Ministério da Cultura e Fundação Clóvis Salgado apresentam:
PROGRAMA EDUCATIVO EM ARTES VISUAIS DA FUNDAÇÃO CLÓVIS SALGADO
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Guga Ferraz, Céu, 2012. Coleção do artista. Fotografia Paulo Innocêncio
1 Arqueologia
do Urbano
Caro(a)
professor(a),
É com muita satisfação que a Fundação Clóvis Salgado – FCS – o (a) convida a participar das
ações do Programa Educativo em Artes Visuais e a conhecer seus espaços expositivos que
recebem, durante todo o ano, mostras artísticas com temáticas diversas.
O Programa Educativo conta com a atuação permanente de educadores para atendimento ao
público espontâneo e também aos grupos agendados que participam de ações e visitas às
galerias do Palácio das Artes – Grande Galeria Alberto da Veiga Guignard, Genesco Murta,
Arlinda Corrêa Lima e Mari’Stella Tristão — e ao Centro de Arte Contemporânea e Fotografia.
Dentre as atividades propostas estão as visitas temáticas e as oficinas para professores,
crianças e famílias. O Programa conta, ainda, com um espaço destinado à pesquisa e à
experimentação artística relacionadas às exposições.
As visitas às mostras proporcionam aos alunos a oportunidade de aprendizado e a aproximação
com o meio artístico, potencializando o trabalho em sala de aula, além de estimular a
observação, o pensamento crítico e o questionamento.
Esta cartilha foi desenvolvida pela equipe do Programa Educativo em Artes Visuais da FCS para
ser utilizada como uma ação complementar do professor. Aqui constam informações, questões e
proposições educativas para a introdução ao conteúdo da exposição Escavar o Futuro.
Esperamos que este material prolongue as discussões iniciadas no espaço expositivo.
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De 11 de dezembro de 2013 a 2 de fevereiro de 2014, o Palácio das Artes, o Centro de Arte
Contemporânea e Fotografia, o Parque Municipal Américo Renné Giannetti e a Av. Afonso
Pena recebem a exposição Escavar o Futuro, uma realização da Fundação Clóvis Salgado com
curadoria de Renata Marquez e Felipe Scovino.
O recorte curatorial parte da produção artística das décadas de 1960 e 1970, momento em
que há um significativo interesse dos artistas pela construção social do espaço e pela prática
cotidiana de apropriação desse espaço. A mostra propõe uma atualização da investigação
sobre continuidades e rupturas das relações postas entre cidade, arquitetura, arte e ocupação
urbana, trazendo a reflexão sobre como esses territórios são pensados e ocupados social e
esteticamente, abarcando, inclusive, as manifestações urbanas recentes como uma das formas
de apropriação do espaço público.
O nome da exposição foi inspirado em uma obra do crítico Frederico Morais que contém a frase
Arqueologia do Urbano – escavar o futuro, a qual integra a série Quinze Lições sobre Arte e
História da Arte – Apropriações: Homenagens e Equações, de 1970. Essa série foi apresentada
na manifestação Do Corpo à Terra, realizada no Parque Municipal Américo Renné Giannetti,
simultaneamente à exposição Objeto e Participação, proposta para a inauguração da Grande
Galeria Alberto da Veiga Guignard no Palácio das Artes. O título da obra está em consonância
com a proposta da exposição, pois remete a escavar o passado, numa arqueologia que também
quer vislumbrar o futuro.
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Wilson Baptista, Abertura da Avenida Amazonas, 1941. Coleção do artista.
Escavar
o Futuro
Escavar o Futuro é um convite à experiência de refletir sobre as neovanguardas brasileiras das
décadas de 1960 e 1970, e de vivenciar as experiências contemporâneas de produção artística
realizadas a partir da reflexão sobre as relações existentes na produção social do espaço e seus
desdobramentos na vida cotidiana.
Para Renata Marquez, uma das questões que a exposição propõe é se após as experiências
com as recentes manifestações populares no Brasil - onde novas percepções da cidade, novos
imaginários políticos e novas ações coletivas foram construídas – conseguiremos visualizar a
distinção entre as ações promovidas por artistas e cidadãos.
Felipe Scovino aponta outro questionamento sobre o modelo de modernidade proposto nos anos
1950 e 1960, que foi praticamente interrompido com a ditadura militar e o atual modelo urbano,
envolto aos processos de especulação imobiliária, gentrificação e deslocamento social.
A exposição tem como desafio investigar os novos formatos expositivos para o objeto e para a
participação a partir do contexto em que essas ações estão sendo propostas, além de refletir
sobre as interseções existentes entre arte e vida e suas relações com as novas configurações
sociais vigentes.
Você sabe o que faz um curador?
Quando observamos a seleção de obras que integram
uma exposição e a disposição delas no espaço
expositivo, seja na galeria, no museu ou mesmo na
rua, vemos que cada obra foi organizada de forma
que, ao caminharmos por elas, possamos visualizar
a proposta de cada artista, estabelecendo, também,
relações com as demais obras.
Quando visitamos uma exposição com várias obras
observamos as afinidades entre elas, as contradições,
a diversidade, e entendemos a proposta curatorial
observando o que o conjunto de obras, como um todo,
quer nos propor.
O curador exerce um papel fundamental em uma
exposição e sua forma de atuação varia bastante
conforme o perfil do profissional e as especificidades
do projeto. Em linhas gerais, é o curador quem, a
partir de uma ideia ou proposta inicial, seleciona
as obras e artistas que possam contribuir para o
recorte da exposição, criando um percurso para o
público. Esse trabalho, geralmente, inclui também as
estratégias de montagem e apresentação das obras.
Os curadores também atuam na seleção de obras
para aquisição de acervos e coleções de museus,
galerias, prêmios e outras instituições.
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Guga Ferraz, Pedestre, 2003. Coleção do artista. Fotografia Paulo Innocêncio.
Frederico Morais, Da série Quinze lições sobre arte
e história da arte – Apropriações: Homenagem e
Equações, 1970, fotografia. Acervo Frederico Morais.
Como a arte
se apropria
do mundo?
Podemos considerar que a relação da arte com o mundo é inerente. Quando o artista cria um
projeto ou objeto artístico, essa obra tem, em si, o resultado de experiências vividas e que de
alguma forma estão vinculadas ao processo e ao resultado da criação.
Do Corpo à
Terra e Objeto e Participação
A manifestação Do Corpo à Terra e a exposição Objeto
e Participação foram eventos integrados. Objeto e
Participação foi inaugurada em 17 de abril de 1970 no
Palácio das Artes e Do Corpo à Terra se desenvolveu no
Parque Municipal Américo Renné Giannetti entre 17 e 21
de abril do mesmo ano. A curadoria de ambos os eventos
foi do próprio Frederico Morais, a convite de Mari’Stella
Tristão, então diretora do setor de exposições. A mostra/
manifestação contou com a participação de vários
artistas, dentre eles, Artur Barrio, Cildo Meireles, Hélio
Oiticica, Lee Jafe e Décio Noviello.
Os eventos referidos possuíam aspectos inovadores no
âmbito da história da arte mineira. Segundo Frederico
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Morais, em seu texto sobre a exposição publicado no
catálogo Neovanguardas, pela primeira vez no Brasil
artistas não eram convidados para expor obras já
concluídas, mas para criar seus trabalhos diretamente
no local expositivo; no Parque Municipal, os trabalhos
se desenvolveram em datas e horários diferentes, ou
seja, nem o curador nem os artistas presenciaram a
totalidade das manifestações. Os trabalhos realizados
no Parque possuíam caráter efêmero e ficaram
expostos até sua completa destruição. Pela primeira
vez, em Belo Horizonte, um crítico de arte atuava
como curador e artista, entendendo a curadoria como
extensão da atividade crítica, o que lhe proporcionava
uma dimensão criadora
Revendo a história da humanidade, principalmente a partir do surgimento das antigas
civilizações, podemos identificar como a arte apresentava significativa importância na vida
dessas comunidades. Como a dança e a música que surgem nos ritos e celebrações religiosas, a
arte também podia ser encontrada na produção de utensílios domésticos, móveis, tapetes, jarros
ou lanças feitas com primor. Essas ações faziam parte das manifestações de grupos e clãs, do
culto aos deuses, dos banquetes festivos e das lutas e caças e eram consideradas melhorias dos
processos de vida.
Durante vários séculos, principalmente com o Renascimento, podemos considerar que houve
uma mudança de função para a arte, que se viu a serviço de interesses de grupos distintos.
Impulsionada por encomendas, servindo a interesses religiosos ou políticos, via-se vinculada a
uma função específica, seja para embelezar os palacetes e reinos, para perpetuar a imagem de
um governante para a posteridade, ou para catequizar novos cristãos.
Considerando o modernismo na arte presente a partir do final do século XIX, precisamente com
a arte impressionista, identificamos uma tentativa da arte de se desvincular de uma função
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específica e de passar a valer por si mesma. A produção artística se volta para características
específicas e formais das linguagens. Essa referência foi dinamizadora para que a arte
contemporânea, como no caso da pintura, por exemplo, ao explorar os limites das questões
formais, a materialidade, a bidimensionalidade, a cor, fosse identificada como pintura-objeto.
Nesse contexto, o objeto de arte torna-se matéria e arte ao mesmo tempo, no qual os motivos
para a criação das obras se encontram na própria obra. A arte se encerra nela mesma.
No período que compreende o início da Arte Contemporânea, a arte se desvincula da necessidade
do fazer manual e da materialidade, questionando os limites da autoria. O interesse central da
produção do objeto se volta para o conceito que motiva a obra, podendo o artista se valer de
quaisquer materiais ou objetos para a execução de sua ideia. O campo de produção artística
é ampliado para fora dos espaços expositivos tradicionais, ganhando novos suportes, ou
extrapolando os suportes tradicionais. A arte se aproxima da vida e das coisas do mundo.
As obras de Marcel Duchamp no começo do século XX, posteriormente e, os happenings e
performances foram fundamentais para essas transformações. O suporte da arte adquire novos
contornos, deixa de ser fixo – o gesto, o corpo, o espaço e a natureza são absorvidos e passam a
ser o suporte dentro desse novo formato de olhar o objeto artístico.
As próprias relações dentro da arte, entre as diversas disciplinas que a compõem, começam a se
fundir, tornando cada vez mais tênues os limites entre os fazeres artísticos. Diante dessas novas
virtudes, o espectador, que era contemplativo e passivo, passa a se integrar e a interagir com a
obra. Ele, agora, também faz parte dela ou torna-se necessário para a sua existência.
A arquitetura também passa por processos de mudança. Antes contemplava três dimensões:
altura, largura e profundidade. Contudo, atualmente, mais elementos foram introduzidos: o
tempo e seu deslocamento dentro do espaço. Considerando que a construção não se restringe ao
seu contorno, ela é, também, o espaço vazio e o tempo gasto para percorrê-la.
Com a expansão no campo da arte, a definição de obra muitas vezes não é suficiente para
designar o produto da arte e a palavra objeto, então, passa a ser utilizada como uma tentativa
de sintetizar essas transformações. O uso de objetos como utensílios e materiais de referências
cotidianas é determinante para que o objeto se configure como arte e tem início, em 1918,
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com os #readymades de #Marcel Duchamp. Essa forma
de utilização é retomada pela #Pop Art norte-americana
e o #Novo Realismo europeu entre os anos 1950 e 1970,
disseminando sua prática pelo mundo.
Vários artistas passam a valorizar mais ideias, contextos,
experiências e processos do que a produção de trabalhos
ditos belos ou harmônicos. Por meio do uso de elementos
cotidianos, os artistas questionavam o fazer artístico, a arte
e o acesso da população às artes. Os novos objetos e ações
produzidos a partir do dia a dia das massas buscava acessar
um novo público e deslocar o objeto artístico do seu local
tradicional. Nesse contexto, na tentativa de popularizar a
arte e incorporar tais questionamentos à vida cotidiana,
temos as #intervenções urbanas, as #performances,
#happenings e #landart.
Fonte de R. Mutt, 1917.
Fotografia de Alfred Stieglitz.
#Readymades: objetos
cotidianos, pré-fabricados,
geralmente industriais, apresentados
como obra de arte. Os objetos
ready-mades, quando expostos,
perdem sua funcionalidade usual,
provocando tensionamentos entre
forma, função e a própria ideia do
objeto e suas referências simbólicas.
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#Teoria do Não-Objeto:
O conceito de “não objeto”
sintetiza as propostas artísticas do
movimento neoconcretista, como
a negação da representação, o
abandono da moldura e da base,
a inserção da obra diretamente
no espaço e o envolvimento do
espectador no trabalho artístico.
No Brasil, nas décadas de 1950 e 1960, podemos considerar
que já não havia delimitações da produção artística vinculadas
diretamente aos #ismos – movimentos artísticos distintos
classificados na história da arte. Na sua maioria, os artistas se
envolviam em maior ou menor grau com esses movimentos, sem
permanecerem inteiramente em nenhum deles. Pois, de certo
modo, rotular seria classificar o que na época não tinha como
ser nomeado, mas que se convergia na busca de algo novo.
Visualizamos essa transição no Brasil de forma efetiva,
com o surgimento de dois grupos de trabalhos, o Grupo
Ruptura (1952) e o Grupo Frente (1954), que propuseram a
transposição dos limites da atividade artística, que até então,
em sua maioria, se restringiam às linguagens tradicionais
de expressão, como à pintura, ao desenho e à escultura.
Dentre os artistas do Grupo Frente estava o poeta e crítico
#Ferreira Gullar que, em 1959, cria a #Teoria do Nãoobjeto e inaugura o conceito que refletia as subversões
estéticas originadas nas experiências contemporâneas: o
Neoconcretismo.
Durante o #Neoconcretismo, #Lygia Clark (1920-1988),
#Hélio Oiticica (1937-1980), #Lygia Pape (1927-2004),
entre outros artistas, propunham uma arte mais participativa,
em que o espectador pudesse ser mais do que observador,
mas também ativador da obra ou do espaço. Nessa fase
surgem Os Bichos (1960), de L. Clark, os Nucléicos
Penetráveis (1960) e Parangolés (1964), de H. Oiticica, Livro
da Criação (1959) e Divisor (1968), de L. Pape. Um dos artistas
que mais apresentou essas transformações com seu trabalho
foi Hélio Oiticica: os Parangolés propõem discutir o objeto
artístico a partir do seu uso, com tecidos de tamanhos,
formas, cores diversas, e reproduzem a tensão espacial do
objeto de arte no espaço inusitado da rua, do morro e das
escolas de samba do Rio de Janeiro.
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Os artistas buscavam novos locais e modos de exposição da
obra de arte. É nesse contexto que as produções artísticas
passam a ser vistas e concebidas como proposições, nas
quais performances e ações invadem ruas, praças e parques.
A participação do espectador passa a ser cada vez mais
valorizada, visando claramente acabar com o mito do artista
criador único e absoluto.
Patrícia Azevedo, Santos Sujos:
Retrato do Vazio, 1998-2002,
impressão de fotograma.
Coleção da artista.
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O Espaço cotidiano
compartilhado:
prática espacial
Na exposição Escavar o Futuro, em várias obras, temos oportunidade de refletir sobre essas relações
que dão corpo ao espaço urbano. Nas fotografias da artista Cláudia Andujar, da série Rua Direita (c.
1970), conseguimos pensar nas relações entre os transeuntes dos grandes centros urbanos. São
fotografias realizadas em uma das ruas mais movimentadas da capital paulista, a rua Direita. Nelas, o
ângulo escolhido pela artista nos comunica sobre as relações de poder existentes. Os passantes são
retratados de baixo para cima, ângulo menos comum na fotografia, que dá ao fotografado um aspecto
de grandeza, de superioridade em relação a quem está observando.
Cinthia Marcelle e Tiago Mata Machado, O século, 2011.
Audiovisual 9’37”. Cortesia Galeria Vermelho
Espaço é o lugar onde o homem se relaciona, cria experiências, experimenta trocas diversas com o
meio e com outros, se comunica, se transforma. Espaço é um ponto limitador e também tensionador.
Pensar a prática social do espaço é pensar nas relações que se desenvolvem entre os indivíduos em
espaços comuns, sejam eles públicos ou privados. Segundo Mark Gottdiener, essas relações são
constituídas por influências de classes, status e poder político. Observar essa dinâmica e propor novos
olhares sobre os agentes de produção significa democratizar essa produção espacial.
A cidade se produz por diversos meios. O poder público elabora leis e projetos de construções e
dinâmicas urbanas, o urbanismo propõe a organização do espaço pensando não só na estética,
mas principalmente, a sua funcionalidade. A sociedade utiliza e vivencia a cidade cotidianamente,
descobrindo e reinventando permanentemente formas de ocupar e se apropriar desses espaços.
Portanto, podemos dizer que a produção do espaço na cidade é um processo contínuo que se dá por
diferentes vias.
Observamos as ruas ao passarmos por elas todos os dias, nos relacionamos com pessoas, objetos,
serviços; mas o que estamos fazendo? Todo o tempo, por meio das atitudes que tomamos frente à
cidade, estamos construindo a nossa própria cidade. Pequenos atos políticos, como a cultura de jogar
lixo na lixeira, possuem a capacidade de transformar a dinâmica social.
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Na obra Excertos do Projeto Mutirão (1996 – 2004 – 2005 – 2006 – 2008 – 2009 – 2010 – 2011 – 2013),
de Graziela Kunsch, a artista mostra, em uma série de vídeos curtos, diversas ações coletivas nas quais
pessoas se reúnem para, de alguma forma, mudar a cidade ou o modo de se viver nela. Nesse caso,
há a constatação de que o espaço é construído socialmente, a cidade é como um organismo vivo que,
apesar de idealizado, é vivido cotidianamente. O coletivo ganha corpo dentro do espaço, com uma força
capaz de modificar o entorno
Há outros exemplos, como nas obras Automóvel (2012), de Cínthia Marcelle, e O Século (2011), de
Cínthia Marcelle e Tiago Matta Machado, em que o espaço cotidiano urbano incorpora a transitoriedade
das intervenções do homem, provocando mudanças e criando composições visuais e sonoras caóticas,
revelando tensões e conflitos.
Claudia Andujar, Rua Direita, c. 1970,
fotografia, negativo flexível. Coleção Inhotim.
VALE PENSAR – em seu bairro, quais mudanças poderiam representar melhorias nas condições de uso para as pessoas?
Dessas melhorias, quais delas dependem exclusivamente do poder público para se concretizar? Qual a importância da
conscientização da comunidade? Quais melhorias a própia comunidade poderia realizar com autonomia?
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Se Vende (2008), da artista plástica Carmela Gross, instalada durante Escavar o Futuro no
Parque Municipal Américo Renné Giannetti, exemplifica como o espaço dá significado à obra:
dependendo de onde está localizada, sua leitura será modificada, novas significações serão
incorporadas à obra.
Outra obra, Centro Cultural (2009), letreiro luminoso de Vitor César instalado na porta de entrada
do Centro de Arte Contemporânea e Fotografia, depende diretamente do espaço onde está
instalado e seu sentido se dá para aquele local específico.
Citamos também Marco Scarassatti. e Fernando Ancil, com a intervenção rio (2013).
A obra sonora instalada na Avenida Afonso Pena ocupa o espectro sonoro da cidade e não pode
ser percebida pelos olhos, porém, intervém diretamente na paisagem de quem passa.
Os artistas captaram e deslocaram o som dos rios subterrâneos da cidade, fazendo-o emergir
para o meio urbano sob outra conotação.
Vitor César, Centro Cultural, 2009, neon, coleção do artista. Fotografia Daniel Iglesias.
Quando dizemos algo e desejamos ser entendidos de forma clara, organizamos nosso discurso
utilizando um grande repertório de palavras e expressões para produzir o sentido para quem nos
ouve ou nos lê. O mesmo ocorre quando queremos entender algo: passamos por um processo de
decodificar os significados presentes nas palavras a partir de nossas experiências anteriores.
E quando tratamos de linguagem não verbal? Quais seriam as maneiras de decodificar,
transmitir e interpretar imagens?
Carmela Gross, Se Vende, 2008, objeto. Coleção da artista. Fotografia Daniel Iglesias.
A significação
do espaço
As Intervenções urbanas e site-specifics se estabelecem a partir de uma relação íntima com
o contexto em que são realizados. Contextos histórico, geográfico, social, cultural e político
geram significados a partir da escolha do artista em usar ou ignorar determinados elementos,
relações e objetos. Esses conceitos também surgem a partir da década de 1960, numa proposta
de significação do espaço onde a obra se instala.
Nas ruas encontramos várias formas de comunicação não verbal: placas de sinalização, cores
dos sinais de trânsito, avisos de proibição e permissão, sinalização de fluxos.
Um exemplo de como o artista se apropria da linguagem da rua e cria novos códigos são as
obras de Guga Ferraz. O artista utiliza-se dos símbolos das placas de trânsito e interfere na
mensagem contida com o uso de adesivos. A imagem cotidiana ganha novos significados.
Já Angela Detanico e Rafael Lain criam uma fonte tipográfica, Utopia, em que as letras do alfabeto
são símbolos da cidade. Assim, a escrita precisa ser decifrada a partir do que cada uma dessas
imagens - postes, casas, monumentos, prédios, outdoors, guaritas e outras - podem significar.
Todos esses elementos cotidianos servem como estímulo à reflexão e a novas interpretações da arte,
que podem gerar propostas para a rua em #Intervenções urbanas, e #site-specifics ou propostas
para serem apresentadas no espaço expositivo tradicional, porém, deslocadas de seu lugar de origem.
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Arte e as
tensões
sociais
João Castilho, Erupção, 2013, videoinstalação. Coleção do artista. Fotografia Daniel Iglesias
Encontramos na arte contemporânea a ansiedade do indivíduo, enquanto ser social, de afirmar
sua posição frente aos sistemas econômico, político e social estabelecidos. Da mesma maneira
que o uso de materiais do cotidiano pretende aproximar o espectador do processo artístico,
o discurso social tenta aproximar política e estética.
A arte sempre respondeu às tensões sociais de seu tempo. Citamos como exemplos na história
da arte entre as obras mais populares: Os Fuzilamentos de três de Maio (1808), de Francisco
Goya, Guernica (1937), de Pablo Picasso, e Os Retirantes (1944), de Cândido Portinari.
Entre 1870 e 1890, com a grande migração de europeus para a América, surge um tipo de
fotografia documental que registra saídas e chegadas desses imigrantes, na sua maioria em
situação de pobreza extrema. A finalidade era trazer à tona a realidade das “grandes massas”,
seus problemas e misérias. Jacob Riise e Lewis Hine são exemplos desse estilo de fotografia.
Gautherot registrou a realidade dos candangos, pessoas
de baixa renda vindas de diversos locais do Brasil, na sua
grande maioria do Nordeste, para trabalhar na construção
de Brasília. Gautherot era o fotógrafo oficial de #Juscelino
Kubitschek (1902-1976) na época da construção da nova
capital do país e em sua série de fotos intitulada Moradia
nos arredores da cidade (1958-1960), exposta em Escavar
o Futuro, nos revela uma realidade miserável que surgia
em torno da construção monumental do empreendimento
modernista. É interessante pensar que essas fotografias,
não divulgadas na época, buscavam revelar a dicotomia
entre ricos e pobres na construção da capital do país,
aspecto esse que a arquitetura modernista buscava,
conceitualmente, abolir.
BRASÍLIA – Desenhada por Oscar
Niemeyer (1907 - 2012) e Lúcio
Costa (1902 - 1998), em 1956,
a capital do país foi planejada
com a intenção de proporcionar
o convívio entre seus moradores.
Seus prédios possuem vãos
livres e estão construídos sobre
#pilotis, aumentando o espaço
para a circulação das pessoas;
suas longas avenidas, planas e sem
convergências, ladeadas por prédios
de linhas curvilíneas, transmitem a
sensação de movimento, enquanto
a sinuosidade das formas sugere
dinamismo, a livre circulação de
pessoas e ideias. A cidade foi
inaugurada em 1960 e faz parte do
projeto “Plano Piloto” elaborado
pelo urbanista Lúcio Costa, vencedor
do concurso em 1957, para o projeto
urbanístico da nova capital.
A nova cidade foi pensada como um
instrumento de mudanças sociais,
como estímulo de uma compreensão
racional da ocupação do espaço,
que incitaria o advento de um bom
governo e a renovação da própria
vida por meio da arte
Retratar o modo de vida do “outro” como referencial simbólico e, consequentemente, cultural,
transformando-o em objeto de arte nos coloca uma questão dúbia: existe afirmação de classe
nessas representações? Ou a utilização de um estereótipo da miséria se torna estratégia de
dominação e reafirmação do lugar do artista, do objeto de arte e do público?
O trabalho do fotógrafo Marcel Gautherot (1910-1996) nos ajuda a pensar nessas questões.
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Marcel Gautherot, Moradia nos arredores da
cidade, c. 1959, fotografia, negativo flexível.
Coleção Instituto Moreira Salles.
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No Brasil, durante as décadas de 1960 e 1970, as cidades brasileiras se tornaram palco de intensas
manifestações. As disputas políticas que caracterizam esses anos resultaram em um golpe de
estado, em 1º de abril de 1964. Dessa data em diante, o Brasil passava por uma ditadura militar,
que duraria até 1985.
Os militares que governaram o Brasil durante os chamados #Anos de Chumbo estabeleceram
políticas de exceção e censura na tentativa de impedir esse uso social e político do espaço. Artistas
contrários à ditadura militar foram perseguidos e censurados e a criação tornou-se tarefa ainda
mais delicada e perigosa, exigindo ainda mais sensibilidade e o uso de novos suportes para sua
elaboração: o próprio corpo e o espaço outra vez ressignificado. Novos meios para a circulação de
obras e novos circuitos para a arte foram experimentados pelos artistas, numa resposta criativa às
inúmeras dificuldades e limitações impostas diante do contexto político em que estavam inseridos.
Um bom exemplo de como a arte reage aos contextos políticos e sociais vigentes são as
intervenções de Cildo Meireles (1948) são as Inserções em circuitos ideológicos (1970). Na série de
trabalhos, o artista imprime frases de caráter político censuradas pela mídia em cédulas
de dinheiro (cruzeiros e dólares) e garrafas retornáveis de Coca-Cola. Em seguida, devolve esses
objetos aos seus circuitos de utilização carregados com intervenções.
Outro exemplo é a situação/trabalho T.E. (1970), de Artur Barrio (1945). Na ocasião da
manifestação/mostra Do Corpo à Terra, o artista criou trouxas de pano que envolviam carnes e
sangue de animais, tinta vermelha e cordas. Em seguida, Barrio instalou essas trouxas nas margens
do ribeirão Arrudas, provocando uma reflexão sobre o momento político após a entrada em vigor do
Ato Institucional número 5 (AI-5).
Já em Santos Sujos: retrato do vazio (1998-2002), de Patrícia Azevedo, a denúncia social está nos
fotogramas produzidos pela artista a partir de “santinhos” de candidatos políticos distribuídos
à população durante o período das eleições, que em sua grande maioria são encontrados pelo
chão das ruas. As imagens dos “santinhos” recolhidos foram transformadas em #fotogramas
reimpressos e redistribuídos no período eleitoral. Qual a diferença entre os “santinhos”
convencionais e os fotogramas produzidos pela artista?
Na série do artista Mauro Restiffe intitulada Empossamento (2003) conseguimos visualizar uma
narrativa de um fato histórico, a posse do então presidente Lula. Nesse trabalho, o artista lida
com questões como a arquitetura e o destino de Brasília, que foi durante um curto período de
tempo ocupada e desconstruída visualmente com a presença massiva de pessoas. Dessa forma, o
fotógrafo consegue eleger a partir de ângulos menos privilegiados as qualidades atemporais desse
evento histórico.
Os Brutos (2013), organizado por Daniel Carneiro, conta com registros fotográficos e videográficos
de diversos autores sobre as recentes manifestações políticas ocorridas no último ano. O vídeo
bruto é o primeiro registro filmado, sem qualquer corte, para servir como guia de trabalho de
montagem e avaliação das cenas a serem aproveitadas, o que não vem a ser uma prática comum
assistir coletivamente a esses materiais. Os Brutos se torna uma espécie de instrumento de
investigação visual – etnográfico, antropológico e histórico – e de intervenção, gerando um novo
protagonismo social e tencionando a noção de artista x cidadão e de arte e vida.
Dentro desses limites podemos pensar: quais seriam os limites entre a arte e a vida, entre a arte e
a realidade que construímos diariamente?
As obras exibidas em Escavar o Futuro tencionam a condição do artista x cidadão, que observa,
registra e modifica a cidade e suas relações.
No trabalho do artista Paulo Nazareth, L’arbre de l’oublie (2013), a ação de reviver os mesmos gestos
dos negros africanos nos remontam à história cultural de uma comunidade e sua identidade. No Benin,
antes dos escravos embarcarem para serem comercializados, cumpriam um ritual de dar vinte voltas
em torno de um baobá, chamado de A árvore do esquecimento, para que esquecessem de suas terras,
sua identidade geográfica e suas raízes. Já em Ipê amarelo, Cine África e Cine Brasil (2013), com o
simples gesto de dar voltas em torno de árvores em diversos locais, o artista evoca a memória histórica
do Benin e destaca as tensões sociais combinadas com a noção de justiça social e de resistência de
uma memória que se perdeu no tempo e vida dos antepassados dessas comunidades.
Mauro Restiffe, Empossamento #1f, 2003, fotografia. Cortesia Galeria Fortes Vilaça.
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Pensando
em práticas
Imagem identidade
objetivos. provocar a reflexão sobre a memória – observar a difusão de imagens na cidade e
suas interferências plásticas e visuais – discutir sobre a efemeridade do que se vê em outdoors
e veículos de comunicação, perceber a formação de identidade existentes em propagandas de
circulação urbana.
materiais. revistas e jornais – tesoura – cola – papelão – algodão – álcool – lápis de cor –
caneta hidrocor – lápis – borracha – lixa fina – fita crepe. (fig. 1)
procedimentos. escolher em revistas ou jornais várias imagens, inclusive de
personalidades, e recortar (fig. 2) – interferir nas imagens com fita crepe ou com uma lixa,
retirando resquícios das imagens (fig. 3) – no verso das imagens, passar o algodão embebido
em álcool e transferir as imagens para uma outra folha de papel (fig. 4) – fazer uma fusão
de imagens, mensagens, cores e paisagens usando o mesmo processo com outras fotos de
revista e jornal – desenhar ou realçar com lápis e caneta, conforme necessário, elementos
dessas interferências (fig. 5) – colar em uma prancha de papelão. (fig. 6)
momento de refletir. peça para os alunos descreverem o que veem na imagem criada.
Ela tem personagem? É colorida ou preta e branco? Tem paisagem? Como a imagem reflete as
relações sociais e econômicas do espaço urbano? Como a imagem apresentada reflete poder,
status? Qual é a função social das propagandas? De que maneira as propagandas interferem no
desejo de consumo das pessoas? Uma pintura pode ter a mesma função que uma propaganda?
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Foto Emmanuela Tolentino
próprio bairro, da cidade ou de um local imaginário – elaborar um desfile e uma feira de moda,
onde os alunos apresentarão as vestimentas e acessórios confeccionados.
momento de refletir. a roupa representa a cultura de um povo? Um índio se veste como uma pessoa
que vive no centro urbano? Como se pode estabelecer a relação da escolha de uma roupa e acessório com
a função social? Existe uma relação dessa roupa com a prática espacial da cidade? Quem cria as roupas
que você usa? Quem costura as roupas que você usa? Como são as roupas nos outros lugares do mundo,
na África, na Bolívia, na China, no Rio de Janeiro, em São Paulo ou em Porto Alegre?
sugestão. pesquisar as obras Parangolé de Hélio Oiticica e Costumes de Laura Lima
Espaço, lugar: arte e arquitetura
objetivos. estimular a percepção do espaço urbano, bem como apontar os lugares de
convivência entre as pessoas – repensar o planejamento urbano e as possibilidades de
intervenção no entorno.
Roupas monumentos
objetivos. provocar a reflexão sobre apropriação de objetos do espaço urbano – discutir sobre
a cidade, seus habitantes e seus usos – provocar reflexão sobre as formas de representação do
objeto de arte – discutir sobre a moda e a rua – identificar a rua como território de passagem e
de aceitação do indivíduo a partir da vestimenta.
materiais. cola – tesoura – papel – elementos da natureza como folhas, gravetos, sementes
– objetos coletados na rua.
procedimentos. organizar na sala de aula uma coleta de materiais característicos da cidade
como outdoors ou faixas de divulgação, elementos da natureza (folhas, gravetos), panfletos
e materiais diversos encontrados na rua – confeccionar, em grupo, roupas ou acessórios com
esses materiais – sugira que as vestimentas ou acessórios possam apresentar características do
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procedimentos. passeie pelo bairro ou pela escola com os seus alunos – observe e registre,
com fotografia ou anotações e desenhos, as principais características do local, os principais
espaços de convivência, os espaços mais representativos, os espaços degradados, entre outros
– em sala de aula, criem em grande escala um mapa do local visitado, a partir do registro das
observações feitas durante a visita – com o mapa construído, proponha para os participantes,
de forma lúdica e imaginativa, novos rearranjos para os espaços, realizando no projeto/mapa,
com colagens, intervenções na arquitetura, nos espaços de convívio e nas sinalizações, além
de soluções ou alternativas para possíveis melhorias no espaço urbano – crie símbolos que
identifiquem esses locais. Ex: locais de harmonia, local de passagem, locais antigos, locais de
aglomeração de pessoas.
materiais. como é o bairro ao redor da escola? Como são as casas? Há prédios? Há praças,
quadras de esporte públicas, ou árvores? E o bairro onde vive, como ele é? Como você gostaria
que fosse a sua cidade? Se você fosse engenheiro (a), o que gostaria de construir no seu bairro
ou cidade? O que podemos fazer para melhorar o bairro em que vivemos?
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#Instalação: O termo instalação foi
incorporado ao vocabulário das artes visuais
na década de 1960, designando assemblage
#GLOSSÁRIO#
#Anos de Chumbo: Em 1968, um decreto
do governo militar ditatorial determinou
o fechamento do Congresso Nacional e a
suspensão dos direitos políticos dos cidadãos
brasileiros. A censura, aliada à violência, fez
com que os anos que vão de 1968 a 1979
fossem os mais difíceis, razão pela qual
ficaram conhecidos como Anos de Chumbo.
#Fotograma: É a unidade do filme
fotográfico depois de processado, ou seja,
do negativo. Fotograma serve igualmente
para denominar as fotografias obtidas sem o
auxílio da câmara, por meio da colocação de
um objeto opaco ou translúcido diretamente
sobre o material fotossensível.
#Gentrificação: Entende-se por
gentrificação o fenômeno em que as
dinâmicas espaciais urbanas de uma
determinada localidade são alteradas. Essas
alterações ocorrem a partir da construção de
novas edificações, eixos viários, centros
24
comerciais, projetos de revitalização e
requalificação de áreas de uma dada
localidade. Todo processo de gentrificação
tem por objetivo a valorização econômica da
região e uma redefinição estética tendendo
à higienização e uma nova imagem de alto
padrão de vida. Como consequência direta
observa-se a migração da população de
baixa renda que não consegue acompanhar
a elevação do custo de vida promovido por
essas alterações espaciais urbanas.
#Happening: Ações de improviso com o
propósito de interação com o público e sem
roteiro, data ou local predeterminados.
#Hélio Oiticica: Considerado por muitos
críticos um dos artistas brasileiros mais
revolucionários. Sua obra, experimental e
inovadora, é reconhecida internacionalmente
e composta por pinturas, esculturas,
performances e outros suportes. É também o
criador do termo Tropicalismo.
ou ambiente construído em espaços de
galerias e museus. Essa modalidade de
produção artística lança a obra no espaço,
com o auxílio de materiais muito variados,
na tentativa de construir o ambiente ou
cena, cujo movimento é dado pela relação
entre objetos, construções, o ponto de vista
e o corpo do observador. Para a apreensão
da obra é preciso percorrê-la, passar entre
suas dobras e aberturas, ou simplesmente
caminhar pelas veredas e trilhas que ela
constrói por meio da disposição das peças,
cores e objetos.
#Intervenções urbanas: Manifestações
artísticas que interferem no cotidiano da
cidade, por meio de imagem, ação, som,
objetos e palavras.
#Juscelino Kubitschek (1902-1976):
Nascido em Diamantina, foi o 21º presidente
do Brasil e o primeiro a nascer no século XX.
Governou entre 1956 e 1961 e é considerado um
dos presidentes mais populares, possivelmente
em função do chamado plano de metas, no
qual prometia fazer o Brasil se desenvolver o
equivalente a 50 anos em um período de 5 anos.
A partir disso, construiu rodovias, importou
automóveis e inaugurou Brasília.
#Land Art ou arte da terra: Inaugura
uma nova relação com o ambiente natural,
sendo muitas vezes designada como arte
do ambiente. Não há mais a paisagem a ser
captada e representada, a natureza agora é
o locus onde a arte se fixa. Desertos, lagos,
canyons, planícies e planaltos oferecemse aos artistas que realizam intervenções
sobre o espaço físico. Em 1970, Robert
Smithson realiza Spiral Jetty (Píer ou Cais
Espiral), gigantesco caracol de terra e pedras
construído sobre o Great Salt Lake, em Utah,
nos Estados Unidos.
#Lygia Clark (1920–1988): Pintora e
escultora de Belo Horizonte, considerava-se
uma “não artista”, por causa do caráter
experimental de sua obra. Clark buscou ir
além dos limites do objeto artístico. Com
isso, sua obra parece querer ganhar o espaço
e ir além do suporte sobre a qual se realiza.
Todo esse experimentalismo torna Lygia
Clark uma artista atemporal.
#Lygia Pape (1927–2004): Nascida
em Nova Friburgo, no Rio de Janeiro, foi
signatária do manifesto neoconcretista. Suas
obras incluem gravuras, esculturas e arte
multimídia. Sempre buscou incorporar seu
espectador como agente da sua obra, que
critica e ironiza a situação política do Brasil
no contexto de sua criação.
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#Marcel Duchamp (1887–1968): Artista
e escritor francês-americano, foi pintor e
escultor. É considerado o artista pioneiro em
utilizar objetos de uso cotidiano na produção
de objetos de arte, retirando-os do seu
lugar tradicional e lhes atribuindo outros
significados: os ready mades.
#Neoconcretismo: O Concretismo surge
na Europa após a II Guerra Mundial. Baseiase no racionalismo, na industrialização
e rejeita a abstração e o lirismo. No
final da década de 1950, reagindo aos
excessos do Concretismo, vários artistas
brasileiros repensaram o seu fazer artístico
e concluíram que sua produção, até aquele
momento, estava centrada em utilizar os
métodos tradicionais de criação, como a
pintura e a escultura. Certos de que a arte
não é apenas um objeto, mas é dotada de
sensibilidade, expressividade e subjetividade,
elaboraram, em 1959, o “Manifesto
Neoconcretista”, no qual consideravam as
diversas possibilidades criativas do artista e
a participação do observador no seu
processo de elaboração.
#Novo Realismo: Foi criado na França
em 1970 e tem como meio de expressão
a Assemblage, que se estende da simples
colagem a instalações para happenings,
passando pelas acumulações de artistas
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como Arman e as compressões de César,
Chisto, especialista em pacotes e Yves
Klein com seus métodos de percepção
e comunicação sensível, realizados por
meio de performances e pinturas. O Novo
Realismo buscava ir além da pintura. Foi
considerado um estado de espírito, o gesto
fundamental de apropriação do real..
#Oscar Niemeyer e #Lúcio Costa:
Possivelmente os arquitetos mais
importantes do Brasil no século XX. São os
responsáveis pela concepção de Brasília:
Costa elaborou o plano piloto da cidade e
Niemeyer desenhou seus prédios. Ambos
fizeram parte do movimento modernista.
#Performance: Quando o artista utiliza seu
corpo como objeto artístico ou ativador de
processos criativos. Em geral, possui roteiro
e locais pré-determinados.
#Pilotis: Sistema de construção no qual a
edificação é sustentada por pilares, criando
um vão livre sob o prédio. A construção sobre
pilotis é uma das principais características
da arquitetura modernista.
#Poema-objeto: A busca pela recriação do
espaço enquanto objeto artístico também foi
praticada por poetas. Na década de 1950, a
poesia concreta buscava dar forma e volume
aos poemas que fossem além da métrica e
do ritmo. Os poemas concretos, mais que
composições literárias, são considerados
objetos poéticos.
#Pop Art: A expressão Pop Art (arte
popular) foi criada pelo crítico inglês
Lawrence Aloway. Nascida na Inglaterra,
a Pop Art, entretanto, se desenvolveu
plenamente nos Estados Unidos, por
se tornar uma expressão estética da
sociedade de consumo e da cultura de
massa. Utilizando-se de temas recolhidos
do meio urbano: publicidade, quadrinhos,
supermercados, hot-dogs e hamburguers,
televisão, cinema, luminosos, sinalização
de trânsito, atrizes, políticos, cantores e
ídolos, a Pop Art torna-se um termômetro
da sociedade norte-americana, remetendo a
tudo aquilo que é utilizado como objeto de
consumo de massa.
#Site-specific: o termo sítio específico
é utilizado para designar obras que são
realizadas de acordo com o ambiente e
com um espaço determinado. Trata-se,
geralmente, de trabalhos planejados muitas vezes a partir de convites - em certo
local, em que os elementos esculturais
dialogam com o meio circundante, para o
qual a obra foi elaborada.
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GOVERNADOR DO ESTADO DE MINAS GERAIS: Antonio Anastasia
VICE-GOVERNADOR DO ESTADO DE MINAS GERAIS: Alberto Pinto Coelho
SECRETÁRIA DE ESTADO DE CULTURA DE MINAS GERAIS: Eliane Parreiras
SECRETÁRIA ADJUNTA DE ESTADO DE CULTURA DE MINAS GERAIS: Maria Olívia de Castro e Oliveira
REFERÊNCIAS
FUNDAÇÃO CLÓVIS SALGADO
Presidente
Fernanda Medeiros Azevedo Machado
Vice-presidente
Bernardo Rocha Correia
Chefe de Gabinete
Renata Bernardo
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São Paulo: Companhia das Letras, 2008.
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BERMAN, Marshall. Tudo o que é sólido desmancha no ar: a aventura da modernidade. 2a. ed.
São Paulo: Companhia das Letras, 2007.
Diretora Artística
Edilane Carneiro
Diretora de Ensino e Extensão
Patrícia Avellar Zol
BLUMENBERG, Hans. O riso da mulher de Trácia: uma pré-história da teoria. Lisboa: DIFEL, 1994.
Diretora de Marketing, Intercâmbio e Projetos Institucionais
Cláudia Garcia Elias
BRETT, Guy. Um Salto Radical. In: ADES, Daw. Arte na América Latina: a era moderna, 1820 – 1980. Trad. Maria Thereza de Resende
Costa. São Paulo: Cosac & Naify Edições, 1997. pg 253-283.
Diretor de Planejamento, Gestão e Finanças
Luiz Guilherme Melo Brandão
DELGADO, Lucilia de Almeida Neves; FERREIRA, Jorge (orgs). O Brasil republicano v. 4: o tempo da ditadura – regime militar e
movimentos sociais em fins do século XX. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2003.
Diretora de Programação
Fabíola Moulin Mendonça
EHRENZWEIG, Anton. Psicanálise da percepção artística: uma introdução à teoria da percepção inconsciente.
Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1977.
Gerente de Artes Visuais
Tatiana Cavinato
FAUSTO, Boris. História do Brasil. 12a. ed. São Paulo: EdUSP, 2004.
Assessora da Gerência de Artes Visuais
Ana Cristina Lima
FER, Briony. O que é moderno? In: FRANSCINA, Francis [ET alii]. Modernidade e Modernismo – Pintura Francesa no século XIX. São
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Belo Horizonte, MG. Catálogo: Belo Horizonte, 2008.
RANCIÈRE, Jacques. A partilha do sensível: estética e política. Trad. Mônica Costa Neto. São Paulo: 34, 2005.
Chefe de Departamento de Artes Plásticas
Karolina Penido
Chefe de Departamento
do Centro de Arte Contemporânea e Fotografia
Rodrigo Gonçalves da Paixão
Produção
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Analista Cultural
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Apoio Administrativo
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2014
Abertura: 10 de dezembro de 2013
Período Expositivo: de 11 de dezembro de 2013 a 2 de fevereiro de 2014
Artistas
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Daniel Carneiro, Eduardo Coimbra, André Weller e David Pacheco, Fernando Ancil e Marco Scarassatti,
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Projeto Expográfico e Iluminação
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Cenografia
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Montagem
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30
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Promoção
Agradecimentos
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Américo Renné Giannetti/ Fundação de Parques Municipais, Museu de Arte Moderna de São
Paulo, Galeria Vermelho, Galeria Fortes Vilaça e Galeria A Gentil Carioca.
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