropológica.
Décimas de um
Homem que viveu
em vários Montes
sempre ligado à
agricultura…
Aprendeu a ler só
VERDADES QUE RIMAM – Aljustrel,
aos anos, com
Dezembro de 2005 – é já o sexto livro
uma vizinha e,
de um Poeta que escreve: «Tu que és
dono do poder / E ter julgas importante desde 1997, já
/ Vê o que andas a fazer /Ao teu próprio publicou outros
cinco livros de
semelhante.»
poesia.
NASCE DO MEU PENSAMENTO – ed. Desde muito novo
da Confraria do Pão (Alentejo), Terena, aprendia e dizia
um Mestre “fazedor” e “dezedor” de
as poesias dos
Décimas suas e dos outros… dotado de
outros…
uma memória excepcional…Diz, por
exemplo as 50 “silvadas” de Estremoz…
158
159
Obras do mesmo autor publicadas in
A MAR – Autor: José d’A MAR – Maio / Junho de 2003 – 102 pp.
Um deNómio de José Rabaça Gaspar.
A MAR - Como a água das fontes e dos rios, a VIDA, todas as VIDAS, correm sempre para O MAR… A MAR… AMAR…
Nestes poemas com a influência de Camões, Torga e Borges, é proclamada a subversão: O MAR é A MAR!
ISBN 950-502-602-5 /e 6 – Preço para transferir €3 - Em papel – $7.28 mais custos de envio.
A ILHA – Autor: José d’A MAR – Julho / Agosto de 2003 – 80 pp.
Um deNómio de José Rabaça Gaspar.
A ILHA, na sequência de A MAR, é um poema carregado de LENDAS e pretende ser um desafio para que os leitores
descubram a MAGIA de criarem a sua própria ILHA em A MAR....
ISBN 1-4135-0116/7-8/6 - Preço para transferir €3 - Em papel – $6.44 mais custos de envio.
A FEIRA – Autor: José Penedo de Castro – Set/ Out 2003 –154 pp.
Um deNómio de José Rabaça Gaspar.
José Penedo de Castro é um cigano andarilho de FEIRAS que tenta mostrar com palavras e imagens o movimento e o
colorido destes centros de Encontros e desEncontros...
Publicou também, na mesma editora, como José d’A MAR – A MAR e A ILHA.
ISBN 1-4135-0126/7-5/3 - Preço para transferir €3 - Em papel – $9.80 mais custos de envio.
A COBRA – Autor: José Penedo – Dez 2003 / Jan 2004 – 184 pp.
Um deNómio de José Rabaça Gaspar.
Em A COBRA, José Penedo, outro deNómio como José d’A MAR, e José Penedo de Castro, canta-nos aqui, em
BALADAS, as Lendas do Touro e da Cobra (uma LENDA de BEJA?) e o enCanto das Fontes... numa espécie de sinfonia em três Andamentos e várias Cantatas...
ISBN 1-4135-0135/6-4/2 - Preço para transferir €3.5 - Em papel – $10.64 mais custos de envio.
A SERPE – Autor: José Penedo de Serpa, Março / Abril de 2004 – 118 pp.
Outro deNómio de JRG, como José d'A MAR, José Penedo de Castro e, e José Penedo, canta agora AQUI, as Lendas da
SERPE, que pode ser o Rio ANA, e as origens de SERPA e Mértola...
ISBN 1-4135-0142/3-7/5 - Preço para transferir €3 - Em papel – $7.68 mais custos de envio.
A MOURA – Autor: José Penedo de Moura, Maio / Junho de 2004 – 136 pp.
José Penedo de Moura, outro deNómio de JRG, canta agora AQUI, através de 10 “vozes” – autores diferentes, as Lendas da MOURA, cidade cristã, com nome pagão – ou a UTOPIA da CONVIVÊNCIA (im)Possível!!!
ISBN 1-4135-0164/5-8/6 - Preço para transferir €3 - Em papel – $8.30 mais custos de envio.
ALFÁTIMA – Autor: José da Serra do Vale do Zêzere, Julho / Setembro de 2004 – 124 pp.
Com este livro sobre a LENDA da MOURA – ÁLFÁTIMA – o autor, decide regressar ao FUTURO, à sua STerra –
Serra da Estrela – Manteigas, com 10 Lendas da Moura encantada, à espera de uma libertação gloriosa, com Cristãos e
Mouros… A HUMANIDADE, um só POVO, com o tesouro da sua polícroma diversidade interCULTURAL.
ISBN 1-4135-0185/6-0/9 - Preço para transferir €3.5 - Em papel – $8.30 mais custos de envio.
NOMINALIA – Autor: Herminia Herminii – Março de 2005 – 526 pp.
- Uma TRILOGIA da minha STerra – Serra da Estrela, Manteigas, a minha Terra na Serra…
NOMINALIA é uma Sinfonia vastíssima e caótica cujas notas não são outra coisa senão NOMES: terras, lugares, apelidos, alcunhas, expressões… de Serra da Estrela, Manteigas, terra do autor
ISBN 1-4135-3547/8-X/8 - Preço para transferir €5 - Em papel – $19.80 mais custos de envio.
O PASTOR – Lenda do Pastor dos Hermínios – por Viriato dos Hermínios – previsto para ser editado na elibro.net, em Setembro de 2005 (uma trilogia da Serra da Estrela)
O PASTOR - LENDA/s do PASTOR DOS HERMÍNIOS – é só uma MENSAGEM fascinante ditada pela ESTRELA – A
SERRA, do Pastor que conquistou os MONTES ERMOS! Viriato dos Hermínios foi encarregado de a divulgar a quem a
quiser ouvir. Há mais 5 lendas complementares.
ISBN 1-4135-3600/1-X/8 - Preço para transferir €2.62 - Em papel – US$ 9.80 (más gastos de envío)..
MANTEIGAS – uma Terra na Serra enoVELADA em Lendas – Lenda da Fundação mítica de Manteigas, por
Hermes do Zêzere - previsto para ser editado na e-libro.net, em Novembro de 2005 (enfim a outra TRILOGIA sobre
Manteigas, Serra da Estrela, com ALFÁTIMA e O PASTOR).
Manteigas enoVELADA em muitas lendas e A LENDA de como foi descoberto o lugar onde hoje é MANTEIGAS e do
PORQUÊ de ser este nome usado, contrariamente ao uso corrente, no plural - manteigas... & o que são OU PODEM
SER os ribeiros e ribeiras e caminhos e estradas… que serpenteiam pela Serra...
ISBN 1-4135-3613/4-8/X - Preço para transferir €2.62 - Em papel – US$ 11.20 (más gastos de envío)..
OUTROS EM COLABORAÇÃO:
ISBN 972 9171
03 3
«Lendas da Moura SALÚQUIA», Março de 2005, com mais de duas dezenas de versões, uma Edição de “Moura Salúquia” AMCM, 250
pp., tem prefácio e colaboração de 10 versões da lenda e uma Décima;
«OS LOBOS DE MANIAMBA» Moçambique 1968 / 1970» Memórias da CART2326, Janeiro de 2005, com 156 pp., tem recolha de
dados, organização, plano, digitalização e apresentação (c/ versão do CANCIONEIRO DO NIASSA).
"Que modas?...que modos? (actas do 1º. Congresso do Cante Alentejano) (dos GRUPOS CORAIS ALENTEJANOS)", edição de
FaiALentejo, Horta, Faial, Açores, com 360 pp. – colaboração.
DEIXAS… As DÉCIMAS e Os Poetas Populares… colaboração no jornal “Há Tanta Ideia Perdida”, da Confraria do Pão… Alentejo, Alandroal, Terena…
GRITOS NA SOLIDÃO – Décimas de INOCÊNCIO DE BRITO – um POETA popular de S. Matias, Beja – Um Mestre esquecido e ignorado – (previsto para
Maio / Junho 2006
160
BIO(BIBLIO)GRAFIA
Nota: deNómios de José Rabaça Gaspar. (www.joraga.net )
Não são um pseudónimo nem um heterónimo (exclusivo de Pessoa) mas um neologismo inventado, um
NOME (outro), anjo ou demónio, musa inspiradora, que escreve através do autor, o livro ou cada um dos
poemas do autor.
José RABAÇA GASPAR – usando 1001 deNÓMIOS diversos...
Professor de Língua e Literatura Portuguesa, já dispensado do Ensino Oficial, é de novo aluno.
Nasceu na Serra da Estrela, Manteigas (1938), tirou o Curso Superior de Filosofia e Teologia, na Guarda, e exerceu a sua
actividade, desde 1961 em várias localidades da Serra – Loriga, Gouveia, Covilhã e Ferro, passando depois pela Academia
Militar, em Lisboa, antes de cumprir o Serviço Militar em Moçambique - Metanguala, Maúa e Nampula, (4 anos) tendo
passado algum tempo em Angola - Luanda e Benguela.
Frequentou depois, em Paris, um Curso intensivo de Animação Cultural, para os Povos em Desenvolvimento e Alfabetização, com Paulo Freire, e esteve, 4 anos, nos Serviços de Apoio aos Emigrantes Portugueses na Alemanha onde frequentou Cursos de Alemão e leccionou Português.
De regresso a Portugal, em 1975, esteve primeiro a trabalhar nas Cooperativas Agrícolas como trabalhador agrícola, na
Alfabetização e Animação Cultural tendo ingressado no ensino Oficial em 1976.
Leccionou em Rio Maior, Setúbal, Caldas da Rainha e cerca de 20 anos em Beja, Alentejo, procurando levar os alunos a
aprender o melhor da Língua e da Literatura Portuguesa, a partir das suas raízes culturais. A Poesia Popular, as Canções, o Contos, as Lendas, os Provérbios e os usos e costumes, bem como a maneira característica de FALAR (saudações,
nomes, alcunhas, expressões regionais...) serviam, normalmente, de base para aprender toda a gramática e “riqueza” da
Língua e da Literatura.
Com mais de 20.000 páginas de Recolhas e Textos dispersos por mais de 200 obras alguma das quais podem ser consultadas em http://www.joraga.net – um ESPAÇO na NET – aminhaTEIAnaREDE... desde 09.2002.
PUBLICAÇÕES
2006 – Junho – GRITOS NA SOLIDÃO – Décimas de Inocêncio de Brito, um Poeta Popular de S. Matias, Beja, um Mestre ignorado e esquecido! - in www.e-libro.net
2006 – Março – MANTEIGAS – uma Terra na Serra enoVELADA em LENDAS, por Hermes do Zêzere (no prelo, na elibro)
2005 – Novembro – O PASTOR – LENDAS do Pastor dos Hermínios, por Viriato dos Hermínios, in www.e-libro.net
2005 – Março - "Que modas? ...que modos? (actas do 1º. Congresso do Cante Alentejano em Nov. de 1997)", edição de FaialAlentejo, Horta, Faial, Açores – colaboração com resumo da comunicação apresentada e participação em
debates.
2005 – Março – OS LOBOS DE MANIAMBA – Edição da Cart2326, recolha de dados, organização, plano, digitalização e
apresentação.
2005 – Março – Lendas de Moura, edição de “Moura Salúquia” AMCM* – Prefácio, colaboração e apresentação. *Associação das Mulheres do Concelho de Moura
2005 – Março – NOMINALIA, com o deNómio de Herminia Herminii, in www.e-libro.net
2004 – Setembro – ALFÁTIMA, com o deNómio de José da Serra do Vale do Zêzere, in www.e-libro.net
2004 – Maio – A MOURA, com o deNómio de José Penedo de Moura, in www.e-libro.net
2004 – Abril – O Canto do CANTE – DEIXAS – as DÉCIMAS e os Poetas Populares, colaboração regular, no Jornal
“Há Tanta Ideia Perdida” da Confraria do Pão, Alentejo, Alandroal, Terena…
2004 – Fevereiro – A SERPE, com o deNómio de José Penedo de Serpa, in www.e-libro.net
2003 – A GUERRA68/70 – LOBOS DE MANIAMBA – Memórias da Guerra Colonial da CART 2326 – Moçambique
1968/1970. (ver tb. in www.joraga.net com o Cancioneiro do Niassa e Canções de Guerra contra a Guerra...)
2003 – Dezembro A COBRA, com o deNómio de José Penedo, in www.e-libro.net
2003 – Outubro – A FEIRA, com o deNómio de José Penedo de Castro, in www.e-libro.net (ver em Poesia e Vanguardia)
2003 – Julho – A ILHA, com o deNómio de José D’A MAR, in www.e-libro.net (ver em Poesia e Vanguardia).
2003 – Maio – A MAR, com o deNómio de José D’A MAR, in www.e-libro.net (ver em Poesia e Vanguardia).
2003 – Fevereiro – Mértola – As Vozes do Silêncio – in www.joraga.net - Alentejo – Mértola...
2002 – Lenda/s do Pastor da Serra da Estrela (5 EXEMPLARES impressão e encadernação manual)
2002 - LENDA/s de ALFÁTIMA (5 EXEMPLARES impressão e encadernação manual)
2001 – Ceifeiro e Mil e Uma Noites - Grito do Índio, A LENDA do Pastor da Serra da Estrela, e NOMINALIA (5
EXEMPLARES impressão e encadernação manual)
2000 – Dezembro – in Revista Arquivo de Beja – Vol. XV, série III - PRESÉPIO - AUTO DE NATAL de S. Matias,
Beja
1999 – Dezembro – in Revista Arquivo de Beja – Vol. XII, série III – Décimas de Inocêncio de Brito – GRITOS NA
SOLDÃO.
1998 – Agosto – in Revista Arquivo de Beja – Vol. VII e VIII, série III – DÉCIMAS – Uma Linguagem Comum Ibero
Americana
1997.01 – 1996.12 – SERPA enCANTADA EM LENDAS – Serpa Antiga – separata de SERPA INFORMAÇÃO, 4º
série, n.º 17 (12.000 exemplares).
1997 - Dezembro – in Revista Arquivo de Beja – Vol. VI, série III – MOURA - 10 LENDAS - UMA LENDA – A Moura
Amor A Morte - A Magia ou a Utopia da Convivência (im)possível.
1996 - Dezembro – in Revista Arquivo de Beja – Vol. II e III, série III – INSTITUTO ALENTEJANO DE CULTURA
(IAC/D).
1996 – Setembro – AUTO DA VISITAÇÃO (DO VAQUEIRO) -NATAL NA ESCOLA OU A MAGIA DE TUDO RENOVAR
– proposta de várias re/cr(i)eações. Ed. Da Escola Secundária João de Barros, Corroios, (50 exemplares impressão e
encadernação manual).
1996 - Abril – in Revista Arquivo de Beja – Vol. I, série III – A/s LENDA/s do TOURO E DA COBRA – Uma lenda
de Beja?
1995 Abril / Maio - A/s FEIRA/s – A FEIRA DE CASTRO EM VÃS REDONDILHAS – Brochura policopiada, (500 exemplares) ed. Escola Secundária João de Barros, Corroios e Junta de Freguesia de Corroios.
161
1995 Abril / Maio – ILHA DO PESSEGUEIRO – A/s LENDA/s enCoANTADAS em redondILHAS – Edição policopiada
(100 exemplares) Junta de Freguesia de Corroios.
1995 – Março / Dezembro in LER EDUCAÇÃO Nºs 17/18 – Revista da Escola Superior de Educação de Beja – A
LITERATURA (CULTURA TRADICIONAL) e o Desenvolvimento e a urgente criação de um INSTITUTO
ALENTEJANO DE CULTURA /DESENVOLVIMENTO.
1994 – Abril e Maio O CANTO DO CANTE – in Jornal Terras do Cante Ano I, 1ª série, Nº 2 e Nº 3, Alcáçovas, Évora.
1987 (1989) – POETAS POPULARES DO CONCELHO DE BEJA – introdução, selecção, Anexos e Estudo final,
arranjo gráfico, paginação e trabalho em processador de texto – Editora Câmara Municipal de Beja – Concelhia
DGAEE (Direcção-Geral de Apoio e Extensão Educativa, Beja, 1987.
1985 – Outubro, Évora – A Linguística e a Análise Literária como contributo para o Desenvolvimento do Alentejo – in ACTAS do CONGRESSO SOBRE O ALENTEJO, III volume, pp. 1127 - 1131
1957 – Desde o Curso de Filosofia e Teologia, imensos trabalhos publicados em órgãos Regionais e da Escola e muitos
preparados para publicação...
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GRITOS NA SOLIDÃO – Décimas de Inocêncio de Brito –
foi digitalizado usando o tipo Century Schoolbook 11/14, no mês de Junho de 2006 e pode
ser enviado na modalidade de “livro a pedido”.
JORAGA
JORAGA
em
emviagem...
viagem...
em prol da criação de
escrito e realizado especialmente para a família do poeta com a ideia de preparar uma
publicação a sair na REVISTA ARQUIVO DE BEJA no final de 1998, para a Escola
Secundária D. Manuel I, Beja, e para Junta de Freguesia e Casa de Povo de S. Matias,
BEJA, que, segundo julgamos, até pela rua que lhe dedicou na aldeia, estão interessados
em divulgar o trabalho do poeta que ainda é recordado e declamado por muita gente,
embora tenha sido ignorado e esquecido, e isto, passados sessenta anos depois da sua
morte.
Novembro, Dezembro de 1996
Novembro, Dezembro de 1998
Junho Julho de 1999
Maio Junho de 2006
Verão e Dezembro de 2008 – completado com certidões conseguidas pelo Dr. José António Cabrita.
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Uma fotocópia de um manuscrito de uma Décima com a assinatura
de Inocêncio de Brito
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Nota final a reparar falhas na investigação, fornecidas em Julho de 2008, pela pesquisa de José António Cabrita, que
realiza um trabalho sobre uma Família de São Matias.
Cópia de mensagem De: José António Cabrita Data: 28-07-2008 14:53:48 Para: José Rabaça Gaspar Assunto: Inocêncio
de Brito.
Sr. Professor José Rabaça Gaspar,
Tal como combinámos, aí vai uma súmula dos elementos biográficos que pude apurar, relativos ao poeta
Inocêncio de Brito:
1) Inocêncio, foi baptizado no dia 21 de Maio de 1854, na Igreja Paroquial de São Matias, pelo Pároco José
Anacleto da Costa. Deve ter nascido a 10 do mesmo mês e ano, mas, ao assento, ficou a faltar a palavra
"nascido", comum nos outros assentos adjacentes. Foi o segundo filho, primeiro do nome, do pai, registado
como António José, e da mãe, como Paulina Rosa, todos naturais da freguesia de São Matias. De São Matias
eram também os avós paternos, João José e Ana do Sacramento, com estes nomes os aponta o registo. Os
avós maternos, descritos como António Paulino e Teresa Baptista, eram igualmente de São Matias. Os
padrinhos foram Inocêncio das Dores e Brázia Maria.
2) Inocêncio de Brito e Mariana Rosalina, casaram na Igreja Paroquial de São Matias, no dia 26 de Maio de
1878, num acto presidido pelo Pároco José Francisco Neves. Refere o registo que Inocêncio tinha 24 anos,
era solteiro, trabalhador e morador na freguesia de São Matias, e os pais, tal como no documento do seu
baptismo, são assentes como António José e Paulina Rosa. Mariana tinha 23 anos, era solteira, natural e
moradora na mesma freguesia. E era filha de José Fialho e de Rosalina Maria, esta, já falecida. As testemunhas da cerimónia foram José de Brito, casado e seareiro e Manuel António Guiomar, igualmente casado e
seareiro, ambos moradores na aldeia de São Matias. Inocêncio de Brito, como uma caligrafia muito elegante,
assina o registo do seu casamento.
3) Inocêncio de Brito, faleceu no dia 30 de Dezembro de 1938, numa casa da Rua da Apariça, em São Matias,
aos 85 anos de idade. Contudo, no assento do seu óbito, o pai é apontado com o nome de António do Monte e
a mãe, com o de Paulina de Brito. Quando faleceu, Inocêncio de Brito, era já viúvo de Mariana Fialho, que,
refere o documento, havia falecido há dezassete anos. Inocêncio, não deixou bens, nem fez testamento e foi
sepultado no cemitério de São Matias.
4) Mariana Fialho, faleceu no dia 5 de Abril de 1922. A falecida, certifica o assento de óbito, era casada com
Inocêncio de Brito, de 70 anos, trabalhador, natural de São Matias. Contudo, o referido documento, designa
a falecida com o nome de Maria Fialho. Quando faleceu, numa casa da Rua Nova, onde residia, em São
Matias, tinha também 70 anos de idade. O registo confirma que era filha de José Fialho e de Rosalina
Maria, ambos já falecidos. Assim como aponta que deixou bens, mas não fez testamento.
Como pode ver, senhor Professor, não disponho do registo de nascimento de Mariana. Mas não parece nada
difícil consegui-lo, junto do Arquivo Distrital de Beja, se tal interessar às suas pesquisas.
Vou procurar, ainda hoje, tal como também prometi na nossa conversa telefónica de há pouco, enviar-lhe,
por correio, as cópias dos registos que sustentam a informação que, ora, lhe estou a remeter.
Queira aceitar, senhor Professor, os cordiais cumprimentos do
José António Cabrita
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Certidão de Nascimento de Inocêncio de Brito – 30 de Abril de 1854
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3 Certidões de Manoel – Francisca – Francisco Pedro (exposto) – 28 de Maio de 1854
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Certidão d Casamento de Inocêncio de Brito e Marianna Rozalina 26 de Maio de 1978
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CERTIDÃO DE ÓBITO de INOCÊNCIO de BRITO 30 de Dezembro de 1938
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CERTIDÃO de ÓBITO de (Mariana) MARIA FIALHO 5 de Abril de 1922
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Neste lugar solitário
Onde o acaso me tem
Brado, ninguém me responde
Olho, não vejo ninguém
«Não misturem os meus versos com os dos outros...»
Nota do organizador deste trabalho:
No sentido de respeitar esta vontade do Poeta, atrevemo-nos a “juntar” outros textos e
outros “versos”, não para misturarmos os «Versos do Mestre”, mas para os localizar no
seu devido contexto e na actualidade e para que, como é evidente, lhes dar o mérito e
relevo que todos podem verificar.
ISBN 1 – 4135 – 3625 – 5 – da obra publicada pela e-libro, em Maio de 2006.
- http://www.e-libro.net/libros/libro.aspx?idlibro=2032
E em Maio de 2010:
ISBN 978-84-9916-782-4 - DL: M-23888-2010
http://joraga.bubok.pt/
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Décimas de Inocêncio de Brito