Programa de Pós-Graduação em Linguística (PROLING)
UFPB – 2011.1
SEMINÁRIOS AVANÇADOS EM
AQUISIÇÃO DA LINGUAGEM
Prof.Dr. José Ferrari Neto
[email protected]
Aquisição da Linguagem
O que é Aquisição da Linguagem ?
I – Fenômeno a partir do qual a criança parte de
um estado inicial em que não domina uma
língua/linguagem para um estado final no qual
domina uma língua/linguagem
- Objeto de Conhecimento
II – Estudo científico do fenômeno da aquisição.
Ramo da Ciência que possui interfaces com a
Lingüística, Psicolingüística, Psicologia, Ciência
Cognitiva, Neurociência Cognitiva,
Neurolingüística, Antropologia e Filosofia
- Campo de Conhecimento
Aquisição da Linguagem
- Linguagem (latu-sensu):
- capacidade de expressão e interação social
- não específica do ser humano
- meio de expressão e interação compartilhado por um grupo
social ou por membros de uma espécie
- pouco variável numa espécie
- Linguagem (strictu-sensu):
- capacidade de expressão e interação social por meio verbal
- específica do ser humano
- forma verbal de expressão e interação social
- variável entre grupos sociais e mesmo entre
indivíduos
Aquisição da Linguagem
A Aquisição da Linguagem como Fenômeno Natural
- Sentido Amplo: aquisição de um meio verbal de expressão e interação
social
- foco em habilidades de interação/expressão lingüística
- dificuldade de se distinguir o que diz respeito à aquisição da
língua do que diz respeito ao desenvolvimento da capacidade
de interação social e da possível interrelação entre esses
dois processos
-
Sentido Estrito: aquisição de uma língua materna, ou identificação de
uma forma particular de linguagem verbal da comunidade na qual a
criança se acha inserida (aquisição de uma gramática).
- Foco nos procedimentos de identificação, no estado de
conhecimento da língua atingido, nas condições para que se
realize e nos fatores que atuam no processo.
Aquisição da Linguagem
O que a criança adquire ao adquirir LINGUAGEM ?
- Sentido amplo: desenvolvimento de uma capacidade de
expressão e interação social
- O que a criança deve adquirir ?
- Sentido estrito: aquisição de uma forma verbal específica
(língua), que se presta à expressão e à interação verbal
- O que a criança deve adquirir ?
- PROCESSOS DISSOCIADOS
Autismo
Savant Lingüístico
Aquisição da Linguagem
Perspectiva Histórica dos
Estudos em Aquisição da
Linguagem
Aquisição da Linguagem
A Tradição dos Estudos Longitudinais
(Diários)
•
•
•
•
•
•
•
•
Stern & Stern (1907)
Lewis (1936)
Leopold (1939)
Gregoire (1948)
Menyuk (1969; 1971)
Bloom (1970; 1973)
Brown (1973)
CHILDES (atualidade)
Roman Jakobson
Escola de Praga
Funcionalismo (M. Halliday)
Europeu
Linguística da Enunciação (E. Benveniste – interacionismo)
Estruturalismo
Linguística Antropológica (F. Boas/E. Sapir)
Norte-Americano
Empirismo Linguístico (L. Bloomfield)
Linguística
Racionalismo (N. Chomsky)
Gerativismo
Linguística Cognitiva (M. Tomasello)
Construtivismo (Epistemologia Genética - J.Piaget)
Psicologia do Desenvolvimento
Cognitivismo (J. Bruner)
Interacionismo (Sócio-construtivismo – L.Vygotsky)
Mentalismo (W.Wundt)
Psicologia Cognitiva (Ciências Cognitivas – S.Pinker)
Psicolinguística Desenvolvimental e Experimental
Psicologia
Comportamentalismo (I.Pavlov/J.Watson/F. Skinner)
Conexionismo
Aquisição da Linguagem
O Empirismo
Origens: Aristóteles, Hume, Berkeley, Locke, Russell
Idéia Central: todo o conhecimento provém dos sentidos
Na Psicologia:
- Ivan Pavlov – Condicionamento Clássico
- John Watson
- B.F. Skinner – “Verbal Behavior”
- aquisição como processo indutivo
- esquema E-R-R
Na Lingüística:
- Leonard Bloomfield (estruturalismo norte-americano)
Aquisição da Linguagem
Características Gerais do Empirismo na
Aquisição da Linguagem
- Descrição declarativa
- Dimensão cognitiva não enfatizada
- Caráter social enfatizado
- Papel do meio (behaviorismo)
- Construção social da língua
- Construção interativa da língua
Aquisição da Linguagem
O Racionalismo
Origens: Platão, Descartes, Leibniz, Kant, Von Humboldt
Idéia Central: o conhecimento pressupõe idéias inatas
Resenha de Chomsky contra Skinner (1957)
- Argumento da Pobreza do Estímulo
- A questão da aprendibilidade (adequação explanatória)
- A questão do método dedutivo
Na Lingüística:
- Noam Chomsky (Gramática Gerativa)
Aquisição da Linguagem
-
Reações ao Racionalismo
Questionamento ao argumento da pobreza de
estímulo = fala dirigida à criança (K. Snow)
Questionamento ao inatismo = período agramatical
(M. Tomasello)
Questionamento à modularidade = holismo
cognitivo (Piaget)
Questionamento ao processo = interação
(Vygotsky)
Outros questionamentos: o que seria inato ? A
língua como ferramenta de comunicação (Bates,
MacWhinney)
Aquisição da Linguagem
Áreas de Concentração
- Aquisição de língua materna falada
- Aquisição de língua materna escrita
- Desenvolvimento da leitura
- Aquisição de língua estrangeira (L2)
- Distúrbios de aquisição
- Déficit especificamente lingüístico (DEL)
- Afasias
- Aquisição anormal da linguagem
- Desenvolvimento da teoria lingüística
Aquisição da Linguagem
Principais Abordagens para o Estudo da
Aquisição da Linguagem
behaviorismo (Skinner)
empiristas
Correntes
conexionismo (Plunkett, Rumelhart & McClelland)
modulares
racionalistas
(inatistas)
Teoria Lingüística Gerativa (Chomsky)
Teoria Psicolingüística
Teoria de Articulação Lingüística e
Psicolingüística
cognitivismo (construtivismo – Piaget)
holistas
Lingüística Cognitiva
interacionismo (Vygotsky)
sócio-interacionismo (Bruner)
Aquisição da Linguagem
em uma perspectiva
gerativista
O Programa de Investigação
Gerativista
1.
2.
3.
4.
O que é o conhecimento da língua ?
Como esse conhecimento é adquirido ?
Como esse conhecimento é usado ?
Quais são os sistemas físicos que dão
suporte a esse conhecimento ?
Respondendo à Questão (1)
O conhecimento da língua deve ser
caracterizado em termos de uma
gramática, definida como um modelo
teórico do conhecimento
internalizado que um falante possui
sobre sua língua, ou, em outras
palavras, um modelo da competência
linguística
Respondendo à Questão (1)
Modelos de Gramática na história do Gerativismo
1.
Modelo Padrão (1965) – sistema de regras de reescrita categorial e
regras transformacional + léxico
2.
Modelo Padrão Estendido (1971) – sistema de regras e princípios +
léxico com operações morfológicas
3.
Modelo de Princípios e Parâmetros (1981) – sistemas de princípios
universais gerais de funcionamento + parâmetros de aquisição +
léxico (concepção modular de gramática)
4.
Modelo Minimalista (1993) – sistema de princípios universais
definidos em função da relação da linguagem com os chamados
sistemas de desempenho (interfaces) + léxico
Ainda a Questão (1)
A gramática de uma língua particular
deve ser construída de forma a
satisfazer a requisitos de adequação
descritiva, isto é, deve dar conta da
geração (descrição estrutural) das
sentenças dessa língua, e somente
essas.
Mais um pouquinho da Questão (1)
Ao conceito de competência, Chomsky vem preferindo
o uso do termo língua-I (de interna, individual e
intensional), definindo-o como o conhecimento que
permite ao falante de uma dada língua produzir e
compreender sentenças nessa língua, em oposição
à noção de língua-E (de externa e extensional) que
designa o conjunto de frases geradas por uma
língua-I. O modelo teórico da gramática de uma
língua deve, portanto, ser concebido como uma
gramática da língua-I.
Respondendo à Questão (2)
A teoria da aquisição da linguagem concebida em uma perspectiva
gerativista (racionalista) é desenvolvida com vista a superar:
•
•
O Problema de Platão (Argumento da Pobreza de Estímulo)
O Problema da Projeção (Problema Lógico da Aquisição)
•
A Questão da Criatividade Linguística
Para isso, assume-se a chamada
Hipótese Inatista
Respondendo à Questão (2)
A Hipótese Inatista afirma que os seres humanos são
biologicamente programados para adquirir uma
língua, ou seja, o processo de aquisição é apenas
parcialmente dependente de fatores ambientais
externos. Essa dotação biológica é específica da
espécie humana, visto que só os seres humanos
adquirem linguagem quando a ela expostos sob
determinadas condições. A tese do inatismo
explica também porque adquirimos uma linguagem
com as características e propriedades que são
observadas nas línguas humanas naturais.
Respondendo à Questão (2)
Concepções do Inatismo ao Longo da História
do Gerativismo
Primeiro Momento – Dispositivo de Aquisição
de Linguagem (language acquisition device –
LAD)
Segundo Momento – Gramática Universal (GU)
– Universal Grammar (UG)
Ainda a Questão (2)
Gramática Universal:
1. Estado Inicial do Processo de Aquisição
2. Conjunto de Princípios que restringem a
forma final das gramáticas (delimita o
número de gramáticas possíveis)
3. Conjunto de Princípios que regem o
funcionamento das línguas humanas
Mais um Pouquinho da Questão (2)
Uma teoria de aquisição da linguagem deve, segundo a
ótica gerativista, responder como a criança parte
de um estado inicial Eo e chega a um estado final
Ef, embora nem sempre isso seja feito. Na
verdade, o foco se dá na caracterização de Eo e Ef,
por meio de uma teoria de GU e uma teoria de
Ef
Língua-I (uma gramática
da Língua-I), ambas tendo
de satisfazer a requisitos de adequação
explicativa e aprendibilidade (devem dar conta do
modo como a criança adquire uma língua)
A Verdadeira Questão (2)
A verdadeira questão é, portanto, não
como a linguagem é adquirida, mas
sim, o que se adquire quando se
adquire uma língua.
Uma Tentativa de Resposta:
A aquisição da linguagem é um processo de fixação de
valores de parâmetros, por meio da exposição da
criança a uma certa quantidade de evidência
disponível no input. Os parâmetros são definidos
por GU e tem valores variáveis de língua para
língua. Princípios universais restringem o número e
o tipo de parâmetros existentes, e constituem-se
no aspecto universal da faculdade da linguagem.
Vários parâmetros foram propostos, tais como :
1.
O Parâmetro do Sujeito Nulo
2. O Parâmetro da Ordem
3. O Parâmetro do Objeto Nulo
Problemas para uma
Teoria de Princípios e Parâmetros
1.
Como formular um parâmetro ?
2. Qual seu estado inicial ?
3. Quais as opções de fixação ?
4. Que valores estão disponíveis no estado
inicial ?
5. Quanta evidência é necessária ?
6. Quando estão disponíveis ?
Aquisição da Linguagem
em uma perspectiva
interacionista
Conceito de Interação
O termo “interação” recorta
diferentes objetos epistemológicos,
conforme a perspectiva da Linguística,
da Psicologia do Desenvolvimento e da
Aquisição da Linguagem, os quais, ainda
que tenham traços em comum, não são
concomitantemente definíveis.
Na Linguística, “interação” refere-se à ideia de “agir sobre o
outro” por meio da linguagem, e está presente nas chamadas
correntes interacionistas, as quais se caracterizam por se
interessar não apenas pelo sistema linguístico em si, mas
também pelas relações que esse sistema mantém com fatores
que lhe são externos e que, de algum modo, determinam sua
constituição e funcionamento.
•
•
Sociolinguística
• Pragmática
Semântica Enunciativa ou Linguística da Enunciação
• Semântica Argumentativa
• Análise da Conversação
• Linguística Textual
• Análise do Discurso
• Linguística Interacional
• Funcionalismo
Na Psicologia do Desenvolvimento, “interação”
refere-se às interrelações que o sujeito do
conhecimento mantém com os fatores externos que
atuam no processo do desenvolvimento cognitivo
• Construtivismo Cognitivista ou Epistemologia
Genética (Cognitivismo) – Jean Piaget
• Interacionismo, Socioconstrutivismo ou
Sociointeracionismo – Lev Vygotsky
• Interacionismo Social ou Sociocognitivismo –
Jerome Bruner, Elizabeth Bates, Brian
MacWhinney, Michael Tomasello
Na Aquisição da Linguagem, “interação”
designa uma especial visão sobre o processo
de desenvolvimento linguístico que privilegia
o processo dialógico entre criança e adulto
na teorização sobre a aquisição de
língua(gem)
• Interacionismo, Socioconstrutivismo ou
Sociointeracionismo (Cláudia de Lemos)
O Interacionismo na Linguística
Inicialmente, as correntes interacionistas na
ciência da linguagem se estabeleceram a
partir de uma crítica à “linguística da língua”,
iniciada a partir de Saussure, voltando-se
para a análise da fala ou discurso, estes que,
de início, foram colocados entre pelo mestre
genebrino entre os “fatos heteróclitos e
multifacetados da linguagem”.
O Interacionismo na Linguística
Postulados da Linguística da Língua e a Crítica a eles (C. Kerbrat-Orecchioni, 1980)
1 - É ao sistema (estrutura, código ou faculdade) que devem estar relacionados todos os
fatos da linguagem
o ausência de realidade empírica
o ausência de reflexões sobre como o sistema se manifesta
2 - A unidade maior de análise é a sentença
o questão do texto como unidade
o a questão da sintaxe textual
3 - A semântica estrutura-se em torno das unidades lexicais (significantes) e da estrutura
da sentença
o a construção interacional-discursiva dos sentidos
o unidades maiores de significação
4 - Estudo da língua(gem) dissociado de suas funções (idealização)
o noção de comunicação como interação
5 - Postulado da Imanência: estudar a língua(gem) “em si mesma e por ela mesma”
o não existe língua(gem) fora dos contextos nos quais ela se manifesta
O Interacionismo na Linguística
• A crítica a (1) e a (3) dá origem à Linguística da
Enunciação (Benveniste), à Semântica
Argumentativa (Ducrot), à Sociolinguística (Labov,
Gumperz) e à Pragmática.
• A crítica a (2) dá origem à Linguística Textual e à
Análise da Conversação
• A crítica a (4) dá origem ao Funcionalismo
(Halliday) e à Linguística Interacional
• A crítica à (5) dá origem à Análise do Discurso
Interacionismo Linguístico e
Aquisição da Linguagem
De um modo geral, os trabalhos em aquisição de linguagem conduzidos
sob a ótica de uma teoria linguística interacionista têm enfatizado:
1 - A inserção da criança no universo do discurso/enunciação:
• Processo de subjetivação
2 - As marcas linguísticas da enunciação/interação:
• Determinação dos elementos gramaticais que sustentam a
interação e o seu domínio pela criança
3 - As fases ou estágios pelos quais a criança passa:
• Ordem de aparecimento das marcas linguísticas da enunciação na
fala da criança
4 - Caracterização dos ambientes/situações em que ocorre a
interação.
Interacionismo Linguístico e
Aquisição da Linguagem
•
Há, no Interacionismo, um comprometimento explícito com os dados de
produção, caracterizados como fala da criança, tomada como fonte
exclusiva de dados e como campo privilegiado de teorização;
•
Não há a preocupação clara com a caracterização dos estados inicial e final
do processo de aquisição, na medida em que a aquisição é vista como
instauração da criança no discurso/interação, e não como reconhecimento
de uma gramática;
•
A noção de gramática como uma competência/conhecimento estável é
refutada, pois se considera que ela é reorganizada e reformulada muitas
vezes durante o processo;
•
As correntes de pesquisa nessa área estão mais próximas de uma
perspectiva empirista, o que leva a uma concepção de aquisição mais afeita à
ideia de internalização/apropriação do que a de maturação.
Interacionismo Linguístico e
Aquisição da Linguagem
Portanto, falta ao Interacionismo Linguístico:
1 - Caracterizar o que se apresenta à criança como um problema de
aquisição;
2 - Determinar que tipo de dado a criança tem de identificar e
depreender do input;
3 - Elencar as habilidades e conhecimentos necessários para que essa
identificação/depreensão ocorra;
4 - Dissociar o reconhecimento da gramática de uma língua do domínio
de capacidades comunicativas e interacionais gerais.
O Interacionismo na Psicologia do
Desenvolvimento
Inicialmente, as correntes da Psicologia do
Desenvolvimento que assumem uma noção de
interação surgiram como reação ao behaviorismo
dominante na primeira metade do século XX,
propondo uma nova concepção do desenvolvimento
cognitivo. Em oposição ao papel passivo conferido à
criança na cognição pelos comportamentalistas,
surge a ideia de que ela é ativa, dirigindo o processo
e construindo ela mesma o conhecimento – daí essas
correntes estarem enfeixadas sob o rótulo de
construtivistas.
A Noção de Interação na Psicologia
do Desenvolvimento
Diferentes Concepções de Interação:
• Criança – ambiente/meio: cognitivismo
piagetiano
• Criança-ambiente/meio-”outro”:
interacionismo vygotskyano
• Criança-ambiente/meio-linguagem:
sociocognitivismo
Situando a Vertente Interacionista
da Psicologia do Desenvolvimento
• O construtivismo, ainda que dê muita ênfase ao papel do
ambiente no desenvolvimento da cognição, não pode ser
tachado de empirista, pelas razões já ditas. Tampouco pode
ser considerado inatista, já que atribui relativamente pouca
importância ao estado inicial do processo. Diz-se, então, que
ele ocupa uma posição intermediária entre essas duas visões;
• O construtivismo assume uma visão não-modular (holista) da
arquitetura cognitiva humana, na medida em que concebe a
mente como indissociada por domínio. Daí que o
desenvolvimento linguístico está submetido aos mesmos
fatores e padrões que intervêm no desenvolvimento da
cognição como um todo.
O Cognitivismo
Esta proposta teórica, que vincula o desenvolvimento linguístico
ao desenvolvimento da cognição, foi desenvolvida a partir dos
estudos de Jean Piaget. Piaget dá um grande valor para a
experiência, mas não se deve confundi-lo com um empirista.
Para ele, a criança constrói o conhecimento com base na sua
experiência com o mundo físico, isto é, a fonte do
conhecimento está na (inter)ação da criança e o ambiente.
Estágios do Desenvolvimento
Piaget propõe que o desenvolvimento cognitivo passa
por períodos, estágios:
•
•
•
•
Sensório-motor ( 0 a 18 meses)
Pré-operatório (dois a sete anos)
Operações concretas (7 a 12 anos)
Operações formais.
Os estágios são cumulativos e construídos a partir
dos estágios precedentes
Propriedades dos Estágios
Piagetianos
• Esses estágios são universais (gerais e
invariáveis), o que leva a uma concepção
filogenética da cognição, e, em cada um, a criança
desenvolve capacidades necessárias para o estágio
seguinte, provocando mudanças qualitativas no
desenvolvimento.
• Para a aquisição da linguagem, interessam os
períodos sensório-motor e pré-operatório. O
primeiro é caracterizado pelos exercícios
reflexos, os primeiros hábitos, a coordenação
entre visão e apreensão e a busca de objetos
desaparecidos. O segundo é marcado pela função
simbólica e pelas organizações representativas.
O Surgimento da Linguagem no
Construtivismo
É na passagem do primeiro para o segundo estágio que a
linguagem surge na criança, já que, segundo Piaget, é
nesse momento que encontra-se a função simbólica (ou
semiótica). Como ele assume uma conceito de língua como
sendo um sistema representativo, somente no momento
em que a criança está apta a manipular símbolos é que a
linguagem toma lugar. Dessa forma, para que uma criança
faça uso do signo linguístico, é necessário que ela
“aprenda” que as coisas existem mesmo que não estejam
no seu campo de visão. Um dos requisitos para adquirir a
linguagem é a permanência do objeto: um objeto existe
mesmo que não seja visto. O segundo pré-requisito é a
representação. O caráter representativo é inerente ao
signo.
A Fala Egocêntrica
Um dos aspectos linguísticos que mais
chamou a atenção de Piaget foi o discurso
egocêntrico. Para ele, as conversações da
criança são egocêntricas ou centralizadas.
(fala consigo mesma). Não há intenção de se
comunicar, não há a preocupação com o
interlocutor . Por volta dos sete anos esse
discurso tende a diminuir, até desaparecer,
enquanto o discurso socializado ganha espaço.
Cognitivismo e Aquisição de
Linguagem
São muitos os estudos sobre aquisição da linguagem numa
abordagem cognitivista. De um modo geral, trabalho em A.L.
conduzidos em um paradigma teórico piagetiano concentram-se
na descrição de estágios de desenvolvimento linguístico e sua
relação com os estágios cognitivos. Focam também na
determinação de pontos da cognição geral que repercutem na
linguagem, e vice-versa. Em todos eles há uma nítida ausência
de um modelo formal de língua que permita uma melhor
articulação entre a estrutura da linguagem e as estruturas
cognitivas mais amplas. Como a ênfase está na ação da criança,
pouca atenção é dada sobre o que se apresenta como um dado
(informação) relevante para a construção do conhecimento.
Cognitivismo e Aquisição de
Linguagem
Uma questão deve ser colocada a todos: a noção de estágio. O
estágio é geral, invariável e cumulativo. Isso significa que todas
as crianças deveriam passar pelos mesmos processos e na
mesma ordem, durante a aquisição. No entanto não é isso que se
encontra. Mesmo estudos que assumem estágios falam de
variações no processo de aquisição ou de como crianças não
passam por determinados estágios. No tocante à linguagem, a
visão filogenética mostrou-se insustentável. A questão da não
modularidade também vai se revelar problemática, visto os
casos de autismo e de savant linguístico.
O Interacionismo (Sociointeracionismo)
Vygotsky defende que o desenvolvimento da
fala segue as mesmas leis, o mesmo
desenvolvimento que outras operações
mentais. O autor, no entanto, chama a
atenção para a função social da fala, e daí a
importância do outro, do interlocutor, no
desenvolvimento da linguagem.
Os estudos de base interacionista apontam
para o papel do adulto como quem cria a
intenção comunicativa, como o facilitador do
processo de aquisição. Assim como Piaget,
Vygotsky estava interessado na relação
entre língua e pensamento.
Estágios de Desenvolvimento para
Vygotsky
Lev Vygotsky propõe quatro estágios no desenvolvimento das
operações mentais:
• Natural ou primitivo ( fala pré-intelectual e pensamento préverbal)
• Psicologia ingênua (a criança experimenta as propriedades
físicas tanto de seu corpo quanto dos objetos, e aplica essas
experiências ao uso de instrumentos – inteligência prática)
• Signos exteriores (as operações externas são usadas para
auxiliar as operações internas (fala egocêntrica))
• Crescimento interior (operações externas se interiorizam)
Linguagem e Pensamento
Vygotsky aponta inicialmente para dissociação entre
fala e pensamento. Diz que têm raízes genéticas
diferentes. Existe uma fase pré-verbal do
pensamento (inteligência prática), e uma préintelectual da fala (balbucio e choro). Por volta dos
dois anos, fala e pensamento se unem e dão início ao
comportamento verbal. A fala passa, então, a servir
ao intelecto, e os pensamentos podem ser
verbalizados. São características dessa nova fase a
curiosidade da criança pelas palavras e a ampliação
do vocabulário.
Outro aspecto importante dos estudos de
Vygotsky está relacionado ao uso da palavra.
Segundo o autor, para a criança a palavra é
parte integrante do objeto. Defende que, no
início, existe apenas a função nominativa com
uma referência objetiva. Posteriormente,
desenvolvem-se a significação independente
da nomeação e o significado independente da
referência.
Novamente a Fala Egocêntrica
A fala egocêntrica, para Vygotsky, tem
características e motivações diferentes do
que para Piaget. Para Piaget, a fala
egocêntrica não tem função no pensamento e
desaparece quando a criança se socializa.
Para Vygotsky , a fala egocêntrica é um
instrumento de que a criança faz uso para
buscar planejar a solução de um problema, e
tende a ser interiorizada.
Críticas
As mesmas críticas em relação à generalização de
estágios aplicam-se aos estudos interacionistas, ou
seja, estes também propõem um caráter geral e
invariável para os estágios propostos, o que não se
confirma
nos
dados.
Para
as
propostas
construtivistas, fica ainda a questão de responder
como a criança passa de categorias cognitivas para
categorias puramente linguísticas, no processo de
aquisição de linguagem. A questão da relação entre
pensamento e linguagem também vai se revelar
problemática.
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Aquisição da Linguagem