Fuja da Caderneta de Poupança
Nossa primeira dica vai para os trabalhadores que nos últimos anos, a
custa de muito suor e luta, conseguiram fazer um “pé de meia”, guardar um
dinheirinho e agora correm o risco de ver todo o seu sacrifício ser devorado
pela inflação. Indo direto ao ponto: fuja da Caderneta de Poupança!
A Poupança é “xodó” dos pequenos poupadores brasileiros. É a
aplicação mais segura do mercado, com garantia total do fundo garantidor de
crédito para depósitos de até R$ 250 mil. Seus principais atrativos são o fato
de receber pequenos depósitos, não cobrar tarifa de administração e ser
isenta de Imposto de Renda. É por isso que em tempos de “vacas gordas”
(como foram os últimos 10 anos), o trabalhador costuma utilizá-la para
aplicar os recursos que conseguiu economizar. O problema é que a
rentabilidade da poupança é muito baixa e num cenário de inflação
elevada o negócio não compensa.
Atualmente
a
regra
de
remuneração
da
Poupança
depende
do
comportamento da taxa básica de juros da economia, a SELIC. Se a SELIC for
igual ou menor do que 8,5% ao ano, a Poupança renderá 70% da SELIC mais
a taxa referencial (TR). Se, contudo, a SELIC for maior que 8,5%, a Poupança
rende 0,5% ao mês mais a TR. Hoje a SELIC está em 13,5% ao ano e a
Poupança - rendendo 0,5% ao mês mais TR - tem ficado ao redor de 7%
ao ano. Como a inflação, medida pelo INPC-IBGE, está em 9,31%, quem
guarda dinheiro na poupança está PERDENDO DINHEIRO!
Como assim? Mantidas as condições atuais, se alguém tivesse R$
1.000,00 na Poupança e, após um ano, decidisse sacar seu dinheiro, se
depararia com um saldo de R$ 1.070,00. Entretanto, como os preços sobem,
depois de um ano seriam necessários R$ 1.093,10 para comprar o que
atualmente se compra com R$ 1.000,00. Como existe inflação, o poder de
compra do dinheiro vai caindo ao longo do tempo. Repare então que, em
termos de poder de compra, quem deixar R$ 1.000,00 na Poupança por um
ano perderá R$ 23,10.
Qual a solução?
Com os números e o exemplo apresentados, espero tê-lo convencido de
que você precisa tirar seu dinheiro da Poupança. Mas qual a solução?
Onde colocar afinal o seu rico dinheirinho?
Existem diversas opções de aplicação no mercado, muitas das quais
remuneram melhor do que a Poupança atualmente, com razoável segurança e
liquidez. Dependendo do volume de recursos, pode valer a pena uma
conversa com o gerente bancário para decidir a melhor aplicação. Em termos
gerais, a melhor solução, no momento, está em colocar os recursos em
fundos que paguem o equivalente a taxa SELIC. Só para lembrar, hoje a
SELIC está em 13,5% e a Poupança ao redor de 7%. Ou seja, em termos
brutos, a SELIC paga quase o dobro. E não para por aí, por motivos de
política econômica1, é muito provável que a SELIC siga aumentando nos
próximos meses. É quase certo que passe de 14% ainda em 2015.
Mas qual é, afinal, a aplicação que paga a SELIC? Pra ser direto, a
melhor opção pode ser os títulos públicos, os quais podem ser adquiridos
por meio do Tesouro Direto. Ainda faremos um artigo explicando melhor o
que é o Tesouro Direto e quais são as opções disponíveis, mas para hoje, a
sugestão prática é que você transfira, ao menos em parte, os recursos da
Poupança para as Letras Financeiras do Tesouro Nacional – LFT.
As LFTs são títulos públicos do tipo pós-fixado que remuneram o capital
aplicado pelo valor corrente da taxa Selic, pagos na data de resgate.
1
O Banco Central do Brasil pratica a chamada “política de metas de inflação”. De acordo com esta política, o ideal é que
inflação feche o ano no centro da meta, atualmente fixado em 4,5%, podendo variar 2 pontos percentuais para mais ou
para menos. A principal ferramenta utilizada pelo Banco Central para tentar colocar a inflação no centro da meta é
justamente a taxa básica de juros, a SELIC. Quando aumentam os juros básicos a economia tende a desacelerar, as pessoas
compram menos, a demanda cai e em consequência caem também os preços, derrubando a taxa de inflação. Sendo assim,
em cenários de inflação crescente a SELIC tenderá a ser crescente. Como a inflação nacional tem se mostrado “resistente”,
situando-se atualmente acima do teto da meta, 6,5%, é quase certo que a SELIC continue subindo. Na nossa visão essa
interpretação da inflação é totalmente equivocada. A inflação brasileira tem causas estruturais como, por exemplo, a
indexação de vários preços públicos e a forte atuação dos oligopólios. Além disso, conjunturalmente, em função da
dependência nacional por importações, a inflação é agravada pela alta do Dólar e por fatores climáticos que pressionam os
preços os alimentos. Essa, entretanto, não é a visão da atual equipe econômica e, portanto, econômica e politicamente
falando, a SELIC tende a continuar crescendo.
Atualmente, quem resgatar uma LFT receberá juros de 13,5% ao ano, o
mesmo patamar da SELIC. A LTF é a aplicação de renda fixa ideal para
momentos em que existe a perspectiva de elevação dos juros básicos. Esse,
como vimos, é exatamente o caso. Se a SELIC subir você pode ganhar ainda
mais, se a SELIC baixar não vai baixar tanto e você ainda continuará
ganhando mais do que na Poupança. Além disso, os títulos públicos têm duas
outras características valorizadas por quem costuma aplicar na Poupança:
baixo risco e alta liquidez, caso seja necessário o Tesouro direto compra seus
títulos diariamente. Em outras palavras, se você precisar, pode sacar o seu
dinheiro a qualquer momento, assim como na Poupança.
Mas nem tudo são flores, diferentemente da Poupança, os títulos
públicos estão sujeitos a taxas operacionais (custódia e administração) e a
tributação de Imposto de Renda2. As taxas operacionais variam em função do
Banco ou da Corretora, mas na média o conjunto das taxas situa-se em 0,8%
ao ano. Por sua vez, as alíquotas do Imposto de Renda variam em função da
permanência da aplicação: i) até seis meses, 22,5% ao ano; ii) entre seis
meses e um ano, 20%; iii) entre um ano e 2 anos, 17,5% e iv) acima de dois
anos, 15%. Esses “custos financeiros” adicionais reduzem a rentabilidade do
título, mas ainda assim continua sendo melhor negócio do que a Poupança.
Para você não ficar com um pé atrás, vamos exemplificar. Suponha que
você faça uma aplicação em LFTs, pelo período de dois anos. Em termos
atuais, seria necessário arcar com taxas operacionais de 0,8% ao ano e
recolher Imposto de Renda de 15% sobre os seus rendimentos. Ainda assim,
com a SELIC em 13,5% ao ano, sua rentabilidade efetiva seria de 10,7%. Ou
seja, com as LFTs você pode ganhar 52,9% a mais do que com a
Poupança.
Outra vantagem do Tesouro Direto, é que assim como na Poupança é
possível aplicar pequenos valores. Na data de hoje, uma LTF custa R$
6.936,90. Esse valor pode assustar, mas não se intimide, para tonar os títulos
públicos acessíveis a qualquer brasileiro, o Tesouro Direto permite que você
compre “só um pedacinho do título”. O limite mínimo para aplicar é de 1% do
2
Os títulos públicos também são tributados pelo IOF, mas somente em casos de permanência inferior a 30 dias. Se a
aplicação durar mais que um mês o IOF não incidirá.
valor do título, no caso da LTF o valor mínimo para aplicação seria, portanto,
de R$ 69,36.
Uma última coisa que você precisa saber é que assim como a Poupança,
para aplicar em títulos públicos você precisa abrir uma conta para poder
acessar o Tesouro Direto. Esta conta pode ser aberta num banco ou numa
corretora de valores. Em geral as corretoras cobram taxas de administração
menores, o que é bom. Pelo link a seguir você pode acessar, na pagina do
Tesouro
Nacional,
a
relação
completa
das
instituições
financeiras
credenciadas para operar o Tesouro Direto:
http://www.tesouro.fazenda.gov.br/tesouro-direto-instituicoesfinanceiras-habilitadas
Bem pessoal, por hoje é isso. Espero que estas dicas sejam úteis para
vocês!
*Por Luiz Fernando Alves Rosa – economista do Dieese, da subseção da Federação dos
Trabalhadores da Saúde do Estado de São Paulo.
Envie suas dúvidas e sugestões para [email protected].
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Dica nº 1: Fuja da Caderneta de Poupança!