ANÁLISE DA PRESSÃO ANTRÓPICA SOBRE OS MANGUEZAIS NO
ESTADO DO RIO DE JANEIRO UTILIZANDO O ÍNDICE DE
TRANSFORMAÇÃO ANTRÓPICA - ITA APLICADO ÀS BACIAS
HIDROGRÁFICAS COSTEIRAS
Ana Paula de Oliveira¹
²
Phillipe Valente Cardoso
Elizabeth Maria Feitosa da Rocha de Souza
³
1 - Universidade Federal do Rio de Janeiro - Departamento de Geografia([email protected])
2 - Instituto Militar de Engenharia – ([email protected])
3 - Universidade Federal do Rio de Janeiro - Departamento de Geografia - (elizabethmf
[email protected])
RESUMO
O presente trabalho faz parte de uma pesquisa conjunta do Laboratório
ESPAÇO/UFRJ com o laboratório NEMA/UERJ que pretende caracterizar as áreas de
manguezais do estado do Rio de Janeiro e analisar as pressões antrópicas exercidas
sobre esse ecossistema em diferentes escalas, além de avaliar a sua capacidade de
resposta a tais pressões. O presente trabalho avalia a pressão antrópica a partir do
indicador ITA com ênfase para as bacias costeiras no estado do Rio de Janeiro. Como
resultados observa-se o aumento da pressão antrópica em 5 das 7 bacias costeiras
entre os anos de 1994 e 2007. Novas avaliações ainda serão concluídas com o
incremento de mais amostras oriundas dos questionários aplicados aos especialistas
em estudos ambientais.
Palavra-chave: Manguezais, pressão antrópica, bacias hidrográficas.
INTRODUÇÃO
Manguezal é um ecossistema costeiro que ocorre em regiões tropicais e subtropicais
do mundo, ocupando as áreas costeiras. É caracterizado por vegetação lenhosa típica,
adaptada às condições limitantes de salinidade, substrato não consolidado e pouco
oxigenado e freqüente submersão pelas marés (Soares, 1997). Desta forma espécies
vegetais possuem alto grau de especialização, através de adaptações quanto ao
suporte mecânico em substrato não consolidado e à ação de marés, aeração do
sistema de raízes e a resistência à salinidade e estresse hídrico. Além disso, a grande
pressão urbana e o alto nível de degradação na cobertura vegetal se fazem as
maiores características desse ecossistema (Soares, 2008).
O objetivo do presente trabalho é analisar as pressões antrópicas sobre os
manguezais do Rio de Janeiro, considerando os recortes espaciais das bacias
hidrográficas, e destacando as transformações ocorridas entre 1994 e 2007. A área de
estudo pode ser observada na Figura 1.
Figura 1: Área de estudo
METODOLOGIA
Para calcular o grau de pressão sobre o mangue, foi utilizado o Índice de
Transformação Antrópica (ITA), que é calculado a partir de análises sobre determinado
mapa de uso e cobertura da terra usando a equação 1:
Equação 1
ITA = Σ (% USO * PESO)/100
Onde Uso é a área em valores percentuais da classe de uso e cobertura na unidade
espacial considerada (no caso, as bacias hidrográficas) e Peso é o peso dado aos
diferentes tipos de uso e cobertura quanto ao grau de transformação antrópica, obtido
através de consulta a especialistas (Mateo,1984).
ITA varia de 1 a 10, onde 1 indica uma menor pressão da classe sobre o ecossistema
e 10 indica uma maior pressão. Os pesos foram atribuídos em função da experiência
adquirida de pesquisadores que atuam diretamente com os manguezais, estipulando
assim, a relação peso x impacto sobre o mangue referente a cada uso do solo. Esse
procedimento foi realizado para as sete bacias do estado do Rio de Janeiro que
contêm áreas de mangues, são elas: Bacia de São João, Baía de Ilha Grande,
Campos dos Goytacazes, Itaguaí, Lagos, Macaé e Rio de Janeiro.
Para a análise temporal, foram utilizados diferentes usos do solo para o ano de 1994 e
2007 gerados a partir de imagens Landsat 5 TM, com os devidos ajustes para
compatibilizar as classes. Cada uso recebeu um peso indicado por 12 especialistas
consultados, que foram contabilizados para permitir o cálculo do ITA.
RESULTADOS
A Tabela 1 destaca o primeiro resultado referente à variação de pesos atribuídos aos
usos conforme pressão antrópica sobre os mangues fluminenses.
TABELA 1 – PESOS DOS USOS SOBRE OS MANGUES
Classes Pesos
Afloramento Rochoso
1,2
Agricultura
7,7
Brejos
2,3
Campos de altitudes
1,0
Cordões arenosos
2,3
Florestas
1,4
Água
1,5
Ocupação urbana de alta intensidade
9,5
Ocupação urbana de média intensidade
8,2
Ocupação urbana de baixa intensidade
6,9
Pastagem
5,5
Reflorestamento
2,5
Restinga
2,3
Salinas
3,0
Solo exposto
5,0
Vegetação em estagio inicial
2,3
Várzea
2,5
As notas extremas atribuídas pelos especialistas foram revistas durante as análises,
sendo novas consultas realizadas em cada caso, para se perceber a razão das
discrepâncias. Após indicar os valores dos pesos, os cálculos do ITA apontaram
resultados relevantes como destaca a Figura 2.
Figura 2 – Gráfico com evolução temporal do Índice de Transformação Antrópica – ITA entre
1994 e 2007
Dentre as sete bacias com mangues no estado do Rio de Janeiro, apenas duas
apresentam queda na pressão antrópica: São João e Campos. A Bacia de Campos
apresentou mudanças de uso e cobertura ao longo do período com incremento das
áreas de pastagem e floresta, as áreas urbanas sofreram pouca alteração no período
como destaca a Figura 3.
Figura 3 – Gráfico com evolução das principais classes de uso e cobertura para a Bacia de
Campos entre 1994 e 2007
As demais bacias com mangue sofreram aumento na pressão antrópica com destaque
para a bacia Lagos, que apresentou um acréscimo de pouco mais de 34% no cálculo
do ITA devido principalmente ao crescimento das áreas de uso urbano médio e pasto.
Com relação às mudanças nas áreas de uso observa-se com destaque um aumento
nas áreas de reflorestamento na bacia hidrográfica de São João.
CONCLUSÕES
Observa-se um aparente crescimento na área de mangue, onde no ano de 1994 havia
um total aproximado de 173,74 km² e posteriormente em 2007 um novo total de
176,57 km². Esse acréscimo será analisado em etapa posterior para verificar as
razões e localização dessa ampliação nas áreas de mangue no Estado. O ITA ajudou
a confirmar o aumento da pressão antrópica nas bacias hidrográficas com mangue
destacando duas bacias onde a pressão foi decrescente, no entanto esse decréscimo
não foi significativo diante da antropização obtida. Às áreas de mangue são
naturalmente ambientes sensíveis e que devem ser protegidos justificando a
importância na análise desses ambientes.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Soares, M. L.G. Impactos da Mudanças Globais sobre Manguezais do Município do Rio de
Janeiro - Brasil 2008.
Soares, M.L.G. 1997. Estudo da Biomassa Aérea de Manguezais do Sudeste do Brasil Análise de modelos. Tese de Doutorado - Instituto Oceanográfico da Universidade de São
Paulo. 2 vol.
Kristensen, P. The DPSIR Framework - National Environmental Research Institute, Denmark,
Department of Policy Analysis, European Topic Centre on Water, European Environment
Agency – Kenya 2004
Mateo, J. Apuntes de Geografia de Los Paisajes - La Habana: Ed. Universitaria, 1994.
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