CARVALHO, Ana Beatriz. O Curso de Licenciatura em Geografia no Âmbito do Pró-Licenciatura e a Mudança de Paradigma na Formação dos Professores. In: VII Encontro Nacional da Anpege – Espacialidades Contemporâneas, o Brasil, a América Latina e o Mundo, 2007, Niterói. O CURSO DE LICENCIATURA EM GEOGRAFIA A DISTÂNCIA NO ÂMBITO DO PRÓ-LICENCIATURA E A MUDANÇA DE PARADIGMA NA FORMAÇÃO DOS PROFESSORES Ana Beatriz Gomes Carvalho Universidade Estadual da Paraíba [email protected] 1. Introdução Este trabalho é resultado de uma pesquisa mais ampla, desenvolvida na Universidade Estadual da Paraíba no período de agosto de 2006 a Maio de 2007, com o objetivo de analisar o impacto das políticas públicas em Educação a Distância na formação de professores da rede pública do Estado, especificamente em municípios distantes dos principais eixos econômicos com maior acessibilidade ao Ensino Superior. A criação e implementação de um curso de Licenciatura em Geografia, na modalidade a distância, provocam mudanças na estrutura da formação do professor que vivencia em seu processo de formação o impacto de conceitos como globalização, flexibilidade tempo/espaço, construção de rede de informações, entre outros processos. Vygotsky (1991) afirma que a aprendizagem se realiza sempre em um contexto de interação, através da internalização de instrumentos e signos levando a uma apropriação do conhecimento. Esse processo promove o desenvolvimento e a aprendizagem precede o desenvolvimento. Ao compreender desta forma as relações entre aprendizagem e desenvolvimento Vygotsky confere uma grande importância à escola (lugar da aprendizagem e da produção de conceitos científicos); ao professor (mediador desta aprendizagem); às relações interpessoais (através das quais este processo se completa). A aprendizagem é um processo de construção compartilhada, uma construção social. Assim, a alternativa que nos parece válida para o nosso objeto de estudo é uma perspectiva sóciohistórica para a prática de nossa pesquisa que foi desenvolvida em dois eixos: a análise da construção e implementação do projeto político-pedagógico do Curso de Geografia na modalidade a distância desenvolvido pela Universidade Estadual da Paraíba e a Universidade Federal do Rio Grande do Norte no âmbito do Pró-Licenciatura. O outro eixo está centrado na prática e na aprendizagem do professor, entendido agora como sujeito e principal agente com a possibilidade de uma reflexão que parte do que o professor faz, para CARVALHO, Ana Beatriz. O Curso de Licenciatura em Geografia no Âmbito do Pró-Licenciatura e a Mudança de Paradigma na Formação dos Professores. In: VII Encontro Nacional da Anpege – Espacialidades Contemporâneas, o Brasil, a América Latina e o Mundo, 2007, Niterói. uma reconstrução do que pode ser feito, confrontando-o com o seu contexto social e político. 2. Referencial Teórico O sistema de organização da EAD é espelhado na organização do modelo fordista e conseqüentemente sofre o impacto das transformações ocorridas nele, incorporando sua reestruturação muito mais rapidamente de que outros segmentos da educação (muito mais complexos, rígidos e resistentes as mudanças). Belloni (2003) ressalta que os modelos industriais de produção já penetraram em todas as esferas sociais e o setor educacional não é uma exceção. A idéia é que com o avanço tecnológico e as transformações no processo de trabalho, a tendência em longo prazo é que a educação como um todo; incluindo EAD e o ensino convencional, vá se transformando num complexo organismo de educação aberta. Mas que transformações seriam essas neste modelo de acumulação? O fato de existir articulação sincronizada com a sociedade é um dos elementos chaves que contribuiu para a solidez do regime fordista durante todos estes anos. Nesse regime, todos os segmentos sociais estavam vinculados à base, e muitas vezes o regime controlava as insatisfações de um determinado grupo, cedendo em um ponto menos importante a fim de que o modelo continuasse funcionando. Embora não haja uma harmonia no funcionamento, a existência de um equilíbrio é fundamental, mesmo que o regime seja sacudido por algumas crises periodicamente. A idéia de progresso está profundamente arraigada ao modelo fordista: o progresso da técnica (que permite aumento de produtividade), o progresso da melhoria de vida (e conseqüente aumento do consumo) e o progresso do Estado, que cada vez mais deveria desenvolver sua capacidade de prover e garantir o pleno-emprego e o aumento do consumo. A “quebra” deste modelo aconteceu pela ocorrência de diversos fatores simultâneos. A baixa produtividade, a revolta dos trabalhadores em relação à alienação, a internacionalização dos mercados, o surgimento de uma nova forma de produção mais eficiente (o modelo japonês). Esses foram fatores determinantes que comprometeram a vigência do modelo. A mudança no padrão de acumulação está estreitamente vinculada não apenas a uma mudança no setor produtivo, mas em mudanças na própria sociedade e em todos os elementos a ela ligados. Surge nesse momento a expressão flexibilidade que parece resumir CARVALHO, Ana Beatriz. O Curso de Licenciatura em Geografia no Âmbito do Pró-Licenciatura e a Mudança de Paradigma na Formação dos Professores. In: VII Encontro Nacional da Anpege – Espacialidades Contemporâneas, o Brasil, a América Latina e o Mundo, 2007, Niterói. o conceito essencial desse novo paradigma de acumulação. A flexibilidade está relacionada com as alternativas encontradas pelas firmas para a superação dos problemas que a rigidez do fordismo não conseguiu resolver. É a flexibilidade na versatilidade dos produtos fabricados, em sua quantidade, em seus estoques, nos projetos, etc. Trabalha-se com estoques menores, produtos segmentados e diferenciados, o que faz com que a qualidade e a versatilidade desses produtos sejam primordiais. A introdução das novas tecnologias pode ser caracterizada pela revolução tecnológica com novos produtos que “redefinem o próprio significado de automação” (Lipietz, 1990). A conceituação desse novo paradigma tecnológico faz-se necessária para entendimento do que realmente mudou com a introdução dessas tecnologias no processo de produção e desenvolvimento do trabalho. A introdução das inovações tecnológicas transforma o processo de trabalho, tornando-o incompatível com o fordismo. O taylorismo separou o desenvolvimento do trabalho intelectual do manual, mas como se operariam esses métodos quando são introduzidas máquinas sofisticadas para serem operadas por trabalhadores desqualificados? Obviamente, a inserção das novas tecnologias tem de ser acompanhada de um mínimo de capacitação do empregado que será o usuário do sistema. Trata-se de juntar o que o taylorismo separou, ou seja, os aspectos manuais e intelectuais do trabalho (Leborgne e Lipietz, 1990). A única alternativa viável para permitir esta reunificação seria uma reeducação da força de trabalho. As novas tecnologias não são simplesmente substituidoras da força de trabalho. Se assim o fossem, não haveria muitas dificuldades na análise desse processo. Para Castells (1999), a designação de alta tecnologia não se refere a uma indústria, a uma atividade ou a um invento. É preciso entender que é um processo, uma forma específica de produzir, a partir da base fundamental, que é a informação. As inovações traduzidas em produtos de ponta de microeletrônica processam as informações muito mais velozmente, reduzindo o custo de transmissão e permitindo descentralização e personalização no modo de trabalho e produção. 3. As Políticas Públicas em Educação a Distância As inovações tecnológicas provocaram um impacto sem precedentes em nossa sociedade na segunda metade do século XX. Chamamos a sociedade em que vivemos hoje CARVALHO, Ana Beatriz. O Curso de Licenciatura em Geografia no Âmbito do Pró-Licenciatura e a Mudança de Paradigma na Formação dos Professores. In: VII Encontro Nacional da Anpege – Espacialidades Contemporâneas, o Brasil, a América Latina e o Mundo, 2007, Niterói. de sociedade de informação, conceito que define bem a existência de fluxos tão complexos de idéias, produtos, dinheiro, pessoas, que estabeleceu uma nova forma de organização social. O fato é que verificamos claramente as transformações na organização do trabalho, na produção, nos mecanismos de relacionamento social, no acesso à informação. O fenômeno da globalização provocou mudanças profundas nas relações econômicas e sociais nas mais distantes localidades do mundo, provocando um curioso paradoxo entre o global e local, constituindo-se uma disputa entre a influência exercida pelo mundo globalizado através da mídia e da nova ordem econômica e o local, com sua expressão máxima na historicidade e importância do visto e experimentado para os indivíduos. Segundo Oliveira (2001), os debates sobre educação e desenvolvimento travados na década de 90 pautaram-se pela exigência em responder ao padrão de qualificação emergente no contexto de reestruturação produtiva e globalização da economia. Neste momento, tornou-se urgente pensar em alternativas para os problemas estruturais da educação brasileira, sobretudo na reforma dos sistemas públicos de ensino. A preocupação central, contudo, não estava limitada à formação da força de trabalho para lidar com as inovações tecnológicas e organizacionais, incluiu também questões políticas como financiamento, controle e gestão da educação pública. Provavelmente um dos maiores entraves ao processo de adaptação do sistema público de educação ao novo padrão de acumulação e produção esteja vinculado aos processos lentos de mudança dos paradigmas para a construção efetiva de um novo modelo de educação. O Brasil assumiu o compromisso com outros nove países em 1990 para garantir a melhoria e universalização da educação básica, e para tanto, uma série de medidas foram tomadas neste período. Percebe-se claramente a preocupação não apenas com a duração do período de escolarização como também com a qualidade. Nesse sentido, a universalização precisa ser acompanhada de um aproveitamento efetivo do que é oferecido pela escola. Trata-se de colocar a escola pública (que apresenta estrutura e práticas do século XIX), em um contexto de inovação tecnológica e flexibilidade de uma sociedade de informação no mundo globalizado. Dentro desta perspectiva, o Governo Federal implementou uma ação que pretendia articular vários setores da esfera federal, os diferentes níveis de esfera pública (Estados e Municípios), e as universidades públicas na criação e implementação de um programa de formação de docentes na modalidade a distância. O programa Pró-Licenciatura tem como objetivo CARVALHO, Ana Beatriz. O Curso de Licenciatura em Geografia no Âmbito do Pró-Licenciatura e a Mudança de Paradigma na Formação dos Professores. In: VII Encontro Nacional da Anpege – Espacialidades Contemporâneas, o Brasil, a América Latina e o Mundo, 2007, Niterói. a criação de cursos de Graduação (Licenciaturas) na modalidade a distância para formação e qualificação do professor que atua em sala de aula na rede pública, sem nível superior (ou quando apresenta nível superior em uma área diversa da que efetivamente atua). Esta distorção existente nos quadros da Educação Básica pública ocorre principalmente em localidades distantes dos grandes centros. Segundo documento do MEC: Trata-se de um Programa de formação inicial voltado para professores que atuam nos sistemas públicos de ensino, nos anos/séries finais do Ensino Fundamental e/ou no Ensino Médio e não têm habilitação legal para o exercício da função (licenciatura). O Pró-Licenciatura Programa de Formação Inicial para Professores dos Ensinos Fundamental e Médio se insere no esforço pela melhoria da qualidade do ensino na Educação Básica realizado pelo Governo Federal por meio do Ministério da Educação (MEC), com a coordenação das Secretarias de Educação Básica (SEB) e de Educação a Distância (SEED) e com o apoio e participação das Secretarias de Educação Especial (SEESP) e Educação Superior (SESu). (SEED/MEC, 2005). A implementação destes cursos através da parceria entre os Consórcios Regionais e o MEC, coordenado por diversas secretarias, já aponta por uma diferenciação na própria concepção da construção das licenciaturas. Ao invés de convocar o Banco Mundial para definir as políticas públicas que são mais adequadas ao sistema educacional brasileiro, agregaram-se as principais universidades públicas, respeitando suas diferenças regionais, para a construção de cursos de licenciatura na modalidade a distância. Esta concepção de aprendizagem implementa o conceito de acessibilidade, tratado aqui como o obstáculo maior hoje na sociedade do conhecimento: um mundo dividido entre os que possuem acesso à informação e os que estão excluídos deste processo. A questão é: uma vez garantindo a acessibilidade aos professores, mudando completamente os paradigmas de sua formação, conseguiremos transformar sua atuação no ambiente escolar? Estaremos construindo uma nova forma não apenas de atuação do professor, mas sim de gestão escolar? A opção por uma metodologia a distância garante as transformações nos paradigmas individuais? É de extrema importância para a compreensão da prática de EAD como uma modalidade de ensino, entender as mudanças ocorridas na produção que são um reflexo da transformação no padrão de acumulação econômica. Vários autores já escreveram sobre a relação intrínseca entre o padrão de acumulação vigente e as práticas de EAD. Segundo Belloni (2003), este debate é crucial já que estes modelos têm influenciado não apenas a elaboração dos modelos teóricos, mas as próprias políticas e práticas de EAD, no que diz CARVALHO, Ana Beatriz. O Curso de Licenciatura em Geografia no Âmbito do Pró-Licenciatura e a Mudança de Paradigma na Formação dos Professores. In: VII Encontro Nacional da Anpege – Espacialidades Contemporâneas, o Brasil, a América Latina e o Mundo, 2007, Niterói. respeito tanto às estratégias desenvolvidas como a organização do trabalho acadêmico e de produção de materiais pedagógicos. O próprio surgimento da EAD teve suas bases consolidadas no modelo fordista de produção que buscava produzir em larga escala para atender o consumo de massa. No campo da educação, essa lógica vai evidenciar-se na expansão da oferta de educação, especificamente na universalização do ensino fundamental e médio e nas estratégias implementadas, fazendo parte deste quadro o surgimento de uma nova disciplina: a tecnologia educacional. (EVANS E NATION, 1992). Ainda segundo Oliveira (2001), nos anos 1990 procurou-se perceber em que medida as reformas educacionais que tiveram como objetivo garantir a oferta de educação básica para todos não estaria respondendo às exigências de adequação das condições gerais de produção impostas pelo atual processo de reestruturação capitalista. Embora se procure estabelecer uma conexão entre o as necessidades de mudança na educação e as mudanças no paradigma de produção globalizada, traduzida pela empregabilidade, nos parece que a política de Estado mais pertinente seria a busca de uma educação para a cidadania. Para realizar uma educação plena neste aspecto, precisamos de professores autônomos, críticos e com uma percepção clara da constituição da sociedade em que vivemos hoje. A busca pela melhoria da educação básica é, sem dúvida, o princípio norteador das ações de qualificação dos professores. A avaliação realizada pelo Sistema de Avaliação Básica apontou a deficiência de qualidade da escolarização, servindo de base para uma série de ações do Governo Federal. A implementação de programas de formação de professoras na modalidade a distância, objeto do nosso estudo, é uma delas e caracteriza-se por uma ação que reuniu elementos diversos em sua concepção, formando uma verdadeira rede de colaboração entre diversas instituições, dos mais diferentes níveis, enriquecendo a construção de um programa de formação de professores da rede pública. 4. A Proposta do Curso de Licenciatura em Geografia a Distância O projeto pedagógico para o curso de Licenciatura em Geografia a distância foi elaborado em parceria entre a UFRN (Universidade Federal do Rio Grande do Norte) e a UEPB (Universidade Estadual da Paraíba), para atuar nos dois estados. A justificativa para a implementação do curso de Geografia foi estruturada nos dados sobre a situação da formação dos professores em exercício. O público-alvo do curso está focado nos CARVALHO, Ana Beatriz. O Curso de Licenciatura em Geografia no Âmbito do Pró-Licenciatura e a Mudança de Paradigma na Formação dos Professores. In: VII Encontro Nacional da Anpege – Espacialidades Contemporâneas, o Brasil, a América Latina e o Mundo, 2007, Niterói. professores em exercício nas redes públicas de ensino nos anos/ séries finais do Ensino Fundamental e/ou no Ensino Médio sem licenciatura na disciplina em que estejam exercendo a docência, classificados em processo seletivo específico. O professor deverá estar trabalhando há pelo menos um ano na função docente em rede pública. O acesso dos professores em serviço à formação superior oportuniza a reflexão sistemática sobre a produção do conhecimento em Geografia, tanto quanto sobre as competências e habilidades indispensáveis à formação docente nessa área. Os indicadores educacionais relativos à formação de professores, que se encontram nas salas de aula das escolas públicas no Brasil, sinalizam para as disparidades de formação em nível regional dos professores em exercício na rede pública nas séries finais do Ensino Fundamental e Médio; como também para a necessidade de se desenvolver projetos de formação acadêmica para esse educador, de modo que haja mudanças na qualidade da educação básica ofertada na rede pública de ensino. Os dados apresentam a seguinte configuração: de um total de 87.770 professores do ensino fundamental, 44,07% ainda não possuem formação superior. No que diz respeito ao ensino médio, de um contingente de 22.257 docentes ainda tem-se 24,14% sem a referida formação. A carência de professores licenciados em áreas específicas é um dado por demais conhecido e comprovado na região nordeste do Brasil. Segundo dados do INEP, baseado no Censo Escolar de 2003, ainda é possível encontrar professores lecionando no ensino médio e dispondo apenas de formação no nível fundamental. A carência de professores licenciados em áreas específicas é um dado por demais conhecido e comprovado na região nordeste do Brasil. Segundo dados do INEP, baseados no Censo Escolar de 2003, ainda é possível encontrar professores lecionando no ensino médio e dispondo apenas de formação no nível fundamental. Na região nordeste oriental, o estado do Rio Grande do Norte tem uma população de quase 3 milhões de habitantes, sendo que destes, mais de 2.700.000 estão no meio urbano, logo, potencialmente com acesso a espaços escolares. Dos 46.959 docentes, 37.142 estão em escolas públicas, estaduais ou municipais (dados da SEC/RN). Segundo dados do INEP, baseados no Censo Escolar de 2002, o estado possui cerca de 9.000 professores com formação superior, mas sem licenciatura, lecionando no ensino médio e/ou nas últimas séries do ensino fundamental. Possui, ainda, quase 5.000 professores lecionando nessas mesmas séries, sem nenhuma formação superior, sendo que destes, 42 possuem apenas a formação fundamental. Outro CARVALHO, Ana Beatriz. O Curso de Licenciatura em Geografia no Âmbito do Pró-Licenciatura e a Mudança de Paradigma na Formação dos Professores. In: VII Encontro Nacional da Anpege – Espacialidades Contemporâneas, o Brasil, a América Latina e o Mundo, 2007, Niterói. aspecto preocupante é a atuação de professores sem a formação específica na área. Apesar de graduados, os professores que estão em salas de aulas lecionando essas matérias possuem formação bastante diversa.No Estado da Paraíba, a questão é mais séria. Dos professores que atuam nos cursos de Geografia, 292 não têm qualquer curso de licenciatura. A Geografia em sua trajetória como saber científico problematiza a relação natureza/sociedade para compreender a dimensão espacial, caracterizando-se por realizar interfaces com diversas áreas do conhecimento. Hoje, essa característica demarca uma condição especial. Diante de um mundo em constantes transformações, a busca por saberes mais amplos e integrados é uma exigência para a formação de um profissional capaz de atuar nesse contexto. Se a Geografia tem passado por avanços significativos, tanto nas condições de representação do espaço quanto no desenvolvimento de pesquisa básica, e mesmo em nível de pesquisa aplicada, as questões sobre o que ensinar, como ensinar, para que ensinar, continua sendo a referência para a estruturação de uma ação pedagógica capaz de desenvolver competências e habilidades, formando cidadãos para enfrentar e resolver problemas durante toda a vida. Nenhum conhecimento tem sentido separado do contexto que o produziu. Portanto, o Curso de Geografia na modalidade EaD leva em consideração em sua proposta pedagógica, o contexto social, econômico, político, cultural e ambiental, tanto em nível global quanto local. O contexto geral aponta para um universo cortado por mudanças tecnológicas e informacionais, impondo transformações significativas na produção e compreensão do espaço, o que aprofunda a complexidade das relações entre local e global. O redimensionamento das práticas cotidianas entre as pessoas, os lugares, as regiões impõe à Geografia repensar conceitos, teorias e metodologias na leitura do espaço, como uma dimensão que produz e é produzida na relação natureza/sociedade. Para alicerçar uma formação profissional mais ampliada e complexa, é necessário identificar, explicar, reconhecer, articular, interligar, compreender e comparar os fenômenos espaciais, ancorados em diálogos abertos com os variados domínios do saber. É importante construir e consolidar reflexões e práticas na direção da interdisciplinaridade. Devemos considerar, nessa perspectiva, que para além do domínio dos conteúdos da área, é necessário que o professor tenha uma visão ampla dos problemas e do lugar em que está inserido. CARVALHO, Ana Beatriz. O Curso de Licenciatura em Geografia no Âmbito do Pró-Licenciatura e a Mudança de Paradigma na Formação dos Professores. In: VII Encontro Nacional da Anpege – Espacialidades Contemporâneas, o Brasil, a América Latina e o Mundo, 2007, Niterói. A formação em Geografia deve primar pela concepção de espaço como a imbricação entre a natureza e a humanidade que ao se enraizar no solo define feições, simultaneamente, singulares e universais. Assim, veicula-se o compromisso ético e epistemológico para compreender a Terra como um grande organismo complexo, que ao apresentar formas variadas, exige do sujeito cognoscente a necessidade de ampliar as lentes de interpretação e compreensão do espaço religando saberes múltiplos e diferenciados. A Licenciatura em Geografia na modalidade EaD se propõe a formar professores para atuar no Ensino Fundamental e Médio, preferencialmente, para aqueles profissionais que atuam na rede pública de ensino sem a formação exigida. Essa formação requer o contato com equipamentos, idéias, conteúdos, metodologias que permitam a leitura e representação do espaço, de forma abrangente. Essa condição qualifica o profissional com dispositivos científicos e técnicos para interferir ética e criticamente, construindo um conhecimento que leva em consideração a preservação e a transformação da vida planetária, respeitando a diversidade sócio-espacial e ambiental existente. 5. As Categorias Tempo-Espaço e a Aprendizagem na Educação a Distância É possível afirmar que a criação dos cursos de graduação em diversas áreas permite um processo de inclusão de indivíduos que não teriam outra possibilidade de realizar um curso em nível superior. A flexibilidade dos horários, a não obrigatoriedade da freqüência diária, a utilização do computador como ferramenta, entre outros elementos, amplia consideravelmente o leque de pessoas que podem incluir-se em um processo de formação institucional. A compressão da distância e a ampliação do tempo de estudos provocam um movimento que é uma característica interessante na Educação a Distância. A distância física é encurtada pelas tecnologias de comunicação que conectam professores, alunos e tutores fisicamente distantes, A ampliação do tempo de estudo está diretamente relacionada com a “quebra” da temporalidade, já que o aluno pode acessar o material em diversos momentos, inclusive de madrugada e aos domingos. As orientações e aulas estão no ar ininterruptamente e cabe ao aluno aproveitar o momento mais adequado para interagir com o material. A questão mais inquietante é que a maior vantagem da Educação a Distância é também a razão do insucesso dos alunos. A flexibilidade propiciada pela metodologia, que é o principal atrativo para os alunos que almejam estudar em seu tempo livre ou não ter a CARVALHO, Ana Beatriz. O Curso de Licenciatura em Geografia no Âmbito do Pró-Licenciatura e a Mudança de Paradigma na Formação dos Professores. In: VII Encontro Nacional da Anpege – Espacialidades Contemporâneas, o Brasil, a América Latina e o Mundo, 2007, Niterói. obrigação de freqüentar a sala de aula todos os dias, acaba por tornar-se o maior obstáculo no desenvolvimento da aprendizagem. A compressão espaço-tempo ou a redefinição destas duas categorias tão essenciais ao ser humano provoca uma dificuldade em lidar com o tempo (que sempre parece mais longo do que é de fato) e com as distâncias (a não exigência presencial provoca o isolamento e sensação de abandono no aluno). Harvey (1989) já sinalizava para o impacto das mudanças destas duas categorias em nossas vidas quando afirmava que “ compressão o tempo-espaço sempre cobra o seu preço da nossa capacidade de lidar com as realidades que se revelam à nossa volta”. (HARVEY, 1989 p.275). Podemos considerar a evasão como o maior problema na Educação a Distância, independente do segmento ou tipo de curso implementado. Os percentuais também não se alteram diante da diversidade de mídias utilizadas, e vários elementos podem explicar as causas da evasão, variando desde a falta de condições financeiras até a dificuldade de construção da autonomia no processo de aprendizagem. A diversidade de fatores que contribuem para a evasão provoca uma certa imobilidade nos gestores da Educação a Distância que não conseguem reunir elementos suficientes para reverter o quadro de evasão em seus cursos. O aluno busca na flexibilidade da Educação a Distância encontrar uma solução imediata para conciliar seu trabalho e demais afazeres com o estudo. Acredita que realizar um curso na modalidade a distância será mais fácil do que no ensino presencial regular e imagina que a tecnologia será um importante aliado no desenvolvimento de sua aprendizagem. O maior problema neste momento é que, independente das expectativas criadas por este aluno, sua história escolar é dentro de uma escola tradicional, com todos os elementos característicos de um padrão fordista de produção, onde a ênfase estava centrada nos processos mecânicos de memorização, repetição e padronização. Não existe no histórico deste aluno incentivo algum para a construção do conhecimento crítico e autônomo. Ao se deparar com a responsabilidade de sua própria aprendizagem, que inclui gerenciar a quantidade de tempo destinada aos estudos, a realização das atividades e o tom das relações com os tutores/professores, invariavelmente o aluno leva algum tempo confuso, com muitas dificuldades no processo de adaptação. Esta angústia provocada pelos mecanismos internos de adaptação poderia ser minimizada com a realização de transição do aluno para um processo de aprendizagem CARVALHO, Ana Beatriz. O Curso de Licenciatura em Geografia no Âmbito do Pró-Licenciatura e a Mudança de Paradigma na Formação dos Professores. In: VII Encontro Nacional da Anpege – Espacialidades Contemporâneas, o Brasil, a América Latina e o Mundo, 2007, Niterói. novo, disponibilizando elementos essenciais para a (re)estruturação dos processos individuais de sistematização do conhecimento e gerenciamento da aprendizagem. 6. A Mudança de Paradigma na Formação dos Professores No momento em que atingimos níveis bastante elevados de desenvolvimento tecnológico, devemos capitalizá-los para a educação, melhorando o perfil acima apresentado no que tange à formação dos educadores, e conseqüentemente, contribuindo para o desenvolvimento econômico, social e cultural do país. A utilização de tecnologias da informação pode ser aliada no processo de reversão do quadro existente, sendo a modalidade a distância um instrumento que possivelmente é capaz de viabilizar essa reversão. No caso específico da Paraíba, são ofertados cursos na modalidade a distância em diversas licenciaturas, onde 85% dos alunos são oriundos de municípios do interior do Estado. Deste universo de alunos apenas 9% não estão exercendo atividades docentes na Educação Básica. Os demais exercem uma ou mais atividades relacionadas com educação. Isso significa, concretamente, que estes professores continuam exercendo suas atividades em sala de aula, freqüentando a comunidade onde estão inseridos, deslocando-se para realizar suas atividades acadêmicas na Universidade, esporadicamente. A proposta pedagógica destes cursos possibilita ao aluno realizar suas atividades a distância, utilizando a Internet como importante ferramenta de comunicação. Os alunos se dirigem ao pólo apenas para receber o material impresso, tirar suas dúvidas ou resolver questões burocráticas. A conquista da autonomia no processo de aprendizagem não é tarefa fácil, principalmente quando mediado por uma tecnologia desconhecida por grande parte do grupo. Observa-se então, a necessidade de novas estratégias onde o estudo coletivo ganha uma força e importância muito maior do que no processo de aprendizagem regular. Os alunos, por si só, criam uma rede de conhecimento e compartilhamento de informações, que dificilmente existiria em um curso presencial. Essas mudanças na condução de um processo de formação docente desdobram-se na prática educativa individual, e a medida que são multiplicadas, podemos ter uma amplitude ainda maior no impacto destas práticas. Constatamos que as escolas, sobretudo nos bolsões de exclusão distantes dos grandes centros, ainda não absorveram os elementos inerentes a CARVALHO, Ana Beatriz. O Curso de Licenciatura em Geografia no Âmbito do Pró-Licenciatura e a Mudança de Paradigma na Formação dos Professores. In: VII Encontro Nacional da Anpege – Espacialidades Contemporâneas, o Brasil, a América Latina e o Mundo, 2007, Niterói. um novo modelo de sociedade informacional. São modelos educativos que ainda privilegiam a memorização, que praticam avaliações quantitativas e excluem o aluno muito cedo do ambiente escolar. São propostas de educação baseadas no principio fordista da massificação e reprodução da força de trabalho. Os professores e alunos desta realidade social e econômica não percebem em seu cotidiano os efeitos da globalização e da sociedade de informação. O pouco que conseguem absorver desta realidade não é apropriado em seu benefício, mas sim utilizado como mais um elemento de exclusão. A modalidade a distância, por sua concepção e estrutura, já absorve o aluno dentro desta sociedade informacional. No caso do curso Geografia da UEPB, o aluno já entra no curso obrigatoriamente como usuário das ferramentas tecnológicas, que vão sendo aprimoradas ao longo de sua aprendizagem. Ao contrário do professor da escola pública que pode escolher utilizar ou não as tecnologias disponíveis, ao estar como aluno do curso de graduação, ele é obrigado a familiarizar-se com estas ferramentas, sendo condição básica para o avanço em seus estudos. 7. Conclusão A necessidade de consonância entre os processos produtivos da economia moderna e o processo de formação na educação brasileira, vem originando a criação de programas específicos para a melhoria da qualidade da Educação Básica, especificamente na formação do professor.A disseminação da informação é o elemento essencial para o entendimento das transformações ocorridas no trabalho. Estas mudanças se traduziram em um modelo de organização do trabalho e da produção que acabaram por impactar a educação aberta. As demandas na formação inicial e continuada mudam substancialmente, apontando para duas grandes tendências, a reformulação radical dos currículos e métodos de educação privilegiando a multidisciplinaridade e a aquisição de habilidades de aprendizagem e oferta de formação continuada ligada aos ambientes de trabalho, numa perspectiva de aprendizagem ao longo da vida. Lévy (2001) sintetiza esta necessidade ao afirmar que “o uso crescente das tecnologias digitais e das redes de comunicação interativa acompanha e amplifica uma profunda mutação na relação com o saber”. A formação do professor em uma modalidade com inserção tecnológica embutida na própria metodologia do curso será capaz de fazer uma diferença significativa em sua atuação na Educação Básica. Ao fazer o curso de Licenciatura na disciplina em que CARVALHO, Ana Beatriz. O Curso de Licenciatura em Geografia no Âmbito do Pró-Licenciatura e a Mudança de Paradigma na Formação dos Professores. In: VII Encontro Nacional da Anpege – Espacialidades Contemporâneas, o Brasil, a América Latina e o Mundo, 2007, Niterói. efetivamente atua, o professor que já exerce essa atividade, possivelmente acumulará não apenas o conteúdo específico que leciona, mas também inúmeras possibilidades pedagógicas que permitam uma atuação mais efetiva, inserida realmente em uma sociedade de informação e conhecimento. Assim, os professores atuantes no mais remoto município do interior da Paraíba, por exemplo, travarão conhecimento com a Internet, software livre, descobrindo as inúmeras possibilidades que o acesso à informação permite, ao mesmo tempo em que desenvolvem um conceito de autonomia na aprendizagem na construção de sua própria aprendizagem. O que se discute aqui é ainda mais profundo, a escola não precisa modificar-se para acompanhar o novo modo de produção, e sim porque as formas de aprendizagem se modificaram, e todos os paradigmas anteriores não funcionam mais e quando aplicados dificultam a ação fim da escola: possibilitar a aprendizagem. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BELLONI, M.L. Educação a Distância, Campinas: Autores Associados, 2003. CASTELLS, M. A Sociedade em Rede, São Paulo: Paz e Terra, 1999. EVANS, T & NATION, D. Educational Technologies: reforming open and distance education. In: Reforming open and distance education. Londres: Koogan, 1993. FINQUELIEVICH, S. e LAURELLI, E. "Inovacion Tecnologica Y Reestructuracion Desigual Del Território: paises desarrollados - América Latina, in: Revista Interamericana de Planificacion, vol. XXIII, nº 89, Jan/Mar. 1990. HARVEY, D. Condição Pós-Moderna - Uma Pesquisa Sobre as Origens da Mudança Cultural, São Paulo: Loyola, 1993. LEVY, Pierre. Cibercultura. 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