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rio
té
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m
apoio
realização
patrocínio
da
tu
cul
ra e
as a
obr
r
t
pe
Dilma Rousseff
conexão Artes Visuais
Associação Cultural da Funarte Funarte Cultural Association
Ministra da Cultura Minister of Culture
Coordenadora geral General Coordinator
Marta Suplicy
Ana Paula Santos
Presidenta da República President of the Republic
Fundação Nacional de Artes National Arts Foundation
Coordenadora Administrativa/Financeira Administrative/Financial Coordinator
Marcia Eltz
Presidente President
Produtora Executiva Executive Producer
Gotschalk da Silva Fraga
Flávia Junqueira
Diretora Executiva Executive Director
Assistente de produção Production Assistant
Myriam Lewin
Isabella Schmidt
Diretor do Centro de Artes Visuais Director of Center of Visual Arts
Assessor de Imprensa Press Officer
Francisco de Assis Chaves Bastos
(Xico Chaves)
Eduardo Souza Lima
Coordenadora do Centro de Artes Visuais Coordinator of the Center for Visual Arts
Andréa Luiza Paes
design gráfico graphic Design
Aurélio Velho e Luciana Calheiros
(Zoludesign)
Revisão e Tradução do catálogo Catalog revision and translation
Carolina Rodrigues de Mendonça
Produção e Edição do DVD DVD production and edition
Maria Flor Brazil e Claudio Tammela
(Maria Gorda Filmes)
Comissão de seleção Selection committee
Agradecimentos Acknowledgments
À equipe de gestão de patrocínio da Petrobras, em
especial, à Ana Dulce Coutinho, à Marise Lopes,
à Janice Morais, à Maura Torres, à Mônica Pereira,
à Luisa Barros, às instituições parceiras e a todos
que contribuíram para a realização deste projeto.
Adolfo Montejo
Alberto Saraiva
Cristiana Tejo
Elyeser Szturm
Ubiraélcio Malheiros
O Programa Conexão Artes Visuais MinC/Funarte/Petrobras possibilitou
a artistas, curadores, pesquisadores, educadores e espectadores participar
de uma extensa rede de troca de ideias e experiências no campo das artes
visuais. O programa realizado pela Funarte com patrocínio da Petrobras, por
meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura, já se disseminou por todo o Brasil,
alcançando grandes centros urbanos e municípios menores. Vinte cidades
brasileiras receberam exposições, intervenções artísticas, oficinas e debates.
Além disso, publicações de livros, catálogos
e websites reuniram textos, imagens
The Conexão Artes Visuais program enabled artists,
e acervos artísticos de forma a fomentar
curators, researchers, educators and spectators
a documentação e a reflexão.
participate in an extensive network of exchange
Esse conjunto reflete a diversidade de
linguagens hoje presente nas artes visuais,
da fotografia ao grafite, da video-arte
à instalação. Os artistas e produtores
contemplados promovem eventos de caráter
performático, ações de difusão da cultura
digital e pesquisas que integram arte
e ciência, além de atividades que propiciam
a circulação de bens culturais e seus criadores
por diversas regiões do país. As ações são
of ideas and experiences in the field of visual
arts. The program conducted by Funarte sponsored
by Petrobras, by means of the Federal Law for the
Encouragement of Culture, has spread throughout
Brazil, reaching large urban centers and smaller
cities. Twenty Brazilian cities have received
exhibitions, artistic interventions, workshops and
debates. In addition, publications of books, catalogs
and websites have gathered texts, images and
collections in order to foster artistic documentation
and reflection.
This collection reflects the diversity of languages
currently present in the visual arts, from photography
to graphite, from the video-art to installation.
Contemplated artists and producers promote
performative events, diffusion actions of digital culture
and research that integrate art and science, as well as
activities that provide the circulation of cultural goods
and their creators for various regions of the country.
The actions are registered by tenderers in texts, photos
and videos. This material supplies the site of Conexão
registradas pelos proponentes em textos, fotos e vídeos. Esse material abastece
o site do programa Conexão Artes Visuais e serve de base para a produção
do catálogo e DVD de forma a atingir um público mais diversificado.
Conexão Artes Visuais tem permitido à Funarte e ao Ministério da Cultura
fomentar a rede produtiva em seus principais elos – produção artística, formação
de público, qualificação do artista, pesquisa e preservação da memória. Obras
de arte, reflexão e técnicas de expressão têm chegado a comunidades afastadas
dos grandes centros urbanos, levando
Artes Visuais program and serves as the basis for the
a diversos segmentos da população o acesso
production of the catalog in order to reach a more
à cultura, o que é fundamental para o exercício
diverse audience.
pleno da cidadania. A Funarte tem o orgulho
de anunciar que muitos desses projetos geraram
The Conexão Artes Visuais program has allowed Funarte
frutos que continuarão a difundir as artes
and the Ministry of Culture to promote the production
visuais nos locais que os sediaram.
network in their main links – artistic production,
formation of the audience, artist qualification, research
and preservation of memory. Art works, reflection
and expression techniques have reached communities
Gotschalk da Silva Fraga
Presidente da Funarte
president of funarte
away from the large urban centers, leading to various
segments of the population access to culture, which
is essential for the full exercise of citizenship. Funarte
is proud to announce that many of these projects have
generated fruit that will continue to spread the visual
arts in sites that hosted.
Concebido para complementar e ampliar as diversas ações promovidas pelo
Centro de Artes Visuais, o programa Conexão Artes Visuais MinC/Funarte/
Petrobras chega a sua 3ª edição incorporando mais propostas, linguagens
e reflexões em um segmento em permanente expansão. O programa deixa
sua contribuição ao estimular modelos de intercâmbio articulados por seus
próprios componentes e o registro de imagens, textos e experimentações.
Dessa forma, cumpre seu papel de fomentar as artes visuais, mapeando
e preenchendo espaços livres no campo da
produção artística por meio de processos
Designed to complement and expand the various
criativos, pensamento crítico, educação,
actions taken by the Center of Visual Arts, the
formação de público, e intercomunicação
Conexão Artes Visuais MinC/Funarte/Petrobras
entre profissionais e instituições culturais
program reaches its 3rd edition incorporating
regionais e dos grandes centros urbanos.
more proposals, languages and reflections in an
O Conexão Artes Visuais desempenha
o papel de manter essa articulação, além
de aprofundar práticas artísticas e debates
conceituais sobre a arte contemporânea
e seu potencial agregador, multidisciplinar
e diversificado. Com isso, constitui-se
como um catalizador de trocas de ideias
e experiências vitais para o desenvolvimento
ever-expanding segment. The program makes
a contribution to stimulating exchange models
articulated by its own components and record images,
texts and experimentation. Thus, fulfills its role
of promoting the visual arts, mapping and filling
spaces in the field of artistic production with creative
processes, critical thinking, education, public training,
and intercommunication between professionals and
cultural institutions of regional and urban centers.
The Conexão Artes Visuais program plays the role
of maintaining this articulation, besides deepening
art practices and conceptual debates on contemporary
art and its aggregator, multidisciplinary and
diverse potential. Thus, the program is a catalyst
for the exchange of ideas and essential experiences
to the development of arts in the country. Sponsored
by Petrobras, it acquired a national dimension,
maintaining its presence in the capitals and reaching
cities that remained on the margins of artistic
das artes no país. Patrocinado pela Petrobras, adquiriu uma dimensão
nacional, mantendo sua presença nas capitais e atingindo municípios que
permaneciam à margem da produção artística, apoiando ações e atividades
de forma a revelar novos artistas e restabelecer o diálogo entre tendências
diversas por meio de exposições, publicações de livros, catálogos e websites,
documentários, oficinas, intervenções, festivais, coletivos, acervos artísticos
e inovações no campo das artes visuais.
O programa Conexão Artes Visuais
demonstrou ainda que as artes visuais, por
sua natureza múltipla, também incorpora,
em um mesmo processo, as tradições
populares e a contemporaneidade que
estão presentes em todo o nosso cotidiano.
Além disso, incluiu as ferramentas
tecnológicas disponíveis hoje, o que
possibilitou o estreitamento de fronteiras
transdisciplinares, fazendo com que a arte
contemporânea tivesse visibilidade em
múltiplos espaços e lugares, e pudesse
influenciar na formação artística,
redimensionar modelos educativos, refletir
production, supporting actions and activities so
as to reveal new artists and reestablish the dialogue
between different trends by exhibitions, publications
nossa realidade social, despertar o pensamento crítico e possibilitar o acesso
público a formas de expressão não convencionais, sem excluir as que já estão
consolidadas – da fotografia à instalações, do texto crítico ao didático –
lançando mão de todas as formas de produzir arte.
O programa Conexão Artes Visuais tem como objetivo ainda ampliar
a percepção e sensibilizar uma grande quantidade de pessoas que
consideravam essas formas de produzir arte herméticas ou como puramente
exercício da imaginação, o que legitima
The Conexão Artes Visuais program aims to further
sua função de transformação sociocultural
expand awareness and sensitize a lot of people who
e sua contribuição para o desenvolvimento
considered these forms of art production as purely
de outros campos da atividade profissional.
of books, catalogs and websites, documentaries,
hermetic or an exercise of the imagination, which
workshops, interventions, festivals, collective
legitimizes its role of social and cultural transformation
exhibitions, art collections and innovations in the
and its contribution to the development of other fields
field of visual arts.
The Conexão Artes Visuais program has demonstrated
that the visual arts, by its multiple nature, also
incorporates, in a single process, the folk traditions
and the contemporaneity that are present throughout
our daily lives. Additionally, the program has
included the technological tools that are available
today, allowing the narrowing of disciplinary
boundaries; thereat, making contemporary art had
visibility into multiple spaces and places, and could
influence the artistic training, resize educational
models, reflect our social reality, awake the critical
thinking and allow public access to unconventional
forms of expression, without excluding those already
consolidated – from photography to installations,
from critical text to textbook – using all forms
of making art.
Xico Chaves
Diretor do Centro de Artes Visuais da Funarte
Director of Center of Visual Arts of Funarte
of professional activity.
A Petrobras foi patrocinadora de grandes exposições internacionais que,
realizadas em sequência em meados dos anos 90, estimularam a relação de
instituições brasileiras com o público e incentivaram, de forma significativa,
a produção cultural e a inclusão do país em roteiros de importantes mostras,
ampliando o intercâmbio e a visibilidade para a arte produzida no Brasil.
A partir do ano 2000, a companhia desenvolveu e realizou uma série
de editais para seleção de projetos voltados à arte contemporânea brasileira,
viabilizando exposições, publicações
de referência e também aquisição de obras
Petrobras was a sponsor of major international
para acervos de museus, entre outras ações.
exhibitions held in sequence in the mid 90s that
Por meio das edições anteriores do programa
Conexão Artes Visuais MinC/Funarte/
Petrobras, foi possível a produção de
65 projetos de artes visuais e 500 ações
gratuitas, além de um público direto
e indireto de mais 4 milhões de pessoas.
E agora, mais uma vez, a Petrobras viabilizou
a proposta do Conexão, que, em sua terceira
edição, vem reforçar e ampliar experiências
e diálogos a partir de práticas artísticas
inseridas na cultura contemporânea.
stimulated the relationship between Brazilian
institutions and audience, and encouraged significantly
the cultural production and the inclusion of the country
in roadmaps of important exhibitions, expanding the
exchange and visibility to the art produced in Brazil.
From the year 2000, the company has developed and
conducted a series of edicts to select projects focused
on contemporary Brazilian art, enabling exhibitions,
reference works and also acquisition of museum
collections, among other actions.
By means of previous editions of Conexão Artes Visuais
MinC/Funarte/Petrobras program, it was possible
to produce 65 visual arts projects and 500 free shares,
plus a direct and indirect audience of over 4 million
people. And now, once again, Petrobras allowed the
proposal of the Conexão Artes Visuais MinC/Funarte/
Petrobras program, which, in its third edition, will
strengthen and broaden experiences and dialogues from
artistic practices embedded in contemporary culture.
The idea remains the same, i.e, we want to provide
to the artists, curators, researchers, managers,
A ideia se mantém, ou seja, queremos propiciar a artistas, curadores,
pesquisadores, gestores, públicos e a todos os interessados nas artes visuais
um espaço para a troca de ideias e o intercâmbio de experiências. Dessa
forma, possibilitamos uma visão ampla das artes visuais em nosso país e,
com isso, compreendemos a diversidade de segmentos, linguagens e discursos
em que se expressa a alta criatividade de nossos artistas.
Ao concretizar o Conexão Artes Visuais, nesta importante parceria com
a Funarte e o Ministério da Cultura,
audiences and all interested people in the visual
a Petrobras busca integrar seu conjunto
arts a space for the exchange of ideas and sharing
de patrocínios no segmento das artes
of experiences. Thus, we enable a broad overview of the
visuais. Isso se configura em uma expressiva
visual arts in our country and, therefore, understand
atuação que desenvolve atualmente projetos
the diversity of segments, languages and discourses
de continuidade, como a manutenção
which expresses the high creativity of our artists.
do MAM Rio e a Bienal de São Paulo, além
da promoção de seleções públicas para novos
When Petrobras materializes the Conexão Artes
projetos de “Circulação de Exposições” e de
Visuais, in this important partnership with the
“Memória das Artes” por meio do Programa
Ministry of Culture and FUNARTE, Petrobras seeks
Petrobras Cultural.
to integrate its whole sponsorship segment of the
visual arts. This is configured in an impressive
performance that currently develops continued
projects, as maintenance of MAM Rio and Bienal
de São Paulo, as well as promoting public screenings
for “Outstanding Exhibition” and “Memory of Art”
new projects with Petrobras Cultural program.
44
ARQUIVO EXO EXPERIMENTAL ORG.
52
ARTE E ESTADO: POSSÍVEIS RELAÇÕES
ENTRE O SISTEMA DAS ARTES
E AS POLÍTICAS CULTURAIS NO PERÍODO
DA DITADURA CIVIL-MILITAR BRASILEIRA
60
ASSIM QUE FOR EDITADO, LHE ENVIO
68
CICLO DE DEBATES E PALESTRAS – ARTE,
SEXO E SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA
BRASILEIRA
20
9º colóquio de fotografia
e imagem: autografias 28
II salão xumucuís de arte digital:
@amazônia artemídia
36
AMAZÔNIA, LUGAR DA EXPERIÊNCIA
– PROCESSOS ARTÍSTICOS NA
REGIÃO NORTE DENTRO DA COLEÇÃO
AMAZONIANA DE ARTE DA UFPA
76
DERIVAS E MEMÓRIAS CONTEMPORÂNEAS
NA PIXAÇÃO
84
JOSÉ SIMEÃO LEAL – GESTÃO E
MANUTENÇÃO DE ACERVOS E ARQUIVOS
EM ARTES VISUAIS
92
JULIO PLAZA – O POÉTICO E O POLÍTICO
100
MERGULHOS POÉTICOS: DEBATES
SOBRE INSERÇÕES DOS ARTISTAS
CONTEMPORÂNEOS BRASILEIROS
108
OFICINA MODOS DE GESTÃO COLETIVA
E PRODUÇÃO CULTURAL
116
ONDAS CURTAS
124
PESQUISA & MAPEAMENTO SONORO
DO VALE DO CATIMBAU
132
PLUVIAL FLUVIAL
140
RECIBO – 10 ANOS
148
SARCÓFAGO – SITE SPECIFIC
156
SEMINÁRIO CAMPO EXPANDIDO:
A CONVERGÊNCIA DAS IMAGENS
164
TERRA UNA – HABITAT
172
XEQUE-MATE: UM SÉCULO
DE READY‑MADE 1913-2013
182
números do conexão
m:
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Palestras, oficinas e projetos expositivos
voltados para a difusão e o diálogo sobre
o pensamento fotográfico
Belém/PA
Junho de 2013
Em 2013, a 9ª edição do Colóquio Fotografia e Imagem
estabeleceu espaços de reflexão e diálogo sobre a ideia
de autoria no fotográfico. O encontro entre pesquisa
e produção fotográfica foi pensado a partir das autografias
– formato de reflexão e diálogo desenvolvido pelo grupo
FotoPará na década de 1980, em Belém.
A mesa-redonda Belém e a fotografia nos anos 80: relatos
e questões abriu o Colóquio com uma memória não apenas
das autografias mas do contexto de formação de núcleos
que emergiam a partir do encontro entre a vontade coletiva
de produzir, pesquisar e difundir fotografia. Mariano Klautau
Filho expôs as primeiras questões de uma pesquisa em
desenvolvimento sobre a atuação dos núcleos, destacando
a singularidade da fisionomia intelectual e política do grupo
FotoPará, que, com ações como as autografias, mostras
e jornadas fotográficas, já apontava para a valorização do
estudo da fotografia em sua perspectiva histórica e autoral.
Luiz Braga e Patrick Pardini compartilharam, como
fundadores do grupo FotoPará, relatos e imagens dos projetos
e das ações do grupo.
A autografia 01 Fotografia
e autoria, apresentada por
Patrick Pardini, abordou a
criação em fotografia como
experiência de não autoria,
analisando questões de um
corpo de obras de Hippolyte
In 2013, the 9th edition of the Colóquio Fotografia
e Imagem established spaces for reflection and dialogue
on the idea of authorship in photographic. The meeting
between research and photographic production
was conceived from the autographs, a format for
reflection and dialogue developed by FotoPará group
in 1980, in Belém. In four days of programming,
the meeting spaces of the project moved the memory
of the photographic scene in Belém, some reflections
on authorship and new expressions of production
and research in photography.
22
conexão artes visuais
Bayard, Eugène Atget, August Sander e Anna Mariani –
o fotógrafo e pesquisador situou o ato de criar em um
movimento de deslocamento entre identidade e alteridade.
A bela imagem trabalhada por Pardini sobre a experiência
de desautoria na criação nos oferece uma exposição de parte
da estrutura de pensamento que o acompanha na relação
com os sujeitos de sua própria obra fotográfica – a fisionomia
do homem e da paisagem amazônica.
Nas autografias apresentadas por Alexandre Belém e Alexandre
Sequeira, foram abordados Rogério Reis e Rodrigo Braga, artistas
brasileiros de diferentes gerações que possuem relação de afeto e
reconhecimento do valor estético dos trabalhos para a fotografia
contemporânea. Belém expôs a diversidade do repertório de
imagens da obra de Rogério Reis, que vai do fotojornalismo
a fotografias com proposições estéticas contemporâneas. Na
fala de Alexandre Sequeira, a densidade conceitual e poética
das ações performativas realizadas por Rodrigo Braga em suas
fotografias foi apresentada com a sensibilidade de quem vivencia
também em seu processo de criação artística o encontro entre
ética e estética na relação entre arte e vida.
9º colóquio fotografia e imagem: autografias
23
24
conexão artes visuais
Mariano Klautau Filho e João Castilho apresentaram autores
pesquisados a partir de estudos acadêmicos. Klautau Filho
adaptou para o formato autografia as análises que vem
elaborando no doutorado sobre a importância de três livros
de Miguel Rio Branco para a concepção de séries fotográficas
como narrativas complexas entre o documento e a produção
de sentido estético. João Castilho apresentou, pela primeira
vez, fora da universidade, o estudo desenvolvido em uma
dissertação de mestrado sobre a obra de Robert Smithson,
em que explora o alcance do conceito de entropia nas
proposições estéticas do artista americano.
Parte da programação buscou
contribuir com proposições
em pesquisa, produção
e difusão em fotografia.
Nesse caminho, tanto o
workshop Fotografia na arte
contemporânea, ministrado
por João Castilho, quanto
as leituras de portfólio
realizadas por Alexandre
Belém e Mariano Klautau
foram espaços onde o
diálogo esteve direcionado
ao compartilhamento de
referências e críticas a
trabalhos em curso nas
artes visuais a partir
do fotográfico.
Na mesa de encerramento, as experiências de Alexandre
Belém como editor e crítico de fotografia por meio do blog
Olhavê em diálogo com o processo de produção de uma série
de João Castilho trouxeram particularidades do processo de
difusão de pesquisa e produção fotográficas no campo da
imagem digital veiculada em espaços virtuais.
O site do projeto continuará realizando a memória e
estimulando debates por meio de vídeos, postagens de
cobertura, artigos e mostras do acervo da Fotoativa. Com isso,
contribui como mais uma base de informações e imagens cada
vez mais acessíveis e volumosas na web, no entanto, gerada
a partir do encontro, ativador da potência da imagem como
pensamento e expressão.
9º colóquio fotografia e imagem: autografias
25
26
conexão artes visuais
Cobertura audiovisual
CêsBixo Coletivo Multimídia
Cobertura fotográfica
Irene Almeida
Cinthya Marques
Agência Cidadã de Comunicação/UFPA
Identidade visual
Coordenação
Ovelha Negra
Ionaldo Rodrigues
Programação do site
Produção
V2 Interativa
Irene Almeida
Equipe SESC Boulevard
Financeiro
Comunicação
José Maria Vilhena
Paula Sampaio
Suelen Silva
Brenda Taketa
Tarcísio Macedo, Ana Lídia Vieira, Cleyton Silva
(Agência Cidadã de Comunicação/UFPA)
www.fotoativa.org.br
Wagner Okasaki
9º colóquio fotografia e imagem: autografias
27
@mazônia media art was the theme of the II Salão
Xumucuís de Arte Digital, a pioneer in the state of Pará
:
DIGITAL
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DE ARTE
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S
Í
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ÍDIA XUMU
ARTEM
II SALÃO
ÔNIA
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@MA
re
Qua
Salão de arte digital com o tema
@mazônia artemídia
Belém/PA
Março a maio de 2013
in the promotion of the visual arts in its technological
interface. There we discussed through expository
and formative actions the new direction of digital
@mazônia artemídia foi o
art, reconfiguring the traditional environment
of exhibitions (hyper_spaces), democratizing the
tema do II Salão Xumucuís
enjoyment of art and promoting and disseminating
de Arte Digital, projeto
the visual arts in its technological interface. It was
pioneiro no Estado do
an experimental project that unfolds into possibilities,
Pará no fomento e na
consolidating itself as a reference in the North,
difusão da arte em sua
nationwide, in the dissemination and discussion
interface tecnológica,
of contemporary media art.
onde discutimos, por meio
de exposições e ações
formativas, os novos rumos da arte digital na Amazônia.
O Salão Xumucuís de Arte Digital foi idealizado e tem
curadoria de Ramiro Quaresma e coordenação geral de Deyse
Marinho; em sua segunda edição, premiou o trabalho de
Lea Van Steen, uma jukebox de memórias projetadas, Lucas
Gouvêa, em uma performance transmídia, e Nacho Durán,
em uma imersão de imagens interativas em 360°.
Entre os selecionados pela comissão de seleção, estão
os artistas multimídia de Santa Catarina Daniel Duda
e Bruno Costa. Os midiartistas Giulliano Giahghedu, Shima,
Eduardo Montelli e Claudia Zimmer/Fabíola Scaranto
apresentaram sua videoarte, pela primeira vez, em Belém.
Viviane Vallades, em sua Pintura em atos, uniu pintura
e performance em sua videoinstalação; já o paraense
Ramon Reis fez um diálogo entre fotografia e vídeo em
sua instalação Experimentação de vida. O artista visual
e designer Neuton Chagas, em seu díptico Somos, dialoga
com a arte abstrata em sua obra-design.
30
conexão artes visuais
HOL veio a Belém apresentar seu game art PONTO ao vivo
para os visitantes, trabalho que já rodou festivais de
arte eletrônica no mundo inteiro. Do Rio Grande do Sul
desembarcou, em Belém, o músico experimental e designer
de som Marcelo Armani, que chegou cinco dias antes da
exposição para captar sons da cidade de Belém para utilizar
em sua instalação sonora Trans (obre) por. O Coletivo
Hyenas, do Rio de Janeiro, transmitiu em streaming o live
cinema Mercúrio, diretamente do atelier deles na capital
fluminense, interagindo com o público presente na abertura
da exposição. Labirintos invisíveis, um game art de Andrei
Thomaz (SP) inspirado na literatura de Jorge Luís Borges
e a videoinstalação Reminiscências de Ellen Nunes (SP)
também fizeram parte dos trabalhos selecionados. Lucas
Gouvêa, também premiado no Salão, expôs também Diário
à deriva: mapa de um náufrago, uma web art registro
de uma viagem on the road do artista.
II salão xumucuís de arte digital
31
32
conexão artes visuais
O painel da arte digital no Brasil formado
pelos artistas selecionados se completou
com os artistas contemporâneos paraenses
convidados, com obras vigorosas em
potência imagética e desdobramentos
críticos e sociais. Daniel Zuil e Pedro Vianna
pesquisaram processos híbridos de captura
e manipulação de imagens, Armando Queiroz
juntou as pontas de seu passado e presente
em uma sobreposição de desenho e vídeo,
processo semelhante ao das fotógrafas
Débora Flor e Evna Moura, que faziam
dupla exposição em película, dois olhares
em uma imagem. Cinthya Marques e Renata Rodrigues
retrataram histórias de vida em seus projetos fotográficos;
já Orlando Maneschy e Ruma se apropriaram do digital em
suas experimentações de luz, forma e cor. O VJ Rodrigo Sabbá
transforma em pixel art a obra Xumucuís de Valdir Sarubbi.
O II Salão Xumucuís de Arte Digital – @mazônia Artemídia,
também selecionado no Edital de Pautas do Sistema Integrado
de Museus da Secretaria de Cultura e no Edital de Pautas
do CCBEU, desdobrou-se nos hiperespaços, reconfigurando o
ambiente tradicional de exposições, democratizando a fruição
da arte em espaços alternativos, fomentando e difundindo
as artes visuais em sua interface tecnológica. As ações foram
compostas por duas exposições, uma mostra de videoarte em
espaço público – videodrome – e um ciclo de falas, oficina
e mesas. Um projeto experimental que se desdobra em
possibilidades, consolidando-se como um evento referência
na Região Norte, com abrangência nacional, na difusão e na
discussão da arte contemporânea em plataforma artemídia.
II salão xumucuís de arte digital
33
34
conexão artes visuais
Idealização e curadoria
Fotografia
Ramiro Quaresma
Diogo Vianna, Antonio Rocha
Coordenação geral
Oficina de videoarte
Deyse Marinho
Sissa Aneleh
Design de exposição
Palestrantes
Deyse Marinho e Ramiro Quaresma
Gil Vieira, Thiago Azevedo e Ramiro Quaresma
membro da Comissão de seleção e premiação
Audiovisual
Roberta Carvalho
Leonardo Soares/Mosaico HD
Montagem
Tecnologia
Xumucuís, A Senda Artes Integradas,
equipe MABEU e equipe SIM
Sol Informática
Assistente multimídia
Andrei Thomaz (SP), Bruno Costa (PR), Claudia
Zimmer/Fabíola Scaranto (SC), Coletivo Hyenas
(RJ), Diogo Brozoski (RJ), Daniel Duda (PR),
Eduardo Montelli (RS), Ellen Nunes (SP), Giuliano
Giagheddu (RJ), Hol (MG), João Paulo Racy (RJ),
Junior Suci (SP), Lea Van Steen (SP), Lucas Gouvêa
(PA), Marcelo Armani (RS), Nacho Durán (GO),
Neuton Chagas (PA), Ramon Reis (PA), Shima (MG)
e Viviane Vallades (SP).
Rodrigo Sabbá
Assistente de montagem
Pedro Vianna
Assistente de produção
Narjara Oliveira
Artistas selecionados
Artistas convidados (PA)
Armando Queiroz, Cinthya Marques, Daniel Silva,
Débora Flor, Evna Moura, Orlando Maneschy, Pedro
Vianna, Renata Rodrigues, Rodrigo Sabbá, Ruma
e projeto Por uma cartografia crítica da Amazônia
Espaços ocupados
Galeria de Arte do MABEU, Salas Antônio Parreiras
e Manoel Pastana – Museu do Estado do Pará –
e Galeria Gotazkaen
www.salaoxumucuisdeartedigital.wordpress.com
II salão xumucuís de arte digital
35
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de
Publicação de reflexão crítica sobre
as obras da Coleção Amazoniana de Arte
da UFPA
Belém/PA
Julho de 2013
Ao percebermos que a Amazônia está além das imagens‑clichê
difundidas, que possui uma história intricada e uma
produção artística potente que vem aos poucos sendo
conhecida além de suas fronteiras, propusemo-nos a pensar
em uma produção que traz, em sua gênese, relações
estabelecidas no ambiente amazônico a partir de modos
empreendidos por artistas que apontam para elaboradas
construções de proximidade com esse território e que ativam
questões vinculadas à cultura, história, experiência estética
etc. Este projeto é fruto de um percurso desenhado ao longo
de anos, nos quais pesquisamos e articulamos trabalhos em
que a produção artística da região encontrava-se, de alguma
maneira, em pauta. Esses estudos viabilizaram o contato com
artistas, obras e a prática curatorial necessária para começar
a desenhar a ideia de uma coleção de arte que, estabelecida
na região, dentro de uma instituição de ensino, estivesse
em sintonia com sua missão – ensino, pesquisa e extensão –,
facultando o acesso aos conhecimentos gerados.
Nesse cenário, concebemos o projeto Amazônia, Lugar
da Experiência, que partia dos anos 1970 e vinha até
a segunda década do século
The project was a critical reflection from works that
XXI, e que pretendia reunir,
constitute the Amazoniana art collection of UFPA.
inicialmente, um grupo
The project revealed, in the form of publication,
de obras de seis artistas
a complex and large process of thinking about artistic
que realizaram projetos
and aesthetics production in the North, by presenting
significativos na região
works of artists who plunged the region alongside
em práticas que irradiam
the ideas of researchers and critics who cast their gaze
o pensamento e rearticulam
upon established routes and experiences the Amazonian
environment. Putting in joint bids where ethics comes
transformers creation processes settling here, seems
a path to deepen the thinking artistic production
in the Amazon.
38
conexão artes visuais
o político por meio da arte, instaurando um posicionamento
ético e estético. Em 2012, esse projeto foi contemplado
com o Prêmio de Artes Plásticas Marcantonio Vilaça/Prêmio
Procultura de Artes Visuais. Com a grande receptividade
obtida, formatamos o projeto para o edital de Circulação |
Mediação do Instituto de Arte do Pará – IAP – 2012, que
também foi aprovado. Dessa forma, pudemos ampliar o raio
de ação de Amazônia, Lugar da Experiência, agregando
um número maior de obras, construindo um site na internet
(www.experienciamazonia.org), realizando duas exposições,
uma mostra de cinema e intervenções urbanas, bem como
articulando o ciclo de Seminários Conversações, entre outubro
de 2012 e fevereiro de 2013, na cidade de Belém – tudo isso
estimulando o acesso, o debate e o pensamento crítico acerca
do que se realiza em termos de arte na Amazônia.
amazônia, lugar da experiência
39
40
conexão artes visuais
Como consequência disso, a Coleção Amazoniana
de Arte da UFPA passou a refletir não apenas um desejo
individual mas também a construção coletiva de um
espaço de referência que problematize o ambiente
amazônico a partir de dinâmicas relacionais que emergem
de processos de alteridade transformadora. Esse jogo
de forças e posicionamentos políticos assumidos se faz
presente no próprio nome da coleção. Ao adotarmos
o Amazoniana, há uma crítica ao exotismo de outrora que
direcionou a constituição de várias coleções brasilianas.
Longe de se estabelecer como simples colecionismo ou um
gabinete de curiosidades, a Coleção pretende-se distinguir
também por não agregar toda e qualquer produção artística
constituída sobre a Amazônia. Reunimos, isso sim, obras em
que artistas, da região ou de fora, projetam suas vivências
no lugar, materializando-as em forma de arte, geradas na
dimensão do encontro com a região, revelando múltiplas
Amazônias – mas com um posicionamento ético diante do que
se vê. Buscamos, com a constituição do livro Amazônia, Lugar
da Experiência – Processos Artísticos na Região Norte dentro
da Coleção Amazoniana de Arte da UFPA –, contemplado com
o edital Conexão Artes Visuais, dar a luz a esse percurso que
consolida a inflexão, o mergulho, a diferença no movimento
do encontro nos diálogos estabelecidos com o outro ao
materializar um complexo e amplo processo de reflexão
acerca da produção artística e estética na região Norte. Esse
movimento, por sua vez, é realizado com a certeza de pôr em
articulação propostas em que a ética acompanha processos
de criação transformadores que estabelece-se aqui, no coração
da Amazônia, como campo de constituição de possibilidades
de mudanças a partir de algo que nos é tão próximo
e ao mesmo tempo parece ser tão distante – nós mesmos.
amazônia, lugar da experiência
41
42
conexão artes visuais
Coordenação editorial
Orlando Maneschy
Coordenação de produção
Keyla Sobral
Direção de arte
Orlando Maneschy e Keyla Sobral
Projeto gráfico e tratamento de imagem
Ricardo Ono
Revisão de texto
Fernando Júnior
Fotografias
Lazuli Fotografia
www.experienciamazonia.org/site
amazônia, lugar da experiência
43
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Exo re
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Or
Plataforma autônoma de investigação
e ativação de práticas estéticas
contemporâneas relacionadas ao contexto
sociopolítico brasileiro
São Paulo/SP
Julho de 2013
O Arquivo Exo reúne os projetos, as residências artísticas
e os eventos realizados por/com a Exo Experimental Org.,
que é uma plataforma de investigação de práticas estéticas
contemporâneas relacionadas ao contexto sociopolítico
brasileiro entre 2002 e 2007, tendo a metrópole de São Paulo
como epicentro. Com uma infraestrutura mínima e flexível,
articulou-se em rede com diversos agentes e diversas
organizações brasileiras e internacionais para colaborações
de médio e longo prazos, criando um espaço de encontro
e troca de conhecimentos e experiências entre o artista,
o urbanista, o pesquisador e outros. O site arquivoexo.org
contribui para a reflexão crítica de iniciativas autônomas
similares no Brasil e fomenta a pesquisa e o diálogo
ao convidar novos colaboradores a atualizarem questões
dos projetos da Exo, na interseção entre agenciamentos
e práticas artísticas, vozes e memórias.
Marcio Harum focou no programa de residência artística
no edifício Copan, entre 2003 e 2006. Foram quase trinta
artistas e autores de diversos países com uma perspectiva
urbanística e o estímulo a pesquisas de campo. Para Harum,
“além da Exo ter fundado
The Exo File articulates projects, debates,
novos lugares de
artistic residencies, activities and events held
pensamento e novas formas
by or with the Experimental Exo Org. (2002-07)
de investigação em contato
– an independent platform of investigation and
e ao redor do espectro de
activation of contemporary aesthetic practices
atividades desenvolvidas
related to the sociopolitical context of Brazil, with
a partir de seu endereço
the metropolis of São Paulo as the epicenter. This
físico, fez gerar visibilidade
website‑file (www.arquivoexo.org) seeks to contribute
to the questioning of similar initiatives in Brazil
when it invites employees to update and expand these
projects issues at the intersection between artistic
practices and assemblages.
46
conexão artes visuais
a manifestações; e a outros circuitos possíveis, que ecoam
sem dúvida, até o presente momento.”
As ações da Exo foram geradas a partir do Copan, projeto do
arquiteto Oscar Niemeyer, edifício ícone de São Paulo por
sua presença pujante na paisagem e na revolução nos modos
de morar. Diego Matos propõe “tecer uma rede de relações
possíveis que permanecem soltas, entre uma herança
histórica de nossa produção cultural e a retomada de um
pensamento experimental” a partir da congruência entre
o projeto São Paulo S.A. – práticas estéticas, sociais e políticas
em debate (2002-2007) e a exposição Da próxima vez eu fazia
tudo diferente (2012) de sua curadoria. Realizada no mesmo
lugar do Copan, seu título provém do filme Documentário
de Sganzerla, apontando para um permanente recomeço.
Com a obra O quarto da Vanda, do cineasta Pedro Costa,
na exposição A respeito de SITUAÇÕES REAIS (Paço das Artes,
SP, 2003) sobre práticas documentárias, produzida pela Exo,
Raquel Garbelotti reflete sobre o que ela nomeia filme instalado
arquivo exo experimental org.
47
48
conexão artes visuais
Catalisadas pelo projeto África Mundos – resistências
contemporâneas (2004), em torno do dissidente social
e político nigeriano, criador do afrobeat Fela Anikulapo Kuti,
Marta Mestre indaga sobre outras formas de narração da
África para além dos lugares comuns e do desconhecimento,
e “lança três ideias-chave para futuros desdobramentos
do projeto Exo, tendo em conta sua natureza de rede
virtual – arquivo aberto, criticismo e espaço público”.
E provoca – “cabe aqui questionar de que forma [as culturas
africanas, afrodescendentes e diásporas] inscrevem um tipo
de ‘urbanismo’ que pode ser lido no tecido social e cultural
da sociedade, engajando os cidadãos na construção coletiva
da alteridade e da diferença?”
A elaboração do arquivo Exo, em diálogo estreito entre
as editoras, com distanciamento ativo para eleger
o que tem relevância pública, e as interlocuções com
os ensaístas convidados, desdobra novos
questionamentos sobre quais práticas
artísticas e agenciamentos são desejáveis
no Brasil hoje. A que arquivos e imaginários
nos remetemos? Em que pontos estamos
permanentemente recomeçando?
– “a passagem de uma produção fílmica para a instalativa”
–, considerando suas especificidades. Pedro Costa transita
entre o documentário e a ficção, sobre a condição de construir
outras narrativas, reverberando diretamente na situação atual
no Brasil. O País e São Paulo mudaram muito na última década
e os protestos de 2013 – com produções de subjetividades novas
– somente vêm a reforçar o momento de inflexão histórica
em que estamos vivendo, desestabilizando nossas referências
e nossos parâmetros para pensar e atuar na cidade.
arquivo exo experimental org.
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50
conexão artes visuais
Organização
Ligia Nobre e Luiza Proença
Design gráfico
Eduardo Foresti
Programação do website
Bruno Favaretto
Ensaístas convidados
Marcio Harum, Marta Mestre,
Diego Matos e Raquel Garbelotti
Comunicação
Fred Itioka e Nelson Plus
www.arquivoexo.org
arquivo exo experimental org.
51
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cu il-m
civ
Ciclo de debates em torno da atuação
e produção de diversos artistas durante
o período militar brasileiro
São Paulo/SP
Junho de 2013
The project proposed to discuss the relation between
the visual arts and the authoritarian state, with
emphasis on the Brazilian dictatorship. The aim was
to deepen and reevaluate certain statements that
relate contemporary art and its agents to civil-military
dictatorship in Brazil, specifically to public policies
Durante a ditadura
of cultural promotion and diffusion that were practiced
in 1964-1985 and to the appropriation of the memory
civil‑militar brasileira
of those years as a central theme of contemporary
(1964-1985), aliada
poetics, in order to update the discussion on the
a uma vertiginosa
relation that visual arts keep with the Brazilian state
institucionalização
since the establishment of the dictatorship until today.
e reorganização da área
cultural, observa-se
uma crescente participação de artistas nos quadros funcionais
do Estado, bem como a realização de diversas ações artísticas
por meio da benesse estatal.
Essa configuração continua sendo explicada, na maioria
das vezes, por meio da polaridade resistência-cooptação,
fornecendo uma análise superficial de um processo
complexo e contraditório envolvendo os artistas e o Estado
em um período em que uma parte significativa da cultura
de oposição foi apoiada pela política cultural do regime sem,
no entanto, sucumbir a sua ideologia.
Diante da necessidade de reavaliar, aprofundar e atualizar
essa discussão, foi realizado esse ciclo de debates, que
teve por objetivo aprofundar e reavaliar certas asserções
que relacionam a arte contemporânea e seus agentes
à ditadura civil-militar brasileira, especificamente às
políticas públicas de fomento e difusão cultural praticadas
de 1964 a 1985 e à apropriação da memória desses anos
como tema central de poéticas contemporâneas. Para
tanto, foram realizadas quatro mesas-redondas que, além
de darem visibilidade às reflexões de jovens pesquisadores
54
conexão artes visuais
Janaína André e Marta Penner, o artista GOTO (integrante
dos Coletivos EPA e E/Ou), o artista Sebastião Oliveira
Neto (integrante do grupo OCUPEACIDADE), e as artistas
e pesquisadoras Gabriela Leirias (USP) e María Inígo
Clavo (Espanha).
No penúltimo dia, foi abordada a relação entre arte,
ditadura e feminismo por meio de indagações acerca
da contribuição da arte feminista e queer para
o estreitamento das relações entre arte e política
a partir do final da década de 1960 no Brasil. Abordando
os temas da representatividade, da representação e da
autorrepresentação, os debates apresentados abarcaram
múltiplos aportes das proposições artísticas feministas
realizadas por mulheres, levando-se em consideração
as transformações do sistema da arte e atentando
para seus potenciais desestabilizadores dos valores
e fomentarem o diálogo entre pesquisadores e artistas
de diferentes gerações, abordaram as relações entre o
estado autoritário e o sistema das artes no Brasil. A mesa
O Artista e o Estado Autoritário, composta por Marcos
Napolitano (USP), Paulo Bruscky (PE) e Dária Jaremtchuk
(USP), aprofundou a discussão em torno da complexa e
contraditória relação que diversos artistas, apesar de
não sucumbirem a sua ideologia, estabeleceram com
o estado autoritário brasileiro. Em Produção Artística
e o Estado Autoritário, o desafio foi pensar sobre como
as transformações instauradas pela arte experimental
brasileira durante o regime militar foram tensionadas por
uma vertente de coletivos artísticos que surgiram após
a abertura política, culminando com uma prática/produção
na qual ativismo político/social e arte não se dissociam.
Para pensar essa questão, foram convidados o Coletivo
de Arte ENTORNO (Brasília), representado pelas artistas
arte e estado
55
56
conexão artes visuais
heteronormativos. Para incitar os debates acerca dessas
questões, foram convidadas as pesquisadoras e artistas
Rosa Blanca (FEEVALE), Lina Arruda e Ana Paula Simioni
(ambas da USP). Encerrando, a mesa Arte Contemporânea
e o Estado Autoritário problematizou a retomada, a partir
da década de 1990, de produções contemporâneas que têm,
nas memórias relacionadas às ditaduras latino-americanas,
a temática central de seus trabalhos. Como a arte
contemporânea aborda as memórias deflagradas por um
estado de exceção, por vezes de caráter hediondo, na esfera
pública? Para o debate, foram convidadas Nadia Carolina
Golder, do Grupo de Arte
Callejero (Buenos Aires),
Fulvia Molina (SP) e Vivian
Braga (USP).
Por fim, espera-se que
as reflexões e ideias
promovidas por esse ciclo
de debates encontrem
ressonâncias nos jovens
pesquisadores e artistas
brasileiros.
arte e estado
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58
conexão artes visuais
Concepção, coordenação, mediação
e conteúdo para redes sociais
Fabrícia Jordão
Produção, design, assessoria de imprensa
Lilian Queiroz
Assistente de produção
Tatiana Rodrigues
Conteúdo para redes sociais
Ana Clara Jabur
www.arteestado.com.br
do,
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t
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ed
for el Zózimo
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A
env
e
h
l
Publicação de escritos de artistas sobre
questões que derivam do campo da arte,
articulando-as com outros campos
de conhecimento
São Paulo/SP, Santa Maria/RS e Recife/PE
Junho e julho de 2013
Ao longo do século passado, pudemos observar a formação
de uma genealogia dos escritos de artistas que se forma por meio
de inúmeras disciplinas que tentam analisar a produção textual
encampada por esses agentes do campo, seja pela crítica genética,
seja por outras disciplinas que estudam tais produções. E, nas
últimas décadas, pudemos observar a configuração de abordagens
científicas mais densas sobre aquilo que chamamos de escritos
de artistas. Trata-se de uma tentativa de abrir infinitos caminhos
sobre uma produção subjetiva que pode (ou não) nos aproximar
das primeiras camadas de um trabalho artístico.
Aqui é a voz do autor que está em questão, pensando diretamente
em sua poética, falando de suas intenções, explicitando seus
interesses pessoais, abrindo clareiras de luz ou tornando mais
obscura e, portanto, mais complexa a relação imediata que
podemos ter com qualquer processo inventivo no campo artístico.
Poesia, literatura, ciência, política, filosofia, música,
cinema, educação, urbanismo, economia, arqueologia, clima,
botânica, sexo, física, sonho, geometria, gastronomia,
arquitetura, utopia, geografia, biologia e tantos outros
assuntos ou questões – que não lembro agora – interessam
aos artistas, apesar
de muitos não dominarem
Assim que for editado, lhe envio, a Michel Zózimo’s
ou ignorarem que tais
project, groups seven written Brazilian artists:
esferas do pensamento
Alessandra Giovanella, Cristina Ribas, Cristiano
humano necessitam
Lenhardt, Fernanda Gassen, Jonathan de Andrade,
de saberes específicos para
Leticia Ramos and Luis Roque. This book brings
serem discutidas.
together texts from different lineages, wherein writing
is thinking, designing or intuiting invention processes
in art. While some people write letters or music lyrics
or film scripts, others report their actions, such as
an expedition to the North Pole, a wagon race, some
notes on draft state or experiences with education.
62
conexão artes visuais
Necessitariam mesmo?
Tenho dúvidas...
Em certos casos, prospectados pela circunstância de urgência,
alguns escritos de artistas figuram projetos expositivos,
declarações públicas, cartas, materiais de catálogos, relatos,
descrições, publicações, entre outras formas textuais.
Muitas vezes, a loucura do verbo constrói-se antecipando
seus projetos. Em outros momentos, o texto brota lúcido
do trabalho, como inço.
Dessa forma, a invenção da escrita também está ligada
à vida, porque é ela que sempre importa. Em alguns escritos
de artista, encontramos distintas vozes, provavelmente
dirigidas a diferentes personas – outros artistas, críticos,
público, amigos, conhecidos e instituições, entre outras
figuras do campo. Ou não encontramos nada disso.
Eles estão apenas escrevendo sobre outras coisas, aqueles
detalhes que são invisíveis, muito pequenos, inexistentes.
Enquanto alguns fazem ficção, outros recusam-se em esquecer
do plano real. Há também aqueles que escrevem sobre outras
áreas, apesar de pouco conhecê-las.
Em determinados contextos, os artistas não necessitam
dominar as coisas para poderem escrever sobre elas.
A invenção autoriza o equívoco, fazendo dele um ruído
de certeza. Por não entenderem de métrica, descontroem
a poesia. Falando de ciência, proferem absurdos, talvez
porque intuem a ciência como literatura. Tornam-se sujeitos
políticos porque, naturalmente, pensam o mundo. Ao mesmo
tempo, mostram-se desinteressados por esse lugar. Logo,
habitam as finas camadas de uma consciência fora do plano.
assim que for editado, lhe envio
63
64
conexão artes visuais
A história nos mostra que a crítica pode ser construída
dessa forma também. De um modo incerto e torto, em que
a pesquisa deriva do falível, podemos encontrar materiais
textuais que refletem sobre o presente ou que apontam sua
lança para o futuro. Desse modo, a ideia de pesquisa deve ser
expandida, como uma extensão do pensamento, tornando‑se
ação efetiva no plano dos possíveis. Tal constatação pode
servir para pensarmos na fala do artista, em estado de grito
ou em off. Tornada letra, a voz do artista transforma-se
em máquina de guerra, projétil e escudo.
Não se trata apenas de observar os escritos de artista como
material de estudo ou como plataforma de análise de suas
poéticas – tão caros para a crítica genética ou tão frágeis para
outras esferas da arte. Frágeis por não provirem de uma única
família, por serem pessoais, por lidarem com afetos, por não
terem compromisso, por não
prestarem serviços a alguém,
por não ocuparem um único
lugar, por serem questionáveis
e por tantas outras
características do inexato.
Estranhamente, essas
parecem ser as mesmas
qualidades que podem
tornar potente todo material
escrito por um pensamento
que nasce no interior da
arte. Tudo aquilo que pode
ser fantástico, mesmo não
sendo notável.
assim que for editado, lhe envio
65
66
conexão artes visuais
Organizador
Michel Zózimo
Autores
Alessandra Giovanella, Cristina Ribas, Cristiano
Lenhardt, Fernanda Gassen, Letícia Ramos, Luiz
Roque, Jonathas de Andrade.
Editoração gráfica
Marina Polidoro e Michel Zózimo
Revisão ortográfica
Michel Zózimo
www.assimqueforeditado-lheenvio.tumblr.com
Willing to address the issue in order to suggest
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B
Ciclo de debates e palestras voltado
à discussão dos aspectos da sexualidade
que se relacionam com as artes visuais
Recife/PE
maio de 2013
greater autonomy and freedom for sex, and its various
representations and guidelines, follow free and healthy
through Brazilian society, various professionals
such as artists, curators, filmmakers, psychologists,
prostitutes, programmers and visual arts students
Há tempos que a arte se
met during three nights at the Museum of Modern Art
Aloisio Magalhães, in Recife, at the circle of lectures
encarrega de dar vazão aos
and discussions Art, Gender and Society Contemporary
mais libertários instintos da
Brazilian. A moment of counterpoint to all possible
humanidade. Esses instintos
castration and sterilization linked to this theme,
carregados de vontades de
instinct inherent in human beings.
viver, uma vez reconhecidos
por seu potencial libertário,
quase sempre são explorados à exaustão dentro da lógica
urbana, massificada em mercadologias passando por processos
complexos em que são transformados em meros produtos.
Objetos de consumo, distanciados de nossa natureza,
ao mesmo tempo que também estigmatizados, tornando-se
tabus sociais e religiosos.
A arte, por meio de sua capacidade autônoma, pode criar
e gerenciar dispositivos, agentes capazes de exercitar nossa
percepção sensível a fim de reconhecermos a importância
de promovermos discussões críticas sobre nossa atualidade
subjetiva, contribuindo diretamente para o que podemos
entender como brasilidade. O sexo está na televisão,
está na música, está na prateleira do Brasileiro, está na
internet... está para o mercado como não está para nossa
liberdade e vontade. ARTE, por sua despretensão em
determinar sentidos ou leis. Por seu potencial de sugestão
e sensibilização, SOCIEDADE.
Durante três noites, Recife movimentou ideias, argumentos
e estéticas com foco no preenchimento de lacunas ligadas
ao assunto sexualidade/brasilidade dentro da discussão
70
conexão artes visuais
meio da vivência do sexo ato, sexo genitália, sexo fetiche,
sexo poesia, sexo erotismo, sexo pornografia e tantas
outras representações explícitas ou subliminares. A
subjetividade sexual existente nas plataformas digitais,
a obra de Nan Goldin, o fetiche segundo a psicanálise
freudiana, a sindicalização e as organizações promovidas
pela coordenadoria do sindicato das profissionais do sexo
de Pernambuco, o cinema entre o erotismo e a pornografia,
a onda da música brega e a exploração do corpo nas
periferias do Recife, além da moda como linguagem corporal
sexual, foram assuntos sugeridos debatidos e que apenas
aguçaram a autonomia de todos os que se inscreveram
e participaram voluntariamente.
artística, criando fôlego para arear o tema sem abrir mão
da cautela necessária para evitar polemizar, estigmatizar
gratuitamente. O “Arte Sexo e Sociedade contemporânea
Brasileira”, em sua primeira edição, levou ao Mamam
cidadãos das mais diversas procedências para liberar
percepções, criar sentidos coletivamente, aguçar o
senso crítico... sob uma proposta que Recife, há tempos,
não vivencia. De atmosfera positivista e fécula, o ciclo
de palestras debateu identidades estéticas e sociais,
possibilidades infinitas do que podem ser as redes de
importância traçadas na vida de cada ser humano por
Em uma das vezes que comentei com um amigo sobre o desejo
de realizar um ciclo de palestras, debates e exibições tendo
a relação entre arte e sexo no Brasil como foco, fui questionado
sobre a parte que se refere diretamente sobre a sociedade
brasileira no título do projeto. Isso porque a junção de termos
como arte e sexo já poderia apresentar o conceito da série de
palestras e debates. Contudo, sempre senti que o propósito
é criar um momento de análise e contribuição do que
compreendemos e sugerimos como brasilidade. É para dentro de
nossas vivências como cidadãos desse País de tantos contrastes
absurdos que esse encontro fala. E é por isso
que a sociedade contemporânea brasileira tinha
*Brasilidade – característica distintiva
do brasileiro e do Brasil, sentimento
de se ver espelhada em seu título.
nacional dos brasileiros, brasileirismo.
**As obras de Fábio Baroli, jovem
pintor mineiro, ao fazerem parte
desse tipo de discussão, foram peças
importantíssimas dentro do conjunto
de sugestões que o ciclo de palestras
e debates propôs e, por isso, gostaria
de fazer um agradecimento mais do que
especial a esse parceiro. Obrigado, Baroli!
ciclo de debates e palestras – ARTE, SEXO E SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA BRASILEIRA
71
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conexão artes visuais
ciclo de debates e palestras – ARTE, SEXO E SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA BRASILEIRA
73
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conexão artes visuais
Idealização e direção geral
Operador de som e imagem
Aslan Cabral
Radá Araújo
Produtora
Equipamento de som e vídeo
Natascha Lux
Estúdio Base
Apoio de produção e coordenação
Registro (fotográfico e vídeo)
Gustavo Albuquerque
Papangú Filmes (Laura e Hebert)
Diretora de comunicação
Recepcionistas
Ana Garcia
Laura Farias e Thalita Farias
Assistente de comunicação
Palestrantes e debatedores
Liana Vila Nova
Lula Buarque de Hollanda – cineasta
Claudio Assis – cineasta
Tuca Siqueira – cineasta
Moacir do Anjos – curador
Nanci Feijó – presidente do Sindicato
das Profissionais do Sexo de Pernambuco
Marina Pinheiro – psicóloga
Fernando Fontanella – doutorando em
Comunicação
Joana Gatis – figurinista
Janine Seus – programadora especialista
em Secondlife
Designer
André Bastos
Agradecimentos
A Arthur Aguiar, a Beth da Mata, a Lula
Buarque de Hollanda e a Natara Ney, bem como
a toda equipe da Funarte RJ, pela assistência
e existência.
[email protected]
*As pinturas presentes na arte do evento são de autoria de Fábio Baroli
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Seminário dedicado às relações entre
a metrópole contemporânea e o campo
das artes
Salvador/BA
Junho de 2013
O seminário foi uma oportunidade singular de reunir
pesquisadores e pixadores para um diálogo sobre as
contingências presentes nas ruas de grandes metrópoles
brasileiras na atualidade. Nas entrevistas com os pixadores
presentes no catálogo do evento, encontramos os temas
daquilo que veríamos multiplicar como demandas no retorno
para cada uma das cidades de onde viemos. As ruas foram
ocupadas por milhares de pessoas, onde houve algumas
manifestações com intensos confrontos com a polícia
a partir do dia 13 de junho de 2013. As pessoas clamaram
por mudanças nas políticas públicas destinadas à mobilidade
urbana. No princípio, foi a diminuição do preço da passagem
do ônibus e do metrô; no entanto, diz respeito ao ir e vir,
à circulação abrangente pelos espaços da cidade, tal como
vimos, em Paris, nos debates do seminário, tanto pelo flanêur
no final do século XIX quanto pelo situacionista no final da
década de 1950 ao início de 1970.
O assunto principal do evento foi a pixação e seus
cruzamentos com o direito à cidade e com o campo da arte,
e a exigência de uma nova metodologia de pesquisa oriunda
da antropologia para se ter
The Seminar was a unique opportunity to bring
acesso ao conhecimento
together researchers and graffiters for a dialogue
produzido por esses atores,
on the contingencies present in the streets of major
os quais não possuem
Brazilian cities today. At the graffiters’ words, we found
disposição para subordinação
themes of what we would see as multiplying demands
ou hierarquias acadêmicas.
in return for each of the cities where we came from.
Dessa maneira, o evento foi
The streets were busy and there were intense clashes
marcado por uma curadoria
with police in some manifestations. People clamored
for changes in urban mobility, for a embracing
circulation through the spaces of the city, as we
saw in Paris, at the discussions of the seminar, both
by flanêur as the situationist.
78
conexão artes visuais
partilhada entre um curador sociólogo e outro pixador/artista
e, desse modo, foi uma contraposição ao discurso que nomeia
o outro sem lhe conceder empoderamento ou autonomia,
intitulado por Michel de Certeau como beleza do morto.
Contudo, a horizontalidade da relação entre curador
e artista, e entre pesquisador e pesquisado, permitiram
uma experiência distinta da que figurou com Benjamin
e Baudelaire, ou com Debord e os militantes da contracultura.
Benjamin, ao descrever a solidão de Baudelaire,
um dos maiores representantes da flanerie, não conseguia
dissimilar que isso poderia ser sobre ele próprio. Ele acabou
suicidando‑se quando o temor de cair nas garras do nazismo
lhe retirou a esperança. Debord, ao escrever sobre sua vida,
denotou novamente uma melancolia, um desespero e uma
desilusão com o mundo da arte que o fez suicidar-se com
o avanço de sua doença. Por sua vez, os pixadores, junto
aos pesquisadores, deflagraram outro comportamento em
uma flanerie pela cidade de Salvador, teceram suas reflexões
in loco, partilharam o contato humano além do que se lê
e escreve sobre esse assunto e criaram um modelo para
o entendimento sobre nosso tempo – a prática da experiência
com a cidade nos riscos e nas alegrias que ela oferece. Nossa
volta para cada uma das cidades presentes no seminário
foi revigorada e a ocupação do espaço público com
as manifestações de junho tiveram um entendimento de sua
dimensão histórica.
derivas e memórias contemporâneas na pixação
79
80
conexão artes visuais
A tragédia contingente da modernidade para T. J. Clark1
é a escassez de sentido com a falência da comunidade
e da tradição que ela carrega. Com a pixação, encontramos
não uma solução, mas uma iniciativa para tramar laços
ancestrais de uma comunidade contemporânea; ao mesmo
tempo, temos pistas sobre o que se passa na cidade,
dentro de uma incerteza e uma instabilidade natural para
processos de modernização como o que estamos instalados.
Diante desse quadro, a OMS vai falar com estatísticas das
perturbações mentais acirradas em São Paulo e que podem
figurar em qualquer classe social em diversos matizes –
a ansiedade, as mudanças comportamentais e o abuso
de substâncias químicas.
A modernidade guarda um mistério, pela pretensão
de um triunfo da razão, passível de ser solucionado. Contudo,
com a tragédia, isso não ocorre; é ela que reinstala a outra
contingência – a dimensão sempre presente e pessimista
da violência entre os assuntos humanos. Para Clark, “a grandeza
que vira ruína”, visualizada nos espaços deteriorados
e abandonados da cidade em expectativa
1. CLARK, T.J. Por uma esquerda sem
de um grande projeto arquitetônico para
futuro. Ed. 34, 2013.
a Copa, para onde também vão os carentes
de um refúgio, diante da morte final, com
o entorpecimento do crack.
*Neste texto a palavra “pixação” e termos
derivados foram empregados de acordo
com a grafia corrente entre aqueles que
atuam nessa linguagem.
derivas e memórias contemporâneas na pixação
81
82
conexão artes visuais
Curador
Sérgio Franco e Djan Ivson
Produção executiva
Roca Alencar
Coordenação administrativa
Núbia Bento Rodriguez
Produção
Djan Ivson e Sérgio Franco
Captação de imagens e produção do vídeo
Djan Ivson
Programação visual e catálogo
Tiago Morya Ishiyama
Fotografia
Nara Gentil
Assessoria de imprensa
Luciana Zacarias – Baobá Comunicação
[email protected]
derivas e memórias contemporâneas na pixação
83
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em
Exposição iconográfica e ciclo de debates
em torno do acervo e do arquivo do
administrador cultural, diplomata, crítico
de arte, jornalista, médico, colecionador
e artista plástico José Simeão Leal
The iconography exhibition about Simeão Leal and the
seminar to discuss the reality of public and private
archives, which was contributed by experts and
technicians in the areas of archival science, visual arts
and information science, could conclude in the end
Há exatos 15 anos, durante
that most of our maintaining and custodial institutions
of files and archives still lacks human resources
uma homenagem a José
and technical knowledge enough to manage, store,
Simeão Leal no III Festival
maintain, organize, and especially become the memory
Nacional de Artes, em João
available (by means of documents and activities)
Pessoa, o historiador José
of our artists and intellectual and of our culture.
Otávio de Arruda Melo,
em um surto de desconfiança
com o rumo que teria o arquivo de Simeão, recém-chegado
em nossa cidade, fez várias indagações aos presentes:
João Pessoa/PB
Maio e junho de 2013
“Alguns arquivos de grandes personalidades ainda estão bem
tratados, mas outros estão desaparecendo completamente.
Pergunto: o que vai ser feito do acervo de Simeão Leal? Ora,
porque Simeão cedeu obras de arte, originais, documentos,
livros... E faremos o que com isso? Será que terá o mesmo
destino do acervo de Alberto Torres ou da documentação
de Capistrano de Abreu, ou, mais recentemente, da biblioteca
de Onório Rodrigues? Inclusive, teremos condições de preservar
e instrumentalizar? Ora, porque preservar um acervo não é só
guardar livros nas prateleiras e quadros nas paredes. É articular,
catalogar, divulgar, fomentar a presença de pesquisadores para
a realidade do trabalho”.
Hoje, por sorte ou ironia, temos as respostas para Arruda
Melo. Depois de peregrinar entre os prédios do Hotel Globo,
da Biblioteca Virgínius da Gama e Melo e do Instituto
do Patrimônio Histórico e Artístico do Estado da Paraíba,
o arquivo de Simeão Leal foi destinado ao Núcleo de
Documentação e Informação Histórica Regional – NDIHR –,
86
conexão artes visuais
da UFPB, sob a responsabilidade da professora Bernardina
Freire. A partir daí, técnicos e especialistas passaram
a levantar todo esse rico acervo e, inclusive, promover
pesquisas e trabalhos científicos nas áreas da graduação
e da pós-graduação.
Após a realização do seminário Arquivos privados: políticas
e realidade, ocorrido ao longo deste projeto, que contou
com a contribuição de especialistas, professores e técnicos
com experiência nas áreas da Arquivologia, Artes Visuais
e Ciência da Informação, concluímos que nossas instituições
mantenedoras e custodiadoras de arquivos e acervos,
salvo algumas exceções, ainda não dispõem de recursos
humanos e conhecimento técnico suficiente para bem gerir,
guardar, manter, organizar e, principalmente, disponibilizar
a memória – por meio de documentos e atividades – de nossos
artistas e intelectuais, de nossa cultura.
josé simeão leal
87
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conexão artes visuais
Ao final, concluímos que, infelizmente, outros arquivos
de artistas plásticos, de críticos de arte e de intelectuais
estarão destinados ao esquecimento e à falta de incentivo
oficial se não houver ações imediatas das autoridades
responsáveis por nossa memória cultural. Graças à maciça
presença de professores e alunos de Arquivologia, Artes
Visuais, História e Ciência da Informação no seminário –
média de 130 pessoas em cada dia –, e à visitação da mostra
iconográfica exibida na Estação das Artes, sabemos que,
ao menos, haverá um corpo técnico preparado para enfrentar
as adversidades suscitadas neste projeto, acima de tudo,
de caráter elucidativo, ao diagnosticar a precária situação
dos arquivos – públicos e privados – que guardam nossa maior
riqueza cultural: a memória.
Mesmo com essa sombria constatação, deve-se ter como
exemplo o minucioso – e apaixonado – trabalho executado
pelos técnicos do NDIHR/UFPB ao sensibilizarem alunos
e professores da universidade e promoverem, em torno do
acervo de Simeão Leal, ações com fins de discutir e difundir,
entre outros setores acadêmicos e da comunidade paraibana,
a importância do homem de cultura José
Simeão Leal. Além disso, esse trabalho
também desvelou o acervo de Simeão Leal
para pesquisas nos mais diversos matizes.
Ao mesmo tempo, contribuiu na construção
e preservação da memória local, fomentando
tecnologias de conservação e restauro
de documentos e obras de arte, tecnologias
de documentação bibliográfica e iconográfica,
manutenção de arquivos e documentos da área
de artes visuais, publicação de pesquisas e de
estudos ligados à variedade presente no acervo
em questão, além de tecnologias de difusão
e publicação em meios eletrônicos e virtuais.
josé simeão leal
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conexão artes visuais
Programação visual
Dyógenes Chaves
Registro fotográfico
Adriano Franco
Registro videográfico
Tony Neto e Wagner Falcão
Produção
2ou4
Webdesigner
Café Dias
Coordenação geral
Dyógenes Chaves
Impressão de fotografias
Marcos Estrela
Coordenação do Seminário
Bernardina Maria de Oliveira Freire
Marcenaria
Pedro Juvino
Coordenação de apoio do Seminário
Thaís Catoira Pereira
Apoio à produção do Seminário
Karlene Roberto Braga de Medeiros
e Manuela Maia
Curadoria da mostra iconográfica
Dyógenes Chaves, Bernardina Maria de Oliveira
Freire e Thaís Catoira Pereira
Coordenação de montagem
Maria Botelho Lima
Moderadores do Seminário
Karlene Roberto Braga de Medeiros, Carlos Xavier
de Azevedo Netto e Manuela Maia
Palestrantes do Seminário
Francisco Pereira da Silva Júnior, Luis Gonzaga
Rodrigues, Kelly Cristiane Queiroz Barros, Rosilene
Paiva Marinho de Sousa, Julianne Teixeira e Silva,
Zeny Duarte de Miranda, Thaís Catoira Pereira,
Fabrícia Cabral de Lira Jordão, Maria da Vitória
Barbosa Lima e Dyógenes Chaves Gomes
Montagem
Equipe da Estação das Artes
www.josesimeaoleal.com.br
josé simeão leal
91
This is the first publication in Brazil dedicated to the
Spanish artist and theorist Julio Plaza (1939-2003).
The edition organized by the Foundation Vera Chaves
Barcellos gathers texts signed by artists and researchers
as Alexandre Dias Ramos, the poet Augusto de Campos,
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Publicação dedicada a documentar
a produção do artista e teórico pioneiro
da arte tecnológica Julio Plaza
Porto Alegre/RS e São Paulo/SP
Julho de 2013
Cristina Freire, the Spanish philosopher Ignacio Gómez
Por iniciativa da FVCB,
de Liaño, Regina Silveira and Vera Chaves Barcellos, plus
an introductory article signed by Julio Plaza himself.
esta é a primeira publicação
The book brings a DVD with the documentary “Julio
editada no Brasil sobre
Plaza – the poetic and the political”, produced with the
o artista Julio Plaza e sua
support from MAC-USP for the exhibition on the artist
obra. Julio Plaza, artista
held in 2012 in Hall’s Orchard of FVCB. The publication
nascido em Madrid, em
is available in English and Spanish, and it has limited
1938, em uma Espanha
edition and distribution and it is also targeted at
mergulhada em uma cruenta
universities and art and research centers. The launch
guerra civil, viveu até 1967
was held at Santander Cultural POA, and at MASP.
no país dominado pela
ditadura franquista. Nesse
mesmo ano, já com uma
obra consolidada e seguidora da tradição do construtivismo
europeu, integrou a representação espanhola na IX Bienal
de São Paulo. Passou dois anos no Rio de Janeiro como
bolsista da Escola Superior de Desenho Industrial – ESDI
– e, logo depois, quatro anos em Mayaguez, a convite da
Universidade de Porto Rico. Ao retornar ao Brasil, em 1973,
estabeleceu-se em São Paulo, onde desenvolveu uma extensa
atuação como artista e professor, teórico, organizador
de exposições e pesquisador das novas tecnologias até
sua morte, em 2003.
Sua trajetória de vida e sua obra são abordadas no livro
Julio Plaza Poética | Política, por meio de diversos textos
e inúmeras imagens de sua versátil produção. Entre
os textos, estão uma cronologia, elaborada por Cristiane
Löff, um texto referente à exposição organizada na FVCB,
em 2012, de Alexandre Dias Ramos, que foi seu aluno,
94
conexão artes visuais
e um depoimento do poeta Augusto de
Campos que narra seu encontro com Julio
Plaza e descreve as parcerias realizadas
pelos dois durante vários anos. Cristina
Freire tece um panorama da arte no Brasil,
no qual insere Julio Plaza, vindo de uma
tradição construtivista espanhola dos
anos 1960, e destaca sua afinidade com
o concretismo brasileiro.
A obra construtivista de Plaza é abordada
em um texto produzido na década de
1960, ainda em uma época anterior a sua
vinda para o Brasil, cujo autor é o então
jovem poeta e filósofo espanhol Ignacio Gómez de Liaño.
A publicação contém também um extrato do depoimento do
próprio artista sobre sua obra e trajetória, por ocasião de
sua apresentação como candidato a professor-assistente da
ECA-USP, São Paulo, em 1994.
Regina Silveira, artista e
sua companheira de vida
entre 1967 e 1987, em uma
narrativa de teor bastante
pessoal, fala-nos sobre os
primeiros anos de Plaza como
artista, ainda na Espanha,
onde o conheceu; além
disso, relata a temporada
juntos na Universidade de
Porto Rico e sua atuação
posterior no Brasil. Um texto
específico de Vera Chaves
Barcellos faz referência ao
curso Proposições criativas,
realizado por Plaza em 1971, em Porto Alegre, com um grupo
de alunos do Instituto de Artes da Universidade Federal do
Rio Grande do Sul (UFRGS). Nesse curso, o artista destacou a
importância do desenvolvimento da criatividade em atividades
efêmeras no espaço urbano. O livro é complementado por um
DVD cujo conteúdo é um documentário no qual entrevistas
diversas com professores, artistas e intelectuais que
conviveram com Julio Plaza em diferentes épocas de sua vida
se alternam com exemplos de sua produção. O livro Julio Plaza
Poética | Política vem a preencher uma lacuna existente em
nosso mercado editorial ao contemplar um artista que, por sua
atuação, desempenhou um papel preponderante na recente
história da arte brasileira.
julio plaza
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conexão artes visuais
julio plaza
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Organização
Tradução
Vera Chaves Barcellos
Baltazar Pereira (inglês)
Helena Dorfman (espanhol)
Edição executiva
Maria Luiza Sacknies
Coordenação do projeto e produção
Carolina Biberg
Assessoria de imprensa
Claudia Rüdiger
Revisão
Marca-texto Editorial
Liane Asmar
Imagens
Fábio Alt, Juliana Lima e Vera Chaves Barcellos
Design
Roka Estúdio
Impressão
Gráfica Impresul
Palestrantes
Inês Raphaelian
Omar Khouri
Instituições parceiras
Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand
Santander Cultural
www.fvcb.com
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Residência artística destinada ao debate
sobre a inserção dos artistas nos campos
institucional, micropolítico e poético
Natal/RN
Abril e maio de 2013
O Mergulhos Poéticos parte da realização de uma
série de conversas experimentais sobre as inserções
institucionais, micropolíticas e poéticas dos artistas
contemporâneos brasileiros. Para essas conversas, dez
artistas com formas de atuação diversas foram convidados
para participar de uma residência ocorrida entre 29 de
abril e 10 de maio de 2013 em Pirangi, RN. Cada dia um
deles propôs e conduziu uma conversa com o grupo em
torno de seus modos de inserção no sistema das artes.
Esses modos de inserção compreendem seus entendimentos
sobre arte, como lidam com as instituições, as formas de
colaboração, a produção colaborativa de trabalhos e alguma
dimensão política no que realizam. O mote do projeto se
concentra na experimentação sobre modos de produção
de conhecimento em artes visuais e essas conversas se
desdobraram em três formas iniciais – um blog, um texto
e um vídeo.
O blog Mergulhos Poéticos (http://mergulhospoeticos.
wordpress.com), que está em funcionamento desde o início
da residência, foi concebido para registrar algumas passagens
das conversas ocorridas
e para convergir os
Mergulhos Poéticos conducted a series of conversations
desdobramentos narrativos
about the insertions of contemporary Brazilian artists
do projeto. Dessa forma,
from the residence that occurred between April 29 and
além dos registros cotidianos
May 10, 2013 in Pirangi (RN). Ten artists were invited
das conversas, do texto
and every day one of them led the conversation with
e do vídeo produzidos, ele
the group around their modes of insertion in the art
continuará aberto para
system. They talked about how they deal with the
institutionalization, forms of collaboration and political
dimensions of their work. Seeking experimentation
on the production of knowledge in visual arts, the chats
unfolded in blog, text and video.
102
conexão artes visuais
a colaboração entre os artistas participantes e os demais
interessados. O texto Mergulhos Poéticos: entremeios foi escrito
por Breno Silva e Luciana Marcelino como uma construção
fragmentada partindo de algumas eleições sobre o que os
artistas comunicaram. Esse texto é uma tentativa de abrir
brechas para outras experimentações como uma contribuição
para trazer à tona as questões sobre as discursividades e
práticas artísticas e seus campos de provas. O vídeo Mergulhos
Poéticos: diários (22”, 2013), realizado por Bruno Vasconcelos,
faz uma abordagem singular da residência, elencando
momentos cotidianos; ele figura como uma documentação
parcial do acontecido como uma espécie de diário afetivo.
Nele as imagens e as conversas captadas durante a residência
são rearranjadas de modo a focar em narrativas acontecidas
e a derivar outros sentidos.
A produção de conhecimento no campo das artes visuais,
muitas vezes, dá-se fora dos ambientes estabelecidos para
sua ocorrência. Ela pode acontecer, por exemplo, a partir
de situações cotidianas que levam o artista a se deparar
com alguma questão que vai reaparecer, de uma forma
singular, em seu trabalho. Nesse espectro, a experiência
cotidiana na residência em Pirangi poderia conduzir a um
pensamento crítico que abrangesse uma dimensão poética
e política sobre o campo de atuação artístico. Foi testando
essa possibilidade que pensamos em um modelo informal
para as conversas amparado na convivência cotidiana.
Consideramos uma perspectiva de experimentação de
espaços não legitimados para o debate, em circunstâncias
informais, abertas aos acontecimentos e à produção
coletiva de conhecimento. As experiências cotidianas e das
mergulhos poéticos
103
104
conexão artes visuais
conversas se desdobram em narrativas sem a pretensão
panorâmica dos acontecimentos. Seguiram por algumas
memórias reinventadas, tangenciando três campos atratores
recorrentes nos discursos e nas práticas acontecidos
durante a residência. Um primeiro campo seria sobre a arte
e suas significâncias, na tentativa de compreender algumas
produções de sentido da arte e seu entendimento como
uma linguagem expandida nos limites da comunicação
e da expressão. Um segundo campo seria sobre o binômio
arte e vida, pensando o entendimento dos processos de
legitimação e as formas de realização dessa conexão tão
falada e desejada entre arte e vida. Já um terceiro campo
seria entre arte e política, margeando as especificidades dos
posicionamentos dos artistas, e pensando o entendimento
da política a partir dos
processos de subjetivação
como possibilidades de
dobras sociopolíticas, como
na contribuição para a
formação de imaginários dos
outros em contextos sociais.
mergulhos poéticos
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conexão artes visuais
Concepção
Breno Silva e Daniel Murgel
Artistas
Daniel Murgel, Solon Ribeiro, Cleverson
Salvaro, Graziela Kunsch, Waléria Américo,
Breno Silva, Gustavo Speridião, Bruno Vilela,
Tininha Llanos e Tiago Ribeiro.
Vídeo
Bruno Vasconcelos
Fotos
Bruno Vilela
Produção e blog
Luciana Marcelino
Texto
Breno Silva e Luciana Marcelino
www.mergulhospoeticos.wordpress.com
mergulhos poéticos
107
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Oficinas de formação em produção
de projetos e políticas culturais
Ceilândia, Gama e Taguatinga/DF
Junho de 2013
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Art
The workshop taught by the President of Ossos do Ofício
Confraria das Artes, Marta Carvalho, had its beginning
in the city of Ceilândia after Taguatinga and ending in
Gama, cradles of independent and alternative culture
of the Distrito Federal. The treatment with this specific
and peculiar audience occurred from the exchange of
O Brasil tem alcançado
experiences and needs detected on the first day of all
um crescimento econômico
the workshops; and with the survey of these individual
e social bastante
and collective processes the methods of collective
significativo. Especialistas
management and cultural production were applied. The
preveem ainda que, em 2016,
classes now are unified into a monthly assistance for
o Brasil alcance o status
building projects and annual plannings of groups met
de quinta economia do
at the headquarters of Ossos do Ofício.
mundo. Em consequência
desse crescimento,
muitas mudanças estruturais em vários setores sociais
e econômicos se fizeram necessárias. A cultura é um deles.
É importante que o setor cultural se modernize e se atualize
para acompanhar as mudanças dinâmicas da sociedade
brasileira. Para que esse desenvolvimento seja democrático,
é importante que as ofertas culturais, assim como as
ferramentas e os mecanismos de formação profissional para
esse setor, não se concentrem nos grandes centros urbanos.
Considerando a preocupação e a missão da Ossos do Oficio
Confraria das Artes, trabalhamos efetivamente no crescimento
do mercado produtivo do Distrito Federal, desenvolvendo técnicas
administrativas e de expressão do coletivo em todas as suas ações.
A Oficina Modo Coletivo de Gestão e Produção Cultural
se afirmou em todas as cidades visitadas e com grupos
de expressão das cidades-satélite de Ceilândia, Gama e
Taguatinga, elevando o nível desses coletivos em sua gestão
e seu aprendizado relativo ao processo de produção cultural
exigido pelo mercado cultural do Brasil.
110
conexão artes visuais
A diversidade cultural com potencial para ser
aproveitada como um instrumento contributivo, tanto ao
desenvolvimento econômico quanto ao social, foi atendida,
uma vez que oferecemos capacitação técnica e crítica para
profissionais de produção e organização de coletivos, eventos
e produtos artísticos, desenvolvendo potencial nas áreas
de planejamento e gerência.
Estimulamos a percepção da dinâmica que se manifesta
em vários campos da cultura, em suas três dimensões –
simbólica, cidadã e econômica –, não apenas em suas áreas
hegemônicas e consagradas mas também em uma perspectiva
de atenção a novos campos de atuação ligados a modos
e produções emergentes na sociedade contemporânea.
Sensibilizamos o produtor cultural dentro de uma
perspectiva de inclusão social e cultural, diante de projetos
que abrangem o papel do público, colocando-o como
um potencial produtor de cultura – práticas artísticas
e culturais amadoras, vida cultural associativa, interação
e participação em trabalhos
e eventos artísticos
profissionais –, o que
contribuirá também para
a formação de público para
diversas manifestações
artísticas.
oficina modos de gestão coletiva e produção cultural
111
112
conexão artes visuais
Durante os módulos práticos, os alunos inscritos se
apropriaram do conteúdo exposto nos módulos teóricos para
participarem de atividades práticas no que concerne à gestão
cultural. Foram analisadas e simuladas as etapas de produção
de um projeto cultural, considerando a área artística
e cultural do projeto proposto, e as situações e as tarefas
comumente encontradas na produção desses projetos.
Em todas as oficinas, foram dados espaços aos debates abertos
sobre a realidade sociocultural local, entre os atores culturais
locais implicados nas oficinas e o oficineiro, com o objetivo de
encontrar soluções para enfrentar os desafios cotidianos nos
trabalhos desses profissionais da gestão cultural.
Nos últimos anos, a cultura criada e desenvolvida no DF tem
caminhado para rumos de trabalhos coletivos e estruturados,
tendo como base a contemporaneidade e espontaneidade,
formando e desenvolvendo novos núcleos produtivos do fazer
artístico em sua mais profunda essência.
Hoje, no Distrito Federal, temos em desenvolvimento cerca
de 320 projetos, com resultados a serem apresentados em
várias cidades-satélite e no centro, em festivais e teatros,
bem como as artes visuais em espaços públicos e abertos.
Desse modo, seria inviável o encontro de tantas naturezas
diferentes sem o aporte e patrocínio do Edital Conexão Artes
Visuais, da Funarte, da Petrobras e do Ministério da Cultura.
A produção cultural no Distrito Federal hoje tem sido
intensa devido aos editais do FAC, da Funarte e do CCBB,
que abrem espaço e aprovam projetos que têm grande
relevância no cenário cultural e pesquisas referentes aos
rumos das artes no Brasil.
oficina modos de gestão coletiva e produção cultural
113
114
conexão artes visuais
Realização
Marta Carvalho
Advogada da área de direitos
autorais e gestão administrativa
Camila Portela
Produtor
Mateus Vieira
Filmagem, áudio e podcast
Hibys de Farias
Produtor
Edson Beserra
Administrativo e gestão
Henrique Rocha
Secretaria executiva
Silvia Leticia
www.ossosdoficio.com.br
Short waves speak of the sea.
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Ilha Comprida/SP
of dream and of endless possibilities. That ancient sea
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Vídeo que simula um dial de rádio
que tem como fundo as ondas e que
captura transmissões cujo assunto é o mar
em múltiplas línguas
Fevereiro e março de 2013
The sea that roars and charms; the sea of nostalgia,
of the time when all things were alive and had free will,
O mar
not so different from the apparent sea that is placated
and subdued now and that from time to time shows its
Houve um tempo no qual
strength when passing over mankind without knowing.
o mar, assim como grande
The sea of adventure and trade routes, of research and
parte dos entes, tinha,
pirates. The sea of mystery, poets, artists, cookie sellers
além de vida, vontade
and bathers.
própria – quando podia
And it speaks of waves, short.
levantar-se de seu leito
e jogar-se sobre uma
montanha, quando podia,
se assim quisesse sua vontade sem razão, aplacar a fúria
de um vulcão. Houve, antes disso, o dia em que fora separado
da terra. E, finalmente, veio a hora em que, derrotado por
forças tão poderosas quanto justas, deitou-se onde até hoje
repousa seu ímpeto de titã.
Hoje, em alguns momentos, principalmente em dias nublados,
quando o mar fica revolto, quando o cinza impera e espumas
brancas encimam ondas sem direção, quando perde sua
placidez e deixa de ser o lugar do conforto e do lazer, tenho
a impressão de que pode-se levantar de seu leito e caminhar
sobre a terra, pois, para ele, nada parece ser impossível
– deixará sua fluidez e se reestruturará como o mar
autoconsciente da ficção científica Solaris, que corporifica
nossos medos, nossos desejos. Mesmo fora do universo
ficcional, é no mar onde se depositam os sentimentos mais
profundos, o mar rouba nosso tempo, e captura nossa atenção
e nosso olhar. Permite-nos ver a curvatura da terra ou, quem
sabe, denuncia a redondura de nosso próprio olho incapaz
de divisar uma linha reta do tamanho do mundo.
118
conexão artes visuais
O ar
As ondas curtas, como já diz o nome, são ondas de pequeno
comprimento e têm como propriedade marcante a reflexão
na ionosfera, assim chamada por ser carregada de íons
transmitidos pelo Sol. Essa característica possibilita que elas
corram o globo terrestre e cheguem a distâncias continentais.
São usadas, há muito tempo, na navegação de aviões e navios
e como meio de comunicação pelos radioamadores. São um
rudimento de comunicação global bem antes do surgimento
da internet. Há quem se lembre – eu, ao menos, lembro‑me
– de haver na família alguém que, muito pacientemente,
procurava transmissões em outras línguas. Reuníamo-nos
em frente ao rádio para ouvir vozes que cruzavam os céus
em idiomas absolutamente incompreensíveis que despertavam
nossa curiosidade e provocavam risos.
ondas curtas
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conexão artes visuais
O encontro
Em Ondas Curtas, na praia, uma câmera desliza sobre um trilho
colocado em frente ao mar. Presa verticalmente a um tripé,
diante da câmera, há uma barra luminosa formada por
duas lâmpadas fluorescentes, uma branca, que se sobrepõe
à imagem do céu, e outra verde, sobreposta à do mar; no
ponto de contato entre as duas, vê-se a linha do horizonte.
À medida que a câmera se move sobre os trilhos, tem-se
a impressão de que é a barra de luzes que se move, e esse
movimento emula a agulha de sintonia que para ao captar
o que parece ser alguma transmissão – são músicas em
diversas línguas, reportagens e transmissões de radioamador.
Da poesia à ciência, passando pelas músicas de marinheiros
e de quem deixou seu
amor ou sua terra para
trás, dos exploradores aos
vigilantes do mar, quantas
são as vozes e quantos olhos
se deitaram sobre a massa
fluida ao longo de toda
a história da humanidade,
e nela projetaram ambições
e curiosidade? Quantos
sonharam com o que poderia
haver além de sua linha final?
ondas curtas
121
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conexão artes visuais
Produção geral e coordenação
do projeto
Leticia Ramos
Produção da banda sonora
Rômulo Fróes
Direção de fotografia e câmera
Caio Campos
Autor, diretor do projeto e produção
do equipamento de travelling suspenso
Wagner Malta Tavares
www.wagnermaltatavares.com
O caráter atribuído ao elemento fluido e orgânico é,
na verdade, reflexo do caráter humano que hoje olha para
as estrelas e, se não faz as mesmas perguntas, ao menos tem
os mesmos sentimentos. Não é à toa que as estrelas guiaram
os que cruzavam oceanos; o espaço de cada um é o mesmo
mar de todos, que tudo abraça e que liga todas as coisas,
é o caminho dos homens e das figuras lendárias.
Ondas Curtas coloca o espectador no ponto de partida
da busca por algum sentido que se perdeu. Devolve
a melancolia nublada diante do desconhecido. E me lembro
do poeta português Mario de Sá Carneiro: “É no ar que tudo
ondeia! É lá que tudo existe!”.
ondas curtas
123
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The sound mapping of the National Park of Serra
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The
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Catimbau, located in the wilderness of Pernambuco,
is a work of sound art, locative research and
sonorous cartography. Conducted in the first half
of 2013, this survey is about the natural sound
“A musica que prefiro à minha própria
characteristics that, by hypothesis, we hear in
e à de qualquer outro é a que ouvimos quando
certain places of the park the same sounds from
nos mantemos em absoluto silêncio.” ages ago, almost by the lack of inhabitants in the
John Cage
“O pior cego é o surdo. Tirem o som de uma
Mapeamento sonoro do Parque Nacional
da Serra do Catimbau
Vale do Catimbau/PE
Fevereiro a julho de 2013
paisagem e não haverá mais paisagem.” Nelson Rodrigues
“O objetivo poético é chegar ao desconhecido,
park and its surroundings. It is a continuation
of the research started in 2011; in 2013, the survey
mapped a most significant portion of the park and
its surroundings, expanding the sonorous map
of Pernambuco. That project we dedicate ourselves
come in recent years and the next.
escrutar o invisível, ouvir o inaudível.” Arthur Rimbaud
O Mapeamento Sonoro do Parque Nacional da Serra do Catimbau
é uma pesquisa de campo sobre a paisagem sonora local
em continuação a uma pesquisa realizada no Parque em 2011,
quando a pesquisa/mapeamento cobriu cerca de 5% do local.
Referimo-nos, nesse projeto, à experiência que antecede
o nascimento. Desde a vida intrauterina, o feto tem sua
iniciação nas paisagens sonoras, em certos ritmos, como
os batimentos cardíacos e a frequência da voz da mãe que
ressoam no liquido amniótico. Aos sete meses, o feto ouve
e responde com movimentos aos estímulos dessa paisagem
sonora. Ainda no estágio fetal, a voz da mãe constrói a noção
de intervalo e, consequentemente, de espaço. Graças à audição,
o bebê estabelece, desde a vida fetal, sua primeira ligação com
o meio ambiente externo por seu universo líquido de proteção
e nutrição. A mitologia, a filosofia e a psicanálise mostram,
em trabalhos experimentais, que o espaço sonoro é o primeiro
126
conexão artes visuais
espaço psíquico, antes mesmo do gesto e da mímica. A voz
sobressai do ruído de fundo intrauterino. A criança recebe, por
transmissão óssea, parte do espectro da voz da mãe. Essa voz
poderia não apenas ser ouvida mas reconhecida entre outras
devido à percepção do ritmo e da entonação.
“É o ouvido, quando percebe as diferentes frequências sonoras,
que constrói a noção de espaço no ser humano, e não o olho,
ao contrário do que se tem afirmado até agora.1”
Para além da construção do espaço, o tempo, ou melhor,
os horários de registro foram pontos importantíssimos nessa
pesquisa devido ao ritmo biológico da fauna e da flora locais
e a seus comportamentos, como, por exemplo,
1. Iegor Resznikoff, L’universelle
a sonoridade ao amanhecer dos pássaros
harmonie: trois etudes sur l’antropologie
caçando insetos, entre o entardecer e as
et la consonance. Comunicação
primeiras horas da noite com a sinfonia
apresentada no ICMS-4 (Fouth
International Congress on Musical
de sapos coaxando, a aparente calma ao
Signification). Paris, 13 de outubro
meio‑dia devido ao calor – porém é a hora
de 1994.
de certos insetos eclodirem e apresentarem seu canto,
como as cigarras – ou ainda o som de mamíferos e outros
animais de pequeno e médio portes caçando de madrugada.
Os aspectos geomorfológicos dos locais também são cruciais,
devido a suas características de absorção e difusão acústicas
– como paredões rochosos e cavernas, e a vegetação densa ou
rarefeita – influenciando na filtragem dos
2. Na música, acusmática é definida
sons, e variando intensamente a presença
como a música feita a partir de sons
do vento nos locais e, consequentemente,
cujo sistema de produção não se vê,
a paisagem sonora imediata.
diferente de um concerto, em que vemos
os intérpretes e seus instrumentos sendo
executados. O termo foi inspirado nos
acusmáticos – akousmatikói, em grego
–, os assim denominados discípulos de
Pitágoras, que ouviam o mestre, mas não
o viam, ou viam somente sua sombra,
pois este se escondia atrás de biombos
para incutir concentração extrema
nas palavras, pois as anotações não
eram permitidas. O rádio é um exemplo
A singularidade sonora de locais como o Vale
do Catimbau é inestimável para o estudo
das paisagens sonoras, pois o Parque é um
templo de silêncio – locais com pouca ou
quase nenhuma influência sonora humana
–, um local de uma altíssima fidelidade de
escuta acusmática 2.
moderno clássico de aparelho acusmático.
pesquisa & mapeamento sonoro do vale do catimbau
127
128
conexão artes visuais
Sonoramente apresentando uma
riqueza extraordinária de pesquisa,
o Parque tem características e marcos
sonoros absurdamente distintos dos das
cidades, em particular os das cidades
grandes. As singularidades da flora e da
geomorfologia do Parque, e principalmente
toda a fauna associada a ele, tanto os
pássaros e os insetos quanto a fauna
subaquática dos caldeirões que se formam
em todo o parque – o parque é conhecido
como um manancial de águas devido a sua
alta umidade e vegetação, na fronteira
entre o agreste e o sertão do Estado – foram
pontos importantíssimos nessa pesquisa.
O Parque Nacional da Serra do Catimbau, considerado um
local dentre os mais importantes de preservação ambiental
no Estado de Pernambuco e do Brasil, segue nos arrebatando
e revelando o invisível e o inaudível. [“O objetivo poético
é chegar ao desconhecido, escrutar o invisível, ouvir
o inaudível.” Arthur Rimbaud]
pesquisa & mapeamento sonoro do vale do catimbau
129
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conexão artes visuais
Concepção, criação, pesquisa,
desenvolvimento e construção
Thelmo Cristovam
Edição de imagens/vídeo
Adalberto Oliveira
Imagens/vídeo/fotografia
Dani Azevedo
Site
Zé Diniz
Design gráfico
Zzui Ferreira
Agradecimentos
A Márcio e à Associação de Guias do Vale
do Catimbau, à população da Vila do Catimbau
e arredores, e aos Kapinawá.
www.thelmocristovam.net/catimbau
pesquisa & mapeamento sonoro do vale do catimbau
131
This is an experimental printed publication proposed
Pluv
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u
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F
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C l au d
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Publicação experimental que aproxima
o processo artístico ao movimento
contínuo das águas
São Paulo/SP e Florianópolis/SC
Julho de 2013
by Claudia Zimmer and Raquel Stolf. It was developed
with the participation of eleven artists: Claudia Zimmer,
Fabio Morais, Fabíola Scaranto, Felipe Prando, Gustavo
Torrezan, Helder Martinovsky, Joana Corona, Katia
PLUVIAL FLUVIAL, uma
Prates, Maria Ivone dos Santos, Mariana Silva da Silva
and Raquel Stolf; the graphic design was prepared
publicação experimental
by Anna Stolf. The publication is composed of eleven
impressa proposta por
chips-flyers, in which each artist thought and built its
Claudia Zimmer e Raquel
four pages. PLUVIAL FLUVIAL also involves a booklet
Stolf, foi desenvolvida com
with a text conversation between the proponents and
a participação de onze
the material was wrapped inside a box. The publication
artistas: Claudia Zimmer,
also has the support of Editora da Casa (Florianópolis)
Fabio Morais, Fabíola
and Olho-ilha stamp, by Claudia Zimmer and Céu
Scaranto, Felipe Prando,
da Boca stamp, by Raquel Stolf.
Gustavo Torrezan, Helder
Martinovsky, Joana Corona,
Katia Prates, Maria Ivone
dos Santos, Mariana Silva da Silva e Raquel Stolf; seu projeto
gráfico foi elaborado por Anna Stolf. A publicação foi pensada
como articuladora de um fluxo incessante em que é possível
(des)construir ou (re)construir narrativas ou imagens,
da mesma forma que solicita tempos heterogêneos
de observação e escuta. Composta por onze fichas-folheto,
em que cada artista pensou e construiu suas quatro páginas,
PLUVIAL FLUVIAL envolve ainda um livreto com um
texto‑conversa entre as propositoras e todo esse material foi
disposto dentro de uma caixa. A publicação conta também
com o apoio da Editora da Casa (Florianópolis) e dos selos
Olho-Ilha, de Claudia Zimmer e Céu da Boca, de Raquel Stolf.
O movimento (des)contínuo das águas foi um dos pressupostos
para pensarmos o título, considerando a quase (con)fusão
que os termos PLUVIAL FLUVIAL podem desencadear. Dessa
forma, a sonoridade foi um fator determinante na posição
134
conexão artes visuais
das palavras, embora tal (con)fusão traga, em seu cerne, um
vice-versa que as tornam coimplicadas. A disposição no título
de Pluvial acima e Fluvial abaixo põe em discussão a noção
mais simples que se tem de paisagem – pluvial/céu e fluvial/
terra e, entre eles, sutilmente delineada, a linha do horizonte.
Paralelamente, (onde) um horizonte se move? Uma paisagem
se move? Como um intervalo, um sulco mínimo, uma fissura?
A transitoriedade e simultaneidade do movimento das águas
parece aproximar‑se também ao que acontece no processo
de um artista – esse fluxo denso que ora se impõe e ora
escapa. Pensar um processo como fluxo suscita uma vertigem
e uma concretude do pensamento artístico. E a tentativa
de agarrar a água, seja sobre ou sob um processo, talvez seja
algo impossível. No entanto, ao mesmo tempo, essa tentativa
parece implicar a existência de um motor incessante em rede.
Além das reflexões anteriores, outros pontos foram
catalisadores iniciais do projeto. Um deles consiste em
pensarmos no que pode vir a ser a paisagem. A partir de uma
série de questionamentos, pontua-se que talvez ela seja a
relação que estabelecemos com o lugar. Esse lugar é saturado
de pequenos atos requintados (Michel Serres), acontecendo
simultaneamente – a chuva cai ao mesmo tempo em que
o rio percorre seu curso. Ao percebermos nisso algo que
nos instigue, travamos uma relação. Dialogando com essa
reflexão, Javier Maderuelo (2006) pontua que a paisagem não
existe sem interpretação, pois ela é um conceito inventado
a partir de sensações, ideias e sentimentos que advêm
de nossa conexão com o lugar.
Dessa forma, o projeto gráfico foi elaborado cuidadosamente
levando todos esses pontos em consideração –
os deslizamentos de uma paisagem impressa, de uma
paisagem escrita, onde um texto pode ser tanto um
sedimento carregado como algo que arrasta, como uma
imagem parece nunca se fixar, mas nos agarrar. Quais são
as relações possíveis entre rios, nuvens e livros?
pluvial fluvial
135
136
conexão artes visuais
pluvial fluvial
137
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conexão artes visuais
Concepção, organização
Projeto gráfico
Claudia Zimmer
Raquel Stolf
Anna Paula Stolf
Artistas participantes
Miguel Augusto Carneiro Pinto
Ribeiro
Cristiano dos Passos
Claudia Zimmer
Fabio Morais
Fabíola Scaranto
Felipe Prando
Gustavo Torrezan
Helder Martinovsky
Joana Corona
Katia Prates
Maria Ivone dos Santos
Mariana Silva da Silva
Raquel Stolf
Revisão e tradução
Produção
Monique Beneval de Souza
Edição
Editora da Casa, Olho-ilha
e Céu da Boca
Impressão
Impressora Mayer
[email protected]
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Publicação experimental relacionada
às práticas artísticas de análise crítica,
circulação e dispersão de ideias
Curitiba/PR, Garanhuns/PE,
Recife/PE e São Paulo/SP
Julho de 2013
Recebo a recibo. Preciso girá-la antes de abrir e avaliar seus
valores. Os espaços vazados que envolvem seus conteúdos
me oferecem uma nova imagem todas as vezes que avanço
em sua leitura, leitura manual, manual sem orientações,
manual para perder os sentidos. Os espaços vazados se
repetem em todas as páginas, eles são a pauta editorial,
a política sensorial, a possibilidade de multiplicação
de imagens, já que cada página da Recibo pode-se desdobrar
em uma nova todas as vezes que é posta sobre outra,
deixando-nos entrever no vazio retangular a próxima
textura, a próxima cor, a linha que vem.
Recibo é revista inacabada, cujo movimento é condição
primordial de leitura, mas isso não é novidade. Já deve
fazer mais de uma década que as revistas, que podemos
denominar como tradicionais – essas de grandes tiragens
que, no Brasil, organizam-se quase unicamente sob o
comando de uma única editora – investem nas plataformas
interativas, nos aplicativos que levam a leitura para ponta
dos dedos, abrindo canais de diálogo e promovendo uma
(pseudo) personalização do conteúdo, tudo isso na esteira
da tão aclamada ideia
de convergência de mídias.
Recibo (thirteenth number, year eleven) is a special
Mesmo as páginas impressas
edition that integrates Recibo 10 anos project
já haviam incorporado tudo
completed in 2012. With this publishing project
que colhe por aí, na rede.
of Recibo, we got this edition offering more editorial
Contudo, as interpelações
and curatorial experimentation, publishing projects
das revistas em relação
of actions related to artistic practices of critical
aos leitores e, principalmente,
analysis, circulation and dispersion of ideas.
Edited by Traplev and por um acaso (design duo Diogo
Damasio and Diego Ribeiro), this receipt rethinks its
editing, its modes of invitations and re-contextualizes
the goal in publishing a new format with loose pages.
142
conexão artes visuais
as possibilidades de respostas destes são as mesmas,
sempre. E será que não é demasiado forçoso abordar
a Recibo a partir de uma observação da revista como mídia
de massa? O caso é que a Recibo tão pouco me parece uma
obra de arte, estou certa apenas que ela é suporte, e de que
é revista... Será?
A investida em relação à ideia de obra fechada e acabada
também não é recente. Quando vejo os números anteriores
da Recibo, sua predileção pela linguagem escrita
das palavras, pelas palavras como potencias de imagem
e de sonoridade, sua vinculação ao concretismo já era
bastante clara na composição de suas páginas. Recibo
Caixa Box investe agora no formato, não apenas um passo
adiante na abertura do que entendemos como revista
e como obra, ela é mesmo uma derrapada, um escorregão,
recibo – 10 anos
143
144
conexão artes visuais
TRapLE<! Recibo caiu no vazio do vazado, esparramou e se
abriu às múltiplas possibilidades de leitura, assumindo seu
leitor como compositor, como criador de novas imagens sem
medo de perder a capacidade de direcionar o entendimento
ou a leitura ou garantir qualquer sentido que seja. Revista
como suporte, como abertura, como processo.
Mais do que queda ou ascensão, trata-se de uma fuga.
Recibo escapa quadro para parar na parede descascada,
pendurada por pregos enferrujados. Recibo escapa adesivo
para ver a cidade passar e para que a cidade a veja como
revista colada em algum para-brisa. Contudo, aí já não
vai ser mais revista, e que diferença faz? A arte impressa
da Recibo Caixa Box parece mais preocupada em andar
por caminhos desconhecidos e, se às vezes se deixa entrever
apenas quando colocada contra a luz, é porque, logo
em seguida, ela pode-te oferecer a imagem de teu próprio
rosto, como lago prateado e narcísico, que não vai te poupar
dos espaços vazados de tua própria imagem, vazios apenas
à primeira vista. O vazio na Recibo é o vislumbre do novo,
é a imagem que vem, e que se anuncia desde já para
transformar a imagem presente. Afogue-se.
recibo – 10 anos
145
146
conexão artes visuais
Projeto editorial e editor geral da Recibo
Traplev
Produção
Diogo Silva (São Paulo) e Traplev Orçamentos
(Recife)
Projeto gráfico
Por um acaso (Diego Ribeiro e Diogo Damasio)
Revisão e leitura do editorial e artigo crítico
Cíntia Guedes
Artistas convidados
Amer Moussa, Cristiano Lenhardt, Debora Bolsoni,
Daniel Scandurra, Estúdio Quadradão, Fernando
Lindote, Jorge Menna Barreto, João Modé, Laura
Erber e Marcela Aquila.
www.issuu.com/recibo
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Site specific do artista Jayme Fygura,
construído no Centro Histórico
de Salvador/BA
Salvador/BA
Junho de 2013
Jayme Fygura is high-voltage art, over thirty years
he does not show his face in public. His presence
is a radical action; wherever he is he uses multiple
typical supports to the visual arts, in addition
to composing and singing. Here is his tomb, a site
Jayme Fygura é arte
specific that is a parallel universe built inside a house
of the historic center of Salvador.
que provoca choques
tectônicos por onde
passa, abrindo fissuras
no psiquismo humano e social. Inebriado pelo fogo fátuo
abissal, verte sua lava artística de caráter fundamentalmente
religioso. Religação com as profundezas da escuridão,
que ilumina seu caminho.
Transita entre os mais diferentes suportes nas artes visuais,
além de compor e interpretar poesias musicadas, realizar
performances e ter suas ações urbanas amalgamadas
em seu cotidiano. A indistinção entre arte e vida
é a realidade deste ser.
Sua carne é forjada em décadas de batalhas constantes
pelas vielas de Salvador, capital barroca dos antagonismos
tropicais. De inteligência corporal ímpar, adapta
o ferro sobre sua estrutura para se proteger dos ataques
diários, sejam das pedras ou dos olhares carregados
de indignação e ódio.
Sua arte é mais afiada do que a faca que traz cruzada
no peito, arma simbólica contra a sociedade que o moldou.
A afirmação e sustentação do direito à diferença o faz
um guerreiro da arte-política. Seja na micropolítica
do cotidiano, em sua errância pelas ruas, ou em sua
participação direta nas rodas aristocráticas da alta
política soteropolitana.
150
conexão artes visuais
Apresentamos o site specific Sarcófago, uma instalação
construída pelas mãos do artista, nas entranhas de uma
casa do Centro Histórico da capital baiana. Obra crua,
carregada de um primitivismo seminal, uma imersão
no universo desse faraó do inframundo.
Francilins
curador
sarcófago – site specific
151
152
conexão artes visuais
nasci jaime andrade almeida filho de cruz das almas ba cheguei
em salvador com cinco anos de idade vivíamos bem minha
mãe e meu pai eram analfabetos mas todos dois de conceição
do almeida interior da bahia meu pai trabalhava na marinha
mercante coligada com a petrobras trabalhava nas máquinas
dos navios cargueiros quando ele chegava de viagem trazia
várias caixas grandes cheias de queijo suíço vinho pães
importados defumados castanha do pará rum e outras delícias
vivíamos muito bem até que um certo dia meu pai que já está
morto que deus o tenha em bom lugar saímos do apartamento
que morávamos e com o dinheiro da indenização da marinha
mercante só deu para comprar
uma casa na fazenda grande
do retiro e foi neste lugar
que eu me criei foi neste
lugar que a miséria reinou
em nosso lar com minha mãe
analfabeta e meus irmãos
com pouca sabedoria minha
adolescência foi terrível
minha maturidade também
entre a inveja e o despeito
sobre tudo que eu fazia tanto
dentro de casa como nas ruas
meu jeito de ser chamava
muita atenção da comunidade
também analfabeta da
favela da fazenda grande
do retiro só que tinha uma
coisa muito interessante eu
vivia criando coisas como
brinquedos com latas com
paus com vários objetos
que eu achava aí chegaram
as escolas onde eu tinha
pavor e medo só sentava no
fundo da sala de aula para
o professor não me ver mas
era fatal por mais que eu
me escondesse eu sempre
era o alvo só dava merda
nas matérias matemática
português ciência história
geografia mas só tinha uma
única matéria que ninguém
fazia melhor do que eu
desenho do desenho técnico ao desenho artístico eu era
o melhor na época só passava arrastado todo ano com dez em
desenho e dez em comportamento o resto não quero nem falar
daí então fui servir o exército brasileiro durante dois longos
anos graças a deus consegui sair com honra ao mérito e fui
enfrentar a sociedade podre fui imediatamente em direção
às gráficas foi aí que eu desenvolvi meu talento natural com
meus desenhos antes dos computadores chegarem eu mandava
ver comprei carro dinheiro no banco garotas danceterias
e muito rum até que chegou um político corrupto com seu
plano econômico que fudeu com minha vida foi aí que eu
me retei rasguei paletós calças e a população começou a me
apedrejar me chamando de maluco depois de anos de pedradas
fui obrigado a trocar as roupas rasgadas por roupas blindadas
chegaram ao ponto de segurarem meus braços e quebraram
quatro dentes encheram de hematomas meu rosto que as garotas
amavam no terceiro dia após o crime passei a usar a máscara
de ferro completando assim a imagem de exú sete facadas
Jayme Fygura
sarcófago – site specific
153
154
conexão artes visuais
Projeto e execução da obra
Jayme Fygura
Curadoria e documentação
Francilins
www.curtaosarcofago.blogspot.com.br
sarcófago – site specific
155
The Seminar brought together exponents of imagistic
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Seminário em torno da fotografia
e suas hibridações com outras linguagens
Londrina/PR
Abril de 2013
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and thinking productions around photography,
nc
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discussing hybridizations of the photographic
language and its tentacles as the social and artistic
impacts of image impregnation in everyday life.
CONVERGÊNCIAS DA IMAGEM
E DA IMAGINAÇÃO
The result of the vertical “oversupply” of images and
cultural goods, alongside the emergence of the cyber
environment, coupled with the new terms of portability
O seminário Campo
and affordability in capturing, broadcasting, publishing
expandido: a convergência
and information from them. The repercussions
das imagens reuniu, em
of this scenario between artists, researchers, curators
Londrina, um excelente
and critics were widely debated during the workshop,
grupo de expositores com
pointing paths, new directions and open issues.
muito a dizer e mostrar.
Tivemos a possibilidade
de discutir a produção
contemporânea e concentrar reflexões na linguagem,
em suas características digitais, em suas hibridações
e na convergência entre os meios das imagens.
Foram essenciais as reflexões de Lúcia Santaella na
conferência O quarto paradigma da imagem ou paradigma
convergente. Ela considerou a dificuldade de categorizações
e classificações para os fenômenos atuais que envolvem
a arte, a cultura e os meios de captação, edição, difusão,
recepção, troca e compartilhamentos, que colocam
tendências plurais. Santaella traçou-nos uma rigorosa
linha de raciocínio, localizando quatro paradigmas –
o pré‑fotográfico, que trata dos processos artesanais
de composição de imagens, o fotográfico, que passou a captar
e trazer os traços do objeto focado, o pós-fotográfico,
em que a imagem é produzida por programadores, e o que
chama de quarto paradigma, que compreende a hibridação
da fotografia e da videografia, os constantes acasalamentos
das imagens e sua penetração no cotidiano. Absorver,
158
conexão artes visuais
compartilhar e transformar
são movimentos do quarto
paradigma.
Mauricio Lissovsky proferiu
a conferência Fotografia
e seus duplos: um quadro na
parede, focada nas relações
entre imagem e história,
abordando as tecnologias
da comunicação e a estética
fotográfica. Considerando
que a fotografia nos revela
novos caminhos, ponderou
que a arte da fotografia
emergiu à medida que, na
pluralização da imagem,
declinou seu sentido prático,
seu lugar privilegiado nas
representações. A era da
reprodutibilidade técnica
foi seguida pela era da
simulação numérica, considerou Lissovsky; as fotografias
sacrificaram seu corpo para que a produção e a reprodução
da imagem pudessem existir socializadas no cotidiano,
tornando-se as próprias imagens, avatares, incorporações,
promessas de corpo.
Um panorama contemporâneo foi apresentado por Eder
Chiodetto na terceira conferência, Fotografia: movendo
fronteiras a golpes de luz. Eder apresentou um conjunto de
trabalhos que chamam sua atenção. Fez justiça a seu ofício
de pesquisador, curador e crítico, referenciando-nos com
sensibilidade e inteligência.
seminário campo expandido
159
160
conexão artes visuais
As três mesas redondas reuniram experiências diversas com
a fotografia. Giselle Beiguelman ponderou sobre as novas
sinestesias entre os dispositivos, os meios, as pessoas e seus
sentidos. Ronaldo Entler disse que a imagem fotográfica
não se define apenas em sua codificação técnica, mas pelos
procedimentos de produção e por seus diálogos com a tradição
e com os ambientes críticos e transformadores.
Rosângela Rennó apresentou-nos as novas apropriações
com materiais fotográficos descartados que fez deles, em
favor da redenção de pessoas e da recuperação de traços
históricos, em uma criação que lembra a prédica de Walter
Benjamin de que nada deve ser considerado perdido ou
historicamente desimportante. Rogério Ghomes propôs uma
nova sensibilidade para memória, saudade, narratividade
e potência da imagem. Apresentou suas criações, apontando
roteiros para sutilezas nas quais as imagens criam sinapses
entre nossos olhos e nosso espírito. Juliana Monachesi
abordou a imagem desmaterializada; da imagem com
um referente no real para aquela fictícia e digitalmente
construída, com seus impactos na cultura. Abordou
a remediação, ou mútua influência dessas tecnologias
em prol das abstrações da imagem. Rubens Fernandes Jr.
e Claudia Jaguaribe, ao tratarem sobre fotografia expandida,
resgataram o papel dos criadores, de seus processos e de seus
questionamentos como elementos diferenciais.
Sentimos o seminário como uma contribuição em amplo
sentido, pela atualidade da problemática, pela exploração
conceitual, pelas vivências criativas que se entrecruzaram
e pelo debate profícuo. Sentimos a convergência e expansão
ganharem sentidos, campos e sujeitos da ação cultural.
seminário campo expandido
161
162
conexão artes visuais
Palestrantes
Coordenação geral do Projeto
Rogerio Ghomes
Produtor executivo do projeto
Alex Lima
Assessor de imprensa e coordenador editorial
Valdir Grandini Alvares
Designer gráfico
Uriá Fassina
Equipe Filmes do Leste
Guilherme Gerais – videomaker
Fabio Oliveira – editor de imagens
Felipe Oliveira – vídeomaker
Lis Sayuri – fotografia
Claudia Jaguaribe – artista (Galeria Baró)
Giselle Beiguelman – artista-pesquisador
(FAUUSP)
Rogerio Ghomes – artista-pesquisador (UEL-PUC
SP – Galeria Ybakatu)
Rosângela Rennó – artista (Galeria Vermelho)
Eder Chiodetto – curador (curador de Fotografia
do MAM SP)
Juliana Monachesi – curador (Harppers Bazar)
Rubens Fernandes Jr – curador-pesquisador
(Coleção Pirelli/MASP – FAAP)
Lucia Santaella – pesquisadora (PUC SP)
Mauricio Lissovsky – pesquisador (ECO UFRJ)
Ronaldo Entler – critico-pesquisador (FAAP)
campoexpandido.com
seminário campo expandido
163
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Residência artística dedicada a questões
de interseção entre os campos das artes
visuais e arquitetura
Liberdade/MG
ABRIL A JULHO DE 2013
Habitat foi um projeto de encontros. O convite inicial partiu
do programa de residências da ecovila Terra UNA para um
grupo de artistas, arquitetos e alguns moradores da própria
ecovila trabalharem coletivamente, desenvolvendo propostas
livres para localidades rurais de Soberbo, Quirinos e Augusto
Pestana, bairros do município de Liberdade, MG, na Área de
Proteção Ambiental da Serra da Mantiqueira, onde a ecovila está
localizada. O encontro entre os artistas Maíra das Neves, Daniel
Murgel e Claudia Washington, os arquitetos Aline Couri, Breno
Silva e Wellington Cançado, os moradores Antônio Evaristo,
Diogo Alvin, John Hardin e Luciane Lima, juntos à equipe
formada por Beatriz Lemos, Kadija de Paula, Márcia Peixoto
e Nadam Guerra, marcou o primeiro de vários encontros especiais
– profissionais de diferentes universos de conhecimento
e práticas reunidos em uma imersão de uma semana em Terra
UNA para o desenho coletivo do que seria este projeto.
O que realmente vale a pena? Falamos de desejos de mundo,
para além dos campos de trabalho, e a vontade de sermos
estopim, fagulha para futuros sonhos. Muitas questões surgiram
desse primeiro encontro e que foram a base de todo o processo
ao longo dos três meses do projeto Habitat, que teve inicio em
abril e se concluiu em julho
Habitat was a project of immersion meetings between
de 2013. Como entender
artists, architects and residents of the ecovillage Terra
a zona rural em relação
UNA and rural localities Soberbo, Quirinos and Augusto
a ritmo, tempo e códigos?
Pestana – in the Environmental Protection Area of Serra
O que, de fato, é um trabalho
da Mantiqueira where the ecovillage is located. From
colaborativo? Qual seria
April to July, 2013, these professionals materialized
o tempo ideal das coisas?
collaborative proposals which Habitat was intended to
be the beginning of the exchange network of food and
local products of Soberbo, Campeonato de Futebol das
Montanhas Mágicas in Quirinos, and the opening party
of Cine Pestana, the little church of Augusto Pestana.
166
conexão artes visuais
Comunidade, o que vem a ser como conceito? Arte + arquitetura
+ sustentabilidade: como promover essa simbiose? Como projetar
a ocupação poética de um espaço/local? E, a partir das dúvidas,
pensamentos foram abertos ao grupo – proposições podem
não se configurar como soluções finais, o empoderamento
comunitário é o foco e a justificativa de nossas ações.
Da imersão de questões na qual nos colocamos como intento
de aporte ao argumento conceitual do projeto, partimos
para o segundo encontro especial do Habitat – os moradores
que abraçaram nosso desejo de presença nessas localidades
e deram as diretrizes dos diálogos e das propostas realizadas.
terra una – habitat
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Rede de trocas de alimentos de produtos locais em Soberbo,
Campeonato de Futebol das Montanhas Mágicas em Quirinos,
a abertura do Cine Pestana para crianças na Igrejinha de
Augusto Pestana e uma festa julina que reuniu mais de 100
pessoas da região formam a materialização das propostas
colaborativas das quais o Habitat se pretendia; contudo,
não há nenhum ineditismo local aqui. As comunidades já
as praticavam há tempos, cada qual a sua maneira, talvez não
pensadas em grupo, mas já eram entendidas como chaves de
convivência entre moradores e vizinhos. Dessa forma, ideias,
processos, produções, atividades, contatos e conversas se
deram de maneira fluida e natural. O projeto Habitat apenas
instigou a região com sugestões de reativação de práticas
e modos de fazer; os laços relacionais tecidos até aqui, de
amizade, admiração e companheirismo, são a resposta para a
primeira pergunta desse texto – o que realmente vale a pena?
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Organização/equipe
Nadam Guerra (José C. Guerra Damasceno) –
coordenação geral
Beatriz Lemos – curadoria
Kadija de Paula – coordenação de produção
Márcia Peixoto – produção local
Juliana Sicuro – pesquisa
Participantes
Antônio Evaristo de Mendonça (Lili), John
Harding, Luciane Lima – moradores de Terra UNA
Aline Couri, Breno Silva e Wellington Cançado –
arquitetos
Claudia Washington, Daniel Murgel e Maíra
das Neves – artistas
Imagens extras
Janice Martins Appel, Juliana Wähner, Nina
la Croix e Pedro Victor Brandão
Agradecemos a todos os moradores dos bairros
de Soberbo, Quirinos e Augusto Pestana.
www.terrauna.org.br/habitat
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Ciclo de palestras realizado
em comemoração ao centenário de criação
do ready-made por Marcel Duchamp
Goiânia/GO
Junho de 2013
Há um século, o artista francês Marcel Duchamp (1887‑1968)
criou o ready-made, que consistiu na negação da obra
segundo as categorias tradicionais e em sua substituição
pelo produto industrial apropriado, subtraído de sua
função, anônimo, indiferente ao gosto pessoal, alheio aos
estilos artísticos, sem nenhum atrativo ou valor estético.
O primeiro ready‑made, a Roda de Bicicleta (1913), resultou
do acoplamento de objetos com funções opostas – uma roda
de bicicleta encaixada sobre um banco de madeira. Carregado
de iconoclastia, humor e ironia, agiu como desmistificador de
valores consagrados e instalou, na História da Arte, a dúvida
sobre o conceito de autoria e sobre o que é ou não é arte,
deslocou a atenção do objeto físico para o conceito, os atores
e o circuito de legitimação, valoração e institucionalização
da arte. O ready‑made apontou para a superação de questões
intrínsecas ao modernismo, expôs a gravidade da crise do
paradigma artístico ocidental. Marcel Duchamp se retirou do
meio oficial de arte e se tornou jogador de xadrez. Xeque-mate!
O ready-made esperou o encerramento do ciclo histórico
do modernismo para ser absorvido. A partir dos anos 1960,
o alcance da atitude de
Accomplished in Goiânia, the lecture series celebrated
Duchamp foi entendido
the centenary of the ready-made by Marcel Duchamp
e refizeram-se os padrões da
in five meetings, which discussed his connection with
arte, desdobrando o conceito
the production of contemporary artists that work with
do ready-made para além do
campo original da antiarte, em appropriation. Tadeu Chiarelli approached the use
of images of the second generation; Ge Orthof discussed
busca de um novo território
about relations between Duchamp and his work; Moacir
de expansão artística.
dos Anjos presented the work of Jac Leirner; Carlos Sena
approached the relation between art, consumption,
advertising and cultural industry; Felipe Scovino
established dialogues between ready-made and works by
Brazilian artists, considering circuit, irony and cynicism.
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conexão artes visuais
A apropriação inaugurou
um modo diferente de fazer
arte, aberto e permeável
aos fluxos da vida, sem
a pretensão de estar elevada
acima do espectador.
A obra contemporânea
produzida por meio da
apropriação insiste em
manter sua presença repleta
de estranheza, por ser,
em um sentido, próxima
e reconhecível do mundo
do espectador, e, em outro,
ser agente provocador de
incômodos e desestruturador
dos princípios de ordem
material, simbólica
e comportamental que regem
esse mesmo mundo.
A linguagem apropriadora
delibera sobre a ordem
do cotidiano, instaurando desvios de natureza funcional,
plástica e conceitual, dilatando os campos de relacionamento
da arte culta com o universo de mensagens e de objetos
banais e descartáveis, produzidos para uma cultura de massa
ávida por consumo. A obra surge contaminada com matérias
visuais comuns e, dessa forma, provoca estranhamento
e perturbação no paradigma ortodoxo da arte, provocando
o questionamento público carregado de espanto – mas isso
é arte?. Atravessar a indagação exige o aprofundamento na
experiência crítica que a obra engendra.
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Tadeu Chiarelli abordou o uso de imagens de segunda
geração na arte brasileira e destacou a importância do
tema imagens ready-made para sua própria trajetória de
curador. Gê Orthof discutiu as relações entre Duchamp
e sua obra, que transita entre a produção de objetos,
instalações e performances. Moacir dos Anjos apresentou
a obra de Jac Leirner a partir da experiência de curadoria
da exposição da artista realizada na Estação Pinacoteca
do Estado de São Paulo, em 2011. Carlos Sena abordou
as relações entre arte e consumo, a importância da
estética da publicidade e da indústria cultural na
produção de artistas nacionais e locais. Felipe Scovino
estabeleceu diálogos entre o ready‑made e a apropriação
praticada por artistas brasileiros, considerando questões
como circuito, ironia e cinismo.
O ciclo de palestras Xeque-mate: um século do ready‑made
(1913-2013) comemorou o centenário do ready-made
promovendo cinco encontros para refletir, revisar,
criticar, discutir e debater temas de grande relevância
que surgem do próprio questionamento provocado pela
obra singular de Duchamp e de sua ligação com a produção
de artistas contemporâneos que trabalham com a prática
da apropriação.
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Projeto e coordenação geral
Divino Sobral
Palestrantes
Carlos Sena, Felipe Scovino, Gê Orthof,
Moacir dos Anjos, Tadeu Chiarelli
Produção
Tramela Produção de Arte e CCUFG
Assessoria de imprensa
Tramela Produção de Arte
Assessoria técnica e registro fotográfico
Helô Sanvoy
Registro videográfico
Thiago Lemos
www.readymadexequemate.blogspot.com.br
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Com 20 projetos contemplados nesta
3ª edição, o Conexão Artes Visuais
reuniu um público direto de 31.619
pessoas e um público indireto
de mais de 200.000 pessoas.
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31 instituições em todo o país foram parceiras dos projetos.
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
Conexão Artes Visuais (3. : 2013).
Conexão Artes Visuais / Ana Paula Santos (Coord.);
Flávia Junqueira, Isabella Schmidt (Colab.) . – Rio de Janeiro :
FUNARTE, 2013.
184p.
Catálogo do Programa.
ISBN 978-85-7507-157-1
1. Artes – Brasil. 2. Artes – Brasil (Programas de incentivo).
I. Santos, Ana Paula (Coord.).
CDD 709.81
FUNARTE / Coordenação de Documentação e Informação
Conexão Artes Visuais MinC/Funarte/Petrobras
http://www.funarte.gov.br/conexaoartesvisuais
http://www.funarte.gov.br
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ministério da cultura e petrobras apresentam