LUCIA HELENA VENDRÚSCULO POSSARI
MARIA LUCIA CAVALLI NEDER
MATERIAL
DIDÁTICO PARA A EaD:
PROCESSO DE PRODUÇÃO
Cuiabá, 2009
Comissão Editorial Drª Ana Arlinda de Oliveira
Dr Carlos Rinaldi
Drª Gleyva Maria Simões de Oliveira
Drª Lucia Helena Vendrúsculo Possari
Drª Maria Lucia Cavalli Neder
Drª Onilza Borges Martins
Ficha Catalográfica
P856m
Possari, Lucia Helena Vendrúsculo.
Material Didático para a EaD: Processo de Produção./
Lucia Helena Vendrúsculo Possari; Maria Lucia Cavalli
Neder. Cuiabá: EdUFMT, 2009..
104 p. il.
Inclui bibliogragia
ISBN 978-85-61819-63-7
1.Educação à Distância - EaD. 2.Material Didático. 3.Texto Ação Educativa. 4.Comunicação. 5.Educação. I.Neder, Maria
Lucia Cavalli. II.Título.
CDU 37.018.43
Revisão Germano Aleixo Filho
Diagramação Terencio Francisco de Oliveira
Capa Marcelo Velasco
Cuiabá, 2009
COLETÂNEA
“EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA”
S
egundo os dados do INEP, no Brasil, em 2007, eram 408 os cursos
a distância, atingindo mais de 350 mil estudantes; 3.702 os cursos
da chamada “educação tecnológica” - cursos com duração de até
dois anos -, com quase 350 mil matrículas também.
O Anuário Brasileiro Estatístico de Educação Aberta e a Distância (2007) confirma estes dados: 225 Instituições autorizadas pelo MEC
para oferecer cursos a distância, atendendo a mais de 770 mil estudantes.
Em 1995, a Universidade Federal de Mato Grosso era a primeira
instituição a oferecer um curso de graduação a distancia no País (Pedagogia), por meio de seu Núcleo de Educação Aberta e a Distância (NEAD),
criado em 1992. Em 2000, eram apenas cinco as universidades, abrigando menos de 5 mil estudantes matriculados.
Esses poucos dados podem nos dar de imediato uma ideia aproximativa do crescimento desta modalidade, aqui no Brasil, pois no mundo,
desde a década de 1970, milhões de estudantes frequentam universidades sem sair de casa ou do local de trabalho.
A impulsão da EaD em nosso país pode ser atribuída a pelo menos
dois fatores:
- o primeiro, como parte do movimento de luta pela democratização do ensino. Há um grito forte e uma luta contínua para que o
direito constitucional à educação se concretize para milhões de
brasileiros excluídos deste bem social historicamente conquistado. E a modalidade a distância vem se afirmando como uma
das possibilidades para que isto se realize;
- o segundo fator pode ser atribuído às novas tecnologias da
informação e da comunicação. Essas tecnologias realizaram
avanços, e algumas delas, em certo sentido, se “popularizaram”, permitindo às pessoas ultrapassar as distâncias geográficas e se aproximar cada vez mais.
Assim, está ocorrendo uma espécie de rompimento do conceito
de distância. A educação está mais próxima para uma parcela cada vez
maior da sociedade (não está mais distante - “a distância”). As tecnologias da comunicação permitem o diálogo e a interação entre pessoas, em
tempo real, como o telefone, o bate-papo, a video e a webconferência,
tornando sem sentido falar em “distância” no campo da comunicação.
Por isso, podemos falar em EDUCAÇÃO SEM
DISTÂNCIAS! Não somente porque é possível ser
realizada, como por ser bandeira de luta a ser levada
adiante para as próximas décadas, por nós, educadores!
Quando, em 1996, lançávamos o primeiro livro da coletânea
“Educação a Distância”, havíamos pensado nomear esta coletânea de
Educação sem Distância.
Porém, naquele momento, avaliávamos que isso poderia provocar mal-entendidos e que, diante da necessidade de divulgar essa modalidade de ensino e diante da escassez de material sobre o tema em língua
portuguesa, retratando nossa realidade educacional, social e cultural,
seria mais oportuno recorrer à expressão consagrada mundialmente:
Educação a Distância.
Hoje, com a expansão quantitativa de cursos a distância e com a
necessidade de qualificação de quadros para atuar nesta modalidade,
existe produção significativa sobre esta prática educativa.
Educadores brasileiros com experiência nesta modalidade se
propuseram escrever, expor suas experiências em EaD como maneira de
contribuir na consolidação desta modalidade, aqui no Brasil, e na formação dos que atuam na EaD. São dezenas as teses e dissertações, centenas
os artigos versando sobre Educação a Distância.
A participação e a contribuição da UFMT, no debate sobre EaD,
também têm sido significativa, com produção acadêmica, abertura da
linha de pesquisa em EaD (2000), no Programa de Mestrado em Educação Pública e a coletânea Educação a Distância.
Em 1996, lançávamos o primeiro número da coletânea, com o
tema: Inícios e indícios de um percurso, trazendo relatos da experiência
do NEAD/UFMT na oferta do primeiro curso de graduação a distância
no Brasil (1994).
Em 2000, com o segundo número da coletânea, Educação a
Distância: construindo significados, ampliávamos a discussão sobre
esta modalidade, não se restringindo à experiência do NEAD. Trouxemos contribuições valiosas de educadores atuando em instituições de
renome e com larga experiência em EaD, como G. Rumble, Neil Mercer
e F. J. G. Estepa, da Open University da Inglaterra; Walter Garcia, presidente da Associação Brasileira de Tecnologia (ABT); Rosângela S.
Rodrigues, da Divisão de Engenharia de Produção, Universidade Federal de Santa Catarina, e do sociólogo Pedro Demo, que também prefaciou a obra. Eram relatados percursos diferentes, com experiências e
visões diversas sobre EaD, que foram trazidas para o debate e ofereceram elementos de reflexão para quem estava atuando ou se propondo
iniciar nesta modalidade.
Em 2005, foram lançados dois volumes. Em Educação a Distância: sobre discursos e práticas, discutia-se a Formação de Professores
em cursos a distância, analisando as práticas discursivas sobre a EaD.
Na obra Educação a Distância: ressignificando práticas, discutia-se a
questão da gestão da EaD e a produção de material didático na EaD.
Neste ano de 2009, estamos lançando outros quatro volumes:
um sobre os Fundamentos da EaD e três sobre a produção de Material
Didático.
Esperamos, assim, com estes novos volumes da coletânea, continuar participando intensivamente do atual debate sobre a modalidade a
distância, num momento em que o governo federal propõe e dirige a
expansão do ensino superior por meio da modalidade a distância, com a
criação do Sistema Universidade Aberta do Brasil (2006). Trata-se de
política ostensiva e extensiva para que essa modalidade de ensino se
solidifique e se qualifique como parte regular do sistema de ensino
superior.
Oreste Preti,
organizador da coletânea.
SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO
9
CONVERSA INICIAL
11
PROBLEMATIZAÇÃO
13
TEXTOS-BASE
PLANEJANDO O TEXTO DIDÁTICO ESPECÍFICO OU
O GUIA DIDÁTICO PARA A EAD
Maria Lúcia Cavalli Neder
17
MATERIAL DIDÁTICO E O PROCESSO DE
COMUNICAÇÃO NA EAD
Maria Lúcia Cavalli Neder
35
PRODUÇÃO DE MATERIAL DIDÁTICO PARA A EAD
Lúcia Helena Vendrúsculo Possari
47
EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA: SUA CONCEPÇÃO COMO
PROCESSO SEMIODISCURSIVO
Lúcia Helena Vendrúsculo Possari
63
SABER +
O TEXTO COMO ELEMENTO DE MEDIAÇÃO ENTRE
OS SUJEITOS DA AÇÃO EDUCATIVA
Maria Lúcia Cavalli Neder
COMUNICAÇÃO E EDUCAÇÃO: AGORIDADES
Lúcia Helena Vendrúsculo Possari
81
91
CONSIDERAÇÕES ADICIONAIS
101
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
103
Material Didático para a EaD: Processo de Produção
9
APRESENTAÇÃO
E
ste livro constituiu o ato de tecer o complexo. Decidimo-nos
pela urdidura dos textos, neste formato, os quais têm a dialogicidade como razão de ser.
Ao nos propormos a produzir material didático para a Educação a Distância, temos por pressuposto que a corporeidade que permite a
interação entre o polo do curso (autor, professor, tutor) e o polo do cursista é, única e exclusivamente, o texto.
A ancoragem teórico-metodológica é, dessa forma, semiodiscursiva. Semiótica para os signos verbais e não verbais, como sinalizadores, assim como a formação discursiva, ambas concorrendo para a construção de sentidos (construção do conhecimento) conjunta.
Os leitores não são considerados receptores passivos a quem se
ensina algo. Desde a concepção do texto, nós os consideramos coautores,
previstos por antecipação, nas seções conversa inicial, problematização,
Saber +, atividades, reflexões.
A CONVERSA INICIAL situa o leitor sobre todo o percurso, o
campo de conhecimento, a metodologia, a forma de ser leitor em EAD.
A PROBLEMATIZAÇÃO objetiva trazer o leitor-aluno para
refletir sobre situações concretas, produzindo-se questões e, a partir delas,
buscar, nos fundamentos e na experiência, subsídios para respostas.
O SABER + proporciona leituras adicionais, sugeridas pelas
10
Material Didático para a EaD: Processo de Produção
autoras, em que podem/devem ser acrescentadas outras fontes pelos
leitores.
A proposta de REFLEXÃO se dá num processo de recursividade permanente, propondo alinhar teoria-prática.
As ATIVIDADES culminam no fazer juntos.
Os interlocutores – autores/professores/tutores e leitores – têm,
pela internet, através do sistema MOODLE, local privilegiado de interação, onde se falam, debatem, incluem reflexões e atividades.
Consideramos adequado, pelo exposto, manter a formatação
inicial: aquela que produzimos para o curso.
Escolhemos para esta obra os textos que nominamos BASE e
Saber +. Como nos cursos, nós os mantivemos intercalados para leitura.
Nossos textos abordam Educação e Comunicação, com um
campo de conhecimento, inaugurando novo paradigma. Além de serem
estudadas as funções do material didático como integrante do processo
comunicativo, estudam-se também os movimentos paradigmáticos, a
complexidade e a interculturalidade.
Estudamos a produção do material impresso, a do material não
verbal e a produção das possibilidades midiáticas de veiculação. Estudamos, ainda, os elementos indispensáveis para cada produção.
Material Didático para a EaD: Processo de Produção
11
CONVERSA INICIAL
E
ste é o espaço da interlocução inicial. É dizer boas-vindas aos
cursistas. É dizer a eles aquilo de que se trata. É palavra de encorajamento. É prepará-los para o diálogo. E, principalmente,
explicitar os objetivos da disciplina, os temas a serem abordados, a
metodologia e a sequência, enfim a lógica pensada do texto.
Então:
Vamos lá, então, prezado cursista.
É com imensa satisfação que vimos iniciar nosso diálogo acerca
de Produção de Material para a Educação a Distância. Com o objetivo de
sugerir reflexões acerca da Produção como processo e, portanto, de
construção, objetivamos com este texto que você, ao se propor produzir,
tenha presente os requisitos de conhecer o currículo do curso, de traçar
um mapa conceitual, de promover a interface entre o texto que constrói
com outros de outros cursos e módulos. Igualmente, de promover o
tempo todo o diálogo com o leitor-aluno, de maneira que ele seja interlocutor ativo, que traga para o processo suas contribuições e, dessa forma,
que a construção de conhecimento seja conjunta.
Além de situarmos as condições de produção, convidamos à
produção propriamente dita de material escrito, para ser impresso e para
12
Material Didático para a EaD: Processo de Produção
ser usado on-line, como também a inserção do texto não verbal.
Na primeira parte, visando à fundamentação da relação do texto
com os demais componentes curriculares, apresentamos os textos:
PLANEJANDO O TEXTO DIDÁTICO ESPECÍFICO OU O GUIA
DIDÁTICO PARA A EAD e MATERIAL DIDÁTICO E O PROCESSO DE COMUNICAÇÃO NA EAD, de Maria Lúcia Cavalli
Neder.
Na segunda parte, abordando questões relativas ao leitor de
texto em EAD, apresentamos: PRODUÇÃO DE MATERIAL DIDÁTICO PARA A EAD e EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA: SUA CONCEPÇÃO COMO PROCESSO SEMIODISCURSIVO, de Lúcia
Helena Vendrúsculo Possari.
Nossas propostas de REFLEXÃO permeiam o texto todo,
considerando você coautor da construção e do conhecimento, abrindo
ensejo a que traga conhecimentos prévios e práticas.
Da mesma forma, nossas propostas de ATIVIDADES possibilitam a você o fazer, o demonstrar, o preparar-se para produzir o material.
Para a seção SABER +, consideramos adequados, como leitura
por acréscimo e continuidade de discussões, os textos: O TEXTO
COMO ELEMENTO DE MEDIAÇÃO ENTRE OS SUJEITOS DA
AÇÃO EDUCATIVA, de Maria Lúcia Cavalli Neder e COMUNICAÇÃO E EDUCAÇÃO: AGORIDADES, de Lúcia Helena Vendrúsculo
Possari.
Desejamos que nosso caminho, juntos, seja o mais profícuo.
As autoras
Material Didático para a EaD: Processo de Produção
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PROBLEMATIZAÇÃO
I
magine que você recebeu um convite para produzir um material
didático para a Educação a Distância. Independentemente da área
em que atue - linguagens, ciências, computação, direito, administração -, você, orgulhoso e agradecido pelo convite, indagará: para que
curso, com que duração, especificamente para qual disciplina, como é o
currículo do curso, o curso é por módulos, por semestre, como funciona,
ou seja, como são os contatos: autor/professor/tutor/alunos, há momentos presenciais, há momentos on line?
Ufa!!!
Só depois de obter essas respostas é que se sentirá à vontade
para pensar o material propriamente dito. Aí, surgem novas questões: é
impresso, é on-line, pode ser acompanhado de outras mídias como CDs,
DVDs, que veiculem vídeo e áudio?
Aí, começa, então, a pensar o material.
Vai situá-lo, no curso, relacioná-lo com as demais disciplinas,
inseri-lo numa sequência, vai dimensioná-lo do ponto de vista epistemológico e metodológico. Delimitará o essencial sobre o conhecimento a
ser construído. Pensará as atividades, as leituras adicionais e começará a
produzi-lo. Ao mesmo tempo, virá a preocupação com a redação clara,
objetiva. Com o processo de interlocução e, assim, o dialogismo discursivo e, então, o texto deverá fluir.
TEXTOS-BASE
Material Didático para a EaD: Processo de Produção
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PLANEJANDO O TEXTO
DIDÁTICO ESPECÍFICO OU O
GUIA DIDÁTICO PARA A EAD
Maria Lúcia Cavalli Neder
interessante que, ao refletirmos sobre a produção de material
didático, pensemos nos tipos de texto, associados à natureza das
linguagens utilizadas. Se verbal: oral ou escrita. Se não verbal:
todas as formas (signos) – olhares, gestos, expressões faciais, cores,
luzes, ruídos, desenho, fotos, pintura, sons etc. Igualmente também as
mídias de que dispomos para veiculá-los.
A escolha da natureza do texto, de sua tipologia e dos meios a
serem utilizados para sua veiculação deve estar associada ao currículo do
curso que se quer construir, sua proposta teórico-metodológica. O
importante é que tenhamos claro que, em qualquer proposta de ensino,
devemos trabalhar com uma pluralidade de textos, com objetivos e
perspectivas diferenciadas. Para uma classificação mais simples, podemos designá-los de textos-base e textos de apoio.
É
TEXTO-BASE
O objetivo do texto-base deve ser não só o de garantir o desenvolvimento de conteúdo básico indispensável ao andamento do curso,
mas também o de abrir oportunidade para o processo de reflexão-açãoreflexão por parte dos alunos. Nesse sentido, o texto deve possibilitar ao
aluno, por meio de um processo dialógico, construir seu conhecimento
sobre a área ou tema em foco.
O conteúdo selecionado para ser trabalhado nos textos-base
deve servir como dinamizador curricular, permitindo, sempre que possível, a relação teoria-prática por parte do aluno. É importante que, nesses
textos considerados marcadores curriculares, haja definição de objetivos
e esclarecimento sobre sua organização, somados a sugestões de tarefas e
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Material Didático para a EaD: Processo de Produção
pesquisas, com a intenção de aprofundamento teórico na área de conhecimento trabalhada, além de uma indicação bibliográfica de apoio.
Os textos-base podem ser produzidos pelos professores responsáveis pelas áreas de conhecimento ou por disciplinas trabalhadas no
curso, com objetivos muito bem-determinados, ou podem, ainda, ser
textos de outros autores considerados relevantes para a compreensão e a
discussão que se queira alcançar.
No caso de optarem por textos de outros autores, os professores
responsáveis pelas disciplinas ou por áreas de conhecimento se apresentam como mediadores do processo do diálogo entre autor e leitor (aluno)
do texto selecionado. Essa mediação pode ser feita mediante um guia
didático, cuja função é auxiliar o aluno em seu processo de leitura e
compreensão do texto estudado.
Você seria capaz de identificar ou citar as características
essenciais de um guia didático? (em caso positivo, não esqueça
de registrar em seu caderno de anotações).
Ensinar um aluno, por meio da autoaprendizagem, como você
sabe, por sua vivência nesse curso, é bem diferente do ensino convencional, em que a maioria dos textos é trabalhada oralmente pelo professor,
oportunidade em que o aluno pode ir sanando suas dúvidas, imediatamente, com a presença do professor.
Por este motivo, ao selecionar os textos que serão trabalhados e,
ainda, ao planejar e elaborar os guias didáticos que servirão de apoio para
os alunos, os professores, ou a equipe responsável pelo ensino, devem ter
muito claros os objetivos do estudo de determinado conteúdo, na perspectiva do projeto do curso e da concepção de currículo adotada.
Além disso, os professores devem ter presente que tudo que
deveria ser dito ou trabalhado em uma sala de aula convencional com a
presença do professor deve ser levado em consideração no planejamento
de ensino por meio da autoaprendizagem.
Como a preocupação de alguns é com a produção de material
impresso, nos deteremos, a partir de agora, nessa tipologia.
Material Didático para a EaD: Processo de Produção
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Rowntree (1999), discorrendo sobre essa questão, diz que o
professor faz uma “tutoria no papel” e, por esse motivo, deve buscar:
- ajudar o aluno a trabalhar o conteúdo selecionado, destacando
algumas partes e ou repetindo outras, quando achar que é importante o destaque;
- dizer-lhes o que necessitam fazer para trabalhar com o material;
- estabelecer claramente os objetivos à luz do estudo que vai ser
desenvolvido;
- explicar o conteúdo de tal maneira para que os alunos possam
relacioná-los com o que já sabem;
- animá-los reiteradamente para que realizem o esforço necessário
para a aprendizagem do conteúdo trabalhado;
- provocar situações, através de tarefas, questionamentos e
exercícios que estimulem os alunos a buscar outras fontes de
consulta para aprofundamento do conteúdo trabalhado;
- dar condições para que os alunos possam ir acompanhando seu
próprio processo de aprendizagem.
Continuando com Rowntree, veremos que questões devem ser
feitas a respeito dos textos que são selecionados como essenciais na
formação dos acadêmicos.
- Audiência: para quem foram escritos? é sua audiência suficientemente parecida com a dos alunos que se têm em perspectiva?
- Objetivos: são os objetivos didáticos suficientemente parecidos
com os que propomos para os alunos do ensino convencional?
- Início: que conhecimentos prévios são necessários para o estudo
do texto selecionado?
- Extensão: o tema se revela apropriado para os alunos? É suficientemente amplo, profundo, preciso e atualizado?
- Enfoque didático: ensina ou simplesmente atua como referência
de reforço de algo aprendido em outro lugar? Está orientado para
estudantes que trabalham sem a presença constante do
professor ou do tutor?
- Estilo: o estilo do material se ajusta aos alunos? É atrativo, tem
uma boa estrutura textual? É interessante?
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Material Didático para a EaD: Processo de Produção
Continuando com esse quadro, poderíamos acrescentar aquilo
que julgamos mais importante na escolha e na organização de qualquer
material didático:
Está adequado à proposta político-metodológica do curso?
É extremamente relevante para a discussão que se quer
trazer para o curso?
Possibilita ao aluno ser sujeito do processo de construção
de conhecimento?
Bem, agora que já sabemos o que é um texto didático específico
e um guia didático, e também que ambos podem constituir TEXTOBASE de determinado curso, podemos nos perguntar o que são os
TEXTOS DE APOIO.
E aí, você é capaz de defini-los?
TEXTO DE APOIO
Bem, você deve estar pensando ou se perguntando: uma vez
elaborado o texto-base ou os guias didáticos , está resolvida a questão do
material didático de um curso de EAD, não é mesmo?
Pois, se você pensa assim, está equivocado. Mesmo que se opte
por um material didático impresso para o desenvolvimento de um curso,
com certeza esse material não pode se resumir apenas aos textos-base.
O texto-base, afirmamos, serve já como marcador curricular e
metodológico, mas não traz em si a potencialidade de abrangência e
aprofundamento que qualquer área, disciplina ou temática merecem.
Por esta razão, no planejamento de qualquer curso, é preciso
que os responsáveis pelas áreas de conhecimento constantes do currículo
indiquem e trabalhem textos complementares (de livros, revistas, jornais
ou textos encomendados especificamente para discussão de determinado
tema), sobretudo para apoiar as pesquisas a serem desenvolvidas pelos
alunos. Esses textos, que costumamos chamar textos de apoio, devem ser
também considerados material didático do curso, embora não tenham
21
Material Didático para a EaD: Processo de Produção
que estar acompanhados, necessariamente, de guias ou orientações
específicas para a leitura.
Vejamos o gráfico a seguir, para que você conheça a rede de
relações entre os diferentes textos de um curso: TEXTO-BASE e
TEXTO DE APOIO.
Textos
Escritos
Textos
de Apoio
Textos
Base
Textos
dos Alunos
Pesquisa
Livros
Textos
Internet
Hipertextos
CD-Rom
Revistas
Eletrônicas
Textos
de Jornal
Textos
Audivisuais
Vídeo
Educativo
Vídeo
Exclusivo
Vídeo
Conferência
Palestra
Filmes
Seminários
Textos
Orais
Obs: Os textos marcados em preto (textos-base) seriam os
marcadores curriculares, e os de cor cinza seriam os de apoio.
Um trabalho também importantíssimo, na organização do
material didático impresso, é a bibliografia comentada, com textos
relevantes no aprofundamento das questões consideradas básicas
para o curso.
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Material Didático para a EaD: Processo de Produção
Os livros, revistas, jornais e/ou outras fontes, nas quais se
encontram os textos de apoio, devem ficar à disposição dos alunos em
locais acordados previamente. Professores que não trabalhem diretamente com o curso podem ser convidados a produzir textos para aprofundamento de questões abordadas pelos alunos no processo de estudo.
Os TEXTOS-BASE poderão ser produzidos exclusivamente
para um curso ou poderão ser textos adotados de outros autores, que
serão acompanhados de GUIA DIDÁTICO. Assim, poderemos ter, num
curso, TEXTOS DIDÁTICOS ESPECÍFICOS ou GUIAS DIDÁTICOS
(roteiros de leitura).
Você saberia dizer qual é a diferença entre eles?
Em qualquer curso, o professor de determinada área de conhecimento, disciplina ou módulo pode construir TEXTO DIDÁTICO
ESPECÍFICO para seu curso ou adotar texto de outro autor.
Em ambos os casos, deverão estar presentes os elementos imprescindíveis na produção textual, como os que vimos na unidade I.
Quando não é o autor de um texto didático específico, o professor, ou o orientador de aprendizagem, apresenta-se como mediador do
processo dialógico entre o autor do texto e o leitor-aluno. Para essa mediação, o professor e/ou o orientador devem elaborar um GUIA
DIDÁTICO (roteiros de leitura).
O que é um guia didático? Pense neles e tente uma caracterização.
Aretio (1994) observa que o guia didático tem lugar na EAD
quando o professor faz uma opção por recomendar aos alunos o estudo de
um texto convencional, não produzido especificamente para o ensino a
distância ou auto-formação em sua disciplina ou módulo.
O guia didático seria, então, o documento que orienta o estudo de
forma a aproximar os processos cognitivos do aluno ao material didático,
Material Didático para a EaD: Processo de Produção
23
com a finalidade de trabalhá-lo autonomamente. Seria um instrumento,
segundo Aretio, motivador de primeira ordem, substituto característico da
orientação e ajuda do professor do ensino convencional.
Qualquer que seja a escolha – produzir um texto didático específico, ou um guia didático –, o professor deverá considerar que, na EAD,
como a interlocução entre o professor-aluno não ocorre necessariamente
num mesmo tempo e/ou espaço, o processo de ensino-aprendizagem deve
ser precedido de rigoroso planejamento, sobretudo no que toca à elaboração do material didático que, entre outras, tem como função no curso:
- Abrir o diálogo permanente entre professor/aluno/orientador;
- Orientar o aluno em seu percurso de estudo;
- Motivar o aluno não só para aprendizagem do conteúdo selecionado para o material em questão, mas também para a ampliação de
seu conhecimento sobre o tema trabalhado, mediante leituras
complementares;
- Ensejar a compreensão crítica do conteúdo selecionado como
fundamental para o curso em desenvolvimento, tendo em vista
que o conteúdo é a base teórico-metodológica para a construção
de conhecimentos/sentidos;
- Possibilitar o acompanhamento e avaliação do processo de
aprendizagem de determinado material faz parte da construção
curricular em que estão implicados outros textos;
- Instigar o aluno para a pesquisa.
O material didático impresso pode ser concebido, já dito em
outra passagem, como texto didático, produzido especificamente para
um curso, a que denominaremos daqui para frente somente de TEXTO
DIDÁTICO ESPECÍFICO, ou pode ser concebido como GUIA
DIDÁTICO, em que o professor utiliza texto de outro autor e produz um
roteiro de estudo para os alunos lerem o texto selecionado.
Qualquer que seja a escolha – TEXTO DIDÁTICO
ESPECÍFICO ou GUIA DIDÁTICO –, o professor deve levar em conta
algumas características fundamentais, conforme Aretio (1999):
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Material Didático para a EaD: Processo de Produção
- Apresentação clara dos objetivos que se pretende com o material
em questão;
- Linguagem clara, de preferência coloquial;
- Redação simples, objetiva, direta, com moderada densidade de
informação;
- Sugestões explícitas para o estudante, no sentido de ajudá-lo no
percurso da leitura, chamando-lhe a atenção para particularidades ou ideias consideradas relevantes para seu estudo;
- Convite permanente para o diálogo, troca de opiniões, perguntas.
Acompanhando Kaye (1981), Aretio apresenta um quadroresumo de características básicas de material impresso, que mostramos a
seguir, feitas algumas modificações.
CARACTERÍSTICAS DO MEIO IMPRESSO
MATERIAL
- textos escritos especialmente para a EAD;
- guia didático para estudo de textos
convencionais;
- itens suplementares: tarefas, ilustrações,
desenhos, fotos, mapas, cartas, revistas,
periódicos, avaliações;
- indicações bibliográficas.
FUNÇÕES
PEDAGÓGICAS
- promover o diálogo entre
professor/aluno/orientador;
- ensejar o processo de leitura do aluno;
- estimular o aluno para pesquisa;
- dar ensejo a elementos teóricos que
possibilitem a ampliação de conhecimento
pelo aluno;
- contribuir para a autonomia intelectual do
aluno.
Material Didático para a EaD: Processo de Produção
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- geralmente, é o meio mais flexível e
econômico;
- deve ser preparado com bastante
antecipação;
FLEXIBILIDADE - é possível fazer revisão com notas
suplementares;
- ajusta-se às previsíveis características do
leitor.
- o estudante pode trabalhar em seu próprio
rítmo;
- perguntas para autoavaliação podem promover
FUNÇÕES
reforços;
MOTIVACIONAIS - o aluno pode desenvolver autonomia
intelectual;
- o aluno deve ser estimulado a buscar mais
informações.
Há, ainda, segundo Aretio, algumas condições que devem ser
seguidas na elaboração de qualquer material impresso. No primeiro
contato do aluno com o material, é importante que ele se sinta atraído.
Por isso, alguns cuidados são indispensáveis quando da produção do
texto impresso, a saber:
- a apresentação do material – livro, revista, caderno, fascículos –
deverá ser motivadora;
- deve haver esmero na encadernação;
- deve haver sempre uma apresentação, ou introdução, que situe o
leitor;
- o tipo de papel e a tipografia devem facilitar a leitura;
- é importante o formato de páginas, ilustrações, isto é, definição
de projeto gráfico que permita ao aluno ler produtivamente;
- o material deve apresentar qualidade científica máxima.
26
Material Didático para a EaD: Processo de Produção
E então, você imaginava que todas essas questões estavam
envolvidas no processo de produção de um texto impresso?
Você já havia pensado na possibilidade de trabalhar, na EAD, com
textos de autores que você considera importantes na discussão
temática que pretende desenvolver, produzindo um GUIA
DIDÁTICO para mediação entre o autor e o aluno?
TEXTO DIDÁTICO ESPECÍFICO:
elementos para sua produção
A primeira providência de quem produz textos didáticos para a
EAD é conhecer detalhadamente o Projeto Político-Pedagógico (PPP),
quanto a suas bases epistemológicas, diretrizes, princípios e modalidade
de organização curricular: disciplina, módulo, tema, projeto etc.
Após esse conhecimento, o autor deve fazer um exercício no
sentido de:
1º) Situar a área de conhecimento, disciplina, módulo, tema,
projeto, (qualquer que seja a proposta de organização do
conteúdo curricular) no contexto do curso, esclarecendo
qual sua contribuição no processo de formação delineado
no PPP. Explicitar que relação mantém com o restante do
conteúdo desenvolvido nas demais áreas, disciplinas,
módulos, etc;
2º) Após essa etapa, o autor deve proceder à definição dos
conceitos-chave de sua disciplina, ou módulo ou tema,
mediante a organização de uma mapa conceitual em que se
visualizem os temas e subtemas a serem trabalhados no
material didático;
3º) Com o mapa conceitual explicitado, é hora de definição dos
objetivos pretendidos com o desenvolvimento de cada um
dos conceitos-chave selecionados pelo autor.
Veja, a seguir, o exemplo de mapa conceitual na área da linguagem.
MAPA CONCEITUAL
ORAL
VERBAL
ESCRITO
TEXTO
DIMENSÕES
27
Material Didático para a EaD: Processo de Produção
PINTURA
MÚSICA
NÃOVERBAL
CORPORAL
QUADRINHOS
Após todas essas definições, é o momento de começar a escrita do texto.
E então, pronto para a produção do seu TEXTO DIDÁTICO
ESPECÍFICO ou do seu GUIA DIDÁTICO, Vamos lá? Mãos na
massa ou melhor mão no texto.
Acompanhe, a seguir, alguns roteiros-sugestão que fizemos
para ajudar você em sua tarefa de produzir material didático para a EAD.
ELEMENTOS PARA ORGANIZAÇÃO
- Apresentação: título, contextualização do
módulo, aula ou disciplina no curso,
objetivos, orientação de percurso.
- Desenvolvimento: apresentação do
conteúdo, mediante divisão em partes
(capítulos, unidades). Proposição de
atividades. Saber + .
- Conclusão: resumo do conteúdo,
sugestões para aprofundamento.
28
Material Didático para a EaD: Processo de Produção
Comentando:
I- INTRODUÇÃO-APRESENTAÇÃO
A Introdução do material didático impresso deve abrir oportunidade ao leitor-estudante de situar-se no curso, compreender a importância da disciplina, módulo ou tema no contexto do curso. Deve também
informar os principais temas que serão ali abordados e as finalidades
daquele estudo para o processo de formação do acadêmico. É também
nesse espaço que o autor deve dizer qual é o percurso definido para o
estudo daquele tema: quantas unidades ou seções, como estão organizadas, se há ou não atividades de avaliação previstas, se há indicação de
estudos suplementares como a seção do SABER + , por exemplo. Enfim,
a introdução é para situar o leitor em relação a seu roteiro de estudo e em
relação à importância daqueles estudos para sua formação.
II- DESENVOLVIMENTO
É recomendável que o conteúdo da disciplina, módulo ou tema
a ser desenvolvido seja subdividido em unidades, seções ou capítulos,
com o intuito de dar ensejo ao estudante do contato gradual com os conceitos a serem trabalhados. No desenvolvimento de cada uma das
seções/unidades/capítulos, é necessário fazer uma pequena introdução
com a apresentação dos objetivos pretendidos no desenvolvimento. Ao
final de cada unidade, é importante a proposição de atividades de avaliação, além de uma seção de SABER + . É relevante que o autor busque
manter um caráter dialógico no desenvolvimento dos temas propostos
para estudo. Linguagem clara e objetiva é também recomendável para
uma boa compreensão do texto.
III- CONCLUSÃO
Na conclusão do módulo, disciplina ou tema, é importante que o
autor faça uma síntese das principais ideias trabalhadas. É igualmente
interessante recomendar novas leituras, estimulando o acadêmico a
continuar seus estudos em relação ao tema trabalhado. Da mesma forma,
Material Didático para a EaD: Processo de Produção
29
pode-se sugerir uma atividade de síntese, não se esquecendo da indicação de bibliografia complementar.
E então, já se sente confortável para a produção de material
didático impresso para a EAD? Esperamos que sim.
Apesar disso, apresentaremos mais um exemplo de roteiro que
poderá ajudá-lo em sua tarefa de autor.
1. DISCIPLINA INTRODUTÓRIA
Apresentação do plano de estudos da área
2. CADA DISCIPLINA
DIVISÃO em UNIDADE (sugestão de 3 a 4)
2.1 BOAS-VINDAS COM CONVITE PARA O ESTUDO
2.1.1 Apresentação da Disciplina (objetivos, conteúdo de cada
uma das unidades, metodologia, avaliação). Entre as unidades,
colocar páginas com marca da disciplina (design).
2.2 PARA CADA UMA DAS UNIDADES
2.2.1 NTRODUÇÃO (objetivos, conteúdo principal, estímulo à
construção de conhecimento). Problematizando (questões
orientadoras).
2.2.2 EXTO-BASE (dialógico), com marcas aparentes do diálogo.
2.2.3 ATIVIDADES PARA AUTOAVALIAÇÃO
Critérios para correção das atividades (ao final da disciplina)
2.2.4 Saber +
3. CONCLUSÃO
Fechamento da disciplina com recuperação dos principais
conceitos estudados.
Convite à continuação dos estudos para aprofundamento.
Bibliografia, referências webgráficas e de vídeos.
30
Material Didático para a EaD: Processo de Produção
Veja, agora, outro exemplo de ROTEIRO para a produção do
TEXTO DIDÁTICO ESPECÍFICO.
1. TíTULO DA UNIDADE:
2. Introdução e orientações para o estudo : esta parte deve
servir de motivação e esclarecimento ao aluno sobre os estudos
que ele irá desenvolver. A introdução deve ser clara e precisa, levando em conta esses dados:
- a importância da unidade didática no contexto do curso e
da disciplina em desenvolvimento e sua relação com o
processo de formação profissional e humanística do aluno;
- como será desenvolvida a unidade: suas partes e quais os
procedimentos, caminhos e atividades previstas no decorrer da discussão dos temas trabalhados;
- como se dá a relação entre essa unidade e as outras previstas para a disciplina/módulo;
- como será o processo de comunicação previsto para o
diálogo entre você e o aluno, caso ele necessite de esclarecimentos e/ou explicações adicionais.
- ajudas externas no que se refere a outras leituras e/ou
orientação.
3. Objetivos previstos para essa unidade ( não se esqueça de
que você já tem isso pronto na atividade nº1).
4. Esquema a ser seguido no desenvolvimento do
conteúdo da unidade. Aqui deve ser mostrado como será o
fluxograma das ideias e conceitos-chave da unidade. Este
esquema pode ser feito através de um quadro sinótico, um
sistema de numeração ou uma mapa conceitual que oriente você
no desenvolvimento de seu texto.
5. Desenvolvimento (a essência do seu trabalho). A partir de seu
esquema conceitual e da divisão proposta em seu fluxograma, você
Material Didático para a EaD: Processo de Produção
31
vai iniciar seu texto científico (aqui você deve considerar o exposto
no item 2.1). Você deve lembrar que tem objetivos claros em relação ao conteúdo a ser trabalhado. Seu texto deve ser adequado à
descrição de seu interlocutor e de fácil compreensão. Para tanto,
você deve considerar:
- texto para EAD: você está produzindo um texto para um
aluno que não estará frente a frente com você. Por isso,
seu texto deve permitir uma leitura sem problemas, o que
pressupõe sua preocupação com o uso de vocabulário
acessível ao nível cultural de seu aluno, com conhecimento
prévio dele sobre o assunto, com suas leituras anteriores.
Sua linguagem deve ser precisa, clara, limpa.
- a estrutura interna do texto deve permitir que o aluno vá
assimilando os conhecimentos em pequenas dosagens.
Ele deve perceber qual a estrutura proposta para o desenvolvimento das ideias, para isso é importante fazer uma
conveniente divisão e subdivisão de cada tópico.
- é importante que você vá apresentando, em cada uma das
partes, questões para despertar o interesse, suscitar
perguntas. É significativo propor também exercícios e/ou
atividades que permitam pequenas sínteses no decorrer
do texto.
- texto dialógico: você pode optar por uma abordagem dialógica no desenvolvimento do próprio texto, ou nas introduções e/ou fechamentos das subunidades. O importante é
seu leitor perceber a si mesmo num processo de diálogo,
em que ele participa como sujeito da produção do conhecimento.
- estilo e formatação textual: o tamanho da letra, o distanciamento entre as linhas e parágrafos também são pontos importantes na organização do texto impresso. O
próprio tamanho do parágrafo, às vezes, interfere na
compreensão. Frases longas e intercaladas, usadas
excessivamente, igualmente dificultam a compreensão.
32
Material Didático para a EaD: Processo de Produção
- tipografia e realces: os títulos, subtítulos, ideias-chave
devem ser realçados com tamanho de letra, grifo ou utilização de cor. Você pode fazer destaques, por meio de
notas de rodapé, de margem, de enquadramento do texto,
de utilização de sinais etc.
- ilustrações: gráficos, esquemas, quadros estatísticos,
desenhos, fotografias, mapas etc, devem ser atrativos e
dispostos de maneira a facilitar a compreensão do texto.
6. Conclusão: deve favorecer uma síntese das ideias e conceitos
trabalhados.
7. Bibliografia: deve ser indicada a bibliografia básica para aprofundamento das discussões trabalhadas na confecção do material.
8. Extensão do texto: lembre-se que um texto muito longo pode
dispersar a atenção do aluno, além de desanimá-lo em razão de sua
espessura. O recomendável é que cada texto tenha por volta de 60
a 80 páginas, tamanho ofício.
9. Avaliação: você poderá estabelecer o processo de avaliação no
percurso do aluno mediante atividades que vão sendo desenvolvidas no decorrer dos estudos e pode também, ao final, propor uma
avaliação de síntese. O importante é que estas propostas permitam verificar a compreensão crítica do aluno-leitor sobre o texto
trabalhado.
Bem, para que você possa ter um esquema de roteiro, relativo às
ações a serem desenvolvidas no processo da sua produção textual,
apresentamos, na página seguinte, um pequeno mapa do percurso a ser
feito.
Esperamos que, com as discussões aqui promovidas, você se
sinta mais encorajado na tarefa da produção de seu material didático para
a EAD.
33
Material Didático para a EaD: Processo de Produção
PROJETO
POLÍTICO PEDAGÓGICO
Bases
epistemológicas
Diretrizes
Princípios
Conceitos
Ideias-chave
Avaliação
Saber +
Seleção do
conteúdo
F
I
N
A
L
I
D
A
D
E
S
Planejamento
Desejamos a você BOM TRABALHO!
Mapa conceitual
(área/disc/mod)
Unidades/capítulos
Objetivos
Material Didático para a EaD: Processo de Produção
35
MATERIAL DIDÁTICO E O
PROCESSO DE
COMUNICAÇÃO NA EAD
Maria Lúcia Cavalli Neder
A
o refletirmos a respeito da EAD, temos que, primeiramente,
focar a essência, aquilo que é substantivo. Isto é, não são as
características, não é o adjetivo (ser a distância, presencial,
semipresencial, modular) que deve ser o centro de nossa ação, mas, sim,
a compreensão de que estamos fazendo educação. É importante, antes de
qualquer outra consideração, que tenhamos consciência de que estamos
construindo uma prática educativa. A EDUCAÇÃO é a essência e deve
ser compreendida como prática social que, em interface com outras
práticas, contribui para a construção de significados culturais, reforçando e/ou conformando interesses sociais e políticos.
Silva (1996) afirma que a educação, o currículo, a pedagogia
estão envolvidos numa luta em torno de significados. Esses significados
são construídos a partir de relações estabelecidas entre os sujeitos da
prática educativa, através da organização e do desenvolvimento do
currículo.
A forma e o modo pelo qual o currículo é organizado merecem,
também, atenção especial. Tanto conteúdo como forma, afirma Apple
(1989), são construções ideológicas. A modalidade ou a forma de organização curricular não pode e não deve ser pensada ou discutida isolada das
discussões políticas, isto é, dos processos de significação que se quer ou
se deseja construir por meio da educação.
A Educação a Distância, como modalidade de organização e
desenvolvimento de currículo educacional, não deve ser reduzida apenas
a questões metodológicas ou a possibilidades de uso de novas tecnologias da informação e da comunicação (TIC). Deve ser vista sempre como
36
Material Didático para a EaD: Processo de Produção
parte de um projeto político que vincule a educação com a luta por uma
vida pública na qual o diálogo, a tolerância e o respeito à diferença estejam atentos aos direitos e às condições que organizam a vida pública
como uma forma social justa e democrática.
Você concorda com nossa posição de que a essência é a
EDUCAÇÃO, e não as características da modalidade
A DISTÂNCIA?
Você já havia pensado sobre isso?
As instituições escolares têm necessidade, conforme Silva
(2000), de se apresentarem como espaço de educação, ao invés de um
lócus de distribuição de saber-produto a clientes consumidores.
Um espaço de educação deve pressupor a construção de uma
prática que possibilite aos sujeitos da ação educativa compreender criticamente a realidade social em que se inserem, com vista a uma participação ativa nessa realidade.
É importante que comecemos a refletir, a partir de agora, sobre
a importância do material didático no desenvolvimento de
projetos de EAD.
Qual é, em sua opinião, o papel do material didático em projetos
desenvolvidos na modalidade a distância? Acompanhe nossa
reflexão a esse respeito.
Para pensarmos sobre material didático, faz-se necessário
primeiro que pensemos que estamos participando da construção de um
projeto educativo. A educação deve ser concebida como prática social,
que acontece na e da relação de sujeitos historicamente situados e que, a
partir dessas relações, se constroem sentidos que interferirão diretamente na vida das pessoas e na vida social.
Isso pressupõe uma compreensão de educação como um sistema aberto, não só voltado para a transmissão e transferência de conheci-
Material Didático para a EaD: Processo de Produção
37
mentos, que implica processos transformadores que decorrem da experiência de cada um dos sujeitos da ação educativa.
Essa compreensão implica também pensar no estudante não
mais como um ser passivo, receptor de mensagens enviadas pelo professor, seja através de material didático, seja através de aulas expositivas
presenciais.
Se entendermos a educação como prática social de construção
de sentidos pelos sujeitos que delam participam, a autonomia do estudante passa a ser um dos ideais da ação educativa. Ele deve ser estimulado a ser ativo no processo de construção do conhecimento, principalmente quando se tem presente que o mundo contemporâneo, em que o
conhecimento evolui de forma incontrolável, exige uma educação voltada para a autonomia do aprendiz, o que implica uma metodologia do
aprender a aprender.
A EAD, por suas peculiaridades, sobretudo em relação a mediatização das mensagens pedagógicas, coloca-se como uma modalidade
em potencial para o desenvolvimento dessa autonomia que se quer do
aprendiz.
Mediatizar, na perspectiva do processo educacional, significa,
segundo Belloni (2001):
conceber metodologias de ensino e estratégias de utilização de materiais de ensino/aprendizagem que potencializem ao máximo as possibilidades de aprendizagem autônoma. Isso inclui desde a seleção e elaboração de conteúdos, a criação de metodologias de ensino e de estudo,
centradas no aprendente, voltadas para a formação da
autonomia, a seleção dos meios mais adequados e a
produção de materiais, até a criação de estratégias de
utilização de materiais e de acompanhamento do estudante de modo a assegurar a interação do estudante com
o sistema de ensino (BELLONI, 2001. p. 26).
Como uma modalidade de ensino e de aprendizagem mediatizada, a EAD deve considerar os dois principais componentes, destacados
por Belloni (2001), de uma nova pedagogia: a utilização cada vez mais
das tecnologias de produção, estocagem e transmissão de informações,
38
Material Didático para a EaD: Processo de Produção
por um lado, e, por outro, o redimensionamento do papel do professor.
Este tende a ser amplamente mediatizado: como produtor de mensagens
inscritas em meios tecnológicos, destinadas a estudantes a distância, e
como usuário ativo, crítico e mediador entre estes meios e os alunos.
A EAD, para Belloni (1999), usa a tecnologia como forma de
mediatizar o processo de ensino e de aprendizagem. Embora todo processo educativo seja mediatizado, visto que há necessidade de “traduzir”
as mensagens pedagógicas, a autora argumenta que a EaD tem que
potencializar as virtudes comunicacionais do meio técnico a ser utilizado, no sentido de abrir oportunidade ao estudante para realizar sua aprendizagem de modo autônomo e independente.
Deste modo, a EaD pode contribuir significativamente não só
para a transformação dos métodos de ensino e da organização do trabalho
pedagógico, mas também para a utilização adequada das tecnologias de
mediatização da educação, implicando, nesse caso, uma redefinição da
comunicação nos processos educacionais.
Que tecnologias da comunicação e informação você poderia
utilizar em sua instituição no desenvolvimento de um projeto de
Educação a Distância, e qual a importância delas no contexto do
curso de que você participa?
Com certeza, você destacou a comunicação como um dos
elementos essenciais que podem ser garantidos pelas TIC's, não é
mesmo?.
A comunicação constitui um dos elementos centrais na EAD,
tendo em vista, sobretudo, a relação professor-aluno, que não se estabelece mais face a face, mas, sim, pela mediação de textos, veiculados pelas
tecnologias da informação e da comunicação.
A Educação a Distância pode possibilitar, ainda, aquilo que
Belloni (2001, p. 12) denomina de “educação para as mídias”, cujos
objetivos dizem respeito à formação do usuário ativo, crítico e criativo de
todas as tecnologias de informação e comunicação.
Ela deve ser pensada, pois, como um modo privilegiado de
“educar para a comunicação”.
Material Didático para a EaD: Processo de Produção
39
Educar para a comunicação é, segundo Costa (1993), orientar
para realizar análises mais coerentes, complexas-completas e, ao mesmo
tempo, ajudar a expressar relações mais ricas de sentido entre as pessoas.
É uma educação que gera outras relações simbólicas e outras expressões
do ser social.
Um dos maiores desafios que o professor enfrenta hoje na
construção de sua prática pedagógica, conforme Silva (2000), é modificar a comunicação, no sentido da participação-intervenção, da bidirecionalidade-hibridação e da permutabilidade-potencialidade. O papel de
transmissor de conhecimento deve ser modificado para o de disponibilizador de domínios de conhecimento e de ambiência de aprendizagem
que garanta a liberdade, a pluralidade, a escolha, a intervenção.
Você saberia explicar o que seria essa bidirecionalidade-hibridação
proposta pelo autor acima citado?
O conhecimento, nessa perspectiva, deixa de ser “algo” a ser
doado, para ser compreendido como um processo de busca, de análise, de
explicação de fenômenos e situações da realidade, que se constrói na/da
interação de sujeitos da prática social.
No espaço educacional, o professor (interlocutor), um dos
sujeitos envolvidos na construção curricular, deve possibilitar, ao invés
de uma prática educativa unidirecional, uma prática alicerçada na bidirecionalidade, na participação livre e plural das subjetividades.
De uma modalidade comunicacional unidirecional, passa-se,
portanto, a uma modalidade interativa.
Você saberia identificar as características de uma
modalidade comunicacional unidirecional e de uma
modalidade comunicacional bidirecional? Qual a principal
diferença entre elas? Veja se sua resposta está
adequada à definição proposta a seguir.
40
Material Didático para a EaD: Processo de Produção
A modalidade comunicacional unidirecional tem como principais características, segundo Silva (2000, p. 73):
- A mensagem se apresenta de modo fechado, imutável, linear e
seqüencial;
- O emissor busca atrair o receptor (geralmente por imposição)
para seu universo mental;
- O receptor é compreendido como ser assimilador passivo;
A modalidade comunicacional interativa se apresenta com as
seguintes características:
- A mensagem é modificável, em mutação, à medida que responde às solicitações daquele que a manipula;
- O emissor, “designer de software”, constrói uma rede ( não
uma rota) e define um conjunto de territórios a explorar; ele
não oferece uma história a ouvir, mas um conjunto intrincado
(labirinto) de territórios abertos a navegações e dispostos a
interferências, a modificações;
- O receptor manipula a mensagem como coautor, cocriador,
verdadeiro conceptor.
De uma teoria de comunicação em que a mensagem é um conteúdo informacional fechado, o aluno/leitor é considerado um ser passivo,
sem liberdade de modificar ou interferir na mensagem e o emissor é autoritário, deve-se avançar para uma teoria da comunicação que tenha como
princípios de sustentação a interatividade e a interação.
Na comunicação interativa, compreende-se o caráter ativo e
participativo do sujeito (receptor) na ação comunicativa, o que modifica
sensivelmente o papel e a função do sujeito (emissor). Além disso, a mensagem (texto) passa a ser também compreendida como uma unidade de
significação que só se instaura quando da interação entre autor (emissor)
e leitor (receptor).
Material Didático para a EaD: Processo de Produção
41
Interação e interatividade são dois conceitos fundamentais
quando se discutem processos de comunicação. Qual é sua
compreensão a respeito desses termos. Tente conceituá-los
em seu caderno de anotações, antes de ver a opinião de alguns
autores sobre isso. Após, leia o texto nº1 do SABER +.
Possari (2002) compreende por interação o processo pelo qual
interlocutores “inter-agem” e decorrem daí os efeitos de sentido. Interlocutores são entendidos como os dois polos de qualquer situação de comunicação (verbal, não verbal, mediada por tecnologias). Os interlocutores
constroem sentidos conjuntamente.
A interatividade, por seu lado, seria o processo que permite a
coautoria entre emissor e receptor, ensejando a este último transformarse, a partir de suas ações, em coprodutor de sentidos. Equivale a dizer que
o leitor pode e deve interferir no texto do produtor.
Silva (2000), referindo-se à interatividade, destaca dois componentes lexemáticos: um deles significaria “entre” e, o outro significaria
relação recíproca. Na interatividade está prevista a possibilidade de
interferência, de modificação, de escolha de caminhos nos processos de
significação.
A modalidade interativa, como assinala Possari (2002), pressupõe: um emissor que constrói uma rede, um conjunto de possibilidades a
explorar; oferece um conjunto intrincado de lugares dispostos à interferência e às modificações; uma mensagem (texto) modificável; um receptor ativo, que se apresenta como coautor no processo da interlocução.
Orlandi (1993), trabalhando a questão da autoria no processo de
produção de textos, argumenta que a escola deve propiciar a passagem do
enunciador/autor (perspectivas que o eu constrói no discurso), de tal
forma que o aprendiz possa experimentar práticas que façam com que ele
tenha controle dos mecanismos com os quais está lidando quando escreve.
Possari e Neder (2001) assim concebem texto:
Texto é qualquer unidade de sentido. São todas as formas
(unidades de significação) que são utilizadas para intera-
42
Material Didático para a EaD: Processo de Produção
ção entre sujeitos: a pintura, a música, a charge, o gibi, o
texto escrito poético, a dissertação, a música, a fotografia, o vídeo, o cinema, a escultura etc).
Textos são construções simbólicas que podem materializar-se
em qualquer suporte: a televisão, os CDs-ROM, o rádio, a internet
(APARICI, 2000).
Pensando-se na prática da leitura, como processo que permite a
interlocução entre autor/leitor, Orlandi (1993) assim se posiciona:
Se se deseja falar em processo de interação da leitura, eis
aí um primeiro fundamento para o jogo interacional: a
relação básica que instaura o processo de leitura é o do
jogo existente entre um leitor virtual e o leitor real. É uma
relação de confronto. O que, já em si, é uma crítica aos
que falam em interação do leitor com o texto. O leitor não
interage com o texto (relação sujeito/objeto), mas com
outro(s) sujeito(s) (leitor virtual, autor, etc). A relação,
como diria Schaff (em sua crítica ao fetichismo sígnico,
1966), sempre se dá entre homens, são relações sociais;
eu acrescentaria, históricas, ainda que (ou porque)
mediadas por objetos (como o texto). Ficar na “objetalidade” do texto, no entanto, é fixar-se na mediação, absolutizando-a, perdendo a historicidade dele, logo, sua
significância (ORLANDI, 1993. p. 9).
Acedo (2000), trabalhando o conceito de interatividade em
texto multimídia, chama de comunicação bancária aquela em que se
utilizam os meios de comunicação para transmitir ao usuário uma série
de conteúdo conceitual, com um esquema de comunicação unidirecional.
Nesse modelo comunicativo, existe um emissor, um receptor e
uma mensagem, que é a informação que se transmite. O receptor tem que
traduzir a mensagem.
Nesse caso, Acedo argumenta que não existe a verdadeira
comunicação, já que o receptor não participa ativamente. Alguém transmite um ou outro conteúdo. A informação se dá de um lado só. É o mode-
Material Didático para a EaD: Processo de Produção
43
lo de comunicação unidirecional.
Na Comunicação, com uso de meios técnicos (TV, computador,
etc.), Acedo afirma que se está falando em comunicação mediada, que
deve ser:
- intencional: terá que estar presente tanto no emissor como no
receptor, de tal forma que os produtores e usuários se convertam
em emissores e receptores ao mesmo tempo;
- multissensorial; nesta, não haverá emissor e receptor, mas, sim,
produtores e usuários, situando-se ambos no início do esquema,
pois os dois são responsáveis por originar mensagens.
Nesse modelo de comunicação multidirecional, devem-se
conceber, portanto, os sujeitos da ação comunicativa como interlocutores, com responsabilidade de produzir significados.
O interlocutor (receptor) é concebido como protagonista da
construção dos processos de significados, portanto autônomo e ativo na
relação comunicacional.
Pensar o processo de comunicação, na perspectiva da relação
comunicacional, portanto de comunicação interativa ou multidirecional,
é imprescindível para qualquer modalidade educativa, sobretudo quando
essa modalidade é a EAD.
Conceber a comunicação, a partir desses pressupostos, é pensála de forma redimensionada, dinâmica, em processo.
O professor, numa modalidade comunicacional redimensionada, tem que considerar a participação (a coautoria) nos processos de
significação que são instaurados no espaço escolar. Ele deixa de ser
simplesmente um transmissor de conhecimento para ser um organizador
de situações de aprendizagem, alguém que busca disponibilizar múltiplas situações que permitam a intervenção do interlocutor.
Como um dos interlocutores privilegiados no processo da
construção, cabe ao professor possibilitar ao aluno (receptor) constituirse também em autor (emissor), crítico e criativo, de novos textos, ao
mesmo tempo em que se constitui, ele próprio, também em um aprendiz.
É um processo de troca, de diálogo.
44
Material Didático para a EaD: Processo de Produção
Qual é a importância de mudança de paradigma na
compreensão do processo de comunicação, quando se
tem em vista a Educação a Distância?
Uma das características fundamentais da EAD, como vimos em
outra passagem, é ser um processo de ensino e de aprendizagem mediatizado, sobretudo pelo uso de tecnologias da informação e da comunicação.
Paradoxalmente, a Educação a Distância só pode se desenvolver se não houver “distância” entre os sujeitos da prática educativa. Essa
“não distância” diz respeito ao processo de interlocução, diálogo permanente, que deve ocorrer entre os envolvidos na prática educativa, mesmo
que não ocupem o mesmo espaço físico em um tempo real.
Na tentativa de recuperação de algumas reflexões sobre a temática tempo/espaço, invocamos Santos (1997), que afirma que o tempo só
existe em relação a uma subjetividade concreta. Por isso, é o tempo da
vida de cada um e da vida de todos, e o espaço é aquilo que reúne a todos,
em suas múltiplas possibilidades: diferentes de uso de espaço (território)
relacionado com possibilidade de uso de tempo. É o viver comum, segundo Santos, que se realiza no espaço. Esse espaço seria, então, o lócus onde
são construídos os significados sociais, culturais, a partir dos processos
de interlocução, de compartilhamento, de diálogo, de troca entre sujeitos
relacionais, situados historicamente.
Toda forma de interação, segundo Possari (2001), se dá por um
processo de mediação simbólica. O signo/símbolo poderá ser verbal: oral
ou escrito; não verbal: sonoro/musical; visual: estático, dinâmico etc.
Nos processos de interlocução a distância, os efeitos de sentido,
significação, que são atribuídos aos textos (verbais ou não verbais),
devem ser preocupação fundamental. É o leitor/aluno que, com sua
história de vida e de leituras, atribuirá sentidos aos textos selecionados
e/ou produzidos pelo professor.
Como, para a EAD, os processos de significação são materializados em textos de diferentes natureza e propósito, a seleção ou produção de textos para o processo educativo requerem uma compreensão no
Material Didático para a EaD: Processo de Produção
45
âmbito de suas dimensões sociocomunicativa e semântico-conceitual,
conforme VAL (1993).
Além disso, na escolha de determinado tipo de texto, estarão
sendo escolhendo também os meios de veiculação desses textos, o que
implica um pouco de conhecimento sobre essa questão.
A comunicação é um dos elementos fundamentais no desenvolvimento da EAD, como você viu na discussão feita até aqui. Por isso,
gostaríamos que você refletisse um pouco mais sobre esse
assunto, produzindo um texto, conforme a solicitação proposta na
seção atividade. Não se esqueça que o FÓRUM é o espaço para
nossas reflexões.
Material Didático para a EaD: Processo de Produção
47
PRODUÇÃO DE
MATERIAL
DIDÁTICO PARA A EAD
Lúcia Helena V. Possari
INTRODUÇÃO (OU POLIFONIA)
Q
uando nos propomos participar de um processo de interação,
como neste caso especificamente, ocuparemos, num dos polos, a
função-autor e, no outro, você, cursista, a função-leitor.
Todavia, sabemos que o teor do que vamos tratar não começa
aqui nem termina aí, pois o processo de interação pressupõe conhecimento prévio de ambos os polos e, no final do texto, o assunto não se
encerra, dado que o processo de leitura é contínuo.
Antes de começarmos a redigir, fazemos imagens de vocês
leitoras/leitores: professores e professoras de diversas áreas de
conhecimento, com pós-graduação lato e stricto sensu, desejosos de
sistematizar conosco a produção de material didático para a EAD.
Será que é só isso, ou é bem isso? Vocês também têm imagens de nós.
Não interessa se essas imagens se confirmam ou não no texto, na
leitura, na orientação. Mas foi preciso partir de um pressuposto para
produzir o texto para vocês.
Possari (1999) afirma que comunicar é interagir. Os dois polos
se estabelecem como interlocutores. O texto materializado entre quem
fala e quem ouve, quem escreve e quem lê, professor/aluno, pintor/apreciador de obra de arte, músico/ouvinte, autor/diretor de novela/telespectador etc, engendra discursos diversos que dependem, para
efeitos de sentidos, da HISTÓRIA DE VIDA do produtor e do leitor.
Isto a que chamamos de “nosso” texto é, na verdade, um inter-
48
Material Didático para a EaD: Processo de Produção
texto dos textos que já lemos e dos interdiscursos de que fazemos parte. É
um texto polifônico. Assim também na leitura, este texto fará parte de seu
intertexto, ou seja, é mais um.
Por falar em texto, este é escrito e será lido por você, no impresso, mas pode-se também escrever para ser veiculado na rede mundial de
computadores ou produzi-lo para ser visto num vídeo ou para ser ouvido
num CD-ROM ( ou fita cassete) ou, ainda, lido num site.
A opção pelo meio(áudio, audiovisual, hipertextual) que fizermos vai determinar nosso texto, nosso discurso.
Vocês já devem ter visto, na internet, textos escritos exatamente
como no impresso. Já devem ter visto enciclopédias inteiras na internet.
Não é por estar sendo veiculado na Rede que os autores tiveram a preocupação de modificar o texto. Ou seja, nesse caso, o texto só foi transferido
do impresso para a tela.
Para falarmos, então, sobre o modo de veiculação dos textos,
retomamos o conceito de Possari e Neder (2003)1:
Texto é um todo de significação, passível de compreensão e
atribuição de sentidos.
Texto pode ser verbal: oral ou escrito, pintura, gravura, escultura,
música, cores(enfim tudo o que fizer sentido).
Assim,
Leitura será o processo pelo qual cada leitor atribuirá sentidos ao
texto lido, seja ele de que natureza for e veiculador por qualquer
mídia: impresso, TV, Rádio, CD, DVD, ou internet.
Falando nisso, faz-se necessário, a nosso ver, discorrermos
sobre os tipos de leitor(leitura) aos quais nos dirigimos.
1. POSSARI, Lúcia H.V. e NEDER, Maria L. C. Linguagem, o entorno, o percurso. 3ª. Ed.
Cuiabá: EDUFMT, 2003
Material Didático para a EaD: Processo de Produção
49
PARTE I
LEITOR/LEITURA - POR UMA TIPOLOGIA EM EAD
Sabemos que a leitura é um processo complexo e que a relação
entre leitor/autor, mediada pelo texto, é uma das principais questões que
devem ser trabalhadas na EAD. Como já vimos, o material didático
(textos) se coloca como um dos elementos centrais de mediação entre os
sujeitos da prática pedagógica. Assim, pensar nos tipos de leitor que
podem ser encontrados e, ainda, como o texto se apresenta para os
leitores é fundamental no processo da produção textual.
Você saberia identificar algum tipo de leitor, a partir de sua
experiência pedagógica? Tente uma categorização nesse sentido.
Você certamente se lembrou de algumas classificações, mas,
para nosso texto, optamos por referenciar a classificação de Santaella
(2004)2.
Segundo a autora, os leitores podem ser classificados em
CONTEMPLATIVO ou MEDITATIVO; MOVENTE ou FRAGMENTADO E IMERSIVO ou VIRTUAL.
Essa classificação se refere aos momentos da HISTÓRIA em
que veículos foram oferecidos ao leitor para ler um texto.
LEITOR CONTEMPLATIVO OU MEDITATIVO
Assim, não é correto dizer que autores escrevem livros. O que
escrevem são textos que se tornam objetos escritos, manuscritos, gravados, impressos ou, mais recentemente, digitalizados, informatizados.
2. SANTAELLA Lucia. Navegar no ciberespaço. O perfil cognitivo do leitor imersivo.
São Paulo: Paulus, 2004
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Material Didático para a EaD: Processo de Produção
É válido ressaltar que os efeitos de sentido produzidos pelo leitor
NÃO são independentes das formas materiais pelas quais o texto é
veiculado, pois elas interferem na forma de legibilidade do texto.
O processo de LEITURA do leitor contemplativo é, até hoje,
reproduzido pela escola, nos seguintes passos:
- Silenciosa;
- Com os lábios;
- Em voz alta.
O LEITOR CONTEMPLATIVO é o leitor de:
- SIGNOS E OBJETOS DURÁVEIS
- LIVROS, PINTURAS E MAPAS
- LIVRO NA ESTANTE
- LEITOR NÃO ACOSSADO PELA URGÊNCIA
- O LEITOR PROCURA OS OBJETOS IMÓVEIS.
O livro é o exemplo histórico e permanente desse processo de
leitura que, na História, foi e tem sido – e parece-nos que permanecerá
sendo ainda por algum tempo – o instaurador de formas de cultura. Por
ele têm sido divulgadas a ciência moderna e o saber universitário.
O livro tem seus desdobramentos nos jornais e revistas. Para
além do livro, esses outros veículos oferecem leituras espirituais, intelectuais e profissionais.
Todavia, esses meios impressos convivem com um conjunto de
mutações tecnológicas, formais e culturais para as quais se tem que
aplicar atenção.
Como vimos no início desta Unidade, LER é um processo de
reconstrução desconcertante, labiríntico, comum e pessoal. É construir
um ou mais sentidos dentro das regras de linguagem e, ainda, ruminação
e contemplação.
Dessa forma, não podem ser ignorados novos suportes e estruturas para o texto escrito, com a proliferação das redes de telecomunicações – internet.
Material Didático para a EaD: Processo de Produção
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Logo, ler não mais é ficar imóvel, ou privilegiar a leitura
contemplativa não é mesmo? Como fica o processo de leitura a
partir dos novos suportes eletrônicos e estruturais textuais
da multimídia? Pense a esse respeito.
Vivemos um momento de construção de conhecimento rizomá(DELEUZE E GUATARRI)4 e se faz necessário ter presente a
universalidade e o intercâmbio de idéias, através de leituras não só contemplativas.
Devemos, como educadores, atentar-nos para as novas formas
de percepção e cognição que os atuais suportes eletrônicos e estruturas
híbridas e alineares do texto escrito estão fazendo emergir, dilatando,
com isso, o conceito de leitura, ou seja, a expansão do conceito de leitor
de livro para leitor de imagem e para leitor de formas híbridas de signos,
incluindo o leitor que navega pelas infovias do ciberespaço.
Cabe ressaltar que os leitores deste nosso texto e os leitores para
os quais vocês produzirão material didático são leitores:
tico3
- de imagem, desenho, pintura, foto;
- de jornal e de revista;
- de gráficos, mapas e sistemas de notação;
- de miríade de signos, símbolos e sinais;
- do cinema e do vídeo;
- de infovias: arquiteturas líquidas e alineares da hipermídia.
Vimos falando do leitor contemplativo, mas, mesmo antes de
apresentarmos os outros leitores, temos que ter presente que a
3. É a metáfora que recorre à imagem de bulbos e tubérculos. O rizoma pode ser conectado a
qualquer outro. É o princípio da multiplicidade. Não é um sistema centrado ou
hierárquico, é circulacão de estados momentâneos.
4. DELEUZE, G e GUATARRI, F. Mil Platôs: capitalismo e esquizofrenia. Rio: Ed. 34,
1995, v.1
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Material Didático para a EaD: Processo de Produção
classificação não se restringe a tipos de linguagens nem a suporte
de canais, mas, sim, a tipos de habilidades sensoriais, perceptivas e
cognitivas das quais lançamos mão quando somos leitores.
Independentemente de qual seja a mídia, ler é construir um ou mais
sentidos dentro das regras de linguagem.
O segundo tipo de leitor, então, de acordo com Santaella (A
2004)5 é o
LEITOR MOVENTE, FRAGMENTADO
Esse leitor o qual, surge em momentos de grandes transformações midiáticas, em geral, sofre mudanças profundas no modo de ver o
mundo.
Isto pode ser observado, a partir da segunda metade do século
dezenove:
- Os objetos, sejam para o vestir, para o lazer, para a locomoção,
passam a ser produzidos em PRODUÇÃO SERIAL;
- O Estado, como instituição, passa a ser legal e fiscal;
- Viver significa compartilhar de complexidade, como o telégrafo, o telefone, cuja consolidação encontra ecos nas redes de
opinião, principalmente dos jornais.
O espaço urbano é de movimento contínuo e de proximidade
promíscua, uma vez que tendo a Cidade-Luz, a iluminação a gás, o convívio estreito nas galerias, parques e cafés, abre ensejo para o espaço
urbano como Cidade-Passarela que estetiza aparências.
De acordo com a autora, a sensorialidade é alucinógena, o que
propicia o flaneur, ou seja aquele que pode gozar do ócio espiando a
cidade. Nessa esteira, o livro e o profissional sofrem transformação em
5. SANTAELLA, Lucia. Navegar no ciberespaço. O perfifl cognitivo do leitor imersivo.
São Paulo;Paulus,2004.
Material Didático para a EaD: Processo de Produção
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mercadoria. É claro que isto perdura até os nossos dias.
Esse leitor é alvo de ofertas de produtos, geralmente de reprodutilibilidade técnica, como discos, livros em série, revistas de grande
tiragem, fotos. Passa a ser o leitor que se dá o direito dos prazeres do
consumo.
Os centros urbanos são habitados por signos. O leitor passa de
contemplativo a leitor apressado de linguagens efêmeras, híbridas.
Não é mais só aquele leitor de gravar na memória muitas coisas. Ele
é leitor novidadeiro (do jornal), de memória curta, cujos textos
lidos são para serem vistos e decodificados. Com a profusão de
muitos outros meios além do escrito impresso, o leitor é um leitor
de massas, volumes, formas, cores, luzes e, consequentemente, é
um leitor acelerado.
Mesmo essa passagem se dando em meados do século XIX, até
os dias atuais, para além dos livros e dos impressos, oferecem-se fotos e
imagens ainda sob o signo do choque. A muitos é dada a oportunidade de
gravar imagens, através das fotos, do cinema, da TV e do vídeo.
Assim, da contemplação, do permanente, do sempre encontrar
o livro na estante, passa-se ao superficialismo, à efemeridade, à hiperestesia.
Dele, leitor, é exigido (e a ele é possibilitado) ler o verbo, oral e
escrito, ler imagens, ler sons, ler ruídos, ou seja, ler situações vivenciadas
por ele.
É o leitor do rádio, da TV, de vídeos, de filmes, de revistas em
quadrinhos, de tiras de jornais.
E mais recentemente?
De acordo com Santaella (2004, p.33)6, leitor contemporâneo é
o leitor IMERSIVO ou VIRTUAL.
Trata-se de um modo inteiramente diferente de ler. Esse leitor se
difere do leitor contemplativo e do leitor movente, pois não se trata mais
6. SANATELLA, Lucia. Navegar no ciberespaço. O perfil cognitivo do leitor imersivo.
São Paulo, Paulus, 2004.
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Material Didático para a EaD: Processo de Produção
de um leitor que tropeça, esbarra em signos físicos, materiais – como é o
caso do leitor movente –,
... mais de um leitor que navega numa tela, programando leituras,
num universo de signos evanescentes e eternamente disponíveis,
contanto que não se perca a rota que leva a eles... um leitor em
estado de prontidão, conectando-se entre nós e nexos. Num roteiro multilinear e multissequencial e, ainda, labiríntico que ele próprio
ajudou a construir ao interagir com nós entre palavras, documentação, músicas e vídeo. (...)
Um leitor implodido, cuja subjetividade se mescla na hipersubjetividade de infinitos textos num grande caleidoscópio tridimensional
em que cada novo nó e nexo pode conter uma outra grande rede
numa outra dimensão.
Nesse processo de facilitação tecnológica, qualquer signo pode
ser recebido, estocado, difundido por computador, por telecomunicação
e informática, cujos suportes multimídia e linguagem hipermídia possibilitam o hipertexto com a liberdade de escolha, de nexos. Iniciativa de
direções e rotas.
Essas potencialidades envolvem transformações sensórias,
perceptivas e cognitivas que trazem novas possibilidades de sensibilidade corporal, física e mental. Para se decidir por nós, nexos, direções e
rotas, diferentemente do leitor contemplativo e do leitor movente, o
leitor imersivo depende de tipos de ações e controles perceptivos que
resultam da decodificação ágil de sinais e, ainda, de comportamento e
decisões cognitivas alicerçados em operações inferenciais, métodos de
busca e de solução de problemas. Essas funções são perceptivas no toque
do mouse, que depende da polissensorialidade sinestésica e motora.
Nas telas de hipermídia, a combinatória plurissensorial que
nosso cérebro pratica, é possível fora dele, na tela, pelo movimento do
mouse.
Estamos falando do texto que não é linear, não é aquele texto
apenas passado do impresso para o computador ou divulgado na rede.
Material Didático para a EaD: Processo de Produção
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Estamos falando do texto que o leitor constrói, à medida que
opta por vias, nexos de sua preferência, ou seja, não há linearidade de
escrita, de proposição ou de leitura.
É possível considerar, contemporaneamente, que possamos nos
dirigir a um leitor que se identifique apenas com UM dos leitores
da tipologia estudada até aqui?
Toda proposta de produção de material didático para a EAD
pode ser veiculada em TODOS os meios apresentados?
Fundamente sua resposta, de acordo com a área em que atua e
leve suas reflexões para o Fórum.
PARTE II
A EAD E OS PROCESSOS COMUNICATIVOS
Lévy (1999)7 identifica três diferentes formas de comunicação:
- uma (olho no olho, ou pode ser também por telefone e,
recentemente, por e-mail);
- um para milhões (todos os processos de comunicação
engendrados pelos meios de comunicação de massa:
jornal/revista impressos, rádio, TV;
- milhões para milhões: com o advento da internet.
Cabe, aqui, diferenciar quando se usa recurso e quando o meio
se constitui em processo de construção de conhecimento.
O quadro de giz, o quadro de pregas, mais antigamente, e, mais
recentemente, o retroprojetor, hoje o datashow, podem comutar-se para
ser apresentado algum conteúdo. A TV, o vídeo, para apresentação de um
material relacionado com o que se está abordando, podem ser recursos.
7. LÉVY, Pierre. Cibercultura. São Paulo: Ed. 34, 1996.
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Material Didático para a EaD: Processo de Produção
Todavia, quando se concebe que a presença física do interlocutor (professor) pode ser substituída e, portanto, um dos meios pode estabelecer a interação/interlocução, começa-se a conceber diferentemente o
paradigma educacional. Não mais – e apenas – a educação presencial
com a ajuda de recursos, mas, e principalmente, a educação não presencial mediada.
Mediada por impressos, por mídias e por mídias interativas.
Juntamente com aquele, move-se o paradigma da comunicação.
Por um lado, os conceitos, as hegemonias passam a ser revistos.
Por outro, as inovações tecnológicas nos obrigam a reconceber comunicação.
De uso como recursos, rádio, TV e vídeo, constituem-se em
processos de construção de conhecimento.
É o paradigma educacional emergente (MORAES, 1999)8 que,
num só bojo, revê educação, ensino, linguagem e comunicação.
A educação já pode se dar fora da escola em tempos diferentes
da grade escolar. O ensino já pode fugir da verborragia. A linguagem,
portanto, amplia-se para todas as formas de expressão. Consequentemente, comunicar-se, interagir, passa a pressupor o outro na construção
dos sentidos.
A recepção – de lugar passivo – passa a ser espaço de interação.
O que se entendia por emissão-recepção se modifica. Conforme Possari
(2002, p.97)9,
[...] o emissor muda de papel. Não mais emite uma mensagem, no sentido funcionalista do termo(...) constrói um
sistema... um conjunto, no qual são previstos encaixes,
vias de circulação como sinais elementares de apontamentos e referências.
Para Silva (2000, p.116-117)10,
[...] o autor se transforma em construtor de espaços
8. MORAES, Maria C. O Paradigma educacional emergente. São Paulo: Papirus, 1999.
9. POSSARI, Lúcia H. V. Comunicação e Educação: novo conceito de espaço(tempo). In:
Cadernos de Educação. Cuiabá: EDUNIC. V.5.,n.1,2002.
10. SILVA, Marco. Sala DE AULA INTERATIVA. Rio: Quart, 2000.
Material Didático para a EaD: Processo de Produção
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visuais e sonoros, universos pré-construídos onde podem
e devem ser combinadas linguagens de grafismos, sons e
imagens. Para o autor, o espírito permanece o mesmo,
mais ou menos no lugar de construir classicamente uma
rota, ele constrói uma rede e define um conjunto de territórios desenhados por essa rede.
O receptor é coautor. No processo de interação, há a recursividade permanente. Para Silva (2000,P.164)11, o emissor é o receptor em
potencial,e o receptor é emissor em potencial, os dois polos codificam e
decodificam.
Possari (2001, p.97)12 acrescenta: [...] o emissor disponibiliza a
possibilidade de múltiplas redes articulatórias e, ainda, oferece informações em redes de conexões, o interlocutor encontra gama de associações
e de significações.
A Educação a Distância potencializa os fundamentos teóricometodológicos abordados quanto à comunicação. Por suas peculiaridades, evoca pragmaticamente interação e interatividade,
ambas exigem a historicidade dos processos de comunicação: as
possibilidades de interlocução mediadas por tecnologias (diferentes em cada fase da história) e, ainda, os processos virtuais de
linguagem e interação.
Faz-se necessário, aqui, distinguir, mais uma vez, a interação da
interatividade.
Você seria capaz de estabelecer diferenças entre esses
processos?
A interação é a condição de os dois polos “inter-agirem” para a
11. SILVA, Marco. Sala de aula Interativa. Rio: Quartet, 2000.
12. POSSARI, Lucia H.V. Texto Impresso II. In: Laboratório de produção para a Educação
a distância. Curitiba: NEAD/UNIREDE, 2001.
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Material Didático para a EaD: Processo de Produção
construção de sentidos. A interatividade diz respeito à ação do receptor
que é a de interferir, modificar o que está sendo objeto de construção de
sentidos/de conhecimento. Isto equivale a dizer que interatividade pressupõe que o autor/emissor/professor construa uma rede, um conjunto de
possibilidades a explorar, ofereça um conjunto intrincado de lugares
dispostos à interferência e às modificações; mensagem modificável em
mutação do leitor/receptor/aluno.
Em Educação a Distância, os textos se constituem como mediadores da interação entre os sujeitos da prática pedagógica e podem ser
veiculados como:
- material impresso, em que os interlocutores estão distantes no
tempo e no espaço e, que também, por essa razão, a linguagem
escrita pode ser considerada adequada. Todavia, somente
poderá ser considerada apropriada, se o texto estiver dotado
das condições de textualidade e terem sidos observadas as
dimensões de que falamos na Unidade I;
- fitas audiocassete, ou CDs em que a linguagem oral, assim
como a escrita, necessita ser clara, concisa, coesa, coerente,
devendo contar, ainda, com os recursos de entonação e de
ritmo;
- fitas videocassete, ou CDs ou DVDs, cujo texto é a imbricação
das linguagens verbal e não verbal, e ambas têm que ser adequadas para se complementar no processo de significação;
- teleconferências e videoconferências (em que a interlocução é
“ao vivo”), a fala tem a função preponderantemente explicitadora;
- e-mails, sites, home pages, em que a hipertextualidade permeia a interlocução;
- e tantos quantos vierem... .
Possari (2002, p.32) acrescenta que o ciberespaço é o dispositivo de comunicação interativa como instrumento de inteligência coletiva.
Em Educação a Distância possibilita desenvolver sistemas de aprendizagem cooperativa em rede.
Material Didático para a EaD: Processo de Produção
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Impõe-se, dessa, forma, a reflexão sobre o fato de permitir que
todos os recursos didáticos – livros-textos, vídeos, computadores –
devem reunir-se numa única via de trabalho de cunho interativo, inserido
nas redes de alcance mais amplo que farão chegar informação escrita, por
áudio ou por vídeo, que poderão ser compartilhadas por muitos, combinando a multiplicidade de imagens e ritmos com variedade de falas, de
músicas, sons, e textos escritos.
A riqueza dessas combinações toca e impele o leitor a produzir
sentidos, não necessariamente verbais, lógicos. A imagem mostra,
a palavra explica, a música sensibiliza e o ritmo retém. Essas
funções se intercambiam, se sobrepõem.
As mídias interativas ampliam essas possibilidades para o que
Moran (1995, p.8)13 chama de formas sofisticadas de comunicação:
[...] sensorial, multidimensional, de superposição de
linguagens e mensagens que facilitam a aprendizagem e
condicionam outras formas de espaço de comunicação.
O hipertexto, na condição de ato de criação, de leitura, de coautoria, enseja interpretações/criações diferenciadas. Desconsideram-se,
para tal, as fronteiras entre autor/leitor. Ambos são coprodutores.
A condição do hipertexto é a interatividade. Interativa, nesse
sentido, é a possibilidade de buscar sentidos não linearmente, e sim
comandando(o leitor) um programa.
Escrever, produzir texto escrito, para ser publicado pela rede de
computadores se diferencia apenas, porque, desligando-se a tela, o
texto se arrefece. Todavia, o computador, as redes, eles nos inserem em novo espaço da escrita. Tanto o letramento quanto a tecno-
13. MORAN, José. M. Como ver televisão. São Paulo: Paulinas, 1995.
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Material Didático para a EaD: Processo de Produção
logia carregam conflitos ideológicos configurados sóciohistoricamente. O espaço de que falamos é cognitivo: além de
solicitar revisão de estratégias de leitura, exige a simbiose completa autor-leitor.
Uma concepção de Educação a Distância que nos parece
adequada (POSSARI e NEDER, 2001)14, tem esses predicados:
Que propõe construção de conhecimentos elaborados, num
processo dialógico, em que os polos interajam para produção de
sentidos. Para isso, é preciso construir significados, o que compreende dar estrutura, edificar, fabricar, organizar, dispor, arquitetar,
formar, conceber, elaborar. Essa construção é determinada pela
situação comunicativa, pelas identidades sócio-históricas dos
participantes (autor-leitor), bem como de seus planos, interesses
e objetivos.
Há que evidenciar que não se fala aqui apenas de informações,
nem de sua forma de expressão ou veículo. Fala-se de um processo de
interlocução em que, para construir o conhecimento nas redes de relações, se pressuponha um leitor ativo. No caso do texto escrito, divulgá-lo
na rede é uma forma de disponibilizá-lo para muitos. Caracteriza-se em
UM PARA MUITOS. Não constitui um hipertexto, pois as possibilidades exploratórias, ainda que dialógicas e permitindo o leitor como coautor, são sequenciais e lineares(como sói acontecer com um texto escrito).
A hipertextualidade, nesse caso, fica por conta do conceito de interferência do leitor no texto.
Afinal, para que leitores estamos escrevendo? Que tipo de texto
estamos propondo, para ser veiculado em que mídia?
Esperamos construir essas respostas no percurso deste texto.
14. POSSARI, Lúcia H.V. e NEDER, Maria L.C. Oficina para produção de material
impresso. In: Laboratório de produção para a Educação a Dsitância. Curitiba:
NEAD/UNIREDE, 2001.
Material Didático para a EaD: Processo de Produção
O que significa ser professor e ser aluno em EAD?
Para responder, você poderá revisitar os conceitos de
professor/autor e de aluno/coautor.
Fundamente sua resposta.
As possibilitações hipermidiáticas modificam as formas de
produção, de leitura e, consequentemente, as relações
professor/aluno.
Fundamente essa afirmação e leve para o Fórum para debates.
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Material Didático para a EaD: Processo de Produção
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EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA:
SUA CONCEPÇÃO COMO
PROCESSO SEMIODISCURSIVO
Lúcia Helena V. Possari
O CORPO, A PRESENÇA, A NÃO PRESENÇA
A
inerência semiótica da EAD não se limita às questões textuais
– que apontam, inclusive, para as questões discursivas –,
amplia-se, ou melhor, inicia-se no conceber a EAD politicamente, portanto ideologicamente.
Concebo ideologia, conforme Bakhtin, como fenômeno semiológico, para quem cada campo de criatividade ideológica tem seu próprio
modo de orientação para a realidade, e refrata à sua própria maneira. Para
o autor, no domínio dos signos, na esfera ideológica, existem diferenças
profundas, pois esse domínio é, ao mesmo tempo, da representação, do
símbolo, da fórmula científica etc.
Ideológico, neste caso, são as linhas de fuga para as quais apontam os Projetos de EAD. Primeiramente, as questões políticas, cujo
cerne contempla as sociais e econômicas: política afirmativa = a possibilitação a um maior número de estudantes da formação imprescindível;
isto se dá num tempo, numa simultaneidade, signos do contemporâneo.
A esse tempo, chamo de agoridade (POSSARI,2001)2: são temporalidades que exigem que se insira, na educação, o ecossistema onde
sejam configurados tempo e espaço. Quanto à espacialidade, o signo não
é o de não localização, e sim de emissão-recepção. A mediação sígnica,
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Material Didático para a EaD: Processo de Produção
os textos, os meios requerem a mudança de status de emissor (produtor
de texto) e de receptor (leitor).
A essa relação, é mais adequado chamá-la de interação.
Interagir significa atuar conjuntamente para a construção de
sentidos. Os polos autor/leitor não podem prescindir da corporificação
do texto: verbal, não verbal, hipertextual. Nem das mediações: voz,
impresso, telefone, fax, internet. Podem prescindir da presença física,
simultânea, no diálogo. Não podem prescindir da presencialidade,
garantia do processo de interlocução.
O corpo, até então, tem sido a condição da comunicação humana. Indaga-se: quem poderia prescindir da corporeidade, da presença
para se comunicar?
Maffesoli (2000)1 afirma que o denominador comum de todos
esses atos mundanos é uma copresença mais ou menos teatral, que faz
aparecer ao outro, que faz aparecer diante do outro.
Essa referência diz respeito a que, para a comunicação humana,
é imprescindível um jogo de relações, de conversações, de encontros de
toda ordem.
Longe de negar isto, o signo corporeidade na Educação a Distância assume matizes diferenciados. Pelas concepções vigentes no pensamento contemporâneo, pelas formulações históricas, pela nova prática
cotidiana mediada pela intensificação das novas tecnologias, faz-se
necessário reconceber corpo. Assim como reconceber tempo (kronos e
kairós), reconceber espaço (geográfica e simbolicamente).
Preferindo falar de corporeidade, atribuindo a ela a função sígnica(estar no lugar de algo), considero que a corporificação da educação
a distância se dá pelo texto. O texto é a presença: impressa, tele, digital,
hipertextual.
Falo de enunciação, discurso, emissão, recepção, condições de
produção textual e formações discursivas. Todos inerentes a qualquer
processo que se pretenda dialógico como o processo de construção de
conhecimentos, portanto de significados, como o da educação. Na EaD,
é condição sem a qual a interação autor/leitor não se estabelece.
1. MAFFESOLLI, M. As marcas do corpo. LIBERO ANOIII,v.2,n.6, p.46.
Material Didático para a EaD: Processo de Produção
65
O texto, sua corporificação (linguística, não verbal, hipertextual), na qualidade de signo de algo, depende do estabelecimento de relações entre as condições de produção(intenção do autor, sentidos pretendidos) e, principalmente no texto escrito(impresso ou para a WEB) a ser
deslindado como acontecimento discursivo, como unidade de sentidos,
de ligação com a historicidade, com a intertextualidade com a memória
discursiva.
Refiro-me à produção de textos propriamente dita, para o estabelecimento da interação professor/produtor/autor - aluno/leitor, e a toda
configuração textual que engendra a EAD: o Projeto, o planejamento, a
gestão, a orientação acadêmica(prática tutorial), as tecnologias.
A corporeidade, aí, engloba os significados pretendidos, de
maneira que não é possível separar-se um produtor( o autor = corpo) de
texto da produção(construção/reconstrução de significados= produção e
leitura= leitor).Tudo se envolve no ato comunicativo.
Quando do processo de interação, se mediado pelas tecnologias
de rede, menos do que considerá-los desumanizantes, deve-se considerálos, como afirma Cardoso (1999,P.45):
Para além da funcionalidade econômica ou prática dos objetos
técnicos, entre em jogo a trama concreta da vida cotidiana(...) As máquinas encontram-se envolvidas pela trama dos investimentos subjetivos
que as elevam ao nível da presença sociocultural, transcendendo o destino de serem meros objetos destituídos de qualquer outro significado(...)
a técnica não existe independente de seu uso.(...) O percurso aponta na
direção de uma convergência do exterior ao corpo para o interior ao corpo, no sentido de tornar parte integrante do corpo às extensões do homem
da proposta de MC LUHAN.
Os signos autor, leitor, mediações, constituem-se nas formações discursivas deste meu texto.
ASPECTOS SEMIODISCURSIVOS NA
EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
As propostas semiodiscursivas podem contribuir para a garan-
66
Material Didático para a EaD: Processo de Produção
tia da cientificidade do processo ensino-aprendizagem, da flexibilização
curricular, da descentralização da gestão educacional, signos estes que,
na educação presencial, não permitiam o protagonismo2 do sujeitos da
ação pedagógica, ou seja, os produtores/leitores de textos, alunos e professores.
O que caracteriza a EaD é, dentre outros, a não imprescindibilidade da presença (no ato comunicativo). O corpo, nesse caso é representado pelo texto e possibilitado pelos meios. Para além do texto impresso,
as mídias propiciam o bidirecional, a interação e a interatividade.
As mídias não se constituem, na verdade, na relação direta com
o receptor ou com os grupos de receptores. Outros fatores de mediação
contribuem para os efeitos de sentidos. Para isso, concebe-se recepção
como interação: o receptor não mais pode ser considerado passivo; a
interação tem que ser mediada, e não necessariamente se dá no momento
do ato comunicativo.
A referência anterior diz respeito a qualquer tecnologia pela
qual se opte para a produção de sentidos: o impresso, o meio magnético,
o hipertexto, o computador, a internet, o audiovisual, a videoconferência,
a teleconferência, etc., cunhadas como tecnologias de inteligência.
O signo-texto (verbal ou não verbal) é a materialidade do diálogo para o processo de interação e se constitui no armazenamento de textos que se vêem obrigados a uma adequação de propósitos, de alteração
dos modos como se operacionalizam e se decodificam, o que modifica a
relação produtor/leitor imposta milenarmente pela centralidade discursiva do livro e da escola.
Cabe esclarecer que o texto não tem uma materialidade autônoma, como instrumento mediador, como expressão de pensamento, nem
como meio para se chegar às coisas. O texto é o instituinte da dialogia,
desloca-se da função de apenas representar o real – transportar conhecimento –, é condição de interação.
Os textos comumente usados em EAD variam de acordo com as
2. De acordo com POSSARI(2002,p.25), por protagonistas entende-se sejam aqueles que
têm importância na cena: o produtor do texto, o receptor do texto. Ambos vão construir
significados e reconstruir sentidos.
Material Didático para a EaD: Processo de Produção
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condições em que se dará a interação, os recursos disponíveis, os objetivos da interlocução(ensino-aprendizagem). A voz, usada nas seções de
orientação acadêmica, institucionalizada ou nos esclarecimentos esporádicos solicitados ao autor de textos; os textos escritos impressos – desde
a EAD epistolar, passando pelos produtos impressos:cadernos, revistas,
etc., até a publicação eletrônica nas redes e os correios eletrônicos; os
hipertextos inscritos em CD-ROM ou disponibilizados nas redes.
A voz e o texto escrito vão se constituir num capítulo à parte.
Qualquer que seja a opção pelo signo-texto, dois conceitos
determinam os fios diálógicos: INTERAÇÃO E INTERATIVIDADE.
Possari (2002, p.42) postula: ao falar em interatividade, é preciso diferenciá-la da interação. A segunda é, conforme preceitos bakhtinianos: diálogo, interação, troca ENTRE interlocutores humanos, humanos
e máquinas e humanos(usuários de serviços). A 1ª é possibilidade de agir,
intervir SOBRE programas e conteúdo.
SILVA(2000) afirma que a interatividade compreende níveis:
grau zero(ausência) linear; avanços e retorno, arborescente; videografia:
escolha por menu; linguística: videotexto, palavra-chave, afim de compor mensagens, comando contínuo, manipulação, modificação e deslocamento.
Pode ser entendida ainda como a capacidade do sistema de acolher a necessidade do usuário e satisfazê-lo. Essa condição a faz diferente
dos processos comunicacionais audiovisuais tradicionais, pois o leitor,
na interatividade, é o usuário operador que assume o papel de coautoria
do texto. Se a interação tem como princípio o sociointeracionista, a interatividade é construtivista.
Interagir é tornar-se humano. É, um processo de interlocução,
trocar com outros, saberes, afetos, desafetos. Mesmo na interlocução
oral = olho no olho, ou na leitura do texto escrito, faz-se necessário interagirem autor/leitor. Por isso, é válido afirmar que interação não é exclusivo de EAD, é condição humana, de vida.
A interatividade, por sua vez, é propriedade imanente dos textos
que possibilitam que o leitor interfira. Nos textos escritos, você pode
concordar, discordar, dizer que se fosse você faria de outro modo, fazer
paráfrase do texto; nos hipertextos, como no CD-ROM, ou nos da Inter-
68
Material Didático para a EaD: Processo de Produção
net, pode optar pelas trilhas que melhor lhe aprouver, modificá-los, etc.
Os textos eletrônicos são os que mais possibilitam a interatividade3.
Nos textos da WEB, os links a serem feitos, com o restante de
toda rede de cruzamentos e bifurcações, constituem-se pela seleção,
organização e filtro de possibilidades. Possari (2002) compara ao rizoma
(DELEUZE E GUATARI,1995): um ponto de fuga que põe em contato
um mundo de informações.
Na WEB não existe hierarquia, portanto nem linearidade,
sequência predeterminada. Entretanto cada site por sua caracterização é
diferenciado e se faz agente de seleção e hierarquização. Por não ser linear não há predeterminação dinâmica ou estrutural.
As metáforas da navegação e do surfe são adequadas aos procedimentos interativos(não interacionais) da WEB.
O e-mail, por sua vez, constitui-se numa das formas legítimas
da interação: envia-se um e-mail a um interlocutor determinado. O que se
diz e o que se pretende como efeito de sentido será regulado pelo propósito do texto, pelo grau de intimidade – que determinará, por sua vez, o
grau de formalidade. A resposta poderá ocorrer de acordo com o que foi
tencionado ou não. Não há previsibilidade.
Quando o e-mail é enviado por um emissor para um interlocutor
coletivo, o que vai determinar a adequação da linguagem, da abordagem,
será uma imagem única, coletiva, delineada pelo emitente.
Individual ou coletivo, o e-mail é interacional. Todavia, sem a
previsibilidade, o interlocutor poderá inserir tópicos, incorporar trechos
e devolvê-lo diferente ou enviá-lo a outros em outra forma. Houve a interatividade.
Conforme Possari (2002), ler, no processo interativo, significa
hibridar, escolher, optar, decidir, montar, colar, ressignificar.
3. Chama minha atenção o deslumbramento para as possibilidades que a hipermídia
entreabre.
Esquecem-se os deslumbrados de que tirar trechos escritos e redistribuí-los em outra
forma de organização - como nas cópias de livros há algum tempo, ou selecionar em
xerox e colar como adequado para produzir texto escolar, mais recentemente, é fazer
interatividade. É claro que, na atualidade da rede, é deslocar-se para onde se quer.
Material Didático para a EaD: Processo de Produção
69
A interatividade possibilitada pelas mídias atuais pressupõe
falar de virtualizações.
O virtual se caracteriza por três tipos: a imersão, a presença e a
telepresença.
A imersão é condição de o sistema cativar os sentidos e bloquear estímulos do mundo físico. Chamada de realidade virtual, compreende
os dispositivos de 3ª dimensão –3D: capacetes, óculos, luvas que, ao se
acoplarem ao corpo físico, imprimem sensações.
O signo-corpo se faz presente: um signo ambíguo: ele mesmo, e
ele se anulando para experimentar sensações, pulsações da prótese. É
uma unidade implícita e confusa. Está modificado pela variedade de
intervenções virtuais que plasmam a percepção e se fazem matrizes da
comunicação. É a convergência do exterior para o interior. Os sentidos
são integrados pelas extensões. Assim, desfaz-se o que, na história, acostumou-se: a velha e emblemática batalha entre homem/máquina. A simbiose é gerenciada pela cibernética, é a comunhão das linguagens.
A presença ou a ilusão da presença garante a sensação da presença: a virtualização, o alcance da vividez da informação sensorial, a habilidade para “ver”, “ouvir”, “tocar” e modificar o que propõe a prótese.
A telepresença é exemplificada nas teleconferências e nas videoconferências. As primeiras podem se dar pelo rádio, pelo telefone ou
pela TV. As segundas, pelos sinais de satélite, pelas redes e pela simultaneidade de interlocução e interação.
Seja qual for a natureza do ato comunicativo, há uma corporeidade em jogo, pois as produções de sentidos ocorrerão, a partir da capacidade de percepção do outro no jogo de significados. Se a virtualização
promove uma ilusão da desmaterialização e da desrealização, toda condição de comunicação e interação se dá pela corporeidade de interlocutores presentes, ou não, simultaneamente no ato comunicativo, o que, para
Maffesoli (2000), é a indispensável ilusão do corpo: como forma, na
interseção de diferentes domínios e a possibilitação do contato. Nas relações interlocutivas, onde os sentidos estão inscritos histórica e socialmente, e na forma enquanto limite, fronteira, interseccionada ou não com
as interfaces.
Retomo o que inicialmente concebi: o signo: o que está no lugar
70
Material Didático para a EaD: Processo de Produção
de outra coisa: tudo está no lugar dos sentidos que não são dados, têm que
ser construídos na relação entre interlocutores, presenciais ou por virtualização.
O signo seja ele por representação, seja por indiciação, seja por
simbolização constitui-se na materialidade – condição de interação4.
Os signos que representam, trazem em seu cerne uma característica de apreensão de fenômenos de primeiridade. Sua categoria é icônica, na medida em que representa por aparência visual ou fônica com o
que quer fazer significar. Não será necessário, por parte do interlocutor,
esforço para além da identificação. Esse quali-signo se dá a conhecer por
ele mesmo.
Em linguagem verbal, exemplifica-se pela metáfora, pela onomatopéia.
Em linguagem não verbal, exemplifica-se por todas as figuras,
desenhos, fotos de pessoas, objetos, animais. Na tela do computador,
são chamadas de ícones todas as representações (figurinhas da impressora – para imprimir; do disquete – para gravar; da tesoura – para colar e
por aí vai.).
Os signos que são indiciais, por sua vez, caraterizam-se como
fenômeno de apreensão de secundidade. Para significar, impõem ao interlocutor procurar/estabelecer pistas e relações de causa/consequência.
Verbalmente, os índices podem ser os AINDA, ATÉ, os
ÍSSIMOS.
Não segmentais podem ser a entonação, a entoação, o timbre.
Não verbalmente, as marcas de pneus deixadas numa pista depois de uma freada.
Em qualquer texto, as marcas, pistas da preferência do autor por
tal abordagem; as tonalidades de um quadro para dizer do calor, do frio;
nos textos publicitários como argumentos etc.
Os signos simbólicos estão engendrados pela condição de terceiridade, de convenção. Então, todas as linguagens, todos os textos são
simbólicos? Sim!
4. A trilogia dos signos aqui é embasada em Peirce.
Material Didático para a EaD: Processo de Produção
71
Verbalmente, a linguagem é um legi-signo, convencionado
como idioma, como atos de fala, como processos de interlocução.
Os signos não verbais se convencionam culturalmente5: como
já dito, as linguagens e o uso delas para interação6, os símbolos pátrios,
sexuais, religiosos etc.
O SIGNO-TEXTO EM EAD
Pelo que já foi exposto, não se prescinde da presença de um
corpo para se fazer significar. Todavia, se a interlocução e a interação
não forem simultâneas, concomitantes, faz-se necessário construção
e reconstrução textual que garantam a inteligibilidade do texto(verbal
ou não) e que estejam garantidas por regras conversacionais e interacionais7.
Falar de texto implica falar de linguagem, de leitura, de textualidade, de interlocução, de condições de produção.
Pode-se conceber a linguagem como expressão do pensamento,
como comunicação e como interação. Pode-se concebê-la como gama
intrincada de formas de comunicação social, como língua (idioma).
Pode-se conceber texto como tudo o que está escrito, como
todas as formas passíveis de compreensão e atribuição de sentidos.
Pode-se conceber leitura como advento de processo de alfabetização e, portanto, leitura do texto escrito; como atribuição de sentidos a
todas as formas passíveis.
Pode-se, mas, neste texto, concebo linguagem como interação,
texto como corporificação: condição de estabelecimento da interação e
leitura como atribuição de sentidos. Isto enseja observações como estas:
Todo enunciado... é linguisticamente descritível como uma
série de pontos de deriva possível, oferecendo lugar a interpretação. Ele é
5. Concebe-se cultura semioticamente com teias de significado (Geertz e Weber)
6. e ideologicamente (Bakhtin(1997)
7. Ainda que a ancoragem teórica seja a da Análise do Discurso, da Pragmática, da Filosofia
da Linguagem, da Teoria da Enunciação entre outras, estendo os princípios de interação e
condições de produção para todos os tipos de textos: verbais e não verbais.
72
Material Didático para a EaD: Processo de Produção
suscetível de ser/tornar-se outro. Esse lugar do outro enunciado é o lugar
da interpretação, manifestação do inconsciente e da ideologia na produção dos sentidos e na constituição de sujeitos. É também em relação à
interpretação que podemos considerar o discurso(o exterior) como alteridade discursiva. É porque há o outro na alteridade e na história, correspondente a este linguageiro discursivo.., aí pode haver a ligação, a identificação, a transferência...existência de relação abrindo possibilidades de
interpretar8.
Todo texto é híbrido ou heterogêneo quanto à sua enunciação,
no sentido que ele é sempre um tecido de vozes ou citações, conforme
Pinto (1999): cuja autoria fica marcada ou não, vindas de outros textos
preexistentes, contemporâneos ou do passado.
Toda produção, dessa forma, seja em que linguagem/mídia for:
– escrita impressa, escrita para a rede, CD-ROM, fita audiocassete, videocassete etc –, pressupõe condições de produção. Aquilo que está sendo
produzido como texto não encerra significados em si mesmo, o autor não
é dono da verdade ou leitor, onisciente. Está a depender da polifonia, de
tudo o que já foi dito/lido sobre o tema. É no intervalo semântico, no
interdiscurso que se produzem os sentidos.
Na prática, quando se prepara uma aula, quando se produz um
texto, tem-se em mente o para quem=interlocutor – seu nível, seu grau
de conhecimento. Assim, busca-se adequar a linguagem, a mídia, ao
nível pressuposto do leitor/ouvinte.
No dizer de Orlandi (1991, p. 29), inclui – como não faz a linguística – o sujeito, ao mesmo tempo que o descentra, isto é, não o considera fonte responsável do sentido que produz, embora o considere como
parte desse processo de produção.
Brandão (1996) afirma que, pelo descrito acima, o sujeito passa
a ocupar uma posição privilegiada, e a linguagem passa a ser considerada
o lugar da subjetividade. O lugar que a Educação (presencial ou não )
deveria ter garantido em toda a história. Pois o sujeito, assim, incorporase como reconstrutor do discurso(interação e interatividade).
8. ORLANDI, Eni. Análise de Discurso, princípios e procedimentos. Campinas: Pontes,
1999.
Material Didático para a EaD: Processo de Produção
73
Contempla o intertexto e o interdiscurso. O primeiro compreende todo o conjunto de formulações feitas e já esquecidas que determinam
o que dizemos/escrevemos/fazemos representar. O intertexto é a repetição propositada de textos conhecidos: as referências, as citações. O dizer
não é propriedade particular. As palavras não têm dono. Elas significam
pela história e pela língua.
Os sentidos não estão soltos nem podem ser quaisquer sentidos.
Delimitam-se maneiras de condução para fazer com que os sentidos construídos pelo autor e a serem reconstruídos pelo leitor tenham uma direção. Essa direção é uma injunção de interpretação, também chamada
gestos de interpretação. O texto, por sua vez, é uma unidade de sentidos
possíveis, cuja primeira atribuição de sentidos é dada pelo próprio autor
num gesto de interpretação, que está diretamente relacionado com a
memória de dizer e com o interdiscurso.
Isto tudo tem a ver com a função-autor, com o sujeito do discurso que, enquanto tal, através do funcionamento discursivo é responsável
pelo agrupamento do discurso. É o lugar em que o autor produz um texto
com coerência, coesão, não contradição e fim(ORLANDI, 1996c).
Entende-se por fim não um fecho mas todos os pontos de fuga e
de ligações com outras filiações de sentido que se encontram na memória
e na historicidade.
No polo leitor/ouvinte/interlocutor, a atividade é a de interpretação e de re-escrita. É o espaço da atribuição de sentidos que, assim
como a função-autor, estará deteminada pelas condições de produções –
neste caso, de leituras – pelas histórias de leituras.
O signo-texto, signo-corpo, estabelece-se como ponto de
encontro entre os interlocutores. Lugar de inscrição do autor e do leitor.
Segundo VARGAS(2001), o leitor, ao ler, é o sujeito. Estará produzindo
sentidos sobre os sentidos já produzidos pelo autor.
Na EAD, segundo VARGAS(2001,p.93):
A leitura de textos na Educação a Distância é uma atividade
predominante e, portanto, olhar como esta vem sendo trabalhada, é buscar compreender como, a partir da produção de material didático, tem
início um processo de interação entre sujeitos envolvidos...no momento
mesmo da fase inicial de sua produção, o texto se torna um meio de possí-
74
Material Didático para a EaD: Processo de Produção
veis interações... os sentidos podem ser todos, mas não qualquer um. Está
pressuposto um sítio de significância, que implica...a constituição de um
leitor ideal.
O leitor ideal, de acordo com ORLANDI (1986), é aquele idealizado no ato de enunciação. Idealizado significa ter-se feito conjecturas
das histórias de leituras dele para os sentidos que se quer que ele atribua
ao texto. A autora categoriza outros dois: real e virtual. O primeiro seria
aquele cuja leitura coincidiu com as proposições de sentidos construídas
e esperadas pelo autor. O segundo é o imprevisível, aquele que, para além
das previsões do autor, atribui outros sentidos.
O leitor real é o leitor parafrástico. Ele repete os sentidos do
autor e, quando muito, o parafraseia. O leitor virtual avança e permite
que sua história de leituras amplie os sentidos: é o leitor polissêmico.
Discorrer sobre produção/autoria e produção/leitura em EAD
requer compreender que a produção do texto e sua proposta de leitura e
ato de leitura, portanto a interlocução/interação, não se dá na proporção
um para um. Dá-se na proporção um para vários. Já é sabido que o autor é
um, mas não único. Ele é um conjunto de vozes – polifonia – sobre o
tema. O leitor, por sua vez, são os alunos de determinado curso, cujas
diferentes histórias de leituras e memórias discursivas obrigam que a
leitura seja a mais polissêmica possível.
Se para um leitor determinado, idealizado, corre-se o risco de
que os sentidos a serem atribuídos não coincidam com os pretendidos,
como produzir textos, num processo de EAD, onde o polo leitor, representado por milhares de sujeitos-leitores, constitui-se por diferentes
níveis, classes, objetivos, formação escolar e, portanto, configura-se
como um espaço de conhecimento onde a resistência ou a aceitação de
significados vão se dar na arena bakhtiniana?
Essa tarefa difícil para o corpo/autor/historiciade que produz
aquele signo-texto deve ter por pressuposto as dimensões sociocomunicativas e semantico-conceitual-formais(POSSARI E NEDER, 2001).
Da mesma forma, apontar para o jogo de imagens autor/leitor e
garantir que o objetivo do texto não se perca, sejam quais forem as histórias de leitura. Todavia, já se sabe que todo o cuidado não evitará tensões
e conflitos. Mesmo trazendo suas marcas de textualidade: coerência,
Material Didático para a EaD: Processo de Produção
75
coesão, argumentação, progressão, será o outro que conseguirá/desejará
apreender, através dos signos do texto o que o autor quis fazer significar.
A materialidade linguística dará espaço à memória discursiva que poderá
inclusive – num processo de interatividade – alterar essa materialidade,
modificando gestos de interpretação e não levando em conta diferentes
posições do sujeito autor, propondo diferentes formações discursivas,
distintos recortes de memórias ensejadas por distintas relações com a
exterioridade.
Nesse momento, evoca-se, para explicar o imprevisível, a categorização de ORLANDI (1986) de tipos de discurso: autoritário, polêmico e lúdico. Autoritário, quando não permite nenhuma reversibilidade. A
paráfrase é o máximo permitido. Polêmico quando a polissemia é controlada, e o leitor poderá usar sua história de leituras e acrescentar sentidos
aos previstos pelo autor. Lúdico – e com certeza não é a proposta de
nenhum texto da educação – e a polissemia aberta onde nem mesmo a
materialidade verbal ou não verbal será levada em conta para a atribuição
de sentidos.
Não desejável, mas não impossível, o discurso lúdico pode ocorrer. O desejável é o discurso polêmico, onde se instauram os sentidos
pretendidos, acrescentam-se a eles outros e constrói-se o conhecimento,
produzindo-se novos discursos: um enorme interdiscurso. Nesse processo de interação, o leitor virtual é o mais provável. Primeiro pela multiplicidade de histórias de leituras, segundo pela oportunidade que o texto
acadêmico deve dar ao leitor para que ele reconstrua os sentidos.
Toquei, agora, num ponto delicado e doloroso de todo processo
de ensino-aprendizagem, e não menos problemático na EAD, que é a
Avaliação.
Como conferir se os sentidos pretendidos foram atribuídos, ou
em que medida foram enriquecidos? Nas propostas de avaliação (ou
seria medida?) tradicionais, prevalesceria o discurso autoritário: a não
reversibilidade, a paráfrase, no máximo. Ao se pretender instaurar o discurso polêmico, as formas de verificação da aprendizagem têm que contemplar a heterogeneidade e a dispersão, permitindo os interdiscursos. É
dessa forma que os sujeitos não serão responsabilizados pelo engendramento dos sentidos, e sim os sentidos serão constituídos pela relação
76
Material Didático para a EaD: Processo de Produção
entre os interlocutores.
Há que prever que os leitores/alunos poderão interpretar apenas
algumas das fulgurações que se destacam da constelação de sentidos
pretendidos. O que antes era controlar, delimitar, classificar e ordenar
nos processos de avaliação, devem dar lugar à dispersão. De outro modo,
estar-se-á criando a ilusão da unidade de sentido, que faz parecer que o
sentido é evidente e único.
EAD = SIGNO DE POLÍTICA INCLUSIVA
Se na EAD tudo muda- gestão, planejamento, proposta curricular - , não há de ficar de fora a avaliação. MORIN(2000) recorre a Paul
Valéry para destacar a indivisibilidade do ato de criar e do conhecimento
compreensível: criar, construir, era para ele indivisível de conhecer e
compreender. As atribuições de sentidos pretendidos necessitam de
tempo e espaço - ou seriam agoridades e espacialidades? – diferenciados
da educação presencial. Conforme MORIN (2000,p.69), existe um princípio de incerteza no exame de cada instância constitutiva do conhecimento. O repetir e o refazer garantem o que inicialmente apontei como
inerente à EAD: a política afirmativa, a não exclusão.
Envolve, no dizer de POSSARI(2002), estabelecer sinergias
entre competências, entre recursos e projetos; abrir oportunidade à construção e à manutenção de dinâmicas e memórias em comum; ativar
modos de cooperação flexíveis e transversais e distribuir coordenadamente os centros de decisão (gestão, tutoria, autoria). Para MORIN
(2000), o conhecimento só pode ser pertinente se situar o objeto no contexto e, se possível, no sistema global de que faz parte, se ele criar uma
forma incessante que separa e reúne, analisa e sintetiza, abstrai e insere
no contexto.
Sem deslumbramento ou mesmo sem apagar da memória (discursiva) a importância dos textos escritos, impressos, procedimentos
epistolares, indico que integrar através das múltiplas mídias as possíveis
produções e leituras – autores e leitores – pode significar uma melhor
forma de apropriação, por sujeitos e seus grupos, da atualização de
Material Didático para a EaD: Processo de Produção
77
conhecimentos, diminuindo os efeitos da exclusão.
O ciberespaço, dentre as possibilidades, constitui-se como dispositivo de comunicação interativo e comunitário, e ainda como instrumento de inteligência coletiva. Em EaD, permite que se desenvolvam
sistemas de aprendizagem cooperativa. Ainda mais: troca de ideias, imagens, experiências. As redes veiculam textos plurais: sonoros, visuais,
icônicos, figurativos e verbais que propiciam participação de sujeitos
diferentes em todos os sentidos e com expectativas e níveis culturais diferentes. Essa interação se dá por meio de textos-signos multifacetados.
Inserido nesse espaço, nessa espacialidade, nessa desterritorialização (Barbero,1996), o sujeito-leitor en-“reda”-se para a construção
de conhecimento, ampliando sua memória discursiva, sua história de
leituras, integrando as redes de conhecimento e tornando-se mais apto às
respostas pretendidas.
A exigência da presencialidade, do texto-objeto, da resposta
esperada pode ser revista, orientando-se por outro paradigma: o da complexidade (MORIN(2000), o de tecer unidos signo-texto-corpo.
SABER
Material Didático para a EaD: Processo de Produção
81
O TEXTO COMO ELEMENTO
DE MEDIAÇÃO
ENTRE OS SUJEITOS
DA AÇÃO EDUCATIVA
Maria Lúcia C. Neder
C
omo já afirmamos em outra passagem, no texto-base, a
produção, a seleção e a organização de textos para a EAD devem
estar atreladas ao projeto político-pedagógico do curso que se
quer desenvolver. Todo texto, concebido como material didático, deve
ser pensado e concebido no interior de uma proposta curricular, que, por
sua vez, deve ser construída na perspectiva de objetivos delineados em
um projeto político de formação. O material didático do curso,
consubstanciado através de textos, deve configurar-se no âmbito da
proposta curricular. Neder (2003), o considera um dos dinamizadores da
construção curricular e também como um balizador metodológico. É,
através do material didático, que são feitos os recortes das áreas de
conhecimento trabalhadas no curso, além do direcionamento
metodológico pretendido. Entre o material didático básico de um curso a
distância, podemos encontrar: material impresso, material audiovisual e
material multimídia.
É o material didático que possibilita que as diretrizes e os
princípios definidos no Projeto Político-Pedagógico do curso sejam
garantidos no desenvolvimento da prática pedagógica. São também os
balizadores das bases epistemológicas definidas para a sustentação das
ações pedagógicas.
82
Material Didático para a EaD: Processo de Produção
Vale a pena, aqui, fazermos uma reflexão:
Qual é a importância do Material Didático no contexto de um
projeto de EAD? Faça um texto sobre isso e participe do
FÓRUM com sua reflexão.
É mediante o material didático que se pode garantir que os
principais conceitos, definidos em cada área de conhecimento, ou disciplina, ou módulo, ou unidade, sejam realmente trabalhados no curso.
Nas relações estabelecidas entre os sujeitos da prática educativa,
o material didático se apresenta na EAD como meio para veicular os
conceitos, as idéias e as reflexões fundamentais para as construções de
sentidos que se quer produzir no desenvolvimento do currículo.
Dessa forma, o material didático se situa como um “balizador
curricular”, isto é, um referencial teórico-metodológico da proposta
pedagógica dos cursos que se desenvolvem mediante a modalidade da
EAD.
Nesse sentido, é importante que os autores desse material
compreendam que, mais do que um meio para socializar conhecimentos,
o material didático é o meio que possibilita a sustentação dos fundamentos epistemológicos concebidos para o desenvolvimento do projeto
político-pedagógico.
Os sentidos previstos no e para o processo de interação entre os
sujeitos da prática pedagógica terão, como um de seus suportes, o material organizado para o curso de EAD.
Como esse material é consubstanciado em textos de diferentes
natureza, com possibilidade também de veiculação por diferentes meios,
deve ser pensado considerando-se dimensões essenciais a qualquer tipo
de texto, a saber: sociocomunicativa e semântico-conceitual-formal1.
Essas dimensões não se apresentam em separado na construção de um
texto, uma vez que uma implica a outra.
1. Classificação extraída de VAL, Maria da Graça Costa. Redação e Textualidade.
SP:Martins Fontes, 1993.
Material Didático para a EaD: Processo de Produção
83
Em suas reflexões anteriores, você considerou o papel do
material didático na perspectiva de produzir os sentidos
previstos pelo projeto político-pedagógico no contexto das
interações entre os sujeitos?
Por texto, você já percebeu, estamos denominando uma unidade mínima de significação, qualquer que seja sua forma e extensão.
Independentemente do tipo e da natureza dos textos, as dimensões sociocomunicativa e semântico-conceitual-formal devem estar
presentes.
A Dimensão Sociocomunicativa e a Dimensão
Semântico-Conceitual-Formal.
A DIMENSÃO SOCIOCOMUNICATIVA
Como unidade significativa, o texto de qualquer tipo, acompanhando Possari e Neder (2001, p. 14), deve ter presentes certas peculiaridades do ato comunicativo, tais como:
- As intenções do produtor: devem ficar claras no texto. O que
ele pretende ao produzi-lo: convencer, impressionar, alarmar,
satirizar, informar, pedir, discordar, suscitar indagações a
respeito de determinado tema, motivar? É importante destacar aqui que, geralmente, é levada em conta, na produção
textual, a função representativa da linguagem. Isto, segundo
as autoras acima citadas, acarreta pensar a comunicação
sempre sob o enfoque da informação, como algo que se dá
sem conflito. É preciso, argumentam as autoras, observar,
todavia, que nem sempre o texto apresenta essa função e que,
por ser o mediador de uma relação entre falante (escritor) e o
ouvinte ( leitor), pode deixar transparecer a tensão que, às
vezes, envolve o texto e o contexto (sociocultural) e, igualmente os interlocutores.
84
Material Didático para a EaD: Processo de Produção
Quando produzimos nossas falas, discursos, sejam eles através
da linguagem verbal ou não verbal, nós o fazemos sempre em determinada relação, sempre com determinadas intenções e objetivos.
Faça uma reflexão sobre as intenções que você tem ao produzir
seus textos orais ou escritos para membros de sua família,
para seus amigos ou para seus alunos.
Mesmo quando um professor não produz o texto, utilizando
texto de outros autores para o diálogo com seus alunos, ele deve se preocupar com essas questões. Ao elaborar o guia didático que acompanhará
o texto, ele deve se preocupar em responder qual a intenção e objetivo do
autor com aquele texto. Todo autor, ao produzir seu texto (verbal ou não
verbal), tem intenções. Um dos papéis do professor que elabora os guias
didáticos é, justamente, auxiliar o aluno em seu processo de interlocução
com o autor do texto.
A interlocução, isto é o diálogo, no caso de textos de outro autor,
não será direta e exclusiva entre autor/leitor (aluno). O professor estará,
por meio de seu guia didático, intermediando o diálogo. Isso requer do
professor/mediador muita responsabilidade, uma vez que, ao fazer essa
mediação, estará trazendo seu processo de interpretação do texto.
Por isso, é importante um mergulho no texto escolhido, para
tentar extrair respostas para as perguntas: O que pretendia o autor ao
produzir esse texto? Quais suas intenções? O que ele propõe, através do
texto, para alcançar seu objetivo?
Com base nesses questionamentos, o professor/mediador deve
buscar, através da organização de seu guia, garantir que o aluno possa
produzir um diálogo verdadeiramente profícuo com o autor. Isto não
implica necessariamente um “aceitar” ideias ou posição do autor do texto
em questão. Não se esqueça de que você, como mediador, pode provocar
uma discussão entre o aluno e o autor.
Vejamos, agora, outra peculiaridade do texto, seja ele escrito seja audiovisual, seja multimídia:
- O jogo de imagens mentais entre os interlocutores. Segun-
Material Didático para a EaD: Processo de Produção
85
do Possari e Neder, esse jogo faz parte do processo de comunicação, portanto ele está presente sempre no processo de construção de texto de qualquer natureza e tipo. Se a linguagem é
um processo de interação entre falante(autor) e ouvinte(leitor), é preciso ter presente a interação entre falante(produtor)
e ouvinte(leitor) no processo de interlocução.
Assim, ao se produzir um texto, devem estar presentes os jogos
de imagens mentais que cada um dos interlocutores faz de si, do outro, e
do outro com relação a si e ao tema do discurso.
Você já tinha parado alguma vez para pensar sobre isso? Quando
você produz um texto oral ou escrito, por exemplo, leva em
conta essas questões?
Elas são importantíssimas, uma vez que ajudam o autor a situar
seu interlocutor. Se a linguagem é social, seus sujeitos (interlocutores)
não são abstratos e ideais. Eles devem ser pensados em situação real da
vida social: onde vivem, participam de quais grupos culturais, onde
trabalham, que tipo de atividades desenvolvem, que nível de escolaridade possuem, o que sabem sobre esse assunto que estamos trabalhando,
que leituras têm a respeito da temática estudada, que recursos têm à
disposição para auxiliá-los, etc. Todas essas são questões que devem
estar presentes no processo de produção textual.
É preciso, ainda, estar atento para o fato de que nossas falas e
textos, por estarem situados em determinado contexto sociocultural,
implicam nossa visão de mundo. As posições político-metodológicas
sempre afloram nos discursos.
Nessa dimensão da produção textual deve ser considerada a
questão da intertextualidade. Possari e Neder afirmam que um texto
sempre depende do conhecimento de outros textos. É preciso, por isso,
continuam as autoras, que haja uma preocupação com as ideias apresentadas. Se forem inusitadas, por exemplo, deve haver uma preocupação
por parte do autor com a inferência de dados que permitam a interlocu-
86
Material Didático para a EaD: Processo de Produção
ção. Por outro lado, lembram as autoras, um grau elevado de previsibilidade, como o uso exagerado de estereótipos (frases feitas/clichês), fala
padronizada, deixa o texto desprovido de interesse.
Nossa, deve estar pensando você: “quanta coisa devo
considerar ao produzir um texto”. Acrescentamos
outro item em sua indagação: E se você não é o autor do
texto, apenas está organizando um guia didático, o que
estas questões todas têm a ver?
Conhecendo tudo isso a respeito do jogo de imagens que está
previsto no processo de interlocução entre falante (autor) e ouvinte
(leitor), quando o professor ou a equipe de ensino selecionarem um texto
para ser trabalhado em determinado curso devem fazer um inventário
dessas questões, ressaltando:
- Quem é o interlocutor previsto pelo autor?
- O que o autor pensa de seu interlocutor?
- O que ele pensa que seu interlocutor pensa dele?
- O que ele pressupõe que seu interlocutor sabe sobre o assunto?
- Que outros conhecimentos ele prevê que o interlocutor já
possui?
Alicerçado em uma reflexão a respeito dessas questões, o
professor mediador entre autor/leitor (aluno) deve analisar se os sujeitos
previstos pelo autor condizem com os sujeitos do curso para o qual ele
está contribuindo. Se não condizem, o que fazer para auxiliá-los nessa
interlocução, já que o assunto, a abordagem e a discussão propostos pelo
autor do texto são imprescindíveis na construção e na produção dos
conhecimentos previstos no projeto do curso em apreço.
Que propõe construção de conhecimentos elaborados, num
processo dialógico, em que os polos interajam para produção de
sentidos. Para isso, é preciso construir significados, o que compre-
Material Didático para a EaD: Processo de Produção
87
ende dar estrutura, edificar, fabricar, organizar, dispor, arquitetar,
formar, conceber, elaborar. Essa construção é determinada pela
situação comunicativa, pelas identidades sócio-históricas dos
participantes (autor-leitor), bem como de seus planos, interesses
e objetivos.
Além dessa dimensão do texto vista até aqui, há outras que
implicam, sobretudo, trabalhar com as especificidades da natureza e
tipologia de cada texto em particular, o que trabalharemos mais detalhadamente em nossa segunda unidade.
Essas peculiaridades dizem respeito mais de perto à dimensão
que denominamos de semântico-conceitual-formal, abordada a seguir.
Dimensão Semântico-Conceitual-Formal
Esta dimensão, como o próprio nome aponta, diz respeito à
questão do significado. Nesta dimensão, estão presentes os fatores responsáveis, portanto, pelo sentido do texto. Cada tipo de texto, de acordo
com sua natureza, possui determinadas propriedades que garantem sua
textualidade.
Macedo (1975), analisando esse aspecto no que diz respeito ao
texto verbal (oral ou escrito), define como textualidade: “as propriedades que garantem que da mesma forma que um conjunto de palavras não
produz uma frase, um conjunto de frases não forma, necessariamente,
um texto”.
Extrapolando os limites do texto verbal, podemos fazer a
mesma analogia com os textos não verbais: um conjunto de imagens não
forma, necessariamente, um texto não verbal, assim como um conjunto
de notas não forma, necessariamente, uma música.
Para ser considerado texto, qualquer manifestação de linguagem, verbal ou não verbal, deve apresentar as seguintes características:
- ser uma unidade de sentido;
- apresentar marcas da interação entre autor/leitor;
- apresentar marcas do contexto de situação onde se inserem os
sujeitos da interação.
88
Material Didático para a EaD: Processo de Produção
Para que um texto possa ser considerado texto, é preciso que
traga presentes as marcas de textualidade. Cada linguagem tem suas
peculiaridades, que devem ser observadas pelo produtor para garantir o
processo de significação de seu texto. Para buscar tornar seu texto significativo, o autor deve compreender que a possibilidade do significado
não está somente nele, autor, tampouco apenas em seu texto. O processo
de significação que é constitutivo do ato de produzir texto e de produzir
leitura, segundo Possari e Neder, envolve sempre autor, leitor e texto.
O autor, explicam as autoras acima, tem sua história de leituras,
seu propósito. Para a consecução de seu propósito, ele constrói um texto,
cujos elementos de tessitura, cujos signos que o veiculam, carregam o
que se pretende. Ao receber o texto, o leitor, também com sua história de
leituras, de acordo com seu repertório (verbal ou não verbal), poderá/conseguirá, ou não, apreender, através dos signos do texto, o que o
autor quer fazer significar. Pode ser que o leitor seja idealizado pelo autor
e atinja o objetivo pretendido, pode ser que a competência comunicativa
do leitor não lhe permita, pelas pistas do texto, entender o pretendido.
Pode ser que sua história de leituras não lhe permita um tipo de
entendimento, mas lhe possibilite outros. O processo de significação de
um texto só será possível, portanto, quando do encontro/diálogo/interlocução do autor-leitor mediado pelo texto.
Para finalizar essa parte, gostaria de lembrar que, embora cada
tipo de texto, em razão de todos esses elementos até agora expostos,
tenha suas características e peculiaridades que os fazem únicos, há uma
intensa intertextualidade e interdiscursividade (rede de relações e abordagens) entre eles.
Continuando com Possari e Neder, é importante não esquecer
que a interpretação, isto é, a produção de sentidos traz sempre imbricadas
diferentes linguagens e diferentes dimensões, que tanto o autor quanto o
produtor de guia didático devem ter presente, na perspectiva do planejamento e produção do material didático para a EAD.
Vale ressaltar, nesse momento, que um curso em EAD comporta
textos de diferente natureza e tipologia.
E mais: que os textos produzidos para a EAD se apresentam
como elementos importantes no tocante à interação entre os sujeitos da
prática educativa e também como dinamizadores curriculares, na medida
em que são pensados e organizados com vista à construção dos sentidos
89
Material Didático para a EaD: Processo de Produção
previstos no projeto político-pedagógico do curso.
Todavia, é imprescindível que os textos produzidos especificamente para um curso de EAD sejam concebidos no contexto de uma rede
de relações com outros textos, na perspectiva de abrangência e aprofundamento dos conceitos teórico-metodológicos trabalhados nas áreas de
conhecimento, disciplinas e/ou módulos.
Veja, a seguir, uma ilustração nesse sentido. Na cor preta, os
textos produzidos especificamente para determinado curso. Em cinza,
outros textos que poderão ser trabalhados para que se alcance um aprofundamento nos estudos propostos.
Textos
Escritos
Textos
de Apoio
Textos
Base
Textos
dos Alunos
Pesquisa
Livros
Textos
Internet
Hipertextos
CD-Rom
Revistas
Eletrônicas
Textos
de Jornal
Textos
Audivisuais
Vídeo
Educativo
Vídeo
Exclusivo
Vídeo
Conferência
Palestra
Seminários
Textos
Orais
Filmes
Material Didático para a EaD: Processo de Produção
91
COMUNICAÇÃO E EDUCAÇÃO:
AGORIDADES
Lúcia Helena V. Possari
AGORIDADES: educação e tecnologias
A sala de aula deve assumir-se como o lócus onde se
dão as linguagens dos media, com suas múltiplas tessituras
plurissígnicas, em que os conceitos de ensino-aprendizagem
devam deixar o enciclopedismo.
A
heterogeneidade pós-moderna traz como valor privilegiado a
diferença e, como consequência, o desbastamento da figura da
instituição. em todas as suas versões: o Estado, a família, a
escola, a universidade, o Partido – e o esfacelamento das noções de
representação e delegação.
Vem-se solicitando da escola ampliação de papéis e redefinição
dos propósitos escolares.
A par disso, os processos de sociabilidade, dependentes de
diferentes modos de ver, devem permear as formas de compreender, e,
ainda, a necessidade de ler e se produzir textos nas diversas linguagens, a
fim de que se possam dominar recursos de informática, o que implica
redimensionar os conceitos de tempo-espaço para que se aproprie de
lógicas que não são formais necessariamente nem se calcam em
princípios explicativos herméticos. Implica dizer que se assume um
compromisso com o ensino dialógico, com base em realidades comuni-
92
Material Didático para a EaD: Processo de Produção
cacionais diferenciadas, onde o que se tenciona é que o aluno aprenda a
aprender, construindo socialmente o conhecimento, indo além dos
modelos vigentes, buscando na intersubjetividade as interconexões
discursivas alimentadoras de jogos enunciativos que propiciam as
transformações dos temas em circulação.
Este é o discurso que se pretende moderno e que mantém, apesar
dos avanços do dialogismo na espacialidade e temporalidade, o ensino
presencial.
Faz-se mister, a par de não se negarem os avanços do que se
afirmou acima, reconfigurar epistemologicamente educação, num
contexto em que comunicação e informação provocam novas espacialidades e temporalidades nos espaços da educação.
Comporta frisar que ir para além da sala de aula com tecnologias
de educação, ou onde se utilizam recursos tecnológicos avançados e
informatizados na obtenção de conhecimento, é ir para além da sala de
aula que se, tecnologizada, se assume palco de teatro e sala de projeções.
Dizendo de outra forma, as tecnologias de comunicação e
informação, por si sós, trazem novas formas de compreensão do mundo,
porém o verbo – expressão de realidade desde os primórdiosda articulação vocal – também integra os processos de significação propostos. Essa
agoridade inclui as interfaces de todas as linguagens. Agoridade
pressupõe falar em tempo mas também em espaço. O avanço da tecnologia se configura em duas faces: de um lado aponta para o avanço
irreversível de toda uma gama de ciência e tecnologia, pondo-se como
questão não fechada; de outro, pressupõe a reorganização constante e
permanente da vida de todos em temporalidades menores.
Essas temporalidades exigem que se insira na educação um
ecossistema educativo onde sejam contempladas, simultaneamente,
culturas heterogêneas e o entorno das tecnologias. É preciso configurar
esse espaço-tempo educacional, sem que a construção dos saberes perca
seu encanto.
Transforma-se, dessa maneira, a recepção como espaço de
interação. Melhor dizendo ainda, o que se entendia por emissãorecepção se modifica: o emissor muda de papel. Não mais emite uma
mensagem, no sentido funcionalista do termo. Todavia, constrói um
Material Didático para a EaD: Processo de Produção
93
sistema, ou seja, um conjunto, no qual são previstos encaixes, vias de
circulação como sinais elementares de apontamentos e de referências.
De acordo com Silva (2000, p. 116-117), o autor se transforma em
construtor de espaços visuais e sonoros, universos pré-construídos onde
podem e devem ser combinadas linguagens de grafismos, sons, e
imagens. “Para o autor, o espírito permanece o mesmo, mais ou menos no
lugar de construir classicamente uma rota, ele constrói uma rede e define
um conjunto de territórios desenhados por essa rede.”
Se isto significa dar a ouvir, ler, ou assistir, ou ainda territórios a
serem explorados, o receptor muda de status.
Silva o chama de utilizador. É o interlocutor dotado de instrumentos e de possibilidades de acesso ao que foi concebido pelo emissor. Ele
poderá intervir para mudar a trajetória do que lhe está sendo proposto.
Significa interagir. Ser professor(autor) e aluno(receptor) a um só tempo.
Significa interferir, mais do que responder sim ou não. Mais do que
escolher uma opção, modifica e interfere nos assuntos tratados.
Apresenta-se como produtor conjunto – coautor –, isto porque o
processo de comunicação, entendido como interação, pressupõe
recursão da emissão e da recepção. De acordo com Silva (2000, p. 164),
“o emissor é receptor em potencial, e o receptor é emissor em potencial,
os dois polos codificam e decodificam”. Assim, se o emissor disponibiliza a possibilidade de múltiplas redes articulatórias e, ainda, oferece
informações em redes de conexões, o interlocutor encontra gama de
associações e de significações.
Dessa forma, as teorias de comunicação que davam conta
também da relação professor/aluno ampliam seu campo de atuação para
as teorias de recepção. Necessitam prever a intervenção do interlocutor,
que se torna mais avisado, mais exigente, portanto mais ativo.
Quando se fala em processo de comunicação, não se pode
reduzi-lo como aquele em que um emissor manda uma mensagem a um
receptor – através de um meio ou veículo. É preciso que se conceba a
interação como processo complexo em que o sujeito se veja à volta com a
polissemia, a ambiguidade. É a condição de estabelecimento de comunicação, que se, além da estrutura simbólica, se caracteriza pelas idas e
94
Material Didático para a EaD: Processo de Produção
vindas, por lapsos, por ambiguidades, por enganos e mal-entendidos.
Cabe, dessa forma, não mais falar MENSAGEM. Na relação, o
tema ou assunto (informação) tratados não mais dizem respeito à arvore
do saber: a árvore está fincada, enraizada. É o sistema linear arborescente
do pensamento e do conhecimento que, se permite a multiplicidade, não
permite desdobramentos, a não ser hierárquicos, pois suas bases são um
tronco que não se move. Transforma-se no que Deleuze e Guatari(1993)
chamam de rizoma, na multiplicidade sem o assentamento da base fixa e
sempre aberto a vários sentidos. Assim, a construção do conhecimento
passa a ocorrer nas possibilidades das múltiplas intervenções, redes e
conexões, na bidirecionalidade. Retraem-se aí os discursos científicos
para se tornarem interdiscursivos ou polifônicos.
Isto pressupõe rever as formas de conhecimento e o tratamento
dado pela escola à aquisição. De acordo com Mead(1980, p. 121):
Pós-figurativa, em que os jovens aprendem, através dos
adultos(...) modelo de conduta de seus contemporâneos; a préfigurativa onde adultos aprendem com jovens, onde os pares
substituem os pais, promovendo uma ruptura de gerações sem
precedentes e (...) a cofigurativa, a partir de pares, companheiros aprendizes.
Para o terceiro caso, evocam-se conceitos de Hardy (1991), de
pedagogia interativa que se desdobra em:
I- contrária à transmissão de conhecimentos por um discurso
pré-construído que aponta para que os alunos realizem
tarefas pré-construídas, obedecendo a instrução ou enunciado.
II-as interações entre docente-discente e objeto de aprendizagem e o meio são as chaves do sucesso pedagógico.
Hardy(1991) considera a pedagogia interativa como multimodal, não linear que remete ao conceito de rizoma. Para tal, o docente deve
atentar para a densa rede de relações, e permanente recuo reflexivo.
Isto implica, no dizer de MORIN (1996), a epistemologia da
Material Didático para a EaD: Processo de Produção
95
complexidade.
Criam-se novos modos de educação em que se interpenetram
conceitos de interatividade e de interação.
Entende-se por interação o processo pelo qual interlocutores
inter-agem, e decorrem daí os efeitos de sentido. Entende-se por
interlocutores os dois polos de qualquer situação de comunicação
(verbal, não verbal, mediada por tecnologias).
Quanto à interatividade, de acordo com Silva (2000), o
vocábulo é composto por dois componentes lexemáticos, o primeiro
significando entre, e o segundo, espaçamento, repartição, relação
recíproca. Mais especificamente nos casos de educação, interatividade
(assim como nas tecnologias de informática e internet) significa
interferir, modificar o que está sendo objeto de aprendizagem.
Cabe ressaltar que a modalidade interativa pressupõe um
emissor que constrói uma rede, um conjunto de possibilidades a explorar,
oferece um conjunto intrincado de lugares dispostos à interferência e às
modificações; mensagem modificável, em mutação e receptor como
coautor, criador. Ao contrário, nas outras maneiras de conceber a
comunicação, na unidirecionalidade, o emissor é um narrador, propositor; a mensagem, fechada, imutável; o receptor, passivo.
Falar de interatividade é deslocar o conceito do DO IT YOUR
SELF do momento, punk, considerado subcultura, que, no entanto, legou
a lição do FAÇA VOCÊ MESMO. É a tendência fragmentária da
indústria do entretenimento, para todas as situações de interação.
Não deve ser vista como novidade. Por volta de 250 a.C., de
acordo com Manguel (1999), foi criada uma arte que mudaria para
sempre a natureza da comunicação: escrever. Naquela época, o objetivo
era organizar uma sociedade cada vez mais complexa com leis, éditos e
regras de comércio. Escrever, grafar em tabuletas era a grande vantagem
sobre a memória – ao que Platão, em FEDRO, ataca violentamente o
deus Toth por ter inventado a escrita. Todavia, ao criar a escrita, os
registros, implicava criar leitores. Escrever exigia leitores. O escritor era
um produtor de mensagens, de signos que pediam por decodificação e
também por interatividade. Pedia a generosidade de um leitor.
De lá para cá, muito se acrescentou à tecnologia da escrita.
96
Material Didático para a EaD: Processo de Produção
Todavia, atribuir às mais recentes tecnologias a responsabilidade de
garantir saberes pode constituir-se na maneira enganosa de se ocultar
problemas de educação.
O de que se necessita é propor desafios como aquele de a
educação possibilitar ecossistema comunicativo que contemple, ao
mesmo tempo, experiências culturais heterogêneas, o entorno das
tecnologias de comunicação e informação, além de configurar o espaço
educacional como o lócus, de acordo com Barbero (1997), onde a
construção permanente de conhecimentos conserve seu encanto.
Os prolegômenos, espera-se, são concepções que, a partir de
então, possam fundamentar uma delimitação para a modalidade de
Educação a Distância.
A Educação a Distância potencializa os fundamentos teóricometodológicos abordados quanto à comunicação. Por suas peculiaridades, evoca pragmaticamente a interação, a interatividade, e ambas
exigem a historicidade dos processos de comunicação: as possibilidades
de interlocução medidas por tecnologias (diferentes em cada fase da
história) e, ainda, os processos virtuais de linguagens e interação.
Habitualmente, nos processos de interlocução presenciais ou a
distância não se tem atribuído muita importância aos efeitos de sentido.
Tem-se baseado a significação, ora na intenção do autor, ora no texto
propriamente dito. Conforme já indicado em outro passo, faz-se mister
seja levado em conta a recepção, pois o leitor, com sua história de leituras
é que atribuirá sentidos aos textos. Em Educação a Distância, essa
condição é imprescindível. Os sentidos atribuídos nem sempre serão os
pretendidos, os idealizados para o leitor, ainda que se procure garanti-los
com pistas textuais, sígnicas: sintáticas, semânticas, léxicas e não
verbais. Só serão lidas essas pistas se estiverem contempladas nas
histórias de leituras do leitor (aluno).
Para a EaD, os processos de significação propostos vêm sendo
materializados em signos, textos de diferentes naturezas e propósitos. Eilos, entre tantos:
- Material impresso, em que os interlocutores estão distantes no
tempo e no espaço, e que, também por esta razão, a linguagem
Material Didático para a EaD: Processo de Produção
97
escrita pode ser considerada adequada. Todavia, só poderá ser
considerada apropriada se o texto escrito estiver dotado das
condições de textualidade, cuja tessitura evidencie: coesão,
coerência, progressão e argumentação. Só dessa forma se
instaura a possibilidade de dialogicidade que permeia o texto,
a fim de que, mesmo a distância, e não podendo utilizar-se dos
recursos paralinguísticos, como entonação, gestos, modificações na face, entre outros, possa fazer-se compreender e
permitir uma gama de possibilidades de atribuição de
sentidos;
- As fitas audiocassete, em que a linguagem - tanto oral quanto
escrita - necessita ser clara, concisa, coesa, coerente e pode
contar com os recursos de entonação, ritmo;
- As fitas videocassete cujo texto é a imbricação das linguagens
verbais e não verbais, em complementação, em que uma não é
mais importante que outra, mas se adequam aos propósitos;
- As teleconferências, em que a interlocução e a interação é “ao
vivo” e se utiliza dos recursos audiovisuais, tendo a fala a
função preponderante e explicitadora;
- E-mails, sites, homepages, CD-ROMs, etc, em que a hipertextualidade medeia a interlocução.
Depreende-se, dessa maneira, que, seja qual for a forma de
interação, ela sempre será feita/possibilitada por um processo de
mediação simbólica. O signo/símbolo poderá ser verbal: oral ou escrito;
não verbal: sonoro/musical; visual; estático, dinâmico, etc. Equivale a
dizer que, ainda que se estabeleça a interação de diferentes formas, ela se
constitui sempre num sucedâneo das formas antigas de comunicação.
Assim, retomam-se os conceitos que permeiam toda a forma de
comunicação humana: o homem é um ser ontologicamente de expressão
e, para expressar-se, necessita de suportes sígnicos. A linguagem é
sígnica.
Para expressar-se, o ser humano também recorre aos processos
midiáticos – e deles depende – não mais veículos e meios de comunica-
98
Material Didático para a EaD: Processo de Produção
ção apenas –, mais recentemente das tecnologias possibilitadas pela
multimídia, as hipermídias que possibilitam o hipertexto. A condição do
hipertexto é a interatividade. Interativa, como já salientado, é a possibilidade de se buscar, de construír sentidos, não linearmente, e sim comandando um programa.
O hipertexto, enquanto ato de criação, de leitura, de coautoria,
abre ensejo a interpretações/criações diferenciadas. Para isso, é preciso
que se desconsiderem as fronteiras entre autor/fruidor; palco/plateia;
produtor/consumidor.
As questões de interação, dessa forma, são anteriores às questões
de interatividade. É por esta que aquela se dá: recuperação interativa de
dados armazenados, a qual permite que o processo de leitura seja
cumprido como um percurso, definido pelo leitor ao longo de um
universo textual, onde todos os elementos lhe são apresentados na
simultaneidade.
O que se pode perceber é que a interatividade abre caminhos para
um tipo de intertextualidade particular. Os sentidos atribuídos são fruto
de estratégia textual; o hipertexto, que depende da indução do leitor
(usuário) e da opção por quais caminhos trilhar (opções hipermídicas). E
a consagração do leitor, retirado de seu lugar passivo da recepção, o que
tem sido não comum nos processos de fruição, quando da proposta de
leitura de textos tão repisada na/pela escola.
Ler, no processo INTERATIVO, significa ESCOLHER, OPTAR,
HIBRIDAR, DECIDIR, MONTAR, COLAR, RESSIGNIFICAR. São
atos de pré-codificação – registrando que os percursos não são predeterminados. Os resultados dependem das leituras, e são imprevisíveis.
Instaura-se a dialética entre TEXTO E LEITOR.
As disponibilidades articulatórias do texto verbo-audiovisual
favorecem combinatórias. Esse texto já não é mais marca de UM sujeito.
A cena da escritura se redefine, e o texto se torna permutativo, conforme
Moran (1993), “o leitor recupera tal como nos primórdios da narrativa
oral transmitida (boca a boca) seu papel fundante como criador, e
contribui (decididamente) para a realização da obra”.
Com base nessas reflexões, importa propor outras. O impresso
encarna e prolonga a temporalidade dos saberes. Ao se propor a descen-
Material Didático para a EaD: Processo de Produção
99
tralização da palavra autorizada, pode-se estar provocando transformações sociais do espaço da educação. As temporalidades da educação, nos
tempos de tecnicidade midiática, deslocam dimensões da educação.
Ainda mais: os meios confundem – co-fundem – as fronteiras entre razão
e imaginação; saber e informação. Essas temporalidades liberam o aqui e
agora, inaugurando espaços e velocidades.
Esclarece, ao mesmo tempo, que instiga a inquietação de Barbero
(1997)
Que deslocamentos epistemológicos as novas
ambiências de aprendizagem trazem? Qual o perfil
desse novo sensorium? Como estão se processando as modificações na percepção espaço-tempo
dos jovens, inseridos em processos de desterritorialização da experiência e da identidade instalados
numa contemporaneidade que confunde tempos,
debilita passados e exalta o não futuro, fabricando
o presente contínuo?
Material Didático para a EaD: Processo de Produção
101
CONSIDERAÇÕES ADICIONAIS
E
stamos convictas de não ter esgotado o tema, mas acreditamos
ter deixado aberto para o vir a ser de outras produções. Essas
considerações propõem, em linhas de fuga, refletirmos sobre a
educação, sobre as tecnologias que agora a apresentam e sobre as demandas de se refletir permanentemente.
Deseja-se recuperar a ideia segundo a qual os sentidos
são, efetivamente, elaborados no intervalo cortado por
sequências mediativas e dialógicas e em que uma das
instâncias acima indicadas pode sobrelevar-se. Isto é, a
força do emissor enunciador, a capacidade de resposta do
receptor enunciatário e mesmo o encantamento exercido
pelo meio técnico devem ser remetidas ao lugar onde a
matéria histórico-discursiva entrelaça as redes de significações que cutucam e incomodam. (CITELLI,1999)
O estudo pretendido não prescinde, assim, da interação.
Baseia-se sobretudo numa dimensão semiodiscursiva, considerando
signos a serem desvelados. É um estudo de linguagem na medida em
que se propõe à análise cultural no campo educativo. É um estudo de
comunicação, na medida em que aborda os fluxos comunicativos,
enfocando emissor/enunciador, receptor/enunciatário e os meios. O
componente dialógico – a interação – permite a compreensão que se
circunscreve às complexas formas de comunicação da contemporaneidade, destacando o papel das mediações e dos mediadores na produção
dos sentidos pretendidos.
Pensando-se que a comunicação tem vários desdobramentos e
interferências - linguagem, história, cultura, gênero e contrapressões
sociais diversas -, importa pesquisar a construção das redes discursivas,
levando-se em conta os desdobramentos dos processos de comunicação:
a história, a cultura os gêneros, a mediação, o jogo dialógico.
Assim, com todas essas condições de produção, tornamo-nos
aptos a produzir.
Material Didático para a EaD: Processo de Produção
103
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