PERNAMBUCO, VOCÊ É MEU Jota Alcides 1 2 Jota Alcides PERNAMBUCO, VOCÊ É MEU Prefácio de Marcos Vilaça da Academia Brasileira de Letras 3 Copyright by Jota Alcides – 2005 J85p ALCIDES, Jota Pernambuco Você é Meu.Brasília: Fatorama, 2005. 96 p.: il. 1. Radiodifusão 2. Programa de Rádio 3. História da Radiodifusão, Brasil I. Título CDU 654,195(81) CDD 621.384.16 Capa: Ivanilde Bruno Fotografias: Arcevo Aldemar Paiva Todos os direitos reservados ao autor Impresso no Brasil Printed in Brazil 4 Multimídia Aldemar Paiva, 25 anos de sucesso no rádio brasileiro 5 6 Dedicatória Ao multimídia oitentão, criador, produtor e âncora do fenomenal “Pernambuco Você é Meu”, show de sucesso durante 25 anos no rádio brasileiro, Aldemar Paiva, sua querida esposa, artista plástica Angelita, seus filhos Mônica, médica, Carla, arquiteta, Dema, engenheiro, e sua ciranda de netos: Flávia, Conrado, Duda, Drancinho, Deminha, Artur e Adriano. Pernambuco é de Vocês. Vocês são de Pernambuco. Com a raça genuína, a garra combativa, o espírito de liberdade e o frevo impetuoso que inspiram e fazem a efeverscente e gloriosa história pernambucana incomparável na história do Brasil. 7 Ademar com sua Angelita e filhos: Dema, Carla e Mônica Com sua esposa e a animada ciranda de netos Com família e amigos em noite de autógrafos do livro “O causo eu conto” 8 Sumário Apresentação .............................................................................. 11 Prefácio de Marcos Vilaça .........................................................17 01. Frenético Mundo Novo ........................................................21 02. Falando para o Mundo .........................................................27 03. Entre Dois Mundos ..............................................................35 04. Brava Terra do Frevo............................................................43 05. Pernambuco Você é Meu ......................................................53 06. Arteexpressão Cultural .........................................................63 07. Amor, Humor e Sabor ..........................................................73 08. Adeus às Ilusões Perdidas ....................................................79 09. Eterno Obelisco ao Frevo.....................................................85 Posfácio ......................................................................................91 Cronologia ..................................................................................94 Bibliografia .................................................................................95 9 10 APRESENTAÇÃO Maior e mais democrática festa do Brasil, o carnaval proporciona em Pernambuco, todos os anos, um espetáculo que é admirado internacionalmente. Mais de dois milhões de pessoas, multicoloridamente fantasiadas e explodindo em alegria contagiante, superlotam o centro do Recife, seguindo o Galo da Madrugada, o maior bloco carnavalesco do mundo, com direito ao “Livro dos Recordes”. De câmeras em helicópteros sobrevoando a cenográfica e histórica capital pernambucana, televisões mostram a multidão eufórica e frenética, dançando o frevo e fazendo o mais animado carnaval de rua do planeta. Como está registrado em outro livro deste autor – “Comunicação & Linguagem das Massas” – publicado em 1992, é assim que o Recife mostra, exuberantemente, sua linguagem recifreval. “Quando começa o carnaval e o frevo rompe furiosamente o ar, o Recife é uma massa expressiva e explosiva, cheia de energia transformadora e renovadora fluindo com intensidade. Sente-se nelsonferreiramente feliz por ser brasileira pernambucanamente. Mexe-se toda. “Deixa o frevo rolar”. Solta-se, levinamente, com sentimento e fogosidade em profusão. De cabeça feita, braços abertos e pernas pro ar, comunica-se marcando 11 passo, parafusando, dobradiçando, tesourando e gingando voluptuosamente. Evoé Momo!. Com seus encantos de Namorada do Brasil, o Recife ferve, recifrevilha, efervescente, recifrevando. Maliciosa, irreverente e espirituosamente fantasiada. De plumas e paetês. Ou simplesmente de minissaia, short ou biquíni, ou audaciosamente de tanga e topless. Ou qualquer roupa. Sem preconceitos. Descobrindo as partes encobertas e cobrindo as partes descobertas. Dando asas à imaginação. Esquece da vida a amargura e entrega-se aos sonhos e às cores da festarola com fantastiquice. Com toneladas de confetes, quilômetros de serpentinas. Muita água e muito talco. Uma recifelicidade no reinado da ilusão!”. É assim o carnaval em Pernambuco. Vem crescendo, gradativamente, desde a chegada do frevo aos diversos segmentos da sociedade industrial e urbanizada, deixando de ser música e dança apenas de grupos negros da sociedade escravocrata. Principalmente depois da Abolição da Escravatura em 1888, vem atraindo e envolvendo, em seqüência, operários industriais, trabalhadores no comércio, funcionários públicos, profissionais liberais, classe média e, finalmente, as elites e os intelectuais. Vem crescendo, mais ainda, desde do início da década de 50 do século XX, quando Pernambuco experimenta acelerado desenvolvimento do rádio e o rádio passa a dar ampla difusão ao frevo, ritmo e dança de Pernambuco. Expressão histórica e emblemática dessa evolução é o programa radiofônico “Pernambuco Você é 12 Meu”, campeão nacional de audiência durante 25 anos. Líder absoluto no Nordeste brasileiro, de 1952 a 1977, sob o comando do versátil e engenhoso animador e produtor artístico Aldemar Paiva, jornalista, radialista, publicitário, escritor, cronista, dramaturgo, ator, poeta e cordelista, precursor da homem multimídia. Sua primeira fase, de 1952 a 1968, é nas ondas da emissora pioneira da América Latina, Rádio Clube de Pernambuco, no horário das 7h30 às 9h. Depois, de 1968 a 1977, sempre no mesmo horário, agitando as manhãs brasileiras, ganha o País nas ondas do Rádio Jornal do Commércio, emissora mais potente do Brasil que coloca, orgulhosamente, “Pernambuco falando para o Mundo”. Metade da existência do “Pernambuco Você é Meu”, de 1964 a 1977, transcorre em plena ditadura militar no Brasil, tempo de autoritarismo político, perseguições policiais, prisões ilegais, tortura de opositores e ampla escuridão para a liberdade de expressão. Nesses chamados anos de chumbo, os comunicadores em geral praticam verdadeiro malabarismo verbal e literário, por metáforas, fábulas, alegorias, utopias e poesias, como artifício para sobrevivência diante da censura implacável. Prudente e moderado, consciente dos limites da realidade, ainda mais aos sobreviventes de ideais, Aldemar Paiva adota como política de seu programa a arte poética, espantando os maus e baixos sentimentos. Concentra seu programa na valorização da cultura popular, pois é também uma época de renovação cultural e artística, com 13 movimentos que fazem história, como Beatlomania, Tropicália, Festivais da Canção e Jovem-Guarda. Produzido e apresentado com expressiva qualidade artística e aparelhado tão somente para o entretenimento sadio de seus milhares de ouvintes, Pernambuco Você é Meu atravessa esse período escapando das imposições discri-cionárias vigentes e até mesmo do abominável patrulhamento ideológico, de todas as cores e tendências, que se espalha perigosamente. Primeiro porque tem um formato textual e musical comprometido, quase exclusivamente, com a cultura popular nordestina e de Pernambuco, especialmente o frevo, criação genuinamente pernambucana. E, segundo, porque é comandando por um prosador arguto e criativo, capaz de gerar e pegar atalhos de linguagem para desenvolver suas narrativas, sem comprometer o entendimento pelo público. Muitos dos maravilhosos e divertidíssimos “causos” e “cordéis”, que fazem parte do acervo desse vitorioso e inesquecível programa da radiofonia brasileira, agora estão nas páginas de Fatorama, o primeiro jornal fast-news do Brasil, editado em Brasília desde 2001. Nele escreve Aldemar Paiva, semanalmente, contando velhas e novas estórias, verdadeiras pérolas de humorismo, espirituosidade e criatividade do rico folclore e da cultura popular que tanto caracterizam, inspiram e animam o povo brasileiro. Agora, ao festejar seus 80 anos, merece todas as homenagens, sobretudo dos pernambucanos. 14 Este trabalho abrange variados aspectos da história do rádio no Brasil e no Mundo, do pioneirismo de Pernambuco na radiodifusão das Américas e da evolução do rádio no Recife, mas seu foco central é a fenomenal trajetória do programa “Pernambuco Você é Meu”, com Aldemar Paiva. Mostra, avalia e explica sua vitalidade e sua influência nos relacionamentos sociais, artísticos e culturais do Recife. É um tributo ao âncora de uma das maiores audiência do rádio brasileiro em sua longa história já próxima de completar 100 anos. Como retrospectativa assumidamente saudosista de uma época de ouro do rádio, além de contar com indispensáveis registros históricos, vale-se o autor do esforço de memória para reconstituição de sua percepção auditiva e imaginativa, permitindo-se transitar entre a fantasia e a realidade e até adotar o imagismo. Ressalta a forte contribuição do “Pernambuco Você é Meu” para maior valorização e popularização do frevo, marca pernambucana inconfundível. Embora não seja biografia, traz essenciais traços biográficos de Aldemar Paiva, uma das glórias da radiodifusão nacional. Orgulho de Pernambuco para o Brasil. Meus mais sinceros agradecimentos ao ministro e acadêmico pernam bucaníssimo Marcos Vilaça, defensor apaixonado dos valores culturais e das mais belas tradições populares de Pernambuco, pelo prefácio, que enriquece e engrandece este trabalho voltado para o resgate da memória artística de uma época de ouro do rádio de Pernambuco, pioneiro e líder no Nordeste brasileiro. Agora, em flashback 15 desse tempo que não deve ser jamais esquecido, sintonize imaginariamente o rádio no “Pernambuco Você é Meu” e sinta o mundo fervendo e frevando com Aldemar Paiva. Freneticamente! Maravilhosamente! Jota Alcides Brasília, junho de 2005 16 PREFÁCIO McLuhan deixou-nos, entre outras obras primorosas sobre a Era Eletrônica, Os meios de comunicação como extensões do homem. Nesse estudo, destaca o envolvimento emocional e sentimental provocado pela imagem auditiva do rádio. Esse poder faz do rádio uma extensão do sistema nervoso central do homem. O rádio tem papel primordial como mediador de cada indivíduo entre a vida familiar e a vida social. Nesse mundo fantástico, Pernambuco também tem uma história de vanguarda marcante, aliás, sua inquestionável vocação na formação histórica e no desenvolvimento do País. Não apenas em pioneirismo, mas também em evolução, como durante as décadas de 50, 60 e 70, do século passado, quando a televisão surgiu e se expandiu nacionalmente. Pernambuco se antecipou com produções de rádio criativas e brilhantes que depois inspiraram os caminhos de sucesso da televisão brasileira. Uma das grandes produções desse período é o programa “Pernambuco Você é Meu”, apresentado pelo extraordinário Aldemar Paiva, um comunicador nato, com toda a potencialidade necessária à eficiente e dinâmica comu-nicação humana. É verdade que toda produção intelectual e artística deve ser julgada considerando-se, naturalmente, a caracterização sociológica e tecnológica de sua época. “Pernambuco Você é Meu” fez história justamente nas décadas em que o rádio era o principal meio de comunicação com as massas e a televisão estava apenas iniciando no Brasil. 17 Durante 25 anos, com entusiasmo e criatividade, Aldemar Paiva construiu pelas ondas do rádio, diariamente, uma forte relação afetiva e interativa com a sociedade do Recife e de Pernambuco. Como está expresso no título de sua maior obra artística, “Pernambuco Você é Meu” traduz uma inspiração. De sentimento telúrico, de zelo cívico, de compromisso carinhoso, de afeição assumida, de emoção aberta e de paixão explícita. Dos meus tempos do Recife, morando no Recife, que permanece sendo minha cidade amada mesmo depois de tantos anos com residência em Brasília, mantém-se inalteráveis em minha memória algumas das principais atrações de então do rádio de Pernambuco. Entre elas, “Pernambuco Você é Meu”. Jamais esquecerei esse programa de narrativa envolvente e exibidor do frevo contagiante, de Nelson Ferreira, de Capiba e de Levino Ferreira. Com este ensaio “Pernambuco Você é Meu”, além de homenagear seu e nosso amigo e multimídia Aldemar Paiva, merecidamente, resgatando e documentando uma época importante e inesquecível do rádio nordestino e brasileiro, o jornalista Jota Alcides, cuja formação humana, acadêmica, cultural e política tem raízes profundas no Recife de tantas inspirações, volta a expressar, também, seu arraigado sentimento de bem-querer a Pernambuco, sempre ressaltando seus maiores valores e suas mais notáveis tradições. Tenho honra e prazer ao apresentar este nono livro de Jota Alcides, depois de ter feito o prelúdio do seu primeiro trabalho literário lançado há 15 anos, em 1990, sobre o poder 18 de comunicação do Padre Cícero, sacerdote mais punido e mais venerado na América Latina, agora sob estudo do Vaticano para sua reabilitação, esperança da maioria do povo do Nordeste. Como em três estudos anteriores, nos quais revela formidável capacidade de pesquisador, PRA-8-O Rádio no Brasil, Recife Berço Brasílico e Marquês do Recife, neste reafirma e consagra a vitalidade histórica e cultural de nossa terra. Se o Brasil tem hoje o segundo maior e mais moderno sistema de rádio do mundo, depois dos Estados Unidos, é valioso o renovado lembrete de Jota Alcides indicando que tudo começou no Recife, em 1919, pelo engenho, talento e ousadia de Augusto Pereira, fundador do Rádio Clube de Pernambuco e pioneiro da radiodifusão brasileira, antecipando-se, inclusive, às transmissões experimentais norte-americanas. Foi assim que “conquistamos um meio de unir e sensibilizar o Brasil”, no dizer do nosso saudoso poeta Carlos Drummond de Andrade. De acordo com o que está na Teoria do Rádio, de Brecht, “um homem que tem algo a dizer e não encontra ouvintes está em má situação. Porém, pior os ouvintes que não encontram quem tenha algo a dizer”. Nessa jornada de quase um século do rádio no Brasil, Pernambuco sempre teve o que dizer e o que ouvir. Marcos Vilaça da Academia Brasileira de Letras Brasília, junho de 2005 19 Aldemar ao microfone do Rádio Clube de Pernambuco em 1951 Na festa de inauaguração do Palácio do Rádio Oscar Moreira Pinto Como animador da “Festa no Varandão”, seu primeiro programa no Rádio Clube 20 I FRENÉTICO MUNDO NOVO (Escrito ao som da Orquestra de José Menezes e o frevo Mexe com Tudo, de Levino Ferreira) “Enquanto o menino dormia, de repente, o aparelho começou a transmitir um programa de rádio de Londres. E, no dia seguinte, para espanto de seu hum...e de sua hum...(os meninos mais ousados aventuraram trocar um risinho), o pequeno Reuben acordou repetindo, palavra por palavra , uma palestra daquele escritor antigo (um dos raros cujas obras foram autorizadas a chegar até nós), George Bernard Shaw, falando do seu próprio gênio”. Depois dessa futurologia do brilhante escritor inglês Aldous Huxley, anunciada em 1932, tudo parece possível. De tal forma que suposta comunicação com seres de outros mundos deixa Nova Iorque em pânico em 30 de outubro de 1938, domingo à noite. Milhares de norteamericanos correndo de suas casas para as ruas. Outros milhares correndo das ruas para suas casas. Seis milhões de ouvintes estão sintonizados na Rádio CBS atentos à trupe de Orson Welles, do programa Mercure Theatre. Dedicam todos atenção máxima à transmissão de uma adaptação radiofônica da peça Guerra dos Mundos, criada em 1898 pelo romancista inglês futurista George Wells. 21 De repente, entre rangidos e nervosos efeitos especiais próprios de narrativa cinematográfica, anunciase uma assustadora invasão de marcianos à Terra. Quase hiper-realismo. Forte impacto, grande apreensão e muito medo, algo aterrorizante. Produz-se, imediatamente, um tumulto generalizado, conforme consta em outro livro deste autor sobre a história do rádio: “Chocados e horrorizados com o fato, em verdade uma ficção com realismo explícito, imediatamente dois milhões de norte-amercianos foram tomados por frenética inquietude, seguida de incontrolável pânico, espalhando o terror para outros milhões. Welles entrou para a história sob o protesto de Wells que viu sua obra scientificromance envolvida num evento de transe coletivo sem precedentes”. Sempre relembrado como lendário, extraordinário e antológico, esse episódio, que faz parte da história como “A noite que aterrorizou a América”, mostra e prova ao mundo, pela primeira vez, a magia e o poder do rádio. Mas a história do rádio vem de muito antes, exatamente um século. Caracterizada por seqüência de descobridores persistentes e descobertas consistentes. Desde 1838, quando o físico norte-americano de Massachussets, Samuel Morse, apresenta, soberbamente, um aparelho chamado telégrafo, o primeiro a garantir a comunicação entre duas pessoas à distância. Depois disso, tudo acontece e, rapidamente, com um avanço aprimorando outro, até o mundo ser envolvido 22 pela deslumbrante Era do Rádio: em 1844, Morse inaugura a primeira linha telegráfica pública, entre Washington e Baltimore; em 1850, surge o primeiro cabo submarino entre França e Inglaterra; em 1865, o médico norte-americano Mahion Loomis faz transmissão de mensagens através de efeitos eletromagnéticos; em 1873, o físico inglês James Maxwell descobre as ondas eletromagnéticas; Em 1876, Graham Bell, físico norte-americano de origem inglesa, inventa e anuncia o telefone; em 1887, na Alemanha, o físico Henrich Hertz descobre as ondas de rádio; em 1890, Edouard Branly, físico francês, apresenta à Academia de Ciências de Paris, sua experiência com radiocondutores; em 1892, o físico iugoslavo Nikola Tesla inventa o transformador de alta freqüência e monta uma produtora de ondas elétricas; em 1894, o brasileiro Landell de Moura realiza, em São Paulo, a primeira transmissão de mensagens através de ondas hertzianas; em 1895, Guglielmo Marconi, em Bolonha, Itália, faz sua primeira experiência em radiocomunicação; em 1896, Marconi consegue, na Inglaterra, patentear sua aplicação das ondas hertzianas tornando-se o “pai do rádio”; Em 1904, Landell de Moura obtém, nos Estados Unidos, a patente do seu transmissor por ondas hertzianas; em 1906, Lee De Forest descobre a válvula de vácuo, essencial ao desenvolvimento da radiodifusão; em 1914, instalam-se na América e na Europa, os primeiros clubes de rádio com objetivo de aprimorar e expandir atividades radiofônicas; em 1919, surgem as primeiras emissoras de radio do mundo: Radio Clube de 23 Pernambuco, primeira do Brasil e da América Latina; e Radio PCGG de Rotterdan, pioneira na Holanda e na Europa; e em 1920, entra no ar a Rádio KDKA de Pittsburgh, a primeira dos Estados Unidos. É tão acelerado o desenvolvimento inicial do rádio que em 1926 já existem 995 emissoras em todo o mundo, conforme o escritor e pesquisador francês Arno Huth, em sua obra La Radiodiffusion, publicada em 1937, em Paris. Somente na América do Sul somam-se 40 estações. Apenas quatro anos mais tarde, em 1930, 1.105 transmissoras operam nos diversos continentes. Em 1938, quando da façanha de Orson Welles, assombrando os Estados Unidos, o mundo todo já tem mais de duas mil emissoras de rádio, sendo 917 norte-americanas. Com o surgimento dos primeiros receptores transístores em 1948, o radio ganha expansão em alta velocidade. Que surpreende até os futuristas. Entretanto, mesmo com todo o seu amplo exercício de futurologia para a nova civilização científica e tecnológica, Aldous Huxley, em seu Admirável Mundo Novo, publicado em 1932, não consegue antecipar progresso tão veloz para o rádio. Ele até especula sobre o rádio como instrumento para a hipnopédia, sugerindo que uma criança pode aprender enquanto dorme ouvindo o rádio. Mas não chega a imaginar sua capacidade de alcance e impacto enquanto meio de comunicação ao vivo com as massas, nem sua fenomenal importância na geração de novas tecnologias e no desenvolvimento dos povos e das Nações. 24 Afinal, além do impulso à descoberta da fotoeletricidade e da televisão, o rádio proporciona o aparecimento e a evolução dos telefones celulares, hoje o meio de comunicação que mais cresce no mundo, e o fantástico progresso dos computadores, apresentando surpreendentes e avançadíssimas tecnologias, como a conexão wireless, revolucionárias e globalizantes. Deve a humanidade ao rádio, portanto, muito de suas conquistas técnico-científicas, desde as primeiras estações transmissoras, em 1919, ao início deste Terceiro Milênio, pelas sucessivas aplicações das ondas hertzianas permitindo o advento de um fascinante e frenético mundo novo. Sem limites geográficos. Sem fronteiras. Sem fio. Admiravelmente! 25 Aldemar com historiador Leonardo Dantas, compositor Capiba e carnavalescos do Clube Galo da Madrugada Com maestro Nolson Ferreira em programa nos estúdios da TV Brasília Como animador e convidado especial em festa de aniversário da TV Itacolomy, em Belo Horizonte 26 2 FALANDO PARA O MUNDO (Escrito ao som da Orquestra de Nelson Ferreira com o frevo dele e de Ziul Matos, Veneza Americana, Canção Oficial do Recife) Durante 40 anos, desde o surgimento da pioneira PRA-8-Rádio Clube de Pernambuco, em 06 de abril de 1919, no Recife, o rádio exerce domínio absoluto na comunicação com as massas no Brasil. Esse domínio tornase mais forte a partir da inauguração da PRE-8-Radio Nacional do Rio, em 12 de setembro de 1936. Com suas poderosas ondas, a Rádio Nacional alcança, efetivamente, todo o território brasileiro. E o rádio sai da improvisação total, passa a ter organização em sua administração e qualificação em sua programação. Pernambuco permanece dando orgulho ao Brasil pelo seu pioneirismo com o Rádio Clube de Pernambuco que, em 1952, é incorporada aos Diários Associados. Depois de 30 anos reinando absoluto sobre as massas de ouvintes brasileiros, o rádio sofre forte impacto, no Sul, com a inauguração da TV Tupi de São Paulo, primeira televisão do Brasil e da América Latina, em 18 de setembro de 1950, pelo jornalista e empresário Assis Chateaubriand. É dele, também, a TV Tupi do Rio de Janeiro, colocada no ar em 20 de janeiro de 1951. No Nordeste, semelhante 27 impacto ocorre um pouco mais tarde, dez anos depois, precisamente em 04 de junho de 1960, com a inauguração da TV Rádio Clube de Pernambuco, seguida da TV Jornal do Commércio, em 18 de junho de 1960. Pernambuco ganha, assim, de uma só vez, duas televisões, as primeiras em todo o Nordeste brasileiro. Dessa forma, o domínio absoluto do rádio no Nordeste estende-se por 40 anos, de 1919 a 1959. Nesse período, o Recife concentra o maior número de emissoras e as mais potentes da região: Rádio Clube (1919), Rádio Jornal do Commércio (1948), Rádio Tamandaré (1951), Rádio Olinda (1952), Rádio Mundial (1958) e Rádio Continental (1958). Em apenas uma década, de 1949 a 1959, Pernambuco torna-se o mais desenvolvido centro de radiodifusão do Nordeste, com seis emissoras operando na capital e oito no interior do Estado: Rádio Difusora de Caruaru (1951), Rádio Difusora de Garanhuns (1951), Rádio Difusora de Limoeiro (1952), Rádio Difusora de Pesqueira (1952), Rádio Cultura de Caruaru (1958), Rádio Planalto do Carpina (1958), Rádio Bitury de Belo Jardim (1958) e Rádio Pajeú de Afogados da Ingazeiras (1959). Enquanto a exploração do rádio ainda está começando na maioria dos Estados da região, seu progresso em Pernambuco reflete, estimula, acelera e promove o desenvolvimento geral de Pernambuco. Como sustenta Nelly de Camargo, pesquisadora da Universidade de São Paulo, “os meios de comunicação representam importante agência de desenvolvimento de vez que introduzem padrões 28 de comportamento, desenvolvem motivações e criam expectativas ideais de atuação e de modos de vida”. No caso de Pernambuco, o progresso do rádio, em suas primeiras décadas de evolução e massificação, tem ligação direta com o desenvolvimento social, econômico e cultural, promovendo os valores do Estado no cenário do Nordeste e do País. Marco histórico dessa estratégia desenvolvimentista adotada por Pernambuco, com muito sucesso, fixa-se em 03 de julho de 1948, com a presença do presidente da República, Eurico Gaspar Dutra. É o dia da inauguração do possante Rádio Jornal do Commércio-PRL-6, fundado pelo empresário F. Pessoa de Queiroz, dono do Jornal do Commércio, um dos mais importantes do Brasil, em circulação no Recife desde 03 de abril de 1919. Embora nascido na Paraíba, Pessoa de Queiroz, empresário ousado, austero e exigente, considera-se pernambucano, pensa e age como pernambucano, tem sentimento e vibração de pernambucano, parece mais pernambucano do que muitos pernambucanos e, como senador, torna-se líder político pernambucano no cenário nacional. Suas vibrantes realizações são, na própria definição dele, “uma obra pernambucana, uma esforço pernambucano, uma glória pernambucana”. Desse seu sentimento, nasce o portentoso e consagrado slogan criado especialmente para o Rádio Jornal do Commércio, justificando o alcance internacional de suas poderosas ondas curtas: “Pernambuco falando para o 29 Mundo”. Exibe alta qualidade técnica e direcionamento transnacional. Apresenta-se identificando-se com seus prefixos em várias línguas, transmitindo programas destinados aos povos de várias Nações e levando as tradições de Pernambuco para diversas partes do mundo. Mais do que apenas marketing, é uma verdade explícita na publicação oficial de inauguração da segunda emissora de Pernambuco: “O Rádio Jornal do Commércio, de Pernambuco, é, no seu conjunto, a mais potente, a mais aperfeiçoada, a mais luxuosa e mais completa estação de broadcasting das Américas do Sul e Central. É a única estação que dispôe de oito transmissores com os dispositivos mencionados: 1 de Ondas Curtas, de 10 kilowatts; 1 transmissor auxiliar de 5 kilowatts; e 2 de Ondas Curtas, de 25 kilowatts, quando operam em radiotelegrafia, e de 16 kilowatts, quando operam em radiofonia. Esses dois transmissores possuem antenas dirigidas para o Norte e para o Sul, atuando no éter com uma potência real de 100 kilowatts em radiotelegrafia e de 64 kilowatts em radiofonia. Cobre, portanto, integralmente o Brasil, de preferência em ondas curtas e médias, propagando-se pelos outros continentes”. É a única emissora das Américas do Sul e Central com oito torres todas iluminadas automaticamente por meio de células fotoelétricas e a única com oito freqüências, usadas de acordo com as estações climáticas a fim de evitar 30 prejuízos em suas transmissões. Sem dúvida, é mesmo “Pernambuco falando para o Mundo”. Além de refletir a forte personalidade do seu criador F. Pessoa de Queiroz, empreendedor infatigável e idealista imperturbável, sem nunca temer obstáculos, sempre pensando grande, confiante no êxito dos seus projetos, o forte slogan do Rádio Jornal do Commércio passa a expressar a altivez de Pernambuco. Causa curiosidade, espanto e até certas ironias entre críticos do Sul, mas, na verdade, traduz o elevado grau de auto-estima do povo pernambucano, orgulhoso de sua força histórica, do seu potencial político, de sua capacidade criadora, de sua influência cultural no País e de sua credibilidade no cenário internacional: “Pernambuco falando para o Mundo”. Coincidentemente, os principais empresários responsáveis por esse desenvolvimento do rádio em Pernambuco e pelo histórico pioneirismo da televisão no Nordeste, a partir do Recife, são dois paraibanos e da mesma cidade, Umbuzeiro: Assis Chateaubriand e F. Pessoa de Queiroz. Criativos, competitivos, destemidos, perseverantes, determinados, obstinados, sonhadores, realizadores e vibrantes pernambucanizados, seus empreendimentos passam a prestar inestimáveis serviços ao progresso social, artístico, cultural, político e econômico de Pernambuco. Ao lado da briosa gente de Pernambuco, natural de Pernambuco, dotada de incomparável capacidade criativa e produtiva, especialmente revolucionária e transformadora, Assis Chateaubriand e F. Pessoa de Queiroz firmam-se como 31 expressões de grandeza nacional da valorosa gente de outros Estados do Nordeste acolhida, preparada, estimulada e lançada em Pernambuco com o mesmo insuperável sentimento pernambucano de servir ao progresso abrangente da Pátria. Como lembra Gilberto Freyre, desde o início de sua rica e palpitante história, o Recife tem-se extremado em dar grandes valores, sobretudo intelectuais, ao Brasil: “Aliado a Sergipe, o Recife dá ao Brasil Tobias Barreto, Sílvio Romero, Gilberto Amado, Aníbal Freire; aliado ao Ceará, dá ao Brasil José de Alencar, Franklim Távora, Clóvis Beviláqua, Delmiro Gouveia; aliado a Alagoas, dá ao Brasil, além de Jorge Lima, de Essa Nega Fulô, Pontes de Miranda, o maior jurista-sociólogo brasileiro desde Teixeira de Freitas, o genial baiano; aliado ao Pará, dá ao Brasil, Inglês de Souza; aliado ao Maranhão, dá ao Brasil Graça Aranha; aliado à Paraíba, dá ao Brasil, primeiro Augusto dos Anjos, depois Odilon Nestor, José Américo de Almeida, Assis Chateaubriand e José Lins do Rego; aliado à Bahia, dá ao Brasil Castro Alves, como já dera Nabuco de Araújo; aliado ao Rio Grande do Norte, produz, além da internacional Nísia Floresta, o mestre de estudos folclóricos e antropológicos Luis da Câmara Cascudo e também, em dias mais recentes, Nilo Pereira e Sileno Ribeiro; aliado à Paraiba dá ao Brasil, além do admirável Ariano Suassuna, tão renovador da arte de teatro quanto de ficção, o também admirável Celso Furtado, renovador dos estudos de economia do Brasil”. 32 Diante de tão formidável estoque intelectual, Gilberto Freyre ressalta que, “o Recife é a cidade de homens e de instituições dos quais ninguém consegue separar a história, a vivência, a constância, o futuro da cultura brasileira”. Como isso é verdade insofismável, por fidelidade histórica, justiça cívica, reconhecimento público e merecimento conquistado, deve-se acrescentar ao elenco nobre de Gilberto Freyre, de renomados valores brasileiros formados e lapidados em Pernambuco e projetados a partir de Pernambuco, portanto pernambucanizados, um nome de grandeza, valor, prestígio e aplauso, porquanto talentoso, inovador e arrojado, dado pelo Recife ao Brasil: Aldemar Buarque de Paiva. Ou, mais sonoramente, como consagrado popularmente, em Pernambuco e até além-fronteiras do Brasil, Aldemar Paiva. 33 Aldemar Paiva com o Governador de Pernambuco e seu amigo Jarbas Vasconcelos Ao ser homenageado com o Mérito da Fundação Joaquim Nabuco Com veteranos do rádio pernambucano: Expedito Baracho, Henrique Annes, Claudionor Gernamo e Lelino Manzela 34 3 DOIS MUNDOS PARALELOS (Escrito ao som da Banda do 20º Batalhão de Caçadores do Exército, em Alagoas, com Pajuçara, de Aldemar Paiva, hino sentimental de Maceió) Um é consagrado entre os maiores conhecedores da Língua Portuguesa. O outro está entre os melhores ensaístas do Brasil. São dois festejados expoentes de um clã importantíssimo da cultura brasileira: Aurélio Buarque de Holanda, crítico, ensaísta, filólogo, professor e lexicógrafo, autor de Dois Mundos (1942), Mar de Histórias (1945) Território Lírico(1958) e do Novo Dicionário da Língua Portuguesa (1975), tradutor de Baudelaire e Oscar Wilde, membro da Academia Brasileira de Letras; e Sérgio Buarque de Holanda, sociólogo, historiador, jornalista, professor da antiga Universidade do Distrito Federal (Rio), da Universidade de São Paulo, da Universidade de Roma, adido cultural na Itália, crítico literário, autor de Raízes do Brasil (1936), Cobra de Vidro (1944), Caminhos e Fronteiras (1957) e Visão do Paraíso (1959). São dois referenciais de afirmação e projeção da inteligência, criatividade e luminosidade da cultura brasileira. Descendente desse clã, aplaudido no Brasil inteiro e no exterior, é Chico Buarque de Holanda, cantor, compositor, teatrólogo, dramaturgo, escritor, astro da maior grandeza na constelação artística musical brasileira, o 35 criador de A Banda. Filho de Sérgio Buarque de Holanda. Do mesmo clã, igualmente, e famoso sobretudo no Nordeste brasileiro, mas também conhecido no Sul do Brasil, é Aldemar Buarque de Paiva, compositor, radialista, jornalista, apresentador de rádio e televisão, folclorista e cordelista. Filho de Mário Fortunato de Paiva e Maria Luiza Buarque de Holanda Paiva, prima legítima de Sérgio e Aurélio Buarque de Holanda. Como Aurélio Buarque de Holanda, Aldemar Paiva é natural das Alagoas. Nascido em 20 de julho de 1925. Nas Alagoas dos grandes marechais Deodoro da Fonseca e Floriano Peixoto. Da heroína contra os holandeses, Clara Camarão. Do jurista que honra o Direito brasileiro, Pontes de Miranda. Do poeta lírico Jorge de Lima, autor de Invenção de Orfeu (1952). Do neo-realista do modernismo, Graciliano Ramos, mestre Graça, de Vidas Secas (1938), da cachorra Baleia. Alagoas das lagoas Manguaba e Mundaú. Da bela Maceió de lindas praias e águas mornas em piscinas naturais: Pajuçara, Jatiúca, Ponta Verde, Sete Coqueiros, Garça Torta, Gogó da Ema. Em Maceió, Aldemar Paiva vive infância e adolescência discretas. Cursa o primário e o ginasial no Colégio Diocesano, dirigido pelos Irmãos Maristas. Férias e feriados, passa nos engenhos e fazendas da família em Porto Calvo, Matriz do Camaragibe, São Miguel dos Milagres, Porto de Pedras e Porto da Rua. E aproveita, também, quando pode, o paraíso das águas que é o litoral alagoano. 36 Jovem estudante, tem despertada sua vocação para a poesia e para o teatro. Começa a escrever peças que são representadas pelos alunos do colégio. Fica logo conhecido por suas emboladas, que ele define como gênero poético-cantado e gaiato do Nordeste, mexendo com os próprios colegas. Dessa fase, Aldemar Paiva nunca esquece o primeiro momento emocionante revelador do seu espírito patriótico ao desfilar com a farda de gala do Colégio Diocesano na parada festiva do Dia da Independência do Brasil. Com vibração juvenil, ao lado do jornalista L. Lavenère, da educadora Linda Mascarenhas e do inseparável colega e amigo Nelson Porto, Aldemar Paiva funda o Teatro de Amadores de Maceió. Estréia com a comédia de Paulo Magalhães – A Cigana me enganou – por sugestão de Waldemar de Oliveira, diretor do Teatro de Amadores de Pernambuco. “No elenco de nossa estréia figuram Nelson Porto, Norma Cabral, Eunice Pontes, Eva Bezerra, Décio Barbosa e eu, ganhando popularidade como galã e comediante. Cenário de Lourenço Peixoto e montagem de Amadeu Barso”. Sob a direção de Lima Filho, o TAM apresenta peças originais do Brasil e do exterior bastante aplaudidas no Teatro Deodoro. Seus espetáculos animam, agitam e elevam a vida cultural de Maceió. É uma época de grande envolvimento de Aldemar Paiva com grupos teatrais e musicais, sob a influência dos conjuntos vocais de sucesso Brasil afora, como Anjos do Inferno, Bando da Lua, Garotos da Lua, Namorados da Lua, Trio Nagô, Demônios da Garôa, Vocalistas Tropicais, 37 Os Cariocas, Trio de Ouro, etc. Enquanto estuda e trabalha como desenhista no DVOP-Departamento de Viação e Obras Públicas do Estado, escreve uma peça teatral intitulada “Obrigado, Dr.!”. Amplia-se sua popularidade ao ser representada no Teatro Deodoro por conceituado grupo de atores da Cia. de Comédias Mesquitinha e Evilásio Marçal. Uma verdadeira consagração, para ele, inesquecível. E o rádio, como aparece na vida de Aldemar Paiva? Ele sintoniza, mais freqüentemente, a PRI-4 Rádio Tabajara de João Pessoa, por causa das audições espetaculares da orquestra do pernambucano Severino Araújo. Somente durante o carnaval prefere a Rádio Clube de Pernambuco e se entusiasma com os frevos dos magistrais Nelson Ferreira e Lourenço Capiba aos quais, mais adiante, se agrega como parceiro compositor. Dedica atenção, também, aos programas de maior sucesso, transmitidos para todo o Brasil pela Rádio Nacional do Rio de Janeiro. Dessa época, os cantores prediletos do público – Orlando Silva, Sílvio Caldas, Vicente Celestino, Emilinha Borba e Carlos Galhardo – são todos exclusivos da Rádio Nacional. Outros famosos do rádio são aplaudidos no País inteiro: Francisco Alves, Lamartine Babo, Noel Rosa, Alzirinha Camargo, Augusto Calheiros, Noel Rosa, Pixinguinha, Odete Amaral, Ciro Monteiro, Celso Guimarães, Araci de Almeida, Linda e Dircinha Batista, Aurora e Carmem Miranda, entre tantos outros. Grandes valores do rádio viram celebridades, como Renato Murce, Ademar Casé e César Ladeira. 38 Quase isolado em Maceió, pela falta de uma estação de rádio nas Alagoas, Aldemar Paiva acompanha impaciente e ansioso a evolução do rádio no Recife, no Rio e São Paulo. Sua maior atenção está voltada para os programas musicais e humorísticos. Delicia-se com programas de duplas caipiras, como o de Jararaca & Ratinho, “sempre às quartas-feiras às 21 horas, sob o patrocínio dos produtos Eucalol”. Depois, de fã incondicional, torna-se amigo da dupla mais festejada do Brasil. Com vocação e talento naturais despertados para artes cênicas, sua grande frustração, porém, é a inexistência de uma emissora de rádio na capital alagoana. “Aos anos 30/ 40, alguns sonhadores em botar Alagoas nas ondas hertzianas, fazem experiências inválidas e até investem em projetos de serviços de alto-falantes...Tudo tristemente concluído em fracasso. Único Estado sem emissora de rádio, Alagoas ganha um slogan pejorativo: A Zona Muda do Brasil”, lembra. Conforme seus registros, uma visita do Presidente da República estimula dois amantes da radiofonia em Alagoas: Luiz Gonzaga e Jaques Mesquita. Eles obtém permissão para transferir o Serviço de Rádio da Polícia Militar para o Palácio do Governo. E, assim, irradiam, pela primeira vez, uma solenidade em Maceió. Mas, conta Aldemar Paiva, na ausência de um locutor tarimbado, o narrador de então comete duas grandes gafes que passam a fazer parte do anedotário radiofônico. 39 “Primeiro, quando o presidente da República, acompanhado dos ministros da Justiça e da Educação, adentraram pelos jardins do Palácio dos Martírios, ele anuncia: - Senhoras e Senhores...Sua Excelência, o Senhor Presidente da República está se dirigindo para as escadarias do Palácio...com dois membros de fora! Em seguida, ao término do almoço, oferecido pelas autoridades da Capital e do Estado, outra barbaridade: - Senhoras e Senhoras...Acabaram de comer agora mesmo a mulher do Prefeito e a mulher do Delegado...” Finalmente, em 16 de setembro de 1948, data comemorativa da emancipação política de Alagoas, realizase o seu primeiro grande sonho: inaugura-se, festivamente, a ZYO-4, Rádio Difusora de Alagoas, uma obra importante do Governo Silvestre Péricles de Góis Monteiro. Pioneira emissora alagoana começa a funcionar sob a direção geral do musicista e emérito educador Mário Marroquim e direção técnica de Luiz Gonzaga. Seu diretor administrativo é Francisco Marroquim, irmão do correspondente de guerra Murilo Marroquim e do Secretário de Redação do Jornal do Commércio, no Recife, Esmaragdo Marroquim. Diretor artístico e de programação da novíssima estação das Alagoas, Aldemar Paiva, orgulhosamente, cria, para marcar a inauguração da nova emissora, a música Pajuçara, cantada por Leurenir, com a Banda do 20º Batallhão de Caçadores do Exército, em Alagoas, sob a regência do maestro Manoel Passinha, e transformada em hino sentimental de Maceió. “Guardo até hoje a felicidade 40 me dada por Deus de ter sido a primeira pessoa a falar ao microfone da Rádio Difusora, acabando, a partir daí, com a frustração de Alagoas como Zona Muda do Brasil”. Com criatividade, dedicação e arrebatamento, Aldemar Paiva coordena uma equipe interessada e vibrante fazendo a ZYO-4 brilhar e crescer no conceito dos alagoanos: “Conquistamos o sucesso com uma programação eclética: novelas, humorísticos, shows, programas de auditório, radiojornalismo, entrevistas, trasmissões externas, tudo dentro do nosso condicionamento de emissora do Governo. Entre nossas principais atrações: “Dona Pinóia e seus Brotinhos”, uma escolinha da pá virada, Crônica do Poeta Armando Wucherer e outra minha intitulada “Palavras para Você”. Contamos com o apoio dos músicos da Banda da Polícia Militar de Alagoas, sob a regência do maestro Nicácio e criamos o famoso “Regional dos Professores”, com a participação de dois mestres do violão, Reynaldo Costa e Juracy Alves”. Desse tempo, estão nas recordações de Aldemar Paiva alguns nomes do cast pioneiro da radiofonia alagoana: “Zezé de Almeida, Cláudius Jucá, Otávio Braga, Setton Neto, Marlene Silva, Odete Pacheco, Haroldo Miranda, Ezequias Alves, Alberico Bruno, Renan e Rainou Carvalho, Luzinete Rios, Nilda Neves, Sinay Mesquita, Jair Amaral, Lima Filho, Jesualdo Ribeiro, Meira Bastos, Sandoval Caju, Hercílio Marques, Ivo Braga, Ascendino Santos, Altair Costa, Eunice Pontes, Florêncio Teixeira, Rosalvo Costa, Alcides Teixeira, 41 Homero Malta, Antonio Paurílio, José Renato, Luiz Torjal, Jota Prezado, Clemente Aleluia, Cláudio Alencar, Edécio Lopes, um senhor cast”. Com esses valores artísticos, em pouco tempo, a Radio Difusora de Alagoas, funcionando em sua fase inicial, em uma escola pública infantil na Avenida Pedro Góis Monteiro, “transforma-se num monumento de alegria e cultura”, apesar das precárias instalações e das enormes dificuldades que exigiam de todos, algo mais além do diletantismo, segundo Aldemar Paiva: “Pelo amor à arte e ao rádio convertem aquela pequena oficina de criação num legado de crença na fibra do povo alagoano”. Assim permanece Aldemar Paiva, criando e produzindo na Rádio Difusora de Alagoas, aprimorando-se profissionalmente, ganhando popularidade e acumulando prestígio, até 1951, quando deixa Maceió e parte para novos e fascinantes desafios no desenvolvido rádio do Recife, Capital do Nordeste. Confiante na conquista do sucesso em Pernambuco, deixa sua querida Alagoas, historicamente até 1817 terra pernambucana. Provavelmente por isso, desde a origem, ele se revela tão pernambucano. Vivente e sobrevivente entre dois mundos que atraem, consomem e encerram sua afeição. Sem perder nem abandonar suas raízes alagoanas da infância e juventude, cultivadas carinhosamente ao longo do tempo, sempre parece sentir-se mais forte e seguro em suas profundas e robustas raízes pernambucanas de mais de meio século. Faz parte de suas vidas paralelas, como na obra de Plutarco. 42 4 BRAVA TERRA DO FREVO (Escrito ao som da Orquestra de Nelson Ferreira com seu frevo Gostosinho) Quando desembarca em Pernambuco, em 29 de junho de 1951, Aldemar Paiva fica encantado com a beleza do Recife, cortado pelo rio Capibaribe e interligado por majestosas pontes, algumas ainda do tempo holandês de Mauricío de Nassau. Metrópole do Nordeste, já com 500 mil habitantes, o Recife é, como até hoje, o pulsante centro cultural e econômico da região. Então, em 1951, o mundo está de olho na guerra da Coréia. Papa é Pio XII (Eugênio Pacelli). Presidente dos Estados Unidos é Harry Truman. Presidente da União Soviética é Joseph Stalin. Entre as duas maiores potências do mundo, começa a “guerra fria”. Presidente do Brasil é Getúlio Vargas. Governador de Pernambuco é Agamenon Magalhães. Tempo de forte nacionalismo. Do “petróleo é nosso”. Da criação da Petrobrás. Ano de lançamento do antológico frevo Ultimo Dia, de Levino Ferreira, um dos maiores compositores de todos os tempos do carnaval do Recife. De todos os tempos, desde a segunda metade do século XIX, quando grupos de capoeiristas começam a 43 demonstrar sua complicada coreografia e seu gingado estonteante nos desfiles das bandas de música militares rivais O Quarto, do 4º Batalhão de Infantaria, e Espanha, da Guarda Nacional, e surgem as primeiras fanfarras, como consta da Pequena História da Música Popular, de José Ramos Tinhorão: “Assim, quando a partir da década de 1880 a música de rua do Recife passou a ser fornecida não mais exclusivamente por bandas militares, mas por fanfarras a serviço de grupos de humildes trabalhadores urbanos(caiadores, carvoeiros, ferreiros, vasculhadores, espanadores, talhadores, ciscadores, abanadores), o espírito de criação espontânea de figuras sempre renovadas, na dança, estendeu-se também aos músicos, que não mais precisavam prender-se as dobrados e hinos marciais”. Deslumbrado com o espírito cosmopolita e festeiro do Recife, Aldemar Paiva entrega-se de corpo, alma e mente ao ritmo da Capital do Frevo, onde se faz o maior carnaval de rua do mundo. Fora de Pernambuco, ninguém faz idéia do que é “o povo solto nas ruas do Recife, após a declaração irreversível do carnaval” como afirma, saudosa-mente, recordando seus tempos de adolescência e juventude, o formidável e irônico cronista pernambucano Antonio Maria, autor da paródia “Ninguém me ama, ninguém me quer, ninguém me chama de Baudelaire”. Já famoso no Rio, Antonio Maria não esquece o carnaval do seu tempo no Recife, agora um deslumbramento para Aldemar Paiva: 44 “Faziam parte da corte imperial mulheres morenas que suavam, em bolinhas, na boca e no nariz. Mulheres de olhos ansiosos, presas de todos os atavismos de religião e de dor, a dançar a mais verdadeira de todas as danças - o frevo. Ah, de nada serviam suas heranças de submissão porque o despontar do carnaval era um grito de alforria. E seus corpos, seus braços, seus pés, teriam sido repentinamente descobertos assim que os clarins do “Batutas de São José” romperam o silêncio a que os humildes eram obrigados. Tão louca e tão bela aquela dança! Uma verdade maior que as verdades ditas ou escritas saia dos seus quadris, até então bem comportados”. Igualmente ao extraordinário Antonio Maria, com sua aguda sensibilidade artística, voltada especialmente para o rádio, para a poesia e para a música, Aldemar Paiva apaixonase pelo frevo. Verdadeiramente. Intensamente. Torna-se um dos seus maiores defensores e propagandistas. E como apologista do frevo, tem sua história pessoal enriquecida: “O frevo passa a existir em minha vida como o sangue que corre em minhas veias. Dá novas palpitações ao meu coração e se transforma em inspiração de minha alma poética. Minha vida ganha outro ritmo, o ritmo do frevo”. Sem dúvida, Aldemar Paiva tem o frevo incorporado ao seu sutil magnetismo pessoal. Com biotipo francamente inadequado para a impetuosidade fervente do frevo, seu físico avantajado parece mais apropriado ao ritmo musical lento e romântico de Ray Conniff, Glenn Miller, Billy Vaugn ou Paul Mauriat. De espírito sereno, 45 fleumático, quase contemplativo, embora sempre descontraído e animado, e, finalmente, assumido folião preferencial de camarote, Aldemar Paiva, de temperamento expansivo e afável, supera todas as idiossincrasias e se inicia como animador cultural de Pernambuco, como Cidadão do Frevo. De acordo com seu conterrâneo e parente Aurélio Buarque de Holanda, o maior dicionarista brasileiro, frevo é “dança carnavalesca de rua e de salão, essencialmente rítmica, em compasso binário e andamento mais rápido que o da marchinha carioca e no qual os dançarinos(passistas) executam coreografia individual, improvisada e frenética”. É música do carnaval do Recife, de ritmo agitado e impetuoso, envolvendo milhares de participantes vestidos com fantasias típicas e agitando no ar pequenos guarda-chuvas coloridos, em bela e originalíssima coreografia com ágil movimento de braços e de pernas que se agitam, dobram e se estiram freneticamente. “Frevo é Carnaval. Carnaval é participação”. Palavras do maestro Nelson Ferreira, respeitado catedrático do frevo. “Frevo é euforia popular”, expressão do magistral compositor Lourenço Capiba. Definições desses dois ícones históricos do carnaval de Pernambuco caracterizam o frevo como dança e música populares entre os pernambucanos. Mas sua popularização somente acontece depois que a sociedade urbana brasileira começa a assimilar, aceitar e assumir costumes e hábitos de raízes negras. Sim, porque, como o samba, marca musical do Rio de Janeiro, e o axé, marca da Bahia, o frevo, marca de Pernambuco, também é originário da cultura negra. 46 É nessa terra brava de história e de frevo que Aldemar Paiva começa sua nova e trepidante vida artística. Chega ao Recife convidado pelo diretor do Rádio Clube de Pernambuco, Arnaldo Moreira Pinto, por meio do radialista e publicitário alagoano José Renato, fundador da Agência Norte, primeira agência publicitária do Recife. Sua chegada faz parte do esforço do Rádio Clube na competição com o novo e forte Rádio Jornal do Commércio. Sua primeira missão é substituir o humorista Chico Anysio, então deixando o Recife para tentar o sucesso no Rio, como consta de Memória do Rádio, de Luiz Maranhão Filho. “Das Alagoas, a emissora recebeu um dos valores que haveria de se destacar no seu prefixo e aí permanecer por longo tempo a batalhar como o entusiasmo de um apaixonado. O locutor Aldemar Paiva vinha de uma direção artística na Rádio Difusora de Alagoas, emissora oficial. Trazia consigo uma boa atriz, Vilma Campos, algumas idéias razoáveis e muita vontade de vencer. Ele e Chico Anysio se entenderam muito bem”. Já considerado talentoso humorista, Chico Anysio está indo para o Rio em busca de espaço na Rádio Nacional e ou na Rádio Mayrink Veiga, onde atuam os principais ídolos do rádio no País. Uma das maiores audiências é o Programa César de Alencar, cuja abertura musical é um convite aos ouvintes: “Esta canção nasceu pra quem quiser cantar. Canta você, cantamos nós, até cansar...”. Outra grande atração é o Programa PRK-30, humorístico. 47 Fazem sucesso no Rio e no País os programas Curiosidades Musicais, Um Milhão de Melodias, Cavalgada da Alegria, Fantasias Sonoras, Romance Musical...É tempo das duplas caipiras Jararaca & Ratinho, Alvarenga & Ranchinho. É tempo do Rei da Voz, Chico Alves, o mais popular cantor brasileiro até os anos 50. É tempo de Marlene, de Emilinha Borba, de Isaurinha Garcia, das cantoras do rádio: “Nós somos as cantoras do rádio, Levamos a vida a cantar. De noite embalamos teus sonhos, De manhã nós vamos te acordar. Nós somos as cantoras do rádio. Nossas canções cruzando o espaço azul Vão reunindo num grande abraço Corações de Norte a Sul”. Para profissionais de rádio do Nordeste é a glória máxima trabalhar no Palácio do Rádio Oscar Moreira Pinto, na avenida Cruz Cabugá, centro do Recife, então o templo de “monstros sagrados” da radiofonia de Pernambuco, com prestígio nacional. Eis alguns deles dessa época memorável: Nelson Ferreira, compositor, maestro, orquestrador e produtor de programas de sucesso, como Hora Azul das Senhorinhas, e grandes musicais; Waldemar de Oliveira, autor da Crônica Meio-Dia; Abílio Leôncio de Castro, professor de português e primeiro locutor de rádio da América Latina; Mário Libânio, autor e diretor da célebre Oração da Ave Maria, apresentada 48 diariamente às 18 horas; José Uchoa, primeiro locutor eclesiástico do Brasil; e Luiz de Albuquerque Maranhão, diretor de rádio-teatro. É grande a constelação de astros e estrelas do radio pernambucano, entre numerosos músicos, cantores, compositores, produtores, redatores, locutores, apresentadores, noticiaristas, novelistas e humoristas: maestro Felipe Caparrós e sua mulher, soprano, Júlia Caparrós, Ziul Matos, Levino Ferreira, James de Morais, Auci Medeiros, Zé do Carmo, Benedito Santos, Mário Reis, Torres Filho, Rossini Ferreira, Irmãs Parísio (Alaíde, Salomé e Maria), Vicente Cunha, Moura Júnior, Clóvis Neves, Jota Austregésilo, Fernando Silveira, Nilo Pereira, Chico Anysio, Telga de Araújo, Luiza Bandeira, Antonio Maria, Almir Távora, Severino Revorêdo, Laudenor e Itamar Pereira, Maria Celeste, Sônia Maria, Uchoa Cavalcanti, Luiz de França, Tavares Maciel (Programa Quem Manda é o Freguês), Walter Lins (Programa Caixinha de Pedidos), Mercedes Del Prado, Sebastião Estanislau, Glauce Bandeira, Dantas de Mesquita, Claudionor Germano, Djalma Torres, Luiz Queiroga, Aguinaldo Batista, Meves Gama, Inaldo Vilarim, Gilson Ribeiro, Edvaldo Pessoa, Jorge José, Jomir Rodrigues, Rosa Maria, Ada Neusa, Genival Lacerda, Ted Jones, João Moreno, Cláudio Almeida, Míria Nunes, José Diniz Madruga, Tânia Maria, Lourival Oliveira, José Santa Cruz, José Menezes, Otávio Augusto Vampré, René de Almeida, Nerize Paiva, Milton Rodrigues, Emanuel Silva, Mário Teixeira, Bety Kate e muitos outros de consagração popular. 49 Com a experiência de sucesso na Rádio Difusora de Alagoas, o programa “Dona Pinóia e seus Brotinhos” é lançado por Aldemar Paiva na emissora pioneira de Pernambuco. Apresentado no palco-auditório do Palácio do Rádio, sempre aos domingos, conta, inicialmente, com a participação de Chico Anysio, antes da transferência dele para o Rio. Muitos acreditam ter sido essa a inspiração do célebre humorista para o lançamento, décadas depois, de sua “Escolinha do Professor Raimundo”, na Rede Globo de Televisão. Aldemar Paiva esclarece: “Ao me transferir para o Recife, em 1951, resolvi apresentar Dona Pinóia, como atração da Era de Ouro do rádio pernambucano, valorizada com Chico Anysio, José Santa Cruz, René de Almeida, Jota Austregésilo, Altair Costa e o próprio criador. Depois, por sugestão do senador João Calmon, adaptei Dona Pinóia para a Ceará Rádio Clube, onde também brilhou. Mais tarde, surgiram comentários de que a famosa Escolinha do Professor Raimundo, na Rede Globo, havia se inspirado nos alunos gaiatos de Dona Pinóia. Na verdade, aos anos 70, a Globo mostrou interesse em adquirir os scripts desse humorístico, guardados por mim na bagunçoteca de nossa casa do bairro de Rio Doce. Foi uma tristeza. Os cupins desceram dos cajueiros e deram uma de MST: acamparam e destruíram tudo”. Outra grande atração produzida por Aldemar Paiva no início de sua jornada na emissora pioneira do Recife é Festa no Varandão, uma antecipação dos programas de auditório do pernambucano Abelardo Barbosa Chacrinha, de sucesso na televisão brasileira: 50 “Além da presença de muitos ouvintes do Recife, vinham caminhões cheios de gente do interior de Pernambuco, da Paraíba, das Alagoas e de outros Estados. Festa no Varandão era show com apresentação de cantores populares e prêmios para a platéia. Só que os prêmios eram uma surpresa. Muitos voltavam para casa levando banana, jerimum, mamão, abacaxi, galinha, ovos, carne de sol. Eu anunciava como prêmio uma lambreta, uma motoneta da moda, e quando o sujeito ia receber era um cabrito”. Em seu primeiro ano no Recife, Aldemar Paiva dedica-se 24 horas por dia, com satisfação e vibração às atividades artísticas na PRA-8, movido pelo combustível de muitos sonhos. Mostra sua versa-tilidade e desenvolve sua capacidade como criador, produtor, ator, apresentador e humorista. Antecipa sua condição futura de multimídia. Já no segundo ano na PRA-8, completamente identificado com a agitação social, musical e cultural do Recife, lança o programa que vai ser a marca de sua vida pessoal e profissional – “Pernambuco Você é Meu” – maravilhoso show de rádio de grande sucesso nacional. Em 1952, quando entra no ar “Pernambuco Você é Meu”, o Brasil tem 52 milhões de habitantes, 36% morando nas cidades e 64% nos campos. Nordeste tem 18 milhões, Pernambuco 3,5 milhões e Recife 500 mil habitantes. Existem no País apenas três estações de televisão, TV Tupi e TV Paulista, em São Paulo, e TV Tupi do Rio, que chegam à população por meio de sete mil televisores nas duas capitais. Quanto ao rádio, são cerca de 400 emissoras no Brasil e aproximadamente 3,5 milhões de aparelhos 51 receptores. Faltam surgir as emissoras FM. Em plano nacional, o rádio detém 40% do bolo publicitário e a televisão, iniciante, apenas 10%. No Nordeste ainda sem televisão e, espe-cialmente, em Pernambuco, o rádio é o grande meio de comunicação com as massas. Vive sua época de ouro com grandes produções, magníficos elencos de rádio-teatro, excelentes orquestras e muitos programas de auditório. É nesse ambiente que “Pernambuco Você é Meu” surge para fazer história e conquistar glória no rádio do Brasil. 52 5 PERNAMBUCO VOCÊ É MEU (Escrito ao som da Orquestra de Nelson Ferreira com Vassourinhas, de Matias da Rocha, hino do carnaval de Pernambuco) “...Estas são as ondas mais quentes e mais vibrantes do Brasil. Estamos nas ondas do frevo. Do frevo de Pernambuco, terra de gente agitada, de gente honrada, de gente iluminada. É manhã bonita no Recife. Céu azul claro, limpo, lindo. Sol aberto, chamando para as praias. Mar azul-esverdeado como nunca. Boa Viagem para os que chegam. Nossa Copacabana do Nordeste está irresistível. Comece bem o dia com uma preciosa e gostosa água de côco. Desses maravilhosos coqueiros que embelezam a tropicalíssima paisagem pernambucana. Aos que estão indo mergulhar, bom dia! Olha a morena cor de canela, desfilando sua beleza mais do que escultural. Que natureza! E lá vai passando a lourinha bronzeada. Pura sensualidade. Aos que já estão trabalhando, bom dia!”. Semelhantemente assim, cada audição do “Pernambuco Você é Meu” proporciona aos seus milhares de ouvintes, por todo o Brasil, um passeio romântico, poético, sentimental e entusiástico pela paisagem urbana, humana, histórica, cultural e artística de Pernambuco. Em estilo 53 coloquializado, fabulesco e sensorial, fazendo renovação sem esconder nostalgia, revolucionando o rádio brasileiro. Em ritmo de frevo, puxado pelo inconfundível Vassourinhas e permeado por Veneza Americana. “É Veneza Americana, do mais lindo céu de anil, minha terra hospitaleira, Namorada do Brasil... Teus coqueiros junto ao mar No seu doce farfalhar A trazer tranqüilidade, Crescem, crescendo a beleza Desta cidade Veneza, Ninho de Felicidade. E o Capibaribe a rir É no seu curso a seguir Da cidade a própria vida, A poesia imorredoura, A mensagem sedutora Da Veneza tão querida do Brasil”. Pois, é! Como o samba está para o Brasil, o frevo é um elemento forte, fortíssimo, na etogenia pernambucana. Como está para o País a emocionante Aquarela do Brasil, de Ary Barroso, verdadeiro hino nacional, assim está Vassourinhas, de Matias da Rocha, para Pernambuco. Como é Cidade Maravilhosa, de André Filho, para o Rio de Janeiro, assim é Veneza Americana, de Nelson Ferreira e 54 Ziul Matos, para o Recife. É Pernambuco frevando e fervendo. “...Vamos saudando Pernambuco com muito frevo. De Capiba, de Nelson Ferreira, de todos os carnavais. Em ritmo de gostosão, gostosinho, gostosamente. Vamos abraçando o Recife antigo e o Recife novo. Alô, Boa Viagem, Boa Vista, Espinheiro, Rosarinho, Encruzilhada, Casa Forte, Apipucos, Cordeiro, Caxangá, Casa Amarela. Abraçando o Recife das feiras, cheias de mangas rosa, cheirosas e apetitosas. O dia já não é mais criança na floresta de Dois Irmãos. Lá, os crocodilos fingem que dormem, de olho em cada macaco frevando no seu galho. Mas o dia vai raiando no Solar de Apipucos. Bom dia, mestre Gilberto Freyre! Bom dia, Olinda. Ah se Duarte Coelho soubesse como estás cada vez mais linda. É bom ver Jaboatão. Quem sabe, não perde a festa da pitomba. Jaboatão dos Guararapes, das batalhas memoráveis e das vitórias mais ainda. Passando lá, faça um ato de devoção no altar da Pátria: visita a igrejinha de Nossa Senhora dos Prazeres. Contemple a imagem da santa. É um primor de arte”. Em 25 anos, “Pernambuco Você é Meu” consagrase como a maior vitrine do frevo para o Brasil, sob o comando mágico de Aldemar Paiva, além de tudo, um melômano, principalmente compositor de frevo. Sua voz de timbre agradável torna-se mais prazeirosa e familiar à medida que se vai ouvindo. Mesmo em ritmo naturalmente 55 lento, conversando pausadamente, Aldemar Paiva pode falar assim até muito mais de cinco minutos no ar, o que no rádio é uma eternidade, sem causar monotonia. Causa prazer. “...Bom Dia, Gravatá e Garanhuns, as duas suíças pernambucanas. Somos assim mesmo, meio exagerados: enquanto os europeus têm apenas uma, nós temos logo duas. Alô, Catende! Qualquer dia desses, vou danado pra Catende, como o genial Ascenço Ferreira. Viva Limoeiro, terra do valente Chico Heráclio e dos valorosos Vilaças. Bom dia, Nazaré da Mata, do poeta Mauro Mota e do frevo rasgado. Que é o frevo que agita Surubim, terra do nosso velho e ilustre guerreiro Abelardo Barbosa. Alô, seu Chacrinha! Alô, Carpina! A torre de fumaça da usina Petribú está subindo, subindo. Espalhando na Zona da Mata o cheiro forte de melaço”. Seu programa, dinâmico e variado em expressões e impressões, com o impetuoso frevo ao fundo e freqüentes subidas de som, jamais é enfadonho. Pelo contrário, é contagiante. Um programa intimista, com a harmonia modulada da voz do seu apresentador e o diapasão musical marcado por repetição incessante de frevos, os mais tradicionais e bem ao gosto popular, incluindo muitas evocações: “Felinto...Pedro Salgado...Guillherme... Fenelon...Cadê teus blocos famosos? Bloco das Flores,.. Andaluzas, Pirilampos...Apôis Fum... 56 dos carnavais saudosos?! Na alta madrugada, o coro entoava do bloco a Marcha-Regresso, que era o sucesso dos tempos ideais do velho Raul Morais: Adeus, adeus, minha gente, que já cantamos bastante... E o Recife adormecia, ficava a sonhar ao som da triste melodia...” Frevo é o leitmotiv de “Pernambuco Você é Meu”. Por sua irradiação atraente, Aldemar Paiva, exuberante fisica e mentalmente, quase transforma seus ouvintes em espectadores ativos da coreografia estonteante dos passistas em fantasias supercoloridas e dos vibrantes trompetes das melhores orquestras, lançando no ar os mais quentes e os melhores frevos de rua e de canção que sempre sacodem o Recife, cidade lendária. Sobretudo frevos de Nelson Ferreira, de Lourenço Capiba e de Levino Ferreira. Carnaval da Vitória, Mexe com tudo, Lágrima de Folião, Comendo Fogo, Diabo Solto, Alegria de Pompéia, Retalhos de Saudade, Amália no Frevo, Não adianta Chorar, Vem Fervendo, Come e Dorme, Isquenta Muié, Gostosão, Porta-Bandeira, Casa-Casá, Borboleta Não é Ave, Óia a Virada, Boca de Forno, Bem-Te-Vi, O Passo do Caroá, Eu Quero é Ver, Casinha Pequenina, Que Bom Vai Ser, Quando a Noite é de Lua, Linda Flor da Madrugada, Deixa o Homem se Virar, Que é que vou 57 dizer, Juventude Dourada, Quando se vai o Amor, Cheguei na Hora, Perna de Pau, Pilão Deitado, Corisco, Levanta Poeira, Alô Recife. É uma onda só tomando conta do Recife. Ninguém desliga o rádio, ninguém fica parado, ninguém fica triste. Pernambuco Você é Meu” faz eco no centro do Recife. Principalmente nos bares, restaurantes e lojas de eletrodomésticos das avenidas Guararapes, Dantas Barreto e Conde da Boa Vista, e nas ruas Duque de Caxias, Imperatriz, Nova, Concórdia e outras de movimentado e variado comércio. É só vibraçao! É só emoção! É só alegria! Na Capítal e no interior. “...Bom dia para a querida Princesa do Agreste, Alô pessoal da Feira de Caruaru, a mais famosa do Brasil. No meio de tudo, tem rapadura, batida, quebra-queixo, alfinim e doce que não acaba mais. Tem de tudo que há no mundo, né Luiz Gonzaga? Viva o nosso venerável Rei do Baião! E olhem os bonecos do mestre Vitalino! Quase falam. Magistral Vitalino! No Sertão Central, tem Arcoverde. De dom Joaquim Arcoverde, o primeiro cardeal brasileiro, sabiam? Que goiabada gostosa tem Pesqueira! Depois é Salgueiro. Não é escola de samba. É cidade que ao frevo ama. Bom dia, Petrolina! Terra dos Coelho. Em progresso, rápida como coelho. Petrolina não é a foz mas é a voz do São Francisco, o velho e resistente Chico, o rio da integração nacional. É o que fazemos agora nas ondas do frevo, envolvendo o Brasil com a alma fervente e o coração 58 frevante de Pernambuco. Bom dia, Pernambuco! Pernambuco, você é meu!” Sensacionais causos, contados maravilhosamente, sem leituras dramatizadas, mas, improvisadamente, constituem-se uma atração especial enriquecendo “Pernambuco Você é Meu”. Um programa sempre alegre, leve e divertido, variado e copioso em conteúdo, com poesias, histórias de cordel, quadrinhas, crônicas, informações, utilidade pública, atualidades, curiosidades, banalidades do cotidiano, saberes e sabores da riquíssima culinária pernambucana. É um mix de tradição e contemporaneidade. Tudo animado com bordões criativos que se tornam muito populares: “De onde quer que esteja, escreva para este programa que é seu cicerone ou criado às ordens na terceira cidade do Brasil” “Não sei se é fato ou se é fita, não sei se é fita ou se é fato... O fato é que ela me fita, me fita mesmo de fato!” Em contra-ponto ao ritmo agitado e fervilhante do frevo, tudo é apresentado no padrão Aldemar Paiva, fluindo naturalmente, desfilando calmamente, sem esforço e sem ansiedade, com fraseado inteligente, adequada sonoridade, muita espontaneidade, interatividade e surpreendente timing cômico: 59 “E você, que está aí em seu carro, vá devagar, dirija com atenção. É preferível chegar tarde em casa do que cedo no cemitério...” “Olhe a hora certa para não se atrasar. São 7h45m na capital pernambucana. Não perca sua condução de jeito nenhum”. Além de uma janela para a alma, “Pernambuco Você é Meu” abre, também, “uma janela para o mundo”, na expressão do próprio âncora. É o momento diário do Repórter Esso das 8h da manhã. Durante muitos anos apresentado no Rádio Clube de Pernambuco, por Mário Teixeira. Depois, o informativo da Esso e seu apresentador transferem-se para o Rádio Jornal do Commércio. Mais tarde, com Mário Teixeira indo para o Rio, fica como seu substituto o locutor Edson de Almeida. Mantém o Reporter Esso, no entanto, seu mesmo padrão editorial de qualidade e sua grande audiência dentro do “Pernambuco Você é Meu”. Ao anunciar cada edição, uma vinheta prende os ouvintes: “Emissoras brasileiras do Rádio Jornal do Commércio, a voz mais potente do Brasil, Pernambuco falando para o Mundo. Na capital pernambucana, são 8 horas...” Rompe o ar a inconfundível fanfarra criada pelo maestro Carioca, seguida do locutor com o noticioso: “Muito bom dia, senhoras e senhores. Aqui fala o seu Repórter Esso, porta-voz dos seus Revendedores 60 Esso, com as últimas notícias do Brasil e do Mundo, fornecidas pela UPI e por estas emissoras. Neste momento, na Avenida Guararapes, no centro do Recife, a temperatura marca...Eis as últimas notícias da noite que passou...E agora, as primeiras notícias do dia...O seu Reporter Esso e as Esportivas... Ponha um tigre da Esso no seu carro...E atenção para a última notícia... Durante todo o programa, Aldemar Paiva mantém seus ouvintes atualizados com o noticiário do dia, destacando as manchetes e comentando as informações dos jornais. Transforma em eletrônica a coluna impressa diária do seu querido amigo Aldo Paes e Amor Barreto, uma das mais movimentadas e prestigiadas do Jornal do Commércio. Abre espaço também para a crônica diária de Medeiros Cavalcanti, sempre abordando, com objetividade, um tema palpitante de interesse da comunidade. Segue o modelo anterior, no Rádio Clube de Pernambuco, com a crônica diária Café da Manhã, de Mário Libânio. Líder de audiência das manhãs brasileiras no Nordeste, o programa de Aldemar Paiva, sempre com performance animada por pernambucanismo visceral e inspirada na valorização de Pernambuco aos ouvidos do Brasil e até do Mundo, é atraente, inteligente, descontraído, interessante, saudável e cativante. Do princípio ao fim. Nas ondas do frevo, vai divertindo as elites com satirizações do cotidiano. Promovendo a cultura do povo marginalizado. Aproximando a veracidade da linguagem 61 de situações reais. Estimulando a fantasia e o humor em busca do prazer do bem-viver diante de caprichos do destino ou de adversidades. Pondo frevo na vida de todo mundo. Em ritmo de frevo, “Pernambuco Você é Meu” enche o rádio como uma onda gigante do bem, uma onda tsunami de frevo, arrastando, diariamente, milhares de ouvintes para o mar da alegria de viver. Proporcionando, efetivamente, elevação da auto-estima de Pernambuco. Projetando e difundindo, por dinâmica própria, um Pernambuco enérgico, vibrante, festeiro, altaneiro, combativo e vencedor. Propositalmente, muito frevo. Só frevo, que é a cara musical de Pernambuco, fortalecendo a identidade pernambucana junto ao Brasil. Com seu sucesso carimbado pela aprovação popular, “Pernambuco Você é Meu” vira, também, coqueluche de repercussão e prestígio em comentários e conversas nos circuitos sociais, nas rodas de intelectuais e nos salões aristocráticos do Recife. Conquista os corações de Pernambuco. E conquista o sêlo de grande sucesso! 62 6 ARTEXPRESSÃO CULTURAL (Escrito ao som da Orquestra do Maestro Nelson Ferreira com seu frevo Gostosão) “...Daqui do centro do Recife, das ondas altas e fortes do Pernambuco Você é Meu, vejo o Nordeste inteiro. Do Maranhão à Bahia, muito bom dia. Bom dia para o Nordeste de longe e para o Nordeste de perto. Em síntese, como está no verso de João Cabral de Melo Neto: Nordeste de Pernambuco, Onde todas as manhãs são limpas, Pernambuco do Recife, De Piedade e Olinda”. Esteticamente, “Pernambuco Você é Meu” cumpre seu objetivo de promover a cultura nordestina e de potencializar o frevo como elemento central da cultura popular pernambucana. Como sua obra de arte diária, Aldemar Paiva prova, no rádio, que produção literária não se limita à escrita. Pode ser também falada, como demonstra, em seu programa radiofônico, apresentando modalidades de linguagem, elementos de obra literária, gênero literário, estilo de expressão, arte da versificação e elementos de ficção. São adornos literários que valorizam ainda mais o seu conteúdo cheio de momentos sérios, descontraídos, emocionantes e cômicos, intercalados por muito frevo, o ritmo quente e fervente de Pernambuco. 63 Em quase 25 anos no ar, “Pernambuco Você é Meu” constrói uma história que se confunde com a própria história da arte musical e do carnaval de Pernambuco. Em suas ondas surfam, com regularidade e brilhantismo, os mais ilustres maestros, musicistas, compositores e intérpretes pernambucanos do frevo, muitos aplaudidos e festejados em todo o Brasil: ...Nelson Ferreira, Lourenço Capiba, Levino Ferreira, Guerra Peixe, Antonio Maria, José Zumba, Clóvis Pereira, José Duda, Guedes Peixoto, Fernando Lobo, Edgar Ferreira, Luiz Ferreira, José Menezes, Samuel Valente, Nestor de Holanda, Raul Morais, Reinaldo Oliveira, Edgar Morais, Ziul Matos, Miro de Oliveira, Luiz Caetano, Valdemar de Oliveira, Severino Araújo, Lourival Oliveira, João Santiago, Sebastião Rosendo, Fernando de Oliveira, Sebastião Lopes, Getúlio Cavalcanti, Manoel Gilberto, Ademir Formiga, Luciano Pimentel, Félix Felinho, Gildo Moreno, Gildo Branco, Dimas Sedícias, Raul Valença, João Valença, David Vasconcelos, Édson Rodrigues, Agnaldo Batista, Diná de Oliveira, Alex Caldas, Baltazar de Carvalho, João Pernambuco...Todos pernambucanos, criadores e produtores de frevança, definitivamente, incorporados à história da Música Popular Brasileira como símbolos da artexpressão cultural de Pernambuco. Com habilidade, conhecimento e competência, Aldemar Paiva usa e abusa, sem equívocos e sem excessos, mas com sabedoria e persuasão, de todas as possibilidades da língua, como ferramenta básica e privilegiada de comunicação. Faz isso com muita naturalidade, origi64 nalidade, espontaneidade e espirituosidade, características que marcam seu perfil de membro efetivo do excêntrico do 44º Espada D’Água, regimento de boêmios intelectuais de Maceió, desde o século XIX, com filial de agregados no Recife Antigo. E, com sua sensibilidade e emocionalidade, confere ao Pernambuco Você é Meu encanto emotivo e elevado prazer de audição. “Mantenha-se firme conosco nas ondas do Pernambuco Você é meu, que também é seu. Aos que estão nas praças, em cada praça do Recife, muito bom dia. A Praça, a praça é do povo, como o céu é do condor. É o que garante o genial Castro Alves, que criou essa beleza poética ao ver dissolvido um encontro republicano em plena Praça da República, aqui na capital pernambucana. Dele também é o formidável improviso que fez indignado como estudante da Faculdade de Direito do Recife num protesto contra a polícia na rua do Imperador: A lei sustenta o popular direito, nós sustentamos o direito em pé”. Em verdade, Aldemar Paiva representa, então, uma nova onda banhando o rádio de Pernambuco com as águas da renovação estética, assumindo em estúdio o culto da forma como uma concepção de vida. Segue o conceito do 65 escritor russo Aleksei Tolstoi, o grande Tolstoi, de vários romances históricos, sobre o estilo. Mas absorve também a definição eloqüente do nosso luso-brasileiro eloqüentíssimo padre Antonio Vieira, de Os Sermões (1679), em tom quase poético: “Como hão de ser as palavras? Como as estrelas. As estrelas são muito distintas e muito claras...o estilo pode ser muito claro e muito alto; tão claro que o entendam os que não sabem, e tão alto que tenham muito o que entender nele os que sabem”. Com certeza, entre outras razões fundamentais, o sucesso de “Pernambuco Você é Meu”, durante 25 anos, tem relação direta com o estilo próprio do seu apresentador, Aldemar Paiva. Em meio a uma profusão de programas diferenciados do rádio de Pernambuco e do Brasil nesse período, “Pernambuco Você é Meu” impôese exatamente como show de variedades, inovador na forma e na riqueza de conteúdo e pela personalidade do seu âncora. Isso mesmo. Além de inovar no formato e na essência, Aldemar Paiva estabelece no rádio pernambucano um estilo pessoal que marca época. Sua capacidade de criar e fantasiar, envolvendo personagens fabulosos e pretendendo a atenção dos ouvintes parece inspirada na capacidade de criar e fantasiar de certos renomados romancistas. Vai nas pegadas do magistral Gabriel Garcia Márquez, no seu clássico hispano-americano Cem Anos de Solidão(1967). Quase faz os ouvintes imaginarem que o estúdio de “Pernambuco Você é Meu” 66 está sempre povoado de criaturas singulares e caricaturais, como o cigano Mequíades, da fictícia Macondo. Ou ainda como os personagens dos folhetins do visconde Ponson du Terrail em aventuras e tramas rocambolescas. Aldemar Paiva transforma seu programa em território livre à criação e à imaginação onde brilham figuras de cordel e do romanceiro popular em peripécias e façanhas inverossímeis. É onde ele também nada de braçada, talentosamente, tanto no cordel de poesia improvisada, cantada nas cantorias, quanto no cordel da poesia tradicional, de composição literária. Assim, Pernambuco Você é Meu exibe uma agradável fusão de realidade e ficção sob a trilha sonora do frevo. E haja causos: “Um casal fazia bodas de prata celebrando, simultaneamente, 60 anos de idade. Em dado momento da festa, apareceu uma Fada dizendo: Como prêmio pelos 25 anos de muito amor, concedo um desejo a cada um de vocês.Primeiro foi ela, toda animada e esperançosa: Quero fazer uma viagem ao redor do mundo com meu querido esposo. Então, a fada moveu a varinha e, zás, apareceram as passagens nas mãos da senhora. Em seguida, foi a vez do marido, falando maroto: Desculpe, querida, mas meu desejo é ter uma mulher 30 anos mais jovem do que eu. Então, a fada girou a varinha e, zás. A mulher permaneceu com 60 anos enquanto o marido passou a ter 90!” Embora adotando no seu programa a modalidade da língua geral, da língua-padrão do Português usado no Brasil, 67 Aldemar Paiva não dispensa o linguajar regional, quando mais insinuante, nem o linguajar popular, quando necessário, nem a linguagem culta, quando exigida. Em qualquer dessas modalidades, o apresentador de Pernambuco Você é Meu revela incrível capacidade de se expressar com inflexão de voz compatível para cada situação, sem artificialismo e sem exibicionismo. “...Vamos com Pernambuco Você é Meu cantando as belezas de nossa terra. Ouçam e sintam a maravilha que é a poesia popular. Tem um cantador pernambucano, negro, famoso pelo seu jeito agressivo de repentista. É Sebastião Cândido dos Santos. Mas seu nome de guerra é Azulão. Ora, vejam só, mesmo cantando sozinho, sem desafiante, ele aproveita para mostrar sua bravura: Eu sou cabôco de guerra, C’uma viola na mão! Não quero guerra é de briga, Mas de língua eu sou o cão... Eu fico mesmo esturrando, Fico mostrando o brasão... Pra brigá de ferro frio Não sirvo, não presto não. Inda que tu fosse Um Guilherme da Alemanha, Um imperador da França, Cantando com Azulão Pode vir certo que apanha”. 68 Quanto aos seus conceitos, idéias, sentimentos, apelos e imagens, que expressam o conteúdo de qualidade do “Pernambuco Você é Meu”, Aldemar Paiva procura exprimí-los nas formas mais atraentes para os ouvintes: em prosa e em verso. Em prosa, proporcionando narrativa com linguagem direta e objetiva; e em verso, com narrativa em linguagem poética, que toca mais a sensibilidade dos ouvintes. Como poeta, o apresentador ainda agrega ao programa a arte da versificação, recheando-o, freqüentemente, com alguns versos próprios ou de consagrados autores brasileiros. Em resumo: visão lúcida, apelo cultural, linguagem coloquial, prosa saborosa, muita sagacidade, bastante poesia, dose certa de humor e muito frevo. Além dessas inovações, “Pernambuco Você é Meu” trabalha, eficientemente, com o ficcionismo, gênero que agrada imensamente por estimular a fantasia dos ouvintes. Mais uma vez, Aldemar Paiva se apresenta com maestria dominando no ar esse gênero narrativo que envolve o romance, o conto, a novela, a fábula, a lenda, a história e as estórias. Estórias, então, são com ele mesmo. Estórias superdivertidas, com enredos despertadores de curiosidade e atenção, revelando o seu invejável talento criativo e inventivo. E haja causos: “Admirável artista que produz e interpreta coisas maravilhosas inspiradas no dia-a-dia do Nordeste, Jessier conta-nos um caso delicioso. Um sujeito estava no bar e o garçon chegava de dez em dez minutos, dava um sopapo no bêbado que dormia num mesa. Um rapaz ali perto interferiu: Meu irmão, por 69 que você acorda esse coitado de instante e instante se depois ele vai dormir novamente? O garçon respondeu: Nada pessoal, meu chapa...É que toda vez eu que lhe acordo, ele paga a conta. E lasca, na base do repente: Tem gente metida a besta, que bebe socialmente, só de segunda a segunda, pelos chá beneficente. Enche o rabo de uísque, no meio dos magnatas, vomita meia e gravata, dana bofete em parente, leva um chifre caceteiro, mas só quem é cachaceiro é quem bafeja aguardente!” Com todos esses elementos de linguagem e de arte, Aldemar Paiva consolida seu “Pernambuco Você é Meu” como um show de estilo próprio, inimitável. Forma e conteúdo do programa trazem, marcantemente, a bagagem cultural, a experiência acumulada, os impulsos emotivos, a sensibilidade aguçada, a linha poética e o perfil psicológico do apresentador, refletindo sua alma e sua personalidade. É total o sincronismo entre “Pernambuco Você é Meu” e Aldemar Paiva. Mais afeito ao gênero narrativo da prosa e ao gênero lírico e satírico do verso, o âncora desenvolve um estilo romântico, de forma primorosa e brilhante, causando uma revolução e se consagrando ícone do rádio nordestino e brasileiro. “... Além do ritmo gostoso do frevo, aqui você tem a nossa rica literatura popular. Como nos orienta o grande Sílvio Romero, nosso notável filósofo e sociólogo de vasta produção de contos populares do Brasil, se vocês querem 70 poesia, poesia de verdade, cheguem, ao povo, metam-se nos rincões, passem a noite num rancho, à beira do fogo, entre violeitos e repentistas, ouvindo trovas e desafios. É o que vocês têm aqui no nosso Pernambuco Você é Meu. É o cantador sertanejo com a poesia do povo.É o cego pernambucano Elias Ferreira num encontro com o cego cearense Sinfrônio Martins: Sinfrone, vai me contando Que é tu anda fazendo Se anda dando ou apanhando Se anda comprando ou vendendo Se anda bebendo ou jogando Se anda ganhando ou perdendo. Elias, eu lhe declaro E a todos que estão olhando: Nem bebendo nem jogando, Nem ganhando nem perdendo Ando mas é vadiando” 71 Aldemar Paiva com a Miss Brasil, Vera Fisher, em 1970 Com o cantor popular Waldick Soriano, em programa de auditório Com o humorista Chico Anysio no lançamento do seu livro “Monólogos” 72 7 AMOR, SABOR E HUMOR (Escrito ao som da Orquestra de Nelson Ferreira com o frevo Morena Cor de Canela, de Lourenço Capiba) Pode-ser dizer que um resumo da feliz vida conjugal de Aldemar Paiva com sua amada Angelita está em título de livro dela lançado em 2004, dentro das comemorações de suas Bodas de Ouro, 50 anos de casamento: “Amor, Sabor e Humor”. Uma seleção gastronômica ilustrada de deliciosas receitas doces e salgadas com poderes para satisfazer o mais exigente paladar. Caprichadas receitas de boa lembrança, socialmente aprovadas como culinária da melhor qualidade e psicologicamente adotadas como poderosos ingredientes de saudável envolvimento familiar, para uma vida alegre, harmoniosa, lúdica e compartilhada sob o tempero agradável e irresistível de indispensáveis aromas, sabores e humores. Seu encontro com Angelita, artista plástica de forte sensibilidade aplicada ao gênero impressionista, é assim lembrado: “Ela era estudante, produzindo peças de teatro e realizando espetáculos para a Federação Alagoana pelo Progresso Feminino. Fazia parte do elenco. Cantava, representava. Muito bonita (tipo manequim de cintura fina), chamava-a, amorosamente, de “Morena da Rua do Sol”. Depois, dei-lhe o apelido 73 de Borlotinha, numa referência ao mimoso adereço usado nas cortinas das salas de antigamente. Esse apelido permanece até hoje, entre familiares e amigos íntimos”. Com atenção, dedicação, carinho e “muita conversa ingênua para ela domir”, Aldemar Paiva sustenta com Angelita um namoro de dez longos anos, provocando uma desconfiança generalizada. Entre parentes e grupos interfamílias, muitos chegam a duvidar e a fazer apostas sobre o futuro do romance dos dois. Há quem não aposte um tostão. Sempre brincalhão, quando a desconfiança causa alguns fortuitos arrufos, ele sugere a Borlotinha: “Pode procurar seus direitos na Justiça. Você já tem estabilidade”. Finalmente, com Aldemar Paiva já fazendo sucesso em Pernambuco e alcançando razoável estabilidade financeira, acontece o sonhado casamento. Cerimônia religiosa, no dia 17 de junho de 1954, é celebrada pelo cônego Antonio Alves, capelão da Polícia Militar de Pernambuco e pároco da matriz de Nossa Senhora da Paz, no bairro de Afogados, centro do Recife. Em plena cerimônia, um dos padrinhos do casamento, publicitário e radialista Fernando Castelão aproxima-se e dá-lhe o seguinte ultimato: “Dema, ainda está em tempo de desistir!” Consumado o casório, comemoração dupla. Primeiro, na própria casa paroquial, anexa à igreja. Por sua 74 popularidade crescente no rádio, há uma invasão de amigos e admiradores. Depois, na rua Nicarágua, bairro do Espinheiro, residência de Caio de Souza Leão e sua esposa Lenir, amigos e benfeitores do novo casal. Verdadeiro banquete, seguido de uma partida de futebol envolvendo o noivo, padrinhos, convidados e até o padre Humberto Cavalcanti, vindo de Maceió, com o radialista Jair Amaral, carinhosamente recebidos como “dois penetras”. Surpreendentemente, após bela e agradável manhã de sol, uma chuva fina de fim de tarde acaba a festa ao ar livre na residência dos Souza Leão. E é sob chuva forte que o motorista conduz os nubentes para a residência em Olinda, na rua Luiz de Carvalho. Lá surge mais uma surpresa, segundo o próprio Aldemar Paiva: “Já instalados em nossa modesta primeira casa, por volta das 19 horas, estávamos ansiosos no jantar à luz de velas antes da chegada emocionante ao leito nupcial. Tudo nos trinques, conforme o figurino. Só que um pouco antes das 21 horas, alguém bate à porta. Imaginem quem veio para a nossa lua de mel! Meu irmão Alberto (um ano mais novo do que eu). Como não conseguira acomodação em parte alguma, decidiu nos fazer companhia naquela noite. Logo naquela noite, a primeira nossa como recémcasados. Assim, nossa primeira noite de núpcias aconteceu com 24 horas de atraso”. Desse casamento, “sem programação médica, nem recursos folclóricos”, como faz questão de registrar 75 Aldemar Paiva, nascem três filhos, curiosamente de quatro em quatro anos: Mônica (1955), médica; Carla (1959), arquiteta; e Dema (1963), engenheiro. Aleatoriamente, são pais bissextos com uma ciranda de netos: Flávia, Conrado, Maria Eduarda(Duda), Drancinho, Aldemar Buarque de Paiva Neto(Deminha), Artur e Adriano. Fazem parte da antologia familiar muitas estórias e histórias tendo Aldemar Paiva como protagonista e que todos contam e recontam com indisfarçável prazer. Mesmo Borlotinha, quando, aparentemente, é vítima: “Um dia, ele saiu à tarde para comprar alguma coisa no mercado e voltar logo. Encontrou um amigo, foi para o bar e acabou varando a madrugada. Já perto do amanhecer, entrou no quarto ainda escuro e eu toda coberta tive que ouvir isso: “Minha querida Borlotinha, desculpe-me o atraso. Desde ontem à noite estou vindo para casa com uma corda de guaiamuns que comprei para você. Mas, no caminho, eles se desgarraram e fui obrigado a vir tangendo os bichos até em casa. Infelizmente, não consegui chegar com nenhum. Escaparam todos. Me perdõe!”. E eu, debaixo do cobertor, morrendo de raiva, mas me acabando de rir”. Filhos criados em ambiente de permanente alegria e confraternização, marcas registradas de Aldemar Paiva e Angelita, sempre de casa aberta para os numerosos amigos. Freqüentemente, com presença certa de artistas famosos. Como em janeiro de 1963: 76 “No cachimbo do meu filho Dema, José Luiza Calazans, o famoso Jararaca, da Radio Nacional, do Rio de Janeiro, alagoano de Pilar, passou o dia em nossa casa em Casa Caiada, Olinda, consumindo uma caixa de vinho presenteada por Dr. Tomé Dias Sobrinho, outro grande e querido amigo. Guardo uma carta de Jararaca, de próprio punho, falando da amizade e das preferências que nos aproximam. Nela, tem um apelo comovente para que eu conseguisse trazê-lo de volta para perto de sua terra (Maceió ou Recife). Queria morrer junto aos seus conterrâneos, fazendo músicas, humor e participando das rinhas de briga de galo, seu esporte favorito. Dois meses depois dessa carta, tão íntima e tão sentimental, faleceu no Rio, vítima de atropelamento. Deixou comigo muita coisa do seu acervo, de suas produções humorísticas e dos seus sonhos. Passei tudo para seu filho, funcionário da IBM no Rio”. Felizes e realizados com o sucesso profissional dos filhos, Aldemar Paiva e Angelita mantêm a família no mesmo clima de harmonia e de alegria que inspira os dois desde o namoro ainda quando estudantes em Maceió. Em resumo, com muito amor, sabor e humor. Agora, vivendo, naturalmente, o conforto e o desconforto da Terceira Idade, seguem a jornada do tempo com sabedoria e dignidade cultivando o ensinamento, que apreciam muito, do general norte-americano Douglas MacArthur, derrotado nas Filipinas (1942), vencedor contra os japoneses (1945) e comandante das forças da ONU na Coréia (1950): 77 “Ninguém é velho simplesmente porque viveu mais alguns anos. A pessoa só envelhece quando abandona seus ideais. Somos tão jovens quanto nossa autoconfiança, tão idosos quanto nosso medo e tão velhos quando nosso desespero. Enquanto nosso coração receber mensagens de beleza, coragem, alegria e esperança, nós permaneceremos jovens!”. 78 8 ADEUS ÀS ILUSÕES PERDIDAS (Escrito ao som da Orquestra de José Menezes com o frevo Ultimo Dia, de Levino Ferreira) “...Nas ondas do Pernambuco Você é Meu vamos cantando as belezas de nossa terra. Vivendo e revivendo os cantares dos peotas pernambucanos. Como em todas as manhãs e todas as tardes, multidões atravessam o centro do Recife. Fervilham na Avenida Guararapes. Alegrias, sonhos e frustrações, na visão do poetíssimo Carlos Pena Filho: Na Avenida Guararapes, O Recife vai marchando. O Bairro de Santo Antonio, Tanto se foi transformando Que agora ás cinco da tarde Mais se assemelha a um festim. Nas mesas do Bar Savoy, O refrão tem sido assim: São trinta copos de chope, São trinta homens sentados. Trezentos desejos presos, Trinta mil sonhos frustrados” 79 Diretor artístico do Rádio Clube de Pernambuco, desde 1951, e produtor e apresentador de “Pernambuco Você é Meu”, desde 1952, Aldemar Paiva tem uma visão larga e aguda para os horizontes da comunicação. Como está em PRA-8 O Rádio Brasil, deste autor, seu programa abre uma fantástica janela para o mundo, comentando atualidades de interesse público, desperta atenção para eventos culturais, pontua o dia na história, relata causos, interpreta relíquias da literatura de cordel, ressalta a riqueza e a beleza da paisagem humana no cenário cosmopolitano do Recife, promove a culinária regional e vende, com eficiência, os irresistíveis sabores tropicais de Pernambuco. Diretor artístico, Aldemar Paiva incrementa o rádio de Pernambuco em todos os setores, inclusive nos esportes. Pelas mãos dele, o vibrante e jovem locutor baiano Ivan Lima ingressa no cast da emissora pioneira do Brasil. Surge, então, o eletrizante “escrete de ouro do rádio”. Com ele, Ivan Lima se torna “o mais premiado narrador esportivo do Norte e Nordeste” e ganha fama nacional com uma equipe de profissionais craques, entre os quais, José Santana, Barbosa Filho, Rubens Souza, Audir Dúdiman, Edvaldo Moraes, Ivo Sútter, Haroldo Rômulo, Robson Sampaio e outros nomes que entram para a galeria de astros da crônica esportiva radiofônica do Nordeste. Mas é Pernambuco Você é Meu o carro-chefe das grandes atrações do Rádio Clube de Pernambuco. Com música de Nelson Ferreira e letra do próprio Aldemar Paiva, o título do programa é um frevo em homenagem à terra pernambucana: 80 “Terra boa, meu Pernambuco, Que faz Frevo bom e maracatu! Tem mais: Banho em Beberibe... Cachaça gostosa... Mangaba cheirosa... Ai! Ai! Ai! Tudo isso minha terra tem! Tem rede macia Pra gente sonhar, Buchada...peixada... Bate-bate pra enganchar! Tem morena formosa Que seu coração não me deu... Mas por isso não choro, porque Pernambuco, Você é Meu!”. Campeão de audiência no Brasil, “Pernambuco Você é Meu” conquista muitos corações no exterior, até nos lugares mais longíquos da Europa e da África, alcançados pélas ondas curtas do Rádio Clube de Pernambuco. Dessa época, muitos casos interessantes são lembrados por Aldemar Paiva: “Um ouvinte da Guiné Bissau, África Ocidental, escreveu ao programa pedindo uma mensagem especial para o dia do seu aniversário fazendo referência a um a namorada brasileira que ele tinha, por correspondência, no bairro de Água Fria, zona 81 norte do Recife. No dia marcado, levei a moça ao programa. Foi uma grande surpresa para ele ao ouvir a voz dela lá na África. Daí nasceu um encantamento. Ele veio para o Recife, casou-se com a moça e fui padrinho dele no casamento. Casado graças às ondas do Pernambuco Você é Me, foi trabalhar na Viana Leal, grande loja de departamentos, espécie de primeiro shopping do Recife”. Com charme, graça, prosa, simpatia e empatia, Aldemar Paiva enche as ondas da PRA-8 de pernambucanidade explícita tal qual contida em Gilberto Freyre, João Cabral de Melo Neto, Manoel Bandeira, Mauro Mota e Marcos Vilaça. Após 16 anos de sucesso no Rádio Clube, em 1968, Aldemar Paiva, com sua alma poética e seu entusiasmo envolvente, transfere-se para o Rádio Jornal do Commércio, atendendo convite do então superintendente Paulo Pessoa de Queiroz, filho de F. Pessoa de Queiroz, fundador da Empresa Jornal do Commércio. São mais quase dez anos de sucesso. De todo o Brasil e até do exterior, Aldemar Paiva recebe cartas e comunicados de ouvintes assíduos do seu “Pernambuco Você é Meu”. Um desses ouvintes torna-se, anos depois, seu grande amigo: “Era um marinheiro da Marinha Mercante do Brasil. Por onde andava nesse mundo afora, pela Europa, pela África, cruzando oceanos, Pedro Chaves ouvia, diaria-mente, o Pernambuco Você é Meu. Quando deixou a Marinha, resolveu morar no litoral de 82 Pernambuco ou Alagoas. Acabou parando em Maragoji, onde virou artesão e montou um restaurante. Um dia, quando soube que eu ia passar em Maragoji, fez uma festa pela alegria de poder me conhecer pessoalmente. Com emoção, relembrou muitos momentos de Pernambuco Você é Meu, que aumentava suas saudades do Brasil em muitas partes do mundo. Foi comovente”. Mesmo com tanto sucesso no Brasil e no exterior, em 1977, por ironia do destino, o novo superintendente do Rádio Jornal do Commércio, Ivan Lima, após 23 anos do seu ingresso na radiofonia do Recife, abençoado pelo então diretor artístico do Rádio Clube de Pernambuco, Aldemar Paiva, impõe modificações contratuais em vigor desde o tempo do superintendente Paulo Pessoa de Queiroz. Deixa o produtor e apresentador de “Pernambuco Você é Meu” em “situação funcionalmente desconfortável e financeiramente inviável”. Em conseqüência, o programa de marcante alegria das manhãs brasileiras, cativante em tudo por sua originalidade, é apresentado pela última vez em 28 de outubro de 1977, sem comemorar seus 25 anos em festa já programada, caprichosamente, para 20 de dezembro do mesmo ano, com a participação de famosos artistas nacionais, amigos e admiradores de Aldemar Paiva. Para milhares de ouvintes do “Pernambuco Você é Meu” em todo o Brasil, uma frustração desde então nunca superada. Para seu criador, produtor e âncora, um melancólico adeus às ilusões perdidas no tempo. 83 Em 1977, quando “Pernambuco Você é Meu” sai do ar, o Brasil tem 110 milhões de habitantes, 64% nas cidades e 36% nos campos. Nordeste tem 30 milhões, Pernambuco 6 milhões e o Recife 1.2 milhão de habitantes. Já existem no País 65 emissoras de televisão que chegam à população por meio de 14 milhões de televisores, em cores e preto-ebranco. Quanto ao rádio, já são 1.050 emissoras e aproximadamente 45 milhões de aparelhos receptores. Somam-se 40 emissoras FM. Em plano nacional, o rádio detém agora apenas 18% do bolo publicitário, enquanto a televisão aumenta sua fatia para 40%. No Nordeste e, especialmente, em Pernambuco, já com quatro estações de TV(Rádio Clube, Jornal do Commércio, Universitária e Globo), a televisão é a nova força de comunicação. Perdendo espaço para a televisão, o rádio da época de ouro, de grandes produções, de magníficos elencos de rádio-teatro, de excelentes orquestras e dos programas de auditório, está sendo substituído pelo rádio apenas de “música, esporte e notícia”. É nesse ambiente que Pernambuco Você é Meu entra para a antologia dos grandes momentos da história do rádio no Brasil. 84 9 ETERNO OBELISCO AO FREVO (Escrito ao som da Orquestra de Frevo de Nelson Ferreira com o frevo Saudade, de Aldemar Paiva) Durante três décadas do século XX, exatamente 50, 60 e 70, anos de grande desenvolvimento da radiodifusão em Pernambuco e, por conseqüência, de intensa promoção das atividades culturais e artísticas, o frevo vive sua época de ouro. Liderada especialmente pelas ricas e intensas criações e produções de Nelson Ferreira e Lourenço Capiba. É uma época de proliferação de grandes orquestras. E, para atender crescente do mercado consumidor, o Recife ganha, em 1953, a Fábrica de Discos Rozemblit, a primeira do Nordeste. Empolgada com a efervescência musical de Pernambuco, a Rozemblit chega a lançar uma série de discos denominada “O Melhor do Frevo no Rádio”, em parceria com mais de 120 emissoras do Norte e Nordeste do Brasil. Com este sêlo industrial e maior difusão radiofônica, o frevo, mais valorizado e eficientemente promovido, conquista mais espaço no cenário nacional. Dessa forma, nessas três décadas, o rádio cumpre um papel fundamental na popularização do frevo como gênero musical genuinamente pernambucano. 85 Além de criador, produtor e apresentador de programas radiofônicos de sucesso, destacando-se Dona Pinóia e seus Brotinhos, Festa no Varandão e Pernambuco Você é Meu, Aldemar Paiva, membro da Academia de Artes e Letras de Pernambuco e da Academia Maceioense de Letras, tem uma significativa produção literária: O Causo Eu Conto, livro de contos humorísticos; Monólogos e outros poemas, livro de poesias; e três trabalhos no gênero do cordelismo: A chegada de Nelson Ferreira no céu; O encontro de Capiba com Nelson Ferreira; e Gilberto Freyre, Redescobridor do Brasil. Mas, sem dúvida, sua contribuição intelectual e artística de maior expressão e visibilidade está no trabalho desenvolvido na promoção, valorização e popularização do frevo. Dele são mais de 70 músicas gravadas, todas sucessos do carnaval. Carro-chefe dessa popularização, o programa “Pernambuco Você é Meu” atravessa anos e mais anos fazendo sucesso, campeão nacional de audiência, como autêntica estação frevólica, transmitindo valores, símbolos, idéias, ideais, formas, costumes, tradições, lutas e conquistas da gente pernambucana para o Brasil e, espantosamente, alcançando o mundo. É um verdadeiro supershow de bomhumor e de variedades expressando a riqueza do folclore e da cultura popular de Pernambuco e do Nordeste. Grande sucesso do programa gera uma simbiose. Aldemar Paiva alimenta o público e o público alimenta Aldemar Paiva com fragmentos de textos, poemas, canções e divagações, formando e estimulando um imaginário espetacular. Exercendo um fascínio irrefutável em todo o 86 Nordeste e em parte do imenso Brasil. Definitiva e obrigatoriamente, “Pernambuco Você é Meu” inscreve-se como uma das produções de maior sucesso da história do rádio brasileiro. Qual a receita para tanto sucesso? É simples, direta, objetiva e convincente a resposta do seu criador: “Em todos os tempos e em todas as classes, as pessoas sempre têm necessidade de sentir alegria, energia, fantasia e magia. Além das atrações e variedades em informação, entretenimento e cultura popular, sem abdicar do erudito quando necessário, recomendável ou conveniente, o formato musical de Pernambuco Você é Meu garante o espetáculo da vida cheio de vida pela transmissão de sucessivos frevos de sucesso, dos carnavais saudosos e dos mais atuais, tornando o programa empolgante e, ao mesmo tempo, tipicamente regional, festivamente brasileiro e sentimentalmente universal”. Com esse perfil de sucesso e essas características exclusivas, “Pernambuco Você é Meu” e o multimídia Aldemar Paiva agora fazem parte, definitivamente, da história social do frevo e da história do rádio no Brasil. O fabuloso e inesquecível programa, por seu potencial inovador e renovador em originalidade como show de varidades, enriquecendo e fortalecendo o regionalismo da cultura brasileira do Nordeste, proporcionando vitalidade às tradições que permanecem na história e, sobretudo, promovendo o frevo, esse ritmo musical que é a cara de Pernambuco. 87 E Aldemar Paiva, na condição de extraordinário oneman show, com estética e estilo próprios na exteriorização emotiva e intelectiva de seus sentimentos e idéias, expressando múltiplos elementos de literatura, história, filosofia, sociologia, psicologia, humorismo e humanismo, sob o império do charme, da elegância, da simpatia, da graça e do superior espírito da tradicional pernambucanidade. Que é um sentimento mais psicossocial distintivo de fidalguia e nobreza, que agrega imenso valor ao admirável e inigualável sentimento pernambucano, de caráter mais geopolítico e mais ardentemente telúrico. Como a fama, as palavras no rádio voam e são facilmente esquecidas, especialmente num País de memória curta como o Brasil. Mesmo sendo de um carismático comunicador, grande prosador, admirável poeta, excelente humorista e extraordinário ser humano, como Aldemar Paiva. Mas seu espetacular desempenho como animador cultural e versátil âncora do “Pernambuco Você é Meu” é tão expressivo que, mesmo quase 30 anos depois do programa ter saído do ar, em 1977, seu sucesso permanece tão presente. Até hoje, em 2005, Aldemar Paiva é saudado e festejado nas ruas e nos salões do Recife pelo seu vitorioso programa radiofônico. Daí este ensaio, emblematicamente, não relata a trajetória dele no passado mas no presente, presentíssimo. Ele é uma das glórias do rádio de Pernambuco e do Brasil. Cidadão de Pernambuco e Cidadão do Recife, por condecoração, Cidadão do Frevo e Cidadão de Boa Viagem, por aclamação, Memória Viva da Cidade do Recife, por 88 certificação, carinhosamente venerado pelos recifenses como Barão de Setúbal, agora em tempo de saudades dos tempos maravilhosos que, infelizmente, não voltam mais, Aldemar Paiva pode ter a certeza, como o poeta latino Quintus Horatius Flaccus, ou apenas Horácio, nas belas Odes, de que seu memorável “Pernambuco Você é Meu” é um monumento mais duradouro que o bronze. Com a excelsitude de um grandioso Obelisco ao Frevo no coração da Veneza Americana. Com aura popular de eternidade. Que rima com saudade. Saudade de Frevo! Saudade de Pernambuco! E enquanto o menino de 80 anos dormia, de repente, o aparelho começou a transmitir um programa de rádio do Recife. E, no dia seguinte, para espanto de seu hum...e de sua hum...(os amigos mais ousados aventuraram trocar um risinho), o grande Aldemar acordou repetindo, palavra por palavra, versos de dois saudosos mestres do frevo (dois raros e insuperáveis que fazem sucesso até os dias de hoje), Nelson Ferreira e Capiba Lourenço, simplesmente geniais, fenomenais e imortais. 89 FREVO DE SAUDADE Letra de Aldemar Paiva Música de Nelson Ferreira Quem tem saudade Não está sozinho, Tem o carinho Da recordação... Por isso quando estou Mais isolado Estou bem acompanhado Com você no coração... Um sorriso, Uma frase, uma flor, Tudo é você na imaginação... Serpentina ou confete... Carnaval de amor... Tudo é você no coração... Você existe Como anjo de bondade E me acompanha Neste FREVO DE SAUDADE 90 Posfácio Ás primeiras horas do Dia de São Pedro, em 1951, nós chegamos ao Recife como sobreviventes de um temporal. Fomos salvos – meu Austin A-4), eu e meu amigo Walter souza – da chuva torrencial e dos atoleiros ali pelas imediações de Ipojuca. Deus deve ter mandado aquele caminhoneiro que transportava gado e rodava de volta pra casa, em nosso socorro. Generoso, o motorista concordou em acomodar o Walter e eu na boléia, enquanto o que sobrou do nosso carro, desmantelado pela tempestade, viajou na carroceria do caminhão. No dia seguinte, que amanheceu com “céu de Brigadeiro”, após as providências de socorro mecânico e alojamento, eu me dirigi á PRA-8, de acordo com a agenda que devia cumprir no Recife. Fui recebido pelo diretor do Rádio Clube de Pernambuco, Arnaldo Moreira Pinto, que confirmou a proposta que me fora feita através do publicitário José Renato, para substituir Chico Anysio no Departamento de Produção. Apresentou-me ao maestro Nelson Ferreira – Diretor Artístico – que me conduziu à Musicoteca e, de forma simpática e inesperada, me passou a primeira tarefa: “Caríssimo Paiva, tome conta desta sala e desta máquina. Faremos juntos um bonito progama para sua estréia. Escolha o repertório e os intérpretes. O texto é seu e da parte musical eu terei o prazer de cuidar pessoalmente”. Arrisquei uma pergunta: Para quando? Respondeu em meio a uma baforada do seu havana: “Para amanhã à noite em horário nobre”. Modéstia à parte, o programa batizado por mim de “Jardim das Flores Raras” agradou em cheio. Do princípio ao fim procurei me mostrar com relativo brilho em diversas formas de minha 91 capacidade artística. Eu confesso que me senti nas nuvens diante da partitura especial e da Grande Orquestra da PRA-8 regida pelo genial maestro, projetando um “script” intencionalmente produzido, dirigido e apresentado por mim. Fui me integrando rapidamente ao espírito do rádio mais evoluído em que me encontrava. Prestigiado por Nelson Ferreira, recebia um tratamento especial de confiança e amizade por parte dos colegas de trabalho e dos próprios diretores da emissora. O Rádio Clube possuiu uma equipe de redatores de alto nível das mais conceituadas emsisoras do Brasil, a começar por um dos seus diretores, o jornalista e escritor Mário Libânio, Waldemar de Oliveira, Telga de Araújop, Nilo Pereira, Abílio de Castro, Luiz Maranhão, Moura Júnior, Jota Austregésilo, Clóvis Neves, Fernando Silveira e tantos outros, amadores e profissionais que compunham o naipe dos rbilhantes e dedicados intelectuais a serviço da PRA-8. O interessante é que, para meu espanto, de repente, eu me dei de conta de que estava lá e também era um deles. Não havia nenhum sinal de competição, mas, de qualquer maneira, todos elaboravam seus “scripts” com muito amor para uma programação eclética de alto nível em torno de eventos históricos, políticos, sociais e folclóricos, envolvendo personalidades vivas ou desaparecidas, música popular, erudita e poesia. E se eu conseguisse chegar ao coração dos ouvintes do Rádio Clube já identificados em todo o Brasil, através de uma nova e revolucionária forma de comunicação? Tecnicamente, a PRA-8 já possuiu o slogan “A Emissora das Duas Ondas”. E essas ondas media e curta passaram a transmitir, diariamente, um programa especial de frevo, gênero musical contagiante e genuinamente pernambucano. Minha realização implicaria na apresentação de um programa de estúdio sob o comando de um animador cultural (que 92 seria eu mesmo), intercalando notícias do dia bem humoradas, serviço de utilidade pública e eventos sociais, com os frevos de rua, frevos-canção e frevos de bloco. Imbuído da importância cultural desse programa, preservando, documentando e promovendo a tradicional expressão da lma popular de Pernambuco, através do rádio, reuni todos esses ingredientes num esboço de projeto e fui falar diretamente com o senador João de Medeiros Calmon. Dr. Calmon –Superintendente das Emissoras Associadas do Nordeste – sempre me chamava carinhosamente de Professor. E foi assim que fui tratado por ele depois de inteirar de todos os detalhes do meu projeto: “Professor Paiva, gostei da idéia, aprovo o projeto e com você aceito o desafio. Falta apenas um detalhe que eu considero da maior importância para o sucesso que você espera. Qual o título do programa?”Em cima da pergunta do senador eu deflagrei meu tiro de misericórdia: “Pernambuco Você é Meu”. Aldemar Paiva Recife, junho de 2005 93 Cronologia 20/07/1925 - Nasce em Maceió-Alagoas (Rua do Macena) 16/09/1948 - Inaugura a Rádio Difusora de Alagoas-ZYO-4 19/06/1951 - Ingressa no Rádio Clube de Pernambuco-PRA-8 20/12/1952 - Começa seu programa “Pernambuco Você é Meu” 17/06/1954 - Casa-se com Angelita, na capital pernambucana 05/04/1968 - Transfere-se para o Rádio Jornal do Commércio 1970 - Homenageado com título de Cidadão do Recife 03/02/1971 - Recebe Medalha do Mérito Cidade do Recife 28/10/1977 - Sai do ar o programa “Pernambuco Você é Meu” 13/05/1978 - Recebe Medalha do Mérito Fundação Joaquim Nabuco 10-12-1978- Homenageado com título de Cidadão de Pernambuco 20/07/2005 - Comemora 80 anos, 54 como Cidadão de Pernambuco 94 Bibliografia 01. ABERT. A Radiodifusão no Brasil. Brasília, Abert, 1975. 02. ALCIDES, Jota. PRA-8 O Rádio no Brasil. Brasília, Fatorama, 1977. 03. ALCIDES, Jota. O Recife Berço Brasílico. Brasília, Thesaurus, 1998. 04. ASSERPE. Radiodifusão Pernambucana. 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