MODERNISMO 2º MOMENTO - POESIA
“Lutar com palavras
é a luta mais vã.
Entanto lutamos
mal rompe a manhã.”
(Carlos Drummond de
Andrade)
Momento Histórico (1930 – 1945)
• Momentos de grandes transformações do século:
- Quebra da Bolsa de Valores de Nova Iorque e a Grande Depressão
- Avanço do Comunismo e Choques entre Capitalistas e Comunistas
- Desenvolvimento do Nazifacismo
no mundo e
expansionista
- 2ª Guerra Mundial
- Bomba Atômica de Hiroxima
- Primeiro Governo de Vargas e Início do Estado Novo
- Criação da ONU
- Queda de Getúlio Vargas
sua vocação
1) Cecília Meireles
“Como os poetas que já cantaram,
e que ninguém mais escuta,
eu sou também a sombra vaga
de alguma interminável música.”
• Inicia na literaturas poetas na chamada “corrente espiritualista” junto com
os poetas da revista Festa, de inspiração neo-simbolista.
• Afasta-se, posteriormente, desta tendência, mas sua poética não abandona
o tom intimista, introspectivo , musical e de uma eterna viagem ao interior.
• A consciência da transitoriedade das coisas também marcará a obra de
Cecília. – o tempo será uma das personagens principais de sua obra.
• Outra marca da poética da poetisa é a valorização dos símbolos e de imagens
sugestivas com constantes apelos sensoriais. Além da extrema musicalidade
de seus versos.
• No livro Romanceiro da Incofidência, escreve em romance – composição
popular medieval escrita em redondilha – e reconstrói um episódio da história
nacional. Cecília afirma tratar-se de uma “história feita de coisas eternas e
irredutíveis; de ouro, amor, liberdade e traições.”
Comunicação
Motivo
Pequena lagartixa branca,
ó noiva brusca dos ladrilhos!
sobe à minha mesa, descansa,
debruça-te em meus calmos livros.
Ouve comigo a voz dos poetas
que agora não dizem mais nada,
– e diziam coisas tão belas! –
ó ídolo de cinza e prata!
Ó breve deusa de silêncio
que na face da noite corres
como a dor pelo pensamento,
– e sozinha miras e foges.
Pequena lagartixa – vinda
para quê? – pousa em mim teus olhos.
Quero contemplar tua vida,
a repetição dos teus mortos.
Como os poetas que já cantaram,
e que já ninguém mais escuta,
eu sou também a sombra vaga
de alguma interminável música.
Pára em meu coração deserto!
Deixa que te ame, ó alheia, ó esquiva...
Sobre a torrente do universo,
nas pontes frágeis da poesia.
Eu canto porque o instante existe
e a minha vida está completa.
Não sou alegre nem sou triste:
sou poeta.
Irmão das coisas fugidias,
não sinto gozo nem tormento.
Atravesso noites e dias
no vento.
Se desmorono ou se edifico,
se permaneço ou me desfaço,
— não sei, não sei. Não sei se fico
ou passo.
Sei que canto. E a canção é tudo.
Tem sangue eterno a asa ritmada.
E um dia sei que estarei mudo:
— mais nada.
2) Murilo Mendes (1901 – 1975)
“Tudo é ritmo no cérebro do
poeta. Não me inscrevo em
nenhuma teoria”
•
Conhecido como poeta dos contrários e dos contrastes – inicia a sua
obra com a poesia humorística do primeiro momento, passa a ser
influenciado pelo surrealismo e, por fim, faz uma poesia religiosa e
transcendental.
•
Em parceria com Jorge de Lima, publica o livro “Tempo e eternidade”
(1935) quando passa a escrever uma literatura religiosa, mística e
católica. Ambos buscavam a “ restauração da poesia em Cristo”.
•
O surrealismo domina no pequeno romance O Anjo (1934) e nas
fotomontagens de A poesia em pânico (1943). Na fase final, a melhor,
voltou a um soneto liberto de convencionalismo e realizou com grande
variedade métrica A Invenção de Orfeu (1952)
• Além de poeta, Murilo Mendes era um profundo conhecedor de música
clássica, principalmente, por Mozart.
Pré-história
Mamãe vestida de rendas
Tocava piano no caos.
Uma noite abriu as asas
Cansada de tanto som,
Equilibrou-se no azul,
De tonta não mais olhou
Para mim, para ninguém!
Cai no álbum de retratos.
Canção do exílio
Minha terra tem macieiras da Califórnia
onde cantam gaturamos de Veneza.
Os poetas da minha terra
são pretos que vivem em torres de ametista,
os sargentos do exército são monistas, cubistas,
os filósofos são polacos vendendo a prestações.
A gente não pode dormir
com os oradores e os pernilongos.
Os sururus em família têm por testemunha a
Gioconda.
Eu morro sufocado
em terra estrangeira.
Nossas flores são mais bonitas
nossas frutas mais gostosas
mas custam cem mil réis a dúzia.
Ai quem me dera chupar uma carambola de
verdade
e ouvir um sabiá com certidão de idade!
In: MENDES, Murilo. Poesias, 1925/1955. Rio de
Janeiro: J. Olympio, 1959
3) Carlos Drummond de Andrade
“Tenho apenas duas mãos
E o sentimento do mundo.”
• Primeiro grande poeta nascido dentro do modernismo. Considerado por
muitos o maior poeta brasileiro e de língua portuguesa.
• Inicia a sua vida literária em 1930 com o livro Alguma poesia. No entanto,
passa por quatro fases diferentes:
a) Modernista – 1930/1934 – com os livros Alguma Poesia e Brejo das Almas Poética extremamente ligada aos cacoetes modernistas.
b) Social – 1940/1945 – A rosa do povo e Sentimento do Mundo – Poesia social
e de grandiloqüência.
c) Metafísica – 1951 – Claro enigma - “Os acontecimentos me aborrecem”.
d) Memorialística – 1968 – Boitempo (1,2,3). Livros autobiográficos em que
conta histórias do tempo da infância.
• Foi contista e jornalista, além de praticar uma espécie de crônica em verso
que fica entre a poesia e o registro da memória. Alcançou grande penetração no
público, e quando morreu, aos oitenta e cinco anos, era considerado por
consenso nacional o maior escritor do momento.
Mãos Dadas
Não serei o poeta de um mundo caduco.
Também não cantarei o mundo futuro.
Estou preso à vida e olho meus companheiros
Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças.
Entre eles, considere a enorme realidade.
O presente é tão grande, não nos afastemos.
Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas.
Não serei o cantor de uma mulher, de uma história.
não direi suspiros ao anoitecer, a paisagem vista na janela.
não distribuirei entorpecentes ou cartas de suicida.
não fugirei para ilhas nem serei raptado por serafins.
O tempo é a minha matéria, o tempo presente, os homens presentes,
a vida presente.
(DRUMMOND, Carlos, Sentimento do Mundo)
NOVA CANÇÃO DO EXÍLIO
Um sabiá na
palmeira, longe.
Estas aves cantam
um outro canto.
O céu cintila
sobre flores úmidas.
Vozes na mata,
e o maior amor.
Só, na noite,
seria feliz:
um sabiá,
na palmeira, longe.
Onde tudo é belo
e fantástico,
só, na noite,
seria feliz.
(Um sabiá,
na palmeira, longe.)
Ainda um grito de vida e voltar
para onde tudo é belo
e fantástico:
a palmeira, o sabiá,
o longe.
4) Vinícius de Moraes (1913 – 1980)
“Nasço amanhã
Ando onde há espaço:
– Meu tempo é quando.”
• Vinícius de Moraes nasceu em 1913 é descrito por ele próprio como
“capitão-do-mato, poeta, diplomata, o branco mais preto do Brasil”.
• Assim como Cecília Meireles, inicia a sua vida literária com uma poesia
neo-simbolista da corrente espiritualista e ligado também a poesia católica
de 1930.
• Depois de abandonar o neo-simbolismo, desenvolve-se como um cantor da
“paixão e da simplicidade cotidiana”. Escreve versos de grande fartura
técnica e toma gosto pelo soneto. Destaca-se também a valorização do
momento presente e do imediatismo.
• O jogo entre felicidade e infelicidade – “é melhor ser alegre que ser triste”
x “tristeza não tem fim, felicidade sim” será uma das grandes temáticas de
sua poesia juntamente com o amor. Vinícius dedica grande parte de sua
poética a cantar o amor e a mulher – seu grande objeto de devoção.
• Escreve algumas poesias de cunho social cujo grande destaque é
“Operário em Construção” que também alcançou enorme popularidade.
Soneto de fidelidade
De tudo ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.
Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento
E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama
Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.
Vinicius de Moraes, "Antologia Poética", Editora do Autor, Rio
de Janeiro, 1960, pág. 96.
Samba da Benção
É melhor ser alegre
Que ser triste
Alegria é a melhor
Coisa que existe
É assim como a luz
No coração...
Mas prá fazer um samba com beleza
É preciso um bocado de tristeza
É preciso um bocado de tristeza
Senão não se faz um samba
Não!...
Fazer samba não é
Contar piada
E quem faz samba assim
Não é de nada
O bom samba é uma forma
De oração...
Porque o samba é a tristeza
Que balança
E a tristeza tem sempre
Uma esperança
A tristeza tem sempre
Uma esperança
De um dia não ser mais triste
Não!...
Põe um pouco de amor
Numa cadência
E vai ver que ninguém
No mundo vence
A beleza que tem um samba
Não!...
Porque o samba nasceu
Lá na Bahia
E se hoje ele é branco
Na poesia
Se hoje ele é branco
Na poesia
Ele é negro demais
No coração...
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