III SEMINÁRIO INTERNACIONAL ORGANIZAÇÕES E SOCIEDADE:
INOVAÇÕES E TRANSFORMAÇÕES CONTEMPORÂNEAS
Porto Alegre, 11 a 14 de novembro de 2008
GT Organizações e Instituições econômicas
RESPONSABILIDADE SOCIAL EMPRESARIAL COMO CRITÉRIO DE
AVALIAÇÃO DE FORNECEDORES
Leila Araújo de Sousa
Doutoranda em engenharia de produção DEP/UFSCar
[email protected]
1
Responsabilidade social empresarial como critério de avaliação de
fornecedores
Leila Araújo de Sousa
Doutoranda em engenharia de produção DEP/UFSCar
[email protected]
Resumo: A colaboração entre empresas fornecedoras e compradoras se apresenta como uma
alternativa às limitações do ambiente interno organizacional para incrementar seus desempenhos
socioambientais, pois uma ação social terá mais impacto se for realizada por todas as empresas que
compõem a cadeia produtiva e se realizada de forma contínua. Assim, a efetiva gestão dos
relacionamentos entre fornecedores e clientes (seja final ou outra organização) é essencial para
permitir aos membros da cadeia alcançar benefícios mútuos de longo prazo.
Dessa forma, o presente trabalho tem como objetivo analisar a importância da responsabilidade
social empresarial nos relacionamentos entre empresas, mais especificamente, no relacionamento a
montante da cadeia, sob a ótica do marketing business-to-business. Como exemplo, utiliza-se o
caso de uma empresa de grande porte do setor químico do Estado de São Paulo.
Palavras-chave:
Responsabilidade
Social
Empresarial,
gestão
dos
relacionamentos,
relacionamento empresa-fornecedor, marketing business-to-business.
1. Introdução
As profundas mudanças ocorridas no ambiente dos negócios, provocadas
principalmente pela abertura dos mercados, exigem das organizações novas
configurações e habilidades. Nesse sentido, as organizações são forçadas a buscar
condições que preservem (ou ampliem) o espaço econômico já conquistado no
mercado.
Nas últimas décadas, a responsabilidade social empresarial (RSE) passou
a fazer parte dos assuntos relevantes para a sociedade, empresários e
acadêmicos, configurando-se uma dessas novas habilidades requeridas das
2
empresas. Essa exige uma constante preocupação por parte das empresas com
aspectos antes pouco notados por elas, tais como: ética, transparência, meio
ambiente e sustentabilidade.
Para o Instituto Ethos, a RSE é a forma de gestão que se define pela
relação ética e transparência da empresa com todos os públicos com os quais ela
se relaciona e pelo estabelecimento de metas empresariais compatíveis com o
desenvolvimento sustentável da sociedade, preservando recursos ambientais e
culturais para as gerações futuras, respeitando a diversidade e promovendo a
redução das desigualdades sociais (ETHOS, 2008).
Nesse contexto, a busca por permanência (ou diferenciação) das
empresas requer também a capacidade de interagir com outras empresas e com a
sociedade. Assim, o relacionamento colaborativo e harmonioso entre os
componentes da cadeia produtiva deve ser buscada pelas organizações com o
intuito de melhorar seus desempenhos econômico, social e ambiental.
Dessa forma, o cuidado nos relacionamentos entre empresas parece ser,
por conseguinte, fundamental para a sobrevivência, legitimidade e competitividade
no mercado contemporâneo (ALIGLERI; CÂMARA; ALIGLERI, 2002), já que
somente mudanças operacionais não se mantêm como diferencial por muito tempo,
pois são facilmente copiadas pelos concorrentes, sendo essa a diferença
fundamental entre o que vem a ser um recurso e uma vantagem competitiva
(MILAGRES et al, 1999).
Dentro dessa perspectiva, o presente estudo pretende analisar a
importância da responsabilidade social nos relacionamentos entre empresas, mais
especificamente, a montante da cadeia. Verificando, portanto, se a adoção da
responsabilidade social pela empresa interfere no seu relacionamento com os
fornecedores. Para tanto, realizou estudo de caso em uma empresa de grande
porte do setor químico no Estado de São Paulo.
A metodologia utilizada foi, num primeiro momento, pesquisa exploratória
com pesquisa bibliográfica. Depois, realizou-se estudo de caso com uma empresa
3
de grande porte, utilizando entrevista semi-estruturada com vários gerentes da
empresas para a coleta de dados.
O presente estudo não tem a pretensão de esgotar o tema. Os resultados
apresentados servem para demonstrar um caso especifico, devendo o tema e a
questão de pesquisa serem mais investigadas e em outros setores e situações.
O texto está estruturado em quatro seções, além dessa introdução e do
referencial bibliográfico. Na primeira seção se discute as mudanças no ambiente
das organizações e as motivações para adoção da responsabilidade social por
parte das empresas. A seção seguinte introduz os conceitos de responsabilidade
social empresarial. Depois, são apresentados conceitos que reforçam a postura
social na gestão estratégica dos relacionamentos entre empresas, buscando
referencial teórico que sustente a importância da gestão dos relacionamentos,
focado na relação fornecedor-empresa, objeto desse trabalho. Por fim, é
apresentado o estudo de caso, seguido pelas considerações finais.
2. Mudanças no ambiente institucional
Várias foram as mudanças (liberalização, globalização, integração
econômica e política, fragmentação do Estado, etc) ocorridas no ambiente
institucional que levaram as questões sociais para o ambiente privado. Mudanças
essas que impactam sobremaneira o ambiente dos negócios e a vida em
sociedade. Conseqüentemente, novas práticas gerenciais nascem, portanto, em
virtude de um novo ambiente social e econômico e aumento da complexidade da
sociedade civil. Acarretando a reformulação do papel do Estado, redefinindo as
relações entre o público e o privado e entre empresas.
Nesta perspectiva, a análise do ambiente externo às organizações passa a
ganhar relevância nas análises que procuram compreender as formas como as
organizações trabalham. Assim, as organizações orientam seus comportamentos
diante daquilo que percebem como importantes e legítimos dentro do ambiente em
que operam. Esse mesmo ambiente não somente altera, mas impõem um conjunto
4
de condições que se tornam requisitos para sua própria operação. Com base
nesses aspectos, a organização pode ser entendida como uma construção social
que se adapta a um mundo muito mais dinâmico (FROTA, 1981).
O gerenciamento estratégico dos relacionamentos entre empresas passou
a ser visto como fator determinante para a competitividade e sustentabilidade. Para
Batt e Purchase (2004), tornou-se uma das melhores maneiras de gerir as
organizações, contemporaneamente, pois em um ambiente onde o mercado é cada
vez mais dinâmico e turbulento, a habilidade das empresas em desenvolver e
controlar com sucesso seus relacionamentos com outras empresas emerge como
uma forte vantagem competitiva (BATT e PURCHASE, 2004).
Pigatto e Alcântara (2003) com base em vários outros autores (Spekman et
al, 1997; Ford, 1998; Cheung e Turnbull, 1998; Hogarth-Scott, 1999; Lindgreen,
2001; Souza e Serrentino, 2002) descrevem no quadro abaixo os fatores
influenciadores da mudança de comportamento das relações interorganizacionais.
Oferta
(fornecedores)
*acirramento
da
concorrência;
*concorrência
industrial;
*avanços ocorridos na
tecnologia
de
informação (TI);
*desregulamentação
dos mercados.
Demanda
Comportamento do
Comportamento das
(varejo)
consumidor
organizações
*mercado maduro
*crescimento
*pressão
dos
*concentração
no moderado
da stakeholders;
varejo;
demanda;
*novas
formas
*lojas
maiores *nível de renda;
organizacionais;
(tamanho);
*diversidade étnica;
*novas estruturas de
*marca própria;
*maiores exigências negócio horizontais e
*crescente diversidade (mudança de atitude); verticais;
de produtos e serviços *redução do tempo *pressão
por
(cartões
de disponível
para rentabilidade;
fidelidade);
compras;
*maior
**avanços
ocorridos *busca por um lugar competitividade;
na
tecnologia
de único para todas as *natureza
das
informação (TI);
compras
atividades.
*polarização.
(conveniência).
Quadro: Fatores influenciadores na mudança de comportamento das relações
interorganizacionais.
Fonte: Pigatto e Alcântara (2003).
A competitividade imposta por esse novo ambiente exige das organizações
novas estratégias e novas posturas pautadas no desenvolvimento sustentável. A
idéia de uma longa existência das empresas, na atualidade, está associada à idéia
de sustentabilidade que passa a ser complemento do conceito de competitividade.
5
No âmbito das empresas, estes dois conceitos se amalgamam e na concepção de
Responsabilidade Social Empresarial, passando a ter significados complementares
(SOUSA, 2006).
O termo sustentabilidade se difundiu a partir do documento Agenda 21
aprovado
na
Conferência
das
Nações
Unidas
sobre
meio
ambiente
e
desenvolvimento, a ECO 92. Desde então, no âmbito corporativo as práticas de
RSE passaram a ser veículo para a busca da sustentabilidade. A ação das
empresas em agregar valor social aos negócios vem se transformando numa
poderosa convenção, sendo considerada como um dos fatores fundamentais para
a permanência dessas no mercado.
Já o conceito de competitividade, mais conhecido, pode ser entendido
como sendo a capacidade das empresas formularem e implementarem estratégias
competitivas que lhes permitam manter ou ampliar suas posições no mercado.
Decorre dessa definição que a competitividade é uma medida de desempenho das
firmas que depende, porém, de relações sistêmicas entre elas (COUTINHO E
FERRAZ, 1994). Conseqüentemente, a competitividade da empresa permite a sua
sustentabilidade, e ser competitivo se traduz em estar em consonância com as
exigências do mercado onde atua. Tais exigências podem ser materializar
objetivamente (padrões de qualidade, por exemplo), outras estão mais na esfera
simbólica.
Logo, uma empresa sustentável , nos moldes contemporâneos, é aquela
que contribui para o desenvolvimento sustentável ao gerar, simultaneamente,
benefícios econômicos, sociais e ambientais, considerados os três pilares do
desenvolvimento sustentável.
Nesse contexto, cada vez mais, as empresas procuram associar suas
marcas ao conceito de responsabilidade social, no sentido de se manterem firmes e
atuantes no mercado, uma vez que a responsabilidade social empresarial pode ser
entendida como resultado das pressões do ambiente sobre as ações das empresas
que afetam negativamente a própria sociedade (ALVES, 2007).
6
Mas, ainda, restam várias perguntas, quais sejam: onde começa e termina
a responsabilidade social das empresas? As empresas podem ser classificadas
com socialmente responsável se atuando sozinha? A responsabilidade social das
empresas interfere nas relações?
3. Responsabilidade social empresarial
Segundo Alves (2007), responsabilidade social empresarial nos leva a
perceber as mudanças sofridas pelas empresas seja na sua importância, seja na
sua natureza ao longo do tempo, de acordo com as demandas e expectativas da
sociedade em um dado momento histórico.
Atualmente, a responsabilidade social empresarial tem sido conceituada
como uma forma de gerenciamento do negócio voltado para o relacionamento ético
e transparente com todos os seus stakeholders e com estabelecimento de ações
compatíveis com o desenvolvimento sustentável da sociedade (SOUSA, 2006).
Assim, a RSE baseia-se na noção de que as empresas têm o dever de trabalhar
pela melhoria do bem-estar social (FREDERICK, 1994).
A discussão sobre o papel social das empresas vem ganhando espaço
cada vez mais crescente, ao contrário da visão tradicional de que as empresas já
cumprem seu papel social quando disponibiliza empregos (FRIEDMAN, 1970).
Ainda, dos que acreditam que as organizações não possuem conhecimento e
competência entre seus administradores para compreender e trabalhar os
problemas sociais e por acreditarem que existem outras instituições a quem cabe
esse papel, como as igrejas, governo e ONG s (FRIEDMAN, 1970; STONNER e
FREEMAN, 1995; JONES, 1996).
A RSE representa para as empresas, nos moldes contemporâneos, uma
nova maneira de perceber seus negócios, produtos e relações. De modo geral, a
responsabilidades social empresarial vai muito além de obter bons resultados
operacionais, dispor de melhores produtos e serviços, oferecer preços competitivos,
bom atendimento, contar com as melhores tecnologias e com pessoas altamente
7
qualificadas. Representa a estratégia por práticas sociais e ambientais que
contribuam para a melhora da qualidade de vida desta e das próximas gerações
(SOUSA, 2006).
A integração da responsabilidade social ao planejamento estratégico
consiste em incluir a variável socioambiental na missão, nos princípios e nos
valores de desempenho das organizações. É, portanto, o processo de inserir
variáveis socioambientais ao longo de todo processo gerencial de planejar,
organizar, dirigir e controlar as atividades produtivas e suas respectivas interações,
a fim de atingir suas metas e objetivos de forma mais sustentável possível
(NASCIMENTO; LEMOS, MELLO, 2008).
Segundo Borger (2001), o fato das empresas agirem orientadas para RSE
não implica que a gestão empresarial abandone seus objetivos econômicos e deixe
de atender aos interesses de seus proprietários e acionistas. Para a autora,
acontece exatamente o contrário, pois uma empresa só é socialmente responsável
se desempenha seu papel na sociedade, produzindo bens e serviços, gerando
empregos, retorno para seus acionistas dentro dos limites legais e éticos
estipulados pela sociedade. Dessa forma, a empresa é responsável pelos efeitos
de sua operação e atividades na sociedade, incluindo os impactos diretos, as
externalidades que afetam terceiros, que envolve toda a cadeira produtiva e o ciclo
de vida dos seus produtos e serviços (BORGER, 2001).
Segundo o Instituto Ethos ser socialmente responsável não limita as ações
internas das empresas, mas querer uma continuidade dessas em toda a cadeia.
Acredita ser imprescindível o envolvimento de toda a cadeia produtiva, uma vez
que um bem socialmente responsável somente será produzido com a integração
dos vários processos de diferentes elos da cadeia. Caracterizando-se, cada vez
mais, de forma multidimensional e sistêmica, buscando interdependência e
interconectividade entre todos os stakeholders ligados à empresa, direta ou
indiretamente (ALIGLERI; CÂMARA; ALIGLERI, 2002; ASHLEY, 2001).
A
qualificação de empresa ou produto socialmente responsável não pode ser
8
alcançada pela ação de uma empresa isoladamente, mas de toda a cadeia
produtiva da qual ela faz parte.
A gestão da RSE atua de maneira intra e interorganizacional. Caracterizase intraorganizacional, pois a responsabilidade social deve permear todos os
setores que compõem as empresas, devendo fazer parte da cultura organizacional
de cada uma, conforme nos argumenta Ashley (2000). Dessa forma, para ser
socialmente responsável não basta realizar boas ações sociais junto a um públicoalvo somente. É entendida como interorganizacional, quando passa a ser analisada
a partir de relacionamentos com outras organizações. Para o Ethos (2008),
a
responsabilidade social é um processo que nunca se esgota. Não dá para dizer que
uma empresa chegou ao limite de sua responsabilidade social, pois sempre há algo
a fazer, seja interna ou externamente. Logo, o cuidado com as relações para o
efetivo cumprimento do agir socialmente responsável.
4. Gestão dos relacionamentos
O modelo tradicional de confronto entre comprador e vendedor vem
perdendo sua força frente á nova filosofia baseada em relacionamentos de longo
prazo, maior proximidade, altos níveis de colaboração e benefícios mútuos. Essa
nova filosofia está sintetizada no marketing de relacionamento, podendo, ainda, ser
subdivido em dois conceitos: Business-to-business marketing e one-to-one
marketig. O primeiro trata da integração entre empresas (foco deste trabalho) e o
segundo aborda o relacionamento entre empresa-consumidor final (Figura 1).
Segundo Herbig et al (1994) o ambiente do business-to-business
(ambiente organizacional) difere do one-to-one no baixo número de vendedores e
clientes, os produtos ou serviços no mercado industrial são em grandes
quantidades e envolve altos valores nas transações. Por essa razão, as estratégias
vigentes nesse ambiente devem ser provenientes do marketing de relacionamento
ou do marketing industrial que considera a construção de relacionamentos entre
empresas parceiras de longo prazo.
9
Fornecedor
2º nível
Fornecedor
1º nível
Empresa
produtora
Distribuidor
Businessto-business
Cliente
final
One-to-one
Figura 1: Marketing de relacionamento na cadeia de suprimentos.
Para Handfield e Nichols (1999) o desempenho de uma cadeia produtiva é
em grande parte afetada pelo relacionamento entre as organizações que a
compõem, sendo necessário a construção de parcerias estratégicas. Essas
acontecem quando duas ou mais organizações, baseadas no mesmo interesse,
possuem ligações econômicas, legais e interpessoais (COUGHLAN, 2002). São
criadas visando descobrir e explorar oportunidades em conjunto, onde cada um
deve cumprir o seu papel. Portanto, nessa linha de análise, os membros dependem
e confiam uns nos outros (PIGATTO E ALCÂNTARA, 2003) podendo ser regidos
por contratos formais, capazes de impedir eventuais práticas oportunistas
(LAMMING, 1993). Para Brito (2002) a funcionalidade contratual está associada
aos mecanismos de coordenação, busca por objetivos comuns e mecanismos
preventivos de posturas oportunistas que por ventura possa ser praticada por
qualquer uma das partes.
Segundo Levy (2000) a empresa só devem promover parcerias
estratégicas, compartilhando informações e trabalhando meios para atingir as
metas, assumindo riscos e buscando manter o bom relacionamento, quando
perceber que a colaboração se configura como necessária e boa para todos e,
ainda, por perceber que uma empresa dificilmente conseguirá se manter no
mercado (competitiva) sem uma relação de cooperação em mercados altamente
instáveis como se configura o atual.
10
Cann (1998) alerta para o fato de que a organização deve antes de buscar
manter uma relação business-to-business, estar atenta as suas operações internas
e congruência entre elas (missão, estratégias e cultura baseada nos clientes) e só
depois trabalhar suas atividades realizadas externamente (implementação das
estratégias de marketing integradas, relacionamento social com as demais
empresas da cadeia e adição de valor ao relacionamento) baseadas na idéia de
relacionamento colaborativo e de longo prazo.
Para Hakansson e Snehota (1998), ao mesmo tempo em que a
cooperação é boa, pode trazer ônus quando não bem administrada, pois leva
necessariamente ao cumprimento de um conjunto de obrigações por parte de todos
os envolvidos. Os autores ressaltam que a falta de governabilidade, a necessidade
de recursos, a incerteza, a adaptação e a exclusividade podem trazer resultados
negativos para os dois lados.
Todavia, a colaboração entre empresas compradoras e fornecedoras se
apresenta como uma alternativa às limitações do ambiente interno organizacional
para incrementar seus desempenhos socioambientais, uma vez que uma ação
social terá mais impacto se for realizada por todas as empresas que compõem a
cadeia e se realizada de forma contínua. Assim, a efetiva gestão dos
relacionamentos entre fornecedores e clientes (seja final ou outra organização) é
essencial para permitir aos membros da cadeia alcançar benefícios mútuos de
longo prazo.
4.1. Relacionamento e gestão de fornecedores
As organizações têm procurado adotar um conjunto de estratégias
direcionadas para a adaptação de seus fornecedores às mudanças observadas no
ambiente social e macroeconômico em que estão inseridas, buscando transformálos em parceiros. Assim, buscam bons parceiros para seus negócios, levando em
consideração um conjunto de critérios.
11
4.1.1 Critérios para seleção dos fornecedores
Para Handfield e Nichols (2004) os requisitos mais comuns considerados
na seleção de fornecedores são:
o Qualidade;
o Preço;
o Velocidade e confiabilidade na entrega;
o Capacidade tecnológica;
o Estrutura de custos;
o Comprometimento.
Já Veloso (2000), quando de sua análise da cadeia de suprimentos
automotiva, fora requisitos descritos acima, ainda, inclui:
o Capacidade em pesquisa e desenvolvimento de produtos e processos;
o Capacidade técnica de mão-de-obra;
o Flexibilidade em termos de volumes de produção, produtos e processos;
o Estabilidade financeira.
Handfield e Nichols (2004) consideram que a avaliação de desempenho da
base de fornecimento é critica ao tratar da redução de custos e de riscos
operacionais e da agregação de valor ao produto final por meio de melhorias
continuas. Mas não detalham o que seria essa agregação de valor ao produto final.
Não argumentando, portanto, se as questões sociais estão ai inseridas, apesar de
considerar a conformidade dos processos de manufatura em relação às políticas
ambientais.
Aqui, entra o propósito deste trabalho que é o de avaliar se a
responsabilidade social faz parte dos critérios para a seleção e manutenção dos
fornecedores, ainda não considerado pelos autores citados acima.
O
controle
dos
princípios
de
responsabilidade
social
junto
aos
fornecedores é uma prática que pode evitar grandes prejuízos à imagem de uma
12
empresa. A idéia principal que norteia este artigo é de que as organizações
assegurando a prática da responsabilidade apenas em suas operações não basta
para alcançar tudo que o conceito de RSE propõe. Dessa forma, as informações
obtidas na avaliação dos fornecedores buscando uma possível parceria é que
determinarão o potencial do relacionamento entre empresa-fornecedor.
5. Estudo de caso
Trata-se de um dos grupos industriais mais antigos do mundo, com data de
fundação ainda no século XVIII, antes mesmo da Revolução Francesa e da
formação dos Estados Unidos da América. Pertence ao setor de bens de consumo
e atende a diversos países.
A primeira unidade no Brasil foi fundada na década de 1920 que conta,
atualmente, com mais três unidades e mais escritórios localizados nas maiores e
mais importantes capitais brasileiras. Ficam a sua disposição cerca de 2.700
funcionários espalhados por todas as suas instalações. Ainda, a empresa atende a
demanda do Brasil e mais setenta países.
A empresa busca, o tempo todo, deixar demonstrar sua postura
preocupada com as questões socioambientais e pautada na sustentabilidade, no
seu site seja nos discursos de seus funcionários e/ou nas mensagens posta em
murais localizadas em lugares estratégicos, tanto para funcionários como para os
visitantes. Ainda, em todas as embalagens de seus produtos e nas que não levam
sua marca (alguns produtos levam o nome de clientes) a sempre espaço para a
importância dessas questões para a empresa, bem como para o desenvolvimento
de novos produtos.
5.1. Responsabilidade social e ambiental da empresa
A responsabilidade socioambiental faz parte dos quatro princípios básicos
da empresa, os outros são: competência e Tradição; qualidade excepcional e
13
Inovação. Suas ações consideradas sociais são na área da educação, projetos
ambientais e na comunidade local.
A atuação social da empresa faz parte da ideologia da empresa, na busca
por sustentabilidade do negócio e da marca no longo prazo. Possui certificações
ISO 9001 (Qualidade), ISO 14001 (Ambiental), FSC - (Madeira ambientalmente e
socialmente correta), e está em processo de implantação da norma SA 8000
(Responsabilidade Social).
A empresa reconhece que uma correta postura social ajuda nos negócios
desde o momento em que fortalece a marca e agrega valor ao nome do grupo. No
caso da empresa, isso acontece quando sua marca é associada a uma educação
de qualidade e ao meio ambiente protegido e sustentável. Dessa forma, a gestão
da RSE ajuda na construção de uma boa reputação, considerada fundamental nas
vendas.
Outro ponto importante é a exigência de seus clientes internacionais com
relação a uma postura social adequada e essa é avaliada pro meio de auditorias
e/ou certificações normativas realizadas periodicamente.
5.2. Relacionamento e gestão de fornecedores da empresa
Pode-se perceber que o relacionamento vigente entre a empresa
pesquisada e seus fornecedores, pelo menos os mais importantes, é sempre
buscando relacionamento de longo prazo. Nesse caso, é exigido no contrato um
relatório no qual deve constar a atuação social da empresa. No entanto, esse só é
cobrado dos principais e maiores fornecedores.
Já no caso dos fornecedores esporádicos, as avaliações das questões
socioambientais são para fins de homologação, ou seja, recomendáveis ou não.
As questões levantadas no contrato comercial são: a proibição do uso de
mão de obra infantil, trabalho forçado ou não conforme a legislação trabalhista,
atuação ambiental responsável atendendo à legislação ambiental (Conan, Cetesb,
etc).
14
As análises sociais realizadas pela empresa tomam como referência a
norma internacional SA 8000 e análises ambientais a norma ISO 14001. Essas são
feitas na homologação e no monitoramento dos fornecedores, via auditorias
periódicas realizadas pelos departamentos de compras e qualidade.
Os
fornecedores são focados de acordo com a necessidade e risco para o negócio
(empresas que manuseiam a marca da empresa fora da empresa).
Todas essas precauções são em virtude de problemas já enfrentados pela
empresa. Essa enfrentou problemas em virtude de atuação não socialmente
responsável de um de seus fornecedores. No entanto, o caso teve repercussão
internacional (publicado numa revista específica) que acarretou prejuízos à imagem
e marca da empresa. Depois de tal evento a empresa passou a avaliar com mais
precisão a ação de todas as empresas que ela mantém maiores contatos.
Assim, a empresa busca fornecedores parceiros, sejam pequenos, médios
ou grandes que atuem levando em consideração as questões sociais e ambientais
em sua gestão. Essas questões são a cada dia analisadas com mais critério e
cuidado, pois a empresa percebe a importância do bem administrar os
relacionamentos.
6. Considerações finais
O propósito deste trabalho foi o
responsabilidade
social
nos
de realçar a importância da
relacionamentos
entre
empresas,
mais
especificamente, entre fornecedor-empresa, uma vez que a qualificação de
empresa ou produto socialmente responsável não pode ser alcançada pela ação
isolada de uma empresa, mas de toda a cadeia produtiva da qual ela faz parte.
As relações entre empresas não começam ou terminam na efetivação da
compra ou venda de produtos, envolvem também questões simbólicas. Estas
questões tornaram-se parte do composto dos processos e produtos, ou seja,
tornaram-se legitimas no ambiente das organizações. Dessa forma, a empresa não
poderá ser considerada socialmente responsável se seus fornecedores atuarem de
15
forma contrária ou passiva, pois cada agente depende do perfeito funcionamento
do outro para atingir seus objetivos econômicos, sociais e legais.
As empresas tornam-se cada dia mais sistemas abertos, com fronteiras
mais permeáveis e, em muitos casos, difícil de identificar. Tornando-se,
efetivamente, um sistema de gestão interorganizacional em todos os seus
processos de negócios, começando na origem de seus suprimentos até o
consumidor final (Wood Jr. e Zuffo, 2001). É certo que essa postura acarreta
dificuldades que devem ser trabalhadas com critério e cuidado, pois se trata de algo
novo para as empresas. Mas torna-se urgente esse aprendizado conjunto.
Pode-se inferir que para acompanhar a melhoria de qualidade e
produtividade das grandes empresas, os fornecedores de pequeno, médio e grande
porte terão que buscar capacitação tanto na área administrativa quanto na
produtiva relativas as questões sociais e ambientais. As exigências das grandes
indústrias para cadastramento de novos fornecedores estão cada vez maiores no
tocante ao tema.
Conclui-se, ainda, que a avaliação dos agentes relativas às questões
socioambientais deve ser constante, pois um erro isolado de um elo da cadeia
produtiva pode comprometer a atuação das demais empresas que compõem a
mesma cadeia.
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A responsabilidade social empresarial numa perspectiva