III SEMINÁRIO INTERNACIONAL ORGANIZAÇÕES E SOCIEDADE: INOVAÇÕES E TRANSFORMAÇÕES CONTEMPORÂNEAS Porto Alegre, 11 a 14 de novembro de 2008 GT Organizações e Instituições econômicas RESPONSABILIDADE SOCIAL EMPRESARIAL COMO CRITÉRIO DE AVALIAÇÃO DE FORNECEDORES Leila Araújo de Sousa Doutoranda em engenharia de produção DEP/UFSCar [email protected] 1 Responsabilidade social empresarial como critério de avaliação de fornecedores Leila Araújo de Sousa Doutoranda em engenharia de produção DEP/UFSCar [email protected] Resumo: A colaboração entre empresas fornecedoras e compradoras se apresenta como uma alternativa às limitações do ambiente interno organizacional para incrementar seus desempenhos socioambientais, pois uma ação social terá mais impacto se for realizada por todas as empresas que compõem a cadeia produtiva e se realizada de forma contínua. Assim, a efetiva gestão dos relacionamentos entre fornecedores e clientes (seja final ou outra organização) é essencial para permitir aos membros da cadeia alcançar benefícios mútuos de longo prazo. Dessa forma, o presente trabalho tem como objetivo analisar a importância da responsabilidade social empresarial nos relacionamentos entre empresas, mais especificamente, no relacionamento a montante da cadeia, sob a ótica do marketing business-to-business. Como exemplo, utiliza-se o caso de uma empresa de grande porte do setor químico do Estado de São Paulo. Palavras-chave: Responsabilidade Social Empresarial, gestão dos relacionamentos, relacionamento empresa-fornecedor, marketing business-to-business. 1. Introdução As profundas mudanças ocorridas no ambiente dos negócios, provocadas principalmente pela abertura dos mercados, exigem das organizações novas configurações e habilidades. Nesse sentido, as organizações são forçadas a buscar condições que preservem (ou ampliem) o espaço econômico já conquistado no mercado. Nas últimas décadas, a responsabilidade social empresarial (RSE) passou a fazer parte dos assuntos relevantes para a sociedade, empresários e acadêmicos, configurando-se uma dessas novas habilidades requeridas das 2 empresas. Essa exige uma constante preocupação por parte das empresas com aspectos antes pouco notados por elas, tais como: ética, transparência, meio ambiente e sustentabilidade. Para o Instituto Ethos, a RSE é a forma de gestão que se define pela relação ética e transparência da empresa com todos os públicos com os quais ela se relaciona e pelo estabelecimento de metas empresariais compatíveis com o desenvolvimento sustentável da sociedade, preservando recursos ambientais e culturais para as gerações futuras, respeitando a diversidade e promovendo a redução das desigualdades sociais (ETHOS, 2008). Nesse contexto, a busca por permanência (ou diferenciação) das empresas requer também a capacidade de interagir com outras empresas e com a sociedade. Assim, o relacionamento colaborativo e harmonioso entre os componentes da cadeia produtiva deve ser buscada pelas organizações com o intuito de melhorar seus desempenhos econômico, social e ambiental. Dessa forma, o cuidado nos relacionamentos entre empresas parece ser, por conseguinte, fundamental para a sobrevivência, legitimidade e competitividade no mercado contemporâneo (ALIGLERI; CÂMARA; ALIGLERI, 2002), já que somente mudanças operacionais não se mantêm como diferencial por muito tempo, pois são facilmente copiadas pelos concorrentes, sendo essa a diferença fundamental entre o que vem a ser um recurso e uma vantagem competitiva (MILAGRES et al, 1999). Dentro dessa perspectiva, o presente estudo pretende analisar a importância da responsabilidade social nos relacionamentos entre empresas, mais especificamente, a montante da cadeia. Verificando, portanto, se a adoção da responsabilidade social pela empresa interfere no seu relacionamento com os fornecedores. Para tanto, realizou estudo de caso em uma empresa de grande porte do setor químico no Estado de São Paulo. A metodologia utilizada foi, num primeiro momento, pesquisa exploratória com pesquisa bibliográfica. Depois, realizou-se estudo de caso com uma empresa 3 de grande porte, utilizando entrevista semi-estruturada com vários gerentes da empresas para a coleta de dados. O presente estudo não tem a pretensão de esgotar o tema. Os resultados apresentados servem para demonstrar um caso especifico, devendo o tema e a questão de pesquisa serem mais investigadas e em outros setores e situações. O texto está estruturado em quatro seções, além dessa introdução e do referencial bibliográfico. Na primeira seção se discute as mudanças no ambiente das organizações e as motivações para adoção da responsabilidade social por parte das empresas. A seção seguinte introduz os conceitos de responsabilidade social empresarial. Depois, são apresentados conceitos que reforçam a postura social na gestão estratégica dos relacionamentos entre empresas, buscando referencial teórico que sustente a importância da gestão dos relacionamentos, focado na relação fornecedor-empresa, objeto desse trabalho. Por fim, é apresentado o estudo de caso, seguido pelas considerações finais. 2. Mudanças no ambiente institucional Várias foram as mudanças (liberalização, globalização, integração econômica e política, fragmentação do Estado, etc) ocorridas no ambiente institucional que levaram as questões sociais para o ambiente privado. Mudanças essas que impactam sobremaneira o ambiente dos negócios e a vida em sociedade. Conseqüentemente, novas práticas gerenciais nascem, portanto, em virtude de um novo ambiente social e econômico e aumento da complexidade da sociedade civil. Acarretando a reformulação do papel do Estado, redefinindo as relações entre o público e o privado e entre empresas. Nesta perspectiva, a análise do ambiente externo às organizações passa a ganhar relevância nas análises que procuram compreender as formas como as organizações trabalham. Assim, as organizações orientam seus comportamentos diante daquilo que percebem como importantes e legítimos dentro do ambiente em que operam. Esse mesmo ambiente não somente altera, mas impõem um conjunto 4 de condições que se tornam requisitos para sua própria operação. Com base nesses aspectos, a organização pode ser entendida como uma construção social que se adapta a um mundo muito mais dinâmico (FROTA, 1981). O gerenciamento estratégico dos relacionamentos entre empresas passou a ser visto como fator determinante para a competitividade e sustentabilidade. Para Batt e Purchase (2004), tornou-se uma das melhores maneiras de gerir as organizações, contemporaneamente, pois em um ambiente onde o mercado é cada vez mais dinâmico e turbulento, a habilidade das empresas em desenvolver e controlar com sucesso seus relacionamentos com outras empresas emerge como uma forte vantagem competitiva (BATT e PURCHASE, 2004). Pigatto e Alcântara (2003) com base em vários outros autores (Spekman et al, 1997; Ford, 1998; Cheung e Turnbull, 1998; Hogarth-Scott, 1999; Lindgreen, 2001; Souza e Serrentino, 2002) descrevem no quadro abaixo os fatores influenciadores da mudança de comportamento das relações interorganizacionais. Oferta (fornecedores) *acirramento da concorrência; *concorrência industrial; *avanços ocorridos na tecnologia de informação (TI); *desregulamentação dos mercados. Demanda Comportamento do Comportamento das (varejo) consumidor organizações *mercado maduro *crescimento *pressão dos *concentração no moderado da stakeholders; varejo; demanda; *novas formas *lojas maiores *nível de renda; organizacionais; (tamanho); *diversidade étnica; *novas estruturas de *marca própria; *maiores exigências negócio horizontais e *crescente diversidade (mudança de atitude); verticais; de produtos e serviços *redução do tempo *pressão por (cartões de disponível para rentabilidade; fidelidade); compras; *maior **avanços ocorridos *busca por um lugar competitividade; na tecnologia de único para todas as *natureza das informação (TI); compras atividades. *polarização. (conveniência). Quadro: Fatores influenciadores na mudança de comportamento das relações interorganizacionais. Fonte: Pigatto e Alcântara (2003). A competitividade imposta por esse novo ambiente exige das organizações novas estratégias e novas posturas pautadas no desenvolvimento sustentável. A idéia de uma longa existência das empresas, na atualidade, está associada à idéia de sustentabilidade que passa a ser complemento do conceito de competitividade. 5 No âmbito das empresas, estes dois conceitos se amalgamam e na concepção de Responsabilidade Social Empresarial, passando a ter significados complementares (SOUSA, 2006). O termo sustentabilidade se difundiu a partir do documento Agenda 21 aprovado na Conferência das Nações Unidas sobre meio ambiente e desenvolvimento, a ECO 92. Desde então, no âmbito corporativo as práticas de RSE passaram a ser veículo para a busca da sustentabilidade. A ação das empresas em agregar valor social aos negócios vem se transformando numa poderosa convenção, sendo considerada como um dos fatores fundamentais para a permanência dessas no mercado. Já o conceito de competitividade, mais conhecido, pode ser entendido como sendo a capacidade das empresas formularem e implementarem estratégias competitivas que lhes permitam manter ou ampliar suas posições no mercado. Decorre dessa definição que a competitividade é uma medida de desempenho das firmas que depende, porém, de relações sistêmicas entre elas (COUTINHO E FERRAZ, 1994). Conseqüentemente, a competitividade da empresa permite a sua sustentabilidade, e ser competitivo se traduz em estar em consonância com as exigências do mercado onde atua. Tais exigências podem ser materializar objetivamente (padrões de qualidade, por exemplo), outras estão mais na esfera simbólica. Logo, uma empresa sustentável , nos moldes contemporâneos, é aquela que contribui para o desenvolvimento sustentável ao gerar, simultaneamente, benefícios econômicos, sociais e ambientais, considerados os três pilares do desenvolvimento sustentável. Nesse contexto, cada vez mais, as empresas procuram associar suas marcas ao conceito de responsabilidade social, no sentido de se manterem firmes e atuantes no mercado, uma vez que a responsabilidade social empresarial pode ser entendida como resultado das pressões do ambiente sobre as ações das empresas que afetam negativamente a própria sociedade (ALVES, 2007). 6 Mas, ainda, restam várias perguntas, quais sejam: onde começa e termina a responsabilidade social das empresas? As empresas podem ser classificadas com socialmente responsável se atuando sozinha? A responsabilidade social das empresas interfere nas relações? 3. Responsabilidade social empresarial Segundo Alves (2007), responsabilidade social empresarial nos leva a perceber as mudanças sofridas pelas empresas seja na sua importância, seja na sua natureza ao longo do tempo, de acordo com as demandas e expectativas da sociedade em um dado momento histórico. Atualmente, a responsabilidade social empresarial tem sido conceituada como uma forma de gerenciamento do negócio voltado para o relacionamento ético e transparente com todos os seus stakeholders e com estabelecimento de ações compatíveis com o desenvolvimento sustentável da sociedade (SOUSA, 2006). Assim, a RSE baseia-se na noção de que as empresas têm o dever de trabalhar pela melhoria do bem-estar social (FREDERICK, 1994). A discussão sobre o papel social das empresas vem ganhando espaço cada vez mais crescente, ao contrário da visão tradicional de que as empresas já cumprem seu papel social quando disponibiliza empregos (FRIEDMAN, 1970). Ainda, dos que acreditam que as organizações não possuem conhecimento e competência entre seus administradores para compreender e trabalhar os problemas sociais e por acreditarem que existem outras instituições a quem cabe esse papel, como as igrejas, governo e ONG s (FRIEDMAN, 1970; STONNER e FREEMAN, 1995; JONES, 1996). A RSE representa para as empresas, nos moldes contemporâneos, uma nova maneira de perceber seus negócios, produtos e relações. De modo geral, a responsabilidades social empresarial vai muito além de obter bons resultados operacionais, dispor de melhores produtos e serviços, oferecer preços competitivos, bom atendimento, contar com as melhores tecnologias e com pessoas altamente 7 qualificadas. Representa a estratégia por práticas sociais e ambientais que contribuam para a melhora da qualidade de vida desta e das próximas gerações (SOUSA, 2006). A integração da responsabilidade social ao planejamento estratégico consiste em incluir a variável socioambiental na missão, nos princípios e nos valores de desempenho das organizações. É, portanto, o processo de inserir variáveis socioambientais ao longo de todo processo gerencial de planejar, organizar, dirigir e controlar as atividades produtivas e suas respectivas interações, a fim de atingir suas metas e objetivos de forma mais sustentável possível (NASCIMENTO; LEMOS, MELLO, 2008). Segundo Borger (2001), o fato das empresas agirem orientadas para RSE não implica que a gestão empresarial abandone seus objetivos econômicos e deixe de atender aos interesses de seus proprietários e acionistas. Para a autora, acontece exatamente o contrário, pois uma empresa só é socialmente responsável se desempenha seu papel na sociedade, produzindo bens e serviços, gerando empregos, retorno para seus acionistas dentro dos limites legais e éticos estipulados pela sociedade. Dessa forma, a empresa é responsável pelos efeitos de sua operação e atividades na sociedade, incluindo os impactos diretos, as externalidades que afetam terceiros, que envolve toda a cadeira produtiva e o ciclo de vida dos seus produtos e serviços (BORGER, 2001). Segundo o Instituto Ethos ser socialmente responsável não limita as ações internas das empresas, mas querer uma continuidade dessas em toda a cadeia. Acredita ser imprescindível o envolvimento de toda a cadeia produtiva, uma vez que um bem socialmente responsável somente será produzido com a integração dos vários processos de diferentes elos da cadeia. Caracterizando-se, cada vez mais, de forma multidimensional e sistêmica, buscando interdependência e interconectividade entre todos os stakeholders ligados à empresa, direta ou indiretamente (ALIGLERI; CÂMARA; ALIGLERI, 2002; ASHLEY, 2001). A qualificação de empresa ou produto socialmente responsável não pode ser 8 alcançada pela ação de uma empresa isoladamente, mas de toda a cadeia produtiva da qual ela faz parte. A gestão da RSE atua de maneira intra e interorganizacional. Caracterizase intraorganizacional, pois a responsabilidade social deve permear todos os setores que compõem as empresas, devendo fazer parte da cultura organizacional de cada uma, conforme nos argumenta Ashley (2000). Dessa forma, para ser socialmente responsável não basta realizar boas ações sociais junto a um públicoalvo somente. É entendida como interorganizacional, quando passa a ser analisada a partir de relacionamentos com outras organizações. Para o Ethos (2008), a responsabilidade social é um processo que nunca se esgota. Não dá para dizer que uma empresa chegou ao limite de sua responsabilidade social, pois sempre há algo a fazer, seja interna ou externamente. Logo, o cuidado com as relações para o efetivo cumprimento do agir socialmente responsável. 4. Gestão dos relacionamentos O modelo tradicional de confronto entre comprador e vendedor vem perdendo sua força frente á nova filosofia baseada em relacionamentos de longo prazo, maior proximidade, altos níveis de colaboração e benefícios mútuos. Essa nova filosofia está sintetizada no marketing de relacionamento, podendo, ainda, ser subdivido em dois conceitos: Business-to-business marketing e one-to-one marketig. O primeiro trata da integração entre empresas (foco deste trabalho) e o segundo aborda o relacionamento entre empresa-consumidor final (Figura 1). Segundo Herbig et al (1994) o ambiente do business-to-business (ambiente organizacional) difere do one-to-one no baixo número de vendedores e clientes, os produtos ou serviços no mercado industrial são em grandes quantidades e envolve altos valores nas transações. Por essa razão, as estratégias vigentes nesse ambiente devem ser provenientes do marketing de relacionamento ou do marketing industrial que considera a construção de relacionamentos entre empresas parceiras de longo prazo. 9 Fornecedor 2º nível Fornecedor 1º nível Empresa produtora Distribuidor Businessto-business Cliente final One-to-one Figura 1: Marketing de relacionamento na cadeia de suprimentos. Para Handfield e Nichols (1999) o desempenho de uma cadeia produtiva é em grande parte afetada pelo relacionamento entre as organizações que a compõem, sendo necessário a construção de parcerias estratégicas. Essas acontecem quando duas ou mais organizações, baseadas no mesmo interesse, possuem ligações econômicas, legais e interpessoais (COUGHLAN, 2002). São criadas visando descobrir e explorar oportunidades em conjunto, onde cada um deve cumprir o seu papel. Portanto, nessa linha de análise, os membros dependem e confiam uns nos outros (PIGATTO E ALCÂNTARA, 2003) podendo ser regidos por contratos formais, capazes de impedir eventuais práticas oportunistas (LAMMING, 1993). Para Brito (2002) a funcionalidade contratual está associada aos mecanismos de coordenação, busca por objetivos comuns e mecanismos preventivos de posturas oportunistas que por ventura possa ser praticada por qualquer uma das partes. Segundo Levy (2000) a empresa só devem promover parcerias estratégicas, compartilhando informações e trabalhando meios para atingir as metas, assumindo riscos e buscando manter o bom relacionamento, quando perceber que a colaboração se configura como necessária e boa para todos e, ainda, por perceber que uma empresa dificilmente conseguirá se manter no mercado (competitiva) sem uma relação de cooperação em mercados altamente instáveis como se configura o atual. 10 Cann (1998) alerta para o fato de que a organização deve antes de buscar manter uma relação business-to-business, estar atenta as suas operações internas e congruência entre elas (missão, estratégias e cultura baseada nos clientes) e só depois trabalhar suas atividades realizadas externamente (implementação das estratégias de marketing integradas, relacionamento social com as demais empresas da cadeia e adição de valor ao relacionamento) baseadas na idéia de relacionamento colaborativo e de longo prazo. Para Hakansson e Snehota (1998), ao mesmo tempo em que a cooperação é boa, pode trazer ônus quando não bem administrada, pois leva necessariamente ao cumprimento de um conjunto de obrigações por parte de todos os envolvidos. Os autores ressaltam que a falta de governabilidade, a necessidade de recursos, a incerteza, a adaptação e a exclusividade podem trazer resultados negativos para os dois lados. Todavia, a colaboração entre empresas compradoras e fornecedoras se apresenta como uma alternativa às limitações do ambiente interno organizacional para incrementar seus desempenhos socioambientais, uma vez que uma ação social terá mais impacto se for realizada por todas as empresas que compõem a cadeia e se realizada de forma contínua. Assim, a efetiva gestão dos relacionamentos entre fornecedores e clientes (seja final ou outra organização) é essencial para permitir aos membros da cadeia alcançar benefícios mútuos de longo prazo. 4.1. Relacionamento e gestão de fornecedores As organizações têm procurado adotar um conjunto de estratégias direcionadas para a adaptação de seus fornecedores às mudanças observadas no ambiente social e macroeconômico em que estão inseridas, buscando transformálos em parceiros. Assim, buscam bons parceiros para seus negócios, levando em consideração um conjunto de critérios. 11 4.1.1 Critérios para seleção dos fornecedores Para Handfield e Nichols (2004) os requisitos mais comuns considerados na seleção de fornecedores são: o Qualidade; o Preço; o Velocidade e confiabilidade na entrega; o Capacidade tecnológica; o Estrutura de custos; o Comprometimento. Já Veloso (2000), quando de sua análise da cadeia de suprimentos automotiva, fora requisitos descritos acima, ainda, inclui: o Capacidade em pesquisa e desenvolvimento de produtos e processos; o Capacidade técnica de mão-de-obra; o Flexibilidade em termos de volumes de produção, produtos e processos; o Estabilidade financeira. Handfield e Nichols (2004) consideram que a avaliação de desempenho da base de fornecimento é critica ao tratar da redução de custos e de riscos operacionais e da agregação de valor ao produto final por meio de melhorias continuas. Mas não detalham o que seria essa agregação de valor ao produto final. Não argumentando, portanto, se as questões sociais estão ai inseridas, apesar de considerar a conformidade dos processos de manufatura em relação às políticas ambientais. Aqui, entra o propósito deste trabalho que é o de avaliar se a responsabilidade social faz parte dos critérios para a seleção e manutenção dos fornecedores, ainda não considerado pelos autores citados acima. O controle dos princípios de responsabilidade social junto aos fornecedores é uma prática que pode evitar grandes prejuízos à imagem de uma 12 empresa. A idéia principal que norteia este artigo é de que as organizações assegurando a prática da responsabilidade apenas em suas operações não basta para alcançar tudo que o conceito de RSE propõe. Dessa forma, as informações obtidas na avaliação dos fornecedores buscando uma possível parceria é que determinarão o potencial do relacionamento entre empresa-fornecedor. 5. Estudo de caso Trata-se de um dos grupos industriais mais antigos do mundo, com data de fundação ainda no século XVIII, antes mesmo da Revolução Francesa e da formação dos Estados Unidos da América. Pertence ao setor de bens de consumo e atende a diversos países. A primeira unidade no Brasil foi fundada na década de 1920 que conta, atualmente, com mais três unidades e mais escritórios localizados nas maiores e mais importantes capitais brasileiras. Ficam a sua disposição cerca de 2.700 funcionários espalhados por todas as suas instalações. Ainda, a empresa atende a demanda do Brasil e mais setenta países. A empresa busca, o tempo todo, deixar demonstrar sua postura preocupada com as questões socioambientais e pautada na sustentabilidade, no seu site seja nos discursos de seus funcionários e/ou nas mensagens posta em murais localizadas em lugares estratégicos, tanto para funcionários como para os visitantes. Ainda, em todas as embalagens de seus produtos e nas que não levam sua marca (alguns produtos levam o nome de clientes) a sempre espaço para a importância dessas questões para a empresa, bem como para o desenvolvimento de novos produtos. 5.1. Responsabilidade social e ambiental da empresa A responsabilidade socioambiental faz parte dos quatro princípios básicos da empresa, os outros são: competência e Tradição; qualidade excepcional e 13 Inovação. Suas ações consideradas sociais são na área da educação, projetos ambientais e na comunidade local. A atuação social da empresa faz parte da ideologia da empresa, na busca por sustentabilidade do negócio e da marca no longo prazo. Possui certificações ISO 9001 (Qualidade), ISO 14001 (Ambiental), FSC - (Madeira ambientalmente e socialmente correta), e está em processo de implantação da norma SA 8000 (Responsabilidade Social). A empresa reconhece que uma correta postura social ajuda nos negócios desde o momento em que fortalece a marca e agrega valor ao nome do grupo. No caso da empresa, isso acontece quando sua marca é associada a uma educação de qualidade e ao meio ambiente protegido e sustentável. Dessa forma, a gestão da RSE ajuda na construção de uma boa reputação, considerada fundamental nas vendas. Outro ponto importante é a exigência de seus clientes internacionais com relação a uma postura social adequada e essa é avaliada pro meio de auditorias e/ou certificações normativas realizadas periodicamente. 5.2. Relacionamento e gestão de fornecedores da empresa Pode-se perceber que o relacionamento vigente entre a empresa pesquisada e seus fornecedores, pelo menos os mais importantes, é sempre buscando relacionamento de longo prazo. Nesse caso, é exigido no contrato um relatório no qual deve constar a atuação social da empresa. No entanto, esse só é cobrado dos principais e maiores fornecedores. Já no caso dos fornecedores esporádicos, as avaliações das questões socioambientais são para fins de homologação, ou seja, recomendáveis ou não. As questões levantadas no contrato comercial são: a proibição do uso de mão de obra infantil, trabalho forçado ou não conforme a legislação trabalhista, atuação ambiental responsável atendendo à legislação ambiental (Conan, Cetesb, etc). 14 As análises sociais realizadas pela empresa tomam como referência a norma internacional SA 8000 e análises ambientais a norma ISO 14001. Essas são feitas na homologação e no monitoramento dos fornecedores, via auditorias periódicas realizadas pelos departamentos de compras e qualidade. Os fornecedores são focados de acordo com a necessidade e risco para o negócio (empresas que manuseiam a marca da empresa fora da empresa). Todas essas precauções são em virtude de problemas já enfrentados pela empresa. Essa enfrentou problemas em virtude de atuação não socialmente responsável de um de seus fornecedores. No entanto, o caso teve repercussão internacional (publicado numa revista específica) que acarretou prejuízos à imagem e marca da empresa. Depois de tal evento a empresa passou a avaliar com mais precisão a ação de todas as empresas que ela mantém maiores contatos. Assim, a empresa busca fornecedores parceiros, sejam pequenos, médios ou grandes que atuem levando em consideração as questões sociais e ambientais em sua gestão. Essas questões são a cada dia analisadas com mais critério e cuidado, pois a empresa percebe a importância do bem administrar os relacionamentos. 6. Considerações finais O propósito deste trabalho foi o responsabilidade social nos de realçar a importância da relacionamentos entre empresas, mais especificamente, entre fornecedor-empresa, uma vez que a qualificação de empresa ou produto socialmente responsável não pode ser alcançada pela ação isolada de uma empresa, mas de toda a cadeia produtiva da qual ela faz parte. As relações entre empresas não começam ou terminam na efetivação da compra ou venda de produtos, envolvem também questões simbólicas. Estas questões tornaram-se parte do composto dos processos e produtos, ou seja, tornaram-se legitimas no ambiente das organizações. Dessa forma, a empresa não poderá ser considerada socialmente responsável se seus fornecedores atuarem de 15 forma contrária ou passiva, pois cada agente depende do perfeito funcionamento do outro para atingir seus objetivos econômicos, sociais e legais. As empresas tornam-se cada dia mais sistemas abertos, com fronteiras mais permeáveis e, em muitos casos, difícil de identificar. Tornando-se, efetivamente, um sistema de gestão interorganizacional em todos os seus processos de negócios, começando na origem de seus suprimentos até o consumidor final (Wood Jr. e Zuffo, 2001). É certo que essa postura acarreta dificuldades que devem ser trabalhadas com critério e cuidado, pois se trata de algo novo para as empresas. Mas torna-se urgente esse aprendizado conjunto. Pode-se inferir que para acompanhar a melhoria de qualidade e produtividade das grandes empresas, os fornecedores de pequeno, médio e grande porte terão que buscar capacitação tanto na área administrativa quanto na produtiva relativas as questões sociais e ambientais. As exigências das grandes indústrias para cadastramento de novos fornecedores estão cada vez maiores no tocante ao tema. Conclui-se, ainda, que a avaliação dos agentes relativas às questões socioambientais deve ser constante, pois um erro isolado de um elo da cadeia produtiva pode comprometer a atuação das demais empresas que compõem a mesma cadeia. Referencial Bibliográfico ALIGLERI, L.M.; CÂMARA, M.R.G.; ALIGLERI, L.A. Responsabilidade social na cadeia logística: uma visão integrada para o incremento da competitividade. ANAPAD, 2002. ALVES, E.A. Ambiente institucional e a responsabilidade social empresarial na indústria calçadista de Franca: o caso do Instituto Pró-criança. Tese. 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