Pró- Reitoria de Graduação
Curso de Psicologia
Trabalho de Conclusão de Curso
Evidências de Validade de Construto do Teste
não-verbal de Inteligência SON- R 6-40
Autora: Talita de Araújo Alves
Orientadora: Cláudia Cristina Fukuda
Brasília – DF
2013
TALITA DE ARAÚJO ALVES
EVIDÊNCIAS DE VALIDADE DE CONSTRUTO DO TESTE NÃO-VERBAL DE
INTELIGÊNCIA SON-R 6-40
Trabalho
apresentado
ao
curso
de
graduação em Psicologia da Universidade
Católica de Brasília, como requisito parcial
para obtenção do título de Psicóloga.
Orientadora: Dra. Cláudia Cristina Fukuda
Brasília,
2013
Artigo de autoria de Talita de Araújo Alves, intitulado “EVIDÊNCIAS DE VALIDADE DE
CONSTRUTO
DO TESTE
NÃO-VERBAL DE
INTELIGÊNCIA SON-R
6-40”,
apresentado como requisito parcial para obtenção do grau de Psicóloga da
Universidade Católica de Brasília, em 20/11/2013, defendido e aprovado pela banca
examinadora abaixo assinada:
Prof. Dra. Cláudia Cristina Fukuda
Orientadora
Programa de Mestrado em Psicologia – UCB
Prof. PhD Jacob Arie Laros
Departamento de Psicologia Social e do Trabalho
Instituto de Psicologia – UnB
Prof. Dra. Graziela Furtado Scarpelli Ferreira
Curso de Psicologia - UCB
Brasília
2013
EVIDÊNCIAS DE VALIDADE DE CONSTRUTO DO TESTE NÃO-VERBAL DE
INTELIGÊNCIA SON-R 6-40
TALITA DE ARAÚJO ALVES
Resumo: Estudos sobre a validade dos testes psicológicos são fundamentais para
assegurar uma interpretação correta dos resultados de um teste. Desta forma, o
presente trabalho objetiva verificar a validade de construto do teste não-verbal de
inteligência SON-R 6-40. Os testes SON foram desenvolvidos na Holanda para a
avaliação da inteligência e caracterizam-se como instrumentos não-verbais. O SON-R
6-40 apresenta quatro subtestes: Analogias, Mosaicos, Categorias e Padrões.
Participaram do estudo 111 estudantes com idades entre 5 e 18 anos. Os quatro
subtestes medem um único fator com cargas fatoriais acima de 0,60. A consistência
interna do escore geral foi 0,97. Concluiu-se que os resultados fornecem evidências
satisfatórias de validade de construto do SON-R 6-40 na amostra pesquisada de
crianças e adolescentes.
Palavras- chave: Teste de inteligência não-verbal; Validade de construto; SON-R.
INTRODUÇÃO
De acordo com dados fornecidos pelo SATEPSI – Sistemas de Avaliação de
Testes Psicológicos, atualmente existem 138 testes com parecer favorável para uso no
Brasil. Deste quantitativo, vinte e sete são voltados à avaliação da inteligência e
fatores
relacionados.
Os
testes
não-verbais
de
inteligência
totalizam
nove
(CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA, 2013). O quantitativo de testes
apresentado é baixo e implica na necessidade de se aumentar a produção nesta área,
de forma a favorecer tanto a pesquisa em psicologia quanto a avaliação psicológica
em si.
A construção, a adaptação e análise de instrumentos de medida em psicologia
seguem padrões da teoria da medida e da psicometria. Almeida (2011) ressalta a
utilização de testes psicológicos como competência do psicólogo e afirma que faz
parte desse processo a avaliação de instrumentos de qualidade e confiança.
No Brasil muitas questões são levantadas sobre o manejo de testes
psicológicos, pois houve um período em que os testes foram utilizados sem a
realização de estudos científicos que visassem garantir o rigor psicométrico. É
possível ilustrar a utilização do teste Wisconsin de Classificação de cartas - WCST,
cujo manual usado no Brasil apresentava, na primeira parte, apenas a tradução para o
português do manual original (MIGUEL, 2005). Nesse sentido, Primi (2005) destaca
que a análise de instrumentos psicológicos deve ser contextualizada de acordo com as
particularidades da população.
Ao verificar a validade de construto do teste não-verbal de inteligência SON-R
6-40, cujo processo de normatização para o Brasil está em andamento, este trabalho
propõe contribuir para o campo da avaliação psicológica. O processo de adequação
das normas do SON-R 6-40 para o Brasil acrescenta ao quantitativo de testes
psicológicos utilizados uma alternativa aos testes de inteligência nos quais a aplicação
depende do uso da linguagem verbal ou escrita, pois é menos influenciado pela cultura
e educação formal.
As teorias sobre Inteligência
Os estudos e as definições acerca da inteligência são discutidos desde o início
do século XIX. Várias teorias foram desenvolvidas para explicar este construto
psicológico. Uma das primeiras definições de inteligência foi apresentada por Alfred
Binet (1857-1911).
Segundo Anastasi e Urbina (2000) Binet realizou estudos com crianças que
apresentavam dificuldades para aprender. Em 1905, com o auxílio de Simon, foi
desenvolvida a primeira escala Binet- Simon, reconhecida como o primeiro teste de
inteligência (PASQUALI, 2001).
A primeira escala Binet foi de aplicação individual e possuía 30 problemas
organizados de maneira crescente em relação ao nível de dificuldade. Os níveis de
dificuldade foram definidos a partir da aplicação em 50 crianças com idades entre 3 a
11 anos. A escala seguinte trouxe o agrupamento dos escores do teste de acordo com
as idades das crianças (ANASTASI; URBINA, 2000).
Para Binet, a inteligência poderia ser definida a partir de um conceito global,
que agrega funções mentais complexas. Autores como Galton e Cattell utilizaram-se
de testes com formas sensório-motoras para a avaliação da inteligência. Apesar da
escala de Binet possuir itens de caráter sensorial, o autor não considerava que a
inteligência poderia ser mensurada tão somente por este tipo de avaliação
(PASQUALI, 2010).
Na primeira década do século 20, na mesma época de Binet, o psicólogo inglês
Charles Spearman afirmava que a inteligência poderia ser expressa a partir do fator
(G) e fatores específicos (S) (ANASTASI; URBINA, 2000). Para seus estudos,
Spearman utilizou testes de discriminação sensorial, talento musical e desempenho
acadêmico e encontrou correlações positivas entre os escores nos diversos testes,
concluindo sobre a existência de um fator comum para as atividades intelectuais
(FLANAGAN; HARRISON, 2012). O autor, também ficou conhecido por conceber a
técnica da análise fatorial, que se caracteriza por um conjunto de técnicas estatísticas,
cujo objetivo é representar por uma variável-fonte um conjunto de variáveis
observadas.
Contrário à teoria de Spearman, em 1938 Thurstone desenvolveu a Teoria das
Aptidões Mentais Primárias, um conjunto de fatores ou habilidades mentais básicas e
independentes que compõem a inteligência (PRIMI, 2003). Thurstone analisou os
dados dos testes por meio da técnica, criada por ele, conhecida como análise fatorial
múltipla. Para o autor seriam sete os fatores da inteligência: indução (I), dedução (D),
compreensão verbal (V), memória de associação (Ma), relação espacial (S),
velocidade perceptual (P), facilidade numérica (N) e fluência de palavras (Fw)
(FLANAGAN; HARRISON, 2012).
Ainda segundo Flanagan e Harrison (2012) em 1941, durante uma conferência
da American Psychology Association (APA), Cattell apresentou a teoria da inteligência
fluida (Gf) e inteligência cristalizada (Gc). Esta teoria se contrapõe a Teoria do Fator
Geral de Spearman e também a teoria dos fatores independentes de Thurstone, pois
afirma a existência de duas dimensões da inteligência. Segundo Cattell, a inteligência
fluida (Gf) é o fator mais essencial e está relacionada ao raciocínio diante de situações
novas, ou ainda, a capacidade de utilizar diferentes recursos cognitivos para
solucionar demandas. A inteligência cristalizada (Gc) refere-se ao conhecimento
acessível, transmitido pela cultura e pela educação. A teoria de Cattell recebeu
importantes contribuições dos estudos de Horn. Em 1966, Horn e Cattell
acrescentaram mais três fatores à teoria Gf-Gc, foram incluídos os fatores:
visualização, velocidade cognitiva e capacidade de recuperação. Posteriormente, Horn
chegou ao quantitativo de nove fatores, sendo que os estudos contemporâneos sobre
a inteligência apontam para o crescimento do número de fatores.
Tendo por base os trabalhos de Cattell e Horn, em 1993, Carroll propôs um
modelo hierárquico para a compreensão da inteligência. Este modelo pressupõe a
divisão das habilidades cognitivas em três estratos. No terceiro estrato encontra-se um
fator geral, logo abaixo, no segundo estrato, localizam-se oito fatores amplos:
inteligência fluída (Gf), inteligência cristalizada (Gc), memória e aprendizagem (Gsm),
percepção visual (Gv), percepção auditiva (Ga), capacidade de recuperação (Gr),
rapidez cognitiva (Gs) e a velocidade de processamento (relacionada ao tempo de
decisão). Por último, no primeiro estrato, estariam vários fatores específicos,
localizados no nível mais baixo (FLANAGAN; HARRISON, 2012).
A partir destes trabalhos McGrew e Flanagan propuseram em 1998 o modelo
Cattell-Horn-Carroll ou CHC para as habilidades cognitivas. Este modelo engloba duas
das mais notáveis teorias sobre as capacidades cognitivas, visto que ela integra a
teoria da inteligência fluida (Gf), inteligência cristaliza (Gc) de Cattell - Horn e a teoria
dos três estratos de Carroll. De acordo com a divisão hierárquica do modelo CHC as
habilidades cognitivas podem ser compreendidas em três níveis. No primeiro nível
estaria o fator de (G) de Spearman, ligado a dez fatores amplos, situados no segundo
estrato e por último estariam cerca de 70 fatores específicos, que subdividem os
fatores amplos (PRIMI, 2003).
O modelo CHC pode ser considerado uma síntese sistemática de vários
estudos realizados acerca das capacidades cognitivas. Este modelo classificou e
organizou achados do passado em relação à inteligência humana, possibilitando uma
melhor visualização desse construto, além de contribuir para a construção de um
quadro de referências e nomenclaturas. Desta forma, fornece explicações teóricas
sobre o desenvolvimento do conhecimento a respeito da inteligência, relacionando as
várias teorias que fornecem explicações sobre o porquê ou como as pessoas são
capazes de se diferenciar em relação às habilidades cognitivas (FLANAGAN;
HARRISON, 2012).
Os Testes de Inteligência
O teste psicológico é um método de avaliação que objetiva mensurar
características ou construtos psicológicos por meio da medida da performance ou do
autorrelato em provas, além dos questionários e escalas (AMBIEL; PACANARO,
2011). Segundo Anastasi e Urbina (2000), o objetivo do teste também é avaliar e
discutir as diferenças entre as pessoas ou ainda, avaliar o mesmo sujeito em
diferentes contextos.
O desenvolvimento dos testes de inteligência está relacionado ao interesse em
se estudar as discrepâncias entre as pessoas. Por volta do século XIX, estes estudos
objetivaram compreender e classificar as doenças mentais, para que fosse possível
diferenciá-las do retardo mental. Neste segundo caso, os sujeitos podem apresentar
níveis de comprometimento intelectual, motivo pelo qual as pessoas poderiam
apresentar dificuldades de aprendizagem.
Neste contexto, várias teorias e instrumentos foram desenvolvidos para se
discutir e mensurar a inteligência. Ao caracterizar os testes de inteligência, Hogan
(2006) classifica esses instrumentos de acordo com a aplicação, podendo ser
individual ou grupal. Os testes de inteligência de aplicação individual caracterizam-se
pela necessidade de um treinamento intensivo para a aplicação e são capazes de
cobrir uma grande amplitude de faixas etárias e de habilidades, além da possibilidade
de observação direta do aplicador para uma melhor avaliação a posteriori (HOGAN,
2006).
Dentre os testes de inteligência utilizados atualmente no Brasil é possível
destacar as Escalas WAIS e WISC, a Bateria de Provas de Raciocínio BPR-5 e as
Matrizes Progressivas de Raven (MPR). As Escalas WAIS e WISC foram
desenvolvidas pelo psicólogo norte-americano David Wechsler (1896-1981). O
primeiro teste de inteligência criado por Wechsler, denominado Wechsler-Bellevue
Intelligence Scale foi desenvolvido em 1939. Este teste foi construído para fornecer
uma alternativa ao teste Stanford-Binet, cujo enfoque era a avaliação de crianças.
Em 1955 foi lançado o WAIS-Wechsler Adult Intelligence Scale, uma revisão do
primeiro teste de Wechsler (HOGAN, 2006). A última versão do Wechsler Adult
intelligence Scale – WAIS-IV foi lançada em 2008. A escala também foi aprimorada
para crianças e adolescentes, em 1949, foi lançado o Wechsler Intelligence Scale for
children – WISC, para a avaliação de pessoas entre 6 e 16 anos de idade. O WISC
também passou por revisões, sendo que a versão mais recente, o WISC-IV foi lançado
em 2003.
A Bateria de Provas de Raciocínio BPR-5 (PRIMI; ALMEIDA, 2000), objetiva
avaliar as habilidades cognitivas a partir de cinco provas: Raciocínio Verbal (RV),
Raciocínio Numérico (RN), Raciocínio Abstrato (RA), Raciocínio Espacial (RE) e
Raciocínio Mecânico (RM). O teste é utilizado nos diferentes contextos da avaliação
psicológica para aferir as capacidades cognitivas de forma geral. No Brasil e em
Portugal, o teste apresenta duas formas. A forma “A” destina-se a estudantes no 7º, 8º
e 9º anos do ensino fundamental e forma “B” recomendada para pessoas que cursam
o 1º, 2º ou 3º anos do Ensino Médio (ALMEIDA et. al., 2010).
Segundo Hogan (2006), o termo “Matrizes de Raven” se refere as três
diferentes séries de testes de inteligência desenvolvidos por John Carlyle Raven. O
primeiro instrumento é denominado Matrizes Progressivas Coloridas (MPC), destinado
à faixa etária de 5 a 11 anos, também é indicado para sujeitos que apresentam retardo
mental e ainda, para aqueles que se encontram 20% abaixo da distribuição da
inteligência. Em sequência, existem as Matrizes Progressivas Standard (MPS) cujo
grupo alvo são pessoas que estão situadas no centro do espectro das habilidades
cognitivas. Por último existem as Matrizes Progressivas Avançadas (MPA), destinado
a pessoas que estão 20% acima da distribuição de habilidades cognitivas. No Brasil,
apenas o Manual Matrizes Progressivas Coloridas de Raven – Escala Especial e o
Raven – Operações Lógicas encontram-se com o parecer favorável para uso
(CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA, 2013).
Os Testes SON
Os testes SON foram originalmente desenvolvidos na Holanda. O primeiro
teste SON data de 1943. O nome SON é atribuído à autora da primeira publicação,
Nan Snijders-Oomen, que realizou trabalhos com crianças do Instituto para Surdos de
Sint-Michielsgestel (TELLEGEN; LAROS, 1993).
Segundo Tellegen et al. (1998), Snijders-Oomen propôs trabalhar a inteligência
compreendida como potencial para aprender, desta forma ela buscou construir os
testes com maior embasamento na inteligência fluída (Gf). As tarefas foram voltadas
para a capacidade de raciocinar de forma abstrata, concreta e espacial. A bateria de
testes trouxe uma forma diferenciada de se trabalhar com testes não-verbais, pois
buscam diminuir a influência da escolarização na avaliação da inteligência (LAROS;
JESUS; KARINO, 2013).
O primeiro teste SON possuía normas para aplicação em crianças surdas entre
4 e 14 anos de idade (TELLEGEN; LAROS, 2004). Em 1958 surgiu a segunda versão
do teste, denominada SON-’58 que trazia normas de aplicação para crianças surdas e
ouvintes na faixa etária de 4 a 16 anos. De acordo com Almeida (2013), após a
publicação das duas primeiras versões, os testes SON foram diferenciados em dois
seguimentos. O primeiro seguimento é destinado a pessoas que estão na primeira
infância e o segundo poderia contemplar desde a primeira infância até a adolescência
e a idade adulta. A Figura 1 abaixo representa o desenvolvimento das versões dos
testes SON.
Figura 1- Histórico dos testes SON
Fonte: Almeida (2013).
Em 2008 o SON-R 2½-7[a] foi normatizado para o Brasil (JESUS, 2009).
Segundo dados do Conselho Federal de Psicologia (2013), a versão encontra-se
aprovada para uso profissional desde 2012. O teste é a versão abreviada do SON-R
2½-7 de origem holandesa. O SON-R 2½-7[a] avalia a inteligência geral a partir de
várias habilidades, sendo composto por quatro subtestes: Categorias, Situações,
Mosaicos e Padrões (KARINO; LAROS; JESUS, 2011).
O SON-R 6-40, utilizado no presente estudo, é um teste de inteligência para
aplicação geral, que pode ser administrado sem a utilização da linguagem falada ou
escrita (TELLEGEN; LAROS, 2011). A versão foi desenvolvida em 2009 na Holanda e
encontra-se em processo de normatização para o Brasil. De acordo com Laros et. al.
(2012) estudos sobre o SON-R 6-40 foram realizados na Holanda e na Alemanha.
Com uma amostra de 2.040 sujeitos, Holanda (n = 1.020) e Alemanha (n = 1.020),
apresentando excelentes indicadores psicométricos.
O teste é composto por quatro subtestes, a saber: Analogias, Categorias,
Mosaicos e Padrões. Os dois primeiros subtestes possuem itens de múltipla escolha,
são escalas de raciocínio, os dois últimos são escalas de habilidade espacial (LAROS,
et. al., 2012). O subteste Analogias possui três séries, cada uma com 12 itens.
Mosaicos possui duas séries com 13 itens cada. O subteste Categorias possui 3 séries
com 12 itens cada. O subteste Padrões possui 2 séries com 13 itens cada. O teste
pode ser administrado para pessoas na faixa etária de 6 até 40 anos, a aplicação é
realizada individualmente e o tempo médio é de 1 hora.
O SON-R 6-40 foi desenvolvido a partir da versão SON-R 5½-17, com o intuito
de avaliar a inteligência fluida, diminuindo a interferência cultural. Além disso, a
independência da linguagem verbal faz com que o SON-R 6-40 se torne adequado
para populações que apresentam baixa escolarização, pessoas com habilidades
verbais subdesenvolvidas, pessoas mudas ou com problemas auditivos, e ainda, para
sujeitos com problemas de aprendizagem bem como para pessoas com problemas de
expressão e linguagem (LAROS; REIS; TELLEGEN, 2010).
MÉTODO
Participantes
Participaram da pesquisa 111 crianças e adolescentes, estudantes de escolas
públicas do Distrito Federal. Deste quantitativo, 52,3 % dos participantes eram do sexo
masculino e 47,7 % do sexo feminino. A idade mínima dos participantes foi de 5 anos
e a idade máxima foi de 18 anos, sendo que a média foi de 10,26 anos (DP = 3,77).
Instrumentos
Foram aplicados o SON-R 6-40 e um questionário sociobiográfico, que
continha questões sobre o gênero, a idade e o local de residência dos participantes.
Procedimentos de coleta dos dados
Para a aplicação do SON-R 6-40 foram realizados alguns encontros cujo
objetivo foi o treinamento de um grupo de alunos para a coleta de dados. Os primeiros
contatos foram de familiarização com o instrumento e observações de aplicações para
treinos simulados visando garantir uniformidade e padronização na coleta dos dados.
Após o treinamento foram selecionadas, por conveniência, algumas escolas
para a realização das aplicações. No contato inicial com as escolas foram
apresentados os nomes dos aplicadores, a carta de apresentação da pesquisa, o
documento de aprovação no Comitê de Ética em Pesquisa e os documentos de
Consentimento Livre e Esclarecidos (TCLE) que seriam enviados para os alunos e
seus responsáveis.
As direções das escolas realizaram o contato com os estudantes para a
entrega dos Termos de Consentimento Livre e Esclarecido, além de fornecer
informações sobre a pesquisa. Para a aplicação do teste, as escolas disponibilizaram
laboratórios de informática, bibliotecas e salas fora de uso. No total, quatro escolas
públicas do Plano Piloto de Brasília participaram da coleta. Porém, em cerca de 5,4%
dos participantes, a aplicação do SON-R 6-40 foi feita na casa do aluno.
As aplicações do teste foram realizadas individualmente. A instrução do teste
foi feita de maneira padronizada de acordo com o manual do SON-R 6-40, sempre
fornecendo feedback aos estudantes. A ordem de aplicação dos subtestes foi:
Analogias, mosaicos, categorias e padrões, e por último o questionário sociobiográfico.
A aplicação do SON-R 6-40 é realizada de maneira adaptativa, no intuito de
apresentar apenas os itens mais pertinentes ao avaliando. Para tanto, o manual do
instrumento prevê critérios para o início e interrupção das séries e subtestes O registro
dos itens do teste foi feito em folha de resposta pelo aplicador, através do modelo de
apuração dos itens fornecido pelo teste. Ao final de cada subteste, era realizada a
soma das pontuações em cada série para se obter o escore bruto.
Análise dos dados
Os dados coletados foram agrupados em um banco de dados e analisados por
meio do programa para Análise Estatística – SPSS (Statistical Package for the Social
Sciences) versão 18.0. Os dados foram analisados pelas técnicas da estatística
descritiva e análise fatorial exploratória. Também foram empregadas análises de
consistência interna dos itens.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Para cada subteste do SON-R 6-40, foram realizadas análises de consistência
interna, a fim de verificar se os itens apresentavam consistência com o escore geral no
subteste. De acordo com Sijtsma (2012), o Lambda 2 de Guttman é indicado para
casos em que os instrumentos contem poucos itens ou quando a amostra é pequena.
Para Pasquali (2012), para analisar o resultado da consistência interna considera-se
como aceitáveis valores maiores que 0,80 (λ2 ≥ 0,80). Esse mesmo procedimento foi
utilizado por Primi e Almeida (2000) no estudo de validação da BPR-5 para o Brasil.
A análise da consistência interna dos itens para cada um dos quatro subtestes
trouxe índices adequados. Sendo que em Analogias o Lambda de Guttman foi de 0,92,
em Mosaicos, 0,91, em Categorias, 0,92 e em Padrões, 0,94. Para todos os subtestes
o Lambda 2 de Guttman está acima de 0,90, indicando que os índices de consistência
interna estão acima do considerado aceitável (Pasquali, 2012).
Pesquisa realizada com o SON-R 2½-7[a] (LAROS; JESUS; KARINO, 2013),
já normatizado para o Brasil, também demonstrou resultados satisfatórios para a
análise de consistência interna. Para os quatro subtestes do SON-R 2½-7[a], os
índices de consistência interna variaram entre 0,80 e 0,87.
Assim, os índices de consistência interna permitiram a construção de quatro
variáveis para a análise fatorial referentes aos escores padronizados para cada um
dos subtestes do SON-R 6-40. Os escores brutos em cada subteste foram obtidos a
partir da soma das respostas corretas por série. Esses escores foram normalizados
para uma escala de 0 a 20 (M = 10, DP = 3). Em seguida realizou–se à análise fatorial
dos quatro subtestes.
Na tabela 01 seguem as Médias e Desvios padrões para os quatro subtestes
do SON-R 6-40. O subteste com maior média, 9,14, foi Analogias e a menor média,
7,79, foi para o subteste Mosaicos.
Tabela 01: Média e Desvio padrão para cada subteste do SON-R 6-40.
Subtestes
N
Média
Desvio Padrão
Analogias
111
9,14
3,407
Mosaicos
111
7,79
2,757
Categorias
111
8,29
3,117
Padrões
111
8,39
3,114
A análise fatorial em geral exige amostras grandes, acima de 200 casos,
porém, quando os fatores são bem estruturados é possível realizar uma análise fatorial
com até 50 casos (Tabachnick; Fidell, 2007). Para Pasquali (2012), 100 casos por
fator constitui uma amostra adequada. Dessa maneira, no presente estudo a hipótese
foi de um único fator para explicar as variáveis observadas. Assim, a amostra de 111
casos apresenta-se adequada para a análise fatorial.
Inicialmente foi verificada a aplicabilidade dos dados para a análise fatorial,
para tanto foi utilizado o critério de Kaiser-Meyer-Olkin (KMO) com valores
considerados medíocres entre 0,50 e 0,70, valores bons entre 0,70 e 0,80 e valores
ótimos entre 0,80 e 0,90 (DAMASIO, 2012). O valor teste de KMO obtido para a
amostra dessa pesquisa apresentou um valor considerado bom, 0,76. Considera-se,
então, que os dados apresentaram condições adequadas para a aplicação da análise
fatorial.
Para a definição do número de fatores a serem extraídos, utilizou-se a Análise
Paralela de Horn, na qual se considera que os fatores a serem extraídos serão
aqueles cujo autovalor empírico exceda o autovalor médio obtido de amostras
aleatórias (LAROS, 2012). Foi identificada a existência de um único fator com
autovalor empírico de 2,693, maior que o autovalor médio obtido das amostras
aleatórias, conforme Figura 2.
Figura 2: Autovalores empíricos e aleatórios por possíveis fatores.
A matriz fatorial foi gerada a partir do método de extração Principal Axis
Factoring (PAF) aplicado aos escores totais brutos normatizados dos quatro subtestes
do SON-R 6-40, considerando o critério de um fator. A variância total explicada por
esse fator foi de 67,34%. Para Damásio (2012), a variância explicada refere-se à
variância comum extraída de um conjunto de dados em relação a um ou mais fatores.
Segundo Damásio (2012), alguns autores (Abelson 1985; O’ Grady1982 apud
Damásio, 2012) afirmam que a variância explicada não pode ser considerada como
um critério para a interpretação de uma análise fatorial exploratória.
Para todos os subtestes, as cargas fatoriais encontradas foram maiores que
0,60. De acordo com Comrey e Lee (1992 apud TABACHINICK; FIDELL, 2007) cargas
fatoriais acima de 0,71 são consideradas excelentes, 0,63 são muito boas, 0,55 são
boas, 0,45 são fracas e 0,32 são pobres. Abaixo, na Tabela 2 encontram-se as cargas
fatoriais obtidas para cada subteste. Demonstrando que os quatro subtestes podem
ser explicados por um único fator de inteligência.
Tabela 2: Cargas fatoriais dos subtestes.
Subtestes
Cargas fatoriais
Padrões
0,784
Mosaicos
0,776
Analogias
0,784
Categorias
0,660
Foi realizada a análise de consistência interna do fator geral pelo método do
Lambda 2 de Guttman, obteve-se o valor de 0,97 (λ2 = 0,97), demonstrando evidência
de confiabilidade dos escores do fator geral. A média do fator geral, cujos escores
brutos foram transformados em QI de desvio (média de 100 e desvio padrão de 15), foi
igual a 90,60 e o desvio padrão foi igual a 15,34. Para a transformação dos escores
brutos em escores normatizados foi feita por Almeida (2013) que utilizou um software
específico para o SON-R 6-40 com as normas da Holanda e da Alemanha.
A teoria CHC das habilidades cognitivas apresenta os pressupostos modernos
sobre a compreensão da inteligência. Este modelo propõe uma organização
hierárquica deste construto, sendo que o mesmo é formado por diferentes habilidades
cognitivas. No segundo estrato do modelo CHC encontram-se dez fatores amplos que
se relacionam com o fator geral. Dentre os fatores amplos é possível destacar a
inteligência fluida (Gf). O SON-R 6-40 foi desenvolvido com o intuito de avaliar a
inteligência, sobretudo no que diz respeito ao fator inteligência fluida, compreendida
em termos do potencial para aprender. Neste sentido, a técnica da análise fatorial
exploratória, empregada no presente estudo, apresentou apenas um fator para as
variáveis do teste, conforme a teoria prevista.
No Brasil, Almeida (2013) realizou dois estudos para avaliar a validade
convergente do SON-R 6-40 correlacionando-o com outros dois testes de inteligência
já validados e normatizados para o Brasil, a BPR-5 e o SON-R 2½-7[a]. No estudo
realizado entre o SON-R 6-40 e o SON-R 2½-7[a] foi utilizada uma amostra com 44
participantes, com idades entre 5,9 e 7,8 anos que responderam aos dois testes. Os
resultados desse primeiro estudo trouxeram uma correlação bruta de 0,67 entre SON-
R 6-40 e o SON-R 2½-7[a] e, após a aplicação da correção dupla para atenuação na
correlação bruta, o resultado foi de 0,75. O estudo sobre a validade convergente
realizado entre o SON-R 6-40 e a BPR-5 apresentou a correlação de 0,72. Estes
resultados se assemelham as pesquisas realizadas entre o SON-R 6-40 e o WISC- IV
na Alemanha (n = 35) cuja correlação foi de 0,77 (TELLEGEN; LAROS, 2011). Tais
estudos juntamente com os resultados encontrados na presente pesquisa contribuem
para demonstrar evidências de validade do SON-R 6-40.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O objetivo do presente estudo foi verificar as evidências de validade de
construto do teste SON-R 6-40. Para tanto, buscou-se aplicar a técnica da análise
fatorial exploratória com os dados da amostra. Os resultados demonstraram a
existência de um único fator de acordo com a teoria subjacente ao teste.
Assim, este estudo apontou evidências de que o teste SON-R 6-40 mede
adequadamente a inteligência fluida, apresentando-se como um promissor instrumento
não-verbal para a avaliação da inteligência das crianças e adolescentes .
Durante a análise dos resultados foram identificadas algumas limitações, a
primeira delas diz respeito ao número de participantes, que foi pequeno, o que impede
a generalização dos resultados. Destaca-se ainda, que a coleta de dados foi realizada
apenas com estudantes de escolas públicas.
Nesse sentido é possível apontar que estudos futuros com o SON-R 6-40
apresentem um número maior de participantes, com vistas a trazer maior
representatividade da população brasileira, além disso, poderá ser aplicada a técnica
da análise fatorial confirmatória. Considera-se, ainda, que em pesquisas futuras para
estudo da qualidade psicométrica do SON-R 6-40 a idade e a escolaridade dos
participantes sejam consideradas como variáveis relevantes para a análise dos dados.
Conclui-se que o presente estudo é relevante na medida em que contribui para
o campo da avaliação psicológica, sobretudo ao evidenciar a qualidade psicométrica
de um instrumento não-verbal de inteligência. Dessa forma apresenta subsídios para a
avaliação da inteligência de acordo com as perspectivas modernas para este construto
e ainda, coerentes com a realidade brasileira, com vistas a reduzir a influência cultural
e a dependência da linguagem na testagem das habilidades cognitivas.
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