FARMACOLOGIA DOS ANTINEOPLÁSICOS Eline Matheus - 2014 TERAPIA DO CÂNCER Impedir metástases Destruição das células neoplásicas Parar a divisão celular neoplásica Remoção por cirurgia Transformar célula tumoral em normal QUIMIOTERAPIA • PALIATIVA • CONTROLE TEMPORÁRIO DA DOENÇA • PRÉVIA, NEOADJUVANTE ou CITORREDUTORA • ADJUVANTE ou PROFILÁTICA • CURATIVA • DE TUMORES DE CRIANÇAS e ADOLESCENTES (até 18 anos) • EXPERIMENTAL PALIATIVA: Está indicada para paliação dos sinais e sintomas que comprometem a capacidade funcional do doente, mas não repercutirá, obrigatoriamente, sobre a sua sobrevida. Independentemente da via de administração, é de duração limitada, tendo em vista a incurabilidade do tumor (estádio IV, doença recidivada ou metastática) que tende a tornar-se progressivo a despeito do tratamento aplicado. A duração, de uma maneira geral, varia de 3 a 12 meses (dependendo do tipo tumoral: câncer de pulmão = 4-6 semanas; de ovário = 6-8 meses; esôfago e colo uterino = 6 semanas). Pode ultrapassar 12 meses nos casos de hormonioterapia no tratamento do câncer de mama, endométrio e próstata, cuja duração poderá chegar a 60 meses ou mais. É IMPORTANTE AVALIAR: • grau de resposta à QT; • determinar a sobrevida global do doente; • detectar a progressão da doença; • prevenir e tratar as complicações possíveis. INDICAÇÕES: • Doentes com capacidade funcional suficiente (Zubrod 0, 1 ou 2); • Doentes com expectativa de vida maior que 6 meses; • Doentes com neoplasias sensíveis à QT; • Doentes com lesões tumorais não irradiadas (exceto metástases ósseas). QT PARA CONTROLE TEMPORÁRIO DA DOENÇA: Também tem finalidade paliativa. O que diferencia as duas formas é que a autorização de um procedimento para qt de controle temporário, dado as características biológicas e terapêuticas das doenças correspondentes, pode ser repetida para mais de um planejamento terapêutico global de um mesmo ou diferente esquema quimioterápico. Está indicada em hemopatias malignas de evolução crônica, que permitem longa sobrevida (meses ou anos), mas sem possibilidade de cura, obtendo-se ou não, o aumento da sobrevida global do doente. Geralmente, é de administração mais oral do que injetável, cíclica ou contínua, média à longa duração, e um mesmo procedimento pode ser autorizado mais de um a vez em diferentes planejamentos terapêuticos globais de um mesmo doente, utilizando-se, ou não, o(s) mesmo(s) quimioterápico(s). Leucemia crônica e doenças hemoproliferativas (trombocitemia essencial e policitemia vera) = pode durar mais de 60 meses, podendo ser administrada de forma contínua ou descontínua. INDICAÇÕES: • Doentes com capacidade funcional suficiente (Zubrod 0, 1 ou 2); • Doentes com expectativa de vida maior que 12 meses; • Doentes com possibilidade de receber tratamento regular, bem como comparecer às consultas de seguimento para se detectar precocemente a recidiva ou progressão da doença. QT PRÉVIA, NEOADJUVANTE ou CITORREDUTORA: Está indicada para redução de tumores loco-regionalmente avançados (geralmente estádio II e III), que são, no momento, irressecáveis ou não. Tem a finalidade de tornar os tumores ressecáveis ou de melhorar o prognóstico do doente. Geralmente, de administração venosa (raramente oral ou arterial), tem duração limitada e é seguida por cirurgia ou radioterapia após curto intervalo (entre 15 a 30 dias). A duração do tratamento é de 3 a 6 meses, determinada pelo tipo ou localização tumoral, toxicidade, resposta objetiva à qt e pelo plano terapêutico proposto. INDICAÇÕES: • doente com capacidade funcional (Zubrod 0 ou 1); • doente com expectativa de vida superior a 12 meses; • doente com possibilidade de ser operado (caso indicado) no prazo máximo de 3 a 4 semanas depois do término da qt; • garantia da radioterapia (caso indicada) dentro de 3 a 4 semanas depois do término da qt; • garantia da qt adjuvante, se indicada; • garantia do acompanhamento regular, a longo prazo. QT ADJUVANTE ou PROFILÁTICA: Está indicada após tratamento cirúrgico curativo, quando o doente não apresenta qualquer evidência de neoplasia maligna detectável pelo exame físico e exames complementares indicados para o caso. De administração oral ou venosa. Os doentes candidatos a este tipo de tratamento são considerados de alto risco, face a capacidade de disseminação dos tumores, mesmo que já ressecados (em estádio I, II ou III) e já tenham sido submetidos, ou não, à qt prévia. Deve ser iniciada, no máximo, entre 30 a 60 dias do pós-operatório, e tem por finalidade aumentar o intervalo livre da doença e a sobrevida global dos doentes. É de longa duração (de 6 a 12 meses para qt não hormonal e 60 meses para hormonioterapia do câncer de mama). INDICAÇÕES: • doentes com boa capacidade funcional (Zubrod 0 ou 1); • doentes com no máximo 2 meses de operado; • doentes com expectativa de vida acima de 24 meses; • planejamento terapêutico global; • garantia do acompanhamento regular, a longo prazo. QT CURATIVA: Tem a finalidade de curar definitivamente doentes com neoplasias malignas, podendo, ou não, estar associada à cirurgia ou radioterapia. Geralmente, de administração oral e venosa (em alguns casos, intratecal), é de média duração (3 a 8 meses) à longa, podendo chegar a cerca de 36 meses, em casos de crianças com leucemia aguda ou linfoma linfoblástico, por exemplo. A duração da qt pode não ser cumprida, uma vez que se pode observar suspensão definitiva por falha do tratamento (o que obriga à mudança da linha terapêutica, se for o caso) ou suspensão temporária por complicação decorrente do mesmo (o que não altera o número de meses do planejamento terapêutico global, mas sim o intervalo de tempo em que eles se cumprirão). • INDICAÇÕES: • doentes com boa capacidade funcional (Zubrod 0, 1 ou 2); • doentes com expectativa de vida superior a 36 meses; • planejamento terapêutico global; garantia do tratamento cirúrgico ou radioterápico, se for o caso. TUMORES DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES (até 18 anos) Tem as mesmas finalidades que a de adultos e, corresponde a 3 tipos de procedimentos: doentes que se submetem à qt primária inicial; doentes com doença recidivada, que se submetem à qt, cujos esquemas terapêuticos são diferentes dos da qt inicial; e doentes com osteossarcoma tratado com qt de alta dose. QT EXPERIMENTAL A indicação de qualquer procedimento quimioterápico fora daqueles estabelecidos só pode ser enquadrado como experimental, ou seja, incluído em protocolo clínico-terapêutico, para o que se faz necessário um projeto de pesquisa que aprovado em todas as instâncias normativas em vigor no Brasil e que defina a(s) fonte(s) de financiamento do projeto. QUIMIOTERÁPICOS “QUIMIOTERÁPICOS” HORMONIOTERÁPICOS BIOTERÁPICOS IMUNOTERÁPICOS ALVOTERÁPICOS CLASSES DOS QUIMIOTERÁPICOS ALQUILANTES ANTIMETABÓLITOS PRODUTOS NATURAIS ALVOS DOS ANTINEOPLÁSICOS - CLÁSSICOS ALQUILAÇÃO DO DNA DNA POLIMERASE TOPOISOMERASE I TOPOISOMERASE II FOLATOS BASES PIRIMIDÍNICAS E PURINÉRGICAS FUSOS MITÓTICOS ALVOS DOS ANTINEOPLÁSICOS RECEPTOR PARA FATORES DE CRESCIMENTO VIAS DE SINALIZAÇÃO INTRACELULAR PROCESSOS EPIGENÉTICOS RESISTÊNCIA É definida como o fenômeno pelo qual células tumorais expostas a um agente citotóxico desenvolvem resistência cruzada a uma série de fármacos estrutural e funcionalmente nãorelacionados. Na maioria das vezes representa a chamada resistência relacionada ao transporte, isto é, a redução das concentrações intracelulares dos fármacos pela redução do influxo, aumento do efluxo ou transporte entre compartimentos nucleares e citoplasmáticos. RESISTÊNCIA RESISTÊNCIA PRIMÁRIA: quando o tumor já a exibe ao primeiro contato com o agente. Melanoma, Célula renal e Cérebro. Mutações no p53 – estudos pré-clínicos e clínicos mostraram que a perda da função do p53 leva à resistência à radioterapia e também a muitos antineoplásicos. RESISTÊNCIA ADQUIRIDA: quando a exposição ao fármaco torna o tumor resistente. RESISTÊNCIA CRUZADA: se a exposição a um fármaco induz sua resistência e a outras de diferentes famílias e mecanismo de ação. A resistência aos quimioterápicos define mutações espontâneas. Estima-se que se forme uma célula resistente a cada milhão de divisões. Com a exposição ao tumor à quimioterapia são selecionadas as células resistentes, que passam, então, a se dividir e compor a maior parte do volume tumoral, que se torna globalmente resistente. Quanto maior o número de células (maior o volume tumoral), maior é a chance de surgir células resistentes. A RESISTÊNCIA A MÚLTIPLOS FÁRMACOS está freqüentemente associada a uma expressão aumentada de um gene normal (MDR1 – MultiDrug-Resistant), descrito em 1986, para uma glicoproteína de superfície celular (glicoproteína P- 170 kDa) envolvida no efluxo do fármaco. GLICOPROTEÍNA P (P-gP): bomba de efluxo Philip D. Hansten SCIENCE & MEDICINE – JANUARY/FEBRUARY 1998 DOXORRUBICINA DAUNORRUBICINA EPIRRUBICINA IDARRUBICINA ETOPOSIDA TENIPOSIDA VINCA TAXANOS TOPOTECANO MITOMICINA DACTINOMICINA IMATINIBE GLICOPROTEÍNA P Córtex adrenal Túbulos renais Ductos biliares Endotélio da BHE, hematotesticular e placentária Epitélio GI Células tronco da MO Glicoproteína P = consiste em 12 domínios transmembranares com dois sítios de ligação do ATP Inibidor competitivo = verapamil, quinidina, ciclosporina e outros fármacos MECANISMOS DE RESISTÊNCIA TRANSPORTE MEDIADO: AUMENTO DE PROTEÍNAS DE EFLUXO; REDUÇÃO DO INFLUXO; DIMINUIÇÃO DO TRANSPORTE INTRANUCLEAR. RESISTÊNCIA METABÓLICA: REDUÇÃO DA ATIVAÇÃO INTRACELULAR DOS PRÓ-FÁRMACOS; AUMENTO DA INATIVAÇÃO INTRACELULAR DOS FÁRMACOS (aumento da glutationa que forma espécies eletrofílicas reativas: BLEOMICINA, CISPLATINA e ANTRACICLINAS); CRIAÇÃO DE VIAS METABÓLICAS ALTERNATIVAS. INATIVAÇÃO DOS MECANISMOS APOPTÓTICOS ALTERAÇÕES DO ALVO MOLECULAR: MUTAÇÕES NO ALVO MOLECULAR; AUMENTO DOS NÍVEIS DO ALVO MOLECULAR; ALTERAÇÃO NA FUNÇÃO DO ALVO MOLECULAR. REPARO DO DANO AO DNA: DEFEITOS NA FAMÍLA DAS ENZIMAS DE REPARO, que estão ligados ao desenvolvimento do câncer coloretal familiar e esporádico, aumentam a resistência para as FLUOROPIRIMIDINAS, TIOPURINAS e CISPLATINA/CARBOPLATINA. AGENTES ALQUILANTES A alquilação de uma simples cadeia do DNA (mono-adutos) é reparada pela VIA DE REPARO DE EXCISÃO DE NUCLEOTÍDEOS (NER). Após a infusão, os mono-adutos aparecem rapidamente e o pico ocorre dentro de 2h após a exposição, enquanto o pico de ligação cruzada ocorre em 8h. O processo de reparo depende da presença e o funcionamento preciso de múltiplas proteínas. A ausência ou mutação destas proteínas leva a uma grande sensibilidade aos agentes que se ligam ao DNA, como a mitomicina, cisplatina ou alquilantes clássicos. Outras enzimas de reparo são específicas para removerem os metil- e etil-adutos do O6 da guanina (Metil-Guanina-Metil-Transferase) e para reparos de alquilação do N3 da adenina e N7 da guanina (3-metiladenina-DNA glicosidase). O aumento da expressão de MGMT confere resistência à célula. Para agentes “metiladores” como nitrosoureias, cisplatina e carboplatina, e análogos tiopurinérgicos, a via MMR (mismatch repair) é essencial para a citotoxicidade, causando quebra da cadeia mo sítio da formação do aduto, criando emparelhamento incorreto de timina, e disparando a apoptose. Reconhecer os adutos de DNA é o passo essencial para promover as tentativas de reparo e, finalmente, levar a apoptose. MECANISMOS DE RESISTÊNCIA DESENVOLVIMENTO DE MECANISMOS DE REPARO DO DNA : Produção da proteína ALQUILTRANSFERASE O6 (alquilguanina) AUMENTO NOS NÍVEIS DE GLUTATION S-TRANSFERASE ALTERAÇÕES NAS MOLÉCULAS DE TOPOISOMERASE II AUMENTO NA PRODUÇÃO DE DHFR AUMENTO NA EXPRESSÃO DE TIMIDILATO SINTASE ALTERAÇÕES NA ESTRUTURA DAS TUBULINAS “ A situação tende a melhorar ainda mais à medida que são desenvolvidas formas mais precoces de diagnóstico. É um fato comprovado que cânceres são muito mais fáceis de tratar quando descobertos cedo. Mesmo um tumor do tamanho de uma ervilha já tem perto de 1 bilhão de células desgovernadas – e não é fácil matar todas elas. Alguns cientistas sonham com tomografias cada vez mais eficientes, até o ponto de ser possível detectar tumores de apenas 10 células.” FARMACOLOGIA CLÍNICA A ESTRATÉGIA UTILIZADA NO DESENVOLVIMENTO DE ESQUEMAS FARMACOLÓGICOS REQUER : I - O CONHECIMENTO DAS CARACTERÍSTICAS PARTICULARES DE TUMORES ESPECÍFICOS 1.A fração de crescimento é alta? 2.Existe uma alta taxa espontânea de morte celular? 3.A maioria das células encontra-se em G0? 4.Existe uma fração significativa do tumor constituída por células-tronco hipóxicas? 5.Seus congêneres normais estão sob controle hormonal? II - O CONHECIMENTO DA FARMACOLOGIA DOS AGENTES ESPECÍFICOS: 1.O fármaco tem afinidade particular pelas células tumorais ? 2.As células tumorais são sensíveis ao fármaco ? 3. O fármaco é ciclo-específico ou não-específico ? III - O CONHECIMENTO ACERCA DA EXPRESSÃO DOS RECEPTORES: A ANÁLISE DO TUMOR QUANTO À EXPRESSÃO DE RECEPTORES DE ESTROGÊNIO OU DE PROGESTERONA É DE EXTREMA IMPORTÃNCIA NA ORIENTAÇÃO DA TERAPIA. ALQUILANTES 1. MOSTARDA NITROGENADA # Produção de íons carbônium que reagem com o N7 da guanina. 2. NITROSURÉIAS Altamente lipossólúveis – alquilam o DNA e RNA, inibem a DNA polimerase, o reparo do DNA e síntese do RNA 3. DERIVADOS DE ETILENOIMINA MECLORETAMINA CLORAMBUCIL MELFALAN ESTRAMUSTINO CARMUSTINA LOMUSTINA ESTREPTOZOTOCINA TIOTEPA Semelhante as mostardas 4. ALQUILSULFONADOS BUSULFAN Age mais no grupo tiol celular 5. SAIS DE METAIS PLATINAS Reação do DNA por quelação 6. TRIAZINAS DACARBAZINA Inibição do RNA e DNA 7. OUTROS # (pró-fármacos) CICLOFOSFAMIDA & IFOSFAMIDA ANTIMETABÓLITOS 1. ANTIFOLATOS: • INIBIÇÃO DA DHFR METOTREXATO & TRIMETREXATO • INIBIÇÃO DA TIMIDILATOSINTASE RALTITREXATO 2. ANÁLOGOS DA PURINA TIOGUANINA MERCAPTOPURINA CLADIBRINA FLUDARABINA PENTOSTATINA * Interferência na interconversão da purina e na síntese do RNA e DNA; * Bloqueio da ribonucleotídeo redutase – inibição da síntese de DNA em células linfóides, inibição da adenina desaminase 3. ANÁLOGOS DAS PIRIMIDINAS Inibição de enzimas necessárias à síntese dos ácidos nucléicos CITARABINA AZACITIDINA FLOXURIDINA CAPECITABINA GEMCITABINA FLUOROURACIL PRODUTOS NATURAIS ANTIBIÓTICOS CITOSTÁTICOS atuam em tumores de crescimento lento; interferem na replicação e produção do DNA e RNA; atividade alquilante (*) DERIVADOS DE PLANTAS * inibidor mitótico ** inibidor da desmontagem dos microtúbulos *** inibidor da topoisomerase II **** inibidor da topoisomerase I DAUNORUBICINA EPIRUBICINA DACTINOMICINA BLEOMICINA MITOMICINA (*) MITOXANTRONA (*) VALRUBICINA VINCRISTINA * VIMBLASTINA * VINDESINA * VINORELBINA * PACLITAXEL ** DOCETAXEL ** ETOPOSIDA *** TENIPOSIDA *** IRINOTECANO **** TOPOTECAM **** AÇÃO DOS FÁRMACOS NO CICLO CELULAR Cell Cycle-Specific exercem sua ação sobre as células que se encontram no ciclo celular Cell Cycle-NonSpecific atuam sobre as células tumorais independente delas estarem atravessando o ciclo ou em repouso em G0 AÇÃO DOS FÁRMACOS NO CICLO CELULAR PRINCÍPIOS DA TERAPIA COMBINADA AUMENTAR A MORTE DA CÉLULA TUMORAL EFEITOS SINÉRGICOS DIMINUIR RESISTÊNCIA As combinações são frequentemente citotóxicas para uma população heterogênea de células tumorais e pode prevenir o desenvolvimento de clones resistentes. As combinações usando fármacos CCS com os CCNS pegam células em G0 e no clico. SELEÇÃO DE FÁRMACOS PARA COMBINAÇÃO: 1. CADA FÁRMACO DEVE SER ATIVO QUANDO USADO SOZINHO CONTRA UM TIPO ESPECÍFICO DE CÂNCER; 2. OS FÁRMACOS DEVEM TER MECANISMOS DIFERENTES; 3. RESISTÊNCIA CRUZADA ENTRE OS FÁRMACOS DEVE SER MÍNIMA; 4. OS FÁRMACOS DEVEM TER EFEITOS TÓXICOS DIFERENTES. TERAPIA DE RESGATE Alguns efeitos tóxicos podem ser aliviados através de estratégias de resgate: Altas doses de METOTREXATO podem ser dadas por 36-48h para alguns tipos de cânceres e o LEUCOVORIN (tetrahidrofolato) é usado como resgate para as células sadias que o acumulam mais rapidamente do que as malignas. A MESNA (mercaptoetaanosulfonato) “sequestra” a acroleína formada pela biotransformação da CICLOFOSFAMIDA, reduzindo a incidência de cistite hemorrágica. DEXRAZOXANE inibe a formação de radicais livres e protege contra a cardiotoxicidade das ANTRACICLINAS. QUIMIOTERAPIA A era moderna da quimioterapia nasceu em 1941 quando Goodman e Gilman administraram, pela primeira vez, mostarda nitrogenada a pacientes com linfoma. Desde então muitos agentes antineoplásicos têm sido desenvolvidos e uma variedade de regimes quimioterápicos vêm sendo investigados em diversos tipos de tumores. Os quimioterápicos também são muito usados em doenças não malignas: ARTRITE = Metotrexato e Ciclofosfamida DOENÇA DE CROHN = 6-mercaptopurina TRANSPLANTE DE ÓRGÃO = Metotrexato e Azatioprina ANEMIA FALCIFORME = Hidroxiuréia PSORÍASE = Metotrexato AGENTES ALQUILANTES CLASSES: 1.BIS(CLOROETIL)AMINA 2.NITROSOURÉIAS 3.AZIRIDINAS 4.ALQUILSULFONATO Diversos agentes alquilantes foram sintetizados, mas estão em fase de investigação, com a propriedade de ligar várias moléculas transportadoras, como aminoácidos, bases de ácidos nucléicos, hormônios ou açúcares, a um grupo capaz de sofrer alquilação. AGENTES ALQUILANTES BIS(CLOROETIL)AMINAS MECLORETAMINA É rapidamente degradada e se combina com a água e nucleófilos celulares. As maiores manifestações tóxicas são: náuseas e vômitos, lacrimejamento e mielossupressão. A leucopenia e trombocitopenia limitam a quantidade do fármaco que será usado no ciclo seguinte. CICLOFOSFAMIDA Biodisponibilidade oral (%) Excreção urinária (%) Ligação a proteínas plasmáticas (%) Clearance (mL/min/kg) Vd (L/kg) Meia-vida (h) Tmax (h) Cmax 74 ± 22 6.5 ± 4.3 13 1.3 ± 0.5 Criança Doença hepática Doença renal 0.78 ± 0.57 Criança 7.5 ± 4.0 Criança Doença hepática - 121 ± 21M (dose de 600mg/m2 IV bolus – câncer de mama) É ativada primariamente pela CYP2C9 para hidroxiciclofosfamida. O metabólito é posteriormente convertido para espécies alquilantes ativas, mostarda de fosforamida (t1/2 = 9h) e mostarda nornitrogenada (t1/2 = 3.3h) Bem absorvida por via oral; Os pacientes devem receber intensa hidratação iv durante o tratamento com altas doses para evitar efeitos tóxicos na bexiga. Porém, foi verificada a secreção inapropriada do HAD em pacientes que receberam doses > 50mg/kg, e, por isso, é importante estar consciente para a possibilidade de ocorrer intoxicação com a água. A ativação metabólica varia de paciente para paciente e aumenta com doses sucessivas em regimes de altas doses mas parece ser saturável em infusão de > 4g/90 min e concentrações do composto original > 150 µM. Quando empregada isoladamente, a dose oral diária de 100 mg/m2 por 14 dias é recomendada para pacientes com linfomas e LLC. Doses acima de 500 mg/m2, iv, cada 2-4 semanas são usadas em combinação com outros fármacos no tratamento do câncer de mama e linfomas. Neutrófilos abaixo de 500-1000 /mm3, geralmente, serve como referência para ajustes nas doses em terapia prolongada. Em regimes associados com resgate de células tronco ou medula óssea, a Ciclofosfamida pode ser dada em doses de 5-7 g/m2 por períodos acima de 3-5 dias. Após terapia com altas doses (>200mg/kg) podem ocorrer: ulceração GI, cistite; menos comum: toxicidade renal, hepática, cardíaca e pulmonar IFOSFAMIDA A severa toxicidade no trato urinário e no SNC limitou seu uso quando foi introduzida em 1970. Contudo, a adequada hidratação e a co-administração de MESNA reduziu a toxicidade na bexiga. A severa toxicidade neurológica (alucinações, coma e morte) que aparece entre 12h – 7 dias após o início da infusão, é consequencia do metabólito cloroacetaldeído. Causa também: náuseas, vômitos, anorexia, leucopenia, nefrotoxicidade e VOD no fígado. É indicada para tratamento de sarcomas em adultos e crianças. Em regimes não-mieloablativos, a Ifosfamida é infundida por pelo menos 30min na dose 1.2 g/m2/dia por 5 dias. A Mesna deve ser usada em bolus, numa dose correspondente a 20% da ifosfamida, concomitantemente, e uma adicional de 20%, 4 e 8h depois. Para doses da Ifosfamida 2 g/m2, a Mesna oral, numa dose correspondente a 40% da ifosfamida, pode ser substituída por uma segunda ou terceira administração da dose i.v., dadas 2 e 6h após cada dose de ifosfamida. NITROSOURÉIAS ESTREPTOZOTOCINA Toxicidade medular mínima CARMUSTINA(BCNU) & LOMUSTINA(CCNU) São altamente lipofílicas e atravessam a BHE. Com exceção da Estreptozotocina, as nitrosouréias causam profunda mielossupressão, com recuperação entre 4-6 semanas após uma única dose. A Carmustina alquila o O6 da Guanina – o aduto pode ser reparado pela enzima MGMT (Metil-Guanina-Metil-Transferase). Tratamento a longo prazo pode causar insuficiência renal (especialmente a SEMUSTINA). Em altas doses podem produzir DVO hepática, fibrose pulmonar e leucemia secundária. A Carmustina é instável em solução aquosa e em fluidos corporais. t1/2 = 15-90min 30-80% do fármaco aparece na urina dentro de 24h como metabólitos. Os metabólitos entram rapidamente no fluido cérebro-espinhal. Quando usada sozinha é administrada venosamente nas doses de 150-200 mg/m2, dadas por infusão por 1-2h e repetidas a cada 6 semanas. Modificações feitas na estrutura cloroetilamina mudam a reatividade, lipossolubilidade, transporte ativo através das membranas, sítios de ataque molecular e mecanismo de reparo do DNA. BENDAMUSTINA (benzoimidazol) estrutura purine-like. Adm. IV; 94-96% ligados a ptn; Hidrólise (Fase I) - metabólitos inativos t1/2 = 40 min Excreção = fecal Pouca resistência cruzada com outros alquilantes clássicos e apresenta atividade significativa na Leucemia Linfocítica Crônica (LLC) e Linfomas refratários a outros alquilantes. BENDAMUSTINA Aprovada para o tratamento de CLL e linfoma não-Hodgkin. É dada por 30min em infusão na dose de 100 mg/m2/dia, nos dias 1 e 2 de um ciclo de 28 dias. Doses menores podem ser usadas em pacientes pré-tratados intensivamente. É rapidamente degradada e < 5% do fármaco original é excretado intacto na urina. A N-desmetilação e a oxidação produzem metabólitos que apresentam atividade antitumoral, mas menor do que a molécula original. Toxicidade: mucosite e mielossupressão rapidamente resversível. AZIRIDINAS TIOTEPA TRIETILENOMELAMINA TIOTEPA Os anéis aziridínicos se abrem após protonação levando à molécula reativa. Tiotepa e seu metabólito primário desulfurado (trietilenofosforamida - TEPA), formam ligações cruzadas com o DNA . Tiotepa tem t1/2 de 1.2 - 2h e o TEPA, de 3 – 24h. Menos de 10% da dose administrada aparecem na urina como molécula original. Toxicidade: mucosite e mielossupressão. ALQUILSULFONATO BUSSULFAN BUSULFAN Biodisponibilidade oral (%) Excreção urinária (%) Ligação a proteínas plasmáticas (%) Clearance (mL/min/kg) Vd (L/kg) Meia-vida (h) Tmax (h) Cmax 2244-94) 1 2.7-14 4.5 ± 0.9 (Cl/F) 0.99 ± 0.23 (Varea/F) 2.6 ± 0.5 2.6 ± 1.5 Baixa: 65 ± 27 ng/mL Alta: 949 ± 278 ng/mL Depois de uma dose única de 4mg v.o. (baixa) para pacientes com Leucemia Mileóide Crônica Ou dose única de 1mg (alta) para Transplante de Medula Óssea Suprime todos os elementos sanguíneos, produzindo mielossupressão cumulativa e prolongada por meses ou até anos. Altas doses podem causar convulsões. AGENTES ALQUILANTES MECANISMO DE AÇÃO – SOBRE O DNA A principal etapa consiste na formação de um íon CARBÔNIO , que reage rapidamente com um doador de elétrons, como os grupos amina, hidroxila ou sulfidrila. ALQUILAÇÃO E LIGAÇÃO CRUZADA DO DNA POR UMA MOSTARDA NITROGENADA (1)Uma bis(cloroetil)amina sofre ciclização intramolecular, formando um cátion de etileno imônio instável e libera Cl- (2), com a amina terciária transformando-se em quaternária; (3) O anel abre-se para formar um íon de carbono reativo, que reage com o N7 da guanina, produzindo 7-alquilguanina, sendo o N7 convertido em N amônio quaternário(4). Um agente alquilante bifuncional pode sofrer uma segunda ciclização (5), com formação de íon de carbono reativo (6) e interagir com outro resíduo de guanina, ligando, assim, as duas bases (7) ‘ Com as NITROSOURÉIAS, além da alquilação, existem um mecanismo de ação secundário: A CARBAMILAÇÃO DE RADICAIS DE LISINA ATRAVÉS DA FORMAÇÃO DE ISOCIANATOS. O principal sítio de alquilação no interior do DNA é a posição N7 da GUANINA. Outras bases também são alquiladas em graus menores: • N1 e N3 da ADENINA • N3 da CITOSINA • O6 da GUANINA. Átomos de FOSFATO e PROTEÍNAS associadas ao DNA também podem ser alquiladas. A GUANINA modificada pode emparelhar incorretamente com a TIMINA, durante a síntese do DNA, levando a substituição da TIMINA por CITOSINA. A alquilação do N7 também pode levar à abertura do anel imidazólico e à excisão da guanina alquilada. O mal emparelhamento e a abertura do anel podem levar à tentativas de reparar o DNA danificado, causando quebra da cadeia. Com os agentes bifuncionais, a segunda ciclização gera ligação cruzada de duas cadeias do ácido nucléico ou a ligação do ácido nucléico à uma proteína. Estas alterações podem causar o maior interrupção na função do ácido nucléico METABOLISMO DA CICLOFOSFAMIDA * Metabólitos ativos – transportados pelo sangue até o tumor e tecidos normais, onde ocorre a clivagem não-enzimática em produtos citotóxicos * * (2-mercaptoetano sulfonato de sódio) OU N-acetilcisteína Cistite hemorrágica IFOSFAMIDA É ativada pela CYP3A4. A ativação é mais lenta do que a Ciclofosfamida, com maior produção de metabólitos desalogenados (sem o Cl-) e cloroacetaldeído. Por isso, doses maiores de Ifosfamida são necessárias para produzirem os mesmos efeitos tóxicos, maior neurotoxicidade (estado mental alterado, coma, convulsões generalizadas e ataxia cerebelar) e as possíveis diferenças no espectro antitumoral. TOXICIDADE • SUPRESSÃO DA MIELOPOESE (dose-dependente) Os efeitos sobre a medula óssea podem ser mais graves quando se administra o agente alquilante com outro fármaco mielossupressor ou com radioterapia; • NEUROTOXICIDADE: náuseas e vômitos • DIMINUIÇÃO DA CONTAGEM DE ERITRÓCITOS • INSUFICIÊNCIA OVARIANA OU TESTICULAR ESTRAMUSTINA = mustina + estrogênio AÇÃO CITOTÓXICA E HORMONAL NITROSOURÉIAS CARMUSTINA (BCNU), LOMUSTINA (CCNU) & SEMUSTINA (metil-CCNU) São compostos que não exibem reatividade cruzada com outros agentes alquilantes. Todas precisam da biotransformação, que ocorre nãoenzimaticamente, a derivados com atividades alquilantes e carbamilantes. São altamente lipossolúveis e atravessam a BHE Causam supressão prolongada de plaquetas e granulócitos; Neurotoxicidade: náuseas e vômitos. CARMUSTINA (BCNU Após administração oral de CCNU ou metil-CCNU, os níveis plasmáticos máximos dos metabólitos aparecem dentro de 1-4 horas. As concentrações no SNC alcançam 30-40% da atividade presente no plasma. A meia-vida plasmática inicial situa-se na faixa de 1-2 dias. A excreção urinária é a principal via de eliminação. FÁRMACOS RELACIONADOS QUE PROVAVELMENTE ATUAM COMO AGENTES ALQUILANTES • DACARBAZINA (pró-fármaco) • PROCARBAZINA • ALTRETAMINA (hexametilmelamina) • PLATINAS DACARBAZINA (DTIC = dimetil-triazeno-imidazol-carboxamida) PROTÓTIPO DOS AGENTES METILANTES • Atua como agente alquilante após a biotransformação hepática por N-desmetilação em derivado MONOMETÍLICO (metil-triazeno-imidazol-carboxamida = MTIC), que sofre decomposição espontânea em 5aminoimidazol-4-carboxamida, que é excretada na urina, e diazometano, que gera um íon carbônio. • Nauseas, vômitos e mielossupressão • Melanoma, Linfoma de Hodgkin e alguns sarcomas de tecido mole Para melanomas malignos é dada iv nas doses de 2 - 4.5 mg/kg/dia por 10 dias, repetindo a cada 28 dias. Dose de 250 mg/m2 pode ser dada diariamente por 5 dias e repetida a cada 3 semanas. Em combinação com outros fármacos, para Linfoma de Hodgkin, pode ser dada nas doses de 150 mg/m2/dia por 5 dias, repetidas a cada 4 semanas, ou uma dose única de 375 mg/m2, repetida a cada 15 dias . TEMOZOLOMIDA (triazoimidazol) É ativado não-enzimaticamente para MTIC (metil-trazeno-imidazol-carboxamida); 15% ligados a ptn; t1/2 = 1.8h É o agente padrão na combinação com radioterapia para pacientes com gliomas malignos e astrocitomas. É administrada oralmente nas doses de 200mg/dia. Biodisponibilidade 100% A resistência aparece, particularmente, pela perda de MLH6, um componente da via MMR . PROCARBAZINA • N-isopropil-metil-hidrazina-benzamida • Linfoma de Hodgkin • Inibe a síntese de DNA, RNA e proteínas • Produz rupturas cromossômicas • A biotransformação por oxidação resulta na formação de AZOPROCARBAZINA e H2O2, que podem causar a ruptura dos filamentos do DNA • Um dos metabólitos formados inibe a MAO • Nauseas, vômitos e mielossupressão. Embora o DNA seja o último alvo dos agentes alquilantes, existe uma distinção crucial entre os agente bifuncionais, onde o efeito citotóxico predomina, e os agentes monofuncionais metilados (procarbazina, temozolomida) que apresentam maior capacidade pra mutagênese a carcinogênese. A metilação pode ser ultrapassada pela DNA polimerase, levando a reações de emparelhamento incorreto que modifica permanentemente a sequência do DNA. Estas novas sequências são transmitidas para gerações seguintes e podem resultar em mutagênese e carcinogênese. Alguns agentes metilantes, como a procarbazina, são altamente carcinogênicos. ALTRETAMINA • Relativamente insolúvel e apenas disponível na forma oral • Sofre rápida biotransformação através de desmetilação, com formação de metabólitos ativos • Nauseas, vômitos e neuropatias do SNC e periférica; mielossupressão leve • Carcinoma de ovário resistente a agentes alquilantes PLATINAS Os complexos de platina foram primeiro identificados por Rosenberg e cols. como agentes citotóxicos em 1965. A cisplatina (cis-diaminodicloroplatina) foi o agente mais ativo em sistemas tumorais experimentais e provou ser de grande valor na clínica. A cisplatina é um complexo inorgânico divalente contendo platina, solúvel em água. A coordenação da platina di ou tetra-valente com vários “aductos” orgânicos estabiliza o íon metálico. (cis-diaminodicloroplatina) Promove morte celular em todos os estágios do ciclo celular, inibe a biossíntese de DNA e liga-se a este através da formação de ligações cruzadas entre filamentos Os átomos de cloro podem ser deslocados diretamente por reações com nucleófilos tais como os tióis; a substituição do cloreto por água produz uma molécula carregada positivamente e é provavelmente responsável pela formação de espécies ativadas da droga, que então podem reagir com os ácidos nucléicos e proteínas. Promove morte celular em todos os estágios do ciclo celular, inibe a síntese de DNA e liga-se a este através da formação de ligações cruzadas entre filamentos provavelmente entre N7 e O6 de moléculas adjacentes de guanina Os compostos de platina se ligam ao DNA e funcionam como alquilantes, impedindo a replicação do DNA. O complexo de platina pode reagir com o DNA, formando ligação cruzada intra e intercadeia. O N7 da guanina é muito reativo, e as ligações cruzadas de platina entre guaninas adjacentes na mesma cadeia de DNA. Os “aductos” de DNA formados pela cisplatina inibem a replicação e transcrição do DNA, levando a uma quebra e erro na codificação. A especificidade da cisplatina com relação a fase do ciclo celular parece ser diferente entre os tipos celulares, embora os efeitos na ligação cruzada são mais pronunciados durante a fase S. O “aducto” de cisplatina com o DNA produz uma dobra na hélice, uma mudança que é reconhecida por proteínas específicas dos grupos de alta mobilidade, que inibem os processo de reparo. Os reparos dos “aductos” de cisplatina-DNA ocorrem através das vias de reparo de excisão (extirpação) do nucleotídeo, chamado NER. Através de várias etapas enzimáticas, o NER reconhece e extirpa a base afetada, insere uma nova base e religa a cadeia afetada. A inibição do NER pode aumentar a sensibilidade à cisplatina. A resistência à cisplatina parece ser mediada, em alguma extensão, pelas proteínas de reparo do mal emparelhamento (MMR). Defeitos ou deficiências nestas proteínas, particularmente a hMLH1 ou hMSH6, pode ser importante no reconhecimento dos aductos de platina-DNA e no início da apoptose. A perda do MMR tem sido associada com a resistência à cisplatina in vitro. CISPLATINA TOXICIDADE AGUDA: • NÁUSEAS • VÔMITOS ONDANSETRON, APREPITANT e CORTICÓIDES TARDIA: • DISFUNÇÃO DO NERVO ACÚSTICO • DISFUNÇÃO RENAL (é nefrotóxica) • NEUROPATIA SENSORIAL e MOTORA • MIELOSSUPRESSÃO LEVE À MODERADA com discreta leucopenia e trombocitopenia. Para prevenir a toxicidade renal é importante estabelecer uma diurese adequada, com a infusão de 1-2 L de salina normal, antes do tratamento . A AMIFOSTINA, é um agente tiofosfato citoprotetor que reduz a toxicidade renal. A quantidade apropriada é então diluída em solução contendo dextrose, salina e manitol, e administrada iv por 6-8h. A CIS pode reagir com alumínio e, por isso, deve-se evitar contato com agulhas, ou equipamentos, durante o seu preparo. CISPLATINA Biodisponibilidade oral (%) Excreção urinária (%) Ligação a proteínas plasmáticas (%) Clearance (mL/min/kg) Vd (L/kg) Meia-vida (h) Tmax (h) Cmax - 23 ± 9 Platina forma uma forte ligação (90%) 6.3 ± 1.2 0.28 ± 0.07 0.53 ± 0.10 - 2h = 3.4 ± 1.1 g/mL 7h = 1.0 ± 0.4 g/mL Dose de 100 mg/m2 infusão de 2h e 7h para câncer de ovário Valores para o fármaco original em 7 pacientes com câncer de ovário (média do Clcr = 66 ± 27 ml/min) . Altas concentrações são encontradas nos rins, fígado, intestino e testículos, mas penetra pouco no SNC . Somente uma pequena porção é excretada pela urina durante as primeiras 6h; em 24h, mais de 25% são excretados, e em 5 dias, mais de 43%. A excreção biliar ou fecal é mínima. Em combinação com BLEOMICINA, ETOPOSIDA, IFOSFAMIDA ou VINBLASTINA – câncer de testículo. Em combinação com PACLITAXEL – câncer de ovário. Indicada também para tumores bexiga, cabeçapescoço, cervix e endométrio; em todas as formas de carcinoma de pulmão; anal e coloretal; neoplasias em crianças. CARBOPLATINA OXALIPLATINA CARBOPLATINA Biodisponibilidade oral (%) Excreção urinária (%) Ligação a proteínas plasmáticas (%) Clearance (mL/min/kg) Vd (L/kg) Meia-vida (h) Tmax (h) Cmax - 77 ± 5 0 1.5 ± 0.3 Doença renal 0.24 ± 0.03 2 ± 0.2 Doença renal 0.5 Dose de 170-500 mg/m2 IV (30 min de infusao) para câncer de ovário 39 ± 17 M Dose de 170-500 mg/m2 IV (30 min de infusao) para câncer de ovário Medidas da platina ultrafiltrável, a qual essencialmente é a carbo inalterada. Muito menos reativa do que a CIS. Causa menos náusea, neurotoxicidade, ototoxicidade e nefrotoxicidade. É uma alternativa efetiva para tumores responsivos em pacientes com comprometimento da função renal. A dose deve ser ajustada em proporção a redução do Clcreat(CrCl) para pacientes com o Cl < 60mL/min: Dose (mg) = AUC x (GFR + 25) onde a AUC é 5-7 min/mg/mL, para toxicidade aceitável OXALIPLATINA Biodisponibilidade oral (%) Excreção urinária (%) Ligação a proteínas plasmáticas (%) Clearance (mL/min/kg) Vd (L/kg) Meia-vida (h) Tmax (h) Cmax Adm IV apenas 54% da platina eliminada é recuperada na urina 90 Ligação irreversível 49 (41-64) O Cl da platina total é muito menor ( 2-4 mL/min/kg 1.5 (1.1-2.1) 0.32 (0.27-0.46) A eliminação das platinas do sangue segue a padrões triexponenciais (o t1/2 citado reflete o t1/2 da 1ª fase, que é a clinicamente relevante; O t1/2 para as duas fases mais lentas são 17 e 391h - Ox = 0.33 (0.280.38) g Pt/mL PtDC: 0.008 (0.0040.014) g Pt/mL Css do ultrafiltrado de OX e PtDC após infusão de 85mg/m2 por 2h durante ciclos 1 e 2. É um complexo orgânico; Pt está sincronizado com diaminociclohexano (DACH) e um ligante oxalato. Ox precisa ser biotransformada não-enzimaticamente para derivado reativo = Pt(DACH)Cl2 (PtDC). As atividades antitumorais e a toxicidade estão relacionadas a concentração de Ox e PtDC no plasma utrafiltrável (concentração não ligada) Não há necessidade de ajuste de doses para pacientes com o CrCl 20 mL/min; Disfunção renal não afeta a rápida inativação química do fármaco na circulação sistêmica e tecidos; Não há necessidade de ajuste de doses em pacientes com disfunção hepática. SUPRIME A EXPRESSÃO DA TIMIDILATO SINTASE (TS), alvo do 5-FU, O QUE EXPLICA O EFEITO SINÉRGICO QUANDO USADAS EM COMBINAÇÃO – câncer coloretal. Os análogos da platina diferem em suas propriedades farmacológicas, e a OXALIPLATINA apresenta mecanismo diferente das outras e pode explicar a atividade no câncer coloretal. A CIS e a CARBO são complexos inorgânicos divalentes, solúveis em água. A OXALI é um complexo tetravalente e não faz resistência cruzada com os divalentes, em alguns tumores experimentais. As 3 entram nas células através de um transportador ativo ++ do Cu (CTR1), e rapidamente degradam o transportador. São expulsas ativamente das células por transportadores de cobre (ATP7A e ATP7B) e pela proteína de resistência a múltiplos fármacos (MRP1). Dentro das células, o Cloro, o Ciclohexano e o Oxalato são deslocados pela água produzindo uma molécula carregada positivamente e altamente reativa. A CARBO e a OXALI formam “aductos” de DNA mais lentamente do que a CIS. Os “aductos” formados pela OXALI são mais volumosos e menos reparáveis, e, isso cria um padrão diferente de distorção das hélices do DNA. A OXALI, diferente da CIS e da CARBO, exibe citotoxicidade que não depende do sistema de MMR ativo e também é menos dependente da presença de proteínas do grupo de alta mobilidade (HMG). Câncer de testículo apresenta uma alta concentração de proteínas HMG. Câncer coloretal apresenta o sistema MMR muito ativo. MAIS SENSÍVEIS À OXALI; Câncer de mama tipo basal, tais como aqueles com mutação em BRCA1 e BRCA2, com perda da amplificação Her2 e a expressão do receptor hormonal, é mais sensível à CIS pela upregulation das vias apoptóticas. Na ausência do reparo efetivo dos adutos platina-DNA, as células não podem replicar ou transcrever as porções afetadas da cadeia do DNA. Contudo, é sabido que algumas DNAs polimerases podem ignorar (bypass) estes adutos, especialmente os criados pela CIS. O mesmo não acontece com os adutos feitos pela OXALI. São mutagênicos, teratogênicos e carcinogênicos. Qt baseada em CIS e CARBO para câncer de ovário está associada com risco aumentado (4x) de desenvolver leucemia secundária. QUIMIOTERÁPICOS X ÊMESE POTENCIAL EMETOGÊNICO (% DOS PACIENTES) FÁRMACO DOSE (mg/m2) > 90% CISPLATINA >50 CICLOFOSFAMIDA 1.000 DACARBAZINA 60-90% CISPLATINA <50 CICLOFOSFAMIDA 750-1.000 CARBOPLATINA 30-60% CICLOFOSFAMIDA <750 FISIOPATOLOGIA DA ÊMESE INDUZIDA PELOS QUIMIOTERÁPICOS A êmese pode ser classificada de acordo com o tempo de aparecimento das náuseas e vômitos: 1.aguda 2.tardia 3.antecipatória 4.refratária 5.de escape • Êmese aguda: os sintomas aparecem nas 24 horas após o início da administração dos quimioterápicos; • Êmese tardia: entre 24 até 120 horas, mais freqüentemente entre 48 e 72 horas; • Êmese antecipatória: ocorre antes e durante a administração dos antineoplásicos, sendo uma resposta condicionada a estímulos visuais, olfatórios, gustativos e a fatores do ambiente no qual os fármacos foram administrados; • Êmese refratária: condição clínica de mau prognóstico porque os sintomas agudos e tardios surgem a cada ciclo de quimioterapia, com intensidade e freqüência cada vez maiores; • Êmese de escape: os sintomas surgem apesar do uso adequado de medicamentos profiláticos e o paciente necessita de medicação de resgate. ÊMESE AGUDA A formação de radicais livres ocasiona lesões nas células enterocromafins do trato gastrointestinal. Segue-se a liberação de SEROTONINA, excitatória, que ativa os receptores no terminal pré-sináptico das fibras aferentes do nervo vago, e este estimula a zona quimiorreceptora que estimula o centro do vômito. ÊMESE TARDIA Como a serotonina, a SUBSTÂNCIA P é encontrada nas células enterocromafins do trato gastrointestinal e seu nível sérico encontra-se elevado após a administração da CISPLATINA. A substância P, um neuropeptídeo, foi descoberta por Amin et al, e em modelo animal verificou-se que atravessa a BHE, o que sugere que este NT de origem periférica atua no SNC e induz êmese. O bloqueio do receptor da substância P, NK1, é capaz de prevenir a êmese aguda e tardia induzidas pela CISPLATINA. Profa. Eline Matheus (ZGQ) AS PRINCIPAIS ESTRUTURAS ENVOLVIDAS NO REFLEXO EMÉTICO CENTRO DO VÔMITO: Situado na região da formação reticular da medula oblonga, recebe os quimioceptores da área postrema da base do IV ventrículo (ZONA DO GATILHO QUIMIOCEPTORA), onde a barreira hematoencefállica é menos impermeável. TRANSMISSORES QUÍMICOS QUE DETERMINAM OS ESTÍMULOS EMÉTICOS Os estímulos no trato digestório causam naúsea e vômito em decorrência da influencia neuronal (nervo vago) e hematogênica na zona central de ativação dos quimioceptores na área postrema, no núcleo do trato solitário (NTS) e no centro do vômito (VC). A 5-HT liberada das células enterocromafins (ECs) e possivelmente das plaquetas que agem sobre os receptores de 5-HT3 podem ter um papel importante, juntamente com os mediadores inflamatórios liberados nas vizinhanças das terminações nervosas aferentes. Profa. Eline Matheus Figure 46–4. Pharmacologist's view of emetic stimuli. Myriad signaling pathways lead from the periphery to the emetic center. Stimulants of these pathways are noted in italics. These pathways involve specific neurotransmitters and their receptors (bold type). Receptors are shown for dopamine (D2), acetylcholine (muscarinic, M), histamine (H1), cannabinoids (CB1), substance P (NK1), and 5-hydroxytryptamine (5-HT3). Some of these receptors also may mediate signaling in the emetic center. FÁRMACOS ANTIEMÉTICOS Os fármacos utilizados no alívio sintomático da náusea e do vômito incluem: . Antagonistas dos receptores 5HT3 . Agonista dos receptores 5HT4 . Antagonistas dos receptores D2 . Antagonistas dos receptores M3 . Antagonistas dos receptores H1 . Antagonistas da neurocinina-1 (NK1) . Canabinóides (Nabilona) . Ansiolíticos/Hipnóticos Profa. Eline Matheus GRANISETRON ONDANSETRON PALONOSETRON DOLASETRON FÁRMACO DOSE DOLASETRON, IV 100 mg ou 1,8 mg/kg DOLASETRON, VO 100 mg GRANISETRON, IV 1 mg ou 0,01 mg/kg GRANISETRON, VO 1 mg ONDANSETRON, IV 8 g ou 0,15 mg/kg ONDANSETRON, VO 12-24 mg/dia TROPISETRON, IV 5 mg TROPISETRON, VO 5 mg APREPITANT – derivado triazol Biodisponibilidade oral: 60-65% Tmax: 4 h Alimentos não interferem com a absorção > 95% - ligação com albumina Vd ≈ 70 L ≈ 75% sofrem oxidação Biotransformado pela CYP3A4, 1A2 e 2C19 É um inibidor moderado da CYP3A4 O clearance é de ≈ 62 a 90 mL/min t ½ β ≈ 9 a 13h PREVENÇÃO DA ÊMESE Os antagonistas dos receptores 5HT3, em monoquimioterapia, são capazes de prevenir a êmese aguda em 40 a 60% dos pacientes e essa taxa eleva-se para 70% quando associados a DEXAMETASONA. O resultado de um estudo multicêntrico, randomizado, duplo-cego, conduzido em pacientes que receberam CISPLATINA, em dose igual ou superior a 70 mg/m2, associado à DOCETAXEL ou PACLITAXEL, sugere que o controle da êmese aguda pode ser mais efetivo se for adicionado um bloqueador do receptor NK1 aos antagonistas do 5TH3 e a dexametasona. 2 mg/m , O grupo de pacientes que recebeu no 1º dia ONDANSETRON 32 IV, + DEXAMETASONA 20 mg, apresentou 71,4% de controle da êmese aguda, enquanto o segundo grupo que recebeu o mesmo esquema + APREPITANT 125 mg, VO, apresentou 83,2% de controle da êmese aguda (p<0,05). Nos dias 2 a 5 o primeiro grupo recebeu DEXAMETASONA, 8mg, VO, e o segundo grupo, DEXAMETASONA 8mg, VO, + APREPITANT, 80 mg, VO. As taxas de resposta foram 63,9% e 72,7%, respectivamente (p<0,01) Os dados da literatura corroboram com esses resultados e sugerem que o esquema de tratamento para os pacientes que recebem quimioterapia com alto e moderado poder emetogênico (90 a 60%) deve ser a associação de um antagonista do receptor 5HT3 e NK1 com dexametasona. Para os pacientes que se submetem a quimioterapia com moderado poder emetogênico é satisfatória a associação do antagonista de 5HT3 e dexametasona no 1º dia de tratamento e a dexametasona nos dias 2 e 3. Os agentes alquilantes mais instáveis (mecloretamina e as nitrosouréias) tem forte th.edition, Goodman & Gilman, 2011 Thepropriedade Pharmacological Basis of Therapeutics, 12 vesicante, causam danos às veias com o uso frequente e, se extravasam, produzem ulcerações. São altamente leucemogênicos. The Pharmacological Basis of Therapeutics, 12th.edition, Goodman & Gilman, 2011