Ministério da Cultura e Fundação Clóvis Salgado apresentam: PROGRAMA EDUCATIVO EM ARTES VISUAIS DA FUNDAÇÃO CLÓVIS SALGADO 1 Guga Ferraz, Céu, 2012. Coleção do artista. Fotografia Paulo Innocêncio 1 Arqueologia do Urbano Caro(a) professor(a), É com muita satisfação que a Fundação Clóvis Salgado – FCS – o (a) convida a participar das ações do Programa Educativo em Artes Visuais e a conhecer seus espaços expositivos que recebem, durante todo o ano, mostras artísticas com temáticas diversas. O Programa Educativo conta com a atuação permanente de educadores para atendimento ao público espontâneo e também aos grupos agendados que participam de ações e visitas às galerias do Palácio das Artes – Grande Galeria Alberto da Veiga Guignard, Genesco Murta, Arlinda Corrêa Lima e Mari’Stella Tristão — e ao Centro de Arte Contemporânea e Fotografia. Dentre as atividades propostas estão as visitas temáticas e as oficinas para professores, crianças e famílias. O Programa conta, ainda, com um espaço destinado à pesquisa e à experimentação artística relacionadas às exposições. As visitas às mostras proporcionam aos alunos a oportunidade de aprendizado e a aproximação com o meio artístico, potencializando o trabalho em sala de aula, além de estimular a observação, o pensamento crítico e o questionamento. Esta cartilha foi desenvolvida pela equipe do Programa Educativo em Artes Visuais da FCS para ser utilizada como uma ação complementar do professor. Aqui constam informações, questões e proposições educativas para a introdução ao conteúdo da exposição Escavar o Futuro. Esperamos que este material prolongue as discussões iniciadas no espaço expositivo. 2 3 De 11 de dezembro de 2013 a 2 de fevereiro de 2014, o Palácio das Artes, o Centro de Arte Contemporânea e Fotografia, o Parque Municipal Américo Renné Giannetti e a Av. Afonso Pena recebem a exposição Escavar o Futuro, uma realização da Fundação Clóvis Salgado com curadoria de Renata Marquez e Felipe Scovino. O recorte curatorial parte da produção artística das décadas de 1960 e 1970, momento em que há um significativo interesse dos artistas pela construção social do espaço e pela prática cotidiana de apropriação desse espaço. A mostra propõe uma atualização da investigação sobre continuidades e rupturas das relações postas entre cidade, arquitetura, arte e ocupação urbana, trazendo a reflexão sobre como esses territórios são pensados e ocupados social e esteticamente, abarcando, inclusive, as manifestações urbanas recentes como uma das formas de apropriação do espaço público. O nome da exposição foi inspirado em uma obra do crítico Frederico Morais que contém a frase Arqueologia do Urbano – escavar o futuro, a qual integra a série Quinze Lições sobre Arte e História da Arte – Apropriações: Homenagens e Equações, de 1970. Essa série foi apresentada na manifestação Do Corpo à Terra, realizada no Parque Municipal Américo Renné Giannetti, simultaneamente à exposição Objeto e Participação, proposta para a inauguração da Grande Galeria Alberto da Veiga Guignard no Palácio das Artes. O título da obra está em consonância com a proposta da exposição, pois remete a escavar o passado, numa arqueologia que também quer vislumbrar o futuro. 4 Wilson Baptista, Abertura da Avenida Amazonas, 1941. Coleção do artista. Escavar o Futuro Escavar o Futuro é um convite à experiência de refletir sobre as neovanguardas brasileiras das décadas de 1960 e 1970, e de vivenciar as experiências contemporâneas de produção artística realizadas a partir da reflexão sobre as relações existentes na produção social do espaço e seus desdobramentos na vida cotidiana. Para Renata Marquez, uma das questões que a exposição propõe é se após as experiências com as recentes manifestações populares no Brasil - onde novas percepções da cidade, novos imaginários políticos e novas ações coletivas foram construídas – conseguiremos visualizar a distinção entre as ações promovidas por artistas e cidadãos. Felipe Scovino aponta outro questionamento sobre o modelo de modernidade proposto nos anos 1950 e 1960, que foi praticamente interrompido com a ditadura militar e o atual modelo urbano, envolto aos processos de especulação imobiliária, gentrificação e deslocamento social. A exposição tem como desafio investigar os novos formatos expositivos para o objeto e para a participação a partir do contexto em que essas ações estão sendo propostas, além de refletir sobre as interseções existentes entre arte e vida e suas relações com as novas configurações sociais vigentes. Você sabe o que faz um curador? Quando observamos a seleção de obras que integram uma exposição e a disposição delas no espaço expositivo, seja na galeria, no museu ou mesmo na rua, vemos que cada obra foi organizada de forma que, ao caminharmos por elas, possamos visualizar a proposta de cada artista, estabelecendo, também, relações com as demais obras. Quando visitamos uma exposição com várias obras observamos as afinidades entre elas, as contradições, a diversidade, e entendemos a proposta curatorial observando o que o conjunto de obras, como um todo, quer nos propor. O curador exerce um papel fundamental em uma exposição e sua forma de atuação varia bastante conforme o perfil do profissional e as especificidades do projeto. Em linhas gerais, é o curador quem, a partir de uma ideia ou proposta inicial, seleciona as obras e artistas que possam contribuir para o recorte da exposição, criando um percurso para o público. Esse trabalho, geralmente, inclui também as estratégias de montagem e apresentação das obras. Os curadores também atuam na seleção de obras para aquisição de acervos e coleções de museus, galerias, prêmios e outras instituições. 5 Guga Ferraz, Pedestre, 2003. Coleção do artista. Fotografia Paulo Innocêncio. Frederico Morais, Da série Quinze lições sobre arte e história da arte – Apropriações: Homenagem e Equações, 1970, fotografia. Acervo Frederico Morais. Como a arte se apropria do mundo? Podemos considerar que a relação da arte com o mundo é inerente. Quando o artista cria um projeto ou objeto artístico, essa obra tem, em si, o resultado de experiências vividas e que de alguma forma estão vinculadas ao processo e ao resultado da criação. Do Corpo à Terra e Objeto e Participação A manifestação Do Corpo à Terra e a exposição Objeto e Participação foram eventos integrados. Objeto e Participação foi inaugurada em 17 de abril de 1970 no Palácio das Artes e Do Corpo à Terra se desenvolveu no Parque Municipal Américo Renné Giannetti entre 17 e 21 de abril do mesmo ano. A curadoria de ambos os eventos foi do próprio Frederico Morais, a convite de Mari’Stella Tristão, então diretora do setor de exposições. A mostra/ manifestação contou com a participação de vários artistas, dentre eles, Artur Barrio, Cildo Meireles, Hélio Oiticica, Lee Jafe e Décio Noviello. Os eventos referidos possuíam aspectos inovadores no âmbito da história da arte mineira. Segundo Frederico 6 Morais, em seu texto sobre a exposição publicado no catálogo Neovanguardas, pela primeira vez no Brasil artistas não eram convidados para expor obras já concluídas, mas para criar seus trabalhos diretamente no local expositivo; no Parque Municipal, os trabalhos se desenvolveram em datas e horários diferentes, ou seja, nem o curador nem os artistas presenciaram a totalidade das manifestações. Os trabalhos realizados no Parque possuíam caráter efêmero e ficaram expostos até sua completa destruição. Pela primeira vez, em Belo Horizonte, um crítico de arte atuava como curador e artista, entendendo a curadoria como extensão da atividade crítica, o que lhe proporcionava uma dimensão criadora Revendo a história da humanidade, principalmente a partir do surgimento das antigas civilizações, podemos identificar como a arte apresentava significativa importância na vida dessas comunidades. Como a dança e a música que surgem nos ritos e celebrações religiosas, a arte também podia ser encontrada na produção de utensílios domésticos, móveis, tapetes, jarros ou lanças feitas com primor. Essas ações faziam parte das manifestações de grupos e clãs, do culto aos deuses, dos banquetes festivos e das lutas e caças e eram consideradas melhorias dos processos de vida. Durante vários séculos, principalmente com o Renascimento, podemos considerar que houve uma mudança de função para a arte, que se viu a serviço de interesses de grupos distintos. Impulsionada por encomendas, servindo a interesses religiosos ou políticos, via-se vinculada a uma função específica, seja para embelezar os palacetes e reinos, para perpetuar a imagem de um governante para a posteridade, ou para catequizar novos cristãos. Considerando o modernismo na arte presente a partir do final do século XIX, precisamente com a arte impressionista, identificamos uma tentativa da arte de se desvincular de uma função 7 específica e de passar a valer por si mesma. A produção artística se volta para características específicas e formais das linguagens. Essa referência foi dinamizadora para que a arte contemporânea, como no caso da pintura, por exemplo, ao explorar os limites das questões formais, a materialidade, a bidimensionalidade, a cor, fosse identificada como pintura-objeto. Nesse contexto, o objeto de arte torna-se matéria e arte ao mesmo tempo, no qual os motivos para a criação das obras se encontram na própria obra. A arte se encerra nela mesma. No período que compreende o início da Arte Contemporânea, a arte se desvincula da necessidade do fazer manual e da materialidade, questionando os limites da autoria. O interesse central da produção do objeto se volta para o conceito que motiva a obra, podendo o artista se valer de quaisquer materiais ou objetos para a execução de sua ideia. O campo de produção artística é ampliado para fora dos espaços expositivos tradicionais, ganhando novos suportes, ou extrapolando os suportes tradicionais. A arte se aproxima da vida e das coisas do mundo. As obras de Marcel Duchamp no começo do século XX, posteriormente e, os happenings e performances foram fundamentais para essas transformações. O suporte da arte adquire novos contornos, deixa de ser fixo – o gesto, o corpo, o espaço e a natureza são absorvidos e passam a ser o suporte dentro desse novo formato de olhar o objeto artístico. As próprias relações dentro da arte, entre as diversas disciplinas que a compõem, começam a se fundir, tornando cada vez mais tênues os limites entre os fazeres artísticos. Diante dessas novas virtudes, o espectador, que era contemplativo e passivo, passa a se integrar e a interagir com a obra. Ele, agora, também faz parte dela ou torna-se necessário para a sua existência. A arquitetura também passa por processos de mudança. Antes contemplava três dimensões: altura, largura e profundidade. Contudo, atualmente, mais elementos foram introduzidos: o tempo e seu deslocamento dentro do espaço. Considerando que a construção não se restringe ao seu contorno, ela é, também, o espaço vazio e o tempo gasto para percorrê-la. Com a expansão no campo da arte, a definição de obra muitas vezes não é suficiente para designar o produto da arte e a palavra objeto, então, passa a ser utilizada como uma tentativa de sintetizar essas transformações. O uso de objetos como utensílios e materiais de referências cotidianas é determinante para que o objeto se configure como arte e tem início, em 1918, 8 com os #readymades de #Marcel Duchamp. Essa forma de utilização é retomada pela #Pop Art norte-americana e o #Novo Realismo europeu entre os anos 1950 e 1970, disseminando sua prática pelo mundo. Vários artistas passam a valorizar mais ideias, contextos, experiências e processos do que a produção de trabalhos ditos belos ou harmônicos. Por meio do uso de elementos cotidianos, os artistas questionavam o fazer artístico, a arte e o acesso da população às artes. Os novos objetos e ações produzidos a partir do dia a dia das massas buscava acessar um novo público e deslocar o objeto artístico do seu local tradicional. Nesse contexto, na tentativa de popularizar a arte e incorporar tais questionamentos à vida cotidiana, temos as #intervenções urbanas, as #performances, #happenings e #landart. Fonte de R. Mutt, 1917. Fotografia de Alfred Stieglitz. #Readymades: objetos cotidianos, pré-fabricados, geralmente industriais, apresentados como obra de arte. Os objetos ready-mades, quando expostos, perdem sua funcionalidade usual, provocando tensionamentos entre forma, função e a própria ideia do objeto e suas referências simbólicas. 9 #Teoria do Não-Objeto: O conceito de “não objeto” sintetiza as propostas artísticas do movimento neoconcretista, como a negação da representação, o abandono da moldura e da base, a inserção da obra diretamente no espaço e o envolvimento do espectador no trabalho artístico. No Brasil, nas décadas de 1950 e 1960, podemos considerar que já não havia delimitações da produção artística vinculadas diretamente aos #ismos – movimentos artísticos distintos classificados na história da arte. Na sua maioria, os artistas se envolviam em maior ou menor grau com esses movimentos, sem permanecerem inteiramente em nenhum deles. Pois, de certo modo, rotular seria classificar o que na época não tinha como ser nomeado, mas que se convergia na busca de algo novo. Visualizamos essa transição no Brasil de forma efetiva, com o surgimento de dois grupos de trabalhos, o Grupo Ruptura (1952) e o Grupo Frente (1954), que propuseram a transposição dos limites da atividade artística, que até então, em sua maioria, se restringiam às linguagens tradicionais de expressão, como à pintura, ao desenho e à escultura. Dentre os artistas do Grupo Frente estava o poeta e crítico #Ferreira Gullar que, em 1959, cria a #Teoria do Nãoobjeto e inaugura o conceito que refletia as subversões estéticas originadas nas experiências contemporâneas: o Neoconcretismo. Durante o #Neoconcretismo, #Lygia Clark (1920-1988), #Hélio Oiticica (1937-1980), #Lygia Pape (1927-2004), entre outros artistas, propunham uma arte mais participativa, em que o espectador pudesse ser mais do que observador, mas também ativador da obra ou do espaço. Nessa fase surgem Os Bichos (1960), de L. Clark, os Nucléicos Penetráveis (1960) e Parangolés (1964), de H. Oiticica, Livro da Criação (1959) e Divisor (1968), de L. Pape. Um dos artistas que mais apresentou essas transformações com seu trabalho foi Hélio Oiticica: os Parangolés propõem discutir o objeto artístico a partir do seu uso, com tecidos de tamanhos, formas, cores diversas, e reproduzem a tensão espacial do objeto de arte no espaço inusitado da rua, do morro e das escolas de samba do Rio de Janeiro. 10 Os artistas buscavam novos locais e modos de exposição da obra de arte. É nesse contexto que as produções artísticas passam a ser vistas e concebidas como proposições, nas quais performances e ações invadem ruas, praças e parques. A participação do espectador passa a ser cada vez mais valorizada, visando claramente acabar com o mito do artista criador único e absoluto. Patrícia Azevedo, Santos Sujos: Retrato do Vazio, 1998-2002, impressão de fotograma. Coleção da artista. 11 O Espaço cotidiano compartilhado: prática espacial Na exposição Escavar o Futuro, em várias obras, temos oportunidade de refletir sobre essas relações que dão corpo ao espaço urbano. Nas fotografias da artista Cláudia Andujar, da série Rua Direita (c. 1970), conseguimos pensar nas relações entre os transeuntes dos grandes centros urbanos. São fotografias realizadas em uma das ruas mais movimentadas da capital paulista, a rua Direita. Nelas, o ângulo escolhido pela artista nos comunica sobre as relações de poder existentes. Os passantes são retratados de baixo para cima, ângulo menos comum na fotografia, que dá ao fotografado um aspecto de grandeza, de superioridade em relação a quem está observando. Cinthia Marcelle e Tiago Mata Machado, O século, 2011. Audiovisual 9’37”. Cortesia Galeria Vermelho Espaço é o lugar onde o homem se relaciona, cria experiências, experimenta trocas diversas com o meio e com outros, se comunica, se transforma. Espaço é um ponto limitador e também tensionador. Pensar a prática social do espaço é pensar nas relações que se desenvolvem entre os indivíduos em espaços comuns, sejam eles públicos ou privados. Segundo Mark Gottdiener, essas relações são constituídas por influências de classes, status e poder político. Observar essa dinâmica e propor novos olhares sobre os agentes de produção significa democratizar essa produção espacial. A cidade se produz por diversos meios. O poder público elabora leis e projetos de construções e dinâmicas urbanas, o urbanismo propõe a organização do espaço pensando não só na estética, mas principalmente, a sua funcionalidade. A sociedade utiliza e vivencia a cidade cotidianamente, descobrindo e reinventando permanentemente formas de ocupar e se apropriar desses espaços. Portanto, podemos dizer que a produção do espaço na cidade é um processo contínuo que se dá por diferentes vias. Observamos as ruas ao passarmos por elas todos os dias, nos relacionamos com pessoas, objetos, serviços; mas o que estamos fazendo? Todo o tempo, por meio das atitudes que tomamos frente à cidade, estamos construindo a nossa própria cidade. Pequenos atos políticos, como a cultura de jogar lixo na lixeira, possuem a capacidade de transformar a dinâmica social. 12 Na obra Excertos do Projeto Mutirão (1996 – 2004 – 2005 – 2006 – 2008 – 2009 – 2010 – 2011 – 2013), de Graziela Kunsch, a artista mostra, em uma série de vídeos curtos, diversas ações coletivas nas quais pessoas se reúnem para, de alguma forma, mudar a cidade ou o modo de se viver nela. Nesse caso, há a constatação de que o espaço é construído socialmente, a cidade é como um organismo vivo que, apesar de idealizado, é vivido cotidianamente. O coletivo ganha corpo dentro do espaço, com uma força capaz de modificar o entorno Há outros exemplos, como nas obras Automóvel (2012), de Cínthia Marcelle, e O Século (2011), de Cínthia Marcelle e Tiago Matta Machado, em que o espaço cotidiano urbano incorpora a transitoriedade das intervenções do homem, provocando mudanças e criando composições visuais e sonoras caóticas, revelando tensões e conflitos. Claudia Andujar, Rua Direita, c. 1970, fotografia, negativo flexível. Coleção Inhotim. VALE PENSAR – em seu bairro, quais mudanças poderiam representar melhorias nas condições de uso para as pessoas? Dessas melhorias, quais delas dependem exclusivamente do poder público para se concretizar? Qual a importância da conscientização da comunidade? Quais melhorias a própia comunidade poderia realizar com autonomia? 13 Se Vende (2008), da artista plástica Carmela Gross, instalada durante Escavar o Futuro no Parque Municipal Américo Renné Giannetti, exemplifica como o espaço dá significado à obra: dependendo de onde está localizada, sua leitura será modificada, novas significações serão incorporadas à obra. Outra obra, Centro Cultural (2009), letreiro luminoso de Vitor César instalado na porta de entrada do Centro de Arte Contemporânea e Fotografia, depende diretamente do espaço onde está instalado e seu sentido se dá para aquele local específico. Citamos também Marco Scarassatti. e Fernando Ancil, com a intervenção rio (2013). A obra sonora instalada na Avenida Afonso Pena ocupa o espectro sonoro da cidade e não pode ser percebida pelos olhos, porém, intervém diretamente na paisagem de quem passa. Os artistas captaram e deslocaram o som dos rios subterrâneos da cidade, fazendo-o emergir para o meio urbano sob outra conotação. Vitor César, Centro Cultural, 2009, neon, coleção do artista. Fotografia Daniel Iglesias. Quando dizemos algo e desejamos ser entendidos de forma clara, organizamos nosso discurso utilizando um grande repertório de palavras e expressões para produzir o sentido para quem nos ouve ou nos lê. O mesmo ocorre quando queremos entender algo: passamos por um processo de decodificar os significados presentes nas palavras a partir de nossas experiências anteriores. E quando tratamos de linguagem não verbal? Quais seriam as maneiras de decodificar, transmitir e interpretar imagens? Carmela Gross, Se Vende, 2008, objeto. Coleção da artista. Fotografia Daniel Iglesias. A significação do espaço As Intervenções urbanas e site-specifics se estabelecem a partir de uma relação íntima com o contexto em que são realizados. Contextos histórico, geográfico, social, cultural e político geram significados a partir da escolha do artista em usar ou ignorar determinados elementos, relações e objetos. Esses conceitos também surgem a partir da década de 1960, numa proposta de significação do espaço onde a obra se instala. Nas ruas encontramos várias formas de comunicação não verbal: placas de sinalização, cores dos sinais de trânsito, avisos de proibição e permissão, sinalização de fluxos. Um exemplo de como o artista se apropria da linguagem da rua e cria novos códigos são as obras de Guga Ferraz. O artista utiliza-se dos símbolos das placas de trânsito e interfere na mensagem contida com o uso de adesivos. A imagem cotidiana ganha novos significados. Já Angela Detanico e Rafael Lain criam uma fonte tipográfica, Utopia, em que as letras do alfabeto são símbolos da cidade. Assim, a escrita precisa ser decifrada a partir do que cada uma dessas imagens - postes, casas, monumentos, prédios, outdoors, guaritas e outras - podem significar. Todos esses elementos cotidianos servem como estímulo à reflexão e a novas interpretações da arte, que podem gerar propostas para a rua em #Intervenções urbanas, e #site-specifics ou propostas para serem apresentadas no espaço expositivo tradicional, porém, deslocadas de seu lugar de origem. 14 15 Arte e as tensões sociais João Castilho, Erupção, 2013, videoinstalação. Coleção do artista. Fotografia Daniel Iglesias Encontramos na arte contemporânea a ansiedade do indivíduo, enquanto ser social, de afirmar sua posição frente aos sistemas econômico, político e social estabelecidos. Da mesma maneira que o uso de materiais do cotidiano pretende aproximar o espectador do processo artístico, o discurso social tenta aproximar política e estética. A arte sempre respondeu às tensões sociais de seu tempo. Citamos como exemplos na história da arte entre as obras mais populares: Os Fuzilamentos de três de Maio (1808), de Francisco Goya, Guernica (1937), de Pablo Picasso, e Os Retirantes (1944), de Cândido Portinari. Entre 1870 e 1890, com a grande migração de europeus para a América, surge um tipo de fotografia documental que registra saídas e chegadas desses imigrantes, na sua maioria em situação de pobreza extrema. A finalidade era trazer à tona a realidade das “grandes massas”, seus problemas e misérias. Jacob Riise e Lewis Hine são exemplos desse estilo de fotografia. Gautherot registrou a realidade dos candangos, pessoas de baixa renda vindas de diversos locais do Brasil, na sua grande maioria do Nordeste, para trabalhar na construção de Brasília. Gautherot era o fotógrafo oficial de #Juscelino Kubitschek (1902-1976) na época da construção da nova capital do país e em sua série de fotos intitulada Moradia nos arredores da cidade (1958-1960), exposta em Escavar o Futuro, nos revela uma realidade miserável que surgia em torno da construção monumental do empreendimento modernista. É interessante pensar que essas fotografias, não divulgadas na época, buscavam revelar a dicotomia entre ricos e pobres na construção da capital do país, aspecto esse que a arquitetura modernista buscava, conceitualmente, abolir. BRASÍLIA – Desenhada por Oscar Niemeyer (1907 - 2012) e Lúcio Costa (1902 - 1998), em 1956, a capital do país foi planejada com a intenção de proporcionar o convívio entre seus moradores. Seus prédios possuem vãos livres e estão construídos sobre #pilotis, aumentando o espaço para a circulação das pessoas; suas longas avenidas, planas e sem convergências, ladeadas por prédios de linhas curvilíneas, transmitem a sensação de movimento, enquanto a sinuosidade das formas sugere dinamismo, a livre circulação de pessoas e ideias. A cidade foi inaugurada em 1960 e faz parte do projeto “Plano Piloto” elaborado pelo urbanista Lúcio Costa, vencedor do concurso em 1957, para o projeto urbanístico da nova capital. A nova cidade foi pensada como um instrumento de mudanças sociais, como estímulo de uma compreensão racional da ocupação do espaço, que incitaria o advento de um bom governo e a renovação da própria vida por meio da arte Retratar o modo de vida do “outro” como referencial simbólico e, consequentemente, cultural, transformando-o em objeto de arte nos coloca uma questão dúbia: existe afirmação de classe nessas representações? Ou a utilização de um estereótipo da miséria se torna estratégia de dominação e reafirmação do lugar do artista, do objeto de arte e do público? O trabalho do fotógrafo Marcel Gautherot (1910-1996) nos ajuda a pensar nessas questões. 16 Marcel Gautherot, Moradia nos arredores da cidade, c. 1959, fotografia, negativo flexível. Coleção Instituto Moreira Salles. 17 No Brasil, durante as décadas de 1960 e 1970, as cidades brasileiras se tornaram palco de intensas manifestações. As disputas políticas que caracterizam esses anos resultaram em um golpe de estado, em 1º de abril de 1964. Dessa data em diante, o Brasil passava por uma ditadura militar, que duraria até 1985. Os militares que governaram o Brasil durante os chamados #Anos de Chumbo estabeleceram políticas de exceção e censura na tentativa de impedir esse uso social e político do espaço. Artistas contrários à ditadura militar foram perseguidos e censurados e a criação tornou-se tarefa ainda mais delicada e perigosa, exigindo ainda mais sensibilidade e o uso de novos suportes para sua elaboração: o próprio corpo e o espaço outra vez ressignificado. Novos meios para a circulação de obras e novos circuitos para a arte foram experimentados pelos artistas, numa resposta criativa às inúmeras dificuldades e limitações impostas diante do contexto político em que estavam inseridos. Um bom exemplo de como a arte reage aos contextos políticos e sociais vigentes são as intervenções de Cildo Meireles (1948) são as Inserções em circuitos ideológicos (1970). Na série de trabalhos, o artista imprime frases de caráter político censuradas pela mídia em cédulas de dinheiro (cruzeiros e dólares) e garrafas retornáveis de Coca-Cola. Em seguida, devolve esses objetos aos seus circuitos de utilização carregados com intervenções. Outro exemplo é a situação/trabalho T.E. (1970), de Artur Barrio (1945). Na ocasião da manifestação/mostra Do Corpo à Terra, o artista criou trouxas de pano que envolviam carnes e sangue de animais, tinta vermelha e cordas. Em seguida, Barrio instalou essas trouxas nas margens do ribeirão Arrudas, provocando uma reflexão sobre o momento político após a entrada em vigor do Ato Institucional número 5 (AI-5). Já em Santos Sujos: retrato do vazio (1998-2002), de Patrícia Azevedo, a denúncia social está nos fotogramas produzidos pela artista a partir de “santinhos” de candidatos políticos distribuídos à população durante o período das eleições, que em sua grande maioria são encontrados pelo chão das ruas. As imagens dos “santinhos” recolhidos foram transformadas em #fotogramas reimpressos e redistribuídos no período eleitoral. Qual a diferença entre os “santinhos” convencionais e os fotogramas produzidos pela artista? Na série do artista Mauro Restiffe intitulada Empossamento (2003) conseguimos visualizar uma narrativa de um fato histórico, a posse do então presidente Lula. Nesse trabalho, o artista lida com questões como a arquitetura e o destino de Brasília, que foi durante um curto período de tempo ocupada e desconstruída visualmente com a presença massiva de pessoas. Dessa forma, o fotógrafo consegue eleger a partir de ângulos menos privilegiados as qualidades atemporais desse evento histórico. Os Brutos (2013), organizado por Daniel Carneiro, conta com registros fotográficos e videográficos de diversos autores sobre as recentes manifestações políticas ocorridas no último ano. O vídeo bruto é o primeiro registro filmado, sem qualquer corte, para servir como guia de trabalho de montagem e avaliação das cenas a serem aproveitadas, o que não vem a ser uma prática comum assistir coletivamente a esses materiais. Os Brutos se torna uma espécie de instrumento de investigação visual – etnográfico, antropológico e histórico – e de intervenção, gerando um novo protagonismo social e tencionando a noção de artista x cidadão e de arte e vida. Dentro desses limites podemos pensar: quais seriam os limites entre a arte e a vida, entre a arte e a realidade que construímos diariamente? As obras exibidas em Escavar o Futuro tencionam a condição do artista x cidadão, que observa, registra e modifica a cidade e suas relações. No trabalho do artista Paulo Nazareth, L’arbre de l’oublie (2013), a ação de reviver os mesmos gestos dos negros africanos nos remontam à história cultural de uma comunidade e sua identidade. No Benin, antes dos escravos embarcarem para serem comercializados, cumpriam um ritual de dar vinte voltas em torno de um baobá, chamado de A árvore do esquecimento, para que esquecessem de suas terras, sua identidade geográfica e suas raízes. Já em Ipê amarelo, Cine África e Cine Brasil (2013), com o simples gesto de dar voltas em torno de árvores em diversos locais, o artista evoca a memória histórica do Benin e destaca as tensões sociais combinadas com a noção de justiça social e de resistência de uma memória que se perdeu no tempo e vida dos antepassados dessas comunidades. Mauro Restiffe, Empossamento #1f, 2003, fotografia. Cortesia Galeria Fortes Vilaça. 18 19 1. 2. 3. 4. 5. 6. Pensando em práticas Imagem identidade objetivos. provocar a reflexão sobre a memória – observar a difusão de imagens na cidade e suas interferências plásticas e visuais – discutir sobre a efemeridade do que se vê em outdoors e veículos de comunicação, perceber a formação de identidade existentes em propagandas de circulação urbana. materiais. revistas e jornais – tesoura – cola – papelão – algodão – álcool – lápis de cor – caneta hidrocor – lápis – borracha – lixa fina – fita crepe. (fig. 1) procedimentos. escolher em revistas ou jornais várias imagens, inclusive de personalidades, e recortar (fig. 2) – interferir nas imagens com fita crepe ou com uma lixa, retirando resquícios das imagens (fig. 3) – no verso das imagens, passar o algodão embebido em álcool e transferir as imagens para uma outra folha de papel (fig. 4) – fazer uma fusão de imagens, mensagens, cores e paisagens usando o mesmo processo com outras fotos de revista e jornal – desenhar ou realçar com lápis e caneta, conforme necessário, elementos dessas interferências (fig. 5) – colar em uma prancha de papelão. (fig. 6) momento de refletir. peça para os alunos descreverem o que veem na imagem criada. Ela tem personagem? É colorida ou preta e branco? Tem paisagem? Como a imagem reflete as relações sociais e econômicas do espaço urbano? Como a imagem apresentada reflete poder, status? Qual é a função social das propagandas? De que maneira as propagandas interferem no desejo de consumo das pessoas? Uma pintura pode ter a mesma função que uma propaganda? 20 Foto Emmanuela Tolentino próprio bairro, da cidade ou de um local imaginário – elaborar um desfile e uma feira de moda, onde os alunos apresentarão as vestimentas e acessórios confeccionados. momento de refletir. a roupa representa a cultura de um povo? Um índio se veste como uma pessoa que vive no centro urbano? Como se pode estabelecer a relação da escolha de uma roupa e acessório com a função social? Existe uma relação dessa roupa com a prática espacial da cidade? Quem cria as roupas que você usa? Quem costura as roupas que você usa? Como são as roupas nos outros lugares do mundo, na África, na Bolívia, na China, no Rio de Janeiro, em São Paulo ou em Porto Alegre? sugestão. pesquisar as obras Parangolé de Hélio Oiticica e Costumes de Laura Lima Espaço, lugar: arte e arquitetura objetivos. estimular a percepção do espaço urbano, bem como apontar os lugares de convivência entre as pessoas – repensar o planejamento urbano e as possibilidades de intervenção no entorno. Roupas monumentos objetivos. provocar a reflexão sobre apropriação de objetos do espaço urbano – discutir sobre a cidade, seus habitantes e seus usos – provocar reflexão sobre as formas de representação do objeto de arte – discutir sobre a moda e a rua – identificar a rua como território de passagem e de aceitação do indivíduo a partir da vestimenta. materiais. cola – tesoura – papel – elementos da natureza como folhas, gravetos, sementes – objetos coletados na rua. procedimentos. organizar na sala de aula uma coleta de materiais característicos da cidade como outdoors ou faixas de divulgação, elementos da natureza (folhas, gravetos), panfletos e materiais diversos encontrados na rua – confeccionar, em grupo, roupas ou acessórios com esses materiais – sugira que as vestimentas ou acessórios possam apresentar características do 22 procedimentos. passeie pelo bairro ou pela escola com os seus alunos – observe e registre, com fotografia ou anotações e desenhos, as principais características do local, os principais espaços de convivência, os espaços mais representativos, os espaços degradados, entre outros – em sala de aula, criem em grande escala um mapa do local visitado, a partir do registro das observações feitas durante a visita – com o mapa construído, proponha para os participantes, de forma lúdica e imaginativa, novos rearranjos para os espaços, realizando no projeto/mapa, com colagens, intervenções na arquitetura, nos espaços de convívio e nas sinalizações, além de soluções ou alternativas para possíveis melhorias no espaço urbano – crie símbolos que identifiquem esses locais. Ex: locais de harmonia, local de passagem, locais antigos, locais de aglomeração de pessoas. materiais. como é o bairro ao redor da escola? Como são as casas? Há prédios? Há praças, quadras de esporte públicas, ou árvores? E o bairro onde vive, como ele é? Como você gostaria que fosse a sua cidade? Se você fosse engenheiro (a), o que gostaria de construir no seu bairro ou cidade? O que podemos fazer para melhorar o bairro em que vivemos? 23 #Instalação: O termo instalação foi incorporado ao vocabulário das artes visuais na década de 1960, designando assemblage #GLOSSÁRIO# #Anos de Chumbo: Em 1968, um decreto do governo militar ditatorial determinou o fechamento do Congresso Nacional e a suspensão dos direitos políticos dos cidadãos brasileiros. A censura, aliada à violência, fez com que os anos que vão de 1968 a 1979 fossem os mais difíceis, razão pela qual ficaram conhecidos como Anos de Chumbo. #Fotograma: É a unidade do filme fotográfico depois de processado, ou seja, do negativo. Fotograma serve igualmente para denominar as fotografias obtidas sem o auxílio da câmara, por meio da colocação de um objeto opaco ou translúcido diretamente sobre o material fotossensível. #Gentrificação: Entende-se por gentrificação o fenômeno em que as dinâmicas espaciais urbanas de uma determinada localidade são alteradas. Essas alterações ocorrem a partir da construção de novas edificações, eixos viários, centros 24 comerciais, projetos de revitalização e requalificação de áreas de uma dada localidade. Todo processo de gentrificação tem por objetivo a valorização econômica da região e uma redefinição estética tendendo à higienização e uma nova imagem de alto padrão de vida. Como consequência direta observa-se a migração da população de baixa renda que não consegue acompanhar a elevação do custo de vida promovido por essas alterações espaciais urbanas. #Happening: Ações de improviso com o propósito de interação com o público e sem roteiro, data ou local predeterminados. #Hélio Oiticica: Considerado por muitos críticos um dos artistas brasileiros mais revolucionários. Sua obra, experimental e inovadora, é reconhecida internacionalmente e composta por pinturas, esculturas, performances e outros suportes. É também o criador do termo Tropicalismo. ou ambiente construído em espaços de galerias e museus. Essa modalidade de produção artística lança a obra no espaço, com o auxílio de materiais muito variados, na tentativa de construir o ambiente ou cena, cujo movimento é dado pela relação entre objetos, construções, o ponto de vista e o corpo do observador. Para a apreensão da obra é preciso percorrê-la, passar entre suas dobras e aberturas, ou simplesmente caminhar pelas veredas e trilhas que ela constrói por meio da disposição das peças, cores e objetos. #Intervenções urbanas: Manifestações artísticas que interferem no cotidiano da cidade, por meio de imagem, ação, som, objetos e palavras. #Juscelino Kubitschek (1902-1976): Nascido em Diamantina, foi o 21º presidente do Brasil e o primeiro a nascer no século XX. Governou entre 1956 e 1961 e é considerado um dos presidentes mais populares, possivelmente em função do chamado plano de metas, no qual prometia fazer o Brasil se desenvolver o equivalente a 50 anos em um período de 5 anos. A partir disso, construiu rodovias, importou automóveis e inaugurou Brasília. #Land Art ou arte da terra: Inaugura uma nova relação com o ambiente natural, sendo muitas vezes designada como arte do ambiente. Não há mais a paisagem a ser captada e representada, a natureza agora é o locus onde a arte se fixa. Desertos, lagos, canyons, planícies e planaltos oferecemse aos artistas que realizam intervenções sobre o espaço físico. Em 1970, Robert Smithson realiza Spiral Jetty (Píer ou Cais Espiral), gigantesco caracol de terra e pedras construído sobre o Great Salt Lake, em Utah, nos Estados Unidos. #Lygia Clark (1920–1988): Pintora e escultora de Belo Horizonte, considerava-se uma “não artista”, por causa do caráter experimental de sua obra. Clark buscou ir além dos limites do objeto artístico. Com isso, sua obra parece querer ganhar o espaço e ir além do suporte sobre a qual se realiza. Todo esse experimentalismo torna Lygia Clark uma artista atemporal. #Lygia Pape (1927–2004): Nascida em Nova Friburgo, no Rio de Janeiro, foi signatária do manifesto neoconcretista. Suas obras incluem gravuras, esculturas e arte multimídia. Sempre buscou incorporar seu espectador como agente da sua obra, que critica e ironiza a situação política do Brasil no contexto de sua criação. 25 #Marcel Duchamp (1887–1968): Artista e escritor francês-americano, foi pintor e escultor. É considerado o artista pioneiro em utilizar objetos de uso cotidiano na produção de objetos de arte, retirando-os do seu lugar tradicional e lhes atribuindo outros significados: os ready mades. #Neoconcretismo: O Concretismo surge na Europa após a II Guerra Mundial. Baseiase no racionalismo, na industrialização e rejeita a abstração e o lirismo. No final da década de 1950, reagindo aos excessos do Concretismo, vários artistas brasileiros repensaram o seu fazer artístico e concluíram que sua produção, até aquele momento, estava centrada em utilizar os métodos tradicionais de criação, como a pintura e a escultura. Certos de que a arte não é apenas um objeto, mas é dotada de sensibilidade, expressividade e subjetividade, elaboraram, em 1959, o “Manifesto Neoconcretista”, no qual consideravam as diversas possibilidades criativas do artista e a participação do observador no seu processo de elaboração. #Novo Realismo: Foi criado na França em 1970 e tem como meio de expressão a Assemblage, que se estende da simples colagem a instalações para happenings, passando pelas acumulações de artistas 26 como Arman e as compressões de César, Chisto, especialista em pacotes e Yves Klein com seus métodos de percepção e comunicação sensível, realizados por meio de performances e pinturas. O Novo Realismo buscava ir além da pintura. Foi considerado um estado de espírito, o gesto fundamental de apropriação do real.. #Oscar Niemeyer e #Lúcio Costa: Possivelmente os arquitetos mais importantes do Brasil no século XX. São os responsáveis pela concepção de Brasília: Costa elaborou o plano piloto da cidade e Niemeyer desenhou seus prédios. Ambos fizeram parte do movimento modernista. #Performance: Quando o artista utiliza seu corpo como objeto artístico ou ativador de processos criativos. Em geral, possui roteiro e locais pré-determinados. #Pilotis: Sistema de construção no qual a edificação é sustentada por pilares, criando um vão livre sob o prédio. A construção sobre pilotis é uma das principais características da arquitetura modernista. #Poema-objeto: A busca pela recriação do espaço enquanto objeto artístico também foi praticada por poetas. Na década de 1950, a poesia concreta buscava dar forma e volume aos poemas que fossem além da métrica e do ritmo. Os poemas concretos, mais que composições literárias, são considerados objetos poéticos. #Pop Art: A expressão Pop Art (arte popular) foi criada pelo crítico inglês Lawrence Aloway. Nascida na Inglaterra, a Pop Art, entretanto, se desenvolveu plenamente nos Estados Unidos, por se tornar uma expressão estética da sociedade de consumo e da cultura de massa. Utilizando-se de temas recolhidos do meio urbano: publicidade, quadrinhos, supermercados, hot-dogs e hamburguers, televisão, cinema, luminosos, sinalização de trânsito, atrizes, políticos, cantores e ídolos, a Pop Art torna-se um termômetro da sociedade norte-americana, remetendo a tudo aquilo que é utilizado como objeto de consumo de massa. #Site-specific: o termo sítio específico é utilizado para designar obras que são realizadas de acordo com o ambiente e com um espaço determinado. Trata-se, geralmente, de trabalhos planejados muitas vezes a partir de convites - em certo local, em que os elementos esculturais dialogam com o meio circundante, para o qual a obra foi elaborada. 27 GOVERNADOR DO ESTADO DE MINAS GERAIS: Antonio Anastasia VICE-GOVERNADOR DO ESTADO DE MINAS GERAIS: Alberto Pinto Coelho SECRETÁRIA DE ESTADO DE CULTURA DE MINAS GERAIS: Eliane Parreiras SECRETÁRIA ADJUNTA DE ESTADO DE CULTURA DE MINAS GERAIS: Maria Olívia de Castro e Oliveira REFERÊNCIAS FUNDAÇÃO CLÓVIS SALGADO Presidente Fernanda Medeiros Azevedo Machado Vice-presidente Bernardo Rocha Correia Chefe de Gabinete Renata Bernardo ANDERSON, Benedict. Comunidades imaginadas: reflexões sobre a origem e difusão do nacionalismo. São Paulo: Companhia das Letras, 2008. ANDRADE, Oswald. A utopia antropofágica. São Paulo: Ed. Globo, 1990. BERMAN, Marshall. Tudo o que é sólido desmancha no ar: a aventura da modernidade. 2a. ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2007. Diretora Artística Edilane Carneiro Diretora de Ensino e Extensão Patrícia Avellar Zol BLUMENBERG, Hans. O riso da mulher de Trácia: uma pré-história da teoria. Lisboa: DIFEL, 1994. Diretora de Marketing, Intercâmbio e Projetos Institucionais Cláudia Garcia Elias BRETT, Guy. Um Salto Radical. In: ADES, Daw. Arte na América Latina: a era moderna, 1820 – 1980. Trad. Maria Thereza de Resende Costa. São Paulo: Cosac & Naify Edições, 1997. pg 253-283. Diretor de Planejamento, Gestão e Finanças Luiz Guilherme Melo Brandão DELGADO, Lucilia de Almeida Neves; FERREIRA, Jorge (orgs). O Brasil republicano v. 4: o tempo da ditadura – regime militar e movimentos sociais em fins do século XX. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2003. Diretora de Programação Fabíola Moulin Mendonça EHRENZWEIG, Anton. Psicanálise da percepção artística: uma introdução à teoria da percepção inconsciente. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1977. Gerente de Artes Visuais Tatiana Cavinato FAUSTO, Boris. História do Brasil. 12a. ed. São Paulo: EdUSP, 2004. Assessora da Gerência de Artes Visuais Ana Cristina Lima FER, Briony. O que é moderno? In: FRANSCINA, Francis [ET alii]. Modernidade e Modernismo – Pintura Francesa no século XIX. São Paulo: Cosac & Naify Edições, 1998. pg 6-15. FERREIRA, Glória. Arte como questão: anos 70. São Paulo: Instituto Tomie Ohtake, 2009. GOMBRICH, Ernst .H. A história da arte. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1993. GOTTDIENER, Mark. A produção social do espaço urbano. 2a. ed. São Paulo: Edusp, 1997. KUBITSCHEK, Juscelino. Por que construí Brasília. Rio de Janeio: Bioch Editores, 1975. MEIRELES, Cildo. Encontros. SCOVINO, Felipe (org.). Rio de Janeiro: Beco Azougue, 2009. MORAIS, Frederico. Panorama das Artes Plásticas, Séculos XIX e XX. 2a. ed. rev. São Paulo: Instituto Cultural Itaú, 1991. MUSEU DE ARTE DA PAMPULHA. Neovanguardas: de 23 de dezembro de 2007 a 16 de março de 2008, Museu de Arte da Pampulha, Belo Horizonte, MG. Catálogo: Belo Horizonte, 2008. RANCIÈRE, Jacques. A partilha do sensível: estética e política. Trad. Mônica Costa Neto. São Paulo: 34, 2005. Chefe de Departamento de Artes Plásticas Karolina Penido Chefe de Departamento do Centro de Arte Contemporânea e Fotografia Rodrigo Gonçalves da Paixão Produção André Murta e Camila Batista Analista Cultural Fernando Pacheco Apoio Administrativo Darkan Viana Almeida e Jairo de Oliveira Montagem Edivaldo Gomes da Cruz e Ronaldo Braz da Silva Estagiários Leandro Duarte, Mônica Santiago e Cristina Lima Cardoso Coordenadora do Programa Educativo Fabíola Rodrigues Educadores Ana Carolina Ministério, Ana Maria Martins, Clarice Steinmuller, Clarita Gonzaga, Daniela Marques, Deise Oliveira, Fabiane Barreto, Fabrize Pousa, Gabriela de Paula, Geraldo Peixoto, Gerson Castro, Janaina Beling, Juliana Gontijo, Naíra Duarte, Paulo Peixoto, Renata Delgado, Renata Nery, Rita da Matta, Sandra Moreira e Tânia Mateus. Assessora-chefe de Comunicação Social Liana Caldeira B. Rafael Coordenadora de Assessoria de Imprensa e Mídias Digitais Júnia Alvarenga Assessoria de Imprensa e Mídias Digitais Gustavo Monteiro, Maria Elisa Pompeu, Gabriela Rosa, Paulo Melo, Paulo Lacerda (fotógrafo), Luísa Loes (estagiária), Patrícia Henrique (estagiária) e Amanda ALmeida (estagiária) Publicidade Larissa Batista, Samanta Coan, Ricardo Teixeira (estagiário), Yasmin Moura (estagiária) e Caroline Gischewski (estagiária) Relações Públicas Sílvia Bastos e Lucas Ferreira (estagiário) Assistente de Comunicação Thiago Amador Revisão Editorial Maria Eliana Goulart 28 29 EXPOSIÇÃO ESCAVAR O FUTURO 2014 Parceria PALÁCIO DAS ARTES CENTRO DE ARTE CONTEMPORÂNEA E FOTOGRAFIA PARQUE MUNICIPAL AMÉRICO RENNÉ GIANNETTI AVENIDA AFONSO PENA 2014 Abertura: 10 de dezembro de 2013 Período Expositivo: de 11 de dezembro de 2013 a 2 de fevereiro de 2014 Artistas André Komatsu, Angela Detanico e Rafael Lain, Carmela Gross, Cinthia Marcelle, Cláudia Andujar, Daniel Carneiro, Eduardo Coimbra, André Weller e David Pacheco, Fernando Ancil e Marco Scarassatti, Graziela Kunsch, Guga Ferraz, João Castilho, León Ferrari, Luiza Baldan, Marcel Gautherot, Mauro Restiffe, Projeto Convivência e Ancestralidade no Território Tikm˜u’˜un Maxakali, Milton Machado, Patrícia Azevedo, Paulo Nazareth, Pedro Motta, Piseagrama, Sara Lambranho, Tiago Mata Machado, Vitor Cesar, Wilson Baptista e Zé do Poço. Apoio Curadoria Felipe Scovino e Renata Marquez Projeto Expográfico e Iluminação Ivie Zappellini e Wellington Cançado Identidade visual, sinalização e design gráfico Ricardo Portilho Graziani Riccio Cenografia Artes Cênica Produção Guilherme Machado Montagem Erika Uehara, Hironobu Kai, Cicero Bibiano, Miguel Ferreira, Alessandro Lima, Rafael Perpétuo e Oto produções 30 Realização Promoção Agradecimentos Frederico Morais, Rita Velloso, Instituto Inhotim, Instituto Moreira Salles, Parque Municipal Américo Renné Giannetti/ Fundação de Parques Municipais, Museu de Arte Moderna de São Paulo, Galeria Vermelho, Galeria Fortes Vilaça e Galeria A Gentil Carioca. Patrocínio Master Revisão de textos Trema Textos 32