ENTRE AS OLARIAS E O RIO: O OLHAR DA GEOGRAFIA CULTURAL PARA A
COMUNIDADE ARTESÃ DO POTI VELHO
Francysco Renato Antunes Lopes
Universidade Federal do Piauí, Mestrando em Geografia
[email protected]
RESUMO
O presente artigo é resultado da pesquisa inicial da dissertação de mesmo nome. O trabalho consiste
em uma investigação sobre o tradicional artesanato produzido no bairro Poti Velho em Teresina e a
sua contribuição na espacialização local e no cotidiano da comunidade que está intensamente
envolvida nas etapas de produção das peças. A pesquisa se configura como quali- quantitativa, através
da aplicação de questionários e entrevistas com os elementos do objeto de estudo. A Geografia
Cultural é o campo da Geografia escolhido para fundamentar esta abordagem sócio-espacial no local,
com elementos de outras ciências como a Sociologia e a Antropologia, sem perder a noção espacial
tão presente no campo geográfico.
Palavras-chave: Artesanato. Poti Velho. Comunidade. Geografia Cultural. Turismo.
ABSTRACT
This article is the result of the initial research of the dissertation of the same name. The work consists
of a research on the traditional crafts produced in the neighborhood Poti Velho in Teresina and their
contribution to spatial location and daily life of the community who is intensely involved in the
stages of
production parts. The
survey is
configured
as
qualitative
and
quantitative, through questionnaires and
interviews with
the
elements of
the
object of
study. The Cultural Geography is the field of geography chosen to support this approach in sociospatial location, with elements of other sciences such as sociology and anthropology, without losing
the spatial notion as present in the field of geography.
Keywords: Crafts. Poti Velho. Community. Cultural Geography. Tourism.
1 INTRODUÇÃO
Em função da sua multidisciplinaridade, a abordagem do tema cultura tem sido feita
por diversos estudiosos nos últimos anos. Ela é entendida como uma extensão do homem e
dos seus modos de vida. É uma herança deixada de civilização para civilização, a herança do
individuo. Cada cultura tem um código distinto e soma os saberes, comportamentos, técnicas
e conhecimentos adotados pela sociedade ao longo do tempo.
A geografia cultural é um recente campo da geografia humana que tem se dedicado
ao tema e as suas implicações na produção sócio-espacial humana. Paralelo ao movimento é
necessário ressaltar o turismo que se intensifica mais com os anos e com novas possibilidades
da sua prática, incluindo a prática de se conhecer novas culturas.
Neste caso, se estabelece uma relação que vai além da economia e do lucro, mas que
também permite o acesso à cultura, a história, ao patrimônio, a memória e ao modo de vida de
um povo, mesmo que por pouco tempo. A temática em estudo tem como recorte espacial o
bairro Poti Velho em Teresina, primeiro bairro da cidade, referência na produção e
comercialização de artesanato na capital e um dos principais pontos turísticos locais.
O local possui uma tradição na atividade que perdura desde a década de 70, quando
Raimundo Camburão migrou do estado do Maranhão para o bairro, divulgou o seu trabalho e
inspirou os moradores a fazerem o mesmo. De lá para cá, junto com a fama adquirida, as
vendas cresceram, as pessoas buscaram se aperfeiçoar em seus respectivos trabalhos e se
fortalecerem como um grupo que prioriza um interesse comum em qualquer comunidade: a
melhoria na qualidade de vida dos seus membros.
Associando a produção artesanal com o bairro Poti Velho, observamos uma relação
de mutualismo que dá base para uma investigação cientifica da cultura sob o olhar da
geografia, além da inclusão do turismo como importante fenômeno para o local estudado.
2 A CULTURA E SUAS COMPLEXIDADES NO POTI VELHO
A cultura atribui significado a tudo a articula diversos elementos de uma sociedade.
Ela apresenta os traços daquele povo, seus anseios, crenças, características particulares,
conhecimentos e contatos e conflitos que eles estabeleceram ao longo do tempo.
Os estudos sobre a cultura seguem como um novo campo a ser desvendado pela
geografia cultural. As idéias sobre a geografia voltada para a cultura começaram a se difundir
na década de 70, mesmo em meio a inúmeras criticas dos geógrafos de tradição empírica. Na
Europa e nos Estados Unidos ela já desfruta de grande prestigio e nos Brasil começou a ser
destaque na década de 90. Segundo Corrêa e Rosedahl (2007) a geografia cultural:
Como todas as subdivisões da geografia, deve estar “ligada a Terra”. Os
aspectos da Terra, em particular aqueles produzidos ou modificados pela
ação humana, são de grande significado. O estudo destes aspectos
geográficos resultantes da ação do homem considera as diferenças entre as
comunidades humanas que as criam ou criaram e se refere aos modos
especiais de vida de cada uma como culturas.
Os autores defendem a cultura como parte do processo de modificação do homem,
como um aspecto da terra que pode ser criado e modificado. Fica evidente o papel da ação
humana no processo e a necessidade de novos olhares para a cultura. Contextualizando para a
cidade de Teresina, o artesanato local possui grande respaldo Piauí afora. O artesanato
produzido no bairro Poti Velho carrega importantes elementos da comunidade, que se envolve
nos mais diversos níveis de produção.
O trabalho tem a intenção de analisar, na perspectiva da Geografia Cultural, a relação
entre a comunidade artesã do bairro Poti Velho e a produção sócio-espacial local, além de
compreender como a comunidade interage, suas representações, como isso influência na
confecção das peças e a relação deles com a atividade turística, levando em conta que o lugar
é visitado por muitas pessoas de fora.
A pesquisa visa uma contribuição teórica na área de estudo e justifica a sua
relevância pela necessidade de estudos sobre locais que trabalhem com a perspectiva cultural,
mesmo que inconscientemente, e no caso do bairro Poti Velho, as práticas artesanais não
possuem apenas um significado econômico, mas são um reflexo da própria comunidade que
utiliza esta sua característica peculiar para promover a cultura local perante turistas dos mais
diferentes lugares.
Do ponto de vista cientifico, é um exemplo importante para se analisar as relações da
cultura com a geografia, o artesanato e o turismo, além da comunidade local e do trabalho na
confecção de peças. Os elementos apresentados são fatores essenciais para se melhor
compreender a geografia.
3 O ARTESANATO
Os primeiros objetos produzidos pelo homem eram artesanais. Isso foi identificado
no período neolítico (6.000 a.C.) quando o homem aprendeu a polir a pedra, a fabricar a
cerâmica como utensílio para armazenar e cozer alimentos, e descobriu a técnica de tecelagem
das fibras animais e vegetais. No Brasil, estes acontecimentos ocorreram no mesmo período.
Através de pesquisas, descobriram a existência de uma indústria lítica e a fabricação de
cerâmica por etnias de tradição nordestina que viveram no sudeste do Piauí em 6.000 a.C. Os
índios são considerados os mais antigos artesãos, pois utilizavam a arte da pintura, usando
pigmentos naturais, a cestaria e a cerâmica, sem esquecer a arte plumária como os cocares,
tangas
e
outras
peças
de
vestuário
feitas
com
penas
e
plumas
de
aves.
(http://artesanatobr.blogspot.com / Acesso em 15 de março de 2012).
Historicamente, o artesão, responde por todo o processo de transformação da
matéria-prima em produto acabado. Mas antes da fase de transformação o artesão é
responsável pela seleção da matéria-prima a ser utilizada e pela concepção, ou projeto do
produto a ser executado.
A partir do século XI, o artesanato ficou concentrado então em espaços conhecidos
como oficinas, onde um pequeno grupo de aprendizes vivia com o mestre-artesão, detentor de
todo o conhecimento técnico. Este oferecia, em troca de mão-de-obra barata e fiel,
conhecimento, vestimentas e comida. Criaram-se as Corporações de Ofício, organizações que
os mestres de cada cidade ou região formavam a fim de defender seus interesses.
Com a Revolução Industrial, teóricos do século XIX, como Karl Marx e John Ruskin
criticavam a desvalorização do artesanato pela mecanização. Os intelectuais da época
consideravam que o artesão tinha uma maior liberdade, por possuir os meios de produção e
pelo alto grau de satisfação e identificação com o produto. Na tentativa de lidar com as
contradições da Revolução Industrial, William Morris fundou o grupo de Artes e Ofícios na
segunda metade do século XIX, na tentativa de valorizar o trabalho artesanal e se opor à
mecanização. (http://www.historianet.com.br / Acesso em 15 de março de 2012).
O produto artesanal de origem deve ser o legítimo representante da memória material
de uma comunidade, revelada por meio de traços, formas, funções e cores. Ele não deve se
confundir com a indústria de souvenirs ou o industrianato, mas pode se beneficiar do bom
design e da boa qualidade técnica, como demonstram várias experiências. (PINHO: 2005 p.
20).
Figura 1 – Ilustração do Artesanato Brasileiro
Fonte: http://fehet.blogspot.com
Em Teresina, o artesanato produzido permite a inclusão de muitas comunidades no seu
processo de produção, de diversos bairros e tem maior predomínio de uma população de baixa
renda. No bairro Poti Velho, o trabalho com a cerâmica fez com que os membros da
comunidade se unissem com o propósito de aprimorarem esse manuseio e de formarem meios
de representação. Desta iniciativa surgiu a Associação dos Artesãos em Cerâmica do Poti
Velho e a Cooperativa de Mulheres Artesãs do Poti Velho.
As duas instituições trabalham em parceria com o setor público e privado, como o
Banco do Brasil, o SEBRAE – Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas, o
Governo do Estado do Piauí, a Prefeitura de Teresina, entre outros. Como resultado do
somatório dessas ações, ocorreu no ano de 2006 a fundação do Polo Cerâmico do Poti Velho,
que possibilitou a integração das atividades artesanais, fortalecendo o processo de produção.
Francisca Alves, presidente da Associação dos Artesãos em Cerâmica do Poti Velho
desde outubro de 2010, relata que a associação possui treze anos e que o surgimento do Polo
Cerâmico aconteceu graças às parcerias. Segundo ela, a associação tem um papel importante
como representante destes trabalhadores, especialmente quando eles precisam de auxilio para
conseguirem empréstimos ou vagas em eventos.
Uma das integrantes da Cooperativa de Mulheres Artesãs do Poti Velho comenta a
dedicação da presidente da cooperativa e a importância que o grupo tem na vida das mulheres
que fazem parte.
Com o passar do tempo a Raimundinha conseguiu esse espaço. Esse espaço
não era propriamente uma loja, era só como se fosse um vago bem limpo e
daí ela com a ajuda da prefeitura, da Fundação Wall Ferraz, ela foi indo, foi
indo e conseguiu material, construiu e hoje a gente ta aqui com essa oficina
maravilhosa, e daqui a gente ganha não o sustento de uma família, mas pelo
menos dá pra gente ajudar o marido, pagar um curso básico pra um filho,
pagar alguma coisa que o filho ta precisando. Tudo isso pra gente é muito
gratificante. (Maria de Jesus Lima de Araújo, artesã do bairro Poti velho e
membro da cooperativa de mulheres do bairro, abril de 2011).
É relevante salientar que as práticas artesanais da região podem proporcionar a
melhoria de vida das pessoas envolvidas e a dinamização da economia do local. Nesta
perspectiva, a promoção da cultura local pressupõe uma transformação implícita da realidade
local. Isto significa à modificação no modo de vida das pessoas ligadas à produção
beneficiada pela cultura, e no caso do Poti Velho elas são a positiva mudança econômica e
social no cotidiano dos seus membros. Percebemos que essas alterações também se
concretizaram pela articulação entre diversos setores do poder, sejam as instituições públicas,
privadas e o próprio governo.
Figura 2 – Peças da coleção Mulheres do Poti (2011)
Foto tirada por Renato Antunes
O bairro possui um forte significado histórico para a sua comunidade e para toda a
população, pois a partir dele, do seu território, surgiu Teresina. Este dado agregado ao forte
crescimento do artesanato na região propulsiona um objeto de estudo consistente e
cientificamente rico.
O espaço trabalhado apresenta fortes elementos representativos dos seus agentes. O
local é visitado por turistas e pela população de Teresina, que entram em contato com
costumes e características próprias do grupo.
No próximo item consta a fundamentação e a parte metodológica do trabalho.
4 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA E METODOLOGIA
Esta seção está focada na apresentação dos conceitos que norteiam o
desenvolvimento desta pesquisa.
A Geografia pode nortear debates que analisem a dinâmica social atual, almejando
um futuro melhor ao refletir sobre o espaço em que vivemos, espaço produzido pelo homem e
pela sua atuação. Essencial destacar as constantes mudanças no presente cenário, o que
enriquece as dinâmicas de estudo da ciência.
O homem dinamiza o local em que habita ao estabelecer suas particularidades,
configurando o espaço vivido. Para Claval (2007) os grupos humanos transformam os meios
onde se instalam e o espaço é o suporte das atividades produtivas dos grupos humanos.
Desta forma, entendemos que o homem é o agente transformador do meio e também
da natureza, a qual sempre está em constante interação. Para Bauman (2012) um dos
significados do termo “cultura” é empregado para explicar as diferenças visíveis entre
comunidades de pessoas (temporária, ecológica ou socialmente discriminadas). Assim
podemos compreender que o autor enfatiza a existência de diferenças na estrutura de uma
comunidade, que inclui aspectos ambientais, do tempo e de exclusão, que necessariamente
fazem parte das transformações no mundo.
Como elemento transformador contemporâneo, podemos entender que o turismo, um
dos campos desta pesquisa, é pensado como uma relação de intercâmbio entre turistas e
receptores de turistas - “anfitriões” e “convidados”- (Smith, 1977; 1989, Smith e Brent,
2001), estabelecida num tempo de lazer para os turistas, durante o qual os locais trabalham
para os turistas. O turismo é um veículo de intercâmbio cultural entre pessoas e grupos
humanos, entre “nós” e “outros”; um jogo de espelhos entre uns e outros, umas vezes atuando
como espelho côncavo, pelo que nos magnífica, e outras como convexo, pelo que nos minora.
Saindo do convencional aspecto econômico, o turismo passa a ser analisado pelas
relações que ele estabelece. A relação antropológica é fundamental para a busca de novos
significados para a geografia cultural e para o turismo.
As relações com a geografia cultural se estreitam à medida que levantamos os
elementos significativos trabalhados. No caso da geografia cultural e das ciências
interdisciplinares estes elementos na maioria dos casos são voluntários, naturais e com o
turismo cultural eles são comercializados e utilizados como atrativos, caso do artesanato no
bairro Poti Velho, que possui um significado que vai além do exposto até o momento.
O artesanato é um desejo popular de criação do homem. É uma manifestação de arte,
uma maneira de o homem retratar o seu universo esculpindo em matérias primas
características do seu habitat. Na definição de Houaiss (2001) o artesanato é “a arte e a técnica
do trabalho manual não industrializado, realizado por artesão, e que escapa a produção em
série”. De acordo com Nunes:
O artesanato é uma manifestação da cultura popular. É a arte de expressar,
num processo dinâmico e manual, o trabalho, as crenças, as festas, os
costumes, isto é, a cultura própria de cada local, utilizando a matéria prima
da região (NUNES apud por SANTANA, 2003, P.91).
O artesanato demonstra a força de um povo. Essa afirmação surge da necessidade de
se encontrar pontos representativos da identidade de uma comunidade.
Há pouco tempo atrás, durante o processo de expansão do urbanismo como moda de
vida (Wirth, 1967), desenvolveu-se em todos os povos a crença de que todos passariam a ser
modernos e que haveria um compartilhamento da mesma cultura. Com o tempo, a não
modernização de alguns setores da sociedade aconteceu e o paraíso do consumismo também
não chegou para todos. Os grupos começaram a demonstrar com mais freqüência que
realmente existia uma globalização que não precisava ser hegemônica, mas que ela pudesse
gerar relações entre seus próprios grupos ou famílias, relações que não fossem mercantilistas.
O artesanato demonstra a cultura e a identidade de um povo, além de promover as
características de cada grupo, perante um processo de massificação que se mostra tão sagaz.
Dunlop (2001) afirma que a identidade de cada grupo é construída a partir das experiências
vividas no espaço, em que lhes cabe viverem e contribuírem para a manutenção da
característica fundamental da humanidade que é a diversidade.
Os conceitos dados com base nas idéias de alguns autores que falam de geografia
cultural, turismo, artesanato e sub-temas norteiam esta pesquisa e são um guia para a
continuidade da elaboração do corpo escrito do trabalho e que complementará o trabalho de
campo que será realizado.
Quanto à metodologia, a presente pesquisa possui natureza qualitativa. A pesquisa
qualitativa será utilizada neste estudo porque responde a questões particulares, preocupandose com percepções de um nível de realidade que não pode ser quantificado e possibilitando o
aprofundamento no mundo dos significados das ações e relações humanas, mostrando-se
adequada porque permite descrições detalhadas de fenômenos, comportamentos, apreensão
das impressões ou representações diretas das pessoas (MINAYO, 1994).
Buscando se aproximar mais da realidade estudada, esta pesquisa também se enquadra
como pesquisa de campo e pesquisa descritiva. Segundo Minayo (1994), a pesquisa de campo
deve merecer grande atenção, pois devem ser indicados os critérios de escolha da amostragem
(das pessoas que serão escolhidas como exemplares de certa situação), a forma pela qual serão
coletados os dados e os critérios de análise dos dados obtidos.
As fontes orais feitas através dos relatos e depoimentos foram outro importante meio
escolhido para se ter uma noção mais ampla da comunidade estudada. O contato com o grupo
permitirá captar as explicações e interpretações do que ocorre naquela realidade.
A pesquisa se constituirá em duas etapas. A primeira etapa caracteriza-se pela busca
de informações em fontes secundárias, através de uma revisão bibliográfica e teórica em
literatura específica sobre o tema, bem como acesso ao campo documental e base de dados
dos órgãos que dão suporte a comunidade do bairro Poti Velho: Prefeitura Municipal de
Teresina, Governo do Estado do Piauí, SEBRAE, Banco do Brasil, entre outros.
A segunda etapa do processo metodológico compreende a pesquisa de campo
interpretativa. No primeiro instante da prática de campo caberá ao pesquisador inserir-se no
contexto a ser estudado, realizando observações e questionamentos. Em um momento
posterior será realizada a coleta de dados em fontes primárias, que utilizará como
instrumentos entrevistas.
Clifford (2002, p.8) chama a atenção para o fato de os antropólogos sociais modernos
construírem a sua identidade profissional como “etnógrafos”. O método ou experiência
etnográfica consiste na “construção de um mundo comum de significados, a partir de estilos
intuitivos de sentimento, percepção e inferências”. A Geografia, utilizando desses conceitos
antropológicos, favorece o ato do pesquisador analisar com mais precisão seu objeto de
estudo.
A observação participante é um método etnográfico para se obter descrições das
relações estabelecidas entre pesquisador e, e se interessa em entender melhor a cultura
visitada, seu comportamento e seus gestos. Para Bourdieu (1999, p. 75), a importância do
trabalho de campo consiste no momento da experiência direta dos indivíduos e de suas
situações concretas e cotidianas, em que o elo intuitivo e a hipótese das relações possibilitam
sistematizar os dados.
As técnicas usadas durante o trabalho de campo serão baseadas na geografia cultural,
na etnografia e na vivência direta da realidade onde está inserida a comunidade do Poti, tudo
baseado no senso de questionamento do pesquisador. A pesquisa se constituirá nos diálogos
da geografia com ciências como a antropologia e a sociologia. É provável que estes diálogos
dêem as diretrizes necessárias para compreender o fenômeno turístico relacionado à produção
artesanal no lugar.
5 CONCLUSÃO
O artesanato recebe influência direta da cultura e do turismo. Ele é um elemento
essencial que agrega valor a cultura local e ao turismo da cidade.
Quando a produção artesanal se intensificou em Teresina, entre a década de 60 e de
70, é provável que muitos dos que produziam não imaginassem o significado que as suas
peças teriam para a cidade. Elas carregam os nossos traços e os nossos passos ao longo dos
anos. Dão-nos identidade, representam o Estado Piauí afora e ainda servem como meio de
sobrevivência de muitas pessoas.
Estas peças contribuem para a interação da comunidade e na sua sobrevivência
diária, e o bairro teve assim a sua espacialização definida nas últimas décadas em decorrência
disso. A construção do Polo Cerâmico em 2006 foi um ganho importante para definir a
paisagem que hoje pode ser conferida, com mais organização e força de representatividade.
A geografia é uma ciência que busca construir a sua tradição nos assuntos
relacionados à cultura e a investigação de um local tão tradicional na construção da identidade
e da cultura teresinense é fundamental para nos compreendermos melhor.
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