UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ
CENTRO DE TECNOLOGIA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA ELÉTRICA
CURSO DE ENGENHARIA ELÉTRICA
TRABALHO FINAL DE CURSO
JOSÉ ADERBAL AUGUSTO DE ALMEIDA FILHO
INTRODUÇÃO À ANÁLISE DE PREVISÃO DE DEMANDA DE
ENERGIA ELÉTRICA UTILIZADA PELA EMPRESA DE PESQUISA
ENERGÉTICA
FORTALEZA
2010
ii
JOSÉ ADERBAL AUGUSTO DE ALMEIDA FILHO
INTRODUÇÃO À ANÁLISE DE PREVISÃO DE DEMANDA DE
ENERGIA ELÉTRICA UTILIZADA PELA EMPRESA DE PESQUISA
ENERGÉTICA
Monografia
apresentada
ao
Curso
de
Engenharia Elétrica da Universidade Federal
do Ceará, como requisito parcial para
obtenção do título de Engenheiro Eletricista.
Orientadora: Gabriela Helena Sergio Bauab,
Dra.
Fortaleza
Dezembro de 2010
iv
À minha mãe Socorro, às minhas irmãs
Daniela e Juliane, e ao meu pai Aderbal,
por todo o apoio e carinho incondicional.
v
AGRADECIMENTOS
Nesta longa caminhada da minha educação, vários atores estiveram presentes e
fizeram parte dando contribuições que foram responsáveis pelo já percorrido até aqui.
Tenho muito que agradecer aos queridos mestres:
Minha mãe Socorro, minhas irmãs Daniela e Juliane, e meu pai Aderbal. Eles são
apoios incansáveis;
Avós, tios e primos, de todas as horas;
Amigos: Gustavo Pinheiro, Milena Távora, Janaína Bezerra e Maiana Maia, que são
companheiros que fazem parte de uma história de dez anos; Amanda Rangel, Bruno
Dourado, Daniel Albuquerque, Dante Shimoda, Guilherme Hertz, Izabel Vieira, Janaína
Almada, Marcelo Gino e Pedro Gustavo, companheiros de trabalhos, estudo e lazer ao
longo do curso de Engenharia Elétrica; Milena Bezerra e Neliza Romcy, amigas da
Arquitetura.
Todos os amigos importantes e queridos dos encontros e desencontros desta vida;
Aos Professores Demercil, Fernando, Laurinda e Ruth que puderam contribuir com
minha formação profissional, e em especial à Professora Gabriela, por ter acreditado em
mim, me incentivando e orientando não apenas nessa monografia, como em meu curso;
Barros Neto, Clarisse, Edianny, Marciel, Julio Brizzi e todos que me acompanharam
no Movimento Estudantil e nos trabalhos de extensão.
vi
Augusto Comte
vii
RESUMO
Este trabalho faz uma abordagem sobre a previsão da demanda energética de energia
elétrica nacional, abrangendo parte dos estudos da Empresa de Pesquisa Energética. Retrata a
realidade histórica e contextualiza a projeção com a economia mundial, bem como com a crise
energética de 2001 e a crise econômica ocorrida em 2009. É feita uma abordagem qualitativa do
crescimento da potência instalada de energia. Além disso, mostra os modelos estatísticos
econométricos e de insumos-produtos e os principais métodos utilizados para resolvê-los. Como
exemplo, é apresentada a demanda prevista no Brasil no último plano decenal , expondo de dados
inerentes ao estudo, tais como o cenário nacional e/ou internacional da curva de demanda, Produto
Interno Bruto (PIB) e premissas demográficas. Por fim, apresenta um resultado com a demanda
prevista para um horizonte de dez anos comparando com o cenário que fora previsto antes da
crise.
Palavras chaves: Previsão de Demanda, Modelos de Demanda e Métodos de Previsão.
viii
ABSTRACT
This work proposes an approach to energy demand forecast for national power, including
most studies of the Energy Research Corporation. Talks about the historical reality, interpreting
the analysis to the world economy, as well as the 2001 energy crisis and the economic crisis
occurred in 2009. An approach to qualitative growth of the installed power capacity is don e. It
also shows the statistical models econometric and input-output and the main methods for solving
it.. As an example, the demand forecast is presented, are used the study data, they are the national
and/or international demand curve, Gross Domestic Product (GDP) and demographic assumptions.
Finally, it presents a result with the preview demand for ten years compared with the scenario that
was previewed before the crisis.
Keywords: Preview Energy Demand, Demand Models and Forecasting Methods.
ix
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 - Curva de Demanda de Energia. Fonte: EPE. ......................................................................... 5
Figura 3 - Taxa de crescimento demográfico nacional .......................................................................... 23
Figura 4 - Crescimento demográfico nacional ....................................................................................... 23
Figura 5 - Representação adaptada da EPE para a projeção da demanda do setor de energia ........... 27
Figura 6 - PDE 2008-2017 e PDE 20010-2019 ........................................................................................ 29
x
LISTA DE SIGLAS
BNDES
Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social
CCPE
Comitê Coordenador do Planejamento da Expansão dos Sistemas Elétricos
EPE
Empresa de Pesquisa Energética
IBGE
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
MIPE
Modelo Integrado de Planejamento Energético
PDE
Plano Decenal de Expansão da Energia
PIB
Produto Interno Bruto
SIN
Sistema Integrado Nacional
xi
SUMÁRIO
1
INTRODUÇÃO ...................................................................................................................... 1
2
ASPECTOS HISTÓRICOS E INSTITUCIONAIS ................................................................ 3
2.1 HISTÓRICO ............................................................................................................................ 3
2.1.1
Revolução Industrial ............................................................................................... 3
2.1.2
Desenvolvimento da Energia Elétrica no Brasil ....................................................... 4
2.2 ASPECTOS INSTITUCIONAIS ................................................................................................. 7
2.3 SISTEMA INTERLIGADO NACIONAL
3
SIN ........................................................................... 8
MODELOS USUAIS ADOTADOS À PREVISÃO DE DEMANDA .................................... 10
3.1 MODELO ECONOMÉTRICO ................................................................................................ 11
3.2 MODELO INSUMO-PRODUTO ............................................................................................ 13
3.3 MÉTODOS PARA RESOLUÇÃO DOS MODELOS DE PREVISÃO DE DEMANDA ................ 15
3.4 ASPECTOS QUALITATIVOS NO CENÁRIO NACIONAL ....................................................... 16
3.5 ASPECTOS QUANTITATIVOS NO CENÁRIO NACIONAL ..................................................... 17
4
PREVISÃO DE DEMANDA DE ENERGIA PARA O SIN ................................................. 19
4.1 COERÊNCIA ENTRE O MODELO ECONOMÉTRICO COM O DE INSUMOS-PRODUTOS .. 19
4.2 PROJEÇÃO DE CRESCIMENTO DAS VARIÁVEIS NA MATRIZ DE DEMANDA ................... 19
4.2.1
Projeção e expansão do setor residencial ............................................................... 21
4.2.2
Projeção dos setores industriais ............................................................................. 24
4.3 RESULTADOS DAS PROJEÇÕES ......................................................................................... 26
5
CONCLUSÃO ...................................................................................................................... 30
6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..................................................................................... 31
1
1
INTRODUÇÃO
Esta monografia traz em seu conteúdo uma discussão atual e relevante no que se
refere à previsão da demanda energética e suas conseqüências para o planejamento
energético do Sistema Integrado Nacional (SIN). Na situação de incertezas que o Brasil já
esteve em um passado recente, com problemas que trouxeram mudanças na estrutura física
e econômica da distribuição e disponibilidade de energia, a previsão de demanda se torna
essencial para evitar problemas de falta energética, problemas de racionamentos de
energia elétrica, e conseqüentemente problemas econômicos.
O capítulo 2 apresenta uma introdução do surgimento e crescimento da demanda de
energia elétrica com os principais fatos da história do setor elétrico que levaram às
condições do estado atual na estrutura organizacional e operacional do sistema da energia
elétrica nacional. É descrito um pequeno histórico das privatizações de setores de energia
elétrica no país e busca-se mostrar a participação governamental da situação em que a
estrutura
se
encontra.
É
posto
uma
apresentação
simplificada
da
integração
eletroenergética nacional.
No capítulo 3 são feitas as definições dos modelos e métodos mais usuais na questão
de previsão de demanda, definindo-se o modelo econométrico e o modelo insumoproduto. Em seguida, são discutidos os aspectos qualitativos e quantitativos do cenário
atual. Os aspectos qualitativos abrangem uma análise subjetiva e estão de acordo com o
-se a
imparcialidade, por vezes algumas análises podem conter um lado político-pessoal, tentase, pois, aqui referenciá-las. Os aspectos quantitativos, por sua vez, são dados mais
2
precisos, por ser um gênero de corpus com valores presentes em dados documentados
publicamente por instituições consagradas.
Para uma visão mais prática, é apresentado o capítulo 4, com os históricos e as
projeções demográficas e de produção industrial do país, por meio de dados históricos
com fontes do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e da Empresa de
Pesquisa Energética (EPE). É mostrada a previsão em um horizonte de 10 anos,
apresentando uma setorização por sub-regiões e por sub-setores da indústria, baseado no
Plano Decenal de Expansão de Energia Elétrica. No final, são apresentadas conclusões
sobre planejamento energético e previsão de demanda.
3
2
2.1
ASPECTOS HISTÓRICOS E INSTITUCIONAIS
HISTÓRICO
2.1.1 Revolução Industrial
Antes da Revolução Industrial, a produção de bens de consumo era realizada
exclusivamente por meio de métodos manuais, passando de métodos artesan ais, onde o
artesão participava quase sempre de todas as etapas de execução da obra, para um
processo manufaturado, onde se vê a produção em série.
A Revolução Industrial teve iniciou no século XVIII na Inglaterra. O
desenvolvimento próspero da Grã-Bretanha e os acordos com os demais países europeus
desenvolveram o capitalismo britânico, que por sua vez trouxe a Revolução Inglesa, a
precursora da Revolução Industrial. A partir do uso da máquina a vapor, puderam ser
construídas indústrias e fábricas que otimizaram o trabalho e acelerando o processo de
produção [1].
Com a descoberta da lâmpada em 1876, por Thomas Edson, e a inauguração da
iluminação pública abastecida por energia elétrica, em 1877 nos Estados Unido s, iniciouse o processo de distribuição de energia. Somente em uma segunda etapa da Revolução
Industrial, já no século XIX, é que iniciou o uso da Energia Elétrica para o acionamento
de máquinas em grandes escalas. O rendimento energético e econômico da energia
elétrica, além da redução de resíduos poluentes, como fumaça e barulho na indústria,
quando comparado com as caldeiras e motores a combustão, foram os propulsores desta
nova tecnologia na época [1] [2].
4
Desde então, o uso da energia elétrica passou a ser cada vez mais recorrente e
necessário às necessidades humanas. A energia se torna, hoje, um bem de consumo
essencial e possui um caráter de bem público, assim como a água e o transporte.
2.1.2 Desenvolvimento da Energia Elétrica no Brasil
Segundo [3], em 1887 foi inaugurada uma das primeiras usinas elétricas brasileira,
objetivo de alimentar um trecho
com pouco mais de 01km, que era iluminado através de 800 lâmpadas incandescentes de
10 velas1.
O uso comercial da energia elétrica no Brasil iniciou-se através de incentivo do
governo Rodrigues Alves em 1906. No princípio, as usinas eram a carvão, e a partir de
1911, iniciou-se o processo de construção de hidrelétricas. Até a década de 50, a produção
de energia elétrica era em pequena escala e de autonomia das empresas, que se dividiam
entre empresas privadas, capital misto ou puramente públicas. Na década de 60, essas
empresas se consolidaram e iniciou-se a atuação do Ministério de Minas e Energia e da
Eletrobrás, passando a haver uma estabilização do controle governamental nas
companhias energéticas.
Um dos marcos da produção energética brasileira é a construção da Usina
Hidrelétrica de Itaipu, em 1973, quando técnicos percorreram o rio Paraná de barco em
busca do ponto mais indicado para a construção da Itaipu Binacional. O local foi
escolhido após a realização de estudos com o apoio de uma balsa.
1
Brasil para mensurar a intensidade das lâmpadas comercializadas no país, não integra
o Sistema Internacional de Unidades (SIU), que adota como medida o lux. Uma vela equivale a 10,76 lux [4].
5
Pode-se perceber que a evolução e desenvolvimento dos setores de energia elétrica
do Brasil iniciaram em coerência com a evolução do restante do mundo. Em destaque,
pode-se citar a bacia do rio Paraná, que é a mais significativa no que diz respeito à
participação energética, correspondendo em 2003 a 59,3% da capacidade instalada em
bacias hidrográfica no Brasil, seguidas pelas bacias do Rio São Francisco e Rio Tocantins,
com 15,5% e 11,7% da capacidade hidráulica instaladas, respectivamente. O crescimento
nacional se mostra robusto e significativo, com participação em diversas outras fontes
energéticas, porém a predominância é hidráulica. Com a maior oferta de energia elétrica,
as indústrias puderam se instalar e aumentar sua produção, impulsionando um crescimento
econômico nacional.
O crescimento sócio-econômico e industrial está intimamente ligado ao crescimento
da demanda energética. Não se pode expandir o setor industrial se não houver energia para
seu abastecimento. Dados das duas últimas décadas mostram um panorama do
crescimento da demanda energética nacional, conforme figura 1, evidenciando a
relevância em se preocupar com o crescimento da mesma por meio do incentivo do
crescimento da produção.
Figura 1 - Curva de Demanda de Energia. Fonte: EPE.
6
Com o aumento da demanda energética, observa-se a necessidade de um bom
planejamento de sua geração e distribuição, para atender os consumidores (industriais e
residenciais), acompanhando o crescimento econômico. Um dos itens para se fazer um
planejamento satisfatório de energia elétrica é conhecer/prever a demanda desta energia
pelos consumidores, resultando no correto despacho de geradores, evitando a falta de
energia para os mesmos.
Até meados dos anos 80, a metodologia para a previsão de demanda da energia
elétrica era algo tradicional, que atendia a um mercado estável, contínuo e com caráter
linear. Observava-se, ainda, que os custos e a competição eram preponderantes.
O setor energético iniciou um processo de reestruturação a partir da década de 90,
tornando a previsão da demanda de energia elétrica mais complexa. Essas mudanças
ocorreram a fim de implementar, no caráter energético, medidas governamentais de
interesse público, tais como medidas sociais, políticas, econômicas e regulamentárias.
Esta mudança acontece, prioritariamente, em relação à concessão da responsabilidade da
expansão do sistema e pelo atendimento ao mercado [5].
O aumento do fornecimento de energia foi linear, acompanhando o crescimento da
demanda da energia elétrica. Observa-se, na figura 1, uma queda na demanda da energia
elétrica em 2001/2002, devido ao racionamento da mesma, justificada pelo baixo nível dos
reservatórios das usinas hidrelétricas. Porém, o problema hidrológico desfavorável não
pode ser considerado um fator único agravante, visto que ele sozinho não foi o motivo
para a crise energética de 2001. Outros fatores ocasionaram o desequilíbrio entre a oferta
e a demanda, como atrasos no andamento de obras de geração e transmissão, previstas nos
Plano Decenal de Expansão da Energia (PDE) do Comitê Coordenador do Planejamento
da Expansão dos Sistemas Elétricos (CCPE) [6].
7
2.2
ASPECTOS INSTITUCIONAIS
No período da crise energética ocorrida em 2001, por ação da Casa Civil, foi tomada
a Medida Provisória nº 2.198-5, de 24.8.2001, que criou a Câmara de Gestão da Crise
Energética Elétrica
GCE. Esta, através da resolução nº 18, de 22 de julho de 2001,
homologou o Comitê de Revitalização do Modelo do Setor Elétrico, com a missão de
encaminhar
propostas
para
corrigir
as
disfuncionalidades
correntes
e
propor
aperfeiçoamentos para o referido modelo. A instalação do Comitê ocorreu em 27 de Julho
de 2001. Nesta situação, acordou-se que os trabalhos desenvolvidos pelo Comitê deveriam
se basear na busca de soluções que preservassem os pilares básicos de funcionamento do
modelo do setor, a saber, competição nos segmentos de geração e comercialização de
energia elétrica, expansão dos investimentos necessários com base na contribuição do
setor privado e regulação dos segmentos que são monopólios naturais
distribuição de energia elétrica
transmissão e
para garantir a qualidade dos serviços e o suprimento de
energia elétrica de forma compatível com as necessidades de desenvolvimento no país [7].
Conforme [6] e [8], o setor elétrico passou por uma mudança, migrando uma parcela
do monopólio estatal para o capital privado, resultando em ajustes estruturais tais como:
a exploração de energia elétrica feita por setores privados, por meio de licitações;
o controle e operação centralizados por um órgão público;
o livre uso e acesso dos setores de geração, transmissão, distribuição e
comercialização;
criação e regulamentação da comercialização de energia elétrica;
a implementação de um novo tipo de consumidor, o consumidor livre.
No estado atual de participação nas diretrizes de sistemas de potência, tem -se as
referidas competências:
8
a) Poder Executivo
b) Poder Concedente
c) Regulador
d) Operador Nacional do Sistema
e) Câmara de Comercialização de Energia Elétrica
f) Empresa de Planejamento Energético
g) Agentes setoriais
2.3
SISTEMA INTERLIGADO NACIONAL
SIN
A abrangência do sistema de energia nacional proporciona uma característica
singular em caráter mundial devido suas proporções e devido às principais fon tes de
energia. Os sistemas de geração e de transmissão de energia elétrica do Brasil é
fundamentalmente hidrotérmico de grande porte, com uma parcela significativa de usinas
hidrelétricas e com múltiplos proprietários. O SIN é formado pelas empresas das r egiões
Sul, Sudeste, Centro-Oeste, Nordeste e parte da região Norte. A robustez desta malha de
interligação do SIN pode ser observada na figura 2, onde apenas 3,4% da capacidade de
produção de eletricidade do país encontra-se fora do SIN, em pequenos sistemas isolados,
localizados, principalmente, na região amazônica.
9
Figura 2
Mapa simplificado e atualizado da integração eletroenergética.
Considerando que a potência de geração instalada deve ser superior à demanda
energética máxima, um sistema interligado hidrotérmico permite uma maior flexibilid ade
à medida que a sazonalidade e diversidade das condições de chuvas e estiagem para
abastecimento das represas se complementam nas distintas regiões. Quando há um
excedente energético de geração hidráulica, este excedente é transferido para as regiões
que estiverem com déficit de produção, reduzindo o uso de combustíveis das
termelétricas. Mesmo com esta transferência de carga, as termelétricas ainda têm sua
importância, por suprirem a problemática de falta de água nas hidrelétricas por falta de
precipitação pluviométrica em mais de uma região.
10
3
MODELOS USUAIS ADOTADOS À PREVISÃO DE DEMANDA
A estrutura organizacional atual, com participação privada no setor energético
nacional, impõe a necessidade da previsão de demanda energética como ferramenta do
planejamento energético, com o intuito de reduzir problemas de excessos ou falta de
energia, por meio de integração das regiões distintas. A projeção da demanda energética
bem elaborada vem como um indicador para um planejamento seguro da geração e
transmissão de energia a curto, longo e médio prazo. Entende-se por projeção bem
elaborada aquela que consegue ter uma melhor redução de incerteza.
A definição clássica para os modelos de projeção pode ser considerada como a
reprodução complexa e incompleta da realidade futura, refletida de maneira simplificada.
Complexa por abranger uma gama de variáveis que rege setores que vão além da
exclusividade do setor energético, como setores econômicos e meteorológicos. E
incompleta por haver um horizonte de incertezas que traz margem a erros estatísticos.
Embora não seja em sua totalidade a representação da realidade por contar com essa
margem de incerteza, serve de instrumento para apoiar as tomadas de decisões,
independente do objetivo para o qual foi criado. Dessa forma, os modelos de projeção de
demanda servem como instrumentos de apoio para as tomadas de decisões do
planejamento da expansão e operação da geração, transmissão e distribuição da energia
elétrica.
Assim, faz-se necessário a adoção de técnicas que proporcionem uma segurança para
a previsão de demanda. Para gerar um modelo de previsão de demanda,
devem ser
analisadas as questões de crescimento econômico, demográfico, de autoprodutor e
tecnológico. Percebe-se ainda que influências externas de caráter político podem intervir
11
no processo de modelagem e previsão do mercado de energia, não somente quando o
processo de modelar e prever ocorre no âmbito do planejamento energético de um
governo, como também no meio corporativo, quando o objetivo é prever e modelar o
mercado de energia de uma empresa.
As características do modelo podem ser definidas nos seguintes aspectos:
a) Completo: abordando todos os aspectos relevantes;
b) Simples: nenhum aspecto supérfluo;
c) Transparente: clareza para o usuário;
d) Flexível: cobrindo uma gama útil de situações;
e) Robusto: resultados que resistem a mudanças.
Dentre os principais modelos utilizados para a previsão no contexto histórico de
planejamento da energia elétrica, observa-se os tipos insumo-produtos e econométricos. A
literatura sobre modelos de previsão com foco exclusivo às fontes de energia é escassa.
Contudo, ao que se aplica os estudos da EPE apresentado no capítulo 4, estes dois
modelos são os mais indicados [9].
3.1
MODELO ECONOMÉTRICO
Os modelos econométricos se baseiam na teoria econômica neoclássica, partindo de
sistemas de regressões e funções de custos e produção derivados da teoria
microeconômica. Por terem em sua conjectura a captação da dinâmica do processo
produtivo e representarem uma ligação entre a demanda de energia, os modelos
econométricos tradicionais podem ser utilizados nas previsões de demanda. São baseados
em grandezas econômicas na justificativa da evolução da demanda energética, tais como
indicadores sócio-econômicos, dados demográficos ou o PIB.
12
Focando as características dos modelos econométricos tradicionais na demanda
energética, pode se delinear os seguintes aspectos:
a) As influências de variáveis como: médias, tendências históricas, extrapolações
que impactaram na demanda;
b) Suposição que a história se repetirá acarretando as mesmas influências na
demanda;
c) Adoção de uma metodologia usual que traga segurança e praticidade;
d) Possuir aplicação compatível com as estatísticas de demanda energética.
Ainda no meio econométrico, pode ser adotada a metodologia baseada na
consideração da homogeneidade dos consumidores, desconsiderando a estrutura
tecnológica e o uso final da energia. Este método foi utilizado até a década de s etenta,
onde o consumo de energia era planejado com base em todos os dados do passado, por
meio da representação por equações que expressam a relação de energia com base nos
preços e níveis de atividades econômicas.
Este modelo é fundamentado na conjectura de que o futuro pode ser antevisto pela
linearização de dados do passado, com perspectivas que não acarretarão em mudanças
significativas nas variáveis.
Para que os modelos econométricos possuam uma melhor precisão, adotam -se
variáveis que podem ser compostas quantitativamente. Contudo, diversas das variáveis das
séries históricas do consumo são firmadas em dados qualitativos. Como exemplos desses
dados quantitativos, podemos encontrar os índices demográficos e a renda da população.
Mas devemos perceber que esses dados não conseguem, por si só, serem responsáveis por
todo o horizonte futuro. Em uma visão pessimista, podem-se haver mudanças que venham
a reduzir drasticamente a demanda energética. Existem diversos outros fatores que
13
propulsionam mudanças significativas nas variáveis econométricas que os tornam falhos,
tais como fluxo migratório, modificações nos hábitos da população ou mesmo novas
tecnologias. Essas mudanças podem ser ocasionadas por intervenção do Estado, que por
meio de campanhas de conservação de energia ou investimentos na economia, poderão
trazer transformações nas perspectivas futuras, acarretando em decréscimo ou acréscimo
na demanda energética.
Neste sentido, o acompanhamento das escolhas de variáveis nos prepara para
enfrentar situações atípicas decorrentes das novas proposições, sendo este modelo de
previsão de demanda pouco indicado.
Apesar de possuir um caráter simples e não possuir uma ampla robustez, os modelos
econométricos não devem ser totalmente eliminados ou considerados obs oletos em todos
os casos, pois para um horizonte de tempo plausível com a base estatística e num contexto
de estabilidade, previsibilidade e regularidade do crescimento sócio -econômico essa
metodologia mostra sua importância quando se trabalha em sistemas menores e de menos
risco, conforme adotado em distribuidoras de energia específicas como a Eletronorte.
3.2
MODELO INSUMO-PRODUTO
Este modelo propõe que os coeficientes de produção dependem não apenas de
estrutura e preços relativos, nem apenas da tecnologia utilizada, mas também das
limitações de abastecimento entre as atividades. É uma adaptação da teoria neoclássica do
equilíbrio geral em função de uma razão da integração e dependência quantitativa ou
espacial das economias. Por conseguinte, devem-se delimitar os setores mais
significativos no processo econômico a partir da percepção de limitação de capital para
14
um investimento. Os setores econômicos possuem suas segregações entre si, mas não são
perdidas as interrelações entre os mesmos, sendo analisados os custos de produção com os
produtos consumidos nos outros setores que não energéticos.
Os elementos ou conjunto de elementos que entram na produção de bens ou serviços
são os coeficientes básicos de insumo-produto e da demanda final, habitualmente com
perspectiva referencial de um ano. Para que os níveis técnicos de diferentes setores façam
parte de um sistema econômico integrado, proporcionando o quantitativo de um
determinado produto, consumido em outro, usa-se simplesmente o mesmo preço básico
em todos os demais setores que produzam ou consumam este produto.
O conjunto de coeficientes técnicos adotado nesse modelo implementa o quantitativo
mínimo de produção necessária entre setores correlacionados, sem que haja pontos de
estrangulamento em algum outro setor por falta de insumo. É almejado o equilíbrio geral
no horizonte onde esse conjunto é estudado.
Existem duas principais formas de se utilizar o modelo insumo-produto: uma que se
baseiam nos dados macroeconômicos, que são mais abrangentes e genéricos, sendo,
portanto, mais usual por abranger diversos setores, e se aplica para projeções setoriais; e
outra que é mais aplicável ao quadro de energia, que fragmenta as variáveis que interagem
direta ou indiretamente aos setores de energia. Ambos trabalham com o uso de dados de
insumo-produto para o planejamento energético, e necessitam de uma estabilidade na
economia e de valores fidedignos para a apresentação de bons resultados.
Este modelo foi adotado largamente na década de oitenta nas empresas de setor
elétrico e na década de noventa por bancos de desenvolvimento econômico e social.
Houve aplicação no que se refere às demandas de energia por setores através das
influências de mudanças externas. No entanto, nem sempre são apresentados bons
15
resultados, levando em consideração que há a necessidade de pesquisas apuradas e
detalhadas para a construção do banco de dados. Torna-se necessário o uso correto dos
dados e da observância de interação entre os setores e segmentos distintos que se
relacionam. As variáveis externas não incluídas podem acarretar uma previsão falha, por
não captar as evoluções de mercado, o que impões um estudo minucioso e domínio da
metodologia.
3.3
MÉTODOS PARA RESOLUÇÃO DOS MODELOS DE PREVISÃO DE
DEMANDA
Segundo [10], a divisão de métodos de previsão se concentra basicamente em duas
vertentes: os métodos quantitativos e os métodos qualitativos. O método a ser adotado
pode variar de acordo com o nível de precisão necessário, o tipo de produto ou serv iço a
ser prestado e o tipo de empresa e como ela está inserida no mercado.
Os métodos qualitativos de previsão dependem das experiências e do grau de
conhecimento dos responsáveis. Eles podem ser integrados com dados de pesquisa como a
opinião dos consumidores, mas contemplam a subjetividade do método. Dependem da
situação, e são aplicados em detrimento de fenômenos já ocorridos, acarretando na
facilidade e rapidez de conclusão de resultados.
Em quase todas as organizações, é comum serem adotados métodos qualitativos para
as previsões, investimentos e aplicações, que podem até mesmo ser uma parcialidade
subjetiva de resultados quantitativos. Na prática, são predominantes e alega-se que o
conhecimento prático dos especialistas é referência na tomada de deci são.
Os métodos quantitativos se diferenciam dos métodos qualitativos por adotarem
séries temporais históricas e previsão de acontecimentos que ainda não aconteceram
16
baseados nos dados atuais combinados com os do passado. Sua rigidez e consistência
possibilitam o trabalho com um grande número de dados. Os obstáculos destes métodos
estão na limitação do uso de dados exatos de séries temporais, tais como mudanças
dinâmicas e estruturais. É necessário incluir todas as informações acessíveis, como dados
exatos de produção e consumo passados, ou concorrências de mercado.
Independentes dos métodos podem existir variações na forma como são utilizados,
por haver uma interação simultânea entre o setor analisado e as variáveis de estado que
influenciam o mesmo.
3.4
ASPECTOS QUALITATIVOS NO CENÁRIO NACIONAL
É notório que a economia nacional está com uma robustez significativa quando se
compara com a economia mundial generalizada [11]. A crise mundial ocorrida em 2009,
que para muitos economistas iria de encontro à estabilidade econômica brasileira, nas
economias mundiais ocorreu um desequilíbrio negativo no PIB e na demanda energética.
Já na economia nacional aconteceu uma estagnação que pode hoje retomar as mesmas
taxas de crescimento linearizado anteriormente à crise, havendo apenas um deslocamento
vertical. De posse disso, considerara-se que o crescimento da economia brasileira, que
antes superava a média mundial, continuará a superar esta média no contexto internacional
de expansão, refletindo o desembaraço da crise financeira internacional.
Apesar do crescimento significativo da economia brasileira, deve-se ater também à
sinergia entre o Brasil e os países emergentes, havendo a necessidade de retomada de
crescimento destes, tais como a China, que influenciam diretamente o nosso crescimento
em setores primários como a celulose, agropecuária, siderurgia e indústria de extração
17
mineral. Paralelamente, a infraestrutura civil de estradas e habitação nos próximos anos
contribuirá para um desempenho do setor da construção civil, e conseqüentemente da
economia.
Este arquétipo de crescimento só é permitido por um constante trabalho por meio de
programas governamentais que têm melhorado a infraestrutura no âmbito nacional.
Mesmo não havendo uma precisão por conta do horizonte de incertezas da política
econômica nacional, acredita-se que em um quadro decenal com o aumento da
Produtividade Total dos Fatores presentes asseguram os segmentos dinâmicos da
economia no âmbito de planejamento. Mesmo os desafios ambientais sendo barreiras
limitantes para o crescimento de produção de energia elétrica, os projetos atuais em
execução e planejados certificam e diminuem esta incerteza.
3.5
ASPECTOS QUANTITATIVOS NO CENÁRIO NACIONAL
O principal motivo para se fazer uma análise quantitativa de forma otimista é a
confiabilidade de um cenário de crescimento econômico brasileiro superior a média
mundial para os próximos 10 anos, observada na análise qualitativa. Com dados do IBGE
e da EPE, pode-se perceber na tabela 1 uma projeção do PIB mundial, e em paralelo o PIB
Nacional:
Tabela 1 - Taxas de média de Crescimento do PIB
Indicadores Econômicos
PIB Mundial (% a.a.)
PIB Nacional (% a.a.)
Histórico
1999-2003 2004-2008
3,4
4,6
1,9
4,7
Projeção
2010-2014 2015-2019
4,2
4,0
5,2
5,0
Ao contrário do que se esperava, a economia mundial no ano de 2009 se recuperou
em ritmo acima da trajetória que se acreditava, mesmo que em uma curva abaixo do
18
último ciclo de crescimento. Mas as conseqüências da crise ainda estarão presentes, e
supõe-se que haverá uma melhor reestruturação política e econômica voltada para a
sustentação do setor financeiro bancário. Já pode ser sentida uma dissolução dos
incentivos públicos com planejamentos para os próximos 10 anos, o que visa estabilizar a
taxa média de crescimento do PIB mundial a partir do segundo qüinqüênio em 4,0% ao
ano.
19
4
PREVISÃO DE DEMANDA DE ENERGIA PARA O SIN
Este capítulo descreve os modelos e métodos de previsão de demanda adotados para
o planejamento energético nacional, focando no sistema elétrico. Serão apresentados
dados levantados pela EPE para a elaboração do PDE 2019 [11].
4.1
COERÊNCIA ENTRE O MODELO ECONOMÉTRICO COM O DE
INSUMOS-PRODUTOS
A certificação de metodologias que nos auxiliam a lidar com a execução de metas do
programa de previsão de demanda maximiza as possibilidades por conta das condições
políticas e econômicas do setor energético. Por outro lado, as limitações de cada método
deixam a desejar em alguns cenários no horizonte de previsão. O cuidado em identificar
pontos críticos nas variáveis de cada método pode nos levar a considerar a reestruturação
dos modelos. O início da atividade geral de formação de escolhas estende o alcance e a
importância do remanejamento de características de quadros funcionais de cada modelo.
Todavia, o entendimento das metas propostas pode levar a considerar a reestruturação de
um modelo que nos traga a fusão entre o modelo econométrico e o de insumo-produto.
4.2
PROJEÇÃO DE CRESCIMENTO DAS VARIÁVEIS NA MATRIZ DE
DEMANDA
Até o final da década de 90, a falta de modulação de carga era um fator de maior
preocupação. Hoje, por meio de campanhas, há uma maior homogeneidade ao longo do
dia e do ano por parte das principais cargas
industriais
que são incentivadas com
20
penalidades nas atribuições tarifárias diferenciadas na horo-sazonal em horário de ponta
seca/úmida e fora ponta seca/úmida. Acredita-se que estes fatores de carga, tanto na
sazonalidade ao longo do dia quanto na sazonalidade ao longo do ano, não tendem a
perfazerem-se com alterações significativas no cenário decenal que possam vir a intervir
nos estudos de demanda.
O estudo do desempenho histórico do crescimento de mercado de energia elétrica,
em face da evolução das variáveis demográficas, econômicas e da dinâmica dos diferentes
setores econômicos, é um item necessário para o entendimento da dinâmica do mercado e
para a formulação. No decorrer deste capítulo, observa-se uma projeção dos principais
setores. As projeções foram realizadas utilizando a base de dados da EPE, que adota uma
metodologia integrada e comparativa entre os métodos bottom-up e top-down, que foi
apresentada no Programa de Planejamento Energético da COPPE em 1997, com o Modelo
Integrado de Planejamento Energético (MIPE).
O método bottom-up de projeção de demanda no setor energético se caracteriza pela
análise dos usos finais de eletricidade nos equipamentos eletrodoméstico s. De modo mais
específico, é mais aplicado aos consumidores residenciais, e busca variáveis
econométricas para as questões demográficas, quantidade de domicílios e principalmente
no consumo final de energia, isto é, a carga demandada de energia elétrica.
Em contra partida, o método top-down se aplica um todo da projeção do mercado de
energia elétrica, fragmentando em subsistemas elétricos e por classe de consumo:
residencial, industrial, comercial e outras. Propõe uma análise mais abrangente, que por
sua vez terá métodos predominantemente de insumo-produtos que parametrizam e
caracterizam o correspondente segmento do mercado, bem como a evolução do PIB e da
população.
21
Não serão apresentados estudos particulares para a análise do consumo de energia do
setor comercial, que pode ser fundamentada por meio de um cenário econômico que vai
além das premissas históricas individualizadas do setor. Apesar de estar em terceiro lugar
no consumo de energia em relação ao total nacional, possui uma parcela significativa
nessa demanda. O estudo específico para o comércio acaba acompanhando o crescimento
do PIB, demográfico e industrial, uma vez que os setores comerciais são linearmente
dependentes destes parâmetros.
Na sequência, serão apresentadas as perspectivas do setor residencial e do setor
industrial.
4.2.1 Projeção e expansão do setor residencial
O crescimento da população brasileira para a próxima década se tornará mais
significativo nas regiões Norte e Centro-Oeste, o que aumentam a participação destas
regiões na demografia do país, conforme tendência história apresentada pelo IBGE que
também pode ser encontrada nos dados da EPE. Contudo, é visível na tabela 2 e na
tabela 3, que este ganho não será suficiente para retirar o predomínio da população
brasileira no sudeste, que estará, em um horizonte de 10 anos, com 42% da população
brasileira, enquanto o norte e o centro-oeste terão apenas 15%. Nesta conjuntura, para este
horizonte de 10 anos, é possível prosseguir com os estudos de projeção nacional sem se
ater às regionalizações, o que não necessariamente poderia ser feito em um estudo em
longo prazo.
22
Tabela 2 - Brasil e Regiões: Projeção da População Residente (mil hab)
Ano
2010
2014
2019
Norte
15.663
16.371
17.110
Nordeste
54.294
55.934
57.649
2010-2014
2014-2019
2019-2019
1,1
0,9
1,0
0,7
0,6
0,7
2010
2014
2019
8,0
8,2
8,3
28,0
27,9
27,9
Sudeste
Sul
81.932
28.028
84.307
28.750
86.788
29.504
Variação (% ao ano)
0,7
0,6
0,6
0,5
0,6
0,6
Variação (% ao ano)
42,2
14,5
42,1
14,4
42,0
14,3
Centro-Oeste
14.174
14.825
15.505
Brasil
194.091
200.186
206.556
1,1
0,9
1,0
0,8
0,6
0,7
7,3
7,4
7,5
100,0
100,00
100,00
Tabela 3 - Brasil e Regiões: Projeção do Número de Domicílios (mil)
Ano
2010
2014
2019
Norte
4.259
4.725
5.305
Nordeste
15.295
16.660
18.384
2010-2014
2015-2019
2010-2019
2,6
2,3
2,5
2,2
2,0
2,1
2010
2014
2019
7,0
7,1
7,2
25,2
25,0
24,9
Sudeste
Sul
27.152
9.591
29.692
10.533
32.917
11.723
Variação (% ao ano)
2,3
2,4
2,1
2,2
2,2
2,3
Variação (% ao ano)
44,7
15,8
44,6
15,8
44,5
15,8
Centro-Oeste
4.547
5.051
5.663
Brasil
60.844
66.662
73.992
2,7
2,3
2,5
2,3
2,1
2,2
7,4
7,6
7,6
100,0
100,0
100,0
A importância do número de habitantes e número de domicílios se faz necessária
para que seja encontrado o número médio de habitantes por domicílio, que chega a 2,8 no
final da década de projeção, mostrando uma queda em relação ao número atual de 3,2.
Estes números são frutos da queda da taxa de fecundidade, isto é, um menor número de
filhos por família.
A importância do número de domicílios combinado com o número de habitantes é
por conta da variação do consumo de energia de acordo com a média de número de
habitantes por domicílio. O poder aquisitivo e o número de habitantes p or residência
agregam o consumo total de energia. Já o crescimento do número dos domicílios implica
em consumo fixo de energia, por conta de eletrodomésticos fixos, como geladeira, que não
dependem do número de pessoas no domicílio, mas apenas do poder aqu isitivo da família.
23
Para a análise de crescimento populacional, a EPE adota estudos com base nas taxas
de crescimento anuais e nos valores totais da população, observando os seguintes
históricos e projeções, apresentadas nas figuras 3 e 4, que mostram uma redução na taxa
de crescimento. Estudos do IBGE para uma projeção de 50 anos apontam uma taxa de
crescimento negativo a partir de 2040.
Figura 3 - Taxa de crescimento demográfico nacional
Figura 4 - Crescimento demográfico nacional
24
No que diz respeito aos aspectos de expansão, o incremento do consumo do setor
residencial está também dependente do aumento do número de domicílios e da aquisição
de eletrodomésticos. No que rege o crescimento do número de residências atendidas pelo
serviço de energia elétrica ao longo do horizonte de dez anos, observa-se os objetivos
alcançados do Programa Luz para Todos no ano de 2010. Deste modo, a quantidade de
residências permanentes com energia elétrica direciona-se de 55 milhões de unidades em
2007 para cerca de 74 milhões de unidades em 2019.
Com relação à posse de eletrodomésticos, admitiu-se que o aumento da renda per
capita é indutor da expansão do estoque desses equipamentos nos domicílios. A projeção
do estoque é conseguida a partir da subtração entre a avaliação de evolução das vendas e o
sucateamento dos equipamentos em foco, admitindo-se a premissa geral de que, ao final
da vida útil, estes são substituídos por outros mais eficientes. Desta forma, o estoque se
expande e se torna cada vez mais eficiente [11].
4.2.2 Projeção dos setores industriais
Quando há uma política de distribuição de renda, o crescimento econômico
interferirá positivamente o crescimento social. A geração de empregos e a conseqüente
geração de oportunidades acarretam capital para a população de modo que esta poderá
consumir e aquecer o mercado produtor e ainda ser absorvida.
Devido à retroação da produção internacional com a crise de 2009, houve mudanças
entre os cenários previstos nas variáveis com relações econômicas da expansão dos
setores industriais, tanto por uma redução da exportação, como em setores que sofreram
impactos indiretos. O setor com maior abalo foi o siderúrgico e, conseqüentemente, nos
25
setores correlacionados com a cadeia produtiva, seja a montante (mineração), seja a
jusante (produtos do aço).
Para a previsão, a EPE traça as curvas de demanda energética de sub-setores
distintos, considerados como grandes consumidores industriais de energia. É analisad o o
crescimento tanto regional quanto do tipo de produtos. São utilizados como parâmetros
um cenário macroeconômico que trata de dinâmicas de mercado interno e externo dos
respectivos produtos, tais como a capacidade de expansão e o comportamento da demand a
interna frente ao crescimento da economia e aos valores agregados. A perspectiva do
consumo dos consumidores eletrointensivos foi realizada com a confiança de evolução
física e da evolução do consumo específico de energia elétrica (kWh) por tonelada de c ada
um dos sub-setores.
As fontes de dados adotadas são baseadas em dados dos Estudos Setoriais do Banco
Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), e ainda podem ser utilizadas
como fontes as associações de classe dos principais grupos industriais ou informações
consideradas seguras da mídia.
Com base na perspectiva de crescimento de produção presente na tabela 4
combinada com o consumo elétrico médio por tonelada, apresentados na tabela 5, ambas
com dados da EPE, é que se pode ter um aspecto quantitativo que nos motive a projetar a
demanda energética industrial.
26
Tabela 4 - Produção dos Grandes Consumidores Industriais (mil tol/ano)
Setor
Bauxita
Alumina
Alumínio
Siderurgia
Ferroligas
Pelotização
Cobre
Soda-Cloro
Petroquímica
Celulose
Pasta Mecânica
Papel
Cimento
Tabela 5
2010
31.435
9.418
1.610
44.030
1.406
54.250
776
1.724
3.790
15.131
520
11.112
-
Capacidade Instalada
2014
2019
43.394
53.394
13.409
16.769
1.738
2.155
57.120
78.600
1.562
1.962
68.000
83.500
1.786
2.358
2.172
2.882
5.190
5.790
20.381
28.931
520
820
14.239
19.854
-
Produção Física
2014
41.224
12.738
1.668
52.550
1.484
64.600
1.696
2.020
4.931
19.415
504
13.100
70.039
2019
50.724
15.730
2.069
72.312
1.864
79.325
2.240
2.681
5.501
28.041
795
18.266
95.127
Consumo de Grandes consumidores industriais: Consumo médio de eletricidade (kWh/t)
Setor
Bauxita
Alumina
Alumínio
Siderurgia
Ferroligas
Pelotização
Cobre
Soda-Cloro
Petroquímica
Celulose
Pasta Mecânica
Papel
Cimento
4.3
2010
26.863
8.947
1.530
32.142
1.125
46.113
699
1.552
3.544
13.149
494
10.000
54.106
2010
13
298
14.767
498
7.161
49
1.555
2.725
1.581
883
2.187
695
99
2014
13
296
14.650
498
7.505
48
2.511
2.663
1.588
871
2.171
688
98
2019
13
293
14.486
498
8.204
48
1.495
2.601
1.579
864
2.153
681
97
RESULTADOS DAS PROJEÇÕES
O estudo de previsão de consumo energético nacional exposto pela EPE é
apresentado distribuído por regiões e por setores elétricos. A seguir, serão detalhados
estes resultados estimados da demanda, para apresentar o referido quadro energético.
Na Figura 5 encontramos uma representação simplificada do estudo de demanda
energética adotada pela EPE. Observamos que os fatores que foram apresentados neste
estudo contemplam apenas os Cenários Mundiais, Nacionais e Demográficos.
27
Módulo Macroeconômico
Cenários Mundiais
Cenários Nacionais
Consistência
Macroeconômica
Estudos da
Demanda de Energia
Cenários Mundiais
Demografia
Eficiência
Meio Ambiente
Projeções de
Demanda de Energia
Uso Energético
Estudo de Oferta/
Infra-Estrutura
Figura 5 - Representação adaptada da EPE para a projeção da demanda do setor de energia
As variáveis de entrada que tratam sobre eficiência energética e meio ambiente se
mostram com um importante papel, pois se acredita que as políticas de eficiências e
sustentabilidade já estão inclusas no estado atual, que caracterizam a curva aqui
apresentada. A perda deste cenário de eficiência poderia extrapolar o consumo previsto.
Entretanto, todos os setores estão buscando cada vez mais reduzir os custos sob as
limitações de tarifas energéticas ou estratégias de sustentabilidade e/ou marketing, que os
incentivam nesta eficiência.
Neste cenário de 2010 a 2019, a taxa média de crescimento é prevista para 5,0% ao
ano. Na tabela 6, encontra-se uma projeção do consumo energético na rede, segmentado
em classes de consumo. É observado que a média de crescimento de demanda para a
28
classe comercial se torna mais expressiva e se aproxima da média residencial, que passa
de 25,4% em 2010 para 23,6% ao final da década. Outro ponto que pode ser observado
está na tabela 7, que apresenta um crescimento da região norte. Este crescimento parte do
pressuposto que grandes cargas industriais estarão sendo instaladas na região, por conta
dos incentivos fiscais, e o suprimento destas cargas será possibilitado com a interligação
dos sistemas, que até então são isolados. Esta interligação é motivo desta redução de
sistemas isolados apresentados na tabela 7.
Tabela 6 - Consumo e projeção energética na rede por Classe (GWh)
Ano
2010
2014
2019
Residencial
105.538
126.787
156.546
2010-2014
2015-2019
2010-2019
4,8
4,3
4,6
Industrial
Comercial
182.338
69.223
223.456
87.825
274.774
118.416
Variação (% ao ano)
6,1
6,2
4,2
6,2
5,1
6,2
Outros
58.766
68.724
83.297
Total
415.865
506.791
663.033
4,1
3,9
4,0
5,5
4,5
5,0
Tabela 7- Consumo e projeção energética na rede por Subsistema (GWh)
Ano
2010
2014
2019
Norte
28.813
43.318
58.152
2010-2014
2014-2019
2010-2019
10,5
6,1
8,2
Subsistema
Nordeste
Sudeste/CO
Sul
59.015
250.503
71.024
72.372
306.125
83.737
92.561
337.355
103.162
Variação (% ao ano)
5,9
5,6
4,7
5,0
4,3
4,3
5,4
5,0
4,5
409.355
505.552
631.229
Sistemas
Isolados
6.510
1.239
1.805
415.865
506.791
633.033
5,9
4,5
5,2
-31,2
7,8
-13,9
5,5
4,5
5,0
SIN
Brasil
Na Figura 6, observa-se a variação da demanda no ano de 2009, quando houve um
deslocamento nas várias classes de consumo. A crise alterou a curva efetuando um
deslocamento negativo quando comparadas as curvas de projeções do PDE antes e depoi s
da crise. Por conseguinte, a determinação clara deste horizonte garante a contribuição de
um crescimento importante na determinação de novos investimentos em infraestrutura.
29
Figura 6 - PDE 2008-2017 e PDE 20010-2019
30
5
CONCLUSÃO
Ao fazer este levantamento bibliográfico sobre a projeção de demanda energética
nacional, buscou-se trazer um conhecimento básico do que já foi estudado e publicado
sobre o assunto. Percebe-se que o estudo da previsão de demanda é necessário para um
planejamento da matriz energética (geração, transmissão e distribuição), e baseado na
construção de um modelo econômico, social e histórico, é possível um olhar político e
econômico nos efeitos da crise de 2009, a fim de evitar novas anormalidades que possam
vir a causar danos a sociedade e a economia nacional.
A modelagem econométrica ou de insumo-produto são insuficientes, se tratadas
isoladamente. Do mesmo modo, os métodos de análises quantitativas e qualitativas devem
ser trabalhados em conjunto. As informações e resultados apresentados nos estudos de
previsão de demanda realizados pela EPE permitem disponibilizar para os pesquisadores,
autoridades e demais interessados um conjunto de dados que contribuem para avançar em
estudos específicos associados ao crescimento do consumo energético, notadamente
aqueles direcionados ao planejamento.
Para os modelos apresentados, que é uma forma simplificada, as variáveis como
questões sócio-ambientais não foram tratadas. É aberta a possibilidade de trabalhos
futuros a serem explorados e incrementados considerando questões ambientais e sociais.
Pensando em longo prazo, a execução dos pontos do programa de planejamento acarreta
um processo de otimização e modernização das formas de ação, utilizando dados mais
específicos que possam agregar informações ao conteúdo. Pesquisas deste gênero tratadas
pela EPE trazem benefícios significativos para o desempenho de estratégias políticas de
energia.
31
6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
[1] COTRIM, Gilberto. História Geral: Brasil e Geral. 1. Ed. São Paulo: Saraiva, 2008.
[2] CAVALIN, Geraldo. Instalações elétricas prediais, 3a ed. São Paulo: Érica, 1998.
[3] ADIB,
Carlos
Arlindo.
História
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Energia
Elétrica.
Disponível
em
<http://www.carlosadib.com.br/elet_fatos.html>. Acesso em 20 Ago. 2010.
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Vela
(medida).
Disponível
em:
<
http://pt.wikipedia.org/wiki/Vela_(medida)>. Acesso em: 10 dez. 2010.
[5] CASTELO BRANCO, Ana Cristina Gomes de Oliveira. Projeção de demanda de
energia elétrica. Dissertação de Mestrado. Universidade Salvador
UNIFACS.
Salvador, 2003.
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Brasil. 3a ed.
Brasília: ANEEL, 2008.
[7] BRASIL. Medida provisória n o 2.198-5, de 24 de agosto de 2001. Diário Oficial
da República Federativa do Brasil, Poder Executivo, Brasília, DF, 24 ago. 2001.
[8] BRASIL. Critérios e procedimentos para estudos elétricos. Comitê Coordenador
do Planejamento da Expansão dos Sistemas Elétricos. Empresa de Pesquisa
Energética, Brasília, Nov. 2002.
[9] Dourado, Rosana Aparecida. Formulação de um modelo de projeção de demanda
de energia elétrica aplicado a sistemas isolados em desenvolvimento natural: o
caso da CERON, Florianópolis, UFSC, Programa de Pós-Graduação em Engenharia
de Produção, 2004.
[10] LEMOS, Fernando de Oliveira. Metodologia para Seleção de Métodos de
Previsão de Demanda. Dissertação de Mestrado em Engenharia de Produção -
32
Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção, UFRGS, Porto Alegre,
2006.
[11] BRASIL. Plano Decenal de Expansão de Energia 2019. Ministério de Minas e
Energia. Empresa de Pesquisa Energética. Rio de Janeiro: MME/EPE, 2010. 2 v.: il.
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JOSÉ ADERBAL AUGUSTO DE ALMEIDA FILHO - DEE