Universidade do Estado do Pará
Centro de Ciências Biológicas e da Saúde
Escola de Enfermagem Magalhães Barata
Camila Rodrigues Barbosa
Um olhar sobre o cuidar de pessoas vivendo com
HIV/aids: dimensões representacionais de profissionais
de saúde à luz da Política Nacional de Humanização
1.1.1.1.1
1.1.1.1.2
Belém – Par
Belém
2015
Camila Rodrigues Barbosa
Um olhar sobre o cuidar de pessoas vivendo com HIV/aids:
dimensões representacionais de profissionais de saúde à luz da Política
Nacional de Humanização
Dissertação apresentada como requisito para
obtenção do título de Mestre em Enfermagem
no
Programa
de
Pós-graduação
em
Enfermagem Associado Universidade do
Estado do Pará (UEPA) e Universidade Federal
do Amazonas (UFAM) – Linha de pesquisa:
Educação e tecnologia de enfermagem para o
cuidado em saúde a indivíduos e grupos
sociais.
Orientadora: Profa. Dra. Elizabeth Teixeira.
Belém
2015
Dados Internacionais de Catalogação na publicação
Biblioteca do Curso de Enfermagem da UEPA – Belém - PA
B238u
Barbosa, Camila Rodrigues
Um olhar sobre o cuidar de pessoas vivendo com HIV/ AIDS: dimensões
representacionais de profissionais de saúde à luz da Política Nacional de
Humanização. / Camila Rodrigues Barbosa; Orientadora: Elizabeth Teixeira. -Belém, 2015.
112f. ; 30 cm
Dissertação (Mestrado em Enfermagem) – Universidade do Estado do Pará,
Belém, 2015.
1. AIDS (Doença). 2. Enfermagem em doenças transmissíveis. 3. Grupos sociais. I.
Teixeira, Elizabeth. (Orient.). II. Título.
CDD: 21 ed. 616.9792
Camila Rodrigues Barbosa
Um olhar sobre o cuidar de pessoas vivendo com
HIV/aids: dimensões representacionais de profissionais
de saúde à luz da Política Nacional de Humanização
Dissertação apresentada como requisito para
obtenção do título de Mestre em Enfermagem
no
Programa
de
Pós-graduação
em
Enfermagem Associado Universidade do
Estado do Pará (UEPA) e Universidade Federal
do Amazonas (UFAM)
Área de concentração: Enfermagem
Contexto da Sociedade Amazônica.
Aprovada em: 15/06/2015.
.
Banca Examinadora:
_____________________________________________- Orientadora
Profa. Dra. Elizabeth Teixeira
Doutora em Desenvolvimento Sustentável do Trópico Úmido - UFPA
Universidade do Estado do Pará
_____________________________________________- Examinador Externo
Prof. Dr. Renato da Costa Teixeira
Doutor em Educação – PUC/RIO
Universidade do Estado do Pará
_____________________________________________- Examinadora Interna
Profa. Dr. Ivaneide Leal Ataide Rodrigues
Doutora em Enfermagem – UFRJ
Universidade do Estado do Pará
_____________________________________________- Examinador Externo
Prof. Dr. Sílvio Éder Dias da Silva
(Suplente)
Doutor em Enfermagem – UFSC
Universidade Federal do Pará
_____________________________________________- Examinadora Interna
Profa. Dra. Iací Proença Palmeira
(Suplente)
Doutora em Enfermagem – UFRJ
Universidade do Estado do Pará
no
À Deus por toda sua bondade e proteção.
À minha mãe por toda dedicação e apoio.
À Alice, razão de tudo, minha vida.
AGRADECIMENTOS
À Deus, por guiar meus caminhos, me amparar nos momentos de dificuldades
e ser minha força para prosseguir.
Aos profissionais de saúde, que participaram da pesquisa, revelando suas
representações sociais sobre o cuidar de pessoas vivendo com HIV/aids,
corroborando para a concretização deste estudo.
À minha mãe Carmem, que nunca mediu esforços para me ajudar, que cuidou
da minha filha em todos os momentos que eu precisava dedicar-me às atividades do
mestrado.
À Alice, minha filha, que veio inesperadamente no meio do mestrado e se
tornou o maior motivo para que eu continuasse neste caminho, me mostrando que
nada é impossível, só requer dedicação (como mãe e mestranda).
Ao meu “paidrasto” Floriano, um dos meus maiores incentivadores, que
sempre confiou em mim e investiu para que eu pudesse realizar meu sonho de fazer
esse mestrado.
Ao meu amor Pablo, por sempre estar ao meu lado, aguentando meus
anseios, medos, angústias e estresses, mas também compartilhando as alegrias
dessa jornada.
À minha irmã Isabelle, por aceitar a ausência de nossa mãe em todas as
viagens para Belém na qual precisava de sua ajuda. E por me ajudar nas traduções
em inglês.
À minha tia Cristina, seus filhos e seu marido Beto, por terem me dado um lar
em Belém nos primeiros 6 meses de mestrado sem nunca pedir nada em troca.
Nunca esquecerei o que fizeram por mim.
À Horácio, meu amigo, compadre e irmão que a vida me presenteou, por todo
o incentivo, apoio, por dividir o mesmo teto no momento mais delicado que tive no
mestrado, a gravidez.
À Bruna, uma amiga que a vida acadêmica me permitiu conhecer. Um ser
doce, de um coração imenso que me ajudou sempre que possível.
Às minhas amigas Taiana, Thiemy, Vivian, Vanessa, Verena, Luciana, Aline,
Karlinha e Rafaella pela amizade sincera, por entenderem minha ausência em
muitos momentos, e por me apoiarem sempre.
À todas as professoras do Mestrado por compartilharem seus conhecimentos
tão valiosos e que contribuíram para meu aprimoramento profissional.
Aos amigos do mestrado Adilson, Anderson, Érika, Claudia e Daiane,
companheiros e que compartilharam bons e maus momentos nessa trajetória.
Levarei para sempre um pouco de cada um de vocês na minha vida.
À secretária do Programa de Mestrado Nelma, por toda sua disponibilidade
quando solicitava algo.
À CAPES, pelo apoio financeiro, com concessão da bolsa, muito oportuna
durante este período para que pudesse me dedicar exclusivamente ao mestrado.
Aos membros da banca avaliadora, por suas importantes contribuições neste
estudo.
Em especial, à minha orientadora Elizabeth Teixeira. Essa borboleta que voa
comigo e me orienta desde a iniciação científica, TCC e agora, no Mestrado. Além
de orientadora, uma mãe e amiga. Um ser humano que merece toda minha gratidão
enquanto profissional, por compartilhar seus conhecimentos e um exemplo a ser
seguido e enquanto pessoa que me cobriu de afetos durante toda essa trajetória.
Meu muito obrigada!
“Creio que podemos transformar a tragédia da
AIDS, da enfermidade e da doença num
desafio, numa oportunidade, numa
possibilidade de recuperar na nossa sociedade,
em nós mesmos, em cada um de nós e em
todos nós, o sentido da vida e da dignidade. E,
com esse sentido da vida e da dignidade,
seremos capazes de lutar pela construção de
uma sociedade democrática, de uma sociedade
justa e fraterna”
Hebert de Souza
RESUMO
BARBOSA, Camila Rodrigues. Um olhar sobre o cuidar de pessoas vivendo com
HIV/aids: dimensões representacionais de profissionais de saúde à luz da Política
Nacional de Humanização. 2015. 123f. Dissertação (Mestrado em Enfermagem) Universidade do Estado do Para, Belém, Pará, 2015.
A partir dos anos 90 as transformações do significado social da aids começaram a
ser reveladas, a assistência dos profissionais de saúde passou a ser influenciada
por novos aportes. As pessoas vivendo com HIV/aids começaram a se posicionar e
exigiram também transformações no agir dos profissionais com vistas a um cuidado
humanizado. Os diferentes contextos epidemiológicos na epidemia do HIV/aids
tiveram influência sobre a construção e evolução das representações sociais do
cuidado de saúde prestado aos sujeitos com HIV/aids. Objetivou-se apreender as
representações sociais de profissionais de saúde sobre cuidar de pessoas vivendo
com HIV/aids em Belém – Pará à luz da Política Nacional de Humanização. Estudo
qualitativo, exploratório, com suporte teórico na Teoria das Representações Sociais
na perspectiva estrutural. Realizado com 114 profissionais de saúde de quatro
unidades de referência de atendimento às pessoas vivendo com HIV/aids no
município de Belém-PA. Coleta de dados por meio da técnica de associações livres
de palavras (situação de normalidade) e técnica de substituição ao termo indutor
“Cuidar de pessoas com HIV/aids”. Para análise dos dados foi utilizado o software
EVOC 2003 obtendo quadros de quatro casas com os termos evocados. O EVOC
realizou também a comparação estatística entre as variáveis: categoria profissional,
idade e tempo de formação. Foi realizada análise semântica e de conteúdo dos
termos contidos nos quadros de quatro casas e buscou-se agrupar os termos em
categorias associadas ao objeto de estudo, de acordo com o universo semântico
empregado pelos sujeitos. A pesquisa obedeceu à Resolução 466/12 do Conselho
Nacional de Saúde, aprovada pelo Comitê de Ética da UERJ, Protocolo Nº
048.3.2010 e Comitê de Ética da UEPA, Protocolo N° 0069.0.321.000-10. O núcleo
central dos profissionais de saúde sobre cuidar de pessoas vivendo com HIV/aids
em situação de normalidade é composto pelos termos amor, cuidado e educação em
saúde. A estrutura representacional se organiza em torno das categorias Cuidado
sócio-sensível, Cuidado técnico-terapêutico e Cuidado educativo. Quatro dos cinco
princípios norteadores da Política Nacional de Humanização estão presentes na
estrutura representacional dos profissionais de saúde. Quando comparadas as
variáveis categoria profissional, idade, e tempo de formação há diferenças entre as
estruturas representacionais, emergindo na variável tempo de formação uma quarta
categoria organizadora (Cuidado técnico–estigmatizante). Quando analisadas
evocações em situação de substituição há pelo menos dois elementos escondidos
ou não explicitados nas representações sociais dos profissionais de saúde:
discriminação e medo da morte. Ressalta-se a política de humanização como um
ideal possível e inesgotável, mas também um processo contínuo de construção e
reconstrução sob a ótica do trabalho em saúde e do cuidar. Aponta-se para
superação parcial de representações sociais do período inicial da doença fortemente
marcadas por preconceitos, discriminação e estigmas. Levanta-se a hipótese de
uma zona muda e sugere-se a implementação da política de educação permanente
como estratégia de enfrentamento e superação das dificuldades encontradas no
cotidiano do cuidar de pessoas vivendo com HIV/aids.
Palavras-chave: Representações sociais. Profissionais de saúde. HIV/aids.
ABSTRACT
BARBOSA, Camila Rodrigues. A look at the care of people living with HIV/aids:
representational dimensions of health professionals enlightened by the National
Policy of Humanization. 2015. 123f. Dissertation (Master of Nursing) - University of
State of Para, Belém, Pará, 2015.
From the nineties on, the transformation of the social meaning of aids has begun to
be revealed, the health professionals care has become influenced by new
contributions. People living with HIV/aids have started to position themselves and
also to require changes in the actions of the professionals, focusing on the
humanized care. The different epidemiological contexts of the HIV/aids epidemic had
influenced the construction and evolution of social representations of the health care
provided to individuals with HIV/aids. The objective was to apprehend the social
representations of health professionals on caring for people living with HIV/aids in
Belém - Pará enlightened by the National Policy of Humanization. Qualitative,
exploratory study with theoretical support in the Social Representation Theory in
structural perspective. Accomplished with 114 health professionals of four reference
units of the care of people living with HIV/aids in the city of Belém-PA. Data collection
through the technique of free association of words (normal situation) and
replacement technique to inducing term "Caring for people with HIV/aids”. For data
analysis, it was used the software EVOC 2003 getting pictures of four houses with
the evoked terms. EVOC also conducted a statistical comparison between the
variables: professional category, age and time of formation. Semantic and content
analysis of contained terms was conducted in the pictures of four houses and the
attempt was to group the terms into categories associated with the object of study,
according to the semantic universe used by the subject. The research complied with
Resolution 466/12 of the National Health Council, approved by the Ethics Committee
of UERJ, Protocol No. 048.3.2010 and the Ethics Committee of UEPA, Protocol No.
0069.0.321.000-10. The central core of health professionals on caring for people
living with HIV/aids in normal situation consists in the terms love, care and health
education. The representational structure is organized around the categories sociosensitive care, technical and therapeutic care and educational care. Four of the five
guiding principles of the National Policy of Humanization are present in the
representational structure of health professionals. When comparing the variables
professional category, age, and time of formation there are differences between the
representational structures emerging in variable time of formation of a fourth
organizing category (technical-stigmatizing care). When analyzed evocations in
replacement situation, there is at least two hidden or not made explicit elements in
the social representations of health professionals: discrimination and fear of death.
There is emphasis on the humanization policy as a possible and inexhaustible ideal,
but also an ongoing process of construction and reconstruction from the perspective
of working in health and care. It points to partial overcoming social representations of
the initial period of the disease strongly marked by prejudice, discrimination and
stigma. It forms the hypothesis of a zone change and suggests the implementation of
lifelong learning policy as a coping strategy and overcoming the difficulties
encountered in the daily care of people living with HIV/aids.
Keywords: Social Representations. Health Professionals. HIV/aids.
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 – Quadro de quatro casas do termo indutor “cuidar da pessoa com
HIV/aids” – situação de normalidade. Belém, 2015................................................... 59
Figura 2 – Distribuição das categorias organizadoras no quadro de quatro casas do
termo indutor “cuidar da pessoa com HIV/aids” – situação de normalidade. Belém,
2015. ......................................................................................................................... 60
Figura 3 – Diagrama da Categoria Cuidado Sócio-sensível. Belém, 2015. ............... 62
Figura 4 – Diagrama da Categoria Cuidado Técnico-terapêutico. Belém, 2015........ 65
Figura 5 – Diagrama da Categoria Cuidado Educativo. Belém, 2015. ...................... 68
Figura 6 – Termos do Núcleo Central de todos os profissionais e subgrupos segundo
categoria profissional. Belém, 2015. ......................................................................... 72
Figura 7 – Termos de todos os profissionais e subgrupos segundo categoria
profissional de acordo com as categorias organizadoras. Belém, 2015. ................... 73
Figura 8 – Termos do Núcleo Central de todos os profissionais e subgrupos segundo
idade. Belém, 2015. .................................................................................................. 75
Figura 9 – Termos de todos os profissionais e subgrupos segundo idade de acordo
com as categorias organizadoras. Belém, 2015........................................................ 76
Figura 10 – Termos do Núcleo Central de todos os profissionais e subgrupos
segundo tempo de formação. Belém, 2015. .............................................................. 78
Figura 11 - Termos de todos os profissionais e subgrupos segundo tempo de
formação de acordo com as categorias organizadoras. Belém, 2015. ...................... 79
Figura 12 – Quadro de quatro casas do termo indutor “cuidar da pessoa com
HIV/aids” – situação de substituição. Belém, 2015. .................................................. 85
Figura 13 – Termos e categorias centrais em situação de normalidade e situação de
substituição. Belém, 2015. ........................................................................................ 86
Figura 14 - Conteúdo das categorias em situação de normalidade e situação de
substituição. Belém, 2015. ........................................................................................ 87
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
ARVs
Antirretrovirais
ABIA
Associação Brasileira Interdisciplinar da aids
AZT
Zidovudina
CASA DIA
Centro de Atenção à Saúde em Doenças Infecciosas
Adquiridas
COAS
Centros de Orientação e Apoio Sorológico
CTA
Centro de Testagem e Aconselhamento
CTA/SAE
Centro de Testagem e Aconselhamento / Serviço de
Atendimento Especializado
DDC
Zalcitabina
DDI
Didanosina
DST
Doença Sexualmente Adquirida
ESF
Estratégia Saúde da Família
EVOC
Ensemble de Programmes Permettant I’ Analyse des
Evoctions
FDA
Food and Drug Aministration
HIV
Vírus da Imunodeficiência Humana
HUJBB
Hospital Universitário João de Barros Barreto
HSH
Homens que fazem sexo com homens
PESCA
Práticas Educativas em Saúde e Cuidado na Amazônia
PNH
Política Nacional de Humanização
PROVAB
Programa de Valorização dos Profissionais da Atenção
Básica
RS
Representações sociais
SINAN
Sistema de Informação de Notificação de Agravos
Nacional
SUS
Sistema Único de Saúde
TALP
Técnica de Associação Livre de Palavras
TARV
Terapia Antirretroviral
TNC
Teoria do Núcleo Central
TRS
Teoria das Representações Sociais
UBS
Unida Básica de Saúde
UREDIPE
Unidade de Referência em Doenças Infecto Parasitárias
Especiais
SUMÁRIO
CAPÍTULO 1 – INTRODUÇÃO ................................................................................. 12
1.1 CONTEXTOS
QUE
CIRCUNSCREVEM
O
TEMA
EM
ESTUDO
.................................................................................................................................. 13
1.2 APROXIMAÇÕES QUE SUSCITAM A OPÇÃO PELO TEMA EM ESTUDO ...... 14
1.3 SITUAÇÃO PROBLEMA DE PESQUISA E QUESTÕES NORTEADORAS DO
ESTUDO ................................................................................................................... 16
1.4 OBJETIVOS ........................................................................................................ 18
CAPÍTULO 2 – MARCO EPIDEMIOLÓGICO, POLÍTICO E TEÓRICO ................... 19
2.1 MARCO EPIDEMIOLÓGICO: PERFIL E POLÍTICAS PÚBLICAS DA AIDS NO
BRASIL ..................................................................................................................... 20
2.2 MARCO POLÍTICO: A POLÍTICA NACIONAL DE HUMANIZAÇÃO ................... 25
2.3 MARCO TEÓRICO: ASPECTOS HISTÓRICOS E BASES FUNDANTES DAS
REPRESENTAÇÕES SOCIAIS ................................................................................ 28
2.3.1 Bases históricas do conceito-fenômemo .......................................................... 28
2.3.2 A Teoria das Representações Sociais ............................................................. 31
2.3.3 A Teoria do Núcleo Central e o conceito de Zona Muda .................................. 33
CAPÍTULO 3 – AIDS NA INTERFACE COM AS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS:
MANUSCRITO1 ......................................................................................................... 36
CAPÍTULO 4 – TRAJETÓRIA METODOLÓGICA.................................................... 49
CAPÍTULO
5
–
CUIDAR
DE
PESSOAS
VIVENDO
COM
HIV/AIDS:
APROXIMAÇÃO COM A ESTRUTURA DAS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DOS
PROFISSIONAIS DE SAÚDE ................................................................................... 58
5.1 ABORDAGEM GLOBAL ...................................................................................... 59
5.2 ABORDAGEM COMPARATIVA .......................................................................... 71
5.2.1 Variável categoria profissional.......................................................................... 72
5.2.2 Variável idade ................................................................................................... 75
5.2.3 Variável tempo de formação ............................................................................. 78
5.3 ABORDAGEM SUBSTITUTIVA .......................................................................... 85
CAPÍTULO 6 – CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................. 93
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 96
APÊNDICES ........................................................................................................... 107
ANEXOS ................................................................................................................. 112
12
_________________________
CAPÍTULO 1 – INTRODUÇÃO
_________________________
13
BARBOSA, C. R. Um olhar sobre o cuidar de pessoas vivendo com HIV/aids: dimensões
representacionais de profissionais de saúde à luz da Política Nacional de Humanização
_____________________________________________________________________________
1.1 CONTEXTOS QUE CIRCUNSCREVEM O TEMA EM ESTUDO
É a década de 80 que demarca o registro dos primeiros pacientes acometidos
pela aids1 no Brasil. As concentrações dos primeiros casos mantinham-se restritas a
São Paulo e Rio de Janeiro até a primeira metade dessa mesma década, a partir
daí, disseminou-se para outras regiões do país (BRASIL, 2000; CASTILHO;
CHEQUER, 1997; GALVÃO, 2000; PINEL; INGLESI, 1996). Esses primeiros casos
foram, na sua maioria, observados em homens, em meio a uma ausência total de
conhecimentos sobre a doença e o tratamento, da mesma forma que nos outros
países que registraram sua presença. É esse período que demarca o início da
constituição de representações sociais (RS) sobre a aids e o cuidar de pessoas
vivendo com HIV/aids (OLIVEIRA, 2013).
A evolução da epidemia do HIV/aids apresentou perfis distintos nos diferentes
centros urbanos brasileiros e também nas diversas regiões do Brasil. Essas
diferenças são caracterizadas tanto pelo perfil hetero ou homossexual enquanto
principal grupo de contaminação, quanto pela posição dos usuários de drogas por
via intravenosa e da transmissão vertical na configuração da epidemia.
A partir de 1995, nas diversas regiões brasileiras, especialmente na Sudeste,
a epidemia do HIV/aids iniciou seu avanço para o sexo feminino e com isto,
observou-se o confronto dos profissionais de saúde com situações diferentes, nas
quais era muito elevada a probabilidade de encontrarem uma mulher ou uma criança
como primeiro paciente.
Com esse novo panorama, a partir da década de 90, os profissionais de
saúde se encontraram em uma situação diferente da inicial, marcada por um lado,
pela presença de mulheres e de crianças entre as pessoas doentes e, por outro,
pela universalização dos tratamentos antirretrovirais (ARVs) estabelecidos pela Lei
9313/96, a partir de 1996 (BRASIL, 1996). Esses contextos político e epidemiológico
fomentaram a transformação das representações sociais e das memórias iniciais
constituídas pelos profissionais de saúde, fortemente influenciadas pelas diferentes
possibilidades de enfrentamento da doença. A partir dos anos 2000 até a atualidade,
a atuação dos profissionais recebeu o impacto do avanço do tratamento
O termo “aids” será utilizado conforme recomendado pelo Ministério da Saúde, enquanto nome
adotado para se referir à patologia e não como sigla, grafado, portanto em letra minúscula. Enquanto
as referências ao vírus serão feitas pela sigla HIV (vírus da imunodeficiência humana), grafado em
letra maiúscula.
1
14
BARBOSA, C. R. Um olhar sobre o cuidar de pessoas vivendo com HIV/aids: dimensões
representacionais de profissionais de saúde à luz da Política Nacional de Humanização
_____________________________________________________________________________
medicamentoso, o que também influencia a configuração da doença na perspectiva
da cronificação (OLIVEIRA, 2013).
Os três contextos epidemiológicos enunciados permitem circunscrever
diferentes momentos históricos vivenciados pelos profissionais de saúde nas
práticas de cuidar de pessoas vivendo com HIV/aids, estes se encontraram em
situações diferentes no que se refere à formação de RS e atuação profissional,
considerando a aproximação ao fenômeno do HIV/aids: um primeiro momento
caracterizado pela atuação profissional no início da epidemia (anos 80), um segundo
momento no qual a atuação profissional passou a se dar com base na
regulamentação da Lei de universalização dos ARVs, em 1996, um terceiro
caracterizado pela cronificação da doença a partir de 2000.
Esses contextos que circunscrevem o tema em estudo são considerados com
mais densidade na descrição do marco epidemiológico incluída no capítulo 2.
1.2 APROXIMAÇÕES QUE SUSCITAM A OPÇÃO PELO TEMA EM ESTUDO
Minha aproximação com estudos sobre HIV/aids na interface com as RS foi
um constructo desenvolvido na graduação em enfermagem na Universidade do
Estado do Pará, Campus Santarém (2007-2011).
Meu primeiro contato com o referencial das RS, se deu em 2010, quando tive
a oportunidade de ser voluntária de um projeto de pesquisa que objetivava identificar
as necessidades, interesses e representações sociais dos enfermeiros com atuação
em Unidades Básicas de Saúde de Belém e Santarém no que tange as tecnologias
educativas.2
Neste projeto participei da coleta de dados com os enfermeiros das UBS de
Santarém, aplicando um formulário com questões sobre o perfil sócio-demográfico,
uma questão-teste de associação livre de palavras e questões abertas sobre o tema
em foco.
2
Projeto de pesquisa intitulado “Laboratório de Tecnologias Educativas: Estudo I - Interlocução,
produção e validação de materiais educativos para subsidiar o agir educativo-cuidativo em
enfermagem”, sob a coordenação da Profª Drª Elizabeth Teixeira, financiado pelo Conselho Nacional
de Desenvolvimento Científico e Tecnológico – CNPq, desenvolvido entre 2010 e 2012, vinculado ao
Grupo de Pesquisa Práticas Educativas em Saúde e Cuidado na Amazônia (PESCA).
15
BARBOSA, C. R. Um olhar sobre o cuidar de pessoas vivendo com HIV/aids: dimensões
representacionais de profissionais de saúde à luz da Política Nacional de Humanização
_____________________________________________________________________________
Meu segundo contato com este referencial se deu em 2011, quando optei
realizar meu trabalho de conclusão de curso sobre as RS de homens-trabalhadores
portuários sobre saúde, doença e cuidado. Neste estudo pude me aproximar da
abordagem estrutural das RS, na coleta de dados utilizei três questões-teste de
associação livre de palavras. Para nortear a análise dos dados, utilizei o quadro de
quatro casas obtido após o processamento do corpus no software EVOC 2003.
Estas aproximações me possibilitaram adentrar no referencial das RS, com
ênfase na abordagem estrutural, me incentivando à leitura de autores da Teoria e
artigos de pesquisadores que em seus estudos realizaram interface com as RS.
Meu primeiro contato com o tema HIV/aids se deu ainda em 2011, quando fui
voluntária de um Projeto Multicêntrico que tinha como objetivo analisar as
representações sociais e as memórias das práticas profissionais de cuidado voltadas
ao HIV/aids, desenvolvidas por enfermeiros e por profissionais de saúde brasileiros.3
Nesse projeto colaborei na coleta de dados com profissionais de saúde no
CTA/SAE de Santarém, aplicando um formulário contendo questões sobre o perfil
sócio-demográfico, quatro questões-teste de associação livre de palavras e
questões sobre as práticas de cuidar de pessoas vivendo com HIV/aids.
Esta participação me possibilitou realizar um treinamento em Belém, com dois
pesquisadores da equipe da UERJ. Nesse treinamento trabalhamos com o primeiro
banco de dados do polo Pará, mais precisamente com os corpus obtidos com as
quatros questões-teste de associação livre de palavras que foram processados no
software EVOC 2003.
Meu segundo contato com o tema ocorreu em 2012, quando fui selecionada
como bolsista pelo Ministério da Saúde para atuar na Estratégia Saúde da Família
(ESF) no município de Santarém pelo Programa de Valorização dos Profissionais da
Atenção Básica (PROVAB 2012-2013); neste período tive a oportunidade de
trabalhar na assistência de enfermagem e prestei cuidados à pessoas vivendo com
HIV/aids.
3
Projeto de pesquisa intitulado “As Transformações do Cuidado de Saúde e Enfermagem em tempos
de aids: representações sociais e memórias de enfermeiros e profissionais de saúde no Brasil”, sob a
coordenação da Profª Drª Denize Cristina de Oliveira (UERJ), projeto multicêntrico financiado pelo
CNPq, desenvolvido no polo Pará pelo Grupo de Pesquisa Práticas Educativas em Saúde e Cuidado
na Amazônia (PESCA). Foi realizado em 11 municípios nas 5 regiões do país.
16
BARBOSA, C. R. Um olhar sobre o cuidar de pessoas vivendo com HIV/aids: dimensões
representacionais de profissionais de saúde à luz da Política Nacional de Humanização
_____________________________________________________________________________
No final de 2012 tive minha segunda participação no Projeto Multicêntrico,
quando realizei entrevistas objetivando apreender a constituição das memórias dos
profissionais de saúde sobre as práticas de cuidado desenvolvidas à pessoas
vivendo com HIV/aids desde o início da epidemia.
Em junho de 2013, quando me submeti à seleção para o Mestrado Associado
de Enfermagem da Universidade do Estado do Pará (UEPA) com a Universidade
Federal do Amazonas (UFAM) me motivei a dar continuidade aos estudos do Projeto
Multicêntrico e assim defendi a proposta de um recorte com o objeto de estudo
representações sociais de profissionais de saúde sobre cuidar de pessoas
vivendo com HIV/aids no Município de Belém/Pará à luz da Política Nacional de
Humanização.
1.3 SITUAÇÃO PROBLEMA DE PESQUISA E QUESTÕES NORTEADORAS DO
ESTUDO
A representação original da aids nos anos 80 apareceu como contraponto da
moralidade sexual dominante em diversas partes do mundo. Assim, Guilhem (2005)
considera que a síndrome foi elaborada e metaforizada como uma epidemia da
imoralidade e também como consequência da perda de padrões morais e sociais, o
que influenciou a assistência prestada à essas pessoas no mundo e no Brasil. A
partir dos anos 90 as transformações do significado social da aids começam a ser
reveladas, e também a assistência passa a ser influenciada por novos aportes. As
pessoas vivendo com HIV/aids começam a se posicionar e exigir também
transformações no agir dos profissionais, com vistas a um cuidado humanizado.
Nesta perspectiva, destaca-se que nos anos 90 no Brasil, a prática e o ensino
na saúde, norteados pelas ciências humanas e sociais, proporcionaram as bases
para o estabelecimento de uma política de humanização da assistência no começo
da década seguinte (MATUMOTO; MISHIMA; PINTO, 2001). Nos anos seguintes,
algumas profissões da área da saúde passaram a considerá-la como foco da sua
assistência. Na enfermagem este movimento se consolidou ainda nos anos 90. Tal
concepção reconhece o ser humano como um ser social em constante relação com
outros seres humanos e com seu meio, transformando-o e sendo transformado por
ele, isto é, um protagonista da ação de saúde (MATUMOTO; MISHIMA; PINTO,
17
BARBOSA, C. R. Um olhar sobre o cuidar de pessoas vivendo com HIV/aids: dimensões
representacionais de profissionais de saúde à luz da Política Nacional de Humanização
_____________________________________________________________________________
2001); este aporte está, a nosso ver, em consonância com as transformações
ocorridas no próprio significado social da aids.
Sabe-se, no entanto, que as pessoas vivendo com HIV ainda são muito
discriminadas, o que pode interferir no cuidado prestado, pois os valores morais dos
profissionais envolvidos em seu atendimento se fazem bastantes presentes no
momento do cuidado (KOHLRAUSCH, 1999).
A situação problema aqui proposta, se configura em torno das dimensões da
Política Nacional de Humanização presentes nas representações que os
profissionais de saúde da Região Norte, mais especificamente, da cidade de Belém
no Estado do Pará, elaboraram sobre o cuidar de pessoas vivendo com HIV/aids.
As representações sociais guiam as práticas desses profissionais, bem como
seus modos de cuidar de pessoas vivendo com HIV/aids. Se não as conhecemos,
como pensar ações de capacitação para potencializar a ação/atuação humanizada
dos profissionais, inclusive os de enfermagem? Como pensar as práticas/reflexões
no próprio serviço com vistas à qualificação do cuidar de pessoas vivendo com
HIV/aids? A enfermagem está integrada à equipe e o cuidar é integrado entre todos.
Há que se favorecer a qualificação dos profissionais nas unidades de referência para
se potencializar o agir educativo-cuidativo humanizado. A meu ver, a enfermagem
não pode ficar à margem desse processo de reflexão sobre o cuidar de pessoas
vivendo com HIV/aids na perspectiva da prática de humanização. Há que se
considerar ainda, que o primeiro caso de HIV em Belém ocorreu no ano de 1985 e
desde essa época, os profissionais de saúde entraram em contato com tais
indivíduos.
No Projeto Multicêntrico que subsidiou o recorte aqui apresentado formula-se
a seguinte problemática: quais as representações e memórias sobre cuidado de
pessoas com HIV/aids entre profissionais de saúde de unidades de atendimento
especializado de Belém? Neste
subprojeto a problemática é: quais as
representações sociais de profissionais de saúde sobre cuidar de pessoas vivendo
com HIV/aids em Belém – Pará à luz da Política Nacional de Humanização?
As
questões
norteadoras
para
orientação
deste
estudo
assim
se
contextualizam:

Qual a estrutura e o conteúdo das representações sociais dos profissionais de
saúde sobre cuidar de pessoas vivendo com HIV/aids?
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BARBOSA, C. R. Um olhar sobre o cuidar de pessoas vivendo com HIV/aids: dimensões
representacionais de profissionais de saúde à luz da Política Nacional de Humanização
_____________________________________________________________________________

Quais princípios norteadores da Política Nacional de Humanização estão
presentes nas representações sociais dos profissionais de saúde sobre cuidar
de pessoas vivendo com HIV/aids?

Existe diferença entre as representações sociais dos profissionais de saúde
sobre cuidar de pessoas vivendo com HIV/aids quando comparadas as variáveis
categoria profissional, idade e tempo de formação?

Existem elementos ocultos ou não explicitados (aproximação com a zona muda
ou mascarada) nas representações sociais dos profissionais de saúde sobre o
cuidar de pessoas vivendo com HIV/aids?
1.4 OBJETIVOS
Geral: Apreender as representações sociais de profissionais de saúde sobre
cuidar de pessoas vivendo com HIV/aids em Belém – Pará à luz da Política Nacional
de Humanização.
Específicos:

Analisar a estrutura e o conteúdo das representações sociais dos profissionais
de saúde sobre cuidar de pessoas vivendo com HIV/aids.

Discutir
os
possíveis
princípios
norteadores
da
Política
Nacional
de
Humanização (presentes/ ou não) nas representações sociais dos profissionais
de saúde sobre cuidar de pessoas vivendo com HIV/aids.

Verificar a existência de diferença entre as representações sociais dos
profissionais de saúde sobre cuidar de pessoas vivendo com HIV/aids quando
comparadas as variáveis categoria profissional, idade e tempo de formação.

Verificar a existência de elementos escondidos ou não explicitados (aproximação
com a zona muda ou mascarada) nas representações sociais dos profissionais
de saúde sobre cuidar de pessoas vivendo com HIV/aids.
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____________________________________
CAPÍTULO 2 – MARCO EPIDEMIOLÓGICO,
POLÍTICO E TEÓRICO
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BARBOSA, C. R. Um olhar sobre o cuidar de pessoas vivendo com HIV/aids: dimensões
representacionais de profissionais de saúde à luz da Política Nacional de Humanização
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2.1 MARCO EPIDEMIOLÓGICO: PERFIL E POLÍTICAS PÚBLICAS DA AIDS NO
BRASIL
O primeiro caso denominado de aids no Brasil ocorreu em 1982. A aids nessa
época era chamada pelos cientista de Gay Related Immunodeficiency e de peste
gay pela mídia. Os primeiros casos no Brasil ocorreram em São Paulo. As
concentrações de casos mantinham-se nas cidades de São Paulo e Rio de Janeiro,
até 1985; a partir daí disseminou-se a doença para as outras regiões (BRASIL,
2013a).
A aids teve uma adoção temporária do termo Doença dos 5H: homossexuais,
hemofílicos, haitianos, heroinômanos (usuários de heroína injetável) e hookers
(profissionais do sexo em inglês).
Em 1984 os Estados Unidos e a França afirmaram ter isolado o vírus da aids.
Nesse mesmo ano, no Brasil, houve no estado de São Paulo a estruturação do
primeiro programa brasileiro para o controle da epidemia.
Em
1985,
o
agente
Immunodeficiency Virus (HIV).
etiológico
causador
foi
denominado
Human
Neste mesmo ano foi criada a primeira ONG do
Brasil e América Latina para a luta contra a aids. Também neste ano o primeiro teste
anti-HIV foi disponibilizado para diagnóstico, podendo ser utilizado no controle da
aids transfusional, porém por conflitos políticos e econômicos demorou um pouco
para ser comercializado. Em 2 de maio de 1985 foi lançada pelo Ministério da Saúde
a portaria nº 236 aprovando as diretrizes para o programa de controle da aids
(BRASIL, 1985), porém, só em 1988, o Programa Nacional de DST/aids foi
oficialmente criado (BRASIL, 2013a).
Em 1986, Hebert de Souza, o Betinho, sociólogo, ativista brasileiro, hemofílico
e portador do HIV, criou no Rio de Janeiro a Associação Brasileira Interdisciplinar da
aids (ABIA), considerada referência na luta pelo controle dos bancos de sangue e
contra a disseminação da doença (BRASIL, 2013a).
Os primeiros casos de aids diagnosticados configuraram um fato social de
extrema ressonância no país e causaram discussões em torno do Programa
Nacional do Sangue (Pró-Sangue). Nos anos 80, no Brasil, cerca de 2% dos casos
de aids eram transmitidos por transfusão e mais de 50% dos hemofílicos
apresentavam-se infectados pelo HIV (JUNQUEIRA; ROSENBLIT; HAMERSCHLAK,
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BARBOSA, C. R. Um olhar sobre o cuidar de pessoas vivendo com HIV/aids: dimensões
representacionais de profissionais de saúde à luz da Política Nacional de Humanização
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2005). A aids transfusional, ao disseminar o medo e propagar um amplo movimento
de luta pela melhoria dos serviços, foi responsável pelos rumos da Política Nacional
do Sangue na década de 80 e ainda assim até os dias atuais. Porém, a resposta
institucional, no plano das políticas públicas, foi lenta, sendo difícil apontar uma
correlação linear entre a repercussão da aids como fato social e a reorganização da
hemoterapia (SANTOS; MORAES; COELHO, 1992).
Em 1987 começou a ser estimulada a criação, em nível nacional, dos Centros
de Testagem e Aconselhamento (CTA), então denominados Centros de Orientação
e Apoio Sorológico (COAS); o primeiro foi implantado em 1987 em Porto Alegre e o
segundo no município de São Paulo, em 1989. Em 1987 foi isolado pela primeira vez
na América Latina, o HIV-1, por pesquisadores do Instituto Oswaldo Cruz. Os casos
de aids notificados no Brasil neste período chegavam a 2.775 casos (BRASIL,
2013a).
Em 1988 com a criação do Sistema Único de Saúde (SUS), o Brasil passou a
fornecer medicamento para o tratamento de infecções oportunistas. Neste ano o
primeiro caso de aids em índios foi diagnosticado, e por decreto federal o teste antiHIV passou a ser obrigatório na triagem da doação de sangue. O Brasil passou a
adotar ainda nesse ano o 1º de dezembro intitulado pela Assembleia Mundial de
Saúde e pela Organização das Nações Unidas como o Dia Mundial da Luta contra a
aids.
Vários foram os investimentos e avanços do Brasil, em relação à Terapia
Antirretroviral (TARV). Em 1987 se iniciou a utilização do AZT (zidovudina ou
azidotimidina), primeiro fármaco autorizado para o tratamento da aids; utilizado
anteriormente para o tratamento de pacientes com câncer, na época os brasileiros
importavam o remédio. Em 1989 a fabricante do AZT foi pressionada por ativistas a
baixar seu preço em 20%. Neste mesmo ano o Food and Drug Aministration (FDA),
órgão norte-americano de controle sobre produtos farmacêuticos aprovou o uso do
DDI (videx ou didanosina), um novo antirretroviral (BRASIL, 2013a). Em 1991 o AZT
começou a ser distribuído no SUS, e o FDA autorizou o terceiro antirretroviral, o
DDC (zalcitabina ou dideoxicitidina). O DDC foi aprovado em combinação com o
AZT para pacientes com infecção avançada (primeira combinação terapêutica).
Em 1992 a combinação entre AZT e Videx inaugurou o coquetel anti-aids e o
Ministério da Saúde incluiu os procedimentos de tratamento da aids na tabela do
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BARBOSA, C. R. Um olhar sobre o cuidar de pessoas vivendo com HIV/aids: dimensões
representacionais de profissionais de saúde à luz da Política Nacional de Humanização
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SUS. Em 1993 o Brasil passou a produzir o AZT e neste ano a aids passou a ser
notificada no Sistema Nacional de Notificação de Doenças (SINAN). Em 1994 um
acordo entre o Brasil e o Banco Mundial deu impulso às ações de controle e
prevenção às DST e à aids. O número de casos registrados nesse ano no Brasil foi
de 18.224 casos. Em 1995 outros medicamentos foram lançados, aumentando as
escolhas de tratamento.
Em 1996 o Programa Nacional de DST/aids lançou o primeiro consenso em
terapia antirretroviral (a regulamentação da prescrição de medicações para
combater o HIV) e a universalização dos tratamentos antirretrovirais foi estabelecida
pela Lei 9313/96 (BRASIL, 1996). Neste ano, foi criado o primeiro coquetel utilizando
tríplice esquema de antirretrovirais, e o Brasil passou a ser o primeiro país a
distribuir o coquetel gratuitamente. Com mais de 22 mil casos de aids, o Brasil
registrou a feminização, interiorização e pauperização da epidemia.
Em 1997 foi implementada a Rede Nacional de Laboratórios para o
monitoramento de pacientes com HIV, com a realização de exames de carga viral e
contagem de células CD4 (BRASIL, 2013a).
Em 1998 a Lei 9.656 tornou obrigatória a cobertura de despesas hospitalares
com aids pelos seguros-saúde privados, porém sem assegurar despesas com a
TARV (BRASIL, 1998a). Ainda em 1998 o Ministério da Saúde passou a recomendar
a aplicação da Abordagem Sindrômica das Doenças Sexualmente Transmissíveis
(DST) para o tratamento oportuno e consequente diminuição da incidência do HIV.
Em 1999 a rede pública de saúde disponibilizou 15 medicamentos
antirretrovirais. Neste ano foi instituída a Política Nacional de DST/aids (BRASIL,
1999), com o objetivo de sistematizar as ações do Programa Nacional de DST/aids.
O governo divulgou a redução em 50% de mortes de pessoas soropositivos e 80%
de redução de infecções oportunistas, em função do uso do coquetel. Em 2001 o
Brasil negociou e conseguiu reduzir o preço de medicamentos antirretrovirais
produzidos por companhias farmacêuticas. Neste ano o Brasil implementou a Rede
Nacional de Genotipagem do HIV-1. Nessas duas décadas o número de casos
somou 220.000. Em 2002 foi criado o Fundo Global de Luta Contra aids, tuberculose
e malária, uma organização financeira, para arrecadar e distribuir recurso para essas
três doenças.
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BARBOSA, C. R. Um olhar sobre o cuidar de pessoas vivendo com HIV/aids: dimensões
representacionais de profissionais de saúde à luz da Política Nacional de Humanização
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Em 2003 a Fundação Bill & Melinda Gates premiou o Brasil com 1 milhão de
dólares, em reconhecimento às ações de prevenção e assistência no país. Depois
da introdução da TARV a aids passou a ser considerada uma doença crônica, que
se tratada de maneira adequada, diminui, consideravelmente, a probabilidade de
adoecimento e morte das pessoas vivendo com HIV/aids (BRASIL, 2013a).
O perfil epidemiológico da aids sofreu diversas transformações. A epidemia
aumentou entre as mulheres, por meio de relações heterossexuais sem proteção,
caracterizando um processo de feminização e heterossexualização (REIS et al.,
2008). No Brasil o primeiro caso de aids no sexo feminino foi detectado em 1983 e
em 1996 o Brasil passou a registrar a feminização da epidemia. Em 1986, havia 15
casos masculinos da doença para um feminino. A partir de 2002, houve uma
estabilização dessa razão de 1,5 casos em homens para um caso em mulheres. Em
2007 o Ministério da Saúde lançou o plano de enfrentamento da feminização de aids
e outras DST para combater a vulnerabilidade, diminuindo a susceptibilidade das
mulheres à infecção pelo HIV e outras DST (BRASIL, 2007a).
Outra tendência da epidemia foi o acometimento de pessoas com menor nível
econômico e de escolaridade, o que foi denominado processo de pauperização da
aids. O Brasil por ser um país com importantes disparidades sociais, econômicas e
demográficas em sua população contribuiu para a descentralização da epidemia
(BRITO; CASTILHO; SZWARCWALD, 2000; PARKER; CAMARGO JR., 2000).
Observou-se também a propagação da epidemia para um número cada vez
maior de municípios distantes das principais áreas metropolitanas, a chamada
interiorização. Houve uma importante disseminação geográfica da aids (PARKER;
CAMARGO JR., 2000). Há uma ligação entre a interiorização da aids e o processo
de feminização da epidemia, pois houve aumento desde 1980 no número de
municípios brasileiros com pelo menos um caso de aids entre mulheres. No período
de 1985 a 2009, dos 143 municípios do Pará, 120 apresentaram pelo menos um
caso notificado de aids, confirmando o processo de interiorização (PARÁ, 2010).
Em 2007 foi instituído o Banco de Dados de violações dos direitos das
pessoas portadoras do HIV, servindo como instrumento de planejamento das ações
do Programa Nacional de DST e aids relacionadas aos direitos humanos. Visa
contribuir para a estruturação de políticas públicas de combate à violação de
direitos, violência, estigma, discriminação e preconceitos vinculados à epidemia
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BARBOSA, C. R. Um olhar sobre o cuidar de pessoas vivendo com HIV/aids: dimensões
representacionais de profissionais de saúde à luz da Política Nacional de Humanização
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(AGÊNCIA BRASIL, 2007). Neste ano houve aumento da sobrevida das pessoas
com aids no Brasil.
Em 2008 o Brasil concluiu o processo de nacionalização do teste rápido,
permitindo detectar a presença do HIV em 15 minutos e foi inaugurada a primeira
fábrica estatal de preservativos do Brasil.
Ainda em 2008, o Ministério da Saúde lançou um programa para conter a
incidência de aids e outras doenças sexualmente transmissíveis (DST) entre gays,
homens que fazem sexo com outros homens (HSH) e travestis (BRASIL, 2007b).
Segundo o boletim epidemiológico de 2006, no percentual de casos de aids entre
gays, HSH e travestis, por faixa etária, foi ressaltada a tendência de crescimento
proporcional entre os indivíduos de 13 a 19 anos de idade, variando de cerca de
18% em 1990 para aproximadamente 40% em 2005 (BRASIL, 2006). Mostrou-se,
assim, outra tendência da epidemia, a juvenalização da aids. Em 2012, no Brasil, a
taxa de detecção de casos de aids em homens de 15 a 24 anos foi de 15,1/100.000
habitantes e de 8,6 em mulheres (BRASIL, 2013b).
Em 2010 foram notificados 592.914 casos de aids e distribuídos 493 milhões
de unidades de preservativo masculino no país. Em 2011, o Brasil e a França
celebraram dez anos de cooperação científica nas áreas de DST, Aids e hepatites
virais e entrou no mercado o primeiro antirretroviral produzido por um laboratório
público brasileiro (BRASIL, 2013a).
Em 2012 o governo federal passou a dar incentivo financeiro as Casas de
Apoio de atendimento a adultos com HIV/aids, destinado ao custeio das ações
desenvolvidas com crianças e adolescentes.
Segundo o Boletim epidemiológico de 2013, no ano de 2012 foram notificados
39.185 casos de aids no Brasil. A taxa de detecção nacional foi de 20,2 casos para
cada 100.000 habitantes. A Região Sul foi a primeira maior taxa de detecção
(30,9/100.000 habitantes) seguida pela Região Norte (21,0/100.000 habitantes)
(BRASIL, 2013b).
Segundo Scheffer (2012), das 30 marcas de antirretrovirais atualmente
disponíveis no mundo, o SUS fornece 21 e beneficia cerca de 250 mil pacientes;
desses 21 medicamentos, 10 são fabricados no Brasil.
Em 2013 foi adotada no Brasil a Política de tratamento como prevenção do
HIV e publicado o Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas para Manejo da
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BARBOSA, C. R. Um olhar sobre o cuidar de pessoas vivendo com HIV/aids: dimensões
representacionais de profissionais de saúde à luz da Política Nacional de Humanização
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Infecção pelo HIV em Adultos, substituindo o consenso médico; assim que a pessoa
for diagnosticada com o vírus, receberá o tratamento imediato na rede pública, com
uso de antirretrovirais (BRASIL, 2013c). O uso dos medicamentos antirretrovirais é
indicado para qualquer fase da doença (BRASIL, 2013c).
No final de 2013 foi anunciado o teste rápido através do fluído oral. O
laboratório Bio-Manguinhos/Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) está produzindo o Kit
para fazer o teste. O teste passou a ser usado a partir de março de 2014 por 40
organizações não governamentais (ONGs) em parceira com o Departamento de
DST, Aids e Hepatites Virais, do Ministério da Saúde, dando prioridade para
populações-chave sob maior risco: HSH, profissionais do sexo, travestis,
transexuais, pessoas usuárias de drogas, pessoas privadas de liberdade e em
situação de rua. A partir do segundo semestre sendo oferecido na rede do SUS.
Estima-se que aproximadamente 718 mil indivíduos vivam atualmente com o
HIV/aids no Brasil, dos quais em torno de 80% (574 mil) já foram diagnosticados
(BRASIL, 2013b).
O Brasil rege o maior programa mundial de terapia antirretroviral, potente e
gratuito (BARRETO et al., 2011). Há que ser ressaltado os esforços efetivos do
Brasil no combate contra à aids, tão efetivo quanto na maioria dos países
desenvolvidos. Embora sejam acentuados os valores que o governo federal investe
para o combate às DST/aids, aproximadamente 1 bilhão e 200 mil reais ao ano
(BRASIL, 2012), hoje o desafio é reduzir ou estabilizar o crescimento da transmissão
em populações-chave, além de combater o aumento de custo dos antirretrovirais;
mesmo que a taxa de incidência de transmissão vertical seja pequena, ainda há
necessidade de maiores investimentos num atendimento qualificado no pré-natal,
considerado muitas vezes abaixo do padrão.
Em síntese, o marco epidemiológico da aids indica que a luta contra à doença
progrediu positivamente nesses 33 anos de aids no Brasil, hoje o foco das ações e
investimentos são voltados ao desenvolvimento de vacinas, novos tratamentos para
a aids e combater a discriminação. No que tange as políticas públicas, o Brasil se
destaca com políticas mais inclusivas e consolidadas, sendo exemplo no mundo.
2.2 MARCO POLÍTICO: A POLÍTICA NACIONAL DE HUMANIZAÇÃO
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BARBOSA, C. R. Um olhar sobre o cuidar de pessoas vivendo com HIV/aids: dimensões
representacionais de profissionais de saúde à luz da Política Nacional de Humanização
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A fragilidade das relações entre os diferentes profissionais da saúde e entre
estes e os usuários em consequência da fragmentação e verticalização do processo
de trabalho, a falta de preparo destes profissionais para lidar com as dimensões
sociais e subjetivas presentes nas práticas de atenção, a fragilidade do trabalho em
equipe, o baixo investimento na qualificação dos trabalhadores especialmente
voltados à gestão participativa, a automatização dos contatos entre trabalhadores e
usuários baseados na queixa-conduta e a formação do profissional distante do
contexto da formulação de políticas públicas de saúde, foram alguns dos fatores que
levaram à proposição em 2003 da Política Nacional de Humanização da Atenção e
Gestão do Sistema Único de Saúde – PNH (BRASIL, 2004). Assim, humanizar é:
Ofertar atendimento de qualidade articulando os avanços tecnológicos com
acolhimento, com melhoria dos ambientes de cuidado e das condições de
trabalho dos profissionais (BRASIL, 2004, p.6).
Ressalta-se a não banalização da humanização como “um favor”, e sim como
um direito à saúde. A política é pensada tanto para o profissional quanto para o
usuário, compreendendo a humanização com uma dimensão fundamental e não
apenas como mais um programa criado para ser executado nos serviços de saúde;
a PNH foi traçada a partir da transversalidade e da construção coletiva, visando as
necessidades sociais, os interesses e os desejos de todos os atores envolvidos, em
que a defesa da vida é o eixo das ações, destacando os aspectos subjetivos e
sociais presentes em qualquer prática de saúde. Os princípios norteadores da PNH
são:
1. Valorização da dimensão subjetiva e social em todas as práticas de
atenção e gestão, fortalecendo/estimulando processos integradores e
promotores de compromissos/responsabilização. 2. Estímulo a processos
comprometidos com a produção de saúde e com a produção de sujeitos. 3.
Fortalecimento de trabalho em equipe multiprofissional, estimulando a
transdisciplinaridade e a grupalidade. 4. Atuação em rede com alta
conectividade, de modo cooperativo e solidário, em conformidade com as
diretrizes do SUS. 5. Utilização da informação, da comunicação, da
educação permanente e dos espaços da gestão na construção de
autonomia e protagonismo de sujeitos e coletivos (BRASIL, 2004, p.9).
Para Chernicharo, Freitas e Ferreira (2013), a garantia da qualidade e dos
preceitos da PNH se dá a partir do processo constante de avaliação institucional, e
fomento de pesquisas voltadas à informação, comunicação, questões éticas, oferta
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BARBOSA, C. R. Um olhar sobre o cuidar de pessoas vivendo com HIV/aids: dimensões
representacionais de profissionais de saúde à luz da Política Nacional de Humanização
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de serviços, dimensionamento e a qualificação dos profissionais face ao processo
complexo da assistência e a quantidade de clientes, e enfatizando-se a importância
da discussão da PNH pela visão dos usuários, profissionais e gestores.
Discutir a humanização é um ato que requer reflexão-critica com vistas à
construção de um SUS capaz de expressar cada vez mais o interesse e o bem
comum; é um movimento de abertura, de influenciar e deixar-se influenciar,
evidenciando também as diferenças e desacordos, com base numa proposta ética e
política. Busca-se a qualificação dos serviços e a potencialização das práticas de
saúde em defesa da vida, corroborando com um viver-conviver melhor em
sociedade (PASCHE, 2009).
A pesquisa de Barbosa et al., (2013) ressalta como necessidades na
implementação da PNH, a superação da concepção biologicista e a valorização dos
contexto cultural do usuário. Mostra também a importância de incorporar ao campo
da saúde aporte das ciências humanas, com vistas a ampliar os saberes como
forma de melhor conhecer a população atendida em seu processo saúde-doença.
Pasche (2009) afirmou que a PNH, tomou como responsabilidade superar os
problemas e dificuldades que ainda permanecem no SUS desde sua criação.
Para Pasche, Passos e Hennington (2011) é preciso pensar o humanizar não
como antônimo do desumano ou inumano, mas como um dispositivo de construção
das condições de emergência de trabalhadores e usuários como protagonistas, na
perspectiva da autonomia e corresponsabilidade. Afirmam que os primeiros anos da
PNH foram voltados à formulação e consolidação da humanização como política
pública; a partir de 2006, ao investimento em processos de formação; e hoje como
desafio maior, há que torná-la não somente uma forma de denunciar e reivindicar
direitos, mas como uma estratégia de mobilização social, pensando e construindo
alternativas para enfrentar os desafios que a saúde tem pela frente.
Levando em consideração o desafio de cogestão, Mori e Oliveira (2009)
afirmam que mesmo com as dificuldades de processo de trabalho e tensionamentos,
a PNH tem conseguido avançar internamente rumo à cogestão, apoiando a difusão
e a implantação de um novo modo de gerir a rede SUS. Segundo o Ministério da
Saúde (BRASIL, 2009), a cogestão é um modo de administrar que inclui o pensar e
o fazer coletivo (p. 10).
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BARBOSA, C. R. Um olhar sobre o cuidar de pessoas vivendo com HIV/aids: dimensões
representacionais de profissionais de saúde à luz da Política Nacional de Humanização
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Torna-se relevante atualmente ter em vista a vivência das redes, cuja
configuração possibilite que as ações de humanização permeiem diferentes espaços
e atores da organização, dando fluxo transversal aos interstícios dos organogramas
e hierarquias organizacionais e das relações (FALK, RAMOS, SALGUEIRO, 2009).
Dessa maneira com este marco político ressalta a necessidade de reativação
do movimento constituinte do SUS, construindo-se um plano público fundamentado
na experiência de cada ser humano e coletividade, levando em conta a humanidade
como força coletiva que impulsiona e direciona o movimento das políticas públicas.
Deixa-se de lado o binômio queixa-conduta, em busca da multiplicidade de
determinantes da saúde, com base nas relações entre gestores, usuários e
trabalhadores dos serviços de saúde.
Emerge, em síntese, um processo de
produção de sujeitos autônomos e protagonistas na produção de saúde, e um
processo contínuo da reinvenção do próprio SUS e da proposta da PNH.
2.3 MARCO TEÓRICO: ASPECTOS HISTÓRICOS E BASES FUNDANTES DAS
REPRESENTAÇÕES SOCIAIS
2.3.1 Bases históricas do conceito-fenômemo
Para se buscar compreender as representações sociais faz-se essencial
voltar ao seu antecessor e conceituar representações coletivas em Durkheim (1996).
Para Durkheim as formas de pensar as ações são uma construção a partir do
coletivo e são externos à consciência (TURA, 2005).
O conceito de representação coletiva nasceu na sociologia, a partir da
interação dos seres humanos entre si e a natureza (TURA, 2005). Utilizado na
elaboração de uma teoria da religião, da magia e do pensamento mítico. Durkheim
argumentou que os fenômenos coletivos não podem ser explicados em um nível
individual, pois o indivíduo não pode inventar uma língua ou uma religião, estas são
produtos coletivos, de uma comunidade ou povo (ALEXANDRE, 2004).
Moscovici em sua Teoria das Representações sociais (TRS) retoma o
conceito de representação coletiva de Durkheim, dando-lhes novas conotações e
partindo do pressuposto que a sociedade na qual Durkheim (1858-1917) teria vivido
era muito mais estável e menos complexa, do que a sociedade vivenciada no século
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BARBOSA, C. R. Um olhar sobre o cuidar de pessoas vivendo com HIV/aids: dimensões
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XX. Para Moscovici “não há a separação entre a consciência individual e a realidade
social” (TURA, 2005, p. 18). A noção de representação coletiva de Durkheim expõe
uma categoria coletiva que deve ser elucidada a um nível inferior, um nível da
Psicologia social. É nesse ponto que se diferencia a noção de representação social
de Moscovici que emerge como um produto e constructo social. Este julga mais
apropriado, num contexto moderno, estudar representações sociais do que estudar
representações coletivas (FARR, 2013).
A teoria das representações sociais foi formulada por Serge Moscovici no final
dos anos 50, recebeu visibilidade a partir da publicação, de seu estudo
LaPsychanalyse: Son image et son public em 1961, marcando o estabelecimento de
uma percepção inovadora sobre integração entre os fenômenos perceptivos
individuais e sociais. Empregada primeiramente em estudos psicossociais, essa
abordagem passou a ser utilizada em outros ramos do conhecimento. Moscovici
superou a dicotomia entre os níveis individual e coletivo de representações,
integrando-os em sua teoria (FERREIRA et al. 2005).
Percebe-se então que Moscovici fundamentou sua teoria a partir da teoria de
Durkheim, porém buscando o individual para entender o social. Durkheim separava
o individual do coletivo e acreditava que o individual era domínio da Psicologia e o
coletivo era domínio da Sociologia, baseado no entendimento que as leis que
explicavam o coletivo eram diferentes das que eram usadas para compreender o
nível individual. Já Moscovici buscou unir a psicologia ao social, mostrando que o
indivíduo só existe dentro do social e o social só existe pela união de vários
indivíduos.
O conceito-fenômeno Representações Sociais revela-se para Moscovici
(1978) se diferenciando
de outras formas de conhecimento (intelectual ou
sensorial) por estabelecer uma relação específica entre sujeito e objeto de
conhecimento. Este sujeito se auto-representa ao representar o objeto, imprimindo
sua identidade naquilo que representa (NORIEGA, 2005).
Esta relação particular entre sujeito e objeto se deve ao fato de que, o ser
humano e sua identidade individual são um todo orgânico, inseparável da totalidade
social de onde está integrado, sendo ambos ser humano e sociedade fruto do
mesmo processo histórico e dialético. Nesse mesmo processo o ser humano forma
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BARBOSA, C. R. Um olhar sobre o cuidar de pessoas vivendo com HIV/aids: dimensões
representacionais de profissionais de saúde à luz da Política Nacional de Humanização
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sua identidade ao mesmo tempo em que constrói uma sociedade material e
simbólica (NORIEGA, 2005).
A representação social na visão de Jodelet (2001, p.36) [...] “é uma forma de
conhecimento socialmente elaborada e partilhada, tendo um objetivo prático e
concorrendo à construção de uma realidade comum a um conjunto social”.
Segundo Abric (2001), as representações são “produto e processo de uma
atividade mental pela qual um indivíduo ou um grupo reconstitui o real ao qual ele é
confrontado e lhe atribui uma significação específica” (p. 156).
Apesar de envolver diferentes autores, os posicionamentos, na verdade, se
complementam compondo um todo mais amplo e mais complexo que nos leva a
pensar que a interdisciplinaridade é um dos pilares em que os estudos das
representações sociais está assentado.
Se as representações sociais se constroem na condição social de convivência
da humanidade, as contribuições de Guareschi (2007) são pertinentes quando
afirma que são uma forma de conhecimento que implica “dimensões simbólicas e
sociais, se tornando ao mesmo tempo, fenômenos subjetivos, intersubjetivos e
objetivos” (p.31).
Pensar o universo social e nesse caso, as representações, remete-nos a esse
fluxo de relações tencionadas pela inter e transdisciplinaridade intrínsecas às
representações sociais, como ressalta Spink (2003); considerando que no universo
das relações sociais os vários fios se conjugam para o mesmo fim, a construção das
representações se constituem dessa diversidade coletiva e individual humana que
no jogo da convivência reflete permanências e mudanças na relação psicossocial
que os indivíduos ou os grupos estabelecem.
A partir das considerações arroladas, podemos concluir que os estudos sobre
representação social do ser humano comum, expressam uma espécie de “saber
prático” de como os indivíduos sentem, assimilam, apreendem e interpretam o
mundo dentro de seu cotidiano, sendo, portanto as representações sociais
produzidas coletivamente na prática da sociedade e no decorrer da comunicação
interativa.
A representação social, portanto, não é apenas produto de situações
cotidianas, mas de determinações históricas, bem como da posição social, tanto dos
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BARBOSA, C. R. Um olhar sobre o cuidar de pessoas vivendo com HIV/aids: dimensões
representacionais de profissionais de saúde à luz da Política Nacional de Humanização
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indivíduos no grupo quanto do próprio grupo, que acaba também influenciando tais
situações.
Minayo (2004), sintetizando as colocações de vários autores, identifica "as
representações sociais enquanto senso comum, ideias, imagens, concepções e
visão de mundo que os atores sociais possuem sobre a realidade, são um material
importante para a pesquisa no interior das Ciências Sociais" (p.173). Bordin, (2005,
p. 7), por sua vez, afirma que "[...] um dos desafios de estudo das representações
sociais: [é] compreender os mecanismos de transferência dos saberes de uma
esfera social para outra, bem como das estratégias de comunicabilidade com outros
saberes".
2.3.2 A Teoria das Representações Sociais
Para Doise (apud ARAÚJO; COUTINHO; CARVALHO, 2005) é possível a
partir das representações sociais fazer uma análise das cognições de nível grupal,
permitindo capturar aspectos comuns de uma representação. Isso se deve ao fato
da Teoria das Representações Sociais lidar com um marco conceitual que envolve
tanto o nível intrapessoal de análise quanto o interpessoal e o intergrupal.
A TRS tem servido de base para muitas reflexões e produções acadêmicocientíficas não só no campo da saúde como também em outros campos das ciências
sociais e humanas (JODELET, 2005). De acordo com seu precursor, Sérge
Moscovici, essa é uma teoria que concebe a produção do conhecimento como
reflexo da interação e comunicação e,
[...] sua expressão está sempre ligada aos interesses humanos que estão
nele implicados. O conhecimento emerge do mundo onde as pessoas se
encontram e interagem, do mundo onde os interesses humanos,
necessidades e desejos encontram expressão, satisfação e frustração
(MOSCOVICI, 2007, p. 8-9).
Diante dessa assertiva do autor é possível pensar que onde há interação há
produção de conhecimento, há processos postos na cotidianidade dos sujeitos. A
teoria das representações sociais inaugurada por Moscovici (2007) é uma forma de
pensar o conhecimento produzido e compartilhado entre grupos que os (re)
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BARBOSA, C. R. Um olhar sobre o cuidar de pessoas vivendo com HIV/aids: dimensões
representacionais de profissionais de saúde à luz da Política Nacional de Humanização
_____________________________________________________________________________
constroem, assimilam e os descartam. As representações sociais na visão desse
intelectual consistem em,
Um sistema de valores, ideias e práticas, com uma dupla função: primeiro,
estabelecer uma ordem que possibilitará às pessoas orientar-se em seu
mundo material e social e controlá-lo; e, em segundo lugar, possibilitar que
a comunicação seja possível entre os membros de uma comunidade,
fornecendo um código para nomear e classificar, sem ambiguidade, os
vários aspectos de seu mundo e da sua história individual e social (p.21).
Dizer que essa nova concepção de pensar o conhecimento ligado às práticas
sociais compõe um rol de perspectivas de pesquisas que fogem a tradicionalidade é
assumir um posicionamento qualitativo que visita uma diversidade de metodologias
e se preciso for, recria-as ou cria outras capazes de contemplar um determinado
problema de pesquisa.
Abric (apud SÁ, 2002), correlacionando às representações sociais e prática
atribuiu quatro funções essenciais a estas representações: de saber, identitária, de
orientação e justificatória.
A função de saber permite que indivíduos dentro de um sistema de valores
sociais, adquiram e compreendam conhecimentos, e possam estabelecer, então, a
comunicação social e as relações sociais. A função identitária como forma de definir
a identidade social e pessoal dos indivíduos permitindo a especificidade dos grupos,
exercendo papel importante no controle social dentro do grupo, principalmente nos
processos de socialização. A função de orientação norteando os comportamentos e
as práticas sociais, definindo o que é certo ou errado, aceitável ou não dentro de um
contexto social (ABRIC, 2000). E a função justificatória que possibilita aos indivíduos
explicar e justificar certas atitudes em determinadas situações.
De acordo com Jodelet (2001) o estudo das representações sociais a partir da
teoria matricial de Moscovici têm mobilizado adeptos em várias partes do mundo,
como França, onde inicia sua trajetória, Alemanha, Inglaterra, Argentina, Austrália,
Áustria, Bélgica, Bolívia, Canadá, Espanha, Cuba, Estados Unidos, Grécia, Itália,
Japão, Portugal, Rússia, Brasil, dentre outros.
A TRS está de certa forma firmada no espaço acadêmico e conforme Sá
(1998) divide-se em pelo menos três abordagens (as mais difundidas): a primeira
que dá continuidade a obra original, com viés antropológico (abordagem processual)
tem sido mais difundida por Denise Jodelet (2001); a segunda, tem como foco as
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BARBOSA, C. R. Um olhar sobre o cuidar de pessoas vivendo com HIV/aids: dimensões
representacionais de profissionais de saúde à luz da Política Nacional de Humanização
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condições de produção e circulação das representações sociais, articulando a teoria
à uma perspectiva mais sociológica, difundida por Willem Doise (1990) e a terceira
que dá ênfase a dimensão cognitivo-estrutural também conhecida como Teoria do
Núcleo Central, sendo representada por Jean Claude Abric (2000) (MACHADO,
ANICETO, 2010).
O investimento dos intelectuais desses vários países tem sido no sentido de
reforçar a teoria, à medida que comungam das perspectivas das representações
sociais enquanto outra maneira de conhecimento, resguardando, obviamente,
algumas considerações próprias, o que tem contribuindo para edificar as
perspectivas teórico-metodológicas a quem essa teoria tem se prestado.
Diante disso, é válido ressaltar que não diferente da maioria dos paradigmas
da pós-modernidade, as representações sociais enquanto campo de estudos
científicos trabalha com as incertezas, com as (im)possibilidades e não pretende
definir, nem determinar as representações sociais desse ou daquele grupo, mas
trabalhar em cima de um conjunto de fenômenos à luz da teoria para explicá-los,
como afirma Sá (1998).
2.3.3 A Teoria do Núcleo Central e o conceito de Zona Muda
A Teoria do Núcleo Central (TNC) ou abordagem estrutural foi proposta por
Jean Claude Abric no ano de 1976. Abric (1994) afirmou que toda representação
social se organiza em torno de um núcleo central, determinando seu significado e
organização interna, sendo um subconjunto da representação, composto de um ou
mais elementos que caso não existissem desestruturaria a representação ou lhe
atribuiria um significado totalmente diferente.
Para Campos e Rouquette (2003), a abordagem estrutural não limita as
representações somente a um conjunto de eventos e processos cognitivos; e
também não busca estabelecer a prioridade do aspecto cognitivo sobre o afetivo ou
vice-versa. A representação social é uma estrutura atravessada por diferentes
dimensões.
Abric (1994) afirma que o núcleo central tem duas funções essenciais: uma
função geradora, que dá sentido e um valor à representação do objeto que cria e
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BARBOSA, C. R. Um olhar sobre o cuidar de pessoas vivendo com HIV/aids: dimensões
representacionais de profissionais de saúde à luz da Política Nacional de Humanização
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pode transformar a significação do objeto; e uma função organizadora que unifica e
estabiliza a representação e determina a ideia principal que une os elementos.
Além dessas funções, destaca-se ainda a função de estabilidade; Abric (1994)
afirma que o núcleo central é o elemento que garante a continuidade e a
permanência em contextos de mobilidade e evolução, sendo o elemento de maior
estabilidade da representação, resistindo às mudanças. Quando se modifica o
núcleo central toda a representação é completamente transformada.
O núcleo central “é determinado de uma parte pela natureza do objeto
representado, de outra parte pela relação que o sujeito – ou o grupo – mantém com
esse objeto” (ABRIC, 1994, p.22). Assumindo duas dimensões diferentes: uma
normativa, que comporta as normas e regras do contexto, aspectos ideológicos,
valorativos, sócio – afetivos, julgamentos e estereótipos em relação ao objeto
representado; e uma funcional, que indica o que é importante para a
realização/obtenção do objeto.
É importante o levantamento do núcleo central para se conhecer o próprio
objeto da representação (SÁ, 2002); em complemento ao núcleo central, existe o
sistema periférico.
O sistema periférico permite a integração das experiências e histórias
individuais, suporta a heterogeneidade e as contradições do grupo, é flexível,
evolutivo, sensível ao contexto imediato, permite a adaptação à realidade concreta,
a diferenciação do conteúdo e protege o sistema central (SÁ, 2002).
Desse modo conclui-se que o sistema periférico desenvolve uma relação de
dependência com o núcleo central, ao mesmo tempo em que é um complemento
indispensável a este.
Portanto a abordagem estrutural esclarece duas características das
representações sociais, que aparentemente se mostram contraditórias: “as
representações sociais são ao mesmo tempo estáveis e móveis, rígidas e flexíveis” e
“as representações sociais são ao mesmo tempo consensuais, mas também
marcadas por fortes diferenças interindividuais” (SÁ, 2002, p. 72).
Abric (2005) em estudos mais recente aponta para a existência de outra
forma de explicitação das representações sociais, denominada de zona muda das
representações sociais, abordada pela primeira vez em uma pesquisa de
representações sociais realizada por Guimelli e Deschamps (2000). O autor
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BARBOSA, C. R. Um olhar sobre o cuidar de pessoas vivendo com HIV/aids: dimensões
representacionais de profissionais de saúde à luz da Política Nacional de Humanização
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considerou a relação entre as práticas e as representações sociais e as pressões
sociais que podem influenciar estas representações. Esse fenômeno ocorre,
sobretudo para objetos mais sensíveis, marcados por normas e valores sociais.
Abric (2003 apud MENIN, 2006) indagou-se:
As pessoas que interrogamos nos dizem mesmo o que pensam? [...] para
certos objetos, em certos contextos, existe uma zona muda de
representação social. Esta zona muda é composta de elementos da
representação que não são verbalizáveis pelos sujeitos pelos métodos
clássicos de coleta de dados (2003, p. 61).
Dessa forma, alguns elementos das representações, mesmo sendo centrais
podem ser mascarados, aparecendo somente elementos que na verdade são
periféricos. Para o autor, o problema é fazer emergir tais elementos no núcleo
central. O núcleo central não muda conforme as mudanças de contexto, no entanto,
existem elementos expressos de maneira mais fácil. Abric (2005) sugere ainda, que
esses elementos da zona muda, são normativos, ligado a aspectos valorativos e de
avaliação, vistos como impróprios para o grupo de pertença do indivíduo que está
representando-o.
Estas transformações nas representações sociais podem emergir quando os
sujeitos representam no lugar do outro e podem ser projeções de representações
verdadeiras na voz de outro, ou “transparências de representações”, nas quais os
sujeitos apenas relatam o conhecimento que têm das representações de outros
grupos. Em todos esses fatores a presença das normas sociais é importante
(MENIN, 2006). A zona muda revela um campo a ser investigado com maior
continuidade nas representações sociais, tendo em vista a existência de poucos
trabalhos no Brasil.
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____________________________________
CAPÍTULO 3 – AIDS NA INTERFACE COM
AS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS:
MANUSCRITO1
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BARBOSA, C. R. Um olhar sobre o cuidar de pessoas vivendo com HIV/aids: dimensões
representacionais de profissionais de saúde à luz da Política Nacional de Humanização
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Aids na interface com as representações sociais: uma revisão integrativa da
literatura
Aids at the interface with the social representations: an integrative literature review
SIDA en la interfase con las representaciones sociales: una revisión integradora de
la literatura
Camila Rodrigues – Enfermeira. Mestranda do Mestrado Associado de Enfermagem
UEPA-UFAM. Belém, Pará, Brasil. Email: [email protected]
Elizabeth Teixeira – Enfermeira. Professora Titular da UEPA. Belém, Pará, Brasil.
Email: [email protected]
Iací Proença Palmeira – Enfermeira. Professora Adjunto I da UEPA. Belém, Pará,
Brasil. Email: [email protected]
Autor Responsável: Camila Rodrigues Barbosa – Rua Gentil Bittencourt, 1155, Vila
Coimbra, 34, Nazaré, Belém, Pará, Brasil. Telefone: 93 91235291. Email:
[email protected]. UEPA, Belém, PA.
RESUMO
Objetivo: analisar as evidências científicas disponíveis na literatura sobre o cuidado
de pessoas com HIV/Aids na perspectiva das representações sociais. Método:
revisão integrativa nas bases LILACS, BDENF, MEDLINE, Index Psi e CidSaúde
entre 2004-2013, com amostra final de 16 produções. Após análise temática,
obtiveram-se cinco categorias.
Resultados: as representações sociais dos
profissionais sobre cuidar de pessoas com HIV/Aids estão associadas aos estigmas
da doença, à vulnerabilidade profissional e pessoal, à autoproteção profissional, à
morte e à cronicidade. As representações são também pendulares, pois têm por
base o conhecimento consensual e o conhecimento reificado. Conclusão: revela-se
que as representações sociais se objetivam entre as barreiras do passado e as
possibilidades do presente.
Descritores: HIV/Aids, enfermagem, psicologia social.
1
Este manuscrito foi formulado de acordo com as normas da Revista de Enfermagem da Universidade Federal
do Piauí – UFPI. Foi publicado em 01 de fevereiro de 2014. Resultado da disciplina eletiva “Metodologia para
Trabalhos Acadêmicos e Científicos” ministrada pela Professora Drª Iací Proença Palmeira. A referência é:
RODRIGUES, C. B.; TEIXEIRA, E.; PALMEIRA, I. P. Aids na interface com as representações
sociais: uma revisão integrativa da literatura. Rev Enferm UFPI, Teresina, v. 2, n. 5, p. 19-25, dez.
2013. Disponível em: < http://www.ojs.ufpi.br/index.php/reufpi/issue/view/123/showToc>
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BARBOSA, C. R. Um olhar sobre o cuidar de pessoas vivendo com HIV/aids: dimensões
representacionais de profissionais de saúde à luz da Política Nacional de Humanização
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ABSTRACT
Objective: to analyze the scientific evidence available in literature on the care of
people with HIV/Aids from the perspective of social representations. Method:
integrative review at LILACS, BDENF, MEDLINE, INDEXPsi and CidSaúde, between
2004-2013 with a selection of 16 productions. After thematic analysis yielded five
categories. Results: social representations of professionals on caring for people with
HIV/Aids are associated with stigma of the disease, the professional and personal
vulnerability,
professional
self-protection,
to
death
and
chronicity.
The
representations are also commuting because are based on consensual knowledge
and objective knowledge. Conclusion: it turns out that social representations are
objectified barriers between the past and the possibilities of the present.
Keywords: HIV/Aids, nursing, social psychology.
RESUMEN
Objetivo: analizar la evidencia científica disponible en la literatura sobre el cuidado
de las personas con VIH/SIDA desde la perspectiva de las representaciones
sociales. Método: revisión integradora en LILACS, BDENF, MEDLINE, INDEXPsi y
CidSaúde entre 2004-2013, con una muestra final de 16 producciones. Después del
análisis temático dado cinco categorías. Resultados: las representaciones sociales
de los profesionales en la atención a personas con VIH/SIDA están asociados con el
estigma de la enfermedad, la vulnerabilidad personal y profesional, la autoprotección
profesional, a la muerte y la cronicidad. Las representaciones son también los
desplazamientos porque se basan en el conocimiento consensual y el conocimiento
objetivo. Conclusión: resulta que las representaciones sociales son objetivados
barreras entre el pasado y las posibilidades del presente.
Palabras clave: VIH/SIDA, la enfermería, la psicología social.
INTRODUÇÃO
A epidemia do HIV/Aids, tratada como uma questão essencialmente
biomédica, passou a ser entendida como um evento coletivo e um construto social,
que se molda dentro do contexto de sistemas sociais, culturais, políticos e
econômicos altamente específicos, interligados e sobrepostos (1).
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BARBOSA, C. R. Um olhar sobre o cuidar de pessoas vivendo com HIV/aids: dimensões
representacionais de profissionais de saúde à luz da Política Nacional de Humanização
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As práticas profissionais de saúde, por seu turno, também sofreram
transformações em função dos contextos das políticas de saúde, elementos
institucionais e éticos, das práticas e dos valores sociais e também das
representações formadas por diferentes grupos profissionais. Portanto, essas
práticas profissionais, e particularmente a categoria do cuidado humano prestado
pelo enfermeiro, são também objeto de representação e de memória pelo grupo
profissional.
Consideram-se válidos alguns postulados estabelecidos. O primeiro deles
refere-se a que as representações da Aids constituídas no início da epidemia foram
baseadas na associação entre HIV, sexualidades desviantes, doença e morte
(2).
O
segundo refere-se a que essas representações sofrem a sua primeira transformação
com a inclusão do sangue
(3).
O terceiro refere-se à vulnerabilidade profissional
específica dos profissionais de saúde e das enfermeiras, determinada pela
proximidade física com o corpo do doente, que se manifesta no perfil das práticas de
cuidado desenvolvidas.
Esses contextos enunciados tiveram influência sobre a construção e evolução
das representações sociais (RS) e das memórias do cuidado de saúde prestado aos
sujeitos com HIV/Aids, elaboradas pelos diferentes grupos profissionais dentro do
campo da saúde, consequentemente gerando transformações nas representações e
práticas profissionais desenvolvidas ao longo da epidemia.
Desse modo, analisar as evidências científicas disponíveis na literatura sobre
o cuidado de pessoas com HIV/Aids na perspectiva das RS visa promover reflexões
que subsidiem novos estudos e possibilitem o desenvolvimento de um novo pensar
e agir para o cuidado de pessoas com HIV/Aids.
Estudos de revisão integrativa da literatura sobre essa temática contribuem
para a construção do conhecimento sobre o HIV/Aids, evidenciando as lacunas que
merecem maior destaque e investimentos, além de vislumbrar estratégias de
enfrentamento e cuidados de pessoas com HIV/Aids.
MÉTODO
A elaboração da Revisão Integrativa de Literatura (RIL) seguiu os seis passos
ou fases metodológicos propostas por Ganong
(4).
Fase 1: Seleção do tema
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BARBOSA, C. R. Um olhar sobre o cuidar de pessoas vivendo com HIV/aids: dimensões
representacionais de profissionais de saúde à luz da Política Nacional de Humanização
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(Cuidado de pessoas com HIV/Aids por profissionais de saúde) e da questão de
pesquisa: Quais as representações sociais dos profissionais de saúde sobre o cuidar
de pessoas com HIV/Aids em evidência na literatura nacional?.
Na Fase 2 aplicamos os critérios de inclusão: artigos completos, disponíveis
on-line, no período de 2004 a 2013, sobre o cuidar de pessoas com HIV/Aids por
profissionais de saúde, na perspectiva das representações sociais, tanto na
abordagem estrutural quanto processual, pesquisa de campo; os de exclusão:
artigos repetidos, publicações apenas com resumo, revisões de literatura, reflexões,
resenhas; realizamos a busca: Literatura da América Latina e Caribe (LILACS),
Literatura Internacional em Ciências da Saúde (MEDLINE) Base de Dados de
Enfermagem (BDENF), Index Psi Periódicos Técnico-Científicos (IndexPsi) e
Literatura sobre Cidades/Municípios Saudáveis (CidSaúde); com o descritor e
palavras-chave: HIV/Aids, representação social, representações sociais, cuidar,
cuidado.
Articulando o descritor HIV com as palavras-chave representação social ou
representações sociais, foram encontradas 338 produções; articulando Aids com as
palavras-chave representação social ou representações sociais, 479 produções;
articulando o descritor HIV com as palavras-chave representação social ou
representações sociais e cuidar ou cuidado, 71 produções, perfazendo o total de 888
estudos. Após aplicação dos critérios de inclusão e exclusão foram selecionadas 16
produções.
Na Fase 3 realizamos a aplicação de uma ficha com questões sobre o perfil
geral da referência e principais evidências. Fase 4: Análise com base nas
categorias: Estigmas da doença; Entre a ciência e o senso comum; Vulnerabilidade
profissional e pessoal; Autoproteção profissional; Entre a morte e a cronicidade.
Fase 5: discussão das categorias. Fase 6: apresentação da revisão.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Perfil das Referências
A distribuição das referências encontradas (Quadro 1), foi feita segundo o
código do artigo, título, autores e ano.
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representacionais de profissionais de saúde à luz da Política Nacional de Humanização
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Quadro 1 – Perfil das referências
Código
Título
Autor e Ano
A1
Aids e representações sociais: uma análise comparativa Marques SC, Oliveira
entre subgrupos de trabalhadores
DC,
Gomes
AMT,
2004.
A2
Estudo das representações sociais sobre a Aids por Ribeiro CG, Coutinho
profissionais de saúde que atuam no contexto da MPL, Saldanha AAW,
soropositividade para o HIV
2004.
A3
A Aids e suas contradições: representações sociais de Ribeiro CG, Castanha
seu atendimento e tratamento pelos profissionais e AR, Coutinho MPL,
pacientes
Saldanha AAW, 2005.
A4
Os cirurgiões-dentistas e as representações sociais da Rodrigues
MP,
Aids
Sobrinho MD, Silva
EM, 2005.
A5
Concepção da Aids: o que pensam os profissionais e os Ribeiro CG, Coutinho
pacientes? concepção da Aids
MPL, Saldanha AAW,
Azevedo R, 2006.
A6
Profissionais que trabalham com Aids e suas Ribeiro CG, Coutinho
representações sociais sobre o atendimento e o MPL, Saldanha AAW,
tratamento
Castanha AR, 2006.
A7
A zona muda das representações sociais sobre o Oliveira DC, Costa TL,
portador de HIV/Aids: elementos normativos e 2007.
contranormativos do pensamento social
A8
Autoproteção profissional e cuidado de enfermagem ao Oliveira DC, Formozo
paciente soropositivo ao HIV: duas facetas de uma GA, 2009.
representação
A9
Os sentidos da Aids e o atendimento odontológico
Ragon CT, Tura LFR,
Arruda A, 2009.
A10
Representações de profissionais da atenção básica Souza MCMR, Freitas
sobre HIV/Aids
MIF, 2009.
A11
Representações de profissionais da atenção primária Souza MCMR, Freitas
sobre risco ocupacional de infecção pelo HIV
MIF, 2010.
A12
Representações sociais do cuidado prestado aos Oliveira DC, Formozo
pacientes soropositivos ao HIV
GA, 2010.
A13
As representações sociais de enfermeiros sobre a Gomes AMT, Barbosa
criança soropositiva para HIV: interface com o cuidar
BFS,
Oliveira
DC,
Wolter RMCP, Silva
MVG, 2011.
A14
Representações sociais do HIV/Aids: percepção dos Navarro AAA, Bezerra
profissionais da atenção primária à saúde
VP,
Oliveira
DA,
Moreira MAS, Alves
MSCF, Gurgel SN,
2011.
A15
Aconselhamento em HIV/Aids: representações dos Souza MCMR, Freitas
profissionais que atuam na atenção primária à saúde
MIF, 2012.
A16
Pessoas com HIV/Aids nas representações sociais de Costa TL, Oliveira DC,
enfermeiros:
análise
dos
elementos
centrais, Formozo GA, Gomes
contranormativos e atitudinais
AMT, 2012.
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representacionais de profissionais de saúde à luz da Política Nacional de Humanização
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Os periódicos foram da área de Enfermagem (7), área médica (6) e psicologia
(3). As Regiões: Sudeste (10) e Nordeste (6). Os locais dos estudos foram unidades
(9), hospitais (6), faculdade (1).
A análise dos dezesseis estudos fez emergir cinco categorias capazes de
sinalizar as evidências científicas disponíveis na literatura sobre o cuidado prestado
às pessoas com HIV/Aids na perspectiva das representações sociais, conforme
pode ser visto a seguir:
Categoria 1 – Estigmas da doença
Nesta categoria foram incluídos cinco artigos (A1, A6, A7, A10, A14); em geral
as RS dos sujeitos sobre HIV/Aids associadas às Representações Sociais do
cuidado estão ligadas à morte, ao preconceito, ao medo, à homossexualidade e à
promiscuidade: “o significado da Aids para esses sujeitos é fortemente marcado por
elementos negativos, traz uma dimensão imagética associada à morte e reflete o
posicionamento dos sujeitos por emoções e atitudes como sofrimento, medo e
preconceito” (A1).
O estigma ainda existe em torno do cuidar de pessoas com HIV/Aids. Nas
referências há evidências de que para os profissionais a ideia de “grupo de risco”
está superada, mas suas RS denotam uma dimensão preconceituosa e arraigadas
às escolhas e condutas sexuais dos portadores do HIV, noções negativas e
homogeneizadas (homossexualismo e promiscuidade).
As RS desses profissionais se encontram em uma fase de transição, pois
tanto são constituídas de conteúdos construídos no início da epidemia como de
novos, ou seja, dos avanços da ciência e da mudança do perfil epidemiológico da
doença.
Nas primeiras representações da Aids associadas às RS do cuidar, a doença
era representada como doença de punição, recaindo sobre a moral sexual, sendo
causada por uma sociedade permissiva, punida pelas irresponsabilidades sexuais
(5).
Corroborando com os achados desta categoria, autores apontam o
preconceito fortemente ligado às representações sobre HIV/Aids
(6).
A Aids além do
preconceito e a discriminação social traz consigo um estigma maior, traz à tona a
intimidade das pessoas, abordando o sexo, sangue, homossexualismo, prostituição
e traição, assuntos que muitas vezes são escondidos através de tabus
(7).
Estas
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representações influenciam no cuidado prestado pelos profissionais de saúde às
pessoas com HIV/Aids.
Ao se comparar as RS da Aids às RS do cuidado entre enfermeiras verificouse que as enfermeiras do grupo hospitalar representam o fenômeno ancorado “em
elementos negativos relativos ao passado, embora apontem também para novos
elementos representacionais no presente”, enquanto as enfermeiras de rede básica
representam-na “a partir de elementos relativos à prática assistencial cotidiana”
(8).
Nesta categoria há evidências que as representações sociais dos profissionais de
saúde sobre o cuidar de pessoas com HIV/Aids, ainda não conseguiram se
desatrelar do passado e este, apesar de distante, atravessa a barreira do tempo com
toda a carga de sentimentos negativos, como medo, insegurança, risco, fragilidade e
dificuldades.
Categoria 2 - Entre a ciência e o senso comum
Aqui foram encontrados dois artigos (A2, A15) que evidenciam que as
práticas do cuidar dos profissionais tanto se baseiam nos conhecimentos do
universo reificado como no consensual:
Os profissionais de saúde entrevistados relatam posturas na prática cotidiana
referente ao aconselhamento, apoiadas tanto na ciência como no senso comum, e
que transformam a atividade do aconselhamento em menos prioritária e menos
importantes no conjunto das ações realizadas, dificultando a integralidade do
cuidado (A15).
As evidências apontam que mesmo em se tratando de sujeitos distintos, as
RS sobre cuidar de pessoas com HIV/Aids se ancoram em oposições entre o
conhecimento científico e o senso comum. Indo ao encontro desses resultados outro
autor afirma que devido essa interseção entre as representações, as práticas dos
profissionais estão sujeitas a elementos subjetivos, estereótipos, pré-conceitos, préjulgamentos e posições inadequadas frente ao processo saúde-doença e cuidado
dos usuários (9).
Da mesma forma que o paciente, o profissional de saúde vê o mundo através
de suas representações, porém a razão, oriunda da cientificidade, serve como
escudo para seu imaginário, assumindo atitude defensiva diante das incertezas e
ameaças que a Aids provoca (10).
Categoria 3 - Vulnerabilidade profissional e pessoal
Fizeram parte três artigos (A4, A11, A13), relacionados em linhas gerais com
a existência de déficit de conhecimento científico sobre o cuidar de pessoas com
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representacionais de profissionais de saúde à luz da Política Nacional de Humanização
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HIV/Aids e de acesso à informação, sofrimento psíquico do profissional de saúde no
cuidar destas pessoas e representações associadas à vulnerabilidade e baixo risco
de infecção: “representam conhecimento incompleto, fragmentado e amparado por
uma
visão
tradicional
e
superada
de
biossegurança,
o
que
dificulta
o
desenvolvimento de estratégias de superação das práticas tradicionais” (A4); “a
representação da criança como sem futuro está presente de forma marcante,
gerando maior sofrimento psíquico para os enfermeiros” (A13).
Os profissionais de saúde conseguem visualizar com dificuldades o grau de
exposição ocupacional ao qual se encontram expostos por trabalhar em setores de
internação, com ênfase nos acidentes ocupacionais, que tem como maior
representatividade quantitativa os pérfuro-cortantes(11). O sangue é fator intrínseco
aos riscos ocupacionais que estão sujeitos estes profissionais
(2).
Tais dimensões
são importantes, pois há falta de infraestrutura do local de trabalho, de recursos
materiais, déficit de recursos humanos e risco de acidentes ocupacionais biológicos
(12).
Resultados de estudo apontaram que as RS de vulnerabilidade associadas ao
cuidado de pessoas HIV positivo estão relacionadas também à vida pessoal, em
consequência da reprovação da família pela atividade laboral exercida, medo de se
relacionarem afetivo/sexualmente com outras pessoas frente ao risco de
contaminação (12).
Há uma diferença nas representações do cuidar de pessoas com HIV/Aids em
relação à vulnerabilidade entre os profissionais de saúde segundo o nível de
assistência à saúde, pois os profissionais da atenção básica consideram baixo o
risco de vulnerabilidade ao HIV/Aids. Sabemos que o risco não depende do nível de
atenção, mas o cuidado de proteção que esse profissional deveria ter em qualquer
serviço de saúde.
Categoria 4 - Autoproteção profissional
Nesta categoria foram incluídos dois artigos (A8, A12), relacionados à
importância da autoproteção como base da prática do cuidar:
A autoproteção profissional figura como importante elemento do cuidado [...]
os conteúdos relacionados à autoproteção profissional são construídos em torno da
utilização da precaução padrão, diferente de quando se trata de outras clientelas,
quando esta não se faz fortemente presente (A8).
As RS do cuidar estão associadas mais ao autocuidado do que ao cuidado
com o outro
(13).
Os profissionais afirmam que cuidar de portadores do HIV, é como
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BARBOSA, C. R. Um olhar sobre o cuidar de pessoas vivendo com HIV/aids: dimensões
representacionais de profissionais de saúde à luz da Política Nacional de Humanização
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cuidar de qualquer outro cliente, porém há uma maior necessidade de proteção
contra a contaminação
(14).
As RS destes profissionais estão ligadas ao
entendimento necessário quanto à utilização de precauções padrão durante o
cuidado a qualquer pessoa, independente da doença, como forma de minimizar os
riscos de contaminação pelo HIV no cotidiano do trabalho. Porém nem todos os
profissionais têm essa preocupação.
A utilização de equipamentos de proteção individual é mais sistemática e
constante quando estes profissionais estão diante da pessoa sabidamente HIV
positivo. Essa autoproteção muitas vezes acarreta em distanciamento interpessoal
estabelecido com cliente durante a prática do cuidar (15).
A autoproteção também é associada à vida pessoal, o que demonstra uma
contradição no discurso, há o entendimento da necessidade de uso de preservativo
em todas as relações sexuais, mesmo naquelas consideradas estáveis, porém
muitos se apoiam na confiança no companheiro como prática de prevenção,
ocorrendo o não uso do preservativo. Enfermeiras relatam transformações na sua
vida pessoal após a descoberta da epidemia, porém admitem não utilizar
habitualmente a camisinha em relacionamentos considerados estáveis
(8).
Categoria 5 - Entre a morte e a cronicidade
Nesta categoria foram incluídos quatro artigos (A3, A5, A9, A16) evidenciando
um momento de transição das RS dos profissionais. Embora estas representações
associadas ao cuidar de pessoas com HIV/Aids ainda estejam muito atreladas à
morte, a ideia de cronicidade da doença traz uma re(significação) da doença:
“doença e prevenção compõem o núcleo central da representação [...] a ausência de
morte na estrutura da representação da AIDS, confirmada no teste de centralidade,
pode indicar o início de um processo de mudança da representação da Aids para
esse grupo” (A9). Evidenciou-se um movimento entre passado e presente, entre a
doença como letal-final e a doença como crônica-permanente, em que se anuncia a
“esperança” de vida. O avanço e a disponibilidade dos antirretrovirais diminuíram a
mortalidade entre pessoas vivendo com HIV, trazendo uma maior expectativa de
vida dos portadores do HIV.
A partir da introdução dos novos antirretrovirais, a Aids passou a assumir a
característica de uma doença crônica semelhante, em alguma medida, ao câncer, às
doenças cardíacas, diabetes e hipertensão, demonstrando de certa forma, uma
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BARBOSA, C. R. Um olhar sobre o cuidar de pessoas vivendo com HIV/aids: dimensões
representacionais de profissionais de saúde à luz da Política Nacional de Humanização
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visão mais positiva da doença
(16-17).
Os antirretrovirais diminuíram as internações
por doenças oportunistas, causando queda da mortalidade, aumentaram a
sobrevida, ocasionando mudanças nas vidas das pessoas vivendo com HIV
(18).
Essa transição das RS pode indicar o inicio de um processo de mudança nas
práticas destes profissionais, que tiveram em sua formação um modelo biomédico
tradicional, voltado para a doença e seus sistemas. Agora é possível visualizar outro
caminho, o das práticas de promoção de saúde mais amplo, voltada para o
desenvolvimento dos determinantes da saúde visando à integralidade
(19).
CONCLUSÕES
Com base nos resultados ora expostos conclui-se que as RS dos profissionais
de saúde sobre o cuidar de pessoas com HIV/Aids se ancoram entre as barreiras do
passado e as possibilidades do presente. Isso permite afirmar um movimento entre
as representações, situadas em uma linha tênue entre a morte e a cronicidade da
doença, o que aponta para a busca de novas posturas frente ao cuidar.
Torna-se essencial criar subsídios para diminuir a vulnerabilidade dos
profissionais de saúde, favorecer apoio psicológico para que compreendam seus
sentimentos, reflitam sobre suas subjetividades, angústias, medos e emoções em
relação à pessoa com HIV/Aids.
Dessa forma, sugere-se o aumento e publicação de estudos que desvelem as
representações, ocultas para além de seus jalecos, e cujos sintomas se evidenciam
por meio de atitudes durante a verbalização de suas práticas e a prestação de
cuidados. Acredita-se que também são importantes estudos sobre ações capazes de
humanizar a assistência aos portadores de HIV/Aids, bem como à prevenção de
riscos ocupacionais.
Assim, há necessidade de se investir na qualificação e capacitação
permanente dos profissionais que atendem pessoas com HIV positivo, criação de
espaços para discussão, para que além da abordagem técnica e científica, sejam
abordadas as questões psicossociais, tais como as representações acerca da
doença, incentivando uma mudança positiva de posicionamento dos profissionais,
possibilitando
que
superem
dificuldades,
contribuindo
para
a
reflexão
e
aperfeiçoamento das práticas na perspectiva da humanização, para que sejam mais
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BARBOSA, C. R. Um olhar sobre o cuidar de pessoas vivendo com HIV/aids: dimensões
representacionais de profissionais de saúde à luz da Política Nacional de Humanização
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centradas no sujeito com HIV/Aids, que promovam a compreensão e a participação
ativa do sujeito do cuidado no processo saúde-doença.
Espera-se sensibilizar os profissionais, a sociedade e pesquisadores para a
necessidade de maiores investimentos em pesquisas e intervenções, uma vez que
as evidências apontaram a concentração de estudos sobre a temática dessa
Revisão Integrativa da Literatura nas regiões Sudeste e Nordeste, sem nenhuma
menção às demais, havendo necessidade, portanto, de priorizar os estudos daí
advindos.
REFERÊNCIAS
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Brasil. Rio de Janeiro: Relume-Dumará/UERJ-ABIA; 1994.
2. Giami A, Oliveira DC, Erdmann AL. Représentations et mémoire
professionnelle du sida chez les infirmières au Brésil: Etude bi-centrique: Rio
de Janeiro (RJ)/Florianopolis (SC). Projeto de Pesquisa, ANRS, Paris, 2007.
3. Paicheler G. Perception of HIV Risk and Preventive Strategies: A Dynamic
Analysis. Health 1999;3(1):47-70.
4. Ganong LH. Integrative reviews of nursing research. Res Nurs Health
1987;10(1):1-11.
5. Jodelet D. Representações Sociais do Contágio e a Aids. In: Jodelet D. (Org.).
Aids e Representações Sociais à busca de sentidos. Natal: Edufrn;1998.
6. Greco M, Oliveira EI, Andrade JC, Lignani Jr L, Jeronymol JC, Andrade I, et
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relações com homens e mulheres. Rev Saúde Pública 2007;41(2):109-17.
7. Alves EGR, Ramos DLP. Profissionais de saúde: vivendo e convivendo com
HIV/Aids. São Paulo: Santos; 2002.
8. Valois BRG. Representações sociais da AIDS por enfermeiras das redes
básica e hospitalar [Dissertação]. Rio de Janeiro (RJ): Universidade do Estado
do Rio deJaneiro; 2012.
9. Freitas MYS. Representações sociais dos portadores do HIV e dos
profissionais de saúde sobre a Aids [Dissertação]. Salvador (BA):
Universidade Federal da Bahia; 2004.
10. Camargo Jr KR. Irracionalidade médica: os paradoxos da clínica. Phisis. Rev
de Saúde Col 1992: 2(1):203-228.
48
BARBOSA, C. R. Um olhar sobre o cuidar de pessoas vivendo com HIV/aids: dimensões
representacionais de profissionais de saúde à luz da Política Nacional de Humanização
_____________________________________________________________________________
11. Canini SRMS, Gir E, Hayashida M, Machado AA. Acidentes perfuro-cortantes
entre trabalhadores de enfermagem de um hospital universitário do interior
paulista. Rev Latino AM Enferm 2002;10(2):172-8.
12. Santos EI dos. Vulnerabilidade de enfermeiros no cuidado a pacientes com
HIV/AIDS:um estudo de representações sociais [Dissertação]. Rio de
Janeiro(RJ): Universidade do Estado do Rio de Janeiro; 2012.
13. Formozo GA, Oliveira DC. Autoproteção profissional e cuidado de
enfermagem ao paciente soropositivo ao HIV: duas facetas de uma
representação. Acta Paul Enferm 2009; 22(4): 392-398.
14. Sadala MLA. Cuidar de pacientes com Aids: o olhar fenomenológico. São
Paulo: Editora UNESP; 2000.
15. Oliveira DC, Erdman AL, Giami A, Vargens OMC, Oliveira SA, Gomes AMT, et
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estudo bicêntrico Rio de Janeiro/Florianópolis. Psicol Teor Prat 2007;
9(1):114-118.
16. Fee E, Fox D. Aids The making of a chronic disease. Berkeley-Los AngelesOxford: University of California Press; 1992.
17. Ribeiro CG, Coutinho MPL, Saldanha AA. Estudo das representações sociais
sobre a Aids por profissionais de saúde que atuam no contexto da
soropositividade para o HIV. DST J Bras Doenças Sex Transm 2004; 16(4)1418.
18. Marins JR, Jamal LF, Chen SY, Barros MB, Hudes ES, Barbosa AA, Chequer
P, Teixeira PR, Hearst N. Melhoria dramática na sobrevida dos pacientes com
AIDS adultos brasileiros. AIDS 2003; 17(11): 1675-1682.
19. Ragon CT, Tura LFR, Arruda A. Os sentidos da Aids e o atendimento
odontológico. Cad Saúde Col 2009; 17(4): 1047-1058.
BARBOSA. C. R. Um olhar sobre o cuidar de pessoas vivendo com HIV/aids: dimensões
representacionais de profissionais de saúde à luz da Política Nacional de Humanização
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CAPÍTULO 4 – TRAJETÓRIA
METODOLÓGICA
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BARBOSA, C. R. Um olhar sobre o cuidar de pessoas vivendo com HIV/aids: dimensões
representacionais de profissionais de saúde à luz da Política Nacional de Humanização
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Trata-se de um estudo qualitativo, do tipo exploratório, tendo como suporte
teórico a Teoria das Representações Sociais na perspectiva estrutural da Teoria do
Núcleo Central.
Segundo Minayo (2010) a pesquisa qualitativa, “está direcionada para a
investigação dos significados das relações humanas, em que suas ações são
influenciadas pelas emoções e ou/sentimentos aflorados diante das situações
vivenciadas no dia-a-dia” (p.22). Portanto aplica-se ao presente estudo, que objetiva
apreender as representações sociais de profissionais de saúde sobre cuidar de
pessoas vivendo com HIV/aids à luz da Política Nacional de Humanização; no
campo das RS surgem
elementos subjetivos, intersubjetivos e objetivos,
necessitando-se de uma perspectiva que abarque significados para além da
dimensão objetiva.
O campo das representações sociais possui conteúdos que estão sujeitos a
uma estrutura hierarquizada em torno de um núcleo central, premissa maior da TNC
(ABRIC, 1994). Esta estrutura contém dois sistemas fundamentais, um central e
outro periférico, baseado entre o cruzamento das frequências de ocorrência dos
conceitos associados ao objeto da representação com a sua ordem de evocação,
resultado de uma produção discursiva de forma livre e espontânea (PEREIRA,
2005). Nesta pesquisa o foco se dá sobre o núcleo central, por ser o responsável
pela mudança de uma representação. Se houver mudança no núcleo central, mudase totalmente a representação, sendo possível a partir deste fazer comparações
entre as representações.
A pesquisa que deu suporte à dissertação ocorreu no município de Belém,
teve como locais do estudo quatro unidades de atendimento especializado em
HIV/aids: Clinica de Infectologia do Hospital Universitário João de Barros Barreto
(HUJBB), Centro de Testagem e Aconselhamento (CTA), Unidade de Referência em
Doenças Infecto Parasitárias Especiais (UREDIPE) e Centro de Atenção à Saúde
em Doenças Infecciosas Adquiridas (CASA DIA) no período de agosto de 2011 a
abril de 2013.
O HUJBB é referência nacional para aids. A Clínica de Infectologia do HUJBB
possui 68 leitos, dos quais 5 são para isolamento e 28 leitos destinados a pacientes
com HIV/aids, com atendimento completo aos pacientes que precisam de internação
e aos seus familiares. Possui um processo de trabalho multidisciplinar, com médicos,
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BARBOSA, C. R. Um olhar sobre o cuidar de pessoas vivendo com HIV/aids: dimensões
representacionais de profissionais de saúde à luz da Política Nacional de Humanização
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enfermeiros, auxiliares e técnicos de enfermagem, psicólogos, assistentes sociais,
terapeutas
ocupacionais,
fisioterapeutas,
farmacêuticos, além do apoio administrativo.
fonoaudiólogos,
nutricionistas,
Atende ainda aos casos de
leptospirose, meningites, hepatites, sepse, estafilococcia, febre tifóide, tétano,
doenças oportunistas da aids, especialmente as meningoencefalites criptocócica e
tuberculose, neurotoxoplasmose, candidoses e outras. (HUJBB, 2013).
A Unidade de Referência Especializada em Doenças Infecciosas e
Parasitárias Especiais (UREDIPE) oferece serviços de média complexidade e foi o
primeiro serviço especializado no Estado do Pará é o centro de referência estadual.
É uma unidade da Secretaria de Estado de Saúde Pública do Pará. Dispõe de
ambulatório, Hospital Dia com oito leitos, onde os pacientes podem fazer
transfusões ou receber medicação. Oferece, ainda, Atendimento Domiciliar
Terapêutico, direcionado exclusivamente aos clientes com limitações e que não
podem se deslocar até a unidade. Conta com uma equipe formada por médicos
infectologistas e clínicos, fonoaudiólogos, fisioterapeutas, odontólogos, assistentes
sociais, psicólogos, nutricionistas, terapeutas ocupacionais e dermatologistas, além
de profissionais de enfermagem e do setor administrativo (PARÁ, 2011). Localizada
na travessa Magno de Araújo, Passagem Izabel S/Nº - Bairro Telégrafo - entre
Senador Lemos e Curuçá.
O Centro de Atenção à Saúde em Doenças Infecciosas Adquiridas (CASA
DIA) presta atendimento ambulatorial para os portadores de HIV desde 1999 e
também as vítimas de violência sexual e acidente ocupacional na quimioprofilaxia
antiretroviral (ARV). Atende encaminhamentos do CTA, UREDIPE, Unidades
Básicas de Saúde, hospitais credenciados e Rede Privada. É o centro de referência
municipal. É uma unidade da Secretaria Municipal de Saúde de Belém, vinculada a
Coordenação Municipal de DST/aids, dispõe de equipe multidisciplinar (médica,
pediatria,
nutricionista,
enfermagem,
psicologia,
assistentes
sociais,
fonoaudióloga,
terapeuta
enfermeiros,
ocupacional,
técnicos
fisioterapeuta
de
e
farmacêuticos.). Além do ambulatório, conta com o Hospital Dia, que oferece 16
leitos para os usuários, sendo 6 masculinos, 6 femininos, 3 pediátricos e 1 de
isolamento (DOL, 2012).
O Centro de Testagem e Aconselhamento – CTA trabalha com demanda
espontânea e é um centro de diagnóstico de HIV, tanto com realização de exames
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BARBOSA, C. R. Um olhar sobre o cuidar de pessoas vivendo com HIV/aids: dimensões
representacionais de profissionais de saúde à luz da Política Nacional de Humanização
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laboratoriais quanto com teste rápido e clinica básica, conta com equipe
multidisciplinar
(médicos,
enfermeiros,
psicólogos,
técnico
de
enfermagem,
assistente social, técnicos de laboratório). Realiza aconselhamentos pré e pós-teste
como estratégia de prevenção ao HIV. Também é uma unidade da Secretaria
Municipal Saúde de Belém vinculada a Coordenação Municipal de DST/aids (DOL,
2012).
Em 2012 foi inaugurado o Centro de Atenção à Saúde nas Doenças
Infecciosas Adquiridas para abrigar a Casa Dia e o CTA, localizado na Avenida
Pedro Álvares Cabral, entre Angustura e Barão do Triunfo, funcionando de segunda
a sexta, de 7h às 19h (DOL, 2012).
O total de profissionais atendendo cotidianamente pessoas vivendo com HIV
nas quatro unidades onde a pesquisa ocorreu, em Belém, é 241; são profissionais
que compõem as equipes multiprofissionais em saúde. Deste total foram,
participantes da pesquisa 114 profissionais de saúde (47%).
A amostragem seguiu o estabelecido no Projeto Multicêntrico, que definiu
uma amostra de conveniência. Foi considerada como exigência mínima para o
desenvolvimento do estudo uma amostra de 100 profissionais por município.
O critério de inclusão foi: profissionais de saúde que atuam diretamente no
cuidado à pessoa com HIV/aids. Os critérios de exclusão foram: aqueles que não
possuem vínculo institucional, aqueles que não foram localizados no serviço ou
locais indicados, após, pelo menos, três tentativas de acesso.
Quanto ao perfil dos profissionais1, destaca-se que 100 (87,7%) eram do sexo
feminino e 14 (12,3%) do sexo masculino. Quanto à idade, 34 (29,8%) profissionais
até 35 anos, 39 (34,2%) profissionais de 36 até 45 anos e 41 (36%) de 46 anos ou
mais de idade. Quanto a situação conjugal, 72 (63,2%) mora com namorado(a) ou
companheiro(a), 24 (21%) não possui namorado(a) ou companheiro(a) e 18 (15,8%)
tem namorado(a) ou companheiro(a) mas não mora junto.
Quanto à religião, 67 (58,8%) afirmaram ser católicos, 23 (20,2%)
evangélicos, 18 (15,8%) espírita/espiritualista e 6 (5,2%) marcaram a opção outra
religião e/ou não informaram. Quanto ao tempo de atuação no programa DST/aids,
1
O perfil dos profissionais está detalhadamente analisado na dissertação de Mestrado de Garcez
(2013), subprojeto do Projeto Multicêntrico. A referência é: GARCEZ, J. C. D. Entre o permanente e
o emergente: Perfil e concepções de profissionais de saúde relativas ao HIV/AIDS. 2013. 105 f.
dissertação (Mestrado em Enfermagem) – Universidade do Estado do Pará, Belém, Pará, 2013.
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representacionais de profissionais de saúde à luz da Política Nacional de Humanização
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69 (60,5%) atuam há menos de 5 anos no programa e 45 (39,5%) há mais de 5
anos.
Quanto ao tempo de formação, 36 (31,6%) até 5 anos de formados, 60
(52,6%) 6 a 15 anos de formados e 18 (15,8%) 16 anos ou mais de formados.
Quanto à categoria profissional, 24 (21%) técnicos de enfermagem, 13 (11,4%)
assistentes sociais, 13 (11,4%) enfermeiros, 13 médicos (11,4%), 7 (6,1%)
psicólogos, 7 (6,1%) farmacêuticos, 2 (1,8%) auxiliares de enfermagem, 1 (0,8%)
odontólogo e 34 (30%) técnicos em odontologia, terapeutas ocupacionais,
fonoaudiólogos, fisioterapeutas, e não especificados.
A coleta de dados foi realizada no período de agosto de 2011 a abril de 2013
por meio de um formulário (ANEXO A). O corpus foi constituído a partir da técnica de
associação livre de palavras (TALP) e técnica de substituição que compôs a 1ª parte
do formulário.2
A TALP (VERGÈS, 1992 apud SÁ, 2002), também conhecida por técnica da
evocação livre ou teste por associação de palavras consiste em solicitar aos sujeitos
que falem um número pré-determinado de palavras ou expressões que lhes ocorram
imediatamente à mente em relação a um termo indutor.
Segundo Coutinho, Nóbrega e Cantão (2003), evocar é trazer à lembrança, à
imaginação algo que está presente na memória da pessoa. Essa técnica de coleta
de dados permite colocar em evidência o universo semântico que está associado ao
termo-objeto estudado, assim como a sua dimensão imagética de forma mais rápida
e dinâmica que outros métodos com igual objetivo, como por exemplo, a entrevista
(ABRIC, 1994).
Durante a coleta de dados foi solicitada aos sujeitos a produção de cinco
palavras ou expressões que lhes viessem imediatamente à lembrança ao pensar no
termo indutor “Cuidar da pessoa com HIV/aids”, configurando a produção de
respostas em situação de normalidade de expressão, quando o sujeito fala em seu
nome.
No segundo momento foi solicitado a evocação em situação de substituição,
que consiste em solicitar ao sujeito que evoque palavras em nome de outras
pessoas. Dessa forma, o sujeito pode manter um distanciamento, havendo redução
2
O corpus foi elaborado no laboratório da UERJ sob a liderança da coordenadora geral e nacional do
Projeto Multicêntrico.
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representacionais de profissionais de saúde à luz da Política Nacional de Humanização
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de envolvimento, sob a justificativa “não sou eu que pensa isto, são os outros”
(ABRIC, 2005, p. 28). Podendo expressar suas ideias indesejáveis ou contranormativas, visto que é reduzida a pressão normativa sob o sujeito que está
representando.
Foi solicitada aos sujeitos a produção de cinco palavras ou expressões, que
na opinião delas, vem imediatamente à lembrança das pessoas em geral quando
elas pensam em “Cuidar da pessoa com HIV/aids”, configurando a situação de
substituição, consistindo em hipóteses de zona muda das representações.
Para as duas técnicas foi utilizada a ordem de produção das palavras, para
garantir a espontaneidade das evocações e se supõe que as palavras mais
importantes são citadas em primeiro lugar.
Para análise dos dados obtidos a partir das duas técnicas (TALP e Técnica
de Substituição) foi utilizado o software Ensemble de Programmes Permettant
L'analyse des Évocations - EVOC, versão 2003.
Para poder efetuar tal processamento das evocações obtidas pela TALP
(situação normal), primeiro todas as palavras evocadas foram digitadas no Microsoft
Office Word 2007; essas palavras passaram por correção ortográfica, substituição
das preposições ou espaços das expressões por hífen, uniformização dos termos,
em plural ou singular e em gênero. Foi ainda realizada uma padronização e
homogeneização das palavras com significados muito próximos, tendo em vista a
redução de dispersão de conteúdo para construção de um corpus para análise mais
homogêneo. Em um segundo momento, foi realizada a digitação do corpus no
Microsoft Office Word 2007, as primeiras colunas foram correspondentes as
variáveis de identificação dos sujeitos nas colunas subsequentes os termos
evocados precedidos dos números de 1 a 5, conforme a ordem de produção das
palavras. Em seguida o corpus foi então processado no programa, seguindo as
normas e passos para processamento dos dados conforme relatado detalhadamente
por Carneiro (2012) e Costa (2007). O EVOC 2003 calculou e informou a frequência
simples de ocorrência de cada palavra evocada, a média ponderada de ocorrência
de cada palavra em função da ordem de evocação e a média das ordens médias
ponderadas do conjunto dos termos evocados.
A partir do resultado do processamento foi obtido o quadro de quatro casas,
que corresponde a quatro quadrantes com quatro conjuntos de termos. A técnica do
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quadro de quatro casas ao combinar dois atributos relacionados às palavras ou às
expressões evocadas, que são a frequência e a ordem em que foram evocadas,
possibilita a distribuição dos termos produzidos segundo a importância espontânea
atribuída pelos sujeitos (VERGÈS, 1992 apud SÁ, 2002).
No alto e à esquerda (quadrante superior esquerdo) ficam situados os termos
verdadeiramente significativos para os sujeitos e que constituem, provavelmente, o
núcleo central da representação estudada.
Os elementos que se encontram no quadrante superior direito do quadro de
quatro casas são denominados de primeira periferia, contendo os elementos
periféricos de maior relevância, possuindo maiores frequência de evocação, mas,
menor importância segundo os entrevistados (ABRIC, 2000).
O sistema periférico promove a interface entre a realidade e o sistema central
e é mais sensível às condições do contexto permitindo a integração das
experiências e histórias. Serve de para-choque entre uma realidade que a questiona
e um núcleo central que não deve mudar facilmente. Os desacordos da realidade
são absorvidos pelos esquemas periféricos, que, assim, asseguram a estabilidade
(relativa) da representação (OLIVEIRA, D et al., 2005).
O quadrante inferior esquerdo é composto dos elementos de contraste,
elementos com frequência baixa, mas alta prioridade. Segundo Oliveira (apud
MACHADO; ANICETO, 2010), na zona de contraste se localizam elementos que
caracterizam variações da representação em função de subgrupos, no entanto, não
modificam os elementos centrais e a própria representação, indicam mudanças ou
transição de uma representação social.
Os elementos do quadrante inferior direito formam a segunda periferia, nele
estão os elementos com frequência baixa e baixa prioridade. Estes elementos
guardam mais relação com a realidade vivenciada, elementos possivelmente
recentes da representação, associados ao contexto mais imediato que agregam as
características mais particularizadas da representação no contexto prático.
Cabe ressaltar que esta técnica, integrada à informática, torna-se um
importante instrumento facilitador para a análise da estrutura e organização de uma
representação social. Além disso, cabe ainda destacar que os termos presentes no
núcleo central possuem maior frequência de evocações e menor rang, que se refere
à média das ordens médias de evocação.
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BARBOSA, C. R. Um olhar sobre o cuidar de pessoas vivendo com HIV/aids: dimensões
representacionais de profissionais de saúde à luz da Política Nacional de Humanização
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Entre os elementos periféricos ocorre o inverso, com palavras evocadas
menos frequentemente e com maior rang. Os elementos intermediários apresentam
variações nesses valores, com as palavras contidas no quadrante inferior esquerdo,
com uma frequência de evocação inferior à frequência média das palavras e um
rang inferior ao rang médio, ao passo que o quadrante superior direito possui uma
frequência maior que a frequência média e um rang também maior (VERGÈS, 1992
apud SÁ, 2002)
Foi realizada análise semântica e de conteúdo dos termos contidos no quadro
de quatro casas e buscou-se agrupar os termos em categorias associadas ao objeto
de estudo, de acordo com o universo semântico empregado pelos sujeitos.
Abric (1994, p 61), diz que além de combinar a frequência de emissão das
palavras e a ordem que elas foram ditas, busca-se “criar um conjunto de categorias,
organizadas em torno desses termos, para assim confirmar as indicações sobre seu
papel organizador das representações”.
O EVOC 2003 realiza, também, a comparação estatística por meio do Teste t
de Student entre as produções semânticas de subgrupos de sujeitos ou
subpopulações. Utilizando essa ferramenta, foi realizada a comparação das
seguintes variáveis: categoria profissional, com dois subgrupos – subgrupo 1 (equipe
de enfermagem: enfermeiros, técnicos e auxiliares de enfermagem), subgrupo 2
(demais profissionais: médicos, assistentes sociais, psicólogos, farmacêuticos,
odontólogos, etc.)3; idade, com três subgrupos – subgrupo 1 (até 35 anos), subgrupo
2 (36 até 45 anos), e subgrupo 3 (46 anos ou mais); e tempo de formação, com três
subgrupos – subgrupo 1 (até 5 anos de formados), subgrupo 2 (6 a 15 anos de
formados) e subgrupo 3 (16 anos ou mais de formados).
Para a comparação entre evocação em situação de normalidade e situação
de substituição foi construído um único corpus com as evocações em ambos os
contextos. A identificação de 001 a 114 foi utilizada na primeira coluna, referente as
evocações em situação de normalidade, nas colunas subsequentes os termos
evocados precedidos dos números de 1 a 5, conforme a ordem de produção das
palavras, a identificação de 115 a 228 foi referente as evocações em situação de
substituição. Nas colunas subsequentes os termos evocados precedidos dos
3
Os critérios para formação dos subgrupos de todas as variáveis foram estabelecidos pelo Projeto
Multicêntrico.
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BARBOSA, C. R. Um olhar sobre o cuidar de pessoas vivendo com HIV/aids: dimensões
representacionais de profissionais de saúde à luz da Política Nacional de Humanização
_________________________________________________________________
números de 1 a 5, conforme a ordem de produção das palavras. Esse corpus foi
processado pelo software EVOC 2003 e realizada a comparação estatística por meio
do Teste t de Student, conforme relatado detalhadamente por Costa (2007);
posteriormente obteve-se dois quadros de quatro casas, um para cada situação.
Além da comparação estatística, foi realizada a comparação de conteúdo e de
estrutura dos elementos das representações sociais expressas pelos sujeitos.
A pesquisa obedeceu à Resolução 466/12 do Conselho Nacional de Saúde,
que estabelece diretrizes e normas regulamentadoras quanto aos aspectos éticos
da pesquisa envolvendo seres humanos. O projeto multicêntrico ao qual este
subprojeto está vinculado foi apreciado e aprovado pelo Comitê de Ética da
Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Protocolo Nº 048.3.2010 (ANEXO B) e
Comitê de Ética da Universidade do Estado do Pará, Protocolo N° 0069.0.321.00010 (ANEXO C). Todos os sujeitos assinaram o Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido (ANEXO D).
________________________________
CAPÍTULO 5 – CUIDAR DE PESSOAS
VIVENDO COM HIV/AIDS:
APROXIMAÇÃO COM A ESTRUTURA
DAS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS
DOS PROFISSIONAIS DE SAÚDE
________________________________
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BARBOSA, C. R. Um olhar sobre o cuidar de pessoas vivendo com HIV/aids: dimensões
representacionais de profissionais de saúde à luz da Política Nacional de Humanização
_________________________________________________________________
5.1 ABORDAGEM GLOBAL
Os 114 profissionais de saúde evocaram em situação de normalidade um total
de 557 palavras associadas ao termo “Cuidar da pessoa com HIV/aids”, e destas,
139 eram diferentes.
A Figura 1 apresenta a distribuição dos termos evocados formando o Quadro
de Quatro Casas. Foi obtido com um ponto de corte na frequência mínima 14,
frequência intermediária 20 e ordem média 3,0. Temos 12 palavras ou termos
evocados, que se distribuem nos quatro quadrantes.
Figura 1 – Quadro de quatro casas do termo indutor “cuidar da pessoa com HIV/aids” – situação de
normalidade. Belém, 2015.
O.M.E
Frequência
Média
≥20
≥14 e ≤19
Termo
Evocado
Amor
Cuidado
Educaçãosaúde
Acolhimento
Autoproteçãoprofissional
Informação
Solidariedade
<3
Frequênci
a
O.M.E
Termo
Evocado
≥3
Frequênci
a
O.M.E
3,048
3,100
34
28
25
2,618
2,714
2,800
Atenção
Capacitaçãoprofissional
21
20
14
16
1,286
2,625
15
17
3,000
3,176
19
17
2,895
2,353
Apoiar
Atendimentohumanizado
Respeito
14
3,214
Ao observar a estrutura organizacional no seu conjunto, foi possível associar
o termo “Cuidar da pessoa com HIV/aids” a três categorias organizadoras: Cuidado
sócio-sensível (com os termos, amor, atenção, apoiar, solidariedade e respeito);
Cuidado técnico-terapêutico (com os termos, cuidado, acolhimento, autoproteção
profissional e atendimento-humanizado); e Cuidado educativo (com os termos,
educação-saúde, capacitação-profissional e informação).
Ao relacionar tais categorias aos quatro quadrantes (Figura 2), evidenciamos
a distribuição das mesmas no seu conjunto.
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BARBOSA, C. R. Um olhar sobre o cuidar de pessoas vivendo com HIV/aids: dimensões
representacionais de profissionais de saúde à luz da Política Nacional de Humanização
_________________________________________________________________
Figura 2 – Distribuição das categorias organizadoras no quadro de quatro casas do termo indutor
“cuidar da pessoa com HIV/aids” – situação de normalidade. Belém, 2015.
Núcleo Central
1º Periferia
Cuidado sócio-sensível
Cuidado sócio-sensível
Cuidado técnico-terapêutico
Cuidado educativo
Cuidado educativo
Zona de contraste
2º Periferia
Cuidado sócio-sensível
Cuidado sócio-sensível
Cuidado técnico-terapêutico
Cuidado técnico-terapêutico
Cuidado educativo
A análise e discussão se guiam pelo entrecruzamento organizacional dos
termos evocados e das categorias. Considerando-se como ponto de partida o
quadrante superior direito (núcleo central), e a partir dele, visto que agrega as três
categorias, há o desdobramento das reflexões e a relação com os princípios
norteadores da Política Nacional de Humanização da Saúde.
Para Abric (1994), os elementos desse quadrante representam os elementos
que para as representações sociais são cognições provavelmente centrais, por
serem os mais frequentes e os considerados hierarquicamente mais importantes
entre as evocações. Estes termos ou palavras expressam-se em uma frequência
igual ou superior a 20 e, ao mesmo tempo, obtiveram médias de evocação inferior a
3, ou seja, sendo evocados mais prontamente.
Abric (1994) sintetizou as características e funções do núcleo central da forma
seguinte: o sistema central é resultante da memória coletiva e do sistema de normas
ao qual determinado grupo se refere, ligado à história do grupo, é consensual, define
a homogeneidade do grupo, é estável, coerente, rígido, resistente à mudança, pouco
sensível ao contexto imediato, gera a significação da representação social e
determina sua organização.
Segundo a classificação de Abric (2005) os elementos do núcleo central
podem ser normativos e funcionais; pode-se afirmar que os elementos identificados
no quadro de quatro casas deste estudo, elementos do provável núcleo central,
configuram-se como elementos funcionais determinando as condutas diante do
objeto, ou seja, as condutas dos profissionais de saúde em relação à pessoa
vivendo com HIV/aids, envolvendo assim todos os termos nesta classificação.
61
BARBOSA, C. R. Um olhar sobre o cuidar de pessoas vivendo com HIV/aids: dimensões
representacionais de profissionais de saúde à luz da Política Nacional de Humanização
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Moliner (1994 apud SÁ, 2002) sistematizou quatro propriedades distintas às
cognições do núcleo central, sendo duas propriedades qualitativas (valor simbólico e
poder associativo) ditadas pela teoria das representações sociais e duas
propriedades quantitativas (saliência e forte conexidade na estrutura) aparecendo
como consequência das duas primeiras propriedades. O autor ainda classificou os
métodos de pesquisa do núcleo central em dois grupos: métodos de levantamento
dos possíveis elementos do núcleo central, em que se evidencia a saliência e a
conexidade e emergem hipóteses da constituição do núcleo central; métodos de
identificação, em que se evidenciam os elementos que compõem efetivamente o
núcleo central, a partir das cognições inicialmente levantadas, avaliando valores
simbólicos e/ou associativos.
O presente estudo utilizou um método de levantamento do núcleo central, a
associação ou evocação livre, verificando a saliência dos elementos de uma
representação. Moliner embora afirme que esse método gere somente hipóteses
acerca da centralidade, enfatiza-o como uma etapa imprescindível para o acesso
efetivo ao núcleo central (SÁ, 2002). Vergès (1992 apud SÁ, 2002) argumenta que
seu método ao combinar a frequência da evocação e a ordem média da evocação
vai além de um simples levantamento, avançando em direção à uma verdadeira
identificação das cognições centrais. O autor na segunda parte do seu estudo
agrupa as palavras ou expressões evocadas em categorias, para exemplificar uma
configuração completa da representação, o que foi feito no presente estudo.
O elemento com maior destaque entre aqueles provavelmente centrais é
amor, com uma frequência de evocação 34 e OME 2,618. Tem origem do latim e
possui múltiplos significados na língua portuguesa; pode significar afeição viva por
alguém ou por alguma coisa, sentimento de carinho e demonstração de afeto, zelo
(FERREIRA, 2010).
O termo amor (núcleo central) faz parte da Categoria Cuidado Sócio-Sensível.
Completam essa categoria os termos: atenção, solidariedade, apoiar e respeito
(Figura 3). Nesta categoria o cuidado é entendido como uma demonstração de afeto.
Kohlrausch (1999) afirma que o cuidado é uma ação que se dá entre pessoas, por
isso, não pode ser separado das emoções como amor e não pode ter neutralidade
em relação a valores humanos, deve ser um processo bilateral entre o profissional
de saúde e o ser cuidado.
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BARBOSA, C. R. Um olhar sobre o cuidar de pessoas vivendo com HIV/aids: dimensões
representacionais de profissionais de saúde à luz da Política Nacional de Humanização
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Figura 3 – Diagrama da Categoria Cuidado Sócio-sensível. Belém, 2015.
Pessoa, Pagliuca e Damasceno (2006) afirmam que para Watson (1985), na
teoria do cuidado humano, amor e cuidado são inseparáveis, caminhando em
direção à um novo e profundo cuidado transpessoal, acarretando “um benéfico
sentimento, tanto para si (self) como para os outros seres humanos, estendendo
para a natureza e o universo” (PESSOA; PAGLIUCA; DAMASCENO, 2006, p. 465).
Pinheiro et al. (2005) afirmam que diante do cuidar de pessoas vivendo com
HIV/aids, torna-se necessário que os profissionais de saúde, resgatem no seu dia-adia a verdadeira essência do cuidado, que possibilitem uma maior amorosidade
entre os seres humanos.
Junto com a amorosidade, é preciso a existência da solidariedade, essencial
para enxergar e compreender as necessidades dos outros, em especial, quando se
trata de pessoas vivendo com uma doença estigmatizante como a aids. Para estes
autores, o cuidado deve emergir do respeito e amor ao próximo, consciente que as
ações são guiadas pelos conhecimentos adquiridos. A solidariedade indica apoio,
relacionado à um sentindo moral de uma ação, encontrada na raiz do processo de
humanização (WALDOW; FENSTERSEIFER, 2011).
A presença desses sentimentos e emoções nas representações dos
profissionais de saúde sobre o cuidar de pessoas vivendo com HIV/aids, nos remete
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BARBOSA, C. R. Um olhar sobre o cuidar de pessoas vivendo com HIV/aids: dimensões
representacionais de profissionais de saúde à luz da Política Nacional de Humanização
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a discussão de Arruda (apud SOUSA, 2014.), sobre a presença de uma dimensão
afetiva no campo das representações sociais, sobre o afeto não ser um elemento
isolado, vivido individualmente em função de seu humor e disposição mental própria
e exclusiva, mas ocorrer na interação entre indivíduo/mundo e indivíduo/outro, no
convívio humano. Os afetos ao mesmo tempo que geram o convívio humano, são
gerados por este. Este convívio humano tem como base a comunicação,
impregnada de afeto. Esta comunicação é constituída pelas representações sociais,
pelo qual caminham a interação, troca, questionamentos, julgamentos e opiniões. As
RS abarcam a construção do conhecimento e uma gama de afetos, os afetos estão
na raiz das RS, por ser o objeto de representação gerador de efeito sob o sujeito.
Campos e Rouquette (2003), quanto ao componente afetivo das RS,
evidenciam que por ser a representação social um conhecimento estruturado
essencial para o modo de reação de um sujeito a uma determinada realidade, está
perpassada por uma carga afetiva. As emoções vivenciadas em momentos coletivos
(intersubjetivos) exercem influência na formação de uma representação social, o
afeto não é exclusivo da vida privada subjetiva. A TRS ressalta o socialmente
partilhado, que implica na partilha social das emoções, não sendo restrito ao
cognitivo. Por ser a RS definida como um paradigma de pensamento social, está
mediada por uma dimensão afetiva. Para estes autores a dimensão afetiva também
exerce influência sobre a função organizadora e estruturante do núcleo central.
Rios (2009) afirma que “na vertente moral da humanização pode evocar
valores humanitários como respeito, solidariedade, compaixão, empatia, bondade”
(p. 255), valores que definem as ações humanas como boas ou más, representando
um olhar sobre o mundo, sendo estes valores morais multáveis, dependendo do
tempo, do lugar e das transformações da sociedade.
Ao relacionarmos a palavra amor e por extensão, a Categoria Cuidado sóciosensível e os demais termos que a constituem com a PNH, constatamos a presença
de um dos princípios norteadores, o primeiro, que enfatiza e valoriza a dimensão
subjetiva e social na assistência (BRASIL, 2004).
A subjetividade é capacidade do ser humano em ser único (CUNHA;
ZAGONEL, 2008). No cuidar quando se desconsidera o cliente enquanto organismo
vivo, e observa-o apenas como alvo de suas ações técnicas perde-se a
subjetividade. Para Cunha e Zagonel (2008) o cuidado entende-se como uma ação
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BARBOSA, C. R. Um olhar sobre o cuidar de pessoas vivendo com HIV/aids: dimensões
representacionais de profissionais de saúde à luz da Política Nacional de Humanização
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que relaciona-se a sentimento de uma pessoa para outra, ocorrendo um processo
de interação com a valorização da experiência de vida de todos os sujeitos
envolvidos no cuidar e respeito à dimensão existencial do ser. O cuidar ocorre nesse
encontro de subjetividades, estabelecendo um diálogo aberto entre profissional de
saúde e cliente, onde sentimentos, ações e reações se complementam. As
percepções dos profissionais de saúde e emoções se associam, o cuidado é
humano, caloroso e atencioso.
Hoga (2004) afirma que o profissional de saúde que se informa das
características de vida do cliente (condição socioeconômica, necessidades e
carências, crenças, cultura, entre outros) aumenta as possibilidades de interação
deste profissional com o cliente, aspecto essencial de um cuidar humanizado. É
importante buscar o conhecimento do que está subjetivo nos clientes; medos,
anseios, dúvidas, o que pensa e sentimentos, para que o processo do cuidar seja
holístico.
Porém essa valorização da subjetividade não deve ter como foco apenas o
cliente, entende-se que a humanização do atendimento depende da consideração
de que a dimensão subjetiva do profissional também é componente vital do processo
do cuidar. É necessário que estes profissionais exercitem o autoconhecimento,
identificando suas vulnerabilidades, limitações, e usufruam de suas potencialidades.
Esse autoconhecimento possibilitará um relacionamento interpessoal adequado
(HOGA, 2004).
A autora também revela que em situações de doença que o cliente se
encontra mais fragilizado, torna-se necessário a adoção de um maior grau de
sensibilidade por parte dos profissionais de saúde, pois esta facilitará uma melhor
compreensão das necessidades subjetivas dos clientes, garantindo um cuidado mais
integral destes (HOGA, 2004). Esta afirmação enfatiza a importância da categoria
sócio-sensível presente neste estudo denotando um grau de sensibilidade dos
profissionais de saúde com as pessoas vivendo com HIV/aids.
OLIVEIRA, L. et al. (2005) ressalta a importância de uma dimensão afetiva
entre a relação profissional de saúde e cliente, entendo o processo de humanização
como um processo de diálogo que possibilita e estimula a integração entre o cuidar
técnico e os projetos de vida dos clientes. Quando se analisa a questão da
humanização no contexto das pessoas vivendo com HIV/aids percebe-se uma
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BARBOSA, C. R. Um olhar sobre o cuidar de pessoas vivendo com HIV/aids: dimensões
representacionais de profissionais de saúde à luz da Política Nacional de Humanização
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sobreposição do cuidar técnico sobre os aspectos interacionais e humanos da
atenção. Para Espinosa (1991, apud Oliveira, L. et al., 2005 o afeto não é algo alheio
a razão, pois é algo inerente a condição de ser humano, e através dos afetos há
possiblidade de uma organização existencial de maneira racional e justa.
É importante enfatizar que a humanização, um conceito ampliado, vai além de
uma boa relação profissional-usuário, requer também atenção para reorganização
dos processos de trabalho, gestão participativa, mobilização social, investimentos na
qualificação profissional e na estrutura dos serviços, entre outros (CHERNICHARO;
FREITAS; FERREIRA, 2013).
O segundo elemento a se destacar no possível núcleo central foi cuidado,
palavra com duplicidade de sentidos, referente tanto ao cuidado como ação de
assistência a pessoas vivendo com HIV/aids, como o cuidado no sentido de
proteção profissional diante da exposição à infecção pelo HIV no trabalho. Sua
frequência foi de 28 e OME 2,714.
A palavra cuidado (núcleo central) faz parte da Categoria Cuidado técnicoterapêutico. Completam essa categoria os termos: acolhimento, autoproteção
profissional e atendimento humanizado (Figura 4). O cuidado nesta categoria é visto
como ação-técnica às pessoas vivendo com HIV/aids.
Figura 4 – Diagrama da Categoria Cuidado Técnico-terapêutico. Belém, 2015.
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BARBOSA, C. R. Um olhar sobre o cuidar de pessoas vivendo com HIV/aids: dimensões
representacionais de profissionais de saúde à luz da Política Nacional de Humanização
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A aids trouxe à tona a necessidade de um cuidar holístico, além da
importância de lidar com aspectos afetivos e sociais. Ribeiro et al. (2005)
evidenciaram que “a objetivação do atendimento aliada ao medo e o cuidado pelos
profissionais da área da saúde, pode estar associada ao processo de contágio pelo
acidente de trabalho, comum a esse tipo de serviço” (p. 131). Destaca-se, nesse
sentido, o termo autoproteção profissional evocado pelos profissionais de saúde
deste estudo. Formozo e Oliveira (2010) enfatizam a autoproteção profissional como
importante elemento do cuidado.
Cesar et al. (2009) em relação ao acolhimento de pessoas vivendo com
HIV/aids, afirmam que se deve visar a descentralização do atendimento,
estendendo-o para toda a equipe. Segundo estes autores o “acolhimento na saúde
consiste em uma reorganização dos serviços de saúde que visa ao acesso
universal, à resolubilidade e ao atendimento humanizado” (p.1). No estudo de Souza
e Freitas (2009) no que se refere às representações ligadas ao trabalho em
HIV/aids, os profissionais revelam a permanência do modelo médico-centrado,
superficial e pontual, distante da população acompanhada em suas áreas de
abrangência.
O acolhimento deverá ter como base a escuta, com foco na individualidade e
intersubjetividade, permitindo o favorecimento da adesão ao tratamento da pessoa
vivendo com HIV/aids. O profissional de saúde que acolhe precisa ser uma fonte de
informações e incentivo sobre a continuidade da vida do cliente, o ato de acolher
precisa construir uma estrutura afeto – cognitiva entro profissional e usuário.
Em relação aos aspectos interacionais e “humanos” da atenção, identificamse ainda muitos desafios para a construção de um novo modelo de assistência nos
serviços de DST/aids. Oliveira, L. et al. (2005) afirmam que os profissionais de
saúde, embora levantem inúmeras dimensões da atenção, privilegiaram ainda
aspectos relativos ao controle clínico da infecção.
A Categoria Cuidado técnico-terapêutico indica o sentido da intervenção, que
passa a ser para além do estado de saúde e aplicação mecânica das tecnologias
disponíveis, chegando a ser uma avaliação da relação entre finalidades e meios,
desvelando um sentido prático, através de um diálogo mais horizontal entre
profissionais e usuários dos serviços (AYRES, 2004).
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BARBOSA, C. R. Um olhar sobre o cuidar de pessoas vivendo com HIV/aids: dimensões
representacionais de profissionais de saúde à luz da Política Nacional de Humanização
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As representações sociais são guias para a ação. Sobre isso Abric (1994)
afirma que as RS funcionam como uma forma de interpretar a realidade, que dita as
relações do indivíduo com seu contexto social e físico, determinando seus
comportamentos e práticas, orientando as ações e as relações sociais.
Ao relacionarmos o conjunto de termos da Categoria Cuidado técnicoterapêutico com a PNH, revelam-se três princípios norteadores; primeiro princípio,
valorizando a dimensão subjetiva e social na assistência; o segundo, que estimula o
comprometimento com a produção de saúde e a produção de sujeitos; o terceiro
princípio, que busca fortalecer o trabalho em equipe multiprofissional (BRASIL,
2004).
Para Rios (2009) a essência da humanização está na integração da
competência técnica e tecnológica com a capacidade de se relacionar e a ética. A
subjetividade é fundamental na humanização para visualização dos problemas e
buscar soluções compartilhadas. A participação, autonomia, responsabilidade e
atitude solidária por parte dos sujeitos envolvidos no cuidar, evidencia um modo de
saúde que visa a qualidade no cuidar e na saúde e melhores condições de trabalho.
Hoga (2004) diz que a execução do cuidar realizada por vários profissionais
de saúde, favorece a qualidade desta assistência pois uma única categoria
profissional não é capaz de cuidar da totalidade do cliente durante o processo
saúde-doença. A humanização do acolhimento dependerá da atuação adequada e
da receptividade em lidar direta ou indiretamente com os clientes. Para isso, um
trabalho em equipe proporcionará uma maior exposição de problemas e
questionamentos pelos profissionais de saúde e consequentemente poderá
promover um cuidado mais qualificado.
“Humanizar a assistência é humanizar a produção dessa assistência”
(DESLANDES, 2004, p.13). Filgueiras (2006) põe sob a ótica da PNH gestores,
profissionais de saúde e clientes, para a autora estes são os principais responsáveis
pela mudança nos modelos de atenção em saúde e gestão do processo de trabalho,
priorizando as necessidades dos cidadãos. O cliente não deve ser excluído no seu
processo terapêutico. Todos devem estar inseridos na ação do cuidar em saúde. O
profissional de saúde também precisa ser acolhido e valorizado. Torna-se essencial
a criação de espaços nos serviços de saúde para tratar as experiências e vivências
do cotidiano destes profissionais que atendem diariamente pessoas vivendo com
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BARBOSA, C. R. Um olhar sobre o cuidar de pessoas vivendo com HIV/aids: dimensões
representacionais de profissionais de saúde à luz da Política Nacional de Humanização
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HIV/aids, pela interferência que o imaginário social da aids acarreta no cuidar e no
processo saúde/doença. Profissional de saúde e cliente que compartilham e pensam
alternativas juntos, dão um passo a mais para que a ação de saúde seja efetiva.
Corroborando com a definição acima de humanização Lacaz e Sato (2006)
definem humanização como uma busca contínua de um bem estar físico, psicológico
e mental, diante das necessidades de todos os sujeitos envolvidos no cuidar e
processo saúde/doença (família, cliente, profissional de sáude) de acordo com a
relação estabelecida entre estes sujeitos.
O terceiro elemento que compôs o provável núcleo central da representação
social do cuidar da pessoa vivendo com HIV/aids para os profissionais de saúde foi
educação em saúde; está associado à atividades educativas profissionais em torno
da questão do HIV/aids, relacionadas tanto aos usuários quanto aos próprios
trabalhadores de saúde. Apresenta frequência de 25 e OME 2,800.
A palavra educação em saúde (núcleo central) faz parte da Categoria
Cuidado educativo. Completam essa categoria os termos: capacitação profissional e
informação (Figura 5).
Figura 5 – Diagrama da Categoria Cuidado Educativo. Belém, 2015.
Guedes e Souza (2009) ressaltam a educação em saúde como aporte
estratégico nas práticas de saúde voltadas ao HIV/aids, tornando-se uma ferramenta
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BARBOSA, C. R. Um olhar sobre o cuidar de pessoas vivendo com HIV/aids: dimensões
representacionais de profissionais de saúde à luz da Política Nacional de Humanização
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fundamental frente ao aumento do número de casos de HIV/aids e as mudanças no
perfil epidemiológico. Na construção de uma nova visão de educação em saúde, o
direito à informação é essencial, para o fortalecimento da autonomia e um viver em
saúde visto como um direito de cidadania.
O desenvolvimento de ações educativas não só para as pessoas vivendo com
HIV/aids, mas também para a população em geral, é uma forma de prevenção e
promoção à saúde, não apenas voltada à transmissão vertical de informações, mas
com possibilidades de transformar o indivíduo em um sujeito crítico quanto aos
problemas de saúde. Para Guedes e Souza (2009), a “informação e a comunicação
franca e aberta são um dos principais instrumentos para a construção coletiva da
cidadania” (p. 391). Em convergência com a afirmação anterior, Brito et al., (2014)
evidenciam a comunicação (verbal e não verbal) como primeiro fator apontado pelos
profissionais de saúde para pôr em prática a humanização. Ao executá-la de forma
adequada torna-se possível um cuidado mais adequado e humanizado.
Nesse contexto de educação em saúde evidencia-se o papel da equipe de
saúde, sendo ponto estratégico para conjugar informações que emergem da
interação entre os diferentes profissionais. A educação em saúde pode contribuir
tanto para o aprendizado pessoal como profissional.
A falta de informação constitui-se um grave problema para pessoas que vivem
com HIV/aids, pois leva à construção de um conhecimento fragmentado e isso
ocorre muitas vezes pela falta de comunicação efetiva entre profissional e cliente
(RIBEIRO; COUTINHO, SALDANHA, 2004).
Segundo Saldanha (2003), a formação em saúde deve ser reorientada para a
capacitação do profissional a fim que este venha a aproveitar o aprendizado informal
e experiência na relação com o usuário. A experiência adquirida pode ajudar os
profissionais a ultrapassar o sofrimento causado pelo trabalho com a aids.
A falta de informação por parte do profissional constitui-se também uma
barreira no processo do cuidar, daí consolida-se a relevância da qualificação e
capacitação profissional
vivendo
permanente dos profissionais que cuidam de pessoas
com HIV/aids; as ações educativas devem
ser
com vistas ao
“empoderamento” do profissional como forma de melhor prestar assistência ao
usuário, pautadas nos princípios de humanização.
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representacionais de profissionais de saúde à luz da Política Nacional de Humanização
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Costa e Lopez (1996, apud ALVES 2005, p. 43) afirmam que a educação em
saúde constitui um conjunto de saberes e práticas orientados para a prevenção de
doenças e promoção da saúde.
Ayres (2002) afirma que desde o começo da
epidemia da aids, a prevenção exerce papel crucial para seu controle. Mesmo com
todos os avanços no grau de conhecimento científico sobre o HIV/aids, avanços no
tratamento e diagnóstico, a importância da prevenção não é menor nos dias atuais,
pois pouco se alterou em relação aos determinantes de vulnerabilidade. Contudo,
algumas lições foram aprendidas quanto às práticas educativas sobre HIV/aids.
A primeira lição aprendida foi que terrorismo não funciona, as primeiras
campanhas e propagandas criadas para estimular a prevenção ao HIV/aids eram
cercadas pelo terror e com a finalidade de impactar e assustar, porém afastavam
ainda mais as pessoas do problema, aumentando a discriminação e o preconceito. A
segunda lição foi que o risco é um conceito útil, porém limitado. A utilização do
conhecimento epidemiológico para definir grupos de risco ou comportamentos de
risco mesmo que tenham gerado alguns impactos práticos imediatos, também
geraram
rotulações,
generalizações,
isolamento,
descontextualização
e
dessubjetivação. O autor julga mais apropriado usar o conceito mais abrangente de
vulnerabilidade, substituindo grupos de risco e comportamentos de risco (AYRES,
2002).
A terceira lição é que prevenção não se ensina; pauta-se na concepção que
ninguém ensina nada, todos aprendem com todos. São necessárias atividades de
reflexão, estabelecendo uma relação entre educadores e educandos para que
ambos possam imergir na questão da prevenção, aprendendo coletivamente e
pensando no que se pode fazer juntos. A quarta lição é que não somos sem um
outro, o aprendizado deve ser um encontro de sujeitos, perpassado em todo seu
processo pelo diálogo; Assim como nós dependemos do outro para existir, acontece
na relação ensino-aprendizado (AYRES, 2002).
Teixeira e Oliveira (2014) em seu estudo de representações sociais dos
profissionais de saúde sobre educação em saúde em tempos de aids revelam que
estes entendem a educação em saúde como uma tarefa de orientar e informar,
associada à uma forma de cuidar, guiada por conteúdos clínico-terapêuticos e de
responsabilidade de toda equipe. Este ato de orientar e informar está atrelado a
precaução-prevenção (auto e hetero proteção) que envolve as pessoas vivendo com
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BARBOSA, C. R. Um olhar sobre o cuidar de pessoas vivendo com HIV/aids: dimensões
representacionais de profissionais de saúde à luz da Política Nacional de Humanização
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HV/aids e as pessoas de convivem com estes clientes. Os profissionais de saúde
também consideram importante a educação no trabalho, pois mesmo o profissional
com mais experiência ainda tem dúvidas.
Relacionando os resultados dessa categoria com a PNH, revelam-se quatro
princípios norteadores: o primeiro princípio em sua totalidade, a valorização da
dimensão subjetiva e social em todas as práticas de atenção e gestão; o segundo
princípio que estimula o comprometimento com a produção de saúde e a produção
de sujeitos; o terceiro princípio que busca fortalecer o trabalho em equipe
multiprofissional, com estímulo à transdisciplinaridade e grupalidade; e o quinto
princípio com a utilização da informação, da comunicação, da educação permanente
e dos espaços da gestão na construção de autonomia e protagonismo de sujeitos e
coletivos (BRASIL, 2004).
Mongiovi et al., (2014) afirma que o termo humanização é para além de um
conjunto de princípios idealistas que servirão como norteadores das práticas em
saúde no Brasil. A humanização pressupõe um conjunto complexo de posturas e
ações que abarcam modificações no setor saúde, que ainda persistem em dias
atuais, com um modelo de atenção centrado na doença, com frágeis relações entre
profissionais de saúde e clientes e precarização do acesso aos serviços.
Torna-se crucial uma delimitação criteriosa do conceito de Humanização, para
que seus princípios norteadores sejam verdadeiramente aplicados. Avaliando quais
as formas possíveis de se executar essa humanização, que estejam de acordo com
a realidade dos serviços de saúde. A multiplicidade de conceitos de Humanização
reforça a necessidade de discutir e refletir sobre sua delimitação, para que a
proposta seja efetivamente implantada no cotidiano da prática assistencial
(MONGIOVI et al., 2014).
5.2 ABORDAGEM COMPARATIVA
Para a abordagem comparativa, procedemos a duas análises: a) entre os
termos dos núcleos centrais; b) entre os termos segundo categorias organizadoras.
Segundo Abric (1994), se dois núcleos centrais são diferentes, há diferenças entre
as representações sociais dos sujeitos em relação ao objeto.
72
BARBOSA, C. R. Um olhar sobre o cuidar de pessoas vivendo com HIV/aids: dimensões
representacionais de profissionais de saúde à luz da Política Nacional de Humanização
_________________________________________________________________
5.2.1 Variável categoria profissional
Figura 6 – Termos do Núcleo Central de todos os profissionais e subgrupos segundo categoria
profissional. Belém, 2015.
Categoria
Profissional
Termos do
Núcleo
Central
Todos os
profissionais
Amor
Cuidado
Educação-saúde
Equipe de enfermagem
Demais profissionais
Amor
Cuidado
Autoproteção-profissional
Capacitação-profissional
Amor
Cuidado
Educação-saúde
Solidariedade
No que se refere aos termos do núcleo central a diferença que se destaca é
que no núcleo central do subgrupo equipe de enfermagem não há o termo
educação-saúde e emerge autoproteção profissional e capacitação profissional; no
subgrupo demais profissionais o núcleo central é ampliado com o termo
solidariedade.
Quanto a autoproteção profissional cabe salientar que os profissionais da
equipe de enfermagem são os profissionais de saúde que mais se acidentam,
principalmente auxiliares e técnicos de enfermagem por estarem constantemente
assistindo o paciente, manipulando agulhas, cateteres venosos, e administrando
medicamentos (LUBENOW, 2011). Com a descoberta da aids passou-se enfatizar a
a exposição dos profissionais de saúde ao sangue (AMARAL, et al., 2005).
Levando em consideração esta maior exposição, a maior ênfase pela equipe
de enfermagem pode estar relacionada ao medo de contágio, apontando para um
aspecto negativo das representações; Formozo e Oliveira (2010) afirmam que esse
tipo de ênfase pode indicar um cuidado mais técnico e impessoal, com
distanciamento entre a equipe de enfermagem e cliente, considerado um
“descuidar”. O excesso de cautela pode significar uma barreira na relação entre o
sujeito que cuida e o sujeito cuidado (FORMOZO; OLIVEIRA, 2010).
Sobre capacitação-profissional destaca-se que um profissional capacitado,
sentindo-se seguro durante sua prática assistencial por meio da obtenção de
conhecimentos, tanto utilizará adequadamente os equipamentos de proteção
individual como facilitará o cuidado pela proximidade entre profissional de saúde e
cliente, sem que essa proximidade represente algum risco de contaminação para as
duas partes. E ainda, se a Equipe de Enfermagem estiver devidamente capacitada,
73
BARBOSA, C. R. Um olhar sobre o cuidar de pessoas vivendo com HIV/aids: dimensões
representacionais de profissionais de saúde à luz da Política Nacional de Humanização
_________________________________________________________________
também poderá realizar uma abordagem mais humanizada no cuidado às pessoas
vivendo com HIV/aids (GOMES et al., 2011).
Quanto a solidariedade ressaltamos que para Gomes et al., (2011) é
essencial que exista solidariedade para que se possa enxergar as necessidades das
pessoas vivendo com HIV/aids, principalmente por ser uma doença marcada pela
estigmatização e preconceito em seu processo histórico. Sendo assim, essa
solidariedade tende a qualificar positivamente o cuidar dos demais profissionais.
O termo educação em saúde não emergiu como central para a equipe de
enfermagem, mas somente para os demais profissionais, o que pode estar indicando
que para estes mais do que para a equipe de enfermagem as práticas educativas
com as pessoas que vivem com HIV\aids são uma das dimensões do cuidado. A
educação em saúde desenvolvida em qualquer nível da atenção pelos profissionais
de saúde tem grande contribuição para potencializar a compreensão dos usuários
sobre o estado saúde/doença que envolve o complexo “mundo” HIV/aids,
influenciando um olhar crítico em relação ao contexto social e à qualidade de vida
(GUEDES; SOUZA, 2009).
A comparação entre os termos dos núcleos centrais na variável categoria
profissional colocou em destaque que na RS da equipe de enfermagem revela-se
central uma perspectiva multidimensional, pois tanto indica o cuidado com o sujeito
que cuida (a equipe) como com o sujeito cuidado (a pessoa que vive com HIV\aids);
na RS dos demais profissionais emerge central o sujeito cuidado.
A Figura 7 apresenta os termos de todos os profissionais e dos subgrupos
segundo categorias organizadoras.
Figura 7 – Termos de todos os profissionais e subgrupos segundo categoria profissional de acordo
com as categorias organizadoras. Belém, 2015.
Categoria
Profissional
Todos os profissionais
Equipe de Enfermagem
Demais profissionais
Categoria
Cuidado sóciosensível
Amor
Apoiar
Atenção
Respeito
Solidariedade
Acolhimento
Atendimentohumanizado
Autoproteção-
Amor
Atenção
Futuro
Respeito
Amor
Apoiar
Atenção
Solidariedade
Adesão-tratamento
Atendimento-humanizado
Autoproteção-profissional
Cuidado
Acolhimento
Atendimento-humanizado
Cuidado
Tratamento
Categoria
Cuidado
técnicoterapêutico
74
BARBOSA, C. R. Um olhar sobre o cuidar de pessoas vivendo com HIV/aids: dimensões
representacionais de profissionais de saúde à luz da Política Nacional de Humanização
_________________________________________________________________
Categoria
Cuidado
educativo
profissional
Cuidado
Capacitaçãoprofissional
Educação-saúde
Informação
Prevenção
Capacitação-profissional
Educação-saúde
Informação
Capacitação-profissional
Educação-saúde
Informação
Em relação à equipe de enfermagem emergem os termos futuro, adesãotratamento e prevenção.
A equipe de enfermagem ao destacar o futuro pode estar relacionando-o às
pessoas vivendo com HIV/aids em função dos avanços da terapia antirretroviral, que
aumentou a expectativa de vida destas pessoas, trazendo a noção de cronicidade
da doença. O cuidado de enfermagem que no início da epidemia era voltado para
minimizar o sofrimento, e sempre cercado pelo risco da morte (GOMES et al., 2011),
hoje com a disponibilidade dos antirretrovirais não só a equipe de enfermagem mas
todos os profissionais devem buscar a melhora da qualidade de vida dos clientes,
com o equilíbrio físico, psicológico, social, espiritual (CALVETTI, MULLER, NUNES,
2008).
A adesão ao tratamento envolve além do uso correto dos medicamentos, a
realização de consultas e exames. A adesão é dinâmica e relaciona vários fatores,
abrangendo os aspectos físicos, culturais, psicossociais, e de comportamento,
necessitando que a pessoa que vive com HIV, profissionais de saúde e a rede social
assumam responsabilidades e compartilhem decisões (BRASIL, 2013c).
O termo prevenção pode estar indicando a importância das práticas de
prevenção estimuladas pelos programas do Ministério da Saúde (MARQUES;
OLIVEIRA; GOMES, 2004).
Quanto ao tratamento, destacado pelos demais profissionais, embora seja o
responsável pela esperança de uma melhor qualidade de vida no contexto de uma
doença crônica, se constitui um grande desafio, pois junto com os benefícios, trazem
também efeitos colaterais e alterações no estilo de vida para as pessoas vivendo
com HIV/aids (TEIXEIRA; SILVA, 2008).
75
BARBOSA, C. R. Um olhar sobre o cuidar de pessoas vivendo com HIV/aids: dimensões
representacionais de profissionais de saúde à luz da Política Nacional de Humanização
_________________________________________________________________
5.2.2 Variável idade
Figura 8 – Termos do Núcleo Central de todos os profissionais e subgrupos segundo idade. Belém,
2015.
Idade
dos
profissionais
Todos os
profissionais
Até 35 anos
36 a 45 anos
46 anos ou mais
Termos
Núcleo
Central
Amor
Cuidado
Educaçãosaúde
Cuidado
Educação-saúde
Amor
Cuidado
Educação-saúde
Informação
Solidariedade
Amor
Autoproteçãoprofissional
Capacitaçãoprofissional
Cuidado
Solidariedade
Tratamento
do
No que se refere aos termos do núcleo central a diferença que se destaca é a
ausência de termos ligados a categoria sócio-sensível (dimensão afetiva) no núcleo
central do subgrupo até 35 anos; no subgrupo 36 a 45 anos emerge informação e
solidariedade; no subgrupo 46 anos ou mais emerge autoproteção profissional,
capacitação profissional, solidariedade e tratamento.
A ausência de algum termo ligado à afetividade característica da categoria
sócio-sensível no subgrupo até 35 anos pode ser explicada pelo fato de 88% dos
profissionais com até 35 anos de idade ter menos de 5 anos atuando no programa
DST/aids, ou seja, pouco tempo de assistência constante há pessoas vivendo com
HIV/aids. Esses profissionais podem ainda não ter criado com seus clientes uma
relação afeto-subjetiva suficiente para ser evocada no núcleo central das
representações destes.
Sobre o termo informação, Ayres (2002, p. 12) afirma que os avanços da
TARV associados a informação extensiva, democrática, e sustentada para todos os
cidadãos, a serviços de saúde qualificados, equipados, com acesso garantido para
todos, ajuda a desassociar infecção e morte.
Quanto ao termo solidariedade presente nos subgrupos 36 a 45 anos e 46
anos ou mais, corroborando com esse resultado, Ribeiro et al., (2005), evidenciaram
quem entre os profissionais que atuam no contexto da aids na faixa etária 34 a 44
anos “ancoram a aids em elementos valorativos associados à solidariedade ligados
a valorização da vida” (p.130). E Ribeiro, Coutinho, Saldanha (2004) afirmam que
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BARBOSA, C. R. Um olhar sobre o cuidar de pessoas vivendo com HIV/aids: dimensões
representacionais de profissionais de saúde à luz da Política Nacional de Humanização
_________________________________________________________________
para os profissionais acima de 44 anos o tratamento para o HIV/aids está
configurado em elementos de apoio como a solidariedade.
A autoproteção profissional evocado no núcleo central do subgrupo 46
anos ou mais possivelmente evidencia o medo de contágio. Sabemos que acidentes
ocupacionais com materiais biológicos são um fator preocupante, não só pelos
prejuízos que acarretam aos serviços de saúde, mas também aos próprios
profissionais (SAILER; MARZIALE, 2007). Vieira e Padilha (2008) constataram que
dentre os fatores que contribuem para o risco desse tipo de acidente está a falta de
capacitação profissional. Portanto a capacitação profissional estabelece relação
com a autoproteção profissional. Os avanços científicos acerca do HIV/aids são
contínuos e constantes, mesmo os profissionais mais experientes precisam estar em
constante atualização.
O termo tratamento evocado pelo subgrupo 46 anos ou mais, implica tanto
na
maior
perspectiva
de
vida
das
pessoas
com
HIV/aids
como
nas
responsabilidades do profissional de saúde. Segundo o Ministério da Saúde, para a
longa efetividade do tratamento a supressão viral é essencial, para garanti-la é
importante que mais de 95% das doses prescritas sejam tomadas. A TARV não
deve ser iniciada, sem que antes o cliente entenda a importância do tratamento e
aceitação deste. Sendo responsabilidade dos serviços de saúde e profissionais o
esclarecimento a respeito e a busca pela conscientização (BRASIL, 2008).
A comparação entre os termos dos núcleos centrais na variável idade colocou
em destaque que somente para o subgrupo de profissionais com mais idade (46
anos ou mais) o cuidar sob a perspectiva da TARV (termo tratamento) já revela-se
central nas RS, mostrando uma transição em uma linha tênue das RS entre o medo
de contágio (marca do passado) e a cronicidade da doença (marca do presente).
A Figura 9 apresenta os termos de todos os profissionais e dos subgrupos
segundo categorias organizadoras.
Figura 9 – Termos de todos os profissionais e subgrupos segundo idade de acordo com as categorias
organizadoras. Belém, 2015.
Categorias
Todos os
profissionais
Até 35 anos
36 a 45 anos
46 anos ou mais
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BARBOSA, C. R. Um olhar sobre o cuidar de pessoas vivendo com HIV/aids: dimensões
representacionais de profissionais de saúde à luz da Política Nacional de Humanização
_________________________________________________________________
Categoria
Cuidado sóciosensível
Amor
Apoiar
Atenção
Respeito
Solidariedade
Amor
Atenção
Paciência
Categoria
Cuidado técnicoterapêutico
Acolhimento
Atendimentohumanizado
Autoproteçãoprofissional
Cuidado
Acolhimento
Atendimentohumanizado
Autoproteçãoprofissional
Cuidado
Categoria
Cuidado
educativo
Capacitaçãoprofissional
Educaçãosaúde
Informação
Capacitaçãoprofissional
Educaçãosaúde
Amor
Apoiar
Atenção
Compreensão
Paciência
Respeito
Solidariedade
Acolhimento
Cuidado
Prevenção
Capacitaçãoprofissional
Educação-saúde
Informação
Amor
Apoiar
Solidariedade
Adesãotratamento
Atendimentohumanizado
Autoproteçãoprofissional
Cuidado
Prevenção
Tratamento
Capacitaçãoprofissional
Educação-saúde
Informação
Em relação ao subgrupo até 35 anos emerge o termo paciência. Paciência
pode ser uma demonstração de afetividade (SOUSA; SILVA, 2013), dando
conotação positiva ao termo ou o controle que esse profissional de saúde deve ter
perante uma situação de estresse ou desgaste psicológico no cuidar de pessoas
vivendo com HIV/aids, evidenciando uma vulnerabilidade deste profissional
relacionada a complexidade do cuidar, sobrecarga de trabalho, nível de
responsabilidade, cansaço físico e psíquico, entre outros motivos (SANTOS, et al.,
2014). Como por exemplo a situação constatada por Formozo e Oliveira (2010) no
qual os profissionais de saúde de seu estudo haviam sofrido algum tipo de violência
física ou verbal, relacionada geralmente a revolta sentida pelo cliente ao diagnóstico
da soropositividade ao HIV.
Em relação ao subgrupo 36 a 45 anos, emergem compreensão, paciência e
prevenção.
Sobre compreensão, Moreira, Mesquita e Melo (2010), afirmam que cuidar é
compreender o outro na sua diferença, no seu modo de ser, sua relação com
ambiente e sociedade, e na forma que o sujeito enxerga essa vivência, investigando
as possibilidades de abertura para adentrar no seu estado de saúde, indo além do
peso da doença e seus sintomas. Devendo ser algo inerente ao profissional de
saúde, no momento em que o cliente busca ajuda. Sousa e Silva (2013)
evidenciaram que na perspectiva de profissionais de saúde, cuidar é ajudar,
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BARBOSA, C. R. Um olhar sobre o cuidar de pessoas vivendo com HIV/aids: dimensões
representacionais de profissionais de saúde à luz da Política Nacional de Humanização
_________________________________________________________________
compreender, ouvir, aceitando o outro de forma incondicional. Essa compreensão irá
facilitar a relação de confiança entre o cuidador e o ser cuidado.
Quanto a prevenção, Paiva (2002) discute a necessidade de se pensar as
ações de estímulo a prevenção não só para cidadãos “HIV negativos”, mas incluir
todos, homens e mulheres, negativos e positivos, segundo o contexto sociocultural
de cada um. Trabalhando a concepção “indivíduo sujeito-cidadão”, coparticipante de
espaços psicoeducativos que vislumbra a emancipação psicossocial, buscando
aumentar a qualidade das ações de prevenção e cuidado integral em HIV e aids.
Em relação ao subgrupo 46 anos ou mais, emergem adesão ao tratamento,
prevenção e tratamento.
Estes profissionais com mais idade, que viveram o começo da epidemia,
quando a aids era vista fortemente como uma sentença de morte e a associação à
ela era forte, incluíram em suas evocações os termos adesão ao tratamento e
tratamento.
Mostrando
uma
transição
nas
representações
sociais
destes
profissionais, Teixeira e Oliveira (2014), afirmam que as transições ocorrem em
discursos de imobilização (“de não há o que fazer”) para mobilização (“já há o que
fazer”). A TARV trouxe essa mobilização, acrescentou a visão de cronicidade às
pessoas vivendo com HIV/aids, “possibilitando a mudança de valores, crenças,
hábitos e conhecimentos, individuais e coletivos” (SCHAURICH; COELHO; MOTTA,
2006, p.460), inclusive dos profissionais de saúde. Essa visão de cronicidade implica
na responsabilidade dos profissionais de saúde em garantir a adesão ao tratamento
pelos clientes, e no papel de elo entre cliente, doença e tratamento (RIBEIRO et al.,
2006).
5.2.3 Variável tempo de formação
Figura 10 – Termos do Núcleo Central de todos os profissionais e subgrupos segundo tempo de
formação. Belém, 2015.
Tempo de
formação
Termos do
Núcleo
Central
.
Todos
os
profissionais
Amor
Cuidado
Educação-saúde
Até 5 anos
formados
Amor
Atenção
Cuidado
Paciência
Solidariedade
de
6 a 15 anos de
formados
Amor
Cuidado
Educação-saúde
16 anos ou mais de
formados
Educação-saúde
79
BARBOSA, C. R. Um olhar sobre o cuidar de pessoas vivendo com HIV/aids: dimensões
representacionais de profissionais de saúde à luz da Política Nacional de Humanização
_________________________________________________________________
No que se refere aos termos do núcleo central a diferença que se destaca é a
predominância de termos pertencentes a categoria Cuidado sócio-sensível no
subgrupo até 5 anos de formados, emergindo os termos atenção, paciência e
solidariedade. No subgrupo de 6 a 15 anos não há diferenças e no subgrupo 16
anos ou mais de formado o único termo central foi educação-saúde.
A valorização mais recente dos estágios supervisionados e obrigatórios na
formação dos profissionais de saúde pode influenciar nesta maior valorização de
termos afeto-subjetivos no núcleo central destes profissionais mais recentemente
formados. Bifulco e Iochida (2009), afirmam que quanto mais cedo os estudantes da
área da saúde entrarem em contato com práticas humanísticas, maior a
possibilidade de despertarem para esta área mais adiante, quando se tornarem
profissionais. A teoria acrescenta conhecimento, a união entre teoria e prática
transforma.
Espera-se
que
estes
profissionais
sejam
mais
sensíveis
às
necessidades de quem cuidam.
A comparação entre os termos dos núcleos centrais na variável tempo de
formação apontou que na RS dos profissionais há um continuum crescente do
cuidado sócio-sensível (mais central nos com menos tempo), passando para o
cuidado técnico-terapêutico e chegando no cuidado educativo (mais central nos com
mais tempo) na medida em que o tempo de formação aumenta.
A figura 11 apresenta os termos de todos os profissionais e dos subgrupos
segundo categorias organizadoras.
Figura 11 - Termos de todos os profissionais e subgrupos segundo tempo de formação de acordo
com as categorias organizadoras. Belém, 2015.
Categorias
Categoria
Cuidado sóciosensível
Todos
os
profissionais
Amor
Apoiar
Atenção
Respeito
Solidariedade
Até 5 anos de
formados
Alimentação
Amor
Amor-trabalho
Atenção
Compreensão
Dedicação
Empatia
Futuro
Paciência
Respeito
Solidariedade
6 a 15 anos de
formados
Amor
Apoiar
Atenção
Dedicação
Qualidade-de-vida
Respeito
Solidariedade
16 anos ou mais
de formados
Amor
Apoiar
Apoio-familiar
Compreensão
Futuro
Solidariedade
80
BARBOSA, C. R. Um olhar sobre o cuidar de pessoas vivendo com HIV/aids: dimensões
representacionais de profissionais de saúde à luz da Política Nacional de Humanização
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Categoria
Cuidado
técnicoterapêutico
Acolhimento
Atendimentohumanizado
Autoproteçãoprofissional
Cuidado
Categoria
Cuidado
educativo
Capacitaçãoprofissional
Educaçãosaúde
Informação
____
Cuidado
técnicoestigmatizante
Acolhimento
Adesãotratamento
Atendimentohumanizado
Autoproteçãoprofissional
Competência
Cuidado
Prevenção
Tratamentomedicamentoso
Aconselhamento
Capacitaçãoprofissional
Educação-saúde
Informação
____
Acolhimento
Adesãotratamento
Atendimentohumanizado
Autoproteçãoprofissional
Cuidado
Prevenção
Responsabilidade
Tratamento
Aconselhamento
Capacitaçãoprofissional
Educação-saúde
Informação
Medo-morte
Acesso
Acolhimento
Adesãotratamento
Atendimentohumanizado
Autoproteçãoprofissional
Cuidado
Custo-financeiro
Prevenção
Tratamento
Conscientizar
Educação-saúde
Informação
Contágioprofissional
Medo-morte
A análise dos termos nesta última variável enfatizará os termos que não foram
discutidos anteriormente.
Em relação ao subgrupo até 5 anos de formados emergem os termos
alimentação, amor ao trabalho, compreensão, dedicação, empatia, futuro, paciência,
adesão ao tratamento, competência, prevenção, tratamento medicamentoso e
aconselhamento.
Quanto ao termo alimentação, sabe-se que para as pessoas vivendo com
HIV/aids uma alimentação saudável, variada e equilibrada é crucial, pois aumenta a
resistência à aids, fortalecendo o sistema de defesa (BRASIL, 2015a). Hábitos
alimentares adequados são também necessários para garantir uma boa adesão ao
tratamento medicamentoso (RIBEIRO et al., 2005).
Em relação ao termo amor ao trabalho, este é extremamente importante,
pois diferente desse tipo de evocação, Santos et al. (2014) evidenciou que um dos
fatores que os profissionais consideram para sua vulnerabilidade, é o fator do
trabalho com pessoas vivendo com HIV/aids não ter sido uma opção, como por
exemplo, nos casos de lotação aleatória em concurso público, quando a
especialidade não é determinada primeiramente, necessidade dos serviços de
saúde e outros motivos. Este amor ao trabalho vem para facilitar a interação entre
profissional e cliente. Na visão da própria pessoa vivendo com HIV/aids quando o
profissional realiza seu trabalho com amor, esta pessoa é melhor atendida, a falta de
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BARBOSA, C. R. Um olhar sobre o cuidar de pessoas vivendo com HIV/aids: dimensões
representacionais de profissionais de saúde à luz da Política Nacional de Humanização
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uma relação com afetividade é marcada no discurso destas (COSTA et al., 2006).
Implica também em um outro termo evocado, a dedicação, pois trata-se de um
trabalho complexo e cercado de responsabilidades, onde o profissional tem que se
dedicar ao que faz, pois trata-se de clientes com um grau de vulnerabilidade maior.
A empatia é necessária para estabelecer uma comunicação efetiva com o
cliente, sendo essencial para o cuidado (SADALA; MARQUES, 2006). Para Formozo
e Oliveira (2010) quando o profissional de saúde está envolto pela empatia, este
compreende melhor os sentimentos do cliente, colocando-se no lugar deste, e
mantendo uma interação maior.
Quanto ao termo competência, Sousa e Silva (2013), afirmam que uma das
dimensões do cuidar é a dimensão cognitiva, esta relaciona-se as competências
cientificas do profissional de saúde para realizar a prática assistencial. Este deve ter
competências tanto pessoais como profissionais, para atender as necessidades do
ser cuidado, informar, apoiar, orientar, no diagnóstico, na escolha do tratamento, na
intervenção, promoção e prevenção da saúde. Esta dimensão cognitiva é o “saber
saber”.
Quanto ao tratamento medicamentoso, hoje o estímulo ao início TARV deve
ser imediato para todas as pessoas vivendo com HIV/aids, independentemente da
contagem de LT CD4+ (método pelo qual se investiga o estado imunológico). O
Protocolo clínico e diretrizes terapêuticas para manejo da infecção pelo HIV em
adultos enfatiza que a TARV precoce tem a capacidade de diminuir a morbidade e
mortalidade, diminuir ou mesmo de tornar indetectável a carga viral do HIV, ou seja,
uma potente intervenção para a prevenção da transmissão do HIV e impacto na
redução da tuberculose (principal causa de óbitos em pessoas vivendo com HIV/aids
no Brasil) (BRASIL, 2013c).
Sobre o termo aconselhamento, o Ministério da Saúde diante do despreparo
dos profissionais de saúde para lidar com as questões suscitadas pela infecção criou
o Aconselhamento em DST, HIV e Aids como uma estratégia de prevenção e quebra
da cadeia de transmissão das DST e HIV/aids, a partir do momento que se reflete
sobre o risco de infecção e sobre a prevenção (BRASIL, 1998b). O aconselhamento
pode ser crucial para se alcançar o que está subjetivo e facilitar a superação de
conflitos, retomando a integralidade da pessoa, e incentivando-a pela busca da
melhora da qualidade de vida.
82
BARBOSA, C. R. Um olhar sobre o cuidar de pessoas vivendo com HIV/aids: dimensões
representacionais de profissionais de saúde à luz da Política Nacional de Humanização
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O aconselhamento em DST, HIV/aids envolve o apoio emocional, apoio
educativo e a avaliação de riscos, objetivando reduzir o estresse, refletir sobre a
percepção dos próprios riscos, adoção de práticas mais seguras, adesão ao
tratamento, a comunicação e o tratamento de parceiro sexual e de uso de drogas
injetáveis. Os profissionais de saúde devem estar treinados para realizar o
aconselhamento, tendo conhecimentos atualizados sobre o tema (BRASIL, 1998b).
Para Miranda et al. (2008), por ser o aconselhamento uma atividade
educativa, deve-se considerar a situação em que se encontra a pessoa vivendo com
HIV/aids, estabelecendo um diálogo, estimulando a consciência crítica, não sendo
apenas um acúmulo de informação mas, buscando-se uma educação para
transformação e valorização da autonomia do sujeito. É possível que por ser o
aconselhamento uma estratégia que foi enfatizada nos últimos 17 anos, ela não
tenha sido evocada pelo subgrupo de 16 ou mais anos de formados.
Em relação ao subgrupo 6 a 15 anos de formados emergem dedicação,
qualidade de vida, adesão ao tratamento, prevenção, responsabilidade, tratamento,
aconselhamento e medo da morte.
Quanto a qualidade de vida, alguns fatores geradores de impacto começam
desde o recebimento do diagnóstico, passando pelas restrições físicas, restrições
pessoais com rompimentos de relações, dependência dos medicamentos que
necessitam de ajustes e adaptações no dia a dia, os efeitos adversos das
medicações, dificuldades psicológicas e sociais, o preconceito, a discriminação, as
manifestações clínicas da doença, e o acompanhamento pelos serviços de saúde
(MEIRELLES et al., 2010).
Quando o profissional de saúde avalia mais profundamente essa qualidade de
vida das pessoas vivendo com HIV/aids, gera benefícios no monitoramento da
saúde destes clientes, repercutindo sobre a adesão ao tratamento, e incentivo ao
autocuidado destas (MEIRELLES et al., 2010). A busca pela saúde de quem vive
com HIV/aids implica na mudança de alguns comportamentos e estilo de vida.
Priorizar
uma
alimentação
saudável,
praticar
atividades
físicas,
usar
corretametamente a TARV, buscar superar os obstáculos impostos pela doença,
estão intimamente ligados com a qualidade de vida. Neste sentido, as orientações
dadas pelos profissionais de saúde são de suma importância, pois estes podem ser
potencializadores da qualidade de vida quando sua assistência não foca somente à
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BARBOSA, C. R. Um olhar sobre o cuidar de pessoas vivendo com HIV/aids: dimensões
representacionais de profissionais de saúde à luz da Política Nacional de Humanização
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doença mas prioriza também as questões pessoais e subjetivas dos clientes, com
um cuidar mais humanizado e pautado também na educação em saúde como uma
prática transformadora pela busca de comportamentos saudáveis (MEIRELLES et
al., 2010).
As responsabilidades que envolvem o cuidar de pessoas vivendo com
HIV/aids é de competência tanto dos próprios usuários como profissionais de saúde
e dos serviços de saúde, principalmente no que se refere a adesão ou não adesão
do tratamento (TEIXEIRA; SILVA 2008). Oliveira (2009) aborda que uma das
responsabilidades que envolve tensões cotidianas é transitar entre ações que focam
o “modo tratar” com todas suas especificidades e o “modo cuidar” com toda sua
complexidade. Evidencia-se uma responsabilidade com práticas que fortaleçam o
princípio de integralidade na assistência destes clientes. O cuidar no contexto do
HIV/aids é um cuidar de responsabilidades partilhadas.
Em relação ao subgrupo 16 anos ou mais de formados emergem apoio
familiar, compreensão, futuro, acesso, adesão ao tratamento, custo financeiro,
prevenção, tratamento, conscientizar, contágio profissional e medo da morte.
O apoio familiar tanto para os profissionais de saúde como para os clientes é
extremamente importante. Santos (2012), evidencia que o apoio familiar à atividade
laboral do profissional de saúde que atua no contexto do HIV/aids pode servir como
um suporte psicológico diante da fragilidade do processo de trabalho destes. Já
para os clientes vivendo com HIV/aids, Carvalho et al., (2007) afirmam que a família
é a principal fonte de apoio, constituindo-se importante fator de proteção para os que
precisam enfrentar a infecção. Sua importância já é expressada desde o momento
do diagnóstico, na adesão ao tratamento e até mesmo na participação de grupos de
apoio.
Quanto ao acesso, o SUS garante em relação ao HIV/aids o tratamento, o
acesso aos medicamentos e a realização dos exames médicos necessários ao
diagnóstico a todos os residentes no Brasil de forma gratuita (BRASIL, 2015b).
Em relação ao custo financeiro, sabe-se que para o Brasil os custos da
epidemia são muito altos, desde 1996 o acesso universal e gratuito aos
medicamentos antirretrovirais é política prioritária do Departamento de DST, Aids e
Hepatites Virais. Em dezembro de 2012, estavam em tratamento 313 mil pessoas
vivendo com HIV/aids, com 21 medicamentos antirretrovirais distribuídos pelo
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BARBOSA, C. R. Um olhar sobre o cuidar de pessoas vivendo com HIV/aids: dimensões
representacionais de profissionais de saúde à luz da Política Nacional de Humanização
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Sistema Único de Saúde (BRASIL, 2015 c). Em uma entrevista realizada em 2000,
com o Dr. Paulo Roberto Teixeira, o então Coordenador Nacional de DST/AIDS, foi
afirmado que o custo anual de um paciente com aids era de quatro mil e quinhentos
dólares na época só em medicamentos e que cerca de setecentos milhões de
dólares eram gastos anualmente com a prevenção e o controle da aids, somente no
âmbito federal (BOA SAÚDE, 2000).
Porém o investimento em prevenção ainda precisa ser melhorado, um
relatório divulgado em 2010 pela Unaids (Programa das Nações Unidas para
HIV/Aids) sugere que o país amplie seus investimentos na prevenção da doença,
pois apenas 7% do total de gastos é destinado a prevenção (BBC, 2010).
Em relação ao termo conscientizar, relaciona-se principalmente a prevenção,
pois o maior obstáculo é a conscientização de todos os clientes para uso de
preservativo em todas as relações sexuais, inclusive para as pessoas vivendo com
HIV/aids com parceiro sexual também soropositivo. Educação em saúde e
conscientização se relacionam por se a conscientização um processo que visa o
olhar crítico do ser humano sobre a realidade. No âmbito do HIV/aids toda forma de
discussão e conscientização para prevenção dos clientes deve ser incentivada e
apoiada (TORRES; ENDERS, 1999).
Porém o trabalho de prevenção do HIV/aids não deve se estender somente à
disponibilização de informação por meio da chamada conscientização da população
sobre aids, mas sim, considerando todos os fatores individuais, sociais e
programáticos que favorecem a vulnerabilidade ao HIV/aids (BORBA; CLAPIS,
2006). Para Souza, Gomes e Leandro (2008) prevenção e conscientização nem
sempre andam juntas, uma coisa é ouvir falar sobre o uso da camisinha outra coisa
é ser consciente para o uso desta.
Na variável tempo de formação emergiu uma quarta categoria além das três
discutidas anteriormente (Cuidado sócio-sensível, Cuidado técnico-terapêutico,
Cuidado educativo), a categoria Cuidado técnico-estigmatizante, com o termo medo
da morte emergindo nos subgrupos de 6 a 15 de formados e subgrupo 16 anos ou
mais de formados. E o termo contágio profissional que emerge no subgrupo 16 anos
ou mais de formados.
O medo da morte e o medo do contágio profissional estão correlacionados,
o profissional ao realizar um procedimento técnico em pacientes sabidamente HIV
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BARBOSA, C. R. Um olhar sobre o cuidar de pessoas vivendo com HIV/aids: dimensões
representacionais de profissionais de saúde à luz da Política Nacional de Humanização
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positivo, com risco de exposição ao sangue, com agulhas contaminadas, fluídos
corpóreos, mesmo utilizando equipamentos de proteção sente-se inseguro
(ANDRADE; CAPOCCI, 2008). Por estar diante de uma doença que não tem cura e
ainda conceber a aids intimamente ligada à morte, a possibilidade de um acidente
ocupacional nestes casos gera o medo da morte.
Andrade e Capocci (2008), evidenciaram que a grande maioria dos artigos
encontrados em seu estudo, mostra que o profissional de enfermagem elege o medo
como sentimento preponderante perante o cuidar de pessoas vivendo com HIV/aids.
Oliveira (2013), constata que não só profissional de enfermagem mas também
outros profissionais de saúde referem o sentimento de medo frequente no cuidar
destes clientes. O medo se apresenta de diferentes formas: medo da morte, medo
do contágio profissional e medo do desconhecido (ANDRADE; CAPOCCI, 2008).
Estes dois termos evocados nesta nova categoria serão discutidos em maior
profundidade na próxima seção deste estudo.
5.3 ABORDAGEM SUBSTITUTIVA
Os 114 profissionais de saúde evocaram em situação de substituição um total
de 541 palavras associadas ao termo “Cuidar da pessoa com HIV/aids”, e destas,
136 eram diferentes.
A Figura 12 apresenta a distribuição dos termos evocados formando o Quadro
de Quatro Casas. Foi obtido com um ponto de corte na frequência mínima 15,
frequência intermediária 31 e ordem média 3,0. Temos 8 palavras ou termos
evocados, que se distribuem nos quadrantes.
Figura 12 – Quadro de quatro casas do termo indutor “cuidar da pessoa com HIV/aids” – situação de
substituição. Belém, 2015.
O.M.E
Frequência
Média
Termo
Evocado
≥31
Discriminação
Medo-morte
<3
Frequência
59
59
O.M.E
2,542
1,949
Termo
Evocado
≥3
Frequência
O.M.E
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BARBOSA, C. R. Um olhar sobre o cuidar de pessoas vivendo com HIV/aids: dimensões
representacionais de profissionais de saúde à luz da Política Nacional de Humanização
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≥15 e ≤30
Contaminação
Contágioprofissional
Desconhecimento
20
19
2,450
2,158
30
2,767
Amor
Apoiar
Morte
17
15
15
3,765
3,067
3,800
Em objetos representacionais, como a aids, cercado de pressões normativas,
é possível que seja gerado um discurso politicamente correto, havendo uma parte
não explicitada, escondida e denominada de zona muda (OLIVEIRA, 2013). É
importante ressaltar que a zona muda não é o inconsciente da representação social,
é algo que existe no consciente mas não pode ser expressado para se manter
adequado ao grupo que pertence ou ao grupo de referência. Busca-se manter uma
imagem positiva de si (ABRIC, 2005).
Para verificar a existência de uma possível zona muda foram comparados os
termos dos núcleos centrais nas duas situações, situação de normalidade e situação
de substituição, bem como a distribuição das categorias organizadoras segundo a
distribuição dos termos de acordo com os quadrantes (Figura 13).
Figura 13 – Termos e categorias centrais em situação de normalidade e situação de substituição.
Belém, 2015.
Situação
Situação de normalidade
Situação de substituição
Termos evocados no
Núcleo Central
Amor
Cuidado
Educação-saúde
Discriminação
Medo-morte
Categorias
Organizadoras
Centrais
Cuidado sócio-sensível
Cuidado técnico-terapêutico
Cuidado educativo
Cuidado técnico-estigmatizante
* As cores dos termos evocados e as cores das categorias são correspondentes.
Evidencia-se com base nos termos dos dois núcleos centrais, duas condições
bem distintas evocadas pelos profissionais de saúde. No primeiro núcleo central, dito
em situação de normalidade, uma manifestação centrada em sentimentos positivos
(amor) e medidas de enfrentamento da doença (cuidado e educação em saúde). No
segundo núcleo central, dito em situação de substituição uma manifestação
estigmatizante, carregada do simbolismo negativo da aids (discriminação) e
proposição de ameaça (medo da morte). As três categorias positivas presentes no
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BARBOSA, C. R. Um olhar sobre o cuidar de pessoas vivendo com HIV/aids: dimensões
representacionais de profissionais de saúde à luz da Política Nacional de Humanização
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núcleo central em situação de normalidade são substituídas por uma categoria
negativa no núcleo central em situação de substituição.
Abric (2005) afirma que quando são elementos periféricos da representação
que estão escondidos não se constitui em algo grave, “todavia, se são elementos do
núcleo central das representações que estão escondidos, é todo o significado da
representação que se encontra escondido” (p.25).
Constata-se na situação de substituição uma possível representação social de
conteúdo negativo, sendo muito provável que discriminação e medo da morte
constituam a zona muda da representação dos profissionais de saúde. O peso
destes dois termos pode ser destacado quando compara-se as frequências de amor,
cuidado e educação em saúde (núcleo central da situação de normalidade),
produzidas por cerca de 30%, 24% e 22% dos profissionais de saúde
respectivamente com os termos discriminação e medo da morte, que foram
evocados cada uma por 51% dos profissionais de saúde em contexto de substituição
e tiveram ordem média de evocação menores do que as palavras do núcleo central
em situação de normalidade.
Para reforçar a hipótese de zona muda consideramos todos os termos de
acordo com as categorias organizadoras (Figura 14).
Figura 14 - Conteúdo das categorias em situação de normalidade e situação de substituição. Belém,
2015.
Situação
Categoria Cuidado sóciosensível
Categoria Cuidado técnicoterapêutico
Categoria Cuidado educativo
Categoria Cuidado técnicoestigmatizante
Situação normal
Amor
Atenção
Solidariedade
Apoiar
Respeito
Cuidado
Acolhimento
Autoproteção-profissional
Atendimento-humanizado
Educação-saúde
Capacitação-profissional
Informação
____
Situação de substituição
Amor
Apoiar
Discriminação
Medo-morte
Contaminação
Contágio-profissional
Desconhecimento
Morte
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BARBOSA, C. R. Um olhar sobre o cuidar de pessoas vivendo com HIV/aids: dimensões
representacionais de profissionais de saúde à luz da Política Nacional de Humanização
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Na situação de substituição emergem termos da categoria Cuidado sóciosensível, amor e apoiar. No entanto, o termo amor pertencente ao núcleo central na
situação de normalidade passa para 2ª periferia na situação de substituição,
perdendo sua importância no contexto.
Um estudo realizado no Rio de Janeiro aponta a estrutura representacional da
aids de profissionais de saúde nos anos 80 e início de 90 associada à “aids/morte”,
“aids/práticas sexuais desviantes”, “aids/sangue”, “aids/doença do outro” e
“aids/contágio” (OLIVEIRA, 2013, p. 4). Confrontando esses dados com a nossa
situação de normalidade, há um avanço contra os estigmas e preconceitos da aids.
Já na situação de substituição há um retrocesso, pois há semelhanças com a
constituição
representacional
relacionada
a
discriminação,
medo-morte,
contaminação, contágio-profissional e morte. Um ponto positivo é o fato de duas
associações geradoras de bastante preconceito não serem no nosso estudo
evidenciadas: aids/práticas sexuais desviantes e aids/doença do outro.
O desgaste psicológico em cuidar diariamente de pessoas vivendo com aids
leva os profissionais de saúde à conflitos pessoais, principalmente relacionados à
impotência
contra
a
morte
(RIBEIRO;
COUTINHO;
SALDANHA,
2004).
Corroborando com esse pensamento, para Marques, Oliveira e Gomes (2004), a
aids carrega um sentimento de destruição que influencia o posicionamento dos
sujeitos frente ao vírus/doença, como por exemplo o medo. Esse medo pode estar
relacionado ao risco de contaminação durante a prática profissional, ao perigo, e a
consequência mais grave da doença, a morte.
Aids e morte estão intimamente ligadas no imaginário das pessoas, por ser
uma doença que não tem cura. Mesmo com todos os avanços no diagnóstico,
tratamento e prolongamento da vida das pessoas doentes, as informações
circulantes no início da epidemia ainda fortalecem essa ligação.
Para Ribeiro, Coutinho e Saldanha (2004), a aids além de ser um problema
político e econômico é um problema psicossocial que gera na sociedade em geral e
nos profissionais de saúde, efeitos psicológicos como “epidemia do medo” gerando
discriminação dos indivíduos infectados que muitas vezes são identificados como
“grupos de risco”, embora se afirme que não exista mais essa denominação. Esses
profissionais de saúde devem ser incentivados a lidar com seus medos para melhor
lidar com a vida de seus clientes.
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representacionais de profissionais de saúde à luz da Política Nacional de Humanização
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Além do medo-morte, outro fator que assombra os profissionais de saúde é o
risco de contágio profissional pelo HIV, mesmo sendo considerado baixo quando
comparado ao risco de transmissão ocupacional por Hepatite B e Hepatite C. O risco
de infecção por HIV pós-exposição ocupacional percutânea com sangue
contaminado é de aproximadamente 0,3% e, após exposição de mucosa,
aproximadamente 0,09% (CARDO et al., 1997 apud LUCENA et al., 2011).
Por serem os que mais ocorrem, os acidentes ocupacionais por materiais
perfurocortantes são os que mais levam ênfase. Em um estudo sobre as
representações sociais de acidentes com materiais com perfurocortantes, realizado
com técnicos de enfermagem evidenciou que após o acidente ocupacional, a
primeira atitude tomada é cuidar da área afetada, seguido da notificação do
acidente, motivados pelo medo de contraírem HIV, hepatite B e C (LUBENOW et al.,
2012).
No estudo de Magagnini, Rocha e Ayres (2011), os profissionais de saúde
que se acidentaram expressaram tranquilidade em relação a hepatite B, sendo o
medo maior em relação ao HIV. Percebe-se então que após um acidente
ocupacional com material perfurocortante a aids é a patologia que mais assusta os
profissionais de saúde, pelo medo da contaminação e o medo da morte que ela
causa nesses profissionais.
Após um acidente com material biológico surge o sofrimento psíquico, com
sentimentos como medo, desespero, culpa, ansiedade e outros. Porém como no
caso de alguns dos profissionais do nosso estudo que convivem com pacientes com
HIV/aids no âmbito hospitalar, Araújo et al., (2012) afirmam que principalmente nos
hospitais que são referência para doenças contagiosas, esses sentimentos que
surgem são potencializados, pois estes profissionais acompanham diariamente a
luta desses clientes pela vida, o preconceito da sociedade, as dificuldades do
tratamento e, em alguns casos, a morte.
Outro elemento de destaque na situação de substituição foi o termo
discriminação. Discriminar significa diferenciar, tratar uma pessoa ou grupo de
maneira desigual, injusta, motivada por alguma característica da cultura, raça,
étnica, religião, classe social, ou pessoal desse indivíduo ou grupo (FERREIRA,
2010).
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BARBOSA, C. R. Um olhar sobre o cuidar de pessoas vivendo com HIV/aids: dimensões
representacionais de profissionais de saúde à luz da Política Nacional de Humanização
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No presente estudo discriminar pode significar a diferenciação que o
profissional de saúde faz em relação ao cuidar de pessoas vivendo com HIV/aids,
pode ser a forma que este profissional enxerga este cliente, como vítima de
discriminação na sociedade, ou sendo ainda possível a discriminação que este
profissional sofre na sua vida pessoal por sua prática profissional diária com estes
clientes.
A discriminação sempre esteve presente na representação ligada à aids,
relacionada aos estigmas existentes desde o começo da epidemia. Discriminação e
preconceito embora tenham definições distintas são frequentemente associadas em
estudos de representações sobre aids. O preconceito gera a atitude discriminatória.
O estigma, a discriminação e o preconceito no HIV/aids constituem questões tão
centrais quanto a própria doença, estes podem gerar a exclusão e até mesmo a auto
exclusão da pessoa vivendo com HIV/aids.
(GARCIA; KOYAMA, 2008).
Corroborando com esta afirmação sabe-se que um dos principais motivos do
abandono do tratamento antirretrovial ou a não procura deste é medo de sofrer
discriminação ou estigmatização (ALMEIDA; LABRONICI, 2007).
Em um estudo sobre a representação do portador de HIV/aids realizado com
enfermeiros,
entre
as
assertivas
consideradas
como
intermediárias
desta
representação está a seguinte: “eles são discriminados, o que ocorre inclusive no
hospital”. A assistência a pessoas vivendo com HIV/aids assume características
peculiares pelo medo do contágio. O excesso de autoproteção dos profissionais ao
saber que um paciente é soropositivo em procedimentos técnicos também pode ser
entendida como uma forma de discriminação (COSTA et al., 2012).
Galvão et al., (2006) em sua análise da comunicação proxêmica (forma na
qual o ser humano estrutura inconsciente o seu espaço, sendo este espaço
considerado um meio de comunicação não verbal) entre a equipe de enfermagem e
portadores de HIV/aids, mostra que na maior parte das interações não houve
comportamento de contato, o toque no paciente foi predominantemente instrumental
entre o profissional de saúde e o cliente, ou seja associado a procedimentos
técnicos. Estes profissionais mantinham um certo distanciamento até na hora de
conversar com estes clientes.
Muitos profissionais de saúde ainda tem as mesmas concepções da
sociedade em geral sobre a aids, que contribuem para discriminação e a morte
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representacionais de profissionais de saúde à luz da Política Nacional de Humanização
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social das pessoas que vivem com HIV/aids. O estigma da aids é agravado por ser
vinculado a outros estigmas como homossexualismo, profissionais do sexo, usuários
de drogas e assuntos de difícil discussão como sexo e traição (RIBEIRO et al.,
2005).
A discriminação é vista ainda na vida pessoal dos próprios profissionais de
saúde, pelos julgamentos quanto ao seu tipo de trabalho. Há um temor de suas
famílias, amigos e conhecidos que eles contraiam patologias em seus locais de
trabalho ou a própria aids.
A desaprovação destes é pautada no preconceito,
estigmas, na falta de informação e na visão de periculosidade acerca do trabalho
dos profissionais de saúde com pessoas vivendo com HIV/aids, enunciada por meio
de frases como “você é maluco”, “toma cuidado”, “cuidado com essas pessoas” e
“pede para sair deste trabalho” (SANTOS, 2012).
Quanto ao termo desconhecimento, Oliveira (2013) afirma, que a ausência
de conhecimentos científicos/médicos consistentes sobre a doença no início da
epidemia favoreceu a simbolização negativa da doença, e permitiu que as pessoas
criassem teorias sobre as formas de contaminação e sobre as pessoas
contaminadas. Mesmo após três décadas do início da epidemia, profissionais de
saúde que atuam diretamente com pessoas vivendo com aids, ainda se sentem
inseguros quanto a obtenção de conhecimentos teóricos relacionados à aids e o
HIV, evidenciado pelo termo desconhecimento presente na situação de substituição.
Santos (2012) evidenciou em seu estudo que para os profissionais de saúde
investigados, os avanços tecnológicos no campo da aids são vistos por esses
profissionais de forma contraditória, positivos quando facilitam a assistência ao
cliente e negativos quando exigem constante atualização dos seus conhecimentos
técnicos científicos.
Portanto, na abordagem substitutiva evidenciam-se diferentes situações: os
profissionais de saúde quando evocam em nome dos outros, revelam conteúdos
diferentes/negativos o que pode estar expressando uma representação social sobre
o cuidar de pessoas vivendo com HIV/aids como prática profissional carregada de
medo, insegurança e estresses psicológicos, suscitando a hipótese de uma zona
muda.
Para Abric (2005), a existência de uma zona muda é proporcional a
importância que carrega uma dada situação, quanto mais implicações sociais, maior
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representacionais de profissionais de saúde à luz da Política Nacional de Humanização
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a possibilidade de existir a zona muda. Para o autor por ser a zona muda uma área
ainda pouco explorada e de pouco aprofundamento das representações sociais,
torna-se necessário novos instrumentos que permitam desmascará-la e evidenciá-la,
abrindo um novo campo teórico e metodológico da TRS.
93
_____________________________
CAPÍTULO 6 – CONSIDERAÇÕES
FINAIS
_____________________________
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representacionais de profissionais de saúde à luz da Política Nacional de Humanização
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A estrutura representacional dos profissionais de saúde sobre cuidar de
pessoas vivendo com HIV/aids é “positiva” e se organiza em torno das categorias
Cuidado sócio-sensível, Cuidado técnico-terapêutico e Cuidado educativo.
A discussão dos princípios norteadores da Política Nacional de Humanização
possibilitou concluir que o cuidar de pessoas vivendo com HIV/aids tanto para os
profissionais de saúde em geral como em especial para os profissionais de
enfermagem é predominantemente desenvolvido segundo tais princípios, o que
fortalece o agir cuidativo realizado nas unidades de referência.
Quanto a presença\ausência dos princípios norteadores na estrutura
representacional dos profissionais de saúde sobre cuidar de pessoas vivendo com
HIV/aids identificamos quatro dos cinco princípios, o que nos faz concluir que há um
cuidado humanizado em curso, há avanços nas formas de cuidar, com o
entrelaçamento da subjetividade dos profissionais com a dos usuários, a valorização
do protagonismo destes, a consciência da necessidade de processos educativos
permanentes com o objetivo de qualificar cada vez mais esse cuidar, e a importância
de um cuidar pautado em saberes científicos atualizados por toda a equipe
multiprofissional.
Os resultados indicaram a ausência de um dos princípios, o que se refere a
atuação em rede com alta conectividade, de modo cooperativo e solidário, em
conformidade com as diretrizes do SUS. Ressaltamos com base nisso, que a política
de humanização é um ideal possível e inesgotável, mas também um processo
contínuo de construção e reconstrução sob a ótica do trabalho em saúde e do
cuidar.
Também pudemos concluir que há diferenças entre as estruturas
representacionais dos profissionais de saúde sobre cuidar de pessoas vivendo com
HIV/aids quando comparadas as variáveis categoria profissional, idade, e tempo de
formação.
Destacou-se a variável tempo de formação, em que emergiu uma quarta
categoria organizadora (Cuidado técnico–estigmatizante) para os subgrupos de
profissionais com 6 a 15 anos de formados e 16 anos ou mais de formados; nesta
categoria reúnem-se elementos negativos (medo da morte e contágio profissional),
apontando para a não superação de representações sociais do período inicial da
doença fortemente marcadas por preconceitos, discriminação e estigmas.
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representacionais de profissionais de saúde à luz da Política Nacional de Humanização
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Foi possível verificar a existência de pelo menos dois elementos escondidos
ou não explicitados nas representações sociais dos profissionais de saúde sobre
cuidar de pessoas vivendo com HIV/aids: discriminação e medo da morte. Tal
resultado permite o levantamento da hipótese de uma zona muda, uma possível
explicação em casos em que as representações são positivas em situação de
normalidade e negativas em situação de substituição.
Com a visualização de tais elementos mascarados na situação de
substituição das evocações, vislumbramos um campo aberto para novas pesquisas
em HIV/Aids, pois há aspectos que ainda precisam ser aprofundados e mais
investigados.
Essas conclusões suscitam algumas reflexões. A implementação da política
de educação permanente precisa ser uma das estratégias de enfrentamento e
superação das dificuldades encontradas no cotidiano do cuidar de pessoas vivendo
com HIV/aids. A educação permanente pode transformar as práticas profissionais e
o processo de trabalho, no próprio cotidiano do trabalho, e aprender e ensinar fazem
parte deste processo. Há que se modificar também as estratégias educativas dos
próprios profissionais, para que estejam de acordo com a realidade das instituições
e com a cultura da comunidade.
Há que se ter um entrelaçamento da educação permanente para o
desenvolvimento do profissional de saúde com as necessidades da pessoa vivendo
com HIV/aids; a problematização do processo de trabalho em HIV/aids, poderá
favorecer que os profissionais de saúde reflitam sobre a sua própria prática,
construam conhecimentos compartilhados e busquem soluções para os problemas
com a participação de todos.
A educação permanente para a construção de estratégias e processos que
qualifiquem a atenção e a gestão em saúde pode convergir com a PNH, já que a
humanização da assistência das pessoas vivendo com HIV/aids requer um processo
permanente de qualificação dos profissionais.
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representacionais de profissionais de saúde à luz da Política Nacional de Humanização
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VIEIRA, M.; PADILHA, M. I. C. S. O HIV e o trabalhador de enfermagem frente ao
acidente com material perfurocortante. Revista da Escola de Enfermagem da USP,
v. 42, n. 4, p. 804-810, 2008.
WALDOW, V.R.; FENSTERSEIFER, L. M. Saberes da enfermagem: a solidariedade
como uma Categoria essencial do cuidado. Revista de Enfermagem da Escola
Anna Nery, v. 15, n. 3, p. 629-632, 2011.
APÊNDICES
108
APÊNDICE A – QUADROS DE QUATRO CASAS VARIÁVEIS
Variável categoria profissional
Quadro de Quatro Casas do termo indutor “Cuidar da pessoa com HIV/aids” – subgrupo equipe de
enfermagem. Belém, 2015.
O.M.E
Frequência
Média
≥7
≥5 e ≤6
Termo
Evocado
Amor
Auto-proteçãoprofissional
Capacitaçãoprofissional
Cuidado
Atenção
Informação
Prevenção
Respeito
<3
Frequênci
a
O.M.E
12
12
2,333
2,750
7
2,286
8
6
5
6
5
2,375
2,667
2,600
2,667
2,800
≥3
Frequênci
a
O.M.E
Educaçãosaúde
8
3,000
Adesãotratamento
Atendimentohumanizado
Futuro
5
3,400
6
4,000
5
4,200
Termo
Evocado
Quadro de Quatro Casas do termo indutor “Cuidar da pessoa com HIV/aids” – subgrupo demais
profissionais. Belém, 2015.
O.M.E
Frequência
Média
≥14
≥10 e ≤13
Termo
Evocado
Amor
Cuidado
Educaçãosaúde
Solidariedade
Acolhimento
Atendimentohumanizado
Tratamento
<3
Frequênci
a
O.M.E
22
20
17
2,773
2,850
2,706
14
11
11
2,500
1,273
2,272
10
2,200
≥3
Frequênci
a
O.M.E
Atenção
Informação
15
14
3,200
3,000
Apoiar
Capacitaçãoprofissional
11
13
Termo
Evocado
3,545
3,538
109
Variável idade
Quadro de Quatro Casas do termo indutor “Cuidar da pessoa com HIV/aids” – subgrupo até 35 anos.
Belém, 2015.
O.M.E
Frequência
Média
≥8
≥5 e <7
Termo
Evocado
Cuidado
Educaçãosaúde
Acolhimento
Auto-proteçãoprofissional
<3
Frequência
O.M.E
Termo
Evocado
≥3
Frequência
O.M.E
12
10
2,917
2,800
Atenção
13
3,154
5
5
1.000
2,800
Amor
Atendimentohumanizado
Capacitaçãoprofissional
Paciência
7
6
3,286
3,000
6
3,667
5
3,000
Quadro de Quatro Casas do termo indutor “Cuidar da pessoa com HIV/aids” – subgrupo até 36 anos
a 45 anos. Belém, 2015.
O.M.E
Frequência
Média
≥7
≥5 e <6
Termo
Evocado
Amor
Cuidado
Educaçãosaúde
Informação
Solidariedade
Acolhimento
Capacitaçãoprofissional
Prevenção
<3
Frequênci
a
14
9
8
2,714
2,667
2,625
10
8
6
6
2,700
2,375
1,667
2,833
5
2,800
O.M.E
Termo
Evocado
Apoiar
Respeito
Atenção
Compreensão
Paciência
≥3
Frequênci
a
7
7
5
5
6
O.M.E
3,714
3,286
3,000
3,000
3,167
110
Quadro de Quatro Casas do termo indutor “Cuidar da pessoa com HIV/aids” – subgrupo 46 anos ou
mais. Belém, 2015.
O.M.E
Frequência
Média
≥7
≥5 e <6
≥2,90
< 2,90
Termo
Evocado
Amor
Auto-proteçãoprofissional
Capacitaçãoprofissional
Cuidado
Solidariedade
Tratamento
Apoiar
Informação
Prevenção
Frequênci
a
13
7
O.M.E
2,154
2,286
8
2,875
7
7
7
6
5
5
2,429
2,000
2,714
2,167
2,800
2,600
Termo
Evocado
Adesãotratamento
Atendimentohumanizado
Educaçãosaúde
Frequênci
a
7
O.M.E
3,143
7
3,000
7
3,000
Variável tempo de formação
Quadro de Quatro Casas do termo indutor “Cuidar da pessoa com HIV/aids” – subgrupo até 5 anos
de formados. Belém, 2015.
O.M.E
Frequência
Média
≥5
≥3 e <4
≥3
<3
Termo
Evocado
Amor
Atenção
Cuidado
Paciência
Solidariedade
Acolhimento
Aconselhament
o
Adesãotratamento
Amor-trabalho
Competência
Empatia
Informação
Tratamentomedicamentoso
Frequênci
a
11
6
5
8
6
O.M.E
2,545
2,500
2,200
2,875
2,333
3
3
1,333
2,000
3
1,667
3
3
4
4
3
1,667
2,667
2,250
2,750
2,000
Termo
Evocado
Atendimentohumanizado
Auto-proteçãoprofissional
Capacitaçãoprofissional
Dedicação
Educaçãosaúde
Futuro
Alimentação
Compreensão
Prevenção
Respeito
Frequênci
a
6
O.M.E
3,500
5
3,000
12
3,083
5
10
3,000
3,200
5
3
3
3
3
3,200
4,667
3,000
3,667
3,333
111
Quadro de Quatro Casas do termo indutor “Cuidar da pessoa com HIV/aids” – subgrupo 6 a 15 anos
de formados. Belém, 2015.
O.M.E
Frequência
Média
≥10
≥5 e <9
Termo
Evocado
Amor
Cuidado
Educaçãosaúde
Acolhimento
Aconselhament
o
Atendimentohumanizado
Dedicação
Prevenção
Qualidade-vida
Solidariedade
Tratamento
<3
Frequênci
a
19
21
10
2,526
2,762
2,400
9
6
1,333
2,500
9
2,889
6
8
5
7
9
2,333
2,500
2,800
2,714
2,444
O.M.E
Termo
Evocado
Apoiar
Atenção
Informação
Respeito
Adesãotratamento
Auto-proteçãoprofissional
Capacitaçãoprofissional
Medo-morte
Responsabilida
de
≥3
Frequênci
a
10
15
13
11
O.M.E
3,600
3,267
3,000
3,182
6
4,000
8
3,000
8
3,125
5
5
3,400
3,600
Quadro de Quatro Casas do termo indutor “Cuidar da pessoa com HIV/aids” – subgrupo 16 anos ou
mais de formados. Belém, 2015.
O.M.E
Frequência
Média
≥5
≥2 e <4
Termo
Evocado
Educaçãosaúde
Acesso
Acolhimento
Adesãotratamento
Apoiar
Auto-proteçãoprofissional
Contágioprofissional
Informação
Medo-morte
Solidariedade
<3
Frequênci
a
5
2,800
2
2
4
2,500
1,000
2,250
4
3
2,000
1,000
2
2,500
2
2
4
2,500
1,500
1,750
O.M.E
Termo
Evocado
Amor
Apoio-familiar
Atendimentohumanizado
Compreensão
Conscientizar
Cuidado
Custo-financeiro
Futuro
Prevenção
Tratamento
≥3
Frequênci
a
O.M.E
4
4
2
3,250
4,750
3,500
2
2
2
2
2
2
2
3,000
3,500
3,500
3,500
4,500
3,000
3,500
ANEXOS
113
ANEXO A – FORMULÁRIO DE PESQUISA
114
115
116
117
118
119
120
121
ANEXO B – PARECER DO COMITE DE ÉTICA DA UERJ
122
ANEXO C – PARECER DO COMITE DE ÉTICA DA UEPA
123
ANEXO D – TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE ESCLARECIDO
124
Universidade do Estado do Pará
Centro de Ciências Biológicas e da Saúde
Escola de Enfermagem Magalhães Barata
Programa de Pós-Graduação em Enfermagem
Mestrado Associado UEPA/UFAM
Av. José Bonifácio, 1289 – São Brás
66063-022 Belém – Pa
www.uepa.br
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dimensões representacionais de profissionais