DOMINGO - O Estado do Maranhão - São Luís, 8 de novembro de 2009 5 CAPA Passaporte para o mercado Falar inglês ou outro idioma é uma grande vantagem na hora de disputar uma vaga no mercado de trabalho; os jovens profissionais sabem disso, tanto que buscam, através de intercâmbios, valorizar o currículo com uma vivência internacional; grandes empreendimentos em São Luís intensificam a tendência Álbum de Família Bruno Gouveia Da equipe de O Estado T er um segundo idioma, por meio de intercâmbios, há algum tempo possibilita muitas oportunidades no mercado de trabalho. Muitas vezes, estes programas são associados a adolescentes ou jovens em início de carreira, mas nos últimos anos o intercâmbio cultural ou empresarial tem crescido bastante e se tornou uma boa opção para executivos e profissionais interessados em oportunidades de emprego. Esse cenário se potencializou nos últimos anos em São Luís e tende a crescer com a demanda de grandes empreendimentos, como a Refinaria Premium da Petrobras e a termoelétrica. Para tanto, muito mais que um segundo idioma, a própria experiência internacional se torna um diferencial para profissionais que investem em seus currículos com pacotes de intercâmbios empresariais. Renato Santos, de 24 anos, aos 18 foi para San Diego, na Califórnia, para trabalhar. Ele passou quatro meses e, quando voltou, assumiu o cargo de coordenador de programas de intercâmbio de uma das principais agências de intercâmbio da capital, a Via Mundo. Morando na casa de uma família local e trabalhando quase 10 horas por dia, muito mais do que o aprendizado da língua, a experiência no mercado de trabalho lhe rende frutos positivos até hoje. “Trabalhei os quatro meses em uma empresa de venda de livro educacionais. Passava o dia inteiro visitando casas, conhecendo pessoas. Tive uma oportunidade única”, afirma. “O que mais me acrescentou durante todo esse tempo em que passei trabalhando foi a visão de marcado que adquiri. Percebo que a logística da rotina de trabalho é totalmente diferente da rotina local. Aos poucos a rotina local está mudando, a cidade está crescendo e essas mudanças vão ocorrer naturalmente”, acrescenta. Logo que deixou a empresa de venda de livros, Renato Santos conseguiu uma bolsa de estudos em uma Faculdade de Administração no Texas, onde passou mais dois anos. “Só quando fui para a faculdade tive a oportunidade de passear um pouco, pois, quando trabalhava em San Diego não sobrava muito tempo. Mas o que aprendi no dia-a-dia do mercado de trabalho foi essencial para meu desempenho na faculdade”, destaca. Uma das dificuldades encontradas por Renato Santos foi se adaptar aos costumes locais, principalmente aos da família com quem conviveu. “Quando trabalhava quase não tinha muito contato com a família, pois, saía às 6h Ao se adaptar aos costumes da família estrangeira, Renato Santos aprendeu novos afazeres e amadureceu Flora Dolores e voltava somente às 22h. Mas, quando entrei na faculdade e me tornei membro da família que me hospedou, a rotina era completamente diferente”, conta. Lavar louça, ajudar na limpeza da casa, lavar suas próprias roupas foram coisas que o coordenador de intercâmbios não tinha o costume de fazer e que aprendeu com a nova família. “Além de todos os afazeres domésticos, hábitos alimentares, visão de mundo, tudo isso você tem que esforçar para se adaptar, este sem dúvida é um grande mérito para amadurecer”, completa. Atualmente como coordenador de intercâmbio, Renato Santos avalia o atual cenário local de intercâmbios em expansão. Para ele, a expectativa é que esta prática de necessidade de mercado se torne um hábito. “Comparado com os grandes centros urbanos do país, São Luís ainda não é um centro, mas está em crescimento. Com o tempo, não só jovens, mas também adultos e gestores acrescentarão isso em seus currículos e incentivarão seus funcionários”, diz. Renato Santos afirma que este mercado só tem a crescer e os pacotes de intercâmbio, a aumentar, pois, eventos como a Copa do Mundo e Olimpíadas agregam ao interesse do empresário, e alimenta o sonho de participar desses grandes eventos. “Estes eventos vão demandar mão-de-obra qualificada, e o preparo deve começar desde agora”, avalia. No estado, são registradas quase 500 viagens de intercâmbio por ano entre programas voltados para Estudos de Férias, High School, Cursos de Extensão Universitária, Trabalho Voluntário e Cursos Executivos. A Associação de Brasileiros na Inglaterra (Abras) estima que 250 mil brasileiros na Inglaterra. E a maioria ainda consta como visto de estudante. O número de pessoas que fazem o Para Ana Carolina Marques, planejamento diminui imprevistos Flora Dolores Antônio Bacelar orienta buscar destino de acordo com objetivos caminho contrário é muito pequeno comparado aos que saem do Brasil, a maioria vem da Dinamarca, Suécia, Alemanha. Na América do Sul, os países que mais recebem estrangeiros são a Argentina e o Chile. Cenários - Idades, estilos diferentes, mas algo em comum. Todos querem aprender a falar bem o inglês (idioma mais procurado) e outras línguas. “O empresário não precisa falar inglês como um inglês ou inglês como um americano, mas precisa soar claro o suficiente para que um nativo possa entendê-lo, e, principalmente, que supra a sua necessi- dade mercadológica ”, diz o diretor-geral da Via Mundo, Antônio Bacelar. Existem atualmente cursos voltados para todas as áreas e os países mais procurados para intercâmbio empresarial são os Estados Unidos e Canadá. O diretor ressalta, entretanto, que essa escolha depende muito das necessidades de cada pessoa, por exemplo, se a procura é por cursos voltados para médicos, advogados, engenheiros e profissionais das áreas de finanças marketing e administração em geral. “O Brasil vive um momento de globalização muito intenso. O país mantém negócios direto com várias partes do mundo, além disso, há estabilidade financeira do país. Com isso, a visibilidade externa é muito positiva para gerar o intercâmbio”, explica. “O Brasil sediará uma Copa do Mundo e as Olimpíadas, isso mostra que precisará de mão-deobra capacitada em línguas e em experiência cultural. O Maranhão está na eminência de grandes investimentos, e o intercâmbio deve ser prioridade para os empregadores”, pondera. O incentivo para a prática do intercâmbio empresarial deve partir não só do empregado, mas do empregador que tem a consciência de investir em seu funcionário. Antônio Bacelar comenta que várias empresas como Alumar e Vale fazem questão de constantemente inscrever seus funcionários em programas de intercâmbio, mas quando isso não acontece, o próprio funcionário toma a iniciativa. “Temos muitos contratos com as grandes empresas e permanentemente somos solicitados para enviar seus funcionários. No entanto, quando o empregado percebe que a empresa não lhe proporciona esse investimento, muitos pedem a rescisão do contrato e com o dinheiro financiam sua viagem. Eles, na grande maioria, nem voltam ao estado e acabam ficando no eixo Rio - São Paulo”, constata. “Essa é uma viagem de investimento tanto para a carreira, quanto para a vida. Mas para mergulhar no idioma lá fora, é preciso muito planejamento aqui do Brasil”, aconselha a diretora da franquia da Central de Intercâmbio, Ana Carolina Marques. Na opinião da diretora, o planejamento ideal seria de um ano de antecedência, o que diminuiria os custos e os imprevistos. “Tanto para estudantes quanto para empresários, é importante, dependendo da necessidade, evitar as cidades maiores e capitais. Planejar tudo com pelo menos um ano de antecedência para conseguir bons descontos. Fazer exames médicos e odontológicos para não arcar com despesas desnecessárias”, enumera. Além dos países de língua inglesa, outros países são bem requisitados por empresários, entre eles estão França, Espanha e Itália. A escolha desses países acontece de acordo com o mercado em que atua o empreendedor, muitos são da culinária, arquitetura e artes. Ana Carolina destaca que a experiência de um intercâmbio é bem maior do que o simples aprendizado da língua estrangeira. “O contato com outra cultura e a experiência de trabalho pesam muito no seu currículo, é um diferencial que o empresariado maranhense está começando a despertar”, atenta. No Maranhão, o ramo de em- presários que adota pacotes de intercâmbio é, em geral, da área de Hotelaria, Turismo, Direito, além do setor de negócios. O valor estimado de um pacote empresarial para o Canadá varia de U$5 mil a U$6 mil. Mercado – O consultor de mercado da Agência de Apoio ao Empreendedor e Pequeno Empresário (SEBRAE), Walter Monteiro, afirma que a pessoa com interesse em fazer um intercâmbio empresarial deve ter atenção redobrada com a idoneidade da instituição que oferece os pacotes. “Hoje existem empresas especializadas em auxiliar quem procura participar de programas de intercâmbio até mesmo pela internet. Como recomendação geral, a pessoa deve procurar ajuda de profissionais e levantar o maior número de informações para a tomada de decisão para então planejar seu intercâmbio”, recomenda. Diante do atual cenário de investimentos no estado, Walter Monteiro acredita que o intercâmbio e outros cursos de capacitação são a melhor forma de assegurar mercado para os profissionais locais. “A vivência em um intercâmbio sempre traz um impacto positivo quando da avaliação de um profissional pelos aspectos técnicos e também, quando for o caso, desta participação estiver relacionada a algum programa de qualificação profissional, estágios ou mesmo curso de idiomas. Os aspectos comportamentais e culturais relacionados às experiências advindas da possibilidade de conhecer outras culturas e costumes também enriquecem a sua rede de negócios”, destaca. Walter Monteiro aconselha que o profissional alie a sua ambição com as condições do mercado, em um contexto cultural e o seu perfil. “Hoje o cenário dos negócios está bem descentralizado e o interesse do profissional também deve ser amplo. Continentes como o africano e o asiático são mercados em ascensão, no qual vários idiomas estão em comunicação. Nesses casos, vale muito, pois agrega uma vasta experiência cultural”, diz. Para a capital, o analista de mercado afirma que as áreas de maior demanda atualmente são turismo, prestação de serviços e engenharia. Esses mercados, na sua avaliação, trazem uma dinâmica constante de negócios. “Além dos empreendimentos locais, o país será sede de grandes eventos esportivos e nada mais coerente que a demanda de profissionais aumente em todo país. O estado deve estar inserido neste contexto”, acrescenta. Para tanto, os critérios adotados pelo empregador, vão da análise do perfil do profissional até a exigência de mercado. Fique atento! A Brazilian Educational and Languages Travel Association (Belta), associação que reúne as principais instituições brasileiras que trabalham nas áreas de cursos, estágios e intercâmbio no exterior, disponibiliza dicas para quem quer uma experiência no exterior: do deve ser tomada antes do embarque. Sair com tudo organizado já é um grande passo. Há a possibilidade de ficar em casa de família, que é uma preferência muito grande, ou ficar em residência estudantil ou flats e hotéis; - Quando decidir pelo intercâmbio, a pessoa tem que ter em mente o destino que deseja de acordo com a preferência ou idioma; - Não há idade máxima para participar de programas de aprendizado de idiomas. Há muitos anos, se pensava em intercâmbio para adolescentes, mas hoje em dia existem grupos que fazem programas para pessoas acima de 50 anos; - É muito importante se informar sobre o clima do local escolhido para o intercâmbio, uma vez que nem todo mundo está preparado para morar em países onde o clima é muito rigoroso; - É preciso fazer um levantamento do orçamento necessário para o intercâmbio e obter informações sobre a necessidade de visto para embarcar legalmente para esse país, entre outras coisas; - A decisão sobre a moradia no país escolhi- - Ter estudado no exterior é um grande diferencial na nossa vida profissional no Brasil. As empresas procuram pessoas que tenham facilidade de relacionamento e possam se comunicar. A experiência internacional também traz esse desenvolvimento pessoal. Plano B Principais dificuldades no intercâmbio: variando de acordo com o tempo da viagem e com a cobertura. 1) Não se adaptar a família: Se não conseguir se adaptar, o estudante deve se sentir à vontade para esclarecer para o coordenador os problemas que tiver, para que ele aconselhe as partes e medie certos conflitos. Dependendo dos motivos e depois de uma avaliação do caso, o estudante pode ser transferido de casa. 3) Perder o passaporte O primeiro passo é fazer registro na delegacia mais próxima do local do roubo. Depois, informar o consulado brasileiro, mesmo que por telefone. Será necessária a apresentação de documentos como carteira de identidade, comprovante de quitação eleitoral e, para homens entre 18 e 45 anos, documento militar. A emissão do passaporte é demorada e, se for necessário voltar ao Brasil em período curto, o consulado pode emitir uma autorização de retorno à pátria. 2) Ocorrer algum problema de saúde: É importante que a pessoa saia do Brasil com um seguro-saúde. Confira se seu plano de saúde é válido para o exterior. Caso não seja, uma opção são empresas especializadas para quem vai passar uma temporada fora, com preços 4) Bagagem extraviada: É preciso ir imediatamente ao balcão da companhia no aeroporto e preencher um formulário que tem o valor de um boletim de ocorrência. A empresa tem obrigação de entregar a bagagem em até 30 dias. Se nada acontecer nesse tempo, ela deverá indenizar o cliente.