PRESSUPOSTOS QUE FUNDAMENTAM AS ATIVIDADES EM LIVROS
DIDÁTICOS DE PORTUGUÊS.
Maria Auxiliadora da Silva Cavalcante (UFAL)
[email protected]
Maria Luédna Ferreira de Melo (UFAL)
[email protected]
RESUMO:
O presente trabalho almejou conhecer os principais pressupostos teórico presentes no
documento PCNs; bem como, comparar as propostas de atividades presentes nos livros
didáticos com o que propõe tal documento. Realizamos a pesquisa nos moldes de uma
análise documental, tendo como base os (PCNs); o PNLD, os LDPs mais usados em
turmas de 4° ano, por escolas da rede pública municipal de Maceió. Fundamentamos a
pesquisa em autores como Guimarães (2006), Travaglia (2003) Bagno (2007), entre
outros. Notamos no LD a presença de diferentes dialetos, porém sem os termos
adequados. As propostas de produção de textos dão importância às atividades de
socialização e circulação da produção, mas quase que somente na sala de aula, sendo
notável a análise da produção tanto do outro como de si mesmo. Há a presença de textos
de maior extensão e complementares, favorecendo a ampliação da competência
comunicativa tão defendida pelos PCNs. As atividades de produção propõem a
produção de tipos e gêneros diversificados, indicam o gênero a ser produzido, apesar de
às vezes limitar em alguns aspectos e exigirem uma produção artificial por não delimitar
―adequadamente‖ a etapa de planejamento.
Palavras-chave: Atividade docente; Livros didáticos, Língua Portuguesa
INTRODUÇÃO
O presente trabalho investigou os pressupostos subjacentes às atividades
docentes prescritas no documento que norteia o processo ensino e aprendizagem da
Língua Portuguesa no ensino fundamental (PCNs) e as propostas de atividades
presentes em um livro didático de português (LDP). A investigação foi focada nas
propostas ligada as atividades de produção de textos orais e escrito em um livro didático
(doravante LD), e a comparação entre as recomendações dos documentos oficiais e o
que se tem presente no LD com relação às atividades de produção. A pesquisa está
fundamentada nos PCNs, PNLD e em autores que abordam questões relativas à
produção textual, a variação linguística e outros assuntos ligados a área.
Dentre os materiais didáticos usados como instrumentos de trabalho pelo
professor encontramos como mais usual, o LD, que é um suporte importante e continua
sendo por vezes o único recurso usado para no processo educacional. A respeito da
avaliação do LD o decreto 9.154 de 01/08/1985 instituiu o Programa Nacional do Livro
Didático (PNLD), que entre outros alcances, constituiu o fluxo regular de recursos para
a obtenção e distribuição de livros didáticos em todo o país.
Em meio às muitas questões que interferem claramente no processo ensino e
aprendizagem de língua portuguesa, Cavalcante e Freitas (2008, p. 02) alegam que
existe uma que diz respeito às concepções que garantem um auxílio a esse processo, ao
discorrer sobre as distintas visões de língua/linguagem a autora aclara que na visão
tradicional ―a linguagem é concebida como representação do pensamento‖. Essa
concepção vê a linguagem como uma reprodução, expressão do pensamento. Outra
concepção que vê a linguagem somente levando em estima alguns aspectos de modo
limitado é a estruturalista, Travaglia (2002, p. 22) afirma que por meio dela a linguagem
é idealizada como ―um instrumento de comunicação, derivando daí a noção de língua
como um sistema abstrato, um fato social, geral, virtual, cujas estruturas se completam,
se superpõem e se relacionam‖. Assim, a língua é vista como um código.
Oposta a essas concepções, encontramos a concepção baseada no
sociointeracionismo que abrange a linguagem como espaço de interação social, nessa
visão: ―a língua não é tão somente representação do pensamento ou um mero
instrumento de comunicação. Ela também é um meio de conscientização, de persuasão,
de dissimulação, de dominação, bem como de libertação‖ (CAVALCANTE E
FREITAS, 2008, p. 03). Diferente das limitações das duas primeiras concepções, a
terceira concepção vê a linguagem como uma forma ou processo de interação, nesse
sentido a língua é um espaço de interação humana, de troca comunicativa.
A produção textual é um trabalho difícil e complexo de ser realizado na escola,
sobretudo para o aluno, que muitas vezes não tem contato com a produção na vida
diária, não leem textos que possam subsidiar essa prática, não são incentivados a
produzir, etc. Esse contato ocorre de maneira tardia, pois na maioria, os alunos só têm
contato com textos e de maneira especial com a produção textual na própria instituição
escolar, apesar de rodeados por todo tipo de gênero no seu cotidiano. Sabemos que a
competência comunicativa é de extrema importância para o ensino de língua materna, a
esse respeito Campos (2005) e Travaglia (2002) alegam que essa competência está
intimamente ligada a duas outras que são também inter-relacionadas, são elas a
competência textual e a competência linguística. A competência linguística ou
gramatical segundo Travaglia (2002) refere-se à capacidade de produzir e reconhecer
sequências gramaticais aceitáveis em dado contexto. Já a competência textual faz
referência à habilidade e destreza de compreender e produzir textos em diversas
condições de comunicação que se encontra.
AS ANÁLISES DA PRODUÇÃO TEXTUAL: PCNS E O LD
O LDP analisado Projeto Pitanguá usado por escolas da rede pública municipal
de Maceió está organizado em nove unidades. Cada unidade é composta de duas partes,
que se inicia com atividades de ativação dos conhecimentos prévios e levantamento de
hipóteses. E ao fim de cada unidade existe um Projeto em equipe. Ao analisarmos os
PCNs percebemos que a concepção presente no documento é que a linguagem é uma
forma de atuação interindividual; nas palavras do documento a linguagem é
Um processo de interlocução que se realiza nas práticas sociais existentes nos
diferentes grupos de uma sociedade, nos distintos momentos da sua história.
Dessa forma, se produz linguagem tanto numa conversa de bar, entre amigos,
quanto ao escrever uma lista de compras, ou ao redigir uma carta —
diferentes práticas sociais das quais se pode participar. (p. 22)
Nota-se no documento uma preocupação com a linguagem como uma atividade
discursiva e a textualidade, numa perspectiva de interação verbal considerada em
situação concreta de produção. Conforme se percebe a compreensão é que se produz
linguagem nas diferentes práticas sociais, a partir daí, a língua é definida como
Um sistema de signos histórico e social que possibilita ao homem significar o
mundo e a realidade. Assim, aprendê-la é aprender não só as palavras, mas
também os seus significados culturais e, com eles, os modos pelos quais as
pessoas do seu meio social entendem e interpretam a realidade e a si mesmas.
(idem, p. 22)
Esse conceito de língua como participação social concebido pelos PCNs está
de acordo com os referenciais do LD analisado, já que segundo o Guia e Recursos
Didáticos do LD ―todas as atividades e reflexões propostas, incluindo o trabalho com os
demais temas, têm o objetivo de formar no aluno uma consciência social responsável e,
conseqüentemente, uma postura cidadã comprometida com as questões sociais‖.
(MODERNA, 2006, p. 8). Observando o LDP como Marcuschi (2005) pudemos
constatar que o LD Projeto Pitanguá toma a língua como um simples meio de
comunicação não problemático capaz de trabalhar com transparência e homogeneidade.
Para Guimarães os PCNs ratificam a linguística transmitida pela equipe técnica
do Ministério da Educação e Cultura (MEC). Nos dois, o objetivo do ensino de Língua
Portuguesa tem a expectativa que os alunos, ao longo dos oito (agora nove) anos do
ensino fundamental, adquiram uma competência em relação à linguagem que lhes
possibilite resolver problemas da vida cotidiana, ter acesso aos bens culturais e alcançar
a participação plena no mundo letrado. Finalmente, proporcionar-lhes a competência
comunicativa. Para a gramática a proposta dos PCNs ―Sugere um direcionamento do
ensino a partir da reflexão dos alunos, para se chegar ao conhecimento da
metalinguagem, e não descrever incansavelmente as estruturas disponíveis, saturando os
alunos de terminologias; prática que se revelou improdutiva‖. (2006. p. 2)
Ao analisarmos as seções dos PCNs com relação ao ensino da escrita, assim
como resultados encontrados por Reinaldo (2005), indicam que as orientações que
aparecem como dominante são encaminhamentos na perspectiva sociointeracionista.
Essa característica pode ser percebida na preocupação relativa aos elementos típicos das
situações comunicativas e ao gênero textual correspondente a determinada situação.
A respeito da necessidade de capacitar o leitor/produtor às diversas leituras do
contexto social, que são fortemente ressaltadas pelos PCNs de Português, acabou sendo
caracterizada no LDP Pitanguá exclusivamente pela oferta de gêneros textuais dos mais
variados entre textos para leitura, como também na exigência da produção. A proposta
divulgada pelos PCNs induziu o LD em análise a oferecer uma gama variada de textos.
Apesar de existir comentários precisos no LD do professor e do próprio aluno
nas unidades sobre os vários gêneros e os diferentes textos nos quais esses gêneros se
manifestam, achamos limitações nessas explicações. Porém, observando o manual do
professor encontramos sugestões importantes para as situações de leitura propostas e de
produção textual. É indicado que o professor discuta com os alunos os seguintes
aspectos presentes em cada texto lido e que vai repercutir na própria produção:
A natureza do conteúdo veiculado no gênero; o lugar de circulação; as
características da organização geral dos textos daquele gênero; seu conteúdo específico;
as características da situação de comunicação na qual foi produzido; a variedade
linguística; os efeitos de sentido decorrentes das escolhas que o produtor fez sobre o
tratamento dado ao conteúdo, o registro e a variedade empregados, os recursos
linguísticos utilizados. Esses traços são muitos pertinentes apontados pelo LDP, no
entanto em local não adequado, pois isso deveria está citado nas atividades de produção,
o que facilitaria a aprendizagem do aluno, e do trabalho do professor.
Percebemos ao analisar o Guia e Recursos Didáticos que o LD está organizado
a partir do conceito de superestrutura de Van Dijk pelo fato de que ―a idéia de uma
estrutura subjacente aos textos, especialmente às narrativas, é amplamente usada pelos
professores e facilita a caracterização lingüística dos textos‖. (MODERNA, 2006, p. 18).
Antunes (2003, p. 49) afirma que ―a chamada superestrutura do texto corresponde a
essas formas diferentes de o texto organizar-se e apresentar-se em duas, três ou mais
partes, numa seqüência mais ou menos definida‖. O LD incorporou ainda à metodologia
de leitura e produção de textos o recurso da organização gráfica para os tipos textuais.
O LD optou por desenvolver um programa de trabalho para o ensino dos
discursos, por meio de uma organização passo a passo. Notamos a presença dessa
descrição em quase todas as indicações de produção, senão em todas do LD. Porém não
fica balizada qual a finalidade do gênero produzido, a intenção de se trabalhar com o
exemplar, a intenção da comunicação, as condições de produção, onde, como, por quem
vai ser usado. A partir da apresentação da estrutura que se quer que o aluno reproduza,
vem a indicação de produção. Entende-se que o aluno terá assim um ―modelo‖ e poderá
operá-lo, produzindo novas mensagens dentro da mesma estrutura. O aluno deve
mostrar que se sintonizou com as intervenções determinadas pelo exemplo, e para isso
codificar, agrupa mensagens que externem construções iguais.
As recomendações dos PCNs com o trabalho de produção têm como intuito
desenvolver escritores competentes com a capacidade de produzir textos coesos,
coerentes e eficazes. Um escrito competente nos termos dos PCNs (1998) é alguém que
Ao produzir um discurso, conhecendo possibilidades que estão postas
culturalmente, sabe selecionar o gênero no qual seu discurso se realizará
escolhendo aquele que for apropriado a seus objetivos e à circunstância
enunciativa em questão [...] é alguém que planeja o discurso e
conseqüentemente o texto em função do seu objetivo e do leitor a que se
destina, sem desconsiderar as características específicas do gênero. ( p. 65)
Com relação ao trabalho com a língua oral encontramos no LD atividades
voltadas à dramatização e recitação, porém, para o PNLD (2010) no eixo da oralidade,
apenas o gênero debate é trabalhado. Por isso, nas propostas de exposição oral de
trabalho, de declamação de poemas, de encenação teatral, o documento orienta que será
necessário o professor determinar as etapas de produção e guiar os alunos quanto ao uso
da voz, o estilo e à gesticulação. A produção oral é garantida em ocasiões como
conversas e discussões antes das leituras, debates, dramatização e reconto de histórias
lidas, expressão de opinião, etc. Percebemos algumas dessas características nas
propostas, como a constante indicação de respeito ao outro, as suas opiniões, a espera da
vez de poder falar, etc.
Observamos a presença das indicações dos PCNs nas propostas de atividades
nos moldes do PCNs quando afirma que: ―espera-se que os alunos consigam utilizar
autonomamente estratégias de leitura – decifrar, antecipar, inferir e verificar – e
coordenar, mesmo que com ajuda, os diferentes papéis que precisam assumir ao
produzir um texto: planejar, redigir rascunhos, revisar e cuidar da apresentação‖. (1997,
p. 80) Essas estratégias são requeridas na leitura dos textos e na produção há presença
da coordenação do aluno dos distintos papéis assumidos, como revisar e cuidar da
apresentação, com orientação, no entanto faltou planejar o que irão escrever.
As propostas de atividades destinadas à produção no LDP são divididas em três
partes por unidade, e encerra-se com um ―projeto em equipe‖. As situações de produção
da primeira parte da unidade são produção de texto, geralmente do gênero narrativo; a
segunda situação fica na seção Oficina de criação com um trabalho de caráter criativo e
muitas vezes não verbal. Sendo essas produções mais livres e sem exigências de
avaliação, focada em aspectos textuais. Já a condição de produção da segunda parte está
voltada para a compreensão dos tipos textuais.
É possível observar que o LD segue as indicações apontadas pelos PCNs como
propor situações de produção de textos em pequenos e em grandes grupos como os
projetos em equipe, nas quais os alunos partilham atividades, embora exerçam
diferentes tarefas. Essa atividade por meio de projetos é uma situação didática
fundamental para uma boa prática de produção de textos, uma vez que ―Os projetos são
excelentes situações para que os alunos produzam textos de forma contextualizada além do que, dependendo de como se organizam, exigem leitura, escuta de leituras,
produção de textos orais, estudo, pesquisa ou outras atividades‖ (1998 p. 70-71)
Se de um lado, como pudemos perceber ao analisar o LD as atividades de
produção colaboram para a formação de produtores de textos porque requerem a
produção de diferentes gêneros, que circulam em diversas áreas culturais, apresentando
um modelo do gênero a ser produzido, destacando, principalmente, os elementos de sua
estrutura. Colaboram ainda, para a elaboração temática; trabalham com os diferentes
letramentos (literário, jornalístico, etc.), propõe temas pertinentes à faixa etária e a
formação cultural do aluno; orienta a organização geral do texto de acordo com o
gênero (a forma composicional); encaminha o uso do registro de linguagem adequado
ao gênero e situação (formal/informal), guia para a produção do gênero adequado á
situação; propõe referencias e exemplos dos gêneros e tipos de textos.
Por outro lado: o LD não contempla adequadamente as diferentes etapas do
processo de produção (planejamento, escrita, revisão, reformulação), esquecendo alguns
elementos do planejamento; não define objetivos plausíveis para a escrita proposta; não
situa a prática de escrita em seu universo de uso social; não define o contexto de
produção de texto de forma completa (esfera, suporte, função social).
A respeito da produção Antunes (2003) explica que a escrita abrange fases
distintas e associadas de execução (planejamento, operação e revisão), as quais
provocam uma série de decisões. Como bem define a autora:
[...] produzir um texto escrito não é uma tarefa que implica apenas o ato de
escrever. Não começa, portanto, quando tomamos nas mãos papel e lápis.
Supõe, ao contrario várias etapas, interdependentes e intercomplementares,
que vão desde o planejamento, passando pela escrita propriamente, até o
momento posterior da revisão e reescrita. Cada etapa cumpre, assim, uma
função especifica, e a condição final do texto vai depender de como se
respeitou cada uma destas funções. (p. 54).
Conforme a autora (idem, p. 54-55) a primeira etapa, denominada de etapa do
planejamento, corresponde ao cuidado de quem vai escrever para: Delimitar o tema de
seu texto e aquilo que lhe dará unidade; Eleger os objetivos; Escolher o gênero;
Delimitar os critérios de ordenação das ideias; Prever as condições de seus leitores e a
forma lingüística (mais formal ou menos formal) que seu texto deve assumir.
A etapa da escrita corresponde ao serviço de colocar em ação, de escrever o
que foi esquematizado na etapa de planejamento. É a fase da escrita propriamente dita,
―do registro, quando concretamente quem escreve vai seguir a planta esboçada e dar
forma ao objeto projetado‖. (ANTUNES, 2003 p. 55).
Já a etapa da revisão e da reescrita (terceira etapa), faz referencia ao período
que o aluno vai analisar o que foi escrito. Essa fase serve para
[...] aquele que escreve confirmar se os objetivos foram cumpridos, se
conseguiu a concentração temática desejada, se há coerência e clareza no
desenvolvimento das idéias, se há encadeamento entre os vários segmentos
do texto, se há fidelidade ás normas da sintaxe e da semântica – conforme
prevêem as regras de estrutura da língua – se respeitou, enfim, aspectos da
superfície do texto, como a ortografia, a pontuação e a divisão do texto em
parágrafos. (idem, p. 55-56).
Como pudemos perceber não satisfaz na prática de produção de texto somente
a realização da etapa de escrever, uma vez que é necessário fornecer uma etapa anterior
e uma póstuma à escrita propriamente dita, pois ―cada uma tem uma função de grande
importância para que nossas produções lingüísticas resultem adequadas e relevantes‖.
(idem, 2003, p. 59)
Na sequência apresentamos em resumo os gêneros requeridos nas seções que solicitam
a produção textual dos alunos.
Unidade
Produções requeridas
1ª Astros
Lenda; pintura; artigo/Descrição de uma profissão; Texto lúdico caçapalavras; Texto lúdico palavras cruzadas; lista com perguntas de caráter
cientifico sobre astros.
2ª Alimentos
Resumo para o conto ―Sopa de pedras‖; Poema; Tabela de alimentos; registrar
um tipo de receita; Texto coletivo.
3ª Árvores
Narrativa com descrição; Poema das árvores; Artigo texto expositivo; Fichas,
texto informativo.
4ª Medos
Conto de assombração (clímax); comparações no poema; texto descritivo;
Reportagem; entrevista e registro de causos elaborando as histórias, criando
desenho para ilustrar os textos.
5ª Convivência
Mensagem, bilhete, colagem; Debate: Texto argumentativo; Cartazes e
folhetos.
6ª folclore
Tangolomango, espécie de parlenda; jogo de provérbios; texto argumentativo
contra/a favor. Escrever texto e desenhar ilustrações sobre curiosidades do
folclore. / disparate, Texto instrucional,
7ª mentiras e
birutices
História imaginada a partir de um quadro; Texto lúdico poemas/disparate;
código secreto/mensagem codificada; peça teatral.
8ª Outras
cidades, outros
países
Carta; texto para uma cantiga; Texto expositivo; guia turístico; palestra,
escrever material de divulgação da feira.
9ª Mar
Diário de bordo; Poema visual; Texto enciclopédico; Texto biográfico, ficha
biográfica a respeito de piratas.
Analisando as 27 produções indicadas nas partes: Produção de texto, Oficina
de criação e na exploração do tipo textual na seção ―Hora de escrever‖, encontrou-se
com relação ao tipo de agrupamento, circulação, indicação de observação e respeito à
estrutura, organização e o desenvolvimento da produção solicitada, os seguintes dados:
No que diz respeito ao tipo de agrupamento, das 27 produções requeridas 18 são
individuais, 05 em dupla, 02 em grupo e 02 produções em equipe. Observando esses
dados aprox. 66,7% de produção são realizadas de forma individual, 18,5% em dupla,
7,4% em grupo e 7,4% em equipe.
Com relação à circulação, a maioria de circulação sugerida pelo LD é na classe
e devendo ser afixadas no mural da classe, em números compatibilizamos 19 indícios
dessa circulação, o que representa mais de 70% de indicação em sala. Encontramos
ainda 02 propostas de circulação em outras classes, 02 de fixar no mural da escola para
exposição aos demais alunos, 03 indicações de circulação em casa. As outras duas
indicações de circulação são dos pais irem para uma exposição dos trabalhos, mas não
se indica se essa exposição é na sala ou na escola. A outra proposta fica a critério do
aluno. Embora se tenha sugestões para que alguns textos circulem fora da sala de aula, a
maioria tem seu circuito restringido à esfera escolar, o que pode tornar as atividades
previsíveis e não motivantes, sendo muitas vezes artificiais.
Com relação a propostas de passar a limpo, correção, reescrita e rascunho
encontramos 09 propostas, sendo a maioria de passar a limpo, 02 de correção e reescrita
e 01 de rascunho. Localizamos como proposta de avaliação da produção que a revisão
seja feita ora pelo próprio aluno, ora pelo colega, observado a estrutura, a coerência e
coesão. A respeito dessa proposta de revisão os parâmetros curriculares nacionais
enfatizam a importância das atividades de revisão:
Trata-se de uma oportunidade privilegiada de ensinar o aluno a utilizar os
conhecimentos que possui, ao mesmo tempo que é fonte de conteúdos a
serem trabalhados. Isso porque os aspectos gramaticais — e outros
discursivos como a pontuação — devem ser selecionados a partir dos das
produções escritas dos alunos. (p. 60).
E ainda esclarece que como situação didática a revisão demanda que o professor
eleja em quais aspectos anseia que os alunos se centrem. A tendência das propostas de
revisão no LD pretende contemplar aspectos importantes da dimensão textual e
comunicativa, desde o modo como está organizado, a estrutura solicitada, a clareza ou o
interesse do texto, isso fica evidenciado nas constantes indicações de observação ora
pelo próprio aluno, ora pelos colegas do respeito à estrutura, organização e o
desenvolvimento da produção solicitada. Essa característica mediadora de participação
do outro na avaliação da produção é uma característica fortemente presente nas
atividades do LDP. As indicações é que os alunos deem sugestões como leitores críticos
emitindo julgamentos, identificando problemas, sugerindo transformações.
Outras vezes, o redator passa a assumir o papel de crítico, analisando seu texto
para aperfeiçoar ou não, analisando se está adequado ao que foi solicitado, porém não
são indicados quais critérios (leitor/produtor) devem usar ao avaliarem, a não ser os já
estabelecidos nas propostas de produção. Porém essa proposta de avaliação do texto de
si mesmo como leitor é valiosa já que ―o produtor do texto distancia-se do mesmo e o
vê com estratégias de leitor‖ (GARCEZ, 1998, p. 97).
Com relação ao trabalho com o tema variação linguística (doravante VL)
localizamos essas atividades na seção ―Estudo da Língua‖ que se trabalham as
características da linguagem oral como a informalidade, as gírias, as expressões
populares. Esse trabalho tem afinidade com as indicações dos PCNs com relação aos
diferentes usos da linguagem dependendo de quem fala com quem fala e do que se fala.
Na unidade 3 o tema é ―palavras e expressões pouco usadas‖, a intenção é propiciar uma
―reflexão sobre estilos e recursos literários frequentes em nossa literatura para que os
alunos comecem a tentar superar dificuldades que provavelmente encontrarão pela
frente em textos futuros‖ (MODERNA, 2006, p. 77). Na unidade 05 o tema é ―Registro
formal e informal – recursos expressivos‖, em que há atividades sobre um texto que é
empregado várias gírias.
Na unidade 07 o tema é ―Linguagem formal e informal, pessoas do discurso,
conjugação verbal‖. É apresentada ao aluno uma frase retirada do texto da unidade
―Tato foi prum canto, apreciar‖. Há explicação no LD que a grafia da palavra reproduz
a pronuncia do oral. Depois se questiona qual seria a grafia convencional da palavra
(prum). Na unidade 08 novamente a questão é de formalidade/ informalidade, o tema
abordado é ―Tempos verbais, linguagem formal e informal, diminutivo‖. Há ocorrência
de uma atividade que pede para os alunos reler as frases e pergunta a eles se as frases
apresentadas são exemplos de uma linguagem formal ou informal, moderna ou antiga.
Como pudemos observar na exposição acima, a maioria do trabalho com o
tema refere-se a questões de formalidade e informalidade no uso de grafias ou fala oral.
A única unidade que realmente trata da questão é a 2ª unidade, na seção ―Estudo da
língua‖ denominada ―Registros informal e formal, linguagens oral e escrita,
variedades rural e urbana”. Notamos uma inadequação nos usos dos termos, pois ao
se falar em VL, não se pode limitar a uma única variante (no LD a rural). Até porque o
próprio tema da seção indicaria a variedade rural e urbana. No uso do termo para
indicar essa variante ocorre um preconceito que em vez de alerta os alunos ao respeito
da variação o levará a discriminação. Apesar de em outras questões solicitar como os
alunos falariam se estivessem noutro contexto, falando com outras pessoas.
A variedade rural no LD é denominada como ―Variante caipira‖ em registro
informal em contraposição a variante urbana. Depois explica que o aluno pode
responder as atividades sobre o ―modo de falar do personagem‖ da seguinte maneira
―como a história é de matutos, tudo se passa entre matutos‖. Como o termo ―matuto‖
em nosso meio é utilizado em sentido depressivo, o LDP poderia utilizar outras
denominações como variante rural, a qual se denominou no tema da seção. Cabe
lembrar que a variação ocorre em todos os meios, sejam rurais ou urbanos. Outra
questão é que não se falar que a variante urbana também sofre variação, desse modo o
aluno tem uma concepção errônea de variação a considerando por vezes como ―falar
errado‖.
Apesar da boa pretensão deve se levar em conta que o profissional que vai lidar
com o LD muitas vezes não sabe o que é VL. Para Bagno há uma boa vontade, mas ―a
falta de uma base teórica consistente e, sobretudo, a confusão no emprego dos termos e
dos conceitos prejudicam muito o trabalho que se faz nessas obras em torno dos
fenômenos de variação e mudança‖ (2007, p. 119). Assim, o que prejudica o tratamento
dado ao tema é o não conhecimento do assunto. E o aluno deve ser levado a
compreender diferentes usos que se pode fazer da fala, dependendo da situação
comunicativa. Segundo os PCNs ao se falar em registro, se está fazendo referência aos
distintos usos, dependendo da situação comunicativa, que se pode fazer da língua
conforme os PCNs é possível que
Uma mesma pessoa ora utilize a gíria, ora um falar técnico (o ―pedagoguês‖,
o ―economês‖), ora uma linguagem mais popular e coloquial, ora um jeito
mais formal de dizer, dependendo do lugar social que ocupa e do grupo no
qual a interação verbal ocorrer [...] É interação verbal tanto a conversação
quanto uma conferência ou uma produção escrita, pois todas são dirigidas a
alguém, ainda que esse alguém seja virtual.‖ (1997, p. 22)
Segundo Bagno (2007, p. 86) o que deve haver é uma reeducação
sociolinguística já que essa é uma proposta de pedagogia da variação linguística que
leva em conta as conquistas das ciências da linguagem, mas, também, as dinâmicas
sociais e culturais em que a língua está envolvida. Fazer referência a existência da VL
não quer dizer que o aluno vá respeitá-la, se o trabalho não for sólido e não abordar o
preconceito com relação às variedades, especialmente as mais estigmatizadas, o trabalho
não vai passar de recomendação da proposta dos PCNs. O trabalho com a variação
apresentada no LDP necessita de uma reflexão mais cautelosa e como afirma Dionísio
(2005) ao analisar alguns livros de uma reflexão até ―mais humana‖.
CONSIDERAÇÕES
Na comparação do LD com as recomendações dos PCNs de Língua Portuguesa
é possível perceber que o LD investigado segue as indicações, algumas sugestões, e a
metodologia didática desse documento como, por exemplo, propor situações de
produção de textos orais e escritos, o trabalho com projetos, a revisão, entre outros.
Percebemos que embora apresente o gênero a se escrito, determine alguns aspectos, a
etapa de planejamento precisaria ser mais bem elaborada e específica. Pois, as
atividades de produção não podem limitar os alunos a uma situação de meros
reprodutores ou observadores de modelos prontos para circular somente no espaço
escolar, essas produções tem de ganhar sentido na vida dos educandos.
Assim, o LD utilizado por escolas da rede pública municipal de Maceió está
em parte em conformidade com a Proposta curricular dos PCNs. Observa-se que parte
do material apresenta uma reflexão sobre a produção textual comprometida com as
atuais discussões teóricas e abordagens, embora ainda ocorram algumas falhas, como
trabalho inadequado com o tema variação linguística, pois a maioria do trabalho com
VL refere-se a questões de formalidade e informalidade no uso de grafias ou fala oral;
não; explicação dos parâmetros básicos de produção como objetivos plausíveis,
finalidades e relacionada às práticas cotidianas. O LD peca, já que não delimita o
destinatário, a finalidade, apesar de apresentar as características do gênero. Algumas das
propostas indicadas pelo LD demandam empenho em um maior investimento no
planejamento das etapas de modo preciso e na determinação das categorias de produção
(para que, para quem se escreve, onde e como o texto vai ser lido).
O interessante seria uma proposta que se aproxima mais o aluno do contexto
real de produção, pois produzir no ―vazio‖, sem um destinatário, sem objetivos
plausíveis e planejamento, vai fazer com os alunos escrevam somente por tem de
escrever, como mais uma obrigação. Assim, a escrita se torna uma atividade artificial e
distante de uma concepção de língua proposta pelos PCNs. Para que haja mudança o
professor precisa está a par dessas novas concepções de língua materna. Sem uma boa
base, um conhecimento sólido, qualquer LD por melhor que seja não vai fazer
diferença. É necessário que exista mais discussão sobre o que prescreve os PCNs, o que
propõe o LD e o que realmente é posto em prática em sala de aula, o que demanda
investigações futuras.
REFERÊNCIAS
ANTUNES, Irandé. Aula de português: encontro & interação. São Paulo: Parábola
editorial, 2003.
________________ Muito além da gramática: por um ensino de línguas sem pedras
no caminho. São Paulo: Parábola Editorial, 2007.
BAGNO, Marcos. Nada na língua é por acaso: por uma pedagogia da variação
linguística. São Paulo, Parábola Editorial, 2007.
BRASIL. GUIA DE LIVROS DIDÁTICOS: PNLD 2010: Letramento e
Alfabetização/. Língua Portuguesa. – Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de
Educação Básica, 2009. 352 p.
__________ Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares
nacionais: língua portuguesa/ Secretaria de Educação Fundamental. Brasília. 1997.
CAVALCANTE, M. A. da S; FREITAS, M. L. de Queiroz. O ensino da língua
Portuguesa nos anos iniciais: eventos e práticas de Letramento. Maceió: EdUFAL,
2008.
COUTINHO, Maria Antónia. Texto(s) e competência textual. Coimbra; Fundação
Calouste Gulbenkian: Gráfica de Coimbra, 2003.
DIONÍSIO, Angela Paiva. Variedades lingüísticas: Avanços e Entraves. In
DIONÍSIO, Angela Paiva; BEZERRA, Maria Auxiliadora (org.). O livro didático de
Português: múltiplos olhares. 3ª Ed. – Rio de Janeiro: Lucena, 2005.
EDITORA MODERNA (org.) Projeto Pitanguá: português. São Paulo: Moderna,
2005.
FAULSTICH, L. de J. Como ler, entender e redigir um texto. 20ª Ed. – Petrópolis,
Rio de Janeiro: Vozes, 2008.
GARCEZ, Lucília Helena do Carmo. A escrita e o outro: os modos de participação na
construção do texto. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 1998.
GERALDI, João Wanderley. Linguagem e ensino: exercícios de militância e
divulgação. Campinas, São Paulo: Mercado de Letras: Associação de Leitura do Brasil,
1996.
GUIMARÃES, Tânia Braga. Revista Veja e suas concepções de Língua e Ensino.
Revista espaço acadêmico. N° 62 julho/2006.
KOCH, Ingidore G. Villaça. Desvendando os segredos do texto. 2ª Ed. – São Paulo:
Cortez, 2002.
MARCUSCHI, Luiz A. Gêneros Textuais: definição e funcionalidade. In:
DIONISIO, Ângela Paiva et al. (Org). Gêneros Textuais do Ensino. Rio de Janeiro:
Lucerna, 2002. P.19-36.
__________. Oralidade e ensino de língua: uma questão pouco “falada‖. In:
DIONÍSIO, Ângela & BEZERRA, Ma. Auxiliadora. O livro didático de português:
múltiplos olhares. 2. Ed. Rio de Janeiro: Lucerna, 2002, p. 21-34.
REINALDO, Maria Augusta G. de M; SANT’ANA, Tatiana Fernandes. Análise da
orientação para produção de texto no livro didático como atividade de formação
docente. Linguagem & Ensino, Pelotas, v. 8, n. 2, p. 97-120, jul./dez. 2005.
TRAVAGLIA, Luiz Carlos. Org. Gramática e interação: uma proposta para o ensino
de gramática no 1º e 2º graus. 8ª edição. São Paulo, Editora Cortez, 2002.
_____________Gramática: Ensino Plural. São Paulo, Cortez, 2003.
TRAVAGLIA, Luiz Carlos; ARAÚJO, Maria Helena Santos; PINTO, Maria Teonila de
Faria Alvim. Metodologia e prática de ensino da Língua Portuguesa. Uberlândia;
Edufu, 1995.
.
Download

PRESSUPOSTOS QUE FUNDAMENTAM AS ATIVIDADES EM