UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA
ADRIANA MARIA DA SILVA
PERFIL EXTRATIVO E COMERCIAL DAS JAZIDAS DE CALCÁRIO
DA PORÇÃO OESTE DE MINAS GERAIS –
ESTUDO DE CASO UBERABA E COROMANDEL
Uberlândia-MG
2009
ADRIANA MARIA DA SILVA
PERFIL EXTRATIVO E COMERCIAL DAS JAZIDAS DE CALCÁRIO
DA PORÇÃO OESTE DE MINAS GERAIS –
ESTUDO DE CASO UBERABA E COROMANDEL
"Trabalho de conclusão de curso apresentado ao
Instituto de Geografia da Universidade Federal de
Uberlândia, como requisito para a obtenção do título
de Bacharel em Geografia”
Orientador: Prof. Dr. Adriano Rodrigues dos Santos
Uberlândia-MG
2009
Adriana Maria da Silva
Perfil extrativo e comercial das jazidas de calcário da porção oeste de Minas Gerais –
Estudo de caso Uberaba e Coromandel
Trabalho de conclusão de curso apresentado ao
Instituto de Geografia da Universidade Federal de
Uberlândia, como requisito para a obtenção do título
de Bacharel em Geografia
Uberlândia, 09 de Julho de 2009
Banca Examinadora
_________________________________________
Prof. Dr. Adriano Rodrigues do Santos– Instituto de Geografia - UFU
_________________________________________
Profa. Dra.Regina Clélia Haddad – Instituto de Geografia - UFU
_________________________________________
Prof. Dr. Roberto Rosa– Instituto de Geografia - UFU
À Nadir, minha mãe querida, por todo amor, luta e
dedicação
AGRADECIMENTOS
Agradeço primeiramente a Deus pelo dom da vida e por todas as oportunidades nela
concedidas.
À minha família, por tudo!
Ao meu orientador, Adriano Rodrigues Santos, pelo apoio, paciência, compreensão e
incentivo.
A secretária da graduação Mizmar pela eterna atenção e gentileza.
Agradeço a todos os meus amigos pela força e motivação durante este período de luta e
estudo.
À equipe Céleres Ambiental por todo apoio e horários cedidos.
Aos meus amigos do curso de Geografia, que contribuíram de forma direta e indireta para a
realização deste trabalho, em especial a Alécio Perini Martins, Fernando Campos Mesquita e
Rosielle Araújo.
Ao Sr. Nemésio Cortezi e ao Clube Amigos da Terra de Uberlândia pelas informações e
espaço cedidos.
Especialmente agradeço à Calcário Triângulo/Ercal, em nome do Sr. João Tonelli e equipe de
funcionários, pela confiança e disposição dos dados, além da permissão para o levantamento
de campo.
RESUMO
O perfil extrativo e comercial das jazidas de calcário da porção oeste de Minas Gerais
ocorre a partir da presença de significativas jazidas de calcário em uma região
tradicionalmente produtora de alimentos em solos pobres e ácidos. Nesse contexto, se
dá a exploração de calcário calcítico da jazida de Uberaba-MG e calcário dolomítico
da jazida de Coromandel-MG, controladas por Calcário Triângulo Ind. e Com. Ltda e
Ercal – Empresas Reunidas de Calcário Ltda, respectivamente. Estas empresas,
tradicionalmente familiares e pertencentes basicamente ao mesmo grupo comercial,
vem alterando a forma de gerenciar seus negócios, hoje, focados na gestão
empresarial, já que o mercado de calcário tem exigido ações pautadas na excelência.
Com isso, a concorrência do calcário oriundo de outras regiões e a influência do frete
no preço final vem estabelecer parte da dinâmica que irá influenciar na demanda do
produto e consequentemente na exploração das jazidas e beneficiamento do calcário.
Hoje, o setor se apresenta eficiente na oferta do produto e as jazidas correspondem às
necessidades regionais, agregando valor na cadeia produtiva mineral e no
agronegócio.
Palavras chaves: calcário, região oeste de Minas Gerais, Ercal, Calcário Triângulo,
Uberaba, Coromandel
LISTA DE TABELAS
TABELA 01. Principais Estatísticas- Brasil ......................................... 35
TABELA 02. Reservas Minerais de Calcário no município de Uberaba-MG
....................................................................................................... 41
TABELA 03. Características mínimas exigidas para comercialização
corretivos agrícolas ........................................................................... 53
TABELA 04. Média de análises realizadas no produto calcítico de
Uberaba-MG ..................................................................................... 54
TABELA 05. Média de análises realizadas no produto dolomítico de
Coromandel-MG ................................................................................ 54
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
FIGURA 01. Mapa de localização da área de estudo ............................. 19
FIGURA 02. Unidades Litoestratigráficas da porção oeste de Minas Gerais
...................................................................................................... 22
QUADRO 01. Litocronoestratigrafia da porção oeste de Minas Gerais .... 23
QUADRO 02. Quadro dos maiores usos comerciais do calcário ............. 30
QUADRO 03. Estrutura da produção brasileira de calcário por região em
2006.. .............................................................................................. 34
QUADRO 04. Empresas de Calcário no Triângulo Mineiro e Alto
Paranaíba, minas e porte .................................................................... 39
FIGURA 03. Localização das jazidas de calcário de Uberaba-MG e
Coromandel-MG e área de influência .................................................. 40
FIGURA 04. Vista geral da jazida de calcário localizada em Uberaba-MG
....................................................................................................... 42
FIGURA 05. Pedras extraídas da jazida de calcário em Uberaba-MG ...... 42
FIGURA 06. Calcrete, popularmente conhecido como “casco de burro”em
Uberaba-MG ..................................................................................... 43
FIGURA 07. Perfuração de buracos profundos nas rochas para colocação
de explosivos, em Uberaba-MG .......................................................... 44
FIGURA 08. Carregamento das pedras calcárias extraídas para unidade de
beneficiamento de Uberaba-MG .......................................................... 44
FIGURA 09. Vista geral da jazida de calcário localizada em CoromandelMG .................................................................................................. 46
FIGURA 10. Pedras extraídas da jazida de calcário em Coromandel-MG ...
...................................................................................................... .46
FIGURA 11. Detalhe para deposição de materiais distintos da jazida de
calcário em Coromandel-MG .............................................................. 47
FIGURA 12. Local onde é depositado o material de decapeamento da
jazida de Coromandel-MG .................................................................. 47
FIGURA 13. Separação das pedras extraídas da jazida de calcário em
Coromandel-MG ................................................................................ 48
FIGURA 14. Carregamento das pedras calcárias extraídas para unidade de
beneficiamento de Coromandel-MG .................................................... 49
FIGURA 15. Fluxograma básico da fabricação do pó corretivo .............. 50
FIGURA 16. Local do transporte das pedras ao britador, Unidade de
Beneficiamento de Uberaba-MG e Coromandel-MG, respectivamente ..... 51
FIGURA 17. Transporte de material através de correias para a britagem
secundária, Unidade de Beneficiamento de Uberaba-MG ....................... 51
FIGURA 18. Condução do material, Unidade de Beneficiamento de
Uberaba-MG e Coromandel-MG, respectivamente ................................ 52
FIGURA 19. Disposição do calcário dolomítico (escuro) de Coromandel e
do calcário calcítico de Uberaba-MG em pátio de usina de CoromandelMG .................................................................................................. 56
LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS
ABRACAL
Associação Brasileira dos Produtores de Calcário Agrícola
BDMG
Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais
CAMPO
Companhia de Promoção Agrícola
DNPM
Departamento Nacional de Produção Mineral
EMATER
Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural
EMBRAPA
Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária
FJP
Fundação João Pinheiro
IBGE
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
MAPA
Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento
NPK
Fósforo, potássio e magnésio
PADAP
Programa de Assentamento Dirigido do Alto Paranaíba
PAEG
Plano de Ação Econômica do Governo
PCI
Programa de Crédito Integrado
PDN
Plano Nacional de Desenvolvimento
PED
Plano de Metas e Bases para Ação do Governo
PIN
Programa de Integração Nacional
PLANACAL
Plano Nacional de Calcário Agrícola
PN
Poder de Neutralização
POLOCENTRO
Programa de Desenvolvimento do Cerrado
PRNT
Poder Relativo de Neutralização Total
PRODECER
Programa de Cooperação Nipo-Brasileira de Desenvolvimento dos
Cerrados
RE
Reatividade
ROM
Produção Bruta Anual saída da boca da mina (Run of Mine)
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO ....................................................................... 11
2. OBJETIVO .............................................................................. 14
2.1. Objetivo Geral ....................................................................... 14
2.1. Objetivos Específicos ............................................................. 14
3. JUSTIFICATIVA ...................................................................... 15
4. MATERIAIS E MÉTODOS ........................................................ 16
5. LOCALIZAÇÃO E ASPECTOS FISIOGRÁFICOS DA ÁREA DE
ESTUDO .................................................................................... 18
5.1. Localização e vias de acesso .................................................. 18
5.1.1. Uberaba ............................................................................ 18
5.1.2. Coromandel ....................................................................... 20
5.2. Aspectos Fisiográficos .......................................................... 20
5.2.1. Clima - Oeste de Minas Gerais ............................................ 20
5.2.2. Geomorfologia e Vegetação - Oeste de Minas Gerais ............. 20
5.2.3. Geologia Regional ............................................................. 21
6. ESTADO DA ARTE ................................................................. 30
6.1. O Calcário ........................................................................... 30
6.2. O Calcário e a agricultura brasileira ....................................... 31
6.3. Capacidade de oferta da indústria ........................................... 33
6.4. Evolução do consumo ............................................................ 34
6.5. Preço - a questão do frete ...................................................... 35
6.6. A questão do calcário ............................................................ 35
6.7. O calcário da porção oeste de Minas Gerais ............................ 36
6.8. O comércio de calcário: Calcário Triângulo e Ercal – Empresas
Reunidas de Calcários Ltda .......................................................... 37
7. RESULTADOS E DISCUSSÕES ............................................... 39
7.1. O calcário e a área de estudo ................................................. 39
7.2.
Localização
e
caracterização
das
jazidas
e
unidades
de
processamento ............................................................................ 41
7.2.1. Calcário de Uberaba ........................................................... 41
7.2.1.1. Processo extrativo ........................................................... 41
7.2.2. Calcário de Coromandel ..................................................... 45
7.2.2.1. Processo extrativo ........................................................... 45
7.2.3. Beneficiamento .................................................................. 49
7.2.4. Qualidade do produto ......................................................... 52
7.3. Perfil Empresarial .................................................................. 56
7.3.1. Potencial extrativo ............................................................. 56
7.3.2. Arcos-MG, suas jazidas e a “concorrência x concorrência” ..... 57
7.3.3. Logística Calcário Triângulo / Ercal .................................... 59
7.3.4. Comercialização ................................................................ 59
8. CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................... 61
REFERÊNCIAS ............................................................................ 63
11
1. INTRODUÇÃO
A técnica de correção do solo já era conhecida antes mesmo da Era Cristã, quando
depósitos não consolidados de cálcio misturados com argila, sílica e matéria orgânica,
conhecidos como margas, eram aplicados ao solo por gregos e romanos com o intuito de
aumentar a produtividade (CALPAR, 2007).
Segundo Parahyba (2008, p.01) os solos brasileiros, assim como os demais solos
tropicais, são, na sua maior parte, ácidos, característica que favorece o aparecimento de
elementos tóxicos para as plantas, afetando negativamente a lavoura e dificultando o
aproveitamento dos elementos nutritivos existentes por estas. O calcário é o principal produto
utilizado para corrigir a acidez do solo. Em linhas gerais age reduzindo a quantidade dos
elementos nocivos, aumentando o nível de cálcio e magnésio, tornando assim o solo mais
aerado, permitindo maior circulação de água e melhor desenvolvimento das raízes e, em
conseqüência, proporcionando o aumento da atividade dos microorganismos, fazendo com
que a adubação renda mais. A qualidade do calcário agrícola depende, principalmente, do
teor, do tipo de elementos que diminuem a acidez e do tempo que leva para fazer efeito no
solo. Esta qualidade depende da quantidade, que é medida por um índice conhecido como
Poder Relativo de Neutralização Total – PRNT, que é obtido através do PN (Poder de
Neutralização) e da RE (Reatividade dada pela granulometria do calcário).
Atualmente existem estudos em desenvolvimento e projetos sugeridos, mas nada
comparado ao pioneirismo da EMBRAPA – Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária,
que permitiu, através de suas pesquisas, a exploração e o desenvolvimento de áreas
agricultáveis anteriormente consideradas como improdutivas devido à acidez e pobreza
nutricional de seus solos. O trabalho da EMBRAPA juntamente com outros incentivos do
governo propiciou o avanço da fronteira agrícola no Brasil. (FRANCO, 2001)
Segundo Ribeiro (2002, p.266) o Governo Federal, visando propiciar a ocupação
racional e ordenada das áreas de cerrado criou programas de modernização, com área de
atuação nos Estados de Goiás, Mato Grosso e Minas Gerais, onde se concentram parte
considerável dos cerrados brasileiros. Foram implantados ao longo do Regime Militar e
merecem destaque o PCI (Programa de Crédito Integrado e Incorporação dos Cerrados); o
PADAP (Programa de Assentamento Dirigido do Alto Paranaíba); o POLOCENTRO
(Programa de Desenvolvimento dos Cerrados); e o PRODECER I e II (Programa de
Cooperação Nipo-Brasileira para o Desenvolvimento dos Cerrados). Buscou-se a integração
12
entre pesquisa, assistência técnica, crédito rural orientado e apoio à infraestrutura dessas
regiões. A modernização da agricultura se fez cada vez mais intensa de mecanização,
adubação, agrotóxicos, etc.
A região oeste mineira desenvolveu seu potencial agrícola a partir da atuação do
POLOCENTRO, sendo também influenciada pela construção de Brasília, quando novas
estradas foram construídas, propiciando uma maior integração entre os estados e fortalecendo
relações comerciais. Atualmente a região é destaque no cenário agrícola nacional, sendo a
correção da acidez do solo e a incorporação de novas tecnologias fatores fundamentais para a
busca de uma agricultura cada vez mais voltada para grandes mercados. (SILVA, 2000)
As rochas calcárias são abundantes em todo o Brasil e segundo o Anuário Mineral
Brasileiro de 2006 do Departamento Nacional de Produção Mineral - DNPM, as reservas no
país situavam-se na ordem de 49 bilhões de toneladas, número propício de crescimento já que
novas pesquisas geológicas são realizadas todos os anos por todo o país. Em Minas Gerais as
reservas situavam-se na ordem de 9 bilhões de toneladas e a produção bruta em torno de 25
milhões de toneladas, com o consumo do estado representando 32,28% do consumo nacional
e 92% da produção estadual.
Sendo o calcário considerado um insumo agrícola, sua produção está vinculada ao
desempenho do setor agrícola e ao perfil do produtor rural. Os principais destinos da calagem
realizada na região em estudo são para pastagem, produção de grãos, citrus e atualmente
destaque para a cana-de-açúcar, que em virtude da boa rentabilidade financeira do açúcar e
principalmente do álcool, fez com que a produção crescesse consideravelmente na região nos
últimos anos devido aos grandes investimentos na implantação de destilarias e
consequentemente nos canaviais e novos plantios.
Além da correção da acidez, o calcário melhora a atividade dos macronutrientes:
nitrogênio, fósforo e potássio (NPK), potencializando a ação da adubação e diminuindo a
quantidade aplicada, fato ecologicamente positivo, porém, mesmo com tamanha relevância no
processo produtivo, observa-se que o seu consumo não atinge a média ideal de demanda que a
área plantada solicita. A falta de informação, apesar da presença de institutos de pesquisa, é
considerada a maior causadora desse baixo índice de consumo. Destaca-se também, em
tempos de crise, uma diminuição ainda maior do consumo ideal como reflexo da contenção de
custos.
No ano de 2006, segundo estudo realizado pela Céleres, empresa de consultoria em
agronegócios sediada em Uberlândia, os estoques mundiais de alimento estavam em
patamares muito abaixo da média. Em 2008 consolida-se a chamada crise dos alimentos, com
13
destaque para o crescimento da produção de combustível verde, agravando ainda mais o
cenário. Sendo assim, atenta-se à grande necessidade de incorporação de tecnologias, dentre
elas um perfeito manejo do solo para que se possa reverter parte desse problema.
Diante desse quadro, destaca-se a capacidade de resposta do setor produtivo de
calcário em atender esse crescimento, tanto pela disponibilidade de jazidas ainda não
exploradas, quanto pela capacidade ociosa apresentada pelas mineradoras.
Pretendendo entender sobre a dinâmica do calcário na região oeste de Minas Gerais e
sua relação com o desenvolvimento da agricultura e economia regional, considerou-se as
relações estabelecidas entre a cadeia produtiva e o mercado consumidor, a importância desse
bem mineral para a agricultura e a falta de informações sobre o setor em nossa região,
também verificada em todo o país.
Outro fato relevante é o fluxo de capital externo gerado, já que a localização
estratégica da região coloca o calcário como produto ofertado também fora do estado,
contribuindo também com o desenvolvimento do setor de transportes, mesmo com a presença
de calcário advindo de outras áreas em virtude de uma dinâmica que ocorre com o frete
contratado, reflexo também da localização estratégica da região.
No âmbito da prospecção mineral e avaliação do potencial econômico, as pesquisas já
realizadas na área se devem exclusivamente às empresas instaladas, sendo que os dados
disponíveis para consulta pública se restringem a poucas informações sobre teor de pureza e
magnésio do produto.
Sendo assim, não há pretensão de se apresentar informações revolucionárias, já que os
dados obtidos não apresentam um grau de detalhamento expressivo. No entanto, a partir
desses dados algumas análises são elaboradas a fim de se desenhar um perfil mais claro dessa
dinâmica do calcário da região.
A importância de Uberaba e Coromandel como distribuidoras de calcário para regiões
agrícolas pólos de tecnologia, produção e processamento se faz destaque, e entender a
dinâmica aplicada e suas características é fato relevante para a continuidade desse destaque
nacional que a agricultura local possui. De nada vale altas tecnologias em sementes e
maquinários se o solo não está propício a receber todo esse investimento. Logo, o calcário é
sem dúvida um dos grandes responsáveis por todo desenvolvimento regional.
14
2. OBJETIVO
2.1. Objetivo Geral
Este estudo tem como objetivo demonstrar o perfil extrativo e econômico das jazidas
de calcário da região oeste de Minas Gerais – estudo de caso Uberaba e Coromandel, e
possíveis potencialidades. Considerando-se o perfil econômico da região, analisar seu raio de
abrangência e sua importância.
Logo, ao analisar essa área de abrangência, levantar necessidades e a atuação dos
intermediadores, considerando o valor do produto, vantagens locacionais, logística e também
a opinião do consumidor final quanto a qualidade, acessibilidade, custos e conscientização.
2.2. Objetivos Específicos
- Caracterizar a área de estudo por meio de estudos bibliográficos e levantamento de campo
- Relacionar o consumo de calcário na região e suas fontes de distribuição
- Diagnosticar o perfil regional da demanda pelo produto e a resposta do setor produtivo
- Relacionar a questão frete “versus” custo benefício
- Levantamento da geologia do calcário nas regiões do Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba
- Diagnosticar se o uso do calcário na região é utilizado de forma racional ou se um plano de
orientação seria necessário.
- Adquirir dados que possam mostrar a viabilidade do produto regional para a economia local
e seu papel dentro do agronegócio.
15
3. JUSTIFICATIVA
A justificativa para execução do trabalho reside na importância dessa região enquanto
produtora de alimento e grande beneficiadora. Entender e discorrer sobre o perfil extrativo e
comercial de calcário na região é na verdade uma forma de agregar benefícios a ambas as
cadeias produtivas, sendo que nesse caso, não se constatou nenhum estudo direcionado para a
realidade regional do setor.
Logo, informações que possam contribuir com o atual estágio de discussão dos
mecanismos que viabilizam a correção da acidez dos solos do cerrado e o impulso a uma
produção eficiente de alimentos em detrimento da abertura de novas áreas só vem beneficiar a
região, que além da tradicional agricultura de grãos, incorpora agora nova dinâmica
produtiva: a indústria sucroalcooleira.
16
4. MATERIAIS E MÉTODOS
A fim de obter informações mais precisas a respeito do uso do perfil extrativo e
comercial do calcário na porção oeste de Minas Gerais, determinou-se Uberaba e Coromandel
como cidades referências por possuírem jazidas significativas em seus territórios. Os
procedimentos utilizados no desenvolvimento da pesquisa fundamentaram-se em trabalho de
escritório e de campo.
O trabalho de escritório, baseado em pesquisa bibliográfica, foi pautado em levantar a
disponibilidade de informações, destacando: periódicos, livros, monografias, dissertações,
teses, artigos técnicos, base de dados remota, material cartográfico e fotografia, que
possibilitou a caracterização a área de estudo e de parte do tema proposto (devido a falta de
informações regionais sobre o tema), além do processamento das informações levantadas e
elaboração do trabalho.
O trabalho de campo consistiu primeiramente em visita à jazida e unidade de
beneficiamento de calcário calcítico em Uberaba-MG, Calcário Triângulo, quando se
percorreu a área da pedreira justamente com o professor orientador deste trabalho, realizando
registro fotográfico e apurando informações.
Também foi realizada visita à jazida e unidade de beneficiamento de calcário
dolomítico em Coromandel-MG, Ercal, onde também se percorreu a área da pedreira e parte
da unidade de beneficiamento em presença de funcionário da Ercal, realizando registro
fotográfico. Nesse mesmo dia foi realizada reunião com o administrador do grupo na região,
Sr. João Tonelli que disponibilizou informações e apoio de sua equipe. Logo, foram
realizadas 2 visitas ao escritório em Uberlândia e inúmeros contatos telefônicos a fim de
apurar informações.
Também foram realizadas visitas a um representante comercial regional de calcário
(terceirizado) a produtores rurais e associações – Clube Amigos da Terra de Uberlândia e
Sindicato Rural de Uberlândia, a fim de aprofundar na dinâmica comercial e utilização do
calcário.
Finalmente realizou-se o processamento dos dados obtidos.
O método utilizado foi descritivo-indutivo, pois o trabalho descreve aquilo que pode
ser observado e analisado através de pesquisa e é indutivo porque, para GIL (1999)
“ (...) o método descritivo-indutivo é aquele que parte do particular e
coloca a generalização como um produto posterior do trabalho de
coleta de dados particulares. De acordo com o raciocínio indutivo, a
17
generalização não deve ser buscada aprioristicamente, mas
constatada a partir de casos concretos suficientemente confirmadores
dessa realidade. Nesse método parte-se da observação de fatos ou
fenômenos cujas causas se deseja conhecer. A seguir, procura-se
compará-los com a finalidade de descobrir as relações existentes
entre eles. Por fim, procede-se à generalização, com base na relação
verificada entre os fatos e fenômenos.”
Na estruturação deste estudo optou-se pela divisão em sete capítulos. Os quatro
primeiros falam sobre o desenvolvimento do trabalho, o quinto traz a localização e aspectos
fisiográficos da área de estudo, o sexto o Estado da Arte, onde se encontra uma explanação
sobre o calcário em geral, o calcário no Brasil e o domínio da exploração de calcário na
região; no sétimo capítulo, Resultados e Discussões, onde são apresentados os dados obtidos e
o perfil da região.
18
5. LOCALIZAÇÃO E ASPECTOS FISIOGRÁFICOS DA ÁREA DE ESTUDO
5.1. Localização e vias de acesso
A área de estudo está localizada na porção oeste do Estado de Minas Gerais, inserida no
domínio das regiões do Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba. A região possui três importantes
rodovias federais: BR-050, que liga o Estado de São Paulo ao Distrito Federal; a BR-262, que
liga Uberlândia a Belo Horizonte e a BR-365 que estabelece interligação entre o nordeste de
Minas Gerais e os Estados do Mato Grosso e Mato Grosso do Sul (Figura 01).
O Triângulo Mineiro é considerado uma das regiões mais promissoras e desenvolvidas
de Minas Gerais e possui grande destaque nacional. Estrategicamente localizado, é
logisticamente importante no cenário de transportes no país. Com cidades modernas e
razoavelmente bem estruturadas, algumas com perfil industrial e comercial, como Uberlândia
e Uberaba, a atividade agrícola destaca-se como base da economia e riqueza regional. Suas
principais cidades são Uberlândia, Uberaba, Patos de Minas, Araguari e Ituiutaba.
O Alto Paranaíba é uma das regiões mais proeminentes de Minas Gerais. Com
paisagem predominantemente rural, vem sofrendo modificações em função da crescente
industrialização e exploração de seus recursos minerais. Rica em recursos hídricos, vem
propiciando o desenvolvimento das lavouras irrigadas e de uma pecuária modernizada. Possui
boa infraestrutura em termos de rodovias asfaltadas, o que favorece o complexo mineroindustrial em Araxá e Patos de Minas, cidades destaques da região, e ainda o elevado padrão
produtivo tecnológico nas áreas de laticínios, a indústria de carne e o café de alta qualidade,
sendo uma das principais regiões produtoras do país.
5.1.1. Uberaba
Localizada estrategicamente no Triângulo Mineiro, situa-se a 510 km de São PauloSP, 427 km de Belo Horizonte-MG, 535 km de Brasília-DF, 472 km de Goiânia-GO, 1005
km de Vitória-ES, 180 km de Ribeirão Preto-SP, 220 km de Coromandel e 100 km de
Uberlândia. Tem como municípios limítrofes Água Comprida, Conceição das Alagoas,
Conquista, Delta, Indianópolis, Nova Ponte, Sacramento, Uberlândia e Veríssimo e as
rodovias que dão acesso ao município são a BR-050, BR-262, BR-464, MG-190, MG-798 e
MG-427.
19
Fonte: SANTOS, 2002 adaptado pela autora.
FIGURA 01. Mapa de localização da área de estudo.
20
5.1.2. Coromandel
O Município de Coromandel está situado no Alto Paranaíba e tem como limites, ao
norte, o Estado de Goiás e o município de Guarda-Mor; a leste, os municípios de Vazante,
Lagamar, Patos de Minas e Guimarânia; a oeste, os municípios de Abadia dos Dourados e
Monte Carmelo; ao sul, o município de Patrocínio. Está localizado a 477 km de Belo
Horizonte-MG, 456 km de Brasília-DF, 915 km do Rio de Janeiro-RJ, 710 km de São PauloSP, 1.020 de Vitória-ES, 220 km de Uberaba e 170 km de Uberlândia.
As principais rodovias que dão acesso a Coromandel são a BR-262, BR-365, BR 352,
BR-381, MG-187, MG-188 e MG-230.
5.2. Aspectos Fisiográficos
5.2.1. Clima
As características climáticas da região oeste de Minas Gerais são determinadas por
fatores de ordem geográfica (continentalidade), pela latitude, pela longitude e pela ação de
massas de ar como a massa Equatorial Atlântica e a massa Tropical Atlântica (período seco) e
a massa Equatorial Continental (período chuvoso), que associada aos ventos alísios de
nordeste, origina a Frente Intertropical (FIT), que provoca pancadas de chuva. (ALVES, 2003
apud MARTINS el al 2005, p.04). Martins et al. (2005, p.04) complementam o tema ao
afirmar que o clima da região
(...) se caracteriza por apresentar duas estações bem definidas com duração
média de seis meses cada: verão quente e chuvoso de outubro a março, que
concentra cerca de 85% do total das chuvas anuais e um inverno seco e com
temperaturas mais amenas no restante do período. A região possui clima
tropical apresentando como vegetação dominante o cerrado. De acordo com
a classificação de Köppen, que baseia sua análise na distribuição
pluviométrica anual e nas características adicionais de temperatura, o clima
regional é do tipo Aw, um subtipo da classificação A, dada aos climas
tropicais semi-úmidos, com verão chuvoso.
As médias anuais das chuvas variam de 1000 a 2000 mm. Já o inverno é caracterizado por
num grande déficit hídrico.
5.2.2. Geomorfologia e Vegetação
Conforme Ab’Saber (1972) a área em estudo está inserida no domínio dos chapadões
tropicais do Brasil Central, tendo como cobertura original o Cerrado, relevo este elaborado
desde o Terciário e durante o Quarternário pelos processos morfoclimáticos.
21
Ao se estabelecer relação com o tipo de vegetação e unidades de relevo, sobre a
unidade definida por Baccaro (1991) como chapadas representadas como área de cimeira,
onde prevalecem altitudes entre 890 e 960 m, atribui-se a vegetação de Cerrado.
Os vales fluviais amplos, espaçados e úmidos existentes são dominados por gramíneas
e mata mesofítica. Nas áreas de relevo intensamente dissecado há a presença de vegetação
primitiva, a floresta tropical subcaducifólia. Para as áreas de relevo medianamente dissecado,
há o predomínio dos cerrados desenvolvidos sobre solos arenosos originados da
decomposição de litologias das Formações Marília e Adamantina. Nas porções de fundo de
vales fluviais, devido à exposição da zona saturada, quer seja sob a forma de olhos d’água
(nascentes) ou de forma difusa, desenvolve-se a vegetação típica de ambiente de Veredas, que
nas áreas de chapadas do Triângulo Mineiro tem os nascedouros de fontes hídricas associados
à sua ocorrência. Estas formam um ecossistema típico do Cerrado, com solos hidromórficos,
brejos estacionais e/ou permanentes, quase sempre com a presença de buritizais (Mauritia
flexuosa) e floresta estacional de vegetação arbóreo-arbustiva e fauna variada. Esta
comunidade vegetal é responsável pela perenidade e regularidade dos cursos d’água,
multiplicação e manutenção da fauna terrestre e aquática, sendo muito sensível às alterações
ambientais (MARANESI, 2002, p.56).
Segundo Maranesi (2002) a partir do início da década de 1970, a paisagem vegetal
natural começa a sofrer grandes modificações, com a forte ocupação das chapadas do
Cerrado, com o plantio de reflorestamentos de Pinus e Eucalyptus, por causa dos incentivos
fiscais e o baixo valor das terras. No início dos anos 80, a paisagem foi modificada, com a
retirada do Cerrado e a instalação da grande agricultura comercial, principalmente com soja,
milho, feijão e café.
5.2.3. Geologia Regional
A porção Oeste de Minas Gerais é constituída por duas grandes unidades: a leste, no
domínio da Bacia São Franciscana, ocorrem rochas sedimentares e vulcânicas que se
assentam sobre rochas metassedimentares neoproterozóicas do Grupo Bambuí; e a oeste
rochas magmáticas e sedimentares fanerozóicas do Grupo Bauru, Bacia do Paraná (Figura
02).
22
Fonte: BATEZELLI, 2003
FIGURA 02. Unidades Litoestratigráficas da porção oeste de Minas Gerais.
23
Estas unidades são separadas pelo Soerguimento do Alto Paranaíba (SAP), que afetou,
principalmente a porção sul da Faixa de Dobramentos Brasília, que é constituída por rochas
metamórfícas proterozóicas cortadas por intrusões alcalinas mesozóicas e orientadas
grosseiramente na direção NW-SE (Barbosa et al.. 1970, Hasui & Haralyi 1991 apud Ferreira
Júnior & Gomes, 1999, p.163).
Através de vários eventos tectônicos, formaram-se na região as litologias do PréCambriano: Complexo Goiano, Grupo Araxá, do Grupo Canastra, Grupo Bambuí. Esses
eventos também foram responsáveis pelas manifestações magmáticas que resultaram no
extravasamento das lavas e intrusões da Formação Serra Geral e, posteriormente à
sedimentação do Grupo Bauru. A coluna litocronoestratigráfica apresentada no Quadro 01
resume o empilhamento das rochas presentes na região do Triângulo Mineiro e Alto
Paranaíba.
Os entalhes mais profundos feitos pelos rios como o Araguari, o Grande e o Paranaíba
atingem o embasamento do Pré-Cambriano e as formações rochosas, recobertas em grandes
extensões pelos sedimentos inconsolidados de Idade Cenozóica, ocupam os diferentes níveis
topográficos, desde os topos das chapadas das vertentes até os vales fluviais (BACCARO,
1991).
Quadro 01. Litocronoestratigrafia da porção oeste de Minas Gerais
Triângulo Mineiro
Rochas Pré-Cambrianas
Complexo Goiano
Grupo Araxá
Grupo Canastra
Rochas Mesozóicas
Grupo São Bento
-Formação Botucatu
-Formação Serra Geral
Grupo Bauru
-Formação Uberaba
-Formação Adamantina
Membro São José do Rio Preto
- Formação Marília
Membro Ponte Alta
Membro Serra da Galga
Rochas Cenozóicas
Terciário
Quaternário
Fonte: SANTOS, 2002.
Alto Paranaíba
Rochas Pré-Cambrianas
Complexo Goiano
Grupo Araxá
Grupo Canastra
Grupo Bambuí
Rochas Mesozóicas
-Formação Aerado
-Formação Mata da Corda
Fácies Patos
Fácies Capacete
-Formação Urucuia
Intrusivas Alcalinas
Rochas Cenozóicas
Terciário
Quaternário
24
a) Rochas Pré-Cambrianas
•
Complexo Goiano
O Complexo Goiano, formado predominantemente por migmatitos, gnaisses e
granitos, possui os tipos litológicos mais antigos da região.
•
Grupo Araxá
Segundo Barbosa et al. (1970), o Grupo Araxá (Pré-Cambriano), compõe-se de
metamorfitos de facies epidoto-anfibolito, consistindo essencialmente de micaxistos e
quartzitos, com intercalações de anfibolitos, constituídos de duas micas, comumente com
predomínio de muscovita e como acessórios granada, que pode se constituir num mineral
importante, rutilo, zircão, turmalina e estaurolita, além de cianita, sendo comum se encontrar
faixas de xisto com grandes palhetas de muscovita ou concentrações pegmatóides. Já os
quartzitos não têm grande expressão e consistem de lentes e leitos delgados.
Sua área de ocorrência no Alto Paranaíba vai da cidade homônima até Douradoquara e
Abadia dos Dourados, chegando até as regiões Sul e Sudeste de Goiás (SANTOS, 2002).
No Triângulo Mineiro a unidade encontra-se recoberta por litologias sedimentares e
magmatitos básicos da Bacia Sedimentar do Paraná. Seu afloramento está condicionado às
áreas de profundo entalhe fluvial, produzidos pelos rios Paranaíba, Araguari e Quebra Anzol
(MARANESI, 2003).
•
Grupo Canastra
Este grupo de metamorfitos é composto de quartzitos e filitos. Os metamorfitos do
Grupo Canastra apresentam raras camadas mais espessas de quartzitos puros, predominando
em algumas áreas os xistos sobre o quartzito (BARBOSA et al. 1970).
Tem sua área de ocorrência em toda a porção sudeste e nordeste da area, desde a Usina
Hidrelétrica de Jaguara até o município de Catalão, em Goiás (SANTOS, 2002).
•
Grupo Bambuí
De acordo com LOPES (1995) o Grupo Bambuí (Neoproterozóico) constitui uma
cobertura sedimentar de idade neoproterozóica, depositada em um mar epicontinental. Inserese na Bacia do São Francisco, ocupando uma área superior a 200.000 Km2, e constitui uma
25
cobertura de plataforma sobre o Cráton do São Francisco, um extenso núcleo estabilizado ao
final do Ciclo Transamazônico e margeado por faixas de dobramento de idade brasiliana
Segundo Santos (2002), trata-se de um grupo de rochas neoproterozóicas, com
metamorfismo incipiente, que ocorre em toda a porção Norte e Noroeste de Minas Gerais. No
Alto Paranaíba
elas
constituem-se no
embasamento sobre o qual
assentam-se,
discordantemente, as litologias da Bacia Sanfranciscana.
Segundo JACOMINE et al. (1976)
“No Grupo Bambuí notam-se dois fácies distintos: um preferencial de
calcário e outro clástico. O calcário é pouco metamórfico, de coloração
normalmente cinza-escura e preta, de granulação fina, algumas vezes média,
estratificação em bancos. O fácies clástico consiste de arenitos de granulação
variada por vezes conglomeráticos, com intercalações de siltitos, argilitos e
ardósias. Estas rochas por vezes estão recobertas por material retrabalhado
de natureza variada.”
BARBOSA et al. (1970) afirma que
Na região a leste de Coromandel, entre o médio e o baixo rio Santo Inácio e
o rio Santo Antônio das Minas Vermelhas encontram-se calcários
magnesianos e silicosos (...). Nos afloramentos foram vistos pequenos
morros rochosos, nos quais as camadas mostram mergulho médio a fraco,
ora para N.W., ora para S.W.. Entretanto, as fotografias aéreas mostram que
as suas extensões são mais consideráveis. Dentre essas ocorrências, vale citar
as seguintes:
À margem esquerda do Santo Antônio, alguns quilômetros abaixo do
Charneca, em volume à vistade cerca de 1.000.000m3.
À direita da rodovia Coromandel-Paracatu, entre a ponte do rio Paranaíba e a
entrada da estrada para Alegre, com volume estimado em 600.000m3.
À margem direita do rio Santo Antônio, poucos quilômetros acima da barra
no Paranaíba, dolomito com “Collenia, volume estimado de 200.000 m3.
A análise de um dolomito de Coromandel revelou 28,7% CaO e 19,3%
MgO. Esse tipo de calcário ocorre com frequência na base do Grupo Bambuí
na bacia do rio São Francisco.
De acordo com Santos (2002), no oeste de Minas Gerais, mais especificamente em
Coromandel e Lagamar, são encontrados mármores dolomíticos, que são explorados
comercialmente como corretivo de solo. O mesmo ocorre com os filitos, que contém
colofanita de Lagamar. (Mineração Rocinha – Ultrafértil). Um outro aspecto importante se
refere ao relevo cárstico, caracterizado localcmente por uma profusão de grutas e dolinas,
sendo o Poço Verde a mais famosa, estudado por Barbosa et al. (1970).
26
b) Rochas Mesozóicas
•
Grupo São Bento
O Grupo São Bento (Mesozóico), acha-se representado pela Formação Botucatu e
Formação Serra Geral na região.
•
Formação Botucatu
A Formação Botucatu é constituída de arenitos eólicos de granulação fina a média
com grãos bem arredondados, superfície fosca, bem selecionados e com baixa percentagem de
finos e composição essencialmente quartzosa. A presença de arenitos silicificados ocorre na
borda das escarpas ou em contato direto com os basaltos da Formação Serra Geral
(NISHIYAMA, 1991 apud PACHECO & NISHIYAMA, 2002).
Sua maior expressão em área está no vale do rio Grande, entre os municípios de
Sacramento e Desemboque (SANTOS, 2002).
•
Formação Serra Geral
A Formação Serra Geral é constituída por um conjunto de derrames basálticos
toleíticos, entre os quais se intercalam arenitos com as mesmas características dos
pertencentes à Formação Botucatu. São formados por rochas de cor cinza escura a negra,
afaníticas e mineralogicamente compostas por clinopiroxênio, ripas de plagioclásio e
magnetita como acessório principal. A zona central de cada derrame é maciça, fraturada por
juntas predominantemente subverticais, enquanto na sua base e topo ocorrem níveis vesículoamigdaloidais (MARANESI, 2003).
A Formação Serra Geral possui extensa ocorrência no Triângulo Mineiro, porém
encontra-se recoberta em grande extensão por litologias sedimentares mais recentes do Grupo
Bauru e sedimentos cenozóicos. Os afloramentos mais expressivos da Formação Serra Geral
ocorrem nos vales dos grandes cursos d’água que drenam a região como os rios Grande,
Paranaíba e alguns de seus afluentes (NISHIYAMA, 1989 apud PACHECO & NISHIYAMA,
2002). A nordeste do Alto Paranaíba os derrames basálticos vão diminuindo em expressão até
desaparecerem por completo na região de Estrela do Sul, Coromandel e Monte Carmelo. O
desenvolvimento de patamares interderrames nos vales dos rios Araguari e Uberabinha
evidenciam vários episódios de derrames basálticos ocorridos em diferentes eventos.
•
Grupo Bauru
27
Os sedimentos pós-basálticos do Grupo Bauru (Cretáceo) são representados pelas formações
Adamantina, Uberaba e Marília (BARCELOS, 1984).
O Grupo Bauru na região do Triângulo Mineiro é composto por sedimentos flúvio-lacustres,
depositados sobre basaltos da Formação Serra Geral (Grupo São Bento, Bacia do Paraná) e sotopostos
a sedimentos inconsolidados de idade terciária (OLIVEIRA et al. 2006).
Formação Adamantina
A Formação Adamantina é caracterizada pela sua ampla distribuição geográfica e sua
ampla diversidade litológica, cujos fácies sedimentares podem ser relacionadas aos sistemas
deposicionais fluviais meandrantes psamítico e pelítico. O sistema meandrante psamítico é
composto de arenitos lenticulares formando estratificações cruzadas de pequeno e médio porte
(BARCELOS, 1993 apud PACHECO & NISHIYAMA, 2002).
No Triangulo Mineiro ocorre apenas o Membro São José do Rio Preto, que é
composto por arenitos finos a muito finos, de cor vermelho tijolo e com marcas de ondas
assimétricas. Os sedimentos desse membro afloram na margem esquerda do rio Tejuco, entre
os municípios de Prata e Uberlândia, Ituiutaba e Monte Alegre de Minas, na parte mais central
do Triângulo Mineiro, desaparecendo nas porções norte e nordeste da referida região,
conforme Santos (2002 apud PACHECO & NISHIYAMA, 2002).
Formação Marília
Segundo Suguio (1980 apud BARCELOS, 1984) esta formação é constituída de
arenitos finos a grossos, muito imaturos e maciços, apresentando freqüentes nódulos
carbonáticos.
No Triângulo Mineiro é representada por consideráveis espessuras de arenitos
imaturos e conglomerados superpostos a níveis carbonáticos, constituídos de calcário tipo
calcrete. Barcelos (1984) propôs a subdivisão da Formação Marília em três membros: Ponte
Alta, Serra da Galga na região do do Triângulo Mineiro e Echaporã no estado de São Paulo.
Membro Ponte Alta: ocorre no Triângulo Mineiro, em exposições descontínuas, numa faixa
de direção NW, de pelo menos 50 km de extensão, que passa nos arredores de Ponte Nova e a
nordeste de Uberaba, cruzando a rodovia BR 050. Formado por calcários impuros, designação
genérica que agrupa três litotipos básicos, intensamente cimentados por carbonato de cálcio,
que lhes confere aspecto geral maciço: 1) calcário arenoso de aspecto maciço, 2) calcário
conglomerático de matriz arenosa (conhecidos como “casco-de-burro”), e 3) calcário fino
fragmentado. Predominam os calcários arenosos (imaturos), que constituem corpos
28
lenticulares a tabulares, de espessura decimétrica, algumas vezes com estruturas sedimentares
- estratificação plano-paralela, prováveis gradações e feições de escavação - mascaradas pela
cimentação. Os membros Ponte Alta e Serra da Galga ocorrem intimamente associados
(FERNANDES & COIMBRA, 2000).
Membro Serra da Galga: ocorre apenas na borda nordeste da bacia (Triângulo Mineiro). Sua
espessura máxima atual é da ordem de 110 m (BARBOSA et al. 1970). Formado por
arenitos imaturos, grossos a finos, frequentemente conglomeráticos, de cores amarelo pálido a
avermelhado; e por lamitos de cor marrom, às vezes com clastos esparsos, imersos na matriz.
São constituídos de quartzo, quartzito, calcedônia, nódulos carbonáticos remobilizados,
arenitos, pelitos, fragmentos de basalto e outras possíveis rochas ígneas alteradas, além de
fragmentos de ossos. Localmente podem estar imbricados. São sustentados por matriz
arenosa, em geral com pouca lama. Parte dos clastos são ventifactos (forma tetraédrica, faces
planas e foscas). Os arenitos podem estar parcialmente cimentados por CaCO3 e
eventualmente, conter crostas de sílex de espessura centimétrica (GRAVINA et al. 2002).
Formação Uberaba
Segundo Barcelos (1984) esta formação apresenta brecha sedimentar ou conglomerado
basal onde se destacam fragmentos de basalto, de granulometria média, com proporções
variáveis de granulos e pequenos seirxos. Ocorrem também siltitos e argilitos de cor vermelha
em níveis de espessura centimétrica, predominando os termos mais arenosos para o topo. São
rochas epiclásticas, segundo a classificação de FISHER (1961) apud (BARCELOS 1984), isto
é, rochas vulcanoclásticas que mostram detritos oriundos da erosão de rochas vulcânicas préexistentes misturados com fragmentos de rochas de origem não-vulcânica.
Foi observado por Hasui (1968) apud (BARCELOS, 1984) que afirma predominar
cimento carbonático na parte basal da sequëncia e no topo, matriz argilosa de colocação verde
e/ou vermelha.
c) Rochas Cenozóicas
•
Sedimentos Cenozóicos
A cobertura cenozóica é representada em sua maior parte pelos depósitos coluviais
argiloarenosos de idade terciária e, secundariamente, pelos depósitos aluviais holocênicos,
associados ou não a cones de dejeção. Tais depósitos acham-se assentados discordantemente
sobre as unidades geológicas cretácicas (Formação Marília) e jurássicas (Formação Serra
29
Geral) ocupando todos os níveis topográficos, desde os topos das chapadas até o fundo dos
vales dos rios e córregos (NISHIYAMA, 1989 apud ANDRADE, 2005).
30
6. ESTADO DA ARTE
6.1. O calcário
De acordo com Nahass e Severino (2003, p.14) os calcários são rochas abundantes e
ocupam um expressivo volume na crosta terrestre, constituindo cerca de 10 a 15% das rochas
sedimentares
encontradas,
contribuindo
com
significativa
parcela
para
depósitos
metamórficos e ígneos, sendo rochas constituídas, basicamente, por carbonato de cálcio
(CaCO3). A calcita e a aragonita são os principais minerais formadores dos calcários, que na
maioria das vezes, são formados pelo acúmulo de organismos inferiores (invertebrados,
conchas) ou precipitação de carbonato de cálcio na forma de bicarbonatos, principalmente em
meio marinho. Também podem ser encontrados em rios, lagos e no subsolo (cavernas).
As principais impurezas encontradas no calcário são a sílica, argilas, fosfatos,
carbonato de magnésio, gipso, glauconita, fluorita, óxidos de ferro e magnésio, sulfetos,
siderita, dolomita e matéria orgânica, entre outros. A coloração passa do branco ao preto,
podendo ser cinza claro ou cinza escuro. Muitos calcários apresentam tons de vermelho,
amarelo, azul ou verde, dependendo do tipo e quantidade de impurezas que apresentam.
Os principais usos do calcário (Quadro 02) são para a produção de cimento, produção
de cal (CaO), correção do pH do solo para a agricultura, produção de giz escolar, fundente em
metalurgia, fabricação de vidro e como pedra ornamental.
QUADRO 02. Quadro dos maiores usos comerciais do calcário
Tipo
Calcário Puro
Composição
CaCO3
Formação
Deposição sedimentar,
pela precipitação de
CaCO3 em ambiente
marinho.
Produzida
pela
calcinação do calcário
para expelir o CO2 e a
água.
Formado pela adição de
água na cal virgem
Uso
Agregados, agricultura,
construção,
“filler”,
fábrica de cimento
Indústria do aço, papel,
argamassa, agricultura,
mineração de ouro e
prata
Cal Hidratada ou Ca(OH)2
Indústria do açúcar,
Extinta
tratamento de água e
curtição do couro,
agricultura
pelo Cimento de concreto de
Cal Hidráulica
Calcário impuro Produzido
subpara construções
contendo sílica e aquecimento
formar um cimento que aquáticas
alumínia
permanecerá endurecido
em contato com a água
Cal, Cal Virgem CaO
ou Cal Calcinada
Fonte: CHRISTIE, T. et al., 2000 apud NAHASS & SEVERINO (2003, p.16).
31
Franco et al. (2000) apud NAHASS & SEVERINO (2003, p.17) define calcário agrícola
como a rocha calcária moída ou pó calcário e seus produtos derivados: calcário calcinado
agrícola, cal virgem e hidratada agrícola, escória e outros.
Segundo a Secretaria de Fiscalização Agropecuária do Paraná apud NAHASS &
SEVERINO (2003, p.17), define-se calcário agrícola segundo sua a concentração de MgO:
Calcário Calcítico, quando apresenta teor de MgO menor que 5% e Calcário Dolomítico, com
teor de MgO acima de 5%. Recentemente o termo Magnesiano, que compreendia o calcário
com teor de MgO entre 5% e 12% de MgO foi extinto. Então o Calcário Dolomítico, que só
era assim considerado quando apresentava teor de MgO acima de 12% ficou estipulado como
todo calcário que apresente teor de MgO acima de 5%.
Este teor/qualidade depende da quantidade, que é medida por um índice conhecido
como Poder Relativo de Neutralização Total – PRNT, que é obtido através do PN (Poder de
Neutralização) e a RE (Reatividade dada pela granulometria do calcário). O Ministério da
Agricultura estabelece quatro faixas de PRNT para efeito de classificação e comercialização
de calcário: Faixa A: com PRNT entre 45,0 e 60,0%; Faixa B: com PRNT entre 60,1 e 75,0%;
Faixa C: com PRNT entre 75,1 e 90,0%; Faixa D: com PRNT maior que 90,0%. Assim, para
se corrigir a acidez do solo, deve-se usar menos calcário quanto maior for o seu PRNT.
A extração do calcário se dá a princípio com o reconhecimento expedito das rochas,
em especial as rochas carbonáticas, que permitirá definir a extensão de suas ocorrências, sua
faciologia, sistemas e ambientes deposicionais e aspectos diagenéticos. A avaliação do tipo de
carbonato (dolomítico ou calcítico) norteará seu futuro aproveitamento como corretivo de solo
à agricultura, contribuindo para a otimização da oferta e suprimento de insumos minerais à
agricultura, o que assegurará o aumento da produtividade e expansão das atividades do setor.
6.2. O calcário e a agricultura brasileira
Os solos brasileiros majoritariamente são ácidos, seja pela sua própria natureza, seja
em decorrência do uso de sistemas de irrigação e de uso contínuo. A maioria das culturas é
tolerante à acidez predominante, que não impede o seu desenvolvimento, porém é um entrave
à produção em larga escala, pois é em ambiente de neutralidade que as plantas adquirem
máxima produtividade devido a maior fixação de fósforo no solo.
Segundo o BNDES – Banco Nacional de Desenvolvimento, a projeção do consumo de
calcário é influenciada por tendências contraditórias, de um lado, a crescente adoção do
plantio direto reduz a intensidade do uso de calcário e por outro lado, o aumento da integração
32
lavoura-pecuária e a expansão da fronteira agrícola apontam para a ampliação do consumo. A
tendência resultante pende para um acréscimo na demanda.
Em abertura de áreas e na recuperação de áreas degradadas, a calagem é um
procedimento oneroso, pois demanda maquinário pesado para sua profunda incorporação. Por
isso, enquanto o uso do calcário está associado ao fator solo, os outros insumos utilizados na
agricultura estão diretamente ligados à produtividade. O que na verdade ocorre é que a
utilização de ambos vem trazendo benefícios extras aos observados na aplicação isolada ou
deficiente de calcário, pois este melhora a absorção de nutrientes.
Vale ressaltar que a calagem não substitui nenhuma outra prática necessária e,
portanto, não é capaz de isoladamente aumentar e manter altos rendimentos das culturas. Os
resultados das pesquisas no Brasil mostram que os maiores benefícios da calagem são obtidos
quando ela é utilizada em conjunto com outras práticas agrícolas, dentro de um plano racional
de uso da terra.
Segundo a ABRACAL – Associação Brasileira dos Produtores de Calcário Agrícola, o
incremento de volume de produção, que pode ser obtido, anualmente, na ordem de 18,89
milhões de toneladas de grãos e, no valor de US$ 2,7 bilhões, provocado pelo efeito do uso da
calagem, demonstra de forma clara o beneficio econômico que pode a agricultura atingir,
quando conduzida adequadamente dentro de padrões tecnológicos, de pleno domínio, na
atualidade, pela extensão rural e pelos corpos técnicos do agribusiness. Nessa proporção não
foram incluídos os ganhos de cultivos como os de citros, algodão, feijão, café, olerícolas e
outros. Isso representaria, anualmente, baseando-se na mesma área produzida, um incremento
de aproximadamente 30% de ganho de produtividade em grãos e, obviamente, ganhos nas
outras lavouras, citadas anteriormente.
Há possibilidade de se incrementar o volume da produção agrícola brasileira no médio
prazo, desde que se admita que o uso de insumos como o calcário, a semente de boa qualidade
e o fertilizante, estejam sendo usados em níveis muito inferiores do mínimo necessário para
sustentar rendimentos apenas razoáveis.
Segundo dados da ABRACAL, tomada toda a área agrícola brasileira, o calcário
sequer atinge 500kg/ha, enquanto deveria estar situado entre 1.000-1.500kg/ha. Para um
cenário de média utilização, dever-se-ia buscar o patamar de 1.500-2.500kg/ha e para um
cenário de alto emprego de insumos face à carência de nossos solos, atingir níveis de 2.5004.000kg/ha/ano.
Entidades do setor tem atuado junto ao Governo Federal com propostas, a exemplo o
PLANACAL - Plano Nacional de Calcário Agrícola, fundado sob a ótica da produtividade
33
agrícola, da qualidade do melo ambiente e da competitividade, tendo como objetivos melhorar
e conservar a capacidade de produção dos solos, preservando o meio ambiente e a qualidade
de vida no meio rural; esclarecer aos agricultores sobre os benefícios da calagem à
agricultura, e sobre os ganhos de rentabilidade que podem ser atingidos com seu uso racional;
e estabelecer relações de parceria entre sindicatos da indústria de calcário, governos
municipais, estaduais e federal, cooperativas e entidades de classe do setor primário, para
promover a educação do produtor e definir rotinas sobre a prática da calagem e seus
benefícios. Busca estimular o uso de corretivo e ainda reduzir a capacidade ociosa do setor.
Pretender elevar volumes de produção sem o uso da calagem nos solos brasileiros,
mesmo que adotando outras tecnologias, ter-se-ia como opção a incorporação de novas áreas
de cultivo, cujo impacto ambiental pode assumir proporções que a vantagem econômica a ser
conseguida não compense a agressão ao meio ambiente, sem contar os custos com fretes,
investimentos em infraestrutura e armazenagem, beneficiamento e deslocamento dos produtos
e matérias-primas para os principais centros consumidores.
Segundo Nahass & Severino (2003, p.43-64) outros planos foram implementados,
porém todos não tão eficazes: Operação Tatu, realizada no Rio Grande do Sul a fim de
difundir as vantagens do uso do calcário agrícola na década de 60; PROCAL – Programa
Nacional de Calcário Agrícola, na década de 70, que visava o aumento da oferta do insumo
pela modernização e expansão do parque moageiro e pelo significativo incremento no uso do
calcário pelos produtores rurais, infelizmente foi interrompido, entre outras causas, e
igualmente à Operação Tatu, por denúncias de malversação do recurso público; PROSOLO –
Programa de incentivo ao uso de corretivos de solos, fruto do PLANACAL, na década de 80
até 2002, financiamento de aquisição, transporte e aplicação de corretivos de solo e gastos
com adubação verde; PROPASTO – Programa Nacional de Recuperação de Pastagens
Degradadas, criado em 2001, para a recuperação de pastagens degradadas, como o próprio
nome diz.
6.3. Capacidade de oferta da indústria
Autoridades governamentais e empresários, na metade da década de 70, quando
atuaram em parceria para promoverem mudanças, já apostavam que a demanda da agricultura
brasileira atingiria volume próximo aos 26 milhões de toneladas de calcário agrícola no anosafra de 1984. Mas o que então teria ocorrido com tais convicções sobre essas necessidades, já
que esse patamar só foi alcançado no ano de 2003, superado em 2004 e retrocedendo nos anos
seguintes?
34
Segundo informações da ABRACAL, em 2006 foram produzidas 16.736 toneladas de
calcário e em 2007 houve um crescimento da produção interna de 30,5%, quando comparada
à de 2006, fechando em 21.844 toneladas, mas longe ainda da produção alcançada em 2003.
Essa produção distribui-se no país, por região, conforme Quadro 03.
Quadro 03. Estrutura da produção brasileira de calcário por região em 2006
Região
Sudeste
Centro-Oeste
Sul
Norte
Nordeste
Porcentagem da participação
na produção nacional total
33,2%
31,8%
26%
5,3%
3,7
Fonte: ABRACAL, 2006
Entre os recursos minerais brasileiros, o calcário está entre aqueles para os quais não
há muito motivo para se supor qualquer tipo de carência, mesmo a longo prazo. No momento,
as reservas já conhecidas são enormes, localizadas estrategicamente para a agricultura de
ponta no momento e tendem a se ampliar, à medida que a pesquisa de prospecção avance em
todo o território. Capacidade instalada e conhecimento empresarial sobre esse ramo de
negócios já existem, o que está faltando, segundo entidades do setor, é um impulso de
estímulo para que haja o deslanche do setor.
6.4. Evolução do consumo
Conclui-se que a partir das safras agrícolas de 1990, o crescimento do consumo de
calcário se deve fundamentalmente ao surgimento de um novo hábito do consumidor rural,
ainda tímido, pela busca da qualidade e que precisa ser estimulado, mas pouco tem sido feito
pelas autoridades para instigar o avanço nessa direção.
Dados do MAPA e da ABRACAL mostram que a estrutura do setor consumidor de
calcário agrícola mantém a mesma ordem regional de importância do setor produtor, mas com
alguma alteração nos percentuais; o Sudeste consumiu em 2007 cerca de 44%, o Centro-Oeste
24%, o Sul 19% e as regiões Norte e Nordeste o restante. Estudos realizados pelo setor
produtor constataram que setor agrícola teria capacidade de absorver anualmente cerca de 70
milhões de toneladas, para uma capacidade instalada total de moagem no país na ordem de 50
milhões de toneladas/ano, entretanto, o setor consumidor se utilizou em 2007 de apenas 40%
da capacidade instalada. (Tabela 01)
35
TABELA 01. Principais Estatísticas- Brasil
Discriminação
Produção
Calcário agrícola
Consumo Aparente Calcário agrícola
Calcário agrícola (c )
Preço médio (c)
Calcário agrícola (c )
(1.000t)
(1.000t)
(R$/t)
(U$/t)
2005 (a)
17.120
16.987
23,34
9,76
2006 (a)
16.736
16.849
22,74
10,45
2007 (b)
21.844
21.187
25,43
13,02
Fontes: (a) ABRACAL/SINDICALC-RS; (b) CFIC/SDA/MAPA; (c) SINDICAL
Adaptado de DNPM (2008)
6.5. Preço - a questão do frete
Se comparado com os outros insumos usados na agricultura, o calcário é um produto
barato em termos de preço por peso, porém diversos fatores influenciam para que se torne um
item de oneroso nos custos de produção.
Em primeiro lugar, para correção de solo em abertura ou recuperação de área, a
quantidade usada é, em geral, três vezes maior que a usada normalmente para as culturas.
Porém, se o uso se dá para fornecimento de Cálcio e Magnésio, a quantidade pode ser de 25%
a 50% inferior (FAVERET et al.,1997).
O fator que mais influencia no preço do calcário é o frete. Ele é determinado pela
distância da região produtora do insumo e da possibilidade de uso de frete de retorno
O mapeamento feito no Estudo Nacional do Calcário Agrícola (FEALQ, dez/83) apud
(FAVERET et al.,1997) demonstra que a maior parte das moageiras encontram-se às margens
das rodovias que servem de escoamento da produção de grãos na região Centro-Sul,
facilitando, portanto, o uso do frete de retorno para baratear os custos finais do calcário.
Mesmo assim, o valor do frete pode representar de 26% a 67% do preço final, dependendo da
distância.
O preço do frete costuma guardar uma relação tonelada/km invertida, ou seja, quanto
menor a distância maior o custo por quilômetro. Além disso, nota-se que os preços, em
regiões de maior produção de grãos e disponibilidade de calcário, são bastante inferiores.
Diante disso é de extrema importância que em regiões que possuem jazidas de calcário
seja desenvolvido um mecanismo de fornecimento local de tal mineral, desonerando seu uso,
sua distribuição, oferecendo preço viável ao produtor rural.
6.6. A questão do calcário
Seja para correção da acidez do solo ou para fornecimento de cálcio e magnésio, o uso
do calcário tem influência importante sobre a produtividade agrícola. A recomendação técnica
36
e a constatação prática dos produtores levam a uma crescente, porém ainda insuficiente
utilização do insumo.
A falta de capacidade de financiamento por parte das moageiras sugere a dependência
de linhas de crédito para colocação do produto. Nota-se, entretanto, que a agricultura busca
cada vez mais ser menos dependente do crédito oficial. Um indicador é a recuperação do
consumo de calcário em 1996 (de 12,2 para 15,6 milhões de toneladas - 28%), apesar da
virtual indisponibilidade de crédito rural para investimento.
Porém, a maioria dos agricultores utiliza o crédito de custeio para financiar,
parcialmente, o calcário. Quando a aplicação é de manutenção, não há muito problema, pois o
custo do calcário nos gastos chega no máximo a 15%. Em abertura de área, o alto volume de
recursos demandado pelo calcário, que pode chegar a 35% do total,
não se permite a
utilização das linhas de custeio.
Torna-se importante implementar um plano de financiamento para o setor e um
acompanhamento dos ciclos de calagem e do desempenho financeiro da safra que, havendo
queda da renda agrícola, evite-se instalar um ciclo vicioso, onde o produtor, por falta de
recursos, aplique menos calcário, diminuindo a produtividade e, conseqüentemente,
diminuindo mais ainda renda.
6.7. O calcário da porção oeste de Minas Gerais
A porção oeste de Minas Gerais é conhecida por apresentar várias jazidas de calcário
exploradas como matéria-prima na fabricação de cimento (Lafarge – Fábrica de Cimento Ponte Alta - MG), e principalmente para agricultura como corretivo de acidez de solo
(Calcário Triângulo e Ercal).
Estudos acadêmicos sobre a origem, evolução diagenética e conteúdo paleontológico
dos calcários dessa região foram apresentados por diversos autores, entre eles SUGUIO
(1973), SUGUIO et al .(1975) SUGUIO et al .(1980), SUGUIO & BARCELOS (1983),
BARCELOS (1984), SILVA et al. (1994), GOLDBERG & GARCIA (1994), ALVES et
al.(1993), ALVES (1995), ALVES & GOMES (1995), ETCHEBEHERE et al. (1999), apud
BATEZELLI (2003).
No âmbito da prospecção mineral e avaliação do potencial econômico, as pesquisas já
realizadas na área se devem exclusivamente às empresas instaladas, sendo que os dados
disponíveis para consulta pública se restringem a poucas informações sobre teor de pureza e
magnésio do minério.
37
Não há pretensão de apresentar informações revolucionárias a respeito dessas jazidas,
já que os dados obtidos não apresentam um grau de detalhamento expressivo. No entanto, a
partir desses dados algumas análises são elaboradas a fim de se desenhar um perfil mais claro
dessa dinâmica do calcário da região.
A importância de Uberaba e Coromandel como distribuidores de calcário para regiões
agrícolas pólos de tecnologia, produção e processamento se faz destaque. Entender a dinâmica
aplicada e suas características é fato relevante para a continuidade desse destaque nacional
que a agricultura local possui. De nada vale altas tecnologias em sementes e maquinários se o
solo não está propício a receber todo esse investimento. O calcário é sem dúvida um dos
grandes responsáveis por todo desenvolvimento regional.
6.8. O comércio de calcário: Calcário Triângulo e Ercal – Empresas Reunidas de Calcários
Ltda.
O Calcário Triângulo e a Ercal, presentes na região há cerca de 30 anos, faz parte do
Grupo Montividiu, grupo econômico atuante no segmento de mineração, pecuária,
agricultura, capacetes automobilísticos, e “shopping center”. Este grupo produz o calcário
agrícola em 18 unidades, com jazidas próprias, espalhadas pelos estados de Minas Gerais,
Goiás, Tocantins e Distrito Federal, além da Serra Branca, unidade produtora de calcário
nutricional e cargas minerais para fins industriais.
Algumas destas unidades também produzem brita para construção civil e
pavimentação. As unidades do grupo, em (um) ano juntas chegaram a extrair de suas jazidas
em torno de 2.500.000 toneladas de pedra calcária, as quais foram destinadas à produção do
calcário agrícola, brita, calcário nutricional e industrial.
As empresas mineradoras do grupo são: Britacal Indústria e Comércio de Brita e
Calcário Brasília Ltda.(Brasília/DF) com cinco usinas em atividade, Enfol – Empresa de
Mineração Formosa Ltda. (Formosa/GO), Americal – Mineradora Americal (Posse/GO) Calta
– Calcário Taguatinga Ltda. (Taguatinga/TO), Calcário Triângulo Indústria e Comércio Ltda.
(Uberaba/MG) com uma usina, Elba Calcário Ltda. (Montividiu/GO), Calcário Santa Tereza
Ltda. (Formoso/GO), Calcário Cristalândia Ltda. (Lagoa da Confusão/TO), Ercal – Empresas
Reunidas de Calcário Ltda. (Coromandel/MG) com duas usinas e Mineração de Calcário
Montividiu Ltda. (Goiânia-GO) com quatro usinas em atividade.
O Calcário Triângulo e a Ercal possuem histórico empresarial familiar, porém vem
sofrendo mudanças na gerência dos negócios, buscando um perfil empresarial. Tiveram como
estratégia na região a exploração de jazidas de calcário que possuem alta qualidade de
38
produto, além de calcários distintos, como o calcítio de Uberaba e o dolomítico de
Coromandel, o que torna a empresa totalmente eficiente no que se refere às necessidades do
produtor rural que, como descrito anteriormente, deve se orientar através da análise de solo
para saber qual o tipo de calcário e seus percentuais de PRNT utilizar. Com isso, o Calcário
Triângulo e a Ercal usam da estratégia chamada blendagem, que é a mistura dos calcários
calcítico e dolomítico, dependendo da necessidade de cálcio e magnésio. Suas unidades são
distribuídas da seguinte forma:
a) Uberlândia - Calcário Triângulo Ind. e Com. Ltda e Ercal - Empresas Reunidas de Calcário
Ltda.
Escritório Matriz: Av. Com. Alexandrino Garcia, 1600/1604
b) Uberaba – Calcário Triângulo Ind. e Com. Ltda
Unidade de Processamento: Rod. BR 050, Km 124
Jazida - Coordenadas Geográficas: Latitude 19°20'30”S e Longitude 48°05'39”W
c) Coromandel – Ercal - Empresas Reunidas de Calcário Ltda.
Filial 7 (Escritório): R. Domingos Lacerda, 706
Filial 8 (Transportadora): Rod. MG-188, Km 135
Filial 1 (Jazida): Fazenda Santa Cruz – Fundão
Coordenadas Geográficas: Latitude 18°16'55”S e Longitude 47°05'17”W
Filial 4 (Jazida): Fazenda Figueireda
Coordenadas Geográficas: Latitude 18°23'39”S e Longitude 47°10'33”W
Possui 1 jazida e 3 filiais desativadas
Cada unidade possui CNPJ e Inscrição Estadual distintos, utilizam os dois nomes
comerciais, porém todas as ações são determinadas em conjunto a fim de inclusive, otimizar
custos.
39
7. RESULTADOS E DISCUSSÕES
7.1. O calcário e a área de estudo
Tem-se na região oeste de Minas Gerais a presença de jazidas significativas de
calcário agrícola nas cidades de Araguari, Lagamar, Vazante, Patos de Minas, Paracatu,
Varjão, Uberaba e Coromandel, como se pode observar no Quadro 04. Elas atendem
principalmente os mercados próximos, já que o frete interfere de forma decisiva na aquisição
do calcário.
QUADRO 04. Empresas de Calcário no Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba, minas e porte
Portes das
minas
Grandes
Médias
Pequenas
Classes
G2
G1
M4
M3
M2
M1
P3
P2
P1
Produção Bruta (ROM* t/ano)
Menor ou
Maior que
igual a
3.000.000
1.000.000
3.000.000
500.000
1.000.000
300.000
500.000
150.000
300.000
100.000
150.000
50.000
100.000
20.000
50.000
10.000
20.000
Empresa
Cala-Calcário Lagamar Ind.
Com. Ltda
Ultracal Indústria e Comércio
Ltda
Britacal Ind. Com. Brita
Calcário BSB Ltda
Ercal - Empresas Reunidas de
Calcário Ltda
Indústria de Calcário Inaê Ltda
Calcário Triângulo Ind. e Com.
Ltda.
Partecal Partezani Calcários
Ltda
Ercal - Empresas Reunidas de
Calcário Ltda
Mina
UF
Município
Porte
Mina da Matinha
MG Lagamar
Ribeirão Andrade
MG Varjão de Minas M3
Mina F5
MG Unaí
M4
Figueireda
MG Coromandel
M4
Fazenda Lagoa Rica
Fazenda Bom
Jardim
MG Paracatu
M4
MG Uberaba
P1
Partezani -Vazante
MG Vazante
P1
Santa Cruz
MG Coromandel
P3
M3
* ROM – Produção Bruta Anual saída da boca da mina (Run of Mine)
Fonte: Anuario Mineral Brasileiro, 2006.
Destaque importante, e objeto deste estudo, são as jazidas de Uberaba e Coromandel, que
além de pertencerem ao mesmo grupo comercial, desempenham o papel de fornecedoras local
e para regiões vizinhas (Figura 03).
40
FIGURA 03. Localização das jazidas de calcário de Uberaba-MG e Coromandel-MG e área de influência
.
41
O potencial mineral de calcário de Uberaba-MG foi disponibilizado pelo DNPM
(Tabela 02) e mostra as reservas do município em 2006, o que inclui jazidas de calcário para
os diversos usos, principalmente agrícola e cimento.
TABELA 02. Reservas Minerais de Calcário no município de Uberaba-MG
Município
Uberaba
Medida (t)
38.958.238
Reservas 2006
Indicada (t)
Inferida (t)
8.237.655
17.400.099
Lavrável (t)
38.958.238
Fonte: Anuário Mineral Brasileiro, 2006.
7.2. Localização, caracterização das jazidas e unidades de processamento
7.2.1. Calcário de Uberaba
Provenientes da Membro Ponte Alta, da Formação Marília, Grupo Bauru, são
calcários tipo calcrete, conhecidos sob a designação popular “casco de burro”. Contém muitas
vezes impurezas arenosas de quartzo e seixos bem arredondados de quartzo, quartzito e sílex.
São comuns as feições nodulares e manchas parcialmente arenosas, conferindo-lhes coloração
mosqueada. Comumente apresentam-se como corpos lenticulares de extensão restrita, mas
onde o seu desenvolvimento é maior associam-se-lhes calcários muito puros de provável
origem lacustre. (BARCELOS, 1984)
Em Uberaba existe 01 (uma) jazida em atividade, indicada pelo DNPM como P1 pequeno porte, potencial entre 10.000 e 20.000 tn (ROM t/ano), explorada desde 1974 e uma
unidade de beneficiamento, sob a razão social Calcário Triângulo Indústria e Comércio Ltda.
A jazida de calcário está localizada a 5 km da margem da BR 050, que liga as cidades de
Uberaba e Uberlândia, sentido Uberlândia-Uberaba, no Km 124, Latitude 19° 20”30’ S e
Longitude 40° 05”39’ W. A unidade de beneficiamento está localizada na mesma direção da
jazida, porém na margem contrária da rodovia.
7.2.1.1. Processo Extrativo
Trata-se de uma jazida de exploração a céu aberto (Figura 04), de onde se extrai um
calcário claro (Figura 05), com drusas de calcita hialina, considerado calcítico, por ter em sua
composição teor de MgO inferior a 5%.
42
Foto: Adriana Maria da Silva, 2008
FIGURA 04. Vista geral da jazida de calcário localizada em Uberaba-MG.
Foto: Adriana Maria da Silva, 2008
FIGURA 05. Pedras extraídas da jazida de calcário em Uberaba-MG.
43
Na massa geral dos bancos de calcário encontram-se lentes de conglomerado cheio de
seixos predominantes de arenito fino a médio, rosado, além de outros de quartzo e quartzito.
(Figura 06)
Foto: Adriana Maria da Silva, 2008
FIGURA 06. Calcrete, popularmente conhecido como “casco de burro”em Uberaba-MG.
O nível carbonático se apresenta sobreposto por arenitos. Por isso, primeiramente fazse o decapeamento da camada de solo sobre a rocha, através de escavadeiras e/ou tratores de
esteira. A extração da rocha se dá através da perfuração de buracos profundos nas rochas,
através de perfuratriz pneumática e/ou compressores, onde são colocados explosivos a fim
fragmentar a rocha em pedaços com dimensões menores do que a entrada do britador primário
(Figura 07). Há então a fragmentação secundária, que consiste em diminuir o tamanho das
pedras, através de um rompedor mecânico acoplado a uma escavadeira, para que se possa
fazer uma melhor seleção das pedras a serem transportadas para a unidade de beneficiamento
por caminhões (Figura 08).
44
Foto: Adriana Maria da Silva, 2008
FIGURA 07. Perfuração de buracos profundos nas rochas para colocação de explosivos, em
Uberaba-MG.
Foto: Adriana Maria da Silva, 2008
FIGURA 08. Carregamento das pedras calcárias extraídas para unidade de beneficiamento de
Uberaba-MG.
45
7.2.2. Calcário de Coromandel
Proveniente do Grupo Bambuí, o calcário é pouco metamórfico, de coloração
normalmente cinza-escura e preta, de granulação fina, algumas vezes média, estratificação em
bancos.
Em Coromandel existem 02 (duas) jazidas em atividade e 01 (uma) desativada (que já
alcançou seu limite de extração economicamente viável) e 2 (duas) unidades de
beneficiamento, localizadas junto às jazidas. Exploradas desde a década de 80, estão sob a
razão social Ercal – Empresas Reunidas de Calcário Ltda. Estão localizadas na zona rural de
Coromandel-MG, uma na Fazenda Santa Cruz, Rod. MG 188, Latitude 18°16’55” S e
Longitude 47°05’17” W, considerada pelo DNPM como P3- pequeno porte, potencial entre
50.000 a 100.00 (ROM t/ano) e a outra na Fazenda Figueireda, Rod. MG 188, Latitude
18°23’39” S e Longitude 47°10’33” W considerada pelo DNPM como M4 – médio porte,
potencial entre 500.000 a 1.000.000 t (ROM t/ano). Ambas estão localizadas em complexos
que abrigam jazida e unidade de beneficiamento.
Por se tratar a Jazida da Fazenda Figueireda a maior jazida da Ercal, também é dela o
detalhamento realizado abaixo.
7.2.2.1. Processo Extrativo
Trata-se de uma jazida de exploração a céu aberto (Figura 09), de onde se extrai um
calcário cinza a cinza-escuro (Figura 10), considerado dolomítico, por ter em sua composição
teor de MgO superior a 5%
Notam-se dois fácies distintos: um preferencial de calcário e outro clástico. O fácies
clástico consiste de arenitos de granulação variada por vezes conglomeráticos, com
intercalações de siltitos, argilitos e ardósias. Estas rochas por vezes estão recobertas por
material retrabalhado de natureza variada (Figura 11). Por isso, para a exploração da rocha
calcária primeiramente faz-se o decapeamento da camada de solo sobre a rocha, através de
escavadeiras e/ou tratores de esteira. Em Coromandel devido a grande quantidade de material
retirado, existe uma grande área de deposição do mesmo (Figura 12)
46
Foto: Adriana Maria da Silva, 2009
FIGURA 09. Vista geral da jazida de calcário localizada em Coromandel-MG.
Foto: Adriana Maria da Silva, 2009
FIGURA 10. Pedras extraídas da jazida de calcário em Coromandel-MG.
47
Foto: Adriana Maria da Silva, 2009
FIGURA 11. Detalhe para deposição de materiais distintos da jazida de calcário em
Coromandel-MG.
Foto: Adriana Maria da Silva, 2009
FIGURA 12. Local onde é depositado o material de decapeamento da jazida de CoromandelMG.
48
A extração do calcário se dá através de perfuração de buracos profundos nas rochas, através
de perfuratriz pneumática e/ou compressores, onde são colocados explosivos a fim fragmentar
a rocha em pedaços com dimensões menores do que a entrada do britador primário. Há então
a fragmentação secundária, que consiste em diminuir o tamanho das pedras, através de um
rompedor mecânico acoplado a uma escavadeira, para que se possa fazer uma melhor seleção
de pedras (Figura 13) e transportadas para a unidade de beneficiamento por caminhões
(Figura 14).
Foto: Adriana Maria da Silva, 2009
FIGURA 13. Separação das pedras extraídas da jazida de calcário em Coromandel-MG.
49
Foto: Adriana Maria da Silva, 2009
FIGURA 14. Carregamento das pedras calcárias extraídas para unidade de beneficiamento de
Coromandel-MG.
7.2.3. Beneficiamento
A utilização das jazidas se dá de acordo com a demanda do produto no mercado, e esta
é influenciada pelo setor agrícola e toda a dinâmica política e econômica que o envolve. O
processo produtivo se desenvolve em algumas fases (Figura 15), sendo estas semelhantes em
todas as unidades de beneficiamento do grupo:
1ª Fase: As pedras são transportadas ao britador que alimenta a britagem primária, onde sofre
mais uma diminuição de tamanho. (Figura 16)
2ª Fase:: O material, de tamanho reduzido, é transportado através de correias para a britagem
secundária. (Figura 17)
3ª Fase:: O material, passa por um peneiramento para possível rebritagem.
4ª Fase: Posteriormente o material é conduzido para silos ou pilhas de homogeneização,
através de correias ou teleférico. (Figura 18)
50
Fonte: SINTONI & VALVERDE, 1978 apud PEREIRA, 2002
FIGURA 15 – Fluxograma básico da fabricação do pó corretivo
51
Foto: Adriana Maria da Silva, 2008 e 2009
FIGURA 16. Local do transporte das pedras ao britador, Unidade de Beneficiamento de
Uberaba-MG e Coromandel-MG, respectivamente.
Foto: Adriana Maria da Silva, 2009
FIGURA 17. Transporte de material através de correias para a britagem secundária, Unidade
de Beneficiamento de Uberaba-MG.
52
Foto: Adriana Maria da Silva, 2009
FIGURA 18. Condução do material, Unidade de Beneficiamento de Uberaba-MG e
Coromandel-MG, respectivamente
As fábricas funcionam em média, de 6 a 7 meses por ano, em geral de maio a
novembro, podendo chegar a um regime de até 23 horas/dia, buscando conciliar seu ritmo
com a prática agrícola regional, procurando atender durante o período de preparo do solo e
nutrição da planta, já que não se opta pela estocagem do produto, que seria onerosa diante da
dinâmica da demanda do mercado.
Os funcionários são dispensados e recontratados no retorno das atividades, que na
maioria dos casos utilizam o seguro-desemprego como fonte de renda nesse período sem
atividade.
7.2.4. Qualidade do produto
Segundo LOPES et al. (1991) dentre as diversas características dos corretivos de
acidez dos solos relacionados com a qualidade, duas se mostram as mais importantes: a
granulometria e o teor de neutralizantes, as quais determinam o Poder Relativo de
Neutralização Total do corretivo, o PRNT, obtido através daa equação PRNT = (PN x RE)
/100 (LOPES et al. 1991)
A legislação atual ainda determina que os corretivos comercializados deverão possuir
as características mínimas da Tabela 03.
53
TABELA 03. Características mínimas exigidas para comercialização corretivos agrícolas
Materiais
Corretivos da acidez
Calcários
Cal virgem agrícola
Cal hidratada agrícola
Escórias
Calcário calcinado agrícola
Outros
PN
% em CaCO3
67
125
94
60
80
67
Soma
% Ca + % MgO
38
68
50
30
43
38
Fonte: LOPES et al. 1991
Quanto à concentração de MgO, os calcários podem ser classificados como:
a) Comercialmente:
calcítico – menos de 5%
magnesiano – de 5% a 12%
dolomítico – acima de 12%
b) Oficialmente
calcítrico – menos de 5%
dolomítico – acima de 5%
Muitos afirmam que extinguiram o termo magnesiano para favorecer as siderúrgicas
que produzem anualmente no Brasil cerca de 3 milhões de toneladas de escória, que tem
como uma das possibilidades de uso a correção de solos e é oferecida a valores relativamente
baixos nesse mercado. Padronizar somente dois tipos de produtos facilitaria o enquadramento
da escória no mercado, sem contar que o calcário magnesiano era tido, mistificadamente,
como o melhor produto, independente de análise de solo. Mudando esse conceito poderia
então facilitar a entrada no mercado para a concorrente escória, desconsiderando a presença
de metais pesados como o chumbo que representa possíveis riscos para a saúde quando usado
para produção de alimentos.
Quanto ao PRNT do calcário, tem-se como parâmetro:
a) PRNT entre 45,0% a 60,0%
b) PRNT entre 60,1% a 75,0%
c) PRNT entre 75,1% a 90,0%
d) PRNT superior a 90,0%
Mesmo que exista a recomendação do uso de calcários com PRNT 100%, pois quanto
menor o PRNT do produto, maior a quantidade a ser aplicada, deve-se considerar o
54
custo/benefício e para isso, é extremamente importante que o produtor rural tenha o hábito de
realizar análises de solo para conhecer as reais necessidades do mesmo.
Para atender os produtores e suas reais necessidades, o Calcário Triângulo e a Ercal
fazem análises periódicas de suas jazidas (Tabela 04 e Tabela 05) e utilizam da blendagem de
seus produtos. Tal prática ocorre em Uberaba e Coromandel, que dispõem dos dois produtos
em seus pátios (Figura 19)
TABELA 04. Média de análises realizadas no produto calcítico de Uberaba-MG
Data (mês/dia/ano)
06/20/2007
03/05/2008
07/03/2008
08/13/2008
09/18/2008
02/27/2009
Média
MgO%
3.20
2.40
2.30
3.80
3.60
2.50
2.97
CaO%
35.30
35.80
36.70
36.20
36.50
36.60
36.18
Re%
88.07
89.71
86.59
87.44
87.46
91.00
88.38
PRNT%
62.40
62.70
52.90
70.80
62.45
70.50
63.63
Fonte: Laboratório de Análises Nitrosolo – Uberaba(MG). Org.: Ercal
TABELA 05. Média de análises realizadas no produto dolomítico de Coromandel-MG
Data (mês/dia/ano)
11/09/2000
02/14/2001
03/19/2001
03/31/2001
04/18/2001
07/18/2001
07/20/2001
09/03/2002
09/18/2002
04/02/2003
04/08/2003
06/21/2003
09/02/2003
11/02/2003
11/12/2003
11/17/2003
01/31/2004
05/24/2004
06/08/2004
06/30/2004
04/30/2004
08/24/2004
08/24/2004
09/16/2004
10/11/2004
MgO%
21.00
16.93
18.60
16.10
16.10
19.50
16.50
20.90
17.50
19.80
20.60
18.80
19.20
19.80
19.10
19.10
19.10
18.30
19.20
19.20
18.70
17.70
21.90
19.60
19.00
CaO%
30.08
30.00
27.70
30.00
32.00
25.80
32.00
27.70
28.00
28.80
31.80
26.60
35.90
28.80
26.70
26.70
28.60
35.30
31.20
34.70
34.70
31.00
33.30
27.60
33.60
Re%
88.45
83.84
91.20
92.77
88.19
92.10
88.35
92.45
89.21
89.30
89.97
98.70
89.40
99.97
85.30
89.30
96.50
87.15
89.22
90.20
89.51
99.97
88.50
97.80
100.00
PRNT%
85.00
80.26
76.30
87.00
85.70
76.50
86.80
80.70
75.20
84.10
94.90
74.60
106.20
84.10
75.10
75.10
81.70
94.50
92.30
104.30
97.20
99.30
100.80
91.00
107.40
55
Data (mês/dia/ano)
10/26/2004
03/03/2005
05/04/2005
06/10/2005
06/15/2005
06/27/2009
07/12/2005
07/14/2005
07/21/2005
08/18/2005
08/18/2005
08/31/2005
09/16/2005
10/27/2005
04/27/2006
06/26/2006
07/24/2006
08/28/2006
10/18/2006
03/28/2007
04/30/2007
05/30/2007
06/30/2004
07/11/2007
10/23/2007
04/05/2008
08/07/2008
08/13/2008
09/15/2008
Média
MgO%
19.36
20.00
18.00
16.00
22.18
20.00
19.00
18.80
20.00
19.60
18.40
17.20
18.80
16.40
18.40
19.20
17.60
18.40
15.70
19.80
18.40
19.50
19.30
16.90
17.30
19.00
18.80
19.20
20.00
18.77
CaO%
29.48
36.50
36.50
39.30
30.00
28.00
32.30
28.90
30.60
30.20
32.50
31.90
30.80
29.10
28.60
30.80
28.70
29.70
26.90
33.60
29.70
29.40
28.00
33.60
32.50
33.00
26.60
27.40
29.60
30.61
Re%
86.40
84.22
84.02
100.00
88.28
95.20
89.67
89.43
91.65
100.00
88.46
89.92
88.76
87.92
89.19
88.76
88.00
88.44
100.00
90.99
88.44
85.60
91.39
88.70
88.95
87.18
91.99
91.52
91.89
90.78
PRNT%
83.70
96.80
92.30
109.90
83.85
91.60
94.10
88.00
95.70
102.80
91.80
89.80
90.40
81.60
86.40
90.40
86.00
87.40
87.20
90.80
87.40
84.00
89.70
90.60
90.00
96.80
92.20
90.20
93.70
89.47
Fonte: Laboratório de Análises Nitrosolo – Uberaba(MG). Org.: Ercal
Pode-se observar que os dois produtos atendem as exigências legais de qualidade e
quando misturados, também incorporam características para um PRNT elevado.
Os produtos oferecidos pela Ercal atendem todas as exigências e há inclusive
profissionais capacitados a orientar o produtor quanto à sua análise de solo, PRNT e RE de
seus produtos e a adequação para suas necessidades.
Calcário Triângulo e Ercal produzem em média 400.000 tn de calcário por ano, sendo
este número flutuante frente às oscilações da economia.
56
Foto: Adriana Maria da Silva, 2009
FIGURA 19. Disposição do calcário dolomítico (escuro) de Coromandel e do calcário
calcítico de Uberaba-MG em pátio de usina de Coromandel-MG.
7.3. Perfil Empresarial
7.3.1. Potencial extrativo
Informações acerca do tempo de licenciamento das jazidas exploradas pela
Ercal/Calcário Triângulo não foram fornecidas. O que se sabe e já foi citado é porte das
jazidas lavradas e que de acordo com as resoluções do Departamento Nacional de Produção
Mineral (DNPM), regidas pela Lei n° 6.567 de 24 de setembro de 1978, fica determinado que
o aproveitamento das rochas calcárias na construção civil ou no emprego como corretivo de
solos na agricultura, pode ser feito pelo Regime de Licenciamento ou Autorização/Concessão,
adstrito à área máxima de cinqüenta (50) hectares, por área solicitada. No caso do
Licenciamento, o proprietário do solo tem preferência praticamente exclusiva para o seu
aproveitamento. Além dele, somente pessoas ou empresas por ele expressamente autorizadas
podem efetuar esse aproveitamento, ou seja, existe mais este encargo a ser pago ao
superficiário, quando a empresa não detém a propriedade da área.
É fato comprovado a favorabilidade das áreas de mineração do calcário em Uberaba e
Coromandel e seus potenciais metalogenético, e o que se pôde perceber foi que os
investimentos realizados nas unidades visitadas sugerem um grande potencial. A busca por
uma postura competitiva e pela referência no mercado regional é sem dúvida a resposta da
57
potencialidade de muitos anos de extração, além de licenças de pesquisa. A afirmação obtida
é que enquanto houver demanda e capacidade de extração, estarão investindo no ramo.
As unidades geológicas em questão, Grupo Bauru em Uberaba e Grupo Bambuí em
Coromandel constituem um dos mais importantes pólos de mineração de rochas calcárias para
a produção de calcário agrícola no Estado de Minas Gerais.
Se por um lado a qualidade das rochas tem propiciado o desenvolvimento das
atividades mineiras na região, por outro, o frete tem contribuído para a entrada de produtos
extraídos fora da região, como foi verificado.
7.3.2. Arcos-MG, suas jazidas e a “concorrência x concorrência”
A formação territorial brasileira, devido à sua configuração geográfica e às
particularidades históricas, é fortemente marcada por enormes desafios em termos de
conhecimento do meio, uso do território, ocupação de fundos territoriais (Moraes, 2002)
Temos um país de proporções continentais e um sistema de transporte que prioriza o setor
rodoviário em detrimento do ferroviário e hidroviário, muito mais baratos. Sem contar a
precariedade das estradas e a falta de investimentos no setor.
Por mais que se tenha grande disponibilidade de jazidas de calcário no território
brasileiro, existem regiões onde não há disponibilidade suficiente e existe uma grande
demanda do produto, sendo necessária a compra, muitas vezes, em outros estados. Caso assim
ocorre com o Estado do Mato Grosso, que consome bastante calcário devido a típica acidez
dos solos do cerrado e ao potencial agrícola. Nesse caso quem oferece o calcário, em sua
maioria é o Estado do Paraná.
Para que isso ocorra com o menor custo possível, utiliza-se de estratégias e
coordenação entre os agentes (fornecedores, distribuidores, operadores) e o surgimento de
novas redes, que utilizam a logística a seu favor de uma maneira peculiar. Os caminhões que
carregam a safra vendida, na teoria voltariam vazios, já que foram entregar mercadoria. A
estratégia funciona quando ao invés de retornar vazio volta lotado de calcário de alguma
região que tenha a disponibilidade e esteja na rota do caminhão. O custo do frete, conhecido
como frete de retorno, é bem mais barato que o contratado exclusivamente para o
carregamento do calcário.
Acontece que, como a região oeste de Minas Gerais é considerada região importante
no fluxo de mercadorias e rota de caminhões com destino para portos e empresas e está bem
próxima da região de Arcos e Pains, que produzem calcário de qualidade a preços
razoavelmente mais baixos que os de Uberaba e Coromandel.
58
Arcos é uma das principais rotas de caminhoneiros do Estado de Minas Gerais, uma vez que a
cidade é cortada pela rodovia BR 354, responsável pela circulação de mercadorias para
diversas regiões do país. O calcário de Arcos geralmente segue para o Triângulo Mineiro, Sul
de Minas, São Paulo, Goiás e Mato Grosso.
Dos estados como Mato Grosso, Paraná e Goiás destaca-se o carvão, material usado
no funcionamento das siderúrgicas. Do Triângulo Mineiro e Sul de Minas produtos agrícolas
como farelo de soja, milho e café.
De acordo com Lopes (2007) o transporte do calcário da região de Arcos representa
em média 80% dos fretes negociados.
Segundo Jean Carlos Campideli, gerente da Central de Cargas e Serviços,
Cecacel, os valores variam de acordo com cada região e que aumentam no
período de julho até outubro em função do volume da produção de calcário.
Os mais baratos são os 'frete retorno', cobrados em outras regiões com
destino a Arcos.
De acordo com o gerente da transportadora Expresso HM Transportes,
Marcus Vinicius Teixeira, tem havido uma queda no valor do frete devido a
quantidade de caminhões no mercado. O preço varia conforme o tipo do
veículo. Em 2007 motoristas de carretas calculavam em média R$ 2,30 para
cada quilômetro rodado. Os caminhões truques, R$ 1,25. Outro fator que
interfere nos valores é a qualidade das estradas, em que alguns motoristas
têm que percorrer até 80km a mais para desviarem de buracos na pista”.
O presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Transportes Rodoviários de
Arcos, Ronaldo José de Andrade, afirma que cerca de 450 pessoas
sobrevivem com a renda desse tipo de trabalho. Os motoristas empregados
pelas transportadoras recebem salário fixo e mais comissão. Eles recebem
em média 15% do frete negociado, já os terceirizados ganham conforme a
distância percorrida. (LOPES, 2007)
Outra questão relevante à região de Arcos é a situação da exploração do calcário – em
sua maioria, realizada sem registro no DNPM – Departamento Nacional de Produção
Mineral.. Logo, sem as adequações legais e o pagamento de impostos podem oferecer um
produto com valor muito aquém do praticado no mercado regular.
Umas das características que propicia que isso ocorra é o disposição da rocha calcária
na região – os afloramentos são superficiais, não sendo necessário custos com desmonte e
transporte de material. Com custos menores, menor o valor praticado do produto.
O fator que não torna a concorrência totalmente desleal é a alta qualidade do produto
de Coromandel e Uberaba e a disponibilidade do produto ser imediata, já que o produtor rural
normalmente trabalha com prazos estourados, não obedecendo o prazo de 60 a 90 dias antes
do plantio. Para trabalhar com frete de retorno é preciso que se tenha uma programação
estipulada. Sendo assim, o mercado de calcário da região atende principalmente cidades
vizinhas e cidades onde não existe frete de retorno e clientes que necessitam de agilidade na
entrega do produto.
59
Por outro lado, a existência dessa concorrência representa um fator positivo para o
produtor rural, que se vê diante de um cenário onde a maioria da disponibilidade regional do
produto é controlada por um único grupo comercial.
7.3.3. Logística Calcário Triângulo / Ercal
Atualmente as empresas são desafiadas a operar de forma eficiente e eficaz a fim
garantir a continuidade de suas atividades, o que as obriga a constantemente desenvolver
vantagens em novas frentes de atuação. Logo, diferenciar-se da concorrência para conquistar
e manter clientes tem se tornado cada vez mais difícil.
Para agregar valor e ao mesmo tempo reduzir custos, garantindo lucratividade tem-se
utilizado a logística como uma maneira para se vencer tais desafios. No caso do calcário
também não seria diferente, a logística é mais que fundamental no desenvolvimento de
negócios e atuação, já que o frete é um fator significamente onerante no valor final do
produto.
Logística no mercado de calcário é sem dúvida a chave de muitos negócios, já que não
se pode desconsiderar o alto custo de operação das cadeias de abastecimento. Porém, essa
realidade, por mais significativa que seja não é o único fator determinante. É importante que
se ofereça concorrência ao mercado, sendo necessário que se desenvolva um processo de
planejamento de negócio da organização e alinhado com os demais esforços para atingir
sucesso no seu segmento de atuação. Mesmo no caso do mercado de calcário, a logística não
poderá contribuir com um negócio mal organizado e mal gerenciado.
Acreditando que mesmo que não se consiga atingir todos os fatores a fim de concorrer
com alguns mercados, outros enfoques são importantes para a sobrevivência da empresa e a
busca de uma identidade voltada para a seriedade qualidade e excelência.
Para isso, a Ercal buscou investir em duas vertentes: dinâmica de transporte e eficiência na
entrega. A empresa conta hoje tanto com o transporte terceirizado (80%) quanto com a sua
própria transportadora (20%).
Tem canal direto com o produtor, com vendedores nas Unidades de Uberaba,
Coromandel e nos escritórios de Coromandel e de Uberlândia. Oferece suporte ao produtor
rural disponibilizando análises de solo e orientações agronômicas quanto ao uso do calcário.
7.3.4. Comercialização
A Calcário Triângulo/Ercal, com vendedores dispostos em todas as suas unidades e
representantes comerciais sempre em visita a clientes, atende hoje 3 estados, conforme Figura
60
03, onde se pode observar que a atuação se dá motivada pela proximidade das respectivas
cidades das jazidas de Uberaba e Coromandel.
a) Minas Gerais: 80% das vendas
Abadia dos Dourados, Água Comprida, Araguari, Brejo Bonito, Campo Florido, Canápolis,
Capinópolis, Conceição das Alagoas, Coromandel, Frutal, Guarda-Mor, Guimarânia,
Indianópolis, Ipiaçú, Iraí de Minas, Ituiutaba, Monte Carmelo, Monte Alegre de Minas, Nova
Ponte, Patrocínio, Perdizes, Pirajuba, Planura, Prata, Sacramento, Santa Juliana, Serra do
Salitre, Tupaciguara, Uberaba, Uberlândia, Vazante.
b) Goiás: 12% das vendas
Caldas Novas, Campo Alegre de Goiás, Catalão, Centralina, Corumbaíba, Goiandira, Ipameri,
Itumbiara, Nova Aurora.
c) São Paulo: 8% das vendas
Aramina, Colômbia, Franca, Guaíra, Guará, Igarapava, Ipuã, Ituverava, Miguelópolis.
Mesmo sendo um produto razoavelmente barato quando comparado com insumos
como o NPK, uma média de R$ 32,00 a tonelada, frete incluso (Junho/2009) e considerando
que o valor não variou significativamente nos últimos anos, por se tratar da necessidade de
grandes quantidades, o produtor rural considera um produto oneroso.
Fazer uso de financiamento é para poucos, além do dinheiro ser liberado no final de
agosto – mês em que as operações de calagem já deveriam estar começando a serem
finalizadas.
As vendas do grupo na região são estimadas em torno de 30% do montante total e
mesmo sendo o calcário considerado um insumo de baixo custo, existe hoje uma
inadimplência estimada em 3%.
61
8. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao se levantar o perfil extrativo e comercial das jazidas de calcário situadas em
Uberaba-MG e Coromandel-MG, a fim de se estabelecer um cenário regional para o produto,
constatou-se primeiramente que ambas as jazidas são controladas pelo mesmo grupo
comercial. Logo, a análise realizada teve também como base a caracterização do trabalho
realizado pelo mesmo.
Sendo assim, mesmo que algumas informações não tenham sido possíveis de serem
apuradas, considera-se a existência de um bom potencial de exploração, o que garantiria a
oferta do produto por um período razoável. E todos os dados levantados indicaram a
possibilidade de afirmar que hoje a região é bem atendida pela oferta de calcário.
Quanto ao consumo, foi verificado que, assim como ocorre com o restante do país, a
quantidade ideal de utilização está longe de ser realidade e o preço do insumo é considerado
oneroso. Porém, desconsiderando a produção do restante das jazidas da região e de ArcosMG, a produção de calcário das jazidas de Uberaba-MG e Coromandel-MG, sozinhas e com a
atual infraestrutura, não conseguiriam suprir toda a demanda existente, e não sendo esta a
ideal. O que ocorre é que devido a livre concorrência existe uma capacidade ociosa na
indústria, que hoje se pauta na lei de oferta e procura, já que não se pratica a estocagem
calcário, o que consequentemente freia novos investimentos de expansão das unidades
beneficiadoras.
Linhas de crédito eficientes; maior difusão da tecnologia, principalmente pelos órgãos
de pesquisa do governo, no caso regional o trabalho é realizado pela EMATER; melhoria na
qualidade das estradas; incentivo para o desenvolvimento de pesquisas, apoio legal, são
alguns fatores fundamentais para que o setor tenha um pouco mais de garantias de trabalho e
desenvolvimento.
Os resultados da pesquisa confirmam a existência de potencial para expansão tanto da
produção quanto do consumo de calcário, desde que sejam direcionados esforços, por parte
dos empresários e por parte do poder público, objetivando corrigir imperfeições consideradas
entraves ao desenvolvimento do setor e a difusão da tecnologia no campo. As relações
estabelecidas região oeste de Minas Gerais é sem dúvida nenhuma uma base concreta de que
tanto a oferta quanto o consumo são extremamente favoráveis.
Dessa forma, considerando a natureza específica do calcário como bem não renovável,
espera-se que as ações sejam pautadas em princípios fundamentais de soberania sobre os
62
recursos minerais,
de desenvolvimento sustentável,
desenvolvimento regional.
de competitividade econômica e
63
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CALCÁRIO AGRÍCOLA PARA CORRETIVO DE
SOLO
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