Ano I - Nº 47
20 a 26 de Julho de 2013
"Jovens, não tenham medo do compromisso, do sacrifício e não olhem para o futuro com medo,
mantenham viva a esperança: há sempre uma luz no horizonte".
Papa Francisco
1ª Leitura: Gn 18, 1-10a - Salmo: Sl 14 (15)
2ª Leitura: Cl 1, 24-28
Evangelho: Lc 10, 38–42
A todos os nosso leitores e amigos,
apresentamos nosso Informativo IPDM nº
47, o qual chamamos de “Especial –
Jornada Mundial da Juventude.”
Nesse número, além das reflexões
propostas por José Antonio Pagola e
Mercedes Lopes para o Evangelho deste
domingo, você encontrará uma matéria
especial em nossa seção “Para Refletir”
constituída de um debate realizado entre
quatro importantes personalidades.
Sob o tema “Jovens: o futuro da Igreja em
fuga”, no qual Armando Matteo, Chiara
Giaccardi, Renato Rosso e Luciano
Mnicardi falam abertamente sobre o tema
proposto publicado inicialmente pela
Revista Jesus nº 7 de julho de 2013. O
debate é oportuno e essencial, sobremaneira
às vésperas da Jornada Mundial da
Juventude que acontecerá no Rio de Janeiro
na próxima Semana.
Desejamos a todos e todas ótima leitura e
que a visita do Papa Francisco ao nosso
querido Brasil, fortaleça em nós a
esperança.
Equipe de Produção
Para o mês de Agosto
4º Encontro das
Escolas de Fé,
Política,
Cidadania e
Justiça
CIEJA de Campo Limpo
03 de Agosto
Maiores informações na Página 07
Frei Betto
Querido papa Francisco, o povo brasileiro o espera de braços e
coração abertos. Graças à sua eleição, o papado adquire agora um
rosto mais alegre.
O senhor incutiu em todos nós renovadas esperanças na Igreja Católica ao tomar
atitudes mais próximas ao Evangelho de Jesus que às rubricas monárquicas
predominantes no Vaticano: uma vez eleito, retornou pessoalmente ao hotel de três
estrelas em que se hospedara em Roma, para pagar a conta; no Vaticano, decidiu
morar na Casa Santa Marta, alojamento de hóspedes, e não na residência pontifícia,
quase um palácio principesco; almoça no refeitório dos funcionários e não admite
lugar marcado, variando de mesa e companhias a cada dia; mandou prender o padre
diretor do banco do Vaticano, envolvido em falcatrua de 20 milhões de euros.
Em Lampedusa, onde aportam os imigrantes africanos que sobrevivem à travessia
marítima (na qual já morreram 20 mil pessoas) e buscam melhores condições de vida
na Europa, o senhor criticou a "globalização da indiferença” e aqueles que, no
anonimato, movem os índices econômicos e financeiros, condenando multidões ao
desemprego e à miséria.
Um Brasil diferente o espera. Como se Deus, para abrilhantar ainda mais a Jornada
Mundial da Juventude, tivesse mobilizado os nossos jovens que, nas últimas semanas,
inundam nossas ruas, expressando sonhos e reivindicações. Sobretudo, a esperança
em um Brasil e um mundo melhores.
É fato que nossas autoridades eclesiásticas e civis não tiveram o cuidado de deixá-lo
mais tempo com os jovens. Segundo a programação oficial, o senhor terá mais
encontros com aqueles que ora nos governam ou dirigem a Igreja no Brasil do que
com aqueles que são alvos e protagonistas dessa jornada.
Enquanto nosso povo vive um
momento de democracia direta
nas ruas, os organizadores de
sua visita cuidam de aprisioná-lo
em palácios e salões. Assim
como seus discursos sofrem,
agora, modificações em Roma
para estarem mais afinados com
o clamor da juventude brasileira,
tomara que o senhor altere aqui
o programa que lhe prepararam
e dedique mais tempo ao
diálogo com os jovens.
Não faz sentido, por exemplo, o senhor benzer, na prefeitura do Rio, as bandeiras
dos Jogos Olímpicos e Paraolímpicos. São eventos esportivos acima de toda
diversidade religiosa, cultural, étnica, nacional e política.
Por que o chefe da Igreja Católica fazer esse gesto simbólico de abençoar bandeiras
de dois eventos que nada têm de religioso, embora contenham valores evangélicos por
zerar divergências entre nações e promover a paz? Talvez seja o único momento em
que atletas da Coreia do Norte e dos EUA se confraternizarão.
Como nos sentiríamos se elas fossem abençoadas por um rabino ou uma autoridade
religiosa muçulmana?
Nos pronunciamentos que fará no Brasil, o senhor deixará claro a que veio. Ao ser
eleito e proclamado, declarou à multidão reunida na Praça de São Pedro, em Roma,
que os cardeais foram buscar um pontífice "no fim do mundo”.
1º Encontro de
Leigos e Leigas na Igreja
Itaquera – 10 de Agosto
Maiores detalhes na página 07
Encontro sobre
Animação Bíblica
Paróquia São Francisco de Assis
Ermelino Matarazzo - 08 de Agosto
Veja detalhes na página 07
Tomara que o seu pontificado represente também o início de um novo tempo para a
Igreja Católica, livre do moralismo, do clericalismo, da desconfiança frente à pósmodernidade. Uma Igreja que ponha fim ao celibato obrigatório, à proibição de uso de
preservativos, à exclusão da mulher do acesso ao sacerdócio.
Igreja que reincorpore os padres casados ao ministério sacerdotal, dialogue sem
arrogância com as diferentes tradições religiosas, abra-se aos avanços da ciência,
assuma o seu papel profético de, em nome de Jesus, denunciar as causas da miséria,
das desigualdades sociais, dos fluxos migratórios, da devastação da natureza.
Os jovens esperam da Igreja uma comunidade alegre, despojada, sem luxos e
ostentações, capaz de refletir a face do Jovem de Nazaré, e na qual o amor encontre
sempre a sua morada.
Bem-vindo ao Brasil, papa Chico! Se os argentinos merecidamente se orgulham de
ter um patrício como sucessor de Pedro, saiba que aqui todos nos contentamos em
saber que Deus é brasileiro!
Em: www.adital.com.br – 19/07/2013
L I T U R G I A
I
T
U
José Antonio Pagola
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O episódio é algo surpreendente. Os discípulos que acompanham Jesus desapareceram de cena.
G Lázaro, o irmão de Marta e Maria, está ausente. Na casa da pequena aldeia de Betânia, Jesus
I encontra-se a sós com duas mulheres que adotam ante a Sua chegada duas atitudes diferentes.
Marta, que sem dúvida é a irmã mais velha, acolhe Jesus como dona da casa, e coloca-se
A
totalmente ao Seu serviço. É natural. Segundo a mentalidade da época, a dedicação Às tarefas do lar
era tarefa exclusiva da mulher. Maria, pelo contrário, a irmã mais jovem, senta-se aos pés de Jesus
para escutar a Sua palavra. A sua atitude é surpreendente, pois ocupa o lugar próprio de um
“discípulo” o que correspondia apenas aos homens.
Num momento determinado, Marta, absorvida pelo trabalho e submersa pelo cansaço, sente-se abandonada pela sua
irmã e incompreendida por Jesus: “Senhor, não te importa que a minha irmã me tenha deixado sozinha com o serviço?
Diz-Lhe que me dê uma mão”. Porque não manda a sua irmã a que se dedique às tarefas próprias de toda a mulher e deixe
de ocupar o lugar reservado aos discípulos homens?
A resposta de Jesus é de grande importância. Lucas relata-a pensando provavelmente nas desavenças e pequenos
conflitos que se produzem nas primeiras comunidades na hora de fixar as diversas tarefas: “Marta, Marta, andas inquieta
e nervosa com tantas coisas; só uma é necessária. Maria escolheu a parte melhor, e não lha tirarão”.
Em nenhum momento critica Jesus Marta a sua atitude de serviço, tarefa fundamental ao seguir a Jesus, mas convidaa a não se deixar absorver pelo seu trabalho até ao ponto de perder a paz. E recorda que o escutar a Sua Palavra tem de
ser o prioritário para todos, também para as mulheres, e não uma espécie de privilégio dos homens.
É urgente hoje entender e organizar a comunidade cristã como um lugar onde se cuida, em primeiro lugar, o
acolhimento do Evangelho no meio da sociedade secular e plural dos nossos dias. Nada há mais importante. Nada mais
necessário. Temos de aprender a reunir-nos mulheres e homens, crentes e menos crentes, em pequenos grupos para
escutar e partilhar juntos, as palavras de Jesus.
Esta escuta do Evangelho em pequenas “células” pode ser hoje a “matriz” a partir da qual se vá regenerando o tecido das
nossas paróquias em crise. Se o povo simples conhece em primeira mão o Evangelho de Jesus, desfruta-o e reclama-o à
hierarquia, irá arrastar-nos a todos para Jesus.
Em: www.eclesalia.wordpress.com/2013/07/10
Mercedes Lopes
Somente três personagens aparecem neste curto texto de Lc 10,38-42: Jesus, Marta e Maria. Jesus visita as duas
irmãs, escuta, questiona Marta, acolhe a postura de Maria. Marta é a anfitriã, a dona de casa, preocupada em oferecer um
delicioso almoço a Jesus. Com esta preocupação, ela recebe Jesus e vai continuar seu trabalho, sem curtir a visita amiga.
Maria não fica preocupada com a casa. Não é solidária com a irmã no serviço. Quer somente estar com Jesus. Sentada aos
seus pés, escuta-o atentamente. Ela escolhe algo inédito para as mulheres de sua época. Torna-se discípula! (8,38; 10,39;
At 22,3). Com qual desses três personagens nos identificamos mais?
SITUANDO
Esta narrativa sobre a visita de Jesus à Marta e Maria é própria de Lucas. O evangelista situa este texto em seguida à parábola do samaritano (Lc
10,29-37). Lucas deve ter um bom motivo para isso. Um dos motivos de ligação entre esta narrativa e a parábola do samaritano é que Jesus se faz
próximo. Entra na casa de Marta, conversa, come junto com as duas Irmãs. Ele se aproxima de duas mulheres, que, como as outras judias da sua
época, eram consideradas impuras. Mas, também podemos supor que Lucas tenha feito outra relação entre a parábola do samaritano e a narrativa de
Marta e Maria. O texto informa que "Jesus entrou num povoado e certa mulher, chamada Marta o recebeu em sua casa" (10,38). Diante das críticas e
da crescente oposição a Jesus, narrada no capítulo seguinte (11,14-54), a acolhida prestativa de Marta e a escuta amorosa de Maria podem ser
também uma resposta bem concreta à pergunta do legista: "Mestre, que farei para herdar a vida eterna?" (10,25).
Situar o texto de Marta e Maria no contexto das comunidades helenistas também ajuda na sua interpretação. Nessas comunidades havia um conflito
entre cristãos vindos do judaísmo e os gentios, considerados de origem pagã. Estes últimos eram tidos como impuros, porque não receberam a
circuncisão e não praticavam os costumes judeus sobre a pureza. Por isso, nas comunidades cristãs, comer junto com eles foi motivo de muito conflito
(At 11,2). A Boa Nova deste texto é que Jesus entra na casa de Marta e Maria e come com elas. Elas eram judias, mas eram consideradas impuras por
serem mulheres. Transparece no texto muita amizade e confiança entre eles, pois Marta chega a fazer reclamações triviais em relação à falta de
solidariedade de sua irmã Maria (10,40).
COMENTANDO
1 - O que é mais importante: a oração ou a missão?
A tradição cristã encontrou neste texto uma amostra de dois modelos de seguimento de Jesus, considerando um superior ao outro por causa da
palavra de Jesus: "Maria escolheu a melhor parte" (10,42b). Assim, acham que Marta representa um seguimento de Jesus focado no trabalho, na
intensa atividade missionária ou apostólica. Maria representa um seguimento focado na escuta, na oração, na contemplação. Mas, este dualismo é
falso. Ninguém pode ser somente missionário, nem somente contemplativo. Cada pessoa que deseja seguir Jesus precisa ser ao mesmo tempo
missionária contemplativa, ou contemplativa missionária. Por isso, volto ao texto, para comentá-lo:
Lc 10,38 - Marta recebe Jesus em sua casa
Jesus está a caminho e entra num povoado. Não sabemos se ele está sozinho ou acompanhado dos discípulos. Esta pergunta fica no ar. O que
importa para o evangelista, ou para as comunidades de Lucas é a acolhida de Marta: ela "o recebeu em sua casa". Na pessoa de Jesus de Nazaré,
Marta recebe a visita de Deus (Lc 1,68.78; 7,16; 19,44)
10,39 - Maria é discípula de Jesus
Maria é livre em relação ao papel tradicional da mulher. Ela não está preocupada com o que pensam ou dizem. Assume, como mulher, uma nova
postura diante da religião e dos padrões culturais da sua época. Ela "ficou sentada aos pés de Jesus, escutando sua palavra" (10,39). Esta era uma
expressão ou postura para indicar uma atitude de discípulo/a (At 22,3).
10,40 - Qual é mesmo o papel das mulheres nas comunidades cristãs?
Ocupada e cansada, agitada com muitos serviços, Marta tenta envolver Jesus em um problema doméstico de falta de participação de Maria no
serviço da casa. Será que o questionamento de Marta tem a ver com tarefas caseiras ou por trás de sua frase tem um significado escondido? Marta
pode estar expressando a opinião de alguns círculos cristãos, que pretendiam limitar a função das mulheres aos serviços privados e internos nas
comunidades cristãs. Não por acaso, se recorrermos ao original grego, encontraremos Marta "ocupada com muita diaconia".
10,41-42 - Maria escolheu a melhor parte
Jesus escuta Marta, entende seu cansaço, e tenta ajudá-la a encontrar um sentido maior, mais amplo para sua vida, para o discipulado das
mulheres. "Marta, Marta, tu te preocupas e agitas por muitas coisas, mas uma só é necessária. Maria, pois, escolheu a melhor parte e esta não lhe será
retirada". Jesus passa do assunto da comida para o sentido da vida. Maria escolheu a apaixonante aventura de viver na intimidade dele, para entregarse totalmente ao seu projeto. Sua escolha é confirmada por Jesus: "e esta não lhe será retirada" (10,42).
ALARGANDO
Jesus e as mulheres do seu tempo
De um modo geral, as mulheres que se aproximaram de Jesus pertenciam ao escalão mais baixo da sociedade do seu tempo. Muitas delas eram
doentes e foram curadas por ele. Provavelmente eram mulheres que não tinham vínculo com nenhum homem: eram viúvas indefesas; esposas
repudiadas; mulheres sozinhas, sem recursos e difamadas. Havia também prostitutas, que eram consideradas fonte de impureza e de contaminação. E
Jesus acolhia a todas com o mesmo respeito e dignidade. Elas sentavam-se entre os pecadores e indesejados para comer junto com Jesus. Embora a
comunidade dos essênios não aceitasse mulheres em sua "mesa santa" e nem os fariseus as aceitassem na sua "mesa pura", porque observavam a lei
da pureza ritual criada pelos sacerdotes.
Esta comida de Jesus junto com as mulheres, os pecadores e os indesejados era precisamente um símbolo e uma antecipação do Reino de Deus.
Esta comunhão de mesa com pessoas consideradas impuras mostrava como os "últimos" do povo santo e as últimas da sociedade patriarcal são os
"primeiros" e as "primeiras" a entrar no Reino de Deus. Mas, essa presença das mulheres à mesa com Jesus era um escândalo para as boas famílias.
Jesus não se intimida. Ele as acolhe com o amor compreensivo do seu Abbá. Jesus aproxima-se delas sem medo e as trata abertamente, sem deixar-se
condicionar por nenhum preconceito. Certamente, as mulheres que seguiram o movimento de Jesus pelos caminhos da Galileia viam nele uma
alternativa para uma vida mais digna.
O jeito especial de Jesus olhar para todas as mulheres, a partir da sua intimidade com seu Abbá e da sua visão do Reino de Deus, lhe dá criatividade
e autoridade para mudar as situações de opressão e dominação aparentemente sem saídas. E Jesus o faz de maneira nova, diferente, inesperada. O
texto de Marta e Maria desperta a memória da tradição de Jesus. Ao escrever este texto, Lucas está apontando para esta Boa Nova que já estava
sendo um pouco esquecida no tempo em que ele escreveu seu evangelho: por volta do ano 85 d.C.
Em: www.cebi.org.br/2013/07/17
L I T U R G I A
Armando Matteo
Chiara Giaccardi
Renato Rosso
Luciano Manicardi
"O cristianismo no Ocidente só poderá florescer se conseguirmos envolver a imaginação dos nossos contemporâneos".
Essa lúcida afirmação do padre Timothy Radcliffe, teólogo dominicano e ex-Mestre Geral da Ordem, diz, em poucas
palavras, todo o drama e todo o esforço da complicada relação entre a Igreja Católica e os jovens hoje. Uma relação que, às
vezes, parece quase inexistente. E que as mais recentes pesquisas sociais traçam com dados brutos e cores escuras.
Às vésperas da JMJ, que acontece no Rio de Janeiro (Brasil) de 23 a 28 de julho, as estatísticas impressionam ainda mais:
de acordo com o recente estudo de Alessandro Castegnaro e Giovanni Dal Piaz (Fuori dal recinto. Giovani, fede, Chiesa:
uno sguardo diverso, Ed. Àncora), pouco mais de 13% dos jovens entre os 18 e os 29 anos de idade vão regularmente à
missa todos os domingos. Segundo o Relatório Giovani, organizado pelo Instituto Toniolo, que será publicado em breve pela
editora Il Mulino, ao invés, a cifra beira os 15%.
Mas a situação não muda muito: isso significa que 85% dos jovens (e talvez mais) não têm nenhum contato estável com o
mundo eclesial. Para usar os termos do padre Radcliffe, a imaginação da imensa maioria dos menores de 30 anos não é
tocada, de fato, pelo modo como a Boa Notícia evangélica é contada hoje em dia pela Igreja Católica.
Em suma, há coisas para se meditar. Especialmente às vésperas da JMJ do Rio de Janeiro, a primeira edição do "novo
curso" vaticano inaugurado pelo Papa Francisco. Porque – já se sabe – os grandes eventos midiáticos, as reuniões de massa,
as megafestas litúrgicas apresentam muitas oportunidades, mas também muitos riscos. O primeiro deles, provavelmente, é o
de se transformar em experiências consolatórias para se reencontrar o calor daqueles que se assemelham a nós,
oportunidades para reivindicar publicamente uma identidade religiosa que pode se revelar frágil na vida comum e cotidiana.
Sem se preocupar em encontrar uma continuidade no "depois", uma vez que a JMJ se conclua. E sem se preocupar com os
milhões de jovens que, ao invés, nem sonharam em ir ao grande evento.
Certamente, não há somente nuvens escuras no horizonte da JMJ. Trata-se também de uma grande oportunidade para os
jovens e para os pastores que os acompanham de fazer uma experiência evangélica, de encontrar e se confrontar com
coetâneos de todo o mundo, de saborear um caminho espiritual envolvente e apaixonante, de descobrir uma Igreja que sabe
apreciar o sentido da festa. Portanto, riscos e oportunidades.
Para apresentar o quadro sobre esse dilema e sobre o tema mais amplo do "planeta jovens", a revista Jesus organizou um
fórum editorial do qual participaram quatro convidados especiais: o padre Armando Matteo, teólogo e autor do livro La
prima generazione incredula; Chiara Giaccardi, socióloga da Universidade Católica de Milão e especialista em mídias
digitais; o padre Renato Rosso, religioso carmelita com uma longa experiência pastoral em paróquias e à frente de uma
escola católica na Terra Santa; e Luciano Manicardi, monge de Bose, que se ocupa na comunidade particularmente com a
formação dos jovens. Nas páginas que se seguem, a síntese do animado debate que surgiu do encontro.
Eis o debate
Em poucas semanas, será aberta a
Jornada Mundial da Juventude do
Rio de Janeiro. É um evento já
tradicional, mas também será a
primeira edição do pontificado do
Papa Bergoglio. Portanto, será
interessante não só ver o novo
perfil da JMJ, mas também a
abordagem do novo pontífice e a
resposta do mundo juvenil. Em
todo caso, torna-se cada vez mais
atual e às vezes dramática a
questão da relação entre fé e
jovens. Todas as pesquisas dizem
que os jovens entre os 18 e os 30
anos que vão à missa regularmente não superam os 15%; aqueles que rezam com uma certa regularidade são em
torno dos 15-17%; aqueles que acreditam na existência de Deus superam em pouco os 30%; aqueles que estão certos
da existência do além e de alguma salvação eterna, somente 13%. Trata-se de dados conhecidos, embora
desoladores, para a Igreja Católica. Um pouco menos conhecida e não compartilhada é a questão da sua
interpretação. Há muitas discussões sobre esse tema. Para sintetizar um pouco brutalmente os termos do dilema,
poderíamos dizer: é a incredulidade difusa da cultura "mundana" que fez com que a fé e a Igreja Católica perdessem o
apelo, ou, vice-versa, é o baixo apelo da Igreja Católica que levou cada vez mais jovens rumo à incredulidade?
Armando Matteo – Antes de responder, eu acrescentaria outro dado, inédito no panorama religioso católico italiano: as
mulheres jovens não mostram diferenças substanciais com relação aos seus coetâneos do sexo masculino. Ao contrário,
em algumas dioceses, a presença dos jovens do sexo masculino na missa é maior do que a das suas coetâneas. A meu
ver, há uma mudança geracional em ação, por isso um pouco provocativamente eu falo da primeira geração incrédula.
De um lado, há uma mudança epocal e cultural muito profunda, e a inculturação clássica que funcionou até o Concílio Vaticano II
tem muitas dificuldades hoje. A ideia de eternidade, de paraíso, de alma, de salvação, que não são simplesmente categorias cristãs,
mas pertencem em sentido mais amplo à religião, não funcionam mais hoje. Somam-se a isso também mudanças extraordinárias –
do digital aos progressos da medicina, que permitiram um alongamento da vida – que estão substancialmente redefinindo o real.
Tudo isso incide na relação com a religiosidade. Danièle Hervieu-Léger diz que vivemos um momento em que a tradição cultural do
cristianismo é ilegível.
Por outro lado, é preciso dizer que a Igreja perde apelo também por causa dos seus próprios erros. A fórmula da JMJ ou a dos
movimentos parecia ter resolvido a crise das paróquias e do associacionismo clássico. Na realidade, há muito pouco investimento
pastoral no mundo juvenil depois dos 18 anos. São muito poucos os sacerdotes, as religiosas e os leigos à disposição para a
pastoral universitária, é muito escassa a relação entre a Igreja no seu aparato oficial e os professores de religião que são os únicos
que têm um contato visceral com os jovens (um professor de religião encontra em média até 300 pós-adolescente na sua
atividade).
O afastamento da Igreja é acompanhado pelo fato de que os jovens declaram ter uma abertura à transcendência. Sobre esse fator,
há diversas escolas de pensamento: alguns estudiosos separam de maneira muito clara o distanciamento da Igreja e da
espiritualidade, e não falam de incredulidade, mas de um standby na prática religiosa. Eu represento uma alma mais pessimista,
porque – a meu ver –, por trás desse afastamento, está a ineficácia da transmissão da fé: nas dinâmicas sociais, culturais e
familiares não se entende mais para que serve o Evangelho para a qualidade humana da vida.
Chiara Giaccardi – Eu acredito que os dois nós problemáticos levantados contêm, ambos, uma parte de verdade. Na
idade moderna, o ser humano tenta se colocar no lugar de Deus, como Prometeu. A ideologia do ser humano que se faz
por si só, no entanto, não é nossa. Na cultura italiana, sempre foi bem clara, ao contrário, a ideia de herança, de
transmissão, de geração, do ter recebido, do restituir.
Mas depois fomos colonizados pela mitologia do self-made man, pelo ideal da autonomia, do não precisar de ninguém, da
autorrealização como objetivo primário. Nesse quadro antropológico, a dimensão da relação se torna ou um obstáculo ou um
instrumento, porque, contudo, a centralidade está no eu. As relações se tornam, então, "contratos"; a dimensão do interesse e do
bem-estar pessoal acabam orientando toda ação. Portanto, de um lado, temos todo o movimento de domínio da natureza que, de
cosmos nas mãos de Deus, se torna mundo nas mãos do ser humano através da técnica, que não aceita limites senão o da
"fatibilidade". Por outro lado, como escrevia Heidegger, ocorre esse "ensenhorear-se" do ser humano no seu próprio fundamento,
na convicção de não precisar mais de ninguém.
Há uma célebre escultura de bronze do artista Bobbie Carlyle que representa bem a suposta autossuficiência do self-made man,
imortalizado no ato de esculpir-se sozinho: um tronco humano com martelo e cinzel, e o resto da base ainda informe. É uma
imagem paradoxal, mas que nos é apresentada como o modelo a que devemos aspirar. Um modelo que uma geração inteira
cultivou como se fosse o único caminho da libertação. Hoje, observando o mundo dos "nativos digitais", podem-se captar sinais de
crítica implícita a esse imaginário: estar em rede, de fato, significa acima de tudo estar-com e compartilhar. Chamou-me muito a
atenção, durante a eleição do Papa Francisco, a foto da Praça de São Pedro iluminada pelos celulares, pelos tabletes: para estar
plenamente ali era necessário e bonito compartilhar o evento com quem não estava. Essa imagem é útil para entender como a
dimensão digital não é o lugar de uma presença enfraquecida, de um eu alienado. No máximo, de uma presença aumentada pelo
fato de ser compartilhada com outros.
Diante de uma cultura do individualismo que entregamos às novas
gerações, a rede se torna o lugar em que se busca continuamente
transformar a conexão em relação, ou seja, passar do plano
tecnológico para o antropológico. Essa é uma crítica implícita ao
modelo do individualismo e um potencial para se trabalhar, já que
expressa uma necessidade profunda que deve ser ouvida. E aqui eu
volto ao tema inicial. Eu acredito que, se a Igreja tem uma "culpa", é a
de não ter ouvido o suficiente a exortação da Gaudium et Spes a ler os
sinais dos tempos e a falar as linguagens que as pessoas possam
entender, sobretudo as jovens gerações. Esse esforço, talvez, não foi
feito de modo adequado, e, assim, criou-se uma distância, onde, ao
invés, comunicar significa justamente "reduzir a distância", fazer
crescer o que é comum.
O estilo comunicativo do Papa Francisco é um instrumento
preciosíssimo de pedagogia da comunicação. O Papa Francisco caminha
a pé, se afasta das trajetórias rígidas do cerimonial, se aproxima das
pessoas e as toca. A dimensão do contato deve ser redescoberta,
porque, antes mesmo de dizer qualquer coisa, o fato de fazer sentir a
proximidade por parte da Igreja é fundamental. Só dentro desse
encontro e graças à confiança que dele deriva, pode-se pensar hoje em
um caminho de fé.
A rede, além disso, nos ensina algo muito importante. A autoridade de
ofício
não
funciona
mais:
primeiro
é
preciso
demonstrar
respeitabilidade. A Igreja não pode mais dizer: "Eu sou a Igreja e,
portanto, tu deves me escutar". Assim como a mãe não pode mais
dizer: "Eu sou a tua mãe e, portanto, tu deves fazer o que eu te digo".
Esse modelo não se sustenta mais, e talvez isso não seja ruim.
Primeiro, é preciso construir a relação de confiança. E confiança, fé,
confiança, fidelidade e laço são todos parte de uma mesma constelação semântica, porque têm a ver com fides, que é a corda, o fio
que nos une. No individualismo, não há fé, porque todo laço é um limite, uma prisão do eu. Ao invés, se a perspectiva se inverte e
volta a ser acima de tudo relacional, então talvez também haja as condições para retomar o discurso da fé em uma perspectiva
diferente e através de novas linguagens, com um novo olhar, capaz de oferecer esperança nestes tempos difíceis.
Renato Rosso – Eu parti da Itália no fim dos anos 1990. Na paróquia onde eu estava havia uma presença de jovens
significativa na missa dominical. Quando eu voltei, depois de 12 anos, vejo que os jovens diminuíram muito. Talvez, eu
disse a mim mesmo, faltaram momentos de agregação séria e profunda, em que o jovem pudesse se sentir partícipe, se
expressar, ser ouvido. Eu apontaria para isso, porque, no mundo juvenil, o que importa é a experiência, tocar com a
mão uma realidade que se vive.
Além disso, é preciso voltar a uma séria formação, entender que certos momentos da sua vida se enraízam em algo muito
importante. Os 13 anos passados na Terra Santa me levam a fazer uma análise totalmente diferente. Na Europa, o pertencimento à
Igreja é uma escolha de fé motivada. No Oriente Médio, que é uma realidade "sagrada", isto é, não secular, é diferente: você é
cristão porque você não é muçulmano ou não é judeu. A Igreja investiu muito no Oriente Médio por uma razão de formação
cultural, humana, mas sobretudo de formação religiosa. O jovem cristão na Terra Santa parte de uma plataforma em que se
reconhece que também deve ser mais defendida, porque está em minoria (na Palestina e em Israel, os cristãos nas várias divisões
não chegam a 2%), em meio a duas presenças fortes, judaica e muçulmana. Portanto, a partir dessa identidade básica, dessa
necessidade de autodefesa cultural e religiosa, o jovem também deve ser ajudado a fazer um certo caminho. Isso leva a uma
participação na Igreja em todos os momentos relevantes da vida.
Luciano Manicardi – Eu enfatizo apenas um aspecto da separação entre Igreja e jovens. Na sociedade pós-tradicional
(Hervieu-Léger) é necessária motivar novamente cada gesto e cada palavra da fé. A ignorância de fé impõe que não
tomemos nada como óbvio. A credibilidade do Anúncio exige que cada palavra e gesto da fé encontre um fundamento
antropológico sólido para se inserir. Assim, o analfabetismo de fé dos jovens deve ser captado como uma oportunidade
para a Igreja repensar e renovar a sua própria abordagem e o seu próprio anúncio. E, portanto, para renovar a si mesma.
Ou conseguimos motivar antropologicamente a fé, ou ela vai provocar no máximo um dar de ombros.
Aqui, o jovem se encontra em uma situação em que, de um lado, a cultura em que ele está imerso deve redefinir o humano (o que
é um corpo humano, o nascer e o morrer humanos, a sexualidade humana?); de outro, a Igreja deve dar consistência ao seu
próprio anúncio sabendo mostrar como a fé fala ao humano, dá sentido e direção ao humano. Precisamos reencontrar uma
gramática do humano, reaprender o ABC da vida a partir das coisas elementares (comer, saudar, falar...) e redescobrir elementos
removidos ou esquecidos (o pudor, a vontade, o silêncio...).
Nessa incerteza, a Igreja deve recuperar a dimensão do humano graças à qual um jovem poderá desenvolver uma fé autêntica e
uma capacidade de oração. Aprender a pensar, a ter uma vida interior, a "fazer silêncio", a viver a ascese (ideia bem compreensível
para jovens que fazem esporte ou tocam instrumentos musicais e que treinam e se exercitam todos os dias), a escutar e a habitar o
corpo são alguns dos muitos movimentos humanos, humaníssimos, que um jovem deve aprender para poder ter um uma vida de
relação séria consigo mesmo e com os outros. E,portanto, também com o Deus narrado à humanidade por Jesus de Nazaré.
Acredito que somente uma fé que saiba levar a sério a vida que um jovem vive, com a sua carga de ansiedade e de futuro, poderá
encontrar credibilidade e acolhida junto aos jovens. Para isso, seria necessário desenvolver a dimensão sapiencial da fé a partir da
tradição sapiencial bíblica, mas também das muitas vozes da cultura (cinema, literatura, música) que nos revelam algo sobre a
alma humana, sobre a condição do ser humano no mundo.
O Padre Matteo se referiu antes àquela que, em uma pesquisa realizada pelo professor Segatti em 2010, foi definida
como "ruptura geracional", que inicia, grosso modo, a partir dos anos 1980, e que ele, no seu livro, sintetizou com a
expressão "primeira geração incrédula". A que se deve isso? Quais são suas raízes?
Armando Matteo – É preciso analisar a situação da geração das pessoas nascidas entre 1946 e 1964, aquela a qual se
pode atribuir a definição dada por Magatti" de "narcinismo", uma mistura entre narcisismo e cinismo. É a primeira
geração que viveu fenômenos inéditos: se aposenta e ainda tem os pais vivos; experimentou o bem-estar, o boom
econômico, a afirmação da técnica. Conheceu uma época histórica incrível: o Concílio Vaticano II, o primeiro homem
na Lua, uma sensação de paz nunca manifestada (lembremonos do Vietnã).
No entanto, ela se apaixonou por esse grande sentimento de
juventude e pelo ideal do self-made man. Assim, censurou a
idade adulta da vida e a própria ideia de crescimento: o
crescimento não é só acumular, mas também perder,
envelhecer, morrer. Em uma pesquisa, foi perguntado aos
italianos quando é que nos tornamos velhos. A resposta foi:
"Aos 83 anos". A idade média dos italianos é de 82 anos e 4
meses, portanto, na Itália, tornamo-nos velhos depois da
morte!
A brecha está justamente aqui: a fé existe porque nos ajuda a
viver como adultos. O horizonte de Deus nos ajuda a não
absolutizar este mundo, mas a abençoá-lo por aquilo que ele é.
No momento em que uma geração marginaliza o discurso sobre
a idade adulta, de fato, não precisa mais da fé. Encontramos isso também no livro de Luigi Zoja ou nas análises de Galimberti: o
indivíduo pensa somente no presente. E o sistema econômico domina o indivíduo, através de falsas imagens de liberdade.
Em suma, essa geração mostrou que Deus e o Evangelho não servem. A Igreja continua postulando a família como lugar de
transmissão da fé, mas as análises nos dizem que os jovens italianos não rezam em família, não lembram se a própria mãe alguma
vez falou-lhes sobre a fé. Normalmente, a pessoa à qual associamos a fé é a avó. A ideia é que a fé é coisa dos padres, das freiras;
enquanto você é criança, você precisa fazer essa "coisa", mas, quando você cresce, então segue em frente.
Tudo isso, no entanto, produz uma inquietação nos jovens. São eles que estão pagando o peso da censura da idade adulta. Os
jovens estão buscando um novo sentido do humano. A internet e a web não são um instrumento, são um laboratório de
humanidade. Outros elementos, além disso, vão nessa direção: o amor pela natureza, pela música, que é justamente o sentido da
festa, e depois também a literatura, o cinema. A geração 1946-1964 censurou a idade adulta e, de fato, tornou simplesmente inútil
a referência a Deus. Nós celebramos o Deus dos cristãos no domingo, mas a segunda-feira também serve na vida cotidiana.
Chiara Giaccardi – O tema da música é verdadeiramente paradigmático: na perspectiva de Marshall McLuhan, os meios
são a extensão dos sentidos, e cada época se caracteriza por um "sabor cultural" particular, porque acentua uma
dimensão da nossa sensorialidade mais do que outras. McLuhan defende, por exemplo, que "a visão exclui, o ouvido
inclui", e não é por acaso que essa paixão pela música se casa tão fortemente com a dimensão da rede, de estar com, da
conexão, da sintonia, de estar em uníssono.
Kant escrevia que a música é uma "linguagem sem conceitos": vibra-se junto, sem passar pela adesão intelectual. São as ideias da
fisicidade, do contato que retornam: pela mesma razão, McLuhan definia a era da eletricidade (hoje dizemos era digital) como
"audio-tátil". E essa é uma linguagem que eu acredito que é preciso recuperar também em nível litúrgico, porque a missa, mesmo
para os jovens que frequentam os grupos eclesiais, corre o risco de ser sentida, injustamente, como uma linguagem estranha,
abstrata, intelectualista.
Sobre a crise da idade adulta, eu acrescentaria uma consideração. O psicanalista Luigi Zoja, em La morte del prossimo, define
os adultos como "lactantes psíquicos" que se apegam à mamadeira daquilo que lhes faz sentir bem, interrompendo aquele círculo
virtuoso entre o pegar e o restituir, entre o receber e o dar, que, ao invés, deveria caracterizar o ser adulto, como havia defendido o
psicólogo social Erik Erikson falando de generatividade.
A crise da idade adulta também é a crise da generatividade. O ser – digo-o
como católica – não é enquanto é, mas enquanto gera. Deus criou o
mundo e criou o ser humano. E o criou, com as belas palavras de
Hölderlin, "como o mar cria a terra: retirando-se". O termo
generatividade, que para Erikson tem como única alternativa a
"estagnação", prevê três momento: o pôr no mundo (dar à luz), o cuidar e
o deixar ir. A crise da generatividade hoje se manifesta em todos os três
níveis: não pomos mais no mundo; pomos no mundo mas não cuidamos;
ou cuidamos mas não deixamos ir.
Vê-se muito bem este último aspecto nas nossas elites, que talvez fizeram
coisas muito bonitas, mas depois não as deixam ir, não passam o bastão e
assim roubam o futuro das jovens gerações. A crise da idade adulta é
justamente uma crise de generatividade, que se manifesta no esforço de
reter o máximo possível e de não transmitir. Ou somos generativos e
entramos em um círculo virtuoso, ou há a estagnação que, depois, é
asfixia, morte.
Luciano Manicardi – Uma dimensão dessa crise que os jovens
hoje estão pagando é que a geração dos seus pais não soube prometer ou permanecer fiel às promessas feitas. A
promessa não mantida cria desconfiança, e sem confiança não há futuro. Prometer é dar forma ao futuro, futuro que é
responsabilidade dos adultos e potencialidade nos jovens. É hora de sair da retórica de jovens que são sempre e
invariavelmente o futuro e a esperança da Igreja e da sociedade: o futuro e a esperança também são responsabilidade dos adultos.
E é preciso ajudar os jovens a aproveitar os seus recursos internos, porque o futuro também nasce da interioridade: o apaixonar-se
diz isso muito bem. Mas também a faculdade de desejar e de imaginar.
A geração dos anos 1980 é a mesma dos chamados Papaboys, isto é, quando era máxima a sensação, ao menos por
parte da grande mídia, de uma empolgação juvenil pela figura do papa. Porém, de acordo com os dados, parece ser
mínima a real participação dos jovens na vida de fé e na prática religiosa. Como vocês explicam esse estranho efeito?
Chiara Giaccardi – João Paulo II utilizou códigos muito envolventes de comunicação que, especialmente sobre os
jovens, geraram uma grande aderência, como as JMJs ou as grandes reuniões. O erro foi pensar que o apelo desses
grandes eventos era suficiente para trazer estavelmente os jovens de novo para a Igreja. Mas os dados demonstram que
esse primeiro passo, embora importantíssimo, não é suficiente se, depois, na normalidade da vida eclesial, se continua
falando uma língua estranha aos jovens.
Isso não significa, naturalmente, que a Igreja deve se preocupar, como se fosse uma agência de publicidade, a se adequar ao
público-alvo desejado. O movimento é bem diferente: sair da inércia, deixar-se interrogar pelo mundo, encontrar continuamente os
modos de fazer reviver a tradição à luz das novas questões. É preciso, portanto, entender o que funciona desses momentos e como
utilizar essa linguagem, e recriar aquele clima de alegre fraternidade também na normalidade, e não apenas na excepcionalidade do
Rio de Janeiro e de Sydney. Porque a vida é feita de excepcionalidade e de normalidade, e é a respiração entre esses dois
momentos que mantém acesa a centelha de infinito.
Renato Rosso – Eu concordo. Talvez nos deixamos iludir um pouco por esses grandes acontecimentos e pensamos que
a realidade juvenil é essa, enquanto a realidade juvenil é a que está na periferia dos grandes eventos. Além disso,
precisamos nos perguntar que incidência essas grandes reuniões têm no cotidiano. Como sacerdote, eu me pergunto se
talvez não apresentamos um cristianismo um pouco complexo demais, um pouco articulado demais, um pouco impositivo
demais. Para um jovem que quer se aproximar da fé, não é fácil. É preciso simplificar, sem renunciar aos dogmas fundamentais,
mas apontando para o essencial.
Eu gostei que o Papa Francisco, como primeira coisa, anunciou a misericórdia de Deus. Agora, é preciso ver como tudo isso vai se
concretizar, por exemplo, na realidade dos casais de fato ou dos casais em segunda união: é um problema diante do qual a Igreja é
chamada a dar respostas que sejam abertas. E talvez a nossa linguagem também deveria ser um pouco revista.
Armando Mattteo – Seguramente, há uma lacuna entre a experiência forte das JMJs, que é uma experiência
adivinhada, e o cotidiano. A intuição está certa, é uma pena que não fez e continua não fazendo escola. Tomemos, por
exemplo, a JMJ de Madri: diante de 1% da população juvenil italiana presente em Madri, participaram 50% do episcopado
italiano. Portanto, uma presença de Igreja incrível. E quase 10% do clero, um número enorme de freiras e leigos que
acompanhavam os jovens.
Mas o que acontece no dia a dia? Quantos acompanham os jovens nas universidades? Como os professores de religião são
acompanhados? E como a rede é vivida? Basta ver os sites institucionais da Igreja Católica, nos quais não é possível um "reply", um
"curtir", nem mesmo um comentário.
Segundo elemento, a pluralidade de formas litúrgicas que havia em Madri: adoração, Via Sacra, confissões, muitíssimas formas de
oração, em comparação com as nossas paróquias, que são monótonas.
Terceiro elemento: os bispos fizeram catequeses bíblicas, "impulsionados" pelo Pontifício Conselho para os Leigos. Tinham inputs
muito precisos, foram obrigados a se preparar, a pensar. E foram muito eficazes.
O quarto elemento é a festa, uma experiência humana central, que nas nossas paróquias não existe. Parece um funeral mesmo
quando o morto não está. A nossa civilização tem apenas a diversão, e não a festa: a JMJ é realmente o lugar de festa, de
comunidade. Nós temos muitas missas aos domingos, para viver o domingo. Há uma questão de quantidade-qualidade.
Chiara Giaccardi – Esses grandes momentos funcionam porque são experiências. E o único modo de aproximar os
jovens é de fazer com que tenham experiências. Não fazer catequese, mas lhes oferecer oportunidades de experiência. O
que significa fundamentalmente duas coisas. Ajudá-los a sair da obviedade dos lugares-comuns e ajudá-los a aprender
com esse movimento, que, além disso, é o da educação, e-ducere: aprender fazendo. É a única linguagem que os jovens entendem
hoje, que é também a linguagem da rede: "hands on", pôr as mãos, é de fato um dos princípios da ética hacker.
A única coisa que se pode fazer para educá-los é não deixá-los simplesmente no mundo da exploração casual, mas, através da
exploração, chegar àquela passagem que talvez eles não façam espontaneamente.
Nesse sentido, a linguagem é preciosa: nós estamos acostumados a uma linguagem conceitual que para eles é chata,
incompreensível, distante. O Papa Francisco, ao invés, está usando a linguagem das metáforas, que é a linguagem das parábolas,
que fala da cotidianidade mais ínfima.
A linguagem foi "violentada", não apenas pela política, mas em alguns casos também pela religião, quando ela a usou em chave
retórica com afirmações de princípio que, depois, não eram seguidas com o testemunho. Isso provocou uma desconexão da
realidade. Por isso, o testemunho é hoje o único registro comunicativo crível. O enunciador deve ser testemunha, e a linguagem
deve ser "integral". A Igreja só precisa se valer do seu próprio patrimônio, da Bíblia, da arte sacra: é preciso levar os jovens para
dentro das igrejas e fazê-los se maravilharem diante dos mosaicos, contar-lhes essa história e ajudá-los a sentir que essa história
está perto da sua história e é dirigida a cada um deles.
É um percurso totalmente diferente, que passa, justamente, pela experiência. O fato é que se afirmou a especialização, triunfou a
funcionalização. Separamos tudo, fragmentamos e recompusemos os processos em nome da eficiência. Ao contrário, é hora de
colocar tudo junto de novo.
A esse propósito, a definição mais bonita de católico foi dada por Bento XVI na Caritas in Veritate, no número 55: "O homem todo e
todos os homens". Universal não no sentido abstrato, mas que envolve a mente, a paixão, os afetos, a fisicalidade, a
espiritualidade, isto é, todo o ser humano. Ao invés, a nossa cultura é uma cultura que separa, o intelectualismo de um lado, e a
fisicidade (talvez pervertida) de outro. Os jovens precisam saber que as coisas estão juntas. Eu sou capaz de perceber isso, mas
não através da linguagem da catequese
tradicional. A rede nos oferece novos caminhos e
novas possibilidades, mas é preciso se preparar e
ser humilde, porque, se estamos convictos de já
ter a verdade, e que são os outros que não a
entendem, não podemos ir muito longe.
Renato Rosso – São importantes a
linguagem, os conteúdo e também a
atitude. Muitas vezes, diante de
situações que os jovens vivem, logo
fazemos um julgamento, não esperamos que eles
façam um certo caminho. "Quando o Filho do
Homem vier, será que ainda vai encontrar a fé
sobre a terra?": essa frase do Evangelho sempre
me fez pensar. É preciso redescobrir uma
formação pessoal que ajude a ter uma abordagem
diferente com os jovens, de maior paciência,
tolerância, espera. No fundo, o cristianismo é o
tempo da espera, não o da realização.
Luciano Manicardi – A brecha entre o
fascínio da figura de João Paulo II e a vida eclesial cotidiana, na realidade, não é uma lacuna, mas expressa uma mesma
realidade: a ausência da comunidade. Ou a não eloquência da comunidade paroquial para muitos jovens, o que eu acho
que é o problema que está por trás de tanta ineficácia da evangelização. O fascínio e o poder comunicativo de João Paulo
II puderam mascarar essa realidade, mas os jovens precisam de comunidade, e o cristianismo encontra a sua genialidade
justamente na criação de comunidades nas quais jovens e adultos, homens e mulheres, pessoas de diversas nações e culturas
encontram a sua unidade em Cristo.
Mais uma vez, ouvir os jovens e as suas dificuldades poderia ajudar os homens da Igreja a identificar um problema capital para o
anúncio da fé no mundo de hoje. Podemos dizer assim: como fazer com que as comunidades paroquiais se tornem scholae amoris,
lugares de experiência de fraternidade, lugares humanos em que se faz a experiência de ser amado, escutado, reconhecido e onde,
por sua vez, se aprende a amar?
No seu último livro, o padre Armando Matteo fala da fuga das quarentonas da Igreja. Presumivelmente, muitos são
mães. Quanto isso afeta a transmissão da fé e o crescimento dos jovens?
Armando Matteo – Já se sabe muito bem que a única instância educativa na Itália é a mãe. Infelizmente, os dados
disponíveis e a experiência pessoal me levaram a verificar que não se veem mais coetâneas minhas na igreja.
Presumivelmente, elas são mães, e isso é um grande problema. O afastamento está bem ligado ao fator educação:
quanto mais as mulheres são graduadas, mais aumenta a separação da Igreja.
Como na Itália a transmissão da fé ocorre normalmente pela via "matrilinear", é evidente que a Igreja italiana precisa reabrir o
diálogo com o universo feminino. Somam-se a isso outros fatores, como a diminuição incrível das religiosas nas presenças
paroquiais, a realidade religiosa que perdeu mais números nos últimos anos, embora atualmente isso não se vê, porque na Itália há
90 mil freiras, mas mais de 50% tem mais de 70 anos.
As irmãs representaram a possibilidade de um cotejo institucional do feminino dentro da Igreja e habitaram de maneira
incrivelmente generosa os espaços essenciais do contato entre o cotidiano e a fé: asilos, hospitais etc. São elas que
verdadeiramente encarnaram o conceito de que "a Igreja é a mãe!". Isso também significa entrar nos debates políticos sobre a
condição da mulher: sobre problemas enormes como o feminicídio, não ouvimos nenhuma palavra séria por parte eclesial!
E o mesmo sobre toda uma série de problemas, como a disparidade de salários. As mulheres na Itália são as que estudam mais,
também têm ótimas notas e pedem uma Igreja competente, capaz de interagir com o seu crescimento cultural. Dentro da relação
com o mundo juvenil, portanto, o capítulo "Igreja-mulheres" é muito importante e não se reduz à questão "ordenação sacerdotal",
mesmo que pensar em novos ministério femininos poderia ser útil.
Além disso, a experiência, a concretude, os códigos essenciais dos jovens fazem parte muito mais do universo feminino do que do
masculino. E, ao contrário das gerações mais jovens, as "quarentonas" também têm um maior dinamismo interior, não há uma
desafeição total com relação à espiritualidade, à fé, à oração: mesmo na Itália, as ateias também afirmam que rezam. Mas estamos
em uma sociedade com um machismo ainda forte e em uma Igreja que, no último período, não só é masculina, mas até mesmo
"episcopal". Felizmente, graças ao Papa Francisco, algo está mudando.
Chiara Giaccardi – Diante de uma verdade cultural
muito poderosa, ou seja, que no Evangelho a figura da
mulher é fundamental, a Igreja dispõe de um patrimônio
de valorização da figura feminina de extraordinária
riqueza, com uma grande capacidade para combater todo dualismo.
Homens e mulheres são duas faces de uma mesma humanidade,
que é uma dualidade, e não um dualismo; uma riqueza que não
deve ser desperdiçada; uma unidade que não deve ser separada.
A presença feminina pode e deve ser mais valorizada, e isso não em
nome de uma suposta revolução, mas no de uma plena fidelidade às
origens. Quanto à festa, eu gostaria de acrescentar algo a partir do
significado etimológico original. A questão não é tanto o da
extraordinariedade, da excepcionalidade, já que festiao significa
"comer juntos, banquete, acolhida ao lar doméstico". Portanto, tem
mais a ver com a acolhida e a hospitalidade, o fazer festa juntos; é
um "ponha mais um lugar à mesa", na mesa de todos os dias, ao
invés de um "ir ao restaurante".
No fundo, há uma ideia da convivialidade como modelo de relação social diferente do consumismo. Onde o mais importante não é
tanto o quanto e o que se come, mas sim o clima acolhedor que se consegue criar. São todas lógicas que, em certo sentido, tem a
ver com a rede. Existem movimentos de antropólogos contemporâneos que falam do neoconvivialismo como modelo alternativo ao
liberalismo, com um componente utópico próprio que retoma essa dimensão intrinsecamente relacional, comunal, não tanto como
evento excepcional, extraordinário, mas como estilo de partilha gratuita, no sentido de não estar baseada em um interesse.
Então, é preciso reaprender a estar juntos, porque às vezes parece que não somos mais capazes disso. A festa, na realidade, é uma
modalidade, uma postura existencial, mais do que o evento excepcional. Essa é outra das vertentes sobre as quais é preciso educar
hoje.
Renato Rosso – Quem tem a minha idade – eu tenho 46 anos – se lembra da Comunidade de Taizé das origens e da
intuição do Irmão Roger: "Cristo ressuscitado te convida a uma festa", isto é, uma festa interior. Isso também deveria
nos fazer refletir: sobre como definimos a catequese do Batismo sobre o pecado original e não sobre a festa...
Armando Matteo – Devemos estar conscientes do caráter anestésico das nossas missas dominicais. Se alguém vive algo
bonito, isso fica gravado nele! A nossa própria linguagem nos trai: inventamos uma abjeção teológica – o termo "animar a liturgia"
–, mas "liturgia" já significa "animação"! O problema é agravado pelo fato de que, na Itália, temos um número de paróquias e de
missas excessivo, em comparação com o clero presente e ao envelhecimento dos sacerdotes que têm 20 anos a mais, em média,
do que os homens italianos.
O papa falou de uma Igreja "pesada". É também uma questão estrutural: missas demais, padres idosos, mal distribuídos no
território nacional, ocupados em pensar em trabalhos burocráticos que não têm nada a ver com o trabalho pastoral, trabalhos que
poderiam ser feitos pelos leigos, mas que não lhes deixam fazer!
Luciano Manicardi – A deserção feminina da Igreja também pode ter algo a ensinar. Dificilmente hoje podemos repetir
o que Paulo dizia a Timóteo: "Lembro-me da tua fé sincera, a mesma da tua avó Lóide e da tua mãe Eunice, e que agora
também está em ti" (2Tm 1, 5). Mas talvez isso ajude a Igreja a redescobrir a sua dimensão de comunidade generativa,
de ecclesia mater e, portanto, a sua vocação de transmitir vida, de expressar uma promessa de vida para os jovens.
Igreja capaz de maternidade significa Igreja capaz de humanidade, isto é, que entendeu bem que "o ser humano é o ponto de
interseção da fé", como diz o cardeal Walter Kasper, e que educar para a fé implica cuidar do humano que está no ser humano e,
especificamente, do jovem.
Essa dimensão generativa e educante da comunidade cristã, que exigiria a reavaliação da paternidade e da maternidade espiritual
no acompanhamento de caminhos de fé dos jovens, envolve dar tempo, dar escuta, dar palavra, dar presença. Estar ao lado,
mesmo na impotência, mas na consciência da própria não inutilidade.
O desafio para a Igreja e para o cristianismo em geral não é apenas burocrático-institucional e nem meramente
intelectual. O padre Timothy Radcliffe escreve: "O cristianismo no Ocidente só poderá florescer se conseguirmos
envolver a imaginação dos nossos contemporâneos". Parece-me que, por muitas décadas, o cristianismo no Ocidente
deixou de construir o imaginário e de exaltar a imaginação dos seus próprios contemporâneos. O que vocês pensam?
Armando Matteo – É uma questão
essencial. Para a Igreja italiana,
significa deixar de pôr no centro a si
mesma, os seus problemas, os seus
financiamentos, as suas ligações, às vezes não
totalmente claras, com a política. E recomeçar do
nosso grande tesouro que é a Sagrada Escritura.
O que mais pode tocar o imaginário dos nossos
contemporâneos do que Jesus de Nazaré? Um
homem infinitamente apaixonado por Deus e
infinitamente apaixonado pela vida, pelos homens
e pelas mulheres que ele encontrou? No entanto,
os
dados
à
nossa
disposição
sobre
o
conhecimento da Bíblia são alarmantes! A nossa
catequese não valoriza profundamente o discurso
bíblico. Um crente comum entra em contato com
a Bíblia, na média das paróquias italianas, pouco
mais do que 10 minutos por semana, aos
domingos! Mesmo no tecido dos dias úteis, eu
ousaria mais: por que só a missa?
Todos os mosteiros que frequentamos têm
familiaridade com a Sagrada Escritura e também
por isso estão cheios de jovens. A Bíblia tem todos os códigos do mundo, é aberta e sempre investe o leitor. Há um ditado brasileiro
que diz: "Se você quiser construir um navio, ensine os homens a se apaixonar pelo mar". Eu penso que hoje nós devemos ser
capazes de nos apaixonarmos por uma Igreja da festa, por uma Igreja que fale de Jesus Cristo, com menos medo, que depois nos
bloqueiam também ao fazer algumas reformas que são realmente essenciais.
Renato Rosso – Eu penso que a imaginação é muito importante e, como em todas as coisas, é preciso encontrar as
mediações certas. É preciso insistir na formação bíblica. Mesmo nas nossas homilias é preciso dar mais importância à
explicação das leituras e somente depois fazer emergir a mensagem ética e comportamental.
Chiara Giaccardi – Uma palavra fundamental é gostar. Nós desenvolvemos uma ideia intelectualista do saber que
passa através do cérebro, enquanto sapio significa "ter sabor" em primeiro lugar. Para que as coisas permaneçam na
mente – eu vejo isso com os meus estudantes – devemos sempre começar com o que eles sabem, com o que para eles
tem sabor, e depois fazer a passagem para um nível diferente, mais conceitual, que naquele momento eles são capazes
de assumir.
Nem sempre é fácil saber fazer com que eles
gostem. Nós também somos postos em jogo, a
nossa capacidade de saber gostar, de nossa parte.
Não basta dizer: essa é a verdade e você tem que
aceitar. Também não é suficiente simplesmente
redistribuir aquilo que recebemos. Eu posso
simplesmente "saciar" a minha família, ou tentar
preparar algo que seja nutritivo, bonito de se ver e
bom para comer. Isso requer atenção, imaginação, é
cansativo, é cansativo, é comprometedor. Mas
também é o que distingue o ser humano de todas as
outras espécies vivas.
Nós não podemos nos contentar com a função. É
preciso mudar de postura existencial, mesmo dentro da Igreja. Parece-me bonita a definição do jesuíta François Varillon, para o
qual a Igreja é "o abraço de Deus ao mundo". E me parece que o Papa Francisco está fazendo com que sintamos esse abraço, em
toda a sua força e também na sua ternura.
Luciano Manicardi – Eu penso que a faculdade humana da imaginação levanta desconfiança. Para Pascal, ela é "mestra
de erros e de falsidades". Muitas vezes ela é denegrida como fantasia e fonte de evasão da realidade. Ela é negligenciada
porque o modelo dominante é o do domínio racional, consciente, ordenado, do pensamento e da ação. Ela é desprezada
por ser pouco científica, mas acima de tudo ela é temida por ser subversiva, sendo não controlável, não medível, não
redutível aos parâmetros com os quais acontece a domesticação e a homologação do pensar, do saber e também do crer.
A imaginação é temida porque dá voz ao desejo. Pouco controlável, ela é olhada com suspeita também no espaço eclesial. A
imaginação, que é a energia mental que permite a emergência do novo, que dá forma interior a um possível e que torna presente
interiormente um ausente, ou, melhor, algo que ainda não existe, é dimensão essencial no exercício da liberdade e da criatividade.
E é momento fundamental na personalização da fé por parte de um jovem.
Dar voz à imaginação equivale a dar permissão ao jovem de esperar fazendo emergir a sua subjetividade. Com efeito, aí se revela,
por parte daqueles que na Igreja têm responsabilidade educativa com relação à fé, a má recepção da lição bíblica. A Bíblia imagina
a verdade, bem mais do que a expressa em fórmulas abstratas: o Deus que cria é também o Deus que imagina, que diz o que ainda
não existe. O poder das páginas de Isaías, de Ezequiel, de Jeremias se deve em grande parte àquela dimensão que o exegeta
Walter Brueggemann chamou de "imaginação profética". Jesus anuncia o Reino de Deus com parábolas que unem narração e
imaginação.
Mas aqui também se revela a desconfiança nas potencialidades interiores e na subjetividade juvenil, que encontra justamente na
criatividade e na imaginação uma expressão decisiva. Para ficar fascinado pela fé, um jovem deve sentir que ela diz respeito a toda
a sua humanidade, a todas as suas capacidades expressivas, ao seu corpo e à sua mente, à sua racionalidade e à sua emotividade.
Para concluir, pedimos a vocês três conselhos para não se desperdiçar esta JMJ, para fazer com que uma ocasião
desse tipo traga frutos depois e para além do evento em si mesmo.
Armando Matteo – A JMJ funciona
não se ela se torna o estilo da pastoral
juvenil, mas sim da Igreja inteira. Por
trás da pastoral juvenil, de fato, há a
necessidade de encontrar os jovens, e essa hoje é
a necessidade da Igreja. Sem mudança
geracional, quer gostemos ou não, o cristianismo
ocidental está destinado a fechar. E a mudança
geracional diz respeito às paróquias, às vocações,
aos movimentos.
Outro elemento: modular melhor os cânones da
liturgia. Nós não podemos ter esse monoteísmo
da missa, que absorve todas as atividades de
trabalho da paróquia.
E depois a experiência da festa, da acolhida. No
fundo, o que falta à geração dos adultos é a
capacidade de se acolher, de se querer bem e não
simplesmente de permanecer aferrados a si
mesmos e aos seus próprios privilégios. A festa é
o lugar onde nasce a vida adulta. No fim, nós nascemos para o domingo, nós somos filhos desse Deus que repousa. A Igreja como
um lugar de encontro, de reunião, também entre as gerações.
Renato Rosso – Diante de manifestações oceânicas, como a JMJ, eu tenho algumas perplexidades. Muitas vezes se
corre o risco de focalizar somente isso e de se esquecer do depois, do antes ou da periferia. O melhor é observar e
ouvir.Esta edição no Brasil, com o papa sul-americano, em um país onde há anos está em curso um confronto entre as
Igrejas neopentecostais e o catolicismo social, poderia ser diferente das outras. Como ocidentais, por uma vez, olhemos,
escutemos o que acontece, as mensagens que essa cultura, essa Igreja, esse universo religioso nos apresentam e vejamos, depois,
como importá-lo na cotidianidade da nossa vida. Mas sem enfatizar: de fato, é preciso se perguntar o que as outras JMJs realmente
produziram no cotidiano. Em suma, como todas as coisas positivas, olhemo-las pelo que elas são.
Chiara Giaccardi – A primeira resposta é a dimensão da reciprocidade: é um evento pensado para os jovens, em que
os bispos também estão presentes exclusivamente na veste de pastores e em que realmente se faz um esforço de
sintonia recíproca. É um momento de graça, que dá sabor ao presente e lança as premissas de uma renovação para
todos. Uma ocasião, portanto, potencialmente generativa.
O segundo elemento positivo é o da experiência, que, de um lado, é propriamente físico, porque se sai do próprio mundo e vai-se a
um outro mundo que não se conhece, e esse deslocamento pode ser sempre o ponto de partida de um processo virtuoso. O
elemento da imersão é importante porque dá o "gosto" do evento. Mas depois são importantes emersão e reflexão, sem as quais
não pode ocorrer a apropriação da vivência, que sozinha nos transforma.
Eu acredito que deve ser valorizada a preparação à viagem, tentando conhecer alguma coisa desse país, da sua situação social, da
sua língua, da sua comida, da sua cultura. E depois, no retorno, deve ser encorajado o momento da restituição com relação a quem
não pôde participar. Solicitar os jovens a encontrar canais de narração que os ajudem a se reapropriarem de maneira mais madura
daquilo que viveram e de algum modo a doar isso a outros.
O terceiro momento é o da excedência, que é o elemento da festa. A religião católica é vista como a religião dos "nãos", dos
preceitos, da mortificação. Na verdade, é o contrário do que ela é! Então, em momentos como esses, que são momentos, em certo
sentido, exagerados – faz-se um esforço econômico, não se dorme durante dias, fala-se com todos –, esse elemento da excedência
deve ser vivido plena e conscientemente, porque é a figura da alegria da nossa religião. Bento XVI também fala sobre isso na
Caritas in Veritate, o "a mais" não é apenas o devido, mas é essa ulterioridade que nos dá a esperança e a alegria.
Luciano Manicardi – Três conselhos que são um só: insistir na centralidade dos Evangelhos e de Jesus. Enfatizar que a
humanidade de Jesus "ensina a viver" (Tt 2, 12) e educa a nossa humanidade. Portanto, ler os Evangelhos buscando qual
humanidade move Jesus nos seus encontros com os outros, como Jesus fala, que vida interior ele revela... Enfim, mostrar
a fé como caminho de sentido, isto é, capaz de dar sabor (dimensão estética), direção (dimensão ética) e significado
(dimensão filosófico-teológica) à vida do jovem.
Em: www.ihu.com.br/de 08 a 14/07/2013
L I T U R G I A
REC – REDE DE ESCOLAS DE CIDADANIA - SÃO PAULO
4º Encontro das Escolas de
Fé, Política, Cidadania e Justiça
Local: CIEJA – Campo Limpo
Rua Cabo Estácio Conceição nº 176 – Campo Limpo – São Paulo – SP
Data e horário: 03 de Agosto de 2013 das 9h00 às 13h00
(Encerraremos nosso encontro com almoço de confraternização)
O estudo de questões que envolvem Fé, Política, Justiça e Cidadania são uma valiosa fonte
de aprendizado e formação. Participe você também.
Maiores informações podem ser obtidas com:
Embu: Valdeci: [email protected] - Escola Novo Encontro: Êda: [email protected]
Mogi das Cruzes: Pedro: [email protected] - Zona Leste 1 (Belém): Mônica: [email protected]
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Paróquia São Francisco de Assis
Rua Miguel Rachid, 997-Ermelino Matarazzo
Fone 2546-4254
Neste encontro, teremos a oportunidade de estudar e aprofundar nossos conhecimentos sobre a
Palavra de Deus a partir da Constituição Dogmática “Dei Verbum” e da Exortação Apostólica
“Verbum Domini”.
Não perca esta oportunidade. Organize grupos em sua paróquia, comunidade ou grupo de rua e
venham caminhar conosco nesta jornada. Conhecer a Palavra de Deus é conhecer a verdade
que liberta.
Para maiores informações, envie e-mail para:
Caíque: [email protected] - Murinho: [email protected];
Dia– Horário - Local
Centro Social Marista de Itaquera
Av. do Contorno nº 198 – Itaquera – São Paulo – SP
(Junto à Estação Itaquera do Metrô)
A CNBB – Conferência Nacional dos Bispos do Brasil definiu “Leigos na Igreja” como tema de trabalho para 2014.
De nossa parte, sempre nos preocupamos com a condição dos Leigos na Igreja e defendemos maior participação
destes nas diversas áreas pastorais intra e extra-eclesial.
Este primeiro encontro, será o início de uma trajetória que contará com o Pré-Congresso de Leigos e Leigas,
a ser realizado no mês de Maio de 2014, em preparação para o Grande Congresso de Leigos e Leigas
que faremos realizar no mês de Outubro de 2014.
Um grupo de Leigos e Leigas do IPDM, produziram um conjunto de 7 textos propostos como elementos
norteadores para debates e estudos nas paróquias e comunidades, em preparação para o encontro de agosto que
está a disposição de todos os interessados.
Para maiores informações sobre o encontro ou para obter os textos produzidos, escreva para:
André: [email protected] ou Deise: [email protected]
Para maiores informações e
Com a Teóloga, Socióloga e Escritora
Tema do encontro
Santuário Nossa Senhora da Paz
Av. Maria Luiza Americano, 1550 - Cidade Líder – São Paulo – SP
Maiores informações podem ser obtidas com:
Eduardo: [email protected] - Lucas: [email protected] - Vinicius: [email protected]
R E U N I Õ E S
COORDENAÇÃO
Os membros da Coordenação do IPDM realizarão suas reuniões bimestrais sempre nas
3as Terças-Feiras dos meses impares.
17 de Setembro / 19 de Novembro
As reuniões serão realizadas sempre às 20h00 na Paróquia São Francisco de Assis da Vila Guilhermina
Praça Porto Ferreira, 48 - Próximo ao Metro Guilhermina - Esperança
PADRES – RELIGIOSOS – RELIGIOSAS
As reuniões entre os padres, religiosos e religiosas e Agentes de Pastorais serão realizadas sempre na
última Sexta-Feira dos meses pares.
30 de Agosto / 25 de Outubro / 29 de Novembro
As reuniões serão realizadas sempre às 9h30 no CIFA – Paróquia Nossa Senhora do Carmo de Itaquera
Rua Flores do Piauí, 182 - Centro de Itaquera
Os endereços eletrônicos abaixo indicados contêm riquíssimo material para estudos e pesquisas. Por certo, poderão contribuir muito para o
aprendizado de todos nos mais diversos seguimentos.
www.adital.org.br - Esta página oferece artigos/opiniões sobre movimentos sociais, política, igrejas e religiões, mulheres, direitos humanos
dentre outros. O site oferece ainda uma edição diária especial voltada aos jovens.Ao se cadastrar você passa a receber as duas versões diárias.
www.amaivos.com.br - Um dos maiores portais com temas relacionados à cultura, religião e sociedade da internet na América Latina, em
conteúdos, audiência e serviços on-line.
www.cebi.org.br - Centro de estudos bíblicos, ecumênico voltado para a área de formação abrangendo diversos seguimentos tais como: estudo
bíblico, gênero, espiritualidade, cidadania, ecologia, intercâmbio e educação popular.
www.cnbb.org.br - Página oficial da CNBB disponibiliza notícias da Igreja no Brasil, além de documentos da Igreja e da própria Conferência.
www.ihu.unisinos.br - Mantido pelo Instituto Humanitas Unisinos o site aborda cinco grandes eixos orientadores de sua reflexão e ação, os
quais constituem-se em referenciais inter e retrorrelacionados, capazes de facilitar a elaboração de atividades transdisciplinares: Ética,
Trabalho, Sociedade Sustentável, Mulheres: sujeito sociocultural, e Teologia Pública.
www.jblibanio.com.br - Página oficial do Padre João Batista Libânio com todo material produzido por ele.
www.mundomissao.com.br - Mantida pelo PIME aborda, sobretudo, questões relacionadas às missões em todo o mundo.
www.religiondigital.com - Site espanhol abordando questões da Igreja em todo o mundo, além de tratar de questões sobre educação,
religiosidade e formação humana.
www.cartamaior.com.br - Site com conteúdo amplo sobre arte e cultura, economia, política, internacional, movimentos sociais, educação e
direitos humanos dentre outros.
www.nossasaopaulo.org.br - Página oficial da Rede Nossa São Paulo. Aborda questões de grande importância nas esferas políticoadministrativas dos municípios com destaque à cidade de São Paulo.
www.pastoralfp.com - Página oficial da Pastoral Fé e Política da Arquidiocese de São Paulo. Pagina atualíssima, mantém informações diárias
sobre as movimentações políticas-sociais em São Paulo e no Brasil.
www.vidapastoralfp.com - Disponibilizado ao público pela Paulus editora o site da revista Vida Pastoral torna acessível um vasto acervo de
artigos da revista classificados por áreas temáticas. Excelente fonte de pesquisa.
www.paulus.com.br – A Paulus disponibiliza a Bíblia Sagrada edição Pastoral online/pdf.
www.consciencia.net/acervo-digital-disponibiliza-toda-a-obra-de-paulo-freire/ - acervo Paulo Freire completo disponível neste
endereço.
http://www.news.va/pt - Pronunciamentos do Papa Francisco diretamente do Vaticano.
Papa Francisco
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