Carlos Duarte é Pós-doutorado pela Cass Business School, de Londres,
doutorado em Gestão, especialidade em finanças pelo ISCTE – Instituto Universitário de Lisboa e MBA pelo INSEAD. Professor coordenador do IPT, Instituto
Politécnico de Tomar e professor convidado do ISCTE-IUL. Foi responsável
financeiro em empresas de grande dimensão.
Carlos Duarte • José Paulo Esperança
Empreendedorismo e Planeamento Financeiro
José Paulo Esperança é doutorado em Economia pelo Instituto Universitário
Europeu de Florença, professor catedrático de Finanças do ISCTE – Instituto
Universitário de Lisboa e presidente do centro associado para o empreendedorismo e empresas familiares AUDAX.
Esta obra destina-se a todos aqueles que têm uma ideia de negócio e a
querem concretizar. Recorrendo ao conceito «aprender fazendo», as matérias são apresentadas de uma forma simples e pedagógica estabelecendo
um equilíbrio adequado entre a prática das etapas a percorrer e o respetivo
enquadramento dos conceitos teóricos que é necessário aprender para
obter sucesso. Ou seja, os conceitos e as diversas componentes teóricas
não surgem em capítulos próprios como é habitual em muitas outras obras
sobre estes assuntos, sendo antes apresentados à medida que se vai
executando um modelo de elaboração do plano de negócio. Uma particular
atenção é dada à componente financeira, permitindo que os não especialistas construam o orçamento de vendas e de produção e optem pelas
melhores decisões de investimento e financiamento.
Para permitir uma focalização naquilo que é essencial e poupar trabalho,
duas folhas de cálculo são disponibilizadas para download em www.silabo.pt,
sendo que uma descreve e serve de apoio ao exemplo apresentado no capítulo 4 (servindo de guião ao processo de aprendizagem) e a outra, sem
dados, se destina à elaboração do plano de negócios do próprio leitor.
Com folha de cálculo do plano de negócios em Excel
(para download)
e Planeamento Financeiro
9 789726 187837
EMPREENDEDORISMO
ISBN 978-972-618-783-7
421
EMPREENDEDORISMO
e Planeamento Financeiro
2ª Edição
Transformar oportunidades em negócios.
Criar micro, pequenas e médias empresas
EDIÇÕES SÍLABO
“O Empreendedorismo é uma revolução silenciosa, que será
para o século XXI mais importante do que a revolução
industrial foi para o século XX.”
Timmons (1994).
“O importante é formar empreendedores, não empresas.”
Timmons (1994).
Empreendedorismo
e Planeamento
Financeiro
CARLOS DUARTE
JOSÉ PAULO ESPERANÇA
2ª Edição
EDIÇÕES SÍLABO
É expressamente proibido reproduzir, no todo ou em parte, sob qualquer
forma ou meio, NOMEADAMENTE FOTOCÓPIA, esta obra. As transgressões
serão passíveis das penalizações previstas na legislação em vigor.
Visite a Sílabo na rede
www.silabo.pt
Editor: Manuel Robalo
FICHA TÉCNICA:
Título: Empreendedorismo e Planeamento Financeiro
Autores: Carlos Duarte, José Paulo Esperança
© Edições Sílabo, Lda.
Capa: Pedro Mota
1ª Edição – Lisboa, Fevereiro de 2012.
2ª Edição – Lisboa, Dezembro de 2014.
Impressão e acabamentos: Cafilesa – Soluções Gráficas, Lda.
Depósito Legal: 385000/14
ISBN: 978-972-618-783-7
EDIÇÕES SÍLABO, LDA.
R. Cidade de Manchester, 2
1170-100 Lisboa
Tel.: 218130345
Fax: 218166719
e-mail: [email protected]
www.silabo.pt
Índice
Índice de figuras, quadros e gráficos
11
Prefácio
17
Introdução
19
Capítulo 1
Empreendedorismo e sociedade
1.1. O ensino do empreendedorismo
23
1.2. Desenvolvimento económico e empreendedorismo
25
1.3. O processo empreendedor
30
1.3.1. Empreendedorismo
30
1.3.2. Empreendedor
33
1.4. O empreendedor e a motivação
38
1.5. O processo de criação de uma empresa
39
1.6. Fatores do meio envolvente e empreendedorismo
41
1.7. Empreendedorismo e características culturais
44
1.8. Bases para uma sociedade mais empreendedora
46
1.9. Empreendedorismo em Portugal – breves considerações
49
Capítulo 2
O plano de negócios
2.1. Investimento e importância do plano de negócios
55
2.2. Indicações sobre a escolha da ideia
56
2.3. Plano de negócios (PN) – definições
59
2.4. A importância do plano de negócios
61
2.5. Objetivos do plano de negócios
64
2.6. A quem se destina
66
2.7. Incentivos e apoios ao investimento
68
2.8. Elaboração de um plano de negócios
68
2.9. Estrutura base de um plano de negócios
70
Capítulo 3
Elaboração do plano de negócios
3.1. Informação pessoal
3.1.1. Identificação do promotor principal
74
74
3.1.2. Identificação de outros promotores
75
3.1.3. Caracterização da atividade
75
3.2. Breve histórico da empresa
76
3.3. Estágio atual da empresa
78
3.4. Sumário executivo
79
3.5. Apresentação do negócio
80
3.5.1. Identificação da empresa/projeto
80
3.5.2. Justificação para a escolha da denominação e forma jurídica
81
3.5.3. Breve descrição dos produtos/serviços e mercado(s)
82
3.5.4. Missão
83
3.5.5. Valores
83
3.5.6. Visão
84
3.5.7. Estratégia
85
3.5.8. Localização e razão de escolha da localização das instalações
88
3.6. Enquadramento do setor
89
3.6.1. Evolução histórica e previsional do setor
89
3.6.2. Problemas do setor
91
3.6.3. Vantagens competitivas da empresa face ao setor
92
3.7. Produtos e serviços
93
3.7.1. Descrição dos produtos e serviços
93
3.7.2. Vantagens distintas dos produtos/serviços
94
3.7.3. Tecnologias a utilizar
95
3.7.4. Desenvolvimento previsível dos produtos e serviços
96
3.8. Produção
98
3.8.1. Fornecedores de matérias-primas, mercadorias e FSE
98
3.8.2. Política de aprovisionamento
99
3.8.3. Descrição do processo produtivo
100
3.8.4. Layout dos equipamentos
103
3.8.5. Equipamentos e gastos
104
3.8.6. Política de manutenção
105
3.8.7. Política de controlo de qualidade
106
3.8.8. Segurança, higiene e saúde no trabalho
107
3.8.9. Gestão do impacte ambiental
108
3.9. Organização e gestão
111
3.9.1. Experiência dos promotores/responsáveis
111
3.9.2. Especialização funcional da organização
112
3.9.3. Organização contabilística
113
3.9.4. Planeamento e controlo de gestão
114
3.10. Recursos humanos
115
3.10.1. Qualificação dos recursos humanos
115
3.10.2. Planeamento e gestão da formação
116
3.10.3. Carreiras profissionais
117
3.10.4. Avaliação e políticas de motivação
118
3.11. Estratégia de marketing
119
3.11.1. Segmentação de mercado e descrição da procura (clientes)
121
3.11.2. Descrição dos concorrentes por produto/serviço
128
3.11.2. Avaliação das vantagens competitivas das operações
130
3.11.4. Marketing-Mix
132
3.12. Análise da cadeia de valor
145
3.12.1. Cadeia de valor externa
145
3.12.2. Cadeia de valor interna
147
3.13. Análise externa
151
3.13.1. Ambiente geral ou macro ambiente
152
3.13.2. Ambiente da indústria ou competitivo
153
3.13.3. Análise interna
153
3.13.4. Análise do contexto competitivo
154
3.14. Risco do negócio
3.14.1. Análise SWOT
3.15. Plano de implementação
164
164
168
Capítulo 4
Estudo económico e financeiro
4.1. Introdução
171
4.1.1. Previsões de vendas
171
4.1.2. Previsões de cash flow
172
4.1.3. Projeção de Break-Even
173
4.2. Estrutura base para avaliação do negócio
174
4.3. Programa de análise económico-financeira
176
4.3.1. Pressupostos gerais
178
4.3.2. Projeções do volume de negócios
180
4.3.3. Mapa de custos de mercadorias vendidas e matérias consumidas
191
4.3.4. Fornecimentos e serviços externos
193
4.3.5. Gastos com o pessoal
195
4.3.6. Investimentos
198
4.3.7. Definição do Break-Even
202
4.3.8. Investimento necessário em fundo de maneio
203
4.3.9. Financiamento
205
4.3.10. Outros gastos e ganhos
207
4.3.11. Acerto do modelo e preparação para análise
208
4.3.12. Demonstração de resultados
210
4.3.13. Cash Flow
211
4.3.14. Balanço
212
4.3.15. Indicadores económico-financeiros
214
4.3.16. Avaliação do projeto
220
4.4. Estudo de viabilidade económico-financeiro do projeto de investimento
227
4.5. Erros a evitar na criação da empresa
233
Referências
237
Índice de figuras,
tabelas e gráficos
 FIGURAS
Figura 1. Bases das políticas de empreendedorismo
26
Figura 2. Modelo conceptual sobre o empreendedorismo e o crescimento económico
28
Figura 3. Modelo conceptual Global Entrepreneurship Monitor (GEM)
29
Figura 4. O empreendedorismo e o processo de criação de empresas
31
Figura 5. O processo empreendedor
32
Figura 6. Processo de criação de novas empresas – modelo de Timmons
33
Figura 7. Dimensões da orientação empreendedora
34
Figura 8. Matriz do empreendedor de Timmons
35
Figura 9. Evolução do perfil de competências do empreendedor
35
Figura 10. Características do empreendedor
36
Figura 11. Processo de criação de uma empresa
40
Figura 12. Desde a ideia até à criação da empresa e dinâmica de sustentabilidade
41
Figura 13. A atitude do empreendedor e o papel do valor do tempo
42
Figura 14. Mapa de energia do empreendedor
43
Figura 15. Bases para uma sociedade mais empreendedora
49
Figura 16. Enquadramento do Empreendedorismo
52
Figura 17. O funil dos planos de negócio
57
Figura 18. Processo desde a ideia ao negócio
58
Figura 19. Planeamento: análise, comunicação, síntese e ação
60
Figura 20. Conceptualização do empreendedorismo
61
Figura 21. Processo de análise e seleção de planos de negócios
63
Figura 22. Cuidados a ter na elaboração do plano de negócios
67
Figura 23. Fases do processo de desenvolvimento de novos produtos (DNP)
97
Figura 24. Exemplo de diagrama geral dos fluxos de produção
100
Figura 25. Diagrama de uma fábrica de recauchutagem de pneus
101
Figura 26. Descrição de uma linha típica de produção de cimento
pelo processo seco com pré-aquecedor e pré calcinador
102
Figura 27. Lay out da divisão de plásticos da Simoldes
103
Figura 28. Otimização da manutenção
105
Figura 29. Ciclo de produção e enquadramento ambiental
108
Figura 30. Sistema de gestão ambiental para as PME:
ferramentas, guias, barreiras e efeitos
110
Figura 31. Exemplo de um organograma funcional
113
Figura 32. Principais consequências da política de remuneração
119
Figura 33. Passos para elaboração de um plano de marketing
121
Figura 34. Enquadramento do produto ou serviço
123
Figura 35. Enquadramento do plano estratégico de marketing
132
Figura 36. Estratégias de serviços
135
Figura 37. Determinação do preço a partir do gasto, da procura e da concorrência
138
Figura 38. Alternativas de canais de distribuição
140
Figura 39. Exemplos de canais de distribuição
141
Figura 40. Grau de adequação dos principais meios promocionais
aos diferentes objetivos
143
Figura 41. Cadeia de valor externa ou sistema de valor
146
Figura 42. Exemplo de uma estratégia de distribuição
146
Figura 43. Características da cadeia de valor interna
148
Figura 44. Cadeia de valor interna (empresa de desenvolvimento tecnológico)
149
Figura 45. Cadeia de valor interna para uma empresa de produção
149
Figura 46. Cadeia de valor com discriminação da margem da atividade
150
Figura 47. Modelo das cinco forças de Porter
155
Figura 48. Determinantes da rivalidade entre os concorrentes atuais
156
Figura 49. Determinantes do poder negocial dos fornecedores
157
Figura 50. Determinantes do poder negocial dos clientes
159
Figura 51. Determinantes da ameaça de entrada de novos concorrentes
160
Figura 52. Determinantes da ameaça de produtos substitutos
162
Figura 53. Exemplo do posicionamento do setor de uma empresa
de serviços de engenharia
163
Figura 54. Matriz SWOT
166
Figura 55. Matriz SWOT da Cimpor
167
Figura 56. Matriz SWOT da Unicer
167
Figura 57. Matriz SWOT – proposta para Plano de Negócios
168
Figura 58. Tipo de financiamento e fase do ciclo de vida
205
 TABELAS
Tabela 1. Características pessoais normalmente associadas ao empreendedorismo
36
Tabela 2. Impacte do empreendedorismo sobre os empreendedores
51
Tabela 3. Características dos diferentes tipos de empresas
81
Tabela 4. Características dos diferentes produtos/serviços
82
Tabela 5. Informação por produto/serviço
94
Tabela 6. Vantagens distintas dos produtos e serviços
94
Tabela 7. Comparação com os principais concorrentes
131
Tabela 8. Opiniões dos clientes e seu tratamento
144
Tabela 9. Seleção dos meios de promocionais e sua justificação
144
Tabela 10. Demonstração de ganhos e gastos
150
Tabela 11. Análise do ambiente geral
152
Tabela 12. Análise do ambiente geral
153
Tabela 13. Análise dos fatores internos
154
Tabela 14. Fatores da rivalidade entre os concorrentes atuais
157
Tabela 15. Fatores do poder negocial dos fornecedores
158
Tabela 16. Fatores do poder negocial dos clientes
159
Tabela 17. Fatoress de ameaça de entrada de novos concorrentes
161
Tabela 18. Fatores da ameaça de produtos substitutos
162
Tabela 19. Elementos para a matriz SWOT
165
Tabela 20. Plano de implementação do projeto
169
Tabela 21. Mapas resumo para cálculo dos métodos de avaliação
175
Tabela 22. Pressupostos gerais – folha APOIO
179
Tabela 23. Projeções do volume de negócios – folha INPUT
181
Tabela 24. Zona autopreenchida para transferência de dados – folha APOIO
183
Tabela 25. Programa de vendas de produtos – folha APOIO
185
Tabela 26. Programa de prestação de serviços – folha APOIO
185
Tabela 27. Preços de venda unitários dos produtos – folha APOIO
186
Tabela 28. Plano das vendas dos produtos – folha APOIO
187
Tabela 29. Preços de venda unitários dos serviços – folha APOIO
188
Tabela 30. Plano de prestação de serviços – folha APOIO
188
Tabela 31. Custo das mercadorias e matérias consumidas (CMVMC) – folha APOIO
191
Tabela 32. Margem bruta – folha INPUT
192
Tabela 33. Fornecimentos e serviços externos – folha APOIO
194
Tabela 34. Fornecimentos e serviços externos – folha INPUT
195
Tabela 35. Gastos com o pessoal – folha INPUT
196
Tabela 36. Outros Gastos com pessoal – folha INPUT
197
Tabela 37. Gastos com pessoal e retenção dos colaboradores
– folha GASTOS PESSOAL
198
Tabela 38. Investimento e modo de cálculo das amortizações – folha INPUT
199
Tabela 39. Mapa de amortizações – folha INVESTIMENTO
200
Tabela 40. Quadro de apoio para apuramento do Break Even – folha APOIO
202
Tabela 41. Gastos de investimento em fundo de maneio
204
Tabela 42. Financiamento e cobertura financeira do projeto – folha INPUT
206
Tabela 43. Quadro(s) de reembolso dos empréstimos – folha FINANCIAMENTO
207
Tabela 44. Outros gastos e ganhos – folha INPUT
208
Tabela 45. Plano financeiro e acerto do modelo – folha PLANO FINANCEIRO
209
Tabela 46. Demonstrações de resultados previsionais – folha DR
210
Tabela 47. Cash flows operacionais – folha Cash Flow
212
Tabela 48. Balanços previsionais – folha BALANÇO
213
Tabela 49. Indicadores económicos – folha INDICADORES
215
Tabela 50. Indicadores económico-financeiros – folha INDICADORES
216
Tabela 51. Indicadores financeiros – folha INDICADORES
218
Tabela 52. Indicadores de liquidez – folha INDICADORES
219
Tabela 53. Indicadores de risco do negócio – folha INDICADORES
220
Tabela 54. Quadro de avaliação do projeto considerando a perpetuidade
dos cash flows futuros –folha AVALIAÇÃO
223
Tabela 55. Quadro de avaliação do projeto considerando a liquidação
da empresa no ano terminal – folha AVALIAÇÃO
224
Tabela 56. Cálculo do WACC – folha AVALIAÇÃO
225
Tabela 57. Variantes do projeto – folha CENARIOS
226
 GRÁFICOS
Gráfico 1. Características culturais (países selecionados)
45
Gráfico 2. Histórico da atividade
77
Gráfico 3. Histórico da evolução de balanços
78
Gráfico 4. Evolução histórica e previsional do setor. Exemplo
91
Gráfico 5. Repartição do mercado por produto, ano 2010. Exemplo
91
Gráfico 6. Ciclo de vida de um produto/serviço
133
Gráfico 7. Vendas por produtos – base mensal
187
Gráfico 8. Prestação de serviços – base mensal
189
Gráfico 9. Evolução das vendas de produtos
190
Gráfico 10. Evolução das prestações de serviços
190
Gráfico 11. Análise das margens brutas por produto – base mensal
193
Gráfico 12. Ponto crítico da atividade – folha APOIO
203
Gráfico 13. Indicadores da atividade – folha DR
211
Gráfico 14. Evolução da estrutura do balanço – folha BALANÇO
214
Gráfico 15. Indicadores económicos
215
Gráfico 16. Evolução dos indicadores económico-financeiros – folha INDICADORES 217
Gráfico 17. Evolução dos indicadores financeiros – folha INDICADORES
218
Gráfico 18. Evolução dos indicadores de liquidez – folha INDICADORES
219
Gráfico 19. Evolução dos indicadores do risco do negócio – folha INDICADORES
220
Gráfico 20. Impacte da perpetuidade no VAL do projeto
222
Prefácio
Em poucos momentos da nossa História foi tão necessário como hoje apostar na
área de criação de empresas para renovar a estrutura empresarial nacional. Várias
razões concorrem para esta realidade. Por um lado, a crise internacional continua a
destruir emprego e empresas, retirando do mercado oferta pouco diferenciadora
assente em vantagens competitivas hoje já muito esbatidas, e a situação é agravada
pela retração do poder de compra dos portugueses. Por outro lado, é fundamental
mudar a especialização do tecido empresarial, dando lugar ao aparecimento de
novos empresários e de novos negócios, mais qualificados e de maior valor acrescentado.
É preciso, é fundamental para o país, promover a criação de novas empresas ou
de projetos empresariais inovadores que possam ser assimilados por empresas já
no mercado.
É preciso também procurar abrir caminho e oportunidades para quem, tendo concluído ou estando a concluir o seu percurso académico, não encontra no mercado de
trabalho solução para iniciar a sua vida profissional. Um país que não cria oportunidades para os seus jovens é um país sem futuro, condenado à estagnação e ao
empobrecimento. Assim, toma um novo significado o dotar os jovens de ferramentas
suficientes para que eles possam tomar nas suas mãos as rédeas do seu futuro.
Raramente a conjuntura foi tão adversa.
No que respeita a financiamento de novos projetos, não obstante o número crescente de soluções ancoradas na partilha de risco do Estado com os operadores para
este segmento, tem vindo a estreitar-se a oportunidade de financiar novos negócios,
e a aumentar o grau de exigência dos financiadores, com destaque para a banca.
Financiamento em cima de projetos sumários de investimento é uma situação do
passado, os bancos reclamam cada vez mais o que, até há bem pouco tempo, era
exigência apenas do capital de risco – um bom plano de negócios.
Neste contexto, torna-se imprescindível melhorar as competências de potenciais
empreendedores para este processo, tanto mais que é unanimemente aceite que as
nossas escolas, com honrosas exceções, continuam a privilegiar a preparação dos
seus alunos, sobretudo ao nível das licenciaturas, para o trabalho em grandes
empresas.
É neste contexto que saúdo a saída desta monografia, um autêntico guia no-nonsense para quem quer elaborar o seu plano de negócios.
Menos professores do que o necessário se aventuram por trabalhos práticos
destinados a quem quer, no contexto autodidático, aprofundar matérias ligadas ao
mundo dos negócios. Poucos professores têm a experiência necessária que decorre
de um percurso empresarial feito a par de um percurso académico.
É neste quadro de oferta escassa que inscrevo o interesse desta monografia.
Faço votos para que ela possa ser útil a quem quer empreender nos dias de
hoje, e que ajude mais e melhores projetos empresariais a chegarem ao mercado.
Rita Maria Neves Seabra
IAPMEI
Introdução
Empreendedorismo e Planeamento Financeiro resulta tanto da experiência de
ensino junto de sucessivas gerações de estudantes dos cursos de Gestão como da
atividade profissional e autoria de mais de uma centena de «projetos de investimento» que mais recentemente passaram a ser designados Planos de Negócio.
Mais do que nunca, a conjuntura económica atual obriga à deteção sistemática
de oportunidades de negócio, pelo que é fundamental difundir o conjunto de técnicas
e ferramentas que viabilizem o surgimento de uma atividade económica sob a forma
de uma empresa. O manual responde a essa necessidade, centrando-se na avaliação estratégica de novos negócios, conjugando o rigor metodológico com o pragmatismo na explicação das diversas teorias de apoio. Espera-se que contribua para a
elaboração, discussão e melhor utilização do Plano de Negócios.
A conceção e estrutura deste manual assentam na descrição teórica do processo
de criação de novos negócios com especial enfoque na apresentação de um modelo
de elaboração do Plano de Negócios. Ou seja, as diversas componentes teóricas
não surgem em capítulos próprios e segmentados como é norma neste tipo de trabalhos. Optou-se por correr o Plano de Negócios, com base numa estrutura indicativa,
e apresentar os conceitos de gestão dentro dos diversos pontos e, ao mesmo tempo,
propõe-se o que se deve fazer em cada um deles. Em cada capítulo o leitor encontra
apoio à elaboração do Plano de Negócios suportado nos diversos conceitos e ferramentas de gestão. Tenta-se ser objetivo e sintético, sem entrar em demasiada
profundidade nos conceitos.
Aos alunos e futuros empreendedores, que preparam um Plano de Negócios,
este manual opta por uma forma simples e pedagógica no compromisso entre o despertar do interesse pela matéria, a transmissão da informação necessária, e a autoformação. A filosofia subjacente é a de «aprender fazendo». Este facto é particularmente relevante nos documentos considerados mais importantes, sob pena de não
conseguirem captar a atenção e o tempo necessários ao leitor a que se destina,
sendo preteridos pelo «filtro» de informação existente ao longo do percurso que o
documento terá de fazer, até atingir o objetivo e o fim para que foi concebido.
20
EMPREENDEDORISMO E PLANEAMENTO FINANCEIRO
Com este Manual de Projeto Empresarial e Elaboração do Plano de Negócios
pretende-se alcançar os seguintes objetivos:
Gerais
•
Sistematizar a abordagem ao Plano de Negócio formatando o seu conteúdo,
numa perspetiva da sua elaboração ou da sua avaliação;
•
Ser uma ferramenta de pré-avaliação da utilidade da elaboração de um Plano
de Negócio para uma nova oportunidade de negócio e, consequentemente,
uma boa forma de pré-seleção da oportunidade em análise;
•
Ser uma metodologia de abordagem aplicável a qualquer tipo de negócio, independentemente da sua dimensão, mercado ou histórico, no caso de uma
empresa já existente;
•
Ser uma metodologia que possibilite a elaboração de um Plano de Negócio
com a informação disponível no mercado, independentemente de se tratar de
um Plano de Negócio de uma empresa ou de uma Oportunidade, sendo certo
que, no segundo caso, será necessário dispor de um conhecimento profundo
da empresa em que a oportunidade será explorada;
•
Ser uma ferramenta de enquadramento do Plano de Negócio, iniciando ou culminando o seu processo de elaboração;
•
Ser uma boa peça de comunicação interna permitindo sintonizar todos os
colaboradores com os objetivos estratégicos e com o Negócio da empresa;
•
Permitir estabelecer uma base comum de análise entre empresas ou, mais
ainda, entre diferentes oportunidades;
•
Ser uma ferramenta de estratégia de gestão, na medida em que desenvolve a
reflexão sobre os aspetos mais relevantes de uma empresa ou oportunidade de
negócio;
•
Ser um documento de fácil leitura e agradável para qualquer analista de negócios.
Específicos
•
Ser um documento sintético e objetivo que encerre a essência de um Plano de
Negócio;
•
Ser rápido e expedito de elaborar;
•
Ser rápido e fácil de atualizar, ajustando-se à evolução do mercado e da concorrência;
INTRODUÇÃO
•
21
Ser fácil de apresentar, de explicar e de divulgar, quer interna quer externamente, tratando-se de uma oportunidade de negócio ou de uma diversificação/modernização de uma empresa já existente;
•
Ser uma ferramenta muito versátil e fácil de adequar ao leitor a que se destina,
seja interno, investidor, parceiro de negócio ou outro;
•
Ser uma ferramenta de reporting e acompanhamento, podendo funcionar como
sistema de informação e controlo;
•
Ser uma ferramenta que sistematize a abordagem ao Planeamento de Negócio.
Assim, este trabalho pretende contribuir para a redução do gap existente entre as
expectativas dos jovens e a realidade do mercado, constituindo uma ferramenta de
formação e de aplicação prática.
Exige-se cada vez mais que os jovens assumam uma atitude empreendedora
face à vida e, neste sentido, espera-se que este trabalho contribua para uma maior
aproximação às práticas de organização e gestão que lhes proporcione competências para a elaboração do seu Plano de Negócio. Espera-se, assim, contribuir para
alternativas de sustentabilidade e desenvolvimento das suas capacidades de auto-empregabilidade.
Num mundo cada vez mais competitivo e globalizado, especialistas procuram
novas formas de capacitar as pessoas para um mercado de trabalho que sofre os
efeitos da economia globalizada e exige profissionais não apenas bem formados
mas criativos e capazes de vislumbrar novas oportunidades. Considerando que o
empreendedorismo desempenha um papel complementar ao emprego, surgem
novas oportunidades de trabalho e diversas opiniões apontam para um novo modelo
de formação em que o capital humano deverá constituir-se numa força de criatividade e dinamismo. A elaboração deste manual, tem por base a intenção de ser uma
ferramenta de suporte e ajuda para o início daquilo que poderá ser a ponte para uma
nova vida dos que sentem que podem ter o seu próprio negócio.
De forma a criar uma estrutura clara e de facilitar a leitura, o manual de Projeto
Empresarial e Elaboração do Plano e Negócios divide-se em quatro partes distintas
e complementares:
•
A primeira parte faz o enquadramento teórico do empreendedorismo;
•
A segunda parte descreve a importância do Plano de Negócios, a quem se destina e quais os seus objetivos;
•
A terceira parte mostra como se elabora um plano de negócios, desenvolvendo
os conceitos teóricos «em cima» da estrutura do próprio Plano de Negócios;
22
EMPREENDEDORISMO E PLANEAMENTO FINANCEIRO
•
A quarta parte centra-se na análise económico-financeira, refletindo as opções
estratégicas definidas no Plano de Negócios. Desenvolvem-se quantitativamente todas as decisões estratégicas através da elaboração do estudo económico-financeiro e faz-se a avaliação da ideia/oportunidade em análise.
O modelo de Plano de Negócios que se apresenta e que desenvolve toda a
problemática da sua conceção e construção deve ser considerado como proposta de
modelo possível.
Finalmente, esperamos que este manual seja do interesse de todos os que estão
envolvidos no ensino e na promoção do espírito empreendedor, em especial dos alunos e docentes, das escolas e universidades e das associações empresariais.
Capítulo 1
Empreendedorismo
e sociedade
1.1. O ensino do empreendedorismo
Segundo a opinião do Professor Thomas Greene do Massachussets Institute of
Technology (MIT) o objetivo último de um curso superior, para além da aquisição de
conteúdos programáticos técnico-científicos, da oferta de uma qualificação profissional e do desenvolvimento de competências específicas, é «ajudar a criar um sonho
que dê para uma vida inteira». É construir sonhos, criar expectativas, estimular a
criatividade, ser uma fábrica de projetos e uma incubadora de ideias. O mais importante que um(a) aluno(a) leva de uma licenciatura é uma motivação e um projeto de
vida suficientemente flexível, robusto e gratificante que lhe permita recolher toda a
energia e entusiasmo necessários para concretizar carreiras e projetos de sucesso.
O desemprego passa a ser o grande desafio da sociedade, dos governos e dos
dirigentes do mundo moderno. A economia da maioria dos países não está a gerar
empregos suficientes para os jovens que atingem a idade adulta e ao mesmo tempo,
assiste-se a um envelhecimento da população, o que traz novos desafios e, consequentemente, novas formas de vida e de oportunidades que se criam no mercado.
Torna-se necessário encarar esta realidade numa perspetiva de gerar o próprio
emprego, de inovar e gerar riqueza, capacidade de assumir riscos e crescer em
24
EMPREENDEDORISMO E PLANEAMENTO FINANCEIRO
ambientes instáveis, porque diante das condições reais do ambiente, são esses os
valores sociais capazes de conduzir países ao desenvolvimento.
O desafio atual para lidar com um contexto marcado por crescente complexidade, instabilidade e incerteza, é a aprendizagem ao longo da vida como meio para
dispor de competências necessárias para competir e crescer na economia empreendedora.
Reconhece-se que o espírito empreendedor é uma competência de base que
deve ser adquirida através de uma aprendizagem ao longo da vida. As atitudes e
competências empreendedoras trazem benefícios à sociedade que transcendem a
sua aplicação à atividade empresarial. De facto, as qualidades pessoais relevantes
para o espírito empreendedor, como a criatividade, o espírito de iniciativa, a capacidade de decisão e o bom senso, podem ser úteis a toda a gente, quer no exercício
de uma atividade profissional, quer na vida quotidiana.
No passado, os sistemas de educação não se orientavam no sentido de incentivar o desenvolvimento do espírito empreendedor, ou o trabalho por conta própria,
sendo o objetivo final do processo educativo produzir valores de realização pessoal
assentes na educação de nível superior, no emprego e na estabilidade financeira.
Todavia, a realidade tem vindo a alterar-se rapidamente nos últimos anos e verifica-se uma sensibilização crescente, na Europa, para a necessidade de serem desenvolvidas iniciativas com a finalidade de promover a cultura empreendedora e de
encorajar a tomada de riscos, bem como de incentivar a criatividade e a inovação. O
espírito empreendedor tem de ser considerado um motor de crescimento.
Apesar da maioria dos indivíduos não nascer empreendedor, é possível encorajar o desenvolvimento de uma atitude empreendedora nos jovens desde os bancos
da escola. Por outro lado, é necessário fornecer as qualificações e competências
técnicas e empreendedoras requeridas aos que optam por trabalhar por conta própria e/ou pretendem fundar (ou já fundaram) a sua própria empresa.
No entanto, o espírito empreendedor não deve ser considerado apenas um meio
de criar novas empresas, mas sim uma atitude geral que pode ser aplicada de forma
útil por qualquer pessoa na vida quotidiana e em quaisquer áreas de atividade.1 No
ensino para o desenvolvimento do espírito empreendedor deve dar-se importância a
dois elementos:
(1)
Mais informações relativas ao fórum sobre «formação para o desenvolvimento do espírito
empreendedor», inclusive sobre a ordem de trabalhos, e ao Projeto sobre Educação e Formação
para o Desenvolvimento do Espírito Empresarial no âmbito do Procedimento Best, podem ser
consultadas no seguinte endereço na Internet: http://europa.eu.int
EMPREENDEDORISMO E SOCIEDADE
•
25
A educação, propriamente dita, para desenvolver atitudes e competências
empreendedoras, que implica o desenvolvimento de determinadas qualidades
pessoais e não estando, necessariamente, ligado à criação de novas empresas; e
•
Um conceito mais particular de formação orientada para o modo como se cria
uma empresa.
Com este manual pretende-se, acima de tudo, desenvolver nos estudantes a
capacidade de conceção de um Plano de Negócios, bem como a capacidade de o
apresentarem (e defenderem) de forma convincente, às partes potencialmente
interessadas (i.e. a banca ou os investidores).
Incentivar os estudantes a avançarem efetivamente para a criação de uma
empresa é secundário relativamente à meta principal; embora se trate de um aspeto
acessório que merece ser desenvolvido, não constitui o móbil primordial deste
manual.
1.2. Desenvolvimento económico
e empreendedorismo
Em meados do século passado os economistas previram que as grandes empresas iriam ser dominantes. A dimensão era necessária para obter economias de
escala, explorar mercados estrangeiros e acompanhar a regulamentação e as oportunidades das novas tecnologias. Desde as décadas de 1960 e 1970, esta tendência
tem-se invertido. As grandes empresas emagreceram através de reestruturações,
externalizações de serviços ou diminuição de efetivos e, o número de empresários
nos países da OCDE aumentou de 29 milhões para 45 milhões entre 1972 e 1998
(Audretsch et al., 2002).
Nos últimos 30 anos os países desenvolvidos transitaram de uma estrutura dominada por indústrias transformadoras tradicionais para uma estrutura dominada por
indústrias ligadas às novas tecnologias. Verifica-se que a dinâmica empresarial da
Europa tem de ser fomentada de modo mais eficaz. São necessárias mais empresas
novas e bem-sucedidas que desejem aproveitar os benefícios da abertura de mercado e assumir riscos criativos ou inovadores no sentido da exploração comercial
numa escala mais alargada. Stevenson e Lundström (2002) referem ainda que os
avanços e desenvolvimentos recentes têm acelerado o conhecimento do empreen-
26
EMPREENDEDORISMO E PLANEAMENTO FINANCEIRO
dedorismo, tornando a evolução das políticas nessa área mais prementes e urgentes. Estas condições compreendem características pessoais, elementos culturais e
institucionais que potenciam ou condicionam a emergência do fenómeno empreendedor (Figura 1).
Figura 1. Bases das políticas de empreendedorismo
Adequação
exequibilidade
• Consciencialização
• Informação
• Exposição
• Modelos
Op
tu
or
a
nid
des de
conscie
n ci
ali
za
çã
Competências
Motivação
Oportunidade
Valor social
Disponibilidade e
acesso a recursos
o
• Facilidade à entrada e saída
• Poucas barreiras no
arranque e crescimento
• Registo e processo
de arranque simplificado
• Políticas propiciadoras
(ex.: concorrência,
constituição, falência
e laboral)
• Informação de como fazer
• Conselho/assessoria
• Dinheiro
• Networks/contactos
• Encorajamento
• Consultores especializados
• Apoio técnico
• Ideias de negócio
• Educação para o empreendedorismo
• Formação em empreendedorismo
• Conhecimento saber – fazer
• Experiências de risco
• Redes de contactos
Fonte: Adaptado de Stevenson e Lundström (2002).
Em todo o mundo as pequenas e médias empresas1 (PME) assumem um papel
cada vez mais importante no crescimento e desenvolvimento económico. David
(2004) e Lerner (1994) referem que, embora as grandes empresas tenham sido
historicamente responsáveis pela maioria dos empregos criados nos Estados Uni-
(1)
Para uma definição de Pequena e Média Empresa consulte: http://ec.europa.eu/enterprise/policies/
/sme/facts-figures-analysis/sme-definition/index_en.htm.
EMPREENDEDORISMO E SOCIEDADE
27
dos, este padrão alterou-se durante a década de 1980. Enquanto as empresas do
índice Fortune 500 perderam 4 milhões de empregos durante a década de 1980, as
empresas com menos de 100 empregados contribuíram com um aumento de 16
milhões de empregos durante a mesma década.
De acordo com a Comissão das Comunidades Europeias (2003), no espaço Económico Europeu (EEE) e na Suíça, 20,5 milhões de empresas empregam 122
milhões de indivíduos. Cerca de 93% destas empresas são microempresas (0-9
trabalhadores), 6% são pequenas empresas (10-49), menos de 1% são empresas de
média dimensão (50-249) e apenas 0,2% são grandes empresas (250+). Da totalidade destas empresas, aproximadamente 20 milhões encontram-se no espaço da
União Europeia. Dois terços do emprego total encontram-se nas PME, sendo que
um terço é assegurado por empresas de grande dimensão. No seio das PME, o
emprego total encontra-se repartido de forma aproximadamente igual entre microempresas (com menos de 10 trabalhadores) e pequenas e médias empresas.
Além disso, foi neste período que as pequenas empresas geraram mais inovações do que as grandes empresas. Esta tendência tem persistido nas décadas de
1990 e 2000 particularmente durante o boom da Internet. Os países com maior
aumento de taxas de iniciativa empresarial tendem a ter maior decréscimo subsequente das taxas de desemprego. Durante os anos de 1990, as empresas de crescimento rápido contribuíram de forma considerável para a criação de emprego. Com a
reestruturação da «velha economia», inúmeras empresas de grande dimensão deslocaram as suas unidades de produção para locais onde o custo da mão-de-obra é
inferior. O declínio dos setores industriais tradicionais nas economias mais desenvolvidas é acompanhado pelo crescimento dos setores dos serviços e dos setores
tecnológicos, nos quais muitas oportunidades de acesso fácil se fazem sentir nas
pequenas empresas e nas novas start-up para fornecer produtos e serviços.
A globalização aumentou a pressão competitiva nas empresas do setor transformador instaladas em locais de custo elevado, o que conduziu não só à
deslocalização da produção para países com custos baixos mas também ao
aumento da produtividade através da utilização de fatores tecnológicos. Entretanto,
as tecnologias da informação e comunicação (TIC) deram origem a novos mercados
que revolucionaram os processos de produção em muitas indústrias resultando no
crescimento do setor dos serviços. Estas mudanças fizeram surgir oportunidades
para novas iniciativas empresariais, em especial na área dos serviços. A utilização
das ferramentas tecnológicas transformou o mundo numa «pequena aldeia global»
onde as empresas que atuam em nichos de mercado específicos passam a funcionar numa escala mais europeia ou mundial, pondo em causa as teorias de crescimento e internacionalização da escola de Uppsala, passando a uma vertente de
born global.
28
EMPREENDEDORISMO E PLANEAMENTO FINANCEIRO
Os novos negócios, especialmente os promovidos por PME têm desempenhado
um papel fundamental neste processo por duas razões:
•
Maior flexibilidade para a adoção de inovações radicais; e
•
Redução na importância das economias de escala.
Os persistentes e crescentes níveis de desemprego elevados e de taxas reduzidas de crescimento económico têm levado as políticas da União Europeia (EU) a
dirigirem-se para o autoemprego e «empreendedorismo» como formas de promover
o crescimento e reduzir o desemprego. A Figura 2 apresenta o modelo conceptual
do impacte e do papel do empreendedorismo sobre o crescimento económico.
Figura 2. Modelo conceptual sobre o empreendedorismo e o crescimento económico
Enquadramento
das condições
nacionais gerais
• Abertura
• Governo
• Mercados financeiros
• Tecnologia e I&D
• Infraestruturas
• Capacidade de gestão
• Mercado de trabalho
• Instituições
Contexto social,
cultural e político
Oportunidades para
o empreendedorismo
• Existência
• Percepção
Capacidade
empreendedora
• Capacidades
• Motivação
Enquadramento das condições
para o empreendedorismo
• Financeiras
• Políticas públicas
• Programas governamentais
• Educação e formação
• Transferência de I&D
• Infraestrutura comercial e legal
• Abertura do mercado interno
• Acesso a infraestruturas físicas
• Normas sociais e culturais
Fonte: Adaptado de Bygrave (1999).
Dinâmicas empresariais
• Nascimentos
• Expansão
• Declínio
• Mortes
Crescimento económico
(PIB e emprego)
29
EMPREENDEDORISMO E SOCIEDADE
As vantagens associadas ao empreendedorismo são claras: a criação de novas
empresas (que implica um investimento na economia local), a criação de novos
empregos, a promoção da competitividade e o desenvolvimento de ferramentas de
negócio inovadores. Deste modo, o empreendedorismo é um forte impulsionador do
emprego e do crescimento económico e uma componente chave numa economia de
mercado cada vez mais globalizada e competitiva. O modelo conceptual subjacente
ao estudo do Global Entrepreneurship Monitor (GEM, 2004) (Figura 3) destaca o
contexto social, cultural e político como importante condicionante do empreendedorismo, apontando para um vasto leque de fatores que desempenham um papel crítico no delinear das condições socioeconómicas de um país, dividindo-se estas em
condições nacionais gerais e condições estruturais do empreendedorismo.
Figura 3. Modelo conceptual Global Entrepreneurship Monitor (GEM)
Condições nacionais gerais
Empresas de
grande dimensão
• Abertura (comércio
externo)
• Governo (domínios,
intervenção)
• Mercados financeiros
Crescimento
económico
nacional
(eficiência)
Tecnologia, I&D (nível,
intensidade)
Infraestruturas físicas
Gestão (competências)
Mercado de trabalho
(flexibilidade)
Micro, pequenas e
médias empresas
Condições estruturais
do empreendedorismo
Oportunidades de
empreendedorismo
•
•
•
•
Contexto social,
cultural e político
• Apoio financeiro
• Políticas governamentais
• Educação e formação
Dinâmica
de
negócios
• Transferência de resultados
de investigação
e desenvolvimento
• Infraestruturas comerciais
e profissionais
• Acesso a infraestruturas
físicas
• Normas sociais e culturais
Fonte: Adaptado de GEM (2004).
Capacidades de
empreendedorismo
30
EMPREENDEDORISMO E PLANEAMENTO FINANCEIRO
1.3. O processo empreendedor
 EMPREENDEDORISMO E O EMPREENDEDOR
Mas... o que é o empreendedorismo? E um empreendedor?
O conceito de «empreendedorismo» remonta a alguns séculos atrás. No entanto,
a sua popularidade renasceu nos últimos tempos, como se estivéssemos perante
uma «descoberta súbita». De facto, e de acordo com Sarkar (2007), a partir de
determinado momento foi como se se tivesse encontrado a chave para abrir uma
porta como a «lâmpada do Aladino», de forma a alterar definitivamente o rumo de
uma economia.
1.3.1. Empreendedorismo
A definição de empreendedorismo da Comissão Europeia (2003) enquadra as
diversas perspetivas do processo empreendedor:
O espírito empreendedor é a atitude mental e comportamental para o processo de
criação e desenvolvimento de atividades económicas, combinando o risco e a criatividade e/ou a inovação com uma gestão rigorosa, no âmbito de um organismo
novo ou já existente.
Ou seja, pode-se ser empreendedor sem o ato de criação de uma nova empresa.
No entanto, quanto aos indivíduos que criam uma empresa, não restam dúvidas de
que estes são empreendedores. Sempre que um empreendedor cria uma empresa,
inova numa atividade ou é inovador numa estratégia empresarial, tem sempre subjacente a noção de uma oportunidade e a vontade de fazer qualquer coisa diferente ou
de maneira diferente, com o objetivo de obter uma vantagem competitiva, utilizando
para tal os recursos disponíveis. De notar, que esta realidade ocorre num ambiente
de incerteza, tal como se observa na Figura 4. Para Schumpeter (1941) os conceitos
de empreendedorismo e de empreendedor resumem-se aos seguintes dois pontos:
•
Ao empreendimento de novas combinações que denomina de «empresa» e
aos indivíduos, cuja função é realizá-las, «empreendedores».
•
«Alguém só é empreendedor quando realmente realiza novas combinações de
fatores produtivos».
31
EMPREENDEDORISMO E SOCIEDADE
Por sua vez, McClelland (1965) define que só é empreendedor aquele que realmente realiza novas combinações de fatores.
•
Considera-se empreendedor o indivíduo que cria empresas, aquele que participa de forma efetiva na sua criação; e
•
Empreendedor: agente responsável por iniciar, manter e consolidar uma unidade empresarial, orientada pelo lucro, satisfação do cliente, através da produção de bens e serviços económicos.
Figura 4. O empreendedorismo e o processo de criação de empresas
Schumpeter
Economia
Empreendedorismo
Empresário
Inovação
Tecnologia
Drucker
McClelland
Gestão
Empreendedorismo
Empresário
Inovação
Negócios
Psicologia/motivação
Empreendedorismo
Empresário
Inovação
Pessoas
Visão integrada
Empreendedorismo
Empresário
Inovação
Incubadora
Criação de empresas
de base tecnológica
Fonte: Adaptado de Leite (1999).
Timmons (1994) propõe a análise do processo empreendedor através de três
fatores fundamentais: oportunidade, equipa empreendedora e recursos (Figura 5).
32
EMPREENDEDORISMO E PLANEAMENTO FINANCEIRO
Figura 5. O processo empreendedor
Comunicação
Oportunidade
Recursos
nç
de
Cr
ia
tivi
era
da
Lid
Plano de
negócios
a
Equipa
Fonte: Adaptado de Timmons (1994).
O primeiro passo é avaliar a oportunidade, que deve ser analisada para decidir a
continuidade ou não da ideia de negócio. No segundo passo, a equipa empreendedora deve-se questionar se realmente estão capacitados para levar por diante o processo. Finalmente, avalia-se como e onde esta equipa irá conseguir os recursos
necessários. As principais ideias a reter são:
•
O processo inicia-se com o reconhecimento da oportunidade de negócio e não
com um plano, estratégia ou recursos;
•
O reconhecimento da oportunidade resulta da criatividade e inovação de indivíduos que conhecem a tecnologia, mercado e/ou enquadramento institucional –
equipa empreendedora;
•
A criatividade/inovação resultam da integração de conhecimentos académicos
e prática de negócios; e
•
A criação de valor pela iniciativa empreendedora resulta da capacidade de
aproveitar uma boa oportunidade de negócio utilizando eficientemente os recursos reunidos.
Carlos Duarte é Pós-doutorado pela Cass Business School, de Londres,
doutorado em Gestão, especialidade em finanças pelo ISCTE – Instituto Universitário de Lisboa e MBA pelo INSEAD. Professor coordenador do IPT, Instituto
Politécnico de Tomar e professor convidado do ISCTE-IUL. Foi responsável
financeiro em empresas de grande dimensão.
Carlos Duarte • José Paulo Esperança
Empreendedorismo e Planeamento Financeiro
José Paulo Esperança é doutorado em Economia pelo Instituto Universitário
Europeu de Florença, professor catedrático de Finanças do ISCTE – Instituto
Universitário de Lisboa e presidente do centro associado para o empreendedorismo e empresas familiares AUDAX.
Esta obra destina-se a todos aqueles que têm uma ideia de negócio e a
querem concretizar. Recorrendo ao conceito «aprender fazendo», as matérias são apresentadas de uma forma simples e pedagógica estabelecendo
um equilíbrio adequado entre a prática das etapas a percorrer e o respetivo
enquadramento dos conceitos teóricos que é necessário aprender para
obter sucesso. Ou seja, os conceitos e as diversas componentes teóricas
não surgem em capítulos próprios como é habitual em muitas outras obras
sobre estes assuntos, sendo antes apresentados à medida que se vai
executando um modelo de elaboração do plano de negócio. Uma particular
atenção é dada à componente financeira, permitindo que os não especialistas construam o orçamento de vendas e de produção e optem pelas
melhores decisões de investimento e financiamento.
Para permitir uma focalização naquilo que é essencial e poupar trabalho,
duas folhas de cálculo são disponibilizadas para download em www.silabo.pt,
sendo que uma descreve e serve de apoio ao exemplo apresentado no capítulo 4 (servindo de guião ao processo de aprendizagem) e a outra, sem
dados, se destina à elaboração do plano de negócios do próprio leitor.
Com folha de cálculo do plano de negócios em Excel
(para download)
e Planeamento Financeiro
9 789726 187837
EMPREENDEDORISMO
ISBN 978-972-618-783-7
421
EMPREENDEDORISMO
e Planeamento Financeiro
2ª Edição
Transformar oportunidades em negócios.
Criar micro, pequenas e médias empresas
EDIÇÕES SÍLABO
Download

parte da obra - Edições Sílabo