VidaBosch
agosto | setembro | outubro de 2011 • nº 26
Benjamin Haas/Shutterstock
Recicle a informação: passe esta revista adiante
Ano novo, diesel novo
Em 2012, caminhões e ônibus
terão de usar combustível menos poluente
A vez delas
Mulheres aos poucos ganham espaço
no setor industrial, mas ainda são minoria
02 30
editorial
Ir muito
além do óbvio
Sala de aula é lugar de estudar, não de
brincar. Garrafas PET são usadas apenas
para guardar líquidos. Um motor para
movimentar limpadores de para-brisa
serve para... movimentar limpadores
de para-brisa. Essas frases parecem
um conjunto de obviedades, mas são,
na verdade, um conjunto de imprecisões. A inovação criativa e a tecnologia têm subvertido essas e outas ideias
preconcebidas, como indicam algumas
matérias desta edição da VidaBosch.
Em aquilo deu nisso, mostramos que as
garrafas PET estão sendo utilizadas como
tecido – por exemplo, na célebre camiseta amarela com que a seleção brasileira
jogou a Copa de 2010. É uma tendência
do setor têxtil, atento cada vez mais ao
uso de material reciclável.
A possibilidade de que a escola seja um
espaço também para brincadeiras, pelo
menos até os anos iniciais do ensino fundamental, é abordada em atitude cidadã.
Um bom exemplo é o projeto Doces Cantinhos, apoiado pelo Instituto Robert
Bosch e cujo objetivo é tornar o ambiente
mais receptivo para as crianças e estimular seu desenvolvimento.
Um dispositivo automotivo pode ser
usado em academias de ginástica? Sim,
graças à flexibilidade das tecnologias da
Bosch isso é possível. Na seção Brasil
cresce, você saberá como os motores de
limpador de para-brisa foram adaptados para elevar as esteiras, simulando
subidas e descidas.
Também fizemos uma viagem para Stuttgart. A cidade onde a Bosch nasceu é
mais um exemplo de transformação e
inovação – surgiu como estábulo e hoje é
um pujante polo industrial, preservando
o verde e a tradição cultural.
Boa leitura!
36 40
Sumário
02 viagem | Stuttgart é muito mais do que o berço de grandes empresas
10 eu e meu carro | Louca por carro, a atriz Marcella Muniz já foi mecânica na TV
12 torque e potência | Veículos pesados vão rodar com um diesel novo – e limpo
16 em casa | Dicas para fazer a reforma com criatividade e sem quebra-quebra
22 tendências | Áreas técnicas, como engenharia, deixam de ser clube do Bolinha
26 grandes obras | Um bairro completo, ao lado da Floresta Amazônica
30 Brasil cresce | Nova classe média ajuda a pôr o setor de fitness em forma
36 atitude cidadã | Fim do ensino infantil não precisa ser o fim das brincadeiras
40 aquilo deu nisso | Novas tecnologias mudam o fio da meada no setor têxtil
44 saudável e gostoso | Um pouco de café combina também com saúde
Expediente
VidaBosch é uma publicação trimestral da Robert Bosch Ltda., desenvolvida pelo departamento de Corporate and Marketing Communication, Brand Management and Call Center (RBLA/COM1). Se tiver dúvidas,
reclamações ou sugestões, fale com o SAC Bosch: (011) 2126-1950 (Grande São Paulo) e 0800-7045446 ou
www.bosch.com.br/contato
Produção, reportagem e edição: Pri­maPagina (www.primapagina.com.br), tel. (11) 3512-2100 / vidabosch@prima
pagina.com.br • Projeto gráfico, direção de arte e diagramação: Buono Disegno (www.buonodisegno.com.br),
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Pal ([email protected]) • Jornalista responsável: José Roberto de Toledo (DRT-DF 2623/88)
viagem
A galope
| Por Gabriel Fortes
Conheça Stuttgart, que de estábulo tornou-se berço de máquinas
(com muitos cavalos de potência) e uma das maiores cidades da Alemanha
Anweber/Shutterstock
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viagem
viagem | VidaBosch | 5
Q
uantos paradoxos vive Stuttgart?
Muitos. Tão relevantes que, sem
eles, a capital do belo estado de BadenWürtemberg não representaria algumas
das artérias que pulsam no coração alemão e não seria uma das locomotivas de
um país que tem o verde, a arte e a indústria
como os principais pilares de sua cultura.
Porta de entrada da Floresta Negra –
cordilheira no sudoeste do país –, a cidade de quase 600 mil habitantes começou
como um estábulo entre 926 e 948 d.C. e
formou-se ao longo de sua trajetória, ironicamente, como sede das montadoras
Porsche e Mercedes-Benz, produtoras de
muitos dos mais potentes automóveis do
planeta. Além disso, é berço da Bosch.
Mais do que isso, Stuttgart mostra uma
vertente artística capaz de fazer inveja
aos principais centros mundiais que res-
guardam tesouros históricos em museus
e galerias de arte. Caminhar pela margem
do rio Neckar é sentir o desenvolvimento
que por ali chegou a galope.
De cavalos de potência a centro cultural de primeira linha, o outrora vilarejo é
“bandeira verde” de uma nação que incorporou a sustentabilidade e o respeito
ao meio ambiente e ao seu modo de vida.
Desvendar a cidade a pé é a melhor
pedida. Cerca de 56% de sua área total é
composta por bosques. A beleza está por
toda parte e, no centro turístico, os jardins
que ocupam 8 quilômetros quadrados são
ladeados por construções imponentes como o Neues Schloss, sede do Poder Executivo. O prédio é considerado uma das
joias arquitetônicas da Alemanha.
Do paradoxo entre a preservação ecológica e o berço de grandes indústrias,
Stuttgart deixa o visitante perplexo ao esbanjar evolução ao mesmo tempo em que
conserva um certo ar provinciano. Mais:
o local mostra ao turista a face simpática
dos alemães, com uma população alegre
e sempre receptiva.
Desvendando Stuttgart
O ponto de encontro ideal, no coração do
centro, é o Neues Schloss, que domina a
imagem de Stuttgart. O duque de Württemberg mandou construir ali a última grande
residência barroca na Alemanha e pretendia criar nada menos que um segundo
Versalhes. Atualmente, a antiga residência
dos reis de Baden-Württemberg abriga o
Ministério das Finanças e o Ministério da
Cultura do Estado. Já na praça Schlossplatz, há um “castelo” da arte moderna: o
Kunstmuseum Stuttgart, com um acervo
de 15 mil obras modernas, clássicas e contemporâneas. A construção espetacular
impressiona por sua elegância simples. À
noite, a fachada de vidro iluminada permite ver as paredes de pedra do interior.
O passeio pode seguir rumo à imponente estação central. A torre de observação
de 56 metros abriga uma exposição sobre
o desenvolvimento da cidade e um café.
Quem preferir, pode continuar pela Königstrasse, a principal rua do maior calçadão da Alemanha, um grande atrativo
local. A enorme variedade de lojas contenta todos os gostos e bolsos. Também
não faltam opções para refeições. Muitos
dos monumentos da cidade estão no centro, o que facilita a visita.
Os castelos conquistam quem passa
por Stuttgart e lembram os tempos dos
monarcas da região. O Velho Castelo (Das
Fotos Anweber/Shutterstock
O Neues
Schloss (à
esq.), joia
arquitetônica
alemã,
fica na
Schlossplatz;
o Velho
Castelo (à
dir.) teve
seus muros
erguidos no
século 10
Stuttgart é berço da Bosch, e
também das montadoras Porsche e
Mercedes-Benz; a cidade consegue
conciliar desenvolvimento industrial
com respeito ao meio ambiente
Alte Schloss) é uma das obras mais antigas. A data de construção de seus muros
remonta ao século 10, quando um simples
burgo foi erguido. Foi reconstruído inúmeras vezes por causa da diversidade da
situação histórica. No século 16, surgiu o
castelo renascentista.
Com os ataques aéreos durante a Segunda Guerra Mundial, grande parte da
construção virou ruínas. Mas ele foi reerguido em 1969, passando a abrigar o
museu sobre a história da região de Württemberg. Atualmente, é palco de concertos
e festivais culturais no verão.
Outros castelos importantes são o Hohenheim, onde atualmente está sediada a
universidade de mesmo nome, e o Solitude,
um belo exemplo de barroco e classicismo
de Stuttgart – hoje em dia, a construção
abriga um restaurante e uma Academia
de Artes. A 5 quilômetros dali está o circuito de Solitude, que, até 1962, foi palco
de corridas automobilísticas.
Stuttgart também possui muitas igrejas.
Vale a pena conferir a Stiftkirche, a Martinskirche e a Leonhardskirche. Se você
ainda tiver alguns minutos livres na sua
agenda, pode visitar a Grabkapelle e conhecer um pouco mais sobre a história local.
O que chama a atenção de muitos visitantes é a grande quantidade de escadarias – Staffel. São quase 20 quilômetros, segundo os dados da prefeitura. Os degraus
foram construídos para permitir o acesso
viagem
Verde por todos os lados
Stuttgart é um dos municípios mais verdes
da Europa. Vinhedos, florestas e parques a
circundam e compõem a paisagem. O cin-
Centro velho
de Stuttgart
alia a história
das antigas
construções à
beleza de suas
arquiteturas
turão verde é um complexo paisagístico
construído em 1993. O belo passeio pode
ser complementado com uma visita aos
parques de Weissenburg e Hohenheimer,
no entorno da cidade.
Quem quiser conhecer o parque Killesberg pode ainda ter uma vista panorâmica da cidade, do alto da torre de mesmo
nome (uma construção moderna de 40
metros de altura).
Faceta cultural
Para os aficionados pelas artes, a galeria
Staatsgalerie e o museu Kunstmuseum são
imperdíveis. Espetáculos de dança, ópera,
teatro de marionetes, balés e exposições
são realizados durante todo o ano. Basta
conferir a programação no centro de informações turísticas, que fica na Königstrasse.
Quem tiver a sorte de visitar a cidade
durante o festival Umsonst & Draussen
não pode perder a oportunidade de conferir um dos melhores eventos gratuitos
e ao ar livre. O festival acontece sempre
no gramado do campus universitário em
Vaihingen, em agosto.
O cenário musical também promete.
Uma noitada na cidade explica por que
ela é o berço do hip-hop na Alemanha.
Há ainda exposições itinerantes sobre história e concertos musicais no pátio principal do Velho Castelo. Em Stuttgart,
a música erudita não é artigo de luxo. A
população local está habituada a escutar
A Bosch na sua vida
Em Stuttgart,
o berço e o futuro da Bosch
Quem chega a Stuttgart de avião se depara, no caminho para a cidade, com os
famosos letreiros da Bosch, de 55 metros
de comprimento e 8 metros de altura (segunda foto à direita). Instalados desde 2007
no estacionamento do centro comercial do
aeroporto, numa estrutura que fica sobre
duas autoestradas, eles são o cartão de
visita da empresa. Não por acaso.
Foi em Stuttgart que Robert Bosch, então
com 25 anos, fundou uma oficina de reparos
mecânicos e elétricos, em 15 de novembro
de 1886, com ajuda de dois aprendizes.
Embora essa pequena oficina localizada na
Rotebühlstrasse 75 B só exista na memória,
ela foi o primeiro passo para a Bosch se
tornar a multinacional que é hoje.
A cidade alemã também abriga a sede
da Fundação Robert Bosch, instalada
onde, no passado, foi a casa do fundador da empresa, explica a coordenadora
do Centro de Memória Bosch, Sandra
da Costa Reis. A entidade apoia causas
sociais em diversas áreas. No jardim foi
construído o centro de convenções e de
treinamento de executivos – uma edificação
de estilo contemporâneo, em contraste
com o prédio da antiga residência, num
símbolo da convivência entre tradição
e modernidade (primeira foto à direita).
É nos arredores de Stuttgart que fica a
sede atual da Bosch e outras fábricas da
empresa, incluindo a de Stuttgart-Feuerbach (foto à direita) que abriga uma das
maiores plantas do Grupo Bosch (com
mais de 10 mil funcionários) e o museu
da empresa. O museu mantém um acervo
que conta a história da vida de Robert
Bosch e dos 125 anos da companhia, incluindo o primeiro dispositivo de ignição
Bosch, o magneto, de 1887. Para visitálo, é preciso agendar com antecedência.
Se você não pode ir a Stuttgart, que tal
fazer o tour virtual pelo museu? É só
acessar o link http://www.bosch.com/
en/com/bosch_group/history/companyhistory.html e aproveitar.
Arquivo Bosch
aos terraços onde eram cultivadas as uvas
para a produção de vinho, uma importante
atividade comercial até o século 19.
Com o crescimento urbano, os vinhedos
desapareceram, mas as escadas permaneceram e se tornaram uma forma de ligação
entre os diversos bairros. Trabalhos de
arquitetura e paisagismo transformaram
os degraus em verdadeiros monumentos. Vale a pena visitar o Eugenstaffel,
o Willy-Reichert-Staffel, o Sängerstaffel, o
Sünderstaffel e o Hasenbergstaffel.
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Yuriy Davats/Shutterstock
6 | VidaBosch |
viagem
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Ackerbürger
Ótima opção para quem pretende conhecer a cozinha alemã. Fica no centro
de Bad Cannstatt, na segunda construção mais antiga da cidade. Spreuergasse 38 / 70372, www.ackerbuerger.
de. Tel.: +49 711 560893.
Fellbach
Leonberg
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Stuttgart
Esslingen
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E 41
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Neckartenzlingen
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Parque Rosenstein
PARQUE KILLESBERG
CASTELO DE ROSENSTEIN
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Hackstrasse
ÓPERA NACIONAL
ZOOLÓGICO E JARDIM BOTÂNICO
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MUSEU MERCEDES-BENZ
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Lerchenstrasse, 57
KUNSTMUSEUM
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Restaurante fundado em 1968, com 41
unidades na Europa, duas em Stuttgart.
A carne é crocante por fora, suculenta
por dentro. Arnulf-Klett-Platz 3 http://
www.block-house.de. Tel 49 711 291770.
as
se
rstrasse
Löwento
er Strass
Markthalle
O mercado é dividido em duas seções.
Na área inferior, a principal, barracas
vendem alimentos. Na parte superior
há uma excelente loja de utensílios para a casa e restaurantes. Dorotheenstr
4 / 70173, www.maerkte-stuttgart.de.
Tel.: +49 711480410.
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Heilbronn
Onde comer
E 41
as
se
Le Méridien Stuttgart
Localizado em frente ao Schlossgarten,
dispõe de quartos modernos e de uma
luxuosa área de spa. Todas as opções
de hospedagem têm TVs de tela plana e
acesso à internet. Willy-Brandt-Strasse
30 / 70173 Stuttgart, www.lemeridienstuttgart.com. Tel.: +49 711 22210.
Kornwestheim
Hemmingen
Pl
Stuttgart também abriga prédios modernos, que espelham sua vocação industrial
Muitas vezes, os automóveis são a primeira
associação com o nome da cidade. Stuttgart é um capítulo à parte na história da
indústria automobilística internacional.
Nomes como os de Gottlieb Daimler, Carl
Benz, Robert Bosch, Wilhelm Maybach e
Ferdinand Porsche estão ligados ao local.
Atualmente, as sedes da DaimlerChrysler e da Porsche estão na cidade, além dos
seus respectivos museus, um passeio imperdível para quem se interessa por carros e pela história do desenvolvimento da
engenharia de automóveis.
Uma curiosidade: o símbolo da Porsche
reproduz as armas da cidade. O cavalo
preto em um escudo amarelo relembra
as origens de Stuttgart.
O museu da montadora foi ampliado em
2007, em um projeto de US$ 50 milhões, e
atrai, anualmente, mais de 200 mil visitantes.
O escritório austríaco de Delugan Meissl
foi o vencedor do concurso para o novo
museu. O projeto foi escolhido por sua
qualidade escultural e por ter contribuído
para destacar a Praça da Porsche, localizada em frente ao prédio.
No local que abriga a história da Mercedes-Benz, inaugurado em 2006, ostenta-se um prédio sem paredes internas e
pisos planos arquitetado pelo holandês
Ben van Berkel. O visitante é conduzido
por um elevador, de cima para baixo, pela história dos automóveis e por meio de
rampas que formam, em planta baixa, uma
hélice dupla que lembra o DNA humano.
O projeto de 150 milhões de euros ampliou
o museu, cujo acervo de carros, por motivos de espaço, só ia até os modelos de 1970.
Até o time de futebol local, o VfB Stuttgart, tem um quê de automóvel: afinal,
joga no estádio Gottlieb Daimler. Fonte de
inspiração, os carros de luxo e alto rendimento guiam uma das principais cidades
do país com a economia mais saudável da
Europa. Acelerando ao futuro.
V8 Hotel
Fica perto do aeroporto de Böblingen.
Construído no prédio de uma antiga
torre de controle, tem quatro quartos
individuais, 19 quartos duplos, uma
suíte e mais 10 quartos temáticos, todos concebidos para impressionar os
entusiastas de automóveis. Os temas
são variados: Route 66, drive-in, lava
rápido e até mesmo um espaço para
os amantes do tunning. Graf Zeppelin
Platz / 71034 Böblingen, www.v8hotel.
de. Tel.: +49 7031-3069880.
Ludwigsburg
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Sonhos sobre rodas
Onde ficar
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Richard Williamson/Shutterstock
os maiores intérpretes da história. O Teatro Nacional de Stuttgart, inaugurado em
1912, abriga uma das melhores óperas do
mundo, eleita por seis vezes consecutivas
a mais perfeita da Alemanha. Em quase
todos os fins de semana há apresentações.
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al
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8 | VidaBosch |
as
se
eu e meu carro
| Por Gisele Lobato
Ricardo Ayres/Photocamera
Mulher moderna
A atriz Marcella Muniz,
de “O Astro”, tem agenda
repleta de compromissos de
todo tipo. Seu carro ajuda a
dar conta do corre-corre
“M
eu nome é Jackie e eu entendo tudo
de carro.” Foi com essa banca que
a personagem vivida por Marcella Muniz
se candidatou ao emprego de mecânica na
novela “Vende-se Um Véu de Noiva”, exibida entre o segundo semestre de 2009 e o
comecinho de 2010 no SBT. Para conseguir
a vaga, teve de enfrentar o preconceito do
selecionador, para quem “mulher não sabe
nem dirigir direito, quanto mais consertar”.
A segunda parte da frase seria logo desmentida por Jackie, cujo desempenho com
os motores arrancou elogios dos colegas de
oficina. A primeira parte é negada diariamente por milhares de mulheres em várias
partes do mundo – entre elas, a própria
Marcella. “Eu não consigo me ver sem carro desde que me entendo por gente”, diz
a atriz, que se encaixaria como uma luva
no papel de “mulher moderna”.
Namorado, enteado, ginástica, balé,
curso de gastronomia e trabalho. Na cozinha, a agenda de compromissos tem os
horários dos cursos dos filhos: são três.
A atriz não sabe como dá tempo de fazer
tudo. Para ajudá-la no corre-corre, seu par-
Paulo especializada em tuning (transformação dos carros, com incrementos de
diversos tipos).
Em um dia de contato com os mecânicos, só deu para aprender o básico, mas a
experiência ajudou na construção da personagem. “Eu mexia nas ferramentas, sabia como abrir o capô. Minha desenvoltura com a personagem era outra”, conta a
atriz. O contato com o mercado de tuning
impressionou Marcella. “É uma loucura, o
pessoal investe um dinheiro absurdo em
carros antigos e envenenados.”
Ela própria, porém, que adora carros,
revela que também tem seus fetiches no
mundo automotivo. Ela vive paquerando
os novos modelos. Seu objeto de desejo
atual é o Kia Soul, um modelo que é uma
espécie de mistura entre minivan e utilitário esportivo. “Quero trocar de carro,
pois estou apaixonada”, admite.
Mesmo com o workshop de mecânica,
porém, sua familiaridade com as engrenagens não se repete fora das novelas. E
se o pneu fura na estrada, por exemplo?
Quando tem um problema, Marcella liga
para seu mecânico de confiança. As emergências, entretanto, são raras. “Uma vez
A artista fez workshop em uma
oficina antes de atuar como
mecânica em uma novela do SBT.
“Eu mexia nas ferramentas, sabia
como abrir o capô”, conta
tive uma pane, mas nunca furou um pneu
comigo na rua. A única vez que isso ocorreu foi na garagem. Meu santo do carro é
forte”, brinca a atriz.
Riscos, ela corre, pois adora dirigir, em
especial viajar de carro. Quando gravava
em São Paulo, era comum sair do estúdio e
ir direto para a rodovia Dutra, com o objetivo de passar a folga com a família no Rio
de Janeiro. “Eu virava para alguma colega
de gravação e falava: ‘vamos agora’. Não
passávamos nem no flat”, recorda Marcella.
Apesar da vida corrida, a atriz faz o
tipo “motorista zen”, já conformada com
os congestionamentos das grandes cidades. “Não entro na neura de ficar louca,
nervosa, irritada com o trânsito”, afirma.
A calma é invejável para alguém que diz
sempre sair de casa em cima da hora.
Uma vez, porém, não pôde assumir o
volante. Foi durante uma das gravações na
novela Serras Azuis, veiculada pela Band
em 1998. Era uma cena com automóvel.
Marcella sentou-se na carona. No banco
do motorista estava o ator Petrônio Gontijo. “Ele não sabia dirigir, mas tinha que
sair cantando pneu. Ele pingava suor e eu
pingava junto”, lembra a atriz.
No meio da tensão, tudo o que ela conseguia pensar era: “pronto, ele vai bater
na casinha da cidade cenográfica”. Foram
algumas tentativas, mas a cena saiu. “Deu
tudo certo”, suspira aliviada.
Filha do autor Lauro César Muniz, Marcella sempre respirou arte. Começou ainda
criança na novela “Os Imigrantes”, exibida pela TV Bandeirantes em 1981. Atuou
também em “Pão Pão, Beijo Beijo” (1983),
“Sassaricando” (1987), “O Salvador da Pátria
(1989, escrita pelo pai) e “Uga Uga” (2000).
Depois de atuar como a mecânica Jackie,
fez um pit-stop na carreira, para estudar
cozinha contemporânea em Buenos Aires. O convite para voltar à Globo adiou,
mas não interrompeu os planos na Argentina. Até outubro, pelo menos, Marcella
está comprometida com as gravações de
“O Astro”. Ainda assim, tentará concluir
o curso neste ano e, no futuro, abrir um
restaurante. É muita bateria.
A Bosch na sua vida
ceiro de anos é uma perua, a Peugeot SW.
A agitação aumentou ainda mais desde
que Marcella voltou à Rede Globo, na série “O Astro”, baseada na telenovela homônima de Janete Clair, que foi ao ar em
1977. Na trama, ela interpreta Doralice, exmulher que inferniza a vida de Herculano
Quintanilha, personagem protagonizado
por Rodrigo Lombardi.
Antes disso, a mecânica Jackie tinha
sido sua última atuação na televisão. Para
interpretar a personagem, a atriz precisou
vestir o macacão, sujar a mão de graxa e
olhar os carros por outros ângulos, incluindo o de baixo. E se engana quem pensa que
foi tudo de mentirinha: Marcella chegou
a fazer workshop em uma oficina de São
Oficina e sala de aula
Se uma atriz como Marcella Muniz precisou assistir a um curso para fazer o papel
de mecânica, imagine um mecânico de
verdade... Essa é uma área que sempre
exigiu atualização, mas isso se tornou ainda mais importante desde que começaram a proliferar recursos eletrônicos nos
automóveis.
Para atender essa demanda e assegurar
um atendimento que faça jus ao padrão
Bosch de qualidade, o Centro de Treinamento Técnico Automotivo oferece
periodicamente cursos sobre sistemas
veiculares, produtos e novas tecnologias.
Alguns cursos podem ser feitos pela internet e outros, de abordagem prática, de
forma presencial. Porém, como explica Lúcia Cuque, chefe de treinamento técnico
e comercial da divisão Automotive Aftermarket, uma modalidade de ensino não
substitui a outra: elas se complementam.
“O profissional se prepara previamente
para o curso presencial estudando os conteúdos conceituais nos cursos on-line.”
Além de aulas sobre temas avançados,
a empresa oferece treinamentos envolvendo conceitos básicos em eletricidade,
eletrônica automotiva, motor ciclo Otto e
diesel. Tais conhecimentos servem de introdução para os que atuam no mercado
reparador em geral e pretendem participar
dos demais cursos oferecidos no Centro
de Treinamento Técnico, em Campinas.
Já aqueles que desejam ficar por dentro
das principais inovações automotivas da
Bosch podem participar dos seminários
organizados pela empresa. Eles são fre-
Arquivo Bosch
10 | VidaBosch |
quentados por grupos de entidades de
classe, oficinas, lojas de autopeças e universidades. Os eventos abordam temas
como eletrônica embarcada e diagnóstico
das novas tecnologias diesel. Para obter
informações, acesse www.bosch.com.br/
br/autopecas/treinamentos ou escreva para
[email protected]
12 | VidaBosch |
torque e potência
| Por Felipe Lessa
Uma evolução
no diesel
Ônibus, caminhões e máquinas
agrícolas precisarão usar combustível
mais limpo a partir de 2012
Paul Matthew Photography
É
deles que sai grande parte da fumaça preta que afeta
a atmosfera. Por isso, para reduzir as emissões de
gases poluentes dos veículos de transportes pesados,
o governo vai implementar, a partir de janeiro de 2012,
uma norma que prevê o uso de um diesel mais limpo do
que o atual — trata-se da fase 7 do Programa de Controle
da Poluição do Ar por Veículos Automotores (Proconve).
Isso significa que as montadoras de ônibus, caminhões
e máquinas agrícolas passarão a fabricar modelos adaptados para rodar com um novo diesel, em cuja composição há menos enxofre, substância que tende a aumentar
o risco de doenças pulmonares. Essa determinação gera
mudanças em toda a cadeia produtiva do setor – montadoras, distribuidoras e refinarias. Porém, mesmo com
o avanço em algumas áreas, ainda não há garantia de
que o óleo estará disponível em todos os postos do país.
Atualmente, a maioria dos veículos pesados circula
com diesel S1800 e S500 – ou seja, com 1.800 e 500 partes
por milhão (ppm) de enxofre. No ano que vem, começa
entra em vigor o S50 e, em 2014, o S10, que poderão colaborar para uma sensível redução na poluição atmosférica.
As doenças causadas pela poluição do ar matam, a cada ano, 2,5 milhões de pessoas no mundo, de acordo com
dados da Organização Mundial da Saúde (OMS). “Um dos
principais vilões é o dióxido de enxofre. Portanto, trabalhar para reduzir sua emissão representa um ganho para
a saúde e para toda a sociedade”, afirma Pedro Henrique
Torres, coordenador da Campanha de Clima da organização não governamental Greenpeace. Para se ter uma
ideia, a atual frota brasileira, que é composta por caminhões com média de uso de 20 anos, emite 38 vezes mais
poluentes do que a geração de veículos que está por vir.
14 | VidaBosch |
torque e potência
Por uma questão de saúde pública e
preocupação com as mudanças climáticas,
diversos países já adotaram medidas semelhantes. Membros da União Europeia,
por exemplo, começaram o Euro 5, plano
no qual o Brasil se inspirou, há 15 anos.
Mas, como seria muito custoso adotar um
combustível mais limpo de uma vez só, já
que implicaria grandes investimentos da
indústria, foi criado um plano de mudança
gradual. No caso brasileiro, o Proconve
foi criado em 1986 e, desde então, reduziu
em quase 100% a emissão de poluentes
de automóveis e motos. Para os veículos
pesados, o caminho foi mais turbulento:
a implementação da sexta fase não vingou, por causa da incerteza em relação
ao abastecimento, e o Brasil pulou diretamente para a sétima fase (chamada P7).
Nas novas regras, ainda que o combustível tenha menor teor de enxofre, a
tecnologia empregada deve diminuir a
emissão de outras substâncias e partículas
poluentes. Há duas opções: a Selective
torque e potência | VidaBosch | 15
Na nova fase do programa de
redução de poluentes, emissão
de enxofre deve cair mais de 90%
e de fumaça e material
particulado, 80%
Catalytic Reductionn (SCR) e a Exhaust
Gas Recirculation (EGR), ambas capazes
de reduzir as emissões e ao mesmo tempo aumentar a eficiência energética dos
veículos.
Segundo o professor de Engenharia
Mecânica da Unicamp, Antonio Celso, a
escolha da tecnologia pelo fabricante depende de como o automóvel será usado, em
qual tipo de estrada, qual distância média
percorrerá e a relação peso-potência. Para
os caminhões de carga, que geralmente
percorrem longas extensões, o sistema
mais indicado é o SCR, que trata os gases
já no cano de descarga. Além disso, é utilizado um produto químico composto de
ureia, o Arla 32, que neutraliza o gás da
combustão, convertendo-o em nitrogênio
e água, reduzindo a liberação de partículas e óxidos de nitrogênio. A redução na
emissão de fumaça e material particulado
é de 80% em relação ao atual modelo. “É o
sistema com melhor eficiência energética,
e pode ser usado por motores de todos os
tamanhos”, complementa Celso. Entre as
empresas que adotaram o SCR estão Volvo, Iveco e Mercedes-Benz.
Já o sistema EGR possui controle eletrônico e processo de resfriamento dos
gases recirculados – que, quando misturados ao ar fresco, diminuem a temperatura da câmara de combustão. Isso
reduz a formação de óxido de nitrogênio.
Contudo, o EGR aumenta o consumo de
combustível, já que, quando a temperatura baixa, a eficiência da queima também
cai, o que resulta em maior emissão de
fumaça. Por isso, os motores com esse
dispositivo exigem um filtro de material
particulado, sendo que seu uso deverá
ser restrito a veículos de menor porte e
que costumam circular em regiões com
diesel de melhor qualidade. A Scania, que
adotou a tecnologia na Europa, deverá
utilizar o sistema em seus novos modelos no Brasil.
Tarefa nada fácil
No entanto, os desafios para a implementação da nova fase do Proconve ainda são
grandes. Em um país de dimensões continentais como o Brasil, restam ao menos duas questões a serem resolvidas: o
fornecimento do novo combustível, que
é responsabilidade da Petrobras, e a distribuição e abastecimento, que ficam a
cargo de empresas distribuidoras e dos
postos de gasolina, respectivamente. A
petrolífera brasileira afirma que até o
ano que vem haverá diesel mais puro nas
bombas – foram investidos US$ 73,6 bilhões em infraestrutura para produzir
o combustível.
Na outra ponta da cadeia, a Agência
Nacional do Petróleo (ANP), entidade res-
ponsável pelo controle e pela fiscalização
da distribuição de combustíveis, diz que
o país estará pronto para a nova norma,
indicando que estão sendo feitas reuniões periódicas com ministérios e órgãos
públicos para garantir o fornecimento.
Porém, para os postos de gasolina disponibilizarem o diesel é preciso investir em bombas especiais. De acordo com
o diretor técnico da ANP, Allan Kardec
Duailibi, existem 38 mil postos no país.
Porém, somente cerca de 1.200 estabelecimentos manifestaram interesse em
vender o novo combustível. Só que será
necessário o dobro disso para atender a
demanda pelo diesel S50 em 2012.
Além disso, a maioria dos postos que
pretende melhorar seus equipamentos
está nas regiões Sul e Sudeste. Essa desigualdade criaria dificuldades para motoristas que fazem percursos longos, aponta
o professor da Unicamp Antonio Celso.
E, caso o diesel usado seja de qualidade
pior que o S50, “os motores podem sofrer
sérios danos, desde a perda de potência
até a menor durabilidade”, alerta Celso.
“Fora isso, não há fornecimento desse diesel em outros países da América Latina,
o que criaria barreiras para as viagens
internacionais.”
O bolso do consumidor também deverá
sofrer impacto, tanto pelo valor mais alto
dos veículos como pelo combustível mais
caro. A Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea)
estima que o incremento no preço final
dos modelos seja de 8% a 15%. O preço
do litro do novo diesel nas bombas deverá subir, apesar de a ANP ainda não ter
uma previsão sobre quanto será essa alta.
De qualquer modo, embora os preços
possam ser mais salgados no começo, é
importante pensar a longo prazo. “Certamente os gastos públicos na área de saúde
deverão cair, e toda a sociedade poderá ser
beneficiada pela medida”, Celso. Afinal, é
o preço do desenvolvimento sustentável.
Crescimento sem poluir.
Os modelos
adaptados às
novas regras
deverão ficar
mais caros
– a alta deve
ser de 8% a
15%, segundo
estimativa da
associação de
fabricantes
Gilles Lougassi/Shutterstock
Tecnologia limpa
A fase P-7 (equivalente à norma europeia
Euro 5) do Programa de Controle da
Poluição do Ar por Veículos Automotores (Proconve), que será adotada pelo
Brasil a partir de 2012, implica uma
série de adaptações na cadeia produtiva do setor automobilístico, a fim de
controlar a emissão de poluentes por
veículos a diesel.
Líder mundial em desenvolvimento de
sistemas de injeção para motores diesel,
a Bosch disponibiliza no país alguns
equipamentos produzidos para atender
as rigorosas normas da Europa, onde
leis de emissões equivalentes já estão
em vigor desde 2009.
Um deles é o Denoxtronic, sistema dosador que funciona aliado ao catalisador SCR (sigla de Redutor Catalítico
Seletivo) para tratamento dos gases de
escape. “Esse equipamento neutraliza
a ação tóxica do NOx [óxido de nitrogênio], transformando-o em nitrogênio e
água”, explica Gustavo Castagna, chefe
de aplicação dos sistemas diesel da
empresa. A redução é de até 85% nas
emissões de NOx e de até 40% na de
materiais particulados. Além disso, o
consumo de diesel cai em cerca de 5%.
Outra tecnologia da Bosch voltada para a redução de emissões é a terceira
geração do Common Rail, um sistema
de injeção de combustível que se caracteriza por permitir altas pressões de
injeção. São 1.800 bar, ante os 1.400
bar dos modelos atuais. Como resultado, essa tecnologia assegura ao motor
um excepcional desempenho, aliado a
baixo consumo de combustível e menores índices de emissões de poluentes.
Para o desenvolvimento dessas e de
outras tecnologias que vêm ao encontro das normas do Proconve, a Bosch
Arquivo Bosch
A Bosch na sua vida
conta com o seu Centro de Competência Diesel, localizado em Curitiba.
16 | VidaBosch |
em casa
Valua Vitaly
Soluções criativas revigoram os ambientes sem o quebra-quebra das reformas
| Por Nathalia Barboza
Casa repaginada
18 | VidaBosch |
C
em casa
Fotos Shutterstock
usta dinheiro. Suja a casa. Causa transtorno. Por isso, uma reforma para
mudar a cara de casa inibe muitas pessoas. Só que não é preciso quebrar tudo para
renovar um ambiente, nem sair trocando
a mobília e aposentando as cortinas e os
tapetes. Soluções criativas podem fazer
a diferença, repaginando a casa e revigorando os ambientes internos.
“Para começar, o mais fácil é trocar a
cor da parede”, explica o arquiteto e designer Rodrigo Angulo. Mas não é preciso
parar por aí. Pinturas que imitam cimento
queimado e concreto caíram no gosto dos
decoradores. Há uma linha de tintas especial, com texturas que parecem concreto,
mármore, camurça ou tecido tipo linho.
Os efeitos são ótimos. Convém, contudo,
contratar profissional especializado – não
é qualquer pintor que vai acertar a mão.
Já as tintas com metal podem revestir
uma parede inteira e fazer dela um painel
em casa | VidaBosch | 19
Tintas com metal transformam a
parede num grande painel com
ímãs, que podem ser trocados todo
dia. É uma boa dica para diversificar
a decoração de halls, corredores,
quartos ou escritórios
mutável, com ímãs que são trocados todos
os dias. “Mas não ache que a parede vai
ficar como a superfície de uma geladeira.
Tem que ter ímãs muito fortes”, adverte
o arquiteto paulistano Domingos Pascali. Em um de seus projetos, ele criou uma
parede de aço pintada de branco na qual
o morador expõe suas fotos imantadas.
“É uma dica para um hall, um corredor,
um canto do quarto ou até do escritório.”
Não é preciso, claro, ficar restrito às
tintas e texturas. Podem-se usar papéis
de parede, vendidos em qualquer loja do
setor a preços bem acessíveis. “Só que os
mais bacanas ainda são os importados. Dá
para comprar os alemães, que são bárbaros,
pela internet e por um bom preço”, lembra a arquiteta Gabriela Marques. “Você
encontra rolos de um papel vinílico holandês que resiste bem à umidade. Com
R$ 1.000, é possível revestir um lavabo”,
calcula a arquiteta Mariana Vaz, de Niterói.
A versatilidade do produto é enorme.
“Podemos ter liberdade total para usar
papel de parede – em películas no vidro
ou em espelhos, por exemplo”, indica Pascali, que dá mais uma dica: “todo mundo
podia arriscar mais no seu espaço. O vinil permite isso, porque é fácil de retirar.
Nele, podemos imprimir textos, fotos e
paisagens, mudando todo o ambiente de
forma rápida e limpa”.
Aconchego e amplitude
Outro recurso possível é o painel em marcenaria. “Ele permite correr fiação e alterar
os pontos elétricos e de TV nos ambientes,
além de passar sensação de aconchego”,
diz a designer de interiores gaúcha Maura Fritzen. “Podem ter detalhes em baixo
relevo, laminados, pintados, ripados em
tiras ou em outros formatos, como o de
pedra palito ou de lambris.”
Colocá-los no lugar, porém, não é para
qualquer um. “Um especialista deve fazer a
instalação. Assim, o painel será colado com
o material apropriado e com as emendas
feitas com cuidado”, destaca.
Espelhos também estão em alta. Com
bordas lapidadas ou facetadas, comuns,
bronze ou fumê, podem ficar em painéis
e revestir pilares – e por que se restringir às paredes? Eles vão bem em todos
os tipos de móveis (mesas, aparadores)
e nichos. “Ampliam os espaços, enobrecem, modernizam”, recomenda Maura. A
designer costuma usar películas adesivas
em vidros, das mais variadas cores, ou
imitando jato de areia e vidro refletivo.
Em imóveis antigos, daqueles em
que a viga ou outros materiais
atravessam o ambiente, pode-se
tirar o revestimento e expor as
estruturas. Fica na moda de novo,
com cara de loft
“Elas podem ser removidas dos vidros
sem danificar a superfície, permitindo
modificar várias vezes o visual do ambiente”, acrescenta.
Outro detalhe nas paredes que valoriza
o ambiente é o rodapé, principalmente os
mais altos, com 30 cm a 40 cm de altura.
Preferencialmente, de madeira maciça.
“Isso por causa do contato com o piso,
que, se for molhado, estraga o rodapé com
facilidade”, justifica Maura.
Para imóveis mais antigos, daqueles
que têm vigas ou estruturas atravessando
ambientes, existem opções mais ousadas.
Pode-se valorizar suas entranhas e mostrar
As paredes
podem
ganhar vida
com novas
cores,
espelhos
e lambris
(à esq.);
iluminação
embutida no
gesso também
revigora o
ambiente
o “esqueleto” de concreto. Fica na moda
de novo, com um ar de loft nova-iorquino.
“Não disfarce um pilar no meio da sala com
revestimento caro ou tinta. Descasque a
argamassa e o reboco, chegando ao concreto envelhecido pela ação do tempo”,
sugere Gabriela Marques.
Ela adverte, no entanto, que fazer isso
quase no final da obra requer proteger
piso e paredes próximas. “E é possível
que, no final, o resto do imóvel precise de
mais uma demão de pintura”, completa.
“Da mesma forma, pode-se descascar
uma parede feita de tijolinhos. Ela dará
um efeito bacana com sua textura natural
ou, se preferir, pintada de branco, o que
deixa o ambiente com um aspecto mais
suave”, sugere Gabriela.
As alternativas, como se vê, são muitas.
Para não errar a mão na hora de decorar
paredes – seja com painéis, pastilhas, pedras, texturas ou papel de parede –, um
20 | VidaBosch |
em casa
em casa | VidaBosch | 21
Shutterstock
Divulgação
Divulgação
Papel de
parede (página
ao lado) e
trabalhos
em gesso (à
dir.) dão tom
moderno;
em imóveis
mais antigos,
pode-se deixar
o concreto à
mostra (à esq.)
Opções para o teto
Em alguns casos, sobretudo nos apartamentos pequenos, vale a pena caprichar
na parte de cima. “Num projeto que fizemos, rebaixamos um teto de uma sala em
50 cm, para usar o vão como uma espécie
de maleiro. O mesmo pode ser feito em outros ambientes, como no corredor”, recomenda Pascali.
No acabamento do novo forro, vale
pensar no gesso, acartonado (drywall) ou
convencional, que também transforma o
espaço. Sancas retas com luz indireta, um
destaque lateral entre o forro e a parede
para abrigar o cortineiro ou um rebaixo
de forro plano com luminárias embutidas
são boas opções. “O gesso convencional
ainda é mais acessível que o acartonado,
mas a sujeira é maior e o prazo de execução, também”, adverte a designer Maura.
Gesso pode ser uma boa opção
para mudar o teto sem quebrar
muita coisa. É possível, por
exemplo, colocar sancas retas
com luz indireta
“Para passar selador, massa corrida e pintar, deve-se esperar que fique totalmente
seco. Isso não acontece com o acartonado,
com o qual conseguimos uma obra limpa”, compara.
Trocar a iluminação é outro modo de
repaginar um cômodo sem ter de partir
para o quebra-quebra. A lâmpada de LED
é uma das preferidas dos profissionais
da área, por ser mais econômica, eficiente e delicada. Num forro rebaixado, ela
também tem a vantagem de não esquentar, ao contrário do que acontece com as
lâmpadas incandescentes e as do tipo AR.
“Ambiente quente não é aquele que emite calor. O conforto é o mais importante,
e as LED têm oferecido mais opções de
‘temperaturas’”, aponta Rodrigo Angulo.
Justamente por isso, Mariana Vaz optou
por elas num projeto de iluminação para
quarto infantil. “Não esquentam e são extremamente econômicas”, atesta.
A solução tecnológica mais usada é a fita
de LED, que substitui a inconveniência das
mangueiras, cujo acabamento é considerado precário. “Também vale para compor
com móveis de laca, porque não mancham
a pintura com o tempo”, comenta.
“A iluminação é o que tem dado o diferencial de decoração. A tendência é separar as lâmpadas em vários circuitos,
para permitir ambientações distintas no
mesmo local”, acrescenta Mariana. Em um
projeto, ela separou os interruptores de
luz de uma cozinha em três, dedicando
um deles para uma lâmpada focada sobre
a geladeira, para as incursões noturnas
do morador. “Mas é preciso garantir um
espaço para esconder o transformador”,
completa a especialista de Niterói.
Na cozinha, chama a atenção a quantidade de pedidos para concepção de projetos
de adaptação de bancadas para receber
cooktops (fogões de mesa). “A maioria dos
apartamentos tem só um ponto de gás, e
é preciso mais um para o forno. Nisso, o
revestimento tem que ser quebrado, dando espaço para pastilhas, por exemplo”,
diz Mariana. É uma opção que pode não
garantir um ambiente 100% diferente, mas
que vai deixar a sua casa de cara nova.
Sem deixar o dono louco com a bagunça.
A Bosch na sua vida
Rapidez e versatilidade
Fazer acabamentos domésticos com perfeição e criar pequenos elementos de decorações em casa são tarefas mais
fáceis quando se tem à mão uma ferramenta da Dremel,
marca do grupo Bosch. Compacta e versátil, ela auxilia na
execução de trabalhos manuais e oferece 150 acessórios
para os mais diferentes tipos de atividade.
“Ela é ideal para trabalhar em pequenos locais, de difícil
acesso, e pequenas escalas. É uma ferramenta compacta,
multifuncional. Pode ser utilizada para cortar, polir, fazer
entalhes, ajustes...”, diz Wellington Brotto, gerente da marca
para a América Latina.
A ferramenta pode ser usada, por exemplo, para limar a
porta que não está fechando, perfurar o gesso para instalar
spots de luz ou tomadas, além de realizar pequenos furos
em armários para passagem de fios. Tudo com um bom acabamento e com rapidez, diferentemente de equipamentos
manuais, que tomam mais tempo e nem sempre produzem
um resultado satisfatório.
Segundo Brotto, as ferrametas da Dremel são ideais para
os “reparadores domésticos” – em outras palavras, pessoas
que se identificam com o estilo “faça você mesmo”. O kit
básico vem com dez acessórios, considerados de iniciação.
Os demais são vendidos separadamente. A ferramenta também é usada por profissionais e artesãos, sobretudo em
Arquivo Bosch
dos segredos é integrá-las. “Não segmente
simplesmente os ambientes. Crie um eixo de ligação entre eles”, sugere Pascali.
Mesmo para os pisos há alternativa à
quebradeira. São as sobreposições. “O
mercado oferece pisos cada vez mais finos, ótimos para aplicar em cima do antigo”, aponta Rodrigo Angulo.
razão de sua versatilidade e praticidade.
É possível criar detalhes em azulejos, molduras em espelhos e dar um toque especial na decoração da casa. A
marca disponibiliza um livro na internet com dicas e técnicas para decorar o ambiente doméstico, além de contar
com um canal no YouTube (http://www.youtube.com/user/
Dremel410) com cerca de 60 vídeos explicativos. Oferece
dois anos de garantia e mais de 400 assistências técnicas
e postos de serviço no Brasil.
22 | VidaBosch |
tendências
| Por Bruno Meirelles
Indústria,
substantivo
feminino
Arquivo Bosch
Participação das mulheres no mercado
de trabalho tem crescido, mas elas ainda são
minoria no setor industrial
24 | VidaBosch |
tendências
tendências | VidaBosch | 25
Yuri Arcurs/Shutterstock
Arquivo Bosch
Antes a
presença de
mulheres era
comum apenas
no setor têxtil,
mas agora
elas ocupam
também outras
vagas nas
indústrias
D
esde o final do século 19, as mulheres estão obtendo uma série de conquistas em direção à igualdade entre os
sexos – direitos ao voto, ao divórcio, a se
vestir da maneira mais livre, ao trabalho e
ao controle sobre a decisão de ter filhos ou
não. A participação delas no mercado de
trabalho também tem crescido sem parar.
Mesmo assim, alguns desafios persistem,
especialmente em áreas ainda tidas como
tipicamente masculinas, como as funções
técnicas e os cargos de direção.
O setor industrial, por exemplo, emprega 78% mais homens (8,9 milhões) do que
mulheres (5 milhões), segundo os dados
mais recentes do Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE). Na construção civil, o desnível é ainda maior: 6,6
milhões de homens e apenas 241 mil mulheres. A situação se altera nos serviços
domésticos, em que há 6,2 milhões trabalhadoras e 425 mil trabalhadores.
As diferenças devem-se, em parte, a
opções a que as mulheres são levadas a
fazer. “As escolhas profissionais femininas
ainda estão muito ligadas ao velho papel
que a sociedade atribui à mulher, que é
de cuidadora. Assim, elas se concentram
mais nas áreas de saúde e educação, por
exemplo”, diz a professora de economia
Hildete Pereira de Melo, da Universidade
Federal Fluminense (UFF).
Boa parte da situação, contudo, está
relacionada às barreiras impostas pelo
mercado. “Existe certa resistência dos ambientes masculinos, que acabam se tornando um pouco hostis para a mulher. Lá
elas se sentem mais acuadas e precisam
provar a todo instante que são competentes”, aponta Maria Rosa Lombardi, pesquisadora na área de gênero, trabalho e
profissões da Fundação Carlos Chagas.
A professora da UFF afirma que, no início do século passado, a presença da mulher no setor industrial brasileiro, predominantemente têxtil, era mais bem aceita.
Porém, elas perderam espaço após a eclosão do movimento operário, cujo auge se
deu com a greve geral de 1917, que paralisou a indústria e o comércio. Durante a
reivindicação por direitos trabalhistas, os
próprios manifestantes defenderam que
as mulheres cuidassem apenas do lar, pois
acreditavam que o salário do homem era
suficiente para sustentar a família. “Após
essa fase, a fábrica passou a ser vista como
um espaço culturalmente masculino, e a
mulher se sente um pouco deslocada nele.”
Há exceções, como Martha Canelada,
engenheira sênior de desenvolvimento de
produto da Bosch. Ela, que atua na área há
10 anos e participou da criação do sistema
Diesel+GNV da Bosch, conta que jamais
enfrentou problemas no trabalho por ser
mulher. “Em cada novo projeto demora
um pouco para perceber como as pessoas
trabalham. Mas, assim que isso é feito e
mostro minhas competências, percebem
que podem contar comigo como com qualquer outro colega”, comenta.
As trabalhadoras fabris só começaram
a recuperar espaço a partir da década de
1970, quando se ampliou o leque de opções
de carreiras oferecidas à mulher em universidades e escolas técnicas. Hoje, elas
representam 55% dos graduados do país,
segundo a edição mais recente da Pesquisa Nacional de Amostra por Domicílio, do
IBGE. Apesar disso, são minoria em áreas
como engenharia. De acordo com o Censo do
MEC de 2008, apenas 21,4% dos estudantes
de engenharia são do sexo feminino. Mesmo que a proporção ainda seja pequena,
o número saltou dois pontos percentuais
em relação a 2000. “As pioneiras sofreram
mais, elas eram muitas vezes as únicas em
uma sala de aula”, explica a pesquisadora
Maria Rosa, da Fundação Carlos Chagas.
Foi uma situação parecida com essa que
Rosângela Barbosa, diretora do Centro de
Serviços da Bosch em Joinville, enfrentou
quando iniciou sua carreira, 24 anos atrás.
“Naquela época, era raro ter uma mulher
em posição de liderança. Nas primeiras
reuniões, me sentia um pouco incomodada,
mas logo que entrávamos nas discussões
técnicas ficava claro o conhecimento que
eu tinha e porque eu estava lá”, explica.
Rosângela nunca se importou em ocupar
um cargo de direção numa área onde os
homens são maioria. “Não foi só a Bosch
que mudou, o mundo mudou, e hoje temos
mulheres ocupando posições de liderança no Brasil, na Argentina, na Alemanha,
entre outros.”
Desafios pela frente
Apesar dos progressos, uma das barreiras
a serem superadas é a dificuldade da mulher de conciliar o trabalha e as tarefas de
casa, observa Hildete Pereira de Melo – a
“dupla jornada” ainda as penaliza muito.
Mesmo o forte movimento
trabalhista do início do século 20
defendia que as mulheres tinham
de ficar longe das fábricas para
cuidar da casa
Além disso, e por causa disso, elas têm mais
dificuldade em subir na escala hierárquica.
“Ingressam e permanecem, mas são poucas que chegam a cargos de chefia ou conseguem receber salários equivalentes aos
dos homens”, afirma a economista da UFF.
Martha Canelada acredita que faltam
exemplos de mulheres que alcançaram
sucesso e inspirem outras a ir adiante.
“Sei de casos de chefes que já nem esperam que as mulheres façam carreira na
área técnica. Eles pensam que, se quase
não há mulheres, por que uma gostaria?”
Para ela, tal situação permite que algumas ideias preconceituosas se perpetuem,
como a visão de que, assim que as mulheres casarem ou tiverem filhos, não terão
interesse em fazer carreira e vão pedir
demissão. “As mulheres devem ter sempre a postura de que são tão competentes
como qualquer outro homem na mesma
posição, sem diferença. Assim os outros
a verão da mesma forma”, argumenta.
Para a pesquisadora Maria Rosa Lombardi, superar esse quadro requer uma
ação conjunta de empresas, trabalhadores
e poder público. Na avaliação dela, ainda
faltam organizações e fóruns que representem e debatam a condição da mulher
no setor industrial. “Precisamos de políticas de estímulo e apoio, que precisam
ser acompanhadas de perto para que o
governo saiba os problemas do cotidiano
do trabalho”, diz.
A especialista cita como iniciativa positiva o Programa Pró-Equidade de Gênero
e Raça, da Secretaria de Políticas para as
Mulheres, ligada à Presidência da República. As empresas que aderem ao projeto
assumem o compromisso de cumprir uma
série de metas relacionadas a recrutamento,
promoções e remuneração de forma mais
igualitária, e, caso cumpram os objetivos,
recebem um certificado do governo federal.
“Em um ambiente corporativo, a mulher
traz uma perspectiva diferenciada”, argumenta Maria Rosa. A engenheira da Bosch
concorda, e completa: “nossa diferença
vem apenas contribuir nas discussões, nas
decisões e na criação do conhecimento.”
26 | VidaBosch |
grandes obras
| Por Vanessa Correia
Mais que um teto
Maximiliano Martins
Projeto imobiliário em Manaus prevê, além de
casas e apartamentos, construção de centros de saúde,
escolas, creches e delegacia
28 | VidaBosch |
M
grandes obras
anaus, sexto município com maior
Produto Interno Bruto no Brasil,
abrigará o maior projeto do programa
habitacional Minha Casa, Minha Vida,
do governo federal. O empreendimento
de casas e apartamentos, chamado Meu
Orgulho, contempla a construção de 8.895
unidades no bairro de Santa Etelvina (zona norte da capital do Amazonas) e é direcionado a famílias cuja renda varia de
0 a 3 salários mínimos.
O investimento previsto é de R$ 468
milhões, com contrapartida de R$ 80 milhões do governo amazonense. Como o
bairro é afastado do Centro, numa região
carente de estrutura, o plano inclui ainda construir centros de saúde, escolas,
creches, delegacias e vias de acesso. “Os
moradores da região terão a oportunidade de viver em um local digno, com
toda a infraestrutura de um bairro”, diz
Paulo Assis, superintendente regional de
incorporação da Direcional Engenharia
em Manaus, responsável pela execução
do projeto.
É um modo de expandir a cidade tentando manter as conquistas das últimas
décadas, quando a taxa de analfabetismo
caiu para menos de 5% e a energia elétrica
foi praticamente universalizada, de acor-
grandes obras | VidaBosch | 29
Desmatamento de 45 mil
hectares para construir o
empreendimento terá como
contrapartida a arborização de
outros pontos de Manaus
do com o Censo 2010. Ao mesmo tempo, o
empreendimento dá respostas a problemas
que ainda desafiam a capital, como acesso a água (31% dos domicílios não estão
ligados à rede de abastecimento) e esgoto
(40% não estão ligados à rede).
A obra será dividida em duas etapas.
A primeira, com 3.511 unidades, tem término previsto para o final de 2011; a segunda etapa está em fase de assinatura
de contrato com a Direcional Engenharia.
“O empreendimento foi dividido em dois
para que o impacto ambiental causado
em Santa Etelvina fosse mínimo”, afirma
a superintendente regional da Caixa Econômica Federal, Noêmia Jacob.
Os imóveis possuem dois quartos, sala, cozinha e banheiro, divididos em 37
metros quadrados, em média. Como em
outros projetos do Minha Casa, Minha Vida, também dispõem de piso cerâmico em
todos os ambientes, azulejo em todas as
paredes da cozinha e do banheiro, portas
com 80 centímetros de largura e janelas
maiores, para melhoria das condições de
iluminação e ventilação, além de aquecedor solar. Mas não para por aí. “O diferencial está na acessibilidade: parte das
casas e dos apartamentos foi adaptada aos
portadores de necessidades especiais e
idosos”, ressalta o diretor presidente da
Superintendência Estadual de Habitação
(Suhab), Sidney de Paula. Essas unidades
receberam rampas, portas largas e banheiros especiais.
O valor ficará entre R$ 39 mil (casa)
e R$ 43 mil (apartamento), e poderá ser
pago em dez anos. A prestação mensal
mínima é de R$ 50, e a máxima equivale
a 10% do preço do imóvel. A prioridade
é dos interessados que ganham menos.
Um dos objetivos do projeto é diminuir a falta de lares no Amazonas, de 176
mil unidades. Ou seja, o programa Meu
Orgulho, quando finalizado, reduzirá em
pouco mais de 5% o déficit habitacional da
região, em linha com o objetivo do governo
federal em relação ao programa nacional.
Outros empreendimentos também estão tentando diminuir esse problema. A
Caixa Econômica Federal contratou R$
200 milhões em financiamento no estado, em 2009, incluindo todas as faixas de
renda. Em 2010, o número subiu para R$
800 milhões, e este ano o total contratado deve superar R$ 1 bilhão, de acordo com a superintendente regional da
instituição financeira. Não é por acaso
que Manaus foi escolhida para sediar o
maior programa do Minha Casa, Minha
Vida: com seus quase 1,8 milhão de habitantes, concentra mais da metade da
população amazonense.
Um dos pontos sensíveis – em especial
tratando-se da Floresta Amazônica – é a
questão ambiental. O projeto Meu Orgulho recebeu autorização dos órgãos do
setor. A área desmatada para construção
do empreendimento, de 45 mil hectares,
será recuperada com a arborização em
outros pontos de Manaus, conforme as
prioridades definidas pela prefeitura. O
próprio empreendimento é bem arborizado. “Quando assinamos o contrato,
deixamos claro que o conjunto precisaria
ter diversas áreas verdes”, diz o diretor
presidente da Suhab.
Para cumprir as exigências, a Direcional contratou técnicos a fim de apontar os
principais riscos e as maneiras de mitigálos. Inicialmente, foi feito o resgate da flo-
ra e fauna da região. “Antes de desmatar
o local do empreendimento, coletamos o
material genético de inúmeras espécies
de árvores e entregamos à Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Sustentabilidade. Passada essa fase, resgatamos os
animais que viviam na região, tais como
bicho preguiça, cobras e calangos”, explica
Antônio de Lima Mesquita, especialista em
meio ambiente, que participou do projeto.
Contenção de encostas e de taludes e
replantio de grama em travessias de igarapés (trecho estreito de rio) também estiveram no topo dos cuidados. Além disso,
a segunda fase do programa, que prevê
a construção de 5.384 unidades, foi deslocada alguns metros do local original
para evitar estragos no meio ambiente.
As entidades envolvidas também se preocuparam com o impacto social causado
nos moradores da região. A comunidade
local foi ouvida, e o principal questionamento era relacionado à infraestrutura. A preocupação é válida: hoje, 40
mil pessoas moram em Santa Etelvina e
esse número deve dobrar ao término da
segunda fase do Meu Orgulho. “O sentimento das pessoas que vivem no entorno
é de retomada da cidadania e melhoria
da qualidade de vida. Quase não há po-
de concreto e pode ser usado para abrir
espaço para a passagem de um cano, por
exemplo. Também é capaz de remover
até 225 quilos de concreto na função de
cinzelamento. Uma outra versão, o GBH
2-24, é usada em trabalhos mais leves,
como na retirada de pequenas rebarbas
e no acabamento.
Já o vibrador de concreto GVC 20 EX é
usado para dar mais consistência ao material, evitando que ele fique com bolhas
de ar. Finalmente, a esmerilhadeira GWE
14-40 dispõe de um disco diamantado
de 7 polegadas que pode ser utilizado
para cortar tijolos, por exemplo, além
de contar com uma empunhadeira que
reduz as vibrações em até 70%, preservando a saúde do operador.
Maximiliano Martins, consultor técnico
comercial da empresa, afirma que a escolha se justifica por uma série de vantagens de um produto da Bosch.
“Além da confiabilidade, contamos com
um prazo de garantia de um ano, com
duas assistências técnicas em Manaus”,
diz, fazendo referência à cidade onde o
Meu Orgulho está sendo construído. Dois
representantes da Bosch acompanham
as obras de perto para prestar o apoio
necessário, fornecendo informações sobre a operação, a conservação e a manutenção das ferramentas.
Meio ambiente
líticas públicas de habitação e qualquer
iniciativa é bem vista”, avalia Mesquita.
Tecnologia
A fim de acelerar a construção do projeto,
a Direcional Engenharia adotou o sistema
de fôrmas para parede de concreto nos empreendimentos econômicos. A tecnologia
existe há mais de 30 anos, mas estava em
desuso em função da falta de demanda e
investimento na construção em larga escala. Trata-se de fôrmas de alumínio que
são montadas e enchidas de concreto. Os
moldes são retirados logo após a secagem
do material e podem ser reutilizados até
mil vezes. A vantagem do sistema, segundo
Assis, é a redução do tempo de construção
e dos custos: 80% e 15%, respectivamente,
em comparação ao sistema convencional,
de tijolos. “Fizemos um projeto similar no
Amazonas, mas com o sistema convencional. Levamos quatro anos para construir
e entregar 3,9 mil unidades.”
Por se tratar de um sistema nunca utilizado no Amazonas, os funcionários tiveram de passar por capacitação. “Em
geral, contratamos pessoas que moram
nas proximidades do bairro Santa Etelvina e que estão perto da obra”, conta o
superintendente regional da construtora.
Maximiliano Martins
As unidades
do projeto Meu
Orgulho terão
aquecimento
solar e
estrutura que
favorece a
iluminação e a
ventilação
Da matéria-prima ao acabamento
Quando se trata de obras que envolvem um projeto social, é fundamental
que elas transcorram sem problemas
ou atrasos. Afinal, existem inúmeras
famílias que aguardam pelo benefício.
Nesse sentido, o uso de ferramentas
confiáveis desempenha papel importante para evitar imprevistos. É o que
acontece no caso do Projeto Meu Orgulho, programa habitacional do governo
do Amazonas que faz uso de uma série
de equipamentos da Bosch.
Um dos produtos usados no local é o
martelo GBH 11 DE, que tem potencial para perfurar até 5,2 centímetros
Arquivo Bosch
A Bosch na sua vida
30 | VidaBosch |
brasil cresce
| Por Manuel Alves Filho
Corrida
pela saúde
Gabi Moisa/Shutterstock
Número de matriculados em academias
no Brasil aumenta 55% em cinco anos.
Tendência é influenciada pela expansão da
“nova classe média”
32 | VidaBosch |
brasil cresce
brasil cresce | VidaBosch | 33
D
ias desses, o ilustrador Stefan Pastorek, 33 anos, foi à farmácia para
comprar um remédio contra a gripe. Ao
passar pela balança estrategicamente colocada à porta do estabelecimento, decidiu conferir o próprio peso. Levou um
susto. O equipamento cravou 110 quilos.
“Ao voltar para casa, comecei a me imaginar dez anos à frente e com 20 quilos a
mais. Resolvi, então, mudar radicalmente
minha alimentação e me matriculei numa
academia de ginástica. Estou firme, mas
ainda tenho medo de sair de casa e ter
uma recaída ao passar diante de uma churrascaria”, conta, em tom bem-humorado.
Assim como Stefan, cada vez mais brasileiros estão aderindo às atividades físicas
orientadas, seja por motivos de saúde,
seja por questões estéticas. Graças a eles,
o Brasil é o segundo país em número de
Fotos Divulgação/Companhia Athletica
O Brasil é o
segundo país
com maior
presença de
academias
(são 18.195),
só atrás
dos Estados
Unidos
Setor, que conta com 5,4 milhões
de alunos, deve faturar R$ 2,2 bi
em 2011, segundo a Associação
Brasileira de Academias
academias no mundo (18.195), perdendo
apenas para os Estados Unidos (29.890).
Os dados do mercado fitness no país
impressionam. De acordo com a Associação Brasileira de Academias (Acad), o setor conta hoje com 5,4 milhões de alunos
matriculados, contingente 55% superior
ao registrado em 2006 e que equivale a
duas vezes a população de Fortaleza. Juntos, eles devem deixar este ano nos caixas
dos estabelecimentos algo como R$ 2,2
bilhões. “E ainda há muito espaço para
crescimento. No Brasil, apenas 3% da população realiza exercícios físicos orientados. Nos Estados Unidos, esse índice é
de 14%”, aponta o presidente da entidade, Kleber Pereira. A avaliação dele está
baseada em fatores e tendências verificados tanto interna quanto externamente.
No âmbito nacional, a ampliação do poder aquisitivo da classe média, que também
cresceu em tamanho, favoreceu e deve
continuar fomentando o ingresso de novos alunos nas academias de ginástica.
Além disso, avança no país, ainda que a
passos lentos, a percepção das pessoas
de que praticar atividades físicas previne o surgimento de doenças e melhora a
qualidade de vida. “Nesse sentido, a mídia tem feito um bom trabalho para conscientizar a população. Em média, a cada
quatro edições a revista Veja, por exemplo, publica uma matéria sobre saúde, e
a questão dos exercícios físicos sempre
é destacada. A Rede Globo incluiu recen-
temente na sua programação matinal um
programa sobre bem-estar pessoal, o que
sempre estimula as pessoas a abandonarem o sedentarismo”, avalia.
Além disso, o Brasil sediará dois eventos esportivos de amplitude mundial, a
Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas
de 2016. Na avaliação de Kleber Pereira,
ambos devem ajudar a incrementar ainda
mais o mercado fitness brasileiro. “Estimular a população a praticar mais esporte e atividades físicas é um dos legados
mais importantes que esperamos que as
duas competições nos deixem”, adianta
o presidente da Acad.
Outro fator que deve estimular o brasileiro a sair da inércia é a possível concessão, por parte das operadoras de planos
de saúde, de descontos para os usuários
que comprovem estar matriculados e fre-
quentando academias de ginástica.
De acordo com Edward Bilton, diretor
da academia Companhia Athletica, unidade
de Campinas (SP), a experiência já é adotada com sucesso em outros países. Há um
projeto de lei tramitando no Congresso
que propõe o mesmo procedimento no
Brasil. “Acho a iniciativa importante. Está
provado cientificamente: quem faz atividade física de forma contínua e orientada
adoece menos”, considera. Bilton ressalta
que os bons resultados alcançados pelo
segmento no Brasil não caíram do céu,
precipitados apenas pela conjugação de
fatores favoráveis. Ele assegura que os
empresários do setor também criaram
alternativas para aumentar a clientela.
Uma das ações adotadas pelas academias foi a exploração de novos nichos de
mercado. Assim, surgiram unidades es-
pecializadas no atendimento específico
de mulheres ou de pessoas acima dos 40
anos, apenas para ficar nos dois exemplos
mais visíveis.
Na própria cidade de Campinas, distante 100 quilômetros de São Paulo, o fisioterapeuta e empresário Luis Gustavo
Lopes, que já atuava no ramo, abriu há
três anos a Academia 40+, especializada
no atendimento de pessoas, digamos, mais
maduras. A aceitação foi tão grande que
atualmente a marca já soma quatro unidades. “Eu sempre notei que as pessoas
mais velhas não se sentiam tão à vontade
nas academias convencionais. A comunicação entre elas e os adolescentes não
é fácil, e muitos idosos reclamavam da
música alta. Foi aí que percebi a oportunidade de oferecer um serviço para esse
público”, relata.
34 | VidaBosch |
brasil cresce
brasil cresce | VidaBosch | 35
Divulgação/Competition
Na 40+, os usuários fazem aulas agendadas, contam com um atendimento personalizado por parte dos instrutores e não
têm que dividir equipamentos com outros
alunos. “Assim, eles se sentem muito mais
à vontade”, atesta. Ele aposta que ainda
existem outros nichos a serem explorados
pelo setor no Brasil. Um deles, no qual a
Companhia Athletica já ingressou, é a administração de espaços fitness instalados
em condomínios residenciais de alto padrão. “Os moradores preferem deixar esse
ambiente aos cuidados de profissionais
reconhecidamente capacitados, pois sabem que poderão contar com um serviço
de qualidade”, explica.
Qualidade, aliás, é um dado que preocupa
tanto consumidores quanto empresários
do segmento. É que, no boom experimentado pelo mercado nos últimos anos, alguns
“aventureiros” aproveitaram para surfar a
boa onda. Assim, surgiram academias que
passaram a atuar sem o suporte de profissionais qualificados, principalmente edu-
Antes de se matricular, certifiquese de que o estabelecimento é
credenciado ao Conselho Regional
de Educação Física, que exige que
os monitores sejam graduados
cadores físicos. Outras colocam à disposição dos alunos equipamentos inadequados
ou defasados. Uma possível consequência
dessas irregularidades e deficiências é a
prescrição de exercícios físicos impróprios
aos alunos, que podem acarretar lesões
de diversas ordens. “Esse é um problema
real, mas felizmente limitado. A grande
maioria das academias atua de forma séria e responsável”, alega Kleber Pereira,
presidente da Acad.
Bilton dá a dica de como escolher uma
boa academia. Segundo ele, é indispensável que a empresa seja credenciada junto
ao Conselho Regional de Educação Física (Cref). Isso garante que os profissionais contratados são mesmo graduados.
“Além disso, o ideal é que o interessado
faça uma visita à academia e peça referências para os alunos. Também é bom que
ele preste atenção aos equipamentos. Se
eles apresentarem danos ou sinais evidentes de desgaste, é melhor optar por
outra”, aconselha.
O estudante de Análise e Desenvolvimento
de Sistemas Caio Jeronimo Tavares, de 21
anos, agiu exatamente assim. Morador de
São Bernardo do Campo (SP), escolheu a
academia depois de se informar com amigos e de visitar a unidade de sua preferência. E o que o levou a praticar atividades
físicas? “Resolvi mudar meus hábitos, a
começar por fazer exercícios regularmente. Agora, procuro manter rigorosamente
uma alimentação natural com verduras,
legumes, produtos integrais, azeite, frutas e castanhas. Meu objetivo é manter a
mente e o corpo em equilíbrio.” Se cada
vez mais pessoas agirem assim, não será
surpresa se o Brasil começar a encurtar
a diferença com os norte-americanos no
rentável mercado da malhação.
A Bosch na sua vida
Potência para ficar em forma
Para acompanhar o aumento no número das matrículas, as
academias precisam investir em equipamentos de qualidade. As esteiras, um dos aparelhos mais procurados pelos
alunos, são reforçadas pelo motorredutor tipo CEP 310,
dispositivo que altera a inclinação da máquina, simulando
subidas ou descidas de ladeiras, explica a consultora de
vendas da área de negócios industriais da Bosch, Dulcineia Soares.
O motor, desenvolvido originalmente para movimentar os
limpadores de para-brisas dos veículos, destaca-se por seu
torque, afirma a especialista. “Ele não tem restrição a peso
e pode ser instalado em qualquer esteira”, complementa.
“Quando estamos usando a esteira na posição horizontal,
é como se estivéssemos correndo em uma rua reta. Ao
incliná-la, passamos a correr como se estivéssemos em
uma ladeira”, explica Dulcineia. Esse movimento é gerado
por um atuador linear localizado sob a esteira, na parte da
frente. E é aí que fica o motorredutor.
O dispositivo tem baixo consumo de eletricidade e longa
vida útil – normalmente maior que a da própria esteira.
“Além disso, ele é bem compacto [possui 12 centímetros]
Arquivo Bosch
Robert Kneschke/Shutterstock
Setor tem crescido e se diversificado: há centros de fitness exclusivos para mulheres e pessoas com mais de 40 anos
e cabe em qualquer dispositivo”, ressalta Dulcineia. A versatilidade desse sistema pode ser atestada por suas diversas
aplicações. Além da utilização em esteiras e no para-brisas
do carro, ele é aplicado também em cadeiras de dentistas
e camas hospitalares.
atitude cidadã
| Por Ana Barbosa
Emese/Shutterstock
36 | VidaBosch |
Aprender brincando
“A
gente vai parar de brincar?” É com
essa pergunta que muitos pais e
professores se deparam quando a criança descobre que vai sair do ensino infantil
e iniciar o primeiro ano do fundamental.
A nova fase representa um grau maior de
exigência: as aulas têm foco na alfabetiza-
ção e nos primeiros fundamentos da matemática, e muitas escolas deixam de lado
o aprendizado lúdico.
Em vários casos, o pequeno aluno ainda
precisa deixar a escola em que está para
começar o primeiro ano em outro local. Isso
tende a ser acompanhado da inseguran-
ça de perder os amigos e professores com
quem foram dados os primeiros passos no
aprendizado da convivência fora de casa.
Iniciar a transição para a nova fase ainda no último ano do ensino infantil ajuda a
tornar esse processo mais natural, aconselha a psicóloga Cisele Ortiz, coordenadora
Para atender às necessidades da criança que chega ao primeiro ano, escolas devem
ensinar o conteúdo e a convivência sem esquecer a brincadeira
adjunta do Instituto Avisa Lá, que trabalha
com formação de professores. “Conhecer
a nova escola antes, tomar um lanche com
os alunos do primeiro ano para eles contarem um pouco da sua rotina, conhecer
os professores, o espaço – tudo isso ajuda
a criança a se acostumar”, diz.
Para a escola que vai receber os pequenos, uma boa forma de conquistá-los
é desvencilhar-se do modelo tradicional
de ensino – justamente aquele que traz a
ideia de que a criança não vai mais brincar.
“A escola deveria ficar mais parecida com
a pré-escola. Deveria mudar para atender
às necessidades dos mais novos. Você não
precisa, por exemplo, ter uma aula de português ou de matemática. Pode trabalhar
esses conteúdos de forma mais integrada”,
propõe Cisele.
As diferentes disciplinas podem ser
abordadas em um projeto que as contex-
tualize. Num ano de Copa do Mundo ou
Olimpíada, por exemplo, é possível usar
esse tema para falar sobre os países – aprofundando assuntos de história e geografia –, trabalhar conteúdos de matemática
a partir da contagem de pontos e tabelas
do campeonato, e assim por diante.
Além disso, promover atividades que valorizem o conhecimento de outras crianças
e façam com que elas trabalhem em grupo
ajuda a reforçar valores importantes para
a socialização. “No ensino fundamental, a
criança fica em carteiras enfileiradas. Esse formato não agrega – segrega. Em vez
disso, o professor pode promover rodas
de conversa, jogos de tabuleiros e rodas
de leitura, por exemplo. É ali que a criança vai construir a ética da convivência”,
afirma a psicóloga.
Com quantos anos?
Na escola, a criança desenvolve suas habilidades, aprende a conviver com colegas, a
diferenciar o certo do errado e a respeitar
regras fora de casa. No ensino fundamental, isso fica mais evidente. Por isso, Cisele
Ortiz afirma que professores e funcionários devem estar atentos a suas atitudes –
elas serão exemplo de socialização para
as crianças. “Não pode ter só normas. A
postura dos educadores é fundamental.
A criança vai tratar seus colegas da maneira como é tratada pelos adultos. Não
adianta pedir respeito se ela não vê isso
entre os adultos.”
O aprendizado com os professores não
substitui, claro, os laços dos pequenos com
os pais – para aprender a conviver bem
com os amigos, a criança deve se socializar
antes com a família, ressalta Saul Cypel,
professor de neurologia infantil da USP e
consultor do programa de desenvolvimento da primeira infância da Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal. “A escola tem um
papel complementar no desenvolvimento
da criança, não substitui a relação com os
pais.” Para ele, o ideal é que a criança vá
um pouco mais velha para o ensino infantil, ao menos após o primeiro ano de vida.
Essa foi a opção da professora e artista plástica Dagmar Maria Gomes da Silva.
Seus filhos – Henrique, hoje com 10 anos, e
Victor, de 5, entraram na pré-escola com 5
atitude cidadã | VidaBosch | 39
Se a criança aprende a ler e a
escrever mais cedo, naturalmente,
não há problema. Mas forçá-la
a se alfabetizar aos 3 ou 4 anos
pode ser prejudicial para seu
desenvolvimento
e 4 anos, respectivamente. “Eu queria uma
coisa mais livre. Sou professora e sei como o professor do magistério pensa, e não
queria essa coisa muito regrada tão cedo”,
afirma. “O professor às vezes prefere que a
criança fique quieta. É difícil para ele também, que muitas vezes precisa cuidar de
vários alunos muito pequenos”, explica.
Para ela, isso não atrapalhou a socialização dos filhos, que se adaptaram bem
quando chegaram à pré-escola. “Eu tinha
tempo para eles em casa, ensinava a reconhecer as letras, algumas palavras. E eles
faziam essa socialização em outros lugares. Se relacionavam com outras crianças
e tinham a babá. Quando chegaram à escola, se integraram rapidamente”, recorda.
Diferentemente de Dagmar, a atriz Elaine
da Purificação Carvalho colocou os filhos
cedo na escolinha, por falta de tempo. Para
ela, o resultado foi positivo. Seu filho Vinícius, de 4 anos, que entrou no infantil com
7 meses, aprendeu a respeitar melhor as
regras, por exemplo. “O Vinícius nunca teve
dificuldade de se socializar, mas o fato de
respeitar regras atribuo à escola, porque
em casa sempre foi difícil. E ele trouxe isso
para o lar”, diz.
A irmã mais velha de Vinícius, Ana Luíza,
hoje com 9 anos, também foi para a escola
cedo – com cinco meses. “Ela adquiriu rapidamente a coordenação motora, aprendeu
rápido a andar, acho que em função de ver
maiores andando. Nunca teve dificuldade
em falar corretamente, comer sozinha, se
expressar, verbalizar seus sentimentos. E
aprendeu a ler precocemente: com quatro
anos, era autodidata”, conta a mãe.
Aprendizado precoce
Durante seu desenvolvimento, a criança vai
adquirindo habilidades mais complexas. É
no primeiro ano do ensino fundamental,
por exemplo, entre 6 e 7 anos, que a maioria
dos pequenos aprende a ler e a escrever.
Em alguns casos, a criança acaba adquirindo essa habilidade antes, naturalmente, como aconteceu com Ana Luíza,
filha da Elaine. Muitas vezes, porém, isso
ocorre de forma forçada, o que é prejudicial. “Essas habilidades estão de acordo
com uma maturação cerebral. Se o aprendizado precoce for natural, é bem-vindo,
mas é muito importante que a escola tenha
consciência disso. Iniciar a alfabetização
da criança com 3, 4 anos é muito inconveniente”, afirma Saul Cypel.
Ele argumenta que, além de a escrita
não ter muita utilidade para uma criança
dessa idade, o grande esforço despendido
para aprender a escrever e o sentimento de
fracasso caso não consiga são prejudiciais
para seu desenvolvimento. “Essas vivências precoces vão prejudicar sua autoestima, além de desencadear sentimentos
de ansiedade e depreciação, o que pode
dificultar seu desenvolvimento emocional”, adverte.
Portanto, nada de acabar com as brincadeiras antes da hora. E, de preferência,
ensinar o conteúdo brincando.
Anatoliy Samara
atitude cidadã
O professor
pode promover
rodas de
conversa, de
leitura e jogos
de tabuleiro.
Essas
atividades
ajudam a
ensinar
convivência
A Bosch na sua vida
Fotos Arquivo Bosch
38 | VidaBosch |
Salas do jeito que elas gostam
Um ambiente criado para estimular as
brincadeiras e a imaginação facilita a transição da escolinha para o ensino fundamental. Somado a um projeto pedagógico
diferente, pode trazer ótimos resultados.
É o caso da Escola Estadual Rosina Frazatto dos Santos, no bairro Jardim Satélite Iris, periferia de Campinas. No projeto
Doces Cantinhos, realizado com o Instituto Robert Bosch através do Programa
Peça por Peça, duas salas de aula foram
reformadas e preparadas para receber, a
partir de 2011, crianças vindas da creche
para o 1° ano do fundamental. Em cada
uma delas estudam 35 alunos por período,
totalizando 140. “Buscamos replicar nessa escola o sucesso alcançado em outras
comunidades onde desenvolvemos o Peça
por Peça há mais de dez anos”, diz Otavio
Antoniacci Junior, coordenador do instituto.
“A ideia é tornar o ambiente receptivo
para as crianças, para que elas possam
se desenvolver de maneira estimulante”,
diz a diretora da escola, Maria Laedna
Borges Silva. “A adaptação da sala de
aula é muito importante. Agora, elas se
sentem donas do espaço. Antes, parecia
que nada era para elas, era tudo feito para
o aluno mais velho”, comenta.
Os móveis das salas não tinham tamanho
adequado para crianças pequenas (as cadeiras eram altas, os pés dos alunos não
alcançavam o chão). Comprou-se, então,
mobiliário apropriado à faixa etária. Também foram colocadas lousas baixas, para
que os alunos pudessem rabiscá-la.
A reforma priorizou cores claras, a fim de
estimular a sensação de tranquilidade. O
piso tradicional foi substituído por um
emborrachado e todo desenhado. “Eles
se encantaram. Na primeira semana, dei-
tavam no chão e brincavam”, conta Maria
Laedna. Também foram comprados materiais lúdicos, como brinquedos e fantasias.
O espaço foi dividido em “cantinhos” para
diversas disciplinas. No “cantinho” de matemática, há jogos de dominó e memória,
por exemplo. No de história e geografia,
os destaques são os mapas. Já no da
psicomotricidade, estão dispostos objetos que estimulam a capacidade motora.
Apesar de o ano letivo ainda não ter terminado, já é possível ver resultados positivos na aprendizagem, segundo a diretora. Os professores notaram que as
turmas evoluíram mais rapidamente no
processo de alfabetização. Além disso, a
rejeição à escola – muito comum no primeiro ano, principalmente no começo das
aulas – durou menos tempo. Os docentes
também observaram que os estudantes
estão mais colaborativos.
40 | VidaBosch |
aquilo deu nisso
Das fibras ao PET
| Por Heloísa Noronha
Produção têxtil no Brasil começou, a rigor, com o
artesanato dos indígenas, mas profissionalizou-se ao
longo dos séculos e hoje está mais ligada às tendências
mundiais, como uso de material reciclado
Nuttakit /Shutterstock
“Q
uando o português chegou/ Debaixo
duma bruta chuva/ Vestiu o índio”,
escreve Oswald de Andrade num bem humorado poema sobre o descobrimento do
Brasil. “Que pena! Fosse uma manhã de sol/
O índio tinha despido/ O português”, continua. Ainda que os versos ecoem a carta
de Pero Vaz de Caminha (segundo o qual
índios e índias andavam “nus, sem cobertura alguma”), a verdade é que antes da
ocupação lusitana os indígenas já faziam
artesanato têxtil – usavam técnicas de entrelaçamento manual de fibras vegetais,
por exemplo.
E, embora a chegada dos portugueses
tenha aumentado a diversidade de tecidos,
foi só bem depois deles que o setor ganhou
mais força por aqui. A consolidação ocorreu no século 20, sobretudo após a segunda
metade dos anos 50, quando se pode de
fato falar de profissionalização nessa área.
Tratava-se, então, de lidar não só com os
materiais tradicionais (algodão, linho, lã,
seda), mas também com os sintéticos, como náilon, viscose e, mais tarde, poliéster.
“No início dos anos 60, a indústria precisava dar suporte à crescente necessidade
de engenheiros especializados no setor
têxtil. Para suprir essa necessidade, os
líderes empresariais propuseram algumas medidas, como uma formação mais
especializada do pessoal técnico”, conta
Camilla Borelli, coordenadora do Curso de
Engenharia Têxtil do Centro Universitário
da Fundação Educacional Inaciana (FEI),
de São Bernardo do Campo (SP).
Nos anos 70, as exportações têxteis
cresceram, fato que não se repetiu nas décadas seguintes. De acordo com Vanessa
Akemi, designer e consultora de moda e
estilo, ainda vivemos o reflexo da década
de 90, quando se abriu o mercado para
concorrentes externos, o que resultou na
quebra de algumas empresas nacionais.
“Em contrapartida, o setor foi obrigado
a se modernizar fortemente para reduzir
os custos e competir com os importados.”
As empresas sobreviventes se fortaleceram tecnologicamente e hoje se mantêm
mais atualizadas com as tendências internacionais (quando não ditam, elas próprias,
os rumos de alguns nichos de mercado).
Sustentabilidade
Uma dessas tendências é a adoção de matéria-prima ecologicamente correta. “É
primordial que a humanidade encontre
novas maneiras de se manter e sem agredir a natureza, o que vale também para a
moda”, resume Vanessa. Isso se reflete no
uso mais frequente de materiais orgânicos,
livres de processos químicos, sintéticos e
tecnologias que incorporam materiais artificiais. “Há, ainda, a tendência recycled,
como o tecido de grandes malharias brasileiras que é feito de garrafas PET recicladas”, acrescenta a designer, que cita
ainda o retorno das transparências e dos
tecidos fluidos e rústicos como sintomas
desse apelo sustentável.
Um caso emblemático é o da seleção
brasileira. Nas partidas da Copa da África
do Sul, em 2010, a famosa camiseta amarela
com que os jogadores entram em campo
foi feita com poliéster proveniente de velhas garrafas PET. O uniforme ecológico
também foi usado pelos atletas de Portugal, Holanda, EUA, Coreia do Sul, Austrália,
aquilo deu nisso
aquilo deu nisso | VidaBosch | 43
Mowa Press/CBF
As roupas feitas para a área de
fitness incorporam avanços como
tecidos que facilitam a evaporação
do suor, minimizam o cansaço e dão
mais liberdade de movimento
Nova Zelândia, Sérvia e Eslovênia. Para
confeccionar cada camiseta são usados
entre cinco e oito vasilhames de plástico.
Funcionais e inteligentes
Século 19
O jeans tinha cor marrom e era usado
por funcionários das minas. Foi popularizado pelo alemão Lévi-Strauss, que
migrou para a Califórnia em busca de
ouro e transformou rolos de lona em
macacões e calças para os garimpeiros.
Nascia a futura Levi’s. Em 1888, o britânico Thomas Burberry lançou a gabardine impermeável, própria para soldados.
Início do século 20
O costureiro francês Paul Poiret liberou
as mulheres dos incômodos espartilhos
e anquinhas ao propor vestidos mais soltos, que deixavam ver melhor o corpo.
1910
A invenção do raiom (seda artificial) e,
mais tarde, do acetato deram nova perspectiva à moda da época.
Na Copa da África do Sul, o Brasil e outras oito seleções entraram em campo com
camisetas feitas de garrafas PET, uma tendência que vem crescendo no setor
Segunda Guerra Mundial
A escassez de tecido, em razão do conflito
na Europa, levou a população francesa a
adotar o hábito de reformar roupas. Surge o esquema ready-to-wear (pronto para
usar), que é a forma de produzir roupas
em grande escala.
1935
Surge o náilon, a primeira fibra sintética,
como uma alternativa à seda natural. As
famosas meias finas, porém, só foram produzidas em 1940.
1947
O francês Christian Dior (1905-1957) causa
frisson ao lançar uma coleção inteira com
saias rodadas e compridas. O New Look,
como foi chamado, era uma resposta luxuosa aos anos de minimalismo obrigatório
durante a guerra.
1959
Surge a lycra, empregada primeiramente em biquínis. Nos anos 60, o material
ficou associado ao movimento feminista por oferecer conforto, liberdade e
praticidade.
1990
Época de ouro dos tecidos sintéticos, mas
com maior conforto, como a microfibra.
Anos 2000
É a era dos tecidos inteligentes e funcionais, com propriedades como defender
contra os raios ultravioleta, combater
a transpiração e secar rapidamente.
A década também se caracteriza pelo
apelo à sustentabilidade, com roupas
feitas de tecidos naturais, por processos que não causam danos ao meio
ambiente.
A Bosch na sua vida
PHB.cz/Richard Semik
Outro destaque atual são os tecidos “inteligentes”, também chamados de funcionais
– que oferecem um “algo a mais”, muitas
vezes uma função especial. “Esse tipo de
tecido configura a principal tendência para os próximos anos e também é o que o
consumidor deseja”, diz Camilla Borelli.
Um dos exemplos de mais sucesso vem
do setor de fitness, com o desenvolvimento
de tecidos que facilitam a evaporação do
suor, evitam a fadiga muscular e permitem
maior liberdade de movimentos. Há ainda
materiais antibacterianos e antifúngicos,
que diminuem a proliferação de microorganismos que causam mau cheiro após
a prática de exercício. Outras aplicações
interessantes aparecem nos segmentos
médico-hospitalar, técnicos e de segurança (colete à prova de balas, trajes de
bombeiros etc.).
Como o consumidor também deseja aliar
moda a bem-estar, as roupas funcionais
logo vão deixar de ser característica predominante apenas em ramos específicos,
acredita Silvio Napoli, gerente de desenvolvimento da Associação Brasileira da
Indústria Têxtil e de Confecção (Abit).
Ele cita como exemplos os tecidos que
protegem a pele contra a ação dos raios
ultravioleta, os repelentes e os de secagem rápida. “O consumidor quer tecidos
com bom caimento no corpo, confortáveis,
de toque agradável, que não prendam os
movimentos, não marquem gordurinhas
indesejáveis nem deixem aparente sua
transpiração”, completa Vanessa Akemi.
É um sinal claro de um setor cada vez
mais profissionalizado, que detecta as demandas da sociedade e tenta, com pesquisa
tecnológica, responder às necessidades
dos consumidores.
Principais momentos da história dos tecidos
Para todas as roupas
Se hoje temos à disposição nos guardaroupas peças feitas com tecidos cada vez
mais leves, resistentes e ecologicamente
corretos, isso se deve aos avanços da indústria têxtil. E os sistemas da Rexroth
estão presentes em várias etapas desse
setor – desde a preparação do algodão
ou da fibra sintética, no momento da fiação, até a composição das bases dos
produtos têxteis (fitas, cardas e véus).
Dentre os equipamentos da empresa
para a área destaca-se a linha pneumática, usada desde nas etapas iniciais de
obtenção dos fios derivados da matériaprima, até nas etapas finais de processamento, como tingimento de tecidos
ou costura de produtos acabados. Ela
inclui válvulas proporcionais de pressão,
unidades de preparação de ar, tubos e
acessórios. Já a linha de acionamentos
lineares conta com eixos de precisão,
rolamentos, trilhos e guias.
“Desde a preparação do algodão para
camisetas coloridas até as peças finalizadas, nossos equipamentos eletrônicos e
pneumáticos controlam, regulam, ajustam
e atuam exatamente conforme a necessidade de produção de cada cliente”, diz
Alexandre Wittwer, gerente responsável
pelos mercados de montagem, semicon,
solar e máquinas e ferramentas automobilísticas da Bosch Rexroth.
Uma das vantagens dos sistemas fabricados
pela empresa é a produtividade, aliada a
uma tecnologia que protege os produtos
contra graxa, óleo e outras substâncias.
Os sistemas da Bosch Rexroth disponíveis para o mercado brasileiro chegam
a processar até mil metros de fitas por
minuto, e, na abertura de fardos de algodão, eles trabalham com até 1,5 mil
quilos de material por hora.
“O Brasil possui poucos fabricantes de
Arquivo Bosch
42 | VidaBosch |
máquina têxtil, porém, conta com um
mercado consumidor de excelente potencial, de modo que permanecemos
atentos à melhora de condição para este setor da indústria”, afirma Wittwer.
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saudável e gostoso
| Por Walterson Sardenberg So
café
o estimulante do dia a dia
Até cinco xícaras diárias pequenas fazem bem à circulação e à atividade cerebral
Olga Miltsova/Shutterstock
N
os Estados Unidos, a primeira refeição do dia é conhecida por breakfast
— uma “pausa rápida”, em tradução livre.
Nos países de língua espanhola, ela tornouse o desayuno — a palavra equivalente ao
nosso desjejum. Já em Portugal e na França, é o pequeno almoço, o petit déjeuner.
Apenas no Brasil ela passou a ser tratada
por café da manhã. Essa expressão única
demonstra, talvez como nenhuma outra,
a importância, por estas bandas, do delicioso grão torrado, de origem etíope. Ao
menos deixa a entender que haverá outros cafezinhos no decorrer do dia, sendo
aquele reservado ao desjejum apenas o
primeiro deles.
O Brasil consome 430 milhões de cafezinhos por dia. Com pão ou sem pão, no lar ou
no bar, preto ou, vá lá, uma boa média que
não seja requentada, como diria o grande
Noel Rosa. Só os norte-americanos tomam
ainda mais café — se é que aquele caldo
ralinho bebido por eles, em descomunais
copos de plástico, pode ser chamado assim. Os mais espirituosos apelidaram essa
bebida de “chafé”. Mas a maior diferença
em relação aos Estados Unidos é que, ao
contrário do que ocorreu por lá, a nossa
planta querida, pertencente à família botânica das rubiácias, se deu muito bem no
solo tropical. Ainda hoje, cultivamos 57 %
da produção do globo. Mas no início não
foi assim, faça-se a ressalva.
Quando o sargento-mór Francisco de
Melo Palheta trouxe as primeiras mudas
para o Brasil, vindas da Guiana Francesa,
não mereceu maiores glórias, fossem militares ou civis. Afinal, a primeira tentativa de plantar o café no país — nas terras
no Pará —, naquele ano de 1727, não deu
certo. Também foi frustrante o cultivo no
Nordeste. Só mesmo no século seguinte,
quando o café passou a ser cultivado nos
estados do Rio de Janeiro e, sobretudo,
São Paulo, a coisa engrenou. A rubiácia
foi não apenas a salvação da lavoura como a da economia nacional. Em meados
do século 19, graças ao café, a cidade de
Bananal — hoje com míseros 11 mil moradores — tinha a maior receita do estado de
São Paulo, 35% superior à da capital. De tão
poderosa, cunhava a sua própria moeda.
O supremo poder político do café, mais
tarde aliado ao leite de Minas Gerais, durou
até 1930, quando a chamada Velha República sucumbiu, no rastro do declínio dos
EUA, nosso maior comprador do produto. Àquela altura, já havíamos ensinado os
portugueses a tomar um cafezinho — que
eles, por sinal, chamam de bica. Entre as
diversas explicações para o batismo dado
pelos lusitanos está a folclórica história de
que os moradores de Lisboa resistiram muito à novidade. Pudera: bebiam o café sem
adoçar. Bica, de acordo com essa versão,
seria a soma das iniciais de um cartaz exposto no Café A Brasileira, aberto em 1905
e ainda de pé, no bairro lisboeta do Chiado.
Eis os dizeres: “Beba Isto Com Açúcar”.
Será? Não parece razoável. Mas também não parecia provável que o próprio
Brasil encampasse uma campanha contra
uma bebida tão enfronhada no nosso cotidiano. Café faz mal para a saúde? — eis a
questão. Segundo médicos e nutricionis-
saudável e gostoso
tas, a resposta passa, fundamentalmente,
pela quantidade diária ingerida.
“Um adulto saudável pode tomar, no
máximo, cinco cafezinhos por dia, o que
equivale a 300 ml”, afirma Tadeu Orlando
Franconieri, médico gastroentorologista
do Hospital Samaritano de São Paulo. Segundo ele, até esse volume, os benefícios
causados pela cafeína — o alcaloide que
funciona como princípio ativo do café —
superam os malefícios. Daí por diante, os
pesos se alteram.
Cafeína é a palavra-chave quando se fala
em café. Também pudera. “A maior parte
da riqueza nutritiva do café se perde na
torrefação”, explica Rejane Guedes Pedroza, nutricionista da Secretaria Estadual de
Saúde do Rio Grande do Norte e doutoranda em Ciências Sociais. “Em compensação,
a cafeína se concentra, aumentando suas
propriedades.”
Isso quer dizer que esse alcaloide agirá
no sistema circulatório, como vasodilatador,
e, sobretudo, no sistema nervoso central,
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como estimulante, aumentando a sensação
de disposição, melhorando o humor e a
atividade cerebral. Segundo Rejane Pedroza, pesquisas revelam que o consumo
regular de até quatro cafezinhos diários
pode produzir um efeito benéfico sobre
estados de indisposição, desvitalização e
apatia. Quantidades maiores, no entanto,
ainda de acordo com a nutricionista, são
capazes de agravar a gastrite, a úlcera e a
esofagite. Além disso, levam à insônia, à
irritação e à taquicardia.
Como em tudo na vida, o bom senso é
a medida. Franconieri lembra que a cafeína vem sendo utilizada no tratamento de asma e mal de Parkinson. “Ela libera neurotransmissores e catecolaminas
que são broncodilatadores”, justifica. O
médico alerta, porém, para outro efeito
do excesso de cafeína: “ela leva a urinar
mais do que o recomendável, provocando perda de cálcio, potássio e vitaminas,
por exemplo. Isso pode provocar sensação de fraqueza”.
Embora sejamos os vice-campeões
mundiais em consumo de café, pouco utilizamos o produto na confecção de doces.
“Há uma rejeição muito grande”, atesta a
premiada chef Heloisa Bacellar, autora de
livros bem sucedidos, como Cozinhando
Para Amigos (Dorea Books) e Entre Panelas
e Tigelas (DBA). No seu restaurante paulistano Lá na Venda, apenas de maneira
eventual, ela inclui no cardápio pratos baseados em café. “Você precisa convencer
as pessoas a experimentar”, diz. “Mas,
depois, é comum o doce feito com café
ganhar mais um fã.”
Dentre as receitas baseadas em café,
Heloisa destaca duas: o cookie e o pudim
de café com leite. Tanto uma como outra
exigiram da chef um longo aprimoramento. “Precisei elaborar um processo que
concentrasse o sabor do café”, conta. No
final das contas, criou duas delícias, que,
por sinal, caem muito bem no breakfast,
no desayuno, no pequeno almoço. Ou melhor, no brasileiríssimo café da manhã.
Gostoso por mais tempo
Antes de você provar o sabor do cafezinho em sua xícara, há um grande
trabalho que envolve plantio, colheita,
processamento dos grãos e a distribuição aos supermercados, padarias e lanchonetes. Nesse circuito, a embalagem
tem papel fundamental – é responsável
por manter as propriedades e a qualidade do produto até a chegada ao consumidor final.
E aí é que entram as empacotadoras
da Bosch modelos PKD, PKS e PME,
por exemplo. Fabricadas na Alemanha
e exportadas para vários países, estão
presentes também nas principais torrefações do Brasil. Esses equipamentos
embalam o produto a vácuo, prolongando seu prazo de validade para até
18 meses.
“Após a dosagem do café, bombas de
vácuo extraem o ar dos pacotes, que,
depois de selados, apresentam baixo residual de oxigênio, protegendo o produto
contra a oxidação”, explica Fabio Pozzi,
gerente regional de vendas da Bosch.
O modelo de maior rendimento é a
PKD, que embala até 120 pacotes por
minuto, enquanto os modelos PKS e
PME podem chegar a até 60 e 20 pacotes por minuto, respectivamente, para
pacotes com 500 gramas.
Outro modelo, a SVI (foto), fabricada
no Brasil, produz embalagens convencionais com rendimento de até 70 pacotes de 500 gramas por minuto, ou até
90 pacotes de 250 gramas por minuto.
Trata-se de uma máquina flexível, que se
adapta a diferentes tipos de dosadores,
como balanças de múltiplos cabeçotes,
possibilitando a pesagem e o empacotamento de produtos granulados (biscoitos, balas e salgadinhos) e volumétricos
(para sabão em pó, açúcar, cereais etc.).
Arquivo Bosch
A Bosch na sua vida
“Além de versáteis as máquinas da Bosch são extremamente robustas. Podem
ser operadas em turnos de 24 horas,
com altos índices de eficiência, reduzindo as perdas de material de embalagem e, consequentemente, de energia”, afirma Pozzi.
Cookies de café
Para a massa
1 xícaras (chá) de café bem forte
1 ¾ de xícara (chá) de farinha de trigo
1/2 xícara (chá) de açúcar
1/4 colher (chá) de fermento em pó
1 pitada de sal
100 g de manteiga gelada em cubinhos
2 gemas
Para os grãos
30 grãos torrados de café (aproximadamente
1 colher (sopa) bem cheia)
100 g de chocolate meio amargo
Aqueça o café numa panela média e mantenha em fogo alto até reduzir a 1/4 de xícara
de um café bem encorpado. Deixe esfriar.
Numa tigela grande, misture a farinha, o
açúcar, o fermento, o sal, junte a manteiga
e esfarele com a ponta dos dedos até obter
uma farofa. Acrescente as gemas, o café e
trabalhe até obter uma massa macia e que
descole das mãos (junte mais um pouquinho
de farinha se for preciso). Molde um cilindro
de uns 2 cm de diâmetro, envolva em filme
plástico e leve à geladeira por 30 minutos.
Enquanto isso, forre uma assadeira grande
com papel manteiga ou separe um tapete
de silicone. Derreta o chocolate em banhomaria, ou no micro-ondas por 1 a 2 minutos.
Com um garfo, mergulhe 1 grão de café por
vez no chocolate, deixe escorrer, coloque
na assadeira e deixe firmar na geladeira
por 15 minutos.
Corte o cilindro de massa em discos de
mais ou menos 1 cm, espalhe numa assadeira grande mantendo um espaço livre
entre eles e leve à geladeira por mais 15
minutos, enquanto o forno aquece a 180 ºC
(médio). Coloque 1 grão de café no centro
de cada biscoito e asse por uns 20 minutos,
até que estejam bem dourados nas bordas
(eles saem do forno ainda macios, mas ficam crocantes quando esfriam). Aguarde
uns 5 minutos, solte os biscoitos da assadeira com uma espátula, coloque sobre
uma grade para esfriar e guarde num pote
bem fechado por até 3 dias.
Rachel Guedes
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saudável e gostoso
udim de
P
café com leite
Ingredientes
2 xícaras (chá) de café bem forte
3 1/2 xícaras (chá) de açúcar
10 ovos
1 colher (chá) de canela em pó
1 litro de leite
Modo de preparo
Aqueça o café numa panela média e mantenha
em fogo alto até reduzir a 1/2 xícara de um café
bem encorpado. Deixe esfriar.
Aqueça o forno a 160 ºC (médio-baixo), separe
uma assadeira, coloque no fundo umas 2 ou 3
folhas de papel absorvente, ferva um pouco de
água para o banho-maria. Separe uma fôrma
para pudim de uns 22 cm (ou 10 forminhas individuais). Coloque 1 xícara de açúcar na própria
fôrma para pudim e, com muito cuidado, pois é
muito quente, aqueça a fôrma diretamente sobre
a chama do fogão. Espere surgir um caramelo
bem dourado, nem muito claro, para não ficar
muito doce, nem muito escuro, para não amargar.
Segure a fôrma e, conforme o caramelo for escurecendo nas bordas, vá misturando com uma
espátula até ficar uniforme. Retire do fogo e gire a fôrma para espalhar e cobrir totalmente as
paredes internas com o caramelo (ou prepare o
caramelo numa panelinha e despeje uma parte
dele em cada forminha).
Apoie uma peneira sobre uma tigela média e passe
por ela os ovos. Junte o café, a canela, o leite, o
açúcar restante, mexa com um batedor de arame
até conseguir um creme liso e despeje na fôrma.
Coloque a fôrma dentro da assadeira com a água
fervente ao redor e asse em banho-maria por
mais ou menos 1 hora, até que o pudim esteja
bem dourado (ao enfiar um palito no centro, ele
deverá sair limpo).
Espere esfriar, leve à geladeira por umas 6 horas
e desenforme sobre um prato de bordas altas.
Serve dez pessoas.
Receitas de Heloisa Bacellar
Restaurante Lá na Venda • r. Harmonia, 161,
Vila Madalena, São Paulo • Tel (11) 3037-7702
www.ladavenda.com.br
destaque para colecionar
Rachel Guedes
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