Peregrino das Letras Informação, Cultura e Livre Expressão IMPRESSO DISTRIBUIÇÃO DIRIGIDA PREÇO DE VENDA R$1,00 www.jperegrino.com.br Ribeirão - SP Ano - Nº 89 -- R$ setembro/2007 Ribeirão Preto Preto - SP - Ano IV -- Nº 41 -VIII Setembro/2003 1,00 Existe apenas uma forma de vencer a natureza: sendo obediente a ela. Essa é a não violência. Alfabetização – Aspectos Históricos e Alguns Pontos para Discussão Uma das questões constantes que têm sido objeto de preocupação da escola, dos pais e da sociedade de maneira geral diz respeito à alfabetização. Inicialmente, apresento um breve histórico da alfabetização, colocando alguns pontos para reflexão, e, posteriormente, estarei disponível para responder às questões que me forem feitas. O modelo escolar de alfabetização nasceu há pouco mais de dois séculos, precisamente em 1789, na França, após a... Página 16 A importância da febre para a criança Febre – ou hipertermia - é o aumento da temperatura do corpo, acima da média considerada normal que varia entre 36°C e 37, 8°C dependendo se a medição for feita no reto, oral ou axilar. Abaixo de 36 graus temos uma hipotermia. São núcleos localizados no hipotálamo, no nosso cérebro, os responsáveis pela conservação da nossa temperatura corporal através de ajuste entre os mecanismos de geração e conservação de calor de um lado e de dissipação do calor... Página 9 Livros CURSOS, OFICINAS, PALESTRAS, WORKSHOPS Veja nossa agenda na Página 2, ou, em nosso site visite a página Cursos www.jperegrino.com.br A importância do Professor na vida da criança Guia de Secretariado – Técnicas e comportamento – Denize Rachel Veiga Teatro para representar na Escola – Teresa Iturbe Flores da Terra – Gelse M. Campos e Arlete F. Freitas Quando a criança nasce, o seu receptáculo de proteção e carinho é a mãe. Um laço de infinitas proporções é estabelecido. Forma-se aqui uma ligação emocional, amorosa que nunca mais irá se romper. A figura materna é para o filho o bem mais precioso e a confiança que a criança tem na mãe é imensa. Conforme a criança cresce, outras pessoas passam a fazer... Página 13 Por que e como eu nasci – Lou Austin La mallaborema formiko – Kolekto Fabeloj de la Naturo Almanako Lorenz 2.007 Página 15 Peregrino das Letras 2 Ribeirão Preto - SP - setembro/2007 Informação, Cultura e Livre Expressão Editorial Em 17 de agosto de 1987, precisamente às 20h45 minutos de uma segundafeira, morre, vencido pela tristeza ocasionada pelo falecimento prematuro de sua filha Maria Julieta, o grande poeta Carlos Drummond de Andrade. O mineiro de Itabira do Mato Dentro, o gauche Carlos, o circunspeto senhor magro e de aparência frágil, o incorrigível mulherengo de olhos azuis, se fora. Esses mesmos olhos azuis fotografaram o século XX: a história do Brasil e do mundo; os homens de prestígio e as comuns criaturas do cotidiano; as falhas e os talentos humanos; o amor em seu aspecto universal e carnal; a perplexidade humana frente à vida; os dramas familiares. Nada houve que passasse despercebido ao poeta maior. No papel ele não depositou apenas seu conhecimento sobre as coisas ou sua curiosidade inata, ou seu pronto atentar para o que ocorria à sua volta, também o burilar das palavras, a precisão vocabular, a técnica precisa e única. E foi ambíguo o grande poeta, como somos nós seres humanos. Foi fiel aos amigos e à família e foi o mais infiel dos homens em seus poemas eróticos (A Moça mostrava a Coxa). Foi um cantador das coisas sem saída (E agora José) e das grávidas esperanças que emergem dos escombros (A Flor e a Náusea). Coloca em poesia os obstáculos (No meio do caminho tinha uma pedra) e acredita que vão ser superados (Mário de Andrade Desce aos Infernos). Assim foi ele aceitando a vida e vivendo-a e aprendendo-a e superando-a do mesmo jeitinho do seu “Amar só se aprende amando”. Só não superou a morte da filha, que era segundo ele a pessoa que mais havia amado no mundo. Aqui vai nossa homenagem atrasada a esse homem do qual temos tanto orgulho, afastado de nós há vinte anos. E para terminar, vamos transcrever abaixo um poema que Ribeiro Couto compôs para o poeta quando ele passou por Pouso Alto para se encontrar com Manuel Bandeira: Cursos – Oficinas - Palestras – Workshops Setembro 1 – Workshop “Constelação Sistêmica” – Ribeirão Preto / SP - Informações: (16) 3021 5490 / 9994 7224 / 3931 6140 / 9994 5605. 1 – Curso de Reiki - Ribeirão Preto / SP – Informações: (16) 3630 2236 / 9782 4150. 2 – Workshop “Constelação Sistêmica” – Atibaia / SP - Informações: (11) 4402 7287 / 9220 3754. 14, 15 e 16 – Workshop “Constelação Sistêmica” – Mococa / SP - Informações: (19) 3665 8618 / 9283 7256. 15 – Curso Alimentação e Vida Saudável – Itobi - SP - Informações: (19) 3647 1321. 15 – Curso de Reiki - Ribeirão Preto / SP – Informações: (16) 3630 2236 / 9782 4150. 23 – Workshop “Constelação Sistêmica” – Jaboticabal / SP - Informações: (16) 3202 3998 / 9708 0692. 29 – Curso de Reiki - Ribeirão Preto / SP – Informações: (16) 3630 2236 / 9782 4150. 29 e 30 – Workshop “Constelação Sistêmica” – São Paulo / SP - Informações: (11) 7464 4229. Carlos Drummond veio jantar em Pouso Alto Na minha casa pequena e cor-de-rosa Sem coqueiro do lado Mas em frente a um barranco soturno Encontrou Manuel Bandeira, sobremesa imprevista E houve discussões fortíssimas, inenarráveis Em torno do futurismo e da vida Carlos Drummond não sorriu nenhuma vez Deixou no copo três dedos de vinho tinto Que Manuel Bandeira namorou Mas no troli pelo caminho de volta Ao ritmo do cavalo chapinhando no barro vermelho Diante da tarde azul maravilhosa Carlos Drummond sorriu pela primeira vez Não por causa da tarde azul maravilhosa Mas porque para vingar-se dele nunca sorrir agradecido à vida Deus mandou o cavalo atirar uma placa de barro molhado na sua gravata E Carlos Drummond sorriu para a malícia de Deus. Mariza Helena Ribeiro Facci Ruiz [email protected] Peregrino das Letras Informação Cultura e Livre Expressão José Roberto Ruiz (16) 3621 9225 / 9992 3408 e-mail: [email protected] Citação da Capa retirada do livro: Os Valores Humanos - Uma Viagem do “Eu” ao “Nós” - Antonio e Sylvie Craxi Persona Peregrino das Letras CAPA - Reprodução de Pintura Original As Camponesas - Original Pintado com a boca Felix Espinoza Vargas www.apbp.com.br JPeregrino Comunicação Visual Ltda. Peregrino - 1ª edição - Maio / 2000 Direção: José Roberto Ruiz - MTb 36.952 - Redatora: Mariza Helena R. Facci Ruiz Jornalista (Colaboradora): Luana Aparecida Vianna - Mtb 47.911 - e-mail: [email protected] WebDesign: Francisco Guilherme R. Ruiz Fotolito e Impressão: Fullgraphics Gráfica e Editora - (16) 3965 5500 Endereço para correspondência: Av. Guilhermina Cunha Coelho, 350 A6 - Ribeirão Preto - SP - 14021-520, Telefone: (16) 3621 9225 / 9992 3408 Site: www.jperegrino.com.br / e-mail: [email protected] As idéias emitidas em artigos, matérias ou anúncios publicitários, são responsabilidades de seus autores e, não são expressão oficial do Peregrino das Letras, salvo indicação explícita neste sentido. É expressamente proibida a reprodução parcial ou total desta publicação sem a prévia autorização. Peregrino das Letras Ribeirão Preto - SP - setembro/2007 3 Informação, Cultura e Livre Expressão O que são mandalas É de surpreender . . . Parte IV Continuaremos a falar das mandalas da natureza, só que agora as construídas por nossos antepassados, que observavam os ciclos das estações, da lua, das marés, ou seja, os padrões do universo a sua volta. Assim surgiram grandes mandalas como, por exemplo, o círculo de pedras Stonehenge na Inglaterra, utilizado para rituais da época, ou o labirinto de Chartres na França considerado um dos pontos energéticos da terra. O labirinto é a busca do autoconhecimento, o saber agir com sabedoria, pois uma vida preenchida é a que encara as voltas e reviravoltas que chegam a cada momento com decisão, ou um mapa do caminho da vida? Este labirinto já existe dentro de nós, fazê-lo exteriormente é um trajeto em que a vida passa como um filme na caminhada até o centro (o objetivo) e a volta é ver os erros cometidos e os passos tomados para não cometê-los novamente. Este é um dos objetivos de contemplar uma mandala. Já para os nativos americanos realizar um caminho de beleza e verdade é caminhar em harmonia com os espíritos. Para eles a mandala da roda da medicina é um dos símbolos mais importantes (um círculo maior com um menor no centro, dividido em quatro partes, feito no chão com materiais da natureza). Porém algo tão simples mas com grandes significados como as quatro estações, os quatro pontos cardeais, os quatro elementos (fogo, água, terra e ar). Céu, terra e espaço. Isto tudo significa a caminhada ao redor para o descanso no centro onde tudo se tornará um, onde os padrões da vida e as constantes mudanças estarão em harmonia. Este é apenas o primeiro e pequeno esclarecimento para realmente começar a entender mandalas: observar povos diferentes sempre com grandes objetivos. Adriana Leonel Strambi Ateliê Adriana Leonel Tel.: (16) 3011 6206 Sobre a atual vergonha de ser brasileiro Affonso Romano de Sant’Anna Que vergonha, meu Deus! ser brasileiro e estar crucificado num cruzeiro erguido num monte de corrupção. Antes nos matavam de porrada e choque nas celas da subversão. Agora nos matam de vergonha e fome exibindo estatísticas na mão. Estão zombando de mim. Não acredito. Debocham a viva voz e por escrito É abrir jornal, lá vem desgosto. Cada notícia é um vídeo-tapa no rosto. Cada vez é mais difícil ser brasileiro. Cada vez é mais difícil ser cavalo desse Exu perverso nesse desgoverno terreiro. Nunca vi tamanho abuso. Estou confuso, obtuso, com a razão em parafuso: a honestidade saiu de moda, a honra caiu de uso. De hora em hora a coisa piora: arruinado o passado, comprometido o presente, vai-se o futuro à penhora. Valei-me Santo Cabral nessa avessa calmaria em forma de recessão e na tempestade da fome ensinai-me a navegação. Este é o país do diz e do desdiz, onde o dito é desmentido no mesmo instante em que é dito. Não há lingüista e erudito que apure o sentido inscrito nesse discurso invertido. Aqui o discurso se trunca: o sim é não. O não, talvez. O talvez, nunca. Eis o sinal dos tempos este o país produtor que tanto mais produz tanto mais é devedor. Um país exportador que quando mais exporta mais importante se torna como país mau pagador. E, no entanto, há quem julgue que somos um bloco alegre do ‘‘Comigo Ninguém Pode’’ quando somos um país de cornos mansos cuja história vai dar bode. Dar bode, já que nunca deu bolo, tão prometido pros pobres em meio a festas e alarde onde quem partiu, repartiu ficou com a maior parte deixando pobre o Brasil. Eis uma situação totalmente pervertida - uma nação que é rica consegue ficar falida, o ouro brota em nosso peito, mas mendigamos com a mão, uma nação encarcerada que doa a chave ao carcereiro para ficar na prisão. Cada povo tem o governo que merece? Ou cada povo tem os ladrões a que enriquece? Cada povo tem os ricos que o enobrecem? Ou cada povo tem os pulhas que o empobrecem? O fato é que cada vez mais mais se entristece esse povo num rosário de contas e promessas num sobe e desce de prantos e preces. C’est n’est pas un pays sérieux! já dizia o general. O que somos afinal? Um país-pererê? folclórico? tropical? misturando morte e carnaval? Um povo de degradados? Filhos de degredados largados no litoral? Um povo-macunaíma sem caráternacional? Por que só nos contos de fada os pobres fracos vencem os ricos nobres? Por que os ricos dos países pobres são pobres perto dos ricos dos países ricos? Por que os pobres ricos dos países pobres não se aliam aos pobres dos países pobres para enfrentar os ricos dos países ricos, cada vez mais ricos, mesmo quando investem nos países pobres? Espelho, espelho meu! há um país mais perdido que o meu? Espelho, espelho meu! há um governo mais omisso que o meu? Espelho, espelho meu! há um povo mais passivo que o meu? E o espelho respondeu algo que se perdeu entre o inferno que padeço e o desencanto do céu. Se é capaz de enfrentar o mundo sem mentiras e falsidade, Se consegue superar a tensão sem ajuda médica, Se consegue relaxar sem bebida alcoólica, Se consegue dormir sem amparo de remédios, Se consegue dizer honestamente “do fundo do seu coração” que não tem qualquer preconceito de cor, credo, opção sexual, religião ou política. Então meu amigo, você é quase tão admirável quanto o seu cão. Se você consegue acordar de manhã de bom humor, Se você consegue começar o dia sem cafeína, Se consegue suportar pessoas chatas e queixosas com seus problemas, Se consegue comer a mesma comida todo dia e é grato a ela, Se é capaz de compreender quando as pessoas amadas estão muito ocupadas para se dedicar a você a qualquer hora, Se é capaz de relevar quando alguma coisa sai errada e alguém que você ama descarrega o problema em você, Se é capaz de suportar críticas e assumir a culpa sem ressentimento, Se consegue resistir em tratar um amigo rico melhor do que um pobre, Autor desconhecido Dr. Mussi A. de Lacerda Médico Veterinário - CRMVSP 3065 Arca de Noé Centro Médico Veterinário www.arcadenoehv.com.br Peregrino das Letras 4 Informação, Cultura e Livre Expressão Jornal Peregrino das Letras (16) 3621 9225 / 9992 3408 BUSCA DE TEXTOS NO SITE DO JORNAL Pesquise os textos anteriormente publicados. Visite o site www.jperegrino.com.br O TIO AVÔ A família, como sistema, vive em um campo morfogenético, que traz uma memória coletiva na qual estão armazenadas todas as informações importantes do sistema. Os elementos individuais como parte do todo estão em ressonância com o todo. É como se nos movimentássemos como um rádio neste campo de memória, procurando a Ordem, o Equilíbrio do campo, mesmo que para isso nos conectemos com profundos sofrimentos. Isto acontece inconscientemente, envolve as dinâmicas do vínculo, imitação e identificação. Ribeirão Preto - SP - setembro/2007 A seguir descrevo a história de um rapaz de 19 anos, esportista e inteligente. Os acidentes o acompanharam durante toda sua vida. Quebrou pernas, braços e machucou o rosto, a bicicleta sempre foi sua companheira nestas ocasiões. Além da bicicleta, tem outros companheiros como a maconha, o “doce”, etc.; “mas só um pouco”, segundo ele. Os pais se desesperam, querem salvá-lo, por isso o convenceram de fazer a Constelação Familiar. E ele também não agüenta mais os “tombos”... Nos fatos que acompanham o histórico familiar encontramos a morte do tio-avô, em acidente com bicicleta, com a mesma idade do rapaz, atualmente. Seu comportamento trouxe vergonha, dores profundas aos pais, e o nome deste tio não era mais dito em família. Observamos que a exclusão do tio-avô significa uma descompensação na Ordem sistêmica, na Lei da Pertinência, segundo a qual todos temos o direito de fazer parte. O sobrinho nasce, duas gerações depois, e identifica-se com o tio, mesmo sem conhecê-lo ou saber de sua existência. Segue-o em seu destino, como um rádio segue as ondas radiofônicas. Comporta-se como ele. Pode mesmo chegar a morrer como ele morreu. Não se concluiu enquanto ser humano, pois não se liberou do emaranhamento criado por amor, lealdade e fidelidade ao sistema que entrou em desequilíbrio quando o tio foi julgado, condenado e excluído. A constelação sistêmica, lidando com fatos ocorridos, possibilita desatar os laços, os emaranhamentos e retomar a própria vida a partir de um outro padrão, sem mais precisar estar implicado com a família pela repetição do sofrimento. A solução envolve o respeito, o sim incondicional ao sistema, além da tomada de seu lugar dentro da família, com gratidão e humildade. O processo de “desidentificação” com o tio-avô significa olhar sua vida e sua morte com respeito, dar um lugar a ele no coração e reconhecer o lugar do tio, assim como o diferente lugar do rapaz no sistema. Esta é a possibilidade de, como afirma Bert Hellinger, se liberar e se concluir. Ana Lucia Braga Terapeuta de Constelações Sistêmicas, Terapeuta Corporal Neo Reichiana, Psicopedagoga Tel.: (16) 3021.5490 / 9994.7224 “CURSOS de APOIO” Uma saída econômica viável na preparação escolar dos nossos filhos Para a maioria dos pais de hoje em dia, fundamental é cuidar da educação dos filhos. Dar as melhores oportunidades para enfrentarem o mundo de amanhã é praticamente uma obsessão. O problema é:- temos condições financeiras para isto? Sem dúvida não medimos esforços para dar a melhor estrutura de aprendizado para que eles sejam bons profissionais e consigam um futuro mais promissor; entretanto, antes de tudo existe a “saga do vestibular”. As universidades particulares estão cada vez mais inacessíveis para a maioria de nós, reles mortais. O acesso às universidades públicas, notadamente com a melhor qualidade de ensino, está mais ao alcance dos alunos de melhor poder aquisitivo, cuja preparação se inicia realmente desde os primórdios do ensino básico. Além do altíssimo custo para formar nossos filhos em escolas particulares, temos ainda por cima, durante a etapa do ensino fundamental e do médio, que ajudá-los de maneira a aumentarmos a sua carga horária de estudos com alguns cursos paralelos, ou seja, inglês, redação, apoio em exatas (matemática, física e química), e, etc. Haja dinheiro... Imagine então para quem tem mais de um filho! Há alguma esperança para o ensino escolar gratuito antes da Universidade? Sabemos que não; e a não ser que mais de 500 anos de história desta cultura colonialista, como a implantada no Brasil desde o seu descobrimento seja erradicada da nossa nação as coisas não se modificarão. Então, só nos resta procurar as melhores armas para enfrentarmos o pesadelo de cumprirmos a nossa missão que é a de encaminhar os nossos adorados filhos. A melhor maneira é procurarmos seguir com um apoio mais intensivo desde o mais básico dos anos escolares. Dentre as alternativas mais viáveis atualmente existem os “cursos de apoio”. Estes cursos nada mais são do que aulas intensivas, com cerca de 50 minutos cada uma, sendo duas por dia, ou seja, um pouco mais de uma hora e meia, duas vezes por semana com o intuito de auxiliar, e por causa do atendimento personalizado, permitir ao aluno corrigir as suas principais falhas, que quase sempre, no meio de uma turma, acabam seguindo com o decorrer dos anos e mais tarde acarretando uma enorme dificuldade em acompanhar os estudos na medida em que o volume de matérias e o grau de dificuldade aumentam. Os custos destas aulas são relativamente baixos, permitindo, mesmo aos pais que já pagam pelos estudos iniciais, uma chance de aprimorar e fortalecer o conhecimento do jovem e assim prepará-lo melhor para enfrentar o vestibular. Este apoio consiste em repassar ao aluno, tudo o que já foi ensinado anteriormente, com uma didática toda especial, facilitando o aprendizado e embasando os conhecimentos para auxiliar na compreensão das matérias que mais exigem o raciocínio e a lógica do entendimento; uma vez que, os vestibulares de hoje visam basicamente testar a capacidade do aluno em compreender os textos e os enunciados dos problemas pedidos, deixando o resto, para simples aplicação dos conceitos básicos. Entender o que está escrito e compreender o que se pede é praticamente mais da metade da resolução de um exercício; e além do mais, através de uma matéria, pede-se conceito de outras matérias, obrigando o aluno a enxergar a relação existente entre todas elas. O custo é relativamente baixo em relação aos enormes benefícios. Variando entre R$ 15,00 a hora para o ensino fundamental, e R$ 20,00 para o ensino médio o custo da hora aula acaba significando em média uma quantia que varia entre R$ 100,00 e R$ 150,00 mensais, dependendo do número de aulas combinadas. Mesmo porque, quanto mais cedo o acompanhamento se iniciar, será mais fácil evitar os custos de um curso paralelo às vésperas da época dos vestibulares. Entretanto, o acompanhamento deve ser feito anualmente, desde o início do ano letivo, a fim de que todas as dúvidas e conceitos básicos das matérias ensinadas sejam sanados e permitir ao aluno conseguir manter boas médias para a sua aprovação e preparação para o futuro vestibular. Charles Berbare Biomédico e Administrador de Empresas Consultor Responsável – CESAUDIO “M.V.” - (Centro especializado em Audiologia) [email protected] Peregrino das Letras Ribeirão Preto - SP - setembro/2007 5 Informação, Cultura e Livre Expressão ANTROPOSOFIANDO Da imitação a liberdade Nos primeiros sete anos da vida de um ser humano, o que surge de mais significativo e completo para a aprendizagem da criança são os gestos. É através desta linguagem muscular, onde nos mostramos com toda nossa verdade desenvolvida com base em nossos valores, que se torna a primeira vertente pedagógica. Quando nos movimentamos damos mostras da importância e do grau de consciência e afetividade que nos liga àquela ação. Músculo nunca mente, quando estamos irritados ou nervosos, nossa palavra pode até ser doce, porém, nossa respiração se altera, nosso rosto se contrai dando as reais indicações de como nos sentimos. A criança recebe como dádiva uma força de aprendizagem extremamente potente chamada imitação, e é através desta força que aprende a andar, falar e pensar, o apoio da imitação é o movimento muscular, o gesto. No gesto temos impresso o movimento e a intenção dele. Desta maneira, para crianças de 0 a 7 anos, somos um livro aberto em relação ao grau de moralidade que desenvolvemos em nós. Quanto mais caminhamos dentro da moralidade, mais somos gratos e conseqüentes a tudo o que nos rodeia, temos a noção exata de nossa responsabilidade frente a nossa própria vida, isto traz uma qualidade para a ação que se mostra “muscularmente”, o gesto fica repleto de significado, e isto faz nascer o sentimento de estar preenchido, estar ligado a algo superior que ordena tudo, é uma religiosidade que não necessariamente precisa ter nome, nem tampouco ter ligação com grupos, é, na verdade, um sentimento de plenitude. E tudo isto é transparente para a criança que carrega a força da imitação. É nessa faixa etária que podemos, através de gestos expressivos e compenetrados, desenvolver o sentimento de gratidão. Por volta dos sete anos de idade é completado um ciclo significativo de maturidade. Aos pouquinhos, aquela força imitativa vai se enfraquecendo para metamorfosear-se em conteúdo significativo da linguagem. Agora a fala ganha destaque, a maneira como a fala é construída, sua entonação e o significado da palavra se apóiam nos valores éticos e estéticos que desenvolvemos. Quanto mais evoluídos ética e esteticamente, mais a fala, com profundo significado, brota de nossos lábios. Através da fala transmitimos nosso conteúdo consciente, nos comunicamos. Aparece agora a profunda importância do professor, aquele que professa, que passa conhecimento através da fala. No início, quanto mais bela e mais descritiva for a fala do professor, mais se constrói o lado estético do ser humano, que, por sua vez, estrutura a ética. Quando estas bases são sólidas impulsionam o nascimento do amor ao próximo. “É o amor ao próximo que evita que as pessoas passem umas pelas outras sem realmente se conhecerem mutuamente, em decorrência do fato de não possuirmos mais a capacidade de perceber as qualidades individuais do próximo. O amor universal ao próximo, que visa a compreensão da situação humana, desperta no período entre a segunda dentição e a puberdade; do mesmo modo como a gratidão cresce no período entre o nascimento e a segunda dentição. A escola precisará fazer tudo o que estiver ao alcance para despertar o referido amor universal ao próximo.”, diz Rudolf Steiner. Posteriormente, durante o terceiro setênio da vida, surge a percepção plena para as ações, aí emerge o que mais tarde será chamado de amor ao trabalho. É através do trabalho que o homem se expressa como ser, se vincula ao mundo. Quando conseguimos todos estes processos evolutivos, naturalmente a escolha do trabalho se dará de uma maneira a corresponder à essência humana que cada um carrega, as habilidades e competências desenvolvidas nesse trabalho servirão ao outro. Quando se alcança este patamar o trabalho também liga o ser humano a algo que o prende, ele se sente pleno, religado. Seus gestos são cheios de significados, sua fala é preenchida de essência, sua ação é promotora de transformações. Nasce um ser livre que se expressa integralmente através de sua essência, com uso pleno de sua consciência e disponibilidade integral das habilidades desenvolvidas. Marina Fernandes Calache Pedagogia Curativa, Terapeuta do Movimento, Visão Ampliada pela Antroposofia. Tel.: (16) 3941 3669 / 3620 7800 Quem somos? Somos um grupo de profissionais multidisciplinares da área médico / terapêutica, que possui como orientação comum a antroposofia. Numa das reuniões do grupo nasceu a idéia de iniciarmos este caderno, o antroposofiando, onde pretendemos divulgar noções básicas sobre os princípios antroposóficos, e também exprimir idéias a respeito de acontecimentos do nosso dia-a-dia. Gostaríamos também de interagir com os leitores ouvindo suas opiniões ou esclarecendo possíveis dúvidas. O grupo é formado por: Annelvira Gabarra, terapeuta artística, Dra. Beatriz Ferriolli, fonoaudióloga, Elisabeth Martha Tesheiner, musicoterapeuta, Dr.Júlio José Cunha, médico, Marina Fernandes Calache, pedagoga curativa, Dr. Paulo Neves Junior, médico, Dra. Zélia Beatriz Ligório da Fonseca, médica, Lilian de Almeida P. B. Sá, pedagoga e psicopedagoga e a Escola Waldorf de Ribeirão Preto. Pensamentos para esta era de Micael Temos que erradicar da alma todo medo e terror do que o futuro possa trazer ao homem. Temos que adquirir serenidade em todos os sentimentos e sensações a respeito do futuro. Temos que olhar pra frente com absoluta equanimidade para com tudo que possa vir. E temos que pensar somente que tudo o que vier nos será dado por uma direção mundial plena de sabedoria. Isto é parte do que temos de aprender nesta era, a saber: viver em pura confiança, sem qualquer segurança na existência; confiança na ajuda sempre presente do mundo espiritual. Em verdade, nada terá valor se a coragem nos faltar. Disciplinemos nossa vontade e busquemos o despertar interior todas as manhãs e todas as noites. Rudolf Steiner (Bremen 27.11.1910) 6 ANTROPOSOFIANDO Peregrino das Letras Informação, Cultura e Livre Expressão Ribeirão Preto - SP - setembro/2007 “A Arte no nosso século” Antroposofiando Se você possui orientação em Antroposofia e, gostaria de participar deste nosso caderno, telefone para: (16) 3621 9225 / 9992 3408. (século XX) “A Arte no nosso século é tão diferente das Artes passadas porque ela está no início do Espírito do Tempo Micaélico, no início da Liberdade e da Criação Individual. Micael, entre os arcanjos, é o espírito calado com gesto de recusa. Assim Steiner o caracteriza, pois Micael, categoricamente, recusa tudo que não vem da criação individual; por essa razão ele não pode dar mais nada para o ser humano. Ele não deve dar mais nada, porque o ser humano tem que extrair todos os impulsos do seu pensamento e da sua atuação dentro de si próprio. Micael caladamente espera as ações do Eu; ele espera a “Criação” surgindo do nada. Porque só dessa forma o Eu alcança o futuro. A criação vem do nada, do vazio interior. Nas pinturas sacras antigas, o dourado se refere ao mundo espiritual, à luz espiritual”. Rudolf Steiner, tradução de Beate Hodapp Assim é que a Arte transforma o Homem, na tentativa de transformar o material, seja as cores, a argila, a madeira, a pedra, o tecido etc. Como atuar artisticamente na Vida? Como desenvolver uma atitude criativa diante da vida ? Essa questão é essencialmente para o indivíduo que quer atuar no mundo como um verdadeiro ser humano. Vejamos o que Rodolf Steiner disse sobre a atividade artística: “Numa atividade artística exercitamos a totalidade do nosso Ser, pois o pensar, o sentir e o querer são convidados a participar envolvendo assim nossa percepção, sentimento e vontade. A criatividade faz parte de nossa natureza, nos proporciona bem estar e é fundamental para o desenvolvimento de nosso pleno potencial. A arte ajuda no desbloqueio da criatividade e melhora a qualidade de vida, apoiando o processo de mudança; para se beneficiar e usufruir do efeito terapêutico harmonizante da Arte, não é necessário ter dom artístico ou vivência prévia, pois o importante é o caminho interior ativado pelo terapeuta. Não importa o que é, mas sim o que poderia ser; não o real e sim o possível. Nas criações artísticas expressamos nossa essência e assim encontramos em nosso interior satisfação e plenitude. O que importa é a autenticidade da produção única e pessoal”. Rudolf Steiner Nossa vida imaginativa e nosso sentir durante a pintura. A unilateralidade está presente cada vez mais em nossas vidas, seja nos sentimentos, nos pensamentos ou nas ações. Muitas vezes, ao se pensar sobre algo, se perde a amplitude de visão, graças a hiperinformação do pensar, à especialização exagerada. Uma objetividade muito acentuada interfere, bloqueia a vida dos sentimentos, que é responsável por pensamentos vivos, coloridos e amplos. Assim é que o indivíduo tornase egocêntrico, pois seus pen- samentos giram a serviço de seus próprios desejos. Segundo R. Steiner, durante a pintura, “as representações devem desfazer-se”, mas depois” ressurgir no sentimento como cor”. O sentimento deixa-se marcar pela essência da respectiva cor e o caminho para se penetrar na “Essência da cor só é percorrido quando o fazemos com o sentimento, por meio da Vivência das Cores. Pintar... pintar... pintar... Num primeiro momento, o importante é somente a vivência da cor ou cores, só depois iremos observar se naquilo que foi pintado podemos vislumbrar figuras ou paisagem que serão então desenvolvidas conscientemente. As “emoções” vividas movimentam o corpo sensitivo que é parte do corpo etérico-vital. Partindo dessa afirmação, podemos dizer que as “impressões sensoriais sempre influem sobre os processos corpóreos. Elas podem destruir, como também vitalizar e fortalecer. “O trabalho artístico prepara o caminho para os espíritos que querem ajudar alguém a seguir em frente. Se quisermos trilhar esse caminho, devemos trilhá-lo com amor. Então a paz e a harmonia estarão entre os homens sobre a Terra. Desse Espírito de Amor, que na verdade é o espírito do verdadeiro elemento artístico, emanará o Espírito da Paz, o Espírito da Harmonia, o Espírito do Amor sobre a Terra”. Rudolf Steiner Fonte: Terapia Artística, vol 1, de Paul Von der Heide Annelvira Gabarra Terapia Artística (16) 3623 3319 Ribeirão Preto - SP - setembro/2007 Peregrino ANTROPOSOFIANDO das Letras Informação, Cultura e Livre Expressão 7 Médicos sem face É muito freqüente a queixa de várias pessoas de que muitos médicos quase não lhes dão “atenção” e quase não as “examinam”. Recente pesquisa regional revela que o tempo de consulta nos consultórios médicos tem duração média de 17 minutos. Essa desatenção dos colegas e sua pressa é uma repetição acrítica da nossa sociedade, repleta de atos de desconsideração para com o outro. Essa avaliação negativa dos pacientes mostra que eles não procuram o profissional médico, “apenas” pela sua qualidade técnica. Essa obviedade mostra a necessidade afetiva embutida no ser humano que em posição frágil causada pelo seu sofrimento, busca auxílio na medicina. A história mostra nos registros da Mesopotâmia – 5000 A.C. – que as ações para doença e cura estavam centradas nos templos e nos sacerdotes. Todo o cotidiano girava em torno do templo. É um dado que mostra como a medicina tem origem em âmbito espiritual. A vida moderna mostra o oposto: há toda a separação do conhecimento e das ações humanas, gerando as diversas especializações em quaisquer âmbitos profissionais. Isso faz parte de nosso processo de desenvolvimento, uma individuação, que nos dá a sensação de que somos cada vez mais unos conosco mesmos, portanto, afastados de nosso meio. Então sentimos que dentro de nós há a premissa de liberdade, a independência frente às demais. Isso é saudável e necessário ao mesmo tempo em que implica em colocar nas costas novas responsabilidades. Na fuga de não assumir essa maturação, as pessoas ao se fecharem em seu interior, demasiadamente, esquecem de olhar para a individualidade do outro... Caindo em posturas egoístas. Um mundo de egoístas é um mundo de solitários. Já não há aquele padre confiável para nos ouvir. Os vizinhos são distantes. O ambiente de trabalho é competitivo (ou seja, repleto de inimigos)... Esse vazio, entre outros, gera sofrimento e doenças. Lá vai o doente - e portanto, frágil - buscar no médico uma referência de alívio. Habitualmente ele vai encontrar um profissional em sofrimento, também. O médico é aquele indivíduo com um histórico de fazer muitos esforços. Tem que queimar muito de sua vitalidade em um vestibular dos mais concorridos. Depois faz um curso de seis anos em período integral, com plantões no final do curso. Depois tem que se esfalfar para entrar numa Residência Médica, uma pósgraduação que dura de dois a cinco anos. E fazendo habitualmente, muitos plantões. Depois ele vai buscar seu lugar no “mercado de trabalho”. Esse caminho feito de maneira bem individual. O mercado de trabalho do médico está marcado atualmente por duas vias. O do sacrifício, que são os plantões, onde se fica longas horas, atendendo uma grande quantidade de pacientes. Atender 100 pacientes por turnos de 12 horas é uma realidade comum. Fazer vários plantões e emendar o dia seguinte com atividades ambulatoriais e hospitalares é o habitual. Outra via é a de trabalhar em consultórios pseudoparticulares. Pseudo porque não são os médicos que definem os valores de remuneração. Os planos de saúde e cooperativas médicas pagam até R$ 42,00 pela consulta a serem repassados em até 60 dias, ou mais... Não se remunerando os “retornos” de consultas e apresentação de exames. Como isso gera um natural prejuízo, diminui-se o tempo de consulta para se ganhar na quantidade: lá se vai a qualidade de atendimento! Para diminuir a margem de erros se pede maior quantidade de exames, o que torna o processo, além de nada sensato, ainda mais caro. Os pacientes geralmente gostam muito de exames, pois crêem que eles tenham muito valor. Mas isso é ilusão de leigo, pois a margem de acerto diagnóstico é maior quando se faz uma história clínica bem feita e um exame físico (clínico), correto. Mas fazer bem feito – qualidade! – leva tempo. Mas os convênios e cooperativas médicas não remuneram a qualidade. Tanto que o pagamento é o mesmo, seja para um médico experiente e em nível de excelência, quanto para um jovem médico que acabou de sair de sua pós-graduação. Nesse imbricamento há convênios que pressionam os médicos para pedirem menos exames e gerarem menos custos. Daí entra a figura do médico auditor que entre outras funções, está aí para vigiar os médicos que tendem a burlar algumas regras e acabam transtornando (no mínimo), os médicos corretos burocratizando seus cotidianos. Além de glosarem várias consultas e procedimentos por encontrarem supostas irregularidades: mais prejuízo para os consultórios. Dessa maneira, além de vincular a quantia da remuneração dos médicos com relação à quantidade de exames pedidos – quanto mais exames, menor a remuneração – muitos dos colegas passam de fato a diminuir os pedidos de exames. Nesse caso, com atendimento rápido (ruim) e poucos exames, algo irá mal e os pacientes terão agudizações ou complicações - que resultarão em cronificação - que cairão nos plantões dos prontos-socorros. Como os consultórios pseudoparticulares são fontes de prejuízos, cabe aos profissionais darem plantões, onde acabam fazendo consigo mesmos uma prática estilo Robim Hood. O ganho dos exaustivos plantões tapa o déficit financeiro dos seus consultórios. Os plantões são abertos para médicos clínicosgerais, uma necessidade. A maior parte dos plantonistas é especialista: essa distorção de sobrevivência financeira é um exercício de frustração com hora marcada, para os médicos. Já que os pacientes pagam os seus planos de saúde, mas não se interessam por sua gestão, pagam para não terem responsabilidades e assim dão sua contribuição para piorar o sistema. Mais uma: os pacientes faltam em média em 30 % das consultas marcadas. Mesmo que as secretárias liguem na véspera da consulta para lembrar do compromisso. Este é um dos índices de falta de respeito dos pacientes para com os médicos. Para tapar esse prejuízo financeiro (não somente falta de consideração), vários colegas criaram o famigerado “encaixe”. É a forma de enfiar pacientes em horários que muitas vezes nem existem para “aumentar o bolo”. E é claro, muitos pacientes ficam felizes por serem “encaixados”, pois resolve o problema de imediato mas não em uma visão mais ampla, pois é freqüente abarrotar a agenda e diminuir assim obrigatoriamente o tempo de consulta... Assim há colegas no limite da explosão, realizando atos de revolta onde desconsideram explicitamente o paciente, pois tanto faz que um ou outro, ou vários, ajam com repúdio, pois o convênio oferece pacientes aos borbotões. No outro lado, tanto faz para o paciente que um médico por ele considerado muito bom, saia do convênio. Ele no começo fica triste, reclama, esperneia, mas não vai atrás do médico para pagar uma consulta particular. Ele acaba procurando outro médico dentro do rol de seu convênio para dar continuidade ao tratamento mesmo que o paciente não o considere o melhor profissional. É o tanto faz do consumidor, o financiador, o paciente, que é fiel ao convênio e não ao médico. Há o desejo de se ter todo o bom pacote: médico, laboratório, hospital, com o melhor preço possível. Os pacientes que pagam por isso, pagam preço e não qualidade. Nessa seara encontramos um médico cada vez mais despersonalizado, sem face. Mas o médico tem mesmo que não queira, mesmo que não perceba, um manto espiritual que o acompanha. Ele atua para o bem do outro. Ele age para beneficiar a todos. Essa é sua premissa, seu âmago, sua essência. Sofre, muito, por não atender dignamente as pessoas. Pois sabe que mente para si mesmo. E é por isso que se fechando em seu sofrer os médicos tem alto índice de uso de drogas (o álcool como a mais comum), e um índice maior de suicídio na comparação com toda a população. É a percepção interna de que se está sendo indigno consigo mesmo e com os pacientes por fazer parte desse processo irracional. Se os médicos se tornam insensíveis com seu eu, sua identidade, tornam-se insensíveis com os demais. Os médicos e pacientes viraram massa de manobra de administradores de planos de saúde. Somos todos coresponsáveis por esse absurdo atual. Dr. Paulo Neves Júnior Clínica Médica e Reumatologia Antroposóficas. Consultor Biográfico Tel.: (16) 3421 6323 8 Peregrino ANTROPOSOFIANDO das Letras Ribeirão Preto - SP - setembro/2007 Informação, Cultura e Livre Expressão Alimentação e comportamento Thomas Cowan, M. D. Em 1950, uma comissão de professores de escolas públicas dos EUA determinou que as suas maiores preocupações nas classes do colegial eram mascar chicletes em salas de aula, o falar fora da hora e o esquecer de levantar a mão antes de falar. Naquela época, ainda não havia sido “inventado” o diagnóstico do Distúrbio de Hiperatividade e Falta de Concentração e as escolas públicas se preocupavam em assegurar o cumprimento das normas estabelecidas em relação ao uniforme. E nos anos 90? De acordo com as informações (pesquisa do Time Magazine), 5 a 7% de todas as crianças americanas de 1ª a 4ª série tomam medicamentos para este distúrbio e esta porcentagem aumenta de 9 a 11% entre os meninos. Numa reunião em uma escola pública por mim assistida, foi dito que a incidência normal deste distúrbio, entre meninos, é de 10% e, se houver menos de 10% de meninos tomando este medicamento, então a escola não está fazendo um bom trabalho em diagnosticar estas crianças. De fato, como tema geral, a saúde das crianças dos EUA em muito difere hoje dos anos 50 (e também da dos anos anteriores). Na época, a preocupação maior era para com as doenças infantis (sarampo, caxumba, catapora, etc.), todas fundamentalmente de curta duração e em maior parte inofensivas. Atualmente a preocupação maior é com a asma (25% das crianças de escolas elementares urbanas levam inaladores para a escola; em algumas cidades são até mais), diabetes, leucemia e, certamente, o distúrbio de hiperatividade, - todas doenças muito sérias e crônicas. E temos a questão não respondida (e, infelizmente, não perguntada): POR QUÊ? Enquanto não há uma resposta definitiva a esta pergunta, uma “indicação” é apontada no trabalho do Dr. Western Price. Dr. Price, um dentista, estava preocupado com outra epidemia que tem piorado intensamente nos últimos tempos. Nos anos 30, Dr. Price percebeu que cada vez mais os seus pacientes estavam tendo problemas de oclusão (isto é, seus dentes não nasciam retos e corretamente). Esta ocorrência, que antes era relativamente rara, muito rapidamente estava se tornando normal, a tal ponto, que atualmente 100% das pessoas nascem sem o espaço suficiente na boca para todos os dentes, incluindo os do siso. Pesquisando por que ninguém nasce com espaço suficiente para todos os dentes, o Dr. Price procurou por todo o mundo pessoas com um desenvolvimento dentário normal – ou seja, dentes adequadamente espaçados com ausência de cáries (a propósito: as cáries, além de serem infecções, são indicadores da resistência do organismo à infecção). O Dr. Price encontrou muitos grupos indígenas e foi capaz de documentar, definitivamente, que a única razão para a saúde praticamente perfeita dos dentes dessas pessoas era a sua dieta. De fato, sem a miscigenação entre raças, sem qualquer mudança significativa em sua cultura, mas somente com a introdução das comidas processadas do Ocidente em sua dieta alimentar, no decorrer de uma geração, é que esses grupos perderam a imunidade às cáries e os seus dentes nasceram desalinhados, exatamente iguais aos dos americanos. O Dr. Price também demonstrou que a razão para as mudanças decorrentes da nova dieta é que o esqueleto daqueles que comem alimentos processados pode perder até 40% de sua calcificação. Isto significa que já no nascimento os ossos podem estar até 40% menos fortes e calcificados do que os ossos dos povos indígenas com a sua dieta tradicional. O mau alinhamento dos dentes tem como resultado um osso maxilar enfraquecido que se curva para cima (uma oposição mais “estável” para o osso mais fraco), o que, entretanto, muda os ângulos dos dentes que estão nascendo. Embora este fato possa não parecer importante (exceto, claro, se você é um ortodontista), o maxilar em processo de “curvatura” é, na verdade, só um alerta. Como a pélvis é formada no mesmo período em que é formado o maxilar, também fica descalcificada e curva, e com isso se tem um aumento de mais de 20% no número de cesáreas. Outro resultado desta deformidade do osso da face é que as fossas nasais se tornam mais estreitas – a respiração é comprimida, as amídalas e as adenóides se aproximam mais do centro, fechando o tubo de Eustáquio, o que leva a infecções crônicas do ouvido e assim por diante. Quando nós também compreendermos que ao adotar a dieta ocidental, os povos indígenas perderam a resistência a doenças infecciosas (incluindo cáries dentárias), teremos uma explicação plausível para muitos problemas de saúde. Voltando à nossa discussão sobre alimento e comportamento (eu aposto que vocês pensaram que eu havia me esquecido do tema), há três adendos importantes a serem feitos. - Primeiro: a psiquiatria moderna deixou bastante claro que a química, particularmente a química das proteínas (aminoácidos) e as gorduras são determinantes do comportamento. Em verdade, Prozac, antidepressivos, Ritalin, etc., medicamentos usados para tratar depressões e o distúrbio de hiperatividade e falta de concentração, não fazem nada mais do que manipular os níveis de aminoácidos no cérebro do paciente. Poder-se-ia perguntar então, primeiramente, por que estes aminoácidos são anormais. Haverá algo de errado com a nossa comida, com a nossa digestão ou com ambas? - Segundo: Rudolf Steiner falou sobre a relação entre a digestão, o pensamento e outros “processos mentais”. Ele chegou até a dizer que o cérebro é a imagem espelhada dos intestinos em sua forma e função. Além disso, chamou a atenção que a nossa estrutura física é a manifestação externa do intestino, e até, a base de um processo de pensamento ordenado e de uma sociedade igualmente ordenada. Os nossos ossos são (ou pelo menos eram) formados em relações matemáticas precisas, o que dá ao nosso subconsciente a experiência da forma, da ordem e até da lógica. Nossos maxilares não deveriam ser curvos, nossos dentes tortos, a pélvis da mulher pequena demais para dar à luz os seus filhos, nossos ossos do tórax encavados e nossos quadris com osteoporose. Se eles o forem, então veremos processos desordenados acontecerem a nossa volta, principalmente em nosso pensar, na lógica e em outros “processos interiores”! - Terceiro: (e provavelmente o mais concreto) realmente em todos os estudos feitos sobre homens ou animais, foi comprovado que, quando houve mudança da dieta nativa para a do Ocidente, ocorreram, seguramente, profundas mudanças de comportamento. Entre os prisioneiros o nível de violência variava, dependendo da alimentação e isto nós constatamos diariamente a nossa volta. O Dr. Price, em seus estudos, detalhou inúmeras vezes que condutas e comportamentos antes desconhecidos, assim como problemas emocionais, surgiram nos povos indígenas com a introdução da comida ocidental. Retornando aos EUA, ele montou uma clínica em Cleveland para tratar das cáries dentárias de crianças carentes do centro da cidade. Ele documentou mudanças radicais no comportamento, na vida emocional e na vida escolar, quando fez estas crianças entrarem numa dieta similar à usada por povos indígenas, isto é, uma dieta de grãos e vegetais frescos cultivados adequadamente, leite cru e produtos selecionados de carne e peixe. O resultado final parece ser que uma dieta de açúcar, cafeína, leite pasteurizado, farinha branca e vegetais, legumes e frutas cultivadas com o uso de produtos químicos são literalmente, suficientes para levar um indivíduo à loucura. Martha, Fúlvia e Suely Traduzido da revista trimensal LILIPOH, Nov. – jan. 1997, pgs. 18 e 19. Peregrino ANTROPOSOFIANDO das Letras Ribeirão Preto - SP - setembro/2007 Informação, Cultura e Livre Expressão 9 A importância da febre para a criança Febre – ou hipertermia - é o aumento da temperatura do corpo, acima da média considerada normal que varia entre 36°C e 37, 8°C dependendo se a medição for feita no reto, oral ou axilar. Abaixo de 36 graus temos uma hipotermia. São núcleos localizados no hipotálamo, no nosso cérebro, os responsáveis pela conservação da nossa temperatura corporal através de ajuste entre os mecanismos de geração e conservação de calor de um lado e de dissipação do calor e redução da temperatura corporal de outro. Fisiologicamente o organismo usa os seguintes mecanismos para aumentar e manter a temperatura: - Trabalho muscular; - Tremores; - Diminuição do calibre dos vasos sanguíneos; - Preferência pelo calor; Assim como temos mecanismos para diminuir a temperatura: - Aumento do calibre dos vasos sanguíneos; - Preferência pelo frio; - Sudorese. Causas Até mesmo exercícios prolongados podem provocar um aumento da temperatura, também a exposição exagerada ao sol, chamada Insolação ou Intermação. Mas na grande maioria dos casos, nas crianças, as febres são causadas por vírus, ou seja, são uma reação do organismo a agentes estranhos ao nosso corpo, vulgarmente chamados de germes e micróbios. Então a febre não é uma doença como muitos a tratam, mas o sinal de que o organismo está atuando com suas defesas em favor do todo. É cientificamente comprovado o fato de que a maioria dos vírus não consegue se multiplicar em temperaturas elevadas e assim o combate sem critérios às febres acaba por estender por longo tempo um estado que só deveria ocorrer por poucos dias. Algumas bactérias também são destruídas por temperaturas mais elevadas. A febre na visão da medicina ampliada pela antroposofia O calor é o portador do EU, e o nosso EU só se liga ao corpo físico no decorrer do desenvolvimento. Quando nascemos temos um corpo que foi plasmado pela mãe e no transcorrer, principalmente dos primeiros sete anos de vida, devemos transformar esse corpo em substância própria, individual. As febres infantis seriam momentos em que o EU tenta penetrar mais intensamente no organismo causando “crises”. Desse modo poderíamos encarar cada episódio febril como um rejuvenescimento onde o velho corpo herdado seria substituído por um novo mais adequado àquela individualidade. Sendo um dos primeiros sinais de combate a uma infecção, a natureza produz febre para capacitar o organismo a se fortalecer. Cada êxito que o organismo tem em neutralizar uma bactéria, ou vírus, torna-o mais competente para combater as próximas infecções. Assim quanto mais se impede a ação natural da febre, mais ocorre a probabilidade da criança se reinfectar novamente, situação bastante comum pela constante ação contrária à febre. Por exemplo, com o comum uso de medicamentos para abaixar a febre. Além de que ir contra a febre predispõe o sistema de defesa do organismo (sistema imunológico), a ficar confuso frente às situações comuns facilitando alguns distúrbios. É o caso das alergias que são uma resposta exagerada frente a um estímulo. Ou o freqüente achado clínico de hipotermia em pacientes com câncer. Quando procurar um médico? Como dissemos cada estado febril é uma crise e nós passamos por vários momentos de crise durante nosso desenvolvimento físico e espiritual, mas toda crise envolve riscos e o ideal é que ela seja observada com carinho e atenção não permitindo que ultrapasse certos limites que cada ser apresenta. Na avaliação da criança febril os pais precisam de um mínimo de segurança e tranqüilidade no julgamento de seu estado. Segurança é fruto do conhecimento e da experiência. Quando falta segurança vem o medo que a criança percebe e imita. Sempre que houver insegurança ou dúvida, deve-se procurar o médico de imediato. Sugestão prática na avaliação da febre - Lactentes (bebês de peito): em caso de febre sempre procurar o médico; - Febre maior que 39º, e que dure mais que 72 h; - Febre que reaparece após um período sem febre de mais de 24 hs; - Abatimento acentuado e “gemência”, mesmo após controle da temperatura; - Surgimento de outros sinais: lesões na pele, diarréia, dor de garganta, vômitos contínuos, dor de cabeça, etc.. Como manejar - A febre tem um caminho natural, indo da cabeça em direção aos pés. Constatando a febre, ponha a mão nos pés. Se estiverem frios significa que ela está caminhando e não completou o seu trajeto. Então, toda criança com febre deve ser agasalhada. Quando se tem um suadouro após uma febre, significa que ela realizou o seu trabalho naquele momento; - Os banhos são a melhor forma de controlar a temperatura; - Nunca usar água fria ou álcool, pois podem causar uma queda brusca da temperatura e conseqüentemente hipotermia; - Banho de imersão nos menores, ou escalda-pés nos maiores, com limão. A água deve estar um pouco abaixo da temperatura da criança (tépida). Cortar e espremer um limão dentro da água (abaixo da linha d’água). Deixar por 10 minutos. Se necessário, repetir. - Rodelas de limão na sola dos pés. Corta-se o limão em rodelas e coloque uma a uma em fila na sola dos pés subindo até a “batata” da perna. Prender com uma faixa ou meia grossa. OBS.: os pés devem estar aquecidos no uso do limão, se não estiverem, aqueça-os antes friccionando-os; - Chá de flores de Sabugueiro para estimular a sudorese. Líquidos à vontade para eliminação das toxinas, em forma de sucos de frutas, chás e água; - Dieta leve sem óleo ou frituras, evitando carnes, ovos, leite, leguminosas, enquanto durar a febre. Respeitar a falta de apetite da criança: se forçar a alimentação provoca-se náuseas e vômitos. Convulsão febril Eis um grande fantasma para a maior parte dos pais e responsáveis das crianças. A convulsão febril ocorre em crianças de 6 meses a 5 anos de idade. Não é a temperatura muito alta quem desencadeia a convulsão, mas a rapidez com que ocorre a variação de temperatura. Quedas bruscas de temperatura também são causa de convulsão como nos banhos de água fria ou com álcool. A convulsão febril apesar de assustadora para os pais, não deixa seqüelas. Muitas vezes é confundida com tremores que na verdade são somente um mecanismo fisiológico de aumentar a temperatura como dito anteriormente. Prevenção O natural é que a criança tenha alguns episódios febris durante seu desenvolvimento, mesmo na visão alopática, o que mostraria um desenvolvimento do sistema imunológico. E na visão antroposófica, esses episódios seriam aproveitados na transformação de um corpo próprio. Mas podemos atuar preventivamente para que essas crises sejam ultrapassadas tranqüilamente, sem intercorrências, resultando unicamente em benefícios para a criança. E a principal medida é alimentar: - Uma alimentação correta, sadia para cada fase da vida é a melhor medida preventiva de qualquer doença. - Preservação do ritmo sonovigília. Uma criança necessita de pelo menos dez horas de sono para manter-se saudável. - Uma outra medida preventiva é a manutenção do equilíbrio do nosso corpo calórico, cuidar para que as crianças tenham suas extremidades sempre aquecidas. Com esses pequenos cuidados, tão simples, damos às crianças a oportunidade de se desenvolverem bem e terem um futuro bem mais saudável. Bibliografia: Andreoli, T. E.; Carpenter, C. I.; Plum, F.; Smith, L. H.: Cecil Medicina Interna Básica - 2ª Ed S.XI-84 Bott, Victo: Medicina Antroposófica uma Ampliação da Arte de Curar-Vol 1. Burkhard, Gudrun K.: Novos Caminhos de Alimentação - Vol 3 Wolff, O. Husemann, F.: A Imagem do Homem como Base da Arte Médica - Vol 1 Dra. Zélia Beatriz Ligório Fonseca Pediatra – Prática Médica Antroposófica 10 Peregrino ANTROPOSOFIANDO das Letras Informação, Cultura e Livre Expressão Musicoterapia Parte 3 mesmo alguns desses efeitos e até mesmo outros não mencionados. A Formação da Identidade Sonora O vínculo entre os sons e o ser humano proporciona a base para o trabalho da musicoterapia. O som é um fenômeno físico que está presente na história de todo ser humano. O som e a música são parte integrante da vida do homem. Não existe nem nunca existiu um povo sem música e desde a origem da humanidade a música exerceu seu poder afetivo e mobilizador, sendo utilizada pelo homem com as mais diversas finalidades. Ela está presente em festas e comemorações, funerais, missas, e em outros rituais. A música marca presença como forma de alienar ou preparar emocionalmente o ser humano para um acontecimento. É muito utilizada na publicidade e atualmente até um simples noticiário obedece a regras de acompanhamento musical. O que dizer de um bom filme sem uma boa trilha sonora, ou de uma peça de teatro sem um consistente suporte musical? Efeitos do som O som, e a música são capazes de agir sobre o físico e o psíquico, e sua ação pode hoje em dia ser comprovada através de mensurações facilitadas pelo avanço tecnológico dos últimos tempos. Os efeitos fisiológicos podem ocorrer como reações motoras, sensoriais, hormonais ou fisiológicas e como efeitos psíquicos podem desencadear descargas emocionais nos mais variados graus. Vamos enumerar alguns desses efeitos: capacidade e ritmo respiratório; pressão sanguínea; pulsação; expressão corporal; tônus e energia; concentração e atenção. Enfim, cada um de nós já sentiu e percebeu em si Identidade Sonora é um termo bastante comum entre os musicoterapeutas. Ela é pessoal e única, pois se forma de modo diferenciado em cada um. Esta identidade corresponde a um conjunto de sons ou fenômenos acústicos, de movimentos internos e de músicas que estiveram presentes e marcaram a vida e o desenvolvimento de cada indivíduo, incorporando-se à sua personalidade. Quais seriam estes sons e qual sua importância? Nesta formação estão englobados os sons que condensam os arquétipos sonoros universais, tais como grito, choro, sons de água e muitos outros que surgem da natureza e do ser humano em sua evolução onto e filogenética. Agregam-se a estes aqueles provenientes da carga cultural que carrega os sons familiares ao grupo em que vive, os sons do cotidiano e particularmente as influências sonoras que foram vividas no período da gestação. O feto, durante seu desenvolvimento está em contato com fenômenos sonoros intra-uterinos que se tornam parte integrante de sua memória afetiva. Já no útero materno antes mesmo do desenvolvimento do sentido da audição estes sons são percebidos pelo tato e o feto entra em contato com as pulsações e batimentos cardíacos de sua mãe, e com outras sensações vibratórias, como ruídos intestinais, sons da respiração e também com sons provenientes do meio ambiente e que chegam filtrados pelo líquido amniótico. Depois de nascido, o choro é sua primeira manifestação sonora. A partir do nascimento os sons presentes no seu dia a dia serão incorporados e o acompanharão por toda sua existência. Fazem parte destas vivências sonoras as cantigas de ninar, cantigas de roda e folclóricas entre outras. Mais tarde, as músicas marcam a adolescência e a idade adulta; marcam um romance ou determinada época da vida e assim por diante... Esta identidade sonora e musical continua a se formar e se desenvolver por toda a vida. A lembrança aparentemente casual de uma música qualquer, remete geralmente a uma vivência anterior. Uma música pode remeter a uma lembrança de determinadas pessoas ou épocas. Ninguém gosta ou desgosta de uma música por acaso ou só por ter sido um sucesso de época. Há uma identificação pessoal com algum elemento dessa música, seja ele verbal ou musical. A Musicoterapia permite que o indivíduo atualize a vivência passada trazendo-a para o momento atual e atribuindo-lhe um novo significado. Em nossa atuação clínica percebemos a importância dessa identidade ser construída de forma adequada e sadia... É triste constatar que hoje em dia os sons ambientais decorrentes do estilo de vida da sociedade moderna nos grandes centros urbanos geram graves prejuízos à formação da personalidade. O homem está cada vez mais afastado da natureza e de seus sons. Está cada vez mais exposto aos sons das máquinas e dos centros urbanos, que fragilizam a saúde física e emocional de seus habitantes. Poucas são hoje em dia as mães que dispõem de tempo e vontade de cantar para seus filhos. Poucas escolas propiciam atividades e brincadeiras musicais tradicionais, cantigas de roda, e folclóricas. As músicas e concertos ao vivo estão sendo substituídos por gravações e meios eletrônicos. Músicas tradicionais têm sido substituídas por músicas comerciais divulgadas pela mídia, sendo que muitas delas são completamente inadequadas às crianças. Precisamos estar atentos e conscientes do que oferecemos às nossas crianças e aos jovens. Dizemos que a música atua como um ressonador, que reforça aquilo que já existe em cada indivíduo. Toda pessoa tem uma identidade sonora, um ritmo interior que a diferencia das outras. Identificá-lo e equilibrá-lo é procedimento da musicoterapia. Elisabeth Martha Tesheiner Musicoterapeuta, Terapeuta Corporal, Educadora Musical Visão Ampliada pela Antroposofia [email protected] Tels.: (16) 3877 7813 / 9725 1503 Ribeirão Preto - SP - setembro/2007 O que contam sobre São Micael os camponeses da Normandia (Lenda da Normandia) Há muito tempo atrás, São Micael e o Diabo eram quase vizinhos e, numa noite de inverno, estando ambos sentados lado a lado, aborreceram-se um com o outro. Satanás vangloriou-se dizendo que seu poder era limitado, e São Micael por sua vez replicou, dizendo que somente Deus era Todo-Poderoso. “Bom, então que Deus te ajude a construir um castelo”, disse o Diabo, “Pois também eu vou fazer um: logo veremos qual dos dois será o mais belo”. São Micael concordou; e o Diabo logo mandou um grupo de diabinhos buscarem grandes blocos de granito de todos os lados. Feito isso, começaram a trabalhar, e bem depressa levantouse um formidável castelo numa ilha exposta aos embates das ondas do mar e açoitada por tormentas. Os diabinhos arrastaram quantidades imensas de blocos, de modo que logo se ergueu sobre o mar todo um maciço montanhoso de granito. O Diabo se sentiu todo orgulhoso de sua obra; São Micael, por sua vez, não se empenhou tanto: de gelo cristalino, ergueu na praia uns muros transparentes, com ousadas torres adornadas de graciosas colunas. Esse castelo, radiante de luz, emitiu um brilho diamantino a grande distância, e seu resplendor deixou na sombra as áridas massas de granito. O orgulhoso Diabo teve de admitir que se dava por vencido, e retirou-se cabisbaixo; a inveja, porém, não o deixou dormir. Quando já não podia mais suportar sua derrota, perguntou a São Micael se não podiam trocar de castelos, e este novamente concordou. Contudo, ao chegar o verão, o palácio do Diabo derreteu-se sob os raios quentes do sol, ao passo que o castelo de São Micael existe ainda até hoje e se chama Mont-Saint-Michel. O Diabo não teve outro jeito senão morar numa simples choça à beira-mar, tinha, porém, campos férteis, pastos bem irrigados, algumas lombas cobertas de árvores altas e verdes vales. São Micael, por sua vez, tinha somente umas dunas de areia e, se não fosse por suas orações diárias, teria morrido de fome. Depois de alguns anos de muita carência, São Micael se cansou dessa situação, procurou o Diabo e lhe disse: “Quero fazer-te uma oferta: entrega-me todos os teus campos, e eu trabalharei neles o melhor que puder. Depois repartiremos a colheita”. O Diabo achou boa a idéia, e São Micael disse ainda: “Não quero que depois te queixes de mim; escolhe tu mesmo o que vais preferir: o que cresce em cima da terra ou o que cresce em baixo”. O Diabo, sem pensar muito exclamou: “O que cresce em cima”! “De acordo”, disse São Micael. Seis meses depois, no imenso território do Diabo não se viam senão culturas de beterrabas, cenouras e cebolas. Satanás não colheu nada; queixou-se amargamente e quis revogar o contrato. Quanto a São Micael, havia se afeiçoado à agricultura e não aceitou a revogação. Satanás então disse: “Está bem, contanto que neste ano eu possa levar tudo o que amadurecer debaixo da terra”. Micael concordou e o Diabo, todo contente, mal podia esperar pelas abundantes colheitas. Chegou a primavera, época em que todos os campos estavam semeados de trigo, aveia e cevada. O Diabo, ao se dar conta de ter perdido de novo, ficou rubro como um caranguejo, de tanta raiva. No momento em que ia agarrar São Micael, este lhe deu tão tremendo golpe no lombo que, como uma bala, ele foi lançado aos espaços distantes da Terra. Nas rochas de Mortain, de onde voltou à Terra, até hoje ainda se vêem as marcas de seus chifres e de seu garfo. Para sempre acachapado, deformado e coxeando, ele se levantou e olhou o fatídico monte: ali havia Alguém mais forte que ele, a quem ele, em seguida, entregou seus campos, pastos e bosques, procurando seu reino em outra parte. Marina Fernandes Calache Pedagogia Curativa, Terapeuta do Movimento, Visão Ampliada pela Antroposofia. Tel.: (16) 3941 3669 / 3620 7800 Ribeirão Preto - SP - setembro/2007 Peregrino ANTROPOSOFIANDO das Letras Informação, Cultura e Livre Expressão 11 Histórias sobre o aprender “A existência toda é como uma planta que não abrange apenas o que se apresenta`a vista, mas que contém em seu âmago um estado futuro (...). Todo Vir – a – ser contém um crescimento e uma evolução”. Rudolf Steiner Gabriel tinha nove anos e meio quando chegou à clínica psicopedagógica. Estava na 3. série do Ensino Fundamental, numa escola municipal na cidade de Ribeirão Preto. Sua mãe procurou-me por indicação da professora, pois a criança apresentava dificuldades na escola, especialmente na área de português (ele não conseguia concluir algumas palavras e frases) e matemática (era desinteressado e desatento). Os pais eram separados e a criança tinha uma irmã de cinco anos. Desde recém-nascido o pai abandonou a família, e não havia mais contato com ele. Inicialmente, Marisa (a mãe) relatou que Gabriel já havia se submetido a um tratamento psicológico, mas que fora interrompido por problemas de saúde dela na época. Era um menino inteligente, porém nas entrevistas de avaliação, pude observar que trocava e omitia letras nas palavras e frases. Em matemática, apresentava dificuldades em raciocínio e cálculo, permanecendo nesses momentos, um tanto confuso e irritado. A mãe contou-me, que o menino foi gestado num ambiente de muita ansiedade e preocupação, pois ela teve nesse período crises depressivas. Ela afirma que desde adolescente apresentava esses sintomas, fazendo uso de medicamentos até aquele momento. A situação agravou-se, quando Marisa foi acometida por depressão pós-parto, e não pode oferecer ao filho os cuidados necessários. A criança amamentou pouco, e segundo a mãe também apresentou demora na aquisição da fala. O trabalho psicopedagógico com a criança foi realizado uma vez por semana, com duração de uma hora, ao longo de um ano e meio. Foram utilizados nesse processo vários recursos artísticos e lúdicos (jogos, brincadeiras, histórias, exercícios rítmicos, desenho, colagem, pintura, atividades manuais como feltro artesanal, tapeçaria e tricô, dentre outros), além de técnicas psicopedagógicas. No início das atividades, a criança teve algumas dificuldades em permanecer no processo de execução delas, pois queria logo concluir, mostrando-se impaciente e irritado. Era bastante introvertido e quieto, mas ao mesmo tempo, mostrava interesse e vontade de aprender. Durante as sessões, a criança foi se descontraindo, demonstrando prazer, disposição e persistência para continuar o processo das atividades. Ao longo do trabalho, pode-se observar a integração de Gabriel com os materiais utilizados (lãs, agulhas, tintas, papéis, giz de cera, e etc), exercitando suas mãos e possibilitando durante este processo transformações internas, como nos afirma Steiner (1923), além do desenvolvimento da habilidade dos dedos, de treinar o pensar, tornando-o mais vivo e harmonioso. O importante nesse processo é o “fazer”, que proporciona uma experiência total, vivenciando o começo, o meio, e o fim do trabalho manual. Nesse momento, observa-se a iniciativa da criança em prosseguir as atividades, reconhecendo-se autor de sua criação. Esclarece Fernandez (2001), “que o principal do processo de aprender é conectar-se com o prazer de ser autor, com a experiência, a vivência da satisfação do prazer de encontrar-se autor”. No entanto, o processo psicopedagógico visa proporcionar um espaço onde o processo de autoria seja vivenciado, visto que a base da autonomia do indivíduo propõe um resgate de si mesmo, e por sua vez favorece a sua autoria de pensar, produzir, e de estar mais integrado com a sua individualidade. Quando aprendemos de forma global, favorecemos a nós mesmos e ao outro numa relação criativa e espontânea. Esta relação é capaz de mobilizar aspectos adormecidos, quanto as potencialidades humanas e desencadear a construção do indivíduo e seu desenvolvimento integral. Acrescenta Fernandez (2001) “o jogo, o aprender, e o trabalho criativo nutrem-se da mesma seiva e apropriam-se do mesmo sabersabor”. Percebeu-se durante as sessões, a iniciativa da criança em enfrentar desafios, tornando as mãos úteis, e ainda o resgate da possibilidade de criar livremente, sem a preocupação de conceitos estéticos. Ao longo do trabalho, a mãe recebeu algumas orientações quanto ao apoio nas atividades escolares, e na organização e rotina da família. Portanto, do ponto de vista emocional, as dificuldades de aprendizagem observadas em Gabriel, possivelmente estão relacionadas com a ausência de maternagem no início da sua vida, assim como a falta do pai também. A falta de contato corporal impossibilita a utilização do corpo como referência para construir o conceito de tempo e espaço que mais tarde, ele iria aplicar na escrita, daí sua dificuldade em concluir palavras e frases. Dessa forma, não só o seu desenvolvimento emocional fica interrompido, mas também o cognitivo, privando-o de realizar satisfatoriamente o seu processo de aprendizagem. O contato físico ao amamentar, o carinho, o toque corporal, proporcionam a criança, aceitar e ter a dimensão do próprio corpo. Cantar, contar histórias, dialogar com elas, ajudam a introduzi-las na língua pátria e em sua cultura. Rastejar, engatinhar, andar são experiências importantíssimas de aprendizagem, e essas etapas precisam ser também conquistadas de forma adequada para que o desenvolvimento neurológico da criança seja eficiente. O processo de aquisição da fala surge do desenvolvimento do andar, porém nesse momento, a criança precisa da imitação de um ser humano para lhe dar o modelo. Acima de tudo, a criança precisa ser aceita, é necessário que haja troca afetiva, disposição para cuidar, alimentar e estar praze- rosamente com ela. Muitas vezes, não percebemos que por trás de uma relutância em cumprir deveres, dificuldades específicas (escrita, leitura, raciocínio) oculta-se uma pergunta ou um conflito. A importância da família no desenvolvimento da criança é fundamental, pois a atmosfera que rodeia a mesma, é fator decisivo para o seu progresso, e os pais devem manter-se próximos e atender as suas necessidades. Conclui-se que esta experiência pode ser compreendida como um trabalho dialógico junto à criança, buscando resgatar a alegria e o prazer de aprender, dando sentido ao conhecimento, a construção de sonhos, e a confiança na vida. Arroz Integral Brócolis com molho de soja (ou couveflor) 1 xícara de arroz integral 1 colher de chá de sal Lave o arroz e escorra. Coloque numa panela e cubra com água (dois dedos de água acima da superfície formada pelo arroz). Coloque sal. Quando levantar fervura, tampe e abaixe o fogo. Agora, pode acrescentar salsinha, Cenoura ralada no ralador grosso, orégano ou alecrim. Depois de cozido e seco, mexa com um garfo para soltar os grãos. Leva aproximadamente 30 minutos para ficar pronto. Bom apetite! “Todo término dá lugar a um novo início; assim transmite ao homem esperança”. (I Ching) *Os nomes são fictícios para preservação do paciente e seus familiares. Lílian de Almeida P. B. Sá Pedagoga e Psicopedagoga Formação em Pedagogia Waldorf, Arte-Educação e Socioterapia [email protected] 1 maço de brócolis, só as florzinhas 1 colher (sopa) de molho de soja Coloque os brócolis numa panela com o molho de soja e cinco colheres de água. Deixe em fogo forte e não tampe. Mexa de vez em quando, cozinhe cinco minutos. Eles devem ficar “al dente” e ainda conservar a cor verde bem forte. 12 Peregrino ANTROPOSOFIANDO das Letras Informação, Cultura e Livre Expressão Obesidade infantil e fonoaudiologia Já estive falando aos leitores, em outros momentos, sobre o desenvolvimento infantil e algumas de suas alterações. Nesse momento, pretendo compartilhar com vocês uma “epidemia” que vem aumentando de forma preocupante nos últimos anos – a obesidade infantil. Rudolf Steiner considerava que o ser humano deveria ser compreendido em sua integridade e, portanto, “cuidado” de forma global, sem que houvesse fragmentações. Sendo assim, quando pensamos no alimento que ingerimos, sabemos que ele irá refletir sobre nosso corpo físico, etérico, anímico e sobre o Eu. Na sociedade contemporânea observamos todo o tipo de desvios alimentares, esse assunto já foi muito bem tratado pelo Dr. Paulo Neves, médico antroposófico e colaborador desse jornal, os quais levam à deterioração da saúde das crianças que acabam sendo vítimas de suas próprias famílias. Compreendemos que a obesidade é uma síndrome e, portanto, decorrente de uma somatória de fatores, no entanto, o que temos constatado através de entrevistas com famílias de crianças obesas e de avaliações do chamado sistema estomatognático que compreende a mastigação, deglutição e fala, é que vários distúrbios acometem essas funções. Dentre os aspectos alterados encontramos a respiração com predominância oral ou mista; alteração nas estruturas orofaciais, tais como posicionamento da língua, em geral no assoalho bucal ou interposta entre os dentes; distúrbios articulatórios; deglutição atípica ou fora do padrão de normalidade; mastigação muito rápida e ineficiente. Essas crianças, em geral, mastigam muito rápido e trituram mal os alimentos. Como conseqüência dos aspectos relatados acima, a criança passa a ter outros comprometimentos, como por exemplo, problemas gástricos ou intestinais, ansiedade de difícil controle, alterações no sono e em seus relacionamentos interpessoais. Algumas crianças não querem mais comparecer à escola porque se sentem ridicularizadas frente aos colegas. Um outro aspecto que, com freqüência está presente nessas crianças são os chamados hábitos parafuncionais como roer unha, uso de chupeta, tomar mamadeira, morder caneta ou lápis e mascar chicletes. Sendo assim, o sistema oral fica exacerbado e a região oral hiperestimulada. A função primordial da cavidade oral, desde os primórdios é a alimentação, no entanto, o homem através de sua evolução foi conquistando a possibilidade de falar. Ao usarmos a mesma região para comer e falar, aproximamos duas funções vitais para o homem, uma que alimenta seu corpo físico e outra que nutre seu corpo anímico e espiritual. Devemos, portanto, tratar com veneração o ato de nos alimentarmos, nutrindo nosso corpo físico com o que há de mais saudável, dando uma imagem às crianças de que o alimento é essência e substância construtiva e não destrutiva do corpo. Steiner nos ensina que o fluxo contínuo entre o Andar, Falar e Pensar representado na forma da lemniscata é que permite o ritmo entre o sistema metabólico-motor e neurossensorial. Assim, não há como separar o sistema metabólico do falar e do pensar. Como o ritmo é que organiza ou desorganiza os sistemas, observamos que as crianças obesas sofrem de “falta de ritmo” tanto em sua dinâmica de vida diária como em sua organização interna. Crianças com tais predisposições deveriam ser auxiliadas a organizar seu ambiente, seguir horários e compreender os limites com muita dose de afeto. O ato de se alimentar com calma à mesa, junto aos familiares e nutrindo-se de alimentos saudáveis é uma boa maneira de ajudar na instalação de ritmos mais saudáveis. Na reabilitação fonoaudiológica desses casos, necessitamos da colaboração da família para que as crianças tenham exemplos de boa postura, adequação mastigatória e valorização de uma fala bem articulada e correta. Beatriz Ferriolli Fonoaudióloga clínica e professora universitária. Especialista em Linguagem, Mestre e Doutora pela FFCLRPUSP. Formação em Antroposofia: Medicina Antroposófica, Quirofonética, Biográfico. Ribeirão Preto - SP - setembro/2007 Venha conhecer a Escola de Fundamentação Antroposófica de Ribeirão Preto Ribeirão Preto - SP - setembro/2007 Peregrino das Letras “Uma ostra que não foi ferida não produz pérolas” A importância do Professor na vida da criança Quando a criança nasce, o seu receptáculo de proteção e carinho é a mãe. Um laço de infinitas proporções é estabelecido. Forma-se aqui uma ligação emocional, amorosa que nunca mais irá se romper. A figura materna é para o filho o bem mais precioso e a confiança que a criança tem na mãe é imensa. Conforme a criança cresce, outras pessoas passam a fazer parte da vida dela: o pai, os avós, tios, amiguinhos, enfim o mundo todo, e ela tem que desenvolver maneiras de interagir com cada uma dessas pessoas, mas uma certeza sempre estará presente: “quando eu precisar de algo, vou chamar a minha mãe”. Já na idade de ir para a escola, a criança passará uma boa parte do dia sob os cuidados de outra mulher: a professora. Esta desempenhará o papel de “mãe substituta” por várias horas, cinco dias por semana – não é pouca coisa. Durante este período a mãe está confiando seu filho a esta pessoa, e a expectativa da criança é de que seja bem tratada pela professora como a mãe a trata em casa. Este seria o ideal: as professoras entenderem que sua responsabilidade com este pequeno ser é enorme. As palavras e opiniões de uma professora repercutirão na mente de uma criança para sempre; atitudes de menosprezo para com a criança minarão sua auto-estima; agressividade e gritos transformarão a criança em um ser ansioso e agressivo; falta de incentivo farão com que a criança cresça sem acreditar em si mesma; rasgar um desenho ou não reconhecer o esforço da criança pode fazer com que ela cresça achando que não tem talento para nada. Alguns podem argumentar que a personalidade da criança é maleável e que muitas destas experiências não serão levadas para a vida adulta, mas ninguém provou isso. O que pode sim ocorrer é que muitas experiências negativas da infância sejam as causas de muitas infelicidades na vida adulta. Muitos professores ainda não perceberam a importância que eles têm na vida das crianças. Sabemos que muitos pais falham na educação de seus filhos ,e como falham... e aí entram novamente as qualidades da professora (mãe – substituta), a de preencher na criança, pelo menos um pouco, o que falta em casa: pode ser o apoio, o carinho, um colo que dê segurança, palavras de incentivo. Para esta criança, as atitudes da professora passam a ser o lenitivo para as dores do lar, e podem transformar a vida dela. Muitas crianças que teriam se transformado em adultos sofredores e fracassados tiveram suas vidas tocadas pelas palavras de um professor. Não é a toa que carregamos em nossa história, na historia da humanidade a imagem do sábio, do mestre, que guia o homem através das dificuldades da vida. Este personagem aparece em várias histórias, contos de fadas, mitos; que tal lembrarmos de exemplos mais atuais como o Master Yoda da saga Guerra nas Estrelas, Professor Dumbledore do Harry Potter ou Gandalf do Senhor dos Anéis. Estes personagens são professores, nada mais. Cabe a cada professor a consciência de que cada palavra ou ato seu estará gravado na cabecinha de várias crianças, e poderá modificar a vida delas, para melhor ou pior. Esta profissão não é um simples ganha-pão, é uma responsabilidade imensa com vidas que lhe estão sendo confiadas, portanto é com esta importância e seriedade que deve ser encarada. Maria de Fátima Hiss Olivares Psicóloga Clínica [email protected] Amor “Uma linha sutil nos separa do amor,”... Assim iniciei a matéria anterior, entregue de manhã, o desfecho do dia foi um acidente e o desencarne estúpido e trágico de meu Pai. É importante sabermos que nada acontece por acaso e que somos preparados, para tudo que vamos viver seja bom ou ruim. Então, mediante o processo uma grande abertura se fez para que eu entendesse o fundamento do AMOR. Meu Pai com sua personalidade, querendo ou não, me fez identificar o que é o Amor. Percebam que nossa evolução às vezes precisa ser analisada. Pessoas que estão em nossa família ou em contato conosco são pontos de aprendizados importantíssimos. Aprendi nestes últimos anos a não olhar gestos e atos, mas o porquê dos sentimentos e a entender algumas atitudes que podem estar dizendo o que não se consegue expressar em palavras, e mesmo sendo opostos aos sentimentos verdadeiros, merecem entendimento e respeito. Muitas vezes, apenas queremos criticar pessoas pela discordância de pensamentos, e não observamos se a realidade em que ela acredita, identificamos também como a nossa realidade. Assim estamos no mundo, representando uma peça de teatro na qual somos o personagem principal e tudo é e pode ser como queremos, se assim o desejarmos. A realidade vista e sentida não é a que querem mostrar a você, perceba os sinais e interprete-os. Reconheça que você é o artista principal de sua vida, não culpe alguém pela sua infelicidade, aprenda a vê-los como colaboradores de sua obra e ame-os, respeite-os como são. Aprendi a ver meu Pai, assim estou aprendendo a ver muitas pessoas em minha vida, assim aceitei e tomei conta de minha vida, assim respeitei as últimas horas daquele dia. E mesmo em tamanha dor, pude ser eu mesma e assumir todos os meus verdadeiros sentimentos que afloraram e se misturaram com fortes lembranças. O que é válido e importante nesta vida, é cuidar da casa em que habitamos, não poderemos trocá-la (corpo/matéria) na concessionária mais próxima, como a um carro velho. O que fazemos deixa marcas profundas no ser como um todo. Entender e perdoar a si mesmo por não ser o que querem ou esperam que seja, encarar sua 13 Informação, Cultura e Livre Expressão Em 1991, atendi uma pessoa que foi muito aberta às informações. Entendeu e assimilou as situações kármicas e demonstrou muita vontade de evoluir espiritualmente. Sempre me ligava, ou para contar como estava ou para dizer que estava me indicando para uma amiga, para que eu ajudasse, tanto quanto havia feito com ela. E é claro que eu dizia que o mérito era dela e não meu: eu apenas lhe falei do seu propósito na vida, ela é que pôs as rodas em movimento. Em 1993, ela voltou e fizemos um aprofundamento. Depois desta data, ela não voltou e não telefonou, mas eu continuava atendendo pessoas que me ligavam, indicadas por ela. Vou chamá-la de “amiga”, porque é assim que considero as pessoas que atendo. Até então, essa amiga gozava de uma ótima situação financeira, ocupava um lugar na sociedade, era bajulada, circulava em festas e eventos. Agora, em 2007, ela me ligou: Ângela, se você adivinhar quem está falando, eu te dou um presente! É claro que não adivinhei!!! Pensei: NINGUÉM MERECE! Fiquei sem meu presente por não ter memória auditiva. Então ela marcou um horário. Quando chegou para nosso bate-papo, veio com o presente: um lindo buquê de camélias brancas do seu jardim! Passou então a contar das perdas, traições, enganos que tinham atravessado sua vida; que sempre escutava as fitas que havíamos gravado no primeiro encontro, buscando forças para sair da depressão, do desencanto com a vida. Percebeu que no seu projeto de vida falamos que “ela deixou de desenvolver ou explorar os potenciais que possuía, e que atualmente, poderia haver abruptas mudanças em sua vida que a forçassem a reexaminar algo que não questionava ou a impulsioná-la a usar os seus talentos”. Ela teria que aprender a evoluir, através da morte (de velhos valores), fazer uma escolha significativa de vida. E minha amiga mudou o modo de ver a vida: enxugou os gastos, adotou novas atitudes, e começou a literalmente, CROCHETAR: faz lindíssimas toalhas de crochê para vender, usa seu talento de “organizar”, para arrumar armários e closet. Buscando se aprimorar e entender a situação, não se fechou num casulo de amargura, revolta e autopiedade. Está feliz e em paz. Trouxe algumas toalhas para que eu visse e compartilhasse do orgulho que ela tem de si mesma. JUSTO ORGULHO: são belíssimas. Hoje, continua nas festas com o mesmo ânimo, com seu senso de humor mais apurado, e sem culpa ou vergonha. E não se sente humilhada quando amigas lhe emprestam roupas ou jóias. Faz a produção e vai comemorar, celebrar a vida! Nas duas horas que passamos juntas, a energia do otimismo, o entusiasmo e a confiança no Universo, era palpável e para finalizar nossas conclusões, pedi a ela que escolhesse um dos meus livrosguia e abrisse na mensagem certa, e não podia ser mais certa!!! – A ostra e a pérola. As pérolas são feridas curadas, pérolas são produtos da dor, resultados da entrada de uma substância estranha ou indesejável no interior da ostra – como um parasita ou um grão de areia. A parte interna da concha de uma ostra é uma substância lustrosa chamada nácar. Quando um grão de areia a penetra, as células, no nácar, começam a trabalhar e cobrem o grão de areia com camadas e mais camadas, para proteger o corpo indefeso da ostra. Como resultado, uma linda pérola é formada. Uma ostra que não foi ferida não produz pérolas, de modo algum, pois a pérola é uma ferida cicatrizada. personalidade com amor e auto-respeito, se olhar no espelho, afinal todos somos diferentes e devido a isso, especiais. O ritmo da vida é a sua Mandala. Se ela não gira, a culpa é toda sua, assuma. “É a sua procura, é interagir, conhecer, multiplicar, compartilhar, somar, AMAR.” Primeiro amar a si mesmo, se respeitar e então, sim, você pode dizer: - Eu amo você, para qualquer pessoa, pois saberá os limites e a aceitará com defeitos e qualidades. Por entre as linhas existe um significado como códigos ilimitados da nossa existência, se você puder entender com os olhos do eu interior, sua maior Obra de Arte não passará sem os aplausos da humanidade. “Quero realmente ter chegado mais um pouquinho pertinho de todos”. Até o próximo mês. PAZ Cássia Maria Beletti Del Vechio Mandalas e Artes [email protected] Tels. : 3615 2010 / 9153 6416 / 9168 7128 Você já se sentiu ferido pelas palavras rudes de um amigo? Já foi acusado de ter dito coisas que não disse? Suas idéias já foram rejeitadas ou mal interpretadas? Você já sofreu os duros golpes do preconceito? Já passou por enganos, traições, derrotas e perdas? Já recebeu o troco da indiferença? ENTÃO PRODUZA UMA PÉROLA! Cubra suas mágoas com várias camadas de amor. Infelizmente, são poucas as pessoas que se interessam por esse tipo de movimento. A maioria aprende apenas a cultivar ressentimentos, deixando as feridas abertas, alimentando-as com vários tipos de sentimentos pequenos e, portanto, não permitindo que cicatrizem. Assim, na prática, o que vemos são muitas “Ostras” vazias, não porque não tenham sido feridas, mas, porque não souberam perdoar, compreender e transformar a dor em amor. PS: Quando acabei de ler, ela muito emocionada, mas com grande senso de humor disse: vou formar um colar de pérolas de duas voltas! Angela Borelli Astrologia Karmica Tels.: (16) 3421 4277 / 3021 1727 Peregrino das Letras 14 Informação, Cultura e Livre Expressão Jornal Peregrino das Letras ANUNCIAR - 3621 9225 / 9992 3408 Assa-peixe (Vernonia polyanthes) Erva tipicamente brasileira, cresce em todo canto, até em beira de estrada e terrenos baldios. O mel das abelhas criadas junto a plantações de assa-peixe é delicioso, com sabor leve como o da laranjeira. Rica em sais minerais, diurética, a erva também tem ação balsâmica e expectorante. Basta amassar, até formar uma pasta, 3 colheres de sopa de folhas secas, colocar em um pedaço de gaze ou pano e aplicar no local dolorido durante duas horas. Repetir o tratamento duas vezes ao dia. Parte utilizada: folha. Ajuda a tratar de: afecções da pele, bronquite, cálculos renais, dores musculares, gripes, pneumonia, retenção de líquidos, reumatismo, tosse. Fonte: Flora – Essencial – Um guia prático para a saúde e beleza. Ribeirão Preto - SP - setembro/2007 Peregrino das Letras Ribeirão Preto - SP - setembro/2007 15 Informação, Cultura e Livre Expressão La mallaborema formiko – Kolekto Fabeloj de la Naturo (Teksto inspirita de la Dialektiko de Bona Volo) - Jen libro per kiu ni lernas helpi la aliulon, por konstrui pli feliîan vivon, kaj konstatas la gravecon esti utilaj kaj perceptas kiel Preûo povos helpi nin trovi la plej bonan solvon por niaj malfacilaëoj. Editora Elevação Tel.: (55 11) 3358 6868 / Fax: (55 11) 3358 6882 www.elevacao.com.br Almanako Lorenz 2.007 Estas unika en la esperantismo. Ûi pritraktas îijun temojn, kiuj interesas la modernan homon laö la spirita vidpunkto, kaj ûi ampleksas vastan kampon da la filozofio, da la scienco kaj da la religio. Filozofio, Scienco, Religio, Informoj, Ûenerala ëo, Transmondo, Cismondo. Sociedade Editora Espírita F. V. Lorenz Tel.: (21) 2221 2269 http:// editora_lorentz.sites.uol.com.br Guia de Secretariado – Técnicas e comportamento – Denize Rachel Veiga Teatro para representar na Escola – Teresa Iturbe Flores da Terra – Gelse M. Campos e Arlete F. Freitas Por que e como eu nasci – Lou Austin Com um texto claro, simples, objetivo e agradável, esta publicação tem o propósito de orientar e aperfeiçoar o conhecimento dos profissionais que já desempenham atividades de secretariado, bem como dos estudantes e aqueles que desejam ingressar nesta profissão. A primeira parte do livro aborda questões relacionadas às técnicas secretariais e a segunda trata dos aspectos comportamentais. Detalha as ferramentas essenciais à organização do trabalho, ensina como administrar o tempo. Descreve os cuidados necessários ao arquivar documentos, a comunicação empresarial, marketing pessoal e dicas para eliminar e minimizar o estresse. Editora Érica Ltda. Tel.: (11) 2295 3066 – Fax: (11) 6197 4060 www.editoraerica.com.br O teatro é uma ferramenta pedagógica que abrange todos os aspectos concernentes ao desenvolvimento do aluno não só no âmbito educacional como também no social. Durante a preparação da peça, o aluno envolve-se com diversas áreas, como a de línguas, educação física, música, artes plásticas, etc., permitindo-se testar suas aptidões. Além disso, possibilita o aprimoramento da memória, da determinação, do esforço e do apoio mútuo, fazendo com que, os participantes tornem-se cidadãos mais conscientes de seu papel na sociedade. Faça você também parte do elenco que irá revolucionar o ensino nas escolas. Grupo Editorial Madras Tel.: (11) 6959 1127 – Fax: (11) 6959 3090 www.madras.com.br Este livro, um pequeno dicionário, resumido de fácil consulta e manuseio na prática clínica diária, está dividido em quatro partes: 1 – Introdução, aborda os fundamentos da terapia floral, histórico, pesquisa, fundamentos, prática e escolha das essências; 2 – Descrição Sucinta das sintonias das essências florais dos diferentes sistemas do mundo; 3 – Repertório por sintomas com os nomes das essências e a que sistema pertencem e, 4 – Apêndice onde são apresentadas as essências que não foram classificadas cientificamente, essências provenientes de substâncias diferentes do reino vegetal (cristais) e as fórmulas compostas dos diferentes sistemas. Tecmedd SAC: 0800 99-2236 www.tecmedd.com Neste livro o ato de nascer e o de crescer são vistos por um ângulo diferente. A criança entra em contato com os fundamentos do conceito de Pequeno Eu e GRANDE EU e passa a compreender melhor sua natureza e os motivos que a levam a fazer as coisas que faz. Leva-a a entender melhor a existência em seu interior de dois “Eus”. A série “O pequeno Eu e o grande EU” é mais do que um conjunto de livros; possui forte conteúdo pedagógico e vem sendo utilizada há mais de vinte anos na formação de crianças de 6 a 12 anos. É utilizada por escolas de diferentes orientações em disciplinas como religião, espiritualidade, autoconhecimento e valores humanos. Textonovo Editora Tel.: (11) 3085 4879 / 3088 6221 – Fax: (11) 3088 0130 www.editoratextonovo.com.br Pais e especialistas mostram como lidar com os amigos imaginários Em geral, eles surgem em um momento de ansiedade. Os pais precisam estar atentos, respeitar os filhos, mas sem incentivar a brincadeira. Luana Vianna Alguns pais se assustam ao ver o filho conversando sozinho, com bonecas ou travesseiros. Especialistas alertam que não há motivos para pânico. A atitude é comum, característica de uma fase importante para o desenvolvimento da criança, mas que necessita de atenção. Ela criou personagens que existem apenas na sua imaginação: os amigos imaginários. Eles brincam, conversam, dividem sentimentos e emoções. Por volta dos 3 anos a criança cria o seu próprio mundo de fantasia, com personagens fantasiosos. Algumas apresentam o novo amigo aos pais, que são convidados pra brincadeira. Muitos deles provavelmente já tiveram que mudar de cadeira durante o jantar, porque o lugar era reservado ao amigo imaginário do filho. É neste mundo mágico que a criança, muitas vezes, resolve seus conflitos, testa seus próprios limites e expõe sua criatividade. A professora Muryel Gonela, mãe de Laura, 4 anos, convive diariamente com a presença de Guga, o amigo inseparável da filha. Segundo ela, Guga aparece quando a filha está sozinha e os dois passam muito tempo brincando. “Quando vai embora, pergunto como ele é, o que conversaram. Laura conta muitas coisas que ele ensina. Eles gostam de conversar sobre os animais”, contou Gonela. A criação dos amigos pode ocorrer em diferentes momentos. Em geral, está atrelada a situações que implicam inquietações, ansiedade ou sofrimento, como a chegada de um irmão, separação dos pais ou a mudança de escola. Nestes casos, eles surgem como alguém de confiança, um amigo para dividir todos os segredos. Segundo a psicóloga Izabelly Torres, o assunto deve ser tratado com critérios. A convivência das crianças com os amigos invisíveis precisa de orientação. Segundo ela, o relacionamento pode ser benéfico para algumas crianças, mas prejudicial a outras. Elas podem se excluir do ambiente social, escolhendo os amigos imaginários e afastando os reais. Além disso, o irreal pode ser confundido com o real. “Quando mal orientadas, algumas crianças podem acumular problemas. O amigo pode se transformar em uma artimanha para entrar, futuramente, no mundo da mentira”, disse. “A criança tem o dom da criatividade e da imaginação, mas o seu meio social precisa estimulá-la. Quando isso ocorre, não há nada a temer”, continuou. Os pais ganham um papel fundamental nessa fase. Devem participar da brincadeira e lidar com naturalidade e respeito. É muito importante não ridicularizar a criança na frente de outros adultos ou irmãos mais velhos. Com atitudes simples, eles podem conhecer os segredos do filho, identificar seus sentimentos e compreendêlo. Para a especialista, a melhor forma de trabalhar o imaginário infantil é a união entre família e escola. “É necessário criar uma equipe em sintonia, formada por pais e professores, com interferência indireta nas situações vividas pelas crianças”, falou. Os pais, por exemplo, não podem brincar sem terem sido convidados ou conversar diretamente com o amigo. “É necessário dosar a interferência na brincadeira, orientar, mas não estimular”, concluiu. Por volta dos 6 e 7 anos, os amigos invisíveis dão lugar aos de carne e osso e eles tendem a desaparecer. Crianças que freqüentam a escola desde cedo, tendem a se despedir mais cedo. Foto: UOL Crianças Cena do desenho animado “A Mansão Foster para Amigos Imaginários” Peregrino das Letras 16 “O que é chamado de intuição não é nada mais que ser natural e seguir absolutamente o próprio desejo” - Edward Bach Ribeirão Preto - SP - setembro/2007 Informação, Cultura e Livre Expressão Alfabetização – Aspectos Históricos e Alguns Pontos para Discussão Filomena Elaine Paiva Assolini ma das questões constantes que têm sido objeto de preocupação da escola, dos pais e da sociedade de maneira geral diz respeito à alfabetização. Inicialmente, apresento um breve histórico da alfabetização, colocando alguns pontos para reflexão, e, posteriormente, estarei disponível para responder às questões que me forem feitas. O modelo escolar de alfabetização nasceu há pouco mais de dois séculos, precisamente em 1789, na França, após a Revolução Francesa. Analisando a evolução da investigação e do debate em relação à alfabetização escolar, nos séculos XX e XXI, é possível definir, em linhas gerais, quatro períodos. O primeiro período corresponde, aproximadamente, à primeira metade do século XX, quando a discussão se dava estritamente no terreno do ensino. Buscava-se o melhor método para ensinar a ler. O debate mais candente travou-se entre os defensores do Método Sintético (o caminho sintético tem seu ponto de partida no estudo dos elementos menores da língua: fonema, sílaba), e os do Método Analítico (partem de elementos significativos da língua: texto, frases, palavras, e através da decomposição, chega-se aos elementos menores). No Brasil, desde a década de 40, optou-se pelo denominado “Método Misto”, que traz características tanto das metodologias sintéticas de alfabetização quanto das metodologias analíticas. O segundo momento, cujo pico foi nos anos 60, teve por centro geográfico os Estados Unidos. A discussão das idéias sobre alfabetização foi levada para dentro de um debate mais amplo em torno da questão do fracasso escolar. São desse período as teorias que hoje chamamos “teorias do déficit”. Supunha-se que a aprendizagem dependia de que prérequisitos (cognitivos, psicológicos, perceptivo-motores, lingüísticos...) e que certas crianças por não dispor dessas habilidades prévias não aprenderiam. O fato de o fracasso escolar concentrar-se nas crianças de famílias mais pobres era explicado por uma suposta incapacidade das próprias famílias proporcionarem estímulos adequados. O terceiro período começa em meados dos anos 70, marcado por uma mudança de paradigma advinda das contribuições das Ciências Lingüís- ticas, Ciências da Educação, Psicologia, dentre outras. Até então, o enfoque concentrava-se nas questões relacionadas ao “como ensinar a ler e a escrever”. Passou-se, então, a buscarse entender como as crianças aprendem a ler e escrever e o que pensam a respeito da escrita. Um trabalho de investigação que desencadeou intensas mudanças na maneira de os educadores brasileiros entenderem o processo de alfabetização foi o coordenado por Emília Ferreiro e Ana Teberosky, publicado no Brasil com o título “Psicogênese da Língua Escrita”, em 1985. A partir dessa investigação foi necessário rever as concepções nas quais se apoiava a alfabetização. Os estudos de Ferreiro e Teberosky articulam-se para demonstrar a existência de mecanismos do sujeito do conhecimento (sujeito epistêmico) que, na interação com a linguagem escrita (objeto do conhecimento) explicam a emergência de formas idiossincráticas de compreender o objeto. E, finalmente, o quarto momento, que se inicia nos anos 90, e marca a difusão das teorias sobre LETRAMENTO. No Brasil, dentre os pesquisadores renomados sobre o tema, podemos destacar os nomes de Magda Soares, Ângela Kleiman e Leda Verdiani Tfouni. Atualmente, o conhecimento científico disponível mostra-nos que a alfabetização é um dos aspectos do Letramento, que pode ser entendido como “um processo de aquisição da escrita por uma sociedade”. (Tfouni, 1995). Nessa direção, é fundamental que a escola considere que, em uma sociedade pós-moderna, é imprescindível que os sujeitos sejam alfabetizados e letrados. A formação de sujeitos alfabetizados e letrados requer a realização de um trabalho pedagógico que promova não somente a aquisição do código escrito (como ocorre com as metodologias tradicionais), mas também a apropriação de saberes sobre o funcionamento da linguagem de maneira ampla, linguagem que é sempre ideológica e grávida, prenhe de sentidos, como diz Bakhtin. As contribuições da abordagem sócio-histórica do Letramento (Tfouni e outros) mostram que um estudante pode ser considerado alfabetizado e letrado quando, além de ler e escrever proficientemente, consegue realizar produções lingüísticas orais e escritas nas quais ocupa a posição de autor de seu próprio dizer. Vale notar que a proposta pedagógica de alfabetizar-letrando é mais ampla e exigente que a proposta da Psicogênese da Língua Escrita (que entende que o aluno está alfabetizado quando alcançou o nível alfabético de escrita). É fundamental, portanto, uma pedagogia que possibilite ao aluno atribuir e produzir sentidos, empreender diferentes gestos de interpretação, o que lhe permitirá entender o funcionamento da ideologia em um texto. Uma pedagogia que desloque o educando da posição de sujeito repetidor para a de autor. Gostaria de terminar dizendo que cabe à escola, no mínimo, alfabetizar. Ser alfabetizado constitui, nas sociedades letradas, um direito que deve estar ao alcance de todos os cidadãos. Cada vez que um aluno abandona a escola sem ter-se apropriado dos instrumentos básicos de leitura e escrita, fica claro que a sociedade fracassa em seu empenho de dotar seus integrantes dos recursos necessários para participar ativamente dela. Filomena Elaine Paiva Assolini Membro da ARE, Cadeira nº 5. Doutora em Psicologia da Educação pela FFCLRP-USP.