CONTRIBUTOS DA CRIATIVIDADE E DA INOVAÇÃO PARA O TURISMO
João Simões1
Resumo – Será que a criatividade e a inovação têm uma única definição ou sentido? melhoria?
desenvolvimento? Será um processo exclusivamente tecnológico? ou também humano?
aplicado a produtos? ou a serviços? Será que as vantagens expressas pelo seu aproveitamento
no dia a dia se referem exatamente a uma vantagem para todos? Sendo o Destino Turístico o
palco que concentra as principais indústrias ao serviço desta atividade (alojamento,
restauração e transportes), apresentamos neste trabalho os conceitos de criatividade e
inovação aplicados a estes setores económicos em que sujeitos ao processo criativo poderão
ser alvo de inovações organizacionais na criação de vantagens competitivas e que a própria
inovação assente na criatividade, se carateriza por soluções eficientes empregues não só na
resposta às dificuldade e constrangimentos da sua condição mas também na eficácia da
satisfação, de uma forma sustentável, exigida pelo mercado em que atua.
Palavras-Chave – Criatividade, Inovação, Destino turístico, Turismo
Abstract – Does creativity and innovation have a single definition or meaning? improvement?
development? Is it a purely technological process? or human? applied to products? or services?
Do the advantages expressed by its daily use refer exactly to everyone's advantage? Being the
Tourism Destination the stage which holds the main industries that compound this activity
(accommodation, catering and transport), in this paper we present the concepts of creativity
and innovation applied to these economic sectors that when subjected to the creative process,
are amenable to organizational innovation in creating competitive advantage and that the very
creation of innovation based on creativity is characterized by efficient solutions employed not
only in response to the difficulties and constraints of their condition but also to the
effectiveness of satisfaction in a sustainable manner, required by the market in which it
operates.
Keywords - Creativity, Innovation, Tourism Destination, Tourism
1 Professor Coordenador de Cursos de Turismo; Mestre em Turismo; Doutorando em Turismo pela UL/IGOT,
com a colaboração da Escola Superior de Hotelaria e Turismo do Estoril: [email protected]
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João T. Simões
INTRODUÇÃO
O turismo enquanto atividade é composto por vários setores económicos dos quais
destacamos como indispensáveis para a sua realização, a hotelaria, a restauração e os
transportes. Um dos principais objetivo destas organizações será o de responder ao mercado
de forma a satisfazer as suas necessidades e desejos (experiências), ao mesmo tempo que
promove uma imagem agradável operando de forma sustentável. Para isso, e na época em que
nos encontramos (sociedade do conhecimento), terão de ser mais eficientes na resposta e
gestão aos desafios que surgem.
A Tecnologia no geral e a capacidade de comunicar mais e rapidamente, fomentam um papel
marcante nos dias de hoje na área do turismo não só no que à formação dos recursos humanos
diz respeito, mas também na gestão e venda dos serviços ou produtos consumidos pelos
turistas. É visível nas empresas o seu esforço, dedicado à conquista de novos clientes e à
fidelização dos atuais.
A criatividade e a inovação são processos/produtos cada vez mais valorizados por estas
organizações que entenderam o precioso resultado que podem obter ao apostar neles. Isto é,
uma vez que as ferramentas tecnológicas ao dispor das pessoas são cada vez mais eficazes, o
que torna os processos mais rápidos, modificando o sistema eficientemente, quem não
acompanhar estas tendências poderá perder algum valor. É por isso essencial para a
sustentabilidade
destas
organizações,
que
além
de
tentarem
acompanhar
os
parceiros/concorrentes, os consigam ultrapassar.
Para isso, a criatividade e a inovação sendo um processo Humano e individual, gera
resultados/processos/produtos inesperados e, muitas vezes, além de responder ao
desafio/problema conseguem até superá-lo, elevando assim o patamar à concorrência.
Como o turismo engloba uma série de indústrias e bastantes recursos humanos é das áreas que
mais inova de ano para ano, incrementando nas organizações processos e modelos criativos de
uma forma ativa e útil, como veremos no decorrer deste artigo.
CONTRIBUTOS DA CRIATIVIDADE E DA INOVAÇÃO PARA O TURISMO
I.
2
CONCETUALIZAÇÃO E ALGUMAS DEFINIÇÕES DE CRIATIVIDADE
Sendo um elemento que “nasce” e se expressa através de ações humanas (Santos, 2012), a
criatividade acompanha o desenvolvimento da sociedade que atualmente se manifesta numa
conjuntura imersa num ritmo acelerado, com grandes avanços tecnológicos, incerteza e
instabilidade, denominada por Sociedade do Conhecimento (Oliveira e Alencar, 2012, pp. 541 - 542).
Esta, carateriza-se substancialmente pela capacidade de criar mais e novos conhecimentos a
grande velocidade (Mateo, 2006, p. 148), possibilitando respostas mais eficazes e focadas em
processos inovadores que, com o auxílio da criatividade, promovem o progresso (Todoroi, 2011,
p. 103).
A importância de estudar o fenómeno da Criatividade enquanto habilidade ou capacidade
inovadora para o indivíduo e para a sociedade teve o seu início por volta dos anos cinquenta
do século XX (Oliveira e Alencar, 2012, p. 542). O interesse pelo tema resultou em várias teses das
quais destacamos:
i)
a perspetiva de Sistemas de Csikszentmihalyi (1988), que define a criatividade como “o
resultado da interação de três fatores: o domínio, o indivíduo e o campo: O domínio
transmite informações ao indivíduo, e este produz variações que, por meio do campo,
podem ou não ser incorporadas a esse domínio” (idem, ibidem);
ii) o modelo Componencial da Criatividade de Amabile (1996) “Um produto ou resposta
será julgado criativo na medida em que: a) é novo e apropriado, útil, correto ou de valor
para a tarefa em questão, e b) a tarefa é heurística e não algorítmica” (idem, ibidem);
iii) a teoria de Investimento em Criatividade de Sternberg (1999) “A criatividade existe a
partir da confluência de seis recursos: habilidades intelectuais, conhecimento, estilos de
pensamento, personalidade, motivação e ambiente adequado;
iv) segundo Lubart (2007), essa é uma abordagem múltipla da criatividade, sendo
necessária e importante uma combinação de fatores ligados ao indivíduo bem como ao
contexto ambiental, ou seja, a criatividade depende de fatores cognitivos, conativos,
emocionais e ambientais, dado que um componente age sempre em presença de outros”
(idem, ibidem).
3
João T. Simões
O mesmo autor (Lubart 1999 apud Paletz et al, 2011) refere que as conceções de criatividade mais
orientais focam-se nos processos de realização pessoal, em comparação com as conceções
mais ocidentais que se focam sobretudo nos produtos. A explicação deste cenário é bastante
complexa mas sabemos que se deve não só aos aspetos antropológicos enquanto diferenças
culturais expressas através da Arte, mas também da Filosofia, da Religião e da Literatura.
Apontamos os autores Wang e Greenwood (2013) que, aplicando o “Modelo dos quatro C’s da
Criatividade”, determinam no estudo publicado no “International Journal of Experimental
Educational Psychology” a perceção que estudantes orientais (chineses) têm da sua própria
criatividade bem com a sua perceção acerca da criatividade dos alunos ocidentais. A principal
conclusão deste trabalho aponta que os estudantes universitários chineses consideram ser
claramente menos criativos do que estudantes ocidentais, sobretudo devido à natureza do seu
sistema educacional conservador, embora, o mesmo estudo refira que estas perceções possam
diminuir durante o percurso académico.
Concluímos então que a criatividade é um processo humano (da conceção à interpretação)
influenciado e enquadrado pelo meio envolvente ao longo dos tempos, e que por isso se
manifesta e é entendido sempre de forma diferente, não se limitando a uma única definição
como indica Robinson (2008 apud Richards 2011, p. 1226), “a falta de uma única definição
amplamente aceite de criatividade é, sem dúvida, devido à ampla gama de pontos de vista
sobre a função da criatividade”.
Por isso, e de forma a enquadrar a nossa perspetiva sempre que citarmos o termo criatividade,
delimitamos o conceito à definição que reconhecemos ser a mais indicada no âmbito deste
artigo. Na ótica do turismo, distinguimos Taylor (1988) que ao fazer a revisão da literatura
agrupou a multiplicidade de definições de criatividade na literatura em quatro áreas principais
da abordagem científica, que correspondem aos “4 P’s” 'de criatividade, pois, como refere
Richards (2011, p. 1226) a atividade turística, atualmente, envolve todas estas quatro abordagens.
A Pessoa
Criativa
O Ambiente
criativo
O Processo
criativo
O Produto
Criativo
Figura 1 – Os “4 P’s” da Criatividade
Figure 1 – The 4Ps of Criativity
Elaboração própria a partir de Taylor (1988)
CONTRIBUTOS DA CRIATIVIDADE E DA INOVAÇÃO PARA O TURISMO
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Representamos no quadro I os 4 “P’s” da Criatividade enquadrados na atividade turística
segundo Richards (2011):
A Pessoa Criativa
• (...) o envolvimento de pessoas criativas através das
atividades da "classe criativa" (Florida, 2002)
O Processo criativo
• (...) a viagem - utilização do processo criativo na
concepção de atividades criativas para os turistas
(por exemplo, workshops e masterclasses)
O Produto Criativo
• (...) atrativos turísticos (por exemplo, relacionada
com autores famosos, pintores, etc.)
O Ambiente criativo
• (...) Visitas a clusters criativos
Quadro I - Os “4 P’s” da Criatividade adaptados ao Turismo
Table I – The “4Ps” of Creativity adapted to tourism
Elaboração própria a partir de Richards (2011, p. 1226)
Passando à caraterização da Criatividade, após a sua concetualização, podemos afirmar que
esta se tornou numa estratégia a ser seguida não só por cidades e regiões que se procuram
desenvolver, mas como uma estratégia na promoção da inovação e do desenvolvimento de
competências dos indivíduos (idem, ibidem) uma vez que exige novas idéias e perspetivas nãotradicionais (sem barreiras pré-estabelecidas).
Ao desenvolvermos a Criatividade, portanto, ao ser criativo, estamos a explorar novas
perspetivas e possibilidades de aumentar a eficiência, muitas vezes a partir de ideias vagas e
palpites. Alguns estudos indicam que a relação entre Criatividade aplicada às organizações
parece oferecer um potencial de conhecimentos frutífera em como lidar com os desafios
paradoxais envolvidos na gestão (Andersen e Krag, 2013). Por exemplo Lin (2011 apud Rodrigues e
Veloso, 2013),
refere que a utilização da criatividade dos colaboradores poderá ser uma
inovação organizacional na criação de vantagens competitivas.
Todoroi (2011, p.99), aponta que a “Criatividade é o resultado de atividade cerebral que
diferencia indivíduos e pode assegurar uma importante vantagem competitiva para pessoas,
companhias (organizações), Sociedade no geral e para a Sociedade do Conhecimento
(Conscience Society) em especial. Diz ainda que: “Very innovative branches – like software
industry, computer industry, car industry – consider creativity as the key of business success.
Natural Intelligence’ Creativity can develop basic creative activities”.
Entendemos desta forma que a Criatividade poderá contribuir para a inovação.
5
II.
João T. Simões
INOVAÇÃO: UMA ABORDAGEM DINÂMICA
Schumpeter indica que existem cinco tipos de inovação: i) introdução de um novo bem; ii)
introdução de um novo método de produção; iii) abertura de um novo mercado; iv) nova
forma de adquirir matérias-primas (nova fonte de abastecimento) e v) implementação de uma
nova forma de organização (estruturação).
Schumpeter refere ainda que a inovação é distinta da invenção na medida em que a inovação é
possível sem uma invenção e, uma invenção não induz necessariamente à inovação (Mota e
Oliveira, 2014, p.3),
pois, as invenções não são exclusivamente para utilização industrial
enquanto que as inovações são amplificadas por invenções ou apenas ideias gerais brilhantes
para as tornar em produtos úteis (Hjalager, 2002, p.465).
Por outro lado, Higgins (1996, p.370) refere que a inovação surge básicamente de duas formas: i)
a primeira sendo o resultado de um processo inovador; ii) a segunda é a de que é um processo
que cria novos produtos e serviços, ou melhora os já existentes, ou ainda, a criação de
métodos (processos) organizacionais que promovam um impacto significativo nas pessoas,
nos grupos, nas organizações, na indústria ou na sociedade.
Como podemos observar na figura 2, Higgins (1996, p.371) defende que o processo de criação
da inovação assenta na criatividade, considerando-a um elemento-chave.
Criatividade
Cultura
organizacional
ideal
Inovação
Figura 2 – A Equação da Inovação
Figure 2 – The innovation equation
Elaboração Própria a partir de Higgins (1996, p. 371)
Segundo Lindič (et al, 2011), atualmente as empresas implementam veementemente as
tecnologias da informação nos seus processos de inovação ou seja “technology can play an
important role to support and enable the management of knowledge all along the innovation
process, particularly when the number of ideas get overwhelming “idea overload”.” (idem,
ibidem).
A tecnologia permite a renovação de métodos, o desenvolvimento estrutural e
CONTRIBUTOS DA CRIATIVIDADE E DA INOVAÇÃO PARA O TURISMO
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conjuntural e uma rápida evolução, atualização e posterior melhoria das condições de
produção, desenvolvimento e conceção de bens.
Abernathy e Clark (1985 apud Hjalager, 2002), apresentam uma abordagem caraterística da
inovação na área da indústria automóvel que se pode enquadrar no turismo. O Modelo
apresenta quatro tipos de inovação – Regular, nicho, revolucionário e arquitetural (figura 3),
consistindo basicamente em dois eixos. O horizontal indica se uma determinada inovações
quebra o processo/item tornando-o obsoleto ou, se por outro lado, fortalece os já existentes. O
eixo vertical indica o conhecimento e as competências necessárias para a criação de
determinado produto ou serviço, nalguns casos, ideias antigas e qualificações ficam
desatualizadas e necessitam de ser substituídas enquanto que outras se provam mais
relevantes quando são adaptadas e posteriormente desenvolvidas.
Figura 3 – O modelo de Abernathy e Clark – uma perspetiva turística
Figure 3 - The Abernathy and Clark model—a tourism perspective
Fonte: Hjalager, 2002, p.467
Com base em Mota e Oliveira (2014, p.1) afirmamos que a inovação desempenha um papel
cada vez mais central na nossa sociedade, não só na busca da sustentabilidade económica
como no desenvolvimento social. Como referem Andersen e Kragh (2013): “In step with the
increased importance of innovation as a means of sustaining and developing competitive
positions, firms increasingly seek to develop their creative capacity”. Embora, na indústria
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João T. Simões
turística, como refere Hjalager (2002, p.469): “In some important respects, tourism differs from
the types of businesses usually targeted for the dissemination of research-based knowledge”.
Por fim, alguns dicionários de Língua Portuguesa referem-se ao ato de inovar enquanto
novidade, renovação, invenção ou criação. Segundo Lagowski (1990), estas palavras
geralmente são utilizadas para representar algo de bom ou melhor, o que nos leva a discutir o
conceito de “melhor”. Como ele refere: “What does the observation that an innovation
produces a better result in one environment mean to a second environment? "Better" is one of
those slippery, anthropocentric words like "truth" or "beauty." (idem, ibidem).
Então, como se processa a Inovação? Segundo Monteiro (2008, p.31): “O estudo do processo de
inovação evoluiu, tendo os modelos lineares e deterministas, relevando do paradigma da
racionalidade, sido substituído por modelos contingenciais, que identificam as variáveis que
influenciam a inovação nas organizações. Hoje, o paradigma da complexidade procura
explicações mais holísticas para este processo”. De entre os vários modelos criados para
evidenciar o processo de inovação, o modelo criado por Rogers dedicado à difusão de
inovações na agricultura criado em 1962 (figura 4), revela-se hoje incontornável (idem, ibidem).
Figura 4 – O modelo de Rogers – O processo de inovação na organização
Figure 4 - The Rogers model—The innovative process in organizations
Fonte: Monteiro, 2008, p.32
Este modelo reparte-se em duas fases principais. A primeira (iniciação): “diz respeito à
definição dos problemas gerais que a organização enfrenta e ao estudo do meio envolvente,
de modo a identificar necessidades de inovação (…) os decisores procuram antecipar os
efeitos da inovação, em termos de custos e benefícios, no sentido de determinar se a mesma
será introduzida ou, pelo contrário, abandonada” (idem, p.32). A segunda (implementação) diz
respeito aos três passos necessários para implementar a referida inovação. Não sendo um
processo estático: “os decisores procuram antecipar os efeitos da inovação, em termos de
custos e benefícios, no sentido de determinar se a mesma será introduzida ou, pelo contrário,
abandonada” (idem, p.33).
CONTRIBUTOS DA CRIATIVIDADE E DA INOVAÇÃO PARA O TURISMO
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Concluímos este ponto considerando que inovar não seja necessáriamente tornar algo melhor
para todos e, que existem várias formas de inovação. A nossa posição na elaboração deste
artigo foi a de que os motivos que levam à procura de inovar sejam os de melhorar ou
aperfeiçoar qualquer processo ou produto como forma de resposta às dificuldades que surgem.
III.
O TURISMO E A INOVAÇÃO
Optámos neste artigo por tratar o Turismo enquanto atividade Humana porque a forma e
definição do seu objeto não é definitiva, sendo ainda discutido, atualmente, o seu estatuto e
abordagem enquanto “Fenómeno social, técnica pericial, facto ético e estético” (Ferraz, 2014).
Assim como a simultaneidade “(problemática) das componentes “científica”, “societal”,
“profissional” e “ético-filosófica”(aos níveis inter e intra componentes)” (idem, ibidem).
Assistimos também a uma “Ausência de consenso em termos de terminologia e conceitos e
confusão (que deriva também de lutas “político-ideológicas” intra-académicas mas também
entre academia-indústria-política) entre: i) Área de estudo; ii) Campo científico; iii)
Disciplina científica; iv) Objeto de estudo; v) Forma de conhecimento e dimensão estrutural
de conhecimento do real e da sua transformação” (idem, ibidem).
Vejamos por exemplo Leiper (1979 apud Aldebert et al., 2011), que refere que “(…) a indústria do
turismo é composta por empresas que se comprometem propositadamente a coordenações
conjuntas das suas atividades com a finalidade de servir os turistas. A coordenação das
atividades é a questão central, o que chama a atenção para a importância de uma análise dos
atores e as suas interações”.
Outra perspetiva apresentam Ielenicz e Simoni (2013) que referem que o turismo não se reduz
a uma indústria e que deve ser analisado como um conjunto de áreas dinâmicas complexas e
não ser reduzido apenas a um simples setor económico que produz receitas. Isso é mais
visível quando analisamos os componentes do sistema turístico isoladamente e se percebe
qual é a função de cada um na cadeia da atividade turística e o resultado da sua interação que
se enquadra equilibradamente quando todos conhecem a sua posição/categoria dentro do
mesmo sistema (idem, ibidem).
Das várias formas possíveis de analisar e avaliar o Turismo, optámos por abordá-lo de acordo
com a definição da OECD (2008) enquanto uma atividade que se representa pelas deslocações,
atividades e permanência de indivíduos, fora do seu ambiente natural, por um período
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João T. Simões
contínuo que não ultrapasse um ano e não seja inferior a vinte e quatro horas, por motivos de
lazer, negócios e outros que não relacionados com o exercício de uma atividade remunerada,
no destino.
Nesta perspetiva, podemos indicar que a atividade turística fomenta a que os agentes
(económicos) coloquem atualmente à disposição do viajante uma panóplia de produtos que se
apresenta tão vasta e variada quanto o número de atores/produtores existentes: “The tourist
product comprises services from several segments of suppliers: accommodation, transport,
catering, entertainment, etc.” (Hjalager, 2002, p.470)
Então, relacionamos automaticamente a indústria turística à restauração, à hotelaria, e aos
transportes enquanto atividades fundamentais para que haja turismo, acabando o
viajante/turista por consumir também outros produtos e serviços que não aqueles
caraterísticos da atividade turística. Embora, “Como refere Sarmento (2003), as actividades
turísticas que proporcionam maiores efeitos multiplicadores são o alojamento turístico e os
transportes, seguidos da restauração e serviços de apoio directo à actividade”(Monteiro, 2008,
p.87).
Silva (2009, p.1) defende que “o turismo é reconhecido, quando convenientemente planeado,
pelos seus efeitos positivos nos planos económico, social, patrimonial e territorial. Muitos
países elegeram-no mesmo como um vector estratégico de desenvolvimento, assistindo-se a
uma crescente diversificação de destinos, quer ao nível de países, como de alternativas
regionais”. Desenvolveu ainda um quadro baseado em Beni (2004) intitulado: O Turismo e as
suas definições económicas, que apresentamos seguidamente.
Figura 5 – O Turismo e as suas definições económicas
Figure 5 – Tourism and his economic definitions
Fonte: Silva, 2009, p. 50
CONTRIBUTOS DA CRIATIVIDADE E DA INOVAÇÃO PARA O TURISMO
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Observando a figura 6, e de acordo com o referido anteriormente, podemos verificar que o
turismo se compõe, entre outros, pelos intervenientes diretos e indiretos da atividade turística
(Stakeholders), e reflete primeiramente uma viagem (transportes), uma estadia (alojamento)
de pelo menos vinte e quatro horas no destino (que irá exigir naturalmente o consumo de bens
alimentares para a sua permanência – restauração) e a realização de atividades (de lazer,
negócios ou outros), num determinado território (destino turístico) sem limitação concreta
quanto ao seu raio de ação, ou seja, o palco desta indústria.
Segundo Cho (2000), poderá ser uma zona contida, uma vila, uma aldeia, uma cidade, uma ilha,
ou até mesmo um país. Gunn (1994), define-o como uma área geográfica, que contém uma
massa crítica de desenvolvimento que satisfaz os objetivos do viajante e distingue três escalas:
sítio (“site zone”); destino (“destination zone”) e região (“regional zone”) (Gunn, 1994, apud Hall,
2005).
Figura 6 – A sequência de atividades e níveis funcionais no turismo
Figure 6 – The sequence of activities and functional levels in tourism
Elaboração Própria a partir de Higgins (1996, p. 371)
Aliada à quantidade de produtos, o aumento, a evolução e o desenvolvimento da tecnologia
no geral, como já referimos, torna praticamente obrigatória da parte de quem produz, a busca
pela inovação de modo a acompanhar as tendências e exigências dos consumidores, bem
como o aumento da competitividade que por sua vez irá colocar à disposição do viajante
formas de consumir muito mais fáceis, rápidas e baratas.
11
João T. Simões
Por outro lado, a atividade turística pressupõem automaticamente uma viagem. Nesta
perspetiva, as agências de viagens e transportes são consideradas (ainda) um subcomponente
essencial para esta atividade. Silva (2009, p.389) refere que “(…), um dos objectivos
fundamentais das agências de viagens será o de acrescentar valor aos pacotes de serviços
turísticos, funcionando no plano de aconselhamento e acolhimento, aspectos que devem ser
reforçados, face a clientes mais informados e exigentes e dispondo de múltiplas alternativas.
Estes factos determinam que o êxito das agências de viagens terá que assentar em mudanças
de estratégia, na capacidade de inovação e adaptação” não só das agências, mas como de
todos os sectores económicos (pelo menos os que garantem a atividade turística) que deverão
incluir estratégias de inovação no seu ambiente organizacional de forma a obter resultados
mais eficazes e responder da forma mais adequada aos desafios que se lhes apresentam,
conforme mencionado no ponto anterior.
Quanto aos transportes, Page (apud carril e Otón, 2009, p. 25), distingue duas possibilidades
(figura 7): i) “Dunha banda, dáse o transporte para o turismo, como mecanismo utilitario que
permite transportar o turismo. A satisfacción está relacionada co custo e coa velocidade de
viaxe, e o modo de transporte non posúe un valor intrínseco por si mesmo”; e ii) “prodúcese
o transporte como turismo, onde o transporte permite un desprazamento e, ao mesmo tempo,
é a base dunha experiencia turística. Aquí non son igual de determinantes nin o custo nin a
velocidade”.
Figura 7 – O continuo turismo-transportes
Figure 7 - The Abernathy and Clark model—a tourism perspective.
Fonte: Page (2005, p. 22)
Os transportes foram alvo de transformações tecnológicas que levaram ao seu progresso,
promovendo assim uma melhoria “das condições médias ao nível económico e social, as
alterações demográficas, as conquistas no domínio dos tempos consagrados ao lazer, as
mudanças de paradigmas nas sociedades e a penetração das tecnologias de informação e de
comunicação, conduziram a que as práticas turísticas se generalizassem, transformando o
CONTRIBUTOS DA CRIATIVIDADE E DA INOVAÇÃO PARA O TURISMO
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turismo num fenómeno universal e não apenas exclusivo dos países industrializados (Silva,
2009, p.63).
Podemos afirmar então que o progresso tecnológico ao serviço dos transportes
afeta não só a melhoria de vida dos locais e do território, mas também dos visitantes que
obtém uma forma mais eficiente de se deslocarem.
Na Restauração, “a recuperação de receitas tradicionais é uma inovação” (Monteiro, 2008, p.13).
Como referem Vermeulen e Van der Aa (2003, apud Monteiro,2008, p.13): “no sector da
engenharia, para ser considerada como tal, uma inovação deverá, muito provavelmente, ser
tecnológica, enquanto no sector dos serviços, como o da restauração, em que a inovação é
maioritariamente não tecnológica”.
Existem dois tipos de clientes-turistas na restauração: aqueles que apenas consomem os seus
produtos e serviços para satisfazer uma necessidade básica e aqueles que não frequentam
restaurantes típicos ou populares com aglomerados de pessoas preferindo locais gourmet ou
exclusivos (Sánchez-Cañizares e López-Guzmán , p.234).
A
transformação por exemplo de um celeiro rural num restaurante é um exemplo de
criatividade e inovação que se irá revelar possivelmente mais satisfatório para este segundo
tipo de cliente, assim como uma ementa criativa (Novelli et al, 2006), pois como já referimos,
geralmente, este restaurantes temáticos apresentam-se como catalisadores de públicos
específicos e por sua vez mais reduzidos que restaurantes comuns que talvez dessem mais
valor à capacidade dos funcionários comunicarem na sua língua ou que através de algum
processo de inovação conseguissem reduzir os custos e com isso praticar um preço inferior
(Sánchez-Cañizares, e López-Guzmán , pp. 243, 237).
Em relação à indústria hoteleira, estudos realizados nas Ilhas Baleares por Jacob e Bravo
(2001),
Jacob et al. (2004) e Orfila-Sintes et al. (2005) (apud Monteiro, 2008, p. 111) mostram que
são os hotéis de categorias mais elevadas que mais inovam e descrevem o tipo de inovações
encontradas nos hotéis, facilitando, assim, a compreensão da realidade neste sector
empresarial. Dessa forma, resumimos de seguida as inovações mais frequentes de acordo com
estes autores (apud Monteiro, 2008, p. 111):
.Comunicação da imagem;
.Assessoria técnica;
.Sistema de informação televisivo;
.Criação de um departamento para elaborar
.Comunicação via satélite, Internet, etc.;
um plano de marketing e fidelização;
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.Criação do Guest Service Management;
.Criação de uma imagem de marca;
.Ambiente de trabalho informal muito
.Hotel escola para o pessoal da empresa;
influenciado pela juventude do pessoal e os
valores empresariais da nova economia;
.Comercialização através da Internet, sem
incluir a venda direta;
.Sistema de certificação da qualidade
ambiental;
.Instalação de placas solares Introdução de
um sistema de poupança de água.
.Criação de uma equipa de animação;
Estas intervenções inovadoras irão permitir não só a eficiência dos processos como dos
serviços. As mais-valias que trazem à organização poderão criar melhores condições de
trabalho ao funcionários e estadias mais agradáveis e satisfatórias aos clientes promovendo a
sua divulgação e fidelização.
CONTRIBUTOS DA CRIATIVIDADE E DA INOVAÇÃO PARA O TURISMO
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CONCLUSÃO
A criatividade é um processo Humano que pode ser potenciado pela tecnologia. É
caraterística diferenciadora de cada indivíduo e quando fomentada pela atividade turística
pode gerar produtos e serviços inovadores e eficientes na resposta às exigências do mercado,
potenciando o desenvolvimento do território-alvo numa perspetiva mais sustentável. Tem
várias formas de se expressar e é alvo de estudo desde os anos 50.
A inovação por outro lado, é composta em parte pela criatividade e, assente em novas
tecnologias, poder-se-á revelar como uma resposta para o desenvolvimento social.
Desempenha atualmente um papel central na nossa sociedade (do conhecimento) devido aos
delicados desafios que surgem recentemente, por vezes devido ao rápido crescimento sem
controlo.
O turismo precisa de processos, produtos e serviços inovadores e assentes na criatividade para
superar estes desafios, pois, sendo realizado por milhares de milhões de pessoas é normal que
com o passar do tempo estes alterem os seus desejos, anseios e gostos e mudem os critérios de
satisfação, sendo que a inovação terá de ser praticamente permanente, neste caso, na indústria
Hoteleira, Restauração e Transportes que compõem a atividade turística.
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