VII ENCONTRO DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE PESQUISADORES EM EDUCAÇÃO ESPECIAL
Londrina de 08 a 10 novembro de 2011 - ISSN 2175-960X – Pg. 564-573
EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR: PRÁTICAS PEDAGÓGICAS E A INCLUSÃO DE
ALUNOS COM HIPERATIVIDADE.
Douglas Roberto BORELLA1
Gabriela Simone HARNISCH2
Luiz Fernando Garcia de ALMEIDA2
Willian CAVALLI2
Patricia Borges ZWICKER2
Universidade Estadual do Oeste do Paraná - UNIOESTE
Introdução
Diversos debates estão em foco no que tange a Educação Física Escolar e o processo de
inclusão de alunos com deficiência. Sabe-se que a área da Educação Física é promotora de
práticas ligadas a cultura do corpo e do movimento, cuja concepção foi desenvolvendo-se ao
longo da história, mas que em seu princípio, contrapôs-se como segregadora de pessoas que não
apresentassem corpos belos, fortes e saudáveis.
Quando reportamo-nos a escola, salienta-se a importância desta área na perspectiva de
favorecer o desenvolvimento físico, cognitivo e social das crianças, de forma a contemplar as
peculiaridades, limitações e potencialidades dos mesmos, quaisquer que sejam elas.
Atrelado a isto, é importante destacar que compete a Educação Física, assim como as
demais áreas do conhecimento, a tarefa de compreender, por meio de práticas pedagógicas, a
diversidade do alunado, a fim de promover a inclusão de todos os alunos, seja no contexto
escolar, quanto social.
Para que o processo de inclusão escolar obtenha êxito quando vinculamos a prática, além
do discurso, ressalta-se a importância do professor de Educação Física, o qual poderá contribuir
na construção de vivências e oportunidades para todos os alunos. No ponto de vista de Soler
(2005, p. 18) "a tarefa do professor de Educação Física é complexa, pois deve compatibilizar os
interesses do grupo com aqueles que apresentam qualquer tipo de dificuldade, das mais variadas,
atendendo às características individuais de cada um”.
Assim, o professor de Educação Física deve estar atento às suas práticas pedagógicas, que
expressa às atividades rotineiras que são desenvolvidas no cenário escolar, na preparação e
execução do ensino por meio das ações e comportamentos do professor durante todo o processo
ensino e aprendizagem no ambiente escolar (SACRISTÁN, 2000; CUNHA, 2001; MOREIRA,
2004; NASCIMENTO, 2006; CAMPOS, 2011).
1
Doutor em Educação Especial – Univ. Fed. de São Carlos – UFSCar. Professor do Colegiado do curso de Educação
Física - Univ. Estadual do Oeste do Paraná – UNIOESTE. – E-mail: [email protected]
2
Acadêmicos do curso de Educação Física – Univ. Estadual do Oeste do Paraná - UNIOESTE. –
E-mail: [email protected]
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Entende-se assim, que prática pedagógica é o conjunto de ações do professor durante o
processo ensino e aprendizagem no ambiente escolar, sendo que, conforme Darido (2003):
A prática de todo professor, mesmo que de forma pouco consistente, apóia-se
numa determinada concepção de aluno e de ensino e aprendizagem que é
responsável pelo tipo de representação que o professor constrói sobre o seu
papel, o papel de aluno, a metodologia, a função social da escola e os conteúdos
a serem trabalhados (DARIDO, 2003, p. 13).
Sendo assim, não basta a mera repetição de atividades, nas quais os alunos simplesmente
executarão um dado movimento pré-estabelecido. Torna-se necessário que todos os alunos
interajam no processo de construção de conhecimentos relativos à cultura do corpo e ao
cognitivo, de forma autônoma para que suas potencialidades sejam desenvolvidas, considerando a
necessidade de todos, sem deixar de abranger as necessidades do grupo.
Neste mesmo pensar, Darido (2003) ressalta que a Educação Física Escolar tem como
uma de suas funções favorecer a inclusão de todos os alunos na cultura corporal de movimento, a
fim de favorecer a melhora na qualidade de vida e integrando não apenas o aluno ao seu corpo,
como também auxiliar na interação social, ultrapassando os limites que comumente são
atribuídos pela sociedade, fomentando a descoberta de interesses, potencialidades e assim,
promovendo a inclusão de todos os alunos, adotando estratégias adequadas.
Ainda, sob o mesmo enfoque, torna-se importante refletir sobre a participação do aluno
com hiperatividade no contexto escolar, e, à priori para este estudo, nas aulas de Educação Física.
Para isto, torna-se relevante discutir acerca da hiperatividade. Smith e Strick (2001)
discorrem que algumas das características de comportamento do aluno com hiperatividade nas
aulas de Educação Física, assim como em outras disciplinas, são as seguintes: necessidade de
movimentação excessiva do aluno, falta de atenção, impaciência, impulsividade, distração e
impossibilidade de focalizar a atenção por muito tempo em um determinado objetivo. Ainda, os
autores complementam dizendo que tais características poderão acarretar para o aluno
(principalmente no início de sua vida escolar) problemas de rejeição, dúvidas quanto à sua
capacidade intelectual, baixa auto-estima, e várias situações que, com a devida participação dos
professores, poderão ser minimizadas, contornadas ou mesmo eliminadas.
Diante deste contexto, a área da Educação Física também deve dotar-se de práticas de
ensino de ensino a fim de favorecer a participação deste aluno de forma mais igualitária,
respeitando suas diferenças e peculiaridades. Com isto, promoverá o ensino e aprendizagem,
estimulando a auto-estima, evidenciando as potencialidades do aluno.
Além disto, Winnik (2004) sugere algumas estratégias específicas de ensino aos
professores de Educação Física para alunos com hiperatividade, considerando a aplicação da
metodologia tanto em ambientes inclusivos como segregados. Dentre elas, devem-se utilizar
abordagens de ensino estruturadas e consistentes, por meio de rotina e instruções prévias,
favorecendo transições suaves de aprendizagem de um conteúdo/etapa a outra; estabelecer regras,
onde elas deverão ser entendidas e aplicadas aos alunos, independente de sua condição; dotar-se
programas de controle de comportamento para ensinar as crianças uma sequência de atividades
que sejam consecutivamente incorporadas para um grau maior de dificuldades, favorecendo a
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atenção, o pensamento e a ação, a fim de diminuir a hiperatividade e aumentar a concentração
(WINNIK, 2004).
Winnik (2004), ainda complementa assegurando a necessidade do professor expressar
claramente aos seus alunos, em especial à aqueles com hiperatividade, todas as expectativas
esperadas e as regras de comportamento na atividade aplicada, de forma a escolher atividades que
enfatizem movimentos lentos e controlados, para diminuir a hiperatividade e a impulsividade.
Tendo em vista a participação de alunos com hiperatividade em aulas de Educação Física,
percebe-se que o papel do professor neste processo será de proporcionar vivências e
oportunidades para o aluno incluso.
Com base no cotidiano escolar vivenciado pelos professores de Educação Física, acreditase que muitas dificuldades poderão ser encontradas na elaboração de aulas que contemplem a
inclusão de alunos com hiperatividade. Neste sentido, torna-se relevante promover discussões que
tratem acerca deste tema. Inquietos com tal discussão, delimitamos este estudo por meio da
seguinte pergunta norteadora: quais as práticas pedagógicas utilizadas por professores de
Educação Física que contemplem em suas aulas a participação de alunos com hiperatividade?
Para o desvelamento deste estudo, apresenta-se o seguinte objetivo: averiguar as práticas
pedagógicas de professores de Educação Física que em suas turmas constem alunos com
hiperatividade.
Método
Caracterização da pesquisa
O presente estudo caracterizou-se por uma pesquisa descritiva observacional, delineada
através de análise qualitativa, embasada em Thomas, Nelson e Silverman (2007), os quais
mencionam que esta forma de estudo é utilizada em uma variedade de empreendimentos de
pesquisa, fornecendo informações mais preciosas.
Participantes
A amostra do estudo compreendeu quatro (04) professores de Educação Física das séries
finais (5ª à 8ª série), os quais ministravam aulas em turmas que alunos com hiperatividade
estavam matriculados. Estes, para fins éticos de estudo, foram nomeados como “1”, “2”, “3” e
“4”.
Local:
A pesquisa foi realizada em um município de pequeno porte, localizado na região oeste do
estado do Paraná, e neste participaram quatro (04) escolas, todas de categoria administrativa
pública estadual, ambas nomeadas como “A”, “B”, “C” e “D”.
Procedimentos para a coleta de dados:
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Como instrumento para a coleta de dados utilizou-se de um roteiro de observação,
elaborado pelos pesquisadores, onde previamente foi realizado a aplicação do mesmo como teste
piloto, que segundo Thomas, Nelson e Silverman (2007) os objetivos do Teste Piloto “consiste
em obter críticas preciosas sobre o formato, conteúdo, expressão e importância dos itens do
questionário, bem como opinar se algumas questões deveriam ser adicionadas ou deletadas”.
O roteiro de observação contou com quatro (4) objetivos a serem pontuados, sendo eles os
métodos de ensino, os conteúdos propostos, locais das aulas e o modo de participação dos alunos
com hiperatividade.
O estudo transcorreu inicialmente pelo reconhecimento das escolas que nelas constavam
de professores de Educação Física e que estes, por sua vez, ministravam aulas em turmas que
haviam alunos com hiperatividade. Para tanto, foi entregue para as direções das escolas e para os
professores um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido que continha informações sobre a
pesquisa.
Optou-se por não agendar as observações das práticas pedagógicas dos professores de
Educação Física devido a acreditar que, talvez, os professores viessem a modificar suas práticas
em decorrência da presença dos pesquisadores. Para maiores esclarecimentos deste não
agendamento, foi explicitado aos responsáveis pela direção e coordenação de cada escola, bem
como, aos professores de Educação Física, que a pesquisa não objetivava enaltecer ou
menosprezar as práticas pedagógicas dos participantes da pesquisa frente à inclusão de alunos
com hiperatividade, mas sim, visava investigar como as mesmas se processam efetivamente, por
meio das ações dos professores de Educação Física e quais as dificuldades e facilidades que os
mesmos encontravam frente a este processo.
Desta forma, foram observadas três (03) aulas de cada um dos quatro (04) professores
participantes do estudo.
Resultados
Na sequência, serão apresentadas as respostas de acordo com o ordenamento do roteiro de
observação, ou seja, conforme algumas categorias de análises:
1) Quanto ao método de ensino:
Verificou-se que todos os participantes (n=04), ao longo das aulas observadas, não
utilizaram de nenhum processo didático ou metodológico para atender a inclusão dos alunos com
hiperatividade, mesmo sabendo que em seus grupos deveriam ser contempladas as necessidades e
individualidades de todos.
Os conteúdos propostos nas aulas foram conduzidos através de explicação verbal, e em
nenhum momento foram realizadas demonstrações, ou outras estratégias de ensino. Não pode-se
perceber preocupações em relação à assimilação e aprendizagem dos alunos sobre o que foi
proposto.
Ao longo das observações, chamou-nos a atenção o modo como o professor 1 explanou
sobre a condução da proposta de aula, revelando o seguinte discurso: “A bola está aqui, dividam
as equipes e joguem”, sem a maior preocupação com a aprendizagem de tal modalidade
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esportiva. Sendo que assim, vários alunos foram excluídos pelos demais por não deterem de tanta
habilidade.
Os professores 2 e 3 apenas preenchiam o livro de chamada e dividiam as equipes.
Durante o tempo que os alunos jogavam futebol, estes preenchiam seus diários de classe e
conversavam sobre assuntos do cotidiano com os alunos que optaram por não participar da
atividade.
O professor 4, teve maior atenção para com o seu alunado, visto que conduziu atividades
desconhecidas pelos alunos, e se fez presente durante toda a realização da atividade.
Diante desta observação, percebe-se que a didática utilizada não possibilitava aos alunos
com hiperatividade de uma aprendizagem com êxito, pois os alunos participam da aula de
Educação Física porque gostam, e não por participar de uma aula que evidenciasse suas
potencialidades e minimizasse suas limitações. Ao final das aulas, a percepção denotada pelos
docentes era de alívio com o final das suas funções docentes para aquele momento, e
transpassavam a sensação de dever cumprido.
2) Quanto aos conteúdos propostos:
Os conteúdos propostos nas aulas foram modalidades esportivas. Pode-se averiguar que
em dois (2) colégios, nos dias de chuva, foram realizadas atividades de jogos de mesa, dentre eles
o tênis de mesa, e mini-futebol. Percebeu-se que ambos os conteúdos os alunos participavam sem
nenhum tipo de cobrança do professores, e nem mesmo a sua participação no que diz respeito às
regras das atividades.
3) Quanto aos locais das aulas:
Diante das observações, constatou-se que nos colégios “A” e “B”, todas as aulas foram
realizadas na quadra de esportes com cobertura. Os colégios “C” e “D” haviam quadra sem
cobertura. Deste modo, nos dias de chuva as aulas foram realizadas no saguão do colégio.
As aulas desenvolviam-se em sua maioria nas quadras dos colégios, os quais são locais
apropriados para a prática. Percebeu-se, porém, que os professores não se atentavam a estas
facilidades, e não exploravam os ambientes que possuíam, a fim de propor atividades em que
todos participem de forma igualitária, explorando principalmente, o amplo espaço disponível.
4) Quanto a participação dos alunos com hiperatividade:
Verificou-se que os alunos com hiperatividade participantes das aulas de Educação Física
não receberam nenhum tipo de intervenção do professor. Além disto, torna-se relevante destacar
que os professores em nenhum momento demonstraram atitudes de aproximação e afetividade
para com estes alunos, para que houvesse uma orientação diferenciada e condizente com as
peculiaridades dos alunos.
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Dessa forma, percebeu-se que estes alunos não participavam do mesmo modo que os
demais colegas durante as aulas, de forma que ambos pareciam intimidados em demonstrar suas
habilidades, e até mesmo aparentavam certo medo em “errar” os movimentos requisitados para
aquele momento, ou até mesmo não mostrar a habilidade que alguns colegas possuíam.
Discussão dos Resultados
Tendo em vista os resultados anteriormente apresentados, verificou-se que, de acordo com
o primeiro item disposto - Quanto ao método de ensino, a falta de aplicação de procedimentos
metodológicos e didáticos implica em dificuldades para a inclusão de todos os alunos. Neste
sentido, Boiaski (2007) sugere que como estratégia de ensino, o professor deve encorajar o aluno
com hiperatividade a concluir suas tarefas, não devendo criticá-lo excessivamente, no entanto,
deve dar limites, pois a falta de controle de tempo na execução das tarefas, por exemplo, pode ser
prejudicial.
No que tange as práticas pedagógicas da Educação Física, acredita-se que por si são
difíceis de serem efetivadas, principalmente pelo contexto histórico a que estão subordinadas. No
entanto, é necessário superar a ênfase no discurso das dificuldades e buscar alternativas para que
os alunos com e sem dificuldade ou deficiência participem; afinal, a inclusão educacional não é
uma escolha, é uma necessidade. Necessidade esta, infelizmente, entendida por muitos
profissionais da área escolar como obrigatoriedade.
Destarte, acredita-se que construir e cultivar práticas inclusivas não são tarefas fáceis, mas
que pressupõe planejar novas formas de atuação, com intencionalidade e ousadia a fim de que os
aspectos criativos do trabalho docente possibilitem novas formas de intervenção, garantindo
assim a participação dos alunos com e sem deficiência nas aulas de Educação Física, fugindo do
discurso retórico e impecável para a prática árdua, dificílima, mas de provável execução.
Sobre a importância do professor, Libâneo (2005, p. 249) afirma que “a interação
professor-aluno é um aspecto fundamental da organização da situação didática, tendo em vista
alcançar os objetivos do processo de ensino: a transmissão e assimilação dos conhecimentos,
hábitos e habilidades”.
O que leva a entender que se houver interação entre docentes e alunos, os objetivos das
aulas serão alcançados com maior facilidade, e a condução das aulas será mais agradável, com
um relacionamento mais afetivo.
Coll, Marchesi e Palácios (2004) destacam o papel do professor sob a seguinte ótica:
A tarefa do professor na classe integradora deve partir desse enfoque e avaliar
particularmente as características dos alunos com problemas de aprendizagem.
São alunos com maiores dificuldades para organizar seus conhecimentos, para
ativar seus esquemas, para comunicar-se com seus colegas e professores e,
consequentemente, para compartilhar significados e atribuir um sentido a sua
aprendizagem. São alunos que apresentam sérias limitações em seu
desenvolvimento metacognitivo e em sua capacidade para transferir sua
aprendizagem (COLL; MARCHESI; PALÁCIOS, 2004. p.46).
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A partir dessa perspectiva, o professor deve ser capaz de organizar e estruturar os
conteúdos do currículo para ajudar tais alunos a aprender de forma ativa e significativa. As
experiências de aprendizagens que apresenta aos seus alunos com mais dificuldades não podem
ignorar que o objetivo, também para eles, é que completam seus esquemas de conhecimentos, que
dêem sentido as suas aprendizagens e que avancem, pouco a pouco, no controle de estratégias
que os ajudem a aprender por si mesmos. Nesse processo, é previsível que a passagem do
controle de aprendizagem do processo para o aluno, que permitirá a este interiorizar a tarefa por
si mesmo, ocorra de modo mais lento e incompleto.
De acordo com Libâneo (2005, p. 83), “aprendizagem escolar é, assim, um processo de
assimilação de determinados conhecimentos e modos de ação física e mental, organizados e
orientados no processo de ensino”. Entende-se assim que cabe ao professor promover formas
para que todos possam participar das aulas, até mesmo alunos com necessidades educacionais
especiais, visto que a escola é um ambiente inclusivo e assim, deve promover a aprendizagem de
todos.
Porém, percebe-se que apesar das constatações realizadas acerca da inclusão de alunos
com hiperatividade, estes participam sem que sejam possibilitadas formas para que suas
potencialidades sejam evidenciadas, pois os alunos participam normalmente das aulas, sem
nenhum modo de discriminação e exclusão dos colegas ou até mesmo dos professores, o que
pode ser avaliado de forma positiva.
O segundo ponto observado, referente aos conteúdos propostos, constatou-se que os
quatro professores aplicaram conteúdos direcionados para modalidades esportivas que
favoreceram a inclusão de todos os alunos, porém não houve nenhum tipo de adaptações, seja ela
nas regras ou nos próprios fundamentos, a fim de proporcionar a participação igualitária, onde
todos possam mostrar suas potencialidades. Diante disto, Soler (2005 p. 94) afirma que “o
professor de Educação Física deverá fazer as adequações necessárias, nas regras, nas atividades,
na utilização dos espaços, usando materiais para estimular, tanto no aluno portador de
necessidades especiais como em todo o grupo”.
O que mais chama-nos a atenção são os princípios da não exclusão e da diversidade de
atividades. Segundo o princípio da não exclusão, nenhuma atividade pode excluir qualquer aluno
das aulas de Educação Física. Este princípio tenta garantir o acesso de todos os alunos às
atividades da Educação Física; e o princípio da diversidade propõe a valorização de uma maior
variabilidade de vivências esportivas, atividades rítmicas e expressivas; não apenas o futebol tão
incorporado pelos alunos e pelos professores de Educação Física (BETTI, 1991; SHIGUNOV
NETO e AZEVEDO, 2001; DARIDO, 2003).
Em relação aos locais das aulas, percebeu-se que há um amplo e diversificado espaço, os
quais podem propiciar que aulas criativas e diferenciadas aconteçam, para que proporcionem a
inclusão de todos os alunos. Nesse sentido, Soler (2005, p. 94), refere-se com o seguinte
pensamento: “o espaço destinado às atividades também deve obedecer a critérios de inclusão,
pois teremos, numa mesma aula pessoas com necessidades totalmente diferentes”.
Na sequência, explana-se sobre ao modo de participação dos alunos com hiperatividade,
os quais sentiam-se, em muitos momentos, intimidados para mostrar e desenvolver suas
habilidades. De acordo com Levy (2001), quase todas as pessoas com hiperatividade possuem
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problemas de coordenação motora, e dessa forma, isto deve ser considerado durante a realização
de atividades.
Para que conflitos e problemas com o aluno com hiperatividade sejam minimizados, Levy
(2001) sugere que torna-se relevante estabelecer atitudes de limites, a qual poderá ser uma
ferramenta sugerida para que seja utilizada a fim de não haver problemas comportamentais e de
não realização das tarefas propostas.
Considerações Finais
Tendo em vista o objetivo geral pontuado para este estudo, ressalta-se que os professores
de Educação Física não utilizarão de metodologias de ensino diferenciadas para a inclusão de
todos os alunos, inclusive os alunos com hiperatividade.
A partir das situações que foram analisadas anteriormente, pode-se chegar as
considerações de que a maioria dos professores avaliavam a disciplina da Educação Física apenas
como uma modalidade desportiva, não levando em consideração o ato de planejar aulas
respeitando-se as individualidades do grupo, e pelo contrário, pensam de forma homogênea. Há
muitos profissionais que não se preocupam em despertar o interesse de seus alunos. Não
planejam as aulas e não tem um propósito pré-determinado da aula. Vale ressaltar que a
Educação Física não deve ficar resumida a jogar futebol, mini-futebol ou tênis de mesa.
Observou-se também que o processo de ensino aprendizagem em aulas de Educação
Física ocorre sem que as individualidades de cada um sejam respeitadas, principalmente com
alunos com hiperatividade, que necessitam de maior atenção e métodos que propiciem o seu
desenvolvimento.
Entende-se, porém, que a profissão de professor exige imensa versatilidade e capacidade
de delinear e desenvolver planos de intervenção em condições muito diferentes e, para isso não
basta apenas uma formação acadêmica, se faz necessária uma formação profissional continuada,
reflexiva e coletiva acerca do processo de inclusão; além de cursos paralelos que mantenham o
professor de Educação Física atualizado sobre novas políticas, metodologias, recursos materiais e
processos avaliativos frente à inclusão de alunos com deficiências, evitando sucumbir-se em
quixotismos ou modismos.
Acredita-se que construir e cultivar práticas inclusivas não são tarefas fáceis, mas que
pressupõe planejar novas formas de atuação, com intencionalidade e ousadia a fim de que os
aspectos criativos do trabalho docente possibilitem novas formas de intervenção, garantindo
assim a participação dos alunos com dificuldades de aprendizagens, distúrbios de aprendizagens,
deficiência e também de alunos considerados sem deficiência nas aulas de Educação Física,
fugindo do discurso retórico e impecável para a prática árdua, dificílima, mas de provável
execução.
No que tange as práticas pedagógicas da Educação Física, acredita-se que por si são
difíceis de serem efetivadas, principalmente pelo contexto histórico a que estão subordinadas. No
entanto, é necessário superar a ênfase no discurso das dificuldades e buscar alternativas para que
todos os alunos participem; afinal, repetidamente, a inclusão educacional não é uma escolha, é
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uma necessidade. Necessidade esta, infelizmente, entendida por muitos profissionais da área da
educação como obrigatoriedade.
Deste modo, torna-se impossível imaginar uma ação pedagógica comprometida com o
ensino e aprendizagem do aluno sem planejamento, pois a falta de planejamento das atividades
e/ou conteúdos propostos na disciplina de Educação Física acabariam por fomentar aulas sem
objetivos, intervenções e processos avaliativos definidos, resultando em práticas pedagógicas
destituídas de valor e, consequentemente, não promoverem o desenvolvimento integral dos
alunos; ou seja, a inexistência de planejamento acarretaria em ações sem referências e objetivos
claros.
Esta falta de atenção, ou até mesmo de inclusão, faz com que pessoas com algum tipo de
dificuldade fiquem intactas em seu desenvolvimento, além de não proporcionar a sua participação
e socialização com os demais colegas de classe.
Entende-se que a função do profissional da educação física, em suas funções docentes,
visa reintegrar os indivíduos ao convívio social, pois é através da atividade física que existe a
possibilidade de testar seus próprios limites e controlar sua impulsividade, pois é um processo
onde deve proporcionar vivências e oportunidades para o aluno incluso.
Portanto, a participação do aluno com mais dificuldades na aula de Educação Física é
muito importante para que ele desenvolva suas capacidades perceptivas, afetivas, de integração, e
de inclusão social, favorecendo sua autonomia e independência.
Por outro lado, é visível que a tarefa do Professor de Educação Física é complexa, pois
deve compatibilizar os interesses do grupo, além daqueles que apresentam alguma necessidade
educacional especial, o que não deve ser considerado um motivo para que a inclusão não
aconteça.
Deste modo, sugere-se a utilização de pedagogias cooperativas, as quais favorecem a
participação de todos.
A Educação Física escolar deve ser uma com exercício de convivência, que os alunos,
independente de suas condições, limitações e potencialidades, poderão aprender a construir uma
nova sociedade sem discriminação, e com atitudes de solidariedade, respeito e aceitação, não
havendo lugar para o preconceito e a exclusão.
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