45. As novas tecnologias da informação e comunicação
tornaram-se
uma
realidade
nas
relações
sociais
contemporâneas e contribuem para a maior integração das
pessoas neste início do século XXI. Sobre as alterações nas
práticas culturais decorrentes dessas novas tecnologias
informacionais, é correto afirmar:
a) As pessoas deixaram de contatar as redes sociais já
consolidadas e as substituíram por encontros presenciais
realizados por meio da rede mundial de computadores.
b) As dinâmicas das culturas vinculadas à virtualidade dos
meios de comunicação consolidam a cultura popular em
detrimento da cultura de massa e da indústria cultural.
c) A violência urbana impede que sejam ampliadas as redes e
grupos sociais tradicionalmente vinculados ao capitalismo, o
que intensifica o uso convencional dos serviços dos
correios.
d) A educação e a religião estão apartadas do processo de
utilização de mídias eletrônicas, e isso causou o afastamento
das pessoas das lutas por causas sociais mais amplas.
e) As novas tecnologias de informação e comunicação têm sido
utilizadas nas ações coletivas de pessoas envolvidas com as
demandas dos movimentos sociais.
46.
CRUCIFIXO
É um crucifixo de marfim
Ligeiramente amarelado,
Pátina do tempo escoado.
Sempre o vi patinado assim.
Mãe, irmã, pais meus estreitados
Tiveram-no ao chegar o fim.
Hoje, em meu quarto colocado,
Ei-lo velando sobre mim.
E quando se cumprir aquele
Instante, que tardando vai,
De eu deixar esta vida, quero
Morrer agarrado com ele.
Talvez me salve. Como – espero –
Minha mãe, minha irmã, meu pai.
BANDEIRA, Manuel. Estrela da vida inteira. 20. ed. Rio de
Janeiro: Nova Fronteira, 1993. p. 270.
redor animavam os contendores. A uma investida de Cárdenas,
o de fera catadura, o couro inquieto quase se foi depositar no
arco de Castilho, que com torva face o repeliu. Eis que Djalma,
de aladas plantas, rompe entre os adversários atônitos, e
conduz sua presa até o solerte Julinho, que a transfere ao
valoroso Didi, e este por sua vez a comunica ao belicoso Pinga.
(...)
Assim gostaria eu de ouvir a descrição do jogo entre brasileiros
e mexicanos, e a de todos os jogos: à maneira de Homero. Mas
o estilo atual é outro, e o sentimento dramático se orna de
termos técnicos.
Carlos Drummond de Andrade, Quando é dia de futebol.
Rio: Record, 2002.
Ao narrar o jogo entre brasileiros e mexicanos “à maneira de
Homero”, o autor refere-se ao estilo
a) épico.
b) lírico.
c) satírico.
d) técnico.
e) teatral.
48.
CAPÍTULO 73 - O Luncheon*
O despropósito fez-me perder outro capítulo. Que melhor não
era dizer as coisas lisamente, sem todos estes solavancos! Já
comparei o meu estilo ao andar dos ébrios. Se a ideia vos
parece indecorosa, direi que ele é o que eram as minhas
refeições com Virgília, na casinha da Gamboa, onde às vezes
fazíamos a nossa patuscada, o nosso luncheon. Vinho, frutas,
compotas. Comíamos, é verdade, mas era um comer virgulado
de palavrinhas doces, de olhares ternos, de criancices, uma
infinidade desses apartes do coração, aliás o verdadeiro, o
ininterrupto discurso do amor. Às vezes vinha o arrufo
temperar o nímio adocicado da situação. Ela deixava-me,
refugiava-se num canto do canapé, ou ia para o interior ouvir
as denguices de Dona Plácida. Cinco ou dez minutos depois,
reatávamos a palestra, como eu reato a narração, para desatá-la
outra vez. Note-se que, longe de termos horror ao método, era
nosso costume convidá-lo, na pessoa de Dona Plácida, a
sentar-se conosco à mesa; mas Dona Plácida não aceitava
nunca.
Machado de Assis, Memórias póstumas de Brás Cubas.
(*) Luncheon (Ing.): lanche, refeição ligeira, merenda.
Considere as seguintes afirmações sobre o excerto das
Memórias póstumas de Brás Cubas, obra fundamental da
literatura brasileira:
No poema, o eu lírico
a) está certo da salvação de sua alma, caso esteja segurando o
crucifixo à hora de sua morte.
b) se ressente do fato de ter sobrevivido à morte de todos os
seus familiares.
c) transmite a impressão de que o momento de sua morte está
demorando a ocorrer.
d) vê-se acometido por um sentimento de nostalgia em relação
ao seu passado familiar.
e) se vê encurralado pela possibilidade de morrer cedo porque
há um crucifixo na parede de seu quarto.
I. Depois de haver comparado seu estilo ao andar dos ébrios, o
narrador resolve compará-lo também ao “luncheon”,
penitenciando-se, assim, dos vícios que praticara em vida –
entre eles, o do alcoolismo.
II. Nas comparações com o “luncheon”, presentes no excerto, o
narrador revela ser o capricho (ou arbítrio) o móvel
dominante tanto de seu estilo quanto das ações que relata.
III. Na autocrítica do narrador, realizada com ingenuidade no
excerto, oculta-se a crítica do realista Machado de Assis ao
Naturalismo dominante em sua época.
47.
Quando Bauer, o de pés ligeiros, se apoderou da cobiçada
esfera, logo o suspeitoso Naranjo lhe partiu ao encalço, mas já
Brandãozinho, semelhante à chama, lhe cortou a avançada. A
tarde de olhos radiosos se fez mais clara para contemplar
aquele combate, enquanto os agudos gritos e imprecações em
Está correto o que se afirma em
a) I, apenas.
b) II, apenas.
c) I e II, apenas.
d) II e III, apenas.
e) I, II e III.
49.
LXXVIII (Camões, 1525?-1580)
Leda serenidade deleitosa,
Que representa em terra um paraíso;
Entre rubis e perlas doce riso;
Debaixo de ouro e neve cor-de-rosa;
Presença moderada e graciosa,
Onde ensinando estão despejo e siso
Que se pode por arte e por aviso,
Como por natureza, ser fermosa;
Fala de quem a morte e a vida pende,
Rara, suave; enfim, Senhora, vossa;
Repouso nela alegre e comedido:
Estas as armas são com que me rende
E me cativa Amor; mas não que possa
Despojar-me da glória de rendido.
CAMÕES, L. Obra completa. Rio de janeiro: Nova Aguilar,
2008.
8
tornava-se liberal, imprevidente e franco, mais amigo de
gastar que de guardar; adquiria desejos, tomava gosto aos
prazeres, e volvia-se preguiçoso, 9resignando-se, vencido, às
imposições do sol e do calor, muralha de fogo com que o
espírito eternamente revoltado do último tamoio entrincheirou
a pátria contra os conquistadores aventureiros.
E assim, pouco a pouco, se foram reformando todos
os seus hábitos singelos de aldeão português: e Jerônimo
abrasileirou-se. (...)
E o curioso é que, quanto mais ia ele caindo nos usos
e costumes brasileiros, tanto mais os seus sentidos se
apuravam, 10posto que em detrimento das suas forças físicas.
Tinha agora o ouvido menos grosseiro para a música,
compreendia até as intenções ,poéticas dos sertanejos, quando
cantam à viola os seus amores infelizes; seus olhos, dantes só
voltados para a esperança de tornar à terra, agora, como os
olhos de um marujo, que se habituaram aos largos horizontes
de céu e mar, já se não revoltavam com a turbulenta luz,
selvagem e alegre, do Brasil, e abriam-se amplamente defronte
11
dos maravilhosos despenhadeiros ilimitados e das
cordilheiras sem fim, donde, de espaço a espaço, surge um
monarca gigante, que o sol veste de ouro e ricas pedrarias
refulgentes e as nuvens toucam de alvos turbantes de cambraia,
num luxo oriental de arábicos príncipes voluptuosos.
Aluísio Azevedo, O cortiço.
Um traço cultural que decorre da presença da escravidão no
Brasil e que está implícito nas considerações do narrador do
excerto é a
a) desvalorização da mestiçagem brasileira.
b) promoção da música a emblema da nação.
c) desconsideração do valor do trabalho.
d) crença na existência de um caráter nacional brasileiro.
e) tendência ao antilusitanismo.
51. Observe e compare as duas imagens:
A pintura e o poema, embora sendo produtos de duas
linguagens artísticas diferentes, participaram do mesmo
contexto social e cultural de produção pelo fato de ambos
a) apresentarem um retrato realista, evidenciado pelo unicórnio
presente na pintura e pelos adjetivos usados no poema.
b) valorizarem o excesso de enfeites na apresentação pessoa e
na variação de atitudes da mulher, evidenciadas pelos
adjetivos do poema.
c) apresentarem um retrato ideal de mulher marcado pela
sobriedade e o equilíbrio, evidenciados pela postura,
expressão e vestimenta da moça e os adjetivos usados no
poema.
d) desprezarem o conceito medieval da idealização da mulher
como base da produção artística, evidenciado pelos
adjetivos usados no poema.
e) apresentarem um retrato ideal de mulher marcado pela
emotividade e o conflito interior, evidenciados pela
expressão da moça e pelos adjetivos do poema.
50.
Passaram-se semanas. Jerônimo tomava agora, todas
as manhãs, uma xícara de café bem grosso, à moda da Ritinha,
e 1tragava dois dedos de parati 2“pra cortar a friagem”.
Uma 3transformação, lenta e profunda, operava-se
nele, dia a dia, hora a hora, 4reviscerando-lhe o corpo e
5
alando-lhe os sentidos, num 6trabalho misterioso e surdo de
crisálida. A sua energia afrouxava lentamente: fazia-se
contemplativo e amoroso. A vida americana e a natureza do
Brasil 7patenteavam-lhe agora aspectos imprevistos e sedutores
que o comoviam; esquecia-se dos seus primitivos sonhos de
ambição, para idealizar felicidades novas, picantes e violentas;
Os quadros tratam do mesmo tema, embora pertençam a dois
momentos distintos da história da arte. O confronto entre as
imagens revela um traço fundamental da pintura moderna, que
se caracteriza pela
a) tentativa de compor o espaço pictórico com base nas figuras
naturais.
b) busca em fundar a representação na evidência dos objetos.
c) continuidade da preocupação com a nitidez das figuras
representadas.
d) secularização dos temas e dos objetos figurados com base na
assimilação de técnicas do Oriente.
e) ruptura com o princípio de imitação característico das artes
visuais no Ocidente.
52.
O bicho (Manuel Bandeira )
Vi ontem um bicho
Na imundície do pátio
Catando comida entre os detritos.
Quando achava alguma coisa,
Não examinava nem cheirava:
Engolia com voracidade.
O bicho não era um cão,
Não era um gato,
Não era um rato.
O bicho, meu Deus, era um homem.
Estrela da vida inteira. Rio de Janeiro: Nova Fronteira: 1993. p. 201-202.
Quanto aos aspectos semânticos, a leitura de ambos os poemas leva à
a) reflexão sobre as disparidades sociais.
b) idealização de uma sociedade m,ais igualitária.
c) comicidade promovida pelo jogo de palavras no primeiro e o elemento-surpresa no segundo.
d) objetividade ao se tratar de temas atuais.
e) atitude de imparcialidade dos poetas diante dos temas apresentados.
53. Ofendi-vos, meu Deus, é bem verdade,
É verdade, Senhor, que hei delinquido,
Delinquido vos tenho, e ofendido
Ofendido vos tem minha maldade.
MATOS, Gregório de. Ofendi-vos, meu Deus, é bem verdade. In: Poemas escolhidos. Seleção, introdução e notas de José
Miguel Wisnik. São Paulo: Cultrix, s.d. p. 299.
A profusão dos elementos que compõem as imagens corresponde, nos versos de Gregório de Matos, a uma linguagem
a) neologista.
b) racionalista.
c) rebuscada.
d) sarcástica.
e) sintética.
54. A sabedoria de Sócrates, filósofo ateniense que viveu no século V a.C., encontra o seu ponto de partida na afirmação “sei que
nada sei”, registrada na obra Apologia de Sócrates. A frase foi uma resposta aos que afirmavam que ele era o mais sábio dos
homens. Após interrogar artesãos, políticos e poetas, Sócrates chegou à conclusão de que ele se diferenciava dos demais por
reconhecer a sua própria ignorância.
O “sei que nada sei” é um ponto de partida para a Filosofia, pois
a) aquele que se reconhece como ignorante torna-se mais sábio por querer adquirir conhecimentos.
b) é um exercício de humildade diante da cultura dos sábios do passado, uma vez que a função da Filosofia era reproduzir os
ensinamentos dos filósofos gregos.
c) a dúvida é uma condição para o aprendizado e a Filosofia é o saber que estabelece verdades dogmáticas a partir de métodos
rigorosos.
d) é uma forma de declarar ignorância e permanecer distante dos problemas concretos, preocupando-se apenas com causas
abstratas.
55. Leia a tira abaixo.
Sobre a argumentação de Calvin, considere as seguintes afirmativas:
1. Ao se dirigir à professora, Calvin faz uma simulação do discurso jurídico, tanto no vocabulário quanto na organização dos
argumentos.
2. A argumentação de Calvin está fundada na premissa de que a ignorância é uma condição necessária para a felicidade.
3. Calvin questiona a eficiência da professora quando diz que sua aula é uma tentativa deliberada de privá-lo da felicidade.
4. Ao gritar “Ditadura!” no último quadrinho, Calvin protesta contra o desrespeito à Constituição, que lhe garante o direito
inalienável à felicidade.
Assinale a alternativa correta.
a) Somente as afirmativas 1 e 3 são verdadeiras.
b) Somente as afirmativas 1 e 2 são verdadeiras.
c) Somente as afirmativas 2, 3 e 4 são verdadeiras.
d) Somente as afirmativas 1, 2 e 4 são verdadeiras.
e) As afirmativas 1, 2, 3 e 4 são verdadeiras.
56. A conservação de alimentos é a arte de mantê-los o mais
estáveis possível em suas características físicas, químicas e
biológicas. Existem vários métodos para isso, entre eles, a
conservação pelo frio, a irradiação e o uso de conservantes
químicos.
Com base na figura e nos conhecimentos sobre Andy Warhol,
considere as afirmativas.
I - Contrariando os meios de comunicação de massa, Andy
Warhol adotava a pintura a óleo para representar as
personalidades, pois assim reforçaria a ideia de imortalidade e
durabilidade dos mitos.
II - Seus trabalhos para embalagens de produtos de consumo,
bem como a utilização do silkscreen para a reprodução,
apontam para sua formação artística advinda da Bauhaus.
III - A Arte Pop se coloca na cena artística como um dos
movimentos que recusa a separação arte/vida, pela
incorporação das histórias em quadrinhos e da publicidade.
IV - O artista acreditava que a multiplicação das imagens pelo
silkscreen enfatizava a ideia de anonimato e afastava qualquer
vestígio de seus gestos.
Assinale a alternativa correta.
a) Somente as afirmativas I e II são corretas.
b) Somente as afirmativas I e III são corretas.
c) Somente as afirmativas III e IV são corretas.
d) Somente as afirmativas I, II e IV são corretas.
e) Somente as afirmativas II, III e IV são corretas.
57. Leia.
A modernidade não pertence a cultura nenhuma, mas surge
sempre CONTRA uma cultura particular, como uma fenda,
uma fissura no tecido desta. Assim, na Europa, a modernidade
não surge como um desenvolvimento da cultura cristã, mas
como uma crítica a esta, feita por indivíduos como Copérnico,
Montaigne, Bruno, Descartes, indivíduos que, na medida em
que a criticavam, já dela se separavam, já dela se
desenraizavam. A crítica faz parte da razão que, não
pertencendo a cultura particular nenhuma, está em princípio
disponível a todos os seres humanos e culturas. Entendida
desse modo, a modernidade não consiste numa etapa da
história da Europa ou do mundo, mas numa postura crítica
ante a cultura, postura que é capaz de surgir em diferentes
momentos e regiões do mundo, como na Atenas de Péricles, na
Índia do imperador Ashoka ou no Brasil de hoje.
(Antonio Cícero. Resenha sobre o livro “O Roubo da História”.
Folha de S.Paulo, 01.11.2008. Adaptado.)
Com a leitura do texto, a modernidade pode ser entendida
como
a) uma tendência filosófica especificamente europeia e
ocidental de crítica cultural e religiosa.
b) uma tendência oposta a diversas formas de desenvolvimento
da autonomia individual.
c) um conjunto de princípios morais absolutos, dotados de
fundamentação teológica e cristã.
d) um movimento amplo de propagação da crítica racional a
diversas formas de preconceito.
e) um movimento filosófico desconectado dos princípios
racionais do iluminismo europeu.
TEXTO PARA AS QUESTÕES 58 a 61:
Conversando com os mortos
Neste exato instante em que seus olhos passam por estas linhas, está ocorrendo um pequeno milagre da tecnologia. Não, não estou
falando do computador nem da transmissão de dados pela internet, mas da boa e velha leitura, inventada pela primeira vez cerca
1
de 5.500 anos atrás. Para nós, leitores experimentados, ela parece a coisa mais natural do mundo, mas isso não passa de uma
ilusão. Ler não apenas não é natural como ainda envolve cooptar uma complexa rede de processos neurológicos que surgiram para
outras finalidades.
Acho que dá até para argumentar que a escrita é a mais fundamental criação da humanidade. Ela nos permitiu ampliar nossa
memória para horizontes antes inimagináveis. Não fosse por ela, jamais teríamos atingido os níveis de acúmulo, transmissão e
integração de conhecimento que logramos obter. Nosso modo de vida provavelmente não diferiria muito daquele experimentado
por nossos ancestrais do Neolítico.
A conclusão é que, de alguma forma, conseguimos adaptar nosso cérebro de primatas para lidar com a escrita. Para Stanislas
2
Dehaene (matemático e neurocientista francês), operou aqui o fenômeno da reciclagem neuronal, pelo qual processos que
3
surgiram para outras funções foram recrutados para a leitura. A coisa funcionou tão bem que nos tornamos capazes de ler com
4
proficiência e rapidez, obtendo a façanha de absorver a linguagem através da visão, algo para o que nosso corpo e mente não
foram desenhados.
Antes de continuar, é preciso qualificar um pouco melhor esse "funcionou tão bem". É claro que funcionou, tanto que me
comunico agora com você, leitor, através desse código especial. Mas, se você puxar pela memória, vai se lembrar de que teve de
aprender a ler, um processo que, na maioria esmagadora dos casos, exigiu instrução formal e vários anos de treinamento até
atingir a presente eficiência.
Enquanto a aquisição da linguagem oral ocorre, esta sim, naturalmente e sem esforço (basta jogar uma criança pequena numa
comunidade linguística qualquer que ela "ganha" o idioma), a escrita/leitura precisa ser ensinada e praticada.
As dificuldades não são poucas. Começam nos olhos (só conseguimos ler o que é captado pela fóvea) e se estendem por todo o
tecido neuronal. Um problema particularmente interessante é o da invariância. Como o cérebro faz para concluir que os caracteres
mostrados na figura 1 são a mesma letra, apesar dos diferentes desenhos? Pior, mesmo quando fazemos uma sopa de fontes e
misturamos tudo, continuamos decifrando a mensagem com pouca perda de velocidade. Comprove lendo a frase da figura 2.
(Adaptado de SCHWARTSMAN, Hélio. Conversando com os mortos. Folha de S. Paulo. 14 jun. 2012.)
Sobre quem gosta de ler
Quando você vê alguém lendo um livro, presencia uma pessoa às voltas com uma grande exigência. A palavra escrita o põe na
parede: pede a ele uma interação e manda às favas a passividade. A leitura fricciona a percepção; é a fricção de duas pedras – fiat
lux!
Não, quem lê não está imóvel, é puro dinamismo e motor. É como uma barriga grávida, num aceleradíssimo tempo de prenhez.
A leitura enfia-se no presente, fabrica o que virá. Quem lê é um da Vinci, diagramando os recursos recebidos, aplicando cor. E
fazendo.
A importância primeira do ato de ler é essa negação da passividade, essa incondicional exigência de ação. É um ato de otimismo
intrínseco.
(Tom Zé (músico). In: Almanaque Brasil. www.almanaquebrasil.com.br/curiosidades-literatura/7171. Acesso em 11 jul. 2012.)
58. A partir da leitura do texto, considere as seguintes
afirmativas:
1. A escrita é um recurso tecnológico, um código, e sua
invenção redimensionou o conhecimento humano.
2. Na escrita, observa-se o problema da invariância quando um
mesmo sinal gráfico é usado para representar letras
diferentes.
3. O aprendizado da leitura é análogo ao da oralidade: ambos
dependem de instrução formal e treinamento.
4. A escrita não possibilita apenas a ampliação da memória
humana, mas também a interligação e o compartilhamento
de informações.
Corresponde(m) ao ponto de vista de Schwartsman no texto
a(s) afirmativa(s):
a) 1 apenas.
b) 2 apenas.
c) 2 e 3 apenas.
d) 1 e 4 apenas.
e) 1, 3 e 4 apenas.
59. Para a adequada interpretação do texto, é necessário
identificar a que informações apresentadas previamente
correspondem algumas expressões de sentido vago empregadas
pelo autor. Considere as seguintes correspondências:
1. "Isso" (ref. 1) refere-se à existência de leitores experientes.
2. "Aqui" (ref. 2) refere-se à adaptação do cérebro para o uso
da escrita.
3. "A coisa" (ref. 3) refere-se ao fenômeno da reciclagem
neuronal.
4. "Algo" (ref. 4) refere-se ao deslocamento de processos de
sua função original para possibilitar a leitura.
Assinale a alternativa correta.
a) Somente a afirmativa 4 é verdadeira.
b) As afirmativas 1, 2, 3 e 4 são verdadeiras.
c) Somente as afirmativas 2, 3 e 4 são verdadeiras.
d) Somente as afirmativas 1 e 4 são verdadeiras.
e) Somente as afirmativas 2 e 3 são verdadeiras.
60. Compare os seguintes trechos extraídos dos textos
“Conversando com os mortos” e “Sobre quem gosta de ler”:
— “Não, não estou falando do computador nem da transmissão
de dados pela internet [...]”. (Schwartsman)
— “Não, quem lê não está imóvel, é puro dinamismo e motor”.
(Tom Zé)
Em ambos os casos, os autores usam reiteradamente a negação
para:
a) questionar possíveis inferências que o leitor possa fazer a
partir de afirmações anteriores.
b) retificar afirmações feitas em trechos anteriores dos textos.
c) dar ênfase aos trechos, destacando sua relevância na
exposição do ponto de vista dos autores.
d) inverter o sentido das frases, já que duas negações
equivalem a uma afirmação.
e) responder questões formuladas pelos próprios autores ao
longo dos textos.
61. Os textos de Hélio Schwartsman e Tom Zé têm um tema
em comum: a leitura. Sobre a abordagem desse tema pelos dois
autores, é correto afirmar:
a) Os aspectos neurofisiológicos da leitura são abordados em
ambos os textos, embora os autores adotem pontos de vista
diversos.
b) Os aspectos interativos da leitura são abordados em ambos
os textos, sendo sinalizados pelo título do texto de
Schwartsman e tratados como tema central por Tom Zé.
c) Ambos os autores têm como interlocutores principais as
pessoas que não gostam de ler e apresentam argumentos
para convencê-las da importância da leitura.
d) Os dois autores focalizam as dificuldades relacionadas ao
processo de aprendizagem da leitura, tema que tem a mesma
relevância em ambos os textos.
e) A contribuição do leitor na construção do sentido do texto é
um tema recorrente nos dois textos, com maior ênfase no
texto de Schwartsman.
62. Aquele bêbado
— Juro nunca mais beber — e fez o sinal da cruz com os
indicadores. Acrescentou: — Álcool.
O mais, ele achou que podia beber. Bebia paisagens, músicas
de Tom Jobim, versos de Mário Quintana. Tomou um pileque
de Segall. Nos fins de semana embebedava-se de Índia
Reclinada, de Celso Antônio.
— Curou-se 100% de vício — comentavam os amigos.
Só ele sabia que andava bêbado que nem um gambá. Morreu
de etilismo abstrato, no meio de uma carraspana de pôr do sol
no Leblon, e seu féretro ostentava inúmeras coroas de exalcoólatras anônimos.
ANDRADE, C. D. Contos plausíveis. Rio de Janeiro:
Record, 1991.
A causa mortis do personagem, expressa no último parágrafo,
adquire um efeito irônico no texto porque, ao longo da
narrativa, ocorre uma
a) metaforização do sentido literal do verbo “beber”.
b) aproximação exagerada da estética abstracionista.
c) apresentação gradativa da coloquialidade da linguagem.
d) exploração hiperbólica da expressão “inúmeras coroas”.
e) citação aleatória de nomes de diferentes artistas.
63. A partida
Acordei pela madrugada. 1A princípio com tranquilidade, e
logo com obstinação, quis novamente dormir. Inútil, o sono
esgotara-se. Com precaução, acendi um fósforo: passava das
três. 2Restava-me, portanto, menos de duas horas, pois o trem
chegaria às cinco. Veio-me então o desejo de não passar mais
nem uma hora naquela casa. 4Partir, sem dizer nada, deixar
quanto antes minhas cadeias de disciplina e de amor.
Com receio de fazer barulho, dirigi-me à cozinha, lavei o rosto,
os dentes, penteei-me e, voltando ao meu quarto, vesti-me.
3
Calcei os sapatos, sentei-me um instante à beira da cama.
Minha avó continuava dormindo. 5Deveria fugir ou falar com
ela?
Ora, algumas palavras... Que me custava acordá-la, dizer-lhe
adeus?
LINS, O. A partida. Melhores contos. Seleção e prefácio
de Sandra Nitrini. São Paulo: Global, 2003.
No texto, o personagem narrador, na iminência da partida,
descreve a sua hesitação em separar-se da avó. Esse sentimento
contraditório fica claramente expresso no trecho:
a) “A princípio com tranquilidade, e logo com obstinação, quis
novamente dormir” (ref.1).
b) “Restava-me, portanto, menos de duas horas, pois o trem
chegaria às cinco” (ref. 2).
c) “Calcei os sapatos, sentei-me um instante à beira da cama”
(ref. 3).
d) “Partir, sem dizer nada, deixar quanto antes minhas cadeias
de disciplina e amor” (ref. 4).
e) “Deveria fugir ou falar com ela? Ora, algumas palavras...”
(ref. 5).
Why Bilinguals Are Smarter
Speaking two languages 5rather than just one has obvious
practical benefits in an increasingly globalized world. But in
recent years, scientists have begun to show that 10the
advantages of bilingualism are even more fundamental than
being able to converse with 11a wider range of people. Being
bilingual, it turns out, makes you smarter. It can have a
profound effect on your brain, improving cognitive skills not
related to language and even protecting from dementia in old
age.
This view of bilingualism is 1remarkably different from 12the
understanding of bilingualism through much of the 20th
century. Researchers, educators and policy makers long
considered a second language to be an interference, cognitively
speaking, that delayed a child’s academic and intellectual
development. They were not wrong about the interference:
there is ample evidence that in a bilingual’s brain both
language systems are active even when he is using only one
language, thus creating situations in which one system
obstructs the other. But this interference, researchers are
finding out, isn’t so much a handicap as a blessing in disguise.
It forces the brain to resolve internal conflict, giving the mind a
workout that strengthens its cognitive muscles.
Bilinguals, 2for instance, seem to be more adept than
monolinguals at solving certain kinds of mental puzzles. In a
2004 study by the psychologists Ellen Bialystok and Michelle
Martin-Rhee, bilingual and monolingual preschoolers were
asked to sort blue circles and red squares presented on a
computer screen into two digital bins — one marked with a
blue square and the other marked with a red circle. In the first
task, the children had to sort the shapes by color, placing blue
circles in the bin marked with the blue square and red squares
in the bin marked with the red circle. Both groups did this with
comparable ease. Next, the children were asked to sort by
shape, which was more challenging because it required placing
the images in a bin marked with a conflicting color. 13The
bilinguals were quicker at performing this task.
6
The collective evidence from a number of such studies
suggests that the bilingual experience improves the brain’s 3socalled executive function — a command system that directs the
attention processes that we use for planning, solving problems
and performing various other mentally demanding tasks. These
processes include ignoring distractions to stay focused,
switching attention willfully from one thing to another and
holding information in mind — like remembering a sequence
of directions while driving.
14
Why does the fight between two simultaneously active
language systems improve these aspects of cognition? Until
recently, researchers thought 7the bilingual advantage was
centered primarily in an ability for inhibition that was
improved by the exercise of suppressing one language system:
this suppression, it was thought, would help train the bilingual
mind to ignore distractions in other contexts. But that
explanation increasingly appears to be inadequate, since
studies have shown that bilinguals perform better than
monolinguals 4even at tasks that do not require inhibition, like
threading a line through an ascending series of numbers
scattered randomly on a page.
The bilingual experience appears to influence the brain from
infancy to old age (and 8there is reason to believe that it may
also apply to those who learn a second language later in life).
In a 2009 study led by Agnes Kovacs of the International
School for Advanced Studies in Trieste, Italy, 7-month-old
babies exposed to two languages from birth were compared
with peers raised with one language. In an initial set of tests,
the infants were presented with an audio stimulus and then
shown a puppet on one side of a screen. Both infant groups
learned to look at that side of the screen in anticipation of the
puppet. But in a later set of tests, when the puppet began
appearing on the opposite side of the screen, the babies
exposed to a bilingual environment quickly learned to switch
their anticipatory gaze in the new direction while the other
babies did not.
Bilingualism’s effects also extend into the twilight years. In a
recent study of 44 elderly Spanish-English bilinguals, scientists
led by the neuropsychologist Tamar Gollan of the University
of California, San Diego, found that individuals with a higher
degree of bilingualism — measured through a comparative
evaluation of proficiency in each language — were more
resistant than others to the beginning of dementia and other
symptoms of Alzheimer’s disease: the higher the degree of
bilingualism, the later the age of occurrence.
Nobody ever doubted the power of language. 9But who would
have imagined that the words we hear and the sentences we
speak might be leaving such a deep imprint?
Adapted from
http://www.nytimes.com/2012/03/18/opinion/sunday/thebenefitsof-bilingualism.html
64. The psychological study done in 2004 (3rd paragraph)
showed that
a) the children in preschool had the same performances in both
tests.
b) bilingual children were more efficient in the most complex
test.
c) monolinguals are better at solving mental puzzles.
d) blue and red are confusing colors for both groups.
65. The last two sentences of the second paragraph mean that
the interference of bilingualism
a) was considered positive in the past, but nowadays this view
has changed.
b) has always been a problem, since the brain has to solve an
internal conflict.
c) brings to the brain an internal conflict that improves its
cognition.
d) has proved to increase the disabilities of the brain and
reduce the blessings it can have.
66. Mark the INCORRECT option. According to the text,
recent researches prove that bilingualism
a) causes general cognitive development.
b) enables people to communicate better in both languages
only.
c) prevents people from suffering from problems related to
memory and other mental disorders or delay these problems.
d) is seen as positive cognitive interference.
67. Based on the text, it is NOT correct to state that
bilingualism
a) delays the symptoms of diseases related to old age.
b) has effect on children’s brains.
c) develops the ability of performing difficult tasks.
d) is irrelevant for the elderly.
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Prova de Português 1, Português 2 e Inglês