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A DRENAGEM LINFÁTICA – TÉCNICA VODDER
ASSOCIADA A CINESIOTERAPIA EM PÓS-OPERATÓRIO
IMEDIATO DE MASTECTOMIA PARA A MANUTENÇÃO DA
FUNCIONALIDADE DO OMBRO
Rosenny Lima de Souza1
[email protected]
Dayana Priscila Maia Mejia2
Pós-graduação em fisioterapia dermato-funciona- Faculdade Ávila.
RESUMO:
O câncer de mama, apesar dos avanços no que diz respeito a seu tratamento e prevenção,
continua atingindo mulheres em todo o mundo, sendo uma das patologias que mais as
acometem. Devido a sua malignidade e sendo na maioria das vezes detectado tardiamente,
muitas mulheres são submetidas a realizar uma mastectomia, sendo esta a sua única chance de
cura. Todos os tipos de mastectomia podem deixar seqüelas, devido a presença de dor e
linfedema que acometem o membro superior homolateral à cirurgia. A drenagem linfática,
utilizando as manobras descritas por Vodder, juntamente com a cinesioterapia são recursos
terapêutico bastante utilizado após uma mastectomia imediata, pois previnem e tratam
seqüelas deixadas após esta cirurgia com técnicas de alongamento, mobilização intraarticular e um programa de exercícios cinesioterapeuticos, o objetivo deste estudo foi mostrar
a importância da drenagem linfática juntemente com a cinesioterapia na reabilitação do pós operatório imediato de mastectomia, para a manutenção da funcionalidade do ombro,
analisando sua eficácia na prevenção e tratamento de complicações causadas pela
imobilidade articular. Para isso é necessário primeiramente conhecer a anatomia envolvida,
assim como a fisiopatologia da doença e possíveis complicações pós- cirúrgicas, através de
revisão bibliográfica. A drenagem linfática associada a cinesioterapia é capaz de prevenir e
tratar disfunções da mobilidade do ombro, através dos efeitos positivos causados pela
drenagem linfática manual e pelos movimentos realizados no decorrer do tratamento, não só
contribuindo fisicamente mais também psicologicamente.
Palavras-chave: Mastectomia, Drenagem linfática, Cinesioterapia.
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Pós-graduanda em Fisioterapia Dermato-Funcional.
Fisioterapeuta Especialista em Metodologia do Ensino Superior; Mestre em Bioética e Direito em Saúde.
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1.Introdução
O câncer de mama com certeza é uma das doenças mais temidas pelas mulheres, não só por
seus efeitos fisiológicos mais também pelas alterações psicológicas que ele causa. As
estatísticas indicam o aumento de sua freqüência tantos nos países desenvolvidos como nos
países em desenvolvimento, na maioria dos casos a doença é detectada tardiamente e a
malignidade já está instalada, com isso a solução seria a retirada da mama.
A mastectomia pode desencadear complicações físicas imediatas à cirurgia, tais como:
limitação dos movimentos do braço homolateral, conseqüentemente a diminuição dos
movimentos de ombro e braço, o linfedema e variados graus de fibrose da articulação escapulo
– umeral ( ARAUJO, 1988; MAMEDE, 1991).
A drenagem linfática e a cinesioterapia atuam diante dessas complicações, evitando-as ou no
caso de já estarem instaladas diminuindo ou debelando tais complicações, as duas são de
fundamental importância na prevenção da limitação articular, linfedema, além de melhorar ou
previnir fibrose muscular ou aderência tecidual causadas após a cirurgia.
2. Câncer de mama
O câncer de mama é a neoplasia que mais acomete as mulheres, tanto em países desenvolvidos
como em desenvolvimento, no Brasil é a primeira ou segunda mais freqüente ( GUIRRO;
GUIRRO, 2004).
Essa doença é um tumor maligno originado por uma multiplicação exagerada e desordenada
de células, suas células tem a capacidade de originar metástases, ou seja, a
formação de uma nova lesão tumoral a partir da primeira, no entanto uma não dá continuidade
à outra ( BRASILEIRO, 2006).
Os principais fatores associados a um risco aumentado de desenvolver câncer de mama são:
sexo feminino, menarca precoce (antes dos 11 anos), menopausa tardia (após os 55 anos),
nuliparidade, primeira gestação após os 30 anos, ciclos menstruais menores que 21 dias,
história da doença na família, na pré-menopausa, alimentação inadequada, obesidade,
radiações ionizantes, etilismo, padrão socioeconômico elevado, ausência de atividade sexual,
residência em área urbana e cor branca (MEIRELLES, 1998)
Portanto, a adoção de hábitos saudáveis no seu dia a dia, aliada às estratégias para a detecção
precoce do câncer, como: o auto-exame, a mamografia e o diagnóstico médico precoce devem
ser incentivadas, pois quanto antes o tumor maligno da mama for detectado, maiores as
chances de cura.
3. Mastectomia
Desde o final do século XIX, a cirurgia tem sido o tratamento tradicional do câncer de mama,
baseia-se na retirada do tumor e no esvaziamento axilar . Para a retirada total do tumor pode
ocorrer a amputação completa da mama com ou sem o músculo peitoral, chamada de
mastectomia radical, onde na maioria dos casos devido ao seu diagnóstico tardio é a única
solução ( ENTREKIN, 1997).
Também é realizado o esvaziamento axilar que é parte do tratamento cirúrgico desde o final
do século passado, e suas alterações foram muito poucas em relação aos tumores infiltrantes,
aqueles que já romperam os canais ou ductos e invadiram os tecidos adjacentes. Esse
esvaziamento é de suma importância no controle local da doença e no planejamento dos
tratamentos complementares, já que os mesmos gânglios axilares já abrigaram células
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tumorais. Será necessário um tratamento sistêmico com quimioterapia associado ou não a
hormonoterapia. (FREITAS; et al, 2001)
A mastectomia radical remove toda a mama e os múculos peitoral maior e menor, fazendo a
dissecção de linfonodos axilares e possivelmente mediastinais. Na mastectomia radical
modificada é feita a remoção total da mama, a possível retirada do músculo peitoral menor e a
dissecção de linfonodos axilares através de procedimentos da massa tumoral em bloco (
ENTREKIN, 1997). As cirurgias radicais modificadas segundo Uriburu apud Mamede
(1991), são melhores toleradas, mais estéticas e permitem uma melhor recuperação funcional
que a cirurgia radical clássica. Apresenta-se em duas modalidades: a primeira é aquela que
conserva a massa muscular peitoral maior, mas disseca sua fáscia de envoltura e o sistema
clavi-peitoral-axilar, o que permite o esvaziamento ganglionar completo da axila ( Tipo
Patey); a segunda é que conserva ambos os músculos peitorais ( Tipo Madden) permitindo a
extirpação do nível I dos gânglios axilares, por fora do peitoral menor, mas não alcança o nível
II, já que este músculo é a chave de acesso ao vértice da axila.
Ainda poderá ser realizada a mastectomia setorizada (ou seja, nodulectomia ou
quadrantectomia, com ou sem irradiação), sendo feita a remoção do tumor em margem de 1
centímetro de tecido normal e a dissecção de linfonodo axilar através de uma segunda
incisão.( ENTREKIN, 1997).
4. Sistema Linfático
O sistema linfático foi durante séculos o mais desconhecido dos sistemas do organismo
(BARROS, 2001).
O sistema linfático auxilia o organismo a drenar o líquido intersticial e remover resíduos
celulares, proteínas, de maior tamanho que o sistema sangüíneo não consegue coletar, ele é
constituído por capilares (rede muito fina que correspode a primeira estrutura do sistema
linfático, permite a entrada de macromoléculas de proteínas e minerais), pré-coletores (suas
paredes são formadas por tecido endotelial, possuem válvulas, por isso o fluxo da linfa é
unidirecional), coletores ( com maior calibre, também possuem vávulas e conduzem a linfa no
sentido centrípeto), canal ou ducto torácico direito ( termina no tronco das veias jugular
interna e subclávia a direita, assim recebendo linfa do lado direito da cabeça, pescoço, tórax e
membro superior direito) e canal ou ducto linfático esquerdo (se origina por uma dilatação a
cisterna do quilo e continua como ducto torácico propriamente dito, termina no tronco das
veias juguar interna e subclávia esquerda,coleta quase todos os vasos linfáticos do corpo, com
excessão dos que são coletados pelo anal torácico direito), linfonodos ( estão localizados em
trajetos nos vasos linfáticos, eles produzem linfócitos e filtram a linfa), válvulas linfáticas e
linfa (GUYTON, 1984).
Abaixo, figura representativa do sistema linfático – capilares e nódulos:
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Fig. 1 Sistema linfático (capilares e nódulos)
Fonte disponível em: www.vodder.comr> Acessado em 23/01/12
No que se refere a linfa, sabe-se que as vias linfáticas não possuem um órgão central
bombeador, assim os movimentos da linfa dependem da capilaridade e forças externas sobre o
sistema ( GUIRRO;GUIRRO, 2004)
A linfa é transportada até se misturar com o sangue novamentede, devolvendo desta maneira
as proteínas plasmáticas do líquido intersticial de volta ao sangue (BARRACHO, 2007).
5. Drenagem linfática - Vodder
A drenagem é uma técnica de compressão manual dos tecidos, que utiliza pressões
intermitentes e tem como objetivo aumentar o fluxo da circulação linfática para tratamento de
patologias (CAMARGO,2000).
A drenagem linfática pela técnica de Vodder baseia-se nos trajetos dos coletores linfáticos e
linfonodos usando basicamente três manobras: captação ( realiza-se sobre o segmento
edemaciado, aumentando a captação da linfa pelos linfocapilares), reabsorção ( são manobras
nos pré-coletores e coletores linfáticos que transportarão a linfa captada pelos linfocapilares) e
evacuação ( acontece nos linfonodos, os quais recebem a confluência dos coletores linfáticos
(BARROS, 2001).
As manobras básicas da drenagem linfática de Vodder, diferenciam-se quatro tipos de
movimentos: círculos fixos, movimentos de bombeamento, movimentos do “ doador” e
movimento giratório ou de rotação.
Círculos fixos: Promove um estiramento do tecido, causando uma pressão/descompressão, isso
é feito com a mão espalmada sobre a pele e realizando movimentos circulares com os dedos,
esse movimentos são realizados de 5 a 7 vezes no mesmo lugar, como mostra a figura abaixo:
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Fig. 2 Movimentos circulares – técnica Vooder.
Fonte disponível em: www.babiunica.blogshop.com> Acessado em 24/02/12
Movimentos de bombeamento: posicionam-se as mãos no tecido a ser drenado, executando
movimentos ondulatórios, com pressões decrescentes da palma da mão para os dedos de forma
não contínua (compressão/descompressão), totalizando de 5 a 7 movimentos. Sendo que o
direcionamento e o sentido da pressão da drenagem será detreminada pelo posicionamento das
vias.
Fig.3 Movimento de bombeamento
Fonte disponível em: www.essenciaestetica.com> Acessado em 24/02/12.
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Movimento do “doador”: É iniciado com as palmas das mãos em posição perpendicular às vias
de drenagem, baseada em manobras que consistem em arrastar, combinando vários
movimentos. Primeiramente toca-se a borda medial da mão a área que se pretende drenar,
seguido dos movimentos de pronação do antebraço e abdução do braço. Em seguida a mão
oposta com o polegar extentido realizar um movmento de arraste com a borda lateral,
combinando movimentos de supinação do antebraço e adução do braço. O movimento se
repete de imediato na região adjacente à região manipulada.
Fig. 4 Movimento do doador
Fonte disponível em: www.terapiasalternativascuritiba.wordpress.com> Acessado em 24/02/12
Movimento giratório ou de rotação: Este movimento é empregado em superfícies planas. O
braço é posicionado em leve abdução no plano da escápula, com o antebraço em máxima
pronação. A mão que inicia o movimento toca a superfície do segmento com a face palmar e
realiza um movimento de desvio ulnar na direção e sentido da drenagem proposta,
simultaneamente aos movimentos de supinação e adução. A outra mão terá o mesmo
posicionamento e realizará os mesmos movimentos descritos anteriormente, tendo-se o
cuidado para que os movimentos sejam seqüenciais e rítmicos, alternando-se as mãos para a
região imediatamente adjacente. O posicionamento das mãos depende da seqüência realizada,
e podem ser posicionadas proximal ou distalmente, seguindo sempre o fluxo da linfa
(GUIRRO;GUIRRO, 2004).
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Fig. 5 movimento giratório.
Fonte disponível em: www.mundodastribos.com> Acessado em 24/02/12.
6. Drenagem e Cinesioterapia pós mastectomia imediata
A intervenção fisioterapeutica deve ser realizada de maneira mais breve possível, para ser
capaz de prevenir as possíveis complicações oriundas da cirurgia.
Principais causam que levam a disfunção dos movimentos do ombro: A dor nessa etapa da
cirurgia, pode levar a vários graus de imobilidade, devido ao medo de realizar os movimentos,
o que poderá intervir diretamente com a dificuldade da movimentação espontânea no decorrer
do tratamento, além de contribuir com o aparecimento de linfedema. As causas mais
freqüentes de dor são: devido a incisão cirúrgica; o seu processo lento de cicatrização ou a
incisão cirúrgica transversa; dor na região cervical e cintura escapular, que pode ser
ocasionada pela sensibilidade alterada dessas regiões. Todos esses fatores levam a diminuição
do movimento do membro envolvido, gerando uma pré- disposição ao ombro congelado
crônico, linfedema e a proteção muscular reflexa (GUIRRO; GUIRRO, 2004).
O linfedema, é uma condição crônica que necessita de cuidado constante, pois o mesmo pode
ocorrer de forma insidiosa e a qualquer momento após o câncer de mama. Após a ocorrência
da obstrução linfática, os coletores linfáticos do braço precisam trabalhar com uma maior
resistência. A instalação do edema dependerá da fadiga e do fracasso de bombeamento dos
vasos linfáticos. Quando o membro lesionado não é tratado este aumenta de volume
progressivamente, assim como aumenta a freqüência das complicações relacionadas a ele,
devido a linfa, que ao seu acúmulo leva a estagnação de proteínas e em conseqüência disso
ocasiona o aparecimento de fibrose, tornando-se um meio de cultura propício para o
desenvolvimento de linfangites e erisipelas, condições estas que agravam ainda mais o sistema
linfático ( PRICE, 1997).
Aderência cicatricial: As cicatrizes que se retraem diminuem a elasticidade da pele no local, o
que ocasiona uma grande dificuldade de movimentação do membro superior. A falta de
movimento deste membro poderá ocasionar um encurtamento da musculatura, principalmente
do músculo peitoral maior, além da diminuição da produção do líquido sinovial, pois para que
ela ocorra são necessários os movimentos de compressão e descompressão, os quais diminuem
devido a falta de movimento desse membro, assim como também há um espessamento dos
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ligamentos e da cartilagem articular. Essas retrações cicatriciais são um importante fator na
diminuição da mobilidade do ombro (MOORE, 2005).
7. Tratamento
Os programas de reabilitação foram se modificando com o passar dos anos, e deixaram de ser
apenas voltados para uma reabilitação e passaram a pensar em prevenção de complicações
(BARRACHO, 2007).
No pós-operatório imediato a fisioterapia utilizando manabras de drenagem e exercícios
cinesiterapêuticos, pode atuar de várias maneiras para a manutenção da funcionalidade do
ombro, prevenido complicações oriundas da imobilização causadas pela dor, linfedema e
aderência cicatricial como: rigidez articular, aderência tecidual e capsular, espasmo muscular,
adesões musculares, ou seja, efeitos degenerativos e restritivos da imobilidade.
7.1. Para o tratamento e prevenção do linfedema:
Drenagem linfática: Atua na otimização ou restauração de sistema linfático deficiente,
impulsionando a linfa que está acumulada constituída de resto de acúmulo anormal de líquidos e
proteínas, além de resto de células , bactérias e imunocomplexos, com a drenagem linfática,
ocorre um impulsionamento maior dessa linfa, fazendo com que ocorra um descongestionamento
da vias e reestabelecimento do fluxo linfático (CAMARGO, 2000).
A drenagem linfática da mama é complexa e de particular interesse devido ao seu potencial de
disseminação à distância e pelo seu valor prognóstico e terapêutico na evolução da doença. Uma
rede linfática é formada sobre a superfície inteira do tórax, pescoço e abdômen e se torna densa
sob a auréola. Há origens dos linfáticos da glândula nos espaços interlobulares e pré-lobulares,
seguindo ao longo dos ductos e terminando em uma rede subareolar de linfáticos da pele, por isso
a drenagem deve ser realizada de maneira global, atingindo os ductos torácicos direito e esquerdo
para se obter um resultado positivo. ( BARRACHO, 1997).
Exercícios linfocinéticos: As pressões da contrações musculares somadas à contrapressão do
enfaixamento compressivo estimulam o funcionamento linfático, aumentando a absorção, a
atividade motora dos linfagios e o peristaltismo dos vasos linfáticos, potencializando, assim, a
circulação de retorno (BARRACHO, 2007).
A mobilização intra-articular também age na prevenção e tratamento do linfedema, pois
através dela ocorre a movimentação do líquido sinovial, ajudando desta forma a drenar o
líquido acumulado e a levar nutrientes para aquela região (KISNER; COLBY, 1998).
A prática de exercícios deve ser uma das medidas preventivas e curativas para a prevenção do
linfedema, podendo-se iniciar com movimentos respiratórios para ampliar o tórax, rotação do
ombro, recomendando que os exercícios sejam de acordo com a limitação individual, não
forçando qualquer tipo de exercício ( GRANDA, 1994).
O exercício tem um papel importante na prevenção do linfedema, pois os exercícios corretos
no pós- operatório podem ajudar a desenvolver canais linfáticos colaterais nos ombros e
escápula, assumindo o trabalho dos canais danificados pela cirurgia. Os exercícios também
podem funcionar como bomba nestes canais e ajudar a recuperara força motora do braço, estes
podem ser iniciados no primeiro dia de pós-operatório, os quais podem dirigir-se para o
cotovelo, pulso e mão do lado operado; no segundo dia podem ser realizados movimentos de
ombro, cujo ângulo de flexão deve ir somente à 90 graus. Após a retirada do dreno, pode-se
iniciar movimentos ativos além de 90 graus de flexão (PRICE; PURTELL, 1997)
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7.2. Para o tratamento e prevenção da dor e seqüelas do imobilismo:
Alongamento Muscular
O alongamento no processo de cicatrização promove melhoras no quesito elasticidade e força
dos tecidos, este deve ser realizado durante a fase subaguda e crônica, porém deve ser feito
com cautela, de acordo com a progressão da cicatrização, pois forças excessivas durante o
início desse processo podem prejudicá-lo, pela possibilidade de haver um rompimento do
tecido conjuntivo neoformado, bem como do leito vascular, causando novo sangramento, e
isso terá por conseqüências dor e espasmo muscular (GUIRRO; GUIRRO, 2004).
Além disso, o alongamento será realizado com a finalidade de aumentar o comprimento de
estruturas de tecidos moles, as quais foram encurtadas e desta forma aumentar a amplitude de
movimento, este será realizado de forma passiva, enquanto o paciente encontra-se relaxado.
Alongamento passivo manual:
Nesse alongamento uma força externa é aplica, a qual controla a direção, velocidade,
intensidade e duração do alongamento, os tecidos são alongados além de seu comprimento de
repouso. Nessa modalidade as estruturas são levadas além da amplitude de movimento livre,
por isso a necessidade do paciente estar o mais relaxado possível durante o alongamento
(PINTO; ET al 2004).
Alongamento para ganho de abdução do ombro:
Fig. 19 Alongamento dos adutores do ombro
Fonte disponível em: Kisner; Colby, 1998
Hold relax: Nesse tipo de procedimento é realizada uma contração isométrica no final da
amplitude do músculo a ser tratado antes que ele seja passivamente alongado, isso causará um
relaxamento desse músculo, devido a inibição autogênica e desta forma seu alongamento será
mais facilmente realizado. Uma variação do sustentar relaxar é o contrair-relaxar, onde após o
músculo retraído ser alongado passivamente o paciente fará uma contração isotônica
concêntrica contra resistência do músculo antes dele ser alongado. (MACEDO; et al, 2000).
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7.3. Mobilização intra-articular
Será usada para tratar disfunções articulares como rigidez, hipomobilidade articular reversível
ou dor; é realizada de forma passiva pelo fisioterapeuta com baixa velocidade, para que o
paciente seja capaz interromper o movimento. A mobilização articular pode ser aplicada com
um movimento oscilatório ou um alongamento mantido de modo a diminuir a dor ou aumentar
a mobilidade. Ela age de forma profilática e curativa e seus procedimentos são de fundamental
importância para o aumento da amplitude de movimento (VEADO; FLÓRA, 1994).
As técnicas de mobilização usadas para o alívio e prevenção da dor será a técnica de
mobilização intra-articular leve, que auxiliam na manutenção das trocas de nutrientes,
prevenindo desta forma os efeitos dolorosos e degenerativos da estase quando uma articulação
está edemaciada ou dolorida, impedindo que seja realizado o seu movimento ao longo de sua
amplitude, já a hipomobilidade articular reversível pode ser tratada com técnicas
progressivamente vigorosas para alongamento conectivo capsular e ligamentar hipomóvel
(KISNER; COLBY, 1998).
Movimentos intra-articular: Os movimentos intra-articulares são necessários para o
funcionamento articular normal no decorrer do movimento, esses movimentos podem ser
realizados passivamente, mas não podem ser feitos de forma ativa pelo paciente. São
movimentos que ocorrem dentro da articulação e descrevem a distensibilidade ou frouxidão na
cápsula articular, que permite que os ossos se movam (SASAKI; LAMARI, 1997).
Na prevenção e tratamento do pós-operatório imediato, será utilizada está técnica descrita
acima, a qual é indicada para dor, defesa muscular, espasmo, manutenção da mobilidade
existente, hipomobilidade articular reversível, utiliza-se mobilização intra-articular leve para
estimular efeitos neurofisiológicos e mecânicos, os movimentos incluem, separação,
deslizamento, compressão, rolamento, giro das superfícies articulares (PICARÓ; PERLÓIRO,
2005).
Os efeitos neurofisiológicos são obtidos a medida que os movimentos oscilatórios de pequena
amplitude são usados para estimular os mecanorreceptores os quais podem desencadear uma
ação inibidora da transmissão de estímulos nociceptivos no nível de medula espinhal ou tronco
cerebral e os efeitos mecânicos se dão pela movimentação do liquido sinovial, através de
movimentos de tração ou deslizamento de pequena amplitude nas articulações, o qual
transporta os nutrientes necessários para a regiões da cartilagem articular que não são
vascularizadas ( SASAKI; LAMARI, 1997)
7.4. Exercícios Cinesioterapeuticos
Os exercícios ativos nessa fase do tratamento são realizados para a manutenção da força
muscular da paciente.
Os exercícios devem ser estimulados o mais precocemente possível, podem ser iniciados no
primeiro dia após a cirurgia, mantendo elevado o braço do lado operado desde o período de
pós-operatório imediato. O programa de exercícios deve estar fundamentados nos movimentos
em que os músculos peitorais maior e menor tenham importante participação, ou seja, rotação,
flexão, extensão, abdução, anteversão, elevação e abaixamento do braço, retroversão e
circundação. Assim, nos primeiros dias de pós mastectomia recomenda-se a realização dos
exercícios cujo movimentos exijam uma menor força ou participação dos músculos peitorais e
gradualmente deve-se aumentar a freqüência e complexidade, evitando dessa forma, bloqueios
articulares, distensão e dor. A postura corporal e os movimentos respiratórios durante a
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realização de cada exercício e períodos de relaxamento são aspectos importantes a serem
considerados. O acréscimo de novos exercícios que exijam maior rendimento muscular deve
ser constante. Ao exercícios de alongamento devem ser estimulados, os quais melhoram ou
previnem fibrose muscular e aderência tecidual da área cirúrgica (MAMEDE, 1991).
Os movimentos de escápula e do pescoço devem fazer parte do programa, visando aumento da
amplitude de movimento e relaxamento muscular. Nos casos em que a paciente não apresenta
complicações, os exercícios devem ser realizados em todos os arcos de movimento, seguindo
um nível de complexidade cada vez maior (GUIRRO;GUIRRO, 2004, pag. 4770).
A reabilitação funcional do braço homolateral à cirurgia é considerada por Spratt e Donegan
(1995), como meta importante no seguimento e acompanhamento de mulheres que foram
submetidas a mastectomia. Os exercícios passivos ou isométricos aumentam a formação de
linfa, porém não produzem seu bombeamento como nos exercícios ativos, o programa de
exercícios devem ser iniciados logo após a retirada dos drenos, monitorando o movimento do
braço de forma a aproximar aos movimentos do braço oposto.
8. Metodologia
O trabalho realizado é uma revisão bibliográfica, é uma pesquisa baseada em produções
científicas, publicações e livros.
9. Conclusão
Com a finalização deste trabalho, foi chegada a conclusão que a movimentação do ombro
homolateral à cirurgia fica comprometida, a gravidade do comprometimento depende do tipo
de cirurgia que foi realizada, o seu comprometimento pode ser mais ou menos intenso,
havendo, portanto necessidade da realização de fisioterapia.
A drenagem linfática, juntamente com a cinesioterapia tem um papel primordial e fundamental
no pós- operatório imediato de mastectomia, sendo essencial para a manutenção da função do
ombro com todas as suas estruturas relacionadas, porém ainda são pouco conhecidas perante a
sociedade de uma forma generalizada, por isso a importância da realização deste.
Estas técnicas de tratamento associadas são de singular importância na prevenção da limitação
articular, linfedema, alterações posturais, além de melhorar ou prevenir fibrose ou aderência
tecidual.
Com esse programa de manobras e exercícios, é possível evitar tais seqüelas relacionadas aos
danos causados pela cirurgia, e quando já houver uma lesão instalada logo no pós operatório, é
possível diminuir e debelar tais seqüelas.
Através da realização de exercícios terapêuticos, obtem-se aquisição de movimentos e funções
livres de sintomas, o seu efeito positivo é a prevenção de disfunções ou manutenção de
normalidades.
Com o tratamento baseado na drenagem e cinesioterapia, é possível manter e devolver ao
paciente seus movimentos relacionados a articulação do ombro, oferecendo a ela uma melhor
qualidade de vida e sua própria aceitação na sociedade.
10. Referências bibliográficas
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