FORMAÇÃO SOCIOCULTURAL E ÉTICA
MÓDULO
Ética e Sociedade
Organizadoras:
Profª Me. Cristina Herold Constantino
Profª Me. Débora Azevedo Malentachi
Colaboradores:
Profª Esp. Fabiana Caetano
Prof. Esp. Márcio Marosti
Profª Aline Ferrari
2º semestre / 2012
ÉTICA E SOCIEDADE
INTRODUÇÃO
Estudos têm atestado que o homem é um ser sociável por natureza, ou seja,
seria intrínseco à humanidade querer e necessitar o contato de outrem.
Contudo, você e eu podemos assistir a um cenário social nem sempre tão
fraterno. A humanidade parece por vezes pactuar com um mundo “menos
humano”, onde o ser, o direito do outro, as diferenças de classe, de cor e de
cultura não passam de retórica, fazendo prevalecer realmente o interesse
pessoal a qualquer preço. Esta coletânea é mais uma oportunidade para
refletirmos sobre esta sociedade, o que queremos dela, como, também, o que
podemos fazer por ela. Entendemos que somos coparticipantes de todo esse
processo e, se somos, em muito, forçados a nos adequarmos a padrões,
lançados a práticas reprováveis, certamente, não somos obrigados a nos
(con)formarmos e aceitarmos tudo sem refletirmos e questionarmos, sobretudo,
acerca do real sentido de vivermos em sociedade. Caso você não saiba por
onde começar, sugerimos que comece por aqui, a partir desta leitura, aliás, a
partir de leituras de qualidade, de pontos de vista diferentes e bem
fundamentados, assista a bons filmes, a bons programas, conecte-se com meios
de comunicação de massa fidedignos. Faça parte desta sociedade do
conhecimento, crítico e compartilhado. Queremos partilhar com você! Seja o
nosso convidado!
VÍDEO 1
Direitos Humanos
O conteúdo deste vídeo faz uma relação entre ética e
direitos humanos.
http: //www.youtube.com/watch?v=Oc6yYNlSXQ8
Os direitos humanos encontram foco em todos os meios de comunicação, em diferentes gêneros
textuais, com diversidade de enfoques e propostas. No entanto, obedecendo ao padrão da pósmodernidade, quase tudo “cai na banalização”, ou seja, é comum ouvirmos empolados discursos sobre o
direito das minorias, do negro, do indígena até mesmo da mulher e da criança, mas tem passado
despercebido por muitos os constrangimentos vivenciados por uma parcela idosa da população tão pouco
lembrada e ouvida. Propusemos como primeiro texto “este lamento” com o propósito de nos permitirmos
maior sensibilidade ao olharmos para os direitos humanos como ação diária, cotidiana que inicia com o
mais próximo e estende-se até onde o “outro alcança”. Vamos refletir juntos!
Texto 1
Tendências/Debates: O lamento de um dinossauro
Como velho jornalista da velha escola, aquela que nos ensinava na
unha e nos cascudos de chefias que acatávamos sem chiar, gratos
por podermos conviver com nomes cujo simples som nos intimidava,
observo que em algum momento algo muito importante se rompeu e ninguém lhe deu a menor importância.
Hoje, por todo lado, apregoa-se que só o novo é bom e todos
disputam a honra de serem mais novos do que os demais.
Ser velho, nestes tempos estranhos, é ser um estorvo, ser inútil, um
dinossauro improvável, movimentando-se num universo de frágeis
louças. Eu sou um dinossauro e vivo trombando o grande rabo da
minha longa história contra as prateleiras deste mundo asséptico.
Acho que estou sobrando.
Muito se fala, nos discursos eleitoreiros, das bondades que cada
campanha sugere a seu candidato, para agradar a nós, os mais
velhos. Cada vez que vejo um almofadinha desses abraçando a
senhorinha sofrida e prometendo-lhe mundos e fundos, a ira me sobe
Provavelmente nunca na história se à cabeça e por pouco não arremesso a bengala que me ampara de
desprezou tanto a experiência e a memória encontro ao televisor.
dos mais velhos como nas últimas
décadas. Se você, como eu, é um
jornalista "das antigas", vale menos que
um PC 386, daqueles que um dia
pareceram uma enorme inovação e hoje
não passam de lixo eletrônico descartável
e, como tal, ambientalmente incorreto.
Porque, no fundo, no fundo mesmo, o que todo mundo quer é tirar a
nós, os velhos, do caminho e dos cofres da previdência. Somos
aquelas criaturas que parecem servir, apenas, para confrontar cada
jovem pimpão com sua própria finitude e com o fato de que a única
alternativa disponível à morte, por enquanto, é mesmo sobreviver,
como der. E é aqui que a coisa complica.
Eu me sinto ambientalmente incorreto quando tento mostrar o muito que a memória de duas guerras
cobertas, alguns prêmios de imprensa e reportagens memoráveis, inutilmente, me ensinou.
Desempregado desde 2007, sobrevivendo de cada vez mais raros bicos, sinto que cheguei aos meus
limites. A autoestima se esfacela e posso entender porque tantos não resistiram e acabaram sucumbindo
ao álcool, às drogas ou, tanto pior, à ideia da própria morte.
Tolo e romântico que sempre fui, imaginava que essa vivência toda, mais tarde, me permitiria ajudar os
mais novos a melhorarem o mundo imperfeito que é o campo de colheita dos bons jornalistas. Ledo
engano, porém.
Tudo o que a história pode ensinar a um jovem, ao que parece, pode ser encontrado nos meandros da
nebulosa da internet. Com a vantagem de que lá não haverá nenhum velho chato para dizer que noutros
tempos, no meu tempo, algo era assim ou assado por causa disto ou daquilo.
A informação brotará do tablet, cristalina, fria e desinfetada pelo distanciamento
tecnológico. O dedicado repórter, com o ímpeto de seus jovens anos, vai poder navegar pelos
escaninhos da memória que me resta, sem precisar me aturar e a minha própria história.
Acho que vou ter de procurar emprego de empacotador de caixa de supermercado. E se um dia algum
candidato se aproximar de mim, entre um pé de alface e uma caixa de ovos, agradecerei cada migalha
que os governos me oferecerem como dádiva. Ao menos assim, talvez, eu tenha alguma utilidade.
MARIO CHIMANOVITCH, 67, é jornalista há 44 anos. Repórter investigativo, cobriu conflitos no Oriente Médio, na África e na Amazônia
(Fonte:
http://www1.folha.uol.com.br/opiniao/1169785-tendenciasdebates-o-lamento-de-um-dinossauro.shtml)
A sequência de textos apresenta enfoques diferentes sobre um dos assuntos que mais divide opiniões:
cotas raciais. Este projeto tem como base o princípio constitucional da isonomia, isto é, foi criado para
atender o princípio da igualdade de todos perante a lei. Entretanto, para alguns, esse projeto dá
ainda mais ênfase à discriminação entre os cidadãos, enquanto que, para outros, tem como objetivo
reduzi-la. Como avaliar, sobretudo, os programas de bonificação nos vestibulares para afrodescentes?
A polêmica tem sua gênese na ideia expressa pelo termo raça humana, visto que, “para a biologia e a
antropologia atuais é equivocado o conceito de raça humana” (texto 3), ou seja, “entre seres humanos não
existem “raças” [...] as diferenças de genes entre um homem negro, um branco e um índio são ínfimas”
(texto 2). Nesse sentido, é fato o alto índice de miscigenação no Brasil, assim como já é cientificamente
comprovado que pessoas de diferentes populações e cores podem ter a maioria de seus genes vindos da
África. Os textos explicam a proposta e apresentam opiniões que se divergem. Mais especificamente nos
artigos 4 e 5, você poderá considerar sugestões, analisar argumentos e diferentes pontos de vista a esse
respeito. Antes de emitir qualquer julgamento, opinião ou conclusão, o que mais importa é considerar em
que medida esse projeto, ao lado de tantas outras políticas públicas, têm correspondido, respeitado e
direitos humanos.
movido os homens públicos na criação das cotas? Quais sentimentos?
atendido de forma verdadeira, qualitativa e completa os
Quais objetivos têm
Texto 2
Supremo aprova cotas raciais
O Supremo Tribunal Federal aprova a reserva de vagas para negros em universidades públicas para compensar a
desigualdade social
ENFIM, DENTRO - Anderson Andrade Silva ingressou na
Universidade Estadual do Rio de Janeiro pelo programa de cotas
O Supremo Tribunal Federal rejeitou, por unanimidade, em 26 de abril de 2012, a ação do Partido
Democratas (DEM) para suspender a iniciativa da Universidade de Brasília (UnB), desde 2003, de reservar
20% das vagas de seu vestibular para afrodescendentes, a política de cotas raciais.
Esta foi a primeira de três decisões favoráveis às cotas raciais e sociais para o ingresso em universidades
tomadas pelo Supremo Tribunal Federal (STF) num intervalo de 15 dias. O STF é o órgão máximo do
Judiciário brasileiro e julga se decisões judiciais estão ou não de acordo com o que dita a Constituição. A
aprovação de constitucionalidade das cotas em universidades públicas estende-se, agora, a todos os
processos que aguardam decisão da Justiça.
Ao contrário dos que entenderam as políticas de cotas como um desrespeito ao princípio da igualdade, por
instaurar um processo de seleção que privilegia um grupo com características específicas, os dez
ministros foram unânimes em considerar que as políticas de cotas raciais são
constitucionais por causa da desigualdade social provocada por mais de 350 anos
de escravidão e pela herança que deixou. “A opressão racial dos anos da sociedade
escravocrata deixou cicatrizes que se refletem no campo da escolaridade”, afirmou o ministro Luís Fux, do
STF.
Razões históricas
Entre o século XVI e o XIX, calcula-se que 4 milhões de africanos tenham sido capturados e trazidos à
força da África para o Brasil, onde viveram todo tipo de violência no regime de escravidão, enquanto seu
trabalho estava na base na economia nacional. No século XIX, começaram as pressões – tanto de fora,
quanto internas – pelo fim da escravatura. Em 1850, a Lei Eusébio de Queiroz proibiu o tráfico, mas
apenas em 1871 a Coroa assinou a Lei do Ventre Livre. A partir de então, todo filho de uma pessoa
escravizada nascida no Brasil seria livre. Porém, os proprietários de seus pais podiam entregá-lo ao
governo aos 8 anos de idade ou mantê-lo como trabalhador livre até os 21 anos. Na prática, nada mudou,
e aqueles que nasciam livres permaneciam escravizados na fazenda em que nasceram.
Apenas por volta de 1880, o movimento abolicionista conseguiu ganhar força, com
a adesão de parlamentares, personalidades públicas, associações e jornais à sua
causa. A Lei Áurea, que aboliu a escravidão, foi sancionada pela princesa Isabel, que ocupava o trono
como regente, em 13 de maio de 1888. Este foi um dos fatos que levaram ao fim do Império, pois o
governo perdeu um de seus últimos pontos de apoio, os grandes fazendeiros. Em 15 de novembro de
1889, houve a proclamação da República.
O Censo de 1890 contou a população negra como 56%. Ainda assim, com o fim da escravidão, essa
população não recebeu nenhum apoio para sobreviver longe das casas e fazendas dos antigos senhores –
como uma reforma agrária, que a fixasse na terra, ou o acesso a escolas. Ficou entregue à própria sorte.
Dos 800 mil escravos libertos, menos de 1% era alfabetizado.
Quando, entre 1887 e 1930, quase 4 milhões de imigrantes europeus vieram substituir a mão de obra
escravizada, os negros viram-se relegados à marginalização. Mais de um século depois da Abolição, o
país ainda possui forte desigualdade em aspectos sociais, educacionais, de emprego e renda ligados a
essa questão racial de natureza histórica.
Ações afirmativas
As ações afirmativas são políticas para compensar uma desigualdade social e podem
tomar várias formas: criar programas com metas a alcançar, cotas, bônus ou fundos para garantir emprego
a membros de grupos discriminados; instituir bolsas de estudo e linhas de crédito para fins educacionais;
prover reparações financeiras; distribuir terras e habitação; tomar medidas de proteção a estilos de vida
ameaçados; criar políticas de valorização social.
Esses procedimentos podem acontecer no âmbito público ou privado e ter caráter voluntário, ou resultar
de uma determinação legal. Em qualquer dos casos, seu objetivo público é combater as desigualdades e
garantir mais igualdade nos indicadores de renda, escolaridade e padrão de vida da sociedade.
Além de considerar constitucional o sistema de cotas adotado pela UnB, em 3 maio, o STF também julgou
constitucional o Programa Universidade para Todos (ProUni) – ação do governo federal que dá bolsas de
estudo a estudantes de baixa renda em faculdades privadas – e, em 9 de maio, o sistema de reserva de
vagas com critérios raciais e sociais adotado no vestibular da Universidade Federal do Rio Grande do Sul,
dando amparo legal ainda mais amplo a esse tipo de ação afirmativa.
As ações afirmativas, porém, têm opositores. O DEM e a Confederação Nacional dos
Estabelecimentos de Ensino (Confenen) propuseram a Ação Direta de Inconstitucionalidade
(ADI), com o argumento de que o programa de cotas criava discriminação entre os
cidadãos, ofendendo o princípio constitucional da isonomia, que é a igualdade de
todos perante a lei.
Para o Supremo, porém, não se afeta o princípio da isonomia – segundo o qual todas as
pessoas são iguais perante a lei – porque, ao interromper o ciclo de exclusão e permitir que grupos sociais
em desvantagem tenham acesso à educação, atende-se a outro direito básico previsto na própria
Constituição.
No julgamento do tribunal, as decisões relativas tanto às cotas quanto ao ProUni tampouco afetam a
autonomia universitária, como se argumentou, em razão de as universidades e faculdades não serem
obrigadas a aderir a cotas nem ao ProUni.
Desde sua criação, em 2004, o ProUni concedeu mais de 1 milhão de bolsas de estudo, parcial ou
integral. Atualmente, cerca de 1,4 mil instituições de ensino superior privadas participam do programa,
segundo dados do Ministério da Educação (MEC).
Bons resultados
Mais de 70 universidades públicas já adotaram cotas ou programas de bonificação
nos vestibulares para afrodescendentes, muitas vezes associando ou vinculando a cor de pele
do candidato à sua situação social (ter vindo de escola pública) ou econômica (baixa renda familiar).
Somadas ao ProUni, essas ações afirmativas ampliaram a presença no ensino superior de pessoas que se
declaram negras de 18% em 1998 para 34% em 2008.
De acordo com pesquisa do MEC, em 59 instituições de ensino superior, em 2009, o desempenho de
cotistas é melhor ou o mesmo de não cotistas, e com uma taxa de evasão menor.
No Rio Grande do Norte, alunos do Instituto Federal oriundos de cotas apresentam no primeiro ano
desempenho abaixo dos alunos vindos de escolas privadas, mas, no fim do curso, os dois grupos
apresentam desempenho praticamente igual. Na Universidade do Estado do Rio de Janeiro, entre os
alunos que trancaram a matrícula, ou seja, interromperam o curso, a proporção da cota de cor/raça (12%)
e da cota da escola pública (10%) é de cerca de metade dos alunos não cotistas (24%). Quanto à taxa de
evasão, entre os cotistas essa taxa é inferior a 3%, enquanto entre os não cotistas é o dobro.
Na Universidade Federal do Paraná, os cotistas sociais (alunos vindos de escolas públicas) têm
desempenho médio superior ao conjunto dos estudantes, e os cotistas raciais têm o mesmo desempenho
da média. A evasão média de estudantes é o dobro da evasão dos cotistas sociais e três vezes maior que
a dos cotistas com viés racial.
Quem é negro?
A questão das cotas “raciais” confronta-se com um problema de base: o fato de que, entre seres humanos,
não existem “raças” – considerando-se nessa definição características genéticas significativas. As
diferenças de genes entre um homem negro, um branco e um índio são ínfimas. Há,
obviamente, diferença na cor da pele entre populações diversas, e uma história humana de alguns
milênios que provocou diferenças econômicas, culturais e sociais significativas no mundo moderno.
Além disso, no
Brasil há um alto índice de miscigenação e infinitas variações de cor de
pele e traços físicos. Para recensear a população, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE) adota a autodeclaração, na qual o entrevistado declara, ele próprio, em qual das categorias
predefinidas pelo instituto ele se encaixa.
Nas pesquisas e censos que realiza, o IBGE não usa a expressão “negro”. As categorias adotadas nas
entrevistas, para cor da pele, são branca, preta, amarela (pessoas de ascendência asiática), indígena e
parda. No entanto, na abordagem de problemas e políticas sociais, instituições públicas e privadas
consideram a população “negra” do Brasil a soma dos autodeclarados pretos e pardos. Essa definição é
também a adotada nesta publicação.
Assim, o Censo de 2010 confirma que mais da metade da população brasileira, 50,7%, é composta de
negros: 97 milhões se definiram aos entrevistadores como pretos ou pardos. É um marco, pois, nos
censos de 1980 e 2000, a população que se declarava branca era maioria no país.
Quais seriam as razões disso? Em parte, deve-se ao aumento no número de pessoas que se definem,
espontaneamente, como pretas ou pardas.
“Na década de 1970, a discussão sobre a cor ou raça era estigmatizada como preconceito. Assim, naquela
época, os pretos tendiam a se autoclassificar como pardos, e os pardos, como brancos”, diz o sociólogo
Jefferson Mariano, analista socioeconômico do IBGE.
“Hoje, a questão racial voltou à agenda política, valorizando a identidade dos negros – o que, sem dúvida,
aumenta o número de pessoas que se declaram pretas ou pardas.” Há também uma razão demográfica
para essa mudança populacional: a taxa de fertilidade mais elevada das mulheres negras em comparação
com a das brancas. Essa taxa mais elevada resulta da falta de acesso à renda, à educação e a métodos
contraceptivos.
Diferenças socioeconômicas
Como resultado do processo histórico, a maioria da população negra brasileira tem condições de vida
piores que as da branca, de acordo com o IBGE:
- O negro estuda menos. O acesso à educação melhorou nos últimos dez anos, mas as diferenças ainda
são muito grandes. Enquanto a taxa de analfabetismo em 2009 era de 9,7% para a população em geral, a
média era de 5,9% para brancos, e acima de 13% para os autodeclarados pretos e pardos. A média de
anos de estudo também é muito diferente: 8,4 anos para brancos e 6,7 anos para negros.
- A população negra tem maior dificuldade de ingressar e se manter no mercado de trabalho formal. Além
disso, trabalha nas ocupações menos valorizadas, ganha salários mais baixos e constitui maioria entre a
parcela mais pobre da população. Por hora, um trabalhador negro ganha, em média, 40% menos que um
branco.
- Como consequência dos dois itens anteriores, a pobreza atinge mais dramaticamente as famílias negras.
Em 2009, entre o 1% da população brasileira mais rica, os brancos representavam 83%, e os negros,
16%. Por outro lado, os negros são três quartos dos 10% mais pobres da população.
Como se vê, as desigualdades sociais, educacionais e de emprego e renda ainda se mantêm na
sociedade brasileira, como decorrência de problemas históricos e da falta de ação do Estado. Porém, nos
últimos anos, o cenário vem se modificando lentamente.
Graças, sobretudo, a políticas públicas para promover a igualdade social, a situação da população negra
no Brasil melhorou muito, com aumento da renda e da escolaridade.
Parte desse resultado se deve também aos movimentos sociais, que incentivam ou reivindicam a tomada
de consciência sobre a importância cultural e econômica dos afrodescendentes na história nacional.
(Fonte: http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2012/04/120426_stf_cotas_ac.shtml)
Texto 3
Diferenças Persistentes
Somando os pardos e pretos, os negros são maioria da população, mas ainda sofrem discriminação
Os negros são maioria na população brasileira, na soma das pessoas que se autodeclararam pretas e
pardas no Censo de 2010, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Esta é a primeira vez
que isso ocorre desde o início do século XX. Apesar de eles somarem parte tão significativa da sociedade,
há indicadores claros de desigualdade que prejudica essa parcela da população.
Discutir discriminação racial no Brasil – particularmente no que se refere aos negros – é tarefa cheia de
meandros. A começar pelo termo “racial”, pois para a biologia e a antropologia atuais é
equivocado usar o conceito de raça humana, pois o desenvolvimento da genética permitiu
constatar que indivíduos de diferentes populações e cores podem ter a maioria de seus genes vindos da
África, e vice-versa.
A complexidade segue no levantamento da composição da população brasileira. Nas pesquisas e nos
censos que realiza, o IBGE não utiliza a expressão “negro”. As categorias adotadas nas entrevistas para
cor são branca, preta, amarela (pessoas de origem japonesa, chinesa, coreana), indígena e parda
(mestiços de preto com pessoa de qualquer outra cor). No entanto, na discussão de problemas e políticas
sociais, como as da desigualdade, órgãos públicos, privados e a sociedade, de modo geral, empregam a
expressão “negro” como a soma de pardos e pretos, uma definição adotada, também, nesta publicação.
Definir a cor de um indivíduo também é uma questão delicada em um país como o Brasil, de alto grau de
miscigenação. O IBGE emprega um método tradicionalmente usado na América Latina, em que o
entrevistado declara, ele próprio, a categoria em que se adequa.
O fato é que o Censo de 2010 confirma que mais da metade da população brasileira, 50,7%, é composta
de negros. São 97 milhões de indivíduos que se definiram aos entrevistadores como pretos ou pardos. É
um marco histórico, pois nos censos realizados entre 1980 e 2000, a população que se declarava branca
era maioria no país.
Quais seriam as razões disso? Em parte, deve-se ao aumento no número de pessoas que se definem,
espontaneamente, como pretas ou pardas. “Na década de 1970, a discussão sobre a cor ou raça era
estigmatizada como preconceito. Assim, naquela época, os pretos tendiam a se autoclassificar como
pardos e os pardos, como brancos”, comenta o sociólogo Jefferson Mariano, analista socioeconômico do
IBGE em São Paulo. “Hoje, a questão racial voltou à agenda política, valorizando a identidade dos negros
– o que, sem dúvida, aumenta o número de pessoas que se declaram pretas ou pardas.” Em parte, devese também a uma razão demográfica, pela taxa de fertilidade mais elevada das mulheres negras em
comparação com a das brancas.
Embranquecimento
Também no passado os negros foram maioria no Brasil. Em 1890, apenas dois anos após a abolição da
escravatura pela Lei Áurea, 56% dos residentes em território nacional eram negros. Mas, logo depois da
proclamação da República, o governo começou a tomar uma série de medidas que resultaram no
embranquecimento da população brasileira. A substituição da mão de obra escrava trouxe para o país,
entre 1887 e 1930, quase 4 milhões de imigrantes europeus para trabalhar nas lavouras do Sudeste e Sul,
e, em 1940, os negros já representavam menos de 36% da população total.
As razões para esse embranquecimento da sociedade brasileira não eram apenas
de cunho econômico nem foram apenas acidentais. Ainda em 1945, um decreto-lei que
regulamentava a imigração e a colonização tem explícita, em um de seus artigos, a preocupação em
atender à “necessidade de preservar e desenvolver, na composição étnica da população, as
características mais convenientes da sua ascendência europeia”.
Esse decreto foi revogado em 1980. As leis que o substituíram afirmam que a imigração tem, como
objetivos, apenas fatores econômicos, como captar mão de obra especializada, aumentar a produtividade
e assimilar tecnologia, sem nenhuma referência a questões raciais nem étnicas.
A partir da década de 1970, a porcentagem de negros voltou a crescer. No entanto, a política de
embranquecimento deixou marcas profundas. Houve uma marginalização econômica e social dos exescravos, pois a abolição da escravatura não foi acompanhada de uma política que desse aos negros
acesso à educação e à terra, ou seja, que os permitisse alcançar uma melhoria geral nas condições de
vida. Essa herança persiste até hoje.
Diferenças socioeconômicas
O negro brasileiro tem as piores condições de vida quando comparado com as do branco. Os dados são
da Síntese dos Indicadores Sociais 2010, também do IBGE:
- O negro estuda menos. O acesso à educação melhorou, no geral, nos últimos dez anos. Mas as
diferenças ainda são grandes. Enquanto a taxa de analfabetismo era, em 2009, de 9,7% para a população
em geral, apenas 5,9% dos brancos eram analfabetos. Já entre pretos e pardos a taxa era superior, 13%.
A média de anos de estudo também varia imensamente entre os grupos: 8,4 anos para os brancos e 6,7
para os negros.
- A população negra tem maior dificuldade de ingressar e se manter no mercado de trabalho formal. Além
disso, trabalha nas ocupações menos valorizadas, ganha salários mais baixos e constitui maioria entre a
parcela economicamente mais carente da população. Por hora, um trabalhador negro ganha, em média,
40% menos que um branco.
- Como consequência dos dois itens anteriores, a pobreza atinge mais dramaticamente as famílias negras.
Em 2009, os negros representavam 16% do 1% da população brasileira mais rica, contra 83% para os
brancos. Por outro lado, os negros representavam naquele ano praticamente três quartos dos 10% mais
pobres da população. Do total da população que vive com menos de 1 dólar por dia, 5% são
eurodescendentes (brancos) e mais de 10% são indígenas ou afrodescendentes.
- O homem negro morre mais cedo e mais por causas externas, enquanto o branco, por idade mais
avançada e problemas de saúde. Segundo o Mapa da Violência 2011, em 2008 foram assassinados 22%
menos de pessoas brancas do que em 2002. No mesmo período, o número de vítimas negras subiu 20%.
Entre as mulheres, a diferença na taxa de fertilidade ocorre principalmente entre jovens dos 15 aos 19
anos de idade: a das negras é 65% superior nessa faixa etária. Isso significa que as adolescentes negras
estão mais sujeitas a gravidez precoce, o que contribui para reduzir as oportunidades de estudo e
trabalho, aumentando sua marginalização. Como consequência, elas contribuem com pouco mais de 28%
da renda familiar, em média, enquanto as brancas são responsáveis por 36%.
Estatuto da Igualdade
Apesar da persistência das diferenças, a situação do negro brasileiro vem melhorando – em parte graças
aos movimentos negros e a políticas públicas que visam à igualdade social. Um passo importante nesse
sentido foi a aprovação pelo Congresso Nacional e a sanção pelo presidente Lula, em meados de 2010,
da versão final do Estatuto da Igualdade Racial. O novo documento pretende ser um marco jurídico para o
enfrentamento de desigualdades sociais entre pessoas negras e pardas no Brasil. Não há citação aos
indígenas.
Do primeiro projeto ao texto final da lei, foram sete anos de trâmites, discussões e polêmicas. Foram
retirados do texto os pontos sobre os quais não houve consenso, como as cotas nas universidades, em
partidos políticos e de empregos em órgãos e empresas públicas, além de uma regulamentação de direito
a terras em comunidades quilombolas, entre outras propostas.
A questão da reserva de cotas nas universidades ainda se encontrava, em meados de 2010, pendente no
Supremo Tribunal Federal (STF), para julgamento de sua constitucionalidade. Em 2008, dois manifestos
foram entregues ao presidente do STF, um contrário e outro favorável à reserva de vagas por cor ou raça.
Os que defendem o fim das cotas argumentam que o critério étnico ou racial para a reserva de vagas nas
universidades é inconstitucional porque “cria distinções entre brasileiros” e que, além disso, não ataca de
frente a falta de qualidade no ensino e as desigualdades socioeconômicas da população. Já os que
aprovam o sistema argumentam que o Estado tem o dever de atuar com ações
afirmativas aos que são tratados desigualmente, para que tenham oportunidades
iguais.
Ações afirmativas
A reserva de cotas de acesso para afrodescendentes e indígenas no ensino público superior é uma das
principais políticas de ações afirmativas, medidas práticas que pretendem reduzir ou sanar desigualdades
sociais. A crítica às cotas concentra-se no argumento de que a diferença não se
encontra na cor, mas na situação econômica do estudante. A defesa, por outro lado,
baseia-se no argumento de que a discriminação racial acontece, na prática, desde o início de vida de uma
criança negra, que no geral já nasce em famílias de maior vulnerabilidade socioeconômica. Ela é pobre
porque seus pais são pobres, e estes são pobres porque, por serem negros, têm menores oportunidades
na sociedade, principalmente de estudo.
Independentemente da legislação federal, mais de 50 universidades públicas (que são instituições com
autonomia) já adotaram, por conta própria, cotas ou programas de bonificação de ingresso nos
vestibulares para afrodescendentes, muitas vezes, associando ou vinculando a cor do candidato a sua
situação social (o aprendizado do Ensino Médio em escola pública) ou econômica (baixa renda familiar).
Somadas ao ProUni – programa do Ministério da Educação (MEC) que concede bolsas em faculdades
privadas a estudantes de baixa renda formados em escolas públicas –, essas ações afirmativas
aumentaram a presença dos autodeclarados negros no Ensino Superior de 18% em 1998 para 34% em
2008.
O mito da democracia racial
é romântica a concepção de que
vivemos numa nação livre de preconceito racial, que deve muito ao antropólogo
A partir dos dados da sociedade, pode-se afirmar que
pernambucano Gilberto Freyre (1900-1987). Em Casa Grande e Senzala (1933), Freyre defendeu a tese
de um antagonismo camarada e harmonioso entre as três principais etnias que constituíram o povo
brasileiro: os colonizadores portugueses, os escravos africanos e os nativos indígenas.
Mas a história dos 350 anos de escravidão registra revoltas e conflitos, como foi a própria constituição do
Quilombo dos Palmares (século XVII), na região do atual estado de Alagoas, por escravos foragidos e seu
extermínio por armas. Calcula-se que, do século XVI ao XIX, tenham sido trazidos da África para as
Américas 10 milhões de africanos escravizados, dos quais 4 milhões para o Brasil.
Pressionado pela Inglaterra, que impulsionava a Revolução Industrial e o capitalismo com mão de obra
assalariada, o Brasil proibiu o tráfico negreiro em 1850. Em 1871, a Coroa assinou a Lei do Ventre Livre. A
partir de então, todo filho de escravo nascido no Brasil ou permaneceria com o proprietário de seus pais
até os 21 anos, trabalhando como homem livre, ou seria entregue ao governo. Na prática, a lei nada
avançou, pois dos presumíveis 400 mil negros nascidos após a promulgação da lei, apenas 118 foram
entregues ao governo. Assim, na prática, aqueles que nasciam livres permaneciam escravos nas fazendas
onde haviam nascido.
A Lei do Ventre Livre foi ignorada pela justiça brasileira da época, e o movimento abolicionista só começou
a ganhar força em 1880. Em 13 de maio de 1888, a Lei Áurea foi sancionada pela princesa Isabel, que
ocupava o trono como regente. Quando a escravidão foi abolida, parte dos escravos já havia conseguido
alforria ou fugido das fazendas. Os que foram libertos não tinham estudo nem receberam indenização.
Estima-se que, por ocasião da abolição, em 1888, dos 800 mil escravos libertados menos de 1% era
alfabetizado. O refúgio nas zonas rurais foi um dos caminhos encontrados. A Fundação Cultural Palmares,
ligada ao Ministério da Cultura, registra a existência no país de 1.342 comunidades quilombolas, a maior
parte no Nordeste, principalmente na Bahia e no Maranhão.
Mais de um século depois da abolição, o Brasil ainda possui desigualdade em diferentes aspectos sociais,
educacionais e de emprego e renda ligados a questões raciais e de sua formação populacional.
Conselho de Educação refaz parecer sobre livro de Monteiro Lobato
O Conselho Nacional de Educação emitiu um novo parecer sobre o livro Caçadas de
Pedrinho, de Monteiro Lobato, depois que o documento original, que considerava que a obra
deveria ser retirada da relação de publicações atribuídas às escolas públicas, foi “devolvido” pelo ministro
da Educação, Fernando Haddad. Pelo novo parecer, o livro pode ser mantido nas escolas, mas é preciso
que a obra seja contextualizada pelos professores quando utilizada em sala de aula.
A polêmica surgiu no ano passado, quando um parecer anterior destacava que no livro de Lobato os
negros e as religiões africanas são tratados com preconceito, quando o autor se refere à “personagem
feminina e negra Tia Anastácia” (...).
O novo parecer sugere que seja destacado um projeto pedagógico de superação dos
preconceitos (...). “É responsabilidade dos sistemas de ensino e das escolas identificar a incidência de
estereótipos e preconceitos garantindo aos estudantes e a comunidade uma leitura crítica destes de modo
a se contrapor ao impacto do racismo na educação escolar”, diz o documento. “É também dever do poder
público garantir o direito à informação sobre os contextos históricos, políticos e ideológicos de produção
das obras literárias utilizadas nas escolas.
(Fonte: https://almanaque.abril.com.br/materia/diferencas-persistentes)
Saiba Mais!
Você encontrará uma análise mais profunda sobre o
suposto racismo na obra de Monteiro Lobato em
http://www.aletria.com.br/pagina.asp?area=16&secao=20&site=1&tp=22&id=526&click=121
Texto 4
Cotas Raciais - Argumentos a Favor
O que mais se diz é que combater racismo com racismo é ironia. E de fato o é. Mas dizer isso é partir do
pressuposto que o
uso de cotas segrega e esse não é o caso. Aliás, é o oposto. Essa afirmação
é reducionista e desconsidera um cenário que justifica essa política de ações
afirmativas. Não se trata de dar privilégios a um grupo por considerá-lo melhor ou então menos capaz,
mas sim de uma reparação histórica e social.
há quem diga que é apenas um paliativo e que, no fim das contas, não
resolve nada. Que é paliativo é verdade, mas isso não implica em inocuidade, no sentido de
Também
que não faz diferença. A maior parte dos negros no país não possuem as mesmas oportunidades que os
brancos e não será com as cotas que isso irá mudar, mas já é um passo.
No artigo intitulado “O Peso da História: A Escravidão e as Cotas”, o escritor Alex Castro discorre sobre
como o peso histórico pode influenciar gerações e de como, no caso dele, o rumo das coisas foram
completamente diferentes por não haver uma instituição coercitiva que limitasse as possibilidades dos
seus antepassados. É interessante, pois percebemos como a criação de uma base é crucial para o
desenvolvimento de uma família e de uma sociedade.
O branco atinge o topo escalando pelas cotas do negro e depois se desculpa pelo racismo cometido, porém recusa-se a ajudá-lo a
subir também, alegando que fazer isso seria mais um ato de racismo .
Sim, existem brancos vivendo à margem do desenvolvimento e em situações às
vezes tão degradantes e privadas de possibilidades quanto qualquer minoria
desfavorecida e pode parecer injusto que alguém, apenas por ter uma tonalidade
diferente de pele, possa ter “privilégios”. Mas entra aí uma palavra bastante recorrente nesse
blog: contexto. Primeiro que de um lado temos todo um peso histórico e uma sociedade que funciona
através de mecanismos preconceituosos que tendem a puxar o negro para baixo ou mantê-lo estagnado,
e, segundo, que mesmo entre os mais pobres, os negros ocupam, em geral, uma situação ainda mais
degradante. Isso não ocorre por déficit intelectual ou qualquer coisa do gênero. É um reflexo de todo o
racismo, discriminação e privação que marcou a história de uma etnia.
Então repito: é um grande reducionismo querer simplesmente taxar de racista uma ação afirmativa que
visa reparar, ainda que minimamente, uma situação histórica. Lembrando que tais cotas não entregam de
graça vagas em universidades públicas (ou particulares, em programas como o PROUNI) e que é
necessário lutar por elas. Quem conquista essas vagas está tão preparado quanto qualquer outro que
tenha ingressado por ampla concorrência.
(Fonte: http://reflexaogeral.blogspot.com.br/2012/04/cotas-raciais-argumentos-favor.html)
Texto 5
Convite ao ódio racial
A política de cotas raciais é desastrosa – e pode ser trocada por cotas sociais
Está em curso uma proposta que aduba o terreno para a incitação ao ódio racial no Brasil. Na semana
passada, intelectuais e representantes de movimentos negros estiveram em Brasília para entregar um
manifesto aos líderes do Congresso Nacional. O documento, com 330 assinaturas, é um libelo em favor de
dois projetos – a Lei de Cotas e o Estatuto da Igualdade Racial, que, juntos, numa de suas consequências
mais temíveis, instituem o racismo no país. Se os dois projetos forem aprovados, metade das vagas nas
universidades federais terá de ser ocupada por negros. Assim, as vagas serão preenchidas segundo a
quantidade de melanina na pele dos candidatos, e não pelo mérito acadêmico. Também haverá cotas para
negros no serviço público, nas empresas privadas e até em propagandas na TV e no cinema. Em
documentos oficiais, como a carteira do INSS e o prontuário médico, todos os brasileiros serão
classificados pela "raça".
Além de pisotear a Constituição, tratando negros e brancos de forma desigual, a ideia de definir direitos
com base na "raça" é um disparate científico e um equívoco histórico. Está sobejamente provado que raça,
do ponto de vista biológico, não existe. Fundado pelo francês Joseph-Arthur de Gobineau (1816-1882) na
obra Ensaio sobre a Desigualdade das Raças Humanas, o chamado "racismo científico" inspirou a criação
do apartheid e do nazismo – e foi implodido, cientificamente, na segunda metade do século passado. A
única raça aceita hoje pela ciência é a raça humana. "É evidente que o conceito de raça negra que
adotamos tem conotação social, não biológica e científica. O fato é que os negros vivem pior que os
brancos no Brasil. E isso precisa mudar", diz frei David Raimundo dos Santos, organizador do manifesto e
diretor da Educafro, rede de 255 pré-vestibulares para negros.
A adoção de uma identidade racial tem uma dificuldade prática: como definir quem é branco e quem é
negro numa sociedade miscigenada e multirracial como a brasileira? Uma pesquisa de
geneticistas da Universidade Federal de Minas Gerais concluiu que 60% dos
brasileiros que se declaram brancos têm alguma ascendência indígena ou africana.
Cientistas brasileiros encontraram em São Paulo indivíduos de fenótipo negro sem
marcas genéticas africanas. Encontraram também o inverso. Na Universidade de
Brasília (UnB), que adotou cotas para negros há dois anos, esse dilema foi
enfrentado com uma solução de dar arrepios – um tribunal racial. Os "juízes", diante
de fotografias dos candidatos, davam a sentença.
Uma forma simples de evitar esse despautério é trocar "cotas raciais" por "cotas sociais", o que
beneficiaria os pobres – e os negros, que compõem a maioria dos pobres brasileiros. O recorte da "cota
social" seria a renda, dado de mensuração objetiva, com a vantagem de não discriminar os brancos
pobres. Um equívoco recorrente quando se discute a adoção de cotas raciais é desprezar o resultado das
ações afirmativas mundo afora. O economista americano Thomas Sowell, pesquisador de políticas
públicas da Universidade Stanford e negro, escreveu o livro Ação Afirmativa ao Redor do Mundo, no qual
conclui que essas políticas fracassaram em todos os países onde foram adotadas. Aumentou um pouco a
inserção dos negros, apenas um pouco, e a um custo desastroso. Nos Estados Unidos, onde as cotas
raciais começaram a ser banidas em 1978, causou prejuízos às universidades e empresas sem que a
situação socioeconômica dos negros fosse alterada sensivelmente. Na Índia, onde as cotas foram
implantadas há cinquenta anos para beneficiar os dalits, conhecidos como "intocáveis", as consequências
foram ainda mais amargas. Numa única escola de medicina do estado de Gujarat, onde havia sete vagas
destinadas aos dalits, 42 pessoas morreram num protesto contra as cotas.
Além de ignorar essas consequências, o manifesto em favor das cotas contém falsificações intelectuais.
Uma delas é dizer que elas não comprometem a qualidade acadêmica. "Todos os estudos de que
dispomos já nos permitem afirmar com segurança que o rendimento acadêmico dos cotistas é, em geral,
igual ou superior ao rendimento dos alunos que entraram pelo sistema universal", diz o documento. VEJA
tentou localizar os tais estudos. O Ministério da Educação, que avalia as instituições de ensino superior,
desconhece pesquisa nesse sentido. Frei David Raimundo dos Santos disse a VEJA que um dos estudos
teria sido produzido pela Universidade Federal da Bahia. "Os resultados foram excepcionais", afirmou. Na
UFBA, porém, não há nada concluído sobre o tema. "Foi uma generalização, de efeito político, típica de
manifesto", diz Paula Barreto, socióloga da UFBA e favorável à política de cotas raciais. Tratar um assunto
complexo como panfleto político só vai produzir fumaça e mais desigualdade – e, é claro, ódio racial.
Recentemente, um grupo de negros invadiu a Universidade de São Paulo em defesa das cotas. Houve
tumulto. É só uma faísca. O grosso do conflito racial, se a insanidade prevalecer, ainda estará por vir.
(Fonte: http://veja.abril.com.br/120706/p_064.html)
Qual a visão do homem sobre o próprio homem em detrimento de apenas uma de suas características
físicas? Não há como negar, fazer vistas grossas ou nutrir uma visão ingênua e romântica acerca das
diferentes realidades (muitas delas cruéis e inaceitáveis) que norteiam o indivíduo negro, não apenas na
sociedade brasileira, mas, também, nas internacionais. A própria história traz em seus registros inúmeros
atos desumanos e injustiças inconcebíveis praticadas contra homens, mulheres e crianças apenas em
virtude da cor de sua pele. Todavia, ainda que o racismo seja constitucionalmente considerado ato
criminoso, o preconceito persiste! A partir dos textos 6 e 7, vale refletir sobre o “ mito
racial”, a “ideologia do branqueamento”
na mídia.
e, sobretudo, como o negro tem
da democracia
sido representado
Texto 6
O Negro na Mídia - Limitação e Estereotipação
Os negros, da mesma forma que os brancos e demais
etnias, são dotados de suas particularidades. Não
particularidades comportamentais exclusivas dos
negros, mas sim particularidades típicas dos seres
humanos. Quando digo particularidades, refiro-me física
e mentalmente. Dois caucasianos não são iguais nem
em físico e muito menos em comportamento e por mais
que existam semelhanças, cada um possui sua própria
personalidade e identidade. Com os negros não é
diferente.
Perceba-se, no entanto, que no mundo da mídia (novelas, filmes, séries e publicidade em geral) há apenas
algumas poucas figuras que representam, em físico e em comportamento, o homem negro e a mulher
negra. Não é um fenômeno exclusivo do Brasil. Ocorre em todo o mundo.
O negro na mídia, principalmente na publicidade, é
retratado em imagem sempre das mesmas formas:
socialmente carente, trabalhador braçal, malandro ou
atleta. Também é engraçado perceber que o cabelo
do negro na mídia possui apenas três variações: ou
black power, ou com trancinhas ou curto quase
raspado. Fora desses padrões o negro homem sempre
é mostrado de cabeça raspada. Alguns podem
argumentar que essas são as únicas opções
possíveis, mas dizer isso só revelaria ignorância quanto ao visual do negro no cotidiano. Que visual é
esse? Não existe um padrão, simples assim.
No dia em que todos os negros resolverem sair de casa
com cabeça raspada, com trancinhas ou com black
power, esse será um dia verdadeiramente memorável.
É interessante que a participação do negro na mídia
tenha aumentado consideravelmente no decorrer das
últimas décadas, principalmente a partir de 1988,
quando a nova Constituição passou a enxergar o
racismo como crime. Ainda assim a participação do
negro é superficial e, pior, estereotipada.
Não podemos esquecer, é claro, do retrato que a mídia estadunidense faz dos
seus negros. Eles sempre aparecem de forma extremamente afetada, caricata e
em geral fazendo bobagens. Temos uma infinidade de filmes do tipo “Policial
Branco e Sério junto com Negro e Tonto”, nos quais o negro passa o filme
gritando, se estrepando e tentando, desesperadamente, nos fazer rir. Chris
Tucker, Eddie Murphy e Martin Lawrence são os melhores exemplos de tudo
isso. Já Will Smith, Denzel Washington e alguns outros atores parecem ter
conseguido fugir desse estereótipo, embora vez ou outra os encarnem em algum
filme.
Voltando ao Brasil, cabe ressaltar que o cenário atual no qual o negro possui
“visibilidade” é um espaço que só faz perpetuar preconceitos e estigmas. É
difícil fazer um prognóstico dessa situação, mas ao que tudo indica ela não
tende a melhorar tão cedo. A cada ano que passa novas camadas de racismo
mascarado envolvem essa redoma de
desrespeito ao negro como humano.
(Fonte: http://reflexaogeral.blogspot.com.br/2011/07/o-negro-na-midia-limitacao-e.html)
Texto 7
Presença do negro na mídia é marcada pelo preconceito
Há um ano, em 23 de novembro de 2002, o Jornal Nacional, transmitido pela Rede Globo e assistido
diariamente por cerca de 40 milhões de pessoas, teve pela primeira vez um apresentador negro, o até
então repórter, Heraldo Pereira. Na época, a emissora "preparou" o público para a primeira aparição de
Pereira, em programas exibidos durante a semana anterior, fato que rendeu notícias em vários veículos
nos dias posteriores.
A Rede Globo é a emissora brasileira que concentra o maior número de repórteres negros. Mesmo assim,
o número não chega a dez, de acordo com o jornalista, pesquisador e professor da Unesp de Bauru,
Ricardo Alexino. A pequena parcela de negros na televisão vai além dos telejornais e pode ser observada
também nas telenovelas.
Segundo o cineasta Joel Zito Araújo, em seu livro A negação do Brasil, "o enfoque racial da televisão
brasileira é resultado da incorporação do mito da democracia racial brasileira, da ideologia do
branqueamento e do desejo de euro-norte-americanização de suas elites". A negação do Brasil se
transformou em documentário no início do ano e uma das cópias foi entregue ao Ministro da Cultura,
Gilberto Gil, numa tentativa de se abrir um diálogo para a questão e aumentar a participação dos negros
na TV, que hoje não passa de 10%. "Existem mais negros na tevê dinamarquesa do que na brasileira",
constata.
Araújo lembra que na década de 60, os poucos atores negros que fizeram parte do elenco das novelas na
Rede Tupi ou na Rede Globo representavam escravos (quando a novela era de época), "malandros" ou
profissionais com baixo prestígio social, como empregadas domésticas ou motoristas. Na década de 70, o
número de atores negros começou a aumentar, o que continuou ocorrendo nas décadas seguintes.
Para o psicólogo e pesquisador Ricardo Franklin Ferreira, a presença dos negros na TV é fundamental
para a construção de uma imagem de si mesmo. "Enquanto as crianças negras continuarem tendo
somente mulheres brancas e loiras como conceito de beleza, como a Xuxa, elas terão dificuldades em
aceitar suas qualidades", afirma. É o que Araújo chama de "ideologia de branqueamento", presente na
televisão brasileira.
A pequena parcela de profissionais negros na mídia não é uma característica só do meio televisivo. Dados
da Comissão de Jornalistas pela Igualdade (Cojira), do Sindicato dos Jornalistas, mostram que a taxa de
desemprego entre negros, em São Paulo, é 40% maior do que entre brancos, o que pode se refletir
também no caso do desemprego entre os jornalistas negros. "As empresas de comunicação não são uma
ilha de igualdade nesse mar de discriminação", descreve o Estatuto da Cojira. Essa situação tem reflexo
também nos temas que são tratados pela imprensa.
Imprensa direcionada
A reduzida cobertura de temas relacionados aos negros pela grande mídia foi percebida em 1996 pela
revista Raça Brasil, o primeiro meio de comunicação impresso, de grande alcance, direcionado ao público
negro. No seu lançamento, a revista atingiu uma tiragem de 280 mil exemplares, um fenômeno editorial
(atualmente, a tiragem é de 50 mil exemplares).
"O Brasil é um país racista, nós observamos e vivemos isso", afirma Conceição Lourenço, editora da Raça,
cuja redação é composta só por negros. Ela considera que as revistas atuais não atendem os negros
porque não são direcionadas a eles. "Isso é percebido principalmente na área de estética", completa.
O sucesso da Raça causou o que Lourenço chama de revolução na publicidade. "As grandes marcas,
principalmente de cosméticos, começaram a criar produtos para atender esse público negro, que até então
parecia não existir. É a classe média negra, que ganha mais de 10 salários mínimos", afirma.
Para Alexino, no entanto, falta muito para que a publicidade consiga dialogar com o público negro. "A
imprensa progrediu, mas a publicidade não", afirma. Uma campanha considerada polêmica na publicidade
foi a da multinacional Benetton, que teve como slogan United Colors (cores unidas). Esta foi alvo de
muitas críticas. "Em maio de 1990, a campanha trouxe uma mulher negra amamentando uma criança
branca, o que atiçou os ânimos do movimento negro e resultou em pichação de muitos outdoors da
campanha com a frase: Mucamas, nunca mais", lembra Alexino.
A imprensa direcionada a negros, produzida por negros e retomada pela revista Raça, data do início do
século XX. Sentindo a impermeabilidade da "imprensa branca", um grupo de negros paulistas fundou, em
1915, uma imprensa alternativa. É o que a antropóloga Miriam Nicolau Ferrara, estudiosa do assunto,
chama de "imprensa negra". Pela primeira vez o negro tornou-se o alvo de um conjunto de periódicos
específicos, que se sucederam durante quase cinqüenta anos, até 1963, quando foram reprimidos pela
ditadura.
Os jornais da imprensa negra concentraram o seu noticiário apenas nos acontecimentos da comunidade,
divulgando a produção dos seus intelectuais e não priorizando fatos de grande repercussão nacional e
internacional (como as duas Grandes Guerras, a Coluna Prestes, entre outros). "Movimentos de militância,
como a imprensa negra, foram e são formas de valorizar a cultura negra e de aumentar a sua autoestima", afirma Ricardo Ferreira.
Outra maneira de reforçar a identificação positiva é o aumento do número na política, o que gera uma
consequente exposição na mídia. De acordo com Alexino, políticos negros tendem a se voltar para as
questões dos negros, assim como pesquisadores tendem a trabalhar com questões do movimento negro
na academia.
Os avanços inicialmente sentidos nas esferas municipais, como a eleição do prefeito Celso Pitta em São
Paulo, em 1997, e estaduais, como ascensão a governadora do Rio de Janeiro durante o ano de 2002 de
Benedita da Silva, começam a ser percebidos também no Planalto. O Governo Lula tem quatro de seus
ministros negros: Benedita da Silva, Gilberto Gil, Marina Silva e Matilde Ribeiro, além de Joaquim Benedito
Barbosa Gomes, ministro do Supremo Tribunal Federal (STF). No governo anterior, dos 77 ministros dos
quatro tribunais superiores, havia apenas um negro, Carlos Alberto dos Reis, do Tribunal Superior do
Trabalho.
A maior participação dos negros no novo governo já pode ser percebida. Em outubro foi assinado o
Protocolo de Intenções para Implementação do Programa de Fortalecimento Institucional para a Igualdade
de Gênero e Raça, que prevê a criação de um programa de capacitação de gestores encarregados de
definir políticas públicas que considerem fatores como gênero e cor no planejamento de metas e de ações
governamentais.
A busca e a conquista de mais espaços pelos negros na política e em outros setores da sociedade
constitui um caminho de mão dupla. "Os negros na política servem como uma referência aos demais, faz
com que eles acreditem que são capazes", afirma Ferreira. Além disso, com maior atuação política, a
participação dos negros na mídia também aumenta. "O negro passa a se enxergar em áreas que antes
não via, se aceita mais como negro. É uma espécie de estímulo", complementa Alexino. Assim, o negro
também aumenta sua pressão para a entrada nessas áreas.
A inserção do negro na "mídia branca"
"Continua o nosso reacionário: Por que motivo os negros, em grande maioria, moram nos cortiços? A
resposta, asseguro-lhe, é muito fácil: a pouca valia que imprimem aos seus trabalhos; a pouca ou
nenhuma cultura e a acentuada dolência dos seus passos; a inércia e a falta de vontade e iniciativa para
uma reação na trilha do progresso, são as causas principais que obrigam os negros às misérias do
cortiço."
O trecho transcrito faz parte do editorial "Ironia de um congresso", do jornal Folha da Manhã (atual Folha
de S.Paulo), publicado num domingo, 12 de janeiro de 1930. Trata-se de uma crítica ao movimento da
Mocidade Negra, uma das manifestações características da época. Para Ferreira, a imagem negativa do
negro é uma questão histórica e cultural. "Após a abolição, os negros foram jogados para fora do mercado
de trabalho e passaram de escravos para desempregados, ociosos, inferiores. Nossa cultura construiu o
negro numa condição submissa".
A década de 30 foi marcada por reivindicações dos que lutavam para que assuntos de seu interesse
fossem abordados na mídia e para que termos preconceituosos fossem dispensados dos textos
jornalísticos. Nesse período, e nas décadas seguintes, o negro está presente na mídia com sua imagem
comumente ligada à força muscular (esportes, principalmente o futebol), à música (samba) e a crimes (na
seção policial). Antes disso, a presença dos negros nos jornais era um modo de legitimar a escravidão.
"Falava-se apenas dos negros que estavam sendo procurados por terem fugido, daqueles que eram
vendidos ou mesmo daqueles que, eventualmente, tinham cometido algum tipo de crime", afirma Alexino.
Com a ditadura militar e a repressão à imprensa e aos movimentos sociais, nas décadas de 60 e 70, a
cobertura das questões raciais pela imprensa se tornou ainda mais deficitária. "Mostrar questões raciais na
grande mídia significava assumir que esses problemas existiam", afirma Alexino.
Foi somente nos anos de redemocratização, vividos na década de 80, que a imprensa passou a mudar
sua postura. Libertada da ditadura, assumiu um caráter denunciativo e o negro ganhou novos espaços na
mídia. Tornaram-se comuns matérias que mostravam casos isolados de preconceito por racismo no
mercado de trabalho, em lugares públicos, em condomínios fechados, em escolas, além dos casos de
denúncia de violência contra negros.
"A imprensa estava confusa naquele momento. Ao mesmo tempo em que noticiava atitudes que iam
contra o movimento mundial para o fim do racismo, usava termos que faziam alusão negativa aos negros",
afirma Alexino.
Um exemplo da "confusão" citada por Alexino foi marcado na chamada de capa do Jornal do Brasil, em 15
de abril de 1988: "ONU põe Piquet e Senna na lista negra". Isso se deveu ao fato dos pilotos terem
disputado o mundial de Fórmula 1 na África do Sul, contrariando o pedido da Organização das Nações
Unidas (ONU), que tentava isolar o país para conseguir o fim do apartheid.
O ano de 1988 foi marcado foi uma série de movimentações sociais resultantes do movimento negro e
que, evidentemente, eram noticiados pelos diversos tipos de mídia. Além do movimento internacional
liderado pela ONU para o fim do apartheid, no Brasil era comemorado o centenário da abolição da
escravatura, a Campanha da Fraternidade tinha como tema o combate ao racismo e a vencedora do
carnaval carioca foi a escola de samba Vila Isabel, que falou do movimento negro.
A nova Constituição brasileira, também de 1988, passou a considerar o racismo como crime, o que foi
regulamentado no ano seguinte, pela a Lei 7.716, do deputado negro Carlos Alberto Caó (por isso
conhecida como "lei Caó"). "A partir de então, expressões que destacavam a cor de pele da pessoa citada,
como: 'o bandido negro', sumiram das notícias, o que refletiu até nos manuais de redação", afirma Alexino.
(Fonte: http://www.comciencia.br/reportagens/negros/08.shtml)
VÍDEO 2
Direitos Humanos
Documentário produzido por United for the Human Rights.
http://www.youtube.com/watch?v=uCnIKEOtbfc&feature=related
O extermínio da população indígena do Brasil não se restringe ao período da colonização brasileira nem
tão pouco à ditadura, embora tenhamos parte desta informação no texto abaixo. Neste sentido, importa
conhecermos um pouco da história com o objetivo de ampliarmos a nossa visão de mundo para enfim
formarmos a nossa opinião. O texto que segue é uma chamada ao direito do povo indígena, tanto quanto
o meu e o seu direito.
Texto 8
"Houve extermínio sistemático de aldeias indígenas na ditadura"
Perseguido pela ditadura, José Humberto Costa do Nascimento, o Tiuré Potiguara,
abandonou seu trabalho na Funai, viveu escondido na floresta amazônica e, após
conseguir deixar o Brasil, foi reconhecido como refugiado pelo governo do
Canadá. Agora, de volta ao país, ele aguarda a Comissão de Anistia julgar seu
pedido de reconhecimento como vítima do regime e quer a ajudar a Comissão
Nacional da Verdade a resgatar a história do que classifica como “genocídio
indígena praticado pela ditadura”.
Brasília - Em entrevista exclusiva à Carta Maior, Tiuré descreve o que
testemunhou das atrocidades cometidas pela ditadura contra os índios, critica a participação dos irmãos
Vilas Boas no processo, cobra autonomia para as nações indígenas e reivindica que o país dê o passo
histórico necessário para o reconhecimento dos povos originários que, segundo ele, embora não conste
nos registros oficiais, são tão vítimas dos militares quando estudantes, operários, militantes e
camponeses.
“Pode parecer irônico falar isso, mas a repressão, as torturas, as atrocidades cometidas no meio urbano
parecem maior, parecem que doeram mais do que as que foram cometidas contra os índios. Hoje se fala
em 400 desparecidos nas cidades, mas nós podemos falar em cinco mil desaparecidos indígenas, porque
houve extermínio sistemático de aldeias. Era uma política de estado”, afirma.
Qual a sua etnia, a sua região de origem?
Eu sou da etnia potiguara, do litoral da Paraíba. Antes, nós ocupávamos um território que ia da Paraíba ao
Maranhão. Hoje em dia, estamos reduzidos somente ao norte do estado, na costa.
E como foi seu envolvimento com a ditadura militar?
Na década de 1970, eu era funcionário da Funai e, lá dentro, eu pude ver a política oficial da ditadura com
relação aos índios. Impossibilitado de conviver com aquilo, abandonei o órgão e, convidado pelo líder de
uma aldeia parkatejê, fui embora para a Amazônia, ajudá-los a se organizar para combater os militares. A
aldeia ficava no sul do Pará, numa região já marcada pelo combate à Guerrilha do Araguaia. Era uma
região de forte presença dos militares.
E a ditadura tinha, de fato, essa política de dizimar aldeias, cometer abusos e violações de direitos
humanos contra os indígenas?
Isso hoje tá comprovado. Havia um coronel chamado Amauri, chefe da Funai em Belém, que usava de
todos os métodos para exploração, por exemplo, do ouro e da castanha do Pará, obrigando os índios a
trabalharem em sistema de escravidão. Ele usava a repressão, a violência, atirava... o grupo parkatejê já
era considerado exterminado. De 1964 até 1975, a etnia perdeu mais de mil pessoas. Um processo de
dizimação mesmo, porque já estava em andamento a tática da ditadura de ocupação da Amazônia, com
os grandes projetos, como a transamazônica. E todo esse projeto eu vi dentro da Funai, quando ainda
trabalhava lá. E era um projeto já ditado pelos americanos. Eu tive acesso a diversos documentos. Eu não
sabia ler em inglês, mas compreendida os relatórios do adido militar americano no Brasil. Então, já existia
um entendimento para desocupação desta área para exploração dos grandes projetos, como Carajás,
Tucuruí, as grandes linhas de transmissões, a ferrovia, Serra Pelada... e os índios atrapalhavam, porque
estavam em cima dessa região.
E você participou ativamente da resistência indígena?
Sim, e em consequência disso, tive que ficar dois anos escondido na mata, porque o Exercito estava atrás
de mim, a Polícia Federal tinha ordem para me prender. Como eu não pertencia à aldeia, eles achavam
que era eu que estava acirrando os índios. Fui considerado subversivo, agitador, não podia sair. Eles iam
até de helicóptero atrás de mim. A perseguição fui muito grande, não só para mim, mas para outras
lideranças também. E houve mortes, sequestros, torturas que, por ocorrerem na floresta, por não se darem
no ambiente urbano, era muito mais impune, muito mais abafada. Tanto é que até hoje se procuram os
guerrilheiros do Araguaia.
Na floresta, os militares usaram de todas as atrocidades possíveis, porque acharam que iam ficar
totalmente cobertos, que não haveria testemunhas e que esta história nunca viria à tona, como está
acontecendo hoje. E obrigavam os índios, por exemplo, a ajudá-los a eliminar os guerrilheiros. Colocavam
os índios na frente, como bate-paus, para identificar os acampamentos. Como foi o caso dos suruís.
E esses índios ainda estão vivos, podem ajudar a recontar a história, a localizar ossadas?
Eu mesmo passei por um cemitério de guerrilheiros quando estava na companhia dos suruís. Nós
estávamos fazendo um levantamento da área suruí para saber se havia possibilidade de extrair castanha.
Já havíamos feito isso com os parkatejês, que são vizinhos, e eles também queriam uma fonte de renda
própria, para não ter mais que depender da Funai. E eu fui designado para ir ajudá-los. A gente andava
muito pela mata e, em uma dessas caminhadas, o grupo que estava comigo falou: “Tiuré, aqui estão
enterrados os camará”. Camará são os brancos que estavam na área, os guerrilheiros do Araguaia.
Devem ter alguns desses índios vivos até hoje. Eles eram mais velhos do que eu. E se eu estou com 63
anos, então devem ter 70 ou 80 anos. E no lugar dava pra ver realmente que não tinha mata, que existiam
algumas covas rasas, bem na beira de um rio. É claro que, depois, os índios viram também militares
voltarem lá para as tais “operações limpeza”, a retirada dos ossos. Mas os militares não eram assim tão
minuciosos. Ainda podem haver alguns vestígios da presença de guerrilheiros por lá. Neste cemitério
específico, eu soube que haviam sido enterrados três guerrilheiros.
Como os suruís lidavam com a violência praticada pelos militares?
Isso acabava com eles. Os suruís tiveram muitas índias estupradas. Se você for hoje na aldeia, ainda há
filhos de militares do Exército, de soldados e mesmo dos de patentes altas. Os militares fizeram campos
de aviação na área. Os índios não podiam sair da aldeia. Toda a liberdade que eles tinham foi reduzida. E
aqueles que não participavam das ações militares eram reprimidos e até mortos. Uns tinham que fugir dali.
Então, os suruís foram vítimas, foram amordaçados dentro de seu próprio território, e obrigados a caçar os
guerrilheiros, com quem eles já haviam estabelecido contato e relação de amizade. Porque, entre os
guerrilheiros tinham dentistas, médicos que mantinham relações amistosas com eles. Iam na aldeia,
trocavam milho, enfim, tinham um bom relacionamento antes da repressão chegar na floresta. Eles
conheciam mesmo os guerrilheiros, e tinham conhecimento da região como a palma da mão. E, numa das
ações, eles localizaram um acampamento, foram na frente, e o Exército chegou atrás, pegou os
guerrilheiros totalmente desprevenidos, sem condições de reação. Os militares executaram todos eles e
ainda obrigaram os índios a participar do ritual de corte de cabeças. Quando eu cheguei na aldeia, uns
dois anos depois, esse ritual ainda afetava muito os suruís. Achavam que foi uma prática tão bárbara
contra outro ser humano que não conseguiam superar.
Você já pediu reparação ao estado brasileiro pelos crimes cometidos contra você?
Eu já dei entrada no pedido de anistia política. Não pelo dinheiro, mas por acreditar que meu
reconhecimento como anistiado vai abrir uma porta para que outros índios, como os suruís, também
consigam. Eu também já me coloquei à disposição para voltar a área, recuperar a confiança dos suruís e
pedir que eles ajudem os brancos a localizar os corpos dos camarás, para que as respectivas famílias
possam fazer os devidos rituais para os seus mortos. Para que possam vencer essa etapa da sua história.
Estou aguardando o retorno das autoridades, mas até agora nada.
Você acha que existe algum tipo de resistência em incluir os índios como vítimas da ditadura?
Como se os índios fossem os excluídos dos excluídos?
A sociedade brasileira vem de uma herança colonizadora que já soma 500 anos de exclusão indígena. Até
hoje nós não temos nossa história contada por nós mesmos. Há sempre uma história oficial que se
sobrepõe. Então, esse reencontro da sociedade branca com a sociedade indígena, a tal reconciliação de
que tanto se fala hoje, passa por esse reconhecimento do outro, pela aceitação dos primeiros habitantes
desta terra, da sua cultura, da sua herança cultural para o povo brasileiro. Infelizmente, ainda não temos
esse respeito. A resistência à aceitação dos índios como vítimas da ditadura é muito grande. Pode parecer
irônico falar isso, mas a repressão, as torturas, as atrocidades cometidas no meio urbano parecem maior,
parecem que doeram mais do que as que foram cometidas contra os índios. Hoje se fala em 400
desparecidos nas cidades, mas nós podemos falar em cinco mil desaparecidos indígenas, porque houve
extermínio sistemático de aldeias. Era política de estado. Então, nós estamos tentando levantar essa
documentação para comprovar isso. Tem muita coisa que foi publicada no exterior, e também estamos
buscando os documentos existentes no Brasil. E, principalmente, os relatos de pessoas que ainda estão
vivas. Que estão velhos, mas estão vivos.
É a oportunidade do estado brasileiro dar um passo a frente no reconhecimento do outro, do índios
brasileiro que foi afetado não só pela ditadura, mas é até hoje. É a questão da terra, do desenvolvimento
impulsionado de cima para baixo. Seja a soja, o minério, a exploração dos recursos hídricos dos territórios
indígenas. No Canadá, eu participei do movimento indígena canadense e é muito diferente daqui.
Você viveu no Canadá, quando?
Eu fui em 1985 porque, quando se fala em abertura política, estamos falando de uma questão teórica,
porque a ditadura continuava, principalmente no meio do mato, no interior. Dura até hoje. O coronelismo
ainda está lá. O poder político, os currais eleitorais, estão lá. Os assassinatos das lideranças indígenas e
das lideranças rurais, as queimas de arquivo, a impunidade, tudo isso continua. E se eu saí do país em
1985, é porque já não existia mais nenhuma possibilidade para mim. Se eu não saísse, eu não estaria hoje
aqui contando essa história. Foi a possibilidade de consciência, porque muitos outros índios não tiveram
condições de sair. No Canadá, pedi reconhecimento como refugiado político. Foi um processo longo, que
levou cinco anos de investigações. O governo canadense até veio ao Brasil investigar minha história. E eu
consegui provar tudo o que dizia. Considero o meu reconhecimento como refugiado como uma
condenação do Brasil. A primeira condenação por violações aos direitos de um índio. O assunto teve
grande repercussão na imprensa internacional.
E como é no Canadá?
É claro que o Canadá não é um paraíso para os índios, mas eles estão bem mais avançados nessas
questões de direitos humanos. Eles já participam dos royalties, por exemplo, das companhias que
exploram petróleo, que utilizam os recursos hídricos, através de hidrelétricas. Eles participam dos lucros
das empresas e os gerem de forma mais autônoma.
Então, você discorda dessa política brasileira de tutela dos índios?
Claramente. Hoje se fala muito em autossuficiência, se fala em autossustentabilidade, mas não se dar
autonomia financeira para os índios. O que se tem hoje são migalhas, reparações financeiras que só
resolvem o problema temporário. Essas indenizações não significam nada. Nós queremos é participar dos
lucros dessas empresas. Nós queremos ter a nossa universidade. Eu estudei numa universidade indígena
canadense financiada com os recursos dos indígenas, com professores indígenas. Nós queremos
universidades nas nossas áreas, queremos hospitais para atendimento 24 horas nos nossos territórios.
Nós temos um problema grave em educação e saúde que não se resolve com indenizações pontuais. Na
minha área potiguara, ainda há uma usina funcionando que foi instalada pela ditadura. A maior reserva de
titânio do Brasil tá lá na nossa área. E uma mineradora explora. E tem uma aldeia há 4 Km dessa
exploração em que as pessoas estão morrendo à míngua. É uma situação insustentável. Tem que haver
uma mudança. Temos que discutir a participação nos lucros dessas empresas.
Assim como os estados estão brigando pelos royalties, nós também, os primeiros povos, queremos
royalties, porque estamos sendo explorados em nosso território. Na época da ditadura, o Exército entrou
na nossa área [Potiguara] e garantiu terras para grandes latifundiários e grandes companhias
internacionais. Nós perdemos um terço do nosso território durante a ditadura. Eles deram até um atestado
de óbito para nosso povo, dizendo que não existiam mais potiguaras na área. E com esta certidão
negativa, conseguiram financiamento do Banco Mundial. A Funai é responsável por tudo que aconteceu
com o povo indígena.
Na sua experiência na Funai, você deve ter convivido com os irmãos Villas Boas. Qual foi o papel
deles neste contexto todo?
Eu tenho uma crítica muito grande aos Villas Boas. Eles são considerados os humanistas, não sei nem
como ainda não foram laureados pelo Nobel, porque conseguiram uma publicidade incrível. Mas eles
participaram desse processo de aprisionamento das nações indígenas, como se quisessem criar um
zoológico. O Xingu é isso. Na época da ditadura, os interesses de deslocar as aldeias para
desenvolvimento da economia levou os militares a usar os Villas Boas para criar aquele Parque do Xingu,
que não é nada mais do que você colocar diferentes aldeias, muitas delas que viviam em guerra culturais
seculares, todas juntas. Línguas diferentes, culturas diferentes, tudo no mesmo território. E os Villas Boas
participaram disso e acabaram criando um cenário de propaganda do regime.
O Xingu virou o cartão postal da política indigenista. Aquela coisa mais supérflua, mais teatral, para os
militares promoverem festas e lotarem aviões de gente par aos verem sendo fotografados com os índios.
Para mim, os Villas Boas foram complacentes com a ditadura. Olha, eu entrei na Funai com a visão de que
a política dos militares para os índios era aquela do Marechal Rondon: “morrer se for preciso, mas matar
nunca”. Mas, na verdade, a cartilha deles era o contrário, era a cartilha americana: “índio bom é índio
morto”. Então, temos que desmistificar essas histórias impostas pelo regime e contar a nossa história. É
isso o que esperamos da Comissão Nacional da Verdade, da Comissão da Anistia.
Hoje, você milita em alguma organização indígena?
Não. Eu estou ligado a minha aldeia, uma aldeia pequena. Não sou de partido nenhum, não pertenço a
nenhuma ONG. A minha intenção é criar uma resistência indígena nacional. É com este intuito que voltei
ao Brasil. O movimento indígena, na minha época, tentava se organizar. Hoje, há muitas lideranças
cooptadas, com cargos no governo, na Funai, com acordos desvantajosos com a iniciativa privada. Por
isso, minha intenção é ajudar na conscientização pra gente fazer um levante revolucionário, para
retomarmos nossas terras.
(Fonte: http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=20650)
Parece que nunca se falou tanto em direitos humanos. Bem ou mal, uns mais outros menos, os grupos
indígenas dos diferentes cantos do mundo têm buscado conhecer e reivindicar os seus direitos.O texto
que segue é uma amostra do quanto ainda é preciso a fim de chegarmos ao cumprimento do que é justo,
do que versam as leis acerca das necessidade básicas dignas de todo ser humano seja branco, negro ou
índio.
Texto 9
Povos indígenas reivindicam direitos na região Sul do País
Oficinas realizadas com o apoio do Fundo Brasil buscaram empoderá-los como protagonistas na luta pela
garantia de seus direitos
A Articulação dos Povos Indígenas da Região Sul – Arpin Sul, da qual fazem parte Kaingang, Guarani,
Xocleng e Xetá no Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, está à frente do projeto "Entregando
Saberes Jurídicos para a Efetivação dos Direitos Étnicos e Coletivos dos Indígenas", contemplado no
Edital 2011 do Fundo Brasil. Em relatório parcial das atividades realizadas, o grupo conta que foram
realizadas oficinas, com cerca de 50 indígenas cada, com o objetivo de empoderá-los como protagonistas
na luta pela garantia de seus direitos.
Entre os temas abordados estavam os direitos étnicos individuais e coletivos; funções dos órgãos
jurisdicionais; e formas de denúncia contra violações de direitos humanos. Nos encontros, os indígenas
relataram as diferentes realidades enfrentadas em cada aldeia e apontaram as demandas prioritárias,
como demarcação de terras, habitação e educação, entre outras.
Na aldeia Sambaqui, em Pontal do Paraná, por exemplo, os jovens demonstraram o interesse de constituir
um sindicato, para obter personalidade jurídica e buscar apoio em outras organizações. Naquela
comunidade, os alimentos e a água potável é fornecida pela Fundação Nacional do Índio (Funai) e pela
Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai), há mais de 10 anos. Os indígenas encaminhariam ao
Ministério Público Federal o pedido de realização de uma audiência pública, na aldeia para tratarem
diretamente de suas demandas. Até mesmo para a elaboração desse pedido foi necessária a interseção
da Funai de Brasília, para que os indígenas pudessem ter acesso a um relatório de estudo da área.
A comunidade Guarany, conforme relato da Arpin Sul, não possui conhecimento amplo sobre suas
condições legais, devido ao pouco diálogo que mantém com os órgãos públicos competentes.
Formalmente, a comunidade é reconhecida, mas no cotidiano o esquecimento é quase absoluto. O
principal problema é a regulamentação ambiental da área, que proíbe qualquer tipo de manejo das terras.
Sem a titulação da terra indígena e com as restrições de áreas para cultivo, a comunidade encontra-se em
situação de insegurança alimentar. Abusos de poder da parte dos órgãos de proteção ambiental aliados à
falta de assistência por parte dos demais órgãos públicos que tratam da questão - Funai, Sesai, etc agravam os problemas de falta de estrutura (ausência de energia elétrica, de coleta de lixo, de
saneamento básico, de escola e de transporte; habitações precárias; frágil atenção à saúde; e outros).
A apresentação de leis estaduais, nacionais e de tratados internacionais teve como foco demonstrar aos
indígenas o quanto estão legalmente assegurados. Para auxiliar no trabalho, a Arpin Sul formulou uma
cartilha de direitos humanos e auxiliou as comunidades na elaboração de documentos oficiais para
reivindicação desses direitos. O conteúdo trabalhado apontou alternativas para atuação das comunidades
contra as violações de direitos a que estão submetidas, como a violência institucional, especialmente
policial, e os conflitos moradores do entorno. O projeto deve ser concluído antes do final deste ano.
* Esse texto contou com a colaboração voluntária da jornalista Cecília Kruel.
(Fonte: http://www.fundodireitoshumanos.org.br/v2/pt/news/view/povos-indigenas-reivindicam-direitos-naregiao-sul-do-pais)
VÍDEO 3
Bullying
Entrevista com Dra. Ana Beatriz Barbosa Silva sobre bullying (violência
escolar), tema do livro de sua autoria: “Bullying: mentes perigosas nas
escolas”.
http://www.youtube.com/watch?v=Oaw2GnQrEIU&feature=related
A sociedade do século XXI, embora tão diversa, ainda reluta com as diferenças. O próximo texto é apenas
mais um exemplo do quão perto estamos do preconceito e o quão longe estamos da igualdade tão
verbalizada cotidianamente. Há que se privilegiar o ser e a verdade, sempre. Afinal, essas parecem ser
as premissas dos direitos humanos. Leia a reportagem a seguir e reflita sobre o caso em questão.
Texto 10
Acuado pelos colegas e abandonado pela escola
Mãe move ação por danos morais contra colégio paulistano onde ela estudou e trabalhava, sob a alegação de que a
instituição ignorou os pedidos de ajuda de seu filho de 11 anos, que sofria agressões físicas e verbais por ser
bailarino
Mãe move ação por danos morais contra colégio paulistano onde ela estudou e trabalhava,
sob a alegação de que a instituição ignorou os pedidos de ajuda de seu filho de 11 anos,
que sofria agressões físicas e verbais por ser bailarino
No começo de 2010 a professora paulistana Alba Paulino, 43 anos, começou a estranhar o
comportamento do filho, Enzo, então com 11 anos de idade. Matriculado na escola onde ela trabalhava, o
colégio católico Nossa Senhora de Lourdes, na Água Rasa, zona leste de São Paulo, ela percebeu que o
filho aparecia com cada vez mais frequência em seu escritório, localizado num prédio anexo ao do colégio.
Queixava-se de dores de cabeça, enjoos e indisposições intestinais. Muitas vezes o garoto pedia para que
o tio ou a avó o buscassem na escola e o levassem para casa. No sobrado da família, no mesmo bairro,
Enzo não melhorava muito. Deixava as refeições pela metade e, aos poucos, as noites de sono tranquilo
tornaram-se turbulentas. Na hora de dormir, Enzo chorava copiosamente. Quando finalmente adormecia,
já era quase hora de acordar para voltar ao colégio. E era só falar de escola que o garoto desabava de
novo. “Alguma coisa estava muito errada”, diz Alba.
Com o tempo, Enzo contou que vinha sendo agredido verbal e fisicamente, de forma cada vez mais
frequente e grave, pelos colegas de escola desde os 8 anos de idade, quando optou por fazer balé em
uma academia de dança no bairro do Tatuapé, também na zona leste. Ele era uma vítima clássica do
bullying, nome dado ao fenômeno que engloba xingamentos, ofensas, constrangimentos, humilhações ou
agressões físicas praticadas por um grupo contra alguém. No caso de Enzo havia um agravante. Nos
últimos três anos em que ele esteve no Nossa Senhora de Lourdes, ele diz ter buscado ajuda de
professoras e até cobrado ação por parte da coordenação da escola para que os ataques parassem. A
resposta que recebia de quem devia tê-lo protegido era sempre a mesma: “São brincadeiras normais de
menino e, se você não é gay, não tem por que se preocupar.” Os ataques não só continuaram como
pioraram.
“A zoação acontecia já de manhã, antes de as aulas começarem”, lembra ele, que diz ter sido chamado
inúmeras vezes de “gay”, “viado”, “bicha” e “boiola”, aos berros, no portão do colégio. Durante o dia, Enzo
relata que recebia empurrões, tapas nas costas, era arremessado contra carteiras e frequentemente tinha
o material escolar jogado no chão. Certa vez, ele conta, um de seus agressores derramou uma lata de
refrigerante em sua mochila. Em outubro de 2010, três garotos passaram a bloquear o acesso de Enzo ao
banheiro masculino. “Aqui você não entra, use o de mulher”, ele ouviu. Em dias assim, o garoto passava o
turno escolar sem ir ao banheiro.
XINGAMENTOS
Enzo diz que as provocações começavam no portão da escola
Foi a gota d’água para a família. Vendo Enzo abandonado por boa parte dos poucos amigos que fez na
infância – ele estava no colégio desde os 2 anos –, com a autoestima em frangalhos, sem apoio da escola
e a ponto de repetir o sétimo ano, eles resolveram intervir. Era final de 2010. “Sabia que eram grandes as
chances de eu ser mandada embora caso eu pressionasse a direção do colégio ou resolvesse tirar meu
filho de lá”, diz Alba. “Mas ele estava indo para o colégio para apanhar.”
Hoje, a decisão de Alba, de finalmente confrontar a escola, pode parecer óbvia, talvez até tardia para
quem está de fora. Para ela não foi. Ela não só trabalhou no colégio por 14 anos como professora, mas
também foi aluna do Nossa Senhora de Lourdes desde a infância. Confiava na instituição e também
dependia dela. Divorciada, ela se desdobrava para dar conta das despesas que tinha com o único filho e a
casa. Um irmão se dispôs a ajudá-la caso ela de fato perdesse o emprego. Isso não aconteceu na primeira
vez em que conversou com a coordenadora-geral, Lourdes Panini. Mas Alba diz que perdeu o chão
quando ouviu dela uma frase que classificou como surreal. “Se seu filho quer ser bailarino, ele tem que se
acostumar a ser chamado de gay”, teria declarado Lourdes à mãe, depois de Alba arrolar tudo o que seu
filho estava passando. “Eu fiquei muda e só chorei”, diz. Dez dias depois, ela tirou o filho do colégio e,
como imaginava, foi demitida na sequência. Hoje corre na Justiça paulistana um processo cível por danos
morais contra a mantenedora do colégio Nossa Senhora de Lourdes no valor de 100 salários mínimos.
Em conversa com ISTOÉ, Lourdes Panini negou veementemente todas as afirmações de Alba e Enzo.
“Nunca tivemos bullying ou agressões no nosso colégio e jamais disse que, por ter escolhido a profissão
de bailarino, Enzo teria que se acostumar a ser chamado de gay”, afirma. A diretora diz que o colégio, por
ser católico, tem especial atenção com a questão do bullying e presa imensamente o respeito entre os
colegas. “Não o suficiente”, alega Alba, que teve cinco longas conversas com a coordenadoria pedagógica
da instituição onde Enzo está matriculado atualmente para ter certeza de que lá não haveria bullying. A
nova escola também acompanhou o garoto durante crises de ansiedade e uma breve disfunção alimentar,
identificada por um médico de confiança da família. “Tinha medo de ir pro colégio novo e aquilo tudo que
eu passei se repetir”, diz o garoto.
Hoje, Enzo estuda, tem bom desempenho escolar, amigos e aprimora, sem medo, seu talento para a
dança. São quatro horas de ensaios todos os dias. “Até o final do ano devo apresentar uma variação”, diz
ele, corado e sorridente. Variação é um movimento solo do balé clássico que exige treino, dedicação e
perícia. Para a mãe, vê-lo equilibrado e feliz depois de tudo é um alento. “Casos como esse, onde o
bullying parece ter respaldo de instâncias superiores podem ter consequências gravíssimas”, diz Cecília
Zylberstajn, psicóloga especializada em atendimento de adolescentes e adultos. “A criança fica confusa
porque o adulto, que teoricamente pode ser confiável e visto como um porto seguro, perde essas
qualidades.” Enzo foi salvo a tempo.
(Fonte: http://istoevip.terra.com.br/reportagens/detalhePrint.htm?idReportagem=205620&txPrint=completo)
Que há uma crise social generalizada todos sabemos, às vezes insistimos em não vermos que ela está à
nossa porta. Talvez, você mesmo veja em sua vida, família, ao redor de si, exemplos de adolescentes
desestimulados, sem perspectivas... No que tange à responsabilidade social cumpre-nos refletirmos sobre
o compromisso do Estado, da escola e de cada um de nós.
Texto 11
Número de jovens de 15 a 17 anos fora da escola aumentou
IBGE mostra que políticas públicas para incluir a juventude no sistema educacional fracassam. População nessa
faixa etária aumentou e frequência escolar caiu em 2011
As políticas de inclusão dos jovens no sistema educacional fracassam. Colocar todos os brasileiros de 15
a 17 anos na escola é o maior desafio a ser superado para que a Emenda Constitucional 59
seja cumprida. A lei determina que, até 2016, todas as crianças e adolescentes com idades entre 4 e 17
anos sejam matriculados no sistema educacional. Em vez de voltar à escola, a população jovem tem se
afastado ainda mais dela.
Ensino médio: a pior etapa da educação do Brasil
Os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) de 2011, divulgados nesta sexta-feira
pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), revelam que a quantidade de adolescentes de
15 a 17 anos longe dos bancos escolares aumentou. Em 2009, 1.479.000 de brasileiros nessa faixa etária
não estudavam. Eles representavam 14,8% dessa população. No ano passado, o número de excluídos
subiu para 1.722.000 (16,3% dos 10,5 milhões de jovens).
Os números representam um revés na tendência observada nos anos anteriores, quando a taxa de
escolarização dos jovens melhorava. Apesar de quase a metade estar fora da etapa escolar correta para
sua faixa
etária,
era
crescente
o
número
de
adolescentes
que
permaneciam
matriculados nas redes de ensino. Em 2008, 84,1% da população entre 15 e 17 anos frequentava os
colégios brasileiros. No ano seguinte, a porcentagem subiu para 85,2%. Em 2011, ela caiu para 83,7%.
A realidade é ainda mais cruel com os jovens brasileiros que vivem nas famílias mais pobres. Enquanto
81,6% dos que não possuem renda familiar ou recebem até um quarto de salário mínimo per
capita estudam, 87,8% dos que ganham um salário mínimo ou mais por pessoa da família estão
matriculadas nas redes de ensino. É na Região Sul que a situação dos adolescentes é pior: 17,8% dos
brasileiros com idade entre 15 e 17 anos estão fora da escola.
O IBGE não divulgou os dados que mostram com precisão quantos estudantes estão na série correta para
a idade que possuem. No entanto, há pistas sobre o quão atrasados eles estão. Dos 5,5 milhões de alunos
com 16 ou 17 anos, 1,5 milhão ainda cursava o ensino fundamental, etapa que deveriam ter concluído aos
14 anos. O número seria maior se fossem incluídos nas contas os adolescentes de 15 anos, mas não há
dados específicos sobre eles ainda.
Difícil prosseguir: Cresce a taxa de reprovação no ensino médio
Outro sinal de que a educação para a juventude é falha está na média de anos de estudo da população
brasileira. Os adolescentes de 15 a 17 anos possuíam 7,5 anos de estudo, em média, em 2011, enquanto
deveriam ter completado, pelo menos, oito anos de estudo do ensino fundamental. A instrução média dos
brasileiros não mudou quase nada em dois anos. Em 2009, a população com mais de 10 anos de idade
possuía, em média, 7,2 anos de estudo. Em 2011, o número subiu para 7,3.
Em compensação, a quantidade de brasileiros que conseguiu estudar pelo menos 11 anos aumentou de
53 milhões para 58,5 milhões. Porém, no outro extremo, os dados da PNAD voltam a assustar: há 19,2
milhões de pessoas com mais de 10 anos de idade (11% do total) sem instrução e com menos de um ano
de estudo.
Diferenças regionais de escolarização
O percentual de crianças e adolescentes que frequentam a escola varia em cada região e de acordo com
cada faixa etária. Os jovens são o maior gargalo.
PNAD 2011 / IBGE
Mais crianças na escola
Enquanto a situação dos jovens – considerada o grande gargalo da educação no País – não melhora, a
das crianças avança, mesmo que lentamente. A taxa de escolarização dos brasileiros de 6 a 14 anos
de idade foi de 98,2% em 2011, um aumento de 0,6 ponto percentual em relação a 2009. Nas famílias com
renda familiar mais alta, o índice chega a 99,2%. Apesar da quase universalização, ainda não se chegou
ao que a lei exige: todas as crianças nessa etapa devem estar na escola.
Ideb: Desempenho melhora na educação básica, mas ensino
Mudanças: Após Ideb, MEC desengaveta orientações para ensino médio
médio
ainda
patina
A taxa de escolarização das crianças de 4 ou 5 anos subiu quase 3 pontos percentuais, passando de
74,8% em 2009 para 77,4% em 2011. A diferença de renda, porém, mais uma vez, influencia diretamente
a presença dessas crianças na escola. Entre as que vivem nas famílias sem rendimento ou com
rendimento mensal domiciliar inferior a um quarto de salário mínimo por pessoa, o percentual de
escolarização baixa para 69,1%. E sobe entre os filhos das famílias com melhores condições financeiras:
88,9%. A maior parte das matrículas da educação básica continua na rede pública de ensino. Há
42.186.000 de alunos nas escolas (da pré-escola ao ensino médio) de federais, estaduais e municipais,
enquanto a rede privada atende a 11,5 milhões de estudantes. O maior percentual de matrículas dos
colégios particulares está na pré-escola (26,5%). Em relação às creches, não houve alteração significativa
nos percentuais de atendimento. Em 2011, a rede pública atendia 65,3% das crianças e, em 2009, 65,6%.
Há 2,8 milhões de crianças matriculadas em creches.
(Fonte:
http://ultimosegundo.ig.com.br/educacao/2012-09-21/numero-de-jovens-de-15-a-17-anos-fora-da-escolaaumentou.html)
VÍDEO 4
Exposição na internet deixa
usuários vulneráveis a golpes
Teste com vidente revela como é possível ter acesso a informações
pessoais publicadas voluntariamente na rede. Matéria exibida no
Fantástico, dia 21/10/2012.
Em um tempo em que a velocidade, inclusive das pessoas, é a todo momento colocada à prova, os
relacionamentos, também, sofrem alterações. Atualmente, fala-se em “relacionamento colaborativo”, mas
a que tipo de colaboração se refere? Relações que fomentam a discussão? A transformação? Ou nutrem
o consumismo de dar e receber algo em troca? Leia o próximo texto, com predisposição para uma
autoanálise e crítica em relação ao seu tempo e às suas práticas sociais.
Texto 12
Redes Sociais e Colaboração Extrema: o fim do senso crítico?
A partilha de informações ganhou proporções nunca imaginadas com a popularização das redes sociais.
Ganhamos agilidade na troca de informações e estamos mais próximos. Mas a troca indiscriminada de
informações descontextualizadas e humor portátil deixa uma questão em aberto: estamos perdendo o
senso crítico?
Conectados. Essa palavra nunca fez tanto sentido quanto agora. Quando se discutia no passado sobre
como os homens agiriam com o advento da aldeia global, termo cunhado pelo filósofo canadense Marshall
McLuhan para explicar o projeto pelo qual o mundo se tornaria um lugar culturalmente homogêneo graças
ao impacto da tecnologia, não se imaginava o quanto esse processo seria rápido e devastador.
E o quanto ele estava errado sobre o seu meio propagador. Isso porque quando McLuhan apresentou o
termo, em 1968, ele sequer imaginaria que não seria a televisão a grande responsável pela interligação
mundial absoluta, e sim a internet, que na época não passava de um projeto militar do governo dos
Estados Unidos.
A internet mudou definitivamente a maneira como nos comunicamos e percebemos o mundo. Graças a
ela temos acesso a toda informação do mundo à distância de apenas um toque de botão. E, quando
começaram a se popularizar as redes sociais, um admirável mundo novo abriu-se ante nossos olhos. Uma
ferramenta colaborativa extrema, que possibilitaria contato imediato com outras pessoas através de suas
afinidades, fossem elas políticas, religiosas ou mesmo geográficas. Projetos colaborativos, revoluções
Tudo seria maior e melhor quando as pessoas se alinhassem na órbita
de seus ideais. O tempo passou, e essa revolução não se instaurou.
instantâneas...
Basta observar as figuras que surgem nos sites de humor e
outros assemelhados. Conhecidos como memes (termo
cunhado pelo pesquisador Richard Dawkins, que
representaria para nossa memória o mesmo que os genes
representam para o corpo, ou seja, uma parcela mínima de
surgiram com a intenção
de demonstrar, de maneira icônica, algum
sentimento ou sensação. Ao fazer isso, a tendência de
informação), essas figuras
ter uma reação diversa daquelas expressas pelas tirinhas é
Tudo fica branco e preto. Ou se
aceita a situação, ou revolta-se. Sem chance
para o debate ou questionamento.
cada vez menor.
vídeos de humor, então, se transformaram na ferramenta predileta para arrancar risos fáceis e
instantâneos. Na Internet não há mais espaço para o humor cadenciado de Jerry Lewis, ou o pastelão
escachado dos Três Patetas. Exigem-se risos em menos de um minuto. A história, o roteiro, o
figurino foi deixado de lado e tudo isso foi trocado por um gato tecladista ou um
garoto acima do peso que faz alguma gracinha involuntária. A situação da literatura
na Web é ainda pior. Escritores e dramaturgos são citados fora de contexto, isso quando as citações
Os
realmente pertencem àqueles a quem são atribuídas. Uma profusão de frases soltas de romances, livros
de autoajuda e toda sorte de produção literária comprimida para fazer sentido dentro dos parcos cento e
quarenta caracteres da microblogagem.
A
situação
é ainda mais
grave
quando um dos poucos entes criativos restantes na Internet produz
Em
minutos pipocam cópias da frase por todo lugar. Copia-se sem o menor bom senso,
sem créditos. Pensar e refletir, e depois falar, são coisas do passado. O importante
agora é copiar e colar, e depois partilhar.
algum comentário curto, espirituoso ou refletivo, a respeito de alguma situação atual ou recente...
As redes sociais desfraldaram um mundo completamente novo, e o uso que o homem fará dessas
Se enveredarmos pela partilha de ideias,
gestando-as em nossas mentes e, depois, passando-as a outros, será uma estufa
mundial a produzir avanços incríveis em todos os campos de conhecimento. Se, no
entanto, a redes sociais se transformarem em uma rede neural de apoio à preguiça
de pensar, a humanidade estará fadada ao processo antinatural de regressão. O
ferramentas é o que ditará o nosso futuro cultural.
advento das redes sociais trouxe para perto das pessoas comuns os amigos distantes, os ídolos e os
ideais consumistas mais arraigados, mas aparentemente está levando para longe algo muito mais humano
e essencial na vida em sociedade: o senso crítico. Será uma troca justa?
(Fonte:
http://obviousmag.org/archives/2011/09/redes_sociais_e_colaboracao_extrema_o_fim_do_senso_critico.ht
ml)
VÍDEO 5
O império do imediato
Vídeo produzido a partir da pesquisa de doutorado de Martin
Kuhn e apresentado na banca de defesa realizada no dia 26
de outubro de 2011, na Universidade Metodista de São Paulo.
http://www.youtube.com/watch?v=lULDr1ev4s0
Talvez a sociedade de consumo a qual fazemos parte tenha contra si mesma o próprio consumismo como
o seu maior vilão nas relações humanas. O nosso objetivo é que você consiga estabelecer relações entre
o texto que segue e todas as informações trazidas ao longo das videoaulas transmitidas e que estas lhe
permitam, quem sabe, uma tomada de consciência e subsídios que o levem a agir na contramão desta
sociedade de e do
consumo.
Texto 13
A Sociedade de Consumo – Jean Baudrillard
Sinopse
A presente obra de Jean Baudrillard constitui uma das principais contribuições para a sociologia
contemporânea, e é hoje uma obra consagrada internacionalmente. Nela procede o autor a uma análise
profunda e estimulante daquilo que constitui um dos fenômenos mais característicos das sociedades
desenvolvidas da segunda metade do século XX, mostrando de que forma as grandes corporações
tecnocráticas suscitam desejos irreprimíveis, criando novas hierarquias sociais que substituíram as antigas
diferenças de classes. O consumo, na qualidade de novo mito tribal, transformou-se, segundo o autor, na
moral do mundo contemporâneo.
(Fonte: http://www.livrariasaraiva.com.br/produto/2650939/a-sociedade-de-consumo-3-ed)
Resenha da 2ª parte do livro, p. 47 a 97, “Teoria do Consumo”
Em parte do trecho em que esta resenha é baseada - que compreende a segunda parte (p. 47 a 97) do
livro “A Sociedade de Consumo” de Jean Baudrillard, o autor aborda a questão lógica social do consumo e
a associação à felicidade através do mesmo, chamando isso de “a propensão natural para a felicidade”.
Segundo Baudrillard, a felicidade – ou busca dela - é o que gera a sociedade de consumo. A força e
insistência pela busca desta felicidade não é algo que podemos chamar de natural ou instintivo, pois,
segundo o autor, essa felicidade a nós apresentada hoje deriva de fatores externos, da evolução da
sociedade moderna, a sociedade de consumo em sua forma mais crua e sádica. Citando John Smith:
“O Mito da Igualdade conduz à degeneração dos valores e dos ideais. Honra, fidelidade e
transcendência são virtudes aristocráticas (isto é, elas são virtudes de homens superiores), e, como tal,
não têm lugar na sociedade dos “iguais”. O resultado, não surpreendentemente, é a decadência social,
lares e famílias destroçadas, crime, vícios, inveja, enfim, os frutos do igualitarismo. Mesmo a Arte é
afetada pela mão maligna do igualitarismo, pois a sociedade igualitária direciona todas as suas energias
na pacificação e divinização do “homem normal” (em termos matemáticos, o mais baixo denominador
comum). O resultado é “arte” desprovida de sentido, destinada a chocar ou simplesmente a ornamentar.
Tudo isto está travestido”. (SMITH)
Baudrillard diz ainda que a felicidade atual precisa ser mensurável, precisa de signos;
objetos que representem o bem estar, a felicidade travestida em algo palpável para seus donos, e que
ironicamente esteja longe do alcance de alguns (quão mais longe ao alcance de muitos, melhor; ou como
podemos definir: maior será o nível de felicidade e sentimento de conquista ao dono daquele signo).
Mais irônico ainda é que a iconoclastia ao mito da igualdade (e por consequência a desigualdade
que emprega e felicidade baseada em posses) é desestimulada através da Declaração dos
Direitos do Homem e do Cidadão, onde é reconhecido o direito a felicidade a todos. Ou seja, se
todos têm direito igual à felicidade na sociedade de consumo, e a felicidade hoje
gira ao redor de posses e do sentimento de conquista, a felicidade plena para todos
nunca será possível. O que resta será a sua busca, as pequenas conquistas, minúsculas vitórias. O
valor igualitário idealista que o autor prega, onde predomina o uso igual dos objetos de valor, é impossível,
uma utopia; pois o consumo em abundância é para poucos.
Segundo o autor, “O crescimento é a abundância; a abundância é a democracia”. O crescimento implica a
democratização em longo prazo. Porém a desigualdade foi o que desencadeou o processo de evolução.
Por mais cruel, as diferenças entre culturas que culminaram em guerra geraram a evolução bélica por
necessidade. Pesquisas e processos nessa área terminaram resultando em itens de consumo para a
sociedade moderna.
A desigualdade pode ser um mal necessário para a evolução, seus vãos podem e devem ser combatidos,
mas nunca esquecendo que é diferença de pensamentos que gera debates e leva a ideias realmente
novas.
Como disse o autor, se a igualdade existe, é porque a riqueza não tem mais
importância. Pode-se definir neste caso, riqueza não só através de bens materiais, mas em forma de
cultura, educação, sabedoria. Mesmo que em um momento a civilização alcance a igualdade plena, no
segundo subsequente ela já estará em desequilíbrio, nem que seja por fatores naturais, como por
exemplo: dois alunos possuem acesso ao mesmo sistema de ensino, porém um sofre de dislexia, o outro
não. Qual deles possuirá maior “riqueza” ao fim da aula? Pode ser que o aluno que sofra recupere o
conteúdo perdido em seu tempo livre, porém o aluno normal pode fazer um curso de uma língua
estrangeira em seu tempo livre, pendendo a balança para um lado.
Soma-se a isso o crescimento da produção de bens de consumo, a aglomeração dos centros urbanos que
demandam grande quantidade deles. Tudo contribui para que a sociedade atual receba a alcunha de uma
sociedade de produção de privilégios, enquanto em uma utopia igualitária deveríamos ser uma sociedade
de abundância, dividindo tudo com todos e usufruindo igualmente dos bens, como as sociedades
primitivas.
O consumo e a felicidade sempre caminharam juntos em suas retratações, e segundo o autor, o homem
nunca se sente realizado, e está sempre a procura de algo novo que o sacie. A publicidade mostrará
personagens realizados com a aquisição de novos bens materiais, despertando no individuo e o
condicionando a busca da realização também através desse artifício. A utilidade dos objetos já não é o
objetivo primário de sua aquisição pelos mais privilegiados, mas sim o status que os mesmos agregam a
sua pessoa. O sentimento de inveja desperta no individuo a futilidade de seus atos, tira seu poder de
observação e o torna em algo que já não opina, que aceita o que a sociedade consome, cospe.
“Os indígenas da Melanésia sentiam-se maravilhados com os aviões que passavam no céu. Mas, tais
objetos nunca desciam até eles. Só os Brancos conseguiam apanhá-los. A razão estava em que estes
possuíam no solo, em certos espaços, objetos semelhantes que atraíam os aviões que voavam. Os
indígenas lançaram-se então a construir um simulacro de avião com ramos e lianas, delimitaram um
espaço que iluminavam de noite e puseram-se pacientemente à espera que os verdadeiros aviões ali
venham aterrar." (BAUDRILLARD, 1995, p. 21).
Pessoas céticas, as que realmente veem a ilusão que é o mundo em que vivemos,
as que conhecem a verdade são as que mais sofrem com essa sociedade de
consumo. Citando Platão: “Suponha que um dos prisioneiros seja libertado e obrigado a se levantar,
virar a cabeça e caminhar com os olhos voltados para a luz; todos esses movimentos seriam doloridos...”
Serve como uma espécie de comparação, onde a maioria esmagadora está acomodada, sempre foi, e não
vê motivos para sair de sua confortável prisão, não conhecem outra vida a não ser a da sociedade de
consumo. Os grilhões estão há milênios sem sofrer a ação do tempo, a dominação
social comandada pela força de trabalho, que pateticamente acredita numa
sociedade livre pois acham que podem opinar... Mas desde que se mantenham
consumindo, alimentando seu narcisismo e encontrando seu pseudo-eu em cada
item.
“Suponha que um dos prisioneiros seja libertado e obrigado a se levantar, virar a cabeça e caminhar com
os olhos voltados para a luz; todos esses movimentos seriam doloridos, e seus olhos estariam ofuscados
demais para discernir os objetos cujas sombras estavam acostumados a ver. O que você acha que esse
indivíduo diria, se alguém lhe informasse que o que ele tinha visto até então não passava de ilusão sem
importância; mas que agora, estando um pouco mais perto da realidade e voltado para objetos mais reais,
ele teria uma visão um pouco mais real? Ele não ficaria perplexo achando que os objetos agora mostrados
eram menos reais que os que tinha visto até aquele momento?” (PLATÃO)
Seria o prisioneiro mais feliz com a realidade a ele apresentada? Após conhecer essa realidade, a
“verdadeira”, ele retorna à caverna e conta a todos o que viu, e é, claro, taxado como louco. Platão
descreve de uma maneira figurada, porém perfeita, a sociedade atual, onde não há esforço para sair da
alienação, e aqueles que por um acaso conseguem se livrar dela não possuem a capacidade ou coragem
de tentar abrir os olhos de seus antigos colegas de “cela”.
A sociedade tornou-se tão cômoda que não busca a verdade, mas sim uma fuga dela, afinal ela (verdade)
é dura e cruel. Não é nada parecida de como é mostrada em novelas.
A realidade a partir do momento que é mostrada através de telas transforma-se em uma coisa banal que
parece estar a uma grande distância do telespectador. A publicidade adéqua essa falta de consciência
produzindo em suas vítimas um instinto de consumismo; produzindo escravos em série; produzindo uma
segunda realidade com valores e necessidades levianas.
A publicidade apodera-se desta obsessão e reforça a imposição do estilo de vida
consumista totalmente supérfluo e desta maneira cria necessidade e vende ideias.
Ideias que por sua vez vendem produtos cada vez mais versáteis, mas ao mesmo
tempo menos úteis.
Resenha produzida pelo acadêmico Milo Moskorz, da Universidade Regional de Blumenau Centro de Ciências
Humanas e da Comunicação Departamento de Comunicação Curso de Publicidade e Propaganda Disciplina: Ética
na Publicidade e Propaganda.
(Fonte: http://pt.scribd.com/doc/37343361/Resenha-A-Sociedade-de-Consumo-Jean-Baudrillard)
Ainda, sobre a nova proposta de “colaboração”, estabelecendo uma relação com a ideia de consumismo
abordada na videoaula, trouxemos o texto a seguir, também, com o objetivo de nos permitir uma reflexão
sobre as nossas práticas sociais. Minimamente, eu e você somos chamados a nos informarmos, mas,
também, nos posicionarmos frente à sociedade de consumo na qual vivemos. Eis algumas ideias, quem
sabe, um início para outras leituras e reflexões.
Texto 14
Dê sobrevida a bens reutilizáveis por meio do consumo colaborativo
ter acesso a bens de consumo sem precisar comprá-los? Esta é a ideia do
consumo colaborativo, prática que consiste em trocar, alugar e compartilhar bens em escala global.
Já imaginou
Além de permitir essas possibilidades, a nova tendência ainda forma consumidores conscientes com o
meio ambiente.
Grande parte das transações acontece no território virtual. Sites e redes sociais reúnem pessoas
que pretendem adquirir ou se “livrar” de objetos, que passam a atender a outras necessidades. O
esquema é simples e ágil. O usuário faz o anúncio do produto ou serviço e logo recebe uma
contraproposta. E vale tudo, desde a troca de uma câmera fotográfica por um celular, o empréstimo de um
livro, aluguel de brinquedos ou até mesmo de carro ou bicicleta – neste caso, pagando por um valor quase
irrisório, apenas pelo período que vai utilizar.
Pautada no pensamento ‘o que é meu é seu’, a alternativa
mercantil surgiu nos Estados Unidos, entre 2008 e 2009,
impulsionada
pela
crise
americana.
Para o
engenheiro Guilherme Brammer, precursor
da nova tendência no Brasil e criador do site
“DescolaAí”, o consumo colaborativo não é
uma prática tão moderna assim. “Lembro da
minha avó com seus vizinhos, aqui em São Paulo, sempre
trocando coisas, emprestando utensílios, fazendo
"vaquinha" para comprar algo legal para que todos da rua
pudessem usufruir. Ela viveu em uma época pós-guerra,
em que a visão de escassez era muito presente. E isso foi
há 30 anos”, disse Brammer.
'O que é meu é seu': o consumo colaborativo
forma consumidores sustentáveis
“Nos últimos 5 anos, estamos vivendo uma retomada da visão dos meus avós. A qualidade de vida passa
a ser um fator totalmente relevante para nós. A sensação de escassez bate à nossa porta
novamente. Escolas começam a ensinar educação ambiental, explicar o
aquecimento global, consumo consciente”, completou o executivo.
O site "DescolaAí" (www.descolaai.com) é um dos mais populares portais de consumo colaborativo.
Idealizado pelo engenheiro de materiais Guilherme Brammer, oferece aluguel e troca de produtos e serviços.
Fernanda Athayde, idealizadora do “Dois Camelos”, aplicativo para Facebook que atualmente conta com
43.764 usuários cadastrados e 4.743 ofertas, apresenta a principal vantagem do consumo colaborativo.
“Em primeiro lugar, à medida que um produto passa a ser utilizado por mais pessoas, surgem vantagens
para o meio ambiente. A fabricação de produtos em escala menor significa menos pressão sobre as
matérias-primas naturais, sobre o consumo de energia. Um objeto amplamente utilizado chegará mais
tarde ao lixo, ou seja, menos resíduos serão gerados”, disse Athayde.
o consumo colaborativo resgata a
importância da comunidade, a influência das redes sociais e a interação entre
pessoas.
Além de levantar a bandeira da sustentabilidade,
Consumidor consciente
O professor e ambientalista Roberto Wagner Lourenço, da Unesp (Universidade Estadual Paulista Júlio de
Mesquita Filho), explica a ligação e o efeito do consumo colaborativo sobre o meio ambiente. Ele diz que a
nova prática comercial “é uma importante forma de se empregar os já conceituados atributos ambientais
da teoria dos três ‘erres’ – redução de consumo de resíduos, reutilização dos produtos e reciclagem”.
Segundo Lourenço, a prática do consumo colaborativo pode constituir novos valores e formar uma
sociedade livre do consumo exploratório e mais voltada à cidadania ambiental.
Compartilhamento justo e responsável
No Brasil, a modalidade ainda não é tão popular como nos Estados Unidos ou na Europa. Porém as
plataformas de intercâmbio já oferecem um número considerável de ofertas. A assessora técnica do
Procon-SP (Programa de Orientação e Proteção ao Consumidor de São Paulo), Edila Moquedace, chama
atenção para a relação que deve existir entre consumidor e fornecedor. Ela diz que as informações do
produto anunciado devem ser claras. E, além disso, o compartilhador deve dar oportunidade para o cliente
testar o produto ou serviço. Edila também explica que os intermediários devem atestar a credibilidade do
ofertante, para que a troca ou o serviço sejam realizados de forma justa e responsável. Em caso de
dúvida, vale procurar o Procon da cidade.
(Fonte:
http://noticias.bol.uol.com.br/ciencia/2012/10/16/de-sobrevida-a-bens-reutilizaveis-por-meio-doconsumo-colaborativo.jhtm)
O texto que segue serve de alerta a todos nós, como parte de uma sociedade pós-moderna que tem
gerado filhos de pais ausentes, fomentado a sexualidade precoce e dado asas à violência. Como jovens e
adultos integrantes de uma sociedade que tem acesso a informações de qualidade, temos o
compromisso de repensarmos as nossas práticas e fazermos a real diferença.
Texto 15
ONU celebra Dia Internacional das Meninas
11 de outubro de 2012 · Destaque
O Dia Internacional das Meninas, celebrado pelas Nações
Unidas pela primeira vez neste dia 11 de outubro, marca os
progressos realizados na promoção dos direitos das meninas
e mulheres adolescentes e reconhece a necessidade de se
ampliar as estratégias para eliminar as desigualdades de
gênero em todo o mundo.
Nesta ocasião, os Escritórios Regionais para a América Latina
e o Caribe do Fundo de População das Nações Unidas
(UNFPA), da ONU Mulheres, da Campanha do Secretário-Geral das Nações Unidas ‘Una-se pelo Fim da
Violência contra as Mulheres’ e do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) expressam sua
preocupação com a situação de milhões de meninas e adolescentes na região, especialmente aquelas que
vivem em situação de extrema pobreza ou estão sujeitas à discriminação de gênero e a outros tipos de
violência.
A América Latina e o Caribe são as únicas regiões onde as taxas de gravidez na adolescência estão
estagnadas ou aumentaram, apesar das taxas totais de fecundidade estarem em declínio. Atualmente,
quase uma em cada cinco crianças nasce de mães adolescentes na região, com idade entre 15 e 19 anos;
no Brasil, um em cada cinco nascimentos ocorre com mães com idade entre 10 e 19 anos.
As relações sexuais antes dos 14 anos são classificadas pela legislação brasileira como estupro de
vulnerável, ou seja, legalmente consideradas uma violação de direitos, um crime. Apesar disso, a idade
média da primeira relação sexual no país é de 15,3 anos, sendo que 31,4% das pessoas sexualmente
ativas têm relações sexuais antes dos 15 anos, segundo a Pesquisa Nacional de Demografia em Saúde
(2006). E do total de meninas entre 12 e 17 anos, 2,8% já tiveram filhos.
O fato mais preocupante é que a taxa de gravidez vem aumentando para o grupo de meninas de até 15
anos: segundo o Ministério da Saúde, em 2004 a taxa era de 8,6 por grupo de mil nascidos vivos, tendo
passado para 9,6 por mil nascidos vivos em 2009.
Em muitos países da América Latina e do Caribe, a idade mínima legal para o casamento de meninas
varia entre 14 e 16 anos, mas há alguns casos em que chega a 12 ou 13 anos, contribuindo para a alta
taxa de gravidez na adolescência. A maioria dessas meninas vive em zonas rurais ou em comunidades
pobres dos centros urbanos.
No Brasil, o casamento é permitido a partir dos 16 anos; entre 14 e 16 anos as e os adolescentes podem
se casar, desde que obtenham autorização judicial. Abaixo de 14 anos, o casamento formal é considerado
crime. Segundo dados oficiais do Censo 2010 do IBGE, a população brasileira com idade entre 10 e 14
anos é de 17.166.761 pessoas, das quais 45.785 declararam estar em situação de união estável ou
casamento informal; 1,2% das adolescentes até 17 anos estão civilmente casadas.
Outro dado importante é que hoje 2% das meninas entre 12 e 17 anos são consideradas as principais
responsáveis pelo domicílio. No total dos adolescentes nessa categoria, as meninas representam 58% e
os meninos, 42%.
A maternidade – que se apresenta como única opção de vida para muitas adolescentes – torna-se um
mecanismo de reprodução de padrões de exclusão e manutenção da pobreza, representando grave
ameaça ao desenvolvimento pleno e à realização dos direitos dessas meninas e adolescentes, como
educação e saúde. No Brasil, um estudo feito pelo IPEA em 2008 mostrou que, entre as meninas de 10 a
17 anos sem filhos, 6,1% estavam fora da escola. Entre as meninas que tinham filhos, 75,7% não
estudavam e 57,8% não estudavam e nem trabalhavam. Também são as meninas e adolescentes as
maiores vítimas de violência e exploração sexual, representando, no Brasil, quase 80% dos casos de
denúncias recebidas pelo serviço Disque 100 em 2010.
Considerando os riscos diretos à saúde, adolescentes são mais sujeitas à complicações relacionadas à
gravidez e ao parto e têm maior chance de serem vítimas de morte materna quando comparadas às
mulheres adultas.
Segundo os dados do Ministério da Saúde, no Brasil, quanto menor a idade, menos consultas pré-natais
são realizadas, aumentando assim os riscos de complicações relacionadas à gravidez e de morte materna.
Meninas que deram a luz antes dos 15 anos têm cinco vezes mais chance de morrer durante o parto que
mulheres mais velhas.
Segundo dados do Sistema de Informação sobre Nascidos Vivos do Ministério da Saúde (Sinasc) em
2009, entre meninas grávidas de até 15 anos de idade, 38% fizeram sete consultas pré-natais ou mais.
Entre adolescentes grávidas de 12 a 17 anos, a proporção foi de 43,5%. Para as adolescentes grávidas
negras e indígenas o acesso ao número preconizado de consultas foi menor em ambos os grupos etários.
A falta de cuidados adequados durante a gestação aumenta o risco de baixo peso ao nascer, desnutrição
e déficit no desenvolvimento físico e cognitivo do bebê.
A gravidez na adolescência é uma questão complexa e envolve vários fatores. Segundo as pesquisas,
quanto mais jovem a mãe, maior é o desejo de ter filhos, especialmente nos grupos mais excluídos e
historicamente discriminados; a gravidez assume um papel crucial em seus “projetos de vida” e se torna
uma opção para muitas meninas que buscam maior reconhecimento social. Uma resposta adequada à
essa questão depende da compreensão, por parte de toda a sociedade, dos significados que a união, o
casamento e/ou a gravidez podem ter na vida dessas meninas, e da construção de alternativas que
permitam a elas conhecer e ampliar seu repertório de direitos, seus horizontes, e, por consequência,
construir habilidades para mudar os rumos de sua história.
Os contextos de vulnerabilidade aqui descritos afetam desproporcionalmente as meninas adolescentes e
perpetuam um ciclo de iniquidades, pobreza e violência. Por isso, as agências das Nações Unidas
recomendam aos governos a adoção de medidas urgentes, decisivas e orquestradas para garantir que
cada menina tenha o direito de viver plenamente sua adolescência e desenvolver todo o seu potencial. Ou
seja, um presente e um futuro com direitos e equidade, sem violência e discriminação.
(Fonte: http://www.onu.org.br/onu-celebra-dia-internacional-das-meninas/)
CHARGE
http://depositomaia.blogspot.com.br/2008/12/angeli-e-os-60-anos-da-declarao.html
MÚSICAS
Finalizando, trouxemos duas músicas que estão relacionadas aos direitos humanos: uma
internacional e outra nacional. A primeira, de Bob Dylan, apesar de ter sido escrita em 1963, é
conhecida como uma música de protesto, referindo-se a assuntos que incomodavam muito na
época, como a guerra, e assuntos que eram um anseio mundial, como a paz e a liberdade,
anseios estes bastante comuns ainda hoje, num mundo que ainda clama pelo direito à vida, à
paz, à igualdade. A segunda, conhecida pela grande maioria, pode ser apontada como uma das
mais belas e completas expressões de anseio por uma vida melhor para todos em todos os
aspectos. Afinal, não bastaria o amor? Cante! Reflita!
Soprando ao Vento
(tradução: Blowin' In The Wind
Bob Dylan)
Quantas estradas um homem precisará andar
Antes que possam chamá-lo de homem?
Quantos mares uma pomba branca precisará sobrevoar
Antes que ela possa dormir na areia?
Sim, e quantas balas de canhão precisarão voar
Até serem para sempre banidas?
A resposta, meu amigo, está soprando ao vento
A resposta está soprando ao vento
Sim, e quantos anos uma montanha pode existir
Antes que ela seja dissolvida pelo mar?
Sim, e quantos anos algumas pessoas podem existir
Até que sejam permitidas a serem livres?
Sim, e quantas vezes um homem pode virar sua cabeça
E fingir que ele simplesmente não vê?
A resposta, meu amigo, está soprando ao vento
A resposta está soprando ao vento
Sim, e quantas vezes um homem precisará olhar para cima
Antes que ele possa ver o céu?
Sim, e quantas orelhas um homem precisará ter
Antes que ele possa ouvir as pessoas chorar?
Sim, e quantas mortes ele causará até saber
Que pessoas demais morreram
A resposta, meu amigo, está soprando ao vento
A resposta está soprando ao vento?
http://letras.mus.br/bob-dylan/11904/
Monte Castelo
(Renato Russo)
Ainda que eu falasse a língua dos homens.
E falasse a língua dos anjos, sem amor eu nada seria.
É só o amor, é só o amor.
Que conhece o que é verdade.
O amor é bom, não quer o mal.
Não sente inveja ou se envaidece.
O amor é o fogo que arde sem se ver.
É ferida que dói e não se sente.
É um contentamento descontente.
É dor que desatina sem doer.
Ainda que eu falasse a língua dos homens.
E falasse a língua dos anjos, sem amor eu nada seria.
É um não querer mais que bem querer.
É solitário andar por entre a gente.
É um não contentar-se de contente.
É cuidar que se ganha em se perder.
É um estar-se preso por vontade.
É servir a quem vence, o vencedor;
É um ter com quem nos mata a lealdade.
Tão contrário a si é o mesmo amor.
Estou acordado e todos dormem todos dormem todos dormem.
Agora vejo em parte. Mas então veremos face a face.
É só o amor, é só o amor.
Que conhece o que é verdade.
Ainda que eu falasse a língua dos homens.
E falasse a língua dos anjos, sem amor eu nada seria.
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Ética e Sociedade