Universidade do Estado do Pará Centro de Ciências Biológicas e da Saúde Escola de Enfermagem Magalhães Barata Camila Rodrigues Barbosa Um olhar sobre o cuidar de pessoas vivendo com HIV/aids: dimensões representacionais de profissionais de saúde à luz da Política Nacional de Humanização 1.1.1.1.1 1.1.1.1.2 Belém – Par Belém 2015 Camila Rodrigues Barbosa Um olhar sobre o cuidar de pessoas vivendo com HIV/aids: dimensões representacionais de profissionais de saúde à luz da Política Nacional de Humanização Dissertação apresentada como requisito para obtenção do título de Mestre em Enfermagem no Programa de Pós-graduação em Enfermagem Associado Universidade do Estado do Pará (UEPA) e Universidade Federal do Amazonas (UFAM) – Linha de pesquisa: Educação e tecnologia de enfermagem para o cuidado em saúde a indivíduos e grupos sociais. Orientadora: Profa. Dra. Elizabeth Teixeira. Belém 2015 Dados Internacionais de Catalogação na publicação Biblioteca do Curso de Enfermagem da UEPA – Belém - PA B238u Barbosa, Camila Rodrigues Um olhar sobre o cuidar de pessoas vivendo com HIV/ AIDS: dimensões representacionais de profissionais de saúde à luz da Política Nacional de Humanização. / Camila Rodrigues Barbosa; Orientadora: Elizabeth Teixeira. -Belém, 2015. 112f. ; 30 cm Dissertação (Mestrado em Enfermagem) – Universidade do Estado do Pará, Belém, 2015. 1. AIDS (Doença). 2. Enfermagem em doenças transmissíveis. 3. Grupos sociais. I. Teixeira, Elizabeth. (Orient.). II. Título. CDD: 21 ed. 616.9792 Camila Rodrigues Barbosa Um olhar sobre o cuidar de pessoas vivendo com HIV/aids: dimensões representacionais de profissionais de saúde à luz da Política Nacional de Humanização Dissertação apresentada como requisito para obtenção do título de Mestre em Enfermagem no Programa de Pós-graduação em Enfermagem Associado Universidade do Estado do Pará (UEPA) e Universidade Federal do Amazonas (UFAM) Área de concentração: Enfermagem Contexto da Sociedade Amazônica. Aprovada em: 15/06/2015. . Banca Examinadora: _____________________________________________- Orientadora Profa. Dra. Elizabeth Teixeira Doutora em Desenvolvimento Sustentável do Trópico Úmido - UFPA Universidade do Estado do Pará _____________________________________________- Examinador Externo Prof. Dr. Renato da Costa Teixeira Doutor em Educação – PUC/RIO Universidade do Estado do Pará _____________________________________________- Examinadora Interna Profa. Dr. Ivaneide Leal Ataide Rodrigues Doutora em Enfermagem – UFRJ Universidade do Estado do Pará _____________________________________________- Examinador Externo Prof. Dr. Sílvio Éder Dias da Silva (Suplente) Doutor em Enfermagem – UFSC Universidade Federal do Pará _____________________________________________- Examinadora Interna Profa. Dra. Iací Proença Palmeira (Suplente) Doutora em Enfermagem – UFRJ Universidade do Estado do Pará no À Deus por toda sua bondade e proteção. À minha mãe por toda dedicação e apoio. À Alice, razão de tudo, minha vida. AGRADECIMENTOS À Deus, por guiar meus caminhos, me amparar nos momentos de dificuldades e ser minha força para prosseguir. Aos profissionais de saúde, que participaram da pesquisa, revelando suas representações sociais sobre o cuidar de pessoas vivendo com HIV/aids, corroborando para a concretização deste estudo. À minha mãe Carmem, que nunca mediu esforços para me ajudar, que cuidou da minha filha em todos os momentos que eu precisava dedicar-me às atividades do mestrado. À Alice, minha filha, que veio inesperadamente no meio do mestrado e se tornou o maior motivo para que eu continuasse neste caminho, me mostrando que nada é impossível, só requer dedicação (como mãe e mestranda). Ao meu “paidrasto” Floriano, um dos meus maiores incentivadores, que sempre confiou em mim e investiu para que eu pudesse realizar meu sonho de fazer esse mestrado. Ao meu amor Pablo, por sempre estar ao meu lado, aguentando meus anseios, medos, angústias e estresses, mas também compartilhando as alegrias dessa jornada. À minha irmã Isabelle, por aceitar a ausência de nossa mãe em todas as viagens para Belém na qual precisava de sua ajuda. E por me ajudar nas traduções em inglês. À minha tia Cristina, seus filhos e seu marido Beto, por terem me dado um lar em Belém nos primeiros 6 meses de mestrado sem nunca pedir nada em troca. Nunca esquecerei o que fizeram por mim. À Horácio, meu amigo, compadre e irmão que a vida me presenteou, por todo o incentivo, apoio, por dividir o mesmo teto no momento mais delicado que tive no mestrado, a gravidez. À Bruna, uma amiga que a vida acadêmica me permitiu conhecer. Um ser doce, de um coração imenso que me ajudou sempre que possível. Às minhas amigas Taiana, Thiemy, Vivian, Vanessa, Verena, Luciana, Aline, Karlinha e Rafaella pela amizade sincera, por entenderem minha ausência em muitos momentos, e por me apoiarem sempre. À todas as professoras do Mestrado por compartilharem seus conhecimentos tão valiosos e que contribuíram para meu aprimoramento profissional. Aos amigos do mestrado Adilson, Anderson, Érika, Claudia e Daiane, companheiros e que compartilharam bons e maus momentos nessa trajetória. Levarei para sempre um pouco de cada um de vocês na minha vida. À secretária do Programa de Mestrado Nelma, por toda sua disponibilidade quando solicitava algo. À CAPES, pelo apoio financeiro, com concessão da bolsa, muito oportuna durante este período para que pudesse me dedicar exclusivamente ao mestrado. Aos membros da banca avaliadora, por suas importantes contribuições neste estudo. Em especial, à minha orientadora Elizabeth Teixeira. Essa borboleta que voa comigo e me orienta desde a iniciação científica, TCC e agora, no Mestrado. Além de orientadora, uma mãe e amiga. Um ser humano que merece toda minha gratidão enquanto profissional, por compartilhar seus conhecimentos e um exemplo a ser seguido e enquanto pessoa que me cobriu de afetos durante toda essa trajetória. Meu muito obrigada! “Creio que podemos transformar a tragédia da AIDS, da enfermidade e da doença num desafio, numa oportunidade, numa possibilidade de recuperar na nossa sociedade, em nós mesmos, em cada um de nós e em todos nós, o sentido da vida e da dignidade. E, com esse sentido da vida e da dignidade, seremos capazes de lutar pela construção de uma sociedade democrática, de uma sociedade justa e fraterna” Hebert de Souza RESUMO BARBOSA, Camila Rodrigues. Um olhar sobre o cuidar de pessoas vivendo com HIV/aids: dimensões representacionais de profissionais de saúde à luz da Política Nacional de Humanização. 2015. 123f. Dissertação (Mestrado em Enfermagem) Universidade do Estado do Para, Belém, Pará, 2015. A partir dos anos 90 as transformações do significado social da aids começaram a ser reveladas, a assistência dos profissionais de saúde passou a ser influenciada por novos aportes. As pessoas vivendo com HIV/aids começaram a se posicionar e exigiram também transformações no agir dos profissionais com vistas a um cuidado humanizado. Os diferentes contextos epidemiológicos na epidemia do HIV/aids tiveram influência sobre a construção e evolução das representações sociais do cuidado de saúde prestado aos sujeitos com HIV/aids. Objetivou-se apreender as representações sociais de profissionais de saúde sobre cuidar de pessoas vivendo com HIV/aids em Belém – Pará à luz da Política Nacional de Humanização. Estudo qualitativo, exploratório, com suporte teórico na Teoria das Representações Sociais na perspectiva estrutural. Realizado com 114 profissionais de saúde de quatro unidades de referência de atendimento às pessoas vivendo com HIV/aids no município de Belém-PA. Coleta de dados por meio da técnica de associações livres de palavras (situação de normalidade) e técnica de substituição ao termo indutor “Cuidar de pessoas com HIV/aids”. Para análise dos dados foi utilizado o software EVOC 2003 obtendo quadros de quatro casas com os termos evocados. O EVOC realizou também a comparação estatística entre as variáveis: categoria profissional, idade e tempo de formação. Foi realizada análise semântica e de conteúdo dos termos contidos nos quadros de quatro casas e buscou-se agrupar os termos em categorias associadas ao objeto de estudo, de acordo com o universo semântico empregado pelos sujeitos. A pesquisa obedeceu à Resolução 466/12 do Conselho Nacional de Saúde, aprovada pelo Comitê de Ética da UERJ, Protocolo Nº 048.3.2010 e Comitê de Ética da UEPA, Protocolo N° 0069.0.321.000-10. O núcleo central dos profissionais de saúde sobre cuidar de pessoas vivendo com HIV/aids em situação de normalidade é composto pelos termos amor, cuidado e educação em saúde. A estrutura representacional se organiza em torno das categorias Cuidado sócio-sensível, Cuidado técnico-terapêutico e Cuidado educativo. Quatro dos cinco princípios norteadores da Política Nacional de Humanização estão presentes na estrutura representacional dos profissionais de saúde. Quando comparadas as variáveis categoria profissional, idade, e tempo de formação há diferenças entre as estruturas representacionais, emergindo na variável tempo de formação uma quarta categoria organizadora (Cuidado técnico–estigmatizante). Quando analisadas evocações em situação de substituição há pelo menos dois elementos escondidos ou não explicitados nas representações sociais dos profissionais de saúde: discriminação e medo da morte. Ressalta-se a política de humanização como um ideal possível e inesgotável, mas também um processo contínuo de construção e reconstrução sob a ótica do trabalho em saúde e do cuidar. Aponta-se para superação parcial de representações sociais do período inicial da doença fortemente marcadas por preconceitos, discriminação e estigmas. Levanta-se a hipótese de uma zona muda e sugere-se a implementação da política de educação permanente como estratégia de enfrentamento e superação das dificuldades encontradas no cotidiano do cuidar de pessoas vivendo com HIV/aids. Palavras-chave: Representações sociais. Profissionais de saúde. HIV/aids. ABSTRACT BARBOSA, Camila Rodrigues. A look at the care of people living with HIV/aids: representational dimensions of health professionals enlightened by the National Policy of Humanization. 2015. 123f. Dissertation (Master of Nursing) - University of State of Para, Belém, Pará, 2015. From the nineties on, the transformation of the social meaning of aids has begun to be revealed, the health professionals care has become influenced by new contributions. People living with HIV/aids have started to position themselves and also to require changes in the actions of the professionals, focusing on the humanized care. The different epidemiological contexts of the HIV/aids epidemic had influenced the construction and evolution of social representations of the health care provided to individuals with HIV/aids. The objective was to apprehend the social representations of health professionals on caring for people living with HIV/aids in Belém - Pará enlightened by the National Policy of Humanization. Qualitative, exploratory study with theoretical support in the Social Representation Theory in structural perspective. Accomplished with 114 health professionals of four reference units of the care of people living with HIV/aids in the city of Belém-PA. Data collection through the technique of free association of words (normal situation) and replacement technique to inducing term "Caring for people with HIV/aids”. For data analysis, it was used the software EVOC 2003 getting pictures of four houses with the evoked terms. EVOC also conducted a statistical comparison between the variables: professional category, age and time of formation. Semantic and content analysis of contained terms was conducted in the pictures of four houses and the attempt was to group the terms into categories associated with the object of study, according to the semantic universe used by the subject. The research complied with Resolution 466/12 of the National Health Council, approved by the Ethics Committee of UERJ, Protocol No. 048.3.2010 and the Ethics Committee of UEPA, Protocol No. 0069.0.321.000-10. The central core of health professionals on caring for people living with HIV/aids in normal situation consists in the terms love, care and health education. The representational structure is organized around the categories sociosensitive care, technical and therapeutic care and educational care. Four of the five guiding principles of the National Policy of Humanization are present in the representational structure of health professionals. When comparing the variables professional category, age, and time of formation there are differences between the representational structures emerging in variable time of formation of a fourth organizing category (technical-stigmatizing care). When analyzed evocations in replacement situation, there is at least two hidden or not made explicit elements in the social representations of health professionals: discrimination and fear of death. There is emphasis on the humanization policy as a possible and inexhaustible ideal, but also an ongoing process of construction and reconstruction from the perspective of working in health and care. It points to partial overcoming social representations of the initial period of the disease strongly marked by prejudice, discrimination and stigma. It forms the hypothesis of a zone change and suggests the implementation of lifelong learning policy as a coping strategy and overcoming the difficulties encountered in the daily care of people living with HIV/aids. Keywords: Social Representations. Health Professionals. HIV/aids. LISTA DE FIGURAS Figura 1 – Quadro de quatro casas do termo indutor “cuidar da pessoa com HIV/aids” – situação de normalidade. Belém, 2015................................................... 59 Figura 2 – Distribuição das categorias organizadoras no quadro de quatro casas do termo indutor “cuidar da pessoa com HIV/aids” – situação de normalidade. Belém, 2015. ......................................................................................................................... 60 Figura 3 – Diagrama da Categoria Cuidado Sócio-sensível. Belém, 2015. ............... 62 Figura 4 – Diagrama da Categoria Cuidado Técnico-terapêutico. Belém, 2015........ 65 Figura 5 – Diagrama da Categoria Cuidado Educativo. Belém, 2015. ...................... 68 Figura 6 – Termos do Núcleo Central de todos os profissionais e subgrupos segundo categoria profissional. Belém, 2015. ......................................................................... 72 Figura 7 – Termos de todos os profissionais e subgrupos segundo categoria profissional de acordo com as categorias organizadoras. Belém, 2015. ................... 73 Figura 8 – Termos do Núcleo Central de todos os profissionais e subgrupos segundo idade. Belém, 2015. .................................................................................................. 75 Figura 9 – Termos de todos os profissionais e subgrupos segundo idade de acordo com as categorias organizadoras. Belém, 2015........................................................ 76 Figura 10 – Termos do Núcleo Central de todos os profissionais e subgrupos segundo tempo de formação. Belém, 2015. .............................................................. 78 Figura 11 - Termos de todos os profissionais e subgrupos segundo tempo de formação de acordo com as categorias organizadoras. Belém, 2015. ...................... 79 Figura 12 – Quadro de quatro casas do termo indutor “cuidar da pessoa com HIV/aids” – situação de substituição. Belém, 2015. .................................................. 85 Figura 13 – Termos e categorias centrais em situação de normalidade e situação de substituição. Belém, 2015. ........................................................................................ 86 Figura 14 - Conteúdo das categorias em situação de normalidade e situação de substituição. Belém, 2015. ........................................................................................ 87 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ARVs Antirretrovirais ABIA Associação Brasileira Interdisciplinar da aids AZT Zidovudina CASA DIA Centro de Atenção à Saúde em Doenças Infecciosas Adquiridas COAS Centros de Orientação e Apoio Sorológico CTA Centro de Testagem e Aconselhamento CTA/SAE Centro de Testagem e Aconselhamento / Serviço de Atendimento Especializado DDC Zalcitabina DDI Didanosina DST Doença Sexualmente Adquirida ESF Estratégia Saúde da Família EVOC Ensemble de Programmes Permettant I’ Analyse des Evoctions FDA Food and Drug Aministration HIV Vírus da Imunodeficiência Humana HUJBB Hospital Universitário João de Barros Barreto HSH Homens que fazem sexo com homens PESCA Práticas Educativas em Saúde e Cuidado na Amazônia PNH Política Nacional de Humanização PROVAB Programa de Valorização dos Profissionais da Atenção Básica RS Representações sociais SINAN Sistema de Informação de Notificação de Agravos Nacional SUS Sistema Único de Saúde TALP Técnica de Associação Livre de Palavras TARV Terapia Antirretroviral TNC Teoria do Núcleo Central TRS Teoria das Representações Sociais UBS Unida Básica de Saúde UREDIPE Unidade de Referência em Doenças Infecto Parasitárias Especiais SUMÁRIO CAPÍTULO 1 – INTRODUÇÃO ................................................................................. 12 1.1 CONTEXTOS QUE CIRCUNSCREVEM O TEMA EM ESTUDO .................................................................................................................................. 13 1.2 APROXIMAÇÕES QUE SUSCITAM A OPÇÃO PELO TEMA EM ESTUDO ...... 14 1.3 SITUAÇÃO PROBLEMA DE PESQUISA E QUESTÕES NORTEADORAS DO ESTUDO ................................................................................................................... 16 1.4 OBJETIVOS ........................................................................................................ 18 CAPÍTULO 2 – MARCO EPIDEMIOLÓGICO, POLÍTICO E TEÓRICO ................... 19 2.1 MARCO EPIDEMIOLÓGICO: PERFIL E POLÍTICAS PÚBLICAS DA AIDS NO BRASIL ..................................................................................................................... 20 2.2 MARCO POLÍTICO: A POLÍTICA NACIONAL DE HUMANIZAÇÃO ................... 25 2.3 MARCO TEÓRICO: ASPECTOS HISTÓRICOS E BASES FUNDANTES DAS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS ................................................................................ 28 2.3.1 Bases históricas do conceito-fenômemo .......................................................... 28 2.3.2 A Teoria das Representações Sociais ............................................................. 31 2.3.3 A Teoria do Núcleo Central e o conceito de Zona Muda .................................. 33 CAPÍTULO 3 – AIDS NA INTERFACE COM AS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS: MANUSCRITO1 ......................................................................................................... 36 CAPÍTULO 4 – TRAJETÓRIA METODOLÓGICA.................................................... 49 CAPÍTULO 5 – CUIDAR DE PESSOAS VIVENDO COM HIV/AIDS: APROXIMAÇÃO COM A ESTRUTURA DAS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DOS PROFISSIONAIS DE SAÚDE ................................................................................... 58 5.1 ABORDAGEM GLOBAL ...................................................................................... 59 5.2 ABORDAGEM COMPARATIVA .......................................................................... 71 5.2.1 Variável categoria profissional.......................................................................... 72 5.2.2 Variável idade ................................................................................................... 75 5.2.3 Variável tempo de formação ............................................................................. 78 5.3 ABORDAGEM SUBSTITUTIVA .......................................................................... 85 CAPÍTULO 6 – CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................. 93 REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 96 APÊNDICES ........................................................................................................... 107 ANEXOS ................................................................................................................. 112 12 _________________________ CAPÍTULO 1 – INTRODUÇÃO _________________________ 13 BARBOSA, C. R. Um olhar sobre o cuidar de pessoas vivendo com HIV/aids: dimensões representacionais de profissionais de saúde à luz da Política Nacional de Humanização _____________________________________________________________________________ 1.1 CONTEXTOS QUE CIRCUNSCREVEM O TEMA EM ESTUDO É a década de 80 que demarca o registro dos primeiros pacientes acometidos pela aids1 no Brasil. As concentrações dos primeiros casos mantinham-se restritas a São Paulo e Rio de Janeiro até a primeira metade dessa mesma década, a partir daí, disseminou-se para outras regiões do país (BRASIL, 2000; CASTILHO; CHEQUER, 1997; GALVÃO, 2000; PINEL; INGLESI, 1996). Esses primeiros casos foram, na sua maioria, observados em homens, em meio a uma ausência total de conhecimentos sobre a doença e o tratamento, da mesma forma que nos outros países que registraram sua presença. É esse período que demarca o início da constituição de representações sociais (RS) sobre a aids e o cuidar de pessoas vivendo com HIV/aids (OLIVEIRA, 2013). A evolução da epidemia do HIV/aids apresentou perfis distintos nos diferentes centros urbanos brasileiros e também nas diversas regiões do Brasil. Essas diferenças são caracterizadas tanto pelo perfil hetero ou homossexual enquanto principal grupo de contaminação, quanto pela posição dos usuários de drogas por via intravenosa e da transmissão vertical na configuração da epidemia. A partir de 1995, nas diversas regiões brasileiras, especialmente na Sudeste, a epidemia do HIV/aids iniciou seu avanço para o sexo feminino e com isto, observou-se o confronto dos profissionais de saúde com situações diferentes, nas quais era muito elevada a probabilidade de encontrarem uma mulher ou uma criança como primeiro paciente. Com esse novo panorama, a partir da década de 90, os profissionais de saúde se encontraram em uma situação diferente da inicial, marcada por um lado, pela presença de mulheres e de crianças entre as pessoas doentes e, por outro, pela universalização dos tratamentos antirretrovirais (ARVs) estabelecidos pela Lei 9313/96, a partir de 1996 (BRASIL, 1996). Esses contextos político e epidemiológico fomentaram a transformação das representações sociais e das memórias iniciais constituídas pelos profissionais de saúde, fortemente influenciadas pelas diferentes possibilidades de enfrentamento da doença. A partir dos anos 2000 até a atualidade, a atuação dos profissionais recebeu o impacto do avanço do tratamento O termo “aids” será utilizado conforme recomendado pelo Ministério da Saúde, enquanto nome adotado para se referir à patologia e não como sigla, grafado, portanto em letra minúscula. Enquanto as referências ao vírus serão feitas pela sigla HIV (vírus da imunodeficiência humana), grafado em letra maiúscula. 1 14 BARBOSA, C. R. Um olhar sobre o cuidar de pessoas vivendo com HIV/aids: dimensões representacionais de profissionais de saúde à luz da Política Nacional de Humanização _____________________________________________________________________________ medicamentoso, o que também influencia a configuração da doença na perspectiva da cronificação (OLIVEIRA, 2013). Os três contextos epidemiológicos enunciados permitem circunscrever diferentes momentos históricos vivenciados pelos profissionais de saúde nas práticas de cuidar de pessoas vivendo com HIV/aids, estes se encontraram em situações diferentes no que se refere à formação de RS e atuação profissional, considerando a aproximação ao fenômeno do HIV/aids: um primeiro momento caracterizado pela atuação profissional no início da epidemia (anos 80), um segundo momento no qual a atuação profissional passou a se dar com base na regulamentação da Lei de universalização dos ARVs, em 1996, um terceiro caracterizado pela cronificação da doença a partir de 2000. Esses contextos que circunscrevem o tema em estudo são considerados com mais densidade na descrição do marco epidemiológico incluída no capítulo 2. 1.2 APROXIMAÇÕES QUE SUSCITAM A OPÇÃO PELO TEMA EM ESTUDO Minha aproximação com estudos sobre HIV/aids na interface com as RS foi um constructo desenvolvido na graduação em enfermagem na Universidade do Estado do Pará, Campus Santarém (2007-2011). Meu primeiro contato com o referencial das RS, se deu em 2010, quando tive a oportunidade de ser voluntária de um projeto de pesquisa que objetivava identificar as necessidades, interesses e representações sociais dos enfermeiros com atuação em Unidades Básicas de Saúde de Belém e Santarém no que tange as tecnologias educativas.2 Neste projeto participei da coleta de dados com os enfermeiros das UBS de Santarém, aplicando um formulário com questões sobre o perfil sócio-demográfico, uma questão-teste de associação livre de palavras e questões abertas sobre o tema em foco. 2 Projeto de pesquisa intitulado “Laboratório de Tecnologias Educativas: Estudo I - Interlocução, produção e validação de materiais educativos para subsidiar o agir educativo-cuidativo em enfermagem”, sob a coordenação da Profª Drª Elizabeth Teixeira, financiado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico – CNPq, desenvolvido entre 2010 e 2012, vinculado ao Grupo de Pesquisa Práticas Educativas em Saúde e Cuidado na Amazônia (PESCA). 15 BARBOSA, C. R. Um olhar sobre o cuidar de pessoas vivendo com HIV/aids: dimensões representacionais de profissionais de saúde à luz da Política Nacional de Humanização _____________________________________________________________________________ Meu segundo contato com este referencial se deu em 2011, quando optei realizar meu trabalho de conclusão de curso sobre as RS de homens-trabalhadores portuários sobre saúde, doença e cuidado. Neste estudo pude me aproximar da abordagem estrutural das RS, na coleta de dados utilizei três questões-teste de associação livre de palavras. Para nortear a análise dos dados, utilizei o quadro de quatro casas obtido após o processamento do corpus no software EVOC 2003. Estas aproximações me possibilitaram adentrar no referencial das RS, com ênfase na abordagem estrutural, me incentivando à leitura de autores da Teoria e artigos de pesquisadores que em seus estudos realizaram interface com as RS. Meu primeiro contato com o tema HIV/aids se deu ainda em 2011, quando fui voluntária de um Projeto Multicêntrico que tinha como objetivo analisar as representações sociais e as memórias das práticas profissionais de cuidado voltadas ao HIV/aids, desenvolvidas por enfermeiros e por profissionais de saúde brasileiros.3 Nesse projeto colaborei na coleta de dados com profissionais de saúde no CTA/SAE de Santarém, aplicando um formulário contendo questões sobre o perfil sócio-demográfico, quatro questões-teste de associação livre de palavras e questões sobre as práticas de cuidar de pessoas vivendo com HIV/aids. Esta participação me possibilitou realizar um treinamento em Belém, com dois pesquisadores da equipe da UERJ. Nesse treinamento trabalhamos com o primeiro banco de dados do polo Pará, mais precisamente com os corpus obtidos com as quatros questões-teste de associação livre de palavras que foram processados no software EVOC 2003. Meu segundo contato com o tema ocorreu em 2012, quando fui selecionada como bolsista pelo Ministério da Saúde para atuar na Estratégia Saúde da Família (ESF) no município de Santarém pelo Programa de Valorização dos Profissionais da Atenção Básica (PROVAB 2012-2013); neste período tive a oportunidade de trabalhar na assistência de enfermagem e prestei cuidados à pessoas vivendo com HIV/aids. 3 Projeto de pesquisa intitulado “As Transformações do Cuidado de Saúde e Enfermagem em tempos de aids: representações sociais e memórias de enfermeiros e profissionais de saúde no Brasil”, sob a coordenação da Profª Drª Denize Cristina de Oliveira (UERJ), projeto multicêntrico financiado pelo CNPq, desenvolvido no polo Pará pelo Grupo de Pesquisa Práticas Educativas em Saúde e Cuidado na Amazônia (PESCA). Foi realizado em 11 municípios nas 5 regiões do país. 16 BARBOSA, C. R. Um olhar sobre o cuidar de pessoas vivendo com HIV/aids: dimensões representacionais de profissionais de saúde à luz da Política Nacional de Humanização _____________________________________________________________________________ No final de 2012 tive minha segunda participação no Projeto Multicêntrico, quando realizei entrevistas objetivando apreender a constituição das memórias dos profissionais de saúde sobre as práticas de cuidado desenvolvidas à pessoas vivendo com HIV/aids desde o início da epidemia. Em junho de 2013, quando me submeti à seleção para o Mestrado Associado de Enfermagem da Universidade do Estado do Pará (UEPA) com a Universidade Federal do Amazonas (UFAM) me motivei a dar continuidade aos estudos do Projeto Multicêntrico e assim defendi a proposta de um recorte com o objeto de estudo representações sociais de profissionais de saúde sobre cuidar de pessoas vivendo com HIV/aids no Município de Belém/Pará à luz da Política Nacional de Humanização. 1.3 SITUAÇÃO PROBLEMA DE PESQUISA E QUESTÕES NORTEADORAS DO ESTUDO A representação original da aids nos anos 80 apareceu como contraponto da moralidade sexual dominante em diversas partes do mundo. Assim, Guilhem (2005) considera que a síndrome foi elaborada e metaforizada como uma epidemia da imoralidade e também como consequência da perda de padrões morais e sociais, o que influenciou a assistência prestada à essas pessoas no mundo e no Brasil. A partir dos anos 90 as transformações do significado social da aids começam a ser reveladas, e também a assistência passa a ser influenciada por novos aportes. As pessoas vivendo com HIV/aids começam a se posicionar e exigir também transformações no agir dos profissionais, com vistas a um cuidado humanizado. Nesta perspectiva, destaca-se que nos anos 90 no Brasil, a prática e o ensino na saúde, norteados pelas ciências humanas e sociais, proporcionaram as bases para o estabelecimento de uma política de humanização da assistência no começo da década seguinte (MATUMOTO; MISHIMA; PINTO, 2001). Nos anos seguintes, algumas profissões da área da saúde passaram a considerá-la como foco da sua assistência. Na enfermagem este movimento se consolidou ainda nos anos 90. Tal concepção reconhece o ser humano como um ser social em constante relação com outros seres humanos e com seu meio, transformando-o e sendo transformado por ele, isto é, um protagonista da ação de saúde (MATUMOTO; MISHIMA; PINTO, 17 BARBOSA, C. R. Um olhar sobre o cuidar de pessoas vivendo com HIV/aids: dimensões representacionais de profissionais de saúde à luz da Política Nacional de Humanização _____________________________________________________________________________ 2001); este aporte está, a nosso ver, em consonância com as transformações ocorridas no próprio significado social da aids. Sabe-se, no entanto, que as pessoas vivendo com HIV ainda são muito discriminadas, o que pode interferir no cuidado prestado, pois os valores morais dos profissionais envolvidos em seu atendimento se fazem bastantes presentes no momento do cuidado (KOHLRAUSCH, 1999). A situação problema aqui proposta, se configura em torno das dimensões da Política Nacional de Humanização presentes nas representações que os profissionais de saúde da Região Norte, mais especificamente, da cidade de Belém no Estado do Pará, elaboraram sobre o cuidar de pessoas vivendo com HIV/aids. As representações sociais guiam as práticas desses profissionais, bem como seus modos de cuidar de pessoas vivendo com HIV/aids. Se não as conhecemos, como pensar ações de capacitação para potencializar a ação/atuação humanizada dos profissionais, inclusive os de enfermagem? Como pensar as práticas/reflexões no próprio serviço com vistas à qualificação do cuidar de pessoas vivendo com HIV/aids? A enfermagem está integrada à equipe e o cuidar é integrado entre todos. Há que se favorecer a qualificação dos profissionais nas unidades de referência para se potencializar o agir educativo-cuidativo humanizado. A meu ver, a enfermagem não pode ficar à margem desse processo de reflexão sobre o cuidar de pessoas vivendo com HIV/aids na perspectiva da prática de humanização. Há que se considerar ainda, que o primeiro caso de HIV em Belém ocorreu no ano de 1985 e desde essa época, os profissionais de saúde entraram em contato com tais indivíduos. No Projeto Multicêntrico que subsidiou o recorte aqui apresentado formula-se a seguinte problemática: quais as representações e memórias sobre cuidado de pessoas com HIV/aids entre profissionais de saúde de unidades de atendimento especializado de Belém? Neste subprojeto a problemática é: quais as representações sociais de profissionais de saúde sobre cuidar de pessoas vivendo com HIV/aids em Belém – Pará à luz da Política Nacional de Humanização? As questões norteadoras para orientação deste estudo assim se contextualizam: Qual a estrutura e o conteúdo das representações sociais dos profissionais de saúde sobre cuidar de pessoas vivendo com HIV/aids? 18 BARBOSA, C. R. Um olhar sobre o cuidar de pessoas vivendo com HIV/aids: dimensões representacionais de profissionais de saúde à luz da Política Nacional de Humanização _____________________________________________________________________________ Quais princípios norteadores da Política Nacional de Humanização estão presentes nas representações sociais dos profissionais de saúde sobre cuidar de pessoas vivendo com HIV/aids? Existe diferença entre as representações sociais dos profissionais de saúde sobre cuidar de pessoas vivendo com HIV/aids quando comparadas as variáveis categoria profissional, idade e tempo de formação? Existem elementos ocultos ou não explicitados (aproximação com a zona muda ou mascarada) nas representações sociais dos profissionais de saúde sobre o cuidar de pessoas vivendo com HIV/aids? 1.4 OBJETIVOS Geral: Apreender as representações sociais de profissionais de saúde sobre cuidar de pessoas vivendo com HIV/aids em Belém – Pará à luz da Política Nacional de Humanização. Específicos: Analisar a estrutura e o conteúdo das representações sociais dos profissionais de saúde sobre cuidar de pessoas vivendo com HIV/aids. Discutir os possíveis princípios norteadores da Política Nacional de Humanização (presentes/ ou não) nas representações sociais dos profissionais de saúde sobre cuidar de pessoas vivendo com HIV/aids. Verificar a existência de diferença entre as representações sociais dos profissionais de saúde sobre cuidar de pessoas vivendo com HIV/aids quando comparadas as variáveis categoria profissional, idade e tempo de formação. Verificar a existência de elementos escondidos ou não explicitados (aproximação com a zona muda ou mascarada) nas representações sociais dos profissionais de saúde sobre cuidar de pessoas vivendo com HIV/aids. 19 ____________________________________ CAPÍTULO 2 – MARCO EPIDEMIOLÓGICO, POLÍTICO E TEÓRICO ____________________________________ 20 BARBOSA, C. R. Um olhar sobre o cuidar de pessoas vivendo com HIV/aids: dimensões representacionais de profissionais de saúde à luz da Política Nacional de Humanização _____________________________________________________________________________ 2.1 MARCO EPIDEMIOLÓGICO: PERFIL E POLÍTICAS PÚBLICAS DA AIDS NO BRASIL O primeiro caso denominado de aids no Brasil ocorreu em 1982. A aids nessa época era chamada pelos cientista de Gay Related Immunodeficiency e de peste gay pela mídia. Os primeiros casos no Brasil ocorreram em São Paulo. As concentrações de casos mantinham-se nas cidades de São Paulo e Rio de Janeiro, até 1985; a partir daí disseminou-se a doença para as outras regiões (BRASIL, 2013a). A aids teve uma adoção temporária do termo Doença dos 5H: homossexuais, hemofílicos, haitianos, heroinômanos (usuários de heroína injetável) e hookers (profissionais do sexo em inglês). Em 1984 os Estados Unidos e a França afirmaram ter isolado o vírus da aids. Nesse mesmo ano, no Brasil, houve no estado de São Paulo a estruturação do primeiro programa brasileiro para o controle da epidemia. Em 1985, o agente Immunodeficiency Virus (HIV). etiológico causador foi denominado Human Neste mesmo ano foi criada a primeira ONG do Brasil e América Latina para a luta contra a aids. Também neste ano o primeiro teste anti-HIV foi disponibilizado para diagnóstico, podendo ser utilizado no controle da aids transfusional, porém por conflitos políticos e econômicos demorou um pouco para ser comercializado. Em 2 de maio de 1985 foi lançada pelo Ministério da Saúde a portaria nº 236 aprovando as diretrizes para o programa de controle da aids (BRASIL, 1985), porém, só em 1988, o Programa Nacional de DST/aids foi oficialmente criado (BRASIL, 2013a). Em 1986, Hebert de Souza, o Betinho, sociólogo, ativista brasileiro, hemofílico e portador do HIV, criou no Rio de Janeiro a Associação Brasileira Interdisciplinar da aids (ABIA), considerada referência na luta pelo controle dos bancos de sangue e contra a disseminação da doença (BRASIL, 2013a). Os primeiros casos de aids diagnosticados configuraram um fato social de extrema ressonância no país e causaram discussões em torno do Programa Nacional do Sangue (Pró-Sangue). Nos anos 80, no Brasil, cerca de 2% dos casos de aids eram transmitidos por transfusão e mais de 50% dos hemofílicos apresentavam-se infectados pelo HIV (JUNQUEIRA; ROSENBLIT; HAMERSCHLAK, 21 BARBOSA, C. R. Um olhar sobre o cuidar de pessoas vivendo com HIV/aids: dimensões representacionais de profissionais de saúde à luz da Política Nacional de Humanização _____________________________________________________________________________ 2005). A aids transfusional, ao disseminar o medo e propagar um amplo movimento de luta pela melhoria dos serviços, foi responsável pelos rumos da Política Nacional do Sangue na década de 80 e ainda assim até os dias atuais. Porém, a resposta institucional, no plano das políticas públicas, foi lenta, sendo difícil apontar uma correlação linear entre a repercussão da aids como fato social e a reorganização da hemoterapia (SANTOS; MORAES; COELHO, 1992). Em 1987 começou a ser estimulada a criação, em nível nacional, dos Centros de Testagem e Aconselhamento (CTA), então denominados Centros de Orientação e Apoio Sorológico (COAS); o primeiro foi implantado em 1987 em Porto Alegre e o segundo no município de São Paulo, em 1989. Em 1987 foi isolado pela primeira vez na América Latina, o HIV-1, por pesquisadores do Instituto Oswaldo Cruz. Os casos de aids notificados no Brasil neste período chegavam a 2.775 casos (BRASIL, 2013a). Em 1988 com a criação do Sistema Único de Saúde (SUS), o Brasil passou a fornecer medicamento para o tratamento de infecções oportunistas. Neste ano o primeiro caso de aids em índios foi diagnosticado, e por decreto federal o teste antiHIV passou a ser obrigatório na triagem da doação de sangue. O Brasil passou a adotar ainda nesse ano o 1º de dezembro intitulado pela Assembleia Mundial de Saúde e pela Organização das Nações Unidas como o Dia Mundial da Luta contra a aids. Vários foram os investimentos e avanços do Brasil, em relação à Terapia Antirretroviral (TARV). Em 1987 se iniciou a utilização do AZT (zidovudina ou azidotimidina), primeiro fármaco autorizado para o tratamento da aids; utilizado anteriormente para o tratamento de pacientes com câncer, na época os brasileiros importavam o remédio. Em 1989 a fabricante do AZT foi pressionada por ativistas a baixar seu preço em 20%. Neste mesmo ano o Food and Drug Aministration (FDA), órgão norte-americano de controle sobre produtos farmacêuticos aprovou o uso do DDI (videx ou didanosina), um novo antirretroviral (BRASIL, 2013a). Em 1991 o AZT começou a ser distribuído no SUS, e o FDA autorizou o terceiro antirretroviral, o DDC (zalcitabina ou dideoxicitidina). O DDC foi aprovado em combinação com o AZT para pacientes com infecção avançada (primeira combinação terapêutica). Em 1992 a combinação entre AZT e Videx inaugurou o coquetel anti-aids e o Ministério da Saúde incluiu os procedimentos de tratamento da aids na tabela do 22 BARBOSA, C. R. Um olhar sobre o cuidar de pessoas vivendo com HIV/aids: dimensões representacionais de profissionais de saúde à luz da Política Nacional de Humanização _____________________________________________________________________________ SUS. Em 1993 o Brasil passou a produzir o AZT e neste ano a aids passou a ser notificada no Sistema Nacional de Notificação de Doenças (SINAN). Em 1994 um acordo entre o Brasil e o Banco Mundial deu impulso às ações de controle e prevenção às DST e à aids. O número de casos registrados nesse ano no Brasil foi de 18.224 casos. Em 1995 outros medicamentos foram lançados, aumentando as escolhas de tratamento. Em 1996 o Programa Nacional de DST/aids lançou o primeiro consenso em terapia antirretroviral (a regulamentação da prescrição de medicações para combater o HIV) e a universalização dos tratamentos antirretrovirais foi estabelecida pela Lei 9313/96 (BRASIL, 1996). Neste ano, foi criado o primeiro coquetel utilizando tríplice esquema de antirretrovirais, e o Brasil passou a ser o primeiro país a distribuir o coquetel gratuitamente. Com mais de 22 mil casos de aids, o Brasil registrou a feminização, interiorização e pauperização da epidemia. Em 1997 foi implementada a Rede Nacional de Laboratórios para o monitoramento de pacientes com HIV, com a realização de exames de carga viral e contagem de células CD4 (BRASIL, 2013a). Em 1998 a Lei 9.656 tornou obrigatória a cobertura de despesas hospitalares com aids pelos seguros-saúde privados, porém sem assegurar despesas com a TARV (BRASIL, 1998a). Ainda em 1998 o Ministério da Saúde passou a recomendar a aplicação da Abordagem Sindrômica das Doenças Sexualmente Transmissíveis (DST) para o tratamento oportuno e consequente diminuição da incidência do HIV. Em 1999 a rede pública de saúde disponibilizou 15 medicamentos antirretrovirais. Neste ano foi instituída a Política Nacional de DST/aids (BRASIL, 1999), com o objetivo de sistematizar as ações do Programa Nacional de DST/aids. O governo divulgou a redução em 50% de mortes de pessoas soropositivos e 80% de redução de infecções oportunistas, em função do uso do coquetel. Em 2001 o Brasil negociou e conseguiu reduzir o preço de medicamentos antirretrovirais produzidos por companhias farmacêuticas. Neste ano o Brasil implementou a Rede Nacional de Genotipagem do HIV-1. Nessas duas décadas o número de casos somou 220.000. Em 2002 foi criado o Fundo Global de Luta Contra aids, tuberculose e malária, uma organização financeira, para arrecadar e distribuir recurso para essas três doenças. 23 BARBOSA, C. R. Um olhar sobre o cuidar de pessoas vivendo com HIV/aids: dimensões representacionais de profissionais de saúde à luz da Política Nacional de Humanização _____________________________________________________________________________ Em 2003 a Fundação Bill & Melinda Gates premiou o Brasil com 1 milhão de dólares, em reconhecimento às ações de prevenção e assistência no país. Depois da introdução da TARV a aids passou a ser considerada uma doença crônica, que se tratada de maneira adequada, diminui, consideravelmente, a probabilidade de adoecimento e morte das pessoas vivendo com HIV/aids (BRASIL, 2013a). O perfil epidemiológico da aids sofreu diversas transformações. A epidemia aumentou entre as mulheres, por meio de relações heterossexuais sem proteção, caracterizando um processo de feminização e heterossexualização (REIS et al., 2008). No Brasil o primeiro caso de aids no sexo feminino foi detectado em 1983 e em 1996 o Brasil passou a registrar a feminização da epidemia. Em 1986, havia 15 casos masculinos da doença para um feminino. A partir de 2002, houve uma estabilização dessa razão de 1,5 casos em homens para um caso em mulheres. Em 2007 o Ministério da Saúde lançou o plano de enfrentamento da feminização de aids e outras DST para combater a vulnerabilidade, diminuindo a susceptibilidade das mulheres à infecção pelo HIV e outras DST (BRASIL, 2007a). Outra tendência da epidemia foi o acometimento de pessoas com menor nível econômico e de escolaridade, o que foi denominado processo de pauperização da aids. O Brasil por ser um país com importantes disparidades sociais, econômicas e demográficas em sua população contribuiu para a descentralização da epidemia (BRITO; CASTILHO; SZWARCWALD, 2000; PARKER; CAMARGO JR., 2000). Observou-se também a propagação da epidemia para um número cada vez maior de municípios distantes das principais áreas metropolitanas, a chamada interiorização. Houve uma importante disseminação geográfica da aids (PARKER; CAMARGO JR., 2000). Há uma ligação entre a interiorização da aids e o processo de feminização da epidemia, pois houve aumento desde 1980 no número de municípios brasileiros com pelo menos um caso de aids entre mulheres. No período de 1985 a 2009, dos 143 municípios do Pará, 120 apresentaram pelo menos um caso notificado de aids, confirmando o processo de interiorização (PARÁ, 2010). Em 2007 foi instituído o Banco de Dados de violações dos direitos das pessoas portadoras do HIV, servindo como instrumento de planejamento das ações do Programa Nacional de DST e aids relacionadas aos direitos humanos. Visa contribuir para a estruturação de políticas públicas de combate à violação de direitos, violência, estigma, discriminação e preconceitos vinculados à epidemia 24 BARBOSA, C. R. Um olhar sobre o cuidar de pessoas vivendo com HIV/aids: dimensões representacionais de profissionais de saúde à luz da Política Nacional de Humanização _____________________________________________________________________________ (AGÊNCIA BRASIL, 2007). Neste ano houve aumento da sobrevida das pessoas com aids no Brasil. Em 2008 o Brasil concluiu o processo de nacionalização do teste rápido, permitindo detectar a presença do HIV em 15 minutos e foi inaugurada a primeira fábrica estatal de preservativos do Brasil. Ainda em 2008, o Ministério da Saúde lançou um programa para conter a incidência de aids e outras doenças sexualmente transmissíveis (DST) entre gays, homens que fazem sexo com outros homens (HSH) e travestis (BRASIL, 2007b). Segundo o boletim epidemiológico de 2006, no percentual de casos de aids entre gays, HSH e travestis, por faixa etária, foi ressaltada a tendência de crescimento proporcional entre os indivíduos de 13 a 19 anos de idade, variando de cerca de 18% em 1990 para aproximadamente 40% em 2005 (BRASIL, 2006). Mostrou-se, assim, outra tendência da epidemia, a juvenalização da aids. Em 2012, no Brasil, a taxa de detecção de casos de aids em homens de 15 a 24 anos foi de 15,1/100.000 habitantes e de 8,6 em mulheres (BRASIL, 2013b). Em 2010 foram notificados 592.914 casos de aids e distribuídos 493 milhões de unidades de preservativo masculino no país. Em 2011, o Brasil e a França celebraram dez anos de cooperação científica nas áreas de DST, Aids e hepatites virais e entrou no mercado o primeiro antirretroviral produzido por um laboratório público brasileiro (BRASIL, 2013a). Em 2012 o governo federal passou a dar incentivo financeiro as Casas de Apoio de atendimento a adultos com HIV/aids, destinado ao custeio das ações desenvolvidas com crianças e adolescentes. Segundo o Boletim epidemiológico de 2013, no ano de 2012 foram notificados 39.185 casos de aids no Brasil. A taxa de detecção nacional foi de 20,2 casos para cada 100.000 habitantes. A Região Sul foi a primeira maior taxa de detecção (30,9/100.000 habitantes) seguida pela Região Norte (21,0/100.000 habitantes) (BRASIL, 2013b). Segundo Scheffer (2012), das 30 marcas de antirretrovirais atualmente disponíveis no mundo, o SUS fornece 21 e beneficia cerca de 250 mil pacientes; desses 21 medicamentos, 10 são fabricados no Brasil. Em 2013 foi adotada no Brasil a Política de tratamento como prevenção do HIV e publicado o Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas para Manejo da 25 BARBOSA, C. R. Um olhar sobre o cuidar de pessoas vivendo com HIV/aids: dimensões representacionais de profissionais de saúde à luz da Política Nacional de Humanização _____________________________________________________________________________ Infecção pelo HIV em Adultos, substituindo o consenso médico; assim que a pessoa for diagnosticada com o vírus, receberá o tratamento imediato na rede pública, com uso de antirretrovirais (BRASIL, 2013c). O uso dos medicamentos antirretrovirais é indicado para qualquer fase da doença (BRASIL, 2013c). No final de 2013 foi anunciado o teste rápido através do fluído oral. O laboratório Bio-Manguinhos/Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) está produzindo o Kit para fazer o teste. O teste passou a ser usado a partir de março de 2014 por 40 organizações não governamentais (ONGs) em parceira com o Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais, do Ministério da Saúde, dando prioridade para populações-chave sob maior risco: HSH, profissionais do sexo, travestis, transexuais, pessoas usuárias de drogas, pessoas privadas de liberdade e em situação de rua. A partir do segundo semestre sendo oferecido na rede do SUS. Estima-se que aproximadamente 718 mil indivíduos vivam atualmente com o HIV/aids no Brasil, dos quais em torno de 80% (574 mil) já foram diagnosticados (BRASIL, 2013b). O Brasil rege o maior programa mundial de terapia antirretroviral, potente e gratuito (BARRETO et al., 2011). Há que ser ressaltado os esforços efetivos do Brasil no combate contra à aids, tão efetivo quanto na maioria dos países desenvolvidos. Embora sejam acentuados os valores que o governo federal investe para o combate às DST/aids, aproximadamente 1 bilhão e 200 mil reais ao ano (BRASIL, 2012), hoje o desafio é reduzir ou estabilizar o crescimento da transmissão em populações-chave, além de combater o aumento de custo dos antirretrovirais; mesmo que a taxa de incidência de transmissão vertical seja pequena, ainda há necessidade de maiores investimentos num atendimento qualificado no pré-natal, considerado muitas vezes abaixo do padrão. Em síntese, o marco epidemiológico da aids indica que a luta contra à doença progrediu positivamente nesses 33 anos de aids no Brasil, hoje o foco das ações e investimentos são voltados ao desenvolvimento de vacinas, novos tratamentos para a aids e combater a discriminação. No que tange as políticas públicas, o Brasil se destaca com políticas mais inclusivas e consolidadas, sendo exemplo no mundo. 2.2 MARCO POLÍTICO: A POLÍTICA NACIONAL DE HUMANIZAÇÃO 26 BARBOSA, C. R. Um olhar sobre o cuidar de pessoas vivendo com HIV/aids: dimensões representacionais de profissionais de saúde à luz da Política Nacional de Humanização _____________________________________________________________________________ A fragilidade das relações entre os diferentes profissionais da saúde e entre estes e os usuários em consequência da fragmentação e verticalização do processo de trabalho, a falta de preparo destes profissionais para lidar com as dimensões sociais e subjetivas presentes nas práticas de atenção, a fragilidade do trabalho em equipe, o baixo investimento na qualificação dos trabalhadores especialmente voltados à gestão participativa, a automatização dos contatos entre trabalhadores e usuários baseados na queixa-conduta e a formação do profissional distante do contexto da formulação de políticas públicas de saúde, foram alguns dos fatores que levaram à proposição em 2003 da Política Nacional de Humanização da Atenção e Gestão do Sistema Único de Saúde – PNH (BRASIL, 2004). Assim, humanizar é: Ofertar atendimento de qualidade articulando os avanços tecnológicos com acolhimento, com melhoria dos ambientes de cuidado e das condições de trabalho dos profissionais (BRASIL, 2004, p.6). Ressalta-se a não banalização da humanização como “um favor”, e sim como um direito à saúde. A política é pensada tanto para o profissional quanto para o usuário, compreendendo a humanização com uma dimensão fundamental e não apenas como mais um programa criado para ser executado nos serviços de saúde; a PNH foi traçada a partir da transversalidade e da construção coletiva, visando as necessidades sociais, os interesses e os desejos de todos os atores envolvidos, em que a defesa da vida é o eixo das ações, destacando os aspectos subjetivos e sociais presentes em qualquer prática de saúde. Os princípios norteadores da PNH são: 1. Valorização da dimensão subjetiva e social em todas as práticas de atenção e gestão, fortalecendo/estimulando processos integradores e promotores de compromissos/responsabilização. 2. Estímulo a processos comprometidos com a produção de saúde e com a produção de sujeitos. 3. Fortalecimento de trabalho em equipe multiprofissional, estimulando a transdisciplinaridade e a grupalidade. 4. Atuação em rede com alta conectividade, de modo cooperativo e solidário, em conformidade com as diretrizes do SUS. 5. Utilização da informação, da comunicação, da educação permanente e dos espaços da gestão na construção de autonomia e protagonismo de sujeitos e coletivos (BRASIL, 2004, p.9). Para Chernicharo, Freitas e Ferreira (2013), a garantia da qualidade e dos preceitos da PNH se dá a partir do processo constante de avaliação institucional, e fomento de pesquisas voltadas à informação, comunicação, questões éticas, oferta 27 BARBOSA, C. R. Um olhar sobre o cuidar de pessoas vivendo com HIV/aids: dimensões representacionais de profissionais de saúde à luz da Política Nacional de Humanização _____________________________________________________________________________ de serviços, dimensionamento e a qualificação dos profissionais face ao processo complexo da assistência e a quantidade de clientes, e enfatizando-se a importância da discussão da PNH pela visão dos usuários, profissionais e gestores. Discutir a humanização é um ato que requer reflexão-critica com vistas à construção de um SUS capaz de expressar cada vez mais o interesse e o bem comum; é um movimento de abertura, de influenciar e deixar-se influenciar, evidenciando também as diferenças e desacordos, com base numa proposta ética e política. Busca-se a qualificação dos serviços e a potencialização das práticas de saúde em defesa da vida, corroborando com um viver-conviver melhor em sociedade (PASCHE, 2009). A pesquisa de Barbosa et al., (2013) ressalta como necessidades na implementação da PNH, a superação da concepção biologicista e a valorização dos contexto cultural do usuário. Mostra também a importância de incorporar ao campo da saúde aporte das ciências humanas, com vistas a ampliar os saberes como forma de melhor conhecer a população atendida em seu processo saúde-doença. Pasche (2009) afirmou que a PNH, tomou como responsabilidade superar os problemas e dificuldades que ainda permanecem no SUS desde sua criação. Para Pasche, Passos e Hennington (2011) é preciso pensar o humanizar não como antônimo do desumano ou inumano, mas como um dispositivo de construção das condições de emergência de trabalhadores e usuários como protagonistas, na perspectiva da autonomia e corresponsabilidade. Afirmam que os primeiros anos da PNH foram voltados à formulação e consolidação da humanização como política pública; a partir de 2006, ao investimento em processos de formação; e hoje como desafio maior, há que torná-la não somente uma forma de denunciar e reivindicar direitos, mas como uma estratégia de mobilização social, pensando e construindo alternativas para enfrentar os desafios que a saúde tem pela frente. Levando em consideração o desafio de cogestão, Mori e Oliveira (2009) afirmam que mesmo com as dificuldades de processo de trabalho e tensionamentos, a PNH tem conseguido avançar internamente rumo à cogestão, apoiando a difusão e a implantação de um novo modo de gerir a rede SUS. Segundo o Ministério da Saúde (BRASIL, 2009), a cogestão é um modo de administrar que inclui o pensar e o fazer coletivo (p. 10). 28 BARBOSA, C. R. Um olhar sobre o cuidar de pessoas vivendo com HIV/aids: dimensões representacionais de profissionais de saúde à luz da Política Nacional de Humanização _____________________________________________________________________________ Torna-se relevante atualmente ter em vista a vivência das redes, cuja configuração possibilite que as ações de humanização permeiem diferentes espaços e atores da organização, dando fluxo transversal aos interstícios dos organogramas e hierarquias organizacionais e das relações (FALK, RAMOS, SALGUEIRO, 2009). Dessa maneira com este marco político ressalta a necessidade de reativação do movimento constituinte do SUS, construindo-se um plano público fundamentado na experiência de cada ser humano e coletividade, levando em conta a humanidade como força coletiva que impulsiona e direciona o movimento das políticas públicas. Deixa-se de lado o binômio queixa-conduta, em busca da multiplicidade de determinantes da saúde, com base nas relações entre gestores, usuários e trabalhadores dos serviços de saúde. Emerge, em síntese, um processo de produção de sujeitos autônomos e protagonistas na produção de saúde, e um processo contínuo da reinvenção do próprio SUS e da proposta da PNH. 2.3 MARCO TEÓRICO: ASPECTOS HISTÓRICOS E BASES FUNDANTES DAS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS 2.3.1 Bases históricas do conceito-fenômemo Para se buscar compreender as representações sociais faz-se essencial voltar ao seu antecessor e conceituar representações coletivas em Durkheim (1996). Para Durkheim as formas de pensar as ações são uma construção a partir do coletivo e são externos à consciência (TURA, 2005). O conceito de representação coletiva nasceu na sociologia, a partir da interação dos seres humanos entre si e a natureza (TURA, 2005). Utilizado na elaboração de uma teoria da religião, da magia e do pensamento mítico. Durkheim argumentou que os fenômenos coletivos não podem ser explicados em um nível individual, pois o indivíduo não pode inventar uma língua ou uma religião, estas são produtos coletivos, de uma comunidade ou povo (ALEXANDRE, 2004). Moscovici em sua Teoria das Representações sociais (TRS) retoma o conceito de representação coletiva de Durkheim, dando-lhes novas conotações e partindo do pressuposto que a sociedade na qual Durkheim (1858-1917) teria vivido era muito mais estável e menos complexa, do que a sociedade vivenciada no século 29 BARBOSA, C. R. Um olhar sobre o cuidar de pessoas vivendo com HIV/aids: dimensões representacionais de profissionais de saúde à luz da Política Nacional de Humanização _____________________________________________________________________________ XX. Para Moscovici “não há a separação entre a consciência individual e a realidade social” (TURA, 2005, p. 18). A noção de representação coletiva de Durkheim expõe uma categoria coletiva que deve ser elucidada a um nível inferior, um nível da Psicologia social. É nesse ponto que se diferencia a noção de representação social de Moscovici que emerge como um produto e constructo social. Este julga mais apropriado, num contexto moderno, estudar representações sociais do que estudar representações coletivas (FARR, 2013). A teoria das representações sociais foi formulada por Serge Moscovici no final dos anos 50, recebeu visibilidade a partir da publicação, de seu estudo LaPsychanalyse: Son image et son public em 1961, marcando o estabelecimento de uma percepção inovadora sobre integração entre os fenômenos perceptivos individuais e sociais. Empregada primeiramente em estudos psicossociais, essa abordagem passou a ser utilizada em outros ramos do conhecimento. Moscovici superou a dicotomia entre os níveis individual e coletivo de representações, integrando-os em sua teoria (FERREIRA et al. 2005). Percebe-se então que Moscovici fundamentou sua teoria a partir da teoria de Durkheim, porém buscando o individual para entender o social. Durkheim separava o individual do coletivo e acreditava que o individual era domínio da Psicologia e o coletivo era domínio da Sociologia, baseado no entendimento que as leis que explicavam o coletivo eram diferentes das que eram usadas para compreender o nível individual. Já Moscovici buscou unir a psicologia ao social, mostrando que o indivíduo só existe dentro do social e o social só existe pela união de vários indivíduos. O conceito-fenômeno Representações Sociais revela-se para Moscovici (1978) se diferenciando de outras formas de conhecimento (intelectual ou sensorial) por estabelecer uma relação específica entre sujeito e objeto de conhecimento. Este sujeito se auto-representa ao representar o objeto, imprimindo sua identidade naquilo que representa (NORIEGA, 2005). Esta relação particular entre sujeito e objeto se deve ao fato de que, o ser humano e sua identidade individual são um todo orgânico, inseparável da totalidade social de onde está integrado, sendo ambos ser humano e sociedade fruto do mesmo processo histórico e dialético. Nesse mesmo processo o ser humano forma 30 BARBOSA, C. R. Um olhar sobre o cuidar de pessoas vivendo com HIV/aids: dimensões representacionais de profissionais de saúde à luz da Política Nacional de Humanização _____________________________________________________________________________ sua identidade ao mesmo tempo em que constrói uma sociedade material e simbólica (NORIEGA, 2005). A representação social na visão de Jodelet (2001, p.36) [...] “é uma forma de conhecimento socialmente elaborada e partilhada, tendo um objetivo prático e concorrendo à construção de uma realidade comum a um conjunto social”. Segundo Abric (2001), as representações são “produto e processo de uma atividade mental pela qual um indivíduo ou um grupo reconstitui o real ao qual ele é confrontado e lhe atribui uma significação específica” (p. 156). Apesar de envolver diferentes autores, os posicionamentos, na verdade, se complementam compondo um todo mais amplo e mais complexo que nos leva a pensar que a interdisciplinaridade é um dos pilares em que os estudos das representações sociais está assentado. Se as representações sociais se constroem na condição social de convivência da humanidade, as contribuições de Guareschi (2007) são pertinentes quando afirma que são uma forma de conhecimento que implica “dimensões simbólicas e sociais, se tornando ao mesmo tempo, fenômenos subjetivos, intersubjetivos e objetivos” (p.31). Pensar o universo social e nesse caso, as representações, remete-nos a esse fluxo de relações tencionadas pela inter e transdisciplinaridade intrínsecas às representações sociais, como ressalta Spink (2003); considerando que no universo das relações sociais os vários fios se conjugam para o mesmo fim, a construção das representações se constituem dessa diversidade coletiva e individual humana que no jogo da convivência reflete permanências e mudanças na relação psicossocial que os indivíduos ou os grupos estabelecem. A partir das considerações arroladas, podemos concluir que os estudos sobre representação social do ser humano comum, expressam uma espécie de “saber prático” de como os indivíduos sentem, assimilam, apreendem e interpretam o mundo dentro de seu cotidiano, sendo, portanto as representações sociais produzidas coletivamente na prática da sociedade e no decorrer da comunicação interativa. A representação social, portanto, não é apenas produto de situações cotidianas, mas de determinações históricas, bem como da posição social, tanto dos 31 BARBOSA, C. R. Um olhar sobre o cuidar de pessoas vivendo com HIV/aids: dimensões representacionais de profissionais de saúde à luz da Política Nacional de Humanização _____________________________________________________________________________ indivíduos no grupo quanto do próprio grupo, que acaba também influenciando tais situações. Minayo (2004), sintetizando as colocações de vários autores, identifica "as representações sociais enquanto senso comum, ideias, imagens, concepções e visão de mundo que os atores sociais possuem sobre a realidade, são um material importante para a pesquisa no interior das Ciências Sociais" (p.173). Bordin, (2005, p. 7), por sua vez, afirma que "[...] um dos desafios de estudo das representações sociais: [é] compreender os mecanismos de transferência dos saberes de uma esfera social para outra, bem como das estratégias de comunicabilidade com outros saberes". 2.3.2 A Teoria das Representações Sociais Para Doise (apud ARAÚJO; COUTINHO; CARVALHO, 2005) é possível a partir das representações sociais fazer uma análise das cognições de nível grupal, permitindo capturar aspectos comuns de uma representação. Isso se deve ao fato da Teoria das Representações Sociais lidar com um marco conceitual que envolve tanto o nível intrapessoal de análise quanto o interpessoal e o intergrupal. A TRS tem servido de base para muitas reflexões e produções acadêmicocientíficas não só no campo da saúde como também em outros campos das ciências sociais e humanas (JODELET, 2005). De acordo com seu precursor, Sérge Moscovici, essa é uma teoria que concebe a produção do conhecimento como reflexo da interação e comunicação e, [...] sua expressão está sempre ligada aos interesses humanos que estão nele implicados. O conhecimento emerge do mundo onde as pessoas se encontram e interagem, do mundo onde os interesses humanos, necessidades e desejos encontram expressão, satisfação e frustração (MOSCOVICI, 2007, p. 8-9). Diante dessa assertiva do autor é possível pensar que onde há interação há produção de conhecimento, há processos postos na cotidianidade dos sujeitos. A teoria das representações sociais inaugurada por Moscovici (2007) é uma forma de pensar o conhecimento produzido e compartilhado entre grupos que os (re) 32 BARBOSA, C. R. Um olhar sobre o cuidar de pessoas vivendo com HIV/aids: dimensões representacionais de profissionais de saúde à luz da Política Nacional de Humanização _____________________________________________________________________________ constroem, assimilam e os descartam. As representações sociais na visão desse intelectual consistem em, Um sistema de valores, ideias e práticas, com uma dupla função: primeiro, estabelecer uma ordem que possibilitará às pessoas orientar-se em seu mundo material e social e controlá-lo; e, em segundo lugar, possibilitar que a comunicação seja possível entre os membros de uma comunidade, fornecendo um código para nomear e classificar, sem ambiguidade, os vários aspectos de seu mundo e da sua história individual e social (p.21). Dizer que essa nova concepção de pensar o conhecimento ligado às práticas sociais compõe um rol de perspectivas de pesquisas que fogem a tradicionalidade é assumir um posicionamento qualitativo que visita uma diversidade de metodologias e se preciso for, recria-as ou cria outras capazes de contemplar um determinado problema de pesquisa. Abric (apud SÁ, 2002), correlacionando às representações sociais e prática atribuiu quatro funções essenciais a estas representações: de saber, identitária, de orientação e justificatória. A função de saber permite que indivíduos dentro de um sistema de valores sociais, adquiram e compreendam conhecimentos, e possam estabelecer, então, a comunicação social e as relações sociais. A função identitária como forma de definir a identidade social e pessoal dos indivíduos permitindo a especificidade dos grupos, exercendo papel importante no controle social dentro do grupo, principalmente nos processos de socialização. A função de orientação norteando os comportamentos e as práticas sociais, definindo o que é certo ou errado, aceitável ou não dentro de um contexto social (ABRIC, 2000). E a função justificatória que possibilita aos indivíduos explicar e justificar certas atitudes em determinadas situações. De acordo com Jodelet (2001) o estudo das representações sociais a partir da teoria matricial de Moscovici têm mobilizado adeptos em várias partes do mundo, como França, onde inicia sua trajetória, Alemanha, Inglaterra, Argentina, Austrália, Áustria, Bélgica, Bolívia, Canadá, Espanha, Cuba, Estados Unidos, Grécia, Itália, Japão, Portugal, Rússia, Brasil, dentre outros. A TRS está de certa forma firmada no espaço acadêmico e conforme Sá (1998) divide-se em pelo menos três abordagens (as mais difundidas): a primeira que dá continuidade a obra original, com viés antropológico (abordagem processual) tem sido mais difundida por Denise Jodelet (2001); a segunda, tem como foco as 33 BARBOSA, C. R. Um olhar sobre o cuidar de pessoas vivendo com HIV/aids: dimensões representacionais de profissionais de saúde à luz da Política Nacional de Humanização _____________________________________________________________________________ condições de produção e circulação das representações sociais, articulando a teoria à uma perspectiva mais sociológica, difundida por Willem Doise (1990) e a terceira que dá ênfase a dimensão cognitivo-estrutural também conhecida como Teoria do Núcleo Central, sendo representada por Jean Claude Abric (2000) (MACHADO, ANICETO, 2010). O investimento dos intelectuais desses vários países tem sido no sentido de reforçar a teoria, à medida que comungam das perspectivas das representações sociais enquanto outra maneira de conhecimento, resguardando, obviamente, algumas considerações próprias, o que tem contribuindo para edificar as perspectivas teórico-metodológicas a quem essa teoria tem se prestado. Diante disso, é válido ressaltar que não diferente da maioria dos paradigmas da pós-modernidade, as representações sociais enquanto campo de estudos científicos trabalha com as incertezas, com as (im)possibilidades e não pretende definir, nem determinar as representações sociais desse ou daquele grupo, mas trabalhar em cima de um conjunto de fenômenos à luz da teoria para explicá-los, como afirma Sá (1998). 2.3.3 A Teoria do Núcleo Central e o conceito de Zona Muda A Teoria do Núcleo Central (TNC) ou abordagem estrutural foi proposta por Jean Claude Abric no ano de 1976. Abric (1994) afirmou que toda representação social se organiza em torno de um núcleo central, determinando seu significado e organização interna, sendo um subconjunto da representação, composto de um ou mais elementos que caso não existissem desestruturaria a representação ou lhe atribuiria um significado totalmente diferente. Para Campos e Rouquette (2003), a abordagem estrutural não limita as representações somente a um conjunto de eventos e processos cognitivos; e também não busca estabelecer a prioridade do aspecto cognitivo sobre o afetivo ou vice-versa. A representação social é uma estrutura atravessada por diferentes dimensões. Abric (1994) afirma que o núcleo central tem duas funções essenciais: uma função geradora, que dá sentido e um valor à representação do objeto que cria e 34 BARBOSA, C. R. Um olhar sobre o cuidar de pessoas vivendo com HIV/aids: dimensões representacionais de profissionais de saúde à luz da Política Nacional de Humanização _____________________________________________________________________________ pode transformar a significação do objeto; e uma função organizadora que unifica e estabiliza a representação e determina a ideia principal que une os elementos. Além dessas funções, destaca-se ainda a função de estabilidade; Abric (1994) afirma que o núcleo central é o elemento que garante a continuidade e a permanência em contextos de mobilidade e evolução, sendo o elemento de maior estabilidade da representação, resistindo às mudanças. Quando se modifica o núcleo central toda a representação é completamente transformada. O núcleo central “é determinado de uma parte pela natureza do objeto representado, de outra parte pela relação que o sujeito – ou o grupo – mantém com esse objeto” (ABRIC, 1994, p.22). Assumindo duas dimensões diferentes: uma normativa, que comporta as normas e regras do contexto, aspectos ideológicos, valorativos, sócio – afetivos, julgamentos e estereótipos em relação ao objeto representado; e uma funcional, que indica o que é importante para a realização/obtenção do objeto. É importante o levantamento do núcleo central para se conhecer o próprio objeto da representação (SÁ, 2002); em complemento ao núcleo central, existe o sistema periférico. O sistema periférico permite a integração das experiências e histórias individuais, suporta a heterogeneidade e as contradições do grupo, é flexível, evolutivo, sensível ao contexto imediato, permite a adaptação à realidade concreta, a diferenciação do conteúdo e protege o sistema central (SÁ, 2002). Desse modo conclui-se que o sistema periférico desenvolve uma relação de dependência com o núcleo central, ao mesmo tempo em que é um complemento indispensável a este. Portanto a abordagem estrutural esclarece duas características das representações sociais, que aparentemente se mostram contraditórias: “as representações sociais são ao mesmo tempo estáveis e móveis, rígidas e flexíveis” e “as representações sociais são ao mesmo tempo consensuais, mas também marcadas por fortes diferenças interindividuais” (SÁ, 2002, p. 72). Abric (2005) em estudos mais recente aponta para a existência de outra forma de explicitação das representações sociais, denominada de zona muda das representações sociais, abordada pela primeira vez em uma pesquisa de representações sociais realizada por Guimelli e Deschamps (2000). O autor 35 BARBOSA, C. R. Um olhar sobre o cuidar de pessoas vivendo com HIV/aids: dimensões representacionais de profissionais de saúde à luz da Política Nacional de Humanização _____________________________________________________________________________ considerou a relação entre as práticas e as representações sociais e as pressões sociais que podem influenciar estas representações. Esse fenômeno ocorre, sobretudo para objetos mais sensíveis, marcados por normas e valores sociais. Abric (2003 apud MENIN, 2006) indagou-se: As pessoas que interrogamos nos dizem mesmo o que pensam? [...] para certos objetos, em certos contextos, existe uma zona muda de representação social. Esta zona muda é composta de elementos da representação que não são verbalizáveis pelos sujeitos pelos métodos clássicos de coleta de dados (2003, p. 61). Dessa forma, alguns elementos das representações, mesmo sendo centrais podem ser mascarados, aparecendo somente elementos que na verdade são periféricos. Para o autor, o problema é fazer emergir tais elementos no núcleo central. O núcleo central não muda conforme as mudanças de contexto, no entanto, existem elementos expressos de maneira mais fácil. Abric (2005) sugere ainda, que esses elementos da zona muda, são normativos, ligado a aspectos valorativos e de avaliação, vistos como impróprios para o grupo de pertença do indivíduo que está representando-o. Estas transformações nas representações sociais podem emergir quando os sujeitos representam no lugar do outro e podem ser projeções de representações verdadeiras na voz de outro, ou “transparências de representações”, nas quais os sujeitos apenas relatam o conhecimento que têm das representações de outros grupos. Em todos esses fatores a presença das normas sociais é importante (MENIN, 2006). A zona muda revela um campo a ser investigado com maior continuidade nas representações sociais, tendo em vista a existência de poucos trabalhos no Brasil. 36 ____________________________________ CAPÍTULO 3 – AIDS NA INTERFACE COM AS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS: MANUSCRITO1 ____________________________________ 37 BARBOSA, C. R. Um olhar sobre o cuidar de pessoas vivendo com HIV/aids: dimensões representacionais de profissionais de saúde à luz da Política Nacional de Humanização _____________________________________________________________________________ Aids na interface com as representações sociais: uma revisão integrativa da literatura Aids at the interface with the social representations: an integrative literature review SIDA en la interfase con las representaciones sociales: una revisión integradora de la literatura Camila Rodrigues – Enfermeira. Mestranda do Mestrado Associado de Enfermagem UEPA-UFAM. Belém, Pará, Brasil. Email: [email protected] Elizabeth Teixeira – Enfermeira. Professora Titular da UEPA. Belém, Pará, Brasil. Email: [email protected] Iací Proença Palmeira – Enfermeira. Professora Adjunto I da UEPA. Belém, Pará, Brasil. Email: [email protected] Autor Responsável: Camila Rodrigues Barbosa – Rua Gentil Bittencourt, 1155, Vila Coimbra, 34, Nazaré, Belém, Pará, Brasil. Telefone: 93 91235291. Email: [email protected]. UEPA, Belém, PA. RESUMO Objetivo: analisar as evidências científicas disponíveis na literatura sobre o cuidado de pessoas com HIV/Aids na perspectiva das representações sociais. Método: revisão integrativa nas bases LILACS, BDENF, MEDLINE, Index Psi e CidSaúde entre 2004-2013, com amostra final de 16 produções. Após análise temática, obtiveram-se cinco categorias. Resultados: as representações sociais dos profissionais sobre cuidar de pessoas com HIV/Aids estão associadas aos estigmas da doença, à vulnerabilidade profissional e pessoal, à autoproteção profissional, à morte e à cronicidade. As representações são também pendulares, pois têm por base o conhecimento consensual e o conhecimento reificado. Conclusão: revela-se que as representações sociais se objetivam entre as barreiras do passado e as possibilidades do presente. Descritores: HIV/Aids, enfermagem, psicologia social. 1 Este manuscrito foi formulado de acordo com as normas da Revista de Enfermagem da Universidade Federal do Piauí – UFPI. Foi publicado em 01 de fevereiro de 2014. Resultado da disciplina eletiva “Metodologia para Trabalhos Acadêmicos e Científicos” ministrada pela Professora Drª Iací Proença Palmeira. A referência é: RODRIGUES, C. B.; TEIXEIRA, E.; PALMEIRA, I. P. Aids na interface com as representações sociais: uma revisão integrativa da literatura. Rev Enferm UFPI, Teresina, v. 2, n. 5, p. 19-25, dez. 2013. Disponível em: < http://www.ojs.ufpi.br/index.php/reufpi/issue/view/123/showToc> 38 BARBOSA, C. R. Um olhar sobre o cuidar de pessoas vivendo com HIV/aids: dimensões representacionais de profissionais de saúde à luz da Política Nacional de Humanização _____________________________________________________________________________ ABSTRACT Objective: to analyze the scientific evidence available in literature on the care of people with HIV/Aids from the perspective of social representations. Method: integrative review at LILACS, BDENF, MEDLINE, INDEXPsi and CidSaúde, between 2004-2013 with a selection of 16 productions. After thematic analysis yielded five categories. Results: social representations of professionals on caring for people with HIV/Aids are associated with stigma of the disease, the professional and personal vulnerability, professional self-protection, to death and chronicity. The representations are also commuting because are based on consensual knowledge and objective knowledge. Conclusion: it turns out that social representations are objectified barriers between the past and the possibilities of the present. Keywords: HIV/Aids, nursing, social psychology. RESUMEN Objetivo: analizar la evidencia científica disponible en la literatura sobre el cuidado de las personas con VIH/SIDA desde la perspectiva de las representaciones sociales. Método: revisión integradora en LILACS, BDENF, MEDLINE, INDEXPsi y CidSaúde entre 2004-2013, con una muestra final de 16 producciones. Después del análisis temático dado cinco categorías. Resultados: las representaciones sociales de los profesionales en la atención a personas con VIH/SIDA están asociados con el estigma de la enfermedad, la vulnerabilidad personal y profesional, la autoprotección profesional, a la muerte y la cronicidad. Las representaciones son también los desplazamientos porque se basan en el conocimiento consensual y el conocimiento objetivo. Conclusión: resulta que las representaciones sociales son objetivados barreras entre el pasado y las posibilidades del presente. Palabras clave: VIH/SIDA, la enfermería, la psicología social. INTRODUÇÃO A epidemia do HIV/Aids, tratada como uma questão essencialmente biomédica, passou a ser entendida como um evento coletivo e um construto social, que se molda dentro do contexto de sistemas sociais, culturais, políticos e econômicos altamente específicos, interligados e sobrepostos (1). 39 BARBOSA, C. R. Um olhar sobre o cuidar de pessoas vivendo com HIV/aids: dimensões representacionais de profissionais de saúde à luz da Política Nacional de Humanização _____________________________________________________________________________ As práticas profissionais de saúde, por seu turno, também sofreram transformações em função dos contextos das políticas de saúde, elementos institucionais e éticos, das práticas e dos valores sociais e também das representações formadas por diferentes grupos profissionais. Portanto, essas práticas profissionais, e particularmente a categoria do cuidado humano prestado pelo enfermeiro, são também objeto de representação e de memória pelo grupo profissional. Consideram-se válidos alguns postulados estabelecidos. O primeiro deles refere-se a que as representações da Aids constituídas no início da epidemia foram baseadas na associação entre HIV, sexualidades desviantes, doença e morte (2). O segundo refere-se a que essas representações sofrem a sua primeira transformação com a inclusão do sangue (3). O terceiro refere-se à vulnerabilidade profissional específica dos profissionais de saúde e das enfermeiras, determinada pela proximidade física com o corpo do doente, que se manifesta no perfil das práticas de cuidado desenvolvidas. Esses contextos enunciados tiveram influência sobre a construção e evolução das representações sociais (RS) e das memórias do cuidado de saúde prestado aos sujeitos com HIV/Aids, elaboradas pelos diferentes grupos profissionais dentro do campo da saúde, consequentemente gerando transformações nas representações e práticas profissionais desenvolvidas ao longo da epidemia. Desse modo, analisar as evidências científicas disponíveis na literatura sobre o cuidado de pessoas com HIV/Aids na perspectiva das RS visa promover reflexões que subsidiem novos estudos e possibilitem o desenvolvimento de um novo pensar e agir para o cuidado de pessoas com HIV/Aids. Estudos de revisão integrativa da literatura sobre essa temática contribuem para a construção do conhecimento sobre o HIV/Aids, evidenciando as lacunas que merecem maior destaque e investimentos, além de vislumbrar estratégias de enfrentamento e cuidados de pessoas com HIV/Aids. MÉTODO A elaboração da Revisão Integrativa de Literatura (RIL) seguiu os seis passos ou fases metodológicos propostas por Ganong (4). Fase 1: Seleção do tema 40 BARBOSA, C. R. Um olhar sobre o cuidar de pessoas vivendo com HIV/aids: dimensões representacionais de profissionais de saúde à luz da Política Nacional de Humanização _____________________________________________________________________________ (Cuidado de pessoas com HIV/Aids por profissionais de saúde) e da questão de pesquisa: Quais as representações sociais dos profissionais de saúde sobre o cuidar de pessoas com HIV/Aids em evidência na literatura nacional?. Na Fase 2 aplicamos os critérios de inclusão: artigos completos, disponíveis on-line, no período de 2004 a 2013, sobre o cuidar de pessoas com HIV/Aids por profissionais de saúde, na perspectiva das representações sociais, tanto na abordagem estrutural quanto processual, pesquisa de campo; os de exclusão: artigos repetidos, publicações apenas com resumo, revisões de literatura, reflexões, resenhas; realizamos a busca: Literatura da América Latina e Caribe (LILACS), Literatura Internacional em Ciências da Saúde (MEDLINE) Base de Dados de Enfermagem (BDENF), Index Psi Periódicos Técnico-Científicos (IndexPsi) e Literatura sobre Cidades/Municípios Saudáveis (CidSaúde); com o descritor e palavras-chave: HIV/Aids, representação social, representações sociais, cuidar, cuidado. Articulando o descritor HIV com as palavras-chave representação social ou representações sociais, foram encontradas 338 produções; articulando Aids com as palavras-chave representação social ou representações sociais, 479 produções; articulando o descritor HIV com as palavras-chave representação social ou representações sociais e cuidar ou cuidado, 71 produções, perfazendo o total de 888 estudos. Após aplicação dos critérios de inclusão e exclusão foram selecionadas 16 produções. Na Fase 3 realizamos a aplicação de uma ficha com questões sobre o perfil geral da referência e principais evidências. Fase 4: Análise com base nas categorias: Estigmas da doença; Entre a ciência e o senso comum; Vulnerabilidade profissional e pessoal; Autoproteção profissional; Entre a morte e a cronicidade. Fase 5: discussão das categorias. Fase 6: apresentação da revisão. RESULTADOS E DISCUSSÃO Perfil das Referências A distribuição das referências encontradas (Quadro 1), foi feita segundo o código do artigo, título, autores e ano. 41 BARBOSA, C. R. Um olhar sobre o cuidar de pessoas vivendo com HIV/aids: dimensões representacionais de profissionais de saúde à luz da Política Nacional de Humanização _____________________________________________________________________________ Quadro 1 – Perfil das referências Código Título Autor e Ano A1 Aids e representações sociais: uma análise comparativa Marques SC, Oliveira entre subgrupos de trabalhadores DC, Gomes AMT, 2004. A2 Estudo das representações sociais sobre a Aids por Ribeiro CG, Coutinho profissionais de saúde que atuam no contexto da MPL, Saldanha AAW, soropositividade para o HIV 2004. A3 A Aids e suas contradições: representações sociais de Ribeiro CG, Castanha seu atendimento e tratamento pelos profissionais e AR, Coutinho MPL, pacientes Saldanha AAW, 2005. A4 Os cirurgiões-dentistas e as representações sociais da Rodrigues MP, Aids Sobrinho MD, Silva EM, 2005. A5 Concepção da Aids: o que pensam os profissionais e os Ribeiro CG, Coutinho pacientes? concepção da Aids MPL, Saldanha AAW, Azevedo R, 2006. A6 Profissionais que trabalham com Aids e suas Ribeiro CG, Coutinho representações sociais sobre o atendimento e o MPL, Saldanha AAW, tratamento Castanha AR, 2006. A7 A zona muda das representações sociais sobre o Oliveira DC, Costa TL, portador de HIV/Aids: elementos normativos e 2007. contranormativos do pensamento social A8 Autoproteção profissional e cuidado de enfermagem ao Oliveira DC, Formozo paciente soropositivo ao HIV: duas facetas de uma GA, 2009. representação A9 Os sentidos da Aids e o atendimento odontológico Ragon CT, Tura LFR, Arruda A, 2009. A10 Representações de profissionais da atenção básica Souza MCMR, Freitas sobre HIV/Aids MIF, 2009. A11 Representações de profissionais da atenção primária Souza MCMR, Freitas sobre risco ocupacional de infecção pelo HIV MIF, 2010. A12 Representações sociais do cuidado prestado aos Oliveira DC, Formozo pacientes soropositivos ao HIV GA, 2010. A13 As representações sociais de enfermeiros sobre a Gomes AMT, Barbosa criança soropositiva para HIV: interface com o cuidar BFS, Oliveira DC, Wolter RMCP, Silva MVG, 2011. A14 Representações sociais do HIV/Aids: percepção dos Navarro AAA, Bezerra profissionais da atenção primária à saúde VP, Oliveira DA, Moreira MAS, Alves MSCF, Gurgel SN, 2011. A15 Aconselhamento em HIV/Aids: representações dos Souza MCMR, Freitas profissionais que atuam na atenção primária à saúde MIF, 2012. A16 Pessoas com HIV/Aids nas representações sociais de Costa TL, Oliveira DC, enfermeiros: análise dos elementos centrais, Formozo GA, Gomes contranormativos e atitudinais AMT, 2012. 42 BARBOSA, C. R. Um olhar sobre o cuidar de pessoas vivendo com HIV/aids: dimensões representacionais de profissionais de saúde à luz da Política Nacional de Humanização _____________________________________________________________________________ Os periódicos foram da área de Enfermagem (7), área médica (6) e psicologia (3). As Regiões: Sudeste (10) e Nordeste (6). Os locais dos estudos foram unidades (9), hospitais (6), faculdade (1). A análise dos dezesseis estudos fez emergir cinco categorias capazes de sinalizar as evidências científicas disponíveis na literatura sobre o cuidado prestado às pessoas com HIV/Aids na perspectiva das representações sociais, conforme pode ser visto a seguir: Categoria 1 – Estigmas da doença Nesta categoria foram incluídos cinco artigos (A1, A6, A7, A10, A14); em geral as RS dos sujeitos sobre HIV/Aids associadas às Representações Sociais do cuidado estão ligadas à morte, ao preconceito, ao medo, à homossexualidade e à promiscuidade: “o significado da Aids para esses sujeitos é fortemente marcado por elementos negativos, traz uma dimensão imagética associada à morte e reflete o posicionamento dos sujeitos por emoções e atitudes como sofrimento, medo e preconceito” (A1). O estigma ainda existe em torno do cuidar de pessoas com HIV/Aids. Nas referências há evidências de que para os profissionais a ideia de “grupo de risco” está superada, mas suas RS denotam uma dimensão preconceituosa e arraigadas às escolhas e condutas sexuais dos portadores do HIV, noções negativas e homogeneizadas (homossexualismo e promiscuidade). As RS desses profissionais se encontram em uma fase de transição, pois tanto são constituídas de conteúdos construídos no início da epidemia como de novos, ou seja, dos avanços da ciência e da mudança do perfil epidemiológico da doença. Nas primeiras representações da Aids associadas às RS do cuidar, a doença era representada como doença de punição, recaindo sobre a moral sexual, sendo causada por uma sociedade permissiva, punida pelas irresponsabilidades sexuais (5). Corroborando com os achados desta categoria, autores apontam o preconceito fortemente ligado às representações sobre HIV/Aids (6). A Aids além do preconceito e a discriminação social traz consigo um estigma maior, traz à tona a intimidade das pessoas, abordando o sexo, sangue, homossexualismo, prostituição e traição, assuntos que muitas vezes são escondidos através de tabus (7). Estas 43 BARBOSA, C. R. Um olhar sobre o cuidar de pessoas vivendo com HIV/aids: dimensões representacionais de profissionais de saúde à luz da Política Nacional de Humanização _____________________________________________________________________________ representações influenciam no cuidado prestado pelos profissionais de saúde às pessoas com HIV/Aids. Ao se comparar as RS da Aids às RS do cuidado entre enfermeiras verificouse que as enfermeiras do grupo hospitalar representam o fenômeno ancorado “em elementos negativos relativos ao passado, embora apontem também para novos elementos representacionais no presente”, enquanto as enfermeiras de rede básica representam-na “a partir de elementos relativos à prática assistencial cotidiana” (8). Nesta categoria há evidências que as representações sociais dos profissionais de saúde sobre o cuidar de pessoas com HIV/Aids, ainda não conseguiram se desatrelar do passado e este, apesar de distante, atravessa a barreira do tempo com toda a carga de sentimentos negativos, como medo, insegurança, risco, fragilidade e dificuldades. Categoria 2 - Entre a ciência e o senso comum Aqui foram encontrados dois artigos (A2, A15) que evidenciam que as práticas do cuidar dos profissionais tanto se baseiam nos conhecimentos do universo reificado como no consensual: Os profissionais de saúde entrevistados relatam posturas na prática cotidiana referente ao aconselhamento, apoiadas tanto na ciência como no senso comum, e que transformam a atividade do aconselhamento em menos prioritária e menos importantes no conjunto das ações realizadas, dificultando a integralidade do cuidado (A15). As evidências apontam que mesmo em se tratando de sujeitos distintos, as RS sobre cuidar de pessoas com HIV/Aids se ancoram em oposições entre o conhecimento científico e o senso comum. Indo ao encontro desses resultados outro autor afirma que devido essa interseção entre as representações, as práticas dos profissionais estão sujeitas a elementos subjetivos, estereótipos, pré-conceitos, préjulgamentos e posições inadequadas frente ao processo saúde-doença e cuidado dos usuários (9). Da mesma forma que o paciente, o profissional de saúde vê o mundo através de suas representações, porém a razão, oriunda da cientificidade, serve como escudo para seu imaginário, assumindo atitude defensiva diante das incertezas e ameaças que a Aids provoca (10). Categoria 3 - Vulnerabilidade profissional e pessoal Fizeram parte três artigos (A4, A11, A13), relacionados em linhas gerais com a existência de déficit de conhecimento científico sobre o cuidar de pessoas com 44 BARBOSA, C. R. Um olhar sobre o cuidar de pessoas vivendo com HIV/aids: dimensões representacionais de profissionais de saúde à luz da Política Nacional de Humanização _____________________________________________________________________________ HIV/Aids e de acesso à informação, sofrimento psíquico do profissional de saúde no cuidar destas pessoas e representações associadas à vulnerabilidade e baixo risco de infecção: “representam conhecimento incompleto, fragmentado e amparado por uma visão tradicional e superada de biossegurança, o que dificulta o desenvolvimento de estratégias de superação das práticas tradicionais” (A4); “a representação da criança como sem futuro está presente de forma marcante, gerando maior sofrimento psíquico para os enfermeiros” (A13). Os profissionais de saúde conseguem visualizar com dificuldades o grau de exposição ocupacional ao qual se encontram expostos por trabalhar em setores de internação, com ênfase nos acidentes ocupacionais, que tem como maior representatividade quantitativa os pérfuro-cortantes(11). O sangue é fator intrínseco aos riscos ocupacionais que estão sujeitos estes profissionais (2). Tais dimensões são importantes, pois há falta de infraestrutura do local de trabalho, de recursos materiais, déficit de recursos humanos e risco de acidentes ocupacionais biológicos (12). Resultados de estudo apontaram que as RS de vulnerabilidade associadas ao cuidado de pessoas HIV positivo estão relacionadas também à vida pessoal, em consequência da reprovação da família pela atividade laboral exercida, medo de se relacionarem afetivo/sexualmente com outras pessoas frente ao risco de contaminação (12). Há uma diferença nas representações do cuidar de pessoas com HIV/Aids em relação à vulnerabilidade entre os profissionais de saúde segundo o nível de assistência à saúde, pois os profissionais da atenção básica consideram baixo o risco de vulnerabilidade ao HIV/Aids. Sabemos que o risco não depende do nível de atenção, mas o cuidado de proteção que esse profissional deveria ter em qualquer serviço de saúde. Categoria 4 - Autoproteção profissional Nesta categoria foram incluídos dois artigos (A8, A12), relacionados à importância da autoproteção como base da prática do cuidar: A autoproteção profissional figura como importante elemento do cuidado [...] os conteúdos relacionados à autoproteção profissional são construídos em torno da utilização da precaução padrão, diferente de quando se trata de outras clientelas, quando esta não se faz fortemente presente (A8). As RS do cuidar estão associadas mais ao autocuidado do que ao cuidado com o outro (13). Os profissionais afirmam que cuidar de portadores do HIV, é como 45 BARBOSA, C. R. Um olhar sobre o cuidar de pessoas vivendo com HIV/aids: dimensões representacionais de profissionais de saúde à luz da Política Nacional de Humanização _____________________________________________________________________________ cuidar de qualquer outro cliente, porém há uma maior necessidade de proteção contra a contaminação (14). As RS destes profissionais estão ligadas ao entendimento necessário quanto à utilização de precauções padrão durante o cuidado a qualquer pessoa, independente da doença, como forma de minimizar os riscos de contaminação pelo HIV no cotidiano do trabalho. Porém nem todos os profissionais têm essa preocupação. A utilização de equipamentos de proteção individual é mais sistemática e constante quando estes profissionais estão diante da pessoa sabidamente HIV positivo. Essa autoproteção muitas vezes acarreta em distanciamento interpessoal estabelecido com cliente durante a prática do cuidar (15). A autoproteção também é associada à vida pessoal, o que demonstra uma contradição no discurso, há o entendimento da necessidade de uso de preservativo em todas as relações sexuais, mesmo naquelas consideradas estáveis, porém muitos se apoiam na confiança no companheiro como prática de prevenção, ocorrendo o não uso do preservativo. Enfermeiras relatam transformações na sua vida pessoal após a descoberta da epidemia, porém admitem não utilizar habitualmente a camisinha em relacionamentos considerados estáveis (8). Categoria 5 - Entre a morte e a cronicidade Nesta categoria foram incluídos quatro artigos (A3, A5, A9, A16) evidenciando um momento de transição das RS dos profissionais. Embora estas representações associadas ao cuidar de pessoas com HIV/Aids ainda estejam muito atreladas à morte, a ideia de cronicidade da doença traz uma re(significação) da doença: “doença e prevenção compõem o núcleo central da representação [...] a ausência de morte na estrutura da representação da AIDS, confirmada no teste de centralidade, pode indicar o início de um processo de mudança da representação da Aids para esse grupo” (A9). Evidenciou-se um movimento entre passado e presente, entre a doença como letal-final e a doença como crônica-permanente, em que se anuncia a “esperança” de vida. O avanço e a disponibilidade dos antirretrovirais diminuíram a mortalidade entre pessoas vivendo com HIV, trazendo uma maior expectativa de vida dos portadores do HIV. A partir da introdução dos novos antirretrovirais, a Aids passou a assumir a característica de uma doença crônica semelhante, em alguma medida, ao câncer, às doenças cardíacas, diabetes e hipertensão, demonstrando de certa forma, uma 46 BARBOSA, C. R. Um olhar sobre o cuidar de pessoas vivendo com HIV/aids: dimensões representacionais de profissionais de saúde à luz da Política Nacional de Humanização _____________________________________________________________________________ visão mais positiva da doença (16-17). Os antirretrovirais diminuíram as internações por doenças oportunistas, causando queda da mortalidade, aumentaram a sobrevida, ocasionando mudanças nas vidas das pessoas vivendo com HIV (18). Essa transição das RS pode indicar o inicio de um processo de mudança nas práticas destes profissionais, que tiveram em sua formação um modelo biomédico tradicional, voltado para a doença e seus sistemas. Agora é possível visualizar outro caminho, o das práticas de promoção de saúde mais amplo, voltada para o desenvolvimento dos determinantes da saúde visando à integralidade (19). CONCLUSÕES Com base nos resultados ora expostos conclui-se que as RS dos profissionais de saúde sobre o cuidar de pessoas com HIV/Aids se ancoram entre as barreiras do passado e as possibilidades do presente. Isso permite afirmar um movimento entre as representações, situadas em uma linha tênue entre a morte e a cronicidade da doença, o que aponta para a busca de novas posturas frente ao cuidar. Torna-se essencial criar subsídios para diminuir a vulnerabilidade dos profissionais de saúde, favorecer apoio psicológico para que compreendam seus sentimentos, reflitam sobre suas subjetividades, angústias, medos e emoções em relação à pessoa com HIV/Aids. Dessa forma, sugere-se o aumento e publicação de estudos que desvelem as representações, ocultas para além de seus jalecos, e cujos sintomas se evidenciam por meio de atitudes durante a verbalização de suas práticas e a prestação de cuidados. Acredita-se que também são importantes estudos sobre ações capazes de humanizar a assistência aos portadores de HIV/Aids, bem como à prevenção de riscos ocupacionais. Assim, há necessidade de se investir na qualificação e capacitação permanente dos profissionais que atendem pessoas com HIV positivo, criação de espaços para discussão, para que além da abordagem técnica e científica, sejam abordadas as questões psicossociais, tais como as representações acerca da doença, incentivando uma mudança positiva de posicionamento dos profissionais, possibilitando que superem dificuldades, contribuindo para a reflexão e aperfeiçoamento das práticas na perspectiva da humanização, para que sejam mais 47 BARBOSA, C. R. Um olhar sobre o cuidar de pessoas vivendo com HIV/aids: dimensões representacionais de profissionais de saúde à luz da Política Nacional de Humanização _____________________________________________________________________________ centradas no sujeito com HIV/Aids, que promovam a compreensão e a participação ativa do sujeito do cuidado no processo saúde-doença. Espera-se sensibilizar os profissionais, a sociedade e pesquisadores para a necessidade de maiores investimentos em pesquisas e intervenções, uma vez que as evidências apontaram a concentração de estudos sobre a temática dessa Revisão Integrativa da Literatura nas regiões Sudeste e Nordeste, sem nenhuma menção às demais, havendo necessidade, portanto, de priorizar os estudos daí advindos. REFERÊNCIAS 1. Parker R. A construção da solidariedade: AIDS, sexualidade e política no Brasil. Rio de Janeiro: Relume-Dumará/UERJ-ABIA; 1994. 2. Giami A, Oliveira DC, Erdmann AL. Représentations et mémoire professionnelle du sida chez les infirmières au Brésil: Etude bi-centrique: Rio de Janeiro (RJ)/Florianopolis (SC). Projeto de Pesquisa, ANRS, Paris, 2007. 3. Paicheler G. Perception of HIV Risk and Preventive Strategies: A Dynamic Analysis. Health 1999;3(1):47-70. 4. Ganong LH. Integrative reviews of nursing research. Res Nurs Health 1987;10(1):1-11. 5. Jodelet D. Representações Sociais do Contágio e a Aids. In: Jodelet D. (Org.). Aids e Representações Sociais à busca de sentidos. Natal: Edufrn;1998. 6. Greco M, Oliveira EI, Andrade JC, Lignani Jr L, Jeronymol JC, Andrade I, et al. Diferenças nas situações de risco para HIV de homens bissexuais em suas relações com homens e mulheres. Rev Saúde Pública 2007;41(2):109-17. 7. Alves EGR, Ramos DLP. Profissionais de saúde: vivendo e convivendo com HIV/Aids. São Paulo: Santos; 2002. 8. Valois BRG. Representações sociais da AIDS por enfermeiras das redes básica e hospitalar [Dissertação]. 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Rio de Janeiro(RJ): Universidade do Estado do Rio de Janeiro; 2012. 13. Formozo GA, Oliveira DC. Autoproteção profissional e cuidado de enfermagem ao paciente soropositivo ao HIV: duas facetas de uma representação. Acta Paul Enferm 2009; 22(4): 392-398. 14. Sadala MLA. Cuidar de pacientes com Aids: o olhar fenomenológico. São Paulo: Editora UNESP; 2000. 15. Oliveira DC, Erdman AL, Giami A, Vargens OMC, Oliveira SA, Gomes AMT, et al. Representações e memória profissional da AIDS de enfermeiras no Brasil: estudo bicêntrico Rio de Janeiro/Florianópolis. Psicol Teor Prat 2007; 9(1):114-118. 16. Fee E, Fox D. Aids The making of a chronic disease. Berkeley-Los AngelesOxford: University of California Press; 1992. 17. Ribeiro CG, Coutinho MPL, Saldanha AA. Estudo das representações sociais sobre a Aids por profissionais de saúde que atuam no contexto da soropositividade para o HIV. DST J Bras Doenças Sex Transm 2004; 16(4)1418. 18. Marins JR, Jamal LF, Chen SY, Barros MB, Hudes ES, Barbosa AA, Chequer P, Teixeira PR, Hearst N. Melhoria dramática na sobrevida dos pacientes com AIDS adultos brasileiros. AIDS 2003; 17(11): 1675-1682. 19. Ragon CT, Tura LFR, Arruda A. Os sentidos da Aids e o atendimento odontológico. Cad Saúde Col 2009; 17(4): 1047-1058. BARBOSA. C. R. Um olhar sobre o cuidar de pessoas vivendo com HIV/aids: dimensões representacionais de profissionais de saúde à luz da Política Nacional de Humanização ________________________ CAPÍTULO 4 – TRAJETÓRIA METODOLÓGICA ________________________ 50 BARBOSA, C. R. Um olhar sobre o cuidar de pessoas vivendo com HIV/aids: dimensões representacionais de profissionais de saúde à luz da Política Nacional de Humanização _________________________________________________________________ Trata-se de um estudo qualitativo, do tipo exploratório, tendo como suporte teórico a Teoria das Representações Sociais na perspectiva estrutural da Teoria do Núcleo Central. Segundo Minayo (2010) a pesquisa qualitativa, “está direcionada para a investigação dos significados das relações humanas, em que suas ações são influenciadas pelas emoções e ou/sentimentos aflorados diante das situações vivenciadas no dia-a-dia” (p.22). Portanto aplica-se ao presente estudo, que objetiva apreender as representações sociais de profissionais de saúde sobre cuidar de pessoas vivendo com HIV/aids à luz da Política Nacional de Humanização; no campo das RS surgem elementos subjetivos, intersubjetivos e objetivos, necessitando-se de uma perspectiva que abarque significados para além da dimensão objetiva. O campo das representações sociais possui conteúdos que estão sujeitos a uma estrutura hierarquizada em torno de um núcleo central, premissa maior da TNC (ABRIC, 1994). Esta estrutura contém dois sistemas fundamentais, um central e outro periférico, baseado entre o cruzamento das frequências de ocorrência dos conceitos associados ao objeto da representação com a sua ordem de evocação, resultado de uma produção discursiva de forma livre e espontânea (PEREIRA, 2005). Nesta pesquisa o foco se dá sobre o núcleo central, por ser o responsável pela mudança de uma representação. Se houver mudança no núcleo central, mudase totalmente a representação, sendo possível a partir deste fazer comparações entre as representações. A pesquisa que deu suporte à dissertação ocorreu no município de Belém, teve como locais do estudo quatro unidades de atendimento especializado em HIV/aids: Clinica de Infectologia do Hospital Universitário João de Barros Barreto (HUJBB), Centro de Testagem e Aconselhamento (CTA), Unidade de Referência em Doenças Infecto Parasitárias Especiais (UREDIPE) e Centro de Atenção à Saúde em Doenças Infecciosas Adquiridas (CASA DIA) no período de agosto de 2011 a abril de 2013. O HUJBB é referência nacional para aids. A Clínica de Infectologia do HUJBB possui 68 leitos, dos quais 5 são para isolamento e 28 leitos destinados a pacientes com HIV/aids, com atendimento completo aos pacientes que precisam de internação e aos seus familiares. Possui um processo de trabalho multidisciplinar, com médicos, 51 BARBOSA, C. R. Um olhar sobre o cuidar de pessoas vivendo com HIV/aids: dimensões representacionais de profissionais de saúde à luz da Política Nacional de Humanização _________________________________________________________________ enfermeiros, auxiliares e técnicos de enfermagem, psicólogos, assistentes sociais, terapeutas ocupacionais, fisioterapeutas, farmacêuticos, além do apoio administrativo. fonoaudiólogos, nutricionistas, Atende ainda aos casos de leptospirose, meningites, hepatites, sepse, estafilococcia, febre tifóide, tétano, doenças oportunistas da aids, especialmente as meningoencefalites criptocócica e tuberculose, neurotoxoplasmose, candidoses e outras. (HUJBB, 2013). A Unidade de Referência Especializada em Doenças Infecciosas e Parasitárias Especiais (UREDIPE) oferece serviços de média complexidade e foi o primeiro serviço especializado no Estado do Pará é o centro de referência estadual. É uma unidade da Secretaria de Estado de Saúde Pública do Pará. Dispõe de ambulatório, Hospital Dia com oito leitos, onde os pacientes podem fazer transfusões ou receber medicação. Oferece, ainda, Atendimento Domiciliar Terapêutico, direcionado exclusivamente aos clientes com limitações e que não podem se deslocar até a unidade. Conta com uma equipe formada por médicos infectologistas e clínicos, fonoaudiólogos, fisioterapeutas, odontólogos, assistentes sociais, psicólogos, nutricionistas, terapeutas ocupacionais e dermatologistas, além de profissionais de enfermagem e do setor administrativo (PARÁ, 2011). Localizada na travessa Magno de Araújo, Passagem Izabel S/Nº - Bairro Telégrafo - entre Senador Lemos e Curuçá. O Centro de Atenção à Saúde em Doenças Infecciosas Adquiridas (CASA DIA) presta atendimento ambulatorial para os portadores de HIV desde 1999 e também as vítimas de violência sexual e acidente ocupacional na quimioprofilaxia antiretroviral (ARV). Atende encaminhamentos do CTA, UREDIPE, Unidades Básicas de Saúde, hospitais credenciados e Rede Privada. É o centro de referência municipal. É uma unidade da Secretaria Municipal de Saúde de Belém, vinculada a Coordenação Municipal de DST/aids, dispõe de equipe multidisciplinar (médica, pediatria, nutricionista, enfermagem, psicologia, assistentes sociais, fonoaudióloga, terapeuta enfermeiros, ocupacional, técnicos fisioterapeuta de e farmacêuticos.). Além do ambulatório, conta com o Hospital Dia, que oferece 16 leitos para os usuários, sendo 6 masculinos, 6 femininos, 3 pediátricos e 1 de isolamento (DOL, 2012). O Centro de Testagem e Aconselhamento – CTA trabalha com demanda espontânea e é um centro de diagnóstico de HIV, tanto com realização de exames 52 BARBOSA, C. R. Um olhar sobre o cuidar de pessoas vivendo com HIV/aids: dimensões representacionais de profissionais de saúde à luz da Política Nacional de Humanização _________________________________________________________________ laboratoriais quanto com teste rápido e clinica básica, conta com equipe multidisciplinar (médicos, enfermeiros, psicólogos, técnico de enfermagem, assistente social, técnicos de laboratório). Realiza aconselhamentos pré e pós-teste como estratégia de prevenção ao HIV. Também é uma unidade da Secretaria Municipal Saúde de Belém vinculada a Coordenação Municipal de DST/aids (DOL, 2012). Em 2012 foi inaugurado o Centro de Atenção à Saúde nas Doenças Infecciosas Adquiridas para abrigar a Casa Dia e o CTA, localizado na Avenida Pedro Álvares Cabral, entre Angustura e Barão do Triunfo, funcionando de segunda a sexta, de 7h às 19h (DOL, 2012). O total de profissionais atendendo cotidianamente pessoas vivendo com HIV nas quatro unidades onde a pesquisa ocorreu, em Belém, é 241; são profissionais que compõem as equipes multiprofissionais em saúde. Deste total foram, participantes da pesquisa 114 profissionais de saúde (47%). A amostragem seguiu o estabelecido no Projeto Multicêntrico, que definiu uma amostra de conveniência. Foi considerada como exigência mínima para o desenvolvimento do estudo uma amostra de 100 profissionais por município. O critério de inclusão foi: profissionais de saúde que atuam diretamente no cuidado à pessoa com HIV/aids. Os critérios de exclusão foram: aqueles que não possuem vínculo institucional, aqueles que não foram localizados no serviço ou locais indicados, após, pelo menos, três tentativas de acesso. Quanto ao perfil dos profissionais1, destaca-se que 100 (87,7%) eram do sexo feminino e 14 (12,3%) do sexo masculino. Quanto à idade, 34 (29,8%) profissionais até 35 anos, 39 (34,2%) profissionais de 36 até 45 anos e 41 (36%) de 46 anos ou mais de idade. Quanto a situação conjugal, 72 (63,2%) mora com namorado(a) ou companheiro(a), 24 (21%) não possui namorado(a) ou companheiro(a) e 18 (15,8%) tem namorado(a) ou companheiro(a) mas não mora junto. Quanto à religião, 67 (58,8%) afirmaram ser católicos, 23 (20,2%) evangélicos, 18 (15,8%) espírita/espiritualista e 6 (5,2%) marcaram a opção outra religião e/ou não informaram. Quanto ao tempo de atuação no programa DST/aids, 1 O perfil dos profissionais está detalhadamente analisado na dissertação de Mestrado de Garcez (2013), subprojeto do Projeto Multicêntrico. A referência é: GARCEZ, J. C. D. Entre o permanente e o emergente: Perfil e concepções de profissionais de saúde relativas ao HIV/AIDS. 2013. 105 f. dissertação (Mestrado em Enfermagem) – Universidade do Estado do Pará, Belém, Pará, 2013. 53 BARBOSA, C. R. Um olhar sobre o cuidar de pessoas vivendo com HIV/aids: dimensões representacionais de profissionais de saúde à luz da Política Nacional de Humanização _________________________________________________________________ 69 (60,5%) atuam há menos de 5 anos no programa e 45 (39,5%) há mais de 5 anos. Quanto ao tempo de formação, 36 (31,6%) até 5 anos de formados, 60 (52,6%) 6 a 15 anos de formados e 18 (15,8%) 16 anos ou mais de formados. Quanto à categoria profissional, 24 (21%) técnicos de enfermagem, 13 (11,4%) assistentes sociais, 13 (11,4%) enfermeiros, 13 médicos (11,4%), 7 (6,1%) psicólogos, 7 (6,1%) farmacêuticos, 2 (1,8%) auxiliares de enfermagem, 1 (0,8%) odontólogo e 34 (30%) técnicos em odontologia, terapeutas ocupacionais, fonoaudiólogos, fisioterapeutas, e não especificados. A coleta de dados foi realizada no período de agosto de 2011 a abril de 2013 por meio de um formulário (ANEXO A). O corpus foi constituído a partir da técnica de associação livre de palavras (TALP) e técnica de substituição que compôs a 1ª parte do formulário.2 A TALP (VERGÈS, 1992 apud SÁ, 2002), também conhecida por técnica da evocação livre ou teste por associação de palavras consiste em solicitar aos sujeitos que falem um número pré-determinado de palavras ou expressões que lhes ocorram imediatamente à mente em relação a um termo indutor. Segundo Coutinho, Nóbrega e Cantão (2003), evocar é trazer à lembrança, à imaginação algo que está presente na memória da pessoa. Essa técnica de coleta de dados permite colocar em evidência o universo semântico que está associado ao termo-objeto estudado, assim como a sua dimensão imagética de forma mais rápida e dinâmica que outros métodos com igual objetivo, como por exemplo, a entrevista (ABRIC, 1994). Durante a coleta de dados foi solicitada aos sujeitos a produção de cinco palavras ou expressões que lhes viessem imediatamente à lembrança ao pensar no termo indutor “Cuidar da pessoa com HIV/aids”, configurando a produção de respostas em situação de normalidade de expressão, quando o sujeito fala em seu nome. No segundo momento foi solicitado a evocação em situação de substituição, que consiste em solicitar ao sujeito que evoque palavras em nome de outras pessoas. Dessa forma, o sujeito pode manter um distanciamento, havendo redução 2 O corpus foi elaborado no laboratório da UERJ sob a liderança da coordenadora geral e nacional do Projeto Multicêntrico. 54 BARBOSA, C. R. Um olhar sobre o cuidar de pessoas vivendo com HIV/aids: dimensões representacionais de profissionais de saúde à luz da Política Nacional de Humanização _________________________________________________________________ de envolvimento, sob a justificativa “não sou eu que pensa isto, são os outros” (ABRIC, 2005, p. 28). Podendo expressar suas ideias indesejáveis ou contranormativas, visto que é reduzida a pressão normativa sob o sujeito que está representando. Foi solicitada aos sujeitos a produção de cinco palavras ou expressões, que na opinião delas, vem imediatamente à lembrança das pessoas em geral quando elas pensam em “Cuidar da pessoa com HIV/aids”, configurando a situação de substituição, consistindo em hipóteses de zona muda das representações. Para as duas técnicas foi utilizada a ordem de produção das palavras, para garantir a espontaneidade das evocações e se supõe que as palavras mais importantes são citadas em primeiro lugar. Para análise dos dados obtidos a partir das duas técnicas (TALP e Técnica de Substituição) foi utilizado o software Ensemble de Programmes Permettant L'analyse des Évocations - EVOC, versão 2003. Para poder efetuar tal processamento das evocações obtidas pela TALP (situação normal), primeiro todas as palavras evocadas foram digitadas no Microsoft Office Word 2007; essas palavras passaram por correção ortográfica, substituição das preposições ou espaços das expressões por hífen, uniformização dos termos, em plural ou singular e em gênero. Foi ainda realizada uma padronização e homogeneização das palavras com significados muito próximos, tendo em vista a redução de dispersão de conteúdo para construção de um corpus para análise mais homogêneo. Em um segundo momento, foi realizada a digitação do corpus no Microsoft Office Word 2007, as primeiras colunas foram correspondentes as variáveis de identificação dos sujeitos nas colunas subsequentes os termos evocados precedidos dos números de 1 a 5, conforme a ordem de produção das palavras. Em seguida o corpus foi então processado no programa, seguindo as normas e passos para processamento dos dados conforme relatado detalhadamente por Carneiro (2012) e Costa (2007). O EVOC 2003 calculou e informou a frequência simples de ocorrência de cada palavra evocada, a média ponderada de ocorrência de cada palavra em função da ordem de evocação e a média das ordens médias ponderadas do conjunto dos termos evocados. A partir do resultado do processamento foi obtido o quadro de quatro casas, que corresponde a quatro quadrantes com quatro conjuntos de termos. A técnica do 55 BARBOSA, C. R. Um olhar sobre o cuidar de pessoas vivendo com HIV/aids: dimensões representacionais de profissionais de saúde à luz da Política Nacional de Humanização _________________________________________________________________ quadro de quatro casas ao combinar dois atributos relacionados às palavras ou às expressões evocadas, que são a frequência e a ordem em que foram evocadas, possibilita a distribuição dos termos produzidos segundo a importância espontânea atribuída pelos sujeitos (VERGÈS, 1992 apud SÁ, 2002). No alto e à esquerda (quadrante superior esquerdo) ficam situados os termos verdadeiramente significativos para os sujeitos e que constituem, provavelmente, o núcleo central da representação estudada. Os elementos que se encontram no quadrante superior direito do quadro de quatro casas são denominados de primeira periferia, contendo os elementos periféricos de maior relevância, possuindo maiores frequência de evocação, mas, menor importância segundo os entrevistados (ABRIC, 2000). O sistema periférico promove a interface entre a realidade e o sistema central e é mais sensível às condições do contexto permitindo a integração das experiências e histórias. Serve de para-choque entre uma realidade que a questiona e um núcleo central que não deve mudar facilmente. Os desacordos da realidade são absorvidos pelos esquemas periféricos, que, assim, asseguram a estabilidade (relativa) da representação (OLIVEIRA, D et al., 2005). O quadrante inferior esquerdo é composto dos elementos de contraste, elementos com frequência baixa, mas alta prioridade. Segundo Oliveira (apud MACHADO; ANICETO, 2010), na zona de contraste se localizam elementos que caracterizam variações da representação em função de subgrupos, no entanto, não modificam os elementos centrais e a própria representação, indicam mudanças ou transição de uma representação social. Os elementos do quadrante inferior direito formam a segunda periferia, nele estão os elementos com frequência baixa e baixa prioridade. Estes elementos guardam mais relação com a realidade vivenciada, elementos possivelmente recentes da representação, associados ao contexto mais imediato que agregam as características mais particularizadas da representação no contexto prático. Cabe ressaltar que esta técnica, integrada à informática, torna-se um importante instrumento facilitador para a análise da estrutura e organização de uma representação social. Além disso, cabe ainda destacar que os termos presentes no núcleo central possuem maior frequência de evocações e menor rang, que se refere à média das ordens médias de evocação. 56 BARBOSA, C. R. Um olhar sobre o cuidar de pessoas vivendo com HIV/aids: dimensões representacionais de profissionais de saúde à luz da Política Nacional de Humanização _________________________________________________________________ Entre os elementos periféricos ocorre o inverso, com palavras evocadas menos frequentemente e com maior rang. Os elementos intermediários apresentam variações nesses valores, com as palavras contidas no quadrante inferior esquerdo, com uma frequência de evocação inferior à frequência média das palavras e um rang inferior ao rang médio, ao passo que o quadrante superior direito possui uma frequência maior que a frequência média e um rang também maior (VERGÈS, 1992 apud SÁ, 2002) Foi realizada análise semântica e de conteúdo dos termos contidos no quadro de quatro casas e buscou-se agrupar os termos em categorias associadas ao objeto de estudo, de acordo com o universo semântico empregado pelos sujeitos. Abric (1994, p 61), diz que além de combinar a frequência de emissão das palavras e a ordem que elas foram ditas, busca-se “criar um conjunto de categorias, organizadas em torno desses termos, para assim confirmar as indicações sobre seu papel organizador das representações”. O EVOC 2003 realiza, também, a comparação estatística por meio do Teste t de Student entre as produções semânticas de subgrupos de sujeitos ou subpopulações. Utilizando essa ferramenta, foi realizada a comparação das seguintes variáveis: categoria profissional, com dois subgrupos – subgrupo 1 (equipe de enfermagem: enfermeiros, técnicos e auxiliares de enfermagem), subgrupo 2 (demais profissionais: médicos, assistentes sociais, psicólogos, farmacêuticos, odontólogos, etc.)3; idade, com três subgrupos – subgrupo 1 (até 35 anos), subgrupo 2 (36 até 45 anos), e subgrupo 3 (46 anos ou mais); e tempo de formação, com três subgrupos – subgrupo 1 (até 5 anos de formados), subgrupo 2 (6 a 15 anos de formados) e subgrupo 3 (16 anos ou mais de formados). Para a comparação entre evocação em situação de normalidade e situação de substituição foi construído um único corpus com as evocações em ambos os contextos. A identificação de 001 a 114 foi utilizada na primeira coluna, referente as evocações em situação de normalidade, nas colunas subsequentes os termos evocados precedidos dos números de 1 a 5, conforme a ordem de produção das palavras, a identificação de 115 a 228 foi referente as evocações em situação de substituição. Nas colunas subsequentes os termos evocados precedidos dos 3 Os critérios para formação dos subgrupos de todas as variáveis foram estabelecidos pelo Projeto Multicêntrico. 57 BARBOSA, C. R. Um olhar sobre o cuidar de pessoas vivendo com HIV/aids: dimensões representacionais de profissionais de saúde à luz da Política Nacional de Humanização _________________________________________________________________ números de 1 a 5, conforme a ordem de produção das palavras. Esse corpus foi processado pelo software EVOC 2003 e realizada a comparação estatística por meio do Teste t de Student, conforme relatado detalhadamente por Costa (2007); posteriormente obteve-se dois quadros de quatro casas, um para cada situação. Além da comparação estatística, foi realizada a comparação de conteúdo e de estrutura dos elementos das representações sociais expressas pelos sujeitos. A pesquisa obedeceu à Resolução 466/12 do Conselho Nacional de Saúde, que estabelece diretrizes e normas regulamentadoras quanto aos aspectos éticos da pesquisa envolvendo seres humanos. O projeto multicêntrico ao qual este subprojeto está vinculado foi apreciado e aprovado pelo Comitê de Ética da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Protocolo Nº 048.3.2010 (ANEXO B) e Comitê de Ética da Universidade do Estado do Pará, Protocolo N° 0069.0.321.00010 (ANEXO C). Todos os sujeitos assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (ANEXO D). ________________________________ CAPÍTULO 5 – CUIDAR DE PESSOAS VIVENDO COM HIV/AIDS: APROXIMAÇÃO COM A ESTRUTURA DAS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DOS PROFISSIONAIS DE SAÚDE ________________________________ 59 BARBOSA, C. R. Um olhar sobre o cuidar de pessoas vivendo com HIV/aids: dimensões representacionais de profissionais de saúde à luz da Política Nacional de Humanização _________________________________________________________________ 5.1 ABORDAGEM GLOBAL Os 114 profissionais de saúde evocaram em situação de normalidade um total de 557 palavras associadas ao termo “Cuidar da pessoa com HIV/aids”, e destas, 139 eram diferentes. A Figura 1 apresenta a distribuição dos termos evocados formando o Quadro de Quatro Casas. Foi obtido com um ponto de corte na frequência mínima 14, frequência intermediária 20 e ordem média 3,0. Temos 12 palavras ou termos evocados, que se distribuem nos quatro quadrantes. Figura 1 – Quadro de quatro casas do termo indutor “cuidar da pessoa com HIV/aids” – situação de normalidade. Belém, 2015. O.M.E Frequência Média ≥20 ≥14 e ≤19 Termo Evocado Amor Cuidado Educaçãosaúde Acolhimento Autoproteçãoprofissional Informação Solidariedade <3 Frequênci a O.M.E Termo Evocado ≥3 Frequênci a O.M.E 3,048 3,100 34 28 25 2,618 2,714 2,800 Atenção Capacitaçãoprofissional 21 20 14 16 1,286 2,625 15 17 3,000 3,176 19 17 2,895 2,353 Apoiar Atendimentohumanizado Respeito 14 3,214 Ao observar a estrutura organizacional no seu conjunto, foi possível associar o termo “Cuidar da pessoa com HIV/aids” a três categorias organizadoras: Cuidado sócio-sensível (com os termos, amor, atenção, apoiar, solidariedade e respeito); Cuidado técnico-terapêutico (com os termos, cuidado, acolhimento, autoproteção profissional e atendimento-humanizado); e Cuidado educativo (com os termos, educação-saúde, capacitação-profissional e informação). Ao relacionar tais categorias aos quatro quadrantes (Figura 2), evidenciamos a distribuição das mesmas no seu conjunto. 60 BARBOSA, C. R. Um olhar sobre o cuidar de pessoas vivendo com HIV/aids: dimensões representacionais de profissionais de saúde à luz da Política Nacional de Humanização _________________________________________________________________ Figura 2 – Distribuição das categorias organizadoras no quadro de quatro casas do termo indutor “cuidar da pessoa com HIV/aids” – situação de normalidade. Belém, 2015. Núcleo Central 1º Periferia Cuidado sócio-sensível Cuidado sócio-sensível Cuidado técnico-terapêutico Cuidado educativo Cuidado educativo Zona de contraste 2º Periferia Cuidado sócio-sensível Cuidado sócio-sensível Cuidado técnico-terapêutico Cuidado técnico-terapêutico Cuidado educativo A análise e discussão se guiam pelo entrecruzamento organizacional dos termos evocados e das categorias. Considerando-se como ponto de partida o quadrante superior direito (núcleo central), e a partir dele, visto que agrega as três categorias, há o desdobramento das reflexões e a relação com os princípios norteadores da Política Nacional de Humanização da Saúde. Para Abric (1994), os elementos desse quadrante representam os elementos que para as representações sociais são cognições provavelmente centrais, por serem os mais frequentes e os considerados hierarquicamente mais importantes entre as evocações. Estes termos ou palavras expressam-se em uma frequência igual ou superior a 20 e, ao mesmo tempo, obtiveram médias de evocação inferior a 3, ou seja, sendo evocados mais prontamente. Abric (1994) sintetizou as características e funções do núcleo central da forma seguinte: o sistema central é resultante da memória coletiva e do sistema de normas ao qual determinado grupo se refere, ligado à história do grupo, é consensual, define a homogeneidade do grupo, é estável, coerente, rígido, resistente à mudança, pouco sensível ao contexto imediato, gera a significação da representação social e determina sua organização. Segundo a classificação de Abric (2005) os elementos do núcleo central podem ser normativos e funcionais; pode-se afirmar que os elementos identificados no quadro de quatro casas deste estudo, elementos do provável núcleo central, configuram-se como elementos funcionais determinando as condutas diante do objeto, ou seja, as condutas dos profissionais de saúde em relação à pessoa vivendo com HIV/aids, envolvendo assim todos os termos nesta classificação. 61 BARBOSA, C. R. Um olhar sobre o cuidar de pessoas vivendo com HIV/aids: dimensões representacionais de profissionais de saúde à luz da Política Nacional de Humanização _________________________________________________________________ Moliner (1994 apud SÁ, 2002) sistematizou quatro propriedades distintas às cognições do núcleo central, sendo duas propriedades qualitativas (valor simbólico e poder associativo) ditadas pela teoria das representações sociais e duas propriedades quantitativas (saliência e forte conexidade na estrutura) aparecendo como consequência das duas primeiras propriedades. O autor ainda classificou os métodos de pesquisa do núcleo central em dois grupos: métodos de levantamento dos possíveis elementos do núcleo central, em que se evidencia a saliência e a conexidade e emergem hipóteses da constituição do núcleo central; métodos de identificação, em que se evidenciam os elementos que compõem efetivamente o núcleo central, a partir das cognições inicialmente levantadas, avaliando valores simbólicos e/ou associativos. O presente estudo utilizou um método de levantamento do núcleo central, a associação ou evocação livre, verificando a saliência dos elementos de uma representação. Moliner embora afirme que esse método gere somente hipóteses acerca da centralidade, enfatiza-o como uma etapa imprescindível para o acesso efetivo ao núcleo central (SÁ, 2002). Vergès (1992 apud SÁ, 2002) argumenta que seu método ao combinar a frequência da evocação e a ordem média da evocação vai além de um simples levantamento, avançando em direção à uma verdadeira identificação das cognições centrais. O autor na segunda parte do seu estudo agrupa as palavras ou expressões evocadas em categorias, para exemplificar uma configuração completa da representação, o que foi feito no presente estudo. O elemento com maior destaque entre aqueles provavelmente centrais é amor, com uma frequência de evocação 34 e OME 2,618. Tem origem do latim e possui múltiplos significados na língua portuguesa; pode significar afeição viva por alguém ou por alguma coisa, sentimento de carinho e demonstração de afeto, zelo (FERREIRA, 2010). O termo amor (núcleo central) faz parte da Categoria Cuidado Sócio-Sensível. Completam essa categoria os termos: atenção, solidariedade, apoiar e respeito (Figura 3). Nesta categoria o cuidado é entendido como uma demonstração de afeto. Kohlrausch (1999) afirma que o cuidado é uma ação que se dá entre pessoas, por isso, não pode ser separado das emoções como amor e não pode ter neutralidade em relação a valores humanos, deve ser um processo bilateral entre o profissional de saúde e o ser cuidado. 62 BARBOSA, C. R. Um olhar sobre o cuidar de pessoas vivendo com HIV/aids: dimensões representacionais de profissionais de saúde à luz da Política Nacional de Humanização _________________________________________________________________ Figura 3 – Diagrama da Categoria Cuidado Sócio-sensível. Belém, 2015. Pessoa, Pagliuca e Damasceno (2006) afirmam que para Watson (1985), na teoria do cuidado humano, amor e cuidado são inseparáveis, caminhando em direção à um novo e profundo cuidado transpessoal, acarretando “um benéfico sentimento, tanto para si (self) como para os outros seres humanos, estendendo para a natureza e o universo” (PESSOA; PAGLIUCA; DAMASCENO, 2006, p. 465). Pinheiro et al. (2005) afirmam que diante do cuidar de pessoas vivendo com HIV/aids, torna-se necessário que os profissionais de saúde, resgatem no seu dia-adia a verdadeira essência do cuidado, que possibilitem uma maior amorosidade entre os seres humanos. Junto com a amorosidade, é preciso a existência da solidariedade, essencial para enxergar e compreender as necessidades dos outros, em especial, quando se trata de pessoas vivendo com uma doença estigmatizante como a aids. Para estes autores, o cuidado deve emergir do respeito e amor ao próximo, consciente que as ações são guiadas pelos conhecimentos adquiridos. A solidariedade indica apoio, relacionado à um sentindo moral de uma ação, encontrada na raiz do processo de humanização (WALDOW; FENSTERSEIFER, 2011). A presença desses sentimentos e emoções nas representações dos profissionais de saúde sobre o cuidar de pessoas vivendo com HIV/aids, nos remete 63 BARBOSA, C. R. Um olhar sobre o cuidar de pessoas vivendo com HIV/aids: dimensões representacionais de profissionais de saúde à luz da Política Nacional de Humanização _________________________________________________________________ a discussão de Arruda (apud SOUSA, 2014.), sobre a presença de uma dimensão afetiva no campo das representações sociais, sobre o afeto não ser um elemento isolado, vivido individualmente em função de seu humor e disposição mental própria e exclusiva, mas ocorrer na interação entre indivíduo/mundo e indivíduo/outro, no convívio humano. Os afetos ao mesmo tempo que geram o convívio humano, são gerados por este. Este convívio humano tem como base a comunicação, impregnada de afeto. Esta comunicação é constituída pelas representações sociais, pelo qual caminham a interação, troca, questionamentos, julgamentos e opiniões. As RS abarcam a construção do conhecimento e uma gama de afetos, os afetos estão na raiz das RS, por ser o objeto de representação gerador de efeito sob o sujeito. Campos e Rouquette (2003), quanto ao componente afetivo das RS, evidenciam que por ser a representação social um conhecimento estruturado essencial para o modo de reação de um sujeito a uma determinada realidade, está perpassada por uma carga afetiva. As emoções vivenciadas em momentos coletivos (intersubjetivos) exercem influência na formação de uma representação social, o afeto não é exclusivo da vida privada subjetiva. A TRS ressalta o socialmente partilhado, que implica na partilha social das emoções, não sendo restrito ao cognitivo. Por ser a RS definida como um paradigma de pensamento social, está mediada por uma dimensão afetiva. Para estes autores a dimensão afetiva também exerce influência sobre a função organizadora e estruturante do núcleo central. Rios (2009) afirma que “na vertente moral da humanização pode evocar valores humanitários como respeito, solidariedade, compaixão, empatia, bondade” (p. 255), valores que definem as ações humanas como boas ou más, representando um olhar sobre o mundo, sendo estes valores morais multáveis, dependendo do tempo, do lugar e das transformações da sociedade. Ao relacionarmos a palavra amor e por extensão, a Categoria Cuidado sóciosensível e os demais termos que a constituem com a PNH, constatamos a presença de um dos princípios norteadores, o primeiro, que enfatiza e valoriza a dimensão subjetiva e social na assistência (BRASIL, 2004). A subjetividade é capacidade do ser humano em ser único (CUNHA; ZAGONEL, 2008). No cuidar quando se desconsidera o cliente enquanto organismo vivo, e observa-o apenas como alvo de suas ações técnicas perde-se a subjetividade. Para Cunha e Zagonel (2008) o cuidado entende-se como uma ação 64 BARBOSA, C. R. Um olhar sobre o cuidar de pessoas vivendo com HIV/aids: dimensões representacionais de profissionais de saúde à luz da Política Nacional de Humanização _________________________________________________________________ que relaciona-se a sentimento de uma pessoa para outra, ocorrendo um processo de interação com a valorização da experiência de vida de todos os sujeitos envolvidos no cuidar e respeito à dimensão existencial do ser. O cuidar ocorre nesse encontro de subjetividades, estabelecendo um diálogo aberto entre profissional de saúde e cliente, onde sentimentos, ações e reações se complementam. As percepções dos profissionais de saúde e emoções se associam, o cuidado é humano, caloroso e atencioso. Hoga (2004) afirma que o profissional de saúde que se informa das características de vida do cliente (condição socioeconômica, necessidades e carências, crenças, cultura, entre outros) aumenta as possibilidades de interação deste profissional com o cliente, aspecto essencial de um cuidar humanizado. É importante buscar o conhecimento do que está subjetivo nos clientes; medos, anseios, dúvidas, o que pensa e sentimentos, para que o processo do cuidar seja holístico. Porém essa valorização da subjetividade não deve ter como foco apenas o cliente, entende-se que a humanização do atendimento depende da consideração de que a dimensão subjetiva do profissional também é componente vital do processo do cuidar. É necessário que estes profissionais exercitem o autoconhecimento, identificando suas vulnerabilidades, limitações, e usufruam de suas potencialidades. Esse autoconhecimento possibilitará um relacionamento interpessoal adequado (HOGA, 2004). A autora também revela que em situações de doença que o cliente se encontra mais fragilizado, torna-se necessário a adoção de um maior grau de sensibilidade por parte dos profissionais de saúde, pois esta facilitará uma melhor compreensão das necessidades subjetivas dos clientes, garantindo um cuidado mais integral destes (HOGA, 2004). Esta afirmação enfatiza a importância da categoria sócio-sensível presente neste estudo denotando um grau de sensibilidade dos profissionais de saúde com as pessoas vivendo com HIV/aids. OLIVEIRA, L. et al. (2005) ressalta a importância de uma dimensão afetiva entre a relação profissional de saúde e cliente, entendo o processo de humanização como um processo de diálogo que possibilita e estimula a integração entre o cuidar técnico e os projetos de vida dos clientes. Quando se analisa a questão da humanização no contexto das pessoas vivendo com HIV/aids percebe-se uma 65 BARBOSA, C. R. Um olhar sobre o cuidar de pessoas vivendo com HIV/aids: dimensões representacionais de profissionais de saúde à luz da Política Nacional de Humanização _________________________________________________________________ sobreposição do cuidar técnico sobre os aspectos interacionais e humanos da atenção. Para Espinosa (1991, apud Oliveira, L. et al., 2005 o afeto não é algo alheio a razão, pois é algo inerente a condição de ser humano, e através dos afetos há possiblidade de uma organização existencial de maneira racional e justa. É importante enfatizar que a humanização, um conceito ampliado, vai além de uma boa relação profissional-usuário, requer também atenção para reorganização dos processos de trabalho, gestão participativa, mobilização social, investimentos na qualificação profissional e na estrutura dos serviços, entre outros (CHERNICHARO; FREITAS; FERREIRA, 2013). O segundo elemento a se destacar no possível núcleo central foi cuidado, palavra com duplicidade de sentidos, referente tanto ao cuidado como ação de assistência a pessoas vivendo com HIV/aids, como o cuidado no sentido de proteção profissional diante da exposição à infecção pelo HIV no trabalho. Sua frequência foi de 28 e OME 2,714. A palavra cuidado (núcleo central) faz parte da Categoria Cuidado técnicoterapêutico. Completam essa categoria os termos: acolhimento, autoproteção profissional e atendimento humanizado (Figura 4). O cuidado nesta categoria é visto como ação-técnica às pessoas vivendo com HIV/aids. Figura 4 – Diagrama da Categoria Cuidado Técnico-terapêutico. Belém, 2015. 66 BARBOSA, C. R. Um olhar sobre o cuidar de pessoas vivendo com HIV/aids: dimensões representacionais de profissionais de saúde à luz da Política Nacional de Humanização _________________________________________________________________ A aids trouxe à tona a necessidade de um cuidar holístico, além da importância de lidar com aspectos afetivos e sociais. Ribeiro et al. (2005) evidenciaram que “a objetivação do atendimento aliada ao medo e o cuidado pelos profissionais da área da saúde, pode estar associada ao processo de contágio pelo acidente de trabalho, comum a esse tipo de serviço” (p. 131). Destaca-se, nesse sentido, o termo autoproteção profissional evocado pelos profissionais de saúde deste estudo. Formozo e Oliveira (2010) enfatizam a autoproteção profissional como importante elemento do cuidado. Cesar et al. (2009) em relação ao acolhimento de pessoas vivendo com HIV/aids, afirmam que se deve visar a descentralização do atendimento, estendendo-o para toda a equipe. Segundo estes autores o “acolhimento na saúde consiste em uma reorganização dos serviços de saúde que visa ao acesso universal, à resolubilidade e ao atendimento humanizado” (p.1). No estudo de Souza e Freitas (2009) no que se refere às representações ligadas ao trabalho em HIV/aids, os profissionais revelam a permanência do modelo médico-centrado, superficial e pontual, distante da população acompanhada em suas áreas de abrangência. O acolhimento deverá ter como base a escuta, com foco na individualidade e intersubjetividade, permitindo o favorecimento da adesão ao tratamento da pessoa vivendo com HIV/aids. O profissional de saúde que acolhe precisa ser uma fonte de informações e incentivo sobre a continuidade da vida do cliente, o ato de acolher precisa construir uma estrutura afeto – cognitiva entro profissional e usuário. Em relação aos aspectos interacionais e “humanos” da atenção, identificamse ainda muitos desafios para a construção de um novo modelo de assistência nos serviços de DST/aids. Oliveira, L. et al. (2005) afirmam que os profissionais de saúde, embora levantem inúmeras dimensões da atenção, privilegiaram ainda aspectos relativos ao controle clínico da infecção. A Categoria Cuidado técnico-terapêutico indica o sentido da intervenção, que passa a ser para além do estado de saúde e aplicação mecânica das tecnologias disponíveis, chegando a ser uma avaliação da relação entre finalidades e meios, desvelando um sentido prático, através de um diálogo mais horizontal entre profissionais e usuários dos serviços (AYRES, 2004). 67 BARBOSA, C. R. Um olhar sobre o cuidar de pessoas vivendo com HIV/aids: dimensões representacionais de profissionais de saúde à luz da Política Nacional de Humanização _________________________________________________________________ As representações sociais são guias para a ação. Sobre isso Abric (1994) afirma que as RS funcionam como uma forma de interpretar a realidade, que dita as relações do indivíduo com seu contexto social e físico, determinando seus comportamentos e práticas, orientando as ações e as relações sociais. Ao relacionarmos o conjunto de termos da Categoria Cuidado técnicoterapêutico com a PNH, revelam-se três princípios norteadores; primeiro princípio, valorizando a dimensão subjetiva e social na assistência; o segundo, que estimula o comprometimento com a produção de saúde e a produção de sujeitos; o terceiro princípio, que busca fortalecer o trabalho em equipe multiprofissional (BRASIL, 2004). Para Rios (2009) a essência da humanização está na integração da competência técnica e tecnológica com a capacidade de se relacionar e a ética. A subjetividade é fundamental na humanização para visualização dos problemas e buscar soluções compartilhadas. A participação, autonomia, responsabilidade e atitude solidária por parte dos sujeitos envolvidos no cuidar, evidencia um modo de saúde que visa a qualidade no cuidar e na saúde e melhores condições de trabalho. Hoga (2004) diz que a execução do cuidar realizada por vários profissionais de saúde, favorece a qualidade desta assistência pois uma única categoria profissional não é capaz de cuidar da totalidade do cliente durante o processo saúde-doença. A humanização do acolhimento dependerá da atuação adequada e da receptividade em lidar direta ou indiretamente com os clientes. Para isso, um trabalho em equipe proporcionará uma maior exposição de problemas e questionamentos pelos profissionais de saúde e consequentemente poderá promover um cuidado mais qualificado. “Humanizar a assistência é humanizar a produção dessa assistência” (DESLANDES, 2004, p.13). Filgueiras (2006) põe sob a ótica da PNH gestores, profissionais de saúde e clientes, para a autora estes são os principais responsáveis pela mudança nos modelos de atenção em saúde e gestão do processo de trabalho, priorizando as necessidades dos cidadãos. O cliente não deve ser excluído no seu processo terapêutico. Todos devem estar inseridos na ação do cuidar em saúde. O profissional de saúde também precisa ser acolhido e valorizado. Torna-se essencial a criação de espaços nos serviços de saúde para tratar as experiências e vivências do cotidiano destes profissionais que atendem diariamente pessoas vivendo com 68 BARBOSA, C. R. Um olhar sobre o cuidar de pessoas vivendo com HIV/aids: dimensões representacionais de profissionais de saúde à luz da Política Nacional de Humanização _________________________________________________________________ HIV/aids, pela interferência que o imaginário social da aids acarreta no cuidar e no processo saúde/doença. Profissional de saúde e cliente que compartilham e pensam alternativas juntos, dão um passo a mais para que a ação de saúde seja efetiva. Corroborando com a definição acima de humanização Lacaz e Sato (2006) definem humanização como uma busca contínua de um bem estar físico, psicológico e mental, diante das necessidades de todos os sujeitos envolvidos no cuidar e processo saúde/doença (família, cliente, profissional de sáude) de acordo com a relação estabelecida entre estes sujeitos. O terceiro elemento que compôs o provável núcleo central da representação social do cuidar da pessoa vivendo com HIV/aids para os profissionais de saúde foi educação em saúde; está associado à atividades educativas profissionais em torno da questão do HIV/aids, relacionadas tanto aos usuários quanto aos próprios trabalhadores de saúde. Apresenta frequência de 25 e OME 2,800. A palavra educação em saúde (núcleo central) faz parte da Categoria Cuidado educativo. Completam essa categoria os termos: capacitação profissional e informação (Figura 5). Figura 5 – Diagrama da Categoria Cuidado Educativo. Belém, 2015. Guedes e Souza (2009) ressaltam a educação em saúde como aporte estratégico nas práticas de saúde voltadas ao HIV/aids, tornando-se uma ferramenta 69 BARBOSA, C. R. Um olhar sobre o cuidar de pessoas vivendo com HIV/aids: dimensões representacionais de profissionais de saúde à luz da Política Nacional de Humanização _________________________________________________________________ fundamental frente ao aumento do número de casos de HIV/aids e as mudanças no perfil epidemiológico. Na construção de uma nova visão de educação em saúde, o direito à informação é essencial, para o fortalecimento da autonomia e um viver em saúde visto como um direito de cidadania. O desenvolvimento de ações educativas não só para as pessoas vivendo com HIV/aids, mas também para a população em geral, é uma forma de prevenção e promoção à saúde, não apenas voltada à transmissão vertical de informações, mas com possibilidades de transformar o indivíduo em um sujeito crítico quanto aos problemas de saúde. Para Guedes e Souza (2009), a “informação e a comunicação franca e aberta são um dos principais instrumentos para a construção coletiva da cidadania” (p. 391). Em convergência com a afirmação anterior, Brito et al., (2014) evidenciam a comunicação (verbal e não verbal) como primeiro fator apontado pelos profissionais de saúde para pôr em prática a humanização. Ao executá-la de forma adequada torna-se possível um cuidado mais adequado e humanizado. Nesse contexto de educação em saúde evidencia-se o papel da equipe de saúde, sendo ponto estratégico para conjugar informações que emergem da interação entre os diferentes profissionais. A educação em saúde pode contribuir tanto para o aprendizado pessoal como profissional. A falta de informação constitui-se um grave problema para pessoas que vivem com HIV/aids, pois leva à construção de um conhecimento fragmentado e isso ocorre muitas vezes pela falta de comunicação efetiva entre profissional e cliente (RIBEIRO; COUTINHO, SALDANHA, 2004). Segundo Saldanha (2003), a formação em saúde deve ser reorientada para a capacitação do profissional a fim que este venha a aproveitar o aprendizado informal e experiência na relação com o usuário. A experiência adquirida pode ajudar os profissionais a ultrapassar o sofrimento causado pelo trabalho com a aids. A falta de informação por parte do profissional constitui-se também uma barreira no processo do cuidar, daí consolida-se a relevância da qualificação e capacitação profissional vivendo permanente dos profissionais que cuidam de pessoas com HIV/aids; as ações educativas devem ser com vistas ao “empoderamento” do profissional como forma de melhor prestar assistência ao usuário, pautadas nos princípios de humanização. 70 BARBOSA, C. R. Um olhar sobre o cuidar de pessoas vivendo com HIV/aids: dimensões representacionais de profissionais de saúde à luz da Política Nacional de Humanização _________________________________________________________________ Costa e Lopez (1996, apud ALVES 2005, p. 43) afirmam que a educação em saúde constitui um conjunto de saberes e práticas orientados para a prevenção de doenças e promoção da saúde. Ayres (2002) afirma que desde o começo da epidemia da aids, a prevenção exerce papel crucial para seu controle. Mesmo com todos os avanços no grau de conhecimento científico sobre o HIV/aids, avanços no tratamento e diagnóstico, a importância da prevenção não é menor nos dias atuais, pois pouco se alterou em relação aos determinantes de vulnerabilidade. Contudo, algumas lições foram aprendidas quanto às práticas educativas sobre HIV/aids. A primeira lição aprendida foi que terrorismo não funciona, as primeiras campanhas e propagandas criadas para estimular a prevenção ao HIV/aids eram cercadas pelo terror e com a finalidade de impactar e assustar, porém afastavam ainda mais as pessoas do problema, aumentando a discriminação e o preconceito. A segunda lição foi que o risco é um conceito útil, porém limitado. A utilização do conhecimento epidemiológico para definir grupos de risco ou comportamentos de risco mesmo que tenham gerado alguns impactos práticos imediatos, também geraram rotulações, generalizações, isolamento, descontextualização e dessubjetivação. O autor julga mais apropriado usar o conceito mais abrangente de vulnerabilidade, substituindo grupos de risco e comportamentos de risco (AYRES, 2002). A terceira lição é que prevenção não se ensina; pauta-se na concepção que ninguém ensina nada, todos aprendem com todos. São necessárias atividades de reflexão, estabelecendo uma relação entre educadores e educandos para que ambos possam imergir na questão da prevenção, aprendendo coletivamente e pensando no que se pode fazer juntos. A quarta lição é que não somos sem um outro, o aprendizado deve ser um encontro de sujeitos, perpassado em todo seu processo pelo diálogo; Assim como nós dependemos do outro para existir, acontece na relação ensino-aprendizado (AYRES, 2002). Teixeira e Oliveira (2014) em seu estudo de representações sociais dos profissionais de saúde sobre educação em saúde em tempos de aids revelam que estes entendem a educação em saúde como uma tarefa de orientar e informar, associada à uma forma de cuidar, guiada por conteúdos clínico-terapêuticos e de responsabilidade de toda equipe. Este ato de orientar e informar está atrelado a precaução-prevenção (auto e hetero proteção) que envolve as pessoas vivendo com 71 BARBOSA, C. R. Um olhar sobre o cuidar de pessoas vivendo com HIV/aids: dimensões representacionais de profissionais de saúde à luz da Política Nacional de Humanização _________________________________________________________________ HV/aids e as pessoas de convivem com estes clientes. Os profissionais de saúde também consideram importante a educação no trabalho, pois mesmo o profissional com mais experiência ainda tem dúvidas. Relacionando os resultados dessa categoria com a PNH, revelam-se quatro princípios norteadores: o primeiro princípio em sua totalidade, a valorização da dimensão subjetiva e social em todas as práticas de atenção e gestão; o segundo princípio que estimula o comprometimento com a produção de saúde e a produção de sujeitos; o terceiro princípio que busca fortalecer o trabalho em equipe multiprofissional, com estímulo à transdisciplinaridade e grupalidade; e o quinto princípio com a utilização da informação, da comunicação, da educação permanente e dos espaços da gestão na construção de autonomia e protagonismo de sujeitos e coletivos (BRASIL, 2004). Mongiovi et al., (2014) afirma que o termo humanização é para além de um conjunto de princípios idealistas que servirão como norteadores das práticas em saúde no Brasil. A humanização pressupõe um conjunto complexo de posturas e ações que abarcam modificações no setor saúde, que ainda persistem em dias atuais, com um modelo de atenção centrado na doença, com frágeis relações entre profissionais de saúde e clientes e precarização do acesso aos serviços. Torna-se crucial uma delimitação criteriosa do conceito de Humanização, para que seus princípios norteadores sejam verdadeiramente aplicados. Avaliando quais as formas possíveis de se executar essa humanização, que estejam de acordo com a realidade dos serviços de saúde. A multiplicidade de conceitos de Humanização reforça a necessidade de discutir e refletir sobre sua delimitação, para que a proposta seja efetivamente implantada no cotidiano da prática assistencial (MONGIOVI et al., 2014). 5.2 ABORDAGEM COMPARATIVA Para a abordagem comparativa, procedemos a duas análises: a) entre os termos dos núcleos centrais; b) entre os termos segundo categorias organizadoras. Segundo Abric (1994), se dois núcleos centrais são diferentes, há diferenças entre as representações sociais dos sujeitos em relação ao objeto. 72 BARBOSA, C. R. Um olhar sobre o cuidar de pessoas vivendo com HIV/aids: dimensões representacionais de profissionais de saúde à luz da Política Nacional de Humanização _________________________________________________________________ 5.2.1 Variável categoria profissional Figura 6 – Termos do Núcleo Central de todos os profissionais e subgrupos segundo categoria profissional. Belém, 2015. Categoria Profissional Termos do Núcleo Central Todos os profissionais Amor Cuidado Educação-saúde Equipe de enfermagem Demais profissionais Amor Cuidado Autoproteção-profissional Capacitação-profissional Amor Cuidado Educação-saúde Solidariedade No que se refere aos termos do núcleo central a diferença que se destaca é que no núcleo central do subgrupo equipe de enfermagem não há o termo educação-saúde e emerge autoproteção profissional e capacitação profissional; no subgrupo demais profissionais o núcleo central é ampliado com o termo solidariedade. Quanto a autoproteção profissional cabe salientar que os profissionais da equipe de enfermagem são os profissionais de saúde que mais se acidentam, principalmente auxiliares e técnicos de enfermagem por estarem constantemente assistindo o paciente, manipulando agulhas, cateteres venosos, e administrando medicamentos (LUBENOW, 2011). Com a descoberta da aids passou-se enfatizar a a exposição dos profissionais de saúde ao sangue (AMARAL, et al., 2005). Levando em consideração esta maior exposição, a maior ênfase pela equipe de enfermagem pode estar relacionada ao medo de contágio, apontando para um aspecto negativo das representações; Formozo e Oliveira (2010) afirmam que esse tipo de ênfase pode indicar um cuidado mais técnico e impessoal, com distanciamento entre a equipe de enfermagem e cliente, considerado um “descuidar”. O excesso de cautela pode significar uma barreira na relação entre o sujeito que cuida e o sujeito cuidado (FORMOZO; OLIVEIRA, 2010). Sobre capacitação-profissional destaca-se que um profissional capacitado, sentindo-se seguro durante sua prática assistencial por meio da obtenção de conhecimentos, tanto utilizará adequadamente os equipamentos de proteção individual como facilitará o cuidado pela proximidade entre profissional de saúde e cliente, sem que essa proximidade represente algum risco de contaminação para as duas partes. E ainda, se a Equipe de Enfermagem estiver devidamente capacitada, 73 BARBOSA, C. R. Um olhar sobre o cuidar de pessoas vivendo com HIV/aids: dimensões representacionais de profissionais de saúde à luz da Política Nacional de Humanização _________________________________________________________________ também poderá realizar uma abordagem mais humanizada no cuidado às pessoas vivendo com HIV/aids (GOMES et al., 2011). Quanto a solidariedade ressaltamos que para Gomes et al., (2011) é essencial que exista solidariedade para que se possa enxergar as necessidades das pessoas vivendo com HIV/aids, principalmente por ser uma doença marcada pela estigmatização e preconceito em seu processo histórico. Sendo assim, essa solidariedade tende a qualificar positivamente o cuidar dos demais profissionais. O termo educação em saúde não emergiu como central para a equipe de enfermagem, mas somente para os demais profissionais, o que pode estar indicando que para estes mais do que para a equipe de enfermagem as práticas educativas com as pessoas que vivem com HIV\aids são uma das dimensões do cuidado. A educação em saúde desenvolvida em qualquer nível da atenção pelos profissionais de saúde tem grande contribuição para potencializar a compreensão dos usuários sobre o estado saúde/doença que envolve o complexo “mundo” HIV/aids, influenciando um olhar crítico em relação ao contexto social e à qualidade de vida (GUEDES; SOUZA, 2009). A comparação entre os termos dos núcleos centrais na variável categoria profissional colocou em destaque que na RS da equipe de enfermagem revela-se central uma perspectiva multidimensional, pois tanto indica o cuidado com o sujeito que cuida (a equipe) como com o sujeito cuidado (a pessoa que vive com HIV\aids); na RS dos demais profissionais emerge central o sujeito cuidado. A Figura 7 apresenta os termos de todos os profissionais e dos subgrupos segundo categorias organizadoras. Figura 7 – Termos de todos os profissionais e subgrupos segundo categoria profissional de acordo com as categorias organizadoras. Belém, 2015. Categoria Profissional Todos os profissionais Equipe de Enfermagem Demais profissionais Categoria Cuidado sóciosensível Amor Apoiar Atenção Respeito Solidariedade Acolhimento Atendimentohumanizado Autoproteção- Amor Atenção Futuro Respeito Amor Apoiar Atenção Solidariedade Adesão-tratamento Atendimento-humanizado Autoproteção-profissional Cuidado Acolhimento Atendimento-humanizado Cuidado Tratamento Categoria Cuidado técnicoterapêutico 74 BARBOSA, C. R. Um olhar sobre o cuidar de pessoas vivendo com HIV/aids: dimensões representacionais de profissionais de saúde à luz da Política Nacional de Humanização _________________________________________________________________ Categoria Cuidado educativo profissional Cuidado Capacitaçãoprofissional Educação-saúde Informação Prevenção Capacitação-profissional Educação-saúde Informação Capacitação-profissional Educação-saúde Informação Em relação à equipe de enfermagem emergem os termos futuro, adesãotratamento e prevenção. A equipe de enfermagem ao destacar o futuro pode estar relacionando-o às pessoas vivendo com HIV/aids em função dos avanços da terapia antirretroviral, que aumentou a expectativa de vida destas pessoas, trazendo a noção de cronicidade da doença. O cuidado de enfermagem que no início da epidemia era voltado para minimizar o sofrimento, e sempre cercado pelo risco da morte (GOMES et al., 2011), hoje com a disponibilidade dos antirretrovirais não só a equipe de enfermagem mas todos os profissionais devem buscar a melhora da qualidade de vida dos clientes, com o equilíbrio físico, psicológico, social, espiritual (CALVETTI, MULLER, NUNES, 2008). A adesão ao tratamento envolve além do uso correto dos medicamentos, a realização de consultas e exames. A adesão é dinâmica e relaciona vários fatores, abrangendo os aspectos físicos, culturais, psicossociais, e de comportamento, necessitando que a pessoa que vive com HIV, profissionais de saúde e a rede social assumam responsabilidades e compartilhem decisões (BRASIL, 2013c). O termo prevenção pode estar indicando a importância das práticas de prevenção estimuladas pelos programas do Ministério da Saúde (MARQUES; OLIVEIRA; GOMES, 2004). Quanto ao tratamento, destacado pelos demais profissionais, embora seja o responsável pela esperança de uma melhor qualidade de vida no contexto de uma doença crônica, se constitui um grande desafio, pois junto com os benefícios, trazem também efeitos colaterais e alterações no estilo de vida para as pessoas vivendo com HIV/aids (TEIXEIRA; SILVA, 2008). 75 BARBOSA, C. R. Um olhar sobre o cuidar de pessoas vivendo com HIV/aids: dimensões representacionais de profissionais de saúde à luz da Política Nacional de Humanização _________________________________________________________________ 5.2.2 Variável idade Figura 8 – Termos do Núcleo Central de todos os profissionais e subgrupos segundo idade. Belém, 2015. Idade dos profissionais Todos os profissionais Até 35 anos 36 a 45 anos 46 anos ou mais Termos Núcleo Central Amor Cuidado Educaçãosaúde Cuidado Educação-saúde Amor Cuidado Educação-saúde Informação Solidariedade Amor Autoproteçãoprofissional Capacitaçãoprofissional Cuidado Solidariedade Tratamento do No que se refere aos termos do núcleo central a diferença que se destaca é a ausência de termos ligados a categoria sócio-sensível (dimensão afetiva) no núcleo central do subgrupo até 35 anos; no subgrupo 36 a 45 anos emerge informação e solidariedade; no subgrupo 46 anos ou mais emerge autoproteção profissional, capacitação profissional, solidariedade e tratamento. A ausência de algum termo ligado à afetividade característica da categoria sócio-sensível no subgrupo até 35 anos pode ser explicada pelo fato de 88% dos profissionais com até 35 anos de idade ter menos de 5 anos atuando no programa DST/aids, ou seja, pouco tempo de assistência constante há pessoas vivendo com HIV/aids. Esses profissionais podem ainda não ter criado com seus clientes uma relação afeto-subjetiva suficiente para ser evocada no núcleo central das representações destes. Sobre o termo informação, Ayres (2002, p. 12) afirma que os avanços da TARV associados a informação extensiva, democrática, e sustentada para todos os cidadãos, a serviços de saúde qualificados, equipados, com acesso garantido para todos, ajuda a desassociar infecção e morte. Quanto ao termo solidariedade presente nos subgrupos 36 a 45 anos e 46 anos ou mais, corroborando com esse resultado, Ribeiro et al., (2005), evidenciaram quem entre os profissionais que atuam no contexto da aids na faixa etária 34 a 44 anos “ancoram a aids em elementos valorativos associados à solidariedade ligados a valorização da vida” (p.130). E Ribeiro, Coutinho, Saldanha (2004) afirmam que 76 BARBOSA, C. R. Um olhar sobre o cuidar de pessoas vivendo com HIV/aids: dimensões representacionais de profissionais de saúde à luz da Política Nacional de Humanização _________________________________________________________________ para os profissionais acima de 44 anos o tratamento para o HIV/aids está configurado em elementos de apoio como a solidariedade. A autoproteção profissional evocado no núcleo central do subgrupo 46 anos ou mais possivelmente evidencia o medo de contágio. Sabemos que acidentes ocupacionais com materiais biológicos são um fator preocupante, não só pelos prejuízos que acarretam aos serviços de saúde, mas também aos próprios profissionais (SAILER; MARZIALE, 2007). Vieira e Padilha (2008) constataram que dentre os fatores que contribuem para o risco desse tipo de acidente está a falta de capacitação profissional. Portanto a capacitação profissional estabelece relação com a autoproteção profissional. Os avanços científicos acerca do HIV/aids são contínuos e constantes, mesmo os profissionais mais experientes precisam estar em constante atualização. O termo tratamento evocado pelo subgrupo 46 anos ou mais, implica tanto na maior perspectiva de vida das pessoas com HIV/aids como nas responsabilidades do profissional de saúde. Segundo o Ministério da Saúde, para a longa efetividade do tratamento a supressão viral é essencial, para garanti-la é importante que mais de 95% das doses prescritas sejam tomadas. A TARV não deve ser iniciada, sem que antes o cliente entenda a importância do tratamento e aceitação deste. Sendo responsabilidade dos serviços de saúde e profissionais o esclarecimento a respeito e a busca pela conscientização (BRASIL, 2008). A comparação entre os termos dos núcleos centrais na variável idade colocou em destaque que somente para o subgrupo de profissionais com mais idade (46 anos ou mais) o cuidar sob a perspectiva da TARV (termo tratamento) já revela-se central nas RS, mostrando uma transição em uma linha tênue das RS entre o medo de contágio (marca do passado) e a cronicidade da doença (marca do presente). A Figura 9 apresenta os termos de todos os profissionais e dos subgrupos segundo categorias organizadoras. Figura 9 – Termos de todos os profissionais e subgrupos segundo idade de acordo com as categorias organizadoras. Belém, 2015. Categorias Todos os profissionais Até 35 anos 36 a 45 anos 46 anos ou mais 77 BARBOSA, C. R. Um olhar sobre o cuidar de pessoas vivendo com HIV/aids: dimensões representacionais de profissionais de saúde à luz da Política Nacional de Humanização _________________________________________________________________ Categoria Cuidado sóciosensível Amor Apoiar Atenção Respeito Solidariedade Amor Atenção Paciência Categoria Cuidado técnicoterapêutico Acolhimento Atendimentohumanizado Autoproteçãoprofissional Cuidado Acolhimento Atendimentohumanizado Autoproteçãoprofissional Cuidado Categoria Cuidado educativo Capacitaçãoprofissional Educaçãosaúde Informação Capacitaçãoprofissional Educaçãosaúde Amor Apoiar Atenção Compreensão Paciência Respeito Solidariedade Acolhimento Cuidado Prevenção Capacitaçãoprofissional Educação-saúde Informação Amor Apoiar Solidariedade Adesãotratamento Atendimentohumanizado Autoproteçãoprofissional Cuidado Prevenção Tratamento Capacitaçãoprofissional Educação-saúde Informação Em relação ao subgrupo até 35 anos emerge o termo paciência. Paciência pode ser uma demonstração de afetividade (SOUSA; SILVA, 2013), dando conotação positiva ao termo ou o controle que esse profissional de saúde deve ter perante uma situação de estresse ou desgaste psicológico no cuidar de pessoas vivendo com HIV/aids, evidenciando uma vulnerabilidade deste profissional relacionada a complexidade do cuidar, sobrecarga de trabalho, nível de responsabilidade, cansaço físico e psíquico, entre outros motivos (SANTOS, et al., 2014). Como por exemplo a situação constatada por Formozo e Oliveira (2010) no qual os profissionais de saúde de seu estudo haviam sofrido algum tipo de violência física ou verbal, relacionada geralmente a revolta sentida pelo cliente ao diagnóstico da soropositividade ao HIV. Em relação ao subgrupo 36 a 45 anos, emergem compreensão, paciência e prevenção. Sobre compreensão, Moreira, Mesquita e Melo (2010), afirmam que cuidar é compreender o outro na sua diferença, no seu modo de ser, sua relação com ambiente e sociedade, e na forma que o sujeito enxerga essa vivência, investigando as possibilidades de abertura para adentrar no seu estado de saúde, indo além do peso da doença e seus sintomas. Devendo ser algo inerente ao profissional de saúde, no momento em que o cliente busca ajuda. Sousa e Silva (2013) evidenciaram que na perspectiva de profissionais de saúde, cuidar é ajudar, 78 BARBOSA, C. R. Um olhar sobre o cuidar de pessoas vivendo com HIV/aids: dimensões representacionais de profissionais de saúde à luz da Política Nacional de Humanização _________________________________________________________________ compreender, ouvir, aceitando o outro de forma incondicional. Essa compreensão irá facilitar a relação de confiança entre o cuidador e o ser cuidado. Quanto a prevenção, Paiva (2002) discute a necessidade de se pensar as ações de estímulo a prevenção não só para cidadãos “HIV negativos”, mas incluir todos, homens e mulheres, negativos e positivos, segundo o contexto sociocultural de cada um. Trabalhando a concepção “indivíduo sujeito-cidadão”, coparticipante de espaços psicoeducativos que vislumbra a emancipação psicossocial, buscando aumentar a qualidade das ações de prevenção e cuidado integral em HIV e aids. Em relação ao subgrupo 46 anos ou mais, emergem adesão ao tratamento, prevenção e tratamento. Estes profissionais com mais idade, que viveram o começo da epidemia, quando a aids era vista fortemente como uma sentença de morte e a associação à ela era forte, incluíram em suas evocações os termos adesão ao tratamento e tratamento. Mostrando uma transição nas representações sociais destes profissionais, Teixeira e Oliveira (2014), afirmam que as transições ocorrem em discursos de imobilização (“de não há o que fazer”) para mobilização (“já há o que fazer”). A TARV trouxe essa mobilização, acrescentou a visão de cronicidade às pessoas vivendo com HIV/aids, “possibilitando a mudança de valores, crenças, hábitos e conhecimentos, individuais e coletivos” (SCHAURICH; COELHO; MOTTA, 2006, p.460), inclusive dos profissionais de saúde. Essa visão de cronicidade implica na responsabilidade dos profissionais de saúde em garantir a adesão ao tratamento pelos clientes, e no papel de elo entre cliente, doença e tratamento (RIBEIRO et al., 2006). 5.2.3 Variável tempo de formação Figura 10 – Termos do Núcleo Central de todos os profissionais e subgrupos segundo tempo de formação. Belém, 2015. Tempo de formação Termos do Núcleo Central . Todos os profissionais Amor Cuidado Educação-saúde Até 5 anos formados Amor Atenção Cuidado Paciência Solidariedade de 6 a 15 anos de formados Amor Cuidado Educação-saúde 16 anos ou mais de formados Educação-saúde 79 BARBOSA, C. R. Um olhar sobre o cuidar de pessoas vivendo com HIV/aids: dimensões representacionais de profissionais de saúde à luz da Política Nacional de Humanização _________________________________________________________________ No que se refere aos termos do núcleo central a diferença que se destaca é a predominância de termos pertencentes a categoria Cuidado sócio-sensível no subgrupo até 5 anos de formados, emergindo os termos atenção, paciência e solidariedade. No subgrupo de 6 a 15 anos não há diferenças e no subgrupo 16 anos ou mais de formado o único termo central foi educação-saúde. A valorização mais recente dos estágios supervisionados e obrigatórios na formação dos profissionais de saúde pode influenciar nesta maior valorização de termos afeto-subjetivos no núcleo central destes profissionais mais recentemente formados. Bifulco e Iochida (2009), afirmam que quanto mais cedo os estudantes da área da saúde entrarem em contato com práticas humanísticas, maior a possibilidade de despertarem para esta área mais adiante, quando se tornarem profissionais. A teoria acrescenta conhecimento, a união entre teoria e prática transforma. Espera-se que estes profissionais sejam mais sensíveis às necessidades de quem cuidam. A comparação entre os termos dos núcleos centrais na variável tempo de formação apontou que na RS dos profissionais há um continuum crescente do cuidado sócio-sensível (mais central nos com menos tempo), passando para o cuidado técnico-terapêutico e chegando no cuidado educativo (mais central nos com mais tempo) na medida em que o tempo de formação aumenta. A figura 11 apresenta os termos de todos os profissionais e dos subgrupos segundo categorias organizadoras. Figura 11 - Termos de todos os profissionais e subgrupos segundo tempo de formação de acordo com as categorias organizadoras. Belém, 2015. Categorias Categoria Cuidado sóciosensível Todos os profissionais Amor Apoiar Atenção Respeito Solidariedade Até 5 anos de formados Alimentação Amor Amor-trabalho Atenção Compreensão Dedicação Empatia Futuro Paciência Respeito Solidariedade 6 a 15 anos de formados Amor Apoiar Atenção Dedicação Qualidade-de-vida Respeito Solidariedade 16 anos ou mais de formados Amor Apoiar Apoio-familiar Compreensão Futuro Solidariedade 80 BARBOSA, C. R. Um olhar sobre o cuidar de pessoas vivendo com HIV/aids: dimensões representacionais de profissionais de saúde à luz da Política Nacional de Humanização _________________________________________________________________ Categoria Cuidado técnicoterapêutico Acolhimento Atendimentohumanizado Autoproteçãoprofissional Cuidado Categoria Cuidado educativo Capacitaçãoprofissional Educaçãosaúde Informação ____ Cuidado técnicoestigmatizante Acolhimento Adesãotratamento Atendimentohumanizado Autoproteçãoprofissional Competência Cuidado Prevenção Tratamentomedicamentoso Aconselhamento Capacitaçãoprofissional Educação-saúde Informação ____ Acolhimento Adesãotratamento Atendimentohumanizado Autoproteçãoprofissional Cuidado Prevenção Responsabilidade Tratamento Aconselhamento Capacitaçãoprofissional Educação-saúde Informação Medo-morte Acesso Acolhimento Adesãotratamento Atendimentohumanizado Autoproteçãoprofissional Cuidado Custo-financeiro Prevenção Tratamento Conscientizar Educação-saúde Informação Contágioprofissional Medo-morte A análise dos termos nesta última variável enfatizará os termos que não foram discutidos anteriormente. Em relação ao subgrupo até 5 anos de formados emergem os termos alimentação, amor ao trabalho, compreensão, dedicação, empatia, futuro, paciência, adesão ao tratamento, competência, prevenção, tratamento medicamentoso e aconselhamento. Quanto ao termo alimentação, sabe-se que para as pessoas vivendo com HIV/aids uma alimentação saudável, variada e equilibrada é crucial, pois aumenta a resistência à aids, fortalecendo o sistema de defesa (BRASIL, 2015a). Hábitos alimentares adequados são também necessários para garantir uma boa adesão ao tratamento medicamentoso (RIBEIRO et al., 2005). Em relação ao termo amor ao trabalho, este é extremamente importante, pois diferente desse tipo de evocação, Santos et al. (2014) evidenciou que um dos fatores que os profissionais consideram para sua vulnerabilidade, é o fator do trabalho com pessoas vivendo com HIV/aids não ter sido uma opção, como por exemplo, nos casos de lotação aleatória em concurso público, quando a especialidade não é determinada primeiramente, necessidade dos serviços de saúde e outros motivos. Este amor ao trabalho vem para facilitar a interação entre profissional e cliente. Na visão da própria pessoa vivendo com HIV/aids quando o profissional realiza seu trabalho com amor, esta pessoa é melhor atendida, a falta de 81 BARBOSA, C. R. Um olhar sobre o cuidar de pessoas vivendo com HIV/aids: dimensões representacionais de profissionais de saúde à luz da Política Nacional de Humanização _________________________________________________________________ uma relação com afetividade é marcada no discurso destas (COSTA et al., 2006). Implica também em um outro termo evocado, a dedicação, pois trata-se de um trabalho complexo e cercado de responsabilidades, onde o profissional tem que se dedicar ao que faz, pois trata-se de clientes com um grau de vulnerabilidade maior. A empatia é necessária para estabelecer uma comunicação efetiva com o cliente, sendo essencial para o cuidado (SADALA; MARQUES, 2006). Para Formozo e Oliveira (2010) quando o profissional de saúde está envolto pela empatia, este compreende melhor os sentimentos do cliente, colocando-se no lugar deste, e mantendo uma interação maior. Quanto ao termo competência, Sousa e Silva (2013), afirmam que uma das dimensões do cuidar é a dimensão cognitiva, esta relaciona-se as competências cientificas do profissional de saúde para realizar a prática assistencial. Este deve ter competências tanto pessoais como profissionais, para atender as necessidades do ser cuidado, informar, apoiar, orientar, no diagnóstico, na escolha do tratamento, na intervenção, promoção e prevenção da saúde. Esta dimensão cognitiva é o “saber saber”. Quanto ao tratamento medicamentoso, hoje o estímulo ao início TARV deve ser imediato para todas as pessoas vivendo com HIV/aids, independentemente da contagem de LT CD4+ (método pelo qual se investiga o estado imunológico). O Protocolo clínico e diretrizes terapêuticas para manejo da infecção pelo HIV em adultos enfatiza que a TARV precoce tem a capacidade de diminuir a morbidade e mortalidade, diminuir ou mesmo de tornar indetectável a carga viral do HIV, ou seja, uma potente intervenção para a prevenção da transmissão do HIV e impacto na redução da tuberculose (principal causa de óbitos em pessoas vivendo com HIV/aids no Brasil) (BRASIL, 2013c). Sobre o termo aconselhamento, o Ministério da Saúde diante do despreparo dos profissionais de saúde para lidar com as questões suscitadas pela infecção criou o Aconselhamento em DST, HIV e Aids como uma estratégia de prevenção e quebra da cadeia de transmissão das DST e HIV/aids, a partir do momento que se reflete sobre o risco de infecção e sobre a prevenção (BRASIL, 1998b). O aconselhamento pode ser crucial para se alcançar o que está subjetivo e facilitar a superação de conflitos, retomando a integralidade da pessoa, e incentivando-a pela busca da melhora da qualidade de vida. 82 BARBOSA, C. R. Um olhar sobre o cuidar de pessoas vivendo com HIV/aids: dimensões representacionais de profissionais de saúde à luz da Política Nacional de Humanização _________________________________________________________________ O aconselhamento em DST, HIV/aids envolve o apoio emocional, apoio educativo e a avaliação de riscos, objetivando reduzir o estresse, refletir sobre a percepção dos próprios riscos, adoção de práticas mais seguras, adesão ao tratamento, a comunicação e o tratamento de parceiro sexual e de uso de drogas injetáveis. Os profissionais de saúde devem estar treinados para realizar o aconselhamento, tendo conhecimentos atualizados sobre o tema (BRASIL, 1998b). Para Miranda et al. (2008), por ser o aconselhamento uma atividade educativa, deve-se considerar a situação em que se encontra a pessoa vivendo com HIV/aids, estabelecendo um diálogo, estimulando a consciência crítica, não sendo apenas um acúmulo de informação mas, buscando-se uma educação para transformação e valorização da autonomia do sujeito. É possível que por ser o aconselhamento uma estratégia que foi enfatizada nos últimos 17 anos, ela não tenha sido evocada pelo subgrupo de 16 ou mais anos de formados. Em relação ao subgrupo 6 a 15 anos de formados emergem dedicação, qualidade de vida, adesão ao tratamento, prevenção, responsabilidade, tratamento, aconselhamento e medo da morte. Quanto a qualidade de vida, alguns fatores geradores de impacto começam desde o recebimento do diagnóstico, passando pelas restrições físicas, restrições pessoais com rompimentos de relações, dependência dos medicamentos que necessitam de ajustes e adaptações no dia a dia, os efeitos adversos das medicações, dificuldades psicológicas e sociais, o preconceito, a discriminação, as manifestações clínicas da doença, e o acompanhamento pelos serviços de saúde (MEIRELLES et al., 2010). Quando o profissional de saúde avalia mais profundamente essa qualidade de vida das pessoas vivendo com HIV/aids, gera benefícios no monitoramento da saúde destes clientes, repercutindo sobre a adesão ao tratamento, e incentivo ao autocuidado destas (MEIRELLES et al., 2010). A busca pela saúde de quem vive com HIV/aids implica na mudança de alguns comportamentos e estilo de vida. Priorizar uma alimentação saudável, praticar atividades físicas, usar corretametamente a TARV, buscar superar os obstáculos impostos pela doença, estão intimamente ligados com a qualidade de vida. Neste sentido, as orientações dadas pelos profissionais de saúde são de suma importância, pois estes podem ser potencializadores da qualidade de vida quando sua assistência não foca somente à 83 BARBOSA, C. R. Um olhar sobre o cuidar de pessoas vivendo com HIV/aids: dimensões representacionais de profissionais de saúde à luz da Política Nacional de Humanização _________________________________________________________________ doença mas prioriza também as questões pessoais e subjetivas dos clientes, com um cuidar mais humanizado e pautado também na educação em saúde como uma prática transformadora pela busca de comportamentos saudáveis (MEIRELLES et al., 2010). As responsabilidades que envolvem o cuidar de pessoas vivendo com HIV/aids é de competência tanto dos próprios usuários como profissionais de saúde e dos serviços de saúde, principalmente no que se refere a adesão ou não adesão do tratamento (TEIXEIRA; SILVA 2008). Oliveira (2009) aborda que uma das responsabilidades que envolve tensões cotidianas é transitar entre ações que focam o “modo tratar” com todas suas especificidades e o “modo cuidar” com toda sua complexidade. Evidencia-se uma responsabilidade com práticas que fortaleçam o princípio de integralidade na assistência destes clientes. O cuidar no contexto do HIV/aids é um cuidar de responsabilidades partilhadas. Em relação ao subgrupo 16 anos ou mais de formados emergem apoio familiar, compreensão, futuro, acesso, adesão ao tratamento, custo financeiro, prevenção, tratamento, conscientizar, contágio profissional e medo da morte. O apoio familiar tanto para os profissionais de saúde como para os clientes é extremamente importante. Santos (2012), evidencia que o apoio familiar à atividade laboral do profissional de saúde que atua no contexto do HIV/aids pode servir como um suporte psicológico diante da fragilidade do processo de trabalho destes. Já para os clientes vivendo com HIV/aids, Carvalho et al., (2007) afirmam que a família é a principal fonte de apoio, constituindo-se importante fator de proteção para os que precisam enfrentar a infecção. Sua importância já é expressada desde o momento do diagnóstico, na adesão ao tratamento e até mesmo na participação de grupos de apoio. Quanto ao acesso, o SUS garante em relação ao HIV/aids o tratamento, o acesso aos medicamentos e a realização dos exames médicos necessários ao diagnóstico a todos os residentes no Brasil de forma gratuita (BRASIL, 2015b). Em relação ao custo financeiro, sabe-se que para o Brasil os custos da epidemia são muito altos, desde 1996 o acesso universal e gratuito aos medicamentos antirretrovirais é política prioritária do Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais. Em dezembro de 2012, estavam em tratamento 313 mil pessoas vivendo com HIV/aids, com 21 medicamentos antirretrovirais distribuídos pelo 84 BARBOSA, C. R. Um olhar sobre o cuidar de pessoas vivendo com HIV/aids: dimensões representacionais de profissionais de saúde à luz da Política Nacional de Humanização _________________________________________________________________ Sistema Único de Saúde (BRASIL, 2015 c). Em uma entrevista realizada em 2000, com o Dr. Paulo Roberto Teixeira, o então Coordenador Nacional de DST/AIDS, foi afirmado que o custo anual de um paciente com aids era de quatro mil e quinhentos dólares na época só em medicamentos e que cerca de setecentos milhões de dólares eram gastos anualmente com a prevenção e o controle da aids, somente no âmbito federal (BOA SAÚDE, 2000). Porém o investimento em prevenção ainda precisa ser melhorado, um relatório divulgado em 2010 pela Unaids (Programa das Nações Unidas para HIV/Aids) sugere que o país amplie seus investimentos na prevenção da doença, pois apenas 7% do total de gastos é destinado a prevenção (BBC, 2010). Em relação ao termo conscientizar, relaciona-se principalmente a prevenção, pois o maior obstáculo é a conscientização de todos os clientes para uso de preservativo em todas as relações sexuais, inclusive para as pessoas vivendo com HIV/aids com parceiro sexual também soropositivo. Educação em saúde e conscientização se relacionam por se a conscientização um processo que visa o olhar crítico do ser humano sobre a realidade. No âmbito do HIV/aids toda forma de discussão e conscientização para prevenção dos clientes deve ser incentivada e apoiada (TORRES; ENDERS, 1999). Porém o trabalho de prevenção do HIV/aids não deve se estender somente à disponibilização de informação por meio da chamada conscientização da população sobre aids, mas sim, considerando todos os fatores individuais, sociais e programáticos que favorecem a vulnerabilidade ao HIV/aids (BORBA; CLAPIS, 2006). Para Souza, Gomes e Leandro (2008) prevenção e conscientização nem sempre andam juntas, uma coisa é ouvir falar sobre o uso da camisinha outra coisa é ser consciente para o uso desta. Na variável tempo de formação emergiu uma quarta categoria além das três discutidas anteriormente (Cuidado sócio-sensível, Cuidado técnico-terapêutico, Cuidado educativo), a categoria Cuidado técnico-estigmatizante, com o termo medo da morte emergindo nos subgrupos de 6 a 15 de formados e subgrupo 16 anos ou mais de formados. E o termo contágio profissional que emerge no subgrupo 16 anos ou mais de formados. O medo da morte e o medo do contágio profissional estão correlacionados, o profissional ao realizar um procedimento técnico em pacientes sabidamente HIV 85 BARBOSA, C. R. Um olhar sobre o cuidar de pessoas vivendo com HIV/aids: dimensões representacionais de profissionais de saúde à luz da Política Nacional de Humanização _________________________________________________________________ positivo, com risco de exposição ao sangue, com agulhas contaminadas, fluídos corpóreos, mesmo utilizando equipamentos de proteção sente-se inseguro (ANDRADE; CAPOCCI, 2008). Por estar diante de uma doença que não tem cura e ainda conceber a aids intimamente ligada à morte, a possibilidade de um acidente ocupacional nestes casos gera o medo da morte. Andrade e Capocci (2008), evidenciaram que a grande maioria dos artigos encontrados em seu estudo, mostra que o profissional de enfermagem elege o medo como sentimento preponderante perante o cuidar de pessoas vivendo com HIV/aids. Oliveira (2013), constata que não só profissional de enfermagem mas também outros profissionais de saúde referem o sentimento de medo frequente no cuidar destes clientes. O medo se apresenta de diferentes formas: medo da morte, medo do contágio profissional e medo do desconhecido (ANDRADE; CAPOCCI, 2008). Estes dois termos evocados nesta nova categoria serão discutidos em maior profundidade na próxima seção deste estudo. 5.3 ABORDAGEM SUBSTITUTIVA Os 114 profissionais de saúde evocaram em situação de substituição um total de 541 palavras associadas ao termo “Cuidar da pessoa com HIV/aids”, e destas, 136 eram diferentes. A Figura 12 apresenta a distribuição dos termos evocados formando o Quadro de Quatro Casas. Foi obtido com um ponto de corte na frequência mínima 15, frequência intermediária 31 e ordem média 3,0. Temos 8 palavras ou termos evocados, que se distribuem nos quadrantes. Figura 12 – Quadro de quatro casas do termo indutor “cuidar da pessoa com HIV/aids” – situação de substituição. Belém, 2015. O.M.E Frequência Média Termo Evocado ≥31 Discriminação Medo-morte <3 Frequência 59 59 O.M.E 2,542 1,949 Termo Evocado ≥3 Frequência O.M.E 86 BARBOSA, C. R. Um olhar sobre o cuidar de pessoas vivendo com HIV/aids: dimensões representacionais de profissionais de saúde à luz da Política Nacional de Humanização _________________________________________________________________ ≥15 e ≤30 Contaminação Contágioprofissional Desconhecimento 20 19 2,450 2,158 30 2,767 Amor Apoiar Morte 17 15 15 3,765 3,067 3,800 Em objetos representacionais, como a aids, cercado de pressões normativas, é possível que seja gerado um discurso politicamente correto, havendo uma parte não explicitada, escondida e denominada de zona muda (OLIVEIRA, 2013). É importante ressaltar que a zona muda não é o inconsciente da representação social, é algo que existe no consciente mas não pode ser expressado para se manter adequado ao grupo que pertence ou ao grupo de referência. Busca-se manter uma imagem positiva de si (ABRIC, 2005). Para verificar a existência de uma possível zona muda foram comparados os termos dos núcleos centrais nas duas situações, situação de normalidade e situação de substituição, bem como a distribuição das categorias organizadoras segundo a distribuição dos termos de acordo com os quadrantes (Figura 13). Figura 13 – Termos e categorias centrais em situação de normalidade e situação de substituição. Belém, 2015. Situação Situação de normalidade Situação de substituição Termos evocados no Núcleo Central Amor Cuidado Educação-saúde Discriminação Medo-morte Categorias Organizadoras Centrais Cuidado sócio-sensível Cuidado técnico-terapêutico Cuidado educativo Cuidado técnico-estigmatizante * As cores dos termos evocados e as cores das categorias são correspondentes. Evidencia-se com base nos termos dos dois núcleos centrais, duas condições bem distintas evocadas pelos profissionais de saúde. No primeiro núcleo central, dito em situação de normalidade, uma manifestação centrada em sentimentos positivos (amor) e medidas de enfrentamento da doença (cuidado e educação em saúde). No segundo núcleo central, dito em situação de substituição uma manifestação estigmatizante, carregada do simbolismo negativo da aids (discriminação) e proposição de ameaça (medo da morte). As três categorias positivas presentes no 87 BARBOSA, C. R. Um olhar sobre o cuidar de pessoas vivendo com HIV/aids: dimensões representacionais de profissionais de saúde à luz da Política Nacional de Humanização _________________________________________________________________ núcleo central em situação de normalidade são substituídas por uma categoria negativa no núcleo central em situação de substituição. Abric (2005) afirma que quando são elementos periféricos da representação que estão escondidos não se constitui em algo grave, “todavia, se são elementos do núcleo central das representações que estão escondidos, é todo o significado da representação que se encontra escondido” (p.25). Constata-se na situação de substituição uma possível representação social de conteúdo negativo, sendo muito provável que discriminação e medo da morte constituam a zona muda da representação dos profissionais de saúde. O peso destes dois termos pode ser destacado quando compara-se as frequências de amor, cuidado e educação em saúde (núcleo central da situação de normalidade), produzidas por cerca de 30%, 24% e 22% dos profissionais de saúde respectivamente com os termos discriminação e medo da morte, que foram evocados cada uma por 51% dos profissionais de saúde em contexto de substituição e tiveram ordem média de evocação menores do que as palavras do núcleo central em situação de normalidade. Para reforçar a hipótese de zona muda consideramos todos os termos de acordo com as categorias organizadoras (Figura 14). Figura 14 - Conteúdo das categorias em situação de normalidade e situação de substituição. Belém, 2015. Situação Categoria Cuidado sóciosensível Categoria Cuidado técnicoterapêutico Categoria Cuidado educativo Categoria Cuidado técnicoestigmatizante Situação normal Amor Atenção Solidariedade Apoiar Respeito Cuidado Acolhimento Autoproteção-profissional Atendimento-humanizado Educação-saúde Capacitação-profissional Informação ____ Situação de substituição Amor Apoiar Discriminação Medo-morte Contaminação Contágio-profissional Desconhecimento Morte 88 BARBOSA, C. R. Um olhar sobre o cuidar de pessoas vivendo com HIV/aids: dimensões representacionais de profissionais de saúde à luz da Política Nacional de Humanização _________________________________________________________________ Na situação de substituição emergem termos da categoria Cuidado sóciosensível, amor e apoiar. No entanto, o termo amor pertencente ao núcleo central na situação de normalidade passa para 2ª periferia na situação de substituição, perdendo sua importância no contexto. Um estudo realizado no Rio de Janeiro aponta a estrutura representacional da aids de profissionais de saúde nos anos 80 e início de 90 associada à “aids/morte”, “aids/práticas sexuais desviantes”, “aids/sangue”, “aids/doença do outro” e “aids/contágio” (OLIVEIRA, 2013, p. 4). Confrontando esses dados com a nossa situação de normalidade, há um avanço contra os estigmas e preconceitos da aids. Já na situação de substituição há um retrocesso, pois há semelhanças com a constituição representacional relacionada a discriminação, medo-morte, contaminação, contágio-profissional e morte. Um ponto positivo é o fato de duas associações geradoras de bastante preconceito não serem no nosso estudo evidenciadas: aids/práticas sexuais desviantes e aids/doença do outro. O desgaste psicológico em cuidar diariamente de pessoas vivendo com aids leva os profissionais de saúde à conflitos pessoais, principalmente relacionados à impotência contra a morte (RIBEIRO; COUTINHO; SALDANHA, 2004). Corroborando com esse pensamento, para Marques, Oliveira e Gomes (2004), a aids carrega um sentimento de destruição que influencia o posicionamento dos sujeitos frente ao vírus/doença, como por exemplo o medo. Esse medo pode estar relacionado ao risco de contaminação durante a prática profissional, ao perigo, e a consequência mais grave da doença, a morte. Aids e morte estão intimamente ligadas no imaginário das pessoas, por ser uma doença que não tem cura. Mesmo com todos os avanços no diagnóstico, tratamento e prolongamento da vida das pessoas doentes, as informações circulantes no início da epidemia ainda fortalecem essa ligação. Para Ribeiro, Coutinho e Saldanha (2004), a aids além de ser um problema político e econômico é um problema psicossocial que gera na sociedade em geral e nos profissionais de saúde, efeitos psicológicos como “epidemia do medo” gerando discriminação dos indivíduos infectados que muitas vezes são identificados como “grupos de risco”, embora se afirme que não exista mais essa denominação. Esses profissionais de saúde devem ser incentivados a lidar com seus medos para melhor lidar com a vida de seus clientes. 89 BARBOSA, C. R. Um olhar sobre o cuidar de pessoas vivendo com HIV/aids: dimensões representacionais de profissionais de saúde à luz da Política Nacional de Humanização _________________________________________________________________ Além do medo-morte, outro fator que assombra os profissionais de saúde é o risco de contágio profissional pelo HIV, mesmo sendo considerado baixo quando comparado ao risco de transmissão ocupacional por Hepatite B e Hepatite C. O risco de infecção por HIV pós-exposição ocupacional percutânea com sangue contaminado é de aproximadamente 0,3% e, após exposição de mucosa, aproximadamente 0,09% (CARDO et al., 1997 apud LUCENA et al., 2011). Por serem os que mais ocorrem, os acidentes ocupacionais por materiais perfurocortantes são os que mais levam ênfase. Em um estudo sobre as representações sociais de acidentes com materiais com perfurocortantes, realizado com técnicos de enfermagem evidenciou que após o acidente ocupacional, a primeira atitude tomada é cuidar da área afetada, seguido da notificação do acidente, motivados pelo medo de contraírem HIV, hepatite B e C (LUBENOW et al., 2012). No estudo de Magagnini, Rocha e Ayres (2011), os profissionais de saúde que se acidentaram expressaram tranquilidade em relação a hepatite B, sendo o medo maior em relação ao HIV. Percebe-se então que após um acidente ocupacional com material perfurocortante a aids é a patologia que mais assusta os profissionais de saúde, pelo medo da contaminação e o medo da morte que ela causa nesses profissionais. Após um acidente com material biológico surge o sofrimento psíquico, com sentimentos como medo, desespero, culpa, ansiedade e outros. Porém como no caso de alguns dos profissionais do nosso estudo que convivem com pacientes com HIV/aids no âmbito hospitalar, Araújo et al., (2012) afirmam que principalmente nos hospitais que são referência para doenças contagiosas, esses sentimentos que surgem são potencializados, pois estes profissionais acompanham diariamente a luta desses clientes pela vida, o preconceito da sociedade, as dificuldades do tratamento e, em alguns casos, a morte. Outro elemento de destaque na situação de substituição foi o termo discriminação. Discriminar significa diferenciar, tratar uma pessoa ou grupo de maneira desigual, injusta, motivada por alguma característica da cultura, raça, étnica, religião, classe social, ou pessoal desse indivíduo ou grupo (FERREIRA, 2010). 90 BARBOSA, C. R. Um olhar sobre o cuidar de pessoas vivendo com HIV/aids: dimensões representacionais de profissionais de saúde à luz da Política Nacional de Humanização _________________________________________________________________ No presente estudo discriminar pode significar a diferenciação que o profissional de saúde faz em relação ao cuidar de pessoas vivendo com HIV/aids, pode ser a forma que este profissional enxerga este cliente, como vítima de discriminação na sociedade, ou sendo ainda possível a discriminação que este profissional sofre na sua vida pessoal por sua prática profissional diária com estes clientes. A discriminação sempre esteve presente na representação ligada à aids, relacionada aos estigmas existentes desde o começo da epidemia. Discriminação e preconceito embora tenham definições distintas são frequentemente associadas em estudos de representações sobre aids. O preconceito gera a atitude discriminatória. O estigma, a discriminação e o preconceito no HIV/aids constituem questões tão centrais quanto a própria doença, estes podem gerar a exclusão e até mesmo a auto exclusão da pessoa vivendo com HIV/aids. (GARCIA; KOYAMA, 2008). Corroborando com esta afirmação sabe-se que um dos principais motivos do abandono do tratamento antirretrovial ou a não procura deste é medo de sofrer discriminação ou estigmatização (ALMEIDA; LABRONICI, 2007). Em um estudo sobre a representação do portador de HIV/aids realizado com enfermeiros, entre as assertivas consideradas como intermediárias desta representação está a seguinte: “eles são discriminados, o que ocorre inclusive no hospital”. A assistência a pessoas vivendo com HIV/aids assume características peculiares pelo medo do contágio. O excesso de autoproteção dos profissionais ao saber que um paciente é soropositivo em procedimentos técnicos também pode ser entendida como uma forma de discriminação (COSTA et al., 2012). Galvão et al., (2006) em sua análise da comunicação proxêmica (forma na qual o ser humano estrutura inconsciente o seu espaço, sendo este espaço considerado um meio de comunicação não verbal) entre a equipe de enfermagem e portadores de HIV/aids, mostra que na maior parte das interações não houve comportamento de contato, o toque no paciente foi predominantemente instrumental entre o profissional de saúde e o cliente, ou seja associado a procedimentos técnicos. Estes profissionais mantinham um certo distanciamento até na hora de conversar com estes clientes. Muitos profissionais de saúde ainda tem as mesmas concepções da sociedade em geral sobre a aids, que contribuem para discriminação e a morte 91 BARBOSA, C. R. Um olhar sobre o cuidar de pessoas vivendo com HIV/aids: dimensões representacionais de profissionais de saúde à luz da Política Nacional de Humanização _________________________________________________________________ social das pessoas que vivem com HIV/aids. O estigma da aids é agravado por ser vinculado a outros estigmas como homossexualismo, profissionais do sexo, usuários de drogas e assuntos de difícil discussão como sexo e traição (RIBEIRO et al., 2005). A discriminação é vista ainda na vida pessoal dos próprios profissionais de saúde, pelos julgamentos quanto ao seu tipo de trabalho. Há um temor de suas famílias, amigos e conhecidos que eles contraiam patologias em seus locais de trabalho ou a própria aids. A desaprovação destes é pautada no preconceito, estigmas, na falta de informação e na visão de periculosidade acerca do trabalho dos profissionais de saúde com pessoas vivendo com HIV/aids, enunciada por meio de frases como “você é maluco”, “toma cuidado”, “cuidado com essas pessoas” e “pede para sair deste trabalho” (SANTOS, 2012). Quanto ao termo desconhecimento, Oliveira (2013) afirma, que a ausência de conhecimentos científicos/médicos consistentes sobre a doença no início da epidemia favoreceu a simbolização negativa da doença, e permitiu que as pessoas criassem teorias sobre as formas de contaminação e sobre as pessoas contaminadas. Mesmo após três décadas do início da epidemia, profissionais de saúde que atuam diretamente com pessoas vivendo com aids, ainda se sentem inseguros quanto a obtenção de conhecimentos teóricos relacionados à aids e o HIV, evidenciado pelo termo desconhecimento presente na situação de substituição. Santos (2012) evidenciou em seu estudo que para os profissionais de saúde investigados, os avanços tecnológicos no campo da aids são vistos por esses profissionais de forma contraditória, positivos quando facilitam a assistência ao cliente e negativos quando exigem constante atualização dos seus conhecimentos técnicos científicos. Portanto, na abordagem substitutiva evidenciam-se diferentes situações: os profissionais de saúde quando evocam em nome dos outros, revelam conteúdos diferentes/negativos o que pode estar expressando uma representação social sobre o cuidar de pessoas vivendo com HIV/aids como prática profissional carregada de medo, insegurança e estresses psicológicos, suscitando a hipótese de uma zona muda. Para Abric (2005), a existência de uma zona muda é proporcional a importância que carrega uma dada situação, quanto mais implicações sociais, maior 92 BARBOSA, C. R. Um olhar sobre o cuidar de pessoas vivendo com HIV/aids: dimensões representacionais de profissionais de saúde à luz da Política Nacional de Humanização _________________________________________________________________ a possibilidade de existir a zona muda. Para o autor por ser a zona muda uma área ainda pouco explorada e de pouco aprofundamento das representações sociais, torna-se necessário novos instrumentos que permitam desmascará-la e evidenciá-la, abrindo um novo campo teórico e metodológico da TRS. 93 _____________________________ CAPÍTULO 6 – CONSIDERAÇÕES FINAIS _____________________________ 94 BARBOSA, C. R. Um olhar sobre o cuidar de pessoas vivendo com HIV/aids: dimensões representacionais de profissionais de saúde à luz da Política Nacional de Humanização _________________________________________________________________ A estrutura representacional dos profissionais de saúde sobre cuidar de pessoas vivendo com HIV/aids é “positiva” e se organiza em torno das categorias Cuidado sócio-sensível, Cuidado técnico-terapêutico e Cuidado educativo. A discussão dos princípios norteadores da Política Nacional de Humanização possibilitou concluir que o cuidar de pessoas vivendo com HIV/aids tanto para os profissionais de saúde em geral como em especial para os profissionais de enfermagem é predominantemente desenvolvido segundo tais princípios, o que fortalece o agir cuidativo realizado nas unidades de referência. Quanto a presença\ausência dos princípios norteadores na estrutura representacional dos profissionais de saúde sobre cuidar de pessoas vivendo com HIV/aids identificamos quatro dos cinco princípios, o que nos faz concluir que há um cuidado humanizado em curso, há avanços nas formas de cuidar, com o entrelaçamento da subjetividade dos profissionais com a dos usuários, a valorização do protagonismo destes, a consciência da necessidade de processos educativos permanentes com o objetivo de qualificar cada vez mais esse cuidar, e a importância de um cuidar pautado em saberes científicos atualizados por toda a equipe multiprofissional. Os resultados indicaram a ausência de um dos princípios, o que se refere a atuação em rede com alta conectividade, de modo cooperativo e solidário, em conformidade com as diretrizes do SUS. Ressaltamos com base nisso, que a política de humanização é um ideal possível e inesgotável, mas também um processo contínuo de construção e reconstrução sob a ótica do trabalho em saúde e do cuidar. Também pudemos concluir que há diferenças entre as estruturas representacionais dos profissionais de saúde sobre cuidar de pessoas vivendo com HIV/aids quando comparadas as variáveis categoria profissional, idade, e tempo de formação. Destacou-se a variável tempo de formação, em que emergiu uma quarta categoria organizadora (Cuidado técnico–estigmatizante) para os subgrupos de profissionais com 6 a 15 anos de formados e 16 anos ou mais de formados; nesta categoria reúnem-se elementos negativos (medo da morte e contágio profissional), apontando para a não superação de representações sociais do período inicial da doença fortemente marcadas por preconceitos, discriminação e estigmas. 95 BARBOSA, C. R. Um olhar sobre o cuidar de pessoas vivendo com HIV/aids: dimensões representacionais de profissionais de saúde à luz da Política Nacional de Humanização _________________________________________________________________ Foi possível verificar a existência de pelo menos dois elementos escondidos ou não explicitados nas representações sociais dos profissionais de saúde sobre cuidar de pessoas vivendo com HIV/aids: discriminação e medo da morte. Tal resultado permite o levantamento da hipótese de uma zona muda, uma possível explicação em casos em que as representações são positivas em situação de normalidade e negativas em situação de substituição. Com a visualização de tais elementos mascarados na situação de substituição das evocações, vislumbramos um campo aberto para novas pesquisas em HIV/Aids, pois há aspectos que ainda precisam ser aprofundados e mais investigados. Essas conclusões suscitam algumas reflexões. A implementação da política de educação permanente precisa ser uma das estratégias de enfrentamento e superação das dificuldades encontradas no cotidiano do cuidar de pessoas vivendo com HIV/aids. A educação permanente pode transformar as práticas profissionais e o processo de trabalho, no próprio cotidiano do trabalho, e aprender e ensinar fazem parte deste processo. Há que se modificar também as estratégias educativas dos próprios profissionais, para que estejam de acordo com a realidade das instituições e com a cultura da comunidade. Há que se ter um entrelaçamento da educação permanente para o desenvolvimento do profissional de saúde com as necessidades da pessoa vivendo com HIV/aids; a problematização do processo de trabalho em HIV/aids, poderá favorecer que os profissionais de saúde reflitam sobre a sua própria prática, construam conhecimentos compartilhados e busquem soluções para os problemas com a participação de todos. A educação permanente para a construção de estratégias e processos que qualifiquem a atenção e a gestão em saúde pode convergir com a PNH, já que a humanização da assistência das pessoas vivendo com HIV/aids requer um processo permanente de qualificação dos profissionais. 96 BARBOSA, C. R. Um olhar sobre o cuidar de pessoas vivendo com HIV/aids: dimensões representacionais de profissionais de saúde à luz da Política Nacional de Humanização _________________________________________________________________ REFERÊNCIAS ABRIC, J. C. Pratiques Sociales et representations. Paris: Presses Universitaries de France, 1994. ____________. A abordagem estrutural das representações sociais. In: MOREIRA, A. S. P.; OLIVEIRA, D. C. de. Estudos interdisciplinares de representação social. 2ª. ed. Goiânia: Ed. AB, 2000. ____________. A zona muda das representações sociais. In: OLIVEIRA, D. C.; CAMPOS, P. H. F. Representações sociais: uma teoria sem fronteiras (Coleção Memória Social). 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O.M.E Frequência Média ≥14 ≥10 e ≤13 Termo Evocado Amor Cuidado Educaçãosaúde Solidariedade Acolhimento Atendimentohumanizado Tratamento <3 Frequênci a O.M.E 22 20 17 2,773 2,850 2,706 14 11 11 2,500 1,273 2,272 10 2,200 ≥3 Frequênci a O.M.E Atenção Informação 15 14 3,200 3,000 Apoiar Capacitaçãoprofissional 11 13 Termo Evocado 3,545 3,538 109 Variável idade Quadro de Quatro Casas do termo indutor “Cuidar da pessoa com HIV/aids” – subgrupo até 35 anos. Belém, 2015. O.M.E Frequência Média ≥8 ≥5 e <7 Termo Evocado Cuidado Educaçãosaúde Acolhimento Auto-proteçãoprofissional <3 Frequência O.M.E Termo Evocado ≥3 Frequência O.M.E 12 10 2,917 2,800 Atenção 13 3,154 5 5 1.000 2,800 Amor Atendimentohumanizado Capacitaçãoprofissional Paciência 7 6 3,286 3,000 6 3,667 5 3,000 Quadro de Quatro Casas do termo indutor “Cuidar da pessoa com HIV/aids” – subgrupo até 36 anos a 45 anos. Belém, 2015. O.M.E Frequência Média ≥7 ≥5 e <6 Termo Evocado Amor Cuidado Educaçãosaúde Informação Solidariedade Acolhimento Capacitaçãoprofissional Prevenção <3 Frequênci a 14 9 8 2,714 2,667 2,625 10 8 6 6 2,700 2,375 1,667 2,833 5 2,800 O.M.E Termo Evocado Apoiar Respeito Atenção Compreensão Paciência ≥3 Frequênci a 7 7 5 5 6 O.M.E 3,714 3,286 3,000 3,000 3,167 110 Quadro de Quatro Casas do termo indutor “Cuidar da pessoa com HIV/aids” – subgrupo 46 anos ou mais. Belém, 2015. O.M.E Frequência Média ≥7 ≥5 e <6 ≥2,90 < 2,90 Termo Evocado Amor Auto-proteçãoprofissional Capacitaçãoprofissional Cuidado Solidariedade Tratamento Apoiar Informação Prevenção Frequênci a 13 7 O.M.E 2,154 2,286 8 2,875 7 7 7 6 5 5 2,429 2,000 2,714 2,167 2,800 2,600 Termo Evocado Adesãotratamento Atendimentohumanizado Educaçãosaúde Frequênci a 7 O.M.E 3,143 7 3,000 7 3,000 Variável tempo de formação Quadro de Quatro Casas do termo indutor “Cuidar da pessoa com HIV/aids” – subgrupo até 5 anos de formados. Belém, 2015. O.M.E Frequência Média ≥5 ≥3 e <4 ≥3 <3 Termo Evocado Amor Atenção Cuidado Paciência Solidariedade Acolhimento Aconselhament o Adesãotratamento Amor-trabalho Competência Empatia Informação Tratamentomedicamentoso Frequênci a 11 6 5 8 6 O.M.E 2,545 2,500 2,200 2,875 2,333 3 3 1,333 2,000 3 1,667 3 3 4 4 3 1,667 2,667 2,250 2,750 2,000 Termo Evocado Atendimentohumanizado Auto-proteçãoprofissional Capacitaçãoprofissional Dedicação Educaçãosaúde Futuro Alimentação Compreensão Prevenção Respeito Frequênci a 6 O.M.E 3,500 5 3,000 12 3,083 5 10 3,000 3,200 5 3 3 3 3 3,200 4,667 3,000 3,667 3,333 111 Quadro de Quatro Casas do termo indutor “Cuidar da pessoa com HIV/aids” – subgrupo 6 a 15 anos de formados. Belém, 2015. O.M.E Frequência Média ≥10 ≥5 e <9 Termo Evocado Amor Cuidado Educaçãosaúde Acolhimento Aconselhament o Atendimentohumanizado Dedicação Prevenção Qualidade-vida Solidariedade Tratamento <3 Frequênci a 19 21 10 2,526 2,762 2,400 9 6 1,333 2,500 9 2,889 6 8 5 7 9 2,333 2,500 2,800 2,714 2,444 O.M.E Termo Evocado Apoiar Atenção Informação Respeito Adesãotratamento Auto-proteçãoprofissional Capacitaçãoprofissional Medo-morte Responsabilida de ≥3 Frequênci a 10 15 13 11 O.M.E 3,600 3,267 3,000 3,182 6 4,000 8 3,000 8 3,125 5 5 3,400 3,600 Quadro de Quatro Casas do termo indutor “Cuidar da pessoa com HIV/aids” – subgrupo 16 anos ou mais de formados. Belém, 2015. O.M.E Frequência Média ≥5 ≥2 e <4 Termo Evocado Educaçãosaúde Acesso Acolhimento Adesãotratamento Apoiar Auto-proteçãoprofissional Contágioprofissional Informação Medo-morte Solidariedade <3 Frequênci a 5 2,800 2 2 4 2,500 1,000 2,250 4 3 2,000 1,000 2 2,500 2 2 4 2,500 1,500 1,750 O.M.E Termo Evocado Amor Apoio-familiar Atendimentohumanizado Compreensão Conscientizar Cuidado Custo-financeiro Futuro Prevenção Tratamento ≥3 Frequênci a O.M.E 4 4 2 3,250 4,750 3,500 2 2 2 2 2 2 2 3,000 3,500 3,500 3,500 4,500 3,000 3,500 ANEXOS 113 ANEXO A – FORMULÁRIO DE PESQUISA 114 115 116 117 118 119 120 121 ANEXO B – PARECER DO COMITE DE ÉTICA DA UERJ 122 ANEXO C – PARECER DO COMITE DE ÉTICA DA UEPA 123 ANEXO D – TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE ESCLARECIDO 124 Universidade do Estado do Pará Centro de Ciências Biológicas e da Saúde Escola de Enfermagem Magalhães Barata Programa de Pós-Graduação em Enfermagem Mestrado Associado UEPA/UFAM Av. José Bonifácio, 1289 – São Brás 66063-022 Belém – Pa www.uepa.br