A Vocação
das Ciências Sociais
no Brasil
Um estudo da sua produção em livros
no acervo da Biblioteca Nacional
1945-1966
FBN_RG_vocacao_00_abertura.indd 1
5/3/2009 09:33:37
Coleção Rodolfo Garcia
Vol. 32
REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL
Presidente da República / Luiz Inácio Lula da Silva • Ministro da Cultura / Gilberto Gil Moreira
FUNDAÇÃO BIBLIOTECA NACIONAL
Presidente / Muniz Sodré de Araújo Cabral • Diretoria-Executiva / Célia Portella • Gerência do Gabinete /
Cilon Silvestre de Barros • Diretoria do Centro de Processamentos Técnicos / Liana Gomes Amadeo •
Diretoria do Centro de Referência e Difusão / Carmen Tereza Moreno • Coordenação-Geral de Planejamento e
Administração / Tânia Mara Barreto Pacheco • Coordenação-Geral de Pesquisa e Editoração / Oscar Manoel
da Costa Gonçalves • Coordenação-Geral do Sistema Nacional de Bibliotecas Públicas / Ilce Gonçalves
Cavalcanti
FBN_RG_vocacao_00_abertura.indd 2
5/3/2009 12:17:55
Glaucia Villas Bôas
A Vocação
das Ciências Sociais
no Brasil
Um estudo da sua produção em livros
no acervo da Biblioteca Nacional
1945-1966
Rio de Janeiro
2007
FBN_RG_vocacao_00_abertura.indd 3
5/3/2009 12:17:56
FUNDAÇÃO BIBLIOTECA NACIONAL
Av. Rio Branco, 219 – Centro
20040-008 – Rio de Janeiro – RJ
Tels: (21) 2220 1994 e 2220 1997
Editor
Marcus Venicio Ribeiro
Revisão
Francisco Madureira
Projeto Gráfico e Diagramação
Memvavmem
Capa
Rodrigo de Mello Alves
Reproduções Fotográficas
Claudio Carvalho Xavier e leonardo da Costa
Estagiária
Lara Spíndola
Villas Bôas, Glaucia.
A vocação das ciências sociais no Brasil : um estudo da
sua produção em livros no acervo da Biblioteca Nacional,
1945-1966 / Glaucia Villas Bôas. – Rio de Janeiro : Fundação Biblioteca Nacional, 2007.
304p. ; 16 cm x 23 cm.
Originalmente apresentado como tese (doutorado –
Universidade de São Paulo)
ISBN 978-85-333-0537-3
1. Biblioteca NacionaI (Brasil) – Catálogos. 2. Ciências
sociais – Brasil – História. 3. Pesquisa social – Brasil – História. 4. Ciências sociais – Bibliografia – Catálogos. I. Biblioteca Nacional (Brasil). II. Título.
CDD 300.981
FBN_RG_vocacao_00_abertura.indd 4
5/3/2009 09:33:38
À memória de minha mãe, Veleyda
A meus filhos Luciana e Pedro
5
FBN_RG_vocacao_00_abertura.indd 5
5/3/2009 09:33:38
FBN_RG_vocacao_00_abertura.indd 6
5/3/2009 09:33:38
Sumário
AGRADECIMENTO
11
PREFÁCIO
José Murilo de Carvalho
13
APRESENTAÇÃO
19
23
27
3.
A PRODUÇÃO DAS CIÊNCIAS SOCIAIS EM LIVRO
A escolha do período - 1945 a 1966 O livro como recurso empírico-metodológico
e as técnicas utilizadas na pesquisa O acervo estudado
II.
1.
2.
3.
4.
5.
5.1
5.1.1
5.1.2
5.1.3
5.2
5.3
5.4
5.5
6.
6.1
6.2
DISCIPLINAS E TEMAS
O crescimento da produção das ciências sociais
Duas linhas de trabalho dos cientistas sociais
O interesse desigual pelas disciplinas
O horizonte temático das ciências sociais
Os temas da história do Brasil
História política
História dos eventos políticos
História das instituições políticas História das cidades, estados e regiões
História Econômica
História Social
História das Idéias
Conclusão
Os temas da economia política
Obras sobre a disciplina
Obras sobre temas específicos 49
49
51
53
58
59
64
67
72
75
79
83
85
87
88
91
93
I.
1.
2.
30
37
7
FBN_RG_vocacao_00_abertura.indd 7
5/3/2009 09:33:38
6.3
7.
7.1
7.2
7.3
8.
8.1
8.2
8.3
9. 9.1
9.2
9.3
10. 10.1
10.2
10.3
11.
11.1
11.2
11.3
Conclusão
Os temas da antropologia
Obras sobre a disciplina
Obras sobre temas específicos Conclusão
Os temas da sociologia
Obras sobre a disciplina
Obras sobre temas específicos
Conclusão
Os temas da ciência política Obras sobre a diciplina
Obras sobre temas específicos
Conclusão
Os temas da geografia humana
Obras sobre a disciplina
Obras sobre temas específicos
Conclusão
Os temas da demografia
Obras sobre a disciplina
Obras sobre temas específicos Conclusão
96
97
99
100
109
110
112
113
120
121
125
125
129
130
132
132
135
135
137
138
139
III. 1.
2.
2.1
2.2
3.
3.1
3.2
3.3
OS ANOS DE 1945 A 1966 Características gerais
Mudanças na vida cultural
Empreendimentos no campo da difusão da cultura
Movimentos de renovação da produção cultural
Mudanças na vida intelectual
A expansão das universidades
As lutas estudantis
A participação da comunidade acadêmico-científica
141
142
156
156
165
171
171
174
176
IV. 1.
2.
3.
3.1
CONTINUIDADE E MUDANÇA
O desenvolvimento das ciências sociais
A relevância dos problemas brasileiros
O processo de diferenciação dos estudos em ciências sociais
Os estudos teórico-metodológicos
181
185
187
189
189
8
FBN_RG_vocacao_00_abertura.indd 8
5/3/2009 10:32:47
3.2 Os estudos sobre a sociedade brasileira
3.2.1 A abordagem de novos problemas e o crescimento de obras
3.2.1.1 Os temas de maior divulgação em livro
3.2.1.2 Os temas de menor divulgação em livro
3.2.2 A persistência na adoção de enfoque e cultivo de temas
3.2.2.1 O exame dos fatos políticos do passado
3.2.2.2 As características dos estudos sobre as questões étnicoculturais
4. Conclusão
191
192
192
198
201
201
203
206
V. 211
CONSIDERAÇÕES FINAIS
VI. LIVROS DE CIÊNCIAS SOCIAIS NO ACERVO DA
BIBLIOTECA NACIONAL
217
VII. BIBLIOGRAFIA
293
9
FBN_RG_vocacao_00_abertura.indd 9
5/3/2009 10:32:47
FBN_RG_vocacao_00_abertura.indd 10
5/3/2009 09:33:38
Agradecimento
Este livro registra dois momentos de trabalho. O primeiro foi dedicado à
pesquisa no acervo da Biblioteca Nacional e à escrita e defesa de minha tese
de doutoramento. Muitas pessoas e instituições ajudaram e apoiaram meu
projeto realizado entre as décadas de 1980 e 1990. Cerca de 15 anos depois,
o segundo momento, incluiu a decisão de publicar o livro, uma leitura crítica
do texto e a revisão e organização dos 872 títulos analisados para apresentação ao leitor. Gostaria de agradecer a José Murilo de Carvalho, por ter me
incentivado à publicação do livro pela Biblioteca Nacional e aceito escrever o
prefácio, e a Marcus Venicio Ribeiro pelas sugestões, interesse e empenho na
edição do livro. Foi inestimável também o apoio de Verônica Eloi de Almeida
e João Antonio da Costa, que digitalizaram os originais datilografados. Ive de
Santana Cunha fez uma revisão cuidadosa dos títulos da mostra dos livros.
11
FBN_RG_vocacao_00_abertura.indd 11
5/3/2009 09:33:38
FBN_RG_vocacao_00_abertura.indd 12
5/3/2009 09:33:39
Prefácio
José Murilo de Carvalho.
Glaucia Villas Bôas transforma agora em livro sua tese de doutoramento
defendida na Universidade de São Paulo em 1992. Trata-se de um estudo
sociológico da produção de livros de ciências sociais no Brasil, entre 1945
e 1966. Ao árduo e cuidadoso trabalho de levantamento da bibliografia no
acervo da Biblioteca Nacional, a autora acrescenta uma análise sociológica do
contexto em que os livros foram escritos e publicados.
O período selecionado deve-se à preocupação de avaliar os primeiros resultados da implantação no país, durante a década de 1930, das primeiras
instituições de ensino e pesquisa voltadas para as ciências sociais, sobretudo
em São Paulo e no Rio de Janeiro. As principais delas foram a Escola Livre
de Sociologia e Política, de 1933, em São Paulo, a Faculdade de Filosofia,
Ciências e Letras da Universidade de São Paulo, em 1934, a Universidade do
Distrito Federal, de 1935, e a Faculdade de Filosofia da Universidade do Brasil, em 1939, também no Rio de Janeiro.
A primeira metade da década de 30 testemunhara uma verdadeira explosão
de idéias e de interpretações do Brasil. Foi nesse período que surgiram alguns
dos principais clássicos de nosso pensamento. Todos eles foram escritos por
pessoas em geral de formação jurídica, ou mesmo em medicina e engenharia,
sem treinamento específico em ciências sociais. Eram o que Guerreiro Ramos
chamou mais tarde de sociólogos anônimos. Apesar da criatividade dos autores, a produção era numericamente pequena por falta de base institucional
adequada em quantidade e qualidade e pelo acanhamento da indústria editorial. Levantamento feito por Wanderley Guilherme dos Santos mostrou que,
de 1931 a 1945, foram publicados apenas 11 artigos por ano no campo que
depois se convencionou chamar de ciências sociais.
Outra era a fisionomia dos anos posteriores à democratização de 1945.
Ex-alunos das novas escolas criadas na década anterior, muitos deles treina-
13
FBN_RG_vocacao_00_abertura.indd 13
5/3/2009 09:33:39
Glaucia Villas Bôas
dos por professores estrangeiros, começaram a publicar trabalhos que vieram
somar-se ao da geração anterior. O ambiente pós-guerra e pós-Estado Novo
também favorecia o debate e a indústria editorial se ampliava. Quanto a essa
última, a autora nos informa, citando Laurence Hallewell, que em 1940 foram
publicados 1.678 livros e folhetos. Em 1950, o número subiu para 3.965, em
1960 para 5.377. O número de artigos, segundo a contagem de Wanderley
Guilherme dos Santos, subiu, entre 1945 e 1965, a 36 por ano. Esses números
constituem boas justificativas para a escolha do período de estudo.
Para realizar seu estudo, Gláucia Villas Bôas escolheu só incluir livros,
excluindo artigos, e se concentrou nas obras que constam do catálogo da
Biblioteca Nacional. A primeira limitação pode ser facilmente compensada
pelo levantamento já mencionado feito por Wanderley Guilherme dos Santos
e publicado em 2002, após a defesa da tese da autora. Segundo esse levantamento, entre 1945 e 1965, foram publicados, em 20 revistas, 724 artigos de
análises política e social do Brasil.
A segunda é de menor importância, embora tenha sido devidamente registrada. Como se sabe, todos os livros editados no país devem, por lei de 1907,
ter um exemplar depositado na Biblioteca Nacional. Em tese, portanto, ao
consultar o catálogo dessa instituição o pesquisador teria diante de si o universo dos livros publicados. Mas estamos no Brasil e a lei tem sido apenas parcialmente cumprida. Apesar desse percalço, o acervo da Biblioteca Nacional
era e continua sendo o mais completo do país. Ao trabalhar com ele, a autora
cobriu uma parcela muito grande da bibliografia produzida, não se podendo
saber exatamente o que ficou de fora. Foram levantados 978 títulos, tendo a
autora trabalhado com 872, sobre os quais existiam informações suficientes
para classificação por tema.
Esse levantamento bibliográfico já é por si uma contribuição relevante à
história do pensamento brasileiro em geral e das ciências sociais em particular
na medida em que facilita o trabalho de outros pesquisadores e abre para eles
um amplo leque de investigação. É conhecido o fenômeno da formação de
cânones explicativos. Surgem espontaneamente, ou por esforço deliberado,
seleções de autores e obras que aos poucos são transformadas em clássicos de
determinada área de conhecimento. Tais autores e obras se tornam referência obrigatória, com a exclusão de centenas de outros que podem ter coisas
importantes a dizer. A formação de cânones é quase inevitável, inclusive por
razões práticas, pela impossibilidade de se cobrir toda a bibliografia existente,
mas é indispensável que os cânones sejam flexíveis e que sejam periodicamente alterados. O levantamento bibliográfico apresentado neste livro, quase
14
FBN_RG_vocacao_00_abertura.indd 14
5/3/2009 09:33:39
A vocação das ciências sociais no Brasil
exaustivo, facilita a tarefa de desafiar os cânones. De posse de informação tão
ampla, o pesquisador ignorará autores não canônicos por sua própria conta
e risco.
Mas Gláucia Villas Bôas foi além de simples levantamento bibliográfico,
adicionando valor especial a seu trabalho. Ela enfrentou a penosa tarefa de
mapear os livros por área de conhecimento e por temas. No que diz respeito
às áreas de conhecimento, adotou uma definição ampla, posto que algo polêmica, de ciências sociais, incluindo nelas a história, a geografia humana e a
demografia, além das tradicionais antropologia, sociologia, ciência política, e
da economia política. O lado polêmico diz respeito, sobretudo, à inclusão da
história no campo das ciências sociais. Mas, como a análise mantém a distinção entre as várias sub-áreas, é sempre possível ao leitor detectar as diferenças
entre elas. Ele pode verificar, por exemplo, que, como era de esperar, a história
foi responsável pela maioria (35%) dos livros recenseados, número próximo
à soma dos de sociologia, antropologia e ciência política (40%). Tal resultado
era de esperar na medida em que a escrita da história é muito mais antiga no
país, antecede em mais de um século a formação especializada que teve início
na década de 1930.
Um dos achados importantes da autora é o que se refere ao número respeitável de obras de ciências sociais no sentido estrito, sobretudo de antropologia (16%) e de sociologia (14%). Esse número é sem dúvida decorrência,
pelo menos em parte, da produção de pessoas treinadas nos novos cursos.
A menor representação da ciência política (9%) pode ser devida ao processo
mais lento de sua separação de outros campos mais tradicionais de conhecimento, como o direito e a filosofia.
Outra contribuição relevante deste livro é a análise do local de publicação
e dos editores. O Rio de Janeiro ainda era, na época, o centro cultural indiscutível do país, responsável por 58% das edições, seguido à distância por São
Paulo com 24%. Não por acaso, é em sociologia que São Paulo mais se aproximava do Rio de Janeiro, com 39% da produção, em comparação com 45%
da capital. Rio de Janeiro e São Paulo, juntos, cobriam 82% das publicações.
Mesmo que se leve em conta a probabilidade de que o descumprimento da
lei de envio dos livros à Biblioteca Nacional fosse muito maior nos outros
estados, a concentração é muito grande.
A presença de um mercado editorial emergente é demonstrada quando a
autora classifica as publicações em comerciais e não comerciais, essas últimas
publicadas por órgãos públicos, aí incluídas as universidades federais e estaduais. A maioria dos livros (63%) foi publicada com fins lucrativos. Mas aqui
15
FBN_RG_vocacao_00_abertura.indd 15
5/3/2009 09:33:39
Glaucia Villas Bôas
também se evidencia a diferença entre São Paulo e Rio de Janeiro. No Rio de
Janeiro, sede do governo, as publicações oficiais são responsáveis por 36%
do total ali editado, enquanto em São Paulo não passam de 17%. O peso do
Estado é ainda maior em áreas fora do eixo Rio - São Paulo, onde também a
indústria editorial era menos desenvolvida. Somando-se os livros publicados
em Salvador, Belo Horizonte e Recife, verifica-se que 61% deles foram publicações oficiais.
A análise diacrônica da produção de livros é outra contribuição relevante
feita pela autora. Dividindo o período em dois segmentos de 11 anos cada um,
ela mostra que o desenvolvimento das sub-áreas foi muito desigual. Os novos
campos, com a exceção notável da antropologia, que sofreu um desaceleramento da produção após grande expansão inicial, cresceram exponencialmente. A sociologia mais do que duplicou o número de livros no segundo período,
passando sua contribuição de 10% para 16%, a ciência política triplicou a
produção, de 6% para 11%. Juntamente com a expansão das instituições de
ensino e pesquisa, é possível supor que o crescimento dos estudos sociológicos e, sobretudo, políticos teve a ver com a retomada da vida política e da
mobilização social ao longo do período.
Esse ponto nos leva ao coração da tese e do livro: uma análise sociológica
da produção bibliográfica em ciências sociais. A socióloga Gláucia Villas Boas
é ela mesma uma representante legítima da consolidação acadêmica das ciências sociais no Brasil, iniciada na década e 1930 e completada após o início da
moderna pós-graduação ao final da década de 1960. A produção bibliográfica
em ciências sociais é interpretada dentro do contexto social em que se verificou e que lhe dá inteligibilidade. Ela responde a injunções desse contexto, ao
mesmo tempo em que faz parte da própria constituição dele.
O impacto do contexto aparece com clareza, sobretudo da análise dos
temas abordados pelos autores nos diferentes campos de especialização. O
caso mais óbvio é, como se podia esperar, o da ciência política. Se entre 1945
e 1955 apenas 1,5% dos livros se dedicavam ao estudo de ideologias políticas,
entre 1956 e 1966 a porcentagem sobe para 22%. Inversamente, o estudo das
instituições políticas cai de 60% para 43%. As mudanças são coerentes com
os diferentes momentos históricos. Se depois da ditadura tratava-se, sobretudo, de consolidar as instituições democráticas, a partir do segundo governo
Vargas a radicalização política tomou a frente, reduzindo-se o interesse na
institucionalização.
Em outros pontos a relação entre produção e contexto revela-se mais
complexa, como nos informa o gráfico que mapeia o número de livros pu16
FBN_RG_vocacao_00_abertura.indd 16
5/3/2009 09:33:39
A vocação das ciências sociais no Brasil
blicados ano a ano entre 1945 e 1966. Há uma queda acentuada de produção
entre 1945 e 1953, quando se passa de 37 livros (1945) para 18 (1953), numa
média de 27 por ano. Segue-se, entre 1954 e 1959, um aumento rápido de
produção, com um pico em 1958, com 63 livros. Nesse segundo momento, a
média anual sobe para 50 livros/ano, ou 53, se levarmos em conta apenas o
qüinqüênio de JK. No terceiro momento, entre 1960 e 1966, há uma queda
em relação ao período anterior, mantendo-se, no entanto, a produção bem
acima da verificada na primeira fase, com média de 46 livros por ano até o
golpe e de 47 entre 1964 e 1966.
De acordo com a expectativa, vemos que o período JK representou na
produção de livros de ciências sociais o mesmo que significou em outros campos, isto é, um momento de explosão de criatividade. Contra a expectativa,
o momento seguinte, apesar de toda a radicalização política que o marcou,
presenciou um recuo na produção intelectual. Ou talvez devamos dizer que a
radicalização favoreceu a produção de textos de ciência política e de sociologia, mas, em contrapartida, desfavoreceu a de história e antropologia.
São alguns exemplos que aponto apenas para indicar ao leitor a grande
contribuição do estudo de Glaucia Villas Bôas, fruto da maturidade de nossas
ciências sociais, capazes já de interrogar sua própria historia. A contribuição
consiste tanto nas respostas que o livro traz como nas perguntas que suscita
dentro do campo da sociologia do conhecimento, das profissões e da produção intelectual. Não sei melhor maneira para classificar um bom trabalho
intelectual.
17
FBN_RG_vocacao_00_abertura.indd 17
5/3/2009 09:33:39
FBN_RG_vocacao_00_abertura.indd 18
5/3/2009 10:34:00
Apresentação
Esse estudo dos livros de ciências sociais do acervo da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro, publicados no período de 1945 a 1966, é resultado de
pesquisa exaustiva feita nessa instituição nos últimos dois anos da década de
1980. O acervo da Biblioteca Nacional ainda não estava informatizado, e trabalhando no fichário da seção de livros terminei reunindo 978 títulos. A pesquisa resultou em minha tese de doutorado "A Vocação das Ciências Sociais
no Brasil (1945/1964): Um estudo sobre sua produção em livro", defendida
na Universidade de São Paulo, sob a orientação de Maria Isaura Pereira de
Queiroz, em 1992. Nela classifiquei e analisei as publicações por temas e disciplinas, o que permitiu oferecer um panorama de como o Brasil era pensado
em livro pelos cientistas sociais naquele importante período da vida nacional.
Não era objetivo da tese apresentar uma lista de 872 obras, número da
amostra analisada. Durante muito tempo ouvi colegas e alunos perguntarem
por que não fazia uma publicação com os títulos dos livros com os quais
havia trabalhado, uma vez que poderia facilitar o trabalho de busca de outros
pesquisadores. Embora a vida acadêmica nos roube tempo e leve muitas vezes a outros projetos, mantive durante esses anos o desejo de publicar a tese
com os títulos que se dividem em sete disciplinas: História do Brasil, Economia Política, Antropologia, Sociologia, Ciência Política, Geografia Humana e
Demografia. Eis que foi possível agora publicá-la justamente pela Biblioteca
Nacional, o que muito me alegra.
As bibliografias constituem um instrumento de trabalho indispensável
para os pesquisadores, mas não há muitas no campo das ciências sociais brasileiras. O que se deve ler para conhecer o Brasil, de Nelson Werneck Sodré,
publicado em 1945, tornou-se obra de referência de algumas gerações de cientistas sociais, com suas primeiras reedições cuidadosamente atualizadas sob
a supervisão do autor. Os Cadernos do Instituto de Estudos Brasileiros, da
Universidade de São Paulo, de 1971, trazem um precioso conjunto de livros
e artigos de revistas no campo da história, organizados por Sergio Buarque
de Holanda, Alice Piffer Canabrava e Nícia Vilela Luz; o tema sociologia foi
19
FBN_RG_vocacao_00_abertura.indd 19
5/3/2009 09:33:39
Glaucia Villas Bôas
coordenado por Maria Isaura Pereira de Queiroz; e a área de antropologia teve
a orientação de Egon Schaden. Resultado de um seminário promovido pelo
IEB - Instituto de Estudos Brasileiros, os Cadernos registram ainda os debates críticos que focalizam os temas estudados e suas diferentes abordagens nas
disciplinas escolhidas. Contudo, não foram publicados em livro, ficando seu
conhecimento e uso restritos a um pequeníssimo número de pesquisadores.
Além disso, a seleção feita por Lucia Lippi Oliveira em Elite intelectual e debate
político nos anos 30 – uma bibliografia comentada da Revolução de 1930 (1980)
tem sido de grande valia para a pesquisa histórica e política da década citada.
O título reúne 143 livros e documentos sobre a Revolução de 1930, os quais
têm a política como questão central. Em 1999, veio a público O que ler na
ciência social brasileira (1970-1995), coordenado por Sergio Miceli, três volumes
sobre sociologia, antropologia e ciência política que tiveram grande receptividade entre os cientistas sociais. Em 2002, o Roteiro bibliográfico do pensamento
político-social brasileiro (1870-1965), de Wanderley Guilherme dos Santos, veio
preencher o “vazio” de bibliografias.
Finalmente, não se pode deixar de mencionar o BIB – Revista Brasileira de
Informação Bibliográfica em Ciências Sociais, da ANPOCS/Associação Nacional
de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais, que vem prestando, desde
a década de 1970, enorme apoio aos estudos nesse campo, mantendo a boa
qualidade de seus artigos e a regularidade indispensável a um periódico. Digase também que, nos últimos anos, os meios virtuais têm proporcionado cada
vez mais possibilidades de acesso a livros e textos, comentários e interpretações.
As bibliografias do acervo da Biblioteca Nacional para o período em foco
são escassas, destacando-se a Brasiliana da Biblioteca Nacional, organizada
por Paulo Roberto Pereira e editada pela própria Biblioteca em 2001. O trabalho integra artigos de mais de 50 especialistas sobre a documentação e livros
do acervo da instituição.
Somadas as iniciativas, percebe-se que ainda há o que fazer tanto no que
concerne à produção de bibliografias comentadas na área das ciências sociais, quanto no que diz respeito ao conhecimento do importante patrimônio
da entidade. Apesar do avanço da pesquisa científica no Brasil, do sistema
nacional de pós-graduação e da formação de pesquisadores, parece que o
entendimento da importância das bibliografias é acanhado, sendo necessário
ensinar aos jovens que se iniciam na pesquisa o uso desses meios insubstituíveis de trabalho. As conseqüências do descaso pelas bibliografias são muitas.
Primeiro, a falta de informação sobre livros e revistas constantes em acervos
20
FBN_RG_vocacao_00_abertura.indd 20
5/3/2009 09:33:39
A vocação das ciências sociais no Brasil
de bibliotecas e arquivos contribui para o desconhecimento e a ausência de
diálogo com a tradição de intérpretes e conhecedores do Brasil. Segundo,
o fato de não se recorrer às bibliografias concorre para que a produção do
saber, sobretudo na área das ciências sociais, corra o risco da repetição dos
problemas ao invés de seu avanço.
Ao circunscrever-se à Biblioteca Nacional, a pesquisa torna visível seu
valioso conjunto no período de 1945 a 1966, facilitando a busca dos estudiosos interessados nas publicações daquela época. A preservação da memória
das ciências sociais pela instituição permite que informações e conhecimento
sejam acessíveis aos pesquisadores sem passar pelo crivo dos intérpretes que,
muito embora importantes, fatalmente consagram temas, autores e disciplinas
com suas escolhas e autoridade.
No Brasil, muito cedo a camada intelectual buscou esclarecer fatos da vida
social, chamando-lhe a atenção, particularmente, os aspectos da sociedade em
que vivia. A partir de meados do século XIX, começaram a ser publicadas
narrativas sobre a história do país que privilegiavam, de modo geral, as ações
e os eventos políticos considerados relevantes para a construção da nação;
vieram a público também estudos sobre as peculiaridades étnicas e culturais
da população brasileira. Foi-se reunindo uma vasta documentação, a exemplo, entre outros, dos artigos da Revista do Instituto Histórico e Geográfico
Brasileiro, fundado em 1838, que testemunha o modo pelo qual se concebia a
reflexão e a pesquisa daqueles problemas.
A década de 1930 veio marcar decisivamente a evolução dos estudos sobre
os fatos sociais, uma vez que nela se iniciou a formação do cientista social no
país. Dentro do quadro de reformas políticas e educacionais daqueles anos,
foram criadas na cidade de São Paulo a Escola Livre de Sociologia e Política,
em 1933; e a Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de São
Paulo, em 1934. No Rio de Janeiro, disciplinas das ciências sociais começaram
a ser ministradas na Universidade do Distrito Federal, em 1935. Interrompidas
as atividades da UDF em 1939, a formação de cientistas sociais foi retomada
no mesmo ano na Faculdade de Filosofia da antiga Universidade do Brasil.
Os anos de 1945 a 1966 delimitaram um importante período da vida nacional, marcado por profundas mudanças econômicas, sociais e políticas. Nos
setores culturais e intelectuais, a expansão dos meios de difusão da cultura,
de um lado, e os movimentos a favor da renovação da produção cultural, de
outro, se associaram ao crescimento das universidades, às lutas estudantis, às
iniciativas da comunidade acadêmico-científica para consolidar suas instituições. Configurou-se naqueles meios um clima de debates e polêmicas efer21
FBN_RG_vocacao_00_abertura.indd 21
5/3/2009 09:33:40
Glaucia Villas Bôas
vescentes, que se voltavam duplamente para a questão do desenvolvimento
do país e também do compromisso social e político da produção cultural. No
campo das ciências sociais, começaram a surgir no início daquele período os
primeiros resultados das atividades das instituições de pesquisa e formação de
cientistas sociais. Que rumo teriam tomado os estudos elaborados e publicados em livro naquelas circunstâncias histórico-sociais?
Nas últimas décadas, o interesse em conhecer as atividades e características
da camada intelectual erudita do país tem levado a um expressivo desenvolvimento das pesquisas nas áreas do pensamento social brasileiro, da história das
idéias e da sociologia do conhecimento. As primeiras avaliações sociológicas
da produção do conhecimento voltado para os fatos sociais datam de finais
da década de 1940. Contudo, somente tomam vulto nos anos 1970, quando
são publicados com maior freqüência textos focalizando especificamente as
ciências sociais, ou o pensamento social no Brasil.
De modo geral, esses trabalhos têm realçado duas perspectivas de análise
no exame da produção intelectual brasileira: ora questionam-se as características dos estudos de autores brasileiros à luz do padrão da produção científica
de países econômica, política e culturalmente mais desenvolvidos, atribuindo,
portanto, relevância à posição do Brasil no sistema mundial de dominação;
ora o foco de análise converge para as instituições voltadas para as ciências
sociais, como também para grupos de cientistas com finalidade de averiguar
o grau de autonomia do campo da produção científica frente ao campo dos
ideais e das ações políticas.
O estudo que apresentamos a seguir, entretanto, submete à analise os enfoques, os temas e os problemas que distinguiram a produção científica em
livro, questionando de que maneira a experiência social e histórica marcante
daqueles anos se teria deixado traduzir na elaboração e divulgação do conhecimento no campo das ciências sociais.
22
FBN_RG_vocacao_00_abertura.indd 22
5/3/2009 09:33:40
I
A Produção das Ciências Sociais em Livro
Duas questões se impõem quando se escolhem as ciências sociais como
objeto de pesquisa sociológica: dizem respeito à identidade e à diferença das
formas de conhecer e à relação que guardam com a sociedade onde são elaboradas e recebidas. As ciências sociais são um conhecimento específico tanto
pela sua constituição intrínseca, quanto pelo fato de que a possibilidade de
elaborá-las está definitivamente associada à existência de um grupo social e a
um tipo de sociedade.
Pode-se distingui-las, inicialmente, por integrarem o que se denomina conhecimento erudito,1 saber tradicionalmente constituído por estudos aprofundados e sistemáticos de um determinado assunto. O conhecimento erudito pressupõe a formação e o treinamento de um corpo de estudiosos, cujas
condições específicas de existência – no sentido de que está afastado das atividades do trabalho manual – surgem com o advento do excedente econômico
e variam de acordo com a organização da produção material e o aumento da
riqueza social.
Os apreciadores do conhecimento erudito formam assim um grupo privilegiado, pois elaboram e possuem um saber prestigiado que não é acessível a todos. E podem buscar orientar – através do saber que produzem – a
conduta de outros grupos sociais.2 Ao considerar as ciências sociais como
parte integrante do conhecimento erudito, diferenciamo-las de imediato do
1. Seguimos a distinção entre conhecimento erudito e conhecimento vulgar adotada por Maria Isaura Pereira de Queiroz em Balanço da tradição do pensamento sobre cultura e sociedade a partir
d o século XIX, publicado em QUEIROZ, Maria I. P. de; SIMSON, Olga R. M. von; MICELI,
Sergio; ORTIZ, Renato. Esboço de um projeto de investigação da produção cultural no Brasil, São Paulo, n.
17, 1ª série, set. 1982. Cadernos CERU.
2. A relação entre conhecimento erudito, particularmente o científico, e a orientação de práticas
sociais é discutida em ADORNO, Theodor W.; HORKHEIMER, Max. Temas básicos da sociologia. São Paulo: Cultrix/USP, 1973; FREYER, Hans. Teoria da época atual. Rio de Janeiro: Zahar,
1965. p. 41-70; WEBER, Max. Ciência e política: duas vocações. São Paulo: Cultrix, 1970. p. 4552. No contexto brasileiro, na década de 1950 o tema foi questionado e debatido em FERNANDES, Florestan. A sociologia numa era de revolução social. São Paulo: Cia. Ed. Nacional, 1963.
p. 77-144, 229-234 e 253-299; RAMOS, Alberto Guerreiro. Cartilha de aprendiz de sociólogo: por
uma sociologia nacional. Rio de Janeiro: Estúdio de Artes Gráficas C. Mendes Júnior, 1954.
23
FBN_RG_vocacao_01.indd 23
5/3/2009 09:39:39
Glaucia Villas Bôas
conhecimento “vulgar” que pode ser comum a todos os membros de uma
sociedade.
Porém, essas distinções não são suficientes para caracterizar as ciências
sociais. No conjunto da tradição do conhecimento erudito, elas convivem
com outros saberes de qualidade também elitista como a experiência religiosa,
a filosofia e o conhecimento das ciências naturais e exatas. As ciências sociais
adquirem identidade dentro daquele quadro enquanto idéia que trata da explicação dos fenômenos da vida social, a partir da sistematização e classificação
de materiais empíricos, submetidos à análise com instrumental teórico cuja
elaboração provém de um processo de generalização. A exatidão, a objetividade e a possibilidade de verificação dos resultados obtidos, características
gerais do conhecimento científico, qualificam, portanto, também as ciências
sociais.3
Tal modo de conhecer, a organização de sua prática e o sentido que lhe
é atribuído são forjados ao longo das transformações sociais decorrentes da
Revolução Industrial, com a consolidação da sociedade moderna de base técnico-industrial. Somente nesta configuração social concebe-se como possível
o domínio e o controle da vida social através do saber científico. O caráter
instrumental atribuído à disciplina está relacionado com a possibilidade de
“civilizar o homem” e “consumar a história”, que surge na época moderna.4
As ciências sociais são compreendidas como um programa, sugerido pela teoria
do desenvolvimento da sociedade.5 Assim, de um lado o desenvolvimento
histórico, de outro lado a possibilidade de controle e domínio da vida social
marcam a sua identidade.
Observando o princípio sociológico das relações entre conhecimento
e corpo social, é possível conhecer as características das ciências sociais a
partir do estudo das condições econômicas, sociais, políticas e históricas da
sociedade onde são elaboradas; da criação, organização e objetivos de instituições voltadas para a sua transmissão e produção; da origem social, trajetória
profissional e projetos político-ideológicos de grupos de estudos; também é
possível conhecê-las através de sua constituição interna, onde se inscrevem
aquelas mesmas condições sociais e institucionais, reapresentadas no plano do
pensamento por meio do procedimento cognitivo específico das disciplinas.
3. Cf. Institut für Sozialforchung Frankfurt (M). Empirische Sozialforchung. In: HANDWÖRTERBUCH der Sozialwissenschaft. Göttingen: Gesamtherstellung Rupert & Co., 1956-1964. v. 9.
4. Cf. FREYER, Hans. Op. cit.
5. Cf. KEMPSKI, Juergen V. Sozialwissenschaft. In: HANDWÖRTERBUCH der Sozialwissenschaft. Göttingen: Gesamtherstellung Rupert & Co., 1956-1964. v. 9. p. 617-626.
24
FBN_RG_vocacao_01.indd 24
5/3/2009 09:39:39
A vocação das ciências sociais no Brasil
A análise da constituição interna informa ainda sobre os limites diante dos
quais os cientistas sociais fizeram suas escolhas e traçaram o percurso de sua
história.
As ciências sociais se configuram através da conjugação de elementos
constitutivos, tais como pressupostos epistemológicos, paradigmas teóricos,
métodos e técnicas de investigação. Cada um deles – ou tomados em seu conjunto – pode ser utilizado para o exame das relações entre o conhecimento
e a sociedade na qual é elaborado, quando se trata de conhecê-las a partir de
elementos intrínsecos ao seu procedimento cognitivo.
Todavia, um dos traços marcantes da configuração das ciências sociais é a
diversidade de disciplinas e temas que conformam sua unidade. A repartição
em diferentes disciplinas retrata tanto a divisão do trabalho intelectual e os
grupos de várias profissões, como a existência de diversos pontos de vista de
conhecimento e análise das relações sociais.
A divisão em disciplinas tem sido observada na prática, apesar das controvérsias que suscita. Desde finais do século XIX, verifica-se um movimento
para estabelecer graus cada vez maiores de especialização, postura justificada,
no mais das vezes, pelo princípio necessário de verificação e comprovação do
conhecimento produzido. Recortar e isolar uma “fatia” do vasto quadro da
existência humana são fundamentos da divisão disciplinar:
Todos os campos e disciplinas têm a vantagem e a desvantagem de recortar alguma coisa do grande quadro da existência – na maioria das vezes apenas uma pequena fatia, a qual se
põe debaixo da lupa. O princípio é isolar; tudo depende daquilo
que é isolado do acordo com uma finalidade. Cada ciência tem,
portanto, suas questões básicas próprias, as quais a diferenciam
de outras.6
Ao mesmo tempo, observa-se o esforço pela reflexão sobre a unidade das
ciências sociais, movido por diferentes interesses. De um lado, considera-se
que cada “fatia” isolada contém o todo do qual faz parte, podendo-se, desse
modo, reconhecê-lo; de outro lado, reclama-se da indispensabilidade de uma
teoria geral da sociedade que explique os diferentes fenômenos individuais es-
6. Cf. WIESE, Leopold von. Soziologie. In: HANDWÖRTERBUCH der Sozialwissenschaft. Göttingen: Gesamtherstellung Rupert & Co., 1956-1964. v. 9. p. 626.
25
FBN_RG_vocacao_01.indd 25
5/3/2009 09:39:39
Glaucia Villas Bôas
tudados por cada disciplina.7 De outra perspectiva, proclama-se ainda a existência de um “mercado comum” entre os campos das ciências sociais:
Mas, ainda sem o querer explicitamente, as Ciências Sociais se impõem umas às outras, cada uma tende a compreender o social no seu todo, na sua totalidade; cada uma invade
o domínio de suas vizinhas crendo permanecer em casa. A
Economia descobre a Sociologia que a rodeia, a História –
talvez a menos estruturada das Ciências do Homem – aceita
todas as lições de sua múltipla vizinhança e se esforça por
repercuti-las. Assim, malgrado as reticências, as oposições,
as ignorâncias tranqüilas, a instalação de um “mercado comum” se “esboça”.8
O debate sobre as vantagens e desvantagens da especialização, da unificação das ciências sociais ou de conveniência disciplinar é vasto e reúne especialistas de diferentes campos do conhecimento. Para o propósito do trabalho,
importante é assinalar que o conjunto de disciplinas e subdisciplinas revela,
sobretudo, um complexo de relações sociais, a tomada de consciência dessas
relações e o interesse em problematizá-las e conhecê-las.9
Outra questão relativa à divisão disciplinar diz respeito aos campos de
conhecimento que integram o grupo das ciências sociais. A Enciclopédia Britânica10 inclui economia, ciência política, sociologia, antropologia, psicologia
social, estatísti ca social e geografia social, excluindo a história por não haver
consenso entre os historiadores quanto à sua pertinência às ciências sociais.
7. Na década de 1920, por meio da noção de “fato social total” Marcel Mauss demonstrava como
um fato social compreende dimensões diversas da sociedade global na qual se insere; MAUSS,
Marcel. Essai sur le Don. Forme et raison de l’échange dans les societés archaiques. In: ___.
Sociologie et anthropologie. Paris: PUF, 1968; LÉVI-STRAUSS, Claude. Introduction à l’oeuvre de
Marcel Mauss. In: MAUSS, Marcel. Op. cit.; em ADORNO, Theodor W.; HORKHEIMER, Max.
Op. cit., os autores reivindicam a necessidade de uma teoria geral da sociedade que permitiria
explicar os diversos setores em que a sociedade está dividida. Embora se refiram no mais das
vezes à sociologia e suas subdisciplinas, seus argumentos seriam válidos para as disciplinas que
compõem as ciências sociais.
8. Cf. BRAUDEL, Fernando. Escritos sobre a história. São Paulo: Perspectiva, 1978. p. 42.
9. Nesse sentido, cf. ADORNO, Theodor W.; HORKHEIMER, Max. Op. cit. cap. VIII; REDFIELD,
Robert. Relations of Anthropology to Social Sciences and Humanities. In: ANTHROPOLOGY
Today (An Encyclopedic Inventory), A. L. Kroeber (Org.). Chicago/London: The University Chicago Press, 1965, p. 728-738. Na p. 728 o autor afirma que “uma disciplina acadêmica é de imediato
um grupo de homens perseguindo relações sociais e um método de investigação”.
10. Cf. History of Social Sciences. In: ENCYCLOPAEDIA Britannica, 1972. v. 16. p. 980.
26
FBN_RG_vocacao_01.indd 26
5/3/2009 09:39:39
A vocação das ciências sociais no Brasil
A definição enciclopédica é tão importante quanto problemática. Importante porque representa um momento de síntese de uma teia de relações entre
os cientistas sociais, o contexto de suas atividades e o saber que elaboram;
problemática, porque aquelas relações variam ao longo do tempo e no espaço.
Ao excluir a história do conjunto de disciplinas, aquela definição deixa de considerar particularmente historiadores franceses,11 que insistem em conceber a
matéria como parte integrante das ciências sociais.
Ao lado das disciplinas, os temas tratados em cada uma delas e os temas
omitidos ou pouco estudados constituem um indicativo valioso para a compreensão do “retrato” de uma sociedade, seja no sentido mais amplo desse
conceito, seja quando restrito aos limites de uma sociedade nacional. Os temas expressam duplamente condições e situações sociais estudadas, e as escolhas possíveis dos pesquisadores. Mostram os problemas valorizados num
determinado período, como foram conhecidos e avaliados na perspectiva dos
cientistas sociais.
O exame das ciências sociais permite, portanto, caracterizar esse campo
do conhecimento erudito, distinguindo-o de outros ramos do saber e revelando as relações que mantém com a sociedade na qual surge e se desenvolve.
1. A escolha do período - 1945 a 1966
Não seria possível apontar o crescimento das ciências sociais no Brasil,
nos anos de 1945 a 1966, sem antes fazer referência às transformações econômicas, sociais e políticas que, tendo início na década de 1930, marcaram
a emergência de uma sociedade urbano-industrial de molde capitalista no
país. A partir daqueles anos, expandiu-se a indústria modificando o sistema
de estratificação social e imprimindo nova feição às cidades, ainda que de
forma desigual pelas regiões brasileiras; o Estado fortaleceu o poder central
e assumiu o controle de instrumentos indispensáveis para a execução de um
“programa” nacional de mudanças e reformas, favorecendo, entre elas, as institucionais de caráter político-administrativo e as educacionais.
Nesse contexto de transformações, se inicia no Brasil a formação do cientista social, cujos marcos são a criação da Escola Livre de Sociologia e Política,
em 1933, e a da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de
11. Cf. CARDOSO, Ciro Flamarion S. Uma introdução à história. São Paulo: Brasiliense, 1986. p.
34-39.
27
FBN_RG_vocacao_01.indd 27
5/3/2009 09:39:40
Glaucia Villas Bôas
São Paulo, em 1934, na capital paulista. No Rio de Janeiro, após ser criada a
Universidade do Distrito Federal, em 1935, que interrompeu suas atividades
em 1939, a Faculdade Nacional de Filosofia da antiga Universidade do Brasil
inicia seus cursos, inclusive o de Ciências Sociais, em 1939.
Outras entidades voltadas para o ensino ou pesquisa nesse campo foram
fundadas ainda nas décadas de 1930 e 1940. Juntamente com as instituições
pioneiras de São Paulo e do Rio de Janeiro, elas mostram investimentos feitos
no sentido da organização de cursos e de centros, cuja finalidade é a qualificação de especialistas, a obtenção de dados e a elaboração de estudos sistemáticos sobre a sociedade brasileira. Um exemplo desses estabelecimentos
é o Instituto Joaquim Nabuco de Pesquisas Sociais, órgão do Ministério da
Educação e Cultura, criado em 1949, na cidade do Recife.12
Considerando o tempo indispensável para a qualificação de especialistas,
além do prazo necessário para a elaboração de estudos e pesquisas, pode-se
pressupor que em finais da década de 1940 tenham surgido os primeiros resultados das atividades dessas instituições. Àqueles trabalhos pioneiros se teriam acrescentado outros, realizados ao longo da década de 1950 e início dos
anos 1960, período no qual, vale dizer, continuaram sendo criadas entidades
direcionadas para as ciências sociais.13 Tais estudos formariam um quadro, por
12. Em Belo Horizonte, a Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de Minas
Gerais inaugura curso de Ciências Sociais em 1941, fechando-o a seguir, e reabrindo-o em 1947;
porém, cursos de Sociologia e Política são ministrados naquela cidade, na Faculdade de Ciências
Econômicas, em 1945; em Salvador, o curso de Ciências Sociais aberto em 1945 na Faculdade
de Filosofia da Universidade da Bahia não se mantém, mas disciplinas como Antropologia são
ministradas nos cursos de Geografia e História. O desenvolvimento das pesquisas sobre o tema
é estimulado pelo convênio entre a Secretaria de Educação do Estado e a Universidade norteamericana de Columbia, em 1949. Muito embora não estivessem estritamente voltadas para a
pesquisa ou o ensino no campo das ciências sociais, devem ser lembradas instituições que contribuíram para o seu desenvolvimento como o Conselho Nacional de Geografia, formado em
1937 no Rio de Janeiro e incorporado, juntamente com o Departamento Nacional de Estatística,
de 1934, ao Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, fundado em 1938; em 1937, foi criado
o Institituto Nacional de Estudos Pedagógicos, órgão do Ministério da Educação e Cultura. A
Fundação Getulio Vargas é de 1944 e abriga o Instituto Brasileiro de Economia; regulamentado
o ensino nas Faculdades de Ciências Econômicas em decreto-lei de 1945, é fundada no mesmo
ano a Faculdade Nacional de Ciências Econômicas na Universidade do Brasil; em 1964, inaugura-se a Faculdade de Ciências Econômicas e Administrativas da Universidade de São Paulo.
13. São exemplos de instituições criadas ao longo dos anos 1950 e início dos anos 1960: o Instituto
de Direito Público e Ciência Política da FGV, criado em 1950; a Fundação para Desenvolvimento da Ciência, em Salvador, 1951; o Instituto Brasileiro de Economia, Sociologia e Política,
de 1953, transformado em 1955 no Instituto Superior de Estudos Brasileiros; as Faculdades de
Ciências Sociais e Política, em Fortaleza, 1954; o Centro Brasileiro de Pesquisas Educacionais,
1955; o Centro Latino-Americano de Pesquisas em Ciências Sociais, 1957; a Campanha de Defesa do Folclore e o Instituto de Ciências Sociais da Universidade do Brasil, 1958; o Instituto de
Ciências Sociais da Universidade da Bahia e a Universidade de Brasília em 1961.
28
FBN_RG_vocacao_01.indd 28
5/3/2009 09:39:40
A vocação das ciências sociais no Brasil
meio do qual seria possível conhecer características de um primeiro conjunto
da produção sistemática das ciências sociais, conjunto que teria reatualizado
a identidade daquele campo do conhecimento no país, diferenciando-o mais
claramente de outros ramos do saber erudito e renovando a tradição14 de estudos sobre a sociedade brasileira.
Junte-se àquela suposição, o fato de que os anos de 1945 a 1966 imprimem uma qualidade nova às mudanças que vinham ocorrendo no país desde
1930. O período se caracteriza por um regime democrático de governo, o qual
presume a existência de condições favoráveis para a divulgação mais ampla
de idéias. Nele, consolida-se a indústria capitalista e acelera-se o processo de
urbanização. A inserção do Brasil no sistema capitalista mundial moderno é
crescente. Na esfera da administração pública, o Estado dá prosseguimento à
criação de novos órgãos e instituições, iniciando sua atuação no planejamento da economia. As idéias e os ideais nacionalistas buscam fundamentos no
desenvolvimento econômico e social do país; enquanto isso, novos estratos
sociais participam de movimentos políticos, principalmente nas cidades. As
características das décadas de 1945 a 1966 teriam favorecido assim a expansão das ciências sociais, cuja origem, como se mencionou, está vinculada aos
problemas sociais decorrentes das transformações que marcaram o advento
da sociedade burguesa.
Entre as características do período em questão, sublinhem-se aqui a consolidação, o crescimento e a diferenciação da indústria e do mercado editoriais
no Brasil. A divulgação das idéias, através do meio específico que é o livro,
passa a ser feita em larga escala. Aqueles anos talvez tenham marcado uma
modalidade da difusão das idéias em geral, e da divulgação do conhecimento
erudito em particular, à medida que o livro “feito no Brasil” foi sendo cada
vez mais utilizado para aqueles fins. O conhecimento produzido teria então
alcançado um público mais amplo e mais diferenciado do que aquele de contextos históricos anteriores, quando a indústria do livro era incipiente no país,
ou apenas começava a se esboçar.
Pode-se argumentar que as oportunidades de acesso aos livros são medidas por diversas condições sociais, econômicas e políticas. De um lado, as
desigualdades econômicas, sociais e de nível de escolaridade restringem as
possibilidades de acesso aos textos; de outro, a produção de títulos pode ser
beneficiada ou limitada por políticas econômicas, editoriais ou culturais ado14. Empregamos o termo tradição no sentido utilizado em QUEIROZ, Maria Isaura Pereira de.
Op.cit.
29
FBN_RG_vocacao_01.indd 29
5/3/2009 09:39:40
Glaucia Villas Bôas
tadas, como também por características ou conjunturas da economia nacional
e internacional. Especialmente quanto à publicação em livro das pesquisas sobre a sociedade brasileira, pode-se argumentar ainda que se destinava, naquele
período, a um mercado consumidor reduzido e especializado, que se forjava
ao longo das mudanças implementadas na área da educação no país, desde a
criação das universidades, das faculdades de filosofia e das reformas do ensino
secundário nas décadas de 1920, 1930 e 1940. Todos esses argumentos são
válidos e mereceriam um exame minucioso que não nos cabe fazer aqui. Eles
não impedem, contudo, a observação de que no período em que se expandiram os estudos das ciências sociais, foram oferecidas condições indispensáveis para o desenvolvimento da indústria editorial no Brasil, por meio do que
ampliaram-se as possibilidades de veicular as idéias através dos livros.
Finalmente, levando em conta o término do regime democrático de governo em 1964, supõe-se que as condições institucionais, políticas e econômicas,
bem como aquelas específicas do mercado editorial, tenham sofrido influências desse fato e possivelmente alterado as características das publicações
sobre o tema.
Os motivos que levaram a indagações sobre o perfil das ciências sociais nos
anos de 1945 a 1966 são, portanto, os seguintes: a emergência de um conjunto
de estudos no campo da disciplina, fruto da institucionalização do ensino e da
pesquisa voltados para aquela área do conhecimento, nas décadas de 1930 e
1940, assim como o trabalho de instituições criadas até o início dos anos 1960;
as condições propícias à elaboração do conhecimento das ciências sociais que
teriam sido oferecidas tanto pelo regime democrático de governo, como pelas
transformações econômicas e sociais que nele ocorreram; e a implementação
efetiva da indústria do livro no país, que possibilitou em larga escala a divulgação das idéias através daquele meio. Essa modalidade da difusão do saber teria
caracterizado um primeiro conjunto da produção das ciências sociais, o qual
presume-se ter delineado a diferenciação daquele ramo do conhecimento dentro do quadro da tradição de estudos sobre a sociedade brasileira.
2.O livro como recurso empírico-metodológico e as
técnicas utilizadas na pesquisa
Para conhecer o perfil da produção dos cientistas sociais no Brasil, no
contexto social e histórico de 1945 a 1966, utilizou-se nessa pesquisa o
30
FBN_RG_vocacao_01.indd 30
5/3/2009 09:39:40
A vocação das ciências sociais no Brasil
livro como recurso empírico-metodológico. O livro define-se como meio
de comunicação e difusão da cultura, como produto e mercadoria, como
objeto de arte. Em definição corrente, o termo significa “mensagem escrita de extensão considerável feita para a circulação pública, e registrada em
materiais leves, mas duradouros o suficiente para ser carregada, comparativamente, com maior facilidade”.15 Acrescente-se que o livro é em geral
uma publicação não-periódica. Diferencia-se do folheto pelo número de
páginas e tipo de capa.16
A escolha do livro como material empírico dessa pesquisa foi precedida
de algumas considerações. O registro escrito é, sem dúvida, um elo indispensável entre a produção e a recepção das idéias. Ao materializar o saber
adquirido, a publicação completa uma etapa do saber, evidenciando interesse em divulgá-lo para um público mais amplo. Os livros conjugam, ao menos, duas ordens de interesse: conhecimento de determinados problemas,
debate de tais problemas.
Em segundo lugar, o uso do livro delimita um tipo específico de procedimento. Com o decorrer do tempo, não só guarda e acumula idéias, como
registra a memória de ações e maneira de pensar de seus autores. É uma
fonte vantajosa para a reconstrução histórica porque nela os estudiosos
expõem tanto o seu trabalho, quanto a avaliação que dele fazem no momento de sua atualidade.
A memória assim preservada permite que informações e conhecimentos sejam reatualizados sem passar pelo crivo das condições e referências do presente daquele que as transmite – como ocorre com a
memória oral. Jorge Luis Borges dizia que “o mais importante de um
livro é a voz do autor.” Como fonte de investigação, o livro garante a
continuidade de um diálogo. 17
Finalmente, a escolha das obras de ciências sociais possibilita redimensionar critérios utilizados nas avaliações da produção intelectual. Um desses critérios restringe a produção científica a um grupo de estudiosos que se define
15. Book. In: ENCYCLOPAEDIA Britannica, 1972. v. 3. p. 919.
16. De acordo com a Associação Brasileira de Normas Técnicas, órgão filiado à Federation Internationale de Documentation, o folheto tem no mínimo cinco e no máximo 49 páginas, revestidas
de papel ou cartolina. Cf. Normas ABNT sobre informação e documentação, NBR 6029, set.
2002.
17. O comentário está em BORGES, Jorge Luis. O livro. Humanidades, v. I, n. 1, p. 18, out.-dez.
1982.
31
FBN_RG_vocacao_01.indd 31
5/3/2009 09:39:40
Glaucia Villas Bôas
pela sua formação especializada, carreira profissional e inserção em instituição estritamente voltada para a produção científico-acadêmica. Outro critério busca observar características de estudos e pesquisas, vinculando sua
qualidade à qualidade da entidade que propicia condições para sua realização; neste caso, são avaliados os valores que norteiam as atividades daquela
instituição, seus objetivos, a qualificação de seus profissionais, normas que
regulamentam sua prática, o grau de autonomia que possui para preservar
seus interesses frente àqueles de instituições voltadas para outros fins.
Tanto um como outro dos critérios apontados tendem a limitar o exame
de produção científica ao exame de um grupo ou uma instituição “típicos”.
Parte-se do pressuposto de que o conhecimento científico se elabora nos
limites de um grupo ou de uma entidade que apresenta um conjunto de
características e aproxima-se assim de um padrão ideal. Tal perspectiva de
análise da produção científica leva ao risco de excluir da investigação tanto
o que produziram os estudiosos, quanto o que foi produzido pelas instituições que não tenham as qualidades consideradas indispensáveis para a
elaboração de estudos de caráter científico. Aliás, é o que ocorre no período observado, os autores nem sempre têm uma qualificação específica,
havendo entre eles não apenas cientistas sociais, mas também diplomatas,
militares, juristas, filósofos.
Diga-se ainda que esse procedimento não privilegia o conhecimento da
produção científica, mas a experiência de grupos e instituições voltados
para o desenvolvimento das ciências sociais. É certo que as instâncias da
produção científica, dos grupos de estudiosos das instituições científicas,
estão interligadas e são condicionadas pelas características econômicas, políticas, culturais e históricas da sociedade que as abriga, podendo contribuir
para a modificação ou manutenção de tais particularidades. Contudo, definida a instância que se pretende conhecer, entre os múltiplos planos que
envolvem a elaboração do conhecimento científico, segue-se a escolha e o
uso de instrumento analítico que permita estudá-la na sua especificidade.
Quanto ao livro, diga-se que o surgimento dos meios audiovisuais de
comunicação provocou um amplo debate sobre sua validade como instrumento de difusão da cultura. O rádio, o cinema, a televisão, as fitas magnéticas de gravação, pela velocidade com que informam e atualizam a ocorrência de um fato para grandes audiências, teriam desafiado o lugar longamente
privilegiado do livro na transmissão de conhecimentos.
32
FBN_RG_vocacao_01.indd 32
5/3/2009 09:39:40
A vocação das ciências sociais no Brasil
Todavia, aos argumentos que insistem na permanência do livro somam-se as
pesquisas18 que assinalam em toda a parte o crescimento do índice de produção
anual de novos títulos. No Brasil, o desenvolvimento da produção editorial – da
fundação da Imprensa Régia, em 1808, à década de 1920 – foi considerado um
dos mais lentos. Nos anos 1930, esboçam-se a indústria e o mercado editoriais,
os quais a partir da década de 1940 apresentam índices crescentes. Estima-se
que, entre livros e folhetos, o número de títulos publicados em 1940 tenha sido
de 1.678, elevando-se para 3.965 em 1950; 5.377 em 1960; 9.950 em 1971; e
13.267 em 1980, excluídas as publicações oficiais. Em 1980, o Brasil passa a
ocupar o 11º lugar na produção mundial de livros. A União Soviética, à frente
de todos os outros países, naquele ano publica 80.676.19
Os números são um indicativo importante da permanência do livro ao
lado de outros meios de comunicação. Não revelam, entretanto, as numerosas
atividades que envolvem sua fabricação. As obras condensam múltiplas relações sociais e históricas, e diversos processos de trabalho. Constituem uma
expressão sintética de aspectos da vida social e nacional, tão diferentes quanto
interligados, como os aspectos econômicos, políticos e da efervescência da
prática intelectual.
Utilizar o livro como fonte de pesquisa pressupõe, portanto, compreender
que o conhecimento, além das já referidas relações que mantém com a sociedade e grupos de estudiosos, está sujeito a mais uma rede de relações sociais,
no que respeita à sua divulgação e recepção através da escrita. Trata-se de uma
teia de relações exteriores ao processo de produção intelectual stricto sensu.
Ainda que não sejam investigadas nesse trabalho, é preciso reconhecê-las, pois
indicam limites do material pesquisado.
Nesse sentido, cabe dizer que a produção do conhecimento das ciências
sociais e sua transmissão através da escrita são, mesmo no Brasil, evidentemente, mais amplas do que aquelas que se inscrevem nos livros. As revistas
especializadas, as teses e os relatórios de trabalho não publicados constituem
outras fontes de análise que, ao lado do livro, conformam o quadro da produção escrita.
A par disso, saliente-se que, no período de 1945 a 1966, as condições
institucionais do trabalho científico se encontram em processo de reconhe18. Referimo-nos a ANDRADE, Olímpio de Souza. O livro brasileiro desde 1920. 2 ed. Rio de Janeiro: Cátedra; Brasília: INL 1978; e a HALLEWELL, Laurence. O livro no Brasil: sua história. São
Paulo: T. A. Queiroz/USP, 1985.
19. HALLEWELL, Laurence. Op. cit. p. 406, 426-427, 472 e 615.
33
FBN_RG_vocacao_01.indd 33
5/3/2009 09:39:41
Glaucia Villas Bôas
cimento e consolidação no Brasil. Há exemplos de estudiosos que desenvolveram suas pesquisas em campo de conhecimento distinto daquele de sua
formação acadêmica, ou interromperam sua trajetória profissional; há
exemplos também de instituições de vida efêmera, ou que mantiveram
atividades científicas sem ter logrado estabelecer meios adequados para
a consecução de seus objetivos. O estudo da produção científica naquele
período exigiria, portanto, duplamente, um procedimento metodológico
que privilegiasse a instância da produção cientifica e também observasse
suas condições históricas específicas.
A utilização das publicações de ciências sociais em livro, como recurso
empírico-metodológico, se mostra então apropriada para a avaliação da produção da disciplina, porquanto põe em evidência a produção propriamente
dita e evita a seleção a priori de estudos sobre a sociedade brasileira com base
em julgamentos de excelência, ou em requisitos da trajetória acadêmica e profissional de seus autores, ou no funcionamento de instituições. Apresenta-se
assim como critério mais adequado às particularidades do período histórico
abordado, de condições socioeconômicas tão efervescentes.
Note-se que as características de um conjunto de estudos e pesquisas inscrevem traços do percurso de seus cultores, das práticas institucionais e da
sociedade global; ao descrever e analisar em primeiro plano a produção científica, o trajeto metodológico dessa pesquisa favorece a observação daqueles
traços, sem entretanto limitar o horizonte de investigação dos mesmos.
Esse estudo do perfil das ciências sociais se baseia em uma amostra de
872 livros, constantes do acervo da Biblioteca Nacional, situada no Rio de
Janeiro. A Lei do Depósito Legal nº 10.994, de 14 de dezembro de 2004,
que determina seja entregue à instituição um exemplar de cada um dos livros
publicados no país, justifica a escolha desta Biblioteca. A entidade reúne, cataloga e conserva a maior parte da produção intelectual brasileira, embora
aquela Lei não venha sendo cumprida com regularidade, como foi possível
verificar durante a pesquisa. No entanto, é o acervo mais completo dos livros
de ciências sociais.
Foram buscados de início os livros classificados nas disciplinas que em definições correntes integram as ciências sociais: sociologia, antropologia, ciência
política, geografia humana, história, economia política e psicologia social.20
20. A reunião do material foi feita em duas etapas que cobrem os períodos agosto/outubro de 1985
e março/junho de 1986.
34
FBN_RG_vocacao_01.indd 34
5/3/2009 09:39:41
A vocação das ciências sociais no Brasil
A seleção das obras se estendeu às publicações datadas de 1945 a 1966.
Considerou-se que esta faixa permitiria: 1) incluir na amostra um número
significativo de estudos elaborados no contexto social e político focalizado pela
pesquisa; sabe-se que o término de um estudo não determina de imediato sua
publicação em livro, havendo um tempo, cujo cálculo médio costuma ser de
dois anos, entre o final do trabalho e a divulgação de seus resultados em livro;
2) examinar se as crises políticas que marcaram o início dos anos 1960 teriam
provocado alterações na produção científica, seja de ordem quantitativa, seja
de ordem qualitativa.
No sistema classificatório da Biblioteca Nacional a grande maioria dos
livros se encontra definida pela categoria “Brasil”, que se desdobra em numerosos subitens como Brasil – história, Brasil – condições sociais, Brasil –
religiões. A série Brasil – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística mostra
condições demográficas, natalidade, padrão de vida, custo e nível de vida, cidades, crescimento, mortalidade, causas, e assim por diante até que se esgotem
as possibilidades temáticas.
A partir da categoria-chave “Brasil” formam-se, portanto, conjuntos e subconjuntos que terminam por configurar uma espécie de “mapa”, onde estão classificadas as obras de ciências sociais referentes a uma, duas, ou mais daquelas categorias. Os grupos disciplinares “sociologia”, “antropologia”, e outros, com raras
exceções, incluem somente obras, manuais e introduções de autores estrangeiros.
Durante a coleta, foram analisados todos os conjuntos e subconjuntos indicados,
e selecionados os títulos que formam a amostra desse trabalho.
Essa disposição dos títulos nos catálogos fez com que, obrigatoriamente,
se lidasse com um amplo universo de obras sobre a sociedade brasileira, para
selecionar, entre elas, aquelas cujas fichas catalográficas indicavam sua pertinência ao campo das ciências sociais. No decorrer da seleção, verificou-se que
aos estudos sobre a sociedade brasileira acrescentavam-se obras de autores
nacionais dedicadas a questões teóricas e metodológicas sobre o tema. À medida que registravam características do pensamento dos especialistas sobre
seu campo de trabalho intelectual, no período em estudo, essas obras foram
incluídas na amostra.
Depois da coleta dos títulos, as primeiras observações do material levaram a um questionamento sobre a constituição das ciências sociais pela sociologia, antropologia e ciência política, como costumam ser reconhecidas no Brasil,
com base na organização de departamentos, faculdades e institutos universitários.
Notou-se que o conjunto de estudos sobre a sociedade brasileira era formado por
35
FBN_RG_vocacao_01.indd 35
5/3/2009 09:39:41
Glaucia Villas Bôas
diferentes enfoques disciplinares, que se complementavam e se interpenetravam,
enquanto cada disciplina delimitava sua fisionomia. De tal modo, que optar exclusivamente pela pesquisa da produção científica da sociologia, da antropologia e da
ciência política seria limitar, às perspectivas desses três campos do conhecimento,
o exame dos textos sobre as ações e relações sociais características da sociedade
brasileira no período aqui abordado. Manteve-se então o leque disciplinar que se
apresentava no acervo da Biblioteca Nacional.
Resta dizer que, para a classificação das obras selecionadas em disciplinas
e temas, foram utilizadas as informações contidas nas fichas catalográficas,
sobretudo o título do livro, considerado uma síntese de seu conteúdo, dada
pelo autor. Ao título foram relacionadas as noções-chave nas quais a obra fora
classificada pela Biblioteca, além de outras informações quanto ao conteúdo,
quando existentes (algumas raras fichas trazem o índice do livro). A essas
indicações somaram-se aquelas relativas ao órgão interessado na publicação,
muitas vezes institutos ou centros de pesquisa e ensino em ciências sociais, no
caso de publicações sem fins lucrativos.
Durante o processo de classificação foram verificados os seguintes problemas: 1) fichas que não registravam o ano de publicação da primeira edição
do livro; 2) informações incompletas devido à má feitura ou à falta de preservação das fichas da Biblioteca; 3) informações insuficientes para classificação.
Nesse caso, as fichas não apresentavam qualquer outra indicação, exceto o
título do livro, seu autor, ano e local de publicação. Tais dados encontravam-se
isolados das informações contidas nas noções-chave da classificação da obra.
Para resolver essas dificuldades, consultou-se o seguinte material: Introdução ao
estudo da Sociologia no Brasil, coordenação de Maria Isaura Pereira de Queiroz,
Introdução ao estudo da História do Brasil, coordenação de Sergio Buarque de
Holanda, Alice Piffer Canabrava e Nícia Vilela Luz, e Introdução ao estudo da
Antropologia no Brasil, coordenação de Egon Schaden, trabalhos apresentados
em seminário realizado em São Paulo, em 1971. Utilizou-se também a terceira
edição, de 1969, de Teoria da História do Brasil: introdução metodológica, de José
Honório Rodrigues, e a quarta edição de O que se deve ler para conhecer o Brasil,
de Nelson Werneck Sodré, publicada em 1973. Evitou-se a consulta aos livros
coletados na Biblioteca Nacional, senão quando aquele material não registrava
o título procurado. Além disso, vale dizer que o acervo guarda alguns livros
na sua segunda, terceira ou quarta edições, mas que foram publicados em primeira
36
FBN_RG_vocacao_01.indd 36
5/3/2009 09:39:41
A vocação das ciências sociais no Brasil
edição no período abordado neste trabalho. Quando foi possível reconhecer esse
fato, a obra ficou no conjunto de livros estudados e buscou-se informar ao leitor a
data de sua primeira edição.
3.O acervo estudado
Indicamos a seguir, com base nos livros de ciências sociais constantes do acervo
da Biblioteca Nacional, características da produção daquele campo do conhecimento que se referem à autoria dos estudos, à formação das ciências sociais por diferentes disciplinas, e à publicação e divulgação, em livro, de trabalhos realizados.
Pela autoria das 872 obras são responsáveis 585 autores, dos quais 3,8% são
mulheres e 4% são estrangeiros (entre homens e mulheres). A julgar pelos títulos
existentes na instituição, a autoria da maioria dos livros sobre a ciência, no período
referido, é nitidamente masculina e nacional.
Os textos dividem-se nas seguintes disciplinas:
Tabela I
Distribuição das obras de ciências sociais por disciplina
Disciplina
Número de obra
História do Brasil
303
Economia Política
158
Antropologia
141
Sociologia
121
Ciência Política
83
Geografia Humana
43
Demografia
23
Total
872
37
FBN_RG_vocacao_01.indd 37
5/3/2009 09:39:41
Glaucia Villas Bôas
O lugar de destaque da história do Brasil no conjunto das publicações
evidencia interesse marcante no estudo da historiografia.21 Os livros que
definem esse campo de trabalho correspondem a 34,7% do total de obras
distribuídas em sete disciplinas. A história do Brasil, note-se, foi a primeira
a ter uma prática organizada de investigação, criada em 1838 pelo Instituto
Histórico e Geográfico Brasileiro, no contexto das necessidades políticoideológicas da Independência.
Durante quase cem anos, de 1838 a 1934, quando foram iniciadas a formação do historiador e as atividades de pesquisa nos meios universitários – a
começar pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de
São Paulo –, o IHGB, sediado no Rio de Janeiro, e seus congêneres em outras
cidades brasileiras centralizaram a produção historiográfica.
A tradição de estudos do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro tem
sido objeto de exame, debate e crítica.22 No mais das vezes, argumenta-se
que aqueles textos limitaram-se ao registro de eventos oficiais e ao destaque
de vultos históricos, contribuindo no seu conjunto para a exaltação da nacionalidade. Não caberia aqui discutir a qualidade da historiografia vinculada
ao Instituto, mas tão-somente assinalar que a história, uma das mais antigas
disciplinas voltadas para as relações travadas entre os homens, foi também
no Brasil uma das primeiras a merecer a atenção dos estudiosos, de modo
regular e de acordo com normas e valores. A antigüidade do conhecimento
da história, no Brasil, poderia explicar a alta percentagem das publicações
indicadas na tabela I.
Contudo, assinale-se que o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro,
dedicando-se de fato ao conhecimento da história do Brasil e não à geografia, foi responsável pelas primeiras pesquisas etnográficas realizadas no
país a partir de 1840, cujo foco principal de interesse eram os costumes
21. A propósito da definição dos termos História e historiografia, ver IGLESIAS, Francisco. Introdução à historiografia econômica. Belo Horizonte: Universidade de Minas Gerais, 1959. p. 11-12;
CARDOSO, Ciro Flamarion S. Op. cit. p. 25-27; utiliza-se neste trabalho o termo historiografia
para denominar o conhecimento produzido no campo da história, o qual se constitui de teorias,
métodos e técnicas próprios; emprega-se História para a disciplina.
22. Cf. CANABRAVA, Alice Piffer. Roteiro sucinto do desenvolvimento da historiografia, publicado
em HOLANDA, Sergio Buarque; CANABRAVA, Alice Piffer; LUZ, Nícia Vilela (Coord.). Introdução
ao estudo da história do Brasil, São Paulo, 1971. Cadernos do Instituto de Estudos Brasileiros; GUIMARÃES, Manoel Luiz Salgado. Nação e civilização nos trópicos: o Instituto Histórico e Geográfico
Brasileiro e o projeto de uma história nacional. Estudos Históricos, Rio de Janeiro, n. 1, 1988.
38
FBN_RG_vocacao_01.indd 38
5/3/2009 09:39:42
A vocação das ciências sociais no Brasil
de tribos indígenas,23 o que revela a importância conferida à antropologia
desde aquela data.
Nesse sentido, convém lembrar que as disciplinas integrantes do elenco
das ciências sociais nessa pesquisa, de modo geral começaram a esboçar seuscampos de trabalho no século XIX, seja por meio do ensino, seja pelas pesquisas e levantamentos feitos em órgãos governamentais, institutos e museus,
ou com a publicação de obras precursoras em livro, que demonstram interesse
em um campo do saber.24 Ressalte-se o desenvolvimento específico da história do Brasil, porque entre as disciplinas essa área foi possivelmente a que mais
estimulou os pesquisadores, levando ao seu estudo de modo sistemático após
a Independência. Tal fato, como já se mencionou, poderia explicar o elevado
número de publicações sobre o tema, constante da amostra.
Essas observações iniciais sugerem apenas que o estudo razoavelmente
intenso de uma disciplina, em determinado período histórico, não parece estar condicionado pelas características específicas de um instrumental teórico
e metodológico que se mostre valioso para a compreensão de fenômenos
significativos em um momento histórico específico. Poder-se-ia supor que,
nos anos de 1945 a 1966, a economia política e a sociologia, devido a características da identidade cognitiva de cada uma dessas disciplinas, voltadas para o
desenvolvimento econômico e as transformações sociais, teriam correspondido mais do que outras áreas do saber à demanda de conhecimentos sobre os
problemas sociais peculiares àquele período histórico no Brasil; conseqüen23. Cf. QUEIROZ, Maria Isaura Pereira de. Brésil, XIXe siècle: les précurseurs des sciences sociales – culture, science et développement. Paris: Privat, 1979; e da mesma autora: Desenvolvimento das ciências
sociais na América Latina e contribuição européia: o caso brasileiro. Ciência e Cultura, v. 41, n. 4,
p. 378-388. abr. 1989.
24. A respeito da constituição dos campos disciplinares das ciências sociais no Brasil, a partir do
século XIX, ver QUEIROZ, Maria Isaura Pereira de. Brésil, XIXe siècle: les précurseurs des sciences
sociales – culture, science et développement. Paris: Privat, 1979; e da mesma autora: Desenvolvimento
das ciências sociais na América Latina e contribuição européia: o caso brasileiro. Ciência e Cultura,
v. 41, n. 4, p. 378-388, abr. 1989; AZEVEDO, Fernando de. A cultura brasileira, São Paulo: Melhoramentos, 1956. tomo II, cap. II e IV; AZEVEDO, Fernando de. A antropologia e a sociologia
no Brasil. In: ___ (Org.). As ciências no Brasil. São Paulo: Melhoramentos, 1956; PEREIRA, José
Verissimo da Costa. A geografia no Brasil. In: AZEVEDO, Fernando de. (Org.). As ciências no
Brasil. São Paulo: Melhoramentos, 1956. Sobre geografia ver também PRADO JR., Caio. Evolução
política do Brasil e outros estudos. 4 ed. São Paulo: Brasiliense, 1963. p. 165-186; HUGON, Paul. A
economia política no Brasil. In: AZEVEDO, Fernando de. (Org.). As ciências no Brasil. São Paulo:
Melhoramentos, 1956. Sobre economia política ver também LIMA, Heitor Ferreira. História do
pensamento econômico no Brasil. São Paulo: Cia. Ed. Nacional, 1976; RODRIGUES, José Honório.
Teoria da história do Brasil: introduçao metodológica. 3 ed. São Paulo: Cia. Ed. Nacional, 1969.
39
FBN_RG_vocacao_01.indd 39
5/3/2009 09:39:42
Glaucia Villas Bôas
temente, teriam se posicionado de modo mais marcante, relativamente a outros campos disciplinares no quadro de suas publicações em livro. Os dados
obtidos indicam, entretanto, que embora figurem sem dúvida em lugar de
destaque, o número de publicações em cada uma delas está longe de superar
aquele da história do Brasil; ao mesmo tempo, a tabela I mostra que ao lado
da economia política e da sociologia, o interesse dos estudiosos pela antropologia foi relevante naqueles anos.
Depreende-se, portanto, dessas observações preliminares, ser indispensável examinar em seu conjunto os fatores que possivelmente interferem na
produção de conhecimento de uma disciplina em um contexto social e histórico específico.
Quanto aos dados da tabela I, é necessário destacar ainda algumas
­observações. Durante o processo de classificação das obras, verificou-se a
existência de numerosos estudos sobre o folclore brasileiro. Tais pesquisas
não alcançaram o prestígio de uma disciplina científica, mas tangenciam de tal
modo os limites da história social, da sociologia e da antropologia, que ainda
hoje sua identidade constitui objeto de debates e controvérsias.25 Particularmente no contexto histórico analisado nesse estudo, quando a diferenciação
dos campos de trabalho intelectual se torna foco de interesse dos especialistas, houve uma ampla discussão sobre o projeto e as “fronteiras” do conhecimento sobre o assunto. De modo geral, encontrava-se o folclore como
um ramo da antropologia; como disciplina humanística; como fenômeno a
ser estudado por disciplinas tais como a sociologia, a psicologia, a lingüística, a antropologia etc. Ao mesmo tempo, reivindicava-se para o folclore um
domínio de conhecimento próprio, científico e autônomo.26Observou-se que
os trabalhos sobre o tema, freqüentemente denominados etnográficos em títulos constantes da amostra, tratavam a cultura brasileira do ponto de vista
de suas tradições populares. Aproximavam-se assim do objeto característico
da antropologia – a cultura –, como também do quadro temático específico
25. Cf. ORTIZ, Renato. Românticos e folcloristas: cultura popular. Texto 3. São Paulo: PUC, 1985.
26. Sobre as controvérsias suscitadas pelos estudos de folclore cf. FERNANDES, Florestan. A
etnologia e a sociologia no Brasil. São Paulo: Anhambi, 1958. p. 247-327; CARNEIRO, Edison. Evolução dos estudos de folclore no Brasil. Revista Brasileira de Folclore, Rio de Janeiro, p. 159-180,
1962; RAMOS, Arthur. Estudos de folclore. Rio de Janeiro: Casa do Estudante do Brasil, 1958;
CAVALCANTI, Maria Laura Viveiros de Castro; VILHENA, Luis Rodolfo da Paixão. Traçando
fronteiras: o folclore na década de 1950. In: REUNIÃO ANUAL DA ANPOCS, XIII, 1989.
40
FBN_RG_vocacao_01.indd 40
5/3/2009 09:39:42
A vocação das ciências sociais no Brasil
dos estudos antropológicos naquele período, interessados especialmente nos
traços constitutivos da cultura brasileira, como veremos mais adiante. A par
disso, foram aproveitados apontamentos sobre a história da antropologia no
Brasil,27 que mostram como essa disciplina ao institucionalizar-se e estabelecer seus fundamentos científicos, recebeu e buscou reelaborar o legado de
um conjunto de trabalhos sobre aspectos da cultura brasileira, entre os quais
o folclore, que vinham sendo realizados desde o século XIX. As pesquisas
sobre o assunto figuram então nesses textos no campo da antropologia, excetuando-se aqueles, em número menor, que trataram do tema das tradições
populares de uma perspectiva sociológica.
A ciência política consta da tabela com número de obras limitado, se comparado aos das quatro primeiras disciplinas expostas, sobretudo história do Brasil.
Ele representa, entretanto, quase o dobro do número de estudos da geografia
humana, e em muito excede o da demografia. Ao mesmo tempo, a quantidade
de estudos apresentada pela ciência política poderia tornar-se significativa, se
levássemos em conta que o objeto de conhecimento da disciplina é alvo de controvérsias, e os limites entre ciência política, ciência do direito, sociologia política
e história política provocam discordância entre os estudiosos.28
Relativamente às outras disciplinas, a geografia humana apresenta um número restrito de obras. Com base na amostra da Biblioteca Nacional, restaria
averiguar as características da constituição desse campo de estudos no Brasil,
a fim de compreender os limites de sua produção científica, em comparação
a outros temas.
Os trabalhos sobre demografia são os mais reduzidos. A inexistência de
um campo próprio para a formação profissional do demógrafo na universidade, além do papel de disciplina “auxiliar” que muitas vezes lhe é atribuído
seriam fatores, entre outros, a serem investigados no estudo da produção da
disciplina dentro do quadro das ciências sociais, pelo menos quanto à amostra
da Biblioteca Nacional.
No que respeita aos campos disciplinares que conformam as ciências sociais,
cabe dizer ainda que a psicologia social não se esboça enquanto área de estudos
27. Cf. MELATTI, Julio Cezar. A antropologia no Brasil: um roteiro. BIB – Revista Brasileira de Informação Bibliográfica em Ciências Sociais, n. 17, 1984.
28. Cf. EASTON, David. Political Science. In: INTERNATIONAL Encyclopaedia of Social Sciences. New York: Macmillan, 1968. v. 12. p. 282.
41
FBN_RG_vocacao_01.indd 41
5/3/2009 09:39:42
Glaucia Villas Bôas
sobre a sociedade no conjunto dos livros selecionados. Tampouco evidencia-se
uma linha de trabalho específico sobre questões teóricas e metodológicas da
disciplina, como ocorre no campo de todas as outras na tabela I.
Duas outras características da produção das ciências sociais, tal como se
apresenta na amostra de livros, dizem respeito a sua publicação e divulgação.
A cidade do Rio de Janeiro sobressai no conjunto como o grande centro de
publicação e divulgação do tema, sendo ali publicadas 58% das obras. O fato
de ter sido a capital do país até 1960 concorre para que a produção de editoras
comerciais e de órgãos do governo federal concentrem na cidade o maior número de publicações. São Paulo vem logo em seguida com 24,5% do total de
livros. A comparação entre a produção editorial desses dois centros urbanos
(82,5%) e aquela das outras cidades brasileiras indicadas na amostra (17,5%)
demonstra que a publicação das ciências sociais em livro parece se concentrar
no Sudeste do país.
O elevado percentual de livros publicados no Rio de Janeiro e em São
Paulo corresponde ao crescimento da indústria editorial e de público leitor
especializado, também concentrados naquelas cidades. É preciso observar,
entretanto, que aquele percentual não traduz necessariamente uma concentração das atividades intelectuais relativas às ciências sociais naqueles centros;
portanto, diversos autores de estudos publicados no Rio de Janeiro e em São
Paulo não exerceram suas atividades nessas localidades.
Poder-se-ia supor que a distribuição dos livros do Rio de Janeiro e de São
Paulo para o restante do país, reduzindo os efeitos da concentração da produção editorial, favorecesse a difusão das ciências sociais em outras localidades.
Mas a distribuição dos livros, insuficiente até hoje, deparava-se naquele período com obstáculos ainda mais graves.29 Assim, também obras publicadas em
outras cidades brasileiras provavelmente não alcançaram os mercados carioca
e paulista. Entretanto, ainda que sejam considerados os problemas relativos
à distribuição de livros no país, o destacado número de trabalhos publicados
no Rio de Janeiro e em São Paulo, que se evidencia na amostra estudada, é
indicativo de que a divulgação das ciências sociais, em livro, ocorreu em larga
escala nos dois centros urbanos do Sudeste do país, no período focalizado
nessa pesquisa.
29. Problemas relativos à distribuição de livros no Brasil são discutidos em HALLEWELL, Laurence. Op. cit. p. 516-519.
42
FBN_RG_vocacao_01.indd 42
5/3/2009 09:39:42
A vocação das ciências sociais no Brasil
Tabela II
Distribuição das obras de ciências
sociais por disciplina e local de publicação
Disciplina
RJ
SP
SAL
BH
RE
PA Outras Total
História do Brasil 191
66
9
10
3
3
21
303
Economia Política 86
40
5
15
8
3
1
158
Antropologia
83
31
8
1
8
-
10
141
Sociologia
55
47
6
3
4
-
6
121
Ciência Política
55
15
4
6
1
-
2
83
Geografia Humana 20
14
1
1
6
-
1
43
Demografia
15
1
4
-
3
-
-
23
Total
505
214
37
36
33
6
41
872
Obs.: São doze as cidades incluídas na categoria “outras”, e apresentam um
número de publicações que varia de um a seis.30
Nota-se que há uma variação entre disciplinas e o local de publicação: as
cidades do Rio de Janeiro e de São Paulo se distinguem pela maior quantidade
de publicações em todas as disciplinas, com exceção da demografia, área em
que São Paulo surpreendentemente só apresenta um livro. Nas demais cidades, o surgimento de publicações é muito mais baixo. Destacam-se, todavia, as
publicações de história do Brasil e de economia política em Belo Horizonte.
Quanto às cidades restantes, apresentam cada uma menos de dez livros. Essas
observações, no entanto, não são concludentes, porque se referem somente às
obras que foram remetidas à Biblioteca Nacional. Quantas não o foram?
A publicação de obras com fins lucrativos constitui a maioria de 63%, o
que pressupõe a existência de um mercado satisfatório. O Estado, por meio de
órgão do governo federal, estadual ou municipal, as universidades e as associações
civis são responsáveis por 34% das publicações sem fins lucrativos. Da amostra, 1,5% são co-edições e 1,5% publicações sem indicação de editora.
30. Na categoria “outras” estão incluídas as seguintes cidades: Manaus, Fortaleza, Crato, João Pessoa, Aracaju, Maceió, São João del Rei, Pitangui, Ribeirão Preto, Curitiba, Florianópolis e Brusque.
43
FBN_RG_vocacao_01.indd 43
5/3/2009 09:39:42
Glaucia Villas Bôas
A relação entre interesse com ou sem fins lucrativos e a divulgação das
disciplinas se apresenta do seguinte modo:
Tabela III
Distribuição das obras de ciências sociais pelo tipo de publicação
Disciplina
L
S/L
COE
S/ED
Total
História do Brasil
225
70
2
6
303
Economia Política
86
65
3
4
158
Antropologia
72
68
1
-
141
Sociologia
82
35
4
-
121
Ciência Política
56
26
-
1
83
Geografia Humana
17
24
-
2
43
Demografia
8
12
3
-
23
546
300
13
13
872
Total
Obs.: L – publicações com fins lucrativos; S/L – publicações sem fins lucra-
tivos; COE – co-edições; S/ED – publicações sem indicação de editora.
Observa-se na tabela III que a publicação de estudos das diferentes disciplinas das ciências sociais se diferencia no que se refere ao tipo de interesse
nela envolvido, seja lucrativo ou não. A história do Brasil, a sociologia e a
ciência política, ainda que com diferentes percentuais de obras publicadas
com fins lucrativos, teriam assegurado ou estariam assegurando sua divulgação através de editoras comerciais. Distinguem-se delas a antropologia e a
economia política por apresentarem boa parte de suas obras financiadas por
órgãos do Estado, universidades ou associações civis. Mais diversa, entretanto,
é a situação da geografia humana e da demografia, cujos estudos na sua maioria são publicados sem fins lucrativos. A história do Brasil com a maioria de
publicações com fins lucrativos tem assegurado um lugar no mercado edito-
44
FBN_RG_vocacao_01.indd 44
5/3/2009 09:39:43
A vocação das ciências sociais no Brasil
rial à frente de todas as outras disciplinas do quadro; relativamente aos outros
campos disciplinares apresenta o mais reduzido percentual de obras sem fins
lucrativos. Aliás, em todas as disciplinas, com exceção da geografia humana
e da demografia, aumenta o número de obras publicadas com fins lucrativos,
o que revela a existência de um público interessado em todas elas. A par disso, as co-edições − livros publicados em conjunto por editoras comerciais
e órgãos do governo −, embora em número reduzido, mostram também o
interesse do mercado nas publicações em ciências sociais.
Na tabela abaixo são apresentadas as cidades nas quais os livros com e sem
fins lucrativos ocupam um lugar de destaque:
Tabela IV
Distribuição das obras de ciências sociais por local e tipo de publicação
Local de
Publicação
Publicações
com fins
lucrativos
Publicações
sem fins
lucrativos
Publicações
Co-edições sem indicações
de editora
Total
RJ
312
184
5
4
505
SP
174
36
2
2
214
SAL
16
14
6
1
37
BH
10
23
-
3
36
RE
5
28
-
-
33
PA
5
-
-
1
6
Outros
24
15
-
-
39
Total
546
300
13
11
870
No Rio de Janeiro e em São Paulo existem em grande quantidade publicações com fins lucrativos; em proporções muito menores, os títulos de Porto
Alegre pertencem também àquela categoria. Em Belo Horizonte e Recife,
a quantidade se inverte, aumentando o número das edições não lucrativas,
45
FBN_RG_vocacao_01.indd 45
5/3/2009 09:39:43
Glaucia Villas Bôas
enquanto em Salvador elas se equiparam. Há indicação, portanto, de que o
mercado livreiro é menor em Belo Horizonte e Recife, e mesmo em Salvador, apesar das co-edições de órgãos públicos e editoras comerciais, que se
destacam naquela cidade. A quantidade de livros publicados nessas capitais é
comparativamente pequena, o que também revela a existência de um mercado
reduzido. Ainda que textos nelas publicados não tenham sido enviados à Biblioteca Nacional – e, nesse caso, a soma seria maior –, esse total dificilmente
superaria o número de obras publicadas no Rio de Janeiro e em São Paulo.
Verificou-se também que a Universidade da Bahia e a Universidade de Minas
Gerais financiaram grande parte dos livros editados nas capitais mineira e
baiana; em Recife, diversas publicações ficaram sob a responsabilidade do Instituto Joaquim Nabuco de Pesquisas Sociais, órgão do Ministério da Educação
e Cultura. Na tabela, é notável o pequeníssimo número de livros publicados
em Porto Alegre nas categorias examinadas.
As características observadas na amostra de livros selecionada na Biblioteca Nacional revelam que a produção de conhecimento no campo das ciências
sociais, no contexto histórico dos anos de 1945 a 1966, se apresenta como um
conjunto diferenciado.
O conjunto se distingue pelos diversos enfoques disciplinares que dele
fazem parte e pela variedade de estudos publicados em livro, em cada uma das
disciplinas. Os dados da amostra indicam que os cientistas sociais formavam
um grupo heterogêneo, constituído de especialistas em diferentes áreas do conhecimento; ao mesmo tempo, a grande quantidade de trabalhos registrados
e divulgados em livro, elaborados em cada disciplina, sugere a existência de
interesses distintos pelo estudo de temas diversos nesse âmbito.
A difusão das ciências sociais teria sido mais intensa nos dois grandes centros do Sudeste, enquanto a indústria e o mercado editoriais, nessas cidades,
teriam favorecido a divulgação das Ciências Sociais. Já em locais como Salvador, Belo Horizonte e Recife, além de número comparativamente reduzido
de publicações, aparecem quantidades maiores de obras publicadas sem fins
lucrativos, financiadas por órgãos de Estado, universidades ou associações civis. Se a quantidade de livros editados revela a demanda por eles, Porto Alegre
figura como um dos menores mercados no período estudado.
Há maior interesse de editores comerciais na publicação de estudos de
história do Brasil, de sociologia e de ciência política, seguindo-se então o in-
46
FBN_RG_vocacao_01.indd 46
5/3/2009 09:39:43
A vocação das ciências sociais no Brasil
teresse pela economia política, enquanto órgãos oficiais, principalmente, se
responsabilizaram por quase metade das publicações de antropologia e pela
maioria dos estudos de geografia humana e demografia.
Notou-se também haver uma variação entre o número de obras publicadas
em uma disciplina e o local de sua publicação, sugerindo que a formação de
grupos especialistas e a produção em determinados campos disciplinares não
ocorrem de modo idêntico nas cidades que editaram textos de ciências sociais.
Tais observações, em seu conjunto, sugerem que no Brasil, durante o período estudado, as ciências sociais apresentam um quadro de trabalhos qualitativa e quantitativamente diferenciado, cuja publicação e divulgação em livro
também apresentam desigualdades.
47
FBN_RG_vocacao_01.indd 47
5/3/2009 09:39:43
FBN_RG_vocacao_01.indd 48
5/3/2009 09:39:43
II
Disciplinas e Temas
O conjunto de livros em ciências sociais constante do acervo da Biblioteca Nacional revela um crescimento notável do número dessas publicações, podendo-se afirmar com base nos dados analisados que as disciplinas se expandiram ao longo dos anos de 1945 a 1966.
Entretanto, o florescimento dos estudos não ocorreu do mesmo
modo nas duas grandes linhas de trabalho às quais se dedicaram os cientistas sociais, interessados ora em questões teórico-metodológicas, ora
em problemas concretos da sociedade brasileira. O aumento dos estudos
em livro variou também de disciplina para disciplina entre aquelas focalizadas nessa pesquisa, indicativo de que houve um interesse desigual pelo
enfoque das diferentes áreas das ciências sociais. O mesmo se verifica
quanto aos temas escolhidos pelos especialistas. Os diversos assuntos
tratados não foram completados uniforme e regularmente, chamando
uns mais atenção do que outros.
Esse capítulo apresenta, inicialmente, características da expansão do
conjunto da produção em livro das ciências sociais. Em seguida, oferece
uma descrição do seu universo temático, no período histórico abordado,
com base nas obras publicadas em cada tema e disciplina integrantes do
acervo estudado.
1. O crescimento da produção das ciências sociais
O exame do gráfico I mostra o aumento dos estudos em ciências sociais,
publicados em livro, nos anos que se estendem de 1945 a 1966:
49
FBN_RG_vocacao_02 a.indd 49
5/3/2009 09:48:22
Glaucia Villas Bôas
Gráfico 1
Livros publicados em Ciências Sociais (1945 - 1966)
10
20
30
40
50
60
70
1945
1946
1947
1948
1949
1950
1951
1952
1953
1954
1955
1956
1957
1958
1959
1960
1961
1962
1963
1964
1965
1966
As cifras revelam que o número de estudos em ciências sociais, publicados
em livro, amplia-se no período de 1945 a 1966, porém de modo irregular.
De 1945 a 1955, a quantidade de publicações diminui em sua metade (36
livros em 1945 para 18 em 1953), mas em 1954 começa a se elevar, du50
FBN_RG_vocacao_02 a.indd 50
5/3/2009 09:48:22
A vocação das ciências sociais no Brasil
plicando e triplicando o número de obras sobre o tema a partir daquela
data e comparativamente com os anos anteriores, para então atingir seus
maiores índices em 1958 (64 obras) e 1959 (62 obras), de acordo com a
amostra estudada. Apesar da irregularidade observada no crescimento anual
de publicações, no período verificado, é evidente o aumento do conjunto
de livros que veio a público a partir da segunda metade da década de 1950.
Os dados são sugestivos e mostram que a expansão dos estudos em ciências
sociais ocorre justamente quando as mudanças econômicas e sociais tomam
vulto, e não apenas quando repercutem nos debates e iniciativas dos meios
culturais e científicos, como na consolidação da indústria e crescimento do
mercado do livro no país.
Observando, então, que o aumento da produção das ciências sociais se
associava às transformações e ao clima de efervescência que distinguem
o Brasil de meados da década de 1950, dividiu-se o conjunto dos textos
estudados em dois subgrupos correspondentes respectivamente às obras
publicadas nos anos 1945–1955 e 1956–1966, de tal modo que se pudesse
apreciar a permanência ou não de relações entre as mudanças que ocorriam
e os estudos em ciências sociais, no que respeita às preferências por enfoques disciplinares e à escolha de temas por parte dos especialistas.
2.Duas linhas de trabalho dos cientistas sociais
No período analisado, a produção em livro das ciências sociais,
inscrita na amostra observada nesse estudo, evidencia duas linhas de
trabalho cultivadas pelos cientistas sociais. A primeira delas, representada no conjunto obras sobre a disciplina, tem como interesse
o corpo conceitual e teórico de um tema, tratando de problemas
relativos à elaboração de estudos e pesquisas, bem como ao ensino
da disciplina no país. Essa vertente está, portanto, voltada para a delimitação, o aprimoramento e o controle das atividades de um campo
específico de trabalho intelectual. Por meio desse grupo, seria possível avaliar o interesse dos estudiosos no autoconhecimento de suas
atividades e o papel que atribuíam à produção do saber no âmbito de
uma área específica.
51
FBN_RG_vocacao_02 a.indd 51
5/3/2009 09:48:23
Glaucia Villas Bôas
A segunda linha de trabalho, inscrita no conjunto obras sobre temas
específicos, tem como alvo o conhecimento de múltiplos aspectos da sociedade brasileira. Recordando uma das características das ciências sociais,
referida no capítulo I, a qual define o “sentido” das disciplinas como o de
esclarecer cientificamente problemas sociais, com a finalidade de oferecer
informações que possam orientar práticas de grupos sociais, poder-se-ia dizer que esse conjunto de textos expõe os problemas da sociedade brasileira
que os estudiosos julgaram relevante esclarecer, no contexto dos anos de
1945 a 1966, e que, paralelamente, interessavam ao público leitor.
Observe-se no quadro I o crescimento dessas duas linhas de estudos e
reflexão:
Quadro I
Obras em ciências sociais publicadas
nos anos 1945 - 1955 e 1956 - 1966
Total
1945 -1955
1956–1966
872
321
551
Obras sobre a disciplina
145
53
92
Obras sobre temas específicos
727
268
459
Tipo de obra
Obras em ciências sociais no seu conjunto
É notável o aumento das obras em ciências sociais no contexto
histórico em foco: de 1945 a 1955 são publicadas 321 obras, correspondendo a 36,81% do total de livros da amostra, enquanto de 1956
a 1966 publicam-se 551 obras, ou seja, 63,19%. Quanto às duas linhas básicas de estudo, às quais se dedicaram os especialistas naqueles anos, nota-se que o número de obras sobre a disciplina aumenta
de 53 para 92; já a quantidade de obras sobre temas específicos se
eleva de 268 para 459. Porém, a despeito do aumento, o peso desses
52
FBN_RG_vocacao_02 a.indd 52
5/3/2009 09:48:23
A vocação das ciências sociais no Brasil
diferentes estudos não se altera nas duas fases focalizadas. O conjunto das obras sobre a disciplina soma aproximadamente 16,50%, e as
obras sobre temas específicos cerca de 83,50% dos livros publicados,
em cada um daqueles períodos (321 e 551 obras).
Os números mostram o peso das publicações sobre temas específicos e concretos ultrapassando em muito o das obras sobre as disciplinas.
Maria Isaura Pereira de Queiroz havia notado em seu trabalho sobre o
desenvolvimento das ciências sociais no Brasil, de 1850 até a década de
1930, que os estudiosos brasileiros sobre o assunto foram muito mais
pesquisadores que pensadores – o esclarecimento de problemas concretos da sociedade brasileira os atraía mais do que as reflexões teóricas. 1
Esse fato parece se repetir no período examinado, assim como o expressivo crescimento das obras em ciências sociais. As posições dos estudos
nas categorias obras sobre a disciplina e obras sobre temas específicos
não se alteram no conjunto dos livros publicados, em nenhuma das fases apontadas no quadro I.
3.O interesse desigual pelas disciplinas
O interesse pelo estudo das diferentes disciplinas das ciências sociais
foi desigual e variável no contexto dos anos de 1945 a 1966, de acordo
com a amostra de livros analisada. Poder-se-ia indagar que motivos levam
a conferir maior ou menor importância a uma disciplina científica em um
contexto social e histórico específico? Por que a identidade cognitiva de
uma disciplina é mais valorizada do que outras em determinado país e período histórico?
A fim de compreender esse interesse desigual e variável no contexto
histórico em foco, deve-se observar o quadro II, com o número de obras
publicadas pelas diferentes disciplinas constantes da amostra dessa pesquisa
nos anos 1945 - 1955 e 1956 - 1966.
1. Cf. QUEIROZ, Maria Isaura Pereira de. Desenvolvimento das ciências sociais na América
Latina e contribuição européia: o caso brasileiro. Ciência e Cultura, São Paulo, v. 41, n. 4, p. 378388, abr. 1989.
53
FBN_RG_vocacao_02 a.indd 53
5/3/2009 09:48:23
Glaucia Villas Bôas
Quadro II
Obras publicadas por disciplina
nos anos 1945 - 1955 e 1956 - 1966
Disciplinas
1945–1955
1956–1966
História do Brasil
123 180 T = 303
Economia política
46 112 T = 158
Antropologia
70 71 T = 141
Sociologia 34 87 T = 121
Ciência política
20 63 T = 83
Geografia humana
18 25 T = 43
Demografia
10 13 T = 23
Ao longo do período entre 1945 e 1966, a quantidade de obras publicadas aumentou em todas as disciplinas, exceção feita à antropologia, cujo número de livros se mantém praticamente igual nas duas fases analisadas. Ao mesmo tempo, os dados evidenciam uma acentuada
desigualdade no “ritmo” de crescimento das publicações em cada um
dos campos do saber. Enquanto as publicações na área da ciência política crescem 238,88% e as da sociologia 155,88%, no campo da história
do Brasil seu aumento é de 46,34%, e na antropologia a diferença no
número de livros entre um e outro período é de apenas uma obra. Tal
desigualdade é muito significativa, uma vez que sugere uma variação
profunda ao longo daqueles anos, tanto da procura pelo estudo de certas
disciplinas por parte de grupos de pesquisadores, quanto da demanda
por conhecimentos específicos proveniente de um público letrado. O
crescente interesse por determinadas áreas do saber, em detrimento de
outras, demonstra que a experiência das mudanças ocorridas na sociedade brasileira naquele período, trazendo à tona novos problemas para
a camada intelectual, concorreram para o desenvolvimento desigual das
disciplinas das ciências sociais.
54
FBN_RG_vocacao_02 a.indd 54
5/3/2009 09:48:23
A vocação das ciências sociais no Brasil
Nos anos de 1945 a 1955, marcados pela redemocratização do país e pelo
surgimento no mercado livreiro de um primeiro conjunto significativo de pesquisas no campo das ciências sociais, a história do Brasil se destaca das demais
disciplinas com 123 livros, de acordo com a amostra estudada. Segue-se a
antropologia, cujo número de estudos também supera em muito o das demais
áreas; sem dúvida, a produção nesses dois campos de trabalho sobressai nessa
primeira fase no conjunto das publicações. Veja-se que, comparativamente, a
economia política (46 obras), a sociologia (34 obras) e a ciência política (20
obras) desfrutam de um lugar mais discreto; a geografia humana (18 obras) e
a demografia (10 obras) oferecem número limitado de textos.
Já os anos de 1956 a 1966 destacam-se pela consolidação da etapa do
processo de industrialização e pela efervescência dos debates voltados para
o desenvolvimento nacional, mas também pelas crises de caráter econômico
e político que ocorrem em seguida ao acelerado crescimento econômico,
culminando com o término do regime democrático de governo em 1964.
Nessa fase, a história do Brasil permanece oferecendo o maior número de
obras (180 livros), porém o baixo índice de aumento de seus estudos em
livro (46,34%) mostra uma modificação da posição privilegiada que ocupara
em anos anteriores. A economia política, no entanto, eleva em 143,47% as
suas obras, apresentando 112 livros, enquanto as publicações da sociologia
crescem 155,88%, com a soma de 87 textos. As duas disciplinas superam
então a antropologia e passam a disputar as primeiras posições no conjunto
das publicações em ciências sociais. Chama a atenção, nessa segunda fase, o
número inalterado de livros na área da antropologia relativamente aos anos
anteriores, perdendo esses estudos sua posição de relevo. Ao mesmo tempo,
sobressai o interesse pela ciência política, que triplica o número de seus livros, aumentando a quantidade de suas obras em 238,88% naqueles anos. A
par disso, percebe-se que a geografia humana e a demografia praticamente
não modificam sua posição no rol das publicações em ciências sociais.
Cabe observar que a variação do “ritmo” de crescimento das publicações
em cada uma das disciplinas, correspondendo a uma mudança da procura
por conhecimentos específicos do campo das ciências sociais – indicativo da
consciência de novos problemas por parte da camada intelectual – vai alterar,
como mostram os dados do quadro III, abaixo, a contribuição de cada uma
das áreas do saber, dentro do conjunto da produção das ciências sociais.
55
FBN_RG_vocacao_02 a.indd 55
5/3/2009 09:48:24
Glaucia Villas Bôas
Quadro III
Obras em ciências sociais publicadas por disciplina (%): 1945 - 55 e 1956 - 66
Disciplinas
1945–1955*
1956–1966**
História do Brasil
38,19
32,72
T= 303
Economia política
14,28
20,36
T= 158
Antropologia
21,73
12,90
T= 141
Sociologia
10,55
15,81
T= 121
Ciência política
6,21 11,43
T= 83
Geografia humana
5,59
4,54
T= 43
Demografia
3,10
2,35
T= 23
* Total de obras 321
** Total de obras 551
Comparando a contribuição das diversas disciplinas ao longo das duas
fases mostradas pelo quadro III, observa-se que a liderança da história do
Brasil é posta em xeque naqueles anos, ainda que os historiadores mantenham
sua posição de destaque. O mesmo não ocorre com a antropologia, que tem
consideravelmente diminuída a oferta de seus estudos no conjunto dos livros,
caindo sua contribuição a partir de meados de 1950. Sem dúvida, a julgar pela
amostra analisada, são a economia política, a sociologia e a ciência política
que, aumentando muito a quantidade de seus livros, têm modificadas suas posições, de modo significativo, no conjunto dos textos. Nos casos da geografia
humana e da demografia, o crescimento do número de obras de um período
para outro não foi suficiente para que alcançassem melhor posição; ao contrário, a posição desses estudos se torna ainda menos relevante.
O aumento da produção em cada uma das disciplinas, assim como a posição que ocupam no conjunto das publicações nas duas fases apresentadas,
mostra que as mudanças ocorridas levaram na realidade a uma oferta mais
equilibrada, sempre sob a liderança da história do Brasil, dos conhecimentos
de economia política, da antropologia e da sociologia, campos preferenciais
das ciências sociais ao longo de todo aquele período. A ciência política passou
a figurar numa melhor posição no conjunto devido ao grande estímulo pelo
seu estudo, e os campos da geografia humana e da demografia distinguiram
ainda mais seu lugar pouco privilegiado entre as obras sobre o tema.
56
FBN_RG_vocacao_02 a.indd 56
5/3/2009 09:48:24
A vocação das ciências sociais no Brasil
Contudo, os dados sobre o interesse desigual e variável pelas disciplinas
das ciências sociais evidenciam também que, ao longo dos anos de 1945 a
1966, ocorreram mudanças quanto ao valor atribuído às diferentes áreas daquele conhecimento, tanto pelos especialistas, quanto pelo público leitor. A preferência crescente pela economia política, pela sociologia e pela ciência política
sem dúvida contrastou com o interesse pelo estudo das demais disciplinas que
se manteve igual ou, comparativamente, cresceu de modo irrelevante durante
aquele período. Poder-se-ia dizer que o contexto histórico em foco – favorecendo a consciência dos fatos e das relações sociais e econômicas, bem
como de suas implicações políticas – motivou sobremaneira o crescimento
daquelas três disciplinas, cujos instrumentos teórico-conceituais e pesquisas
se mostraram mais apropriados para a elucidação dos problemas relativos ao
desenvolvimento econômico e social do país.
As áreas da história do Brasil e da antropologia foram as primeiras a interessar os pesquisadores brasileiros. No capítulo I, vimos que a criação do
Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, em 1838, assinala o início de uma
longa tradição nacional de estudo no campo da história do Brasil. Ao lado
desses trabalhos, a partir de 1840, o Instituto começou a divulgar em sua
revista as primeiras pesquisas etnográficas de estudiosos brasileiros, cujo foco
principal de interesse eram os costumes indígenas, indicativos da importância
conferida à antropologia desde aquela data. Se as influências das transformações sociais e econômicas pesaram nos critérios de seleção e valorização das
disciplinas das ciências sociais, as peculiaridades inerentes às condições históricas daqueles anos não impediram a continuidade dos estudos nos campos
tradicionais da história do Brasil e da antropologia. Sua persistência no tempo,
sobretudo no contexto histórico em que a atenção de grupos da camada intelectual se voltou notadamente para os problemas de ordem socioeconômica,
mostra que os temas e as questões próprias daquelas duas disciplinas permaneceram no horizonte de interesse de especialistas e continuaram repercutindo positivamente junto ao público leitor.
A julgar pelos dados disponíveis, a geografia humana e a demografia não
estabeleceram um “diálogo” com um público mais amplo, através do livro,
recebendo dele incentivo para a intensificação de seus estudos. Considerando que a seleção e a valorização das disciplinas das ciências sociais, naquele
momento histórico, resultaram, de um lado, das possibilidades que elas ofereciam – por meio de seus instrumentos teórico-metodológicos e de suas
pesquisas – para a compreensão de problemas socioeconômicos candentes
daquela atualidade, e de outro, do fato de integrarem uma tradição de estudos nacionais, poder-se-ia dizer que a geografia humana e a demografia não
57
FBN_RG_vocacao_02 a.indd 57
5/3/2009 09:48:24
Glaucia Villas Bôas
atenderam a esses critérios seletivos tão satisfatoriamente como as demais
disciplinas, conservando-se numa posição pouco privilegiada no conjunto das
ciências sociais.
4.O horizonte temático das ciências sociais
As condições para o surgimento ou para a continuação de um estudo são
diversas e variáveis. O aparecimento de novos temas, a permanência de tantos
outros, a estagnação no processo de investigação de um assunto, sua retomada sob outro enfoque são fatos que podem, portanto, ser apreciados a partir
de diferentes pontos de vista.
As ideologias políticas, as filiações partidárias dos pesquisadores e ainda
os impactos de certos problemas sociais em determinado momento podem
concorrer para legitimar o exame de certo assunto. Ao analisar as comunicações de pesquisa no campo das ciências do homem, apresentadas na Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, em 1982, Maria Isaura Pereira de
Queiroz mostra a notável quantidade do que chama de pesquisas de denúncia,
“concebidas para forçar a atenção do público para determinado problema
considerado implícita ou explicitamente ‘insuportável’, diferenciando-as das
pesquisas fundamentais, das descritivas e das especulativas”.2
A par disso, as instituições voltadas para a produção de conhecimento
estabelecendo regras e normas para a formação de pesquisadores, para seu
percurso profissional e sua carreira, e estimulando a competitividade entre
eles seriam um fator a mais entre outros a influenciar as escolhas temáticas. Somam-se a isso os recursos materiais indispensáveis para a pesquisa,
os critérios e os interesses dos órgãos governamentais ou privados que a
financiam, e as disputas pela obtenção dos recursos. O intercâmbio entre
pesquisadores de diferentes países e as influências recebidas atuariam também sobre as opções temáticas.
Em que pese a influência dos mais diversos fatores na escolha de um tema,
é certo que não se elaboram estudos sobre qualquer assunto em qualquer
contexto social e histórico. Se a escolha de um tema varia de acordo com tantos incentivos, ela está definitivamente vinculada também à efetiva existência
de problemas dentro de uma sociedade, num momento histórico específico.
Tanto assim, dizia Herbert Baldus, que “os fatos que principalmente chamam
a atenção do observador dizem respeito a si próprio e a seu povo em determinada época. Em outras palavras: a escolha de fatos feita pelo observador
2. Cf. QUEIROZ, Maria Isaura Pereira de. SBPC, 1982: caracterização das comunicações de pesquisa nas ciências do homem. Ciência e Cultura, São Paulo, v. 35, n. 4, p. 463-465, abr. 1983.
58
FBN_RG_vocacao_02 a.indd 58
5/3/2009 09:48:25
A vocação das ciências sociais no Brasil
representa certa informação sobre o ambiente social e cultural em que ele se
criou e costumava viver”.3
Entretanto, para que seja possível questionar os diferentes fatores que interferem na escolha de temas no campo das ciências sociais, torna-se indispensável
conhecer os assuntos tratados. Para tanto, será delineado a seguir um quadro
dos temas focalizados em livro no contexto dos anos de 1945 a 1966, com base
na quantidade de obras publicadas e na variação do número de livros sobre cada
um daqueles temas ao longo do período, de acordo com os dados da amostra.
5.Os temas da história do Brasil
Para Henri Berr e Lucien Febvre, a “história é o estudo da mudança na humanidade”. Se grupos e sociedades fossem sujeitos a leis imutáveis não existiria história. Mas também não existiria história se estivessem em perpétua mudança, pois só
haveria caos e anarquia. A história é para os autores “alguma coisa que muda em
oposição ou conexão com aquilo que permanece constante ou se repete”.4
Empregamos aqui o termo historiografia para o conjunto de pesquisas,
estudos e relatos sobre fatos históricos produzidos no campo da história, reservando este termo para a disciplina, que incluiria, ao lado da historiografia,
um corpo de conhecimentos de caráter exclusivamente teórico-metodológico,
além do ensino ou a transmissão desses conhecimentos.
A história do Brasil, na amostra estudada, revelaria – de acordo com o ponto
de vista citado acima – o que os historiadores de 1945 a 1966 registram enquanto
mudança e como a analisam. Essa disciplina conta com o maior número de publicações no período pesquisado, representando 34,7% dos livros, e a qualidade das
linhas de estudo em que se subdivide evidencia uma configuração temática peculiar, que não se apresenta nos demais campos examinados das ciências sociais.
Numa primeira observação do quadro IV, exposto a seguir, o estudo da
história do Brasil se traduz nas seguintes linhas de trabalho: obras cujo objeto
é a própria disciplina; obras que buscam traçar as características gerais de
determinada duração de tempo, reunindo relatos sobre a história do Brasil e
textos que enfocam um de seus períodos; obras que versam sobre um setor
específico das atividades humanas – político, econômico, social e intelectual;
e estudos biográficos. Note-se, no conjunto de 303 livros, o peso das publicações em cada uma dessas áreas, e como variou o interesse por seu estudo ao
longo dos anos em foco.
3. Cf. BALDUS, Herbert. Bibliografia crítica da etnologia brasileira. São Paulo: Comissão do IV Centenário da Cidade de São Paulo, 1954.
4. Cf. BERR, Henri; FEBVRE, Lucien. History. In: ENCYCLOPAEDIA of Social Sciences, New
York: Macmillan, 1948. v. VII, p. 358.
59
FBN_RG_vocacao_02 a.indd 59
5/3/2009 09:48:25
Glaucia Villas Bôas
Quadro IV
Obras por tema em história do
Brasil, nos anos 1945-1955 e 1956-1966
Temas
Obras
1945
1955
1956
1966
Obras sobre a disciplina
Avaliação da produção historiográfica
7
3
4
Problemas teórico-metodológicos
4
1
3
Avaliação do ensino da disciplina
1
-
1
Subtotal 12
4
8
História do Brasil
7
2
5
História da Colônia
3
3
-
História do Império
9
3
6
História da República
5
3
2
Subtotal
24
11
13
História Política
188
78
110
História Econômica
27
7
20
História Social
18
8
10
História das Idéias
11
3
8
Subtotal
244
96
148
Obras biográficas
23
12
11
Total
303
123
180
Obras sobre temas históricos gerais
Obras sobre temas específicos
60
FBN_RG_vocacao_02 a.indd 60
5/3/2009 09:48:25
A vocação das ciências sociais no Brasil
O conjunto obras sobre a disciplina apresenta trabalhos de análise de seu
campo de conhecimento, diferentemente de outras disciplinas que não demonstram interesse nesse exercício de auto-avaliação, discussão e controle
do trabalho. Na categoria avaliação da produção historiográfica encontram-se
sete estudos que apreciam a qualidade do conhecimento produzido no Brasil, no campo da história, sobre fatos históricos que ocorreram no país. De
acordo com os títulos, tratar-se-ia de textos de caráter geral, havendo também
trabalhos que buscam examinar os relatos feitos sobre a história do estado de
Minas Gerais, o domínio holandês e a instituição militar no país. Com menos
obras, a categoria problemas teórico-metodológicos reúne trabalhos sobre os
fundamentos de distintas concepções de história e livros que expõem teorias
e métodos próprios da disciplina. A publicação que analisa o ensino da história trata da transmissão dos conhecimentos desse ramo do saber na escola
secundária com base nos programas e livros nela utilizados.
Ainda que se destaquem de outros especialistas quanto ao interesse nessa
linha de trabalho, os historiadores a ela se dedicam limitadamente (12 em
303 obras). Se forem levados em conta os numerosos textos publicados nos
outros temas e o fato de que a produção historiográfica no Brasil inicia-se,
formal e institucionalmente, no Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro,
em 1838, muito já poderia ter sido feito sobre esse assunto. José Roberto do
Amaral Lapa comenta esta lacuna, indicando haver-se estimulado aquele exercício somente nas décadas de 1960 e 1970.5
Apesar do restrito número de obras sobre a disciplina, em quaisquer dos
períodos apresentados no quadro IV, verifica-se um aumento da quantidade
de estudos nessa linha. Entre os historiadores, a busca pela reflexão crítica
da produção historiográfica fica registrada em livros publicados no período
1945–1955 e em número semelhante de obras divulgadas nos anos seguintes.
A discussão sobre os problemas teórico-metodológicos da disciplina apenas
começou a se esboçar, figurando uma obra sobre o assunto publicada na primeira fase do período e três na segunda. As tentativas de modificar a feição
tradicional da produção historiográfica, por meio de avaliações e debate de
problemas teóricos, embora possam ter sido relevantes, foram sobretudo escassas e, aparentemente, não repercutiram, àquela época, junto à grande maioria dos historiadores, que teria se mantido fiel aos estudos mais tradicionais da
história do Brasil, como veremos adiante.
5.
LAPA, José Roberto do Amaral. Historiografia brasileira contemporânea. Petrópolis: Vozes, 1981. p.
207 e 218.
61
FBN_RG_vocacao_02 a.indd 61
5/3/2009 09:48:26
Glaucia Villas Bôas
O quadro IV mostra reduzido número de obras sobre temas históricos
gerais (24 em 303). A reconstrução de um período da matéria histórica é o
que identifica essas publicações. Os ramos especificados da disciplina acentuam, em contrapartida, a diversidade dos setores do real que constituem
a história. É comum questionar-se duplamente o conhecimento histórico:
quanto à sua generalidade e quanto à sua especificidade. Os trabalhos especializados, embora indispensáveis, mutilariam a unidade do conjunto da
história; também se discute a validade dos critérios que fundamentam as
sínteses das histórias gerais.6
O pequeno interesse na elaboração das obras gerais sugere problemas, seja
de ordem teórica – dificuldades na escolha de critérios para a elaboração de
uma síntese da história do Brasil –, seja de ordem prática, já que a qualidade
do trabalho exige levantamento e análise de material exaustivo, nem sempre
realizáveis pelo pesquisador individual. Dos livros que abarcam o continuum
da história do Brasil, apenas três constituem trabalhos de larga exposição de
fatos históricos.
O Império é o período mais estudado entre as obras que tratam de uma
duração específica daquele continuum. De nove textos, quatro abrangem o período como um todo, dois focalizam o Primeiro Reinado e três o segundo. Com
relação à República, os cinco livros versam sobre dois assuntos: a consolidação do regime republicano e as características da República Velha. O período
colonial merece pouca atenção no período estudado e é possível que a dificuldade em encontrar fontes tenha sido um fator a desanimar os pesquisadores.
Quanto aos temas históricos gerais, salienta-se o aumento de obras sobre
o conjunto da história do Brasil e sobre o Império, que têm praticamente duplicado o número de livros de um período para outro. A história da Colônia,
na amostra estudada, não parece ter sido objeto de maior atenção dos historiadores ao longo daqueles anos, figurando com apenas três obras publicadas
entre 1945 e 1955. Mais adiante, veremos que os estudos sobre a Colônia
sobressaem no ramo da história econômica. Quanto à história da República,
a quantidade de livros se mostra semelhante nas duas fases apresentadas no
quadro IV.
Seguindo a relação de itens examinados surgem as obras sobre temas específicos. Elas relatam características de uma prática social, numa duração
6. Comentários críticos sobre a especialização dos estudos históricos encontram-se em RODRIGUES, José Honório. Teoria da História do Brasil: introdução metodológica. 3 ed. São Paulo: Cia.
Ed. Nacional, 1969. p. 145; sobre a dificuldade das sínteses, cf. BERR, Henri; FEBVRE, Lucien.
Op. cit., p. 359-362.
62
FBN_RG_vocacao_02 a.indd 62
5/3/2009 09:48:26
A vocação das ciências sociais no Brasil
de tempo determinada, revelando a especialização de trabalho intelectual no
campo da história.
A escolha de uma só prática social para registro e análise suscita questões
relativas ao “corte” ou “deformação” da unidade do processo histórico. Por
isso, Francisco Iglésias,7 ao discutir problemas inerentes às histórias especiais,
afirma que é uma conquista sempre que seu estudo leva em conta o processo
geral de desenvolvimento histórico, fugindo assim àquela deformação.
Na amostra, as obras sobre temas específicos se apresentam em quantidades muito desequilibradas no que respeita ao número de publicações em cada
tema. A história política supera nitidamente todas as demais, pois os problemas políticos chamaram a atenção dos estudiosos mais do que qualquer outro.
Note-se que os livros sobre história econômica, história social e história das
idéias apresentam-se, em quantidade, relativamente nivelados, sempre muito
abaixo da história política.
Entretanto, é no conjunto das obras sobre temas específicos que se observa maior intensificação dos estudos. Possivelmente, no contexto histórico dos
anos de 1945 a 1966 se desenvolveu o interesse pelos textos especializados
no âmbito da historiografia brasileira. Note-se no quadro referido, que há um
crescimento da quantidade de obras em todos os ramos assinalados: história
política, história econômica, história social e história das idéias.
No que se refere à história política, saliente-se sua continuidade e aumento
substantivo do número de suas obras – 78 publicadas nos anos 1945–1955 e
110 na fase 1956–1966.
Segue-se, no quadro IV, a variação da quantidade de livros nos campos da
história econômica, história social e história das idéias nos anos 1945–1955 e
1956–1966. Fica evidente a intensificação dos estudos em história econômica
com o número de livros se elevando de sete para 20. Igual interesse parece
não ter ocorrido com a história social, que permanece publicando quase o
mesmo número de obras nos dois períodos. A história das idéias, entretanto,
logrou mais atenção dos historiadores a partir de meados dos anos 1960, aumentando de três para oito o número de suas publicações.
Comparativamente, os estudos biográficos aparecem com destaque. Distinguem-se das obras gerais e específicas ao trazerem à tona as características pessoais e a atuação pública de uma personalidade. Considera-se nesses
trabalhos que a ação individual, singular contribui de modo predominante
7. Cf. IGLÉSIAS, Francisco. Introdução à historiografia econômica. Belo Horizonte: Faculdade de Ciências Econômicas/UFMG, 1959. p. 11-26.
63
FBN_RG_vocacao_02 a.indd 63
5/3/2009 09:48:27
Glaucia Villas Bôas
para a constituição de fatos relevantes que identificam uma fase ou período
histórico. É o caso das biografias de Pedro I e de presidentes da República Velha. A atuação individual é, por vezes, claramente considerada indispensável
para a construção histórica: as biografias de Tiradentes fazem o elo entre sua
trajetória e a emancipação da Colônia; o percurso do Duque de Caxias serve
de referência para a participação militar na edificação da nação; ao Barão do
Rio Branco associam-se acertos da história diplomática; a Mauá, a iniciativa
econômica.
Apesar dos diversos problemas suscitados por esse tipo de estudo, que
pode distorcer a história ao enfatizar personalidades individuais,8 as biografias
se fazem representar significativamente no quadro da produção historiográfica: quatro recuperam do período colonial as figuras do Marquês de Pombal
e de Tiradentes; entre políticos e militares, oito biografias estudam figuras do
Império; seis livros rastreiam o trajeto de diplomatas e estadistas que transitam entre o Império e a República; e cinco contam a vida de políticos republicanos. As biografias são publicadas nas duas fases focalizadas, sem sofrer
alterações.
Depreende-se dos dados, que a grande maioria dos temas pesquisados pelos historiadores permaneceu sendo focalizada ao longo do período abordado, havendo mesmo, de modo geral, uma intensificação das diferentes linhas
de trabalho dos estudiosos.
5.1
História política
A história política, como se viu, destaca-se de forma notória pela quantidade de obras publicadas colhidas na amostra. Já se observou que a atividade
política vista como extraordinária foi, por longo tempo, considerada o motor
da história. Ações e feitos políticos rompem a rotina cotidiana, ordinária, formando uma cadeia que registra, no mais das vezes, o surgimento, a formação
e o declínio de nações. Hannah Arendt9 faz distinções entre a tradicional e a
moderna concepções de história, caracterizando a primeira como a tentativa
de imortalizar, através da memória, façanhas de povos inscritas nas ações de
seus líderes, condutores e heróis – entre outros traços apontados pela autora.
8. Cf. RODRIGUES, José Honório. Op. cit., p. 146 e 147.
9. ARENDT, Hannah. Entre o passado e o futuro. São Paulo: Perspectiva, 1979. p. 69-127.
64
FBN_RG_vocacao_02 a.indd 64
5/3/2009 09:48:27
A vocação das ciências sociais no Brasil
“Na época moderna”, adverte ela, “a História emergiu como algo que jamais
fora antes. Ela não mais se compôs dos feitos e sofrimentos dos homens,
e não contou mais a história dos eventos que afetaram a vida dos homens;
tornou-se um processo feito pelo homem, o único processo global cuja existência se deveu exclusivamente à raça humana.”10
Faz-se alusão a essas distinções sem pretender discuti-las ou desenvolvêlas, pois não é propósito desse trabalho analisar os fundamentos epistemológicos ou as características metodológicas de produção das ciências sociais no
Brasil no período de 1945 a 1966, mas buscar conhecer sua constituição disciplinar e temática. Ainda assim, cumpre situar as discussões que habitualmente
envolvem a historiografia política: sua antigüidade lhe confere as marcas de
uma concepção tradicional de história, embora não se possa afirmar que todos os estudos nesse ramo de conhecimento, na amostra analisada, registrem
essa herança na sua elaboração. O apreço dos historiadores brasileiros pelo
conhecimento da atividade política de seu país é ainda mais notável quando se
considera que as biografias, exceto uma, descrevem a ação singular de figuras
proeminentes na política. Além disso, a periodização da história do Brasil em
Colônia, Império e República está fundamentada em eventos de ordem política. O Descobrimento, a Independência e a Proclamação da República são
eleitos “divisores de águas” de períodos característicos da história ou, como
dizem Henri Berr e Lucien Febvre, acontecimentos promovidos à “dignidade
de limites”.11
O período colonial, inaugurado pelo ato do Descobrimento, esteia-se em
uma relação de dependência das novas terras à metrópole portuguesa, cujo
caráter é político-administrativo, jurídico, socioeconômico, intelectual; poderse-ia argumentar que o ato do Descobrimento, descortinando o período colonial, não basta para demonstrar o critério político da periodização. Mas, sem
dúvida, a Proclamação da Independência e da República são atos políticos que
delimitam sistemas de governo.
Tratando-se de livros, tudo indica que entre os círculos letrados consumidores das obras em história do Brasil, predominava também uma visão “tradicional” do tema. Tal visão certamente teria repercutido no ensino daquela
disciplina obrigatória na escola primária e secundária, marcando em gerações
de brasileiros um modo específico de conceber a história do Brasil, o qual
pouca ênfase dava às mudanças históricas de ordem econômica e social.
10. Ibidem, p. 89.
11. BERR, Henri; FEBVRE, Lucien. Op.cit., p. 365-366.
65
FBN_RG_vocacao_02 a.indd 65
5/3/2009 09:48:27
Glaucia Villas Bôas
O conjunto de obras que integram, nesse trabalho, a categoria história política consta de três tipos de estudo: livros sobre eventos históricos ocorridos
entre 1500 e 1945, aproximadamente, e reconhecidos como os móveis principais da formação do país; textos sobre as instituições militar, diplomática,
político-jurídica, administrativa e eclesiástica; obras que relatam a fundação de
cidades, a história de estados da Federação e a conquista de regiões; ou registram o suceder particular de fatos “indispensáveis” para a história do país, no
âmbito daquelas localidades.
Quadro V
Número de obras por tema em história política:
1945-55 e 1956-66
Temas
Obras
1945
1955
1956
1966
História dos eventos políticos
99
42
57
História das instituições políticas
47
20
27
História de cidades, estados da 42
14
28
188
76
112
Federação e regiões
Total
Os livros sobre os eventos que marcaram a vida do país são visivelmente
mais estudados do que os textos circunscritos à história das instituições ou
de localidades. O primeiro conjunto reúne narrativas sobre acontecimentos
e esboça os traços de uma prática de dominação de grupos humanos sobre
outros, sempre referenciada aos limites geográficos onde o exercício daquela
atividade se desenvolve. No segundo conjunto, descrevem-se práticas políticas sistematizadas, reconhecidas legítima e legalmente, ou sua criação e seu
desenvolvimento. Finalmente, as obras do terceiro grupo dizem respeito à
conquista de regiões ou a fundação de cidades; outra vertente desses estudos
retoma fatos de importância política geral para mostrar como ocorreram em
algumas localidades.
66
FBN_RG_vocacao_02 a.indd 66
5/3/2009 09:48:27
A vocação das ciências sociais no Brasil
O quadro V mostra um crescimento das publicações nas três grandes linhas
temáticas focalizadas pelos historiadores políticos. Contudo, destaca-se no conjunto, comparativamente, o aumento em dobro dos livros sobre história de cidades,
estados da Federação e regiões.
5.1.1 História dos eventos políticos
Vale observar como se articulam os relatos que se inscrevem em cada uma das
partes diferenciadas da história política e a relação entre elas, para que se aponte de
que maneira essa linha da historiografia reatualiza uma tradição de estudos sobre a
formação da nação. As obras sobre os eventos políticos se distribuem da seguinte
forma, de acordo com a seqüência cronológica dos assuntos tratados:
Quadro VI
Número de obras por tema em história dos eventos:
1945-55 e 1956-66
Obras
Temas
1945
1955
1956
1966
Descobrimento
5
2
3
Ocupação territorial
(capitanias e sistemas de sesmarias)
7
2
5
Invasões estrangeiras
16
7
9
Ocupação territorial (entradas e bandeiras)
12
4
8
Independência
12
3
9
Movimentos de “quebra” e manutenção da unidade política no Império
17
12
5
Movimentos de “quebra” e manutenção da unidade política na República
30
12
18
Total
99
42
57
67
FBN_RG_vocacao_02 a.indd 67
5/3/2009 09:48:27
Glaucia Villas Bôas
Os acontecimentos mais distantes no tempo, como o Descobrimento e as
primeiras medidas de ocupação territorial, apresentam número menor de publicações. Os movimentos e conflitos a que chamamos quebra e manutenção
da unidade política, no período republicano – portanto mais próximos dos
historiadores que escrevem entre 1945 e 1966 –, despertam sensivelmente
mais interesse, a julgar pela quantidade de obras. A preferência por eventos
mais recentes seria uma prática criticável, se aceita a postura dos pesquisadores que postulam o recuo no tempo como uma das condições indispensáveis
de seu trabalho. Por exemplo, diz José Maria Belo, citado por José Roberto
do Amaral Lapa:
É um tanto temerário escrever a história de um regime que
mal completa meio século de existência. Falta-nos perspectiva;
a pátina do tempo ainda não pode dar aos fatos este vago tom
de poesia, que melancoliza e embeleza as cousas e figuras, até
as cousas banais e figuras medíocres, dos passados distantes.12
Para José Roberto do Amaral Lapa esta é uma convicção conservadora,
que preserva da crítica histórica as instituições políticas contemporâneas do
historiador, e teria caracterizado a mentalidade dos especialistas até a formação dos cientistas sociais pelas universidades.13 Os dados quantitativos revelam que no período estudado, quando são publicados trabalhos de historiadores formados em Faculdades de Filosofia, a República corresponde, de fato,
à maior área de interesse dos especialistas. Contudo, não se deve esquecer,
utiliza-se aqui um indicador quantitativo, não estando em jogo a qualidade
intrínseca das obras; somente a análise de seu conteúdo poderá indicar se os
estudos justificariam o primeiro ou o segundo comentário.
No conjunto das narrativas históricas, o Descobrimento, fato que instaura a
história da conquista, defesa e domínio de um território, atraiu pouco a atenção
dos pesquisadores. A história da conquista e da ocupação, por sua vez, é narrada
a partir de dois pontos de vista distantes: o primeiro é o da Coroa Portuguesa
(capitanias e sesmarias); o segundo, o da atividade dos colonos com suas entradas e bandeiras. Note-se que este segundo tema – a ocupação territorial do
ponto de vista das entradas e bandeiras – apresenta quase o dobro de obras, o
que revela um interesse de cunho nacionalista por parte dos pesquisadores.
Tal interesse explicaria ainda a quantidade de textos sobre as invasões estrangeiras. No conjunto de 16 livros que definem a categoria, 11 deles historiam a ocu12. LAPA, José Roberto do Amaral. Op. cit., p. 39.
13. Ibidem, p. 40-41.
68
FBN_RG_vocacao_02 a.indd 68
5/3/2009 09:48:28
A vocação das ciências sociais no Brasil
pação, o domínio holandês e as lutas pelo seu término no século XVII. É possível
que o estabelecimento do domínio flamengo no Nordeste, pelo período de trinta
anos, tenha marcado os tempos coloniais de modo a influenciar a escolha dos
historiadores; ou as diferenças culturais e políticas entre a colonização holandesa
e portuguesa os haja estimulado à análise. Julga-se ainda que as lutas pela expulsão
dos holandeses promoveram a coesão interna, forjando um embrião dos movimentos nativistas, sendo relacionadas portanto com a formação da nacionalidade
brasileira.14 Seja qual for o motivo, o fato é que esse capítulo da história merece
proporcionalmente, no conjunto dos livros sobre a história do Brasil, e no ramo
da historiografia política em particular, um registro amplo que vai além do mero
relato de um conflito pela posse e ocupação das terras.
O conjunto de estudos agrupados na categoria Independência reúne trabalhos sobre movimentos nativistas e fatos que precederam a emancipação
política da Colônia, como a vinda da família real portuguesa, a abertura dos
portos e as relações entre a maçonaria e a independência do país. Esses textos foram agrupados no tema abrangente Independência, devido às relações
que mantêm com esse evento: de um lado, encontram-se movimentos que
almejavam a emancipação do país, e de outro, fatos estreitamente vinculados
à Independência. Mostram, em primeiro lugar, o deslocamento do centro da
narrativa do Estado português para o Estado brasileiro. Entre os movimentos nativistas, destacaram-se a Inconfidência Mineira e a Revolução Pernambucana, de 1817. Percebe-se, ao menos, nessa amostra a ausência de estudo
específico sobre a Conjuração Baiana, de 1788, da qual, diferentemente dos
conflitos em Minas Gerais e Pernambuco, participaram com maior destaque e
número indivíduos das camadas inferiores da hierarquia colonial.15
Os textos definidos como movimentos de ‘quebra’ e manutenção da unidade política no Império e na República, em número de 17 e 30 respectivamente, descrevem conflitos, movimentos e revoltas ocorridos no Império,
no mais das vezes em diferentes províncias, transformadas na República
em estados da Federação, e também no período republicano. Sugerem o
interesse dos historiadores tanto em registrar movimentos de centralização
e descentralização do poder, quanto em examinar e avaliar o exercício político e jurídico do Estado; o foco de atenção se encontra, portanto, no conhecimento da capacidade da classe política dirigente em manter a unidade
entre aqueles dois pólos, distendendo tensões através de medidas políticas
ou reprimindo revoltas. O quadro na página seguinte mostra os conflitos
registrados nesses estudos:
14. Cf. SODRÉ, Nelson Werneck. História militar do Brasil. 2 ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1968. p. 33-34.
15. Cf. COSTA, Emília Viotti da. Da monarquia à república. 4 ed. São Paulo: Brasiliense, 1987. p. 31.
69
FBN_RG_vocacao_02 a.indd 69
5/3/2009 09:48:28
Glaucia Villas Bôas
Quadro VII
Obras sobre movimentos, conflitos e revoltas registrados na categoria
“movimentos de ‘quebra’ e manutenção da unidade política”
Império / República
Império
Total
de obras
1945-1955
1956-1966
Cabanagem
3
1
2
Guerra dos Farrapos
6
5
1
Balaiada
1
1
-
Revolução Praieira
4
3
1
Conflitos religiosos
2
2
-
Abolição
1
-
1
Total
17
12
5
Revolta da Armada
1
-
1
Revolução Federalista
2
2
-
Levantes da Escola Militar
1
1
-
Campanha de Canudos
7
1
6
Revolta da Esquadra
1
1
Revolução de 1924
2
1
1
Coluna Prestes
1
1
-
Revolução de 1930
6
1
5
Revolução de 1932
5
2
3
Estado Novo
2
2
-
Crises políticas após 1945
(sucessão presidencial)
2
-
2
Total
30
12
18
Total Geral
47
24
23
República
-
70
FBN_RG_vocacao_02 a.indd 70
5/3/2009 09:48:28
A vocação das ciências sociais no Brasil
Os textos que abordam os movimentos ocorridos durante o Império revelam interesse sobretudo nas agitações revolucionárias que, no período regencial, mobilizaram camadas populares e repercutiram no país de norte a sul.
Espelham a oposição ao sistema fortemente centralizado, imposto pelas elites
político-econômicas que tomaram o poder em 1822.16 Apesar do interesse na
reconstrução histórica desses movimentos, não se registram estudos sobre a
Confederação do Equador, de 1824, ocorrida em Pernambuco, e a Sabinada,
na Bahia, entre 1837 e 1838. Digna de nota é a atenção dada à Revolução
Praieira, objeto de quatro estudos no conjunto de 17 livros.
Contudo, mais notável ainda é que acontecimento de tamanha envergadura como
a Abolição da Escravatura não tenha rastreado, no plano da política, movimentos que
a precederam, suas causas e repercussões, sendo objeto de apenas um trabalho. Da
mesma forma, surpreende a ausência, no rol dos estudos selecionados, de relatos sobre a Guerra do Paraguai (1864-1870). Esse último episódio constitui um evento típico
dos que fazem parte das historiografias políticas em geral. Entretanto, nem a longa
duração do conflito, nem sua relação com a formação do exército brasileiro, nem a
consciência que trouxe dos problemas advindos da escravidão parecem ter estimulado
os historiadores, como não os motivou a criticar as conseqüências nefastas da guerra
para a República do Paraguai.17 É possível que a atitude de omissão dos historiadores
com relação à Abolição e à Guerra do Paraguai se explique pelo fato de que a primeira,
trazendo à memória um sistema de dominação reprovável, e a segunda, com suas
conseqüências trágicas, não sejam vistas como fatos que prestigiem os feitos de uma
classe política e exemplifiquem positivamente a construção da nação.
Quanto à República, os eventos mais visados são a Campanha de Canudos, a
Revolução de 1930 e a Revolução Constitucionalista de 1932. A participação de
militares em movimentos, revoltas e revoluções evidencia-se neste período.
Quando são observados os acontecimentos políticos escolhidos pelos historiadores e sua seqüência cronológica (quadro VI), verifica-se haver entre
eles uma relação cujo sentido é a construção política e geográfica do país. A
escolha de tais eventos mostraria existir um interesse implícito por parte dos
historiadores em registrar a história da conquista e da ocupação de terras, cuja
condução fica sob a responsabilidade do Estado português e, em seguida, do
Estado brasileiro. Este parece ser apreciado pelos especialistas do ponto de
vista de sua habilidade em resolver problemas e obstáculos relativos à con16. Ibidem, p. 8, 119-138.
17. Sobre a Guerra do Paraguai cf. PRADO JR., Caio. História econômica do Brasil. 7 ed. São Paulo:
Brasiliense, 1962. p. 182-183; SODRÉ, Nelson Werneck. Op. cit., p. 143-146; VIANNA, Hélio.
História do Brasil. São Paulo: Melhoramentos, 1961. t. II, p. 197-199.
71
FBN_RG_vocacao_02 a.indd 71
5/3/2009 09:48:28
Glaucia Villas Bôas
quista e à manutenção da unidade nacional. A importância dos fatos apresentados nas narrativas sugere que, para os historiadores, a unidade nacional tem
como fundamento o exercício do poder político em um espaço geográfico
determinado.
Quanto à variação do número de obras no ramo da história dos eventos
políticos, nas duas fases apresentadas no quadro VI, observa-se que houve
um aumento do número de estudos em todos os temas abordados, exceção
feita à categoria movimentos de ‘quebra’ e manutenção da unidade política no
Império, que tem diminuído pela metade o número de seus textos integrantes
da amostra. Os fatos históricos que registram a ocupação territorial, a Independência e os movimentos de ‘quebra’ e manutenção da unidade política na
República suscitaram, aparentemente, maior interesse a partir de meados de
1950, justamente quando as crises políticas e as questões ligadas ao nacionalismo ocupam um lugar relevante na pauta das discussões dos meios políticos.
Ainda que o crescimento do número de obras sobre a história dos eventos políticos não seja extraordinário, no período examinado ele é bastante significativo, pois
demonstra que essa linha “tradicional” de estudos permaneceu no horizonte de
interesse do grupo de historiadores, havendo, portanto, uma demanda para ela.
5.1.2 História das instituições políticas
Chamamos história das instituições políticas os estudos que dentro do quadro da história política delimitam e registram ações e relações sujeitas a normas
e regulamentos. Tais trabalhos reconstroem a ordem política com base no exame e registro de competência peculiar atribuída a diversas categorias de atores,
fazendo parte da narrativa uma descrição específica de sua atuação. Militares,
diplomatas, funcionários públicos, sacerdotes, representantes políticos se distinguem pela posse de um conhecimento particular, pelo sentido que atribuem
e que é atribuído também, em geral, às ações de sua responsabilidade. Entre si,
diferenciam-se pelo lugar hierárquico que ocupam na instituição à qual pertencem. Além disso, sua autoridade para exercer funções e cumprir tarefas definidas é socialmente reconhecida e aceita. Pode-se dizer que as práticas descritas
nos estudos da história das instituições políticas são legais e legítimas.18
18. Sobre o conceito de instituição ver MÜHLMANN, Wilhelm Emil. Institution. In: WÖRTERBUCH der Soziologie. W. Bernsdorf (Org.). Frankfurt a/M: Fischer Taschenbuch Verlag, 1976.
t. II, p. 371-373; CUVILLIER, Armand. Manuel de Sociologie. Paris: PUF, 1963. t. II, p. 494-496.
72
FBN_RG_vocacao_02 a.indd 72
5/3/2009 09:48:28
A vocação das ciências sociais no Brasil
Tais trabalhos constituem assim o conhecimento histórico daquilo que é
institucional, no sentido de que tem uma continuidade e se repete, apesar das
mudanças, em oposição a acontecimentos que se apresentam como únicos.
A persistência no tempo é o traço que identifica as instituições e marca as
obras encontradas, embora sua elaboração siga linhas diferentes: umas descrevem intervenções institucionais em determinados eventos, sem registrar
o surgimento e a evolução da instituição a que se referem; outras tratam
da formação, do funcionamento e da transformação de uma instituição ao
longo do tempo; há ainda aqueles que destacam e analisam os frutos de uma
tarefa institucional regularmente cumprida, como a catequese ou a aplicação
das leis do Direito.
Quadro VIII
Número de obras por tema em história das
instituições políticas, nos anos 1945-1955 e 1956-1966
Temas
Obras
1945
1955
1956
1966
História militar
16
6
10
História diplomática
11
4
7
História administrativa
7
4
3
História constitucional
7
3
4
História eclesiástica
4
2
2
História dos partidos políticos
2
1
1
Total
47
20
27
A apresentação desse quadro em ordem quantitativa ressalta a importância
atribuída à história militar na amostra estudada e, logo a seguir, a da história
diplomática, já que ambas ultrapassam a dezena e as demais ficam abaixo desse número. Observe-se que a história militar e a diplomática registram com
maior ênfase a formação e a ação de instituições do Estado encarregadas da
expansão territorial, do traçado de fronteiras externas e internas, e do equilíbrio da tensão entre centralização e descentralização.
73
FBN_RG_vocacao_02 a.indd 73
5/3/2009 09:48:29
Glaucia Villas Bôas
No entanto, são os trabalhos de história administrativa que particularmente mostram os percursos da centralização e descentralização do poder, ao
descrever relações entre poder local, regional e central.
A história constitucional apresenta características de práticas
que asseguram a unidade e a soberania da nação através de normas
e leis. O conjunto inclui estudos gerais sobre a história do direito
político no Brasil e trabalhos que se referem a leis constitucionais,
relacionando-as com “crises” ou “problemas” das instituições políticas no país. Nesse caso, não foi possível saber, através dos títulos,
nem o aspecto jurídico específico, nem o teor dos “problemas” tratados pelos historiadores.
A história eclesiástica, por sua vez, enfoca a organização e o processo
de transmissão de conhecimentos, valores e credo religioso que orientam
e dominam o comportamento humano, interferindo desse modo na dominação exercida pelo Estado. A Igreja Católica pertencia ao sistema político
brasileiro durante o Império, dele se separando com a República. A vinculação da Igreja ao Estado monárquico português e brasileiro explicita a
dimensão política da prática clerical. Essa vinculação explícita foi rompida
com a República. No entanto, a interferência do poder eclesiástico, ainda
que sub-reptício, continuou existindo com relação ao poder estatal, provocando tensões e conflitos. As obras relativas a esse tema não figuram
com destaque na amostra.
A história dos partidos políticos apresenta a menor quantidade de
trabalhos. Seu pequeno número pode resultar do fato de que, durante muito tempo, eles não significaram diferenças reais de composição
socioeconômica e pareciam similares: era comum durante o Império,
por exemplo, dizer que nada era tão parecido com um ministério liberal
quanto um ministério conservador. A estrutura semelhante apresentada
pelos partidos políticos parece não ter despertado a curiosidade pelo seu
estudo. É possível também que a orientação da historiografia política,
voltada para a unidade política da nação, torne compreensível o pequeno
número de textos sobre os partidos – instância que permitiria reconhecer diferenças, traduzidas em posições ideológicas de cada agrupamento
partidário, e que representam interesses muitas vezes conflitantes de ca74
FBN_RG_vocacao_02 a.indd 74
5/3/2009 09:48:29
A vocação das ciências sociais no Brasil
madas e classes sociais. O enfoque de tais diferenças e conflitos fugiria
aos objetivos dos historiadores voltados naquele período para a construção política e geográfica do país.
No conjunto, as obras sobre a história das instituições políticas crescem
em número, como mostra o quadro VIII, embora o aumento da quantidade
de publicações não seja notável. Observe-se também que o interesse pelo
estudo dos diversos temas abordados não variou ao longo daquele período.
A história militar e a história diplomática permaneceram sendo o foco mais
importante desses trabalhos.
5.1.3 História de cidades, estados e regiões
Ao lado da história dos eventos e das instituições políticas, a história de cidades, estados da Federação e regiões também dá continuidade
a orientações básicas da história política: o assenhoreamento de terras,
a fixação de populações, a demarcação de fronteiras. “O povoamento
é e sempre foi o capítulo mais importante de nossa vida coletiva. Afinal de contas”, diz Caio Prado Junior, “toda a História do Brasil não
é senão a história do povoamento e ocupação de um grande território
semideserto.” 19
Os 42 livros que configuram a história das regiões, estados e cidades
não são uma exceção, contribuindo para o conhecimento dos percursos
e percalços do povoamento. Mas, certamente, não o narram à luz das atividades econômicas, como faz Caio Prado Junior em sua conferência de
1946. Cidades, estados e regiões, apesar das diferenças inerentes a cada
uma dessas categorias, têm sua história reconhecida e registrada na historiografia dentro dos marcos do conjunto das ações que estabeleceram
fronteiras políticas e geográficas do país.
19 Cf. PRADO JR., Caio. Evolução política do Brasil e outros estudos. 4 ed. São Paulo: Brasiliense, 1963.
p. 217.
75
FBN_RG_vocacao_02 a.indd 75
5/3/2009 09:48:29
Glaucia Villas Bôas
Quadro IX
Obras por tema em história de cidades, estados e regiões
1945 - 55 e 1956 - 66
Temas
Obras
1945
1955
1956
1966
História de cidades
20
7
13
História de estados da Federação
13
4
9
História de regiões
9
3
6
Total
42
14
28
A história de cidades apresenta o maior número de obras. No conjunto, percebe-se uma concentração de trabalhos sobre o Rio de Janeiro,
em número de oito, e a distribuição relativamente proporcional de estudos sobre cidades mineiras – antigas vilas do século XVIII –, Salvador,
Recife e São Paulo. A importância atribuída a esses centros, principalmente o Rio de Janeiro, contrasta com o reduzido número de estudos
sobre outras localidades. Excetuando-se as cidades mineiras, cujo desenvolvimento desigual, caracterizado pelo rápido apogeu e declínio,
não acompanha as mudanças sociais e históricas, pode-se dizer que os
historiadores restringem sua área de interesse aos centros urbanos mais
antigos que, ao longo do tempo e ainda no período de pesquisa e publicação desses trabalhos, desempenharam função de destaque na política
de integração nacional.
Na história de cidades nota-se também que o ato de fundação é o evento
mais evidenciado. Dos 20 livros, seis tratam exclusivamente daquele acontecimento. A importância das cidades no processo de colonização e povoamento
é acentuada, já que por meio do registro das adversidades superadas pelos
fundadores e primeiros habitantes, tal relato reafirma os laços de solidariedade locais e a contribuição das comunidades à história nacional.
Por fim, é preciso dizer que o uso da categoria “cidades” corresponde ao
termo utilizado pelos historiadores para designar uma aglomeração, por vezes
76
FBN_RG_vocacao_02 a.indd 76
5/3/2009 09:48:29
A vocação das ciências sociais no Brasil
extremamente pequena, 20 ou 30 moradores, nos primórdios da colonização,20
cuja atividade era principalmente política, administrativa, militar e religiosa.
O sentido político da cidade faz lembrar as considerações de Max Weber
quando aponta a necessidade de separar os traços econômicos dos políticoadministrativos na elaboração do conceito de cidade, pois algumas localidades só poderiam valer como cidades se apenas fosse reconhecido seu papel
político-administrativo.21
São outras as características dos 13 estudos sobre os estados da Federação. Com exceção de quatro livros, os demais tratam da história de estados
do Nordeste. Compreendem dois tipos de relatos: narra-se a história política daqueles territórios no seu conjunto, ou definindo um de seus períodos,
relacionando o relato com a história geral do país; numa outra orientação,
investiga-se a ocorrência de acontecimentos de importância nacional em nível
estadual. De uma forma ou de outra, ficam salientadas as particularidades da
inserção dos estados na história nacional.
O peso dado aos estados do Nordeste e a escassez de trabalhos sobre estados
de outras regiões é notável. Mais adiante voltaremos a mostrar a tendência das ciências sociais a dirigir o olhar para o Nordeste, mostrando que na época de elaboração desses estudos aquela região mereceu atenção especial dos pesquisadores.
A escolha de um estado da Federação para estudo não está, em princípio,
exposta à discussão e controvérsias como no caso da complexa categoria de
“cidade”. O estado é uma unidade territorial, administrativa e política de um
Estado federalista.22 A definição, de caráter geopolítico, implica a noção de
partes, autônomas no que diz respeito a seus negócios próprios, mas ao mesmo tempo reunidas em torno de interesses comuns. A orientação da historiografia guarda essa idéia quando integra a história estadual à do país, ressaltando particularidades dos elos entre as partes e o todo. Ademais, esses estudos
condizem com um dos alvos dos historiadores políticos, já registrados, que
pretende caracterizar o movimento de centralização e descentralização, e sua
função no processo de integração nacional.
20. Cf. OMEGNA, Nelson. A cidade colonial. Rio de Janeiro: José Olympio, 1961. p. 13
21. Cf. WEBER, Max. Wirtschaft und Gesellschaft. Tübingen: J. C. B. Mohr (Paul Siebeck), 1985. p.
727-814.
22. Cf. LEVI, Lúcio. Federalismo. In: DICIONÁRIO de Ciência Política. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 1986. p. 480-483.
77
FBN_RG_vocacao_02 a.indd 77
5/3/2009 09:48:29
Glaucia Villas Bôas
Convém chamar a atenção para o número restrito de publicações sobre a
história de estados da Federação, se comparado com a incidência de estudos
sobre eventos de repercussão nacional. A historiografia política parece adotar
preferencialmente uma perspectiva central, a partir da qual alcança uma visão
global do processo de dominação diferentemente de uma perspectiva estadual, que permite apenas uma visão fragmentada.
No conjunto história de regiões destacam-se as publicações sobre a região
amazônica. Dos nove livros que compõem a categoria, sete retratam o norte
amazônico. Versam sobre a formação histórica da região, o traçado de seus limites e a demarcação de suas fronteiras. Sobre o Nordeste há dois livros apenas.
Por que o norte amazônico merece, no período abordado, uma posição
destacada na história política? O reconhecimento político da Amazônia e
a consolidação de suas fronteiras internas e externas se fizeram paulatinamente durante o Império, em meio às lutas que se seguiram à Independência e ao embate da Cabanagem. Ao explicar o desinteresse da política
imperial no tocante à Amazônia, Arthur Cezar Ferreira Reis afirma que “a
Amazônia era o extremo-norte. E os estadistas do Império eram homens
do Nordeste e do Sul”.23
Serviria o comentário do autor também para a compreensão do interesse restrito dos cientistas sociais no que respeita aos estudos sobre
a região amazônica? De acordo com a amostra estudada, somente no
campo da história do Brasil, e especificamente na historiografia política,
encontra-se um grupo de livros que trata com exclusividade dessa região.
O interesse dos historiadores no registro da história da demarcação das
fronteiras políticas e geográficas do país poderia explicitar a existência
de tal conjunto. Na realidade, pesquisadores de outras disciplinas e mesmo de outros ramos da história do Brasil, privilegiaram em seus estudos
problemas do Nordeste e do Sul. É possível que os especialistas tenham
julgado estar nessas regiões as questões mais relevantes da sociedade
brasileira naquele período: de um lado, o Sul que se industrializava e
modernizava, de outro, o Nordeste que mantinha as tradições de uma
sociedade “antiga” de base agrária. Tanto uma quanto outra, aquelas
regiões serviram de quadro de referência para muitas pesquisas, sendo o
23. Cf. REIS, Arthur Cezar Ferreira. A Amazônia que os portugueses revelaram. Rio de Janeiro: Ministério da Educação e Cultura, 1956. p. 61.
78
FBN_RG_vocacao_02 a.indd 78
5/3/2009 09:48:29
A vocação das ciências sociais no Brasil
Nordeste visto, de modo geral, como uma região “problemática”. Poderse-ia supor ainda que, tendo o estudo das ciências sociais ocorrido predominantemente nos centros urbanos do Sul e do Nordeste, a possibilidade de pesquisa em região mais distante, como a Amazônia, tenha sido
desestimulada pela falta de recursos a ela indispensáveis. De qualquer
modo, mostra-se aqui a atenção diferenciada dada às regiões brasileiras
no estudo das ciências sociais no período abordado.
Embora limitados, pois favorecem a história dos centros urbanos mais
antigos, dos estados do Nordeste e da região amazônica, os trabalhos apresentados trazem à tona novamente a questão dos limites e das fronteiras, mantendo viva a discussão sobre os interesses em jogo na política de colonização,
assunto característico da história política naquele período.
Quanto ao crescimento do número de obras nesse ramo da história política, destaca-se no conjunto, comparativamente, o aumento em dobro dos
estudos sobre história de cidades, dos anos 1945–1955 para 1956–1966.
Poder-se-ia supor que o acelerado processo de urbanização, característico
daquele contexto histórico, teria motivado o interesse crescente por essa
área temática da história do Brasil. Contudo, deve ser lembrado quanto à
história de cidades que o ato de fundação dos principais centros urbanos
brasileiros foi o fato que mereceu maior atenção dos estudiosos. Dos 13
livros publicados na categoria, no período 1956–1966, seis dentre eles são
dedicados à história da cidade do Rio de Janeiro, cuja fundação se comemorou em 1965. A escolha dos historiadores não teria resultado, portanto,
de seu interesse pela elucidação de problemas mais amplos da sociedade
brasileira naquele momento, e sim de motivo específico, peculiar à história
política naqueles anos – o de registrar e narrar a história dos eventos que
teriam contribuído para a formação do país.
5.2
História Econômica
A história econômica registra a memória do conjunto de atividades humanas cuja finalidade é a satisfação de necessidades materiais. Abrange em
seu campo disciplinar um complexo de instituições e medidas24 voltadas
24. Cf. BEUTIN, Ludwig; KELLENBENZ, Hermann. Wirtschaftsgeschichte. Köln: Böhlau Verlag,
1973. p. 1.
79
FBN_RG_vocacao_02 a.indd 79
5/3/2009 09:48:30
Glaucia Villas Bôas
para a produção material. Sua formação corresponde a um processo que se
inaugura no século XVIII, com o reconhecimento, no plano do pensamento,
de outras práticas humanas diferentes das práticas política e religiosa. No século XIX, a história econômica se configura como uma área de estudo com
teoria e métodos próprios. Assim como a historiografia política carrega a marca da antigüidade, o conhecimento histórico da economia está vinculado à
época moderna. Dele, resultam novas maneiras de conhecer e interpretar a
história, que consideram o processo produtivo uma instância indispensável
para a compreensão das mudanças históricas, ou mesmo uma instância fundamental.
Os contornos da visão histórica da economia estão inscritos em 27 publicações da amostra, que se distribuem em diferentes temas como se vê no
quadro abaixo:
Quadro X
Obras por tema em história econômica
1945 - 55 e 1956 - 66
Obras
Temas
1945
1955
1956
1966
Formação econômica
Características gerais
7
1
6
Características no período colonial
4
-
4
Subtotal
11
1
10
Atividades produtivas (açúcar, mineração, café e pesca)
6
2
4
Política econômica
5
2
3
Industrialização
3
2
1
Sistema bancário
2
1
1
Total
27
8
19
80
FBN_RG_vocacao_02 a.indd 80
5/3/2009 09:48:30
A vocação das ciências sociais no Brasil
O interesse pelos estudos de formação econômica supera os demais, expressando-se em onze livros que analisam traços fundamentais da economia
no passado. Como mostra o quadro, esses estudos apresentam dois focos:
sete obras examinam o processo de formação da economia do país, sem que
seus títulos distingam um período histórico específico; outros quatro abordam a formação histórica da economia no período colonial.
Em seguida, seis obras tratam de aspectos específicos de atividades produtivas que compreendem: o comércio e a cultura do açúcar na Colônia; a
produção açucareira em Minas Gerais; a atividade pesqueira; o abastecimento
das áreas mineradoras no século XVIII; especificidades e características da
economia cafeeira, restringindo-se um dos estudos às áreas paulistanas e outro ao Vale do Paraíba. Com exceção das pesquisas sobre a produção cafeeira,
as demais têm como quadro de referência a Colônia.
Sobre a política econômica encontram-se estudos cujo foco de interesse
são as características gerais da administração política da economia no passado;
as medidas do Estado português que impediram o surgimento da indústria na
Colônia; a política econômica do governo provincial de Minas Gerais (1835
– 1889); as medidas favoráveis à industrialização do país entre 1808 e 1930; e
também aspectos da economia internacional, a partir do final do século XIX,
vinculando-os às condições financeiras do país.
No tocante à industrialização, as obras abordam a formação industrial
do Brasil nos seus primórdios, o surgimento e crescimento das indústrias no
estado de São Paulo, as vias de acesso e o transporte na região Nordeste,
relacionando-os às possibilidades de industrialização daquela região. Quanto
ao sistema bancário, narram-se as tentativas de organizá-lo no Brasil e em
Portugal até 1808, além da história do Banco do Brasil de 1808 a 1835.
No conjunto sobre temas específicos, ao lado das quatro obras gerais
sobre a economia colonial, há seis estudos que têm como horizonte de observação o período da Colônia. Na amostra, quatro livros tratam de atividades econômicas durante a monarquia, dos quais um se refere aos períodos
monárquico e republicano e outro apenas ao período republicano. Com dez
obras, esse período aparece como privilegiado pelos historiadores dos temas
econômicos.
Cabe assinalar o lugar que a história econômica ocupa dentro do quadro
geral dos estudos da história do Brasil. O número de suas publicações perfaz
8,9% da amostra de livros da disciplina, enquanto a história política se apresenta com 62,04%.
81
FBN_RG_vocacao_02 a.indd 81
5/3/2009 09:48:30
Glaucia Villas Bôas
O conjunto de obras sobre história econômica, integrante da amostra estudada, cresce em dobro, de uma fase para outra daquelas apontadas no quadro
X, fato que não é observado em nenhuma das categorias nas quais se dividem
os estudos da história política, e que demonstra a atenção crescente pelo assunto. Porém, apesar do aumento sensível do número de estudos publicados
em livro, as obras da historiografia econômica não figuram em posição de
relevo no conjunto das publicações no campo da história do Brasil.
O tratamento dos temas econômicos pelos historiadores foi, portanto,
reduzido no contexto histórico dos anos de 1945 a 1966. A tradição da historiografia política cultivada desde o século XIX no Brasil parece presente de
modo predominante no que respeita à quantidade de livros, em um período
histórico cujas transformações econômicas e sociais poderiam, mais do que
outros problemas, despertar o interesse da camada intelectual.
É possível que o campo da história do Brasil tenha começado a se diferenciar (isto é, distinguindo-se os historiadores segundo suas especialidades) por
meio de uma abordagem econômica do tema, no mesmo momento em que
as ciências sociais como um todo se desenvolveram e se destacaram como um
ramo do conhecimento específico. Essa diferenciação interna do campo da
história do Brasil teria ocorrido, seja pelas condições sociais e econômicas específicas da sociedade brasileira, em acelerada mudança principalmente a partir de 1955, seja pela influência de outras disciplinas como a economia política
e a sociologia, seja pela formação de historiadores nas faculdades de Filosofia.25 Cabe aqui, tão somente, chamar a atenção para a composição temática
peculiar da história do Brasil, que se evidencia na distribuição nitidamente
desigual das publicações no que se refere aos fatos políticos e econômicos.
Quanto ao interesse da história econômica pelos estudos de caráter geral, particularmente o período colonial, evidenciado em publicações datadas a
partir de 1956, poder-se-ia aqui apenas sugerir que talvez se deva a uma orientação metodológica, peculiar a esse campo da história naqueles anos, cujo objetivo era conhecer as características comuns de formas diferentes e variadas
da produção econômica de um determinado período. Tais características definiriam então a estrutura econômica do período histórico estudado.26 A adoção de tal procedimento metodológico levaria tanto à realização de estudos
25. Cf. CANABRAVA, Alice Piffer. Roteiro sucinto do desenvolvimento da historiografia, publicado em HOLANDA, Sergio Buarque; CANABRAVA, Alice Piffer; LUZ, Nícia Vilela (Coord.).
Introdução ao estudo da história do Brasil, São Paulo, 1971. Cadernos do Instituto de Estudos
Brasileiros. p. 23 e 31.
26. Ibidem, p. 27-35.
82
FBN_RG_vocacao_02 a.indd 82
5/3/2009 09:48:30
A vocação das ciências sociais no Brasil
interpretativos de caráter geral, como também ao conhecimento do processo
mais profundo de mudança da economia, à medida que fossem observadas,
no decorrer do tempo histórico, estruturas econômicas diferenciadas.
Em 1961, Nícia Vilela Luz afirmava que o conhecimento do desenvolvimento industrial no Brasil exigia pesquisas demoradas, entre outros problemas, porque tal desenvolvimento deitava suas “raízes” na época colonial.27
Possivelmente motivados pelas transformações econômicas que ocorriam no
país e com o intento de compreendê-las, os pesquisadores da história econômica fizeram uso daquela metodologia e se voltaram para o estudo da estrutura econômica do passado mais remoto, focalizando sobretudo o período
colonial.
Desse modo, a história econômica embora apresente um número reduzido de estudos dentro do quadro das publicações da história do Brasil, contribuiu para a diferenciação desse campo disciplinar, tanto no que concerne a
sua temática quanto a suas orientações metodológicas.
5.3
História Social
As inúmeras definições de história social trouxeram mais problemas do
que permitiram esclarecer os contornos desse campo de estudo. Jean Hecht
reconhece três tendências no conjunto das definições: a primeira considera
história social o estudo da vida e da cultura existentes em sociedades que
desenvolveram-se no passado; outra insiste em limitá-la ao conhecimento de
um residuum proveniente da política, da economia e de amplas áreas culturais,
tais como crenças religiosas e tecnologia; e finalmente, uma terceira corrente
a restringe ao estudo de “um conjunto heterogêneo de instituições domésticas
e comunitárias, costumes, atitudes e artefatos”.28
Comentários de José Honório Rodrigues também sugerem dificuldades
de definição e mostram como a história social pôs em xeque a extremada
valorização da atividade política e de personalidades influentes na história. “A
teoria do medalhão da história” diz o autor, “seria substituída pela teoria do
povo: estudar a conduta do povo, substituídos os personagens pelos grupos
estruturados em formas sociais e econômicas.”29 Revela ainda o escritor a
27. LUZ, Nícia Vilela. A luta pela industrialização do Brasil. São Paulo: DIFEL, 1961. p. 9-10.
28. HECHT, J. Jean. Social History. In: INTERNATIONAL Encyclopaedia of Social Sciences.
New York: Macmillan, 1968. v. VI, p. 455.
29. RODRIGUES, José Honório. Op. cit., p. 212.
83
FBN_RG_vocacao_02 a.indd 83
5/3/2009 09:48:31
Glaucia Villas Bôas
proximidade entre história social e história econômica, o que permite a alguns
historiadores considerar o estudo histórico da economia dentro do quadro
da história social. Finalmente, ele recomenda aos estudiosos da disciplina fazer uso do enfoque antropológico para conhecer a evolução e as mudanças
culturais. Embora tecendo esses comentários, o autor não define o objeto da
história social.
Compreendemos aqui a história social como um ramo que trata das características e das mudanças de sociedades ou de fatos sociais no passado,
com base na apreciação de um conjunto de obras constantes da amostra, cujo
alvo é a análise de características gerais da formação da sociedade brasileira
ou de um de seus aspectos, além do registro da ocorrência de fatos sociais.
O quadro de publicações a seguir mostra as linhas de trabalho que definem a
história social.
Quadro XI
Número de obras por tema em história social
1945-55 e 1956-66
Temas
Obras
1945
1955
1956
1966
Escravidão
6
4
2
Classes e estratos sociais
5
1
4
Formação da sociedade
2
-
2
Outros
5
3
2
Total
18
8
10
Os estudos sobre a escravidão dividem-se em dois tipos de enfoque. Um
deles, traduzido em duas publicações apenas, analisa a escravidão desde suas
origens até a desagregação do sistema, com os problemas da integração dos
negros no trabalho livre; o outro registra lutas dos escravos, concentrando-se
no Quilombo dos Palmares. Dão prioridade à descrição de eventos históricos
e relegam a segundo plano a análise das relações sociais.
A ênfase dada aqui às obras sobre os escravos e o sistema escravocrata
visa sublinhar o contraste entre a relevância do tema para a história do Brasil
84
FBN_RG_vocacao_02 a.indd 84
5/3/2009 09:48:31
A vocação das ciências sociais no Brasil
e o tratamento limitado que a ele deram os historiadores, comparativamente com outros temas focalizados. No conjunto de livros da história
social, o tema da escravidão apresenta um número de obras semelhante
ao das classes sociais. Embora não tenham posição de destaque na história social, é somente neste ramo que adquirem um lugar específico e
delineado. A história política, com 188 obras, apresenta um estudo sobre
a escravidão; no conjunto de 27 livros da história econômica não figura
nenhum texto específico sobre o tema. Do quadro geral da história do
Brasil (303 obras) constam sete estudos específicos sobre a escravidão,
o que significa apenas 2,3% das publicações nesse campo disciplinar,
constantes da amostra estudada.
Os trabalhos sobre classes e estratos sociais investigam a constituição histórica das diversas camadas da população. No conjunto, há dois registros de
lutas operárias no Brasil. Dele fazem parte duas obras sobre a formação da
sociedade brasileira, elaboradas a partir da análise de suas condições econômicas, políticas e intelectuais ao longo da história.
O quadro apresenta também cinco estudos que se diferenciam dos demais
ao tratar de assuntos bastante específicos como a relação entre a atividade estudantil e a vida nacional, a história social do estado do Amazonas, a história
da imprensa e a história da medicina no Brasil.
De acordo com a amostra estudada, a história social é um ramo pouco
pesquisado no contexto dos anos que vão de 1945 a 1966 (28 em 303 obras).
A par disso, o quadro XI mostra que seu estudo não sofreu alterações, constando da amostra oito livros publicados no período de 1945 a 1955, e dez nos
anos de 1956 a 1966. Entretanto, apesar da quantidade reduzida de publicações, sua posição no campo da história do Brasil foi possivelmente relevante,
na medida em que, ao lado da história econômica, ofereceu um novo horizonte temático e metodológico aos historiadores, renovando a tradição de
estudos da história do Brasil, voltada para os fatos políticos.
5.4
História das Idéias
História das idéias é a denominação sugerida para os trabalhos que têm
o objetivo de registrar, analisar e historiar resultados da atividade intelectual,
realizada de forma sistemática por camadas ou grupos sociais que se habilitam
especificamente para seu exercício; são utilizados também os termos história
85
FBN_RG_vocacao_02 a.indd 85
5/3/2009 09:48:31
Glaucia Villas Bôas
do pensamento e história intelectual.30 Os textos tratam, em geral, da análise
da constituição das idéias, do surgimento e recepção das mesmas em determinado contexto histórico e da relação entre intelectuais, suas idéias e sua
trajetória política e social.
No quadro adiante está a configuração temática da história das idéias no
período estudado:
Quadro XII
Número de obras por tema em história das idéias :
1945-55 e 1956-66
Temas
Obras
1945
1955
1956
1966
Estudos de caráter geral
4
1
3
Positivismo
3
-
3
Idéias “progressistas”
2
1
1
Idéias socialistas
1
-
1
Idéias políticas
1
1
-
Total
11
3
8
A história das idéias é uma área de interesse restrito. Poder-se-ia atribuir
essa característica da historiografia aos percalços da formação de uma camada
intelectual no Brasil e, conseqüentemente, ao seu papel pouco destacado no
passado. Somente no século XIX, a formação daquela camada se emancipa de
Portugal e, paulatinamente, se desvincula das influências das ordens religiosas.
Com a criação das Escolas médico-cirúrgicas (1808), da Academia Real Militar
(1910) e das Faculdades de Direito (1827) iniciou-se no século XIX a formação voltada para a preparação profissional de militares, médicos, advogados
e engenheiros. Fernando de Azevedo comenta31 que apesar da criação de es30. BRINTON, Crane. Intellectual History. In: INTERNATIONAL Encyclopaedia of Social Sciences. New York: Macmillan, 1968. v. VI, p. 462-467.
31. Cf. AZEVEDO, Fernando de. A cultura brasileira. 3 ed. São Paulo: Melhoramentos, 1958. t. II,
cap. 2, p. 49-52.
86
FBN_RG_vocacao_02 a.indd 86
5/3/2009 09:48:31
A vocação das ciências sociais no Brasil
tabelecimentos de ensino superior, a posse de conhecimentos permaneceu
durante longo tempo sendo um distintivo de classe e se apresentava “intelectualista e literária” como havia sido tradicionalmente na Colônia. Poder-se-ia
supor também que, no contexto histórico aqui abordado, entre os temas que
teriam renovado os tradicionais estudos dos fatos políticos, a formação da
economia e a formação da sociedade no passado foram consideradas pelos
historiadores mais relevantes para a compreensão das transformações que
ocorriam no país, do que o conhecimento da formação da camada intelectual
e de suas idéias.
Os estudos de caráter geral tratam da história das idéias no Brasil. Um
deles destaca a representação da sociedade brasileira no plano do pensamento
brasileiro, outro aponta com especificidade as relações entre a constituição
das idéias e características do contexto social e histórico de finais do século
XIX e início do século XX. Entre os trabalhos específicos, três focalizam o
positivismo durante o período republicano, dois referem-se às idéias progressistas, um trata das idéias socialistas e outro das idéias políticas no Brasil.
O quadro mostra que os textos abordaram em sua maioria as vertentes do pensamento do final do século XIX e início do século XX.
Através dos títulos, pode-se observar também haver mais interesse
pelas vertentes do pensamento, assim como pelas relações entre as
idéias e o contexto social e histórico, do que pela obra de um autor,
representativo de uma corrente de pensamento e sua trajetória em um
contexto histórico determinado; apenas dois livros no conjunto têm
esse tipo de abordagem.
Embora não haja dúvida quanto ao interesse limitado pelo estudo
da história das idéias, considerando a amostra pesquisada, não deixa de
ser sugestivo o crescimento do número de livros nessa área, a partir de
meados da década de 1950.
5.5
C onclusão
A julgar pela amostra analisada, a produção no campo da história do Brasil
concentra-se no conhecimento dos fatos políticos do passado. Tal conhecimento focaliza a conquista territorial, o traçado de fronteiras internas e externas e o povoamento, relacionando esses fatos à formação e à atuação do
poder político no país; o conjunto dos trabalhos sugere que os historiadores
tiveram interesse em ressaltar – por meio dos relatos históricos – ações cuja
87
FBN_RG_vocacao_02 a.indd 87
5/3/2009 09:48:31
Glaucia Villas Bôas
conseqüência foi a manutenção da unidade política e geográfica do país. Além
disso, observou-se que a historiografia apresenta estudos nos ramos da história econômica e da história social, que teriam marcado o início de uma diferenciação temática e disciplinar daquele campo do conhecimento, no período
de 1945 a 1966.
A análise da configuração temática da história do Brasil demonstra que no
seu conjunto a disciplina manteve-se fiel à concepção tradicional de história
referida anteriormente, voltando o foco de sua atenção para a continuidade e
repetição de atividades políticas que deram origem à nação brasileira e lograram manter sua unidade. Nesse sentido, poder-se-ia dizer que entre os historiadores, no período examinado, poucos se interessaram efetivamente pelas
mudanças ocorridas no passado, figurando esse problema característico da
concepção moderna de história, como foi possível observar, apenas em obras
da história econômica e da história social.
Certamente, o que mais chama a atenção é a continuidade e a permanência
da história do Brasil no horizonte temático. Enquanto ocorriam mudanças
socioeconômicas profundas na sociedade brasileira, além de modificações nos
seus setores político e institucional, os historiadores lograram manter um espaço temático que, como já foi assinalado, voltava-se sobretudo para o estudo
dos fatos políticos que teriam dado origem e mantido a unidade da nação.
Dedicando-se a essa questão, teriam reatualizado uma tradição de estudos que
se iniciara no Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro e seus congêneres
em 1838.
6. Os temas da economia política
As definições de economia política expõem, como se verifica também em
outras disciplinas, um rol de motivos explicativos da dificuldade de definir.
A identidade da economia política está marcada tanto por sua aspiração a
ser disciplina científica, cujo objeto é um complexo de relações sociais próprio
da esfera da produção de bens materiais, quanto pelo fato de constituir-se
fundamento para a explicação da sociedade e da história do homem, numa
das vertentes do pensamento moderno.
Os limites desse campo de conhecimento adquirem maior amplitude se considerarmos o pensamento de Karl Marx, para quem o conhecimento da economia política explica a “anatomia” da sociedade civil (bürgeliche Gesellschaft):
88
FBN_RG_vocacao_02 a.indd 88
5/3/2009 09:48:32
A vocação das ciências sociais no Brasil
Minhas pesquisas chegaram ao resultado de que as relações jurídicas – assim como as formas de Estado – não podem ser compreendidas nem por elas mesmas, nem pela pretendida evolução
geral do espírito humano, mas que ao contrário, têm suas raízes
nas condições de existência material, as quais Hegel, a exemplo dos
ingleses e dos franceses do século XVIII, compreende sob o nome
de “sociedade civil” e que a anatomia da sociedade civil deve ser
procurada por sua vez na economia política.32
O uso dos termos economia política e economia varia de acordo com a
trajetória disciplinar em distintos contextos históricos, institucionais e teóricos. No final do século XIX, questionou-se a estreiteza do termo economia
política para uma disciplina que tratava das relações e da mudança da sociedade. O termo “economia” foi consagrado por Alfred Marshall, em 1890, com
a publicação de Principles of Economics. Argumentou-se que a disciplina havia
deixado de debater-se com problemas da política econômica e estabelecido
um corpo de princípios e métodos, os quais levaram à nítida separação entre
teoria e prática.33 Edwin Seligman diz que a economia “vem sendo e talvez
continue a ser o campo de batalha de racionalizações de interesses de grupos e classes (...) Sofreu mais do que qualquer disciplina da enfermidade das
polêmicas sobre definição e método”.34 Segundo o autor, mais apropriado é
definir-se economia – ele utiliza somente esse termo – como uma “disciplina
científica que trata dos fenômenos sociais relativos ao atendimento de necessidades materiais para o indivíduo e grupos organizados”.
As obras sobre a economia do país, constantes da amostra, como se verá a
seguir, estão particularmente voltadas para as relações entre economia e política econômica, motivo pelo qual nos pareceu mais adequado utilizar o termo
economia política para designar o campo disciplinar que integram.
Quando se observam os estudos realizados naquele período, nota-se que
polêmicas sobre objeto e método suscitadas pelas diferentes correntes do
pensamento econômico – que aliás distinguem, especialmente, os economistas latino-americanos naquele momento – não modificam o grau de interesse
no conhecimento e no debate do desenvolvimento da economia nacional. Para essa
32. O texto de Marx é de 1859. Cf. MARX, Karl. Contribution à la critique de l’économie politique. Paris:
Éditions Sociales, 1957. p. 4.
33. Cf. SELIGMAN, Edwin R. A. Economics. In: ENCYCLOPAEDIA of Social Sciences. New
York: Macmillan, 1948. v. V e VI, p. 345.
34. Ibidem, p. 344-345.
89
FBN_RG_vocacao_02 a.indd 89
5/3/2009 09:48:32
Glaucia Villas Bôas
questão convergem os temas escolhidos pelos especialistas, por maiores que
tenham sido suas discordâncias metodológicas.35
A economia política apresenta nesse período 158 obras que se dividem nas
seguintes áreas de interesse:
Quadro XIII
Número de obras por tema em economia política
1945-55 e 1956-66
Obras
Temas
1945
1955
1956
1966
Obras sobre a disciplina
Problemas teórico-metodológicos
27
7
20
Manuais e introduções
18
10
8
Avaliação da produção do conhecimento
da disciplina no Brasil
1
-
1
Subtotal
46
17
29
Desenvolvimento e Política Econômica 59
12
47
Condições históricas da economia
14
6
8
Finanças
9
3
6
Comércio exterior
9
1
8
Indústria
8
4
4
Agricultura
6
1
5
Investimentos estrangeiros
6
1
5
Repartição da renda
1
1
-
Subtotal
112
29
83
Total
158
46
112
Obras sobre temas específicos
35. Cf. MAGALHÃES, João Paulo de Almeida. A controvérsia brasileira sobre o desenvolvimento econômico.
Rio de Janeiro: Record, 1966. p. 11-33; LIMA, Heitor Ferreira. História do pensamento econômico.
São Paulo: Cia. Ed. Nacional, 1976. p. 170-187.
90
FBN_RG_vocacao_02 a.indd 90
5/3/2009 09:48:32
A vocação das ciências sociais no Brasil
Os problemas concretos relativos à economia nacional atraíram muito
mais a atenção dos estudiosos do que os problemas sobre a disciplina, e atingiram 70,88% do total. No entanto, as obras sobre a disciplina não tiveram
quantidade desprezível. Seu número cresceu na maioria dos temas abordados
pelos economistas de um período para outro daqueles analisados no quadro
XIII. Porém, o índice de aumento dos livros em cada um deles é variável e
evidencia o interesse marcante dos especialistas por certos assuntos.
6.1 Obras sobre a disciplina
Ao refletirem sobre seu campo de trabalho, os economistas privilegiaram
a exposição e a discussão de problemas teóricos e metodológicos, o que leva
a supor que no período estudado houve grande interesse em esclarecer e delimitar diferentes pontos de vista relativos aos problemas econômicos. Os
autores dedicaram-se também à elaboração de manuais e introduções,36 cujo
número poderia ser explicado pela criação das Faculdades de Ciências Econômicas, em 1945.
Ao lado disso, note-se no quadro XIII que um livro avalia a produção
científica da disciplina no Brasil. Essa linha de trabalho – indispensável para a
continuidade das investigações e instauração de novas questões – está presente no campo da história do Brasil e, como veremos adiante, de modo acentuado na sociologia.
Tudo indica que o interesse pela disciplina não motivou os economistas ao balanço de suas próprias atividades enquanto produtores de conhecimento sobre a economia brasileira (uma em 158 obras); ao contrário, eles
concentraram-se em problemas de ordem teórica. Analisando as “obras sobre
a disciplina”, destaca-se a quantidade de trabalhos sobre problemas teóricometodológicos, ainda que a quantidade de manuais e introduções revele um
interesse bastante desenvolvido pela matéria e por sua divulgação.
Nos anos de 1945 a 1955 e 1956 a 1966, o crescimento do número de
textos sobre “problemas teórico-metodológicos” é de sete para 20, de um
período para outro. Menos prestigiados, os “manuais e introduções” mantêm
número semelhante de estudos. O quadro XIII mostra ainda que somente
no período 1956–1966 se publica obra de avaliação da produção do conhe36. Indicamos aqui em conjunto os manuais e as introduções, considerando que essas obras, em
definição corrente, tratam das noções essenciais de uma disciplina (os manuais) e também da
preparação para o estudo de um ramo do saber, ocupando-se seus autores, portanto, tanto num
quanto noutro caso, especialmente da divulgação do corpo teórico-conceitual de uma disciplina.
91
FBN_RG_vocacao_02 a.indd 91
5/3/2009 09:48:33
Glaucia Villas Bôas
cimento da disciplina no Brasil. A julgar pelos dados, os economistas não
se interessaram pela reflexão sobre seu campo intelectual, senão depois de
meados dos anos 1950.
Sem dúvida, o que deve ser observado é o rumo tomado pelos estudos
sobre “problemas teórico-metodológicos”.
Quadro XIV
Obras por tema na categoria “problemas
teórico-metodológicos”: 1945-55 e 1956-66
(economia política / obras sobre a disciplina)
Obras
Temas
1945
1955
1956
1966
Capital e trabalho
7
4
3
Repartição da renda
6
-
6
Desenvolvimento econômico
4
-
4
Cooperativismo
4
1
3
Relações econômicas internacionais
4
1
3
Economia agrária
2
1
1
Total
27
7
20
Nota-se que os estudos se dividem de maneira relativamente equilibrada
pelos diversos tópicos, com uma única exceção: a “economia agrária”, que
parece ter suscitado menor interesse. A relação entre capital e trabalho e, logo
a seguir, a repartição da renda foram os assuntos que mereceram mais atenção dos economistas. Os temas “desenvolvimento econômico”, “cooperativismo” e “relações econômicas internacionais” apresentam o mesmo número
de obras.
É interessante ver que o tópico “capital e trabalho” foi aparentemente o
mais pesquisado. Se for levado em conta que essas obras foram publicadas
quando se buscava consolidar a economia industrial-capitalista no país, percebe-se que justamente um problema central da economia naquele momento
92
FBN_RG_vocacao_02 a.indd 92
5/3/2009 09:48:33
A vocação das ciências sociais no Brasil
figurou entre as preocupações teóricas dos especialistas. Porém, de acordo
com os dados da amostra, os temas “repartição da renda” e “desenvolvimento econômico” passam a ser privilegiados em livros publicados no período
1956–1966, indicativo de que os problemas teóricos vinculados àqueles assuntos passaram a merecer atenção à medida que se acelerou o processo de
industrialização no país.
6.2 Obras sobre temas específicos
O conjunto “obras sobre temas específicos” engloba a maioria dos títulos da amostra (ver quadro XIII) que se acumulam predominantemente em
“desenvolvimento e política econômica”, perfazendo 52,67% dos livros. A
categoria enfoca quatro assuntos, expostos no quadro abaixo:
Quadro XV
Obras por tema na categoria “desenvolvimento e política econômica”:
1945-55 e 1956-66
(economia política / obras sobre temas específicos)
Temas
Obras
1945
1955
1956
1966
Política e expansão econômica
32
4
28
Planejamento econômico
11
4
7
Conjunturas econômicas
10
3
7
Estado e ordem econômica
6
1
5
Total
59
12
47
O interesse pelos temas abordados é desigual, havendo maior número de
trabalhos de caráter geral sobre o desenvolvimento e a política econômica
registrados no grupo “política e expansão econômica”. Tratam de questões
sobre o desenvolvimento econômico do país e a política econômica, por meio
de análises de tendências históricas da economia, da revisão de políticas go93
FBN_RG_vocacao_02 a.indd 93
5/3/2009 09:48:33
Glaucia Villas Bôas
vernamentais ou de sugestões para a formulação de ações adequadas para o
desenvolvimento. A predominância dessas obras sobre as demais é notória,
pois elas somam mais da metade. Essa observação reforça o que já se mencionou anteriormente a respeito da provável influência dos problemas econômicos do país sobre os estudos do período examinado; novamente aqui as
publicações parecem tomar igual direção.
Nos textos sobre planejamento econômico destacam-se trabalhos sobre o
planejamento de países subdesenvolvidos, além de obras sobre programas regionais (principalmente para o Nordeste), municipais, industriais e agropecuários. Os
livros sobre conjunturas econômicas analisam planos econômicos de governos
específicos. Já o papel do Estado no processo de desenvolvimento do país é discutido nos estudos que figuram no conjunto “Estado e ordem econômica”.
Esses trabalhos expressam interess e na conjugação do conhecimento
científico com a prática política, considerando a economia política como um
instrumento para a realização do desenvolvimento do país. Embora os projetos dos cientistas não sejam idênticos, pois divergem quanto às teorias que
informam suas análises e sua concepção de desenvolvimento,37 estão próximos quanto à necessidade de uma política econômica que seja adequada às
condições do país.
No sentido restrito da necessidade de intervenção de base científica, portanto racional, corrigindo a “espontaneidade” da vida econômica, a postura
dos especialistas é característica da sociedade moderna, a qual exige aquele
tipo de ação para controle e domínio do rumo dos fatos. A tendência da economia política é sobretudo examinar os passos da ação do Estado com base
em estudos científicos.
Nos anos de 1945 a 1955, a quantidade de obras em “política e expansão econômica”, “planejamento econômico” e “conjunturas econômicas” se apresenta mais ou menos nivelada; no período subseqüente,
porém, verifica-se enorme discrepância entre elas, devido ao aumento
do número de livros sobre “política e expansão econômica” de quatro
para 28 obras. O interesse dos economistas se voltou primordialmente
para a análise da política responsável pelo crescimento e expansão da
economia do país. A produção da economia política, naquele contexto
37. MAGALHÃES, João Paulo de Almeida. Op. cit.; SUNKEL, Oswaldo; PAZ, Pedro. Os conceitos
de desenvolvimento e subdesenvolvimento. Rio de Janeiro: Fórum, 1974. p. 33-46.
94
FBN_RG_vocacao_02 a.indd 94
5/3/2009 09:48:33
A vocação das ciências sociais no Brasil
histórico, se deixou marcar não só pelas influências do notável crescimento econômico, como pelo propósito de influir na condução política
daquele processo.
Quanto ao segundo tema exposto no quadro XIII, “condições históricas da
economia” (14 obras), tudo indica que seus pesquisadores acreditam que o planejamento da economia depende da observação das características que o país
apresentou no passado. A noção de um desenvolvimento planejado se une à visão
histórica dos economistas: voltam-se para o futuro, mas apoiados no passado.
Embora tratem de assunto semelhante, os trabalhos sobre as “condições
históricas da economia” se diferenciam daqueles da história econômica. Ao
contrário dessa, nenhum livro trata com exclusividade de um fato ou evento
econômico do passado, nem da reconstrução de um setor específico da produção, ciclo econômico ou política especial de um período histórico. Os estudos buscam esboçar, à luz das categorias da economia política, as tendências
da “formação”, “evolução” ou “emancipação” da economia nacional.
Outro item, as finanças, ocupa parte destacada no rol dos interesses dos
economistas e é objeto de controvérsias. Os estudos focalizam principalmente o problema da inflação: causas, política de combate, sua relação com o
desenvolvimento. Algumas obras se ocupam de análises ou da história do
sistema bancário e de caixas econômicas.
Os trabalhos sobre comércio exterior, indústria e agricultura dividem-se
claramente em duas linhas: ou são históricos, ou analisam a política econômica
da época relativa àqueles setores, com vista ao problema do desenvolvimento.
O processo de industrialização, a reforma agrária (é importante lembrar que
no período de 1945 a 1964 essa questão foi posta na ordem do dia dos debates
políticos) e problemas relativos à produção e exportação do café constituem o
foco de interesse desses estudos.
Uma outra dimensão do conhecimento da economia encontra-se nos estudos sobre investimentos estrangeiros, mostrando o tipo de relação econômica e política que foi estabelecida com países desenvolvidos, resultante da
escassez de capitais no país. Parte dos estudos indica a necessidade de tais
investimentos, sem os quais o desenvolvimento econômico não seria viável,
mas acentuam paralelamente a necessidade de uma política econômica que os
controle e administre. Questões sobre a dívida externa são também abordadas.
De outra perspectiva, na qual o eixo da discussão concentra-se nos interesses
dos países desenvolvidos, apontam-se os problemas das nações “subdesen95
FBN_RG_vocacao_02 a.indd 95
5/3/2009 09:48:33
Glaucia Villas Bôas
volvidas” diante do quadro da estrutura mundial de dominação imperialista.
Do conjunto “obras sobre temas específicos” (112 obras) faz parte um
livro sobre a repartição da renda, a mostrar que não houve interesse marcante
em tratar desse assunto no que respeita à economia do país, embora ele figure
entre os “problemas teórico-metodológicos” com seis obras.
Nenhum desses estudos teve crescimento comparável ao conjunto “desenvolvimento e política econômica”, tampouco à categoria “problemas teórico-metodológicos”, ainda que as obras sobre “comércio exterior”, “agricultura”, “investimentos estrangeiros” e “finanças” tenham elevado seu número
da primeira para a segunda fase.
6.3 Conclusão
Quanto aos temas da economia brasileira inscritos nos estudos do campo
da economia política, poder-se-ia dizer que a falta de capitais para empreender
as tarefas do desenvolvimento é o ponto de partida de numerosas obras. A
busca de solução para esse problema não só aparece nos estudos sobre a política econômica e no registro das tendências históricas da economia, mas se
traduz especificamente nas análises sobre investimentos estrangeiros, finanças
públicas, crédito e comércio exterior.
De tal modo o interesse pela questão da falta de capitais segue uma linha
definida de trabalho, que temas como “repartição da renda” ficam em segundo plano. A ênfase dada pelo pensamento econômico à diferença entre nações
ricas e pobres, atrasadas ou desenvolvidas, industrializadas ou não, contrasta
com o tratamento omisso dado às diferenças de condições de existência da
população do país, provocadas pela repartição desigual da renda. Os estudos
revelam o constrangimento no que se refere ao estudo da repartição de renda,
constrangimento de tal ordem que relembra o comentário de Fábio Lucas na
introdução de um de seus livros sobre a igualdade e desigualdade da renda; o
assunto não deve ser considerado “tema proibido” ou “tabu”...38
É possível que teses sobre o desenvolvimento assinalem o problema, postergando sua solução para o momento posterior ao aumento da renda nacional.39 O fato é que nesse sentido, o pensamento econômico no contexto
38. LUCAS, Fábio. Igualdade e desigualdade das rendas. Belo Horizonte: Faculdade de Ciências Econômicas/UFMG, 1963. p. 12.
39. SINGER, Paul. Curso de introdução à economia política. Rio de Janeiro: Forense Universitária,
1975.p. 47-48.
96
FBN_RG_vocacao_02 a.indd 96
5/3/2009 09:48:34
A vocação das ciências sociais no Brasil
brasileiro reedita características do pensamento econômico geral, que dedica
capítulos estanques e restritos aos problemas concretos da repartição de renda, discutindo-os preferencialmente no plano teórico.
Há nas obras sobre economia política o que se chamaria de coerência
disciplinar: os temas escolhidos ou o tratamento que lhes é dado convergem
para uma questão – a do desenvolvimento da economia nacional. Os economistas buscam solucioná-la por meio da revisão do passado ou da formulação
e controle das ações políticas do presente, sobretudo para que visassem à
obtenção de capitais e sua aplicação adequada, a fim de que o atraso do país
fosse superado. É possível que distinguindo-se das demais áreas das ciências
sociais naquele período, a economia política tenha se ocupado da produção de
conhecimento com a finalidade clara de intervir no processo político-econômico que levaria ao desenvolvimento do capitalismo industrial no Brasil.
7. Os temas da antropologia
Ao distinguir a antropologia de outros ramos do conhecimento, François
Laplantine se refere à disciplina como “um enfoque que consiste no estudo
do homem inteiro; no estudo do homem em todas as sociedades, sob todas
as latitudes, em todos os seus estados e em todas as épocas”. Abarcando tudo
que constitui uma sociedade, desde seus modos de produção econômica e
suas técnicas até suas crenças religiosas e criações artísticas, a antropologia,
segundo o autor, estuda “as culturas da humanidade como um todo em suas
diversidades históricas e geográficas”.40
O surgimento da antropologia está vinculado à busca de espaços e ao
confronto entre europeus e outros povos no que se refere a modos de viver,
produzir e reproduzir, que durante o Renascimento podem ser vistos como
ponto de partida, dentro da tradição européia, para o desenvolvimento dos estudos antropológicos. Os documentos e os relatos da experiência desse confronto registram uma visão etnocêntrica peculiar aos europeus que durante
longo tempo caracterizou o conhecimento antropológico.
Quando no século XIX se constituiu de fato como disciplina autônoma,
a antropologia concentrou o foco de suas análises e reflexões nos “povos
primitivos”, preocupando-se em diferenciar os estágios superiores e inferiores
40. Cf. LAPLANTINE, François. Aprender antropologia. São Paulo: Brasiliense, 1988. p. 16, 19 e 20.
97
FBN_RG_vocacao_02 a.indd 97
5/3/2009 09:48:34
Glaucia Villas Bôas
da história da humanidade, e mantendo a visão etnocêntrica que já se inscrevera nas primeiras descrições dos povos “não familiares” aos europeus. Com
raras exceções somente neste século, especialmente por volta dos anos 1950,
desponta no campo da antropologia uma crítica sistemática ao etnocentrismo
característico da disciplina, passando os antropólogos então a refletir sobre o
significado da diversidade cultural.
Até hoje perduram as discussões relativas à “herança etnocêntrica” da
antropologia,41 e também dificuldades quanto ao uso dos termos etnografia, etnologia e antropologia. De modo geral, aceita-se que o termo etnografia designe
a coleta direta e minuciosa dos fenômenos observados pelo pesquisador, procedimento que passa a ser adotado, segundo François Laplantine, no início do século
XX, quando especialistas conferem importância à observação direta efetuada por
eles próprios. Já a utilização dos termos etnologia e antropologia corresponde a
diferentes tradições dessa área de estudo, sendo etnologia mais usada pelos franceses para o exame das diversas culturas humanas e antropologia pelos especialistas
de países anglo-saxônicos, significando o estudo de gênero humano.42
No Brasil, os estudos antropológicos se iniciam em meados do século XIX
com as pesquisas que focalizam sobretudo os hábitos e costumes indígenas. No
final daquele século novos temas foram abordados, entre eles as tradições populares e a cultura africana, a exemplo dos estudos europeus, onde era notável o preconceito racial e cultural dos estudiosos. Maria Isaura Pereira de Queiroz comenta
que naquela época tal preconceito “se voltava principalmente contra o africano
cuja presença no cotidiano da sociedade brasileira era muito mais forte do que a
do indígena”.43 Contudo, uma das características desses estudos no Brasil parece
ter sido também a preocupação com a existência ou não de uma “cultura brasileira”, unidade cultural que teria se forjado ao longo da história do país, através da
contribuição dos diferentes grupos étnicos integrantes da sociedade.
Tudo indica que os estudos antropológicos relativos ao período que vai de
1945 a 1966, examinados nesse trabalho, em sua maioria reatualizaram os tradicionais temas e problemas desse ramo do saber no Brasil. O quadro abaixo
revela os temas escolhidos pelos especialistas e o número de obras publicadas
sobre cada um deles:
41. A respeito da história da antropologia e da visâo etnocêntrica da disciplina, consultar LAPLANTINE, François. Op. cit., p. 37-62; VELHO, Gilberto; CASTRO, E. B. Viveiros de.
O conceito de cultura e o estudo de sociedades complexas: uma perspectiva antropológica.
Artefato, Rio de Janeiro, v. 1, n. 1. jan. 1978.
42. Cf. LAPLANTINE, François. Op. cit., p. 25.
43. QUEIROZ, Maria Isaura Pereira de. Op. cit., p. 380.
98
FBN_RG_vocacao_02 a.indd 98
5/3/2009 09:48:34
A vocação das ciências sociais no Brasil
Quadro XVI
Obras por tema em antropologia: 1945-55 e 1956-66
Temas
Obras
1945
1955
1956
1966
Obras sobre a disciplina
Problemas teórico-metodológicos
6
2
4
Manuais e introduções
4
1
3
Avaliação da produção de
conhecimento da disciplina
4
3
1
Subtotal
14
6
8
Tradições populares
48
21
27
Grupos étnicos específicos
47
27
20
Formação étnico-cultural
14
7
7
Religiões afro-brasileiras
11
5
6
Cultura rural
7
4
3
Subtotal
127
64
63
Total
141
70
71
Obras sobre temas específicos
7.1 Obras sobre a disciplina
As “obras sobre a disciplina” apresentam uma linha diversificada de trabalhos que incluem manuais e introduções, ensaios sobre problemas de ordem
teórico-metodológica e trabalhos de avaliação da produção de conhecimentos
sobre antropologia no Brasil. O número de textos publicados nesse setor não
é expressivo de grande interesse pelo auto-conhecimento do trabalho realizado, nem pelo papel da antropologia no contexto de mudanças peculiar àquele
período histórico; somente 9% da produção se encontra nessa rubrica. Além
de escassos, esses estudos sofrem poucas alterações ao longo das décadas fo99
FBN_RG_vocacao_02 a.indd 99
5/3/2009 09:48:34
Glaucia Villas Bôas
calizadas. Os livros sobre “problemas teórico-metodológicos” e os “manuais
e introduções” mostram um aumento, enquanto as obras de “avaliação da
produção de conhecimento da disciplina” sofrem uma redução.
7.2 Obras sobre temas específicos
No período analisado, a antropologia recebe e reelabora uma já longa tradição nacional de estudos sobre as tradições populares e indígenas que, como
mencionamos, se inicia em meados do século XIX.44 No conjunto das “obras
sobre temas específicos”, a contribuição dos trabalhos sobre “tradições populares” congrega 34,04% dos títulos. Em seguida, as pesquisas sobre os indígenas chegam a 24,82%. Os temas “formação étnico-cultural” e “religiões
afro-brasileiras” têm alguma expressão, porém bem menor.
Em 1952, Manuel Diégues Jr. já chamava a atenção para a necessidade de
diversificação das áreas de estudo, referindo-se especialmente à predominância dos estudos sobre os indígenas:
O estudo etnográfico no Brasil andou sempre ligado ao
indígena. Até quase nossos dias, o que se entendia como matéria
de etnografia era o indígena. Isto sucedeu como decorrência das
próprias condições em que surgiu a etnografia, dedicando-se ao
estudo dos povos ou grupos chamados de primitivos ou naturais. (...) É certo que, já em 1913 Roquette Pinto mostrava, em
memorável discurso no Instituto Histórico, que a “etnografia
no Brasil, hoje, não se pode mais prender somente ao aborígene”. Certo: etnografia não é só indígena; é também o estudo do
negro, dos mestiços, dos grupos imigrados; etnografia é, e deve
ser o estudo das populações brasileiras através dos elementos
culturais que as caracterizam.45
A configuração dos estudos da amostra parece indicar, em primeiro lugar,
que a afirmação do autor já não corresponderia à produção antropológica do
período de 1945 a 1966, se for julgado representativo o conjunto de livros do
acervo da Biblioteca Nacional.
44. Cf. MELATTI, Julio Cezar. A antropologia no Brasil: um roteiro. BIB – Boletim Informativo e
Bibliográfico de Ciências Sociais, Rio de Janeiro, n. 17, 1984.
45. DIÉGUES JR., Manuel. Etnias e culturas no Brasil. Rio de Janeiro: Ministério da Educação e
Cultura, 1956. p. 9-10.
100
FBN_RG_vocacao_02 a.indd 100
5/3/2009 09:48:35
A vocação das ciências sociais no Brasil
Na realidade, juntam-se nos estudos sobre temas específicos as duas primeiras questões da antropologia abordadas no Brasil. Efetivamente, a disciplina começa a esboçar seu campo de trabalho com as pesquisas sobre os indígenas publicadas na Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, e, em
seguida, se amplia com os estudos sobre as tradições nacionais efetuados por
Sílvio Romero. Esses dois temas mais antigos são justamente os que alcançam
maior número de publicações na amostra analisada.
A categoria “tradições populares” (englobando o folclore) apresenta o
mais elevado número de estudos (48 obras). Utilizamos o termo “tradições
populares” para designar o conjunto de pesquisas que registra e descreve modos de pensar, crenças, costumes e folguedos que, mantendo suas características principais e seus significados para uma comunidade específica, teriam
permanecido ao longo do tempo. A diferença das “tradições populares” para
outras expressões culturais existentes na mesma sociedade estaria marcada,
não apenas pela sua continuidade no tempo, como também pela sua transmissão oral e pelo seu caráter não elitista, sendo geralmente atribuídas às camadas
inferiores da hierarquia social. A par disso, no Brasil essas tradições costumam
ser vistas como uma instância que caracterizaria aquilo que é “brasileiro”,
servindo assim para delinear os traços da cultura brasileira e diferenciá-la de
outras culturas.46
Cabe assinalar que os estudos sobre as tradições populares – assim como
aqueles que se ocupam da formação étnico-cultural da sociedade brasileira –
sugerem que os antropólogos se voltam para o passado à procura de traços
culturais que teriam permanecido ao longo do tempo. Essa característica dos
estudos antropológicos aparece também em outros conjuntos temáticos tratados nesse campo disciplinar no período abordado.
Os estudos sobre as “tradições populares” foram reatualizados e estimulados no decorrer da década de 1950. Segundo Edison Carneiro, ao final
da Segunda Guerra Mundial “os estudos de folclore haviam chegado a uma
encruzilhada”47 e o primeiro passo no sentido da sua retomada foi dado com a
criação, em 1947, da Comissão de Folclore vinculada à Unesco, que organizou
subcomissões em todos os estados brasileiros. Àquela Comissão sucedeu, por
sugestão feita no I Congresso Nacional do Folclore, em 1951, a campanha
46. Cf. CHAUÍ, Marilena. Seminários: o nacional e o popular na cultura brasileira. São Paulo: Brasiliense, 1984; MORAES, Eduardo Jardim de. A construção da idéia de modernidade no Modernismo
brasileiro. Tese de doutoramento, UFRJ, Rio de Janeiro, 1983.
47. CARNEIRO, Edison. Evolução dos estudos de folclore no Brasil. Revista Brasileira de Folclore,
Rio de Janeiro, 1962.
101
FBN_RG_vocacao_02 a.indd 101
5/3/2009 09:48:35
Glaucia Villas Bôas
Defesa do Folclore, cujas atividades tiveram início em 1958. Um dos objetivos
da Comissão e, posteriormente, da campanha foi registrar as tradições populares em todo o território nacional, o que poderia explicar não só a quantidade
de estudos sobre o tema, como a predominância de obras sobre as tradições
populares de localidades ou regiões.
Na realidade, o interesse pela cultura popular era então crescente, sendo
observado não só na criação de instituições voltadas para a pesquisa do
folclore, mas também em manifestações, movimentos e organizações de
setores estudantis, artísticos e literários, principalmente no final da década
de 1950 e início dos anos 1960. Os Centros Populares de Cultura, criados
em 1961, são um exemplo disso. Seja no sentido de conhecer as “origens”
das tradições populares brasileiras e buscar preservá-las, ou no sentido de
“conscientizar” ou “politizar” as camadas populares, discutindo-se então o
papel dos intelectuais frente a elas, fato é que a cultura das camadas populares foi se destacando cada vez mais no rol das discussões dos intelectuais
ao longo daqueles anos. Na realidade, as transformações socioeconômicas
não só modificavam as condições de vida das populações de baixa renda
no Brasil, como permitiam que despontassem no horizonte intelectual problemas relativos à participação daquelas camadas no processo econômico,
social e político.
No período aqui analisado, esse conjunto de estudos costumava ser denominado no mais das vezes “folclore” e, com menos freqüência, “cultura popular”.
Julgamos mais adequado o termo “tradições populares” porque abrange diversas
manifestações registradas nos estudos da amostra dessa pesquisa, já que os estudiosos nem sempre concordaram com a qualidade das manifestações definidas
pelo termo folclore, que para alguns nomeava tão somente as lendas, os contos e
os mitos. Além disso, a identidade do folclore – ora objeto de estudo, ora ramo da
antropologia, ora da história social, ora campo específico de estudos – é ponto de
controvérsias, o mesmo ocorrendo com o termo “cultura popular” que adquiriu
mais recentemente um caráter político, vindo representar a expressão da contestação ou resistência de grupos socialmente desprivilegiados.48
O quadro XVII revela a diversidade e quantidade dos estudos referentes a
"tradições populares" realizados no período.
48. Sobre o conceito de cultura popular, ver ORTIZ, Renato. A consciência fragmentada. In:___;
QUEIROZ, Maria Isaura Pereira de; SIMSON, Olga R. M. von; MICELI, Sergio. Esboço de
um projeto de investigação da produção cultural no Brasil, São Paulo, n. 17, 1ª série, set. 1982. Cadernos
CERU.
102
FBN_RG_vocacao_02 a.indd 102
5/3/2009 09:48:35
A vocação das ciências sociais no Brasil
Quadro XVII
Obras por tema na categoria “tradições populares”:
1945-55 e 1956-66
(antropologia / obras sobre temas específicos)
Temas
Obras
1945
1955
1956
1966
Estudos de caráter geral
8
4
4
Mitos, contos e provérbios
9
5
4
Usos e costumes
8
1
7
Folguedos
8
4
4
Tradições populares de regiões, 15
7
8
21
27
estados e cidades
Total
48
Como se vê, os estudos de caráter geral, os trabalhos sobre mitos, contos
e provérbios, os textos sobre usos e costumes e folguedos populares apresentam aproximadamente o mesmo número de publicações, destacando-se no
quadro as obras sobre as tradições populares de diferentes regiões, estados ou
cidades brasileiras. A região Nordeste é a mais focalizada, sendo objeto de três
estudos; entre os estados, os mais pesquisados são Alagoas e Santa Catarina,
havendo obras também sobre São Paulo, Bahia, Goiás e Rio Grande do Sul.
A cidade do Rio de Janeiro é foco de interesse de apenas um texto. Em que
medida estados da Federação mais abordados apresentariam peculiaridades
mais marcantes da chamada “cultura popular”? Ou que fatores levariam a tais
trabalhos em determinados locais? Tais perguntas poderiam motivar pesquisas mais aprofundadas sobre o assunto.
As linhas de estudo sobre as tradições populares se mantiveram ao longo do
período analisado. De acordo com a amostra analisada, foi dada preferência às
pesquisas sobre usos e costumes das camadas populares, estudos que tratam das
atividades mais concretas da vida cotidiana daquelas populações. Os pesquisadores das “tradições populares” parecem pouco motivados pela atmosfera de debates voltados para os problemas da cultura popular; a abordagem que adotam
103
FBN_RG_vocacao_02 a.indd 103
5/3/2009 09:48:35
Glaucia Villas Bôas
não se modifica em profundidade, assim como a temática de seus estudos, mas
a quantidade maior de trabalhos indica um aumento de interesse da parte deles e
dos leitores.
O quadro XVI apresenta um grande conjunto de textos sobre “grupos
étnicos específicos”, entre os quais destacam-se os indígenas, os negros e os
imigrantes. O conhecimento elaborado sobre os grupos indígenas evidencia
as seguintes linhas de trabalho:
Quadro XVIII
Obras por tema na categoria “grupos étnicos específicos – indígenas”:
1945-55 e 1956-66
(antropologia / obras sobre temas específicos)
Obras
Temas
1945
1955
1956
1966
Grupos indígenas no seu conjunto
5
5
-
Grupos indígenas específicos
9
6
3
Cultura indígena (religião, mitos, lendas)
13
9
4
Integração indígena
8
2
6
Total
35
22
13
A quantidade desses estudos no conjunto das obras antropológicas permanece fiel ao início da antropologia no Brasil, que realiza as primeiras pesquisas sobre os indígenas por volta de 1850.
O interesse principal dos estudiosos na amostra se volta para a reconstrução de traços culturais exclusivos dos grupos indígenas. Tal interesse fica
demonstrado na quantidade de obras voltadas para o estudo da cultura, dos
grupos no seu conjunto e de grupos indígenas específicos – que somam 27
publicações, enquanto o conhecimento das relações entre brancos e índios é
objeto de apenas oito livros.
104
FBN_RG_vocacao_02 a.indd 104
5/3/2009 09:48:35
A vocação das ciências sociais no Brasil
Essa observação sugere que entre os anos de 1945 e 1966 os especialistas
teriam se ocupado, sobretudo, da construção de uma “memória” indígena. O
interesse em rastrear o modo de vida de “antepassados” da sociedade brasileira mostra-se coerente com a tendência histórica dos estudos antropológicos
naquele período – que vimos apresentando nessa exposição – e também com
características apresentadas por eles desde o século XIX.
O quadro XVIII mostra que o número de textos sobre a cultura indígena
(treze obras) supera os demais. Entre as publicações, a maior parte se volta
para o estudo de mitos, lendas e religiões (cinco obras), e de línguas indígenas (quatro obras). A valorização de aspectos simbólicos da vida social dos
indígenas aproxima essa linha de trabalho daquela que registra mitos, contos
e provérbios (treze obras), do conjunto “tradições populares”, e também das
pesquisas sobre as religiões afro-brasileiras (onze obras), o que demonstra a
atenção dos antropólogos ao plano simbólico da vida social de grupos “diferentes” ou “não familiares” aos pesquisadores e seu grupo social.
Freqüentes são os trabalhos sobre “grupos indígenas específicos” que buscam
descrever aspectos diversos da vida social de uma tribo. Das nove obras, três tratam
especialmente da organização social daqueles grupos. Sobre “integração indígena”,
oito livros mostram os processos peculiares à inserção dessas populações na estrutura socioeconômica e política do país, ou especificamente de uma de suas regiões, e as
conseqüências desse “trajeto” para as tribos. A maior parte das pesquisas tem como
foco de observação um grupo indígena específico. Ressalte-se o “lugar” das análises sobre “integração indígena” na configuração temática da antropologia, naquele
período, observando que constitui a única categoria de estudos a tratar nitidamente
das relações entre grupos étnicos distintos. Os trabalhos sobre grupos indígenas no
seu conjunto referem-se a essa população em geral, não tendo sido possível verificar
outras características desses livros através de seus títulos.
Sobre os negros no Brasil, nove obras trazem pesquisas que abordam aspectos diferenciados da vida do grupo, mas não deixam entrever uma linha
clara de investigação sobre esse assunto. Seria possível assinalar apenas que
os estudiosos não destacaram nesses estudos a dinâmica dos contatos e da
interação entre negros e brancos; do ponto de vista antropológico, as religiões
afro-brasileiras mereceram maior destaque que outros problemas concernentes às populações negras no país.
Os estudos sobre imigrantes (três obras) traduzem uma tentativa de diversificação das áreas de estudo do campo da antropologia. Dois estudos circunscrevem suas observações a um grupo específico de imigrantes, enquanto
105
FBN_RG_vocacao_02 a.indd 105
5/3/2009 09:48:36
Glaucia Villas Bôas
outro aborda, em seu conjunto, a contribuição cultural dos imigrantes para a
urbanização e industrialização do país.
Quanto ao crescimento desses estudos, destacam-se em quantidade os
livros sobre “cultura indígena” na primeira fase, entre 1945 e 1955; no período de 1956 a 1966, no entanto, as publicações sobre o assunto caem de
nove para quatro. Há, também, evidente diminuição do número de textos
sobre “grupos indígenas específicos” e nenhum trabalho apareceu sobre
“grupos indígenas no seu conjunto”. O aumento das obras sobre “integração indígena” se destaca duplamente: primeiro, porque é o único tema
que tem aumento; segundo, porque esses trabalhos ocupam uma posição
diferente no conjunto das investigações sobre esses grupos. Enquanto os
demais parecem caracteristicamente descritivos, os últimos questionam e
examinam as relações interétnicas e suas repercussões sobre as condições
socioeconômicas e culturais daquelas populações.
Os estudos sobre o grupo negro no Brasil, assim como aqueles sobre os
imigrantes, não só se apresentam em número limitado no rol das obras do
campo da antropologia, como seu número não varia da primeira para a segunda fase. Constam da amostra quatro obras sobre “negros”, publicadas nos
anos 1945–1955, e cinco no período subseqüente; sobre “imigrantes”, há um
livro na primeira fase e dois na segunda.
Na categoria “formação étnico-cultural” (ver quadro XVI), os antropólogos buscam recompor a diversidade dos traços de uma unidade
cultural que singularizaria a sociedade brasileira. É importante chamar a
atenção para o fato de que essas análises se constituem de dois modos:
de um lado, abordam as características de etnias regionais; de outro, investigam o processo de formação cultural da sociedade como um todo,
através da trajetória e da contribuição de negros, brancos e indígenas.
Decerto, esse tipo de problema, que se liga a investigações ora sobre a
identidade nacional, ora sobre a identidade regional, foi dos que mais
cedo atraíram a atenção dos estudiosos no Brasil, figurando na tradição
dos estudos desde o século XIX.
Outro campo de estudo antropológico são as religiões afro-brasileiras.
No contexto histórico examinado, essa linha de investigação questiona duplamente as sobrevivências de traços de origem e o processo de aculturação
que teriam levado ao sincretismo religioso. Dos onze textos constantes da
amostra, nove têm como horizonte de observação os traços das religiões afrobrasileiras na região Nordeste; os demais não especificam em seus títulos o
106
FBN_RG_vocacao_02 a.indd 106
5/3/2009 09:48:36
A vocação das ciências sociais no Brasil
local onde a pesquisa foi realizada. No tocante às crenças, evidencia-se mais
uma vez no período abordado um interesse que já marcara a antropologia
desde os trabalhos de Nina Rodrigues.
O conjunto de estudos sobre “cultura rural” retrata aspectos culturais
peculiares ao sistema econômico que primeiro se consolidou no Brasil e
assentou as bases da colonização portuguesa no Nordeste. As pesquisas
focalizam o povoamento da região, a origem e as características do engenho
de açúcar, e outros aspectos da vida rural, configurada pela produção da
cana-de-açúcar e pelo patriarcalismo. Note-se que mais uma vez se utiliza
nesse conjunto a noção de região como área específica onde se desenvolvem
determinados padrões culturais.
O quadro XVI indica que os estudos sobre “formação étnico-cultural”,
“religiões afro-brasileiras” e “cultura rural”, comparativamente menos pesquisados pelos antropólogos, não sofrem alterações, mantendo uma quantidade semelhante de livros de uma fase para a outra.
Como se vê, houve poucas modificações no escopo temático da antropologia, o que indica apego por parte dos estudiosos dessa área às suas questões
durante um período de 20 anos. Não foram focalizados novos assuntos, os
livros se dividem entre os mesmos temas nas duas fases estudadas.
No período abordado, a necessidade de uma avaliação da produção antropológica foi assinalada por Florestan Fernandes, em 1953, e por Luís
Aguiar Costa Pinto, em 1963. Florestan Fernandes chamava a atenção para
a importância dos estudos sobre a mudança cultural, nas áreas da cultura
indígena, da cultura afro-brasileira, da cultura campesina e da cultura trazida
pelos imigrantes. Segundo o autor, era preciso medir as reações das diversas
culturas às influências das transformações socioeconômicas em curso: “há
certa urgência de intensificar os trabalhos deste gênero, porque se sabe que
as oportunidades perdidas no presente são irremediáveis. A transformação
do cenário é rápida e muitas situações terão que ser descritas agora ou nunca
o serão, o mesmo se podendo dizer sobre a análise dos problemas que elas
colocam à investigação etnológica.”49
Mas Florestan Fernandes mostrava também que a recepção de novos enfoques dos estudos etnológicos pelos círculos intelectuais era problemática.
Atribuía à mentalidade “pré-científica” do público leigo dificuldades que desestimulavam as investigações modernas da antropologia: “embora as publicações etnológicas encontrem algum público, por causa da curiosidade pelo
49. Cf. FERNANDES, Florestan. A etnologia e a sociologia no Brasil. São Paulo: Anhambi, 1958. p. 38.
107
FBN_RG_vocacao_02 a.indd 107
5/3/2009 09:48:36
Glaucia Villas Bôas
‘índio’, pelo ‘folclore negro’, pelos ‘assuntos brasileiros’ etc., as tendências
à reelaboração intelectual das descobertas dos etnólogos são quase nulas.
Mesmo contribuições cujo sentido supra-etnológico seja evidente – para a
interpretação histórica do passado ou para o conhecimento do presente –
permanecem inaproveitadas ou sofrem severas restrições, o que demonstra o apego de larga parte do público leigo pelos modos pré-científicos de
concepção do mundo”.50
É interessante verificar que a crítica de Florestan Fernandes era dirigida
em grande medida ao público leitor. Segundo ele, a falta desse público desestimulava os pesquisadores. Essa observação é de grande importância porque
expõe o problema da divulgação do conhecimento e seu efeito sobre a elaboração dos estudos.
Os comentários de Luís Aguiar Costa Pinto revelam uma crítica mais
severa à antropologia. Para o autor, a abordagem culturalista dos estudos
antropológicos, naqueles anos, não tinha rigor conceitual e metodológico suficientes para efetuar o “estudo científico dos novos aspectos
assumidos pelas relações interétnicas no interior de uma sociedade em
mudança”. Na realidade, as reflexões de Costa Pinto terminam por conferir maior importância à sociologia pelos meios teóricos e metodológicos de que se dispunha para a compreensão e explicação do processo de
transformações do país. 51
Ambos os autores sugeriam uma revisão dos estudos da antropologia
que levasse em conta as mudanças socioeconômicas do momento, mas, evidentemente, os comentários críticos dos dois sobre os estudos antropológicos se diferenciam. Florestan Fernandes aponta os caminhos, segundo
ele, necessários para uma atualização das pesquisas no campo da antropologia, ainda que houvesse obstáculos para uma divulgação mais ampla de
seus resultados. Luís Aguiar Costa Pinto é cético quanto às possibilidades
teórico-metodológicas da disciplina no que respeita à elucidação dos problemas étnicos e culturais naquele momento. Os dois comentários abordam,
portanto, o problema da persistência dos temas antropológicos de ângulos
diferentes; porém, eles se completam e levam a compreender um conjunto
50. Ibidem, p. 34.
51. Cf. Pinto, Luís Aguiar Costa. Sociologia e desenvolvimento. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira,
1965.p. 78-79.
108
FBN_RG_vocacao_02 a.indd 108
5/3/2009 09:48:36
A vocação das ciências sociais no Brasil
de motivos que acarretaram a falta de renovação da configuração temática
da antropologia naquele período.
7.3 Conclusão
Retomando o fio das observações feitas sobre a antropologia, poder-se-ia
dizer que as escolhas temáticas e as ênfases dadas pelos antropólogos ao tratar
de assuntos de sua preferência, indicam que a disciplina apresenta uma tendência histórica. A perspectiva antropológica de reconstrução do passado parece sublinhar os traços culturais que teriam permanecido ao longo da história
da sociedade brasileira. Na antropologia, o passado teria sido revisto através
da descrição de modos de vida de grupos étnicos que, tendo participado dos
“primeiros tempos” da formação daquela sociedade, teriam conservado nos
seus hábitos, costumes e nas crenças, características culturais de outrora.
Tal interesse da antropologia estaria presente nos estudos gerais sobre
a formação étnico-cultural do país, nos trabalhos sobre os traços remanescentes da colonização portuguesa na cultura rural do Nordeste, na insistência em rastrear as sobrevivências das crenças africanas como mostram
trabalhos sobre as religiões afro-brasileiras, e ainda nos estudos sobre a
cultura indígena.
Acrescente-se àquela linha de pesquisa sobre os “antepassados” as numerosas investigações sobre as tradições populares, que também sublinham a
permanência de crenças, hábitos e costumes, distinguindo-se entretanto dos
primeiros porque não tratam de grupos étnicos específicos e sim de camadas
da população brasileira.
É possível que por meio desses estudos voltados para as “origens” dos
traços culturais peculiares à sociedade brasileira, os estudiosos tenham procurado delinear as características das culturas, seja chamando a atenção para
a diversidade das culturas regionais, seja examinando as peculiaridades das
tradições populares no país.
Entretanto, é preciso ressaltar que embora tal conduta possa ter predominado na pesquisa antropológica no período aqui abordado, começou a haver
interesse em revisitar o passado do ponto de vista das mudanças, o que os
especialistas teriam feito através da análise de processos de assimilação, aculturação ou integração de grupos étnicos específicos, análise que caracteriza
alguns dos estudos elaborados.
109
FBN_RG_vocacao_02 a.indd 109
5/3/2009 09:48:36
Glaucia Villas Bôas
8. Os temas da sociologia
Ao se constituir como disciplina científica, no decorrer do século XIX,
a sociologia se distingue por três aspectos: o papel que a ela é atribuído de
libertar das crenças religiosas e da especulação metafísica o conhecimento
da vida social; a discussão conceitual de seu objeto, a sociedade; e o fato de
identificar-se por excelência como a disciplina “orientadora da sociedade industrial ocidental”.52
Para Theodor Adorno e Max Horkheimer, a sociedade é o objeto da sociologia. Eles a definem como “uma espécie de contextura formada entre
todos os homens e na qual uns dependem dos outros sem exceção, na qual
o todo só pode subsistir em virtude da unidade das funções assumidas pelos
co-participantes, a cada um dos quais se atribui, em princípio, uma tarefa funcional; e onde todos os indivíduos, por seu turno, estão condicionados, em
grande parte, pela sua participação no contexto geral. Assim o conceito de
sociedade define mais as relações entre os elementos componentes e as leis
subjacentes nessas relações do que propriamente os elementos e suas descrições comuns”.53
A formulação do objeto da sociologia só foi possível com a ascensão
da burguesia moderna. O surgimento da disciplina está, pois, associado
ao advento de um novo tipo de sociedade: a sociedade urbano-industrial
sob sua forma capitalista. A sociologia traz em sua constituição a noção
(e a marca) do novo, da mudança, da transformação. Note-se, portanto,
que tanto os problemas de uma estrutura social sem precedentes na história, quanto o processo que gerou tal estrutura integram a composição
do campo da disciplina, exigindo a elaboração de um corpo de conhecimentos próprios.
No Brasil, de 1945 a 1966, a sociologia também é vista por seus estudiosos como uma ciência indispensável à elucidação de problemas característicos
dessa fase, que é justamente de profundas transformações sociais e econômicas.54 Nesse sentido, a ciência reatualiza no contexto brasileiro um dos traços
52. A expressão “disciplina orientadora da sociedade industrial ocidental” é usada por Wolf Lepenies na introdução ao livro LEPENIES, Wolf (Org.). Geschichte der Soziologie. Frankfurt a/M:
Suhrkamp Verlag, 1981. v. I, p. 6.
53. Cf. ADORNO, Theodor W.; HORKHEIMER, Max. Temas básicos da sociologia. São Paulo: Cultrix/USP, 1973. p. 25-26.
54. Cf. como exemplos: PINTO, Luís Aguiar Costa. Op. cit.; FERNANDES, Florestan. A sociologia
numa era de revolução social. São Paulo: Cia. Ed. Nacional, 1963; RAMOS, Alberto Guerreiro.
110
FBN_RG_vocacao_02 a.indd 110
5/3/2009 09:48:37
A vocação das ciências sociais no Brasil
de origem de sua identidade. É importante, no entanto, saber como aquele
traço é reelaborado e como a disciplina busca “orientar as mudanças sociais
de uma sociedade específica”.
Os temas escolhidos convergem, assim, para uma questão – as mudanças sociais. Os assuntos focalizados mostram ao mesmo tempo de que ângulo
aquela questão foi tratada. Constam da amostra 121 obras de sociologia que
se repartem nas seguintes linhas de investigação:
Quadro XIX
Obras por tema em sociologia: 1945-55 e 1956-66
Obras
Temas
1945
1955
1956
1966
Obras sobre a disciplina problemas teórico-metodológicos
24
9
15
Manuais e introduções
11
4
7
Avaliação da produção de conhecimento
da disciplina no Brasil 9
2
7
Avaliação do ensino da disciplina
2
1
1
Subtotal
46
16
30
Mudança social, industrialização e desenvolvimento
21
1
20
Meio rural
21
9
12
Mobilidade histórica e social
19
7
12
Meio urbano
8
-
8
Religião
3
1
2
Educação
3
-
3
Subtotal
75
18
57
Total
121
34
87
Obras sobre temas específicos
Cartilha de aprendiz de sociólogo: por uma sociologia nacional. Rio de Janeiro: Estúdio de Artes
Gráficas C. Mendes Júnior, 1954; VILLAS BÔAS, Glaucia. O sentido das mudanças na sociologia dos anos 50. In: ANPOCS, XIII, 1989.
111
FBN_RG_vocacao_02 a.indd 111
5/3/2009 09:48:37
Glaucia Villas Bôas
8.1 Obras sobre a disciplina
Embora não ocupem o lugar de maior destaque (46 em 121 obras, isto é,
38,01% delas) entre as linhas de trabalho do campo da sociologia, as “obras
sobre a disciplina” elaboradas pelos sociólogos têm uma particularidade no
conjunto desse tipo de estudo, constante dos diversos ramos do saber que
configuram o quadro geral das ciências sociais nessa pesquisa: apresentam
o mais diversificado grupo dessa vertente de textos e também o mais alto
percentual de obras.
Os problemas teórico-metodológicos da sociologia como fonte de
conhecimento aumentam no quadro exposto; somando-se aos trabalhos sobre os procedimentos teórico-metodológicos as introduções e
os manuais, verifica-se que os sociólogos tiveram bastante interesse em
divulgar seu próprio campo de conhecimento e delimitá-lo em relação a
outras disciplinas.
No conjunto das 24 obras sobre as questões teórico-metodológicas, é possível diferenciar uma linha de estudos que vai dos fundamentos epistemológicos da disciplina às teorias explicativas e técnicas de pesquisa utilizáveis, com
o que os estudiosos oferecem um quadro de como “fazer sociologia”. Ao
lado dessa linha, uma outra se ocupa dos limites do tema, elaborando textos
sobre o campo da sociologia do direito e sobre as relações da sociologia com
a antropologia e a psicanálise.
Outro interesse peculiar aos sociólogos é a importância atribuída à avaliação de seu próprio campo de trabalho no país. Nenhuma outra das disciplinas
aqui revistas revela tal interesse. Ao ressaltar a indispensabilidade da ciência
sociológica, os pesquisadores estariam acentuando a essencialidade de sua
ação no processo de mudanças sociais nacionais.
Livros sobre as diversas categorias de estudo integrantes das “obras sobre
a disciplina” são publicados tanto na primeira, quanto na segunda das fases
apontadas. De um período para outro, aumentou o número de textos em
todos os temas dessa área, com exceção das obras de avaliação do ensino da
disciplina, cuja quantidade permanece inalterada. Saliente-se o aumento de
publicações de “avaliação da produção sociológica”, que apresentam o maior
índice de crescimento no subconjunto.
112
FBN_RG_vocacao_02 a.indd 112
5/3/2009 09:48:37
A vocação das ciências sociais no Brasil
8.2 Obras sobre temas específicos
Os temas específicos foram abordados em 61,98% das obras da amostra.
A proporção é maior do que a das obras teórico-metodológicas, mas não se
eleva sobremaneira em relação a essas. Mais uma vez, destaca-se o interesse
dos sociólogos em discutir e divulgar a sua própria disciplina, além de efetuar
pesquisas específicas.
De acordo com as obras do acervo da Biblioteca Nacional, os especialistas
examinaram preferencialmente problemas concernentes à “mudança social,
industrialização e desenvolvimento”, e também ao “meio rural” brasileiro,
figurando cada uma dessas categorias de estudo com 21 livros na amostra.
A questão da mudança social aparece relacionada com o processo de industrialização e com o desenvolvimento do país, sendo tratada a partir de
uma perspectiva histórica. O conjunto das pesquisas e das reflexões sobre o
assunto sugere que a passagem de uma sociedade agrária para uma coletividade urbano-industrial foi o fio condutor das investigações dos sociólogos
naquele período.
Entre as obras que falam sobre “mudança social, industrialização e desenvolvimento” distinguem-se quatro linhas de trabalho:
Quadro XX
Obras por tema na categoria “mudança social, industrialização e desenvolvimento”: 1945-55 e 1956-66
(sociologia / obras sobre temas específicos)
Temas
Obras
1945
1955
1956
1966
Estudos de caráter geral
2
-
2
Mudanças sociais
9
-
9
Comunidades
5
1
4
Industrialização
5
-
5
Total
21
1
20
113
FBN_RG_vocacao_02 a.indd 113
5/3/2009 09:48:37
Glaucia Villas Bôas
Os estudos sobre “mudança social, industrialização e desenvolvimento”
enfocam essa questão a partir das seguintes perspectivas: os estudos gerais
buscam a síntese de um conjunto de características próprias da sociedade brasileira em mudança e comparecem com menor número de obras no quadro;
ao contrário, predominam no conjunto os livros que expõem e discutem a
problemática das mudanças sociais no país, vinculando-a, em alguns casos, à
necessidade da pesquisa sociológica a fim de esclarecê-la. Nos estudos sobre
comunidades, os sociólogos dedicaram-se à reconstrução de um complexo de
relações próprias de uma comunidade, abrangendo seu setor rural e urbano e
analisando em universo delimitado e restrito os efeitos das mudanças. Além
disso, efetuaram pesquisas sobre peculiaridades do processo de industrialização no Brasil.
As linhas de trabalho acima citadas mostram que o interesse dos sociólogos pela caracterização de um processo geral de transformações se
expressa numa seqüência que vai da síntese à descrição minuciosa das transformações no plano restrito das “comunidades”. Paralelamente, mostram a
importância atribuída à sociologia na elucidação de problemas decorrentes
das mudanças sociais.
Da amostra de livros consta apenas um estudo sobre comunidades, publicado no período entre 1945 e 1955; os demais trabalhos, sem exceção, foram
divulgados nos anos de 1956 a 1966. Ainda que as pesquisas sobre a questão das
“mudanças, industrialização e desenvolvimento” tenham sido elaboradas alguns
anos antes da data de sua publicação em livro, variando o tempo necessário para
seu lançamento no mercado, não pareceu constituir objeto de interesse dos estudiosos num primeiro momento a elaboração de trabalhos no campo da sociologia. A análise da amostra revela que o assunto foi sendo investigado à medida
que se acelerava o crescimento da economia brasileira e se acirravam os debates
sobre o desenvolvimento econômico; a questão teria permanecido como alvo
de investigação sociológica ainda durante as crises econômica e política que se
seguiram aos anos de mudanças efervescentes, começando a se esboçar em
finais da década de 1950. As obras da sociologia teriam conquistado um público
amplo, o que possivelmente estimulou o aprofundamento e a continuidade das
pesquisas sobre o tema.
Os trabalhos sobre o meio rural tratam de problemas de diversas ordens desse
setor no Brasil. Observe-se no quadro abaixo como se dividem esses estudos:
114
FBN_RG_vocacao_02 a.indd 114
5/3/2009 09:48:37
A vocação das ciências sociais no Brasil
Quadro XXI
Obras por tema na categoria “meio rural”
1945-55 e 1956-66
(sociologia / obras sobre temas específicos)
Obras
Temas
1945
1955
1956
1966
Características gerais
3
3
-
Condições e relações de trabalho
8
2
6
Relações políticas
4
2
2
Movimentos e conflitos religiosos
3
-
3
Tradições populares
1
-
1
Outros
2
2
-
Total
21
9
12
As obras que apresentam “características gerais” do meio rural revelam
aspectos diferenciados que vão desde as condições e organização do trabalho
agrícola, habitação rural, migração e educação, até o tipo de assistência governamental dada ao “homem do campo”.
As pesquisas referentes ao conjunto “condições e relações de trabalho”
descrevem e analisam tanto as condições de existência, quanto as relações
específicas de patriarcas, senhores de engenho, coronéis, jagunços, parceiros,
arrendatários e trabalhadores rurais. Na seqüência dessas categorias focalizadas pelos estudos, observa-se que são delineadas “velhas” e “novas” relações
sociais, entrelaçando o conhecimento de relações de trabalho, da propriedade
rural e de funções produtivas, com o estudo de aspectos políticos e culturais
próprios do meio rural.
O exame desse meio rural leva os sociólogos a estudar especificamente
as ligações políticas próprias daquele ambiente e suas influências na vida
política nacional; são focalizados particularmente os elementos políticos
do coronelismo, a influência política dos senhores de engenho, transformados em usineiros ao longo do tempo, os vínculos entre o poder político
115
FBN_RG_vocacao_02 a.indd 115
5/3/2009 09:48:38
Glaucia Villas Bôas
e os laços familiares, e as lutas das ligas camponesas. Essas pesquisas privilegiam a região Nordeste.
Outra categoria de estudos – “os movimentos e conflitos religiosos” –
analisa movimentos messiânicos e averigua as causas sociais e econômicas de
tais lutas no meio rural.
Completam o quadro dos estudos da sociologia sobre o meio rural uma
obra sobre as tradições populares, um trabalho sobre a abertura das vias de
comunicação naquela área e outro sobre o problema da seca no Nordeste.
Tanto o número de livros, quanto a diversificação temática nos levam a
supor que os textos sobre o meio rural tenham sido significativos para os sociólogos, seja porque ali repercutiam, no período analisado, as transformações
ocorridas nas cidades, seja porque daquele ambiente dependesse o sucesso do
processo urbano de industrialização. Fato é que o campo parece ter sido um
locus privilegiado de estudo, locus no qual o tempo passado, peculiar a uma sociedade em mudança, ainda poderia ser analisado, para que se avaliassem suas
conseqüências no presente e no futuro.
Não esquecer também que nesse período a maior quantidade da população
brasileira habitava o campo e se compunha de coletividades que ali encontravam suas possibilidades de subsistência; por outro lado, a riqueza brasileira era
criada muito mais pelos produtos agrícolas do que pela produção de outras
fontes. É curioso estabelecer esse paralelismo entre as condições específicas
do período que se escolheu para a amostra e as obras específicas de sociologia
que nela figuram. A observação feita anteriormente, de que os sociólogos em
geral encaram a sociologia como uma ciência indispensável à elucidação dos
problemas sociais, novamente encontra apoio nessa análise temática das obras
então publicadas.
Seguindo o quadro XXI, é importante assinalar características da evolução
das pesquisas sobre o “meio rural”. A posição desses estudos no conjunto dos
livros publicados nos anos de 1945 a 1955 é notadamente relevante; a continuidade e certa intensificação dessa linha de trabalho – traduzida em acréscimo de
obras editadas nos anos subseqüentes – atestam que o tema permaneceu sendo
alvo de interesse sociológico. Porém, sua posição no conjunto já não era tão
destacada, devido à diversificação das linhas temáticas da disciplina.
Embora os estudos sobre o meio rural tenham tido maior importância
num primeiro momento da produção sociológica, tudo indica que continuaram sendo pesquisados de modo dinâmico, o que se torna evidente com a
abertura de novas linhas de investigação. Os textos sobre as características
116
FBN_RG_vocacao_02 a.indd 116
5/3/2009 09:48:38
A vocação das ciências sociais no Brasil
gerais das condições de existência no meio rural e a categoria “outros” desaparecem no período entre 1956 e 1966; em compensação, pesquisas sobre
“movimentos e conflitos religiosos” aparecem na amostra somente em livros
publicados naquela fase, o mesmo ocorrendo com o trabalho sobre “tradições
populares” no meio rural. Ressalte-se, ainda, que as pesquisas sobre “condições e relações de trabalho” aumentam muito o número de suas publicações
de um período para o outro.
Outra categoria de estudos quantitativamente relevante (19 em 75 obras
sobre temas específicos) é representativa do interesse sociológico pelo tema
da “mobilidade histórica e social”:
Quadro XXII
Obras por tema na categoria “mobilidade histórica e social”
1945-55 e 1956-66
(sociologia / obras sobre temas específicos)
1945
1956
Temas
Obras
Negros
8
4
4
Migrantes
7
3
4
Imigrantes
4
-
4
Total
19
7
12
1955
1966
Esse conjunto descreve e analisa as mudanças ou as possibilidades, em
uma duração de tempo, de mudança de posição de grupos sociais no sistema
de estratificação social, adquirindo assim um caráter histórico. Observa-se que
os sociólogos examinaram sobretudo a inserção e a posição dos grupos estudados no conjunto das atividades produtivas, mas incluíram no horizonte de
observação de suas pesquisas características raciais, culturais e nacionais dos
mesmos. No período aqui analisado, colocaram em foco os seguintes grupos
sociais: os negros, os migrantes e os imigrantes. Embora o elo que interliga esses estudos seja, como apontamos, a questão da mobilidade histórica e social,
o conhecimento de cada um dos grupos apresenta traços específicos.
As pesquisas sociológicas sobre os negros investigam a mobilidade social e
histórica desse grupo, ressaltando as diferenças raciais, as relações raciais entre
117
FBN_RG_vocacao_02 a.indd 117
5/3/2009 09:48:38
Glaucia Villas Bôas
negros e brancos e o passado dos negros enquanto força escrava de trabalho.
Percebe-se que alguns estudos buscam analisar com maior ênfase a qualidade
dos contatos raciais e o preconceito de cor, relacionando-os com as possibilidades de ascensão social do grupo negro no Brasil; outros averiguam destacadamente a modalidade de inserção dos negros – ex-escravos – no sistema de
trabalho livre, característico da sociedade brasileira depois da Abolição.
Os trabalhos sobre os migrantes pretendem registrar e avaliar as causas e
os efeitos sociais e econômicos do deslocamento espacial de populações do
meio rural. Note-se que quatro dos sete textos da amostra expõem o progressivo movimento das populações rurais em direção aos centros urbanos, sendo
as cidades de São Paulo e Recife focalizadas especificamente. Dois outros
livros analisam o deslocamento de grupos no espaço social compreendido
pelas zonas agropastoris, e apenas um aborda a migração interna em seu conjunto. Em algumas dessas obras, ressalta-se a atenção especial aos migrantes
nas grandes cidades e coloca-se ênfase na necessidade de medidas políticas
governamentais que visem à solução do problema.
Ao determinar as condições de vida de populações rurais, os motivos de
seu movimento migratório e os problemas que enfrentam tanto no campo
quanto nas cidades, esses estudos, tudo indica, trouxeram à tona diferenças
sociais e culturais existentes entre as populações brasileiras do meio rural e
do meio urbano. Levando em consideração o interesse sociológico no estudo
dos processos de urbanização e industrialização, poder-se-ia supor também
que tenham contribuído para caracterizar e apontar os problemas de grupos
sociais que vieram integrar a força de trabalho urbano-industrial no momento
de sua formação.
Os sociólogos estenderam o exame da mobilidade social a grupos de imigrantes de diferentes nacionalidades. Os textos constantes da amostra enfocam aspectos da trajetória histórica e espacial, das condições de existência e
do processo de “assimilação” cultural e política de japoneses, alemães, síriolibaneses e italianos fixados no Brasil.
Ao buscar conhecer o processo de mudanças sociais, característico do período a que se refere a amostra, a sociologia destaca três atores – os negros,
os migrantes e os imigrantes – como agentes sociais que histórica, social e espacialmente transitam. A história da inserção social desses atores como força
de trabalho, as características de sua mobilidade e fixação, e a diversificação de
118
FBN_RG_vocacao_02 a.indd 118
5/3/2009 09:48:38
A vocação das ciências sociais no Brasil
suas atividades produtivas tornam-se objeto de pesquisa. Contudo, importa
ressaltar ainda uma vez que nesses trabalhos surgem questões de ordem racial,
cultural e nacional.
Os estudos sobre “mobilidade histórica e social” se destacam no primeiro
conjunto da produção sociológica, de 1945 a 1955. Os sociólogos mantiveram
seu interesse pela análise das mudanças ou possibilidades de mudança de posição
de grupos sociais no sistema de estratificação social. Os livros sobre a mobilidade
social dos imigrantes, que aparecem na amostra publicados nos anos entre 1956 e
1966, evidenciam tal interesse. Porém, a posição desses textos se torna mais discreta à medida que se diversificam os temas abordados pela sociologia.
O quadro XIX dos temas da sociologia mostra que os trabalhos específicos sobre o meio urbano (oito obras), quando comparados àqueles do meio
rural (21 títulos), são sem dúvida limitados; também o são se levarmos em
conta o interesse prioritário dos sociólogos em conhecer o processo de transformações de caráter industrial e urbano.
As pesquisas sobre o meio urbano tratam da formação do operariado, do
surgimento de sindicatos e sua organização, e de conflitos e greves, mostrando dessa forma aspectos das condições e das relações de trabalho na cidade.
Ao lado desses estudos encontram-se trabalhos sobre as condições de moradia nos centros urbanos, cujo interesse específico são as favelas, os mocambos
e os alagados; consta também da relação um texto sobre hábitos e costumes
populares na cidade de São Paulo.
Na amostra, os livros sobre “meio urbano” datam do período 1956–
1966. Esse dado é significativo, pois mostra que os sociólogos voltaram sua
atenção para os problemas das condições e relações de trabalho na cidade,
principalmente o operariado, e para as difíceis condições de moradia nos
centros urbanos, numa “segunda fase” da produção sociológica no contexto
histórico abordado.
Dos três estudos específicos sobre religião, dois abordam aspectos
do catolicismo no Brasil e mostram a necessidade de estimular esse
campo de análises; outro trabalho trata de crenças religiosas sem que
tenha sido possível nele distinguir outras características. Não houve
maior interesse pelo exame da “religião” naquele período, sendo escassas as publicações sobre o assunto tanto numa, quanto noutra das
fases apontadas.
119
FBN_RG_vocacao_02 a.indd 119
5/3/2009 09:48:38
Glaucia Villas Bôas
Finalmente, as obras sobre educação vinculam essa questão ao problema das mudanças sociais brasileiras. São textos de caráter geral, exceto um
deles que analisa as relações entre estudantes e as transformações do país.
Diversificando suas opções temáticas, os sociólogos teriam dado preferência
às pesquisas sobre as características da educação no país. Note-se que os estudos sobre educação se fazem representar na amostra por meio de três livros
datados do período de 1956 a 1966.
8.3 Conclusão
A configuração temática da sociologia leva a repensar seus traços peculiares nos anos de 1945 a 1966. Já se observou que os sociólogos, mais
do que os demais especialistas no campo das ciências sociais, destacaram
em suas linhas de trabalho a reflexão sobre seu próprio métier. Enquanto
isso, dedicaram-se a temas diversos, vinculando a maioria deles à questão
das mudanças sociais.
É possível que a tentativa dos sociólogos de estabelecer os limites de
sua disciplina, diferenciando-a da história do Brasil e dos estudos antropológicos, os tenha levado a privilegiar a estrutura e a dinâmica das relações
de trabalho como fator relevante para o conhecimento dos processos históricos e sociais. As diversas categorias de estudo acima descritas revelam
que os sociólogos buscaram elucidar a questão das mudanças sociais adotando como fundamento de suas investigações as atividades produtivas
do trabalho.
No entanto, a disciplina ressalta diversidades de ordens variadas: diferenças históricas (entre o passado e o presente da sociedade brasileira);
diferenças raciais, culturais, nacionais e regionais; e diferenças entre meio
urbano e meio rural. O conjunto temático sugere que os sociólogos, naquele período, diagnosticam a sociedade brasileira em fase de transição.
Ela se moderniza e destaca-se do passado à medida que industrialização
e urbanização modificam seu sistema de estratificação social, dentro do
quadro de suas particularidades históricas, raciais e culturais.
Seria válido indagar se o interesse constante e regular dos sociólogos
pela reflexão sobre seu campo de trabalho, além do fato de conceberem a
sociologia como parte integrante do processo de mudanças, teriam influ120
FBN_RG_vocacao_02 a.indd 120
5/3/2009 09:48:39
A vocação das ciências sociais no Brasil
ído na vitalidade que a disciplina apresentou naquele período, buscando e
iniciando novas linhas de estudo. Como se observou, num primeiro momento, as pesquisas sobre “meio rural” e “mobilidade histórica e social”
foram privilegiadas, mas logo a seguir os sociólogos se dedicaram com
maior interesse à investigação dos problemas relativos às “mudanças sociais, industrialização e desenvolvimento”, e também ao “meio urbano”,
destacando desse modo o processo de transformação das condições de
existência da população brasileira, que marcava a passagem de uma sociedade agrária para uma sociedade industrial no Brasil. Por outro lado,
caberia perguntar também em que medida os meios teóricos e metodológicos da disciplina concorreram, realmente, para o seu desenvolvimento
naquele período.
É possível que o crescimento da sociologia naquele contexto histórico
tenha sido estimulado pela conjugação de dois fatores: de um lado o apreço
dos pesquisadores pela disciplina, de outro as características dos meios teóricos e metodológicos de que dispunham para o diagnóstico de peculiaridades históricas daquele momento. Essa conjugação teria então favorecido a
sociologia na disputa pela conquista de um público para suas obras.
9. Os temas da ciência política
A caracterização do campo da ciência política enfrenta dificuldades
maiores do que as observadas em outras disciplinas. Em um primeiro momento, essas dificuldades parecem resultar da grande proximidade entre
os estudos da ciência política, da ciência do direito e da história política.
Logo se verifica, entretanto, que suas raízes se encontram na construção
histórica da identidade disciplinar.
Hermann Heller acredita que desde a Antigüidade clássica se vem produzindo conhecimento sobre o que hoje se entende por ciência política. Mas
para ele é impossível formular uma definição devido à qualidade eminentemente compreensiva do conhecimento da disciplina, que não se presta a explicações fundamentadas em lei.55
55. Cf. HELLER, Hermann. Political Science. In: ENCYCLOPAEDIA of Social Sciences, New
York: Macmillan, 1948. v. VI e VII, p. 207-224.
121
FBN_RG_vocacao_02 a.indd 121
5/3/2009 09:48:39
Glaucia Villas Bôas
Ao buscar compreender os motivos que geram a tardia definição de ciência política, os alemães Ferdinand Hermens e Rudolf Wildemann concordam
com Carl J. Friedrich, para quem a ciência política só poderia se configurar
como campo de estudo em um contexto social e histórico no qual houvesse
um Estado de essência “livre” (freien Staatswesen), já que a disciplina questiona justamente aquilo que os agentes condutores do sistema de dominação
prefeririam manter em sigilo. Para os autores, a ciência política é uma expressão das liberdades democráticas no plano do conhecimento, tendo florescido
tanto nas cidades-estado da Antigüidade, quanto em países de regime democrático nos séculos XIX e XX.56
Essa maneira de pensar se prende ao fato de que desde a Antigüidade clássica, os escritores políticos, a exemplo de Platão, se preocuparam em descrever o que deve ser a melhor organização política de uma sociedade. O ponto
de vista normativo era dominante. Ainda no século XVIII, embora os economistas já admitissem que a sociedade também era regida por “leis físicas” que
precisavam ser descobertas, o que existia era uma filosofia política assentada
numa filosofia da história, largamente pesquisada por muitos pensadores. Somente no século XIX a noção criada no domínio econômico é transportada
para domínio político.
A partir dessa época se admite então que também no domínio político há
relações constantes que se impõem aos homens. Além disso, as estruturas de
poder não derivam exclusivamente da vontade de líderes ou da inteligência
de pensadores e filósofos; estão também dominadas por maneiras de ser que
a eles se impõem e provêm da própria sociedade. No entanto, as dúvidas a
respeito ainda permanecem.
Hermann Heller, por exemplo, afirma que o “campo político”, no sentido
mais amplo, não é passível de abordagem empírica. O cientista político está fadado a limitar-se ao exame, em termos descritivos, de atividades políticas e formas
institucionais de atividades que pressupõem o exercício independente do poder,
não definido ou predeterminado por rígido e normativo conjunto de leis.57
Apesar das ambigüidades e imprecisões que reconhecem, Hermens e Wildemann buscam definir o objeto da ciência política. Ela estudaria a “função
56. Cf. HERMENS, Ferdinand A.; WILDEMANN, Rudolf. Politische Wissenschaft. In: HANDWÖRTERBUCH der Sozialwissenschaften. Göttingen: Rupert & Co., 1956-1964. v. 8, p. 388.
57. Vf. HELLER, Hermann. Op. cit., p. 209.
122
FBN_RG_vocacao_02 a.indd 122
5/3/2009 09:48:39
A vocação das ciências sociais no Brasil
ordenadora das formas políticas” e estaria assim intimamente ligada aos problemas de poder e ao que modernamente se chama Estado. O poder formado
socialmente desempenha tal papel na ciência política, que os norte-americanos a denominam “ciência do poder”.58
David Easton comenta que o “longo fracasso” da ciência política em estabelecer coerentemente o conteúdo de sua matéria levou pesquisadores a
negar-lhe mesmo a possibilidade de tornar-se uma disciplina científica como
a sociologia e a antropologia. Entretanto, diz ele, tais estudiosos não perceberam a “grande revolução” que tomou conta da disciplina, especificamente
depois da Segunda Guerra: “nas últimas décadas a ciência política deu passos firmes e bem articulados na direção de sua reconstrução como disciplina
teórica”.59 Ele é, pois, menos cético do que Hermann Heller, e tenta responder ao desafio da definição de ciência política afirmando que para isso podese utilizar, mesmo que inicial e precariamente, a noção de sistema político.
Define o sistema político como conjunto de interações que, primordialmente,
fornecem meios estáveis e regulares para a manutenção do establishment e a
ordem em uma sociedade. O sistema político compreende então um conjunto
de procedimentos para a tomada de decisões e a realização de ações, às quais
os membros de uma sociedade atribuem um caráter de autoridade. Para o autor, o sistema político busca em última instância manter determinados valores
que não correspondem necessariamente aos valores de todos os membros de
uma sociedade.
Os comentários de David Easton sobre as mudanças ocorridas no campo
da ciência política após 1945 coincidem, em certa medida, com os de Fernando Henrique Cardoso e Bolívar Lamounier sobre a bibliografia da disciplina
no Brasil no período de 1949 a 1974:
À primeira vista, a bibliografia sobre política brasileira
nos últimos vinte e cinco anos imediatamente posteriores
ao fim da Segunda Guerra Mundial é abrumadora. Análise cuidadosa mostra que nem tanto. Os principais temas
organizaram-se em torno do fato novo fundamental: a re58. Vf. HERMENS, Ferdinand A.; WILDEMANN, Rudolf. Op. cit., p. 390-391.
59. EASTON, David. Political Science. In: INTERNATIONAL Encyclopaedia of Social Sciences.
New York: Macmillan, 1968. v. XII, p. 282, 285-288.
123
FBN_RG_vocacao_02 a.indd 123
5/3/2009 09:48:39
Glaucia Villas Bôas
democratização que ocorreu de 1945 em diante. Discute-se
sobretudo se existiam bases sociais para sustentá-la. Derrubando o Estado Novo, a questão dos partidos e das eleições
empolgou a muitos. A Ciência Política respondeu ainda que
timidamente, a esta temática.60
O quadro abaixo indica os temas tratados no campo da ciência política,
constantes da amostra estudada:
Quadro XXIII
Obras por tema em ciência política: 1945-55 e 1956-66
Obras
Temas
1945
1955
1956
1966
Obras sobre a disciplina
Problemas teórico-metodológicos
12
3
9
Subtotal
12
3
9
Instituições políticas
39
12
27
Ideologias políticas
17
3
14
Formação social e histórica do poder político
6
1
5
Análise de crises políticas
6
1
5
Perfis presidenciais
3
-
3
Subtotal
71
17
54
Total
83
20
63
Obras sobre temas específicos
60. LAMOUNIER, Bolívar; CARDOSO, Fernando Henrique. A bibliografia de ciência política
sobre o Brasil (1949-1974). Dados, Rio de Janeiro, n. 18, p. 3, 1978.
124
FBN_RG_vocacao_02 a.indd 124
5/3/2009 09:48:40
A vocação das ciências sociais no Brasil
9.1 Obras sobre a disciplina
Em um conjunto de 83 obras, os doze livros dedicados à disciplina
concentram-se em problemas de ordem teórico-metodológica. Os títulos estão na sua maioria voltados para as questões do pensamento político que se desenvolve desde a Antigüidade clássica até a emergência do
Estado moderno; tratam, sobretudo, da história do pensamento político,
embora alguns deles focalizem o campo da ciência política propriamente dita. Não há na amostra estudada manuais e introduções nem obra
que examine o papel da disciplina ou da produção do conhecimento
nessa área, assim como não se verifica nenhum estudo sobre o ensino
da ciência política, da mesma forma que ocorre em outras disciplinas
como a sociologia. Poder-se-ia dizer que não houve, no período analisado, interesse marcante em delimitar o campo da ciência política ao lado
de outros, nem controlar e avaliar suas atividades dentro do grupo das
ciências sociais.
O conjunto de “obras sobre a disciplina” mostra, portanto, que o campo da
ciência política não atraiu grande atenção por parte de seus estudiosos. A variação
do número de publicações numa e noutra das fases apontadas pelo quadro XXIII
revela que os cientistas políticos insistiram nas pesquisas sobre problemas teóricometodológicos da disciplina, mas não diversificaram essa linha de trabalho.
9.2 Obras sobre temas específicos
O conjunto de “obras sobre temas específicos” (85,54% do total)
mostra que os estudiosos cultivaram a disciplina e se dedicaram a diferentes problemas relativos ao poder político no Brasil. A maior parte
dos textos da ciência política aborda procedimentos legais e legítimos
que fazem parte do sistema político brasileiro, isto é, suas instituições. 61
No seu conjunto, essa linha de trabalho se caracteriza por entrelaçar
uma perspectiva jurídica de investigação das práticas políticas institucionalizadas com os fundamentos sociais e históricos das mesmas. Esses trabalhos constituem 54,92% do total, o que mostra a importância
conferida ao tema pelos pesquisadores. Nesse tópico, destacam-se os
61. Sobre os conceitos de legitimidade e legalidade ver LANDSHUT, Siegfried. Legitimät und
Legalität. In: WÖRTERBUCH der Soziologie. W. Bernsdorf (org.). Frankfurt a/M: Fischer
Taschenbuch Verlag, 1976. p. 494-496.
125
FBN_RG_vocacao_02 a.indd 125
5/3/2009 09:48:40
Glaucia Villas Bôas
estudos referentes à escolha dos governantes, sendo que as eleições
tiveram aí o maior relevo.
O quadro a seguir aponta os assuntos que integram a categoria “instituições políticas” e a quantidade de publicações sobre cada um deles:
Quadro XXIV
Obras por tema na categoria “instituições políticas”:
1945-55 e 1956-66
(ciência política / obras sobre temas específicos)
Obras
Temas
1945
1955
1956
1966
Escolha de governantes
Eleições
9
2
7
Partidos políticos
5
3
2
Subtotal
14
5
9
Diplomacia e política externa
8
3
5
Formas de governo parlamentarista 7
-
7
5
3
2
Forças Armadas
4
1
3
Administração político-burocrática
1
-
1
Subtotal
25
7
18
Total
39
12
27
e presidencialista
Constituição jurídica e social das instituições políticas
126
FBN_RG_vocacao_02 a.indd 126
5/3/2009 09:48:40
A vocação das ciências sociais no Brasil
O conjunto de estudos “escolha de governantes” focaliza características
das eleições e dos partidos políticos no país. Quanto às “eleições”, os especialistas apreciam notadamente seus aspectos jurídico-legais, examinando nesse
plano questões relativas ao sistema de representação. Alguns estudos tomam
como exemplo pleitos ocorridos no país no período observado. Paralelamente, foram elaborados, em menor número (duas em nove obras), estudos que
analisam o comportamento eleitoral de grupos sociais. Dos cinco títulos sobre partidos políticos, dois tratam de suas características no Brasil e os demais
delineiam a formação e a atuação de partidos políticos nacionais específicos.
A instituição diplomática é focalizada em oito trabalhos que se dividem em
duas linhas de investigação: há os que abordam características da política externa brasileira no passado, e os que fazem uma análise das relações exteriores
no presente, questionando a qualidade da política externa adotada pelo país.
Esses textos revelam a importância atribuída à inserção da unidade política
nacional na ordem política internacional. Observa-se que na história política,
especialmente no conjunto de obras sobre a história diplomática, e em estudos de economia política sobre as relações econômicas do Brasil com países
estrangeiros também foi encontrada esta linha de trabalho.
Apresentando característica analítica, a tônica das obras sobre as formas
de governo parlamentarista e presidencialista, além de descrever e comparar
os dois sistemas, mostra suas raízes no Brasil, com vistas a definir as vantagens e as desvantagens de um ou outro sistema de governo para o país. Alguns estudos fazem referência à adoção daqueles sistemas em outros países,
comparando-os com o Brasil. O assunto esteve em voga no início dos anos
1960, quando em 1961, o Ato Adicional à Carta de 1946 instaurou sistema
parlamentarista de governo, porém sem maior duração.
Nas pesquisas sobre a “constituição jurídica e social das instituições políticas”, a perspectiva de análise jurídica se faz notar de modo nítido. O conjunto
contém trabalhos sobre o Estado brasileiro e sobre o regime democrático;
um deles enfatiza especialmente a participação do trabalhador nesse regime, e
outro examina o sistema federalista do governo.
Quanto às Forças Armadas, os especialistas abordam principalmente o papel dessa instituição a partir de diferentes ângulos de análise: um livro enfoca
o papel conferido às armas pela constituição do país, os demais investigam
sua atuação seja na manutenção da segurança nacional, seja na solução de
crises políticas e consolidação do regime democrático.
127
FBN_RG_vocacao_02 a.indd 127
5/3/2009 09:48:40
Glaucia Villas Bôas
Da amostra consta um texto sobre as mudanças dos meios administrativoburocráticos do Estado brasileiro, que demonstra terem os governantes buscado adequá-los às características do processo de industrialização dos anos de
1930 a 1950.
A categoria “ideologias políticas” agrupa trabalhos que “discutem um
conjunto de idéias e valores a respeito da ordem política, cuja função é orientar comportamentos coletivos”.62 O tema preferencial dessas obras é o nacionalismo, seus valores e ideais; esses estudos o associam no mais das vezes ao
desenvolvimento econômico do país. A ciência política se aproxima aqui da
economia política, distanciando-se da história política que busca no direito e
na geopolítica as bases da construção da nação. Embora integre o campo da
ciência política, a geopolítica o faz de modo discreto.
Nos textos que definem a categoria “formação social e histórica do poder
político” encontram-se pesquisas que analisam as bases históricas e sociais
de formação do sistema de poder no Brasil. Esses estudos, nitidamente históricos, discutem problemas que dizem respeito ao comportamento político
tradicional existente no país, seja rastreando características do legado político
português, seja examinando as bases agrárias do sistema político; ao lado destes, outras obras investigam as mudanças ocorridas no comportamento político de classes e grupos sociais motivadas pelo desenvolvimento econômico.
O quadro temático da ciência política apresenta também trabalhos que
analisam as crises políticas que teriam culminado na tomada do poder pelos
militares em 1964. De um conjunto de seis obras, quatro focalizam esse tema,
delineando características do regime democrático no país; dois dos estudos,
entretanto, estão voltados para uma análise do conjunto dos problemas da
política brasileira após os anos 1930. Em uma outra linha de investigação o
exame da política é feito através de textos sobre a atuação de presidentes da
República que ocuparam o cargo durante o período entre 1945 e 1964, traçando os seus perfis.
O estudo dos temas abordados pela ciência política se intensificou naqueles anos como mostram os quadros XXIII e XXIV. Sem dúvida, destaca-se o
interesse crescente pela análise das “ideologias políticas”, porém o tema das
instituições políticas mereceu maior atenção dos especialistas, a julgar pelo
notável aumento de suas publicações. No que respeita às instituições políticas,
62. STOPPINO, Mário. Ideologia. In: DICIONÁRIO de Ciência Política. Norberto Bobbio
(Org.). Brasília: Ed. UNB, 1986. p. 385.
128
FBN_RG_vocacao_02 a.indd 128
5/3/2009 09:48:40
A vocação das ciências sociais no Brasil
o crescimento na maioria dos tópicos focalizados não é espetacular, com uma
exceção: “formas de governo parlamentarista e presidencialista” que não aparece na primeira fase e surge com sete obras na segunda, isto é, com a maior
quantidade de publicações nesse período. Tal quantidade somente é igualada
pelos estudos sobre “eleições”, que, no entanto, já alcançavam duas publicações na fase anterior. Percebe-se que os assuntos privilegiados no campo
da ciência política atenderam em larga medida a problemas peculiares àquele
contexto histórico.
9.3 Conclusão
A configuração temática da ciência política não deixa entrever uma
questão básica que tenha norteado os estudos de sua preferência no período de 1945 a 1966, como ocorre com nitidez no campo da sociologia,
cujos temas estão vinculados à questão das mudanças sociais, e da economia política, voltada para a elucidação do problema do desenvolvimento
econômico nacional.
Vista no seu conjunto, a configuração temática da disciplina mostra
que os estudiosos se ocuparam basicamente de duas ordens de problemas.
A primeira trata das características específicas das relações entre governantes e governados no Brasil. Para examiná-las, os cientistas políticos
fizeram dois percursos: de um lado, voltaram-se para o passado a fim de
compreender traços do comportamento político tradicional e assim questionar suas possíveis modificações frente às mudanças que ocorriam no
país; de outro, registraram e analisaram a atuação de instituições políticas,
focalizando nesses estudos tanto seu aspecto legal como suas bases sociais
e históricas. A segunda delas, diz respeito às ideologias políticas. Nessa
linha de trabalho eles ressaltaram a importância do nacionalismo, sobretudo o nacionalismo fundamentado no desenvolvimento econômico, como
um valor que justificaria medidas, decisões e comportamentos políticos no
período aqui abordado.
Muito embora não seja possível por meio da observação das escolhas temáticas dos cientistas políticos perceber uma problemática central da disciplina, tais escolhas revelam alguns indícios de que os especialistas buscaram averiguar as possibilidades de adequação das ideologias e das instituições políticas
às mudanças socioeconômicas daquele momento. Nesse sentido, são exemplares os trabalhos que buscam rever os ideais nacionalistas, atribuindo-lhes
129
FBN_RG_vocacao_02 a.indd 129
5/3/2009 09:48:41
Glaucia Villas Bôas
um fundamento socioeconômico, e também aqueles que têm por finalidade
reatualizar o nacionalismo de base geopolítica. Da mesma forma, são igualmente importantes os estudos que indagam sobre os aspectos legais e sociais
do sistema eleitoral, os trabalhos que sugerem a revisão da política externa, os
textos que questionam o papel das Forças armadas, as obras que focalizam as
modificações dos meios político-burocráticos ou as vantagens e desvantagens
de formas de governo. Ao mesmo tempo, há as pesquisas de caráter histórico
que procuram compreender as tradições políticas brasileiras.
É possível que a ciência política não se tenha atribuído a tarefa de observar
fatos de uma “nova” ordem política – de fato, a redemocratização do país
após 1945 estabeleceu um regime político que já havia existido –, mas teria
buscado acompanhar e refletir sobre as modificações possíveis das instituições políticas sob o prisma das transformações socioeconômicas que ocorriam naquele período histórico.
10. Os temas da geografia humana
No que se refere a sua definição, a geografia humana tem sido objeto de
polêmicas como as demais disciplinas, sendo, portanto, controvertida. Uma
das tônicas das discussões é a cisão entre geografia física e geografia humana,
que, segundo Camille Vallaux,63 não teria ocorrido nos primórdios do conhecimento geográfico, quando havia uma só geografia descritiva da superfície
terrestre e da atividade humana nessa mesma superfície. Embora consideradas partes interligadas da unidade que é o conhecimento geográfico, a diferenciação entre a geografia física e a geografia humana é bastante definida no
campo da pesquisa.
Não menos discutidas foram as relações entre a geografia humana e outras
disciplinas que compõem as ciências sociais, como a história e a sociologia, e
algumas questões duram até hoje. No período examinado por esse trabalho
ainda se discutia uma geografia cujos fenômenos eram regidos por um forte
determinismo geográfico, uma geografia em que o espaço, sua configuração
e sua paisagem eram constantemente trabalhados pelas coletividades, de tal
modo que para compreender como se apresentavam era necessário recorrer
63. Cf. VALLAUX, Camille. Human Geography. In: ENCYCLOPAEDIA of Social Sciences. New
York: Macmillan, 1948. p. 624.
130
FBN_RG_vocacao_02 a.indd 130
5/3/2009 09:48:41
A vocação das ciências sociais no Brasil
também à história, à economia, à sociologia. A primeira vertente se originara
na Alemanha, a segunda nascera na França.
A partir do fato de que se buscam nesse trabalho diversas visões, por meio
das quais as relações sociais foram conhecidas no Brasil, foram selecionados
somente os trabalhos de geografia humana. Ernst Winkler define a disciplina
como o estudo de um complexo de relações recíprocas entre sociedade e meio
físico (a paisagem, a superfície terrestre). Outras definições de geografia econômica, geografia social, geografia cultural não contrariam o conceito mais
amplo de Winkler, apenas acentuam um aspecto daquelas relações.64
A produção da geografia humana registrada em livros nacionais no período abordado é limitada. Apresenta um total de 43 obras, assim distribuídas:
Quadro XXV
Obras por tema em geografia humana
1945-55 e 1956-66
Obras
Temas
1945
1955
1956
1966
Obras sobre a disciplina
Problemas teórico-metodológicos
5
3
2
Manuais e introduções
5
2
3
Avaliação do ensino da disciplina
2
-
2
Subtotal
12
5
7
Regiões brasileiras
13
9
4
Meio rural
10
1
9
Condições socioeconômicas
6
3
3
Obras sobre temas específicos
Meio urbano
2
-
2
Subtotal
31
13
18
Total
43
18
25
64. Cf. WINKLER, Ernst. Sozialgeographie. In: HANDWÖRTERBUCH der Sozialwissenschaft.
Göttingen: Rupert & Co., 1956-1964. v. 9, p. 435; SAUER, Carl. Cultural Geography; SAPPER,
Karl. Economic Geography; VALLAUX, Camille. Human Geography. In: ENCYCLOPAEDIA of Social Sciences. New York: Macmillan, 1948. p. 621-629.
131
FBN_RG_vocacao_02 a.indd 131
5/3/2009 09:48:41
Glaucia Villas Bôas
10.1 Obras sobre a disciplina
No quadro temático é destacado o número de “obras sobre a disciplina”.
Os geógrafos brasileiros que se dedicam, no período, ao conhecimento de sua
própria atividade se interessam pela divulgação das noções básicas da geografia humana, sobretudo por seu aspecto econômico. Os problemas teóricos
e metodológicos discutem a utilização prática do conhecimento geográfico,
a problemática das cidades na paisagem e aspectos do desenvolvimento da
ciência ao longo do tempo. Dois estudos tratam da especificidade do ensaio
da geografia, mas não se encontra na amostra livro que avalie a produção da
disciplina no Brasil.
10.2 Obras sobre temas específicos
O estudo das regiões brasileiras é, sem dúvida, o mais representativo.
Região é uma categoria consagrada pela geografia. Trata da fixação e
conformação de fenômenos sociais em um espaço físico que se caracteriza por uma certa unidade interna. Nesse sentido, o conhecimento
das regiões brasileiras define uma das orientações da geografia humana
no período aqui abordado. Alguns trabalhos fazem referência acentuada às características do povoamento de regiões brasileiras específicas,
voltando-se para o passado com vistas a compreender, no presente, as
características da região estudada. Outros textos enfatizam as atividades
agrícolas e industriais ocorridas em determinadas regiões no período em
análise. Contudo, não se observa trabalho que questione particularmente
o aspecto da diversidade regional no Brasil. O Sudeste e o Nordeste são
as regiões privilegiadas nos livros.
Outras pesquisas realizadas tratam de condições gerais do meio rural e
parte delas aborda especificamente a região Nordeste. De modo geral, tratam
do sistema de propriedade, do nível de vida, da habitação e do transporte
no meio rural, referindo-se a maioria delas às repercussões da industrialização naquele ambiente. Nos limites do quadro temático, chama a atenção a
preocupação dos geógrafos com a questão do meio rural, o que relembra as
escolhas dos sociólogos no mesmo período. A categoria “condições socioeconômicas” privilegia obras de caráter geral que registram as relações das
atividades humanas com a terra, o meio físico. Nota-se nesse conjunto que a
132
FBN_RG_vocacao_02 a.indd 132
5/3/2009 09:48:41
A vocação das ciências sociais no Brasil
região Nordeste merece um lugar de destaque e que os aspectos econômicos
são os mais abordados.
A diferença entre os estudos sobre o meio rural (dez em 43 livros) e sobre
o meio urbano (duas em 43 obras) é marcante. Um dos textos sobre o meio
urbano destaca a cidade do Recife, enquanto o outro faz uma retrospectiva
das vilas e cidades brasileiras no período colonial. Reflexão já efetuada sobre
os trabalhos de sociologia cabe também aqui: o Brasil era, naquele período,
um país rural demográfica e economicamente, e esta circunstância parece
refletir-se nos conjuntos de trabalhos das duas disciplinas.
A julgar pelos temas registrados nas publicações constantes da amostra,
os geógrafos se dedicaram com maior freqüência aos estudos sobre as regiões
brasileiras e sobre o meio rural. No conjunto, destaca-se também seu interesse na divulgação das noções básicas e dos problemas teóricos da própria
disciplina.
É curioso que a produção da geografia humana se tenha voltado de modo
proporcionalmente acentuado (12 em 43 obras) para a reflexão sobre a própria disciplina, sugerindo com isso uma preocupação desse campo de conhecimento junto aos demais, embora, no entanto, apresente um número comparativamente restrito de trabalhos de pesquisa.
Em artigo que data de 1945, Caio Prado Junior reclama do descuido quanto aos estudos geográficos:
Aliás o interesse pela matéria sempre foi aqui muito pequeno.
Entre outros sintomas estão aí o Instituto Histórico e Geográfico
Brasileiro e seus congêneres provinciais, que apesar do nome e de
terem sido quase até este século os únicos institutos nominalmente
voltados para a Geografia, nunca se ocuparam seriamente do assunto. Os estudos geográficos no Brasil não foram assim felizes.
Submetidos a influências pouco progressistas, eles marcaram passo
durante quase um século. E é por isso que ainda hoje o que de melhor existe sobre a geografia brasileira nos vem de fora.65
Realmente, a fundação, no Rio de Janeiro, do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro data de 1838, e sua revista surge um ano depois. Em di65. PRADO JR., Caio. Op. cit. 1963. p. 185.
133
FBN_RG_vocacao_02 a.indd 133
5/3/2009 09:48:41
Glaucia Villas Bôas
versas províncias, institutos semelhantes não tardaram a ser fundados, com
suas respectivas revistas. Parecia haver então certo interesse pela matéria.
Na verdade, quando se analisam os artigos dessas revistas verifica-se a predominância dos temas de história, antropologia e outras disciplinas, ficando
a geografia (embora figure no título) relegada a segundo plano. A observação de Caio Prado Junior é inteiramente justa.
Acresce que somente cem anos depois, em 1938, foi criado o Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística, demonstrando que o interesse teria então sido despertado. Porém, a pouca quantidade de publicações encontrada
na Biblioteca Nacional revela uma limitação da curiosidade pela disciplina e
coincide com a observação de Caio Prado Junior.
O Conselho Nacional de Geografia – órgão criado em 1937 e incorporado ao IBGE em 1938, que desenvolveu importantes atividades nos anos
1950 – tinha como objetivo “reunir, coordenar e promover a articulação de
Serviços Oficiais, Instituições Particulares e dos profissionais que se ocupem da Geografia do Brasil”, com a finalidade precípua de atender às demandas da administração pública, ainda que promovesse também estudos
de base, desvinculados de interesses práticos imediatos.66
As escolhas temáticas mostram a tendência da geografia humana em
focalizar as condições socioeconômicas em geral, o que a aproxima da sociologia e da economia política, mostrando a influência da vertente francesa
de estudos. Poder-se-ia ainda indagar em que medida o ponto de vista geográfico teria podido atender às demandas de explicação e compreensão das
mudanças sociais que ocorriam naquele momento e que tanto chamaram a
atenção, porém não há dados para uma resposta.
O crescimento do número de obras no campo da geografia humana não é
destacado. Embora os geógrafos tenham se dedicado ao estudo sobre sua disciplina, essa linha de investigação não foi intensificada. Note-se, todavia, que
aparecem na segunda fase trabalhos sobre o ensino da disciplina no Brasil.
No que respeita aos problemas brasileiros abordados, foram privilegiados
os estudos sobre as regiões do país nos anos de 1945 a 1955, mas nos anos
subseqüentes o número desses trabalhos decresceu, elevando-se em compensação o total de textos sobre o meio rural. As pesquisas de caráter mais geral,
como aquelas sobre as condições socioeconômicas do país, na perspectiva da
66. Ver PEREIRA, José Veríssimo da Costa. A Geografia no Brasil. In: AZEVEDO, Fernando de
(Org.). As ciências no Brasil. 2 ed. São Paulo: Melhoramentos, 1956. cap. VII, p. 402-405.
134
FBN_RG_vocacao_02 a.indd 134
5/3/2009 09:48:42
A vocação das ciências sociais no Brasil
geografia, não sofreram alterações. Somente no conjunto de obras publicadas
no período entre 1956 e 1966 figuram livros sobre o meio urbano.
Ainda que a produção da geografia humana não tenha aumentado como a
de outras áreas das ciências sociais, no período abordado, a análise dos dados
sugere que nesse campo do saber houve alguma modificação das linhas temáticas. O empenho em investigar problemas relativos ao meio rural e também, ainda que discretamente, ao meio urbano parece fazer surgir novas orientações.
10.3 Conclusão
As observações de Caio Prado Junior, formuladas em 1945, e a pequena
quantidade de pesquisas sobre o meio geográfico nacional, observada nos
trabalhos da amostra, revelam que a disciplina permanecera, no país, ligada
à sua antiga feição descritiva e enumerativa. Com efeito, a presença na Universidade de São Paulo dos geógrafos Pierre Deffontaines, primeiramente, e
Pierre Monbeig, em seguida, desencadeou verdadeiras expedições de geografia humana, implantando profundamente a pesquisa na disciplina. No Rio de
Janeiro, o mesmo ocorria sob a influência de Francis Ruellan e Leo Waibel,
no âmbito do IBGE.67 Mas os resultados ainda não aparecem com freqüência
na amostra. Que obstáculos editoriais estariam dificultando publicações que
incluiriam forçosamente quantidade de mapas e gráficos?
11. Os temas da demografia
A demografia é o estudo quantitativo das populações humanas. Busca
medir e conhecer certas uniformidades nos processos humanos básicos do
crescimento populacional, dos movimentos da população, do nascimento e
da morte. Segundo Kirk Dudley, a demografia faz uma ponte entre as ciências
sociais e as biológicas ao tratar das configurações biológicas das populações
do ponto de vista socioeconômico.68
67. Cf. relatório de pesquisa de Jorge Morrot Hemerly Os geógrafos, o Estado e a Universidade;
aspectos da produção da Geografia no Rio de Janeiro (1945-1964), agosto de 1991. Núcleo de
Pesquisa em Sociologia da Cultura/LPS, UFRJ.
68. DUDLEY, Kirk. Population. In: INTERNATIONAL Encyclopaedia of Social Sciences. New
York: Macmillan, 1968.
135
FBN_RG_vocacao_02 a.indd 135
5/3/2009 09:48:42
Glaucia Villas Bôas
O trabalho do inglês Jonh Graunt, Natural and political observations upon the
bills of mortality, de 1662, e o tratado sobre “aritméticas políticas”, de 1670, de
Graunt e William Petty, são considerados marcos iniciais dos estudos demográficos, na medida em que observam acontecimentos constantes da vida das
populações e relacionam fatos biológicos e sociais. A obra de Thomas Robert
Malthus, principalmente o seu polêmico Essay on the Principle of Population,
publicado em 1798, estabelece as bases da disciplina no campo científico ao
tentar formular as leis das condições de existência da população. No entanto,
foi realmente o belga Quételet quem, em 1836, deu forma à demografia, efetuando pesquisas sobre nupcialidade, criminalidade, suicídio, além de natalidade e mortalidade que já vinham sendo estudadas antes dele.
O campo específico da demografia, portanto, surge, expande-se e cresce
no contexto histórico das mudanças socioeconômicas que levam à constituição da sociedade moderna. Ela enfrenta particularmente problemas decorrentes da explosão demográfica como causas do aumento e diminuição
de população nos países desenvolvidos e não desenvolvidos, planejamento
familiar e controle da natalidade.
Característica importante da demografia é seu entrelaçamento com outras
disciplinas, sobretudo com a sociologia e a economia política. Esse traço é
ressaltado por Karl Martin Bolk e Gehardt Mackenroth69 quando mostram
que as relações quantitativas entre mortalidade, natalidade, casamento e família, por exemplo, só são compreendidas dentro de um contexto histórico e
social. Diga-se, entretanto, que a ligação da demografia com outras disciplinas
é objeto de numerosas controvérsias e, como se verifica no artigo de Fernand
Braudel, “A demografia e as dimensões da ciência do homem”, pode se tornar
motivo para que se lhe atribua o papel de simples disciplina auxiliar.70
Segundo Maria Isaura Pereira de Queiroz,71 logo após a criação da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de São Paulo e da
Escola de Sociologia e Política, nos anos 1930, houve naquela cidade um
aumento notável de pesquisas de abordagem demográfica sobre populações
brasileiras que, num primeiro momento, estavam voltadas eminentemente
para a solução de problemas práticos. Nas décadas de 1940 e 1950, segundo
69. BOLK, Karl Martin; MACKENROTH, Gehardt. Bevölkerung. In: HANDWÖRTERBUCH
der Sozialwissenschaft. Göttingen: Rupert & Co., 1956-1964. v. 2. p. 153-154.
70. BRAUDEL, Fernand. Escritos sobre a história. São Paulo: Perspectiva, 1978. p. 177-215. (Debates).
71. QUEIROZ, Maria Isaura Pereira de. Sociologia demográfica no Brasil. In: ___ (Coord.). Introdução ao estudo da sociologia no Brasil. São Paulo: IEB/USP, 1971. p. 34-37.
136
FBN_RG_vocacao_02 a.indd 136
5/3/2009 09:48:42
A vocação das ciências sociais no Brasil
a autora, as pesquisas adquirem um caráter mais desinteressado, e nos anos
1960 voltam a ser norteadas por objetivos práticos. No Rio de Janeiro, a
partir dos anos 1940, destacou-se a contribuição do demógrafo de origem
italiana Giorgio Mortara.
Na amostra, são 23 os livros que definem a demografia:
Quadro XXVI
Obras por tema em demografia: 1945-55 e 1956-66
Temas
Obras
1945
1955
1956
1966
Obras sobre a disciplina
Problemas teórico-metodológicos
3
2
1
Subtotal
3
2
1
Condições socioeconômicas da
população
10
3
7
Mortalidade
4
4
-
Crescimento da população urbana
3
-
3
Padrão de vida no meio rural
3
1
2
Subtotal
20
8
12
Total
23
10
13
Obras sobre temas específicos
11.1 Obras sobre a disciplina
Os três livros sobre demografia explicitam questões teóricas relevantes,
referindo-se dois deles a elementos constitutivos da análise da população,
como distribuição da população, crescimento, migração, natalidade, equilíbrio
dos sexos; uma outra obra discute os instrumentos teóricos e metodológicos
próprios da disciplina para a análise do crescimento urbano.
137
FBN_RG_vocacao_02 a.indd 137
5/3/2009 09:48:42
Glaucia Villas Bôas
11.2 Obras sobre temas específicos
O quadro XXVI mostra que a demografia priorizou a pesquisa das condições socioeconômicas da população brasileira, integrando-se dessa forma
ao rol das disciplinas que, naquele período, voltaram sua atenção para essa
ordem de problemas. No conjunto das pesquisas demográficas sobre as condições socioeconômicas da população distinguem-se as seguintes maneiras de
abordar o problema: dos dez estudos, cinco procuram relacionar as condições
de crescimento, a distribuição de contingentes populacionais e as condições
socioeconômicas; duas obras têm como horizonte de observação o estado da
Bahia e um livro trata da região amazônica. Os outros cinco textos focalizam
o mesmo problema, mas nota-se neles ênfase especial às características do povoamento e da colonização das regiões examinadas, bem como às correntes
de migração externa.
A mortalidade chamou a atenção dos demógrafos. Talvez os problemas
de saúde que desde cedo preocuparam médicos e cientistas do país estejam
na base dessas pesquisas, enquanto se nota que os trabalhos sobre natalidade
são inexistentes.
Observa-se ainda que as preocupações com o meio urbano e o meio rural
levaram à publicação de três obras em cada caso, mas os temas são diversos. O
crescimento da população urbana motivou três estudos. Um dos textos registra características da população concentrada nas capitais brasileiras no início
dos anos 1950, os demais examinam aspectos da população das cidades do
Recife e do Rio de Janeiro. É bom lembrar que, naquele período, registrava-se
tanto um aumento da população, quanto um movimento progressivo das populações rurais para os centros urbanos – em 1950, dos 51.944.000 habitantes, 63,81% viviam no campo, enquanto em 1960 aquele percentual diminui
para 55,23% dos 70.090.000 habitantes.
Com relação aos estudos sobre o meio rural, o padrão de vida foi o seu foco
e as condições penosas de existência dos habitantes motivaram, sem dúvida, as
pesquisas. Dos três trabalhos constantes da amostra, um examina o padrão de
vida da população do estado da Bahia, um segundo tem como finalidade conhecer
exclusivamente o padrão de vida do trabalhador rural da Zona da Mata, e o terceiro, além de discutir as metodologias utilizadas em pesquisas de padrão de vida no
Brasil, enumera as análises feitas em municípios rurais.
Como se vê no quadro XXVI, o reduzido grau de interesse pelas “obras
sobre a disciplina” não se alterou ao longo daqueles anos. Porém, o conjunto
de “obras sobre temas específicos” revela algumas modificações nesse campo
138
FBN_RG_vocacao_02 a.indd 138
5/3/2009 09:48:42
A vocação das ciências sociais no Brasil
do saber. Os estudos sobre as “condições socioeconômicas” de populações
brasileiras se elevam; as pesquisas sobre “mortalidade” figuram apenas no
primeiro período, desaparecendo em seguida. O “crescimento da população
urbana” passou a figurar na segunda fase.
A julgar pelos livros publicados e constantes da amostra examinada, a produção de conhecimento nessa área manteve sem grandes alterações sua posição discreta. Entretanto, a demografia mostra, por meio de modificações nas
suas linhas temáticas, que o grupo de seus especialistas apresentou vitalidade
suficiente para intensificar o estudo de certos assuntos e formular problemas
que resultaram no surgimento de novas linhas de pesquisa.
11.3 Conclusão
O número de publicações sobre demografia constantes da amostra é reduzido, comparativamente às demais disciplinas analisadas (23 em 872 obras,
isto é, 2,63% delas). Quanto ao interesse pelos estudos demográficos no Brasil
naquele período, leve-se em conta, no seu conjunto, duas características dessa
disciplina: a inexistência de cursos específicos de formação de demógrafos
nas universidades, o que exigia dos interessados um esforço duplo para a aquisição de conhecimentos específicos da matéria, após formação em campo de
conhecimento próximo à demografia; e a controvertida identidade cognitiva
da disciplina, vinculada com freqüência à matemática e à estatística, às ciências
médicas e biológicas, ou à sociologia e à economia política. Se admitirmos
que esses fatores possam ter ocasionado dificuldades para o desenvolvimento
desse campo do conhecimento, as obras selecionadas na Biblioteca Nacional,
embora em número limitado, sem dúvida traduzem certo interesse pelo conhecimento sistemático da população brasileira.
139
FBN_RG_vocacao_02 a.indd 139
5/3/2009 09:48:43
FBN_RG_vocacao_02 a.indd 140
5/3/2009 09:48:43
III
Os Anos de 1945 A 1966
As características da produção das ciências sociais em livros publicados no
período de 1945 a 1966, apresentadas no capítulo anterior, podem ser agora
apreciadas em seus vínculos com o contexto histórico e social dos anos de
1945 a 1966, cujas especificidades delineiam-se a seguir.
Os anos que vão de 1945 a 1966 assinalam na história política do país o
regime democrático de governo que se seguiu ao término do Estado Novo,
após a deposição do presidente Getulio Dornelles Vargas, em 29 de outubro
de 1945, e se manteve entre crises e tensões até o golpe de estado que, em
primeiro de abril de 1964, estabeleceu o governo militar, sob a chefia do Marechal Humberto de Alencar Castello Branco.
Se as datas delimitam importante período de ordem democrática, intercalado entre dois regimes autoritários de governo, os decênios transcorridos entre elas se caracterizam, sobretudo, pelas mudanças econômicas associadas à implantação definitiva do capitalismo industrial no país.
O processo de modificação da estrutura da economia nacional vinha
ocorrendo desde 1930. Porém, há um alto grau de consenso entre os
estudiosos 1 de que, a partir do período que vai de 1955 a 1966, as estratégias de financiamento da industrialização adotadas pelos governantes,
privilegiando em larga medida o capital estrangeiro e incentivando particularmente o setor de bens de consumo duráveis, levaram à consolidação do capitalismo industrial.
1.
A esse respeito ver COHN, Gabriel. Problemas da industrialização no século
XX. In: MOTA, Carlos Guilherme (Org.). Brasil em perspectiva. São Paulo:
Difel, 1969; MENDONÇA, Sônia Regina de. Estado e economia no Brasil:
opções de desenvolvimento. Rio de Janeiro: Graal, 1986. p. 39-59; OLIVEIRA, Francisco de; MAZZUCCHELLI, Frederico. Padrões de acumulação,
oligopólios e Estado no Brasil: 1950-1976. In: MARTINS, Carlos Estevam
(Org.). Estado e capitalismo no Brasil. São Paulo: Hucitec / CEBRAP, 1977.
141
FBN_RG_vocacao_03.indd 141
5/3/2009 09:53:50
Glaucia Villas Bôas
Na realidade, os rumos tomados pela industrialização no Brasil, naqueles
anos, estiveram estreitamente relacionados com os planos e as medidas políticas dos diferentes governos democráticos. Dessa forma, também sofreram
as influências da “política de massas” aplicada pelos governantes, que ora se
sensibilizavam com as pressões populares, ora buscavam controlar os movimentos reivindicatórios de diversos setores e grupos sociais. As transformações econômicas daquele período e suas repercussões na sociedade brasileira
estiveram de tal modo ligadas à política levada a cabo pelas autoridades, que
não seria possível, senão para efeito de análise, distinguir as características
entre a industrialização e a intervenção governamental no setor econômico,
que se estabeleceu e tomou vulto naquela época.
O desenvolvimento industrial em ritmo acelerado repercutiu em diversos
setores da sociedade. A industrialização se constituiu, naquele período, em
um núcleo dinâmico que possibilitava uma constelação de mudanças, seja no
perfil demográfico, seja na estratificação social, seja nas instituições políticas,
ou nos hábitos e modos de pensar de grupos sociais.
Particularmente, junto aos meios culturais e intelectuais, as mudanças geraram expectativas relativas às possibilidades efetivas de modernização do país,
o que levou grupos daqueles setores não só a debates e polêmicas, como a
iniciativas relevantes que vieram realmente modificar a feição da vida cultural
e intelectual brasileira, no tocante a suas instituições, produção e divulgação
de bens culturais e intelectuais.
Este capítulo tem como objetivo, portanto, delinear aspectos característicos daqueles anos nos quais, como já se viu, houve um aumento da produção
de estudos em ciências sociais. Inicialmente, são destacados traços gerais do
período entre 1945 e 1966; posteriormente, as modificações ocorridas nos
meios culturais relativas aos investimentos feitos na área de divulgação da
produção cultural; há referência também à efervescência que tomou conta
de grupos vinculados à produção artística e literária; e, finalmente, são ressaltados o desenvolvimento do sistema universitário, as lutas estudantis e as
iniciativas da comunidade acadêmico-científica.
1.
Características gerais
De 1945 a 1966 a população brasileira cresceu de 46.177.000 para 79.837.000
habitantes. Se forem observados os censos demográficos de 1940 a 1960, vê-se
que o aumento da população foi mais acentuado na década de 1950:
142
FBN_RG_vocacao_03.indd 142
5/3/2009 09:53:51
A vocação das ciências sociais no Brasil
Quadro I
Brasil: população residente (1940-1960)
Temas População 1940
41.236.315
1950
51.944.397
1960
70.090.457
Fonte: Estatísticas históricas do Brasil: séries econômicas, demográcas e sociais,
1550 – 1988. 2ª ed., Rio de Janeiro: IBGE, 1990.
No decênio de 1940 a 1950, o número de habitantes aumentou 25,96%,
mas no período seguinte o acréscimo foi de 34,90%. O significativo aumento
da população ocorreu na época em que o crescimento econômico alcançava
suas taxas mais elevadas, chegando à média anual de 7% entre 1957 e 1961.2
Entretanto, o crescimento da população se intensificou e concentrou-se nas
regiões Nordeste e Sudeste do país, acentuando as desigualdades já existentes entre as áreas de maior e menor densidade demográfica, como mostra o quadro II.
Quadro II
Brasil: população residente por região (1940 – 1960)
Região
1940
1950
1960
Norte
1.462.420
1.844.655
2.561.782
Nordeste
14.434.080
17.973.413
22.181.880
Sudeste
18.345.831
22.548.494
30.630.728
Sul
5.735.305
7.840.870
11.753.075
Centro-Oeste
1.258.679
1.736.965
2.942.922
Fonte: Estatísticas históricas do Brasil: séries econômicas, demográficas e sociais,
1550 – 1988. 2ª ed., Rio de Janeiro: IBGE, 1990.
2. Ver FURTADO, Celso. Dialética do desenvolvimento. Rio de Janeiro: Fundo de Cultura, 1964. p.102.
143
FBN_RG_vocacao_03.indd 143
5/3/2009 09:53:51
Glaucia Villas Bôas
As regiões rarefeitas do Norte e do Centro-Oeste contrastam com as regiões Nordeste e Sudeste, que concentram a maior parte da população brasileira. O número de habitantes do Sul corresponde a menos da metade das
regiões mais povoadas e, no entanto, supera em muito o das regiões Norte e
Centro-Oeste. No Sudeste, área em que se localizavam os “pólos” mais importantes da industrialização, a taxa de crescimento é a mais destacada entre
os anos de 1950 e 1960.
Contudo, os dados disponíveis, no quadro III mostram que até os anos
1960, a maior parte da população ainda habitava o meio rural.
Quadro III
Distribuição da população
(1940 – 1960)
Ano
População rural
População urbana
1940
28.356.133
12.880.183
1950
33.161.506
18.782.891
1960
38.767. 423
31.302.934
Fonte: Estatísticas históricas do Brasil: séries econômicas, demográficas e sociais, 1550 – 1988. 2ª ed., Rio de Janeiro: IBGE, 1990.
Com efeito, ambos os contingentes da população urbana e rural cresceram
naqueles anos. Porém, o aumento das coletividades que se estabeleceram no
meio urbano aconteceu de forma mais rápida do que no meio rural, principalmente a partir dos anos 1950, modificando assim o perfil da população
brasileira, ao constituir um numeroso agrupamento urbano, concentrado em
áreas que ofereciam maiores atrativos para a força de trabalho.
O caso da cidade de Volta Redonda, no estado do Rio de Janeiro, ilustra
bem a concentração da população em localidades mais prósperas. Segundo
Regina Lúcia de Moraes Morel,3 “na década de 50, Volta Redonda se converte
3. Cf. MOREL, Regina Lúcia de Moraes. A ferro e fogo: construção e crise na família siderúrgica
(1941 – 1968). Tese de doutoramento em sociologia. Universidade de São Paulo, São Paulo,
144
FBN_RG_vocacao_03.indd 144
5/3/2009 09:53:51
A vocação das ciências sociais no Brasil
num pólo de atração do fluxo migratório para o Estado do Rio de Janeiro,
devido não só à criação da CSN, mas também devido à expansão de outras
indústrias e do setor de serviços. Em 1940, pouco antes da chegada da Companhia Siderúrgica Nacional, a população da localidade era de 2.782 habitantes; já na década seguinte esta cifra chegava a 35.964 e, em 1960, a 88.740.”
De acordo com a autora, a migração foi o principal fator responsável pelo
crescimento de 146% da população da cidade entre os anos 1950 e 1960 –
taxa três vezes mais elevada do que aquela correspondente ao crescimento da
população em nível nacional no mesmo período.
Convém lembrar, entretanto, que cidades não industrializadas, como Recife no Nordeste, também receberam levas de migrantes que, com mais freqüência, vinham de pequenas cidades da região e jamais haviam se dedicado a
atividades agrícolas, como revela Levy Cruz em pesquisa sobre os problemas
migratórios naquela região.4 A par disso, referindo-se ao período entre 1950
e 1960, Maria Isaura Pereira de Queiroz comenta que “o êxodo das camadas
inferiores da população tem sido freqüentemente estudado; porém a mobilidade espacial das camadas médias e superiores, que também não é para desdenhar, não mereceu até hoje atenção”.5
O aumento da população urbana se fazia realmente de modo bastante
desequilibrado. Em 1960, na região Sudeste, por exemplo, uma população
urbana estimada em 17.460.897 habitantes já superava aquela do meio rural,
de apenas 13.169.831 pessoas, enquanto as demais regiões permaneciam com
a maioria de seus moradores no meio rural. Entre os estados da Federação, o
que mais chama a atenção é o Rio de Janeiro – possivelmente porque nele se
localizasse a capital do país até 1960 –, pelo fato de que em 1940 sua população urbana, em torno de 2.212.211 habitantes, representava quase o dobro de
sua população rural, que contava então com 1.399.687 residentes. Em 1960,
a população urbana do estado do Rio de Janeiro atingia a cifra de 5.214.809
moradores, enquanto o contingente que residia no meio rural diminuíra para
1.395.939 habitantes. No estado de São Paulo, em 1960, a população urbana de 8.019.743 pessoas supera em muito a população rural que somava
4.789.488 habitantes. Ao invés disso, um estado como Minas Gerais, sujeito
1989. p. 241-242.
4 Cf. CRUZ, Levy. As migrações para o Recife – IV (Caracterização Social). Recife: Instituto Joaquim
Nabuco de Pesquisas Sociais / Ministério da Educação e Cultura, 1961. p. 58-69.
5 Cf. QUEIROZ, Maria Isaura Pereira de. Classes sociais no Brasil: 1950 – 1960. In: ___. Cultura,
sociedade rural, sociedade urbana no Brasil. Rio de Janeiro: Livros Técnicos e Científicos; São Paulo:
EDUSP, 1978. p. 98.
145
FBN_RG_vocacao_03.indd 145
5/3/2009 09:53:52
Glaucia Villas Bôas
a constante êxodo de seus habitantes, sobretudo para as frentes pioneiras de
expansão agrícola, apresenta uma população urbana estimada em 3.847.601
pessoas, em 1960, que correspondia quase à metade de sua população rural de
6.064.906 residentes. Esses exemplos6 demonstram que o crescimento total
da população, com suas particularidades nos meios rural e urbano, se dava
de modo extremamente desigual, entre as cidades, os estados da Federação e as
regiões do país.
Os dados relativos à ocupação da população economicamente ativa em
atividades agrícolas e não-agrícolas confirmam, ao lado das cifras sobre as
populações rural e urbana, a predominância do meio rural até os anos 1960;
ao mesmo tempo, demonstram que as mudanças se operavam no sentido do
crescimento e da expansão do meio urbano, sobretudo a partir dos anos 1950.
Observe-se o quadro IV, a seguir:
Quadro IV
Brasil: população economicamente ativa (1000 pessoas)
(1940/1960)
Ano
Atividades agrícolas
Atividades não-agrícolas
1940
9.844.2
4.914.3
1950
10.369.9
6.747.5
1960
12.408.3
10.341.8
Fonte: Estatísticas Históricas do Brasil: séries econômicas, demográficas e sociais, 1550 – 1988. 2ª ed., Rio de Janeiro: IBGE, 1990.
Nos dados do IBGE, a categoria atividades agrícolas inclui as atividades
voltadas para a agricultura, pecuária, extração vegetal, caça e pesca; a categoria
atividades não-agrícolas compreende ocupações ligadas às indústrias de transformação, construção, comércio, bancos e finanças. As cifras indicam que a
6 As cifras mencionadas se encontram nas seguintes fontes: Estatísticas históricas do Brasil:
séries econômicas, demográficas e sociais, de 1550 a 1988. 2 ed. Rio de Janeiro: IBGE, 1990;
CENSO Demográfico 1960. Rio de Janeiro: IBGE, 1965.
146
FBN_RG_vocacao_03.indd 146
5/3/2009 09:53:53
A vocação das ciências sociais no Brasil
maior parte da força de trabalho ocupava-se de atividades agrícolas até os
anos 1960. No entanto, deixam claro também que o contingente da população
ativa responsável pelas atividades agrícolas pouco se altera em comparação
com o número cada vez mais elevado de indivíduos ocupados com atividades
não-agrícolas.
Outro fato importante relativo à população brasileira, naquele período,
foram as migrações internas. Mencionando os casos específicos de Volta Redonda e Recife, vimos como muitos indivíduos deixaram seu local de origem
na esperança de melhorar suas condições de vida, interferindo decisivamente
no crescimento e na concentração da população das localidades para as quais
se dirigiram.
A mobilidade espacial de grupos humanos no Brasil vinha apresentando
sinais de intensificação desde os anos 1930, mas o movimento aumentou depois da Segunda Guerra Mundial, em 1945. Analisando os fluxos migratórios
nos anos 1950, Juarez Brandão Lopes diz que “o mais volumoso origina-se
de Minas Gerais, da Bahia e dos Estados Nordestinos para São Paulo, Rio de
Janeiro (inclusive a Capital Federal) e Paraná. Outros fluxos menores constituem-se de populações em demanda do Maranhão, provindos do Piauí e do
Ceará, e do Rio Grande do Sul para Santa Catarina e Paraná”.7
Segundo o autor, as zonas pioneiras de expansão agrícola que mais se
destacaram foram o nordeste do Paraná, incluindo o sul do Mato Grosso e de
Goiás, para onde se estima tenham se dirigido dois milhões de pessoas, entre
1950 e 1960, devido à expansão do café; o sudoeste do Paraná e pequenas
áreas de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul, onde predominava a pequena
agricultura diversificada, que atraiu cerca de meio milhão; e a região central do
Maranhão, que teria mobilizado cerca de 600 mil pessoas.8
O deslocamento de grupos humanos ocorria, portanto, naquela época,
dentro do próprio meio rural, ou dele em direção às cidades, sendo este o fluxo mais volumoso; verificava-se também o êxodo de habitantes de pequenas
cidades para os centros urbanos. Os fatores que provocaram a mobilidade
espacial de tantos indivíduos são de ordem diversa. Certamente, o desenvolvimento industrial atraiu contingentes da população, principalmente para as
áreas do Sudeste, que concentravam seus núcleos mais dinâmicos. Contudo,
7. Cf. LOPES, Juarez Rubens Brandão. Desenvolvimento e mudança social. 5 ed. São Paulo: Nacional,
1980. p. 50.
8. Ibidem, p. 52.
147
FBN_RG_vocacao_03.indd 147
5/3/2009 09:53:53
Glaucia Villas Bôas
o movimento de populações foi motivado também pelas más condições de
trabalho no campo, pelos baixos salários dos trabalhadores rurais, pelas secas,
pela falta de terras etc. E também pelo desejo de indivíduos de camadas médias, que viviam em cidades de pequeno porte, de melhorar suas condições
de existência. Some-se a isso o fato de que, sobretudo nos anos 1950, foram
criadas melhores condições para esses fluxos migratórios, quando se construiu uma importante rede de rodovias e transportes, diminuindo as distâncias
entre as longínquas regiões do país.
Os dados e exemplos mencionados acima indicam que no período de 1945
a 1966 o perfil demográfico da população brasileira se modificava. O número de habitantes crescia de modo significativo. Até os anos 1960 (a maior
parte do período focalizado nesse trabalho), a maioria da população ainda
habitava o meio rural e grande parte dos indivíduos economicamente ativos
se dedicava a atividades agrícolas. No entanto, uma importante mudança se
operava, especialmente a partir dos anos 1950, no sentido do crescimento da
população urbana e aumento das ocupações não-agrícolas. Diversos grupos
humanos que habitavam o meio rural deixaram seu local de origem e partiram
para outras localidades, principalmente para o Sudeste do país, à procura de
melhores condições de vida. As mudanças, como já se analisou, aconteciam
de modo bastante desigual entre as cidades, os estados da Federação e as regiões brasileiras, sendo esta talvez uma de suas características mais relevantes.
As migrações e o crescimento da população urbana se intensificaram nas
décadas de 1950 e 1960, justamente quando as transformações econômicas
tomaram maior vulto, havendo portanto uma correspondência entre as modificações que ocorreram nesses dois setores. No decorrer daqueles anos, mais
precisamente a partir de 1955, a tomada de novas medidas governamentais,
visando a fortalecer a economia, levarão a um grande incremento do processo
de industrialização.
Estudiosos da história econômica desse período costumam distinguir duas
“fases” do processo de implantação do capitalismo industrial no país. A primeira delas se estende de 1930 a 1954; a segunda começa em 1955 e, apesar
das crises que se iniciam em 1961, suas características básicas teriam permanecido ao menos até 1976, o que extrapola o intervalo abordado nesse estudo.
No período entre 1930 e 1954 (que inclui o governo de Getulio Vargas, de
1930 a 1945, o governo democrático do Mal. Eurico Gaspar Dutra, de 1946
a 1950, e o segundo de Getulio Vargas, de 1951 a 1954), os esforços gover148
FBN_RG_vocacao_03.indd 148
5/3/2009 09:53:53
A vocação das ciências sociais no Brasil
namentais estiveram voltados para a acumulação de capitais indispensáveis
para a industrialização do país, ainda que, de acordo com Sônia Mendonça,9
não mostrassem um propósito nitidamente “industrialista”. A crise de 1929
e, logo a seguir, a Segunda Guerra Mundial restringiram as importações brasileiras e favoreceram uma política econômica que, em linhas gerais, buscava
repassar o excedente do setor agroexportador para o setor industrial, através
de mecanismos cambiais, a fim de obter financiamento externo. Prevalecia,
então, o interesse em manter sob o controle do Estado os setores básicos da
indústria. Daí, surgem os projetos e a criação de grandes empresas estatais
como a Cia. Siderúrgica Nacional, a Petrobras, a Cia. Vale do Rio Doce, a
Cia. Nacional de Álcalis etc. Outra característica das medidas governamentais,
segundo Francisco de Oliveira e Frederico Mazzucchelli, “residia numa contenção relativa do salário real dos trabalhadores, atenuada pela função que se
assinava às empresas do Estado: produzir certos bens e, sobretudo, serviços
abaixo do custo, transferindo em parte, por essa forma, poder de compra para
os assalariados”.10
A segunda fase do processo de industrialização inicia-se sob a presidência
de João Café Filho (1954/1955), e atinge seu ápice durante o governo de Juscelino Kubitschek de Oliveira (1956/1960), entrando em crise logo a seguir,
durante os governos de Jânio Quadros (1961) e João Goulart (1961/1964).
Nesse período, os centros capitalistas, refeitos dos planos de reconstrução do
pós-guerra, adquiriram um grau de estabilidade econômica que os levava a
buscar novas oportunidades lucrativas de exportação de capitais. Entre outros
fatores, o novo contexto econômico internacional veio a influir na política
econômica brasileira. A partir de 1955, o Estado redefine suas regras com
vistas à industrialização. Em primeiro lugar, a nova política permite que se
recorra abertamente ao capital estrangeiro, sob forma de investimento direto,
de capital de risco. Naquele ano, ficou famosa a “instrução 113” da SUMOC
– Superintendência da Moeda e do Crédito, que liberou os investimentos diretos de empresas estrangeiras. Ao mesmo tempo, a inflação passou a ser, por
excelência, a forma de financiamento interno do crescimento econômico, não
havendo nenhum interesse dos diversos governos em tomar medidas fiscais
ou cambiais redistributivas que atingissem as classes proprietárias e seus lucros. A segunda característica importante da política econômica, levada a cabo
a partir de 1955, foi o incentivo dado ao setor de bens de consumo duráveis,
9. Cf. MENDONÇA, Sônia Regina de. Op. cit., p. 23-24.
10. Cf. OLIVEIRA, Francisco de; Mazzucchelli, Frederico. Op. cit., p. 113-114.
149
FBN_RG_vocacao_03.indd 149
5/3/2009 09:53:54
Glaucia Villas Bôas
cuja expansão foi surpreendente. Entre 1955 e 1961, a produção física da indústria de transportes (inclusive automóveis) cresceu 550%, e a indústria de
material elétrico e de comunicação (inclusive eletrodomésticos) cresceu 368%.
Os segmentos do setor industrial mais voltados para o consumo popular tiveram aumento menor. A indústria alimentícia, por exemplo, cresceu 47% e a
têxtil 29%, o que evidencia a relevância atribuída aos segmentos que permitiam
maior acumulação de capital e satisfaziam necessidades de grupos de renda mais
elevada.11 Em terceiro lugar, os salários reais permaneceram constantes, vindo mesmo a diminuir em alguns setores. Enquanto a economia se expandia,
ampliavam-se as oportunidades de emprego, o que compensava, ao menos temporariamente, os efeitos negativos da inflação sobre o custo de vida.
Todavia, ao término do governo de Juscelino Kubitschek de Oliveira, começaram a surgir sinais da primeira crise gerada pelas decisões governamentais relativas ao desenvolvimento industrial do país. Embora fomentassem
o crescimento econômico, elas levavam à concentração de renda e redução
drástica do poder aquisitivo dos salários. Os governos seguintes, especialmente o de João Goulart, durante o qual se elaborou o Plano Trienal, cujo objetivo
era corrigir as elevadas pressões inflacionárias e restabelecer o processo de
acumulação, não obtiveram o resultado esperado, intensificando-se as crises
econômica e política que marcaram o início dos anos 1960 e culminaram no
golpe de estado de 1964.
Os rumos da industrialização no Brasil foram marcados definitivamente
pela política econômica adotada em meados da década de 1950. O acelerado
crescimento da economia brasileira baseou-se então na consolidação e forte expansão do setor industrial, liderada particularmente pela produção de
bens de consumo duráveis, dirigidos às camadas com mais altos rendimentos. A modalidade, por meio da qual se implantou o capitalismo industrial
no país, trouxe poucos frutos para a maioria de sua população, acentuando
as desigualdades socioeconômicas. Além disso, agravou os desequilíbrios regionais, favorecendo a região Sudeste, onde somente o estado de São Paulo
concentrou 70% do capital investido, através dos benefícios da “instrução
113” da SUMOC.12 As disparidades se fizeram sentir também no que respeita
aos meios rural e urbano: a taxa de crescimento da produção agrícola entre
11. Cf. SINGER, Paul. A crise do milagre: interpretação crítica da economia brasileira. Rio de Janeiro:
Paz e Terra, 1976. p. 102. apud CUNHA, Luiz Antônio. A universidade crítica. Rio de Janeiro:
Livraria Francisco Alves, 1983. p. 38.
12. Cf. IANNI, Octavio. Estado e capitalismo. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1965. p. 90. apud
CUNHA, Luiz Antônio. Op. cit., p. 42.
150
FBN_RG_vocacao_03.indd 150
5/3/2009 09:53:55
A vocação das ciências sociais no Brasil
os anos de 1947 e 1961 foi de 4,6%, aumentando para 4,8% entre os anos de
1957 a 1961; no mesmo período a taxa de crescimento da produção industrial
foi de 9,6% entre 1947 e 1961, elevando-se para 12,7% de 1957 a 1961.13
Embora tomasse uma “via” concentradora e excludente, a industrialização
resultou no surgimento de um leque de novas profissões e oportunidades de
emprego, que possibilitaram a redistribuição dos indivíduos na escala social,
imprimindo outra feição à estratificação social do país. No meio urbano, o
empresariado industrial, as camadas médias e o operariado não só cresceram,
mas, principalmente, passaram a ocupar uma posição de maior importância
na ordem social, na vida econômica e política. Questiona-se, entretanto, se o
notável crescimento econômico levou de fato a uma mudança de vulto na democratização das oportunidades de vida relativas aos diversos estratos sociais.
Nesse sentido, aparentemente as mudanças não foram profundas.
Estudos sobre esse problema, que abordem o período em foco e apresentem uma visão de conjunto, são escassos, o que dificulta sua apreciação.
Convém lembrar, entretanto, as observações feitas por Maria Isaura Pereira
de Queiroz14 a respeito dos estratos sociais nos anos 1950 e 1960. Segundo a
autora, a industrialização se inscreveu numa sociedade diversificada em múltiplos estratos superpostos e não numa sociedade dividida em duas partes,
uma moderna e outra tradicional, correspondendo cada uma delas a um tipo
de estratificação social. Na realidade, diferentes tipos de estratificação social
entrelaçavam-se, quer fosse nas “regiões modernas”, quer fosse nas “regiões
arcaicas”. Baseando-se em dados censitários, a autora mostra que nas grandes
cidades e no interior das regiões de monocultura de exportação havia uma estratificação socioeconômica “ortodoxa”. As classes sociais menos numerosas
e mais privilegiadas se situavam no topo, enquanto as mais desfavorecidas e
numerosas situavam-se na base, havendo entre elas camadas intermediárias
que cresciam naquele período; já nas cidades de pequeno porte e nas áreas em
que conviviam fazendeiros e sitiantes, a estratificação social se apresentava
bem distinta, com pequenas camadas no topo e uma grande camada intermediária de trabalhadores independentes auxiliados pela mão-de-obra familiar,
que coexistia com uma pequena camada inferior de trabalhadores subordinados, assalariados ou não.
Maria Isaura Pereira de Queiroz ressalta que o Brasil se aproximava, naqueles anos, do modelo de uma “sociedade de classes”, à medida que, cada
13. Cf. FURTADO, Celso. Op. cit., p. 102.
14. Cf. QUEIROZ, Maria Isaura Pereira de. Op. cit.
151
FBN_RG_vocacao_03.indd 151
5/3/2009 09:53:55
Glaucia Villas Bôas
vez mais, cresciam em importância o nível de renda, o nível de instrução e
o prestígio das profissões para a classificação dos indivíduos na hierarquia
social; ao mesmo tempo, a mobilidade vertical e horizontal (sendo esta a mais
freqüente), e a hereditariedade da classe social eram traços que revelavam a
emergência daquele tipo de sociedade no país. Ela, entretanto, argumenta que
uma sociedade de classes se define também pelo conflito de interesses e pelas tensões existentes entre seus diferentes estratos socioeconômicos e, nesse
sentido, as evidências eram raras:
Os indivíduos não chegavam a pôr em questão a estrutura social na qual estavam integrados e a avaliavam de maneira muito
otimista. Se a existência se tornava difícil, não era devido às injustiças da estrutura social global, mas à ineficiência ou à malícia dos
governantes, não preparados para dirigir a barca do Estado. Tentar
por mudanças sucessivas, instalar um “bom governo”, mobilidade
de superfície que não implicava nenhuma mudança profunda da
estratificação social, seria uma solução mais correta para as dificuldades administrativas, políticas e econômicas. Este raciocínio era
compreendido por todas as classes sociais.15
De modo geral, os motivos que levaram a depositar nos “bons governantes” a solução para os graves problemas sociais, naqueles anos, são atribuídos
ora à melhoria relativa das condições de vida das camadas médias urbanas
e do operariado, ora às alianças feitas entre a classe empresarial burguesa e
o operariado, ora à política “populista” que procurava, em parte, atender às
reivindicações ou prometia atendê-las em um futuro mais próspero, ora a uma
“cultura” autoritária (própria dos diferentes estratos sociais), cujos valores
privilegiavam o consenso em detrimento dos conflitos e das diferenças.
Caberia esmiuçar em outros estudos os motivos da quase ausência de conflitos provocados pelos interesses divergentes dos diferentes estratos sociais. Pode-se
dizer, entretanto, que não resultaram diretamente, naqueles anos, de medidas repressivas tomadas por um regime autoritário. Ao contrário, as mudanças transcorriam
dentro de uma ordem político-democrática que tornara possível, depois de quinze
anos de governo autoritário, a participação popular no sistema de representação política. A Constituição de 1946 restituiu ao cidadão brasileiro o direito de eleger seus
representantes, legalizou a existência dos partidos políticos e aboliu a censura.
15. Ibidem, p. 126.
152
FBN_RG_vocacao_03.indd 152
5/3/2009 09:53:55
A vocação das ciências sociais no Brasil
Os partidos políticos, de acordo com a Constituição de 1946, deveriam
ser nacionais, com o que se evitavam os particularismos e regionalismos
políticos e se fortalecia o governo federal. Surgiram então diversas organizações partidárias, destacando-se o Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), o
Partido Social Democrático (PSD) e a União Democrática Nacional (UDN).
Note-se, contudo, que já em 1947 o Partido Comunista do Brasil foi declarado ilegal, embora continuasse atuando na clandestinidade ao longo daqueles anos. Somaram-se a ele outras organizações como a Ação Popular, a
Política Operária etc.
Por outro lado, o direito de voto que assegurava a participação popular no
processo democrático ficou restrito à população alfabetizada (medida incluída no Código Eleitoral de 1945 e mantida pela Constituição de 1946), o que
se levantava, claramente, como uma barreira impeditiva daquela participação,
pois o índice de analfabetismo era extremamente alto no país, como mostra
o quadro a seguir:
Quadro V
Brasil: população alfabetizada, população analfabeta
(1940 – 1960)
Ano
Total
Acima de
cinco anos
Alfabetizados
Analfabetos
Não
declarantes
1940
41.236.315
34.796.665
13.292.605
21.295.490
208.570
1950
51.944.397
43.573.517
18.588.722
24.907.596
77.199
1960
70.070.457
58.997.981
31.362.783
27.578.971
56.227
Fonte: Censo Demográfico 1940, 1950 e 1960. IBGE.
Nos anos de 1940 e 1950, mais da metade da população acima de cinco
anos era analfabeta; a situação se inverte nos anos 1960, com o aumento do
número de pessoas que sabiam ler e escrever. Ainda assim, a taxa de analfabetismo permanece alta. No meio rural, nem mesmo nos anos 1960 o número
de alfabetizados ultrapassou a quantidade de indivíduos que não sabiam ler
e escrever: de um total de 27.578.971 habitantes com mais de cinco anos,
apenas 12.472.269 eram alfabetizados, enquanto os demais 19.804.055 eram
analfabetos; já no meio urbano, entre 31.362.783 habitantes maiores de cinco
anos, 19.215.514 entre homens e mulheres sabiam ler e escrever, e 7.774.916
153
FBN_RG_vocacao_03.indd 153
5/3/2009 09:53:55
Glaucia Villas Bôas
eram analfabetos. A restrição de voto ao analfabeto penalizou, portanto, principalmente a população rural, impedindo-a de maior participação no processo
democrático.
A despeito das evidentes restrições à participação política popular, por
meio do voto, dados do IBGE16 mostram que o eleitorado brasileiro cresceu
durante aquele período.
Nas eleições de 1945, foram habilitadas a votar 7.459.849 pessoas e, em
1962, o total de eleitores foi de 18.528.847. A queda gradativa da taxa de
analfabetos nas cidades e a inclusão de um contingente de votos femininos
(direito instituído no Código Eleitoral de 1932 e mantido pela Constituição
de 1946) são fatores que podem ter influído no crescimento do número de
eleitores. A par disso, os debates sobre as questões políticas nacionais foram
tomando espaço nas cidades, promovidos freqüentemente por associações
não-partidárias que assumiam a condução de lutas político-reivindicatórias,
como a União Nacional dos Estudantes, o Comando Geral dos Trabalhadores, a Ação Católica e outros. Referindo-se aos anos que vão de 1955 a
1966, Octavio Ianni diz que “todos os grandes acontecimentos políticos da
última década, particularmente dos últimos anos, desenvolveram-se com ativa
e muitas vezes decisiva participação das uniões de estudantes universitários,
sindicatos do proletariado, grupos parlamentares extra-partido”.17 O clima de
discussão sobre os destinos do país, que se configurou naquela época, possivelmente também contribuiu para uma maior participação através do voto.
Entretanto, o aumento do eleitorado é explicado pela intensificação de
mecanismos utilizados pelas lideranças políticas para estabelecer contato com
grupos urbanos, sobretudo os de baixa renda, através dos “cabos eleitorais”.
Esses intermediários entre os representantes políticos e seus eleitores buscavam conseguir os votos indispensáveis para a eleição de “seu” candidato,
atendendo ou prometendo atender a reivindicações e pedidos (de empregos,
vagas em escolas etc.) de pessoas com quem mantinham contato próximo.
Segundo Juarez Brandão Lopes, esta prática permitia que representantes de
grupos econômicos pudessem “comprar diretamente ou indiretamente os cabos eleitorais, e se elegerem”.18
16. A respeito do crescimento do eleitorado ver Lamounier, Bolívar; Muszynski, Judith.
Resultados eleitorais. In: Estatísticas históricas do Brasil: séries econômicas, demográficas e sociais, de 1550 a 1988. 2 ed. Rio de Janeiro: IBGE, 1990. p. 631-632.
17. Cf. IANNI, Octavio. Processo político e desenvolvimento econômico. In: ___ et al. Política e
revolução social no Brasil. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1965. p. 44.
18. Cf. LOPES, Juarez Rubens Brandão. Op. cit., p. 89.
154
FBN_RG_vocacao_03.indd 154
5/3/2009 09:53:55
A vocação das ciências sociais no Brasil
Em que pesem as influências dos fatores que atuavam positiva ou negativamente no perfil do eleitorado brasileiro, não se pode ignorar que no período
entre 1945 e 1964 foi possível a participação popular por meio do voto. Além
disso, foram criadas e mobilizadas organizações não-partidárias para reivindicar a solução de problemas graves, notadamente nas cidades, como já mencionado, e também no meio rural. As ligas camponesas criadas no Nordeste,
em 1955, são um exemplo disso.
Outro aspecto, porém, viria marcar o quadro político daqueles anos: a
intensificação do processo de burocratização civil e militar do Estado. Diversos órgãos foram criados e postos em funcionamento: no setor de economia e finanças, entre outros, o Conselho Nacional de Economia, instituído
pela Constituição de 1946 e regulamentado em 1949, o Banco Nacional de
Desenvolvimento da Economia e o Banco do Nordeste, criados em 1952,
a Superintendência do Plano de Valorização Econômica da Amazônia, em
1953 etc. Durante o segundo governo Getulio Vargas, a Lei nº 1920, de 25 de
julho de 1953, criava o Ministério da Saúde; na área da Educação, assistia-se
à federalização das universidades, entre outras medidas, como veremos mais
adiante. Em 1947, foram criados a Escola Superior de Guerra e o Instituto
Tecnológico da Aeronáutica. A criação dessas instituições revela as mudanças
por que passavam os meios militares. Finalmente, a transferência da capital
federal para Brasília, em 1960, atesta, entre outros motivos, o interesse em
ampliar o controle político do Estado sobre o território nacional.
Ao concentrar os meios administrativos indispensáveis ao desenvolvimento, o Estado adquiria mais poder, sobretudo o Executivo, que mais facilmente podia fazer uso daqueles meios em nome dos interesses gerais da nação,
justificada, notadamente naquela época, pelo projeto de desenvolvimento
nacional. Além disso, a burocratização dos setores civil e militar foi criando
uma classe de funcionários “técnicos”, qualificados especificamente para o
exercício de novas funções voltadas para a modernização (engenheiros, economistas, agrônomos, geógrafos etc.), que adquiria nova posição nos processos decisórios dos meios político-administrativos. Desse modo, o Estado não
só passava a intervir devidamente na vida econômica do país, colocando em
funcionamento um programa administrativo que julgava indispensável à modernização e industrialização, como criava uma infra-estrutura que fortalecia
seus meios de dominação.
É preciso frisar, então, que ao lado das possibilidades de maior participação popular no processo político e democrático, assistia-se à expansão dos
155
FBN_RG_vocacao_03.indd 155
5/3/2009 09:53:56
Glaucia Villas Bôas
meios de dominação tecnocrática do Estado. Esses dois processos, em si
conflitantes, pois o Estado buscava defender os interesses “gerais” do desenvolvimento nacional, ao passo que a participação política popular trazia
à tona reivindicações nem sempre convergentes com aqueles interesses, possivelmente levaram à estratégia populista dos governantes naquele período.
Como não podiam ignorar as reivindicações populares e, de outro lado, não
tinham interesse em atendê-las, procuraram estabelecer um contato direto
com os indivíduos indiferenciados na “massa”, levando-os, na interpretação
de Francisco Weffort,19 a um fascínio pelo poder do Estado, que se traduzia na figura de suas lideranças. Em um de seus aspectos, o quadro político
das décadas focalizadas mostrava – no estilo populista de seus governantes –
os limites possíveis entre a participação popular democrática e a dominação
política e tecnocrática dos meios administrativos do Estado, voltados para a
modernização e a industrialização do país, que, na realidade, atendia aos interesses de poucas classes e camadas sociais elevadas da população brasileira,
beneficiando-as.
Não resta dúvida de que os anos de 1945 a 1966 delimitam um período de
grande efervescência na vida política, social e econômica brasileira; uma época
que se destaca pelas expectativas que gerou quanto às possibilidades efetivas
de melhoria de vida da população em decorrência da industrialização.
2.
Mudanças na vida cultural
Os anos de 1945 a 1964 modificaram em diversos aspectos a vida cultural
do país. Destacamos dois fatos significativos dessas mudanças: os empreendimentos no campo da difusão da cultura e os movimentos de renovação da
produção cultural.
2.1 Empreendimentos no campo da difusão da cultura
No contexto histórico examinado, houve um crescimento sensível de segmento industrial voltado para a produção de bens estreitamente relacionados
com atividades culturais, tais como a imprensa periódica, a edição de livros e
19. Cf. WEFFORT, Francisco C. Política de massas. In: IANNI, Octavio et al. Op. cit., p. 171 e
176.
156
FBN_RG_vocacao_03.indd 156
5/3/2009 09:53:56
A vocação das ciências sociais no Brasil
folhetos, a indústria cinematográfica, a indústria fonográfica, a radiodifusão,
a produção de instrumentos musicais e a produção de espetáculos de artes
cênicas e de música. Os dados disponíveis sobre o crescimento desse setor
ainda são bastante raros, segundo pesquisa realizada pela Fundação João Pinheiro.20 Entretanto, a despeito das dificuldades enfrentadas, o levantamento
revela que o setor manufatureiro da indústria cultural atingiu uma taxa média
de crescimento de 5,49% entre 1949 e 1959, expandindo-se ainda no período
que vai de 1959 a 1970, com um percentual de 14,07%.
Paralelamente, o crescimento das camadas médias urbanas aumentava a
possibilidade de acesso aos bens culturais por parte de um grupo quantitativamente mais significativo, e, sobretudo, mais diferenciado de indivíduos, no
que respeita ao grau de instrução, à profissão e aos níveis de renda, criando-se
assim condições para a formação de um público mais diversificado quanto ao
interesse pelos bens culturais.
São mencionados a seguir exemplos que indicam características da formação da indústria e do mercado cultural naqueles anos. A imprensa periódica
é um deles. Instituída oficialmente pelo ato real de 31 de maio de 1808, desempenhou um papel político e doutrinário de relevância durante o regime
monárquico e nos primeiros tempos da República, circunscrevendo-se, entretanto, às camadas letradas. A fundação da Associação Brasileira de Imprensa, em 1908, confirma a importância dessa atividade, que, naquela época, já
apresentava sinais de diversificação, fazendo circular periódicos literários para
mulheres, semanários e gazetas voltadas para problemas operários etc.
Não obstante, a imprensa periódica adquire um caráter empresarial capitalista, passando a significar um investimento em si mesma, e vincula-se com os
demais setores da produção através da publicidade, notadamente de empresas
estrangeiras, no período abordado nesse estudo. Em A história da imprensa no
Brasil, Nelson Werneck Sodré chama a atenção para esse fato. Segundo ele, o
artigo 160 da Constituição de 1946 “determinava que as empresas jornalísticas deviam ser nacionais, ficando os estrangeiros proibidos de mantê-las”.21
No entanto, ele argumenta que o artigo não era cumprido, porque, na realidade, o crescimento dos jornais resultava das vultosas somas investidas por
empresas norte-americanas, através de agências de publicidade. Referindo-se
20. Cf. Fundação João Pinheiro. Centro de Economia Aplicada. Economia da cultura:
reflexões sobre as indústrias culturais no Brasil. Brasília: Instituto de Promoção Cultural, 1988.
p. 45-46.
21. Cf. SODRÉ, Nelson Werneck. A história da imprensa no Brasil. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1966. p. 455.
157
FBN_RG_vocacao_03.indd 157
5/3/2009 09:53:56
Glaucia Villas Bôas
a relatórios de Comissão Parlamentar de Inquérito acerca do controle estrangeiro exercido sobre a imprensa brasileira, levada ao Congresso em 1957, diz
que somente no ano de 1953 empresas como a Coca-Cola, Esso Standard do
Brasil, The Jonhson & Jonhson, Colgate-Palmolive etc. investiram um bilhão
e 197 milhões de cruzeiros em jornais brasileiros. Mais de 50% das matérias
publicadas em jornais eram dedicadas a elas, enquanto dados da UNESCO
mostravam uma média de 21,8% do espaço concedido pela imprensa parisiense à propaganda.22
A par disso, o Estado favoreceu o crescimento da indústria jornalística
através de empréstimos feitos pelo Banco do Brasil, Caixa Econômica e institutos previdenciários, além de subsídio à importação do papel, através do
disposto na Lei nº 1.386, de 1951. Dez anos depois, em 1961, esse subsídio foi
cortado, provocando a falência de vários periódicos que não podiam se manter devido ao alto custo do papel importado. Quanto a isso, são sugestivos
os dados do IBGE: em 1944, circulavam nas capitais brasileiras 192 jornais
diários; a cifra se eleva para 261, em 1954, porém, em 1962, ela cai para 245
e, em 1964, para 227.23
Analisando a penetração da imprensa nas diversas regiões do país, Juarez
Brandão Lopes aponta outros obstáculos relativos à divulgação das notícias.
A tiragem média dos diários e gazetas nas capitais e zonas do interior apresentava índices bastante desiguais. Em 1960, a relação de exemplares por cem
habitantes revelava esses desníveis: “mesmo nas áreas mais urbanizadas, no
Centro-sul e no Sul, onde a taxa para o Rio e São Paulo é quatorze e dezoito
vezes a das zonas do interior; no caso das outras capitais essa razão é de seis
a sete vezes”.24 O analfabetismo, segundo o autor, era responsável em boa
medida pelas diferenças, mas não as explicava inteiramente. Possivelmente,
resultavam também do pouco interesse das empresas em investir em áreas
cujo retorno lucrativo era duvidoso ou limitado.
Ao adquirir caráter empresarial nos moldes capitalistas, sob forte influência das empresas estrangeiras, a partir de meados da década de 1950 a imprensa começou a renovar a forma de divulgar a notícia, modificando-se a técnica
de redação das matérias. O estilo mais informativo e direto aproximava-se
então daquele dos jornais norte-americanos. Surgia nos meios jornalísticos o
22. Cf. Ibidem. A respeito da publicidade e dos investimentos estrangeiros na imprensa brasileira
ver p. 463-467.
23. Os dados do IBGE se encontram nos Anuários Estatísticos de 1945, 1955, 1964 e 1966.
24. Cf. LOPES, Juarez Rubens Brandão. Op. cit., p. 171-173.
158
FBN_RG_vocacao_03.indd 158
5/3/2009 09:53:56
A vocação das ciências sociais no Brasil
interesse pela formação da “opinião pública”, e ao mesmo tempo reformavase o padrão gráfico dos periódicos.25
A expansão da imprensa periódica não se restringiu aos jornais diários,
incluindo semanários e revistas como O Cruzeiro, cujo número de exemplares – 300 mil em 1948 e 550 mil em 1952 – superava, em muito, índices
atingidos até então por jornais e revistas.26 Outro periódico de grande circulação foi a Seleções do Reader´s Digest, de empresa norte-americana e, por
isso, alvo de constantes denúncias de penetração estrangeira na imprensa
brasileira naqueles anos.
A indústria do livro também cresceu e se expandiu. Sua implantação, porém, apresenta especificidades que não são observadas nos empreendimentos
voltados para a imprensa periódica. A impressão de livros, desde que foi permitida oficialmente em 1808, se desenvolveu muito lentamente até os anos
1930. Somente nessa década, as restrições à importação de livros portugueses
e franceses, devido à crise de 1929, e, logo depois, à Segunda Guerra Mundial,
favoreceram um surto editorial que levou a um conjunto de transformações
nas atividades de produção do livro – compra de maquinaria, emprego de
pessoal qualificado, projetos editoriais etc. A cidade de São Paulo que concentrava, em boa medida, a produção livreira editou 117 títulos, entre livros e
folhetos, em 1931, e 338 livros em 1941. A edição de novos títulos, sobretudo
autores brasileiros da área da literatura, tomou vulto naqueles anos, mas a
produção livreira ainda era bastante limitada.27
Nos anos que se seguiram ao fim da Segunda Guerra Mundial, a política
econômica não beneficiou a atividade editorial emergente no país, provocando o aumento rápido da importação de obras estrangeiras. Tornava-se novamente mais barato importar livros do que comprar papel para imprimi-los.
Um longo memorial de editores e livreiros, datado de 1944, já chamava a
atenção para as dificuldades, sugerindo o barateamento do papel nacional ou
facilidades para a sua importação, apoio para aquisição de equipamentos e
melhoria do serviço de distribuição. O documento estimava como “irrisória a
25. Um dos primeiros jornais a renovar o estilo da redação do noticiário foi o Diário Carioca, em
1951. Ver a propósito da renovação da linguagem jornalística e das reformas gráficas SODRÉ,
Nelson Werneck. Op. cit., p. 452-454; depoimento de TINHORÃO, José Ramos. Jornal do
Brasil, Rio de Janeiro, 03 abr. 1991. 1º Caderno, p. 9.
26. Cf. ORTIZ, Renato. A moderna tradição brasileira. São Paulo: Brasiliense, 1988. p. 43.
27. A respeito do surto editorial na década de 1930, ver MICELI, Sergio. Intelectuais e classe dirigente
no Brasil (1920 – 1945). São Paulo: Difel, 1979. p. 75-88; em HALLEWELL, Laurence. O livro
no Brasil: sua história. São Paulo: T. A. Queiroz / EDUSP, 1985, p. 238-239, encontram-se os
dados sobre a edição de livros na cidade de São Paulo.
159
FBN_RG_vocacao_03.indd 159
5/3/2009 09:53:56
Glaucia Villas Bôas
produção anual de oito milhões de exemplares, ameaçada por publicações em
língua portuguesa impressas no exterior”.28
A despeito dos obstáculos, a indústria editorial se manteve e retomou sua
curva de crescimento. Sua sobrevivência é atribuída, em relatório do Grupo
Executivo da Indústria do Livro (GEIL), datado de 1967, a um programa
internacional do governo norte-americano, criado em 1950, que tinha como
propósito orientar a seleção de textos, encarregar-se da obtenção de direitos
de tradução, custeá-los se houvesse interesse, e mesmo, em alguns casos, financiar os custos da edição e a propaganda do livro. As obras editadas através
desse programa abordavam, em geral, assuntos políticos que variavam das
denúncias ao regime comunista, até os debates sobre o subdesenvolvimento.
Em pesquisa sobre a história do livro no Brasil, Laurence Hallewell comenta
que o Grupo Executivo da Indústria do Livro (GEIL),29 ao apreciar as condições do mercado livreiro daqueles anos, julgou as obras financiadas pelo
programa norte-americano de pouco interesse para o leitor brasileiro, mas o
considerou útil “para provar que existia, afinal, um mercado brasileiro para
obras sérias sobre assuntos como economia, sociologia, crítica literária, matemática e psicologia”. Muitas editoras foram financiadas para produzir manuais indispensáveis a estudantes universitários.
Para Laurence Hallewell, contudo, os interesses norte-americanos não seriam suficientes para explicar a permanência e retomada do crescimento da
indústria editorial ainda naqueles anos. Em O livro no Brasil: sua história, ele
mostra que as editoras que ocupavam posições destacadas, nas décadas de
1930 e 1940, mantiveram a sua liderança, além do que novos grupos empresariais surgiram no mercado com diferentes estratégias de expansão. As enciclopédias começaram a ser produzidas no país, assim como os livros de coletâneas de textos. Entre as alternativas para enfrentar as dificuldades, destacou-se,
naquela época, a venda de livros a prestação, que se tornou extremamente
vantajosa para os editores.
Não resta dúvida, entretanto, que o crescimento real do mercado do livro
se deu a partir de meados da década de 1950. Diversas medidas favoreceram
28. Cf. ANDRADE, Olímpio de Souza. O livro brasileiro desde 1920. 2. ed. Rio de Janeiro: Cátedra;
Brasília: INL, 1978. p. 23.
29. O Grupo Executivo da Indústria do Livro (GEIL) foi criado em 9 de junho de 1959, no âmbito do Ministério da Educação. Em 1967, apresentou relatório sobre características da produção
de livros no país, o qual é comentado por Laurence Hallewell. Em 1971, o GEIL foi absorvido
pelo Instituto Nacional do Livro. O comentário encontra-se em HALLEWELL, Laurence. Op.
cit., p. 435; dados sobre o GEIL estão na p. 444.
160
FBN_RG_vocacao_03.indd 160
5/3/2009 09:53:57
A vocação das ciências sociais no Brasil
a produção do livro brasileiro, entre elas a isenção do pagamento de imposto
para o setor livreiro (exceto o imposto de renda), a extinção, em 1959, da taxa
de câmbio favorável à importação de livros e a redução do preço do papel.
Nesses anos, vale notar, criaram-se condições efetivas para a publicação de
traduções a preços competitivos com os originais estrangeiros, aumentandose assim, notadamente, a quantidade de obras em Português. A par disso, os
projetos editoriais se diversificaram, incluindo obras de autores nacionais de
diferentes ramos do conhecimento. As reformas gráficas acompanhavam essas mudanças. As capas dos livros tornaram-se mais atraentes (com desenhos
a cores) e as páginas refiladas permitiam que as obras fossem folheadas nas
livrarias. Os editores passaram a investir na publicidade, setor que até então
pouco integrara seus orçamentos. O número de títulos, entre livros e folhetos,
publicados no país é indicativo do crescimento da indústria livreira: em 1943,
o total é de 2.105; em 1953, 2.985; dez anos depois, em 1963, 4.010.30
O notável progresso editorial, todavia, não se fez acompanhar de uma melhoria efetiva na distribuição dos livros, tampouco de um aumento proporcional
da tiragem média das edições. A distribuição permaneceu sendo um dos pontos
críticos do processo de produção. A maioria das obras não chegava aos consumidores da maior parte das cidades brasileiras. Para os editores, concentrados
no Rio de Janeiro e em São Paulo, era mais lucrativo promover “queimas” e
“feiras” de livros para liquidar os estoques, do que enfrentar os custos e problemas da distribuição. Por outro lado, o aumento da tiragem média das edições,
que levaria potencialmente à diminuição dos preços, foi bem limitado, comparativamente ao crescimento do número de títulos. Nesse caso, era preferível distribuir o risco dos investimentos pela edição de uma maior e mais diversificada
quantidade de textos. Esses problemas, apontados tanto por Olímpio de Souza
Andrade, como por Laurence Hallewell,31 ao estudar a produção de livros no
Brasil, sugerem que a expansão da indústria livreira, ao menos naqueles anos,
não foi proporcional ao aumento do mercado consumidor das obras, concentrando-se nos centros como Rio de Janeiro e São Paulo.
Naqueles anos, o rádio tornou-se o meio de comunicação mais popular
no Brasil. Implantado em 1922, organiza-se inicialmente em bases não comerciais. As emissoras eram sociedades e clubes, cujas programações tinham,
sobretudo, um caráter erudito e lítero-musical.32 Na década de 1930, a produ30. Cf. HALLEWELL, Laurence. Op. cit., p. 426.
31. Cf. Ibidem. p. 478-479 e 515-534; ANDRADE, Olímpio de Souza. Op. cit., p. 65-77.
32. Cf. ORTIZ, Renato. Op. cit., p. 39-41.
161
FBN_RG_vocacao_03.indd 161
5/3/2009 09:53:58
Glaucia Villas Bôas
ção de rádios com válvulas, barateando o custo do aparelho, possibilitou sua
difusão junto a um público mais amplo. Porém, o grande impulso da radiodifusão no país se deu através da publicidade, quando uma regulamentação
federal, em 1952, liberou cota de 20% da programação diária das emissoras
para a publicidade, duplicando o percentual permitido, em 1932, que era de
10% apenas. As empresas norte-americanas como Coca-Cola, Esso Standard
do Brasil, Colgate-Palmolive e outras, que investiam na imprensa periódica,
foram responsáveis pelas maiores inversões na publicidade radiofônica.
A partir dos anos 1950, a publicidade fomentou um crescimento surpreendente do número de emissoras. Em 1945, elas eram 111, em 1953, 447
e, em 1964, 944. A programação das rádios era bastante variada, incluindo
música erudita e popular, programas humorísticos, infanto-juvenis, femininos, instrutivos, cursos, programas políticos e também os de auditório. Os
programas de música popular eram os preferidos. Dados do IBGE para o
ano de 1953 mostram que um total de 391 empresas transmitiu, naquele ano,
1.488.753 horas; mais da metade (794.636 horas) foi dedicada à música, cabendo 707.027 horas à música popular e ligeira, e 87.609 horas à música “de
classe”. Das restantes 694.117 horas de transmissão, os “programas falados”
ocuparam 307.816 horas e os textos de propaganda comercial foram ouvidos
durante outras 386.301 horas. Entre os “programas falados”, o maior número
de transmissões era sobre esporte (50.748 horas), notícias e comentários jornalísticos (51.524 horas). Logo em seguida, vinham as representações teatrais
(25.888 horas) e os programas de auditório (38.153 horas).
Estudando a expansão radiofônica no país, João Baptista Borges Pereira33
diz que a música popular não só ocupou uma posição de enorme destaque
nas programações de época, como, em grande medida, o rádio foi responsável pelo processo, por meio do qual a música negra “clandestina e mal vista
na vida urbana incipiente do começo do século” se espraiou, segundo ele,
pelo país e pelo exterior com o rótulo de música popular brasileira, ainda que
com ela coexistissem a música popular estrangeira e as composições de cunho
nitidamente rural. Comentários de Nelson Werneck Sodré34 também confirmam o sucesso da música popular, que, ao lado do futebol e dos comentários
políticos, tomaram cada vez mais a preferência do público ouvinte a partir de
1945. A par disso, cabe lembrar que as “representações teatrais” incluíam as
33. Cf. PEREIRA, João Baptista Borges. Cor, profissão e mobilidade: o negro e o rádio de São Paulo.
São Paulo: Pioneira / EDUSP, 1967. p. 194-200.
34. Cf. SODRÉ, Nelson Werneck. Síntese da cultura brasileira. 3 ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1974. p. 92-97.
162
FBN_RG_vocacao_03.indd 162
5/3/2009 09:53:58
A vocação das ciências sociais no Brasil
radionovelas, produto cultural introduzido em 1941, que mereceu a atenção
crescente dos ouvintes do rádio na década de 1950.
No contexto de expansão da indústria cultural naqueles anos, Juarez Brandão Lopes ressalta35 que a “influência do rádio é, bem possivelmente, a que
mais se faz sentir entre as populações interioranas. Entre nossos índices, o
número de estações de rádio foi o único a exibir sensível desconcentração
territorial. Ele é pouco limitado pela difusão desigual da educação, embora
mesmo neste caso esta deva também ter o seu efeito, pela transformação de
idéias, valores e de mundo mental que acarreta”.
Com efeito, a implantação e expansão da indústria e do mercado cultural se fizeram de modo desigual, variando de acordo com as especificidades
de cada área da produção. A criação da indústria cinematográfica no Brasil,
por exemplo, apresenta características bem peculiares. A despeito de outros
problemas (alto custo dos investimentos, tecnologia e pessoal qualificado), a
indústria cinematográfica não enfrentava diretamente as barreiras decorrentes
dos altos índices de analfabetismo da população brasileira para fazer circular
e exibir seus produtos, mas, decerto, teve como grande obstáculo a poderosa
concorrência das grandes produtoras norte-americanas que aqui exibiram maciçamente seus filmes naqueles anos.
A nacionalização do serviço de Censura Cinematográfica para Educação Popular pelo Decreto-Lei nº 21.240, de 4 de maio de 1932, e a criação
do Conselho Nacional de Cinematografia, no Departamento de Imprensa
e Propaganda (DIP), pelo Decreto-Lei nº 4.064, de 29 de janeiro de 1942,
demonstram que o alcance do cinema já era relevante naquelas décadas. Os
empreendimentos para fundar e desenvolver a indústria cinematográfica resultaram na criação das empresas Atlântida, em 1941, e Vera Cruz, em 1949.
Mais adiante, em 1952, a copiagem obrigatória de filmes estrangeiros por laboratórios brasileiros serviu de forte impulso à implantação de infra-estrutura
indispensável ao desenvolvimento do cinema, ainda que, em 1954, a SUMOC
tenha reduzido pela metade aquela obrigatoriedade.
Na realidade, o volume de “negócios” relativo ao cinema cresceu no setor
da exibição de filmes. É surpreendente o aumento do número das telas de
exibição (cineteatro ou cinema), não havendo àquela época nenhuma capital
brasileira que não possuísse um daqueles estabelecimentos. Sua quantidade
elevou-se de 1.317 em 1944, para 2.932 em 1954, chegando a 3.234 em 1964,
35. Cf. LOPES, Juarez Rubens Brandão. Op. cit., p. 175.
163
FBN_RG_vocacao_03.indd 163
5/3/2009 09:53:59
Glaucia Villas Bôas
o que mostra a existência de um público crescente.36 A maioria dos filmes
exibidos era de origem norte-americana.
Produtores e profissionais ligados à cinematografia, reunidos em congressos e através da imprensa, buscaram defender os interesses da indústria
cinematográfica nacional. No II Congresso Nacional do Cinema Brasileiro,
reunido na cidade de São Paulo, em 1953, reivindicou-se a fixação de cotas
máximas de importação de filmes estrangeiros e a revisão periódica da lei de
proporcionalidade, que era de um filme brasileiro para oito estrangeiros, de
acordo com o desenvolvimento da indústria nacional. A remessa dos lucros
das distribuidoras estrangeiras era alvo de várias discussões divulgadas pela
imprensa. Ainda assim, em 1958, a lei permitia remeter 70% desses lucros ao
câmbio livre e 30% ao câmbio oficial.
Nos áureos tempos dos filmes hollywoodianos, os obstáculos à implantação
da indústria cinematográfica no país foram de grande monta. Contudo, no início dos anos 1960, as propostas de um grupo de jovens cineastas, traduzidas
no movimento do “Cinema Novo”, que examinaremos mais adiante, repercutiam em festivais internacionais, onde a qualidade dos filmes brasileiros era
reconhecida e premiada, como foi o caso de Vidas Secas, de Nelson Pereira
dos Santos, no XVIII Festival de Cannes, em 1964.
Vale notar, entretanto, que na época em que se buscavam alternativas para
a produção de cinema no Brasil, uma quantidade notável de filmes norte-americanos para a televisão entrava no país. Em 1963, foram submetidos à censura 581 filmes brasileiros e 1966 norte-americanos, de curta e longa-metragem;
no mesmo ano, foram examinados 1.876 filmes norte-americanos para a televisão, não constando nenhum filme brasileiro deste gênero.37 A televisão fora
implantada no Brasil na década de 1950, sendo a primeira transmissão realizada pela TV Tupi do Rio de Janeiro, em 1951. Apresentava programas humorísticos precários, programas de calouros e filmes norte-americanos. Não se
tornou um meio de comunicação relevante naquele período, embora a evolução
do número de aparelhos em uso seja indicativa de seu paulatino estabelecimento:
3.500 aparelhos em 1951, 141.000 em 1955 e 593.000 em 1959.38
A partir dos dados expostos, depreende-se que os anos 1950 e o início dos
anos 1960 marcam o surgimento da indústria e do mercado brasileiro de bens
36. Os dados sobre o número de salas de exibição de filmes se encontram nos Anuários Estatísticos do IBGE de 1945, 1955 e 1966.
37. Cf. Anuário Estatístico do IBGE de 1964.
38. Cf. ORTIZ, Renato. Op. cit., p. 46.
164
FBN_RG_vocacao_03.indd 164
5/3/2009 09:53:59
A vocação das ciências sociais no Brasil
culturais. É relevante assinalar, ainda uma vez, que as transformações não se
deram do mesmo modo, diferenciando-se de acordo com as especificidades
de cada setor cultural, as quais não poderíamos examinar detalhadamente nos
limites desse trabalho.
De todo modo, observa-se que houve interesse de empresários brasileiros em investir na indústria cultural, buscando, provavelmente, novo espaço
de valorização de seus investimentos. As inversões de capitais estrangeiros
não foram nada desprezíveis, intensificando-se ora na comercialização, ora na
industrialização, ora na publicidade, variando segundo objetivos políticos ou
econômicos. Aparentemente, o setor público se ocupou com mais destaque
do controle da propriedade dos capitais investidos, da censura e do estabelecimento de normas relativas ao funcionamento dos meios de comunicação
no país.
Uma segunda observação diz respeito à grande influência que o estilo
de vida, os valores e os padrões culturais norte-americanos exerceram sobre
os modos de vida e de pensar de camadas da população brasileira, através
de livros, revistas, filmes e canções que aqui eram então consumidos. Essa
influência se fazia sentir também na forma de produzir noticiários de jornais,
programas radiofônicos etc. Certamente, não impediu que expressões culturais brasileiras tomassem vulto e se destacassem naquele período, porém não
se pode ignorar o seu peso no setor cultural nos anos analisados.
Finalmente, o surgimento de um mercado de bens culturais, ainda que de
modo geral limitado às grandes cidades e às faixas de população com maior
grau de instrução e nível de renda, possivelmente levou a uma nova relação
entre os integrantes dos setores artísticos e intelectuais e o público, ao qual se
destinavam suas criações. A “conquista” de um público se tornou cada vez
mais relevante. A acolhida e reconhecimento das obras produzidas passou a
depender de modo mais decisivo da atitude favorável ou desfavorável do público, o que, por sua vez, influía mais diretamente nas escolhas e orientações
adotadas no âmbito da produção.
2.2 Movimentos de renovação da produção cultural
Ao lado da implantação da indústria e do mercado cultural, o contexto
histórico dos anos que vão de 1945 a 1966 se caracterizou por uma atmosfera
de debates efervescentes nos meios culturais. A experiência histórica daqueles
anos motivou indivíduos de diferentes áreas da cultura a se reunirem na busca
165
FBN_RG_vocacao_03.indd 165
5/3/2009 09:53:59
Glaucia Villas Bôas
de alternativas para renovar a linguagem artística, literária, cinematográfica. O
propósito renovador desses grupos colocava em xeque, sob diferentes aspectos, o
papel social da produção dos setores artísticos e literários e se deixou traduzir
em eventos, grupos de vanguarda, manifestos, organização de instituições.
Em janeiro de 1945, a Associação Brasileira de Escritores promovia na cidade de São Paulo o I Congresso Brasileiro de Escritores. O evento reuniu diversas figuras proeminentes do mundo literário e intelectual dos vários estados
brasileiros.39 Dele, participaram tanto pessoas dedicadas à produção literária,
stricto sensu, como especialistas em direito, antropologia, sociologia, história. Na
reunião, foram discutidos assuntos tão variados como a relação do rádio com a
literatura, os direitos autorais de escritores e jornalistas, a necessidade de reforma agrária no país, a renovação da literatura infantil, a edição de livros “instrutivos”, a criação de bibliotecas ambulantes etc. Apesar da diversidade dos assuntos abordados, percebe-se que os escritores estavam voltados para a questão da
democratização da cultura, através do que avaliavam, sobretudo, as condições
de divulgação de seu trabalho; mas buscavam também se posicionar frente a
problemas sociais e políticos, discutindo temas como a reforma agrária.
A questão do papel social e político do escritor se evidencia, claramente,
em um dos itens do manifesto entregue por um grupo de congressistas à Associação Brasileira de Escritores:
[...] que embora não se deva confundir agitação, propaganda e literatura com a obra de arte e não seja possível atingir o
escritor o máximo de sua força, na língua e no estilo, senão
entregando-se na plenitude da liberdade, à sua própria inspiração, tenham presente os escritores a idéia de que somente a
literatura e a arte que desempenham um papel social, servem
à coletividade de seu tempo e se alimentam e se renovam em
contato com todas as camadas sociais, podem realizar a comunhão fecunda entre o povo e os criadores da cultura.40
As discussões que ocorreram no I Congresso Brasileiro de Escritores deixam entrever o interesse pelo exame e pela redefinição do valor atribuído à
produção cultural, a partir da perspectiva de sua inserção na sociedade. Re39. Cf. MOTA, Carlos Guilherme. Ideologia da cultura brasileira (1933-1974). São Paulo: Ática,
1978.p. 137-140.
40. Ibidem, p. 146.
166
FBN_RG_vocacao_03.indd 166
5/3/2009 09:53:59
A vocação das ciências sociais no Brasil
alizado no contexto histórico e político que marca o término do regime do
Estado Novo, o evento antecipa a “linha” dos debates e das discussões que
vão distinguir os movimentos liderados por grupos jovens a partir de meados
dos anos 1950.
Naqueles anos, o concretismo marcou sua presença nos campos da literatura e das artes plásticas, exprimindo o caminho tomado pelas vanguardas
naquelas áreas da cultura. A poesia concreta fez sua estréia nas antologias
Noigrandes, publicadas em 1955, 1956 e 1958. Nessa última, apresentava-se
um plano piloto para a poesia concreta. Diz Alfredo Bosi41 que os poetas
concretos buscavam “abandonar polemicamente o verso” por uma linha de
sintaxe espacial. O grupo “concretista” concebia a arte como uma atividade
produtora, um “objeto de linguagem”, por meio do qual se opunha às vertentes intimistas da poesia.
Um dos objetivos do movimento era provocar uma crise nos hábitos cognitivos do leitor, através de uma estrutura estética inspirada na imagem. O
“tema” não era tido como relevante, mas os poemas concretos expunham,
no mais das vezes, aspectos da sociedade capitalista, focalizando mercadorias,
anúncios publicitários, o comércio dos sentimentos. Na realidade, a proposta
de renovação da linguagem poética deixava transparecer o despertar para as
mudanças que então ocorriam: de um lado, valia-se da imagem e de seus efeitos
sobre o leitor, recurso cada vez mais usado para a comunicação nos meios
industriais capitalistas, de outro, privilegiava nas suas referências fatos que
começavam a se tornar corriqueiros na vida cotidiana dos grandes centros
urbanos do país naquela época.
O movimento concretista evidenciou-se também nas artes plásticas. O projeto de um grupo de artistas plásticos – que se consideravam então “produtores
da forma” – se aproximava daquele dos poetas, à medida que visava a manipular
a forma de tal modo que ela produzisse uma nova organização visual, a qual
atuaria sobre os hábitos tradicionais do espectador. A reprodução das criações
deixou de ser censurada; afinal, buscava-se inserir a arte na sociedade, para que
deixasse de ser um mero objeto de fruição. Nos anos 1950, o concretismo levava “a arte brasileira a ingressar no campo daqueles movimentos que mais
radicalizaram as possibilidades abertas pela ‘arte moderna’ ”.42
41. Cf. BOSI, Alfredo. História concisa da literatura brasileira. 2 ed. São Paulo: Cultrix, 1980. p. 528. Os
comentários feitos sobre o movimento concretista na literatura se encontram nas p. 528-536.
42. Cf. ZILIO, Carlos. Da antropologia à tropicália. In: ZILIO, Carlos; TAFETÁ, João Luiz;
LEITE, Lígia Chiappine Moraes. Artes plásticas e literatura. 2 ed. São Paulo: Brasiliense, 1983. p.
22-23.
167
FBN_RG_vocacao_03.indd 167
5/3/2009 09:54:00
Glaucia Villas Bôas
A mesma busca de uma linguagem artística que atuasse sobre o público,
provocando a modificação de seus hábitos e despertando-o para problemas
ou mudanças de ordem social, ocorreu no teatro, ainda que este guardasse suas
especificidades. As experiências feitas por grupos como o Arena e o Oficina,
em São Paulo, o Opinião, no Rio de Janeiro, o Teatro Popular do Nordeste,
em Recife, e o Teatro de Equipe, em Porto Alegre, confirmam o empenho da
classe teatral em pesquisar e modificar a escrita cênica. O Oficina, criado por
um grupo de estudantes da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, exemplifica bem o interesse em romper com o estilo do teatro tradicional
a partir da experiência vivida num contexto histórico específico.
Uma das características da tentativa de renovação dos grupos ligados ao
teatro foi a escolha de temas que chamassem a atenção para problemas de
ordem social e política, especialmente característicos da sociedade brasileira,
típicos de países “subdesenvolvidos” ou comuns à sociedade burguesa e capitalista de modo geral. Em 1960, o Oficina encenava duas peças. Uma de autor
brasileiro inédito, tratava de problemas dos trabalhadores rurais do Paraná; a
outra de autor estrangeiro tematizava a questão da libertação dos países latinoamericanos, sempre ameaçados por regimes políticos autoritários. O propósito
de mudança não se limitava, entretanto, aos temas, mas incluía a procura de novas modalidades de comunicação com o público, o que exigia intensa pesquisa
de interpretação, feita em laboratório, com exercícios especiais.
Em 1962, o Oficina já se manifestava sobre as mudanças que vinham sendo
postas em prática. Para o grupo a renovação no campo do teatro havia dado
um grande passo, “com o aparecimento do autor nacional, a desofisticação
do estilo de interpretação, e com a introdução dos temas políticos e sociais”.43
Porém, era preciso dar continuidade às inovações. Identificando-se como o
grupo mais jovem a perceber que uma etapa do movimento havia se esgotado,
o Oficina clamava pela necessidade de dar andamento a novos experimentos,
o que o levou não só a encenar temas problematizados em diferentes épocas
e lugares, como também às pesquisas que resultaram na proposta de uma
nova relação palco/platéia. Almejava-se uma linguagem cênica que deixasse o
público dividido e em “crise”, impedindo que se identificasse com aquilo que
via, atitude mais costumeira na sua relação com o teatro.
O clima dos meios culturais estimulava e propiciava as mudanças e renovações. O comentário de Glauber Rocha, transcrito a seguir, é bem sugestivo: “em
43. Cf. PEIXOTO, Fernando. Teatro Oficina (1958 – 1982): trajetória de uma rebeldia cultural. São
Paulo: Brasiliense, 1982. p. 30-31.
168
FBN_RG_vocacao_03.indd 168
5/3/2009 09:54:00
A vocação das ciências sociais no Brasil
1957-58, eu, Miguel Borges, Cacá Diegues, David Neves, Mário Carneiro, Paulo
César Sarraceni, Leon Hirszman, Marcos Farias e Joaquim Pedro (todos mal
saídos da casa dos vinte) nos reuníamos em bares de Copacabana e do Catete
para discutir os problemas do cinema brasileiro. Havia uma revolução no teatro,
o concretismo agitava a literatura e as artes plásticas, em arquitetura a cidade de
Brasília evidenciava que a inteligência do país não encalhara. E o cinema?”44
A resposta dos cineastas brasileiros se fez sentir através do movimento conhecido como “Cinema Novo”. A I Convenção da Crítica Cinematográfica,
realizada em São Paulo, em 1960, representou mais um passo na definição das
alternativas que já vinham sendo buscadas pelo jovem grupo. Suas propostas
para a produção de um cinema nacional independente, de bases não empresariais, ficam mais claras. O cinema de “autor” tornou-se um meio efetivo
para enfrentar os problemas da grande produção. Os cineastas engajados no
movimento passaram a valorizar na estrutura estética de suas criações a pobreza das técnicas que utilizavam, seja como uma escolha de estilo, seja como
um meio para manter a independência do cinema nacional;45 os temas de
sua preferência focalizavam prioritariamente problemas de ordem social. No
início dos anos 1960, o “Cinema Novo” ganhava decididamente um lugar de
destaque no plano da produção cultural brasileira.
Os movimentos de “renovação” nos campos da literatura, das artes plásticas, do teatro e do cinema espelham a efervescência que caracterizou os
meios culturais de meados da década de 1950 até o início dos anos 1960. Em
sua maioria, eclodiram no Rio de Janeiro e em São Paulo, sendo liderados por
grupos jovens. As “soluções” que encontraram para romper com expressões
artísticas tradicionais nos seus diferentes campos de atuação tinham em comum a relevância atribuída à inserção da produção cultural na sociedade. Fosse ela sublinhada numa temática específica que retratasse problemas sociais,
fosse enfatizada na busca de uma estrutura estética que atingisse os costumes
e hábitos do público – despertando-o para as mudanças, de um modo ou de
outro –, questionava-se uma faceta da produção cultural que dizia respeito a
seu papel social.
Ao lado da crescente efervescência dos jovens grupos atuantes no campo
da cultura, o início dos anos 1960 assistiu ao recrudescimento das lutas dos
estudantes universitários, voltadas para a solução dos problemas educacionais
44. Cf. HOLLANDA, Heloisa Buarque de; GONÇALVES, Marcos Augusto. Cultura e participação
nos anos 60. 5 ed. São Paulo: Brasiliense, 1986. p. 35.
45. Cf. GALANO, Ana Maria. Die Revolutionäre Illusion des Cinema Novo. Filstudio, n. 56, Aachen, s/d., p. 26-27.
169
FBN_RG_vocacao_03.indd 169
5/3/2009 09:54:00
Glaucia Villas Bôas
e nacionais, como veremos mais adiante. Os Centros Populares de Cultura
(CPCs) surgem, justamente, num contexto em que muitos dos jovens – que
tinham acesso a bens privilegiados de educação e cultura – irrompiam no
cenário cultural e político à procura de alternativas para os graves problemas
que assolavam a grande maioria da população brasileira. O primeiro CPC foi
organizado no Rio de Janeiro por um grupo, também jovem, de intelectuais e
artistas e filiou-se em 1961 à União Nacional dos Estudantes, ganhando logo
relevância. A UNE encarregou-se de criar outros centros semelhantes ao do
Rio de Janeiro vinculando-se às Uniões Estaduais dos Estudantes (UEEs) em
diversos estados brasileiros. Os integrantes dos CPCs pretendiam atuar junto
às camadas populares da população brasileira – trabalhadores de baixa renda,
operários, camponeses –, no sentido de lhes possibilitar a compreensão política da origem social de seus problemas imediatos (baixos salários, exploração,
fome, miséria), por meio da divulgação de filmes, livros, cadernos de poesia,
música etc., cujo conteúdo estivesse estreitamente relacionado ao esclarecimento político daqueles problemas. Os CPCs desenvolveram uma atividade
intensa no início dos anos 1960, encenando peças em porta de fábricas, favelas, sindicatos, publicando livros, financiando filmes, gravando discos.
Além dessas atividades, o movimento dos CPCs difundiu e aprofundou a discussão sobre o compromisso político e social dos setores artísticos e intelectuais com
os problemas das desigualdades de classe e da independência nacional frente à
dominação imperialista liderada pelos Estados Unidos. A experiência dos CPCs,
baseada na prática, motivou, inicialmente, a reflexão sobre os limites de uma produção cultural e artística comprometida politicamente, e de modo posterior, sobre
a eficiência e também a validade da utilização daquela produção como meio de
levar as camadas populares ao esclarecimento político de seus problemas.
Como ocorre com freqüência nos movimentos liderados por jovens, a
posição transitória que antecede seu ingresso no mundo adulto e do trabalho
lhes permite atitudes despojadas, aspirações ousadas, às vezes controvertidas
e nem sempre realizáveis. É possível que o mesmo tenha ocorrido com os
CPCs. Ainda assim, eles “marcaram época”, senão junto às camadas populares, certamente nos meios intelectuais e artísticos, ao abordar uma de suas
questões mais caras e polêmicas – o sentido social e político de suas obras.
Sem dúvida, a atmosfera de inquietação, debates e polêmicas que se apodera de grupos atuantes no campo da cultura mostra seu empenho na definição
do sentido social e político da produção daquele setor. Tal inquietação ocorre
justamente em um contexto histórico complexo, no qual a industrialização e
170
FBN_RG_vocacao_03.indd 170
5/3/2009 09:54:01
A vocação das ciências sociais no Brasil
o desenvolvimento do país não só se tornam as justificativas mais relevantes
do projeto de dominação política das camadas dirigentes, como efetivamente
passam a influir nas condições de vida de parcelas da população, trazendo à tona
tanto as desigualdades sociais existentes, quanto a posição, privilegiada ou desprivilegiada, dos grupos na hierarquia social. Nessa configuração específica, os
artistas e intelectuais questionam os meios utilizados para a elaboração de suas
obras e os efeitos de sua divulgação junto ao público, exprimindo dessa forma
seu despertar para o problema da inserção social da produção cultural.
3.
Mudanças na vida intelectual
Ao lado das mudanças que ocorriam nos meios culturais, a expansão das
universidades, as lutas estudantis e a participação da comunidade acadêmicocientífica vão marcar definitivamente a vida intelectual do país no contexto
dos anos que vão de 1945 a 1966.
3.1 A expansão das universidades
No período analisado, verifica-se uma expansão notável da rede de ensino
superior no país. Basta dizer que o número de alunos matriculados em escolas
de ensino superior se eleva de 27.253 em 1945, para 142.386 em 1964.46 Houve, portanto, uma demanda crescente pelos títulos universitários de cunho
profissional. O desenvolvimento dos setores burocráticos das empresas e a
modernização dos meios políticos e administrativos do Estado criavam novas
oportunidades de emprego, exigindo profissionais em áreas especializadas.
O crescimento desse setor do mercado de trabalho repercutia, por sua vez,
na definição dos campos de formação profissional oferecidos pelos estabelecimentos de ensino superior. Áreas do conhecimento que tradicionalmente
eram ministradas no país, como a engenharia, ampliaram seus ramos de especialização; outras adquiriam independência, como é o caso da economia. A
disciplina foi ministrada primeiro nas Faculdades de Direito e nas Escolas de
Engenharia, depois nos cursos de Ciências Sociais de Faculdades de Filosofia,
e a partir de 1945 tornou-se uma área de formação específica com a criação
das Faculdades de Economia.
46. Cf. CUNHA, Luiz Antônio. A universidade crítica. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1983. p. 93.
171
FBN_RG_vocacao_03.indd 171
5/3/2009 09:54:01
Glaucia Villas Bôas
A procura pela educação universitária costuma ser atribuída também às
oportunidades que as camadas médias urbanas tiveram, naquela época, de
realizar seus anseios de ascensão social por meio da conquista de um grau
mais elevado de instrução. No Brasil, desde o século XIX, a instrução era
valorizada como símbolo de prestígio social e um fator de ascensão social. O
grau universitário não só assegurava maiores possibilidades de prestígio social,
como um nível de renda superior àquele oferecido pelos demais graus de ensino. A par disso, os diplomados em escolas superiores possuíam privilégios
legais relativos ao exercício profissional, ocupação de cargos e outros.
No período em foco, as camadas médias urbanas foram sendo favorecidas pela política econômica que lhes assegurava, comparativamente a outras parcelas da população, um nível de renda mais elevado. Assim, famílias
pertencentes àquelas camadas puderam retardar o ingresso de seus filhos no
mundo profissional; ao mesmo tempo, as novas oportunidades de emprego
na burocracia pública e privada, exigindo grau universitário, justificavam suas
expectativas. Em tais condições, tornou-se ainda mais significativo o valor
atribuído à instrução como um importante fator de diferenciação e distinção
de classe, visto então como um meio para as camadas médias se aproximarem
dos contingentes mais ricos no meio urbano. Analisando as classes sociais no
Brasil, nos anos 1950 e 1960, Maria Isaura Pereira de Queiroz ressalta que a
“instrução constituía ao mesmo tempo uma das vias de ascensão social, quanto uma das barreiras que a impediam, e das mais importantes do país”.47
Diversas medidas governamentais foram tomadas para atender à demanda
que provinha, de um lado, da expansão do mercado de trabalho nos setores
da burocracia pública e privada, e de outro, das expectativas de ascensão social
das camadas médias urbanas. A aglutinação de escolas isoladas e a organização
de novas universidades foi facilitada por dois Decretos-Lei: o primeiro deles,
nº 8.457, de dezembro de 1945, promulgado pelo presidente provisório, José
Linhares, modificou as exigências estabelecidas pelo Estatuto das Universidades Brasileiras, de 1931, facilitando em grande medida a organização de
novas universidades. O decreto permitia que uma universidade se organizasse
com base em três faculdades, duas das quais deveriam ser escolhidas dentro
das áreas da Filosofia, Direito, Medicina e Engenharia, diferentemente do
Estatuto de 1931, que exigia a inclusão de três dentre aquelas áreas de formação profissional. Desse modo, tornava-se possível fundar uma universidade
sem que fosse preciso investir nas custosas áreas de Medicina e Engenharia.
47. Cf. QUEIROZ, Maria Isaura Pereira de. Op. cit., p. 124.
172
FBN_RG_vocacao_03.indd 172
5/3/2009 09:54:01
A vocação das ciências sociais no Brasil
O segundo Decreto-Lei, nº 1.254, de 1950, federalizava estabelecimentos de
ensino superior mantidos pelos estados, por municípios ou por particulares,
efetivando os professores como funcionários públicos, com remuneração e
privilégios iguais ao da antiga Universidade do Brasil.
Ao lado das medidas governamentais que facilitavam a criação das universidades no país, outras foram tomadas para facilitar o acesso dos estudantes àquelas
instituições. Conhecidas como “leis de equivalência”, os Decretos-Lei nº 1.076, de
1950, nº 1.821, de 1953 e nº 34.330, de 1953, visavam a fazer a equivalência dos
cursos profissionais, comercial, industrial, normal ou agrícola ao antigo curso secundário, para efeito de progressão no sistema escolar. Outra medida diz respeito
à gratuidade do ensino. A Constituição de 1946 estabelecia que o ensino superior
oficial deveria ser pago pelos estudantes, exceto aqueles que, demonstrando suas
habilidades, fossem carentes de recursos financeiros. Porém, embora as taxas de
pagamento nunca tivessem sido abolidas, elas foram mantidas em seu valor nominal, de tal modo que a inflação as desvalorizou, não valia a pena cobrá-las.
As medidas governamentais que fomentaram a expansão da rede de ensino superior foram adotadas, em sua maioria, durante o período no qual tramitou no Congresso a famosa Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. O anteprojeto de lei
dava cumprimento à determinação da Constituição de 1946 de regulamentar, em nível
nacional, todos os níveis de ensino, inclusive as universidades. O estudo foi formulado
na gestão do Ministro da Educação, Clemente Mariani, e entregue ao Congresso em
1948. Durante treze anos, o anteprojeto suscitou profundos debates e opiniões de tal
modo divergentes, oriundas de grupos atuantes no campo da educação, que somente
em 1961 foi aprovado pelo Congresso. O fato é bastante sugestivo. Mostra, de um
lado, que a demanda pela educação universitária foi notável a ponto de pressionar a
adoção de medidas governamentais, sem que houvesse uma diretriz consensual para o
conjunto das atividades educacionais no país; por outro lado, indica que o crescimento
das universidades se fez à revelia de um projeto para essas instituições, e de um plano
que abrangesse e integrasse os diferentes graus de ensino.
O resultado das demandas pela educação universitária e das medidas tomadas pelo governo federal se fizeram sentir, principalmente, a partir de meados da década de 1950.
Segundo Luiz Antônio Cunha, no período de 1954 a 1964 o ensino superior
no Brasil organizou-se de forma predominantemente universitária, contribuindo
as universidades com cerca de 63% do total de matrículas.48 O processo de federalização, iniciado em 1950, concorreu para que escolas isoladas mantidas pela
48. Cf. CUNHA, Luiz Antônio. Op. cit., p. 97.
173
FBN_RG_vocacao_03.indd 173
5/3/2009 09:54:01
Glaucia Villas Bôas
União, em diversas capitais brasileiras, se reunissem e se transformassem em universidades. No período em estudo, somente a Universidade de Brasília escapou
desse processo de aglutinação. Criada em 1961, em regime de fundação de direito
público, pretendia ser um modelo para o ensino superior no Brasil, capaz de influir na estrutura de outras universidades e escolas superiores.
Em 1954, havia 16 universidades no país, com cinco delas mantidas por
instituições confessionais e 11 pelo Estado, através do governo federal e de
governos estaduais. De 1955 a 1964, foram criadas 21 universidades, sendo
cinco mantidas por instituições religiosas e as demais pelo Estado. Em 1964,
havia 30 universidades no Brasil. Entretanto, esse crescimento surpreendente
não foi suficiente para equilibrar a oferta e a demanda do ensino superior. Em
1964, o número de candidatos ao vestibular era 2,5 vezes maior do que em
1946, e o número de vagas 2,1. A relação de candidatos por vagas continuava
a crescer, mas variava muito de acordo com os cursos: “enquanto a relação
candidato/vagas dos cursos de Direito se mantinha no nível de 1,7, a dos
cursos de Engenharia aumentava de 2,9 para 3,6 e de Medicina de 5,4 para
7,6”, diz Luiz Antônio Cunha.49 A par disso, crescia o número de candidatos
aprovados no vestibular que não podiam matricular-se devido à limitação das
vagas, surgindo nesse contexto a figura do “excedente”.
3.2 As lutas estudantis
Enquanto o Estado tomava medidas no sentido de ampliar o número de
universidades e abrir os canais de acesso ao ensino superior, a partir da segunda metade da década de 1950, irromperam lutas contínuas dos estudantes
universitários que reivindicavam melhores condições de estudo nas universidades e, tomando posições políticas com relação a graves problemas sociais,
terminaram questionando a ordem social do país.
Criada em 1938, a União Nacional dos Estudantes (UNE) reuniu universitários de diversos estados brasileiros através das Uniões Estaduais de Estudantes (UEES). Sua influência na condução das lutas estudantis foi decisiva.
Durante a década de 1940, fizeram parte da UNE estudantes que apoiavam
o movimento socialista, ou pertenciam ao Partido Socialista Brasileiro. No
entanto, o peso político dos jovens filiados à União Democrática Nacional
(UDN) foi, certamente, responsável pelas decisões tomadas pela entidade em
49. Ibidem, p. 97.
174
FBN_RG_vocacao_03.indd 174
5/3/2009 09:54:02
A vocação das ciências sociais no Brasil
seus primeiros anos. Somente a partir de 1955, a atuação de grupos de estudantes socialistas e comunistas se destacou, vindo então a marcar os rumos
políticos do movimento estudantil. A UNE empreendeu campanhas contra
a inflação e contra as influências norte-americanas nos “negócios” políticos
do país. Paralelamente, empenhou-se na organização de seminários cujo objetivo era discutir questões relativas à democratização do ensino, tema central
do I Seminário Latino-Americano de Reforma e Democratização do Ensino
Superior, realizado em 1960 na cidade de Salvador. Além disso, a entidade
tratou também da reforma universitária, cujos debates se iniciaram em 1961,
no I Seminário Nacional de Reforma Universitária, reunido em Salvador. O
temário dessa reunião incluiu tópicos como exame vestibular, administração
da universidade e participação do corpo discente, autonomia universitária,
cátedra vitalícia, tempo integral para o corpo docente, mercado de trabalho e
função da universidade.
Contudo, foram os debates e as resoluções do II Seminário Nacional de
Reforma Universitária, reunido em Curitiba em março de 1962, que levaram
os estudantes a direcionar os rumos de seu movimento com base em posições
tomadas frente a problemas políticos de maior amplitude. Durante o seminário,
foram discutidas questões como a divisão do mundo em dois blocos políticos,
as desigualdades socioeconômicas das populações dos países subdesenvolvidos
e o papel da universidade nessas sociedades. A partir do encontro, os estudantes,
sob a liderança da UNE, passaram a defender a realização de reformas imediatas que, efetivamente, conduzissem o país ao desenvolvimento, posicionando-se
então a favor das classes sociais desprivilegiadas e questionando a posição “alienada” da universidade diante dos problemas reais do país.
A definição de novas perspectivas e alvos políticos resultou, de um lado,
em um maior empenho do movimento estudantil pela reforma universitária,
e de outro, na intensificação das ações voltadas para o esclarecimento político
das camadas populares.
As lutas pela reforma universitária influíram nas decisões que vieram a ser
tomadas pelos órgãos governamentais responsáveis pelas mudanças no ensino superior, seja no período de foco, seja nos anos seguintes, quando se completou o plano da reforma universitária em 1968. Porém, as reivindicações dos
estudantes, entre elas a participação estudantil no processo decisório relativo à
vida universitária, não foram atendidas de acordo com suas expectativas.
Entretanto, a atuação dos estudantes junto às camadas populares tomou
grande vulto e repercutiu em diferentes setores da sociedade, vindo a marcar,
175
FBN_RG_vocacao_03.indd 175
5/3/2009 09:54:02
Glaucia Villas Bôas
definitivamente, a polêmica sobre o papel político da camada intelectual e artística. Essa observação já havia sido feita em item anterior, quando tratamos
dos Centros Populares de Cultura filiados à UNE. Note-se, contudo, que os
estudantes não se limitaram a fazer uso de meios culturais em seu propósito de levar as classes populares à consciência política de seus problemas.
Ocuparam-se também, intensamente, da educação de adolescentes e adultos,
visando sobretudo alfabetizá-los. A partir de março de 1961, muitos jovens
se integraram em programas de alfabetização, organizados pelo Movimento
de Educação de Base (MEB), instituído pelo governo federal através do Decreto-Lei nº 50.370. A UNE criou uma Comissão de Alfabetização em outubro do mesmo ano. Após o II Seminário Nacional de Reforma Universitária,
reunido em 1962, a entidade dispôs-se a promover uma ampla campanha de
alfabetização de adultos, definindo assim a educação popular como uma de
suas principais metas. Para a consecução de seus objetivos utilizou os Centros
Populares de Cultura que havia criado em diversos estados brasileiros.50
No início dos anos 1960, os estudantes universitários questionaram a estrutura social do país e tomaram o partido das classes subalternas, sujeitas à
exploração contínua de sua força de trabalho. O despertar para esse problema
provocou enorme efervescência nos meios estudantis, levando seus integrantes a intensas atividades em diversos pontos do país.
3.3 A participação da comunidade acadêmico-científica
A expansão das universidades e as lutas estudantis se fizeram acompanhar
de grande mobilização de cientistas e professores universitários brasileiros.
Como ocorria em outros setores dos meios intelectuais e artísticos, a redemocratização do país e a experiência das mudanças sociais e econômicas estimularam muitos deles à participação ativa, quer na organização de instituições de
pesquisa, criação de órgãos de apoio à ciência ou associações voltadas para a
divulgação do conhecimento científico, quer em movimentos cujo objetivo
era a reforma do ensino superior.
Os esforços e as iniciativas de grupos dos meios acadêmicos e científicos,
no contexto que vai de 1945 a 1964, mostram a importância e o valor que
passou a ser atribuído à cultura e formação técnico-científica em detrimento
50. Sobre os movimentos voltados para a educação popular ver MANFREDI, Silvia Maria. Política:
educação popular. São Paulo: Símbolo, 1978. p. 43-59.
176
FBN_RG_vocacao_03.indd 176
5/3/2009 09:54:02
A vocação das ciências sociais no Brasil
da formação letrada clássica, baseada em estudos humanísticos tradicionais,
que, predominante nos meios intelectuais brasileiros, vai de fato assumir uma
posição de menor destaque e prestígio, justamente naquele período. Por outro
lado, a importância da produção e formação científica era justificada pelos benefícios que a ciência poderia trazer ao desenvolvimento social e econômico
do país. Ao analisar a formação da comunidade científica no Brasil, Simon
Schwartzman comenta que “a noção de que a ciência e o ensino deveriam voltar-se mais decisivamente para problemas econômicos e sociais da realidade
brasileira era, evidentemente, bastante difundida entre cientistas e professores
universitários brasileiros do pós-guerra o que levava a um contínuo debate
sobre a melhor forma de organizar e estimular o sistema de educação superior
e a pesquisa científica no país”.51
O empenho em fazer reconhecer o valor da ciência como um instrumento indispensável para o desenvolvimento socioeconômico de base industrial
se traduz em diversas iniciativas tomadas por integrantes da comunidade
acadêmico-científica. Uma delas, foi a criação da Sociedade Brasileira para o
Progresso da Ciência (SBPC), em 1948, na cidade de São Paulo.52 A SBPC foi
um dos marcos mais importantes da formação da comunidade acadêmica no
Brasil, promovendo desde sua criação reuniões anuais em diferentes cidades
do país e publicando a revista Ciência e Cultura, desde 1949.
No decorrer daqueles anos, foram criados também institutos e centros
de pesquisa. Em 1949, organizava-se o Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas
(CBPF), como um órgão autônomo que, inicialmente, recebeu subvenções
votadas pelas Câmaras Federal e Municipal, além de contribuições da Confederação Nacional da Indústria. O CBPF foi a alternativa encontrada para
51. Ver Schwartzman, Simon. Formação da comunidade científica no Brasil. São Paulo: Nacional;
Rio de Janeiro: Financiadora de Estudos e Projetos, 1979. p. 287.
52. A SBPC tinha por objetivos: “a) a justificação da ciência, mostrando ao público seus progressos, seus métodos de trabalho, suas aplicações e até mesmo suas limitações buscando criar
em todas as classes, e conseqüentemente na administração pública, atitude de compreensão,
apoio e respeito para as atividades de pesquisa; b) robustecimento da organização científica
nacional, pela melhor articulação dos cientistas, pelo seu mais íntimo conhecimento mútuo,
numa tentativa de unir as diversas especialidades e dissipar eventuais incompreensões por meio
de ações conjuntas, pelo incentivo à formação de novos pesquisadores e ainda pela remoção
de entraves que se oponham ao progresso da ciência; c) pela manutenção de elevados padrões
de conduta científica, e ao mesmo tempo, combate à pseudo e à meia ciência, que tantas vezes
tomam posições que deveriam pertencer à verdadeira ciência; d) assumir atitude definida e ativa
de combate, no sentido de assegurar, contra possíveis incompreensões, a liberdade de pesquisa,
o direito do pesquisador aos meios indispensáveis de trabalho, a estabilidade para a realização
de seus programas de investigação, ao ambiente favorável à pesquisa desinteressada”. Cf. Ciência
e Cultura , v. 1, n. 1, São Paulo: SBPC, 1949. p. 1-2. apud: MOREL, Regina Lúcia de Moraes.
Ciência e estado: a política científica no Brasil. São Paulo: T. A. Queiroz, 1979. p. 42.
177
FBN_RG_vocacao_03.indd 177
5/3/2009 09:54:02
Glaucia Villas Bôas
superar as dificuldades de ordem administrativa e financeira existentes na antiga Universidade do Brasil, que impediam o desenvolvimento da pesquisa
naquela instituição. Na área da física, foram criados também o Instituto de
Pesquisas Radioativas, em 1953, em Minas Gerais, e o Instituto de Energia
Atômica, junto à Universidade de São Paulo, em 1956.
Iniciativas semelhantes ocorriam em outros ramos do conhecimento científico, demonstrando que o interesse e o esforço despendido para a implantação de condições indispensáveis para a produção científica não constituíram, naquele contexto, um fato isolado. No campo das ciências sociais, por
exemplo, surgiram naquela época diversas instituições, entre elas o Instituto
Joaquim Nabuco, em 1949, em Recife, o Instituto Brasileiro de Estudos Políticos, em 1953, que se transforma em Instituto Superior de Estudos Brasileiros
(ISEB), em 1955, e o Centro Latino-Americano de Pesquisas em Ciências
Sociais (CLAPS), em 1957, no Rio de Janeiro.
Quer se constituíssem como órgãos autônomos como o CBPF, quer
fossem vinculados ao governo federal como o ISEB, a organismos internacionais como o CLAPS, ligado à UNESCO ou a uma universidade, como o
Instituto de Energia Atômica, multiplicaram-se as instituições voltadas para
a pesquisa e com elas, conseqüentemente, o número de congressos, seminários, reuniões científicas e revistas especializadas. As ações empreendidas
por professores universitários e cientistas deram nova feição às atividades
voltadas para a produção de conhecimento científico, que no decorrer daqueles anos deixavam de ser fruto de esforços individuais isolados e passavam a ser vistas como resultado de empreendimentos coletivos e custosos. As medidas que levaram, em 1951, à criação do Conselho Nacional de
Pesquisa, cujo nome mudou para Conselho Nacional de Desenvolvimento
Científico e Tecnológico (CNPq), e da Campanha de Aperfeiçoamento do
Pessoal de Ensino Superior, atualmente denominada Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), institucionalizando no
país uma política científica,53 atestam, ainda uma vez, o teor das mudanças
que se efetuavam nos meios científicos. Enquanto o CNPq tinha por finalidade estimular o desenvolvimento da investigação científica e tecnológica em qualquer domínio do conhecimento, a CAPES pretendia promover
“uma campanha para a melhoria do ensino superior no país e a realização
de medidas destinadas a assegurar a existência de um quadro de técnicos,
cientistas e humanistas suficientes para atender às necessidades dos empre53. Ver MOREL, Regina Lúcia de Moraes. Op. cit., p. 43-50.
178
FBN_RG_vocacao_03.indd 178
5/3/2009 09:54:02
A vocação das ciências sociais no Brasil
endimentos públicos e privados que visam ao desenvolvimento econômico
e cultural do Brasil”.54
A obtenção de apoio e recursos financeiros para a formação de pesquisadores e produção de conhecimento resultaram, também, de acordos assinados
entre o Ministério da Educação e Cultura e o governo norte-americano, ou
instituições privadas como a Fundação Ford e a Fundação Rockfeller. Entre
as áreas mais beneficiadas por esses recursos destaca-se o Instituto Tecnológico da Aeronáutica, que deu início às suas atividades em 1947, e ocupou as
instalações em São José dos Campos em 1950, com o propósito de dinamizar o ensino superior, vinculando-se à pesquisa e à investigação tecnológica.
Contudo, os maiores investimentos foram feitos no campo da agronomia na
antiga Universidade Federal do Estado de Minas Gerais, na Universidade de
São Paulo e na Universidade do Rio Grande do Sul, em programas que pretendiam conjugar o ensino e a pesquisa com o intuito de favorecer o crescimento da produção agrícola.55
Ao lado dessas iniciativas e medidas, grupos da comunidade acadêmicocientífica participaram de movimentos voltados para a melhoria do ensino no
país, como mostra sua atuação na Campanha de Defesa da Escola Pública
que eclodiu em São Paulo, em 1959. Manifestos, artigos e editoriais veiculados por jornais de grande circulação, comícios e convenções fizeram parte da
campanha, cujo objetivo era a expansão e consolidação do ensino público em
todos os níveis, visto então como uma condição necessária à democracia e ao
desenvolvimento industrial no país.
Sem dúvida, as mudanças socioeconômicas fomentadas pela industrialização possibilitaram o conjunto das ações empreendidas nos meios universitários e científicos, que visavam a edificar as bases indispensáveis para a
produção científica e a formação de profissionais qualificados.
54. Ibidem, p. 46.
55. Ver CUNHA, Luiz Antônio. Op. cit., p. 191.
179
FBN_RG_vocacao_03.indd 179
5/3/2009 09:54:03
FBN_RG_vocacao_03.indd 180
5/3/2009 09:54:03
IV
Continuidade e Mudança
Em que medida o contexto histórico do período que vai de 1945 a 1966
possibilitou à produção das ciências sociais expandir-se e modificar seu horizonte temático, assim como suas abordagens? O objetivo desse capítulo é, inicialmente, confrontar as características das pesquisas no campo das ciências
sociais, observadas no conjunto de livros constante do acervo da Biblioteca
Nacional, com as especificidades históricas e sociais daquele período; e, posteriormente, com base no resultado desse confronto, apontar questões relativas
ao processo de desenvolvimento das ciências sociais no Brasil.
As relações entre o conhecimento e as condições histórico-sociais despertaram a atenção de estudiosos europeus no decorrer do século XIX, levandoos a expor os problemas concernentes à constituição social e histórica de
diferentes modalidades do saber. Na realidade, as transformações provenientes da revolução industrial-capitalista, atingindo as relações entre indivíduos
e grupos, como também as verdades secularmente estabelecidas, criaram, naquele período, possibilidades para um duplo questionamento: da formação e
organização da vida social, da constituição e validade do conhecimento. Por
isso, ao examinar as origens e o desenvolvimento da sociologia do conhecimento, Georges Gurvitch diz que, de certo modo, ela é “tão antiga quanto a
própria Sociologia”1 mostrando que sua problemática específica estava presente nas obras dos fundadores da sociologia, Augusto Comte e Karl Marx,
entre outros.
Nas primeiras décadas desse século, a sociologia do conhecimento ganhou
novo impulso e passou a ser vista como uma área de especialização, destacando-se entre os esforços feitos nesse sentido a obra de Karl Mannheim.
Referindo-se particularmente ao desenvolvimento das disciplinas das ciências
1 Cf. GURVITCH, Georges. Traité de Sociologie. Paris: PUF, 1960. t. II. p. 103.
181
FBN_RG_vocacao_04.indd 181
5/3/2009 09:57:28
Glaucia Villas Bôas
sociais, afirmava o sociólogo, em 1929, que uma das tarefas da sociologia do
conhecimento era a de nos capacitar para ver porque a Sociologia e a Economia se formaram mais recentemente, e porque progrediram em um país e foram
acossadas por tantos obstáculos em outros. Igualmente possibilitaria resolver um
problema que sempre permaneceu sem resposta, ou seja, porque não presenciamos ainda o desenvolvimento da Ciência Política.2
Às preocupações de Karl Mannheim foram acrescentadas mais recentemente as de Wolf Lepenies.3 Na década de 1980, ao questionar a história
da sociologia, ele retoma o mesmo problema, observando, porém, que o
diagnóstico de uma disciplina não deve prescindir da observação, primeiro, do estudo preferencial de um grupo de disciplinas em certos países,
sendo indispensável, portanto, levar em conta o significado do caráter
nacional (expressão usada pelo autor) na análise dos diferentes campos
disciplinares; segundo, das relações que as disciplinas estabelecem entre si,
ora de vizinhança, ora de concorrência, sendo algumas “modelo”, enquanto outras são reconhecidas como “auxiliares”. Segundo o autor, somente
a análise dessas relações em um contexto histórico nacional poderia fornecer a base para o exame do desenvolvimento do trabalho intelectual no
âmbito das ciências sociais.
Voltando-se para a mesma questão em épocas distintas, o exemplo desses
sociólogos revela aqui apenas que a sociologia não só deu continuidade ao
estudo das relações entre conhecimento e condições histórico-sociais, como
vem se ocupando particularmente com as características do desenvolvimento
das ciências sociais. Com efeito, outros especialistas como Florian Znaniecki,
Robert Merton, Anthony Giddens e Pierre Bourdieu apresentaram contribuições relevantes para ampliar o acervo das pesquisas nessa área.4
No Brasil, o interesse dos cientistas sociais em avaliar a produção de seu
campo intelectual vem se esboçando desde finais da década de 1940. Já foi
visto que no período entre 1945 e 1966 há livros sobre o assunto, a maioria no
campo da sociologia, o que demonstra a atenção para esse tema, muito embora as obras sejam pouco numerosas. A partir da década de 1970, começam a
2 Cf. MANNHEIM, Karl. Ideologia y Utopia. 2 ed. Madrid: Aguilar, 1966. p. 166-167.
3 Ver a introdução de Wolf Lepenies, Estudos sobre a identidade cognitiva, social e histórica da
sociologia. In: LEPENIES, Wolf (Org.). Geschichte der Soziologie. Frankfurt a/Main: Suhrkamp
Verlag, 1981, v. I. p. 1-35.
4 ZNANIECK, Florian. Social role of the man of knowledge. New York: Columbia University Press,
1940; MERTON, Robert K. Sociologia, teoria e estrutura. São Paulo: Mestre Jou, 1968; GIDDENS,
Anthony. Capitalism and modern social theory. Cambridge: Cambridge University Press, 1971;
BOURDIEU, Pierre. A economia das trocas simbólicas. São Paulo: Perspectiva, 1974.
182
FBN_RG_vocacao_04.indd 182
5/3/2009 09:57:29
A vocação das ciências sociais
aparecer com mais freqüência pesquisas visando ao exame seja do pensamento social, seja especificamente da produção das ciências sociais.5
Observando as questões tratadas nesses trabalhos, em artigo intitulado
“Desenvolvimento das Ciências Sociais na América Latina e contribuição européia: o caso brasileiro”, Maria Isaura Pereira de Queiroz diz que as investigações sobre as ciências sociais feitas no Brasil e em outros países da América
Latina, de modo geral, seguiram o ponto de vista da “história das idéias” ou
fundamentaram suas análises na diferença entre os países desenvolvidos e os
países subdesenvolvidos. Segundo a autora,
Deixam-se assim completamente de lado as peculiaridades das
Ciências Sociais em diversos países latino-americanos e também
as condições internas do país cuja produção científica se analisa.
O pendor mais forte dos estudiosos é para descobrir as correntes do pensamento oriundas do exterior e sua influência sobre os
pesquisadores nacionais. Mesmo que se reconheça ser necessário
analisar a situação interna do país, não se leva adiante uma investigação que esclareça qual é ela e se pode ou não exercer uma função
determinante.6
Outra linha de investigação sobre a produção intelectual brasileira privilegia o exame de seus “conteúdos” ideológicos. Para esses autores, os estudos
5 Ver entre outros estudos publicados a partir da década de 1970: QUEIROZ, Maria Isaura Pereira de (Coord.). Introdução ao estudo da sociologia. São Paulo: IEB/USP, 1971; da mesma autora: Desenvolvimento das ciências sociais na América Latina e contribuição européia: o caso brasileiro.
Ciência e Cultura, v. 41, n. 4, abr. 1989; FERNANDES, Florestan. A sociologia no Brasil. Petrópolis:
Vozes, 1977; IANNI, Octavio. Sociologia da sociologia latino-americana. Rio de Janeiro: Civilização
Brasileira, 1971; do mesmo autor: Sociologia e sociedade no Brasil. São Paulo: Alfa-Omega, 1975;
LAMOUNIER, Bolívar; CARDOSO, Fernando Henrique. Bibliografia de ciência política
sobre o Brasil (1949-1974). Dados, Rio de Janeiro, n. 18, 1978; MOTA, Carlos Guilherme.
Ideologia da cultura brasileira (1933-1974). São Paulo: Ática, 1978; PEIRANO, Mariza. Anthropology
of anthropology: the brazilian case. 1980. Tese de doutoramento. Harvard University; MORAES,
Eduardo Jardim de. A construção da idéia de modernidade no modernismo. 1983. Tese de doutoramento. Universidade Federal do Rio de Janeiro; MACIEL, Maria Lúcia. La recherche en Sciences Sociales
et son contexte politique – Brésil 1968-1982. 1985. Tese de doutoramento. Université de Paris VII;
OLIVEIRA, Lúcia Lippi. A questão nacional na Primeira República. São Paulo: Brasiliense, 1990;
MELATTI, Julio Cezar. A antropologia no Brasil: um roteiro. BIB – Revista Brasileira de Informação Bibliográfica em Ciências Sociais, n. 17, 1984; MICELI, Sergio (Org.). A história das ciências sociais
no Brasil. São Paulo: Ed. Revista dos Tribunais, 1989.
6 Cf. QUEIROZ, Maria Isaura Pereira de. 1989. Op. cit., p. 378-379.
183
FBN_RG_vocacao_04.indd 183
5/3/2009 09:57:29
Glaucia Villas Bôas
ideológicos se distinguem dos estudos científicos, uma vez que, carentes de
evidências empíricas, apresentam na sua formulação um comprometimento
com idéias e ideais políticos voltados para a construção e desenvolvimento da
nação. De acordo com essa linha de investigação, a intenção de justificar projetos ideais para a sociedade brasileira precedera e acompanhara o processo de
realização de diversos trabalhos, e impedira o distanciamento necessário para
o cumprimento das regras do labor científico. Em Ideologia da Cultura Brasileira
(1933-1974), por exemplo, Carlos Guilherme Mota focaliza aspectos ideológicos da produção intelectual no Brasil num importante período da vida política e cultural; Caio Navarro de Toledo aprofunda a discussão sobre o tema,
analisando estudos elaborados por integrantes do antigo Instituto Superior de
Estudos Brasileiros (ISEB).7
Constituem com freqüência o foco de análise de pesquisas que procuram medir a evolução das ciências sociais no Brasil instituições voltadas tanto
para a produção de estudos e pesquisas, quanto para a formação de cientistas sociais, averiguando-se sua autonomia com relação ao campo das ações,
idéias e ideais políticos. Consideram esses estudos que no Brasil a formação
da camada intelectual esteve estreitamente vinculada aos anseios e ideais de
ordem política, e questionam, na realidade, as possibilidades de formação e
consolidação de instituições adequadamente voltadas para a produção de conhecimento científico existente no país. Textos que integram o livro História
das ciências sociais no Brasil,8 organizado por Sergio Miceli, oferecem uma visão
dessa perspectiva que dá prioridade ao conhecimento de características de
instituições brasileiras voltadas para as ciências sociais.
Reconsiderando esses problemas, sob outro ângulo, Mariza Peirano analisa a trajetória e as obras de cientistas sociais brasileiros, e mostra em Anthropology of anthropology: the brazilian case,9 como em um contexto social e histórico
particular os conteúdos ideológicos podem estar presentes e caracterizar especificidades de estudos em ciências sociais, sem prejuízo do valor científico
desses trabalhos.
De modo geral, entretanto, a contribuição da maioria dos estudos tem
sido relevante para medir os avanços da institucionalização das ciências sociais
no país. Porém, ao avaliar em que medida os projetos ideais para a sociedade
7 Cf. MOTA, Carlos Guilherme. Op. cit.; TOLEDO, Caio Navarro de. ISEB: Fábrica de ideologias.
São Paulo: Ática, 1977.
8 Cf. MICELI, Sergio. Op. cit
9 Cf. PEIRANO, Mariza. Op. cit.
184
FBN_RG_vocacao_04.indd 184
5/3/2009 09:57:29
A vocação das ciências sociais
brasileira estiveram presentes seja na organização de instituições, seja na mentalidade de grupos de cientistas sociais, interferindo no processo de conhecimento científico da sociedade, esses estudos deixam entrever que a análise
das questões abordadas se faz em grande medida sob o prisma de um “padrão
ideal” para a ciência.10
Como se vê, no contexto brasileiro, a análise da produção de conhecimento
no campo das ciências sociais parece tomar duas direções básicas. A primeira
delas tem como ponto de partida a posição do país no sistema mundial de dominação política e termina por questionar as características dos estudos de autores
brasileiros à luz do padrão da produção científica de países econômica, política e
culturalmente mais desenvolvidos; a segunda faz convergir o foco da análise para
as instituições brasileiras voltadas para as ciências sociais ou para grupos de cientistas, com o propósito de averiguar o grau de autonomia do campo da produção
científica frente ao campo dos ideais e das ações políticas.
O presente estudo faz parte, assim, de um conjunto de pesquisas e indagações sobre as peculiaridades e o desenvolvimento das ciências sociais no
Brasil. Nele, entretanto, buscou-se examinar a evolução desse campo do saber
contemplando sua produção efetiva nos anos de 1945 a 1966. Para tanto,
delineia-se de início o perfil dos estudos em ciências sociais do ponto de vista
de seus temas e disciplinas; em seguida, são apresentados os traços específicos
do contexto histórico e social das décadas em foco. Nesse capítulo, passa-se a
examinar em que medida as circunstâncias histórico-sociais constituíram um
fator relevante para a compreensão das características que as ciências sociais
apresentaram no período abordado.
1.
O desenvolvimento das ciências sociais
Ao ser examinada a produção das ciências sociais, do ponto de vista de
sua divulgação em livro no período entre 1945 e 1966, vê-se que os meados
da década de 1950 constituíram um marco significativo no processo de desenvolvimento daquele campo do saber no Brasil. A partir daquela data, veio
a público um conjunto quantitativamente relevante de obras, apresentando
10 A respeito desse problema, Norbert Elias comenta que as teorias sociológicas da ciência que
para ele postulam um ideal, relegam a um segundo plano a pesquisa efetiva de seu processo
social de desenvolvimento e acabam correndo o risco de retirar de seu foco de análise as
profundas diferenças inerentes àquele processo. Ver ELIAS, Norbert. Was ist Soziologie? 5 ed.
Weinheim/Muenchen: Juventa Verlag, 1986. p. 51-74.
185
FBN_RG_vocacao_04.indd 185
5/3/2009 09:57:29
Glaucia Villas Bôas
um leque de assuntos bem mais diversificado se comparado àquele publicado
na década anterior. As ciências sociais asseguraram naquela ocasião, a julgar
pelos dados analisados, uma forma de difusão acessível a um público mais
amplo e diferenciado, garantindo e ampliando o diálogo entre gerações interessadas no conhecimento da vida social.
A produção das ciências sociais se expande, portanto, no período histórico
em que a industrialização toma seu rumo definitivo no país. Viu-se que, a partir
de meados da década de 1950, as mudanças na infra-estrutura socioeconômica
relativas à consolidação e integração do setor industrial levaram à modificação de
outros setores da vida nacional que vinham esboçando sinais de transformação,
mas somente naqueles anos apresentaram mudanças efetivas. Tais modificações
se evidenciaram no aumento da população, na expansão das camadas médias, na
importância da classe operária no cenário econômico e social, nas modificações
havidas na estrutura burocrática do Estado, nos movimentos políticos no campo
e na cidade, na radiodifusão, no cinema, na publicidade. A experiência dessas mudanças gerava um novo horizonte de expectativas com relação aos destinos do
país, que decerto favorecia duplamente a produção e recepção do conhecimento,
criando assim um terreno fértil para a expansão das ciências sociais.
Sem dúvida, esse quadro de mudanças criou possibilidades materiais para a
ampliação de um mercado para as ciências sociais. O número de universidades
e estudantes cresceu notadamente, intensificando-se a participação dos cientistas na construção da comunidade científica. Tal crescimento incrementava
o aparecimento de maior quantidade de editoras e a expansão das livrarias. Paralelamente, cresciam também as chances intelectuais propícias, provenientes
da vivência das transformações que marcavam aquela época. A transformação
econômica e, principalmente, industrial do país era concomitante com uma
ampliação de produção cultural no campo das ciências sociais.
A situação histórica e social emergente naqueles anos, criando uma demanda comum de conhecimentos que explicassem os fatos observados e vivenciados, aproximava cientistas sociais e leitores. Nessas circunstâncias, as
chances de abordar assuntos voltados para a elucidação das mudanças específicas e profundas da vida nacional ultrapassavam a escolha de temas relativos
ao desenvolvimento do conhecimento científico em si mesmo.
A par disso, outro fator vantajoso para a expansão das ciências sociais naquela época foi o caloroso debate sobre o papel social e político da produção
cultural, incentivado por setores atuantes nos meios culturais e intelectuais.
Na realidade, a partir de meados da década de 1950, as discussões sobre os
186
FBN_RG_vocacao_04.indd 186
5/3/2009 09:57:30
A vocação das ciências sociais
compromissos da camada intelectual com os problemas do desenvolvimento
e das desigualdades sociais ganharam tal relevância que chegaram a influir em
iniciativas e empreendimentos, como a criação dos Centros Populares de Cultura, dos movimentos de alfabetização, no aparecimento do Cinema Novo,
que não só trouxeram novas perspectivas culturais, educacionais e intelectuais,
como marcaram definitivamente os seus rumos. Os debates que se traduziam
em seguida em ações efetivas davam vantagens às ciências sociais sobre outras
formas de conhecimento, uma vez que, de certo modo, realçavam o caráter
instrumental de seus estudos. Pois não se destinavam eles a ser um meio específico de compreensão dos fatos sociais, cujos resultados poderiam vir a
ser utilizados na reformulação de idéias e na orientação da ação de grupos
sociais? O sentido social que caracteriza a identidade das ciências sociais ia ao
encontro de um novo modo de encarar o sentido e a utilidade da produção
cultural que se expandia naqueles anos, por mais distintas que tenham sido as
direções tomadas pelos debates.
A partir de meados da década de 1950, conjugaram-se, pois, quatro fatores
favoráveis ao desenvolvimento das ciências sociais: a ampliação do público
universitário e letrado do país; a consolidação da indústria do livro; uma demanda de conhecimentos oriunda das mudanças que imprimiam uma nova
feição à sociedade brasileira; e a consciência de que a produção cultural, nos
seus mais diversos aspectos, poderia exercer um papel atuante na solução de
problemas de ordem social e política.
As circunstâncias histórico-sociais emergentes nos meados dos anos 1950
permitiram que as ciências sociais tivessem um lugar de maior relevo no conjunto da produção intelectual do país, do que na fase anterior. Tal posição resultava de um longo processo iniciado quando surgiram os primeiros estudos
de autores brasileiros neste campo do saber e, a partir da década de 1930, o
impulso dado pela formação de cientistas sociais nas Faculdades de Filosofia foi
um passo decisivo para que, na década de 1950, a expansão das ciências sociais
permitisse que elas aparecessem já com relevo no sistema de produção de bens
culturais no Brasil, vindo a fazer parte importante dos debates intelectuais.
2.
A relevância dos problemas brasileiros
Um dos traços que sobressai no conjunto da produção das ciências sociais,
tal como analisada no segundo capítulo, é a importância dada pelos cientistas sociais e seus leitores a questões concretas da sociedade brasileira. Os
187
FBN_RG_vocacao_04.indd 187
5/3/2009 09:57:30
Glaucia Villas Bôas
estudos de caráter teórico/abstrato ou teórico/metodológico ficam relegados a segundo plano. Ao distinguir as “obras sobre a disciplina” das “obras
sobre temas específicos” (quadro I, cap. 2), se pode ver que a grande maioria
dos estudos da amostra converge para a investigação de problemas existentes
dentro dos limites da sociedade nacional, quer seja no primeiro conjunto de
livros publicados nos anos 1945–1955, quer seja nas obras datadas dos anos
1956–1966.
Este dado é importante uma vez que, com base em material de análise,
confirma observações feitas por pesquisadores das ciências sociais a partir de
outras informações. Abordando essa questão, Maria Isaura Pereira de Queiroz
mostra que as investigações feitas por autores brasileiros, desde meados do século XIX até os anos 1930, formaram um acervo já importante; evidenciavase que “o Brasil fora e continuava sendo o grande enigma a ser decifrado em
seus aspectos sócio-antropológicos, étnicos e culturais”,11 sugerindo a autora
que a busca de identidade fora um móvel importante para a evolução das
ciências sociais.
Retomando o assunto, Mariza Peirano sublinha que a produção das ciências sociais, após os anos 1930, ter-se-ia deixado marcar pelos ideais de “construção da nação”, de que estavam imbuídos seus especialistas; a pesquisa antropológica se circunscrevera predominantemente aos problemas nacionais,
não fazendo parte de seu foco de interesse as questões mais gerais e abstratas,
cultivadas habitualmente por cientistas europeus.12
Os motivos que tornam compreensível a relevância conferida pelas ciências sociais aos problemas concretos do país, de acordo com esses dois
trabalhos, costumam ser atribuídos ora ao desejo de conhecer a identidade
brasileira, ora às idéias de “construção da nação”.
A análise efetuada aqui partiu de outro ponto de vista: primeiramente, conhecer as características da produção científica expressa nos livros publicados
em determinado período; em seguida, delinear as condições socioeconômicas,
culturais e históricas em que se desenvolveram e foram publicados os trabalhos. Verifica-se que no que respeita à produção das ciências sociais, a julgar
pelos dados analisados, não se modificou a posição dos estudos de caráter
mais abstrato que questionassem os fundamentos daquela área do saber, seus
preceitos e valores. A importância atribuída aos problemas concretos da sociedade brasileira permaneceu inalterada; ela parece, pois, uma constante no
11 Cf. QUEIROZ, Maria Isaura Pereira de. Op. cit. 1989. p. 383.
12 PEIRANO, Mariza. Op. cit. p. 6-10.
188
FBN_RG_vocacao_04.indd 188
5/3/2009 09:57:30
A vocação das ciências sociais
processo de desenvolvimento das ciências sociais no país, parte integrante de
suas características, que se reatualiza e renova de acordo com as diferentes
condições históricas, sociais e econômicas.
3.
O processo de diferenciação dos estudos em
ciências sociais
Muito embora as circunstâncias históricas relativas aos anos que vão de
1945 a 1966 não tenham alterado o valor primordial atribuído aos estudos
sobre a sociedade brasileira, elas influíram na escolha de enfoques e temas, nas
pesquisas sobre aspectos da experiência social e histórica do país, como se observa na análise efetuada. No conjunto de trabalhos sobre questões teóricometodológicas, embora sua quantidade fosse bem menor, a mesma influência
é observada.
3.1 Os estudos teórico-metodológicos
Todas as disciplinas das ciências sociais abordadas nesse trabalho – história do Brasil, economia política, antropologia, sociologia, ciência política,
geografia humana e demografia – elaboraram estudos de caráter teórico-metodológico no decorrer do período entre 1945 e 1966. Uma visão de conjunto
desses textos evidencia, no entanto, que as diferentes áreas do saber contribuíram de modo bastante desigual para a investigação e divulgação dos recursos
científicos para a pesquisa. Naquela época, o interesse da economia e da sociologia pelo assunto foi sem dúvida o mais destacado. Na amostra analisada,
essas duas disciplinas apresentaram praticamente o mesmo número de livros
e juntas concorrem com mais da metade dos estudos sobre o tema, tanto na
primeira como na segunda fase do período examinado.
Dos 53 livros publicados de 1945 a 1955, a economia política se apresenta
com 17 e a sociologia com 16 obras (quadro XIV e XIX, cap. 2). Com respeito à visível demanda de perspectivas teóricas e metodológicas nesses dois
ramos do conhecimento, convém lembrar as modificações que transcorriam
nos setores socioeconômico, político e educacional, naquela fase. No período
de 1945 a 1955, os governantes deram continuidade a medidas que vinham
sendo tomadas desde os anos 1930, visando à solução de problemas sociais e
econômicos do país, agravados profunda e sucessivamente pela crise de 1929
e pela Segunda Guerra Mundial. O setor modificava-se em função da política
189
FBN_RG_vocacao_04.indd 189
5/3/2009 09:57:30
Glaucia Villas Bôas
voltada para a acumulação de capitais e expansão das indústrias de base; paralelamente, ampliavam-se os órgãos burocráticos do Estado incumbidos do
maior controle da economia nacional. A consciência da importância dos fatos
socioeconômicos e a necessidade de especialistas produziram efeitos no quadro do ensino superior, levando à criação dos cursos de Ciências Sociais nos
anos 1930, e, pouco depois, à reorganização do ensino da Economia Política
e fundação da primeira Faculdade de Ciências Econômicas, em 1945, no Rio
de Janeiro. Se, de um lado, os anos de 1945 a 1955 assistiam à continuidade de
medidas voltadas para a superação de problemas de ordem socioeconômica,
de outro lado, neles surgiam os primeiros resultados de iniciativas tomadas
com o mesmo propósito nos anos anteriores. Assim como no setor industrial,
em que a Companhia Siderúrgica Nacional, já instalada desde 1946, só entrou
em pleno funcionamento em 1952, na área educacional e científica os recémformados cientistas sociais começaram a exercer suas atividades profissionais
no final da década de 1930 e início dos anos 1940; muito jovens ainda, irão, no
entanto, realizar suas pesquisas, publicadas somente ao longo das décadas de 1940
e 1950. É compreensível que, nessas circunstâncias, os recursos científicos para o
estudo e entendimento dos fatos socioeconômicos no Brasil tenham se tornado
não apenas relevantes, mas indispensáveis, apresentando-se já em meados dos
anos 1940 possibilidades para a publicação de livros sobre o assunto.
Na fase seguinte, o conjunto dos textos em foco cresceu de 53 para 92, permanecendo a posição de liderança com a economia política e a sociologia. O rápido crescimento industrial, que levou às mudanças socioeconômicas entre 1956
e 1966, criou condições ainda mais propícias do que as da década anterior para a
divulgação de perspectivas de trabalho daquelas duas disciplinas.
A economia política e a sociologia, apresentando um aumento na produção de estudos de caráter teórico-metodológico, respondiam a uma demanda
específica resultante de mudanças socioeconômicas que se operavam tanto na
primeira, quanto na segunda fase. Embora a quantidade ainda seja moderada
nas publicações sobre aqueles assuntos, as demais disciplinas aqui examinadas
não apresentaram a mesma expansão e não demonstraram uma correspondência tão nítida entre os estudos efetuados e as circunstâncias socioeconômicas específicas daquela época.
As modificações ocorridas na vida política decorrentes da reinstalação
do sistema democrático de governo em 1945 não despertaram interesse da
ciência política no conjunto dos estudos teórico-metodológicos. Embora a
quantidade desses trabalhos tenha se elevado um pouco a partir de meados
dos anos 1950, sua temática permaneceu voltada para aspectos do pensa190
FBN_RG_vocacao_04.indd 190
5/3/2009 09:57:30
A vocação das ciências sociais
mento político clássico. Ao longo dos vinte anos focalizados, nenhuma obra
constante da amostra abordou, à luz das mudanças que ocorriam, o problema
das fronteiras da ciência política, de um lado com a ciência do direito, de
outro lado com a história política, área que se ocupava tradicionalmente com
o estudo dos fatos políticos do país, a partir de perspectivas de análise bem
delimitadas.
No campo da história do Brasil, porém, houve certo interesse em questionar as concepções, teorias e métodos característicos da produção historiográfica brasileira em ambos os períodos aqui abordados. Seu número, entretanto,
foi muito restrito e permaneceu inalterado de uma fase para outra.
Em ambas as décadas, poucas obras foram publicadas na área da antropologia sobre questões teórico-metodológicas. O número desses textos não se
alterou de um período para o outro. A par disso, não se observa, entre eles,
uma orientação clara dos especialistas no tocante a uma revisão de seus instrumentos de pesquisa naquele contexto de mudanças históricas e sociais.
Também escassos no campo da geografia humana, os estudos indicam,
contudo, que os geógrafos se interessaram pelo desenvolvimento de enfoques
que contemplassem principalmente os aspectos socioeconômicos dos fatos
abordados pela sua disciplina. As obras sobre as questões teórico-metodológicas elaboradas pelos demógrafos também são limitadas em números em
ambas as fases, mas sugerem interesse pela discussão de problemas analíticos
específicos daquele ramo do saber.
Observa-se assim que o efeito das circunstâncias histórico-sociais do período que vai de 1945 a 1966 variou de acordo com cada uma das disciplinas
abordadas, sobressaindo a relação entre as mudanças socioeconômicas e a elaboração e publicação destacada das obras em economia política e em sociologia naquelas duas décadas, bem como o seu crescimento a partir de meados
dos anos 1950. Pode-se dizer que o conjunto da produção das ciências sociais,
voltado para problemas teórico-metodológicos, ficou marcado pela difusão
dos instrumentais dessas duas disciplinas. Valeria indagar, se ao lado das circunstâncias históricas, a divulgação daqueles instrumentos de análise levou
ao crescimento de pesquisas no campo da sociologia e da economia política,
motivando também perspectivas novas de trabalho em outras áreas.
3.2 Os estudos sobre a sociedade brasileira
A seguir, observa-se a produção de estudos sobre a sociedade brasileira
nas duas décadas entre 1945 e 1966, ressaltando: primeiro, as mudanças ha191
FBN_RG_vocacao_04.indd 191
5/3/2009 09:57:30
Glaucia Villas Bôas
vidas nas pesquisas e sua relação com o crescimento das obras; segundo, a
persistência no cultivo de enfoques e temas, e seus efeitos sobre a difusão das
pesquisas em livro.
3.2.1A abordagem de novos problemas e o crescimento de obras
Nessa vertente de pesquisas distinguem-se dois conjuntos: o primeiro
apresenta os estudos cujas modificações corresponderam a um crescimento
do número de obras; o segundo mostra as pesquisas que não aumentaram
em quantidade, muito embora tenham tido alteradas as suas perspectivas de
trabalho nos anos em foco.
3.2.1.1 Os temas de maior divulgação em livro
a.
Política econômica e desenvolvimento
O desenvolvimento da economia nacional constituiu o alvo principal dos
trabalhos sobre a sociedade brasileira efetuados sob o enfoque da economia
política no decorrer dos anos de 1945 a 1966. O crescimento notável dessas
obras a partir de meados dos anos 1950, muito provavelmente, assinalou uma
etapa significativa da evolução daquela disciplina no Brasil, no que respeita à
produção e divulgação de seu conhecimento.
Ao apreciar os temas abordados pelos economistas com o propósito de
elucidar aquela questão, observa-se que entre os múltiplos aspectos da realidade que se transformavam naquela época os especialistas se interessaram
particularmente pelas relações entre o desenvolvimento e política econômica.
Na primeira fase do período abordado, entre 1945 e 1955, a relação entre
o desenvolvimento e a política econômica figurou com certa importância no
conjunto dos estudos da economia política. O “comprometimento” da disciplina já se esboçava em livros que contemplavam, de modo relativamente
equilibrado, assuntos como política e expansão econômica, conjunturas econômicas, planejamento, Estado e ordem econômica. Contudo, a análise das
condições econômicas do passado sobressaía entre os estudos, que se voltavam, também, embora em menor escala, para aspectos do comércio exterior,
da indústria, da agricultura (quadro XIII, cap. 2). Os temas escolhidos eram
apreciados ora do ponto de vista histórico, ora do ponto de vista das medidas
governamentais, porém o objetivo principal dos economistas era elucidar os
fatos no seu presente.
192
FBN_RG_vocacao_04.indd 192
5/3/2009 09:57:31
A vocação das ciências sociais
Na década seguinte, o aumento expressivo do número de livros se fez
acompanhar de uma visível concentração das pesquisas sobre desenvolvimento e política econômica. Basta lembrar que esses estudos passaram a perfazer
mais da metade das publicações, devido em grande parte ao intenso cultivo de
estudos sobre política e expansão econômica, que se elevaram de 4 para 28. Tornando-se o assunto de maior interesse dos economistas e do público leitor, os
demais aspectos daquela questão, focalizados no decênio anterior, mereceram
menor destaque. Assim, também os estudos sobre os demais temas apresentaram um crescimento comparativamente irrelevante. De uma década para
outra, não há novos temas no campo da economia política, caracterizando-se
seu crescimento, portanto, pela convergência notória dos estudos para o exame das ações e medidas políticas concernentes à expansão econômica.
Como foi assinalado anteriormente, o crescimento industrial, resultando
de planos e medidas governamentais, tornara-se o núcleo dinâmico das transformações socioeconômicas que repercutiram nos mais diversos setores da
sociedade brasileira. Não surpreende, pois, que acontecimento de tamanha
importância para a vida social do país tenha provocado efeitos sobre a produção da economia política. Porém, chama a atenção a ênfase dada pelos
economistas à atuação governamental em detrimento de outros aspectos da
industrialização, como a distribuição da renda, por exemplo. Na realidade, à
medida que a intervenção governamental se estabelecia e suas conseqüências
se tornavam visíveis, os estudos da economia política foram utilizados cada
vez mais para a formulação de políticas e planos econômicos, assim como
para a avaliação crítica do resultado dessas medidas. Adquirindo uma feição
essencialmente pragmática, a importância da disciplina crescia juntamente
com o mercado para suas obras. Seu saber específico foi visto então como um
instrumento indispensável para o desenvolvimento econômico do país.
Em Perspectivas da economia brasileira, Celso Furtado afirmava que era preciso
analisar as principais tendências da economia brasileira, projetá-las e buscar
conhecer fatores que impediam um ritmo adequado de desenvolvimento. Para
o autor, a finalidade do conhecimento de um “modelo” espontâneo da economia era traçar uma política de controle dos elementos que retardavam o
desenvolvimento:
... desse esboço de “modelo” de crescimento espontâneo partiremos paradeterminar os elementos de uma política sistemática
de desenvolvimento. Política de tal natureza toma corpo num pro193
FBN_RG_vocacao_04.indd 193
5/3/2009 09:57:31
Glaucia Villas Bôas
grama e pressupõe um conhecimento pormenorizado do sistema
econômico (...), a identificação clara das tendências, a definição de
objetivos claros a alcançar nos setores estratégicos da produção,
a mobilização de meios adequados de defesa contra os desequilíbrios internos ou externos demasiadamente acentuados, a capacidade política e administrativa para alcançar ao mesmo tempo todos
estes objetivos.13
O comentário deixa pouca dúvida quanto aos fins políticos e pragmáticos
da disciplina àquela época. Distinguindo-se por essa característica, a produção
da economia política não só focalizou a ação governamental com vistas ao
desenvolvimento econômico, como serviu de base para ela. A análise desses
estudos mostra assim seus estreitos vínculos com as circunstâncias específicas, que levaram à implantação do capitalismo industrial no Brasil.
b. Desigualdades socioeconômicas e mudanças sociais, temas
preferênciais da sociologia
As mudanças ocorridas entre 1945 e 1966 trouxeram à tona problemas da
sociedade brasileira, as diferenças socioeconômicas de seus estratos e as características das relações travadas entre eles, suas crenças e expectativas, movimentos
e conflitos. A sociologia examinou aspectos da realidade brasileira que emergiam
com aquelas transformações, registrando e analisando em suas obras as peculiaridades do advento da sociedade industrial capitalista no Brasil.
Duas questões se impuseram aos sociólogos na primeira década do período aqui examinado. A primeira delas dizia respeito às características do
meio rural brasileiro e foi então a mais estudada. Em um contexto no qual
as mudanças começavam paulatinamente a modificar a feição do meio rural,
onde habitava a maioria da população brasileira e dos indivíduos economicamente ativos, os sociólogos focalizaram em suas pesquisas, principalmente,
os aspectos “novos” e “tradicionais” das condições e relações de trabalho
no campo, e, em menor quantidade, as peculiaridades de sua vida política. O
peso do meio rural nos setores político, social e econômico do país naquela
época explica a escolha dos estudiosos. Tanto mais, que o meio urbano viera
se modificando anteriormente ao período aqui estudado, e acentuava-se um
13 Cf. FURTADO, Celso. Perspectivas da economia brasileira. Rio de Janeiro: ISEB, 1958. p. 9-10.
194
FBN_RG_vocacao_04.indd 194
5/3/2009 09:57:31
A vocação das ciências sociais
descompasso entre as grandes cidades modernas e um meio rural que não
parecia seguir essas modificações.
Outro problema que motivou a pesquisa sociológica nessa primeira fase
se inscreve nos textos que averiguaram, no passado e no presente, a inserção dos negros em um sistema de trabalho livre. Questionando o passado
escravocrata e as relações raciais no Brasil, esses estudos atingiam grande
parte da população constituída por negros, justamente numa fase em que a
industrialização começara a acenar com novas oportunidades de emprego e
melhoria da posição dos indivíduos na escala socioeconômica. Num outro
enfoque, as chances de elevação do padrão de vida foram avaliadas com base
na trajetória dos migrantes na direção do Sudeste e das cidades, assunto cuja
escolha se vincula à intensificação dos fluxos migratórios em 1945. Em que
pesem as diferenças específicas dos grupos sociais submetidos à análise pelos
sociólogos, o problema característico dessas pesquisas permanecia o mesmo:
constituía uma indagação sobre as oportunidades efetivas de melhoria de vida
da população.
Observando os temas e questões dessa primeira fase, percebe-se o interesse da sociologia em examinar características de uma sociedade de base
agrária, que começava lentamente a se modificar. Em 1954, Alberto Guerreiro
Ramos14 reclamava da falta de estudos sobre a industrialização do ponto de
vista sociológico. Realmente, a análise efetuada leva a concordar que o assunto
não fora alvo de estudos específicos até aquela data. Contudo, indaga-se aqui
se os efeitos das mudanças nas atividades produtivas, que pouco a pouco se
faziam notar, não teriam influído desde aquela época na importância que, em
suas pesquisas, os sociólogos atribuíram às especificidades do trabalho que
lhes servia de fundamento para apontar as diferenças socioeconômicas dos
indivíduos e grupos, assim como para compará-las com aquelas existentes no
passado.
Essa problemática, aliás, aparece de modo bem mais claro nos textos da
década seguinte, fase em que a disciplina abordou novos assuntos, ampliando
seu quadro temático. Os estudos se nortearam para as mudanças sociais, cujo
número se elevou surpreendentemente de um para vinte. Pesquisas sobre o
processo de industrialização e urbanização no contexto brasileiro aparecem
somente a partir de 1956, o mesmo ocorrendo com as investigações sobre o
meio urbano, voltadas, sobretudo, para a formação e características do ope14 RAMOS, Alberto Guerreiro. Cartilha de aprendiz de sociólogo: por uma sociologia nacional. Rio de
Janeiro: Estúdio de Artes Gráficas C. Mendes Júnior, 1954.
195
FBN_RG_vocacao_04.indd 195
5/3/2009 09:57:31
Glaucia Villas Bôas
rariado brasileiro. Tratava-se de problemas que vinham se formando desde
antes do período estudado, amadureceram ao longo do tempo e puderam
então despertar a curiosidade dos pesquisadores.15
A vitalidade da disciplina evidencia-se na abordagem desses novos assuntos, bem como na intensificação e renovação dos temas que foram dominantes na primeira fase. O desenvolvimento da pesquisa sobre o meio rural se
evidenciou no aprofundamento das pesquisas sobre as condições e relações
de trabalho, e também no aparecimento de investigações sobre movimentos e
conflitos religiosos. Igual estímulo para o estudo de novos assuntos em áreas
que já vinham sendo objeto de atenção é percebido nas publicações sobre a
mobilidade social de imigrantes de diferentes nacionalidades.
Não resta dúvida de que as modificações ocorridas no setor industrial
entre 1956 e 1964, afetando a vida das coletividades que habitavam os meios
rural e urbano, realçaram suas diferentes condições de vida, hábitos, costumes
e expectativas. As possibilidades de “sucesso” nas cidades, onde oportunidades de instrução e emprego contrastavam então com as precárias condições
de existência no campo, intensificavam as migrações para a cidade. Nessas
circunstâncias, foi sob o prisma das mudanças sociais em curso que a sociologia expandiu o acervo dos conhecimentos sobre o meio rural e ofereceu a um
público interessado em pesquisas sobre o meio urbano.
A experiência social vivenciada pelos sociólogos se expressou em sua produção intelectual, tanto na escolha quanto no enfoque dos assuntos tratados.
À medida que o crescimento industrial provocava uma diferenciação cada vez
maior das funções e atividades produtivas entre campo e cidade, salientando
as posições socioeconômicas de indivíduos e grupos, ressaltava, também, suas
diferenças no passado e no presente. Comparando os fatos entre passado e
presente, a sociologia questionou as desigualdades socioeconômicas da população brasileira numa perspectiva que enfatizava o exame das descontinuidades sociais possíveis através do tempo.
c.
As instituições políticas em foco
A produção da ciência política, no período estudado, se distingue pela
abordagem de fatos que atingiam a opinião do grande público, como eleições,
15 Cf. QUEIROZ, Maria Isaura Pereira de. Cultura, sociedade rural, sociedade urbana no Brasil. Rio de
Janeiro: Livros Técnicos e Científicos; São Paulo: EDUSP, 1978.
196
FBN_RG_vocacao_04.indd 196
5/3/2009 09:57:31
A vocação das ciências sociais
discussão de formas de governo presidencialista e parlamentarista etc. Essa
característica muito possivelmente concorreu para que seu crescimento em
livros fosse dos mais destacados, entre as diversas disciplinas, muito embora
no conjunto da produção das ciências sociais não tenha sido tão notável. A
quantidade de obras encontradas triplica de uma década para outra.
No decênio de 1945 a 1955, a restauração do regime democrático repercutiu
naquele ramo do saber, levando seus especialistas a questionar o “processo de
escolha dos governantes” em obras sobre eleições e partidos políticos. Após 15
anos de governo autoritário, tratava-se certamente de assunto de grande interesse. A possibilidade de participação no processo democrático gerava expectativas, motivando grupos de diferentes matizes políticos a calcular suas chances
de permanecer ou alcançar maior poder dentro das novas circunstâncias. Outro
tema de relevância abordado pelos especialistas, relacionava-se com as leis constitucionais promulgadas em 1946, e dizia respeito às características jurídicas e
sociais das instituições políticas brasileiras. A atualidade da disciplina nesta fase
mostrou-se ainda nos estudos sobre diplomacia e política externa, elaborados e
publicados quando o país se inseria em uma nova ordem internacional ao término da Segunda Guerra Mundial. Esses foram os temas da primeira década.
O paralelismo desses estudos com os fatos se mostra ainda mais nas obras publicadas a partir de meados dos anos 1950, em que a ciência política continuou dando prioridade à análise das instituições políticas nacionais. Entretanto, o exame do
“processo de escolha dos governantes” não se destacou tanto; a atenção se voltou
para o estudo de formas de governo parlamentarista e presidencialista. Os debates
provocados pela renúncia do presidente Jânio Quadros, em 1961, que resultou no
Ato Institucional à Carta de 1946, instaurando o sistema parlamentarista de governo, liga-se a tais publicações. A par disso, as investigações sobre a diplomacia brasileira e a política externa cresciam também; o país dava então os primeiros passos no
sentido da distensão da “guerra fria” e o governo brasileiro se aproximava do “bloco
comunista”. Esta circunstância dava lugar a discussões sobre as possibilidades de
uma política externa independente, o que é registrado nos livros.
Esse mesmo interesse pelos fatos políticos na sua atualidade levou os estudiosos a focalizar o problema das “ideologias políticas” a partir de meados
de 1950. A propagação do ideal nacionalista se associava às iniciativas voltadas
para o desenvolvimento econômico, e a quantidade de livros sobre esse assunto quintuplicou, embora sua quantidade não fosse das mais importantes no
conjunto das publicações. Aumentaram também, embora em menor escala, as
pesquisas sobre a formação social e econômica do poder político.
197
FBN_RG_vocacao_04.indd 197
5/3/2009 09:57:32
Glaucia Villas Bôas
A produção da ciência política cresceu, portanto, e se diversificou a partir de
meados dos anos 1950, voltando-se para os fatos políticos de maior importância naquele período. Houve uma ligação imediata entre as ocorrências políticas
e o crescimento do número de obras com elas relacionadas. No entanto, dominavam os estudos sobre a atuação da classe política dirigente e sobre a funcionalidade das instituições. Procuravam os pesquisadores conhecê-los na sua
atualidade, relacionando-os com as condições sociais e econômicas, numa compreensão dos fatos que associava a ciência política à economia e à sociologia.
Essa característica da abordagem dos fatos políticos ocorria quando a ação
dos governantes e a atuação dos órgãos burocráticos do Estado tornavam-se
cada vez mais intensas e decisivas na condução dos meios institucionais voltados para o desenvolvimento. Quando, em meados dos anos 1950, as transformações no setor industrial se aceleraram graças à intervenção dos dirigentes políticos, as relações entre a ação política e as atividades econômicas se tornaram
muito mais evidentes. Seu entrelaçamento cada vez maior, muito possivelmente,
motivou a ampliação da abordagem dos fatos políticos naquela época; eles deixaram de ser encarados isoladamente, ou apenas em seus aspectos jurídicos, e
foram sendo relacionados com a ordem social e econômica vigente.
Porém, se coube à ciência política reatualizar o enfoque dado aos fatos
políticos, inserindo-os em seu contexto sociopolítico, os trabalhos se voltaram preferencialmente para o conhecimento da atuação e do papel da classe
política dirigente, como se somente esta atuação fosse digna de atenção. Convém lembrar que outros fatos como a importância crescente das cidades na
vida política nacional, a participação de novos grupos e camadas sociais nas
atividades políticas, a organização de associações e sindicatos e a reivindicação
pela ampliação das camadas populares no processo democrático compunham
uma face das mudanças em curso nessa época. Contudo, a julgar pelos dados
dessa pesquisa, os temas não foram objeto de preferência dos especialistas.
3.2.1.2
Os temas de menor divulgação em livro
a. Os fatores socioeconômicos e a modificação da paisagem
brasileira
A configuração temática da geografia humana indica que de 1945 a 1966
o interesse primordial da disciplina foi investigar as modificações da paisagem
brasileira, o que deu lugar a um conjunto restrito de livros, menor do que o
198
FBN_RG_vocacao_04.indd 198
5/3/2009 09:57:32
A vocação das ciências sociais
da maioria das disciplinas aqui abordadas como já se viu. Aventou-se anteriormente a hipótese de que os altos custos de edição desses estudos, com
muitos mapas e gráficos, poderiam ter influído na menor publicação de obras
dessa área. Contudo, caberia investigar em estudos mais específicos se foram
esses os motivos que influenciaram a produção da disciplina naquela época,
ou se não teria sido ela causada por pequena quantidade de pesquisadores
trabalhando.
Na temática dos estudos geográficos entre 1945 e 1955 sobressai a importância conferida às características das regiões brasileiras, principalmente o
Nordeste e o Sudeste do país. As pesquisas focalizando traços específicos do
povoamento e das atividades agrícolas e industriais superaram em número,
nessa primeira fase, aquelas que se voltavam para as condições socioeconômicas gerais. No entanto, qualquer que fosse a direção tomada na investigação
dos problemas regionais, pode-se dizer que os geógrafos lançaram seu olhar
para as mudanças que começavam a surgir nos setores socioeconômicos, porém se mantiveram ainda ligados à feição descritiva da disciplina, que prevalecera em períodos anteriores àquele aqui focalizado.
É sugestivo que na década seguinte os estudiosos tenham sublinhado a
ação dos fatores socioeconômicos sobre o meio físico, demonstrando com
isso as influências que as transformações aceleradas exerceram sobre sua produção intelectual. A mudança na prioridade dada a esses fatores, se torna
evidente quando observamos que o maior número de publicações tratou de
problemas do meio rural brasileiro, havendo em contrapartida uma diminuição sensível das pesquisas sobre a questão regional. Os geógrafos buscaram
avaliar os efeitos da industrialização sobre o meio rural, orientação que, sem
dúvida, revela uma alteração na abordagem dos fatos pela disciplina. Além
disso, essas pesquisas sobressaíram no conjunto das ciências sociais, pois,
excetuando-se as pesquisas sociológicas, poucos textos em outras disciplinas
focalizaram as profundas conseqüências das migrações e da industrialização
sobre o meio rural brasileiro naqueles anos. Diversificando o enfoque de seus
estudos, a geografia humana se voltou também para novo assunto, apresentando trabalhos sobre o meio urbano. Em que pesem as dificuldades para
transmitir seus conhecimentos através dos livros naqueles anos, é inegável que
a disciplina apresentou um dinamismo capaz de modificar sua abordagem dos
fatos, iniciando o estudo de novos temas.
A produção da geografia humana examinou, portanto, as modificações
que ocorriam na paisagem brasileira, averiguando a ação dos fatores socioe199
FBN_RG_vocacao_04.indd 199
5/3/2009 09:57:32
Glaucia Villas Bôas
conômicos sobre ela. Desse modo, contribuiu para formar uma nova vertente
das ciências sociais, que parecia responder assim a demandas de conhecimentos específicos que eram simultâneas às transformações características do período que vai de 1945 a 1966.
b.
A população e as transformações socioeconômicas
O crescimento da população brasileira, as migrações internas, o notável
aumento dos contingentes urbanos aparecem nos estudos efetuados no campo da demografia nos anos de 1945 a 1966. Os obstáculos inerentes à constituição desse ramo do saber, muitas vezes considerado mero “auxiliar” de
outros trabalhos em ciências sociais, podem ter diminuído a difusão de seus
conhecimentos, mas não impediram que a disciplina diversificasse sua produção em livros no período estudado.
Na primeira das duas fases, as investigações examinaram as condições
de existência de populações brasileiras, relacionando-as com o problema da
mortalidade. Foi este o assunto de maior destaque, embora nos livros sejam
encontrados também estudos que analisam as influências de fatores socioeconômicos no crescimento e distribuição dos contingentes populacionais.
Uma única pesquisa dessa fase chama a atenção para o padrão de vida no
meio rural.
As obras que vieram a público a partir de meados dos anos 1950 mostram
que foi tomada outra direção, pois da amostra analisada não constam mais
estudos sobre a mortalidade. Elevou-se o número de trabalhos sobre as condições socioeconômicas da população, ampliando-se o leque dos assuntos relativos ao crescimento e distribuição da população, tratados na primeira fase.
Textos sobre o meio rural foram publicados também.
Note-se que a elaboração e publicação desses estudos correspondem a
uma fase em que a industrialização em ritmo acelerado influiu no crescimento, na distribuição e no padrão de vida da população brasileira. A migração
rural-urbana se expandiu concomitante com a abertura do leque das ocupações citadinas. Nos anos 1960, o contingente da população urbana superou
o da população rural, alterando profundamente o perfil demográfico do país.
Apreciando as pesquisas demográficas, observa-se que seu quadro temático se
modificou em estreita relação com as mudanças ocorridas nessa fase.
A análise da produção da demografia, entre 1945 e 1966, sugere, portanto,
que as pesquisas efetuadas registraram e analisaram fatos de importância para
200
FBN_RG_vocacao_04.indd 200
5/3/2009 09:57:32
A vocação das ciências sociais
a compreensão dos efeitos das transformações sociais e econômicas sobre a
população brasileira naquela época.
3.2.2 A persistência na adoção de enfoque e cultivo de temas
Durante os anos de 1945 a 1966, quantidade considerável de estudos, cujo
peso no conjunto da produção das ciências sociais se faz notar tanto na primeira,
quanto na segunda fase daquele período, não apresentou modificações que alterassem efetivamente sua perspectiva dominante de trabalho e cultivo prioritário
de certos temas.
3.2.2.1 O exame dos fatos políticos do passado
A história do Brasil, com diferentes orientações, foi o campo do saber que
apresentou maior número de livros sobre a sociedade brasileira, atingindo 40,02%
da amostra estudada. As publicações cresceram e a disciplina manteve sua liderança sobre as demais nas duas décadas do período que vai de 1945 a 1966, ainda
que sua contribuição no conjunto da produção das ciências sociais tenha sido um
pouco menor a partir de meados dos anos 1950, quando comparada ao aumento
expressivo de pesquisas realizadas em outras áreas.
Os estudos convergiram majoritariamente para a investigação dos fatos políticos do passado, fossem obras de caráter geral, específico ou biográfico. Os livros
que versavam sobre assuntos políticos (235 em 291) mostravam ter um mercado
seguro nas duas décadas em foco. Somente numa escala numericamente bem
menos significativa (56 em 291), a produção historiográfica se voltou para fatos
econômicos, fatos sociais ou aspectos da vida intelectual brasileira.
Observando os assuntos políticos de interesse dos historiadores vimos que de
1945 a 1955 os estudos se repartiam nas três amplas linhas que compunham a história política: a história dos eventos políticos, a história das instituições políticas e a
história das cidades, estados da Federação e regiões. Esses trabalhos tinham como
alvo registrar a história da conquista do território brasileiro. Assim, descreviam e
analisavam a ação dos governantes e a atuação das instituições políticas no processo
de construção e manutenção da unidade política do país. Como já se ressaltou no
segundo capítulo, a orientação que os historiadores davam a seus estudos tinha
como base uma concepção tradicional da história, que via nos eventos e ações políticas fatos “extraordinários” que moviam a história de povos e nações. O enfoque
201
FBN_RG_vocacao_04.indd 201
5/3/2009 09:57:32
Glaucia Villas Bôas
fora utilizado em períodos anteriores ao aqui abordado e se manteve nesta primeira
fase, correspondente aos anos de 1945 a 1955. É interessante ver também que no
leque dos temas focalizados, nenhum deles demonstra, particularmente, a curiosidade dos especialistas em perscrutar no passado as origens ou características de
acontecimentos políticos que distinguiam aquele período – da amostra estudada
não consta estudo que aborde, por exemplo, o regime democrático que vigorara na
Primeira República. Naqueles anos, não houve, portanto, interesse dos trabalhadores em reavaliar fosse o enfoque, fosse a temática de sua preferência.
Esse distanciamento dos historiadores em relação aos acontecimentos e mudanças em curso aparece com maior clareza ainda na década seguinte. A partir de
meados dos anos 1950, a produção da história política em livro cresceu, embora
não muito. O crescimento mais significativo se observa no campo da história
dos eventos, em que aparecem mais livros do que na década anterior sobre os
conflitos relativos à quebra e manutenção da unidade política na República, sobressaindo, entre eles, os estudos sobre a Campanha de Canudos. As obras sobre
a Independência também aumentaram um pouco. Poder-se-ia dizer que as crises
políticas e os ideais nacionalistas que marcaram a pauta de debates políticos a
partir de meados dos anos 1950 tenham incentivado a elaboração de alguns desses trabalhos. Na maioria das obras da história política, porém, não se percebe
no crescimento das obras uma renovação efetiva da perspectiva de trabalho que
prevalecera na primeira década.
Na realidade, no campo da história do Brasil, somente nas áreas da história
econômica, história social e história das idéias, verificam-se mudanças temáticas que
se associam às condições histórico-sociais específicas do período de 1945 a 1966.
Entre elas, a história econômica foi privilegiada, ampliando seus estudos da primeira
para a segunda fase. A crescente demanda pelo conhecimento dos fatos econômicos se fez sentir principalmente no notável aumento dos textos sobre a formação
econômica do país, cujas publicações se elevam de uma para dez. A relevância desse
tema em detrimento daqueles que focalizavam apenas um setor das atividades produtivas no passado, a exemplo do açúcar e do café, deixa evidente que o desenvolvimento do capitalismo industrial, a partir de meados dos anos 1950, criava não só
uma demanda de saber específico sobre os fatos socioeconômicos, como motivava
especialmente estudos interpretativos de caráter geral que indicassem as características mais profundas do processo de mudanças da economia brasileira.
O interesse pelo exame dos fatos no seu passado e no seu presente, com vistas
a averiguar as continuidades e descontinuidades existentes entre eles, é percebido
também no campo da história social, embora em menor escala. O número de
202
FBN_RG_vocacao_04.indd 202
5/3/2009 09:57:33
A vocação das ciências sociais
obras não se eleva muito, porém sua configuração temática muda expressivamente, deixando os historiadores de abordar episódios da vida de grupos sociais e
passando a investigar a formação histórica da sociedade brasileira com suas classes e estratos sociais.
Ao lado disso, é sugestivo que a partir de meados dos anos 1950 as pesquisas
na área da história das idéias tenham crescido em número, além de apresentar
novos temas. A maior divulgação das idéias através da imprensa periódica e dos
livros conjugava-se a um clima de debates sobre o país, que naquela fase punha
em relevo o papel da camada intelectual brasileira. Muito provavelmente, estas
circunstâncias estimularam os historiadores a averiguar as características e a evolução das idéias elaboradas no passado.
Com relação à história do Brasil, é a partir de meados dos anos 1950, com as
mudanças socioeconômicas em curso, que se observa um aumento do número de
obras, bem como um desenvolvimento da pesquisa nas áreas que investigavam as
atividades econômicas, sociais e intelectuais do passado da sociedade brasileira.
Em que pesem as modificações que se fazem notar na produção da história do
Brasil em livro, nessa segunda fase, as linhas de estudo próprias da disciplina que
possibilitavam abordar diferentes aspectos da realidade social, não foram contempladas de modo equilibrado. Os historiadores privilegiaram no estudo dos
fatos políticos um enfoque que destacava a continuidade dos meios de dominação
política ao longo do tempo. Desse modo, em um contexto socioeconômico de
mudanças, fizeram figurar na sua produção um conjunto expressivo de textos que
enfatizava a permanência e a continuidade das ações dos governantes, e também
da atuação das instituições políticas, considerando-as o móvel principal da construção do país. É muito interessante verificar que, enquanto se processavam grandes modificações socioeconômicas no país, era observado um aumento de obras
sobre história do Brasil, de um modo geral; mas as características dos enfoques
dos historiadores não parecem diretamente afetadas pelas mudanças do mundo
em que viviam. Pelo contrário, há como que um “distanciamento” de tais mudanças, que se inscreve no interesse predominante por temas ligados ao continuísmo
social e à manutenção das estruturas de poder existentes.
3.2.2.2 As características dos estudos sobre as questões étnico-
culturais
As peculiaridades étnicas e culturais do país chamaram, muito cedo, a
atenção dos pesquisadores brasileiros. Sendo tão notáveis e complexas, es203
FBN_RG_vocacao_04.indd 203
5/3/2009 09:57:33
Glaucia Villas Bôas
sas características levaram à ênfase da questão da “identidade brasileira”. Elas
adquiriram enorme relevância, sendo vistas, no entanto, ora como obstáculo
ao processo do país, ora como elemento constitutivo essencial de sua identidade, dependendo as opiniões das circunstâncias histórico-sociais da época. O
conjunto de estudos sobre fatos e questões étnico-culturais, descritos anteriormente, não deixa dúvidas quanto à continuidade daquelas questões, que decerto
permaneciam também no horizonte de expectativas do público leitor. A maior
parte das obras concentrou-se em trabalhos sobre as tradições populares e sobre
os diferentes grupos étnico-culturais, focalizando estes últimos, principalmente,
os indígenas e em menor escala os grupos negros e imigrantes.
A dificuldade em ampliar o alcance dos estudos sobre os fatos culturais
se faz notar, mais claramente, no crescente número de pesquisas sobre as
tradições populares, que se elevam de 21 para 27 de uma década para outra.
Aparentemente, tanto na primeira quanto na segunda fase, esses trabalhos
foram incentivados pelo movimento a favor do registro e documentação do
folclore brasileiro, que, como já foi visto, levou a reuniões como o I Congresso Nacional do Folclore, em 1951, e à Campanha de Defesa do Folclore, em
1958. Acreditava-se então que a cultura popular era a “fonte da brasilidade”.16
A partir dos anos 1960, ampliou-se muito a discussão sobre assunto com a
criação dos Centros Populares de Cultura, que propunham a utilização das
manifestações culturais das camadas populares como meio de conscientizar
politicamente aqueles grupos, a fim de que pudessem lutar por melhores condições de vida. É interessante observar que na segunda fase aqui abordada,
muito embora o tema da cultura popular sobressaísse cada vez mais nas discussões da camada intelectual, acentuando-se seu valor político, nenhuma das
pesquisas em foco apresenta traço indicando interesse em estudar aquelas
manifestações sob o prisma de seu valor político; como na primeira fase, as
pesquisas se orientaram primordialmente pela investigação das origens das
tradições populares.
Outra observação, diz respeito ao habitual privilégio conferido aos estudos
sobre as populações indígenas, ao contrário do que acontecia com os estudos
sobre as populações negras no Brasil. Ainda que o número de pesquisas sobre
os grupos indígenas tenha diminuído a partir de 1955, de 22 para 13, data em
16 Cf. CARNEIRO, Edison. Evolução dos estudos de folclore no Brasil. Revista Brasileira de
Folclore, Rio de Janeiro, 1962.
204
FBN_RG_vocacao_04.indd 204
5/3/2009 09:57:33
A vocação das ciências sociais
que também começam a apresentar sinais de renovação voltando-se para a
questão da integração daquelas populações na sociedade nacional, continuaram tendo uma importância notável no conjunto dos livros. O mesmo não
ocorreu no tocante aos estudos sobre os negros, escassos tanto na primeira
quanto na segunda das fases abordadas, assim como em todo o leque da produção das ciências sociais, aqui analisado, muito embora a população negra
enfrentasse conflitos e tensões de caráter racista, denunciados em associações,
reuniões e congressos já anteriormente aos anos pesquisados. Não faltaram
considerações críticas a respeito desse assunto. Assim, em 1954, reavaliando
as pesquisas sobre o negro no Brasil, Guerreiro Ramos dizia que
O negro tem sido estudado entre nós como palha ou múmia. A quase totalidade dos estudos sobre o tema implica a idéia de que a Abolição tenha sido uma
resolução definitiva do problema das massas de cor. Depois daquele cometimento
espetacular nada haveria que fazer senão estudar o negro do ponto de vista estático. E assim os especialistas entraram na pista dos trabalhos de reconstrução
histórica, do folclore, e de certa Antropologia descritiva por excelência.17
O conhecimento da experiência vivida pelos negros no Brasil atraiu muito
pouco, naquela época, a camada intelectual, e Guerreiro Ramos tinha razão na
sua observação. O número notadamente restrito desses estudos, justamente
na vertente do saber que trata dos problemas de ordem étnica e cultural, imprime uma dimensão ainda mais significativa a tal lacuna. Caberia aprofundar
o exame dos motivos que levaram a este visível desinteresse no país.
Dentro dos limites de um quadro histórico voltado para o desenvolvimento socioeconômico, o número de estudos sobre as questões étnicas e culturais
permaneceu inalterado de uma década para outra nos anos entre 1945 e 1966.
O contato com uma herança tão relevante não levou os pesquisadores à reavaliação daquele acervo sob o impacto da força transformadora das situações
novas. Os estudos continuaram sendo realizados e divulgados em livro, como
se fizessem parte de uma herança cultural que se transmite de geração para
geração sem grandes alterações. A continuidade parece assim ter sido a marca
característica dessa vertente das ciências sociais. O interesse pela historiografia dos primeiros tempos da sociedade brasileira como um meio para a compreensão de seu caráter peculiar continuou atraindo pesquisadores e leitores
das ciências sociais.
17 RAMOS, Alberto Guerreiro. Op. cit. p. 165.
205
FBN_RG_vocacao_04.indd 205
5/3/2009 09:57:33
Glaucia Villas Bôas
Em larga medida, os estudos dessa vertente se voltaram, pois, para o passado, à procura das origens étnico-culturais da sociedade brasileira, através do
registro dos modos de vida e das crenças dos “antepassados” e da permanência de traços culturais ao longo do tempo. Aparentemente, mantinham uma
abordagem comum aos estudos antropológicos que vigoraram, sobretudo, do
final do século XIX até os anos vinte nos países anglo-saxões, e que registravam
a memória das culturas indígenas “não modificadas” (unmodified), como se
não houvesse nenhum contato dos grupos estudados com a cultura européia.18
Todavia, no Brasil, o registro minucioso da memória dos diferentes grupos étnico-culturais adquiriu uma dimensão específica. Os pesquisadores brasileiros
faziam suas investigações dentro de seu próprio país e o relato resultava de um
acervo sobre grupos humanos que não tinham sofrido o impacto da cultura européia. Desses estudos dependia, justamente, a compreensão de uma formação
cultural que, à influência predominante de elementos da cultura européia, não se
enquadrava nos padrões normativos exclusivamente europeus.
4
Conclusão
O confronto da produção científica com o contexto dos anos de 1945 a
1966 mostra que a dinâmica das mudanças ocorridas, acarretando um processo de diferenciação socioeconômica, política e cultural nas estruturas da
época, se traduzia no campo das ciências sociais, permitindo nele a convivência de diferentes demandas de conhecimento, fossem aquelas que davam
continuidade a problemas há tempos considerados relevantes para a camada
intelectual, fossem as que se voltavam para questões suscitadas pelas circunstâncias peculiares daqueles anos.
A análise minuciosa das características dos textos de caráter teóricometodológico, assim como dos estudos que se voltaram para problemas
concretos da sociedade brasileira, efetuados nos campos da história do Brasil, economia política, antropologia, sociologia, ciência política, geografia
humana e demografia evidenciou que, naqueles anos, o crescimento ou a
diminuição do número de obras, assim como a persistência e a modificação
na orientação do trabalho de pesquisa, ocorreram de modo desigual, fosse
18 Vf. BEALS, Ralph. Acculturation. In: ANTHROPOLOGY Today, A. L. Kroeber (Org.). 7 ed.
Chicago/London: The University of Chicago Press, 1965. p. 622.
206
FBN_RG_vocacao_04.indd 206
5/3/2009 09:57:33
A vocação das ciências sociais
nos dois amplos conjuntos em que se repartem os trabalhos, fosse no que
respeita à contribuição das diferentes disciplinas para a produção de investigações em cada um deles.
No período de 1945 a 1955, a redemocratização e o aparecimento dos primeiros resultados das iniciativas governamentais voltadas para a industrialização marcaram o cenário histórico e social. A experiência histórica dos anos de
1945 a 1955 não causou grande impacto na produção das ciências sociais. As
pesquisas mais interessadas nos fatos daquela atualidade apresentaram um número bem reduzido, comparadas às obras dos historiadores e dos antropólogos sobre a sociedade brasileira, que se mantiveram, principalmente, voltadas
para a construção da unidade política do país, assim como para a investigação
de suas complexas características étnico-culturais. A concomitância entre a
ocorrência de modificações políticas e econômicas e a permanência de obras
cuja temática principal, ao que parece, vinha sendo examinada regularmente
em períodos anteriores ao aqui abordado, demonstra que a repercussão dessas
modificações sobre o público leitor não foi imediata.
O crescimento do número de livros na década de 1956 a 1966 aconteceu,
em larga medida, com obras sobre a sociedade brasileira que se voltaram para
os fatos da atualidade, a exemplo da economia política, sociologia e ciência
política, cujo aumento foi notável naqueles anos. As pesquisas sobre o país,
nas áreas da geografia humana e da demografia se renovaram, sem, todavia,
aumentarem em quantidade. Paralelamente, observa-se o crescimento das
obras teórico-metodológicas correspondendo a uma diversificação das investigações sobre questões sociais e econômicas. De um modo geral, o crescimento dos livros associava-se às mudanças no rumo das investigações. Dessa
forma, a produção das ciências sociais ampliou o acervo de suas pesquisas e,
o que é mais importante, modificou muito as características apresentadas na
década anterior. As mudanças ocorridas na produção dos diversos estudos
apresentavam um traço comum: o interesse em aprofundar o conhecimento dos
fatos e das relações sociais e econômicas, fosse através da escolha de temas,
fosse por meio da adoção de perspectivas analíticas.
Contudo, naquele contexto de mudanças, as pesquisas na área da história do
Brasil, voltadas para os fatos políticos do passado, e os estudos antropológicos
sobre as origens dos traços étnico-culturais do país mantiveram praticamente
inalterada tanto a quantidade de obras, quanto sua temática e enfoques preferenciais. É bem verdade que nos anos que vão de 1956 a 1966, as pesquisas
207
FBN_RG_vocacao_04.indd 207
5/3/2009 09:57:33
Glaucia Villas Bôas
sobre as atividades econômicas, sobre a formação da sociedade brasileira e sobre aspectos da vida intelectual no passado se diversificaram e cresceram em
número; porém, as modificações não alteraram o peso predominante das obras
características da produção da história do Brasil nas duas décadas analisadas. As
pesquisas antropológicas, por sua vez, mantiveram o enfoque e os temas que
vigoraram na década anterior, como também o número de suas obras. A falta
de renovação desses estudos, ao lado da concorrência com as demais disciplinas
que multiplicaram o número de seus livros, os levou a perder o papel de relevo
que os distinguia na primeira década, embora continuassem sendo os mais apreciados, ao lado dos estudos da economia política e da sociologia.
Este segundo período aqui examinado coincidia com grandes modificações socioculturais do país, além do incremento da industrialização que ampliava enormemente a urbanização e a migração rural-urbana, já iniciadas na
década anterior. Nos anos de 1956 a 1966, os investimentos no setor da difusão cultural foram sensíveis, ampliando-se as atividades ligadas ao rádio, cinema, imprensa periódica etc. O progresso editorial foi notável e a indústria do
livro consolidou-se no país. A expansão deu-se ao mesmo tempo em que se
ampliava o número de universidades e de estudantes, aumentando rapidamente um público jovem, cuja inserção nos cursos superiores era muitas vezes realizada com sacrifícios. O interesse pelos estudos de problemas sociopolíticos
e econômicos é concomitante com a ampliação de uma coletividade estudantil
que estava profundamente envolvida com iniciativas que resultavam não só de
sua atenção para os problemas do presente, mas, principalmente, do futuro.
As disciplinas que podiam satisfazer tal curiosidade foram as mais atingidas
pelo aumento de pesquisas e sua publicação.
Note-se que as possibilidades de expansão da produção científica encontravam-se apoiadas na formação de professores universitários ligados a novas
disciplinas, que tiveram tempo de amadurecer. Fundadas as primeiras universidades na década de 1930, elas acolheram em seus postos, nos anos 1940, jovens por elas formados. Todo o efeito dessa mudança profunda na obtenção
de conhecimentos vai repercutir somente a partir de meados dos anos 1950
na produção livreira. A força transformadora das situações emergentes não
concorreu, contudo, para que fossem reavaliados os enfoques e os temas em
todas as áreas das ciências sociais. Os meados dos anos 1950 delimitam uma
maior diferenciação da produção das ciências sociais, que se caracterizou pela
elaboração de um conjunto de pesquisas voltadas para as questões sociais e
208
FBN_RG_vocacao_04.indd 208
5/3/2009 09:57:34
A vocação das ciências sociais
econômicas. Tais estudos foram os que mais impulsionaram a divulgação em
livro da produção científica a partir daquela data.
A expansão e o desenvolvimento dos estudos ocorreram, portanto, conjuntamente na fase em que, ao lado do notável crescimento do público
letrado e da indústria do livro, setores dos meios culturais e intelectuais
debatiam os problemas das mudanças sociais e econômicas no país, o que
os levava a novas iniciativas e empreendimentos. A crescente difusão das
ciências sociais acompanhou, portanto, a sua renovação, e esteve vinculada a acontecimentos marcantes daquela época, destacando-se a influência
do desenvolvimento das universidades na formação e no crescimento do
número de pesquisadores, assim como a ampliação de um público interessado em problemas da atualidade.
209
FBN_RG_vocacao_04.indd 209
5/3/2009 09:57:34
FBN_RG_vocacao_04.indd 210
5/3/2009 09:57:34
V
Considerações Finais
O objetivo de averiguar as características das ciências sociais no contexto
brasileiro dos anos de 1945 a 1966 nos levou a escolher o livro como objeto
que privilegiaria mais apropriadamente a instância da produção de conhecimento. Retomamos aqui esta proposição básica que norteou a pesquisa a fim
de avaliar o percurso feito.
No início desse trabalho, ressaltou-se que o grande desenvolvimento que
as ciências sociais conheceram no mundo, a partir do século XIX, devia-se ao
fato de terem sido compreendidas como um programa para ampliar a possibilidade de melhorar as condições de vida humana, tanto material quanto
mentalmente, dando-lhe formas de intervir no curso da história. Duas de suas
características observadas como fundamento da configuração das ciências sociais foram a diversidade das disciplinas que encerra – produto da divisão do
trabalho intelectual – e a existência de diferentes pontos de vista de conhecimento e de análise das relações sociais entre os indivíduos e as coletividades.
O exame aqui realizado permite ver mais de perto como a partilha se
opera. Ela não se deu ao acaso no Brasil, nem foi fruto de mentalidades privilegiadas. A expansão diferenciada que as disciplinas sofreram no decorrer dos
anos de 1945 a 1966, cotejada com as modificações que a sociedade nacional
apresentou, mostrou a convergência entre ambas. Isso permite dizer que a
expansão da economia política e da sociologia se relacionava intimamente
com o desenvolvimento social e industrial na primeira década estudada, e com
o avanço sociocultural no segundo período. O aumento dos estudos se tornou
possível devido à ampliação universitária que, num primeiro momento, deu formação sistemática a um maior número de futuros pesquisadores e professores e
numa fase seguinte mostrou, de um lado, sua atuação na difusão das pesquisas
registradas em livros e, de outro, a existência de um público maior para consumir
esses textos, representado pelo crescimento da quantidade de universitários.
211
FBN_RG_vocacao_05.indd 211
5/3/2009 10:00:17
Glaucia Villas Bôas
Essas observações encontram também um reforço quando se analisa novamente a tabela IV do primeiro capítulo: as duas cidades em que a criação
de universidades teve lugar na década de 1930 – São Paulo e Rio de Janeiro
– apresentaram uma quantidade muito maior de obras publicadas do que as
demais capitais estaduais. Além disso, quando é destacada a publicação com
fins lucrativos, a produção em ambas é extraordinária, dominando completamente a publicação sem fins lucrativos (isto é, edição de órgãos do governo
federal, institutos, universidades etc.). A influência do meio universitário para
o incremento da produção de livros parece irrecusável.
Poder-se-ia perguntar: uma vez que a fundação das universidades foi praticamente concomitante no Rio de Janeiro e em São Paulo, sendo que nesta
última cidade foi ela efetuada com alguma precedência e com grande ênfase,
representada pela contratação de grande elenco de professores europeus nas
mais diversas matérias, por que razão o número de publicações no Rio de
Janeiro, tanto com fins lucrativos, quanto sem eles, superou bastante o de São
Paulo – ambos sobrepujando muitíssimo a publicação nas outras capitais? A
condição dessas duas cidades nas décadas estudadas provavelmente explica a
diferença: o Rio de Janeiro era então não apenas a capital do país, mas também
uma cidade cosmopolita e muito intelectualizada, enquanto São Paulo, menor
em vulto, constituía, comparativamente, uma cidade ainda provinciana. Uma
comparação entre a produção de textos em ciências sociais, após a passagem
da capital do Rio para Brasília, confrontando novamente Rio de Janeiro e São
Paulo, pode revelar em que condições a segunda cidade foi adquirindo maior
prestígio intelectual, exemplificado pelo aumento do número de livros.
Afirmou-se também no início do trabalho que as oportunidades de acesso
às publicações são avaliadas pelas condições sociais, econômicas e políticas
existentes. A influência do Rio de Janeiro, demonstrada acima, se encontra
novamente encarecida por essas circunstâncias. Sem dúvida, era esta cidade
que apresentava as melhores condições econômicas, sociais e de nível de escolaridade para aumentar o público de leitores e, por outro lado, permitir a
expansão da indústria do livro. São Paulo aparece em segundo lugar e ambas
se distanciam muito das demais capitais.
Um aspecto que merece destaque, relacionado agora com as diversas disciplinas que compõem as ciências sociais, diz respeito ao peso que a idade
da disciplina e seu reconhecimento, como um valor cultural, podem ter na
importância que ela adquire no conjunto das demais. Nas décadas estudadas,
a história do Brasil sobressaiu a todas as outras, contando com a maior quantidade de livros. Poder-se-ia atribuir essa característica ao fato de que a criação
212
FBN_RG_vocacao_05.indd 212
5/3/2009 10:00:17
A vocação das ciências sociais no Brasil
do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, no Rio de Janeiro, logo seguido
pela criação de outras instituições semelhantes nas demais regiões do país,
datou de 1838. No entanto, a geografia humana, que também era marcada por
essa origem, não teve o mesmo desenvolvimento, ocupando o penúltimo lugar na publicação de obras. Essa diferença não encontra sugestões no material
estudado que permitam achar uma explicação, e o problema fica em aberto.
Pode-se supor que a história tem sido desde largo tempo apontada como o
princípio explicativo fundamental da existência e do desenvolvimento das sociedades humanas, o que determinaria sua importância maior entre nós desde
tempos antigos. Todavia, trata-se apenas de uma sugestão para pesquisas futuras em relação à própria disciplina e seu desenvolvimento no país.
Um outro dado que chama atenção é a permanência da geografia humana
e da demografia em lugar sem nenhum destaque no conjunto das obras. No
entanto, durante esse período a transformação demográfica que leva à diminuição da população rural brasileira e a descida de correntes de migrantes para
o Sudeste do país constituem fatos da maior importância que não parecem
atrair o interesse de estudiosos. A geografia humana, uma das primeiras disciplinas das ciências sociais a merecer no país um tratamento específico, pois figura nos Institutos criados em 1838, continua, juntamente com a demografia,
em situação de inferioridade nas duas décadas estudadas. A maior exigência de
formação matemática e de um instrumental sofisticado, tanto na realização de
trabalhos de pesquisa, quanto na publicação de livros (exigência a que o país
dificilmente faria face), poderiam explicar esse comportamento específico das
duas disciplinas? É também indagação que necessitaria ser investigada.
É interessante ver que o confronto das obras com as circunstâncias histórico-sociais mostra justamente que na segunda década do período que vai
de 1945 a 1966, uma vertente de estudos modificou seus enfoques e temas,
orientando sua perspectiva de trabalho para o maior conhecimento dos fatos e das relações socioeconômicas. Foram esses, de modo geral, os estudos
que mais cresceram em livro naquela fase. Percebeu-se assim que a expansão
das ciências sociais correspondeu a uma renovação dos textos que em larga
medida traduziam em seus temas e análises problemas específicos daquela
época. Os pesquisadores questionavam o desenvolvimento econômico do
país, as chances de melhoria de vida da população, as precárias condições de
existência no meio rural, as desigualdades socioeconômicas. Essas questões
eram discutidas nos meios literários, artísticos e também no meio estudantil.
A renovação das ciências sociais vinculava-se assim a uma demanda de conhecimento proveniente dos problemas enfrentados naqueles anos.
213
FBN_RG_vocacao_05.indd 213
5/3/2009 10:00:17
Glaucia Villas Bôas
Observando os vínculos das pesquisas com o contexto histórico, verificouse, entretanto, que um considerável número de trabalhos persistiu na investigação de seus temas preferenciais de uma década para outra. Eram pesquisas
voltadas para a continuidade dos fatos políticos no passado, ou para as origens
étnico-culturais da população brasileira, que prevaleceram na produção das
ciências sociais nos anos de 1945 a 1955, mas que a partir de meados dos anos
1950 não reatualizaram suas perspectivas de trabalho à luz das situações e dos
fatos novos que emergiam no contexto brasileiro. A falta de renovação dessas
pesquisas correspondeu a um crescimento inexpressivo de seu conjunto.
Considera-se que os meados dos anos 1950 foram um marco importante para as ciências sociais no Brasil. Ao apontar tanto a mudança, quanto a
continuidade em um amplo conjunto de pesquisas, a data delimita uma maior
diferenciação da produção científica, que resultava de estudos cujo interesse era
atender a uma demanda específica de conhecimentos proveniente das mudanças sociais, econômicas, culturais e intelectuais características daquela época.
Uma observação realizada de outro ângulo também é interessante. Considerou-se desde o início do trabalho, com base em pesquisa de outros especialistas,
que a grande massa de estudos históricos no acervo analisado, em que é secundada, em terceiro lugar, pela antropologia, corresponderia à busca de identidade
nacional que, pelo menos desde a Independência, parece marcar os estudiosos
do país. Se tal for o caso, então a busca de identidade passaria pelo passado e
pelos componentes não europeus, não entrando a geografia humana em linha
de conta. Em que medida uma sondagem em épocas anteriores à escolhida
teria resultados semelhantes? A vastidão e a falta de conhecimento das diversas
regiões deveriam ser incentivos para indagações, suscitando tanta curiosidade
da parte dos pesquisadores, quanto os aspectos ignorados da história. As exigências de investigações custosas e longas, com inúmeros percalços de toda
ordem, poderiam constituir obstáculos para trabalhos nessa disciplina (a famosa
expedição de que foi promotor D. Pedro II e que se reduziu à parte mínima do
que fora programado, devido à indignação levantada nas Câmaras e nos jornais
pelo desperdício que representava, é disso um exemplo).
Mas por que razão vem a economia política em segundo lugar nas publicações da Biblioteca Nacional, logo após a história do Brasil? Teria sido sempre assim? Ou as crises consecutivas que a economia do país veio sofrendo
através do tempo, nas várias regiões, teriam muito cedo despertado a atenção
dos pesquisadores? Nessa disciplina também, um prolongamento da pesquisa
para o passado permitiria verificar em que medida esses trabalhos se ligariam
a momentos difíceis da nação.
214
FBN_RG_vocacao_05.indd 214
5/3/2009 10:00:17
A vocação das ciências sociais no Brasil
Verifica-se, pois, que haveria interesse em prolongar para o passado o tipo
de pesquisa aqui inaugurado, para esclarecer diversos pontos obscuros. Também seria muito gratificante uma extensão para o presente, que mostrasse
como a intensificação de vários problemas nacionais e o aparecimento de
outros poderiam influir em trabalhos das ciências sociais.
Se o estudo leva a maior compreensão dos vínculos da produção científica com o contexto histórico dos anos de 1945 a 1966, não esclarece, como
se vê, todas as questões suscitadas ao longo de sua elaboração. Dentre elas,
destacamos aqui a continuidade de pesquisas que se voltaram notadamente
para o problema da identidade do país, fosse ela vista sob o prisma políticogeográfico, fosse apreciada do ponto de vista étnico-cultural. Certamente, a
maior diferenciação dos diversos setores da sociedade brasileira, provocada
pelas mudanças ocorridas naquela época, justificava em parte a existência de
“antigas” e “novas” demandas de conhecimento nas ciências sociais. Ainda
assim, parece-nos relevante em outras pesquisas aprofundar os motivos que
levaram à continuidade daqueles problemas.
Revendo o percurso feito, vemos que a análise da produção das ciências
sociais em livro possibilitou o conhecimento de um amplo e diversificado
conjunto de estudos peculiares ao período de 1945 a 1966, e concorreu para a
análise daquela produção sob a óptica de seu contexto histórico. Com base nas
obras, evidenciou-se a importância que as circunstâncias econômicas, sociais,
políticas e culturais tiveram para o desenvolvimento e transmissão daquela
área do saber naquela época; paralelamente, pôde-se demonstrar que aquelas
condições específicas não pareceram constituir instâncias “condicionadoras”
ou “determinantes” da totalidade de um conjunto da produção intelectual.
Finalmente, observou-se no início desse trabalho que os apreciadores do
conhecimento erudito habitualmente compõem um grupo privilegiado, cujo
saber prestigiado não costuma ser posto à disposição da maioria da coletividade. Essa consideração, válida de maneira geral, não impede porém que o
conhecimento tenda também a se expandir, isto é, a se alargar por camadas e
grupos mais diversos da população.
Não era possível nessa pesquisa distinguir quais os grupos que foram sendo abarcados pela publicação de obras de ciências sociais, as quais foram se
ampliando em número nas duas décadas estudadas. Fica patente, no entanto,
que sua restrição a uma pequena quantidade de pessoas foi sendo modificada
pela emergência de variados fatores que favoreceram a difusão do conhecimento. Se por um lado, a preocupação com o desenvolvimento industrial
e político amplia a curiosidade do público restrito já existente, levando-o a
215
FBN_RG_vocacao_05.indd 215
5/3/2009 10:00:17
Glaucia Villas Bôas
consumir mais livros, não é menos verdade que a expansão universitária e o
desenvolvimento citado acima constituem formas de influir para que os limites à difusão se alarguem. Desse modo, o crescimento da produção livreira
mostra que as fronteiras da coletividade que tinham acesso ao conhecimento
erudito foram sendo claramente alargadas.
Além dos problemas que estão a merecer atenção dos estudiosos, cumpre
não esquecer que as ciências sociais são apenas parte do conhecimento humano, e que um desvendamento do que ocorre com a difusão do saber no Brasil,
através do tempo, demandaria uma indagação aos campos das ciências naturais e exatas, da filosofia e da literatura. Ela poderia seguir rumos semelhantes
ao dessa pesquisa, o que permitiria um confronto. Ademais, os conjuntos de
saber citados são sempre analisados em função de seu desenvolvimento em
si mesmo, e não em correlação com a ampliação de seu público (por meio da
publicação de livros), além das circunstâncias sociopolíticas e culturais vigentes no país no momento específico em que se situava o material estudado.
216
FBN_RG_vocacao_05.indd 216
5/3/2009 10:00:17
VI
Livros de Ciências Sociais no Acervo
da Biblioteca Nacional
A listagem subseqüente dos livros em ciências sociais do
acervo da Biblioteca Nacional está ordenada de acordo com a
classificação apresentada no capítulo sobre temas e disciplinas.
Chamo a atenção para o fato de que, em alguns poucos casos, as fichas de referência indicavam que o livro estava na sua
segunda ou terceira edição, alguns reeditados no período de
1945 a 1966 e outros depois de 1966. Tive o cuidado de procurar a data da primeira edição dos títulos reeditados sempre que
eu dispunha da informação, obtida em outras fontes, de que a
primeira edição de uma obra havia sido publicada no período
considerado neste estudo.
Certamente, alguns livros não foram arrolados porque eu
não obtive aquela informação. Procurar a primeira edição de
um livro não é tarefa fácil. Ao menos naquela época, eram exceções as obras que registravam a primeira edição. No entanto,
para o estudioso das idéias e dos livros é essencial saber o
ano exato da primeira edição e de todas as suas reedições. Isto
porque, entre tantos outros motivos, é comum haver mudanças nos textos, retiradas ou acréscimos de capítulos e imagens,
mudanças nas introduções e prefácios, alterações, enfim, que
revelam novas orientações de seus autores ou mudança nas
suas redes de relação.
Fica aqui, pois, não somente uma advertência aos leitores,
que poderão encontrar imprecisões em algumas referências,
quanto um apelo aos editores para que registrem os anos das
217
FBN_RG_vocacao_06.indd 217
5/3/2009 10:15:12
Glaucia Villas Bôas
edições anteriores da obra que estão republicando. Finalmente, vale dizer que foram feitas diversas revisões nas referências
dos livros, mas é possível encontrar aqui e ali algum equívoco
ou erro, o qual, espero, não prejudique a contribuição que este
estudo pode oferecer aos pesquisadores das ciências sociais.
História do Brasil
Obras sobre a disciplina
Avaliação da produção historiográfica
SODRÉ, Nelson Werneck. O que se deve ler para conhecer o Brasil. Coleção Conhecimento do Brasil. Rio de Janeiro: Cia. Ed. Leitura, 1945. 262 p.
RODRIGUES, José Honório. Historiografia e bibliografia do domínio holandês no
Brasil. Coleção do Instituto Nacional do Livro. Rio de Janeiro: Departamento de Imprensa Nacional, 1949. 489 p. il.
RODRIGUES, José Honório. A pesquisa histórica no Brasil: sua evolução e problemas atuais. Biblioteca Popular Brasileira. Rio de Janeiro: Instituto Nacional do Livro, Departamento de Imprensa Oficial, 1952. 286 p.
MORAES, Rubens Borba de. Bibliografia brasiliana: a bibliographical essay on
rare books about Brazil published from 1504 to 1900 and works of brazilian authors published abroad before the Independence of Brazil in 1822.
Rio de Janeiro: Colibris, 1958.
JOSÉ, Oiliam. Historiografia mineira - esboço. Coleção Estudos Brasileiros. Belo
Horizonte: Itatiaia, 1959. 216 p.
CIDADE, Francisco de Paula. Síntese de três séculos de literatura militar brasileira.
Rio de Janeiro: Ed. do Batalhão Gal. Caetano de Farias, 1959. 607 p.
RODRIGUES, José Honório. História e historiadores do Brasil. São Paulo: Fulgor, 1965. 183 p.
218
FBN_RG_vocacao_06.indd 218
5/3/2009 10:15:12
A vocação das ciências sociais no Brasil
Problemas teórico-metodológicos
PRADO JR., Caio. Dialética do conhecimento. São Paulo: Brasiliense, 1952.
RODRIGUES, José Honório. Teoria da história do Brasil: introdução metodológica. 2ª ed. revisada, documentada e ilustrada. Coleção Brasiliana. São
Paulo: Cia. Ed. Nacional, 1957. 2 v. il.Primeira edição: São Paulo: Instituto
Progresso Editorial, 1949.
MENEZES, Djacir. O sentido antropógeno da história. Rio de Janeiro: Organização Simões, 1958. 284 p.
IGLÉSIAS, Francisco. Introdução à historiografia econômica. Belo Horizonte: Imprensa da Universidade de Minas Gerais, 1959. 97 p.
Avaliação do ensino da disciplina
HOLANDA, Guy de. Um quarto de século de programas e compêndios de história para
o ensino secundário. Rio de Janeiro: Centro Brasileiro de Pesquisas Educacionais, 1957. 292 p.
Obras sobre temas históricos gerais
História do Brasil
RIBEIRO, Joaquim. Capítulos inéditos na história do Brasil. Coleção Rex. Rio de
Janeiro: Organização Simões, 1954. 184 p. il.
TAPAJÓS, Vicente. História do Brasil. Biblioteca do Espírito Moderno. São Paulo:
Cia. Ed. Nacional, 1956. 532 p. il. Primeira edição: São Paulo: CEN, 1944.
HOLANDA, Sérgio Buarque de. História da civilização brasileira. Organização
de Sérgio Buarque de Holanda com a colaboração de Pedro Moacyr Campos. São Paulo: Difusão Européia do Livro, 1960.
VIANNA, Hélio. História do Brasil. São Paulo: Melhoramentos, 1961. il.
MACEDO, Sérgio Diogo Teixeira de. A história do Brasil. Rio de Janeiro: Tecnoprint, 1963. 390 p.
TOURINHO, Eduardo. Esse continente chamado Brasil. Rio de Janeiro: José
Olympio, 1964. 267 p.
219
FBN_RG_vocacao_06.indd 219
5/3/2009 10:15:12
Glaucia Villas Bôas
LACOMBE, Américo Jacobina. Resumo de história do Brasil. 3a ed. São Paulo:
Cia. Ed. Nacional, 1977. 148 p. Primeira edição: Um passeio pela História do
Brasil, 1943; revisada com novo título em segunda edição de 1966.
História da Colônia
ENNES, Ernesto José Bizano. Estudos sobre história do Brasil. Coleção Brasiliana. São Paulo: Cia. Ed. Nacional, 1947. 266 p. il.
VIANNA, Hélio. Estudos de história colonial. Coleção Brasiliana. São Paulo: Cia.
Ed. Nacional, 1948. 318 p.
CORREIA, C. Cunha. Serra da saudade. Belo Horizonte: Imprensa Oficial,
1948. 296 p. il.
História do Império
VIANNA, Hélio. Estudos de história imperial. Coleção Brasiliana. São Paulo: Cia.
Ed. Nacional, 1950. 328 p.
SANT’ANA, Nuto. Documentário histórico. São Paulo: Departamento de Cultura, 1950. 3 v.
SAN MARTIN, Olyntho. Imagens da história. Porto Alegre: Ed. A Nação, 1951.
219 p.
MAGALHÃES JUNIOR, Raimundo. O Império em chinelos. Rio de Janeiro:
Civilização Brasileira, 1957. 314 p. il.
TORRES, João Camilo de Oliveira. A democracia coroada: teoria política do
Império do Brasil. Coleção Documentos Brasileiros. Rio de Janeiro: José
Olympio, 1957. 589 p. il.
SOUSA, Octávio Tarquínio de. História dos fundadores do Império do Brasil. Rio
de Janeiro: José Olympio, 1957-1958. 10 v. il.
TORRES, João Camilo de Oliveira. Do governo régio. Biblioteca de Cultura Católica. Petrópolis: Vozes, 1958. 156 p.
TORRES, João Camilo de Oliveira. História do Império. Rio de Janeiro: Record,
1963. 91 p. il.
LYRA, Heitor. História da queda do Império. Coleção Brasiliana. São Paulo: Cia.
Ed. Nacional, 1964. 2v.
220
FBN_RG_vocacao_06.indd 220
5/3/2009 10:15:12
A vocação das ciências sociais no Brasil
História da República
SODRÉ, Fábio de Azevedo. A luta pelo ‘‘Poder do Estado’’ na República: ensaios de
psicologia social. Rio de Janeiro: Tipografia Baptista de Souza, 1946. 170 p.
DANTAS, Manuel. Um político da ‘‘reação republicana’’. Coleção Estudos Sergipanos. Aracaju: Livraria Regina, 1946. 120 p.
MOREIRA, Antônio Ilha. Proclamação e fundação da República. Rio de Janeiro:
Imprensa Nacional, 1947. 175 p. il.
MELO, Olbiano de. A marcha da revolução social no Brasil: ensaio histórico-sociológico do período 1922 a 1954. Rio de Janeiro: O Cruzeiro, 1957. 222 p.
MACEDO, Sérgio Diogo Teixeira de. A queda do Império: história da proclamação e consolidação da República. Rio de Janeiro: Record, 1963. 92 p.
Obras sobre temas históricos específicos
História Política
História dos eventos políticos
Descobrimento
CORTESÃO, Jaime. Cabral e as origens do Brasil: ensaio de topografia histórica.
Rio de Janeiro: Ministério das Relações Exteriores, 1944. 167 p. il.
SOUSA, Tomás Oscar Marcondes de. O descobrimento do Brasil: estudo crítico
de acordo com a documentação histórica, cartográfica e náutica. Coleção
Brasiliana. São Paulo: Cia. Ed. Nacional, 1946. 381 p. il.
HOLANDA, Sérgio Buarque de. Visão do paraíso: os motivos edênicos no descobrimento e colonização do Brasil. 3ª ed. São Paulo: Cia. Ed. Nacional,
Secretaria da Cultura, Ciência e Tecnologia, 1977. 360 p. Primeira edição:
Rio de Janeiro: José Olympio, 1959.
SOUSA, Tomás Oscar Marcondes de. Algumas achegas à história dos descobrimentos marítimos: críticas e controvérsias. São Paulo: Ed. Herder, 1958. 280 p.
SILVA, Maria Beatriz Nizza da (Org.). A carta de Pero Vaz de Caminha: estudo
crítico de J. F. de Almeida Prado. Rio de Janeiro: Agir, 1965. 120 p.
221
FBN_RG_vocacao_06.indd 221
5/3/2009 10:15:12
Glaucia Villas Bôas
Ocupação territorial: capitanias e sistema de sesmarias
PRADO, João Fernando de Almeida. A Bahia e as capitanias do centro do Brasil
(1530 – 1626): história da formação da sociedade brasileira. Coleção Brasiliana. São Paulo: Cia. Ed. Nacional, 1945.
CORDEIRO, José Pedro Leite. Braz Cubas e a capitania de São Vicente. São
Paulo: s/e, 1951. 238 p. il.
DIAS, Demóstenes de Oliveira. Formação territorial do Brasil: origem e evolução.
Rio de Janeiro: Gráfica Olímpica, 1956. 137 p. il.
STUDART FILHO, Carlos. Fundamentos geográficos e históricos do estado do Maranhão e
Grão-Pará: com breve estudo sobre a origem e evolução das capitanias feudais
do norte e meio norte. Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército, 1959. 359 p.
PRADO, João Fernando de Almeida. São Vicente e as capitanias do sul do Brasil:
as origens (1501 – 1531). Coleção Brasiliana. São Paulo: Cia. Ed. Nacional,
1961. 513 p.
PORTO, José da Costa. Duarte Coelho. Cadernos de Cultura. Rio de Janeiro: Ministério da Educação e Cultura, Serviço de Documentação, 1961. 104 p.
PORTO, José da Costa. Estudos sobre sistema sesmarial. Recife: Instituto Joaquim
Nabuco de Pesquisas Sociais, Imprensa Universitária, 1965. 197 p.
Invasões estrangeiras
MELO NETO, José Antônio Gonçalves de. Tempo dos flamengos: influência da
ocupação holandesa na vida e na cultura do norte do Brasil. Prefácio de
Gilberto Freyre. Coleção Documentos Brasileiros. Rio de Janeiro: José
Olympio, 1947. 335 p.
ANDRADA, Laércio Caldeira de. A “Igreja dos fiéis”: Coligny no feudo de Villegaignon. Rio de Janeiro: Centro Brasileiro de Publicidade, 1947. 149 p. il.
VAN DER DUSSEN, Adrien. Relatório sobre as capitanias conquistadas no Brasil
pelos holandeses (1639): suas condições econômicas e sociais. Tradução, introdução e notas de José Antônio Gonçalves de Melo Neto. Rio de Janeiro: Instituto do Açúcar e do Álcool, 1947. 168 p.
CASTRO, Américo Mendes de Oliveira. Maurício de Nassau contra a integridade
do Brasil. Rio de Janeiro: A Noite, 1948. 260 p. il.
222
FBN_RG_vocacao_06.indd 222
5/3/2009 10:15:13
A vocação das ciências sociais no Brasil
CORDEIRO, José Pedro Leite. São Paulo e a invasão holandesa no Brasil. São
Paulo: Gráfica Bentivegna, 1949. 244 p. il.
PORTO, José da Costa. História popular da restauração. Recife: Prefeitura Municipal, Departamento de Documentação e Cultura, 1954. 70 p.
RODRIGUES, Lysias Augusto. Formação da nacionalidade brasileira: história resumida das guerras holandesas ao norte do Brasil. Biblioteca do Exército.
Rio de Janeiro: Laemmert, 1954. 472 p. il.
CASCUDO, Luís da Câmara. Geografia do Brasil holandês: documentação e gravuras flamengas. Coleção Documentos Brasileiros. Rio de Janeiro: José
Olympio, 1956. 303 p. il.
MENDONÇA, Renato de. Fronteira em marcha: ensaio de geopolítica brasileira.
Biblioteca do Exército. Rio de Janeiro: Cia. Ed. Americana, 1956. 273 p.
NUÑEZ, Aron P. Os três Felipes da Espanha que foram reis do Brasil: um capítulo
esquecido da história do Brasil. Reivindicação histórica dos 60 anos de
período filipino. São Paulo: Edigraf., 1957. 302 p. il.
SALEMA, Sílvio. Um bárbaro cruel na história do Brasil. Rio de Janeiro: Livraria
São José, 1960. 63 p.
MACEDO, Sérgio Diogo Teixeira de. As lutas contra o invasor. Rio de Janeiro:
Record, 1963. 92 p. il.
PRADO, João Fernando de Almeida. A conquista da Paraíba (séculos XVI e
XVIII). Coleção Brasiliana. São Paulo: Cia. Ed. Nacional, 1964. 364 p. il.
SANTOS, Francisco Ruas. Memórias de um mosqueteiro francês: os holandeses na
Bahia em 1624 e 1625. Rio de Janeiro: Record, 1964. 98 p. il.
GUERRA, Flávio. A guerra da restauração. Rio de Janeiro: Record, 1964. 91 p. il.
QUINTILIANO, Aílton. A guerra dos tamoios. Rio de Janeiro: Reper, 1965. 247 p. il.
Ocupação territorial: entradas e bandeiras
HOLANDA, Sérgio Buarque de. Monções. Coleção Estudos Brasileiros. Rio de
Janeiro: Ed. da Casa do Estudante do Brasil, 1945. 255 p. il.
MIRANDA, Salm de. Expansão para o norte. Biblioteca Militar. Rio de Janeiro:
Bedeschi, 1946. 152 p.
223
FBN_RG_vocacao_06.indd 223
5/3/2009 10:15:13
Glaucia Villas Bôas
SAN MARTIN, Olyntho. Bandeirantes no sul do Brasil. Porto Alegre: Ed. A
Nação, 1949. 232 p. il.
TAUNAY, Afonso d’Escragnolle. História das bandeiras paulistas. 3ª ed. São Paulo: Melhoramentos; Rio de Janeiro: Instituto Nacional do Livro, 1975. 3 v. il.
Primeira edição: História geral das bandeiras paulistas, 1924-1950. 11 v.
MAGALHÃES, João Batista de. A compreensão da unidade do Brasil. Biblioteca
do Exército. Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército, 1956. 185 p.
GOLGHER, Isaías. Guerra dos emboabas: a primeira guerra civil nas Américas.
Belo Horizonte: Itatiaia, 1956. 257 p.
BRITO, Lasinha Luís Carlos de Caldas. Heróis da sombra: os que não viram a
vitória. São Paulo: Livraria Martins, 1957. 242 p. il.
HOLANDA, Sérgio Buarque de. Caminhos e fronteiras. Coleção Documentos
Brasileiros. Rio de Janeiro: José Olympio, 1957. 334 p. il.
CORTESÃO, Jaime. Raposo Tavares e a formação territorial do Brasil. Rio de Janeiro:
Ministério da Educação e Cultura, Serviço de Documentação, 1958. 454 p.
LEITE, Aureliano. O cabo maior dos paulistas na guerra com os emboabas. 2ª ed. São Paulo: Saraiva, 1962. 230 p. il. Primeira edição: São Paulo: Livraria Martins, 1942.
GOULART, José Alípio. Tropas e tropeiros na formação do Brasil. Rio de Janeiro:
Conquista, 1961. 267 p. il.
LEITE, Mario. Paulistas e mineiros, plantadores de cidades. Prefácio do Embaixador José Carlos de Macedo Soares. São Paulo: Ed. Art, 1961. 292 p.
Independência
SILVA, Joaquim Norberto dos Santos. História da conjuração mineira. Prefácio de Oswaldo
Melo Braga. Rio de Janeiro: Instituto Nacional do Livro, Imprensa Nacional, 1948. 2v.
OLIVEIRA, Almir de. Gonzaga e a inconfidência mineira. Coleção Brasiliana. São
Paulo: Cia. Ed. Nacional, 1948. 274 p.
CAÚ, Sílvio de Melo. A revolução nativista pernambucana de 1817. Biblioteca do
Exército. Rio de Janeiro: Laemmert, 1951. 156 p.
PRADO, João Fernando de Almeida. Tomas Ender, pintor austríaco na corte de
D. João VI no Rio de Janeiro: um episódio da formação da classe dirigente
brasileira, 1817-1818. São Paulo: Cia Ed. Nacional, 1955.
224
FBN_RG_vocacao_06.indd 224
5/3/2009 10:15:13
A vocação das ciências sociais no Brasil
LIMA JÚNIOR, Augusto de. Pequena história da inconfidência de Minas Gerais.
Belo Horizonte: Imprensa Oficial, 1955. 339 p. il.
DORES, Manuel Moreira da Paixão. Diário da Armada da Independência. Coleção Estudos Brasileiros. Salvador: Câmara Municipal da Cidade de Salvador, Livraria Progresso, 1957. 130 p.
ALBUQUERQUE, Arci Tenório d’. A maçonaria e a independência do Brasil. Rio
de Janeiro: Ed. Espiritualista, 1958. 302 p. il.
GERSON, Brasil. Pequena história da inconfidência. Rio de Janeiro: Ministério da
Educação e Cultura, Serviço de Documentação, 1959. 74 p.
AGUIAR, Manuel Pinto de. A abertura dos portos: Cairu e os ingleses. Coleção
Estudos Brasileiros. Salvador: Livraria Progresso, 1960. 180 p. il.
PINTO, Teixeira. A maçonaria na independência do Brasil 1812 – 1823. Rio de
Janeiro: Ed. Salogan, 1961. 114 p.
REIS, Paulo Pereira dos. O colonialismo português e a conjuração mineira: esboço
de uma perspectiva histórica dos fatores econômicos que determinaram a
conjuração mineira. Prefácio de T. O. Marcondes de Souza, apresentação
de J. F. de Almeida Prado. Coleção Brasiliana. Rio de Janeiro: Cia. Ed.
Nacional, 1964. 140 p.
SODRÉ, Nelson Werneck. As razões da independência. Coleção Retratos do Brasil. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1965. 274 p.
Movimentos de «quebra» e manutenção da unidade política / Império
BOITEUX, Lucas Alexandre. Marinha imperial versus cabanagem. Rio de Janeiro:
Imprensa Naval, 1945. 409 p. il.
SOUSA, José Conceição Pereira Coelho de. O sentido e o espírito da revolução
farroupilha. Porto Alegre: Ed. Globo, 1945. 100 p.
QUINTAS, Amaro Soares. O sentido social da revolução praieira. Coleção Retratos
do Brasil. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1967. 166 p.Primeira edição: Recife: Imprensa Universitária do Recife, 1961.
SERRA, Astolfo. A balaiada. Biblioteca Militar. Rio de Janeiro: Bedeschi,
1946. 308 p.
SEGISMUNDO, Fernando. História popular da revolução praieira. Rio de Janeiro:
Vitória, 1949. 106 p.
225
FBN_RG_vocacao_06.indd 225
5/3/2009 10:15:13
Glaucia Villas Bôas
PERETTI, João de Medeiros. O movimento praieiro: ensaio sobre a revolta de
1848. Recife: Imprensa Oficial, 1950. 90 p.
BRITO, Francisco de Sá. Memória da guerra dos farrapos. Prefácio, introdução
biográfica e notas explicativas de Paulino Jacques. Rio de Janeiro: Gráfica
Ed. Souza, 1950. 252 p. il.
THIOLLIER, René de Castro. A república rio grandense e a guerra paulista de 1932.
São Paulo, Ed. Alarico, 1952. 205 p.
OLIVEIRA, Ramos de. O conflito maçônico religioso de 1872. Petropólis: Vozes, 1952. 238 p.
GUERRA, Flávio. A questão religiosa do segundo Império brasileiro: fundamentos
históricos. Prefácio de Barbosa Lima Sobrinho. Rio de Janeiro: Irmãos
Pongetti, 1952. 265 p.
VARELA, Alfredo. O solar brasílico, remate nos muros austríacos. Rio de Janeiro:
Ed. Instituto América, 1953. 2 v.
VARELA, Alfredo. Índice alfabético e remissivo da história da grande revolução. Rio
de Janeiro: AGUS, 1955. 209 p.
CARNEIRO, Edison de Sousa. A insurreição praieira (1848–1849).
Rio de Janeiro: Conquista, 1960. 253 p. il.
SPALDING, Walter. A epopéia farroupilha. Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército, 1963. 319 p.
PALHA, Américo. Os precursores da abolição. Prefácio de Pedro Calmon. Rio de
Janeiro: Record, 1965. 90 p. il.
ANDRADE, Manuel Correia de. A guerra dos cabanos. Coleção Temas Brasileiros. Rio de Janeiro: Conquista, 1965. 273 p. il.
REIS, Gustavo Morais Rêgo. A cabanagem: um episódio histórico de guerra insurrecional na Amazônia (1835–1839). Prefácio de Arthur César Ferreira
Reis. Manaus: Governo do Estado do Amazonas, 1965. 119 p. il.
Movimentos de «quebra» e manutenção da unidade política / República
VALADÃO, Alfredo. Campanha da Princeza. Rio de Janeiro: Ed. Leuzinger,
1937-1945. 4 v. il.
BERFORD, Álvaro Bittencourt. O estado nacional e a constituição de novembro de 1937.
Rio de Janeiro: Ed. do Departamento de Imprensa e Propaganda, 1944. 239 p.
226
FBN_RG_vocacao_06.indd 226
5/3/2009 10:15:14
A vocação das ciências sociais no Brasil
ALMEIDA, Júlio Barbosa de. A revolução paulista e a polícia espírito-santense: dados e documentos para a história. Vitória: Escola Graphica,
1945. 160 p.
MAGALHÃES, João Batista de. A consolidação da República: ensaio para a filosofia da história do Brasil. Biblioteca do Exército. Rio de Janeiro: Laemmert, 1947. 264 p.
DUARTE, Paulo. Palmares pelo avesso. Coleção Iguassu. São Paulo: Instituto
Progresso Editorial, 1947. 422 p.
LANDUCCI, Ítalo. Cenas e episódios da coluna Prestes: com 24 fotografias inéditas. São Paulo: Brasilense, 1947. 119 p. il.
LOBATO FILHO, João Bernardo. A última noite da Escola Militar da Praia
Vermelha: contribuição para a história. Rio de Janeiro: Irmãos Pongetti,
1948. 127 p.
OLIVEIRA, Benedito Fernandes de. Revolução paulista de 1932. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1950. 132 p. il.
FRANÇA, Antônio. Anos de resistência. Rio de Janeiro: Ed. da Casa do Estudante do Brasil, 1950. 163 p. il.
JOBIM, Rubens Maio Caggiano. Vento leste nos campos gerais: o cerco da Lapa.
Biblioteca do Exército. Rio de Janeiro: Laemmert, 1952. 167 p. il.
CUNHA, Heitor Xavier Pereira da. A revolta na esquadra brasileira em novembro e
dezembro de 1910. Rio de Janeiro: Imprensa Naval, 1953. 108 p. il.
MARINS, Francisco. A aldeia sagrada. São Paulo: Melhoramentos, 1953. 100 p. il.
OLIVEIRA, Clóvis. A indústria e o movimento constitucionalista de 1932. São Paulo: Centro e Federação das Indústrias do estado de São Paulo, Serviço de
Publicações, 1956. 320 p. il.
OLIVEIRA, Nelson Tabajara de. 1924: a revolução de Isidoro. São Paulo:
Cia. Ed. Nacional, 1956. 200 p.
PEREGRINO, Umberto. Os “Sertões” como história militar. Coleção Taunay. Rio
de Janeiro: Biblioteca do Exército, 1956. 75 p.
ARAÚJO, Lourenço. A coluna Gwyer no túnel: a revolução de 1932. Niterói:
Tipografia J. Gonçalves, 1958. 53 p. il.
227
FBN_RG_vocacao_06.indd 227
5/3/2009 10:15:14
Glaucia Villas Bôas
NOGUEIRA FILHO, Paulo. O partido democrático e a revolução de 1930. São
Paulo: Ed. Anhembi, 1958. 2 v.
MELO, Dante de. A verdade sobre “Os Sertões”: análise reivindicatória da campanha de Canudos. Biblioteca do Exército. Rio de Janeiro: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, 1958. 257 p.
LAFAYETTE, Pedro. Saldanha da Gama. Rio de Janeiro: Gráfica Ed. Souza,
1959. 2v. il.
CALASANS, José. No tempo de Antônio Conselheiro: figuras e fatos da campanha
de Canudos. Salvador, Universidade da Bahia, 1959. 121 p.
ROCHA NETO, Bento Munhoz da. Radiografia de novembro. Coleção Retratos
do Brasil. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1960. 158 p.
ARARIPE, Tristão de Alencar. Expedições militares contra Canudos: seu aspecto
marcial. Rio de Janeiro, Imprensa do Exército, 1960. 286 p. il.
RODRIGUES, José Honório. Aspirações nacionais: interpretação histórico-política. São Paulo: Fulgor, 1963. 162 p.
FONTOURA, João das Neves da. A aliança liberal e a revolução de 30. Rio de
Janeiro: Ed. Globo, 1963. 500 p.
MACEDO, Nertan. Memorial de Vilanova. Rio de Janeiro: O Cruzeiro, 1964.
162 p.
CARONE, Edgard. Revoluções do Brasil contemporâneo 1922-1938. Coleção Buriti. São Paulo: Desa, 1965. 174 p. il.
GARCIA, Manuel Funchal. Do litoral ao sertão: viagens pelo interior do Brasil,
inclusive na região de Canudos. Coleção Gal. Benício. Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército, 1965. 365 p.
NOGUEIRA FILHO, Paulo. A guerra cívica – 1932. Rio de Janeiro: José Olympio, 1965.
SILVA, Hélio. 1926: A grande marcha. Coleção Documentos da História Contemporânea. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1965. 972 p. il.
SILVA, Hélio. 1930 – A revolução traída. Coleção Documentos da História
Contemporânea. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1966. 505 p. il.
228
FBN_RG_vocacao_06.indd 228
5/3/2009 10:15:14
A vocação das ciências sociais no Brasil
História Militar
FERREIRA, Aurélio Alves de Souza. História militar do Brasil: regime colonial.
Rio de Janeiro: Imprensa Militar, 1945. 354 p. il.
SOUZA, Pedro Luís Pereira de. Militarismo e República (crítica e história): subsídios para a preservação do exército e manutenção da ordem no Brasil. São
Paulo: Nova Jurisprudência, 1945. 184 p.
LORETO, Aliatar. Capítulos de história militar do Brasil: colônia-reino. Biblioteca
do Exército. Rio de Janeiro: Biblioteca Militar, 1946. 189 p. il.
LOPES, Teodorico Francisco. Ministros da guerra do Brasil 1808-1945. Rio de
Janeiro: Irmãos Pongetti, 1946. 392 p. il.
CIDADE, Francisco de Paula. Lutas ao sul do Brasil, com os espanhóis e seus descendentes (1680-1828): notas de história militar brasileira, reexame de questões
políticas e militares. Biblioteca do Exército. Rio de Janeiro: Biblioteca Militar, 1948. 324 p. il.
SOUZA JÚNIOR, Antonio de. Caminhos históricos da invasão. Biblioteca do
Exército. Rio de Janeiro: Livraria Freitas Bastos, 1950. 142 p. il.
BARRETO, Aníbal. Fortificações do Brasil: resumo histórico. Biblioteca do Exército. Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército, 1958. 337 p. il.
MAGALHÃES, João Batista. A evolução militar do Brasil: anotações para a história. Biblioteca do Exército. Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército, 1958.
408 p.
OLIVEIRA, João Pereira. Vultos e fatos de nossa história. Rio de Janeiro: Imprensa do Exército, 1959. 187. p. il.
SOUZA JÚNIOR, Antonio de. O Brasil e a terceira guerra mundial: ensaio de
interpretação da história das guerras no século XX. Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército, 1959. 341 p.
SODRÉ, Nelson Werneck. Narrativas militares: seleção, organização e notas
biográficas. Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército, 1959. 283 p. il.
LIMA JÚNIOR, Augusto de. Crônica militar. Belo Horizonte: s/e, 1960. 235 p. il.
229
FBN_RG_vocacao_06.indd 229
5/3/2009 10:15:14
Glaucia Villas Bôas
MAIA, João do Prado. D.N.O.G. (Divisão Naval em Operação de Guerra) 19141918: uma página esquecida da história da Marinha brasileira. Rio de Janeiro: Ministério da Marinha, Serviço de Documentação, 1961. 253 p. il.
MAIA, João do Prado. A marinha de guerra do Brasil na colônia e no Império: tentativa de reconstituição histórica. 2ª. ed. Rio de Janeiro: Ed. Cátedra, 1975.
340 p. il. Primeira edição: Coleção Documentos Brasileiros. Rio de Janeiro:
José Olympio, 1965.
TAVARES, Aurélio de Lira. A engenharia militar portuguesa na construção do Brasil.
Rio de Janeiro: Estado Maior do Exército, 1965. 188 p. il.
SODRÉ, Nelson Werneck. História militar do Brasil. Coleção Retratos do Brasil. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1965. 439 p.
História diplomática
JORGE, Artur Guimarães de Araújo. Introdução às obras do Barão do Rio Branco.
Rio de Janeiro: Ministério das Relações Exteriores, 1945. 233 p.
VIANNA, Hélio. História das fronteiras do Brasil. Biblioteca do Exército. Rio de
Janeiro: Laemmert, 1948. 333 p.
ALMEIDA, Mário Monteiro de. Episódios históricos da formação geográfica do Brasil: fixação das raias com o Uruguai e o Paraguai. Rio de Janeiro: Irmãos
Pongetti, 1951. 636 p.
SOARES, Álvaro Teixeira. Diplomacia do Império no Rio da Prata (até 1865). Rio
de Janeiro: Ed. Brand, 1955. 293 p.
PRADO, João Fernando de Almeida. O Brasil e o colonialismo europeu. Coleção
Brasiliana. São Paulo: Cia. Ed. Nacional, 1956. 484 p.
SOARES, Álvaro Teixeira. O gigante e o rio: ação de Mauá no Uruguai e Argentina
(1851-1878). Rio de Janeiro: Cia. Brasileira de Artes Gráficas, 1957. 335 p.
VIANNA, Hélio. História diplomática do Brasil. São Paulo: Melhoramentos, 1958. 211 p. il.
CARVALHO, Carlos Delgado de. História diplomática do Brasil. São Paulo: Cia.
Ed. Nacional, 1959. 409 p. il.
VALADÃO, Alfredo. Brasil e Chile na época do Império: amizade sem exemplo.
Rio de Janeiro: José Olympio, 1959. 321 p. il.
230
FBN_RG_vocacao_06.indd 230
5/3/2009 10:15:14
A vocação das ciências sociais no Brasil
RODRIGUES, José Honório. Brasil e África, outro horizonte: relações e política
brasileiro-africana. Coleção Retratos do Brasil. Rio de Janeiro: Civilização
Brasileira, 1961. 359 p.
RODRIGUES, José Honório. Interesse nacional e política externa. Coleção Retratos do Brasil. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1966. 232 p.
História administrativa
ANDRADE, Almir. Contribuição à história administrativa do Brasil na República até
o ano de 1945. Rio de Janeiro: José Olympio, 1950. 2 v.
GURGEL, Heitor. O governo Amaral Peixoto 1937-1945: subsídios para a história político-administrativa do estado do Rio. Niterói: s/e, 1950. 158 p.
JESUS, Jupira S. Palhano de. Viação e Obras Públicas: elementos para a história
do ministério. Coleção Mauá. Rio de Janeiro: Ministério da Viação e Obras
Públicas, Serviço de Documentação, 1955. 260 p.
SOUZA, Antônio Manuel Braga de. História do Ministério do Trabalho, Indústria
e Comércio - MTIC. Coleção Lindolfo Collor. Rio de Janeiro: Serviço de
Documentação, 1955.
TAPAJÓS, Vicente et al. História administrativa do Brasil. Rio de Janeiro: Departamento Administrativo do Serviço Público, Serviço de Documentação,
1956. 8 v.
BESOUCHET, Lídia. História da criação do Ministério do Trabalho: ensaio de interpretação do MTIC. Coleção Lindolfo Collor. Rio de Janeiro: Ministério do
Trabalho, Indústria e Comércio, Serviço de Documentação, 1957. 76 p.
LOBO, Eulália Maria Lahmeyer. Processo administrativo ibero-americano: aspectos
socioeconômicos do período colonial. Coleção Gal. Benício. Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército, 1962. 570 p. il.
História constitucional
ALECRIM, Otacílio. Idéias e instituições no Império: influências francesas. Rio de
Janeiro, Jornal do Commercio, 1952. 240 p.
CÂMARA, José. Subsídios para a história do direito pátrio. Rio de Janeiro: Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística, 1954. 3 v.
231
FBN_RG_vocacao_06.indd 231
5/3/2009 10:15:15
Glaucia Villas Bôas
SOUZA, José Pedro Galvão de. Introdução à história do direito político brasileiro.
São Paulo: Reconquista, 1954. 134 p.
MOIRA, Augusto. Tirania dos erros, questões constitucionais. Rio de Janeiro: Irmãos Pongetti, 1960. 367 p.
LEAL, Hamilton. História das instituições políticas do Brasil. Rio de Janeiro: s/e, 1962. 599 p.
RODRIGUES, José Honório. Conciliação e reforma no Brasil: um desafio histórico-cultural. Coleção Retratos do Brasil. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1965. 246 p.
SOUZA, José Pedro Galvão de. Raízes históricas da crise política brasileira. Petrópolis: Vozes, 1965. 148 p.
História eclesiástica
PIRES, Heliodoro de Souza. Temas de história eclesiástica do Brasil. São Paulo: São
Paulo Ed., 1946. 518 p. il.
CAMARGO, Paulo Florêncio da Silveira. História eclesiástica do Brasil. Petrópolis: Vozes, 1965. 414 p.
VERISSIMO, Inácio José. Pombal, os jesuítas e o Brasil. Rio de Janeiro: Imprensa
do Exército, 1961. 440 p.
TERRA, Pedro. A catequese: seus feitos notáveis, seus heróis eternos. Rio de
Janeiro: Record, 1963. 92 p. il.
História dos partidos políticos
BOEHRER, George C. Da monarquia à república: história do Partido Republicano do Brasil (1870–1899). Tradução de Berenice Xavier. Rio de Janeiro: Ministério da Educação e Cultura, Serviço de Documentação, 1954. 300 p. il.
SANTOS, José Maria dos. Bernardino de Campos e o Partido Republicano Paulista:
subsídios para a história da República. Coleção Documentos Brasileiros.
Rio de Janeiro: José Olympio, 1960. 285 p. il.
História de cidades, estados da Federação e regiões
História de cidades
SETE, Mário. Arruar, história pitoresca do Recife antigo. Rio de Janeiro: Ed. da
Casa do Estudante do Brasil, 1948. 407 p. il.
232
FBN_RG_vocacao_06.indd 232
5/3/2009 10:15:15
A vocação das ciências sociais no Brasil
FALCÃO, Edgar de Cerqueira. A fundação da cidade de Salvador em 1549. São
Paulo: Revista dos Tribunais, 1949. 102 p.
CRULS, Gastão. Aparência do Rio de Janeiro: notícia histórica e descritiva da cidade. Prefácio de Gilberto Freyre, 2a ed. revisada pelo autor. Coleção Documentos Brasileiros. Rio de Janeiro: José Olympio, 1952. 2 v. il. Primeira
edição: Rio de Janeiro: José Olympio, 1949.
BRUNO, Ernani Silva. História e tradições da cidade de São Paulo. Prefácio de
Gilberto Freyre. Coleção Documentos Brasileiros. Rio de Janeiro: José
Olympio, 1953-1954. 3 v. il.
FERREIRA, Augusto Maurício de Queiroz. O que ficou do passado. Biblioteca
do Exército. Rio de Janeiro: Cia. Ed. Americana, 1954. 167 p. il.
CORTESÃO, Jaime. A fundação de São Paulo, capital geográfica do Brasil. Rio de
Janeiro: Livros de Portugal, 1955. 275 p. il.
COSTA, Osmani Emboaba. História da fundação de Ribeirão Preto. São Paulo:
Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, Universidade de São Paulo,
1955. 112 p. il.
SILVA, ALBERTO. A cidade de Salvador: aspectos seculares. Coleção de Estudos Brasileiros, Série Marajoara. Salvador: Prefeitura Municipal, Livraria
Progresso, 1957. 226 p. il.
VIANA, Hermógenes. A fundação do Recife. Recife: Imprensa Industrial, 1959. 62 p.
GUIMARÃES, Fábio Nelson. Fundação histórica de São João del-Rei: com subsídios para a história da cidade de Tiradentes em suas origens. São João
del-Rei: São João del-Rei Artes Gráficas, 1961. 100 p. il.
OMEGNA, Nelson. A cidade colonial. Ilustrações de Percy Lau. Coleção Documentos Brasileiros. Rio de Janeiro: José Olympio, 1961. 344 p. il.
LIMA JÚNIOR, Augusto de. As primeiras vilas de ouro. Belo Horizonte: Santa
Maria, 1962. 137 p.
FIGUEIREDO FILHO, José de. História do Cariri. Crato: Instituto de Estudo
Superior do Cariri, Faculdade de Filosofia do Crato, 1964.
ANTUNES, Deoclécio de Paranhos. Estudos de história carioca. Rio de Janeiro:
Prefeitura do Distrito Federal, Secretaria Geral de Educação e Cultura,
1965. 186 p. il.
233
FBN_RG_vocacao_06.indd 233
5/3/2009 10:15:15
Glaucia Villas Bôas
BELCHIOR, Elísio de Oliveira. Conquistadores e povoadores do Rio de Janeiro. Rio
de Janeiro: Ed. Brasiliana, 1965. 528 p.
DINIZ, Sílvio Gabriel. Pesquisando a história de Pitangui. Belo Horizonte: Imprensa Oficial do Estado de Minas Gerais, 1965. 292 p.
GERSON, Brasil. História das ruas do Rio. 4ª ed. revisada, ampliada e ilustrada.
Rio de Janeiro: Ed. Brasiliana, 1965. 580 p. il. Primeira edição: Rio de Janeiro: Prefeitura do Distrito Federal, Secretaria da Educação e Cultura, 1954.
PINHEIRO, Maciel. O Rio de Janeiro através da revista. Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro. Rio de Janeiro: Ed. Brasiliana, 1965. 307 p.
RHEINGANTZ, Carlos G. Primeiras famílias do Rio de Janeiro (séculos XVI e
XVIII). Rio de Janeiro: Ed. Brasiliana, 1965.
TROTA, Frederico. A fundação da cidade do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Prefeitura do Distrito Federal, Secretaria Geral de Educação e Cultura, 1965. 158 p.
História de estados da Federação
MARIZ, Celso. Cidades e homens. João Pessoa: A União, 1945. 284 p. il.
ANDRADE, Delmiro Pereira de. Evolução histórica da Paraíba do Norte. Rio de
Janeiro: Minerva, 1946. 313 p. il.
LIMA JÚNIOR, Félix. Mapirunga. Maceió: Casa Ramalho Ed., 1954. 221 p. il
PORTO, Carlos Eugênio. Roteiro do Piauí. Rio de Janeiro: Ministério da Educação e Cultura, Serviço de Documentação, 1955. 186 p. il.
CARVALHO, Daniel Serapião. A formação histórica das Minas Gerais. Cadernos
de Cultura. Rio de Janeiro: Ministério da Educação e Cultura, Serviço de
Documentação, 1956. 60 p.
COSTA, Luiz Monteiro da. Na Bahia colonial: apontamentos para a história
militar da cidade do Salvador. Coleção de Estudos Brasileiros, Série Marajoara. Salvador: Livraria Progresso, 1958. 168 p. il.
STUDART FILHO, Carlos. Estudos de história seiscentista. Fortaleza: Tipografia
Minerva, 1959. 194 p. il.
JOSÉ, Oiliam. A propaganda republicana em Minas. Belo Horizonte: Universidade de Minas Gerais, Faculdade de Direito, 1960. 180 p.
234
FBN_RG_vocacao_06.indd 234
5/3/2009 10:15:15
A vocação das ciências sociais no Brasil
STUDART FILHO, Carlos. A revolução de 1817 no Ceará e outros estudos. Fortaleza: Tipografia Minerva, 1961. 258 p.
TOCANTINS, Leandro. Formação histórica do Acre. Prefácio de Arthur César
Ferreira Reis. Rio de Janeiro: Conquista, 1961. 3 v. il.
JOSÉ, Oiliam. A abolição em Minas. Belo Horizonte: Itatiaia, 1962. 169 p.
CRUZ, Ernesto. História do Pará. Belém: Universidade do Pará, 1963. 2 v.
NOVAIS, Maria Estela. A escravidão e a abolição no Espírito Santo: história e folclore.
Vitória: Assembléia Legislativa do Estado do Espírito Santo, 1963. 166 p.
História de regiões
REIS, Arthur César Ferreira. Estadistas portugueses na Amazônia. Rio de Janeiro:
Ed. Dois Mundos, 1948. 202 p.
REIS, Arthur César Ferreira. Limites e demarcações na Amazônia brasileira. Rio de
Janeiro: Imprensa Nacional, 1947. 2 v. il.
IGLÉSIAS, Francisco de Assis. Caatingas e chapadões: notas, impressões e reminiscências do meio-norte brasileiro 1912-1919. Coleção Brasiliana. São
Paulo: Cia. Ed. Nacional, 1951. 638 p.
CARNEIRO, Edison de Sousa. A conquista da Amazônia. Coleção Mauá. Rio
de Janeiro: Ministério da Viação e Obras Públicas, Serviço de Documentação, 1956. 114 p.
REIS, Arthur César Ferreira. A Amazônia que os portugueses revelaram. Rio de Janeiro:
Ministério da Educação e Cultura, Serviço de Documentação, 1956. 128 p.
TOCANTINS, Leandro. Amazônia, natureza, homem e tempo. Coleção Temas
Brasileiros. Rio de Janeiro: Conquista, 1960. 245 p. il.
GUERRA, Flávio. História colonial do Nordeste. Rio de Janeiro: Record, 1963.
89 p. il.
MENDONÇA, Marcos Carneiro de. A Amazônia na era pombalina. São Paulo:
Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, 1963. 3v. il.
REIS, Arthur César Ferreira. Aspectos da experiência portuguesa na Amazônia. Manaus: Governo do Estado da Amazonas, 1966. 321 p.
235
FBN_RG_vocacao_06.indd 235
5/3/2009 10:15:15
Glaucia Villas Bôas
História Econômica
Formação econômica
Características gerais
PRADO JR., Caio. História econômica do Brasil. 2ª ed. Coleção Grandes Estudos
Brasileiros. São Paulo: Brasiliense, 1949. 332 p. Primeira edição: São Paulo:
Brasiliense, 1945.
FRANCO, Afonso Arinos de Melo. Síntese da história econômica do Brasil. Salvador: Universidade da Bahia, Livraria Progresso, 1958. 95 p.
VIANNA, Francisco José de Oliveira. Introdução à história social da economia précapitalista no Brasil. Rio de Janeiro: José Olympio, 1958. 192 p. il.
LOBO, Roberto Haddock. Pequena história da economia. 2ª ed. São Paulo: Livraria Martins, 1959. 376 p. il.
AGUIAR, Manuel Pinto de. Ensaios de história e economia. Salvador: Livraria
Progresso, 1960.
TOURINHO, Eduardo. Breve história da formação econômica do Brasil. Rio de Janeiro: Irmãos Pongetti, 1962. 154 p.
GUIMARÃES, Alberto Passos. Quatro séculos de latifúndio. 3ª ed. Rio de Janeiro:
Paz e Terra, 1975. 255 p. Primeira edição: São Paulo: Fulgor, 1964.
Características no período colonial
DORNAS FILHO, João. Aspectos da economia colonial. 2ª ed. Coleção Estudos
Brasileiros. Belo Horizonte: Itatiaia, 1959. 272 p. il. Primeira edição: Belo
Horizonte: Itatiaia, 1956.
BRUNO, Ernani Silva. Viagem ao país dos paulistas: ensaio sobre ocupação
da área vicentina e a formação de sua economia e de sua sociedade nos
tempos coloniais. Coleção Documentos Brasileiros. Rio de Janeiro: José
Olympio, 1966. 151 p. il.
MARÇAL, Heitor. Marinha e sertão: fundamentos da economia colonial. 2ª ed.
Rio de Janeiro: Ed. GRD, 1966. 169 p.
BOXER, Charles Ralph. A idade de ouro do Brasil: dores de crescimento de uma
sociedade colonial. Tradução de Nair de Lacerda. Prefácio de Carlos Rizzi236
FBN_RG_vocacao_06.indd 236
5/3/2009 10:15:15
A vocação das ciências sociais no Brasil
ni. 2ª ed. revisada. Coleção Brasiliana. São Paulo: Cia. Ed. Nacional, 1969.
390 p. il. Primeira edição: Rio de Janeiro: Sociedade de Estudos Históricos
Dom Pedro II, 1963.
Atividades produtivas: açúcar, mineração, café e pesca
ELLIS JÚNIOR, Alfredo. O café e a paulistânia. São Paulo: Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, Universidade de São Paulo, 1951. 699 p. il.
MAGALHÃES, Basílio de. O açúcar nos primórdios do Brasil colonial. Rio de Janeiro: Instituto do Açúcar e do Álcool, 1953. 204 p.
ELLIS, Myriam. Aspectos da pesca da baleia no Brasil colonial. São Paulo: S.C.P.,
1958. 126 p. il.
STEIN, Stanley J. Grandeza e decadência do café no Vale do Paraíba com referência
especial ao município de Vassouras. Tradução de Edgar Magalhães. Capa de
Luis Ventura. Rio de Janeiro: Brasiliense, 1961. 372 p. il.
ELLIS, Myriam. Contribuição ao estudo do abastecimento das áreas mineradoras do
Brasil no século XVIII. Cadernos de Cultura. Rio de Janeiro: Ministério da
Educação e Cultura, 1962. 68 p.
COSTA FILHO, Miguel. A cana-de-açúcar em Minas Gerais. Rio de Janeiro: Instituto do Açúcar e do Álcool, 1963. 415 p. il.
Política econômica
TAUNAY, Alfredo d’Escragnolle. História administrativa e econômica do Brasil.
Rio de Janeiro: Organização Simões, 1955. 101 p.
SODRÉ, Nelson Werneck. O tratado de Methuen. Rio de Janeiro: Instituto Superior de Estudos Brasileiros, 1957. 50 p.
IGLÉSIAS, Francisco. Política econômica do governo provincial mineiro (1835-1889).
Rio de Janeiro: Instituto Nacional do Livro, 1958. 231 p.
LUZ, Nícia Vilela. A luta pela industrialização do Brasil (1808-1930). Prefácio de
João Cruz Costa. Coleção Corpo e Alma do Brasil. São Paulo: Difusão
Européia do Livro, 1961. 216 p.
LIMA, Heitor Ferreira. Do imperialismo à libertação colonial: análise da economia
mundial de 1890 a 1960. Rio de Janeiro: Ed. Fundo de Cultura, 1965. 168 p.
237
FBN_RG_vocacao_06.indd 237
5/3/2009 10:15:16
Glaucia Villas Bôas
Industrialização
PINTO, Estevão. História de uma estrada de ferro do Nordeste. Coleção Documentos Brasileiros. Rio de Janeiro: José Olympio, 1949. 310 p. il.
LIMA, Heitor Ferreira. Evolução industrial de São Paulo: esboço histórico. São
Paulo: Livraria Martins, 1954. 196 p. il.
LIMA, Heitor Ferreira. Formação industrial do Brasil: período colonial. Rio de
Janeiro: Ed. Fundo de Cultura, 1961. 327 p.
Sistema bancário
AGUIAR, Manuel Pinto de. Bancos no Brasil colonial: tentativas de organização
bancária em Portugal e no Brasil até 1808. Coleção de Estudos Brasileiros,
Série Marajoara. Salvador: Livraria Progresso, 1960. 120 p. il.
FRANCO, Afonso Arinos de Melo; PACHECO, Cláudio. História do Banco
do Brasil: primeira fase 1808 – 1835. São Paulo: Instituto de Economia da
Associação Comercial, 1947. 350 p.
História Social
Escravidão
CARNEIRO, Edison de Sousa. O quilombo dos Palmares, 1630-1695. São Paulo: Brasiliense, 1947. 246 p. Primeira edição: Guerra de los Palmares. Tradução do original
inédito por Tomás Muñoz Molina. México: Fondo de Cultura Economica, 1946.
GOULART, Maurício. Escravidão africana no Brasil: das origens à extinção do
tráfico. São Paulo: Livraria Martins, 1949. 300 p.
MOREL, Edmar. O dragão do mar, o jangadeiro da abolição. Rio de Janeiro: Edições do Povo, 1949. 222 p. il.
FREITAS, Mário Martins de. Reino negro de Palmares. Biblioteca do Exército.
Rio de Janeiro: Cia. Ed. Americana, 1954.
COSTA, Emília Viotti da. Escravidão nas áreas cafeeiras: aspectos econômicos e
ideológicos da desagregação do sistema escravista. São Paulo: Faculdade
de Filosofia, Ciências e Letras, Universidade de São Paulo, 1964. 3 v.
238
FBN_RG_vocacao_06.indd 238
5/3/2009 10:15:16
A vocação das ciências sociais no Brasil
COSTA, Emília Viotti da. Da senzala à colônia. Coleção Corpo e Alma do Brasil. São Paulo: Difusão Européia do Livro, 1966. 497 p. il.
Classes e estratos sociais
LINHARES, Hermínio. Contribuição à história das lutas operárias no Brasil. Rio de
Janeiro: Ed. Batista de Souza, 1955. 130 p.
SODRÉ, Nelson Werneck. As classes sociais no Brasil. Rio de Janeiro: Instituto
Superior de Estudos Brasileiros, 1957. 51 p.
DIAS, Everardo. História das lutas sociais no Brasil. São Paulo: Edaglit, 1962. 330 p.
SODRÉ, Nelson Werneck. História da burguesia brasileira. Coleção Retratos do
Brasil. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1964. 318 p.
TORRES, João Camilo de Oliveira. Estratificação social no Brasil: suas origens
históricas e suas relações com a organização política do país. Coleção Corpo e Alma do Brasil. São Paulo: Difusão Européia do Livro, 1965. 222 p.
Formação da sociedade
SODRÉ, Nelson Werneck. Introdução à revolução brasileira. Coleção Documentos Brasileiros. Rio de Janeiro: José Olympio, 1958. 257 p.
SODRÉ, Nelson Werneck. Formação histórica do Brasil. 2ª ed. São Paulo: Brasiliense, 1963. 417 p. Primeira edição: São Paulo, Brasiliense, 1962.
Outros
VIANNA, Hélio. Contribuição à história da imprensa brasileira (1812-1862). Rio de
Janeiro: Imprensa Nacional, 1945. 664 p. il.
PASSOS, Alexandre. A imprensa no período colonial. Cadernos de Cultura. Rio
de Janeiro: Ministério da Educação e Saúde, Serviço de Documentação,
1952. 72 p.
BAHIA, Renato. O estudante na história nacional. Salvador: Livraria Progresso,
1954. 217 p.
MONTEIRO, Mário Ypiranga. O regatão (noticia histórica): subsídios para a
história social do Amazonas. Coleção Muiraquitã. Manaus: Ed. Planície,
1958. 158 p. il.
239
FBN_RG_vocacao_06.indd 239
5/3/2009 10:15:16
Glaucia Villas Bôas
SANTOS FILHO, Licurgo de Castro. Pequena história da medicina brasileira. Coleção Buriti. São Paulo: São Paulo Ed., 1966. 150 p. il.
História das Idéias
Estudos de caráter geral
SODRÉ, Nelson Werneck. Orientações do pensamento brasileiro: Azevedo Amaral,
Gilberto Freyre, Oliveira Viana, Fernando de Azevedo, Graciliano Ramos,
José Lins do Rego, Jorge Amado, Lúcio Cardoso. Rio de Janeiro: Casa Ed.
Vecchi, 1952. 190 p.
MENEZES, Djacir. O Brasil no pensamento brasileiro. Rio de Janeiro: Instituto
Nacional de Estudos Pedagógicos, 1957. 276 p.
SODRÉ, Nelson Werneck. A ideologia do colonialismo: seus reflexos no pensamento brasileiro. Rio de Janeiro: Ministério da Educação e Cultura, Instituto Superior de Estudos Brasileiros, 1961. 275 p.
COSTA, João Cruz. Esbozo de una historia de las ideas en el Brasil. Tradução de
Jorge López Pérez. Coleccion Tierra Firme. México: Fondo de Cultura
Económica, 1957. 175 p. Edição em português: Esboço de uma história das
idéias no Brasil. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1966.
Positivismo
COSTA, João Cruz. O positivismo na República: notas sobre a história do positivismo no Brasil. Coleção Brasiliana. São Paulo: Cia. Ed. Nacional, 1956.
203 p.
MENEZES, Djacir. Evolucionismo e positivismo na crítica de Farias Brito. Fortaleza:
Imprensa Universitária do Ceará, 1962. 98 p.
BASTOS, Tocari Assis. O positivismo e a realidade brasileira. Belo Horizonte: Revista Brasileira de Estudos Políticos, Universidade Federal de Minas Gerais, 1965. 171 p.
Idéias “progressistas”
BRANDÃO, Otávio. Os intelectuais progressistas: Tavares Bastos, Tobias Barreto,
Sílvio Romero, Euclides da Cunha, Lima Barreto. Coleção Rex. Rio de
Janeiro: Organização Simões, 1956. 164 p.
240
FBN_RG_vocacao_06.indd 240
5/3/2009 10:15:16
A vocação das ciências sociais no Brasil
PINHO, Luís. Idéias e pensamentos de Tavares Bastos. Rio de Janeiro: Minerva,
1946. 191 p. il.
Idéias socialistas
CHACON, Vamireh. História das idéias socialistas no Brasil. Coleção Retratos do Brasil. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1965. 416 p.
Idéias Políticas
CALMON, Pedro. História das idéias políticas. Rio de Janeiro: Livraria Freitas
Bastos, 1952. 480 p.
Obras Biográficas
BESOUCHET, Lídia. José Maria Paranhos, Vizconde do Rio Branco: ensayo histórico-biográfico. Tradução de Luis M. Bandizzone. Collection Estudios Brasileños. Buenos
Aires: Viau, 1944. 269 p. il. Edição em português: Rio de Janeiro: Z. Valverde, 1945.
BESOUCHET, Lídia. O pensamento vivo de Mauá. São Paulo: Livraria Martins,
1945. 195 p. il.
DELGADO, Luís. Rui Barbosa: tentativas de compreensão e de síntese. Coleção Documentos Brasileiros. Rio de Janeiro: José Olympio, 1945. 276 p.
LINS, Álvaro. Rio-Branco (O Barão do Rio-Branco) 1845-1912. Coleção Documentos Brasileiros. Rio de Janeiro: José Olympio, 1945. 2v. il.
SOUSA, Octávio Tarquínio de. José Bonifácio 1763-1838. Coleção Documentos
Brasileiros. Rio de Janeiro: José Olympio, 1945. 320 p. il.
CARNEIRO, Davi. Tiradentes. Curitiba: Gerpa, 1946. 141 p. il.
MAGALHÃES, João Batista de. Osório: símbolos de um povo, síntese de uma
época. Rio de Janeiro: Agir, 1946. 527 p. il.
QUEIROZ, Maurício Vinhas de. Uma garganta e alguns níqueis: história de Silva
Jardim, o herói da publicidade republicana. Rio de Janeiro: Ed. Aurora,
1947. 178 p. il.
VIANA FILHO, Luís. Rui e Nabuco: ensaios. Coleção Documentos Brasileiros. Rio de Janeiro: José Olympio, 1949. 230 p. il.
241
FBN_RG_vocacao_06.indd 241
5/3/2009 10:15:16
Glaucia Villas Bôas
GABAGLIA, Laurita Pessoa Raja. Epitácio Pessoa (1865 -1942). Coleção Documentos Brasileiros. Rio de Janeiro: José Olympio, 1951. 2 v. il.
SOUSA, Octávio Tarquínio de. A vida de dom Pedro I. Coleção Documentos
Brasileiros. Rio de Janeiro: José Olympio, 1952. 3 v. il.
FRANCO, Afonso Arinos de Melo. Um estadista da República: Afrânio de Melo
Franco e seu tempo. Coleção Documentos Brasileiros. Rio de Janeiro: José
Olympio, 1955. 3 v. il.
TINOCO, Brígido Fernandes. As duas paixões de Caxias. Biblioteca do Exército. Rio de Janeiro: Laemmert, 1956. 253 p. il.
SILVA, Paulo Lopes da. Caxias e o Brasil: estudo quase biográfico. São Paulo:
s/e, 1958. 81 p.
GREGORY, Francisca Rodrigues. Joaquim José da Silva Xavier “o tiradentes”. Rio
de Janeiro: Minerva, 1959. 112 p. il.
VIANA FILHO, Luís. A vida do Barão do Rio Branco. Coleção Documentos
Brasileiros. Rio de Janeiro: José Olympio, 1959. 458 p. il.
PEIXOTO, Alzira Vargas do Amaral. Getúlio Vargas, meu pai. Porto Alegre:
Ed. Globo, 1960. 429 p.
MASCARENHAS, Nelson Laje. Um jornalista do Império: Firmino Rodrigues
Silva. Coleção Brasiliana. São Paulo: Cia. Ed. Nacional, 1961. 469 p. il.
SOARES, Álvaro Teixeira. O Marquês de Pombal: a lição do passado e a lição do
presente. Rio de Janeiro: Ed. Alba, 1961. 270 p.
TINOCO, Brígido Fernandes. A vida de Nilo Peçanha. Coleção Documentos
Brasileiros. Rio de Janeiro: José Olympio, 1962. 291 p. il.
AZEVEDO, Aroldo de. Cochranes do Brasil: a vida e a obra de Thomas Cochrane e Ignácio Cochrane. Coleção Brasiliana. São Paulo: Cia. Ed. Nacional, 1965. 343 p. il.
VITA, Luís Washington. Alberto Sales, ideólogo da República. Coleção Brasiliana.
São Paulo: Cia. Ed. Nacional, 1965. 201 p.
OLIVEIRA, José Feliciano de. Tiradentes, o herói da independência brasileira. São
Paulo: Livraria Martins, 1966.
242
FBN_RG_vocacao_06.indd 242
5/3/2009 10:15:16
A vocação das ciências sociais no Brasil
Economia Política
Obras sobre a disciplina
Problemas teórico-metodológicos
Capital e trabalho
MENEZES, Djacir. Das leis econômicas: sua estrutura lógica analisada particularmente nas relações da oferta e da procura, sua “naturalidade” e “historicidade”, outros aspectos. Rio de Janeiro: Jornal do Commercio, 1945.
SCIOTTI, José. A capitalização no Brasil. São Paulo: Edigraf, 1948. 155 p.
BARROS, Alamiro Bica Buys de. O trabalho, o capital e seus conflitos: breve estudo. Rio de Janeiro: Irmãos Pongetti, 1951. 218 p.
FONSECA, Geraldo. Evolução da conjuntura econômica: inversões, renda, economia. São Paulo: Saraiva, 1954. 207 p. il.
FENELON, João Pessoa Ribeiro. O aumento do capital nominal da empresa. Belo
Horizonte: Faculdade de Ciências Econômicas da Universidade de Minas
Gerais, 1959. 122 p.
CHACON, Vamireh. O fato econômico no marxismo: alienação e libertação. Recife: Faculdade de Direito da Universidade do Recife, Imprensa Nery da
Fonseca, 1960. 95 p.
ANTUNES, José Pinto. A produção sob o regime da empresa: as razões da iniciativa privada, economia e direito. São Paulo: Saraiva, 1964. 260 p.
Repartição da renda
LOBO, Lúcio Gusmão. Histórico das participações nos lucros. Coleção Lindolfo
Collor. Rio de Janeiro: Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio, Serviço de Documentação, 1958. 79 p.
PEDRÃO, Fernando Cardoso. A distribuição da renda e o desenvolvimento econômico. Salvador: Livraria Progresso, 1958. 101 p.
LUCAS, Fábio. A remuneração do trabalhador. Belo Horizonte: Faculdade de
Ciências Econômicas da Universidade de Minas Gerais, 1959. 97 p.
243
FBN_RG_vocacao_06.indd 243
5/3/2009 10:15:17
Glaucia Villas Bôas
LUCAS, Fábio. Introdução ao estudo da repartição da renda. Belo Horizonte: Faculdade de Ciências Econômicas da Universidade de Minas Gerais, 1959. 102 p.
VILELA, Aníbal. Renda nacional e contabilidade social. Salvador: Universidade da
Bahia, 1959. 88 p. il.
LUCAS, Fábio. Igualdade e desigualdade das rendas. Belo Horizonte: Faculdade de
Ciências Econômicas da Universidade de Minas Gerais, 1963. 129 p.
Desenvolvimento econômico
PEDRÃO, Fernando Cardoso. Breve curso de desenvolvimento econômico. Salvador:
Imprensa Vitória, 1959. 137 p.
CHACON, Vamireh. Utilitarismo e desenvolvimento econômico: influência do utilitarismo
no classicismo econômico, neoliberalismo e marxismo. Recife: Faculdade de Direito da Universidade do Recife, Imprensa Nery da Fonseca, 1961. 250 p.
FURTADO, Celso Monteiro. Desenvolvimento e subdesenvolvimento. Biblioteca Fundo Nacional de Cultura. Rio de Janeiro: Ed. Fundo de Cultura, 1961. 268 p.
FURTADO, Celso Monteiro. Dialética do desenvolvimento. Rio de Janeiro: Ed.
Fundo de Cultura, 1964. 173 p.
Cooperativismo
CÂMARA, Nilo Vieira. Cooperativismo e política econômica. Rio de Janeiro: Centro
Nacional de Estudos Cooperativos, 1953.
SILVA, Pedro Ferreira da. Cooperativa sem lucros: uma experiência anarquista
dentro da sociedade capitalista. Série Doutrina e Filosofia. Rio de Janeiro:
Ed. Germinal, 1958. 147 p.
CAMARGO, Lenita Correa. O cooperativismo e a formação dos preços. São Paulo:
Faculdade de Ciências Econômicas e Administrativas da Universidade de
São Paulo, 1959. 200 p. il.
CHACON, Vamireh. Cooperativismo e comunitarismo: estudo de organização socioeconômica. Belo Horizonte: Universidade de Minas Gerais, 1959. 111 p.
Relações econômicas internacionais
HABELER, Gottfried. Problemas de conjuntura e de política econômica. Rio de Janeiro: Fundação Getulio Vargas, 1948. 222 p.
244
FBN_RG_vocacao_06.indd 244
5/3/2009 10:15:17
A vocação das ciências sociais no Brasil
CARNEIRO, Otávio Augusto Dias. Movimentos internacionais do capital e desenvolvimento econômico. Recife: Comissão de Desenvolvimento Econômico de
Pernambuco, 1961. 148 p.
MONTEIRO, Sílvio. Como atua o imperialismo ianque? Cadernos do Povo Brasileiro. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1963. 199 p.
BAHIANA, Henrique Paulo. Política alemã de auxílio ao desenvolvimento. Rio de
Janeiro: Gráfica Olímpica, 1966. 163 p.
Economia agrária
RAMOS, Júlio Barroso. Economia rural. Rio de Janeiro: Serviço de Informação
Agrícola, 1948. 144 p. il.
LUIZ FILHO, Fábio. Crédito agrícola e problema agrário. São Paulo: Revista dos
Tribunais, 1958. 305 p. il.
Manuais e introduções
MEDEIROS, Tarquínio de. Elementos de economia política: noções gerais. Niterói: Oficina Gráfica do Diário Oficial, 1946. 162 p.
MENEZES, Djacir. Curso de economia política. Rio de Janeiro: Livraria Freitas
Bastos, 1947. 367 p. il.
GRAÇA, Arnóbio de Sousa. Princípios de economia política. São Paulo: Saraiva,
1949. 238 p.
GOMES, Luís Sousa. O que devemos conhecer da economia política e das finanças. Rio
de Janeiro: Departamento de Imprensa Nacional, 1950.
GRAÇA, Arnóbio de Sousa. Ciências econômicas e sociais. São Paulo: Saraiva,
1953. 349 p.
MENEZES, Djacir. ABC da economia. São Paulo: Cia. Ed. Nacional, 1953. 199 p.
PEREIRA, Armando Temperani. Introdução à economia política. 2ª ed. Porto
Alegre: Livraria Sulina, 1954. 312 p. il. Primeira edição: Porto Alegre: Ed.
Globo, 1946.
ALVIM, Décio Ferraz. História das doutrinas econômicas. São Paulo: Saraiva,
1955. 111 p.
ANDRADE, Sudá de. Lições de economia política. Rio de Janeiro: Haddad, 1955. 121 p.
245
FBN_RG_vocacao_06.indd 245
5/3/2009 10:15:17
Glaucia Villas Bôas
BARROS, Alamiro Bica Buys de. Instituições de economia política. Rio de Janeiro:
José Konfino, 1955. 2 v.
CORRÊA, Oscar Dias. Introdução crítica à economia política. Belo Horizonte: Estabelecimentos Gráficos Santa Maria, 1957. 273 p.
GOMES, Alfredo. Introdução à economia: subsídios históricos e doutrinários. Rio de
Janeiro: Agir, 1958. 217 p.
BULHÕES, Octávio Gouvêa de. Economia e política econômica. Rio de Janeiro:
Agir, 1960. 183 p. il.
VIEIRA, Dorival Teixeira. Economia e sociedade: panorama da ciência econômica contemporânea. São Paulo: Cia. Ed. Nacional, 1960. 421 p.
GRAÇA, Arnóbio de Sousa. Economia política e economia brasileira. São Paulo:
Saraiva, 1962. 339 p.
ALVIM, Décio Ferraz. Economia política. São Paulo: Saraiva, 1962. 114 p.
MELO, Olbiano de. Economia política: fundamentos básicos, doutrinas econômicas. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1963. 181 p.
MENEZES, Djacir. Iniciação à economia. 2ª ed. revisada e atualizada. São Paulo: Cia
Ed. Nacional, 1965. 212 p. Primeira edição: São Paulo: Cia Ed. Nacional, 1953.
Avaliação da produção do conhecimento da disciplina no Brasil
MAGALHÃES, João Paulo de Almeida. A controvérsia brasileira sobre o desenvolvimento econômico: uma reformulação teórica. Rio de Janeiro: Record, 1966. 240 p. il.
Obras sobre temas específicos
Desenvolvimento e Política Econômica
Política e expansão econômica
RIO, José Pires do. Realidades econômicas do Brasil. Rio de Janeiro: José Olympio,
1945. 395 p.
LEVY, Herbert. O Brasil e os novos tempos: considerações sobre o problema de
reestruturação política, econômica e social do Brasil. São Paulo: Livraria
Martins, 1946. 88 p.
246
FBN_RG_vocacao_06.indd 246
5/3/2009 10:15:17
A vocação das ciências sociais no Brasil
LEVY, Herbert. A batalha de produção e outros problemas nacionais. São Paulo:
Livraria Martins, 1948. 145 p.
TEJO, Aurélio de Limeira. Retrato sincero do Brasil. Rio de Janeiro: Ed. Globo, 1950. 285 p.
MACIEL, Paulo Frederico. Um informe sobre alguns problemas do Nordeste. Recife:
Instituto Joaquim Nabuco de Pesquisas Sociais, 1956. 70 p.
TEIXEIRA, Aníbal. Ideologia e economia: uma introdução ao nacionalismo econômico. Belo Horizonte: Itatiaia, 1956. 90 p.
CAMPOS, Roberto de Oliveira. Três falácias do momento brasileiro. Coleção Fórum Roberto Simonsen. São Paulo: Centro e Federação das Indústrias do
estado de São Paulo, Serviço de Publicações, 1957. 59 p.
RANGEL, Inácio. Introdução ao estudo do desenvolvimento econômico brasileiro. Salvador: Universidade da Bahia, Livraria Progresso, 1957. 125 p.
ALENCASTRE, Amílcar. Interpretação realista de problemas econômicos. Coleção
Lindolfo Collor. Rio de Janeiro: Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio, Serviço de Documentação, 1958. 90 p.
COSTA, Vasco Ribeiro da. Considerações e idéias sobre o problema econômico nacional. Rio de Janeiro: Departamento de Administração do Serviço Público,
Serviço de Documentação, 1958. 191 p. il.
FURTADO, Celso Monteiro. Perspectivas da economia brasileira. Rio de Janeiro:
Instituto Superior de Estudos Brasileiros, 1958. 80 p.
RIBEIRO, Carlos José de Assis. Introdução ao estudo das estruturas econômicas nacionais. Rio de Janeiro: Edições Financeiras, 1958. 182 p.
SOUSA, Roberto Pinto de. Economia brasileira: problemas de estrutura, conjuntura e desenvolvimento. São Paulo: Faculdade de Ciências Econômicas
e Administrativas da Universidade de São Paulo, 1958. 297 p.
FISCHLOWITZ, Estanislau. O mercado de trabalho e o comércio. Rio de Janeiro:
Serviço Social do Comércio, 1959. 101 p.
FURTADO, Celso Monteiro. A operação nordeste. Rio de Janeiro: Ministério da
Educação e Cultura, Instituto Superior de Estudos Brasileiros, 1959. 78 p.
GUIMARÃES, Barreto. O sentido nacional dos problemas do Nordeste brasileiro. Rio
de Janeiro: Departamento de Administração do Serviço Público, Instituto
Brasileiro de Ciências Administrativas, 1959. 154 p.
247
FBN_RG_vocacao_06.indd 247
5/3/2009 10:15:17
Glaucia Villas Bôas
RIOS, José de Almeida. Análise e crítica da renda nacional frente a um desenvolvimento harmônico agropecuário e industrial. Rio de Janeiro: Livraria São José, 1959. 99 p. il.
BASBAUM, Leôncio. Caminhos brasileiros do desenvolvimento: análise e perspectivas da situação brasileira. São Paulo: Fulgor, 1960. 296 p.
BASTOS, Humberto. Experiência ou imprevidência. Rio de Janeiro: Centro de
Cultura Econômica, 1960. 224 p. il.
PAULA, Luís Nogueira de. Problemas fundamentais da economia brasileira: soluções
da técnica econômica e objetivos da política nacionalista. Rio de Janeiro:
Irmãos Pongetti, 1960. 106 p.
RANGEL, Inácio. Recursos ociosos na economia rural. Rio de Janeiro: Instituto
Superior de Estudos Brasileiros, 1960. 62 p.
SÁ, Antonio Lopes de. Aspectos do desenvolvimento econômico do Brasil. Belo Horizonte: Gráfica Santa Maria, 1960. 99 p.
CAMARGO, José Francisco de. Níveis de desenvolvimento de uma economia e sua abordagem
política: considerações sobre alguns elementos relevantes para a formulação de
uma política de desenvolvimento econômico. São Paulo: Faculdade de Ciências
Econômicas e Administrativas da Universidade de São Paulo, 1962. 350 p.
FURTADO, Celso Monteiro. A pré-revolução brasileira. Rio de Janeiro: Ed. Fundo de Cultura, 1962. 116 p.
CAMPOS, Roberto de Oliveira. Ensaios de história econômica e sociologia. Rio de
Janeiro: APEC Ed., 1963. 198 p.
MENEZES, Adolfo Justo Bezerra de. Subdesenvolvimento e política internacional.
Rio de Janeiro: GRD, 1963. 223 p.
NERI, Adalgisa. Retrato sem retoque. Coleção Retratos do Brasil. Rio de Janeiro:
Civilização Brasileira, 1963. 167 p.
BARROS, Manuel de Sousa. Matolão de pau-de-arara. Prefácio de Manuel Bandeira. Rio de Janeiro: Ed. Quipapa, 1964. 193 p. il.
CAMPOS, Roberto de Oliveira. A moeda, o governo e o tempo. Prefácio de Gilberto Amado. Rio de Janeiro: APEC Ed., 1964. 232 p.
MELO, Francisco das Chagas. Desenvolvimento econômico e realidade nacional. Rio
de Janeiro: Departamento Administrativo do Serviço Público, 1964. 83 p.
248
FBN_RG_vocacao_06.indd 248
5/3/2009 10:15:18
A vocação das ciências sociais no Brasil
FURTADO, Celso Monteiro. Subdesenvolvimento e estagnação na América Latina.
Coleção Nossa América. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1966. 127 p.
FURTADO, Celso Monteiro. Um projeto para o Brasil. 2a ed. Rio de Janeiro:
Saga, 1968. 132 p. Primeira edição: Rio de Janeiro, 1966.
Planejamento econômico
SIMONSEN, Roberto Cochrane. O planejamento da economia brasileira. São Paulo: 1945. 99 p.
OLIVEIRA, Américo Leonides Barbosa. O desenvolvimento planificado na economia brasileira. Rio de Janeiro: Livraria Kosmos, 1946. 123 p. il.
AVILINE, Nelson. Planejamento industrial do Brasil. Rio de Janeiro: Ed. Aurora,
1947. 202 p.
CAMPOS, Roberto de Oliveira. Planejamento do desenvolvimento econômico de países
subdesenvolvidos. Rio de Janeiro: Escola Brasileira de Administração Pública,
Fundação Getulio Vargas, 1952. 79 p.
AGUIAR, Manuel Pinto de; FRIEDMANN, John. Conceito de região de planejamento. Salvador: Imprensa Vitória, 1958. 77 p.
AGUIAR, Manuel Pinto de. Brasil, integração e desenvolvimento econômico. Prefácio
de Aliomar Baleeiro. Salvador: Livraria Progresso, 1958. 119 p. il.
CAVALCANTI, José Maria dos Santos Araújo. Desenvolvimento econômico e social
dos municípios. Rio de Janeiro: Departamento Administrativo do Serviço
Público, Serviço de Documentação, 1959. 701 p.
MURTA, Domício de Figueiredo. Política de colonização e plano de colonização.
Belo Horizonte: Faculdade de Ciências Econômicas da Universidade de
Minas Gerais, 1959. 99 p. il.
CAMPOS, Roberto de Oliveira. Economia, planejamento e nacionalismo. Rio de
Janeiro: APEC Ed., 1963. 324 p.
HOFFMANN, Helga. Como planejar nosso desenvolvimento? Cadernos do Povo
Brasileiro. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1963. 123 p.
DELFIM NETTO, Antonio. Planejamento para o desenvolvimento econômico. São
Paulo: Livraria Pioneira, 1966. 127 p. il.
249
FBN_RG_vocacao_06.indd 249
5/3/2009 10:15:18
Glaucia Villas Bôas
Conjunturas econômicas
BASTOS, Humberto. Produção ou pauperismo: crítica e sugestões sobre a atual crise brasileira. Prefácio de Dante Costa. São Paulo: Livraria Martins,
1946. 215 p.
LOURENÇO, João de. Educação sobre a política econômico-financeira em situação
de conjuntura. Rio de Janeiro: Serviço de Documentação do Ministério da
Educação e Saúde, 1946. 86 p.
BOUÇAS, Valentim Fernandes. Estudos econômicos e financeiros: meio século de
trabalho. Rio de Janeiro: Edições Financeiras, 1953-1955.
PEIXOTO, João Batista; PEIXOTO, Walter. Produção, transporte e energia no
Brasil. Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército, 1957. 464 p. il.
RANGEL, Inácio. Apontamentos para o 2º programa de metas. Recife: Comissão
de Desenvolvimento Econômico de Pernambuco, 1961. 66 p.
MATOS, Paulo da Cruz. Reformas de base. Belo Horizonte: Livraria Minas Gerais, 1963. 265 p.
SINGER, Paulo Israel; ALVES, Mário. Análise do Plano Trienal. Rio de Janeiro:
Ed. Universitária UNE, 1963. 90 p.
CAMPOS, Roberto de Oliveira. Política econômica e mitos políticos. Rio de Janeiro:
APEC Ed., 1965. 56 p.
GUDIN, Eugênio. Análise de problemas brasileiros: coletânea de artigos 19581964. Rio de Janeiro: Agir, 1965. 512 p.
GASPARIAN, Fernando. Em defesa da economia nacional. Rio de Janeiro: Ed.
Saga, 1966. 266 p.
Estado e ordem econômica
ANDRADE, Dercy Bessone de Oliveira. O papel do estado no domínio da economia
capitalista. Rio de Janeiro: Imprensa Oficial, 1944. 173 p.
VIEIRA, Oldegar Franco. O estado e a ordem econômica. Salvador: Universidade
da Bahia, 1958. 92 p.
LUCAS, Fábio. Conteúdo social nas constituições brasileiras. Belo Horizonte: Faculdade de Ciências Econômicas, Imprensa da Universidade de Minas Gerais,
1959. 82 p.
250
FBN_RG_vocacao_06.indd 250
5/3/2009 10:15:18
A vocação das ciências sociais no Brasil
SOUZA, Ruy de. Abuso de poder econômico. Belo Horizonte: Faculdade de Ciências Econômicas da Universidade de Minas Gerais, 1959. 93 p.
SOUZA, Washington Peluso Albino de. Do econômico nas constituições vigentes.
Belo Horizonte: Revista Brasileira de Estudos Políticos, 1961. 2v.
FURTADO, Celso Monteiro. Subdesenvolvimento e estado democrático. Recife: Comissão de Desenvolvimento Econômico de Pernambuco, 1962. 52 p.
Condições históricas da economia
BASTOS, Humberto. A economia brasileira e o mundo moderno: ensaio geopolítico
sobre a estruturação do capitalismo brasileiro. São Paulo: Livraria Martins,
1948. 290 p.
ROLLEMBERG, Luis Dias. Emancipação econômica do Brasil. São Paulo: Livraria
Martins, 1948. 151 p.
BASTOS, Humberto. Posição econômica do Brasil. São Paulo: Livraria Martins,
1951. 142 p. il.
LEVY, Herbert. Curso de economia brasileira. São Paulo: Livraria Freitas Bastos,
1951. 304 p.
LYRA FILHO, João. Angústia social: problemas brasileiros de reconstrução
econômica e financeira. Rio de Janeiro, Irmãos Pongetti, 1951. 256 p.
FURTADO, Celso Monteiro. A economia brasileira: contribuição à analise do
seu desenvolvimento. Rio de Janeiro: A Noite, 1954. 246 p.
RANGEL, Inácio. Dualidade básica da economia brasileira. Rio de Janeiro:
Instituto Superior de Estudos Brasileiros, 1957. 109 p.
SALADINI, Mário. Presença econômica do Brasil. Rio de Janeiro: Gráfica Tupy,
1958. 215 p. il.
FURTADO, Celso Monteiro. Formação econômica do Brasil. Rio de Janeiro: Ed.
Fundo de Cultura, 1959. 291 p.
FREIRE, J. Salgado. Para onde vai o Brasil? Grandezas e misérias do nosso desenvolvimento. Rio de Janeiro: Conquista, 1959. 319 p.
MAGALHÃES, Sérgio. Problemas de desenvolvimento econômico. Coleção Retratos
do Brasil. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1960. 284 p.
251
FBN_RG_vocacao_06.indd 251
5/3/2009 10:15:18
Glaucia Villas Bôas
MELO, Mario Lacerda de (et alli) As migrações para o Recife. Prefácio de Gilberto
Freyre. Recife: Instituto Joaquim Nabuco de Pesquisas Sociais, 1961. 4 v. il.
MARTINS, Ivan Pedro. Introdução à economia brasileira. Rio de Janeiro: José
Olympio, 1961. 257 p.
BASTOS, Humberto. Desenvolvimento ou escravidão: aspectos de influências externas na formação econômica do Brasil. 2a ed. São Paulo: s/e, 1964. Primeira edição: 1962
Finanças
BRITO, José do Nascimento. Economia e finanças do Brasil 1822-1940. Rio de
Janeiro: Livraria Freitas Bastos, 1945. 195 p.
CARVALHO, Daniel Serapião. Estudo de economia e finanças. Prefácio de Eugênio Gudin. Rio de Janeiro: Agir, 1946. 358 p.
LYRA FILHO, João. O estado monetário: introdução à história das caixas econômicas brasileiras. Rio de Janeiro: Irmãos Pongetti, 1948. 282 p.
LAFER, Horácio. O crédito e o sistema bancário no Brasil. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1948. 228 p.
MACHADO NETO, Brasílio. Inflação e outros estudos. Rio de Janeiro: José
Olympio, 1956. 410 p.
CARNEIRO, Otavio Augusto Dias. Estudos de educação econômico-social do Brasil.
São Paulo: Instituto de Sociologia, 1957. 187 p.
SAMPAIO, Alde Feijó. Temas econômicos da atualidade brasileira: processo de
combate à inflação, conjuntura atual do Brasil, produto nacional bruto,
quadros estatísticos. Rio de Janeiro: Irmãos Pongetti, 1966.
GUIMARÃES, Alberto Passos. Inflação e monopólio no Brasil: por que sobem os
preços? Coleção Retratos do Brasil. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira,
1963. 181 p.
MAGALHÃES, João Paulo de Almeida. Inflação e desenvolvimento. Rio de Janeiro: Ed. GRD, 1964. 106 p. il.
Comércio exterior
VILLAS BOAS, Abelardo. Efeitos das desvalorizações cambiais. Rio de Janeiro:
Livraria Freitas Bastos, 1950. 305 p. il.
252
FBN_RG_vocacao_06.indd 252
5/3/2009 10:15:18
A vocação das ciências sociais no Brasil
ALENCASTRE, Amílcar. Comércio exterior de pré e pós-guerra. Coleção Lindolfo
Collor. Rio de Janeiro: Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio, Serviço de Documentação, 1957. 64 p.
ANDRADE, Olímpio de Souza. Pequena introdução ao estudo do comércio exterior
do Brasil. Rio de Janeiro: Departamento de Administração do Serviço Público, Imprensa Nacional, 1957. 87 p.
ALENCASTRE, Amílcar. Novas áreas de comércio. Coleção Lindolfo Collor. Rio
de Janeiro: Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio, Serviço de Documentação, 1959. 105 p.
DELFIM NETTO, Antonio. O problema do café no Brasil. São Paulo: Faculdade
de Ciências Econômicas e Administrativas da Universidade de São Paulo,
Departamento de Publicação, 1959. 349 p. il.
PEREIRA, Alceu Martins. Uma geração entre duas crises do café. Santos: Revista
dos Tribunais, 1959. 179 p.
MELO, Francisco Chagas. O comércio exterior e a inflação brasileira. Rio de Janeiro:
Departamento Administrativo do Serviço Público, Serviço de Documentação, 1960. 88 p.
MARTINS, Araguaia Feitosa. Mutirão Cafeeiro. 2a ed. São Paulo: Brasiliense,
1962. 150 p. Primeira edição: Instituto Brasileiro do Café, 1961.
SILVEIRA, Cid. Café, um drama na economia nacional: análise do mercado exportador.
Coleção Retratos do Brasil. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1962. 98 p.
Indústria
LODI, Euvaldo. A indústria e a economia nacional. Rio de Janeiro: Irmãos Pongetti, 1949. 121 p.
STREET, Ernesto Jorge. A indústria têxtil no Brasil. Rio de Janeiro: Departamento Econômico da Confederação Nacional da Indústria, 1950. 135 p. il.
CUNHA, Mario Wagner Vieira da. A burocratização das empresas industriais. São
Paulo: Faculdade de Ciências Econômicas e Administrativas da Universidade de São Paulo, 1951. 161 p.
SCHLESINGER, Hugo. O Brasil não pode parar: panorama e desenvolvimento
da indústria nacional. Rio de Janeiro: Ed. Andes, 1954. 170 p.
253
FBN_RG_vocacao_06.indd 253
5/3/2009 10:15:19
Glaucia Villas Bôas
GUIMARÃES NETO, Luiz. Indústrias rurais caseiras. Rio de Janeiro: Universidade Rural do Rio de Janeiro, 1956. 146 p.
PAIM, Gilberto. Industrialização e economia natural. Rio de Janeiro: Ministério da
Educação e Cultura, Instituto Superior de Estudos Brasileiros,1957. 119 p.
PIERRO, Mário Francisco di. A indústria, o estado e a economia nacional. São Paulo: Centro e Federação das Indústrias do estado de São Paulo, Serviço de
Publicação, 1962. 62 p.
BAER, Werner. A industrialização e o desenvolvimento econômico no Brasil. Tradução
de Paulo de Almeida Rodrigues. Rio de Janeiro: Fundação Getulio Vargas,
Serviço de Publicações, 1966. 315 p.
Agricultura
CLEOPHAS, João. A mecanização agrícola no Brasil. Rio de Janeiro: Ministério
da Agricultura, Serviço de Informação Agrícola, 1954. 70 p.
AZEVEDO, Newton Pires de. Características agrárias da Amazônia. Rio de Janeiro: Superintendência do Plano de Valorização da Amazônia, 1958.
CAVALCANTI, Joaquim Nunes Coutinho. Um projeto de reforma agrária. Rio de
Janeiro: Instituto Nacional do Livro, 1959. 208 p.
COUTINHO, Antônio Rodrigues. Contribuição ao estudo da estrutura da economia
agrária brasileira segundo o censo de 1960. Rio de Janeiro: Ministério da Agricultura, Serviço de Economia Rural, 1960. 63 p.
TOURINHO, Eduardo. Agricultura na formação econômica do Brasil. Rio de Janeiro:
Ministério da Agricultura, Serviço de Informação Agrícola, 1961. 56 p.
RANGEL, Inácio. A questão agrária brasileira. Recife: Comissão de Desenvolvimento Econômico de Pernambuco, 1962. 106 p.
Investimentos estrangeiros
MOURA, Aristóteles. Capitais estrangeiros no Brasil. São Paulo: Brasiliense,
1959. 382 p.
FERREIRA, Luiz Pinto. Capitais estrangeiros e dívida externa do Brasil. São Paulo:
Brasiliense, 1965. 230 p.
SANTOS, Manoel da Costa. Os investimentos estrangeiros no Brasil. Coleção Fórum Roberto Simonsen. São Paulo: Saraiva, 1958. 68 p.
254
FBN_RG_vocacao_06.indd 254
5/3/2009 10:15:19
A vocação das ciências sociais no Brasil
MONTEIRO, João dos Santos. O despertar do gigante. Porto Alegre: 1963. 157 p.
GOMES, Luis Souza. Livre empresa, capital estrangeiro, desenvolvimento. São Paulo:
Livraria Martins, 1964. 96 p.
LIMA SOBRINHO, Alexandre José Barbosa. Máquinas para transformar cruzeiros em dólares. São Paulo: Fulgor, 1963. 63 p.
Repartição da renda
LEITE, Manoel Marques. Distribuição da renda nacional: a satisfação dos aspectos
sociais e as limitações econômicas. Porto Alegre: Universidade do Rio Grande do Sul, Faculdade de Ciências Econômicas, Tipografia do Centro, 1955.
Antropologia
Obras sobre a disciplina
Problemas teórico-metodológicos
CABRAL, Oswaldo Rodrigues. Cultura e folclore: bases científicas do folclore.
Prefácio de Roger Bastide. Florianópolis: Comissão Catarinense de Folclore, 1954. 302 p.
RUBINGER, Marcos Magalhães. Antropologia e ciência política: a utilidade da antropologia na solução dos problemas políticos. Belo Horizonte: Imprensa
Oficial, 1958. 51 p.
AZEVEDO, Thales de. Ensaios de antropologia social. Salvador: Universidade da
Bahia, 1959. 182 p.
AZEVEDO, Thales de. Antecedentes do homem. Salvador: Universidade da
Bahia, 1961. 76 p.
WILLEMS, Emílio. Antropologia social. Tradução de Yolanda Leite. São Paulo:
Difusão Européia do Livro, 1962. 158 p.
ALMEIDA, Renato. Manual de coleta folclórica. Rio de Janeiro: Gráfica Olímpica, 1965. 216 p. il.
255
FBN_RG_vocacao_06.indd 255
5/3/2009 10:15:19
Glaucia Villas Bôas
Manuais e introduções
MACHADO FILHO, Aires da Mata. Curso de folclore. Rio de Janeiro: Livros de
Portugal, 1951. 167 p.
RAMOS, Arthur. Estudos de folk-lore: definição e limites, teorias de interpretação. Prefácio de Roger Bastide. Coleção Gaivota. Rio de Janeiro: Ed. da
Casa do Estudante do Brasil, 1952. 191 p.
ÁVILA, José Bastos. Antropologia física: introdução. Prefácio de A. Fróes da
Fonseca. Rio de Janeiro: Agir, 1958. 324 p.
CARVALHO, Geraldo A. de. Notas de aula relativas aos dez primeiros pontos do
programa da cadeira de etnografia (1ª série). Rio de Janeiro: Museu Histórico
Nacional, 1959. 120 p. il.
Avaliação da produção do conhecimento da disciplina
RONDON, Cândido Mariano da Silva. A etnografia e a etnologia do Brasil em revista.
Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1946. 60 p.
PINTO, Estevão. A antropologia brasileira. Recife: Ed. Nordeste, 1952. 45 p.
BALDUS, Herbert. Bibliografia crítica da etnologia brasileira. São Paulo: Comissão
do IV Centenário da Cidade de São Paulo, Serviço de Comemorações
Culturais, 1954. 859 p.
RIBEIRO, Darcy. O indigenista Rondon. Rio de Janeiro: Ministério da Educação e
Cultura, Serviço de Documentação, 1969. 75 p.
Obras sobre temas específicos
Tradições populares
Estudos de caráter geral
LIRA, Mariza. Migalhas folclóricas. Rio de Janeiro: Laemmert, 1951. 200 p.
BETTENCOURT, Gastão de. O folclore no Brasil. Prefácio de João de Castro
Osório. Salvador: Universidade da Bahia, 1952. 342 p.
256
FBN_RG_vocacao_06.indd 256
5/3/2009 10:15:19
A vocação das ciências sociais no Brasil
CASCUDO, Luís da Câmara. Dicionário do folclore brasileiro. Rio de Janeiro: Instituto Nacional do Livro, 1954. 660 p.
LIRA, Mariza. Estudos do folclore luso-brasileiro. Rio de Janeiro: Laemmert, 1954.
230 p.
CASCUDO, Luís da Câmara. Antologia do folclore brasileiro, séculos XVI,
XVII, XVIII, XIX, XX: os cronistas coloniais, os viajantes estrangeiros, os estudiosos do Brasil, bibliografia e notas. São Paulo: Livraria
Martins, 1956. 628 p.
CARNEIRO, Edison de Souza. A sabedoria popular. Rio de Janeiro: Instituto
Nacional do Livro, 1957. 230 p.
ARAÚJO, Alceu Maynard. Folclore nacional: com fotografias do autor, desenhos de Oswaldo Storni, Osny Azevedo, do autor e de outras fontes. São
Paulo: Melhoramentos, 1964. 3 v. il. mus.
CARNEIRO, Edison de Souza. Dinâmica do folclore. Coleção Perspectivas do
Homem. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1965. 187 p. il.
Mitos, contos e provérbios
CASCUDO, Luís da Câmara. Contos tradicionais do Brasil: confrontos e notas.
Coleção Joaquim Nabuco. Rio de Janeiro: Américo Ed., 1946. 405 p.
CASCUDO, Luís da Câmara. Geografia dos mitos brasileiros. Coleção Documentos Brasileiros. Rio de Janeiro: José Olympio, 1947. 467 p.
CASCUDO, Luís da Câmara. Anubis e outros ensaios: mitologia e folclore. Rio
de Janeiro: O Cruzeiro, 1951. 281 p.
CASCUDO, Luís da Câmara. Literatura oral. Coleção Documentos Brasileiros.
Rio de Janeiro: José Olympio, 1952. 465 p.
CASCUDO, Luís da Câmara. Cinco livros do povo: introdução ao estudo da novelística no Brasil. Pesquisas e notas, textos das cinco tradicionais novelas
populares: Donzela Teodora, Roberto do Diabo, Princesa Magalona, Imperatriz Porcina, João de Calais. Coleção Documentos Brasileiros. Rio de
Janeiro: José Olympio, 1953. 443 p.
ALMEIDA, Renato. Inteligência do folclore. Rio de Janeiro: Livros de Portugal,
1957. 310 p. il.
257
FBN_RG_vocacao_06.indd 257
5/3/2009 10:15:19
Glaucia Villas Bôas
CASCUDO, Luís da Câmara. Superstições e costumes: pesquisas e notas de etnografia brasileira. Rio de Janeiro: Ed. Antunes, 1958. 260 p. il.
SILVA, Raimundo Nonato da. Estórias de lobisomem: regionalismo e folclore.
Rio de Janeiro: Irmãos Pongetti, 1959. 155 p.
CASCUDO, Luís da Câmara. Coisas que o povo diz. Rio de Janeiro: Bloch Ed.,
1963. 206 p.
Usos e costumes
CALASANS, José. Cachaça, moça branca: um estudo de folclore. Salvador: S/A
Artes Gráficas, Museu da Bahia, 1951. 112 p.
CASCUDO, Luís da Câmara. Jangada: uma pesquisa etnográfica. Rio de Janeiro: Ministério da Educação e Cultura, Serviço de Documentação, 1957.
161 p. il.
CASCUDO, Luís da Câmara. Jangadeiros: documentário da vida rural. Rio de
Janeiro: Serviço de Informação Agrícola, 1957. 60 p. il.
CABRAL, Oswaldo Rodrigues. A medicina teológica e as benzedeiras: suas raízes
na história e sua persistência no folclore. São Paulo: Departamento de
Cultura, 1958. 204 p.
SANTOS, Luiz Cristóvão dos. Brasil de chapéu-de-couro (folclore). Coleção Vera
Cruz. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1958. 176 p. il.
CASCUDO, Luís da Câmara. Rede de dormir: uma pesquisa etnográfica. Rio
de Janeiro: Ministério da Educação e Cultura, Serviço de Documentação,
1959. 242 p.
CASCUDO, Luís da Câmara. Made in Africa: pesquisas e notas. Rio de Janeiro:
Civilização Brasileira, 1965. 193 p.
MONTEIRO, Mário Ipiranga. Antropologia do guaraná. Manaus: Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia, 1965. 84 p.
Folguedos
BETTENCOURT, Gastão de. Os três santos de junho no folclore brasílico. Rio de
Janeiro: Agir, 1947. 163 p. il.
ARAÚJO, Alceu Maynard; FRANCESCHINI, Manuel Antônio. Danças e ritos
populares de Taubaté. São Paulo: s/e, 1947. 52 p. il.
258
FBN_RG_vocacao_06.indd 258
5/3/2009 10:15:20
A vocação das ciências sociais no Brasil
CALASANS, José. O ciclo folclórico do Bom Jesus Conselheiro: contribuição ao estudo
da Campanha de Canudos. Salvador: Tipografia Beneditina, 1950. 97 p.
LAYTANO, Dante de. Festa de Nossa Senhora dos Navegantes. Rio de Janeiro:
Instituto Brasileiro de Educação, Ciência e Cultura, Comissão Nacional
de Folclore, Comissão Estadual de Folclore do Rio Grande do Sul, 1955.
128 p. il.
ARAÚJO, Alceu Maynard. Festas. São Paulo: Escola de Sociologia e Política de
São Paulo, 1957. 187 p. il.
BRANDÃO, Théo. Autos e folguedos populares de Alagoas: o fandango. Maceió:
Comissão Alagoana de Folclore, 1957. 91 p. il.
ALMEIDA, Renato. Tablado folclórico. São Paulo: Record, 1961. 176 p. il.
BRANDÃO, Théo. Folguedos natalinos de Alagoas: estudo introdutório e descrição.
Maceió: Divulgação do Departamento Estadual de Cultura, 1961. 209 p. il.
Tradições populares de regiões, estados e cidades
RIBEIRO, Joaquim. Folklore dos bandeirantes. Coleção Documentos Brasileiros.
Rio de Janeiro: José Olympio, 1946. 212 p.
BRANDÃO, Théo. Folclore de Alagoas. Coleção Autores Alagoanos. Maceió:
Casa Ramalho, 1949. 191 p. il.
BRASILEIRO, Francisco. Monografia folclórica sobre o Rio das Garças. São Paulo:
Departamento de Cultura, 1951. 393 p.
MELO, Manuel Rodrigues de. Cavalo de pau. Rio de Janeiro: Irmãos Pongetti,
1953. 157 p.
PIAZZA, Walter Fernando. Aspectos folclóricos catarinenses. Coleção Folclore.
Florianópolis: Comissão Catarinense de Folclore, 1953. 138 p. il.
LIRA, Mariza. Calendário folclórico do Distrito Federal. Rio de Janeiro: Prefeitura
do Distrito Federal, Secretaria Geral de Educação e Cultura, 1954. 431 p.
SPALDING, Walter. Tradições e superstições do Brasil-Sul: ensaios de folclore. Rio
de Janeiro: Organização Simões, 1955. 223 p.
CASCUDO, Luís da Câmara. Tradições populares da pecuária nordestina. Rio de Janeiro: Ministério da Agricultura, Serviço de Informação Agrícola, 1956. 78 p. il.
259
FBN_RG_vocacao_06.indd 259
5/3/2009 10:15:20
Glaucia Villas Bôas
RIBEIRO, Joaquim. Folclore baiano. Rio de Janeiro: Ministério da Educação e
Cultura, Serviço de Documentação, 1956. 59 p. il.
BOITEUX, Lucas Alexandre. Poranduba catarinense. Florianópolis: Comissão
Catarinense de Folclore, 1957. 196 p.
LACERDA, Regina. Vila Boa: folclore. São Paulo: Revista dos Tribunais,
1957. 159 p. il.
CAMPOS, Eduardo. Folclore do Nordeste. Rio de Janeiro: O Cruzeiro, 1960. 183 p.
PIAZZA, Walter Fernando. Folclore de Brusque: estudo de uma comunidade.
Brusque: Ed. da Sociedade Amigos de Brusque, 1960. 223 p. il.
ARAÚJO, Alceu Maynard. Escorço do folclore de uma comunidade. São Paulo: Secretaria de Educação e Cultura, Divisão do Arquivo Histórico, 1962. 472 p. il.
MONTEIRO, Mário Ipiranga. Roteiro do folclore amazônico. Manaus: Ed. Sérgio
Cardoso, 1964. il.
Grupos étnicos específicos
Grupos indígenas no seu conjunto
RAMOS, Arthur. A organização dual entre os índios brasileiros. Rio de Janeiro:
Mendes Júnior, 1945. 67 p.
RONDON, Cândido Mariano da Silva. Índios do Brasil. Rio de Janeiro: Conselho de Proteção dos Índios, 1946. 3 v.
FERREIRA, Manuel Rodrigues. Cenas da vida indígena: álbum dos índios do Xingu.
Apresentação de Herbert Baldus. São Paulo: Melhoramentos, 1952. 51 p. il.
SAMPAIO, Teodoro; TESCHAUER, Carlos. Os naturalistas viajantes dos séculos
XVIII e XIX e a etnografia indígena. Coleção Estudos Brasileiros. Salvador:
Livraria Progresso, 1955. 305 p. il.
RIBEIRO, Darcy. Culturas e línguas indígenas do Brasil. Rio de Janeiro: Centro
Brasileiro de Pesquisas Educacionais, 1957. 102 p.
Grupos indígenas específicos
BOGGIANI, Guido. Os caduveos: um estudo histórico e antropológico. Prefácio de Herbert Baldus e tradução de Amadeu Amaral Júnior. São Paulo:
Livraria Martins, 1945. 310 p.
260
FBN_RG_vocacao_06.indd 260
5/3/2009 10:15:20
A vocação das ciências sociais no Brasil
MACHADO, Othon Xavier de Brito. Os carajás (inan-sou-uéra): contribuição
ao estudo dos indígenas brasileiros. Rio de Janeiro: Conselho Nacional de
Proteção aos Índios, Imprensa Nacional, 1947. 128 p. il.
FERNANDES, Florestan. Organização social dos tupinambá. São Paulo: Instituto
Progresso Editorial, 1949. 325 p. il.
PEREIRA, Manuel Nunes. Os índios maué. Rio de Janeiro: Organização Simões, 1954. 171 p. il.
PINTO, Estevão. Etnologia brasileira: fulniô - os últimos tapuia. Coleção Brasiliana. São Paulo: Cia. Ed. Nacional, 1956. 305 p. il.
FRANCIS, Huxley. Selvagens amáveis: um antropologista entre os índios urubus. Tradução de Japi Freire. Coleção Brasiliana. São Paulo: Cia. Ed. Nacional, 1963. 321 p. il.
BALDUS, Herbert. Tapirapé, tribo tupi no Brasil central. Coleção Brasiliana. São
Paulo: Cia. Ed. Nacional, 1970. 510 p. il. Primeira edição: São Paulo: Revista do Arquivo Municipal, vol. XCVI, 1944.
FERNANDES, Florestan. A função social da guerra na sociedade tupinambá. 2a ed. São Paulo:
Livraria Pioneira, 1970. 425 p. Primeira edição: São Paulo: Museu Paulista, 1952.
MUSSOLINI, Gioconda. Ensaios de antropologia indígena e caiçara. Organização
de Edgard Carone e prefácio de Antônio Cândido. Coleção Estudos Brasileiros. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1980. 289 p. Primeira edição: 1955.
Cultura indígena: religião, mitos e lendas
BALDUS, Herbert. Lendas dos índios do Brasil: selecionadas e comentadas. São
Paulo: Brasiliense, 1946. 121 p.
CARNEIRO, José Fernando Domingues. A antropofagia entre os indígenas do Brasil. Coleção Brasileira de Divulgação. Rio de Janeiro: Ministério da Educação e Saúde, Serviço de Documentação, 1946. 50 p.
MUSSOLINI, Gioconda. Os meios de defesa contra a moléstia e a morte em duas tribos brasileiras: Kaingang de Duque de Caxias e Bororo oriental. São Paulo:
Departamento de Cultura, 1946. 152 p.
RONDON, Cândido Mariano da Silva. Esboço gramatical e vocabulário da língua
bororo: algumas lendas e notas etnográficas da mesma tribo. Rio de Janeiro:
Imprensa Nacional, 1948. 209 p. il.
261
FBN_RG_vocacao_06.indd 261
5/3/2009 10:15:20
Glaucia Villas Bôas
RONDON, Cândido Mariano da Silva. Esboço gramatical e vocabulário: lendas e cânticos dos índios Ariti (Pareci). Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, Conselho
Nacional de Proteção aos Índios, Ministério da Agricultura, 1948. 110 p.
RONDON, Cândido Mariano da Silva. Glossário geral das tribos silvícolas de Mato
Grosso e outras da Amazônia e do norte do Brasil. Rio de Janeiro: Imprensa
Nacional, Conselho Nacional de Proteção aos Índios, Ministério da Agricultura, 1948. 255 p. il.
CARVALHO, José Cândido de Melo. Observações zoológicas e antropológicas na
região dos formadores do Xingu. Por José C. M. Carvalho, Pedro E. de Lima,
Eduardo Galvão. Introdução de Heloísa Alberto Torres. Rio de Janeiro:
Imprensa Nacional, 1949. 48 p. il.
MÉTRAUX, Alfred. A religião dos tupinambás e suas relações com as demais tribos
tupi-guaranis. Prefácio, tradução e notas de Estevão Pinto. Coleção Brasiliana. São Paulo: Cia. Ed. Nacional, 1950. 421 p. il.
RIBEIRO, Darcy. Religião e mitologia kadiweu. Rio de Janeiro: Serviço de Proteção aos Índios, 1950. 222 p. il.
SCHADEN, Egon. Aspectos fundamentais da cultura guarani. São Paulo: Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de São Paulo, 1954.
216 p. il.
PINTO, Odorico Pires. Arte primitiva brasileira. São Paulo: Revista do Arquivo
Municipal, 1955. 246 p. il.
SCHADEN, Egon. A mitologia heróica de tribos indígenas do Brasil: ensaio etnosociológico. Rio de Janeiro: Ministério da Educação e Cultura, Serviço de
Documentação, 1959. 183 p.
CÂMARA JÚNIOR, Joaquim Matoso. Introdução às línguas indígenas brasileiras.
3a ed. Rio de Janeiro: Instituto Nacional do Livro, 1977. 228 p. Primeira
edição: 1958.
Integração indígena
SOUZA, Lincoln. Os xavantes e a civilização: ensaio histórico. Rio de Janeiro:
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, 1953. 58 p.
OLIVEIRA, Roberto Cardoso. O processo de assimilação dos terena. Rio de Janeiro: Museu Nacional, 1960. 160 p.
262
FBN_RG_vocacao_06.indd 262
5/3/2009 10:15:20
A vocação das ciências sociais no Brasil
WAGLEY, Charles; GALVÃO, Eduardo. Os índios tenetehara: uma cultura em
transição. Coleção Vida Brasileira. Rio de Janeiro: Ministério da Educação
e Cultura, Serviço de Documentação, 1961. 235 p.
SCHADEN, Egon. Índios, caboclos e colonos: páginas de etnografia, sociologia e
folclore. São Paulo: Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de São Paulo, 1963. 101 p.
MALCHER, José Maria da Gama. Índios: grau de integração na comunidade
nacional, grupo lingüístico, localização. Rio de Janeiro: Ministério da Agricultura, Conselho Nacional de Proteção aos Índios, Imprensa Nacional ,
1964. 264 p. il.
OLIVEIRA, Roberto Cardoso de. O índio e o mundo dos brancos: a situação dos
turuna do Alto Solimões. Coleção Corpo e Alma do Brasil. São Paulo:
Difusão Européia do Livro, 1964. 143 p. il.
LIMA, Luís. Resistência do índio à dominação do Brasil. Rio de Janeiro: Leitura,
1965. 151 p.
GALVÃO, Eduardo Enéas. Encontro de sociedades: índios e brancos no Brasil.
Prefácio de Darcy Ribeiro. Coleção Estudos Brasileiros. Rio de Janeiro:
Paz e Terra, 1979. 300 p. il. Primeira edição: Santos e visagens. São Paulo:
Cia. Ed. Nacional, 1955.
Negros no Brasil
VIANA FILHO, Luís. O negro na Bahia. Prefácio de Gilberto Freyre. Coleção
Documentos Brasileiros. Rio de Janeiro: José Olympio, 1946. 167 p.
RODRIGUES FILHO, Mário. O negro no futebol brasileiro. Prefácio de Gilberto
Freyre. Rio de Janeiro: Irmãos Pongetti, 1947. 295 p.
CARNEIRO, Edison de Souza. Antologia do negro brasileiro. Rio de Janeiro: Ed.
Globo, 1950. 432 p.
SOUZA, Ivanildo de. Posição do negro no direito brasileiro: contribuição ao estudo
sociológico do negro nas Américas. Recife: Ed. Nordeste, 1954. 62 p.
AZEVEDO, Thales de. As elites de cor: um estudo de ascensão social. Prefácio de
Charles Wagley. Coleção Brasiliana. São Paulo: Cia. Ed. Nacional, 1955. 203 p.
263
FBN_RG_vocacao_06.indd 263
5/3/2009 10:15:21
Glaucia Villas Bôas
RAMOS, Arthur. O negro na civilização brasileira. Rio de Janeiro: Ed. da Casa do
Estudante do Brasil, 1956. 246 p.
MELO, Antônio da Silva. Estudos sobre o negro. Rio de Janeiro: José Olympio,
1958. 231 p.
FREYRE, Gilberto. O escravo nos anúncios de jornais brasileiros do século XIX: tentativa de interpretação antropológica através de anúncios de jornais. Prefácio de A. da Silva Melo. Recife: Imprensa Universitária, 1963. 224 p.
CARNEIRO, Edison de Souza. Ladinos e crioulos: estudos sobre o negro no
Brasil. Coleção Retratos do Brasil. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira,
1964. 240 p.
Imigrantes
WILLEMS, Emílio. A aculturação dos alemães no Brasil: estudo antropológico
dos imigrantes alemães e seus descendentes no Brasil. Coleção Brasiliana.
São Paulo: Cia. Ed. Nacional, 1946. 609 p. il.
ALBERSHEIN, Úrsula. Uma comunidade teuto-brasileira (Jarim). Rio de Janeiro:
Centro Brasileiro de Pesquisas Educacionais, 1962. 228 p. il.
DIÉGUES JÚNIOR, Manuel. Imigração, urbanização e industrialização: estudo
sobre alguns aspectos da contribuição cultural do imigrante no Brasil. Rio
de Janeiro: Centro Brasileiro de Pesquisas Educacionais, 1964. 385 p.
Formação étnico-cultural
LEÃO, Antônio Carneiro. O sentido da evolução cultural do Brasil. Prefácio de M.
B. Lourenço Filho. Rio de Janeiro: Ministério das Relações Exteriores,
1946. 217 p. il.
FREYRE, Gilberto. Interpretação do Brasil: aspectos da formação social brasileira como processo de amalgamento de raças e culturas. Introdução e
tradução de Olívio Montenegro. Coleção Documentos Brasileiros, 56. Rio
de Janeiro: José Olympio, 1947. 323 p. Primeira edição: Brazil: an interpretation. New York: Alfred A. Knopf, 1945.
264
FBN_RG_vocacao_06.indd 264
5/3/2009 10:15:21
A vocação das ciências sociais no Brasil
ORNELAS, Manoelito de. Gaúchos e beduínos: a origem étnica e a formação
social do Rio Grande do Sul. Coleção Documentos Brasileiros. Rio de
Janeiro: José Olympio, 1948. 188 p.
DIÉGUES JÚNIOR, Manuel. O banguê nas Alagoas: traços da influência do
sistema econômico do engenho de açúcar na vida e na cultura regional.
Prefácio de Gilberto Freyre. Rio de Janeiro: Instituto do Açúcar e do Álcool, 1949. 288 p. il.
BEZERRA, Felte. Etnias sergipanas: contribuição ao seu estudo. Prefácio de
Emílio Willems. Coleção Estudos Sergipanos. Aracaju: Livraria Regina,
1950. 269 p.
BRASILIANO, Rúbio. Conceitos sobre a formação brasileira: panorama étnicosocial. Rio de Janeiro: Erechim Tipografia Modelo, 1952. 251 p.
DIÉGUES JÚNIOR, Manuel. Estudos das relações de cultura no Brasil. Cadernos
de Cultura. Rio de Janeiro: Ministério da Educação e Cultura, Serviço de
Documentação, 1955. 67 p.
OTT, Carlos B. Formação e evolução étnica da cidade de Salvador: o folclore bahiano.
Salvador: Tipografia Manú, 1955-1957. 2v. il.
DIÉGUES JÚNIOR, Manuel. Etnias e culturas no Brasil. Coleção Vida Brasileira, 5. Rio de Janeiro: Ministério da Educação e Cultura, Serviço de
Documentação. 1956. 120 p.
DIÉGUES JÚNIOR, Manuel. Regiões culturais do Brasil. Rio de Janeiro: Centro
Brasileiro de Pesquisas Educacionais, 1960. 535 p.
FREYRE, Gilberto. Homem, cultura e trópico. Recife: Faculdade de Medicina,
Instituto de Antropologia Tropical, Imprensa Universitária, 1962. 234 p.
DIÉGUES JÚNIOR, Manuel. O Brasil e os brasileiros: ensaio sobre alguns aspectos das características humanas das populações brasileiras. São Paulo:
Livraria Martins, 1964. 103 p.
FREYRE, Gilberto. Brasis, Brasil e Brasília: sugestões em torno de problemas
brasileiros de unidade e diversidade e das relações de alguns deles com
265
FBN_RG_vocacao_06.indd 265
5/3/2009 10:15:21
Glaucia Villas Bôas
problemas gerais de pluralismo étnico e cultural. Coleção Presença Brasileira. Rio de Janeiro: Record, 1968. 271 p. Primeira edição: Lisboa: Livros
do Brasil, 1960.
AZEVEDO, Thales de. Cultura e situação racial no Brasil. Coleção Retratos do
Brasil, 42. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1966. 199 p.
Religiões afro-brasileiras
BASTIDE, Roger. Imagens do Nordeste místico em branco e preto. Rio de Janeiro: O
Cruzeiro, 1945. 247 p.
PEREIRA, Manuel Nunes. A casa das minas: contribuição ao estudo das sobrevivências daomeanas no Brasil. Introdução de Arthur Ramos. Rio de
Janeiro: Sociedade Brasileira de Antropologia e Etnologia, 1947. 45 p.
CARNEIRO, Edison de Souza. Candomblés da Bahia: com ilustrações fotográficas, desenhos de Paulo Flores e transcrições musicais de Marshall Levins.
Salvador: Secretaria de Educação e Saúde, Museu da Bahia, 1948. 140 p. il.
VALENTE, Waldemar de Figueiredo. Sincretismo religioso afro-brasileiro. Prefácio de Amaro Quintas. Coleção Brasiliana. São Paulo: Cia. Ed. Nacional,
1955. 173 p. il.
RIBEIRO, René. Religião e relações sociais. Prefácio de Gilberto Freyre. Rio de
Janeiro: Ministério da Educação e Cultura, Serviço de Documentação,
1956. 241 p.
BASTIDE, Roger. Sociologia do folclore brasileiro. São Paulo: Ed. Anhembi, 1959. 321 p.
BASTIDE, Roger. O candomblé da Bahia: rito nagô. Tradução de Maria Isaura Pereira de Queiroz. Coleção Brasiliana. São Paulo: Cia. Ed. Nacional,
1961. 370 p.
VALENTE, Waldemar de Figueiredo. Misticismo e região: aspectos de sebastianismo
nordestino. Recife: Instituto Joaquim Nabuco de Pesquisas Sociais, 1963. 120 p.
VALENTE, Waldemar de Figueiredo. Sobrevivências daomeanas nos grupos de culto
afro-nordestinos. Recife: Instituto Joaquim Nabuco de Pesquisas Sociais, Ministério da Educação e Cultura, 1964. 46 p. il.
266
FBN_RG_vocacao_06.indd 266
5/3/2009 10:15:21
A vocação das ciências sociais no Brasil
LANDES, Ruth. A cidade das mulheres. Tradução de Maria Lúcia do Eirado Silva. Coleção Retratos do Brasil. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1967.
316 p. Primeira edição em inglês: The city of women. New York: Macmilliam,
1947. 248 p.
RIBEIRO, René. Cultos afro-brasileiros do Recife: um estudo de ajustamento social. Prefácio de Roberto Motta. 2ª ed. Recife: Instituto Joaquim Nabuco
de Pesquisas Sociais, 1978. 160 p. Primeira edição: Recife: Instituto Joaquim Nabuco de Pesquisas Sociais, 1952.
Cultura rural
RAMOS, Arthur. Introdução à antropologia brasileira. Coleção Estudos Brasileiros.
Rio de Janeiro: Ed. da Casa do Estudante do Brasil, 1943-1947. 2 v. il.
DIÉGUES JÚNIOR, Manuel. O engenho de açúcar no Nordeste. Rio de Janeiro:
Ministério da Agricultura, Serviço de Informação Agrícola, 1952. 68 p. il.
DIÉGUES JÚNIOR, Manuel. População e açúcar no Nordeste do Brasil. Rio de
Janeiro: Comissão Nacional de Alimentação, 1954. 236 p.
MELO, Manuel Rodrigues de. Patriarcas e carreiros: influências do coronel e do
carro de boi na sociedade rural do Nordeste. 2a ed. Rio de Janeiro: Irmãos
Pongetti, 1954. 272 p. il.
SILVA, Raimundo Nonato da. Figuras e tradições do Nordeste. Rio de Janeiro:
Irmãos Pongetti, 1958. 170 p.
FREYRE, Gilberto. Açúcar: em torno da etnografia, da história e da sociologia
do doce no Nordeste canavieiro do Brasil. Com numerosas receitas raras
de doces e bolos da região e, para efeitos de comparação, com algumas de
outras áreas brasileiras e outras tantas de Goa (Índia Portuguesa) reunidas
e selecionadas pelo autor. 2a ed. Rio de Janeiro: Instituto do Açúcar e do
Álcool, 1969. 286 p. Primeira edição: Açúcar: algumas receitas de doces e
bolos dos engenhos do Nordeste. Com ilustrações de Manuel Bandeira.
Rio de Janeiro: José Olympio, 1939.
FREYRE, Gilberto (et alli). Cana e reforma agrária. 2a ed. Recife: Instituto Joaquim Nabuco de Pesquisas Sociais, 1970. 369 p.
267
FBN_RG_vocacao_06.indd 267
5/3/2009 10:15:21
Glaucia Villas Bôas
Sociologia
Obras sobre a disciplina
Problemas teórico-metodológicos
LINS, Mário. A transformação da lógica conceitual da sociologia: bases para uma
reestruturação da sistemática sociológica. Rio de Janeiro: Jornal do Commercio, 1947. 127 p.
PIERSON, Donald. Leituras de sociologia e antropologia social. São Paulo: Livraria
Martins, 1948. 672 p.
LINS, Mario. A evolução lógico-conceitual da ciência. Rio de Janeiro: Jornal do
Commercio, 1954. 73p.
PAGLIARINI, Mauro Fernandes. O fato social e sua influência coercitiva na realidade: conceituação dinâmica. São Paulo: J. A. Pereira, 1956. 119 p.
SANTOS, Mário Ferreira dos. Sociologia fundamental e ética fundamental. São Paulo: Livraria Ed. Logos, 1957. 246 p.
MÜLLER, Antônio Rubbo. Teoria da organização humana. São Paulo: Fundação
Escola de Sociologia e Política de São Paulo, 1958.
MARINHO, Sérgio. Aspectos de sociologia. Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército, 1958. 166 p.
RAMOS, Alberto Guerreiro. A redução sociológica: introdução ao estudo da razão sociológica. Rio de Janeiro: Instituto Superior de Estudos Brasileiros,
1958. 169 p.
AZEVEDO, Thales de (et alli). Atualidade de Durkheim. Salvador: Universidade da Bahia Imprensa Vitória, 1959. 112 p.
FERNANDES, Florestan. Fundamentos empíricos da explicação sociológica. São
Paulo: Cia. Ed. Nacional, 1959. 378 p.
FERNANDES, Florestan. Ensaios de sociologia geral e aplicada. Biblioteca Pioneira de Ciências Sociais. São Paulo: Livraria Pioneira, 1960. 423 p.
PIMENTA, Joaquim. Sociologia jurídica do trabalho. 3a ed. Rio de Janeiro: Ed. Nacional de Direito, 1948. 300 p. Primeira edição: Rio de Janeiro: Forense, 1944.
268
FBN_RG_vocacao_06.indd 268
5/3/2009 10:15:22
A vocação das ciências sociais no Brasil
BASTIDE, Roger. Sociologia e psicanálise. Coleção Minerva. São Paulo: Instituto
Progresso Editorial, 1948. 277 p.
MORAES FILHO, Evaristo de. O problema de uma sociologia do direito. Rio de
Janeiro: Livraria Freitas Bastos, 1950. 264 p.
RAMOS, Alberto Guerreiro. Sociologia do orçamento familiar. Rio de Janeiro: Departamento de Imprensa Nacional, 1950. 89 p.
MORAES FILHO, Evaristo de. Relações humanas na indústria: lições de sociologia industrial. Rio de Janeiro: Departamento Administrativo do Serviço
Público, Serviço de Documentação, 1955. 115 p.
MORAES FILHO, Evaristo de. Do delito ao direito de greve, um quarto de século na
vida italiana. Coleção Lindolfo Collor. Rio de Janeiro: Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio, Serviço de Documentação, 1956. 61 p.
MACHADO NETO, Antônio Luís. Sociedade e direito na perspectiva da razão vital.
Salvador: Livraria Progresso, 1957. 290 p.
DONATO, Messias Pereira. O movimento sindical operário no regime capitalista.
Belo Horizonte: UMG, 1959. 134 p.
CHACON, Vamireh. Introdução ao problema da sociologia do direito. Recife: Universidade do Recife, Faculdade de Direito, 1959. 118 p.
MACHADO NETO, Antônio Luís; MACHADO NETO, Zahidé. O direito
e a vida social: leituras básicas de sociologia jurídica. São Paulo: Cia. Ed.
Nacional, 1966. 210 p.
FERREIRA, Francisco de Paula. As técnicas da pesquisa social. Petrópolis: Vozes,
1947. 160 p.
CRUZ, José. Pesquisa social: suas técnicas. Aracaju: Livraria Regina, 1960. 183 p.
NOGUEIRA, Oracy. Pesquisa social: introdução às suas técnicas. 3a ed. São
Paulo: Cia. Ed. Nacional, 1975. 195 p. Primeira edição: Comissão Paulista
de Folclore, 1951. São Paulo.
Manuais e introduções
FONTOURA, Afro Amaral. Sociologia educacional. Rio de Janeiro: Gráfica Ed.
Aurora, 1951. 273 p.
269
FBN_RG_vocacao_06.indd 269
5/3/2009 10:15:22
Glaucia Villas Bôas
GUSMÃO, Paulo Dourado de. Introdução à sociologia. Rio de Janeiro: Serviço
de Documentação do Departamento Administrativo do Serviço Público,
1959. 241 p.
BARCELLOS, Fernanda Augusta Vieira Ferreira (et alli). Pequena antologia sociológica. Rio de Janeiro: Gráfica Ed. Aurora, 1955. 202 p.
BRANDÃO, Geraldo. Noções de sociologia geral: para as cadeiras do curso pedagógico
dos institutos de educação do Brasil. São Paulo: Ed. do Brasil, 1955. 180 p.
PIMENTA, Joaquim. Enciclopédia de cultura: sociologia e ciências correlatas.
Rio de Janeiro: Livraria Freitas Bastos, 1955. 412 p.
CORRÊA, Carlos Pinto (et alli). Estudos de sociologia. Belo Horizonte: Universidade de Minas Gerais, Faculdade de Ciências Econômicas, Imprensa da
Universidade, 1957. 170 p. il.
BARCELLOS, Fernanda Augusta Vieira Ferreira. Pequeno tratado de relações humanas. Niterói: J. Gonçalves, 1957. 215 p.
GUSMÃO, Paulo Dourado de. Teorias sociológicas. Rio de Janeiro: Ed. Fundo
de Cultura, 1962. 306 p.
ALVIM, Décio Ferraz. Sociologia. Petrópolis: Vozes, 1963. 216 p.
GUSMÃO, Paulo Dourado de. Manual de sociologia. Rio de Janeiro: Ed. Fundo
de Cultura, 1963. 255 p.
NÓBREGA, J. Flóscolo da. Introdução à sociologia. Rio de Janeiro: J. Konfino,
1965. 125 p.
Avaliação da produção de conhecimento da disciplina no Brasil
RAMOS, Alberto Guerreiro Ramos; GARCIA, Evaldo da Silva. Notícias sobre
as pesquisas e os estudos sociológicos no Brasil (1940-1949): com especial referência a migrações, contatos de raça, colonização e assuntos correlatos. Rio
de Janeiro: Conselho de imigração e colonização, 1950.
PINTO, Luís Aguiar Costa; CARNEIRO, Edison. As ciências sociais no Brasil. Rio de Janeiro:
Comissão de Aperfeiçoamento do Pessoal de Ensino Superior - CAPES, 1955. 111 p.
BAZZANELLA, Waldemiro. Estratificação e mobilidade social no Brasil: fontes bibliográficas. Rio de Janeiro: Centro Brasileiro de Pesquisas Educacionais, 1956. 116 p.
270
FBN_RG_vocacao_06.indd 270
5/3/2009 10:15:22
A vocação das ciências sociais no Brasil
RAMOS, Alberto Guerreiro. Introdução crítica à sociologia brasileira. Rio de Janeiro: Ed. Andes, 1957. 216 p.
LEÃO, Antônio Carneiro. Panorama sociológico do Brasil (curso realizado em
francês na Sorbonne, no ano letivo de 1950-1951 e reescrito em português). Prefácio de George Davy. Rio de Janeiro: Centro Brasileiro de Pesquisas Educacionais, 1958. 204 p.
FERNANDES, Florestan. A etnologia e a sociologia no Brasil. São Paulo: Ed.
Anhembi, 1958. 327 p. il.
BAZZANELLA, Waldemiro. Problemas de urbanização na América Latina: fontes
bibliográficas. Rio de Janeiro: Centro Latino-Americano de Pesquisas em
Ciências Sociais, 1960. 123 p.
FERNANDES, Florestan. A sociologia numa era de revolução social. Ciências Sociais, 12. São Paulo: Cia. Ed. Nacional, 1963. 378 p.
AZEVEDO, Thales de. As ciências sociais na Bahia: notas para sua história. Salvador: Universidade da Bahia, Instituto de Ciências Sociais, 1964. 81 p.
Avaliação do ensino da disciplina
CARVALHO, Carlos Miguel Delgado de. Didática das ciências sociais: observações críticas acerca do ensino de Sociologia por Emílio Willems. Belo
Horizonte: Secretaria de Educação, Imprensa Oficial, 1949.
FRIEDMANN, John. Esquema de um curso de leituras de ciências sociais. Tradução
de Rubens Doval. Salvador: Livraria Progresso, 1957. 62 p.
Obras sobre temas específicos
Mudança social, industrialização e desenvolvimento
Estudos de caráter geral
BASTIDE, Roger. Brasil, terra de contrastes. Tradução de Maria Isaura Pereira de
Queiroz. São Paulo: Difusão Européia do Livro, 1959. 253 p.
LAMBERT, Jacques. Os dois Brasis. Rio de Janeiro: Instituto Nacional de Estudos Pedagógicos – INEP, Centro Brasileiro de Pesquisas Educacionais, 1959. 288 p.
271
FBN_RG_vocacao_06.indd 271
5/3/2009 10:15:22
Glaucia Villas Bôas
Mudanças sociais
FREYRE, Gilberto. Ordem e progresso. Rio de Janeiro: José Olympio, 1959. 2 v. il.
WAGLEY, Charles. A revolução brasileira: uma análise da mudança social desde
1930. Tradução de Archimedes P. Guimarães. Salvador: Fundação para o
Desenvolvimento da Ciência na Bahia, Livraria Progresso, 1959. 78 p.
FERNANDES, Florestan. Mudanças sociais no Brasil: aspectos do desenvolvimento da sociedade brasileira. Coleção Corpo e Alma do Brasil. São
Paulo: Difusão Européia do Livro, 1960. 401 p. il.
PINTO, Luís de Aguiar Costa. Sociologia e desenvolvimento, temas e problemas de nosso tempo.
Coleção Retratos do Brasil. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1963. 314 p.
BELTRÃO, Pedro Caldeira. Sociologia do desenvolvimento. Rio de Janeiro: Ed.
Globo, 1965. 159 p. il.
MORAIS, José Xavier Pessoa de. Sociologia da revolução brasileira, análise e interpretação do
Brasil hoje. Prefácio de Gilberto Freyre. Rio de Janeiro: Ed. Leitura, 1965. 343 p.
PEREIRA, Luís. Trabalho e desenvolvimento no Brasil. Coleção Corpo e Alma do
Brasil. São Paulo: Difusão Européia do Livro, 1965. 302 p.
RAMOS, Alberto Guerreiro. Administração e estratégia do desenvolvimento: elementos de uma sociologia da administração. Rio de Janeiro: Fundação Getulio
Vargas, 1966. 453 p.
FERNANDES, Florestan. Folclore e mudança social na cidade de São Paulo. 2a ed.
Revisada pelo autor. Petrópolis: Vozes, 1979. 410 p. Primeira edição: São
Paulo: Ed. Anhembi, 1961. 475 p.
Comunidades
WAGLEY, Charles. Uma comunidade amazônica: estudo do homem nos trópicos. Tradução de Clotilde da Silva Costa. Coleção Brasiliana. São Paulo:
Cia Ed. Nacional, 1957. 312 p. il.
SILVA, Fernando Altenfelder. Análise comparativa de alguns aspectos da estrutura
social de duas comunidades do Vale do São Francisco. Curitiba: Universidade do
Paraná, Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, 1954. 219 p. il.
272
FBN_RG_vocacao_06.indd 272
5/3/2009 10:15:22
A vocação das ciências sociais no Brasil
WILLEMS, Emílio. Uma vila brasileira, tradição e transição. Prefácio de Nelson Werneck
Sodré. Coleção Corpo e Alma do Brasil. São Paulo: Difusão Européia do Livro,
1961. 222 p. Primeira edição: Cunha. Tradição e transição em uma cultura rural do Brasil.
São Paulo: Secretaria de Agricultura, Diretoria de Publicidade Agrícola, 1947.
NOGUEIRA, Oracy. Família e comunidade: um estudo sociológico de Itapetininga.
Rio de Janeiro: Centro Brasileiro de Pesquisas Educacionais, 1962. 541 p. il.
PIERSON, Donald. Cruz das almas. Com a colaboração de Carlos Borges Teixeira e outros. Coleção Documentos Brasileiros, Rio de Janeiro: José Olympio, 1966. 458 p. il.
Industrialização
AZEVEDO, Fernando de. A cidade e o campo na civilização industrial e
outros estudos. São Paulo: Melhoramentos, 1962. 267 p.
IANNI, Octávio. Industrialização e desenvolvimento social no Brasil. Coleção Retratos do Brasil. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1963. 269 p.
LOPES, Juarez Rubens Brandão. Sociedade industrial no Brasil. Prefácio de Mário Wagner Vieira da Cunha. Coleção Corpo e Alma do Brasil. São Paulo:
Difusão Européia do Livro, 1964. 186 p.
CARDOSO, Fernando Henrique. Empresário industrial e desenvolvimento econômico
no Brasil. Coleção Corpo e Alma do Brasil. São Paulo: Difusão Européia
do Livro, 1964. 196 p.
IANNI, Octávio. Estado e capitalismo, estrutura social e industrialização no Brasil.
Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1965. 270 p.
Meio rural
Características gerais
SCHIMIDT, Carlos Borges. O meio rural: investigações e estudos das suas condições
sociais e econômicas. São Paulo: Secretaria de Agricultura, Indústria e Comércio
do estado de São Paulo, Diretoria de Publicidade Agrícola, 1946. 182 p. il.
CARVALHO, Hernani. Sociologia da vida rural brasileira: subsídios para o seu
estudo. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1951. 396 p. il.
273
FBN_RG_vocacao_06.indd 273
5/3/2009 10:15:23
Glaucia Villas Bôas
LEÃO, Antônio Carneiro. A sociedade rural, seus problemas e sua educação. Rio de
Janeiro: Ed. A Noite, 1953. 368 p. il.
Condições e relações de trabalho
TORRES, João Batista de Vasconcelos. Condições de vida do trabalhador na agroindústria
do açúcar. Rio de Janeiro: Instituto do Açúcar e do Álcool, 1945. 277 p. il.
CALDEIRA, Clóvis. Arrendamento e parceria no Brasil. Rio de Janeiro: Comissão
Nacional de Política Agrária, 1955. 54 p.
SANTOS FILHO, Licurgo de Castro. Uma comunidade rural do Brasil Antigo:
aspectos da vida patriarcal no sertão da Bahia nos séculos XVIII e XIX.
Coleção Brasiliana. São Paulo: Cia. Ed. Nacional, 1956. 447 p. il.
CALDEIRA, Clóvis. Mutirão, formas de ajuda mútua no meio rural. Coleção Brasiliana, São Paulo: Cia. Ed. Nacional, 1956. 222 p. il.
GALVÃO, Hélio. O mutirão no Nordeste. Rio de Janeiro: Ministério da Agricultura, Serviço de Informação Agrícola, 1959. 75 p. il.
CALDEIRA, Clóvis. Menores no meio rural: trabalho e escolarização. Rio de
Janeiro: INEP, Centro Brasileiro de Pesquisas Educacionais, 1960. 190 p.
MORAIS, Valfrido. Jagunços e heróis: a civilização do diamante nas lavras da Bahia.
Coleção Retratos do Brasil. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1963. 212 p.
CÂNDIDO, Antônio. Os parceiros do rio Bonito: estudo sobre o caipira paulista e
a transformação dos seus meios de vida. Coleção Documentos Históricos.
Rio de Janeiro: José Olympio, 1964. 239 p. il.
Relações políticas
AZEVEDO, Fernando. Canaviais e engenhos na vida política do Brasil: ensaio sociológico sobre o elemento político na civilização do açúcar e do álcool.
Rio de Janeiro: Instituto do Açúcar e do Álcool, 1948. 243 p.
PINTO, Luís de Aguiar Costa. Lutas de famílias no Brasil: introdução ao seu
estudo. Coleção Brasiliana. São Paulo: Ed. Nacional, 1949. 194 p.
BARRETO, Leda. Julião, nordeste, revolução. Coleção Retratos do Brasil. Rio de
Janeiro: Civilização Brasileira, 1963. 145 p.
274
FBN_RG_vocacao_06.indd 274
5/3/2009 10:15:23
A vocação das ciências sociais no Brasil
VILAÇA, Marcos Vinícios; ALBUQUERQUE, Roberto Cavalcanti de. Coronel, coronéis. Rio de Janeiro: Ed. Tempo Brasileiro, 1965. 222 p. il.
Movimentos e conflitos religiosos
FACÓ, Rui. Cangaceiros e fanáticos, gênese e lutas. 2a ed. Coleção Retratos do Brasil. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1965. 226 p. il. Primeira edição:
Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1963.
QUEIROZ, Maria Isaura Pereira de. O messianismo no Brasil e no mundo. São
Paulo: Dominus, 1965. 373 p.
QUEIROZ, Maurício Vinhas de. Messianismo e conflito social (a guerra sertaneja do
Contestado: 1912-1916). Coleção Retratos do Brasil. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1966. 353 p.
Tradicões populares
QUEIROZ, Maria Isaura Pereira de. Sociologia e folclore, a dança de São Gonçalo
num povoado baiano. Salvador: Fundação para o Desenvolvimento da Ciência; Livraria Progresso, 1958. 121 p. il.
Outros
ANDRADE, Lopes de. Introdução à sociologia das secas. Prefácio de Gilberto
Freyre. Rio de Janeiro: Ed. A Noite, 1948. 189 p. il.
AZEVEDO, Fernando de. Um trem corre para o oeste: estudo sobre o noroeste
e seu papel no sistema de viação nacional. São Paulo: Livraria Martins,
1950. 375 p. il.
Mobilidade histórica e social
Negros
PIERSON, Donald. Brancos e pretos na Bahia: estudo de contato racial. Com
introduções de Arthur Ramos e Robert E. Park. Coleção Brasiliana. São
Paulo: Cia. Ed. Nacional, 1945. 486 p.
PINTO, Luís de Aguiar Costa. O negro no Rio de Janeiro: relações de raças numa sociedade em mudança. Coleção Brasiliana. São Paulo: Cia Ed. Nacional, 1953. 355 p.
275
FBN_RG_vocacao_06.indd 275
5/3/2009 10:15:23
Glaucia Villas Bôas
AZEVEDO, Thales de. As elites de cor: um estudo de ascensão social. Prefácio de
Charles Wagley. Coleção Brasiliana. São Paulo: Cia Ed. Nacional, 1955.
BASTIDE, Roger; FERNANDES, Florestan. Relações raciais entre negros e brancos em São Paulo: ensaio sociológico sobre as origens, as manifestações e os
efeitos do preconceito de cor no município de SP. São Paulo: Ed. Anhembi, UNESCO, 1955. 554 p.
CARDOSO, Fernando Henrique; IANNI, Octávio. Cor e mobilidade social em
Florianópolis: aspectos das relações entre negros e brancos numa comunidade do Brasil meridional. Prefácio de Florestan Fernandes. Coleção Brasiliana, 307. São Paulo: Cia. Ed. Nacional, 1960. 286 p. il.
CARDOSO, Fernando Henrique. Capitalismo e escravidão no Brasil meridional:
o negro na sociedade escravocrata do Rio Grande do Sul. 2a ed. Coleção
Estudos Brasileiros, 19. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1977. 303 p. Primeira
edição: São Paulo: Difusão Européia do Livro, 1962.
IANNI, Octávio. As metamorfoses do escravo: apogeu e crise da escravatura no
Brasil meridional. Coleção Corpo e Alma do Brasil. São Paulo: Difusão
Européia do Livro, 1962. 312 p.
FERNANDES, Florestan. A integração do negro na sociedade de classes. 3a ed. São Paulo: Ática, 1978. 2 v. Primeira edição: São Paulo: Dominus, Edusp, 1965. 2 v.
Migrantes
TORRES, João Batista de Vasconcelos. A mobilidade rural brasileira. Rio de
Janeiro: Livraria Clássica Brasileira, 1950. 144 p. il.
ALMEIDA, Vicente Unzer de; SOBRINHO, Otávio Teixeira Mendes. Migração rural-urbana: aspectos da convergência de população do interior e
outras localidades para a capital do estado de São Paulo (com um estudo
sobre zonas de colonização do estado de São Paulo). São Paulo: Secretaria
de Agricultura do Estado de São Paulo, Diretoria de Publicidade Agrícola,
1951. 147 p. il.
BORGES, Thomas Pompeu Accioly. Migrações internas no Brasil. Rio de Janeiro:
Comissão Nacional de Política Agrária, 1955. 42 p.
276
FBN_RG_vocacao_06.indd 276
5/3/2009 10:15:23
A vocação das ciências sociais no Brasil
TORRES, João Batista de Vasconcelos. Movimentos migratórios das populações rurais brasileiras. Rio de Janeiro: Livraria Freitas Bastos, 1957. 180 p.
CAMARGO, José Francisco de. Êxodo rural no Brasil: formas, causas e conseqüências econômicas principais. Prefácio de Paul Hugon. Rio de Janeiro:
Ed. Conquista, 1960. 253 p. il.
CRUZ, Levy. As migrações para o Recife: caracterização social. Prefácio de Gilberto
Freyre. Recife: Instituto Joaquim Nabuco de Pesquisas Sociais, 1961. 1 v. il.
LACERDA DE MELO, M. As migrações para o Recife. Prefácio de Gilberto
Freyre. Recife: Instituto Joaquim Nabuco de Pesquisas Sociais, 1961. 2 v.
FISCHLOWITZ, Estanislau. Principais problemas da migração nordestina. Rio de
Janeiro: Ministério da Educação e Cultura, Serviço de Documentação,
1965. 181 p.
Imigrantes
RIOS, Arthur. Aspectos políticos da assimilação de italianos no Brasil. São Paulo:
Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo, 1959.
AULER, Guilherme Martinez. A companhia de operários 1839-1843: subsídios
para o estudo da emigração germânica no Brasil. Prefácio de Gilberto
Freyre. Recife: Arquivo Público Estadual, Imprensa Oficial, 1959. 109 p.
KNOWLTON, Clark S. Sírios e libaneses: mobilidade social e espacial. Tradução
de Yolanda Leite. São Paulo: Ed. Anhembi, 1960. 202 p. il.
SAITO, Hiroshi. O japonês no Brasil: estudo de mobilidade e fixação. São Paulo:
Fundação Escola de Sociologia e Política, 1961. 238 p. il.
Meio urbano
REIS, Nélio. Problemas sociológicos do trabalho. Rio de Janeiro: Freitas Bastos,
1964. 272 p.
HUTCHINSON, Bertram A. Mobilidade e trabalho: um estudo na cidade de
São Paulo. Colaboradores Juarez Brandão Lopes, Carolina Martuscelli e
Carlo Castaldi. Rio de Janeiro: Instituto Nacional de Estudos Pedagógicos,
Centro Brasileiro de Pesquisas Educacionais, 1960. 451p. il.
277
FBN_RG_vocacao_06.indd 277
5/3/2009 10:15:23
Glaucia Villas Bôas
MEDINA, Carlos Alberto de. A favela e o demagogo. São Paulo: Ed. Martins,
1964. 101 p.
BEZERRA, Daniel Uchôa Cavalcanti. Alagados, mocambos e mocambeiros. Recife:
Instituto Joaquim Nabuco de Pesquisas Sociais, 1965. 115 p.
RODRIGUES, Leôncio Martins. Conflito social e sindicalismo no Brasil. Coleção Corpo
e Alma do Brasil. São Paulo: Difusão Européia do Livro, 1966. 222 p.
SIMÃO, Azis. Sindicato e Estado: suas relações na formação do proletariado de
São Paulo. São Paulo: Dominus, 1966. 245 p.
MORAES FILHO, Evaristo de. O problema do sindicato único no Brasil: seus fundamentos sociológicos. Prefácio de Paulo Sergio Pinheiro. 2a ed. São Paulo:
Alfa Ômega, 1978. Primeira edição: Rio de Janeiro: Ed. A Noite, 1952.
Religião
BOER, Nicolas. Introdução à sociologia religiosa: pequeno esboço para os estudos
sociológicos sobre as religiões. São Paulo: Ed. Herder, 1955. 286 p.
AZEVEDO, Thales de. O catolicismo no Brasil, um campo para a pesquisa social.
Cadernos de Cultura. Rio de Janeiro: Ministério da Educação e Cultura,
Serviço de Documentação, 1956. 70 p.
QUEIROZ, Maria Isaura Pereira de (et alli). Estudos de sociologia e história. São
Paulo: Instituto Nacional de Estudos Pedagógicos – INEP, Ed. Anhembi,
1957. 301 p.
Educação
PEREIRA, Luís; FORACCHI, Marialice Mencarini. Educação e sociedade (Leituras de sociologia da educação). São Paulo: Cia. Ed. Nacional, 1964. 449 p. il.
FORACCHI, Marialice Mencarini. O estudante e a transformação da sociedade brasileira. São Paulo: Cia. Ed. Nacional, 1965. 318 p.
FERNANDES, Florestan. Educação e sociedade no Brasil. São Paulo: Dominus,
1966. 614 p.
278
FBN_RG_vocacao_06.indd 278
5/3/2009 10:15:24
A vocação das ciências sociais no Brasil
Ciência Política Obras sobre a disciplina
Problemas teórico-metodológicos
SAMPAIO, Nélson de Souza. A desumanização da política. Salvador: Livraria
Progresso, 1951. 155 p.
SAMPAIO, Nelson de Souza. Ideologia e ciência política. Salvador: Livraria Progresso, 1953. 336 p.
CAVALCANTI, Themístocles Brandão. Quatro estudos. A ciência política. O sistema
constitucional. O poder político. O sistema federal. Rio de Janeiro: Instituto de
Direito Público e Ciências Políticas, Fundação Getulio Vargas, 1954. 109 p.
CAVALCANTI, Themístocles Brandão. Teoria do Estado. Rio de Janeiro: Ed.
Borsoi, 1958. 532 p.
JAGUARIBE, Hélio. Condições institucionais do desenvolvimento. Rio de Janeiro:
Instituto Superior de Estudos Brasileiros, 1958. 53 p.
CAVALCANTI, Themístocles Brandão. Introdução à ciência política: a ciência
política, a evolução do pensamento político, o Estado, problemas de estrutura. Rio de Janeiro: Fundação Getulio Vargas, Instituto de Direito Público e Ciência Política,1958. 126 p.
CASTRO, José Olegário Ribeiro de. Introdução ao estudo das instituições políticas
gregas. Belo Horizonte: Faculdade de Ciências Econômicas da Universidade de Minas Gerais, 1959. 102 p.
DEBRUN, Michel. Ideologia e realidade. Rio de Janeiro: Instituto Superior de
Estudos Brasileiros, 1959. 284 p.
SALDANHA, Nelson Nogueira. As formas de governo e o ponto de vista histórico.
Belo Horizonte: Universidade de Minas Gerais, 1960. 94 p.
SAMPAIO, Nelson de Souza. Prólogo à teoria do Estado: ideologia e ciência política. 2ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 1960. 359 p.
CAVALCANTI, Themístocles Brandão (et alli). Estudos em homenagem a Jean Jacques Rousseau / 200 anos do «Contrato Social», 1762-1962. Rio de Janeiro: Fundação Getulio Vargas, Instituto de Direito Público e Ciência Política, 1962.
279
FBN_RG_vocacao_06.indd 279
5/3/2009 10:15:24
Glaucia Villas Bôas
OLIVEIRA, Ives Orlando Tito de. Atualidades das ciências políticas no Brasil. Biblioteca de Sociologia e Política. Salvador: Fundação DACO, 1965. 102 p.
Obras sobre temas específicos
Instituições políticas
Escolha de governantes
Eleições
FARIA, Hermínio Augusto. Três pesquisas: o voto do analfabeto, a lei de diretrizes de bases, a divisão da Guanabara em municípios. Rio de Janeiro:
Fundação Getulio Vargas, Serviço de Publicações, 1964. 159 p.
CAVALCANTI, Themístocles Brandão; DUBNIC, Reisky. Comportamento eleitoral no Brasil. Rio de Janeiro: Fundação Getulio Vargas, Serviço de Publicações, 1964. 277 p.
VASCONCELOS, José Lobo. Política, eleição e fraude. Belo Horizonte: B. Alvares, 1962. 224 p. il.
GOMES NETO, Francisco Antônio. A realidade democrática. São Paulo: Ed.
Fulgor, 1962. 207 p.
TORRES, João Camilo de Oliveira. Harmonia política. Belo Horizonte: Itatiaia,
1961. 290 p.
LIMA SOBRINHO, Alexandre José Barbosa. Estudos constitucionais, sistemas
eleitorais e partidos políticos. Rio de Janeiro: Fundação Getulio Vargas, Instituto de Direito Público e Ciência Política, 1956. 110 p.
MARTINS, Rui Nogueira. Tentativas para organizar o Brasil. São Paulo: Instituto
de Sociologia e Política da Federação do Comércio do Estado, 1956. 81 p.
BLOEM, Rui. A crise da democracia e a reforma eleitoral. São Paulo: Livraria Martins, 1955. 196 p.
GOMES NETO, Francisco Antônio. O direito eleitoral e a realidade democrática.
Rio de Janeiro: J. Konfino, 1953. 148 p.
280
FBN_RG_vocacao_06.indd 280
5/3/2009 10:15:24
A vocação das ciências sociais no Brasil
Partidos políticos
FRANCO, Virgílio Alvim de Melo. A campanha da UDN (1944-1945). Rio de
Janeiro: Z. Valverde, 1946. 445 p.
CARMO, José Arimatéia Pinto do. Diretrizes partidárias (UDN, PRD PSD,
PTB, PRP, PL, PR, PSP, POC, POT, PST, PTN, PCB). Rio de Janeiro: Pongetti Ed., 1948. 329 p.
CARVALHO, Orlando Magalhães. A crise dos partidos nacionais. Belo Horizonte: Ed. Kriterion, 1950. 50 p.
PEREIRA, Astrogildo. Formação do PCB, 1922/1928: notas e documentos. Rio
de Janeiro: Ed. Vitória, 1962. 145 p. il.
CASCUDO, Luís da Câmara. História da República no Rio Grande do Norte: da
propaganda à primeira eleição direta para governador. Rio de Janeiro: Ed.
Val, 1965. 306 p.
Diplomacia e política externa
BRAGA, Pedro de Souza. O Brasil e o mundo ibérico. Rio de Janeiro: Ministério
das Relações Exteriores, Instituto Rio Branco - IRB, 1951. 104 p.
ANDRADE, Rodrigo Melo Franco. Rio Branco e Gastão da Cunha. Rio de Janeiro:
Ministério das Relações Exteriores, Instituto Rio Branco, 1953. 281 p. il.
RICARDO, Cassiano. O tratado de Petrópolis. Rio de Janeiro: Ministério das
Relações Exteriores, 1954. 2 v.
FREYRE, Gilberto. Sugestões em torno de uma nova orientação para as relações internacionais no Brasil. Coleção Fórum Roberto Simonsen. São Paulo: Centro e
Federação das Indústrias do estado de São Paulo, Serviço de Publicações,
1958. 88 p.
FREYRE, Gilberto. Uma política transnacional de cultura para o Brasil de hoje. Belo Horizonte: Faculdade de Direito da Universidade de Minas Gerais, 1960. 117 p.
ALENCASTRE, Amílcar. Oswaldo Aranha, o mundo afro-asiático e a paz. Coleção
Lindolfo Collor. Rio de Janeiro: Serviço de Documentação do Ministério
do Trabalho e Previdência Social, 1961. 163 p.
DANTAS, Francisco Clementino de San Thiago. Política externa independente. Coleção Retratos do Brasil. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1962. 258 p.
281
FBN_RG_vocacao_06.indd 281
5/3/2009 10:15:24
Glaucia Villas Bôas
CHACON, Vamireh. Qual a política externa conveniente ao Brasil? Cadernos do
Povo Brasileiro. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1963. 92 p.
Formas de governo parlamentarista e presidencialista
LUCENA, Humberto. Política e problemas: programa de metas, parlamentarismo, Nordeste. Rio de Janeiro: Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio, Departamento Administrativo do Serviço Público - DASP, Serviço de
Documentação, 1960. 54 p.
FREITAS, Byron Torres de. O Estado moderno e o parlamentarismo no Brasil. Rio
de Janeiro: Gráfica Ed. Amora, 1961. 89 p.
LOUREIRO JÚNIOR, José. Parlamentarismo e presidencialismo. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1962. 201 p.
REALE, Miguel. Parlamentarismo brasileiro. São Paulo: Ed. Saraiva, 1962. 144 p.
TORRES, João Camilo de Oliveira. O presidencialismo no Brasil. Rio de Janeiro:
Ed. O Cruzeiro, 1962. 284 p.
TORRES, João Camilo de Oliveira. Cartilha do parlamentarismo. Belo Horizonte: Ed. Itatiaia, 1962. 95 p.
CARNEIRO, Levi Fernandes. Uma experiência de parlamentarismo. São Paulo:
Ed. Martins, 1965. 312 p.
Constituição jurídica e social das instituições políticas
VIANNA, Francisco José de Oliveira. Instituições políticas brasileiras: os problemas brasileiros da ciência política. Rio de Janeiro, José Olympio, 1949. 2 v.
VIANNA, Francisco José de Oliveira. Direito do trabalho e democracia social: o problema da
incorporação do trabalhador no estado. Rio de Janeiro: José Olympio, 1951. 179 p.
VIANNA, Francisco José de Oliveira. Problemas de organização e problemas de
direção: o povo e o governo. Rio de Janeiro: José Olympio, 1952. 181 p.
HORTA, Raul Machado (et alli). Perspectivas do federalismo brasileiro. Belo Horizonte: Universidade de Minas Gerais, 1958. 171 p.
TORRES, J. Camilo de Oliveira. A formação do federalismo no Brasil. Coleção
Brasiliana. São Paulo: Cia. Ed. Nacional, 1961. 301 p.
282
FBN_RG_vocacao_06.indd 282
5/3/2009 10:15:25
A vocação das ciências sociais no Brasil
Forças Armadas
FAGUNDES, Miguel Seabra. As Forças Armadas na constituição. Rio de Janeiro:
Biblioteca do Exército, 1955. 85 p.
RAMOS, Alberto Guerreiro. Ideologia e segurança nacional. Rio de Janeiro: Instituto Superior de Estudos Brasileiros, 1957. 50 p.
TAVARES, Aurélio de Lyra. Segurança nacional, antagonismos e vulnerabilidades.
Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército, 1958. 247 p. il.
FERREIRA, Oliveiros S. As Forças Armadas e o desafio da revolução. Rio de Janeiro: Ed. GRD, 1964. 152 p.
Administração político-burocrática
CUNHA, Mário Wagner Vieira da. O sistema administrativo brasileiro, 1930-1950. Rio
de Janeiro: Centro Brasileiro de Pesquisas Educacionais - CBPE, 1963. 179 p.
Ideologias políticas
JAGUARIBE, Hélio. O problema do desenvolvimento econômico e a burguesia nacional.
Coleção Fórum Roberto Simonsen. São Paulo: Centro e Federação das
Indústrias do estado de São Paulo, 1956. 68 p.
JAGUARIBE, Hélio. O nacionalismo na atualidade brasileira. Rio de Janeiro: Instituto Superior de Estudos Brasileiros, 1958. 305 p.
CORBISIER, Roland. Brasília e o desenvolvimento nacional. Rio de Janeiro: Ministério
da Educação e Cultura, Instituto Superior de Estudos Brasileiros, 1960. 74 p.
MARQUES, Aguinaldo Nepomuceno. Fundamentos do nacionalismo. Prefácio de
Oswaldo Costa. São Paulo: Fulgor, 1960. 236 p.
PEREIRA, Osni Duarte. Estudos nacionalistas: considerações à margem do
Brasil contemporâneo. São Paulo: Fulgor, 1960. 2 v. il.
PASSOS, Gabriel de Rezende. Temas nacionalistas. São Paulo: Fulgor, 1961. 215 p.
RAMOS, Alberto Guerreiro. A crise do poder no Brasil: problemas da revolução
nacional brasileira. Rio de Janeiro: Zahar, 1961. 197 p.
CHACON, Vamireh. A revolução no trópico: nacionalismo, marxismo e desenvolvimento. Rio de Janeiro: Instituto Brasileiro de Estudos Afro-Asiáticos,
1962. 134 p.
283
FBN_RG_vocacao_06.indd 283
5/3/2009 10:15:25
Glaucia Villas Bôas
JAGUARIBE, Hélio. Desenvolvimento econômico e desenvolvimento político. Rio de Janeiro: Ed. Fundo de Cultura, 1962. 224 p.
ALMEIDA, Cândido Antônio Mendes de. Nacionalismo e desenvolvimento. Rio
de Janeiro: Instituto Brasileiro de Estudos Afro-Asiáticos, 1963. 398 p.
LIMA SOBRINHO, Alexandre José Barbosa. Desde quando somos nacionalistas? Cadernos do povo brasileiro. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1963. 126 p.
RODRIGUES, Lisias Augusto. Geopolítica do Brasil. Rio de Janeiro: Biblioteca
do Exército, 1947. 140 p. il.
SILVA, Golberi do Couto e. Planejamento estratégico. Rio de Janeiro: Cia. Ed.
Americana, Biblioteca do Exército, 1955.
TAVARES, Aurélio de Lyra. Território nacional, soberania e domínio de Estado. Rio
de Janeiro: Cia. Ed. Americana, Biblioteca do Exército, 1955. 262 p. il.
SILVA, Golberi do Couto e. Aspectos geopolíticos do Brasil. Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército, 1957. 81 p. il.
CARTAXO, Otacílio Dantas. O problema geopolítico brasileiro: teoria e prática de uma
revolução nacionalista. Rio de Janeiro: Gráfica Ouvidor, 1965. 341 p. il.
BARROS, Manuel de Souza. Subdesenvolvimento, Nordeste e nacionalismo. Prefácio
de Heitor Ferreira Lima. São Paulo: Fulgor, 1966. 118 p.
Formação social e histórica do poder político
LEAL, Victor Nunes. Coronelismo, enxada e voto: o município e o regime representativo no Brasil. Com nota do professor Basílio de Magalhães. Rio de
Janeiro: Revista Forense, 1948. 311 p.
BLONDEL, Jean. As condições da vida política no estado da Paraíba. Tradução e notas de Alcântara Nogueira. Prefácio de Orlando Carvalho. Rio de Janeiro:
Fundação Getulio Vargas, Instituto de Direito Público e Ciência Política,
1957. 168 p. il.
RAMOS, Alberto Guerreiro. Condições sociais do poder nacional. Rio de Janeiro:
Instituto Superior de Estudos Brasileiros - ISEB, 1957. 38 p.
284
FBN_RG_vocacao_06.indd 284
5/3/2009 10:15:25
A vocação das ciências sociais no Brasil
FAORO, Raimundo. Os donos do poder: formação do patronato político brasileiro. Rio de Janeiro: Ed. Globo, 1958. 271 p.
MOTA, Albérico. Classes sociais e poder político: hipóteses sobre o caso brasileiro. Salvador: Universidade Federal da Bahia, Instituto de Ciências Sociais, 1966. 107 p.
MERCADANTE, Paulo. A consciência conservadora no Brasil: contribuição ao estudo
da formação brasileira. Coleção Retratos do Brasil. 2a ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1972. 235 p. Primeira edição: Rio de Janeiro: Ed. Saga, 1965.
Análise de crises políticas
BASTOS, Aguiar. Prestes e a revolução social: fatos políticos, condições sociais e
causas econômicas de uma fase revolucionária do Brasil. Rio de Janeiro:
Ed. Calvino, 1946. 366 p.
BANDEIRA, Luís Alberto Moniz. O caminho da revolução brasileira. Rio de Janeiro: Ed. Melso, 1962. 187 p.
TORRES, João Camilo de Oliveira. Razão e destino da revolução. Petrópolis: Vozes, 1964. 329 p.
FRANCO, Afonso Arinos de Melo. Evolução da crise brasileira. São Paulo: Cia.
Ed. Nacional, 1965. 265 p.
MOREL, Edmar. O golpe começou em Washington. Coleção Retratos do Brasil, v.
34. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1965. 276 p.
PEDROSA, Mário. A opção brasileira. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira,
1966. 311 p.
Perfis presidenciais
LIMA, Cláudio de Araújo. Mito e realidade de Vargas. Rio de Janeiro: Civilização
Brasileira, 1955. 130 p.
BARBOSA, Francisco de Assis. Juscelino Kubitschek: uma revisão na política
brasileira. Rio de Janeiro: José Olympio, 1960. il.
CABRAL, Carlos Castilho. Tempos de Jânio e outros tempos. Coleção Retratos do
Brasil. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1962. 319 p.
285
FBN_RG_vocacao_06.indd 285
5/3/2009 10:15:25
Glaucia Villas Bôas
Geografia Humana
Obras sobre a disciplina
Problemas teórico-metodológicos
CASTRO, Josué de. Geopolítica da fome: ensaio sobre os problemas de alimentação e de população do mundo. Prefácio de Lord John Boyd Orr. Rio de
Janeiro: Ed. da Casa do Estudante do Brasil, 1951. 288 p.
ZARUR, Jorge. Precisão e aplicabilidade na geografia. Rio de Janeiro: Colégio Pedro II, 1955. 153 p. il.
MOREIRA, Eidorfe. Idéias para uma concepção geográfica da vida. Belém: Barrah,
1960. 148 p.
AZEVEDO, Aroldo de. O mundo antigo, expansão geográfica e evolução da Geografia.
Coleção Buriti. São Paulo: Ed. Universidade de São Paulo, 1965. 173 p. il.
SANTOS, Milton. A cidade nos países subdesenvolvidos. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1965. 175 p.
Manuais e introduções
CARVALHO, Carlos Miguel Delgado de. A excursão geográfica (guia do professor).
Notas do professor Pierre Monbeig. Rio de Janeiro: Conselho Nacional de
Geografia, 1945. 84 p.
GICOVATE, Moisés. Manual de geografia humana (para uso em cursos de faculdades
de filosofia). São Paulo: Melhoramentos, 1947. 174 p. il.
NUNES, Alberto R. Geografia humana do Brasil. Rio de Janeiro: Livraria Francisco Alves, 1950. 138 p. il.
LOBO, Roberto Haddock. Geografia econômica. São Paulo: Ed. Atlas, 1988. 321 p. il.
CARDOSO, Lamartine. Geografia econômica do Brasil. São Paulo: Ed. Crédito
Brasileiro do Livro, 1972. 231 p. il.
Avaliação do ensino da disciplina
FONSECA, James Braga Vieira da. O ensino da geografia no Brasil. Rio de Janeiro: Instituto Pan-americano de Geografia e História, 1956. 160 p.
286
FBN_RG_vocacao_06.indd 286
5/3/2009 10:15:25
A vocação das ciências sociais no Brasil
CAMPOS, Antônio Pedro de Souza; DOTTORI, Clóvis Bittencourt. Roteiro
de geografia do Brasil. Para os cursos de orientação da Campanha de Aperfeiçoamento e Difusão do Ensino Secundário. Rio de Janeiro: CADES,
1961. 2v. il.
Obras sobre temas específicos
Regiões brasileiras
LAMEGO, Alberto Ribeiro. O homem e o brejo. Biblioteca Geográfica Brasileira. Rio de Janeiro: Serviço Gráfico do Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística, 1945. 204 p. il.
BENCHIMOL, Samuel. O cearense na Amazônia. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1946. 89 p.
CORREA FILHO, Virgílio. Pantanais mato-grossenses (devassamento e ocupação).
Biblioteca Geográfica Brasileira. Rio de Janeiro: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, 1946. 170 p. il.
LAMEGO, Alberto Ribeiro. O homem e a restinga. Biblioteca Geográfica Brasileira.
Rio de Janeiro: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, 1946. 227 p. il.
ZARUR, Jorge. A bacia do médio São Francisco: uma análise regional. Biblioteca
Geográfica Brasileira. Rio de Janeiro: Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística, 1947. 187 p.
LAMEGO, Alberto Ribeiro. O homem e a serra. Biblioteca Geográfica Brasileira. Rio de Janeiro: Serviço Gráfico do Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística - IBGE, 1950. 350 p. il.
AZEVEDO, Aroldo de. Regiões e paisagens do Brasil. Coleção Brasiliana. São
Paulo: Cia. Ed. Nacional, 1952. 271 p. il.
LINHARES, Temístocles. Paraná vivo, um retrato sem retoques. Coleção Documentos Brasileiros. Rio de Janeiro: José Olympio, 1953. 360 p. il.
MOTA, Mauro. Paisagem das secas. Recife: Instituto Joaquim Nabuco de Pesquisas Sociais, 1958. 145 p. il.
ABREU, Sílvio Fróis. O Distrito Federal e seus recursos naturais. Biblioteca Geográfica Brasileira. Rio de Janeiro: Serviço Gráfico do Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatística, 1957. 318 p. il.
287
FBN_RG_vocacao_06.indd 287
5/3/2009 10:15:26
Glaucia Villas Bôas
MOREIRA, Eidorfe. Amazônia o conceito e a paisagem. Rio de Janeiro: Superintendência do Plano de Valorização da Amazônia - SPVEA, 1960. 90 p.
ANDRADE, Manuel Correia de. A terra e o homem no Nordeste. São Paulo: Ed.
Brasiliense, 1963. 249 p. il.
CASTRO, Josué de. Sete palmos de terra e um caixão: ensaios sobre o Nordeste,
área explosiva. São Paulo, Ed. Brasiliense, 1965. 222 p.
Meio rural
CARNEIRO, José Fernando Domingues. Imigração e colonização no Brasil. Rio de
Janeiro: Universidade do Brasil, Faculdade Nacional de Filosofia, 1950.
GEIGER, Pedro Pinchas; MESQUITA, Myriam Gomes Coelho. Estudos rurais da
Baixada Fluminense (1951-1953). Biblioteca Geográfica Brasileira. Rio de Janeiro:
Serviço Gráfico do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, 1956. 208 p. il.
ANDRADE, Gilberto Osório de. Os rios do açúcar do Nordeste Oriental I: o rio Ceará-Mirim.
Recife: Instituto Joaquim Nabuco de Pesquisas Sociais, Imprensa Oficial, 1957. 59 p. il.
ANDRADE, Gilberto Osório de. Os rios do açúcar do Nordeste Oriental III: o rio
Paraíba do Norte. Recife: Instituto Joaquim Nabuco de Pesquisas Sociais,
Imprensa Oficial, 1957. 154 p. il.
ANDRADE, Manuel Correia de. Os rios do açúcar do Nordeste Oriental II: o rio
Mamanguape. Recife: Instituto Joaquim Nabuco de Pesquisas Sociais, Ministério da Educação e Cultura - MEC, 1957. 71 p. il.
WAIBEL, Leo. Capítulos de geografia tropical e do Brasil. Rio de Janeiro: Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística, 1958. 307 p. il.
ANDRADE, Manuel Correia de. Os rios do açúcar do Nordeste Oriental IV: os
rios Coruripe, Jiquiá, e São Miguel. Recife: Instituto Joaquim Nabuco de
Pesquisas Sociais, Imprensa Oficial, 1959. 96 p. il.
LACERDA DE MELO, Mário. As migrações para o Recife: I Estudo Geográfico.
Recife: Instituto Joaquim Nabuco de Pesquisas Sociais, 1961.
VALVERDE, Orlando. Geografia agrária do Brasil. Rio de Janeiro: Centro Brasileiro de Pesquisas Educacionais - CBPE, 1964. 2 v. il.
ANDRADE, Manuel Correia de. Paisagens e problemas do Brasil: aspectos da
vida rural brasileira frente à industrialização e o crescimento econômico.
4ª ed. revisada e atualizada. São Paulo: Ed. Brasiliense, 1973. 277 p.
288
FBN_RG_vocacao_06.indd 288
5/3/2009 10:15:26
A vocação das ciências sociais no Brasil
Condições socioeconômicas
CASTRO, Josué de. Geografia da fome, a fome no Brasil. Rio de Janeiro: Gráfica O
Cruzeiro, 1946. 354 p. il.
MARQUES, Antônio Nonato. Geografia do fumo na Bahia. Salvador: Centro de
Estudos Ruralistas Nonato Marques, 1954. 85 p.
MONBEIG, Pierre. O Brasil. Tradução de Dirceu Lino de Mattos. São Paulo:
Difusão Européia do Livro, 1954. 159 p. il.
MONBEIG, Pierre. Novos estudos de geografia humana brasileira. São Paulo: Difusão Européia do Livro, 1957. 236 p. il.
WANDERLEY, Alberto. Estudos de geografia econômica. Belo Horizonte: Universidade de Minas Gerais, Faculdade de Ciências Econômicas, 1959. 85 p.
AZEVEDO, Aroldo de (Org.). Brasil, a terra e o homem. Coleção Brasiliana. São
Paulo: Cia. Ed. Nacional, 1968. il.
Meio urbano
AZEVEDO, Aroldo de. Vilas e cidades do Brasil colonial: ensaio de geografia
urbana retrospectiva. São Paulo: Universidade de São Paulo, Faculdade de
Filosofia, Ciências e Letras, 1956. 96 p. il.
CASTRO, Josué de. Ensaios de geografia humana. São Paulo: Ed. Brasiliense, 1957.
Demografia
Obras sobre a disciplina
Problemas teórico-metodológicos
LAMBERT, Jacques; PINTO, Luís Aguiar Costa. Problèmes démographiques contemporains. Rio de Janeiro: Atlântica Ed., 1944. il.
SMITH, Thomas Lynn. Introdução à análise das populações. Rio de Janeiro: Universidade do Brasil, Faculdade Nacional de Filosofia, 1950. 100 p. il.
289
FBN_RG_vocacao_06.indd 289
5/3/2009 10:15:26
Glaucia Villas Bôas
PEREIRA, Jorge dos Santos. A previsão do crescimento das populações urbanas. Salvador: Universidade da Bahia, Imprensa Vitória, 1958. 100 p. il.
Obras sobre temas específicos
Condições socioeconômicas da população
BARRETO, Adolfo Castro Paes. Estudos brasileiros de população. Rio de Janeiro:
Ed. Z. Valverde, 1944. 232 p.
MORTARA, Giorgio. Pesquisa sobre populações americanas. Rio de Janeiro: Kosmos, 1947. 227 p.
BARRETO, Adolfo Castro Paes. Povoamento e população, política populacional
brasileira. Coleção Documentos Brasileiros. Rio de Janeiro: José Olympio,
1951. 411 p.
FRIEDMANN, John R.; LEAL, José. População e mão-de-obra na Bahia. Salvador: Livraria Progresso, 1957. 70 p. il.
URUGUAY, Aguinaldo Dias. A demografia na evolução do Brasil. Rio de Janeiro:
Biblioteca do Exército, 1957. 244 p. il.
CAMARGO, José Francisco de. Demografia econômica: variáveis demográficas
do desenvolvimento econômico. Salvador: Universidade da Bahia, 1959.
127 p. il.
BETENCOURT, José de Souza. Aspecto demográfico social da Amazônia Brasileira. Coleção Araújo Lima. Rio de Janeiro: Superintendência do Plano de
Valorização da Amazônia, 1960. 77 p. il.
BARRETO, Adolfo Castro Paes. População, riqueza e segurança. Coleção General
Benício. Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército, 1961. 332 p.
BARRETO, Adolfo Castro Paes. O homem valor dos valores: ensaios e perfis. Rio
de Janeiro: Livraria Freitas Bastos, 1962. 147 p.
BATISTA FILHO, Olavo. População e desenvolvimento: interpretação da dinâmica demográfica. São Paulo: Livraria Pioneira, 1965. 137 p.
290
FBN_RG_vocacao_06.indd 290
5/3/2009 10:15:26
A vocação das ciências sociais no Brasil
Mortalidade
MORTARA, Giorgio. Pesquisas demo-econométricas: I. O custo de produção do
homem adulto e sua variação em relação à mortalidade. Rio de Janeiro:
Kosmos, 1946. 152 p.
LOPES, Júlio Cavalcanti; ALMEIDA, Maria Eugenia de; LESSA, Gustavo.
Aspectos da mortalidade infantil em Santa Catarina. Rio de Janeiro: Imprensa
Nacional, 1948. 71 p.
MORTARA, Giorgio. Análise comparativa de diversos critérios aplicáveis no estudo
biométrico do desenvolvimento de caracteres coletivamente típicos em função da idade.
Rio de Janeiro: Serviço Gráfico do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE, 1948. 57 p. il.
PARAIM, Orlando. Contribuição ao estudo da mortalidade infantil no Recife: fatores
econômico-sociais. Recife: Polícia Militar, 1953. 107 p. il.
Crescimento da população urbana
FREITAS FILHO, Lincoln de. Análise bioestatística das capitais brasileiras 19401954. Rio de Janeiro: Serviço Social do Comércio, 1956. 50 p.
MOTA, Luís de Melo. Aspécts démographiques: Rio de Janeiro, Brésil, 1940-1957.
Rio de Janeiro: Departamento de Geografia e Estatística da Prefeitura do
Distrito Federal, 1959. 69 p.
GONÇALVES, Antônio Carolino. As migrações para o Recife. Recife: Instituto
Joaquim Nabuco de Pesquisas Sociais, 1961. 2v.
Padrão de vida no meio rural
GOULART, José Alípio. Pesquisa de padrão de vida no Brasil. Rio de Janeiro:
Jornal do Commercio, 1955. 86 p.
PEDRÃO, Fernando Cardoso. Renda e níveis de vida na Bahia. Salvador: Livraria
Progresso, 1957. 97 p.
MACIEL, Telmo Frederico do Rego. Nível de vida do trabalhador rural da Zona da Mata,
1961. Recife: Instituto Joaquim Nabuco de Pesquisas Sociais, 1964. 58 p.
291
FBN_RG_vocacao_06.indd 291
5/3/2009 10:15:26
FBN_RG_vocacao_06.indd 292
5/3/2009 10:15:26
VII
Bibliografia
ADORNO, Theodor W.; HORKHEIMER, Max. Temas básicos da sociologia.
São Paulo: Cultrix/USP, 1973.
ALMEIDA, Maria Hermínia Tavares de. Castelos na areia: dilemas da
institucionalização das ciências sociais no Rio de Janeiro (1930 –
1964). BIB – Revista Brasileira de Informação Bibliográfica em Ciências
Sociais, n. 24, 1987.
ANDRADE, Olímpio de Souza. O livro brasileiro desde 1920. 2 ed. Rio de Janeiro: Cátedra; Brasília: INL, 1978.
ARENDT, Hannah. Entre o passado e o futuro. São Paulo: Perspectiva, 1979.
AZEVEDO, Fernando de. A cultura brasileira. 3 ed. São Paulo: Melhoramentos, 1958. t. II, cap. II e IV.
______(Org.). As ciências no Brasil. São Paulo: Melhoramentos, 1956.
AZEVEDO, Thales. As ciências sociais na Bahia: notas para a sua história. Salvador: Universidade da Bahia, 1964.
BALDUS, Herbert. Bibliografia crítica da etnologia brasileira. São Paulo: Comissão
do IV Centenário da cidade de São Paulo, 1954.
BEALS, Ralph. Acculturation. In: ANTHROPOLOGY Today, A. L. Kroeber
(Org.). 7 ed. Chicago/London: The University of Chicago Press, 1965.
BERR, Henri; FEBVRE, Lucien. History. In: ENCYCLOPAEDIA of Social
Sciences. New York: Macmillan, 1948. v. VII e VIII.
BEUTIN, Ludwig; KELLENBENZ, Hermann. Wirtschaftsgeschichte. Köln:
Böhlau Verlag, 1973.
293
FBN_RG_vocacao_07.indd 293
5/3/2009 10:04:14
Glaucia Villas Bôas
BOOK. In: ENCYCLOPAEDIA Britannica. Chicago: Encyclopaedia Britanica INC., 1972. v. II.
BOLK, Karl Martin; MACKENROTH, Gehardt. Bevölkerung. In: HANDWÖRTERBUCH der Sozialwissenschaft. Göttingen: Gesamtherstellung
Rupert & Co., 1956-1964. v. 2.
BOMENY, Helena; BIRMAN, Patrícia (Org.). As assim chamadas ciências sociais.
Rio de Janeiro: UERJ/Relume Dumará, 1991.
BORGES, Jorge Luis. O livro. Humanidades, v. I, n. 1, p. 18, out.-dez. 1982.
BOSI, Alfredo. História concisa da literatura brasileira. 2 ed. São Paulo: Cultrix, 1980.
BRAUDEL, Fernand. Escritos sobre a história. São Paulo: Perspectiva, 1978.
BRINTON, Crane. Intellectual History. In: INTERNATIONAL Encyclopaedia of Social Sciences. New York: Macmillan, 1968. v. VI.
HOLANDA, Sergio Buarque de; CANABRAVA, Alice Piffer; LUZ, Nícia
Vilela (Coord.). Introdução ao estudo da história do Brasil. São Paulo: IEB/
USP, 1971.
BOURDIEU, Pierre. A economia das trocas simbólicas. São Paulo: Perspectiva, 1974.
CANABRAVA, Alice Piffer. Roteiro sucinto do desenvolvimento da historiografia. In: HOLANDA, Sergio Buarque de; CANABRAVA, Alice Piffer;
LUZ, Nícia Vilela (Coord.). Introdução ao estudo da história do Brasil. São Paulo: IEB/USP, 1971.
CARDOSO, Ciro Flamarion S. Uma introdução à história. São Paulo: Brasiliense,
1986.
CARNEIRO, Edison. Evolução dos estudos de folclore no Brasil. Revista Brasileira de Folclore, Rio de Janeiro, 1962.
CASTELO BRANCO, Lúcio. Staat, Raum und Macht in Brasilien. Muenchen: Fink Verlag, 1983.
CAVALCANTI, Maria Laura Viveiros de Castro; VILHENA, Luis Rodolfo
da Paixão. Traçando fronteiras: o folclore na década de 1950. In: Reunião
Anual da Anpocs, Xiii, 1989.
CHAUÍ, Marilena. Seminários: o nacional e o popular na cultura brasileira. São
Paulo: Brasiliense, 1984.
294
FBN_RG_vocacao_07.indd 294
5/3/2009 10:04:14
A vocação das ciências sociais no Brasil
COHN, Gabriel. Problemas da industrialização no século XX. In: MOTA,
Carlos Guilherme (Org.). Brasil em perspectiva. São Paulo: DIFEL, 1969.
CONGRESSO BRASILEIRO DE SOCIOLOGIA, I., 1955, São Paulo.
Anais. São Paulo: Sociedade Brasileira de Sociologia.
COSTA, Emília Viotti da. Da monarquia à república. São Paulo: Brasiliense, 1987.
CRUZ, Levy. As migrações para o Recife – IV (Caracterização Social). Recife:
Instituto Joaquim Nabuco de Pesquisas Sociais / MEC, 1961.
CUNHA, Luiz Antônio. A universidade crítica. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1983.
CUVILLIER, Armand. Manuel de Sociologie. Paris: PUF, 1963. t. II.
DIÉGUES JR., Manuel. Etnias e culturas no Brasil. Rio de Janeiro: Ministério da
Educação e Cultura, 1956.
DOELLINGER, Carlos. A controvérsia do planejamento na economia brasileira. Rio
de Janeiro: IPEA/INPES, 1977.
DUDLEY, Kirk. Population. In: INTERNATIONAL Encyclopaedia of Social Sciences. New York: Macmillan, 1968. v. XII.
EASTON, David. Political Science. In: INTERNATIONAL Encyclopaedia
of Social Sciences. New York: Macmillan, 1968. v. XII.
ELIAS, Norbert. Was ist Soziologie? 5 ed. Weinheim/Muenchen: Juventa Verlag, 1986.
REIS, Arthur Cezar Ferreira. A Amazônia que os portugueses revelaram. Rio de
Janeiro: Ministério da Educação e Cultura, 1956.
FERNANDES, Florestan. A etnologia e a sociologia no Brasil. São Paulo: Anhambi, 1958.
________. A sociologia numa era de revolução social. São Paulo: Cia. Ed. Nacional,
1963.
________. A sociologia no Brasil. Petrópolis: Vozes, 1977.
FREYER, Hans. Teoria da época atual. Rio de Janeiro: Zahar, 1965.
295
FBN_RG_vocacao_07.indd 295
5/3/2009 10:04:14
Glaucia Villas Bôas
FUNDAÇÃO JOÃO PINHEIRO. Centro de Economia Aplicada. Economia
da cultura: reflexões sobre as indústrias culturais no Brasil. Brasília: Instituto de Promoção Cultural, 1988.
FURTADO, Celso. Perspectivas da economia brasileira. Rio de Janeiro: ISEB,
1958.
________. Dialética do desenvolvimento. Rio de Janeiro: Fundo de Cultura, 1964.
GALANO, Ana Maria. Die Revolutionäre Illusion des Cinema Novo. Filmstudio, Aachen, n. 56.
GUIMARÃES, Manoel Luiz Salgado. Nação e civilização nos trópicos: O
Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro e o projeto de uma história
nacional. Estudos Históricos, Rio de Janeiro, n. 1, 1988.
HALLEWELL, Laurence. O livro no Brasil: sua história. São Paulo: T. A. Queiroz/USP, 1985.
HECHT, J. Jean. Social History. In: INTERNATIONAL Encyclopaedia of
Social Sciences. New York: Macmillan, 1968. v. VI.
HELLER, Hermann. Political Science. In: ENCYCLOPAEDIA of Social
Sciences. New York: Macmillan, 1948. v. VI e VII.
HERMENS, Ferdinand A.; WILDEMANN, Rudolf. Politische Wissenschaft.
In: HANDWÖRTERBUCH der Sozialwissenschaft. Göttingen: Rupert
& Co., 1956-1964. v. 8.
HISTORY of Social Sciences. In: ENCYCLOPAEDIA Britannica. Chicago:
Encyclopaedia Britannica INC., 1972. v. XVI.
HOLLANDA, Heloisa Buarque de; GONÇALVES, Marcos Augusto. Cultura
e participação nos anos 60. 5 ed. São Paulo: Brasiliense, 1986.
HUGON, Paul. A economia política no Brasil. In: AZEVEDO, Fernando de
(Org.). As ciências no Brasil. São Paulo: Melhoramentos, 1956.
IANNI, Octavio et al. Política e revolução social no Brasil: Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1965.
IANNI, Octavio. Estado e capitalismo. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1965.
______. Raças e classes sociais no Brasil. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira,
1966.
296
FBN_RG_vocacao_07.indd 296
5/3/2009 10:04:14
A vocação das ciências sociais no Brasil
_______. Sociologia da sociologia latino-americana. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1971.
______. Sociologia e sociedade no Brasil. São Paulo: Alfa-Ômega, 1975.
IBGE. Censo Demográfico – população e habitação/1940. Rio de Janeiro: Conselho
Nacional de Estatística, 1950. v. II. (Série Nacional).
______. Censo Demográfico – 1950. Rio de Janeiro: Conselho Nacional de Estatística, Serviço Nacional de Recenseamento, 1953.
______. Censo Demográfico – 1960. Rio de Janeiro: Conselho Nacional de Estatística, Serviço Nacional de Recenseamento, 1965.
______. Anuário Estatístico do Brasil, Ano VI – 1941 – 1945. Rio de Janeiro: Conselho Nacional de Estatística, Divisão de Pesquisas Sistemáticas, 1946.
______. Anuário Estatístico do Brasil - 1954. Rio de Janeiro: Conselho Nacional
de Estatística, Divisão de Pesquisas Sistemáticas, 1954.
______. Anuário Estatístico do Brasil - 1955. Rio de Janeiro: Conselho Nacional
de Estatística, Divisão de Pesquisas Sistemáticas, 1955.
_______. Anuário Estatístico do Brasil. - 1964. Rio de Janeiro: Conselho Nacional de Estatística, Divisão de Pesquisas Sistemáticas, 1964.
_______. Anuário Estatístico do Brasil - 1966. Rio de Janeiro: Conselho Nacional de Estatística, Divisão de Pesquisas Sistemáticas, 1966. v. 27.
_______. Estatísticas Históricas do Brasil: séries econômicas, demográficas e sociais 1950-1988. 2 ed. Rio de Janeiro: IBGE, 1990.
IGLÉSIAS, Francisco. Introdução à historiografia econômica. Belo Horizonte: Faculdade de Ciências Econômicas da Universidade Federal de Minas Gerais, 1959.
INSTITUT FÜR SOZIALFORSCHUNG FRANKFURT (M). Empirische
Sozialforschung. In: Handwörterbuch der Sozialwissenschaft. Göttingen:
Gesamtherstellung Rupert & Co., 1956-1964. v. 9.
KEMPSKI, Juergen V. Sozialwissenschaft. In: Handwörterbuch der Sozialwissenschaft. Göttingen: Rupert & Co., 1956-1964. v. 9.
KUBLICK, Henrika. Vergangenheit und Zufunft der Soziologie. In: LEPENIES, Wolf (Org.). Geschichte der Soziologie. Studien zur kognitiven, sozialen und
297
FBN_RG_vocacao_07.indd 297
5/3/2009 10:04:15
Glaucia Villas Bôas
historischen Identität einer Disziplin, Frankfurt a/M: Suhrkamp Verlag, 1981.
LAPLANTINE, François. Aprender antropologia. São Paulo: Brasiliense, 1988.
LAMOUNIER, Bolívar; CARDOSO, Fernando Henrique. A bibliografia de
ciência política sobre o Brasil (1949-1974). Dados, Rio de Janeiro, n. 18,
1978.
LAMOUNIER, Bolívar. A ciência política no Brasil: roteiro para um balanço
crítico. In: ____ (Org.). A ciência política nos anos 80. Brasília: Ed. Universidade de Brasília, 1982.
LANDSHUT, Siegfried. Legitimät und Legalität. In: WÖRTERBUCH der
Soziologie. Frankfurt a/M: Fischer Taschenbuch Verlag, 1976.
LAPA, José Roberto do Amaral. Historiografia brasileira contemporânea. Petrópolis: Vozes, 1981.
LEPENIES, Wolf. Einleitung. Studien zur kognitiven, sozialen und historischen Identität der Soziologie. In: LEPENIES, Wolf (Org.). Geschichte der
Soziologie. Studien zur kognitiven, sozialen und historischen Identität einer Disziplin.
Frankfurt a/M: Suhrkamp Verlag, 1981.
LEVI, Lúcio. Federalismo. In: Dicionário de Ciência Política. Org. Norberto Bobbio. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 1986.
LIMA, Heitor Ferreira. História do pensamento econômico no Brasil. São Paulo: Cia.
Ed. Nacional, 1976.
LOPES, Juarez Rubens Brandão. Desenvolvimento e mudança social. 5 ed. São Paulo: Cia. Ed. Nacional, 1980.
LUCAS, Fábio. Igualdade e desigualdade das rendas. Belo Horizonte: Faculdade de
Ciências Econômicas da Universidade Federal de Minas Gerais, 1963.
LUZ, Nícia Vilela. A luta pela industrialização do Brasil. São Paulo: DIFEL,
1961.
MACIEL, Maria Lúcia. La recherche en Sciences Sociales et son contexte politique –
Brésil 1968-1982. 1985. Tese de doutoramento. Université de Paris – VII.
MAGALHÃES, João Paulo de Almeida. A controvérsia brasileira sobre o desenvolvimento econômico. Rio de Janeiro: Record, 1966.
MANFREDI, Silvia Maria. Política: educação popular. São Paulo: Ed. Símbolo, 1978.
298
FBN_RG_vocacao_07.indd 298
5/3/2009 10:04:15
A vocação das ciências sociais no Brasil
MANNHEIM, Karl. Ideologia y utopia: introduccion a la sociologia del conocimiento. 2 ed. Madrid: Aguilar, 1966.
MARX, Karl. Contribution à la critique de l´économie politique. Paris: Éditions Sociales, 1957.
MAUSS, Marcel. Sociologie et anthropologie. Paris, PUF, 1968.
MELATTI, Julio Cezar. A antropologia no Brasil: um roteiro. BIB – Revista
Brasileira de Informação Bibliográfica em Ciências Sociais, n. 17, 1984.
MENDONÇA, Sônia Regina de. Estado e economia no Brasil: opções de desenvolvimento. Rio de Janeiro: Graal, 1986.
MERTON, Robert K. Sociologia, teoria e estrutura. São Paulo: Mestre Jou, 1968.
MICELI, Sergio. Intelectuais e classe dirigente no Brasil (1920 – 1945). São Paulo:
DIFEL, 1979.
______ (Org.). A história das ciências sociais no Brasil. São Paulo: Ed. Revista dos
Tribunais, 1989.
MORAES, Eduardo Jardim de. A construção da idéia de modernidade no modernismo brasileiro. 1983. Tese de doutoramento. Universidade Federal do Rio de Janeiro.
MOREL, Regina Lúcia de Moraes. Ciência e estado: a política científica no Brasil. São Paulo: T. A. Queiroz, 1979.
______. A ferro e fogo: construção e crise na família siderúrgica (1941-1968).
1989. Tese de doutoramento em sociologia. Universidade de São Paulo.
MOTA, Carlos Guilherme. Ideologia da cultura brasileira (1933-1974). 2 ed. São
Paulo: Ática, 1978.
MÜHLMANN, Wilhelm Emil. Anthropologie. In: Handwörterbuch der Sozialwissenschaft. Göttingen: Rupert & Co., 1956-1964. v. 1.
______. Institution. In: Wörterbuch der Soziologie. Frankfurt a/M: Fischer
Taschenbuch Verlag, 1976.
OLIVEIRA, Francisco de; MAZZUCCHELLI, Frederico. Padrões de acumulação, oligopólios e Estado no Brasil: 1950-1976. In: MARTINS, Carlos Estevam (Org.). Estado e capitalismo no Brasil. São Paulo: Hucitec / CEBRAP, 1977.
OLIVEIRA, Lúcia Lippi. A questão nacional na Primeira República. São Paulo:
Brasiliense, 1990.
299
FBN_RG_vocacao_07.indd 299
5/3/2009 10:04:15
Glaucia Villas Bôas
OMEGNA, Nelson. A cidade colonial. Rio de Janeiro: José Olympio, 1961.
ORTIZ, Renato. A consciência fragmentada. In: _____; QUEIROZ, Maria
I. P.; SIMSON, Olga R. M. von; MICELI, Sergio. Esboço de um projeto de
investigação da produção cultural no Brasil, São Paulo, n. 17, 1ª série, set. 1982.
Cadernos CERU.
______. Românticos e folcloristas: cultura popular. Texto 3. São Paulo: PUC,
1985.
______. A moderna tradição brasileira. São Paulo: Brasiliense, 1988.
PASTORE, José; BERLINK, Manoel Tosta. A formação do cientista social
brasileiro, Sociologia, v. XXV, n. 2, 1963.
PEIRANO, Mariza. The anthropology of anthropology: the brasilian case. 1980. Tese
de Doutoramento. Harvard University.
PEIXOTO, Fernando. Teatro Oficina (1958 – 1982): trajetória de uma rebeldia
cultural. São Paulo: Brasiliense, 1982.
PEREIRA, João Baptista Borges. Cor, profissão e mobilidade: o negro e o rádio
de São Paulo. São Paulo: Pioneira / Edusp, 1967.
PEREIRA, José Veríssimo da Costa. A geografia no Brasil. In: AZEVEDO, Fernando de (Org.). As ciências no Brasil. São Paulo: Melhoramentos, 1956.
PINTO, Luís Aguiar Costa. Sociologia e desenvolvimento. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1965.
PINTO, Luís Aguiar Costa; CARNEIRO, Edison. As ciências sociais no Brasil.
Rio de Janeiro: Brasiliense, 1987. (CAPES. Estudos e ensaios, n. 6).
PONTES, Heloísa de. Brasil com Z. Análise da produção estrangeira sobre o
Brasil, editada aqui, sob a forma de livro, entre 1930 e 1988. In: Reunião
Anual da Anpocs, XIII, 1989.
PRADO JR., Caio. História econômica do Brasil. 7 ed. São Paulo: Brasiliense, 1962.
_______. Evolução política do Brasil e outros estudos. 4 ed. São Paulo: Brasiliense, 1963.
QUEIROZ, Maria Isaura Pereira de. Études Etno-sociologiques au Brésil.
Cahiers de l´ Institut de Science Économique Appliqué, Recherches et
Dialogues Philosophiques et Économiques, Paris, nº. 96, 1959.
300
FBN_RG_vocacao_07.indd 300
5/3/2009 10:04:15
A vocação das ciências sociais no Brasil
_______ (Coord.). Introdução ao estudo da sociologia no Brasil. São Paulo: IEB/
USP, 1971.
_______. Desenvolvimento, no Brasil, das pesquisas empíricas de sociologia:
ontem e hoje. Ciência e Cultura, v. 24, n. 6, 1972.
_______. A sociologia brasileira na década de 40 e a contribuição de Roger
Bastide. Ciência e Cultura, v. 29, n. 12, 1977.
_______. Classes sociais no Brasil: 1950 – 1960. In: ___. Cultura, sociedade rural, sociedade urbana no Brasil. Rio de Janeiro: Livros Técnicos e Científicos;
São Paulo: EDUSP, 1978.
_______. Brésil, XIXe siècle: les précurseurs des sciences sociales. In: Culture, science et développement: contribution à une histoire de l’homme. Mélanges en
l’honneur de Charles Morazé. Toulouse: Privat, 1979.
______. Balanço da tradição do pensamento sobre cultura e sociedade a partir do século XIX no Brasil. Cadernos do Centro de Estudos Rurais e
Urbanos (São Paulo), nº. 17, 1982.
_______. SBPC, 1982: caracterização das comunicações de pesquisa nas ciências do homem. Ciência e Cultura, São Paulo, v. 35, n. 4, abr. 1983.
_______. Desenvolvimento das ciências sociais na América Latina e contribuição européia: o caso brasileiro. Ciência e Cultura, São Paulo, v. 41, n. 4,
abr. 1989.
_______. O Brasil dos cientistas sociais não brasileiros: ensaio metodológico.
In: Reunião Anual da Anpocs, 1989.
RAMOS, Alberto Guerreiro. Cartilha de aprendiz de sociólogo: por uma sociologia
nacional. Rio de Janeiro: Estúdio de Artes Gráficas C. Mendes Junior, 1954.
_______. Introdução crítica à sociologia brasileira. Rio de Janeiro: Andes, 1957.
_______. A redução sociológica. Rio de Janeiro: ISEB/MEC, 1958.
RAMOS, Arthur. Estudos de folclore. Rio de Janeiro: Casa do Estudante do Brasil, 1958.
REDFIELD, Robert. Relations of Anthropology to Social Sciences and Humanities. In: Anthropology Today (An Encyclopedic Inventory), A. L.
Kroeber (org.). Chicago/London: The University of Chicago Press, 1965.
301
FBN_RG_vocacao_07.indd 301
5/3/2009 10:04:15
Glaucia Villas Bôas
RODRIGUES, José Honório. A pesquisa histórica no Brasil. Rio de Janeiro: INL,
1952.
_______. Teoria da história do Brasil: introdução metodológica. 3 ed. São Paulo:
Cia. Ed. Nacional, 1969.
SAPPER, Karl. Economic Geography. In: Encyclopaedia of Social Sciences.
New York: Macmillan, 1948.
SAUER, Carl. Cultural Geography. In: Encyclopaedia of Social Sciences. New
York: Macmillan, 1948.
SCHADEN, Egon (Coord.). Introdução ao estudo da antropologia no Brasil. São
Paulo: IEB/USP, 1971.
SCHWARTZMAN, Simon. Formação da comunidade científica no Brasil. São Paulo: Cia. Ed. Nacional; Rio de Janeiro: FINEP, 1979.
SELIGMAN, Edwin R. A. Economics. In: Encyclopaedia of Social Sciences.
New York: Macmillan, 1948. v. V e VI.
SEMINÁRIO INTERNACIONAL “Resistências a mudanças: fatores que
impedem ou dificultam o desenvolvimento”, 1959, Rio de Janeiro. Anais.
Rio de Janeiro: Centro Latino-Americano de Pesquisas em Ciências Sociais, 1959.
SINGER, Paul. Curso de introdução à economia política. Rio de Janeiro: Forense
Universitária, 1975.
______. A crise do milagre: interpretação crítica da economia brasileira. Rio de
Janeiro: Paz e Terra, 1976.
SODRÉ, Nelson Werneck. Síntese da cultura brasileira. 3 ed. Rio de Janeiro:
Civilização Brasileira, 1974.
_______. A história da imprensa no Brasil. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira,
1966.
_______. História militar do Brasil. 2 ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira,
1968.
STOPPINO, Mário. Ideologia. In: DICIONÁRIO de Ciência Política. Norberto Bobbio (Org.). Brasília: Ed. UNB, 1986.
SUNKEL, Oswaldo; PAZ, Pedro. Os conceitos de desenvolvimento e subdesenvolvimento. Rio de Janeiro: Fórum, 1974.
302
FBN_RG_vocacao_07.indd 302
5/3/2009 10:04:15
A vocação das ciências sociais no Brasil
VALLAUX, Camille. Human geography. In: Encyclopaedia of Social Sciences. New York: Macmillan, 1948.
VELHO, Gilberto; CASTRO, E. B. Viveiros de. O conceito de cultura e o
estudo de sociedades complexas: uma perspectiva antropológica. Artefato,
Rio de Janeiro, v. 1, n. 1, 1978.
VIANNA, Hélio. História do Brasil. São Paulo: Melhoramentos, 1961.
VILLAS BÔAS, Gláucia. O tempo da Casa Grande. Dados, Rio de Janeiro, v.
31, n. 1, 1988.
_______. O sentido das mudanças na sociologia dos anos 50. In: Reunião
Anual da Anpocs, XIII, 1989.
_______. Visões do passado. Comentário sobre as ciências sociais de 1945 a
1964. Sociedade e Estado, v. IV, n. 1, 1989.
WEBER, Max. Ciência e política: duas vocações. São Paulo: Cultrix, 1970.
_______. Wirtschaft und Gesellschaft. Tübingen: J. C. B. Mohr (Paul Siebeck),
1985.
WEFFORT, Francisco C. Política de massas. In: IANNI, Octavio et al. Política
e revolução social no Brasil. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1965.
WIESE, Leopold von. Soziologie. In: Handwörterbuch der Sozialwissenschaft. Göttingen: Gesamtherstellung Rupert & Co., 1956-1964. v. 9.
WINKLER, Ernst. Sozialgeographie. In: Handwörterbuch der Sozialwissenschaft. Göttingen: Gesamtherstellung Rupert & Co., 1956-1964. v. 9.
ZILIO, Carlos. Da antropologia à tropicália. In: ___; TAFETÁ, João Luiz;
LEITE, Lígia Chiappine Moraes. Artes plásticas e literatura. 2 ed. São Paulo:
Brasiliense, 1983.
303
FBN_RG_vocacao_07.indd 303
5/3/2009 10:04:16
Este livro foi composto com Garamond 10,5/14 pt
e impresso em papel Off-set 90g/m2
na gráfica Imprinta Express.
FBN_RG_vocacao_07.indd 304
5/3/2009 10:04:16
Download

A Vocação das Ciências Sociais no Brasil