UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO DO SUL
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CURSO DE EXTENSÃO EM CAPELANIA HOSPITALAR
Professor :
Reis
AULA 06 – RELIGIÃO E SAÚDE MENTAL
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UFMSSegundo Michel Foucault, autor do clássico A História da
Loucura, a remoção dos doentes mentais e a prática de
mantê-los em locais isolados teve origem na cultura árabe
Os alienados eram recolhidos juntos com outras minorias
sociais e encaminhados para prédios, geralmente mantidos
pelo poder público ou religioso. Em muitos casos, esses prédios
eram leprosários, emparedados para que ali, o mal se curasse
por si só. Longe dos olhos, longe do coração.
Histórias da Loucura – Autor: Décio Amorim, João Carlos Ventura, Lucas Ferraz Mateus Rabelo - Belo Horizonte 2006
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Os primeiros hospícios teriam sido construídos no Oriente:
entre os séculos 7 e 12, no Marrocos, no Iraque e no Egito.
Atradição dos redutos destinados para o asilo dos loucos
teria se expandido pela Europa por causa da ocupação árabe
na Península Ibérica
Histórias da Loucura – Autor: Décio Amorim, João Carlos Ventura, Lucas Ferraz Mateus Rabelo - Belo Horizonte 2006
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PIONEIRO DA PSIQUIATRIA
Em 1795 Philippe Pinel foi nomeado médico chefe do Hospício
da Salpêtrière rompe as correntes dos loucos, desalojando- os
dos seus calabouços. Esse acontecimento é registrado na história
da Psiquiatria como sendo a instauração da primeira revolução
psiquiátrica, Pinel teria libertado os insensatos de séculos de
incompreensão e de maltratados, rompendo com a tradição
demonológica da loucura e configurando-a como doença mental”
“
Birman,-1978,p.1.. www.cobra.pages.nom.br/ecp-pinel- Pioneiro da Psiquiatria
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Observando e descrevendo aqueles sujeitos – tidos, por
pressupostos, como loucos por terem sido encontrados
acorrentados naqueles ambientes –, Pinel estabeleceu a primeira
classificação da loucura em termos científicos, que era simples e
fácil de manejar.
A loucura foi classificada assim:
1. melancolias;
2. manias sem delírio;
3. manias com delírio;
4. demências.
Paulo Vasconcelos Jacobina DIREITO PENAL DA LOUCURA Brasília – DF 2008 -
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Histórias da saúde mental no Brasil
No Brasil Colônia, o que hoje conhecemos como medicina, ou
como campo de atuação da medicina, era exercido por uma série
de sujeitos, com práticas que a ciência não mais legitima, mas
que o povo brasileiro ainda usa: curandeiros, pajés, pais-desanto, cirurgiões- barbeiros, benzeduras, atos religiosos, como
confissões e exorcismos, tudo isso ao lado dos raríssimos físicos
(licenciados que estudavam em Portugal ou na Espanha) e, mais
tarde, dos doutores médicos – pouquíssimos –, já nos séculos
XVII e XVIII.
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O século XIX viu o surgimento de algumas
escolas médicas no Brasil. Surgiram as primeiras
faculdades de medicina, ainda nos idos da
década de 1830.
A psiquiatria, entretanto, tardou ainda um
pouco.
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No início, o interesse dos médicos na questão da
loucura era acadêmico, apenas como exercício
pedagógico de qualificação. A escolha de temas
para dissertações de graduação não vinculavam à
titulação do estudante nem o habilitavam de forma
especial a exercer a psiquiatria.
Exemplos das teses defendidas nessa época:
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As teses de Silva Peixoto, de 1837 (Considerações gerais sobre
alienação mental);
de Geraldo F. de Leão, 1842 (As analogias entre o homem são e o
alienado e em particular sobre a monomania);
de A. J. I. C. Figueiredo, em 1847 (Breve estudo sobre algumas
generalidades a respeito da alienação mental);
de Cid Emiliano de Olinda Cardozo, em 1857 (Influência da
civilização sobre o desenvolvimento das afecções nervosas);
de Carneiro da Rocha, em 1858 (Do tratamento das moléstias
mentais); e de F. J. F. de Albuquerque em 1858 (Dissertação sobre a
monomania) são alguns exemplos desse trabalho pioneiro.
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O doutor João Carlos Teixeira Brandão assumiu, em 1881, a
cadeira recém-criada de Clínica Psiquiátrica e Moléstias
Nervosas como primeiro professor concursado.
Ele publicou violentos manifestos que denunciavam os
maus-tratos aos doentes mentais nos espaços asilares, em
especial no Hospício Dom Pedro II ou Hospício Nacional.
Há relatos de que:
Paulo Vasconcelos Jacobina DIREITO PENAL DA LOUCURA Brasília – DF 2008 -
Charam apud Ribeiro, 1999, p. 19.
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os loucos por leitos tinham tábuas, sem colchões nem
travesseiros, nem ao menos cobertura para lhes
ocultarem a nudez e os resguardarem dos rigores do
inverno.
Os loucos agitados eram metidos em caixões de
madeira, onde permaneciam nus e expostos às
intempéries.
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Charam apud Ribeiro, 1999, p. 19.
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Repetia-se o gesto mítico da quebra das correntes e cadeados,
embora com cem anos de atraso. Uma segunda leitura pode
indicar que, subjacente ao discurso humanitário e cientificista,
existe uma luta por poder contra a Provedoria da Santa Casa de
Misericórdia e as freiras católicas da Irmandade de São Vicente
de Paula. Essa confraria já tinha sido enfrentada em outros
países, inclusive pelo alienismo francês, na fase imediatamente
posterior à Revolução de 1789.
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A luta pela melhoria do tratamento aos loucos
era, da mesma forma, uma luta pela
psiquiatrização dos espaços asilares.
Note-se que o estado deplorável dos loucos,
denunciado então pela medicina psiquiátrica
como de responsabilidade dos não-médicos
que aplicavam métodos não-científicos na sua
lida com a alienação.
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No
Brasil, a psiquiatria teve início na primeira metade
do século 19, com a Sociedadede Medicina do Rio de
Janeiro clamando pela construção de um hospital
psiquiátrico.
Isso se deu por causa de protestos pela situação dos
loucos na Santa Casa de Misericórdia – eles ficavam
jogados nos porões da instituição. Em 1841, o
imperador Dom Pedro II assinou decreto de criação.
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O hospício foi inaugurado em 1852, ano em que também foi
aberto em São Paulo o Hospital Provisório. Apartir daí,
seguiuse a criação de hospitais psiquiátricos em outras
partes do Brasil: em 1874, na Bahia; em 1883, no Recife e,
cinco anos depois, outro em São Paulo, o superlotado
Juqueri, cujas imagens chocaram o mundo, nos anos de
1960 e 1970, pela desumanidade com que se tratava os
internos.
Fato que se repetiria quase simultaneamente na Colônia
Juliano Moreira, no Rio de Janeiro.
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• O
CASO FEBRÔNIO
O mais famoso caso de loucura na história jurídica do Brasil, se
refere ao crime cometido por Febrônio Índio do Brasil. "O caso
Febrônio" foi retratado em diversos artigos: "Febrônio Índio do
Brasil: onde cruzam a psiquiatria, a profecia religiosa, a
homossexualidade e a lei”.
Ambos de autoria de Peter FRY
FRY, Peter, Febrônio Índio do Brasil: onde cruzam a psiquiatria, a profecia, a
homossexualidade e a lei, em VOGT, Carlos el al., in Caminhos Cruzados:
linguagem, antropologia e ciências naturais, São Paulo:Brasiliense, 1982 e Direito
positivo versus direito clássico: a psicologização do crime no Brasil no pensamento
de Heitor Carrilho, in Cultura da Psicanálise, Sérvulo a Figueira (org.), Rio de
Janeiro: Brasiliense, 1985.
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Febrônio tatuava suas vítimas com as iniciais D.C.V.V.I, letras
idênticas as tatuadas no seu tórax. As letras, segundo o
tatuador, significavam "Deus Vivo" ou "Imana Viva". Com uma
religiosidade aflorada, Febrônio chegou a mandar publicar o
seu próprio evangelho, intitulado "As revelações do príncipe do
fogo".
Febrônio Índio do Brasil
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• Febrônio Índio do Brasil confessou ter estrangulado, Almiro
José Ribeiro, em 17 de agosto, e João Ferreira, no dia 29 do
mesmo mês. Os corpos, encontrados na Barra da Tijuca,
tornaram Febrônio um dos criminosos mais conhecidos do
Brasil. Mas o mineiro Febrônio Índio do Brasil, já era velho
conhecido da polícia, tendo sua primeira prisão ocorrido em
1916, aos 21 anos, depois da qual acumularam-se outras 29,
por motivos diversos como por exemplo exercício ilegal da
medicina e odontologia - consta que duas crianças morreram
no Espírito Santo após receberem medicação prescrita por ele.
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• Febrônio também escreveu um livro, "Revelações do Príncipe
do Fogo", que ele próprio escreveu, em delírio religioso e
mandou imprimir , com tema apocalíptico.
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• Em junho de 1984 foi lançado o curta-metratgem "O Príncipe
do Fogo", de Sílvio DaRin, tendo Febrônio como tema. Dois
meses depois, aos 89 anos e completamente senil, o preso
mais antigo do Brasil, interno número 000001 do Manicômio
Judiciário, morreu de edema pulmonar agudo. Havia passado
57 anos no hospício.
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Fonte de consulta:
O caso mereceu destaque na obra que traça o perfil biográfico do jurista
Evandro Lins e Silva. Vide SILVA, Evandro Lins e, O salão dos passos
perdidos: Depoimento ao CPDOC, Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1997, p. 205
Os casos de Piérre Rivière e Febrônio Índio do Brasil como exemplos de
uma violência institucionalizada POR: Alexandre Wunderlich
advogado criminal, especialista e mestre em Ciências Criminais (PUC/RS),
professor de Direito Penal da pós-graduação da PUC/RS e UFRGS
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Há mais de um século, vários pesquisadores
brasileiros têm estudado as relações entre
religiosidade e transtornos mentais, mas estes
trabalhos são pouco conhecidos atualmente.
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Os trabalhos históricos foram iniciados no
final do século XIX e muitos deles dedicamse ao tema do messianismo e de formas
coletivas de "loucura religiosa". Os trabalhos
contemporâneos tratam de temas como
religião, uso de álcool e drogas, assim como
de uma variedade de condições clínicas,
como esquizofrenia e suicídio. Falta a esta
linha de pesquisa uma melhor articulação
entre investigação empírica e análise teórica
dos dados, assim como um diálogo mais
próximo com ciências sociais, como a
antropologia e a sociologia da religião.
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Estudos de relevância histórica
No Brasil, desde a virada do século
XIX para o século XX, vários autores
têm estudado a religiosidade nas
suas relações com o sofrimento
individual e os transtornos mentais.
Não há espaço seguramente para
uma revisão completa da produção
sobre o tema realizada por autores
brasileiros.
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Apenas serão mencionados alguns trabalhos e
autores a fim de assinalar algumas das linhas de
investigação mais significativas. Os trabalhos
produzidos por psiquiatras brasileiros sobre estados
de transe e possessão não foram incluídos neste
trabalho, pois são tema de outro artigo ("O olhar dos
psiquiatras brasileiros sobre os fenômenos de transe
e possessão") nesta mesma edição da Revista de
Psiquiatria Clínica (Almeida et al., 2007).
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Foi possivelmente Raimundo Nina
Rodrigues
O primeiro a estudar a religiosidade de
negros e pardos, assim como as
epidemias de "loucura coletiva" (ele
falava em "epidemia vesânica de caráter
religioso") em nosso país.
Raimundo Nina Rodrigues (1862- 1906).
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O valor de seu trabalho foi, sobretudo, etnográfico,
pois descreveu minuciosamente os cultos, práticas e
entidades sagradas de africanos e seus
descendentes. Da mesma forma, descreveu tais
"epidemias" de "loucura coletiva" no Maranhão e na
Bahia, analisando em profundidade o fenômeno do
messianismo (em particular, de Antonio Conselheiro,
em Canudos).
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A Guerra de Canudos ou Campanha de Canudos,
Conhecida como Guerra dos Canudos em certas regiões
do sertão baiano [1] foi o confronto entre o Exército e
integrantes de um movimento popular de fundo sócioreligioso liderado por Antônio Conselheiro, que durou de
1896 a 1897, na então comunidade de Canudos, no interior
do estado da Bahia, no Brasil.
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GUERRA DE CANUDOS
Os grandes fazendeiros da região, unindo-se à
Igreja, iniciaram um forte grupo de pressão junto à
República recém-instaurada, pedindo que fossem
tomadas providências contra Antônio Conselheiro e
seus seguidores.
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O estopim e a 1a Expedição
Outubro de 1896 – Ocorre o episódio que desencadeia a
Guerra de Canudos, quando as autoridades de Juazeiro
apelam para o governo estadual baiano em busca de uma
solução. Em 24 de novembro deste ano, é enviada a primeira
expedição militar contra Canudos - um destacamento policial
de cem praças, sob comando do Tenente Manuel da Silva
Pires Ferreira.
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A 2a Expedição
Janeiro de 1897 - Enquanto aguardavam uma nova
investida do governo, os jagunços fortificavam os acessos
ao arraial. Comandada pelo major Febrônio de Brito depois
de atravessar a serra de Cambaio, uma segunda
expedição militar contra Canudos foi atacada no dia 18 e
repelida com pesadas baixas pelos jagunços, que se
abasteciam com as armas abandonadas ou tomadas da
tropa.
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Os sertanejos mostravam grande coragem e habilidade militar,
enquanto Antônio Conselheiro ocupava-se da esfera civil e
religiosa.
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A 3a Expedição
Março de 1897 - Na capital do país, o governo federal diante
das perdas e a pressão politica e da Igreja, assumi o
comando ao exército brasileiro. A notícia da chegada de
tropas militares à região atraiu para lá grande número de
pessoas, que partiam de várias áreas do Nordeste e iam em
defesa do "homem Santo". Em 2 de março, depois de ter
sofrido pesadas baixas, causadas pela guerra de guerrilhas
na travessia das serras, a força, que inicialmente se
compunha de 1.300 homens, assaltou o arraial. Abalada
diante da perda do seu Comandante, a expedição foi
obrigada a retroceder.
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A 4a Expedição
Abril de 1897 - No Rio de Janeiro, a repercussão da derrota foi
enorme, preparou a quarta e última expedição, com mais de
quatro mil soldados equipados com as mais modernas armas
da época. Fortemente armados, os soldados cercaram por três
meses o arraial de Canudos, que sofreu forte bombardeio e
depois foi invadido.
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Os primeiros combates foram em Cocorobó, em 25
de junho, com a coluna Savaget.
No dia 27, depois de sofrerem perdas
consideráveis, os soldados chegaram a Canudos.
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Setembro de 1897 - Após várias batalhas, as tropas
conseguiram fechar o cerco sobre o arraial. Antônio
Conselheiro morreu em 22 de setembro, supostamente em
decorrência de uma disenteria. Após receber promessas de
que a República lhes garantiria a vida, uma parte da população
sobrevivente se rendeu com bandeira branca.
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Enquanto um último reduto resistia na praça central do
povoado, apesar das promessas, todos os homens presos, e
também grupos de mulheres e crianças acabaram sendo
degolados - uma execução sumária que se denominava de
"gravata vermelha".[ Com isto, a Guerra de Canudos acabou se
constituindo num dos maiores crimes já praticados em território
brasileiro
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O arraial resistiu até 5 de outubro de 1897, O cadáver de
Antônio Conselheiro foi exumado e sua cabeça decepada a
faca.
O corpo de Antônio Conselheiro (Antonio Vicente Mendes Maciel)
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No dia 6 quando o arraial foi arrasado e incendiado, o Exército
registrou ter contado vinte mil sertanejos mortos na guerra e
estima-se que cinco mil militares tenham morrido.
A guerra terminou com a destruição total de Canudos, a degola
de muitos prisioneiros de guerra, e o incêndio de todas as
5.200 casas do arraial.
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Referencia sobre a guerra de canudos:
AS IMAGENS DE CANUDOS Por Flávio de Barros (1897) Disponível em:
http://www.girafamania.com.br/montagem/fotografia-brasil-guerra-canudos.htm
CALASANS, José. No Tempo de Antônio Conselheiro. Salvador, Livraria Progresso Editora, 1959.
GALVÃO, Walnice Nogueira. No Calor da Hora - a guerra de Canudos nos jornais. São Paulo, Editora Ática, 1977
ARINOS, Afonso. Os Jagunços.
PIRES FERREIRA, Manuel da Silva. Relatório do Tenente Pires Ferreira, comandante da 1a Expedição contra Canudos.
Quartel da Palma, 10 de dezembro de 1896.
J. da Costa Palmeira. A Campanha do Conselheiro - 1ª edição: Rio de Janeiro, Calvino, 1934, 212 p., il.
HORCADES, Alvim Martins. Descrição de uma viagem a Canudos. Salvador: EDUFBA. 2a. edição 1996
Arinos de Belém. História de Antônio Conselheiro - Campanha de Canudos. Belém, Casa Editora de Francisco Lopes, 1940.
CUNHA, Euclides. Os Sertões - Campanha de Canudos. 1ª edição: Rio de Janeiro, Laemmert, 1902.
BOMBINHO, Manuel das Dores. Canudos, história em versos. São Paulo: Hedra, Imprensa Oficial do Estado e Editora da
Universidade Federal de São Carlos, 2a. edição, 2002
BENÍCIO, Manoel. O Rei dos Jagunços. Rio de Janeiro: Editora Fundação Getúlio Vargas. 2a. edição, 1997
MACEDO SOARES, Henrique Duque-Estrada de. A Guerra de Canudos.Rio de Janeiro: Typ. Altiva, 1902
CUNNINGHAME GRAHAM, R. B. A Brazilian Mystic. Dial Press, 1919.
MARCHAL, Lucien. Le Mage du Sertão. Paris, 1952
LLOSA, Mario Vargas. La guerra del fin del mundo. Barcelona: Seix Barral, 1981
Wikipédia, a enciclopédia livre
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Seus estudos das epidemias psíquicas, o beribéri de
tremeliques ou caruara, em São Luís (MA) e Salvador (BA)
(Nina Rodrigues, 2003), assim como a loucura epidêmica de
Canudos (Nina Rodrigues, 2000), expressam a sua
percepção aguda de como crenças poderosas podem atuar
sobre um terreno fértil de populações vulneráveis ao contágio
imitativo.
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• UFMS
Para ele, a religiosidade das classes populares no Brasil
revelava um caráter híbrido, no qual uma casca de catolicismo
monoteísta europeu encobria crenças mais bem fetichistas,
politeístas e animistas. Tal perfil, em contexto sociopolítico de
mudanças rápidas, aumentaria as tensões sociais e facilitaria a
propagação das epidemias de loucura coletiva.
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• Um indivíduo acometido por doença mental grave, como era o
caso de Antonio Conselheiro (acometido por delírio crônico de
Magnan, segundo Nina Rodrigues), atuando em uma massa de
pobres, mestiços, sugestionáveis e desequilibrados, em
momento histórico conturbado, poderia desencadear
previsivelmente fenômenos histéricos, neurastênicos e místicos
de grandes proporções.
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• Apesar das indiscutíveis ressalvas ao viés racista e psiquiátrico
de sua obra, deve-se reconhecer que Nina Rodrigues
descreveu laboriosamente a riqueza cultural das manifestações
dos cultos fetichistas, assim como a importância dessas
manifestações para a expressão de conflitos e necessidades.
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• O primeiro psiquiatra paulista, Franco da Rocha (1919),
apresentou o tema "Do delírio em geral", no Curso de
Clínica Psiquiátrica na Faculdade de Medicina de São
Paulo. Ele terminou essa aula salientando a grande
importância do delírio das multidões, que seria produzido
por indução e comunicação afetiva nas massas populares.
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• Certamente ainda impressionado pela tragédia de
Canudos, Franco da Rocha relatou um episódio de
loucura coletiva religiosa na pequena São Luiz do
Paraitinga (SP): "Um rudimento de loucura coletiva
deu-se, há bem pouco tempo, em S. Luiz do
Paraitinga, onde a epidemia religiosa foi jugulada no
nascedouro pelo bom senso do governo.
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Foram elementos iniciais uma histérica com crises
catalépticas e uma boa dose de embusteirice ao redor
desse fenômeno; o resto coube ao misticismo , (à sede
de milagres) existente sempre em certas camadas da
sociedade. Não tomasse o governo tão importantes
medidas e a epidemia seguiria seu curso, como tantas
outras já registradas entre nós, no Rio Grande do Sul, na
Bahia, em Taubaté (SP) etc.
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• Em
uma
perspectiva
inicialmente
mais
psicopatológica (e mais etnológica, anos depois),
Osório Cesar interessou-se profundamente tanto
pela arte produzida pelos alienados dos hospícios
como pelas manifestações religiosas e culturais
dessa população.
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• Em 1924, no primeiro artigo sobre arte produzida por
alienados no Brasil, ele relata detalhadamente o
caso de um doente negro, de 32 anos, soldado da
polícia, católico, que havia sido internado, pois
movido por intensa atividade delirante, assassinou
sua mulher a machadadas. Esse homem que se
comunicava com os "poderes espirituais do espaço"
demonstrava um prazer especial e uma habilidade
incrível em produzir esculturas originais e muito
expressivas.
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• Anos mais tarde, César (1939) publicou um livro
inteiramente dedicado a aspectos religiosos
relacionados à doença mental, intitulado Misticismo e
Loucura. Nesse trabalho, o psiquiatra paulista faz,
nos primeiros capítulos, uma análise etnopsicológica
do caráter religioso dos brasileiros, sobretudo de
negros e mestiços.
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No penúltimo, "Fanatismo e Psicopatia", ele relatou uma série
de "loucuras religiosas epidêmicas" ocorridas no Brasil.
Analisou o episódio de Pedra-Bonita, em Pernambuco, em
que morreram algumas dezenas, movidos pelo delirante João
Santos, que acreditava haver descoberto nas redondezas do
município de Flores uma área sagrada, prenhe de riquezas e
maravilhas celestes, onde ainda reinaria o legendário rei
português Dom Sebastião. No episódio, várias pessoas se
suicidaram e ocorreram muitos sacrifícios humanos.
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Na busca e ânsia por aquele éden agreste. Relatou também a
então considerada loucura epidêmica de Canudos, liderada
pelo místico (considerado também delirante) Padre Antônio
Conselheiro. Também como expressão de uma devoção
extrema e com contornos delirantes, citou o grande líder
religioso nordestino Padre Cícero do Crato (e de sua Juazeiro)
como exemplo de santo popular, autor de muitos milagres (e,
assim, substrato de delírios religiosos coletivos).
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• O capítulo mais original de César é o último sobre "Os
místicos dos hospícios". Aqui ele descreveu como as
diferentes patologias mentais produzem delírios e
alucinações de conformação religiosa. Afirmou que é a
parafrenia
(uma
psicose
esquizofreniforme
com
preservação da organização mental) a que mais produz
delírios religiosos.
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Relatou casos de pacientes com demência precoce
(atual esquizofrenia) com idéias de natureza místicoerótica e comentou como o delírio místico nos
melancólicos, geralmente envolto em idéias de autoacusação, é das formas mais graves de delírio
religioso.
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Um deles, jovem presbiteriano, teve alucinações e
delírios acreditando ser o apóstolo Pedro. Após um
período em que se tornou triste e sombrio, decidiu
cortar o pênis com uma faca, pois se masturbava
com freqüência e decidiu seguir as indicações de
Jesus.
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Citou para justificar seu ato
automutilatório:
"Se tua mão direita te escandaliza,
corta-a e lança-a fora..."
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• O outro jovem delirante também era um assíduo
masturbador, tendo tido uma estrita educação católica.
Considerava a masturbação e a fornicação pecados
máximos; movido por suas análises delirantes religiosa,
para se liberar de seus desejos eróticos, decidiu também
pela amputação do próprio pênis.
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Um trabalho de análise histórica, Demonologia (1957), César
discutiu a importância da possessão demoníaca na cultura
européia e como tais possessões passaram a fazer parte da
expressão da doença mental no Ocidente. Utilizando autores
como Charcot, Richer, Janet e Zilboorg, traçou pontos de
contato entre a chamada demonopatia e a grande histeria
descrita pelos autores franceses.
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No início dos anos de 1940, Lucena (1940) estudou um
movimento messiânico no município de Panelas, em
Pernambuco. Descreveu como um líder com vagas idéias
paranóides e de influência atuou sobre um grupo de pessoas
crédulas. Lucena examinou essas pessoas e concluiu não se
tratar de "epidemia de doença mental", mas de fenômeno
cultural.
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pois os adeptos não passavam dos vários matizes da
credulidade; eles não eram portadores de
transtornos mentais, apenas expressavam a
exacerbação de uma mentalidade coletiva.
Esse trabalho do professor pernambucano foi
importante no sentido de iniciar um processo de
"despatologização" do fenômeno do messianismo no
meio psiquiátrico brasileiro.
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Em 1942, Whitaker analisou detalhadamente o fenômeno da
mediunidade lançando mão tanto de visitas a ritos religiosos
espíritas como do estudo de uma jovem paciente com
marcantes qualidades mediúnicas. O autor notou que quando a
jovem freqüentava as sessões espíritas, suas crises de choro,
nervosismo e descontrole cessavam; sem as sessões, sentiase nervosa e percebia que necessitava "receber os espíritos".
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Ele analisou os médiuns como um grupo heterogêneo; alguns
neuróticos
cujas
manifestações
inconscientes
são
interpretadas como "espíritos" e outros perfeitamente normais,
crentes sinceros e de boa-fé, movidos por forte influência
sugestiva
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Na mesma linha dos estudos de Lucena sobre
psiquiatria e messianismo, poucos anos depois, em
Campo Grande (MS), Pires (1946) observou outro
movimento de loucura religiosa, liderado por uma
dupla; um pai delirante e seu filho, tido como "santo
milagroso". Ele disse que o pai era fervoroso crente, às
vezes alucinado e portador de idéias místicas
supervalentes que, freqüentemente, atingiam a
condição delirante: era o indutor do episódio que se ia
passar.
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Pires interessou-se em particular pelo fenômeno das
chamadas psicoses induzidas e pelo "contágio psíquico" nas
populações. O jovem líder do movimento messiânico que
estudou era um adolescente anemiado profundamente, de
inteligência aparentemente subnormal, que atuava com o pai;
recusou-se à entrevista, pois era um santo que não queria ser
perturbado. Tinha ânsia por curar e dizia que enlouqueceria se
não o fizesse..
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Segundo Pires, em virtude das condições socioculturais da
população, que no interior do Brasil em si não é delirante, mas
tem marcante necessidade de crença, acabou-se por atribuir a
esse garoto a qualidade de santo curador de todo tipo de
doença.
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Acorreu à pequena cidade, que então contava com 30 mil
habitantes, uma multidão de doentes, paralíticos, asmáticos,
ulcerosos, que se diziam curados pelo menino santo. Ao que
parece, a mortalidade na cidade aumentou nesse período. Ao
final, o juiz local proibiu as curas e determinou com a polícia o
fim do episódio.
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Poucos anos depois, em Belisário, Minas
Gerais, Alvim (1951) descreveu um movimento
messiânico associado a uma seita liderada por
uma
mulher,
possivelmente
com
"personalidade psicopática" e um fiel seu com
retardo mental e reações paranóides e
homicidas. O autor não constatou, por outro
lado, nenhuma doença mental nos adeptos.
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• No final dos anos de 1950, um primeiro estudo multidisciplinar
realizado pela socióloga Maria Izaura Pereira de Queiroz
(1957), em Caculé (BA), analisou os participantes de um
movimento messiânico, não constatando doença mental.
Entretanto, do ponto de vista da psicologia social, verificou
indícios de insegurança, passividade, imaturidade e deficiência
de iniciativa nos adeptos de tal movimento.
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Essa autora tornou-se uma das principais referências
do fenômeno do messianismo (Pereira, 1965) e
consolidou nos anos de 1960 e 1970 uma nova
visão, que enfatizava tanto aspectos sociais como
políticos,
em
contraposição
a
perspectivas
patológicas dominantes no meio intelectual anterior a
ela.
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• Bastide (1967) deu particular atenção à influência das seitas
religiosas sobre os transtornos mentais. Para ele, há seitas que
desempenham papel positivo de proteção em relação aos
transtornos mentais, outras, entretanto, intensificam (...) os
conflitos psíquicos entre o desejo de perfeição absoluta e os
instintos, mais particularmente o instinto sexual.
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Aqui, possivelmente Bastide se referiu a pequenas igrejas
evangélicas, pentecostais, com seu pietismo e moralismo
estrito. Ao analisar outro grupo de pequenas seitas, que ele
denominou "seitas urbanas e esotéricas" (possivelmente
grupos de espiritismo híbrido, com componentes afrobrasileiros e kardecistas), ele disse que tais seitas chamam
para seu seio: "(...) todos os ansiosos e deprimidos, os grandes
vencidos da sociedade industrial; elas (tais seitas) constituem
verdadeiros caldos de cultura dos transtornos psiquiátricos, os
quais elas exaltam, enquanto as Igrejas os controlavam e
reprimiam" (1967).
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Moreira-Almeida et al. (2005) reviram recentemente a história
da chamada "loucura espírita" na primeira metade do século
XX, no Brasil. Nesse contexto, médicos eminentes, como
Henrique Roxo, Franco da Rocha e Afrânio Peixoto,
consideravam que as práticas espíritas desencadeavam com
freqüência quadros de loucura e histeria. Até o início dos anos
de 1950, essa tese foi sustentada (em particular por Pacheco e
Silva, líder universitário da psiquiatria paulista).
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Conclusão
Pode-se, finalmente, constatar uma rica multiplicidade de temas
abordados nesses estudos sobre religiosidade e saúde mental. A
presença do religioso no modo de construir e vivenciar o
sofrimento mental tem sido observada por muitos dos
pesquisadores. Assim é o caso tanto em estudos com contornos
mais qualitativos e etnográficos, como com os mais bem
quantitativos e epidemiológicos. Isso também é constatável tanto
para os transtornos mentais mais leves, como ansiedade e
depressão, como para os quadros graves, como nas psicoses. A
busca por algum alívio do sofrimento, por alguma significação ao
desespero que se instaura na vida de quem adoece, parece ser
algo marcadamente recorrente na experiência, sobretudo para as
classes populares.
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UFMS Referência:
Drº. Paulo Dalgalarrondo - Estudos sobre religião e saúde mental no Brasil:
histórico e perspectivas atuais.
O caso mereceu destaque na obra que traça o perfil biográfico do jurista Evandro
Lins e Silva. Vide SILVA, Evandro Lins e, O salão dos passos perdidos: Depoimento
ao CPDOC, Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1997, p. 205
Paulo Vasconcelos Jacobina DIREITO PENAL DA LOUCURA Brasília – DF
2008
Histórias da Loucura – Autor: Décio Amorim, João Carlos Ventura, Lucas Ferraz
Mateus Rabelo – Belo Horizonte 2006
projetomaluco@yahoogrupo
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Pelo Professor : Reis
AULA 06 – RELIGIÃO E SAÚDE MENTAL
Contato: [email protected]
Referência:
Drº. Paulo Dalgalarrondo - Estudos sobre religião e saúde mental no Brasil:
histórico e perspectivas atuais.
O caso mereceu destaque na obra que traça o perfil biográfico do jurista Evandro
Lins e Silva. Vide SILVA, Evandro Lins e, O salão dos passos perdidos: Depoimento
ao CPDOC, Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1997, p. 205
Paulo Vasconcelos Jacobina DIREITO PENAL DA LOUCURA Brasília – DF
2008
Histórias da Loucura – Autor: Décio Amorim, João Carlos Ventura, Lucas Ferraz
Mateus Rabelo – Belo Horizonte 2006
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