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TECNOLOGIA E EDUCAÇÃO: SUPERANDO AS DIFICULDADES DE
APRENDIZAGEM
Mailson Alan de Godoi¹
Everton Augusto²
Dra. Susana Gakyia Caliatto³
UNIVAS/Programa de Mestrado em Educação
Linha Temática: Educação, Formação e Tecnologias
RESUMO
O artigo trata da aplicação das tecnologias na educação. No Brasil, existem relatos de pesquisa sobre a
informatização da educação desde a década de 70. A principal característica do século XXI é o avanço das
tecnologias de mídia e isso causa um impacto direto na educação. O objetivo neste artigo é discutir o uso das novas
tecnologias na superação das dificuldades de aprendizagem. Foi realizada uma revisão bibliográfica de autores que
tratam do tema. O ponto central é que a tecnologia é um recurso que favorece a aprendizagem. Uma pesquisa
realizada na UNESP demonstra que crianças do ensino básico melhoraram seu desempenho escolar em Física e
Matemática com o uso de tecnologias em sala de aula. Em relação aos alunos com baixo desempenho, houve uma
melhora ainda maior. Busca-se investigar se as tecnologias podem contribuir para a superação das dificuldades de
aprendizagem. As tecnologias podem ser usadas tanto no processo de aprendizagem como para solucionar
problemas específicos de dificuldades de aprendizagem.
Palavras-chave: Educação; Tecnologia; Dificuldades de Aprendizagem.
ABSTRACT
The article deals with the application of technology in education. In Brazil, there are reports of research on the
computerization of education since the 70. The main feature of the XXI century is the advancement of media
technologies and this has a direct impact on education. The purpose of this article is to discuss the use of new
technologies in overcoming learning difficulties. A literature review of authors dealing with the subject was
conducted. The central point is that technology is a feature that favors learning. A survey conducted at UNESP
shows that primary school children improved their school performance in physics and mathematics using
technology in the classroom. Compared to students with low performance, there was an even greater improvement.
Seeks to investigate if technologies can help overcome learning difficulties. Technologies can be used both in the
learning process and to troubleshoot specific learning difficulties.
Key-words: education; technology; Learning Difficulties.
INTRODUÇÃO
O século XXI é marcado por um avanço nas tecnologias digitais. Autores falam que as
novas tecnologias invadiram o cotidiano das pessoas, modificando seus hábitos, costumes e
necessidades. Com isso, a tecnologia influenciou também a educação. Crianças são inseridas
mais cedo no mundo digital, no entanto a escola ainda enfrenta problemas para usar as
tecnologias na educação.
O objetivo neste artigo é discutir o tema da aplicação das tecnologias na educação, na
solução de problemas ligados a dificuldades de aprendizagem. As questões que conduzem a
abordagem são: existe relação entre tecnologia e desempenho escolar? As tecnologias
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contribuem para a superação das dificuldades de aprendizagem? A pesquisa utilizou da revisão
bibliográfica de autores que tratam do tema.
A proposta pedagógica das escolas hoje é promover o uso das tecnologias em sala de
aula. No entanto, a tecnologia pode ser usada também em casos específicos de dificuldades de
aprendizagem. Uma pesquisa da UNESP comprovou que o uso de tecnologias em sala de aula
aumentou o desempenho dos alunos. A tecnologia causou um efeito maior em crianças que
antes tinham um baixo rendimento escolar. Provavelmente, essas crianças com baixo
rendimento escolar tinham dificuldades de aprendizagem e elas foram superadas por meio da
aplicação da tecnologia.
1. DIFERENÇA ENTRE DIFICULDADE DE APRENDIZAGEM E DISTÚRBIO DE
APRENDIZAGEM
Quando se fala em dificuldades logo se assimila algo que não esteja ocorrendo dentro de
suas normalidades. Segundo o dicionário Aurélio (2014), o termo dificuldade significa por
aquilo que é difícil, um impedimento ou mesmo um obstáculo. Já quando se fala de
aprendizagem é possível pela própria palavra assimilar o seu entendimento, ou seja, aprender
algo. O termo dificuldade de aprendizagem parece não ser difícil de compreender, porém por
muito tempo houve discordâncias sobre o uso deste termo na educação.
O autor Bartholomeu (2009) relata que o baixo rendimento escolar tem sido uma das
mais evidentes manifestações sobre dificuldades de aprendizagem. Segundo o mesmo autor, a
dificuldade tem de ser empregada de maneira correta, uma vez que alguns alunos apresentam
dificuldades de aprendizagem, porém conseguem avançar mesmo com esta dificuldade, as
quais passam despercebidas; e outros alunos que desistem da escola por falta de interesse e são
tratados como portadores de dificuldades de aprendizagem.
A autora Ohlweiler (2006) diz que em alguns casos a dificuldade de realizar uma tarefa
pode estar ligada a outros fatores como: problemas na proposta pedagógica, capacidade do
docente, problemas relacionado à vida pessoal do aluno ou até maus déficits cognitivos e entre
outros fatores.
Hoje, a importância dada ao déficit de aprendizagem da criança é significativamente
grande, pois isso se deve ao fato do sucesso do indivíduo estar relativamente atrelado a um bom
desempenho escolar do aluno. Isso faz com que cada vez mais estas crianças sejam
encaminhadas para serem atendidas por psiquiatras, psicólogos, psicopedagogos,
fonoaudiólogos e alguns casos neuropediatras (OHLWEILER, 2006).
É preciso distinguir a dificuldade de aprendizagem e distúrbios de aprendizagem, já que
são identificadas por diferentes critérios que definem suas características (BARTHOLOMEU
2009). Para Ohlweiler (2006) diversos termos são empregados a estas crianças de forma
inadequada tais como “distúrbios”, “problemas”, “discapacidades”, “transtornos”. É preciso
estabelecer entre profissionais que atuam na área de aprendizagem, um termo uniforme para
lidar com a diferença que há entre transtornos e dificuldades de aprendizagem.
Distúrbio está associado há uma disfunção neurológica, ou seja, está relacionado com
fatores fisiológicos do cérebro, por isso é impossível de haver uma correção por ser um dano
irreparável (CORREIA, 1999). As dificuldades de aprendizagem são de maior abrangência,
pegando toda a vida do ser humano em suas dimensões, estando inseridas questões pessoais
como: seu ambiente familiar e seu núcleo escolar (CORREIA 1999). Enquanto os distúrbios
causam dificuldades irreparáveis na aprendizagem, as dificuldades de aprendizagem permitem
intervenções e podem surgir em qualquer fase do desenvolvimento do indivíduo.
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Os distúrbios e transtornos de aprendizagem estão ligados a questões patológicas, uma
vez que a discrição de transtornos é encontrada no Manual Internacional de Diagnóstico de
Doença também chamado de CID – 10 e DSM – IV (OHLWEILER 2006). As dificuldades de
aprendizagem acompanham o processo de formação do indivíduo e permitem intervenções
pedagógicas. A seguir será abordada história do uso das tecnologias da informação na educação
brasileira.
2. A INFORMÁTICA E A EDUCAÇÃO NO BRASIL
No Brasil, a ideia de usar as tecnologias da informática na educação surgiu desde a
época da difusão dos primeiros computadores. A iniciativa de pesquisar o uso da informática na
educação foi motivada por fatos ocorridos em outros países como Estados Unidos e França
(ALMEIDA; VALENTE, 1997). Assim aconteceram debates sobre o tema, seminários, o que
resultou na elaboração de projetos e programas de implantação da informática na educação
(SILVA, 2005). Se referindo à obra ‘Projeto EDUCOM’, Moraes (1997) afirma que as
universidades públicas foram as primeiras instituições a promover pesquisa sobre o uso de
computadores na educação.
Segundo Moraes (1993, apud LOPES, s.d.), os primeiros projetos de implantação da
informática nas escolas brasileiras iniciam-se com uma discussão sobre o uso de computadores
no ensino da Física em 1971. A discussão ocorreu em um seminário promovido pela
Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), tendo participado um especialista da
Universidade de Dartmouth dos Estados Unidos. Lopes (s.d.) afirma que a partir destas
primeiras discussões, outras Universidades passaram a ter iniciativas sobre o uso da
computação na educação. Em 1973, na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ),
professores começaram a usar os computadores como recurso auxiliar para o ensino e avaliação
de procedimentos em Química. No mesmo período, a Universidade Federal do Rio Grande do
Sul (UFRGS) passou a usar os computadores para desenvolver softwares educativos.
Na década de 70, é importante ressaltar as pesquisas realizadas pelo Laboratório de
Estudos Cognitivos do Instituto de Psicologia (LEC) da Universidade Federal do Rio Grande
do Sul (UFRGS). Amparados nas teorias de Piaget e Papert, pesquisadores do LEC fizeram
experiências com crianças com dificuldades de aprendizagem na leitura, na escrita e no cálculo,
usando a informática como ferramenta para ajudar no processo de aprendizagem
(NASCIMENTO, 2007).
Segundo Almeida e Valente (1997), a informatização da educação no Brasil foi parecida
com a dos Estados Unidos na década de 70. Em 1975, Seymour Papert e Marvin Minsky vieram
ao Brasil e difundiram as ideias do LOGO (MORAES, 1997). Em 1975, a Universidade
Estadual de Campinas (UNICAMP), fez uma cooperação técnica com o Media Lab do
Massachusetts Institute of Technology (MIT) a fim de iniciar pesquisas sobre o uso de
computadores com a linguagem LOGO na Educação Infantil (VALENTE, 1999, apud LOPES,
s.d.).
Segundo Moraes (1993, apud LOPES, s.d.), na década de 1980 foram realizados
seminários com o objetivo de discutir a implantação de projetos-piloto sobre o uso dos
computadores para ensino e aprendizagem nas universidades. Este debate originou o Projeto
EDUCOM em 1984, com a participação conjunta entre o MEC, o Conselho Nacional de
Pesquisas (CNPq), a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) e a Secretaria Especial de
Informática da Presidência da República (SEI/PR). Embora tenha enfrentado dificuldades
financeiras, o Projeto EDUCOM representou o início de pesquisas científicas e de políticas
públicas direcionadas para a informática educativa no Brasil.
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O projeto EDUCOM permitiu a formação de pesquisadores das universidades
e de profissionais das escolas públicas que possibilitaram a realização de
diversas ações iniciadas pelo Ministério da Educação, como realização de
Concurso Nacional de Software Educacional (em 1986, 1987 e 1988), a
implementação do curso de Especialização em Informática na Educação
(realizados em 1987 e 1989), e implantação nos estados dos Centros de
Informática em Educação (iniciada em 1987). (SILVA, 2005, p. 19)
Após este projeto, o MEC criou em 1986, o Programa de Ação Imediata em Informática
na Educação de 1º e 2º graus, objetivando capacitar professores por meio do Projeto Formar e
implantar infraestruturas de informática nas instituições de ensino (MORAES, 1997).
Em 1989, o MEC lançou o Programa Nacional de Informática na Educação (Proninfe)
com o objetivo de desenvolver a informática educativa e o seu uso no ensino público, incluindo
os três níveis da educação e a educação especial (MORAES, 1997). No fim da década de 1980,
além das iniciativas federais, surgiram iniciativas municipais e estaduais em todo o Brasil
aumentando o investimento na informática educativa (LOPES, s.d.).
Em 1989, entrou em ação o Programa Nacional de Informática na Educação, ligado à
Secretaria de Educação a Distância, do MEC (SILVA, 2005). Em 1990, o MEC aprovou o 1º
Plano de Ação Integrada – PLANINFE – que consistiu num planejamento estratégico de
utilização da informática na educação para os anos de 1991 a 1993 (MORAES, 1997).
Em abril de 1997, ocorre o lançamento do Programa Nacional de Informática na
Educação – PROINFO, um dos maiores programas de informática educativa no país. O
programa visou promover o uso pedagógico de Tecnologias de Informação e Comunicações
(TICs) no ensino público, níveis fundamental e médio (LOPES, s.d.). Isso abriu portas para a
instalação de laboratórios de informática nas escolas de ensino médio e em escolas de nível
básico – urbanas e rurais. Este programa possibilitou às escolas o ensino informatizado por
meio do uso de tecnologias e o acesso à internet.
Em 2004, por meio do MEC foram criados programas de educação a distância para a
formação inicial e continuada de professores da rede pública de ensino. Dois programas se
destacam: o Proletramento e o Mídias na Educação. Estas ações lançaram a base para a criação
do sistema Universidade Aberta do Brasil, uma pareceria entre o MEC, os estados e os
munícipios. Em meados de 2013, o Ministro da Educação, Aloizio Mercadante, anuncia o envio
de um projeto de lei ao Congresso Nacional para a criação da primeira Universidade Federal de
Educação a Distância do país.
A análise sobre o histórico do processo de informatização da educação no Brasil mostra
que o país possui grande experiência e conhecimento na aplicação de tecnologias na educação
em seus diferentes níveis. As pesquisas e as ações políticas levam a crer que é possível – e
oportuno - avançar no uso da informática no processo de aprendizagem. As dificuldades de
aprendizagem é um problema presente nas escolas brasileiras e a informática – e outras
tecnologias – podem ajudar as pessoas a superar os problemas surgidos durante o processo de
aprendizagem.
Para Almeida e Valente (1997), o uso do computador na educação como recurso do
ensino e da aprendizagem possibilita descobrir um novo modo de conceber o conhecimento,
sendo o professor a peça chave neste processo de conhecimento das técnicas computacionais.
Vencer as estruturas convencionais e projetar novas práticas pedagógicas “possibilita a
transição de um sistema fragmentado de ensino para uma abordagem integradora de conteúdo e
voltada para a resolução de problemas específicos do interesse de cada aluno” (ALMEIDA;
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VALENTE, 1997). Vale ressaltar ainda que os programas de educação a distância destinados a
formação de docentes, de certo modo, insere os professores no mundo tecnológico e os capacita
para o ofício de educar. Aplicar as tecnologias na educação passa a ser uma realidade mais
próxima das escolas em nosso país.
3. O USO DAS TECNOLOGIAS DA INFORMAÇÃO NA EDUCAÇÃO
Segundo Dalapossa (2011), a internet, grande rede de comunicação virtual, dá ao
homem uma conexão e interação com o mundo inteiro, possibilitando ampliar seus
conhecimentos. Com esse canal de comunicação aberto, pode abrir novos rumos na construção
de conhecimento, refletindo, construindo e transformando uma sociedade de igualdade para
todos. A sociedade pós-moderna se caracteriza pelo acelerado desenvolvimento da tecnologia
eletrônica, com atenção especial para o computador, e seus periféricos como a internet e a
informática em geral.
García et al (2011) frisa que a sociedade hoje é caracterizada pelo avanço e a
disseminação das denominadas TICs (tecnologias da informação e da comunicação). O
cotidiano das pessoas está imerso a técnicas e recursos tecnológicos. Esta realidade pode mudar
o comportamento das pessoas e causar um descompasso entre as gerações de quem ensina e de
quem aprende, trazendo consequências e questões que merecem ser pensadas (GARCÍA et al,
2011).
Lapa e Belloni (2012) salientam que as TICs possuem um potencial transformador para
a educação e defendem não só as mídias como ferramenta para a educação, mas também como
objeto de estudo. É preciso politizar as TICs, formar professores conscientes do uso das
tecnologias. A solução é a prática da mídia-educação. Deste modo é de grande importância a
disposição da escola e do professor na apropriação das TICs: fornecer as ferramentas
tecnológicas adequadas não é o suficiente, é preciso discutir o uso das tecnologias, usá-las de
forma criativa e crítica.
Dalapossa (2011) afirma que os meios de comunicação são verdadeiras “extensões do
homem”. Por isso a importância de usar as TICs para a formação humana desde as etapas
iniciais da escola, do pré-escolar até o 2º grau, num sentido construtivo para a construção
cidadã. Nas relações diárias, o homem (o ser universal) pensa e age neste ambiente que o
mesmo faz parte por meio das relações sociais. Assim é necessário que aja uma educação mais
voltada para a cidadania. A partir disso dizemos que as pessoas agem a partir de uma relação de
trocas culturais, modificando a si mesmas, aos outros e à natureza, havendo uma interação o
tempo todo. A tecnologia deve ser inserida neste contexto de experiência de conhecimento.
Ribeiro, Castro e Regattieri (2007) defendem a atual importância e a necessidade de
integração das tecnologias ao trabalho escolar, em especial as novas tecnologias da informação
e comunicação, considerando que elas estão cada vez mais presentes no cotidiano,
especialmente dos jovens, e que sua aplicação na educação, no trabalho e em outros contextos
relevantes, é uma competência básica a ser propiciada pelos educadores no conjunto do
currículo escolar e de suas disciplinas.
No mundo inteiro, as primeiras tecnologias como o rádio e a televisão e a mais nova
ferramenta, o computador, passaram “a formar parte da bagagem instrumental da chamada
Tecnologia Educativa” (DALAPOSSA, 2011). Um grande desafio para a escola nos dias de
hoje é fazer com que as crianças estejam preparadas para o mercado de trabalho. Mesmo antes
de chegarem à escola, as crianças já chegam com conhecimentos aprendidos em suas
experiências familiares e em sua interatividade virtual. É preciso visão crítica, pois o educador
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não pode ficar indiferente em relação as mudanças ocasionadas pela tecnologia. Afinal,
informação, conhecimento e aprendizagem não são as mesmas coisas (BONDÍA, 2002).
Segundo Silva (2011), a informática educacional é uma área de pesquisa que contribui
para desenvolver a formação escolar. As tecnologias da informática e da comunicação tem
como objetivo possibilitar aos alunos e professores um ambiente onde seja propicio para a
aprendizagem, unido recursos midiáticos com os objetivos escolares e curriculares, e que assim
possa ocorrer esta mediação do conhecimento por meio da tecnologia.
Lapa e Belloni (2012) ressalta a potencialidade das mídias para a formação cidadã do
ser humano, no entanto é preciso optar por metodologias que promovam a educação para a
liberdade e para a emancipação do sujeito. Na perspectiva da mídia-educação, a pessoa é
formada por meio das tecnologias de forma consciente e ativa. Assim, as pessoas pensam como
está sendo o processo de aprendizagem e reflete sobre o impacto da tecnologia em sua
formação. A questão chave da chegada das novas tecnologias de suporte à educação é, de
acordo com Silva (2011), fazer com que o aluno se interesse pela pesquisa, transformando a
educação bancária em educação por entretenimento.
O mero uso das tecnologias não garante a formação do "homem social" como vem
pregando as redes de comunicação, o que na verdade formará o homem será a maneira como o
sujeito irá utilizar a máquina a seu favor. Por isso, Silva (2011) afirma que “é preciso que os
objetivos do uso de computadores na educação em geral e na educação especial sigam uma
filosofia educacional mais ampla que justifique sua aplicação.” A tecnologia é um instrumento
mediador e o aluno deve sentir-se livre para atuar e participar no seu processo de construção de
conhecimento.
Segundo Silva (2009), especialista em Tecnologias Aplicadas à Educação e em Ensino à
Distância, as escolas vêm adquirindo esses dispositivos tecnológicos, mas vem em passos
muito pequenos; os profissionais da educação podem levar algum tempo para dominá-los, mas
esse tempo não pode ser muito longo, já que a velocidade do desenvolvimento de novas
tecnologias é algo que não para. A autora ainda diz que a revolução do computador vem para
promover uma educação massificada, com um grande número de informação disponível.
O que vai acontecer é que o ensino no país não vai mais se reduzir somente ao livro
didático, os novos livros didáticos estarão mais adequados às novas tecnologias da informação
e comunicação. Os recursos tecnológicos devem ser usados como um apoio à construção do
conhecimento, e não podem ser vistos como uma ferramenta que ensina por si só. No século
XXI, a tecnologia passa a ser uma aliada da educação. Em seguida será discutida a questão do
uso das tecnologias nos problemas com dificuldades de aprendizagem.
4. A RELAÇÃO ENTRE TECNOLOGIA E O DESEMPENHO ESCOLAR:
VENCENDO AS DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM
Pereira (s.d.) aponta uma diferença entre o uso da tecnologia na educação e a utilização
da tecnologia como ferramenta mediadora da aprendizagem. Para Lorenzato (1991), os
recursos utilizados pelo professor é um fator decisivo no processo de ensino e aprendizagem.
Nesse sentido, por utilizar dos recursos da imagem, as mídias possuem um potencial
pedagógico e mediador, podendo ser usadas em casos de dificuldades de aprendizagem.
Libâneo (2007) aponta que a escola é responsável por proporcionar uma aprendizagem
de qualidade aos alunos. O autor afirma que as mídias exercem cada vez mais um papel de
mediação e de tradução da realidade social. As pessoas estão cada vez mais inseridas no mundo
da tecnologia da informação e isso vem modificando hábitos, costumes e necessidades. E a
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escola é um espaço que deve acompanhar esta transformação na sociedade, utilizando as novas
tecnologias da informação a favor da educação.
Pereira (s.d.) cita que existe uma grande diferença entre o processo de ensino e o
processo de aprendizagem. Esta diferença pode ser percebida tanto na educação presencial
como na educação a distância, mediada por tecnologias de comunicação. No entanto, para
Masetto (2000) é possível pensar o ensino e a aprendizagem como um processo interativo. E as
tecnologias podem contribuir para esta interação, ficando para a escola a tarefa de se apropriar
cada vez mais das novas tecnologias.
Para Sancho (apud PEREIRA, s.d.), o ideal é que a escola use de todos os meios
disponíveis para dar condições ao processo de ensino e aprendizagem, desde a lousa de pedra
até os quadros digitais. A questão fundamental é: a tecnologia pode auxiliar na superação das
dificuldades de aprendizagem?
Uma pesquisa realizada na UNESP (Universidade Estadual de São Paulo) mostra que o
desempenho de alunos aumenta com a interatividade proporcionada pela tecnologia
(ALENCAR, 2013). Esta relação entre tecnologia e rendimento escolar é um marco na história
da educação. Quando se discute dificuldades de aprendizagem, a ação primordial é alcançar
uma compreensão dos problemas de aprendizagem dos alunos em observação, tais como se
mostram aos professores, pais, amigos (LOPES, 2010). Ao entender o histórico e o processo de
evolução do problema de aprendizagem do aluno, o próximo passo é a intervenção adequada
(LOPES, 2010). É aqui que entra a tecnologia como recurso para ajudar ao aluno a superar seus
problemas com o processo de aprendizagem. O fato da tecnologia proporcionar um melhor
aprendizado ao aluno e dinamizar sua aprendizagem por meio de mídias, indica que pode-se
usá-la como ferramenta para intervenções em casos de dificuldades de aprendizagem.
Segundo a referida pesquisa da UNESP, a utilização da tecnologia na educação melhora
em 32% o desempenho dos alunos de 2º e 3º ano do ensino básico (ALENCAR, 2013). A
pesquisa comparou conteúdos de matemática/física trabalhados pelo professor com o suporte
das ferramentas tecnológicas e conteúdos trabalhados de forma expositiva, sem recursos
tecnológicos em sala de aula. Paiva (2009, p. 9) afirma que o indivíduo com dificuldades de
aprendizagem “pode não conseguir vencer essa situação por falta de ferramentas, ou por não
saber utilizá-las para transpor os bloqueios”. Nesse sentido, a tecnologia pode funcionar como
uma ferramenta para ajudar a criança em seu processo de formação, de modo que construa com
sucesso o processo de aprendizagem.
Mas há de se considerar que existem duas mãos na utilização da tecnologia nas
dificuldades de aprendizagem: o professor deve dominar o uso de tais recursos midiáticos e o
aluno deve ser inserido na virtualização. Garcia et al (2011) ressalta que as TICs não podem ser
vistas como simples suporte ao trabalho docente. As TICs funcionam como ferramentas de
mediação interativa, num processo dialógico em que os sujeitos não são meros usuários, mas
seres de ação e intervenção de conteúdos e programas.
Assim, a tecnologia consiste numa poderosa ferramenta educativa e deve ser usada
durante todo o processo de formação do indivíduo, desde os primeiros anos escolares. Todavia,
este poder de mediar a comunicação interativa pode ser usado também para criar metodologias
capazes de auxiliar na superação de dificuldades de aprendizagem.
Alencar (2013), diz que na pesquisa sobre a relação entre tecnologia e desempenho
escolar, as crianças com baixo desempenho em sala de aula conseguiram maior desempenho
com o uso das tecnologias. Paiva (2009) salienta que as dificuldades de aprendizagem têm
várias causas. Genericamente, a expressão ‘dificuldades de aprendizagem’ está ligada a certas
desordens no aprendizado da criança, manifestadas quando o indivíduo está formando e usando
suas habilidades auditivas, linguísticas, cognitivas e sociais. Destarte, a criança que apresenta
falta de alguma habilidade na leitura, na escrita ou em raciocínios matemáticas, pode-se dizer
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que ela está passando por uma dificuldade de aprendizagem. Nesse sentido, o baixo
desempenho pode ser sinal de uma dificuldade de aprendizagem e, como mostra a pesquisa, a
tecnologia pode ajudar o aluno a desenvolver melhor suas habilidades e melhorar sua
aprendizagem por meio de um ensino mediado por TICs.
Segundo a pesquisa da UNESP (ALENCAR, 2013), o resultado do desempenho de
alunos com baixo rendimento escolar foi ainda maior: alunos com defasagem na aprendizagem
melhoraram 51% o desempenho em física e matemática com a utilização das ferramentas
tecnológicas em sala de aula. “Isso mostra que os alunos que têm maior dificuldade de
aprendizagem são os mais beneficiados pelo uso dessa tecnologia”, afirma Silvio Fiscarelli
(apud ALENCAR, 2013), coordenador do projeto de pesquisa e responsável pelo departamento
de didática da UNESP (Universidade Estadual de São Paulo).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Há de se reconhecer o avanço do Brasil no investimento da educação utilizando
tecnologias, como é o caso da criação da Universidade Aberta. No entanto, países europeus
como Portugal possuem uma Universidade Pública de Educação a Distância desde 1988.
Somente em 2013 o Brasil anunciou o encaminhamento de um projeto de lei ao Congresso
Nacional para se criar uma Universidade Pública de Educação a Distância no país. Em relação
aos outros países, o Brasil ainda está bastante atrasado na ampliação do uso das tecnologias a
favor da educação.
Em relação a aplicação das tecnologias nas escolas, a discussão sobre os problemas da
educação mostra que é impossível falar de aprendizagem sem tocar na questão da tecnologia.
Na modernidade, a tecnologia sempre caminhou lado a lado com a educação e agora se percebe
uma relação de dependência entre uma e outra. Apesar desta proximidade, é um equívoco
afirmar que as transformações sociais foram ocasionadas unicamente pelo avanço tecnológico.
Muitos docentes hoje ainda resistem utilizar os recursos midiáticos na escola.
Entretanto, em pleno século XXI, se faz necessário pensar a tecnologia a favor da educação.
Santos (2003), ao discursar sobre a autonomia e a inserção das novas tecnologias na vida das
pessoas, afirma que para compreender a sociedade contemporânea é preciso indiscutivelmente
considerar a tecnociência como fator determinante nas relações humanas e estudá-la a fim de
conhecer a sua atuação e seus limites. Essa crítica à técnica seria uma forma de intervir no
processo tecnológico, verificando os pontos positivos e negativos das tecnologias. Isso pode ser
considerado um sinal de emancipação do indivíduo e da própria sociedade diante das invenções
tecnológicas. Neste contexto, o mínimo que se espera do professor hoje é uma visão crítica
acerca das novas metodologias para ensinar.
Libâneo (2007) observa que as tecnologias estão cada vez mais presentes na vida das
pessoas e a escola tem que se adaptar a estas transformações na sociedade. Aqui começa os
problemas enfrentados pelas escolas, uma vez que, se a escola não acompanha o
desenvolvimento da sociedade, não atrai os alunos, que encontram fora da escola um mundo
virtual mais interessante e atrativo. A escola precisa se adaptar e acompanhar as mudanças
sociais e tecnológicas a fim de possibilitar uma formação coerente com a realidade
contemporânea.
Os dispositivos tecnológicos vêm se alastrando a todo vapor, invadindo casas, escolas e
a vida dos nossos alunos. A escola e os professores precisam estar preparados para receber e
lidar, de maneira promissora, com essa tecnologia, sendo um mediador entre o aluno e o ensino
e os recursos midiáticos, promovendo o aprendizado.
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Assim este texto faz refletir que o uso da tecnologia pode ajudar a lidar com as dificuldades de
aprendizagem e que consiste numa ferramenta pedagógica a ser explorada. A pesquisa de Silvio
Fiscarelli prova que vale a pena a escola apropriar de forma crítica e criativa das novas
tecnologias. Os resultados mostram que é possível pensar as tecnologias da informação e da
comunicação sobre o enfoque das dificuldades de aprendizagem objetivando o
desenvolvimento de técnicas e ferramentas interativas para solução de problemas específicos
de aprendizagem.
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Mailson Alan de Godoi¹ ([email protected])
Everton Augusto² ([email protected])
Dra. Susana Gakyia Caliatto³ ([email protected])
Pró-Reitoria de Pós Graduação e Pesquisa, UNIVAS/Programa de Mestrado em Educação, Avenida
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tecnologia e educação: superando as dificuldades de aprendizagem