XIII SEMINÁRIO OBSCOM/CEPOS
11 de dezembro de 2014, São Cristóvão - Sergipe
ECONOMIA POLÍTICA DA COMUNICAÇÃO: MAPEAMENTO, HISTÓRIA E SUA
CONTRIBUIÇÃO AO CAMPO DA COMUNICAÇÃO NO BRASIL
Joanne Santos MOTA1
A proposta de apresentação aqui submetida pretende apresentar os resultados
preliminares da pesquisa de dissertação no Programa de Pós-Graduação em Comunicação da
Universidade Federal de Sergipe. A dissertação tem como objetivo apontar o lugar dos
estudos do eixo teórico-metodológico da Economia Política da Comunicação (ou Economia
Política da Comunicação, da Informação e da Cultura, doravante EPC), no campo da
Comunicação no Brasil.
Em seus considerados 27 anos de atuação no Brasil – tendo como referência o artigo
“A questão da publicidade no Brasil”, de César Bolaño, publicado em 1987 –, os estudos da
EPC no Brasil coleciona nomes e publicações de reconhecida relevância para o pensamento
crítico. Obras como “Mercado Brasileiro de Televisão” (BOLAÑO, 1988; 2004); “Indústria
Cultural, Informação e Capitalismo” (BOLAÑO, 2000); “Comunicação, informação e espaço
público: exclusão no mundo globalizado” (BRITTOS, 2002); “Comunicação, informação e
cultura: dinâmicas globais e estruturas de poder” (JAMBEIRO, BRITTOS & BOLAÑO,
2004); “Comunicação na Fase da Multiplicidade da Oferta” (BRITTOS, 2007); e Informação,
Conhecimento e Valor (LOPES, 2008) demarcaram no interior do campo comunicacional a
sua interpretação da problemática estrutural desenvolvida ao longo das últimas décadas e
apresentaram uma resposta concreta aos desafios que passaram a aparecer.
Tendo em vista a centralidade econômica e política que a informação, a comunicação
e a cultura ganharam ao longo do processo de valorização capitalista, com maior relevância a
partir dos anos 1970 com a chamada reestruturação, novos desafios políticos e
epistemológicos foram colocados aos agentes sociais que lutam por uma sociedade mais
democrática e inclusiva. Bolaño (2007) advoga que está em curso uma mudança social e de
questionamento dos paradigmas hegemônicos nas últimas décadas.
1
Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Universidade Federal de Sergipe (PPGCOMUFS); Pós-Graduada em Globalização e Cultura, pela Faculdade de Sociologia e Política de São Paulo (Fespsp).
Bacharel em Comunicação, pela Universidade Federal de Sergipe (UFS). Vinculada ao Observatório de
Economia e Comunicação (Obscom/UFS). Integrante da Rede de Economia Política das Tecnologias da
Informação, da Comunicação e da Cultura (Eptic), editora do Portal Eptic. [email protected].
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Para o autor, diante de todas essas transformações, caberia aos pesquisadores da EPC
enfrentar o debate epistemológico travado no interior do campo da comunicação e essa luta
passa pelo reconhecimento da contribuição da EPC para o pensamento crítico:
Cabe-nos dar à luta epistemológica em todos os campos interdisciplinares
vinculados à Comunicação, contar nós mesmos nossa própria história e fazer
uma boa crítica a todos os demais enfoques, concorrentes ou
complementares, com os quais defrontamos. [...] A história é contada pelos
vitoriosos e nós, se não queremos desaparecer e ver nosso trabalho perdido,
num futuro muito próximo, temos que contar a nossa (Bolaño, 2008, p.6465)
É preciso pontuar que os estudos em Economia Política da Comunicação, ao mesmo
tempo em que referendam a importância de uma economia da informação, da comunicação e
da cultura e destacam a insuficiência das abordagens estritamente econômicas e tecnicistas na
apreensão e análise deste fenômeno social; eles também propõem, metodologicamente, uma
abordagem interdisciplinar e heterodoxa, capaz de conectar diversos campos disciplinares
como a Economia, a Comunicação, a Sociologia, a Ciência Política, a Filosofia e os Estudos
Culturais Críticos, necessários à constituição deste corpus teórico-crítico.
Inserida neste contexto de inquietude, as experiências resultantes da investigação
proposta possibilitarão cooperar de forma sistemática para o histórico dos pensadores que
contribuíram para o avanço desse posicionamento no Brasil. Como já foi destacado, a EPC é
uma linha de pensamento relativamente recente, especialmente no campo comunicacional
brasileiro. No entanto, o pequeno recorte aqui apresentado demonstrou a significativa
contribuição dessa linha para a luta epistemológica em curso, tendo em vista a maior presença
das Tecnologias de Informação, Comunicação e Cultura nas esferas produtivas e econômicas.
Para atender aos objetivos propostos, está sendo realizada uma ampla pesquisa
empírica e uma densa revisão teórica. Um passo fundamental no trabalho será a revisão do
“estado da arte”. Já apontamos a origem de diversos grupos, veículos, publicações e
pesquisadores, mas diante da amplitude e do enraizamento do pensamento uma busca
minuciosa será fundamental para mapear de maneira concreta as contribuições existentes no
Brasil.
Para tanto nossa proposta é sistematizar a história de contribuição do campo e pontuar
seus principais colaboradores. Além disso, esquadrinhar o universo das atividades de
produção apresentadas pelos pesquisadores, nos espaços das várias instituições de ensino e
nos centros de pesquisas, ao longo de quase três décadas.
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As atividades de produção que estão sendo consideradas são: pesquisas realizadas;
apresentações em congressos; livros e capítulos e artigos publicados; currículo
disponibilizado na Plataforma Lattes; grupos de pesquisa no Diretório de Grupos de Pesquisa
do CNPq; Base de Dados da Capes; dentre outros. Desse modo, será possível listar de forma
quantitativa o panorama do campo em questão.
Neste sentido, já realizamos um esquadrinhamento e análise nas principais referências
de publicação na área: a ULEPICC-Br e a Revista EPTIC Online. Um estudo sobre a criação e
a consolidação do capítulo Brasil da União Latina de Economia Política da Informação,
Comunicação e da Cultura, que completou 10 anos este ano, foi apresentado no Congresso da
Intercom (SANTOS, MOTA, 2014). Além dele, um estudo sobre os dez primeiros anos da
Revista EPTIC Online, que completou 15 anos em 2014 e é o principal periódico científico da
EPC no mundo, será apresentado no quinto encontro da ULEPICC-Br, realizado em
novembro deste ano.
Em ambos os artigos, pudemos perceber a importância da organização da área na
América Latina, especialmente a partir da formação da Rede EPTIC em 1999, e o papel
primordial de pesquisadores brasileiros, casos de César Bolaño, Valério Brittos e Ruy
Sardinha Lopes – tendo em vista, inclusive, o apagamento da evolução dos estudos da área na
América Latina pós-estudos desenvolvimentistas da década de 1970. Além disso, verificamos
também certa falta de consistência na utilização de autores e referências latino-americanas
nestes dois principais espaços da produção e debate a partir da Economia Política da
Comunicação.
Como toda pesquisa, essa também é fruto de escolhas, combinações, ajustes e
conflitos, mas que se amparará em regras que materializarão e apresentarão cenários amplos e
específicos sob a ótica de seus personagens. Esta investigação não tem a pretensão de esgotar
o assunto, mas de contribuir com dados que possam desenhar o atual mapa da Economia
Política da Comunicação no Brasil.
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