ARTIGOS CIENTÍFICOS
Alteração de cor de cimentos resinosos duais ativados com e
sem o emprego da luz
Color change of resin cements dual-cure with and without use of the ligth
Carolina Baptista MIRANDA1, Cristal Fernandez de CARVALHO2, Juliana Vieira de BARROS2, Safira Marques de
Andrade e SILVA3
RESUMO
Os cimentos resinosos são materiais de eleição para a
cimentação de restaurações cerâmicas puras, podendo
ser quimicamente ativados, fotoativados ou com dupla
polimerização. Atualmente há preferência pelos de dupla
ativação, já que existem áreas em que a exposição à
luz é crítica e o modo de ativação química garante uma
polimerização mais satisfatória. Contudo, estes materiais
podem sofrer alteração de cor, prejudicando os resultados
estéticos. Assim, este estudo avaliou a alteração de cor de
30 amostras confeccionadas com três cimentos resinosos
duais, utilizando ou não fotopolimerização. As amostras
foram armazenadas em água destilada e a cor foi mensurada
imediatamente e após 15, 30 e 45 dias, utilizando o
aparelho VITA Easyshade®. Os dados foram submetidos
à análise estatística (Teste Chi-Quadrado) indicando existir
diferença estatisticamente significante entre os grupos de
estudo. Os grupos 1, 3, 4, 5 e 6 demonstraram não haver
alteração de cor significativa em nenhum dos tempos de
avaliação (p > 0,05), enquanto que no grupo 2 existiu
alteração significativa (p = 0,0). Concluiu-se que a avaliação
de cor inicial dos cimentos resinosos não correspondeu à
cor indicada pelos fabricantes, bem como se observou uma
diferença na estabilidade de cor do cimento RelyX ARC
quando não se empregou a fotoativação.
Palavras-chave: Cimentos de resina. Estética dentária.
Materiais dentários.
ABSTRACT
The resin cements are the elected materials for cementation
of restoration in pure ceramic for having the characteristic
of been chemically activated, light-cure or dual-cure (both
chemical and light-cure). Currently there is a preference
for the dual-cure cement, since there are areas in witch
the exposure to light be critical and the chemical activation
guarantee an appropriate polymerization. However, these
materials can suffer color changes, interfering with the
esthetics results. This study evaluates color changes of 30
samples made with three dual-cure resin cements using or
not the light. The samples were kept in distilled water and
the color was measured after 15, 30 and 45 days using the
equipment VITA Easyshade®. The information obtained was
submitted to a statistical review Chi-Quadrado test indicating
the presence of a statistically significant difference between
the study groups. The groups 1,3,4,5 and 6 demonstrated
not having significant color change in none of the avaliation
time (p > 0,05), while the group 2 demonstrated a significant
change (p = 0,0). Conclusion: The initial avaliation of color of
the resin cements did not corresponded to the color indicated
by the manufacturers. Also, it was observed a difference in
stability of color at the cement RelyX ARC while not using
the light-cure.
Key words: Resin cements. Esthetics, dental. Dental
materials.
Endereço para correspondência:
Carolina Baptista Miranda
Rua dos Prazeres, 238
42700-000 - Lauro de Freitas - Bahia - Brasil
E-mail: [email protected]
Recebido: 16/01/2009
Aceito: 20/03/2009
1. Doutora em Dentística. Professora Adjunta, União Metropolitana de Educação e Cultura, Salvador, BA, Brasil.
2. Graduanda em Odontologia, União Metropolitana de Educação e Cultura, Salvador, BA, Brasil.
3. Doutora em Materiais Dentários. Professora Adjunta, União Metropolitana de Educação e Cultura, Salvador, BA, Brasil.
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Alteração de cor de cimentos resinosos duais ativados com e sem o emprego da luz
INTRODUÇÃO
A Odontologia atual busca restaurações estéticas e materiais
com propriedades mecânicas e físicas adequadas. Em função disso,
existem hoje no mercado diversas opções de materiais estéticos
indiretos que não utilizam metais como infra-estrutura de suporte,
os quais passaram a ser realizados em virtude da evolução das
técnicas adesivas4. Dentre estes materiais, grande destaque
deve ser dado às restaurações cerâmicas puras e de resina
composta indireta, as quais têm sido amplamente realizadas.
Para a cimentação destas restaurações, os cimentos resinosos
são os materiais de primeira escolha devido principalmente a sua
característica de adesividade1,6,14.
A base do cimento resinoso é o sistema monomérico BisGMA (Bisfenol-A metacrilato de glicidila) em combinações com
monômeros de baixa viscosidade, além de cargas inorgânicas
tratadas com um agente silano1,17,23,25. As partículas inorgânicas se
apresentam nas formas angulares, esféricas ou arredondadas, com
conteúdo em peso variando entre 36 a 77%12 e diâmetro médio
variando entre 10 a 15 µm10.
Esses materiais têm como vantagens a integração adesiva a
substratos, baixa solubilidade, facilidade de manipulação e estética
compatíveis com as restaurações cerâmicas livres de metal. Quando
associados aos sistemas adesivos podem se unir ao esmalte/dentina
através de retenção micromecânica e aos materiais restauradores
por ligação química e ou mecânica, aumentando a resistência
do remanescente dentário, além de reduzir a microinfiltração e
promover maior conservação da estrutura11.
Como desvantagens dos cimentos resinosos pode-se citar que
possuem um difícil selamento, uma espessura de filme maior que
a dos cimentos tradicionais, apresentam uma possível penetração
na interface dente/material, promovem com frequência uma leve
sensibilidade à polpa e apresentam dificuldade de remoção dos
excessos. Adicionalmente, trata-se de uma técnica meticulosa e
crítica1,6,17,18,23.
Os cimentos resinosos podem ser classificados quanto ao
tipo de tratamento da superfície dental em cimentos resinosos
convencionais e cimentos resinosos autocondicionantes. Os
cimentos resinosos convencionais têm essencialmente a mesma
composição da resina composta, necessitando da prévia realização
da técnica de condicionamento ácido e hibridização com sistema
adesivo para que ocorra a união. No caso dos cimentos resinosos
autocondicionantes, há uma combinação na sua formulação de
componentes do cimento de ionômero de vidro e do cimento
resinoso convencional. Em função disso, é possível obter a união
química ao substrato dentário sem o emprego prévio da técnica de
hibridização com sistema adesivo6.
Além disso, os cimentos resinosos atuais são divididos em
classes, de acordo com o tipo de ativação: classe 1 - cimentos
autopolimerizáveis (self-cured), quando a polimerização é iniciada
pela mistura de um iniciador e um ativador; classe 2 - cimentos
fotoativados, ou seja, quando a energia é fornecida a partir de
fonte fotoativadora para uso intra-bucal (photo-cured) e classe 3,
26
para cimentos de dupla ativação, química e foto (dual-cured) 22.
Os cimentos resinosos quimicamente ativados apresentam
uma reação peróxido-amina que se inicia com a mistura da pasta
base e catalisadora limitando assim o tempo de trabalho para o
cirurgião-dentista. Já os cimentos resinosos fotopolimerizáveis,
apresentam fotoiniciadores como a canforoquinona, que é
ativada na presença de luz com comprimento de onda em torno
de 470 nanômetros, levando assim ao início da polimerização do
material. Os cimentos resinosos duais, por sua vez, desencadeiam
o processo de polimerização com a mistura da pasta base e da
pasta catalisadora, além de terem a possibilidade de associar a
polimerização por meio de fontes de luz. Com a ativação pela
luz do aparelho fotopolimerizador, há uma conversão maior dos
monômeros em polímeros, o que confere melhores propriedades
a esse tipo de material6,11,23,25. Estes cimentos de cura dual foram
desenvolvidos para serem utilizados sob restaurações estéticas, pois
estes materiais restauradores permitem a passagem de luz, que
irá iniciar a polimerização, cabendo à reação química a função de
complementar a polimerização em regiões profundas onde a luz não
é capaz de alcançar21. A aplicação de tempos de fotoativação mais
longos resulta em maior grau de conversão e, consequentemente,
propriedades mecânicas e estéticas melhoradas28.
Estudos prévios têm demonstrado que ambos compostos
resinosos (químicos e fotoativados) podem mudar a cor sobre
tempo através de descoloração extrínseca ou intrínseca3,6,18,19,27.
Essa alteração da cor pode resultar no manchamento superficial, no
manchamento marginal devido à microinfiltração, em mudanças na
morfologia superficial atribuída ao desgaste e degradação interna
do material. A descoloração intrínseca é dependente do material e
de difícil controle pelo cirurgião-dentista. Mostra-se também que
restaurações indiretas estéticas em dentes anteriores alteram sua
cor com o passar do tempo. Visto que as cerâmicas são materiais
inertes e estáveis às alterações do meio, suspeita-se que os cimentos
resinosos duais possam estar causando esta alteração3,12,19. Diante
do exposto, o objetivo deste trabalho foi avaliar a alteração da cor
dos cimentos resinosos duais, utilizando ou não a luz como fonte
de ativação.
MATERIAL E MÉTODOS
MATERIAL
Para a realização da pesquisa foram utilizados os seguintes
materiais: cera laminada nº 7 NewWax (Technew, Rio de Janeiro,
RJ, Brasil), silicona de condensação industrial (Du Latex, São Paulo,
SP, Brasil), água numa temperatura de 80 ºC, cimento dual RelyX
ARC (3M ESPE, Saint Paul, MN, Estados Unidos) na cor A3, RelyX
U100 (3M ESPE, Saint Paul, MN, Estados Unidos) na cor translúcido,
AllCem (FGM, Joinville, SC, Brasil) na cor A2, fotopolimerizador
(Dabi Atlante, Ribeirão Preto, SP, Brasil), placa de vidro, lâmina de
vidro, espátula de manipulação nº 24 e o aparelho VITA Easyshade®
(Vident, Brea, CA, Estados Unidos).
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ARTIGOS CIENTÍFICOS
Miranda CB, Carvalho CF de, Barros JV de, Silva SM de A e
CONFECÇÃO DOS CORPOS-DE-PROVA E DIVISÃO
DOS GRUPOS
Para a obtenção dos corpos-de-prova foi confeccionada uma
matriz de silicona de condensação industrial (Du Latex, São Paulo,
SP, Brasil) com dimensões de 17 cm de diâmetro e 1,9 cm de
espessura contendo 15 orifícios de 1,4 cm de diâmetro por 0,1 cm
de espessura (Figura 1).
Grupo
Cimento
Composição
Ativação
1
RelyX
ARC
Bis-GMA,
TEGDMA,cargas de
cerâmica e silica.
Fotoativado
2
RelyX
ARC
Bis-GMA,
TEGDMA,cargas de
cerâmica e silica.
Autopolimerizado
RelyX
U100
Fibra de vidro,
ésteres ácido fosfórico metacrilato,
TEGDMA, partículas inorgânicas.
Fotoativado
RelyX
U100
Fibra de vidro,
ésteres ácido fosfórico metacrilato,
TEGDMA, partículas inorgânicas.
Autopolimerizado
ALLCEM
Monômeros
metacrílicos,
como TEGDMA
e Bis-GMA, carga
inorgânica, fotoiniciador, co-iniciador,
catalisadores e
pigmentos.
Fotoativado
ALLCEM
Monômeros
metacrílicos,
como TEGDMA
e Bis-GMA, carga
inorgânica, fotoiniciador, co-iniciador,
catalisadores e
pigmentos.
Autopolimerizado
3
4
5
Figura 1 - Matriz de silicona utilizada para confecção dos
corpos-de-prova.
Foram confeccionados 30 corpos-de-prova, divididos em 6
grupos de 5 corpos-de-prova cada, constituídos de diferentes
cimentos resinosos com e sem o uso da luz (Figura 2).
Os cimentos foram manipulados segundo as recomendações
do fabricante. Nos grupos 1 e 2, o cimento utilizado foi o RelyX
ARC (3M ESPE, Saint Paul, MN, Estados Unidos). No grupo 1 o
cimento foi manipulado por 10 segundos e fotopolimerizado
por 40 segundos. No grupo 2 o cimento foi manipulado por 10
segundos e polimerizado por 10 minutos, sem o emprego da
luz. Nos grupos 3 e 4, o cimento utilizado foi o RelyX U100 (3M
ESPE, Saint Paul, MN, Estados Unidos). No grupo 3, o cimento
foi manipulado durante 20 segundos e fotopolimerizado por
20 segundos e, para o grupo 4, o cimento foi manipulado
durante 20 segundos e polimerizado por 5 minutos, sem o
emprego da luz.
Já nos grupos 5 e 6, foi utilizado o cimento AllCem (FGM,
Joinville, SC, Brasil). No grupo 5 o cimento foi manipulado por
10 segundos e fotopolimerizado por 40 segundos. No grupo
6, o cimento foi manipulado por 10 segundos e polimerizado
sem o emprego da luz por 10 minutos. Todos os grupos foram
manipulados em uma placa de vidro e inseridos no molde de
silicona para obtenção dos corpos-de-prova.
AVALIAÇÃO DA ALTERAÇÃO DE COR
Após a confecção dos corpos-de-prova, estes tiveram a
sua cor inicial imediata mensurada através do aparelho VITA
Easyshade® (Vident, Brea, CA, Estados Unidos), que utiliza
tecnologias de espectrofotômetro para tomada da cor, com base
nas escalas VITA. Com os resultados mensurados, os corpos-deprovas foram armazenados em um recipiente plástico contendo
6
Figura 2 - Composição e métodos de ativação dos cimentos
resinosos utilizados nos diferentes grupos de estudo.
água destilada em temperatura ambiente, por um período total
de 45 dias, sendo a cor mensurada a cada 15 dias. Os corposde-prova foram avaliados seguindo os mesmos critérios de
armazenamento, prazo e condições de tomada da cor inicial.
ANÁLISE ESTATÍSTICA DOS DADOS
Os dados obtidos foram avaliados por meio do Teste Chiquadrado, com nível de confiança de 95%.
RESULTADOS
Os resultados obtidos com este estudo encontram-se dispostos
na Tabela 1. Nesta é possível observar a coloração inicial e nos
tempos de 15, 30 e 45 dias.
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Alteração de cor de cimentos resinosos duais ativados com e sem o emprego da luz
continuação
Tabela 1 - Registro da coloração inicial e nos tempos de
avaliação de 15, 30 e 45 dias, considerando os diferentes
cimentos resinosos e formas de ativação.
Registro
após 15
dias
Registro
após 30
dias
Registro
após 45
dias
Grupo
Cimento
Registro
Imediato
1
Rely X
ARC
B3
B3
B3
B3
1
Rely X
ARC
B3
B3
B3
B4
1
Rely X
ARC
B3
B3
B4
B3
1
Rely X
ARC
B4
B4
B4
B4
1
Rely X
ARC
B3
B3
B3
B4
2
Rely X
ARC
B4
A3,5
A3,5
A3,5
2
Rely X
ARC
B4
B4
A3,5
A3,5
2
Rely X
ARC
B3
B3
B3
A3,5
2
Rely X
ARC
B3
B4
B4
A3,5
2
Rely X
ARC
B3
B4
B4
B4
3
Rely X
U100
B3
B3
B3
B3
Rely X
U100
B2
3
B2
B2
B2
3
Rely X
U100
A1
A1
B2
B2
3
Rely X
U100
B2
B2
B2
B2
3
Rely X
U100
B2
B2
B2
B2
4
Rely X
U100
B2
B2
B2
B2
Rely X
U100
B2
4
B2
B2
B3
4
Rely X
U100
B2
B2
B2
B2
4
Rely X
U100
B2
B2
B2
A1
4
Rely X
U100
B2
B2
B2
A1
5
ALL
CEM
B4
B4
B4
B4
5
ALL
CEM
B4
5
ALL
CEM
B4
B4
B4
B4
5
ALL
CEM
B4
B4
B4
B4
5
ALL
CEM
B4
B4
B4
B4
6
ALL
CEM
B4
B4
B4
B4
B4
B4
B4
6
ALL
CEM
B4
B4
B4
B4
6
ALL
CEM
B4
B4
B4
B4
6
ALL
CEM
B4
B4
B4
B4
6
ALL
CEM
B4
B4
B4
B4
conclusão
Os presentes dados foram avaliados, considerando-se ou não a
presença de alguma alteração de cor (Tabela 2 e Figura 3).
Tabela 2 - Presença ou não da alteração de cor para os
diferentes grupos de estudo e tempos de avaliação.
Grupo
Registro
Imediato
Alteração
de cor
após 15
dias
Alteração
de cor
após 30
dias
Alteração
de cor
após 45
dias
1
B3
Não
Não
Não
1
B3
Não
Não
Sim
1
B3
Não
Sim
Não
1
B4
Não
Não
Não
1
B3
Não
Não
Sim
2
B4
Sim
Sim
Sim
2
B4
Não
Sim
Sim
2
B3
Não
Não
Sim
2
B3
Sim
Sim
Sim
2
B3
Sim
Sim
Sim
3
B3
Não
Não
Não
3
B2
Não
Não
Não
3
A1
Não
Não
Sim
3
B2
Sim
Não
Não
3
B2
Não
Não
Não
4
B2
Não
Não
Não
4
B2
Não
Não
Sim
4
B2
Não
Não
Não
4
B2
Não
Não
Sim
4
B2
Não
Não
Sim
5
B4
Não
Não
Não
5
B4
Não
Não
Não
5
B4
Não
Não
Não
5
B4
Não
Não
Não
5
B4
Não
Não
Não
6
B4
Não
Não
Não
6
B4
Não
Não
Não
6
B4
Não
Não
Não
6
B4
Não
Não
Não
6
B4
Não
Não
Não
continua
28
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ARTIGOS CIENTÍFICOS
Miranda CB, Carvalho CF de, Barros JV de, Silva SM de A e
Figura 3 - Número de amostras com e sem alteração de cor
em cada grupo de estudo.
Nenhuma leitura correspondeu à cor do fabricante, sendo a cor
inicial A3 para o RelyX ARC, transparente para o RelyX U100 e A2
para o AllCem.
Em seguida, estes dados foram submetidos à análise estatística
com nível de confiança de 95%, e avaliados por meio do Teste
de Chi-Quadrado. Os resultados indicaram existir diferença
estatisticamente significante entre os grupos de estudo (ChiSq = 36,78; DF = 5; P-Value = 0,0). Assim, foi realizada uma
avaliação para cada grupo separadamente. Os grupos 1, 3, 4, 5
e 6 demonstraram não haver alteração de cor estatisticamente
significante em nenhum dos tempos de avaliação (p > 0,05). Já no
grupo 2 houve uma alteração de cor significativa (Chi-Sq = 20; DF
= 1; P-Value = 0,0).
Observando-se os dados é possível, ainda, aferir que no grupo
2 a alteração de cor foi crescente, aumentando com o decorrer do
tempo. Os resultados de alteração de cor encontrados foram de
60%, 80% e 100%, respectivamente para os tempos de 15, 30
e 45 dias.
DISCUSSÃO
O conhecimento das propriedades físico-mecânicas do
material de cimentação que se trabalha é de fundamental
importância, uma vez que manipulações e aplicações
incorretas podem resultar em grandes alterações das mesmas,
comprometendo assim o desempenho físico e mecânico
dos cimentos e, consequentemente, o desempenho clínico
da restauração a longo prazo.17 Neste ponto, uma grande
preocupação com relação às propriedades dos cimentos
resinosos diz respeito a sua incompleta polimerização, a qual
pode ser identificada por meio de diversos métodos como
o grau de conversão, que determina o percentual de duplas
ligações e alterações na microdureza do material13,16,19,27. Outros
autores16-17 afirmam que os principais problemas associados
a uma inadequada polimerização incluem propriedades
físicas insatisfatórias, aumento da solubilidade, presença de
microinfiltração marginal e consequente alteração de cor.
Diversos estudos têm demonstrado que os materiais
resinosos sofrem alteração de cor devido à presença de
determinados componentes químicos presentes nos mesmos e
também em função de agentes externos2,3,5,19,24. Essa alteração
de cor pode ser medida através de um espectrofotômetro, que é
um aparelho que mensura a reflexão e ou fatores de transmissão
de comprimento de onda de um objeto num momento24. Outro
autor16 relata que a avaliação por meio de aparelhos como o
espectrofotômetro e calorímetro eliminam a interpretação visual
subjetiva e devem ser utilizados para medir alterações de cor em
materiais dentários.
Em relação aos fatores externos que influenciam na alteração
de cor de materiais resinosos, dois pesquisadores15 relatam
que a mesma se dá pela exposição destes ao meio ambiente
oral. As margens das restaurações indiretas, por exemplo, são
as mais afetadas devido à exposição do material. Segundo
autores19,27 existe uma alteração de cor visual, influenciada por
diversos fatores como: saliva, oxigênio, raios UV, mudanças
de temperatura e corantes presentes nos alimentos. Vários
estudos16 relatam também que fatores extrínsecos causam
manchamentos de tecidos orais e restaurações especialmente
quando combinados com fatores da dieta como presença
de café, chá e nicotina. O estudo de outros pesquisadores19,
mostram a tendência das resinas dentais para mostrar alterações
de cor sobre períodos extensos, sendo a descoloração ao longo
do tempo um fenômeno com mudanças evidentes contínuas
através de observações periódicas. Neste trabalho, contudo, não
se observou uma alteração de cor significativa para a maioria
dos cimentos avaliados.
Quando são considerados os fatores internos, de composição
química, alguns estudos mostram que a alteração de cor de
cimentos resinosos ocorre primordialmente devido à oxidação
da amina, um componente necessário para iniciação da
polimerização. Usualmente, em cimentos fotopolimerizáveis, a
amina alifática é a mais utilizada, enquanto que em cimentos
com polimerização química, a amina terciária aromática é a mais
utilizada15,19. De acordo com esses estudos, a amina terciária
aromática é a que mais sofre o processo de oxidação e por isto
os cimentos resinosos químicos sofrem maior alteração de cor
quando comparados com os fotopolimerizáveis.
Atualmente, para se obter um maior grau de conversão,
foram introduzidos no mercado os cimentos resinosos duais, ou
seja, cimentos resinosos que se polimerizam por meio da luz azul
visível em associação à reação química. Vários autores5,8,10,13
concordam que a ação dos dois sistemas de ativação (emissão
de luz visível + reação química) aumenta o grau de conversão
dos monômeros em polímeros e melhora as propriedades físicas
dos cimentos. Contudo, para que ocorram os dois mecanismos
de polimerização, os cimentos duais contém os dois tipos de
amina e, teoricamente, estão mais sujeitos às alterações de cor.
Porém, alguns trabalhos2,3,9 têm demonstrado que quando
estes cimentos duais não são submetidos à fotopolimerização a
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Alteração de cor de cimentos resinosos duais ativados com e sem o emprego da luz
reação química, por si só, não é capaz de promover a conversão
máxima dos monômeros em polímeros, alterando também a sua
tonalidade com o passar do tempo. Segundo eles, a polimerização
dos compósitos com a luz visível obteve melhor estabilidade de
cor quando comparada com os materiais autopolimerizáveis
contendo aceleradores de amina-terciária aromática. Com o
mesmo pensamento, outro autor6 relatou que os cimentos
resinosos duais apresentam uma instabilidade química maior
devido à presença da amina terciária, podendo sofrer alteração
de cor com o passar do tempo, prejudicando, assim a estética da
restauração ao longo dos anos. Diversos autores7,19 acrescentam
que a amina terciária pode ter contribuído para a alteração
de cor, pois diante da avaliação deles os cimentos resinosos
fotopolimerizados tem menor tendência de alteração que os
cimentos duais. Em contrapartida, outro estudo18 relata que os
cimentos fotoativos são menos estáveis à mudanças de cor do
que os cimentos duais e que as cores mais claras mancham mais
rapidamente que as escuras.
No presente trabalho, este resultado pode ser observado no
grupo 2 em que não foi utilizada a fotoativação e o mesmo
apresentou o maior grau de alteração de cor, especialmente
comparado ao grupo 1, em que foi utilizado o mesmo cimento,
porém com associação da fotoativação.
Este estudo mostra alteração de cor apenas em um dos
grupos avaliados, correspondendo este, ao cimento RelyX ARC
que não foi ativado por luz, discordando com outra pesquisa19,
que afirma que houve mudança significativa em todas as
amostras, sendo estas de cimentos fotopolimerizados e os de
presa dual. Diante destes resultados, supõe-se que este cimento
apresenta componentes em sua composição, provavelmente
agentes iniciadores, que o tornam mais suscetível à alteração
de cor quando a polimerização não é iniciada também com o
emprego de luz.
Diante do exposto, autores20 evidenciam que apesar de
possíveis melhorias em todas as variáveis envolvidas nas
cimentações, cuidados adicionais devem ser tomados, uma vez
que o ativador químico apresentou ação limitada no decorrer do
tempo. Dessa forma, a fotoativação desses materiais, durante
a cimentação de restaurações estéticas de resinas compostas
indiretas, deverá ser bastante criteriosa.
Como discutido, é sabido que a polimerização inadequada
de um agente de cimentação resinoso está associada com
problemas como a sensibilidade, microinfiltração e cáries
recorrentes, suscetibilidade à degradação marginal, alteração
da cor e reduções nas propriedades mecânicas26. Um grau
adequado de conversão do agente de cimentação é, portanto,
importante para o sucesso clínico global. Indica-se, diante do
exposto, que se realize preferencialmente uma polimerização
inicial com luz para potencializar a conversão de monômeros
em polímeros e, desta forma, assegurar longevidade e
biocompatibilidade à restauração.
30
CONCLUSÃO
Concluiu-se que a avaliação de cor inicial dos cimentos
resinosos não correspondeu à cor indicada pelos fabricantes,
bem como se observou uma diferença na estabilidade de cor do
cimento RelyX ARC quando não se empregou a fotoativação.
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