Estudo do Comportamento Individual na
Organização II
A Construção da Identidade Pessoal e Profissional/
Inteligência Emocional
A construção da identidade pessoal e profissional
Provavelmente, em alguns momentos da nossa vida, já experimentamos uma
“crise de identidade”. Quando isso acontece, parece que não sabemos direito quem
somos de fato; o que queremos da vida e o que devemos fazer para retomar o curso da
nossa existência, talvez de um modo mais gratificante e seguro. Por que será que isso
acontece? Será que todas as pessoas passarão por isso? Como devemos agir para que
a angústia que essa situação promove possa dissipar-se o mais rápido possível?
Essas indagações são muito mais comuns do que se imagina. Em todos os setores
da vida social podemos identificar pessoas que vivem esse momento, de modo mais
ou menos duradouro: encarando a crise como um pesadelo ou como um estímulo para
o seu crescimento e amadurecimento pessoal.
Diversas abordagens teóricas da Psicologia procuram analisar como se constitui
nossa identidade: algumas enfatizam os processos biológicos e os determinismos da
personalidade, como fatores que condicionam a maneira como o indivíduo irá comportar-se socialmente; já as correntes psicossociais destacam que a construção da
identidade depende da interseção que se estabelece, de modo contínuo, entre as peculiaridades do indivíduo e as demandas do meio em que ele vive.
Segundo Ciampa (1993), a construção da identidade de uma pessoa ou grupo,
depende de um processo histórico, multideterminado e passível de transformações.
Para que possamos analisar melhor esses aspectos que contribuem para a construção
de nossa identidade, inicialmente iremos comentar a maneira como esse autor define
o conceito de identidade pressuposta.
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Até mesmo antes de nascer, já possuíamos uma identidade; nossos pais poderiam
ter planejado nossa vinda (ou não); talvez desejassem ter tido um menino ou uma
menina (sonho que nem sempre irão realizar, por mais que tentem). Havia também
uma grande expectativa em relação a como seria nossa aparência, nosso caráter, nosso
temperamento, nossa capacidade de aprender. Imaginavam se teríamos chances de
obter sucesso profissional, se seríamos felizes em nossos relacionamentos afetivos,
enfim, os pais elaboraram uma série infindável de planos e projetos de vida (que poderiam coincidir ou não com o que iríamos desejar de fato para nossas vidas).
Podemos concluir, portanto, que nossa família (ou quem nos acolher como tal)
irá idealizar alguns aspectos muito importantes de nossa vida e esses elementos irão
condicionar a imagem que construiremos a respeito de nós mesmos e do mundo em
que vivemos.
Esse grupo irá atribuir-nos um nome; este poderá ser original (às vezes, causando-nos até constrangimento em função disso!), ou poderá ser um símbolo da continuidade da família (aqueles identificados como júnior, neto, filho etc.); há ainda aqueles
pais que compõem o nome do filho a partir da junção do prefixo do nome de cada um
deles (o que poderia representar uma concretização da cumplicidade de ambos em
assumir plenamente a responsabilidade social que lhes cabe diante do filho).
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Além disso, nosso nome também revelará alguns dados importantes sobre o lugar
que ocuparemos na sociedade. Por exemplo: como será que se desenvolve a identidade de uma pessoa que foi abandonada pelos pais e nunca foi adotada? Como será viver
sem saber ao certo, qual é nossa data de nascimento? Como nascemos? Como foram
nossos primeiros meses de vida?
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Nossas relações de parentesco também são informações importantes para a
construção de nossa identidade. Como a sociedade vê nossos pais? Será que essas
pessoas poderão contribuir de fato para que nos tornemos “pessoas de bem?” Será
que elas irão atender adequadamente todas as nossas necessidades? Contaremos com
boas condições de saúde? Caso isso não ocorra (devido a causas pré-natais ou adquiridas), que tipo de sequela poderá ocorrer em relação ao desenvolvimento de nossa
personalidade?
Qual será nossa opção sexual? Poderemos assegurar que essa será imutável, até o
fim de nossa vida? Percebemos, portanto, que desenvolvemos uma identidade pressuposta, mediante a qual nos atribuem uma série de características (físicas, psicológicas
e sociais), desejáveis ou não, que assumiremos como elementos que nos representam
ou não.
Com o passar do tempo, temos a impressão que todos esses aspectos que nos
foram atribuídos são naturais, dados; são predeterminados e imutáveis. Se a pessoa
aceitar passivamente todas essas predicações e limitar-se apenas a reproduzi-las no
seu comportamento, irá acomodar-se à mesmice. Tal condição tornará sua vida previsível, sem a chance de escolha, limitando significativamente suas possibilidades de
desenvolvimento e autorrealização.
Para que possamos aprofundar nossa reflexão a respeito do processo de construção de nossa identidade, cabe uma observação atenta a respeito dos papéis sociais
e da importância dos mesmos no nosso desenvolvimento psicossocial. Pelo convívio
familiar, estruturam-se os papéis sociais que irão orientar nossa identificação e autorreconhecimento; na medida em que adotamos certas condutas sociais, torna-se possível atender algumas expectativas de comportamento, que são definidas a priori pela
sociedade em que estamos inseridos. Existem duas modalidades de papéis sociais: o
prescrito e o desempenhado (BOCK et al.,1988).
Os papéis sociais prescritos definem, antecipadamente, como a pessoa deve agir,
ser e pensar; nesse aspecto é importante assinalar que dificilmente podemos atender a
todas as expectativas sociais que definem como devemos comportar-nos (até porque
as relações humanas sofrem continuamente os efeitos da transição histórica, socioeconômica e cultural, modificando as concepções das pessoas a respeito de si mesmas
e do meio em que vivem).
Já o papel desempenhado, refere-se à maneira como agimos realmente, que
pode estar de acordo ou não com o papel prescrito. Caberá a cada um de nós avaliar
em que medida desejamos de fato adotar passivamente essas expectativas sociais predefinidas a nosso respeito, ou até que ponto podemos conduzir-nos conforme aquilo
que acreditamos e valorizamos realmente.
Portanto, ao se considerar a influência que o contexto familiar exerce na estruturação da identidade pressuposta do indivíduo, é importante que os pais reconheçam a transitoriedade dos papéis sociais prescritos (uma vez que os valores sociais se
modificam ao longo do tempo) para o pleno desenvolvimento emocional da criança:
incentivar sua dependência ou abandoná-la à própria sorte poderá acarretar sérios
prejuízos para seu equilíbrio psicológico. A imaturidade emocional do indivíduo e seu
sentimento de insegurança e desconfiança em relação aos demais, poderá incentivá-lo
ao isolamento ou à adoção de condutas antissociais.
Percebemos, desse modo, que há um movimento constante de conciliação entre
as expectativas que são projetadas em relação ao indivíduo e suas peculiaridades de
personalidade e projetos de vida. Em alguns momentos, poderá ocorrer uma sincronicidade entre esses aspectos; em outras ocasiões, poderão surgir conflitos, pois o que se
espera da pessoa não é exatamente o que ela deseja de fato.
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Os papéis sociais permitem também que compreendamos melhor nossa situação
social, pois “são referências para a nossa percepção do outro, ao mesmo tempo em que
são referências para nosso próprio comportamento (BOCK et al.,1988, p. 114)”.
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Diante desse impasse, a pessoa pode abdicar de seu direito de escolha e atender
apenas o que se espera dela. Seria como se ela dissesse: “Muito bem: se é isso que
as outras pessoas esperam de mim, assim será!” Quando a pessoa adota apenas essa
postura, acaba eximindo-se de sua responsabilidade diante da própria vida; seu destino já estaria totalmente traçado; restar-lhe-ia, apenas segui-lo (como se isso fosse
totalmente possível; como se ela pudesse garantir que será sempre a mesma pessoa,
com as mesmas necessidades; como se o meio em que ela vive se mantivesse sempre
o mesmo!).
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Essa conduta conformista acaba por resultar numa reposição constante de nossa
identidade pressuposta, ou seja, numa confirmação passiva do que as pessoas esperam a nosso respeito; transformamo-nos, desse modo, numa identidade-mito, que
se cristaliza; que nos obriga a agir apenas de acordo com o que os outros definem a
nosso respeito. Perde-se nossa autonomia e limitam-se nossas possibilidades de obter
prazer na vida. Pode ser até que a própria pessoa deseje adotar como suas algumas
dessas características que lhe são atribuídas; porém, é imprescindível que ela tenha a
oportunidade de refletir sobre isso e escolher se é assim que ela deseja viver de fato.
Ao agir desse modo, estará empregando sua consciência reflexiva e poderá realizar o
que deseja, sem se anular totalmente ou mostrar-se uma pessoa desajustada para o
convívio social.
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Essa não é uma tarefa fácil; também não quer dizer que a pessoa deva viver apenas
do jeito que ela bem entender, sem prestar contas a ninguém. A necessidade de estar
constantemente participando de algum grupo, certamente fará com que o indivíduo
procure adequar-se a algumas das expectativas que os demais possuem a seu respeito;
porém é imprescindível que a pessoa reflita sobre o que deseja e faça as escolhas que
atendam às suas necessidades. Essa será a chance de desenvolver sua mesmeidade; ou
seja, a conjugação de suas aspirações, desejos, peculiaridades, com as determinações
do meio em que vive.
Ao concretizar-se essa maneira de encarar a própria vida, abrem-se novas possibilidades para que as pessoas conquistem o que desejam; se aprimorem enquanto seres
humanos e usufruam de tudo aquilo que julguem interessante para seu crescimento
pessoal.
Haverá sempre a possibilidade de uma transformação da diversidade, da metamorfose. Viver em grupo poderá representar uma oportunidade única de nos descobrirmos a nós mesmos e nos enriquecermos, graças ao convívio com as particularidades e diversidades de nossos semelhantes. Contudo, isso não ocorrerá do dia para a
noite e da mesma maneira para todas as pessoas: essa reflexão irá solicitar delas, uma
revisão dos conceitos que possuem a respeito de si mesmas e dos demais; uma reformulação dos próprios objetivos de vida e uma avaliação sobre o compromisso social
que lhes cabe, enquanto integrantes dos diferentes grupos dos quais fazem parte.
Para concluir, iremos destacar de que maneira Ciampa analisa a questão da identidade do homem moderno (1993, p. 73): “[...] a cisão entre o indivíduo e a sociedade
faz com que cada indivíduo não reconheça o outro como ser humano e, consequentemente, não se reconheça a si próprio como humano[...]”. Desse modo, a cada um de nós
caberá assumir um autêntico compromisso diante de nossa própria vida, sem perder
de vista nossa responsabilidade e nosso comprometimento ético diante de nossos
semelhantes.
A constituição da identidade profissional:
aspectos importantes para a autorrealização do indivíduo
A inserção do indivíduo no processo produtivo ocorrerá ao longo da vida, por
etapas sucessivas de amadurecimento da escolha vocacional. Diversos autores na
Psicologia analisam esse processo, revelando de que modo escolhemos nossa profissão e qual é a importância desse processo na estruturação de nossa vida pessoal e
ocupacional.
Considerando-se que a atividade profissional é um aspecto muito importante
para o bom ajustamento psíquico do indivíduo, iniciaremos uma breve reflexão a respeito das etapas da escolha vocacional e de que maneira esse processo influencia no
contexto global da vida da pessoa.
Para estruturá-la a pessoa levará em consideração suas aptidões (inclusive intelectuais), suas necessidades básicas, valores, preferências e potencialidades. O conjunto dessas características irá condicionar o seu desenvolvimento vocacional; e por meio
deste a pessoa elaborará um sentido e um sentimento específico em relação à sua
profissão. Nesse processo a pessoa irá ponderar também sobre o panorama das profissões que lhe interessam e as etapas que deverão cumprir para a concretização de sua
escolha. A escolha da carreira implicará também não só na definição do que fazer, mas
também no tipo de pessoa que nos tornaremos pelo fato de exercer uma determinada
atividade profissional.
Portanto, para que o desenvolvimento vocacional ocorra de modo satisfatório,
torna-se necessário que a pessoa clarifique quais são seus valores, suas necessidades
básicas, os seus objetivos e os projetos de vida que deseja desenvolver.
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O processo de desenvolvimento humano é contínuo e envolve a transformação
biológica, cognitiva, afetiva e social do indivíduo. O desenvolvimento vocacional é
paralelo ao desenvolvimento global e requer o amadurecimento da autoimagem do
indivíduo; esta se refere ao conjunto de percepções que a pessoa elabora a respeito
de si mesma e do mundo em que vive. Essa autoimagem pode ser nítida, objetiva ou
nebulosa, indistinta.
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Antes de prosseguirmos, vale uma distinção entre o desenvolvimento vocacional e o crescimento vocacional. O desenvolvimento vocacional requer um amadurecimento pessoal que possibilite ao indivíduo escolher uma profissão, baseando-se nas
impressões que construiu a respeito de si mesmo e do contexto em que vive. Já o
comportamento vocacional, refere-se às ações concretas realizadas pelo indivíduo ao
longo da vida para inserir-se nesse contexto e desenvolver seu perfil ocupacional.
Alguns aspectos serão decisivos nesse processo, tais como:
O desenvolvimento do autoconceito do indivíduo, identificando suas potencialidades e limitações.
A constituição da identidade pessoal, que irá revelar quais são as características que definem quem essa pessoa é.
A autopercepção da identidade, que se refere à consciência que a pessoa
possui a respeito de si mesma, como ela se vê.
A identificação dos atributos pessoais que irão direcionar o desempenho do indivíduo e os recursos que deverá desenvolver para concretizar seus objetivos.
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Além desses elementos, devemos levar em consideração também a dinâmica de
personalidade do indivíduo e os fatores situacionais que irão condicionar as ações concretas da pessoa para alcançar suas metas. Serão analisados nesse contexto: os valores
culturais; o status familiar; as informações sobre as taxas de empregabilidade e desemprego; a questão da instabilidade no mercado de trabalho, entre outros.
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Ao longo desse processo, podemos observar o nível de maturidade ocupacional
que a pessoa vai adquirindo ao longo da vida. É importante considerar o ajustamento
vocacional que a pessoa obteve e tal aspecto pode também ser avaliado pelo nível de
autorrealização que ela identifica ao exercer determinada atividade profissional; serão
consideradas também sua trajetória pessoal e o repertório comportamental que desenvolveu na constituição de sua carreira ocupacional.
Para que esse processo ocorra de modo adequado, é importante que a pessoa
possua um conhecimento realista sobre si mesma e sobre a realidade externa; é necessário que esteja ciente da necessidade de escolher e pronta para decidir sobre uma
atividade.
A consistência das suas preferências ocupacionais poderá facilitar sua tomada de
decisão e espera-se que o indivíduo seja capaz de delinear uma carreira a partir dessa
escolha.
Outro aspecto que deve ser contemplado é a visão realista acerca dos recursos
necessários para a sua economia ao longo de sua preparação acadêmica para o exercício de uma atividade profissional.
Constatamos, desse modo, que a identidade profissional requer que a pessoa
possua uma visão mais ou menos realista sobre si mesma e possa projetar como pretende desenvolver seu papel profissional. A partir desses dados, podemos observar
que há uma íntima relação entre a identidade pessoal e a identidade profissional: dependendo do percurso de desenvolvimento pessoal que o indivíduo tenha elaborado,
pode ser mais ou menos difícil selecionar uma atividade e desenvolver seu comportamento vocacional de modo a definir adequadamente seus objetivos e concretizá-los
de modo gratificante.
Para que possamos compreender melhor como ocorre o desenvolvimento vocacional de uma pessoa, relataremos as principais etapas desse processo, destacando
os reflexos que esse amadurecimento produz no contexto de vida do indivíduo. De
acordo com Super (MELLO, 2002), vivenciamos quatro estágios para o amadurecimento de nosso comportamento vocacional.
O primeiro estágio ocorre na primeira infância até os 14 anos e é classificado como
estágio de crescimento. Nessa etapa predominam as escolhas fantasiosas, baseadas na
identificação da criança com os personagens que ela admira; as “profissões” escolhidas
visam satisfazer suas necessidades orgânicas e afetivas. No final desse estágio observa-se o empenho do adolescente em obter maiores informações a respeito das atividades que lhe interessam, além do aprofundamento da autoanálise e da experimentação
de papéis sociais que o jovem considera pertinentes às profissões que chamam sua
atenção.
O terceiro estágio é definido como a fase de estabelecimento. A partir dos 25 anos,
a pessoa poderá vivenciar algumas mudanças em relação à sua atividade profissional, buscando adequar seu trabalho às suas necessidades pessoais e à sua realidade
objetiva.
No período de estabilização, que ocorre entre 30 e 45 anos de idade, o foco será a
manutenção da segurança profissional; o indivíduo precisará estar atento para as de-
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O segundo estágio é classificado como exploratório; neste predomina a autorreflexão e a experimentação de papéis sociais e ocupacionais. O jovem buscará maior
autonomia e desprendimento da família e tal aspecto também irá direcioná-lo a buscar
na escolha profissional uma concretização de sua necessidade de independência. A
partir dos 15 anos, a pessoa procurará conciliar seus interesses e aptidões com as atividades que existem no mercado de trabalho. Entre os 18 e 21 anos a realidade é avaliada de modo mais adequado e já podem ter início algumas experiências profissionais
concretas (mediante estágios, ingresso no mercado de trabalho formal ou informal), o
que certamente irá contribuir para uma identificação mais condizente dos interesses
vocacionais. Entre os 22 e 24 anos o indivíduo buscará exercer efetivamente uma atividade profissional a partir da experiência acumulada no mercado ou da preparação
acadêmica que buscou para obter uma formação.
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mandas do mercado e procurará o aprimoramento necessário para manter sua empregabilidade. Em função dessas características esse período costuma ser o mais criativo
no percurso profissional do indivíduo.
O quarto estágio é classificado como a fase de manutenção e esse período transcorre entre os 45 e 65 anos de idade; nessa etapa o principal desafio será manter-se
ativo, útil, necessário. É um período em que o indivíduo procurará manter algum tipo
de atividade e esse aspecto será muito importante, inclusive, para sua autoestima.
Inicia-se nesse estágio também o período de declínio: modificam-se as condições
físicas e tal aspecto obrigará a pessoa a redirecionar sua atividade, em respeito às suas
limitações biológicas. Esse aspecto deve ser considerado pelas empresas e devem
oferecer-se ao indivíduo condições psicossociais adequadas para que a pessoa enfrente essas mudanças de modo construtivo, prevenindo-se maiores riscos para a saúde
mental do funcionário.
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Encerrando o quarto estágio ocorre o período de desaceleração (que se revela
entre os 65, 70 anos de idade): o ritmo de trabalho diminui e altera-se a estrutura das
atividades, podendo, inclusive, reduzir a carga horária de trabalho, modificando-se o
tipo de atividade que a pessoa realiza para adequá-la às condições e às peculiaridades
do indivíduo.
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Finalmente, no período da aposentadoria, destaca-se a maneira como a pessoa
irá lidar com o encerramento de suas atividades profissionais. É importante observar
o significado que o indivíduo atribui a esse estágio: para algumas pessoas, é um momento de se dedicar mais ao lazer e ao convívio social; para outras pessoas, sobrevêm o sentimento de inutilidade, a depressão e a desvalia. O contexto objetivo da vida
também deve ser avaliado, considerando-se as condições socioeconômicas, o estado
de saúde e as possibilidades efetivas de que essa pessoa dispõe para usufruir uma boa
qualidade de vida.
Constatamos, portanto, que a identidade profissional representa um aspecto
muito importante no contexto de vida geral do indivíduo, compondo a autoimagem
da pessoa e dando-lhe a oportunidade de contribuir efetivamente para o bem-estar
de todos. É importante oferecer às pessoas os melhores recursos possíveis, para que a
transição em cada uma dessas etapas lhes permitam construir uma trajetória de vida
gratificante.
Inteligência emocional
O que é inteligência emocional? Quando falamos da inteligência emocional, estamos nos referindo a uma expressão cunhada pelo psicólogo Daniel Goleman, da
Universidade de Harvard, que significa o conjunto de habilidades/características hu-
manas, como aquelas sutilezas que determinam, por exemplo, quando compartilhar
informações confidenciais, quando falar durante uma reunião, como se expressar,
quando fazer reivindicações etc.
Dessa forma, Inteligência Emocional (IE) envolve a habilidade de monitorar as
próprias emoções e as dos outros, discriminando-as e utilizando-as para guiar pensamentos e ações. Muitas pessoas acreditam que o raciocínio é mais adequado quando
está desvinculado das emoções, uma vez que estas dificultariam o pensamento objetivo. Experiências mostram, contudo, que o raciocínio desprovido de sentimentos torna
praticamente impossível o processo decisório. A questão não é excluir o sentimento do
processo de tomada de decisão diário, mas balanceá-lo, encontrando a dose apropriada de emoção e sua correta expressão.
As pessoas que conhecem as suas próprias emoções e são capazes de ler as emoções dos outros podem ser mais eficazes em seus trabalhos, pois possuem maior habilidade em gerenciar as próprias emoções e colocá-las a favor do trabalho e do grupo.
O mundo organizacional, na contemporaneidade, valoriza esse tipo de habilidade por parte do funcionário, e temos como exemplo um estudo realizado com engenheiros da empresa Bell Lab, que receberam votos como excepcionais pelos seus
pares, o que revelou que eles eram os melhores no trato com os demais. Essa evidência
caracteriza que a IE (Inteligência Emocional) e não o QI (Quociente de Inteligência) que
indicava os melhores desempenhos daquele grupo.
O que é QI (Quociente de Inteligência)?
Em 1916, nos Estados Unidos da América, surgiram as Escalas Terman e Stanford-Binet, que utilizavam o conceito de QI; essa avaliação revelava a relação que existia
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Vale pontuar que QI (Quociente de Inteligência) foi o primeiro teste de inteligência e foi elaborado na França, entre 1904-1905, por Alfred Binet; esse procedimento
tinha como objetivo identificar as razões das dificuldades de aprendizagem de algumas crianças, contribuindo para o diagnóstico médico das causas dessas limitações.
Elaborou-se então, uma escala de tarefas padronizadas e se aplicou esses itens a diversas crianças, com diferentes idades cronológicas; os itens que fossem respondidos
corretamente pela maioria de crianças de determinada faixa etária revelavam a idade
mental dessas crianças. Por exemplo: os itens corretamente respondidos pela maioria das crianças de 7 anos de idade, poderiam identificar o perfil intelectual esperado
para avaliar a idade mental de 7 anos. Esse conceito foi definido em 1908, nos Estados
Unidos da América e partir destes resultados foi possível compreender que as crianças que não conseguiam aprender possuíam uma idade mental inferior à sua idade
cronológica.
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entre a idade cronológica e a idade mental do indivíduo e a sua posição em relação à
maioria da população. Portanto, o QI constitui-se numa medida percentual e estatística
que retrata se a pessoa possui uma inteligência normal, abaixo ou acima da média.
Em 1917, desenvolveram-se os testes para aplicação coletiva, o que comprovava a
credibilidade desse instrumento para se prever o potencial intelectual das pessoas. No
Brasil, o primeiro teste de inteligência teria sido utilizado em 1913. Vejamos agora quais
são as informações que obtemos sobre a capacidade de raciocínio de uma pessoa, ao
se utilizar os testes de inteligência.
A avaliação quantitativa do QI
Segundo Wechsler (1981), a classificação do QI baseia-se nos seguintes resultados:
Escores abaixo de 69 – retardo mental.
Entre 70–79 – limítrofes.
Entre 80–89 – médio-inferiores.
Entre 90–109 – médio.
Entre 110–119 – médio-superiores.
Entre 120–129 – superior.
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Acima de 130 – muito superior.
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Quociente de Inteligência (QI) X Inteligência Emocional (IE)
As empresas na atualidade consideram a Inteligência Emocional no processo de
seleção de funcionários, principalmente quando a função ou cargo demanda alto grau
de interação social.
A Inteligência Emocional (IE) engloba cinco dimensões:
automotivação;
autoconhecimento;
empatia;
sociabilidade;
capacidade de lidar com as emoções de outras pessoas.
As avaliações do Quociente de Inteligência (QI) não oferecem uma base segura
para se prever o sucesso ou fracasso social do indivíduo, pois a sua autopercepção e a
maneira como a pessoa lida com as suas emoções são elementos importantes para o
bom desenvolvimento das suas capacidades. Ao se considerar esses aspectos, aqueles
que são capazes de criar motivações para si mesmos, controlar impulsos e saber a hora
certa de agir, controlando a própria ansiedade e desenvolvendo a autoconfiança, poderão ser pessoas melhor ajustadas ao convívio social, do que aquelas que possuem
uma excelente capacidade de raciocínio abstrato, porém, não aprendem a lidar consigo mesmas e com os outros de modo adequado.
De acordo com a teoria da Inteligência Emocional, para que se alcance esse objetivo é necessário aprender a:
conhecer as próprias emoções, especialmente quando elas ocorrem;
lidar com as emoções – saber livrar-se da ansiedade; ser tolerante consigo
mesmo; expressar a raiva objetivamente; motivar-se, utilizando a energia das
emoções em benefício próprio;
saber reconhecer as emoções dos outros – ser empático, habilidoso no trato
com as outras pessoas;
lidar com os relacionamentos – saber ser popular no grupo, liderar pessoas,
saber administrar conflitos e propor soluções pertinentes.
Finalmente, considerando-se a capacidade que a pessoa possui em relação ao domínio das suas emoções, segue uma tipologia das pessoas. Observando-se em consideração a maneira como elas identificam e como reagem diante das próprias emoções
e das emoções dos demais.
Pessoas mergulhadas: essas não sabem identificar as emoções que experenciam e se deixam levar por essas emoções; são instáveis; têm dificuldades para
modificar o seu modo de agir, pois não se dão conta do ponto que atingem.
Mostrando-se temperamentais e são facilmente desacreditadas devido ao seu
descontrole emocional. Podem se sentir emocionalmente perturbadas, acreditando que as emoções dominam o seu raciocínio.
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Pessoas autoconscientes: essas sabem identificar claramente as suas emoções no momento em que ocorrem e são racionais para saber como agir em
cada situação. Apresentam uma boa saúde emocional e tendem a ter uma
perspectiva positiva diante de si mesmas, dos outros e da vida, de modo geral.
Evitam ruminar problemas e sabem utilizar as próprias emoções em benefício
próprio.
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Pessoas resignadas: essas podem identificar os seus estados emocionais,
porém pouco fazem para ajustá-los, reagindo de modo mais equilibrado
diante das diferentes situações que surgem. Podemos observar que há pessoas que tendem a agir como se estivessem constantemente de bom humor,
(o famoso “cuca fresca”), que, aparentemente, não se importam com nada e
quando menos se espera explodem diante de uma situação que não requeria
esse tipo de comportamento.
Há também o indivíduo impulsivo, que age de modo agressivo e depois pede
desculpas, alegando que “ele é assim mesmo e que não se deve levar em conta
o que ele fala num momento de nervosismo”. Pessoas que agem desse modo
deixam-se levar pelas emoções, porém reconhecem o seu descontrole. Apesar
das dificuldades de convívio que esse comportamento produz, devemos admitir que esses indivíduos apresentam melhores possibilidades para o convívio social do que as pessoas mergulhadas, pois identificam a inadequação da
sua conduta.
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Vemos, portanto, que através dessas maneiras de se conceber o desenvolvimento
da capacidade intelectual de uma pessoa, enriquecemos a compreensão dos determinantes do comportamento e poderemos desenvolver uma visão mais abrangente do
modo como devemos agir e saber lidar com as outras pessoas.
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Para concluir, podemos afirmar que o estudo da inteligência emocional é ainda
um grande desafio; as diferentes maneiras de se conceber esse processo podem nos
auxiliar a ter uma visão mais enriquecida a respeito desse aspecto, porém há ainda a
necessidade de se pesquisar melhor cada uma dessas abordagens, utilizando-as de
maneira cuidadosa e responsável, pois através delas podemos rotular as pessoas, o que
certamente não irá colaborar para o conhecimento adequado dessa forma de potencialidade humana.
Inteligências Múltiplas/Processos de
Aprendizagem e Modificação do Comportamento
Inteligências múltiplas
As controvérsias em relação ao conceito e avaliação da inteligência contribuiriam
para que nos anos 1990 surgissem novas maneiras de se conhecer os determinantes
da capacidade de raciocínio de uma pessoa.
Segundo Gardner (1994), os testes tradicionais de inteligência (QI) avaliam
apenas as habilidades verbais e matemáticas, excluindo a possibilidade de se conhecer
outras aptidões também importantes. Sendo assim, devem-se desenvolver instrumentos de medida que possibilitem identificar essas aptidões e oferecer à pessoa chances de aprimorar as suas habilidades e desenvolver melhor aquelas funções pouco
desenvolvidas.
Para que se concretize esse objetivo, deveríamos identificar as competências intelectuais do indivíduo e os procedimentos educativos deveriam estimular a totalidade
dessas aptidões. Ao agirmos desse modo, seria possível ampliar as oportunidades de
autorrealização e proporcionar melhores recursos para a interação social dos indivíduos. Partindo-se desse princípio, deve-se considerar, portanto, que existem sete tipos
de inteligências.
Para Gardner, essas modalidades dependem de áreas cerebrais específicas, que
atuam de modo relativamente independente e que, através do estímulo educacional,
poderiam desenvolver-se. São elas:
Inteligência lógico-matemática – relacionada à capacidade de trabalhar
com números e discernir padrões lógicos.
Inteligência linguística – responsável pela sensibilidade para os sons e o significado das palavras.
Inteligência musical – que se revela através da facilidade para lidar com a
expressão musical, com as harmonias sonoras.
Inteligência cinético corporal – responsável pela aptidão para lidar com a
destreza corporal.
Inteligência interpessoal – que desenvolve a habilidade para lidar com diferentes estados de humor das pessoas, revelando a capacidade para identificar
as motivações e as necessidades dos demais.
Inteligência intrapessoal – que se revela através da facilidade do indivíduo
para perceber e diferenciar os próprios sentimentos, conhecendo os seus
pontos fracos e as suas potencialidades.
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Inteligência espacial – que se observa através da habilidade para compreender a relação espaço temporal, para dimensionar proporções no plano
tridimensional.
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Processos de aprendizagem e modificação do comportamento
O estudo do comportamento humano pode ser realizado a partir de diferentes
perspectivas. A concepção comportamentalista defende a ideia de que o comportamento é resultado da necessidade de adaptação do indivíduo ao meio em que vive e,
em função disso, através de procedimentos específicos, poderemos aumentar, diminuir ou eliminar a ocorrência de algumas reações.
Para que possamos aplicar concretamente essa premissa, os teóricos dessa abordagem consideram que somente poderão ser estudados os comportamentos que
apresentarem três características: deverão ser observáveis, mensuráveis e passíveis de
reprodução em diferentes situações.
Dessa forma, a experiência emocional de uma pessoa, por exemplo, só pode ser
avaliada a partir da manifestação concreta da emoção (por exemplo, o choro, o riso,
etc.), da intensidade com que essa emoção se expressa e da frequência com que a
pessoa reage dessa maneira.
Portanto, quando se pretende modificar um comportamento devemos analisá-lo
detalhadamente, considerando: o histórico de condicionamento associado ao comportamento a ser modificado; descrevendo minuciosamente o comportamento a ser
alterado, buscando a maior objetividade possível e deve-se analisar as consequências
que a conduta da pessoa acarreta para ela mesma e para os demais.
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Na intenção de familiarizar o leitor com essa abordagem, iniciaremos a partir de
agora, uma breve retrospectiva histórica sobre a teoria comportamental, destacando-se a aplicabilidade desse conhecimento no cotidiano.
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Breve histórico da Teoria Comportamental
Os principais teóricos dessa abordagem são John B. Watson (que em 1913 empregava o termo Behaviorismo para identificar sua teoria), I. P. Pavlov (que definiu o conceito de Condicionamento, em 1927) e B. F. Skinner (defensor da Análise Experimental
do Comportamento, 1938).
A concepção comportamentalista influenciou a Psicologia americana, que até
hoje desenvolve muitos trabalhos baseados nessas teorias no setor educacional, na
área clínica e na psicologia do trabalho. Como qualquer formulação teórica, apresenta
pontos positivos e limitações. Em relação às vantagens dessa teoria, destaca-se a possibilidade de modificação de alguns comportamentos, utilizando-se procedimentos
simples e de pequena duração; através dos princípios do condicionamento, torna-se
possível eliminar algumas reações desagradáveis (como alguns sintomas fóbicos, por
exemplo) e oferecer ao indivíduo a possibilidade de experimentar condições emocionais mais adequadas para um outro tipo de tratamento psicológico, de maior profundidade. Outra vantagem é o controle experimental dos estudos, que oferecem provas
concretas das medidas aplicadas para modificar o comportamento.
Já as críticas em relação a essa concepção destacam o reducionismo do comportamento humano; na medida em que os pesquisadores procuram identificar apenas as
relações objetivas que causam certos comportamentos, ignoram muitas variáveis que
também interferem na maneira como o indivíduo age (seus valores, por exemplo). Há
também o receio de que essa teoria possa incentivar o controle do comportamento
humano, independentemente da vontade da pessoa. Devemos assinalar que, nesse
sentido, vários estudos têm demonstrado que não é possível comandar e prever totalmente as reações das pessoas.
Descreveremos a seguir as principais proposições teóricas dos estudiosos da concepção ambientalista.
John B. Watson: utilizava o paradigma da relação estímulo-resposta para explicar as razões de um comportamento; assim sendo, para compreender as
atitudes de uma pessoa devemos conhecer o que antecedeu a sua reação. Por
exemplo: reagir de modo explosivo após uma situação de frustração; compreender as reações violentas de uma criança na escola, uma vez que ela presencia atos de violência doméstica diariamente. Graças ao trabalho de Watson
começaram os estudos sobre o processo de aprendizagem do indivíduo, valorizando-se, principalmente, as experiências da infância, enquanto determinantes de uma boa parcela do comportamento do adulto.
Para modificar essa reação é necessário conhecer todos os elementos que a produzem (medo do fracasso, experiências dolorosas anteriores, etc.) e promover uma nova
forma de reagir (por exemplo, ensinando uma técnica de relaxamento para diminuir a
excitação do sistema respiratório; posteriormente, essa pessoa deverá ser estimulada a
adotar uma nova postura diante dessas situações ansiógenas).
Com a associação constante entre esses elementos, é provável que a pessoa
reduza ou elimine totalmente esse desconforto físico e torne-se mais autoconfiante.
Estudo do Comportamento Individual na Organização II
I. P. Pavlov: formulou as bases para o estudo do condicionamento respondente; esse paradigma analisa de que maneira o comportamento involuntário
(reações orgânicas produzidas pelo sistema nervoso autônomo) podem ser
produzidas ou eliminadas através de estímulos aprendidos (condicionados).
Atualmente esses estudos têm sido úteis para se compreender as reações orgânicas causadas por modificações ambientais (tais como as reações de estresse), que podem ser modificadas através de um novo condicionamento. Por
exemplo: imaginemos uma pessoa extremamente ansiosa que, diante de uma
situação de avaliação, apresenta uma crise de asma.
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B. F. Skinner: desenvolveu os princípios do condicionamento operante, que
analisa o comportamento voluntário (aquele que é intencional e tem como
objetivo causar alguma alteração no ambiente) e os efeitos que este sofre a
partir das modificações de algumas condições ambientais.
A partir desse tipo de condicionamento, tornou-se possível identificar quatro esquemas de condicionamento (consequências ambientais que visam modificar certos
comportamentos). São eles:
o reforço positivo;
o reforço negativo;
a punição;
a extinção.
O reforço positivo deve ser utilizado sempre que desejamos aumentar a ocorrência de um comportamento, é utilizado após a emissão do comportamento que desejamos fortalecer. Exemplo: incentivar o funcionário a realizar o seu trabalho corretamente dando-lhe uma promoção; elogiá-lo; no ensino, destacar como monitores os alunos
que dominam melhor o conteúdo.
Estudo do Comportamento Individual na Organização II
Já o reforço negativo é indicado quando desejamos eliminar um comportamento
inadequado, levando a pessoa a agir conforme o esperado, antes de ser punida; nesse
sentido, estaremos fortalecendo o comportamento adaptativo da pessoa. Por exemplo: aplicar uma multa por atraso na entrega de um projeto; registrar uma advertência
no prontuário do funcionário que foi inconveniente. Aplicando esse esquema, esperamos que a pessoa reconheça como deve agir para evitar a punição.
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A punição é utilizada sempre que desejamos eliminar rapidamente um comportamento. Exemplos: não permitir que o funcionário entre na empresa no seu terceiro
atraso consecutivo; descontar o descanso semanal remunerado dos empregados que
“emendarem” um feriado. É importante destacar que utilizar demasiadamente a punição, sem instalar comportamentos desejáveis, pode tornar-se prejudicial ao desenvolvimento do indivíduo; fará com que ele procure apenas esquivar-se do castigo, sem
acatar as regras pelo valor que elas possuem para a vida em grupo.
Finalmente a extinção visa a eliminação lenta de um comportamento; implica na
ausência de qualquer consequência para o comportamento emitido. Exemplo: não retornar uma ligação, quando não estamos interessados no que a pessoa tem para nos
dizer; não reconhecer o esforço de um funcionário, que necessita de um aumento salarial; ignorar as colocações inconvenientes de uma pessoa, durante uma reunião.
Podemos constatar, portanto, que as contingências ambientais exercem uma
poderosa influência sobre a maneira como uma pessoa age em diversas situações.
Contudo, como poderemos explicar a formação da personalidade do indivíduo, a partir
da teoria comportamental?
O estudo da personalidade segundo a
concepção comportamentalista
O estudo da personalidade é desenvolvido pelos teóricos da aprendizagem social.
Esses estudiosos consideram que a personalidade se desenvolve a partir dos modelos
de conduta que as outras pessoas nos oferecem. Ao longo do nosso desenvolvimento, iremos apreender determinados comportamentos que se tornarão habituais e que
terão como finalidade satisfazer as nossas necessidades ao longo da vida.
O ajustamento da personalidade dependerá então da nossa possibilidade de descobrir os meios mais adequados socialmente para satisfazer as nossas necessidades.
Para se avaliar as possibilidades de ajustamento da personalidade de uma pessoa,
devemos levar em consideração os seguintes aspectos:
A natureza da necessidade bloqueada – quando a pessoa encontra-se privada de satisfação de necessidades básicas (segurança, afeto, autoestima),
terá maiores dificuldades para o ajustamento às exigências ambientais.
A intensidade das demais necessidades bloqueadas – quando a necessidade
de autoestima de uma pessoa não é basicamente satisfeita, será difícil para ela
desenvolver recursos para satisfazer a necessidade de aprimoramento intelectual, por exemplo.
O grau de segurança e autoconfiança que a pessoa possui para alcançar o
que deseja – ser perseverante não significa “cruzar os braços” e esperar que as
coisas caiam do céu. Se a pessoa acreditar no seu potencial (intelectual, emocional etc.), poderá “arriscar” diferentes modos de agir até encontrar aquele
que melhor lhe possibilite atingir a sua meta. Nesse caso, se mostrará capaz de
definir claramente o que se deseja e tal atitude será também um passo importante para obter sucesso.
Estudo do Comportamento Individual na Organização II
As possibilidades de encontrar formas substitutivas para satisfazer as necessidades – quanto maior for a facilidade da pessoa para modificar a sua maneira de agir, será mais provável que ela possa obter a gratificação que necessita. Por exemplo: saber tolerar certo nível de frustração e adiar ou modificar a
maneira de atingir o objetivo que desejamos pode ser uma atitude melhor do
que insistir na realização imediata de uma necessidade.
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Devemos salientar, entretanto, que não podemos assegurar sucesso em todas as
nossas realizações e estaremos sujeitos a algumas situações desagradáveis. Nesse caso,
a ansiedade poderá surgir especialmente quando a pessoa se vê diante de situações
em que tenha sido punida ou frustrada anteriormente. Para que ela possa compreender essa situação será necessário conhecer o seu histórico de vida e o seu processo de
aprendizagem.
É importante destacar também que diante de uma situação ansiógena, a pessoa
tem a tendência de apegar-se a qualquer coisa que reduza o seu desconforto, mesmo
que momentaneamente. Algumas pessoas, por exemplo, buscam alívio da tensão ou
procuram esquecer dificuldades emocionais através do consumo de álcool ou drogas.
Ao se observar com maior cuidado a real motivação dessa atitude, podemos identificar que o verdadeiro objetivo desses comportamentos é buscar recompensas (reforço positivo) ou alívio (reforço negativo) diante do sofrimento.
No caso do consumo de álcool ou drogas, particularmente, a sensação física que
essas substâncias produzem poderá ser um facilitador para que a pessoa adote determinados comportamentos que sem o efeito dessas substâncias, talvez não se sinta
capaz de manifestar.
Estudo do Comportamento Individual na Organização II
Por exemplo, há pessoas tímidas e retraídas que buscam no álcool a liberação da autocensura e, desse modo, será mais fácil agir de modo extrovertido. Outras pessoas usam
o álcool ou outros tipos de droga para se sentirem mais corajosos, podendo até reagir de
modo violento em algumas ocasiões; acredita-se, inclusive, que algumas pessoas jamais
agiriam de uma determinada maneira, caso não estivessem sob o efeito da droga.
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Podemos identificar que o comportamento de esquiva se revela, quando a pessoa
alega que “não sabia o que estava fazendo” sob o efeito da droga, eximindo-se, assim,
da responsabilidade pelo que fez e isentando-se da merecida punição.
Observamos, portanto, que a personalidade e as atitudes do indivíduo sofrem
e exercem influência no ambiente em que a pessoa vive. Aprofundando-se a análise
desses aspectos, caberia uma breve reflexão sobre a formação moral do indivíduo e os
aspectos que mais influenciam no comportamento ético da pessoa.
A questão do desenvolvimento moral segundo a
Teoria Comportamentalista
Segundo os teóricos da aprendizagem social, as regras morais são assimiladas a
partir dos princípios de discriminação e generalização, ou seja: a maneira como iremos
agir, irá depender do ambiente em que nos encontramos. Assim sendo, iremos discri-
minar como devemos nos comportar, dependendo das características do meio em que
estivermos inseridos. Por outro lado, as nossas experiências anteriores também nos
induzirão a manter certas condutas, em diferentes ambientes. Por exemplo: algumas
famílias toleram que os filhos falem palavrões, desde que não seja no ambiente escolar
e diante de pessoas idosas; contudo, essas mesmas crianças são proibidas de apropriarem-se de qualquer objeto que não lhes pertença, em qualquer circunstância.
A aplicação dos esquemas de reforçamento discutidos anteriormente irá fortalecer
a ocorrência dos comportamentos desejáveis e coibir as condutas inaceitáveis, principalmente nas empresas. É importante salientar também que a imitação será um dos
principais veículos para a assimilação do comportamento social (adequado ou não).
Nesse sentido, alguns modelos de conduta irão exercer uma influência mais decisiva sobre o comportamento, principalmente na infância e adolescência. São eles:
Modelos simbólicos – podem ser identificados através dos personagens das
histórias infantis, dos desenhos animados, dos filmes e seriados que a criança
adota como modelos (inclusive, copiando a vestimenta, os hábitos e a linguagem). Já na adolescência, destaca-se a influência que os ídolos exercem sobre o
indivíduo e seus grupos (bandas musicais, jogadores de diversas modalidades
de esporte, atores e atrizes etc.). O jovem manifesta a necessidade de adotar
uma referência para o seu comportamento e não só “imita” as características
exteriores, como assimilar valores e modos de agir dos ídolos que admira.
Modelos exemplares – são aqueles que o adulto identifica como um
“modelo” a ser ou não seguido. Esse tipo de modelo pode ser observado
nas fábulas infantis, nas campanhas publicitárias educativas e têm como
objetivo direcionar a escolha e a identificação do público com alguns personagens. É importante observar cuidadosamente como essas imagens
Estudo do Comportamento Individual na Organização II
Modelos da vida real – são assimilados através da imitação do comportamento das pessoas mais importantes para a criança e exercerão a maior influência
sobre o seu comportamento. Exemplos: o modelo de lealdade que algumas
famílias propagam entre os seus integrantes impedirá que um deles seja capaz
de delatar uma pessoa; a franqueza ao emitir uma opinião pode fazer com que
as pessoas digam exatamente o que pensam sobre o comportamento de um
amigo. Porém, nem sempre a modelagem do comportamento produz resultados favoráveis. Há também a possibilidade de adotarmos condutas inadequadas, por exemplo: os atos de violência doméstica, frequentemente ocorrem
porque os agressores ou as vítimas possuem antecedentes na infância – pessoas significativas praticavam atos semelhantes e apesar do sofrimento que
essa situação causava ao indivíduo, diante de uma situação crítica, reagirá da
mesma maneira, caso não reflita melhor sobre outras alternativas.
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são veiculadas, pois nunca saberemos, de fato, com que tipo de “herói” a
criança ou o adolescente irá se identificar.
Finalmente, podemos concluir que a teoria comportamental pode ser um veículo
importante para que as pessoas identifiquem as origens de alguns comportamentos
que manifestam e adotem medidas eficazes para a manutenção ou modificação de
algumas atitudes.
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