8º ANO
ENSINO FUNDAMENTAL II
Índice
Os Judeus no mundo islâmico .............................................................................................................. 3
Introdução: A Expansão do Islã ............................................................................................................ 3
Os Dhimmis – Cidadãos de Segunda Classe no Mundo Islâmico ................................................... 5
Situação Jurídica ..................................................................................................................... 5
A Vida Econômica dos Judeus no Califado de Bagdá ....................................................... 7
A Figura do Gaon e do Resh Galuta (O Exilarca) ............................................................................. 11
Exilarcas e Gueonim ............................................................................................................. 11
Talmud – Sheelot-u-Tshuvot ............................................................................................... 13
O declínio do Período Gaônico ........................................................................................... 13
Os Karaim ............................................................................................................................................. 14
O Movimento dos Caraítas .................................................................................................. 14
O Revigoramento de Israel como centro do povo judeu ................................................. 16
A Contribuição dos Massoretas .......................................................................................................... 17
Introdução: Sob os céus da Espanha .................................................................................................. 22
Os judeus na Península Ibérica ........................................................................................................... 23
O Período visigótico ............................................................................................................. 23
Califado de Córdova (século VIII a X) ............................................................................... 23
Fragmentação da Península (século XI e XII) .................................................................... 24
A Igreja e os Judeus .............................................................................................................................. 25
Os judeus do Ocidente ......................................................................................................... 25
A atividade econômica dos judeus no mundo bárbaro ................................................... 27
Os Judeus sob a dinastia Carolíngia ................................................................................................... 29
O Império Carolíngio e a Proteção Imperial em Troca de Altos Impostos ................... 29
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Os Novos Estados: França, Sacro-Império e Itália ............................................................................ 31
Formação da Kehilá (comunidade) Europeia ................................................................... 33
Entre a espada e a cruz ......................................................................................................................... 38
As Cruzadas .......................................................................................................................... 38
A ―Diabolização‖ dos Judeus .............................................................................................. 40
Inglaterra ................................................................................................................................ 41
França ..................................................................................................................................... 42
Sacro Império Romano-Germânico .................................................................................... 43
Os judeus na Península Ibérica ........................................................................................................... 45
A Reconquista ....................................................................................................................... 45
A Inquisição e os Cristãos-Novos ....................................................................................................... 47
Expulsões de Espanha e Portugal ....................................................................................... 48
Cristãos-Novos, Marranos e Criptojudeus ........................................................................ 48
Inquisição Espanhola e Autos de Fé ................................................................................... 50
A inquisição em Portugal ..................................................................................................... 50
Inquisição no Brasil ............................................................................................................... 51
Para onde foram os judeus sefaradim? .............................................................................. 52
Bibliografia ............................................................................................................................................ 54
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Os Judeus no mundo islâmico
Para começar o assunto, você vai precisar saber que:
- Na Idade Média as pessoas atribuíam uma importância muito grande à religião. O homem
medieval — fosse ele cristão, muçulmano ou judeu — estava plenamente convencido de que Deus
governava os destinos da Humanidade, e que seu grupo particular era escolhido por Ele para
representar a Verdade na Terra. Por isto, as estruturas religiosas e conceitos originados da religião
penetravam em todos os aspectos da vida quotidiana, dos mais simples aos mais solenes, É por esta
razão que a estrutura da igreja é tão importante para compreendermos bem o período medieval.
Íntrodução: A Expãnsão do Íslã
Da península desértica da Arábia, surgiu, no século VII, um poderoso movimento religioso,
político e militar, que estava destinado a transformar profundamente o panorama do período nesta
região: o islamismo. Do ponto de vista da História Judaica, a conquista muçulmana foi
importantíssima, pois unificou sob um único governo quase todos os judeus do mundo, fato cujas
consequências examinaremos mais adiante.
A Arábia nunca havia sido uma região muito importante para a História do mundo. Algumas
rotas internacionais passavam por seus oásis e portos; a cidade de Meca era o principal centro
comercial da região. Os árabes eram pagãos e sua organização política ainda estava no estágio tribal;
mas, em compensação, o fato de ocuparem uma região pela qual passava parte do comércio da
época os colocou em contato com cristãos, persas e judeus, de quem receberam influências
consideráveis.
Maomé foi o unificador destas tribos, através da nova religião que fundou e propagou: o
islamismo, maometismo ou muçulmanismo. Pouco se sabe sobre sua vida, a não ser que era um
mercador viajando e inclinado ao misticismo. Quando, segundo a tradição muçulmana, teve visões
em que Alá o convocava para difundir a nova fé, Maomé abandonou sua vida anterior e se dedicou
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à propagação das revelações que recebera. Estas estão registradas no Corão, o livro sagrado do
islamismo, e afirmam a existência de um único Deus, que se teria revelado primeiro aos judeus,
depois aos cristãos e por fim aos muçulmanos. Maomé se considerava o herdeiro de uma tradição
profética que vinha desde Moisés; o lema de sua crença era "Alá é Deus e Maomé o seu Profeta". O
Corão contém leis morais e um código civil e criminal, é comparável ao do Tanach. Quando Maomé
morreu, em 632, seus sucessores lançaram-se à conquista do mundo. A debilidade dos Impérios
Persa e Bizantino, que atraíam a conquista por causa de suas riquezas e civilização, foi responsável
pela enorme energia com que os árabes se lançaram à expansão da sua fé e do seu domínio.
Esta expansão foi incrivelmente rápida, devido à boa organização dos exércitos muçulmanos e
à fraqueza dos adversários. Em menos de dez anos, sob o comando enérgico do califa Omar, os
muçulmanos passam a controlar toda a área dos atuais países árabes, caminhando rapidamente
pelo norte da África.
A conquista da Pérsia foi importantíssima para a história posterior do Islã, pois esta região era
altamente civilizada e os árabes, ainda primitivos, puderam absorver toda a cultura persa. A
tomada da Síria e do Egito foi facilitada pelas divisões internas dos cristãos, que tinham
divergências quanto a questões de doutrina.
A região controlada pelos muçulmanos era extensa demais para ser governada a partir de um
único centro.
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Os Dhimmis – Cidãdãos de Segundã Clãsse
no Mundo Íslãmico.
Situação Jurídica
Os muçulmanos faziam uma distinção entre os "infiéis": segundo eles, havia os pagãos e os
Povos do Livro, estes eram os judeus e os cristãos, que, segundo a doutrina de Maomé, haviam
recebido revelações de Alá por intermédio dos profetas Moisés e Jesus. Este fato lhes conferia o
direito de não serem obrigados à conversão, como ocorria com os pagãos. Mediante o pagamento de
impostos especiais, judeus e cristãos poderiam continuar adeptos das respectivas religiões.
As minorias protegidas por estas leis receberam o nome de Dhimmis, e sua situação jurídica
pode ser caracterizada, quase sempre, pela tolerância geral.
Teoricamente, o estatuto de Dhimmi aplicava-se tanto aos judeus como aos cristãos. Na prática,
contudo, a maioria dos cristãos ou converteu-se ao islamismo ou abandonou a região controlada
pelos árabes, o que tornou os judeus os principais beneficiários da tolerância muçulmana. Esta
tolerância pode ser explicada por vários fatores, além do religioso, vinculado à revelação que os
Povos do Livro teriam recebido de Alá.
Em primeiro lugar, os Dhimmis eram submetidos a impostos especiais, o que os tornava uma
fonte de renda segura para o tesouro governamental. Dois destes impostos merecem referência: o
Kharaj e a Jízia. O kharaj era um imposto sobre a terra, que frequentemente atinge um quinto da
produção. Este pesado tributo levou muitos judeus a abandonar a agricultura e a transferir-se para
as cidades, acentuando uma tendência que já vinha desde os tempos do Império Romano. A Jízia
era um imposto pessoal, pago por cada homem judeu adulto uma vez por ano. Como a população
judaica era numerosa nos territórios recém-conquistados, e aumentou consideravelmente nos
séculos seguintes, a Jízia tornou-se uma fonte de renda tão importante que o governo, em épocas de
crise, chegou a desestimular as conversões de judeus e cristãos ao islamismo para poder mantê-la.
Além disto, o território do Califado comportava numerosos povos, cujas civilizações
antiquíssimas haviam consolidado tradições e costumes próprios. Os muçulmanos constituíam a
princípio uma pequena minoria em seus próprios domínios, enquanto a maioria da população não
se convertia à nova religião. A tolerância era, portanto, uma política sábia para evitar atritos e
revoltas, e os judeus se beneficiaram do clima relativamente liberal do Califado.
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Outra razão era o fato de a economia do Califado ser predominantemente urbana, isto é,
centrada nas cidades e nas atividades do comércio e da manufatura. As cidades muçulmanas, como
Bagdá, Damasco, Cairo, Cairuão, Fez e Córdova eram as principais metrópoles da Alta Idade Média.
Ali conviviam comerciantes habituados a viajar, a ver coisas e costumes diferentes; portanto, a
tolerância mútua era uma necessidade para o bom andamento da vida nestes locais.
É importante saber que, no mundo muçulmano, a religião não era separada do governo: o Califa
era ao mesmo tempo chefe espiritual e chefe político. Como politicamente a tolerância era vantajosa
o poder do Califa quase nunca se voltou contra os judeus. Não tendo de prestar contas a um
representante de Deus na Terra, porque ele próprio era este representante, o Califa frequentemente
subordinava os interesses puramente religiosos às regras mais práticas da vida econômica e social.
Finalmente, ao contrário do que ocorria na Europa, os judeus eram uma parte da população que
não se distinguia do restante, a não ser pela sua religião. Economicamente integrados, participando
culturalmente dos mesmos debates sobre os mesmos temas, e juridicamente protegidos pelo seu
estatuto de Dhimmis, os judeus do Islã não constituíam para o Califado o espinhoso problema que
representavam para a Cristandade. Sobre eles não pesava a acusação de ter matado Deus e, ao
contrário, o Profeta Maomé tinha mantido relações amistosas com eles, pelo menos no início de sua
carreira. A ausência de um ódio religioso, somada às vantagens fiscais, econômicas e sociais da
tolerância, é responsável pela situação relativamente estável dos judeus durante a época muçulmana.
É importante lembrar que:
No mundo islâmico, os judeus estavam sobre o jugo de dois impostos:
Kharaj – imposto sobre a terra e equivalia a 20% da produção. Este imposto acabou por
afastar os judeus da agricultura.
Jízia – imposto per capita (por pessoa) que todo judeu adulto devia pagar. Tornou-se tão
importante que até desestimulou conversões de judeus e cristãos ao islamismo, para poder mantê-lo.
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A Vida Econômica dos Judeus no Califado de Bagdá
Os primeiros séculos do domínio islâmico presenciaram um progressivo afastamento dos
judeus da agricultura, que havia sido uma ocupação tradicional judaica desde os tempos bíblicos. As
guerras, que sempre trazem a devastação do campo, e os pesados impostos sobre a produção
agrícola de que falamos atrás, são fatores que aceleraram o processo de urbanização da população
judaica. O fato de a religião hebraica exigir a existência de uma comunidade organizada, que
dificilmente poderia subsistir num meio rural, também influiu para este fenômeno. De qualquer
forma, as fontes históricas tornam claro que a proporção de judeus que vivia nas cidades era muito
superior à sua proporção na população total, havendo inclusive algumas em que os judeus
constituíram maioria em certos períodos.
Um ramo da agricultura em que os judeus continuaram a predominar foi o da viticultura. Como
a religião islâmica proíbe o consumo do vinho, a produção desta bebida estava quase totalmente em
mãos de judeus, sendo ela exportada para a Europa ou utilizada por eles mesmos em serviços religiosos e no consumo diário. Uvas, passas e produtos semelhantes também constituíam um setor
importante da agricultura judaica, bem como o cultivo de pomares e hortas para o abastecimento
das cidades.
O grande setor da atividade judaica começa a ser o comércio, os judeus comerciavam
algodão, linho e seda. Naquele tempo a elegância das roupas se verificava pela cor e não pelo feitio,
então os judeus se especializaram na técnica do tingimento. No artesanato, principalmente na
vidraria e na ourivesaria. Em Tvéria fabricava-se papel e livros, mas foram como mercadores que
eles mais se destacaram, principalmente como intermediários entre a Europa Cristã e o Califado
muçulmano, levando não apenas mercadorias, mas também livros e ideias.
Os judeus estavam especialmente bem aparelhados para exercer esta função de intermediários.
Com a divisão do mundo conhecido em dois campos opostos, os judeus, que viviam em ambos,
guardavam uma liberdade de movimento extremamente valiosa. A existência de comunidades nos
dois lados do Mediterrâneo, em toda Ásia Central e até mesmo na índia e na China garantia aos
mercadores judeus uma acolhida amigável praticamente em qualquer lugar, enquanto os
muçulmanos não eram bem recebidos no mundo cristão e vice-versa. Seu conhecimento de línguas,
especialmente do latim e do árabe, numa época em que poucos muçulmanos ou cristãos falavam os
idiomas um do outro, facilitava o contato com as populações de ambos os lados. O hebraico, língua
comum de todos os judeus do mundo, recebeu novo impulso, pois devido à atividade comercial dos
judeus novos termos para o idioma foram criados. Frequentemente, mercadores judeus traziam
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produtos da China, da Pérsia ou do Egito e os revendiam na Espanha, na França ou na Itália a
outros judeus, que se encarregavam de fazê-los chegar até os cristãos. O mesmo movimento se
repetia no sentido contrário, da Europa para o Califado. Finalmente, com a conversão ao islamismo
dos sírios, que até esta época haviam sido os grandes intermediários entre o Extremo Oriente e a
Europa, os judeus assumiram em grande parte o seu lugar, pois, os muçulmanos não eram bem
recebidos em terras cristãs.
É a partir do século IX que uma atividade vai atrair o interesse dos judeus: o crédito e os
empréstimos - a emissão de letras de câmbio ou suftaias (papel que autoriza seu portador a receber
certa soma em uma data pré-fixada).
Nada mais natural que os judeus, perfeitamente integrados no complexo sistema do comércio
muçulmano, viessem a participar também do negócio bancário. O empréstimo a juros, contudo,
nunca constituiu uma ocupação independente, estando vinculado com outras atividades bancárias,
como o câmbio de moedas. O padrão monetário do Império Bizantino tinha sido o ouro, enquanto
no Império Persa se utilizavam moedas de prata. Com a conquista islâmica, ambos os metais passaram a circular amplamente, sendo necessária a troca de moedas provenientes das mais variadas
regiões do Califado. Os judeus contribuíram com sua experiência para facilitar este câmbio,
estabelecendo equivalências e servindo mais uma vez como intermediários. Além disto, como os
impostos eram pagos quase sempre em dinheiro, os banqueiros frequentemente ocupavam-se
também da sua coleta, adiantando grandes importâncias ao governo e cobrando impostos para
recuperar seu capital. Também se desenvolveu o hábito de pessoas ricas depositarem seus bens em
casa dos banqueiros, para proteger-se de roubos, o que aumentou o volume de recursos destes para
financiar suas operações.
Além da grande participação no comércio de mercadorias e do dinheiro, os judeus
dedicaram-se também às profissões liberais, ao artesanato e ao comércio. As comunidades judaicas
necessitavam de numerosos profissionais especializados, como cantores, escribas e juízes. Os juízes
eram indispensáveis para resolver as complicadas questões trazidas pelo desenvolvimento
comercial. Os escribas, além de copiarem livros sagrados, desempenhavam funções semelhantes às
dos secretários e contadores atuais, redigindo cartas, recibos e documentos, e mantendo a escrituração das firmas comerciais. Um grupo importante era representado pelo pessoal das academias
rabínicas, cujos salários eram pagos em geral pela comunidade. Muitos judeus dedicavam-se à
medicina, tendo excelente reputação como profissionais competentes e fabricantes de remédios.
Finalmente, um grupo de judeus prestava serviços ao governo como funcionários públicos.
Apesar da proibição de empregar infiéis em cargos de confiança, os primeiros califas viam-se
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obrigados a fazê-lo nos territórios fora da Arábia, devido ao seu desconhecimento das leis e dos
problemas destas regiões. Como a estrutura administrativa herdada dos persas e dos bizantinos foi
conservada na sua maior parte, os novos governantes acharam útil entregar parte dos postos
burocráticos a membros das comunidades dos Dhimmis, que, por residirem há tempos nestes
locais, estavam familiarizados com as práticas usuais.
Resumindo, podemos dizer que os judeus não se segregaram nem foram segregados nas
ocupações normais e típicas do mundo muçulmano. Como intermediários entre a Europa e o mundo
islâmico, desempenharam papel importantíssimo. E o fato de participarem em todas as atividades
econômicas do mundo islâmico foi um fator poderoso para sua integração social e cultural, o que
beneficiou tanto o judaísmo quanto a civilização muçulmana.
Suftaias, ou letras de câmbio - Uma letra de câmbio é um papel que autoriza seu portador a
receber certa soma numa data pré-fixada.
Com tudo isso, por que os judeus não se assimilaram?
1. Os judeus não tinham os mesmos direitos legais dos muçulmanos;
2. A religião tinha um peso muito grande no mundo medieval;
3. O judaísmo é um conjunto de práticas, como o shabat, a kashrut, as festas, as orações, etc.;
4. Havia uma liderança centralizada: Exilarca e Gaon, o que dava uma sensação de unidade;
5. Eles tinham a esperança de retornar a Israel.
Sua integração no mundo muçulmano era econômica, mas seus laços religiosos com o
mundo judaico continuavam fortíssimos, eles viviam em comunidade e isso os tornava
muito unidos. Além disso, eles eram Dhimmis, segregados do resto da população, uma
minoria tolerada, e isso reforçou sua distinção com relação aos muçulmanos. A
discriminação exercida contra eles, embora fraca, aumentou sua solidariedade tradicional e
só os uniu mais ainda.
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A Figurã do Gãon e do Resh Gãlutã
(O Exilãrcã)
Exilarcas e Gueonim
Duas figuras dominam o cenário judaico no mundo muçulmano: o Exilarca e o Gaon.
O Exilarca era o chefe da população judaica que vivia sob o Califado. A instituição do
exilarcado é anterior à conquista muçulmana; o Nassi em Israel e o Resh Galuta na Babilônia
desempenhavam funções semelhantes. A extraordinária expansão do Islã, contudo, unificou em
poucos anos um número considerável de judeus sob o domínio do Califa. Da Espanha à Pérsia,
passando pelo Marrocos, Norte da África, Egito, Israel, Síria e Babilônia, os judeus viram-se
confrontados com a nova religião. Enquanto durou a autoridade do Califa, o Exilarca foi o chefe
desta vasta população judaica, o que trouxe ao cargo uma força e um prestígio muito grandes.
O Exilarca era escolhido em geral dentro da mesma família, que aparentemente descendia do rei
David. O cargo, com raras exceções, foi hereditário, isto é, o filho de um Exilarca o sucedia após sua
morte. Escolhido pelos rabinos e eruditos mais importantes, o Exilarca era a seguir nomeado pelo
Califa, como um Ministro para Assuntos Judaicos. Suas funções incluíam a nomeação de juízes para
os tribunais judaicos de quase todo o Califado, o recolhimento dos impostos a que os judeus, na
qualidade de Dhimmis, estavam obrigados, e, de maneira geral, o tratamento de qualquer problema
sério que surgisse com os judeus em todas as partes do Califado.
Como a autoridade do Exilarca estava estreitamente vinculada à do Califa, o apogeu da sua
influência coincide com o apogeu do poderio do Califado, isto é, entre os séculos VIII e IX. A partir
do ano 850, porém, vários fatores irão contribuir para que o prestígio e o poder efetivo do Exilarca
diminuam cada vez mais, até que, no século XIII, o cargo é extinto. A partir de então, e até o
estabelecimento do Estado de Israel, nenhuma autoridade judaica exerceu o mesmo papel que o
Exilarca.
Ao lado do Exilarca, a figura do Gaon assume importância fundamental neste período, a ponto
de ser ele denominado, em geral, de Período Gaônico. O Gaon era diretor de uma das famosas
academias rabínicas de Sura e Pumbedita. Fundadas durante o período persa, estas academias
foram responsáveis pela produção do Talmud da Babilônia. Após a conclusão do Talmud, no século
VI, elas continuaram a exercer considerável influência sobre os judeus de todo o mundo, por serem
os principais centros intelectuais do judaísmo, até aproximadamente o ano 1000. Nelas se continuou
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o estudo do Talmud, e os Gueonim eram considerados intérpretes oficiais da Lei, posição que lhes
era conferida pelas comunidades de todo o mundo e que é explicável pela importância enorme que
todos conferiam à Lei Judaica.
Ao contrário do Exilarca, o Gaon não era escolhido de uma única família, nem sua autoridade
derivava da autoridade do Califa. Seis ou sete famílias se revezavam na direção das academias, mas
o critério de seleção era o saber e a competência do candidato, e não o fato de ser ele filho do Gaon
anterior. Enquanto o Exilarca residia em Bagdá e era um funcionário da administração islâmica, o
Gaon morava na academia por ele dirigida e sua influência dependia unicamente da aceitação das
suas decisões pelas demais comunidades do mundo judaico. Como ao Gaon cabia a tarefa de
interpretar a Lei e fixar a atitude a tomar diante dos problemas da vida prática, sua influência era
muito mais ampla do que a do Exilarca, o que ocasionou frequentes choques entre os dois líderes do
judaísmo de então.
A grande contribuição que os Gueonim fizeram à História Judaica foi a difusão e a implantação
do Talmud como o código legal definitivo de todas as comunidades judaicas. Preparado nas
academias de Sura e Pumbedita, o Talmud era um livro, ou melhor, uma biblioteca, que pela sua
enorme extensão e complexidade era de difícil compreensão para a maior parte dos judeus daquela
época. O fato de ser redigido em aramaico, língua que a maioria do povo já não falava, aliado à
linguagem difícil, à sutileza dos raciocínios e à forma abreviada adotada pelos compiladores,
poderia ter tornado inútil todo o esforço de centenas de eruditos durante vários séculos, se os
Gueonim não tivessem se preocupado em divulgá-lo e explicá-lo para os quatro cantos do mundo
judaico. Para esta tarefa, que cobre todo o período que estamos analisando, contribuíram vários
fatores, como a unidade atingida sob o Islã, a invenção do papel, o enorme respeito à Lei divina,
manifestado pelos judeus, e a flexibilidade desta Lei em se adaptar às circunstâncias novas com que
se defrontava o povo judeu.
Exilarca: chefe da população. Era nomeado pelo califa e descendia da família do Rei
David. Era um ministro para assuntos judaicos. Suas funções incluíam a nomeação de
juízes para os tribunais judaicos do Califado, o recolhimento de impostos que os judeus
deveriam pagar e o tratamento de qualquer problema que surgisse com os judeus no
Califado.
Gaon: líder espiritual do povo. Era o homem mais erudito, e vivia em uma das
academias talmúdicas de Sura ou Pumbedita. Era muito querido pelo povo, e às vezes teve
problemas com o exilarca por ser mais respeitado que este.
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Talmud – Sheelot-u-Tshuvot
O papel, trazido da China pelos árabes, barateou enormemente o custo dos livros em geral. Com
sua utilização, tornou-se viável a cópia em larga escala do texto talmúdico, de forma que, em poucas
décadas, cada comunidade pôde ter seu próprio exemplar e, muitas vezes, mesmo indivíduos
puderam adquiri-lo e estudá-lo.
Mas de nada adiantaria o Talmud ser acessível economicamente se as comunidades não
desejassem adotá-lo como código legal. A adesão ao Talmud decorre da veneração que os judeus
sentiam pela Torá. Como o Talmud é uma interpretação e uma adaptação das leis bíblicas, os judeus,
desejosos de cumprir as leis nos menores detalhes da vida prática, aceitaram a versão talmúdica
destas leis como sendo a verdadeira. Ao mesmo tempo, a dificuldade do texto talmúdico gerou uma
série de dúvidas nas comunidades mais distantes, que não haviam participado da sua elaboração.
Estas dúvidas eram encaminhadas aos Gueonim, que as respondiam por escrito, criando o que se
chama sistema das Sheelot-u-Tshuvot (perguntas e respostas). A correspondência a respeito do
Talmud, bem como de outros assuntos que por qualquer razão preocupavam os líderes
comunitários do mundo todo, foi um importante fator para preservar a unidade do povo judeu
através de áreas geograficamente muito distantes.
Sob o impacto das novas condições, especialmente no campo econômico e social, os Gueonim
fizeram progredir notavelmente a lei talmúdica. Problemas novos requeriam soluções originais, e
uma das razões do êxito dos Gueonim no trabalho que se impuseram foi a espantosa flexibilidade
com que procuraram acomodar os princípios gerais do judaísmo às realidades novas, que iam
surgindo pela própria dinâmica da vida urbana. Esta combinação de respeito à tradição e realismo
prático permitiu que os judeus dispusessem de orientação eficiente sobre como proceder nas novas
situações, o que os auxiliou consideravelmente a manter-se unidos e leais aos costumes tradicionais.
Em três ou quatro séculos de atividade, registrada nos documentos de que dispomos, os Gueonim
haviam conseguido seu objetivo: implantar o Talmud solidamente como o principal livro de estudo
dos judeus, a que eles recorriam para orientar-se diante dos problemas mais variados.
O declínio do Período Gaônico
Por volta do ano 1000 vários fatores fizeram que a unidade obtida sob o controle das academias
fosse paulatinamente se rompendo. O declínio do Califado, que acarretou na sua divisão em várias
partes, tornou mais difícil a comunicação com o centro babilônico, contribuindo para diminuir a
influência dos Gueonim. Novos centros de estudo, como a Espanha, o Egito, a França e a Alemanha,
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foram aos poucos tomando o lugar da Babilônia, em parte estimulados pela emigração de rabinos
importantes para estas regiões. A diminuição do papel dos judeus no comércio internacional tornou
menos importante a necessidade de regras uniformes, favorecendo a autonomia das várias
comunidades locais no campo das leis e dos costumes.
O fechamento das academias de Sura e Pumbedita, ocorrido no século XI, apenas veio coroar o
processo de declínio da supremacia babilônica, tanto em relação a muçulmanos quanto a judeus.
Dois fenômenos, sobre os quais vamos falar agora, são representativos desta tendência à
descentralização: o movimento dos caraítas e o revigoramento do centro de Israel.
Os Kãrãim
O Movimento dos Caraítas
A difusão do Talmud pelas comunidades de todo o mundo não se fez sem dificuldades. Alguns
círculos resistiram a ela, e destes nasceu um importante movimento de contestação à liderança dos
Gueonim sobre a vida judaica: o grupo dos caraítas, que posteriormente viria a se separar do
judaísmo para formar uma seita à parte.
No século VIII, o mundo muçulmano vivia uma época de intensa movimentação cultural e
religiosa. Debates profundos eram travados entre os próprios muçulmanos a respeito da verdadeira
doutrina de Maomé. As mais estranhas tradições eram justificadas, atribuindo-se sua origem às
palavras do Profeta; uma espécie de Lei Oral islâmica estava se formando, ao que se opunham os
setores intelectuais, que preferiam se apegar ao texto escrito do Corão para descobrir quais crenças e
práticas eram válidas e quais não o eram.
Entre os judeus, especialmente entre aqueles que viviam no ambiente cosmopolita e sofisticado
de Bagdá, suspeitas semelhantes surgiram quanto à veracidade da Lei Oral judaica. Inicialmente, a
Mishná e a Guemará haviam sido transmitidas verbalmente, sem que se permitisse seu registro por
escrito. O conjunto de interpretações e tradições reunidas do Talmud, embora pretendesse ser
apenas a ampliação da lei bíblica, na verdade inovava em muitos aspectos. Uma das características
da lei judaica era precisamente esta capacidade de se modificar constantemente, ainda que sem
rejeitar abertamente nada do que estivesse escrito na Torá. O problema era o seguinte: estas
tradições compiladas no Talmud seriam realmente apenas um complemento da Torá, como
pretendiam os rabinos e os Gueonim, ou, ao contrário, eles teriam acabado por deformar a
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verdadeira Torá, à força de procurar adaptá-la às novas realidades? Os caraítas optaram pela
segunda hipótese, e, consequentemente, passaram a rejeitar todo o Talmud, indo diretamente contra
a tendência gaônica de implantá-lo em todo o mundo judaico.
A polêmica começou com Anan ben David, que, desgostoso por não ter sido nomeado Exilarca,
desafiou a autoridade dos Gueonim num ponto de importância crucial: o da fixação do calendário.
A Torá prescreve que o calendário deve ser elaborado com base na observação da lua nova a cada
mês. Com a dispersão dos judeus por todo o mundo, porém, esta regra tornou-se impossível de
cumprir, pois a lua nova não aparecia nos céus da Alemanha no mesmo dia que nos céus da
Espanha, do Egito, de Israel ou da Babilônia. Por isto, Hilel havia fixado um sistema matemático
para calcular o calendário, do qual dependia o estabelecimento das festas judaicas, visando à
unificação da sua observância em todo o mundo judaico. Anan ben Davi acusou os rabinos de
desobedecerem à prescrição bíblica, estando, portanto, eles e os que os seguiam em pecado
gravíssimo, trabalhando no "verdadeiro" Shabat, comendo no "verdadeiro" Yom Kipur, mantendo
pão fermentado no "verdadeiro" Pessach e assim por diante.
A divergência em torno do calendário logo se ampliou para todo o campo da lei judaica, tanto
ritual quanto civil e criminal. De maneira geral, Anan e seus seguidores pretendiam voltar à
observância estrita do texto bíblico, rejeitando tudo o que foi feito durante dezenas de gerações pelos
sábios talmúdicos. Mas, como a observância rigorosa era impossível, devido a pouca clareza das leis
bíblicas ou à sua inadequação à vida muito mais complexa da época islâmica, Anan decidiu que
todos teriam o direito de interpretar a Torá de acordo com suas próprias convicções e opiniões. O
lema de Anan era: "Procure bem na Torá, e não aceite cegamente a minha opinião".
O princípio da interpretação individual do Mikrá (Bíblia) — de onde vem o nome Karaim —
tornou o caraísmo atraente para uma fração intelectual do povo judeu, especialmente nas grandes
cidades, como Bagdá e Cairo. Isto se explica porque apenas eruditos, com capacidade de interpretar
textos difíceis por sua própria conta, poderiam ter algo a objetar ao Talmud, que consistia
precisamente em interpretações deste tipo. Por esta razão, o caraísmo nunca teve grande sucesso
entre as massas populares, tendo permanecido como religião de uma pequena parcela dos judeus.
O apogeu do caraísmo foi atingido durante as crises que abalaram a liderança babilônica a
partir dos meados do século X. Ele concentrou em si todas as forças que se opunham à unificação da
vida judaica sob o signo do Talmud; mas, como estas forças eram esparsas e os Gueonim
demonstraram suficiente habilidade para acomodar opiniões e costumes diferentes no âmbito da lei
talmúdica, o caraísmo não teve grande aceitação entre as comunidades mais distantes. Por outro
lado, a segregação total dos "impuros" — fossem eles judeus não caraítas ou adeptos de outra
15
religião —, pregada pelos líderes do caraísmo, contribuiu para o progressivo isolamento do grupo,
tanto dentro do judaísmo quanto fora dele. Ao contrário do que ocorreu com o Cristianismo, o
caraísmo não se expandiu e não se tornou um perigo para a sobrevivência do povo judeu.
O Revigoramento de Israel como centro do povo judeu
Desde a época da Guemará, a rivalidade entre Israel e a Babilônia fora uma constante na
História Judaica. As condições instáveis sob o Baixo Império Romano e o domínio bizantino haviam
enfraquecido a liderança israelense, enquanto a Babilônia se afirmava, através das academias de
Sura e Pumbedita, como o principal centro religioso judaico. Entretanto, a decadência da Babilônia,
a partir do século X, foi se acentuando, apesar dos esforços em contrário dos Gueonim.
Um dos fatores que favoreceram Israel nesta fase da evolução do judaísmo foi a contínua
ligação do povo judeu com o local, baseada em raízes tanto nacionais quanto religiosas. A
transferência de Israel para o domínio dos califas egípcios, ocorrida durante o século X, acentuou a
separação entre os dois centros, pois facilitava a comunicação entre Israel e as novas comunidades
situadas no Ocidente, como a egípcia, a espanhola e a da África do Norte.
O prestígio de Israel diante dos judeus das demais regiões, contudo, representava mais um
sintoma da decadência do centro babilônico do que o reconhecimento de uma superioridade
intelectual de seus sábios. Israel manteve o prestígio de ser o centro nacional e religioso dos judeus,
mas sua influência prática na formação da cultura judaica tornou-se muito pequena, até que, no
século XVI, a comunidade cabalística de Tzfat viesse a modificar novamente este panorama.
16
A Contribuição dos Mãssoretãs
Tanto as agadot quanto a história, porém, perdem em importância para outra preocupação dos
judeus daquela época: o estabelecimento de um texto definitivo para o Tanach, O livro sagrado
havia sido estudado e copiado por milhares de pessoas desde a época de Ezra. O problema era saber
se o texto existente era o autêntico ou se erros de cópia existiam, como resultado de sua circulação.
Esta questão era fundamental, pois da leitura e compreensão corretas da Torá dependia todo o
exercício da Lei Judaica. A polêmica com os caraítas também foi um fator importante para que os
sábios voltassem sua atenção para o texto, já que a força de seus argumentos dependia da correção
com que pudessem decifrar a palavra divina. O fato de os judeus não falarem mais o hebraico como
língua cotidiana, preferindo o aramaico e o árabe, criava o perigo de que em breve já não pudessem
mais compreender o texto, especialmente porque este não era vocalizado, isto é, não trazia a
indicação das vogais.
Todos estes fatores levaram a uma preocupação intensa com o problema bíblico. Foi em Tvéria
que os sábios israelenses se lançaram à tarefa de estabelecer de uma vez por todas qual era o
verdadeiro texto. Entre os anos 780 e 930, centenas deles pesquisaram cuidadosamente as várias
versões de todos os livros, e seu trabalho teve importância incalculável para o futuro do saber
judaico. Entre outras contribuições, estes sábios vocalizaram os textos, criando a representação
gráfica das atuais vogais hebraicas, dando-lhes a forma de pontinhos acima e abaixo das letras.
Estabeleceram também sinais de pontuação, equivalentes às vírgulas e pontos, para tornar mais
claro o sentido do texto. Como eles afirmaram estar estabelecendo o texto tradicional, receberam o
nome de massoretas, da palavra hebraica Massoret, que significa "tradição".
17
Para terminar, você deverá lembrar que:
Os seis séculos (V a XI) que analisamos neste capítulo são extremamente ricos em fatos
importantes para a História Judaica. Num rápido sumário, vamos agora sintetizar os principais
processos que afetaram a vida dos judeus no território do Califado, entre os anos 500 e 1050.
a)
A expansão do Islã unificou vastas áreas anteriormente pertencentes ao Império Persa e ao
Império Bizantino. As leis que restringiam a vida judaica nestas regiões e as crises econômicas,
políticas e militares que a haviam prejudicado no século e meio anterior à conquista muçulmana
(500-650) foram substituídas por condições novas e mais favoráveis.
b)
A atitude dos muçulmanos para com os judeus foi determinada por dois fatores: o contato
inicial de Maomé com os judeus da Arábia e a considerável quantidade deles que os
conquistadores encontraram nos novos territórios, especialmente no Império Persa. Fatores
políticos, econômicos e religiosos fizeram que a minoria judaica fosse protegida pelo Estado
Islâmico, através do estatuto de Dhimmis.
c)
O desenvolvimento da produção e do comércio sob o Islã, aliado à ausência de impedimentos
para que os judeus participassem dele, tornou possível uma grande integração econômica, que se
expressa pela progressiva urbanização dos judeus e por sua presença em quase todos os setores
da manufatura e do comércio. Um aspecto importante da vida econômica judaica neste período
foi a função de intermediários entre o mundo muçulmano e a Europa cristã, que os judeus
puderam desempenhar bem graças à sua presença em ambas as regiões. Sua participação em
profissões liberais, como a medicina, ou na burocracia governamental, também foi grande.
d)
A unificação de muitos territórios sob o controle do Califa ajudou a expandir a influência
do centro babilônico, especialmente através da figura do Gaon. Esta influência se exerceu no
sentido da propagação do Talmud, o que resultou na progressiva uniformização da Lei Judaica e
na transformação desta obra em guia dos judeus para se orientarem diante das novas condições
criadas pelo desenvolvimento econômico e intelectual.
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e)
A influência do Gaon e do Exilarca encontrou alguns obstáculos, representados pelas
tendências descentralizadoras que operavam no mundo judaico. O movimento caraíta contestou
a validade do Talmud, mas a inadequação das suas propostas à realidade de então acabou por
desvalorizá-lo e reduzi-lo às pequenas proporções de uma seita isolada. O revigoramento do
centro israelense forneceu uma alternativa à liderança babilônica, mas as fracas bases sobre as
quais ele se construiu e sua destruição pelos Cruzados em 1099 impediram que tivesse
consequências mais sérias. Por outro lado, a progressiva dissolução do Califado e as
divergências entre o Gaon e o Exilarca, que se acentuaram a partir do século X, contribuíram
para tornar cada vez menor a aceitação da hegemonia babilônica pelas demais comunidades. O
fechamento das academias e a emergência dos centros espanhol e egípcio assinalaram o final da
Época Gaônica na História Judaica.
f)
As condições econômicas, legais e intelectuais do mundo muçulmano estimularam a
produção cultural do povo judeu, que respondeu às novas realidades com uma reelaboração da
sua herança religiosa, influenciada pelas tendências intelectuais vigentes no Islã. A fixação do
texto definitivo do Tanach, realizada em Israel pelos massoretas durante o século IX, bem como a
correspondência dos Gueonim sobre os mais variados problemas da lei moral, ritual, civil e
criminal do judaísmo, representam os pontos altos desta criação intelectual. Paralelamente,
vemos a enorme variedade dos interesses judaicos expressar-se nas agadot, no misticismo, na
poesia e na historiografia.
Em suma, devido a todos estes fatores, podemos ver que a tolerância geral estendida pelo
Islã aos judeus permitiu que estes se integrassem à sociedade muçulmana, como grupo coeso e
unido, participando da sua maneira particular nos processos históricos do período. Esta
participação foi benéfica para ambos os lados, pois o judaísmo evoluiu bastante e os
muçulmanos receberam a colaboração judaica em todos os setores da vida econômica e cultural.
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I) Organização Jurídica do Califado:
Dhimmis
Muçulmanos
Cristãos
Judeus
II) Quadro resumido: Autoridades Judaicas
Exilarca
Gaon
Hereditário
Eleito
Funcionário do Califa
Líder religioso
Regulamenta os assuntos entre judeus e
muçulmanos
Interpreta o Talmud e renova a Lei Religiosa
Dirige as academias
Vive em Bagdá
III) Atividades Econômicas dos Judeus
Agricultura
viticultura (produção de uvas)
Artesanato
tingimento, ourivesaria, vidraria, etc.
Comércio
Mercadorias:
internacional: entre o Califado e a Europa
local: nas cidades
Dinheiro:
empréstimo e juros – câmbio de moedas
– Coleta de impostos
Profissões Liberais
medicina, ciências (várias)
Cargos Comunitários
rabinos, escribas, juízes, cantores, açougueiros, etc.
Cargos Públicos
na administração dos califados
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IV) Interesses intelectuais:
Elaboração e interpretação da Lei Judaica: Gueonim
Compilação de Agadot
Fixação do texto definitivo do Tanach: Massoretas
Misticismo: ―viagens‖ de alma para contemplar Deus
História do povo judeu
V) Principais autores e obras do período:
Agadot: Midrash, Tanhumá, ―Alfabeto de Bem Sirak‖, Pirkei de rabi Eliezer
História: Epístola de Sherira, Yossifon, crônicas
Texto Bíblico: atividades dos Massoretas em Tvéria
Poesia: Eleazar ben Kalir: hinos religiosos
Misticismo: Livro da Criação, dos Palácios e outros
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Íntrodução: Sob os ceus dã Espãnhã
A história do povo judeu na Península Ibérica é um dos capítulos mais fascinantes do seu
percurso ao longo dos séculos. Ponto de encontro entre as civilizações cristã e muçulmana, ela
serviu de palco à fusão do que de melhor havia nestas duas culturas, e a numerosa população
judaica que ali vivia contribuiu muito para modelar o esplendor e a riqueza que fizeram da
Península Ibérica a região mais avançada do mundo durante os séculos X e XI. Este período é
conhecido na História Judaica com o nome de "Época Áurea", e o título é plenamente justificado.
As condições sociais e econômicas favoráveis, somadas à tolerância religiosa e à efervescência
intelectual que caracterizaram estes dois séculos, permitiram aos judeus avançar em todos os
campos do conhecimento, além de desenvolver padrões comunitários próprios e expressivos.
A Espanha foi uma importante província do Império Romano até ser conquistada pelos
visigodos no começo do século VI. Para aumentar seu poder político, os reis visigodos foram
se aproximando da Igreja, e terminaram por converter-se ao catolicismo no final do século
VI. Este fato é de extrema importância para a história dos judeus, como veremos a seguir.
A expansão muçulmana, vinda da África do Norte, atingiu a Península Ibérica no ano
711. A monarquia visigótica, enfraquecida por suas lutas internas, caiu facilmente. E quase
toda a península passou a pertencer aos muçulmanos, que ali formaram um principado
independente do Califado de Bagdá, com capital em Córdova, o chamado Califado de
Córdova. Apenas uma parte das montanhas do Norte permaneceu com os cristãos, que
constituíram o minúsculo Reino das Astúrias.
Lentamente, os cristãos vão se expandindo para o sul, formando pequenos reinos, como
os de Castela e Aragão.
Os muçulmanos reagem, conseguindo deter a expansão cristã por cerca de um século,
mas a partir do século XIII, aumentam as possessões cristãs e, por volta de 1300, o domínio
muçulmano reduzia-se a uma pequena faixa no sul, o Emirado de Granada.
As linhas mestras da História Judaica na Península, portanto, são dadas por estes
acontecimentos que acabamos de descrever. O primeiro período é o do domínio visigótico,
nos séculos VI e VII. Segue-se o período do Califado de Córdova, entre 750 e 1030
22
aproximadamente. Nos séculos XI e XII, dá-se a divisão do território entre vários reinos,
muçulmanos e cristãos, mas a tendência é ampliar o domínio cristão e fazer recuar o
domínio islâmico. A partir de 1200, a Reconquista progride rapidamente, e quase todos os
judeus passam a viver sob o controle dos reis cristãos de Castela, Aragão e Portugal.
Os judeus nã Penínsulã Íbericã
O Período visigótico
Os judeus viviam bem, praticavam agricultura. Em 589, os visigodos foram convertidos
ao catolicismo e os reis tentaram fundir os súditos numa única nação.
A existência de uma minoria judaica os atrapalhava. Por isso, em 613, o rei Sisebuto
promulgou um decreto obrigando os judeus a converter-se ou abandonar o país. A partir daí,
a Igreja fez-se sentir mais. Os vários Concílios de Toledo se reuniram no século VII tentando
obrigar os judeus a cumprirem as leis - afastá-los da agricultura e do comércio com os
cristãos. O batismo forçado não resolveu a questão, pois eles acabavam voltando ao
judaísmo. Em 693 o Rei Égica confiscou todas as propriedades dos judeus, condenando-os a
serem escravos dos cristãos. Mas, em 711 os muçulmanos invadiram a Península e os judeus
os receberam de braços abertos, pois estavam sofrendo muito com as leis que os cristãos
impunham a eles.
Califado de Córdova (século VIII a X)
Após a conquista da Península Ibérica, os cristãos fugiram para o norte, para o reino das
Astúrias. Os muçulmanos fundaram o Califado de Córdova, onde funcionavam as mesmas leis
do Califado de Bagdá, o Estatuto de Dhimmis, Jízia e o Kharaj. Começou a Época Áurea para os
judeus espanhóis. Logo os judeus fundaram a primeiraacademia talmúdica em Córdova o rabino
da Babilônia, Bar Hanoch, foi o responsável por dirigi-la.
A paz e a prosperidade econômica fizeram surgir inúmeros judeus que pensaram e
escreveram sobre diversos assuntos durante a Época Áurea, principalmente sobre Filosofia,
Literatura, Halachá, Astronomia e Medicina.
23
Fragmentação da Península (século XI e XII)
O califado era composto por dois grupos muçulmanos - árabes e berberes – que lutavam
entre si pelo poder. Isso enfraqueceu o Califado e dividiu-o em pequenos principados. Os cristãos
se aproveitaram e começaram a reconquistar esse território. Em 1.085 já detinham 40% do mesmo.
A batalha decisiva recebeu o nome de Navas de Tolosa. No século XIII, a maior parte da Península
Ibérica já pertencia aos cristãos. Até o século XIV eles conseguiram expulsar completamente os
mouros de suas terras. O último reduto a ser reconquistado foi o Reino de Granada, que caiu em
seu poder apenas em 1.492.
Mas antes de estudarmos isso, vamos entender como o cristianismo cresceu na Europa e
como isso afetou os judeus que ali viviam...
24
A Igreja e os Judeus
Para começar o assunto, você vai precisar saber que:
O feudalismo tem inicio com as invasões germânicas (bárbaras), no século V, sobre o
Império Romano do Ocidente (Europa). As características gerais do feudalismo são: poder
descentralizado (nas mãos dos senhores feudais), economia baseada na agricultura e
utilização do trabalho dos servos.
Estrutura Política do Feudalismo
Prevaleceram na Idade Média as relações de vassalagem e suserania. O suserano era
quem dava um lote de terra ao vassalo, sendo que este último deveria prestar fidelidade e
ajuda ao seu suserano. O vassalo oferece ao senhor, ou suserano, fidelidade e trabalho, em
troca de proteção e um lugar no sistema de produção. As redes de vassalagem se estendiam
por várias regiões, sendo o rei o suserano mais poderoso.
Todos os poderes, jurídico, econômico e político concentravam-se nas mãos dos
senhores feudais, donos de lotes de terras (feudos).
Sociedade feudal
A sociedade feudal era estática (com pouca mobilidade social) e hierarquizada. A
nobreza feudal (senhores feudais, cavaleiros, condes, duques, viscondes) era detentora de
terras e arrecadava impostos dos camponeses. O clero (membros da Igreja Católica) tinha um
grande poder, pois era responsável pela proteção espiritual da sociedade. Era isento de
impostos e arrecadava o dízimo. A terceira camada da sociedade era formada pelos servos
(camponeses) e pequenos artesãos. Os servos deviam pagar várias taxas e tributos aos
senhores feudais, tais como: corveia (trabalho de 3 a 4 dias nas terras do senhor feudal), talha
(metade da produção), banalidade (taxas pagas pela utilização do moinho e forno do senhor
feudal.).
Economia feudal
A economia feudal baseava-se principalmente na agricultura. Existiam moedas na
Idade Média, porém eram pouco utilizadas. As trocas de produtos e mercadorias eram
comuns na economia feudal. O feudo era a base econômica deste período, pois quem tinha a
terra possuía mais poder. O artesanato também era praticado na Idade Média. A produção
era baixa, pois as técnicas de trabalho agrícola eram extremamente rudimentares. O arado
puxado por bois era muito utilizado na agricultura.
25
Os judeus do Ocidente
As invasões bárbaras reduzem a ruínas o império Romano do Ocidente. Os séculos V a XI são
de guerras e invasões, o que torna a vida muito insegura. A economia romana, baseada no comércio
e nas cidades, dá lugar à agricultura. As cidades desaparecem, surgem grandes propriedades que a
partir do séc. IX irão originar os feudos. Em meio à confusão, a Igreja aparece como a única
instituição estável.
A desagregação do Império Carolíngio (Carlos Magno) a partir de 840 vai dar início aos
principais países da Europa: França e Alemanha.
Os judeus são vistos como uma minoria rebelde e perigosa que se recusava a aceitar o
cristianismo por pura teimosia. A concentração dos judeus nas poucas cidades, exercendo uma
atividade econômica diferente, vivendo de modo diferente e observando leis e crenças diferentes,
torna-os um alvo fácil de desconfiança da população em geral.
Ao contrário do que ocorria no Império muçulmano, os judeus não eram protegidos por um
estatuto especial. Sua religião era vista como um conjunto de crenças e normas abomináveis.
26
A atividade econômica dos judeus no mundo bárbaro
Neste período da Idade Média, as pequenas propriedades são substituídas aos poucos pelos
grandes feudos. Como os judeus não podiam prestar o juramento de vassalagem feudal, porque este
era formulado em termos da religião cristã, o feudalismo é responsável pelo progressivo
afastamento dos judeus dos trabalhos agrícolas, especialmente na França e Alemanha. No entanto, a
agricultura judaica não desaparece inteiramente. Atividades que requeriam apenas o trabalho de
uma família, como a viticultura, os pomares, as hortas e o fornecimento de leite e ovos, continuaram
acessíveis a alguns judeus.
O grande setor da atividade econômica judaica será o comércio. Por pouco que ele
representasse no conjunto da economia da Alta Idade Média, sempre era preciso que alguém se
dedicasse a este tipo de atividade. Vimos que os judeus foram os intermediários entre o Ocidente
cristão e o mundo islâmico. O comércio internacional implicava grandes dificuldades numa região
mal servida de estradas e exposta a ataques de todo tipo. O comércio foi, então, confiado
principalmente aos judeus, devido às suas boas relações com o Islã. Na verdade, quando os judeus
eram admitidos em cidades e feudos deste período, estava quase sempre subentendido que se
dedicariam, ao menos em parte, e esta atividade comercial. Esta é a razão pela qual os judeus são
responsáveis por um trânsito constante, embora de proporções reduzidas, de mercadorias e de
ideias, do Islã para o resto da Europa.
A partir do ano 1.000, contudo, esta função passa a ser exercida por outros, especialmente pelos
mercadores das cidades italianas, como Veneza, Gênova, Pisa e Amalfi. Além do comércio
internacional, também as trocas regionais ou locais eram praticadas, mascates judeus percorriam a
Europa, trocando produtos em espécie com os camponeses e revendendo-as por dinheiro em outra
cidade.
Com a progressiva eliminação dos judeus do comércio internacional, passaram eles a dedicar-se
cada vez mais ao empréstimo a juros. Vários fatores contribuíram para esta transformação, que
atingirá seu ápice na Baixa Idade Média, mas cujas bases começam a assentar-se no período que
estamos analisando. A partir do ano 1000, a necessidade de capitais para financiar a expansão do
comércio reativou o negócio bancário. A proibição taxativa da Igreja de que os cristãos emprestassem a juros tornava os judeus os únicos em condições de realizar legalmente esta tarefa. Por
sua vez, estes estavam preparados para tanto, pois dispunham de reservas monetárias provenientes
da venda de suas terras aos cristãos e do comércio internacional. A imigração de judeus do mundo
27
islâmico para a Europa, acelerada pela desintegração econômica e política do Califado, fez que parte
do capital até então circulante no Islã fosse para a Europa.
Por outro lado, as taxas altíssimas de juro, que variavam entre 30% e 60%, multiplicaram
rapidamente o capital em poder dos judeus. Estas taxas se explicam pelos riscos enormes envolvidos
nos empréstimos, já que a probabilidade de perda das mercadorias por naufrágio ou roubo era
grande. Desta forma, o empréstimo e a troca de moedas passaram a representar papel considerável
na economia judaica a partir do século XI.
Em resumo, podemos dizer que a atividade econômica dos judeus os diferenciava
imediatamente da população cristã. Enquanto os cristãos viviam basicamente da agricultura, os
judeus foram se dedicando cada vez mais ao comércio, de mercadorias ou de dinheiro. As
numerosas restrições religiosas e legais à plena participação dos judeus na agricultura são
responsáveis por este fenômeno, cujas raízes são inteiramente históricas. Na qualidade de
comerciantes e banqueiros, os judeus preencheram uma função importantíssima na Alta Idade
Média, conectando o Ocidente cristão com o mundo islâmico e trazendo de lá produtos e ideias. À
medida que esta função vai passando para outros setores da sociedade, como a burguesia nascente e
os mercadores italianos, a posição dos judeus vai se tornando cada vez mais precária, até que, na
Baixa Idade Média, eles se tornem alvo de perseguições ferozes em toda a Europa Ocidental.
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Os Judeus sob ã dinãstiã Cãrolíngiã
O Império Carolíngio e a Proteção Imperial em Troca de Altos Impostos
A unificação temporária da Europa Ocidental sob a dinastia carolíngia — 770 a 840,
aproximadamente — teve grande influência na vida dos judeus.
Sob a dinastia dos Carolíngios, que, no seu tempo, governou a maior parte do continente
europeu, os judeus tiveram ampla oportunidade de prosperar economicamente. Uma vez que o
Mediterrâneo estava plenamente dominado pelas esquadras dos países islâmicos e infestado de
piratas, cresceu rápida e enormemente a importância dos tráfegos fluviais e terrestres.
Intercomunicavam os centros urbanos ao longo de rios como o Danúbio e o Reno, desde o Mar
Cáspio ao Atlântico, do Báltico ao Adriático. Não demorou e os judeus tornaram-se importantes
mediadores comerciais num mundo profundamente dividido entre o cristão e o muçulmano.
Poucos cristãos aventuraram-se a viajar pelos países islâmicos e menos ainda ousaram os
muçulmanos adentrar o continente europeu. Poucos cristãos falavam árabe e menor ainda era o
número de muçulmanos versados em latim. Os mercadores judeus aventuravam-se a conduzir suas
caravanas por terra e por mar, seguros de sempre encontrar quem falasse seu idioma, o hebraico, e
obedecesse à sua lei, o Talmud.
Carlos Magno (773-812) e Luís, o Piedoso, (814-840) foram os imperadores que colocaram os
judeus em geral - não só os mercadores-viajantes - sob uma legislação imperial especial. Entre outras
disposições jurídicas, as cartas-patente, emitidas na corte imperial, estendiam aos judeus proteção
de vida e de propriedade, permissão de manter escravos e empregá-los em suas atividades
comerciais e domésticas e, sobretudo, jurisdição própria mesmo em processos contra cristãos,
admitindo-se em litígios mistos o depoimento de testemunhas de ambas as religiões. Essa
autonomia judicial foi da maior importância, porquanto não só protegia os judeus contra abusos,
como impedia de eles serem condenados a penas que conflitassem com a lei judaica.
A vigilância sobre a aplicação correta dessas e outras disposições ficou confiada à supervisão de
um magister judaeorum, alto funcionário imperial encarregado dos negócios judeus. Claro que os
imperadores agiam por interesse próprio. Protegiam a vida de um judeu como se zela por uma
valiosa propriedade; assim, o assassino de um judeu era condenado à pesada multa, não em favor
da família enlutada, mas dos cofres imperiais.
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Tal favorecimento econômico e social da condição de vida dos judeus encontrava enérgica
resistência por parte da Igreja Católica. Agobardo, bispo de Lyon, foi o principal porta-voz da
oposição eclesiástica contra tais concessões legais, protestando junto ao rei Luís, o Piedoso, contra a
permissão da manutenção ou do comércio de escravos pelos seguidores da "superstição judaica",
bem como contra qualquer outro tipo de relaxamento das regras canônicas do isolamento social dos
judeus. Agobardo já havia mostrado sua vocação antijudaica através de tentativas, em várias
cidades, de batizar crianças judias à força, sendo repreendido pelas autoridades imperiais por tais
atos de violência. O rei proibiu também a atuação de missionários cristãos entre os escravos pagãos
mantidos por judeus e permitiu o emprego de escravos cristãos, desde que fossem dispensados do
trabalho aos domingos e nos feriados religiosos cristãos.
Essa linha de conduta foi mantida enquanto durou o Império Carolíngio e serviu de modelo,
após sua queda, à concessão de novas cartas de privilégio aos judeus por autoridades reais ou locais
entre seus sucessores, os reis de França e os imperadores alemães. Papas e imperadores, via de regra,
eram os mais eficazes protetores dos "seus" judeus. Enfim, um judeu assassinado era um
contribuinte a menos; e a propriedade roubada de um judeu diminuía sua produtividade, portanto
tinha que ser protegida. Era uma conta simples.
O período subsequente ao dos Carolíngios caracteriza-se por uma enorme diversidade de
condições sociais e espirituais na grande dispersão judaica: enquanto na Espanha se assiste ao início
do resplendor da idade áurea do judaísmo ibérico, em Eretz Israel a criatividade cultural está em
franco declínio. Também na Babilônia, o prestígio e a autoridade dos exilarcas entram em colapso.
Na Criméia, cai o reino judaico dos Kazares e grandes comunidades florescem em Isfahã, Shiraz,
Hamadã e Bukhara. Intelectuais sectários da Pérsia enriquecem a revolução caraíta e seu desafio ao
judaísmo rabínico. Academias da Tunísia e do Marrocos assumem lugares de eminência; as
brilhantes instituições de erudição judaica da Itália estimulam a incipiente cultura talmúdica das
comunidades franco-germânicas. Eis o pano de fundo, na virada do primeiro milênio, para grandes
transformações demográficas: judeus rumam do sul para o norte, do calor para o frio, do Oriente
para o Ocidente, do mundo muçulmano para o cristão. Mudanças que determinarão o aspecto e o
conteúdo da existência judaica no milênio seguinte.
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Os Novos Estãdos: Frãnçã, Sãcro-Ímperio e
Ítãliã
Os descendentes de Luís, o Piedoso, não souberam conservar unido o Império Carolíngio.
Depois de várias guerras, o Tratado de Verdun (843) dividiu o território imperial em três porções,
cabendo cada uma delas a um filho de Luís. A parte ocidental formou o reino da França; a parte
oriental originou a Alemanha, mantendo seu governante o título de Imperador do Sacro Império
Romano-Germânico; e a parte sul, correspondendo mais ou menos a Itália atual, foi dividida: o norte
tornou-se uma província do Sacro Império, a região central foi controlada pelo Papa e o sul ficou
dividido entre bizantinos e muçulmanos.
A França fragmentou-se rapidamente em numerosos ducados e condados, que deram origem ao
sistema feudal. Este se caracterizava pelo controle absoluto do senhor das terras sobre a população
que nelas vivia. Os judeus, consequentemente, viram-se "atribuídos" aos bispos e barões feudais,
senhores das terras. Frente à anarquia dos primeiros tempos do feudalismo, a Igreja continuou
sendo o principal fator econômico e espiritual, o que deu a suas opiniões sobre os judeus um peso
maior do que no tempo dos Carolíngios.
As comunidades principais, situadas em Aries, Marselha, Lyon e na Provença, tornaram-se
vítimas da prepotência feudal e eclesiástica. Daí que frequentemente apelassem ao rei para conter os
excessos dos barões e ao Papa para conter os excessos dos bispos. Os impostos continuaram sendo a
principal arma dos judeus para obterem proteção, mas a força dos poderes locais foi
progressivamente aumentando a pressão fiscal sobre as comunidades. Tais restrições, somadas ao
progresso do regime feudal, no qual os judeus pouco tinham a fazer, vão contribuir para que, cada
vez mais, eles se concentrem no empréstimo a juros, como forma de arranjar as quantias exigidas
pela "proteção" real.
Nos territórios da atual Alemanha, por outro lado, a presença de um governo central mais
eficiente beneficiou os judeus. Aqui também os impostos pagos ao Imperador garantiam uma
relativa estabilidade às comunidades em processo de formação. Entretanto, a pressão da Igreja e
das cidades tornava-se a cada ano mais forte. A burguesia urbana não tinha simpatia pelos judeus,
que encarava como concorrentes em potencial. Reagindo a estas pressões, vários imperadores
decretaram privilégios para os judeus. Um destes privilégios era importantíssimo: o direito de os
judeus governarem-se entre si de acordo com suas leis ancestrais. Este direito auxiliou
31
poderosamente a formar os padrões típicos da democracia judaica europeia, como veremos mais
adiante.
A Itália trocou de mãos tantas vezes, desde a conquista de Roma pelos ostrogodos, que é difícil
generalizar as condições judaicas neste país. De maneira geral, nos Estados do Papa, os judeus
viviam decentemente, sob as antigas leis romanas adaptadas pela Igreja. O Sul, sob controle
bizantino, muçulmano e posteriormente normando, teve altos e baixos, segundo a tolerância maior
ou menor dos governantes. Por ser um ponto central no mundo de então, o Sul da Itália tornou- se o
lugar de encontro das correntes culturais da época, o que, em relação aos judeus, é importantíssimo.
Pelo Sul da Itália, através das comunidades de Bari e Otranto, a Europa do Norte recebeu o Talmud,
bem como todo o movimento cultural dos judeus no mundo islâmico. Isto não poderia ter ocorrido
se, nestes locais, a comunidade judaica não desfrutasse de boas condições de vida. Embora pequena,
ela deve ter superado em números, os minúsculos contingentes judaicos da França e da Alemanha
da mesma época.
Sintetizando, podemos ver que entre os séculos VIII e XI os judeus da Europa Ocidental, embora
representando uma pequena fração do povo judeu, estabeleceram-se solidamente. A partir do
século XII, a comunidade europeia vai assumir a liderança do mundo judaico; as bases para este
processo são lançadas já durante a Alta Idade Média. O interesse das várias monarquias nos judeus,
tanto no aspecto comercial quanto no financeiro, faz que eles dependam cada vez mais da boa vontade real para manterem seus direitos e sua vida econômica. Entretanto, as forças que combatem o
controle dos reis — primeiro a Igreja, depois os senhores feudais e posteriormente as cidades, — vão
agindo lentamente contra os judeus, encarados como aliados da realeza. Estas forças serão
responsáveis pela deterioração da vida judaica na Baixa Idade Média. Neste primeiro período,
contudo, os judeus vivem relativamente bem, exercendo funções importantes na economia e na
sociedade da Europa Ocidental.
INSCRIÇÃO TUMULAR EM
NARBONNE, 689
Este epitáfio é o primeiro
documento sobre a existência
dos judeus na França.
32
Formação da Kehilá (comunidade) Europeia
Dois fatores concorreram para que o tipo de instituições desenvolvido pelos judeus nos
territórios ao norte dos Alpes e dos Pirineus representasse algo novo na História Judaica: as
condições políticas e econômicas da Europa deste período e a grande distância que a separava dos
centros judaicos mais importantes, a Babilônia e Israel.
A fragmentação política da Europa e os incessantes movimentos das fronteiras, devidos às
guerras entre os reinos bárbaros e à ascensão do feudalismo, fizeram que, em cada lugar, a
comunidade judaica fosse tratada de modo diferente, segundo as conveniências dos chefes locais e
da população por eles governada. Isto levou cada comunidade a enfrentar seus próprios problemas,
que poderiam ser bem diferentes dos problemas das comunidades mais distantes. Para dirigir os
assuntos comunitários e tratar com os governantes cristãos, surgiu em cada uma delas uma
liderança local, formada pelos judeus mais cultos ou mais importantes. A existência destas lideranças locais, somada à falta de um governo central forte, impediu que se verificasse na Europa o
surgimento de uma forte liderança central judaica. Nada existe aqui que se possa comparar ao
Exilarca ou aos Gueonim da Babilônia, cuja influência e poder muito deviam à sólida organização
administrativa do Califado.
Por outro lado, a distância do centro babilônico, a separação entre o governo do Califa e as
monarquias bárbaras, e a diversidade dos problemas enfrentados pelos judeus europeus, fizeram
que a influência do Exilarca fosse praticamente nula na França, na Alemanha e na Itália. Isto
impediu que estas comunidades se dirigissem à Babilônia para procurar orientação, e, ao contrário,
procurassem viver contando apenas com seus próprios recursos. Além disto, quando as primeiras
comunidades estruturadas surgem no século X, o prestígio babilônico já estava em declínio. Todos
estes fatores conjugaram-se para produzir algo revolucionário na História dos judeus: a comunidade
autônoma da Europa medieval, ou, como se chamava em hebraico, a Kehilá.
Esta autonomia é dupla: verifica-se tanto em relação aos poderes cristãos quanto em relação aos
centros judaicos do Oriente. Ela se manifesta de numerosas maneiras: pela eleição dos dirigentes,
pelos usos e costumes locais, pela formação de academias independentes, pela forma de cobrar os
impostos, etc. O modelo europeu de organização da vida judaica prevalece até hoje, com algumas
variações, nas várias partes da Diáspora. Por isto é importante o estudo de suas peculiaridades.
Ao contrário do que ocorria no Oriente, onde os chefes comunitários eram nomeados pelo
Exilarca, na kehilá europeia eles são eleitos pelo conjunto da população judaica. Não que houvesse
eleições como as atuais, com candidatos e partidos; a "eleição" frequentemente se resumia na
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indicação de um comitê de alguns membros para dirigir a comunidade. O caráter democrático está
aqui no fato de que estes dirigentes recebiam seu mandato do povo, em vez de serem apontados
pela autoridade central. Por outro lado, os líderes eram, na maior parte das vezes, pessoas eruditas e
com amplos conhecimentos da Lei Judaica. Como a educação era gratuita e acessível a todos os
meninos, praticamente qualquer um deles poderia vir a desfrutar de uma posição de prestígio,
desde que se destacasse nos estudos e tivesse fama de homem sábio.
As pequenas dimensões destas comunidades — raramente elas excediam algumas dezenas de
famílias — permitiam que todos se conhecessem, imperando uma confiança mútua entre todos os
judeus. Prova disto é o sistema de tributação: uma vez fixada a quantia necessária para pagar os
impostos comunais e os devidos aos governantes cristãos, cada pessoa declarava com quanto
poderia contribuir, em termos proporcionais à sua fortuna. Ninguém ia verificar se determinado
indivíduo estava se aproveitando dos demais, pelo simples fato de que todos conheciam a situação
de cada um.
Esta mesma autonomia se verifica nos usos e costumes locais. Só aos poucos a difusão do
Talmud foi uniformizando os costumes judaicos, mas, mesmo assim, cada lugar conservava
determinadas tradições típicas. Por exemplo, em algumas comunidades, era costume rezar com a
cabeça descoberta, ou pregar as mezuzot do lado de dentro das portas. Os rabinos locais
proclamavam certas regras, chamadas Takanot, que só vigoravam na região em que eram
conhecidos. Uma destas takanot, determinada pelo famoso Rabi Guershom, proibia a poligamia
entre os judeus de sua cidade. Devido à celebridade deste rabino, sua ordem foi acatada em todos os
centros judaicos da Europa, pois, por razões econômicas e sociais, quase todos os judeus já haviam
abandonado a poligamia, embora fosse permitida pelo Tanach.
A permissão para que os judeus se governassem como melhor entendessem nada tinha de
extraordinário para a mentalidade medieval. A sociedade cristã também era dividida em grupos
dotados de normas próprias, como as corporações, as ordens de cavalaria e os mosteiros. Os judeus
constituíam mais um dos tantos grupos relativamente autônomos que formavam a sociedade
medieval. Desde que cumprissem as obrigações que deviam ao rei, como os impostos, eles eram
deixados em paz, para viver como desejassem no interior de sua própria comunidade.
A autoridade rabínica era facilmente aceita pelos judeus. Concentrados, em geral, na mesma rua
ou no mesmo bairro, os judeus constituíam um grupo social muito homogêneo, isto é, de
características muito semelhantes. Um dos fatores que preservaram os judeus da Europa como tais
foi, justamente, a observância rigorosa das leis religiosas, que, como vimos, abrangiam todos os setores da vida prática. Muito importante é notar que nesta época, o rabinato não era remunerado: o
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título de "Rabi" era conferido aos estudiosos mais destacados, que poderiam ser comerciantes,
agricultores ou ter qualquer outra profissão.
As características próprias da Europa e o caráter das comunidades judaicas, portanto, geraram
um tipo de autogoverno inédito na História Judaica. Este foi o modo pelo qual os judeus
responderam às condições precárias que os cercavam, tanto pelo sistema sócio-político da Europa,
quanto pela pequena população judaica e pela distância dos centros orientais. A kehilá será, daí em
diante, a forma duradoura de organização dos judeus, e seus padrões de liderança, baseados na
santidade e na erudição dos dirigentes, terão grande influência no desenvolvimento posterior do
judaísmo.
- A Kehilá judaica da Europa Ocidental era autônoma e livre para exercer um autogoverno. Era também democrática, ou seja, seus líderes e representantes eram escolhidos
através de sorteio ou votação, e os cargos eram rotativos.
- As Kehilot eram pequenas, cerca de 50 a 70 famílias apenas, e viviam juntos, num
mesmo bairro ou rua, chamada Judengasse.
- Os judeus podiam ficar em determinado local desde que pagassem os impostos ao
Rei.
- Quem comandava a Kehilá era o Parnás, ou o presidente, e ele elegia um Conselho
Comunitário para ajudá-lo a administrar a vida dos judeus.
- Quem arrecadava os impostos para transferi-los aos cofres reais era o Gabai, ou
tesoureiro. Além dos impostos pagos ao Rei, os judeus tinham que pagar algumas taxas para
administrar a própria Kehilá.
- Essas taxas eram arrecadadas na Kupá, ou caixa.
- Este dinheiro era usado para pagar o professor ou melamed, o zelador da sinagoga, ou
shamash, o Hazan ou cantor da sinagoga, e mais tarde também o rabino. Além disso, a
comunidade se preocupava com os pobres e os doentes, e financiava uma ajuda.
- Outra sociedade voluntária era a Hevra Kadisha, que cuidava do cemitério.
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Neste capítulo você aprendeu que:
A Alta Idade Média constitui o período de formação do judaísmo europeu. Vamos resumir os
principais processos que afetaram a vidas das comunidades da França, Alemanha e Itália durante
os seiscentos anos que vão da conquista de Roma pelos ostrogodos (476) à Primeira Cruzada
(1096).
a) A desarticulação do Império Romano do Ocidente mergulha a Europa em condições
desfavoráveis, seja do ponto de vista econômico, seja do ponto de vista cultural. A Igreja
assume aos poucos um papel decisivo nestas regiões, por ser a única estrutura solidamente
organizada. A influência eclesiástica sobre a mentalidade dos bárbaros é enorme, devido à
autoridade divina de que está investida a Igreja. A falta de um poder político centralizado
permite que os senhores, bispos e reis locais detenham grande autonomia para tomar suas
decisões.
b) Tais condições determinam a posição que os judeus irão ocupar na sociedade. Embora seu
número seja muito reduzido, seu papel comercial é importantíssimo, representando eles
basicamente os elos que ligam a Europa Ocidental aos centros mais desenvolvidos do
Mediterrâneo e do Oriente. Aos poucos, a evolução econômica vai retirando dos judeus esta
função; eles passam então a se concentrar no empréstimo e no financiamento das operações
comerciais e militares.
c) Membros de uma religião maldita, os judeus dispõem de uma segurança extremamente
limitada. A Igreja, por várias razões, mantém diante deles uma atitude ambígua: permite que
continuem a existir, mas faz questão de isolá-los do convívio com a população cristã. A
pressão no sentido de converter pelo menos alguns judeus vai aumentando, como o provam
os sermões especiais para os judeus e as disputas em torno do Tanach.
d) Ao mesmo tempo, o interesse dos reis pelos judeus se deve à função que eles executam
através do comércio, e também ao fato de serem os impostos judaicos uma importante fonte
de renda para o tesouro real. Por isto, os reis procuram proteger os judeus das restrições que
a Igreja, o feudalismo e as cidades vão lentamente lhes impondo.
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e) Estes fatores, somados à distância que separa a Europa Ocidental do centro judaico no
mundo islâmico, originam um novo tipo de comunidade, que se caracteriza pela
autonomia das lideranças locais. Estas são escolhidas pelos judeus de cada lugar entre os
homens mais cultos, mas a possibilidade de todos se educarem torna o sistema bastante
democrático. A autonomia judaica é perfeitamente normal dentro da sociedade da época,
marcada pelo particularismo dos grupos de vários tipos. Encorajada pela permissão para
se autogovernar, a comunidade típica desenvolve seus próprios padrões de
comportamento social e religioso.
f) O isolamento dos centros intelectuais judaicos e o baixíssimo nível da cultura geral a
seu redor leva os judeus da Europa a criarem suas próprias instituições de estudo.
Homens como Guershom de Mainz e Rashi dão ao pensamento judaico um caráter
marcadamente religioso, sem muito interesse pelas ciências tão avidamente cultivadas no
Islã. Ao mesmo tempo, a necessidade de polemizar com a Igreja origina um estudo
intenso da Torá, de grande interesse para os intelectuais judeus daquela época.
Em suma, apesar das condições pouco estimulantes, o judaísmo ocidental se consolida
durante estes seis séculos, lançando bases sólidas que lhe permitirão desempenhar, na Baixa
Idade Média, as funções de novo centro judaico mundial.
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Entre ã espãdã e ã cruz
Os quatrocentos anos que vão da Primeira Cruzada (1906) à descoberta da América (1492)
presenciaram grandes transformações na Europa Ocidental. Do ponto de vista econômico, a
agricultura de tipo feudal cedeu lugar ao renascimento do comércio e da manufatura; no aspecto
político, a ordem feudal foi substituída pelos novos Estados nacionais na França e na Inglaterra,
enquanto na Alemanha e na Itália perdurava a divisão do território em numerosas autoridades
locais. A Igreja, depois de alcançar seu apogeu no século XIII, foi perdendo sua influência política e
moral sobre a Europa Ocidental. A cultura recebeu um poderoso impulso das cidades, surgindo pela
primeira vez na Europa cristã uma camada intelectual fora da Igreja. Para os judeus, estas
transformações trouxeram consequências de grande importância.
A extrema hostilidade da Europa em face dos judeus, durante a Baixa Idade Média, só pode
ser compreendida se levarmos em conta os processos econômicos, sociais e políticos desta época
agitada. Durante os séculos XII a XV quatro elementos são importantes para entendermos como vai
ficar a situação dos judeus: as modificações na situação da Igreja, o declínio do Império, o
surgimento dos Estados Nacionais e a expansão das cidades.
As Cruzadas
As Cruzadas foram movimentos militares cristãos em sentido à Terra Santa com a finalidade
de ocupá-la e mantê-la sob domínio cristão.
O termo Cruzada não era conhecido na época em que ocorreram. Só foi assim nomeado porque
seus participantes se consideravam soldados de Cristo e se distinguiam pela cruz em suas roupas. Na
época em que ocorreram, eram chamadas de peregrinação ou de guerra santa pelos europeus. No
Oriente Médio, contudo, eram chamadas de invasões francas, em função da maioria dos cruzados
serem provenientes do Império Carolíngio e de se autodenominarem francos.
Quando o Papa Urbano II convocou os cristãos a libertarem o Santo Sepulcro das mãos infiéis
dos muçulmanos, seu pedido foi amplamente atendido. Entre 1095 e 1096, milhares de cavaleiros e
camponeses se juntaram para iniciar um movimento político-religioso sem precedentes na história
da Europa. Uma onda de fervor religioso varreu a Europa; monges pregavam o abandono da vida
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terrena e incitavam os fiéis a marchar rumo a Jerusalém. A nobreza, então no apogeu, forneceu os
comandantes e as armas, e o Ocidente embarcou de corpo e alma na guerra santa contra o Islã.
Não só contra o Islã, porém. A presença de infiéis no próprio coração da Europa tornou-se
subitamente intolerável. Por que arriscar-se a uma viagem de vários anos para purificar a Terra
Santa, quando os judeus, assassinos de Cristo, permaneciam tranquilamente em suas comunidades
na França e na Alemanha? O fervor cristão das multidões combinou-se com a possibilidade de obter
riquezas de modo rápido e fácil; o resultado foi uma onda de massacres que abalou as comunidades
do Reno e deixou uma marca indelével na história das relações entre judeus e cristãos.
Em nome da religião, e aos gritos de "Deus o quer", a violência desenfreada dos Cruzados
tinha uma garantia de impunidade. Durante o verão de 1096, cerca de 5000 judeus — um terço da
população israelita da Alemanha — foram assassinados em Worms, Colônia e Mainz, para não falar
das comunidades menores. Já durante o século XI, a hostilidade contra os judeus fora aumentando;
considerados como estrangeiros, eram encarados pela população com desconfiança e desprezo.
Durante a perseguição, era dada a opção entre o batismo e a morte. Para não serem obrigados a
renunciar à sua fé e a seus costumes, numerosos judeus se suicidaram, era o chamado Kidush
Hashem, ou Santificação do Nome de Deus: melhor morrer que profanar o Nome sagrado. Poucos
foram os judeus que se deixaram batizar; o suicídio coletivo era encarado como a resposta adequada
ao que lhes parecia ser uma provação imposta por Deus.
Os massacres da Alemanha repetiram-se em Israel. A Cruzada atingiu seu objetivo: os
muçulmanos foram derrotados e os Santos Lugares do cristianismo ―reconquistados‖. Os Cruzados
entraram em Jerusalém em 1099; os judeus e muçulmanos da cidade foram imediatamente
degolados, as sinagogas incendiadas e os cemitérios profanados. Em Israel, instalou-se o reino latino
de Jerusalém, juntamente com outros principados e feudos ao longo da Síria, do Líbano e da
Turquia. Os novos Estados, contudo, não duraram muito; a queda do primeiro deles, em 1146,
suscitou a Segunda Cruzada.
A Terceira Cruzada foi organizada em 1188-1190, porque os muçulmanos haviam
reconquistado Eretz Israel. Durante a Terceira Cruzada ficou conhecida pelos massacres de judeus
na Inglaterra, especialmente nas cidades de York e St. Edmunds. A comunidade de York, sob a
inspiração de seu rabino, imitou o exemplo alemão e suicidou-se em massa: a morte em nome do
Kidush Hashem, de preferência às conversões forçadas.
As Cruzadas continuaram ainda durante o século XIII e parte do XIV, mas já sem a força das
três primeiras.
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A “Diabolização” dos Judeus
As Cruzadas deixaram uma profunda marca na imagem do judeu perante o mundo cristão.
Cada vez mais, passou ele a encarnar o Mal; sua presença foi-se tornando odiosa, simbolizando o
perigo e o terror.
O fato de que agora os europeus faziam trocas dentro dos próprios países, fez com que eles
não mais precisassem dos judeus para comerciar entre a Europa e o mundo islâmico, assim, os
judeus acabaram empurrados para o comércio do dinheiro. Como o empréstimo a juros era proibido
aos cristãos pela Igreja os judeus eram os únicos que podiam exercê-lo legalmente. Ao invés de ser
percebida como indispensável aos novos processos econômicos, a atividade bancária dos judeus
passou a ser vista como mais uma tentativa de prejudicar os cristãos.
Esta suspeita de que os judeus desejavam o mal para os cristãos logo encontrou uma forma de
expressão: as acusações de que o culto judaico necessitava do sangue de um cristão para ser
realizado. Para obter o sangue de que precisavam, os judeus estariam matando pessoas,
especialmente crianças. A lenda do "assassinato ritual" começava a tomar forma.
Iniciando-se na Inglaterra por volta de 1140, a acusação de assassinato ritual espalhou-se
lentamente pela Europa. A princípio, dizia-se que os judeus matavam um cristão em Pessach, para
utilizar seu sangue na fabricação de matzot. Depois, cada vez que um assassinato misterioso ocorria
em alguma cidade, a culpa era imediatamente lançada aos judeus. Durante o século XIII, o mito foi
tomando outra forma: dizia-se agora que os judeus roubavam hóstias das igrejas, para espetá-las até
que vertessem sangue. Como a hóstia é para os católicos o corpo de Cristo, era como se os judeus,
não contentes em torturá-lo uma vez, quisessem repetir as torturas nas hóstias sagradas. Devido a
estas acusações, numerosas comunidades foram atingidas durante a Baixa Idade Média, tendo
centenas de judeus sido torturados, enforcados e queimados vivos. O mito do assassinato ritual e da
profanação da hóstia criou fundas raízes, permanecendo vivo até o século XX, quando voltou a ser
utilizado pelos nazistas.
Além do fator econômico e do fator religioso das acusações de sangue, a atitude da Igreja
também contribuiu para criar a imagem do judeu como figura repelente e perigosa. O Quarto
Concílio de Latrão, convocado em 1215, no auge do poder da Igreja, adotou novas medidas de
segregação contra os judeus. Ao mesmo tempo em que reconhecia o seu direito de viverem em
comunidade autogovernadas, o Concílio procurou afastá-los ainda mais dos cristãos, mediante a
adoção de um distintivo especial e de bairros separados para isolá-los.
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O distintivo representava uma enorme humilhação. Sob a forma de um disco amarelo e de um
chapéu pontudo, ele foi sendo aos poucos adotado em toda a Europa Ocidental; no século XV, seu
uso era amplamente difundido. Variando de jugar para lugar, seu sentido era sempre o mesmo:
separar o judeu da sociedade e marcá-lo como um ser desprezível. A identificação fácil, através deste
sinal grotesco, tornou os ataques aos judeus tão numerosos que a Igreja acabou por dispensá-los de
seu uso durante as viagens.
A decadência do poder da Igreja a partir do século XIV foi interpretada como uma artimanha
do Demônio, cujos aliados eram vistos nos judeus e nas bruxas. A crença nos poderes maléficos de
Satanás era amplamente difundida na Idade Média, e o horror que ele suscitava encontrou sua
expressão na perseguição antissemita e na caça às bruxas.
São estas as condições que tornam a vida dos judeus insuportável durante a Baixa Idade
Média. Constituindo uma minoria detestada, eles foram naturalmente afetados pelas tensões
econômicas e sociais do período; como bodes expiatórios dos males que afligiam a Europa, sua
condição se deteriorou lenta e firmemente. Empurrados para a usura, suspeitos de aliança com o
Diabo, vítimas da anarquia social e econômica, segregados pouco a pouco pelas normas das cidades
e da Igreja, os judeus acabaram por ser expulsos da maior parte dos territórios ocidentais. Antes,
porém, participaram da vida europeia de outra maneira: fornecendo recursos para as monarquias
nascentes. Vamos estudar agora a situação dos judeus na Inglaterra, na França e no Sacro Império,
pois em cada área as condições locais impuseram um tratamento diferente às comunidades judaicas.
Inglaterra
Os judeus chegam à Inglaterra com Guilherme, o Conquistador, em 1066. E este viu
perfeitamente quão úteis lhe poderiam ser os "seus" judeus, para fornecer os fundos indispensáveis
à manutenção de sua administração, cobrando altos impostos. Por esta razão, desde o século XII os
monarcas ingleses permitiram que os judeus se dedicassem à usura, cobrando altas taxas de juros,
que chegavam frequentemente aos 86%. Esta riqueza acumulada pelos judeus era-lhes em seguida
extraída através de impostos, multas, taxas e outros métodos às vezes violentos. O "judeu do rei"
exercia assim uma função de esponja: absorvia riquezas dos vários setores da sociedade e depois era
"espremido" pelo tesouro real; desta maneira, o rei inglês chegou a se converter num verdadeiro
sócio do banqueiro judeu.
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A hostilidade contra os judeus manifesta-se durante o século XII. A Inglaterra é o primeiro
país onde surge a acusação de assassinato ritual (Norwich, 1146), e, às vésperas da Terceira
Cruzada (1188), os massacres de York são extremamente sangrentos.
Os nobres viam nos judeus instrumentos da supremacia real, pois as riquezas coletadas sob a
forma de juros acabavam encontrando, de uma forma ou de outra, o caminho das arcas do rei. O
clero não hesitava em pedir empréstimos aos judeus, mas a necessidade de pagar estes empréstimos,
tornava-o um inimigo poderoso dos judeus. Por fim, as cidades — onde frequentemente surgiam
acusações de sangue — viam no judeu apenas um usurário, e, com o ódio religioso acirrado,
também favoreciam sua eliminação.
Durante o século XIII os judeus passaram a ter que pagar impostos ainda mais altos, pois o rei
necessitava de dinheiro para suas guerras e suas construções. Para pagar esses impostos, os judeus
aumentavam a pressão sobre seus devedores. Acabou por erguer-se um clamor nacional contra o rei
e contra os judeus e, naturalmente, a corda arrebentou do lado mais fraco: como era impossível
derrubar o rei, que se expulsassem os judeus. Assim, os judeus foram expulsos por Eduardo I em 9
de Av de 1290.
Não haverá judeus na Inglaterra até 1657, quando, provenientes da Holanda, lentamente serão
readmitidos nas Ilhas Britânicas.
França
Assim como na Inglaterra, a evolução da história dos judeus na França foi largamente
determinada pelas condições políticas e econômicas do país. O avanço do poder real traz um
aumento da influência da Coroa sobre os judeus, que passam a ser vistos como fonte de renda
indispensável para o custeio das guerras travadas pelo rei contra os nobres.
Por outro lado, o apoio dos burgueses nesta expansão da monarquia francesa era
importantíssimo; e os burgueses tinham todas as razões para procurar limitar os direitos judaicos.
Esta combinação de fatores fez que a situação dos judeus da França fosse aos poucos piorando, até a
expulsão definitiva em 1394.
Devido ao processo de formação da monarquia, muitos judeus pertenciam aos nobres e não ao
rei. Isto impediu que as condições da Inglaterra se repetissem na França; a maneira pela qual os reis
se apossavam da riqueza judaica, portanto, não era a associação, mas sim a expulsão. Já em 1182, o
rei Filipe Augusto os expulsa, apropriando-se de suas terras; mas em 1198 readmitiu-os, pois
necessitava de recursos financeiros para seus projetos de conquista. Filipe, o Belo, em cujo governo
(1284-1315) esta tendência se acentuou, decretou a segunda expulsão em 1306.
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Readmitidos em 1315, os judeus são novamente expulsos em 1322, sob o impacto da revolta
camponesa dos Pastoreaux (pastorzinhos). Esta revolta, associada a uma nova Cruzada, percorre a
França de norte a sul, massacrando as comunidades judaicas, sobre as quais recaía a suspeita de
conspirarem com os leprosos para destruírem o povo francês.
Se durante a Peste Negra apenas uns poucos judeus viviam na França, a guerra dos Cem
Anos, iniciada em 1337, logo exigiu vultosas somas para seu financiamento. Inicialmente, os
franceses sofreram várias derrotas, o que obrigou a uma mobilização dos recursos do país. Pela
terceira vez, em 1359, os judeus voltam ao território francês, pois sua utilidade se tornava de novo
evidente. Mas o descontentamento da população com os maus governos, com as derrotas frente aos
ingleses e com os impostos excessivos, encontrou fácil válvula de escape na perseguição aos judeus.
Para aplacar a população revoltada, Carlos VI expulsou-os no dia de Yom Kipur de 1394.
Sacro Império Romano-Germânico
Ao contrário do que ocorreu na França e na Inglaterra, no Sacro Império Romano-Germânico
não se constituiu uma monarquia centralizada. A diminuição progressiva da autoridade imperial
dificultou o cumprimento das promessas de proteção obtidas em troca dos impostos.
Consequentemente, a história dos judeus alemães durante os séculos XIII a XV é uma sucessão
ininterrupta de humilhações e massacres, que acabaram por diminuir sensivelmente a população
judaica e levaram à emigração maciça para o Leste da Europa.
As acusações de profanação da hóstia começam em 1298. Durante todo o século XIV, se
repetiram os massacres das Cruzadas, agora muito mais violentos. No começo do século, bandos
armados percorriam o Sul da Alemanha, queimando judeus sob o pretexto de que profanavam as
hóstias e matavam cristãos. Em 1336 e 1337, houve novos incidentes, que culminaram com o terror
organizado durante a Peste Negra. Cerca de duzentas comunidades foram massacradas em menos
de três anos, praticamente extinguindo a população judaica do vale do Reno e das cidades do Norte.
No Sul da Alemanha e na Áustria, a situação era um pouco menos trágica. Poderosos duques e
condes viam nos judeus instrumentos muito úteis para serem mortos. Sob a sua proteção, comprada
a peso de ouro, judeus conseguiram sobreviver até o século XV, tornando-se a cidade de Praga um
importante centro cultural nesta época.
Nas cidades do Norte, contudo, a vida econômica sentia a ausência dos judeus. Várias delas os
chamaram de volta durante a segunda metade do século XIV; a imigração dos judeus franceses, a
partir de 1394, também contribuiu para aumentar um pouco o número deles. Mas já não eram
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cidadãos comuns; dois séculos de discriminação, distintivos, chapéus pontudos e ódio generalizado
haviam-nos tornado um grupo fechado e desconfiado, praticando profissões desprezadas e que não
lhes permitiam viver dignamente. A partir de 1388, sucederam-se as expulsões, de uma cidade atrás
da outra, obrigando-os a viverem constantemente com a mala nas costas. Data desta época a lenda
do "judeu errante", que vaga de lugar em lugar sem encontrar repouso, pagando seus pecados; —
especialmente a morte de Cristo — com sofrimentos inimagináveis.
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Os judeus nã Penínsulã Íbericã
Depois de analisarmos os processos históricos que afetaram os judeus da Europa do
Norte durante os séculos XI a XV, vamos retornar agora à evolução daquela parte do povo
judeu que vivia na Península Ibérica. Você já estudou o seu desenvolvimento sob os
muçulmanos, quando as condições sociais, políticas e econômicas permitiram o surgimento
da Época Áurea. Mas a expansão dos reinos cristãos, conhecida com o nome de
"Reconquista", vai afetar bastante a situação dos judeus espanhóis. Os processos que se
desenvolvem a partir do século XIII, podem ser divididos em dois períodos. Inicialmente, as
necessidades políticas e econômicas impõem a tolerância em relação aos judeus; mas a partir
de meados do século XIV, a pressão combinada da burguesia, do clero e da monarquia vai
aumentando, até culminar na expulsão definitiva no final do século XV. É à análise desta
evolução que dedicaremos este capítulo.
A Reconquista
A Reconquista foi um movimento militar cristão, desenvolvido do norte para o sul da
Península Ibérica, de recuperação dos territórios conquistados pelos muçulmanos. A
Reconquista iniciou-se logo após a invasão muçulmana e durou até 1492, quando o último
reino árabe foi conquistado pelos cristãos.
A reconquista cristã era uma guerra, uma luta contínua, ao mesmo tempo religiosa e
nacional. Ela possuía um só objetivo: reconquistar todas as terras e tudo o que nelas existia.
Com a reconquista cristã de terras da Espanha e Portugal, os judeus passaram
novamente a viver sob o domínio da Igreja. No século XIII, no auge do poder da Igreja, a
princípio, os judeus não foram perseguidos pelos cristãos, pelo contrário, eles foram muito
bem recebidos, pois os reis católicos precisavam de gente para povoar as terras conquistadas.
Os judeus podiam, inclusive, comprar terras e trabalhar na agricultura. Os muçulmanos que
decidiam ficar em terras espanholas eram chamados de mouros, moriscos ou mudejares e
constituíam uma parcela considerável da população. Como existiam muitas pessoas de
outras religiões e os cristãos precisavam delas para povoar seu território, decidiram praticar
a política da tolerância. Era a época da Espanha das três religiões, isso aconteceu durante
todo o século XIII. Surgiam novas vilas e cidades. O comércio era retomado. As comunidades
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judaicas se multiplicavam e os judeus trabalhavam em tudo: artesanato, agricultura e
comércio. Os reis protegiam os judeus porque queriam dinamizar a economia e lhes
permitiam autogovernar-se como bem quisessem. Os judeus, em troca, auxiliavam os reis na
administração, que aprenderam durante o Califado de Córdova.
Foram cobradores de impostos eficientes e, às vezes, cobravam até o dízimo para a Igreja.
O s burgueses protestavam contra a presença de judeus em cargos tão altos. Esse
descontentamento explodiu em 1391. Os judeus eram 3% da população, mas muito visíveis nas
cidades, onde constituíam às vezes 30% ou mais, chegando até a 50%, sendo que o luxo e o
prestígio dos tesoureiros da Corte contribuíam para identificá-los mais facilmente. Daí a
preocupação da Igreja em limitar seus direitos e exigir a implantação de distintivos, bairros
separados e outras disposições adotadas no "Concílio de Latrão" (1215). Em Aragão a população
era mais forte, com 75.000 judeus, e mais próxima da França, abrigava a maior comunidade
judaica no século XIII.
Conforme os cristãos vão aumentando suas conquistas, os muçulmanos fogem para o
califado de Bagdá e as terras recém-conquistadas precisam ser habitadas e cultivadas. Os
judeus nessa época têm um nível de educação muito superior ao dos cristãos e são usados
para completar a reconquista, mas, em meados do Século XIV, a pressão da Igreja, da
burguesia e da monarquia começa a pesar sobre os judeus e a perseguição aumenta
consideravelmente.
Durante 150 anos (que vão do fim do Califado de Córdova até que a perseguição
seja instituída), os judeus viviam muito bem em território espanhol: alcançaram altos postos
no governo, puderam desenvolver sua cultura e se autogovernar nas juderias (bairros
judaicos) como bem entendessem. Em 1391, uma série de perseguições contra os judeus,
mostrou que os tempos haviam mudado. Dos 300.000 judeus que viviam na Espanha,
140.000 foram forçados a escolher entre a morte (kidush-Hashem) ou a conversão.
Os judeus espanhóis se sentiam muito ligados à Espanha, diferentemente do que
ocorrera na Europa Ocidental, e optaram pela conversão. Surgem, então, os cristãos novos.
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A Ínquisição e os Cristãos-Novos
Vimos que, com o avanço da Reconquista Cristã, os árabes foram aos poucos perdendo os
territórios conquistados na Península Ibérica desde 711 (para os árabes, Al-Aldaluz; e, para os
judeus, Sefarad).
Com a expansão do feudalismo por toda a Europa medieval, vemos o crescimento de uma
das mais importantes e poderosas instituições desse período: a Igreja Católica. Assim, a Igreja
alcançou a condição de principal instituição a disseminar e refletir os valores da religião cristã.
Nesses territórios da Península Ibérica, agora cristãos, a Igreja Católica passou a controlar todos os
aspectos da sociedade: política, economia, religião, cultura e lazer.
Além de se destacar por sua presença no campo das ideias, a Igreja também alcançou grande
poder material. Durante a Idade Média, ela passou a controlar grande parte dos territórios feudais.
Com poder e influência e como religião única e oficial, a Igreja Católica não permitia opiniões e
posições contrárias aos seus dogmas (verdades incontestáveis). Aqueles que desrespeitavam ou
questionavam as decisões da Igreja eram perseguidos e punidos. Essas perseguições deram origem
aos tribunais católicos da chamada Inquisição.
A Inquisição (que significa inquérito, interrogatório) medieval, da qual derivam todas as
demais, foi fundada em 1184 no Languedoc (sul da França) para combater os não-cristãos. Em
1249, implantou-se também no reino de Aragão, como a primeira Inquisição de Estado e, já na
Idade Moderna, com a união de Aragão e Castela, transformou-se na Inquisição espanhola (1478 -
1821), sob controle direto da monarquia hispânica, estendendo posteriormente sua atuação à
América. A tortura era o método normalmente aplicado pelos inquisidores.
A Inquisição como um braço do Estado foi instituída formalmente na Espanha em 1478 pelos
Reis Católicos, que a viam como uma forte aliada na expulsão dos mouros (árabes) do solo espanhol.
A seguir, após a expulsão dos árabes, a Inquisição, não abandonando seus objetivos, transformou-se
em uma organização de poderosa influência política, social e econômica, colaborando na
consolidação do Estado espanhol, que passou a ser um suporte do Catolicismo na Europa.
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Expulsões de Espanha e Portugal
Em 1492, após o fim da Reconquista, os reis católicos Isabel de Castela e Fernando de Aragão
ordenaram que os judeus e os mouros que não se convertessem ao Cristianismo (através do
batismo), em quatro meses, seriam expulsos da Espanha. Assim, cerca de 150 mil judeus foram
expulsos e aproximadamente 120 mil judeus entraram em Portugal.
A maior parte se fixou mesmo em Portugal. No entanto, um pequeno grupo transferiu-se
para a África e, outros, para o Brasil. Dom João II, influenciado por judeus importantes na Corte,
acolhe-os, mas impõe-lhes o pagamento de oito ducados de ouro, quantia elevada para a época, para
lá permanecerem (os que não podiam pagar este valor viam metade dos bens confiscados pela
Coroa).
Falecido D. João II, sucede-lhe D. Manuel, monarca que se revelou tolerante para os judeus
que não podiam pagar. No entanto, em 5 de Dezembro de 1496, é imposta a expulsão da
comunidade judaica de Portugal através de uma lei que entrou em vigor. Para impedir a saída de
tanta gente do reino (e, consequentemente, de dinheiro), Dom Manuel decreta a conversão forçada
de muçulmanos e judeus ao cristianismo no prazo de dez meses (o chamado Decreto de Muge),
criando assim o conceito formal de Cristão-Novo. Além do confisco de bens, os cristãos-novos que
não fugiram foram vítimas de perseguições e da limpeza de sangue nas candidaturas a cargos
públicos e militares.
Vimos que, no decorrer do processo de ―Diabolização do Judeu‖, passou-se a acreditar na
questão do sangue, da hereditariedade; ou seja, o batismo não era mais suficiente para o judeu ser
aceito pelos demais. Antes disso, o judeu que se convertia era aceito na sociedade cristã. A partir da
Inquisição Espanhola, o judeu convertido não era mais tratado como o cristão de nascimento.
Cristãos-Novos, Marranos e Criptojudeus
Cristão-novo ou Converso era o nome oficial dado aos judeus da Espanha, Portugal e
colônias que se converteram ao cristianismo, em contraposição aos Cristãos-velhos. Por causa da
Inquisição, cristãos espalharam o ódio contra judeus que não aceitavam a fé cristã. Havia libelos de
sangue e ataques contra judeus (como o famoso Massacre de Lisboa, de 1506).
Estes judeus tiveram de fazer uma terrível opção: a cruz ou a espada. Embora muitos
preferissem morrer por sua fé, outros se tornaram "cristãos". Alguns se converteram, enquanto
outros mudaram apenas o nome, praticando secretamente sua fé judaica.
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Os convertidos passaram a ser denominados marranos (porcos); foi instituída a
"limpeza de sangue" e o tribunal da Inquisição começou a perseguir os cristãos- novos.
Qualquer acusação de heresia era levada a sério e o acusador aindaficava com 1/3 dos bens do
acusado, o que incentivou a denúncia desses―judeus convertidos‖ ao tribunal da inquisição.
Os marranos, que praticavam o Judaísmo em segredo ao mesmo tempo em que publicamente
eram cristãos, também são chamados de Criptojudeus. O cripto-judaísmo era tratado como uma
quebra das regras religiosas impostas pelo poder da Inquisição às quais os judeus estavam sujeitos,
procurando manter a memória, de forma secreta, da sua identidade. O Judaísmo tem rituais
particulares e relativamente fáceis de identificar perante uma observação religiosa, o que tornava a
vida dos judeus muito vulnerável e perigosa.
Em outras palavras, tratavam-se de judeus que, sob a ameaça de punição ou morte,
mantinham sua fé em oculto, publicamente se apresentando como cristãos. O ―Marranismo‖ surgiu
na Península Ibérica como uma ―capa‖ em que o judeu batizado exteriormente se mostrava
convertido; mas, no íntimo do seu ser e da sua família, continuava fiel aos preceitos estabelecidos na
lei de Moisés. Era este o cripto-judaísmo, em que se ―adorava‖ ou ―entrava‖ na Igreja sem nela se
crer. Como dizia o antigo escrito criptojudeu: ―nesta casa entrei/ nem pau, nem padre nem pedra
adorarei‖.
Em sua maioria, os criptojudeus mantinham seus rituais e costumes básicos como:
•
Não criar e comer carne de certos animais, como porco;
•
Não sangrar um animal antes de matá-lo;
•
O fazer do pão sem utilizar fermento;
•
A circuncisão das crianças;
•
O ato de ―guardar‖ o Shabat.
Esses rituais eram vigiados pelos inquisidores. Os novos cristãos tornaram-se figuras centrais
de acusações e vítimas sobre supostos comportamentos criptojudeus, sendo acusados de heresias.
Entre os perseguidos foi surpreendente o número de mulheres. Responsáveis à época pelo ambiente
doméstico, eram as grandes difusoras do Judaísmo, quando as casas passaram a representar um
papel preponderante para a divulgação e sobrevivência das tradições judias.
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Inquisição Espanhola e Autos de Fé
A Inquisição Espanhola atuou sob o controle dos reis da Espanha de 1478 até 1834. Esta
Inquisição foi o resultado da Reconquista da Espanha das mãos dos muçulmanos e da política de
conversão. Em Portugal, o Tribunal do Santo Ofício da Inquisição durou oficialmente até 1821.
A Inquisição, como uma corte religiosa, era operada por autoridades da Igreja. As punições
variavam: da mais comum (quase 80% dos casos), que era a vergonha pública (obrigar o uso do
Sambenito - uma roupa de penitente, usar máscaras de metal com formas de burro, usar mordaças)
até ser queimado em praça pública, quando o crime era mais grave. A morte pelo garrote
(estrangulamento) era usada para os arrependidos.
Essas punições eram feitas em imensas cerimônias públicas chamadas Autos de fé, que
aconteciam uma vez por ano nas cidades. Algumas pessoas acusavam outras por vingança ou para
obter recompensas da Coroa. A própria Coroa Espanhola beneficiava-se, ao desapropriar os bens
dos cristãos-novos. Um total de 464 autos-de-fé contra judeus ocorreram entre 1481 e 1826.
Representação
“vergonha
a
pública”,
durante a Inquisição.
A inquisição em Portugal
Com a expulsão dos judeus da Espanha, Portugal recebeu, da noite para o dia, mais de
50,000 judeus, o que acirrou a perseguição aos mesmos. Viviam bem, espalhados pelo reino,
mas a situação da Espanha influenciou o povo português, que começou a reclamar de sua
presença. Em 1496, o rei de Portugal decide casar-se com a filha dos reis espanhóis. Ele não
queria expulsar os judeus, pois eram muito úteis ao desenvolvimento do reino, especialmente
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no desenvolvimento marítimo. Como o rei queria muito se casar, decidiu fingir que aceitava
a imposição de sua noiva, e emitiu uma ordem para que os judeus abandonassem o país em 48
horas.
Mas não lhes forneceu embarcações suficientes para a fuga, então, quando todos os
judeus de Portugal estavam nos portos, tentando cumprir a ordem do rei para sair do país,
mas sem meios para tal, o rei convocou bispos da igreja para ir aos portos e batizar todos os
judeus portugueses à força.
Desta maneira Portugal ficou sem os seus judeus, transformados em cristãos-novos, e
o rei não perdeu seus súditos que tanto fizeram pelo desenvolvimento de Portugal.
A inquisição foi instalada em Portugal. Os judeus que haviam sido convertidos à força se
viram obrigados a adotar o cristianismo sob pena de morrer na fogueira.
Representação de um
auto-de-fé no Terreiro do
Paço, em Lisboa,
Portugal
Inquisição no Brasil
No Brasil, tribunais temporários foram instalados no período colonial, porém não
apresentaram muita força como na Europa. Foram julgados, principalmente no Nordeste, casos de
heresias relacionadas ao comportamento dos brasileiros, além de perseguir alguns judeus que aqui
moravam.
51
Desde a ―descoberta‖ do Brasil em 1500, as atenções de muitos cristãos-novos se voltaram
para a terra recém descoberta, pois estes queriam muito deixar Portugal. Provas históricas registram
a presença de um cristão-novo entre os primeiros portugueses que vieram ao Brasil: Gaspar da
Gama.
Em 1501, Portugal enviou uma expedição comandada por Américo Vespúcio à nova terra
para avaliar a qualidade e valor do território. Como Vespúcio relatou que o local não possuía ouro e
prata, D. Manuel resolve então arrendar parte do Brasil (Capitanias Hereditárias) a homens com
poder econômico, que poderiam arriscar seu próprio dinheiro para colonizar e explorar a terra. A
primeira entrega foi feita a um consórcio de cristãos-novos, encabeçado pelo mercador Fernão de
Noronha.
O grupo despachou os seis primeiros navios com mercadorias e tropas em 1503, e Fernão de
Noronha, que estava na expedição, descobriu no mesmo ano uma ilha próxima à costa norte do
Brasil, à qual nomeou de São João – mas que ficou conhecida atualmente por Fernando de Noronha.
A colonização era um verdadeiro combate, pois além dos perigos naturais que a nova terra
oferecia, os colonos tinham que enfrentar também os indígenas. Logo, cristãos-novos e
cristãos-velhos (jesuítas), que na Europa se odiavam, por falarem ambos o português e terem
interesses comuns, praticamente se irmanam na conquista do solo brasileiro. Seria esta a única
alternativa passível de sucesso. Muitos marranos e cristãos-novos participaram de expedições que
colonizaram o Brasil.
Para onde foram os judeus sefaradim?
Após a expulsão da Espanha em 1492 e de Portugal em 1496, os judeus e cristãos-novos
buscaram refúgio em alguns lugares.
1-
Nas Américas: Os cristãos-novos que tentaram escapar das garras da Inquisição
vieram para a América, mas não puderam retornar ao Judaísmo, pois a inquisição foi atrás
deles. Mas vele recordar alguns nomes que ajudaram no desenvolvimento do Brasil neste
período, como: Fernão de Noronha e Caramuru. Mas para a história judaica eles acabaram se
perdendo.
2-
No Império Turco-Otomano: O Império que conquistou o Califado de Bagdá e o
Império Bizantino no século XV abriram as portas para os judeus, que aportaram em Salônica,
Constantinopla. Alexandria aos milhares. Como os turcos eram muçulmanos, o Dhimmis
52
continuou valendo para os judeus que participaram de todas as esferas da vida do Império.
O centro de Israel foi renovado e as cidades de Jerusalém, Hevron, Tiberíades e Tzfat
aumentaram consideravelmente sua população. Em Tzfat surgiu o centro da Cabala e o
―Shulchan Aruch‖ escrito por José Caro. O judeu mais famoso do Império turco foi D. José
Nassi, sobrinho de D. Graça Nassi, que haviam sido convertidos à força em Portugal e
receberam o nome de Mendes. Extremamente ricos e poderosos, ao chegar a Constantinopla
eles voltaram ao Judaísmo e ao nome ―Nassi‖, que era sua origem. Ajudaram o Sultão a vencer
as guerras contra Veneza e Espanha. Como recompensa, D. José Nassi recebeu o título de
―Duque de Naxos‖ e terras nas proximidades de Tiberíades. D. José Nassi concebeu, então, um
plano para ajudar os judeus perseguidos na Europa. Mandou barcos para levarem estes
judeus para suas terras em Israel e trouxe mudas de amoreira que atraiam o bicho-da-seda,
para tentar produzir seda em Israel. O plano não deu certo, pois os judeus preferiam esperar
pelo Mashiach, mas D. José ficou conhecido como Precursor do Sionismo.
3-
Na Itália: a Itália foi o lugar da Europa Ocidental que melhor tratou os judeus na
Idade Média.
No período renascentista os judeus fizeram parte ativa do movimento cultural,
traduziram livros do árabe e do hebraico, ensinaram hebraico aos nobres e puderam viver
integrados à sociedade italiana, principalmente no centro, nos Estados Papais. A maior prova
disso foi a disposição do papa de ouvir e tentar entender duas figuras pitorescas que
surgiram na época: David Reubene e Salomão Molko, que o procuraram dizendo vir de um
lugar distante e pedindo sua ajuda para libertar os judeus sefaradim e levá-los à Terra
Prometida. O papa lhes deu atenção e negociou com eles por dez anos. No final, os dois foram
encaminhados a Portugal e acabaram presos pelo Tribunal da Inquisição. A situação dos
judeus Italianos foi se deteriorar como consequência da Contrarreforma, que visava
perseguir os hereges em geral, acabando por minar as relações entre o papa e os judeus.
Foram criados guetos, bairros onde só os judeus podiam morar, e que eram trancados à noite.
Por causa dessas transformações na vida dos judeus italianos, verificamos que grande
parte da comunidade judaica buscou novos horizontes durante o século XVI.
53
Bibliogrãfiã
Avivi, Baruch e Perski, Nathan. História judaica, São Paulo: Ed. Renascença, 1972
Berezin, Rifka (org.). Caminhos do Povo Judeu. Volume III, São Paulo: Vaad Hachinuch, 1ª ed. 1975.
Borger, Hans. Uma História do Povo Judeu. Volume 1. São Paulo: Ed. Sefer, 2002
Comay, Joan. The Diaspora History. Ed. Random House, 1980
Eban, Abba. A História do Povo de Israel, Rio de Janeiro: Edições Bloch, 1971
Johnson, Paul. História dos Judeus. Rio de Janeiro: Editora Imago, 1995
Scheindlin, Raymond P.. História Ilustrada do Povo Judeu, Rio de Janeiro: Ediouro, 2003
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8º ANO ENSINO FUNDAMENTAL II - Acesso