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Baixa Idade Média
A Europa se transforma
A partir do século X a Europa Ocidental passou por uma sucessão de acontecimentos e transformações que abalaram o sistema
feudal. A esse período denomina-se Baixa Idade Média.
Uma série de melhorias técnicas possibilitou o aumento da
produção agrícola. Com isso as pessoas passaram a se alimentar
melhor, tornando-se mais saudáveis e vivendo mais. Esse fator,
somado ao fim das invasões bárbaras, provocou um sensível aumento da população a partir do século XI.
O desenvolvimento comercial e urbano
Com o aumento da produção agrícola, começaram a sobrar
alimentos. Os agricultores passaram então a comercializar o excedente, estabelecendo pontos de venda em locais de grande visitação,
as chamadas feiras. Nelas ocorria não só a circulação de produtos,
mas também o transito de diferentes moedas e pessoas.
Por causa dos riscos de assaltos, os comerciantes e artesãos – que
fabricavam produtos, como tecidos, para serem vendidos nas feiras –
passaram a morar e instalar seus negócios dentro das muralhas
dos feudos. Em troca, pagavam impostos aos senhores feudais. Essas aglomerações formaram núcleos urbanos que foram chamados
de burgos, e seus habitantes de burgueses. O excesso de obrigações feudais e a esperança de novas oportunidades levaram muitos
camponeses a migrar para os burgos.
Para garantir sua segurança, os comerciantes passaram a se organizar em grupos para viajar. Formaram assim organizações que,
com o passar do tempo, estabeleceram regras e direitos para seus
membros. Essas associações foram chamadas de guildas. Os artesãos também criaram as corporações de ofício, que tinham
por objetivo controlar a formação de novos profissionais, o
preço dos produtos e até dar assistência às famílias dos associados.
Cidades da península Itálica, como Gênova e Veneza, desenvolveram mais seu comércio em razão da proximidade com o
mar e com os povos do Oriente. Os burgos tornaram-se não só
centros comerciais, mas também polos culturais e financeiros.
No século X foi fundada na cidade italiana de Salerno a primeira
universidade europeia e outras foram criadas pelo continente
durante a Baixa Idade Média.
Os burgos cresceram desordenadamente, com graves problemas de saneamento básico e higiene, o que facilitava a transmissão
de doenças. Estima-se que um terço da população europeia tenha
morrido no século XIV em decorrência de uma epidemia de peste
bubônica, chamada na época de peste negra.
Inovações
técnicas
no campo
Uma das técnicas
usadas pelos
camponeses medievais
consistia em dividir as
terras de plantio em
três partes, fazendo a
rotação de cultura. Por
meio dessa técnica, a
cada ano cultivam-se
produtos diferentes em
duas das três partes,
deixando sempre uma
delas em repouso.
Isso permite que a
terra reponha seus
nutrientes, melhorando
a qualidade da colheita.
Outra importante
invenção foi a charrua
peitoral para arar a
terra, que consistia
em um instrumento de
ferro preso ao peito
do animal. Antes feita
de madeira e presa ao
pescoço, a charrua era
menos resistente, além
de sufocar o animal e
diminuir sua força de
tração.
Trabalhadores do campo
durante a Idade Média.
No primeiro plano, está a
charrua. Ilustração de Simon
Bening para o Flämischer
Kalendar, c. 1520-25,
Munique, Alemanha.
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As Cruzadas e
os diferentes
interesses em
jogo
Alguns burgueses realizavam atividades financeiras, como emprestar dinheiro a juros
para comerciantes. Miniatura espanhola do século XIII.
As cruzadas
A região da Palestina, chamada de Terra Santa, foi conquistada
pelos islâmicos no século VIII. Porém, no século XI, Jerusalém –
considerada sagrada por cristãos, muçulmanos e judeus – foi tomada, e os cristãos foram expulsos e proibidos de visitar a cidade.
Em 1095 o papa Urbano II incitou os cristãos a retomar Jerusalém. Reis, nobres, camponeses e comerciantes aderiram à expedição militar, que foi chamada de Cruzada. Os católicos romanos
tinham o apoio do imperador bizantino, que temia o avanço territorial dos muçulmanos.
Entre os séculos XI e XIII ocorreram oito Cruzadas oficiais e
várias não oficiais. Apesar de conseguir tomar Jerusalém por duas
vezes, a região continuou sob domínio muçulmano.
Nessas Cruzadas, os europeus puderam ter contato com novos
locais, rotas comerciais e produtos. Isso possibilitou uma dinamização do comércio do Ocidente. Muitos conhecimentos e técnicas
orientais chegaram até a Europa, o que iria transformar aos poucos
a mentalidade europeia.
Representação
do saque a
Jerusalém após
sua tomada
pelos cristãos,
em 1099.
Miniatura de
Jean de Courcy,
1440. Biblioteca
Nacional da
França, Paris.
Embora a motivação
religiosa tenha sido um
fator importante para as
Cruzadas, havia outros,
envolvendo diferentes
grupos sociais:
ƒƒ a luta contra os
muçulmanos
representava uma
oportunidade de o
papado submeter
o Ocidente à sua
liderança;
ƒƒ para os reis,
as Cruzadas
representavam
uma estratégia
para se destacarem
como líderes
políticos e militares;
ƒƒ os filhos mais
jovens da nobreza
encontravam a
possibilidade de
conquistar terras,
riqueza e prestígio (à
época apenas o filho
mais velho tinha
direito de receber
herança familiar);
ƒƒ para os nobres
guerreiros, que
travavam lutas
sangrentas por
terras, lançar-se
em um movimento
militar em direção ao
Oriente possibilitava
o restabelecimento
da paz no Ocidente;
ƒƒ para os mercadores
das cidades da região
da península Itálica,
especialmente os de
Veneza, financiar as
Cruzadas possibilitava
assumirem o
controle das rotas
comerciais do mar
Mediterrâneo, até
então monopolizadas
por muçulmanos e
bizantinos.
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Atividades
1 Leia os dados da tabela abaixo.
População europeia (séculos XI ao XIV)
Ano
Habitantes
1050
46 milhões
1150
50 milhões
1200
61 milhões
1300
73 milhões
Fonte: <http://www.brasilescola>. Acesso em: 3 fev. 2009.
a)Pelos dados da tabela, que fenômeno se observa?
b)Que fatores possibilitaram esse fenômeno?
c)Relacione os fatores que possibilitaram o renascimento comercial na Europa
Ocidental durante a Baixa Idade Média.
2 Pela leitura do texto a seguir é possível conhecer um pouco do cotidiano em
Santiago de Compostela durante o século XII.
Santiago de Compostela na Idade Média
Nesta venerável basílica de Santiago de Compostela repousa, segundo a tradição, o corpo venerado de santo Iago, por baixo do altar-mor [...]. O pavimento do
adro é de pedra; é aí que se vendem aos peregrinos pequenas conchas de mariscos, que são insígnias do santo; e também odres de vinho, sapatos, bolsas, cintos,
todas as espécies de ervas medicinais e outras drogas.
Guia do peregrino de Santiago de Compostela (século XII).
Citado por Gustavo Freitas. 900 textos e documentos de História. Lisboa: Plátano, 1977. p. 153.
a)A que atividade econômica o texto faz referência?
b)Onde essa atividade ocorria? Por quê? Descreva-a.
c)Com base no texto, faça uma ilustração que mostre o aspecto destacado.
Depois, exponha seu desenho na sala de aula.
3 O texto a seguir é parte do depoimento de um jornalista e escritor da atualidade.
As Cruzadas
As Cruzadas foram um fracasso, do ponto de vista do conjunto, em virtude
dessa atitude de conversão a ferro e fogo. O sentimento de unidade do Islã contra os invasores se acentuou.
As Cruzadas contribuíram mais para o desenvolvimento do islamismo, que
também pretendia ser universal, e que partiria, um dia, à conquista do mundo.
Jacques Duquesne. Fundamentalismo cristão. Revista História Viva,
São Paulo, Duetto, ano II, n. 15, jan. 2005. p. 43.
a)Faça uma lista das motivações que levaram às Cruzadas.
b)Entre as motivações que você citou, qual delas o texto acima menciona?
Segundo o ponto de vista do autor, as Cruzadas foram bem-sucedidas?
Explique.
c)O que o autor quis dizer com “conversão a ferro e fogo”?
Respostas
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Baixa Idade Média
1 a)O
grande aumento da população europeia
no período compreendido na tabela.
b)O desenvolvimento de técnicas na agricultura, que levaram à maior produção de alimentos. A população, mais bem alimentada,
também aumentou.
c) Vários fatores possibilitaram o crescimento
do comércio, entre eles a necessidade de se
vender o excedente da produção agrícola, o
desenvolvimento das feiras e as Cruzadas.
2 a)Ao
comércio.
b)Na basílica de Santiago de Compostela. Os
comerciantes vendiam suas mercadorias
em pontos de grande circulação de pessoas,
como os locais de peregrinação religiosa.
c) Resposta pessoal. Professor, antes da realização da atividade, mostre aos alunos imagens que retratem o período medieval, de
modo que percebam, por exemplo, como
eram feitas as representações de pessoas
e lugares e quais técnicas de pintura eram
empregadas. Para isso, veja a possibilidade
de desenvolver um trabalho conjunto com o
professor de Arte. Conduza a apreciação das
ilustrações dos alunos, destacando aspectos
trabalhados no texto, como o tipo de atividade realizada, de mercadorias comercializadas e o local onde o comércio era praticado.
3 a)Entre
as motivações, os alunos poderão citar: 1) religiosa (os cristãos queriam retomar
Jerusalém dos muçulmanos); 2) política (o
papa buscava submeter todo o Ocidente à
sua liderança; os reis buscavam destacar-se
política e militarmente; a ação dos nobres
guerreiros nas Cruzadas poderia restabelecer a paz na Europa); 3) econômico-social (filhos mais jovens da nobreza tinham a chance
de conquistar riquezas e prestígio; os mercadores europeus podiam obter o controle das
rotas comerciais do mar Mediterrâneo).
b)O texto destaca a motivação religiosa das
missões. Segundo o autor, esse objetivo
não foi atingido, visto que a reconquista de
Jerusalém pelos cristãos não se efetivou.
Em vez disso, os conflitos acabaram contribuindo para a união dos povos muçulmanos
contra os cristãos.
c) A expressão “a ferro e fogo” significa “à força”, ou seja, as Cruzadas pretendiam converter os não cristãos à força, daí advém parte
de seu fracasso.
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