A FELICIDADE PARADOXAL HOMO FELIX: GRANDEZA E MISÉRIA DE UMA UTOPIA. O HOMEM NASCEU PARA SER FELIZ. • O Iluminismo ( séc. XVIII). • Reabilitação do epicurismo, dos prazeres, das paixões... contra a crença na corrupção da natureza humana. • Eleva-se a felicidade à condição de ideal supremo. O imperativo da felicidade. • “A grande ocupação, e a única que se deve ter, é viver feliz” (Voltaire / 16941778). • A busca da felicidade aparece como atividade fundamental da existência humana. A moral como ciência da felicidade. • Os moralistas trabalham para estabelecer as condições físicas, morais, afetivas... que permitam alcançar a vida feliz. • Temos a secularização do mundo e a sacralização da felicidade. O progresso das ciências • O valor do conhecimento: promover continuamente o bem-estar humano a partir de inúmeros artifícios. • Poder da ciência: visa a conservação da vida, a prolongação do tempo de vida, vencer as misérias humanas. Uma visão otimista do futuro. • Baseada no progresso cumulativo dos conhecimentos e das técnicas. • A história caminha necessariamente do menos bom para o melhor. • A história é assimilada a um progresso contínuo e ilimitado: a justiça, a liberdade e a felicidade. Rumo a uma felicidade plena. • Os seres humanos são seres melhores a partir da aquisição de novos conhecimentos. • As técnicas melhorarão a existência material e intensificarão a esperança na vida. Homo felix: destino da humanidade. • A felicidade humana tornou-se o horizonte de todo gênero humano. • A felicidade está inscrita na própria lei da evolução da histórica. • Uma boa notícia: a dinâmica da história nos prepara um futuro necessariamente feliz. A utopia materializada da abundância. • A ideologia capitalista do consumo: uma figura tardia da fé otimista na conquista da felicidade (técnica e bens materiais). • A felicidade é pensada no aqui e agora da existência humana: felicidade para já, nada de promessa para um futuro maravilhoso e longínquo. A crise da crença no progresso ilimitado. • Duas guerras mundiais aceleram as refutações da ideia de progresso (iniciadas nos séc. XVIIII e XIX). • Dissolve-se a crença em um futuro necessariamente melhor e mais feliz. • A tecnociência é associada a uma máquina mortífera. A crise de uma cultura materialista da felicidade. • Medos ecológicos. • Apelos a outro tipo de desenvolvimento econômico. • Novos movimentos religiosos, novas aspirações espirituais. • Na era da comunicação e da informação temos: ansiedade, solidão, dúvida sobre si mesmo e o sentido da vida. FELICIDADE E ESPERANÇA. • A sociedade do hiperconsumo se desenvolve em nome da felicidade. • Receitas de felicidade: guias e métodos para viver melhor, conselhos sobre a saúde, ajuda psicológica, gurus que são profetas da plenitude da vida. A felicidade despótica. • Passamos do direito à felicidade ao imperativo da euforia: tenho que ser feliz!!! • Cria-se a vergonha e o mal-estar naqueles que se sentem excluídos do clima de euforia. • As pessoas não são mais apenas infelizes, mas se sentem culpadas por não sentirem bem. O programa da modernidade: individualista e mercantil. • Tem como fruto: a obsessão contemporânea por plenitude. • Quanto mais mercado... mais estímulo para viver melhor. • Quanto mais indivíduo... mais exigência de felicidade. O individualismo e a busca irresistível da felicidade. • Torna-se problemática e insatisfatória a existência humana. • O indivíduo socialmente independente enfrenta desamparado, sem apoio coletivo e religioso, as provações da vida. A sabedoria da ilusão. • A esperança como uma dimensão humana. • A felicidade por vir nos permiti ter confiança na vida. • É preciso projetar-se no futuro com algum otimismo. Isto é humano!!! Razões para ter esperança. • São fundamentais diante do sentimento de impotência para dirigir o curso da história. • Se não é possível ser plenamente feliz, ao menos é possível ir menos mal. • Os apelos da sociedade do hiperconsumo podem ser um incentivo para rever elementos fundamentais da existência humana. CONSUMO DESTRUTIVO E CONSUMO RESPONSÁVEL. • A civilização da felicidade consumista diz respeito: • às misérias subjetivas; • à degradação da ecoesfera; O princípio da responsabilidade. • Consumidor de outrora: um fantoche alienado. • Consumidor de hoje: está sentado no banco dos réus. A ele é exigido ser um consumidor responsável e cidadão. • Modos de produção e de consumo menos predadores e destrutivos. • Desenvolvimento econômico e proteção do meio ambiente. Hiperconsumo e anticonsumo. • Do consumidor fantoche do mercado a consumidor engajado. • Consumidor responsável: o ato de compra não está dissociado de uma interrogação ética. Uma advertência... • Seriam os anticonsumidores uma das manifestações do hiperconsumismo? • qualidade de vida; • identidade pessoal; • individualização das despesas; Frugalidade e felicidade. • O PIB não é a Felicidade Nacional Bruta; a vida boa não pode ser confundida com o avanço do consumismo. • Todavia, o que é útil e o que é supérfluo no domínio da felicidade? Onde fica a fronteira entre as verdadeiras e as falsas necessidades? A dimensão frívola da felicidade. • Não consumimos apenas para satisfazer necessidades primeiras... Uma parte de nossa felicidade é feita de prazeres aparentemente inúteis. • Todavia, é preciso reorientar a sociedade de consumo segundo caminhos que sejam capazes de restaurar um mínimo de justiça social. A SABEDORIA OU A ÚLTIMA ILUSÃO. • A felicidade: valor central, grande ideal da civilização consumista. Três modelos: • 1) vida materialista / vida afetiva; • 2) felicidade / gozo, festa, prazer sem restrição; • 3) felicidade materialista / felicidade espiritual; Nova era... • Busca por sabedoria ou aperfeiçoamento espiritual. • Livros de sabedoria: caminhos para a felicidade... com facilidade, confortavelmente, de imediato, sem as exigências dos mestres da Antiguidade. Técnicas de auto-ajuda • Êxito material e paz interior; • Saúde e confiança em si mesmo; • Poder e serenidade; • Felicidade interior sem renúncia ao exterior: conforto, sucesso profissional, prazer, lazer,... Nova era... ainda consumista • Tempo do imaginário do conforto integral... • ... material, • ... emocional, • ... psicológico. Sob novas etiquetas temos a busca da individualista da felicidade. “NOVO PARADIGMA” • Um esquema silogístico: • O que nos acontece é o espelho de nossa atitude interior. • Podemos ser tão felizes quanto decidimos sê-lo. • Trata-se do credo repetido por mestres do neoespiritualismo e do desenvolvimento pessoal. • Demanda por neomagia, por remédios miraculosos. Programas de beatitude: ingenuidade e falsas promessas. • A vida nos ensina: somos incapazes de nos tornarmos senhores da felicidade. • Ser incapaz de bastar-se por si só, ser incompleto... o ser humano tem necessidade de outrem para ser feliz. Ninguém é feliz sozinho!!! • A felicidade pessoal é inseparável da relação com o outro. • Estamos inevitavelmente a mercê das decepções das mágoas da vida. • Minha felicidade é necessariamente fugidia e instável. A frágil felicidade... • Não somos senhores da felicidade; ela nos acontece ou nos deixa, sem nossa permissão, é por excelência o que não possuímos. • Ilusão: querer controlar a própria felicidade; somos reféns dos outros. • A dominação tecnocientífica e o desenvolvimento econômico são insuficientes para conduzir à felicidade. Miséria... mas também utopia. • Uma nova regulação da ética: • a permanência dos ideais do Bem e da Justiça; • uma autonomia da esfera moral, o signo de uma sociedade liberal pluralista. • a sociedade hiperindividualista. Uma tese... • Apesar do capitalismo do hierconsumo, as vontades de aprender, compreender, progredir, transcender-se... continuam em atividade, às vezes de forma desigual. Por duas razões... • As ciências não cessam de progredir e de nos colocar interrogações que nos impulsionam para além do espetáculo do consumo. • A valorização da inovação, da criação, do sucesso, faz com que o gozo do bem-estar material não seja a única exigência da vida. UMA UTOPIA... A REINVENÇÃO DA FELICIDADE. • “A exigência do futuro está na invenção de novos modos de educação e de trabalho que permitam que os indivíduos encontrem uma identidade e satisfações em outra parte que não nos paraísos fugazes do consumo”. A reinvenção da felicidade. • Trata-se da invenção de novos objetivos e sentidos, de novas perspectivas e prioridades na vida. • Exige uma nova apreensão da vida devorada pela ordem do consumo volúvel. • Eis papel dos sistemas de educação e formação. Enfim... • “A felicidade que para os modernos seria inevitavelmente alcançada com o progresso das ciências e das técnicas, parece revelar-se um enigma, algo que está para sempre fora de alcance e que talvez dependa daquilo que não se compra”.