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Foto: Elza Lima
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Foto: Elza Lima
Revista de Letras
V 12. n. 25. junho. 2009
UNIVERSIDADE DA AMAZÔNIA
Reitor
Édson Raymundo Pinheiro de Sousa Franco
Vice - Reitor
Antônio de Carvalho Vaz Pereira
Pró - Reitor de Ensino
Mário Francisco Guzzo
Pró - Reitora de Pesquisa, Pós- Graduação e Extensão
Núbia Maria Vasconcelos Maciel
Diretor do Centro de Ciências Humanas e Educação
Edval Bernardino Campos
Coordenadora do Curso de Letras
Maria Célia Jacob
Comissão Editorial desta edição
Membros
Amarílis Tupiassú
Rosa Maria Coelho de Assis
João Carlos Pereira
Leonor Severa Miglio
Maria Miranda
Organização
Maria Célia Jacob
Victor Sales Pinheiro
Capa e projeto gráfico
José Fernandes
Produção
Centro de Ciências Humanas e Educação
Curso de Letras
[email protected]
Distribuição /Assinaturas/ Intercâmbio
Editora UNAMA - EDUNAMA
Av. Alcindo Cacela,287 CEP 66.060-902 Belém- Pará
Telefone (91) 40093145 Fax: (91) 4009319
http://www.unama.br
[email protected]
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Benedito Nunes - Edição Comemorativa
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Asas da Palavra
ISSN 1415-7950
Corpo Editorial Interno
Amarílis Tupiassu
Carlos Paixão
Edval Bernardino Campos
Josse Fares
Lucilinda Teixeira
Maria do Perpétuo Socorro Cardoso da Silva
Paulo Martins Nunes
Rosa Maria Coelho de Assis
Corpo Editorial Externo
Adma Fadul Muhana - USP
Alcir Pécora - UNICAMP
Aldrin Moura de Figueiredo - UFPA
Audemaro Taranto Goulart - PUC. MG
Antonio Medina - USP
Benedito Nunes - UFPA
Célia Brito - UFPA
Dina Oliveira - UFPA
Geraldo Mártires Coelho - UFPA
Gilberto Mendonça Teles - PUC.RJ
Jerusa Pires Ferreira - PUC.SP
João Adolfo Hansen - USP
João Nuno Corrêa-Cardoso - U.Coimbra.PT
João Wanderley Geraldi - UNICAMPe U. do Porto. PT
José Ribamar Ferreira Júnior - UFMA
Josebel Akel Fares - UEPA
Jussara Derenji - UFPA
Márcia Marques de Morais - PUC.MG
Maria de Lourdes Abreu de Oliveira - CES/JF
Maria Luiza Ortiz Alvarez - UNB
Nícea Helena Nogueira - CES/JF
Pedro Pinho - UFPA
Esta publicação foi elaborada por docentes do Curso de Letras
da Universidade da Amazônia, UNAMA, assim como por
outros autores convidados, com o patrocínio do Banco Itaú.
Este número especial comemora os oitenta anos do crítico
literário e filósofo paraense BENEDITO NUNES.
FICHA CATALOGRÁFICA - UNAMA
Asas da Palavra - revista de Letras - Belém: Unama, v 12 n. 25, 2009. Semestral.
434 p.
ISSN 1415-7950
1. Literatura - Estudos críticos, artigos, ensaios, memórias, resenhas, ficção, tradução, poesia. Periódicos.
2. Linguística. I.UNIVERSIDADE DA AMAZÔNIA. Curso de Letras.
CDD 400
Universidade da Amazônia
Centro de Ciências Humanas e Educação
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Revista da Graduação em Letras
Semestral V. 12 - n. 25 - junho - 2009 - ISSN 1415-7950
Iconografia
As fotos e imagens apresentadas nesta edição foram
gentilmente cedidas e pertencem ao acervo de:
Elza Lima
Luiz Braga
David Jackson
Rosário Lima
Maria Sylvia Nunes
Lília Chaves
Pedro Pinho e Rosa Assis
Dina Oliveira
Ernani Chaves
Adriana Klautau
Stella Pessôa
Reproduções de imagens
Revista Benedictus. UFPA. 1998 (reprodução)
Revista Asas da Palavra. UNAMA, n. 22 e 23. 2007 e 2008.
Jornal O Liberal, 24.11.1998, p.8.
Capa
Foto: Luiz Braga
8
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Universidade da Amazônia
Centro de Ciências Humanas e Educação
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Revista da Graduação em Letras
Semestral V. 12 - n. 25 - junho - 2009 - ISSN 1415-7950
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FRAGMENTO n. 3
Ainda ninguém despertei
Ainda comigo ninguém leva
A impressão inicial da vida.
Todos acordados me olham
Interrogam e procuram em mim
O inatingível de cada coisa.
(Benedito Nunes, 1947)
O pensamento antecipa o meu gesto nesta margem
opaca.
Seria este o rio de tantos dizeres?
Chegando ao fim da espera,
quem convive em seu silêncio
não esquece a alegria de pensar.
Percebo o brilho das reflexões perdidas,
o longe das estrelas:
que dure a vida o tempo da resposta.
A teus pés, o sopro do vento eterno da escrita.
Lançaste a vida na travessia da palavra.
Foto: Luiz Braga
( Lília Chaves, 2009)
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Foto: acervo Maria Sylvia Nunes, 1948
Sumário
19
I APRESENTAÇÃO
23
II INTRODUÇÃO
Victor Sales Pinheiro
25
A FORMAÇÃO DE BENEDITO NUNES
51
BIBLIOGRAFIA DE BENEDITO NUNES
63
NOTA BIOGRÁFICA DE BENEDITO NUNES
65
III CONVERSAS COM BENEDITO NUNES
67
O ROTEIRO DOS LIVROS DE UM SÁBIO PARAENSE
Entrevista concedida ao jornalista Lucio Flávio Pinto
76
ENCONTRO COM BENEDITO NUNES
Entrevista concedida ao filósofo Edson Coelho
87
A FILOSOFIA NOSSA DE CADA DIA
Entrevista concedida à revista Mão Livre
93
A OUTRA VEREDA
Entrevista concedida à professora Rosa Assis
99
IV CRÔNICAS SOBRE BENEDITO NUNES
101
MULTÍMODO, PROFUSO, INQUIETO BENEDITO NUNES
Amarílis Tupiassú
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107
BENEDITO NUNES E O CINEMA
Pedro Veriano
111
BENEDITO NUNES: Sedutor Convite ao Banquete Filosófico
Ângela Maroja
113
A PRESENÇA DE BENEDITO NUNES NO CIBERESPAÇO
Maria Stella Faciola Pessôa Guimarães
133
BENEDITO NUNES: a Inteligência Presente
Nelly Cecília Paiva Barreto da Rocha
135
BENEDITO NUNES, O PROFESSOR
José Maria Bassalo
139
A TRAVESSA DA ESTRELA E O METONÍMIA BEN(E)DITO
Paulo Nunes
143
UMA POSIÇÃO SINGULAR
Maria Annunciada Ramos Chaves
145
V ESTUDOS SOBRE A OBRA DE BENEDITO NUNES
147
REFLEXÕES ACERCA DA CRÍTICA DE BENEDITO NUNES
Jucimara Tarricone
167
O FILÓSOFO E O POETA
Lilia Chaves
187
CONTRIBUIÇÃO DE BENEDITO NUNES À BIBLIOGRAFIA ROSIANA
Sílvio Holanda, Aldo José Barbosa, Loíde Leão dos Santos,
Marcellus da Silva Vital, Johann Raphael Gomes Guimarães
195
O UNIVERSALISMO DE BENEDITO NUNES
Victor Sales Pinheiro
211
DA FLORESTA NEGRA AO VERDEVAGOMUNDO –
O Pensamento de Heidegger em Benedito Nunes
Gunter Karl Pressler
219
VI ENSAIOS EM HOMENAGEM A BENEDITO NUNES
221
JOÃO GUIMARÃES ROSA - Um Mestre que Ensina a Dialogar com o Povo
Willi Bolle e Maira Dalalio
235
O ENCOBERTO QUE VEM NO DESEJO
Alcir Pécora
247
PAIXÃO E CIÚME: Uma Abordagem “Problemática e Aproximativa” de um Poema de Safo
Adélia Bezerra de Meneses
259
DRUMMOND E O LIVRO INÚTIL
João Adolfo Hansen
277
ODE MARÍTIMA
Audemaro Taranto Goulart
14
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289
NIETZSCHE, FREUD E MARX: Ricoeur, Foucault e questão da hermenêutica
Ernani Chaves
297
PARA QUE FENOMENOLOGIA “DA” EDUCAÇÃO
E “NA” PESQUISA EDUCACIONAL?
Aniceto Cirino da Silva Filho
309
VII HOMENAGENS POÉTICAS A BENEDITO NUNES
311
H’ERA
Max Martins
313
CANÇÃO
Age de Carvalho
315
POESIA DE UM JEITO VISUAL
Dina Oliveira
316
PARA E PELO SER
Lilia Chaves
319
ISSO, O AQUILO
Vicente Cecim
321
A NATUREZA RI DA CULTURA
Milton Hatoum
327
RÉQUIEM PROFANO E GLORIOSO PARA
CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE
Pedro de Assis
347
VIII ESCRITOS DE BENEDITO NUNES
349
MEU CAMINHO NA CRÍTICA
365
QUASE UM PLANO DE AULA
373
A FILOSOFIA E O MILÊNIO
385
UNIVERSIDADE E REGIONALISMO
397
UM CONCEITO DE CULTURA
411
IX BENEDITO NUNES E O
TÍTULO DE DOUTOR HONORIS CAUSA
413
SAUDAÇÃO
Amarílis Tupiassú
417
AGRADECIMENTO
Benedito Nunes
421
X CADERNO ICONOGRÁFICO
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Foto: Elza Lima
I. Apresentação
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Foto: Luiz Braga
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Prestamos verdadeiro desfavor aos nossos grandes autores quando os
admiramos apenas passivamente, deles não trazendo senão o nome na lembrança,
sem jamais questionar o motivo de seu prestígio. Não há respeito intelectual
possível sem a compreensão do alcance da obra, vivida e escrita, de determinado
pensador. A fim de homenagear um dos maiores intelectuais brasileiros, este
volume de Asas da Palavra é dedicado a Benedito Nunes, rendendo-lhe tributo
no seu octagésimo aniversário, para que novos leitores e alunos façam como os
autores desta revista, admirem-no e valorizem-no pelo reconhecimento da
grandeza de sua pessoa e obra.
Lecionando desde os 19 anos, inclusive aos seus contemporâneos,
Benedito Nunes é professor de três gerações de paraenses, além de ser o autor
de uma extensa e aclamada obra de crítica literária e filosófica. As crônicas
deste volume o registram: não é só a obra escrita de Benedito Nunes que
estimamos, mas também a sua personalidade, a maneira cativante e apaixonada
com que apresenta os temas, a doçura e a generosidade no trato com os alunos,
o seu “vivo interesse pelos aspectos mais nobres da existência humana”, como diz a sua
mais antiga professora, Anunciada Chaves, o “seu comportamento inquisitivo, sua
permanente busca intelectual”, como lembra a sua mais nova aluna, Stella Pessoa.
Com efeito, Angela Maroja tem razão, Benedito Nunes é mesmo socrático, provoca
seguidores, é responsável pela “rendição à filosofia”, atraindo sempre novos
discípulos à partilha de seu “banquete filosófico”.
Os paraenses não são, porém, os únicos beneficiados do convívio de
Benedito Nunes, que é professor convidado de diversas instituições acadêmicas,
nacionais e estrangeiras. Professores procedentes de outras regiões do Brasil,
como o amazonense Milton Hatoum e o paulista Alcir Pécora, dentre outros,
representam os apreciadores de Benedito Nunes ao longo do país. Radicado à
da palavra 19
margem dos centros hegemônicos das universidades sulistas de um país
intelectualmente periférico, Benedito Nunes é certamente um dos intelectuais
mais universais da história cultural da Amazônia, mostrando como ser antiprovinciano mesmo morando na província. Os seus escritos selecionados para
esta edição mostram a dimensão alargada e abrangente de seu pensamento, desde
a sua primeira aula inaugural, em 1973, Um conceito de cultura, até a recente
conferência Meu caminho na crítica, pronunciada na Academia Brasileira de Letras,
em 2005, sobre o seu instigante percurso intelectual. Dentre as entrevistas deste
volume, destaca-se a concedida ao jornalista Lúcio Flávio Pinto, na qual se
observa a formação literária humanista de Benedito Nunes, um “navegante de
todas as águas”, na feliz expressão do mineiro Audemaro Taranto Goulart.
Os ensaios em homenagem a Benedito Nunes aqui enfeixados denotam,
igualmente, a amplitude de seu horizonte, seja por autores nacionais, como
Guimarães Rosa - de quem é um consumado intérprete, como demonstra o
balanço crítico de Silvio Holanda -, seja de estrangeiros, como Fernando Pessoa,
outro autor por ele muito estudado, pela convergência da literatura e filosofia
na sua obra. Tema do penetrante estudo de Jucimara Tarricone, é como filósofo
hermenêutico que o crítico literário Benedito Nunes realiza o diálogo entre
literatura e filosofia, interlocução pensada também em razão das amizades que
sempre nutriu com poetas, e cuja fecundidade ressaltou Lilia Chaves, ao tratar
do seu contato com Mário Faustino.
Se a literatura lhe é tão valorosa, não poderiam faltar homenagens poéticas
nesta edição, a começar pela primeira delas, o poema H’era, que remonta a
1971, de autoria de Max Martins, outra amizade essencial de Benedito Nunes.
Longe de ser uma cartografia completa da biografia, da obra e do interesse
de Benedito Nunes, esta edição é um precioso traçado que reforça a nobre
vocação da revista Asas da Palavra de valorização e difusão de autores
fundamentais da cultura letrada na Amazônia, da qual Benedito Nunes é um
dos mais brilhantes protagonistas e o mais fértil núcleo catalisador.
Victor Sales Pinheiro (org.)
20
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Impossível é conseguir sintetizar, nas quase quatrocentas e cinquenta
páginas desta edição comemorativa de Asas da Palavra, a importância de
Benedito Nunes, um dos mais respeitados pensadores brasileiros vivos deste
século e um dos intelectuais decisivos no debate acadêmico contemporâneo
sobre a nossa cultura, nossa língua, nossa humanidade.
Nessa faina, se não fossem só as virtudes deste pensador, conhecido pela
simplicidade e, ao mesmo tempo, pelo absoluto domínio das teorias filosóficas
e estéticas que revolucionaram a atual intelectualidade e a crítica brasileira e
internacional, há ainda que se ressaltar os atributos do cidadão amazônida
Benedito José Vianna da Costa Nunes que se assemelham às qualidades do
professor, filósofo e crítico renomado. O que é constatado na trajetória íntegra,
coerente e digna de um homem que nunca abriu mão de seus princípios éticos,
do intelectual fiel à nossa região; do crítico paraense que defende, segundo o
jornalista José Castello, a radicalidade dos nossos escritores para afirmar a
grandeza da Amazônia, sem, no entanto, ceder à força inebriante dos mitos.
O volume de contribuições, portanto, justifica dois organizadores neste
número de Asas. Nesse sentido, fundamental foi a parceria feliz e produtiva
com Victor Sales Pinheiro, o jovem pesquisador e já profundo conhecedor da
obra do filósofo e crítico, atributos essenciais para a organização, em seções, do
farto material que já existia do próprio Benedito e sobre ele, e do que a nós
chegou em forma de artigos,crônicas, poemas, ensaios, estudos a respeito dos
autores objetos de leitura do filósofo, crítico, professor, amigo e cidadão Bendito
Nunes. Ao qual juntam-se as homenagens poéticas em fotografias e desenho textos também visuais - que levam em conta, além da vasta obra, a relevância
de sua participação do filósofo na construção de uma sociedade mais humana.
Aos 80 anos, que se completam neste 2009, embora aposentado, como
Professor Emérito pela UFPA, e agora, como Doutor Honoris Causa pela
Universidade da Amazônia - UNAMA, Benedito continua ensinando.
Baseado na crença de que os primeiros passos rumo à realização da paz
se iniciam com o diálogo de vida a vida, Benedito Nunes engaja-se em uma
diplomacia do cidadão comum tanto em sua rotina de leitor, de autor, de
conferencista em universidades europeias e americanas, como na de professor,
em suas aulas de filosofia ou de crítica que continuam a ser oferecidas à
população paraense; tanto ao encontrar-se com líderes intelectuais do Brasil e
de outros pontos do mundo, como ao dividir, como tem feito sistematicamente,
em preleções, com estudantes deste pedaço da Amazônia, conhecimentos
armazenados em anos de intensa pesquisa e apaixonado autodidatismo.
Em todas essas e aquelas situações citadas, revela-se, além de um
intercâmbio de opiniões a respeito dos desafios que se interpõem à humanidade,
a magnitude de Benedito Nunes e de sua obra.
Maria Célia Jacob (org.)
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Foto: Elza Lima
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II. Introdução
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24
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Foto: Luiz Braga
A formação de Benedito Nunes1
Victor Sales Pinheiro2
“Para o homem, uma vida não refletida
não é digna de ser vivida”
Platão, Apologia de Sócrates, 38ª
1
Este ensaio foi escrito
como introdução ao livro PINHEIRO, Victor Sales; LIMA,
Luiz Costa; (org.) O pensamento
poético. Homenagem a Benedito
Nunes. Rio de Janeiro: Azougue Editorial, 2009 (no prelo).
2
Mestrando em Filosofia na
PUC-Rio.
3
COLLINGWOOD, R.G. An
autobiography. Oxford: Oxford
University Press, 1987. p.vii
Os ensaios de biografia intelectual deveriam esboçar, de saída, uma solução
para a tensão existente na relação entre a vida e a obra de certos autores. Os
pensadores cuja obra lhes transcende a vida presenteiam os seus biógrafos com
uma perplexidade que os faz reticentes quanto à possibilidade de relacionar a
produção intelectual do biografado com o percurso de sua existência. Em certos
autores, a bibliografia retém a biografia, a obra engloba a vida, de modo que o
homem permanece recolhido no autor, que se avulta ao ponto de absorvê-lo.
Assim, parece justa a idéia com que Collingwood inicia o prefácio de sua
autobiografia: a biografia de um homem cuja vida é o pensar deve ser a estória de seu
pensamento.3 Mas, antes do pensamento, como se forma o pensador? O que origina e
alimenta uma atividade intelectual fecunda e ininterrupta ao longo de uma vida?
Os oitenta anos de Benedito Nunes e a sua vasta obra suscitam essas reflexões.
Quando se consuma a formação de um intelectual? Pela lógica acadêmica,
quando ele, institucionalmente formado, torna-se professor e passa a instruir os
seus alunos. No entanto, este raciocínio resulta ineficiente para compreender a
vida filosófica e a obra crítica de Benedito Nunes, um humanista autodidata, que
alargou o cultivo do conhecimento para além de qualquer ocupação profissional,
tornando-o o sentido da própria existência.
Com exceção do curso de pós-graduação, terceiro ciclo, no Instituo de Estudos
Portugueses e Brasileiros da Sorbonne, que frequentou entre 1967 e 1969, Benedito
Nunes, um dos nossos grandes professores e ensaístas de filosofia e literatura,
da palavra 25
não teve formação universitária nestas disciplinas. Aprendeu-as praticamente
sozinho, pela leitura, e através do diálogo com os amigos, protagonistas de sua
formação. Acostumou-se a ler, desde cedo, tomando notas, resenhando e
articulando temas à medida em que acumulava conhecimentos no estudo
sistemático que realiza desde a adolescência. Estas notas eram trabalhadas e
aperfeiçoadas em escritos, com os quais Benedito Nunes, antes de tudo,
organizava as suas ideias e ensinava a si mesmo. A escrita sempre lhe foi o
exercício do próprio pensamento, um solilóquio em que se uniam o ensino e o
aprendizado. O ensaio, a forma de praticar a “liberdade de espírito”, que “não
admite que seu âmbito de competência lhe seja prescrito”, renunciando qualquer
“delimitação de objeto”, como bem assinalou Adorno4.
Leitor voraz desde menino, a sua atividade de escritor inicia aos 16 anos,
quando começou a publicar ensaios críticos no Suplemento Literário do jornal
A Folha do Norte, de Belém, entre 1946 e 1951; em 1952, escreverá artigos para
a Revista Norte. Estes momentos registram a primeira ebulição intelectual de
Benedito Nunes, o início de seu filosofar. Este é o tema do presente ensaio,
que, num primeiro momento, reflete sobre as amizades que despertaram nele o
amor ao conhecimento.
A partir de 1956, consolida-se a militância cultural de Benedito Nunes,
que passa a contribuir regularmente, com ensaios de filosofia e crítica literária,
para A Província do Pará (entre 1956 e 1957), Jornal do Brasil (entre 1956 e 1961),
Estado de São Paulo (entre 1959 e 1982), Estado de Minas Gerais (entre 1963 e
1974) e Folha de São Paulo (entre 1971 e 2006), sem prejuízo de inúmeras revistas
acadêmicas, principalmente para a portuguesa Colóquio Letras (entre 1971 e 2000).
Seus dois livros didáticos5, Introdução à filosofia da Arte, de 1966, e Filosofia
contemporânea, de 1967, foram escritos para a coleção Buriti, coordenada por
Antonio Candido. Eles resultam da exposição metódica dos temas filosóficos
discorridos avulsamente nas páginas do Jornal do Brasil. Seu primeiro livro, O
mundo de Clarice Lispector, de 1966, enfeixa ensaios publicados no Estado de São
Paulo, como o faz O Dorso do Tigre, de 1969, o primeiro a unir no flanco movediço
da linguagem os seus dois grandes interesses, a filosofia e a literatura.
O livro que ora é introduzido apresenta criticamente a sua obra sobretudo
a partir de O mundo de Clarice Lispector. Sem considerá-lo um período delimitativo
- como se a partir de então, formado, já começasse a sua atividade como
multiplicador de um saber já adquirido -, este ensaio concentra-se na fase de
sua juventude, nos primeiros escritos na Folha do Norte e na Revista Norte, período
que corresponde à sua formação. Entretanto, a formação que se pretende sublinhar
é a de uma vida filosófica, dedicada à busca e disseminação do saber, ocorridas de
forma simultânea e indissociável, em que aprender e ensinar se confundem num
mesmo gesto de atenção à vida. Autodidata, Benedito Nunes forma-se
formando, aprende para e no ensinar, conferindo à palavra formação o duplo
aspecto, da ação formativa de alunos e leitores, e da dinâmica existencial de
consolidação de uma vida filosófica.
26
da palavra
4
ADORNO, T.W. Notas de literatura I. Tradução Jorge de
Almeida. São Paulo: Ed.34,
2003. p.16 e 29.
5
Embora a exposição didática esteja difusamente presente ao longo da ensaística de
Benedito Nunes, o seu outro
livro de caráter predominantemente didático é Heidegger e
ser e tempo (Jorge Zahar, 2002).
Que o homem de carne e osso incorpora a Filosofia quando lhe empenha a
vida, Benedito Nunes aprendeu com a leitura de Miguel de Unamuno, descoberto
aos 15 anos. Com efeito, em Do sentimento trágico da vida, um dos livros
fundamentais na formação de Benedito Nunes6, Unamuno afirma que a filosofia
“se refere ao nosso destino todo, a nossa atitude diante da vida e do universo”, ela “responde
à necessidade de formarmos uma compreensão unitária e total do mundo e da vida, e como
conseqüência desta concepção, um sentimento que engendre uma atitude íntima e voltado
para uma ação.” A filosofia, portanto, implica numa conversão interior, num
conhecimento vivido e praticado na inteireza da existência do homem que
filosofa. Diz Unamuno:
“A filosofia é um produto humano de cada filósofo, e cada filósofo é um homem de carne e osso
que se dirige a outros homens de carne e osso como ele. E faça o que queira, filosofa, não só com
a razão, senão com a vontade, com o sentimento, com a carne e com os ossos, com a alma toda
e com todo o corpo. Filosofa o homem.”7
6
Na entrevista a Lúcio Flávio Pinto, Benedito Nunes
elenca dez livros mais importantes de sua vida: 1) Apologia
de Sócrates, de Platão; 2) O sentimento Trágico da Vida, de Unamuno; 3) José e seus Irmãos, de
Thomas Mann; 4) A Morte de
Ivan Ilitch, de Tolstói; 5) A crítica da Razão Pura, de Kant; 6)
Em Busca do Tempo Perdido, de
Proust; 7) Grande Sertão: Veredas, de Guimarães Rosa; 8) A
Rosa do povo e Claro enigma (poemas elegíacos), de Drummond; 9) A paixão Segundo
G.H., de Clarice Lispector; e
10) Ser e tempo, de Heidegger.
Em: NUNES, Benedito. Um
roteiro dos livros de um sábio paraense. Belém: Editora da Universidade Federal do Pará,
1991. Incluído em _____ Do
Marajó ao arquivo: um breve panorama da cultura no Pará. Organização Victor Sales Pinheiro.
Belém: ED UFPA, 2009. (no
prelo).
7
UNAMUNO, Miguel de
Unamuno. Del sentimiento trágico de la vida em los hombres y em
los pueblos / Tratado Del amor de
Dios. Madrid, Tecnos, 2005. p.
98, 114, 131.
8
NUNES, Benedito. Ética e
leitura. Em _____. Crivo de papel. São Paulo: Ática, 1998. p.
178
Formado pelas leituras filosóficas e literárias, Benedito Nunes dedica-se
à formação de leitores, consciente da função humanizadora, do alcance ético
da filosofia e da literatura na vida do homem. No ensaio Ética e leitura,
compartilhando a sua experiência de homem “irremediavelmente livresco”,
Bendito Nunes divisa a complementaridade que a Filosofia e a Literatura tiveram
na sua formação pessoal. Aquela proporciona o “talismã da teoria e da abstração”,
pela
“visada reflexiva e crítica de toda filosofia, com o seu regime lógico-retórico: conceitos, encadeamento
coerente entre eles, argumentação persuasiva. (...) Mas o valor da descoberta, sem dúvida de
alcance reflexivo, é genérico, afetado pelo índice de distanciamento teórico relativamente às coisas
humanas. Ao leitor, na posição de quem cumpre uma tarefa intelectual, como agente de um saber
teórico a partilhar com o outros, faltaria o conhecimento do particular, do individual, da
subjetividade, dos sentimentos, que só a Literatura pode transmitir.”
Para ele, “o alcance ético das obras literárias” estaria no
“saber de nós mesmos e dos outros, dos sentimentos primários, como amor e ódio, quanto da
estima, do respeito de si próprio, do reconhecimento do sujeito humano, de sua liberdade ou de sua
existência alienada, da compaixão e sofrimento”.8
A força modelar de um pensador reside também na sua capacidade de
viver as suas ideias, ao ponto de testemunhar uma forma coerente e cativante
de vida. Como humanista, Benedito Nunes é essencialmente um educador, no
sentido forte com que se refere Antonio Candido a Nietzsche, um “portador de
valores, graças ao qual o conhecimento se encarna e flui no gesto da vida.” É pertinente a
descrição de Antonio Candido para registrar a característica fundamental do
humanismo de Benedito Nunes:
“Há, com efeito, seres portadores que podemos ou não encontrar, na existência cotidiana
e nas leituras que subjugam o espírito. Quando isto se dá, sentimos que eles iluminam bruscamente
da palavra 27
cC
os cantos escuros do entendimento e, unificando os sentimentos desparelhados, revelam
possibilidades de uma existência mais real. Os valores que trazem, eminentemente radioativos,
nos trespassam, deixam translúcidos e não raro prontos para os raros heroísmos do ato e do
pensamento. (...) Na vida, só sentimos a realidade dos valores a que tendemos, ou que pressentimos,
quando nos pomos em contato com certos intermediários, cuja função é encarná-los, como
portadores que são. (...) [Esse contato] nos afasta por um momento da mediania e impõe uma
necessidade quase desesperada de vida autêntica.”9
I
Amigos, Mestres e Leituras
“Mestre não é quem sempre ensina,
mas quem, de repente, aprende.”
Guimarães Rosa, Grande Sertão: Veredas
Benedito Nunes nasceu no dia 21 de novembro de 1929, em Belém, no
Pará, onde até hoje vive, ao lado de sua esposa Maria Sylvia Nunes. Filho único
de Benedito da Costa Nunes e Maria de Belém Vianna da Costa Nunes, fez o
seu curso primário no Colégio Sagrado Coração de Jesus, dirigido pela sua tia, a
professora Teodora Viana, e cuja sede era a sua própria residência, onde morava
também a sua mãe e outras cinco tias maternas.
A sua tia Teodora foi responsável pela transmissão da disciplina escolar
que se desenvolverá, posteriormente, em autodidatismo, característica maior
de Benedito Nunes como intelectual. Ela o iniciou no amor ao conhecimento, deulhe a dimensão coletiva do saber, legou-lhe a necessidade de transmiti-lo.
Lembrando do clima fraternal que envolvia os estudos primários na sua casa,
Benedito Nunes refere-se à escola de sua tia como um “agape”. Dentre outros
“patronos” e “pais espirituais”, à sua primeira professora, carinhosamente chamada
de Dodó, Benedito Nunes dedicou o título de professor emérito da Universidade
Federal do Pará10.
Desde muito jovem Benedito Nunes habituou-se à prática da leitura,
usufruindo de uma pequena porém abrangente biblioteca, herdada do pai,
falecido antes de seu nascimento. Entre os livros que dispunha em sua casa,
com os quais se familiarizou antes dos quinze anos, constam Machado de Assis,
José de Alencar, Eça de Queiróz, Monteiro Lobato, Joaquim Nabuco, Oliveira
Viana, Lima Barreto, Afrânio Peixoto, Taunay, Shakespeare, Dante, assim como
autores de prestígio na década de 20, como Assis Cintra, Oliveira Lima, Antônio
Torres, Mario Pinto Serva e Alberto Torres. “Criei-me à sombra dessa estante...”,
diz Benedito Nunes, que afirma também: “cedo entrei no circuito bibliográfico infinito,
o único e verdadeiro moto perpétuo que conheço”11.
Este “circuito bibliográfico infinito” a que se refere Benedito Nunes foi logo
estendido pelo domínio da língua francesa, aprendida com a ajuda da professora
Hermenegilda Tavares Cardoso, conhecida como Dona Velha, que morava na
vizinhança e lhe ensinou, gratuitamente, a sua segunda língua, importante nos
estudos que se seguirão. O francês foi a primeira de outras línguas estrangeiras
28
da palavra
9
CANDIDO, Antonio. O portador. Ensaio constante de O
observador literário (1ª Ed. 1959).
Em ________ Brigada ligeira e
outros escritos. São Paulo:
Ed.Unesp, 1992. p.204-5.
10
NUNES, Benedito. Quase
um plano de aula, discurso proferido em 1998 na solenidade
de outorga do título de professor emérito da Universidade Federal do Pará. Incluído
em: _____. Do Marajó ao arquivo: um breve panorama da cultura no Pará. Organização Victor Sales Pinheiro. Belém:
EDUFPA. (no prelo)
11
NUNES, Benedito. Um roteiro dos livros de um sábio paraense. Entrevista ao jornalista Lúcio Flávio Pinto, A província do
Pará, 2º Caderno, 26/05/91.
Incluído em _______. Do
Marajó ao arquivo: um breve panorama da cultura no Pará. Organização Victor Sales Pinheiro.
Belém: EDUFPA, 2009. (no
prelo)
a que se dedicou Benedito Nunes, que, ainda na juventude, acostumou-se a ler
em inglês e espanhol. O latim, outra exceção de sua autodidatismo linguístico,
aprenderá com Orlando Bitar, no Colégio Moderno, e o inglês, sobretudo para a
leitura de poesia inglesa e americana, aprendê-lo-á com o amigo - crítico, poeta
e tradutor - Mário Faustino.
A leitura cedo se lhe tornou a atividade principal, um meio de cultivo
espiritual da inteligência e de depuração da sensibilidade. É preciso sublinhar
como os dados fundamentais de sua biografia intelectual a paixão pelo
conhecimento e a relação dialógica com seus amigos leitores, em uma comunhão
intelectual que impulsionou e alimentou a busca do saber. Neste sentido, que
lembra a tradição socrático-platônica, de um amor ao saber dialogicamente vivido
com os amigos, Benedito Nunes leva, desde a juventude, uma vida filosófica,
extensiva à sua atividade docente, pela força pedagógica de seu caráter e pela
centralidade que a atividade intelectual ocupa em sua existência.
O seu ensino secundário, curso clássico do ginasial, como se chamava na
época, foi no Colégio Moderno, entre 1940 e 1947, onde se iniciaram as suas
primeiras atividades intelectuais e surgiram as amizades que as motivaram. Dentre
os professores do Colégio Moderno que o influenciaram intelectual e
pessoalmente, incentivando-o nas leituras, acompanhando-as e alimentando-as
com conversas e empréstimos de livros, convém lembrar os nomes de Anunciada
Chaves, Arthur Cezar Ferreira Reis, Orlando Bitar e Augusto Serra. Estes
professores logo se tornaram seus amigos, como não foram poucos os amigos
que se tornaram professores, no sentido forte da palavra, como serão Haroldo
Maranhão, Max Martins, Mário Faustino, Francisco Paulo Mendes e Robert Stock,
protagonistas na formação intelectual de um autodidata cercado de
entusiasmados interlocutores.
O seu primo Ribamar de Moura foi um destes amigos formadores, decisivo
no reconhecimento de sua vocação filosófica por tê-lo motivado à leitura de A
crítica da razão pura, de Kant, O mundo como vontade e representação, de Schopenhauer,
A evolução criadora, de Bergson, descobertas que lhe abriram novos horizontes
intelectuais, autores que cultiva desde a adolescência e cujas reflexões o
acompanham até hoje.
A crescente cultura que absorvia o jovem Benedito Nunes, concentrado
em sucessivas leituras, deve-se em grande parte ao apoio e ao exemplo de seu
tio paterno Carlos Alberto Nunes, grande humanista, que lhe mandava,
ininterruptamente, romances ingleses e franceses, tratados de filosofia,
compêndios de história e livros de divulgação científica, sempre acompanhados
de uma carta que o introduzia a essas leituras e suscitava o diálogo intelectual
com o sobrinho. Com esta conversa epistolar, Carlos Alberto percebeu o pendor
filosófico do jovem, que frequentava Kant, Schelling, Schopenhauer e Nietzsche
com assiduidade, convidando-o a estudar Filosofia na Universidade de São Paulo,
projeto inviabilizado pela ausência de subsídio financeiro, que seria dado por
outro tio seu, um banqueiro, se ele não tivesse entrado em falência.
Autor de um poema épico, Os Brasileidas, de 1938, Carlos Alberto Nunes
foi também um grande tradutor, vertendo para o português a Ilíada e a Odisseia,
de Homero, A Eneida, de Virgílio, o teatro completo de Shakespeare, Clavigo e
da palavra 29
Stela, de Goethe, Judith, de Hebel. Além disso, é até hoje o único tradutor da
obra completa de Platão, cujos direitos de publicação cedeu à Universidade
Federal do Pará, em homenagem ao sobrinho, que decidira permanecer em Belém
e contribuir para o desenvolvimento da cultura filosófica da cidade. Na década
de 70, Benedito Nunes esforçava-se para criar o Curso de Filosofia na
Universidade Federal do Pará, encampando o que já tinha fundado na Faculdade
de Filosofia, existente desde 1954. O seu tio quis prestigiar mais enfaticamente
a instituição eleita pelo seu sobrinho, doando à biblioteca da instituição, inclusive,
a sua coleção platoniana, um conjunto notável de livros, envolvendo a obra
completa de Platão em varias línguas, uma bibliografia secundária muito
abrangente e da mais alta qualidade, incluindo uma gama considerável de autores
do helenismo alemão, assim como os manuscritos de sua tradução. Benedito
Nunes é o coordenador da tradução da obra completa de Platão, para a qual
escreveu o prefácio e um substancioso estudo sobre a República12.
Se o contato com o seu tio Carlos era, predominantemente, por intermédio
dos livros e das cartas que trocavam, o convívio pessoal com os professores do
Colégio Moderno lhe mostraram, muito mais do que conhecimentos específicos,
uma atitude peculiar, uma moral intelectual, que nele cedo floresceu, tornando-os
mestres-amigos.
Na crônica Dois mestres e uma só lembrança, Benedito Nunes lembra que
Anunciada Chaves, além de lhe ter apresentado certos livros memoráveis, como
Daudet e Molière, também lhe testemunhou uma autêntica vocação magisterial,
um exemplo que o acompanhou para sempre:
“Mas o modelo não era estratosférico. A professora pisava o nosso chão de convivência. (...) Era
essencialmente professora no sentido da boa transmissão didática e do relacionamento pedagógico
com os estudantes. Talhei por essa atuação da professora, muito embora o imitador sempre
ficasse abaixo do modelo, o meu padrão para o exercício do ensino a que em breve me entreguei,
principalmente quanto ao suporte bibliográfico autêntico, à preparação exaustiva dos cursos e ao
encadeamento claro e lógico das exposições.”
Arthur Cezar Ferreira Reis também foi um desses mestres-amigos,
inesquecível por ter lhe apresentado Casa Grande e Senzala, de Gilberto Freyre,
essencial para um dos maiores estudiosos do modernismo brasileiro, que se
tornará Benedito Nunes. E será este seu professor de história, então governador
do Amazonas, o responsável pela publicação do primeiro livro de seu dileto
aluno, O mundo de Clarice Lispector, em 1966. Arthur Cezar ainda será o responsável
editorial pela Coleção Amazônica, da Universidade Federal do Pará, que
publicará, com a coordenação de Benedito Nunes, a tradução das obras completas
de Platão, a partir de 1973, realizada pelo seu tio Carlos Alberto Nunes.
Duas vezes seu professor, no Colégio Moderno e na Faculdade de Direito,
Orlando Bitar talvez tenha sido, junto com o seu tio Carlos Alberto Nunes, o
primeiro grande erudito com que se deparou Benedito Nunes. Interessante que
quando Benedito Nunes se refere a Orlando Bitar, ele ressalta antes a doçura
do caráter e a generosidade do mestre que se dispõe a compartilhar o que sabe,
do que a sua vasta cultura. Foi Orlando Bitar que, notando a capacidade de
30
da palavra
12
Este estudo consta tanto em
PLATÃO, República, tradução
Carlos Alberto Nunes, 3ª Ed.,
Belém, UFPA, 2000; assim
como em NUNES, Benedito.
Ensaios Filosóficos. Organização
Victor Sales Pinheiro. São Paulo: Martins Fontes, 2009 (no
prelo).
leitura de seu jovem aluno, lhe deu as obras completas de Virgílio e Os miseráveis,
de Victor Hugo:
“Como esquecer a gravura de Jean Valjean ajudando a pequena Cosette a carregar um balde
d’água que parecia bem maior do que ela, na mágica edição gigante ilustrada de Les Miserables,
de Victor Hugo, que Orlando Bitar, meu professor de latim, no Moderno, não hesitou em
confiar aos meus quatorze anos de calças curtas?”13
13
NUNES, Benedito. Um roteiro dos livros de um sábio paraense. Entrevista ao jornalista Lúcio Flávio Pinto. Em _______.
Do Marajó ao arquivo: um breve
panorama da cultura no Pará.
Organização Victor Sales Pinheiro. Belém: EDUFPA, 2009.
(no prelo)
14
Entrevista de Benedito
Nunes concedida a José Marcio Rego e Marcos Nobre
(Conversas com filósofos brasileiros.
São Paulo: Ed.34, 2000. p.75)
Como diretor do Colégio Moderno, Augusto Serra ofereceu ao jovem
Benedito Nunes uma vaga gratuita na instituição, onde será o seu professor e,
futuramente, colega de magistério. Foi ele mesmo que convidou Benedito Nunes,
recém formado no ginasial, a lecionar Filosofia no Colégio Moderno em 1948,
quando tinha apenas 19 anos. A fim de motivar a leitura de seu aluno, Augusto
Serra franqueou-lhe a biblioteca da instituição, onde Benedito Nunes tece acesso
a Pascal, Molière, Racine, Corneille, La Bruyère, La Rochefoucauld, Swift, Walter
Scott, lidos no idioma original.
O amplo acesso à biblioteca do Colégio Moderno, que depois viria a
organizar e administrar, lhe foi permitida pelo cargo de presidente do Grêmio
Cívico e Literário da instituição, sua primeira atividade intelectual “oficial”. O
envolvimento com o Grêmio e com as atividades que lhe eram afins deram-se
pelo estreitamento da relação com Haroldo Maranhão, primeiro presidente da
agremiação estudantil. Esta amizade, que começou em 1943, quando ele tinha
catorze e Haroldo dezesseis anos, e prosperou até o fim da vida deste, em 2004,
é uma das mais decisivas da vida de Benedito Nunes, pela cumplicidade
intelectual que se estabeleceu na franqueza de um permanente diálogo pautado
em leituras comuns.
Os primeiros escritos sobre literatura de Benedito Nunes são as cartas
que ele redigia para o seu grande amigo Haroldo Maranhão sobre as impressões
dos livros devorados e logo trocados, quando não lidos ao mesmo tempo.
Benedito Nunes beneficiou-se muito da rica biblioteca de Haroldo, situada nos
altos do edifício do jornal A Folha do Norte, que pertencia ao seu avô, o influente
Paulo Maranhão. O contato com Haroldo, além da multiplicação de livros,
introduziu-o no mundo do jornalismo literário, que, em seguida, fará uma de suas
principais atividades intelectuais. Sob o influxo da atmosfera familiar, Haroldo
Maranhão estreou, ainda garoto, na atividade jornalística, da qual nunca se
afastará, editando o jornalzinho O Colegial, que circulava nos ginásios belenenses
e trazia as primeiras notas bibliográficas, algumas já assinadas por Benedito
Nunes.
As leituras que os jovens amigos entretinham nesta época, por mais
variadas que fossem, eram passadistas, marcadas pela estética parnasiana, o
que os levou a fundar a Academia dos Novos, “para defender a boa linguagem dos
clássicos e, consequentemente, o parnasianismo.”14 Com sede na “casa das tias”, a
residência do próprio Benedito, a congregação literária era diretamente inspirada
na Academia Brasileira de Letras, preservando-lhe a ritualística e a solenidade
das reuniões, iniciadas por um convite formal de Benedito e Haroldo a três
jovens poetas, também adeptos dos clássicos portugueses e apóstolos do
da palavra 31
parnasianismo, Max Martins, Alonso Rocha e Jurandir Bezerra, que já formavam,
junto com Antonio Cumaru, uma Associação dos Novos, que a Academia viria
a ampliar e solenizar. “Cadeiras, patronos, discursos de recepção e posse, fardão, símbolo
– Ad imortalitatem –...”15, não faltava aos “incipientes literatos”16 entusiasmo para
preservar a dignidade das letras luso-brasileiras, em risco de deterioração
modernista, escudados em seus insignes patronos, Haroldo Maranhão em
Humberto de Campos, Alonso Rocha em Castro Alves, Jurandir Bezerra em
Olavo Bilac, Max Martins em Machado de Assis e Benedito Nunes em Rui
Barbosa17. Urgia garantir a integridade semântica e sintática da língua portuguesa,
gravemente ameaçada pela libertinagem gramatical que o modernismo lhe
constrangia.
Inspirado pelo formalismo da escola e com o auxílio dos parceiros
acadêmicos, Benedito Nunes aprendeu a rimar e metrificar, familiarizando-se
com o Tratado de Versificação, de Guimarães Passos, o que resultou num livro de
poesias, Olho d’água, editado pelo generoso amigo Max Martins, que também
teria datilografado e encadernado o seu primeiro livro de contos, chamado Preta
Josina.
Mas os jovens rapazes da Academia dos Novos não permanecerão ligados
à poética arcaizante que antes louvavam depois da ruptura de Max Martins, que
bradou impetuosamente “o morra a academia”, à la Graça Aranha. Max rompeu
com a estética do Paranaso e, por conseguinte, com a Academia que a defendia,
mas não com os amigos, que logo converteu, um a um, à fascinação modernista
de Mario e Oswald de Andrade, até então praticamente ignorados pelos
versejadores acadêmicos, isolados culturalmente das metrópoles do Sul do país,
nos idos de 1945.
Alguns anos após o grito de insurreição de Max Martins, Haroldo Maranhão
criará, em 1946, o Suplemento Literário Arte e Literatura do jornal A Folha do
Norte, marco geracional da intelectualidade paraense da época, que aproximou
os antigos acadêmicos em torno da produção literária moderna e os ligou a uma
geração mais velha, liderada pelo professor Francisco Paulo Mendes e já adepta
ao modernismo. “Difundindo tudo o que de melhor e mais novo se fazia na literatura e
na arte do país e do estrangeiro”, explica Benedito Nunes, “o antiprovinciano tablóide
dominical (...) golpeou o isolamento que ilhava a produção local”18.
O Suplemento publicava tanto escritores estreantes locais como os
consagrados críticos e poetas modernistas, de diversas naturalidades. As últimas
poesias de Carlos Drummond de Andrade, Manuel Bandeira, Cecília Meireles e
Murilo Mendes, ladeavam as de Ruy Barata, Paulo Plínio Abreu, Cauby Cruz,
Mário Faustino, Max Martins e Benedito Nunes. Entre a crítica literária, Álvaro
Lins, Sérgio Buarque de Holanda, Gilberto Freire, Sergio Milliet, Wilson Martins,
Otto Maria Carpeaux, Antonio Candido, Lúcia Miguel Pereira, Ledo Ivo e Paulo
Rónai, dividiam espaço com Francisco Paulo Mendes, Haroldo Maranhão e
Benedito Nunes19.
Distante da rígida métrica parnasiana dos seus primeiros poemas rimados,
os de Olho d’água, e do ultra-romantismo dos contos de Preta Josina, Benedito
Nunes continua a incursão na arte literária, trazendo a público, no primeiro
volume do Suplemento Literário da Folha do Norte, em maio de 1946, os
32
da palavra
15
NUNES, Benedito. Crônica
de uma academia, Em: _______.
Do Marajó ao arquivo: um breve
panorama da cultua no Pará. Organização Victor Sales Pinheiro. Belém: EDUFPA, 2009. (no
prelo)
16
NUNES, Benedito. Eu e
Haroldo. Em: ______. Do Marajó ao arquivo: um breve panorama da cultua no Pará. Organização Victor Sales Pinheiro. Belém: EDUFPA, 2009. (no prelo)
17
Benedito Nunes, Max Martins e Alonso Rocha reconstituem de forma bem-humorada um encontro da Academia
dos Novos no documentário
Benedito Nunes, dirigido por
Rosa Assis (Projeto Memórias
n.2, da UNAMA - Universidade da Amazônia, 2000)
18
NUNES, Benedito. MaxMartins, mestre aprendiz (prefácio). Em: MARTINS, Max. Poemas reunidos 1952-2001. Belém:
EDUFPA, 2001. p.20.
19
Para um panorama deste
Suplemento, ver MAUÉS, Júlia. A Modernidade Literária no
Estado do Pará: O Suplemento Literário da Folha do Norte. Belém:
UNAMA, 2002 e COELHO,
Marinilce Coelho. O grupo dos
novos. Memórias literárias de Belém
do Pará. Belém: EDUFPA, 2005.
20
É Benedito mesmo quem
o sugere, em Meu Caminho na
crítica. Em: NUNES, Benedito.
Clave do poético. Organização
Victor Sales Pinheiro. São Paulo: Cia das letras. 2009 (no prelo)
21
NUNES, Benedito. Leitura
de Clarice Lispector. São Paulo:
Quíron, 1973.
capítulos iniciais de um romance inacabado, José Silvério, de linguagem coloquial
e temática regionalista: “- Vá brincar, Silverinho. Tome um tostão pra comprar papagaio
na quitanda. Silverinho pegou a moeda e saiu correndo. Magro. Todas as costelas pra fora”.
Esta tentativa abortada registra, pelo livro que lhe serviu de modelo, O menino
do engenho, de José Lins do Rego20, a guinada modernista por que passou Benedito
Nunes, que, aos poucos, expandia o olhar para além de José de Alencar.
Abandonado o romance, Benedito Nunes, então com 16 anos, tornou-se
colaborador, com poemas, aforismos poético-filosóficos e ensaios de crítica
literária e filosófica, do Suplemento Literário da Folha do Norte organizado
pelo seu amigo Haroldo. Atento à linguagem e ao método dos grandes críticos
nacionais, notando a diferença teórica e estilística que separa, por exemplo, um
Álvaro Lins de um Sérgio Buarque, e particularmente beneficiado pela ajuda do
professor Francisco Paulo Mendes, que posteriormente o exortará a prosseguir
na crítica e renunciar a poesia, Benedito Nunes entra vigorosamente, nesse
momento de efusão propiciada pelo periódico, no universo do ensaísmo crítico,
começando a avaliar não só autores estrangeiros, como Tolstoi e Camus, mas os
seus amigos poetas, Max Martins, Ruy Barata e Mário Faustino.
O efeito catalisador e positivo do encarte literário supera os breves anos
de sua existência, de 1946 a 1951, estendendo-se ao grupo que se formou ao
seu redor, animado pelo mesmo espírito de intercâmbio e mútuo aprendizado,
excitado pelas novidades modernistas. De fato, o Suplemento foi o eixo de
confluência que moldou a visão de mundo da geração de Benedito Nunes, e a
ligou, afinada pela leitura dos mesmos poetas, ficcionistas, críticos e filósofos,
com a de Francisco Paulo Mendes, formada por Ruy Barata, Paulo Plínio Abreu,
Rui Coutinho, Raymundo Moura, Cléo Bernardo e Sylvio Braga, que costumavam
reunir-se semanalmente nas mesas do Café Central para debates envolvendo
literatura, música, cinema, política e filosofia.
Menos solenes do que a antiga Academia dos jovens passadistas, as
conversas do grupo no qual se integrou Benedito Nunes tinham um ritmo livre,
movimentando-se da literatura a outras esferas do pensamento, a partir das
articulações do professor Mendes, o centro da discussão e que atraia, pela
amplitude intelectual, uma quantidade diversificada de pessoas. Uma das
interlocutoras do professor Mendes viria a ser Clarice Lispector, que morou em
Belém, em 1944, no mesmo Hotel Central, onde ficava o badalado Café. Mas,
nesta época, o jovem de 14 anos Benedito Nunes ainda não freqüentava o círculo
do professor Mendes, e apenas ouviu falar da “Dona Clarice”, de quem se tornará
um amigo e um dos maiores intérpretes, o primeiro a dedicar-lhe um livro
inteiramente voltado à sua obra21 e conceder-lhe dignidade filosófica.
Depois de aproximadamente 20 anos de encontros e conversas líteropolítico-culturais e tantos participantes em torno do professor Mendes, o golpe
militar de 1964 os impedirá de continuar, considerando-os subversivos
comunistas. Ignorava o autoritário governo que, embora houvesse algumas
simpatias e amizades esquerdistas, que os levaram a assinar alguns manifestos
considerados “revolucionários”, como o Pró-Paz, o Pró-Cuba e, depois, o PróJango, e a se inclinarem à ala progressista da Igreja Católica, a da Ação Popular,
da palavra 33
o grupo não se partidarizara, em nome exatamente de um princípio de abertura,
tolerante e dialógica, preconizado pelo seu líder, o professor Mendes, um católico
convicto, que cultivava a mais humanista compreensão entre as pessoas por
meio da poesia, vivida como aprofundamento da dimensão religiosa do homem.
Repetiam com Unamuno, que “Homem de partido é homem partido.”
Transferidos para a residência de Machado Coelho, já pela década de 70,
ainda sob a liderança do professor Mendes, o extenso círculo de literatos
continuava o ritual das diversificadas conversas semanais, que tinha em Benedito
Nunes, embora mais propenso à escuta do que à fala, um de seus mais
participativos e cultos interlocutores.
No meio de uma pluralidade tão rica de interações intelectuais, em
movimento ascendente, Benedito Nunes passa por uma considerável expansão
de seus horizontes pessoais e intelectuais, consoante a multiplicação vertiginosa
das leituras que realiza na época, orientadas pelo professor Mendes, sobretudo
de Antero de Quental, Cecília Meireles, Fernando Pessoa, Goethe, Rilke,
Baudelaire, Rimbaud, Mallarmé e Valéry, entre os poetas; Kafka, Julien Green,
Alain Fournier, François Mauriac e Georges Bernanos, entre os ficcionistas;
Kierkegaard, Heidegger, Sartre, Camus, Karl Jaspers, Gabriel Marcel, Paul
Landsberg, Jacques Maritain, Berdiaeff, Chestov, Chesterton, entre os filósofos,
feitas a partir de seus 20 anos, na soleira da década de 50.
De Francisco Paulo Mendes, Benedito Nunes também absorveu a
dignidade e a seriedade do magistério, extensivo às conversas intelectuais com
os principiantes que entretinha desinteressadamente “o professor integral”22.
Do grande docente que foi Mendes, que exerceu exclusivamente o magistério,
Benedito Nunes terá herdado também a generosidade com os alunos, a disposição
de emprestar livros e ouvidos aos curiosos noviços, como o que foi ele mesmo.
Da mesma forma que os já mencionados Orlando Bitar, Anunciada Chaves e
Augusto Serra (assim como Daniel Coelho de Souza, que lhe apresentará a
epistemologia de Hartmann, já na faculdade de Direito), Francisco Paulo Mendes,
bacharel em Direito, como todos os citados, era um autodidata e dono de uma
portentosa biblioteca particular, mais um exemplo “próspero e feliz”23 da
autodisciplina e concentração individual nos estudos.
A influência do professor Mendes em Benedito Nunes deve ser entendida
de forma ainda mais intensa, como aprofundamento intelectual da literatura, o
que lhe permitiu reconhecer o alcance moral que ela encerra, a sua força de
fecundar a experiência, a possibilidade de vivê-la. “... em mim acendeu o amor e o
respeito pela poesia...”24, refere-se Benedito Nunes a Paulo Mendes, para quem “a
literatura era poesia, e a poesia maneira de sentir e pensar, como descobrimento da vida na
linguagem...”25.
O convívio intelectual pautado na literatura, que já tinha com Haroldo
Maranhão, ganha contornos definitivos, no final da década de 40, e ainda por
força do Suplemento Literário da Folha do Norte, com os jovens poetas Max
Martins e Mário Faustino, aos quais se seguirão a figura marcante do poeta
americano Robert Stock, que lhes mostrou uma nova modalidade de vida literária:
“O regime de dedicação exclusiva à poesia a que se entregava [Roberto Stock] (...) impusera
34
da palavra
22
NUNES, Benedito. Devoção
à poesia. Em: _______ (org.).
O amigo Chico, fazedor de poetas.
Belém, Secult, 2001. p.37.
23
NUNES, Benedito. Dois mestres e uma só lembrança. Em
______. Do Marajó ao arquivo:
um breve panorama da cultura no
Pará. Organização Victor Sales Pinheiro. Belém: EDUFPA,
2009. (no prelo)
24
NUNES, Benedito. Quase
um plano de aula. Em ______.
Do Marajó ao arquivo: um breve
panorama da cultura no Pará.
Organização Victor Sales Pinheiro. Belém: EDUFPA, 2009.
(no prelo)
25
NUNES, Benedito Devoção
à poesia. Em: ----_______ (org.).
O amigo Chico, fazedor de poetas.
Belém, Secult, 2001. p.37
26
NUNES, Benedito. MaxMartins, mestre aprendiz (prefácio). Em: MARTINS, Max. Poemas reunidos 1952-2001. Belém:
EDUFPA, 2001. p.25.
27
Benedito Nunes publicará,
em 1973, no Suplemento Literário do jornal Estado de São
Paulo, um ensaio chamado
Drummond, poeta anglo-francês,
descrevendo a experiência da
tradução de Carlos Drummond, vertido ao inglês por
Mário Faustino e Robert Stock. Texto incluído em: NUNES, Benedito. A clave do poético. Organização Victor Sales Pinheiro. São Paulo: Cia das letras, 2009. (no prelo)
28
FAUSTINO, Mário. Mário
Faustino: poesia completa, poesia
traduzida. Organização, introdução e notas de Benedito
Nunes.São Paulo: Max Limonad, 1985.
29
NUNES, Benedito. MaxMartins, mestre aprendiz (prefácio). Em: MARTINS, Max. Poemas reunidos 1952-2001. Belém:
EDUFPA, 2001. p.26.
a esse poeta, um hippie avant la lettre, anarquista sem ser materialista, misto de asceta
e de esteta santificando a ética, (...), um voto de franciscana pobreza.”26
Robert Stock, que veio fundar uma comunidade alternativa no Brasil,
uma colônia anarquista, chegou ao grupo de literatos através da Revista Norte
(1952), que publicou alguns dos seus poemas, traduzidos por Mário Faustino.
O contato com Mário Faustino e Robert Stock ampliou a leitura de Benedito
Nunes ao universo da poesia de língua inglesa, que aprendera a ler e apreciar
com o próprio Mário Faustino. A sua inclinação até então, orientada pelo
professor Mendes, era a produção francesa. Neste momento conheceu Hopkins,
Eliot, Pound, Richard Ebenhardt, Robinson Jeffers, H.D., Marianne Moore, Hart
Crane, Auden, Dylan Thomas, Elisabeth Bishop, Wiliam Carlos Williams,
Cummings, Wallace Stevens, Keneth Patchen, Keneth Rexroth, Shakespeare,
Coleridge, Keats, Blake, Poe, Emily Dickson e Whitmann. Alguns desses poetas,
como Eliot, Blake, Whitmann e Poe, assim como Valéry e Rimbaud, serão objeto
de estudos críticos de Benedito Nunes, publicados no Suplemento Arte e
Literatura do jornal A Província do Pará, entre 1956 e 1957.
Mas Max, Benedito, Mário e Robert não só os liam, como os traduziam,
liderados pela paciência do americano, que lhes explicava o significado de cada
palavra, apresentando-lhes um tema que lhes acompanhará a produção
intelectual, o da tradução, entendida como recuperação criativa das
potencialidades poéticas em outra língua, dotada de especificidades semânticas
e sintáticas próprias, e, por isso, intraduzíveis27. O tradutor há de ser também
poeta, sabia-o Mário Faustino, que recriou poemas de Horácio, Dante,
Shakespeare, Goethe, Hölderin, Keats, Leopardi, Heine, Yeats, Rilke, Wallace
Stevens, Round, Eliot, Cummings, Dylan Thomas, Bertold Brecht, dentre muitos
outros, em língua portuguesa. Benedito Nunes incluiu a tradução poética no
amigo no volume que organizou de sua poesia completa, em 198528.
Do mesmo modo como a contribuição de Francisco Paulo Mendes não se
limita ao âmbito propriamente literário, Robert Stock lega a Benedito Nunes,
Max Martins e Mário Faustino, além da pujança da poesia em língua inglesa,
reposteiro que lhes abre novos horizontes poéticos, o ideal de vida intelectual,
dando-lhes a dimensão pessoal e solitária de ascese filosófica. “...da parte de Bob a
lição de poética sempre trazia uma contraparte ética: a moral empenhada à poesia, como
valor principal norteando o exercício da arte feito prática de vida, solitária e ascética...”29;
o que é particularmente decisivo na vida e na obra, fundidas numa unidade de
experiência poética, de Max Martins.
Foi a inclinação associativa da personalidade de Haroldo Maranhão que
levou Benedito Nunes a ter contato com Mário Faustino, o versátil poeta e
crítico de incomensurável importância para a vida de Benedito Nunes. Piauiense
de origem, aluno brilhante de outro colégio, o Paes de Carvalho, Mário Faustino
já escrevia crônicas diárias no jornal A província do Pará, quando atendeu à
convocação de Haroldo Maranhão e Ruy Barata, que participaram do II
Congresso Brasileiro de Escritores, em Belo Horizonte, para fundar a seção
paraense da ABDE (Associação Brasileira de Escritores), em 1947. A Associação
não prosperou, sendo a primeira a única reunião, assim como não vingou a
da palavra 35
Revista Encontro, editada por Benedito, Haroldo e Mário no ano seguinte, de
1948. Nela, havia poemas de Benedito Nunes, Paulo Plínio Abreu, Ruy Barata,
Cauby Cruz, Jurandir Bezerra, Max Martins, Alonso Rocha e Mário Faustino,
além de ensaios críticos de Francisco Paulo Mendes e Haroldo Maranhão.
Benedito Nunes assina a tradução do Salmo VIII, na versão de Patrice de la
Tour du Pin, iniciando o projeto que tinha com Mário Faustino de sua tradução
integral, o que também não aconteceu. Porém, a amizade surgida entre Benedito
Nunes e Mário Faustino ganhou força vitalícia, sendo Bendito Nunes um dos
responsáveis pela produção, organização, divulgação e estudo da sua obra poética
e crítica.
Com efeito, não só à biografia de Benedito Nunes pertencem Haroldo
Maranhão, Max Martins e Mário Faustino, mas também à sua bibliografia, posto
que o interesse que lhes dispensa não se esgota na dimensão pessoal da amizade,
mas a transcende para o plano intelectual da análise de suas obras, de que é um
leitor privilegiado e um crítico atento. Benedito Nunes não só lhes acompanhou
o desenvolvimento da obra, da sua concepção à sua finalização, como os estudou
e divulgou, organizando, prefaciando, resenhando os seus livros, muitos dos
quais interveio partejando as idéias que os originam. Desde jovem, Benedito
Nunes pôde interagir intelectualmente com escritores, realizando uma fértil
relação entre crítico e escritores. O seu primeiro livro de maior alcance, O dorso
do tigre (Ed.Perspectiva, 1969), dedicou-lhe a Haroldo Maranhão, assim como
consagrou No tempo do niilismo e outros ensaios (Ática, 1993) a Max Martins e
Francisco Paulo Mendes, juntamente com Antonio Candido e Décio de Almeida
Prado.
Quanto ao professor Mendes, Benedito Nunes organizou, na ocasião de
comemoração de seus 90 anos, um livro que reconstituí, por meio de vários
depoimentos e abundantes fotografias, a biografia do memorável professor, assim
como recupera os seus ensaios, publicados e inéditos30.
Todas as amizades, dos mestres e amigos, mencionadas até agora –
Theodora Viana, Hermenegilda Tavares Cardoso, Ribamar de Moura, Carlos
Alberto Nunes, Anunciada Chaves, Arthur Cezar Ferreira Reis, Augusto Serra,
Orlando Bitar, Daniel Coelho de Souza, Francisco Paulo Mendes, Haroldo
Maranhão, Max Martins, Mário Faustino, Max Martins e Robert Stock - influíram
na formação autodidata de Benedito Nunes, propiciaram-lhe um contato cada
vez maior com os livros, deram-lhe a dimensão do autêntico diálogo filosófico,
pautado na horizontalidade e na confiança na inteligência alheia. Estas
características certamente ficaram marcadas na personalidade do professor
Benedito Nunes, generoso e conversador, sempre disposto a orientar uma leitura,
emprestar um livro e escutar atentamente as impressões do aluno que ele,
sutilmente, transforma em interlocutor. Esta foi a herança dos grandes mestres
de Benedito Nunes, concederam-lhe o espírito de aprendiz, a reverência e o
amor aos livros, a sabedoria da escuta e a paciência no trato com os iniciantes,
a certeza de com eles aprender, a troca constitutiva dos velhos diálogos
socráticos, nos quais quem ensina aprende, e quem aprende, de repente, ensina
- para dizer com Guimarães Rosa. No seu discurso, intitulado Quase um plano de
aula, de recebimento do título de professor emérito da Universidade Federal do
36
da palavra
30
NUNES, Benedito (org.). O
amigo Chico, fazedor de poetas.
Belém: Secult, 2001.
Pará, em 1998, invoca-os31, assim como a sua mulher Maria Sylvia Nunes,
compartilhando com eles o título honorífico que recebera, pela presença de
cada um na sua vida, considerados seus “patronos”, seus “pais espirituais”.
Este gesto de generosidade de Benedito com os seus mestres, verdadeiros
amigos, “companheiros de existência” mesmo ausentes, é coerente com a consciência
da importância constitutiva que eles tiveram na sua formação e que ele soube
expressar de forma precisa ao falar da relação que se estabelece na formação de
um poeta:
“Ninguém se faz poeta – e nenhum poeta já feito é capaz de mudar – sem a mediação de um
outro – de seu maieuta, que o leva a descobrir-se naquilo que tem de original. A relação entre
discípulo e mestre, fecunda na atividade do pensamento quando gera o polêmico movimento de
identidade e diferenciação de um com o outro, também prevalece na poesia.”32
II
Religião, poesia e filosofia:
os primeiros escritos de Benedito Nunes
“Car enfin qu’est-ce que l’homme dans la nature?
Un néant à l’égard de l’infini,un tout à l’égard du néant,
un milieu entre rien et tout.”
Pascal, Pensées, 72
31
Neste discurso, Benedito
Nunes não menciona Arthur
Cezar Ferreira Reis e Robert
Stock, mas registra a relevância que lhe tiveram em outros
escritos, este em Max-Martins,
mestre-aprendiz e aquele em Dois
mestres e duas lembranças. (ambos
os textos constam em NUNES,
Benedito. Do Marajó ao arquivo: um breve panorama da cultura
no Pará. Organização Victor
Sales Pinheiro. Belém: EDUFPA, 2009. (no prelo)
32
NUNES, Benedito. MaxMartins, mestre aprendiz (prefácio). Em: MARTINS, Max. Poemas reunidos 1952-2001. Belém:
EDUFPA, 2001. p.32.
33
NUNES, Benedito. Meu caminho na crítica. Em: _____.
A clave do poético. Organização
Victor Sales Pinheiro. São Paulo: Cia das Letras, 2009. (no
prelo)
Certamente não seria possível separar o período de formação do de atuação
intelectual de Benedito Nunes, como o fez o velho Goethe ao escrever dois
romances ao seu personagem Wilhelm Meister, divindo-lhe a vida em fases de
aprendizado e peregrinação. Ao contrário, sem formação institucional em filosofia,
precisou conjugar o seu aprendizado ao ensino, numa atividade complementar
que envolvia leitura, escrita e aulas, em que consolidou o seu autodidatismo
“metódico e sistemático”33.
A impossibilidade de realizar o plano de seu tio Carlos Alberto Nunes, de
ir cursar Filosofia na Universidade de São Paulo, não o desmotivou de continuar
os seus estudos, que foram organizados e sistematizados quando começou a dar
aulas de Filosofia e História, geral e do Brasil, em colégios de Belém - Moderno,
Nossa Senhora de Nazaré, Gentil Bittencourt, Santa Rosa e Paes de Carvalho,
tão logo finalizou o seu curso secundário.
O ingresso na Faculdade de Direito, em 1947, deu-se mais por falta de
opção do que por escolha consciente da atividade jurídica, uma vez que não
havia curso superior de Filosofia em Belém, até o que ele mesmo viria a fundar,
em 1974, na Universidade Federal do Pará. Sem a menor afinidade com questões
legais de direito positivo, apenas as aulas de introdução à ciência do direito,
ministradas por Daniel Coelho de Souza, e de direito constitucional, com o
vocacionado professor Orlando Bitar, seu antigo professor de latim e francês
no Colégio Moderno, lhe interessariam filosoficamente. Daniel Coelho de Souza
era homem um homem culto, tratava não só de assuntos jurídicos, mas versava
da palavra 37
com propriedade sobre história, sociologia e filosofia, disciplinas que aprendeu
sozinho, de forma autodidata. Freqüentador do Café Central, interlocutor do
professor Francisco Paulo Mendes, o professor Coelho de Souza foi quem lhe
apresentou a filosofia de Nicolai Hartmann, autor importante para Benedito
Nunes, pelas implicações epistemológicas, éticas e estéticas de sua
fenomenologia.
Desde cedo, Benedito Nunes acostumou-se a ler tomando notas em fichas
e caderninhos, espécie de resenhas ou resumos em que articulava os temas que
aprendia e registrava as suas impressões sobre os autores, as idéias que lhe
suscitavam. Essas notas serão a base tanto de seus escritos como de suas aulas,
as atividades principais da sua atividade intelectual que, em 1950, já se tornaram
regulares.
O surgimento da reflexão filosófica na vida de Benedito Nunes remonta à
inquietação religiosa, surgida no seio de sua “catolicíssima família”34. A precoce
imersão na leitura trouxe-lhe o distanciamento crítico capaz de questionar os
fundamentos do catecismo praticado por suas tias e mãe. A começar por
Nietzsche, o contato com certos filósofos, da profundidade de um Pascal e um
Unamuno, desestabilizaram-lhe, aos poucos, as certezas da religião, introduzindoo em questões filosóficas de ordem metafísica e escatológica. Esses autores,
incluindo alguns anti-eclesiásticos, materialistas e anarquistas, de que teve
conhecimento na biblioteca do Colégio Moderno, e escritores de alta voltagem
filosófica, como Shakespeare, Dostoievsky, Eça de Queiroz, Machado de Assis
e Victor Hugo, causaram-lhe “um choque emocional e intelectual”35, afeiçoandolhe à solidão, agora associada ao exercício cotidiano do pensamento e a
conseqüente prática da escrita.
Seus primeiros escritos publicados no Suplemento Literário da Folha do
Norte, entre 1946 e 1947, ilustram o estado de espírito em que se encontrava o
jovem leitor, aos seus 16 anos. São aforismos poético-filosóficos, de inspiração
nietzscheana, intitulados Confissões do Solitário, “cépticos e atordoados, interrogadores
e provocativos, com os quais tentava romper o cerco da vida familial”, explica Benedito
Nunes.
“O alvo real desses dardos ofensivos era atingir a disciplina religiosa do catolicismo paroquial e
catequético dentro do qual passei a meninice e à sombra do qual comecei a escrever. Queria
afrontar os outros, excepcionalizando-me pela solidão que almejava conquistar”36.
Precioso registro de sua biografia intelectual por testemunharem os temas
e autores de que se ocupava no período de sua primeira ebulição filosófica, os
68 aforismos das Confissões do Solitário, trazem uma gama muito variada de
questões filosóficas, religiosas, morais e estéticas, relacionadas a uma experiência
subjetiva, comprovada no uso constante da primeira pessoa. Neles, transparece
uma situação conflituosa de entrechoque de várias doutrinas, todas incapazes
de apaziguar a complexa rede de questionamentos em que estavam amarradas
as suas primeiras indagações, e que pareciam direcionar a uma espécie de epoché
cética, de suspensão do juízo pela mútua excludência de afirmações contrárias
entre si.
38
da palavra
34
NUNES, Benedito. Um roteiro dos livros de um sábio paraense
Entrevista a Lúcio Flávio Pinto. Em: _____ Do Marajó ao
arquivo: um breve panorama da
cultura no Pará. Organização
Victor Sales Pinheiro. Belém:
EDUFPA, 2009. (no prelo
35
NUNES, Benedito. Entrevista a Ernani Chaves e Marcio Benchimol Barros. Revista TRANS/FORM/AÇÃO:
Revista de Filosofia da Universidade Estadual Paulista.
São Paulo: ED UNESP, Vol.
31(1), 2008. p.10.
36
NUNES, Benedito. Da caneta ao computador ou entre literatura e filosofia. Em: _____ Do
Marajó ao arquivo: um breve panorama da cultura no Pará. Organização Victor Sales Pinheiro.
Belém: EDUFPA, 2009. (no
prelo)
37
“1- Pode Santayana dizer que
temos vivido muito bem sem a “coisa em si”, mas é uma inquietação
torturante saber que existe, mas que
é inatingível, isto é, escapa à nossa
percepção. Todo homem luta consigo
mesmo e, na ânsia de interpretar o
universo, sentimos a existência de
uma força secreta que força em vão
a porta dos sentidos. Nas noites estreladas, compreendemos melhor a
limitação de nosso entendimento,
mas há uma revolta em nós, um
impulso que procura elevar-se e compreender... 4- Para onde vai o homem, o dono do tempo, o dono do
espaço? 5- O homem não descansará enquanto não compreender o mistério do primeiro raio de sol! 6- Para
mim só há uma tragédia: a do conhecimento.” (NUNES, Benedito, Confissões do solitário. Belém:
Suplemento Literário da Folha do Norte n. 10, de 11/08/
1946.)
38
“30- A sociedade exige do homem que se apegue a um dogma, a
uma esperança, a um programa.
Estão a esperá-lo a Igreja, o partido
e o clube. E ninguém transige, estão
a exigir-lhe o espírito de clã. (...) O
homem faz a sua jornada, como dizia aquele doutor Gouvêa, do Eça,
entre um padre e um cabo de polícia.
58- Gostamos de conservar os nossos preconceitos, de cultivá-los e de
ampliá-los.(...) Libertar-se dos preconceitos é algo difícil e doloroso...”
(NUNES, Benedito, Confissões
do solitário. Belém: Suplemento Literário da Folha do Norte n. 26, de 18/05/47, e n. 31,
de 06/07/47.)
39
“20- Sinto-me profundamente
integrado no Inverno. Nos dias de
sol, os homens, como as formigas,
enchem o mundo: bestas e sábios –
os únicos que podem viver, segundo
Aristóteles. 38- Pareço agora desligado do mundo e o mais estranho
dos seres... 39- Estamos bem, reunidos em torno da mesa, conversando,
tudo parece nosso, nenhum objeto
notifica a transcendência da vida.
Experimentemos agora sair do grupo e pensar um pouco. Uma decepção e uma nova vida. 48- Esta
sensação de bem-estar, de tepidez, só
eu a possuo neste momento. A chuva que cai, regular e vespertina, é
para mim, insubstituível e grave,
escurecendo o dia. É a minha paisagem, o meu ‘campo de criação’ que
não se estende a nenhum outro homem. 60- O ‘heroísmo moderno’ está
justamente em o homem não se deixar dobrar, em não ser um ‘animal
doméstico’, mas uma ‘animal único’, capaz de viver algumas vezes
isolado, sem precisar de socorro exterior. Que graves concessões não se
fazem à maioria!...” (NUNES,
Benedito, Confissões do solitário.
A primeira série dos aforismos é representativa na apresentação dos
problemas, que são de ordem ontológica (a existência da coisa em si),
epistemológica (como conhecê-la) e existencial (o tormento subjetivo do
questionamento metafísico), de que se ocuparão grande parte dos
seguintes.37
A perplexidade filosófica em que se encontrava o jovem pensador,
a perturbante dúvida sobre o sentido da realidade e do destino individual,
comporta uma crítica às práticas sociais irrefletidas38 acompanhada de
uma busca, às vezes desoladora, de isolamento, de diferenciação
individualizadora, fortemente inspirada em Nietzsche 39. A solidão eralhe, porém, também uma maneira de intimidade, de cultivo da vida
interior 40.
Herança de sua formação católica41, o jovem Benedito Nunes esboça o
que seria uma metafísica do amor42, no contexto de uma religião vigorada pela
força estética da poesia43, distante da frieza da teologia44.
Um certo esteticismo, de tonalidade schopenhaueriana, desponta como
solução, precária e momentânea, do drama a que está submetida a consciência
abandonada às suas incertezas. A filosofia não consola, apenas a poesia45, e a
música46 lhe concedem a transcendência.
O caráter profuso desta primeira efervescência revelam a leitura de uma
diversidade notável de autores, Platão, Nietzsche, Petrônio, Shakesperare, Kant,
Renan, Homero, Gide, e que resultam numa variedade não menos interessante
de temáticas, do elogio ao paganismo47 a questões de ordem eclesiástica48.
A liberdade é um tema recorrente49 nas confissões, que também constavam
de anotações literárias, sobre os autores que lhe agradavam, como Homero50 e
os poetas modernos brasileiros51.
As Confissões do Solitário eram alternadas com poemas, que lhes eram
relacionadas, igualmente temperados por dúvidas filosóficas e tormentos
religiosos. “Pecadilhos juvenis”52, como hoje os considera Benedito Nunes, serviramlhe para atrair o juízo negativo do professor Francisco Paulo Mendes, que o
desencorajou da poesia, incentivando-o, em contrapartida, a prosseguir na crítica
literária, dando-lhe a bibliografia que subsidiará o seu longo ensaio, publicado
também no Suplemento da Folha do Norte, Cotidiano e a morte em Ivan Ilitich, em
1950.
A sua renúncia à poesia e a afirmação da atividade crítica fora notada
pelo seu amigo poeta Ruy Barata, na reportagem Dez poetas paraenses, publicada
no Suplemento da Folha do Norte, no final de 1950, em que dizia:
“Escreveu poesias até 1949, quando reconheceu a tempo que tinha batido em porta errada. A
voz dos amigos e de seu próprio coração diz que tem pendor para os estudos de filosofia. Deve
essa inclinação ao excessivo medo de morrer e de ir para o inferno que o acompanhou durante
toda a sua infância e ainda taludinho. Salvou-se de ficar a vida inteira agnóstico, lendo Pascal.
Unamuno fez muito mais pela sua conversão do que os catecismos reunidos...”
Depois registra as suas preferências literárias e paixão pela música:
da palavra 39
“Sua mais recente paixão literária: A Peste, de Camus. Leitor assíduo de Kafka.
Poetas de sua predileção: Rilke e Valéry. Se usasse chapéu, ao passar pela literatura
brasileira atual, só o tiraria da cabeça uma vez para saudar a poesia de Carlos
Drummond de Andrade. Lembra-se de que gostou de um romance nacional, as
Memórias de um Sargento de Milícias. Às vezes sonha em ser regente de orquestra e
ouvir durante uma eternidade Bach, Beethoven e Debussy”.53
O incentivo de seus amigos na sua vocação crítica vinha da desenvoltura
que suas idéias atingiram na juventude, plasmada nas articulações que realizava
nos estudos lítero-filosóficos que publicava no Suplemento da Folha do Norte.
O primeiro deles, denominado Ação e poesia, escrito quando Benedito Nunes
tinha 17 anos, em junho de 1947, argumenta no sentido de fundamentar a ação
humana na experiência metafísica da poesia, forma derradeira de conhecimento
e fonte da felicidade, uma vez observada a inconsistência do utilitarismo e do
positivismo54. Nota-se já nesse primeiro ensaio, que o argumento filosófico, da
filosofia moral kantiana do dever, é acompanhado de uma visualização literária,
da obra de A. Huxley, numa associação de filosofia e literatura, que já lhe
inspirava as Confissões do Solitário.
A noção de falência da metafísica, do sentido explicativo da realidade,
seja na religião, na filosofia ou na ciência, que as leituras de Nietzsche, Santayana,
Guide e Camus lhe trouxeram, encaminhou o jovem Benedito Nunes à afirmação
da potência da poesia, considerada como experiência de apreensão do significado
da realidade, e da correlata responsabilidade do poeta como novo arauto desta
verdade a ser descoberta, comunicada e, sobretudo, testemunhada com a vida.
Na série de textos, chamados Posição e destino da literatura paraense, motivados
pelo jornalista Peri Augusto, em que se debatiam a importância da nova geração
de intelectuais, poetas e escritores, que se criava no seio do Suplemento, ele
afirmava que
“a arte pode fornecer ao homem um conhecimento de sua natureza e, como tal, a poesia se vê
transformada em um elemento de pesquisa, de penetração, quando o momento criador do
artista consiste em procurar traduzir a sua ‘vivência’, ligando-se ao mundo objetivo pelo que
existe em si de permanente e essencial”.55
Este conhecimento fornecido pela arte daria ao artista uma responsabilidade
social relativa ao seu heroísmo de permanecer fiel a si mesmo, e atento às exigências
de sua época histórica, nutrido pelo “sentimento poético e de fé na vida”, atestando
“uma verdade super-humana da qual cada homem livre constituía o mais profundo
testemunho” 56.
A eloqüência deste discurso pode ser entendida pelo fato de Benedito
Nunes considerar-se, ele mesmo, à época, um poeta - até então, em 1948, ainda
não tinha rompido com a poesia; seu último poema publicado data de fevereiro
de 1949. No final de 1950, ele escreverá um ensaio crítico, e auto-crítico, sob o
pseudônimo de João Afonso, analisando os dez poetas paraenses selecionados
na edição anterior do Suplemento, pelo seu amigo Ruy Barata. Além de ser a
primeira crítica que Benedito Nunes fez de seus amigos poetas, Max Martins,
40
da palavra
Belém: Suplemento Literário
da Folha do Norte n. 19, de
26/01/47, n.26, de 18/05/47,
e n. 31, de 06/07/47.)
40
“25- Sinto que o amor se torna
burguês e espalhafatoso. Vai perdendo a virtude do silêncio. E agora
vem doloroso e perdido aquele canto
de Sebastian Bach: “Se me queres
dar o teu coração, faze-o primeiro
em segredo. E o nosso pensamento
em comum ninguém o possa adivinhar.” (NUNES, Benedito,
Confissões do solitário. Belém:
Suplemento Literário da Folha do Norte n. 26, de 18/05/
47)
41
“49- Tenho raízes espirituais
fortemente católicas. (...) O catolicismo é maleável; oferece valores mais
humanos e mais simpáticos – o tradicionalismo e também certa dose de
superstição...” (NUNES, Benedito, Confissões do solitário. Belém:
Suplemento Literário da Folha do Norte n. 31, de 06/07/
47.)
42
“18- (...) Não temos melhor visão do mundo, se não quando amamos; torna-se bem visível a unidade
e imortalidade de todas as coisas. Se
há númeno, o amor é o númeno. 19
– Amar intensamente é quase fazer-se místico e o misticismo é como
qualquer perturbação na ordem psíquica...45- O amor não transfigura – salva!” (NUNES, Benedito, Confissões do solitário. Belém:
Suplemento Literário da Folha do Norte n. 19, de 26/01/
47, e n. 31, de 06/07/47.)
43
“62- Em que difere o sentimento
religioso do sentimento poético? O
religioso e o poeta ambos procuram
atingir aquele estado que Whitehead chamada de “apreensão da visão
ordenadora”. 63- O poeta quer ser
fiel ao mundo e o religioso que ama
Deus e nele confia faz indiretamente o voto de confiança na vida. 64Religião é aceitar a vida com elevação e poesia.” (NUNES, Benedito, Confissões do solitário. Belém:
Suplemento Literário da Folha do Norte n. 32, de 13/07/
49)
44
“11- Três capítulos da Suma
Teológica do monge Tomaz deixaram-me numa abadia distante sem
poesia e sem amor 14- Que adianta
saber se Deus tem propriedades, se
“em deus há composição de matéria
e forma”, se o bem é anterior ao ser?
Mal pode o teólogo ajeitar os óculos
diante de tantas perguntas, e em vez
de respostas faz o dogma! Pois o
dogma é o repouso do pobre teólogo!”
(NUNES, Benedito, Confissões
do solitário. Belém: Suplemento Literário da Folha do Norte n. 11, de 07/09/46, e n. 15,
de 10/11/46)
45
“34- Quantas vezes já senti re-
pulsa diante das sutilezas filosóficas
e inclinei-me ante os poetas que no
momento representaram para mim
os mais argutos observadores da
natureza e do seu perpétuo movimento. 47- O poema dá a ‘medida
do ser’, no ‘estado’ psicológico que
expresso. O poema nos revela, nos
descobre – é um processo de levantamento espiritual. 50 – A razão falha
na metafísica. E entraremos na
angustia? Não. Ainda o poeta viverá fora do tempo e do mundo.”
(NUNES, Benedito, Confissões
do solitário. Belém: Suplemento Literário da Folha do Norte n. 26, de 18/05/47, e n. 31,
de 06/07/47.)
46
“8- Compreendereis Schopenhauer
ouvindo Beethoven... 9- A música
dá ao homem um profundo estado de
aperbecimento que nos aproxima da
natureza e nos faz compreender a
significação do Absoluto de Hegel.
Sob a ação da música desaparece
momentaneamente os contrários e só
prevalece a força do Espírito. 28Quando se ouve Beethoven, passamos o homem; é possível a vida num
plano místico ou poético... 33- Ouvir música com os solitários, (...) É
a música maravilhosa apagando o
mundo sensível. De qualquer forma,
todos os homens precisam de isolamento onde só a poesia se manifesta
com toda a intensidade” (NUNES,
Benedito, Confissões do solitário.
Belém: Suplemento Literário
da Folha do Norte n. 11, de
07/09/46, e n.26, de 18/05/
47)
47
“12- Não há lenda mais bela do
que a de Sócrates sobre a reminiscência de Deus. Algum dia o homem já contemplou a idéia pura. É
por isso que procura conhecer... 22O paganismo deve ter sentido a frieza do cristianismo. Petrônio chama-o de anti-estético. Não há maravilhoso cristão. Apenas uma seqüência de sacrifícios terríveis, de
mortificações sádico-masoquistas.
(...) O panteísmo é sadio e simpático, tão simpático que passa nas filosofias sob as formas mais sutis. (...)
O essencial é sentir Deus; sempre
que o afastarmos de nós, cairemos
na teodicéia – e a teodicéia é a literatura da Metafísica.” (NUNES,
Benedito, Confissões do solitário.
Belém: Suplemento Literário
da Folha do Norte n. 15, de
10/11/46 e n.19, de 26/01/
47)
48
“26- O Mundo Temporal é como
se fosse o corpo da Igreja, ou melhor,
a rocha onde esta se fixou... 32- S.
Paulo afastou definitivamente o poder do cristão. Fez o cristão. E o
Deus bíblico perdeu a arbitrariedade
que lhe concediam os judeus. O Filho de Deus (...) sofreu e se abrasou
de amor pela humanidade. Foi o
Mário Faustino e Ruy Barata, aos quais retornará sucessivas vezes ao longo de
seu percurso intelectual, este texto comprova o descontentamento com a sua
própria poesia, pela carência de “espírito poético”, de “posse de suas imagens e seus
símbolos”, hauridos numa vivência estética profunda e criadora. “Faltam-lhe as
forças necessárias para agarrar a poesia com unhas e dentes e torná-la submissa”, assim
refere Benedito Nunes à sua poesia, “achados [poéticos] puramente casuais”,
resultados de um poeta “quase que inteiramente desprovido do manejo da técnica do
verso”.57
Neste ensaio sobre os poetas paraenses, a atitude crítica de Benedito
Nunes já está marcadamente influenciada pelo professor Francisco Paulo Mendes,
evidente tanto na nada complacente crítica que fez à sua poesia, como no juízo
sobre o seu amigo Mário Faustino, que recupera certos argumentos utilizados
pelo experiente professor, na primeira crítica que escreveu sobre o poeta
piauiense58.
O seu ensaio Cotidiano e a morte em Ivan Ilitich, escrito em 1949 e publicado
no começo de 1950 no Suplemento, também comprova a influência do professor
Mendes - duradoura e perceptível também nos próximos ensaios que escreverá
-, que lhe incentivou na leitura de certos autores das filosofias da existência, de
inspiração religiosa, como Chestov e Bierdiáiev, Gabriel Marcel e Karl Jaspers.
Mesmo sendo um texto de juventude, escrito aos 20 anos de idade,
Cotidiano e a morte em Ivan Ilitich59 pode ser considerado exemplar em dois aspectos
fundamentais dos rumos que percorrerá Benedito Nunes na sua trajetória crítica:
o pendor filosófico de sua crítica literária e o estilo ensaístico que lhe permite
mover-se dinamicamente entre a literatura e a filosofia, em intercâmbio.
A obra literária estudada é introduzida de maneira oblíqua - o que se
tornará uma característica marcante de sua forma expositiva -, articulada, desde
o princípio, a uma questão de ordem filosófica, o problema da morte. Ainda
sem mencionar a novela que lhe motiva o ensaio, Benedito Nunes caracteriza,
filosoficamente, os indivíduos que vivem no estado irrefletido do senso comum,
familiarizados e alienados na normalidade do cotidiano, o que os impede de
aceder à dimensão metafísica da realidade. O núcleo do ensaio advém de uma
preocupação religiosa cristã, alimentada pela leitura de Chestov e Landsberg,
de redimensionamento da vida humana pela transcendência do indivíduo
personalizado e conciliado com a morte pela busca de perfeição moral, que lhe
plenifica a vida.
O cristianismo, que vê na morte a possibilidade de significação da vida,
de compreensão de sua dimensão ontológica, é considerado um “pensamento
místico-poético” - como o de Platão em sua metáfora da caverna como libertação
do corpo e ascensão da alma à realidade superior da idéias -, em contraposição
ao “pensamento racional”, orientado para as “realidades universais”, para as
abstrações que absorvem os “indivíduos” em “gerações”, e lhes dá, em tempos de
guerra, a morte anônima das estatísticas. A realização do homem em “pessoa”,
“criatura divina” destinada a um “destino superior”, só se dá na solidão, pois “só no
homem que é reduzido à solidão que nasce o problema da morte”. O cristão deve encarála ativamente e conquistá-la pelo aperfeiçoamento moral na vida, que à morte
da palavra 41
se unifica no plano da transcendência. Segundo Benedito Nunes, Ivan Ilitch,
que antes vivia naquele “estado de ignorância (...) que oculta o sentido trágico da situação
do homem no mundo”, ilustra o movimento de ruptura com a banalidade cotidiana
que o permite vivenciar o mistério da morte, através da “agonia” que “realiza o
movimento de Fé e Esperança” e para o qual a morte seria um “sair da vida na direção
de Deus.” 60
Cotidiano e a morte em Ivan Ilitich aponta também para a forma dialógica e
criativa da futura crítica de Bendito Nunes, que não permanece à sombra das
obras que estuda mas as toma como ponto inicial de uma reflexão que ganha
força própria. Uma crítica à cultura contemporânea, recorrente nas páginas do
Suplemento, consta nas páginas deste ensaio:
“Ele [Ivan Ilitch] é este homem de ação que, em nosso dias, representa um papel adequado às
exigências de um ambiente cultural onde o dinamismo como virtude e como regra de conduta é a
máscara indisfarçável de uma contagiosa pobreza de espírito, do abatimento em que se encontra
as forças morais, que, impotentes para uma investida de vulto contra o próprio homem, livrandoo das garras de sua fraqueza, de seus propósitos mesquinhos e ambições grosseiras, desviam-se
dessa finalidade reparadora, para aplicarem-se exclusivamente em obter as facilidades da existência,
numa espécie de jogo frívolo em que há lucros extraordinários sobre as satisfações ilusórias da
vida e perdas irreparáveis no que concerne à natureza da natureza humana, à realização de um
destino digno da vida eterna.”61
Além disso, um questionamento de denso valor metafísico e até
escatológico demonstram o filósofo que já tinha se tornado Benedito Nunes
nesta época:
“O sentimento de existir é um estado que se intercala entre dois mistérios: o do nascimento e da
morte. É no intervalo entre dois mistérios que tem o seu lugar a realidade do existir. E essa
realidade não é menos misteriosa pelo fato de se produzir num instante que é uma espécie de
trégua, em que o mistério do nascimento nos entrega à vida e a morte se retrai para deixar-nos
viver.”62
Tema permanente de suas preocupações pessoais e intelectuais do período,
a idéia de crise, normalmente ligada a questões religiosas, perpassa os outros
quatro ensaios, dois de crítica literária e dois estudos de filosofia, que publicou
em 1952 - quando o Suplemento da Folha do Norte já tinha saído de circulação
-, na Revista Norte, que ele dirigiu com Max Martins e Orlando Costa. A Revista
Norte, que alcançou três volumes em 1952, assim como a sua antecessora, a
Revista Encontro, de um único volume de 1948, organizada por Benedito Nunes,
Haroldo Maranhão e Mário Faustino, almejaram preencher o vazio deixado pelo
excelente Suplemento Literário da Folha do Norte, permitindo a sobrevivência
da atividade literária em um círculo intelectual fixo, interessado também por
cinema e teatro.
O ensaio Considerações sobre ‘A Peste’ - que representa o vínculo entre o
Suplemento da Folha do Norte, que o publicou no último volume, em 1951, e a
Revista Norte, que o trouxe no primeiro número, em 1952 – constata a
perplexidade da crítica literária de compreender, com o instrumental intelectual
42
da palavra
antigo Jeová que se apurou neste
contato com os homens... 68- Unamuno achava que o cristianismo
social constituía um verdadeiro absurdo. (...) Ouço falar em ação social
cristã. (...) Mas pergunto – Pode a
Igreja fazer da questão social toda a
sua vida, desenvolver por ela, por
amor a essa nova causa, toda a
zelosa atividade que desde séculos
vêm empregando nas salvações das
almas? Uma coisa é certa: a Igreja
não pode se desviar de sua verdadeira finalidade. Acima de tudo estão
os interesses do reino de Deus, e eis
porque o cristianismo não oferece aos
homens a utopia. (...) As utopias
comprometem o destino da Igreja...”
(NUNES, Benedito, Confissões
do solitário. Belém: Suplemento Literário da Folha do Norte n. 26, de 18/05/47 e n.32,
de 13/07/49)
49
“23- O imperativo categórico –
que cosia terrível! Um prenúncio do
pragmatismo. (...) O dever é a primeira palavra que os esbirros aprendem e nada mais contrário à liberdade – primeira ligação com o mundo! (...) 27- A minha liberdade fui
eu que a fiz. Entre a criá-la constantemente e diante dela fico na
mesma situação de Deus para o
mundo: aquecendo a sua obra sempre... e um dia tem perdê-la. 55Liberdade... A liberdade não quer
parada, nem repouso. É uma força
criadora, tem que levantar os seus
próprios obstáculos para depois derrubá-los... 61- Spinoza fazia consistir a liberdade moral no domínio
das paixões e dos instintos. (...) E
agora, examinando o outro lado do
problema, liberdade moral, ceder às
paixões não será também um modo
de libertar-se?... (...) Lutar contra as
paixões é bem melhor do que dominá-las completamente. (...) O dogma
da ‘queda’ me satisfaz plenamente,
mas da queda que se renova, que é a
própria vida do homem. 65- (...)
Independente de qualquer atitude
religiosa, o homem pode tomar hoje
uma posição moral definida. Leio
nas ‘Reportagens Imaginárias’ de
Gide que ‘a dignidade humana e
essa espécie de moral da consciência
na qual colocamos as nossas esperanças prescindem, facilmente, do
apoio e do consolo da Fé’” (NUNES, Benedito, Confissões do
solitário. Belém: Suplemento Literário da Folha do Norte n.
19, de 26/01/47, n.26, de 18/
05/47, n.32, de 13/07/49, e
n.32, de 13/07/49)
50
“15- (...) Às vezes Homero se
torna majestoso. É o cantor da força, de Crônida. (...) Não é só força e
pintura, Homero. Na expressão, na
doçura da frase, equipara-se a Pindaro...” !” (NUNES, Benedito,
Confissões do solitário. Belém: Su-
plemento Literário da Folha
do Norte n. 15, de 10/11/46)
51
“29- Como eu tenho pena do
meu irmão parnasiano. Que não
pode ler o Murilo Mendes e o Carlos
Drummond. É duplamente infeliz:
não vive, nem escreve o poema”
(NUNES, Benedito, Confissões
do solitário. Belém: Suplemento Literário da Folha do Norte n. 26, de 18/05/47)
52
NUNES, Benedito. Da caneta ao computador ou entre literatura e filosofia. Em: _____ Do
Marajó ao arquivo: um breve panorama da cultura no Pará. Organização Victor Sales Pinheiro.
Belém: EDUFPA, 2009. (no
prelo)
53
BARATA, Ruy. Dez poetas
paraenses. Belém: Suplemento
Literário da Folha do Norte n.
163 de 24/12/1950.
54
NUNES, Benedito. Ação e
poesia. Belém: Suplemento Literário da Folha do Norte n.
28 de 01/06/1947.
55
NUNES, Benedito, Posição
e destino da literatura paraense.
Belém: Suplemento Literário
da Folha do Norte, n.60, 01/
01/48.
56
NUNES, Benedito, Posição
e destino da literatura paraense.
Belém: Suplemento Literário
da Folha do Norte, n.60, 01/
01/48.
57
NUNES, Benedito (sob o
pseudônimo de João Afonso).
Dez poetas paraenses. Belém: Suplemento Literário da Folha
do Norte n. 164, de 31/12/
1950.
58
MENDES, Francisco Paulo.
O poeta e a rosa, primeira notícia
sobre a poesia de Mário Faustino
Belém: Suplemento Literário
da Folha do Norte n. 76, de
25/04/1948.
59
NUNES, Benedito. Cotidiano e morte de Ivan Ilitch. Belém:
Suplemento Literário da Folha do Norte n.144, de 22/01/
1950.
60
NUNES, Benedito. Cotidiano e morte de Ivan Ilitch. Belém:
Suplemento Literário da Folha do Norte n.144, de 22/01/
1950.
61
NUNES, Benedito. Cotidiano e morte de Ivan Ilitch. Belém:
Suplemento Literário da Folha do Norte n.144, de 22/01/
1950.
62
NUNES, Benedito. Cotidiano e morte de Ivan Ilitch. Belém:
Suplemento Literário da Folha do Norte n.144, de 22/01/
1950.
63
NUNES, Benedito. Considerações sobre ‘A Peste’. Em: Revista
Norte. Belém, vol.1, n°1, fevereiro, 1952, p. 3
de que dispõe, a literatura “de hoje” (então 1952), mergulhada numa crise, e
que representa também a crise do homem contemporâneo, premido pela dúvida
sobre o sentido de sua existência. Crise da literatura e crise do homem são
temas que confluem neste ensaio, motivado tanto em questões de cunho teórico,
sobre as formas de realizar a crítica literária, e questão de ordem existencial,
sobre o sentido da vida.
Fato que o distingue do ensaio A morte de Ivan Ilitch, que analisa somente
as idéias contidas na novela de Tolstói, sem penetrar em questões teóricas de
natureza formal, o texto Considerações sobre ‘A Peste’, registra a atenção que o
jovem Benedito Nunes concede à teoria da literatura. Primeiro aclama a
capacidade da obra-prima de Camus de superar a crise da literatura, por conseguir
plasmar, de forma efetiva e inteligível, o drama do “homem contemporâneo, que
necessita redescobrir o sentido de sua existência”, para depois explorar este conteúdo,
relacionando-o aos outros livros de Camus, O mito de Sísifo e O estrangeiro, a fim
de extrair a sua visão de mundo, seu pensamento filosófico. Mas não o faz
desconsiderando a forma de que se reveste o romance, enquadrando-o
mecanicamente em determinado pensamento que lhe dê conteúdo. Neste antigo
ensaio, Benedito Nunes já intui a força pensante da literatura, de sua forma
específica de refletir, e a importância de valorizá-la de modo independente das
doutrinas filosóficas que a alimentem; por isso defende uma abordagem estética da
literatura, que lhe reconheça a “liberdade interna, que é a vida autônoma e objetiva de
que gozam as criações do espírito”63. A crítica que faz a Julien Benda, que julga a
literatura francesa pela ruptura com o racionalismo filosófico, é exatamente
pelo caráter reducionista desta crítica filosófica, que nega à literatura existência
separada e autonomia em relação ao pensamento já elaborado pela reflexão
filosófica, como se ela não pudesse senão transmitir o produto de uma
determinada doutrina filosófica.
“Querer jungir a obra de arte a uma idéia preconcebida (...) é empobrecer o sentido da arte, considerála apenas produto da inteligência, que se insere na ordem objetiva, sem outra significação além de ser o
prolongamento do raciocínio das regiões da fantasia e da expressão dos sentimentos humanos.”64
Benedito Nunes, malgré lui, acabará incorrendo neste tipo de interpretação
reducionista na sua primeira aproximação à obra de Clarice Lispector, ao
considerá-la uma ilustração, pura e simples, do pensamento de Sartre,
enquadrando as situações literárias de sua ficção nas categorias existencialistas
de mundo, inter-subjetividade conflitante e náusea. Em estudos posteriores, sobretudo
em Uma leitura de Clarice Lispector65, ele poderá corrigir a distorção desta “sedutora
armadilha” 66 da “Crítica desenvolvida como paráfrase filosófica”, priorizando a
composição da narrativa literária, “a ficção mesma da romancista, com seus procedimentos
peculiares, da construção dos personagens ao aparato da linguagem”, o “propriamente
literário”, que, estando em primeiro plano, revela o “substrato filosófico” da obra.
Este risco iminente a toda crítica que se deseja filosófica, o de subordinar a
obra literária a categorias instrumentais da Filosofia, é alertado por Benedito
Nunes no ensaio Filosofia e Literatura67, no qual se retrata, sem auto-complacência
e em nome da justeza interpretativa das obras, do primeiro erro cometido.
da palavra 43
Atraído exatamente pela valência filosófica das literaturas de Sartre e
Camus, o existencialismo passou a ser um objeto privilegiado de seu estudo,
cujo resultado inicial foi a palestra As Idéias do Existencialismo, proferida na
Faculdade de Direito em 1951 e publicada, no ano seguinte, no terceiro volume
da Revista Norte. No caso do romance de Camus, A peste, interessa-lhe notar
que, tal como a ocasião da morte para Ivan Ilitch, uma “situação limite” se faz
necessária para que o homem reconheça o estado precário de sua existência,
desprovida de outro significado a não ser o sentido que ele lhe dê na afirmação
de sua liberdade, sob o risco de sucumbir ao desespero e à loucura, que poderiam
levá-lo ao suicídio. Benedito Nunes associa a “moral do desespero” proposta por
Camus, que consiste na “atitude heróica” de viver sem Esperança, à condição
específica do homem contemporâneo, inserido num contexto de crise da cultura,
que acarreta em uma “reflexão pessimista em torno da situação humana”68. A idéia de
“sentimento específico de impotência”, de Jaspers, e a noção de “ritmo catastrófico” da
história, de Berdiaef, complementarão as reflexões motivadas por Camus sobre
a crise da cultura contemporânea, de que tratavam muitos autores no Suplemento
Literário da Folha do Norte69. Dentre eles, destaca-se Sérgio Milliet, que falava
de uma angústia e inquietação na leitura do “niilismo dos escritores de hoje”, inseridos
numa “crise da inteira estrutura social”. Segundo ele, “estaríamos, pois, no fim de uma
civilização e essa literatura seria o reflexo dessa época”, observando nos personagens
de O Santuário, de Faulkner, “o mesmo vazio, a mesma disponibilidade inútil, a mesma
covardia diante da vida e dos problemas da vida, os mesmos padrões morais baixíssimos”,
em “uma sociedade desintegrada que assusta pelo que comporta de liquidação, de
aniquilamento iminente do homem civilizado”. Mas Milliet viu que a literatura é tanto
resultado da “decadência moral e espiritual” dos nossos tempos, como pode ser
uma reação, uma tomada de consciência pela apresentação do “espetáculo de
chafurdamento” para “salvar o homem do abismo do nada em que se afunda.”70
Se os críticos e a literatura existencialista, de intensa densidade filosófica,
ajudaram-no a identificar a crise contemporânea, como reagir a ela? No final de
seu ensaio sobre ‘A Peste’, Benedito Nunes revela o ímpeto religioso de suas
reflexões aos 22 anos: “Sob o domínio da Peste o homem fica transtornado, perde a
noção de que é uma criatura, com aspirações elevadas que o encaminham a Deus.”71 Assim
como já expressara em Cotidiano e morte em Ivan Ilitch, a direção de suas idéias nos
seus próximos ensaios, Atualidade de S.Tomaz e As idéias do existencialismo, de
caráter estritamente filosófico, indicarão a forma religiosa de encarar o problema
da existência, como meio de reagir à crise e renovar a cultura contemporânea.
Em Atualidade de S.Tomaz, conferência realizada na Sede da Ação Católica
e publicada no volume 2 da Revista Norte, ainda em 1952, Benedito Nunes
apresenta a doutrina tomista como “saída para a crise moral em que nos debatemos”.
Interessa-lhe, neste ensaio, compreender o pensamento tomista em contraposição
à modernidade filosófica, associando a crise moral, que visualizava
concretamente na literatura, com a crise da metafísica, ou seja, compreender
filosoficamente a crítica para reagir através de uma orientação cognitiva diferente,
que permitiria recuperar os “ideais legítimos e imperecíveis”, ignorados no atual
“estado de indigência” do pensamento moderno, que teria rompido com o equilíbrio
metafísico que harmoniza a natureza humana com a natureza do mundo,
44
da palavra
64
NUNES, Benedito. Considerações sobre ‘A Peste’. Em: Revista
Norte. Belém, vol.1, n°1, fevereiro, 1952, p. 3
65
NUNES, Benedito. Leitura
de Clarice Lispector. São Paulo:
Quiron, 1973. Edição revista
e atualizada: ______ O drama
da linguagem: uma leitura de Clarice Lispector. São Paulo: Ática,
1989.
66
NUNES, Benedito. Literatura e filosofia. Em: _______ No
tempo do niilismo e outros ensaios.
São Paulo: Ática, 1993. p. 1978.
67
NUNES, Benedito. Literatura e filosofia. Em: _______ No
tempo do niilismo e outros ensaios.
São Paulo: Ática, 1993. p. 1978.
68
NUNES, Benedito. Considerações sobre ‘A Peste’. Em: Revista
Norte. Belém, vol.1, n°1, fevereiro, 1952, p. 8
69
Cf. o capítulo Os temas e
motives da crítica: a idéia de crise,
de MAUÉS, Júlia. A modernidade literária no Estado do Pará: os
suplementos literários da Folha do
Norte. Belém: UNAMA, 2002.
p.50-62
70
MILLIET, Sergio. O santuário. Belém: Suplemento Literário da Folha do Norte n.92,
de 15/08/1948.
71
NUNES, Benedito. Considerações sobre ‘A Peste’. Em: Revista
Norte. Belém, vol.1, n°1, fevereiro, 1952, p. 9
arriscando-se “numa aventura estéril”, não sendo mais do que “uma dissipação
espiritual ou uma brilhante e sedutora fantasia.”
O problema central da filosofia moderna estaria ligado à epistemologia
inaugurada por Descartes, que resultava num desvio ontológico do objeto do
conhecimento: “O princípio de que o real é a percepção e não o percebido, desligava o
pensamento do seu objeto próprio: o ser”72. É a noção de “ser” que fundamenta a
doutrina metafísica, ética e política de São Tomaz, e, portanto, é ela que se
precisa resgatar para enfrentar o “subjetivismo excessivo” gerado pelo pensamento
cartesiano, e a dissolução da metafísica efetuada por Kant, cuja maior
conseqüência será o positivismo, que teria superado os estados religioso e
filosófico da humanidade, instaurando o reino da ciência, a que se associaria a
morte de deus, anunciada por Nietzsche. A crise da metafísica seria, então, a causa
direta da crise moral contra a qual se deveria insurgir. E, para Benedito Nunes,
esse enfrentamento teria de ser também filosófico, uma vez reconhecida a
simbiótica relação da filosofia com a vida. Discutir as concepções dos filósofos
modernos seria entrar no debate das idéias que
“influenciaram a formação moral e intelectual do homem moderno. A herança que
essas concepções nos legaram é vastíssima (...); impregnaram a vida inteira,
condicionam, ainda hoje, certas atitudes freqüentes do homem comum, no que diz
respeito à maneira de agir e de pensar, arraigando em sua consciência inúmeras
convicções falsas e preconceitos nocivos” 73
Pautado, sobretudo, em Maritain, pensador católico que não negava a
importância filosófica do existencialismo, antes o considerava fundamental para
a articulação de sua filosofia neotomista da existência e para quem “a consciência
moral não basta se não for ao mesmo tempo consciência religiosa”, Benedito Nunes
acompanha o que seria a retomada do pensamento tomista na “exaustão do mundo
moderno”. Bergson e Kierkegaard teriam permitido o surgimento das
“correntes do existencialismo, que, nas suas expressões mais autênticas, traduzidas pelas filosofia
de Gabriel Marcel e Karl Jaspers, compreendem a vida humana relacionando-a a valores
absolutos, dentro de uma ordem em que o homem se acha ligado naturalmente a Deus, como
realidade que transcende à de sua existência.”74
NUNES, Benedito. Atualidade de São Tomaz. Em: Revista
Norte. Belém, Ano I, n o. 2, março-abril, 1952.p.5.
73
NUNES, Benedito. Atualidade de São Tomaz. Em: Revista
Norte. Belém, Ano I, n o. 2, março-abril, 1952.p.5.
74
NUNES, Benedito. Atualidade de São Tomaz. Em: Revista
Norte. Belém, Ano I, n o. 2, março-abril, 1952.p.5.
72
Sob a motivação das leituras orientadas pelo professor Francisco Paulo
Mendes, os autores relacionados às filosofias da existência, Jaspers e Marcel,
Chestov e Berdiaef, Landsberg e Maritain, assim como Bergson, ao lado dos
seus já conhecidos Pascal, Kierkegaard e Unamuno sedimentam as reflexões
existenciais e religiosas de Benedito Nunes, nesta época. Pelas leituras que realiza
e pelos ensaios que escreve, ele já manifesta claramente o interesse que o
acompanhará até hoje e a cujo desenvolvimento muito contribuirá com a sua
obra, o da relação entre literatura e filosofia. Além dos autores do existencialismo
cristão, que frutificaram, por um breve período, no solo de sua formação católica,
Francisco Mendes, espírito aberto e de ampla leitura, será o responsável por lhe
apresentar Heidegger e Sartre, autores permanentes em seus estudos posteriores.
O interesse pela história da filosofia, alargada pela história da literatura e
das idéias, já perceptível em alguns aforismos das Confissões de um solitário, também
da palavra 45
aparece neste período. A presença constante de ensaios do grande Otto Maria
Carpeaux certamente o influenciou na maneira extensiva e digressiva que adquiriu
de abordar os temas. No ensaio Sobre a pré-história do existencialismo75, publicado no
Suplemento Literário da Folha do Norte, Carpeaux relaciona autores e idéias,
extraindo conclusões que aproximam e separam o marxismo e o existencialismo, a
religiosidade dos precursores do movimento, Pascal e Kierkegaard e a motivação
eminentemente estética de Schelling, autor anti-hegeliano cuja filosofia seria uma
dos fundamentos do existencialismo. Este tipo de articulação, dinâmica e ensaística,
também presente nos textos de Sergio Milliet e Sergio Buarque de Holanda – para
mencionar outros dois autores importantes na sua formação - será muito comum
nos futuros ensaios de Benedito Nunes.
Possivelmente inspirando no ensaio de Carpeaux, Sobre a pré-história do
existencialismo, o ensaio As idéias do existencialismo, atesta o grau de maturidade
intelectual atingido por Benedito Nunes em 1952, pela elaboração de seu
pensamento e a capacidade de expô-lo numa escrita fluída, organizando
didaticamente o conteúdo ao longo de seções bem delimitadas, de forma coerente
e conclusiva. O rigor bibliográfico atravessa todo o texto, ricamente documentado
com diversos autores - Pascal, Kierkegaard, Heidegger, Jaspers, Marcel, Sartre,
Maritain, Chestov, Levinas -, assim como seus comentadores – Foulquié, Jean
Wahl, Alceu de Amoroso Lima, Toquendec, Wagner de Reyna, Bullnow, Julien
Benda. A questão que perpassa todo o estudo é o caráter religioso do pensamento
existencialista, que recupera a dimensão da subjetividade à tradição filosófica
ocidental, afastada, desde o princípio, da concretude do homem, individualmente
considerado, pela necessidade metafísica de abstração, que considera
genericamente a humanidade, a idéia do homem, mas “não atenta para o que há
de indefinível ou de hesitante em cada existência individual”76, que permanece
misteriosa e irredutível à qualquer apreensão lógico-conceitual. Nisto reside a
ruptura que o existencialismo realiza no interior da tradição filosófica e o seu
risco de sucumbir a um “irracionalismo”, posto que incapaz de formular um
juízo que abranja um conjunto de homens, que vá além da verdade subjetiva,
revelada na experiência concreta de cada homem.
Após discorrer sobre a religiosidade de Pascal e Kierkegaard, o caráter
situado de toda existência humana em Heidegger, a possibilidade de
transcendência concebida por Jaspers, Benedito Nunes critica severamente o
pensamento de Sartre, considerando que o valor de sua obra repousa na
demonstração de “certo perigo que o existencialismo representa”, por ser a sua
posição “verdadeiramente aniquiladora do indivíduo”. Para ele, a liberdade de
Sartre é uma “liberdade desfigurada”, “livre, porém dentro do Nada”, sendo as
conseqüências práticas de sua filosofia perniciosa, pela “impossibilidade de,
uma vez que se reconheceu a auto-criação da essência humana, estabelecer os
fundamentos de uma ética qualquer.”77 Ao pensamento de Sartre contrapõe a
religiosidade transcendente de Gabriel Marcel, “o filósofo da esperança”, e Karl
Jaspers, herdeiros de Kierkegaard, que encontram “na realidade da própria
existência o motivo de sua elevação pelo qual não fica encerrada em si mesma.”78
Na parte conclusiva do ensaio, Benedito Nunes reforça os dois traços
principais de seu pensamento à época, o seu pendor religioso e a importância
46
da palavra
75
CARPEAUX, Otto Maria.
Sobre a pré-história do existencialismo. Belém: Suplemento Literário da Folha do Norte
n.121, de 01/05/1949.
76
NUNES, Benedito. As idéias do existencialismo Em: Revista
Norte. Belém, Ano n. 3, 1952.
p. 35
77
NUNES, Benedito. As idéias do existencialismo Em: Revista
Norte. Belém, Ano n. 3, 1952.
p. 47 e ss.
78
NUNES, Benedito. As idéias do existencialismo. Em: Revista
Norte. Belém, Ano n. 3, 1952.
p. 50
reflexiva da literatura. O valor do existencialismo estaria na demonstração
literária do estado espiritual do homem contemporâneo, “desamparando, que vive
em conflito com a realidade que o envolve”; com isso, ele “conduz à urgência de uma
solução para o destino humano, que não é o desespero e o absurdo, e sim o amor em Deus e
a esperança criadora em sua eterna verdade.”79
Mas o existencialismo, ao ligar o pensamento à literatura, teria um alcance
revitalizador da filosofia, um alargamento da capacidade intelectual do homem.
Neste momento, em 1951, Benedito Nunes já percebera a convergência da experiência
poética e da investigação filosófica, um dos fundamentos de sua ensaística.
“A experiência poética não se opõe a investigação filosófica; ela, de certo modo, encaminha o pensamento
no sentido da vida e corrige os excessos de abstração, aos quais por vezes ele se entrega.”80
79
NUNES, Benedito. As idéias do existencialismo. Em: Revista
Norte. Belém, Ano n. 3, 1952.
p. 53
80
NUNES, Benedito. As idéias do existencialismo. Em: Revista
Norte. Belém, Ano n. 3, 1952.
p. 50
81
NUNES, Benedito. O anjo e
a linha. Em: Revista Norte. Belém, Ano I, n o. 2, março-abril,
1952. p.58-9.
82
MENDES, Francisco Paulo.
Notas sobre poesia contemporânea.
Belém: Suplemento Literário
da Folha do Norte n. 28, de
01/06/1948.
A consciência crítica da poesia e o tema da religiosidade são temas que
aparecerão também no primeiro estudo detido sobre um poeta paraense, Ruy
Barata, publicado na Revista Norte, número 1. Depois de tecer breves
comparações entre o livro do poeta paraense, O anjo e a linha, com o seu primeiro,
O anjo dos abismos, em proveito do novo, Benedito Nunes observa que a
espiritualidade “da alma de um poeta cristão, de um poeta que está imerso no mistério do
pecado e do cotidiano”, permite-lhe aprofundar a experiência poética da vida,
penetrando na intimidade das palavras, logrando uma unidade harmoniosa entre
matéria e forma literárias, capaz de “traduzir as suas vivências”. Benedito Nunes
não se furta, mais uma vez, de refletir, filosoficamente, sobre a “visão da
existência” plasmada na poesia do amigo mais velho Ruy Barata, que alcançaria
a transcendência pelo “aproveitamento do cotidiano”, “dilatando o conteúdo da vida,
para apreender a sua transcendência”. Isto é, para Benedito Nunes o seu misticismo
não o alheia da realidade cotidiana para saciar-se nas “puras e radiosas visões, sem
vínculos materiais ou pecaminosos”: “Aprofundando a vida, sentindo-a com intensidade, é
que o poeta descobre a vida suplementar”81.
As palavras de Benedito Nunes sobre Ruy Barata ecoam as de seu mestre
Francisco Paulo Mendes, que, no texto chamado Notas sobre poesia contemporânea82
(publicado no Suplemento da Folha do Norte e recuperado por Benedito, Haroldo
e Mário na Revista Encontro, em 1948), aproxima a atividade poética da religiosa,
considerando-a mística pela força de “superar os limites da matéria e dos sentidos por
uma expansão da alma humana”, em direção de uma “verdade supra-sensível e suprarelacional”. Esta mística, porém, não é semelhante a dos religiosos e santos, que,
no êxtase, se fundem com Deus; “é uma mística natural da visão do absoluto”,
contemplação do ser, das “formas do ser em sua alma, o seu próprio fundo substancial”.
A verdade do ser, alcança-a o poeta através da “vivência poética” que lhe revela o
caminho interior de descoberta do “mistério das coisas, do sentido e do significado do
Universo”. Experiência subjetiva, a poesia é considera uma atividade existencial,
uma prática de interiorização e de investigação da realidade pelo aprofundamento
da essência das coisas, hauridas no mais íntimo de sua subjetividade. “O poeta
deve praticar, pois, uma ‘exploração’ impiedosa e maliciosa da sua vida interior”.
Reiteradamente trabalhadas pelo professor Mendes, essas noções estéticofilosóficas, procedentes principalmente do romantismo alemão, serão
fundamentais para a compreensão da poesia de Benedito Nunes, e tornar-se-ão
da palavra 47
matéria privilegiada de seu estudo sobre o diálogo da filosofia com a poesia
no pensamento de Heidegger83. Para Francisco Mendes, “o ato poético” é
metafisicamente redimensionado na poesia contemporânea, e convertese em “uma operação vital”, “transformando a poesia em manifestação da própria
existência (...). E essa faculdade do poeta de fundir a ação de viver com a ação
poética é a ‘vivência poética’. Poesia e existência vieram a confundir-se”.84
Numa dimensão mais moral do que estética, o pensamento de
Mendes também o ajudou na afirmação de sua conduta intelectual; a
compreensão da base existencial da poesia lhe serviu também de
fundamento para a vida filosófica, também uma poiesis, um fazer que
empenha a existência. Em Benedito Nunes, pensamento e vida se
entrosarão numa unidade de sentido. Este é o significado de sua formação.
83
A culminância deste estudo é NUNES, Benedito. Passagem para o poético. Poesia e filosofia
em Heidegger. São Paulo: Ática,
1986.
84
MENDES, Francisco Paulo.
Notas sobre poesia contemporânea.
Belém: Suplemento Literário
da Folha do Norte n. 28, de
01/06/1948.
Francisco Paulo Mendes,
mestre e amigo.
48
da palavra
da palavra 49
Foto: Elza Lima
50
da palavra
Bibliografia de Benedito Nunes*
1) Livros de Benedito Nunes
O mundo de Clarice Lispector. Manaus: Ed. Governo do Estado do Amazonas,
1966.
A filosofia contemporânea: trajetos iniciais. Rio de Janeiro: Ao Livro Técnico, 1967.
(Coleção Buriti, vol. 18); 3ª ed. revista e ampliada, São Paulo: Ática, 1991 (Série
Fundamentos, 79); Edição revista e atualizada. Belém: Editora da Universidade
Federal do Pará, 2004.
Introdução à Filosofia da Arte. São Paulo: DESA, 1967 (Coleção Buriti, vol.7); 5ª
edição. São Paulo: Ática, 2000.
O Dorso do Tigre. São Paulo: Perspectiva, 1969. (Coleção Debates, vol.17); 2ª
ed., 1976.; 3ªed. São Paulo: Ed.34 (no prelo)
João Cabral de Mello Neto. Rio de Janeiro: Vozes, 1971. (Coleção Poetas Modernos
do Brasil, vol. 1); 2ªed., 1974.
Leitura de Clarice Lispector. São Paulo: Quiron, 1973. (Coleção escritores de hoje)
Oswald Canibal. São Paulo: Perspectiva, 1979. (Coleção Elos, 26)
O tempo na narrativa. São Paulo: Ática, 1988. 2ª ed., 1995.
O drama da linguagem: uma leitura de Clarice Lispector. São Paulo: Ática, 1989. 2ª
ed., 1995.
Passagem para o poético: filosofia e poesia em Heidegger. São Paulo: Ática, 1986.
(Ensaios, 122); 2ª ed., 1992.
No tempo do niilismo e outros ensaios. São Paulo: Ática, 1993. (Série Temas, 35)
* Organizada por Victor Sales Pinheiro
O crivo de papel. São Paulo: Ática, 1998 (Série Temas, vol. 67. Literatura e
Filosofia); 3ª ed., 1999.
da palavra 51
Hermenêutica e poesia: o pensamento poético. Organização e apresentação Maria José
Campos. Belo Horizonte: Ed. UFMG, 1999.
O Nietzsche de Heidegger. Prefácio Ernani Chaves. São Paulo: Pazulin, 2000.
(Coleção Ágora)
Dois ensaios e duas lembranças. Belém: SECULT/UNAMA, 2000.
Heidegger e Ser e Tempo. Rio de Janeiro: Zahar, 2002.
Crônica de duas cidades: Belém e Manaus. (Com Milton Hatoum). Prefácio Aldrin
Moura de Figueiredo. Belém: SECULT, 2006.
João Cabral: a máquina do poema. Organização e prefácio de Adalberto Müller
Brasília: Ed. Universidade de Brasília, 2007. (Coleção Letras e Ideias)
A Clave do poético. Organização e apresentação Victor Sales Pinheiro. São Paulo:
Cia das letras. (no prelo)
Modernismo, Estética e Cultura. Organização e apresentação Victor Sales Pinheiro.
São Paulo: Ed. 34. (no prelo)
Ensaios Filosóficos. Organização e apresentação Victor Sales Pinheiro. São Paulo:
Martins Fontes. (no prelo)
Heidegger. Organização e apresentação Victor Sales Pinheiro. São Paulo: Martins
Fontes. (no prelo)
Do Marajó ao arquivo: breve panorama da cultura no Pará. Organização e apresentação
Victor Sales Pinheiro. Belém: Editora da Universidade Federal do Pará (no prelo)
Guimarães Rosa: literatura e filosofia. Organização e apresentação Victor Sales
Pinheiro.
Fernando Pessoa: poeta metafísico. Organização e apresentação Victor Sales Pinheiro.
2) Livros organizados por Benedito Nunes:
FAUSTINO, Mário. Poesia de Mário Faustino. Organização Benedito Nunes. Rio
de Janeiro: Civilização Brasileira, 1966.
BRITO, Farias. Trechos escolhidos. Organização Benedito Nunes. Rio de Janeiro:
Agir, 1967. (Coleção Nossos Clássicos, vol. 92)
FAUSTINO, Mário. Poesia-experiência. Organização Benedito Nunes. São Paulo:
Perspectiva, 1977.
FAUSTINO, Mário. Poesia completa. Poesia traduzida. Organização Benedito Nunes.
São Paulo: Max Limonad, 1985.
FAUSTINO, Mário. Evolução da poesia brasileira. Organização Benedito Nunes
Salvador: Fundação Casa de Jorge Amado, 1993.
NUNES, Benedito (org.) A crise do pensamento. Belém: Ed.UFPA, 1994.
LISPECTOR, Clarice. A paixão segundo G.H. Edição crítica organizada por
Benedito Nunes. Paris, Association Archives; Brasília, CNPQ, 1998.
52
da palavra
NUNES, Benedito (org.) O amigo Chico fazedor de poetas. Belém: SECULT, 2001.
NUNES, Benedito; PERREIRA, Soraya R.R.; PERREIRA, Ruy P. (org.) Dalcídio
Jurandir, romancista da Amazônia. (organização com Soraya R.R. Perreira e Ruy P.
Perreira) Literatura e Memória. Belém: SECULT; Rio de Janeiro: Fundação Casa
Rui Barbosa / Instituto Dalcídio Jurandir, 2006.
3) Ensaios constantes dos livros de Benedito Nunes:
O mundo de Clarice Lispector (Governo do Estado do Amazonas, 1966):
A Náusea
A experiência mística de G.H.
A estrutura dos personagens
A existência absurda
Linguagem e silêncio
O dorso do Tigre (Perspectiva, 1969; Ed.34, 2009):
De Consolatione Philosophie
A Superação da Filosofia
Das Utopias
O Processo da Filosofia
A Destruição da Estética
Arqueologia da Arqueologia
Os Círculos de Heidegger
A Náusea
A experiência mística de G.H.
A estrutura dos personagens
A existência absurda
Linguagem e silêncio
O Amor na Obra de Guimarães Rosa
A Viagem
A Viagem do Grivo
Guimarães Rosa e Tradução
Tutaméia
Os outros de Fernando Pessoa
Paradoxo e Verdade
O Ocultismo na Poesia de Fernando Pessoa
A Prosa de Fernando Pessoa
A Máquina do Poema
Oswald Canibal (Perspectiva, 1979)
Antropofagia e Vanguarda – Acerca do Canibalismo Literário
Homem de muita fé
O Retorno à Antropofagia
A Crise da Filosofia Messiânica
A Marcha das Utopias
da palavra 53
No tempo do niilismo e outros ensaios (Ática, 1993)
No tempo do niilismo
Variações de um tema: o nazismo de Heidegger
O mito Jean-Paul Sartre (necrológio)
A estética e o saber moderno, ou os paradoxos da estética
Fenomenologia e experiência estética
Fragmentos da modernidade
Hermenêutica e poesia
Filosofia e tragédia: labirintos
O universo filosófico e ideológico do barroco
Machado de Assis e a filosofia
Filosofia e Revolução Francesa
Introdução à crise da cultura
Filosofia e literatura
Crivo de papel (Ática, 1998)
Aspecto teológico da Filosofia
O último Deus
Do primeiro ao último começo
Sócrates construtor
Música, Filosofia e Literatura
Poética do pensamento
Conceitos fundamentais da Metafísica
Tempo e história: introdução à crise
A Filosofia e o Milênio
Ética e leitura
As duas introduções à Crítica do juízo
Ética e finitude
Historiografia literária do Brasil
De Sagarana a Grande Sertão: Veredas
Aceitação da noite
Dois ensaios e duas lembranças (SECULT/UNAMA, 2000)
Um capítulo de arqueologia religiosa
O fazer filosófico ou oralidade e escrita em Filosofia
Meu amigo Mário
Dona Clarice
João Cabral: a máquina do poema1 (org. Adalberto Müller, EDUNB, 2007)
João Cabral: filosofia e poesia
A ‘geração de 45’ e João Cabral
Modernismo, Estética e Cultura (org. Victor Sales Pinheiro, Ed.34 – no prelo)
Antropofagia e Vanguarda – Acerca do Canibalismo Literário
54
da palavra
1 Além dos dois ensaios mencionados, este livro inclui,
com modificações, a segunda
edição do livro João Cabral de
Melo Neto, publicado pela Editora Vozes, em 1974.
Homem de muita fé
O Retorno à Antropofagia
A Crise da Filosofia Messiânica
A Marcha das Utopias
Antropofagia ao alcance de todos
Estética e correntes do modernismo
O modernismo na história das vanguardas
Vertentes [sobre o carnaval]
Utopia e pensamento utópico
Anthropophagisme et surréalisme
O riso modernista
Ponta de Lança
Appolinaire, Cendras e Oswald
A metáfora lancinante
À margem de uma lembrança
Antropologia e Antropofagia
O Pensamento Estético no Brasil
Estética e correntes do modernismo
O moderno da Arte Moderna
Diretrizes da Filosofia do Renascimento
O mundo de cabeça para baixo
Triunfo Barroco
A Visão Romântica
Novas Tecnologias da comunicação e a cultura
Um conceito de cultura
Educação Artística e Filosofia da Arte
Universidade e Regionalismo
O animal e o primitivo: os Outros de nossa cultura.
Um capítulo de arqueologia religiosa
Vertentes (Deus, deuses)
Vertentes [crise e filosofia]
A Clave do Poético (org. Victor Sales Pinheiro, Cia das Letras – no prelo)
Meu Caminho na Crítica
Crítica literária no Brasil, ontem e hoje
Ocaso da literatura ou falência da crítica?
Conceito de forma e estrutura literária
O trabalho da interpretação e a figura do intérprete na literatura
Prolegômenos a uma crítica da razão estética
Reflexões sobre o moderno romance brasileiro
A recente poesia brasileira
Trinta anos depois
O que está acontecendo com a literatura brasileira hoje (entrevista concedida à
Clarice Lispector)
A paixão de Clarice Lispector
A escrita da paixão
da palavra 55
Drummond: poeta anglo-francês
Carlos Drummond: a morte absoluta
Os tristes, brutos índios de Vieira, ou um missionário aturdido
A Invenção Machadiana
A cidade sagrada
Volta ao Mito na ficção brasileira
Encontro em Austin
O jogo da poesia
Dalcídio Jurandir: as oscilações de um ciclo romanesco
Max Martins, Mestre-Aprendiz
A poesia de meu amigo Mário
A poesia confluente
A Gnose de Rilke
Que isto de método...
Fábula e Biografia de Don Quixote e Sancho Pança
Ensaios Filosóficos (org. Victor Sales Pinheiro, Martins Fontes – no prelo)
Poesia e Filosofia: uma transa
Filosofia e Memória
O fazer filosófico ou oralidade e escrita em Filosofia
Casa, praça, jardim e quintal
Introdução à República de Platão
A convergência política do ethos
Andarilho do conhecer
Vertentes
Atualidade da estética de Hegel
A morte da arte em Hegel
Por que ler Hegel, hoje
A crítica da razão dialética
Les sequestres d´Altona
Do romance à razão dialética
Nós somos um diálogo
Pluralismo e teoria social
À margem do estruturalismo
Gênese e estrutura
A Voz Inaudível de Deus
Heidegger (org. Victor Sales Pinheiro, Martins Fontes – no prelo)
A trajetória de Heidegger
Por que ler Heidegger, hoje?
A tradução de Dasein
História e ontologia (da essência da técnica)
Heidegger e Sartre: em torno da história
Experiências do tempo
O Nietzsche de Heidegger
56
da palavra
Heidegger e Aristóteles
Physis, Natura – Heidegger e Merleau-Ponty
A questão do outro em Heidegger
Heidegger e a poesia
Hermenêutica e Poesia
Poética do pensamento
Do Marajó ao arquivo: um breve panorama da cultura no Pará (org. Victor
Sales Pinheiro, EDUFPA– no prelo)
Da caneta ao computador, ou entre filosofia e literatura
Do Marajó ao arquivo: breve panorama da cultura no Pará (com omissões
perdoáveis e imperdoáveis)
Cultura e regionalismo
Luzes e sombras do iluminismo paraense (co-autoria Aldrin Moura de Figueiredo)
O Império da História
Pará capital Belém
O multicentrismo na poesia de Bruno de Menezes
Max Martins, Mestre-Aprendiz
O nativismo de Paes Loureiro
O anjo e a linha
Apresentação à Antilogia, de (Ruy Barata
A obra poética e a crítica de Mário Faustino
Introdução à ‘Poesia-Experiência’
O ‘fragmento’ da
Paulo Plínio Abreu
O Jogo Marcado, apresentação de “A Fala entre Parêntesis”, de Age de Carvalho
e Max-Martins
Orelha de “Arquitetura de Ossos”, de Age de Carvalho
Sobre “Caveira 41”, de Age de Carvalho
Sobre “A Asa e a Serpente” e “Os animais da Terra”, de Vicente Cecim
Orelha de “Ó, serdespanto”, de Vicente Cecim
O drama cósmico (apresentação de “Hong Kong & outros poemas”, de Antonio
Moura)
Sobre “Vazio por trás da estrela”, de Antonio Moura
Apresentação de livro “E todas as orquestrar acenderam a lua”, de Lilia Chaves
Apresentação de “Infância Vegetal”, de Paulo Vieira
Apresentação de “Mulher com o seu amante”, de Stella Pessoa
Meus poemas favoritos de ontem e hoje
Dalcídio Jurandir: as oscilações de um ciclo romanesco
Haroldo Maranhão: uma microscopia da poesia (resenha de “Vôo de Galinha”)
Recensão crítica a “O Tetraneto del-Rei”, de Haroldo Maranhão
Orelha do livro “O Nariz Curvo”, de Haroldo Maranhão
Prefácio do livro “Pará, capital: Belém. Memória & pessoas & coisas & loisas
da cidade”, de Haroldo Maranhão
História e Ficção
da palavra 57
Orelha de O tetraneto Del-rei, de Haroldo Maranhão
Orelha de Memorial do fim, de Haroldo Maranhão
Recensão crítica a “Verde Vagomundo”, de Benedito Monteiro
Sobre “O Carro dos Milagres”, de Benedito Monteiro
Amazônia reinventada
Sobre o artista plástico Rohit
Sobre a artista plástica Dina Oliveira
Sobre o artista plástico Geraldo Correa
Nota crítica à Obra Reunida de Eidorfe Moreira
Francisco Paulo Mendes, para além da crítica literária
À margem do livro, apresentação de “A casa e suas raízes. Ensaios em economia,
ecologia e ecomenia”, de Armando Dias Mendes
Apresentação de “Uma outra ‘invenção’ da Amazônia. Religiões, histórias e
identidades.”, de Raymundo Heraldo Maués
Apresentação do livro “Foucault e a Psicanálise”, de Ernani Chaves
Apresentação do livro “A utopia política positivista e outros ensaios”, de José
Carlos Castro
Inventário e planejamento
Anuário de poesia no Pará, 1961
Panorama Cultural: 1959
Um capítulo de arqueologia amazônica
Um novo retrato
Uma concepção geográfica da vida
Belém do Pará
Crônica de uma academia
Nossos encontros
Eu e Haroldo
Recordando Max Boudin
Dois mestres e uma só lembrança
Apresentação de ‘Saudades de minha aldeia”, de Fernando Mariano Rodrigues
Infortúnio e fortuna da poesia de Carlos Drummond de Andrade em Belém
Discurso pronunciado na sessão comemorativa do quinto aniversário da Faculdade
de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade do Pará. (1960)
Quase um plano de aula – discurso pronunciado no recebimento do título de professor
emérito da UFPA (1998)
Discurso pronunciado na sessão comemorativa dos 40 do Curso de Biblioteconomia
da Universidade Federal do Pará (2005)
Discurso pronunciado na sessão de concessão do título “Doutor honoris causae” a
Max Martins
Um roteiro dos livros de um sábio paraense (Entrevista concedida ao jornalista
Lucio Flávio Pinto)
Benedito Nunes ensina o caminho de volta (Entrevista concedida ao jornalista José
Castello)
58
da palavra
Guimarães Rosa: literatura e filosofia (org. Victor Sales Pinheiro)
O Amor na Obra de Guimarães Rosa
A Viagem
A Viagem do Grivo
Guimarães Rosa e a tradução
Tutaméia
A rosa que é de Rosa
Guimarães Rosa em Novembro
Literatura e Filosofia (Grande Sertão: veredas)
Grande Sertão: Veredas. Uma abordagem filosófica. A figura da Narração ou as
ciladas do tempo no romance de Guimarães Rosa.
A matéria vertente
Guimarães Rosa quase de cor: rememorações filosóficas e literárias
Bichos, plantas e malucos no sertão roseano
De Sagarana a Grande Sertão: Veredas
O mito em Grande Sertão: Veredas
Fernando Pessoa: poeta metafísico (org. Victor Sales Pinheiro)
Os Outros de Fernando Pessoa
Paradoxo e Verdade
O Ocultismo na Poesia de Fernando Pessoa
A Prosa de Fernando Pessoa
Personimagem
Poesia e Filosofia na obra de Fernando Pessoa
A metafísica engraçada
Fernando Pessoa: poeta metafísico
Psicologia da Criação
Páginas Íntimas de Fernando Pessoa
Textos filosóficos de Fernando Pessoa
Anarquismo Intelectual
O último Deus
4) Principais colaborações em livros nacionais
NUNES, Benedito. Considerações sobre a redução Sociológica de Guerrero Ramos. In:
A Redução Sociológica (em apêndice II). Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1961,
p.200-210.
. Antropofagia ao alcance de todos. In: ANDRADE, Oswald de. Do
Pau Brasil à Antropofagia e Utopias. Obras Completas, vol. VI. São Paulo:
Perspectiva: 1973, p.39-53.
. Estética e correntes do Modernismo. In: Ávila, Affonso (org.). O
modernismo. São Paulo: Perspectiva, 1975, p.39-53.
. O pensamento estético no Brasil. In: CRIPPA, Adolfo (coord.) As
idéias filosóficas no Brasil – parte II. São Paulo: Convívio, 1978, p.85-142.
da palavra 59
. A visão romântica. In: GUINSBURG, J. O Romantismo. São Paulo:
Perspectiva: 1978, p.1-42.
. Diretrizes da Filosofia no Renascimento. In: FRANCO, Afonso
Arinos de Melo e outros. O Renascimento. Rio de Janeiro: Agir, Museu Nacional
de Belas Artes, 1978, p.1-36.
. Literatura e filosofia. In: LIMA, Luiz Costa. Teoria da Literatura
em suas fontes. vol.1. 2. ed. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1983, p.188-207.
. Reflexões sobre o moderno romance brasileiro. In: Ensaios da Bienal
Nestlé de Literatura. São Paulo: 1983.
. O trabalho da interpretação e a figura do intérprete na literatura. In:
PROENÇA FILHO, Domício (org). Literatura Brasileira – ensaios, criação,
interpretação e leitura do texto literário. Vol.II. São Paulo, Norte, 1986, p.73-80.
. A Paixão de Clarice Lispector. In: NOVAES, Adauto (org.). Os
sentidos da paixão. São Paulo: Companhia das Letras/Funarte, 1987, p.269-81.
. Comentário à exposição “Pluralismo e Teoria Social”, de Luiz Felipe
Baeta Neves. In: A Interpretação ¾ 2o Colóquio/UERJ. Rio de Janeiro: Imago,
1990, p.77-99.
. Tempo. In: JOBIM, José Luis (org.). Palavras da Crítica: tendências
e conceitos no estudo da literatura. Rio de Janeiro: Imago, 1992, p.343-366.
. Experiências do tempo. In: NOVAES, Adauto (org.). Tempo e
história. São Paulo: Companhia das Letras, 1992, p.131-140.
. Trinta anos depois. In: 30 anos – Semana Nacional de Poesia de
Vanguarda – 1963/1993. Prefeitura de Belo Horizonte/Secretaria Municipal de
Cultura. Belo Horizonte, 1993.
. A morte da arte em Hegel. In: DUARTE, Rodrigo A. de Paiva.
Anais do Colóquio Nacional “Morte da arte, hoje”. Belo Horizonte: Laboratório de
Estética da FAFICH/UFMG, 1993, p.9-33.
. O tempo dividido: Cosmos e História. In: NUNES, Benedito (org.).
A crise do pensamento: ciclo de preleções. Belém: UFPA/Núcleo de Arte Fundação
Rômulo Maiorana, 1994, p.123-154.
. O amor na obra de Guimarães Rosa. In: ROSA, João Guimarães.
Ficção Completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1994. v.1, p.112-141.
. Poética do pensamento. In: NOVAES, Adauto. Artepensamento. São
Paulo: Companhia das Letras, 1994. p.389-409.
. O “fragmento” da juventude. In: BOSI, Alfredo (org.). Leituras de
poesia. São Paulo: Ática, 1996, p.171-190.
. A poesia de meu amigo Mário. In: BOAVENTURA, Maria Eugênia
(org.). Mário Faustino – O homem e sua hora e outros poemas. São Paulo: Companhia
das Letras, 2002, p.45-66.
60
da palavra
. A narração desarvorada. In: Cadernos de Literatura Brasileira –
Clarice Lispector. São Paulo: Instituto Moreira Salles, 2004, p.292-301.
. A poesia confluente [Eliot]. In: NOVAES, Adauto (org.). Poetas
que pensaram o mundo. São Paulo: Companhia das Letras, 2005, p.269-89.
. Meu caminho na Crítica. In: Estudos Avançados, vol.19, n°55,
setembro-dezembro de 2005, p.289-305.
. Guimarães Rosa quase de cor: rememorações filosóficas e literárias. In:
Cadernos de Literatura Brasileira – Guimarães Rosa. São Paulo: Instituto Moreira
Sales, 2006. pp. 236-244.
. Bichos, plantas e malucos no sertão roseano. In: SECCHIN, A. C. e
outros (org.) Veredas no sertão roseano. Rio de Janeiro: 7 Letras, 2007. pp. 19-28.
. Universidade e Regionalismo In: MERONI, Fabrizio (org.) As
cidades, as culturas e seus desafios: o CCFC e a Amazônia. Bauru, SP: EDUSC, 2008.
pp.255-265.
5) Principais publicações em livros e revistas estrangeiras
Consideraciones sobre la reduccion Sociológica. In: La reduccion Sociológica. RAMOS,
Guerrero. 1. ed., n. 5, Universidade Nacional Autonoma do México, 1959.
Literatura Moderna no Brasil. In: Revista di Filosofia e di Cultura, Aut-Aut. Laupugnani
Nigri Editore, Milão, Itália, 1967.
La Marcha de Las Utopias. In: Revista de Cultura Brasileira. Madrid (26), p. 271277, setembro, 1968.
Aspetti della prosa brasiliana conteporanea. Em: Revista di Filosofia e di Cultura Aut
Aut. Milão: Lampugnani Nigri Editore. N.109-110. Jan-Mar. 1969.
A Rosa o que é de Rosa. In: Etc. Lisboa, Portugal, 26 de janeiro de 1969, p. 1-8.
Tutaméia. In: Revista de Letras. Porto Rico, p.304-310, junho, 1969.
Os outros de Fernando Pessoa. In: Bulletin de l´Institute d´Études Portugaises et brésiliennes
de la Sorbonne. Paris, França, p.335-338, 1970.
Poesia e filosofia na obra de Fernando Pessoa. In: Colóquio/Letras. Lisboa, Portugal,
no 20, julho, 1974.
Grande Sertão: Veredas, uma abordagem filosófica – A figura da narração ou as ciladas
do tempo no romance de Guimarães Rosa. Em: Bulletin dês Études Portuguaises et
Brésiliennes. Paris: ADPF, 1983-1985.
Anthropophagisme et surréalisme. Em: SOBRAL, Luis de Moura. Surréalisme
périphérique. Atas do colóquio – Portugal, Québec, Amérique Latine: um surréalism
périphérique?. Montreal: Universidade de Montreal, 1984.
Clarice Lispector Passion. Em: STRAUSFELD, M. (org.). Brasilianishce Literatur.
Frankfurt am Main: Suhrkamp Taschenbuch, 1984.
da palavra 61
Introdução e nota filológica. In: LISPECTOR, Clarice. A paixão segundo G.H. Edição
crítica organizada por Benedito Nunes. Paris, Association Archives […]; Brasília:
CNPQ, 1988. (p. XXIV-XXXVIII).
Antropologia e Antropofagia. Em: JACKSON, K David. (org.) One Hundred Years
of Invention: Oswald de Andrade and the Modern Tradition in Latin American Literature.
Austin: University of Texas at Austin. 1990.
The literary historiography of Brazil. Em: ECHEVERRÍA, Roberto González;
PUPO-WALKER, Enrique. The Cambridge History of Latin American Literature.
Cambridge: Cambridge University Press, 1996. v.3.
La pasión de Clarice Lispector. In: Revista Anthropos – Clarice Lispector, La escritura
del cuerpo y el silencio. Barcelona: Ecce homo, Extraordinario 2, 12 de julio de
1997.
O retorno à antropofagia. Em: ROCHA, Joao Cezar de Castro; RUFFINELLI,
Jorge (orgs.) Anthropofagy Today? Stanford: Stanford University Press, 2000.
Belém, cultural Center. Em: Literary cultures of Latin American, A comparative history
II. Oxford: Oxford University Press, 2004.
6) Traduções
Crônica/Chronique de PERSE, Saint-John. Tradução Benedito Nunes e Michel
Riaudel. Belém: CEJUP, 1992.
Poema Baudelaire, de Rilke. In: Suplemento Belo Horizonte. Belo Horizonte, julho
de 1995, Secretaria do Estado da Cultura de Minas Gerais. n° 3, p.24.
5) Trabalhos acadêmicos sobre a obra de Benedito Nunes
CASTRO, José Guilherme de Oliveira. Alguns aspectos da crítica literária de Benedito
Nunes. Dissertação de mestrado. PUC/RS, 1976.
MONTEIRO, Maria Neuza. A filosofia da arte para Benedito Nunes. Dissertação
de mestrado. PUC/RJ, 1978.
PEREIRA, Nilo Carlos. Filosofia e ficção: o ser em o Drama da Linguagem, de Benedito
Nunes. Dissertação de mestrado. UFSC/SC, 2003.
OLIVEIRA, Fátima Aparecida Chaguri. Perspectivas e possibilidades de aproximação
da filosofia e literatura no pensamento de Benedito Nunes. Dissertação de mestrado.
UNICAMP/SP, 2003.
ANDRADE, Andréa Costa de. Diálogos filosóficos com Benedito Nunes. Dissertação
de mestrado. UFAM/AM, 2006.
TARRICONE, Jucimara. Hermenêutica e crítica: o pensamento e a obra de Benedito
Nunes. Tese de doutorado. USP/SP, 2007.
NASCIMENTO, Maria de Fátima. O lugar de Benedito Nunes na moderna crítica
literária brasileira. Doutorado em curso. UNICAMP/SP.
62
da palavra
Nota biográfica*
* Organizada por
Victor Sales Pinheiro
Benedito José Vianna da Costa Nunes, filho único de Benedito da Costa
Nunes e Maria de Belém Viana da Costa Nunes, nasceu no dia 21 de novembro
de 1929, em Belém, no Pará, onde até hoje vive ao lado da esposa Maria Sylvia
Nunes. Seu curso primário foi na escola Sagrado Coração de Jesus, dirigido pela sua
tia, a professora Theodora Vianna. Estudou no Colégio Moderno, entre 1940 e
1947, e na Faculdade de Direito do Pará, graduando-se em 1952.
Entre 1949 e 1960, lecionou Filosofia e História em diversos colégios de
Belém. Foi um dos fundadores da Faculdade de Filosofia do Pará, onde ensinou
História da Filosofia e Ética, de 1954 e 1960. Em 1961, foi contratado pela
Universidade Federal do Pará, onde se tornou professor titular em 1966. Foi o
autor do projeto de criação do Curso de Filosofia na mesma universidade, em
1975. Aposentou-se em 1992. Em 1998, recebeu o título de Professor Emérito
da Universidade Federal do Pará.
Começou a escrever e publicar desde os 14 anos. Em Belém, colaborou
para o Suplemento Literário do jornal A Folha do Norte (entre 1946 e 1951) e
para o Suplemento Artes e Letras do jornal A Província do Pará (entre 1956 e
1957); dirigiu as revistas literárias Encontro (1948) e Norte (1952). No âmbito
nacional, colaborou com ensaios de filosofia e crítica literária para os seguintes
jornais: Jornal do Brasil (entre 1956 e 1961), Estado de São Paulo (entre 1959 e
1982), Estado de Minas Gerais (entre 1963 e 1974) e Folha de São Paulo (entre
1971 e 2006). Colaborou também para inúmeras revistas acadêmicas,
principalmente para a portuguesa Colóquio Letras (entre 1971 e 2000).
Em 1957, ao lado da esposa Maria Sylvia Nunes e da cunhada Angelita
Silva, criou e dirigiu o Norte Teatro Escola do Pará. Em 1963, deste grupo de
teatro amador resulta a Escola de Teatro da Universidade Federal do Pará.
Em 1960, frequentou cursos de Paul Ricoeur e Merleau-Ponty no Collége
de France, em Paris. Entre 1967 e 1969, realizou pós-graduação (terceiro ciclo),
pesquisando o modernismo brasileiro, no Instituto de Estudos Portugueses e
Brasileiros da Sorbonne, em Paris, sob a orientação do professor Leon Bourdon.
Como professor convidado, ministrou cursos e conferências em diversas
universidades brasileiras (USP, UNICAMP, PUC/SP, UERJ, UFRJ, PUC/RJ, UNB,
UFMG, UFPE, UFPB, UFC, PUC/RS, UFRGS), e estrangeiras (Rennes, Porto,
Austin, Vanderbilt, Berkley, Stanford, Yale, Montreal).
Em 1987, ganhou o prêmio Jabuti de Literatura, da Câmara Brasileira do
Livro, pela obra Passagem para o poético: poesia e filosofia em Heidegger. Outras distinções
culturais: Prêmio Multicultural Estadão (1998), Prêmio Ministério da Cultura/
FUNARTE (1999), Comenda Ordem do Cruzeiro do Sul do Ministério das
Relações Exteriores (2003), Ordem do Mérito Cultural do Ministério da Cultura,
Atualmente, Benedito Nunes ministra cursos de conferências de literatura e
filosofia, no Centro de Cultura e Formação Cristã (CCFC), em Belém, sem
prejuízo de palestras em outras cidades do Brasil.
da palavra 63
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01 PARTES I A II ASAS DA PALAVRA - benedito nunes.pmd