Valor Patrimonial e Diversidade Florística no Parque
D. Carlos I
António Xavier Pereira Coutinho
(Conferência proferida na Sociedade de Geografia de Lisboa, em 15. XI. 2012)
A história do Parque D. Carlos I
é, já, antiga. Aqui se podem ver
três fotos separadas por mais de
100 anos...
- Situado no centro das Caldas da Rainha, o Parque D. Carlos I constitui um
importantíssimo
património
dessa
cidade.
- Embora a sua fundação oficial remonte ao ano de 1888, e se deva ao arquitecto
Rodrigo Maria Berquó, no espaço que, actualmente, ocupa, já existiam, desde épocas
muito
mais
remotas,
espaços
verdes
aprazíveis.
- Assim, desde o início do Séc. XIX que, por iniciativa do Dr. António Gomes da Silva
Pinheiro, Administrador do Hospital Termal entre 1799 e 1833, foi construído, com fins
terapêuticos,
o
Jardim
Barroco
do
Passeio
da
Copa.
- Em Junho de 1892 o Parque, no seu espaço actual, foi inaugurado.
- Outro momento importante na história deste imprortante espaço verde deveu-se ao
projecto paisagístico do Professor Francisco Caldeira Cabral que, entre 1948 e 1951
orientou
uma
remodelação
aprofundada
da
área
em
causa.
- Entre 2007 e a actualidade, foi, com a concordância da Direcção do Hospital Termal,
levado a cabo um inventário das espécies de Plantas Vasculares aí existentes. Tal
inventário, efectuado área a área, encontra-se, praticamente, concluído.
Alguns dados numéricos…
Parque
Mundo
Comparação entre o número total de famílias de Plantas Vasculares existentes a nível mundial
(cerca de 400) e no Parque D. Carlos I (64, ou seja, cerca de 16%).
Espécies autóctones
Nº total de espécies
Comparação gráfica entre as percentagens do número total de espécies e do número de taxa
autóctones (38,6 %) de Plantas Vasculares presentes no Parque D. Carlos I.
Asteraceae
Cupressaceae
Fabaceae
Fagaceae
Malvaceae
Myrtaceae
Oleaceae
Poaceae
Rosaceae
Salicaceae
Araceae
Arecaceae
Asteraceae
Scrophulariaceae
Apocynaceae
Araliaceae
Araucariaceae
Berberidaceae
Famílias de Plantas Vasculares no Parque D. Carlos I em percentagem do número total de de espécies (150) –
Maiores representações: Rosaceae (9,7%), Oleaceae (6,2%), Asteraceae (4,2%), Fabaceae (4,2%),
Cupressaceae (3,5%) e Myrtaceae (3,5%). Foram identificadas plantas vasculares de 64 famílias diferentes.
Alguns exemplos de espécies exóticas existentes no
Parque D. Carlos I
Poucas árvores se encontram tão ligadas à História da Antiguidade. como o cedro-do-líbano, originário das
montanhas da zona mediterrânica. Na verdade, os egípcios usaram a sua resina na mumificação e a sua
madeira, de grande qualidade, foi utilizada pelos fenícios, na construção naval, pelos hebreus, na edificação
de edifícios religiosos, e por muitos outros povos (romanos, gregos, etc.).
Os exemplares femininos de Araucaria bidwilii, originária do SE da Austrália, produzem as maiores pinhas do
mundo, podendo ser maiores que uma bola de futebol. As suas sementes são comestíveis e muito
apreciadas pelos aborígenes australianos.
A árvore-do-papel (Melaleuca ericifolia – Myrtaceae), originária da Austrália, é muito apreciada
pela sua beleza e pela originalidade do seu ritidoma (“casca”), que se desprende em finas tiras,
que lembram papel.
Os estames coloridos e a cápsula lenhosa da árvore-dos-cachimbos (Eucalyptus ficifolia Myrtaceae), originária da Austrália Ocidental.
As buganvílias da espécie Bougainvillea glabra (Nyctaginaceae), nativas da América do Sul e polinizadas por
borboletas diurnas, são trepadeiras muito apreciadas pela beleza das suas brácteas e possuem uma
romântica história associada às grandes explorações do Séc. XVIII.
A utilização do papiro (Cyperus papirus – Cyperaceae) pela Humanidade perde-se na noite dos
tempos...
…e, claro, uma pequena amostragem das espécies
autóctones presentes no mesmo espaço
As plantações da espécie autóctone Populus nigra (choupo-negro – Salicaceae)) estão a ser, pouco a pouco,
substituídas pelas do híbrido Populus x canadensis, pelo que a sua manutenção em Parques e Jardins
Botânicos pode vir a ser importante para a sua sobrevivência em Portugal.
O azereiro (Prunus lusitanica - Rosaceae) é um dos arbustos (ou pequena árvore) mais emblemático de
Portugal. Para além do nosso país, a sua distribuição inclui, também, parte da Espanha.
“Flor da murta
Raminho de freixo
Deixar de amar-te
É que eu não deixo”
A beleza da murta (Myrtus communis – Myrtaceae) inspirou artista e poetas...
O sanguinho-das-sebes (Rhamnus alaternus – Rhamnaceae) é um dos arbustos
típicos dos matagais mediterrânicos que se encontra representado em Portugal.
A pervinca (Vinca difformis - Apocynaceae) não só é uma herbácea de grande beleza, mas
produz um alcalóide (vinblastima) com propriedades citostáticas.
A salsaparrilha (Smilax aspera – Smilacaceae) é uma bonita trepadeira dos bosques e matagais
mediterrânicos que se encontra no nosso país, e cujas bagas são muito apreciadas por diversas aves (neste
caso, um melro), que servem de dispersores a esta planta.
Bryonia cretica L. subsp. dioica (Jacq.) Tutin (briónia – Cucurbitaceae): A briónia encontra-se na área
mediterrânica (incluindo Portugal). Sendo uma espécie decorativa contém, sobretudo nas bagas e na raíz,
heterósidos (cucurbitacinas - triterpenos tetracíclicos) e uma proteína (briodofina) tóxicos.
A granza-brava (Rubia peregrina – Rubiaceae) é mais uma bonita trepadeira mediterrânica com
dispersão ornitófila existente em Portugal.
O lírio-amarelo dos pântanos (Iris pseudacorus - Iridaceae) e a tabúa (Typha latifolia - Typhaceae) são duas
atractivas espécies de higrófitas herbáceas perenes que se podem encontrar, no estado espontâneo, em
alguns lagos e charcos de Portugal. É frequente encontrá-las associadas. As moitas da tabúa constituem um
refúgio para muitas espécies animais.
Muito mais haveria para dizer, mas existem locais que são como certas pessoas. Quanto melhor
os conhecemos mais deles gostamos. Visitem-nos e vejam com os vossos olhos…
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António Pereira Coutinho - Sociedade de Geografia de Lisboa