Perfil da demanda de pacientes do programa de Hanseníase
em hospital universitário no período de 1992-2004
Paula Pereira Araújo, Juliano Santos Borges,
Maria Leide Wand-del-Rey de Oliveira, Maria Katia Gomes, Rosangela Monteiro
Serviço de Dermatologia e Curso de Pós- Graduação
HUCFF-UFRJ e Faculdade de Medicina - Universidade Federal do Rio de Janeiro
Objetivos
Introdução
1. Conhecer o perfil dos casos novos diagnosticados no ambulatório de hanseníase do hospital universitário e
consolidação obtida ao final de uma série histórica de 1980-2004.
2. Conhecer a magnitude das internações de pacientes de hanseníase na enfermaria de dermatologia no período de
1990-2002.
A implantação do Programa de Controle de Hanseníase (PCH) no HUCFF ocorreu em 1991, mas desde a sua criação
em 1978, o hospital vem recebendo pacientes para diagnóstico e tratamento de intercorrências, inclusive
hospitalização. Os critérios para absorção de casos abrangem a indicação de atenção terciária, incluindo a
reabilitação cirúrgica, em parceria com os Serviços de Ortopedia, Medicina Física/Reabilitação e Fisioterapia, e
acompanhamento do paciente em outros serviços do hospital. Além de ser referência no estado, o ambulatório
recebe alunos de graduação médica e pós-graduação em dermatologia, além de alunos da Escola de Serviço Social
(SS), decorrente da atuação do SS na unidade. São apresentadas duas casuísticas: uma de casos novos, notificados
de 1980-2004, e outra de parte da demanda de casos em tratamento encaminhados por intercorrências clínicoterapêuticas e reabilitação cirúrgica, hospitalizados na enfermaria de dermatologia.
Metodologia
Pesquisa operacional com estudo retrospectivo de casos de hanseníase com consolidação de dados obtidos da
ficha de notificação compulsória, manipulados no SEAV-Seção de Epidemiologia - Sistema de Informações de
Agravos de Notificação - SINAN e coleta de dados de prontuários de pacientes hospitalizados.
Resultados
No período do estudo foram notificados 927 casos de hanseníase na
unidade hospitalar, sendo 50% da capital, e os demais provenientes de 39
municípios, principalmemte da periferia da região metropolitana, sendo
apenas três de outros estados (Fig. 1). 1,2,3
Observa-se um aumento da demanda no período de 1996-98 devido a
não observância dos critérios de absorção e demanda estimulada para um
estudo multicêntrico de terapêutica. A queda observada nos municípios da
periferia metropolitana, a partir de 1999, parece estar relacionada à
atuação de dois projetos de extensão da universidade na área, apoiando a
descentralização. Nesse sentido é importante observar que o aumento
observado em dois desses municípios em 2004 pode ser resultante de
encaminhamento para confirmação diagnóstica, pelas unidades de saúde
descentralizadas.
Em geral os casos Paucibacilares (PB) são encaminhados para
tratamento na unidade de saúde e apenas os Multibacilares (MB) mais
complicados são absorvidos. É possível que essa proporção de PB tenha
sido influenciada pelo projeto referido em 1996/8. Ressalta-se que apesar
da pressão da periferia metropolitana a maioria dos casos são do
município sede da capital.
Nota-se que a demanda do hospital em questão é constituída de casos
com diagnóstico tardio em ambos os grupos, 10% já apresentando
deformidades (grau 2) e 13 e 14% com insensibilidade em mãos e pés (grau
1) (Fig. 2). Isso pode ser resultante do perfil terciário da unidade, com uma
demanda de maior complexidade para o diagnóstico, mas aponta para a
existência de dificuldades no acesso ao diagnóstico no estado do Rio de
Janeiro.4
A incidência de casos em menores de 15 anos indica transmissão
recente e alta endemicidade, enquanto que em maiores de 60 anos aponta
para o controle da endemia, com adoecimento de pessoas infectadas ao
longo dos anos (Fig. 3). Sendo assim, 67% de casos nessa faixa etária está
de acordo com a prevalência do município do Rio de Janeiro 2,3 , mas 13 %
em menores de 15 anos aponta para existência de focos de transmissão ou
pode também ser atribuído ao viés de demanda que tria alguns casos da
unidade de pediatria da universidade, por exemplo .
Figura 1: Série histórica dos casos novos de hanseníase notificados no
HUCFF provenientes da região metropolitana I, 1980 - 2004
Figura 2: Casos de hanseníase notificados no HUCFF, por classificação
operacional distribuídos na região metropolitana I - 1992 - 2004
O percentual de 70% de alta por cura dos casos diagnosticados na
unidade (Fig. 4) pode ser justificado pela transferência de muitos deles
para as unidades básicas de saúde próximas à residência (incluído em
outros), alguns sem a informação registrada. Ressalta-se que toda a
atenção deve ser dada ao registro dos casos transferidos para que a
ausência de informação não se confunda com abandono, que entre os
casos em tratamento nos 4 últimos anos está abaixo de 5% .
Em relação aos casos de hanseníase internados no período de 1990 a
2002 (Fig. 5): Foram realizadas 1023 internações na enfermaria de
dermatologia, 90 delas por hanseníase (8.8%). Essa informação não
referente aos casos novos, tem o objetivo de sinalizar para uma outra
demanda recebida na unidade, em sua maioria de casos não
acompanhados pelo ambulatório. Optou-se por analisar, nessa
apresentação, as reações hansenicas, que são predominantes entre as
causas de internação 5,6 e o aumento das mesmas após alta terapêutica,
sinalizando um problema a ser considerado na atenção “pós-alta” ao
7,8
portador de hanseníase.
Figura 3: Distribuição por faixa etária dos casos notificados no HUCFF,
segundo por região metropolitana I, 1992 - 2004
120
60,0
100,0
100
50,0
90,0
80,0
15,7
80
40,0
70,0
Nº
73,2
60,0
60
% 30,0
%
50,0
40,0
40
66,8
20,0
30,0
20
11,1
20,0
10,0
20,5
12,7
10,0
0
0,0
0,0
1980 1981 1982 1983 1986 1987 1988 1989 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004
BELFORD ROXO
DUQUE DE
CAXIAS
ITAGUAI
JAPERI
MAGE
NILOPOLIS
NOVA IGUACU
QUEIMADOS
RIO DE JANEIRO
Município
Ano
SAO JOAO DE
MERITI
< 15 ANOS
SEROPEDICA
16 A 59 ANOS
Rio de Janeiro
RIO DE JANEIRO
PB
BAIXADA FLUMINENSE
CASUÍSTICA: RJ = 463, Baixada = 422, Outros municípios = 39, Outros estados = 3
Total: 927 casos novos de hanseníase notificados pelo HUCFF: 1980-2004
Baixada Fluminense
MB
Figura 4: Distribuição dos Casos Novos segundo o graus de
Incapacidade Física apresentado no momento do diagnóstico, 1992-2004
Baixada Fluminense
> 60 ANOS
Figura 5: Resultado das coortes de tratamento,
segundo o tipo de saída do casos-1999-2003
70
70
67
0,0
70
60
Óbito
0,6
60
50
2,4
50
Alta Estatística
Nº
40
2,5
40
30
27,7
Nº
30
Outros
29,6
20
14,63
20
10
10
69,9
13,7
9,9
8
4,8
10
Cura
67,3
0
1980
1981
1982
1983
1986
1987
1988
1989
1990
1991
1992
1993
1994
1995
1996
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2004
Ano
BELFORD ROXO
DUQUE DE CAXIAS
MAGE
NILOPOLIS
0
RJ
NOVA IGUACU
QUEIMADOS
SAO JOAO DE MERITI
Grau Zero
0,0
BF
Grau I
Grau II
10,0
REAÇÃO PÓS-ALTA: INTERNAÇÃO DE PACIENTES DE HANSENÍASE NO HUCFF/UFRJ, 1990-2002
34
32
31%
30
INTERNAÇÕES
POR HANSÊNÍASE
8,8%
28
26
24
PORCENTUAL
22
20
30,0
40,0
50,0
20 %
18
16
14
12
PB
Conclusão
O estudo da demanda em hospitais universitários apresenta o viés da
maior gravidade dos pacientes, já que se trata de unidades de
referência de complexidade terciária. Entretanto, permite detectar
problemas na qualidade do diagnóstico da rede básica e avalia a
contribuição da universidade ao Programa de controle de Hanseníase
(PCH) estadual.
10
8
6
4
2
OUTRAS CAUSAS
91,2%
3,7 %
0
1990 a 1994
60,0
Não Avaliado
MB
MAGNITUDE DAS INTERNAÇÕES POR HANSÊNÍASE NA ENFERMARIA DE
DERMATOLOGIA NO PERÍODO DE 1999 E 2002
20,0
1995 a 1998
1999 a 2002
PERÍODOS AVALIADOS
Referências Bibliográficas
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(impresso/em andamento).
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www.praticahospitalar.com.br.
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HUCFF-UFRJ
70,0
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Paula Pereira Araújo, Juliano Santos Borges, Maria