REVISTA DE NEGÓCIOS INTERNACIONAIS • PIRACICABA/SP • ANO 7 N. 13 OUTUBRO/2009 • p.78
Revista de Negócios Internacionais
– Journal of International Business –
UNIVERSIDADE METODISTA DE PIRACICABA
Reitor
Clovis Pinto de Castro
REVISTA DE NEGÓCIOS INTERNACIONAIS
Piracicaba: n. 1 • maio 2003
Faculdade de Gestão e Negócios
Dorgival Henrique
Publicação periódica
Curso de Administração com habilitação em
Gestão de Negócios Internacionais
Cristiano Morini, coordenador
n. 13, outubro 2009
Editora
Regina Célia Faria Simões
Co-Editor
Cristiano Morini
Conselho Editorial
Acácia de Fátima Ventura
Anderson César Gomes Teixeira Pellegrino
Andréa Santos de Deus
Fernando de Lima
Leila Rocha Pellegrino
Sebastião Neto Ribeiro Guedes
Valdir Iusif Dainez
Valéria Rueda Elias Spers
Conselho Editorial Externo
Anabella Busso (UNR/Argentina)
Andréa Oliveira (MG)
Carlos Aravechia (CBTA)
Carlos Eduardo de Freitas Vian (Esalq/USP)
Gustavo Marini (UNR/Argentina)
Vivian Helena Capacle (Unicamp)
Revisão (português)
Acácia de Fátima Ventura
Revisão (inglês)
Eliane Campos de Souza
Produção Gráfica e Impressão
Printfit Soluções
Carlos Terra (Coordenação)
Thais Alves dos Santos(Capa e Editoração Eletrônica)
Juraci Vitti (Revisão Gráfica)
Semestral
1. Comércio Exterior – periódicos
ISSN 1679-0693
CDU 330.6
Administração e contato
Revista de Negócios Internacionais
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Tel. (19) 3124-1506/1507
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RNI é uma revista dedicada à publicação de trabalhos acadêmicos e pesquisas desenvolvidas por alunos e professores. A área de
atuação é a dos negócios entre países, sob suas diferentes abordagens: comercial, organizacional, mercadológica, logística, legal, aduaneira, cambial, financeira, burocrática e contábil.
The Journal of International Business is destinated to communicate scientific works produced by students and professors. Its focused area is business around the world by different
approaches in areas as commercial, organizational, marketing,
logistics, legal, customs, exchange, financial, burocratic and accountancy.
ANO VII. Nº 13. OUTUBRO. 2009
Editorial
Há dez anos abríamos à área de Negócios Internacionais na UNIMEP.
Era necessário capacitarmos jovens e adultos com conhecimentos e habilidades para compreender, analisar, planejar e decidir sobre as novas “regras” e exigências do jogo global dos negócios internacionalizados.
Com essa intencionalidade a Faculdade de Gestão e Negócios lança, em 1999, a primeira turma de
Administração – Habilitação de Negócios Internacionais.
A reestruturação do capitalismo que vinha ocorrendo em décadas anteriores, intensificou-se no Brasil, na
década de 90, requisitando pessoas qualificadas para responder a um processo de competição global, liderado
por empresas transnacionais concentradas em cadeias produtivas e exigentes em termos de conhecimento
para apresentar respostas e soluções cada vez mais integradas e rápidas.
A estratégia competitiva global está cada vez mais intensiva em tecnologia que conecta conhecimentos
diversificados e distantes em produtos que possam ser explorados de forma útil nos mercados globais. Essa
mesma estratégia de competição global integrada abre suas portas para pequenas e médias empresas aprenderem a mobilizarem-se e ingressarem, com seus produtos e serviços, nas cadeias produtivas, nas brechas
dos múltiplos nichos mercadológicos.
Capacitar profissionais em gestão com habilidades cognitivas, analíticas, interpessoais e decisoriais para
atuarem em ambientes de negócios com incertezas duras onde à predição é nula. Esse desafio continua na
pauta das Universidades. Neste sentido a Faculdade de Gestão e Negócios respondeu a essa exigência com o
curso de Gestão de Negócios Internacionais, dialogando com as incertezas do mercado e fundamentando sua
aposta numa área que alinhavou, de forma consistente, a formação teórica e técnica com responsabilidade
social. Em 2007, por razões de determinantes externos procedentes do Ministério da Educação, deixamos
de oferecer essa habilitação em Administração e desenvolvemos o curso de Negócios Internacionais.
O processo de intensificação da globalização, concomitantemente, carrega e tece novos traços culturais,
fragmenta as “soberanias” nacionais, produz uma nova sociedade-global, cria novas oportunidades e novos
obstáculos de inclusão em função das novas exigências sistêmicas.
O ritmo da velocidade das mudanças e do processo de modernização da razão instrumental tece um
novo mundo e a UNIMEP pretende oferecer a esse novo mundo profissionais competentes, com capacidade de compreensão social e política para transformar esse processo num espaço de convivência mais justo e
equilibrado.
Ao celebrar dez anos de existência, a área de Negócios Internacionais pretende se consolidar lançando
novos cursos e enfrentando novos determinantes, sejam externos ou internos.
Essa edição foi pensada, concebida e definida como um marco de um curso bem-sucedido em sua trajetória histórica que colaborou e continuará colaborando com o desenvolvimento regional.
Assim como não é possível falar do desenvolvimento da região de Piracicaba, nos últimos 45 anos, sem
destacar o papel da UNIMEP no desenvolvimento regional, não podemos deixar de registrar a importância
da área de Negócios Internacionais para essa nova “etapa” de desenvolvimento.
As fronteiras do curso de Negócios Internacionais permeiam nossa região e sua demarcação não é física,
mas está diretamente relacionada à troca de energias com as empresas importadoras e exportadoras de bens
e serviços, à flutuação de seus negócios e com suas estratégias competitivas.
Temos, portanto, obrigação de melhorar a qualidade de nossos serviços e diversificar, respeitando os
condicionantes e direcionamentos externos apontados pelo Ministério da Educação.
Essa edição da Revista Negócios Internacionais constitui, simultaneamente a comemoração de dez (10)
anos de atividades na região de Piracicaba, com a oferta diversificada de novos cursos e uma oportunidade
de reflexão e redirecionamento da área. Reafirmamos, com nossa missão, com os objetivos da Universidade
Metodista de Piracicaba nosso compromisso com o desenvolvimento de Piracicaba e região.
Os textos incluídos neste número foram selecionados contemplando assuntos tratados em Cursos de
Negócios Internacionais, nos dez (10) anos de existência da área na Universidade Metodista de Piracicaba.
Os artigos apresentados contemplam as áreas do Estágio Supervisionado e da Monografia dos Cursos de
Administração com habilitação em Gestão de Negócios Internacionais e Negócios Internacionais, escritos
por alunos. Além disso, o presente número apresenta artigos de professores de outra instituição de ensino
superior.
Dorgival Henrique
Diretor da Faculdade de Gestão e Negócios e
Primeiro Coordenador do Curso da
área de Negócios Internacionais da
Universidade Metodista de Piracicaba - UNIMEP
Sumário
7
As Vantagens na Utilização dos Portos Secos
no Despacho Aduaneiro das
Importações e Exportações Brasileiras
Ana Paula Maria da Silva
Gustavo Leoce
13
China e Brasil: “Os Extremos Tocam-se”
Andreza Lopes Ferreira
Acácia de Fátima Ventura
18
Commodities Versus Industrialização:
O Panorama Brasileiro nas Exportações
Celso H. R. C. Aímola
23
Porto de Paranaguá: Seu Perfil e Sua Relevância
no Sistema Portuário Brasileiro
Claudinei Vieira
Valmir Luiz Cazon
30
O papel das Sogo Shosha
(Trading Companies Japonesas)
no processo de comercialização do Etanol Brasileiro
Daniel Frasson Costa
Cristiano Morini
35
Um Estudo Exploratório sobre FAIR TRADE
Roberta Bonfiglio
Regina Célia Faria Simões
42
Observações sobre as Diferenças entre Integração
na América Latina, MERCOSUL e União Européia
José Eduardo dos Santos Guercio
Regina Célia Faria Simões
49
Consórcio de Exportação no Brasil: um estudo de caso
aplicado no segmento médico-hospitalar-odontológico
Gustavo Barbieri Lima
Sheila Farias Alves Garcia
Dirceu Tornavoi de Carvalho
Dante Pinheiro Martinelli
57
Investigação Teórico-empírica
sobre Internacionalização de Empresas:
o caso Wines from Brazil
Gustavo Barbieri Lima
Sheila Farias Alves Garcia
Dirceu Tornavoi de Carvalho
Dante Pinheiro Martinelli
65
Estratégias de Marketing Global:
uma reflexão teórica
Gustavo Barbieri Lima
Dirceu Tornavoi de Carvalho
As Vantagens na Utilização dos Portos Secos no
Despacho Aduaneiro das Importações e
Exportações Brasileiras
ANA PAULA MARIA DA SILVA
[email protected]
GUSTAVO LEOCE
Estágio Supervisionado ADM – GNI – UNIMEP.
[email protected]
Resumo: O comércio internacional é uma atividade de impacto significativo para o país. Com isso, o governo brasileiro tem incentivado as exportações nos últimos anos. Os Portos Secos são dentro deste contexto, uma alternativa no despacho aduaneiro das mercadorias que podem melhorar de forma significativa a
qualidade dos processos logísticos. É uma opção para melhorar o escoamento das mercadorias e desafogar
portos e aeroportos que estão sobrecarregados com o alto volume das operações. Além de oferecer vantagens
nos serviços prestados, como a armazenagem entrepostada, a isenção de impostos e serviços diferenciados
aos seus clientes.
Palavras-Chave: Comércio Exterior; Logística; Porto Seco.
Abstract: The international trade market is an activity of significant impact to the country. Thus, the Brazilian government has encouraged the exportations in recent years. The Dry Ports within context are an alternative for customs clearance of the goods that can significantly improve the quality at the logistics processes.
It’s an option to improve the flow of the goods and to relief ports and airports that are overloaded with the
high volume of the operations. Beyond offering advantages in the given services, as the supplied storage
station, the taxes and service exemption differentiated to its customers.
Keywords: International Trade; Logistics; Dry Port.
1. INTRODUÇÃO
O crescimento do mercado internacional é notório em todo o mundo e no Brasil, este não tem sido
diferente. No Brasil com o aumento do volume das
importações e exportações, apareceram sérios problemas no que diz respeito à estrutura interna. Um
desses problemas está relacionado à logística. Muitos
portos e aeroportos estão sobrecarregados, porque,
não possuem estrutura adequada para suportar tal
Rev. de Negócios Internacionais, Piracicaba, 7 (13): 7-12, 2009
crescimento, o que acarreta para as empresas perda
de tempo e dinheiro em suas transações.
Conforme Pedelhes (2006) há algum tempo
atrás, os portos se configuravam como único canal
para a entrada e saída de mercadorias do país, uma
vez que os aeroportos apresentavam custo elevado
para as transações. Ainda hoje os portos são mais
procurados para o escoamento das exportações e no
Brasil sua capacidade para escoamento das mercadorias se tornou insuficiente.
Para atender a alta demanda e manter a competitividade, muitos países estão em busca de mecanismos que possam reduzir custos e aumentar
a lucratividade. Os Portos Secos são dentro deste
contexto, uma alternativa capaz de agilizar o processo aduaneiro nas importações e exportações, além
de exercerem outras atividades como o armazenamento, que agrega valor aos serviços e trazem certos
benefícios aos seus usuários, como, por exemplo, a
redução do “transit time” (tempo de trânsito), das
mercadorias e custos de deslocamento.
Para formulação teórica deste estudo foram utilizados os seguintes métodos: observacional e comparativo. A utilização desses métodos visa apresentar
informações precisas e coerentes sobre os Portos
Secos para que seus interessados possam entender
as vantagens oferecidas como estratégia para o comércio internacional.
A pesquisa bibliográfica foi realizada em livros e
revistas das áreas de Logística e Comércio exterior e
em sites específicos sobre o assunto na Internet.
2. REFERENCIAL TEORICO
Os portos secos são os resultados de uma evolução no pensamento logístico, onde se encurtam
distancias entre importadores e exportadores, e os
pontos de fronteira, por onde entram e saem mercadorias do país.
Com o crescimento do comércio internacional
e a intensificação das trocas de mercadorias entre
produtores e consumidores, existe a necessidade de
se integrar os procedimentos de movimentação de
materiais, a fim de reduzir tempo de processamento
operacional, permitindo que as grandes distâncias
entre produtor e consumidor não seja fortemente
percebida. A legislação brasileira para importação e
exportação, prevê a utilização de estruturas no interior do pais, com as mesmas características legais e
funcionais dos pontos de fronteira, seja portos ou aeroportos, para que boa parte do procedimento aduaneiro seja efetuado próximo da área de consumo,
liberando espaço para o fluxo de entrada e saída de
produtos das zonas de embarque e desembarque.
A origem do comércio internacional parte da
idade antiga, quando povos como babilônios e cretenses reuniam caravanas de camelos com suas rotas
terrestres determinadas, em busca de tentativas de
trocas comercias. Tão breve as rotas terrestres deixam de ser utilizadas e os atenienses iniciam o ciclo
marítimo através do mediterrâneo. Já na Revolução
Industrial, acontecem várias transformações de ordem política, social e econômica no continente europeu, promovendo uma maneira de produção em
grandes quantidades, com tempos reduzidos e otimização dos insumos, com a utilização de máquinas
e substituição paulatina do trabalho artesanal.
Após a II Guerra Mundial, com a derrota da
União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS),
podemos destacar várias alianças e acordos entre os
paises como GATT e a Organização Mundial do
Comércio (OMC).
2.1 Comércio Internacional e Logística
Segundo Sosa (1996), o comércio internacional,
como área específica, é percebido nas trocas comerciais havidas entre diversas nações que compõem a
comunidade mundial.
A globalização diminuiu a distância entre os paises, permitindo o acesso de mercadorias e serviços de
qualquer ponto do mundo, e para qualquer região.
A acessibilidade para a grande oferta de mercadorias e os serviços prestados e a inclusão de novas
alternativas ao mercado, é possibilitada pela logística. Segundo Rocha (2001), a logística pode ser
responsável por agregar os valores tempo e lugar a
seus produtos diante de seus consumidores, o que
pode ser traduzido como aumentar a acessibilidade
do produto, no tempo exigido pelo consumidor.
2.2 Logística no Brasil
No cenário atual, a logística brasileira, se encontra pouco desenvolvida, sendo o motivo principal
a falta de infra-estrutura e organização de suas atividades.
Alguns setores brasileiros como a indústria automobilística e de mineração, tem utilizado ferramentas logísticas como o justin in time, para serem
mais competitivos. Porém, outros setores como o de
Turismo e o Agropecuário esbarram na má qualidade das rodovias, ineficiência na segurança, malha
insuficiente no caso das ferrovias, custos elevados e
infra-estrutura precária nos aeroportos, e verdadeiros gargalos nos principais portos do país.
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Além disso, o setor logístico sofre com a falta
de profissionais que conheçam a área e tecnologia
adequada para o seu desenvolvimento.
Uma saída para solução de problemas relacionados à logística são os operadores logísticos que desenvolvem atividades nas áreas de transporte, armazenagem, distribuição interna etc, ou seja, atividades
relacionadas à logística.
2.3 Aduana
De acordo com Sosa (1996), compete a aduana
o controle das mercadorias que ingressam ou saem
de seu país em operações de importação e exportação, assim como o controle de veículos transportadores que demandam os portos, aeroportos e fronteiras nacionais.
A aduana possui papel regulatório, não somente
no que se diz respeito à entrada e saída de mercadorias, mas, também a imposições fiscais, sendo ela um
órgão do governo responsável pela arrecadação de
recursos financeiros. Outra característica da aduana
é no que se diz respeito aos limites territoriais.
2.4 Recintos Alfandegários
Para Ludovico (2007), recintos alfandegados
são instalações ou espaços físicos onde, sob controle
fiscal onde se realizam operações de carregamento,
descarregamento, depósito, movimentação e despacho de mercadorias procedentes ou destinadas
ao exterior. Os recintos alfandegados são classificados em dois tipos, são eles: Recinto Alfandegado
de Zona Primária e Recinto Alfandegado de Zona
Secundária.
Os recintos alfandegados de zona primária são
os portos, aeroportos e pontos de fronteira alfandegados, por onde circulam mercadorias e pessoas para
a entrada ou saída do país, sob controle aduaneiro.
Em zona próxima aos portos temos Terminais Retroportuários e Estações de Fronteira, Entrepostos e
Depósitos, determinados como Zona Secundária.
3. PORTOS SECOS
Antes de 1971 eram nos portos, aeroportos e
pontos de fronteira alfandegados em que ocorriam
todos os processos referentes à importação e exportação de mercadorias. Porém, com o passar dos
anos e com o incentivo do governo as exportações
Rev. de Negócios Internacionais, Piracicaba, 7 (13): 7-12, 2009
aumentaram, tornando o processo de liberação de
carga mais lento e esgotando a capacidade de estocagem dessas áreas.
Na tentativa de desafogar essas áreas e contribuir
com maior rapidez e agilidade ao processo, o governo concedeu aos armazéns gerais a possibilidade de
trabalharem como armazéns alfandegados.
Segundo Rocha (2001) os Portos Secos (EADI’s)
são terminais de carga em que existe a possibilidade
de benefícios fiscais para cargas importadas ou exportadas, podendo ser nelas executadas uma série de
atividades reguladas pela Aduana, e que deveriam
ser para a real acepção de sua definição, terminais
rodoviários ou ferroviários que recebessem cargas
em containeres recebidas ou destinadas a porto marítimo ou fluvial.
3.1 Funcionamento e Estrutura
O funcionamento de um Porto Seco caracteriza-se por operações distintas cada qual com suas
particularidades, devido aos diferentes regimes aduaneiros, que abordaremos no item 3.2 deste artigo, a
complexidade documental e as diferentes mercadorias tanto na importação como na exportação.
A principal função de um Porto Seco é receber a
mercadoria sob controle fiscal, verificar qual o regime que esta se encaixa destiná-la ao armazenamento
por período determinado ou ao desembaraço aduaneiro.
Basicamente para a realização de suas funções,
garantindo à operação agilidade na liberação de cargas é necessário ao Porto Seco à comunicação direta
com seus clientes e as zonas primárias.
De acordo com a Instrução Normativa SRF nº
55 de 2002 e Portaria da SRF nº 969 de 2006 deve
haver a existência de área delimitada na EADI, onde
serão realizados os serviços, previamente aprovados
pela unidade local jurisdicionante, segregada daquelas reservadas a movimentação e armazenagem de
mercadorias importadas ou destinadas a exportações.
Essa área que será aprovada deve contar com
uma estrutura adequada para o recebimento, movimentação e despacho das mercadorias.
Itens como informatização, proteção, máquinas
e equipamentos são essenciais para uma boa operacionalização de um Porto Seco.
3.2 Serviços Oferecidos e Localização
Conforme o Ministério da Fazenda, no sitio
da Receita Federal, seguem alguns destes serviços
que são inerentes às operações de importação e exportação: Estadias de veículos e unidades de carga;
Limpeza / desinfectação de veículos; Lonamento
/deslonamento; Colocação de lacres; Tratamento
fitossanitário; Fornecimento de energia; Pesagem de
veículos, cargas e volumes; Unitilização / desunitização de carga; Movimentação / armazenamento das
mercadorias; Pesagem, reembalagem, cintamento,
etiquetagem, marcação, remarcação, numeração,
renumeração, restauração da embalagem; Demonstração e testes de funcionamento de veículos, máquinas e equipamentos e Acondicionamento / recondicionamento;
A localização dos Portos Secos é definida pelas autoridades aduaneiras, que avaliam o fluxo do
comércio exterior na região. A preferência é para as
grandes regiões produtoras e consumidoras.
Conforme Instrução Normativa Nº055 de
2002, a Secretaria da Receita Federal formula uma
proposta que deve conter os seguintes elementos:
Levantamento da demanda; Indicação do local mais
proveniente; Disponibilidade de recursos humanos
e materiais; Tipo de carga a ser armazenada e Prazo
de concessão ou permissão.
4. DESPACHO ADUANEIRO
A formalização da venda e compra internacional se dá a partir do procedimento legal junto ao
governo brasileiro, comprovando a entrada e saída
de mercadorias do pais. A utilização de Portos Secos
é viabilizada por tratar-se de recintos alfandegados
cuja atividade de despacho aduaneiro é cumprida
em determinação à legislação, estando ali, a anuência da autoridade.
4.1 Despacho Aduaneiro na Importação e
Exportação
Conforme Morini (2006), o despacho aduaneiro é um conjunto de procedimentos a serem
cumpridos para que se promova o processo legal de
importação e/ou exportação, mediante o qual é verificada a exatidão dos dados declarados.
Para o cumprimento das operações de despacho
aduaneiro é necessário uma serie de documentos
10
tanto na importação como na exportação, onde
informações como natureza da carga, quantidade,
valor, origem, destino, condições de pagamentos,
inconterm etc, serão informados, sendo através desta
documentação, comprovada a exatidão dos dados.
Como exemplos têm-se a Fatura Proforma e Packing List.
Além do controle físico do despacho aduaneiro
por meio da documentação apresentada há também
o controle da tributação dessas operações que são
caracterizados por impostos, taxas e contribuições
de melhoria.
Porém, em determinadas operações, conforme o
regime aduaneiro adotado pode haver isenções ou a
não incidência de determinados tributos.
As operações via Porto Seco, em determinados
regimes aduaneiros, disponibilizam desses benefícios, sendo esta uma das suas grandes vantagens.
4.2 Regimes Aduaneiros
Os regimes aduaneiros correspondem ao pagamento ou não de tributos das mercadorias que ingressam ou egressam do território aduaneiro. Estes
podem ser classificados como Comuns e Especiais.
Nos regimes aduaneiros especiais as mercadorias
gozam da suspensão dos tributos. Estes tipos de regime atendem aos diversos tipos de processos tanto
na importação como exportação de mercadorias,
beneficiando seus usuários e agilizando os processos
do comercio exterior brasileiro. Alguns regimes ainda oferecem os serviços de armazenagem por determinado período de acordo com a operação.
Conforme Morini (2006) seguem alguns regimes aplicados aos Portos Secos:
Trânsito Aduaneiro; Admissão Temporária; Entreposto Aduaneiro; Entreposto Industrial; Exportação Temporária; Depósito Alfandegado Certificado;
Depósito Aduaneiro de Distribuição e Depósito
Especial.
5. AS VANTAGENS NA UTILIZAÇÃO DOS
PORTOS SECOS
De acordo com Cardoso (2004), os Portos Secos
oferecem um leque variado de opções que deveriam
ser mais bem explorados, trazendo ganhos substanciais de redução de custos da operação e também do
tempo, pois os Portos Secos possibilitam melhorar a
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balança comercial brasileira, em face aos problemas
logísticos enfrentados, principalmente levando em
conta a falta de estrutura da zona primária (portos
e aeroportos).
O bom trabalho desenvolvido por um Porto
Seco, possibilita o melhor escoamento de cargas e a
redução do tempo de trânsito, sendo esta uma das
variáveis mais importantes para os empresários brasileiros. O recebimento ou o envio de cargas possui
impacto significativo no volume de estoque e de
produção dentro das empresas, cujo atraso no envio de mercadoria a um cliente internacional pode
comprometer a confiança comercial quebrando a
previsibilidade, e como conseqüência, uma parada
na linha de produção por ausência insumos.
5.1 O Fator Tempo
Para Lopez (2000), o fator tempo dá ao Brasil
uma desvantagem inicial intrínseca, caracterizada
pela considerável distância física que o separa da
maioria dos seus grandes clientes e fornecedores.
São visíveis os ganhos que um exportador obtém com a redução do Lead Time, pois, este fator
é resultante na satisfação do cliente, além de ser expressivo no que se diz aos custos.
De acordo com Lopez (2000), devido à sua estrutura menor, na EADI (Porto Seco) a liberação da
mercadoria acontece muito mais rápida, podendo
advir redução de 40% do tempo entre a saída da
fabrica até inicio do transporte internacional, ou em
sentido inverso, do fim do transporte internacional
até a chegada da mercadoria no local de consumo.
A seguir o gráfico 1 apresenta comparativo entre tempo (em dias) para um processo de importação e em exportação. Esse gráfico mostra o tempo
atual demandado o ideal e o obtido com a utilização
de um Porto Seco.
Gráfico 1: Comparativo Lead Time
Fonte: Lopez (2000)
Rev. de Negócios Internacionais, Piracicaba, 7 (13): 7-12, 2009
5.2 Tarifas Portuárias
A armazenagem é um dos serviços que mais
caracterizam um Porto Seco, principalmente porque estes quando ainda eram Centrais Aduaneiras
(1971), funcionavam basicamente como armazéns.
As tarifas cobradas nos Portos Secos estão abaixo das
tarifas cobradas nos portos e esta redução, caracteriza uma grande vantagem ao importador/exportador
brasileiro.
A tarifação cobrada para a movimentação de
mercadorias é sensivelmente inferior às praticadas
nas zonas primárias, como por exemplo, embarque,
desembarque, estufagem de container, armazenagem por período, etc, pelo fato de nas zonas primárias a escassez de espaço é atributo que compõem
os valores praticados para os serviços e a intenção é
evitar que o empresário utilize as instalações portuárias como seus próprios estoques.
A seguir algumas outras vantagens oferecidas
por um Porto Seco:
• Regime Comum de Exportação: Neste a
mercadoria possui seus tributos suspensos
até que toda a documentação seja providenciada para a exportação.
• Regime de Entreposto Aduaneiro: Permite a armazenagem de mercadorias destinadas à importação/exportação com suspensão do pagamento de tributos.
• Liberação de containeres: Os agentes fiscais da Receita Federal podem liberar em
zona secundária as cargas vindas diretamente da zona primária, ou mesmo, lacrar
os containeres que serão entregues nos terminais no momento exato para embarque.
• Regimes DAC e DUB: Mencionados
possibilitam maior flexibilidade das operações, além de incentivar as exportações.
De acordo com Camparini apud Cardoso
(2001): O exportador conclui a transação
no momento da entrega da mercadoria em
um Porto Seco, transferindo a propriedade
para o comprador estrangeiro e fechando o
câmbio no momento da entrada da mercadoria no recinto alfandegado.
• Liberação de cargas por lotes: Na importação as mercadorias em consignação,
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podem ser nacionalizadas e liberadas por
lotes, ou seja, o importador nacionaliza a
quantidade que desejar, pagando os impostos referentes ao lote nacionalizado.
• Atendimento personalizado: Os Portos
Secos possibilitam aos seus clientes checarem a mercadoria, onde se pode analisar se
houve alguma avaria ou mesmo acompanhar a estufagem, garantindo a qualidade.
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Abordaram-se no presente trabalho assuntos
como comércio exterior, logística e os problemas enfrentados no Brasil para manter a competitividade
face ao mercado global. É preciso que as empresas
e o governo busquem novas alternativas para um
fluxo melhor gerenciado que possam tornar nossos
produtos mais competitivos e valorizados no comércio exterior.
De forma a melhorar o desempenho das atividades logísticas os Portos Secos podem ser uma
estratégia para empresários e governo brasileiro na
otimização dos processos e na redução dos custos.
Estes desempenham um papel importante para o
crescimento e avanços nas áreas de logística e comercio exterior no Brasil.
Os Portos Secos nasceram em 1970, sendo pouco utilizados, principalmente pelo desconhecimento
da suas atividades, que eram baseadas na armazenagem e movimentação das mercadorias que ingressavam no país.
Atualmente o tema se mostra de grande importância. Os Portos Secos suprem a falta de capacidade
de escoamento das mercadorias nos grandes portos
de zona primária. Com a morosidade em melhorar
o sistema portuário, os Portos Secos vêm desafogando e suprindo as necessidades logísticas no Brasil.
Conclui-se ainda que as atividades dos Portos
Secos devam ser mais bem exploradas, pelas universidades, governo e principalmente empresários. Este
facilitador não pode ficar escondido esperando que
o descubram, deve haver um incentivo para utilizálo, para que as atividades de comercio exterior no
Brasil sejam impulsionadas e para que possamos caminhar a estágios de paises de primeiro mundo.
REFERENCIAS
CARDOSO, Fátima. Portos Secos, aliados no desenvolvimento, 2004.
Disponível em: http://www.tecnologistica.com.br/site/5,1,2,6130.
asp - Acesso 25/02/2008.
LUDOVICO, Nelson. Logística Internacional: um enfoque em comércio exterior. Ed. Rev. Atual, São Paulo: Saraiva, 2007.
LOPEZ, José Manoel C. Os Custos Logísticos do Comércio Exterior
Brasileiro. São Paulo: Aduaneiras, 2000.
MINISTÉRIO DA FAZENDA. Instrução Normativa SRF 055 de 23
de maio de 2000 – Portaria SRF 969 de 22 de setembro de 2006.
Disponível em: http://www.receita.fazenda.gov.br/legislacao/Portarias/2006/portsrf969.htm - Acesso em: 05/05/2008.
12
MORINI, Cristiano et al. Manual de Comércio Exterior. Campinas,
SP. Editora Alínea, 2006.
PEDELHES, Gabriela Juppa. Portos Secos. Santa Catarina,
2006. Disponível em: www.gelog.ufsc.br/Publicacoes/20062/
Portos%20Secos.pdf - Acesso em 03/09/2007.
REVISTA LOGWEB. Portos Secos fundamentais no Comércio Exterior. Edição nº 67. Setembro, 2007.
ROCHA, Paulo César A. Logística e Aduana. São Paulo: Aduaneiras,
2001.
SOSA, Roosevelt Baldomir. A Aduana e o Comércio Exterior. São
Paulo: Aduaneiras, 1996.
Rev. de Negócios Internacionais, Piracicaba, 7 (13): 7-12, 2009
China e Brasil: “Os Extremos Tocam-se”
ANDREZA LOPES FERREIRA
[email protected]
ACÁCIA de FÁTIMA VENTURA
Estágio Supervisionado em ADM – GNI - UNIMEP
[email protected]
Resumo: O presente artigo tem por objetivo apresentar um dos “novos mercados” – China e Brasil – em
que o fluxo de comércio (importação e exportação), vem crescendo rapidamente. São abordadas informações
sobre como iniciou-se o comércio entre os dois países, as vantagens e desvantagens desta relação, bem como,
o futuro da mesma. Conclui-se que há grandes possibilidades e oportunidades de ganhos para ambos os
países, com o aumento de seus comércios, entretanto é necessário que os chineses e os brasileiros tornem-se
parceiros no âmbito de negociações mundial.
Palavras-chave: Novos mercados; Fluxo de comércio; China/Brasil.
Abstract: The present article has for objective to present one of the “new markets” – China and Brazil – where the trading flow (import and export), has been increasing quickly. Informations about the beginning of
the trade between both countries, the advantages and disadvantages of this relationship as well as the future
of it are approached. It can be concluded that there are great possibilities and opportunities of benefits for
both countries. However a partnership is necessary between the Chinese and the Brazilian regarding the
world negotiation.
Keywords: New markets; Trade flow; China/Brazil.
1. INTRODUÇÃO
Com a “terceira revolução tecnológica” e a globalização, a integração de economias e mercados
está cada vez mais evoluindo. Um dos “novos mercados” que vem crescendo rapidamente nos fluxos
de comércio (importação e exportação), é entre Brasil e China.
De um lado, a China responsável por boa parte
da importação de “commodities” do Brasil, e do outro lado, o Brasil importando da china, sobretudo,
os segmentos mais dinâmicos. Esta relação está bastante ligada com o processo histórico, econômico e
social destes dois países.
Com a inserção da China na Organização Mundial do Comércio (OMC) em 11 de Dezembro de
2001, houve modificações profundas no comércio
mundial, e isto afetou e afeta de maneira significativa o Brasil, principalmente nos setores de produtos
básicos, visto que são grandes as exportações deste
para a China. Entretanto há também uma grande
quantidade de manufaturados e tecnológicos que o
Brasil importa da China, pois seus preços são muito
competitivos, seja pela diferença de qualidade como
por políticas fiscais e trabalhistas (mão-de-obra extremamente barata), levando os empresários brasileiros a sentirem-se prejudicados dentro do mercado
Rev. de Negócios Internacionais, Piracicaba, 7 (13): 13-17, 2009
13
interno, e os mesmos tentam de alguma forma, contornar esta situação.
2. METODOLOGIA
Neste trabalho foi utilizado processo histórico e
indutivo. A utilização desses métodos visa apresentar
informações precisas e coerentes sobre o comércio
entre China e Brasil de forma que seus interessados
possam entender e avaliar as vantagens e desvantagens desta relação internacional. A pesquisa bibliográfica foi realizada em livros, revistas especializadas
e sites específicos sobre o assunto na Internet. Os
dados foram coletados de fontes secundárias.
ções. Com a morte de Deng em 1997, os sucessores
Jiang Zemim e depois Hu Jintao (nomeado sucessor
de Zemim em Novembro de 2002), continuaram
ampliando a abertura ao sistema capitalista.
3. CHINA E SEUS MISTÉRIOS
Para que se possa compreender o processo de
inserção da China no comércio mundial e suas relações com os demais países, considera-se importante
apontar e analisar os principais acontecimentos históricos, econômicos e culturais, desde o começo de
sua história (sete mil anos atrás) até os dias de hoje.
3.2 China no Século XX e XXI
Aquino (acesso em: 12/12/2008) relata que a
China do século XX, até então monarquia imperial
agrária sofreu diversos conflitos e revoltas que gerou
mudanças e definições na sociedade até o surgimento da República da China, em 1949.
Para o autor, até meados dos anos 60, a China
era um país fechado para o comércio internacional.
Este quadro muda em 1978, com Deng Xiaoping
no poder, que implantou reformas e modificou o
sistema econômico. Com a entrada da China na
Organização Mundial do Comércio (OMC), em
2001, demonstrou-se por parte de seus dirigentes a
intenção de continuar com programas de reformas
e modernizações, a fim de competir no mercado internacional de forma mais justa.
3.1 China Geográfica e suas Dinastias
De acordo com Mendonça (acesso em:
14/08/08), a República Popular da China – que tem
como capital Pequim – é o terceiro maior país do
mundo, com uma área total de 9.596.960 Km² e o
mais populoso, com 1.306.313.812 habitantes.
Para Tao (1996), os chineses constituem cerca
de um quinto da população mundial. O território é
dividido em 22 províncias controladas pelo governo
local, e estes, se reportam ao governo central na cidade de Pequim. O nome china vem do termo persa
– Cini – que se associa a seda, muito consumida no
Império Romano.
Acrescenta o autor, que desde o inicio da formação de uma população produtiva chinesa, houve diversas dinastias: Shang, Zhou, Qin, Han, Sui, Tang,
Song, Yuan, Ming, Qing. Há o fim das dinastias,
com uma revolução que transformou a China em
uma república (Em 1º Outubro de 1949, Mao Tsetung proclamou a República Popular da China).
Vicentino (2006) explica que, com a morte de
Mao em 1976, houve a ascensão de Deng no poder
em 1977. Durante o governo Deng a meta era: Modernizar a agricultura, a indústria, a defesa e as áreas
de ciências e tecnologias, isto é, as 04 Moderniza-
4. A RELAÇÃO CHINA E BRASIL NO CONTEXTO INTERNACIONAL
Para Ribeiro e Pourchet (acesso em: 19/09/08)
pode-se identificar três fases nos fluxos comerciais
entre Brasil-China desde 1985: a primeira fase
(1985 – 1992) baixo nível de importação neste período e, no que refere-se a exportação, flutuações
em torno de US$ 500 milhões/ano; a segunda fase
(1993 e 1998) com a liberação do comércio exterior
brasileiro e a valorização real da moeda brasileira
– estabilização do Plano Real – as exportações e as
importações, cresceram rapidamente, alcançando
US$ 1 bilhão/ano; a terceira fase (1999 e 2003) alto
fluxo de exportação e importação, alcançando os valores de US$ 4,5 bilhões no âmbito de exportação
do Brasil para a China, e US$ 2,15 bilhões de importações brasileiras da China.
Acrescentam que, as composições das exportações brasileiras à China são bastante concentradas
em poucos produtos e poucos setores, podendo destacar que 47,5% das vendas, referem-se aos setores
agropecuários e extrativos mineral, sendo que em
cada um deles, mais de 90% está ligado a apenas
um produto: Soja (setor agropecuário) e minério de
ferro (setor extrativo mineral). E as importações bra-
14
Rev. de Negócios Internacionais, Piracicaba, 7 (13): 13-17, 2009
sileiras provenientes da China, têm como principais
setores: Equipamentos eletrônicos e Siderúrgicos,
que correspondeu por 40% das importações feitas
em 2003.
4.1 O Mercado de Exportação Brasileiro
Averbug (acesso em: 27/01/09) define a década
de 90 como um período de mudanças significativas
na política de comércio exterior brasileiro, com uma
abertura comercial mais abrangente, que começa no
governo Collor e estende-se até o governo FHC.
Para Pasin (acesso em: 28/01/09) entre 1996 e
2006, a participação brasileira no total de exportações mundiais, saltou de 0,88% para 1,16%, sendo considerado este ciclo exportador, como o de
maior duração e o mais intenso da história recente
da economia brasileira. Explica que, com o processo de abertura comercial e a formação do Mercosul,
ocorrida no inicio da década de 90, houve mudanças quanto ao destino das exportações brasileiras,
até então, concentradas em três mercados: Estados
Unidos, Japão e os países que hoje formam a União
Européia. Nestas mudanças a participação dos países desenvolvidos nas exportações brasileiras, passou
de 64,2% para 42%, enquanto a participação da
América Latina aumentou de 10,4% para 22,8%.
Outro importante mercado, citado pelo autor, em
que houve uma expansão das exportações brasileiras, foi o mercado chinês, cuja participação subiu de
1,2% em 1990 para 6,1% em 2006.
4.2 O Mercado de Exportação Chinês
Puga (et. al, acesso em: 10/09/08) analisa que,
em 2003 as exportações da China alcançaram US$
438 bilhões, em função do ingresso do país na
OMC e as reformas em seu comércio exterior. Até
meados dos anos 90, os produtos que se destacavam
na pauta de exportação, eram artigos têxteis e vestuários. Entretanto, esta composição tem sofrido mudanças, com o aumento significativo do conteúdo
tecnológico em suas exportações, como: informática, aparelhos eletrônicos e de comunicação, além de
máquinas e equipamentos.
Com a “economia de mercado socialista”, a China, para Sukup (2002), destaca-se pela presença de
diversificados capitais estrangeiros, como cita: cervejaria japonesa Santory, Coca-Cola e o McDonald’s.
Com o tamanho do país, tradições culturais, localização geográfica, herança das filosofias do confucionismo e do taoísmo, do revolucionário Mao,
bem como do reformador Deng e do manager Jiang
Zemin, foi de grande contribuição para explicar o
resultado em que a China encontra-se.
4.3 O Início do Comércio Internacional entre
China e Brasil
Cabral Filho (acesso em: 15/05/08) descreve
que, a primeira iniciativa de estabelecer relações diplomáticas e comerciais entre Brasil e China, ocorreu em 1970, com a visita pioneira e por conta e
risco, a Feira de Cantão, do empresário brasileiro
Horácio Coimbra. Após este acontecimento, em
1972, com a ajuda do Ministério das Relações Exteriores, iniciou-se contatos e negociações que levou
o empresário e presidente da Associação Brasileira
de Exportadores, Giulite Coutinho, chefiar missão
empresarial à China.
4.4 Vantagens e Desvantagens do Comércio China e Brasil
Para Puga (et. al, acesso em: 10/09/08), o desempenho econômico chinês foi favorável ao Brasil,
com a intensa relação comercial dos dois países, os
chineses tornaram-se em 2003 o terceiro mercado
consumidor das exportações brasileiras.
Em 2004 o comércio entre Brasil e China, finalizou com um superávit comercial brasileiro de US$
1,7 bilhão, sendo este, representado principalmente pela exportação de minério de ferro e produtos
agrícolas. E, este setor tem espaço para ampliar-se,
devido ao rápido crescimento da população chinesa, tendo como conseqüência, o aumento do consumo e a falta de terras, ocasionando a deficiência
destes produtos no país (RESENDE, acesso em:
19/12/08).
4.5 O Futuro da Relação para os Dois Países
Para Tonocchi (acesso em: 01/03/09), a crise
mundial afetou de maneira expressiva os negócios
entre China e Brasil, provocando uma retração no
fluxo de comércio entre os dois países. Isto é confirmado pelo autor, através da demonstração – em
porcentagem – das exportações brasileiras para o
mercado chinês, que em outubro de 2008, registrou
Rev. de Negócios Internacionais, Piracicaba, 7 (13): 13-17, 2009
15
queda de 20,78% em relação ao mesmo período
do ano anterior, contabilizando US$ 1,4 bilhão
(FOB).
Vassalo (2009) aponta a China como grande
responsável pelo crescimento da economia brasileira
e apesar dos chineses não ter conseguido passar imunes a crise, o pacote de estímulos de 586 bilhões de
dólares liberado pelo governo de Pequim, pode-se
refletir em maior riqueza para outros países e principalmente para o Brasil.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
As economias emergentes chinesa e brasileira
vêem ocupando posição de destaque no comércio
mundial, seja como parceiras ou concorrentes. No
período que antecede a crise mundial, era possível
identificar que a China em relação ao Brasil estava
mais para parceira à concorrente, principalmente no
setor de commodities. Suas economias complementavam-se e, pode-se dizer que uma porcentagem significativa do crescimento recente do Brasil, associase ao gigante consumidor chinês.
Com este novo cenário mundial, rodeado de
incertezas e inseguranças, ocasionado pela crise que
acomete os países, principalmente os desenvolvidos,
já não é mais possível analisar e prever uma tendência de maneira eficiente, de como será o futuro das
relações entre China e Brasil, uma vez que, a instabilidade entre as economias predomina. Quando os
problemas financeiros começaram a abalar as estruturas econômicas dos Estados Unidos e grande parte
da Europa, esperava-se que a China seria capaz de
escapar desta turbulência e firmar-se como nova potência mundial, puxando novamente o crescimento global. Isto não foi possível, pois a dependência
chinesa para com o mercado internacional e, mais
especificamente Estada Unidos, é bem maior do que
se pode imaginar, e a partir do momento que seus
principais parceiros comerciais entrarão em recessão,
o governo de Pequim não pode evitar o contágio.
Para combater a crise, o governo chinês lançou
um pacote econômico de 586 bilhões de dólares, visando dar fôlego à economia e, estes recursos serão
empregados em projeto de infraestrutura e incentivos ao consumo. Mas, para realizar todas essas ações
não basta ter mão-de-obra em abundância, é necessário também matéria-prima; e é justamente neste
contexto que surgem grandes oportunidades para
o Brasil, pois para construir suas grandiosas obras,
dentre elas: ferrovias, rodovias e pontes, haverá necessidade de muito minério de ferro. Outros setores
brasileiros que poderão beneficiar-se são: alimentos
e produtos agrícolas, pois a China precisa alimentar
1,3 bilhão de pessoas e não possuem terras suficientes para tamanha demanda.
Diante destes fatos, parece inquestionável que
a relação China e Brasil tem grandes perspectivas e
possibilidades de crescimento, porém faz-se necessário que os dois países tornem-se parceiros nesta corrida contra o precário cenário em que se encontra
o mundo.
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Rev. de Negócios Internacionais, Piracicaba, 7 (13): 13-17, 2009
17
Commodities Versus Industrialização: O Panorama Brasileiro nas Exportações
CELSO H. R. C. AÍMOLA
Aluno de graduação do Curso de Administração com
Habilitação em Gestão de Negócios Internacionais - GNI-UNIMEP
[email protected]
Resumo: O presente trabalho, primeiro de uma série, avalia alguns aspectos negativos da nova fase de exportação de commodities no Brasil, em detrimento de pesquisa e desenvolvimento. O grande crescimento das
exportações desses produtos, somados à exportação de produtos primários, com grande apoio do governo,
reduz os investimentos em P&D e limita a possibilidade de surgimento de empresas nacionais com produção e exportação de produtos com alto valor agregado.
Palavras-chave: Exportação; Commodities.
Abstract: The present work, first of a series evaluates some negative aspects of the new phase of exportation
of commodities in Brazil, in detriment of research and development. The substantial growth in exportations
of these products, plus the exportation of primary products, with strong support from the government,
reducing investments in R&D and limits the possible emergence of enterprises with production and exportation of products with high added value.
Keywords: Exportation; Commodities.
1. INTRODUÇÃO
Os números das exportações brasileiras apresentam superávit comercial, que resulta mais de uma
grande elevação dos preços dos produtos commodities exportados do que de um efetivo aumento
da quantidade exportada (LACERDA, 2007). O
aumento dos preços das commodities ajuda o crescimento dos números nacionais dos produtos exportados e esconde a realidade, que é a fragilidade
dos números de exportação de produtos com alto
valor agregado, produzidos por empresas de capital
nacional.
Os valores do crescimento brasileiro são pequenos quando comparados aos dos países emergentes:
apenas 3,3% em 2006 - metade da média mundial
– e, apesar de substancial aumento na tonelagem
18
exportada, os valores obtidos com tal exportação
mantêm-se baixos. O que se observa é aumento nas
exportações de commodities e diminuição das exportações de produtos industrializados, sendo que
em 2008, as commodities já respondem por mais de
60% das exportações.
Dessa forma, concorremos sempre em condições desvantajosas com nossos compradores. Por
exemplo, dados de 2007 apontam que compramos da China produtos com custo médio de US$
1.585,25/ton, e vendemos aos mesmos produtos
com custo de US$ 86,17/ton. (GUIMARÃES,
2007). De acordo com o mesmo autor, o Brasil
importou, principalmente, circuitos integrados, ao
custo de US$ 639.241,43/ton, enquanto seu principal item de exportação foi o minério de ferro, ao
Rev. de Negócios Internacionais, Piracicaba, 7 (13): 18-22, 2009
custo de US$ 25,36/ton. Guimarães ainda afirma
que são necessárias 25.600 ton. de minério de ferro
para comprarmos uma única ton. de circuitos integrados, necessários pra o desenvolvimento de empresas de tecnologia.
FHC, em 2000, cunhou a frase “Exportar para
viver”. Lula da Silva, em 2004, bisou a idéia: “Exportar é a solução”, e embora ambos tenham acertado no diagnóstico da doença, erraram na prescrição
do medicamento, pois o mundo globalizado não
exige somente a solução exportadora: a questão hoje
é “o que” exportar.
O presente artigo analisa aspectos e a influência negativa da valorização das commodities e dos
produtos primários para a industrialização nacional,
visando vislumbrar os mecanismos que levam o país
a ser um grande exportador primário e importador
de bens de consumo tecnológicos.
A pesquisa bibliográfica e informações orais foram as técnicas de levantamento de dados utilizada.
2. NÚMEROS NACIONAIS
O Brasil mantém-se na mesma trajetória desde
o final dos anos 80: grande exportador de produtos
primários e de commodities e pequeno exportador
de produtos industrializados. Com isso, torna-se é
cada vez menos expressivo no mercado mundial no
quesito industrialização e em números exportados,
possuindo 1,14% do valor comercializado globalmente. (A. B., 2008)
Em 2006, somente 35% de nossas exportações
foram de produtos industrializados, enquanto, no
mesmo período, as exportações da Índia chegaram a
70% e da China em torno de 90%. (AE, 2007)
Conforme demonstrado no gráfico 1, no período que vai de 1980 a 2006, as exportações brasileiras cresceram 592,8%, enquanto a Índia cresceu
1.299,6% e a China, 5.254,3%, dados que denotam
ainda mais o atraso nacional. Observamos que, em
1980, nossa produção industrial era igual à soma da
produção de Índia e China, e, em 2005, a fabricação
brasileira de manufaturados correspondia a apenas
um oitavo da produção conjunta desses dois países
(PALMA, 2007).
Gráfico 1: Crescimento das exportações brasileiras,
indianas e chinesas, no período de 1980 a 2006.
Dados: BRASIL... , 2007. Gráfico: do autor.
Paradoxalmente junto com o crescimento do
número bruto das nossas exportações, percebe-se o
aumento da dependência das commodities e dos produtos primários na balança comercial: os números
apontam que, em 2006, os produtos industrializados exportados pelo Brasil corresponderam somente
a 37,18%, deixando 62,82% para os produtos commodities. (GRANDES..., 2006).
3. BAIXO VALOR POR TONELAGEM
O grande problema dos produtos exportados
pelo Brasil é seu baixo valor agregado, o que exige
que o país exporte muito para comprar os bens necessários a sua sobrevivência. Tal situação se mantém
mesmo com a alta nos preços das commodities, pois
todos os produtos derivados delas também são inflacionados. Exportamos minério de ferro com valor
inflacionado pela demanda mundial, e compramos
produtos que utilizam aço importado, que incorporam em seu preço a inflação do minério de ferro somada ao custo de industrialização do produto final.
Assim, segundo O’Neill (2008), nosso país parece sofrer processo de desindustrialização, que poderá se tornar visível quando houver queda do valor
das commodities.
4. PESQUISA & DESENVOLVIMENTO
Com a aceleração da globalização, são observados dois tipos de países disputando o mercado global: um que lidera o desenvolvimento tecnológico,
com altos investimentos em P&D – destaque para
os EUA, a Alemanha e o Japão - e outro, que, não
dispondo de tecnologia própria, importam ou se
torna parceiro dos países desenvolvedores, que instalam indústrias nesses locais e passa a fazer parte do
nicho de empresas que nele atuam. Nesse segundo
grupo, destacamos a China e a Índia.
Rev. de Negócios Internacionais, Piracicaba, 7 (13): 18-22, 2009
19
A estratégia brasileira na área industrial tende a
competir no mercado mundial por “preço”, deixando de lado a competição por “diferenciação”, que é
o mais lucrativo e que possui menos competidores.
Para Negri (2005), as indústrias nacionais tendem a
desenvolver somente novos processos industriais, e
não produtos em si. Com isso, diminuem o custo
de produção sem agregar nada de inovação ao produto e aumentam seus números de exportação para
compensar a diminuição do lucro.
Rodrigues (2007) aponta, em um estudo realizado para o Banco Mundial, algumas falhas do
modelo brasileiro. Dados desse estudo mostram
que, “por si só, o custo Brasil não explica por que
a economia brasileira não cresce mais, e de forma
sustentável”, pois tanto China e a Índia apresentam
problemas internos em relação à infra-estrutura, burocracia e ações governamentais, mas ambos tiveram
empresários que enfrentaram as situações nacionais
e ajudaram seus países a crescer em produtividade
e competitividades. O mesmo estudo ainda mostra
que dois aspectos servem como principais freios ao
desenvolvimento nacional: o baixo nível da mão-deobra e a incompreensão dos industriais sobre o que
significa ser inovador no século XXI.
Além de importar pouca tecnologia, as pesquisas
em P&D nacionais são pequenas em relação ao resto dos países desenvolvidos. Dados da Organización
Mundial de la Propiedad Intelectual (FINEP, 2002),
mostram que, entre 2000 e 2005, o Brasil aumentou seus pedidos de patente nos EUA em aproximadamente 33%, enquanto a China aumentou em
1075% e a Coréia em 300%.
Dessa forma, paira a pergunta: há saída para esse
problema que parece ser intrínseco à exportação nacional?
A resposta é: há!
5. EMBRAER
A Embraer é a líder mundial na fabricação de
jatos comerciais de até 120 assentos, uma das maiores exportadoras brasileiras e a 3º maior fabricante
de jatos comerciais do mundo (EMBRAER, 2007).
O seu crescimento no mercado mundial demonstra
a possibilidade de assumirmos um papel prepon20
derante nas exportações, exportando tecnologia e
valor agregado. Além disso, sua criação é um bom
exemplo de política industrial focada em P&D, que
criou uma tecnologia única no país. Mesmo oriunda de projetos militares, vale frisar que, na época
do lançamento da empresa, não possuíamos nem
mesmo tecnologia para o desenvolvimento de automóveis 100% nacionais, e essa empresa foi lançada
sem nenhuma vantagem competitiva preexistente,
como recursos naturais, engenheiros qualificados e
cientistas aeronáuticos.
Segundo Silva (2007), foram investidos na criação da Embraer, aproximadamente, U$ 5 milhões,
sendo que ela gera hoje, por ano, mais de U$ 306
milhões de lucro, além de ser a única empresa nacional líder mundial num mercado de alta tecnologia,
não disputando clientes se baseando em preço, e sim
em inovações.
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao observarmos os dados apresentados, se torna claro que não adianta reforçarmos nossa infraestrutura exportadora se continuarmos a exportar
produtos com baixo valor, pois basear nossas exportações em produtos primários é errar três vezes: 1º)
porque já passamos por ciclos da cana-de-açúcar, de
café do Sudeste entre outros, e sempre nossos ciclos
se fecham de maneiras abruptas e negativas para a
região atingida e para o país como um todo; 2º) todos os estudos demonstram a fragilidade desse novo
ciclo de crescimento mundial, e nossa independência internacional não pode ser atrelada à economia
chinesa: quanto muito pode usufruir dela em seu
proveito e 3º) somos o país que menos cresceu nos
últimos anos e temos uma oportunidade única de
crescimento, com o aumento da demanda por produtos primários e commodities.
Assim, saber capitalizar essa vantagem e sair desse
processo mais fortes do que entramos é o passo primordial rumo à construção de uma grande nação, e
pela primeira vez na história somamos mecanismos
para conseguir dar esse passo. Precisamos deixar de
sermos os maiores exportadores de minério de ferro
e nos tornarmos os maiores exportadores de aço, por
exemplo, algo viável ao país, desde que haja vontade
Rev. de Negócios Internacionais, Piracicaba, 7 (13): 18-22, 2009
política, seriedade administrativa e determinação no
cumprimento de metas e planos, o aproveitando da
facilidade de recursos internacionais e a criação de
indústrias e pólos de tecnologia.
Não pregamos aqui o final das exportações das
commodities e de produtos primários, mas acreditamos que devemos fincar nossas bandeiras nos mercados internacionais de commodities nos quais somos líderes, manter nossos mercados consumidores
para produtos de baixo valor e baixa tecnologia, e,
ao mesmo tempo, aumentar nossos investimentos
em educação e em P&D, privilegiando o direcio-
namento dos recursos às indústrias de produção
de tecnologia em detrimento dos exportadores de
commodities, para que tenhamos, assim, uma gama
ampla de produtos para exportação e, com isso,
diminuirmos a dependência de um único tipo de
mercado.
Além disso, investimentos em educação e o
apoio ao empreendedor são medidas urgentes para
que um dia passemos a ser um país com importância estratégica no mercado mundial e para que abandonemos o eterno rótulo de “país do futuro”, nos
tornando o país do presente.
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Porto de Paranaguá: Seu Perfil e Sua Relevância
no Sistema Portuário Brasileiro
CLAUDINEI VIEIRA
[email protected]
VALMIR LUIZ CAZON
Estágio Supervisionado em ADM - GNI - UNIMEP
[email protected]
Resumo: O objetivo deste artigo é discutir o perfil do Porto de Paranaguá e sua relevância em relação ao Sistema Portuário Brasileiro. Procurou-se identificar os diferentes tipos de transportes existentes e desenvolver
um cenário sobre as reais mudanças efetuadas logo após a implantação da Lei de Modernização dos Portos,
com os entraves do Sistema Portuário Brasileiro.
Palavras-chave: Transporte; Sistema Portuário; Porto de Paranaguá.
Abstract: The aim of this paper is to discuss the profile of the Paranaguá Port and its relevance to the Brazilian Port System. It looked for identify the different kinds of transport available and develop a scenario on
the real changes effected soon after the implantation of the Ports Modernization Law, with the impediments
of the Brazilian Port System.
Keywords: Transport; Port System; Paranaguá Port.
1. INTRODUÇÃO
No mundo da globalização, tudo circula: dos
capitais ao conhecimento. Se, por um lado, muito
daquilo que transita o faz de maneira virtual, por
meio de fios, cabos ou fibras ópticas, por outro, pessoas e mercadorias devem ser deslocadas fisicamente
de um local para outro (KONDO, 2001). E para a
realização deste deslocamento existem os meios de
transportes que são importantíssimos para o funcionamento do mundo moderno.
Por isso vem se investindo na infra-estrutura
desses meios de transportes que inclui a malha rodoviária, férrea, aérea, fluvial, dutoviário, etc. que é
usada através dos terminais como aeroportos, estações de trem, portos, terminais de ônibus.
No que tange os portos, é evidente que para
chegar ao sistema portuário brasileiro existente, foi
necessário algumas reformas e principalmente introduzir uma Lei Portuária, que auxiliou na evolução
da tecnologia e na privatização dos portos. Mas é
claro que as mudanças não foram tão rápidas assim.
Para elaboração deste artigo será utilizado o método de pesquisa observacional, no que diz respeito
à análise das tendências das exportações e importações do Porto de Paranaguá nos últimos anos, e
o método histórico, utilizado principalmente na
caracterização da evolução dos portos a fim de possibilitar uma análise atual deste modal, ou seja, do
transporte marítimo, focado, é claro, no Porto de
Paranaguá.
Rev. de Negócios Internacionais, Piracicaba, 7 (13): 23-29, 2009
23
2. OS MEIOS DE TRANSPORTE
Dentre as formas de transportes existentes destacam-se:
(a) Transporte Terrestre: é caracterizado quando o deslocamento se dá por terra firme, sendo permitidas as variações rodoviárias, ferroviária, e modos
especiais, de uso restrito (FARIA, 1998, p. 19). Os
principais veículos de transporte terrestre de mercadorias são principalmente os caminhões e trens.
(b) Transporte Aéreo: é caracterizado principalmente por vencer grandes distâncias em curtíssimo espaço de tempo, porém a baixa capacidade do
veículo de transporte aeroviária torna sua utilização
restrita a pequenos lotes de carga, o que resulta no
elevado custo médio por tonelada movimentada
(FARIA; 1998, p. 27). Os principais veículos de
transporte aéreos de mercadorias são: avião, helicóptero, avioneta, jato, etc.
(c) Transporte Dutoviário: é utilizado para
transportar produtos através de condutas tubulares,
como o petróleo e o gás natural. As principais características desse transporte é a facilidade de construção e manutenção das suas infra-estruturas; custo
baixo no transporte de recursos energéticos e o risco
de impactos ambientais são baixos.
(d) Transporte Marítimo ou Aquaviário: suas
características fundamentais são o baixo consumo
de energia por tonelada movimentada e a circulação
de grandes volumes de carga a cada viagem (FARIA,
1998). Os principais veículos de transporte marítimo ou aquaviário são: submarino, navio, barca,
transatlântico etc.
3. SISTEMA PORTUÁRIO
No geral, o desenvolvimento econômico está
ligado com o papel catalisador dos portos. Adam
Smith apud Pádua e Serra (2006, p. 57) afirma que
“a força central da economia na sociedade capitalista
está na divisão do trabalho, e a extensão em que esta
divisão pode manifestar-se está relacionada principalmente com o tamanho do mercado que pode
atingir”.
A melhoria que se pode notar nos últimos anos
na operação portuária causou maior impacto no
custo do frete marítimo para os países exportadores
do que para os países importadores. As mudanças na
operação das atividades portuárias não apenas possi24
bilitarão redução nos custos dos fretes, mas também
atrairão tanto serviços adicionais de linhas regulares
quanto carga adicional para ser transportada. Tanto
a disponibilização de novas linhas regulares quanto
o incremento na oferta de carga levarão a uma redução nas tarifas dos fretes.
3.1 Sistema Portuário Mundial
De acordo com Oliveira (1996) o sistema portuário mundial está dividido em três grandes grupos:
Europa, América do Norte e Ásia. Tais continentes
possuem a melhor localização geográfica no que
tange às rotas mercantes internacionais. Fora deste
contexto, podem-se citar os portos da América Latina, África e Oceania.
A Europa representa um extraordinário mercado consumidor de elevado padrão econômico, sendo assim, para sustentar o intenso intercâmbio entre
os continentes, possuem em sua estrutura diversos
portos com movimentações elevadas, destacandose: o porto de Roterdã na Holanda, Antuérpia na
Bélgica, Hamburgo e Bremen na Alemanha, Havre
e Marselha na França (FARIA; 1998).
O complexo portuário norte-americano está
distribuído pela costa leste (Oceano Atlântico), costa oeste (Oceano Pacífico), golfo do México (sul) e
na região dos Grandes Lagos, que faz fronteira com
o Canadá. No oceano Atlântico, por exemplo, destacam-se os portos de: Nova Iorque, Nova Jersey,
Charleston, Baltimore, Filadélfia, Boston, Jacksonville, Houston, Nova Orleans, Miami, e o complexo
portuário de Hampton Roads. Já no oceano Pacífico: Long Beach, Los Angeles e Portland (FARIA;
1998).
Em relação aos portos da Ásia, destacam-se o
Porto de Hong Kong, Cingapura e do Japão (seu
complexo portuário é dividido em três baías principais: a Baía de Tóquio - com os portos de Chiba,
Tóquio, Kawasaki e Yokohama; a Baía de Ise - com
os portos de Nagoya e Yokkaichi e a Baía de Osaka
- destacando-se os portos de Osaka e Kobe (FARIA;
1998).
3.2 Sistema Portuário Brasileiro
O sistema portuário brasileiro se caracteriza pela
movimentação predominante dos terminais de uso
privativo (FARIA; 1998).
Rev. de Negócios Internacionais, Piracicaba, 7 (13): 23-29, 2009
Por conta disto, o governo federal investiu mais
de R$ 270 milhões em portos, por meio de uma iniciativa denominada Agenda Portos (grupo interministerial da Casa Civil da Presidência da República),
com objetivo de levantar aspectos legais, institucionais e operacionais que comprometem as atividades
portuárias de 10 dos 54 portos brasileiros, além de
apontar soluções a serem implementadas até 2010.
A idéia é melhorar o escoamento da produção agrícola e industrial aprimorando a performance das
exportações do País e das operações portuária (LABJOR, 2004).
Foram analisadas as situações das operações portuárias e detectados problemas operacionais (falta de
dragagem - retirada de entulhos de rios e do mar,
problemas de vias de acesso, congestionamentos de
trens e caminhões, além de aspectos gerenciais) em
alguns portos brasileiros, que juntos respondem por
89% das exportações brasileiras (LABJOR, 2004).
Entre as soluções apontadas pela Agenda Portos estavam o alargamento ou duplicação das vias
de acesso, reordenação do trânsito nas localidades
próximas às zonas portuárias, além de novas rotas de
ligação direta entre as rodovias BR´s e os terminais,
pavimentação de ruas e construção de estacionamentos para se evitar filas na entrada dos portos e
ainda tiveram que ser adotadas medidas administrativas com a integração dos sistemas de informações
e criação de centros administrativos únicos (LABJOR, 2004).
Um dos grandes problemas que normalmente
existe nas cidades portuárias é falta de entrosamento
entre as administrações portuárias e as prefeituras
municipais. Como não existe, na maioria dos casos,
uma sintonia entre estes dois instrumentos, o entorno do porto está sempre congestionado com habitações desordenadas e com contingente populacional
de baixa renda, trazendo dificuldade para a desocupação dessas áreas. Este último aspecto tornou-se
relevante nas últimas três décadas, principalmente
a partir do estabelecimento da Política Nacional
do Meio Ambiente. Assim, as regiões portuárias
apresentam cenários de conflito entre os aspectos
ambientais, sociais e econômicos, constituindo um
desafio para a sociedade e administradores nos distintos níveis do poder (ALBULQUERQUE, et al,
2009).
4. MODERNIZAÇÃO DOS PORTOS E AS
REAIS MUDANÇAS EFETUADAS
Os portos brasileiros sofreram uma completa reestruturação através da “Lei de Modernização
dos Portos” (Lei nº 8.630/1993), visando torná-los
mais ágeis e competitivos frente ao mercado internacional, visto que os custos operacionais são ainda
muito superiores aos praticados no exterior. Através
desta Lei, praticamente todos os serviços e estruturas
até então operados pelo governo (fosse ele federal,
estadual ou municipal) foram privatizados através
de contratos ou arrendamentos, ficando o governo
apenas com a administração em si e com papel de
Autoridade Portuária.
Apesar da idéia da reestruturação dos portos
com a “Lei de Modernização” nem tudo ainda está
como deveria. Atualmente, é possível dizer que o
modal marítimo representa cerca de 95% do volume transportado internacionalmente, e mesmo
assim, não recebe investimentos de acordo com sua
importância para o país.
Pode-se notar um entrave ao sistema portuário
brasileiro ao observar as garantias exigidas pelos órgãos de financiamentos para a construção das embarcações, engessando assim o desenvolvimento da
indústria de construção naval brasileira (PÁDUA,
SERRA, 2006).
Diversos estudos têm sido elaborados nos últimos anos, com o objetivo de identificar os principais
gargalos dos portos brasileiros. Porém, a conclusão
mais sensata que se pode chegar até o momento é de
que a precariedade dos acessos rodoviários e ferroviários, bem como a falta de dragagem de manutenção, são os grandes entraves.
Outro problema são as filas de caminhões que
se estendiam pelas avenidas e estradas dos principais
portos do país e sempre no período mais crítico do
ano, durante a safra. Algumas soluções apontadas
por Basílio e Cardoso (2006) seriam o alargamento
ou duplicação das vias de acesso aos portos, reordenamento do trânsito próximo aos portos, melhor
pavimentação das ruas, construção de estacionamentos para os caminhões e desenvolvimento e solidificação de parcerias público-privadas.
Como se pode perceber, a questão dos portos
está centrada na falta de investimentos em infra-estrutura (BASÍLIO, CARDOSO, 2006).
Rev. de Negócios Internacionais, Piracicaba, 7 (13): 23-29, 2009
25
Em suma, estes fatores acabam por desequilibrar
a oferta e a demanda, gerando atrasos na entrega dos
produtos e com isto elevando o preço dos fretes.
Resultado ocorre a redução da competitividade dos
produtos ao comercializá-lo no mercado externo.
Existem alguns fatores conceituais muito importantes e que tendem a levar um porto a ter melhores
condições, tais como (PÁDUA, SERRA, 2006):
(a) Capacidade operacional: definida pelas
características físicas de calado (profundidade em
que cada navio está submerso na água), número de
berços, área de armazenagem e área de expansão e
pelas características dos equipamentos e sistemas
operacionais;
(b) Proximidade da região produtora: a localização do porto perante os grandes pólos produtores;
(c) Adequação dos acessos rodoviários e ferroviários, mesmo se estes forem capazes de atender a
demanda futura a fim de melhorar continuamente
a logística externa;
(d) Uma boa relação com a cidade próxima
ao porto: tal iniciativa busca a definição do uso do
solo que fica ao redor porto para atividades que promovam seu desenvolvimento e, conjuntamente, o
da cidade;
(e) Equilíbrio entre os papéis de administrador,
de operador e de alavancador do porto (Conselho
de Administração ou outra autoridade responsável);
(f) Maior ou menor dificuldade nos acordos
entre empresários e trabalhadores do subsetor:
utilização de mão-de-obra própria e/ou existência
de acordos de utilização;
(g) Características dos acionistas dos terminais portuários: estratégia na gestão de longo prazo, interesse em outros segmentos da infra-estrutura
para uma atuação integrada, experiência operacional etc.; e
(h) Ofertas econômicas diversificadas aos
embarcadores através da existência de operadores
logísticos.
5. O PORTO DE PARANAGUÁ E SUAS INFLUÊNCIAS
O porto está localizado na cidade de Paranaguá, no estado do Paraná, e sua área de influência
compreende o estado do Paraná e parte dos estados
26
de São Paulo, Santa Catarina, Rio Grande do Sul e
Mato Grosso do Sul. Os principais produtos exportados são: algodão, containeres, álcool, papel, soja,
farelo, veículos, óleo de soja, milho, madeira, sal,
fertilizante, congelado e açúcar.
O porto utiliza cinco pontos de atracação para
embarque de cereais, soja, farelos, milho e desembarques de trigo, cevada, malte (extrato de cereal),
além de sal, fertilizantes e minério (MINISTÉRIO,
2002).
A transformação do Porto de Paranaguá em um
porto moderno ocorreu após o decreto nº 5.053 em
1872. Naquele momento, foi concedido aos Srs.
José Gonçalves Pecego Júnior, Pedro Aloys Sherer e
José Maria da Silva Lemos, o direito de construção e
exploração do porto. Já em setembro de 1889, outro
decreto, nº 6.053, foi instaurado, passando o direito
de administração do porto ao Governo do Paraná,
o qual ficou nomeado como APPA (Administração dos Portos de Paranaguá e Antonina) (APPA,
2009).
Sendo assim, o Porto de Paranaguá é considerado o maior porto do sul do Brasil, tendo como
principal atividade a exportação de grãos, e também
é bastante utilizado pelo Paraguai para o transporte
de carga alfandegada, através de um contrato que foi
fechado com o Brasil (APPA, 2009).
Este porto é considerado um dos principais do
país quando se fala em movimentação de cargas. Ele
só é superado, pelos portos de Tubarão, no Espírito
Santo; de Itaqui, no Maranhão; de Santos e de São
Sebastião, em São Paulo. Porém, é importante mencionar, que no aspecto das exportações de produtos
agrícolas, este porto garante a liderança dos embarques de soja em grão e farelo (SUZUKI, WOSCH,
2000).
Nos anos 2000, em relação às importações, os
desembarques de fertilizantes lideraram as operações de granéis sólidos. Desde 1973, os embarques
de farelo e de soja em grão respondiam pela maior
parcela das operações com granéis sólidos. Também
é importante destacar que até o ano de 1997 a movimentação de farelo era cerca de três vezes o volume
da soja em grão (SUZUKI, WOSCH, 2000).
Quando se olha para a carga de forma genérica,
é notório que o Porto de Paranaguá no escoamento
a granel da produção agrícola impõe pequena parti-
Rev. de Negócios Internacionais, Piracicaba, 7 (13): 23-29, 2009
cipação em relação a este tipo de modalidade. Dentre 1965 e 1976, por exemplo, o café foi o principal
produto movimentado. Em 1975, por conta da
grande geada ocorrida, este tipo de cultura foi praticamente arrasada, sendo somente retomado a partir
dos anos 80. De forma paralela, houve o aumento
das cargas de madeira e o aparecimento de produtos
tais como: congelados, papel e açúcar (SUZUKI,
WOSCH, 2000).
Nos dias atuais, o que se pode notar é que a
exportação de soja é um dos carros-chefes entre as
commodities comercializadas. De acordo com o site
oficial do Porto de Paranaguá (APPA, 2009), a exportação de soja pela Companhia Brasileira de Logística (CBL), empresa esta que atua com embarque
de granéis, será 20% maior que 2008. De acordo
com a empresa, se tem em mente o embarque de 1,8
milhões de toneladas do grão. Isto foi possível por
conta de dois novos silos graneleiros, os quais ampliaram a capacidade de armazenagem da empresa
para 110 mil toneladas.
Para se ter um panorama do cenário de itens
exportados em 2008, o Porto de Paranaguá movimentou mais de 14 milhões de toneladas de granéis
sólidos (soja, farelo, milho e açúcar). Em 2009, de
janeiro a março, já foram exportadas 1,1 milhão de
toneladas de soja. Da mesma forma, as exportações
de milho e açúcar seguem esta tendência de crescimento, com aumentos de 51% e 13%, respectivamente em comparação a 2008 (APPA, 2009).
Atualmente, o Pátio Público de Triagem tem
capacidade para cerca de 900 vagas para caminhões
com destino ao Corredor Público de Exportação
onde a movimentação de caminhões também é intensa (APPA, 2009). Diariamente, chega ao porto
uma média de 1.000 a 1.200 carretas, sendo que
de 300 a 350 caminhões são encaminhados para o
terminal público de grãos. Uma novidade em 2009
é que o silo público passará a ter um novo sistema de
controle de armazenamento, o qual dará condições
para que até 1.400 caminhões girem tranquilamente sem a formação de filas ao longo da rodovia em
direção ao porto.
Para conter a maior parte dos problemas que o
Porto de Paranaguá vinha enfrentando nos últimos
anos, a Appa confirmou em fevereiro dez obras e
projetos a serem realizados nos Portos do Paraná em
2009: (1) Terminal Público de Fertilizantes, (2)
Pátio Público de Veículos, (3) Plataforma Aduaneira, (4) Pátio de Triagem de Caminhões, (5)
Terminal Público de Frigorificados, (6) Aquisição da Draga, (7) Corredor Oeste de Exportação,
(8) Remodelação do Cais / Aprofundamento, (9)
Porto Público do MERCOSUL e (10) Revitalização do Porto de Antonina.
Além destas obras, haverá a criação, em 2009,
de um recinto industrial alfandegado em Paranaguá
que trará empregos e como conseqüência, renda
para a região. Este projeto prevê a instalação de 12
indústrias não-poluentes numa área que está em
processo de aterramento pela Appa.
Tais investimentos já estão demonstrando resultados para a receita do Porto de Paranaguá. A
capacidade operacional do Porto de Paranaguá foi
fator decisivo para que sete armadores se reunissem
num único serviço e optassem por movimentar seus
contêineres no terminal paranaense (APPA, 2009,
p. 3). Esta medida é o resultado da crise econômica
internacional que vem afetando as empresas desde o
último trimestre do ano passado (2008), que acabou
por obrigando as empresas a se unirem neste período de baixa no comércio externo.
Em contrapartida com a crise econômica, a
armadora MSC apliou suas operações. A partir de
13 de março, passou a movimentar 360 contêineres
por semana, entre importação e exportação (APPA,
2009).
Sendo assim, é possível identificar a importância
que um porto bem estruturado tem em relação à
economia de um país, trazendo investimentos externos por conta da confiabilidade demonstrada por
sua infraestrutura moderna.
6. RELEVÂNCIA DO PORTO DE PARANAGUÁ
PARA O SISTEMA PORTUÁRIO BRASILEIRO
Atualmente, o Porto de Paranaguá lidera as exportações de grãos da América Latina, tendo seu
volume equilibrado ao mesmo período de 2007. Ele
é responsável por mais de 30% do volume total embarcado no Brasil.
Em 2009, a previsão para exportação de soja
chegará a 23 milhões de toneladas em todo o país
e o Porto de Paranaguá deverá alcançar níveis ainda
maiores de exportação (APPA, 2009).
Rev. de Negócios Internacionais, Piracicaba, 7 (13): 23-29, 2009
27
O Porto de Paranaguá teve um forte destaque
nas exportações em 2008, o açúcar. Foi registrado
um aumento de 28% quando comparado com
2007. Outro ponto que merece destaque foi às exportações de contêineres, as quais acabaram por se
equiparando ao ano de 2007, com cerca de 297.301
unidades exportadas. Este foi o fato principal que
contribuiu para o crescimento da receita cambial
da Appa, afinal, a carga exportada via contêineres
possuem um valor agregado diferenciado (APPA,
2009).
Por outro lado, as importações realizadas pelo
Porto de Paranaguá ficaram centradas em 2008 em
veículos, com alta de 35%. No total, foram 80.503
veículos importados, contra 59.546 de 2007 (APPA,
2009). De maneira negativa, a crise financeira que
teve início nos Estados Unidos no segundo semestre
de 2008 fez cair a importação de fertilizantes. Sendo assim, houve uma queda brusca nos preços, os
importadores diminuíram o ritmo dos negócios e o
Porto de Paranaguá fechou o ano com a importação
de 5,9 milhões de toneladas do produto, com uma
queda de 20% em relação a 2007, porém, mesmo
com esta queda, o Porto continua sendo o principal
ponto de entrada de fertilizantes no Brasil (APPA,
2009).
Do total geral da movimentação das cargas durante o ano de 2008 (33.005.270 toneladas), cerca
de 67%, ou seja, 22.147.591 toneladas foram exportadas e 33% se deram através de importações
(APPA, 2009). Sendo assim, os produtos que mais
se destacaram na composição das exportações e
importações, em 2008, foram o açúcar, containeres, cevada e veículos. No contexto geral, a Receita
Cambial, fechou o ano de 2008 com um acréscimo
de 18,91%, cerca de 14,02 bilhões de dólares, contra 11,79 bilhões de 2007 (APPA, 2009).
7. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Encerra-se este trabalho com a visualização da
relevância do Porto de Paranaguá ao Sistema Portuário Brasileiro por ser um grande escoador de
produtos brasileiros. Principalmente em relação aos
grãos, e mais do que isso, por demonstrar que com
os investimentos nele centrados, está sendo possível maximizar sua capacidade produtiva a fim de
atender a demanda das exportações e importações.
Dessa forma, o ciclo se completa, ou seja, o projeto
da criação das empresas na região portuária gera emprego, aumenta-se a renda e há um impacto positivo
em relação à economia brasileira. Neste sentido, observou-se que a Administração dos Portos do Paraná
(APPA), está focando os fatores apontados no trabalho ao idealizar um projeto capaz de minimizar os
problemas dos portos de maneira geral: capacidade
operacional; proximidade da região produtora; adequação dos acessos; o relacionamento com a cidade
próxima ao porto; equilíbrio entre os papéis das pessoas que tomam a frente das decisões nas empresas
e nos portos; características dos acionistas e ofertas
econômicas diversificadas a fim de serem utilizados
para a estruturação do Porto de Paranaguá. Certamente os resultados irão aparecer, e a concretização
dos investimentos será observada através do retorno
obtido pelo aumento da receita portuária e da satisfação dos investidores (empresas que utilizarão os
serviços portuários).
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Rev. de Negócios Internacionais, Piracicaba, 7 (13): 23-29, 2009
29
O papel das Sogo Shosha (Trading Companies
Japonesas) no processo de comercialização do
Etanol Brasileiro
DANIEL FRASSON COSTA
[email protected]
CRISTIANO MORINI
Estágio Supervisionado em ADM – GNI - UNIMEP
[email protected]
Resumo: Atualmente um problema enfrentado, em escala mundial, é o aquecimento global e suas conseqüências catastróficas. Tal dificuldade, sendo criada a partir da queima de combustíveis fósseis (como a
gasolina) e a emissão de gases poluidores, gerou a necessidade de um combustível mais limpo e renovável
(o Etanol, por exemplo). O Brasil desponta como maior produtor deste combustível e o Japão como maior
importador. Assistimos, neste momento, o estreitamento das relações comercias nipo-brasileiras proporcionadas pelas Sogo Shosha ou Trading Companies Japonesas.
Palavras-chave: Sogo Shosha, Trading Company, etanol, Brasil, Japão.
Abstract: Currently a faced problem on a global scale, is the global warming and its catastrophic consequences. This difficulty has being created from the burning of fossil fuels (as gasoline) and the emission of
polluting gases, generated the need for a cleaner and renewable fuel (as ethanol). Brazil stands as the largest
producer of this fuel, and Japan as the largest importer. We saw this moment, the strengthening of trade
relations Japan-Brazil offered by Sogo Shosha or Japanese trading companies.
Keywords: Sogo Shosha, Trading Company, ethanol, Brasil, Japan.
1. APRESENTAÇÃO HISTÓRICA
A recuperação econômica do Japão, no período pós-guerra, surpreendeu o mundo, atribuindose diferentes razões ao sucesso nipônico, como por
exemplo, a “religiosidade do povo Japonês” (VERGARA & YAMAMOTO, 1997, p. 38), ou ainda a
“escassez de recursos naturais do território nipônico
como fator de incentivo à superação de seus próprios limites” (FRIEDMAN & LEBARD, 1991),
por sua vez, Webb (1960) e Vizentini (1996) lembraram das intervenções norte-americanas para com
30
a Terra do Sol Nascente, principalmente no período
pós-guerra.
Durante a segunda guerra mundial, o território japonês sofreu intensamente com bombardeios
(com destaque para o ataque atômico das cidades de
Hiroshima e Nagasaki) os quais destruíram grande
parte de todas suas estruturas físicas (prédios industriais, residenciais, públicos; usinas elétricas, portos
e aeroportos) e mataram mais de oito milhões de
pessoas, entre civis e militares, durante os anos do
conflito.
Rev. de Negócios Internacionais, Piracicaba, 7 (13): 30-34, 2009
Após a derrota, o Japão ficou ocupado pelos Estados unidos até 1952. Os Estados Unidos realizaram um investimento pesado nas indústrias de base
japonesa, em especial nos grandes conglomerados
que a partir de então começaram a adquirir novas
características operacionais e comercias, sendo renomeados mais tarde para SOGO SHOSHA., empresas japonesa que possui a mesma função básica das
Trading Companies ocidentais, sendo a principal o
comércio internacional de importação e exportação
de mercadorias.
Contudo, as Sogo Shosha não podem ser confundidas com as Trading Companies ocidentais, pois
a característica mais importante, diferenciadora das
demais, está na ampla diversidade de produtos comercializados (de reatores nucleares a guloseimas
chinesas), assim:
Uma das mais marcantes características de
uma trading company japonesa é sua vasta gama de produtos, alcançando dez mil
diferentes. Assim sendo, é comum dizerse que as SOGO SHOSHA negociam de
tudo, começando por macarrão instantâneo a reatores nucleares (HASEGAWA,
1987, p.81).
Atualmente acrescenta-se a essa lista outros setores mais modernos, bem como biogenética e bioseguranca, multimídia além de telecomunicações
(satélites e afins) e a indústria espacial, como menciona Söderberg (2000). Outro produto marcante é
a comercialização de bicombustíveis, como veremos
mais adiante.
2. TRADING COMPANY NO BRASIL
No Brasil, as Trading Companies tiveram sua
criação e regulamentação em um período de grande
prosperidade e desenvolvimento econômico do país,
chamado de “milagre brasileiro” (melhor dizendo,
durante os anos de 1968 a 1973, fase de consolidação do II PND - Plano Nacional de Desenvolvimento). Tendo em vista esse fato, observaremos e
entenderemos uma Trading Company no Brasil, que
possui como principal objetivo o desenvolvimento
e incentivo à atividade exportadora brasileira, destacando ainda que a atividade dessas empresas não se
confunde com a de produção para exportação ou de
representação comercial internacional, mas caracteriza-se, especialmente, pela aquisição de mercadorias no mercado interno para posterior exportação
(EMPRESA..., 2008).
No Brasil, as empresas com atividades produtivas, industriais ou comerciais, destinadas ao mercado externo, possuem um tratamento diferenciado
no que se diz respeito aos tributos exigidos pelos
municípios, estados ou pela federação. As empresas
exportadoras estão imunes do IPI (Imposto sobre
Produtos Industrializados), e beneficiam-se da não
incidência do ICMS (Imposto sobre Circulação de
Mercadorias e Serviços), entre outros.
Entretanto, um problema enfrentado estava na
denominação que estas empresas assumiam no Brasil, podendo ser chamadas de Trading Company ou
também de Comercial Exportadora. Com essa dificuldade, recorreremos a Ratti (1991) e ao seu posicionamento, descrevendo uma comercial exportadora como “uma modalidade de Trading Company,
criada pelo Decreto-lei n.º 1.248/72 e que se dedica
à exportação unicamente” (RATTI, 1991, p.90).
E, desta forma concluímos que não existem mais
divergências legais entre essas empresas, pois estão
equiparadas legalmente segundo o DL 1.248/72, e
a Portaria SECEX nº 36, de 26/11/2007). A única
diferença observada entre uma Trading Company e
uma Comercial Exportadora é o termo empregado,
apenas uma divergência lingüística.
3. DESENVOLVIMENTO DO ETANOL NO
BRASIL
Com o início do conflito armado em território
europeu à época da I Guerra Mundial, a falta de
gasolina no Brasil era um problema real. Essa situação trouxe motivação para que usinas nordestinas
realizassem experiências de misturas de álcool com
outros combustíveis, prática que se tornou comum
no nordeste.
Com o consumo do álcool carburante em franca
ascensão, o governo brasileiro se vê obrigado a criar,
em 1933, o Instituto de Açúcar e Álcool (IAA), visando facilitar a liberação de créditos destinados à
criação de lavouras de cana-de-açúcar e usinas sucro-alcooleiras e ainda investir em pesquisas para
o aperfeiçoamento da produção de álcool (MARCOCCIA, 2007).
Rev. de Negócios Internacionais, Piracicaba, 7 (13): 30-34, 2009
31
Findada a primeira guerra mundial, o período
de paz não se prolonga por muito tempo: os países
dependentes de petróleo importado sofrem um novo
golpe, estando novamente reféns do racionamento de combustíveis derivado do petróleo. Durante
esse período, no Brasil, a adição de álcool à gasolina
atingia a ordem de 42%, elevando o seu consumo a
patamares jamais visto (MENEZES, 1980).
Em 1973, mediante o conflito entre árabes e
judeus, a Organização dos Países Produtores de
Petróleo (OPEP) lança um embargo à produção e
oferta de petróleo aos Estados Unidos e Europa, limitando quotas diárias de produção, fazendo com
que o preço do petróleo alçasse patamares jamais
vistos, gerando um fenômeno conhecido globalmente como “primeiro choque do petróleo”. Nesse
período o Brasil, detentor de boa tecnologia e vasta
experiência na produção e utilização do álcool como
fonte alternativa de combustíveis, cria por meio do
Decreto 76.593 de 14/11/1975, um agressivo plano de investimentos para estimular a produção de
álcool, por meio da expansão das áreas cultiváveis
e a construção de destilarias, nomeado de Programa Nacional do Álcool, ou popularmente Proálcool
(MARCOCCIA, 2007).
Atualmente, o uso do etanol objetiva razões estratégicas e ambientais: as constatações científicas
acerca do aquecimento global e das mudanças climáticas mundial, por meio da emissão do gás carbônico (sendo o principal agente emissor, veículos
automotores movidos por combustíveis fósseis) despertou conscientização mundial sobre o efeito estufa
e suas conseqüências. O Brasil, sendo o maior e mais
experiente produtor mundial de etanol, torna-se referência global em combustíveis renováveis.
3.1 Oferta de Energia
Ao final do século XVIII, a revolução industrial assume o status de marco do desenvolvimento
econômico, tecnológico, cultural, político, modificando os padrões e parâmetros das sociedades influenciadas. Contudo, da revolução industrial até o
presente momento, a situação pouco mudou, tendo
em vista que a matriz energética do capitalismo moderno ainda é sustentada pela queima de combustíveis fósseis (carvão mineral e vegetal, petróleo e de
seus derivados), agravando ainda mais o processo
32
de emissão dos gases responsáveis pelo efeito estufa.
Conforme pode se observar no Gráfico 1, notamos
o surgimento de novas fontes de energia, como a
hidráulica, a nuclear e os produtos da cana.
Gráfico 1: Oferta de energia no Brasil e suas fontes.
FONTE: MINISTÉRIO DE MINAS E ENERGIA, 2007.
O Gráfico 1 apresenta informações que mostram que a utilização da lenha e carvão vegetal vem
declinando significativamente do século XX para o
XXI, frente a outras formas de energia, como petróleo de derivados, cuja utilização se massificou a
partir dos anos 1940.
Lançadas as discussões sobre as mudanças climáticas, destacamos a Conferência de Kyoto, realizada no Japão em dezembro de 1997, quando os
países membros da Convenção sobre Mudanças
Climáticas (CMC) assinaram o Protocolo de Kyoto, documento que cria leis e dita metas de redução
e combate ao aquecimento global, e que ainda sugere a substituição da gasolina por outras fontes mais
limpas, como o etanol. Severo (2006) afirma que,
para os países desenvolvidos, o álcool carburante
brasileiro é o único caso de sucesso no mundo no
uso de combustíveis renováveis em grande escala.
4. O COMÉRCIO MUNDIAL DO ETANOL
Ao lado da euforia aparentemente justificada
pelas oportunidades de negócios que os biocombustíveis abrem, deparamo-nos com diversas questões
políticas, como o posicionamento oficial da ONU e
de seu relator, Jean Ziegler, para o direito à alimentação, afirmando que o uso de terras férteis para a
produção de álcool reduz a área destinada às culturas
tradicionais de grãos, como o arroz e o trigo, sendo
este fato “totalmente contrário aos interesses dos povos mártires da fome” (DUAILIBI, 2008, p. 34).
Rev. de Negócios Internacionais, Piracicaba, 7 (13): 30-34, 2009
Segundo Marcoccia (2007), mercados competitivos do petróleo tendem a inferiorizar a produção
de etanol, objetivando macular a imagem e o uso do
combustível. Sustentando suas declarações em dados do Ministério da Ciência e tecnologia (MCT),
o governo brasileiro afirmou que o etanol brasileiro
pode substituir 10% da demanda mundial de gasolina em 2025, sem atingir reservas florestais ou
outras fronteiras agrícolas. É, sem dúvida, uma afirmação polêmica.
5. SOGO SHOSHA E ETANOL
Para atender as necessidades nipônicas, é fundamental que as Sogo Shosha façam uma pesquisa de
mercado, de forma a atender as solicitações contemporâneas, inserindo novos produtos em sua vasta
oferta comercial, como é o caso do etanol, produto
diretamente associado ao Brasil, e pertinente a um
dos maiores problemas contemporâneos da humanidade (o aquecimento global e suas conseqüências
catastróficas).
Ao iniciar esta pesquisa acadêmica, acreditávamos que o papel de uma Sogo Shosha, durante o
processo de internacionalização e comercialização
do etanol brasileiro, era o de um interlocutor entre
produtor e consumidor. Contudo as Sogo Shosha
agem de maneira singular, quando não buscam apenas uma etapa da comercialização do etanol, e atuam ampliando e desenvolvendo a produção, como é
o caso da empresa Itochu.
Segundo afirmou Akira Yokota, vice-presidente
executivo da trading japonesa: “Muitos se interessam apenas pela parte final dos projetos. Sentimos
que, para ter sucesso, devemos nos envolver desde
a produção e a logística até a exportação” (IMPULSO..., 2008).
Além de investirem em pesquisas e produção,
as Sogo Shoshas japonesas associaram-se a algumas
estatais do Brasil, ansiosos por parcerias cada vez
mais longas e sólidas. Como exemplo, temos o caso
da Petrobrás, que estabeleceu uma joint venture com
uma empresa japonesa. Da associação, originou-se
a Brazil-Japan Ethanol Co. Ltd. (BJE), ou ainda,
parcerias com a gigante COSAN, líder nacional na
produção de açúcar e álcool, com quem japoneses
possuem estudos para a construção e instalação de
um alcoolduto:
A Cosan negocia um acordo com as tradings Itochu e Marubeni para a construção
de alcooldutos no Brasil. Se consumada, a
parceria vai contrariar os planos confessos
da estatal (Petrobras) de controlar de forma quase absoluta o transporte de etanol
no país. (COSAN..., 2008).
Em síntese, pode-se perceber que há um amadurecimento nas relações Brasil-Japão em termos de
interesses pelo etanol e em termos de estabelecimento de parcerias entre o maior exportador de etanol
do mundo (Brasil) e o maior importador de etanol
do mundo (Japão).
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Estudos mostraram o potencial de consumo do
mercado mundial, seja por necessidade (alta internacional nos preços do petróleo), seja pela consciência ambiental (mudanças de consumo usando
combustíveis alternativos, limpos e mais eficientes),
ou seja, pela implementação de novas tecnologias da
indústria automobilística (motores bicombustíveis).
Esses motivos fizeram com que a consultoria internacional F.O Licht (2006), estimasse que o mercado
mundial para o etanol superará 70 bilhões de litros
para o ano de 2010, mais de 70% do consumido em
2004, conforme Tabela 1.
TABELA 1: Consumo Mundial de Etanol
(estimativa)
ANO
VOLUME
(Bilhões de Litros)
2004
41
2005
50
2006
54
2007
58
2008(1)
61
2009(2)
66
2010(1)
70
(1) Estimativa
Font: F. O. Lincht, 2007.
Não existem estudos que mostrem quais são as
principais Trading Companies japonesas importadoras de etanol brasileiro. O certo é que a presença
Rev. de Negócios Internacionais, Piracicaba, 7 (13): 30-34, 2009
33
de investidores e investimentos japoneses, para o
desenvolvimento e produção de etanol cresce ano a
ano, e a maior prova disso é que, segundo a Câmara
de Comércio Brasileira no Japão, a Petrobras (e seus
parceiros japoneses) tem planos confessos de exportar, até 2010, 3,5 bilhões de litros de etanol para o
Japão. O restante da demanda, cerca de 2,5 bilhões,
seria disputado entre grandes produtores brasileiros,
como, por exemplo, a Cosan e seus parceiros japoneses. Vale relembrar, que tanto a iniciativa privada
(Cosan) quanto a pública (Petrobras e Transpetro)
contam com parcerias de tradings japonesas.
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Rev. de Negócios Internacionais, Piracicaba, 7 (13): 30-34, 2009
Um Estudo Exploratório sobre FAIR TRADE
ROBERTA BONFIGLIO
[email protected]
REGINA CÉLIA FARIA SIMÕES
Estágio Supervisionado em ADM - GNI - UNIMEP
[email protected]
Resumo: O artigo teve como objetivo geral apresentar, analisar e verificar as diferenças entre dois tipos de comércio: o comércio tradicional internacional e o recente Fair Trade. Contraponto o comércio internacional
tradicional foi apresentado o Fair Trade, seu surgimento foi a quarenta anos atrás como nova oportunidade
de se fazer comércio. Pode-se observar que o Fair Trade mesmo pouco difundido no Brasil, representa uma
nova prática comercial flexível, caracterizado por proporcionar equilíbrio e justiça nas relações comerciais a
nível global, melhorando as condições de vida da comunidade produtora.
Palavras-Chave: Comércio Internacional, Teorias do Comércio Internacional, Fair Trade.
Abstract: This article has as a general goal, analyze and verify the differences between two types of trade:
the traditional international trade and the recent Fair Trade. On the contrary to the traditional international
trade the Fair Trade, this concept appeared in the 60s as a new opportunity of trading. It can be observed that
Fair Trade even not so spread in Brazil represents a new flexible trade practice, characterized by providing a
balanced and fair strength in the trading relations globally, improving the life conditions of the producing
community.
Keywords: International Trade, International Trade Theories, Fair Trade.
1. INTRODUÇÃO
A forma de inserção dos países nas relações comerciais a partir das teorias de comércio internacional aponta para desigualdade entre países. Surge
então o “Fair Trade”, ou comércio justo, um movimento internacional, que nasceu na década de sessenta para beneficiar todos os pequenos produtores
rurais de países em desenvolvimento a vender seus
produtos para o mercado internacional. O “Fair
Trade” é definido mundialmente como sendo comércio justo, ético, solidário, onde quem faz parte
dele são todos os produtores menos favorecidos no
comércio internacional (STRAZER; 2005).
Esses pequenos produtores sem experiência no
comércio se organizam por meio de cooperativas
onde contam com apoio de instituições nacionais e
internacionais que passam a ajudá-los a se estruturarem, e tão suporte técnico, administrativo, financeiro e consultoria, visando melhorias para o comércio
justo, facilitando assim futuras negociações (BSD;
2004).
Para que produtores venham ter certificado
(selo) “Fair Trade”, foi criado no ano de 1997, a Fair
Trade Labelling Organizations (FLO), considerada a principal organizadora de comércio solidário,
onde cada integrante leva o selo FLO.
Rev. de Negócios Internacionais, Piracicaba, 7 (13): 35-41, 2009
35
Os produtos que tem o certificado FLO tanto
no mundo como no Brasil são: café, suco de laranja, chá, bananas, cacau, açúcar, mel, manga e outras
frutas, sucos tropicais, arroz, e até bolas de futebol.
Outros produtos são comercializados sem o certificado são eles: óleo de soja, melão, camisetas, artesanatos e outros.
Esse sistema beneficia o pequeno produtor dando melhores condições de trabalho, cuida e preserva
melhor o meio ambiente, protege os menores de
idade e prevê melhores condições para as mulheres.
O objetivo do artigo foi apresentar, analisar e
verificar quais as perspectivas de crescimento para
o comércio “Fair Trade”. De forma mais especifica
procurou: a) contextualizar o processo histórico e o
desenvolvimento do comércio de forma geral; b) caracterizar o comércio “Fair Trade” a partir de conceitos, dos agentes envolvidos nesse tipo de comércio;
e, c) expor o certificado exigido para o comércio,
demonstrar quais os produtos que contém selo “Fair
Trade” e quem são os maiores beneficiados com esse
tipo de comércio.
2. METODOLOGIA
Para fundamentação teórica do estudo foi utilizado o método histórico, que procura identificar fatos
e acontecimentos ocorridos no passado descrevendo e explicando, para verificar possíveis implicações
de sua influência na sociedade atual, (FACHIM;
2001), contribuindo para o desenvolvimento de
informações reais e coerentes sobre “Fair Trade”, podendo atender as vantagens oferecidas aos pequenos
agricultores e a inserção dos mesmos ao comércio
nacional e internacional. A pesquisa bibliográfica
utilizada foi para embasamento conceitual realizada
em livros, revistas especializadas em comércio e em
sites específicos sobre o tema na Internet.
3. O MERCANTILISMO E O COMÉRCIO
INTERNACIONAL
Segundo Dainez (2006), a primeira forma de se
fazer comércio entre as nações se deu com o mercantilismo fase de transição do feudalismo para o capitalismo, que ficou vigente do século XVI ao XVII.
Inicia o autor seus estudos apresentando que o mercantilismo foi o marco da crise social, no qual estava
para surgir um novo sistema, o capitalismo. Nessa
36
época toda a sociedade estava vivendo um caos, tanto na economia, como na cultura, na política, na
religião e nas ciências.
Os mercantilistas tentavam conceituar a riqueza
como sendo a quantidade de metais preciosos estocados que um país tem, ou seja, “quanto maior o
estoque de metais preciosos, portanto, mais rico é
um país e por extensão, sua população”, (DAINEZ,
2006, p. 36). Para se enriquecer nessa época o país
teria que contar com minas de ouro, ou procurar
novas minas em outro s países, o mais utilizado entre as nações era o saque e a pirataria.
Retornando o autor, esse, explica a crítica ao
mercantilismo através do filósofo inglês David
Hume mostrando que “o poder de compra da moeda é inversamente proporcional a sua quantidade”,
(DAINEZ, 2006, p. 37). Hume demonstra se a
quantidade de metais aumentarem dentro de uma
nação e houver uma queda com relação ao poder
de compra, isso influenciará em um aumento de
moedas, podendo assim está adquirindo mais mercadorias, levando a um processo inflacionário. Mas
caso a quantidade de metais diminuírem com isso
será necessário para comprar qualquer produto uma
quantidade e moedas menores, havendo assim um
processo deflacionário.
Dainez (2006), conclui através das idéias de
Hume que, se caso houvesse um aumento dos
preços dos produtos domésticos pode-se afirmar
que haverá uma queda nas exportações, pois com
os preços elevados os outros países não comprarão
ou diminuirá a compra pelos produtos domésticos.
Por esse mesmo motivo as importações aumentarão,
pois os produtos estrangeiros estão mais baratos que
os nacionais, levando a um aumento nas exportações
e diminuição nas importações no resto do mundo,
todo esse processo permanecerá vigente até que o
superávit comercial doméstico desapareça.
3.1 Clássicos
A escola clássica, de acordo com os preceitos de
Adam Smith e David Ricardo, teve como foco o estudo do comércio entre as nações. Alguns autores
relatam o pensamento clássico, conforme exposição
a seguir.
Adam Smith publicou, em 1776, A Riqueza das
Nações: investigação sobre a natureza e suas causas.
Rev. de Negócios Internacionais, Piracicaba, 7 (13): 35-41, 2009
Smith buscou esboçar as diretrizes de como deveria
se dar o comércio entre os países. Portanto, quando
uma nação se especializa na produção da commodity em que possua vantagem absoluta, trocaria parte
de sua produção pela commodity que apresente desvantagem absoluta, assim, as nações terminam por
consumir mais de ambas as commodities (SALVATORE; 1978).
Uma parcela muito pequena do comércio internacional pode ser explicada pelas vantagens absolutas, dessa forma, após Smith, coube a David Ricardo
explicar os ganhos com o comércio e traçando um
padrão para o mesmo.
As leis das vantagens comparativas, formulada
por Ricardo em 1817, constitui-se como um importante e incontestável postulado da economia e com
diversas aplicações práticas (SALVATORE; 1978).
Num sistema comercial perfeitamente livre, cada
país naturalmente dedica seu capital e trabalho à atividade que lhe traga maior nível de bem-estar.
De acordo com Gonçalves (et al; 1998), as vantagens comparativas não explicam o comércio internacional nos dias atuais, visto que não consideram
o papel desempenhado pela tecnologia, a diferenciação dos produtos e os rendimentos crescentes de
escala. Ainda, a lei pressupõe que haja apenas um
fator de produção, que o comércio seja entre dois
países, que os custos de transporte sejam nulos e que
a Balança Comercial esteja sempre em equilíbrio.
3.2 Neoclássicos
Segundo Gonçalves (1998), a teoria pura do comércio internacional foi criada por dois economistas
suecos Eli Heckscher e Bertil Ohlin. Ohlin começou
desenvolver essa teoria pensando primeiramente na
dotação de fatores, nas tecnologias, insumos, produtos e nas preferências dos consumidores. Alterando
parte do modelo usando idéias de Heckscher, podendo assim ser utilizado no comércio internacional
e inter-regional. Essas idéias partiram do pressuposto que a economia regional poderia se ter como perfeita em seu interior e imperfeita entre regiões, pois
os preços dos produtos poderiam variar em determinadas regiões, isso aconteceria porque certas regiões
possuíam tecnologias, preferências de consumidores
fatores de produções todos distintos.
Retornando, o autor coloca que Ohlin mudou
a abordagem, expondo que as regiões são diferentes
somente nos fatores de produção, mas possuem em
comum tecnologias e preferências, em seu modelo
de Ohlin explica, caso duas regiões comecem a fazer
comércio haveria de ter dois produtos, essas trocas
iriam acontecer quando ambas as regiões deixassem
de se isolar e começassem a trocar mercadorias aquelas relativamente mais baratas em cada território.
3.3 Teoria da Troca Desigual
Em meados da década de sessenta segundo Singer (1991), o francês A. Emanuel criar a Teoria da
Troca Desigual, essa teoria já existia de forma acuada nas teorias de Ricardo e foi mencionada por
Marx. Emanuel coletou dados que demonstrou que
nos últimos cem a cento e cinqüenta anos a diferença nos salários entre países desenvolvidos e não
desenvolvidos aumentou, pois pode perceber que
essa diferença ocorre também com relação a países
desenvolvidos. Pode-se explicar que o motivo para
a grande desigualdade de salários em diferentes países ou mesmo em um mesmo país é pelo fato de
haver fatores econômicos, demográficos e institucionais, mas que não será ditado. Mas para o autor
o que realmente importa com relação a “teoria do
comércio internacional é que havendo uma divisão
internacional do trabalho relativamente rígida, cada
país tendo se especializado em determinadas linhas
de produção” (SINGER; 1991, p. 154).
Na divisão internacional do trabalho, são as
mercadorias que possuem desenvolvimento tecnológico recentes. Por esse motivo quanto mais novo é
um produto mais caro ele será, pois exige muita sofisticação tecnológica, mão-de-obra altamente qualificada e consumidores com poder de aquisitivos
para comprar esses produtos. Já quando o produto envelhece, ou seja, já está no mercado há algum
tempo os preços tendem a cair consideravelmente,
pelo motivo de haver um baixo custo dos fatores de
produção, inclusive mão-de-obra. Por esse motivo
que os salários em países industrializados onde há
divisão internacional do trabalho são mais elevados
e as exportações desses produtos são monopolizados, já os países pouco industrializados os salários
são baixos e especializam-se em produtos “velhos”.
Rev. de Negócios Internacionais, Piracicaba, 7 (13): 35-41, 2009
37
Por fim o autor, conclui que enquanto houver
diferenças com relação à tecnologia e salários entre
desenvolvidos e não desenvolvidos, o monopólio
continuará nas mãos de pequenos grupos de países,
ocorrerá a queda dos termos de intercâmbio, como a
teoria da troca desigual afirma e uma transformação
da divisão internacional do trabalho na qual indústrias mundiais se deslocarão para países, haverá salários baixos e um mercado interno extenso.
4. CONSIDERAÇÕS SOBRE COMÉRCIO
JUSTO
Com o objetivo de reparar as distorções geradas
pelo comércio globalizado, de incremento de negociações comerciais e, ao mesmo tempo, de uma distribuição de renda cada vez mais injusta e desigual,
e condições de vida insatisfatórias para a maior parte
da população do mundo – em especial nos países
em desenvolvimento – surgem, neste cenário, novas
formas de comércio, de relações econômicas. Tratase de práticas cooperativistas e solidárias, tais como:
o comércio ético; a economia solidária; o comércio
justo.
Os conceitos sobre Fair Trade são apresentados
por diversos autores e instituições. Neste item apresentamos os conceitos para conhecimento do leitor.
Segundo BSD (2004), Fair Trade pode ser descrita como sendo comércio justo, ético ou solidário,
mas no Brasil é conhecido como comércio justo.
Durante conferência realizada pela International Federation on Alternative Trade (IFAT), em 2001, definiu-se comércio justo da seguinte forma: comércio
justo nada mais é do que uma parceria comercial,
baseada em diálogo, transparência e respeito, que
busca maior eqüidade no comércio internacional,
contribui para o desenvolvimento sustentável através do oferecimento a produtores marginalizados de
melhores condições de troca e maiores garantias de
seus direitos.
4.1 Objetivos e Princípios do Comércio Justo
Vários são os objetivos do comércio justo, entre eles cabe ressaltar as boas condições de trabalho,
parcerias em longo prazo, preço justo, proximidade com o consumidor, igualdade entre gêneros e
desenvolvimento local (BSD, 2004). Ainda, com
relação aos objetivos esse sistema no Brasil, é cons38
tituído em: ter boas condições de trabalho, garantir
vida digna e perspectiva de futuro, promover justiça
social, segurança alimentar e nutricional, desenvolvimento local e remunerar de forma justa os trabalhadores (FERROS e ZERBINI; 2008).
Já os princípios para participar desse comércio
são: produtores desfavorecidos que buscam melhores condições para praticar o comércio e melhores e
maiores garantias de seus direitos. Esses trabalhadores
lutam por melhores condições de trabalho respeitando o meio ambiente, pela igualdade entre homens e
mulheres, proteção à criança e por fim o desenvolvimento local dessas comunidades (BSD; 2004).
4.2 Origem do Comércio Justo no Mundo e no
Brasil
O comércio justo originou-se há cerca de quarenta anos, através do diálogo entre organizações
não-governamentais e um grupo de produtores de
países em desenvolvimento. O intuito era “reverter
a tendência injusta dos termos de troca do comércio internacional, promovendo o reconhecimento
do trabalhado dos produtores do Sul através do
pagamento de um preço justo por seus produtos e
sensibilizando os consumidores do Norte para que
tomem conhecimento desta realidade” (FRETEL;
2003, p. 15).
Nacionalmente a origem do comércio justo no
Brasil conforme Brasil (2009) teve seu inicio aproximadamente na década de setenta, ligada ao trabalho
da igreja com a organização de trabalhadores rurais
e na comercialização informal de artesanato. Para
as autoras Schmidt e Lages (2008), esse sistema é
recente no Brasil, e o seu conceito não está sendo
difundido como o desejado.
Na visão do SEBRAE (2004), os benefícios são:
ajudar trabalhadores e produtores marginalizados a
fazer comércio, respeito às legislações nacionais e internacionais, crianças freqüentando escolas e respeito ao meio ambiente. Para Strazer (2005), há vários
benéficos dos quais considera mais importantes são
os lucros obtidos e a valorização social e familiar.
4.3 Participante do Comércio Justo no Mundo
e no Brasil
Os principais participantes do comércio justo
tanto no mundo quanto no Brasil são as ONGs e as
Rev. de Negócios Internacionais, Piracicaba, 7 (13): 35-41, 2009
associações de produtores, SEBRAE, cooperativas,
entidades religiosas e governo ajudam produtores a
se organizarem e levam até essas comunidades a “inclusão social, geração de renda e desenvolvimento
local sustentável” (SEBRAE; 2009, p. 2).
Exemplo de comércio justo é o que acontece na
Europa e EUA, no qual, as mercadorias são colocadas entre produtos de alta qualidade, e são mostradas como escolha de estilo de vida. (SEBRAE,
2004). Outro exemplo citado pela Brasil (2009) de
comunidades que praticam o comércio justo, são
eles: Artesanato para Ambientação (AMBA), Brasil
Novo Artesanato, Casa Renascer, todas essas instituições fazem produtos artesanais.
4.4 Certificação Fair Trade
Na década de cinqüenta o movimento nasce
através de um missionário que na época trabalhava
no México na plantação de café, com esse missionário estava também um funcionário de uma ONG
religiosa, que juntos tiveram a idéia de criar um selo
que pudessem identificar produtos de origem Fair
Trade. Por volta de 1988 em Max Havelaar – Holanda foi criado o primeiro selo de certificação Fair
Trade, essa idéia se espalhou rapidamente, pois em
apenas um ano os produtos com selo de certificação
já estava com 3% de participação no mercado.
Essa idéia foi tão significativa que outros países
também quiseram ter suas próprias certificações
(selo). Outros países adotaram suas próprias marcas
como Transfair na Alemanha, Fairtrade Foundation
na Grã-Bretanhã e Rattvisemark na Finlândia. No
ano de 1989 também na Holanda nascia a International Fair Trade Association (IFAT), que é uma
rede global de organização do comércio justo.
Os principais mercados para o comércio justo
segundo a FLO no ano de 2005 foi os “EUA com
344,13 milhões de Euros; o Reino Unido, com
205,6 milhões de Euros; a Suíça com 143,1 milhões
de Euros; e a França, com 109 milhões de Euros”.
Mas os países que mais cresceram em comercialização de produtos Fair Trade são: Austrália e Nova
Zelândia com 178%, Canadá com 99% e Finlândia
com 73% (FERROS & ZERBINI, 2008, p. 3).
O mundo está em desarmonia, o cidadão está
ficando a cada dia mais consciente e por isso dispõe-se a pagar mais, pelo produto. O consumidor
que comprará tais produtos será aquele que optar
por mercadorias de alta qualidade e que agregam
valor social, o potencial consumidor comprará os
produtos por ter clareza que um outro mundo poderá existir. O mercado alvo para esses produtos são
mulheres das classes A e B, acima de trinta e cinco
anos ou mulheres com maior conscientização social,
muitas vezes esse público já é consumidor de produtos orgânicos (SEBRAE; 2004).
4.5 Formas de Comercializar Produtos de Comércio Justo
As melhores formas de comercialização ou acesso ao mercado, são em: “feiras locais ou itinerantes,
cooperativa de compra; venda institucional e troca
de mercadorias – escambo” (SEBRAE, 2004, p.
9). Outras formas de comercialização são em lojas
especializadas em produtos de comércio justo, não
podendo deixar de lado as exportações, pois é o que
gera maior lucro. Além da comercialização em lojas,
esse sistema está fazendo parcerias com o pode público, que tem como objetivo comprar produtos de
comércio justo para merendas escolares e também
para restaurante municipal dos funcionários da prefeitura.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O mercantilismo aparece como o primeiro conjunto de idéias que procurava explicar o funcionamento do comércio entre os países, enfatizando que
as nações deveriam privilegiar o comércio e, finalmente, as exportações para a acumulação de metais.
Smith procurou mostrar que o comércio pode
ser benéfico para as partes envolvidas, sugerindo
que os países devem especializar-se na produção e
comercialização daqueles bens nos quais consigam
“vantagens absolutas” em relação aos parceiros comerciais. Um país possui vantagem absoluta na produção de um bem quando produz tal bem com menores custos de produção, em relação a outro país.
Portanto, no comércio entre dois países, cada um
deveria concentra-se na produção do bem no qual
tem vantagem absoluta.
Ricardo aperfeiçoou o modelo de Smith, mostrando que, para que os países se beneficiem dessa
atividade, é necessário que apenas haja vantagens
comparativas. Desse modo, na hipótese de comér-
Rev. de Negócios Internacionais, Piracicaba, 7 (13): 35-41, 2009
39
cio entre dois países, poderia ocorrer que um país
obtivesse vantagens absolutas na produção de todos
os bens em relação ao seu parceiro.
A teoria das vantagens comparativas foi refinada
por Eli Heckscher e Bertil Ohlin, cuja análise, os
autores propõem um modelo em que à existência
de comércio entre países é explicada pela diferença
na dotação de fatores produtivos, ou seja, dependendo da dotação de fatores, os preços relativos dos
bens produzidos variam de país. Assim, os preços
de mercado sinalizam para os agentes econômicos,
permitindo uma alocação eficiente dos fatores produtivos.
Com o processo de globalização, há tendência a
ocorrer um enfraquecimento do poder explicativo
da teoria de Heckscher-Ohlin em razão da crescente mobilidade de dotações (THORSTENSEN, et.
al., 1994). A nova teoria de comércio internacional,
denominada teoria estratégica do comércio, procura
dar conta desses fatores, desenvolvendo explicações
dos padrões de comércio e da competitividade com
base no exame das interações estratégicas das empresas e de governos. Nesses modelos, o comércio e os
investimentos internacionais ocorrem em mercados
imperfeitamente competitivos, nos quais os fatores
como barreiras à entrada, diferenciação de produtos,
economias de escala, learning-by-doing e progresso
tecnológico assumem importante papel.
O Fair Trade consiste em uma parceria comercial, baseada em diálogo, transparência e respeito,
que busca maior eqüidade no comércio internacional. É uma modalidade de comércio que contribui
para o desenvolvimento sustentável através do oferecimento a produtores marginalizados de melhores condições de troca e maiores garantias de seus
direitos.
Para que haja comércio realmente justo, a fim de
beneficiar pequenos produtores rurais deve haver alguns princípios relevantes como transparência e coresponsabilidade entre todos os envolvidos, melhores condições de trabalho, igualdade entre gêneros,
respeito com o meio ambiente, rejeição ao trabalho
infantil, respeito às legislações e produtores organizados em cooperativas, devem ser perseguidos.
Em se tratando da origem do comércio justo
pode-se observar que os autores pesquisados defendem seu surgimento na década de sessenta, na
Europa.
O selo de maior importância é o da FLO, que
certifica produtos como café, laranja e outras frutas,
chá, bananas, cacau, açúcar, mel, suco de laranja,
sucos tropicais, arroz, bolas de futebol, óleo de soja,
melão, camisetas e artesanato.
Esta prática de comércio vem ganhando cada
vez mais força, possibilitando melhores condições
de vida, saúde, trabalho, educação para os participantes e a sociedade em que vivem.
Finalizando, o Fair Trade representa uma forma alternativa de comércio à forma tradicional já
existente, viabilizando a participação de pequenos
produtores nas relações comerciais internacionais a
nível global, incentivando as práticas cooperativas,
promovendo melhores condições de vida para os
produtores e suas comunidades.
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40
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SCHMIDT, D.; LAGES, T. A. R. Introdução ao “Fair Trade” no Comércio Internacional. Piracicaba, SP: UNIMEP, 2008. Trabalho de
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THORTENSEN et. al. Brasil Frente a um Mundo Dividido em Blocos. Instituto Sul-Norte de Política Econômica e Relações Internacionais. São Paulo, SP: Nobel, 1994.
Rev. de Negócios Internacionais, Piracicaba, 7 (13): 35-41, 2009
41
Observações sobre as Diferenças entre Integração
na América Latina, MERCOSUL e União Européia
JOSÉ EDUARDO DOS SANTOS GUERCIO
[email protected]
REGINA CÉLIA FARIA SIMÕES
Estágio Supervisionado em ADM – GNI - UNIMEP
[email protected]
Resumo: O presente artigo teve como objetivo geral apresentar as diferenças e as semelhanças entre os dois
blocos econômicos, MERCOSUL e União Européia, e a viabilidade do MERCOSUL se tornar uma União
Econômica e Monetária (UEM). Ainda, são objetivos específicos: a) Contextualizar o processo histórico e o
desenvolvimento dos dois Blocos Econômicos; b) Mostrar a formação dos blocos econômicos apresentando
suas diferenças e como essas diferenças interferem no sucesso e no progresso dos países membros; c) Apresentar considerações sobre a viabilidade do MERCOSUL existir como uma União Econômica e Monetária.
Utilizou-se o método histórico e a pesquisa bibliográfica para a realização do referido trabalho.
Palavras-chave: Teorias da Integração, Integração Econômica e Regional, MERCOSUL, União Européia,
Supranacional.
Abstract: The present article had as a general goal to present the differences and similarities between the two
economic blocs, MERCOSUR and the European Union, and the viability of the MERCOSUR to become
an Economic and Monetary Union. Furthermore, specific objectives are: a) Contextualize the historical process and the development of the two Economic Blocks; b) Show the formation of economic blocs presenting
their differences and how these differences interfere in the success and progress of the member countries; c)
Present ideas about the viability of MERCOSUR exist as an Economic and Monetary Union. It was used
the historical method and the bibliographical research for the accomplishment of the related work.
Keywords: Integration Theory, Regional and Economical Integration, MERCOSUR, European Union,
Supranational
1. INTRODUÇÃO
A globalização é um fenômeno que está ocorrendo a tempos no mundo e com ele a integração
regional e a formação de blocos econômicos tem se
tornado comum.
O MERCOSUL entrou em vigor no dia 1º de
Janeiro de 1995 depois de um longo período de negociação que se iniciou quando Argentina, Brasil,
Paraguai e Uruguai assinaram em 1991 o Tratado
42
de Assunção. Porém a integração econômica desses
países tem como antecedentes outras tentativas de
integração de países da América Latina. Essas foram
a Associação Latino-Americana de Livre Comércio
(ALALC) em 1962 e a Associação Latino-Americana de Integração (ALADI) em 1980.
Já a União Européia, com este nome, tem seu
inicio em 1992 depois de assinado o Tratado de Maastricht. A Europa sofreu muitos anos com guerras
Rev. de Negócios Internacionais, Piracicaba, 7 (13): 42-48, 2009
que trouxeram conseqüências graves para o continente. Assim, os seus dirigentes perceberam que o
melhor modo de conter as guerras e garantir a paz
seria a união de suas forças políticas e econômicas.
Com isso as integrações foram acontecendo tendo
então a União Européia como antecedentes: a BENELUX, união aduaneira entre Bélgica, Holanda e
Luxemburgo de 1948, a Comunidade Européia do
Carvão e do Aço (CECA) criada em 1951, a Comunidade Européia da Energia Atômica (EURATOM)
e a Comunidade Econômica Européia (CEE) criada
em 1957 pelo Tratado de Roma.
Mesmo a integração econômica tendo como
objetivo a melhoria do comércio, economia e qualidade de vida de sua população, países membros do
MERCOSUL como Paraguai e Uruguai tem se sentido prejudicados no que diz respeito ao comércio
por terem Brasil e Argentina como mandantes do
bloco.
2. TEORIAS DA INTEGRAÇÃO E GLOBALIZAÇÃO
Um movimento chamado de cooperação internacional começou a aparecer na primeira metade do
século XX. A cooperação econômica internacional
visa interesses comerciais e políticos, mas não deixando de lado os problemas sociais. A integração
econômica é uma fase mais avançada dessa cooperação, pois é através dela que se criam condições ótimas para seu bom funcionamento.
2.1 Integração: Conceitos e Definições
Para Balassa (1961), integração econômica é o
processo ou estado de coisas pelas quais diferentes
nações decidem formar um bloco regional. Segundo Betiol (1968) integrar não somente se justapor,
mas sim fazer com que as partes se comuniquem
formando um todo.
Perez (1988) define integração como sendo um
processo mediante o qual dois ou mais países adotam, com o apoio das instituições comuns, medidas
conjuntas para aprofundar a sua interdependência e
obter assim benefícios mútuos.
Já Gonçalves (1998) define integração econômica como o processo de criação de um mercado sem
as barreiras comerciais preexistentes, de uma mobilidade de fatores de produção e de instituições que
permitam a coordenação ou unificação de políticas
econômicas em uma região geográfica continua ou
não.
Morini e Simões (2006) dizem que a integração
econômica é um conjunto de acordos, normas, convênios, regulamentações que se estabelece entre dois
ou mais países para que as econômicas desses países
sejam desenvolvidas usando do artifício de vantagens econômicas por acordos comerciais, setoriais
de produção, eliminação de barreiras, harmonização
de políticas econômicas nacionais e internacionais
entre outras vantagens.
Existem dentro desse processo de integração várias fases, ou estágios, dependendo do grau de integração entre os países envolvidos.
Betiol (1968) estabeleceu cinco fases até que
se atingisse a integração total. A primeira fase é a
Zona de Livre Comércio; a segunda é a chamada
União Aduaneira; a terceira fase chama-se Mercado
Comum que estabelece a livre circulação de fatores
de produtivos (trabalho e capital); a quarta fase é a
União Econômica; a quinta e última fase, de acordo
com o autor, é a chamada Integração Econômica
Total que são todas as outras fases juntas acrescida
de uma única política monetária, fiscal, social e de
desenvolvimento econômico.
Já Gonçalves (1998) observa que as formas de
integração são quatro: Área de Livre Comércio,
União Aduaneira, Mercado Comum e União Econômica e Monetária.
Ainda, Morini e Simões (2006) colocam cinco
fases para a formação dos blocos. São elas: Zona de
Preferências Tarifárias, fase anterior a Zona de Livre
Comércio, diferente do que os autores Betiol (1968)
e Gonçalves (1998) colocam. A segunda fase, ainda
de acordo com os autores, é a Zona de Livre Comércio, seguida de União Aduaneira, Mercado Comum
e União Econômica e Monetária.
Balassa (1961) é considerado um dos principais
teóricos da integração. A integração é vista por ele
como um processo e como um estado de coisas, vinculado à ampliação do comércio. Algumas questões
tratadas pelos teóricos da integração reaparecem nas
análises recentes sobre economia internacional. São
de um modo geral, questões que tratam de desvio
ou criação de comércio, políticas públicas e a questão do desenvolvimento econômico.
Rev. de Negócios Internacionais, Piracicaba, 7 (13): 42-48, 2009
43
2.2 Teorias da Integração
As primeiras contribuições a respeito da teoria
da integração econômica encontram-se nas obras
dos economistas clássicos como Adam Smith (1776)
e David Ricardo (1817) que já mencionavam a existência de vantagens comparativas como motivo para
que o livre comércio gerasse um ganho em termos
de eficiência alocativa aos países.
Mas é através da publicação de Viner (1950) intitulada de “The customs union issue” que a teoria
de integração econômica ganha consistência, com
seu modelo que apresenta os efeitos da formação
de uma união alfandegária, através dos conceitos de
“criação de comércio” e “desvio de comércio”.
As primeiras tentativas de integração na América
Latina a partir da década de 60 sofreram influencia
tanto da teoria tradicional da integração, como da
teoria cepalina do desenvolvimento econômico, que
propunha a integração econômica como instrumento capaz de reduzir os desequilíbrios produzidos pela
industrialização periférica com base na substituição
de importações.
Ainda, a teoria da integração econômica ressalta que o consumo será afetado com a conseqüente
substituição de bens produzidos interna e externamente por mercadorias dos países participantes, o
que modificará a estrutura da produção e o fluxo
de comércio.
A formação de blocos regionais para os países
em desenvolvimento, que não conseguem garantir de certa forma a estabilidade política, pode ser
de grande importância na medida em que romper
acordos internacionais é muito mais difícil do que
mudar políticas internas, tornando irreversíveis as
reformas e acrescentando um elemento de estabilidade das políticas desses países.
Segundo Machado (1993) o MERCOSUL
tem que vencer as resistências nacionais ao estabelecimento de uma tarifa externa comum, criando as
condições para a geração de vantagens comparativas
na região de modo permanente.
No MERCOSUL os países membros querem
promover ao mesmo tempo uma integração sub-regional e uma maior inserção na economia mundial
porque o processo de abertura para o exterior já havia
começado dentro dos países membros, antes que o
Tratado de Assunção fosse realizado, ainda que com
44
ritmos diferentes. Além do mais, levou-se em conta
o fracasso dos esquemas anteriores de integração.
3. INTEGRAÇÃO ECONÔMICA NA AMÉRICA LATINA
Kunzler (2002) expõe o processo começando pelas iniciativas do general venezuelano Simon
Bolívar (1783 a 1830) que lutou pela realização do
primeiro tratado de união latino-americana e pela
organização de uma outra união denominada de
Grãocolômbia. Esse sonho de resgate da unidade
latino-americana não foi concretizado. Porém, somente em 1948, uma real integração ocorreu na
América Latina, bem depois de Simon Bolívar. Em
fevereiro de 1948 foi criada a Comissão Econômica
para a América Latina (CEPAL) para que se estimulasse a criação de um Mercado Comum Latino
Americano, visando à solução dos problemas econômicos através de políticas de cooperação e de desenvolvimento para a região.
Em 1960, através do Tratado de Montevidéu,
criou-se a Associação Latino-Americana de Livre
Comércio (ALALC) focando-se na implantação de
um mercado comum pela formação de uma zona de
livre comércio. Porém, com todas as crises ideológicas e consequentemente financeiras que ocorreram
nas décadas de 60 e 70 na América Latina, os empresários perderam o interesse nesses mercados, deixando de lado a ALALC. Grieco (1997) diz que por
causa destas limitações, zonas de livre comércio subregionais foram se formando na América Latina.
Kunzler (2002) comenta que em 1980 a ALALC
foi substituída pela Associação Latino-Americana de
Integração (ALADI) através do Tratado de Montevidéu que tinha como foco principal o estabelecimento de preferências tarifárias, além de promover
o comércio e ampliar mercados.
3.1 A Aproximação Argentina-Brasil na década
de 80
Kunzler (2002) atenta para a Declaração de
Iguaçu em 1985 que foi um marco na integração
e cooperação econômica bilateral. Um ano após a
Declaração de Iguaçu, houve a assinatura da Ata
de Buenos Aires que estabeleceu o Programa de
Integração e Cooperação Econômica entre Brasil e
Argentina. Em 1988 foi assinado o Tratado de Inte-
Rev. de Negócios Internacionais, Piracicaba, 7 (13): 42-48, 2009
gração, Cooperação e Desenvolvimento entre Brasil
e Argentina.
O espaço econômico comum e a eliminação de
barreiras tarifárias estavam prevista para dez anos.
Porém, em 1990 assinou-se a Ata de Buenos Aires
que adiantava essa integração em cinco anos. Entretanto, logo após a assinatura desta, houve uma
reunião de ministros das Relações Exteriores e de
Economia da Argentina, Brasil, Chile, Paraguai e
Uruguai que fez com que Uruguai e Paraguai aderissem ao Mercado Comum Sub-Regional. Chile
foi convidado, porém ficou na observação.
O Tratado de Assunção criando o Mercado Comum entre Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai foi
assinado em 26 de março de 1991, com vigência
em 29 de novembro de 1991. Os signatários estabeleceram um prazo para a constituição do Mercado
Comum do Sul em 31 de dezembro de 1994, objetivando a livre circulação de bens, serviços e fatores
produtivos, o estabelecimento de uma tarifa externa
comum, uma igualdade em impostos e taxas para
os produtos vindo dos países membros do Mercado
Comum, entre outros.
Assim, em 1º de janeiro de 1995 o MERCOSUL passou a ser uma União Aduaneira Imperfeita.
3.2 MERCOSUL e Parcerias
O MERCOSUL possui alguns acordos com
países e blocos econômicos. Em 1990 o MERCOSUL celebrou um acordo com os Estados Unidos de
comércio e investimento chamado de “Acordo do
Jardim das Rosas” ou ainda “Acordo 4+1”. O Chile
é parceiro do MERCOSUL e participa como país
observador e associado nas rodadas de negociação
entre os países membros. Em 1994, a Bolívia foi
aceita como observadora das reuniões do bloco. O
MERCOSUL tenta estabelecer uma parceria com a
União Européia de um acordo comercial até o final
de 2009.
4. INTEGRAÇÃO ECONÔMICA NA EUROPA
O autor Saba (2002) diz que a integração européia se intensificou após a Segunda Guerra Mundial
através de cooperações internacionais como respostas dos Estados aos desafios impostos pela ampliação
da interdependência entre eles, além de combater o
ideal nacionalista existente nos Estados causadores
da Segunda Guerra. Neste contexto, Bélgica, Holanda e Luxemburgo intensificaram seus contatos
e queriam constituir uma área de livre comércio,
adotando tarifa externa comum e posteriormente
formando-se uma União Aduaneira, surgindo a BENELUX.
As duas Guerras Mundiais mostrou ao povo
europeu que a paz era realmente necessária. Assim
a integração foi o combustível e a alternativa para
esta paz.
Saba (2002) diz que para uma distribuição homogênea da reconstrução do continente europeu
financiado pelos EUA, e por desconfiança por parte
dos europeus, principalmente dos franceses, de que
a ajuda daria a Alemanha uma maior segurança para
que se destacasse na Europa como líder econômica, enfatizava-se uma reconstrução a ser realizada
de forma a evitar as pretensões alemãs de hegemonia no continente. Por isso, criou-se a Organização
Européia da Cooperação Econômica (OECE) em
1948, mais tarde transformada em Organização
para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE).
4.1 O Surgimento da CECA e da Alta Autoridade
Saba (2002) explica que Monnet queria subordinar a produção de carvão e aço franco-germânica
a uma autoridade supranacional, fazendo com que
a França assegurasse sua reconstrução econômica,
podendo controlar o processo de armamento da
Alemanha. Esse plano teve uma rápida aceitação na
Alemanha de Adenauer, vendo nisso a possibilidade
da aumentar o prestígio internacional germânico.
Assim surgiu, fruto do entendimento franco-alemão, a Comunidade Européia do Carvão e do Aço
(CECA), em 1951.
Entretanto não tinha neste período a mentalidade de se aceitar uma transferência de soberania.
Porém foi criada uma Alta Autoridade, órgão executivo da CECA que tomava decisões por votos afirmativos da maioria de seus membros, dando-a um
caráter supranacional. Isto era o que diferenciava a
CECA das outras organizações internacionais existentes até o momento.
Rev. de Negócios Internacionais, Piracicaba, 7 (13): 42-48, 2009
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4.2 O Tratado de Roma, a CEE, a CE e a
EURATOM
Depois da CECA, ele afirma que havia a necessidade de uma “ação conjunta” do uso da energia atômica. Assim, em 1957, eram firmados os Tratados
de Roma, começando a vigorar no inicio de 1958,
instituindo duas comunidades: a Comunidade Econômica Européia (CEE), depois nomeada Comunidade Européia (CE); e a Comunidade Européia de
Energia Atômica (CEEA ou EURATOM). Stelzer
(2000) afirma que essas três comunidades (CECA,
CE e EURATOM) constituiriam o carro chefe da
integração européia.
Saba (2002) diz que se percebeu a necessidade
de uma fusão entre essas três comunidades e que de
acordo com Stelzer (2000) a fusão que unificou as
instituições CECA, CEE e CEEA pode ser considerada a terceira etapa do processo de construção da
União Européia.
O tempo foi se passando, progressos foram
acontecendo que outros países se interessaram pela
adesão ao grupo. Assim a União Européia, como era
chamada depois de 1991, passou a ser conhecida
também como Europa dos Quinze.
4.3 Ato Único Europeu e o Tratado de Maastricht
Em 1986 foi assinado o Ato Único Europeu que
queria realmente desenvolver o mercado europeu de
um modo singular, montando uma política comum
entre comunidades existentes nela.
Foram ocorrendo vários encontros para se discutir os projetos de tratado sobre essa união política
e união econômica e monetária que se fundiram
num único documento na cidade holandesa de Maastricht, dando origem a um tratado que constituiu
a União Européia.
Stelzer (2000) também pensa que o Tratado da
União Européia (Tratado de Maastricht) foi um
grande passo para o processo de integração porque as bases foram mostradas. Para Saba (2002)
a cidadania européia instituída pelo Tratado seria
para reforçar as relações entre os povos europeus enquanto que para Stelzer (2000) a cidadania foi um
instrumento que consagrou o real avanço da União
Européia.
46
Um outro aspecto importantíssimo do Tratado
de Maastricht que é relevante, segundo Saba (2002),
é que passou a existir um Conselho Europeu.
O Tratado de Amsterdã foi assinado em 1997.
Em 2001 foi assinado o Tratado de Nice que mostra
os processos de adesão dos países candidatos. Em
janeiro de 2002 o Euro é introduzido na Europa
como moeda única, assim a União Européia se torna uma União Econômica e Monetária.
Em 2004 houve a adesão de países do leste europeu pondo um fim a divisão existente a muitos
anos. Em 2007 mais dois países do Leste Europeu, a
Bulgária e a Romênia, se juntam a União Européia
formando então um grupo de 27 países. E no mesmo ano foi assinado o Tratado de Lisboa para que
se possam enfrentar os desafios globais que possam
surgir.
5. DIVERSIDADES EXISTENTES NOS PROCESSOS DE INTEGRAÇÃO
Comparar o MERCOSUL com a União Européia tem sido um bom indicador para se observar o
que os países membros do Mercado Comum do Sul
deveriam fazer para o sucesso do bloco. O autor Bieber (1994) exemplifica e compara as duas integrações dizendo que na segunda metade da década de
80 a participação no comércio mundial por parte da
Comunidade Européia, então designada e que tinha
somente 7% da população mundial, já era de 40%,
face aos 4% do comércio mundial que a América
Latina (IRELA; 1989).
Outro ponto discutido pelo autor é que a pobreza e a miséria existente na América Latina não
podem ser comparadas com as partes do continente
Europeu onde há subdesenvolvimento e pobreza.
Ainda, os prazos estabelecidos dentro da União Européia, ou da Comunidade Européia, foram sempre
todos praticamente cumpridos, diferentemente do
processo de integração da América Latina onde metas e cronogramas tiveram que ser constantemente
alterados tornando instável e com pouca credibilidade.
Os países da Europa, depois da Segunda Guerra Mundial não queriam ter mais nenhum tipo
de confronto que fizesse com que eles voltassem a
perder o poderio econômico, o que fez com que o
sentimento nacionalista se reduzisse dentro dos paí-
Rev. de Negócios Internacionais, Piracicaba, 7 (13): 42-48, 2009
ses membros. Assim, a integração européia tem suas
raízes na natureza política. Na América Latina o nacionalismo era visto como um fato positivo, dando
mais força para a consolidação do conceito de soberania nesses países.
Balassa (1961) afirma que o principal interesse
latino-americano na integração era o de escapar dos
efeitos discriminatórios de terceiros mercados do
que o de desenvolver a região através da integração.
Bieber (1994) comenta que no processo de integração europeu houve o chamado “spill-over”, isto
é, uma integração gradual, com adequadas seleções
das áreas a serem integradas. Na América Latina e
no MERCOSUL o processo de integração foi praticamente técnico-burocrático focado praticamente
somente nas reduções tarifárias.
Ainda o autor observa que a participação estatal
no processo de integração na Europa foi limitada,
dando uma maior ênfase ao livre comércio, fato
oposto ao ocorrido na América Latina.
Desde o inicio do processo, as Comunidades
Européias se importaram com a participação popular, através de assembléias e plebiscitos. No projeto
de integração da América Latina, e mesmo no bloco
sub-regional MERCOSUL, há uma falta de política
social, razão pela baixa participação e interesse da sociedade no processo de integração. Na Europa existe
um movimento para a “cidadania européia”, ou seja,
o cidadão que faz parte do bloco tem uma identificação da sociedade com a integração. Já na América
Latina e no MERCOSUL não existe isso.
A autora Di Nizo (2006) comenta que Brasil
e Argentina não tem se entendido, criando atritos,
causando instabilidades nas relações econômicas,
mostrando a fragilidade do MERCOSUL.
Di Nizo (2006) expõe a idéia de supranacionalidade existente na União Européia, afirmando
que a UE está num estágio avançado considerando a economia, sua política social e jurídica. Isto
quer dizer que a parcela da soberania do Estado na
UE está atrelada a organismos internacionais com
poderes supranacionais. Na América Latina, no
MERCOSUL, a Constituição de cada país regula
seus próprios interesses, as decisões são vinculadas
à vontade política de cada Estado-membro. Para Di
Nizo (2006), “para total “deslanche” do MERCOSUL, faz-se necessário a instituição de organismos
supranacionais”. Mas como ter organismos supranacionais nos países membros do MERCOSUL tendo
a Venezuela como próxima aliada no bloco, com um
chefe de Estado ultranacionalista com Hugo Chavez?
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O objetivo geral foi apresentar as diferenças e
as semelhanças entre os dois blocos econômicos,
MERCOSUL e União Européia, e a viabilidade do
MERCOSUL se tornar uma União Econômica e
Monetária (UEM).
Partindo do pressuposto da Teoria da Integração
que diz que o principal objetivo é facilitar os fluxos
de bens e serviços além dos bens de capitais na região, para que se possa promover a criação de mais
empregos, crescimento econômico e estabilização
econômica, o MERCOSUL, está um pouco longe
de ver uma melhora em alguns aspectos.
O MERCOSUL não está preparado, ética e culturalmente falando, para ter um grau de integração
como o da União Européia.
Ainda, na América Latina e no MERCOSUL
a integração foi basicamente focada na economia
para se enfrentar juntos as concorrências mundiais,
principalmente de países ricos. A questão social é colocada em segundo plano, não havendo uma identificação da população com o bloco.
Porém, o ponto crucial citado por diversos autores é o fato do MERCOSUL, portanto divergindo
da União Européia, não ter organismos supranacionais que estão acima de qualquer Constituição dos
países membros, freando o progresso e o sucesso do
MERCOSUL.
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47
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48
Rev. de Negócios Internacionais, Piracicaba, 7 (13): 42-48, 2009
Consórcio de Exportação no Brasil: um estudo
de caso aplicado no segmento médico-hospitalar-odontológico
GUSTAVO BARBIERI LIMA
Mestre em Administração – FEARP - USP
[email protected]
SHEILA FARIAS ALVES GARCIA
Doutora em Administração – FEARP - USP
[email protected]
DIRCEU TORNAVOI DE CARVALHO
Professor Livre Docente – FEARP - USP
[email protected]
DANTE PINHEIRO MARTINELLI
Professor Titular – FEARP - USP
[email protected]
Resumo: Consórcio de exportação é a união de esforços de indústrias, geralmente micro, pequenas e médias, dos mesmos segmentos produtivos ou complementares, visando exportar em conjunto seus produtos.
O consórcio pode ser apontado como importante estratégia na inserção de empresas de pequeno porte no
mercado internacional e apresenta várias vantagens para as empresas consorciadas. O objetivo central deste
estudo é analisar o caso do consórcio de exportação Brazilian Health Products (BHP) como organização em
rede para pequenas e médias empresas brasileiras. Como objetivos específicos, podem-se mencionar: (a)
revisar a literatura sobre consórcios de exportação; (b) apontar as motivações e as dificuldades das empresas
integrantes do consórcio BHP; (c) analisar o desempenho do consórcio BHP desde o início de suas atividades de promoção comercial de exportação.
Palavras-chave: Consórcio de Exportação, Internacionalização de empresas, Pequenas e Médias empresas.
Abstract: Export consortium is the union of efforts of industries, generally small and medium sized, operating in the same or complementary productive segment, aiming to jointly export their products. The
consortium can be pointed out as an important strategy to the insertion of small industries in the international market and it offers many advantages for the associated industries. The main objective of this study
Rev. de Negócios Internacionais, Piracicaba, 7 (13): 49-56, 2009
49
is to analyze the case of export consortium Brazilian Health Products (BHP) as a network organization for
small and medium sized Brazilian industries. The specific objectives are: (a) to perform a literature review
regarding export consortia; (b) to point out the motivations and difficulties of the industries members of
BHP consortium; (c) to analyze the performance of BHP consortium since the beginning of its activities of
commercial promotion for export.
Keywords: Export Consortium, Business Internationalization, Small and Medium sized industries.
1. INTRODUÇÃO
O processo de Globalização de mercados e o advento da formação de megablocos econômicos podem ser considerados ameaças de grande magnitude
para as empresas de pequeno porte. A entrada de
empresas multinacionais e de produtos importados
de baixo custo no mercado brasileiro pode ser considerada obstáculos para a sobrevivência e desenvolvimento de empresas daquele porte.
Assim, com o intuito de manter sua competitividade, as empresas brasileiras de pequeno e médio
porte têm se associado em redes de cooperação interorganizacional como estratégia para maximizar sua
eficiência e eficácia seja em Pesquisa & Desenvolvimento, capacitação e treinamento (colaboradores),
produção, vendas, exportações.
A Agência de Promoção de Exportação e Investimentos (2004) define o Consórcio de Exportação:
O consórcio de exportação é o agrupamento de empresas com interesses comuns, reunidas em uma entidade estabelecida juridicamente. Esta entidade será
constituída sob a forma de uma associação sem fins
lucrativos, na qual as empresas produtoras tenham
maneiras de trabalho conjugado e em cooperação
com vistas aos objetivos comuns de melhoria da
oferta exportável e de promoção das exportações.
Dessa maneira, trabalhando conjuntamente, as
empresas obtêm várias vantagens em detrimento de
uma atuação isolada ou individual em mercados
internacionais, que serão apresentadas no decorrer
deste estudo.
Vale ressaltar o grande apoio na formação de
consórcios concedidos pela Agência de Promoção
de Exportação e Investimentos (APEX-Brasil), formada no final de 1997, responsável pela sensibilização, formação, desenvolvimento e financiamento de
consórcios no país.
50
2. OBJETIVOS DO ESTUDO
O objetivo central deste estudo é analisar o
caso do consórcio de exportação Brazilian Health
Products (BHP) como organização em rede para a
internacionalização de pequenas e médias empresas
brasileiras do segmento médico-hospitalar-odontológico. Como objetivos específicos, podem-se
mencionar: a) revisar a literatura sobre consórcio de
exportação; (b) apontar as motivações e as dificuldades das empresas integrantes do consórcio BHP; (c)
apontar o desempenho do consórcio BHP desde o
início de suas atividades de promoção comercial de
exportação.
3. REFERENCIAL TEÓRICO: CONSÓRCIO
DE EXPORTAÇÃO
O consórcio de exportação é a união de esforços de pequenas e médias indústrias de um mesmo
setor produtivo ou de setores complementares, visando vender seus produtos no mercado internacional (NOONAN, 1999; PALIWODA; THOMAS,
2001). Desta maneira, as empresas consorciadas
podem manter sua própria individualidade no mercado doméstico e otimizar sua produção e venda de
produtos no exterior (MINERVINI, 1997, FRANÇA, 1999, 2003).
Para a United Nations Industrial Development
Organization (UNIDO, 2003, p. 03):
Um consórcio de exportação é uma aliança voluntária de empresas com o objetivo
de promover os produtos e serviços de
seus membros no exterior e facilitar a exportação destes produtos através de ações
conjuntas. Os membros de um consórcio
devem se atentar que a cooperação deve
prevalecer sobre a competição, com o
intuito de acessar mercados-chave e tecnologia de última geração. Um consórcio
Rev. de Negócios Internacionais, Piracicaba, 7 (13): 49-56, 2009
de exportação pode ser visto como uma
cooperação estratégica formal de médiolongo-prazo entre empresas que atua como
provedor de serviços, facilitando o acesso
aos mercados internacionais.
Segundo França (1999), o consórcio se constitui
numa importante ferramenta que, além de facilitar
a inserção de pequenas e médias empresas no comércio internacional, propicia o aumento de suas
exportações. Por meio deste, praticamente todas as
dificuldades encontradas pelas empresas quando da
atuação isolada na exportação podem ser transpostas. A otimização de esforços de produção e comercialização, a resposta às demandas de grande porte, a
escala de produção, o aumento da competitividade
e da especialização das pequenas e médias empresas, são algumas possibilidades proporcionadas pelo
consórcio de exportação.
Uma definição ampliada de Consórcios de
Exportação é fornecida pelo Centro de Comércio
Internacional – UNCTAD/GATT (1983): Os consórcios compõem-se de empresas independentes,
que guardam a sua identidade como produtores e
conservam sua própria estrutura administrativa.
Elas não fundem seus interesses, mas participam
simplesmente da criação de um organismo novo ao
qual estão ligadas, como entidades distintas, por um
acordo de natureza comercial.
Um consórcio de exportação seria um grupo de empresas que produzem produtos
similares ou produtos complementares,
sob o aspecto de mercado, que unidas evitariam a dispersão de esforços, mediante
tentativas isoladas de exportar, sem contar com o volume que requer a demanda
e/ ou a capacidade econômica para fazer
frente aos gastos naturais que o processo
exige (INFANTE; CAMPOMAR, 1986,
pg. 22).
Para Minervini (1997), o consórcio de exportação é a saída mais inteligente para a maioria das
pequenas e médias empresas se desenvolverem no
mercado internacional.
Figura 1: Modelo esquemático de um Consórcio de
Exportação e possíveis organismos intervenientes.
Fonte: Centro de Comércio Internacional – UNCTAD/GATT
(1983), Minervini (1997, 2005), Keedi (1999), Casarotto Filho
e Pires (2001), Maciel e Lima (2002), Agência de Promoção
de Exportação (2004) apud Lima e Carvalho (2005).
A Figura 1 representa um modelo esquemático
de um consórcio de exportação e possíveis organismos intervenientes. Pode – se verificar na figura a
presença de empresas consorciadas (mesmo segmento ou complementares), entidades de classe,
que geralmente atuam ou auxiliam na organização
dos consórcios (Ex: Associações Comerciais, Federações/Confederações da Indústria, Associações de
Classe), o consórcio em si (estrutura física e organizacional), a Agência de Promoção de Exportação
(APEX-Brasil), responsável pelo suporte de consórcios com projetos aprovados na entidade e pelo financiamento dos mesmos e, finalmente, os clientes
internacionais (importadores, atacadistas, varejista,
distribuidores).
Conforme alguns autores (UNCTAD/GATT
(1983), Infante (1984), Minervini, 1997; Oliveira,
1999; Silva, 1999; Noonan, 1999; França, 1999;
Paliwoda e Thomas, 2001; e Site APEX, 2003,
UNIDO (2003)), entre as possíveis vantagens dos
consórcios de exportação destacam-se a redução de
custos gerais de exportação (pois são divididos entre
as empresas consorciadas); a diminuição do risco de
exportar individualmente; o aumento da competitividade de pequenas e médias empresas no seu mercado interno - produto tipo exportação; o aumento
do poder de barganha para com clientes, fornecedores, bancos; o aumento do interesse de importadores; a melhoraria da eficiência operacional (otimização de recursos); o atendimento de demandas
de grande porte, o que não seria possível para uma
única empresa; a inovação de rótulo e embalagem; a
especialização das empresas consorciadas; o acúmu-
Rev. de Negócios Internacionais, Piracicaba, 7 (13): 49-56, 2009
51
lo de conhecimentos nas áreas de Comércio Exterior e Marketing; a possibilidade de, futuramente,
os membros do consórcio, já experientes e estruturados, se lançar individualmente no mercado internacional; o efeito “motivador” sobre os participantes; a
facilitação da aquisição de equipamentos modernos
e nova tecnologia; a possibilidade de exportar com
marca própria do consórcio; a participação em feiras
e missões internacionais de forma conjunta.
Ainda de acordo com esses autores, as possíveis desvantagens dos consórcios: Individualismo e
a preocupação de que outro consorciado obtenha
mais vantagens durante as atividades; os integrantes
de um consórcio devem estar cientes de que a não
existência de segredos industriais entre os mesmos
é favorável ao bom desempenho de um consórcio
e à preservação das parcerias estabelecidas; falta de
profissionalismo do gerente do consórcio; a maioria
dos gerentes contratados não entende do produto
que estão comercializando, não sendo capazes de
negociar com o comprador internacional; inexistência de preços competitivos (mau planejamento das
exportações); investimentos realizados sem planejamento prévio; visualizar a exportação como estratégia de curto prazo (resultados imediatos); considerar
o consórcio como uma válvula de escape de crises;
discrepância em demasia no avanço tecnológico
das empresas integrantes; inexistir confiabilidade e
trabalho em conjunto; selecionar erroneamente os
mercados e parceiros no exterior; número ideal de
empresas integrantes deve ser de 10 a 15; prevalecer
a democracia, e não a vontade de uma ou poucas
empresas; a rivalidade e a concorrência devem ficar
restrita ao mercado interno.
Os consórcios podem ser classificados em relação à sua finalidade: (1) promocionais (dirigem
seu foco de atenção para promoção comercial dos
produtos, ficando a comercialização sob a responsabilidade individual das consorciadas) e (2) vendas
ou operacionais (realiza as exportações por meio de
uma empresa comercial exportadora). Consórcios
também podem ser classificados de acordo com o
ramo das empresas membros: (1) monossetorial
(agregam empresas do mesmo setor produtor de
mercadorias ou derivados da mesma matéria-prima); (2) plurissetorial ou multissetorial (incluem
empresas fabricantes de produtos de diferentes seg52
mentos da cadeia produtiva e setores, que podem
ser complementares ou heterogêneos, destinados
ou não a um mesmo cliente) e (3) consórcios de
área ou país (reúnem empresas que destinam seus
produtos a uma única área ou país). (MINERVINI,
1997; APEX-Brasil, 2003, França, 1999, MACIEL
e LIMA, 2002).
4. MÉTODOS DE PESQUISA
Realizou-se levantamento e pesquisa da bibliografia sobre Consórcio de Exportação. Uma das
formas mais rápidas e econômicas de amadurecer
ou aprofundar um problema de pesquisa é através
do conhecimento dos trabalhos já feitos por outros,
via levantamentos bibliográficos. Este levantamento
deverá envolver procura em livros sobre o assunto,
revistas especializadas ou não, dissertações e teses
apresentadas em universidades e informações publicadas por jornais, órgãos governamentais, sindicatos, associações de classe, etc. (MATTAR, 1996).
Utilizou-se o método de estudo de caso (YIN,
2001) para analisar o consórcio de exportação Brazilian Health Products (BHP), estabelecido em Ribeirão Preto-S.P., assim como para verificar as relações
entre a teoria vista e as ações tomadas no caso.
Realizaram-se entrevistas em profundidade
semi-estruturadas no consórcio Brazilian Health
Products (BHP), com o intuito de obter informações relevantes e complementares para o estudo de
caso analisado. As entrevistas foram gravadas, com
a autorização do entrevistado e, posteriormente,
transcritas para a elaboração do estudo de caso.
Para Malhotra (2001), entrevista em profundidade
é uma entrevista não-estruturada, direta, pessoal,
em que um único respondente é entrevistado por
um entrevistador altamente treinado, para descobrir
motivações, crenças, atitudes e sensações subjacentes a um tópico.
Realizou-se, também, como método de pesquisa, a análise documental (análise de documentos e
relatórios) no consórcio BHP. Em termos gerais,
análise documental consiste em uma série de operações que visam estudar e analisar um ou vários documentos para descobrir as circunstâncias sociais e
econômicas com as quais podem estar relacionados
(RICHARDSON, 1999).
Rev. de Negócios Internacionais, Piracicaba, 7 (13): 49-56, 2009
Foram investigadas no consórcio pesquisado as
seguintes questões de estudo: (1) Como foi o desempenho exportador do consórcio BHP? (2) Por
que a APEX-Brasil deixou de enfatizar os consórcios
como forma de organização para exportação de empresas de pequeno porte?
As proposições direcionam a atenção para algo
que deveria ser examinado dentro do escopo do
estudo. A partir do momento em que as proposições são declaradas, o estudo começa a mover-se em
alguma direção (YIN, 2001). Consideram-se as seguintes proposições em resposta às questões apresentadas anteriormente: (1) O consórcio de exportação
Brazilian Health Products não apresentou um bom
desempenho exportador, podendo ser considerado
um caso de insucesso; (2) Com o tempo, a APEXBrasil percebeu que os consórcios eram “limitados”
por serem de caráter regional. Passaram a enfatizar
os Projetos Setoriais Integrados, projetos organizados setorialmente, de caráter regional, estadual ou
federal, dissipando assim menos recursos.
5. HISTÓRICO E CARACTERIZAÇÃO DO
CONSÓRCIO BHP – INVESTIGAÇÃO EMPÍRICA
Em 1999 um grupo de empresários decidiu
montar nas instalações do Centro das Indústrias do
Estado de São Paulo, CIESP - Diretoria Regional
de Ribeirão Preto, um Grupo Setorial que reunisse
indústrias de equipamentos médicos e odontológicos instaladas na região da cidade de Ribeirão Preto
– SP. O objetivo desta força-tarefa seria aproveitar-se
das facilidades intrínsecas em uma ação cooperada,
para estudar as oportunidades e desenvolver facilidades que pudessem viabilizar, no final do estudo,
a implantação de um consórcio de exportação que
teria por objetivo único o comércio dos produtos
fabricados por estas empresas no mercado internacional. Nas primeiras reuniões havidas, estes empresários decidiram que para dar alicerce e estrutura a
tal ação, trabalhariam inicialmente para formar na
região um pólo de excelência tecnológica, que concentraria e reuniria pequenas e médias indústrias
voltadas para o setor médico e odontológico, talento ou oportunidade que se fazia destacar dentro do
parque industrial instalado na região.
Com o desenvolvimento do projeto, o Grupo
Setorial, decidiu acionar o Sebrae-SP de Ribeirão
Preto, para que, utilizando-se do conhecimento, experiência e recursos disponíveis pudessem colaborar
no desenvolvimento desta idéia. O Sebrae-SP aceitou o desafio, colocou seus recursos à disposição e
passou a trabalhar absolutamente envolvido com a
concretização do projeto. Com o apoio do Sebrae-SP,
o grupo que encabeçava o projeto realizou inúmeras
reuniões com a participação de empresas da região,
algumas palestras de sensibilização com a apresentação de casos de sucesso vividos por empresas do
setor de outras regiões, seminários, workshops, participação em cursos direcionados para o assunto exportação, culminando com a criação e realização de
uma Feira de Exposições.
No segundo semestre do ano 2000, o projeto
recebeu o apoio da ABIMO, Associação Brasileira
da Indústria de Artefatos e Equipamentos Médicos,
Odontológicos, Hospitalares e Laboratoriais, e SINAEMO, Sindicato da Indústria de Artigos e Equipamentos Odontológicos, Médicos e Hospitalares
do Estado de São Paulo. Também recebeu apoio da
APEX-Brasil – Agência Brasileira de Exportação,
sendo esse o primeiro parceiro a aprovar e apoiar
financeiramente o projeto no início de 2002. No
final de 2001, foi contratado o primeiro integrante da equipe e, no início de 2002, após a aprovação da APEX-Brasil, começaram a ser realizadas as
primeiras ações de promoção comercial do projeto.
Alguns meses depois, o Sebrae-SP também aprovou
o projeto e passou a apoiá-lo com ações de pesquisa
mercadológica, apoio nas certificações e registros de
produtos. O BHP é constituído legalmente como
entidade sem fins lucrativos.
O consórcio BHP foi integrado por 12 empresas
(Web site Consórcio BHP (2005)): LINHA MÉDICA: JP Indústria Farmacêutica S/A.; WEM Equipamentos Eletrônicos Ltda.; Gigante Recém Nascido
- Indústria, Comércio e Representações Ltda.; Hospimetal Indústria Metalúrgica de Equipamentos
Hospitalares Ltda.; Samtronic Indústria e Comércio
Ltda.; Olidef cz Indústria e Comércio de Aparelhos
Hospitalares Ltda.; Deltronix Equipamentos Ltda.;
LINHA ODONTOLÓGICA: Dentscler Indústria
Rev. de Negócios Internacionais, Piracicaba, 7 (13): 49-56, 2009
53
zidos), - ter um escritório, uma equipe profissional
trabalhando em conjunto (todas as empresas possuem hoje um departamento de exportação), - inovação/ atualização de produtos, como resultado de
viagens internacionais (produto competitivo internacionalmente e no mercado doméstico – produto
tipo exportação). A principal dificuldade no consórcio é fazer com que as empresas trabalhem cooperativamente. A parceria existe, porém a rivalidade
interna entre as empresas consorciadas é grande.
Os indicadores de desempenho do consórcio
BHP estão indicados no Quadro 1.
de Aparelhos Odontológicos Ltda.; DMC Equipamentos Ltda.; A. S. Technology Componentes Especiais Ltda – ME; Dent-Flex Indústria e Comércio
Ltda.; SIN Implant System.
Os principais objetivos do consórcio de exportação BHP foram: - aumento do volume das exportações
(20%); - geração de empregos (empresas participantes),
e - melhora da cultura exportadora.
Para a Secretária Executiva do BHP, as motivações ou vantagens para as empresas fazerem parte de
um consórcio são: - redução de custos (poder exportar, fazer uma promoção comercial com custos redu-
QUADRO 1 – INDICADORES DO CONSÓRCIO DE EXPORTAÇÃO BHP
Funcionários CLT
2000
2001
2002
2003
2004
524
510
521
597
712
-2,67%
2,16%
14,59%
19,26%
Funcionários Terceirizados
2000
2001
2002
2003
2004
155
145
155
74
90
-6,45%
6,90%
-52,26%
21,62%
2003
2004
Estagiários
2000
2
2001
2002
4
8
12
28
100,00%
100,00%
50,00%
133,33%
Faturamento (R$)
2000
2001
2002
2003
2004
41.708.548,59
45.335.522,08
50.957.059,90
54.510.230,16
72.960.198,10
8,70%
12,40%
6,97%
33,85%
Exportações (US$)
2000
2001
2002
2003
2004
607.080,76
793.751,77
1.355.774,19
2.166.995,02
4.991.472,62
30,75%
70,81%
59,83%
130,34%
Importações (US$)
2000
2001
2002
2003
2004
245.222,68
279.405,54
258.800,00
519.095,68
805.446,21
13,94%
-7,37%
100,58%
55,16%
Fonte: Consórcio BHP.
54
Rev. de Negócios Internacionais, Piracicaba, 7 (13): 49-56, 2009
A meta de exportação do consórcio foi de um
incremento de 20% anual, ou seja, o dobro da estimada do setor (10%). No entanto, o consórcio obteve resultados superiores aos esperados.
O consórcio teve um incondicional apoio da
APEX-Brasil no período de 2002 à 2005 (com um
breve intervalo no período de eleições presidenciais).
Todavia, o mesmo encerrou suas atividades em dezembro de 2005. Juntamente com a ABIMO (Associação Brasileira da Indústria de Artefatos e Equipamentos Médicos, Odontológicos, Hospitalares
e Laboratoriais), a APEX-Brasil possui um projeto
para continuar com as ações de promoção comercial
às exportações para o setor médico-hospitalar-odontológico.
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS E IMPLICAÇÕES GERENCIAIS
O presente estudo apresentou a revisão bibliográfica de consórcios de exportação. O estudo de
caso apresentado corroborou o que foi apresentado
na teoria. Observa-se que a proposição (1) foi negada e a proposição (2) confirmada.
O consórcio pode ser considerado como um
facilitador na inserção de pequenas e médias empresas no Brasil, e é visto como um canal dinamizador
das exportações daquelas empresas. Os consórcios
apresentam várias vantagens para as empresas associadas, conforme apresentado na teoria. Este tópico também foi observado na pesquisa empírica. O
consórcio Brazilian Health Products apresentou um
excelente desempenho de exportação desde o início
de suas atividades em Ribeirão Preto (2002), sendo
considerado um caso de sucesso pela APEX-Brasil
(proposição 1 negada). Reconhecido pólo de excelência e destaque na fabricação de equipamentos
médicos, odontológicos e hospitalares, importante
centro universitário e de pesquisa, a cidade foi escolhida para sediar o consórcio BHP.
Apesar do bom desempenho exportador apresentado pelo consórcio BHP e outros consórcios
no Brasil, a APEX-Brasil decidiu que os consórcios
não estavam apresentando os resultados esperados,
havendo uma dispersão de esforços e recursos investidos. Dessa forma, passou-se a dar ênfase aos
Projetos Setoriais Integrados, que são projetos envolvendo setores específicos, de âmbito regional, estadual ou federal, ou seja, de maior abrangência que
os consórcios (regional) (proposição 2 confirmada).
Complementando a revisão teórica, vale mencionar
que os projetos de consórcios pela APEX-Brasil tem,
em média, duração de até 3 anos. Tal fato, contribui
para a mortalidade “precoce” dos consórcios no país,
que não sobrevivem sem o aporte financeiro da instituição mencionada.
Deve-se considerar o fator “aprendizagem” nos
consórcios de exportação. Depois do término do
projeto consórcio, as empresas devem continuar
exportando seu produto individualmente, devido,
principalmente, à estrutura obtida durante o projeto
de consórcios. Com o tempo, as empresas devem ser
capazes de assimilar conhecimentos nas áreas de comércio exterior e marketing e estruturar seu próprio
departamento de exportação.
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Rev. de Negócios Internacionais, Piracicaba, 7 (13): 49-56, 2009
Investigação Teórico-empírica sobre Internacionalização de Empresas: o caso Wines from Brazil
GUSTAVO BARBIERI LIMA
Mestre em Administração – FEARP - USP
[email protected]
SHEILA FARIAS ALVES GARCIA
Doutora em Administração – FEARP - USP
[email protected]
DIRCEU TORNAVOI DE CARVALHO
Professor Livre Docente – FEARP - USP
[email protected]
DANTE PINHEIRO MARTINELLI
Professor Titular – FEARP - USP
[email protected]
Resumo: O processo de globalização de mercados, que profetiza a livre circulação de bens, pessoas e capitais,
assim como a formação de mega blocos econômicos e o acirramento da competição por melhores preços
e qualidade elevada, exigem das empresas uma postura que viabilize a competitividade das mesmas. Neste
contexto, a internacionalização de empresas é vista como uma alternativa para que as empresas se mantenham competitivas neste cenário globalizado e altamente competitivo. O objetivo central deste estudo é
analisar o caso do Projeto Setorial Integrado (PSI) Wines from Brazil como modo de organização para a
internacionalização de empresas brasileiras. Como objetivos específicos, têm-se: - revisar a literatura sobre
Internacionalização de empresas; - observar o desempenho exportador do PSI Wines from Brazil; e - verificar
as ações de promoção comercial de exportações do PSI.
Palavras-chave: Internacionalização de Empresas, Exportação, Pequenas e Médias empresas.
Abstract: The process of market globalization which predicts the free circulation of goods, people and capitals, as well as the formation of economical blocks and the fierce competition for better prices and high
quality, demands from the industries a position which makes possible their competitiveness. In this context,
the internationalization of industries is seen as an alternative for them to keep competitive in this globalized
and highly competitive setting. The main objective of this study is to analyze the case Wines from Brazil as
an organization strategy for the internationalization of Brazilian enterprises. The specific objectives are: - to
Rev. de Negócios Internacionais, Piracicaba, 7 (13): 57-64, 2009
57
perform a bibliographic review regarding the internationalization of industries/ enterprises; - to analyze the
export performance of the case Wines from Brazil; and – to verify the PSI’s export promotion actions.
Keywords: Business Internationalization, Exportation, Small and Medium sized industries.
1. INTRODUÇÃO
Segundo Griffin e Daggatt (1995 apud SUEN,
1997) o mundo em que vivemos vem-se tornando
uma aldeia global. A expressão aldeia global referese ao fluxo de bens, serviços, informação e capital
que vem circulando ao redor do mundo, entre povos, países e culturas diferentes, também, conhecido
por globalização. Trata-se de um processo amplo
envolvendo pessoas, empresas, países e economias.
Pessoas buscam conhecer outras línguas e culturas
para garantir empregabilidade em empresas que
buscam sua internacionalização, como forma de
sobrevivência. Países incentivam exportações e internacionalização de empresas, assim como se unem
formando blocos comerciais com vistas a aumentar
sua participação e competitividade na economia
global (MARTINELLI; VENTURA; MACHADO, 2004, MACHADO, 2000, SUEN, 1997,
CAMINO; CARZOLA, 1998).
A globalização é um fenômeno de grandes proporções, em que se notam, entre outras coisas, a
diminuição das fronteiras e o aumento da interdependência da economia dos países. É muito comum
a afirmação de que o processo de globalização é um
fenômeno diretamente ligado ao progresso da tecnologia da informação (comunicação e informática), assim como da modalidade intercontinental do
capital. No entanto, seu significado é muito mais
complexo e dinâmico, permitindo que se examine o
tema por diferentes dimensões como, por exemplo,
econômica, política, legal, cultural (SUEN, 1997).
A análise da globalização sob o enfoque econômico permite afirmar que para sobreviver neste cenário é vital para um país relacionar-se comercialmente
com outros países. Assim como para uma empresa
ser competitiva é necessário que uma parcela de seus
negócios ocorra no mercado internacional (MARTINELLI; VENTURA; MACHADO, 2004).
Ainda sob este enfoque, a globalização tem
transformado a vida das empresas, à medida que
permite que a produção e a distribuição de bens de
relativa homogeneidade possam ser feitas em maio58
res quantidades, levando a ganhos de economia de
escala. Esta tendência aliada à competição que passou a ocorrer em escala mundial tem levado a uma
reestruturação das empresas para atender aos requisitos desse novo ambiente global (SUEN, 1997).
2. OBJETIVOS DO ESTUDO
O objetivo central deste estudo é analisar o caso
do Projeto Setorial Integrado (PSI), projeto setorial,
de âmbito regional, estadual ou federal adotado pela
Agência de Promoção de Exportação (APEX-Brasil),
como modo de organização para a internacionalização de empresas brasileiras. Como objetivos específicos, têm-se: a) revisar a literatura sobre Internacionalização de empresas; b) observar o desempenho
exportador do Projeto Setorial Integrado Wines from
Brazil; c) verificar as ações de promoção comercial
de exportações do PSI.
3. INTERNACIONALIZAÇÃO DE EMPRESAS
A globalização da economia criou novas oportunidades, mas também desafios, que levaram as
empresas a desenvolver esforços na adoção de estratégias de internacionalização, como forma de
sobrevivência. Países incentivam exportações e internacionalização de empresas, assim como se unem
formando blocos comerciais com vistas a aumentar
sua participação e competitividade na economia
global (MARTINELLI; VENTURA; MACHADO, 2004, SUEN, 1997).
O conceito de internacionalização de empresa
pode ser descrito como a participação da empresa
no mercado internacional. A Fundação Dom Cabral (2002), propõe uma definição mais precisa:
“internacionalização é o processo de obtenção de
parte ou totalidade do faturamento a partir de operações internacionais, seja por meio de exportação,
licenciamento, alianças estratégicas, aquisição de
empresas em outros países ou construção de subsidiárias próprias.”
Segundo LEMAIRE et. al. (1997), entre os fatores desencadeantes da inserção de empresas no mer-
Rev. de Negócios Internacionais, Piracicaba, 7 (13): 57-64, 2009
cado internacional destacam-se o inevitável processo
de abertura internacional e a tendência globalizante
das economias e mercados, que se firmou depois de
uma ou duas décadas, dentro de um cenário em que
as trocas de bens, serviços e capitais tornaram-se
mais complexas.
Para internacionalizarem-se as empresas precisam adotar estratégias competitivas adequadas a esse
processo, como atitude competitiva, concentração
geográfica, mecanismos de gestão e de coordenação
de atividades, desenvolvimento interno de competências dinâmicas, absorção e integração de conhecimento, relação com outras empresas (concorrentes,
clientes, fornecedores) e capacidade de adaptação e
articulação das diferentes condições locais - especificidades culturais, econômicas, regulamentares
e lingüísticas dos países ou regiões (CALDEIRA,
2002).
Segundo Rezende (2002) processos de internacionalização de empresas tem atraído a atenção de
pesquisadores, tornando-se alvo de debates acadêmicos por mais de quarenta anos. Os estudos nesta
área estão bastante adiantados e complexos. Um dos
alvos desse debate acadêmico é idéia de gradualismo e continuidade em processos de internacionalização. Segundo o modelo proposto por Johanson
e Wiedersheim-Paul (1975) a internacionalização é
vista como um processo de aprendizagem em que a
empresa investe recursos de modo gradual e adquire
conhecimentos sobre o mercado internacional de
modo evolutivo. Através de estudo realizado com
empresas suecas, os autores, desenvolveram um modelo para internacionalização de empresas, baseado
em quatro etapas. Este modelo apresenta grau potencial de comprometimento, risco, controle e lucro
crescente em cada etapa ou estratégia subseqüente
e pressupõe uma entrada gradual e seqüencial em
mercados internacionais. A seguir as etapas do modelo: a) atividades de exportação inconstantes; b) exportação por meio de representantes independentes
(agentes); c) estabelecimento de uma ou mais filiais
de vendas; d) estabelecimento de instalações de produção no exterior.
Um outro pressuposto do modelo de Johanson
e Wiedersheim-Paul (1975) consiste na afirmação
de que a distância psíquica entre países é um fator
de decisão para a internacionalização. Os autores de-
finem distância psíquica como as diferenças percebidas entre valores, práticas gerenciais e educação de
dois países. Ainda, segundo eles, existem evidências
de que a empresa começa seu processo de internacionalização em países considerados culturalmente
próximos, a fim de diminuir o grau de incerteza do
processo.
A partir destes resultados, Johanson e Vahlne
(1977) apresentaram outro modelo, que ficou conhecido como modelo de Uppsala, baseado em três
pressupostos: a) a falta de conhecimento é o maior
obstáculo em processos de internacionalização; b)
o conhecimento necessário à internacionalização é
principalmente adquirido através das experiências
atuais da empresa em determinado mercado-alvo; c)
a empresa internacionaliza suas operações investindo recursos de modo gradual.
Baseado nesses pressupostos, Johanson e Vahlne
(1977) introduziram o modelo em que são identificados dois estados: conhecimento e comprometimento. O primeiro refere-se ao conhecimento do
mercado-alvo e o segundo ao montante de recursos
investidos em determinado mercado internacional e
ao grau de especificidade desses recursos. Além desses estados o modelo apresenta dois aspectos transitórios que estão relacionados aos estados: as decisões
de investimento e as operações atuais. Existe uma
relação direta entre estados e aspectos transitórios:
enquanto as decisões de investimento definem o
comprometimento da empresa em determinado
mercado, as operações atuais constituem-se na principal fonte de conhecimento da empresa sobre esse
mercado. Mas o modelo também sugere uma interação dinâmica entre estados e aspectos transitórios:
quanto maior o investimento em determinado mercado internacional, maior o grau de conhecimento
sobre esse mercado, maior o seu grau de aptidão
para efetuar novos investimentos e assim sucessivamente. Os aspectos transitórios possuem duplo
papel no processo de internacionalização: resultam
de conhecimento e comprometimento efetuados no
passado; determinam os níveis de conhecimento e
comprometimento futuros.
Vários outros autores têm confirmado o pressuposto de que a inserção de empresas em mercados
internacionais se dá de modo gradual e seqüencial
(CAMINO; CARZOLA, 1998, CALOF, 1995,
Rev. de Negócios Internacionais, Piracicaba, 7 (13): 57-64, 2009
59
CHANG, 1995; CHANG; ROSENZWEIG,
1998 apud REZENDE 2002). No entanto, outras
pesquisas têm sugerido que a internacionalização
de empresas pode ocorrer de maneira descontínua
(BENITO; WELCH, 1997; ZANDER, 1997 apud
REZENDE, 2002). Alguns autores justificam a inadequação do modelo de Uppsala para representar a
realidade atual, com base na alteração do cenário.
Afirmam que um modelo formulado no final da
década de 1970, época em que o ambiente de negócio era menos ligado internacionalmente, não
pode mais explicar a realidade com a consolidação
da globalização e aumento da interdependência no
mercado internacional (REZENDE, 2002).
Forsgren (2000 apud REZENDE, 2002) afirma que a relação entre conhecimento de mercado
e comportamento incremental é negativa e não positiva como prega o modelo de Uppsala. Segundo o
autor, à medida que a empresa aumenta o conhecimento sobre determinado mercado internacional,
passa a ter uma atitude mais ousada e menos incremental, pois diminui sua necessidade de desenvolver-se gradualmente para minimizar a incerteza.
Andersen (1997 apud REZENDE, 2002)
acredita que a idéia de gradualismo do modelo de
Uppsala é demasiadamente determinista, pois a
empresa pode seguir diferentes seqüências no modo
de entrada em mercados internacionais. Segundo
Hedlund e Kverneland (1993 apud REZENDE,
2002) algumas empresas suecas operando no mercado japonês não passaram pelos estágios iniciais da
cadeia de estabelecimento (modelo de Johanson e
Wiedersheim-Paul, 1975). Para Kobrin (1992 apud
REZENDE, 2002) em função do ambiente mais interdependente em nível global, as empresas evoluem
de maneira mais rápida em mercados internacionais
para obter economia de escala, escopo e aprendizagem por meio da integração de suas operações.
Alguns autores (BENITO; WELCH, 1997,
FLETCHER, 2001, ZANDER, 1997 apud REZENDE, 2002) mostram que empresas podem seguir uma trajetória inversa à do modelo de Uppsala,
desinvestindo em mercados internacionais.
Entre tantas críticas ao modelo de Uppsala,
surgem propostas alternativas baseadas na teoria de
redes industriais, que sugerem analisar processos de
internacionalização como resultados de relaciona60
mentos intra e interorganizacionais (BARTLETT;
BIRKINSHAW, 1996, GHOSHAL, 1986, FORSGREN, 1989, FORSGREN; HOLM; JOHANSON, 1992, JOHANSON; MATTSON, 1988;
HAKANSSON, SNEHOTA, 1995, RICHARDSON, 1972 apud REZENDE, 2002).
Partindo da esfera internacional para a nacional, o estudo da internacionalização das empresas
brasileiras vem despertando o interesse de muitos
pesquisadores (CAMPANHOL; SMITH, 2002,
CARVALHO; ROCHA, 1998; FUNDAÇÃO
DOM CABRAL, 2002, LOUREIRO; SANTOS,
1991, MARKWALD; PESSOA, 2002).
4. MÉTODOS DE PESQUISA
Realizou-se levantamento e pesquisa da bibliografia sobre Internacionalização de Empresas. Segundo Yin (2001), a revisão de literatura é, portanto, um meio para se atingir uma finalidade, e não
– como pensam muitos estudantes – uma finalidade
em si. Os pesquisadores iniciantes acreditam que o
propósito de uma revisão de literatura seja determinar as respostas sobre o que se sabe a respeito de um
tópico; não obstante, os pesquisadores experientes
analisam pesquisas anteriores para desenvolver questões mais objetivas e perspicazes sobre o mesmo tópico.
Utilizou-se o método de estudo de caso (YIN,
2001) para analisar o Projeto Setorial Integrado
(PSI) Wines from Brazil, iniciado como consórcio
de exportação (2002), assim como para verificar as
relações entre a teoria vista e as ações tomadas no
caso.
Realizaram-se entrevistas em profundidade
semi-estruturadas (MALHOTRA, 2001) no PSI
Wines from Brazil, com o intuito de obter informações relevantes e complementares para o estudo de
caso analisado. Realizou-se, também, a análise documental (análise de documentos e relatórios) no PSI
Wines from Brazil (RICHARDSON, 1999).
Foram investigadas no Projeto Setorial Integrado (PSI) as seguintes questões de estudo: (a) Por que
o PSI atende à estratégia do governo brasileiro de
internacionalização de empresas? (b) Como o PSI
pode alavancar as exportações das pequenas e médias empresas associadas?
Rev. de Negócios Internacionais, Piracicaba, 7 (13): 57-64, 2009
As proposições direcionam a atenção para algo
que deveria ser examinado dentro do escopo do
estudo. A partir do momento em que as proposições são declaradas, o estudo começa a mover-se
em alguma direção (YIN, 2001). Consideram-se as
seguintes proposições em resposta às questões apresentadas anteriormente: (a) O PSI pode auxiliar na
internacionalização de empresas, visto que o PSI
é um projeto setorial (APEX-Brasil) voltado para
ações promocionais de exportação, de âmbito regional, estadual ou federal; (b) O aporte financeiro
recebido do governo brasileiro, entende-se APEXBrasil, auxilia a inserção de empresas no mercado
internacional e proporciona o incremento das exportações das empresas participantes.
5. O CASO WINES FROM BRAZIL: HISTÓRICO E CARACTERIZAÇÃO DO PSI
Aproximadamente, a partir de 2002, a Agência
de Promoção de Exportações (APEX-Brasil) tem
concentrado esforços na organização, avaliação e financiamento de Projetos Setoriais Integrados (PSI),
que englobam pequenas, médias e grandes empresas
de todo um setor ou segmento produtivo, sem restrições regionais, além de seus Projetos de Formação
de Consórcios de Exportação (PFC).
Uma definição de Projeto Setorial Integrado de
Promoção de Exportações (PSI) dada pela APEXBrasil (2003) seria: projeto que reúne um conjunto
de atividades agregadas em diversos projetos de promoção comercial, e que tem por característica essencial seu alcance setorial em âmbito estadual, regional
ou nacional.
Assim sendo, considerou-se válido e relevante
para esta pesquisa inserir e analisar um estudo de
caso sobre um PSI de promoção comercial de exportações no Brasil que se originou a partir de um
consórcio de exportação.
O PSI Wines from Brazil iniciou suas atividades
de promoção comercial às exportações em 2002,
constituído por 15 vinícolas da região de Bento
Gonçalves – RS, como resultado da articulação com
entidades, reunião com empresas interessadas (mesmo segmento produtivo).
Dentre as entidades que iniciaram o processo
estão: FIERGS (Federação das Indústrias do Estado
do Rio Grande do Sul), UVIBRA (União Brasileira
de Vitivinicultura), APROVALE (Associação dos
Produtores de Vinhos do Vale dos Vinhedos), IBRAVIN (Instituto Brasileiro do Vinho), SEBRAE/RS
(Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas),
dentre outras. O projeto é gerenciado pelo Instituto
Brasileiro do Vinho (IBRAVIN).
O PSI possui apoio financeiro da Agência de
Promoção de Exportação (APEX-Brasil). Na fase
consórcio, a duração foi de 12 meses (2002), sendo
que na fase PSI o projeto se iniciou em outubro de
2004 e está vigente.
Dentre as vinícolas que participam do PSI encontram-se:
• COOPERATIVA VINÍCOLA AURORA LTDA (Bento Gonçalves – RS)
• CASA VALDUGA VINHOS FINOS
(Bento Gonçalves – RS)
• CAVALLERI VINHOS FINOS (Bento
Gonçalves – RS)
• VINÍCOLA CORDELIER LTDA
(Bento Gonçalves – RS)
• VINHOS DON LAURINDO LTDA
(Bento Gonçalves – RS)
• CHAMPAGNE GEORGES AUBERT
S/A (Garibaldi – RS)
• LÍDIO CARRARO
• LOVARA VINHOS FINOS LTDA
(Bento Gonçalves – RS)
• VINHOS MARSON LTDA (Cotiporã
– RS)
• VINÍCOLA MIOLO LTDA (Bento
Gonçalves – RS)
• SOCIEDADE DE BEBIDAS MIORANZA LTDA (Flores da Cunha – RS)
• PIZZATO Vinhas & Vinhos (Bento
Gonçalves – RS)
• VINÍCOLA PETERLONGO S/A (Garibaldi – RS)
• VINHOS SALTON S/A - INDÚSTRIA E COMÉRCIO (Bento Gonçalves
– RS)
• SULVIN IND. COM. DE VINHOS
LTDA (Flores da Cunha – RS)
De acordo com o Gerente de Promoção Comercial, os objetivos do PSI são:
Rev. de Negócios Internacionais, Piracicaba, 7 (13): 57-64, 2009
61
• Incrementar a exportação agregando valor aos
produtos, e principalmente divulgando a marca
Brasil;
• Aumentar a participação das empresas no cenário mundial;
• Desenvolver atividades e materiais promocionais para consolidar os vinhos brasileiros no
mundo;
• Desenvolver atividades de sensibilização,
formação e capacitação para a exportação das em-
presas brasileiras que trabalham com vinhos finos
(v.vinífera);
• Desenvolver projetos de pesquisa, para o desenvolvimento da exportação;
• Desenvolver material promocional com o intuito de divulgar e consolidar a marca “Wines from
Brazil”;
• Desenvolver atividades de adequação e desenvolvimento de produtos e processos para atender as
demandas dos diversos mercados que serão trabalhados.
Quadro 1 - Ações Promocionais do PSI.
Feiras Internacionais:
• Promover institucionalmente e comercialmente os vinhos brasileiros através de
ações de comunicação e marketing;
• Integrar as empresas na busca de novos mercados, e principalmente na promoção comercial e na venda dos produtos nos mercados selecionados;
• Desenvolver a exportação de vinhos e espumantes;
• Desenvolver novos consumidores de vinhos e espumantes brasileiros;
• Feiras: Alemanha, EUA, Reino Unido, República Tcheca e outras.
Degustações:
• Organizar eventos onde serão apresentados vinhos e espumantes para profissionais do mercado nos países alvo;
• Organizar eventos em parceria com outros projetos da APEX-Brasil que tenham
afinidade com o vinho brasileiro. Ex.: carne bovina, pescado, etc.
Projeto Comprador:
Facilitar e integrar o produtor e o cliente nos mercados selecionados com o objetivo
fundamental de realizar negócio e, ao mesmo tempo, demonstrar a pujança e
a tecnologia das empresas na elaboração dos produtos. Os projetos viabilizam
visitas, encontros e possibilitam ao importador entender o funcionamento da cadeia
produtiva.
Projeto Imagem:
• Estimular a participação das empresas vitivinícolas em campanhas promocionais,
feiras e eventos de forma associativa e unificada;
• Desenvolver materiais apropriados e focados para os mercados selecionados
(catálogos, vídeos, impressos, participação em revistas especializadas e outros);
• Organizar vinda de jornalistas e formadores de opinião dos mercados alvo às
regiões produtoras.
Fonte: Wines from Brazil.
O Quadro 2 destaca o Desempenho das Exportações de 2002 a 2005.
Quadro 2 – Desempenho das Exportações de 2002 a 2005.
EXPORTAÇÕES DE 2002 A 2005:
62
PERÍODO
VOLUME (LITROS)
VALOR FOB USD
USD/litro
2002
169.864,00
165.443,10
0,97
2003
99.458,50
231.018,89
2,32
2004
434.160,00
638.580,34
1,47
Rev. de Negócios Internacionais, Piracicaba, 7 (13): 57-64, 2009
2005
1.202.946,16
1.569.433,25
1,30
TOTAL:
1.906.428,66
2.604.475,58
1,37
VARIAÇÃO:
2003 s/ 2002:
(+)39,63%
2004 s/ 2003:
(+)176,42%
2004 s/ 2002:
(+)285,98%
2005 s/ 2004:
(+)145,77%
Fontes: WFB: empresas, Brasil: sistema Aliceweb MDIC.
NCM consultadas: 22042100, 22041010, 22042900.
Fonte: Wines from Brazil.
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS E IMPLICAÇÕES GERENCIAIS
O presente estudo abordou a revisão da literatura sobre internacionalização de empresas e retratou a realidade brasileira com a internacionalização
via Projetos Setoriais Integrados (PSI). Ambas as
proposições iniciais foram confirmadas: (1) O PSI
pode auxiliar na internacionalização de empresas,
visto que é um projeto setorial (APEX-Brasil) voltado para ações promocionais de exportação, de
âmbito regional, estadual ou federal; (2) O aporte
financeiro recebido do governo brasileiro, entendese APEX-Brasil, auxilia a inserção de empresas no
mercado internacional e proporciona o incremento
das exportações das empresas participantes. O estudo de caso analisado pôde comprovar este tópico.
Observou-se o bom desempenho exportador
(evolução das exportações) do PSI Wines from Brazil
no decorrer de suas atividades comerciais.
A Agência de Promoção de Exportações tem
priorizado a investigação, formação e aprovação de
projetos de PSIs no Brasil como forma de incrementar as vendas externas brasileiras, diversificar a pauta
de produtos exportados e aumentar o número de
empresas de pequeno porte exportando seus produtos. Assim, aponta-se a formação de PSI como
estratégia do governo brasileiro como forma de internacionalização de empresas.
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Rev. de Negócios Internacionais, Piracicaba, 7 (13): 57-64, 2009
Estratégias de Marketing Global: uma reflexão
teórica
GUSTAVO BARBIERI LIMA
Mestre em Administração – FEARP – Universidade de São Paulo
[email protected]
DIRCEU TORNAVOI DE CARVALHO
Professor Livre Docente – FEARP – Universidade de São Paulo
[email protected]
Resumo: Para que as empresas se mantenham competitivas nos mercados em que atuam, as estratégias de
marketing internacional (segmentação de mercado, definição de mercado (s) - alvo e posicionamento), assim
como as ferramentas de marketing utilizadas (marketing operacional ou gestão do composto de marketing
– produto, preço, praça/ distribuição e promoção) para a exportação de produtos e serviços exercem um
papel de extrema importância. O objetivo central deste estudo é realizar um ensaio teórico acerca do tema
estratégias de marketing global, visando contribuir para o enriquecimento do conhecimento neste campo
de estudo.
Palavras-chave: Marketing, Marketing Internacional, Marketing Estratégico.
Abstract: So that enterprises keep themselves a competitive player in the markets in which they act, the
international marketing strategies (market segmentation, target-market and positioning) and the marketing
tools used, such as operational marketing (or marketing mix – product, price, place and promotion) play
a very important role in the exportation of products and services. The central objective of this paper is to
perform a literature review about the subject global marketing strategies, intending to contribute to the
enrichment of the knowledge in this field of study.
Keywords: Marketing, Global Marketing, Strategic Marketing.
1. INTRODUÇÃO
“Provavelmente, a razão mais comum para
uma expansão internacional é o reconhecimento de oportunidades existentes nos
mercados externos. Competir internacionalmente é uma decisão estratégica que
fundamentalmente afetará a empresa,
incluindo suas operações e gestão (JEANNET; HENNESSEY, 2001, p. 262).”
A disciplina de marketing é universal, mas é natural que algumas de suas práticas variem de país
para país. Por quê? Porque os países e os povos do
mundo diferem uns dos outros, e essas diferenças
significam que uma técnica de marketing bem-sucedida em um país não irá automaticamente funcionar em outro. As preferências dos consumidores, os
concorrentes, os canais de distribuição e os meios de
comunicação podem diferir, e é tarefa Importante
no marketing global aprender a reconhecer até que
Rev. de Negócios Internacionais, Piracicaba, 7 (13): 65-72, 2009
65
ponto os planos e os programas de marketing podem ser estendidos ao mundo inteiro, bem como
até que ponto eles têm de ser adaptados (KEEGAN;
GREEN, 2000).
Uma empresa global bem-sucedida deve ser
capaz de “pensar globalmente e agir localmente”.
Marketing global pode incluir uma combinação
de abordagens-padrão (ex.: o produto em si) e alternativas (ex.: distribuição ou embalagem). Um
“produto global” pode ser “o mesmo produto” em
todos os lugares e ao mesmo tempo ser “diferente”.
Marketing global exige que as empresas se comportem de uma forma que seja global e local ao mesmo
tempo, respondendo às similaridades e às diferenças
dos mercados do mundo (KEEGAN, 2005).
Segundo Lambin (2000), a função do marketing estratégico é orientar a empresa para as oportunidades existentes ou criar oportunidades atrativas,
ou seja, bem adaptadas aos seus recursos e ao seu
saber-fazer, que oferecem um potencial de crescimento e rentabilidade.
Como serão apresentadas no decorrer deste estudo, as bases de sustentação do marketing estratégico
são: segmentação de mercado, definição de mercado-alvo (atratividade) e posicionamento estratégico.
Todas estas estratégias visam, entre outros, criarem
um diferencial a ser ofertado no mercado, que dificilmente poderá ser copiado por seus concorrentes, e
que deverá entregar um valor superior aos seus clientes
em comparação aos seus concorrentes (CRAVENS,
1994; MYERS, 1996; LAMBIN, 2000; KOTLER,
2000; ANDERSON; VINCZE, 2000).
2. OBJETIVOS DO ESTUDO
O objetivo central deste estudo é realizar um ensaio teórico acerca do tema estratégias de marketing
global, visando contribuir para o enriquecimento do
conhecimento neste campo de estudo. Os objetivos
específicos são: a) sintetizar, com base na literatura,
conceitos de estratégias de marketing internacional;
b) fornecer um ferramental teórico-conceitual sobre
marketing internacional para a gestão de empresas
brasileiras.
3. ASPECTOS METODOLÓGICOS
Primeiramente, realizaram-se pesquisas bibliográficas e levantamento do referencial teórico sobre
66
Marketing Estratégico ou Estratégias de Marketing,
focando marketing global. O estudo foi fundamentado na literatura do tema proposto. Segundo Yin
(2001), a revisão de literatura é, portanto, um meio
para se atingir uma finalidade, e não – como pensam muitos estudantes – uma finalidade em si. Os
pesquisadores iniciantes acreditam que o propósito
de uma revisão de literatura seja determinar as respostas sobre o que se sabe a respeito de um tópico;
não obstante, os pesquisadores experientes analisam
pesquisas anteriores para desenvolver questões mais
objetivas e perspicazes sobre o mesmo tópico.
Em segundo e último foi estruturado um ensaio
teórico sobre o tema marketing estratégico com enfoque em marketing global, discutindo os principais
tópicos envolvidos (segmentação de mercado, definição de mercado-alvo e posicionamento).
4. REFERENCIAL TEÓRICO – MARKETING
ESTRATÉGICO: ENFOQUE EM MARKETING GLOBAL
4.1 Segmentação de Mercado
“Na maioria dos mercados, é praticamente
impossível satisfazer todos os compradores
com um só produto ou serviço. Sendo os
compradores diferentes, estes têm interesses
e desejos variados. Esta diversidade resulta
do fato de os compradores terem não só hábitos de compra diferentes mas, sobretudo,
necessidades e expectativas diferentes relativamente aos produtos e serviços oferecidos
(LAMBIN, 2000, pg. 236).”
Segundo Cravens (1994) as decisões do marketing estratégico selecionam que consumidores atingir em cada mercado e com quais produtos, e como
posicionar os produtos da empresa para cada alvo.
Poucas empresas podem representar tudo para
todas as pessoas. Em vez de competir inter fronteiras, a maioria das empresas identificará e visará aos
segmentos de mercado mais atrativos, a que pode
atender eficazmente. A variação das necessidades dos
consumidores é o principal motivo para a segmentação de mercado. Quando as preferências dos consumidores variam, as empresas podem desenvolver
um programa de composto de marketing que seja
Rev. de Negócios Internacionais, Piracicaba, 7 (13): 65-72, 2009
ajustado às necessidades dos segmentos de mercado
específicos visados por elas. Em marketing global,
a segmentação de mercado torna-se especialmente
importante, dada a ampla divergência nas necessidades e preferências dos consumidores interfronteiras
(KOTABE, 2000).
Segundo Keegan (2005), o processo de subdividir um mercado em vários subconjuntos de clientes que se comportam de maneira semelhante ou
tenham necessidades similares. Cada subconjunto
pode ser escolhido como um alvo de mercado a ser
atingido com uma estratégia específica de marketing.
O processo começa com uma base de segmentação
– um fator específico ao produto que reflita as diferenças de exigências ou de respostas às variáveis de
marketing por parte dos clientes. Como exemplos
de variáveis de segmentação, podemos citar: comportamento de compra, uso, benefícios pretendidos,
intenções, preferências ou fidelidade.
De acordo com Myers (1996), segmentos de
mercado consistem em grupos de pessoas ou organizações que são similares em termos de como eles
respondem à um marketing mix particular ou que
sejam significativos para propósitos de planejamento de marketing. O objetivo básico da segmentação
é identificar subgrupos de consumidores ou potenciais consumidores, que, se espera, responderiam
de forma similar para determinado marketing mix
(produto/ serviço, preço, promoção e distribuição).
A segmentação do mercado global foi definida
como “o processo de identificação de segmentos específicos – sejam grupos de países ou de consumidores individuais – de consumidores potenciais com
atributos homogêneos e capazes de apresentar com-
portamento de consumo semelhante” (KEEGAN e
GREEN, 2000, p. 199).
De acordo com Lambin (2000), a primeira etapa de uma análise estratégica tem por objetivo identificar o mercado no qual se pretende concorrer e
definir, uma estratégia de presença. Esta escolha do
mercado de referência implica uma repartição inicial do mercado total em subconjuntos, designados
por segmentos de mercado, homogêneo do ponto
de vista das necessidades, dos comportamentos, das
motivações de compra, e suscetíveis de constituírem
mercados potenciais distintos.
A segmentação internacional esforça-se por
identificar segmentos de compradores que, para lá
das fronteiras nacionais, têm atitudes, expectativas
e comportamentos similares. Na medida em que
os comportamentos e os estilos de vida se tornam
homogêneos no mundo sob o efeito do progresso
econômico, as viagens e a comunicação, os segmentos, com expectativas homogêneas tendem a multiplicar-se (LAMBIN, 2000).
Um segmento de mercado se refere a um grupo
de países que são semelhantes com relação à sua reação à alguns aspectos de estratégias de mercado. Segmentação de mercado pode ser definida como uma
técnica para “dividir” diferentes países em grupos
homogêneos. O conceito de segmentação é baseado
no fato de uma empresa não poder servir todos os
países com uma única estratégia de mercado/ políticas, pois existem disparidades entre os mesmos, ambos econômico e cultural. Um profissional de marketing, entretanto, deveria selecionar um ou mais
países como mercado(s) – alvo (JAIN, 1990).
As bases para segmentação do mercado consumidor podem ser visualizadas no Quadro 1:
Quadro 1 – Bases para a segmentação do mercado consumidor.
• Segmentação Geográfica
A segmentação do mercado requer a divisão do mercado em diferentes unidades geográficas, como nações, estados, regiões, condados,
cidades ou bairros.
• Segmentação Demográfica
O mercado é dividido em grupos de variáveis básicas, como idade, tamanho da família, ciclo de vida da família, sexo, rendimento, ocupação,
nível de instrução, religião, raça, geração, nacionalidade
e classe social.
Os compradores são divididos em diferentes grupos, com base em seu
estilo de vida, sua personalidade e seus valores.
• Segmentação Psicográfica
Rev. de Negócios Internacionais, Piracicaba, 7 (13): 65-72, 2009
67
• Segmentação Comportamental
Os compradores são divididos em grupos com base em seus conhecimentos de um produto, em sua atitude com relação a ele, no uso dele
ou na resposta a ele (ocasiões, benefícios, status do usuário, índice
de utilização, status de fidelidade, estágio de prontidão e atitudes em
relação ao produto).
Fonte: Autores, baseado em Jain (1990), Kotler e Armstrong (1995), Myers (1996), Kotler (2000), Lambin (2000), Keegan (2005).
Para Anderson e Vincze (2000), o processo de
segmentação de mercado é constituído da seguinte
forma: a) definir e analisar o mercado; b) identificar
e descrever segmento(s) potencial(ais); c) selecionar
o segmento a ser atendido; d) determinar a estratégia de posicionamento do produto; e) desenhar e
implementar o programa de marketing.
Myers (1996) descreve o procedimento geral
para a segmentação de mercado como sendo: a) decidir sobre as variáveis de segmentação; b) decidir
sobre a metodologia de análise de informação; c)
aplicar a metodologia para identificar os vários segmentos; d) descrever todos os segmentos (usando as
variáveis); e) selecionar o mercado-alvo; f) desenvolver um mix de marketing para cada segmento alvo.
McDonald e Dunbar (1998, p. 29) apresentam
as seguintes vantagens do processo de segmentação
de mercado:
Reconhecer as diferenças dos consumidores como chave para um marketing de sucesso, pois pode levar a uma maior aderência entre as necessidades dos consumidores
com os serviços ou produtos da empresa.
Segmentação pode levar para o marketing
de nicho, quando apropriado, onde a companhia pode atender todas ou quase todas
as necessidades dos consumidores naquele segmento-nicho. Isso pode resultar na
dominação do segmento, algo que quase
nunca é possível no mercado total.
Segmentação pode levar para a concentração de recursos em mercados onde a vantagem competitiva é maior e os retornos
mais altos.
Segmentação pode ser usada para ganhar
uma vantagem competitiva por considerar
os mercados de forma diferente dos seus
competidores.
Por meio da segmentação, você pode vender sua companhia como especialista nos
segmentos de mercado escolhidos, com
um melhor entendimento das necessidades dos consumidores, dessa forma oferecendo produtos/ serviços com vantagens
sobre os produtos da concorrência.
Quadro 2 - Vantagens que podem ser adquiridas pelas empresas que realizam
o processo de segmentação:
(a) A segmentação é uma abordagem muito útil para o marketing de uma empresa menor. Ela possibilita visar
mercados adequados às competências da empresa e tornar possível à empresa menor, criar, dentro do mercado,
um nicho defensável.
(b) Ela ajuda a identificar lacunas no mercado, isto é, segmentos não atendidos ou subatendidos. Estes podem
fornecer áreas para o desenvolvimento de novos produtos ou a extensão da gama de produtos ou serviços
existentes.
(c) Em mercados maduros ou em declínio, será possível identificar segmentos específicos ainda em crescimento. A concentração nos segmentos em crescimento quando o mercado geral está em declínio é uma importante
estratégia nos estágios finais do ciclo de vida do produto.
(d) A segmentação permite ao profissional de marketing adequar melhor o produto ou serviço às necessidades
do mercado-alvo. Desta maneira, pode-se construir uma posição competitiva mais forte.
68
Rev. de Negócios Internacionais, Piracicaba, 7 (13): 65-72, 2009
(e) Nunca é demais enfatizar os perigos de não segmentar o mercado quando os concorrentes o fazem. As vantagens competitivas assinaladas acima podem ser perdidas para a concorrência se a empresa deixa de aproveitalas. Uma empresa que pratique uma estratégia de mercado de massa em um mercado claramente segmentado
em oposição a concorrentes de estratégia objetiva e delimitada pode se ver numa situação complicada.
Fonte: Hooley e Saunders (1996).
4.2 Atratividade do Mercado e Lucratividade
Os resultados de uma análise de segmentação
tomam a forma de uma grelha de segmentação
que descreve os diferentes produtos - mercados ou
segmentos que compõe o mercado de referência. A
segunda etapa do trabalho do marketing estratégico
tem por objetivos medir a atratividade da oportunidade econômica que estes diversos segmentos representam, a fim de instruir a seleção de segmentosalvo. Uma análise de atratividade visa medir e prever
o nível da procura e a fase do ciclo de vida de cada
segmento identificado. Estas informações e projeções são utilizadas em seguida pela administração da
empresa para calibrar o investimento e a capacidade
de produção (LAMBIN, 2000).
Conforme Kotler e Armstrong (1995), um segmento pode ter tamanho e características de crescimento desejáveis mas não ser atrativo em termos
de lucro. A empresa deve examinar os vários fatores
estruturais importantes que afetam a atratividade do
segmento a longo prazo. Por exemplo, o segmento é
menos atrativo se já tiver muitos concorrentes fortes
e agressivos. A existência de vários produtos substitutos, reais ou potenciais, poderá limitar os preços e
os lucros a serem obtidos em um segmento. O poder
relativo dos compradores também afeta a atratividade do segmento. Se os compradores tiverem forte
poder de barganha com relação aos vendedores, eles
tentarão forçar os preços para baixo, exigir melhor
qualidade ou mais serviço, além de colocar alguns
concorrentes contra os outros, tudo isso à custa da
rentabilidade do vendedor. Finalmente, o segmento
pode ser menos atrativo se tiver fornecedores poderosos, que podem controlar preços ou reduzir a
qualidade ou quantidade dos bens e serviços encomendados. Os fornecedores tendem a ser poderosos
quando são grandes e concentrados, quando têm
poucos substitutos, ou quando o produto fornecido
é um insumo importante.
4.3 Definição de Mercado-Alvo e Nichos de
Mercado
Uma vez que a empresa tenha identificado suas
oportunidades de segmento de mercado, deve decidir sobre quantos e em quais mercados adentrar
(KOTLER, 2000).
Kotler e Armstrong (1995) ressaltam que para o
profissional de marketing, “mercado” é o conjunto
de todos os compradores reais e potenciais de um
produto ou serviço. Mercado é o conjunto de compradores, e indústria ou setor é o conjunto de vendedores. O tamanho do mercado depende do número
de compradores potenciais de uma oferta específica
de mercado. Os compradores potenciais de um produto ou serviço apresentam quatro características:
interesse, renda, acesso e qualificações.
Uma etapa crucial no desenvolvimento de uma
estratégia de expansão global é a seleção de mercados-alvo potenciais. Para identificar oportunidades
de mercado para determinado produto (ou serviço),
a empresa internacional geralmente parte de um
grande conjunto de países candidatos (digamos, todos os países da Europa Central). Para afunilar esse
conjunto de países, a empresa fará uma triagem preliminar. A meta desse exercício é dupla: minimizar
os erros de (1) ignorar países que oferecem oportunidades viáveis para o seu produto e (2) desperdiçar
tempo em países que oferecem pouco ou nenhum
potencial. Posteriormente, os países triados são avaliados para se determinar o conjunto final de paísesalvo (KOTABE, 2000).
Os três critérios básicos de determinação de
oportunidade nos mercados-alvos globais são os
mesmos usados na determinação dessa oportunidade em um país só, ou seja: o tamanho corrente do
segmento e o potencial de crescimento previsto, a
concorrência e a compatibilidade com os objetivos
gerais da empresa, assim como a viabilidade de se
atingir o alvo determinado com sucesso (KEEGAN
e GREEN, 2000; KEEGAN, 2005).
Rev. de Negócios Internacionais, Piracicaba, 7 (13): 65-72, 2009
69
Para sobreviver e prosperar num mercado global
cada vez mais competitivo, muitas empresas estão
aprendendo a encontrar e dominar “nichos de mercado”. Para empresas de todos os tipos e tamanhos,
estratégias de nichos de mercado está se tornando
um novo imperativo nos negócios. Uma definição
simples de nichos de mercado seria um segmento
de mercado relativamente pequeno no qual os principais concorrentes ou produtores podem ignorar
ou ter dificuldade em servir. O nicho deve ser uma
área geográfica estreitamente definida. Está relacionado com necessidades específicas de um pequeno
e específico grupo de consumidores ou pode ser
também, algum segmento altamente especializado
de um grupo maior de consumidores. Em alguns
casos, o nicho de mercado pode de fato grande,
especialmente se as empresas operam globalmente
(JAIN, 1990).
Ainda segundo Jain (1990), focando em um
nicho de mercado específico, as empresas freqüentemente desenvolvem um excelente “conhecimento”
sobre seus clientes e operações e como os consumidores gastam seu dinheiro. Este “conhecimento”
proporciona facilidades como, por exemplo, identificar oportunidades para novos produtos e programas de marketing. Esta ênfase em nichos oferece
um foco objetivo para o desenvolvimento de estratégias de negócios e planos de ação.
4.4 Posicionamento
O posicionamento começa com um produto.
Uma mercadoria, um serviço, uma companhia,
uma instituição ou mesmo uma pessoa. Talvez você
mesmo. Mas o posicionamento não é aquilo que
você faz com um produto. Posicionamento é aquilo
que você provoca na mente do cliente potencial. Em
outras palavras, você posiciona o produto na mente
do cliente em potencial (RIES; TROUT, 1972,).
A idéia do posicionamento surge como resposta para uma sociedade inundada por um excesso de
comunicações, onde seria necessário criar um determinado posicionamento na mente do consumidor, levando em consideração as forças e fraquezas
da empresa, assim como aquelas dos competidores
(RIES; TROUT, 1972).
70
A origem do termo posicionamento pode ser
encontrada no artigo “Positioning is a game people
play in today’s me-too marketplace”, o qual foi publicado na revista Industrial Marketing, em junho de
1969 (RIES; TROUT, 1972). Na seqüência, os
mesmos autores publicaram uma série de artigos na
revista Advertising Age. Desde então, a literatura de
marketing foi profícua em trabalhos que abordam a
questão do posicionamento.
Conforme Kotabe (2000), as decisões de segmentação são também instrumentos para definição
de estratégia de posicionamento de produto da empresa. Uma vez selecionados os segmentos-alvos, a
administração precisa desenvolver uma estratégia
de posicionamento para ocupá-los. Basicamente, a
empresa deve decidir como deseja posicionar seus
produtos e serviços na mente dos consumidoresalvo potenciais. Com freqüência as mudanças no
ambiente ou nas preferências dos consumidores
forçam a empresa a repensar sua estratégia de posicionamento.
Ainda segundo Kotabe (2000), no marketing
doméstico, as decisões de segmentação e de posicionamento determinam a política de composto
de marketing de uma empresa. Pela mesma razão, a
segmentação de país orientará suas decisões de composto global.
Posicionamento é a estratégia de comunicação
baseada na noção de “espaço” na mente; é o ato de
colocar uma marca na mente dos consumidores,
sobrepondo-a e opondo-a a outras, em termos de
atributos e benefícios oferecidos. A palavra posicionamento, usada formalmente pela primeira vez em
1969 por Al Ries e Jack Trout, descreve a estratégia
de “delimitar uma área” ou “preencher um espaço
aberto” no cérebro dos consumidores-alvos. Uma
estratégia de posicionamento freqüentemente usada explora um atributo, benefício ou característica
em particular. (KEEGAN e GREEN, 2000; KEEGAN, 2005). O posicionamento começa com um
produto. Uma mercadoria, um serviço, uma empresa, uma instituição ou até mesmo uma pessoa...
Mas o posicionamento não é o que você faz com o
produto. O posicionamento é o que você faz com a
mente do cliente potencial (KOTLER, 2000).
Rev. de Negócios Internacionais, Piracicaba, 7 (13): 65-72, 2009
Ainda Segundo Kotler (2000), cada empresa
deve decidir quantas diferenças (por exemplo, benefícios, características) deve promover junto a seus
consumidores-alvo. Muitos profissionais de marketing defendem a promoção de apenas um benefício
central. Ries e Trout são a favor de uma mensagem
de posicionamento sistemática. Para eles, cada marca deveria selecionar um atributo e tentar ser “a número um” nesse atributo.
Posicionamento é o lugar que seu produto ocupa na mente do cliente. Portanto, uma das mais
poderosas ferramentas de marketing não é algo que
um profissional de marketing possa fazer ao produto ou a um dos elementos do composto de marketing: posicionamento é o que acontece na mente do
cliente. A posição que um produto ocupa na mente
do cliente depende de uma série de variáveis, muitas
das quais podem ser controladas pelo profissional de
marketing. Depois que os vários segmentos do mercado global foram identificados e um ou mais foram
estabelecidos como mercados-alvo, é essencial planejar um modo de atingi-los (KEEGAN, 2005).
O desenvolvimento de uma determinada imagem deve ser pautado pela tentativa de criar um
posicionamento que seja sustentável e que não seja
facilmente copiado pela concorrência. (DOYLE;
SAUNDERS, 1985). Essa idéia traz duas importantes considerações. A primeira trata do desenvolvimento de um posicionamento que seja divulgado
junto aos consumidores, tratando da construção de
uma determinada imagem (posicionamento psicológico). A segunda trata da construção desta imagem
com base numa estrutura de entrega do produto ou
serviço que realmente entregue o que foi prometido
na imagem divulgada (posicionamento competitivo). Ao construir uma imagem distinta daquela que
os competidores desenvolveram, e tendo desenvolvido uma estrutura operacional que realmente entregue a imagem divulgada, a empresa estará apta a
construir uma vantagem competitiva sustentável.
É fundamental para o desenvolvimento desse
posicionamento a realização de uma prévia pesquisa de posicionamento (HOOLEY; SAUNDERS,
1996). Essa pesquisa teria como principal preocupação identificar como os clientes percebem os produ-
tos e serviços concorrentes. A partir dessa consideração, compreende-se que tanto a segmentação como
o posicionamento são, portanto, meios de aumentar
a nitidez de um quadro que mostra como os clientes
podem ser agrupados em um mercado e como estes
clientes agrupam os produtos e serviços oferecidos.
5. COSIDERAÇÕES FINAIS
As constantes transformações na economia
mundial, advindas do processo de globalização de
mercados e da busca incessante por maior competitividade e produtividade num ambiente onde a
competição se torna altamente acirrada, faz com que
os profissionais de marketing, de empresas nacionais
ou multinacionais, analisem minuciosamente o (s)
mercado (s) em que atuam ou desejam atuar e definam estratégias de marketing compatíveis com a
realidade com que se deparam.
A realização de pesquisas de mercado, o planejamento das atividades de marketing, através da elaboração (estruturação) de um plano de marketing e
a definição de estratégias de mercado são atitudes de
extrema importância quando se trata de conquistar
vantagem competitiva frente aos seus concorrentes
no mercado globalizado, visando à obtenção de
maior participação de mercado e rentabilidade.
Assim sendo, este trabalho teve como foco central conceituar estratégias de marketing internacional
(marketing estratégico com enfoque global), através
da realização de um ensaio teórico, identificando
ações que necessariamente devem ser tomadas por
empresas (profissionais) que atuam em mercados
internacionais ou que pretendam atuar no comércio internacional. Obviamente, não se pode ignorar
a gestão do composto de marketing (ou marketing
mix), constituído por: produto, preço, praça/ distribuição e promoção. Todavia o enfoque da presente
pesquisa é outro.
Faz-se importante destacar, conforme mencionado no decorrer deste artigo, que as estratégias de
marketing internacional estão pautadas em três pilares centrais: segmentação de mercado, definição de
mercado (s)-alvo (target-market) e posicionamento
(da empresa, marca, produto na mente do cliente).
Rev. de Negócios Internacionais, Piracicaba, 7 (13): 65-72, 2009
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MONOGRAFIAS DO CURSO DE ADMINISTRAÇÃO COM HABILITAÇÃO EM
GESTÃO DE NEGÓCIOS INTERNACIONAIS, DEFENDIDAS E APROVADAS
(Segundo Semestre 2008)
“Prof(a).
Temática/Título
Aluno(a)
Orientador(a)”
China e Brasil “Os Extremos tocam-se”.
Andreza Lopes Ferreira
Acácia de Fátima Ventura
O mal do século XX e XXI: Estresse Ocupacional.
Mariana Gerage
Acácia de Fátima Ventura
Estudo da viabilidade mercadológica para
implentação de uma usina de biodiesel a partir
da reciclagem do óleo de cozinha na cidade de
Piracicaba.
Edmar Carlos Mazzero
Antonio João de Brito
Fusões e Aquisições no Brasil a partir da década
de noventa como oportunidades de mercado.
Letícia Bisson
Antonio João de Brito
Estudo de Viabilização Mercadológica
para introdução de artigos de cama, mesa
e banho para o Canadá.
Marcelo Aparecido da Silva
Antônio João de Brito
Produção brasileira de aço a partir da década
de 90 e sua participação no mercado externo
Marketing de diferenciação na prestação de
serviços.
Márcio dos Santos Souza
Antônio João de Brito
A internacionalização e o desenvolvimento das
empresas industriais do Brasil utilizando recursos
disponibilizados pela Internet.
Marcos Vinícius Gonzalez
Antônio João de Brito
Papel global: estudo das estratégias de
consolidação e internacionalização das
empresas brasileiras de celulose e papel.
Tatiane Manzatto
Antônio João de Brito
Um estudo sobre a importância da importação.
Cleonice de Oliveira Sousa
Cristiano Morini
Uma abordagem contemporânea da importação
com ênfase na redução de estoques.
Marcela Perissoto Scholl
Cristiano Morini
A competitividade da indústria brasileira
a partir da década de 90.
Marina Benato
Eliana Tadeu Terci
Experiências de Exportação de
produtos artesanais brasileiros.
Emília Milani
Fernando de Lima
Empresas Brasileiras e o desenvolvimento sustentável nos dias atuais.
Rafael Henrique Abdalla
Fernando de Lima
Evolução do Investimento Externo Direto (IED)
entre 2002-2008.
Thiago da Silva Vieira
Fernando de Lima
O setor calçadista brasileiro:
a migração rumo ao nordeste.
Valéria de Moraes
Fernando de Lima
Estudo Exploratório sobre viabilidade da
abertura dos Bancos aos sábados.
Renata Moura Juodinis
Paulo Roberto Palauro
Comportamento do Crédito para Veículos
nos últimos anos no Brasil, suas perspectivas
e riscos futuros.
Ricardo Augusto Casemiro
Paulo Roberto Palauro
Acordo Automobilístico entre o Brasil e a
Argentina no âmbito do MERCOSUL.
Daniel Komatsu Dalla Valle
Regina Célia Faria Simões
Observações sobre as diferenças entre Integração
na América Latina, MERCOSUL e União Européia.
José Eduardo dos Santos
Guércio
Regina Célia Faria Simões
O Regime Aduaneiro Especial: drawback.
Isabela Garcia
Regina Célia Faria Simões
A estratégia de Aquisição do Grupo Santander:
a recente aquisição do Banco Real.
Luciana Celeste dos Santos
Regina Célia Faria Simões
Indústria Cinematográfica Indiana: evolução e
conquista do mercado internacional.
Luciano Cia
Regina Célia Faria Simões
Um estudo exploratório sobre “Fair Trade”.
Roberto Bonfiglio
Regina Célia Faria Simões
Exportação do Etanol Brasileiro; desafios
logísticos, barreiras internacionais e perspectivas.
Washington Pacheco Ferraz
Regina Célia Faria Simões
Protecionismo Agrícola Europeu:
Mito ou Realidade.
Welder Vitoriano de Oliveira
Regina Célia Faria Simões
Sistema Portuário Brasileiro.
Claudinei Vieira
Valmir Luiz Cazon
Porto de Santos: desafios a serem vencidos.
Estela Rubin
Valmir Luiz Cazon
A importância do Porto de Santos para as
exportações e importações brasileiras.
Fernanda Biagi da Silva
Valmir Luiz Cazon
Panorama do Sistema Portuário Brasileiro
e a Lei 8630.
Philippe William Rogers
Valmir Luiz Cazon
MBA (Internacional) em
Negócios Internacionais – UNIMEP
INFORMAÇÕES DO CURSO
Carga Horária:
Em sala de aula: 384 horas/aula.
Fora de sala de aula:
a) Visita Técnica ao Porto de Santos (8 horas/aula); e
b) Trabalho de Conclusão de Curso (20 horas/aula).
O módulo internacional é opcional (convênios com universidades dos Estados Unidos, Canadá, México, Chile, Argentina e Uruguai).
Total de horas: 412 horas/aula.
Horário das Aulas: 19h20min – 22h40min (terças-feiras e quintas-feiras)
MAIS INFORMAÇÕES
[email protected]
OBJETIVOS
Os objetivos do Curso são os seguintes:
a) Qualificar profissionais capazes de entender e intervir sobre a “nova ordem internacional”;
b) Formar profissionais para atuar criticamente nas áreas de importação, exportação, câmbio e
negócios internacionais; e
c) Capacitar profissionais com sólida formação teórica e prática.
DISCIPLINAS
COORDENAÇÃO
Macroeconomia
Economia Política Internacional
Gestão de Negócios Internacionais I
Gestão de Negócios Internacionais II
Contratos Internacionais
Regulamento Aduaneiro
Logística Internacional e Seguros no Comércio Exterior
Marketing Internacional
Panorama do Comércio Exterior Brasileiro
Ferramentas e Ações de Apoio ao Exportador
Negociações Internacionais
Blocos Econômicos e Organismos Regionais
Balanço de Pagamentos e Câmbio
Incoterms e Transportes Internacionais
Teoria e Práticas Cambiais
Classificação Fiscal de Mercadorias
Trabalho de Conclusão de Curso
Professor Dr. Cristiano Morini
Professora Dra. Regina Célia Faria Simões
DOCENTES
Anderson César Gomes Teixeira Pellegrino
Cristiano Morini
Eduardo Eugêncio Spers
Gustao Leoce
Paulo César Faria Simões
Regina Célia Faria Simões
Samir Keedi
Sebastião Neto Ribeiro Guedes
Valdir Iusif Dainez
Yvens Marcondes Santiago
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